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Os corolários do princípio da separação de poderes, quanto à administração pública e a

administração da justiça fundamentam-se em três:


1. A separação dos órgãos administrativos e judiciais, que se traduz na existência de
órgãos administrativos dedicados ao exercício da função administrativa e órgãos
jurisdicionais que se dedicam exclusivamente ao exercício da função jurisdicional. A
separação das funções traduz-se na separação de órgãos;
2. A incompatibilidade das magistraturas, não basta porém, que haja órgãos diferentes: é
necessário estabelecer, além disso, que nenhuma pessoa possa simultaneamente
desempenhar funções em órgãos administrativos e judiciais. isto significa que nenhuma
pessoa possa simultaneamente desempenhar funções em órgãos administrativos e
judiciais, isto é, as magistraturas administrativas são incompatíveis com as judiciárias e
as suas funções não podem acumular em caso algum;
3. A independência recíproca da administração e da justiça, isto significa que a
autoridade administrativa é independente da judiciária: uma delas não pode sobrestar na
acção da outra, nem pode pôr-lhe embaraço ou limite. Este princípio, desdobra-se por sua
vez, em dois aspectos: (a) independência da Justiça perante a Administração, significa ele
que a autoridade administrativa não pode dar ordens à autoridade judiciária, nem pode
invadir a sua esfera de jurisdição: a nenhum efeito, por estarem viciados por usurpação
de poder .Administração Pública não pode dar ordens aos Tribunais, nem pode decidir
questões de competência dos Tribunais. Para assegurar este princípio, existem dois
mecanismos jurídicos: o sistema de garantias da independência da magistratura, e a regra
legal de que todos os actos praticados pela Administração Pública em matéria da
competência dos Tribunais Judiciais, são actos nulos e de O Poder Administrativo

A Administração Pública é um poder, fazendo parte daquilo a que se costuma chamar os poderes
públicos. A Administração Pública do Estado corresponde ao poder executivo: o poder
legislativo e o poder judicial não coincidem com a Administração Pública. Falar em poder
executivo, de modo a englobar nele também as autarquias locais e outras entidades, não é
adequado. Assim, preferível usar a expressão poder administrativo, que compreende de um lado
o poder executivo do Estado e do outro as entidades públicas administrativas não estaduais. A

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Administração Pública é, efectivamente, uma autoridade, um poder público – é o Poder
Administrativo.
 
Manifestações do Poder Administrativo
As principais manifestações do poder administrativo são quatro:
a) O Poder Regulamentar
A Administração Pública, tem o poder de fazer regulamentos, a que chamamos “poder
regulamentar” e outros autores denominam de faculdade regulamentaria. Este regulamento que a
Administração Pública tem o Direito de elaborar é considerado como uma fonte de Direito
(autónoma). A Administração Pública goza de um poder regulamentar, porque é poder, e com
tal, ela tem o direito de definir genericamente em que sentido vai aplicar a lei. A Administração
Pública tem de respeitar as leis, tem de as executar: por isso ao poder administrativo do Estado se
chama tradicionalmente poder executivo. Mas porque é poder, tem a faculdade de definir
previamente, em termos genéricos e abstractos, em que sentido é que vai interpretar e aplicar as
leis em vigor: e isso, fá-lo justamente elaborando regulamentos.

b) O Poder de Decisão Unilateral


Enquanto no regulamento a Administração Pública nos aparece a fazer normas gerais e
abstractas, embora inferiores à lei, aqui a Administração Pública aparece-nos a resolver casos
concretos.
Este poder é um poder unilateral, quer dizer, a Administração Pública pode exercê-lo por
exclusiva autoridade sua, e sem necessidade de obter acordo (prévio ou à posteriori) do
interessado.
A Administração, perante um caso concreto, em que é preciso definir a situação, a
Administração Pública tem por lei o poder de definir unilateralmente o Direito aplicável. E esta
definição unilateral da Administração Pública é obrigatória para os particulares. Por isso, a
Administração é um poder.
Por exemplo: é a Administração que determina o montante do imposto devido por cada
contribuinte. A Administração declara o Direito no caso concreto, e essa declaração tem valor
jurídico e é obrigatória, não só para os serviços públicos e para os funcionários subalternos, mas
também para todos os particulares.

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Pode também a lei facultar, e na realidade faculta, aos particulares a possibilidade de
apresentarem reclamações ou recursos graciosos, designadamente recursos hierárquicos, contra
as decisões da Administração Pública.
Pode a lei, e permite, que os interessados recorram das decisões unilaterais da Administração
Pública para os Tribunais Administrativos, a fim de obterem a anulação dessas decisões no caso
de serem ilegais. A Administração decide, e só depois é que o particular pode recorrer da
decisão. E não é a Administração que tem de ir a Tribunal para legitimar a decisão que tomou: é
o particular que tem de ir a Tribunal para impugnar a decisão tomada pela Administração.

c) O Privilégio da Execução Previa


Consiste este outro poder, na faculdade que a lei dá à Administração Pública de impor
coactivamente aos particulares as decisões unilaterais que tiver tomado.
O recurso contencioso de anulação não tem em regra efeito suspensivo, o que significa que
enquanto vai decorrendo o processo contencioso em que se discute se o acto administrativo é
legal ou ilegal, o particular tem de cumprir o acto, se não o cumprir, a Administração Pública
pode impor coactivamente o seu acatamento.
Isto quer dizer, portanto, que a Administração dispõe de dois privilégios:
1. Na fase declaratória, o privilégio de definir unilateralmente o Direito no caso concreto,
sem necessidade duma declaração judicial;
2. Na fase executória, o privilégio de executar o Direito por via administrativa, sem
qualquer intervenção do Tribunal. É o poder administrativo na sua máxima pujança: é a
plenitude potestativa.

d) Regime Especial dos Contractos Administrativos:


Um contracto administrativo, é um acordo de vontades em que a Administração Pública fica
sujeita a um regime jurídico especial, diferente daquele que existe no Direito Civil.
E de novo, nesta matéria, como é próprio do Direito Administrativo, esse regime é diferente para
mais, e para menos. Para mais, porque a Administração Pública fica a dispor de prerrogativas ou
privilégios de que as partes nos contractos civis não dispõem; e para menos, no sentido de que a
Administração Pública também fica sujeita a restrições e a deveres especiais, que não existem
em regra nos contractos civis.

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Corolários do Poder Administrativo
a) Independência da Administração perante a Justiça: existem vários mecanismos
jurídicos para o assegurar. Em primeiro lugar, os Tribunais Comuns são incompetentes
para se pronunciarem sobre questões administrativas. Em segundo lugar, o regime dos
conflitos de jurisdição permite retirar a um Tribunal Judicial, uma questão administrativa
que erradamente nele esteja a decorrer. Em terceiro lugar, devemos mencionar aqui a
chamada garantia administrativa, consiste no privilégio conferido por lei às autoridades
administrativas de não poderem ser demandadas criminalmente nos Tribunais Judiciais,
sem prévia autorização do Governo.
b) Foro Administrativo: que consiste na entrega de competência exclusiva para julgar
casos do contencioso administrativo ao Tribunal Administrativo e não aos tribunais
comuns (cfr. artigo 230 da CRM).
c) Tribunal de Conflitos: é um Tribunal Superior, de existência aliás intermitente (só
funciona quando surge um conflito), que tem uma composição mista, normalmente
paritária, dos juízes dos Tribunais Judiciais e de juízes de Tribunais Administrativos, e
que se destina a decidir em última instância os conflitos de jurisdição que sejam entre as
autoridades administrativas e o poder judicial.

O poder administrativo na CRM

Os princípios constitucionais que consagram o poder administrativo em Moçambique acham-se


estabelecidos no artigo 249 e seguintes: O princípio da prossecução do interesse público. A
administração pública actua, move-se e funciona para prosseguir o interesse público. O interesse
público é o seu único fim e, na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos (art. 249,1 da CRM e art. 5 do Decreto. nº 30/2001, de 15 de Out.);

O princípio da legalidade, em que a administração pública na sua actuação tem como limite á
obediência á Lei (art. 2,3 e 249,2 da CRM);

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O princípio de respeito pelos direitos e interesses legítimos dos cidadãos, que impõe a
administração a não violar as situações juridicamente protegidas dos administrados (art. 249,1 da
CRM e art.5 do Decreto. nº 30/2001, de 15 de Out.);

O poder discricional da administração pública, que corresponde o poder legal jurídico, regulado
e condicionado por Lei que deve ser exercido com justiça e imparcialidade pela Administração
Pública e que resulta (i) o princípio da justiça e (ii) o princípio da imparcialidade (nr.2 do artigo
249 da CRM).

Assim, vamos analisar os cinco princípios do poder administrativo:

Os cinco princípios do poder administrativo

1. O Princípio da prossecução do interesse público: O interesse público é o interesse


colectivo, é o interesse geral de uma determinada comunidade é o bem comum (art. 249,1
da CRM). A noção do interesse público traduz uma exigência, a satisfação das
necessidades colectivas. Segundo a doutrina dominante distingue-se dois tipos de
interesses: O interesse público primário de interesses públicos secundários. Considera-se
interesse público primário aquele cuja definição e satisfação compete aos órgãos
governativos do Estado, no desempenho das funções política e legislativa; os interesses
públicos secundários são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas que a sua
satisfação cabe á administração pública no desempenho da função administrativa –
satisfação das necessidades de segurança pública, educação, saúde, cultura, transportes.
etc.
3. O princípio da legalidade: implica a subordinação da Administração pública à
Constituição, a lei no sentido amplo, aos direitos resultantes do contrato administrativo
ou de acto administrativo constitutivo de direitos, os princípios gerais de Direito, assim
como o Direito internacional público que vigore na ordem interna ordinária. A violação
por parte da Administração pública de qualquer das normas ou actos implica violação da
legalidade e configura ilegalidade. A maioria da doutrina administrativa ensina que, a
Administração pública tem de prosseguir o interesse público em obediência à lei, é o que
se chama o princípio da legalidade, é um dos mais importantes princípios gerais de
direito aplicáveis à Administração pública. Este princípio acha-se consagrado na CRM,

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artigos 2.3 e 249. 2, in fine, da CRM e art. 4 do Dec. Nº 30/2001, de 15 de Outubro. Este
princípio pode ser definido da seguinte forma: os órgãos e agentes da Administração
pública só podem agir no exercício das suas funções com fundamento na lei e dentro dos
limites por ela impostos. Assim, pode-se concluir que o princípio da legalidade tem por
um lado: (i) a função de assegurar o primado do poder legislativo sobre o poder
administrativo, porque o legislativo emana da soberania popular e a representa, enquanto,
o segundo é detentor de uma autoridade derivada e secundária; por outro lado, (ii) o
princípio da legalidade tem a função de garantir os direitos e interesses legítimos dos
particulares, que o Estado Social de Direito não pode deixar de respeitar e proteger em
toda a linha.

Excepções ao princípio da legalidade


A maior parte da doutrina administrativa ensina que o princípio da legalidade comporta
três excepções: a teoria do estado de necessidade; a teoria dos actos políticos; o poder
discricionário da Administração. Para o nosso estudo vamos analisar apenas a primeira
que é a que nos interessa em conformidade com o autor que temos vindo a seguir. A
teoria do estado de necessidade diz que, em circunstâncias excepcionais, uma verdadeira
situação de necessidade pública – estado de guerra, estado de sítio ou em caso de grave
calamidade natural, a Administração pública fica dispensada de seguir o processo legal
estabelecido para circunstâncias normais e pode agir sem forma de processo, mesmo que
isso implique o sacrifício de direitos ou interesses dos particulares, mesmo que essa
actuação resulte em responsabilidade civil para a Administração. Aqui está subjacente a
prevalência do interesse da colectividade em relação aos direitos e interesses dos
particulares individualmente tomados e/ou considerados.

4. O princípio de respeito pelos Direitos e interesses dos particulares:


Aqui se está perante a uma série de limites ao poder discricionário da administração
pública (art. 249,1 da CRM e art. 5 do Dec. nº 30/2001, de 15 de Out.).
4.1. O princípio da justiça, significa que na actuação da Administração pública deve
harmonizar o interesse público específico que lhe cabe prosseguir com os direitos

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e interesses legítimos dos particulares eventualmente afectados (art.249,2 da
CRM e art. 6 do Dec. nº 30/2001, de 15 de Out.).
Assim, a noção da justiça deve ser entendida no sentido objectivo e universal. O
princípio da justiça consagrado na CRM, comporta três corolários:
(i) Princípio da justiça no sentido restrito, significa que todo o acto
administrativo praticado com manifesta injustiça é contrário á
Constituição, logo, é ilegal, passível de ser anulado em recurso
contencioso pelo Tribunal Administrativo competente;
(ii) Princípio da igualdade consiste na necessidade de tratar igualmente as
situações iguais e desigualmente as situações desiguais. Significa isto, que
todo o acto administrativo que viole o princípio da igualdade é ilegal. A
violação deste princípio, implica, necessariamente, a violação do princípio
da justiça tomado no seu sentido amplo;
(iii) Princípio da proporcionalidade, este princípio garante a prossecução dos
direitos, liberdades e garantias dos particulares consagrados na
Constituição. Assim, a lei ordinária só pode os restringir nos casos
expressamente previstos na Constituição – a restrição limita-se ao
necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos dos particulares. Daí que, é comummente
aceite pela maioria da doutrina que, para o sacrifício excessivo dos
direitos e interesses legítimos dos particulares, as medidas restritivas
devem ser proporcionais ao mal que se pretende evitar. Com efeito, se as
medidas restritivas forem excessivas, constituirão o que se designa de
excesso de poder e, sendo assim, contrários ao princípio da justiça –
violam a Constituição e são ilegais.
4.2. O princípio da transparência: O principio da transparência dos actos da
Administração Publica consagra que todo o acto Administrativo deve ser tomado
com transparência em relação a todo o cidadão e/ou particular (art. 7 do Decreto.
nº 30/2001, de 15 de Out.).
4.3. Garantias de imparcialidade da Administração pública: O princípio da
imparcialidade da Administração pública significa que a administração deve

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comportar-se sempre com isenção e numa atitude de equidistância perante todos
os particulares, não devendo privilegiar e nem discriminar ninguém.
A Administração pública não deve conferir privilégios e nem discriminar a
ninguém, só a Lei o pode fazer (art. 249,2 da CRM). Este princípio comporta os
seguintes corolários:
(i) Proibição de favoritismo ou perseguições aos particulares, sejam quais
forem os motivos invocados: políticos, partidários, sindicais, regionais,
étnicos ou religiosos, etc;
(ii) Proibições de os órgãos de a administração tomarem decisões sobre
assuntos em que estejam pessoalmente interessados, por razões de carácter
familiar, económico, político, regionais, etc;
(iii) Proibição de os órgãos de a administração tomarem parte ou interesse em
contratos celebrados com a administração ou por ela aprovados ou
autorizados.

Estes corolários são objecto de uma providência legal que se reveste da maior
importância, trata-se do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, que estabelece
Normas de Funcionamento dos Serviços de Administração Pública (art. 6).

RESOLUÇÃO DO TESTE DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Fale dos princípios de respeito pelos direitos e interesses legítimos dos cidadãos

R: De acordo com art. 249,1 da CRM, Administração publica serve o interesse público que
na sua actuação respeita os direitos, liberdades fundamentais dos cidadãos. Conjugado com o
artigo 5 do Decreto n30/2001 de 15 de Outubro, os órgãos da Administração publica,
observando o principio de boa fé prosseguem o interesse publico sem prejuízo dos direitos e
interesse dos particulares protegidos por lei.

Segundo Amaral (2008:61) este princípio significa fundamentalmente que a prossecução do


interesse público não é o único critério da acção administrativa, nem tem um valor ou alcance
ilimitado. A que prosseguir sem duvida o interesse publico, mas respeitando
simultaneamente os direitos subjectivos e os interesses legalmente protegidos dos
particulares.

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Quanto aos limites do princípio de respeito pelos direitos interesses legítimos dos cidadãos,
segundo Amaral (2008:62) para além do princípio da legalidade destacam-se:

a) Estabelecimento da possibilidade de suspensão jurisdicional da eficiência do acto


administrativo, a quando da execução daquele possam resultar prejuízos de difícil
reparação para o particular;
b) Extensão do âmbito de responsabilidade da administração por âmbito ilícito culposo;
c) Extensão da responsabilidade da administração aos actos causados por factos casuais bem
como por actos ilícitos que imponham encargos ou prejuízos especiais e anormais aos
particulares
d) Conceição aos particulares de direitos de participação e informação no procedimento
administrativo, antes da tomada da decisão final.
e) Imposição do dever de fundamentar em relação aos actos administrativos que afectem
directamente os interesse legalmente protegidos dos particulares;
f) Abertura aos particulares de uma via contenciosa não fundada em ilegalidade para obter o
reconhecimento de u direito subjectivo ou de um interesse legítimo
g) Imposição expressa do limite do respeito pelos direitos liberdade e garantias aos cidadãos
às actividades de natureza policiais inclusivamente quando tiverem por objectivo a
prevenção de crimes contra segurança;
h) Alargamento constitucional da responsabilidade civil da administração aos casos em que
o dano a indemnizar consista apenas em violação de direitos liberdade ou garantias dos
cidadãos
i) Conceição de direito de acesso dos particulares ao provedor de justiça, afim de prevenir e
reparar injustiças, sobretudo quando não consistam simultaneamente em ilegalidade.
Esta é uma lista exaustiva de várias soluções que foram consagradas quer pelo direito
constitucional, quer pelo direito administrativo e que visam ir mais alem na protecção dos
direitos subjectivos e dos interesses legalmente protegidos dos particulares.

Vê-se assim que este princípio limita e subordina a administração pública.

2. Fale do princípio do poder discricional da administração pública


R: Podem haver casos em que a lei queira que administração exerça efectivamente caso a
caso o seu poder de apreciação das circunstâncias concretas se, por tanto for de concluir

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por interpretação da lei que esta quer que administração decida aquele tipo de casos
mediante uma ponderação concreta, casuística, das circunstâncias e condicionalismos de
cada situação particular, aí estaremos perante o exercício do poder discricionário. Amaral
(2008:95). O poder discricional da administração pública corresponde ao poder legal
jurídico regulado e condicionado por lei que deve ser exercido com justiça e
imparcialidade pela administração pública e que resulta:
(i) O principio da justiça e;
(ii) O princípio da imparcialidade (n°2, do art. 249 da CRM) articulado com artigo 6 do
Decreto 30/2001 de 15 de Outubro
1. No exercício das suas funções e no seu relacionamento com as pessoas singulares
ou colectiva, administração pública deve actuar de forma justa e imparcial
2. A imparcialidade impõe que os particulares e os membros dos órgãos da
administração pública se abstenham de praticar ou de participar de actos ou
contractos administrativo, nomeadamente de tomar decisões que visem interesse
próprio do seu cônjuge, parente ou afim, bem como de outros entidades com as
quais possa ter conflitos de interesse nos termos da lei.

O poder discricional não represente nenhuma excepção do principio da legalidade e nem


significa poder arbitrário, só há poder discricional quando e na medida em que a lei confere.

Segundo Amaral (2008:95) o poder discricional da administração pode ser limitado


juridicamente através do estabelecimento de limites legais (aqueles que resultam da própria lei)
ou através da chamada auto vinculação.

3. Fale do acto administrativo

Segundo Amaral (2008:210) acto administrativo é um acto jurídico unilateral praticado, no


exercício do poder administrativo, por um órgão da administração ou por outra entidade pública
ou privada para tal habilitada por lei, e que produz uma decisão tendente a produzir efeitos
jurídicos sobre uma situação individual e concreta.

Devido ao acto praticado pelo chefe dos Serviços de Geografia e Cadastro de Matutuine, a
Governadora da Província de Maputo, mandou instaurar um procedimento disciplinar no qual

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constam as seguintes acusações: ser alcoólico e usurpava as terras dos particulares para vender
aos estrangeiros.

A venda de terra é um acto ilegal, isto é, contrario a lei segundo o artigo 3 da Lei de Terras, “a
terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida ou, por qualquer forma alienada,
hipotecada ou penhorada.” Assim sendo, este acto torna-se nulo e acarreta consigo as seguintes
consequências: é totalmente ineficaz desde o início, é insanável, os particulares tem o direito de
não obedecer, pode ser impugnado a todo tempo, a impugnação judicial pode ser feita a qualquer
tribunal.

A usurpação de terras trata-se de uma violação do princípio de legalidade (administração publica,


na sua actuação agi de acordo com a lei), pois a usurpação de terrenos não é matéria prevista na
lei, ou por outra não faz parte das atribuições dos órgãos administrativos, legalmente classifica-
se como um crime passível de procedimento em tribunal. Segundo art. 21,2 do Decreto 30/2001
de 15 Outubro, a usurpação de terrenos por parte de arguido é ilegal.

Quanto a decisão tomada pela Administradora (suspensão imediata das actividades do


funcionário), trata-se de um procedimento anulável, pois segundo o art.133,1 do Regulamento do
EGFAE, o funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte dos seus deveres, abuse
das suas funções ou de qualquer forma que prejudique o Estado, está sujeito há procedimentos
disciplinar ou aplicação de sanções disciplinares. De tal forma que não se pode suspender um
funcionário sem que antes lhe tenha sido instaurado um processo disciplinar.

No que diz respeito a nomeação do administrador do Distrito como instrutor: foi um


procedimento correcto, pois, de acordo com art.160 do Regulamento do EGFAE, este tem
competências de ser nomeado instrutor deste processo. Porem, a exigência do relatório final num
prazo máximo de 5 dias, trata-se de um acto ilegal, pois a luz do art.161,1 do Regulamento do
EGFAE, a instrução do processo termina dentro do prazo de 15 dias; não podendo ser inferior a 5
cinco dias pois segundo art.155,1 alínea c, a nota de acusação dá do arguido um prazo máximo
de 5 dias para que apresente a sua defesa oral ou escrita. E tendo em conta as fases subsequentes,
nãos levara menos de 5 dias.

Portanto, expropriação e a posterior venda das terras dos particulares, traduz-se num acto
inquinado de vícios: incompetência e violação de leis, produz danos afectivos aos respectivos

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destinatários; no âmbito da responsabilidade civil da administração este acto enquadra-se na
responsabilidade por facto ilícito culposo que tem os seguintes pressupostos: a culpa do agente, o
facto ilícito, o prejuízo. Como sujeitos responsáveis deste acto, tratando-se de um facto pessoal, a
responsabilidade pelos prejuízos causados a outrem, é uma responsabilidade pessoal, exclusiva
do autor.

Competência, de acordo com Caetano (2007: 223) “é um conjunto de poderes que o órgão possui
para exercer direitos subjectivos e prosseguir atribuições da pessoa colectiva”. De acordo com o
número 1 do artigo 21 do decreto 30/2001 de 15 de Outubro de 2001: os órgãos da administração
pública têm os poderes de autoridade para praticar actos administrativos decorrentes das funções
e atribuições definidas nos seus estados e regulamentos.

Para Caetano (2007:499) diz-se incompetência a ilegalidade resultante da prática por um órgão
ou agente administrativo de acto que ele não tinha poder legal de praticar no caso de essa
ilegalidade não constituir usurpação de poder

1. Análise do caso
A administração pública na sua actuação está submetida ao império da lei segundo o número 2
do artigo 249 da CRM: Os órgãos da Administração Pública obedecem à Constituição e à lei e
actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça. O
número 1 do artigo 4 do decreto número 30/ 2001 estabelece que os órgãos da administração
pública no desempenho das suas funções, obedecem ao princípio de da legalidade administrativa.
O número 2 do mesmo artigo estabelece que o princípio da legalidade administrativa implica,
necessariamente, a conformidade da acção administrativa com a lei e o direito. Daqui decorre
que a Lei não só é o limite da actuação administrativa bem como é o seu fundamento, o que
significa que qualquer que seja o acto praticado pelos órgãos e agentes da administração pública
que não esteja em conformidade com a lei está viciado de ilegalidade.

Análise do acto do Director do Combinado de Pesqueiro de Sopinho

O Director do Combinado de Moma vendia apetrechos de pesca aos tanzanianos a calada da


noite em benefício próprio. Este acto de venda de apetrechos de pesca em benefício próprio

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constitui um vício a legalidade, pois segundo a alínea b) do número 2 do artigo 41 do EGFAE
estabelece que os dirigentes do Estado devem assegurar que os bens do Estado sob a sua
responsabilidade sejam administrados de forma eficiente e eficaz; daqui decorre que qualquer
gestão dos bens públicos em benefício próprio é contrária ao princípio de prossecução dos
interesses público, que consiste em usar os bens públicos em benefício da satisfação das
necessidades colectivas, o interesse colectivo sobrepõe-se ao interesse particular. O acto venda
de apetrechos de pesca em benefício próprio é passível de sanção nos termos da lei.

Análise do Acto do Secretário Permanente do Ministério das Pescas


Aquando da sua visita ao combinado de Moma, o Secretario Permanente do Ministério das
Pescas foi informado pelos trabalhadores que o director do Combinado vendia apetrechos de
pesca a calada da noite em benefício próprio. Na reunião com a direcção o secretário permanente
decidiu exonerar imediatamente o director do Combinado e transferi-lo da província de Nampula
para a cidade de Maputo onde foi afectado na secretaria-geral da escola de pescas. A priori este
acto de transferência subentende-se como uma despromoção e se enquadra no âmbito das
sanções disciplinares previstas na alínea d) do número 1 do artigo 81 do EGFAE. [verificado]

De acordo com o modelo hierárquico de organização administrativa a competência para


sancionar deve estar prevista na lei, em conformidade com o número 1 do artigo 113 do EGFAE
[confirmado]: todos os dirigentes são competentes para praticar as penas de advertência e
repressão pública aos funcionários que lhes são subordinados.

Compete ao Secretario Permanente do Ministério das Pescas de acordo com alínea b) do


número 2 artigo 6: assegurar a gestão adequada dos recursos humanos, matérias e financeiros.
Compete também ao Secretário Permanente tem o poder de supervisionar, disciplinar, sancionar.
E em conformidade com o número 1 do artigo 10 do decreto 30/2001 de 15 de Outubro
[confirmado]: os órgãos da administração pública devem decidir sobre todos assuntos que lhe
seja apresentados pelos particulares. O numero 2 do mesmo artigo, estabelece que: se um assunto
for apresentado a um órgão não competente em razão da matéria este emitirá um despacho a
mandar remeter o expediente ao órgão competente com conhecimento do interessado. O número
a seguir determina que se o órgão for incompetente em razão da hierarquia este deverá
oficiosamente remeter o expediente ao órgão competente e informar desse procedimento ao
interessado. Daqui decorre que o acto praticado pelos secretario permanente é um acto inquinado

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de incompetência, pois segundo as alíneas a) e b) do numero 3 do artigo 113 do EGFAE
[confirmado]: são competentes para aplicação das penas de despromoção ao funcionário que lhe
estão subordinados, a nível central: Directores Nacionais; a nível local: Governadores
Provinciais e Administradores Distritais. As competências do Secretario Permanente são
limitadas por lei nos termos da alínea b), do número 3, do artigo 6, do decreto n 54/2008, de 30
de Dezembro que estabelece que o secretário permanente tem a competência de “decidir sobre
questões de gestão de recursos humanos do Ministério com a excepção dos que exercem funções
de direcção, chefia e confiança ao nível de inspector-geral, Assessor do Ministro, Director-Geral,
Directora-geral adjunto, Director Nacional, Director Nacional Adjunto, Chefe de Departamento
autónomo, Chefe do Gabinete do Ministro, Secretário Particular do Ministro ou funções
equivalentes”.

E segundo o organigrama do Ministério Das Pescas (em anexo) o Director do Combinado de


Sopinho não é subalterno do Secretário Permanente, mas sim do Ministro e dos órgãos aqui
pertence, o que significa que o Secretario Permanente, não tem competência para exonerar o
Director do Combinado, e este acto é impugnável. O Director do Combinado só podia ser
exonerado pelo Administrador Director Distrital ou pelo Ministro segundo a teoria dos poderes
implícitos (quem pode mais pode menos) e o acto do Secretario permanente classifica-se por
incompetência relativa ou incompetência por falta de competência, que é aquela que se verifica
quando um órgão de uma pessoa colectiva pública pratica um acto que está fora da sua
competência.

2. Condições em que o Secretario Permanente poderia praticar tal acto


Para Caetano (2007:465) “um acto administrativo para revestir valor jurídico há-de ter sido
produzido de harmonia com as normas a que a Administração esta submetida a sua actividade ”.
Por conseguinte, a decisão tomada pelo Secretário Permanente do Ministério das Pescas de
exonerar o Director do Combinado Pesqueiro de Sopinho e transferi-lo para a cidade de Maputo
é um acto viciado de incompetência em razão de hierarquia, pois não faz parte do quadro das
suas competências, pois o Secretario Permanente é um tecnocrata ou seja tem competência
técnica de coordenar, de execução e controlo das decisões do governo, visando a implementação
do programa e politicas governamentais definidas para o sector entende-se como e constitui um

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acto administrativo anulável. A aliena b) do número 3 do artigo 113 do EGFAE estabelece que
são competentes para a aplicação das penas de despromoção aos funcionários que lhes são
subordinados ao nível local, Governadores Provinciais e Administradores Distritais. De acordo
com o organigrama do Ministério das Pescas (em anexo), o Secretario Permanente não tem
subordinados. E, em consonância com a teoria dos poderes implícitos (quem pode mais pode
menos) a competência de exonerar e transferir o quadro de pessoal que exerce cargo de chefia é
da competência do Ministro das Pescas cujo é superior hierárquico. O Secretário Permanente
apenas poderia ter exonerado o Director do Combinado caso tivesse sido delegado ou
competência delegada pelo ministro das pescas. Segundo o número 1 do artigo 22 do decreto
30/2001 de 15 de Outubro: os órgãos e agentes de administração competentes para decidir sobre
determinadas matérias podem, nos limites da lei, delegar os poderes delegáveis a outros órgãos
ou agentes de escalão inferior para prática de actos administrativos sobre a mesma matéria. Para
o este caso, o Secretario Permanente caso tivesse sido delegado pelo ministro poderia praticar tal
acto mas contudo dentro dos limites da lei, e conforme o artigo 7 do Decreto 54/2008, o Ministro
poderá, expressamente delegar no Secretario Permanente: a representação do Ministério em
determinados actos ou actividades; a coordenação das actividades de cooperação internacional
do Ministério; outras funções e actos.

1. O Governo como órgão do Estado


Para cumprir as atribuições que lhes são conferidas pela constituição e pela lei, o Estado
Moçambicano carece de órgãos, aos quais compete tomar decisões em nome deste. Contudo, os
órgãos do Estado acham-se estabelecidos na constituição: o Presidente da Republica, Assembleia
da Republica, o Governo, os tribunais e o conselho constitucional, de acordo com o artigo 133 da
Constituição da Republica de Moçambique.De acordo com artigo 200 da CRM, o Governo de
Moçambique é o Conselho de Ministros, porem, para alem de ser um órgão politico, o Governo é
um órgão administrativo a titulo principal, permanente e directo, é o principal órgão permanente
e directo do Estado, com carácter administrativo.Do ponto de vista estrutural, à luz do disposto
no número 1 do artigo 201 da CRM, O Conselho de Ministros é composto pelo Presidente da
Republica, que a ele preside, pelo Primeiro-Ministro e pelos Ministros.Com isso, pode se afirmar
categoricamente que o Conselho de Ministros (Governo) é um órgãos do Estado, e não
necessariamente uma entidade jurídica, pelo que no Direito administrativo o Estado

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administração é uma entidade jurídica e pessoa colectiva publica autónoma que não se confunde
com seus órgãos de governação e nem com os seus funcionários públicos e nem com as outras
entidades autónomas que integram a administração, nem com os cidadãos que com ele entram,
em relação.

2. Competências do Governo

As Funções e competências do Governo da Republica de Moçambique, acham-se consagradas


nos artigos 203 e 204 da CRM, respectivamente; a luz do disposto no numero 1 do artigo 203 da
CRM, o Conselho de Ministros (Governo), assegura a administração do pais, garante a
integridade territorial, vela pela ordem publica e pela segurança e estabilidade dos cidadãos,
promove o desenvolvimento económico, implementa a acção social do Estado, desenvolve e
consolida a legalidade e realiza a politica externa do pais, de um modo geral, pode se concluir
que, sob ponto de vista das competências, o Governo tem como funções administrativas:
assegurar o funcionamento da administração pública a nível nacional; garantir o
desenvolvimento e execução das leis; promover a satisfação das necessidades colectivas e
assegurar a politica externa do país.Tendo em conta as tarefas que estão confiadas ao Governo,
pelo que lhe compete fazer por si próprio ou mandar fazer a outros, por ser órgão superior na
hierarquia da administração do Estado, e ainda, por lhe caber fiscalizar e orientar as demais
entidades publicas, que para, alem do Estado fazem parte da administração, o Governo é o órgão
principal da administração publica, pois rege toda a vida administrativa do pais.As competências
do Governo acham-se determinadas no artigo 204 da CRM. Na realização efectiva das funções
do Governo, este por sua vez, elabora normas jurídicas, o regulamento, pratica actos jurídicos
sobre casos concretos, actos administrativos, celebra contratos de vários tipos, e exerce
determinados poderes funcionais.O governo exerce as suas competências de varias formas,
nomeadamente: de forma colegial, quando o Governo exerce a sua competência através do
conselho de Ministros, assim como pode ser exercida individualmente, por vários membros do
Governo.

3.Conflitos de atribuições e de competências em pessoas colectivas publicas

Na prossecução dos objectivos da administração Publica, há casos em que ocorrem conflitos de


atribuições e conflitos de competências, portanto, ocorrem disputas e ou litígios entre os seus

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órgãos, em função do que lhes foi confiado afim de prosseguir, pelos que esses conflitos podem
ser classificados em positivos ou negativos. Por um lado temos o conflito de competência, aquele
se traduz numa disputa acerca da existência ou do exercício de um determinado poder funcional,
por outro, existe o conflito de atribuições quando a disputa versa sobre a existência ou a
prossecução de um determinado interesse público. Diz-se que há um conflito positivo, quando
dois ou mais órgãos da administração reivindicam para si a prossecução da mesma atribuição ou
o exercício da mesma competência, por outro lado, diz-se que conflito é negativo quando dois ou
mais órgãos consideram simultaneamente que lhes faltam as atribuições ou competências para
decidir um determinado caso concreto.

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