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Pressupostos processuais relativos ao tribunal - a competência

Pressupostos processuais relativos ao tribunal - a competência


Pelo 202º/1 CRP, a função jurisdicional é reservada aos tribunais. Fala-se em jurisdição
para referir o poder de julgar que na organização do Estado é atribuído aos tribunais.
O termo é também utilizado para referir o poder genericamente atribuído a cada
categoria de tribunais em face das demais categorias (P.e. Jurisdição administrativa).
A expressão competência designa a fração de poder jurisdicional que é atribuída pela
lei a cada tribunal. Para delimitar essa fração existem as regras de competência.

A distribuição de competências por diversas entidades pode gerar situações de


conflito:
a) Positivo - Quando duas ou mais autoridades pertencentes a diversas atividades do
Estado, ou dois ou mais tribunais, se arrogam no poder de conhecer a mesma questão.
b) Negativo - Quando duas ou mais entidades públicas ou dois ou mais tribunais
declinam o poder de conhecer uma determinada questão.
Os conflitos serão de jurisdição quando se estabelecem entre autoridades
pertencentes a diversas atividades do Estado ou entre tribunais pertencentes a
diferentes ordem jurisdicionais (P.e. Entidade administrativa vs tribunal ou tribunal
administrativo vs cível). Serão resolvidos, conforme os casos, pelo TJ ou pelo Tribunal
dos Conflitos.
Os conflitos serão de competência quando dois ou mais tribunais da mesma ordem
jurisdicional se consideram (in)competentes para conhecer da mesma questão. Será
resolvido pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre
as autoridades em conflito.

A) Competência internacional
As regras sobre competência internacional permitem apenas determinar se os
tribunais portugueses são, no seu conjunto, competentes para decidir o litígio. Não
definem, porém, qual o tribunal concretamente competente, no interior da jurisdição
nacional, para apreciar a questão.

Professora Doutora Rita Lobo Xavier


Pressupostos processuais relativos ao tribunal - a competência

A1) Regulamento n.º 1215/2012, do PE e do Conselho


Quanto ao âmbito de aplicação material, o Regulamento aplica-se em matéria cível e
comercial, com as exceções elencadas no art. 1.º.
Quanto ao âmbito subjetivo, o Regulamento aplica-se sempre que o demandado
tenha domicílio num dos Estados-Membros (4.º, 6.º/1), existindo porém regras de
competência exclusiva que são aplicáveis qualquer que seja o domicílio do réu (24.º),
bem como outras disposições que, para a proteção dos trabalhadores e dos
consumidores, levam a que a ação possa ser proposta no tribunal do EM
independentemente do domicilio do demandado (18/1, 21/2), prevendo-se ainda que
as partes possam atribuir competência a tribunais de um EM independentemente do
seu domicílio (25º/1).

A regra geral consta do art.4.º, pelo que, se o réu estiver domiciliado num EM, os
tribunais desse Estado são, em princípio, competentes para a ação.
O Regulamento admite, no entanto, em determinadas situações, que o réu domiciliado
num EM seja demandado noutro EM. Para o efeito, será necessário que aos tribunais
deste segundo Estado seja reconhecida competência por força dos critérios
enunciados nas secções 2 a 7.
Nas situações previstas na secção 2, tais regras não excluem a normal competência do
EM de domicilio do demandado, ou seja, o autor pode optar entre o Estado de
domicilio do réu e o daquele Estado para o que aponta o critério especial. Assim
destaca-se :
- Em matéria contratual, a competência do tribunal do lugar onde a obrigação deveria
ter sido cumprida (7/1);
- Em matéria extracontratual, a competência do tribunal do lugar do facto danoso
(7/2);

Diversamente, nas secções 3 a 7, a competência internacional é determina unicamente


pelas regras especiais aí estabelecidas.

Na secção 7 regulam-se os pactos atributivos de jurisdição, reconhecendo-se às


partes, independentemente do seu domicilio e com grande amplitude, a possibilidade
de livremente atribuírem aos tribunais de um Estado competência para dirimirem os
litígios que tenham surgido ou possam resultar de uma determinada relação jurídica.

Professora Doutora Rita Lobo Xavier


Pressupostos processuais relativos ao tribunal - a competência

Tais pactos deverão ser escritos, estar em conformidade com os usos que as partes
tenham estabelecido entre si ou que vigorem no comércio internacional e nele sejam
amplamente reconhecidos e regularmente observados pelas partes.
A competência assim estabelecida é exclusiva, a menos que as partes hajam
convencionado em contrário, tendo o tribunal designado no pacto prioridade da
apreciação da validade desse acordo.

O art. 26.º estatui que se reconhece competência ao tribunal do EM no qual o réu haja
sido demandado quando este compareça, a menos que tal comparência tenha como
único objetivo arguir a incompetência ou que esteja em causa a violação de regras de
competência exclusiva do art. 24.º.
Pelo 6º/1, se o réu não for domiciliado em EM, a competência é regulada pela lei do
Estado do foro, ressalvando-se a competência exclusiva definida no art. 24º e os
pactos do 25.º

Regulamento n.º2201/2003, do Conselho - Questões matrimoniais e de


responsabilidade parentais.
Regulamento n.º4/2009, do Conselho - Obrigações alimentares.
Regulamento n.º650/2012, do PE e do Conselho - Sucessões.

O CPC permite, em determinados termos, que as partes acordem sobre a matéria de


competência internacional dos tribunais portugueses, seja atribuindo-lhes
competência, seja afastando a competência que lhes é reconhecida - 94º CPC.
Pactos atributivos de jurisdição - Acordos pelos quais as partes conferem competência
aos tribunais portugueses.
Quando, ao invés, as partes retiram essa competência, fala-se de pactos privativos de
jurisdição.

Professora Doutora Rita Lobo Xavier

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