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Partes do Processo (Cap.

V)

Partes do Processo
1. Noções gerais
1.1 Noção de parte
Parte é aquele que pedem em juízo uma determinada forma de tutela jurídica e aquele
contra o qual essa forma de tutela é pedida.
As partes ativas chamam-se autores em processo declarativo e exequentes em
processo executivo. As partes passivas réus e executados.
A noção tem de parte têm relevância em vários aspetos do regime, como p.e. a
determinação do tribunal territorialmente competente (71/1, 72º, 80 a 82).

1.2 Qualidade de parte


Quem não é autor ou réu é terceiro perante processo, sendo possível distinguir 3
possibilidades :
a) Terceiros que têm a mesma qualidade jurídica do autor ou do réu. São partes em
sentido material;
b) Terceiros que, não tendo essa qualidade, têm uma relação com o objeto do
processo. São terceiros legitimados, porque têm legitimidade para ser partes da
causa. É o caso daqueles que podem intervir como partes principais (311º, 316º/1,
326º/1)
c) Terceiros que não têm nem a mesma qualidade jurídica das partes nem relação com
o objeto. São terceiros não legitimados. Não têm legitimidade para ser partes na
causa.

1.3 Delimitação das Partes


1.3.1 Princípios orientadores

A) Delimitação da parte - Pelo menos inicialmente, a identificação das partes está na


disponibilidade do autor - ele formula o pedido e indica contra quem o deseja
formular, sendo que :
- Parte é quem o é, não quem o devia ou podia ser.
- Estando a parte representada, parte é o representado, e não o representante.

Professor Doutor Miguel Teixeira de Sousa


Partes do Processo (Cap. V)

Se A, afirmando-se representante de B, sem o ser, propõe uma ação contra C, partes


são B e C. Há, porém, uma representação irregular, pelo que B não pode ser vinculado
ou prejudicado por esta ação (se a repudiar).
Pelo contrário, se D, representante de E, propuser contra F uma ação em nome
próprio, pretendendo fazer valer direitos de E, partes são D e F, embora D, porque
estranho ao objeto da causa, seja parte ilegítima.

B) Inexistência da parte
Há que distinguir entre inexistência do réu e do autor :
- A inexistência do autor deve ser tratada como uma insusceptibilidade de ser parte
e, portanto, como uma falta de personalidade judiciária (11/1). O princípio da
autossuficiência do processo não é compatível com uma "não-parte". Isto implica que
esse autor pode discutir em juízo essa alegada inexistência.
- A inexistência do réu implica que a falta de personalidade judiciária, quer a falta de
citação (188/1/d)), que é uma nulidade processual de conhecimento oficioso (196º,
por remissão do 187/a)).

O que sucede se, ao contrário do que dispõe o 269/1/a), não se suspender a instância,
vindo a transitar uma sentença a favor do autor ou contra o réu falecido ou extinto? A
não suspensão da instância após o falecimento ou extinção da parte consubstancia
uma nulidade processual (195/1), pelo que devem ser anulados os atos subsequentes
ao falecimento ou extinção (195/2). O trânsito em julgado não pode implicar a sanação
deste vício, pelo que a decisão proferida a favor ou contra uma parte inexistente tem
de ser considerada ineficaz.

C) Dualidade das partes


Trata-se de um princípio que assenta na exigência de uma ou mais partes ativas e de
uma ou mais partes passivas, decorrendo daqui a proibição dos "processos consigo
próprio".
A inobservância deste princípio implica a impossibilidade jurídica do processo, que
poderá ser originária ou superveniente, mas que em qualquer dos casos constitui
fundamento para a extinção da instância.

Professor Doutor Miguel Teixeira de Sousa


Partes do Processo (Cap. V)

D) Identificação das partes


Nos termos do 552/1/a), as partes devem ser identificadas pelo autor através da
indicação do seu nome, domicílios etc. Poderão surgir problemas mormente com a
identificação do réu :

 O réu é corretamente identificado pelo autor, mas é diferente da pessoa que


ele queria demandar (P.e. O autor identifica o réu com sendo Manuel Costa,
domiciliado em Lisboa, quando ele queria citar Manuel Costa, domiciliado em
Sintra). Aqui, a citação de Manuel, domiciliado em Lisboa, é correta e, com
essa citação, ele torna-se parte da ação. O erro só poder ser corrigido através
de uma desistência do pedido (283º/1). Se tal não acontecer, a ação será
julgada improcedente.
 O réu é incorretamente identificado pelo autor, não havendo, contudo,
dúvidas sobre a sua identidade (P.e. O autor identifica José Silva, quando
queria João Silva). Aqui, se a citação puder ser dada como realizada na pessoa
certa, não há nenhum vício e o erro poder ser corrigido, por analogia com o
disposto no art. 614º/1, a requerimento do autor.
 O réu é corretamente identificado pelo autor, mas é citada uma pessoa
diferente da indicada. Aqui, a citação é inexistente (188/1/b), tanto para o
verdadeiro demandado como para o indevidamente citado.

E) Espécies de partes
Ao lado das partes principais, surgem as acessórias como aquelas que são titulares de
interesses conexos com os interesses em causa e que, por isso, podem auxiliar uma
das partes principais. As partes acessórias defendem no processo um interesse
próprio, conexo com uma das partes principais, auxiliando-a e perante quem tomar
uma posição de subordinação.
P.e. o assistente (326º a 332º).

Professor Doutor Miguel Teixeira de Sousa


Partes do Processo (Cap. V)

2. Personalidade judiciária
Pelo 11/1, é a suscetibilidade de ser parte.
A personalidade judiciária é limitada pela sua eficácia, uma vez que só produz efeitos
dentro do processo. Por isso se justifica a existência de entidades dotadas de
personalidade judiciária, mas não de jurídica.
Veja-se por exemplo o 12/ a) :
Morto o réu, sem deixar herdeiros determinados, para não demorar o processo em
prejuízo do autor, pode este mover a ação contra a herança como sucessora do
mesmo réu. A herança é tida para efeitos processuais como sucessora do réu, quer
quanto aos direitos e deveres processuais deste, quer mesmo quanto aos direitos e
deveres de caráter substantivo.

A personalidade judiciária é o pressuposto dos restantes pressupostos processuais


subjetivos relativos às partes.

Critérios de atribuição :
O 11/2 estabelece a regra de que quem tiver personalidade jurídica tem personalidade
judiciária. Trata-se de uma regra sem exceção.
Para MTS, podemos mesmo dizer que o princípio de que só quem tem personalidade
jurídica tem personalidade judiciária.

Professor Doutor Miguel Teixeira de Sousa

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