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Antônio Rodrigues de Lemos Augusto – Direito Processual Civil I


E-mail: lemosaugusto@hotmail.com – Instagram: @antoniolemosaugusto. Resumo com base
principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.

I – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (atualizado em 2022)


Sujeitos do processo (Da capacidade processual; Dos deveres das partes e dos procuradores; Do valor da causa;
Dos procuradores; Da sucessão das partes e dos procuradores). Litisconsórcio. Intervenção de terceiros e suas
modalidades. Síntese da atuação do juiz, dos auxiliares da justiça, do Ministério Público, da Advocacia Pública e
Da Defensoria Pública. Atos processuais (Da forma dos atos processuais; Do tempo e do lugar dos atos
processuais; Dos prazos). Comunicação dos atos processuais (Da citação; Das cartas; Das intimações). Nulidades.
Distribuição e Registro. Da formação do processo. Da suspensão do processo. Da extinção do processo.
II – BIBLIOGRAFIA
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Volume I. Ed. Gen/Forense.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Editora Jus Podivm.
NERY JUNIOR, Nelson & NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. Ed. Revista
dos Tribunais.
II.I – BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR, além desta apostila
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. Editora Atlas.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Manual de Direito Processual Civil. Editora Atlas.
DONIZETTI, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Ed. Atlas.
SANTOS Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil, volume I. São Paulo:Editora Saraiva.
ALVIM NETO, José Manoel de Arruda. Manual de Direito Processual Civil.São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais.
BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil, volume I. Rio de Janeiro: Editora Forense.
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, volume I. São Paulo: Editora Saraiva.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Curso de Processo Civil, vol. Il: Processo de
Conhecimento. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
Atenção: O aluno é livre para adotar qualquer outro doutrinador de sua preferência.

1 – Sujeitos do processo – Art. 70 a 187, CPC


O aluno estudou, no semestre anterior, o conceito de processo. Também estudou que um processo judicial
pressupõe a existência de uma relação processual. Relembre o conceito de Humberto Theodoro Junior sobre o que
é um processo:
Humberto Theodoro Junior: “O processo se resume, assim, no complexo dos atos ou fatos que o
compõem e lhe imprimem movimento em rumo ao provimento judicial que haverá de encerrá-lo”.
Em outras palavras, um processo judicial pressupõe sequência de atos das partes e do órgão judicial,
gerando a solução de um conflito de interesses, dentro da vontade da lei. Assim, o Estado cumpre a sua função
jurisdicional, função esta que o aluno já estudou em disciplina anterior.
Se o processo pressupõe sequência de atos das partes e do órgão judicial, então o processo contém a
presença de sujeitos: sujeitos que irão realizar tais atos, dentro de uma relação processual. Relembre “relação
processual”:
Nas palavras de Humberto Theodoro Junior, a relação jurídico-processual estabelece-se, inicialmente, entre
o autor e o juiz e, portanto, neste momento, é bilateral. Com a citação do réu, este passa também a integrá-la, de
forma que a relação processual se completa e se torna trilateral e, assim, temos uma lide. A citação é o ato
processual que informa ao réu da existência de um processo em face dele, cumprindo o requisito constitucional do
contraditório e permitindo que tal réu exerça o também direito constitucional de ampla defesa, caso o queira.
Toda relação processual é trilateral? Não! Há situações em que o processo não apresentará “outra parte”,
de maneira que o Estado se torna habilitado para decidir já com o recebimento da Inicial, em situação de

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bilateralidade. Por exemplo, em uma ação de divórcio consensual, em que esposo e esposa assinam conjuntamente
a petição inicial. Outro exemplo, em uma ação para alteração de nome da pessoa natural.
Até aqui estamos dentro do conteúdo do semestre passado. Mas, já ingressando na disciplina atual,
precisamos perguntar: Quem são os sujeitos que fazem parte dessa relação processual?
O CPC dispõe longamente sobre o tema, que passaremos a estudar. Trata-se do Livro III, Parte Geral, do
CPC, que tem início no artigo 70 e segue até o artigo 187. Este Livro III é dividido nos seguintes “Títulos”
(relembre a formatação do CPC, estudada no semestre anterior):
✓ Título I: Das partes e dos procuradores;
✓ Título II: Do litisconsórcio;
✓ Título III: Da intervenção de terceiros;
✓ Título IV: Do juiz e dos auxiliares da Justiça;
✓ Título V: Do Ministério Público;
✓ Título VI: Da Advocacia Pública;
✓ Título VII: Da Defensoria Pública.
1.1 - Das partes e dos procuradores
Ainda citando disciplina anterior, o juiz, no processo judicial, não pode – por si – instaurar o processo. Não
há processo judicial instaurado “de ofício” pelo juiz. Ele precisa ser provocado pela parte autora (princípio
dispositivo). Se sem provocação inexiste processo, então a parte autora é um sujeito processual que busca o
Estado-Juiz para acionar a parte ré, por intermédio da citação, compondo a relação processual trilateral.
Conforme o tipo de ação, procedimento ou fase processual, a denominação das partes varia. Em geral, as
partes são chamadas de autor e réu no processo de conhecimento. Mas também podem ser chamadas de
demandante e demandado. Veja, a título de exemplo, como as partes podem ser chamadas em situações diferentes:
✓ Se houver reconvenção, as partes serão chamadas de reconvinte e reconvindo. O aluno estuda a
reconvenção no próximo semestre.
✓ Nos recursos, em geral: recorrente e recorrido.
✓ No recurso de apelação: apelante e apelado.
✓ No recurso de agravo: agravante e agravado.
✓ Nas intervenções de terceiro (matéria deste semestre): varia, conforme o caso. Veremos mais à frente.
✓ No “processo de execução”, as partes serão o exequente e o executado. Dentro deste processo, há os
embargos do devedor, em que as partes são chamadas de embargante e embargado.
1.1.1 – Capacidade de ser parte, capacidade processual e capacidade postulatória – Art. 70 e
71, CPC
Há três conceitos diversos: Capacidade de ser parte; capacidade processual; capacidade postulatória.
A capacidade de ser parte tem ligação com o conceito de existência de personalidade civil, do artigo 1º e
2º, CC. Para ser parte, basta estar vivo. Assim, uma criança recém-nascida tem capacidade de ser parte, seja como
autora, seja como ré.
Porém, a mesma criança recém-nascida não tem capacidade processual. Para ter capacidade processual é
necessário que a pessoa tenha capacidade civil plena.
E a criança recém-nascida do exemplo? Como tal criança não tem capacidade processual, somente
conseguirá ser, efetivamente, parte (capacidade de parte) se for representada. Assim, a pessoa incapaz pode ser
parte (tem capacidade de ser parte), mas, como não tem capacidade processual, dependerá de ser representada (se
incapaz absoluta) ou assistida (se incapaz relativa), o que ocorrerá pelos pais, tutor ou curador, conforme o caso.
Sendo incapaz, o processo exigirá a intervenção do Ministério Público, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

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Mas o fato de ter capacidade processual não significa que a pessoa tenha capacidade postulatória. A
capacidade postulatória é a aptidão para a prática de atos dentro do processo, conferida a advogados, defensores
públicos e promotores de Justiça. A parte, para estar em juízo, precisa ser representada por aquele que tem
capacidade postulatória: precisará contratar um advogado ou estar representada pelo defensor público. Apenas
excepcionalmente, quando a lei expressamente disser, será possível comparecer em juízo sem capacidade
postulatória. Exemplos: Impetrar um habeas corpus; nas ações que versem até 20 salários mínimos que tramitem
nos juizados especiais.
Assim, se Tício tem dois anos de idade, Tício tem capacidade de ser parte (pode ser autor ou réu em uma
demanda), mas não tem capacidade processual (precisará ser representado por seu representante legal). E tal
representante legal, não tendo capacidade postulatória, deverá buscar a representação por um advogado ou defensor
público. Note que a palavra “representado” tem conotações diversas: no primeiro caso, estou tratando de
representação legal e, no segundo caso, de representação convencional, conforme você estudou na Parte Geral do
Código Civil.
Se Maria tem 18 anos e conquistou capacidade plena civil, Maria tem capacidade de ser parte, tem
capacidade processual, mas não tem capacidade postulatória.
Veja agora: Joaquim, 26 anos, advogado, tem capacidade de ser parte, tem capacidade processual e tem
capacidade postulatória, podendo “advogar em causa própria”.
1.1.2– A nomeação de curador especial – Art. 72, CPC
Atenção: O termo “curador” tem diferentes significados no Direito. Não confunda o
“curador especial”, previsto no artigo 72, CPC, com o curador relacionado ao instituto da Curatela.
Há casos em que o juiz deverá nomear um curador especial (curador à lide), normalmente um defensor
público e, excepcionalmente, advogado. Veja:
✓ Se o incapaz não tiver representante legal;
✓ Se o interesse do incapaz colidir com o interesse do representante legal;
✓ Para o réu preso revel, quando não for constituído advogado;
✓ Para o réu revel citado por edital, quando não for constituído advogado;
✓ Para o réu revel citado com hora certa, quando não for constituído advogado;
Perceba que o réu revel somente terá a nomeação do curador especial em situações excepcionais no
processo civil. Estudaremos, ainda nesta disciplina: citação por edital e citação com hora certa.
Qual a obrigação do curador especial? Deve “velar pelo interesse da parte tutelada, no que diz respeito à
regularidade de todos os atos processuais, cabendo-lhe ampla defesa dos direitos da parte representada, e podendo,
até mesmo, produzir atos de resposta, como a contestação e a reconvenção”. Porém, não poderá fazer os atos que
dependem de cláusulas especiais da procuração ad judicia (mandato). Estudaremos a procuração ad judicia logo à
frente. Perceba que o curador especial não terá normalmente uma procuração em suas mãos e, portanto, não poderá
fazer atos que exigiriam obrigatoriamente a concordância do mandante (o cliente), como é o caso de uma transação
ou de uma confissão.
Detalhe: O curador especial pode produzir defesa por “negativa geral”, o que é negado
usualmente ao réu. Pela regra, o réu é obrigado a contestar, com provas, cada argumento do
autor, sob pena de se considerar como verdadeiro o que o autor alegou. É justamente esta regra
que não irá ser aplicada ao representado por curador especial. Ele, em uma ou duas frases,
apenas diz que as alegações do autor não correspondem à verdade, sem qualquer comprovação.
1.1.3 – Situações afins ao cônjuge ou companheiro – Art. 73 e 74, CPC
São casos em que o processo dependerá ou de autorização do cônjuge ou de citação do cônjuge, conforme
o caso (idem ao companheiro). Vejamos:

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1.1.3.1 – Cônjuge ou companheiro no polo ativo
Há ações em que o cônjuge ou o companheiro precisará do consentimento do outro para ser autor
(capacidade ativa), tema que o aluno estuda em Direito de Família, mas que está disposto também no art. 73, CPC.
Se a ação judicial diz respeito a direito real imobiliário (propriedade de imóvel, hipoteca, usufruto, uso, direito
real de habitação, entre outros), será necessária tal autorização, que é chamada de vênia conjugal (ou de outorga
uxória/outorga marital). Essa exigência não ocorre se o casamento for em regime de separação facultativa de bens
(separação total de bens). Por fim, a negativa abusiva para a vênia permite que o cônjuge prejudicado busque o
suprimento da autorização pelo juiz.
1.1.3.2 – Cônjuge ou companheiro no polo passivo
O §1º, art. 73, lista situações em que ambos os cônjuges precisam ser citados no processo, situação
extensiva aos companheiros. Aqui, diferentemente do parágrafo anterior, estamos falando de capacidade
processual passiva: o cônjuge está sendo processado. Se o tema estiver listado neste dispositivo, o autor precisa
promover a citação do casal, necessariamente, formando o que chamamos de “litisconsórcio passivo necessário”
(estudaremos litisconsórcio mais à frente), cuja inobservância provoca a nulidade do processo. O juiz dará prazo
para que o autor corrija eventual falha nessa citação e, caso não o faça, o processo será extinto por sentença
terminativa, ou seja, sem julgamento do mérito. Tal obrigatoriedade existe para ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação facultativa de
bens – O aluno estudará direito real imobiliário em disciplina futura de Direito Civil. Para agora, o principal
exemplo é uma discussão sobre a propriedade de um imóvel;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles,
independentemente do regime de bens – Por exemplo, o casal praticou, em conjunto, um ato ilícito; o casal, em
conjunto, foi responsável por uma simulação em contrato;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família – Uma dívida hospitalar ou
educacional ou de alimentos. Neste caso, inclusive, o casal será solidário, independentemente do regime de bens;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de
ambos os cônjuges, independentemente do regime de bens – Ônus sobre imóvel também é tema de disciplina para o
futuro. Guarde as principais situações: Uma discussão envolvendo uma hipoteca ou um usufruto sobre imóvel, por
exemplo.
1.1.3.3 – Cônjuge ou companheiro em situação de composse – Art. 73, §2º, CPC
Atenção para o art. 73, §2º: “Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu
somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado”. O aluno estuda as
ações possessórias (reintegração de posse, manutenção na posse e interdito proibitório) em matéria futura.
Mas vejamos exemplos práticos:
✓ Exemplo 01 - Juca e Maria são casados e residem, de aluguel, em um apartamento. Eles não têm
propriedade, mas têm posse, em razão do contrato. Como ambos residem no apartamento, há uma
composse (posse compartilhada). Neste caso, a ação possessória exigirá a presença de ambos os
cônjuges.
✓ Exemplo 02 - Juca e Maria são casados e Maria alugou um escritório, onde atua, somente ela,
como advogada. Perceba que a posse do escritório diz respeito apenas a Maria, não havendo
composse. Neste caso, eventual ação possessória não precisará da presença de Juca.
✓ Exemplo 03 – Juca e Maria são casados e compraram uma sala comercial, utilizada apenas por
Maria, como escritório de Advocacia. Perceba que agora estamos falando de propriedade,
aplicando-se o art. 73, §1º, I ou IV, CPC, vistos acima.
1.1.4 – Representação das pessoas jurídicas e dos entes despersonalizados (pessoa formal) –
Art. 75, CPC
O artigo 75 traz um rol de pessoas jurídicas e de entes despersonalizados (pessoas formais), com os seus
respectivos representantes. Pode-se dizer que a pessoa jurídica e a pessoa formal têm capacidade de ser parte, mas –

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sendo uma ficção jurídica – precisam de alguém que esteja de fato, em seu nome, na lide, que será o representante
para que possam exercer a capacidade processual.
O artigo lista onze incisos. Em alguns casos, o representante, pela sua própria natureza, terá capacidade
postulatória, como o procurador do Estado, que é um advogado. Em outras situações, o representante não terá
capacidade postulatória e terá obviamente que contratar um advogado. O aluno deverá guardar, para esta disciplina,
ao menos o que se segue:
✓ A União é representada pela Advocacia Geral da União ou órgão a ela vinculado, cujo servidor
têm capacidade postulatória.
✓ O Estado é representado pelos seus procuradores, que têm capacidade postulatória.
✓ O município pode ser representado pelo seu prefeito (sem capacidade postulatória) ou por
procurador (com capacidade postulatória).
✓ O espólio é representado pelo inventariante, sem capacidade postulatória.
✓ A pessoa jurídica de direito privado é representada por quem os respectivos atos constitutivos
designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores, sem capacidade postulatória.
✓ O condomínio é representado pelo administrador ou pelo síndico, sem capacidade postulatória.
Veja que a capacidade de ser parte no processo civil não cabe apenas às pessoas naturais e jurídicas, mas
também às pessoas despersonalizadas (pessoas formais): condomínio, massa falida, herança jacente ou vacante,
espólio, massa do insolvente civil, entre outros.
1.1.5 – Incapacidade processual e irregularidade de representação – Art. 76, CPC
A capacidade de atuar em juízo constitui um pressuposto processual. Sua inocorrência impede a formação
válida da relação jurídico-processual. O juiz deve fazer tal análise de ofício, mas as partes também podem arguir os
defeitos de representação.
Havendo falha na representação, o CPC regulamenta o procedimento para a correção, com suspensão do
processo e concessão de prazo para o saneamento. Não havendo a correção:
✓ O processo será extinto, se a providência couber ao autor. Exemplo, a pessoa jurídica de direito privado
que não demonstrou, com a sua documentação constitutiva, quem de direito deveria representá-la.
✓ O réu será considerado revel, se a providência lhe couber. Exemplo, o condomínio não apresenta a
documentação que comprova que aquele que o representa é síndico ou administrador.
✓ O terceiro será excluído do processo (se no polo ativo) ou considerado revel (se no polo passivo).
Estudaremos intervenção de terceiro neste semestre.
✓ Se em nível recursal, o juiz não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente, ou
determinará o desentranhamento da peça de resposta do recorrido (contrarrazões) se a providência
couber a ele.
1.1.6 – Custo financeiro do processo – Art. 82 a 97, CPC
A prestação da tutela jurisdicional é serviço público remunerado, salvo nos casos de gratuidade judiciária.
Diz o artigo 82, CPC, que incumbe às partes prover as custas e despesas dos atos que realizarem ou que requererem
no processo, antecipando-lhes o pagamento. Ao final da demanda, a parte derrotada deverá reembolsar a parte
vitoriosa. São “obrigações”, pois importam valores econômicos.
A doutrina faz distinção nos conceitos de custas e despesas. Porém, seguiremos o
texto literal do CPC, pelo qual, artigo 84, “as despesas abrangem as custas dos atos do
processo (...)”. Sendo assim, pelo texto do CPC, “custas” é uma espécie de despesa.
A expressão “custas” é mais comumente usada em relação ao valor pago para se poder litigar, as custas
iniciais, de natureza tributária. Também se enquadra o valor para se poder recorrer (custas recursais ou preparo).
Como dito, são espécies de despesas.

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Os demais gastos judiciários (afins, por exemplo, a oficial de Justiça e perito) são simplesmente
chamados de despesas. Ressalto que os honorários advocatícios receberam tratamento especial no art. 85. Mas,
repito, o aluno encontrará divergência doutrinária nessas conceituações, porém sem importância prática.
O artigo 84 cita ainda como despesa a indenização de viagem. Trata-se de gasto da testemunha, da parte
ou dos advogados, sempre que tenham que se deslocar do local onde residem e praticar o ato processual. Nos
exemplos de Humberto Theodoro Junior: quando a testemunha reside na zona rural ou em distrito afastado da sede
do juízo; quando o advogado tem que se deslocar para acompanhar o cumprimento de uma carta precatória; quando
a parte tem que comparecer a tentativa de conciliação em comarca que não a de seu domicílio. Mas tem um
detalhe: A indenização de viagem será custeada quando o beneficiário não for funcionário público ou não estiver
sob regime da legislação trabalhista, já que, em tais circunstâncias, nenhum desconto poderá sofrer da fonte
pagadora.
1.1.6.1 – Antecipação de despesas – Art. 82, CPC
Cada parte tem que pagar antecipadamente, em regra, as despesas dos atos que realizar. Mas há um peso
maior sobre o autor, porque:
✓ Ao autor cumpre efetuar o preparo inicial, logo após a propositura da ação, pagando as custas
iniciais, que se relacionam ao “valor da causa”. Veremos, logo à frente, o que é “valor da causa”. A
ausência do pagamento das custas iniciais gera a intimação pessoal do advogado da parte para, em 15 dias,
providenciar o ato, sob pena de extinção do processo sem julgamento do mérito, por sentença terminativa.
✓ A ele caberá também antecipar as despesas dos atos determinados de ofício pelo juiz (salvo se
perícia, que será rateada) ou requeridos pelo Ministério Público, quando funcionando como fiscal da lei
(lembre-se que o MP pode estar como parte na demanda e, neste caso, não se aplica tal regra). Se o autor
vencer a ação, tais valores serão ressarcidos pela parte derrotada.
Não havendo a antecipação financeira, o ato não será realizado, gerando prejuízo à parte que o
requereu. Se requereu diligência para intimação de testemunha por carta precatória e não depositou o valor, o ato
não será realizado e a audiência ocorrerá sem a coleta da prova oral. Da mesma forma ocorrerá em relação à
realização de perícias, entre outros.
Pode ser que a falta processual impeça o andamento da marcha processual, como o pagamento de
diligência para citação de litisconsorte necessário ou a promoção de prova determinada pelo juiz como
indispensável ao julgamento da causa. Isso acarretará o “abandono da causa”, gerando a extinção do processo sem
julgamento do mérito, nos termos do art. 485, II e III, §1º, CPC.
Quando a ausência prévia do preparo se relaciona às custas recursais, dá-se a deserção do recurso.
Na eventualidade de adiamento ou de repetição de ato processual por culpa da parte, órgão do MP, do
juiz, da Defensoria Pública ou do auxiliar da justiça, as despesas ficarão a cargo de quem houver dado causa ao
adiamento.
Por fim, MP e Fazenda Pública não se sujeitam à obrigação de antecipação de preparo. Mas esta regra
encontra algumas nuances em relação à perícia, como veremos a seguir.
a) Adiantamento de despesas de perícia – Art. 95, CPC
Especificamente em relação à perícia, cada parte antecipará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado. Para o perito em si, o valor será antecipado pela parte que o solicitou ou rateado por ambas as partes em
caso de solicitação comum ou quando o juiz a determinar de ofício ou, ainda, quando a solicitação for do
Ministério Público como fiscal da lei.
E se a perícia for de responsabilidade de beneficiário da justiça gratuita? A despesa será paga com
recursos alocados ao orçamento do ente público (vedado o uso de recursos destinados à Defensoria Pública) e a
perícia será realizada por servidor do Poder Judiciário ou por órgão público conveniado. Se tal perícia tiver que ser
feita por particular, o valor será fixado conforme tabela do tribunal respectivo ou, se omisso, pelo Conselho
Nacional de Justiça, e pago com recursos públicos.
Neste caso, aquele que perder a causa deverá repor o valor para o poder público após o trânsito em julgado
da ação. Mas tal reposição não se fará nos próprios autos: O juiz oficiará a Fazenda Pública respectiva para que

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promova a execução dos valores gastos com a perícia do particular ou com a utilização do servidor público ou da
estrutura do órgão público. Se o responsável for beneficiário de gratuidade da justiça, a exigibilidade ficará
suspensa até que o credor (o poder público) demonstre que deixou de existir a situação de insuficiência, com
prescrição em cinco anos (98, §3º, CPC).
E quando a perícia foi requerida pela Defensoria Pública, pela Fazenda Pública ou pelo Ministério
Público, como parte? O artigo 91, §1º, CPC, diz que a perícia poderá ser feita por entidade pública ou ter seus
valores adiantados, caso haja dotação orçamentária do solicitante para tanto. Não havendo dotação, os valores
deverão ser pagos no exercício seguinte ou ao final, pelo vencido, caso o processo se encerre antes do adiantamento
a ser feito pelo ente público (é uma exceção à necessidade de adiantamento de despesas pelo MP e Fazenda
Pública). A fórmula encontrada pelo CPC atual é diferente do que predominava na vigência do CPC antigo, que
garantia o imediato ressarcimento ao particular que elaborou a perícia solicitada por esses entes. Como diz
Humberto Theodoro Junior, “o certo é que a Fazenda Pública não conseguirá, em regra, prova pericial, diante da
impossibilidade jurídica de obrigar alguém a prestar serviço sem a correspectiva e imediata remuneração”. Na
prática, a medida obriga Fazenda Pública e Ministério Público a se preocuparem em garantir previsão orçamentária
para tais situações.
b) Do valor da causa – Art. 291 a 293, CPC
Atenção: O estudo do tema “Valor da Causa” é antecipado nesta disciplina
por ser essencial para a compreensão de outros temas estudados logo na sequência.
A ação, para ser distribuída, precisa apresentar o “valor da causa”. A toda causa será atribuído valor
certo no processo civil, ainda que não tenha conteúdo econômico aferível.
b.1) Para que serve o valor da causa?
✓ Serve de base para o cálculo das custas iniciais do processo (finalidade fiscal). Esta é a principal
finalidade do valor da causa.
✓ Serve como base para o cálculo de algumas multas processuais.
✓ Serve, eventualmente, como base para o cálculo de honorário advocatício sucumbencial, que veremos
mais à frente.
✓ Serve para limitar a possibilidade de determinada ação tramitar em juizados especiais.
✓ Serve para delimitar a possibilidade de ajuizar ações nos juizados especiais sem advogados (causas até
20 salários mínimos).
O valor da causa constará da petição inicial obrigatoriamente no processo civil, sob pena de intimação
para emenda e, persistindo a omissão, indeferimento da petição inicial com extinção do processo sem julgamento
do mérito por sentença terminativa. Também constará na reconvenção. Perceba que caberá ao autor (da ação ou da
reconvenção), portanto, apontar o valor da causa. O réu poderá impugnar, em caso de erro.
ATENÇÃO: O VALOR DA CAUSA NÃO SE CONFUNDE COM A PRETENSÃO OU
PEDIDO DO AUTOR. POR VEZES, O VALOR DA CAUSA COINCIDIRÁ COM O
VALOR DO PEDIDO DO AUTOR. MAS MUITAS VEZES O VALOR DA CAUSA SERÁ
TOTALMENTE DIFERENTE DO VALOR OU DO OBJETO DO PEDIDO DO AUTOR.
b.2) Regras do valor da causa
- Quando a causa não tiver conteúdo econômico aferível, o autor deve estipular um montante de acordo
com o princípio da razoabilidade, conforme jurisprudência. Um exemplo é a ação de exibição de documentos.
Outro exemplo está em ações de obrigação de não fazer. Outro exemplo é a ação de investigação de paternidade
(que não esteja cumulada com alimentos).
- Na ação de cobrança de dívida, o valor da causa será a soma monetariamente corrigida do principal, dos
juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação. Observe as regras
abaixo em caso de prestações vincendas:
. Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de umas e
outras.

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. O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por
tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à
soma das prestações.
- Na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a
resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte controvertida. Como exemplo, uma ação
para o cumprimento de uma obrigação de fazer terá, como valor da causa, o valor de tal obrigação de fazer.
- Na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor – Aqui, trata-se da ação
para constituir a obrigação de alimentos. Não estamos falando, aqui, da ação para a execução de uma dívida de
alimentos, que seguirá a regra de cobrança de dívida.
- Na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação de propriedade de imóvel, o valor de avaliação da
área ou do bem objeto do pedido.
- Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido.
- Na ação em que há cumulação própria de pedidos (o autor quer todos os pedidos), a quantia
correspondente à soma dos valores de todos eles. Exemplo: O autor que R$ 10 mil de danos morais, R$ 5 mil de
danos emergentes e R$ 2 mil de lucro cessante – O valor da causa será R$ 17 mil. E se o autor quiser a cobrança de
uma dívida com prestações vencidas e vincendas, além de danos materiais? Primeiro, resolve-se o valor da dívida
vencida e vincenda, conforme regra explicada acima. O montante encontrado é somado ao valor do pedido de
danos materiais.
- Na ação em que os pedidos sejam alternativos (o autor quer um ou outro), o de maior valor (relembre
obrigações alternativas de disciplina passada).
- Na ação em que houver pedido subsidiário, o valor da causa será o valor do pedido principal (pedido
subsidiário é quando a parte quer um pedido específico, mas lista outro para caso o juiz entenda que o pedido
principal não seja possível ou mesmo que o pedido principal tenha perecido) – Em exemplo, pede-se a obrigação
de dar coisa certa “X” e, subsidiariamente, a coisa certa “Y”. O valor da causa será o da coisa certa “X”.
Observe que o CPC não esgotou todas as hipóteses de ações e suas correlatas situações de valor da
causa. Assim, em certos casos será necessário buscar analogia. Também é possível que lei especial trate de valor
da causa para determinadas ações. É o caso da Lei do Inquilinato nº 8.245/1991, que define, para ações locatícias,
o valor da causa igual a doze meses de aluguel.
b.3) Impugnação do valor da causa – Art. 292, § 3º, e 293, CPC
A impugnação do valor da causa pode ocorrer na mesma peça de contestação, em preliminar (o aluno
estudará a peça de contestação em disciplina futura). O prazo para o réu é preclusivo, nos termos do artigo 293,
CPC: a impugnação ao valor da causa só pode ocorrer na fase da contestação.
Feita a impugnação pelo réu, o juiz irá intimar o autor para que se manifeste. Posteriormente, em decisão
interlocutória, decidirá a questão. Da decisão, não cabe recurso imediato.
Se o juiz acolher a impugnação ao valor da causa, será determinado o recálculo das custas iniciais e
determinado o seu recolhimento, sob pena de extinção do feito em sentença terminativa (sem julgar o mérito).
O juiz pode, de ofício, apontar erro no valor da causa? Em regra, sim, a qualquer momento do processo.
Mas parte da doutrina entende que, caso seja ação sem conteúdo econômico, em que o autor faça a estimativa do
valor da causa, não caberá ao juiz atacar tal valor de ofício: apenas a parte ré poderá impugnar tal valor, no
momento da contestação e, aí sim, o juiz apreciará. É este o entendimento de Humberto Theodoro Junior, que
seguiremos nesta disciplina. Isso porque o §3º, do artigo 292, fala que o juiz corrigirá de ofício “o valor da causa
quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico
perseguido pelo autor”, não citando a situação de ação sem reflexo patrimonial. Sendo assim, guarde: A
impugnação de ofício, pelo juiz, somente ocorrerá nas causas apreciáveis economicamente ou com conteúdo
patrimonial. Já nas ações sem conteúdo econômico aferível, parte da doutrina ressalta a impossibilidade de o juiz
impugnar de ofício o valor da causa, devendo ser provocado pelo réu, em preliminar de contestação, para fazer o
arbitramento (sob pena de preclusão).

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
1.1.6.2 – Ressarcimento de despesas – Art. 82, §2º, c/c 85, §1º, e 87, CPC
“A sentença condenará o vencido a pagar o vencedor as despesas que antecipou” (Sic - 82, §2º).
Além do ressarcimento de despesas, a sentença determinará a condenação do vencido ao pagamento de
honorários ao advogado do vencedor (85, §1º).
O ressarcimento das despesas e o pagamento de honorários advocatícios formam o que se chama de
“sucumbência” ou “verbas sucumbenciais”. Surgirá um título executivo em favor de quem ganhou a causa, seja ele
o autor, seja ele o réu. Guarde que o CPC adotou o princípio da sucumbência, pois o processo não pode redundar
em prejuízo da parte que tenha razão, de forma que esta responsabilidade é objetiva e prescinde de qualquer culpa
do litigante derrotado no Judiciário. Para sua incidência, basta o resultado negativo da solução da causa.
E se houver sucumbência recíproca na demanda? Neste caso, as despesas, incluindo os honorários,
serão divididas proporcionalmente, sendo vedada a compensação de valores (art. 86, caput, CPC).
Mas pode ser que uma das partes tenha tido “sucumbência mínima”. Imagine uma ação em que o autor
pede danos morais de R$ 10 mil, lucros cessantes de R$ 20 mil e danos emergentes de R$ 500,00: o autor consegue
a condenação do réu em danos morais e em lucros cessantes, mas não consegue a condenação nos danos
emergentes em quinhentos reais. Perceba, neste caso, que há uma sucumbência mínima do autor em quinhentos
reais, contra uma sucumbência pesada do réu em R$ 30 mil. Quando uma parte sucumbir em parte mínima do
pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários (parágrafo único, art. 86, CPC).
Se vários forem os litigantes vencidos (litisconsórcio), haverá o rateio da verba de sucumbência, em
proporção (art. 87). A sentença deverá distribuir, de forma expressa, a responsabilidade proporcional pelo
pagamento das despesas e dos honorários. Em caso de omissão da sentença, os litisconsortes responderão de
forma solidária (o aluno estudou solidariedade em disciplina passada). Embora a previsão de solidariedade esteja
no CPC, o litisconsorte pode ingressar com “embargos de declaração” (matéria de disciplina futura), apontando
omissão da sentença e solicitando a definição das proporções. Até porque o CPC diz que a “sentença deverá” impor
o rateio e, ao usar o verbo “deverá”, certamente insere uma obrigação do juiz, e não uma opção.
Se o processo terminar por desistência da ação (autor), renúncia do direito (autor) ou
reconhecimento do pedido (réu), as despesas e os honorários correrão por conta de quem desistiu, renunciou ou
reconheceu o pedido. Se tal ato de desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido for parcial, a sucumbência
será proporcional.
Se as partes transigirem, extinguindo o litígio, a sucumbência seguirá os termos do acordo celebrado.
Caso as partes não tenham disposto sobre as despesas na transação, deverão ser divididas igualmente. E, se a
transação ocorrer antes da sentença, as partes ficarão dispensadas do pagamento das custas processuais
remanescentes, se houver.
Em todo processo cível haverá sucumbência? Não. Lembre-se que há processos de jurisdição
voluntária em que não há réu ou litígio. Nesses casos, o requerente adiantará as despesas. Havendo mais de um
interessado, as despesas poderão ser rateadas. Caso, porém, surja impugnação do pedido, instaura-se o litígio e
aplicam-se as regras comuns de sucumbência. Exemplo: João, em processo de jurisdição voluntária, busca a
sentença declaratória de reconhecimento de união estável pós-morte com Maria. Se um filho de Maria, advindo de
outra relação, impugna o processo, surge o litígio, aplicando-se as regras usuais de sucumbência.
Nas ações de cunho divisório (como na divisão de um condomínio de bens), se não houver litígio, as
despesas serão rateadas na proporção dos quinhões.
Requisito para reingressar com ação após sentença terminativa (que extingue o processo sem
julgamento de mérito): O autor ingressa com ação cível. O réu é citado e oferece contestação, onde aponta falha
da petição inicial e requer a sentença extinguindo a ação sem resolução do mérito. Caso o juiz atenda ao pedido do
réu e decida pela extinção dos autos, o autor poderá ingressar novamente com a demanda até o limite de três vezes
(obviamente corrigindo a falha do processo anterior), mas – para tanto – tem que pagar ou depositar em cartório,
anteriormente, as despesas e honorários advocatícios a que foi condenado, conforme o artigo 92, CPC.
Procedimentos especiais: Já vimos que, além do procedimento comum processual, existem os
procedimentos especiais. Por vezes, haverá particularidades afins à sucumbência nesses regimes especiais.

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a) Sobre os honorários advocatícios – Art. 85 c/c 90, §4º, CPC
O artigo 85 esmiúça os honorários advocatícios, que são em benefício do advogado (e não da parte) e têm
natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho. Em regra, serão
decididos em sentença, salvo em casos excepcionais que o aluno estudará no decorrer do curso. Guarde que é valor
pago diretamente ao advogado do vencedor pela parte vencida e será devido mesmo que não tenha havido pedido
expresso na Inicial (se advogado do autor) ou na contestação (se advogado do réu), pois se trata de pedido
implícito. O advogado em causa própria também é favorecido pelo direito.
São devidos os honorários advocatícios inclusive na reconvenção, no cumprimento de sentença (provisório
ou definitivo), na execução (resistida ou não) e nos recursos interpostos. Mas lembre-se: nem toda ação judicial dá
direito à condenação em honorários advocatícios, como é o caso do mandado de segurança. Logo à frente
aprofundaremos o tema “honorários advocatícios”.
Os honorários sucumbenciais não se confundem com os honorários contratuais advocatícios. Imagine
que Juca contrata um advogado para ingressar com uma ação em face de Josefa. Ao contratar o advogado, Juca
assina um contrato de prestação de serviços advocatícios, em que se obriga a pagar um valor contratual a seu
advogado. O período para esse pagamento é de livre negociação e o valor é devido independentemente de sucesso
na demanda. Se Juca ganhar o processo em face de Josefa, o advogado de Juca receberá tanto o valor contratual (de
Juca) quanto o valor dos honorários de sucumbência (de Josefa). Caberá a Juca o direito de propor ação de perdas e
danos em face de Josefa para se ressarcir dos honorários contratuais que teve que pagar ao advogado (STJ). Se Juca
perder o processo, o advogado de Juca somente receberá o valor contratual acordado de Juca: neste caso, Juca
pagará tanto o contrato com o advogado dele, quanto os honorários sucumbenciais para o advogado de Josefa.
O Estatuto da OAB e o Código de Ética da OAB tratam dos honorários contratuais. Abaixo, abordaremos
os honorários sucumbenciais.
a.1) Regras de cálculo dos honorários advocatícios:
Os honorários sucumbenciais serão devidos entre o mínimo de 10% e o máximo de 20% sobre:
✓ 1º - O valor da condenação. Exemplo: A condenação em danos morais;
✓ 2º - O valor do proveito econômico obtido. Exemplo: Uma obrigação de fazer;
✓ 3º - Não sendo possível mensurar o valor econômico obtido, sobre o valor atualizado da
causa. Exemplo: Uma obrigação de não fazer.
✓ 4º - Caso o proveito econômico ou o valor da causa seja muito baixo ou irrisório, o juiz
fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa (85, §§ 2º e 8º, CPC), em quantia certa,
cujos juros moratórios incidirão a partir da data do trânsito em julgado da decisão.
A obrigação em pagar os honorários advocatícios existirá mesmo nos casos de sentença sem resolução de
mérito (sentença terminativa). Não é uma faculdade do juiz conceder os honorários, mas uma obrigação: na
omissão da sentença, inclusive, mesmo havendo trânsito em julgado, é possível ao advogado ajuizar ação
autônoma para sua definição e cobrança. Mais: Se a ação é proposta, os honorários serão devidos, mesmo que o
réu pague a dívida ao autor logo no início da demanda, salvo em exceções na lei.
Para fixar o montante de honorários, o juiz deverá observar:
✓ O grau de zelo do profissional;
✓ O lugar da prestação do serviço;
✓ A natureza e a importância da causa;
✓ O trabalho realizado pelo advogado;
✓ O tempo exigido pelo serviço.
Infelizmente, o que se vê na prática é o juiz passar por cima desses critérios e aplicar o mínimo de 10% nas
sucumbências advocatícias, gerando – não raro – a necessidade de o advogado recorrer para majorar o percentual.

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a.2) Situações diversas sobre honorários advocatícios:
- Em caso de recurso pela parte - É usual que haja recursos nas demandas judiciais. Se uma das partes
recorrer, o Tribunal poderá majorar os honorários, levando em conta o trabalho adicional realizado em grau
recursal pelo advogado, conforme o §11, do art. 85. No entanto, o Tribunal está limitado ao percentual de 20% já
citado. Assim, se o juiz de primeira instância concedeu 20% de honorários advocatícios, o Tribunal não irá poder
ampliar os honorários, mesmo com o trabalho extra. Temos aqui um dos temas mais debatidos no anteprojeto do
novo CPC e a solução dada enfrenta grandes críticas.
- Réu que reconhece prontamente a procedência do pedido, pagando a prestação imediatamente de
forma integral e espontânea - A regra não está no artigo 85, que trata especificamente dos honorários
advocatícios, mas no artigo 90, §4º, CPC, que determina que os honorários advocatícios sejam reduzidos pela
metade.
- Fazenda Pública - Caso a Fazenda Pública seja parte, além dos itens acima citados, o juiz deverá
observar uma tabela de percentuais e valores para a concessão dos honorários, conforme o valor da condenação
ou do proveito econômico obtido (art. 85, §3º, CPC). O CPC permite ao advogado público perceber honorários,
mas “nos termos da lei”. E traz regras específicas para a execução dos valores, em prol da Fazenda Pública.
- Honorários do curador especial que não seja defensor público - É tema controverso na jurisprudência,
caso o curador não seja defensor público. Predomina o seguinte entendimento: aplica-se a regra geral para
honorários, ou seja, somente ao final, caso a parte defendida pelo curador especial seja vitoriosa, o autor será
constrangido ao pagamento dos honorários advocatícios.
Se o curador especial é defensor público, não tem direito a esses honorários, pois está no exercício de sua
função institucional. Mas a Defensoria Pública terá direito ao valor.
- Perda do objeto - Há situações ainda em que ocorre a “perda do objeto” durante a demanda, ou seja, não
há mais a causa de pedir. Pode ocorrer por motivos diversos:
✓ Se o réu gerou o motivo de perda do objeto (devolveu o carro que estava em sua posse
indevidamente, por exemplo), ele arcará com os honorários, podendo ser o caso de pagamento pela
metade, se foi situação de pronto reconhecimento da procedência do pedido.
✓ Se o autor deu causa à perda do objeto (foi demonstrado, nos autos, que ele havia perdoado a dívida
anteriormente à demanda, por exemplo), a ele corresponderá os honorários.
✓ Caso se trate de situação de perda do objeto alheia à vontade das partes, o juiz arbitrará os
honorários no caso concreto (por exemplo, uma ação reivindicatória de um imóvel na beira de um
morro, em que o morro – por caso fortuito – desaba, gerando a extinção do bem). Neste último caso, a
doutrina defende que, se o juiz não conseguir vislumbrar, no caso concreto, aquele que deveria pagar
os honorários, a solução justa é não condenar qualquer das partes.
- No “cumprimento de sentença”, não havendo o pagamento voluntário da condenação transitada em
julgado, haverá, além de multa de 10% sobre o valor condenatório, honorários de advogado de 10% também sobre
o valor condenatório. O STJ inclusive tem entendimento de que este percentual não pode ser relativizado pelo
princípio da razoabilidade e da proporcionalidade:
“A lei não deixou dúvidas quanto ao percentual de honorários advocatícios a ser
acrescido ao débito nas hipóteses de ausência de pagamento voluntário (...). O percentual
de 10% foi expressamente tarifado em lei" (Ministra Nancy Andrighi, relatora do REsp
1701824, DJe 12/06/2020).
- Alimentos em razão de ato ilícito - Imagine que Juca comete ato ilícito contra Manuel e é condenado,
em ação de responsabilidade civil, a pagar 20 prestações de valores indenizatórios de alimentos para a vítima.
Porém, Juca não faz tais pagamentos e a vítima ingressa com ação de cobrança. Neste caso, aplica-se o artigo 85,
§9º, CPC, para a apuração dos honorários. Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual de
honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas acrescida de doze prestações vincendas. (85, §9º, CPC).
Se Juca já devia cinco prestações de mil reais, o valor de base para se encontrar os honorários será de R$ 17 mil (5
mil + 12 mil). Sobre R$ 17 mil haverá a incidência do percentual arbitrado pelo juiz de 10% a 20%.

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- Execução de alimentos no Direito de Família - Em se tratando de ação de execução de alimentos do
Direito de Família, o cálculo dos honorários segue construção jurisprudencial e será feito também sobre o montante
das parcelas vencidas, mais doze vincendas, como no cálculo do parágrafo anterior.
- Na ação popular - Regulada pela Lei 4.717/1965, não há condenação de honorários advocatícios contra
o autor, quando ele “se sucumbe”.
b) Autor residente fora do Brasil – Art. 83, CPC
O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou deixar de residir no país durante a tramitação
processual deverá prestar caução suficiente para pagamento das custas e dos honorários advocatícios da parte
contrária nas ações que propuser. Mas há exceções, pois não se exigirá tal caução:
✓ Se o autor tiver, no Brasil, bens imóveis suficientes para a garantia de eventual sucumbência dele;
✓ Quando houver dispensa em acordo ou tratado internacional do qual o Brasil faça parte;
✓ Na execução fundada em título extrajudicial e no cumprimento de sentença;
✓ Na reconvenção.
Uma vez prestada a caução, a parte contrária pode exigir o seu reforço toda vez que ocorrer o desfalque da
garantia, oportunidade em que deverá justificar o pedido com a indicação da depreciação do bem e da importância
necessária para o pedido.
1.1.7 – Dos deveres – Art. 77 e 78, CPC
Vimos, anteriormente, que os deveres estão entre os efeitos da relação processual e não se confundem com
as obrigações e com os ônus (relembre esses conceitos). Os artigos 77 e 78, CPC, tratam desses deveres, realçando
que são destinados para as partes, para seus procuradores e para todos aqueles que, de alguma forma, participam do
processo, incluindo juízes, no que couber. O legislador chegou a ser redundante em alguns deles. Para as partes, a
ofensa aos deveres gera condenação em litigância de má-fé, com aplicação de multa (a ser analisada logo à frente),
sem prejuízo de outras penalidades. Vejamos os deveres:
a) Expor os fatos em juízo conforme a verdade (art. 77, I, CPC) – Situação óbvia: a parte não pode mentir
no processo. Por exemplo, em uma ação de inversão de guarda de menor, aquele que requer a guarda não pode
mentir alegando que a criança sofre violência psíquica do outro genitor, se tal fato não corresponde à realidade;
b) Não formular pretensão ou apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento (art.
77, II, CPC) – De certa forma, o CPC é redundante neste item. Normalmente, se a pretensão ou a defesa é
destituída de fundamento, também falta com a verdade;
c) Não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito
(art. 77, III, CPC) – O texto do CPC é autoexplicativo. A parte requer uma busca e apreensão sabendo que o item a
ser encontrado não acrescenta em nada ao processo, por exemplo. A parte insiste em uma testemunha que não sabe
nada que possa contribuir com os autos.
d) Cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar
embaraços à sua efetivação (art. 77, IV, CPC) - Neste caso, o juiz advertirá o responsável de que a conduta
ofensiva poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça. Ocorrendo infração a este dever, o juiz, sem
prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicará ao responsável a multa de até 20% do valor da
causa, de acordo com a gravidade da conduta, multa que pode ser cumulada com outras multas processuais que o
aluno estudará. Se o valor da multa for irrisório, o juiz poderá fixá-lo em até dez vezes o valor do salário-mínimo.
Esta pena é da parte, e não do advogado. Mais: a multa não é destinada para a outra parte, e sim para o
Poder Público (União ou Estado, conforme o caso), e a sua exigibilidade só ocorrerá após o trânsito em julgado do
processo. Por fim, não se aplica esta penalidade para advogado, público ou privado, para defensor público ou para
promotor de Justiça: esses responderão disciplinarmente perante seus órgãos de classe ou corregedoria.
e) Não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso (art. 77, VI, CPC)- Repare na
palavra “ilegal”. Aqui se trata de algo mais grave, normalmente relacionado a fraudes processuais. Uma coisa é
produzir uma prova desnecessária, conforme já visto anteriormente. Outra coisa é produzir uma prova fraudulenta,
que seria exemplo de inovação ilegal, como em uma fraude pericial. Verificado o atentado, o juiz irá determinar o
restabelecimento do estado anterior, sendo que a parte infratora pode ser proibida de falar nos autos até a purgação
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do ato. Também neste caso, o juiz advertirá o responsável de que a conduta ofensiva a este dever poderá ser punida
como ato atentatório à dignidade da justiça, aplicando-se aqui todo o dispositivo listado para tal multa no item
anterior.
f) Declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional
onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou
definitiva (art. 77, V, CPC) – Texto autoexplicativo.
g) Informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os órgãos do Poder Judiciário e, no caso
do §6º do art. 246 do CPC, da Administração Tributária, para recebimento de citações e intimações (art. 77, VII,
CPC) – O §6º, do artigo 246, citado, refere-se às microempresas e às pequenas empresas. Este item será
aprofundado mais à frente, quando estudarmos as citações e intimações.
h) Não empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados, ou seja, todos – no processo – devem
agir com urbanidade e respeito aos demais partícipes (art. 78, CPC) - De ofício ou a requerimento do ofendido, o
juiz determinará que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do ofendido, determinará a
expedição de certidão com inteiro teor das expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte interessada, que
poderá – se assim entender – ingressar com a ação de reparação de danos. Também deverá aplicar multa por
litigância de má-fé, nos termos que veremos à frente.
i) Não empregar expressões ofensivas nas manifestações orais (art. 78,§1º, CPC), sob pena de lhe ser
cassada a palavra, após advertência, além de multa por litigância de má-fé. A parte prejudicada também poderá
solicitar a expedição de certidão com inteiro teor das expressões ofensivas, como no parágrafo anterior.
1.1.8 – Da responsabilidade das partes por dano processual – Art. 79 a 81, CPC
O tema se relaciona à litigância de má-fé. Aquele que litigar com má-fé, seja autor, réu ou interveniente
(terceiro que ingressa no processo), responde por perdas e danos e se sujeita à multa. O artigo 80 lista as
situações de litigância de má-fé. Observe que, em grande parte, a litigância de má-fé se relaciona ao
descumprimento de deveres do item anterior. São casos de litigância de má-fé:
✓ Deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso – Importante aqui uma
observação: Por vezes, o texto expresso da lei recebe interpretação contra legem da jurisprudência
com base em princípios do direito, positivados ou não. Por exemplo, o Estatuto da Criança e do
Adolescente proíbe a adoção por ascendentes. Mas, em março de 2020, a Quarta Turma do STJ deferiu,
por unanimidade, uma adoção por avós, em situação excepcional, em decisão contra legem. Sendo
assim, nem sempre a pretensão contra texto expresso de lei deverá ser punida com litigância de má-fé;
✓ Alterar a verdade dos fatos;
✓ Usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
✓ Opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
✓ Proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
✓ Provocar incidente manifestamente infundado;
✓ Interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Quando a parte descumpre o dever de expor os fatos em juízo conforme a verdade, está litigando de má-fé,
pois altera a verdade dos fatos, por exemplo. Se a parte descumpre o dever de não formular pretensão quando
destituída de fundamento, certamente comete litigância de má-fé, pois, além de proceder de modo temerário,
provoca incidente manifestamente infundado.
1.1.8.1 – Das multas por litigância de má-fé e da indenização por prejuízos decorrentes
Lembre-se que, no item anterior, vimos multas específicas para a quebra de dois deveres, ambas
revertidas em prol da Fazenda Pública:
✓ Cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar
embaraços à sua efetivação – Litigância de má-fé, pois está opondo resistência injustificada ao
andamento do processo.

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✓ Não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso – Litigância de má-fé, pois
está procedendo de modo temerário.
MAS A QUEBRA DOS DEMAIS DEVERES, como vimos, também gera litigância de má-fé e, portanto,
também gera aplicação de multa, mas com características diversas. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará
o litigante de má-fé a:
a) Pagar multa (que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido
da causa). Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até dez vezes o
valor do salário-mínimo. Observe que, aqui, a multa será paga em prol da parte contrária, diferentemente da
multa citada no item anterior, e será liquidada nos próprios autos. Mais: a multa será devida mesmo se o
litigante de má-fé ganhar a causa.
b) Indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu. Se a parte prejudicada demonstrar que
sofreu danos, poderá – na própria demanda – requerer a indenização. Esta indenização poderá ser requerida
mesmo que a parte ofendida não consiga mensurar o valor do prejuízo. Veja: o prejuízo deve ser demonstrado
sempre, tema que o aluno estudará em disciplina futura. O que nem sempre é possível é demonstrar o valor.
c) Arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que a parte prejudicada efetuou em
busca do ressarcimento de seus danos (art. 81, CPC).
Havendo pluralidade de litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo
interesse na causa. Mas, se esses litigantes se uniram para lesar a parte contrária, responderão solidariamente (o
aluno estudou solidariedade em Direito Civil).
Em síntese, aquele que litiga de má-fé poderá ser
constrangido a pagar multa cumulada com ressarcimento de danos.
1.1.9 – Da gratuidade da justiça (assistência judiciária) – Art. 98 a 102, CPC, c/c Lei
1060/1950
A gratuidade judiciária é conferida, na forma da lei, à pessoa natural ou jurídica (com ou sem fins
lucrativos), brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar custas, as despesas processuais e
os honorários advocatícios. Tem seu fundamento na própria Constituição Federal, art. 5º, LXXIV. Não
confunda “pessoa com insuficiência de recursos” com “pessoa miserável”.
O artigo 98, §1º, CPC, lista a abrangência do benefício da gratuidade judiciária, em longo rol que é
exemplificativo. Leia o parágrafo, que inclui atos extrajudiciais, como averbações ou registros em cartórios. O
benefício poderá ser total, abrangendo todos os atos processuais, ou parcial, abrangendo apenas determinados atos.
Também poderá consistir em uma redução percentual das despesas processuais que o beneficiário tiver de
adiantar no curso do procedimento. E, ainda, poderá representar somente o parcelamento dessas despesas, o que
não se configura efetivamente como gratuidade, mas favorece a possibilidade de o autor litigar.
Importante que a gratuidade judiciária não significa que o beneficiário não deva os valores. Se perder a
demanda, como já vimos, poderá ser cobrado pela Fazenda Pública, caso se demonstre não existir mais a situação
de insuficiência de recursos, no prazo prescricional de cinco anos.
Mais: Se condenado em multa processual, terá que pagá-la, mesmo beneficiando-se da gratuidade
judiciária. O CPC demonstra que o benefício não pode ser um salvo-conduto para que a parte favorecida pela
gratuidade abuse do processo.
a) Sobre advogado e benefício da gratuidade
Três observações essenciais:
✓ Não é válido, como argumento contrário ao benefício da gratuidade, alegar que o beneficiário é
assistido por advogado particular. É o disposto no artigo 99, §4º, CPC.
✓ Se o advogado da parte favorecida pelo benefício fizer recurso em que a única causa debatida
seja os honorários advocatícios, terá que pagar o preparo, salvo se ele demonstrar a
insuficiência de recursos (aqui é uma exceção à presunção de alegação verdadeira de
insuficiência citada no parágrafo anterior).

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
✓ Importante que o artigo 105, caput, CPC, determina que, se a parte necessitada não estiver
representada pela Defensoria Pública, o advogado deverá ter poderes expressos na procuração
para declarar a hipossuficiência econômica do seu cliente, em cláusula específica do seu
mandato. Voltaremos a ver este item logo à frente.
b) Quando pedir a gratuidade?
Em regra, o autor o faz na petição inicial e, o réu, na contestação. Mas nada impede que o pedido seja em
fases posteriores da demanda, por intermédio de petição simples. O benefício também poderá ser pedido por
terceiros que ingressem nos autos, conforme estudaremos à frente. O direito à gratuidade é de natureza pessoal e
não se estende a litisconsortes ou a sucessores do beneficiário.
c) A presunção da gratuidade e o indeferimento do pedido
O artigo 99, em seu §2º, CPC, diz que:
“o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a
falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir
o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos”.
A negativa, pelo juiz, ao benefício da gratuidade deve ser expressa e fundamentada, inclusive em
razão de forte jurisprudência do STJ.
Na sequência, o §3º diz: “Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural”. Significa que cabe à parte contrária demonstrar que o solicitante do benefício da gratuidade está
faltando com a verdade. Infelizmente, este dispositivo acarreta abusos e não é raro o advogado se deparar com a
parte contrária sendo favorecida pela gratuidade, embora não se enquadre no padrão de insuficiência de recursos.
Mas atenção: tais dispositivos são para a pessoa natural. A pessoa jurídica, para obter a assistência judiciária,
tem o ônus de comprovar sua incapacidade financeira de custear o processo.
Para que o juiz negue o pedido de gratuidade, deverá antes permitir o contraditório com o solicitante,
demonstrando em quais elementos está se baseando, até para que a parte pretendente ao benefício possa argumentar
com efetividade. Portanto, não cabe a rejeição “de plano” do pedido de gratuidade. Se, após esse incidente, o juiz
não conceder a gratuidade solicitada, caberá recurso de agravo de instrumento e, excepcionalmente, de apelação
(se a negativa ocorrer em sentença) (art. 100).
O juiz também pode, de ofício, derrubar a gratuidade anteriormente concedida, dispositivo previsto na
Lei 1060/50, não revogado. Porém, deverá – antes de decidir - ouvir a parte, em respeito ao contraditório, no prazo
de 48 horas improrrogáveis (art. 8º, Lei 1060/50). Caberá recurso, nos termos do parágrafo anterior.
1.1.9.1 – Impugnação ao benefício da gratuidade – Art. 100 a 102, CPC
A parte contrária àquela favorecida pela gratuidade poderá impugnar o benefício. Diz o artigo 100:
“Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação na contestação, na réplica, nas contrarrazões
de recurso ou, nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição simples, a ser
apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso”. O
dispositivo simplificou a impugnação em relação ao CPC antigo. A ausência de impugnação não gera preclusão.
“Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas processuais que tiver deixado de adiantar
e pagará, em caso de má-fé, até o décuplo de seu valor a título de multa, que será revertida em benefício
da Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita em dívida ativa”, diz o parágrafo único, do
art. 100. Infelizmente, os juízes são – não raro – omissos na aplicação de multas em relação a tal episódio.
Se o beneficiário da justiça gratuita tiver seu benefício derrubado, após impugnação da outra parte,
poderá ingressar com recurso imediato de agravo de instrumento. Aplica-se aqui o mesmo procedimento que
vimos acima, quando falamos do direito recursal daquele que solicitou o benefício e o teve negado de plano pelo
juiz (art. 101 e 102, CPC). Porém, se a decisão do juiz for contrária à impugnação, mantendo o benefício da
gratuidade, não caberá recurso imediato de agravo de instrumento.
1.1.10 – Dos procuradores (advogados) – Art. 103 a 107, CPC

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Preliminarmente, cuidado com a palavra “procurador”, que alcança diferentes significados no Direito.
Aqui estamos tratando do advogado particular.
Já vimos que as partes não têm capacidade postulatória, preceito que pertence a advogados, defensores
públicos e Ministério Público. Trata-se de pressuposto processual estar assistido processualmente por advogado ou
defensor público, cuja inobservância gera nulidade do processo, salvo exceções.
O advogado obrigatoriamente deve estar regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Não
basta a inscrição na OAB: deve ser a inscrição regular.
Para postular em juízo, o advogado deverá ter a procuração, a não ser em determinadas situações
excepcionais, como:
✓ Postular em causa própria – Obviamente, o advogado não vai fazer a procuração para ele mesmo...
✓ Para evitar preclusão, decadência, prescrição extintiva ou para praticar ato urgente - Nestes casos,
terá que apresentar a procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período mediante despacho
do juiz. Não surgindo a procuração, o ato será considerado não ratificado e, em consequência, ineficaz
em relação àquele em cujo nome foi praticado. O advogado responderá pelas despesas e por perdas e
danos.
✓ Em outras situações legais que permitam a atuação sem a procuração - Lembre-se dos casos de
nomeação de curador especial. Outra situação, prevista no Estatuto da OAB (Lei 8.906/1994, artigo 7º,
III): São direitos do advogado “comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou
militares (...)”.
1.1.10.1 – A procuração ad judicia – Art. 105, CPC
O Código Civil disciplina o “contrato de mandato”, artigo 653 a 692. A “procuração” é o instrumento
resultado do contrato de mandato. Em se tratando da procuração ad judicia, será regrada também pelo Estatuto
da OAB, Lei 8.906/94, e pelo CPC. Dessa forma, quando o advogado recebe uma procuração, o que houve – ali –
foi um contrato de mandato, com determinadas regras específicas. Assim, quando o advogado tem a procuração, ele
é titular de um mandato, conferido pelo outorgante a ele, outorgado.
O artigo 105, CPC, lista o conteúdo da procuração de caráter geral para o foro (ad judicia). Em
determinadas demandas, haverá necessidade de outros requisitos para a procuração. Em regra, não é necessário que
a procuração seja por instrumento público (em cartório), ou seja, poderá ser simplesmente por instrumento
particular. Mas deverá ser por instrumento público se o outorgante for analfabeto ou não tiver condições de
assinar o nome.
A procuração de caráter geral para o foro (ad judicia) habilita o advogado para
todos os atos do processo, exceto (105, caput):
✓ Receber citação – Réu;
✓ Confessar – Réu;
✓ Reconhecer a procedência do pedido – Réu;
✓ Transigir – Autor e réu;
✓ Desistir - Autor;
✓ Renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação - Autor;
✓ Receber – Autor e réu;
✓ Dar quitação – Autor e réu;
✓ Firmar compromisso – Autor e réu;
✓ Assinar declaração de hipossuficiência econômica (como já vimos) – Autor e réu.
Para todos os atos acima, a procuração deverá conter cláusulas específicas (cláusulas especiais).

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Quando se diz que a procuração geral habilita para todos os atos do processo, significa que – salvo
disposição expressa em contrário – “a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases
do processo, inclusive para o cumprimento de sentença” (§4º, 105). Nada impede, porém, que – de forma
expressa – o outorgante limite a procuração para fases específicas do processo, como –por exemplo – a
tramitação apenas em primeira instância.
A procuração deverá (§§ 1º, 2º e 3º, 105)
✓ Ser assinada pela parte, contendo seu nome completo e sua qualificação. A assinatura poderá ser
digital, na forma da lei. É desnecessário o reconhecimento de firma. Qualquer pessoa maior e capaz
pode constituir advogado.
✓ E os incapazes? Se devidamente representados ou assistidos, poderão constituir advogados por
instrumento particular. A procuração deverá conter tanto a qualificação do incapaz, quanto de seu
representante legal.
✓ Conter nome completo do advogado, número de inscrição na OAB e endereço completo. E, se o
outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome desta, bem
como – da mesma forma – número de registro na OAB e endereço.
✓ Demonstrar para qual demanda a procuração estará voltada.
✓ Se for o caso, trazer as cláusulas especiais.
✓ Se for o caso, trazer a limitação à cláusula ad judicia.
1.1.10.2 – Do substabelecimento com e sem reserva de poderes
O direito de substabelecer faz parte dos poderes da cláusula ad judicia. Não havendo cláusula impeditiva,
o advogado pode substabelecer os poderes a ele concedidos pelo outorgante. O substabelecimento pode ser “com
reserva de poderes” ou “sem reserva de poderes”.
Pelo substabelecimento “com reserva de poderes”, o advogado que substabelece continua também com
os poderes, mas os divide com o substabelecido. Tal substabelecimento pode ser para todos os atos do processo ou
para um ou alguns atos específicos, como o comparecimento a uma audiência.
Pelo substabelecimento “sem reserva de poderes”, o advogado que substabelece se retira do processo e
deixa de ter os poderes concedidos pelo outorgante. Obviamente, deverá comunicar o substabelecimento ao
outorgante.
O outorgante pode vedar, expressamente na procuração, o direito de o advogado substabelecer.
O aluno estudará o tema mais aprofundado em disciplina de Ética.
1.1.10.3 – Da revogação e da renúncia do mandato – Art. 111 e 112, CPC
a) A revogação – Art. 111, CPC
É ato do outorgante. Como qualquer mandato, o mandato judicial poderá ser livremente revogado pelo
outorgante, mas a parte terá que – no mesmo ato – constituir o novo advogado. Se não houver tal constituição
em 15 dias, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que a parte sane o vício, sob pena de:
✓ Ser extinto o processo, se autor;
✓ Ser considerado revel, se réu;
✓ Ser considerado revel ou ser excluído do processo, se terceiro, dependendo do polo em que se
encontre.
b) A renúncia – Art. 112, CPC
É ato do outorgado. Em relação à renúncia, o advogado tem o direito de renunciar ao mandato a qualquer
tempo. Para tanto:
✓ Deve provar, nos autos, que comunicou a renúncia ao mandante, a fim de que este nomeie sucessor.
Esta comunicação é dispensada quando a procuração tiver sido outorgada em conjunto a outros
advogados e a parte continuar representada por outro, apesar da renúncia;
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✓ Continuará a representar o mandante durante os dez dias seguintes, desde que necessário para lhe
evitar prejuízo.
1.1.10.4 – Do advogado que postula em causa própria – Art. 106, CPC
São requisitos até óbvios. O advogado deve informar, na petição inicial ou na contestação, conforme o
caso, seu número da OAB, nome da sociedade de advogados da qual participa (se for o caso) e o endereço para
receber intimações. Sendo autor da ação e não cumprindo tais requisitos, será intimado para suprir a omissão em
cinco dias, antes da citação do réu, sob pena de indeferimento da inicial, em sentença terminativa.
Também é obrigado a comunicar, ao juízo, qualquer mudança de endereço, inclusive eletrônico, sob pena
de ser consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico constante dos autos.
1.1.10.5 – Direitos do advogado – Art. 107, CPC
A maior parte dos direitos do advogado está contida no Estatuto da Ordem dos Advogados, Lei
8.906/1994, que o aluno estudará em disciplina futura. Mas o CPC especifica os seguintes, em seu art. 107:
a) Examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer
processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações,
salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos.
b) Requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de cinco dias, salvo se o
processo estiver com prazo para a outra parte ou em carga com o juiz para decisão, situações em que poderá
ver o processo na própria Vara.
c) Retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por
determinação do juiz, nos casos previstos em lei. Neste caso, deverá assinar carga em livro ou documento próprio.
E se houver prazo em comum às partes, como os procuradores retiram os autos? Neste caso, os
procuradores somente poderão retirar os autos em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição. Porém, terão
direito a retirar os autos pelo prazo de duas a seis horas para obtenção de cópias e, caso não haja a devolução do
processo no prazo, perderão tal direito no decorrer da demanda (salvo prorrogação do prazo pelo juiz). Claro que
não estamos falando de processos digitais.
1.1.11 – Sucessão das partes e dos procuradores – Art. 108 a 112, CPC
A sucessão voluntária das partes somente ocorrerá nos casos autorizados pela lei.
a) Sucessão inter vivos
Ocorre quando a parte aliena, por meio de negócio jurídico, a coisa ou o direito litigiosos. Tal mudança é
no direito material, mas não ocorrerá na ação judicial. O adquirente ou cessionário somente ingressará em juízo
em substituição ao alienante ou cedente se o outro litigante autorizar (art. 109, §1º). O que o CPC permite ao
adquirente ou cessionário, em caso de não consentimento para substituir o outro litigante, é ingressar na demanda
como assistente, matéria que veremos à frente.
Imagine que Pedro processa Maria, exigindo a entrega de uma coisa certa. Maria, porém, vende tal coisa no
curso do processo, informando ao juízo para deixar clara a sua boa-fé. O comprador não tem o direito de,
simplesmente por ter adquirido a coisa, substituir Maria na demanda, a não ser que a outra parte autorize. Restará
ao comprador ingressar como “terceiro”, para auxiliar Maria no processo (veremos mais à frente).
Havendo a sentença contrária ao alienante ou cedente, atingirá o adquirente ou cessionário. Se a sentença
for favorável ao alienante ou cedente, o adquirente ou cessionário poderá promover o seu cumprimento.
b) No caso de morte de qualquer dos litigantes
Será necessária a sucessão processual pelo espólio ou seus sucessores, salvo em se tratando de ação
intransmissível (como – por exemplo – na ação declaratória de indignidade). O processo será suspenso para que se
promova a habilitação incidente dos interessados (art. 687).
c) Em relação a pessoas jurídicas que sofram fusão ou incorporação
A nova PJ sucederá imediatamente àquela que figurava no processo, independentemente de consentimento
da parte contrária.

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d) Se o advogado morrer ou ficar incapacitado?
O juiz suspenderá o processo e marcará o prazo de 15 dias para a parte constituir novo procurador, sob
pena de extinção do processo sem julgamento do mérito (se autor) ou prosseguimento do feito à revelia do réu, se
este for o omisso (art. 313, §3º)
1.2 – Do litisconsórcio – Art. 113 a 118, CPC
O litisconsórcio é instituto relacionado à pluralidade de partes. O art. 113, CPC, já define o
litisconsórcio: é quando duas ou mais pessoas litigam na mesma parte e no mesmo processo, ativa ou
passivamente. Assim, há o litisconsórcio ativo e o litisconsórcio passivo, com cada litisconsorte podendo
promover o andamento do processo, gerando a intimação a todos dos respectivos atos. Se houver pluralidade tanto
no polo passivo quanto no polo ativo, será chamado de litisconsórcio misto.
Importante que uma pessoa jurídica, por mais sócios que tenha, não é um litisconsórcio e, litigando sozinha
no polo ativo ou passivo, teremos um polo singular;
Detalhe: Quando forem diferentes os procuradores dos vários litisconsortes, e de escritórios de advocacia
distintos, os prazos serão contados em dobro para todas as manifestações, inclusive recursais (se persistir o
litisconsórcio nessa fase), independentemente de requerimento (art. 229, CPC), salvo se o processo for eletrônico.
O artigo 113, em seus incisos, define genericamente as hipóteses de litisconsórcio, que podem ser usadas
tanto para o litisconsórcio “facultativo” quanto para o litisconsórcio “necessário” (o que explicaremos na
sequência). Veja as hipóteses dos incisos do 113, CPC:
a) Entre as pessoas houver comunhão de direitos – Por exemplo, em casos comuns de condomínio,
quando se faculta a cada condômino a reivindicar o todo, mas todos os condôminos, em litisconsórcio ativo
facultativo, podem também demandar em conjunto pelo bem comum.
Em outro exemplo, vimos que cônjuges precisam ambos ser citados em determinadas demandas, pois
possuem comunhão de direitos, em litisconsórcio passivo necessário.
b) Entre as pessoas houver comunhão de obrigações - Por exemplo, em relação a um contrato que tenha
mais de um contratante em um dos polos ou em ambos os polos, solidários ou não (relembre Direito das
Obrigações).
c) Entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir – Preliminarmente, precisamos
entender o que é “causa de pedir” e “pedido”. Uma petição inicial, analisada de forma básica, é dividida em três
partes: Fatos + Direito + Pedidos. O autor narra os fatos, demonstra o direito afim a tais fatos e, por fim, pede o que
pretende em face do réu. Quando olhamos apenas “Fatos + Direito”, temos o que chamamos de “causa de pedir”.
Causa de pedir, portanto, é “fatos + direito” e, em se tratando de litisconsórcio, um fato que se relaciona a mais de
um interessado. Há conexão pela causa de pedir quando duas pretensões contra pessoas diferentes se fundam num
só fato jurídico. Há conexão pelo pedido quando tal pedido favorece ou atinge mais de uma pessoa.
Exemplos de conexão pela causa de pedir:
c.1) Se Brutus espanca Juca e Tício, há um só ato ilícito, permitindo que Juca e Tício, em litisconsórcio
ativo, movam a ação em face de Brutus, pois estão conectados pela causa de pedir. Nada impediria que Juca e
Tício movessem ações individuais, pois o litisconsórcio ativo é facultativo. Neste caso, pode ser que o pedido seja
diverso.
c.2) Há conexão pela causa de pedir na ação pauliana, que o aluno estudou em Direito Civil II, quando viu
“fraude contra credor”. O autor irá processar alienante e adquirente do bem, em litisconsórcio passivo,
demonstrando que foi fraudado em seu status de credor. Há um mesmo fato com duas pretensões em face de
pessoas diversas.
c.3) Há conexão pela causa de pedir na doação de cônjuge adúltero para amante. O cônjuge prejudicado
desconstituirá o negócio jurídico, havendo litisconsórcio dos concubinos.
Exemplos de conexão pelo pedido:

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c.4) João, acreditando ser proprietário de um bem, o vende para Manoel. Caso João seja citado em uma
ação movida por Tício, questionando a propriedade do bem e requerendo a sua entrega, o pedido afeta Manoel, que
será litisconsorte, em uma situação de evicção.
c.5) Se um prédio está ocupado por dois inquilinos parciais, as ações de despejo referentes ao mesmo
imóvel podem ser cumuladas por meio de litisconsórcio passivo porque o bem visado (objeto da ação) é comum às
duas causas, fazendo com que haja conexão pelo pedido.
c.6) Se o preposto pratica ato ilícito, haverá litisconsórcio passivo dele com o preponente, pois estão
vinculados pelo pedido. O prejudicado poderá demandar em face de ambos (em solidariedade, inclusive) ou em
face apenas de um dos dois corresponsáveis, pois o litisconsórcio passivo aqui é facultativo.
d) Ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito – Quando analisamos a conexão
pela causa de pedir, vimos que “causa de pedir”, em se tratando de litisconsórcio, será um fato afim a mais de um
interessado. Já no presente item, “afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito”, temos mais de
um fato que se interligam de alguma forma. Exemplo: O cidadão tem um plano de saúde e, por indicação do plano
de saúde, escolhe um médico para uma cirurgia (fato 01). Durante o procedimento cirúrgico, há erro médico,
vitimando o cidadão (fato 02). A vítima poderá processar, em litisconsórcio passivo, o plano de saúde e o médico,
pois há uma relação de direito entre os dois fatos apresentados.
Em outro exemplo, imaginemos que uma diversidade de contribuintes de ICMS esteja para sofrer
lançamento tributário de forma ilegal. Cada contribuinte tem a sua própria situação fática em relação ao Fisco, mas
todos os contribuintes têm afinidade em um ponto comum de direito, que é a ilegalidade. Poderão, até por
economia processual, juntar-se em litisconsórcio ativo facultativo contra a Fazenda Pública.
Mais um exemplo: Suponhamos que o Estado de Mato Grosso tenha feito pagamento de vencimentos a
menor para determinada categoria. Cada membro dessa categoria pode ingressar com ação própria. Ou podem se
juntar em litisconsórcio por questão comum de fato ou de direito.
1.2.1 - Espécies de litisconsórcio
1.2.1.1 – Litisconsórcio necessário e litisconsórcio facultativo – Art. 113 c/c 114, CPC
Além do litisconsórcio ser ativo ou passivo ou misto, também será facultativo ou necessário, conforme as
partes possam dispensar ou recusar a formação da relação processual plúrima. Guarde, portanto, que:
- O litisconsórcio necessário é aquele que não pode ser dispensado. Aprofundaremos à frente.
- Já o litisconsórcio facultativo se estabelece por vontade do autor (ou autores), sendo ativo ou
passivo. Juca, Maria e Helena decidem se irão processar, em conjunto, Brutus que os agrediu (decisão das partes
que comporão o polo ativo em formar o litisconsórcio ativo facultativo). De outro lado, Barbosa decide se irá
processar Joaquim e Manoel, que o agrediram (e, neste caso, formará o litisconsórcio passivo facultativo).
a) Litisconsórcio facultativo
Em relação ao litisconsórcio facultativo, o juiz pode limitá-lo quanto ao número de litigantes na fase de
conhecimento, liquidação ou sentença ou mesmo na fase de execução, quando houver comprometimento para a
rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. Parte da doutrina vai chamar esta
situação de “litisconsórcio recusável” ou de “litisconsórcio multitudinário”. Verificada situação de litisconsórcio
multitudinário, o processo deverá ser desmembrado em tantos processos quantos se façam necessários para
acomodar adequadamente todos os demandantes sendo certo que nenhum deles poderá ser prejudicado por eventual
demora resultante do desmembramento. Nada impede que o juiz, em vez de limitar o número de litisconsortes, faça
a opção em aumentar os prazos processuais.
b) Litisconsórcio necessário ou obrigatório – Art. 114, CPC
Em certos casos, o litisconsórcio será obrigatório/necessário, mais especificamente quando:
- A lei determinar – Exemplo 01: Em uma ação de usucapião a lei determina
que todos os confinantes sejam citados em litisconsórcio passivo juntamente com o
proprietário. Exemplo 02: Já vimos ainda que os cônjuges, não casados em regime de
separação facultativa de bens, precisam ser citados conjuntamente em algumas ações.

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- Pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da
citação de todos que devam ser litisconsortes – Exemplo 01: Um contrato plurilateral exigirá
litisconsórcio necessário, em caso de ação buscando a sua anulabilidade. Exemplo 02: Uma
ação que busque a dissolução de uma sociedade de pessoas. Exemplo 03: Na ação pauliana
(o aluno a estudou em Civil II), que exige, no polo passivo, o devedor/alienante e o terceiro
que estiver com o bem. Exemplo 04: Uma ação em que o Ministério Público queira a nulidade
de determinado casamento obviamente haverá litisconsórcio necessário dos cônjuges.
Ocorrerá litisconsórcio necessário apenas no polo passivo, e este será o entendimento cobrado nesta
disciplina, mas o tema enfrenta discussões na doutrina. Não seria possível o litisconsórcio necessário no polo
ativo pois ninguém é obrigado a demandar.
Atenção – Alexandre Freitas Câmara defende, como única possibilidade de litisconsórcio ativo necessário,
aquele formado por contrato. Imaginemos que quatro pessoas assinam um contrato de sociedade entre elas e
estipulam, em uma cláusula, que qualquer ação judicial que questione a sociedade deverá ser movida por
pelo menos dois sócios. Seria situação de “negócio jurídico processual”, matéria à frente. Mas, apesar do exemplo
do doutrinador, ressalto que não há previsão legal específica para tal situação e nem jurisprudência e, portanto,
como já dito, seguiremos na disciplina posicionamento pelo qual não há litisconsórcio ativo necessário. Ademais,
lembremos que os sócios assinaram o contrato de sociedade por mera opção: eles não foram obrigados a tanto.
Sempre que o litisconsórcio for passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a
citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinalar, sob pena de extinção do processo
por sentença terminativa, caso não o tenha feito na petição inicial. Observe que o juiz não pode, diretamente,
determinar a inclusão de outros réus na demanda, cabendo o ônus ao autor que, claro, poderá questionar a decisão
do juiz, demonstrando não se tratar de hipótese de litisconsórcio necessário.
Se determinado processo tramitar sem se observar o litisconsórcio e advier sentença, tal sentença
será ineficaz. No entanto, tal ineficácia será relativa ou absoluta, conforme o caso. Vejamos:
✓ Se o litisconsórcio necessário é em razão da natureza da relação jurídica controvertida, haverá
ineficácia absoluta de todo o decidido - Imagine que o Ministério Público ingresse com ação de
nulidade de casamento apenas em face do marido. A ação tramita normalmente sem se formar o
litisconsórcio necessário, obviamente erro das partes e do magistrado. Surge a sentença de nulidade
do casamento. Tal sentença é absolutamente ineficaz, pois não tem como um casamento ser
decretado nulo sem que um dos cônjuges esteja na demanda.
✓ Já se o litisconsórcio necessário era em razão de dispositivo da lei, a ineficácia é subjetivamente
relativa, de forma que a ineficácia só ocorrerá em face daqueles que não foram citados -
Imagine a ação de usucapião, em que todos os proprietários sejam citados, mas não ocorre a
citação de um dos confinantes. A ação tramita e confirma a usucapião. Tal sentença somente não
terá eficácia em relação ao confinante não citado, mas terá plena eficácia em relação aos
proprietários, que perderão a propriedade.
Pode ocorrer do litisconsorte passivo necessário se posicionar favoravelmente à pretensão do autor,
passando a atuar do seu lado no polo ativo (litisconsorte ativo ulterior, em consequência). Em relação à troca de
polo passivo necessário, o aluno estuda, em Direito Constitucional III, a ação popular. Nesta ação, existe o
litisconsórcio passivo necessário: o autor deve promover a citação de todas as pessoas públicas e privadas, assim
como beneficiários e funcionários, afins ao fato questionado. Mas a pessoa jurídica, cujo ato seja objeto de
impugnação, poderá abster-se de contestar e também poderá atuar ao lado do autor, caso isso se configure útil ao
interesse público. Essa troca será sempre após a citação.
1.2.1.2 - Litisconsórcio unitário (especial) e litisconsórcio não unitário (comum ou
simples) – Art. 115, I, c/c 116 e 117, CPC
Classificação do ponto de vista da uniformidade da decisão perante os litisconsortes. O litisconsórcio
unitário (especial) ocorre quando a decisão da causa deva ser uniforme em relação a todos os litisconsortes.
Envolve uma relação jurídica cujo desfecho seja indivisível.
O litisconsórcio não unitário (comum ou simples) se dá quando a decisão, embora proferida no
mesmo processo, possa ser diferente para cada um dos litisconsortes. Imagine três pessoas agredindo uma

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presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
quarta. A vítima processa os três agressores por danos materiais e morais, em litisconsórcio passivo inicial e
facultativo. Nos autos, fica demonstrada a participação diferenciada de cada um dos agressores no caso. Assim, os
valores de condenação de danos morais e materiais irão ser na proporção da ação ilícita de cada um dos réus,
caracterizando o litisconsórcio não unitário. Na prática, ocorreram três julgamentos em uma mesma ação. Neste
exemplo, o litisconsórcio também será passivo e facultativo.
Não confunda litisconsórcio necessário com litisconsórcio unitário (que pode ser facultativo ou
necessário, mas que a decisão será a mesma para todos os litisconsortes). Vamos relembrar as hipóteses de
litisconsórcio necessário, agora comparando com o litisconsórcio unitário:
✓ Litisconsórcio necessário por determinação da lei – Poderá ser não unitário, como no caso da
usucapião.
✓ Litisconsórcio necessário em razão de quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a
eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes – Neste caso, o
litisconsórcio necessário também será unitário, já que a eficácia da sentença depende da citação de todos
que devam ser litisconsortes.
Alexandre Freitas Câmara: “Não é difícil perceber que nem todo litisconsórcio
necessário é unitário. É que o litisconsórcio pode ser necessário por disposição de lei, caso
em que, apesar de sua necessariedade, não será unitário. Sendo, porém, o litisconsórcio
necessário pela natureza da relação jurídica, ele será necessário e unitário”.
Vejamos exemplos comparando litisconsórcios facultativos e necessários com litisconsórcios unitários
e não unitários:
a) Exemplo de litisconsórcio ativo, facultativo e unitário
Qualquer condômino de um condomínio pode ingressar com ação para anular decisão de assembleia,
não havendo qualquer exigência de litisconsórcio no polo ativo. Porém, de forma facultativa, dois ou mais sócios
podem estar juntos na ação, formando o litisconsórcio ativo facultativo. A decisão será unitária para todos.
b) Exemplo de litisconsórcio passivo, facultativo e unitário
Em um contrato em que os devedores sejam, por cláusula, solidários entre si, o credor tem a opção de
processar todos (litisconsórcio facultativo), alguns ou mesmo só um deles. Processando todos, a decisão será
unitária.
c) Exemplo de litisconsórcio passivo, necessário e não unitário
Situações de litisconsórcio necessário por determinação de lei:
- Na ação de usucapião, há litisconsórcio necessário por força de lei entre o proprietário do imóvel e os
confinantes, mas obviamente a sentença não será unitária.
- No processo sucessório, há litisconsórcio necessário dos herdeiros, mas a sentença não será unitária.
d) Exemplo de litisconsórcio passivo, necessário e unitário
- Se o autor demanda visando dissolver uma sociedade profissional.
- Toda ação constitutiva negativa (relembre Direito Civil II, estudo de vícios do negócio jurídico e
decadência), que seja litisconsorcial. Exemplo: contrato plúrimo desconstituído por vício de dolo (idem erro, lesão,
coação, estado de perigo).
e) Demais observações sobre litisconsórcio unitário e não unitário
✓ Se o litisconsórcio é unitário e também é necessário, será nula a sentença de mérito quando a
formação litisconsorcial não tiver ocorrido completamente.
✓ Caso o litisconsórcio seja necessário e não unitário, a sentença de mérito será ineficaz para aqueles
que não foram citados.
✓ Importante: Diz o artigo 117, CPC, que “os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a
parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as

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omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar”. Como exemplo, no
litisconsórcio unitário, o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, artigo 1005,
CPC.
1.2.1.3 - Litisconsórcio inicial e litisconsórcio incidental (ulterior)
Será inicial o litisconsórcio que já nasce com a propositura da ação, seja no polo passivo, seja no polo
ativo. E será incidental ou ulterior se surgir no curso do processo, em razão de um fato ulterior à propositura da
ação. Será incidental, por exemplo:
✓ Se decorrer de ordem do juiz, na fase do saneamento, para que haja a citação dos chamados
litisconsortes necessários não listados pelo autor na inicial. Neste caso, o litisconsórcio seria
originariamente inicial, mas – por uma falha do autor – a composição do polo passivo só foi completada
ulteriormente;
✓ Em razão das intervenções de terceiro, que veremos à frente, principalmente a denunciação da lide e o
chamamento ao processo;
✓ Pela sucessão processual, quando a parte processual morre no decorrer do processo, sendo substituída
pelos herdeiros: uma ação que tinha um polo simples passa a ter pluralidade de pessoas.
Atenção 01: O usual é o litisconsórcio ativo ser inicial. Mas é possível litisconsórcio ativo ulterior, como
no caso da assistência litisconsorcial, matéria logo à frente.
Atenção 02: Há doutrina que considera que todo litisconsórcio ulterior será necessário. Tal afirmação está
errônea, inclusive porque há litisconsórcio ulterior em intervenções de terceiro não obrigatórias ao réu ou ao autor.
1.3 – Da intervenção de terceiros – Art. 119 a 138, CPC
O CPC lista, como formas de intervenção de terceiro:
✓ A assistência – Art. 119 a 124, CPC (subdividida em assistência simples e assistência litisconsorcial).
✓ A denunciação da lide – Art. 125 a 129, CPC.
✓ O chamamento ao processo – Art. 130 a 132, CPC.
✓ O incidente de desconsideração da personalidade jurídica – Art. 133 a 137, CPC;
✓ O amicus curiae – Art. 138, CPC.
O CPC revogado previa outras duas categorias de intervenção de terceiros: a nomeação à autoria e a
oposição. São institutos que ainda existem (artigos 338 e 339, CPC, nomeação à autoria; artigos 682 a 686, CPC,
oposição), mas não são mais considerados formas de intervenção de terceiros e são vistos em outras disciplinas.
Parte da doutrina ainda insere como intervenção de terceiros o “recurso do terceiro prejudicado”,
previsto no art. 996, CPC. O tema é estudado também em disciplina futura.
Pelo conceito de Humberto Theodoro Junior, o fenômeno processual chamado “intervenção de terceiros”
ocorre “quando alguém ingressa, como parte ou coadjuvante da parte, em processo pendente entre outras partes”.
Será voluntário, no sentido de que o juiz não pode, de ofício, obrigar o terceiro a ingressar em uma demanda (mas
há uma exceção: uma das hipóteses do amicus curiae é aquela por determinação do juiz).
Entre as classificações que a doutrina apresenta para a intervenção de terceiros, importa a seguinte:
✓ Espontânea (por iniciativa) – Quando a iniciativa é do terceiro, como ocorre na assistência e, em regra, na
intervenção do amicus curiae.
✓ Provocada – Quando o terceiro é citado para compor a demanda. Lembre-se que será voluntária, sob a
ótica de quem requereu a citação do terceiro. Ocorrerá na denunciação da lide, no chamamento ao processo
e na desconsideração da personalidade jurídica. Eventualmente, poderá ocorrer no amicus curiae.
1.3.1 – Da assistência – Art. 119 a 124, CPC
Trata-se de uma intervenção espontânea de terceiro. Há duas modalidades: A assistência simples (art. 121
a 123, CPC) e a assistência litisconsorcial (art. 124, CPC).

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Enquanto não há coisa julgada, é possível a assistência, ou seja, é aceita mesmo já havendo sentença e o
processo estando em grau recursal, pois é admitida em todos os graus de jurisdição: o assistente ingressa no
processo no estado em que se encontre, não podendo renovar atos em razão da preclusão, salvo se ambas as partes
concordarem em contrário (em entendimento de Humberto Theodoro Junior).
Diz o CPC que a assistência será admitida em qualquer procedimento. Na verdade, o dispositivo se
refere a qualquer procedimento de conhecimento, não se referindo ao processo de execução de título
extrajudicial, que não comporta a assistência, a não ser que haja embargos. Vejamos os tipos de assistência:
1.3.1.1 – Da assistência simples ou adesiva
Nos termos do art. 119, dá-se a assistência quando o terceiro, na pendência de uma causa entre outras
pessoas, tendo interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, intervém no processo para
prestar-lhe colaboração. O assistente intervém tão somente para coadjuvar uma das partes a obter uma sentença
favorável, sem defender direito próprio que se relacione ao adversário da parte ajudada. No caso, a relação material
entre o terceiro e a parte auxiliada não é alvo da demanda judicial, mas se prejudica conforme a decisão que saia de
tal demanda, o que configura o “interesse jurídico”.
O exemplo comum de assistência simples, citado por Humberto Theodoro Junior: Se Juca, dono de uma
coisa, convenciona alugá-la ou emprestá-la a Maria e, por outro lado, Tício ajuíza uma ação reivindicatória sobre a
mesma coisa, é intuitivo que Maria tem interesse jurídico em que Juca saia vitorioso da causa. Assim, Maria pode
buscar ser assistente de Juca na ação. (Se o exemplo tratasse de “venda”, seria situação de “denunciação da lide”).
Observe que se trata de uma situação em que a sentença, de uma forma ou de outra, atinge aquele que não
estava na demanda, o que é uma exceção. Assim, tal terceiro tem interesse jurídico, requisito essencial para que
haja o ingresso como assistente. “Mas seu interesse não consiste na tutela de seu direito subjetivo, porque não
integra ele a lide a solucionar; mas na preservação ou na obtenção de uma situação jurídica de outrem (a parte)
que possa influir positivamente na relação jurídica não litigiosa existente entre ele, assistente, e a parte assistida”,
explica Humberto Theodoro Junior.
Outro exemplo de assistência é quando o bem, em litígio, é vendido por uma das partes durante o
processo. Vimos tal situação no estudo de “sucessão das partes”. Assim, imaginemos que Juca e Maria litigam
sobre a propriedade de um carro, que está na posse de Maria. Durante a demanda, Maria vende o carro para
Manoel. Manoel pode, inicialmente, requerer a sucessão processual no lugar de Maria, mas dependerá do aceite de
Juca. Havendo recusa de Juca, Manoel pode ingressar como assistente simples de Maria, pois tem interesse que ela
vença a demanda. Veja que Manoel não integra a lide originária, um litígio específico de Maria e Juca, que não diz
respeito a Manoel. Mas, como comprou o bem no decorrer da demanda processual, tem interesse jurídico pela
vitória de Maria.
Mais um exemplo: Numa ação de despejo entre locador e locatário, a sublocação não figura como
objeto da lide. Portanto, trata-se de assistência simples ou adesiva em relação ao sublocatário por se tratar de
interesse indireto.
Novo exemplo, relacionado ao parágrafo anterior: imagine que a ação de despejo citada seja porque o
locador, proprietário do imóvel, queira vendê-lo. Configurado o litígio entre locador e locatário, aquele que está
interessado em comprar o bem é um terceiro com interesse jurídico na causa e poderá ingressar como assistente
simples. Perceba que o contrato de compra e venda do imóvel não é objeto da discussão jurídica, porém é atingido
pelo objeto da lide. E se houver um sublocatário, como no exemplo anterior? Também poderá ingressar como
assistente da outra parte.
Finalizando os exemplos, imagine que Juca é fiador em uma obrigação em que Pedro é credor e
Maria é devedora. Juca, neste caso, é subsidiário, salvo disposição contrária no contrato: o credor só pode acioná-
lo após processar Maria e não ter sucesso. Quando Pedro processa Maria em razão da inadimplência, perceba que
Juca tem interesse na demanda, afinal, se Pedro não conseguir receber de Maria, poderá processar o fiador (Juca).
Assim, Juca pode, se quiser, ingressar como assistente simples de Pedro, para auxiliar Pedro a encontrar bens de
Maria.
Característica essencial da assistência simples: O assistente não pode assumir, no processo, posição
diferente daquela manifestada pelo assistido. Inclusive, se o processo for extinto por vontade do assistido, o
assistente nada poderá fazer em contrário. Mas tem os mesmos poderes para produzir provas, participar de

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audiência e manifestar-se nos autos (desde que sempre na mesma direção do assistido). O assistente não pode
prejudicar a transação ou o reconhecimento da procedência do pedido ou a renúncia do direito.
Sobre recursos, o assistente poderá apresentá-lo mesmo que o assistido não o faça, desde que o assistido
não tenha manifestada a sua expressa vontade de não continuidade da demanda. Trocando em miúdos, se o
assistido simplesmente não apresentar recurso, o assistente ainda assim poderá fazê-lo, figurando como substituto
processual do assistido e evitando a preclusão. Mas se houver, nos autos, manifestação do assistido contrária à
apresentação recursal ou desistência de um recurso interposto, o assistido não poderá recorrer.
Sobre a coisa julgada, o assistente simples não se vincula em si aos efeitos da decisão, já que, como
vimos, não é parte direta da pretensão processual. Porém, não poderá rediscutir o que foi debatido na demanda.
Voltemos ao exemplo em que Juca e Maria litigam sobre um carro. No decorrer do processo, Maria vende o carro
para Manoel. Manoel solicita o ingresso como assistente de Maria e tal ingresso é aceito. Ao final da demanda,
Juca é vencedor. A coisa julgada só atinge Juca e Maria, porém Manoel não tem o poder de rediscutir a demanda e
terá que entregar o carro para Juca. Porém há duas exceções que, caso ocorram, permitiram ao assistente a
rediscussão da causa:
✓ Se, pelo momento em que ingressou nos autos e pelo estado da demanda, o assistente não teve como
produzir provas que pudessem interferir no resultado;
✓ Se desconhecia provas que o assistido, por dolo ou culpa, não apresentou no processo e que pudessem
interferir no resultado.
1.3.1.2 – Assistência litisconsorcial ou qualificada
A assistência litisconsorcial acontece basicamente quando estamos diante de situações de substituição
processual: alguém está em juízo defendendo, em nome próprio, direito alheio (art. 18, parágrafo único, CPC).
Embora o terceiro seja titular do direito litigioso, sua defesa em juízo, por alguma excepcionalidade da lei, está
sendo promovida por outrem. Mesmo não sendo parte processualmente, a coisa julgada o atingirá diretamente
(o que não acontece na assistência simples).
Pela definição, ocorre a assistência litisconsorcial quando o terceiro assume a posição de assistente na
defesa de direito próprio contra uma das partes. A demanda atinge diretamente direito próprio do assistente, de
forma que ele é, na verdade, um litisconsorte ao ingressar na demanda. Como explica Humberto Theodoro Junior,
esse assistente entra em um processo em que a relação material que o envolve já se acha disputada em juízo,
embora a propositura da ação não tenha ocorrido com a sua presença (mas poderia ter ocorrido).
Não se confunde com litisconsórcio necessário, porque não há obrigatoriedade na presença do terceiro.
Mas, na prática, ocorre um litisconsórcio ulterior facultativo unitário. Unitário porque a sentença irá gerar efeitos
semelhantes ao assistente e ao assistido. É situação que parte da doutrina se esquece ao afirmar que todo
litisconsórcio facultativo é inicial.
No exemplo de Humberto Theodoro Junior, imagine uma ação entre um espólio e outra pessoa. A decisão
atinge diretamente o herdeiro do de cujus. Ele poderia estar na demanda desde o início, em litisconsórcio com o
espólio. Ou pode ingressar como assistente litisconsorcial posteriormente. Perceba que o objeto da demanda atinge
diretamente tal herdeiro, pois – caso o espólio perca o processo – haverá prejuízo para os bens da herança.
Em outro exemplo, o Ministério Público pode atuar como substituto processual do deficiente físico. Tal
deficiente físico poderá ingressar como assistente litisconsorcial no decorrer da demanda.
Mais: A Fundação Nacional do Índio (Funai) pode atuar como substituta processual do índio.
Imagine agora uma ação de um condomínio residencial em face de outrem, que possa gerar prejuízo à área
comum pertencente a todos os proprietários e, dessa forma, prejudicar a valorização do imóvel de cada um dos
moradores. Temos também situação de possibilidade de assistência litisconsorcial.
Outro exemplo: um bem pertencente a mais de uma pessoa, em cotitularidade (condomínio geral).
Qualquer um dos condôminos desse bem pode litigar pela coisa toda. A doutrina se divide se é caso de substituição
processual, mas – na prática – também é possível a assistência litisconsorcial: o outro cotitular poderá ingressar na
demanda como assistente.

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Como requisito para a assistência litisconsorcial, em síntese: Há de haver uma relação jurídica entre o
interveniente e o adversário do assistido (diferentemente do que ocorre na assistência simples). Na prática, há uma
relação de litisconsórcio possível entre assistido e assistente em face da outra parte.
Diferentemente da assistência simples, na assistência litisconsorcial o assistente
pode ter posição diversa daquela manifestada pelo assistido. Pode inclusive prosseguir com
a demanda, mesmo contrariamente à vontade do assistido, ainda que a parte originária haja
desistido da ação, ou reconhecido a procedência do pedido ou transacionado. Em consequência,
poderá também apresentar recursos, independentemente da vontade do assistido.
1.3.1.3 – Características comuns entre assistência simples e assistência litisconsorcial
O CPC regulamenta o procedimento para a inserção do assistente, seja simples, seja litisconsorcial:
a) O terceiro requer seu ingresso como assistente mediante petição nos autos, informando sobre a qual
parte pretende assistir e demonstrando a sua relação jurídica afim.
b) Ambas as partes são intimadas a se manifestarem no prazo de 15 dias. As partes podem impugnar o
pedido (desde que demonstrando falta de interesse jurídico) ou não.
c) Caso haja impugnação do pedido de assistência, abre-se um procedimento incidental que não deve
prejudicar o andamento do processo principal.
d) Havendo ou não impugnação, o juiz decidirá sobre a assistência, podendo indeferi-la apenas se não
tiver sido demonstrado o interesse jurídico.
e) Da decisão interlocutória, aceitando ou não, cabe recurso imediato de agravo de instrumento pela
parte insatisfeita.
f) Sujeita-se o assistente aos mesmos encargos do assistido. O art. 94, CPC, por exemplo, ressalta o
pagamento da sucumbência, já estudada.
g) Se a assistência ocorrer em favor do demandado revel, o assistente será considerado também como
substituto processual, mesmo na assistência simples. Em termos práticos, os prazos – que correriam para o revel
independentemente de intimação – passam a depender da ciência do assistente.
h) Em qualquer assistência, o assistente não pode formular pedido novo e diverso daquele pretendido
pelo assistido. Aliás, em regra, nem mesmo o autor original pode, por si, alterar a sua pretensão após a
estabilização da relação processual.
1.3.1.4 – Assistência atípica (negociada)
É possível, excepcionalmente, que seja aceito um assistente sem que tenha demonstrado interesse jurídico
na causa. É o que a doutrina chama de “assistência atípica ou negociada” e tem, como base conceitual, o artigo 6º,
CPC: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva”. Assim, se as partes concordarem ou se o juiz assim entender, poderá ser admitido o
assistente caso possa contribuir efetivamente com a solução da demanda, mesmo que não consiga demonstrar seu
interesse jurídico. É o entendimento de Humberto Theodoro Junior.
Observe as seguintes situações relacionadas a um litígio entre condomínio e vizinho e que pode gerar
assistência litisconsorcial ou assistência simples ou assistência atípica, conforme o caso:
a) O proprietário-condômino pode ingressar como assistente litisconsorcial ao condomínio, conforme já
vimos, pois tem interesse direto no objeto da demanda, que o atinge.
b) Já o inquilino, que resida no condomínio, pode ter interesse jurídico e ingressar como assistente simples
na mesma demanda.
c) Mas imaginemos um ex-morador, que morou por décadas no lugar e se mudou: Tal morador conhece
profundamente o objeto do processo, mas não tem qualquer interesse jurídico para atuar como assistente simples ou
litisconsorcial. Porém, havendo consenso, poderá ingressar como assistente atípico, já que poderá colaborar com a
solução do litígio.

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Observação: Apesar da posição de Humberto Theodoro Junior, em termos práticos
a assistência atípica irá se confundir com o amicus curiae, que veremos logo à frente.
1.3.2 – Da denunciação da lide – Art. 125 a 129, CPC
A denunciação da lide consiste em convocar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo com a
parte (denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico ou por indenização paga em razão de lei
e contrato, caso o denunciante seja vencido no processo.
A denunciação da lide poderá ter natureza originária (feita pelo autor) ou superveniente (feita pelo réu),
o que aprofundaremos mais à frente.
Como explica Humberto Theodoro Junior, “quando se exercita a denunciação, promove-se um cúmulo
sucessivo de duas ações”. Há um cúmulo de ações, em que a sentença decidirá não apenas a lide entre autor e réu,
mas também a que se criou entre a parte denunciante e o terceiro denunciado. Tal cúmulo é “eventual”, pois só
ocorrerá efetivamente se o denunciante sucumbir na ação principal.
O artigo 125, CPC, lista os casos em que têm cabimento a denunciação da lide.
1.3.2.1 – Denunciação da lide em garantia da evicção (direito de garantia)
Trata-se de situação que pode ter, como denunciante, tanto autor quanto réu da ação original. O aluno
estuda a evicção em matéria de Direito Civil, artigos 447 a 457, CC. Suponhamos que Maria vendeu um aparelho
de som para João. Passado algum tempo, um terceiro (Tício) aparece, demonstrando ser proprietário do aparelho de
som. No caso, João será o evicto (o comprador ou adquirente). Maria será a alienante ou transmitente. E Tício será
o evictor. Evicta será a coisa. Tício vai lutar – na Justiça – em face de João para evencer o bem, ou seja, para
retomá-lo. Assim, Maria poderá ser “denunciada” para comparecer ao processo e auxiliar João. Se João perder a
demanda para Tício, automaticamente Maria terá que ressarcir João dos prejuízos, formando o cúmulo de ações à
qual já nos referimos. Temos, no caso, uma denunciação da lide por direito de garantia movida pelo réu.
Mas também é possível a denunciação da lide em direito de garantia movida pelo autor. Imagine que Maria
comprou um carro usado. Quando trafegava com o veículo, foi parada pela polícia, que lhe apreendeu o carro,
alegando ser roubado. Maria poderá processar aquele que fez a denúncia do roubo para provar que é dona do carro
e já promover a denunciação da lide daquele que lhe vendeu o veículo.
Como explica Humberto Theodoro Junior, na hipótese da evicção, a denunciação da lide refere-se à
convocação do alienante imediato, quando o adquirente, a título oneroso (com a exceção da doação para
casamento com certa e determinada pessoa, artigo 552, 2ª parte CC), sofre por parte de terceiro a reivindicação da
coisa negociada. A convocação se faz para que o denunciado venha garantir ao denunciante o exercício dos direitos
que lhe advém da evicção.
Importante que o CPC atual corrigiu falha do CPC antigo, que permitia a chamada “denunciação da lide
em cascata”. Agora, apenas o alienante imediato pode ser denunciado. Os alienantes eventuais, ou anteriores,
poderão ser acionados, mas em ações autônomas.
Fica a dica: A palavra “evicção” se relaciona à denunciação da lide, que pode ser – neste caso – pelo autor
ou pelo réu.
1.3.2.2 – Denunciação da lide em razão do direito regressivo de indenização (“direito de
regresso”)
Trata-se de situação que apenas o réu será denunciante. Este caso se relaciona àquele que estiver
obrigado a indenizar, por lei ou pelo contrato, em ação regressiva, o prejuízo do que for vencido no processo.
O caso faz lembrar da obrigação da seguradora. A doutrina se divide em aplicar, para a seguradora, a
denunciação da lide (maior parte) ou o chamamento ao processo (posição minoritária de Humberto Theodoro
Junior). Seguiremos, nesta disciplina, o entendimento majoritário, que também é o do STJ.
Importante que, pela compreensão do CPC revogado, a denunciação da lide da seguradora era obrigatória.
Mas o CPC atual não confere mais à denunciação da lide o caráter obrigatório em caso algum.
Um caso de denunciação da lide possível, mas não obrigatória, é quando o Estado responde a processo
de responsabilidade civil em razão de ato de seu agente público. O aluno estudará a matéria em Direito
Administrativo II. No caso, o Estado, por lei, é obrigado a indenizar o ato ilícito do seu agente, inclusive de forma

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objetiva, mas poderá buscar o regresso, em responsabilidade subjetiva, do servidor. Embora a situação se enquadre
no inciso II, do artigo 125, por previsão indenizatória constitucional do Estado, não se exige a obrigatoriedade da
denunciação da lide. Porém, se o Estado a propuser, o juiz não poderá negar o pedido.
Mais: O aluno estudará, em disciplina futura, a Responsabilidade Civil. Há casos, em lei, obrigando
terceiros a indenizar pelos danos provocados por outros. Assim, o empregador responde pelos danos causados
por seu empregado em razão da lei. Neste caso, o empregador poderá fazer a denunciação da lide de seu
empregado. Outro exemplo: O morador de prédio responde pelo que cai da sua janela gerando danos a outros e,
se ele não for o responsável direto, poderá buscar a denunciação da lide para se ressarcir daquele que efetivamente
foi o causador do ato.
1.3.2.3 – Da não obrigatoriedade da denunciação da lide
O CPC atual retirou a obrigatoriedade da denunciação da lide em todos os casos de sua aplicação, como
ressalta Humberto Theodoro Junior. O artigo 125, CPC, diz que a denunciação é apenas “admissível”,
diferentemente do CPC revogado, que usava a expressão “obrigatória”. O CPC atual revogou também matéria do
Código Civil, dentro do instituto da evicção, reforçando o fim da obrigatoriedade, precisamente o artigo 456, CC.
Assim, “não há mais espaço para a alegação de que a falta de denunciação levaria à perda do direito de
regresso”, como ocorria no CPC revogado, enfatiza Humberto Theodoro Junior. O texto do art. 125, CPC, diz que
a ação de regresso pode ser exercida em ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser
promovida ou não for permitida. Apenas na hipótese de ter ocorrida a intervenção e, posteriormente, a sentença a
julgar improcedente é que não caberá mais ação autônoma à parte para pleitear o direito de regresso, pelos efeitos
da coisa julgada material.
1.3.2.4 – Casos de não cabimento da denunciação da lide
A regra é que cabe denunciação da lide para qualquer processo de conhecimento. Mas:
✓ O Código de Defesa do Consumidor não admite denunciação da lide nas ações de reparação de dano
oriundas da relação de consumo (art. 88, Lei 8.078/90), situação já confirmada pelo STJ. O interessado,
normalmente um fornecedor de serviços ou materiais, terá que ingressar com ação autônoma. Se Juca
processa uma loja em razão de relação consumo, tal loja não poderá fazer a denunciação da lide da fábrica.
Se a loja perder o processo, ingressa posteriormente com ação autônoma contra a fábrica.
✓ Doutrina e jurisprudência rechaçam a denunciação da lide nos embargos à execução, por sua natureza
específica e restrita.
1.3.2.5 – Procedimento
a) Denunciação da lide pelo autor
Lembre-se que somente ocorrerá na hipótese afim à evicção. Se a denunciação da lide parte do autor, seu
momento confunde com a da própria ação. Já na Petição Inicial, o autor promove a denunciação da lide do
alienante. O juiz determina a citação do denunciado antes do réu, no prazo de 30 dias (se residente na mesma
comarca) ou 60 dias (residente em comarca diversa). Citado, o denunciado terá 15 dias – a princípio – para se
manifestar.
Qual o motivo do denunciado ser citado antes do réu? É que ele pode optar em formar litisconsórcio
ativo, inclusive aditando, se lhe convier, a Inicial. Somente após a manifestação do denunciado, ou o decurso de
prazo para tanto, que o réu será citado: a citação de denunciado e réu ocorre sucessivamente, permitindo ao réu
apresentar contestação, em um só momento, tanto sobre as alegações do autor, quanto do denunciado.
Assim, o denunciado:
✓ Poderá questionar a denunciação, o que se configura um litisconsórcio passivo eventual, já que, mesmo
ao final da demanda, o autor – se perder a ação – pode ver o seu regresso analisado;
✓ Poderá assumir litisconsórcio ativo. De qualquer forma, se o autor perder a demanda original, o juiz
passará a analisar a relação entre denunciante e denunciado.
✓ Poderá ficar inerte, configurando revelia.

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
b) Denunciação da lide pelo réu
Lembre-se que a denunciação da lide pelo réu pode ocorrer nas duas hipóteses previstas. O réu fará a
denunciação da lide no prazo de contestação e na própria contestação. A citação ocorre no mesmo prazo de 30
ou 60 dias citado no item anterior, com 15 dias para manifestação do denunciado.
Se a citação do denunciado não ocorrer no prazo de 30 ou 60 dias, o autor tem o direito de pedir a
continuidade da ação, ficando prejudicada a denunciação requerida pelo réu. Claro que esse prejuízo somente
ocorrerá se o réu deu causa à demora. Lembremos que a ausência da denunciação não prejudica futura ação
autônoma contra aquele que seria denunciado.
Citado, o denunciado pode:
✓ Contestar o pedido do autor no prazo de resposta, o que se configura em litisconsórcio passivo eventual.
✓ Ficar revel. Neste caso, o denunciante pode deixar de prosseguir na defesa dele próprio e mesmo
deixar de apresentar recursos, para se dedicar à ação regressiva.
✓ Comparecer e confessar os fatos alegados pelo autor na Inicial. Dessa forma, o denunciante pode
continuar a sua defesa ou aderir a tal reconhecimento e apenas pedir a procedência da ação de regresso.
1.3.2.6 – Sucumbência
Se o denunciante perder a ação original e vencer a denunciação, o denunciado será condenado nos
encargos da ação regressiva e no reembolso daqueles que o evicto for condenado a pagar ao evictor.
Se a denunciação da lide for prejudicada pela vitória do denunciante na ação originária, haverá a
condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado.
1.3.3 – Do chamamento ao processo – Art. 130 a 132, CPC
Chamamento ao processo é o incidente pelo qual o devedor demandado chama, para integrar o mesmo
processo, os coobrigados pela dívida, de modo a fazê-los também responsáveis pelo resultado do feito. Com essa
providência, o réu obtém sentença que pode ser executada contra o devedor principal ou os codevedores, se tiver de
pagar o débito. Perceba que apenas o réu promove o chamamento ao processo.
O artigo 130, CPC, lista as hipóteses. Cabe chamamento ao processo:
I – Do afiançado, na ação em que o fiador for réu (não confunda fiança, que é um contrato, com aval, que é
ato unilateral em título de crédito);
II – Dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III – Dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida
comum.
Guarde: Quando envolve fiança ou dívida solidária, a intervenção
de terceiro normalmente será o chamamento ao processo.
É cabível a ação em qualquer procedimento no processo de cognição, inclusive no Direito do
Consumidor (ao contrário da denunciação da lide), mas não se admite no processo de execução.
Perceba que, da mesma forma que a denunciação da lide, o chamamento ao processo se presta ao
exercício incidental de direitos regressivos da parte em face de estranho à causa pendente. Porém, nas hipóteses
da denunciação da lide, o terceiro interveniente não tem vínculo ou ligação jurídica com a parte contrária do
denunciante na ação principal. Já no chamamento ao processo as hipóteses demonstram um vínculo jurídico
do “chamado” à parte contrária. Como diz Humberto Theodoro Junior, “no chamamento ao processo, o réu da
ação primitiva convoca para a disputa judicial pessoa que (...) tem, juntamente com ele, uma obrigação perante o
autor da demanda principal, seja como fiador, seja como coobrigado solidário pela dívida aforada. Vale dizer que
só se chama ao processo quem, pelo direito material, tenha um nexo obrigacional com o autor”.
O procedimento é similar ao da denunciação da lide feita pelo réu. O pedido é formulado pelo réu na
contestação. O réu tem 30 dias para promover a citação do chamado, se morador na mesma comarca, ou 60 dias, se
morador em comarca diversa. Sendo citado, o chamado tem 15 dias para responder ao chamamento. Comparecendo
ou não, o chamado torna-se litisconsorte passivo da ação principal.

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presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
Se a sentença decidir pela improcedência da demanda, beneficia tanto o chamante quanto o chamado.
Se a sentença for de procedência da demanda, vale como título executivo em favor do chamante contra o
chamado para reembolso da conta que lhe couber na dívida em comum.
Vale lembrar que, assim como na denunciação da lide, a não existência do chamamento ao processo não
impede a ação autônoma posterior de regresso.
1.3.4 – Incidente de desconsideração da personalidade jurídica – Art. 133 a 137, CPC
Relaciona-se ao artigo 50, CC, que o aluno estudou em Direito Civil. Pelo artigo 50, em razão de abuso da
personalidade jurídica, caracterizada pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, o juiz pode
decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos
de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores
ou sócios da pessoa jurídica.
O incidente em tela é justamente a forma processual para se aplicar o artigo 50, CC.
Conforme o CC, alterado pela Lei 13.874/2019, “desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica
com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza”. Neste caso, imagine uma
pessoa jurídica cujo objeto social seja engenharia agronômica. Mas tal pessoa jurídica passa a atuar na área de
engenharia civil e, nesta qualidade, fica em débito com credores. Será o caso. (Atenção: A Lei 13.874 é uma lei de
conversão de Medida Provisória. Durante a vigência da MP, antes da conversão, o texto do artigo 50 exigia o dolo
para o desvio de finalidade. Mas tal exigência de dolo não se manteve. Fique atento para a atualização do seu
Código Civil).
Sobre confusão patrimonial, diz o texto do CC:
“Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor
proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.”
No caso da confusão patrimonial, o CC deixa uma “cláusula em aberto”: qualquer situação que demonstre
a mistura patrimonial de bens do sócio com bens da pessoa jurídica será situação de confusão patrimonial. Sendo
assim, (exemplo 01) a pessoa física faz um financiamento pessoal, mas oferece, como garantia, um imóvel da
pessoa jurídica; (exemplo 02) a pessoa física faz compras pessoais usando o cartão de crédito da pessoa jurídica, de
forma costumeira; (exemplo 03) a pessoa física viaja, de férias, usando o carro da pessoa jurídica; (exemplo 04)
gastos de escola dos filhos são pagos pela pessoa jurídica etc. Ora, se o próprio sócio não preza pela separação
patrimonial entre a pessoa física dele e a pessoa jurídica, por que a lei iria preservar tal direito?
A desconsideração da personalidade jurídica é conhecida como disregard doctrine, autorizando o
Judiciário a, em situações extremas, ignorar a autonomia patrimonial entre empresa e seus sócios, nos casos
listados no artigo 50, CC. A matéria é mais afeita ao Direito Empresarial e também é debatida no Direito do
Consumidor. O incidente poderá ser instalado pela parte ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo.
Diferentemente da denunciação da lide e do chamamento ao processo, é possível nas ações de execução.
Será solicitada juntamente com a Inicial ou em petição autônoma, como incidente processual, protocolada no
curso da ação, sempre obedecendo aos requisitos do artigo 50, CC: Desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial.
O procedimento exige ampla defesa, como não poderia ser diferente, pois está se quebrando um requisito essencial
do direito empresarial, que não pode ser banalizado: a separação patrimonial, em regra, entre a pessoa jurídica e a
pessoa natural dos seus sócios.
O terceiro, no caso, é justamente a pessoa natural do sócio. O principal efeito da desconsideração da
personalidade jurídica é imputar aos sócios ou administradores da empresa a responsabilidade pelos atos
fraudulentos praticados em prejuízo de terceiros. A indenização será assegurada não apenas pelos bens da
pessoa jurídica, como também pelo patrimônio pessoal dos sócios ou administradores.

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Importante: A desconsideração da personalidade jurídica, embora seja mais relacionada às sociedades
empresariais (aquelas que visam lucro), também pode se relacionar a pessoas jurídicas sem fins lucrativos, como
associações e fundações de direito privado.
Por fim, o CPC atual tratou da “desconsideração inversa da personalidade jurídica”,
citando-a no art. 133, §2º, CPC. No caso, o réu é a pessoa física e o terceiro será a pessoa jurídica,
da qual o réu é sócio. O CPC não dá a definição do instituto, que está em precedente do STJ. A
medida é de extrema força e exige cautela em sua aplicação. Ressalto que a desconsideração
“inversa” não estava no Código Civil até 2019, quando foi inserida no §3º, do artigo 50. Veja:
- Desconsideração da personalidade jurídica em ordem direta – A pessoa jurídica é
devedora e o sócio será o terceiro;
- Desconsideração inversa da personalidade jurídica – A pessoa natural do sócio
controlador é devedora e a pessoa jurídica será a terceira.
1.3.5 – Do amicus curiae – Art. 138, CPC
Lembre-se: O amicus curiae pode ser espontâneo (o terceiro solicita seu ingresso) ou provocado
(as partes requerem o terceiro como amicus curiae). E, como exceção às intervenções de terceiro na
característica de voluntariedade, o juiz poderá de ofício determinar a presença do amicus curiae.
Amicus curiae significa “amigo da Corte”. O tema não era disciplinado como intervenção de terceiro no
CPC revogado. Diz o artigo 138: “O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do
tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural
ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de
sua intimação”.
O instituto se relaciona àquele que não seja parte na demanda, mas que possa contribuir com informações
importantes na solução da lide, tendo algum vínculo com a matéria, porém apenas no plano opinativo e
informativo. É muito comum nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, por exemplo, quando
associações diversas se manifestam sobre o tema alvo do controle de constitucionalidade, auxiliando o Supremo
Tribunal Federal na sua decisão. Quando o STF analisou a constitucionalidade da legislação de pesquisa sobre
material genético humano, entidades científicas se pronunciaram como amicus curiae de um lado e, entidades
religiosas, de outro.
O amicus curiae é um auxiliar do juiz, principalmente em relação a assuntos técnicos afins à demanda. Não
poderá ter um interesse apenas próprio na causa, atuando na defesa de uma posição institucional. Quando o
STF julgou a inconstitucionalidade da vedação, pelo CC, da união estável homoafetiva, associações participaram
como amicus curiae com posições diversas, cuja intenção era defesa de postura institucional. Mesmo em se
tratando de pessoa física, novidade no CPC, não será da natureza do amicus curiae a manifestação tão somente com
posição particular. Se temos uma ação judicial debatendo, por exemplo, os limites de um parque ambiental, um
engenheiro florestal – isoladamente – poderá buscar se manifestar como amicus curiae. Mesmo que tenha interesse
próprio na causa, a manifestação deverá ocorrer para repassar informações técnicas (ambientais, em relação ao
exemplo) para ajudar o juiz na solução da lide (o interesse próprio deve ser apenas secundário).
A novidade do CPC vigente foi considerar a possibilidade do amicus curiae ser uma pessoa natural, o
que gera antinomia com algumas legislações que só permitem a pessoa jurídica como tanto, como é o caso da
legislação de controle de constitucionalidade. Em decisão de 2020, o STF negou o ingresso de pessoa física em
ação de controle de constitucionalidade com base na legislação própria (ADI3396).
Outra antinomia se relaciona ao direito de recorrer da decisão que indefere o amicus curiae. O STF
admite a possibilidade de recurso nas ações de controle de constitucionalidade, que seguem legislação
própria. Nas outras ações, predomina o entendimento contrário ao recurso, já havendo decisão do STJ a respeito.
Como o amicus curiae é colaborador do juízo, encontra-se dispensado do pagamento de custas, despesas
e honorários processuais. Mas poderá ser condenado como litigante de má-fé.

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O CPC não indica até quando poderá ocorrer a participação do amicus curiae. Não havendo decisão
ou não estando em pauta para julgamento, em caso de tribunal (jurisprudência), poderá ocorrer, portanto.
Mas exigirá o contraditório para que as partes possam dialogar com o “amigo do tribunal”.
A representação do amicus curiae se dá por advogado. Não se confunde quando o próprio Judiciário
busca informações técnicas, intimando uma entidade para se manifestar na causa, quando se entende que não é
caso de se exigir a manifestação por advogado.
Não há, no CPC, indicação dos poderes do amicus curiae. A função é de auxiliar do Judiciário. A
jurisprudência do STF admite a apresentação de memoriais e de informações nos autos. Sobre sustentação oral, o
amicus curiae não tem direito de exigir o ato, nos termos de precedente do STJ: a autorização da sustentação oral é
faculdade do juiz, que poderá entender pela ausência de necessidade ou pela participação de apenas alguns dos
amici curiae (o fato de um amicus curiae ter autorizada a sustentação oral não legitima o direito de outro amicus
curiae por si só – Resp 1.205.946). É pacífico ainda não ser possível a apresentação de recursos (a não ser em
ações de controle de constitucionalidade, conforme já dito), salvo embargos de declaração e o recurso sobre a
decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas, matéria processual futura.
A natureza do amicus curiae não altera a competência do processo. Por exemplo, mesmo que o terceiro
seja ente da Administração Federal, o processo não terá sua competência deslocada para a Justiça Federal, caso a
tramitação esteja ocorrendo na Justiça Estadual.
1.4 - Síntese da atuação do juiz, dos auxiliares da justiça, do Ministério Público, da
Advocacia Pública e Da Defensoria Pública – Art. 139 a 187, CPC
1.4.1 – Do juiz e dos auxiliares da Justiça – Art. 139 a 175, CPC
1.4.1.1 - Dos poderes, dos deveres e da responsabilidade do juiz – Art. 139 a 143, CPC
Em síntese, o juiz deve conduzir o processo cumprindo sempre os preceitos dos princípios constitucionais
do contraditório e da ampla defesa, que o aluno estudou em disciplina passada. Portanto, deve assegurar que as
partes tenham igualdade de tratamento (princípio da isonomia). Mais: deve zelar pela duração razoável do
processo, indeferindo qualquer medida protelatória, determinando o suprimento dos pressupostos processuais e
saneando qualquer vício processual assim que surja na relação processual.
Na condução da relação processual, deve ser rigoroso contra quaisquer atos atentatórios à dignidade da
Justiça, fazendo valer a ordem judicial. Sempre que necessário, para tanto, exercerá o seu poder de polícia,
inclusive requisitando força policial. Diz o artigo 142, ainda, que, “convencendo-se, pelas circunstâncias, de que
autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá
decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé”.
O juiz ainda deve buscar a autocomposição, a qualquer tempo, preferencialmente com o apoio de
conciliadores ou mediadores.
Também deve entender que as relações processuais não são idênticas umas às outras e, por vezes, o Direito
Processual irá permitir mudanças em suas regras para adequação às necessidades daquele processo em questão.
Sendo assim, o juiz pode dilatar prazo (desde que ainda não encerrado o prazo regular) e alterar a ordem de
produção de provas, obviamente sempre respeitando os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Na busca pelo conhecimento dos argumentos do autor e do réu, o juiz irá determinar, a qualquer tempo, o
comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de
confesso.
Lembre-se que, proposta a demanda, o juiz tem o dever constitucional de prestar a Jurisdição, mesmo que
não haja norma legal para tanto. Sendo assim, o CPC pressupõe que o juiz não se exime de decidir sob a alegação
de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Relembre o estudo da LINDB, em que – na presença de lacuna
legal – o juiz usará da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do Direito. E a equidade? Diz o CPC que
“o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.
Sabemos que o processo busca uma decisão de mérito. Como dever, o juiz “decidirá o mérito nos limites
propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa
da parte”. No próximo semestre, o aluno estudará justamente situações em que o juiz decide extrapolando os
limites propostos pelas partes, em sentenças que terão vício de nulidade.

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O CPC ainda determina o dever de o juiz oficiar ao Ministério Público ou à Defensoria Pública ou a outro
legitimado (associações, por exemplo) quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, para que
analisem o cabimento ou não de ação coletiva.
E se o juiz gerar prejuízo às partes em sua atuação? O artigo 143, CPC, ressalta que o juiz responderá,
civil e regressivamente, por perdas e danos quando:
✓ No exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude – Perceba que não há previsão de
responsabilização por mera culpa (negligência, imprudência, imperícia);
✓ Recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento
da parte – Tais hipóteses somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a
providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 dez dias.
Atenção: O aluno estuda a responsabilidade civil do juiz em Direito Administrativo.
1.4.1.2 – Dos impedimentos e da suspeição do juiz – Art. 144 a 148, CPC
O tema tem íntima relação com a garantia de imparcialidade do juiz, seja do juiz singular, seja dos
membros dos tribunais. Mais: os motivos de suspeição e de impedimento “são de direito estrito, não admitindo,
por isso, aplicação analógica, nem interpretação extensiva” (Humberto Theodoro Junior).
Como diz Humberto Theodoro Junior, “é imprescindível à lisura e ao prestígio das decisões judiciais a
inexistência da menor dúvida sobre motivos de ordem pessoal que possam influir no ânimo do julgador. Não basta,
outrossim, que o juiz, na sua consciência, sinta-se capaz de exercitar o seu ofício com a habitual imparcialidade.
Faz-se necessário que não suscite em ninguém a dúvida de que motivos pessoais possam influir sobre seu ânimo”.
Não confunda “impedimento” com “suspeição”. O tema é muito cobrado em concurso público. Ainda
citando Humberto Theodoro Junior, “os casos de impedimento são mais graves e, uma vez desobedecidos, tornam
vulnerável a coisa julgada, pois ensejam ação rescisória da sentença (CPC, art. 966, II). Já os
de suspeição permitem o afastamento do juiz do processo, mas não afetam a coisa julgada, se não houver a
oportuna recusa do julgador pela parte”.
Estudaremos o conceito de “coisa julgada” ainda neste semestre. Tal fenômeno ocorre após o trânsito em
julgado da sentença, ou seja, após o momento em que a sentença não mais poderá ser alterada mediante recurso.
Em regra, a sentença transitada em julgado é imutável, justamente porque alcançou o status de coisa julgada. Mas
há situações excepcionais que tal coisa julgada poderá ser “quebrada” no prazo decadencial de dois anos, mediante
a “ação rescisória”. E uma das possibilidades de quebrar tal coisa julgada é quando a sentença foi proferida por juiz
em situação de impedimento.
Guarde: Sentença proferida por juiz impedido permite a quebra da coisa
julgada mediante a ação rescisória. Já a sentença proferida por juiz suspeito não
permite a quebra da coisa julgada, apenas gerando o afastamento do julgador.
a) Das causas de impedimento
Os artigos 144 e 147, CPC, listam os casos de impedimento. Art. 144 - Há impedimento do juiz, sendo-lhe
vedado exercer suas funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do
Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público,
seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
✓ Atenção 01: O impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do
Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
✓ Atenção 02: O impedimento aqui previsto também se verifica no caso de mandato conferido a
membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente
ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.
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IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou
afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de
contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
Art. 147: Quando dois ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha
reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo impede que o
outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.
b) Das causas de suspeição
O artigo 145, CPC, trata dos casos de suspeição. Há suspeição do juiz:
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo,
que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do
litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de
parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
Atenção 01: Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade
de declarar suas razões.
Atenção 02: Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido.
c) Do procedimento para impedimento ou suspeição do juiz – Art. 146 a 148, CPC
No prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em
petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com
documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. Duas possibilidades:
✓ Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará imediatamente a
remessa dos autos a seu substituto legal.
✓ Caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 dias, apresentará suas
razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do
incidente ao tribunal.
Na hipótese de o juiz não reconhecer o impedimento ou a suspeição, cria-se um “incidente”, a ser julgado
pelo “tribunal”. Tal incidente irá para as mãos de um “relator”. Tal relator poderá aplicar efeito suspensivo sobre o
processo, em razão do incidente e, neste caso, o processo permanecerá suspenso até o fim do julgamento da
alegação de impedimento ou de suspeição. Mas somente será declarado o efeito suspensivo se realmente houver tal
necessidade, ou seja, se houver efetivo perigo para a demanda processual.
Pode ser que haja necessidade de urgente suspensão do processo, antes mesmo do recebimento do incidente
pelo relator no Tribunal. Neste caso, o pedido do efeito suspensivo recairá sobre o juiz substituto.

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Ao final do incidente, acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, o
tribunal:
✓ Condenará o juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da
decisão.
✓ Fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado.
✓ Decretará a nulidade dos atos do juiz, se praticados quando já presente o motivo de impedimento ou de
suspeição.
d) Da extensão das regras de impedimento e de suspeição
Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição:
I - ao membro do Ministério Público;
II - aos auxiliares da justiça;
III - aos demais sujeitos imparciais do processo (perito, intérprete ou serventuário da Justiça).
A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente
instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos.
O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no
prazo de 15 dias e facultando a produção de prova, quando necessária.
Atenção: A arguição de impedimento ou de suspeição de
testemunha seguem outras normas, de disciplina futura.
1.4.1.3 - Dos auxiliares da Justiça – Art. 149 a 175, CPC
O CPC lista os seguintes auxiliares a Justiça, em rol exemplificativo:
✓ Escrivão (chefe de secretaria) – Considerado principal auxiliar do juiz, mantendo os autos sob a sua
guarda e responsabilidade, zelando pela organização do processo. As principais funções do escrivão
serão estudadas mais à frente, no decorrer desta disciplina. Entre tais funções, incumbe ao escrivão ou
ao chefe de secretaria (I) redigir, na forma legal, os ofícios, os mandados, as cartas precatórias e os
demais atos que pertençam ao seu ofício; (II) efetivar as ordens judiciais, realizar citações e intimações,
bem como praticar todos os demais atos que lhe forem atribuídos pelas normas de organização
judiciária.
✓ Oficial de Justiça – Tem grande importância para determinados atos de comunicação processual
(citações e intimações, que serão estudados mais à frente, no decorrer desta disciplina), entre outros
(prisões, arrestos, penhoras, que serão estudados em outras disciplinas).
✓ Perito - O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou
científico. Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos
ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. O
aluno estudará a atuação do perito em disciplina do próximo semestre, quando se debruçar sobre o
direito probatório.
✓ Depositário ou Administrador – Responsáveis pela guarda e a conservação de bens penhorados,
arrestados, sequestrados ou arrecadados no decorrer do processo, não dispondo a lei de outro modo. O
aluno estuda mais a fundo tais funções em disciplina futura;
✓ Intérprete ou tradutor - O juiz nomeará intérprete ou tradutor quando necessário para (I) traduzir
documento redigido em língua estrangeira; (II) verter para o português as declarações das partes e das
testemunhas que não conhecerem o idioma nacional; (III) realizar a interpretação simultânea dos
depoimentos das partes e testemunhas com deficiência auditiva que se comuniquem por meio da Língua
Brasileira de Sinais, ou equivalente, quando assim for solicitado.
Por outro lado, não pode ser intérprete ou tradutor quem (I) não tiver a livre administração de seus bens;
(II) for arrolado como testemunha ou atuar como perito no processo; (III) estiver inabilitado para o
exercício da profissão por sentença penal condenatória, enquanto durarem seus efeitos. Ressalta-se que

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a função é múnus público, ou seja, o intérprete ou tradutor é obrigado a desempenhar a sua função, salvo
“escusa por motivo legítimo”.
✓ Conciliadores e mediadores judiciais – O conciliador atua preferencialmente nos casos em que não
haja vínculo anterior entre as partes, como em uma discussão processual envolvendo um acidente de
trânsito. Já o mediador atua preferencialmente nos casos em que haja vínculo anterior entre as partes,
como em uma ação processual envolvendo uma discussão contratual. O aluno estuda a conciliação e a
mediação em outra disciplina.
1.4.2 – Do Ministério Público – Art. 176 a 181, CPC
Preliminarmente, guarde que o Ministério Público poderá atuar como “parte” ou como “fiscal da lei”
(custos legis ou fiscal da ordem jurídica) no processo. Atuando como parte, terá prazo em dobro, a não ser que haja,
na lei, prazo exclusivo para o MP afim à manifestação a ser feita.
Diz o artigo 176, CPC, que “o Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis”. Já o artigo 177, CPC, ressalta que “o
Ministério Público exercerá o direito de ação em conformidade com suas atribuições constitucionais”.
Essencial o artigo 178, CPC: O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 dias, intervir como
fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do
Ministério Público.
Atuando como fiscal da lei, o Ministério Público terá vista dos autos depois das partes, sob pena de
nulidade, sendo intimado de todos os atos do processo. Mais: Poderá produzir provas, bem como requerer demais
medidas processuais que entender cabíveis.
Por fim, o membro do Ministério Público será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo
ou fraude no exercício de suas funções.
Ressalto que o aluno estuda o Ministério Público em Direito Constitucional.
1.4.3 – Da Advocacia Pública – Art. 182 a 184, CPC
Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos,
das pessoas jurídicas de direito público que integram a administração direta e indireta (fundações e autarquias).
Tais pessoas jurídicas de direito público terão prazo em dobro.
O membro da Advocacia Pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude
no exercício de suas funções.
Ressalto que o aluno estuda a Advocacia Pública em Direito Constitucional.
1.4.4 – Da Defensoria Pública – Art. 185 a 187, CPC
A Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos
direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita. Da mesma forma
que o Ministério Público, também terá prazo em dobro, salvo quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo
próprio para a Defensoria Pública.
O membro da Defensoria Pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude
no exercício de suas funções.
O aluno estuda a Defensoria Pública em Direito Constitucional.

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2 – Atos processuais – Art. 188 a 293, CPC
O Livro IV, Parte Geral, CPC, trata do tema “Atos Processuais”. Trata-se de Livro extenso, com uma série
de regras processuais. Iremos tratar das regras principais para o Direito Processual Civil.
Este Livro IV, Parte Geral, CPC, é dividido nos seguintes Títulos:
- Título I – Da forma, do tempo e do lugar dos atos processuais – Art. 188 a 235, CPC
- Título II – Da Comunicação dos atos processuais – Art. 236 a 275, CPC
- Título III – Das nulidades – Art. 276 a 283, CPC
- Título IV – Da distribuição e do registro – Art. 284 a 290, CPC
- Título V – Do valor da causa – Art. 291 a 293, CPC – Obs. Este tema foi antecipado neste semestre por
ser matéria básica de outros assuntos.
2.1 – Introdução aos atos processuais
2.1.1 - Definição
No conceito de Humberto Theodoro Junior, “o processo é uma sequência ordenada de fatos, atos e
negócios processuais”.
Fato processual é todo acontecimento natural com influência sobre o processo (um incêndio no Fórum
que provoca a alteração na data da audiência, por exemplo). Se uma parte processual morre, a morte é um fato
processual, pois é acontecimento natural que influencia o processo.
Ato processual toda ação humana que produza efeito jurídico em relação ao processo, seja das
partes, do juiz ou dos elementos subjetivos secundários. A apresentação de provas é ação humana que produz
efeito jurídico em relação ao processo, sendo um ato processual. A sentença é uma ação humana, sendo um ato
processual. A perícia é uma ação humana e, portanto, um ato processual.
Não há ato processual praticado fora do processo. O mandato advocatício, por exemplo, não é
considerado ato processual, pois a constituição do advogado se deu fora do processo (embora tal constituição seja
para tal advogado atuar dentro do processo). Porém, o que o advogado realiza dentro do processo em consequência
de tal mandato será, em regra, ato processual: a petição inicial ou a contestação, a presença em audiência, o recurso
etc.
Uma transação (acordo fora do processo homologado pelo juiz) não é ato processual (pois é ato fora do
processo), mas possui reflexo no processo. Ato processual será a petição apresentando tal transação ao juiz para
que haja a homologação. Da mesma forma é o pagamento pela dívida cobrada em juízo antes da sentença. O
pagamento em si não é ato processual, pois foi feito fora do processo. A petição ao juiz, com a comprovação do
pagamento, será o ato processual.
Aquilo que é praticado no contrato, antes de um processo judicial, não será ato processual. São
exemplos a convenção arbitral e a eleição de foro ou a cláusula de multa. Apenas quando a parte usar dessas
convenções para produzir efeito na constituição, conservação, desenvolvimento ou modificação de uma relação
processual concreta é que será ato processual.
2.1.2 – Características dos atos processuais
Os atos processuais possuem duas características que os distinguem dos demais:
✓ Unidade de finalidade – Todos os atos processuais de todos os sujeitos se voltam para um único fim,
que é a prestação jurisdicional ou provimento judicial, solucionando o conflito iniciado com a
demonstração da parte autora.
✓ Interdependência – Há uma interligação dos atos. Todos os atos processuais se integram dentro de
uma só relação jurídica dinâmica, formando uma cadeia de atos, de modo que nenhum pode ser
isolado dos outros. Essa sequência de atos é que irá possibilitar o desfecho do processual judicial com
a sentença do juiz.
2.1.3 – Responsáveis pelos atos processuais e relação com direito público

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Em se tratando da forma processual e da capacidade dos sujeitos, o ato processual sempre será resultado
de situação de direito público. Neste sentido, haverá atos processuais praticados pela parte (petição inicial,
contestação etc) que seguirão a forma processual e, portanto, serão resultados do direito público. E há atos
processuais praticados pelo juiz, pelo Ministério Público como fiscal da lei, pelo escrivão, pelo oficial de justiça
etc, também afins à forma processual e, portanto, de direito público, como a sentença.
Quanto à capacidade dos sujeitos, a parte não poderá litigar se for incapaz processualmente e não tiver a
devida representação, de forma que o juiz deverá decidir contrariamente à presença de tal sujeito, em ato processual
de direito público, certamente permitindo a correção do vício anteriormente.
Agora, sobre o objeto em discussão, o ato processual poderá ser resultado de norma de direito público (a
prescrição extintiva de uma cobrança; a simulação de uma relação jurídica; a decadência legal; a nulidade por
incapacidade absoluta) ou de norma de direito privado (o inadimplemento de um contrato; o dano material em uma
responsabilidade civil). Tanto o direito público quanto o direito privado fornecem objeto para as partes
demandarem em uma ação judicial.
Também é possível atos processuais praticados por terceiros, como nas intervenções de terceiros ou nos
testemunhos ou na exibição de documentos etc.
2.1.4 – A publicidade dos atos processuais e o segredo de justiça – Art. 189, CPC
A publicidade é fundamento essencial do processo. Os atos processuais são públicos, em regra.
Exemplo é a realização das audiências a portas abertas, salvo em processos que corram em segredo de justiça. E
mesmo o segredo de justiça só pode ocorrer nos casos expressos em lei.
Os feitos que se sujeitam ao segredo de justiça (art. 189, CPC) são:
✓ Os que tal segredo seja essencial para o interesse público ou social;
✓ Os que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação,
alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
✓ Aqueles em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade (exemplo, ação em
que haja quebra de sigilo bancário ou fiscal);
✓ Os que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juiz.
2.1.5 – Meios de expressão dos atos processuais – Art. 192, caput e parágrafo único, CPC
A exteriorização dos atos processuais se faz necessariamente pela linguagem, que pode ser a oral ou a
escrita, conforme o caso.
A petição inicial, por exemplo, será escrita, bem como a contestação. A sentença também será escrita.
Mas há atos processuais orais, como o “pregão”, que é o aviso de início de audiência. A própria audiência de
instrução e julgamento segue o princípio da oralidade. Sempre que o ato processual for oral, deverá ser reduzido a
termo pelo escrivão para a sua documentação nos autos.
Os atos deverão ser obrigatoriamente em português. Se a parte vai juntar, aos autos, documento em outra
língua, deverá providenciar a versão em português acompanhando-o. Tal versão deverá ter tramitado por via
diplomática ou por outra autoridade ou, ainda, ter sido feita por tradutor juramentado (art. 192, caput e
parágrafo único).
Se não existir tradutor oficial na sede do juízo, é admissível que a parte anexe o documento estrangeiro,
requerendo, ao juiz, a nomeação de tradutor ou intérprete ad hoc para fazer a versão devida.
O intérprete ou tradutor será necessário também nos atos orais, como nas oitivas de testemunhas, quando
estas não souberem se expressar na língua nacional ou em caso de deficiência auditiva, que se comuniquem por
meio da Língua Brasileira de Sinais ou equivalente.
2.1.6 – Os negócios jurídicos processuais – Art. 200, CPC, entre outros
Quanto à formalidade, já vimos que os atos processuais são solenes. Solenes são aqueles atos para os
quais a lei prevê uma determinada forma como condição de validade. Não solenes são os atos de forma livre.

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Apesar das normas processuais serem solenes e cogentes, o novo CPC adotou a Teoria dos Negócios
Jurídicos Processuais, por meio do qual se conferiu certa flexibilização ao processo, respeitados os princípios
constitucionais, sempre objetivando maior efetividade ao direito material. Hoje, pode-se dizer que, embora o
direito processual seja direito público, ele dispõe de dispositivos que permitem alteração convencional,
sempre nos termos da lei.
Esta teoria já existia no CPC revogado, porém foi fortalecida no CPC vigente. Em síntese, sempre que o
CPC autorizar, será possível alterar uma própria regra do CPC por acordo entre as partes. São os negócios
processuais típicos, previstos na própria norma processual, com fulcro no art. 200, CPC, entre outros, que diz que
os atos das partes podem ser constituídos de declarações bilaterais, que produzem efeitos processuais.
Parte da doutrina defende a existência de negócios processuais atípicos, quando não há
previsão legal, mas que seria admissível por não prejudicar o rito processual. Em relação aos
negócios processuais atípicos, em razão do pouco tempo de vigência do CPC atual, a jurisprudência
ainda inexiste, mas será essencial para a delimitação de tais situações. De qualquer forma, não
poderão ferir os preceitos constitucionais, principalmente aqueles relacionados às garantias
constitucionais (cláusula pétrea) e nem atingir os direitos e deveres do juiz no processo.
2.1.6.1 - Exemplos de acordos processuais possíveis
✓ As partes afastarem a audiência preliminar de conciliação ou de mediação (atípico);
✓ Convenção sobre ônus da prova (típico);
✓ Definição sobre o nome do perito (típico);
✓ Suspensão convencional do processo (típico);
✓ Ampliação de hipótese de assistência simples (assistência atípica ou negociada - atípico);
✓ Definição de divisão de tempo para debate oral entre litisconsortes na audiência de instrução e julgamento
(o prazo de sustentação oral será de 30 minutos para cada grupo – autor ou réu - e dividir-se-á entre os
diversos interessados, salvo se convencionarem de modo diverso - típico);
✓ Ampliação ao número legal de testemunhas, admitida por parte da doutrina, com o aval do juiz (o número
de testemunhas arroladas não pode ser superior a dez, sendo três no máximo para a prova de cada fato -
atípico);
✓ Alteração de um rito especial para o rito comum (nem sempre será possível - típico);
✓ Pacto de escolha do foro (previamente à ação), muito comum em contratos (típico);
✓ Renúncia comum ao direito de recorrer (típico);
✓ Definição de calendário para a prática de atos processuais (em comum com o juiz), acordo útil em
processos com provas em foros distintos ou com perícias complexas, dispensando intimação para os atos
processuais e audiência com datas acordadas (saneamento convencional - típico).
Observe que tal convenção pode ocorrer antes ou durante a marcha processual, conforme o caso. Por
exemplo, as partes, em contrato obrigacional, podem convencionar que, havendo litígio, não haverá a audiência
preliminar de mediação. Assim, confirmando-se o litígio no futuro, a parte autora já apresenta o contrato ao juiz
informando o afastamento de tal audiência. É exemplo de convenção atípica anterior ao processo. Outro exemplo
anterior ao processo é o pacto de escolha de foro, convenção típica.
2.1.6.2 – Requisitos para o negócio jurídico processual
Em qualquer situação de negócio jurídico processual, o juiz deverá observar se está sendo mantida a
paridade das armas e se não há nenhum vício no acordo, como dolo ou coação. Também deverá observar se os
direitos processuais em questão admitem autocomposição (os requisitos da petição inicial não admitem
autocomposição, por exemplo) e se as partes são plenamente capazes. Por fim, o acordo não pode interferir nos
deveres do juiz e de seus auxiliares. Por exemplo, tais acordos não podem afastar as regras processuais de
litigância de má-fé ou de litisconsórcio necessário.

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REsp 1.810.444, STJ, 2021 - O STJ declarou a nulidade de negócio jurídico processual
que afastava, de uma das partes, o direito ao contraditório. Tratava-se de um negócio jurídico
processual realizado antes do processo, em cláusula de contrato de compra e venda. Pelo acordo
entre as partes, a credora estaria autorizada a obter liminarmente o bloqueio dos ativos
financeiros da parte devedora sem que esta fosse ouvida e sem a necessidade de prestação
de garantia. Em razão da ofensa a norma de ordem pública, o negócio jurídico foi afastado.
2.1.6.3 – Classificação dos negócios jurídicos processuais quanto à participação do juiz
Quanto à participação do juiz no negócio jurídico processual, Humberto Theodoro Junior analisa três
modalidades:
✓ Quando o negócio produz sua plena eficácia por força da própria convenção entre os litigantes, sem
depender de qualquer autorização judicial – É o caso da escolha de foro; da renúncia comum de
recorrer; da divisão do tempo de debate oral entre os litisconsortes do mesmo polo;
✓ Quando o negócio independe de autorização ou aprovação judicial, mas só produz efeitos no processo
depois de homologado pelo juiz – É o caso da desistência da ação em curso em razão de transação; da
suspensão convencional do processo;
✓ Quando o negócio só se aperfeiçoa com a participação do juiz na sua formulação – É o caso do
saneamento consensual e da definição de testemunhas acima do mínimo legal.
2.1.7 – Vedação às cotas marginais e interlineares nos autos – Art. 202, CPC
Situação afim aos atos das partes. Aos advogados das partes é assegurado o direito de manusear livremente
os autos, inclusive fora do cartório. Mas o CPC proíbe que se lancem, nos processos, cotas marginais ou
interlineares, que são observações indevidas por escrito. Como bem diz Moniz de Aragão, citado por Humberto
Theodoro Junior, nem mesmo traços a lápis devem ser permitidos.
Quando tal preceito for infringido, como ressalta Humberto Theodoro Junior, o juiz mandará riscar as
cotas, impondo a quem as escreveu multa correspondente à metade do salário mínimo vigente. A multa imposta
será incluída na conta de custas para ser cobrada da parte responsável. Não há, no texto do art. 202, CPC,
destinação específica deste valor da multa. Há forte entendimento de que é destinado à Fazenda Pública.
Particularmente, este professor entende que, caracterizando litigância de má-fé, poderá ser requerida a destinação
para a outra parte.
2.2 – Atos do juiz – Art. 203 a 205, CPC
O juiz, comandando o processo, tem duas espécies de poderes: O de dar solução para a lide e o de
conduzir o feito segundo o procedimento legal, resolvendo todos os incidentes que surgirem até o momento
adequado à prestação jurisdicional. Irá praticar atos jurisdicionais de duas naturezas:
a) Natureza decisória – Têm sempre algum conteúdo de deliberação ou de comando. Podem ser “atos
decisórios propriamente ditos” e “atos executivos” (a classificação é doutrinária e, portanto, com variações).
Nos primeiros, visa decidir o pleito. Sendo assim, o juiz decide, por exemplo, em prol de um pedido de
danos morais em R$ 50 mil.
Já nos atos executivos há providências concretas sobre o patrimônio do devedor, também em respeito
ao caso em discussão (por exemplo, atos que ordenem a penhora, a indisponibilidade de bens, o arresto, o
sequestro). Voltando ao exemplo da decisão dos danos morais em R$ 50 mil, se o réu não pagar a quantia
voluntariamente, o juiz terá que fazer os atos executivos.
Os atos decisórios serão praticados de duas formas: pela sentença e pela decisão interlocutória. A
sentença e a decisão interlocutória serão estudadas no item seguinte.
b) Natureza não decisória – Podem ser atos processuais ou não.
São atos não processuais do juiz a função administrativa e o poder de polícia.
Porém, são atos processuais não decisórios: os despachos (que veremos no próximo item); a ouvida de
peritos e testemunhas (361, I, e 459, §1º); a colheita direta de provas (361, II); a inspeção judicial de pessoas e
coisas (481); entre outros.

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2.2.1 – Pronunciamento do juiz – Art. 203, CPC
Quando se trata especificamente do desenvolvimento da relação processual, a manifestação do juiz dar-
se-á por sentença, por decisão interlocutória e por despacho. São os “pronunciamentos do juiz”. A sentença e a
decisão interlocutória têm natureza decisória. O despacho, ao contrário, apenas impulsiona o processo (natureza
ordinatória, relacionada ao princípio da oficialidade).
Os pronunciamentos serão redigidos, datados e assinados pelo juiz, em regra. Pode ocorrer da decisão
interlocutória ou da sentença ter sido proferida em audiência de instrução e julgamento, oralmente. Neste caso, o
servidor responsável irá documentar, submetendo o texto ao juiz para revisão e assinatura. E ainda: é comum que o
juiz delegue a elaboração do despacho para o gestor (escrivão).
Sentenças, decisões interlocutórias e despachos devem ser publicados no Diário de Justiça Eletrônico. A
publicação, para a sentença e para a decisão interlocutória, é apenas da parte dispositiva, que apresenta a
decisão em si (a sentença e a decisão interlocutória têm, também, as partes “Relatório” e “Fundamentação”).
2.2.1.1 – Sentença
Preliminarmente, o tema será aprofundado em disciplina futura.
Sentença é “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487,
põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução” (art. 203, §1º, CPC).
O que interessa para definir se é sentença não é o conteúdo em si, mas ter colocado fim à fase cognitiva do
procedimento comum ou extinguir o processo de execução.
Atenção: Não confunda “colocar fim à fase cognitiva” com “trânsito em julgado”. O fim da
fase cognitiva ocorre com a sentença, mas pode ser que haja recurso e que o processo continue, em
nível recursal, até o seu trânsito em julgado. As decisões na fase recursal recebem outros nomes.
Algumas considerações:
- A sentença ocorre sempre em decisão individual, prolatada por um juiz. Não haverá sentença em
decisão colegiada. A decisão colegiada, no processo cível, ocorrerá sempre em Tribunal, em regra por grau
recursal, e será chamada de acórdão, independentemente de colocar ou não fim ao processo (art. 204, CPC).
- Nem toda decisão individual é sentença. A sentença coloca fim à fase de conhecimento do
procedimento comum ou ao processo de execução. Mas pode ter havido recurso e tal recurso ser extinto por uma
decisão monocrática (singular) do relator. Veja que é decisão singular (um só) do relator, mas já em fase recursal
e, portanto, não será sentença. E ainda: Mesmo antes do fim da fase de conhecimento poderá haver decisão
individual que não seja sentença: a decisão interlocutória.
- Nem todo processo terá sentença. Existem ações cuja tramitação já começa no Tribunal, como é o
caso do mandado de segurança em face de ato do governador ou da ação direta de constitucionalidade. Como são
ações que já nascem no tribunal, a decisão NÃO será sentença, e sim acórdão.
- A sentença pode ser terminativa. E a sentença pode ser definitiva ou resolutiva. Esta definição é
essencial.
a) Sentença definitiva (sentença resolutiva)
A sentença definitiva ou resolutiva apreciou e julgou o mérito do processo, ou seja, o que o autor queria.
Poderá ter concedido total ou parcialmente o pedido do autor ou poderá lhe ter negado. Como julgou o
mérito, tal sentença fará COISA JULGADA MATERIAL, após ocorrer o trânsito em julgado da decisão. Assim, se
não houver recurso ou se acabarem as possibilidades recursais, o trânsito em julgado gera coisa julgada
material, de maneira que a mesma demanda não mais poderá ser proposta em outra ação.
A COISA JULGADA MATERIAL é instituto forte no direito, pois representa a pacificação das partes,
objetivo da tutela jurisdicional. Em regra, não se quebra a COISA JULGADA MATERIAL, salvo por ação
rescisória (art. 966 a 975, CPC), no prazo decadencial de dois anos do trânsito em julgado, em hipóteses bastante
restritas, que o aluno estudará em outro semestre.

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Parte da doutrina dirá que existem dois graus de coisa julgada material: a coisa
julgada material (antes do prazo da ação rescisória) e a coisa soberanamente julgada material
(quando findo o prazo da ação rescisória ou quando a ação rescisória for julgada improcedente).
Já sabemos que a sentença resolutiva faz COISA JULGADA MATERIAL, pois a questão decidida não
poderá ser posta em outra ação. Porém, será que tal questão decidida poderá ser reposta na mesma ação?
TAMBÉM NÃO. Significa dizer que a sentença resolutiva TAMBÉM faz COISA JULGADA FORMAL. A
coisa julgada formal é aquela pela qual, quando esgotadas as possibilidades recursais, a parte não pode mais
debater o tema no mesmo processo.
Guarde: A sentença resolutiva faz coisa julgada formal (pois a questão
decidida não poderá ser rediscutida no mesmo processo) e coisa julgada material
(pois a questão decidida não poderá ser rediscutida em outro processo).
Mas imagine que a sentença esteja reconhecendo a prescrição extintiva ou a decadência legal. Ou, ainda,
a sentença está reconhecendo que houve remissão ou novação ou compensação ou dação em pagamento (todos
temas que você estudou em disciplina passada). Pergunto a você: Prescrição extintiva, decadência legal, remissão,
novação e compensação são assuntos de natureza processual ou de natureza material? Lembre-se que são
temas que estão dispostos no CÓDIGO CIVIL, e não no Código de Processo Civil, ou seja, são temas de natureza
material (e não de natureza processual). Se são temas de natureza material, são temas de mérito. Qual é mesmo
o conceito de sentença resolutiva? Aquela sentença que põe fim ao processo de conhecimento ou de execução
apreciando o mérito. Em conclusão, a sentença que reconhece a prescrição extintiva ou a decadência legal ou
a remissão ou a compensação ou a dação em pagamento ou a novação é SENTENÇA RESOLUTIVA, pois
está abordando matéria de mérito. A doutrina vai chamar esses assuntos, principalmente a prescrição e a
decadência legal, de “prejudiciais de mérito”.
b) Sentença terminativa
A sentença terminativa extingue o processo, mas sem apreciar e julgar o mérito. Normalmente, em razão
de alguma falha processual do autor, provocando a sentença. Claro que a falha processual oriunda do réu não
gera sentença terminativa, pois isso seria prejudicar o autor em razão de um erro da parte ré.
É possível sentença terminativa que são seja oriunda de falha processual? Sim!
Quando a parte autora desiste da ação (a desistência pode ser unilateral antes da contestação
do réu). Mas é exceção. Normalmente, sentença terminativa é por falha processual.
Exemplos de falhas processuais que podem gerar sentença terminativa: Representação inadequada;
indicação errônea do valor da causa; falta de condição de ação (parte ilegítima, falta de interesse processual);
petição inicial inepta, com pedidos incompreensíveis, por exemplo; concessão de gratuidade judiciária, cassada
posteriormente, sem que a parte tenha recolhido os valores devidos; não formação de litisconsórcio necessário após
determinação do juiz etc.
Em caso de falha processual, o juiz irá intimar a parte autora para correção. Não havendo a correção,
dará a sentença terminativa.
Em matéria futura, as situações de sentença terminativa são aprofundadas. Por agora importa realçar que tal
sentença irá gerar a condenação às verbas de sucumbência, tanto quanto a sentença resolutiva.
Atenção: A sentença terminativa NÃO faz coisa julgada
material. A sentença terminativa FAZ coisa julgada apenas FORMAL.
Vimos que “coisa julgada material” se relaciona ao julgamento do mérito, que não poderá mais ser
rediscutido em outra demanda. E vimos que a coisa julgada formal impede a discussão do tema APENAS na
mesma demanda. Como a sentença terminativa faz apenas coisa julgada formal, o tema julgado não poderá
ser rediscutido na mesma demanda, após esgotados os recursos, mas poderá ser rediscutido – em regra – em
outra ação. Assim, em regra, será possível a propositura de nova ação, tratando do mesmo tema, obviamente após
corrigir a falha que gerou a sentença terminativa, bem como após pagar a sucumbência gerada no processo
anteriormente extinto.

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Sendo repetitivo: Coisa julgada formal impede a discussão novamente dentro do
mesmo processo. E coisa julgada material impede a discussão novamente em outro processo.
Vimos que a sentença terminativa faz coisa julgada formal. Sendo assim, a parte pode ingressar novamente
com a demanda. Mas quantas vezes terá este direito? A parte tem o direito de ingressar com uma demanda por
três vezes, salvo exceções. Na quarta vez, o processo será extinto, por sentença terminativa, em razão de
PEREMPÇÃO. O que é perempção? Quando a parte ingressa pela quarta vez com a mesma demanda, após outras
três ações julgadas com sentença terminativa.
Em quais situações não será possível ingressar novamente com a demanda que sofreu sentença
terminativa? Guarde esses casos:
Primeiro, já falamos: Quando houve perempção (não confunda com preempção). O autor já esgotou as
três tentativas e buscou a quarta ação. Será sentença terminativa, pois o juiz não apreciou o mérito. Fará apenas
coisa julgada formal, mas não haverá condições de nova ação. O juiz pode conhecer de ofício.
Segundo, quando houve litispendência: Em caso de litispendência, haverá sentença terminativa, sem
resolução de mérito. Litispendência é quando há outra ação tramitando, no mesmo período, com as mesmas partes,
mesma causa de pedir e mesmo pedido. Em síntese, duas ações iguais. A segunda destas ações será extinta com
sentença terminativa e não poderá ser reintentada porque há outra tramitando, sob pena de nova extinção por
litispendência e configuração de litigância de má-fé. O juiz pode conhecer de ofício.
Terceiro, quando a parte autora ingressou com a demanda que já fora julgada anteriormente por
sentença resolutiva. Ora, se tal assunto já sofreu coisa julgada material, não cabe novo processo para rediscussão.
A sentença, neste caso, reconhecerá a preexistência de coisa julgada material. Será sentença terminativa, pois não
apreciará novamente o mérito (lembre-se: o mérito já foi julgado em ação anterior). Embora tal sentença seja
terminativa, não cabe outra ação, porque o que motivou a decisão foi a existência anterior de coisa julgada material.
A persistência em nova ação irá gerar nova sentença terminativa e pode configurar a litigância de má-fé. O juiz
pode conhecer de ofício.
Quarto, quando as partes fizeram compromisso para que a discussão ocorresse em Tribunal Arbitral,
nos termos da legislação própria. Haverá sentença terminativa (sem julgar o mérito) porque o autor tinha se
comprometido antes, em acordo com o réu, a não levar a demanda para o Poder Judiciário, resolvendo-a no
Tribunal Arbitral. A sentença será terminativa e não caberá nova ação, sob pena de se repetir a mesma decisão e de
se configurar a litigância de má-fé. O juiz NÃO pode conhecer de ofício.
Quinto, quando ocorre a morte do autor em ação de natureza personalíssima, o processo será extinto
com sentença terminativa e obviamente não será possível o ingresso de nova demanda. Exemplo: Ação de
alimentos. O juiz pode conhecer de ofício.
✓ Sentença resolutiva/definitiva - Aprecia e julga o mérito - Faz
coisa julgada formal e material – Impede nova ação.
✓ Sentença terminativa - Não aprecia o mérito – Faz coisa
julgada apenas formal – Permite nova ação, salvo exceções.
c) Considerações finais sobre sentença
✓ Da sentença (seja resolutiva, seja terminativa) cabe o recurso de apelação. Caso se trate, porém, de ação
no Juizado Especial, tal recurso será chamado de Inominado.
✓ As sentenças precisam ser devidamente fundamentadas, sob pena de nulidade.
✓ A sentença é dividida em três partes: Relatório (histórico do debate processual); Fundamentação ou
Motivação (motivação de fato e de direito do que será decidido); Dispositivo (a conclusão do julgado em
si, com a decisão sendo apresentada). As três partes são debatidas no próximo semestre.
✓ Além da classificação das sentenças em “resolutiva x terminativas”, há outras classificações, conteúdo de
matéria do próximo semestre. A sentença, por exemplo, pode ser classificada em sentença declaratória,
sentença constitutiva e sentença condenatória. Também pode ser classificada em sentença extra petita,
sentença ultra petita e sentença citra petita. Tais classificações não fazem parte da ementa desta
disciplina.

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
2.2.1.2 - Decisão interlocutória – Art. 203, §2º, CPC
É todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não coloque fim à fase cognitiva. Se houver
previsão legal, gera recurso imediato de agravo de instrumento. Caso não haja previsão legal, gera preliminar de
razões ou de contrarrazões de recurso de apelação (o aluno estudará recursos em matéria futura).
Exemplos: Quando o juiz nega determinada prova testemunhal, é decisão interlocutória; quando o juiz
concede ou nega uma liminar incidental, é decisão interlocutória; quando o juiz concede ou nega o benefício da
justiça gratuita, é decisão interlocutória etc. Quando o juiz nega ou concede uma intervenção de terceiro, é
decisão interlocutória.
Toda decisão interlocutória precisa ser fundamentada, sob pena de nulidade.
Atenção para a seguinte situação: Há processos, com mais de um pedido, em que o juiz pode julgar o
mérito de um desses pedidos de forma antecipada, e continuar o processo para os demais pedidos. Esta decisão que
julgou o mérito de um dos pedidos de forma antecipada será sentença resolutiva ou será decisão interlocutória?
Pelo CPC, será caso de decisão interlocutória. Embora, excepcionalmente, tenha havido apreciação de mérito,
não houve fim do processo, mas apenas o encerramento de uma parte dele (situação excepcional). E, sendo
decisão interlocutória, o recurso imediato será de agravo de instrumento, caso haja previsão em lei.
Por fim, em sede de Tribunal, a decisão interlocutória colegiada também receberá o nome de acórdão
(relembre item anterior).
2.2.1.3 - Despachos – Art. 203, §3º, CPC
“São todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da
parte”, diz o CPC. Não se decide incidente algum: apenas impulsiona o processo (natureza ordinatória). Exemplo:
Despacho de citação do réu; despacho de vista do processo para a parte; despacho de intimação de testemunhas e
peritos. O CPC permite que o escrivão ou secretário os pratique, no lugar do juiz, de ofício. A própria Constituição
Federal tem dispositivo determinando que a delegação de tais atos deve ser regra no Poder Judiciário.
Não há previsão de recurso contra despacho. Entende-se que um despacho não tem o poder de provocar
prejuízo à parte. Porém, pode ocorrer de uma decisão interlocutória estar “travestida” de despacho, ou seja, de um
ato do juiz, apesar de ter o nome de “despacho”, gerar prejuízo à parte. Neste caso, na verdade, estamos frente a
uma decisão interlocutória, que poderá ser questionada ou com agravo de instrumento ou como preliminar de
apelação, conforme o caso.
2.3 – Atos do escrivão ou do chefe da secretaria – Art. 206 a 211, CPC
O escrivão é responsável por duas categorias de atos processuais de extrema importância: documentação e
comunicação.
Pela comunicação, o escrivão efetiva os atos de citação e intimação, que estudaremos mais à frente. Os
atos de comunicação se relacionam aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, bem
como aos princípios processuais da publicidade e da não-surpresa.
Pela documentação, o escrivão elabora os “termos” afins ao andamento do processo, inclusive
certificando o encerramento de prazos, garantindo o impulso oficial da demanda. Também garante a juntada de
documentos que chegarem aos autos, seja vindos das partes, seja do juiz, do oficial de justiça, do perito etc.
Importante que todo ato do escrivão ou do chefe de secretaria tem presunção juris tantum de veracidade,
em razão de fé pública reconhecida pela lei.
2.3.1 – A autuação – Art. 206, CPC
A autuação é o primeiro ato de documentação de um processo judicial. O processo teve início com a
petição inicial, que, depois de distribuída ou de despachada pelo juiz, irá para o escrivão ou chefe de secretaria
fazer a autuação. No conceito de Humberto Theodoro Junior, consiste no ato de colocar uma capa sobre a petição
inicial, na qual será lavrado um termo que deve conter o juízo, a natureza da causa, o número de seu registro nos
assentos do cartório, os nomes das partes e a data do início da tramitação.
A autuação gera o “volume”, onde serão acrescentados todas as demais petições e atos processuais. Sempre
que o volume inicial se tornar muito grande, será aberto novo volume, mediante nova autuação.

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
Compete ainda ao escrivão ou chefe de secretaria, numerar e rubricar todas as folhas do processo, seja
principal, seja suplementar (207). As partes, os procuradores, o membro do Ministério Público, o defensor público
e os auxiliares da justiça podem, facultativamente, também rubricar as folhas correspondentes aos atos por eles
praticados.
2.3.2 – Termos processuais realizados pelo escrivão/chefe de secretaria – Art. 208 e 209, CPC
Os termos mais comuns redigidos pelo escrivão ou pelo chefe de secretaria são:
✓ Termo de Juntada – Ato com que o escrivão certifica o ingresso de uma petição ou documento nos autos;
✓ Termo de Vista – Ato pelo qual o escrivão certifica que uma das partes teve vista ao processo, seja apenas
para consulta, seja para manifestação. A vista pode ter sido em balcão ou com carga;
✓ Termo de Conclusão – Ato pelo qual se certifica o encaminhamento dos autos ao juiz, para alguma
deliberação;
✓ Termo de Recebimento – Ato pelo qual se documenta o momento em que os autos voltaram ao cartório,
após uma vista ou conclusão.
Na elaboração dos atos e termos processuais, é vedado ao escrivão deixar espaços em branco, salvo os
que forem inutilizados, bem como fazer entrelinhas, emendas ou rasuras, a não ser se expressamente ressalvadas
(211).
2.4 – Ato processual no tempo e no espaço – Art. 212 a 217, CPC
Refere-se ao “momento” adequado ou útil para a atividade processual. Pelo art. 212, CPC: Os atos
processuais serão realizados em dias úteis, das 6h às 20h. Admite-se, no entanto, que os atos iniciados em
momento adequado possam se prolongar além das 20h, “quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar
grave dano” (212, §1º). Atenção: Este horário não se relaciona a protocolos de responsabilidade das partes.
Entende-se por “dia útil” aqueles em que há expediente forense. Durante as férias forenses e nos
feriados não se praticarão atos processuais (art. 214, CPC). Claro que o mesmo se diz do sábado, do domingo e
do ponto facultativo. Para facilitar, a doutrina ressalta que, não sendo dia útil e nem férias forenses, será
considerado feriado para efeito processual.
Mas há exceção à regra. Há situações em que poderão ocorrer atos processuais em
dias não úteis ou fora do horário legal: citação ou intimação ou penhora ou tutelas de
urgência. Observe que poderá ocorrer a exceção, mas não a continuidade do processo,
principalmente nas férias forenses. Assim, feita a citação no período de férias forenses, o prazo
para a resposta do réu só começa a correr após o retorno dos trabalhos efetivos do Judiciário.
Tirando-se essas situações de exceção, não surtirá nenhum efeito o ato praticado em desobediência ao
212, CPC, sendo inclusive irrelevante a existência de juiz de plantão no período (ele só poderá fazer o que a lei
o autoriza, ou seja, as exceções citadas).
Em relação às exceções ao 212, CPC (citação, intimação, penhora, tutela de urgência), será necessário que
a diligência obedeça ao artigo 5º, XI, CF, que trata da inviolabilidade do domicílio (212, §2º). O aluno estudou a
inviolabilidade de domicílio em Direito Constitucional.
Protocolo pelas partes - Sempre que o ato for praticado por meio de petição em autos não eletrônicos de
responsabilidade das partes, deverá ser protocolado dentro do horário de funcionamento do fórum ou tribunal.
Tal horário útil não é o de 20h, relativo a atos processuais genéricos, mas o horário de término do expediente,
conforme a Lei de Organização Judiciária.
Se o processo for eletrônico, o horário citado no parágrafo anterior se altera, conforme a Lei 11.419/2006,
para as 24h do último dia do prazo (art.10, §1º), desde que o sistema esteja devidamente implantado, nos termos da
citada legislação. Esta regra foi repetida pelo art. 213, CPC. Deve-se observar o horário local do juízo, e não o
horário local de onde se fez a expedição, regra importante em razão de diferenças de horário no país. Por fim,
sendo ato eletrônico, o controle de tempestividade é feito pelo próprio sistema, independentemente de ato do
escrivão.
2.4.1 – Férias coletivas e recesso forense

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Apenas os tribunais superiores (STF, STJ, STM, TSE, TST) possuem férias coletivas. O juízo de primeiro
grau e os tribunais de segundo grau (TJ, TRT, TRE, TRF), por força da EC45/2004, não podem ter férias coletivas,
pois a atividade jurisdicional é ininterrupta. Além da proibição às férias coletivas, é obrigatória a existência de
plantão nos dias em que não houver expediente forense normal (93, XII, CF).
As férias coletivas são nos meses de janeiro e julho.
Embora não haja férias coletivas, salvo nos tribunais superiores, o CPC – art. 220 – prevê o recesso
forense, entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, quando haverá a suspensão, em toda Justiça Civil, do curso do prazo
processual. Trata-se, na verdade, de uma conquista da Advocacia. No recesso forense, os juízes e os servidores do
Judiciário, bem como do Ministério Público, exercem suas funções regulares. Porém, não correrá prazo para as
partes nos processos, salvo exceções.
2.4.1.1 – Processos que correm nas férias coletivas e no recesso forense –Art. 215, CPC
Embora o artigo 215 aborde a expressão “férias forenses”, é nítida a interpretação extensiva para abarcar o
recesso forense.
Falamos, acima, de exceções para atos processuais em relação às férias forenses e dias não úteis. Há
também exceções em relação a andamento de determinados processos no período de férias e recesso forenses. Aqui
não se trata apenas de um ato processual, mas de todo processo em si. A matéria está no artigo 215, CPC:
Processam-se durante as férias e recesso forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas:
I - os procedimentos de jurisdição voluntária (exemplo: ação de homologação de união estável; ação de
retificação de nome);
II – os procedimentos necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo
adiamento (exemplo: ação de manutenção na posse);
III - a ação de alimentos;
IV - os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador;
V - os processos que a lei determinar (a doutrina admite lei estadual, já que a CF permite aos Estados
legislar, de forma supletiva, sobre procedimentos judiciais – Art. 24, XI, CF).
2.4.2 – O lugar dos atos processuais – Art. 217, CPC
Diz o art. 217: “Os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do
juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da
justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz”.
A regra é a realização dos atos processuais na sede do juízo, em seu edifício competente. As exceções
ocorrem em razão de:
a) Deferência – Refere-se, em regra, à qualidade de autoridade pública, como presidente da República,
governador de Estado, parlamentares e demais pessoas listadas no art. 454, CPC, que serão inquiridos, em
audiência, em residência ou onde exercem função. São prerrogativas em razão da função pública.
b) Interesse da justiça – É o caso da inspeção judicial in loco. O juiz comparece na residência do
interditando para verificar a sua condição de vida, por exemplo.
c) Natureza do ato – É o caso da perícia, que pela própria natureza do ato, será fora do juízo. Também os
atos de comunicação processual, que se realizam na pessoa da parte; ou os atos de apreensão de coisas, entre
outros.
d) Obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz – Perceba, que neste item, haverá a solicitação
pela parte, o que o difere do item “interesse da justiça”. Por exemplo, a audiência seria no segundo andar de um
tribunal, que não tem rampa ou elevador, prejudicando o acesso de uma testemunha cadeirante, sendo necessária a
alteração do local. Ou o interditando, por alguma enfermidade, está impossibilitado de comparecer ao juiz, tendo –
o magistrado – que se deslocar até ele.
2.5 – Prazos processuais – Art. 218 a 235, CPC

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Prazo é o espaço de tempo em que o ato processual da parte pode ser validamente praticado. Conforme o
aluno já estudou em Direito Civil, todo prazo tem dois termos: O termo inicial (dies a quo) e o final (dies ad quem).
Pelo primeiro, nasce a faculdade da parte promover o ato, normalmente marcado pela intimação ou citação da
parte.
Ressalta-se que será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo, situação
regulamentada pelo CPC atual e que trazia dúvidas na vigência do CPC revogado.
Pelo termo ad quem, extingue-se a faculdade, tenha ou não sido levado a efeito o ato.
Tanto o termo inicial quanto o termo final costumam ser documentados nos autos por certidões do escrivão.
A maioria dos prazos está no Código. Em caso de omissão, caberá ao juiz determinar o prazo, considerando
a complexidade do ato. Quando nem a lei e nem o juiz fixar prazo para o ato, tal prazo será de cinco dias, se for
prazo de responsabilidade da parte (218, §3º, CPC).
2.5.1 – Preclusão temporal e os prazos próprio e impróprio
A marcha processual se relaciona ao princípio da oficialidade. Com ou sem a colaboração das partes, o
processo irá seguir a sua marcha. Tal situação relaciona-se diretamente aos prazos, que deverão ser realizados
conforme prescrito em lei, sob pena da parte sofrer preclusão temporal. Lembre-se que, embora haja prazos para
juízes e seus auxiliares no sistema processual, o efeito da preclusão é só para as partes. Em razão disso, há prazo
próprio (fixado para as partes, e que gera preclusão) e prazo impróprio (para o órgão judiciário e para o Ministério
Público quando fiscal da lei, e não sofre preclusão).
A preclusão temporal é a perda do momento processual. O artigo 223, caput, CPC, diz que,
“decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, independentemente
de declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa causa”.
O que é “justa causa”? O §1º, 223, CPC, responde: “Considera-se justa causa o evento alheio à vontade
da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário”. É o caso fortuito ou de força maior.
Assim, “verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe assinar” (§2º).
Não confunda preclusão com prescrição extintiva, tema de direito material, estudado em Direito Civil, e
que gera a extinção do processo por sentença resolutiva em razão da perda do direito de ação condenatória.
Sendo a preclusão uma punição, caso haja dúvidas sobre o cumprimento ou não do prazo pela parte, a
interpretação deverá ser aquela que assegure o exercício do direito, pois toda norma que restrinja direitos deve ser
interpretada restritivamente. Trata-se de regra de hermenêutica.
O prazo da parte poderá ser comum ou particular. Será comum se correr para todos os litigantes, a um
só tempo, como o prazo recursal (quando houver sucumbência recíproca) ou o prazo para apresentar rol de
testemunha. Já prazo particular é aquele que interessa ou pertence apenas a uma parte, como o de contestar ou o de
impugnar documentos da contestação.
Vimos que o prazo para o juiz é impróprio, pois não gera preclusão temporal. Mas o descumprimento pode
gerar sanções disciplinares, se não houver justa causa, cabendo representação por interessado à Corregedoria do
Tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça, que irá instaurar o procedimento administrativo.
2.5.2 – Classificação dos prazos
Os prazos podem ser legais, judiciais ou convencionais.
✓ Serão legais aqueles fixados pela própria lei, como o de resposta do réu e o prazo recursal.
✓ Serão judiciais os marcados pelo juiz, em casos como o da designação da audiência, o de fixação de
prazo para o edital, o de cumprimento de carta precatória, o de conclusão de prova pericial. A lei dará
parâmetros, permitindo alguma flexibilidade ao juiz.
✓ Serão convencionais aqueles ajustados de comum acordo entre as partes, como o de suspensão do
processo, no limite de seis meses. São pouco comuns.
2.5.3 – Natureza dos prazos

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Segundo sua natureza, os prazos podem ser dilatórios ou peremptórios. Mas o CPC não lista essa divisão,
cabendo à jurisprudência e à doutrina.
Dilatório é o prazo que, embora fixado na lei, admite ampliação pelo juiz ou que, por convenção das
partes, pode ser reduzido ou ampliado. Exemplos: Prazo para que o autor complemente o valor da causa recolhido
indevidamente; prazo para juntar documentos; para arrolar testemunha, entre outros. Normalmente trata de
situações mais periféricas ao processo, embora de importância.
Peremptório é aquele prazo que não pode ser alterado, normalmente em situação mais diretamente ligada à
pretensão do processo. É consenso que enquadra o prazo de contestação, de reconvenção, de denunciação da
lide, de chamamento ao processo e de recurso, entre outros. Há exceções sobre a possibilidade de alteração:
Primeira exceção: Mesmo o prazo peremptório poderá ser prorrogado pelo juiz, em até 60
dias, nas comarcas de difícil transporte (caso comum em Mato Grosso). Em caso de calamidade
pública, a prorrogação poderá ser superior a 60 dias.
Segunda exceção: O juiz tem o poder geral de dilatar qualquer prazo processual em razão
da complexidade da causa. Uma ação de usucapião que envolva propriedade rural com grande
número de confinantes, por exemplo.
Terceira exceção: O juiz poderá reduzir o prazo peremptório, desde que haja prévia
anuência das partes.
2.5.4 – O curso dos prazos
O CPC atual alterou o sistema de curso dos prazos. Pelo CPC revogado, o curso era contínuo: uma vez
iniciado, não sofria suspensão em seu curso em razão de feriado ou dia não útil. Já o CPC atual adotou o curso dos
prazos apenas em dias úteis, quando for prazo em dia, norma já estendida para a legislação dos juizados especiais.
Assim, há o desprezo de todos os dias não úteis intercalados entre o termo inicial e o termo final.
Se o prazo for contado em meses ou anos, será utilizada a sistemática do Código Civil, estudada pelo aluno
em Direito Civil: “Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar
exata correspondência” (CC, 132, §3º).
Não confunda contagem de prazo processual com contagem de prazo de direito material. A contagem do
prazo de prescrição extintiva e de decadência legal é de direito material (Direito Civil), sendo em dias corridos.
Em situação de férias coletivas (apenas para tribunal superior) e recesso forense, ocorrerá a suspensão da
contagem do prazo: paralisa-se a contagem no início do recesso ou das férias, recomeçando do ponto paralisado
após o retorno das atividades forenses, no primeiro dia útil seguinte ao término da suspensão. Esse primeiro dia útil
também se computa.
Não se confunde “suspensão do prazo processual” com suspensão da atividade jurisdicional ou do MP no
recesso forense. O recesso não se confunde com paralisia da Justiça. Mas não haverá contagem de prazo e nem
audiências ou sessões de julgamento. Vimos antes, inclusive, que há medidas judiciais que poderão ser impetradas
ou executadas mesmo neste período.
Além do recesso e das férias forense, há outras situações de suspensão do prazo. Por exemplo, toda vez que
o próprio processo for suspenso, conforme previsão do artigo 313, CPC, como na sucessão das partes. Ou, ainda,
nas situações já estudadas de nascimento de filhos da única advogada da parte (30 dias de suspensão) ou do único
advogado da parte (oito dias de suspensão).
2.5.5 – Contagem dos prazos para as partes
Em regra, os prazos processuais são contados com a exclusão do dia de começo e com a inclusão do dia do
vencimento, conforme o art. 224, CPC. Se tais dias coincidirem com dias não úteis, haverá prorrogação para o dia
útil seguinte. Aliás, tal prorrogação ocorrerá se os dias coincidirem com dia em que o expediente forense for
encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica. Sendo
assim, se a intimação ocorreu por publicação em uma terça-feira, dia útil, tal terça-feira será excluída, com o prazo
começando a ser contado na quarta-feira, dia útil.

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Até aqui estamos falando de regras gerais. Mas há importantes exceções no art. 231 e parágrafos. Antes
guarde que: O início ou começo do prazo não se confunde com início da contagem. O início da contagem
geralmente é no dia útil posterior ao começo do prazo.
Preliminarmente, importa distinguirmos citação e intimação:
✓ A citação realiza o papel do contraditório inaugural da demanda. No conceito do CPC, “citação é o ato
pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual” (art.
238, CPC). Também é chamada de “intimação qualificada”.
✓ A intimação refere-se aos demais atos processuais.
Aprofundaremos as formas de citação e intimação mais à frente. Por agora, interessa apenas analisarmos
as regras de contagem de prazo. Vejamos as situações do art. 231, CPC:
I) Se a citação ou intimação for eletrônica, em processo digital, nos termos da Lei 11.419/2006, c/c art.
231, V, CPC - O citando ou intimando receberá uma mensagem eletrônica, normalmente por e-mail, mas alguns
TJs (incluindo o de Mato Grosso) já utilizam o Whatsapp, informando sobre o ato. A citação ou intimação será
considerada realizada no dia em que o citando ou intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor do documento,
acessando o Portal Eletrônico (início da contagem no dia útil seguinte). Perceba que não é o recebimento do e-mail
que marca o prazo, e sim o acesso ao Portal do Judiciário.
Nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a citação ou intimação será considerada como realizada no
primeiro dia útil seguinte, com início da contagem no dia útil a seguir.
PORÉM, tal consulta deverá ser feita em até dez dias contados da data do envio do e-mail (ou do Whatsapp), sob
pena de considerar-se a citação ou intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo, com início
da contagem no dia útil seguinte (atenção: Sobre a citação, podem incidir outras regras que alterem o início da
contagem do prazo – veja o item VI).
Atenção: A Lei 14.195/2021 criou nova forma de citação eletrônica, diversa desta citada acima, incluindo
o inciso IX, ao artigo 231, CPC. Vamos chamá-la de “citação por meio eletrônico”. Tal forma, a princípio, não
abarca a intimação. Mais: A nova forma vigora tanto para processo digital, quanto para processo físico. Para esta
nova forma, a regra de contagem é diferente daquela citada no parágrafo anterior. O novo sistema considera o
recebimento do e-mail, e não o acesso ao Portal Eletrônico: Ocorrida a citação por e-mail, a parte citada terá três
dias úteis para confirmar o recebimento do documento. Confirmado o recebimento, o começo do prazo
começará no quinto dia útil após, e o início da contagem será no primeiro dia útil seguinte (atenção: Sobre a
citação, podem incidir outras regras que alterem o início da contagem do prazo – veja o item VI).
Sistema dual de citação eletrônica: Perceba que, pelos dois últimos parágrafos, há dois sistemas de
citação eletrônica. Um dos sistemas apenas para processos digitais, ao qual interessa, para marco de contagem
do prazo, o acesso ao Portal Eletrônico do Tribunal (artigo 231, V, CPC). O outro sistema vigora para
qualquer processo e o marco de contagem do prazo será o recebimento do correio eletrônico, normalmente o e-
mail (artigo 231, IX, CPC e outros). A jurisprudência é que vai definir como será a convivência dessas duas
formas de citação eletrônica no processo digital. Aprofundaremos o assunto mais à frente.
II) Se a citação ou intimação for por via postal (Correios), o começo do prazo em dias será a partir da
juntada aos autos do aviso de recebimento. O início da contagem será no dia útil posterior (atenção: Sobre a
citação, podem incidir outras regras que alterem o início da contagem do prazo – veja o item VI).
III) Quando a citação ou a intimação for feita por mandado (oficial de justiça), seja pessoal seja com hora
certa, o prazo em dias se inicia a partir da juntada aos autos do mandado devidamente cumprido. Trata-se de ato
complexo que só se aperfeiçoa com o ato do escrivão, que incorpora o mandado nos autos. Só a partir de então se
considera a parte citada ou intimada. O início da contagem será no dia útil seguinte (atenção: Sobre a citação,
podem incidir outras regras – veja o item VI).
IV) Se a citação ou a intimação se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria, o início do prazo
ocorrerá na data da sua ocorrência. A contagem do prazo começa no dia útil seguinte. Poderá, neste caso, ocorrer
conjuntamente com a retirada dos autos em carga (atenção: Sobre a citação, podem incidir outras regras que
alterem o início da contagem do prazo – veja o item VI).

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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
V) Se a citação ou intimação for feita por edital, a contagem do prazo para a prática do ato processual terá
início a partir do dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz no próprio edital (atenção: Sobre a citação,
podem incidir outras regras que alterem o início da contagem do prazo – veja o item VI).
VI) Em relação aos cinco itens anteriores, importante uma observação no que tange à CITAÇÃO. O
aluno estudará no próximo semestre que, após a citação, poderá ocorrer a audiência preliminar de conciliação ou
de mediação. Tal audiência nem sempre acontecerá. Ela não acontecerá quando a lei a afastar ou quando
ambas as partes não a quiserem. Sendo assim, conforme a situação, poderá ocorrer o seguinte quanto ao prazo de
contestação após CITAÇÃO:
a) A lei afasta a realização da audiência – O início da contagem do prazo para contestação começa
conforme visto nos cinco itens acima.
b) A parte autora, na inicial, se manifesta contrária à audiência - Mesmo assim, a lei manda o juiz
agendar a audiência e citar o réu. Se o réu, até dez dias antes da audiência, se manifestar contrário à
sua realização, neste caso o prazo do réu começa a contar do dia útil seguinte ao protocolo de tal
petição. Se for litisconsórcio, todos os litisconsortes têm que rechaçar a audiência para que ela não
ocorra. Veja que, neste caso, não se aplicam as regras anteriores para a citação.
c) A audiência ocorre porque pelo menos uma das partes a quer e a lei não a afasta - Quando ocorrer tal
audiência, altera-se a regra de contagem na citação, se a audiência for infrutífera. Neste caso, o início
da contagem se dá no primeiro dia útil após a audiência. Caso a audiência seja frutífera, o juiz
homologará o acordo por sentença resolutiva, de forma que não haverá a contestação.
VII) Se a citação ou a intimação se der por meio de carta precatória – Carta precatória é instrumento de
comunicação processual para fora da comarca, quando inviável a comunicação eletrônica ou a comunicação postal.
Aprofundaremos o estudo de Carta Precatória mais à frente. Por agora, saiba que a citação ou a intimação podem
ser feitas excepcionalmente por carta precatória. Cumprida a carta precatória, o termo a quo do prazo será a data da
juntada da comunicação de seu cumprimento aos autos de origem. O início da contagem ocorrerá no dia útil
seguinte. Mas observe que, se o motivo da carta precatória for a realização de uma citação, deverá ser analisado o
item anterior.
VIII) Se a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico, o dia do começo do prazo será
a data da publicação e o início da contagem no dia útil seguinte. Entretanto, em relação ao Diário da Justiça
Eletrônico, considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação
(só depois disso é que se aplica a regra geral, ou seja, inicia-se a contagem a partir do primeiro dia útil posterior à
disponibilização da informação eletrônica). Atenção 01: Não há citação pelo Diário da Justiça. Atenção 02: Não
confunda intimação por Diário de Justiça Eletrônico com a intimação eletrônica do processo digital.
Especificamente sobre o jornal impresso, o que importa é a data real da circulação e não a data
estampada no jornal. Pode ser que o jornal seja impresso à noite, com a data do dia da impressão, e só circule no
dia seguinte, dia que valerá efetivamente como data real da circulação e da intimação. A contagem começará no dia
útil seguinte.
Também pode ocorrer do jornal ser publicado aos sábados, quando não há expediente forense. A
intimação será considerada para segunda-feira e o primeiro dia computado para contagem do prazo é a terça.
IX) Quando houver vários réus a serem citados, o prazo para contestar começará a fluir da última das
datas de citação, observando os itens acima de I a VI.
X) Quando houver mais de um intimado, o prazo para cada um é contado individualmente.
XI) Como já visto, havendo litisconsortes na relação processual e forem diversos os seus advogados, de
escritórios diferentes, os prazos para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, serão contados em
dobro, independentemente de requerimento (art. 229, CPC). Ressalta-se que, havendo litisconsórcio passivo, se
apenas um litisconsorte apresentar defesa ficando os demais em revelia, cessa o benefício do prazo em dobro. Mais:
O prazo em dobro no litisconsórcio não se aplica em processo eletrônico, pois os autos ficam sempre disponíveis,
pela própria natureza do processo digital.
XII) Se a intimação é para obrigatoriedade de comparecimento em situação que a lei não marca
prazo, fica a critério do juiz determinar tal prazo. Mas o prazo nunca poderá ser inferior a 48 horas. O oficial de

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justiça deverá assinalar, portanto, a hora em que cumpriu o mandado. Não se relaciona ao caso as ordens de
condução coercitiva de testemunhas e partes faltosas ou mesmo de prisão delas, porque inclusive estavam
intimadas antes para o ato para o qual não compareceram.
XIII) Em relação a recursos, o aluno estudará o tema em disciplina futura.
2.5.6 – Termo final
O termo final de qualquer prazo processual nunca cairá em dia não útil, ou em que não houver expediente
normal do juízo. Dessa forma, considera-se prorrogado o prazo para o primeiro dia útil seguinte se o
vencimento coincidir com dia em que:
✓ O expediente forense for encerrado antes – Exemplo: Em razão de horário de jogo da Copa do Mundo
de Futebol;
✓ O expediente forense for iniciado depois da hora normal – Exemplo: Em razão de alguma pane em
equipamentos;
✓ Houver indisponibilidade da comunicação eletrônica nos processos digitais.
2.5.7 – Restituição do processo pela parte – Art. 234, CPC
Compete ao advogado, particular ou público, ao defensor público e ao Ministério Público restituir os autos
no prazo do ato a ser praticado (art. 234, CPC). Ocorrida a retenção indevida, é lícito a qualquer interessado
exigir a restituição dos autos, podendo ser decretada a busca e apreensão.
Se, intimado, o advogado não devolver os autos no prazo de três dias, perderá o direito à vista fora de
cartório e incorrerá em multa correspondente à metade do salário-mínimo, além da comunicação da falta à Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB). A multa é aplicada para o advogado (e não para a parte). A lei não diz a quem o
valor da multa será revertido, mas predomina o entendimento que seja em prol da Fazenda Pública (art. 234, §§2º e
3º, CPC). Atenção: Para a aplicação de tal multa, a jurisprudência exige a intimação por oficial de Justiça (STJ,
REsp 1.712.172-DF, DJe 24/08/2018), pois a mesma omissão tem repercussão penal (art. 356, CP – Crime de
sonegação de papel ou objeto de valor probatório).
A mesma punição ocorrerá se o infrator for o membro do Ministério Público ou o membro da
Defensoria Pública, com a comunicação ao órgão competente para a instauração do processo administrativo, além
da aplicação da multa ao agente público responsável.
2.5.8 – Prazos para o juiz e seus auxiliares
Já vimos que os prazos, para o juiz e auxiliares, são “impróprios”, ou seja, não sujeitos à preclusão
temporal. O CPC marca determinados prazos para o juiz (art. 226):
a) Cinco dias para despachos;
b) Dez dias para as decisões interlocutórias;
c) Trinta dias para as sentenças.
Mediante justificativa, o juiz pode exceder tais prazos, o que usualmente ocorre.
Atenção: Art. 235, CPC - Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria
Pública poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça
contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os prazos previstos em lei, regulamento
ou regimento interno. Abre-se um procedimento para apuração de responsabilidade que,
além de sanção administrativa, pode gerar o envio dos autos a um juiz substituto.
Em relação ao escrivão ou chefe de secretaria:
a) Um dia para remeter os autos conclusos, após cumprimento do ato anterior à medida;
b) Cinco dias para executar os demais atos do processo, a contar da ciência da ordem determinada pelo
juiz.
Para controle dos prazos, o serventuário deverá certificar o dia e hora em que teve ciência da ordem.
Cabe ao juiz fazer a fiscalização, de ofício ou provocado pela parte, pelo MP ou pela Defensoria Pública. Havendo

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descumprimento de prazos sem motivo legítimo que justifique, o juiz mandará instaurar procedimento
administrativo para punir o faltoso na forma da lei (art. 233, CPC).
Em se tratando de processo eletrônico, a juntada de petições ou de manifestações, em geral, ocorrerá de
forma automática, independentemente de ato de serventuário da justiça.
2.5.9 – Prazo para o Ministério Público, Fazenda Pública e Defensoria Pública – Art. 180,
CPC, c/c 183, CPC, c/c 186, CPC
Os prazos serão em dobro, quando a parte for a União, Estados, Distrito Federal, municípios, autarquias
(como o INSS) e fundações públicas de direito público (como a Funai). Observe que o benefício não favorece
empresas públicas (como a Caixa Econômica Federal), sociedades de economia mista (como o Banco do Brasil) e
fundações públicas de direito privado (como a Fundação Getúlio Vargas).
Também será em dobro o prazo para o Ministério Público, como parte, e para a Defensoria Pública.
Se a norma legal estabelecer prazo próprio para a Fazenda Pública, para o MP ou para a Defensoria, não
haverá a regra do prazo em dobro.
O benefício do prazo em dobro da Defensoria Pública é estendido a outras entidades, fora da Defensoria,
que atuem prestando assistência jurídica gratuita, como a OAB e os núcleos de prática jurídica das Faculdades de
Direito.
Por outro lado, aquele que tem benefício da gratuidade e contrata um advogado particular de sua
escolha não terá direito ao prazo em dobro.
2.6 – Intercâmbio processual – Art. 236 a 275, CPC
Este conteúdo foi fortemente alterado pela Lei 14.195, de 26 de agosto de 2021. Ressalta-se que tal
alteração está sendo questionada, quanto sua constitucionalidade, perante o Supremo Tribunal Federal.
Intercâmbio processual trata-se do sistema de comunicação processual relacionado ao princípio do
contraditório e da ampla defesa, bem como ao princípio da publicidade e da não-surpresa. O juízo deve
colocar as partes a par de tudo o que ocorre no processo, convocando-as para realizar os atos que entenderem
necessários.
Os atos de comunicação processual são a citação e a intimação. No passado, também existiu a
“notificação”, que hoje existe apenas em situação esporádica, nos termos do art. 726 a 729, CPC.
Já vimos anteriormente o conceito de citação e de intimação. Vamos relembrar o artigo 238, CPC:
“Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação
processual”. A intimação refere-se aos demais atos processuais.
Pode ocorrer intimação ao autor antes da citação do réu? Sim. Por exemplo, para que o autor corrija
falhas na petição inicial.
Os órgãos judiciais que se encarregam da comunicação processual são o escrivão e o oficial de
justiça. Ao escrivão, o juiz determina a prática do ato em despacho nos autos. Ao oficial, as ordens são
transmitidas por meio de mandados, que são documentos avulsos que, depois de cumprida a diligência, são
juntados aos autos para integração e aperfeiçoamento do ato processual de comunicação. A intenção do processo é
reduzir a necessidade de atos por oficial de justiça.
2.6.1 – A citação – Art. 238 a 259, CPC
A citação será preferencialmente por meio eletrônico (alteração do CPC em agosto de 2021, pela Lei
14.195). Também poderá ser pelos Correios, por escrivão, por oficial de justiça (pessoal ou por hora certa), por
edital. Lembre-se: Não existe citação por “imprensa” (diário de justiça, eletrônico ou impresso).
Há classificações diversas sobre os atos de comunicação na doutrina. Porém, a classificação essencial é a
que divide os atos de comunicação entre “pessoal” (real) e “ficta” (presumida). A citação pessoal ou real é feita
diretamente à parte ou a intermediário legitimado, diferentemente da citação ficta ou presumida. Em regra, a
citação deve ser sempre pessoal e excepcionalmente será ficta. Veja:

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✓ Citação pessoal (real): Eletrônica, por Correios, por oficial de justiça (com exceção da “citação com
hora certa”), pelo escrivão (gestor), por carta precatória, por carta rogatória.
✓ Citação ficta (presumida): Citação com hora certa e citação por edital.
Nem todo processo exigirá a citação. Vejamos:
✓ Já abordamos, no início do semestre, que há processo sem réu, de jurisdição voluntária, se não houver
interesse de terceiro. Exemplo: Quando duas pessoas ingressam em juízo para que haja a sentença
declaratória retroativa de união estável.
✓ Há processos com réu, mas que – por falha processual – são extintos antes da citação, em sentença
terminativa; ou que, em razão de prescrição extintiva, decadência legal ou ofensa à jurisprudência
superior, são extintos antes da citação com sentença resolutiva. O aluno estudará o tema em disciplina
futura.
Porém, sendo processo com polo passivo e estando a petição inicial adequada, em juízo preliminar, o juiz
fará o despacho de citação do réu ou do terceiro (lembre-se da denunciação da lide pelo autor ou do incidente de
despersonalização da pessoa jurídica).
A citação será efetivada em até 45 dias, a partir da propositura da ação, situação de prazo impróprio.
2.6.1.1 – A citação inválida e o suprimento da citação
Mais do que existir, a citação deve ser válida. O CPC fulmina de nulidade as citações e intimações feitas
sem observância das prescrições legais. Trata-se de nulidade insanável, para maior parte da doutrina.
Embora insanável, há casos de “suprimento” da citação. A falta ou nulidade da citação se supre pelo
comparecimento espontâneo do réu ou do executado (art. 239, §1º, CPC). Nem sempre, porém, será possível a
realização da defesa: pode ser que o processo tenha tido sequência anterior, por erro obviamente, quando o
prejudicado irá buscar a nulidade processual dos atos realizados.
Ao comparecer no processo que teve citação inválida, o comparecimento já provoca o início para a
apresentação de defesa. Na mesma peça, o réu preliminarmente demonstra a citação inválida e, ato seguinte, já
apresenta a sua defesa, sob pena de preclusão. É situação diversa do CPC revogado, quando o réu primeiro poderia
debater a invalidade e só depois começava o prazo de defesa.
Porém, a situação acima só pode valer se o processo ainda estiver em primeiro grau de jurisdição. Se o
processo estiver em grau recursal ou em cumprimento de sentença, o réu poderá apenas alegar a nulidade e, após
ser deferida, será determinado ao processo retornar à fase de citação, anulando todos os atos realizados, quando – aí
sim – haverá o início do prazo de defesa.
Se o pedido do réu de citação inválida for rejeitado, ocorre revelia nos termos seguintes:
✓ Se o processo ainda não estiver sentenciado, o réu terá sido revel até então, sofrendo a preclusão
temporal dos atos anteriores, assumindo o processo a partir de tal momento. Suponhamos que
estejamos na fase de audiência de instrução e julgamento: neste caso, o réu poderá participar dos
atos afins à audiência, mas não poderá mais contestar (pois, em tal momento anterior, estava em
revelia, ocorrendo a preclusão temporal).
✓ Se o processo já foi sentenciado, mas ainda está em grau recursal, o réu poderá apresentar recurso,
baseando-se em temas de direito público, que podem ser conhecidos a qualquer momento.
✓ Se o processo já transitou em julgado, consolidou-se a revelia, cabendo apenas eventual situação de
ação rescisória.
2.6.1.2 - Destinatário da citação
A citação pode recair na pessoa do réu, do executado ou do interessado (intervenção de terceiro) ou do seu
representante legal (se réu incapaz) ou procurador (advogado, com cláusula especial para receber citação na
procuração). Se o demandado é pessoa jurídica, a citação irá para quem tenha poderes estatutários ou convencionais
para representá-la em juízo. Algumas situações:

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I - Estando o citando ausente (no sentido de “fora do domicílio”, e não no sentido do Instituto da
Ausência, Parte Geral do Código Civil), a citação poderá ser feita por meio de um preposto. Deve ser uma ausência
prolongada e indefinida, mesmo se não maliciosa. Em caso de ausência rápida, não se autoriza a exceção.
II - Nas ações sobre locação predial movida pelo locatário, permite-se que o locatário cite o
administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis, que será habilitado para representar o locador,
em juízo, desde que o locador esteja ausente do país e o inquilino não tenha sido cientificado da existência de
procurador na localidade do imóvel com poderes especiais de receber a citação.
III - E se a citação é da União, Estados, Distrito Federal, municípios e suas autarquias e fundações
públicas? A citação deverá ocorrer perante o órgão de Advocacia Pública responsável por sua representação
judicial. Especificamente em relação ao município, lembre-se que o prefeito poderá responder, em situações que o
município não tenha Advocacia Pública (claro que, não tendo capacidade postulatória, terá que promover a
contratação de escritório de advocacia). A citação será por meio eletrônico ou por oficial de Justiça. Lembre-se que
ambas são citações pessoais.
IV - Se o citando, por questão de saúde, não puder receber a citação? (art. 245, CPC) Se o citando for
mentalmente incapaz ou estiver impossibilitado de receber a citação, o oficial de justiça deixará de cumprir o
mandado citatório, que será devolvido com certidão que descreva o fato minuciosamente. O juiz, então, nomeará
um médico para examinar o citando, a quem competirá apresentar laudo em cinco dias. Ficará dispensada a
nomeação se pessoa da família apresentar declaração do médico do citando que ateste a sua incapacidade.
Havendo reconhecimento da impossibilidade de citação pessoal, o juiz dará ao citando um curador
especial, observando a ordem preferencial do art. 1775, CC (cônjuge ou companheiro, pai ou mãe, descendente
mais apto, escolha do juiz). Claro que tal curador só tem poderes em relação à ação em tela, devendo zelar pelos
interesses do citando. Se for advogado, poderá ele mesmo produzir as peças processuais. Caso não seja, deverá
contratar advogado para tanto ou buscar a defensoria pública.
2.6.1.3 - Local da citação – Art. 243, CPC
Como regra, diz o art. 243, CPC, que “a citação poderá ser feita em qualquer lugar em que se encontre o
réu, o executado ou o interessado”, seja sua residência, local de trabalho ou qualquer outro lugar. Mas o militar,
em serviço ativo, não poderá ser citado na unidade em que estiver servindo, salvo se não for conhecida a sua
residência ou nela não for encontrado.
2.6.1.4 - Impedimento legal da realização da citação - Art. 244, CPC
O CPC lista situações que impedem, momentaneamente, a citação, salvo se houver risco de perecimento
de direito:
✓ A quem estiver participando de ato de culto religioso.
✓ Ao cônjuge, companheiro ou qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta
(ascendente ou descendente) ou na linha colateral em segundo grau (irmão), no dia do falecimento e
nos sete dias seguintes.
✓ Aos noivos, nos três primeiros dias seguintes ao casamento.
✓ Aos doentes, enquanto grave o seu estado.
O impedimento refere-se apenas à pessoa do citando. Se tal citando tiver procurador com poderes
especiais de receber citação, poderá este ser citado.
2.6.1.5 - Modos de realizar a citação - Art. 246 a 259, CPC
A citação poderá ser eletrônica; por correio (postal); por oficial de justiça (pessoal e por hora certa); pelo
escrivão ou chefe de secretaria (se o citando comparecer em cartório ou seu advogado, autorizado em procuração);
por edital.
a) Citação eletrônica
Preliminarmente, não se trata de Diário de Justiça Eletrônico. Não existe citação por Diário de Justiça,
impresso ou eletrônico.

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Há duas modalidades de citação eletrônica. Uma delas relacionada apenas ao Processo Digital e disposta
no artigo 231, V, CPC, regulamentado pela Lei 11.419/2006. Outra, criada pela Lei 14.195/2021, que se relaciona
tanto ao processo digital, quanto ao processo físico, esta última chamada de “citação por meio eletrônico” (artigo
231, IX, CPC). Sendo assim:
Citação eletrônica stricto sensu – Art. 231, V, CPC
Citação eletrônica lato sensu
Citação por meio eletrônico – Art. 231, IX, CPC

Veremos, a seguir, inicialmente, a nova modalidade, gerada pela polêmica Lei 14.195/2021, a citação por
meio eletrônico.
a.1) Do novo sistema de citação eletrônica, implantado pela Lei 14.195/2021 – Citação
por meio eletrônico - Art. 246 e 247, CPC, c/c art. 231, IX, CPC
O CPC recebeu forte alteração em final do mês de agosto de 2021, pela Lei 14.195, criando a citação por
meio eletrônico.
Preliminarmente, o que significa a expressão “meio eletrônico”? Há duas interpretações distintas, no
momento, na doutrina e nos Tribunais.
✓ Interpretação restritiva: Meio eletrônico é tão somente o “correio eletrônico” (e-mail).
✓ Interpretação extensiva: Meio eletrônico abarca, além do e-mail, outras modalidades, como o
Whatsapp. Tal interpretação tem lastro no art. 1º, §2º, da Lei 11.419/2006, que considera meio
eletrônico como “qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos
digitais”. Há tribunais que estão aplicando a citação eletrônica via Whatsapp justamente com base
em tal interpretação. É o caso do TJ-PR, que regulamentou a citação eletrônica, inclusive via
Whatsapp, por intermédio da Instrução Normativa 073/2021-CGJ. Da mesma forma, o site do TJ-
SP divulgou que algumas comarcas naquele Estado estão se utilizando do Whatsapp para citações e
intimações (https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=74409).
Caberá ao CNJ ou à jurisprudência do STJ balizar tal interpretação.
Meio preferencial - A citação por meio eletrônico - com envio de e-mail (interpretação restritiva) ou de
outros mecanismos, como Whatsapp (interpretação extensiva) - foi tornada a forma preferencial de citação (antes
era a citação pelos Correios) e poderá ser feita para qualquer comarca do país (não poderá ser feita para fora do
país). Diz o modificado artigo 246, caput, CPC:
A citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no prazo de até 2 (dois) dias úteis,
contado da decisão que a determinar, por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo citando
no banco de dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do Conselho Nacional de Justiça.
Perceba que há uma atecnia no texto de lei ao falar do prazo de dois dias úteis a contar da “decisão” que
determinar a citação. Isso porque o pronunciamento que determina a citação é um “despacho” e, como sabemos,
despacho não é decisão.
Atenção: Considerando o texto de lei, este novo sistema via meio eletrônico seria
apenas para citação, não sendo utilizado para intimações. É este o entendimento que seguiremos
nesta disciplina, visto ainda não ter pronunciamento do CNJ ou da jurisprudência em sentido
contrário. No entanto, há Estados que regulamentaram a intimação por meio eletrônico,
inclusive por Whatsapp, como é o caso do TJ-PR (Instrução Normativa 073/2021-CGJ).
O regulamento do Conselho Nacional de Justiça já existe? A doutrina está debatendo tal existência, mas
o regulamento seria a Resolução 234, de 2016, CNJ, que cria a Plataforma de Comunicações Processuais do
Poder Judiciário em seu artigo 2º. Ressaltam-se ainda cadastros feitos pelos Judiciários estaduais que
provavelmente serão unificados pelo CNJ.
Sobre a informação do endereço eletrônico pelo citando - Perceba que a norma determina que o
endereço deve ter sido informado pelo CITANDO, ou seja, pelo réu ou terceiro, no banco de dados do Poder

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Judiciário. Sendo assim, o autor da ação consulta o banco de dados do Poder Judiciário e localiza o endereço
eletrônico do réu ou do terceiro, inserindo-o na petição inicial para que haja a citação eletrônica. Se o citando não
tiver informado um endereço ao cadastro judicial, fica inviabilizada a citação eletrônica e o ato deverá ser
realizado de outra forma, mesmo que o autor saiba tal endereço. Mas o tema está em debate na doutrina e aguarda
interpretação da jurisprudência e do CNJ.
Pessoas jurídicas são obrigadas a informar o e-mail eletrônico no cadastro judicial? Sim. As
empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro no “sistema de processo em autos eletrônicos”,
para efeito de recebimento de citações e intimações. A mesma obrigação incide sobre as pessoas jurídicas de
Direito Público, por força do §2º, artigo 246, CPC, mas em antinomia com o art. 247, III, CPC. Também poderá
existir o compartilhamento dos endereços eletrônicos da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da
Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) com o cadastro do Poder Judiciário. Trata-se de cadastro de caráter
tributário de microempresas e pequenas empresas.
Ressalta-se que o CPC, mesmo após a alteração legislativa da Lei 14.195, deixa de prever punição
específica para a ausência do cadastro, o que tem gerado forte debate na doutrina.
As pessoas físicas são obrigadas a informar o endereço eletrônico no cadastro judicial? Não há
obrigatoriedade de uma pessoa física comparecer ao Poder Judiciário para tão-somente informar seu endereço
eletrônico. No entanto, se tal pessoa física for, de alguma forma, partícipe em algum processo judicial, neste
caso deverá cadastrar seu endereço eletrônico. A Lei 14.195 acrescentou o inciso VII, ao artigo 77, que trata dos
deveres processuais. Relembre-o:
Art. 77, caput: Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
(...)
VII - informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os órgãos do Poder
Judiciário (...) para recebimento de citações e intimações.
Neste caso, todas as pessoas físicas partícipes de um processo deverão informar seus endereços eletrônicos:
partes, advogados, testemunhas, juízes, peritos... Tal endereço deverá ser cadastrado para eventual necessidade de
citação desta pessoa em processo que, por ventura, venha a ser ré. A análise pela doutrina é crítica, considerando a
norma por demais exagerada. Por exemplo, uma testemunha, que nunca foi ré em um processo, ao comparecer na
audiência, terá obrigatoriedade de informar seu endereço eletrônico para a eventualidade de vir a ser processada.
Mais: E se a pessoa física alterar o e-mail no futuro e não se lembrar de informar ao Judiciário, tal esquecimento
servirá como justa causa? Se o CPC for aplicado com rigor, tal esquecimento poderá gerar prejuízo processual à
pessoa, nos termos do artigo 274, parágrafo único, CPC: “Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao
endereço constante dos autos, ainda que não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação
temporária ou definitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos
autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço”. É o entendimento de Elpídio
Donizetti.
Atenção: Há posição doutrinária pela qual a citação via meio eletrônico será apenas para pessoas
jurídicas, apesar da lei não ter tal disposição. Isso em razão da obrigatoriedade de as pessoas jurídicas
cadastrarem seus endereços eletrônicos em órgão judiciário, independentemente de estarem em processos
judiciais. É a posição de Alexandre Freiras Câmara. Como a criação da citação por meio eletrônico é
recente, ainda não há posição jurisprudencial a respeito. Para efeitos desta disciplina, NÃO seguiremos esta
corrente, tendo em vista o dever processual citado acima para as pessoas naturais partícipes de processos
judiciais (art. 77, VII, CPC), criado na mesma lei que instituiu a citação por correio eletrônico.
Tramitação da citação por meio eletrônico – O autor, pela petição inicial, solicita a citação por meio
eletrônico.
O juiz, em dois dias úteis, determina a citação (art. 246, CPC). No entanto, tal prazo deve ser analisado em
conjunto com aquele do artigo 238, em seu parágrafo único (“A citação será efetivada em até quarenta e cinco dias
a partir da propositura da ação”). Como ambos os prazos foram criados pela recente Lei 14.195/2021, a doutrina
debate a correlação. O melhor entendimento é que o juiz tem 45 dias para deixar o processo pronto para receber o

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despacho citatório. E, dado o despacho citatório, a citação eletrônica deverá ser feita em dois dias úteis. Claro que
são prazos impróprios.
E como será enviada a citação? Aplica-se o §4º, art. 246, CPC:
As citações por correio eletrônico serão acompanhadas das orientações para realização
da confirmação de recebimento e de código identificador que permitirá a sua identificação na
página eletrônica do órgão judicial citante.
Encaminhada a citação eletrônica, a ausência de confirmação, em até três dias úteis, contados do
recebimento da citação eletrônica, implicará a realização da citação por meio diverso: Correio, oficial de justiça,
escrivão ou chefe de secretaria (se o citando comparecer em cartório), edital. Em tal situação, na primeira
oportunidade que o réu se manifestar nos autos, deverá apresentar justa causa para a ausência de confirmação
do recebimento da citação enviada eletronicamente.
ATENÇÃO: Considera-se ato atentatório à dignidade da justiça, passível de multa de até
5% do valor da causa, deixar de confirmar no prazo legal, sem justa causa, o recebimento da citação
recebida por meio eletrônico. O texto legal não define para quem a multa será destinada, mas,
por se tratar de ato atentatório, prevalecerá o entendimento de que é para a Fazenda Pública.
Se o réu for citado eletronicamente, o prazo de manifestação começará no quinto dia útil após a
confirmação de recebimento do ato citatório, conforme já visto. O início da contagem será no dia útil seguinte.
Lembre-se:
✓ Pessoa Jurídica – Obrigatório o cadastro e, portanto, é forte a aplicação da regra de citação
eletrônica. Não havendo o cadastro, será citada pelas demais formas de citação.
✓ Pessoa física com cadastro – Será citada eletronicamente, com divergência doutrinária.
✓ Pessoa física sem cadastro – Demais formas de citação.
Há situações para as quais não podem ocorrer a citação por correio eletrônico, independentemente
da vontade do autor? O artigo 247, CPC, diz que não haverá citação por meio eletrônico em cinco situações. No
entanto, duas dessas situações não se sustentam, uma delas por antinomia perante o próprio CPC e outra por
interpretação lógica. Vejamos:
Não ocorrerá citação pelo correio eletrônico:
I - nas ações de estado;
II - quando o citando for incapaz;
III - quando o citando for pessoa de direito público – Esta exceção não se sustenta por antinomia perante o
artigo 246, §2º, CPC, já comentado;
IV - quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência – Esta
exceção não se sustenta por interpretação lógica, pois a situação descrita pelo texto diz respeito à citação postal
apenas, que veremos à frente. Como a citação pelo correio eletrônico é recente, tal visão deverá ser confirmada
pelo CNJ ou pela jurisprudência;
V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma – No exemplo de Alexandre Freitas
Câmara e Fredie Didier Junior, no caso de o autor demonstrar que em outros processos contra o mesmo réu tal
forma de citação foi tentada e se frustrou.
a.2) Do sistema anterior de citação eletrônica – Lei 11.419/2006 c/c Art. 231, V, CPC
Como já informado, o novo sistema não revogou o sistema anterior, ao menos expressamente. Discute-se,
na doutrina, se é o caso de um sistema dual ou se haveria revogação tácita. Prevalece o entendimento em prol de
um sistema dual, a ser melhor definido pelo CNJ ou pela jurisprudência do STJ.
O sistema de citação eletrônica se dá pelo acesso ao Portal Eletrônico nos processos digitais, após
recebimento de e-mail ou Whatsapp (como já ocorre em Mato Grosso). Não é o e-mail em si, com a confirmação
de seu recebimento, que torna o réu citado, mas o ato dele entrar no Portal Eletrônico e acessar o processo (é

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justamente a grande diferença em relação à citação por meio eletrônico). O e-mail contém o prazo de dez dias para
que o réu acesse o Portal Eletrônico. Vejamos:
✓ Se o réu fizer tal acesso respeitando o prazo de dez dias do e-mail, estará automaticamente citado e,
no dia útil seguinte, começará o prazo de manifestação, conforme já estudamos.
✓ Se o réu não acessar o processo no prazo de dez dias, o sistema irá considerá-lo citado no dia útil
seguinte ao término do prazo para tal consulta.
Este sistema, no que tange à citação, seria apenas para pessoa jurídica, a princípio. No entanto, alguns
tribunais já o utilizam para pessoas físicas, como é o caso do TJ-MT (que, inclusive, o faz via Whatsapp). Mais:
Diferentemente do sistema do item anterior, poderá ser utilizado para intimações.
Atenção: O juiz, em um processo digital, poderá escolher qual forma de citação eletrônica
irá proceder? Para esta pergunta, ainda não há jurisprudência e a doutrina não aponta consenso.
b) Citação pelo correio ou citação postal - Art. 247 e 248, CPC
A citação pelo correio era a regra preferencial até a alteração do CPC, em final de agosto de 2021, pela Lei
14.195/2021. Com a mudança, somente será regra preferencial na impossibilidade de citação eletrônica. Pode-se
dizer que a citação postal é a segunda em preferência entre as modalidades de citação. Lembre-se que é citação
pessoal.
Antes da alteração legal, não dependia de requerimento. Com a mudança, passa a depender de
solicitação, quando – por exemplo – o autor não localiza o endereço eletrônico do réu no cadastro do Poder
Judiciário. Tem como vantagem poder ser realizada para qualquer localidade do país (não pode ser enviada para
o exterior).
Não poderá ocorrer citação pelo correio:
I - nas ações de estado;
II - quando o citando for incapaz;
III - quando o citando for pessoa de direito público;
IV - quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência;
V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma.
Serão remetidas, ao citando, cópias da petição inicial e do despacho do juiz, comunicando o prazo para
resposta e o endereço do juízo e do seu cartório. O carteiro entregará a carta citatória ao citando. Sendo pessoa
jurídica, entregará a quem tiver legitimidade para receber, não tendo validade a citação entregue a simples
empregado. Detalhe é que o carteiro não tem fé pública. Assim, se o destinatário se negar a receber o documento, a
citação estará frustrada, restando ao autor renovar a citação por oficial de justiça, cobrando da outra parte –
posteriormente – as custas da diligência fracassada, se vencer o processo.
Se o citando residir em condomínios edilícios ou loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega
do mandado pelo correio ao funcionário da portaria responsável pelo recebimento da correspondência, a menos que
ele recuse recebimento declarando, por escrito, sob as penas da lei, que o citando está ausente.
Aproveite para relembrar as regras de contagem do prazo a partir da citação.
c) Citação pessoal por oficial de justiça - Art. 249 a 251, CPC
Oficial de justiça é órgão auxiliar do Poder Judiciário. Atualmente, sua atuação é exceção e ocorrerá apenas
quando for afastada a citação eletrônica e a citação postal ou quando a lei a exigir. É caso de citação pessoal, salvo
se for na modalidade “com hora certa”, que é citação ficta. São as seguintes hipóteses de citação pessoal por oficial
de justiça:
✓ Nas chamadas ações de estado (exemplo: nulidade e anulabilidade do casamento, divórcio, curatela, entre
outras). A citação deverá ser na pessoa do réu. Mas há exceções, como na hipótese do divórcio em que não
se sabe do paradeiro do cônjuge (a citação será por edital).
✓ O citando for incapaz.

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✓ Citando for pessoa de direito público, salvo a hipótese de autos eletrônicos ou se o representante da
pessoa jurídica de direito público comparecer ao cartório, quando poderá ser citado pelo escrivão ou chefe
de secretaria.
✓ Citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência.
✓ Quando o autor, de forma justificada, requerer a citação por oficial de justiça. Por exemplo, a citação
precisa acontecer no final de semana.
✓ Quando as modalidades de citações eletrônica e postal se frustrarem.
O mandado, após despacho do juiz, será entregue ao oficial de justiça, contendo os requisitos do artigo 250.
O oficial de justiça, ao encontrar o citando, deverá ler o mandado e lhe entregar a contrafé (cópia da petição
inicial). Depois, dar fé se houve ou não o recebimento da contrafé. E obter a nota de ciência ou, caso o citando se
recuse, certificar tal recusa.
Cumprido o mandado, o oficial de justiça o devolverá ao cartório, com a certidão de diligência, que é parte
integrante do ato citatório e, contendo vício, poderá ensejar a nulidade da citação.
Lembre-se que o oficial de justiça exerce sua função no limite territorial da jurisdição à qual está vinculado.
Mas o artigo 255, CPC, permite que o oficial de justiça ultrapasse esses limites em comarcas contíguas, de fácil
comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana (casos em que não se exige a contiguidade). Não
teria sentido uma emissão de carta precatória (matéria à frente) em tais situações.
d) Citação ficta por oficial de justiça: Citação com hora certa - Art. 252 a 254, CPC
Feita pelo oficial de justiça. Ocorrerá quando, por malícia do citando, o oficial de justiça não conseguir
encontrá-lo para lhe dar, pessoalmente, a ciência do ato de cuja prática foi incumbido. Haverá então a citação de
forma ficta ou presumida (ou seja, não é citação pessoal), sob denominação de citação com hora certa.
Depende de dois requisitos, sob pena de nulidade:
✓ O oficial de justiça terá de procurar o citando em seu domicílio, por duas vezes, sem encontrá-lo
(requisito objetivo). Tal procura poderá ser em dias diferentes. A procura em outro lugar, que não o
domicílio, não enseja a hipótese da citação com hora certa.
✓ Deverá ocorrer suspeita de ocultação do citando (requisito subjetivo). O oficial de justiça deverá
indicar expressamente os fatos evidenciadores da ocultação maliciosa do citando.
Diante das situações acima, o oficial de justiça intimará qualquer pessoa capaz da família ou, em sua falta,
qualquer vizinho capaz de que, no dia imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Sendo
portaria de condomínio, o funcionário da portaria poderá ser o intimado.
No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho do juiz, voltará ao
domicílio do citando a fim de completar a diligência. Se o demandado for encontrado, a citação será feita
normalmente (será citação pessoal). Se, porém, continuar ausente, o oficial procurará informar-se dos motivos da
ausência e, não as considerando justas, dará por feita a citação, mesmo sem a presença do citando e mesmo que a
ocultação tenha se dado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias (será citação ficta). Assim, deixará a
contrafé com o terceiro intimado anteriormente, com a observação de que, em caso de revelia, será nomeado
curador especial. Mais: mesmo que tal terceiro esteja ausente ou, se presente, se recuse a receber o mandado, estará
feita a citação com hora certa. Claro que todo o episódio deverá ser lavrado em certidão de ocorrência e tal certidão
deverá ter cópia afixada na contrafé para que o citando tenha ciência de toda a citação ficta.
Recebido o mandado, o escrivão ou chefe de secretaria procederá a sua juntada aos autos e expedirá, em
dez dias, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando ao réu, executado ou interessado a ciência da
citação concluída com hora certa. É comunicação obrigatória, mas não integra os atos solenes da citação ficta, tanto
que o prazo de contestação começa a fluir da juntada do mandado e não do recebimento do comprovante de
recepção da correspondência. Mais: qualquer vício na correspondência não prejudica a citação realizada.
Lembre-se que, havendo revelia nesta citação, será caso de nomeação de curador especial.

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e) Citação por edital - Art. 256 a 259, CPC
É outra forma de citação ficta ou presumida. Tem caso apenas nas situações especiais do art. 256, CPC.
Vejamos:
- Quando desconhecido ou incerto o citando – Hipótese comum ao se convocar terceiros eventualmente
interessados, sem que se possa precisar exatamente. Comum em ações que atinjam espólios e herdeiros. Trata-se
de “desconhecimento subjetivo”, ou seja, não se sabe quem é o citando.
- Quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando – Aqui se trata de
“desconhecimento objetivo”. Sabe-se quem é o citando, mas não se sabe onde ele se encontra. Um exemplo
comum é na ação de divórcio após período de separação de fato, em que um dos cônjuges não sabe do paradeiro do
outro cônjuge.
Neste item, equipara-se a lugares que, embora conhecidos, sejam inacessíveis à justiça para a realização
do ato. Pode ser inacessibilidade física ou jurídica. Exemplo de inacessibilidade jurídica é o país estrangeiro que
se recuse a dar cumprimento à carta rogatória (matéria à frente).
O CPC vai considerar em local incerto ou ignorado aquele citando que, após infrutíferas tentativas de
sua localização, inclusive com a requisição, pela justiça, de dados aos cadastros públicos ou de interesse público,
não foi encontrado.
- Nos casos expressos em lei – Pode existir previsão expressa em legislações esparsas de citação por edital.
É o caso da Lei 11.101/2005, que trata da recuperação judicial e da falência, ou do próprio CPC, em seu artigo
1052, ao tratar da insolvência. A lei também exige a citação por edital nas ações de usucapião, entre outras.
Os requisitos para a veiculação do edital estão no art. 257, CPC:
✓ A requisição do autor, demonstrando as circunstâncias autorizadoras. Se a parte autora fizer afirmação
falsa, de forma dolosa, para requerer a citação por edital, incorrerá em multa de cinco vezes o salário-
mínimo, com reversão em benefício do citando (art. 258, CPC). Tal requisito não incide nas hipóteses
determinadas por lei.
✓ A publicação do edital na rede mundial de computadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma
de editais do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que deve ser certificada nos autos. Claro que também
será afixado no Fórum da comarca ou da seção.
✓ A determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 e 60 dias, fluindo da data da publicação única
ou, havendo mais de uma, da primeira;
✓ A advertência de que será nomeado curador especial em caso de revelia. Relembre esta matéria, vista no
início do semestre.
✓ O juiz poderá determinar que a publicação do edital seja feita também em jornal local de ampla
circulação ou por outros meios, como emissoras de rádio, considerando as peculiaridades da comarca,
da seção ou da subseção judiciárias. Não se trata de obrigatoriedade, mas de conveniência analisada
pelo magistrado.
f) Citação por escrivão ou chefe de secretaria - Art. 246, III, CPC
Trata-se de modalidade de citação pessoal. Ocorrerá quando o citando comparecer em cartório. Pode se dar,
inclusive, na pessoa do advogado do citando, desde que com cláusula especial na procuração autorizando receber
citação.
g) Citação por carta precatória
Estudaremos carta precatória mais à frente. A citação ocorrerá por carta precatória quando o réu tiver
domicílio em outra comarca e a citação não puder ocorrer de forma eletrônica e nem por via postal.
h) Citação por carta rogatória
A citação por carta rogatória ocorre quando o réu reside no exterior, sendo – portanto – inacessível pelos
meios de citação eletrônico, postal e por oficial de Justiça. Estudaremos mais à frente.

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2.6.1.6 - Efeitos da citação – Art. 240, CPC
São efeitos da citação válida:
✓ Estabiliza o processo - Até antes da citação, como o processo não está estabilizado, o autor pode
emendar a petição inicial de forma livre. Após a citação, esta prerrogativa acaba: a alteração do pedido
ou da causa de pedir dependerá de acordo com o réu. Também cessa a possibilidade de alteração das
partes litigantes, salvo nas situações da lei, como nas intervenções de terceiro e no litisconsórcio
necessário.
✓ Induz a litispendência - Relembre o conceito de litispendência estudado em disciplina passada.
✓ Torna a coisa litigiosa.
✓ Constitui o devedor em mora, ressalvados os artigos 397 e 398, CC, efeito material da citação. Pelo
artigo 397, CC, a mora da obrigação positiva, com prazo determinado e com liquidez, verifica-se com
seu termo ad quem. Já pelo art. 398, CC, a mora em relação às obrigações decorrentes do ato ilícito
retroage à data do ato ilícito. O aluno estudou esses dois artigos em disciplina anterior.
✓ Interrompe a prescrição extintiva – O aluno estudou a interrupção da prescrição em disciplina anterior.
Pela interrupção, o prazo prescricional volta à zero. Na verdade, a citação válida retroage à data da
distribuição da ação para interromper a prescrição. É efeito material da citação.
2.6.2 – As intimações – Art. 269 a 275, CPC
Conforme o art. 269, CPC, intimação é “o ato legal pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos
do processo”. Gera o início da contagem de prazo para as partes. Não depende de provocação das partes, em razão
do princípio do impulso oficial (art. 2º, CPC). Por vezes, poderá ser elaborada pelo escrivão ou chefe de
secretaria, conforme já visto.
A intimação se realiza, preferencialmente, “por meio eletrônico”, nos termos do artigo 270, CPC, mas é
necessária a interpretação deste artigo. Sabemos que a tendência nacional é a informatização de todos os processos,
com a digitalização completa de suas etapas, contexto no qual se aplica a norma do artigo 270, CPC, utilizando-se
as regras da Lei 11.419/2006. Mas ainda é comum Varas Judiciais pelo país com processos físicos (em papel), sem
a adequada informatização que permita a aplicação da intimação preferencial por meio eletrônico. Quando
estivermos em tal situação, o meio preferencial será a intimação pelo órgão oficial (Imprensa/Diário de Justiça
eletrônico, art. 272, CPC).
Guarde:
- A citação é feita preferencialmente por meio eletrônico. Será feita para a parte, diretamente, mas há
exceções (por exemplo, a parte citanda ter advogado com poderes especiais para receber citação);
- A intimação é feita para o advogado, em regra por via eletrônica, salvo por falta de adequação
processual, situação em que será feita a intimação por Diário de Justiça Eletrônico (Imprensa/órgão oficial).
Não vale a intimação feita diretamente à parte se cabia ao advogado fazer o ato. Mas, em certos casos, a lei
determina que a intimação seja na pessoa da parte. São exemplos de intimação para a parte: Para prestar
depoimento pessoal; do devedor de alimento para pagar o débito ou justificar a impossibilidade de fazê-lo, entre
outros.
Observação: Sendo a intimação diretamente à parte, será eletrônica ou por carta registrada (intimação
postal), em regra. Se a carta for encaminhada ao endereço que conste no processo, mesmo que a intimação seja
infrutífera, será considerada cumprida. Excepcionalmente, a intimação diretamente para a parte poderá ocorrer por
oficial de Justiça, mas nunca poderá ocorrer via Diário de Justiça.
2.6.2.1 – Formas de intimação
As intimações podem ser realizadas das seguintes formas:
✓ Por via eletrônica;
✓ Por publicação no órgão oficial (imprensa) - Diário de Justiça Eletrônico ou Impresso;
✓ Por escrivão;

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✓ Pelos Correios;
✓ Por oficial de Justiça – pessoal ou por hora certa;
✓ Por edital;
✓ Em audiência;
✓ Por carta precatória;
✓ Por carta rogatória.
a) Por via eletrônica (não confunda com “meio eletrônico”), eleita pelo CPC como a via preferencial, nos
termos do art. 270, CPC, com disciplina no artigo 5º, da Lei 11.419/2006. Em termos práticos, tal via preferencial
somente se viabiliza nos processos digitais. Em se tratando de processos físicos, a intimação mais comum será a do
Diário de Justiça eletrônico. Pode-se dizer então que a forma eleita como principal para as intimações é a forma
eletrônica e, não sendo possível a sua realização, as intimações ocorrerão pelo Diário de Justiça Eletrônico, em
regra.
Não confunda “intimação por via eletrônica” com “Diário de Justiça Eletrônico”, que veremos no item a
seguir e que também tem regramento na Lei 11.419/2006.
Diz o artigo 5º, da Lei 11.419/2006, que a intimação por via eletrônica dispensa a publicação no órgão
oficial, inclusive no Diário de Justiça Eletrônico. Já vimos que será considerada realizada a intimação no dia em
que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização. Nos
casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil
seguinte. Tal consulta deverá ser feita em até dez dias contados da data do envio da intimação, sob pena de
considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo.
Existe “intimação por meio eletrônico”, usando da alteração legislativa gerada pela Lei
14.195/2021? Pelo texto do CPC, não. A comunicação, por meio eletrônico, nos termos da alteração
legislativa citada, está restrita às citações. As doutrinas de Humberto Theodoro Junior e de Alexandre
Freitas Câmara também não a consideraram para intimações. No entanto, conforme já vimos, há
tribunais efetivando intimações por “meio eletrônico”, tanto por e-mails, como por Whatsapp.
b) Por publicação no órgão oficial – Art. 272, CPC (Diário de Justiça Eletrônico – DJe ou Diário de
Justiça Impresso) - Quando não realizada por meio eletrônico, a intimação do advogado se faz no órgão oficial
(pela imprensa), que é o Diário de Justiça eletrônico e, excepcionalmente, o Diário de Justiça impresso. Sendo
processo físico, será a principal forma de intimação, em razão da impossibilidade de se aplicar a norma do artigo
270, CPC. Não é necessário transcrever todo o teor da decisão, bastando enunciar, sinteticamente, o seu sentido. É
imprescindível, para a validade da intimação, a menção dos nomes das partes, sem qualquer abreviatura, e de seus
advogados, com o respectivo número de inscrição na OAB e na forma em que conste na procuração ou, se assim
requerido, da sociedade de advogados. A preterição desses requisitos pode causar nulidade da intimação, o que não
é incomum.
Se forem vários os advogados da parte, com poderes solidários, a intimação de um satisfaz os
requisitos para os demais. A norma não está expressa no CPC, mas é entendimento que predomina na doutrina,
pois já vinha sendo seguido na vigência do CPC revogado.
De forma similar, se há litisconsortes em uma causa defendidos pelo mesmo advogado, a ausência do
nome de um litisconsorte não poderá acarretar nulidade, pois não haveria prejuízo. Também se trata de
jurisprudência.
Constando dos autos pedido expresso para que as comunicações dos atos processuais sejam feitas em nome
dos advogados indicados, o seu desatendimento implicará nulidade.
c) Diretamente pelo escrivão ou chefe de secretaria, aproveitando-se da presença da parte no cartório.
Poderá ocorrer com ou sem a retirada dos autos em cartório (intimação realizada pela retirada dos autos em
cartório), mesmo para decisões contidas no processo e ainda não publicadas.
d) Em audiência – Havendo decisão em audiência, basta a presença do advogado para ser considerado
intimado legalmente. Como diz Humberto Theodoro Junior, trata-se de “um sistema de intimação automática”.

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e) Excepcionalmente, por correios ou oficial de justiça (pessoal ou por hora certa) e, ainda, por edital.
f) Por carta precatória – Pouco comum, inclusive pelo fato de a intimação ser feita, em regra, na pessoa do
advogado, que poderá ser intimado eletronicamente ou pelo Diário de Justiça, independentemente do domicílio que
tenha. Mas poderá ser o caso de intimação por carta precatória nas exceções em que a intimação tiver que ocorrer
diretamente na pessoa da parte e tal parte resida em outra comarca, em endereço sem acesso pelos Correios, e
também não tenha acesso ao meio eletrônico.
Lembre-se que, nas exceções em que a intimação ocorrer diretamente à parte, não poderá acontecer via
Diário de Justiça Eletrônico.
g) Por carta rogatória – Pouco comum. Em termos práticos, somente se vislumbra quando a intimação
tiver que ocorrer diretamente à parte, que resida no exterior.
2.6.2.2 – Situações afins à intimação
a) Não se esqueça: Citação preferencial é pela via eletrônica. Intimação preferencial é a eletrônica e, na
sua inviabilidade, pelo órgão oficial, que é o Diário de Justiça eletrônico.
b) Intimação do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública – Situações:
✓ As pessoas jurídicas de direito público são intimadas através do órgão de Advocacia Pública
responsável por sua representação judicial.
✓ Prevalece a intimação via eletrônica, nos processos digitais, devendo tais instituições manter cadastro
junto aos sistemas.
✓ A intimação poderá ocorrer ainda por carga ou remessa, no segundo caso com o envio do processo
para o promotor/procurador, o defensor público ou o advogado público. O prazo começa a contar da
efetiva disponibilização do processo, e não com a retirada do processo, para evitar que eventual inércia
gere dilação de prazo.
✓ A intimação poderá ocorrer em audiência.
✓ A intimação pode ser por oficial de Justiça ou por escrivão.
✓ Excepcionalmente, admite-se a intimação por carta registrada da Fazenda Pública, em execuções
fiscais, em comarcas onde o Procurador da Fazenda não tenha sede.
✓ Ressalta-se: a intimação para esses órgãos será sempre pessoal, não se admitindo intimação com hora
certa ou por edital ou pela imprensa.
c) Inviabilidade da intimação por meio eletrônico e inexistência da publicação em órgão oficial – (273,
CPC) – Trata-se de comarca onde não haja “internet” e nem circulação do diário de justiça. Neste caso, a intimação
ocorrerá “pessoalmente” (diz o CPC), se o advogado da parte tiver domicílio na sede do juízo. Normalmente, será
por oficial de justiça.
Caso não tenha domicílio na sede do juízo, o advogado será intimado por carta registrada (que também
é intimação pessoal), com aviso de recebimento. Se a carta foi encaminhada ao endereço indicado no processo,
mesmo que não seja encontrada, será computada como válida a intimação, fato que obriga as partes a manterem o
endereço sempre atualizado no processo. O prazo se conta da juntada do aviso de recebimento aos autos.
d) Arguição de nulidade da intimação – A parte arguirá a nulidade da intimação em capítulo preliminar do
próprio ato decorrente que precise praticar. Tal ato será tido como tempestivo, se o vício for reconhecido.
Se não for possível a prática do ato determinado pela intimação, a parte irá se limitar a arguir a
nulidade. Novo prazo será contado da decisão que a reconheça.
e) Efeitos da intimação - Além de propiciar a comunicação do ato processual, as intimações determinam
o dies a quo dos prazos processuais. Também é essencial para que o processo tramite e chegue a seu final, o que
ocorre pelo sistema de preclusão temporal.
2.6.3 – Atos processuais fora dos limites territoriais do juízo – Art. 260 a 268, CPC
Todo juízo tem seu limite territorial de jurisdição, conforme as regras de competência, que o aluno
estudou em Teoria Geral do Processo. Caso haja necessidade de um ato que ultrapasse esse limite territorial, será
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principalmente na obra de Humberto Theodoro Junior. Este texto não substitui leitura de livros e
presença em aula. Atualização: Fevereiro de 2022.
utilizada a carta de ordem ou a carta precatória ou a carta rogatória, encaminhando tal ato ao juízo competente.
Estabelece-se um intercâmbio entre dois juízos para que o processo tenha seu devido andamento.
a) Carta de ordem
A carta de ordem é destinada pelo Tribunal Superior ao juiz (Tribunal ordenante x Juízo ordenado).
Também poderá ser destinada pelo Tribunal Superior ao tribunal de 2º grau. E, ainda, pelo tribunal de 2º grau ao
juiz. Nunca poderá deixar de ser cumprida, em razão de hierarquia administrativa.
b) Carta rogatória
A carta rogatória é dirigida à autoridade judiciária estrangeira (Juízo rogante x Juízo rogado). Antes de
enviada à autoridade estrangeira, deverá passar pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por previsão
constitucional inclusive, para a concessão de exequatur. Poderá ser também recebida de tribunal estrangeiro e, após
passar pelo presidente do STJ, vincula o juiz inferior rogado. A sua existência depende de tratado internacional
assinado pelo Brasil ou de política de reciprocidade atestada por via diplomática. Lembre-se que o réu, residente no
exterior, será citado por carta rogatória e, caso seja inviável a carta rogatória, tal citação acontecerá por edital.
c) Carta precatória
A carta precatória é dirigida a juiz de igual categoria jurisdicional (Juízo deprecante x Juízo deprecado).
Como se relaciona a juízes do mesmo grau de jurisdição, é lícito ao juiz deprecado recusar-lhe cumprimento e
devolvê-la ao juiz deprecante, desde que com fundamentação e nos casos listados no art. 267: a carta não estiver
revestida dos requisitos legais; faltar ao juiz competência em razão da matéria ou da hierarquia (não cabe recusa
por razão de competência relativa); o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade, sendo aconselhável que se
informe antes de efetivar a recusa.
O motivo mais comum de emissão dessas cartas refere-se à oitiva de testemunhas ou à realização de atos de
constrição do patrimônio do réu. Também é comum a emissão para realização de perícias e para citação, quando
frustrada a citação eletrônica ou por Correio. Deverá conter prazo, estabelecido pelo emissor (deprecante) ao
receptor (deprecado). Não sendo possível cumprir o prazo, por motivo justo, o deprecado o dilatará, comunicando
ao deprecante.
As partes devem ser intimadas pelo juiz do ato da expedição das cartas para que possam acompanhar o
cumprimento da diligência junto ao juízo destinatário. E o juiz destinatário deverá realizar a intimação de todos os
atos a seu cargo. Na prática, abre-se um processo específico no juízo destinatário apenas com a finalidade de
cumprir o ato da carta, com as partes do processo original sendo intimadas do andamento.
Importante que o juiz receptor não pode discutir mérito, pois ele é apenas um executor do juiz emissor, uma
espécie de longa manu.
E se houver urgência para o cumprimento da carta? Imagine situação de busca e apreensão, para evitar
que determinado bem ou pessoa seja levado ao exterior. Neste caso, admite-se que a carta de ordem ou a carta
precatória (não há previsão para a rogatória) seja expedida por meio eletrônico, preferencialmente, ou por telefone,
telegrama ou radiograma. Nada impede a adoção de novas tecnologias, como programas de mensagens via celular.
Na hipótese de carta por telefone, o secretário do tribunal emissor ou o escrivão do juízo emissor
transmitirá o equivalente ao escrivão do juízo receptor. Caso haja mais de uma Vara no juízo receptor, o telefonema
será dado para a 1ª Vara. O escrivão que receber o telefonema reduzirá o seu texto a escrito e, no mesmo dia ou no
dia útil imediato, telefonará ou emitirá mensagem eletrônica ao secretário ou escrivão emitente, repassando o texto
e pedindo confirmação do conteúdo. Havendo confirmação, dará certidão do ocorrido e submeterá a carta a
despacho judicial.
d) Requisitos comuns às cartas citadas
Vejamos alguns requisitos comuns:
- O CPC atual permite que a carta precatória de processo em trâmite na justiça federal seja dirigida ao
juízo estadual quando o ato houver de ser praticado em comarca onde não haja vara federal. A mesma previsão
ocorre para a carta de ordem e mesmo para a carta rogatória recebida do exterior.
- O art. 260 lista os requisitos burocráticos da carta de ordem, da carta rogatória e da carta precatória. Elas
deverão conter, obviamente, a menção do ato processual a ser realizado e levar, em anexo, cópia das peças

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processuais afins. Se o objeto da diligência for a realização de perícia de documento que esteja no processo
original, a carta deverá “carregar” o documento original, ficando – nos autos – reprodução fotográfica.
- Essas cartas formalizam-se por escrito e são encerradas com a assinatura do juiz que as expede. Porém,
a Lei 11.419/2006, seguida pelo CPC, permite a expedição por meio eletrônico de carta precatória e de ordem,
com algumas cautelas, o que agiliza sobremaneira o trâmite.
- Toda carta tem caráter itinerante, de modo que pode, antes ou depois de lhe ser ordenado o
cumprimento, ser encaminhada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato. Claro que o fato deve
ser informado ao órgão expedidor imediatamente
- Há custas? Em regra, sim. A parte deverá arcar anteriormente com o preparo inicial para a emissão da
carta, principalmente a precatória e a rogatória. Foi dito antes que o juízo receptor abre um processo apenas para o
cumprimento de tal carta, o que exige o valor da taxa judiciária.
Se a carta foi emitida em situação de urgência por telefone ou similar, o pagamento será
excepcionalmente a posteriori, sendo exigido o depósito do valor.
Em qualquer situação, o preparo é em favor do juízo que cumprirá a carta. Em situações que não
houver urgência, mais especificamente da carta precatória, o juiz deprecado poderá devolver o documento sem
cumprimento caso não verifique o pagamento das custas.
- Cumpridas as cartas, quaisquer que sejam, deverão ser devolvidas ao emissor no prazo de dez dias,
desde que tenha havido pagamento de custas.
e) Carta arbitral - Art. 260, §3º, CPC
Há ainda a carta arbitral, porém não é emitida pelo Poder Judiciário e, sim, pelo Juízo Arbitral ao Poder
Judiciário, requerendo alguma colaboração. Será instruída com a convenção de arbitragem e com as provas da
nomeação do árbitro e de sua aceitação da função. Normalmente, ocorrerá para solicitar algum documento ou
aproveitamento de prova testemunhal de processo afim à discussão arbitral. O juiz, ao receber a carta arbitral, fará
o controle de legalidade, antes de deferir a colaboração.
2.7 – Das nulidades processuais – Art. 276 a 283, CPC
São exemplos de nulidades processuais: A citação inválida; o ato praticado por aquele sem capacidade
postulatória; a decisão sem fundamentação; o suprimento do prazo processual obrigatório fora das exceções legais;
a ausência de manifestação do MP como fiscal da lei quando obrigatória; a ausência de nomeação de curador
especial nos casos em que a lei determina; a ausência de decisão para formação de litisconsórcio necessário, nos
casos da lei etc. Observe as seguintes regras do CPC sobre nulidades:
a) Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser
requerida pela parte que lhe deu causa (art. 276, CPC) – Exemplo: Imagine uma parte que pratique um ato sem
capacidade postulatória, mas tal irregularidade não é observada no momento. Posteriormente, esta mesma parte
perde a demanda. Ela não poderá requerer a nulidade pela irregularidade citada, porque estaria tentando se
favorecer de um ato que ela própria praticou.
b) Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro
modo, lhe alcançar a finalidade (art. 277, CPC) – Trata-se do “princípio da instrumentalidade das formas”.
Por exemplo, o CPC prevê que o oficial de justiça, ao fazer a citação, entregue a contrafé ao réu. Suponhamos que
o oficial de Justiça se esqueça de entregar a contrafé, mas o réu compareça aos autos e apresente normalmente a sua
contestação: a finalidade do ato foi alcançada, não havendo motivos para a sua nulidade.
Veja outro exemplo: o artigo 319, II, CPC, lista que a petição inicial indicará “os nomes, os prenomes, o
estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou
no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu”. No
entanto, não é porque a petição inicial deixe de conter, por exemplo, o CPF do réu ou o seu estado civil que o juiz
irá declarar o processo nulo, se tais omissões não impedirem a localização do mesmo.
c) A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos,
sob pena de preclusão (art. 278, CPC), salvo se houver legítimo impedimento - Trata-se do “ato relativamente
nulo” (nulidade relativa): Quando o ato é relativamente nulo, tal ato, apesar do vício, poderá produzir efeitos

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processuais, se a parte prejudicada não requerer a sua invalidação. Diz respeito a interesse apenas da parte, não
afetando a jurisdição. A nulidade relativa é a regra no atual CPC, e sua decretação depende da provocação da parte
prejudicada. Terá relação com cerceamento do direito ao contraditório e à ampla defesa. A incompetência relativa é
exemplo de nulidade relativa. Outro exemplo está na ação processual movida em desacordo com compromisso
arbitral.
Porém, não se aplica o disposto às nulidades do artigo 276 quando o juiz tiver obrigação de decretar de
ofício (como a citação inválida ou como a ausência de nomeação de curador especial nos casos obrigatórios). Aqui
já estamos falando de nulidade absoluta.
Em síntese, guarde que uma nulidade processual pode ser relativa ou absoluta e que a nulidade relativa
sofre preclusão.
d) É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em
que deva intervir (art. 279, CPC) – Claro que estamos falando do MP como fiscal da lei, e não como parte. Neste
caso:
✓ Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro do Ministério Público, o juiz
invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria ter sido intimado.
✓ A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se manifestará sobre
a existência ou a inexistência de prejuízo. Não havendo prejuízo, aplica-se o princípio da
instrumentalidade dos atos, já visto.
e) As citações e as intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais (art. 280,
CPC) - Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam. Todavia, a
nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes (art. 281, CPC). Por exemplo,
o réu é citado do processo e intimado da audiência preliminar de conciliação ou mediação. Pode ser que haja vício
de nulidade na intimação, não prejudicando a citação.
f) Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências
necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados (art. 282, CPC) - Mas o ato não será repetido nem sua
falta será suprida quando não prejudicar a parte (princípio da instrumentalidade dos atos). Isso porque a nulidade
pode atingir toda a relação processual ou apenas um determinado ato do procedimento. Suponhamos um processo
que contenha, como uma das provas do autor, um documento em língua estrangeira, sem a competente tradução. Se
tal documento não é considerado pelo juiz para prolatar a sentença, não há porque a parte ré reclamar a sua
nulidade. Porém, se o réu acusou, durante a demanda, o erro documental e não foi atendido, tendo – posteriormente
– a sentença se baseado em tal documento, haverá nulidade de toda a relação processual.
g) Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não
a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta – Novamente, trata-se do princípio da
instrumentalidade dos atos processuais: se for possível dar sequência sem prejuízo ao contraditório e à ampla
defesa, o processo seguirá, mesmo quando haja previsão de nulidade para a inobservância de forma do ato
processual. Imaginemos o processo que tenha tramitado mesmo com citação inválida e a sentença tenha sido
favorável ao réu não citado... Não há nenhum sentido em decretar a nulidade processual, pois quem seria
prejudicado pelo vício foi vencedor da demanda, mesmo sem estar presente.
h) O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser
aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais (art.
283, CPC) - Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer
parte – Exemplo: a oitiva de uma testemunha em que o juiz se esqueça de vinculá-la ao compromisso de dizer a
verdade, nos termos do artigo 458, CPC: Houve erro de forma, mas se o testemunho é claro e coerente, não há
porque, posteriormente, anulá-lo.
Em outro exemplo, o artigo 473 lista o que um laudo pericial deve conter. Suponhamos que seja
apresentado um laudo pericial que não contenha todos os requisitos, mas que seja conclusivo e coerente em sua
manifestação: embora formalmente haja falha, não há porque decretar a nulidade do ato.
2.8 – Do registro e da distribuição do processo – Art. 284 a 290, CPC

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Todo processo está sujeito ao registro, que serve apenas para documentar a entrada dos feitos no
cartório, como meio de identificação da causa e controle estatístico. Faz-se o registro dentro da autuação, por
meio de lançamento dos dados necessários à identificação do processo em livro próprio do cartório. Para tanto,
observa-se uma sequência numérica. Trata-se de ato praticado pelo escrivão. E, posteriormente, havendo
recurso, haverá novo registro nas secretarias do tribunal.
Já a distribuição somente ocorrerá quando houver mais de um juiz competente para a causa numa
mesma comarca ou seção judiciária ou mais de um cartório (vara). Pode haver um cartório só com mais de um
juiz (haverá distribuição); pode haver mais de um cartório com um juiz só (haverá distribuição); pode haver mais
de um cartório, cada um com seu juiz (haverá distribuição). Se é uma comarca menor, com apenas um juiz e um
cartório, não há de se falar em distribuição.
Imagine uma Comarca de capital que tenha uma Vara específica para tratar de ações de improbidade
administrativa, ação popular e ação civil pública, com um só juiz. Embora seja uma grande comarca, para as ações
citadas não haverá distribuição. Porém, se é designado um segundo juiz para atuar nesta mesma Vara, passa a
existir a distribuição.
A distribuição deverá ser alternada e aleatória, obedecendo rigorosa igualdade. Assim, a distribuição
ocorre por sorteio, sempre analisando quantidade similar de processos para os cartórios e juízes. É, ademais, ato
público, que pode ser fiscalizado inclusive pela parte, pelo MP e pela Defensoria Pública.
A distribuição e o registro somente serão efetivados com o pagamento do preparo. Caso ocorra a
distribuição sem o pagamento do preparo, a persistência da ausência do pagamento gera o cancelamento da
distribuição, sendo causa de extinção do processo em seu nascedouro, após intimação do advogado. Claro que,
se o juiz conceder o benefício da gratuidade judiciária, não haverá tal pagamento.
O distribuidor da ação não faz qualquer controle de forma, o que competirá posteriormente ao juiz.
Ele apenas observa se o signatário tem capacidade postulatória, ou seja, se há a procuração advocatícia ou se é
advogado postulando em causa própria. Mesmo em relação ao preparo, o distribuidor não poderá negar a
distribuição, se houver pedido de justiça gratuita ou de parcelamento do valor das custas.
O CPC lista situações em que, apesar da petição inicial não estar com
procuração advocatícia, deverá ser distribuída. São os casos:
- Para evitar preclusão, decadência legal, prescrição extintiva ou para praticar
ato considerado urgente (uma busca e apreensão, por exemplo);
- Se a parte estiver representada pela Defensoria Pública;
- Se a representação decorrer diretamente de norma prevista na Constituição
Federal ou em lei. Por exemplo, a Mesa do Senado não precisa ter a procuração
advocatícia ao postular uma Ação de Controle Concentrado de Constitucionalidade.
2.8.1 – Da distribuição por dependência – Art. 286, CPC
Trata-se de situações em que a distribuição não passará por sorteio, pois haverá um juiz prevento, que
receberá a causa. Situações:
a) Na continência ou na conexão (art. 55 e 56, CPC) – O aluno estudou continência e conexão em
disciplina passada. A competência das diversas causas afins está pré-definida pela prevenção do juiz que se tornou
competente para o primeiro processo, conforme o art. 59 (o registro ou a distribuição da petição inicial torna
prevento o juízo). Assim, Juca cometeu ato ilícito contra Maria e Helena. Maria processou Juca pelo ato
ilícito e a causa foi distribuída para a 9ª Vara Cível de Cuiabá. Posteriormente, em razão do mesmo fato,
Helena também processou Juca. Será caso de distribuição por dependência em razão de conexão. Caso Helena
não saiba do processo movido por Maria e a causa seja distribuída para outra Vara, o próprio advogado de Juca irá,
em contestação, apontar a preliminar de conexão, para que a demanda de Helena seja enviada para a Vara preventa.
b) Quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que
em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda – Trata-se
aqui de demanda que foi extinta com sentença terminativa, tendo o autor possibilidade de ingressar novamente,
após corrigir a eventual falha processual e pagar a sucumbência. Ao ingressar novamente com a ação, mesmo em
litisconsórcio com aquele que não estava na primeira demanda, terá que fazer em dependência ao processo extinto

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anteriormente. A dependência persistirá ainda que tenha havido alteração no polo passivo (pode ser, aliás, que este
tenha sido o motivo da extinção do processo anterior). A dependência aqui é para evitar a fraude processual: o
autor ingressar com a ação e, ao ver que foi distribuída para juiz com posicionamento contrário à tese da petição
inicial, requerer a desistência do feito para tentar nova distribuição.
c) Quando houver, entre os processos, possibilidade de prolação de decisões conflitantes ou
contraditórias, se decididos separadamente, mesmo que não haja conexão entre eles – Trata-se do inciso III,
art. 286, que remete para o art. 55, §3º, CPC. Este caso, confuso no CPC, se relaciona à litispendência: ações com
mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. O segundo processo será enviado para o juiz prevento, que
o extinguirá em sentença terminativa. Perceba que, neste caso, há nítida má-fé envolvida: O advogado distribui
normalmente, em nome do cliente, um segundo processo, que é idêntico ao primeiro, ainda em andamento (ele não
poderia ter feito tal ato). A intenção ilícita é burlar o Judiciário, gerando dois processos idênticos, tramitando em
duas Varas distintas. No entanto, descoberta a ilicitude, aplica-se a regra da prevenção em prol do juiz que recebeu
o primeiro processo, gerando a extinção da segunda demanda.
3 – Formação, suspensão e extinção do processo – Art. 312 a 317, CPC
3.1 – A formação processual – Art. 312, CPC
Em apenas um artigo, o CPC diz que “considera-se proposta a ação quando a petição inicial for
protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois
que for validamente citado”.
Lembre-se que já estudamos os efeitos da citação mencionados no artigo 240: “Art. 240. A citação válida,
ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor (...)”.
Em síntese, considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada. Porém, para tanto,
dependerá da devida citação válida para produzir seus efeitos.
Vimos também que nem sempre haverá parte ré, quando não há de se falar em citação. As ações de
procedimento voluntário, em muitas vezes, não demandam citação. Um exemplo está na ação declaratória de união
estável movida em conjunto por ambos os companheiros.
Também importa realçar que, por vezes, a ação será sentenciada antes da citação do réu, matéria de
disciplina futura. A maioria dos casos será de sentença terminativa, mas há situações de sentença resolutiva, como
na prescrição extintiva e na decadência legal.
No próximo semestre, o aluno estuda a “petição inicial”, que justamente marca a propositura da ação pelo
autor.
3.2 – Suspensão do processo – Art. 313 a 315, CPC
Na definição de Humberto Theodoro Junior, ocorre suspensão do processo quando um acontecimento,
voluntário ou não, provoca, temporariamente, a paralisação da marcha dos atos processuais. Tão logo o
efeito do evento extraordinário termine, o processo retoma seu caminhar. A suspensão, portanto, inibe o andamento
do feito, mas não elimina o vínculo jurídico da relação processual e nenhum prejuízo haverá aos atos realizados
anteriormente.
Durante a suspensão, não será possível a realização de atos processuais, salvo exceção. Porém, havendo
atos processuais, será situação de nulidade relativa, em regra (e não de nulidade absoluta). É o entendimento
majoritário. Significa dizer que tal ato poderá ser mantido, caso não tenha gerado prejuízo às partes ou ao
Ministério Público (como fiscal da lei, se for o caso). Um exemplo é a oitiva antecipada de uma testemunha, no
período de suspensão do processo: se ocorrer com a presença dos advogados de ambas as partes, não há porque
anular o ato. Porém, se ocorrer sem a presença do advogado de uma das partes, o ato poderá ser nulo.
Os casos de suspensão do processo estão listados principalmente no art. 313, CPC, e sempre dependerão
de uma decisão do juiz, que terá cunho declaratório (o prazo de contagem da suspensão é da ocorrência do ato,
e não da decisão). São casos de suspensão (313 e 315, CPC):

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a) Pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes – Se o processo for
personalíssimo, a morte será caso de extinção, e não de suspensão. Caso não seja ação personalíssima, abre-se
incidente para que ocorra a substituição processual, nos termos do art. 313, §2º, CPC.
b) Pela morte do representante legal da parte – Neste caso, o juiz poderá nomear curador especial,
situação que evita a suspensão do processo (relembre o tema).
c) Pela morte do procurador da parte - No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que
iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo
de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo
mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste.
d) Pela convenção das partes – A suspensão será por, no máximo, seis meses. Ao final do prazo, o
reinício do processo independe de provocação das partes, devendo o juiz dar o andamento de ofício.
e) Pela arguição de impedimento ou de suspeição do juiz – O art. 144, CPC, lista os casos de impedimento
do juiz. Já o art. 145 lista as situações de suspeição. Trata-se de matéria de disciplina anterior. Abre-se um
incidente processual, que segue o rito do art. 146, CPC, suspendendo o processo originário. Relembre:
Impedimento proíbe o juiz de atuar no processo e invalida os seus atos, ainda que não haja oposição ou recusa da
parte (exemplo, quando cônjuge do juiz é parte do processo). Já a suspeição obsta a atuação do juiz apenas quando
alegada pelos interessados ou acusada pelo julgador, de ofício (exemplo, amigo íntimo ou inimigo de qualquer das
partes ou do advogado).
f) Pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas – Trata-se de matéria em disciplina
futura, regulada no art. 976 a 987, CPC.
g) Quando a sentença de mérito:
g.1) Depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de
relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente – A suspensão será por, no
máximo, um ano. Imagine que João tenha feito um contrato, de longo prazo, com Tício, em que Tício
paga prestações financeiras a João. Tício, no entanto, busca – judicialmente – a nulidade relativa do
contrato pelo vício do dolo. Mas, antes de João ter sido citado da ação de Tício, João fez cessão desse
crédito contratual para Manoel (contrato de cessão de crédito, Direito Civil III). Em razão de outro motivo,
Manoel também processou João tendo como objeto judicial a cessão de crédito. Perceba que uma causa
depende do julgamento da outra causa. Se Tício perder a ação em face de João, Tício continua obrigado ao
contrato assinado e, assim, também se vinculará à cessão de crédito para Manoel. Se Tício ganhar o
processo em face de João, a cessão de crédito fica prejudicada em relação a Tício, restando a Manoel
buscar indenização de João.
g.2) Tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa
prova, requisitada a outro juízo - A suspensão será por, no máximo, um ano. É o caso do processo ter que
aguardar o cumprimento de uma carta precatória, por exemplo.
h) Por motivo de força maior – Um exemplo seria a perda do processo em razão de um incêndio, exigindo
o procedimento de restauração.
i) Quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do
Tribunal Marítimo – Tal tribunal é órgão administrativo, que cuida de situações de navegação, que podem ser
essenciais para a solução da lide no Poder Judiciário.
j) Pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a
única patrona da causa – A suspensão será de 30 dias, contada a partir da data do parto ou da concessão da
adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove a realização do
parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente.
k) Quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai – O
período de suspensão será de oito dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da adoção, mediante
apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove a realização do parto, ou de termo
judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente.

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l) Em razão de necessidade de verificação de fato delituoso na justiça criminal – Trata-se de situação do
art. 315, CPC. Situações:
✓ O juiz tem notícia de que há ato delituoso relacionado à ação civil em investigação pela autoridade
policial (inquérito policial), antes – portanto – da ação penal: O juiz pode suspender a ação civil.
Mas, se a ação penal não for proposta no prazo de três meses a contar da intimação do ato de
suspensão, cessará o efeito suspensivo, tendo continuidade a ação civil. Vale lembrar que nem
sempre um crime gera ação penal, por vários motivos, inclusive ausência de convencimento do
promotor de justiça ou, em outro caso, quando a denúncia não é aceita pelo juiz criminal;
✓ Se a ação penal for proposta no prazo de três meses da suspensão do processo civil ou se a suspensão
do processo civil ocorrer já com o processo penal em andamento, o juiz cível poderá aguardar o
pronunciamento definitivo da justiça criminal. Neste ponto, há antinomia entre o artigo 315, §2º,
CPC, e o artigo 64, parágrafo único, CPP. O CPC determina que a espera ocorra pelo prazo máximo
de um ano de proposta a ação penal. Já o CPP diz que o juiz da ação civil poderá suspender o curso
do processo civil até o julgamento definitivo da ação penal.
m) Nos demais casos que este Código regula – Por exemplo, em relação a embargos de execução (921,
II); a execução frustrada por falta de bens penhoráveis (921, III); em razão das férias coletivas nos tribunais
superiores e do recesso forense, conforme já estudado.
n) Em situações previstas em outras normas legais – É o caso da Ação Declaratória de
Constitucionalidade, que permite ao relator determinar a juízes e tribunais a suspensão de ações que envolvam a
aplicação da lei ou do ato normativo debatido no processo.
3.3 – Extinção do processo – Art. 316 e 317, CPC
Vimos que a sentença é a decisão que encerra o processo, em sua fase de conhecimento, ou encerra o
processo de execução. O aluno deve estar atento para observar se a sentença é terminativa (não apreciou o mérito)
ou é resolutiva (definitiva), em que apreciou o mérito, incluindo – nesta última – a sentença em razão de prescrição
extintiva e de decadência legal.
Sendo situação de sentença terminativa, o juiz deverá conceder à parte oportunidade de corrigir o vício, se
possível, antes de dar a decisão. Não será possível corrigir, por exemplo, o vício de perempção ou o vício de coisa
julgada material ou o vício de litispendência, mas, mesmo nesses casos, o juiz deverá permitir que a parte se
manifeste antes.
Vimos ainda que há processos de tramitação originária nos Tribunais, em que não se falará de sentença, e
sim de acórdão.
O artigo 317 encerra a Parte Geral do CPC. Ressalta-se que há matéria, da Parte Geral do CPC, que ainda
será vista em disciplina à frente: as chamadas tutelas provisórias, do art. 294 a 311.
No próximo semestre, o aluno inicia o estudo da Parte Especial do CPC, em seu Livro I, que trata do
Processo de Conhecimento.
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