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Assistida em 25.8.20
Direito Processual Civil – Recursos. 1º bimestre.
Princípios
Princípio da voluntariedade
Significa dizer que o recorrente demonstra sua irresignação, sua vontade de
recorrer
Não há possibilidade de termos um recurso que não seja voluntário
A ideia de recurso de ofício, remessa necessária não se trata de recurso, mas
sim uma situação de eficácia da sentença
Alguns autores defendem a natureza recursal, como o Didier. Entretanto,
boa parte entendem não se tratar de um recurso por se faltar a
voluntariedade
o A ideia do recurso é que a parte/terceiro/MP é que ele venha a
demonstrar sua vontade em recorrer. Essa voluntariedade é
necessária ao recurso
Princípio da dialeticidade
O direito comporta a dialética com a ideia de discussão. A ideia de discussão,
trás a noção de dialeticidade.
Justamente por isso, se comporta uma discussão de que não há a
possibilidade da pessoa simplesmente interpor um recurso sem aqui trazes
seus fundamentos, possibilitar que haja uma grande discussão sobre o tema.
Justamente por isso, sempre que houver um recurso, há a necessidade da
fundamentação deste.
Sempre que alguém recorre se mostra a sua irresignação ao poder judiciário,
dizendo que o juiz errou, seja um erro in procedendo (erro de procedimento.
Não adotou o procedimento correto), seja um erro in judicando (aplicou a lei
errada, partiu de um fato/premissa equivocada/falsa para a solução de um
problema. Neste caso, haverá de ser demonstrado. Temos recursos que são
fundados na divergência, seja na divergência entre tribunais (REsp – art. 105,
III, c) (hipótese de cabimento do recurso. Não adianta a parte recorrer falando
somente as divergências. É necessário fazer um confronto entre os dois:
mesmo caso com soluções distintas. Para que exista uma divergência tem que
haver o mesmo caso e soluções divergentes para haver a divergência. A mera
solução diversa não recai em divergência. Soluções diversas pode ser que seja
a mera aplicação do direito.
Não é tratar todos da mesma forma (princípio da igualdade) mas tratar
da mesma forma todos aqueles que estão na mesma situação, e tratar
de forma diferente aqueles que se encontram em situação diversa afim
de preservar uma igualdade material e substancial. Então, isso quer
dizer que, na realidade, pelo exemplo da divergência jurisprudencial há
de ser demonstrada a divergência pelo gotejo analítico: caso idêntico e
que as soluções são distintas. Somente nesta hipótese, pode-se falar
em divergência
O princípio da dialeticidade consubstancia-se no fato de que tudo aquilo que é
alegado, deve ser devidamente comprovado. Se falamos que o juiz se
equivocou em uma premissa, entendeu equivocadamente o caso de tal sorte
que na realidade o caso concreto era outro, se aplicou erroneamente
determinada lei, no recurso deve-se demonstrar isto. Esta demonstração é a
dialeticidade. A dialeticidade consiste em trazer a fundamentação objetivando
uma maior discussão sobre o tema. Em caso contrário, não haveria discussão
a ser levada para o Poder Judiciário. O corolário é a fundamentação das
decisões.
Não haveria sentido em ter uma sentença/decisão que apenas defere ou
indefere. Precisa de haver uma justificação
Princípio da consumação
Consubstancia-se no fato de que, uma vez interposto o recurso, o ato já está
consumado e não há possibilidade de se interpor outro recurso, havendo a
preclusão consumativa
Preclusão: impossibilidade de tratar do tema
o Temporal: quando há um prazo para realizar algo e não o faz
o Lógica: quando se pratica um ato diverso/oposto que se está
buscando
o Consumativa: quando já houve a prática de um determinado ato.
Quando um ato já foi praticado, não há a possibilidade de a
pessoa buscar novamente refazer este ato.
O princípio da consumação, portanto, consiste na ideia de que uma vez
interposto um recurso, não há a possibilidade de interpor o mesmo recurso,
estando o ato consumado. Hoje, materialmente o princípio fica hígido porque
não há como buscar nova interposição. Entretanto, no aspecto formal houve
relativização dessa consumação porque muita coisa que, em outrora, como a
ausência de preparo e peça, hoje o código elasteceu porque um dos grandes
objetivos do código foi garantir a resolução do mérito: evitar que o processo
ficasse sem solução por soluções formais, tais como o preparo (se o preparo
não for feito, o art. 1007 preve), se estiver ausente uma peça, a peça poderá
ser suprida posteriormente o defeito no prazo de 5 dias, para depois analisar,
de tal sorte que o recurso só não será reconhecido quando não houver tal
possibilidade
Este princípio (saber que o ato já está consumado e saber que não haverá
mais alteração) foi relativizado com o CPC/15. Contudo, com o aspecto
material ficou hígido: uma vez interposto o recurso não haverá possibilidade de
interposição de novo recurso contra aquela mesma decisão
Pressupostos
Pressuposto do cabimento/adequação
Para que haja a possibilidade de um recurso, há necessidade de que haja uma
decisão. Não há possibilidade de um recurso que não haja uma decisão.
Portanto, não se pode fazer um recurso preventivo
Ex.: fui despachar com o juiz e foi péssimo. Já sei que o meu pedido
será julgado improcedente. Isso faz com que tenha aguardar a decisão
para somente então recorrer.
Pressuposto da legitimidade
Para que possa propor uma ação, há a necessidade que haja legitimidade,
interesse e possibilidade jurídica. Tudo isto faz parte do que no código antigo
se chama carência/pressupostos da ação
Quando falamos em legitimidade, tratamos de afetação, ou seja, tem que existir
uma espécie de afetação para que haja a possibilidade de recurso. Se não
houver afetação da decisão em relação a quem quer recorrer, não há
legitimidade para este recurso sendo que não podemos confundir este com
interesse
A parte sempre tem legitimidade para recorrer.
o Não está se dizendo que a parte sempre pode recorrer porque
além da legitimidade a parte é afetada, podendo ser afetada
positivamente, entrando na ideia de interesse que é um juízo de
necessidade e possibilidade relativo aquele ato; ou seja, quando
tratamos de legitimidade levamos em conta apenas a ideia de
afetação. Se aquilo afeta a pessoa ou aquele ente que recorre, há
legitimidade para o recurso.
O recurso portanto está ligando a ideia de afetação
Quem tem legitimidade para recorrer, quem pode
ser afetado?
o 1º - A parte necessariamente é afetada pela
decisão, positiva ou negativamente; podendo,
eventualmente, não ter interesse
Ex.: pedi 1 milhão de reais e os recebi.
Agora, minha conta terá mais de um
milhão de reais. De outro lado, fui
afetado positivamente por esta
decisão, entrando a noção de
interesse
o 2º - o MP
Função do MP na CF/88:
Quando falamos em MP,
pensamos em ideia de interesse
público. Quando verificamos a
noção de interesse público,
pode ser primário (da sociedade
- MP) ou secundário (interesse
público da pessoa jurídica de
direito público – advogado
público) , divisão esta que a CF
quanto aos órgãos de defesa
o Muitas vezes pode haver
um choque. O MP teria
todo interesse em punir o
responsável e reaver o
valor do ato de
corrupção, por exemplo.
Entretanto, a pessoa
jurídica de direito público
lesada também terá esse
interesse. Entretanto,
esses interesses acabam
não sendo coincidentes.
Vamos imaginar que
existisse numa reforma
tributária dessa uma
tributação de 80% em
cima do imposto de
renda sem limite de
isenção. A sociedade
não teria interesse no
pagamento disso. A
PGFN, o AGU, a União
teriam interesse em
arrecadar esse valor. Por
isso, o constituinte dividiu
a função do MP em
relação a advocacia
pública, um defende o
interesse público e o
outro o primário. O MP
defende direitos difusos
cujos beneficiários não é
possível beneficiar,
direitos coletivos, direitos
individuais homogêneos
(direito que é diferente de
um para outro mas que o
fundamento igual. Ex.:
compro apartamento de
100m², outro compra de
200m² e outro de 300m².
A empresa entrega 30%
a menos, entregando
para mim 70m². Os
direitos são diferentes,
mas o fundamento é
idêntico)
No direito difuso,
há um direito que
é de toda
coletividade mas
que seus
beneficiários não
conseguem ser
precisados. No
homogêneo,
consegue
precisar, mas o
direito é o mesmo.
No direito
individual
homogêneo, os
direitos são
diferentes mas o
fundamento é o
mesmo. Neste
último, o MP como
regra poderá
atuar.
Além disso,
quando se tratar
de direitos
indisponíveis
(direito tão
importante que o
Estado retirou a
disposição
individual do bem
juridicamente
tutelado). Também
fica a cargo do MP
a defesa de
alguns que a CF
entendeu como
vulneráveis e
hipossuficientes,
como os menores,
indigenas tendo o
MP como o seu
curador. Ou seja,
alguns que o
constituinte
estabeleceu a
participação do
MP.
Nestas hipóteses
que o MP deve
atuar, por obvio,
tendo em vista o
bem juridicamente
tutelado, também
tem que ter a
legitimidade para
recorrer. Se atua
na posição de
parte ou de custus
legis, tem a
legitimidade
recursal.
Entretanto, não
pode recorrer em
qualquer caso,
quando, por
exemplo, for
juridicamente
disponível.
Quando for atuar,
haverá a
possibilidade
deste recorrer.
Muitas vezes pode
ser que o MP
tenha legitimidade
mas não tenha
interesse.
Supondo que o
MP esteja como
curador de um
menor em um
inventário. A lei
não foi cumprida
da maneira
correta, mas foi
bom ao menor.
Não pode recorrer
porque está ali
para o interesse
do menor
Tem a
possibilidade
também de
recorrer desde
que tenha o
devido interesse
recursal que,
normalmente,
quando está na
posição de custus
legis, fica até mais
fácil de se
vislumbrar
o 3º - O terceiro
O terceiro pode recorrer desde que
haja uma afetação direta ou indireta.
Pode acontecer que se uma
determinada pessoa ganhar, afeta
uma relação jurídica minha.
Ex.: sou inquilina de alguem.
Essa pessoa que tem contrato
comigo está litigando quanto a
propriedade se é dela ou de
outrem. Se esta pessoa perde,
o meu contrato será nulo pois
fiz contrato com quem não é
dono, fazendo a minha relação
jurídica seja afetada por essa
decisão judicial.
O terceiro pode recorrer quando tiver
interesse jurídico
Quando a solução daquele
processo, daquela ação afete
uma outra relação jurídica. Há
necessidade de ter afetação
jurídica e não apenas interesse
econômico.
o Ex.: Se uma pessoa me
deve 100 mil reais e a
mesma está litigando
com outrem por conta de
500 mil reais, tenho o
interesse econômico que
esta pessoa ganhe.
Entretanto, como só há o
interesse econômico, não
posso ingressar com o
recurso, pois esta
decisão não me afeta
jurídica
É diferente do
exemplo do
inquilino, porque
afeta
juridicamente pela
anulação do
vínculo jurídico
Estudaremos, posteriormente, as
peculiaridades do recurso de 3º,
porque terá de demonstrar uma
relação jurídica que será afetada pela
decisão e terá de demonstrar qual o
limite desta relação jurídica. Por isso
que Liebmann, um dos inspiradores do
CPC/73, mas que neste particular se
encontra ainda no CPC/15, diz que
este interesse/afetação jurídica ela é
demonstrada justamente pela
possibilidade de a pessoa atuar na
situação de assistente, ainda que na
posição de assistente simples. Ou
seja, a relação que Liebmann fez que
pode recorrer sempre que é legitimado
para recorrer o terceiro que for um
potencial assistente. Não precisa ser
assistente para poder recorrer, porém,
se for um potencial assistente, isto
quer dizer que consequentemente terá
legitimidade para recorrer, desde que
haja os outros requisitos, como o
interesse recursal.
Verificamos também que quando o 3º
recorre, recorrerá defendendo o
interesse da parte. Quando ingressa
para recorrer, defenderá o interesse
não de si, mas da parte
Ex. do inquilino: quando recorro,
não falarei sobre o meu
contrato. Falarei sobre a pessoa
da quem eu aluguei a
propriedade, é a dona do
imóvel.
o Dessa maneira, defendo
o interesse do dono da
causa: a parte. De tal
forma que se houver
choque entre o
posicionamento da parte
e de terceiro, prevalece o
posicionamento da parte
sem sombra de dúvidas
o Em síntese: são legitimados para recorrer
A parte – sempre é legitimada
MP – quando tiver algum interesse
público primário envolvido, ou seja,
interesse difuso, coletivo, individual
homogêneo e situação jurídica de
vulnerabilidade reconhecida
legalmente; ou seja, que a própria
norma estabeleça a necessidade de
atuação do MP.
Terceiro – desde que esta decisão
judicial venha a afetar juridicamente (e
não afetação econômica) aquele
terceiro, ou seja, haja uma relação
jurídica do terceiro que possa vir a ser
afetada. Assim, o terceiro tem
legitimidade para recorrer