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7 de Setembro de 2020
Introdução
O presente estudo tem como escopo principal demonstrar as nuanças das
permissões de pedidos em peças de defesa. Trata-se de exceções
permitidas, e não meras liberalidades do réu.
O réu, por sua vez, é visto como a parte contrária que tem como objetivo
precípuo o combate a tudo que é direcionado a ele. Destarte, cabe a esta
personagem contestar, impugnar, afastar etc., todo o petitório efetuado
pelo autor. Para tanto, o réu poderá ter a mão, além de sua peça de defesa, a
apresentação de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
autoral.
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Nesta operação física onde os vetores se posicionam em um sistema
piramidal, há de um lado uma pretensão, de outro a resistência e em cima
com o poder de dizer o direito: o juiz.
Rosa Maria Néri e Nelson Néri Júnior comentam que: “existe interesse
processual quando a parte tem necessidade de ir a juízo para alcançar a
tutela pretendida e, ainda, quando essa tutela jurisdicional pode trazer-lhe
alguma utilidade do ponto de vista prático”.1
Por sua vez, Cândido Dinamarco, mestre e eterno aluno de Enrico Túlio
Liebman, assim se posiciona: “a efetividade do processo é uma das
preocupações da moderna doutrina e correspondente à ideia
instrumentalista de que o processo deve ser apto a produzir o melhor
resultado possível, seja para a plena satisfação do direito material, seja para
a satisfação integral das pretensões justas do demandante, seja para a
integral pacificação dos litigantes”.2
Com isso, o respeitado jurista soma-se àqueles, como nós, que entendem
ser o principal objetivo finalístico do processo, o bem e a paz social.
Portanto, se o réu tiver pedidos a serem efetuados em sua peça de defesa,
por que lhe negar o direito a esta posição, se o que se busca é a paz dos
litigantes, e não o engessamento dos procedimentos processuais?
Não olvidamos que o interesse para agir ou para pedir, segundo ensina o
ínclito professor Humberto Theodoro Júnior, “surge da necessidade de
obter através do processo a proteção ao interesse substancial. Entende-se,
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dessa maneira, que há interesse processual 'se a parte sofre um prejuízo,
não propondo a demanda, e daí resulta que, para evitar esse prejuízo,
necessita exatamente da intervenção dos órgãos jurisdicionais”.3
1. Contestação
É a peça formal mais usada como meio de defesa do réu contra a pretensão
do autor. Esse instrumento utiliza ao mesmo tempo um viés residual –
quando é relativo ao processo – e uma faceta de plenitude da defesa –
quando ataca substancialmente o mérito da demanda.
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Discorreremos sobre duas formas de defesa contidas na Contestação: a
defesa de mérito direta e a defesa de mérito indireta.
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Neste momento, enseja oportunidade para que façamos uma diferenciação
entre preliminar e prejudicial.
Defesa específica e precisa, não devendo ser genérica acerca dos fatos
narrados pelo autor; exposição clara dos fatos e fundamentos jurídicos de
sua resistência; alegar, se for o caso, preliminares e prejudiciais de mérito;
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apresentar documentações que atestem a fidedignidade de suas declarações
e, por fim, as provas que pretende produzir ao longo do processo como
meio de ampla defesa.
2. Reconvenção
A Reconvenção encontra-se preconizada na redação do art. 315 do Código
de Processo Civil estabelecendo que “o réu pode reconvir ao autor no
mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação
principal ou com o fundamento da defesa”. A nosso ver e de grande parte
da doutrina, a reconvenção é um verdadeiro contra-ataque.
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O percuciente professor Humberto Theodoro Jr. Explica: “a reconvenção
não é meio de defesa, mas verdadeiro contra-ataque do réu ao autor,
propondo dentro do mesmo processo uma ação diferente e em sentido
contrário àquela inicialmente deduzida em juízo”.4
3. Pedido
O pedido é um artifício de suma importância para a processualística, uma
vez que o mesmo tem o condão de delimitar a ação jurisdicional,
demonstrando, peremptoriamente, o que se pretende e o que se quer
daquela ação manejada e do órgão impulsionado.
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Pedidos genéricos: Vedado por nosso ordenamento jurídico processual,
uma vez que lemos no art. 282, IV, do CPC, que a petição deverá trazer em
seu bojo “o pedido, com as suas especificações”, isto é, o pedido tem que ser
certo e/ou determinado.
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Quando o legislador assim se referiu quis, com o intuito de prestigiar os
princípios da economia processual, da instrumentalidade e da efetividade
do processo, evitar a utilização da reconvenção ou a criação de outra ação
que versasse sobre os mesmos fatos.
Conhece-se por pedido contraposto aquele formulado pelo réu, não através
de peça autônoma, como acontece com a reconvenção, mas no bojo da
própria contestação, observado os mesmos fatos que fixaram a propositura
da demanda original.
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O profícuo doutrinador Nelson Néry Júnior comenta o supracitado art. 17:
“pedido contraposto é a pretensão deduzida pelo réu na contestação, desde
que fundado nos mesmo fatos articulados pelo autor na petição inicial”.6
Theotônio Negrão leciona que a Lei dos Juizados Especiais não quis que
houvesse a figura da reconvenção, como acontece no CPC, e por isso
ordenou que o contra-ataque fosse “deduzidos na contestação, recebendo
nesta lei (Juizados Especiais) com o nome de 'pedido contraposto”.7
Mesmo que seja boa parte da doutrina que não vislumbre necessidade de
maior estudo sobre as diferenças do pedido dúplice e do pedido
contraposto, achamos indispensável para afastar as possíveis decisões
equivocadas de juízes que nas ações que permitem o pedido contraposto
concedem o bem jurídico tutelado ao réu que não formulou pedido
expresso, fato este que só é possível em via de ação dúplice.
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possibilidade de o réu formular pedido em seu favor, no bojo da peça
contestatória, sempre com fundamento nos mesmos fatos relatados pelo
autor na exordial.
O pedido dúplice pode ser visto também na redação do art. 31 da Lei dos
Juizados Especiais (9.099/95). É bom que se ressalte que na supracitada lei
há os dois institutos: pedido dúplice e pedido contraposto. Estando o
primeiro na redação do art. 31 e o segundo no texto do art. 17. São
totalmente distintos.
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Já em nosso direito tupiniquim podem ser citadas como ações dúplices as
ações possessórias, ações demarcatórias, ação de prestação de contas, ação
de divisão de terras particulares etc., todas onde a sentença concede o bem
jurídico a qualquer das partes, até mesmo ao réu, sem que esse tenha se
manifestado expressamente com pedido.
Conclusão
Pelo trabalho exposto, conclui-se que há, sim, possibilidade de se formular
pedidos em peças de defesa e que, também, pertence ao réu a garantia de
pedir, e não só impedir. As exceções foram demonstradas uma a uma dando
para se notar que o direito material é quem fornece elementos de convicção
para facultar ao réu o direito de demandar de volta, seja em contestação,
reconvenção, pedido contraposto, pedido dúplice ou nas ações dúplices.
Bibliografia
ASSIS, Araken de. Procedimento Sumário. São Paulo: Malheiros, 1996.
RT, 2008.
Especificidades.