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Princípios fundamentais última instância a decidir, não se tem

a quem recorrer).
dos recursos civis:

2. Princípio da taxatividade
1. Princípio do duplo grau de Significa que os recursos existentes
jurisdição no processo civil são aqueles que
estão previstos em lei, em um rol
Embora não tenha previsão expressa taxativo. Isso quer dizer que somente
na Constituição Federal de 1988, esse o legislador pode criar recursos cíveis
é um princípio de matriz e só o legislador pode estabelecer o
constitucional, uma vez que é cabimento desses recursos. Ainda
decorrente dos princípios que, hoje, tenhamos a ampla
constitucionais da ampla defesa e do possibilidade de as partes fazerem
contraditório, previstos em seu art. 5º, negócios jurídicos processuais (art.
inciso LV: "aos litigantes, em processo 190, CPC), essa é uma matéria que
judicial ou administrativo, e aos não é passível de disposição pelas
acusados em geral são assegurados o partes. Só por lei recursos podem ser
contraditório e ampla defesa, com os criados.
meios e recursos a ela inerentes".

3. Princípio da singularidade ou da
O duplo grau de jurisdição é o que
fundamenta a própria existência dos unirrecorribilidade:
recursos em matéria cível: é a ideia de
Junto com a taxatividade e
que, toda vez que a parte recebe uma
diretamente relacionado a ela, há o
decisão contrária aos seus interesses, princípio da unirrecorribilidade,
ela tem direito a buscar no Poder também chamado de princípio da
Judiciário uma outra decisão, em singularidade, segundo o qual, para
regra, de um órgão de instância cada tipo de decisão, há, como regra,
superior, que possa um recurso. Ou seja, da mesma forma
anular/rever/reformar a decisão que as partes não têm liberdade para
proferida. Em outras palavras, tal criar recursos, elas também não têm
princípio visa garantir ao recorrente o liberdade para escolher qual recurso
direito de submeter a matéria decidida utilizarão para impugnar uma decisão,
ou tampouco para criar um regime
a uma nova apreciação jurisdicional.
intermediário (por ex., juntando o
prazo de um recurso com a forma de
cabimento de outro).
Atenção! Não se trata de um princípio
absoluto. É possível que, em
determinadas situações, haja Sendo assim, uma vez identificado o
decisões irrecorríveis – aquelas que tipo de decisão, identifica-se qual é o
não se sujeitam a nenhum recurso recurso que é cabível para aquela
(por exemplo: foro de prerrogativa de decisão. Por exemplo, de uma
função no STF, pois como única e sentença, o recurso cabível para
impugná-la será uma apelação. Por formal da regra da
isso mesmo, também não é possível taxatividade/singularidade, foi
escolher mais de um recurso para construída, então, pela doutrina e pela
uma mesma decisão. própria prática forense, a ideia de
fungibilidade. Isso significa que,
sempre que houver dúvida razoável
A unirrecorribilidade, no entanto, sobre qual recurso cabível, a parte
comporta algumas exceções. *A maior pode interpor um dos recursos
delas é a regra de cabimento dos possíveis, e, se o tribunal entender que
Embargos de Declaração: são um não era aquele o recurso correto, ele
recurso suis generis, que não têm por admite tal recurso como sendo outro.
objetivo reformar a decisão – ao
contrário, visa apenas algum
esclarecimento, objetivando A regra da fungibilidade decorre do
“melhorar a decisão”. Justamente por princípio da primazia do julgamento de
isso, os embargos de declaração são mérito, pelo qual, sempre que possível,
cabíveis contra qualquer tipo de o julgador deve fazer o máximo para
decisão, configurando-se, assim, como julgar o mérito de uma demanda,
uma exceção ao princípio da utilizando-se das regras de
unirrecorribilidade: para cada decisão, instrumentalidade das formas,
há a previsão legal de um único inexistência de nulidade sem prejuízo,
recurso + embargos de declaração. etc.

A ideia é de que o julgador deve


4. Princípio da fungibilidade contornar esses requisitos formais
sempre que for possível, haja vista que
Como o legislador não tem como o objetivo do Poder Judiciário é
prever e esgotar todas as hipóteses resolver o mérito das demandas.
cabíveis (o Direito não é uma ciência Assim, ainda que haja irregularidade
exata), muitas vezes, há casos em que na interposição do recurso, sempre
há uma decisão e há uma dúvida ou que possível, o julgador deve buscar
divergência concreta sobre qual é o que a parte corrija aquele defeito em
recurso cabível para aquela decisão. vez de simplesmente não reconhecer
do recurso.

Para isso, portanto, é preciso dois


requisitos: i) divergência Um exemplo de fungibilidade é o do
concreta/objetiva sobre a hipótese de art. 1024, § 3º, do CPC: "O órgão
cabimento; ii) observância do prazo julgador conhecerá dos embargos de
(hoje, com o novo Código, todos os declaração como agravo interno se
recursos têm o mesmo prazo de 15 entender ser este o recurso cabível,
dias). desde que determine previamente a
intimação do recorrente para, no prazo
de 5 (cinco) dias, complementar as
Nesse ponto, se há uma controvérsia razões recursais, de modo a ajustá-las
real sobre qual o recurso adequado, às exigências do art. 1.021, § 1º ".
não é razoável que o recorrente seja
punido. Para suavizar esse rigor
5. Princípio da proibição da
reformatio in pejus

Reformatio in pejus = reformar para


pior.

É a ideia de que, depois de interposto


um recurso, a decisão impugnada não
pode ser reformada para piorar a
situação de quem está recorrendo.
Afinal, ninguém recorre para ter a sua
situação piorada. Por meio desse
princípio, o sistema veda que alguém
seja punido por ter exercido o seu
direito de recorrer.

Para entender melhor, vamos imaginar


que "Pedro" propôs uma ação
indenizatória por danos morais,
pedindo R$ 100.000 de indenização. O
juiz sentenciou e o pedido foi julgado
parcialmente procedente, tendo o juiz
arbitrado indenização de R$ 40.000.
"Pedro", autor da demanda, pode
interpor apelação para aumentar o
valor dessa indenização. Nesse
sentido, em razão da apelação de
"Pedro", o tribunal pode: i) manter o
valor da indenização; ii) aumentar,
para qualquer valor acima de R$
40.000 até R$ 100.000 reais, mas,
nesse caso, se só o autor recorresse.
O juiz, portanto, não pode nem dar um
valor maior do que o pedido e nem
diminuir a indenização fixada na
sentença.

Por outro lado, no entanto, se só o réu


recorresse, o juiz poderia diminuir, ou
manter, ou retirar a indenização
arbitrada a título de danos morais,
mas nunca aumentar(!), pois essa
seria uma reforma prejudicial à parte
recorrente, no caso, ao réu.

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