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Recursos

CONCEITO

O fundamento primário dos recursos, lato sensu, deve ser


atribuído à natureza humana, dominada, como é cediço, por inato
sentimento de inconformismo, seja quanto aos limites naturais, seja
quanto aos limites criados pelo próprio homem. No direito, esse
sentimento torna absolutamente inaceitável uma decisão judicial
única, que, invariavelmente, parecerá ao vencido como autoritária e
injusta. Não bastasse essa natural demanda humana, os juízes,
pessoas que são, estão sujeitos a perpetrar erros, ou, o que é pior, a
sucumbir diante de razões menos nobres, mas não menos humanas.
Dentro dessas perspectivas, o recurso procura atender à
necessidade humana de revisão da decisão desfavorável, bem como
garantir o acerto, dentro do possível, da decisão judicial. Destarte, o
instituto do recurso pode ser conceituado como o direito, a faculdade,
que a parte vencida, no todo ou em parte, tem de provocar o reexame
da decisão judicial, com escopo de sua reforma ou modificação por
órgão hierarquicamente superior.
Em face desta definição, pode-se concluir que o pressuposto básico
de qualquer recurso é a sucumbência, que nada mais é do que a
desconformidade entre o que foi pedido e o que foi concedido pelo
Estado-juiz.
A sucumbência pode ser total ou parcial, conforme o juiz conceda
total ou parcialmente o pedido do autor, por exemplo: o autor pede
indenização por danos morais e materiais, sendo ambos os pedidos
julgados improcedentes (o autor sofre sucumbência total); ao
contrário, sendo ambos os pedidos julgados procedentes (o réu sofre
sucumbência total); no entanto, se na mesma situação o juiz julga
procedente apenas, por exemplo, o pedido de indenização pelos danos
materiais, negando o pedido de danos morais (autor e réu sofrem
sucumbência parcial). Observe-se, no entanto, que mesmo nos casos
em que a sucumbência é total, o interessado pode impugnar apenas
parte da decisão (art. 1.002, CPC), ocorrendo preclusão consumativa
quanto ao que não foi impugnado; ou seja, não se pode depois
completar o recurso.
Pode-se concluir que, de forma geral (lato sensu), o objetivo dos
recursos é obter a substituição da decisão judicial desfavorável por
outra que, segundo o recorrente, satisfaça a seus interesses. De fato, o
art. 1.008 do CPC declara que “o julgamento proferido pelo tribunal
substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso”.
Diante da sucumbência, a interposição de recurso se faz diante da
perspectiva de uma decisão que seja mais favorável ao recorrente, daí
que se proíbe o chamado reformatio in pejus; ou seja, a decisão que
julga o recurso da parte vencida não pode piorar a sua situação. Se a
parte recorre, por exemplo, contra a sentença que o condenou a pagar
danos morais no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), não pode
acabar condenado a pagar um valor ainda maior; ou seu recurso será
improvido, mantendo-se a condenação de primeiro grau ou, ao
contrário, provido para inverter a condenação ou diminuir o valor
(depende do que se requereu no recurso).

NATUREZA JURÍDICA DO RECURSO

Não há consenso entre os doutrinadores quanto à natureza


jurídica do recurso. As duas principais correntes, segundo a doutrina
tradicional, são: (a) o recurso é uma ação autônoma relativamente
àquela que lhe deu origem, ação essa de natureza constitutiva; (b) o
recurso é continuação do exercício do direito de ação, em fase
posterior do procedimento.
Parece-nos que a razão está ao lado daqueles que entendem ser a
natureza do recurso um desdobramento, ou um prolongamento, do
direito de ação, direito esse manifestado pelo recorrente quando do
ajuizamento do feito e que só se tem por efetivamente cumprido, ou
esgotado, com o trânsito em julgado da decisão judicial, o que só
ocorre após ter decorrido in albis o prazo para apresentação de
eventual recurso ou pelo esgotamento de todas as formas de recursos
previstas no processo civil (art. 994, CPC).

PRONUNCIAMENTOS SUJEITOS A RECURSO

Somente estão sujeitos a recurso os pronunciamentos do juiz, que,


segundo os arts. 203 e 204 do CPC, consistem em sentenças, decisões
interlocutórias, despachos e acórdãos.
O Código de Processo Civil já definiu sentença como “o ato pelo
qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da
causa”; diante das mudanças pelas quais passou a lei processual civil,
hoje o mesmo CPC declara apenas que sentença “é o pronunciamento
por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim
à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a
execução”.
Os artigos referidos no conceito expressam as hipóteses de
extinção do processo sem julgamento de mérito (art. 485), ou seja,
sem que o juiz aprecie o pedido do autor, e com julgamento de mérito
(art. 487), no qual o juiz emite juízo de valor quanto ao pedido do
autor (defere ou indefere, total ou parcialmente, o pedido), pondo fim
à fase processual de conhecimento.
Há casos, no entanto, de sentenças que resolvem apenas
parcialmente o mérito, como, por exemplo, as hipóteses previstas no
art. 356 do CPC.
Qualquer que seja o caso, sentença é “um ato de vontade e de
inteligência por meio do qual o juiz expressa o comando da lei que
deve disciplinar a situação de fato exposta pelas partes”. Segundo o
art. 489, são elementos essenciais da sentença: I – o relatório, que
conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do
pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências
havidas no andamento do processo; II – os fundamentos, em que o juiz
analisa-rá as questões de fato e de direito; III – o dispositivo, em que o
juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.
Decisão interlocutória, por sua vez, é o ato pelo qual o juiz, no
curso do processo, resolve questão incidente, por exemplo:
deferimento ou indeferimento de pedido liminar; saneamento do feito.
Já os “despachos” englobam todos os atos do juiz que, embora não
tenham caráter decisório, têm como propósito dar andamento ao
processo (princípio do impulso oficial). Por esta razão, o art. 1.001 do
CPC declara que contra eles não cabe recurso. Todavia, o interessado
não se deve deixar levar pela simples denominação do
pronunciamento, mas analisar se o ato tem ou não caráter decisório,
sujeito, portanto, a recurso.
Acórdão, por sua vez, é o extrato do julgamento proferido pelos
órgãos colegiados de um tribunal (v. g., seção, turma, câmara,
plenário, órgão especial), estando sujeito aos mesmos requisitos
essenciais da sentença. Segundo o art. 941 do CPC “proferidos os
votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando
para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro
voto vencedor”. Todo acórdão deve conter uma “ementa” (resumo),
sendo que as suas conclusões devem ser publicadas no órgão oficial
dentro de 10 (dez) dias.

PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS


Entre os princípios que amparam e informam o instituto do
recurso, merecem destaque especial os princípios: do duplo grau de
jurisdição; da unicidade; da fungibilidade.
O princípio do duplo grau de jurisdição impõe como regra no
processo a possibilidade da revisão das decisões judiciais,
preferencialmente por órgão jurisdicional de grau superior àquele que
prolatou a decisão recorrida. Busca-se, pela sucessiva reapreciação da
matéria (juízos distintos), garantir uma melhor justiça.
Já o princípio da unicidade, também conhecido como princípio da
singularidade ou princípio da unirrecorribilidade, representa a
proibição da interposição simultânea de mais de um recurso contra a
mesma decisão. Com efeito, o Código de Processo Civil prevê, para
cada tipo de decisão, um recurso, o que torna incorreta, de regra, a
interposição simultânea de dois recursos contra a mesma decisão.
Exceção a esta regra é a possibilidade da interposição simultânea do
recurso extraordinário e especial, que, no entanto, devem ser
interpostos em petições distintas; admitidos ambos os recursos,
primeiro será processado o recurso especial (art. 1.031, CPC).
O CPC vigente, como o anterior, não menciona expressamente o
princípio da fungibilidade, que possibilita, sob certas circunstâncias, o
recebimento de um recurso por outro, dado que procurou adequar um
recurso para cada tipo de decisão judicial (princípio da
correspondência). Entretanto, doutrina e jurisprudência têm opinado,
de modo geral, pela sua subsistência, desde que a decisão judicial
apresente dúvida objetiva sobre qual seja o recurso cabível para sua
impugnação. De qualquer forma, o aproveitamento do recurso fica
condicionado à verificação dos requisitos de admissibilidade,
mormente quanto a sua tempestividade.

RECURSOS PREVISTOS NO CPC

O legislador optou pelo princípio da taxatividade dos recursos, ou


seja, ele apontou exatamente os recursos cabíveis no sistema
processual. Com efeito, segundo o art. 994 do CPC são cabíveis os
seguintes recursos: (I) apelação; (II) agravo de instrumento; (III)
agravo interno; (IV) embargos de declaração; (V) recurso ordinário;
(VI) recurso especial; (VII) recurso extraordinário; (VIII) agravo em
recurso especial ou extraordinário; e (IX) embargos de divergência.
Deixou de existir o criticado recurso de embargos infringentes, que
era cabível contra acórdão não unânime que houvesse reformado, em
grau de apelação, a sentença de mérito ou houvesse julgado
procedente ação rescisória (art. 530, CPC de 1973). O agravo virou
“agravo de instrumento” e “agravo interno”, deixando de existir o
conhecido “agravo retido”.
Os recursos não são os únicos meios de se buscar a revisão de uma
decisão judicial. O interessado pode, por exemplo, impetrar mandado
de segurança ou ajuizar ação rescisória; pode, ainda, apresentar
pedido de correição parcial ou reclamação. Na prática forense é ainda
muito comum o pedido de “reconsideração” dirigido ao próprio juiz; às
vezes o interessado tem a percepção de que o juiz não analisou ou
considerou todos os fatos e documentos, optando então por protocolar
um pedido de reconsideração da decisão. A medida em si é muito
louvável, mas a parte não pode olvidar que o pedido de reconsideração
não tem o condão de suspender e/ ou interromper o prazo para a
interposição do recurso competente. O tema não é novo e há, inclusive,
uma exceção na legislação extravagante. Com efeito, no caso de
pedido de revisão do aluguel provisório fixado em sede de ação
revisional de aluguel, ou seja, reconsideração do pronunciamento
judicial, ocorre a interrupção do prazo para a interposição do agravo
de instrumento (art. 68, V, Lei no 8.245/91).
Registre-se, ainda, que a remessa necessária não é recurso (art.
496, CPC).

RECURSO ADESIVO
Quando a decisão causar prejuízo a ambas as partes, sucumbência
recíproca, qualquer delas poderá recorrer no prazo comum. No caso
de isso ocorrer, recurso de ambas as partes, os recursos serão
considerados de forma individual pelo tribunal.
Pode acontecer, no entanto, que uma das partes se conforme com
a decisão e deixe de interpor o recurso cabível no prazo legal, que,
como se disse, é comum. Posteriormente, surpreendida com o recurso
da outra parte, que impede o trânsito em julgado e tem o condão de
fazer subir os autos para superior instância, admite-se que faça a sua
adesão ao recurso da parte contrária, isto é, que no prazo para
apresentar suas contrarrazões ofereça, por petição autônoma,
também recurso quanto à parte que sucumbiu, aproveitando-se da
iniciativa da outra parte. Nesse sentido, a norma do art. 997 do CPC
declara que “cada parte interporá o recurso independentemente, no
prazo e com observância das exigências legais. § 1ºSendo vencidos autor
e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro. §
2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-
lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de
admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal
diversa, observado, ainda, o seguinte: I – será dirigido ao órgão perante
o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que a parte
dispõe para responder; II – será admissível na apelação, no recurso
extraordinário e no recurso especial; III – não será conhecido, se houver
desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível”.
O recurso adesivo não constitui espécie de recurso, mas apenas
“forma de in-terposição”, sendo admissível na apelação, no recurso
extraordinário e no recurso especial. Não obstante a literalidade do
inciso II do § 2º do art. 997 do CPC, entendo, como parte da doutrina,
que também é possível o recurso adesivo no recurso ordinário contra
acórdão proferido em processos em que forem partes, de um lado,
Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município
ou pessoa residente ou domiciliada no País (art. 1.027, II, “b”, CPC),
visto que nestes casos se aplica, segundo o art. 1.028 do CPC, as
disposições relativas à apelação.
Deve ser interposto no prazo para a resposta do recurso principal,
embora se deva registrar que a sua interposição não substitui o
oferecimento das contrarrazões, que devem ser apresentadas em
petição autônoma. As contrarrazões e o recurso adesivo não precisam
ser apresentados simultaneamente; ou seja, o interessado pode, por
exemplo, apresentar as contrarrazões e depois a petição do recurso
adesivo, desde que esteja dentro do prazo.
O destino do recurso adesivo está atrelado ao do recurso principal,
ou seja, só será conhecido se aquele o for. No caso de desistência,
deserção ou de não ser admitido o recurso principal, o adesivo fica
também prejudicado.

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

Existe alguma divergência na doutrina quanto ao número e


classificação dos requisitos de admissibilidade dos recursos no
processo civil. No geral, a doutrina classifica os requisitos de
admissibilidade dos recursos da seguinte forma: I – requisitos
subjetivos, ou intrínsecos, englobando legitimidade e inexistência de
fato impeditivo; II – requisitos objetivos, ou extrínsecos, englobando
recorribilidade da decisão, adequação do recurso, tempestividade,
preparo, forma e motivação.

Legitimidade
Têm legitimidade para recorrer o vencido, o terceiro prejudicado e
o Ministério Público (art. 996, CPC).
Vencido é a parte, autor ou réu que teve desatendido pelo juiz,
total ou parcialmente, seu pedido. Em outras palavras, aquele que
sofreu a sucumbência, seja total ou parcial. Também pode ser
considerado vencido o litisconsorte, o assistente, o denunciado à lide e
o chamado ao processo.
Terceiro prejudicado é a pessoa estranha ao processo que é
atingida, ainda que por via reflexa, pela sentença (v. g., adquirente de
direito material litigioso, fiador, avalista etc.). O advogado entra nesta
classe quanto aos honorários advocatícios. Com efeito, o art. 23 da Lei
no 8.906/94-EOAB estabelece que “os honorários incluídos na
condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao
advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta
parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja
expedido em seu favor”.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer tanto no
processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da
ordem jurídica.
Qualquer que seja o recorrente, este deve demonstrar seu interesse
na reforma da decisão. Interesse esse que deve sempre repousar na
demonstração da ocorrência do binômio “utilidade e necessidade”:
utilidade da providência judicial pleiteada e necessidade da via que se
escolhe para obter essa providência.

Inexistência de fato impeditivo


Não pode recorrer aquele que pratica algum ato incompatível com
a vontade de recorrer, tal como a renúncia e/ou a aceitação do
comando da decisão.
A renúncia, que deve ser expressa e só pode ocorrer antes da
interposição do recurso, é negócio jurídico unilateral e independe da
aceitação da outra parte. Nesse sentido, a norma do art. 999 do CPC
que declara expressamente que “a renúncia ao direito de recorrer
independe da aceitação da outra parte”.
A aceitação do comando da decisão, que pode ser expressa ou
tácita (art. 1.000, CPC), envolve a prática de ato que seja
incompatível com a vontade de recorrer, como, por exemplo: nas ações
de cobrança, o pagamento da dívida; nas ações de reintegração de
posse ou de despejo, a entrega das chaves.

Recorribilidade da decisão

Nem toda decisão judicial comporta recurso.


Com efeito, o art. 1.001 do CPC declara que “dos despachos” não
cabe recurso. Despachos, segundo o § 3º do art. 203, são “todos os
demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a
requerimento da parte”; ou seja, os pronunciamentos sem conteúdo
decisório destinados a dar andamento ao processo.
O tema não tem a mesma importância que tinha sob a égide do
Código de 1973, visto que o atual CPC alterou o regime do agravo,
agora agravo de instrumento, enumerando taxativamente as decisões
judiciais impugnáveis por meio dele; ou seja, agora não só dos
despachos não cabe recurso, mas também de todas as decisões que não
se enquadrarem nas hipóteses previstas no art. 1.015 do CPC.
A fim de evitar prejuízo às partes, o legislador estabeleceu que as
questões resolvidas na fase cognitiva não impugnadas por meio de
agravo de instrumento não precluem, podendo ser novamente
suscitadas em preliminar na apelação (art. 1.009, § 1º, CPC). Se a
parte não puder esperar, achando-se privada de direito que entenda
ser líquido e certo, poderá fazer uso do mandado de segurança.
Na verdade, pouco importa qual o nome que o juiz dê à sua
decisão (despacho ou decisão interlocutória), ela será recorrível
quando se enquadrar em uma das hipóteses previstas no CPC.

Adequação do recurso
O vencido não pode escolher o recurso que vai interpor, visto que o
Código já prevê um recurso específico contra cada tipo de decisão
judicial (princípio da singularidade).
O recurso deve ser o adequado para impugnar o ato decisório,
conforme previsto na lei processual. A interposição de um recurso por
outro pode levar ao seu não conhecimento, visto que, dentro do atual
sistema do Código, as diferenças entre os recursos são muitas.
Entretanto, não tendo o recorrente cometido erro grosseiro e estando
o recurso tempestivo, pode ser admitido, em atenção ao princípio da
fungibilidade dos recursos.

Tempestividade

Aqueles legitimados a recorrer devem fazê-lo dentro do prazo


legal, visto que não se conhece de recurso interposto fora do prazo,
isto é, intempestivo.
O prazo, que é fatal e peremptório (arts. 219 e 224, CPC), para
recorrer é de 15 (quinze) dias, salvo no caso dos “embargos de
declaração”, cujo prazo para recorrer é de 5 (cinco) dias (art. 1.023,
CPC). Tratando-se de prazo fixado em dias, conta-se apenas os dias
úteis. No prazo para interposição, a petição deverá ser protocolada em
cartório ou conforme outras normas de organização judiciária,
observando-se que se considera interposto o recurso remetido pelo
correio na data da postagem. Qualquer que seja o caso, os prazos
serão contados, segundo o art. 1.003 do CPC, “da data em que os
advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria
Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão”. Quando a
decisão for proferida em audiência, as partes considerar-se-ão
intimadas no próprio ato.
Observe-se que o destinatário da intimação é o advogado, não a
parte; isso porque cabe ao advogado, em nome da parte, praticar o ato
processual adequado, no caso, recorrer. A novidade está na
possibilidade de a intimação ocorrer na “sociedade de advogados”;
considerando que a procuração ad judicia só pode ser outorgada ao
advogado, ou advogados, enquanto pessoas individuais. Entendo que
a intimação do pronunciamento judicial na “sociedade de advogados”
depende de requerimento, neste sentido, do advogado que representa
a parte. Com efeito, pode ser que o profissional prefira que a intimação
assim ocorra, para facilitar o trâmite dela em seu escritório.
O Ministério Público, a Advocacia Pública e a Defensoria Pública
têm a prerrogativa de serem intimados pessoalmente, assim como
dispõem do prazo em dobro para recorrer (art. 180, 183, 186, CPC),
bem como as partes com diferentes procuradores (art. 229, CPC).
A contagem dos prazos para interposição de recurso pelo réu
contra decisão proferida anteriormente à citação deve observar as
regras dos incisos I a VI do art. 231 do CPC, quais sejam: (I) a data de
juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a
intimação for pelo correio; (II) a data de juntada aos autos do
mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de
justiça;
(III) a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por
ato do escrivão ou do chefe de secretaria; (IV) o dia útil seguinte ao fim da
dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; (V)
o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao
término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação
for eletrônica; (VI) a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232
ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem
devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em
cumprimento de carta.
O terceiro prejudicado dispõe do mesmo prazo que as partes para
recorrer.
Suspende-se o prazo para interposição do recurso, segundo o art.
1.004 do CPC, “se, durante o prazo para a interposição do recurso,
sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo
de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo
restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra
quem começará a correr novamente depois da intimação”. O
impedimento do advogado, como, por exemplo, uma doença ou um
acidente, deve ser tal que o impossibilite não só da prática do ato, mas
também de outorgar, por exemplo, um substabelecimento a outro
colega. Há, ademais, que se considerar que a interposição de embargos
de declaração tem o efeito de interromper o prazo para a interposição
de outros recursos (art. 1.026, CPC). Neste caso, o prazo integral só
voltará a correr depois da intimação da decisão sobre os embargos
(art. 1.003, CPC).

Preparo
Preparo é o recolhimento das custas e despesas processuais,
inclusive porte de remessa e retorno dos autos.
Cabe ao recorrente, quando da interposição do recurso e desde
que exigível, segundo legislação estadual ou federal (Justiça Estadual
ou Federal), comprovar o preparo, isto é, o pagamento das custas e
despesas processuais, inclusive porte de remessa e de retorno. No caso
de insuficiência no valor do preparo, e também do porte de remessa e
de retorno, o recorrente será intimado, na pessoa de seu advogado,
para complementá-lo no prazo de 5 (cinco) dias; se o caso for de não
recolhimento do preparo, a parte será intimada, na pessoa de seu
advogado, para realizar o recolhimento em dobro.
Ocorrendo erro no preenchimento da guia de custas, ou dúvida
quanto ao recolhimento, o relator deverá intimar o recorrente para
sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.
Não havendo recolhimento do preparo, sua complementação,
quando for o caso, ou não sendo sanado eventual erro ou dúvida no
preenchimento da guia, o recurso será declarado deserto (art. 1.007,
CPC), ou seja, descabido, abandonado, provocando a coisa julgada da
decisão recorrida.
A pena de deserção pode ser relevada, caso o recorrente prove que
deixou de proceder com o preparo por justa causa. Informa o CPC, art.
223, § 1º, que “considera-se justa causa o evento alheio à vontade da
parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário”.
Note-se que não é bastante alegar ocorrência de circunstância
excepcional, a norma demanda que o interessado “prove” sua
ocorrência. Da decisão que releva a pena de deserção não cabe
recurso, segundo entendimento jurisprudencial.
Estão dispensados de preparo os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e
respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal (art. 1.007,
§ 1º, CPC), como, por exemplo, os beneficiários da justiça gratuita
(art. 98, § 1º, CPC).

Forma e motivação

O recurso, como os atos processuais em geral, deve obediência à


forma, modus procedenti, prevista em lei. Não se pode, por exemplo,
interpor o recurso de apelação oralmente.
Também a motivação, ou seja, as razões pelas quais o recorrente
deseja a modificação da decisão, é pressuposto de admissibilidade do
recurso e deve ser ofertada simultaneamente com a petição de
interposição.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Chama-se juízo de admissibilidade o controle feito pelo órgão


jurisdicional da presença ou da ausência dos requisitos de
admissibilidade do recurso (citados no item anterior).
Esse controle sempre pertenceu, originalmente, ao órgão com
competência para julgar o recurso (ad quem), contudo, também era
exercido, sob a égide do CPC de 1973 pelo juízo a quo, nos casos em
que o recurso era interposto nos próprios autos (apelação e agravo
retido), embora a decisão do juízo a quo, que admitia o recurso, não
vinculasse o Tribunal. O novo CPC mudou esta situação, primeiro
acabou com o agravo retido, depois declarou, quanto ao recurso de
apelação, no § 3º do art. 1.010 que o juiz de primeiro grau deve, após
ultimadas as formalidades, remeter os autos ao tribunal,
independentemente de juízo de admissibilidade.
O fim de juízo de admissibilidade por parte do juiz de primeiro
grau elimina uma decisão judicial evitando eventual novo recurso;
creio que esta foi a intenção do legislador. Ora, se o juízo de
admissibilidade é da competência do tribunal, é mais coerente então
evitarem-se intermediários.
Quando o tribunal emite juízo de admissibilidade, “recebe o
recurso”, esta decisão abre caminho para a apreciação do mérito, ou
juízo de mérito, do recurso.
Ausente, no entanto, algum dos requisitos de admissibilidade, o
juízo não admite o recurso. Diz-se, então, que “não conheceu do
recurso”, o que acaba por impossibilitar a apreciação do mérito. Nesse
caso, juízo negativo de admissibilidade, faculta-se ao recorrente
interpor “agravo interno” para o órgão competente para conhecer do
recurso, com as seguintes exigências (art. 1.021): (I) na petição de
agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada; (II) o agravo será dirigido ao
relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no
prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o
relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
O juízo de admissibilidade foi mantido quanto aos recursos
extraordinário e especial; com efeito, o inciso V do art. 1.030 do CPC,
com a redação que lhe deu a Lei nº 13.256/16, informa que recebida a
petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 dias, findo o
qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal que deverá realizar juízo de admissibilidade e, se positivo,
remeter o feito ao tribunal superior correspondente.
EFEITOS DOS RECURSOS

Além de a interposição do recurso obstar o trânsito em julgado da


decisão impugnada (art. 502, CPC), fato que impede a formação da
coisa julgada, o CPC atribui tradicionalmente aos recursos mais dois
efeitos, quais sejam: efeito devolutivo e efeito suspensivo.
Comum a todos os recursos, o “efeito devolutivo” consiste na
transferência para o juízo ad quem do conhecimento de toda a matéria
impugnada e, por óbvio, no limite da impugnação (tantum devolutum
quantum apellatum), consoante norma do art. 1.002 do CPC, que
declara que “a decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”.
Destarte, o juízo ad quem não pode piorar a situação do recorrente,
princípio da proibição da reformatio in pejus, dado que só pode
conhecer a matéria efetivamente impugnada, dando ou negando
provimento à pretensão.
Exceção à regra geral, isto é, transferência da matéria impugnada
para o órgão ad quem, os embargos de declaração, que interrompem o
prazo para interposição de outro recurso, devolvem o conhecimento
da matéria para o próprio juízo prolator da decisão impugnada (art.
1.023, CPC). Também o agravo de instrumento permite ao próprio
prolator da decisão impugnada um juízo de retratação, que, se
positivo, impede o conhecimento da matéria pelo órgão ad quem (art.
1.018, § 1º, CPC).
O “efeito suspensivo”, por sua vez, impede toda a eficácia da
decisão, ou seja, mantém a situação decidida, objeto do recurso, no
mesmo estado em que se encontra, até nova decisão pelo órgão ad
quem.
Diferentemente do que ocorre com o efeito devolutivo, o efeito
suspensivo não é comum aos recursos. Na verdade, a princípio apenas
tem efeito suspensivo a apelação (art. 1.012, CPC). O agravo de
instrumento também pode ter efeito suspensivo, desde que requerido
pelo agravante e concedido pelo relator (art. 1.019, I, CPC).
Neste aspecto houve uma completa alteração em relação ao CPC
de 1973; sob a égide daquele código, a regra era no sentido de que
todos os recursos tinham o efeito suspensivo, salvo aqueles casos
expressamente destacados pela lei; no código atual inverteu-se a
regra, ou seja, todo pronunciamento judicial tem eficácia imediata,
salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido contrário. Neste
sentido, a norma do art. 995 do CPC: “os recursos não impedem a
eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em
sentido diverso”.
Na prática forense, cabe ao interessado, naqueles casos em que a
lei o permite, requerer expressamente a concessão do efeito
suspensivo, demonstrando o fumus boni iuris e o periculum in mora;
até que isso ocorra, a decisão gera efeitos, é executável.

EXTINÇÃO ANORMAL DO RECURSO

Admitido o recurso, observadas as formalidades procedimentais, o


natural é ser apreciado pelo órgão ad quem, que, o conhecendo,
emitirá juízo de mérito, dando ou negando provimento ao recurso.
Entretanto, o recorrente pode desistir do recurso por meio de
petição escrita, dirigida ao juízo a quo, caso o recurso ainda não tenha
sido enviado ao órgão ad quem, ou, no caso de o recurso já ter subido,
dirigida ao relator no Tribunal.
A expressão “a qualquer tempo” prevista no caput do art. 998 do
CPC normalmente é interpretada pela doutrina no sentido de que o
interessado pode requerer a desistência do recurso até imediatamente
antes do julgamento do recurso, até o final da sustentação oral.
O pedido de desistência é ato unilateral, independe da
concordância do recorrido ou de terceiros, e impede o juízo de mérito,
encerrando o procedimento recursal.
No caso em que o recurso seja paradigma em incidente de “recurso
repetitivo” ou “repercussão geral”, a sua desistência não afasta a
competência do STF ou do STJ para o julgamento da questão, neste
sentido a norma do parágrafo único do art. 998 do CPC: “a desistência
do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já
tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos
extraordinários ou especiais repetitivos”. Embora a norma não observe,
um novo processo deve ser escolhido para servir de paradigma.

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