Você está na página 1de 11

Faculdade Pitágoras

Direito Processual Civil

Luana Vitória de Oliveira Sousa

A COISA JULGADA NO PROCESSO


CIVIL

Bacabal– MA
2023
Luana Vitória de Oliveira Sousa

A coisa julgada no processo civil

Trabalho de direito apresentado na faculdade


Pitágoras para obter nota no curso de direito
processual civil

Orientadora: Prof. Sara Batista

Bacabal – MA

2023
I. CONCEITO

A coisa julgada é um instituto do direito processual civil que visa oferecer segurança
jurídica às decisões judiciais e impedir que os conflitos se perpetuem. É uma
garantia constitucional prevista no art. 5º, XXXVI, CF. A coisa julgada é uma
qualidade conferida à sentença judicial que não admite mais recurso, tornando-a
imutável e irrefutável. A doutrina chama isso de eficácia preclusiva da coisa julgada.
O art. 507 do CPC esclarece ainda que “é vedado à parte discutir no curso do
processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão “. Além
disso, o art. 505 do CPC, nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas
relativas à mesma lide, salvo:

• Se a sentença for nula;


• Se houver violação da coisa julgada;
• Se a decisão for manifestamente contrária à prova dos autos.

A doutrina apresenta diversas teorias que tentam justificar o fundamento jurídico da


coisa julgada, tais como a da presunção da verdade, a da mera ficção e a da
verdade formal. Ela pode ser classificada em coisa julgada formal e material. A coisa
julgada formal é a impossibilidade de modificação da sentença no mesmo processo,
como resultado da preclusão dos recursos. Ela só tem eficácia dentro do processo
em que surgiu e não impede que o tema volte a ser discutido em outra ação. A coisa
julgada formal está prevista no art. 502 do CPC1.

A coisa julgada material é a autoridade que torna imutável e indiscutível a sentença


de mérito, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário. Ela tem eficácia
fora do processo em que se formou e impede que as partes ou terceiros voltem a
litigar sobre o mesmo objeto. A coisa julgada material está prevista no art. 503 do
CPC1. A coisa julgada material produz três tipos de efeitos: negativo, positivo e
preclusivo.
• O efeito negativo impede que o mesmo objeto seja novamente julgado,
evitando a repetição do exercício da atividade jurisdicional.
• O efeito positivo vincula o novo juízo ao conteúdo da decisão transitada em
julgado, obrigando-o a respeitar o que foi decidido anteriormente.
• O efeito preclusivo considera repelidos todos os argumentos que deveriam ter
sido utilizados, mas não foram, tanto pelo autor quanto pelo réu, no processo
anterior.
A coisa julgada pode ser relativizada em situações excepcionais, quando houver
violação à Constituição Federal ou à ordem pública, ou quando houver
superveniência de norma ou de entendimento jurisprudencial que altere o cenário
jurídico anterior. Nesses casos, podem ser utilizados meios como a ação rescisória,
a querela nullitatis, o incidente de arguição de inconstitucionalidade ou o incidente
de resolução de demandas repetitivas
A ação rescisória é um instrumento processual que visa anular uma decisão judicial
transitada em julgado por algum dos motivos elencados no artigo 966 do Código de
Processo Civil, como violação de norma jurídica, erro de fato, dolo ou coação da
parte vencedora, prova falsa ou documento novo. A ação rescisória deve ser
proposta no prazo de dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão
rescindenda.
A querela nullitatis é uma ação declaratória que visa reconhecer a inexistência ou a
nulidade absoluta de uma decisão judicial transitada em julgado por falta de
pressupostos processuais essenciais, como citação válida, capacidade das partes
ou competência do juízo. A querela nullitatis não tem prazo para ser proposta, pois
se baseia na ideia de que a decisão nula não produz coisa julgada material.

II. LITISPÊNDENCIA

A litispendência ocorre quando uma ação é ajuizada enquanto outra, idêntica ou


semelhante, está em curso e pendente de julgamento. Nesse caso, o segundo
processo é extinto sem julgar o mérito, enquanto o primeiro processo continua até
julgar o mérito. Já na coisa julgada, após ocorrer a chamada coisa julgada soberana
no primeiro processo, novo processo (ou ação) com mesmas partes, pedido e causa
de pedir semelhantes ao primeiro devem ser extinto sem julgar o mérito

Em seu Artigo 337, o Novo CPC lista as alegações incumbidas ao réu antes da
discussão do mérito do caso. Entre elas estão a litispendência e a coisa julgada
(incisos VI e VII). Mais para frente, a legislação define esses dois conceitos em
quatro parágrafos:
1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação
anteriormente ajuizada.
2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa
de pedir e o mesmo pedido.
3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada
em julgado.
Portanto, fica claro que: a) a priori, caberá ao réu alegar litispendência a apresentar
a sua contestação; b) litispendência ocorre quando há uma ação idêntica já em
curso; e c) ações idênticas tem as mesmas partes, causa e pedido.
A diferença entre litispendência e coisa julgada está na etapa do processo. No
primeiro, ocorre quando um idêntico já está em andamento. No segundo, quando um
idêntico já houve decisão. Cabe ressaltar, portanto, que na fase de cumprimento de
sentença, é possível somente a existência de coisa julgada.
A litispendência é uma das causas de extinção do processo, juntamente com a
perempção e a coisa julgada. Constatada a identidade de partes, das causas de
pedir e pedidos formulados em ambas as ações, configura-se a litispendência a
impor a extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do art. 485, V, do
CPC/2015. É importante que, na elaboração da contestação, o advogado do réu
deve deixar bastante nítida a litispendência. É recomendado incluir o número do
processo idêntico que já está em curso, bem como uma cópia na íntegra da
demanda. Desta forma, o juiz poderá atestar que são as mesmas partes envolvidas,
a mesma causa discutida e o mesmo direito sendo pedido.

III. TRÂNSITO EM JULGADO

A coisa julgada e o trânsito em julgado são institutos do direito que buscam


assegurar a segurança jurídica dos litigantes. O trânsito em julgado é o momento em
que a decisão judicial se torna imutável, ou seja, não pode mais ser alterada por
meio de recurso 2. Já a coisa julgada é a consequência do trânsito em julgado, que
impede a propositura de nova demanda judicial com base nos mesmos elementos
que se tornaram imutáveis
O trânsito em julgado é um conceito jurídico que se refere ao momento em que uma
decisão judicial se torna definitiva e irrecorrível, ou seja, não pode mais ser
modificada ou questionada por nenhum recurso. É importante para garantir a
segurança jurídica e a estabilidade das relações sociais, evitando que as partes
fiquem eternamente discutindo sobre o mesmo assunto. Ele pode ocorrer de forma
automática, quando se esgota o prazo para a interposição de recursos, ou de forma
expressa, quando as partes renunciam ao direito de recorrer ou desistem dos
recursos já interpostos. Pode se referir à sentença ou ao acórdão, e pode abranger
todo o processo ou apenas uma parte dele.
O trânsito em julgado é comprovado pela certidão de trânsito em julgado, que é um
documento expedido pelo cartório judicial que atesta que a decisão não foi
contestada ou que não cabe mais recurso contra ela. A certidão de trânsito em
julgado é necessária para iniciar a fase de cumprimento da sentença ou para propor
uma ação rescisória, que é um meio excepcional de desfazer os efeitos da coisa
julgada.

Quando está transitado em julgado se verifica quando não há mais a possibilidade


jurídica de interpor qualquer tipo de recurso, marcando o fim do processo e o
surgimento da coisa julgada. Assim, enquanto não há o trânsito em julgado,
pendente a sentença de recurso, também não haverá coisa julgada.

IV. LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

Os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada são conceitos que se referem ao


alcance e à extensão da imutabilidade das decisões judiciais, ou seja, à
impossibilidade de modificá-las ou questioná-las após o trânsito em julgado.

Os limites objetivos da coisa julgada dizem respeito ao conteúdo da decisão que se


torna definitivo e vinculante. Em regra, a coisa julgada material abrange apenas a
parte dispositiva da sentença, ou seja, o que foi efetivamente decidido pelo juiz em
relação ao pedido das partes. No entanto, o Novo Código de Processo Civil (NCPC)
inovou ao estabelecer, no artigo 503, §1º, que a coisa julgada material também pode
se estender às questões prejudiciais de mérito decididas expressamente na
motivação da sentença, desde que haja requerimento das partes e que essas
questões sejam relevantes, comprovadas e não dependam de ação própria.

As questões prejudiciais são aquelas que condicionam ou influenciam o julgamento


do pedido principal, mas que não são objeto de uma ação específica. Por exemplo,
se em uma ação de alimentos o juiz decidir sobre a paternidade do alimentando,
essa questão será prejudicial ao pedido de alimentos. Pelo NCPC, se as partes
requererem e o juiz decidir expressamente sobre a paternidade na motivação da
sentença, essa questão fará coisa julgada material e não poderá ser rediscutida em
outra ação.

Os limites subjetivos da coisa julgada dizem respeito às pessoas que são atingidas
pela imutabilidade da decisão. Em regra, a coisa julgada material vale apenas para
as partes entre as quais foi proferida a sentença, não beneficiando nem
prejudicando terceiros. Esse princípio está previsto no artigo 506 do NCPC1. No
entanto, há exceções em que a coisa julgada material pode atingir terceiros que não
participaram do processo, como nos casos de sucessão processual, substituição
processual, litisconsórcio unitário e direito coletivo.

A sucessão processual ocorre quando há uma alteração na titularidade do direito ou


da obrigação discutidos no processo, por algum motivo jurídico como morte, cessão
ou renúncia. Nesse caso, o sucessor assume a posição processual do sucedido e
fica sujeito à coisa julgada material.A substituição processual ocorre quando alguém
atua em nome próprio defendendo direito alheio. Nesse caso, o substituído é
representado pelo substituto e fica vinculado à coisa julgada material.

V. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

A relativização da coisa julgada é um tema controverso no direito processual civil


brasileiro. Trata-se da possibilidade de desfazer ou modificar uma decisão judicial
que se tornou imutável e indiscutível, ou seja, que transitou em julgado. Essa
medida é excepcional e só pode ser aplicada em casos de grave injustiça ou
inconstitucionalidade. A relativização da coisa julgada envolve questões como direito
adquirido, ato jurídico perfeito, ação rescisória e querela nullitatis. Alguns exemplos
de situações que podem gerar a relativização da coisa julgada são as decisões
baseadas em lei declarada inconstitucional e as de reconhecimento de paternidade.
O Supremo Tribunal Federal entende que é possível relativizar a coisa julgada no
caso de ação investigatória de paternidade em que não foi realizado o exame de
DNA, mesmo que, na época da ação, já fosse possível a realização desse exame

O papel do STF na relativização da coisa julgada é de extrema relevância, pois cabe


ao Supremo Tribunal Federal a guarda da Constituição e a definição do sentido e do
alcance das normas constitucionais. Assim, quando o STF decide sobre a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de uma lei tributária, essa decisão
deve prevalecer sobre as decisões judiciais anteriores que tenham entendimento
contrário, mesmo que já tenham transitado em julgado. Essa é a forma de garantir a
supremacia da Constituição, a igualdade entre os contribuintes e a segurança
jurídica nas relações tributárias de trato sucessivo.

No entanto, a relativização da coisa julgada não é absoluta nem automática. O STF


estabeleceu alguns critérios e limites para que essa medida seja aplicada. Por
exemplo, as decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,
anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam
automaticamente a coisa julgada. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das
decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal,
conforme a natureza do tributo.

Além disso, a relativização da coisa julgada pode ocorrer tanto em favor quanto
contra a Fazenda Pública, dependendo do sentido do precedente do STF. Vale
lembrar que há várias decisões passadas em julgado, desfavoráveis aos
contribuintes, com prazo de ação rescisória já transcorrido, sobre temas em que o
STF reconheceu posteriormente a inconstitucionalidade de tributação.
Por fim, a relativização da coisa julgada não se aplica indiscriminadamente a todas
as matérias tributárias. Há casos em que o STF reconhece que a coisa julgada deve
ser preservada, como nas questões de fato ou de direito intertemporal. Também há
situações em que o STF admite que a relativização da coisa julgada depende da
demonstração de insuficiência de provas no primeiro processo ou de dúvida
razoável sobre a existência de fraude em teste de DNA anteriormente realizado.
Portanto, cada caso concreto deve ser analisado à luz dos princípios e dos
precedentes do STF.

VI. COISA JULGADA NAS SENTENÇAS DETERMINATIVAS

As relações jurídicas continuativas são aquelas que dizem respeito a obrigações que
se protraem no tempo.
As sentenças determinativas são aquelas que não resolvem o mérito da causa, mas
apenas fixam alguma condição ou modo para a sua solução futura. Por exemplo,
uma sentença que determina a realização de uma perícia, ou que estabelece uma
obrigação de fazer ou não fazer algo. As sentenças determinativas não fazem coisa
julgada material, mas apenas formal. Isso significa que elas só têm efeito preclusivo
no processo em que foram proferidas, mas não impedem que a mesma questão seja
reapreciada em outro processo.
As sentenças determinativas fazem coisa julgada material, mas de forma rebus sic
stantibus. Isso significa que elas têm efeito imutável e indiscutível enquanto não
houver mudança na situação de fato ou de direito que embasou a decisão

No entanto, a doutrina mais atual ensina que essa coisa julgada não é diferente das
outras. Se a situação fática mudou, a causa de pedir é diferente, razão pela qual
haveria outra demanda e, por conseguinte, não haveria coisa julgada. Isto é, caso
haja mudança na situação fática, bastará à parte ajuizar nova ação, já que, se a
causa de pedir mudou, há outra demanda.

O Código de Processo Civil de 2015 prevê no artigo 505, I, que as questões já


decididas relativas à mesma lide não podem ser decididas novamente, salvo se se
tratar de relação jurídica de trato continuado e houver modificação no estado de fato
ou de direito. Nesse caso, a parte pode pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença. As relações jurídicas de trato continuado são aquelas que se prolongam
no tempo e envolvem prestações periódicas ou sucessivas. Por exemplo, uma
pensão alimentícia, uma locação ou uma prestação de serviços.
A revisão prevista no artigo 505, I, do CPC pode ser feita por meio de simples
petição nos autos do processo original, sem necessidade de nova ação, salvo
disposição legal em
contrário. A revisão não implica em violação da coisa julgada, mas apenas em sua
adaptação às novas circunstâncias.
REFERÊNCIAS

• https://www.jusbrasil.com.br/artigos/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-
coisa-julgada/1357875993

• https://peticionamais.com.br/blog/litispendencia-novo-cpc/

• https://www.jusbrasil.com.br/artigos/relativizacao-da-coisa-julgada/405051133

• https://dicionariodireito.com.br/coisa-julgada#google_vignette

• https://www.jusbrasil.com.br/artigos/sentencas-terminativas-ou-definitivas-e-a-
relacao-com-a-coisa-julgada/525949417

• https://profes.com.br/adrianopaulino/blog/coisa-julgada-formal-x-coisa-julgada-
material

Você também pode gostar