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1) O que é efeito translativo?

O conceito de efeito translativo no campo jurídico refere-se à possibilidade do tribunal


apreciar matérias que não foram anteriormente examinadas pelo juízo de origem, não
foram suscitadas pelas partes e tampouco foram abordadas nas razões recursais,
desde que estejam relacionadas a questões de ordem pública. Este efeito decorre do
princípio inquisitório, particularmente no âmbito recursal.

Ao apreciar, de ofício, questões de ordem pública, as decisões que se beneficiam do


efeito translativo não podem ser consideradas como extra, citra ou ultra petita, não
violando assim o princípio da congruência, que exige harmonia entre as razões
recursais e a decisão proferida. Além disso, não é cabível a alegação de preclusão da
matéria, uma vez que ela está revestida de interesse público. Conforme a visão de
Araken de Assis, o efeito translativo encontra sua base legal no art. 516 do CPC/1973,
que estabelece que "ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à
sentença, ainda não decididas."

O exame de ofício de questões de ordem pública, especialmente as de natureza


processual, deve ser precedido pela participação plena das partes. Embora o juiz tenha
a prerrogativa de conhecer das questões independentemente de provocação, é
necessário submetê-las à manifestação das partes antes de proferir a decisão. Essa
exigência encontra fundamento no direito à ampla defesa e contraditório, garantias
previstas pela Constituição. No entanto, a doutrina e a jurisprudência brasileiras
muitas vezes decidem tais questões sem a necessidade de manifestação prévia das
partes.

Além disso, é importante destacar que há matérias que podem ser conhecidas de
ofício, e nesse contexto, sempre se deve abrir espaço para o contraditório. O órgão
recursal tem a faculdade de julgar matérias que não foram impugnadas, mas que são
de ordem pública, caracterizadas como nulidade absoluta. Essa prerrogativa não
decorre do efeito devolutivo, pois é a lei e não o recorrente que remete ao órgão
recursal o conhecimento de matérias que podem ser apreciadas de ofício.

Em síntese, o efeito translativo, aliado ao conhecimento de ofício em matérias de


ordem pública, representa uma ferramenta importante no sistema jurídico para
assegurar a efetividade da justiça, permitindo que questões relevantes sejam
analisadas mesmo que não tenham sido objeto de discussão prévia no curso do
processo, sempre respeitando os princípios do contraditório e da ampla defesa.

2) Explique a diferença entre efeito suspensivo ope iudicis e efeito suspensivo


ope legis.

O sistema jurídico brasileiro atribui aos recursos a função essencial de suspender a


eficácia da decisão recorrida até a conclusão do julgamento, podendo essa suspensão
ocorrer por meio do efeito suspensivo ope legis ou ope judicis.
O efeito suspensivo pode manifestar-se ope legis ou ope judicis. O CPC/2015 ao
estabelecer, como regra, a ausência de efeito suspensivo ope legis dos recursos,
conforme o art. 995. Diferentemente do CPC/1973, em que a regra geral era o efeito
suspensivo dos recursos, o novo código inova ao afirmar que a interposição do recurso
não impede que a decisão impugnada surta efeitos imediatos. A instituição do efeito
ope judicis como regra geral prestigia a decisão recorrida e permite que os atos
executórios sejam deflagrados desde já, conferindo maior celeridade ao
procedimento. Em resumo, o paradigma se modifica, tornando a ausência de efeito
suspensivo ope legis a regra geral nos recursos do CPC/2015 e conferindo uma nova
dinâmica ao sistema recursal.

O efeito suspensivo ope legis é automático, decorrendo diretamente do texto


normativo, como na apelação, em que a lei estabelece os casos em que a sentença não
terá efeitos. A rigidez da lei determina quais recursos têm ou não o efeito suspensivo,
cabendo ao órgão judicial aplicar a disposição relativa ao recurso interposto.

O efeito suspensivo ope legis não deriva do próprio recurso, mas sim da
recorribilidade, ou seja, da condição de a decisão estar sujeita a um recurso com efeito
suspensivo ope legis. Isso implica que a decisão, desde sua origem, carece de eficácia,
sendo a própria circunstância que a torna ineficaz. A eficácia só se materializa após o
julgamento do recurso ou na ausência de sua interposição.

A movimento para eliminar o efeito suspensivo ope legis da Apelação, a doutrina


interpreta uma sequência de artigos do CPC/2015, como os artigos 1.012, § 1o, V, e
311, II, buscando conferir eficácia imediata à sentença de primeira instância. A lógica é
que, ao proferir uma sentença com base em cognição exauriente e conceder tutela
jurisdicional definitiva, o juiz não deve atribuir efeito suspensivo ope legis ao recurso
de apelação a ela cabível.

Quando o pedido do autor se fundamenta em precedente de casos repetitivos ou em


súmula vinculante, o juiz pode conceder tutela provisória. Confirmada na sentença, a
apelação carecerá de efeito suspensivo ope legis. Assim, quando a base do pedido está
vinculada a esses fundamentos, a sentença ganha eficácia imediata, conforme
interpretação doutrinária.

Em contraste, o efeito suspensivo ope judicis não ocorre automaticamente do texto


normativo, dependendo de análise e concessão judicial. Nesse contexto, o requerente
deve satisfazer pressupostos para que a eficácia da decisão seja paralisada. Por
exemplo, o agravo de instrumento não gera automaticamente a suspensão dos efeitos
da decisão, sendo função do relator, ao avaliar o caso concreto, conceder o efeito
suspensivo, desde que haja pedido da parte recorrente e estejam preenchidos os
pressupostos autorizadores da medida.
O órgão judicial pode suspender a eficácia da decisão recorrida, desde que o
recorrente demonstre a probabilidade de provimento do recurso e o risco de dano
grave, de difícil ou impossível reparação, conforme o parágrafo único do art. 995 do
CPC/2015. Destaca-se, assim, a necessidade de comprovação do fumus (fumaça do
bom direito) e do periculum (perigo da demora). O Art. 995 do CPC/2015 estabelece
que, salvo disposição em contrário, o recurso não ostenta efeito suspensivo ope legis.

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