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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO I - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL

Aluna: Angélica de Almeida Silva Moreira

Questões
1. Recurso administrativo protocolado intempestivamente tem o condão de
suspender a exigibilidade do crédito tributário? Fundamentar sua decisão
observando o que dispõe o art. 35 do Decreto Federal n. 70.235/72: “Art.
35. O recurso, mesmo perempto, será encaminhado ao órgão de segunda
instância, que julgará a perempção.”

R. Sim, tendo em vista que uma das causas da suspensão da exigibilidade


do crédito tributário, elencada no Art. 151 do CTN, é justamente a
interposição de recursos e reclamações administrativas, conforme inciso
III do referido dispositivo.
Ainda que intempestiva, a apresentação do recurso é passível de
manutenção da suspensão da exigibilidade, até que a perempção seja
julgada em segunda instância. Apenas quando há o trânsito em julgado
administrativo, é que a exigibilidade do crédito tributário volta a correr.
Isso é o que preceitua o Ar. 35, do Decreto Federal nº 70.235/72.
Ora, o procedimento administrativo é um conjunto de atos e termos
que, juntos, possuem o objetivo final de aplicar a norma tributária,
de forma válida e eficaz.
Devemos considerar ainda, conforme aduz o Professor Paulo de
Barros Carvalho1, que o procedimento administrativo apresenta-se
como forma de controle de legalidade dos atos administrativos.
Deste modo, sempre que houver dúvidas acerca da legalidade ou
regularidade de algum dos atos administrativos praticados, o sujeito
Passivo deverá suscitar o controle da legalidade, impugnando tal
ato.
Essa é uma das formas de prevalência do princípio da verdade
material, um dos que regem o procedimento administrativo, de modo
a garantir o respeito aos princípios e garantias fundamentais
assegurados ao sujeito passivo da relação tributária.
Assim, tendo em vista que o objetivo central é a busca pela verdade,
de modo a eliminar qualquer ilícito que tenha sido cometido ao logo
do procedimento, a recusa da impugnação em razão da perempção
causaria dano inestimável ao contribuinte.
Ora, tanto é assim, que a própria administração pode anular seus
próprios atos, quando verificados vícios que os tornem ilegais

1
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018,
Capítulo 5 da segunda parte.
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(respeitados o contraditório e a ampla defesa), é o preceitua a


Súmula nº 473, do STF, vejamos:

A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de


vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial.

Cabe, ainda, mencionar a decisão proferida pelo Car no Acórdão n. 9202-


002.626, que dispõe o seguinte:

Publicação: 06/06/2014
NORMAS PROCESSUAIS. PROVA DOCUMENTAL. MOMENTO
APRESENTAÇÃO. APÓS RECURSO VOLUNTÁRIO.
Tanto o princípio da verdade material como o princípio da
preclusão são princípios aplicáveis ao processo administrativo fiscal.
Os princípios, em específico, não estão submetidos, tão-
somente, a um juízo de validade, mas especialmente a uma
ponderação, a um balanceamento; não se declara válido ou não
válido um princípio, não há uma norma de exceção. A solução é
diversa: as circunstâncias concretas motivadoras da aplicação
dos princípios conflitantes devem ser analisadas, observando-se
qual o princípio prevalecerá no caso concreto, uma vez que eles
têm peso diferente. Na escolha do princípio a incidir deverá ser
utilizada a máxima da proporcionalidade.
Não há verdadeira hierarquia entre os princípios, uma vez que
ora poderá prevalecer um ora outro, deve ser feito o teste de
proporcionalidade, para decidir qual regerá o caso concreto. Há,
pois, uma hierarquização em função do caso concreto.
É abusiva a juntada da prova após o trintídio do recurso voluntário,
que se referia à cópia de cheques de emissão do recorrente, buscando
comprovar que os débitos nas contas auditadas tinham favorecido
pessoa jurídica, já que a infração estava associada aos créditos na conta
corrente, os quais não tiveram suas origens comprovadas, e não a
eventuais débitos, o que acarreta a restrição prevista no art. 16, § 4º, do
Decreto n° 70.235/72. (Grifo nosso)

Por todo o exposto, temos que a impugnação do ato administrativo maculado,


ainda que perempta, é medida que obta a Administração públida de executar
a cobrança do crédito em discussão, de modo a suspender sua exigibilidade
até que haja o trânsito em julgado administrativo.

2. Considerando a presunção de legitimidade dos atos administrativos, a quem


compete o ônus da prova nos recursos e impugnações? Até que momento o
contribuinte (recorrente) pode juntar aos autos do processo administrativo
provas documentais? Diante do que dispõem os arts. 9º e 10 do CPC/15,
apresentadas novas provas pelo contribuinte o julgador administrativo deverá
dar oportunidade ao Fisco para se manifestar a respeito antes de afetar o
processo para julgamento? (Vide anexo I, II e III).
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R. O ônus da prova nos recursos e Impugnações administrativas é, via de regra,


do contribuinte, levando em consideração que é ele quem deve trazer o
convencimento de que a autuação foi indevida.
Ao considerarmos que o próprio auto de infração, devidamente instruído e com
as especificações legais acerca de seu preenchimento (como origem da
infração, etc) é a prova do Fisco de que o contribuinte praticou uma ação ou
omissão elencada como infração tributária, não há como falar em inversão do
ônus da prova.
Quanto às provas, legalmente estas deve ser apresentadas quando da
impugnação, conforme disposição do Art. 16, § 4º do Decreto Federal n.
70.235/72, entretanto, a prova apresentada ainda que peremptoriamente, que
contém argumentos relevantes e convincentes, poderá ser utilizada para fins
de convencimento do julgador, se assim for o entendimento deste. Frise-se que
o julgador não é obrigado a aceitar a prova perempta, sendo esta aceitação,
portanto, uma faculdade deste, que deverá balancear os princípios, de modo a
prezar pela legalidade do procedimento.
Importante ressaltar que o Código de Processo Civil é utilizado
subsidiariamente no Direito Tributário, de modo que, havendo legislação que
trate especificamente da matéria, esta será aplicada ao caso concreto.
Tendo em vista que o Decreto Federal n. 70.235/72 é a norma que disciplina o
Processo administrativo fiscal, não há que se falar em aplicação do CPC no
caso em tela e, portanto, não há a obrigatoriedade de se ouvir o Fisco antes do
julgamento da impugnação.

3. Os tribunais administrativos exercem “jurisdição”? Justifique sua resposta,


definindo “jurisdição”. Podem, no ato de julgar, afastar a aplicação de Decreto
sob a alegação de sua ilegalidade para com a Lei. Pode a decisão administrativa
inovar o feito, agravando o lançamento por ocasião do julgamento da defesa do
contribuinte?

R. Sim, pode-se dizer que os tribunais administrativos exercem sim jurisdição,


sendo esta, entretanto, limitada tão somente à esfera administrativa, “para
celebrar a Justiça, muito embora o faça também aplicando o direito, de ofício”1.
Embora exerça jurisdição, um tribunal administrativo não pode julgar acerca da
constitucionalidade ou não de norma legal, matéria que compete exclusivamente
ao judiciário.
De igual modo, não é possível que haja uma inovação no lançamento tributário,
de modo a agravar o crédito lançado em razão do julgamento do recurso.

4. Qual a aplicabilidade do CPC/15 ao processo administrativo tributário? Os


enunciados das súmulas vinculantes devem ser observados pela
Administração Pública? E os demais enunciados das súmulas do STF em
matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional? E os acórdãos
em incidente de resolução de demandas repetitivas (vide art. 928, II, do
CPC/15)?
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Em matéria tributária, o CPC se aplica subsidiaria e supletivamente, devendo


prevalecer a norma mais específica ao tema, de modo que o referido
regramento deverá ser utilizado de modo a complementar a regra específica.
Assim, no processo administrativo tributário, o órgão julgador deverá se pautar
pela plausabilidade e coerência na aplicação subsidiária do CPC.

Nas palavras de Diego Diniz Ribeiro,

“(...) a convocação subsidiária do CPC no âmbito do processo


administrativo tributário deve ser empregada não só nas hipóteses de
típica lacuna legislativa, mas em especial quando servir para
impulsionar os princípios constitucionais do processo, dando maior
efetividade à orientação axiológica que permeia este procedimento”
(RIBEIRO, Diego Diniz. O CPC e seus reflexos no processo administrativo
tributário. In: XIV Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São
Paulo: Noeses.).

Quanto à aplicação de súmulas vinculantes, estas deverão ser observadas no


processo administrativo sob pena de, em casos de confronto entre estas e as
decisões proferidas na via administrativa, o interessado poder valer-se de
Reclamação Constitucional perante o STF, para assegurar seu direito, nos
termos do Art. 103-A, §3º da CF/88 (incluído pela Emenda Constitucional
45/2004).
No que diz respeito aos demais enunciados de súmulas do STF e STJ, bem
como os acórdãos proferidos em incidentes de demandas repetitivas, têm-se
que a administração não está obrigada a observá-los, a menos que já haja
decisão/determinação administrativa superior autorizando ou mesmo
determinando a observância a tais regramentos.
Entretanto, cumpre ressaltar que, caso na decisão administrativa não sejam
observadas decisões judiciais em sede de súmulas dos tribunais superiores,
ou mesmo acórdãos em sede de repetitivo, o sujeito passivo poderá valer-se
da esfera judicial para atrair para si a vinculação a tais decisões, de modo a
ter validado seu direito já reconhecidamente manifesto pelos órgãos judiciais.

5. A lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro é aplicada ao


procedimento/processo administrativo fiscal? Quais as implicações da
aplicação da LINDB no PAF? Analisar especificamente os artigos 242 e 283
da referida lei (vide ACÓRDÃOS DO CARF Nª 9202-006.996, 1301-003.284,
9101-003.839). A desconsideração de negócios jurídicos para requalificação

2
. Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas.
3
. Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de
dolo ou erro grosseiro.
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dos efeitos tributários por consideração de inexistência de propósito negocial


pode ensejar a aplicação do artigo 28 da LINDB?

R. Do mesmo modo que o CPC, a LINDB poderá ser utilizada de forma


subsidiária no Processo Administrativo Tributário, tendo em vista tratar-se de
norma geral.
Quanto à aplicabilidade do Art. 24 da referida norma no âmbito do
procedimento administrativo, esta traz uma série de discussões por parte do
Fisco e dos contribuintes, de modo que a resposta acerca do tema não pode
ser considerada simples.
Enquanto o CARF já firmou entendimento consolidado acerca da não
aplicabilidade do Art. 24 da LINDB no processo administrativo fiscal (Súmula
Carf 169, de 06.08.2021), há a indagação de que a referida norma serve de
base para garantia da segurança jurídica frente ao contribuinte.
Ora, considerando que o CTN, em seus Arts. 144 e 146, disciplina acerca do
princípio da irretroatividade da norma tributária, não nos parece estranho
entender que o Art. 24 da LINDB prevê, de igual modo, a irretroatividade de
interpretações e especificações contidas nos atos públicos, podendo ser
plenamente aplicado ao procedimento administrativo fiscal, com o objetivo de
impedir justamente a insegurança jurídica frente ao contribuinte.

O Art. 28 da LINDB garante que o agente público somente responderá


pessoalmente por suas decisões em casos de dolo ou erro grosseiro, ou seja,
a simples desconsideração de negócios jurídicos para a requalificação dos
efeitos tributários, em razão do agente fiscal não ter vislumbrado o propósito
negocial não pode ocasionar a responsabilidade do agente público, uma vez
que, ao que parece, o referido caso traz tão somente uma questão de
entendimento do próprio agente, questão, portanto, deveras subjetiva, de
modo que, não restando comprovação de dolo ou erro grosseiro, não há que
se falar em responsabilidade daquele.

6. A existência de processo judicial e administrativo concomitantes implica


renúncia às instâncias administrativas? (Vide anexos IV, V e VI).

R. Sim, conforme vasto entendimento consolidado tanto pelos tribunais


judiciais superiores, como pelos tribunais administrativos, a tramitação
simultânea de processo judicial e processo administrativo, enseja na renúncia
às instâncias administrativas, ainda que a busca pelo judiciário tenha se dado
em momento posterior à impugnação administrativa.
É o que dispõe a Súmula 1, do CARF:

“Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo


sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual,
antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do
processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo
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órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante


do processo judicial.”

Deste modo, não é possível a manutenção, simultaneamente, de recurso


administrativo e processo judicial, sob pena de renúncia daquele.

7. A Lei n° 13.988/2020 incluiu o art. 19-E na Lei nº 10.522/2002, cujo enunciado


prescreve que “em caso de empate no julgamento do processo administrativo
de determinação e exigência do crédito tributário, não se aplica o voto de
qualidade a que se refere o § 9º do art. 25 do Decreto nº 70.235, de 6 de
março de 1972, resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte.”. Tomando
como base o dispositivo legal ora transcrito, responda:

i) A existência do chamado “voto de qualidade”, tal qual originalmente


previsto no art. 25, § 9º, do Decreto nº 70.235/72, afrontava preceitos legais
de hierarquia superior e/ou constitucionais? E a extinção desse expediente,
imposto pela Lei nº 13.988/2020, pressupõe alguma violação a princípios
constitucionais e/ou legais? Responder as questões cotejando os cânones
constitucionais da igualdade, do devido processo legal, da presunção de
inocência e da supremacia do interesse público, bem como o disposto no
art. 112 do CTN.

R. Sim. Se temos na posição de “voto de qualidade” representante da


Fazenda Nacional, isto é, servidor de carreira, absolutamente vinculado
hierarquicamente à administração pública, não há que se falar em
imparcialidade.
A extinção do voto de qualidade não implica em violação constitucional,
pelo contrário, garante o disposto no Art. 112 do CTN, garantindo a
interpretação mais favorável em prol do contribuinte.
Ademais, tal decisão enaltece princípios como os da Moralidade,
segurança jurídica, legalidade, presunção de inocência, dentre outros.

ii) A expressão “processo administrativo de determinação de crédito” abarca


os processos que tenham sido originados da não homologação de
declarações de compensação e do indeferimento de pedidos de
ressarcimento/restituição de créditos? E os processos administrativos
originados e autuações aduaneiras (pena de perdimento, por exemplo)?

R. Sim. Isto está disciplinado através da Portaria ME nº 260/2020, em seu


Art. 2º, §§ 1º e 2º, vejamos:
Art. 2º O resultado do julgamento, constatado empate na votação, após
colhidos os votos nos termos do art. 58 da Portaria MF nº 343, de 9 de
junho de 2015, será proclamado com o voto de qualidade do presidente
de turma, na forma do § 9º do art. 25 do Decreto nº 70.235, de 6 de
março de 1972.
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§ 1º O resultado do julgamento será proclamado em favor do


contribuinte, na forma do art. 19-E da Lei nº 10.522, de 19 de julho
de 2002, quando ocorrer empate no julgamento do processo
administrativo de determinação e exigência do crédito tributário,
assim compreendido aquele em que há exigência de crédito
tributário por meio de auto de infração ou de notificação de
lançamento.
§ 2º O disposto no § 1º se aplica, também, no julgamento do auto
de infração ou da notificação de lançamento formalizados nos
termos do § 4º do art. 9º do Decreto nº 70.235, de 1972. (grifo nosso)

Cumpre elucidar também o que dispõe o § 4º do art. 9º do Decreto nº 70.235, de 1972, vejamos:

Art. 9o A exigência do crédito tributário e a aplicação de penalidade


isolada serão formalizados em autos de infração ou notificações de
lançamento, distintos para cada tributo ou penalidade, os quais
deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e
demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do ilícito.
§ 4o O disposto no caput deste artigo aplica-se também nas
hipóteses em que, constatada infração à legislação tributária, dela
não resulte exigência de crédito tributário. (grifo nosso)

8. A Administração lavra contra determinado contribuinte auto de infração


imputando duas condutas que resultaram em ausência de recolhimento de
imposto. Em face do auto, o contribuinte se insurge contra apenas uma das
imputações, mantendo-se inerte em relação à remanescente. Pode o Fisco
segregar o auto de infração para cobrança da parte não expressamente
impugnada?

R. Sim. O STJ já se manifestou acerca da possibilidade segregação do auto


de infração para cobrança de parte não impugnada, vejamos:

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. PROCEDIMENTO


ADMINISTRATIVO FISCAL. JULGAMENTO DO CARF.
IMPUGNAÇÃO PARCIAL DA DECISÃO. POSSIBILIDADE.
COBRANÇA DE PARTE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO CUJA
DECISÃO SE TORNOU DEFINITIVA ADMINISTRATIVAMENTE.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO, ART. 535, II, DO CPC. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 1. Não se configura a
ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal
a quo julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia, tal como
lhe foi apresentada. 2. A indicada afronta dos arts. 37, §§ 2º e 3º , e 38
Decreto-Lei 70.235/1972 não pode ser analisada, pois o Tribunal de
origem não emitiu juízo de valor sobre esses dispositivos legais. O
Superior Tribunal de Justiça entende ser inviável o conhecimento do
Recurso Especial quando os artigos tidos por violados não foram
apreciados pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos
de Declaração, haja vista a ausência do requisito do
prequestionamento. Incide, na espécie, a Súmula 211/STJ. 3. O
Tribunal regional consignou: "Cinge-se a controvérsia sobre a questão
da possibilidade ou não de cisão da decisão administrativa, em caso
de recurso parcial, para se considerar ocorrida a definitividade da parte
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não impugnada. A cisão levada a efeito diz respeito a parcela dos juros
moratórios, cuja incidência foi mantida em parte no julgamento do
CARF, sendo que a parte cuja cobrança foi afastada pelo CARF (juros
calculados antes do trânsito em julgado da ação rescisória que deu
fundamento à autuação) encontra-se pendente de recurso
administrativo interposto pela Fazenda Nacional junto à Câmara
Superior de Recursos Fiscais - CSRF. Dispõe o art. 42 do Decreto n°
70.235/73". 4. O art. 42, parágrafo único, do Decreto 70.235/1972, que
reza sobre o Procedimento Administrativo Fiscal, é claro ao dispor:
"Serão também definitivas as decisões de primeira instância na parte
que não for objeto de recurso voluntário ou não estiver sujeita a recurso
de ofício". 5. O TRF, no julgamento dos Embargos de Declaração,
esclareceu que a empresa saiu perdedora, no procedimento
administrativo, quanto aos juros de um determinado período. Para
reverter a situação, interpôs recurso, contudo a impugnação teve o seu
conhecimento barrado pelo CARF, o que a tornou definitiva. 6. O
acórdão recorrido destacou que a decisão administrativa do CARF
poderá ser cindida, conforme expresso no comando legal, porque não
existe situação de prejudicialidade entre os seus dispositivos. 7. Sendo
assim, a parte da decisão que transitou em julgado
administrativamente não poderá suspender a exigibilidade do
crédito tributário, podendo, dessa forma, ser objeto de imediata
inscrição e cobrança, pela singela razão de que tais valores não
estão mais sujeitos à modificação, ao menos na esfera
administrativa. 8. Recurso Especial conhecido parcialmente e, nessa
parte, não provido. (grifo nosso)

9. Analise os acórdãos lavrados no RE nº 601.314 e na ADIN 2859 e responda,


em relação à quebra de sigilo bancário:

a) Há diferença entre envio de Declaração de Movimentação Financeira


(DIMOF), atual e-FINANCEIRA, pelos bancos à RFB, e a obtenção de
extratos bancários pela RFB junto aos bancos, sem autorização judicial.
(Vide anexos VII e VIII).

R. Sim. A E-financeira é uma declaração cuja constitucionalidade já foi


declarada, tendo em vista que a mesma se baseia em elementos objetivos
para sua validade, dentre eles, a prevalência do sigilo bancário, de modo
que este não é violado, mas tão somente transferido para o ente
fiscalizador, que deverá prezar pelo sigilo das informações a ele
prestadas, diferentemente da simples obtenção de extratos bancários
diretamente junto aos bancos (não via sistema Sped).

b) A declaração efetuada para fins de aproveitamento do Programa que


recebeu o nome de “Regime Especial de Regularização Cambial e
Tributária” – RERCT, criado pela Lei n. 13.254/16 está protegida pelo sigilo
fiscal?

R. Sim. É o que preconiza o §1º do Art. 7º da Lei 13.254/2016:


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7º A adesão ao RERCT poderá ser feita no prazo de 210


(duzentos e dez) dias, contado a partir da data de entrada em vigor do
ato da RFB de que trata o art. 10, com declaração da situação
patrimonial em 31 de dezembro de 2014 e o consequente pagamento
do tributo e da multa.
§ 1º A divulgação ou a publicidade das informações
presentes no RERCT implicarão efeito equivalente à quebra do
sigilo fiscal, sujeitando o responsável às penas previstas na Lei
Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001 , e no art. 325 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) , e,
no caso de funcionário público, à pena de demissão.

Assim, o sigilo fiscal deverá ser preservado, sob pena de


responsabilização cível, criminal e administrativa do sujeito responsável
pela quebra de sigilo.

Anexo I
CARF - Acórdão n. 9202-002.626
Publicação: 06/06/2014
NORMAS PROCESSUAIS. PROVA DOCUMENTAL. MOMENTO
APRESENTAÇÃO. APÓS RECURSO VOLUNTÁRIO.
Tanto o princípio da verdade material como o princípio da preclusão são princípios
aplicáveis ao processo administrativo fiscal.
Os princípios, em específico, não estão submetidos, tão-somente, a um juízo
de validade, mas especialmente a uma ponderação, a um balanceamento; não
se declara válido ou não válido um princípio, não há uma norma de exceção. A
solução é diversa: as circunstâncias concretas motivadoras da aplicação dos
princípios conflitantes devem ser analisadas, observando-se qual o princípio
prevalecerá no caso concreto, uma vez que eles têm peso diferente. Na escolha
do princípio a incidir deverá ser utilizada a máxima da proporcionalidade.
Não há verdadeira hierarquia entre os princípios, uma vez que ora poderá
prevalecer um ora outro, deve ser feito o teste de proporcionalidade, para decidir
qual regerá o caso concreto. Há, pois, uma hierarquização em função do caso
concreto.
É abusiva a juntada da prova após o trintídio do recurso voluntário, que se
referia à cópia de cheques de emissão do recorrente, buscando comprovar que os
débitos nas contas auditadas tinham favorecido pessoa jurídica, já que a infração
estava associada aos créditos na conta corrente, os quais não tiveram suas origens
comprovadas, e não a eventuais débitos, o que acarreta a restrição prevista no art.
16, § 4º, do Decreto n° 70.235/72.
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Anexo II
CARF - Acórdão n. 1201-000.820

Julgamento: 11/06/2013

PROVAS APRESENTADAS APÓS IMPUGNAÇÃO E ANTES DA DECISÃO


DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. PRECLUSÃO NÃO É ABSOLUTA E DEVE SER
INTERPRETADA SISTEMATICAMENTE COM AS DEMAIS NORMAS E
PRINCÍPIOS NORTEADORES PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL.
PROVAS ESSENCIAIS À GARANTIA DE PRINCÍPIOS. AUSÊNCIA DE
ANÁLISE. NULIDADE. Em respeito ao princípio da verdade material, o julgador
deverá valorar as provas a ele apresentadas livremente, sempre buscando a
verdade material dos fatos. Sendo apresentadas provas após a impugnação e
antes da decisão de primeira instância, a preclusão deverá ser interpretada
sistematicamente com as demais normas e princípios norteadores do processo
administrativo fiscal. Se as provas apresentadas após a impugnação, mas antes
da decisão em primeira instância, forem essenciais à garantia dos princípios
norteadores do PAF, esta deverá ser analisada pele órgão julgador de primeiro
grau. A análise das provas por órgão de segundo grau, sem a apreciação da
câmara “a quo”, resultaria em decisões proferidas em razão de uma mesma
situação fática, partindo de fundamentos probatórios diversos. Tal situação
configura evidente afronta ao princípio do duplo grau de jurisdição. g.a

Anexo III
CARF - Acórdão n. 1102-000.940

Julgamento: 08/10/2013

Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2004


NULIDADE. LANÇAMENTO. INEXISTÊNCIA. Não é nulo o procedimento fiscal
que glosou despesas com juros após lavrar diversas intimações com pedidos de
esclarecimentos sobre a matéria, aguardando prazo razoável para apresentação
de documentos antes da lavratura do auto de infração. PRODUÇÃO DE
PROVAS NO VOLUNTÁRIO. POSSIBILIDADE PARA SE CONTRAPOR ÀS
RAZÕES DO JULGAMENTO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. PRINCÍPIO DA
VERDADE MATERIAL. Como regra geral, a prova documental deve ser
apresentada na impugnação, precluindo do direito de fazê-lo em outro momento
processual. Contudo, tendo o contribuinte trazido os documentos que
julgava aptos a comprovar seu direito, ao não ser bem sucedido no
julgamento de 1a instância, razoável se admitir a juntada das provas no
voluntário, pois é exceção à regra geral de preclusão a produção de novos
documentos destinados a contrapor fatos ou razões posteriormente
trazidas aos autos. Ademais, seria por demais gravoso, e contrário ao princípio
da verdade material, a manutenção da glosa de deduções sem a análise das
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provas constantes nos autos. E ainda, sendo esta a última instância


administrativa, tal postura exigiria do contribuinte a busca da tutela do seu direito
no Poder Judiciário, o que exigiria do Fisco a análise das provas apresentadas
em juízo, e ainda condenaria a União pelas custas do processo. DESPESAS
COM JUROS. COMPROVAÇÃO PARCIAL. Restabelecem-se as deduções
relativas a despesas com juros devidamente comprovadas. DESPESAS
FINANCEIRAS. JUROS PAGOS EM EMPRÉSTIMOS JUNTO A TERCEIROS
EM CONCOMITÂNCIA COM EMPRÉSTIMOS FEITO A SÓCIOS SEM ÔNUS.
DESNECESSIDADE. Somente são dedutíveis as despesas necessárias à
atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, nos termos
do art. 299 do RIR/99. Não é possível se admitir como necessária a despesa
relativa a pagamento de juros relativos a empréstimos tomados com terceiros,
quando ao mesmo tempo se realiza empréstimo a sócio sem a cobrança de
juros, ou ainda com juros abaixo da taxa de captação. Assim, correta a glosa das
despesas de juros passivos relativos a contratos de mútuo firmados com
terceiros em valor equivalente aos juros ativos que seriam devidos sobre o valor
emprestado ao sócio calculados pela taxa média dos empréstimos tomados pela
empresa. JUROS DE MORA SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. A
obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por
objeto o pagamento tanto do tributo quanto da penalidade pecuniária decorrente
do seu não pagamento. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem
a mesma natureza desta, e, portanto, envolve tanto o tributo quanto a penalidade
pecuniária. Como consequência, é legítima a incidência de juros de mora, à taxa
Selic, sobre todo o crédito tributário, o que inclui o valor da multa de ofício
proporcional, não paga no vencimento. LANÇAMENTO REFLEXO DE CSLL.
MESMA MATÉRIA FÁTICA Aplica-se ao lançamento da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido - CSLL o decidido em relação ao lançamento do tributo
principal, por decorrer da mesma matéria fática. Preliminar Rejeitadas. Recurso
Voluntário Provido em Parte. g.a.

Anexo IV
Súmula n. 1 do CARF
“Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito
passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois
do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo
cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de
matéria distinta da constante do processo judicial.”

Anexo V
AI n. 358.785
DJ 01/10/2010

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 227, DL


05/75, RIO DE JANEIRO. ART. 38, P.U., LEI 6.830/80. MANDADO DE
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SEGURANÇA E PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO. TRAMITAÇÃO


SIMULTÂNEA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. ENUNCIADOS 282 E
356 DA SÚMULA/STF. OFENSA À ECONOMIA PROCESSUAL. INUTILIDADE
DE PROVIMENTO ADMINISTRATIVO ANTE COMANDO JURISDICIONAL EM
SENTIDO CONTRÁRIO. PRECEDÊNCIA CRONOLÓGICA DO PROCESSO
JUDICIAL. IRRELEVÂNCIA.
A questão constitucional invocada no recurso não foi devidamente
prequestionada, razão pela qual incidem os enunciados 282 e 356 da
Súmula/STF.
Ainda que superado tal óbice, não mereceria prosperar o presente recurso,
uma vez que, ao apreciar o RE 233.582 (rel. p/ o acórdão min. Joaquim Barbosa),
esta Corte entendeu que a tramitação simultânea de processos administrativo e
judicial é antieconômica e ignora a prevalência dos atos jurisdicionais.
Note-se, por fim, que no referido leading case discutia-se situação
semelhante à presente. Irrelevante, portanto, o argumento de que a instauração
do feito judicial precedeu à do processo administrativo.
Agravo interno a que se nega provimento.

Anexo VI
Parecer Normativo Cosit n. 7/2014
Data 27/08/2014
CONCOMITÂNCIA ENTRE PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL E
PROCESSO JUDICIAL COM O MESMO OBJETO. PREVALÊNCIA DO
PROCESSO JUDICIAL. RENÚNCIA ÀS INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVAS.
DESISTÊNCIA DO RECURSO ACASO INTERPOSTO. A propositura pelo
contribuinte de ação judicial de qualquer espécie contra a Fazenda Pública com o
mesmo objeto do processo administrativo fiscal implica renúncia às instâncias
administrativas, ou desistência de eventual recurso de qualquer espécie
interposto. Quando contenha objeto mais abrangente do que o judicial, o processo
administrativo fiscal deve ter seguimento em relação à parte que não esteja sendo
discutida judicialmente. A decisão judicial transitada em julgado, ainda que
posterior ao término do contencioso administrativo, prevalece sobre a decisão
administrativa, mesmo quando aquela tenha sido desfavorável ao contribuinte e
esta lhe tenha sido favorável. A renúncia tácita às instâncias administrativas não
impede que a Fazenda Pública dê prosseguimento normal a seus procedimentos,
devendo proferir decisão formal, declaratória da definitividade da exigência
discutida ou da decisão recorrida. É irrelevante que o processo judicial tenha sido
extinto sem resolução de mérito, na forma do art. 267 do CPC, pois a renúncia às
instâncias administrativas, em decorrência da opção pela via judicial, é
insuscetível de retratação. A definitividade da renúncia às instâncias
administrativas independe de o recurso administrativo ter sido interposto antes ou
após o ajuizamento da ação.
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Anexo VII
RE 601.314/SP
DJ 16/09/2016

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO


TRIBUTÁRIO. DIREITO AO SIGILO BANCÁRIO. DEVER DE PAGAR
IMPOSTOS. REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÃO DA RECEITA FEDERAL ÀS
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. ART. 6º DA LEI COMPLEMENTAR 105/01.
MECANISMOS FISCALIZATÓRIOS. APURAÇÃO DE CRÉDITOS RELATIVOS A
TRIBUTOS DISTINTOS DA CPMF. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA
NORMA TRIBUTÁRIA. LEI 10.174/01. 1. O litígio constitucional posto se traduz
em um confronto entre o direito ao sigilo bancário e o dever de pagar tributos,
ambos referidos a um mesmo cidadão e de caráter constituinte no que se refere à
comunidade política, à luz da finalidade precípua da tributação de realizar a
igualdade em seu duplo compromisso, a autonomia individual e o autogoverno
coletivo. 2. Do ponto de vista da autonomia individual, o sigilo bancário é uma das
expressões do direito de personalidade que se traduz em ter suas atividades e
informações bancárias livres de ingerências ou ofensas, qualificadas como
arbitrárias ou ilegais, de quem quer que seja, inclusive do Estado ou da própria
instituição financeira. 3. Entende-se que a igualdade é satisfeita no plano do
autogoverno coletivo por meio do pagamento de tributos, na medida da
capacidade contributiva do contribuinte, por sua vez vinculado a um Estado
soberano comprometido com a satisfação das necessidades coletivas de seu
Povo. 4. Verifica-se que o Poder Legislativo não desbordou dos parâmetros
constitucionais, ao exercer sua relativa liberdade de conformação da ordem
jurídica, na medida em que estabeleceu requisitos objetivos para a requisição de
informação pela Administração Tributária às instituições financeiras, assim como
manteve o sigilo dos dados a respeito das transações financeiras do contribuinte,
observando-se um translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal. 5.
A alteração na ordem jurídica promovida pela Lei 10.174/01 não atrai a aplicação
do princípio da irretroatividade das leis tributárias, uma vez que aquela se encerra
na atribuição de competência administrativa à Secretaria da Receita Federal, o
que evidencia o caráter instrumental da norma em questão. Aplica-se, portanto, o
artigo 144, §1º, do Código Tributário Nacional. 6. Fixação de tese em relação ao
item “a” do Tema 225 da sistemática da repercussão geral: “O art. 6º da Lei
Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a
igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade
contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de
sigilo da esfera bancária para a fiscal”. 7. Fixação de tese em relação ao item “b”
do Tema 225 da sistemática da repercussão geral: “A Lei 10.174/01 não atrai a
aplicação do princípio da irretroatividade das leis tributárias, tendo em vista o
caráter instrumental da norma, nos termos do artigo 144, §1º, do CTN”. 8. Recurso
extraordinário a que se nega provimento.
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Anexo VIII
ADI 2859
DJ 21/10/2016

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Julgamento conjunto das ADI


nº 2.390, 2.386, 2.397 e 2.859. Normas federais relativas ao sigilo das operações
de instituições financeiras. Decreto nº 4.545/2002. Exaurimento da eficácia.
Perda parcial do objeto da ação direta nº 2.859. Expressão “do inquérito ou”,
constante no § 4º do art. 1º, da Lei Complementar nº 105/2001. Acesso ao sigilo
bancário nos autos do inquérito policial. Possibilidade. Precedentes. Art. 5º e 6º
da Lei Complementar nº 105/2001 e seus decretos regulamentadores. Ausência
de quebra de sigilo e de ofensa a direito fundamental. Confluência entre os
deveres do contribuinte (o dever fundamental de pagar tributos) e os deveres do
Fisco (o dever de bem tributar e fiscalizar). Compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil em matéria de compartilhamento de informações
bancárias. Art. 1º da Lei Complementar nº 104/2001. Ausência de quebra de
sigilo. Art. 3º, § 3º, da LC 105/2001. Informações necessárias à defesa judicial
da atuação do Fisco. Constitucionalidade dos preceitos impugnados. ADI nº
2.859. Ação que se conhece em parte e, na parte conhecida, é julgada
improcedente. ADI nº 2.390, 2.386, 2.397. Ações conhecidas e julgadas
improcedentes. 1. Julgamento conjunto das ADI nº 2.390, 2.386, 2.397 e 2.859,
que têm como núcleo comum de impugnação normas relativas ao fornecimento,
pelas instituições financeiras, de informações bancárias de contribuintes à
administração tributária. 2. Encontra-se exaurida a eficácia jurídico-normativa do
Decreto nº 4.545/2002, visto que a Lei n º 9.311, de 24 de outubro de 1996, de
que trata este decreto e que instituiu a CPMF, não está mais em vigência desde
janeiro de 2008, conforme se depreende do art. 90, § 1º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias -ADCT. Por essa razão, houve parcial perda de
objeto da ADI nº 2.859/DF, restando o pedido desta ação parcialmente
prejudicado. Precedentes. 3. A expressão “do inquérito ou”, constante do § 4º do
art. 1º da Lei Complementar nº 105/2001, refere-se à investigação criminal
levada a efeito no inquérito policial, em cujo âmbito esta Suprema Corte admite
o acesso ao sigilo bancário do investigado, quando presentes indícios de prática
criminosa. Precedentes: AC 3.872/DF-AgR, Relator o Ministro Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, DJe de 13/11/15; HC 125.585/PE-AgR, Relatora a Ministra
Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 19/12/14; Inq 897-AgR, Relator o
Ministro Francisco Rezek, Tribunal Pleno, DJ de 24/3/95. 4. Os artigos 5º e 6º da
Lei Complementar nº 105/2001 e seus decretos regulamentares (Decretos nº
3.724, de 10 de janeiro de 2001, e nº 4.489, de 28 de novembro de 2009)
consagram, de modo expresso, a permanência do sigilo das informações
bancárias obtidas com espeque em seus comandos, não havendo neles
autorização para a exposição ou circulação daqueles dados. Trata-se de uma
transferência de dados sigilosos de um determinado portador, que tem o dever
de sigilo, para outro, que mantém a obrigação de sigilo, permanecendo
resguardadas a intimidade e a vida privada do correntista, exatamente como
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determina o art. 145, § 1º, da Constituição Federal. 5. A ordem constitucional


instaurada em 1988 estabeleceu, dentre os objetivos da República Federativa
do Brasil, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação
da pobreza e a marginalização e a redução das desigualdades sociais e
regionais. Para tanto, a Carta foi generosa na previsão de direitos individuais,
sociais, econômicos e culturais para o cidadão. Ocorre que, correlatos a esses
direitos, existem também deveres, cujo atendimento é, também, condição sine
qua non para a realização do projeto de sociedade esculpido na Carta Federal.
Dentre esses deveres, consta o dever fundamental de pagar tributos, visto que
são eles que, majoritariamente, financiam as ações estatais voltadas à
concretização dos direitos do cidadão. Nesse quadro, é preciso que se adotem
mecanismos efetivos de combate à sonegação fiscal, sendo o instrumento
fiscalizatório instituído nos arts. 5º e 6º da Lei Complementar nº 105/ 2001 de
extrema significância nessa tarefa. 6. O Brasil se comprometeu, perante o G20
e o Fórum Global sobre Transparência e Intercâmbio de Informações para Fins
Tributários (Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax
Purposes), a cumprir os padrões internacionais de transparência e de troca de
informações bancárias, estabelecidos com o fito de evitar o descumprimento de
normas tributárias, assim como combater práticas criminosas. Não deve o
Estado brasileiro prescindir do acesso automático aos dados bancários dos
contribuintes por sua administração tributária, sob pena de descumprimento de
seus compromissos internacionais. 7. O art. 1º da Lei Complementar 104/2001,
no ponto em que insere o § 1º, inciso II, e o § 2º ao art. 198 do CTN, não
determina quebra de sigilo, mas transferência de informações sigilosas no
âmbito da Administração Pública. Outrossim, a previsão vai ao encontro de
outros comandos legais já amplamente consolidados em nosso ordenamento
jurídico que permitem o acesso da Administração Pública à relação de bens,
renda e patrimônio de determinados indivíduos. 8. À Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, órgão da Advocacia-Geral da União, caberá a defesa da
atuação do Fisco em âmbito judicial, sendo, para tanto, necessário o
conhecimento dos dados e informações embasadores do ato por ela defendido.
Resulta, portanto, legítima a previsão constante do art. 3º, § 3º, da LC 105/2001.
9. Ação direta de inconstitucionalidade nº 2.859/DF conhecida parcialmente e,
na parte conhecida, julgada improcedente. Ações diretas de
inconstitucionalidade nº 2390, 2397, e 2386 conhecidas e julgadas
improcedentes. Ressalva em relação aos Estados e Municípios, que somente
poderão obter as informações de que trata o art. 6º da Lei Complementar nº
105/2001 quando a matéria estiver devidamente regulamentada, de maneira
análoga ao Decreto federal nº 3.724/2001, de modo a resguardar as garantias
processuais do contribuinte, na forma preconizada pela Lei nº 9.784/99, e o sigilo
dos seus dados bancários.

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