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1. Introdução.
5. Protesto com meio alternativo e discricionariedade: ofensa ao CTN. Caso da Lei Mineira.
1. Introdução.
Agradecimentos. Tema que ganha relevante com a nova previsão da Lei 12.767/12,
que expressamente previu expressamente o protesto da CDA, somado a pronunciamentos do
CNJ recomendando a prática, discurso acolhido pelas Fazendas Públicas ao fundamento de que
não mais será executado e protestado, mas o protesto será um meio alternativo e excludente
de cobrança, principalmente para créditos tributários de pequeno valor, de forma a tornar
mais econômica a recuperação da dívida ativa e desafogar o Judiciário dessas execuções.
Como o próprio tema já induz, temos que a jurisprudência do STF já identificou casos
em que a Fazenda Pública adota meios coercitivo de cobrança de tributos, chamados sanções
políticas. Elas se caracterizam quando a Fazenda Pública restringe direitos individuais do
contribuinte, restrição que só é retirada quando do pagamento do tributo, sem o uso dos
meios que propiciem ampla defesa ao contribuinte, a exemplo dos já conhecidos casos de
fechamento de estabelecimento, apreensão de mercadorias, restrição para emissão de notas
fiscais, registros em cadastros públicos, etc.
Cabe-nos então indagar se o protesto da CDA se enquadra como uma sanção política.
Contudo, essa prática foi inserida na Lei 9.492 desde o ano passado, pela Lei
12.767/12. E o Fisco tenta legitimar a previsão legal, ao fundamento de que trata-se de um
meio alternativo de cobrança que tem por objetivo desafogar o Judiciário de inúmeras
execuções fiscais, principalmente de baixo valor, ainda mais se considerarmos que a execução
fiscal não se mostra como um meio efetivo de recuperar os créditos inscritos em dívida ativa,
chegando até mesmo a se falar da “falência da execução fiscal”.
Pois bem, é fato que adotar o protesto de CDA como meio alternativo à execução fiscal
esbarra nesses óbices: primeiro, retira do Poder Judiciário a tarefa de controle dos atos do
Poder Público, tendo em vista que alguns vícios da CDA e causas extintivas do crédito
tributário podem ser reconhecidos de ofício pelo Poder Judiciário; segundo, retira do
contribuinte um meio de defesa legalmente previsto, que são os embargos à execução fiscal,
oponíveis a qualquer execução , independentemente do valor. Se a defesa deve ser ampla, nos
termos da Constituição, não se pode tolher do contribuinte a oportunidade de apresentar uma
defesa legalmente prevista.
É o que se verifica da interação normativa entre a LEF e o CPC que é feita pelo STJ
ainda que a primeira seja uma norma específica para o direito público e a segunda uma norma
geral, que em regra rege matérias pertinente ao direito privado, conforme leciona James
Marins. Tal conclusão é possível ao se ver que todas muitas ações judiciais que tratam de
matérias pertinentes ao Poder Público são objeto de leis específicas: não só a LEF, mas a lei do
MS, da ACP, da ação popular, do habes data, medida cautelar fiscal, e etc. Já os procedimentos
especiais do CPC tratam de questões de direito privado, pertinentes ao direito de família, de
propriedade, etc. Em suma, o CPC foi pensado por uma cabeça civilista.
Logo, quem merece proteção judicial não é a Fazenda Pública, mas sim o contribuinte.
Ele sofre toda aquela submissão, e a igualdade só é reestabelecida se, no plano processual,
aquele desequilíbrio for compensado, mas não é isso que temos visto.
Nesse cenário, o protesto de CDA entra como mais um fato de desequilíbrio, pois
constitui meio de cobrança alternativo, que não é feito no Judiciário, suprimindo o controle do
Judiciário e o direito de defesa do contribuinte, que se vê compelido a pagar a dívida ou a
atacar o crédito tributário com ações próprias, sem a oportunidade de se defender
judicialmente pela via legalmente prevista dos embargos, isso se a CDA passar no controle
judicial prévio, que pode ser feito de ofício.
E, tal desequilíbrio, mais uma vez se dá com recurso ao instituto de direito privado,
que é o protesto. Isso porque o protesto outorga ao credor privado uma série de vantagens, a
exemplo da prova formal da inadimplência (que lhe facilita a obtenção de medidas judiciais de
restrição de patrimônio), lhe possibilita pedir a falência do devedor e lhe garante em alguns
casos a pretensão executória contra os coobrigados. E isso tudo porque, nos títulos oriundos
do direito privado, o devedor ou emitiu o titulo, ou com ele expressamente consentiu.
Contudo, no Direito Tributário, tais vantagens não se verificam para a Fazenda Pública,
pois tudo isso decorre diretamente da lei. Mas ao contrário, impõe ao contribuinte todos os
ônus e restrições que vimos rapidamente.
- AgRg no REsp 1277348/RS, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado
em 05/06/2012, DJe 13/06/2012;
- AgRg no Ag 1316190/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 17/05/2011, DJe 25/05/2011;
- AgRg no REsp 1120673/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
16/12/2010, DJe 21/02/2011;
Apesar dessa jurisprudência, o STJ ainda entendeu que a mesma era insuficiente para
ensejar um julgamento em sede de recursos repetitivos no REsp 1.126.515/PR, nos seguintes
termos:
5. Protesto com meio alternativo e discricionariedade: ofensa ao CTN. Caso da Lei Mineira.
Por fim, apenas uma palavra sobre a lei mineira 19.971/2011, que sofre de todos esses
problemas, mas traz uma outra questão. É que a lei mineira só autoriza o protesto de créditos
tributários de baixo valor, cuja abstenção de execução fica autorizada. Logo, tenta se desviar
do fundamento de que, se a execução pode não ser ajuizada, o único meio seria o do protesto.
Ocorre que isso se faz às custas de uma ilegalidade. É que a Lei institui uma forma de cobrança
discricionária: fica o procurador autorizado a não executar, se ele exercer a autorização,
poderá encaminhar para protesto. Portanto, diante de uma hipótese (crédito tributário
inferior a 17.500 UFEMG), o Procurador vai escolher entre duas possibilidades. O que é isso
senão a discricionariedade? Ora, o CTN diz que a cobrança do tributo é atividade plenamente
vinculada. Uma indagação poderia ser levantada: mas a vinculação não é apenas para o
lançamento? Acredito que a resposta é negativa, uma vez que o CTN distingue as fases de
constituição (art. 173) e cobrança (art. 174), sendo esta última a execução. E no art. 3º, ao falar
da atividade vinculada, usa o termo cobrança, e não constituição, o que significa que não se
pode dar meios de escolha de como cobrar o crédito tributário, tendo em vista a necessidade
de vinculação plena dessa atividade à lei.