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Processo Administrativo

Fiscal.
Profª. Msc Anna Dolores Sá Malta
Disciplina do Processo Administrativo Fiscal

 Inicialmente, devemos salientar que a aplicação da lei ao caso concreto pelas autoridades
administrativas nem sempre são tarefas simples, o que culmina na invocação dos princípios gerais do
direito, que representam uma força unificadora do sistema tributário nacional.
 O processo administrativo tributário da União é disciplinado pelo Decreto n°. 70.235, de 03 de
março de 1972. Essa norma foi recepcionada como lei ordinária pela Constituição Federal de 1988.
Está plenamente em vigor. Após o advento da Lei n°. 11.457, de 16 de março de 2007, tal diploma
legal passou a disciplinar também as atividades relativas à tributação, fiscalização, arrecadação,
cobrança e recolhimento das contribuições previdenciárias.
 O Processo Administrativo Fiscal (PAF) regula os atos da administração e do contribuinte relativos à
legislação tributária. Em resumo, quando o contribuinte ou pessoa jurídica não cumprem
adequadamente uma obrigação acessória ou obrigatória do governo, há a possibilidade de defesa por
meio do PAT. Assim, este processo é uma relação jurídico-processual em que as partes notificadas
por uma autoridade fiscal tem o direito de se defender, juntando provas e explicações necessárias
para preservar seus interesses. Para garantir a agilidade processual e transparência aos atos, foi
iniciada a implantação do Processo Administrativo Tributário Eletrônico – e-PAT, com grandes
benefícios para os contribuintes e administrações tributárias.
Princípios aplicáveis ao Processo
Administrativo Fiscal
 Legalidade
 Oficialidade: confere ao Processo Administrativo Tributário um caráter peculiar, que o distingue
do processo judicial, podendo a administração pública instaurar, de ofício, procedimentos que
visam dar andamento ao processo; bem como, pode fiscalizar o desempenho destes atos, não
dependendo, portanto, de provocação do interessado, para que se inicie tais atos.
 Informalidade: uma vez que não está atrelado as formas rígidas, podendo a norma reguladora
apenas exigir as formalidades indispensáveis à licitude do procedimento; como característica
marcante deste princípio está a dispensa da postulação por intermédio de advogado, podendo, o
contribuinte, optar ou não por essa representação.
 Verdade Material: pelo qual busca-se apurar os fatos através de todos os tipos de provas lícitas,
que podem ser trazidas ao processo em qualquer tempo; o que difere do processo judicial, uma
vez que este busca a verdade formal dos fatos.
 Devido processo legal
 Ampla defesa
 Publicidade
 Segurança Jurídica
Características do processo

 Existência de uma relação linear: Diversamente do que ocorre com o processo judicial, em que há a presença de
três pessoas (autor, juiz e réu), no processo administrativo temos apenas dois sujeitos processuais (relação
linear):
a) a Administração: que é parte e ao mesmo tempo autoridade julgadora; e
b) o sujeito passivo: que é o contribuinte ou o responsável tributário.
Portanto, não existe relação triangular, tal qual o processo judicial, sendo a Administração Pública parte e julgadora
ao mesmo tempo;
 Decisões não têm caráter definitivo para o contribuinte vencido: podendo este, se desejar, ingressar com a
medida judicial cabível, a fim de discutir novamente as questões que compunham o processo administrativo;
 Estrutura hierarquizada: A própria Administração cria órgãos estruturados hierarquicamente (vários graus de
Jurisdição administrativa) para apreciar e julgar os processos administrativos tributários. No âmbito federal, por
exemplo, as Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento (De acordo com a Lei n. 11.457, de 16 de
março de 2007, as DRFBJ são órgãos de deliberação interna e de natureza colegiada da Secretaria da Receita
Federal do Brasil) decidem, em primeiro grau, cabendo recurso de suas decisões para o Conselho Administrativo
de Recursos Fiscais (CARF). Como instância especial, encontra-se a Câmara Superior de Recursos Fiscais
(CSRF).
Nos estados e municípios, existem também órgãos de primeiro e segundo graus de jurisdição administrativa, bem
como há a possibilidade de se instituir pela legislação local uma instância especial.
Autonomia Federativa

 Assim como qualquer processo, o PAT é regido por um conjunto de normas tributárias que
regulam as ações do poder público e do contribuinte em relação aos tributos Federais,
Estaduais e Municipais. É composto por provas documentais, o que faz com que tramite
diversas vezes, tanto nas repartições públicas como no universo dos contribuintes. O
resultado dessa tramitação é a morosidade, dada a necessidade de captar, tratar, armazenar e
disponibilizar informações nas esferas envolvidas, além de um grande volume de papel.
 As administrações tributárias do país e os setores empresariais vêm se adaptando aos
avanços da tecnologia e ao mundo digital. Essa mudança otimiza recursos, dá celeridade
aos processos, evita o grande volume de armazenagem de papéis e reduz o envolvimento de
muitas pessoas no manuseio físico de documentos.
 Considera-se que o processo administrativo tem plena aplicabilidade nas três esferas do
Poder Público, quais sejam, Federal, Estadual e Municipal, cabendo a cada um destes Entes
disciplinar a sua aplicação. Ademais, os contribuintes vencidos em primeira instância,
podem ainda recorrer da decisão, utilizando-se do Recurso Hierárquico.
Ausência de Poder Expropriatório

 Não foi dado à Administração Pública, contudo, o direito de expropriar diretamente os bens
do devedor e assegurar o recebimento direto do crédito tributário. É preciso, quando o
contribuinte se recusar a efetuar o pagamento do tributo, que se utilize o Poder Judiciário a
fim de compelir o devedor a cumprir com a obrigação tributária.
 Essa vedação de expropriação direta dos bens do devedor está contida no art. 5º, inc. LIV, da
Carta Política de 1988, o qual vaticina que “ninguém será privado de sua liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal”.
 Destarte, julgado improcedente o pedido contido em processo administrativo tributário ou no
caso de revelia, deve ser intimado o sujeito passivo para fazer o recolhimento voluntário do
que deve ao fisco. Uma vez não cumprida a obrigação, a Fazenda Pública terá de levar a
questão ao conhecimento do Poder Judiciário. A ação de execução fiscal é a medida judicial
adequada para tal fim.
Eficácia Limitada das Decisões Administrativas

 As decisões emanadas das instâncias administrativas não são definitivas. No Brasil prevalece a
regra segundo qual incumbe ao Poder Judiciário dar a última palavra acerca de um
determinado litígio.
 A inafastabilidade do controle jurisdicional ou universalidade da jurisdição está encartada no
art. 5º, inc. XXXV, da Constituição Federal de 1988, que prescreve “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça da direito”.
 Destarte, o contribuinte, não obstante venha a ter seu pleito indeferido em todas as instâncias
administrativas, poderá levar o fato litigioso à apreciação do Poder Judiciário.
Processo Administrativo e Processo
Judicial
 o Brasil, como em muitos países ocidentais, adotou-se a regra da jurisdição una. Incumbe ao Poder Judiciário dar a última palavra acerca de um
determinado litígio.
 Não obstante incumbir ao Poder Judiciário a solução dos conflitos intersubjetivos de interesses de forma definitiva, existe previsibilidade de a
questão ser apreciada preambularmente no âmbito da Administração Pública.
 Havendo discussão acerca de determinado crédito tributário, por exemplo, a controvérsia pode ser objeto de processo administrativo ou de processo
judicial.
 Saliente-se que, no Brasil, é vedado se discutir simultaneamente a mesma questão tributária no âmbito judicial e administrativo. Com efeito, dispõe
o parágrafo único do art. 38 da Lei n.º 6.830/80: “A propositura, pelo contribuinte, de ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de
recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto”.
 No mesmo diapasão, foi editada a Súmula n.º 1 do Conselho de Contribuintes: “Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo
sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo
administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial”.
 A decisão emanada do processo judicial, desde que o Poder Judiciário tenha apreciado o mérito da demanda, é definitiva. Dizemos que, nesse caso,
há a formação de coisa julgada material dotada de definitividade, o que enseja segurança jurídica não apenas para o administrado como também
para a própria Administração Pública.
 A decisão administrativa, tomada no seio do processo administrativo, não é, por sua vez, definitiva, pois, mesmo havendo o trânsito em julgado na
esfera administrativa, é possível que a matéria seja levada ao conhecimento do Poder Judiciário, salvo quando a Administração decidir de forma
definitiva e favoravelmente ao pleito do administrado. Com efeito, o crédito tributário, nessa hipótese, estará extinto em consonância com o
previsto no art. 156, inc. IX, do CTN: “extingue o crédito tributário a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita
administrativa, que não possa ser objeto de ação anulatória”.
 Há também a diferenciação na produção de provas, vez que em um processo administrativo se busca a verdade material, não importando em qual
momento ela foi posta a disposição, importando apenas se é licita, enquanto que no processo judicial se busca alcançar a verdade formal dos fatos
e, por isso, as provas têm o momento oportuno para serem produzidas.
 Contudo, ainda destaca-se a maior diferença existente entre estes dois instrumentos processuais: a coisa julgada. Tem-se, portanto que, no âmbito
do processo administrativo fiscal, o contribuinte que, mesmo após recurso, tiver denegado seus pedidos e, por conseguinte, sair vencido da
demanda, pode, sem sombra de dúvidas, ingressar nas vias judiciais a fim de rediscutir a matéria que ele entende ser seu direito, ainda que não
possua provas ou fatos novos a arguir. Em detrimento disto, tem-se que, vencido no âmbito judicial o contribuinte não terá outra esfera para
rediscutir o direito perdido, vez que este, neste diapasão terá sido feito coisa julgada.
Processo Administrativo em sentido amplo e
em sentido estrito
 No sentido amplo, emprega-se processo administrativo ou procedimento administrativo para
representar praticamente toda e qualquer rotina de trabalho no âmbito da administração pública.
Pedidos de remoção, exoneração, férias ou aposentadoria de um servidor público, por exemplo, são
objeto de um “processo” ou um “procedimento” no âmbito das repartições públicas brasileiras.
 Poderiam ser chamados de meros “procedimentos administrativos” ou “processos administrativos
em sentido lato”.
 O processo administrativo em sentido estrito ou processo administrativo propriamente dito é,
diversamente, o instrumento no qual se desenvolve uma controvérsia ou uma lide entre o particular
e a Administração Pública e esta soluciona o litígio aplicando a norma legal no caso concreto.
 Em matéria tributária, a propósito, é comum a presença de processos ou procedimentos
administrativos em sentido amplo, exemplos:
a) pedido de restituição de tributo indevidamente pago;
b) pedido de reconhecimento de isenção ou imunidade tributária;
c) consulta sobre a interpretação e aplicação da legislação tributária) e em sentido estrito (exemplo: o
contencioso administrativo fiscal), no qual se discute a legalidade da determinação e exigência do
crédito tributário e onde há litígio entre o fisco e o contribuinte.
Contencioso X Preventivo
 No que tange ao processo administrativo tributário, considera-se contenciosa as demandas que têm por objetivo
impugnar o lançamento, seja para discutir a existência do crédito, seja para discutir o cálculo do seu montante.
 Cabendo, por conseguinte, a cada Ente Político, na sua respectiva competência tributária, dispor acerca desta
matéria, dando-lhe a devida regulamentação. Como já mencionado, no âmbito federal, fica a cargo da Lei 9.784/99
esta regulamentação.
 Bem sabido é que a Lei e a legislação tributária, de forma genérica, não são alcançáveis à compreensão de todos,
tornando-se, por conseguinte, um tema de grandes questionamentos, desta forma, o processo administrativo assume
uma postura preventiva, se disponibilizando a prestar consultas a todos os interessados.
 É no mínimo razoável que, aquele que detém o poder de exigir do cidadão a prestação tributária, também se ocupe
de prestar as informações necessárias e essenciais. Ora, se é um dever do contribuinte estar adimplente com todos os
seus tributos, é um direito seu ter ciência do que está sendo pago.
 Importa ressaltar no tocante às consultas, que estas impedem a lavratura do auto de infração, bem como obstam a
incidência dos juros e da mora, até que se conclua o processo administrativo, prestando ao contribuinte as
informações desejadas. No entanto, encerrado o processo, se se comprovar, através da consulta, a existência do
crédito, os próprios autos fixará o prazo para o cumprimento da obrigação e, no caso de omissão, o prazo será de
trinta dias.
 Outra modalidade de processo administrativo com caráter preventivo é a denúncia espontânea, no qual o sujeito
passivo, se antecipando à ação do Fisco e ciente da pendência tributária, vai de encontro ao órgão competente para
regularizar sua situação fiscal; enuncia o art. 138 do CTN que o contribuinte procedendo desta maneira, terá sua
responsabilidade excluída e, portanto, não arcará com o ônus da multa, em qualquer dos seus aspectos, arcando
somente com os juros de mora.
Defesa no Processo
Administrativo Fiscal
 A Impugnação ao auto de infração pode ser realizada por qualquer profissional com
conhecimento do assunto, não sendo necessário um profissional do Direito. (art. 14 e
seguintes do Decreto Lei 70.235)
 Os julgadores administrativos chegam tecnicamente o mais perto possível da verdade
material, pois são profissionais escolhidos pela Fazenda Nacional e pelos Contribuintes,
conhecedores da contabilidade, legislação tributária e processo administrativo fiscal,
com comprovada experiência; enquanto que os juízes, além de julgar os assuntos
tributários devem julgar as demais matérias (civil, penal, comercial, etc.), sendo o
julgamento mais superficial.
 Outro fator importante pelo qual não se pode desperdiçar o processo administrativo
fiscal, é a utilização de gestão fiscal, quando feita administrativamente será menos
oneroso (não tem custas processuais, honorários de sucumbência e é mais formal) do
que o judicial e não chama a fiscalização à empresa.
Etapas da Defesa no Processo
Administrativo

 Acabando o processo de fiscalização, o fiscal emitirá um termo de encerramento


de fiscalização mencionando que não encontrou irregularidades na empresa ou
emitirá um Auto de Infração, cobrando os tributos que julga serem devidos.
 A partir do momento da lavratura do Auto de Infração, a empresa deve efetuar a
defesa administrativa de fato e de direito, anexando provas com o objetivo de
reverter a cobrança dos tributos.
 O contribuinte, se perder o processo na esfera administrativa, poderá recorrer ao
Poder Judiciário na tentativa de anular a exigência fiscal.
Benefícios da modernização do
PAT
 Racionalização e modernização das administrações tributárias;
 Redução do tempo de tramitação do processo e de custos e entraves burocráticos;
 Controle de produtividade;
 Facilitação do cumprimento das obrigações tributárias;
 Padronização dos procedimentos.
 Redução de custos de impressão, envio do documento fiscal e armazenagem de documentos fiscais;
 Realização de atos processuais de qualquer lugar, sem a necessidade de deslocamento à repartição
fiscal;
 Horário ampliado para a realização dos atos processuais;
 Segurança da assinatura eletrônica com certificado digital;
 Consulta ao processo a qualquer tempo e de qualquer lugar
 Redução do consumo de papel, com impacto positivo ao meio ambiente
 Incentivo ao comércio eletrônico e ao uso de novas tecnologias
 Padronização dos relacionamentos eletrônicos entre o fisco e o contribuinte
 Surgimento de oportunidades de negócios e empregos na prestação de serviços ligados às soluções
Precedentes jurisprudenciais

 É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do


procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo,
com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização
judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos formalmente
instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional. O compartilhamento pela UIF e pela RFB,
referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com
garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de
apuração e correção de eventuais desvios. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema 990) (Info 962).

 Sendo legítimo os meios de obtenção da prova material e sua utilização no processo administrativo
fiscal, mostra-se lícita sua utilização para fins da persecução criminal. Sobretudo, quando se observa
que a omissão da informação revelou a efetiva supressão de tributos, demonstrando a materialidade
exigida para configuração do crime previsto no art. 1º, inciso I, da Lei 8.137/1990, não existindo
qualquer abuso por parte da Administração Fiscal em encaminhar as informações ao Parquet
(Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 30/5/16). STF. Plenário. ARE nº 973.685/SP, Relatora a
Ministra Rosa Weber, DJe de 24/3/17; ARE nº 998.818, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski,
DJe de 4/10/16; e ARE nº 939.055/ES, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 18/4/16.

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