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Processo Tributário

O Direito do Procedimento e Processo Tributário, aplica-se a qualquer tributo.


Tributo é qualquer obrigação, prestação coactiva que se traduz no pagamento de uma
quantia pecuniária a favor do Estado ou entes públicos.
A Justiça Tributária tem como objectivo garantir o exercício dos direitos emergentes das
relações jurídicas tributárias.
É um direito que tem um conjunto de princípios informadores, que são jurídico-
constitucionais.
A justiça Tributária é o conjunto de normas processuais que regulam exercícios de
direitos e deveres da actividade tributária.

-Princípio da Constitucionalidade – a justiça Tributária tem que respeitar a Constituição.


Este princípio está delimitado pelo princípio da legalidade que é o princípio base de
toda a legislação fiscal.
-Princípio da Independência dos Tribunais – os Tribunais Fiscais são independentes e
estão apenas sujeitos à Lei. Não estão sujeitos ao comando do poder político.
-Princípio da reserva da função jurisdicional em matéria tributária – Art. 202º 2 CRP e
212º 3 CRP- Este princípio reserva ao Juiz a possibilidade de dirimir os litígios entre o
contribuinte e o fisco. Só ao Juiz e ao Tribunal é que podem ser atribuídas competências
para praticar actos jurisdicionais.
-Princípio da protecção jurídica – Art. 20º CRP- este princípio caracteriza-se na garantia
do acesso de todos ao direito e aos tribunais.
-Princípio da reserva legal das garantias dos contribuintes – as garantias dos
contribuintes estão sujeitas ao princípio constitucional da reserva de lei. Apenas poderão
ser disciplinadas por lei ou por decreto-lei autorizado, faz parte da reserva legal da
Assembleia da República.
oficiosas
Garantias dos Contribuintes administrativas

Esta função (garantias dos contribuintes) obedece a esquemas, procedimentos e


processos. Há 2 categorias estabelecidas :
a) instrumentos graciosos (garantias graciosas ou administrativas) são as que
decorrem perante um órgão administrativo.
b) Instrumentos contenciosos (garantias jurisdicionais) decorrem perante um órgão
jurisdicional.
impugnatórias
Garantias administrativas não impugnatórias

Impugnatórias – impugnam dentro da administração fiscal, resumem-se à reclamação e


ao recurso hierárquico pois é dirigida ao próprio autor do acto.
A reclamação graciosa por natureza não é obrigatória, embora haja casos previstos na
Lei em que a reclamação se torna obrigatória – Art. 117º, 131º, 132º, 133º CPPT.
A reclamação graciosa, é um meio impugnatório onde o sujeito passivo solicita a
anulação de um acto tributário com fundamento em qualquer ilegalidade.

O direito de recurso (administrativo) – é a possibilidade de impugnação do acto junto do


superior hierárquico do agente que o praticou.
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Princípio do duplo grau de decisão- segundo este princípio a mesma pretensão não pode
ser apreciada mais de 2 vezes ou por mais de 2 órgãos integrando a mesma
administração tributária – Art. 47º CPPT conjugado com o Art. 66º nr.2 CPPT.
Garantias administrativas não impugnatórias – segundo este princípio, os interessados
têm a faculdade de participar no procedimento, na formação das decisões que lhe digam
respeito – Art. 60º LGT.
Ex.: Direito á informação – Art. 268º CRP
Direito de participação – Art. 267º CRP

Em alguns casos a audição dos contribuintes é obrigatória, havendo violação da norma,


passa a haver um vício grave, vício de violação da Lei e vício de forma.

Fases do Procedimento:
Oficiosa
Provocada
Pública Não oficiosa
Iniciativa Não provocada
Não pública

Iniciativa – é quando os sujeitos iniciam um processo. Podemos estar perante uma


iniciativa pública ou não pública.
Ex.: Pode ser uma entidade pública a fazer e não ser considerada pública (uma empresa
pública reclama de um imposto mal liquidado e aqui a iniciativa é considerada não
pública).
Um procedimento tributário de iniciativa pública é o procedimento de orientações
genéricas – Art. 55º LGT.
A reclamação graciosa visa a anulação de actos tributários inválidos) é um
procedimento de iniciativa não pública – Art. 69º LGT.
Iniciativa pública não oficiosa pode ainda ser provocada ou não provocada. É um
procedimento de iniciativa provocada quando seja efectivada mediante pedidos,
requisições ou propostas.

Fase Instrutória: Art. 7º, 72º LGT e 50º CPPT


Nesta fase poderão ser praticados muitos actos e de natureza muito diversa, desde actos
de inspecção, visitas inspectivas, emissão de actos consultivos, informações, etc.
Também os sujeitos poderão ser muitos a intervir.

Decisão:
Consiste na prática de um acto tributário (se estiver em causa a liquidação do imposto)
ou acto decisório sobre uma pretensão (reconhecer ou não um direito).
Em princípio esta é uma decisão expressa (quando haja uma manifestação de vontade
expressa pela administração).
Também há casos em que a decisão é tácita, quando resulta do silêncio da
administração. Pode-se recorrer de uma decisão tácita mas de uma decisão expressa não.

Em que circunstâncias há uma decisão tácita por parte da administração?


O Princípio regra – Princípio da obrigatoriedade da decisão, a administração está
sempre obrigada a decidir – Art. 56º, 57º e 60º LGT e 106º CPPT.
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Se a administração não se decidir durante um período de tempo, esse silêncio leva a


uma decisão tácita. Este silêncio pode ter um ou dois sentidos: Diferido ou Indeferido.
No direito Tributário, a regra é sempre a do indeferimento.
No entanto há algumas excepções previstas na Lei em que o silêncio corresponde ao
deferimento – Art. 64º CPPT – Presunções – Art. 73º LGT. Art. 133º nr.1 e 2 CPPT –
Reclamação Pagamentos por conta. Art. 64º nr.3 RCPIT – Inspecção Tributária.
Além de um princípio de obrigatoriedade de decisão existe também um princípio de
obrigatoriedade de fundamentação. A decisão do procedimento é sempre
fundamentada por meios de suscinta exposição das razões de facto e de direito – Art.
77º nr. 1 LGT.

Fase integrativa de eficácia:


Proferida a decisão, o procedimento não está ainda concluído, é preciso dar-lhe uma
configuração jurídica para que se torne plenamente eficaz – Art. 36º CPPT e 77º nr.6
LGT.

Princípios aplicáveis ao procedimento tributário:


O procedimento tributário é tudo o que antecede a decisão tributária.
1- Princípio da legalidade da administração – toda a actividade da administração
tributária tem de respeitar a Lei (está submetida à Lei). – Art. 103º CRP. O
incumprimento deste princípio leva ao vício do acto tributário por violação à Lei.

2 - Princípio da verdade material – Art. 102º, 103º, 104º CRP e 55º LGT.
Este princípio impõe que a decisão individual e concreta que venha a ser tomada para
aquele contribuinte, ou seja, imponha á administração fiscal a obrigação de apurar a
verdade material que caracteriza a situação do contribuinte.
Este princípio só cai quando se verifique fuga á verdade. A verdade material em matéria
tributária implica o conhecimento e aceitação total do princípio da igualdade (justiça) na
tributação.
Este princípio tem um sub-princípio:
Sub-princípio da cooperação – Art. 59º e 60º LGT
Este princípio da cooperação nos termos do Art. 59º LGT diz-nos que os órgãos da
administração e o contribuinte estão sujeitos a um dever de colaboração.
O contribuinte tem o dever de colaborar no acesso a todos os elementos e informações
úteis para a administração tributária apurar a verdade dos factos.
Quando o contribuinte não cumpre o princípio e não colabora, sujeita-se ás
consequências do incumprimento. As consequências do não cumprimento podem levar
à aplicação de métodos indiciários ou presunções previstas na Lei, que são excepções ou
desvios ao princípio da verdade material, aqui tenta-se encontrar uma verdade material
aproximada.

3 - Princípio da vinculação de forma – Art. 54º nr.3 LGT


É um procedimento formal e legal e que deve assumir sempre a forma prevista na lei, e
é por regra a forma escrita. É essencial que as formalidades dos actos sejam respeitadas
(direito de audição – Art. 60º nr.5 LGT e 45º nr2 CPPT), a celeridade do procedimento
impõe-se e é admitida a prática oral dos actos procedimentais.

4 - Princípio da celeridade
O procedimento tributário deve, em prazo razoável, ser célere.
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O procedimento tributário, deve em regra ser decidido no prazo de 6 meses, se não


estiver concluído neste prazo que é contado a partir da entrada da petição do
contribuinte no serviço competente, presume-se indeferido (indeferimento tácito).
Os prazos são contínuos – Art. 57º CC e 3º LGT.

5 – Princípio da proibição do excesso


A administração tributária deve ser adequada e proporcional.

6 – Princípio da disponibilidade e do inquisitório


Disponibilidade - As partes que intervêm no procedimento tributário (quer o
administrativo quer o particular) têm a disponibilidade de poderem intervir ou não no
procedimento e de juntarem ao processo ou não os elementos que entenderem.
Inquisitório – Este princípio impõe que se inquiram todas as testemunhas para
apuramento da verdade. A administração tem a obrigatoriedade de reunir todas as
provas de investigação sempre que existam duvidas.

7- Princípio da participação e do contraditório


Participação – este princípio exige que se deve ouvir o contribuinte em qualquer altura
do processo.
Contraditório – o princípio do contraditório obriga a que o serviço confronte as
versões.

8 – Princípio da confidencialidade
O procedimento tributário é confidencial, sigiloso ( não é possível pedir uma certidão no
processo não sendo o próprio), não é um princípio absoluto.
A administração fiscal está obrigada a ceder as informações com o contribuinte só na
medida do possível.
Os funcionários da administração tributária estão sujeitos ao sigilo sobre os dados
recolhidos relacionados com os contribuintes – Art. 64º LGT e Art. 22º RCPIT.
Se o dever de sigilo for violado, o ordenamento jurídico reage através de punições.
Esta violação cessa quando as informações forem solicitadas aos devidos órgãos nos
termos do Art. 64º nr.2 LGT.

9 – Princípio da imparcialidade – Art. 55º LGT


A administração fiscal deve ser imparcial, tem de defender o interesse público enquanto
interesse do estado, mas também da comunidade. A descoberta da verdade material
deve ser a principal preocupação da administração fiscal.
Ex.: no âmbito de um processo de reconhecimento de benefícios fiscais, se a
administração tiver em seu poder elementos que o contribuinte não tem, deverá esta
apresentá-los e levá-los em consideração na decisão final.

10 – Princípio da obrigatoriedade de pronuncia ou de decisão – Art. 56º LGT


A administração fiscal está obrigada a pronunciar-se (a responder) acerca de tudo o que
lhe seja apresentado pelos interessados, mas não está obrigada a decidir:
a) se houver uma mera violação de pronúncia, o interessado deverá lançar mão de
um processo judicial – Art. 147º CPPT.
b) Se houver violação do dever de decidir (casos em que a administração está
obrigada a fazê-lo) então aqui vale a presunção do indeferimento tácito.
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11 – Princípio da motivação (fundamentação, decisão)


Todo o acto da administração tributária tem de ser fundamentado, expresso, claro,
concreto, conciso, coerente, congruente.
Se houver falta destes requisitos gera-se a ilegalidade o que pode levar à nulidade do
acto.
A fundamentação é expor todas as razões de facto e de direito com base nas quais a
administração assumiu ou decidiu pela prática daquele acto com aquele conteúdo. (o
indeferimento é sempre por natureza desfavorável ao contribuinte).
A falta de fundamentação dá o vício de forma e gera a anulabilidade.

12 – Princípio da publicidade dos actos


Todos os actos administrativos e tributários devem ser publicitados, pelo que nenhuma
decisão poderá produzir efeitos sem que o seu destinatário tenha ou possa ter
conhecimento.
O acto de publicidade pode ser uma publicação (acto geral) ou notificação (acto
individual). A notificação – Art. 56º e 57º CPPT é o acto pelo qual se leva um facto ao
conhecimento de uma pessoa, ou se chama alguém a juízo.

Pessoal
Notificação Edital
Não pessoal
Postal

Para as notificações existem requisitos formais e substanciais:


Requisitos formais : prendem-se com a forma – Art. 38º e 39º CPPT
Requisitos substanciais : refere-se ao conteúdo – Art. 36º nr.2 CPPT

A ausência de notificação ou mal efectuada juridicamente, tem como consequência a


ineficácia do acto.

13- Princípio do duplo grau de decisão


O contribuinte não pode pedir a apreciação do mesmo acto por mais de 2 órgãos
integrando a mesma cadeia hierárquica. Em sede administrativa qualquer decisão
beneficia apenas de 2 graus de reapreciação.
Apenas se pode recorrer administrativamente uma vez. Após a 2ª decisão desfavorável,
o acto considera-se definitivo – Art. 47º nr.1 CPPT.

Os Actores do Procedimento – Relação Jurídica Tributária

Os actores são os que intervêm no procedimento, o sujeito é o fisco.


Para se intervir como actor ou parte no procedimento é necessário que se tenha
capacidade e personalidade procedimentar tributária (capacidade de exercício)

Legitimidade no procedimento – legitimidade em geral


É um requisito essencial para que sejam os verdadeiros interessados na discussão do
litígio que se encontrem no procedimento, que sejam os titulares do direito.
As entidades que têm legitimidade para participar no procedimento tributário, estão
consagradas no – Art. 9º nr.1 CPPT e 65º LGT.
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A administração tributária – Art.1º nr.3 LGT


A actuação jurídica da administração não é livre, está vinculada á Constituição e à Lei.
Para a administração tributária agir, ela necessita de competência (os seus órgãos), que
estão afectos a um determinado órgão administrativo.
A competência é atribuída segundo um critério no âmbito da : matéria, território e
hierarquia.
- em razão da matéria – Art. 10º nr.1 CPPT
- em razão do território – Art. 10º nr.2 CPPT
- em razão da hierarquia – Art. 10º nr.3 e ss CPPT

Conflitos de competência – Art. 11º CPPT e Art. 61º nr.4 LGT


Sucede por vezes que da aplicação de certos critérios surgem conflitos de competências.
Poderá ser um conflito positivo quando dois ou mais órgãos se consideram competentes
para a decisão.
O conflito negativo, nenhum dos órgãos em causa se considera competente para
decidir.

A incompetência – Art. 61º LGT


O desrespeito das atribuições de competências gera uma reacção adversa do
ordenamento jurídico que passará pela remessa das peças do procedimento para órgãos
competentes ou pela consideração do acto em causa como anulável.

Os procedimentos tributários em especial

Procedimento de natureza informativa – Art. 55º e 56º CPPT


Dizem estes artigos que a administração tributária por sua iniciativa emana directivas ou
quadros que devem presidir à aplicação de determinada norma ou conjunto de normas.
Trata-se de um processo que ao contrário dos outros não vai culminar na emanação de
um acto tributário (de conteúdo individual e concreto) mas na emissão de um acto de
conteúdo geral e abstracto – Art. 55º nr.3 CPPT.

Procedimento de informação vinculativa


Tem por objecto um pedido de informação que apenas pode recair sobre uma das
seguintes realidades:
a) sobre a concreta situação tributária dos contribuintes;
b) os pressupostos de quaisquer benefícios fiscais.
Conclui-se que não se pode solicitar á administração tributária informações com
carácter vinculativo sobre problemas de natureza doutrinal, tem que ser sobre a
incidência pessoal num caso concreto . Art. 68º nr.1 LGT e ss.
Os pedidos de informação devem ser dirigidos ao dirigente máximo do serviço que é a
entidade competente para proferir a decisão e devem ser apresentados pelo próprio
sujeito passivo.

Procedimento de inspecção tributária


Este procedimento consta do Regime Complementar de Inspecção Tributária - RCPIT
A inspecção tributária deve obedecer aos princípios da verdade material,
proporcionalidade, contraditório e da cooperação – Art. 5º RCPIT
O nr. 2 do Art. 2º do mesmo diploma diz-nos quais as principais actuações do âmbito do
procedimento de inspecção nas alíneas a), b), c), g) e i).
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Espécies de Inspecção Tributária


O procedimento de inspecção tributária pode ser classificado de acordo com vários
critérios. Pode-se distinguir:
a) quanto à finalidade – Art. 12º nr.1 a) e b) – procedimentos inspectivos de
comprovação (que procuram confirmar o cumprimento das obrigações) e
procedimentos inspectivos de informação (que incidem sobre o cumprimento
dos deveres legais de informação)
b) quanto ao lugar de realização – Art. 13º a) e b) – procedimentos inspectivos
internos (quando os actos de inspecção se efectuam nos serviços da
administração) e procedimentos inspectivos externos ( quando os actos de
inspecção se efectuam nas instalações dos sujeitos passivos).
c) quanto ao âmbito e extensão de abrangência material – Art. 14º nr.1 a) e b) –
procedimentos inspectivos gerais (estando em causa a situação tributária global
ou o conjunto de deveres dos sujeitos passivos) e procedimentos inspectivos
parciais (quando estiver em causa alguns tributos ou deveres dos sujeitos
passivos)

Dimensão material dos actos inspectivos – Art. 28ºRCPIT e 63º LGT


Todas estas actuações que estão previstas neste Artigo deverão ser adequadas e
proporcionais aos objectivos a prosseguir, só podendo haver mais de um
procedimento externo de inspecção respeitante ao mesmo sujeito passivo ou
obrigado tributário, imposto e período de tributação mediante decisão,
fundamentada com base em factos novos.

Consequências do procedimento de inspecção tributária


O Art. 60º RCPIT diz-nos que concluída a inspecção, esta deve ser notificada no
prazo de 10 dias com a identificação desses autos e a sua fundamentação ( se tiver
sido decretado na pendência de procedimento um eventual arresto de bens, este fica
sem efeito se a entidade inspeccionada não for notificada do relatório de inspecção
no prazo de 90 dias a contar da data do seu decretamento – Art. 137º nr.2 CPPT)
O Art. 62º nr.3 RCPIT enumera os elementos que devem constar do relatório.

Eficácia vinculativa do relatório – Art. 64º RCPIT


Está tudo neste artigo.

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