Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Melo e Silva
Avaliação:
Bibliografia:
Primeiro trataremos de procedimento Tributário: normas através das quais vamos poder atuar
relativamente às normas fiscais. Depois da atividade Jurisdicional dos Tribunais: relativamente
aos litígios fiscais que possam existir. É uma parte bastante importante porque, efetivamente,
temos um grande nível de “litigiosidade” fiscal.
I. Princípios Tributários:
Antes de olharmos para cada princípio, devemos atentar que o procedimento tributário é de índole
administrativo e o processo é jurisdicional, daí uma certa dualidade. Tao importante quanto isto
é o facto de nem sempre compreendermos quando estamos a falar de procedimento e quando
estamos a falar de processo. às vezes, temos situações em que são praticados atos de procedimento
no processo tributário. Há uma interpenetração do procedimento no processo tributário. Convém
ter presente que todos os princípios visam salvaguardar dois interesses que são aparentemente
contraditórios: interesse do Estado em arrecadar receitas e o interesse dos interessados em pagar
o mínimo imposto possível no cumprimento da legalidade. Ambos decorrem diretamente do
princípio da legalidade. As soluções que a lei vem consagrando têm vindo a ser melhoradas,
nomeadamente com os avisos para o cumprimento, a AT tem vindo a mudar a sua veste e ajudar
os contribuintes a cumprir.
É precisamente por isto eu a LGT consagrou algumas disposições quanto aos pressupostos e
quanto aos limites da tributação. A LGT nos art. 55º a 60º elenca vários princípios relativos ao
procedimento tributário. É precisamente por isto que começaremos por falar do princípio básico.
Princípio da legalidade: impede que outras entidades que não o Estado, a AR, o poder
representativo, crie impostos – tributos unilaterais. O contencioso tributário no TC é largamente
composto por impostos e taxas. A verdade é que o princípio da legalidade encontra apoio no
princípio no taxation with no representation. Em PT, este princípio encontra apoio no art. 103º a
105º da CRP e no art. 165º/1/j – que estabelece a competência da AR para criar impostos. O art.
1
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Na prática, este princípio da tutela efetiva diz eu todas as situações que possam provocar uma
lesão de direitos podem ser impugnados. Este direito de impugnação traz consigo um ónus: se
existir um prazo de impugnação e o direito não for exercido nesse prazo, o agente fica impedido
de requerer a intervenção para revogar o ato. Há direito, mas não é eterno. Para a obtenção de um
determinado benefício, o contribuinte deve praticar um ato num determinado prazo; uma vez
decorrido o prazo, fica afastada a possibilidade de gozo desse benefício. De acordo com o art.
10º, devemos ter em atenção que no nosso direito tributário estão sujeitos a tributação todos os
rendimentos, sejam lícitos ou ilícitos – isto não afasta a subordinação a princípios. Para o direito
tributário é indiferente se a fonte é lícita ou ilícita, sendo esta uma questão muito interessante.
Esta norma tem uma ligação muito estreita com o processo penal, porque até há um tempo
entendeu-se que, sempre que haja conhecimento da obtenção ilícita de rendimentos (seja pela
fonte, seja pela forma), a AT deve alterar a declaração do contribuinte, como fica obrigada a
informar as entidades competentes para investigarem a possível prática de um crime. Alguém que
pratica uma determinada atividade económica e que não declara o rendimento à AT. Preenche a
declaração com parte dos seus rendimentos. A AT, nem que seja por reparar que ele comprou
um automóvel de luxo, começa a investigação, a forma de obtenção é lícita, mas há fraude fiscal.
Outra situação: a própria fonte é ilícita, alguém explora lenocínio e, claramente, não declara
esses rendimentos OU tráfico de armas, de órgãos, etc. A solução é exatamente a mesma, AT é
obrigada a denunciar junto das entidades criminais este conjunto de atividades para se iniciar a
2
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
inspeção. O que é que se tem entendido? COSTA ANDRADE entende que o fisco tem
efetivamente que tributar todo o rendimento desde que ele seja enquadrável nos termos dos
códigos existentes, por respeito ao princípio da igualdade. Contudo, quanto à obrigatoriedade de
comunicação às entidades competentes, diz que não devia ser obrigatório porque, assim sendo,
não pode haver obrigatoriedade de cumprimento do art. 10º LGT. No processo penal, há o
princípio da proibição da autoincriminação. Se a AT obrigatoriamente enviar os documentos para
que se abra processo-crime, temos uma violação do princípio da proibição à autoincriminação.
(tema para a tese?). Acórdão nº 298/2019 do TC.
Princípio da Colaboração Recíproca – se, por um lado, o particular tem, nos termos do art.
59º/3 da LGT um elenco exemplificativo das obrigações que recaem sobre o contribuinte. É neste
artigo que se tem verificado um grande avanço da atividade da AT. Não basta esta colaboração e
existência de informação, tem de existir em tempo útil! Se houver alguma dúvida, tem de se suprir
essa dúvida rapidamente. Há obrigatoriedade de sigilo por parte da AT. Sempre que o contribuinte
esteja a solicitar um esclarecimento sobre um processo e o faça ao balcão, a AT, para garantir o
sigilo, está obrigada a retirar a pessoa do sítio, evitando que outras pessoas o ouçam. Tudo o que
é consultado informaticamente é registado, mas nem tudo o que é verificado em papel o é. nos
casos em que seja necessário o cumprimento ou utilização de formulários específicos, essa
formulação deve ser patente. Este princípio implica que a AT tenha informação publica, atual,
informada e clara, que deva notificar os sujeitos passivos para esclarecer dúvidas, etc.
3
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Vamos falar dos princípios estruturantes, os princípios relativos à forma e os princípios relativos
à forma. Dependendo da obra que leiamos vamos encontrar esta distinção ou então eles todos
seguidos. Enquanto no procedimento se estabelecem obrigações à AT e direitos e garantias aos
contribuintes, os princípios tributários do processo visam ordenar a forma como o processo vai
ocorrer. Vão tratar quer a AT, quer o contribuinte como partes. Enquanto no procedimento temos
a AT e o contribuinte numa relação que é conduzida pela AT; no processo tributário temos uma
terceira entidade que vai dirimir um litígio e que, num determinado sentido, poe as partes em
confronto. Em princípio e em regra, o contribuinte e AT estão, no processo, numa relação de
paridade, nenhum deles tem mais direitos do que o outro e isto percebe-se porque encontramos
normas de processo tributário quer na LGT, quer no CPPT, quer no CPC (aplicação subsidiária)
e no Regime Jurídico da Arbitragem Tributária.
• Princípios Estruturantes:
Aqueles que nos permitem caraterizar o processo tributário e que, habitualmente, se reconduzem
à plenitude dos meios processuais (97º LGT), princípio da tipicidade das formas processuais,
princípio pro actione, princípio da cooperação, princípio da celeridade, princípio da igualdade de
partes e ao princípio do contraditório. No que respeita ao princípio da celeridade, houve a
suspensão da disciplina orçamental e esta é subordinada a determinadas condições, condições que
variam entre 4 e 5 – a maioria são idênticas: promoção de crescimento, combate à pandemia
propriamente dita, necessidade de digitalização, etc. o caso português tem uma especificidade:
fala da criação de mecanismos que permitam a celeridade da justiça administrativa e tributária, é
o único país ao qual foi imposta esta criação. O que indicia que o nosso princípio da celeridade
deixa muito a desejar. Uma ação tributária demora, em regra, 10 anos a chegar ao STA – que é
muito tempo para o contribuinte, mas também para a AT, pois esta última, caso o contribuinte
pague enquanto espera a resolução, não tem aquele montante como certo, pois pode ter de o vir a
devolver. A falta de celeridade da justiça tributária é péssima para todos, inclusivamente para
quem não é parte direta, pois se o Estado tiver de restituir montantes poderá ter de aumentar
impostos.
Princípio da plenitude dos meios processuais – este princípio está previsto no art. 97º/2 LGT,
mas deve ser analisada conjuntamente com o art. 268º/4 da CRP e com o art. 147º/2 do CPPT.
Para além disso, convém ter, ainda, em consideração o art. 193º do CC. O que é que este princípio
significa? No processo tributário, tal como no civil e administrativo, a existência deste princípio
impõe que para qualquer direito do contribuinte exista um meio adequado para o fazer valer em
juízo, mas não basta que seja um meio minimamente adequado, deve ser o meio mais adequado.
O que é que isto significa? O meio não deve ser excessivamente oneroso para nenhuma das partes
e deve permitir que com menor dispêndio de esforço (não tem necessariamente de ser dinheiro,
4
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
apesar de ser em regra) o contribuinte veja os seus direitos garantidos e o Estado consiga cumprir
as suas funções. Deve ser simples dentro da complexidade. O tempo pode não implicar
diretamente um custo direto, mas pode representar um custo indireto. Não podemos complexificar
muito, mas também não devemos descomplicar demasiado.
Ultimamente, tem-se discutido muito a questão da simplificação, quer no que respeita ao direito
fiscal, quer no que respeita __ tributário. Já no seculo XVII, ADAM SMITH falava nesta
necessidade de simplificação, com especificidades diferentes, mas dizia-o de forma clara. Porquê?
Se não escolhermos a forma adequada, o meio mais adequado, então vamos ter um dispêndio
excessivo de recursos por parte do Estado. Neste momento, o foco não é tanto no Estado, mas
mais nos contribuintes, nomeadamente no que se chama aos encargos excedentes – onera a
obrigação tributária. Imaginemos que há uma correção de um erro de calculo tributário, facilmente
detetável, não devo usar o mesmo meio de garantia de direito que tenho de usar num pedido de
reavaliação de um imóvel. Da mesma forma que se for necessário comprovar o rendimento de
uma entidade sujeita a IRC, o mecanismo não poderia ser o mesmo da correção do tal erro de
cálculo. Por vezes são necessárias perícias especializadas.
Este princípio da adequação esta ligado ao princípio da tipicidade. Cabe ao interessado escolher
aquele meio mais adequado e, quando assim não seja, o juiz pode, nos termos do art. 193º do
CPC, sugerir a troca para forma de processo adequada. Quais são so meios processuais previstos?
A impugnação judicial, ação para reconhecimento de direito, recurso no próprio processo… Este
princípio da tipicidade de formas exige que seja escolhida uma forma tipificada na lei e acaba por
modelar o próprio processo tributário. Contudo, em regra, há apenas um meio mais adequado e,
dessa forma, aquilo que decorre do art. 101º é que o particular, embora tenha à sua disposição
vários meios, deve escolher aquela que deve ser a mais adequada, pelo que podemos ter vários
atos tributários na mesma relação material com conexão entre si em que seja necessário escolher
meios de reação diferentes. Se eu tenho de escolher o meio MAIS adequado, isso pode fazer com
que eu escolha para um ato um meio, para outro ato outro meio e, depois, possa ter problemas por
causa da prejudicialidade. Durante décadas, não foi possível pedir a ilegalidade do ato de
execução no próprio ato de execução, ou seja, tinha de se impugnar e, se a execução estivesse a
decorrer, tinha de se dizer que já se tinha pedido a declaração de ilegalidade – obrigava a recorrer
a ambos os procedimentos. No processo executivo, como incidente permite-se levantar a questão
da ilegalidade do ato atualmente. Nem toda a doutrina defende, contudo, esta possibilidade –
dizendo que a forma correta de colocar em causa a ilegalidade do ato de execução é preciso
impugnar judicialmente, por respeito ao princípio até agora analisado. Os tribunais têm, contudo,
vindo a aceitar esta declaração de ilegalidade no próprio processo de execução desde que sejam
cumpridos os demais requisitos para que o próprio processo executivo seja suspenso.
5
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Este princípio da adequação permite, ainda, que se utilizem outros meios de salvaguarda de
direitos, mas limita a situações específicas, sendo de salientar a intimação para um
comportamento do nº2 do art. __ CPPT. Que só é utilizável quando os restantes meios não sejam
adequados para assegurar uma tutela plena e efetiva dos direitos dos contribuintes. Na prática, a
intimação acaba por ser possível somente nos casos em que o particular pretende obter um ato
expresso por parte da AT em substituição dos atos tácitos. Nos casos em que a AT não decida no
prazo previsto, em regra tem-se o ato como indeferido. A AT tem relativamente a isto algum
cuidado, há casos em que a AT por se aproximar de forma vertiginosa do termo do prazo e ela
vem a comunicar o particular para o avisar que irão responder de forma expressa, mesmo que
ultrapasse o prazo.
Há pouco falámos na declaração de benefícios fiscais: o contribuinte pode não concordar com a
situação invocada pela AT (que dizia que aquele beneficio não se aplicava naquele ano), porque
esta ultima dizia que a empresa não respeitava todas as condições. A AT enviou um e-mail que
estava previsto o envio da decisão sobre a reclamação graciosa no prazo de 5 dias. isto permitia,
ainda, à entidade preparar a impugnação e esperar pelo deferimento ou indeferimento expresso.
Há uma diferença grande, o indeferimento tácito é silencioso, a AT não se pronuncia pelo que
não sabemos porque é que o fez, pelo que é sempre preferível intimar a AT para que ela pratique
o ato – “para que mostre as cartas todas”, que explique o fundamento para manter a sua decisão.
Isto ajuda em termos de defesa do contribuinte, pois já saberá de que é que que se está a defender.
Suspeitando-se que a AT não se pronunciou no prazo, o que é que os advogados costumam fazer?
Ao enviarem a impugnação ou oposição à execução dão conhecimento da peça processual à AT.
É um mecanismo de aceleração do processo quando é de suspeitar que a AT não respondeu no
prazo certo porque não teve tempo.
Há quem diga que do indeferimento tácito não se deve reagir através do pedido de prática de ato
administrativo, mas sim através da impugnação. Mas este princípio não é absolutamente rígido.
97º/2 LGT e 98º/4 CPPT.
Princípio pro actione- 278º/3 CPPT. Sempre que seja necessário e adequado fazer uma
interpretação e aplicação das normas no sentido de favorecer o acesso à proteção e à tutela
jurisdicional e evitar situações de denegação de justiça por excesso de formalismo. Na prática, o
que esta em causa é a consagração expressa de que as regras processuais devem ser instrumento
para a realização da justiça e não um obstáculo à tutela jurisdicional efetiva. No fundo, deixa
seguir o processo, mesmo com a falha do formalismo, porque a falha é pouco relevante no
processo. o juiz se fosse excessivamente formalista, ele iria interromper o processo. Sobre este
princípio, é um corolário normativo __. MARIO ALMEIDA diz que este princípio impõe que em
situações duvidosas a interpretação promova a emissão de uma decisão de mérito. As duas
6
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
técnicas de decisão obrigam a que se olhe aos aspetos procedimentais e, só depois, devemos olhar
para o tratamento de fundo. Quer um autor quer o outro dizem que o sentido das normas
processuais deve favorecer o sentido de pronuncia da decisão. Se houver o cumprimento grosseiro
de uma norma processual, aqui já não seria possível. Isto deve acontecer qual o erro não ponha
em causa a própria materialidade da questão. O princípio da tutela jurisdicional visa evitar até ao
limite do suportável que existam decisões formais injustificáveis – até ao limite do suportável! A
lei da vantagem é muito importante para esta questão. Pondo desta forma fim às deficiências
normativas que haviam sido causadas pela reforma anterior. Em 2000 a 2004 houve uma total
revolução, o próprio Ministério da Justiça teve a obrigar a impressão de códigos e distribuiu aos
profissionais do foro, inclusive estagiários.
Princípio da celeridade – exige que no processo a decisão seja proferida em prazo razoável,
em prazo útil, de forma a produzir os seus efeitos. Esta obrigação impende sobre o juiz e decorre
do art. 20º da CRP, mas também do princípio da tutela jurisdicional efetiva.
Princípio da Igualdade de Partes – art. 98º da LGT. Este princípio vale no processo
tributário, mas também no processo civil, administrativo e no tribunal arbitral. Impõe que as partes
sejam colocadas em perfeitas condições de igualdade e para a utilização de todos os meios de
defesa. Deste princípio decorre um outro: o princípio do contraditório. Há quem entenda que este
princípio da igualdade não é integralmente cumprido no processo tributário, porquê? É defendido
aparentemente por duas entidades: AT e o MP. A verdade é que, na opinião da doutora, o MP não
está comprometido com a defesa do interesse da fazenda publica, mas sim com a defesa do
interesse publico e, por isso, com os interesses do contribuinte, não é defensor do Estado, embora,
por vezes, podemos ser levados a pensar nisso – especialmente no processo penal. O MP pode ter
um duplo papel: defender a fazenda nacional, mas também defender de forma equitativa o
7
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
interesse publico. Em rigor, em abstrato, diríamos que pode existir uma coincidência porque a AT
ao defender o interesse publico defende a fazenda publica. As entidades publicas não têm
interesses e o titular do órgão, ao ter algum interesse, não pode ter um interesse contrário ao
interesse publico. O que é que acontece? A AT tem orientações específicas para atuar num
determinado sentido. Quando o que está em causa é uma interpretação da norma e há unanimidade
da doutrina, já há acórdãos de uniformização de jurisprudência, a AT continua a aplicar uma
interpretação contrária, começamos a questionar-nos se atua no sentido do interesse publico.
Princípio do contraditório – é o princípio que garante a igualdade entre as partes. Não temos
diretamente previsto na legislação tributária, mas está no art. 3º CC que é aplicável por remissão
do art. 2º do CPPT. Ainda que assim não fosse, a verdade é que o próprio art. 267º/5 da CRP
acaba por impor esta obrigação, pois tinha de haver forma de participação das partes – STA 25
de novembro de 2015, por exemplo.
Princípio do Inquisitório: art. 13º CPP(T?) e 99º/1 LGT. O tribunal deve realizar ou ordenar
oficiosamente todas as diligencias que se afigurem uteis para conhecer a verdade dos factos. Em
processo tributário, este princípio diz respeito aos poderes de investigação e de cognição do
tribunal e permite que o juiz ou realize ou ordene a realização de todos os atos e diligencias que
cumpram todos os requisitos: adequados e uteis para descobrir a verdade, para obter informação
sobre factos sobre que lhe era lícito conhecer. Cabe ao juiz utilizar este princípio e deve ter em
consideração o princípio da causa de pedir, as controvérsias suscitadas pelas partes e o pedido –
princípio do pedido. Tanto no direito penal, como no tributário procura-se a verdade material,
mas aqui é limitada pelos factos alegados e pelos factos não alegados, mas que sejam de
conhecimento oficioso ou que sejam de factos instrumentais, complementares ou notórios.
O princípio do inquisitório sofre uma “contaminação” pelo interesse publico – daí a admissão
da análise de factos instrumentais, complementares e notórios. Art. 5º CPC. Poderes de cognição
muito alargados, mas somente quanto aos factos e não sobre as questões de direito – quanto a
causas de invalidade, só pode o tribunal ter em conta o que for invocado, a não ser que existam
outras de conhecimento oficioso.
Há que salientar que a falta de fundamentação do ato tributário pode ou não ser corrigida em sede
de conhecimento judicial. Deve aproveitar-se o ato e de esclarecimento. Vamos supor que há uma
situação em que se invoca o princípio da falta de fundamentação do ato, a AT vem esclarecer;
pode ou não o tribunal considerar este esclarecimento como correção do ato ou não? Parte da
doutrina entende que se deve aproveitar a explicação para fundamentar o ato, isto levanta o
problema de ter de se dar possibilidade ao contribuinte oportunidade de reagir contra esta
8
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
justificação, pois a não ser assim o seu direito de defesa é posto em causa. A doutora diz que só
se deve aproveitar o ato quando se der oportunidade ao contribuinte de se defender no próprio
processo.
Princípio da Aquisição Processual – há factos que devem ser provados por quem os alega
(ónus). Se o ónus implica que a prova cabe, em regra, à parte que os invoca, a verdade é que, a
partir do momento em que é apresentada uma prova e os factos podem ser valorados, vão
aproveitar a todos. Isto pode ter resultados complicados. Não interessa quem traz a prova para o
processo, não interessa o que ela queria provar, o que importa é o que ela provou.
No julgamento de direito, é o mesmo juiz que faz a apreciação da prova e que, depois, profere a
prova. No entanto, atualmente, mesmo nos processos que deram entrada antes de 2013 (entrada
em vigor do novo CPP), tem entendido o STA, no Acórdão nº3/2019(?), mesmo que o juiz que
elaborou a decisão não seja o mesmo que analisou a prova não há qualquer problema. mas, a partir
daquela data, o juiz que profere a decisão tem de ser o mesmo que analisou a prova.
São os que decorrem do CPC e a forma é a forma escrita, que implica que todos os atos sejam
praticados de forma escrita e não oral. Mas no processo tributário e procedimento tributário não
é assim. No caso da reclamação graciosa, uma das caraterísticas é a simplificação dos termos e
pode ser feita de forma oral (159º do CPPT?). não há formalismos. Procura-se é a simplificação.
9
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Há quem diz que se deve aligeirar o procedimento em situações em que o ato é de baixo valor,
mas atualmente ainda não é alvo de grande acolhimento.
26.03.2021
NOTA: “Manual de Procedimento e Processo Tributário”, de RUI MORAIS. Mas sobre os temas
que vamos tratar nesta nossa disciplina, o doutor vai colocar, ainda hoje, um livro (incompleto)
que o doutor anda a escrever sobre estes temas. A versão vai ser disponibilizada num pdf
encriptado, de forma a proteger o acesso ao material. A password: taxflix.
Vamos ver como é que os princípios se interligam na prática e como levam a determinadas
soluções. Para já, vamos tratar do procedimento.
O papel da administração tributária alterou-se radicalmente no final do século XX, desde logo
porque a AT passou do sujeito principal e de ter uma posição marcadamente ativa no
procedimento de tributação dos tributos para um sujeito cuja intervenção passou a ser meramente
possível e, sobretudo tendo-se passado para as mãos dos contribuintes a tarefa de liquidarem
muitos dos impostos do nosso sistema fiscal, assumiu uma tarefa de fiscalizadora do cumprimento
das obrigações fiscais dos (“impropriamente designados”) sujeitos passivos. A atuação da AT
seria completamente dispensável caso não tivesse uma importantíssima atividade de controlo e
fiscalização. Mas o sistema tributário alterou-se radicalmente. Passando a estar nas mãos dos
contribuintes a gestão e administração do imposto, é obvio que o papel da AT não pode ser apenas
reservado a uma intervenção a posteriori.
10
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Dois exemplos de mecanismos que permitem dar a conhecer ao contribuinte, de forma prévia à
ocorrência do facto tributário ou à liquidação realizada relativamente a esse, as consequências
fiscais de um determinado ato ou realização de determinada operação, como é: proc. de
informação vinculativa e orientações genéricas.
As orientações genéricas, desde meados do seculo XX, têm alguma importância porque
comunicaram a todos os serviços da AT qual o entendimento que tinha um caráter vinculativo
para todos os serviços no interior da administração. Eram informações cujo destinatário primeiro
eram os próprios serviços, pois são estes que tinham a missão de promover a aplicação da lei
fiscal. Hoje, não tanto em PT, mas especialmente nos EUA, Holanda, Nova Zelândia, etc, houve
uma valorização no sentido destas orientações genéricas, mas destinando-as aos contribuintes,
enquanto material de informação organizado por via administrativa, na mesma para resolver
questões dúbias relativas à aplicação e interpretação da lei, mas que têm como destinatários os
contribuintes. Na Holanda, vai-se mesmo ao ponto de estas orientações genéricas serem criadas
e serem, no fundo, elaboradas com apoio dos próprios contribuintes, quase como um contrato
para constituição de um __ administrativo.
Entre nós é, novamente, “ficção científica”. Entre nós, porém, tal noa implica que as orientações
genéricas não possam assumir outro papel. A AT não pode decidir em sentido diferente daquele
que está vertido numa orientação genérica. Efetivamente, o contribuinte não participa na
elaboração das orientações genéricas, em PT – mas na Holanda, por exemplo, sim, não obstante
essa participação não estar prevista na lei.
Já no que respeita ao procedimento das informações vinculativas: nos últimos anos, o número
quer de pedidos, quer de respostas da AT aumentou consideravelmente. O que demonstra que este
mecanismo tem uma virtualidade e tem efeitos práticos. Porque é que existem estas informações
vinculativas? Em primeiro lugar, a questão da necessidade: decorre do facto de, obviamente, o
risco da interpretação da lei fiscal recair essencialmente sobre os contribuintes. O primeiro
interprete da lei fiscal são os próprios sujeitos passivos e em dois planos:
• Os sujeitos passivos ao nível da perceção das consequências fiscais dos atos que
praticam;
• Enquanto sujeitos a quem se atribui a tarefa de auto-liquidarem os impostos, poderem
estar a fazê-lo da forma correta e adequada.
A lei fiscal é tudo menos clara, simples, uma lei que não abre margem para qualquer dúvida.
Aliás, é precisamente o contrário. É uma lei complexa – os autores alemães falam em “monstro
incontrolável”, uma “selva”. É necessário que existam estes mecanismos que permitam,
11
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
obviamente e de forma antecipada, esclarecer e resolver dúvidas aos contribuintes para que estes
possam cumprir de forma adequada as suas obrigações fiscais. Um exemplo disto é os EUA: até
98, a missão de Internal Revenue Service (aparecia à imagem geral como um exército) era liquidar
os impostos com menores custos para os contribuintes; mas depois passou a ser prestar um serviço
de qualidade de forma a informar os contribuintes para que possam cumprir as obrigações de
forma adequada. Em muitos casos, o não cumprimento não é um não cumprimento intencional,
doloso, voluntário, em muitos casos, as situações de incumprimento decorrem de uma
interpretação da lei questionável, da incompreensão das consequências fiscais que ficam perdidas
na complexidade dos regimes. Estes mecanismos de informação vinculativa têm uma importância
crucial. São reflexo da ideia de que é melhor prevenir do que remediar. Por outro lado, os
instrumentos entre a AT e os contribuintes devem configurar-se numa lógica de “right from the
start, less trouble in the end”. Este fenómeno da globalização não tem fronteiras, cujas assimetrias
aproveita “obviamente” para conseguir as maiores poupanças fiscais – através do planeamento
fiscal agressivo. É bom que a incerteza própria que decorre da complexidade dos regimes fiscais
tenha procedimentos que compensem essa abertura e coloquem certeza, segurança onde ela não
existe. Quem suporta o risco da interpretação da lei fiscal é o contribuinte, com as consequências
que daí podem decorrer em termos de imposto a liquidar posteriormente, já para não falar de
processos de contraordenação ou mesmo criminal. Colocar este risco nas mãos de quem tem de
planear toda a sua atividade económica, é um risco muito difícil de ser suportado apenas pelo
sujeito passivo. Aliás, entende-se que o sujeito passivo não deve suportar este risco sozinho e,
portanto, estas decisões de planeamento e de planeamento da própria atividade económica em
face das consequências fiscais demandam que exista a possibilidade de colocar previamente à
liquidação do imposto e, previamente, à ocorrência do próprio facto tributário à apreciação da AT
uma determinada questão jurídica para que esta se pronuncie.
As AT têm evoluído bastante, sobretudo desde os anos 2000, neste novo modelo de
relacionamento com os contribuintes. Efetivamente, estes mecanismos de informação vinculativa
têm a grande virtualidade de vir trazer certeza e qualquer contribuinte pode recorrer a este
procedimento. Poderíamos ver que por razoes práticas poderiam estar mais limitados quanto ao
tempo de obtenção de resposta pela administração. Porem, para já, o importante é interiorizar a
grande virtualidade destes mecanismos. Estamos a chamar a AT para se pronunciar sobre uma
determinada interpretação da lei num momento em que ainda não há conflito. A AT pode
esclarecer o contribuinte de qual será o seu entendimento da lei, diminuindo a incerteza deste
último antes de realizar um conjunto de operações com impacto fiscal que, para ele, é
desconhecido.
12
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Austrália, Nova Zelândia, Holanda e Reino Unido começaram uma reformulação dos serviços de
AT com um ato que foi a elaboração de uma carta administrativa de direitos dos contribuintes.
Cá, se um contribuinte for inspecionado, também recebe uma listagem dos seus direitos e como
pode ou não reagir. Contudo, num serviço publico de informação, temos realmente muito pouco,
pois até há pouco tempo a AT ainda se fazia valer muito de mecanismos “secretos”. A informação
não é só de publicar numa página, por ex., é necessário explicitar e esclarecer.
Não basta que uma solução seja legal, é necessário que estejamos perante as melhores decisões e
tal só se alcança se todos forem chamados a participar na solução. Como é que hoje conseguimos
ter mão no planeamento fiscal? Notemos: para já, é muito dúbio qual seja a fronteira entre o que
é lícito e o que não é lícito. Só através de mecanismos de cooperação é que o contribuinte
conseguirá terá a solução adequada à sua atividade.
Assim, um dos procedimentos que tem vocação preventiva é, justamente, o procedimento das
informações vinculativas.
13
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Este regime tem sido sucessivamente aprimorado, tendo sido revisto em 2013, 2016, 2017 e 2021.
Tem sido revisto como uma aposta do legislador. No sentido de corrigir eventuais falhas, mas
sobretudo como forma de tornar instrumento de utilização apetecível por parte dos contribuintes.
Todas as alterações introduzidas foram no sentido de lhes dar maior utilização prática. Foi revisto
quanto aos prazos, quanto à caducidade, quanto ao direito de audição, quanto à facilidade de
acesso sem muitos meios, etc. É um regime que tem sido, e bem, aprimorado pelo legislador.
As informações prestadas ao abrigo do art. 68º LGT são obrigatórias para: a Administração.
Quando se requer uma informação vinculativa, estamos a requerer um efeito jurídico, o que
pretendemos é obter um entendimento administrativo com a certeza de que o mesmo não pode
ser alterado e que a Administração não pode, em regra, decidir em sentido divergente. Este efeito
vinculativo é relativamente ao caso concreto e relativamente ao sujeito passivo que requer a
informação. Daqui decorre que a administração não está vinculada a adotar análogo entendimento
numa outra situação.
Os tribunais também não estão vinculados pelo teor das informações vinculativas. É certo que se
o contribuinte aceitar e atuar de acordo com o teor da informação vinculativa que lhe é prestada,
a intervenção do tribunal será meramente conjeturável do ponto de vista académico de ultimo
grau. Por outro lado, os sujeitos passivos também não se encontram vinculados pelo teor de uma
informação vinculativa e daqui decorrem algumas notas importantes relacionadas com a própria
natureza jurídica destas informações. São, obviamente, atos administrativos em matéria
tributária, mas que são apenas auto-vinculativos, i.e., não há uma hétero-vinculação do
contribuinte no sentido de ficar vinculado a aplicar a lei nos termos definidos pela AT. Alias, o
regime das informações vinculativas tem uma nuance: possibilidade de o contribuinte,
discordando do teor da informação, poder reagir judicialmente, atacando os pressupostos
administrativos.
Então, estamos perante um ato administrativo constitutivo de direitos – o particular fica com o
direito de não ver a sua situação fiscal alterada por decisão jurídica da administração contrária
àquela que se encontra vertida na situação __.
14
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Na Alemanha, foi, durante muito tempo, tratada como uma promessa e a qualificação que depois
decorreu foi a de ato administrativo com efeitos auto-vinculativos para a administração. É aquela
que se vincula através de uma informação vinculativa que lhe seja prestada.
Qual é o prazo máximo de decisão de uma informação vinculativa urgente? 28 dias é o que
demora no Reino Unido. Em Portugal, o prazo de uma informação vinculativa com caráter urgente
é de 75 dias (art. 65º/2 LGT). Foi um prazo que até 2016 era de 90 dias. houve, então, uma revisão
da lei (Lei nº42/2016) que encurtou o prazo para as informações vinculativas urgentes. No art.
68º não temos um procedimento de informação vinculativa, mas sim dois:
A distinção tem relevância a diversos níveis, desde logo a termos de prazo. Com urgência, deve
ser decidida no prazo máximo de 75 dias que é metade para o prazo que está previsto para as
informações vinculativas que não têm este caráter de urgência – art. 68º/4 LGT. Por outro lado, o
próprio requerimento da informação vinculativa urgente e não urgente é diferente, porque se
nós apresentarmos um pedido com caráter de urgência, esse pedido deve ser logo acompanhado
de uma “proposta (fundamentada) de enquadramento dos factos”, aquilo que, na perspetiva do
contribuinte, deve ser a correta/exata interpretação da lei mais adequada. Proposta de
enquadramento esta referida no art. 68º/2 e que vai permitir, posteriormente, que no caso de a
administração tributária não responder dentro do prazo legal, que se considere tacitamente
acolhida a proposta que fora apresentada pelo contribuinte. Informações vinculativas regulares,
por um lado, e informações vinculativas urgentes por outro. As informações vinculativas urgentes
estão sujeitas a uma taxa devida pela urgência. Aliás, é curioso vermos que há diferentes opções
legislativas nos diversos ordenamentos jurídicos quanto à questão de se a urgência deve ser ou
não sujeita ao pagamento de uma taxa. A taxa, em si, não é propriamente barata, mas a segurança
tributária não tem preço e face as consequências fiscais que podem advir de uma situação
concreta, de bom grado se recomenda que se peça uma informação com estas características e se
pague a taxa. Perante uma taxa mínima de 2 500€, poucos são os contribuintes que possam ver a
sua situação esclarecida. O legislador veio, na Lei nº7/2021, alterar o art. 68º, no sentido de
permitir a possibilidade de dispensar o pagamento da taxa, mas, mesmo quando isso não aconteça,
pode reduzir-se o valor para metade. Essa crítica foi “resolvida” pelo legislador.
Mas se a taxa não for paga e a AT entender que não pode haver dispensa do pagamento da
taxa: a informação vinculativa prossegue, mas de acordo com os termos gerais. Há, efetivamente,
uma tendência de encurtamento dos prazos, mas efetivamente os 75 dias poderão servir para
operações que requerem sempre algum planeamento e, dificilmente, servirão para aquelas dúvidas
que surgem quase em função de uma determinada operação.
15
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
A AT pode discordar do caráter urgente do pedido? Pode. Há um passo prévio previsto no nº6
que impõe uma avaliação administrativa e só depois desta é que se notifica o contribuinte para o
pagamento da taxa. Se não se reconhecer o caráter de urgência, depois o contribuinte também
poderá reagir – é uma reação duvidosa (porque se vai discordar com a AT vai “perder” mais
tempo o que não se relaciona bem com o caráter urgente que foi invocado).
As informações vinculativas não urgentes que não forem decididas dentro do prazo legal:
não são deferidas tacitamente porque, por não serem acompanhadas por uma proposta de
enquadramento jurídico dos factos, quando fazemos o pedido pedimos para a AT se pronunciar
sobre o pedido, não temos de dar qualquer solução jurídica nesta modalidade. A figura do
deferimento tácito só tem sentido nas informações vinculativas urgentes porque o contribuinte
apresenta uma proposta/solução jurídica. Nas informações não urgentes, o contribuinte não vai
formular nenhuma proposta, não vai adiantar à administração nenhum enquadramento jurídico
relativamente aos factos, pelo que não pode haver um deferimento tácito. No entanto, o legislador
não fechou os olhos ao facto de a AT estar a incumprir com o prazo de decisão que lhe é definido
por lei. Até que a AT não decida, aplicam-se os efeitos do art. 118º? Se a interpretação que o
contribuinte fizer da lei, em concreto, for plausível, se a interpretação que vier a ser feita for de
boa-fé (no sentido de não abusar do silêncio administrativo e chegar a uma solução radicalmente
desprovida de qualquer suporte), então o contribuinte responderá apenas pela dívida do imposto
que lhe for considerado devido, não sendo responsável pelo pagamento de juros, coimas e outros
acréscimos que possam existir. Ou seja, o nosso legislador, em sede de informações vinculativas,
e tendo em conta que a administração não respondeu no prazo de 150 dias, atribui o direito a uma
interpretação plausível e de boa-fé, na base da qual haverá uma limitação da responsabilidade
do contribuinte. Este direito tem sido referido pela doutrina como um direito que devia ser
reconhecido sempre face ao caráter complexo da regulamentação fiscal.
O efeito vinculativo das informações perdura por um período-regra de... Se estiver em causa
um deferimento tácito de uma informação vinculativa urgente, os efeitos desse deferimento
limitar-se-ão aos atos tributários que tiverem em causa no periodo de tributação em que os
mesmos ocorram. Fora disso, a informação vinculativa tende a ter uma vigência prolongada
enquanto se mantiver o mesmo quadro legal; enquanto o enquadramento jurídico for o mesmo e
a situação de facto se mantiver idêntica. As informações mantém os seus efeitos enquanto não se
alterarem os factos ou o direito segundo o qual forem proferidas as informações vinculativas. O
periodo regra de caducidade das informações, nos termos do art. 68º/15 LGT, é de 4 anos – o que
dá uma margem de segurança do sujeito passivo. Sendo que a AT poderá, nos termos no nº16,
revogar uma informação vinculativa, com a audição do contribuinte, desde que com salvaguarda
dos direitos e interesses constituídos. Se eu hoje quiser fazer um pedido de informação
vinculativa, em nome de uma sociedade, para saber se devo ou não incluir no regime especial de
16
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
tributação de grupos de sociedade e a AT disser que não pode ser incluída, porque viola o art. 69º
do IRC, não pode amanhã vir a cessar o consolidado com um entendimento diferente, apesar de
a informação vinculativa já ter caducado.
Em que situações é que a AT não está obrigada a fornecer uma informação vinculativa com
caráter de urgência? Quanto ao objeto das informações vinculativas, pode estar em causa
qualquer questão independentemente da sua complexidade ou de estarem em causa benefícios
fiscais. O legislador não disse nada relativamente a limitações às informações vinculativas quando
estiverem em causa operações de “planeamento fiscal” de duvidosa admissibilidade. O legislador
não estabeleceu expressamente essa limitação, do modo que não podemos afastar uma informação
vinculativa apenas por poder estar em causa uma interpretação abusiva da lei fiscal por parte do
contribuinte. Tal é confirmado pelo art. 63º do CPPT – artigo onde consta o procedimento de
aplicação da clausula geral anti-abuso -, diz-se que não há um lugar à aplicação do nº1
(procedimento de aplicação da clausula geral anti-abuso) se tiver sido pedido uma informação
vinculativa sobre a matéria em causa. não podemos afastar mesmo a possibilidade de um caso de
planeamento fiscal mais agressivo poder vir a ser objeto de uma interpretação abusiva.
Houve quem dissesse que os “casos complexos” também poderiam excluir o caráter de urgência.
Quem disse isto, disse com base no art. 68º/10 LGT. Obviamente que não serão meros casos
complexos que podem autorizar a administração a não fornecer uma informação vinculativa com
caráter de urgência. Nós temos de partir do princípio de que os casos são levados e colocados
perante à AT serão casos complexos e não de resposta óbvia. Os problemas fiscais, à partida,
serão problemas complexos. Ao olhar par o nº10 devemos interpretar de forma bastante restritiva,
porquê? Porque neste caso, a questão de a complexidade do caso já em esbatida pela existência
de uma proposta de enquadramento apresentada pelo próprio sujeito passivo. A administração
não tem de construir um edifício argumentativo a partir do 0, já é confrontada com uma possível
solução jurídica. Devemos interpretar restritivamente o nº10 – “casos de especial complexidade”
que tem de ser incapacitante, tem de impedir que a administração, na prática, pudesse nesse tempo
dar uma resposta.
Quando tenha sido invalidamente recusado o caráter de urgência, podemos seguir dois caminhos:
17
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
A solução legal está prevista no art. 68º/3 → depois de início de processo de inspeção
tributária. A grande tendência do procedimento da inspeção tributária é a de que esta seja não
apenas o foco e a origem de problemas, mas seja também o fórum onde os problemas podem vir
a ser resolvidos. Portanto, não se diz que devêssemos admitir aqui a figura das informações
vinculativas, mas quando existisse uma questão dúbia, incerta, tanto em matéria de facto, como
em matéria de direito, o nosso sistema devia prever a possibilidade de ainda durante o próprio
procedimento de inspeção se obter a resolução dessa controvérsia. Os sistemas fiscais globais
estão a avançar no sentido de trazer para o procedimento mecanismos endo-procedimentais que
permitem resolver de forma rápida e definitiva as questões de natureza incerta – tanto em matéria
de facto como de direito. As inspeções serão, obviamente, o procedimento por excelência em que
essas questões deviam ser resolvidas. Se houvesse um litígio, durante o procedimento tributário,
faríamos uma espécie de reenvio para sanar o conflito. O nosso legislador não acolheu essa
solução e não permite que as informações vinculativas sejam prestadas apos o início do processo
de inspeção, MAS o próprio procedimento de inspeção devia prever um momento de resolução
de questões incertas ou litigiosas antes da conclusão da própria inspeção.
Para quem já tivesse estudado tudo isto a fundo, veríamos que no procedimento de inspeção,
quando esta chega ao fim, o contribuinte pode requerer que as conclusões que o procedimento de
inspeção sejam, no fundo, reconhecidos para o futuro com caráter vinculativo. Há um género de
informação vinculativa que pode recorrer do próprio procedimento de inspeção.
“não, porque são questões académicas” – o legislador era obrigado a prever um meio de reação
judicial em matéria de informações vinculativas? Decorre da constituição essa obrigatoriedade?
Não. Agora, esta opção, ao invés de falarmos, de nos focarmos nos mínimos olímpicos, vamos
apontar para o pódio, qual é o sistema que melhor garantia dá a contribuintes, À AT e À segurança
jurídica? Podemos estar perante uma operação com consequências fiscais tremendas. Portanto,
esperar que haja um ato tributário para haja uma intervenção, não serve os interesses da segurança
jurídica em tempo curto e à luz daquilo que são as necessidades de investimento. O sistema fiscal,
hoje, se quiser competir com os sistemas fiscais de outros países, os tax experts das multinacionais
não vão olhar apenas para a taxa de IRC, vão olhar para todo o nosso sistema fiscal como um
todo, quais são os mecanismos que temos para relacionar com a AT, quais as possibilidades de
ter uma decisão fiscal definitiva. Às vezes, a taxa do imposto pode ser o que menos importa. Se
o legislador prevê esta possibilidade de recurso, pois justifica-se plenamente.
“não, pelo princípio da impugnação unitária” – este princípio vale no processo tributário, mas
falaremos melhor depois, art. 54º do CPPT. A ideia é a de que só o ato final, que poe termo ao
procedimento, é que acaba por afetar a esfera jurídica do contribuinte, é que é passível de
18
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
impugnação judicial. Isto não implica que existam atos destacáveis, que possam ser impugnados
à parte ou que o legislador admita a impugnabilidade de atos durante o decurso do procedimento.
Ainda que se a norma não existisse, só o ato final poderia ser objeto de impugnação judicial.
Quanto ao conteúdo das decisões passíveis de recurso: art. 20º, o legislador considera que
também o próprio enquadramento jurídico dado pela AT é passível de recurso contencioso. Isto
foi introduzido em 2014/2013 e o legislador continua a usar expressões da “idade da pedra” – o
recurso contencioso será a ação administrativa, o meio processual idóneo para, no fundo,
controverter-nos perante atos administrativos em matéria tributária. Mas esta ação tem diversas
finalidades. A ver do doutor, a que encaixa melhor aqui será o pedido de condenação da
administração à prática de ato administrativo devido, pelo que tem uma vantagem. Para além do
interesse ambulatório, tem conteúdo pretensivo, ou seja, eu pretendo não apenas que o tribunal
destrua o ato e o anule, mas que a administração seja já obrigada a praticar um ato com um
conteúdo determinado. Neste caso, esta ação muito dificilmente vai embater nos limites do art.
61º do CPTA, uma vez que, em princípio, a matéria de dirieto fiscal é uma matéria com elevado
grau de vinculação da AT – dificilmente estaremos perante casos com tamanha
discricionariedade.
16.04.2021
Nós distinguimos duas vias de avaliação indireta. Para além desse exemplo tradicional, o
legislador foi acrescentado hipóteses relativas de avaliação indireta que têm uma finalidade
claramente identificável. Casos de avaliação indireta que têm como primordial objetivo a deteção
de situações anómalas potencialmente reveladoras de fraude ou evasão fiscal. É isto mesmo. Ou
seja, a avaliação indireta desviou-se um pouco do seu caminho tradicional, trilhado no controlo
sucessivo das declarações do contribuinte, para antecipar, no fundo, essa dimensão de fiscalização
quando existem situações que são potencialmente indicadoras de desvio ou omissão de
rendimentos.
Por isso é que o doutor distingue a avaliação indireta em sentido estrito e a avaliação indireta em
sentido lato. O legislador foi acrescentado hipóteses da alínea d), e) e f) e hoje temos um regime
relativamente complexo de avaliação indireta. Vamos desconstruir esta complexidade e dar por
assente que existem duas modalidades de avaliação indireta. Aquela que parte da existência e
verificação de uma impossibilidade de comprovar a matéria declarada para a reconstruir em base
de presunções ou outros elementos e indícios ao dispor da AT e depois há esta avaliação indireta
em sentido amplo, que tem uma finalidade mais de combate/reação a situações de potencial
omissão de rendimentos. Vejam o seguinte. Em todas estas hipóteses está subjacente uma ideia
de desvio à normalidade. O legislador constrói a alinea c), d) e f) em situações em que
19
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Em que casos é que pode haver lugar à avaliação indireta, fora das situações de
impossibilidade?
Na alínea c), d), e) e f), o legislador permite a avaliação indireta quando haja um desvio perante
os indicadores objetivos que não existem e, portanto, nunca foram regulamentados, sendo esta
uma norma que não é passível de aplicação por parte da autoridade tributária. Se começarmos por
esta norma, vemos logo a estrutura desta nova avaliação indireta. A estrutura desta avaliação
indireta é a de transferir para a esfera do sujeito passivo o encargo de provar as razões
justificativas da situação, ou seja, de provar que os rendimentos declarados correspondem à
verdade e que não houve qualquer omissão de rendimentos sujeitos a tributação. Ou seja, ao nível
dos pressupostos da avaliação indireta, e já vimos que cabe à AT o ónus da prova relativamente
aos pressupostos, acaba por verificar-se como que uma inversão do ónus da prova – verificadas
estas situações, passa para o lado do contribuinte a comprovação de que não houve omissão de
rendimentos. Isto pode, nalgumas circunstâncias, consubstanciar uma diabólica probatio. Pode
ser muito difícil o contribuinte reconstruir determinadas fontes de rendimento que já estavam na
sua esfera jurídica. Ao nível dos pressupostos temos, por parte da AT, pressupostos que são de
fácil verificação e prova – são pressupostos que, no fundo, se referem a desvios ou situações
facilmente comprováveis: saber se a empresa tem ou não prejuízos fiscais ao longo de x anos, é
obviamente do conhecimento da AT; saber se há ou não a aquisição de uma manifestação de
fortuna, trata-se de matéria de conhecimento da administração. Mais difícil será o contribuinte
demonstrar situações. Caberá ao contribuinte provar o contrário e desmontar a presunção legal
que encontramos nestas normas.
Alínea c):
20
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
No fundo, pretendia-se criar um indicador de rendimento que tivesse em conta a natureza, o tipo
de atividade, a localização da atividade e a dimensão desta para reconstruir ou construir um valor
indicativo relativamente ao rendimento que um determinado contribuinte poderia ter obtido. Ou
seja, esta alínea c) acaba por levar, na sua origem, uma noção de rendimento normal e não aquela
noção constitucionalmente plasmada de rendimento real. Aponta-se para a existência de um
rendimento normal – o rendimento que um contribuinte em condições normais poderia ter obtido.
E, obviamente, isso gera aqui uma fratura com o princípio da tributação pelo rendimento real,
porque, em todo o caso, mesmo ao nível da avaliação indireta, estamos limitados pelos
rendimentos que foram obtidos pelo contribuinte. É isto que tributamos. O nosso sistema
tributário não admite a tributação de rendimentos que os contribuintes podiam mas não obtiveram.
Esta alínea foi objeto de uma discussão acesa no TC, discussão essa que acabou por ficar resolvida
pelo Acórdão nº 84/2003. Foi, na altura, discutida no TC a questão de saber se esta norma, tal
como se encontrava redigida, confrontava o princípio da capacidade contributiva e aquela ideia
de tributação do rendimento real, ainda que de forma presumida. O TC, por maioria, entendeu
que não havia nenhuma violação, uma vez que era dada a possibilidade ao sujeito passivo de
justificar as razões do desvio, pelo que se o sujeito passivo não conseguisse justificar, podia ser-
lhe imputado o rendimento que resultava do indicador. Esta norma tinha o critério de
quantificação que resultava do art. 90º/2 LGT (revogado). Mas o que é que foi revogado? A norma
que dizia que no caso de afastamento dos indicadores objetivos __. A letra morta deste regime,
uma vez que também nem sequer estão previstos critérios para a sua quantificação.
A AT, em função dos valores que são declarados por cada contribuinte, acaba por ter ratios que
servem de indicadores de normalidade. Exemplo: cantinho dos reis e o restaurante do lado
esquerdo – nos tempos que se ia ao cantinho dos reis, o que é que acontecia? Este estava cheio
e o restaurante ao lado, com mais mesas, estava praticamente vazio. Como é que um indicador
pode ter credibilidade para imputar um rendimento quando a realidade concreta de cada sujeito
passivo é essencialmente muito diferenciada. Esta alínea c) tinha esse problema e o legislador
nunca optou por lhe dar execução. Quanto muito iriamos colocar aqui um problema de ilegalidade
por norma regulamentar e dar origem a um processo, nos termos do CPTA.
Caso das manifestações de fortuna e os acréscimos patrimoniais não justificados estão previstos
na alínea f): são realidades que, na perspetiva do doutor, se complementam. São rendimentos da
categoria G, previsto no art. 9º do CIRS, sejam eles rendimentos de atos lícitos ou de atos ilícitos.
Em PT, a licitude ou ilicitude dos rendimentos não interfere com a sua tributação – art. 1º do
CIRS. A verdade é que na categoria G, no art. 9º, consideram-se os acréscimos patrimoniais não
justificados. Portanto, não haja dúvida que estes acréscimos patrimoniais, estes incrementos, são
sujeitos a imposto.
21
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Neste caso, se formos ler o art. 87º d), há lugar à avaliação indireta quando os rendimentos
declarados se afastarem significativamente para menos dos padrões de rendimento que,
razoavelmente, possam permitir as manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito passivo.
Ou seja, este artigo, no fundo, constitui um hall de entrada para as manifestações de fortuna, mas
para concretizar quais as situações abrangidas pela alínea d), temos de recorrer a duas normas que
constam do art. 89º-A (fazer remissão):
Manifestações de fortuna, quando? Quando exista, no fundo, uma manifestação de fortuna nos
termos previstos no art. 89º-A/4 LGT. As manifestações de fortuna relevantes para a alínea d) são
apenas e só as que constam do art. 89º-A/4. Uma carteira por 80 000€ é uma manifestação de
fortuna? Não. Se eu comprar um cavalo, é? Não. Para estes efeitos, manifestações de fortuna são
apenas aquelas elencadas naquele artigo. ou seja, a aquisição de imóveis de valor igual ou superior
a 250 000€, de automóveis de valor superior a 50 000€, barcos de recreio, aeronaves de turismo,
suprimentos ou empréstimos de sócios à sociedade e transferências para paraísos fiscais. É um
elenco taxativo de manifestações de fortuna. Temos, obviamente, de relacionar com o 89º-A/1 e
art. 87º/1 d) LGT. Portanto, primeira nota, é a de que as manifestações de fortuna estão
tipificadas. A tributação das manifestações de fortuna não se aplica em sede de IRC!
Verificada uma destas manifestações de fortuna, ou seja, tendo sido adquirido um imóvel por
500 000€, automóvel por 50 000€, etc, há lugar à avaliação indireta em que circunstâncias?
Vamos ler o art. 89º-A/1 LGT em duas partes:
22
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Caso não seja possível apurar um valor superior de acordo com os já conhecidos critérios do art.
90º, será considerado rendimento tributável o rendimento padrão apurado nos termos da tabela
que consta no nº4. Simplificando isto: se o sujeito passivo não fizer a prova aferida no nº3, aplica-
se a tabela do nº4, ou seja, é-lhe imputado o rendimento padrão que consta no nº4 se não existirem
indícios de que este sujeito passivo tenha um rendimento superior. Indícios estes que resultam
dos critérios previstos no art. 90º/1, ou seja, no caso das manifestações de fortuna, aplica-se o
rendimento padrão se não existirem indícios que apontem para um rendimento superior.
100 000€ de rendimento padrão e o sujeito passivo não oferece qualquer justificação. qual é o
rendimento? 100 000€ se não existirem indícios que lhe permitissem imputar um rendimento
superior. Este rendimento padrão pode ser superado quando existam indícios firmes, de acordo
com os critérios do art. 90º, quando se apure que o contribuinte teve rendimentos superiores ao
rendimento padrão.
23
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
no valor de 200 000€. Consegue, assim, justificar 300 000€. No fundo, como é que devemos
tratar os casos em que exista uma justificação meramente parcial. Podemos, no fundo, referir
três posições:
24
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Outra questão que também tem gerado alguma polémica: a multiplicação da avaliação
indireta. O sujeito passivo pode ter adquirido o imóvel em 2021, em 2020 ou em 2019 que
pode ficar sujeito à avaliação indireta se existir uma desproporção nos termos vistos.
O nº4 dá a entender que vamos aplicar o rendimento padrão em três anos consecutivos, no
ano da aquisição e nos três anos seguintes. No entanto, não é essa a adequada leitura do artigo.
esta parte deve ser lida de facto, em conjugação com o nº2 do art. 89º-A, mas no sentido de
que: a aplicação da avaliação indireta com base na manifestação de fortuna só pode ser feita
ou no ano em que ela aconteceu OU nos três anos seguintes desde que exista a desproporção
e não pode ser feita, obviamente, em todos os anos. É esta a interpretação mais pertinente, na
opinião do doutor. Se se verificarem os pressupostos em diferentes exercícios consecutivos,
a AT tem até ao final do terceiro ano seguinte àquele que ocorreu a manifestação de fortuna
para poder encetar o procedimento de avaliação indireta. Até porque o prazo de caducidade
do imposto é de 4 anos. É um ponto que está referido no texto do doutor e também está no
texto que nos vai enviar da revista JULGAR.
Relativamente a este recurso, o recurso deve ser interposto no prazo de 10 dias, nos termos
do art. 146º-B está limitada a prova documental. Não há aqui lugar ao pedido de revisão fixada
no art. __. Temos um regime impugnatório completamente diferente daquele que vale para a
avaliação indireta tradicional. Este recurso tem, a ver do doutor, algumas críticas.
25
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Já voltamos ao art. 89º-A, mas vamos falar rapidamente do art. 87º/1 e) LGT.
Alínea e):
Esta alínea e), a ver do doutor, só faz sentido porque não está regulamentada, ainda, a alínea
c). se existissem os indicadores objetivos, esta alínea e) não estava a fazer nada, a não ser
complicar em certos casos. O prejuízo é um resultado negativo (nulo ou igual a 0), bastava o
indicador apontar para um valor positivo para haver um __.
O que é que está em causa na alínea f)? Desvios à normalidade que se encontram em
acréscimos de despesa em valor superior a 100 000€ quando não exista declaração de
rendimentos ou quando há uma discrepância com esse valor relativamente aos valores
declarados. Esta cláusula permite, no fundo, abrir a avaliação indireta a realidades que não
estavam consideradas na tabela das manifestações de fortuna. Aqui sim todo o e qualquer
acréscimo patrimonial pode determinar uma avaliação indireta. Compro uma obra de arte,
dou 101 000€ por um quadro e não declaro rendimentos. Não é uma manifestação de fortuna,
mas pode ser um incremento patrimonial nos termos da alinea f).
26
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Em termos intencionais, esta norma permite ultrapassar a taxatividade das hipóteses que o
legislador considera como casos de manifestação de fortuna. Mas esta norma em 2009 foi
alterada para a redação que tem hoje onde se quantifica, de forma exata, o valor do acréscimo
patrimonial que tem relevância para estes efeitos. Antes falava-se de uma divergência não
justificada. A partir e 2009, a norma estabelece um critério objetivo e matemático
relativamente a acréscimos patrimoniais. Serão relevantes na medida em que excedam o valor
dos 100 000€.
Em termos de esta situação estar desenvolvida depois no art. 89º-A. No nº3, no que diz
respeito à possibilidade de haver a prova por parte do contribuinte relativamente ao acréscimo
de património e de despesa e, depois, no nº5 a quantificação da matéria tributável que passa
pela alínea a) do nº5, onde se considera como rendimento tributável a diferença entre o
acréscimo património ou despesa e os rendimentos declarados no mesmo periodo de
tributação. Ou seja, se tiver um acréscimo de património de 150 000€ e tiver declarado
20 000€, o rendimento tributável será de 130 000€.
Há aqui um ponto que é distintivo desta avaliação indireta face às demais. Tem a ver com
uma taxa especial de IRS que está prevista para estes incrementos patrimoniais. É a taxa de
imposto mais alta fora as tributações autónomas. É a taxa prevista no art. 72º/16 do CIRS.
Obviamente que a intenção do legislador foi a de tributar rendimentos de origem
desconhecida e que atingem um patamar que lhes atribui alguma relevância e um peso
significativo. O nosso legislador fiscal antecipou-se ao legislador penal no que respeita ao
enriquecimento ilícito. A ideia é a de tributar os rendimentos cuja fonte é desconhecida e cuja
fonte o contribuinte não revela à AT. Portanto, este regime acaba por ter um caráter de luta
contra a evasão fiscal, mas associado à dimensão “sancionatória” pela taxa de imposto que é
aplicada a estes rendimentos: 60%. Nesta estrutura global dos acréscimos, colocam-se outros
problemas, designadamente no que diz respeito ao tratamento que devemos dar às
justificações que devem ser apresentadas pelos contribuintes.
Efetivamente, com a alteração que ocorreu em 2009, o legislador foi claro ao assumir que
esta avaliação indireta tem como pressuposto um desvio superior a 5 000€. Ou seja, o que o
27
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
legislador pretende tributar são incrementos superiores a 100 000€, do género: se eu tiver um
incremento de 100 000€ ou de 99 999€, este é um argumento literal. A este argumento literal,
somamos um argumento sistemático e esse argumento decorre da articulação do artigo 87º/1
f) LGT com o art. 72º/16 do CIRS. Se formos ler o artigo 72º/16 do CIRS, diz lá que estão
sujeitos à taxa de 60% os acréscimos patrimoniais superiores a 100 000€, de modo que não
seria aqui possível estar a abater ao acréscimo global os valores justificados, pois assim não
teríamos taxa para lhes aplicar. Como é que poderíamos fazer nestes casos? Se estamos a
considerar acréscimos patrimoniais não justificados enquadrados na alínea f), a taxa é de
60%(?).
Então os rendimentos de valor inferior não justificados ficam por tributar? Não, porque se o
sujeito passivo não consegue justificar, apresentar documentos que comprovem a sua situação
tributária, temos um caso em que esses elementos tornam impossível a comprovação direta e
exata dos rendimentos sujeitos a imposto. Portanto, num caso destes, permaneceria em aberto
a aplicação da avaliação indireta constante na alinea d) do art. 87º/1 LGT.
No fundo, esta posição do doutor vai um pouco mais longe do que aquilo que tem sido a
posição jurisprudencial, no sentido de conferir relevância a uma justificação parcial mesmo
no que respeita a pressupostos de aplicação se essa justificação, no fundo, justificar valores
que coloquem a parte injustificada abaixo dos 100 000€ e que, obviamente, afasta do critério
da AT que tem sido irrelevar toda e qualquer justificação apresentada pelo sujeito passivo. A
este propósito, cumpre fazer uma reflexão.
O próprio direito tributário tem uma grande ligação e interação com os princípios que estão
na base das normas jurídico-tributárias. Um dos princípios fundamentais, ao ponto de ser o
pressuposto dos impostos, é o princípio da capacidade contributiva. Este princípio implica
que sejam tributados os rendimentos que são auferidos por um determinado sujeito passivo.
O princípio da capacidade contributiva implica, desde logo, que não existam presunções
absolutas de rendimentos (presunções que não podem ser afastadas). Por outro lado, há-de
fazer recair o imposto sobre aquela parcela que não foi justificada. Que não está abrangida
por outra norma jurídico-fiscal que lhe tenha sido aplicada.
Admitir a justificação parcial é, obviamente, uma consequência do __. Indo mais longe, no
caso de justificação que vá para além do valor relevante nos termos da lei (100 000€), a AT
devia determinar através da avaliação indireta para os casos de impossibilidade o rendimento
tributável do sujeito passivo, não devendo ser abrangido pela alínea f).
Sujeito passivo tem um incremento patrimonial de 200 000€, um imóvel. Declarou 10 000€.
Há uma divergência superior a 100 000€. Vamos por duas situações:
28
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Nisto o doutor concorda com os tribunais, mas acha que se devia ir mais longe e afastar a
aplicabilidade da alínea f) quando o valor justificado faz recair os valores não justificados
abaixo da fasquia dos 100 000€.
Podem existir situações em que existe ou exista uma sobreposição entre as manifestações
de fortuna e os acréscimos patrimoniais, ou seja, os acréscimos patrimoniais, se eu adquiro
um automóvel por 150 000€ e não declaro rendimentos, preencho o pressuposto da alínea d),
mas também o pressuposto da alínea f). Isto também tem dado, pelo menos até 2007, pano
para mangas na jurisprudência até que o legislador veio introduzir o nº2 do art. 87º LGT e
diz: caso se verifiquem simultaneamente os pressupostos da aplicação da alínea d) e f), a
avaliação indireta deve ser realizada nos termos do nº3 e do nº5 do art. 89º-A. ou seja, aplicar-
se-á sempre a possibilidade de o contribuinte fazer a prova (nº3), mas a matéria tributável
será apurada não de acordo com o rendimento padrão, mas de acordo com o critério do nº5:
a diferença entre o acréscimo e os rendimentos declarados. O legislador resolveu um
problema: o de saber qual o regime a aplicar em caso de sobreposição.
Quando o sujeito passivo está abrangido pelo regime simplificado e está abrangido pelo
coeficiente do 1,5. Comprou 100 000€ em mercadorias, mas esses, em termos líquidos,
correspondem a 15 000€ (????????). Este foi um pormenor afinado pela nossa AT e o nosso
legislador fechou os olhos à recomendação feita à comissão encarregada em propor a reforma
de 2014 e que noa tenha sistematizado o sistema de avaliação indireta num sistema menos
dúbio. Já sabemos que, no caso da AT, tende a ir contra o contribuinte e este ultimo contra a
primeira.
Não há dúvida que, de facto, neste regime temos um bom regime para combater situações que
escapariam à malha da tributação. Agora não podemos é ir à pesca da petinga, com a rede do
tubarão. Há situações que têm de ser ponderadas de modo que não se perca a própria
intencionalidade das normas, que é encontrar rendimentos que escaparam à tributação.
29
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Isso não pode servir de desculpa para tributar rendimentos que já foram tributados ou que
nem tinham de o ser.
http://julgar.pt/wp-content/uploads/2014/07/09-DEBATER-Tributação-das-manifestações-
de-fortuna.pdf
Quanto aos meios de reação da alínea f) são exatamente os mesmos da alínea g). quanto à
quantificação, é possível recorrer aos critérios do art. 90º. Nestes casos, o pedido de revisão
podia efetivamente funcionar como um meio de prevenção do litígio antes de se recorrer para
o tribunal, sobretudo na possibilidade de: haver lugar ao pedido de revisão onde até se podia
discutir se justificação apresentada pelo sujeito passivo era totalmente procedente ou se só
parcialmente procedente. Criaria um regime muito similar ao da avaliação indireta
tradicional.
Os rendimentos que saem da avaliação indireta são indiciados. Só nos casos em que não há
margem para dúvida é que a avaliação indireta tradicional pode justificar e estar na base, sem
prejuízo do in dúbio pro reu, de um processo-crime. Nestes casos, estamos perante questões
que são ligeiramente diferenciadas: está em causa o crime de fraude fiscal em termos de
omissão. O que vai ser investigado não é de acordo com a matéria tributável fixada por
presunção, mas a omissão dos proveitos que está na base da aplicação do regime. O doutor é
favorável à criminalização do enriquecimento ilícito. Aliás, em 2012, fez um parecer sobre a
lei que na altura criminalizou o enriquecimento ilícito e foi declarada inconstitucional –
Acórdão TC nº 179/2012. As razões que estão aqui invocadas pelo TC podem ser contornadas
pelo legislador ordinário, mal haja vontade política.
Entre a avaliação indireta que fixa rendimentos por presunção e não aquela que está na base
destes acréscimos patrimoniais não justificados que serão indicadores de fraude fiscal.
30
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Matéria que tem a ver com uma outra matéria: a da responsabilidade subsidiária.
A responsabilidade subsidiária encontra-se na parte geral (art. 22º e 23º LGT). A questão da
responsabilidade, no fundo, remete-nos para uma realidade específica, aquelas situações em
que, para além do devedor originário, podem ser chamados para responder pelas dividas
tributárias outros sujeitos. A responsabilidade tributária é de dois tipos:
• Responsabilidade solidária;
• Responsabilidade subsidiária.
Se o legislador nada disser, se não fizer nenhuma norma especial, a responsabilidade pelas
dividas de outrem, à partida, tem natureza meramente subsidiária (art. 22º/4 LGT). Nos
termos da lei podemos chamar a responder pelas dividas tributárias outros sujeitos passivos
para além do sujeito passivo originário. O próprio artigo 18º/3 LGT considera sujeito passivo
todo aquele que tenha de satisfazer uma prestação tributária.
• Pressupostos gerais (art. 23º LGT): quando é que um sujeito pode ser subsidiariamente
responsável pelas dívidas de outrem? Havendo uma previsão legal atributiva de
responsabilidade deste tipo cumpre __. O art. 23º/1 LGT diz que a responsabilidade
subsidiária opera-se por reversão do processo de execução fiscal e, por outro lado, esta
reversão ocorre quando? Na responsabilidade subsidiária, o pagamento da dívida começa
por ser exigida ao devedor originário. Como é que se passam as coisas no direito fiscal?
Há uma liquidação, tal tem um prazo para pagamento voluntário; caso não haja
pagamento voluntário, extrai-se uma certidão de dívida com base no qual se vai iniciar
o processo de execução fiscal. O processo de execução fiscal tem como finalidade a
cobrança coerciva de dívida e como é que tal cobrança é assegurada? Através da
penhora/venda dos bens do devedor. Este é o esquema normal de tramitação das dívidas
fiscais. Pode acontecer que, instaurado o processo de execução fiscal, o devedor, para
obter a cobrança coerciva da dívida, não tenha bens suscetíveis de penhora para assegurar
o pagamento coercivo da dívida exequenda. Existindo uma situação de fundada
insuficiência ou inexistência de bens penhoráveis, o processo de execução fiscal irá
reverter para os responsáveis subsidiários. A reversão é a forma como se efetiva a
responsabilidade tributária subsidiária – subsidiária precisamente por oposição à
responsabilidade solidária. O devedor subsidiário só vai responder se o devedor principal
não tiver como responder. Apenas é chamado se não existirem bens na esfera do devedor
originário ou, existindo bens, esses sejam manifestamente insuficientes para obter o
31
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Que mais direitos cabem ao responsável subsidiário? Pode pagar a dívida e se o fizer
dentro daquele prazo de 30 dias, vai pagá-la isenta de custas de mora que estejam a vencer
desde o momento em que ocorreu a falta de pagamento voluntário. 23º/5 para o 203º. Se o
responsável pagar dentro do prazo, paga sem juros e custas que tenham sido, no fundo,
32
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
liquidadas até esse momento. Será que o responsável subsidiário pode pensar no melhor
dos dois mundos - pagar, porque vai pagar sem juros, e, dentro do mesmo prazo, de deduzir
oposição à execução. são vias alternativas, mas podem ser utilizadas ao mesmo tempo ou há
uma relação de prejudicialidade entre as duas? Art. 9º LGT. Este artigo veio a surgir porque
havia dúvidas nos casos em que a administração fixava prazos a ver com a possibilidade de
diminuição da dívida dos juros. Hoje é claro. Hoje não se afasta a possibilidade de o
responsável subsidiário pagar r opor-se. Obviamente que ele na oposição vai discutir se estão
ou não verificados os pressupostos da reversão. Caso não estejam, ele vai ser ressarcido do
valor que pagou indevidamente – não há uma extinção do processo de execução fiscal (art.
23º/6).
NOTAS do 22º/5:
• Para que este direito seja exercitável, a lei determina que o responsável subsidiário seja
informado dos elementos essenciais relativos à divida tributária em causa. por isso é que
a citação do responsável tributário deve conter os elementos essenciais, incluindo a
33
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Uma sociedade, IRC 2018: gerentes A e B. Em 2019, ficou apenas A e C. Em 2021, está D e
terminou o prazo para pagamento desta dívida. Pergunta: quem e em que termos pode ser
responsabilizado?
Para a fundada insuficiência: art. 23º/1, 2 e 3. No art. 24º, se exerceram efetivamente as suas
funções. Havendo exercício efetivo de funções, quem é que responde pela alínea a)? A e B.
E C pode ser responsabilizado? Ele não estava em funções no momento a que se refere o facto
tributário, nem no momento em que terminou o prazo para o pagamento da dívida. Pode ser
responsabilizado, também, ao abrigo da alínea a). Só serão responsabilizados se existir prova
da culpa. A quem é que cabe o ónus de provar o exercício efetivo de funções e que estes
gerentes foram responsáveis pelo facto do património da sociedade se tornar insuficiente: a
AT.
34
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
D será responsável ao abrigo da alínea b), salvo se provar que não tem culpa. tendo em conta
que se verificam os demais pressupostos da responsabilidade subsidiária. Em concreto, como
podemos configurar esta relação é que nos vai causar problemas. imaginemos que quem
desbaratou a sociedade ao ponto de esta não ter património praticamente nenhum foi C. D,
no exercício do direito de audição, iria dizer que tinha sido C que tinha culpa. D tem de provar
tal. A AT para imputar a responsabilidade a qualquer um dos gerentes que tenham estado em
funções em momento anterior vai ter de provar que foi quem tornou o património insuficiente.
TPC da falta de comunicação dos elementos do artigo 22º/5 LGT e como elidir a presunção
de culpa do artigo 24º/1 b) LGT? Pesquisa de jurisprudência. Gerente, presunção de culpa,
site da dgsi.pt. STA, TCAN e TCAS.
Suponho que D foi chamado à execução como responsável subsidiário, quais as suas
possibilidades de ação? se diz que ele já foi chamado, sabe-se que o direito de audição já
decorreu. Ele pode pagar sem juros e custas no prazo de 30 dias; pode opor-se à execução em
30 dias; pode, ainda, reclamar e impugnar a legalidade da dívida (22º/5).
Divida de IRC resultou de uma avaliação indireta. Quid iuris? Aqui há que saber se o pedido
de revisão é pressuposto obrigatório ou se é facultativo relativamente à impugnação. Se existir
erro nos pressupostos, por parte do responsável subsidiário, tal pedido é facultativo – há um
acórdão do conjunto dos juízos do STA que vai neste sentido. Procurar: pedido de revisão,
responsável subsidiário site: dgsi.pt.
07/05/2021
Uma nota titulo mais particular, relativos a investigações do doutor, estes meios
administrativos têm maior importância num tempo anterior ao litígio em tribunal. Fica como
uma via aberta anterior à via judicial para fazer valer os direitos.
A teoria, aqui, pode ficar um pouco longe da prática. A abertura legislativa para reconhecer
razão ao contribuinte num processo de reclamação tem vindo a aumentar, mas ainda são,
obviamente, muitos os casos em que o contribuinte reclama e só em tribunal é que aquele
consegue fazer valer os seus direitos. De qualquer forma, o discurso do doutor tem-se alterado
à medida que os tempos passam, pois a AT tem vindo a aumentar a sua atenção relativa a
estes processos, não sendo um procedimento que constituía letra morta da lei. Tem vantagens
35
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
relativamente à impugnação judicial, daí ser uma hipótese que devemos ter sempre em mente
quando se pretenda atacar um ato de liquidação.
• Finalidade
• Âmbito
• Natureza
• Fundamentos
• Efeitos
• Prazo
• Regras fundamentais
• Tramitação
• Impugnação:
Artigo 68º e ss. do CPPT e é um procedimento que visa a anulação total ou parcial dos atos
tributários podendo ser deduzida por iniciativa dos contribuintes com os mesmos
fundamentos previstos para a impugnação judicial.
a. Objeto da Reclamação:
Além dos atos de liquidação, devemos incluir outros atos, no que respeita à possibilidade de
proceder à sua anulação, desde logo:
36
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Além destes casos, já conhecemos outras situações em que é necessária uma reclamação
administrativa: a propósito da avaliação indireta quando nos referimos ao pedido de revisão.
No entanto, o pedido de revisão não é uma reclamação graciosa, assim como os pedidos de
segunda avaliação em matéria de IMI também não são reclamações graciosas. Salvo
obviamente nos casos em que a lei especificamente o prevê, têm como objetivo os atos de
liquidação.
b. Fundamentos da Reclamação:
37
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
A reclamação graciosa pode ser apresentada pelo próprio contribuinte, não carecendo da
constituição de mandatário.
c. Legitimidade:
Voltando ao art. 68º CPPT, importa precisar a questão da legitimidade. Os substitutos são
sujeitos passivos aos quais pode ser exigido o cumprimento de uma obrigação tributária. São
sujeitos passivos que podem, obviamente, ser chamados a satisfazer uma dívida tributária
ainda que, a título originário, essa dívida não fosse sua. No art. 22º/5 LGT, os responsáveis
solidários ou subsidiários podiam reclamar ou impugnar a legalidade dívida nos mesmos
termos do devedor principal.
Não vamos confundir os meios de reação, nem as situações em causa. A reclamação graciosa
tem como objeto o ato de liquidação e estamos aqui perante fundamentos que dizem respeito
à legalidade da dívida. A reclamação graciosa não tem nada a ver com a discussão paralela
relativa à exigibilidade da dívida no caso ao responsável subsidiário. Estamos, no fundo, a
dar aos responsáveis subsidiários a possibilidade de discutirem a legalidade de uma divida
cujo pagamento lhes está a ser pedido. Equiparação do responsável subsidiário ao devedor
original no que diz respeito aos meios de reação.
Nos casos em que a legalidade da dívida, em que a discussão sobre a legalidade derive de
uma avaliação indireta, colocava-se a questão de saber se era ou não necessário efetuar o
pedido de revisão. Hoje é pacífico de que não há essa obrigatoriedade, ainda que os mesmos
tenham essa possibilidade.
d. Natureza:
38
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
da impugnação judicial. Não é necessária para abrir a via judicial. Perante um ato tributário
ilegal, temos diversas possibilidades:
• Reclamação graciosa;
• Impugnação judicial;
• Revisão prevista no art. 78º da LGT (diferente da revisão da matéria tributável) – revisão
dos atos tributários pela própria entidade que os praticou.
Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada impugnação
judicial com o mesmo fundamento (Art. 68º/2 CPPT). Por exclusão de partes, pode ser
deduzida uma reclamação graciosa, relativamente ao mesmo ato, desde que ela tenha um
fundamento diferente. Aqui, a reclamação é apensa à impugnação sendo considerada no
âmbito desse processo (art. 111º/4 CPPT). No entanto, há um outro princípio que resolve
estes cruzamentos entre as reclamações graciosas e as impugnações judiciais, no caso de
existirem reclamações graciosas e impugnações judiciais relativas ao mesmo ato de
liquidação, o legislador veio consagrar uma regra de preferência pela decisão judicial, i.e.,
se eu apresentar uma reclamação graciosa quando já está pendente uma decisão judicial
(invocando fundamentos diferentes), a reclamação que eu apresentar não vai ser decidida em
sede administrativa, mas vai ser apensa ao processo de impugnação judicial e vai ser decidida
no âmbito desse processo de impugnação judicial. Ou seja, qual é a ideia? A ideia é,
obviamente, evitar que sobre o mesmo ato recaiam decisão que possam ser contraditórias,
daí o legislador estabelecer este princípio da preferência da pronúncia jurisdicional. (art. 111º
CPPT).
Quando primeiro procedo a uma reclamação e depois procedo a uma impugnação, o regime
é o mesmo. Posso apresentar a impugnação, mas a reclamação graciosa vai ser encaminhada
apensa ao processo judicial e vai ser considerada no âmbito desse processo.
Há, aqui, um jogo de “alternativas”, não pode é haver uma cumulação de decisões
(Administrativa e judicial) relativamente ao mesmo ato quando os processos corram em
termos paralelos entre si.
Casos de reclamação graciosa obrigatória: art. _. No caso das reclamações do art. 133º-A, a
razão tem a ver com o caráter técnico das matérias. No powerpoint do doutor tem lá “outros
casos” de reclamações obrigatórias que importa com atenção que se baseiam na necessida
39
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
dede “administratizar um ato praticado pelo particular nos casos previstos nos art. 131º, 132º
e 133º CPPT. Tem um erro: a reclamação de atos de liquidação na sequência da aplicação da
cláusula anti-abuso é o art. 63º/7 do CPPT (e não da LGT). Há casos em que estamos perante
reclamações administrativas, mas que não seguem este procedimento, são reclamações
administrativas necessárias (o pedido de revisão e a revisão do preço efetivo de transmissão
de imóveis, seja em sede de IRS ou de IRC). Nos últimos dois casos, além do mais, a ideia
é prevenir que um litígio relacionado com uma questão técnica onde, no fundo, há margem
de apreciação por parte da administração prossiga para tribunal podendo ser resolvido, ainda,
em sede administrativa.
e. Prazos:
O prazo regra é de 120 dias (art. 70º/1 CPPT) a contar dos factos previstos no 102º/1 que se
refere à impugnação judicial. Quando o prazo se inicie com a notificação, estamos a
pressupor que essa notificação contenha os elementos necessários para que o contribuinte
possa reagir, quando essa notificação é insuficiente, o art. 37º do CPPT pode o tribunal,
dentro de 30 dias ou do prazo para a reclamação, requerer uma notificação dos elementos em
falta. Quando o contribuinte lança mão deste expediente. O prazo para a reclamação só
começa a contar a partir do momento em que a administração entrega os elementos que não
constavam da citação do ato. A fundamentação existe, há ausência de notificação da
fundamentação. O contribuinte pode requerer uma certidão de omissão dos fundamentos (?).
Com o regime criado este ano pela Lei nº7/2021 de 26 de fevereiro, criou-se o regime das
chamadas “férias fiscais”, portanto se o prazo para reclamar terminar em agosto, transfere-
se para o primeiro dia útil de setembro. São prazos substantivos e que se contam de forma
contínua, não são computados nos mesmo termos dos prazos do procedimento
administrativo. Prazos contínuos não suspendem em férias ou feriados, se terminarem, no
entanto, no mês de agosto, transfere-se o termo do prazo para o 1º dia útil de setembro. A
regra são so 120 dias.
Nos casos previstos no art. 131º, 132º e 133º o prazo vai variar. Se for autoliquidação ou
retenção na fonte, o prazo será de 2 anos; no caso de pagamento indevido por conta, será um
prazo de 30 dias. no que diz respeito para o prazo de apresentação da reclamação graciosa,
porque existem prazos para decisão. Aliás, a doutora Matilde falou no princípio da decisão,
previsto no art. 56º e 57º LGT – dever de decisão e prazo.
40
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Se a reclamação não for decidida dentro do prazo de 4 meses, o que é que sucede? Esta
presunção de indeferimento tácito não corresponde ao indeferimento total da reclamação. No
fundo, a presunção de indeferimento permitirá ao reclamante o acesso às demais vias
administrativas e judiciais sem estar dependente de uma decisão expressa da administração.
Exemplo: apresento uma reclamação graciosa e a AT não me diz nada, o tempo vai passando
e o silencio mantém-se; o que a lei permite é que o titular do direito possa presumir o
indeferimento da reclamação para aceder às vias que forem adequadas à reação a esse
indeferimento, mas a administração mantém o dever de resposta. Intimação para um
comportamento – art.147º CPPT.
No caso das reclamações relativas ao pagamento por conta, o prazo de decisão é de 90 dias,
pelo que findo este a presunção é de deferimento tácito da reclamação (art. 133º/4 CPPT).
Porque é que num caso é indeferimento tácito e no outro é deferimento? Neste caso do
pagamento por conta, houve, de facto, uma entrega patrimonial do contribuinte que, sendo
considerada indevida, deve ser obviamente anulada.
f. Efeitos:
Constam do artigo 69º CPPT. Uma das caraterísticas principais, que é também uma das
fundamentais de todo o processo tributário, é o de que a apresentação por si de um meio de
reação não tem efeitos suspensivos. Ou seja, não é pelo facto de eu ter reclamado ou de eu
ter impugnado que ficará suspenso o processo de execução fiscal com vista à cobrança
coerciva da dívida (alínea f) do art. 69º CPPT). A não ser que haja prestação de garantia.
Remissão para o art. 169º CPPT. No entanto, existem duas situações em que a reclamação
tem efeito suspensivo sem ser prestada garantia:
• Caso do art. 92º/8 da LGT- pedido de revisão de avaliação indireta onde participou o
perito independente e o parecer deste for no mesmo sentido do perito do contribuinte,
mas a administração decide em sentido diverso. O artigo diz que a reclamação ou a
impugnação tem efeito suspensivo independentemente da prestação de garantia.
• Caso do artigo 52º/4 da LGT – permite que seja requerida a dispensa ou isenção de
prestação de garantia. Tem como pressupostos, aqui, haver uma situação de manifesta
ausência de meios económicos que deve ser provada pelo próprio
contribuinte/requerente - manifesta ausência de meios é avaliada pela existência ou não
de bens passíveis de penhora. Ou Facto de a prestação de garantia causar um prejuízo
irreparável ao executado. Ou o requisito cumulativo a estas duas situações não existirem
fortes indícios que mostrem que tudo se reconduz a uma atuação dolosa do contribuinte,
devendo ser a AT a provar este facto.
41
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Outra caraterística das reclamações graciosas, é a limitação dos meios de prova que o
legislador admite neste procedimento. Em princípio, nos termos do art. 69º/ e) do CPPT, está
limitada aos meios de prova documental. No entanto, o próprio legislador diz que a AT deve
realizar todas as diligências que sejam manifestamente necessárias e indispensáveis à
descoberta da verdade material. Tal pode incluir o recurso a outros meios de prova para além
da prova documental. No fundo, o que o legislador concretiza é o teor do princípio do
42
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
g. Tramitação:
43
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Artigo 73º e 75º do CPPT. Entra no serviço das finanças direcionado à direção das finanças.
A instrução do pedido é feita nos serviços que elaboram uma proposta fundamentada de
decisão que poderá ser sancionada superiormente. A decisão, obviamente, pode ser uma de
três:
• Deferimento – total
• Indeferimento – total ou parcial do pedido efetuado pelo contribuinte
Duas notas. Quando estejamos perante uma situação de indeferimento, há sempre lugar, no
âmbito da reclamação graciosa, à notificação do sujeito passivo para exercer o direito de
audição nos termos do art. 60º/1 da LGT. Esta é uma nota importante. Se os contribuintes
invocarem aí elementos novos, a AT terá, nos termos do art. 60º/7, de ter obrigatoriamente
em consideração os elementos invocados pelos contribuintes na fundamentação da decisão.
No que respeita à legação de fundamentos novos, a AT dá uma interpretação que o doutor
considera questionável e que, no fundo, acaba por reduzir elementos novos a novos
elementos de facto. A factos novos que não foram considerados. Não se vê por que razão se
devem por de lado elementos novos relacionados com a interpretação jurídica e com a
resolução da questão reclamada no que se refere a elementos de direito, designadamente
relativas a decisões transitas em julgado de tribunais fiscais sobre essa matéria. ficaríamos
todos a ganhar se esses argumentos forem todos considerados pela AT, mesmo que ela não
os aceite terá obviamente o ónus da contra-argumentação.
A decisão está sujeita a um dever de fundamentação previsto no art. 77º da LGT. Qual é este
dever de fundamentação? Quais são as suas exigências? Para já, resulta de uma imposição
constitucional que está presente no art. 268º/3 da CRP. o dever de fundamentação já constava
da CRP, o legislador na revisão de 97 acrescentou o adjetivo qualificando a fundamentação
como “acessível”. O que é isto de fundamentação? Explicação das razões de facto e de direito
que levaram a AT a decidir no sentido em que decidiu, ou seja, o discurso fundamentador
passa pela explicitação do “iter cognoscitivo e valorativo”, no fundo o percurso efetuado
pela decisão ao nível do conhecimento, da apreensão dos factos, e da valoração que deles foi
feita à luz das regras jurídicas. O dever de fundamentação deve ser amplo e explicativo.
Notem que a decisão pode ser completamente errada, mas estar bem fundamentada – porquê?
a fundamentação tem um caráter formal, a fundamentação refere-se à explicação da AT da
forma como considerou os factos e como lhes aplicou o direito. Pode ser uma explicação
claríssima.
A decisão tem de ser sempre fundamentada e essa fundamentação tem de ser particularmente
exigente quando estejamos perante um indeferimento.
44
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Este esquema perdeu um pouco a atualidade porque, há uns anos, o prazo para impugnar
variava consoante o tipo de indeferimento. Se o indeferimento fosse tácito, o prazo era de 90
dias, se fosse expresso o prazo, que já não existe, era de 15 dias. O que é que podia acontecer?
As pessoas deixavam passar o prazo de 15 dias e, obviamente, estavam perante a caducidade
do prazo, tendo de interpor um recurso hierárquico, cujo prazo era o dobro e, posteriormente,
do indeferimento do recurso hierárquico, apresentava-se a impugnação judicial. Nos casos de
indeferimento tácito, como já vimos, não implica que a AT fique eximida do seu dever de
decisão, intimando a decisão.
Portanto, a título de conclusão, nos casos em que o contribuinte opte pela reclamação graciosa
e em que subsequentemente perante o indeferimento da reclamação decida impugná-la
judicialmente ou, no caso de recurso hierárquico, recorrer à via contenciosa, há uma nota
muito importante: o contribuinte ao impugnar o indeferimento de uma reclamação graciosa,
pode invocar perante o tribunal outros fundamentos que não tinham sido equacionados perante
a administração. Em suma: a impugnação judicial não está limitada pela causa de pedir da
reclamação graciosa. Ou seja, podemos invocar novos fundamentos, novas razões que
suportem a ilegalidade do ato tributário porque, no fundo, o objeto da impugnação, aquilo que
vai estar em causa na impugnação é a ilegalidade do ato. Pelo que todos os fundamentos
relativos à ilegalidade do ato podem e devem ser trazidos a tribunal. A reclamação graciosa
assenta em dois fundamentos de ilegalidade, mas nada impede que na impugnação se
acrescentem outros fundamentos. A decisão da administração é puramente acessória e,
portanto, consequência do ato de liquidação e dos fundamentos que puderem ser causa de
invalidade do ato de liquidação.
• Prazo alargado;
• Isenção de custas;
• Caducidade da garantia;
45
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
• Brevidade e simplicidade.
Quando houve uma alteração do CPPT, alguns autores, não recordando os nomes,
defenderam que o legislador devia equiparar os prazos da impugnação com os da reclamação.
O doutor diz que o prazo da reclamação deve ser mais alargado de modo que, cada vez mais,
as pessoas acabem por não entrar na via judicial sem que antes terem apresentado uma
reclamação. É uma vantagem que o doutor aponta e defende.
Perguntas do questionário:
A reclamação é entregue ao órgão periférico regional, mas não é decidida, a não ser quando
há delegação, por esse órgão.
O agravamento máximo da coleta é de 5%, sendo que não obrigatório aplicar esse
agravamento.
14/05/2021
Parte de escolha múltipla e, depois, outra parte de resolução de um caso prático. UFC no
domingo.
três níveis para começar a estudar a impugnação judicial. Tem uma raiz constitucional, que
garante uma tutela efetiva dos direitos e interesses dos cidadãos. Atos administrativos
particularmente qualificados e a CRP garante, a todos, o acesso aos meios de impugnação
destes atos administrativos, incluindo a adoção de medidas cautelares adequadas. Ora, é certo
que este artigo se dirigirá mais à generalidade da atividade administrativa e menos da AT.
Ainda asism, obviamente, cabem aqui todos os meios de açao relativos aos atos tributários e
aos atos que, não sendo tributários, digam respeito a matéria tributária. Este princípio foi
46
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
desenvolvido pela legislação ordinária, designadamente pela LGT, que no seu art.9º
estabelece, também o princípio do acesso à justiça tributária e, por fim, trata-se de uma
matéria que veio a ser regulada no CPPT (art. 99º e ss.), se bem que no art. 97 encontramos
as espécies de ações compreendidas pelo processo tributário. No fundo, são estes os três
níveis: ao nível do dirieto fundamental de acesso à justiça administrativa (CRP), como direito
reconhecido igualmente pela LGT e que tem o seu desenvolvimento processual no CPPT.
Destinam-se a acautelar o efeito útil de uma decisão judicial quando existe um periculum in
mora, quando há o perigo de um prejuízo irreparável ou que não possa ser devidamente
acautelado perante o prazo normal que demora a obter uma decisão jurisdicional efetiva. No
processo tributário, há algumas especificidades no que diz respeito às medidas cautelares,
designadamente no que tem a ver com os efeitos associados à mobilização dos meios
impugnatórios. No processo administrativo, temos a ação administrativa e, depois, a par com
essas ações administrativas (37º), temos um regime de providências cautelares conservatórias
e antecipatórias que se relacionam, no fundo, como uma tutela jurisdicional antecipada face
aos efeitos que se pretendem salvaguardar com as ações administrativas. No processo
tributário, os meios de tutela cautelar que digam respeito à liquidação do imposto têm as
suas especificidades, quais?
• Vale o princípio solve et repete (“paga primeiro reclama depois”). Este princípio, no
fundo, está reconhecido na medida em que as reclamações ou impugnações judiciais não
têm, em regra, qualquer efeito suspensivo. Daí que parte desta caraterística faz muitos
pensarem: no fundo, podíamos recorrer a uma providência cautelar, designadamente à
suspensão da eficácia do ato, mas não é bem assim. As providências cautelares estã
reconhecidas na legislação processual tributária. Sem prejuízo da suspensão só poder ser
obtido por prestação de garantia ou concessão da sua dispensa nos termos legais, ou seja,
nos termos do disposto no art. 52º/4 da LGT. Ara evitar que s execução fiscal corra no
tempo, de forma paralela, à impugnação judicial da dívida, temos, à partida, ou que
prestar uma garantia ou que requerer a prestação da garantia sendo que esse
requerimento, nos termos do art. 52º/4, há-de ter como pressupostos, por parte do
contribuinte, desde logo uma situação de manifesta insuficiência de meios económicos,
que a lei associa à inexistência de bens penhoráveis ou à inexistência de um prejuízo
efetivo e irreparável que decorra da prestação de garantia. Sendo que esse requerimento
é apresentado nos termos do art. 170º do CPPT – onde não existe audição prévia ao seu
indeferimento. Por isso importa que os factos que são invocados se encontrem
devidamente justificados. Quanto à suspensão mediante a apresentação de garantia, o
47
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
artigo que justifica e que nos dá a fundamentação é o art. 169º, que, no fundo, diz que a
execução fica suspensa no caso de impugnação judicial desde que tenha sido constituída
garantia ou, então, a penhora eventualmente realizada garanta a totalidade da dívida. As
garantias são constituídas nos termos dos art. 195º e 199º e temos de ter em consideração,
relativamente ao que é a avaliação da garantia, o artigo 199º-A. isto não é muito diferente
do que se passa no direito administrativo, pois aí, para suspender no fundo a eficácia de
um ato, quando está em causa o pagamento de uma obrigação pecuniária, a lei processual
prevê a possibilidade de a execução ficar dependente do pagamento de uma caução. Em
termos práticos, a propósito da impugnação, podemos invocar as regras que nos
permitem suspender a execução fiscal quando lançamos mãos de meios de reação.
• Relativamente aos atos praticados pelo órgão de execução fiscal, como a aceitação ou
não da garantia que tenham a ver com a garantia, todos os atos praticados pelo órgão de
execução fiscal são passíveis de reclamação – a execução fiscal corre na administração,
mas que há sempre intervenção judicial, quando haja a necessidade de controlar atos que
são passíveis de lesar direitos dos contribuintes. Há um processo de reclamação para o
tribunal tributário, previsto no art. 276º CPPT, duas notas:
o Prazo de 10 dias para a sua apresentação;
o Regime de subida destas reclamações: o art. 278º/1 diz que o tribunal só
conhecerá das reclamações quando o processo lhe for remetido (subida
diferida). No entanto, nos casos previstos no nº3 ou sempre que exista um
prejuízo irreparável ou sempre que a subida diferida da reclamação lhe retire
o tempo útil, estas reclamações devem ser imediatamente remetidas para os
tribunais tributários e devem ser, obviamente, imediatamente conhecidas por
parte dos tribunais.
o A reclamação é apresentada no órgão de execução fiscal, dentro do prazo de
10 dias a contar da notificação do ato ou decisão de que se pretende reclamar.
A Administração pode, também dentro do prazo de 10 dias, revogar ou não
o ato reclamado, se não o fizer deverá remeter o processo para decisão do
tribunal administrativo e fiscal. Na prática, há um pouco de tudo. Ainda
recentemente num caso em que uma empresa apresentou uma reclamação à
administração revogou oficiosamente o ato que tinha a ver com a prestação
de uma garantia e, portanto, o processo não seguiu para tribunal. Noutro caso,
foi apresentada a reclamação e já há muito passaram os 10 dias e ainda não
foi promovida a sua subida ao tribunal, o que se traduz numa ilegalidade →
como se pode reagir nestes termos? Podemos e devemos requerer ao órgão
de execução fiscal para realizar, mas podemos sempre recorrer à intimação
48
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Este slide inicial tem pouco texto, mas muito conteúdo e o conteúdo passa por perceber aquilo
que, no fundo, terá a tutela cautelar relacionada com os processos de impugnação.
Nestes dois grupos de casos, estamos perante uma ótica de prevenção de litígios, de resolução
das controvérsias ainda na sede administrativa. Encontramos muitos casos em que a
impugnação judicial depende ou pode depender de uma reclamação administrativa – graciosa
ou administrativa de outro tipo, como seja o pedido de revisão.
49
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
A impugnação das taxas das autarquias locais é um outro caso em que, nos termos da lei das
taxas da autarquia locais, há a necessidade de uma reclamação graciosa prévia.
Este princípio, no fundo, diz que se estivermos perante atos que sejam imediatamente lesivos
ou atos relativamente aos quais a lei “imponha” mobilização de um meio de reação, poderá
haver impugnação desse ato. No entanto, fora destas exceções, relativamente aos atos que são
praticados num procedimento, apenas podemos impugnar um ato que poe termo a esse
procedimento – o ato final. Mas, quando impugnarmos o ato final, podemos invocar qualquer
ilegalidade que tenha sido praticada no decurso desse procedimento.
Ex: houve uma decisão de avaliação indireta. Essa decisão é, à partida, contenciosamente
impugnável? Da conjugação do art. 54º CPPT com o 86º LGT, aferimos que apenas podemos
impugnar o ato de liquidação. Mas se lermos o art. 86º/4 LGT ao lado o art. 54º CPPT, vemos
que quando impugnamos o ato de liquidação, podemos invocar qualquer ilegalidade que tenha
decorrido durante o procedimento.
Qual a exceção a este princípio? Atos imediatamente lesivos e atos destacáveis, como
acontece nas manifestações de fortuna – o legislador destacou-os para abrir imediatamente a
via do contencioso e a apreciação jurisdicional sobre esse mesmo ato.
Esta lista consta do art. 97º CPPT, que em larga medida acabou por reproduzir o artigo 95º
da LGT e relativamente ao objeto da impugnação judicial, obviamente que o objeto por
excelência serão os atos tributários, os atos através dos quais se procede à liquidação dos
tributos. No entanto, há aqui mais de meia dúzia de casos relativamente aos quais a
impugnação é vito como meio de impugnação adequado – ex: quando não haja lugar a
liquidação, aqui compreende-se. Aliás, no art. 86º/3 LGT diz-se logo que a avaliação indireta
não é objeto de impugnação direta, salvo quando não de origem ao ato de liquidação. Quando
é que não há liquidação? Por exemplo quando se apure um prejuízo fiscal ou um resultado
tributário nulo ou negativo. Se a AT apurar como rendimento tributável valores negativos,
obviamente que não haverá qualquer liquidação. Se não há liquidação, qual é a vantagem do
contribuinte discutir uma matéria tributável que é, por si, negativa. Há vantagens, claro,
porque nos termos da lei, os prejuízos fiscais são reportáveis para exercícios futuros (art. 52º
do CIRC) e, portanto, o valor do prejuízo vai ser deduzido ao lucro tributável que venha a ser
obtido nos anos seguintes, até 12 anos se forem micro e pequenas empresas; até 5 para as
médias e grandes.
50
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Imaginemos que uma empresa tinha 500 000€ de resultado negativo que foi objeto de uma
avaliação indireta e que __. Tendo lucro nos exercícios seguintes, vai deixar de poder deduzir
a esse resultado 199 000€, tendo todo o interesse em impugnar a tributação da matéria
tributável.
Relacionado com o visto na semana passada, há lugar à impugnação judicial das decisões
relativas ao indeferimento das reclamações graciosas dos atos tributários. Nós, perante o
indeferimento de uma reclamação graciosa, temos sempre aberta a via da impugnação
judicial. Nota importante: quando se impugna o indeferimento de uma reclamação graciosa,
o objeto da impugnação não deixa de ser o próprio ato de liquidação e, portanto, a impugnação
de uma reclamação graciosa não está presa, não está limitada pelos fundamentos que foram
invocados na reclamação, designadamente no que diz respeito à causa de pedir relativa ao ato
necessário ou relativa a qualquer ilegalidade que tenha sido praticada no próprio
procedimento de impugnação judicial.
• Reclamar graciosamente
• Impugnar judicialmente.
51
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Depois, aqueles atos que se podem traduzir em agravamentos à coleta por falta de fundamento
razoável, impugnação dos atos relativos à fixação dos valores patrimoniais, havendo prévia
reclamação administrativa e, providencias cautelares adotadas pela AF (97º/1 a) CPPT).
4. Fundamentos da Impugnação:
Está prevista no art. 99º e ss. do CPPT e o primeiro artigo trata, justamente, dos seus
fundamentos e a lei é clara, podendo constituir qualquer fundamento de impugnação judicial
qualquer ilegalidade – estamos perante um meio que, por excelência, visa a anulação dos atos
tributários ou a declaração da sua nulidade com base em ilegalidade. O art. 99º especifica
alguns desses fundamentos que vamos ver. Para já, deve ficar a ideia de que a impugnação
judicial não é sempre apropriada para discutir fundamentos relativos à exigibilidade da dívida
e que constituem, no fundo, o objeto da oposição à execução fiscal. No entanto, daí não
decorre a total impossibilidade de o tribunal vir a apreciar fundamentos relacionados com a
exigibilidade da dívida, designadamente no que se refere à prescrição da dívida cuja
legalidade está a ser discutida. A prescrição é um dos fundamentos de oposição à execução
fiscal, no entanto os tribunais têm conhecido deste fundamento, da prescrição, no fundo, como
uma razão que pode determinar aquilo que processualmente se designa de inutilidade
superveniente da lide. Por exemplo: se um ato tributário é entendido como ilegal porque
qualifica erroneamente a realidade, porque está mal fundamentado ou nem está, porque não
foi verificado o direito de audição e, para além disso, a dívida até já está prescrita. Nestes
casos, os tribunais sempre entenderam que na impugnação judicial poder-se-ia considerar a
prescrição da dívida porque se esta tivesse ocorrido era inútil apreciar a ilegalidade do ato
de liquidação. Não é totalmente verdadeiro dizermos que na impugnação judicial só de
poderão conhecer vícios relativos a questões de ilegalidade. (eventual questão de verdadeiro
ou falso no UFC). Então, que fundamentos podemos ter aqui?
52
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
53
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
54
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
55
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Artigo 103º do CPPT, nº4. Só tem efeito suspensivo com a prestação de garantia. Já sabemos
que não é bem assim, só podendo remeter para o art. __/4 e para o art. 92º/8 LGT, onde se
estabelece um caso em que não é necessário existir garantia para que haja efeito suspensivo
– intervenção do perito independente.
Este regime está desenvolvido no art. 169º do CPPT que diz que a execução fica suspensa
com impugnação judicial, reclamação graciosa, etc, quando tiver sido constituída garantia ou
nas situações de dispensa.
Relativamente ao art. 169º, há uma observação importante: se lermos o art. 169º vemos que
a suspensão da execução está, aqui, associada a três meios de reação:
• Reclamação graciosa
• Impugnação judicial
• Recurso judicial.
Ou seja, o art. 169º parece deixar de fora o recurso hierárquico – este não poderá suspender a
execução nestes termos? Também o recurso hierárquico terá efeito suspensivo quando for
prestada a garantia de cumprimento. Quando o recurso hierárquico é interposto na sequencia
de uma reclamação graciosa, obviamente que manterão os efeitos que vinham já na pendência
da reclamação graciosa – seria desrazoável defender-se o contrário. Por interpretação
extensiva, obviamente que chegamos lá, até porque a garantia que seja prestada na sequencia
de uma reclamação graciosa, salvo nos casos em que ela caduca, ela manter-se-á até ao
transito em julgado da decisão controvertida. Fora dessas situações, o conselheiro JORGE
56
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
DE SOUSA é de opinião que o recurso hierárquico também terá efeito suspensivo com base
em dois argumentos que o doutor considera pertinentes:
A situação de suspensão de garantia já falámos: não há muita novidade a não ser que o art.
52º/4 estabelece como pressuposto a manifesta insuficiência de meios económicos ou o
prejuízo irreparável. São pressupostos alternativos, desde que não existam fortes indícios
de que a inexistência de bens ou prejuízo se deveu a atuação dolosa do interessado. Esta
existência de dolo deve ser comprovada pela própria AT.
6. Notas Processuais:
a. Prazo da impugnação judicial:
Em regra, é um prazo de 3 meses, que serão contados a partir dos factos que, depois, são
elencados nas seis alíneas do art. 102º CPPT – o mais comum será contar o prazo de 3 meses
a partir do termo do prazo para pagamento voluntário das liquidações que sejam notificadas
ao contribuinte. Aquela ideia de recordar que quando o prazo se inicie com a notificação,
depende da regularidade desta – art. 37º CPPT.
É um prazo substantivo – contado nos termos do art. 20º CPPT -, i.e., é um prazo contínuo e,
caso termine em dia que os serviços/tribunais estiverem encerrados, transferem-se para o
primeiro dia útil seguinte. Em todo o caso, são prazos substantivos, não se lhes aplica a regra
que vale para os prazos processuais de apresentação das peças até ao 3º dia seguinte, desde
que seja paga multa.
Temos outros prazos que estão especialmente previstos (no powerpoint) e também temos o
caso de apresentação da reclamação graciosa, em que o prazo de decisão, nos termos do art.
57
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
57º, é de 4 meses. Decorridos esses 4 meses, presume-se o indeferimento tácito, tendo 4 meses
para reclamar (?).
E se a administração nunca mais decidir? Pode haver aqui lugar à intimação para um
comportamento. O contribuinte que, por descuido, tenha deixado passar o prazo de
impugnação por indeferimento tácito pode provocar a decisão administrativa, através da
intimação, para que a administração seja compelida a decidir de forma expressa. Uma vez
notificada dessa decisão e se a mesma for desfavorável, poderá apresentar a petição inicial da
impugnação judicial.
Essa petição inicial tanto pode ser apresentada no tribunal administrativo e fiscal competente
– sendo que a competência territorial dos TAF consta do art. 12º do CPPT. Requisitos:
Uma outra nota importante e que foi recentemente introduzida (2019)- regime da cumulação
de pedidos. Pode haver numa única impugnação cumulação de pedidos que digam respeito à
mesma forma processual (impugnação), em que as circunstâncias de facto sejam idênticas.
58
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
Depois de apresentada a petição, é notificada a fazenda pública para contestar, para requerer
também a prova adicional e, com base no art. 110º, o prazo é de 3 meses. Caso a fazenda
publica não conteste, o tribunal aprecia livremente os factos – há aqui um princípio contrário
ao do processo civil, pois a falta de contestação não implica a confissão de qualquer facto.
uma vez recebida: art. 109º CPPT.
Durante este tempo de 30 dias, a administração também pode revogar oficiosamente o ato. O
problema está no facto de os valores que definem a competência para a decisão tornarem
praticamente inoperável esta revogação. o órgão periférico regional, as direções das finanças,
só podem revogar quando o valor do processo não chega à alçada do tribunal de primeira
instância, caso contrário a competência é do dirigente máximo do serviço – o Diretor Regional
dos Impostos. Este regime, na prática, acaba por redundar num regime praticamente sem
aplicação ou meramente residual.
Mesmo com jurisprudência reiterada e uniforme, que reconhece razão ao contribuinte, ainda
assim a nossa administração é impulsionada para o litígio. Mais: ai do representante da
fazenda publica não recorra. Se não recorrer tem de prestar contas hierarquicamente,
fundamentando a decisão de não recorrer da decisão desfavorável, tudo isto se traduz num
“clima de terror nos tribunais tributários” (DULCE NETO). Clima de terror que com a lei
nº7/2021 e com a revisão da norma do artigo 68º-A relativo às avaliações administrativas será
atenuado a partir do momento que respeite a lei em razão do que foi a jurisprudência dos nsso
tribunais superiores.
59
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
• Prosseguirá o processo para a produção de prova – art. 114º e 115º do CPPT: sendo
admitidos todos os meios de prova geralmente admitidos no direito.
Finda a produção de prova: há notificação para alegações escritas (120º CPPT), apresentadas
em simultâneo – o prazo de 10-30 dias é um prazo que vale tanto para o impugnante, como
para a fazenda pública. As alegações são em simultâneo. O processo vai ao MP (art. 121º
CPPT) para que este se pronuncie sobre as questões de legalidade. Na prática, o MP faz um
“visto”. Depois é proferida a sentença – art. 122º a 126º CPPT.
Caso a sentença seja desfavorável, entramos numa matéria que não vai ser sumariada, mas
que convém dar umas dicas. Que é a matéria dos recursos. Relativamente ao regime dos
recursos, temos os art. 279º e ss. do CPTT:
Prazo de interposição de recurso é, em regra, de 30 dias e, para além dos recursos ordinários,
podemos ter o recurso para uniformização de jurisprudência – art. 284º - ou o recurso de
revista – art. 285º -, que corresponde ao recurso de revista do art. 150º do CPTA, que
diferenças entre eles?
• Recurso para UJ pode ser interposto quando haja discórdia entre acórdãos do STA.
O recurso de revista funcionará aqui como um terceiro grau de jurisdição apenas para questões
que tenham uma importância fundamental, pela sua relevância social ou jurídica ou quando
seja necessária para uma melhor aplicação do direito.
Não contemos muito com o recurso de revista do art. 285º. O STA tem feito uma interpretação
restritiva, porque, na maior parte dos casos, quem recorre ao abrigo desta norma, quer uma
reapreciação de uma questão onde não obteve vencimento.
Quanto aos recursos, uma nota importante: foi tudo alterado no final de 2019, o recurso é
interposto no tribunal a quo (aquele que profere a decisão) e o requerimento de interposição
do recurso é logo acompanhados das respetivas alegações e das conclusões.
Quanto ao efeito, vale a regra do art. 169º. Se o processo de execução fiscal estiver suspenso,
o recurso mantém esse efeito. De qualquer forma, art. 286º/2 CPPT.
60
Procedimento e Proc. Tributário 2020/2021 Sofia M. C. Melo e Silva
[Da parte da execução fiscal pelo responsável subsidiário a matéria ainda consta dos temas,
mas já não a parte da reclamação e impugnação.]
7. lkn
61