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Direito Fiscal I
Dr. Rodrigo Esteves de Oliveira
Ano letivo: 2021 / 2022
Apontamentos das aulas e do livro
Mara Luísa Rito de Oliveira Pinto
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A opção que se podia eventualmente pensar era de ter um estado tributário, sendo
que este consiste num estado assente nas receitas das taxas. As taxas têm algo
agradável ao ter a ideia do pagador de quem realiza uma atividade sujeita ao
pagamento de uma taxa de quem recebe esta atividade.
É difícil substituir a ideia de imposto pela ideia de taxa, sendo a taxa o tributo dentro
de uma relação administrativa de troca (RAT) ou então dentro da lógica du ut des
(dou-te para que dês). O imposto é pago sem contrapartida, não tem uma lógica du ut
des, quando se paga imposto é na suposição que aquele dinheiro paga serviços que
depois eu tenha direito, há sempre uma ideia de uma contrapartida, mas meramente
política e não jurídica. A taxa é uma contrapartida jurídica sinalagmática. Se alguém
retira um beneficio então deve contribuir com isto, no entanto temos três obstáculos
nesta ideia:
1. O núcleo clássico da estadualidade é composto por tarefas, por bens que não
são individualizáveis nos seus destinatários (os bens públicos – bens não
suscetíveis de individualização dos seus destinatários). A taxa carece dessa
individualização dos destinatários. O núcleo clássico da estadualidade faz se de
serviços que servem a todos (defesa – servem a todos, não há um serviço
concreto prestado pela defesa). Faz-se de tarefas que tem de existir e servem a
todos. As taxas não servem para pagar a política externa, o exército, etc.
2. Depois temos alguns bens/serviços que até podiam ser pagos através de taxas
porque existe a possibilidade de individualizar um concreto destinatário num
concreto momento, mas a verdade é que a constituição constitui a gratuitidade
ou a tendencial gratuitidade desse serviço. Por exemplo, o ensino básico é
gratuito; o ensino superior público é tendencialmente gratuito segundo a CRP;
no serviço de saúde tendencialmente gratuito, há a taxa moderadora; serviço
de justiça para quem não possa pagar; segurança social onde todos tem direito
mesmo que não tenham contribuído – a CRP determina a gratuitidade ou
tendencial gratuitidade então são necessários impostos e estes não se podem
substituir por taxas.
3. Dificuldade prática da instituição de certas taxas, há casos em que facilmente
se pode colocar a existência de um sistema de taxas, mas que é irrealizável. Um
Estado Fiscal ainda é a forma mais eficiente e simples para assegurar os custos
de funcionamento de Estado e a fatura do Estado social.
[Não há nenhum Estado tributário hoje em dia, todos os estados modernos são
estados fiscais só há diferença na carga fiscal.]
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Os impostos apresentam-se como uma prestação definitiva, significa isto que é uma
prestação que não dá lugar a qualquer reembolso, restituição ou indemnização. O
imposto é uma prestação não só no presente – unilateral, mas uma prestação
unilateral também no futuro – definitiva. Aqui temos então a distinção de um
empréstimo forçado que é uma prestação unilateral, mas não definitiva.
Os impostos são, objetivamente, também prestação coativa, ou seja, uma prestação ex
legis (prestação que tem por fonte a lei/ estabelecida por lei). A obrigação de imposto
surge por força do encontro do facto tributário ou do pressuposto de facto do imposto
com a lei. A obrigação fiscal distingue-se da obrigação negocial (esta assumida no
contexto do direito civil, porque aqui é determinante a vontade do sujeito), a vontade
do sujeito a nível tributário é absolutamente irrelevante. Visto que basta uma fonte da
lei para que nasça a obrigação de imposto.
➔ Elemento subjetivo – o imposto é uma prestação com as características
objetivas (ser uma prestação pecuniária unilateral definitiva e coativa) devida
por detentores (individuais ou coletivos) de capacidade contributiva a favor de
entidades que exerçam funções ou tarefas públicas.
Numa nota subjetiva procura-se convocar para o terreno do próprio conceito de
imposto o critério material de igualdade ou da justiça fiscal que constitui o suporte
indiscutível dum Estado fiscal de direito – a capacidade contributiva – estando esta
ideia presente nos termos do ART.4.º/1 LGT – os impostos assentam essencialmente
na capacidade contributiva revelada, nos termos da lei, através do rendimento ou da
sua utilização (despesa/consumo) e do património.
Numa segunda nota subjetiva, pretende-se não limitar a titularidade ativa dos
impostos exclusivamente às pessoas coletivas publicas, admitindo-se a hipótese de
impostos exigíveis a favor de pessoas privadas que exerçam funções públicas –
presente nos termos do ART.5.º LGT.
o Empresas concessionárias de obras, serviços ou bens públicos
o Os tributos associativos/quotas obrigatórias para as associações
públicas.
➔ Elemento teleológico (ou finalista) – o imposto é exigido pelas entidades que
exerçam funções públicas para a realização dessas funções conquanto que não
tenham carácter sancionatório. Ou seja, o imposto pode ter finalidades
eminentemente fiscais ou creditícias (impostos não intencionalmente
influenciadores da economia) ou podem ter finalidades eminentemente extra
fiscais – impostos intencionalmente influenciadores da economia – em
qualquer circunstancia o imposto não pode ter uma finalidade sancionatória –
se tiver esta finalidade não é imposto, mas sim sanção.
o Imposto sobre o Tabaco – é um imposto extrafiscal porque é o imposto
que intencionalmente pretende influenciar o comportamento dos
agentes económicos levando-os a fumar menos – atingem o seu grau de
satisfação máxima quando o consumo for 0.
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Espécie de Impostos
Impostos Periódicos e Impostos de Obrigação Única
➔ Impostos Periódicos – incidem sobre um facto tributário duradouro, sendo a
liquidação efetuada periodicamente – IRS e IRC; IMI: propriedade de um imóvel
no dia 31 de dezembro
➔ Impostos de Obrigação Única – facto tributário isolado, mesmo quando são
recorrentes ou repetidos – IVA: incide sobre cada transmissão de bens ou
prestação de serviços e no momento em que ocorre o facto tributário, mesmo
se o seu apuramento e pagamento assumem certa periodicidade.
o Relevo prático – caducidade do direito à liquidação (prazo de que a AT
dispõe para tornar certa, liquida e exigível a obrigação de imposto) e
prescrição das dívidas tributárias (prazo que a AT tem para promover a
cobrança coerciva das dívidas fiscais) – ART.45.º/48.º LGT
Impostos Reais e Impostos Pessoais
➔ Impostos reais – não tomam em consideração a situação económica e pessoal
do contribuinte, incidindo sobre a matéria coletável – ISP; IVA; IMT
➔ Impostos pessoais – tomam em consideração, em maior ou menor grau, a
situação económica e pessoal do contribuinte – IRS
o Características dos impostos pessoais:
▪ Tomam sempre em consideração o rendimento global do
contribuinte, o que constitui um verdadeiro pressuposto de
pessoalização do imposto, uma vez que se não for assim, não se
pode conhecer minimamente a situação pessoal do contribuinte
▪ Excluem de tributação o mínimo de existência, ou seja, aquela
quota de rendimento necessária à satisfação das necessidades
essenciais à salvaguarda da dignidade humana do contribuinte e
sua família. – ART.70.º CIRS (se da tributação resultar para o
contribuinte em causa o rendimento disponível em x, não há
tributação)
▪ Admitem a dedução de encargos sociais de natureza pessoal –
ART.78.º CIRS
▪ Têm uma taxa progressiva – ART.68.º CIRS (no IRS encontramos
vários escalões de taxas que vão subindo percentualmente em
função do valor do rendimento coletável permitindo uma
redistribuição em alta dos rendimentos
▪ Têm um quociente conjugal – ART.69.º CIRS (o rendimento
coletável de 2 é maior que se ambos vivessem sozinhos e isso
significaria que iríamos tributar de forma mais severa quem
vivesse em união económica comum, então tributa-se de forma
diferente no casamento para neutralizar os efeitos nefastos
fiscais do casamento).
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pecuniárias antecipadas pedia aos advogados e não aos cliente. No segundo caso,
pedia à FDUC. A FDUC vai substituir-se ao REO na realização dos 3 pagamentos por
conta – temos uma substituição tributária em sentido impróprio, mas é materialmente
igual ao pagamento por conta, mas feita por um terceiro – ART.78.º/2 CIRS - deduções
à coleta (montante do imposto a pagar).
Regime jurídico da responsabilidade em caso de substituição tributária – ART.28.º
LGT
Quanto ao regime jurídico da substituição tributária, nós temos que esta se concretiza
numa relação de tipo triangular entre o substituto, a administração fiscal e o
contribuinte/substituído. E, nesta relação triangular, temos no respeitante à relação
entre o credor/Fisco e o devedor, um devedor primário, em primeira linha ou
originário, que é o substituto, e um devedor secundário, em segunda linha ou
responsável subsidiário, que é o contribuinte/substituído. No respeitante à relação
entre o substituto e o substituído, temos um direito de retenção ou de regresso do
substituto face ao substituído ou contribuinte.
No ART.28.º LGT temos na substituição tributária três situações de responsabilidade
tributária:
➔ Se quantias foram retidas, mas não entregues ao Estado, ou seja, qualquer
espécie de substituição tributária, mas só se aplica aos casos em tenha havido
retenção na fonte (n.º1): o substituto é o único responsável e o substituído é
desonerado de qualquer responsabilidade pelo seu pagamento. Só paga o
substituto não o substituído.
➔ Se quantias não foram retidas na retenção com natureza de pagamento por
conta, em sentido impróprio (n.º2): nos casos de a retenção ser efetuada a
título de pagamento por conta do imposto do substituído ou contribuinte
devido a final – o substituído (v.g. trabalhador, no caso da categoria A do IRS)
é responsável originário e o substituto (v.g. entidade empregadora) é
responsável subsidiário. Primeiro responde o substituído depois o substituto.
➔ Se quantias não foram retidas na substituição em sentido próprio (n.º3): nos
casos em que a retenção não é a título de pagamento por conta do imposto do
contribuinte devido a final, mas a título de pagamento definitivo, em que o
substituto não procede à retenção – o substituto (v.g. a instituição bancária, no
caso da categoria E do IRS) é responsável originário e o substituído (v.g. o
depositante ou titular da conta bancária) é responsável subsidiário, ou seja,
primeiro responde o substituto e depois o substituído.
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provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento” (há presunção
de culpa pelo não pagamento da dívida tributária: ónus da prova do
gerente)
▪ AT, previamente, tem de provar exercício efetivo da gerência,
não sendo suficiente a prova da “gerência de direito”.
➔ Solidariedade tributária – esta verifica-se quando o credor do imposto pode
exigir o cumprimento integral da dívida tributária (ART.22.º/1 LGT) tanto ao
devedor como ao responsável ou responsáveis – quando os pressupostos do
facto tributário se verificam em relação a mais do que uma pessoa – ART.21.º
LGT – a AT pode exigir cumprimento integral da dívida tributária a qualquer um
dos sujeitos passivos
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➔ Além disso, nos termos do 100º/1 CPPT, o ato tributário deve ser anulado
“sempre que da prova produzida resulte fundada dúvida sobre a existência e
quantificação do facto tributário”, o que significa que cabe à AT o ónus da
prova da correção dos pressupostos da liquidação, e, consequentemente, a
dúvida resolve-se contra o Fisco.
➔ A petição inicial (cujos requisitos estão fixados no 108º CPPT) pode ser
apresentada no Tribunal Tributário competente ou no serviço periférico local
onde haja sido praticado o ato (103º/1 CPPT), a quem cabe, então, a sua
remessa ao tribunal (103º/3 CPPT). A contestação cabe ao Representante da
Fazenda Pública (110º/1 e 15º CPPT). O regime especial da Administração
Indireta e da Administração Autónoma (mandatário próprio)
➔ O dirigente do serviço periférico local ou do serviço periférico regional podem
proceder à anulação administrativa do ato impugnado (112º/1/2 CPPT),
embora caiba ao RFP promover a extinção do processo (art. 112º/4)
➔ A impugnação judicial não determina a suspensão da eficácia do ato, salvo se
for (103º/4 CPPT) ou já tiver sido (103º/5: no âmbito de anterior RG) prestada
garantia adequada (formas: 199º CPPT)
4. As garantias administrativas impugnatórias dos contribuintes (reclamação e
recurso hierárquico)
➔ A anormal (e desnecessária) complexidade do sistema de garantias
➔ A reclamação “graciosa” ou administrativa (RA)
o Em regra, é facultativa, pode ter por fundamento qualquer ilegalidade
(99º, ex vi do 70º/1 CPPT) e deve ser apresentada perante o serviço
periférico local (“serviço de finanças”), mas, em alguns casos, dirigida ao
órgão periférico regional da AT (“direção de finanças”) ou ao dirigente
máximo do serviço (“diretor-geral”) (73º/1 e 75º CPPT) — sendo por
isso uma espécie de “reclamação hierárquica” ou de um “semirecurso”)
o Prazo: 120 dias (70º/1 CPPT): solução pouco coerente, pois o prazo para
a impugnação judicial é de 3 meses e, depois de decidida a reclamação,
reabre-se a via da impugnação
o Não suspende a eficácia do ato impugnado (69º, f), CPPT, salvo em
casos excecionais, como no 92º/8), a não ser que seja prestada garantia
adequada (170º e 199º CPPT)
o O indeferimento da reclamação administrativa(RA) está sujeito a
audição prévia do reclamante [60º/1, b), LGT]
o Do indeferimento da RA pode haver RH facultativo a interpor no prazo
de 30 dias, com efeito devolutivo (76º/1 CPPT), ou impugnação judicial
no prazo de três meses após a notificação [102º/1, b), CPPT; tratando-se
de indeferimento tácito, o prazo é igualmente de três meses contatos
da formação dessa presunção. v. 102º/1, d)]
o A decisão sobre o RH é ainda passível de ação administrativa no prazo
de 3 meses (CPTA), salvo se dela já tiver sido deduzida impugnação
judicial (76º/2 CPPT)
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Casos práticos das aulas práticas
Mara Luísa Rito de Oliveira Pinto
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➔ Taxa
➔ Benefícios fiscais
➔ Garantias dos contribuintes
De volta ao caso prático:
1ª medida – é inconstitucional, por violação do princípio da legalidade fiscal inscrito no
artigo 165.º/1/i).
2ª medida – Tributos em Portugal
Distinção tripartida dos tributos – Estão todos sujeitos ao mesmo regime jurídico
constitucional?
➔ Impostos
➔ Taxas – as taxas só estão sujeitas ao regime jurídico da CRP, no que diz respeito
ao seu regime geral. O Governo não pode criar o regime geral das taxas,
enquanto lei de valor reforçado, que se impõe às demais leis. Até agora, não há
nenhuma lei que contenha o regime geral das taxas, apenas das taxas das
autarquias locais. Assim, cada taxa pode ser criada pelo Governo, quando
existir o regime geral das taxas, as taxas que o Governo crie têm de obedecer a
esse regime, até lá, obedece à CRP. Posto isto, as taxas, em rigor, estão apenas
sujeitas ao princípio da legalidade administrativa e não fiscal – a atividade
administrativa tem de ter um prévio respaldo legal, habilitação legal prévia,
sendo este conceito amplo – qualquer lei: lei, decreto-lei, decreto-legislativo
regional.
➔ Demais contribuições financeiras.
o Impostos vs. Taxas: O imposto é um tributo unilateral, só uma das
partes tem uma obrigação: o único devedor é o contribuinte, o credor
não está obrigado a prestar a favor do contribuinte nenhuma prestação;
nas taxas prevalece a ideia da relação comutativa, da troca
administrativa. As taxas são uns tributos causais, como as autoestradas
– ART.4.º/2 LGT.
2ª medida: Taxa devida pela prestação concreta de um serviço público, logo está
sujeita ao respetivo regime jurídico constitucional. Umas coisas são as taxas enquanto
tributos (portagens, moderadora, etc.) e a taxa de imposto (10%, 15%, etc.). Então,
aqui, nesta 2ª medida não há qualquer problema. Para a legitimidade jurídico-
constitucional de uma taxa, não basta a bilateralidade, é também necessária a
proporcionalidade entre aquilo que se recebe e aquilo que se paga (razoável
proporção). Havendo uma grave desproporção entre aquilo que se recebe e aquilo que
se paga, então a taxa passa a ser inconstitucional, por 1 de duas razões:
➔ A taxa viola o princípio da proporcionalidade:
➔ Ou porque se houver uma grave desproporção entre os dois, perde-se a relação
de bilateralidade, uma vez que esta pressupõe uma relação de proporção – se
perde a bilateralidade, o imposto tem de ser aprovado pela AR, havendo
violação do princípio da legalidade fiscal.
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3ª medida:
Impostos – Princípio da legalidade fiscal. Aqui não está em causa a incidência do
imposto, a taxa, garantias dos contribuintes. Temos uma intervenção do governo em
matéria fiscal, mas fora da matéria dos elementos essenciais do imposto. No âmbito
fiscal, liquidar o imposto significa o ato tributário por excelência, ato que identifica o
sujeito passivo, determinando o imposto a pagar. Do ponto de vista jurídico-
constitucional, não há nada a apontar, inscreve-se na competência normal concorrente
do Governo., não sendo matéria reservada da AR.
Caso Prático 2:
Ao prever a possibilidade de os municípios fixarem a taxa de IMI, o artigo 112.º do
Código do IMI é inconstitucional por violar o princípio da legalidade fiscal. O Código
do IMI foi afirmado pela Lei n.º1/2002.
Resolução:
Em Portugal, poderia ser da competência dos municípios, liquidar e cobrar o IMI, mas
para isso, teriam de assumir essa competência. Contudo, poderiam continuar a pagar
ao Estado para que este assegure as tarefas de lançamento liquidação e cobrança do
IMI – distinção entre impostos estaduais e locais; é um imposto municipal, pois a
receita é a favor dos municípios, mas quem lança e cobra é o Estado, logo, o imposto é
estadual – critério da qualidade do sujeito ativo da relação fiscal, que é dada pela
competência tributária para lançar e liquidar o imposto.
A matéria sob judice é da competência relativa da AR. O princípio da legalidade fiscal
não existe apenas que haja uma mera intervenção da AR, exigindo que os elementos
essenciais do imposto estejam definidos na lei (lei do Parlamento, ou decreto-lei
autorizado pelo Parlamento). Os municípios não têm poder legislativo, não podem
aprovar leis, apenas regulamentos. Logo, haver taxa de imposto aprovado por
regulamento violaria o princípio da legalidade fiscal, pois exige que os elementos
essenciais do imposto estejam definidos na lei. Assim, à primeira vista, esta
possibilidade seria inconstitucional.
Contudo, há alguns desvios a um entendimento rigoroso deste princípio: desvios
consagrados na CRP:
➔ Ex. ART.241.º CRP diz que os municípios podem gozar de poder tributário
próprio nos termos da lei. O poder tributário é, pode definição, o poder de
definir elementos essenciais do imposto – poderá não haver
inconstitucionalidade nestas autorizações legislativas em matéria fiscal em
favor dos municípios.
Assim, tem-se entendido que não é inconstitucional, pois de alguma maneira, a lógica
do princípio mantém-se, pois, a taxa do IMI tem de ser aprovada pelas Assembleias
Municipais – eleitas pela população – continuam a ser os representantes dos sujeitos
passivos, contribuintes de IMI, a definir o elemento essencial do imposto.
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Caso prático 3
Para fazer face às consequências financeiras da condição pandémica, o Parlamento
aprovou hoje um diploma legal com a seguinte medida
a. As taxas gerais do IRS são aumentadas em 2% com efeitos a 1/01/2022
Resolução: Aqui estamos perante um caso prático sobre efeitos retroativos, tendo em
conta os princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança. A retroatividade
não é proibida no ordenamento jurídico nacional. Em matéria fiscal, há proibição de
impostos retroativos desfavoráveis. Não há proibição Não há proibição de
retroatividade no Direito Fiscal, apenas não podem ser criados impostos retroativos
mais desfavoráveis ao contribuinte, se a retroatividade for favorável ao contribuinte.
Do ponto de vista da segurança jurídica não há qualquer problema.
Segundo os termos do artigo 103.º/3 CRP – nos impostos retroativos que se incidam
dentro da categoria da retroatividade em sentido próprio ou autêntica temos
retroatividade de uma lei que pretende regular factos tributários que nasceram,
desenvolveram e já se extinguiram ao abrigo da lei antiga (“factos mortos para o
direito à data da entrada em vigor da lei nova”). O facto tributário do IRS são os
rendimento – o facto tributário vai de 1 de janeiro a 31 de dezembro, sendo este
periódico. O IVA, na perspetiva do prestador do serviço pode corresponder a um facto
tributário durador e recorrente. O IVA incide sobre o consumo, tem como sujeito
passivo a pessoa que empresta o bem, o bar, etc. Nós, cidadãos, não temos relação
com o Estado. O contribuinte do IVA é a empresa que gera o bar. A venda de cafés é
uma atividade corrente, diária, para os efeitos do IRC, o imposto toma a atividade do
bar olhando para o ano inteiro, o IVA incide atomisticamente sobre uma operação.
O IRS vai de 1 de janeiro a 31 de dezembro. No caso prático em questão, a lei vai até 1
de janeiro de 2022, é retroativa, mas é retroatividade inautêntica ou imprópria.
Quando a lei nova entra em vigor, o facto tributário já nasceu, já se desenvolveu em
parte – 3 meses completos – e ainda não se extinguiu. A retroatividade inautêntica ou
imprópria não é nem permitida, nem proibida. Logo é necessário convocar os
princípios pertinentes na matéria:
Princípio da segurança jurídica – todas as pessoas podem exigir do Estado-Direito que
aos seus atos e comportamentos se apliquem as leis que estavam em vigor à data que
esses comportamentos foram adotados. Contudo, o Direito é suscetível à mudança: o
direito ou é pioneiro da mudança ou acompanha essa mudança; “não há um direito à
petrificação do Direito”.
Temos então de ter em conta a “possibilidade de auto-revisibilidade do juízo do
legislador” – realizando 3 testes para estas matérias: 1. O grau de confiança das
pessoas na estabilização da taxa de IRS; 2. O grau/medida de instrução fiscal:
aumentaram quanto? Pouco ou muito? 3. Quais os valores jurídicos/políticos/sociais
que se pretendem tutelar com o aumento do imposto? Posto isto, podemos analisar se
é ou não inconstitucional.
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Caso prático 4
Em determinadas hipóteses, as taxas devidas pela remoção de obstáculos jurídicos
ao comportamento de particulares, devem ser qualificadas como licenças fiscais.
Resolução:
O legislador seleciona uns comportamentos que são objetivamente perigosos,
normalmente punidos como crime; mas há outros comportamentos cuja perigosidade
para certos valores económicos e sociais pode ser afastada em concreto.
Ou seja, prima face, podem constituir comportamentos perigosos, mas pode-se chegar
à conclusão de que afinal não há perigo – o legislador cria um obstáculo, ex. não pode
circular na via pública salvo se tiver a carta de condução, não pode circular com uma
arma de fogo, salvo se tiver uma licença. No momento em que a AP averigua da
perigosidade e passa uma licença, exige uma taxa que é devida pela remoção do
obstáculo jurídico.
Temos o problema de que é muito fácil criar obstáculos jurídicos (ex. publicidade no
meu terreno, carro, ter animais, etc.). Assim, a doutrina apresenta 2 posições:
1. A posição do Dr. Casalta Nabais – estas taxas devidas pela remoção de
obstáculos jurídicos, só são legitimas se a criação do obstáculo jurídico for
justificada à luz do interesse público.
2. Posição do Dr. Teixeira Ribeiro – estas taxas só serão legítimas se a licença der
acesso a um bem semipúblico, ou seja, a um bem que satisfaz simultaneamente
necessidades coletivas e individuais.
Por exemplo, a licença de uso e porte de armas – o obstáculo jurídico é que a lei proíbe
o uso e porte de armas, salvo se existir uma licença. De acordo com a tese do Dr.
Casalta Nabais, esta licença seria legítima, se não houvesse interesse público, seria
uma licença fiscal. Assim, concluímos que seria uma licença fiscal.
Assim, a afirmação é verdadeira pois em certos casos o obstáculo jurídico não é criado
com fundamento em razões ponderosas de interesse público.
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Caso Prático 5
Para fazer face à subida do preço do petróleo nos mercados internacionais a
Assembleia da República aprovou uma lei que continha a seguinte medida:
“A entidade reguladora dos serviços energéticos fica autorizada a subir até 2% as
taxas do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos.”
Pronuncie-se sobre a conformidade jurídico-constitucional deste diploma.
Resolução:
Neste caso prático estamos perante a competência relativa da AR, que está presente
no artigo 165.º/1/i) da CRP – que consiste no princípio da legalidade fiscal.
Sendo a AR uma entidade competente para legislar sobre a matéria dos impostos pode
ou não a AR fazer o que fez com este diploma, poderá este aprovar uma lei que
autoriza a entidade dos serviços energéticos a aumentar taxas dos impostos? Não.
Porque segundo o princípio da legalidade fiscal temos uma exigência e imposição de
que os elementos essenciais dos impostos só possam ser regulados pela AR, através de
uma lei ou um decreto-lei autorizado. Os elementos essenciais dos impostos que tem
de ser regulados pela AR são a incidência, tanto a subjetiva como a objetiva, a taxa, os
benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Ora, se é assim, então, isto significa
que a AR não pode autorizar uma outra entidade a definir ela mesma qual é a taxa do
imposto. A taxa do imposto, tem que constar, em regra, de um de dois diplomas: ou de
uma lei da AR ou de um decreto-lei autorizado pela AR. E, depois, existem alguns
desvios a esta ideia que resulta do facto de que a própria CRP atribui um poder
tributário próprio a outras entidades, nomeadamente às administrações autónomas
territoriais, caracterizando-se estas por serem: as próprias regiões autónomas que tem
uma autonomia político-administrativa muito acentuada e reconhecida pela CRP, no
artigo 227.º/1/i) da CRP temos reconhecido o poder tributário próprio das regiões
autónomas; as autarquias locais, nomeadamente os municípios, que também dispõem
de um poder tributário próprio. Sendo que, este poder tributário o poder de regular os
elementos essenciais dos impostos.
Assim, fazendo parte do princípio da legalidade administrativa e não do princípio da
legalidade fiscal, temos as seguintes operações administrativas:
➔ Operação de lançamento – sendo a operação através da qual se identifica um
ou um dos sujeitos passivos do impostos e se calcula o valor da matéria
tributável
➔ Operação de liquidação – sendo a operação através da qual se aplica a taxa do
imposto à matéria tributável. Através desta via, decide-se qual é o montante do
imposto a pagar, sendo então a operação administrativa que torna certa,
líquida e exigível a obrigação do pagamento do imposto.
➔ Operação de cobrança – sendo a operação que ocorre dentro do prazo do
pagamento voluntário do imposto, havendo lugar ao pagamento do imposto
dentro do prazo ou coerciva, quando passado esse prazo, a administração pode
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Caso Prático 7
Diga se a seguinte afirmação é Verdadeira ou Falsa:
A retroatividade é proibida no Direito Fiscal.
Esta afirmação é Falsa.
O Princípio da Segurança Jurídica visa proteger/tutelar as expectativas constituindo
uma proteção de confiança, constituindo que as pessoas devem poder confiar que aos
seus comportamentos, aos seus atos e omissões se associam os efeitos jurídicos
previstos e prescritos no ordenamento jurídico em vigor à data em que esses
comportamentos foram adotados. E essa confiança está presente na manutenção do
status quo jurídico é frustrada se vier uma medida que lese essas pessoas. Se vier uma
lei que extingue um imposto ou que reduz um imposto não pode haver, por definição,
problemas a nível do Princípio da Segurança Jurídica. A única retroatividade que pode
ser proibida é a retroatividade de resultado desfavorável para os contribuintes. Em
segundo lugar, só há retroatividade fiscal desfavorável quando a retroatividade é
autentica ou em sentido próprio, ou seja, aquela que tem por objeto factos tributários
que nasceram ao abrigo da lei antiga e já se extinguiram ao abrigo da lei antiga.
Segundo os termos do artigo 103.º/3 da CRP, só a retroatividade em sentido próprio é
que está proibida. A retroatividade imprópria não está proibida na CRP, mas também
não está permitida ou autorizada pela CRP. Não havendo regra sobre o assunto, temos
de recorrer aos assuntos pertinentes: ao princípio da segurança jurídica; no entanto,
existem outros porque se o princípio da segurança jurídica se constitui obstáculo
suficiente a qualquer retroatividade então nós tínhamos o nosso sistema jurídico
essencialmente petrificado ou congelado. O principio da segurança jurídica é apenas
um entre vários princípios pertinentes para tratar do problema da retroatividade. É,
então, necessário proceder a 3 testes:
1. Peso que representa o grau de convicção dos contribuintes na estabilização da
lei fiscal/do status quo. Ex. Imagine-se que a Outubro de 2021 o PR e o PM
dizem recorrentemente que vai ser necessário aumentar as taxas de IRS e estas
eram aumentadas em Janeiro, o peso correspondente à nossa convicção era
fraco porque fomos avisados recorrentemente. Agora se o PR e o PM tivessem
dito que os impostos não iam subir, a nossa convicção que não iria mudar era
grande porque fomos avisados do contrário do que ocorreu.
2. Grau de oneração fiscal – ex. as pessoas vão pagar mais imposto, mas qual é o
aumento da carga fiscal? 0,2%? Então é pouco, o grau de oneração fiscal é
baixo. 15%? É imenso, o grau de oneração fiscal é elevado.
3. Análise do bem jurídico que se quis tutelar/proteger da maior oneração fiscal.
Os impostos vão ser aumentados porquê? Para evitar que Portugal entre em
incumprimento com os países internacionais para que a Troika não volte a
Portugal? É então um bem jurídico precioso. É para ajudar num evento
cultural? É um bem jurídico pouco precioso.
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No fim de todos estes testes, possivelmente, haveria diversas soluções ao critério das
pessoas, mas é o Tribunal Constitucional que no final irá ditar se aquela subida é pouco
ou não preciosa para aquela lei retroativa, considerando se esta pode entrar em vigor
e causar efeitos ou não.
Caso Prático 8
Carla, trabalhadora do Pingo Doce, recebeu por inteiro os seus vencimentos mensais
durante todo o ano de 2021 sem que, portanto, Jerónimo Martins, S.A., tivesse
concebido à retenção da fonte que era devida.
Resolução:
Neste caso prático, temos de qualificar a relação que aqui está em causa, sendo que
esta não é uma normal relação tributária, há aqui um triângulo entre o contribuinte,
um terceiro e a administração tributária. A retenção na fonte encontra-se definida no
artigo 34.º da LGT, referindo que “As entregas pecuniárias efetuadas por dedução nos
rendimentos pagos ou postos à disposição do titular pelo substituto titular constituem
retenção na fonte.” Já tendo em conta os termos do artigo 20.º da LGT temos a
substituição tributária, que segundo o n.º2 deste mesmo artigo temos regulado que a
substituição tributária é efetivada através do mecanismo de retenção na fonte do
imposto devido, e no n.º1 temos presente que esta substituição existe quando a
prestação tributária for exigida a pessoa diferente do contribuinte, ou seja, o
substituto.
Neste caso em concreto, temos a Carla, a Jerónimo Martins, S.A. e o fisco. A Jerónimo
Martins, S.A. devia reter na fonte uma parte e depois entregar ao fisco.
Temos aqui uma substituição tributária em sentido impróprio, sendo que esta
substituição tem lugar quando a retenção na fonte efetuada pelo substituto, não é
uma retenção definitiva, mas assume o carácter de pagamento por conta do imposto
devido a final. A logica desta retenção na fonte é a lógica dura de o pagamento da
conta com a particularidade do pagamento da conta ser feito por um terceiro que é
substituto.
Nós temos o regime da responsabilidade tributária prevista no artigo 28.º - sendo que,
o n.º1 só vale para os casos em que houve retenção e não houve entrega do
montante; logo será o n.º2 ou 3. E conseguimos concluir que aplicamos o 2 porque
este vale para as hipóteses em que a retenção da fonte tem natureza por conta do
imposto devido a final, e o que se diz é que o primeiro responsável, ou seja o
responsável em primeira linha é a Carla, e se o património da Carla não for suficiente
para pagar, então a Jerónimo Martins S.A. pode ser chamada a pagar essa divida
enquanto responsável subsidiário através da reversão do processo de execução fiscal.
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Caso Prático 9
Na sequência das cheias vivenciadas em Dezembro de 2019, António, dono de uma
tornearia, viu a sua contabilidade organizada, relativa aos últimos cinco exercícios
dessa sua atividade profissional, destruída.
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Se porventura, António não tiver procedido a esse pedido na altura em que foi
notificado, ele poderá sempre impugnar com qualquer fundamentos menos os dois
anteriormente referidos: erro na quantificação ou erro nos pressupostos. Segundo os
termos do artigo 86.º/5, podemos concluir que era necessário uma prévia reclamação
para uma impugnação judicial, concluindo assim, que António não poderia agir com tal
fundamento. Mas, se este invocar qualquer outro fundamento o mesmo poderia
impugnar judicialmente, podendo assim, reagir.
Caso Prático 10
No ano de 2016, António, que trabalha como empregado têxtil na sociedade B,
recebeu os seguintes rendimentos: de ordenado, 20.000€; de juros de depósito à
ordem, pagos pelo Banco CC, 500€; de rendas de uma habitação que tem em Coimbra,
5.000€.
Nesse mesmo ano, António teve as seguintes despesas: obras realizadas na habitação,
para a tornar habitável, 1000€; pagamento da creche do seu filho, 700€.
Responda, fundamentadamente, às seguintes questões:
1- Qual o enquadramento e regime fiscal, em sede de IRS, dos rendimentos de
António?
Estamos aqui perante um caso de enquadramento e regime fiscal em sede de IRS,
pretendendo saber onde se enquadram, os rendimentos de António. Ora, o IRS é o
imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, sendo que este deverá ser único –
o que significa que deve ser globalmente sujeito a um mesmo regime, ou pelo menos, a
um regime que obedece aos mesmos valores; e progressivo, o que significa que as taxas
aumentam à medida que aumenta a matéria coletável, segundo os termos do art.104.º
CRP. Ora, este imposto incide sobre o valor anual do rendimento das seguintes
categorias, mesmo quando provenientes de atos ilícitos, depois de efetuadas as
correspondentes deduções e abatimentos (art.1.º CIRS): Categoria A, B, E, F, G e H,
sendo que a C e D, anteriormente existiam, mas os factos tributários abrangidos por
estas passaram a estar abrangidos pela categoria G. Começando pelo ordenado de
20.000€ que recebeu do seu trabalho como empregado têxtil na sociedade B, este
rendimento enquadra-se na categoria A do IRS, artigo 2.º do CIRS. Sendo que nesta
categoria está essencialmente presente os rendimentos do trabalho dependente, seja
no setor privado como no setor publico. Para esta categoria A, nós temos uma dedução
especifica, presente nos art.25.º e ss. do CIRS. Assim, A para receber os 20.000€ terá
tido despesas na deslocação para obter o rendimento dos 20.000€, esta quantia não é
líquida, existiram despesas, então, António pode deduzir 4104€ aos 20.000€ sendo que
estas deduções são feitas de forma abstrata. Os juros de depósito à ordem , pagos pelo
Banco CC de 500€ encontram-se inseridos na categoria E que se classifica na categoria
dos rendimentos de capitais, ou seja, a categoria dos juros. Nesta categoria, segundo os
termos do art.5.º/2 CIRS, temos a especificidade deste rendimento de que é este que
está sujeito a uma taxa liberatória prevista no art.71.º do CIRS.
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Assim, este rendimento está livre de imposto, porque já lhe foram aplicadas as taxas
liberatórias, sendo que é inserido nesta categoria, mas não é aplicado qualquer imposto.
As rendas de uma habitação que tem em Coimbra de 5.000€ estão inseridas na categoria
F, sendo esta a categoria dos rendimentos prediais – art.8.º CIRS. Há, também o caso,
de existirem pessoas que fazem da cedência/arrendamento de prédios a sua profissão,
onde o contribuinte pode optar por colocar estes rendimentos na categoria B, dos
rendimentos empresariais e profissionais.
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