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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Direito Fiscal I
Dr. Rodrigo Esteves de Oliveira
Ano letivo: 2021 / 2022
Apontamentos das aulas e do livro
Mara Luísa Rito de Oliveira Pinto

Bibliografia: Direito Fiscal, José Casalta Nabais


Legislação: CRP, LGT, CPPT, CIRS, CIRC, CIMI, CIMT, CIS
Sistema de avaliação: avaliação repartida
➔ 1ª frequência: 21 de abril
➔ 2ª frequência: 19 de maio

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O direito fiscal é o direito dos impostos, sendo a antecâmara do direito financeiro


público. Este é o complexo de normas que disciplinam a obtenção e distribuição do
dinheiro necessário ao funcionamento do Estado, em sentido lato e à gestão dos bens
do Estado. Os tipos de administração são: direta do Estado que consiste na
corporizarão com o Governo podendo ser sediada na capital ou periférica; indireta do
Estado; autónoma do Estado, com as regiões autónomas.
➔ O direito financeiro regula a matéria de três setores bastante distintos: do
direito da despesa pública, do direito da receita pública e do direito da gestão
financeira.
o No direito da despesa pública nós temos uma disciplina que consiste na
utilização dos recursos financeiros para fazer face às exigências
financeiras dos entes públicos, distribuindo-se pelos diferentes setores
do direito de ação e intervenção estadual, baseando-se no direito
administrativo.
o No direito da gestão financeira rege a organização e funcionamento da
administração financeira cujo domínio mais unificado é constituído pelo
direito orçamental e direito da contabilidade pública em sentido amplo,
sendo também fundamentado num setor administrativo.
o No direito das receitas públicas temos uma distribuição pelos seguintes
sectores:
▪ O direito patrimonial que consiste nas receitas patrimoniais dos
entes públicos, derivadas do património mobiliário, domínio
rural e das explorações comerciais e industriais da utilidade
pública – empresas públicas TAP, CP, Caixa Geral de Depósitos,
RTP.
▪ O direito do crédito público é o complexo de normas que
regulam o recurso ao crédito por parte do Estado, das entidades
publicas e a gestão da dívida pública.
▪ O direito tributário é o complexo de normas que regulam as
receitas impositivas ou coativas do Estado, composto
essencialmente por:
• Impostos (temos aqui o Direito Fiscal)
• Taxas
A distinção entre taxa e imposto faz-se com recurso a critérios materiais ou
substanciais, assim, o que distingue uma taxa de um imposto não é o nome que tem
na lei, mas a natureza substantiva ou material que se lhe reconheça. Assim, para
percebermos o direito fiscal temos de saber distinguir taxa de imposto, interessando-
nos o direito dos impostos.

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Estado Fiscal e o Estado Social


Hoje em dia, o nosso Estado, como a generalidade dos Estados civilizados, é um Estado
Fiscal, ou seja, é um Estado cujo suporte financeiro determinante é a receita
proveniente dos impostos.
O Estado Fiscal anda de mão dada com o Estado Social, sendo que temos um Estado
social bem vincado na CRP com um leque extenso dos DESC (direitos económicos,
sociais e culturais), sendo estes a cara do Estado Social. Assim, não podemos ter uma
perspetiva negativa dos impostos porque são estes que pagam as faturas dos nossos
direitos fundamentais. O Estado não tem suporte financeiro sem ser o imposto. Os
Estados que tenham outro suporte são os Estados que consideramos menos evoluídos
– funcionam num regime em que não há mercado. Se queremos um mercado, onde
quem opera são os privados (liberdade dos privados face ao Estado), então o Estado
não tem outra forma de obter receitas sem ser dos impostos.
Se o Estado explorasse serviços e bens de forma lucrativa por privados, possivelmente
o Estado não teria grande receita – o Estado não foi feito para ser empresário.
A ideia do Estado Fiscal é um pressuposto da liberdade do indivíduo que cada um tem
de se criar uma empresa e viver à conta disso. O Estado tem de assegurar que o
mercado funcione de concorrência sã e pelos direitos dos consumidores e que o
Estado esteja presente onde existam falham de mercado. Sendo que os impostos são a
face oculta dos direitos fundamentais, sendo estes o mais importante instrumento de
realização dos direitos fundamentais porque são despesa do Estado, não havendo a
possibilidade de ter um estado social sem receitas.
Qual é o problema que existe em relação aos impostos?
Estamos a assistir a uma crise do Estado Fiscal – este fez o seu caminho, mas encontra-
se numa fase a atravessar momentos complicados decorrentes de problemas que não
são facilmente resolúveis, visto que estes resultam de problemas de realização prática
e problemas com origem em fenómenos de concorrência fiscal internacional, sendo
que se torna difícil para o Estado tomar medidas justas para problemas que resultam
de questões essencialmente práticas.
➔ Exemplo – IMI (imposto municipal sobre imóveis): qualquer pessoa com a
aquisição de um imóvel paga um certo imposto e este imposto assenta na ideia
de riqueza fundiária, ideia esta que é antiga e que consiste numa pessoa ao
possuir diversos bens imóveis, como terrenos e herdades, é a mais rica; no
entanto, esta ideia não tem qualquer sentido nos dias de hoje, porque maior
parte da riqueza encontra-se em bens móveis. Ou seja, a riqueza atualmente
deslocou-se baseando-se numa riqueza essencialmente mobiliária e não
imobiliária. No entanto, os bens móveis não estão sujeitos ao pagamento de
imposto.

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o O IVA tributa o ato de despesa, ou seja, o ato do consumo. Já os


impostos de património tributam a detenção de património. Se se
comprar um prédio paga-se um imposto no momento da despesa, mas
também pelo facto de ter aquele prédio – paga-se IMT no momento da
compra e IMI todos os anos pelo facto de possuir aquele bem imóvel. Já
com os bens móveis, paga-se o IVA pela despesa, mas não pagamos
pelo facto de possuirmos aquele mesmo bem, não pagando assim um
imposto que tributa a detenção do património mobiliário
Três manifestações de capacidade contributiva:
1. Rendimento
2. Despesa – através do IVA
3. Património – pode não revelar grande capacidade para contribuir, o problema
é quando se pede por quem tem património imobiliário e não há qualquer
imposto sobre o património mobiliário
Fenómenos da globalização económica – concorrência internacional fiscal:
➔ Há fatores de produção que são mais fixos e outros que são mais dinâmicos, o
problema da concorrência fiscal internacional está nos fatores de produção
mais dinâmicos porque se trata de um fator que opta por um Estado ou por ele.
➔ Capital e o trabalho. O capital é mais móvel que o trabalho e, portanto, é mais
fácil mobilizar-se em função da carga fiscal que exista no Estado A e não exista
no Estado B. O Estado tende a não onerar a tributação do capital e onera mais a
retribuição do trabalho (o critério a ter em conta para abrir uma empresa é a
carga fiscal). O Estado tende a não onerar a tributação do capital e onera mais a
retribuição do trabalho.
[ART 71.º CIRS – a taxa que incide sobre os juros é de 28%, não sendo progressiva, é
única e tem uma taxa aplicada a qualquer pessoa que tenha remuneração de capital, a
taxa aplicada ao rendimento de trabalho é de 48%. Isto é um fator brutal de injustiça.
Não há imposto sobre fortuna porque induz a invasão fiscal, desencorajando o
investimento estrangeiro, sendo impostos que tem uma relação de custo de beneficio
desfavorável.]

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A opção que se podia eventualmente pensar era de ter um estado tributário, sendo
que este consiste num estado assente nas receitas das taxas. As taxas têm algo
agradável ao ter a ideia do pagador de quem realiza uma atividade sujeita ao
pagamento de uma taxa de quem recebe esta atividade.
É difícil substituir a ideia de imposto pela ideia de taxa, sendo a taxa o tributo dentro
de uma relação administrativa de troca (RAT) ou então dentro da lógica du ut des
(dou-te para que dês). O imposto é pago sem contrapartida, não tem uma lógica du ut
des, quando se paga imposto é na suposição que aquele dinheiro paga serviços que
depois eu tenha direito, há sempre uma ideia de uma contrapartida, mas meramente
política e não jurídica. A taxa é uma contrapartida jurídica sinalagmática. Se alguém
retira um beneficio então deve contribuir com isto, no entanto temos três obstáculos
nesta ideia:
1. O núcleo clássico da estadualidade é composto por tarefas, por bens que não
são individualizáveis nos seus destinatários (os bens públicos – bens não
suscetíveis de individualização dos seus destinatários). A taxa carece dessa
individualização dos destinatários. O núcleo clássico da estadualidade faz se de
serviços que servem a todos (defesa – servem a todos, não há um serviço
concreto prestado pela defesa). Faz-se de tarefas que tem de existir e servem a
todos. As taxas não servem para pagar a política externa, o exército, etc.
2. Depois temos alguns bens/serviços que até podiam ser pagos através de taxas
porque existe a possibilidade de individualizar um concreto destinatário num
concreto momento, mas a verdade é que a constituição constitui a gratuitidade
ou a tendencial gratuitidade desse serviço. Por exemplo, o ensino básico é
gratuito; o ensino superior público é tendencialmente gratuito segundo a CRP;
no serviço de saúde tendencialmente gratuito, há a taxa moderadora; serviço
de justiça para quem não possa pagar; segurança social onde todos tem direito
mesmo que não tenham contribuído – a CRP determina a gratuitidade ou
tendencial gratuitidade então são necessários impostos e estes não se podem
substituir por taxas.
3. Dificuldade prática da instituição de certas taxas, há casos em que facilmente
se pode colocar a existência de um sistema de taxas, mas que é irrealizável. Um
Estado Fiscal ainda é a forma mais eficiente e simples para assegurar os custos
de funcionamento de Estado e a fatura do Estado social.
[Não há nenhum Estado tributário hoje em dia, todos os estados modernos são
estados fiscais só há diferença na carga fiscal.]

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Distinção entre imposto e taxa – conceito de imposto


Podemos definir o imposto com base em três elementos:
➔ Elemento objetivo – o imposto é uma prestação, pecuniária, unilateral,
definitiva e coativa. Objetivamente, o imposto é uma prestação, ou seja,
integra uma relação de natureza obrigacional e não uma relação de carácter
real onde se integra uma relação de natureza. De um lado temos um credor e
do outro temos o devedor (o devedor do imposto é o contribuinte) e uma
prestação pecuniária, ou seja, uma prestação de dare pecunia ou concretizada
em dinheiro. Através desta característica ou nota típica do seu conceito o
imposto distingue-se de prestações de:
o Facere (de fazer)
▪ Temos umas que se traduzem em dar alguma coisa – uma
doação. Há casos que é um dare pecunia – uma doação de
entregar uma certa quantia.
o Non facere (de não fazer)
Os impostos são unilaterais, o que significa que não lhes corresponde qualquer
contraprestação especifica a favor do contribuinte. Não há nenhuma relação
entre o Estado contribuinte da contraprestação. O que distingue o imposto das
taxas é que estes assentam na relação jurídica du ut des (como visto
anteriormente) caracterizando-se como bilaterais.
A taxa integra uma relação administrativa de troca e esta manifesta-se através
de três eventos: (presentes no ART.4.º/2 LGT)
o A prestação concreta de um serviço público (exemplo: taxas que sejam
devidas porque existe a prestação concreta de um serviço público que
está obrigada ao pagamento da taxa como a propina que é devida pela
prestação concreta de um serviço público).
o Utilização de um bem de domínio publico (exemplo: estacionamento,
taxas de portagem das autoestradas)
o Remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares
– a lei configura abstratamente alguns comportamentos perigosos ou
de risco, alguns são estritamente proibidos outros são relativamente
proibidos (porque se admite que esse fator de perigo seja analisado a
propósito de um caso concreto e se considere que nesse caso concreto
esse fator de potencial risco esta afastado e, então, há um ato de
descondicionamento administrativo – a lei proibiu em termos relativos
esse certo comportamento e permite que a administração remova esse
comportamento e quando o faz, pede o pagamento de uma taxa.
Ex. conduzir na via pública é um fator de risco, a não ser que essa
pessoa tenha acesso a um curso de instituição rodoviário e demonstre
que tem aquilo que é necessário com segurança para conduzir na via
pública – a carta de condução é algo que remove o obstáculo.

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Os impostos apresentam-se como uma prestação definitiva, significa isto que é uma
prestação que não dá lugar a qualquer reembolso, restituição ou indemnização. O
imposto é uma prestação não só no presente – unilateral, mas uma prestação
unilateral também no futuro – definitiva. Aqui temos então a distinção de um
empréstimo forçado que é uma prestação unilateral, mas não definitiva.
Os impostos são, objetivamente, também prestação coativa, ou seja, uma prestação ex
legis (prestação que tem por fonte a lei/ estabelecida por lei). A obrigação de imposto
surge por força do encontro do facto tributário ou do pressuposto de facto do imposto
com a lei. A obrigação fiscal distingue-se da obrigação negocial (esta assumida no
contexto do direito civil, porque aqui é determinante a vontade do sujeito), a vontade
do sujeito a nível tributário é absolutamente irrelevante. Visto que basta uma fonte da
lei para que nasça a obrigação de imposto.
➔ Elemento subjetivo – o imposto é uma prestação com as características
objetivas (ser uma prestação pecuniária unilateral definitiva e coativa) devida
por detentores (individuais ou coletivos) de capacidade contributiva a favor de
entidades que exerçam funções ou tarefas públicas.
Numa nota subjetiva procura-se convocar para o terreno do próprio conceito de
imposto o critério material de igualdade ou da justiça fiscal que constitui o suporte
indiscutível dum Estado fiscal de direito – a capacidade contributiva – estando esta
ideia presente nos termos do ART.4.º/1 LGT – os impostos assentam essencialmente
na capacidade contributiva revelada, nos termos da lei, através do rendimento ou da
sua utilização (despesa/consumo) e do património.
Numa segunda nota subjetiva, pretende-se não limitar a titularidade ativa dos
impostos exclusivamente às pessoas coletivas publicas, admitindo-se a hipótese de
impostos exigíveis a favor de pessoas privadas que exerçam funções públicas –
presente nos termos do ART.5.º LGT.
o Empresas concessionárias de obras, serviços ou bens públicos
o Os tributos associativos/quotas obrigatórias para as associações
públicas.
➔ Elemento teleológico (ou finalista) – o imposto é exigido pelas entidades que
exerçam funções públicas para a realização dessas funções conquanto que não
tenham carácter sancionatório. Ou seja, o imposto pode ter finalidades
eminentemente fiscais ou creditícias (impostos não intencionalmente
influenciadores da economia) ou podem ter finalidades eminentemente extra
fiscais – impostos intencionalmente influenciadores da economia – em
qualquer circunstancia o imposto não pode ter uma finalidade sancionatória –
se tiver esta finalidade não é imposto, mas sim sanção.
o Imposto sobre o Tabaco – é um imposto extrafiscal porque é o imposto
que intencionalmente pretende influenciar o comportamento dos
agentes económicos levando-os a fumar menos – atingem o seu grau de
satisfação máxima quando o consumo for 0.

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Divisão dos tributos – ART.3.º, 4.º LGT; ART.165.º/1/i) CRP


Existem quatro tipo de tributos: os impostos, as taxas, as demais
contribuições financeiras e as contribuições especiais. Estas figuras distinguem-se
todas umas das outras, mas a importância é saber o regime destas figuras num plano
jurídico-constitucional. Ou seja, perceber se devemos procurar um regime para estas
três figuras (considerando que nos termos do artigo 4.º/3 da LGT há uma referencia de
que as contribuições especiais fazem parte do regime jurídico de impostos), ou
devemos apenas reconhecer autonomia aos impostos ou taxas. Ou seja, a figura dos
tributos tem sido objeto de uma divisão dicotómica/bipartida/binária que se distribui
por: i) Tributos unilaterais – os impostos ii) Tributos bilaterais – as taxas; ou de uma
divisão tripartida/ternárias que distingue: i) Impostos ii) Taxas iii) Contribuições
financeiras. Para efeitos jurídico-constitucionais temos adotado a divisão
dicotómica/bipartida/ binária, considerando-se assim que se forem unilaterais são
impostos e os que forem bilaterais taxas. A diversidade de designações e figuras
tributárias observa-se somente num plano económico, em sede do direito financeiro,
não num plano jurídico-constitucional.
Como mais argumentos para sustentar de que trata de uma divisão bipartida, temos
nos termos dos arts.3 e 4.º da LGT e o art.165.º/1/i) da CRP estabelecido apenas dois
regimes de reserva relativa da AR, um para os impostos, sujeitando-os ao princípio da
legalidade fiscal e outro para as taxas, sujeitando-as ao seu regime geral na reserva
relativa da competência legislativa da AR. O artigo 4.º/3 da LGT, refere que as
contribuições especiais se reconduzem ao regime dos impostos. E o artigo 165.º/1/i),
que as contribuições financeiras são equiparadas e reconduzidas ao regime das taxas.
Tenhamos agora em conta os tributos das contribuições, que embora não tenham
tanta relevância no regime jurídico-constitucional por se reconduzirem ao regime das
taxas e dos impostos, continuam a ter relevância num plano financeiro:
As contribuições especiais e as contribuições financeiras têm em comum, não o facto
de se reportarem a normais detentores de capacidade contributiva (como nos
impostos), nem a destinatários de específicas contraprestações (como nas taxas), mas
antes de reportarem a grupos de pessoas ligadas por uma particular manifestação de
capacidade contributiva decorrente do exercício de uma atividade administrativa (nas
contribuições especiais) ou pela partilha de uma específica contraprestação de
natureza grupal (contribuições financeiras).
➔ Contribuições especiais – são reconhecidas duas modalidades:
o Contribuições de melhoria – nos casos em que é devida uma prestação,
em virtude de uma vantagem económica particular resultante do
exercício de uma atividade administrativa por parte de todos aqueles
que beneficiam da atividade – ART.4.º/3 LGT 1ª parte

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[Em relação à contribuição especial de melhoria da mais-valia: a generalidade da


doutrina pronuncia-se no sentido de equiparar este tributo ao imposto. Isto porque: i)
não se encontra nenhuma contraprestação específica a favor do contribuinte, sendo
que não podemos pedir quaisquer préstimos à figura de taxas; ii) tais contribuições
especiais não passam de impostos, que apresentam a particularidade de ter por base
uma capacidade contributiva resultante do exercício de uma atividade administrativa e
não exclusivamente do exercício de uma atividade do respetivo contribuinte. Assim,
em todas hipóteses, a nível jurídico-constitucional, consideramos estas contribuições
como impostos com as consequências que esta qualificação implica.]
o Contribuições por maiores despesas – nas situações em que é devida
uma prestação em virtude das coisas possuídas ou da atividade exercida
pelos particulares dar origem a uma maior despesa das autoridades
públicas – ART.4.º/3 LGT 2ªparte
Como se pode verificar, as contribuições especiais não passam de impostos especiais
que apresentam a particularidade de terem por base manifestações de capacidade
contributiva de determinados grupos de pessoas resultantes do exercício de uma
atividade administrativa pública e não, ou não exclusivamente, do exercício de uma
atividade do respetivo contribuinte como acontece nos impostos.
➔ Contribuições Financeiras – contribuições estas a favor das entidades publicas,
trata-se de contribuições, como tendem a ser as taxas de regulação e
supervisão que suportam financeiramente a atividade do atual Estado
regulador e supervisor, que têm por base uma contraprestação de natureza
grupal na medida em que constituem um preço público, operando assim à
maneira das clássicas taxas, a pagar pelo conjunto de regulados à respetiva
entidade ou agência de regulação. Assim, face a estas contribuições, tem de se
respeitar a Constituição, tendo o seu regime geral de constar de lei ou de
decreto-lei autorizado e o seu montante suportar o teste de proporcionalidade.
o Ou seja, a ideia de grupo das contribuições financeiras é a associação de
pessoas que provocam uma certa atividade administrativa de
supervisão e de regulação, sendo que funciona uma ideia de
contraprestação genérica e de proporção – sendo que temos uma
bilateralidade genérica, mas ainda assim uma bilateralidade.

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Espécie de Impostos
Impostos Periódicos e Impostos de Obrigação Única
➔ Impostos Periódicos – incidem sobre um facto tributário duradouro, sendo a
liquidação efetuada periodicamente – IRS e IRC; IMI: propriedade de um imóvel
no dia 31 de dezembro
➔ Impostos de Obrigação Única – facto tributário isolado, mesmo quando são
recorrentes ou repetidos – IVA: incide sobre cada transmissão de bens ou
prestação de serviços e no momento em que ocorre o facto tributário, mesmo
se o seu apuramento e pagamento assumem certa periodicidade.
o Relevo prático – caducidade do direito à liquidação (prazo de que a AT
dispõe para tornar certa, liquida e exigível a obrigação de imposto) e
prescrição das dívidas tributárias (prazo que a AT tem para promover a
cobrança coerciva das dívidas fiscais) – ART.45.º/48.º LGT
Impostos Reais e Impostos Pessoais
➔ Impostos reais – não tomam em consideração a situação económica e pessoal
do contribuinte, incidindo sobre a matéria coletável – ISP; IVA; IMT
➔ Impostos pessoais – tomam em consideração, em maior ou menor grau, a
situação económica e pessoal do contribuinte – IRS
o Características dos impostos pessoais:
▪ Tomam sempre em consideração o rendimento global do
contribuinte, o que constitui um verdadeiro pressuposto de
pessoalização do imposto, uma vez que se não for assim, não se
pode conhecer minimamente a situação pessoal do contribuinte
▪ Excluem de tributação o mínimo de existência, ou seja, aquela
quota de rendimento necessária à satisfação das necessidades
essenciais à salvaguarda da dignidade humana do contribuinte e
sua família. – ART.70.º CIRS (se da tributação resultar para o
contribuinte em causa o rendimento disponível em x, não há
tributação)
▪ Admitem a dedução de encargos sociais de natureza pessoal –
ART.78.º CIRS
▪ Têm uma taxa progressiva – ART.68.º CIRS (no IRS encontramos
vários escalões de taxas que vão subindo percentualmente em
função do valor do rendimento coletável permitindo uma
redistribuição em alta dos rendimentos
▪ Têm um quociente conjugal – ART.69.º CIRS (o rendimento
coletável de 2 é maior que se ambos vivessem sozinhos e isso
significaria que iríamos tributar de forma mais severa quem
vivesse em união económica comum, então tributa-se de forma
diferente no casamento para neutralizar os efeitos nefastos
fiscais do casamento).

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o Impostos pessoais com regras de tributação real – ART.71.º/4 CIRS – é


como se fosse um imposto proporcional e real – ver 17.º-A CIRS
o Nota: taxas liberatórias – dentro destas encontramos taxas
proporcionais e reais – art.71.º CIRS – liberta aquele rendimento às
sujeições das taxas gerais, existe esta taxa para evitar a fuga de capitais.
Impostos de quota fixa e impostos de quota variável
➔ Impostos de quota fixa – a lei determina o montante fixo a pagar por todos os
contribuintes.
o Imposto de Selo sobre a emissão de cheques: 0,05€
o IUC
➔ Impostos de quota variável – o montante de imposto a pagar varia consoante
o valor da matéria coletável, sendo determinado a partir da aplicação de uma
taxa ou alíquota.
o Impostos de taxa fixa – impostos proporcionais
o Impostos de taxa variável
▪ Impostos progressivos (taxa aumenta à medida que aumenta a
taxa variável – ou seja, uma taxa ascendente)
• Progressividade global – várias taxas, correspondendo
uma delas à totalidade da matéria coletável – IUC –
veículos comerciais de uso particular
• Progressividade por escalões – divisão da matéria
coletável em várias partes, cada uma delas tributada à
taxa correspondente – IRS
▪ Impostos regressivos (a taxa diminui à medida que aumenta a
taxa variável – ou seja, uma taxa descendente)
➔ O carácter económico regressivo do IVA – onera mais as pessoas com
rendimentos mais baixos e é mais irrelevante para pessoas de rendimentos
mais elevados
o Importância da seleção dos bens que integram cada uma das taxas
Impostos estaduais e impostos não estaduais
➔ Impostos estaduais e Impostos não estaduais – consoante o seu titular ativo
seja o Estado, ou outros entes públicos territoriais como as regiões autónomas
e as autarquias locais ou entes públicos não territoriais
o Qual é o critério correto para distinguir impostos estaduais de impostos
não estaduais?
▪ Critério da titularidade da receita do imposto
▪ Critério da qualidade do sujeito ativo da relação jurídica fiscal –
se quem aparece no lado ativo for o Estado é estadual; se não
for o Estado é não estadual. Por ativo entende-se o credor e no
passivo o devedor/contribuinte na relação jurídica de prestação.
o O caso do IMI: receita dos municípios, pertencendo o lançamento, a
liquidação e cobrança aos serviços do Estado.

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▪ Temos em Portugal vários impostos que diríamos ser não


estaduais – o IMI e o IMT – são municipais porque a receita
gerada por estes dois impostos pertence aos municípios – mas,
apesar disso, tanto o IMI como i IMT são liquidados e cobrados
pelo Estado/Governo através da Direção Geral dos
Impostos/Direções de Finanças, logo o credor é o Estado quem
aparece na relação jurídica fiscal é o Estado não são os
municípios – aparece na qualidade de credor, mas este depois
de arrecadar a receita ele entrega aos municípios não já no
quadro de uma relação jurídica fiscal mas no quadro do direito
financeiro público.
▪ Para o Dr. Casalta Nabais, o critério é o do sujeito ativo da
relação jurídica fiscal, o que significa que o IMI e o IMT são
impostos estaduais porque não são os municípios os credores,
mas sim o Estado.
▪ A lei permite que os municípios chamem a si esta competência
fiscal e passem a ser eles os sujeitos ativos da relação jurídica
fiscal relativa ao IMI e ao IMT, mas nenhum município que ficar
ligado ao odia do imposto logo nenhum município avocou.
Fazendo assim, com que estes paguem um x ao Estado para ser
o Estado a cobrar o imposto e depois entregar o remanescente
da receita. E, portanto, estes impostos, apesar de serem
municipais, a verdade é que são estaduais porque naquilo que
interessa quem aparece como credor é o Estado não são os
município e o ultimo critério é o que importa para efeitos
jurídicos fiscais.
➔ Impostos Estaduais, impostos regionais, impostos municipais, impostos
internacionais e impostos europeus (comunitários)
➔ Impostos europeus: pauta aduaneira comum, projeto da EU Financial
Transaction Tax
Impostos diretos e indiretos
➔ Critério da contabilidade nacional (integração ou não dos impostos nos custos
de produção das empresas): os impostos indiretos são aqueles que, por
constituírem custos de produção, o respetivo valor tem de ser deduzido ao
produto nacional para apurar o rendimento nacional (de acordo com este
critério, os impostos indiretos identificam-se com os impostos sobre o
consumo). Ou seja, os impostos diretos são aqueles que não constituem custos
de produção das empresas e os impostos indiretos são aqueles que constituem
custos de produção das empresas.
➔ Critério da repercussão económica (repercussão ou não dos impostos no
adquirente final de bens e serviços): os impostos indiretos são aqueles em que,
por determinação legal (v.g., 37.º CIVA), o suportador económico do imposto
não se identifica com o sujeito passivo do mesmo.

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➔ Critério da relação jurídica base do imposto (tipo de relação jurídica fonte da


obrigação do imposto): imposto indireto é o que tem por base um facto ou ato
isolado (mesmo que por razões de praticabilidade a liquidação se faça a partir
da agregação de liquidações de um conjunto de factos ou atos verificados num
determinado período de tempo) e imposto direto o que incide sobre relações
jurídicas duradouras, impondo uma renovação periódica da obrigação de
imposto
➔ A distinção é adotada em sede de classificação económica das receitas publicas
➔ A distinção entre impostos diretos e indiretos é ainda relevante para efeitos de
contabilidade empresarial, no âmbito do “Sistema de Normalização
Contabilística”
Impostos gerais e especiais
➔ Impostos gerais – previstos na lei de modo a aplicarem-se a toda uma categoria
de situações homogéneas
➔ Impostos especiais – dizem respeito a factos ou situações genericamente
abrangidas nos primeiros, sendo objeto um disciplina jurídica especial.
➔ A regra é a de que os impostos gerais se aplicam a um conjunto de factos
tributários semelhantes. Em alguns casos, o legislador opta por autonomizar
certos tipos de factos tributários, que à partida estariam abrangidos pelo
regime de um imposto geral, e submete-os a um regime especial de tributação
o v.g. imposto especial de jogo: 7.º CIRC refere expressamente que “não
estão sujeitos a IRC os rendimentos diretamente resultantes do
exercício de atividade sujeita ao imposto especial de jogo”,
estabelecendo-se o regime da tributação dos rendimentos desta
atividade nos arts.84.º e ss. da Lei do Jogo (DL nº 422/89, de 2 de
Dezembro: última alteração pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro)
Impostos principais e acessórios
➔ Impostos principais – não dependem na sua existência nem nos seus
elementos essenciais de outros impostos.
➔ Impostos acessórios – dependem da prévia existência de outros.
o Adicionamentos – incidem sobre a matéria coletável dos impostos
principais (também designados por sobretaxas ou sobrimpostos)
o Adicionais – incidem cobre a coleta dos impostos principais
▪ Ex. Impostos acessórios – derrama municipal – ART.14.º LFL “os
municípios podem deliberar lançar anualmente uma derrama,
até ao limite máximo de 1,5% sobre o lucro tributável sujeito e
não isento de IRC que corresponda à proporção do rendimento
gerado na sua área geográfica por sujeitos passivos residentes
em território português que exerçam, a titulo principal, uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e não
residentes com estabelecimento estável nesse território –
adicionamento.

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1. Princípio da Legalidade Fiscal


[Princípio da legalidade Administrativa
➔ A atividade administrativa (aa, regulamentos, contratos, etc.) só é legitima se
estiver fundada em lei, ou seja, se tiver habilitação legal (reserva de lei) e não
pode contrariar a lei (primado da lei)
➔ Lei, no quadro deste princípio, é qualquer lei e essa lei pode ser
desenvolvida/executada por regulamentos administrativos]
Princípio da Legalidade Fiscal
➔ Assenta na ideia de autotributação (os impostos apenas podem ser criados e
modelados nos seus elementos essenciais com a intervenção legislativa da
AR) em que os impostos devem ser consentidos pelos próprios contribuintes,
segundo a qual se assenta na célebre Magna Carta que afirmou a ideia do “no
taxation without representation” (que consiste na não tributação sem
mediação dos representantes do povo/dos contribuintes) – que tem um
fundamento democrático (e não liberal) consistindo na intervenção dos
representantes na criação de normas fiscais e a ideia de autotributação antes
referida.
➔ Criação de impostos e sistema fiscal é a matéria da reserva relativa de
competência legislativa da AR. ART.165.º/1/i) CRP
Este princípio da legalidade desdobra-se, então, em dois aspetos: o princípio da
reserva de lei (formal); o princípio da reserva material (de lei).
1.1. Subprincípio da Reserva de Lei Formal
Os impostos só podem ser criados com intervenção legislativa da AR e os elementos
essenciais dos impostos devem ser regulados por lei da AR ou por DL autorizado. A AR
tem sempre que intervir sendo que não há qualquer mudança no sistema fiscal sem a
intervenção da mesma. Pode ser iminentemente formal quando a própria AR regular
os elementos essenciais dos impostos ou iminentemente material quando a AR
autoriza o governo a regular os elementos essenciais dos impostos – competência
absoluta e relativa da AR (art.165.º/1 e 2 da CRP).
➔ Âmbito
o Este princípio apenas vale para os tributos que materialmente devam
ser considerados impostos, não vale para as taxas. Para as taxas vale o
princípio da legalidade administrativa.
o Este princípio vale para a criação, alteração ou extinção dos impostos,
visto este princípio ter um fundamento democrático.
o Este princípio só abrange elementos essenciais dos impostos
(ART.103.º/2, 2ª parte CRP) – o princípio da legalidade fiscal não vale
para o direito fiscal, só vale para as normas que tem por objeto os
elementos essenciais dos impostos. Sendo os 4 elementos essências:
▪ Incidência

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

• Incidência pessoal ou subjetiva – definição normativa do


sujeito ativo e passivo, incluindo contribuinte,
substitutos, responsáveis, etc.
• Incidência real ou objetiva – definição normativa da
realidade material, temporal, quantitativa e espacial
sobre que recai o imposto.
▪ Taxa – uma alíquota que se aplica a uma determinada realidade
▪ Benefícios fiscais (ART.2.º dos Estatutos dos benefícios fiscais) -
medidas de desagravamento fiscal
▪ Garantias dos contribuintes (em princípio, só se for restrição ou
condicionamento) – envolvem temas como a prescrição do
imposto, caducidade do imposto, a possibilidade de impugnar a
liquidação do imposto. Sendo que, nesta última parte sobre as
garantias, este elemento essencial só se inscreve no princípio, as
normas que pretendam restringir ou condicionar as garantias
dos contribuintes já existentes (neste especifico elemento há um
fundamento liberal).
Nas matérias relativas ao procedimento tributário de liquidação (lançamento,
liquidação e cobrança) estas matérias não fazem parte do princípio da legalidade fiscal,
estando por regra, fora do âmbito do princípio da legalidade fiscal e fazendo antes
parte do princípio da legalidade administrativa.
o Lançamento do imposto – identificar o sujeito passivo (contribuinte) –
normas sobre a forma de identificar o contribuinte e normas de calcular
a matéria tributável.
o Liquidação do imposto – resulta duma operação simples – da aplicação
da taxa à material coletável.
o Cobrança do imposto – pode chamar-se voluntária, sendo aquela que
ocorre dentro do prazo do pagamento voluntário do imposto, havendo
lugar ao pagamento do imposto dentro do prazo ou coerciva – passado
esse prazo, a administração pode lançar mão dos mecanismos da
cobrança coerciva do imposto, instaurando um processo de execução
fiscal (PEF)
Isto significa que não aderimos à posição de uma parte significativa da doutrina a qual
com base no art.103.º/3 CRP que defende que a disciplina dos momentos de
liquidação e cobrança da vida do imposto esteja constitucionalmente reservada de um
diploma legislativo, ou seja, de uma alei, decreto-lei ou decreto legislativo regional.
Nada nos leva a crer que a palavra lei, utilizada no preceito constitucional em causa
tenha o sentido de diploma legislativo e não de norma jurídica. Assim, não se exclui
que a liquidação e a cobrança dos impostos possam integrar outras reservas de lei na
medida em que a mesma se localize em algumas das matérias constitucionalmente
reservadas.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Como é reserva relativa, a AR pode, por lei de autorização legislativa (LAL),


“delegar” o exercício do poder legislativo fiscal no Governo que regula a
matéria através de DL autorizado
o Conteúdo mínimo da LAL: determinação do objeto, do sentido, da
extensão e da duração dessa autorização (ART.165.º/2 CRP): indicação
quanto aos elementos essenciais dos impostos.
➔ A CRP reconhece às Regiões Autónomas a possibilidade de exercerem poderes
tributários próprios, nos termos da lei, bem como o poder de adaptar o sistema
fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de lei-quadro da AR
(art.227.º/1/i) CRP), ou seja, em conformidade com a Lei das Finanças
Regionais e os Estatuto Político-Administrativo da respetiva RA: os poderes são
exercidos pelas respetivas ALR (ART.232.º/2 CRP) através de decreto legislativo
regional.
➔ As Autarquias Locais não dispõem de poder legislativo, mas podem exercer, por
via regulamentar (sob reserva de lei), alguns poderes tributários próprios, de
acordo com o ART.238.º/4 CRP (“as autarquias locais podem dispor de poderes
tributários, nos casos e nos termos previstos na lei”)
o Lei n.º73/2013 de 3 de Setembro (regime financeiro das AL e das
entidades intermunicipais)
▪ Titulo II – referencia aos poderes tributários próprios das AL e
respetivo regime de exercício
o Exemplo: ART.112.º/5 CIMI: “Os municípios mediante deliberação da
assembleia municipal, fixam a taxa a aplicar em cada ano, dentro dos
intervalos previstos na alínea c) do n.º1, podendo esta ser fixada por
freguesia” – é um desvio que viola o princípio.

1.2. Subprincípio da Reserva Material de Lei – Princípio da Tipicidade


➔ A lei deve conter a disciplina tão completa quanto possível da matéria fiscal
reservada (tipo legal de imposto). A lei fiscal tem de ser suficientemente densa
e precisa quanto aos elementos essenciais dos impostos: incidência, taxa ou
alíquota do imposto, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.
(ART.103.º/2, 2ª parte, CRP)
o Nullum vectigal sine lege
o Densidade legal acrescida na regulação/conformação dos elementos
essenciais dos impostos: normas de “hipótese legal fechada”, para
segurança jurídica dos contribuintes.
➔ O princípio da praticabilidade, a luta eficaz contra a evasão e fraude fiscal
o Do princípio da praticabilidade, decorre a exclusão de exigências da
determinabilidade que desemboquem em soluções impossíveis de levar
à prática porque permitem uma generalizada evasão ou fraude fiscal, ou
em soluções economicamente insuportáveis.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Há também normas de “hipótese legal aberta” (normas anti abuso), cujo


objetivo é a tributação de factos que escapam às normas de “hipótese legal
fechada” em decorrência, essencialmente, de situações de elisão fiscal
agressiva (ART.38.º/2 LGT)
➔ O princípio da tipicidade fiscal não impede a utilização de conceitos legais
indeterminados atributivos de poderes discricionários à AT: as circulares e
ofícios circulados (para assegurar uniformização das decisões)
➔ O problema da analogia no direito fiscal – a integração de lacunas
o Influencia conflituante de diferentes princípios – legalidade ou
tipicidade (nullum vectigal sine lege), igualdade e segurança jurídica
(previsibilidade dos efeitos fiscais associados aos comportamentos
adotados: bonem partem/malem, partem).
▪ Ou seja, quanto à interferência do princípio da igualdade fiscal
no princípio da legalidade fiscal devemos dizer que este vinha
legitimar a admissão da colmatação de lacunas nos casos em
que a lei o permitisse, num equilíbrio entre os dois princípios. No
entanto, de acordo com o art.11.º/4 LGT, temos a exclusão da
aplicação analógica de normas fiscais relativas aos elementos
essenciais dos impostos.
o ART.11.º/4 LGT e 9.º EBF

2. Princípio da Segurança Jurídica


➔ Distinção entre princípio da segurança jurídica e princípio da proteção de
confiança: as pessoas devem poder confiar que aos seus comportamentos, aos
seus atos e omissões se associam os efeitos jurídicos previstos e prescritos no
ordenamento jurídico em vigor à data em que esses comportamentos foram
adotados
o Subprincípio do princípio do Estado de Direito – pede-se racionalidade,
fiabilidade, previsibilidade e justiça do Direito ao Estado.
➔ O princípio da Segurança Jurídica impõe-se fundamentalmente ao legislador,
limitando estes dois sentidos: i) edição de normas retroativas (desfavoráveis);
ii) livre revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais (favoráveis).
➔ Do princípio da Segurança Jurídica não resulta que toda e qualquer
retroatividade seja inconstitucional – os princípios são normas porosas porque
são elásticas e flexíveis, sendo intrinsecamente conflituais. Quando se pretende
obter uma decisão para um caso em concreto e não existe uma regra,
normalmente, nós encontramos princípios de sentido oposto, e os princípios
vivem bem em conflito sendo somente necessária uma harmonização,
conjugação e conciliação entre os princípios; contrariamente às regras que
valem na regra do tudo ou nada. Assim, do princípio da segurança jurídica não
é dito que todas as regras com retroatividade sejam inconstitucionais. A
proibição constitucional de impostos retroativos (ART.103.º/3 CRP): “ninguém
pode ser obrigado a pagar impostos (…) que tenham natureza retroativa” – é
uma regra, mas esta só vale para os casos de retroatividade autêntica – neste

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

artigo não temos regulada a retroatividade imprópria ou inautêntica o que


significa que a retroatividade fugindo do âmbito da regra, vai cair no âmbito do
princípio, dependendo do resultado a que se chega do jogo dos princípio
pertinentes
o Só abrange os casos de retroatividade de normas de incidência
oneradora ou agravadora
o Só abrange os fenómenos de retroatividade autêntica
Retroatividade da lei fiscal
➔ Retroatividade autêntica (própria ou perfeita): há quando a lei nova(LN)
pretende regular factos tributários (FT) que nasceram, que se desenvolveram e
que se extinguiram(N/D/E) já ao abrigo da lei antiga (LA), ou seja, no passado.
➔ Retroatividade inautêntica (imprópria ou imperfeita): quando a lei nova(LN)
pretende regular factos tributários(FT) que nasceram(N) no domínio da
vigência da lei antiga(LA), mas que ainda perduram quando a lei nova entra em
vigor. (na terminologia do TC: retrospetividade) Ex. Contrato de arrendamento
realizado em 2000, e amanhã veio uma lei que estipula que as rendas podem
ser majoradas até 10% ao ano e não apenas 2% referindo também que se
aplica aos contratos em vigor a partir deste momento.
o A retroatividade fiscal quando é desfavorável ao contribuinte é
inconstitucional. Assim, a retroatividade em sentido impróprio depende
do resultado a que se chegar em 3 testes:
▪ Grau de confiança dos contribuintes/das expectativas em causa
da manutenção do status quo
▪ Grau de lesão ou afetação trazida pela nova lei fiscal
▪ Quais os valores públicos que se pretendem tutelar através
desta intervenção fiscal/a justificação da medida ou valor a
tutelar
• No final o Tribunal Constitucional decide acerca dos
efeitos.
➔ Retrospetividade: nova regulação de factos tributários ocorridos e extintos ao
abrigo da lei antiga, mas em que não houve ainda a respetiva liquidação e
cobrança (na terminologia do TC: retroatividade em sentido próprio/autêntica)
o Sobretudo nos impostos periódicos as operações de liquidação não
ocorrem no facto tributário, como por exemplo o IRS, em que a
liquidação vem em junho ou julho. O TC diz que as leis novas que surjam
no período entre o termo do facto tributário e a liquidação e que
venham alterar o imposto cujo facto já tinha terminado, são avaliadas à
luz da figura da retrospetividade.
o O facto tributário está extinto, logo, tem de se falar na retroatividade
em sentido próprio. O facto da liquidação é acidental, há quem receba a
notificação em junho e outros em julho ou agosto.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

o Para o Dr. Casalta Nabais, não se reconhece autonomia à figura da


retrospetividade, conduzindo à retroatividade em sentido próprio ou
autêntico.
[Domínio da lei fiscal dos impostos – Exemplo
O IRS é um imposto cujo facto tributário nasce todos os anos no dia 1 de Janeiro e esse
facto tributário só se extingue no dia 31 de dezembro desse mesmo ano. Se, uma lei
surge em outubro a dizer que as taxas previstas no art.68.º do CIRS sobem todas 2
pontos percentuais e vier dizer que se aplica desde janeiro, temos um caso de
retroatividade imprópria logo não se aplica o regime do art.103.º/3 logo esta
retroatividade não é expressamente proibida e vamos ter de invocar os tópicos
jurídicos que nos permitem resolve este tema. A resposta é: não sabemos, mas vai ser
encontrada. Depende essencialmente de 3 coisas: 1. depende do grau das expectativas
dos contribuintes quanto à manutenção do status quo; 2. grau da lesão ou afetação – a
lei nova vir incrementar significativamente a carga fiscal é uma coisa praticamente
insignificante, pessoalmente é insignificante? 3. A justificação da medida – qual é o
valor ou valores que ela pretende tutelar? Não há um direito à cristalização do direito,
é completamente avesso uma ideia de congelamento ou petrificação das normas, o
justo faz se através do desenvolvimento do direito – retroatividade autentica faz parte
do direito.]
O princípio da segurança jurídica, na sua expressão de princípio da proteção da
confiança, operará igualmente em sede das taxas e das contribuições retroativas, bem
como das normas relativas a elementos não essenciais dos impostos, em que
sobressaem os diversificados e onerosos deveres ou obrigações fiscais de natureza
acessória, alguns deles de natureza pecuniária que impendem sobre os particulares,
obstando que os mesmos possam ser agravados retroativamente. Isto se os deveres
ou as obrigações não se configurarem como verdadeiras restrições aos direitos,
liberdades ou garantias fundamentais, pois, neste caso, a proibição da retroatividade
decorrerá do art.18.º/3 CPR.
➔ Impostos de obrigação única
o IVA (liquidação agregada de um conjunto de factos tributários): a lei
nova apenas deverá incidir sobre factos tributários novos: se por razoes
de praticabilidade não for possível estabelecer separação entre factos
tributários antigos e factos tributários novos, a lei nova só deverá
aplicar-se ao período tributário seguinte.
➔ Impostos periódicos ou de formação sucessiva
o Diferentes hipóteses
o Se a lei nova entra em vigor durante o período de formação do facto
tributário: retroatividade inautêntica
o Não se aplica 103.º/3 CRP, mas o princípio da segurança jurídica

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

o Tópicos: (i) auto-revisibilidade das leis e liberdade de conformação


política do legislador (ii) não há um direito dos contribuintes à não
frustração das expectativas jurídicas e seu peso ou valia (iv) balança
entre afetação grosseira ou não das expectativa e (valia ou
essencialidade do) bem jurídico que se pretende tutelar
➔ Tributações autónomas de despesas (ART.73.º CIRS)
o Facto tributário instantâneo ou de obrigação única, sujeitos a taxas
especiais (é sempre devido imposto, mesmo que não haja rendimentos)
o Um caso de diferimento temporal da liquidação
o TC 310/2012 – o agravamento das taxas não pode aplicar-se a despesas
já realizadas, sob pena de retroatividade autentica
o TC 18/2011 e 399/2010 – tratando-se de uma hipótese de
retroatividade inautêntica, a legitimidade da aplicação do agravamento
das taxas a despesas já realizadas deve ser apurada caso a caso.
ART.12.º LGT – APLICAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA NO TEMPO
1 - As normas tributárias aplicam-se aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não
podendo ser criados quaisquer impostos retroativos.
2 - Se o facto tributário for de formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período
decorrido a partir da sua entrada em vigor.
3 - As normas sobre procedimento e processo são de aplicação imediata, sem prejuízo
das garantias, direitos e interesses legítimos anteriormente constituídos dos
contribuintes.
4 - Não são abrangidas pelo disposto no número anterior as normas que, embora
integradas no processo de determinação da matéria tributável, tenham por função o
desenvolvimento das normas de incidência tributária

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Interpretação da lei fiscal e integração de lacunas – aplicação da lei fiscal


no Espaço
➔ Integração das lacunas da lei fiscal
o As lacunas são um vazio jurídico que se equipara a uma imperfeição,
“como um edifício sem teto”. Uma lacuna não é a inexistência de
regulação, de não haver disciplina, mas sim o facto dessa disciplina ser
contrária ao sistema jurídico, ou seja, de acordo com o sistema jurídico
regente, se se sentir que a matéria devia estar regulada, mas não se
encontra regulada. Os mecanismos de integração de lacunas no Direito
Fiscal são iguais aos regulados no Código Civil (art.11.º LGT com
remissão para o art.9.º CC)
➔ Analogia
o Quando existe uma lacuna, temos de procurar no OJ um caso
paralelo/análogo ao caso omisso, exportando a regulamentação que
existe para o caso análogo.
▪ É diferente falarmos de uma lacuna que se integra e de uma lei
que existe e que pode ser objeto de interpretação extensiva, que
se traduz no facto de se concluir, pelo processo hermenêutico
que a lei diz menos do que aquilo que pretende, alargando-se a
letra da lei, de forma que esta corresponda ao seu espírito e ao
seu pensamento legislativo.
o O fundamento jurídico para a analogia é o princípio da igualdade, ou
seja, tratar de forma igual aquilo que é substancialmente igual, porque,
se o caso omisso é análogo a um outro caso, aplica-se a solução do
segundo ao primeiro. Assim, falamos deste principio da igualdade fiscal
ao nível da capacidade contributiva.
o Contra a integração analógica, temos o princípio da tipicidade (nullum
vectigal sine lege) que reclama a solução oposta, pois de acordo com
este, só os factos descritos na lei é que são factos capazes de gerara a
obrigação de pagar imposto. Se não há lei, não há imposto, não
havendo factos tributários geradores de imposto por analogia.
▪ No Direito Penal, o princípio da tipicidade joga contra a analogia,
nullum crime sine lege. No direito fiscal também temos o
princípio da tipicidade fiscal. O Direito Penal e o Fiscal
encontram semelhanças pois jogam os dois com a liberdade e a
fiscalidade. Assim, os dois princípios, da igualdade e da
tipicidade, equivalem-se.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Distinção entre lacunas na regulação normativa dos elementos essenciais do


imposto e lacunas na regulação normativa dos restantes aspetos da lei fiscal
o A Analogia também afeta o princípio da segurança jurídica – ART.11.º/4
LGT. – As lacunas que encontramos referidas são em matéria de
incidência subjetiva e objetiva, taxas e benefícios fiscais (ART.10.º EBF).
Assim, as lacunas não serão lacunas jurídica, mas serão sempre sim
lacunas políticas, no sentido de que só são resolúveis por via do
legislador e não pelos aplicadores do direito designadamente os
tribunais, não podendo integrá-las por analogia. Existem analogias que
podem favorecer ou desfavorecer o contribuinte, mas encontram-se as
duas proibidas.
o Os elementos essenciais dos impostos não podem ser objeto de
integração por via analógica. (O resto do direito fiscal é possível de
integrar lacunas por analogia).
➔ Eficácia espacial da lei fiscal
o Em matéria de lei fiscal, temos revelado o Princípio da Territorialidade:
▪ As leis fiscais apenas se aplicam aos factos ocorridos no
território do respetivo sistema jurídico que esteja em causa,
independentemente do fator da nacionalidade, do domicilio ou
da residência do sujeito passivo – ART.13.º da LGT
• Art.13.º/2 – pequeno desvio em relação à tributação
pessoal: a tributação pessoal, como o IRS ou IRC, abrange
todos os rendimentos obtidos pelo sujeito passivo, sejam
estes obtidos em Portugal ou no estrangeiro.
o Nos impostos sobre o rendimento temos duas figuras:
▪ Worldwide income principle (ideia de rendimento mundial) – em
relação aos residentes ou às sociedade com sede efetiva em
Portugal, de acordo com o critério da lei, pagam IRS pelos
rendimentos que obtenham em Portugal como também os
rendimentos obtidos fora de Portugal, temos um rendimento
global do sujeito.
▪ Source principle (princípio da fonte) – os que não residem em
Portugal ou que não tem sede efetiva em Portugal, de acordo
com a lei, pagam imposto somente pelos rendimento que
obtenham em Portugal
No entanto, este segundo pode levar-nos a problemas inevitáveis da dupla tributação
internacional. Esta dupla tributação internacional existe quando o mesmo sujeito tem
de pagar dois ou mais impostos pertencentes a sistemas jurídicos diferentes pela
obtenção do mesmo rendimento (pode ser uma dupla, tripla, … tributação). Ex. A é
advogado em Portugal e foi dar duas palestras em Espanha e vendeu um automóvel na
Alemanha. Em Portugal, A vai pagar imposto por todos esses rendimentos, mas ainda
vai ser tributado em Espanha e na Alemanha – parte do rendimento está sujeito a uma
dupla tributação internacional. – Este problema ou é resolvido entre Convenções
Internacionais, por exemplo Portugal e Brasil, ou através do crédito de imposto
presente no ART.81.º CIRS:

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

o Crédito de imposto – art.81.º CIRS – montante de imposto que o sujeito


residente em Portugal pagou no exterior e que pode ser descontado no
IRS português.
o Hoje em dia, há uma ideia de as pessoas começarem a orientar a sua
vida em função da carga fiscal , ou seja, temos uma deslocação da
residência com o mero objetivo de seleção de um sistema fiscal mais
vantajoso – problema do treaty shopping. Por exemplo, a Irlanda tem
uma carga fiscal muito baixa e é dos que mais recebe em sede de IRC –
há uma fixação de empresas que faturam milhões.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Sujeitos da relação jurídica fiscal


O problema das “titularidades ativas” (em sentido amplo) da relação jurídica
fiscal
➔ Poder tributário (relação constitucional fiscal) – poder conferido
constitucionalmente ao legislador para a criação ou invenção dos impostos e
regulação dos seus elementos essenciais.
➔ Competência tributária (relação administrativa fiscal) – é o órgão/autoridade
legalmente competente para o lançamento, liquidação e cobrança dos
impostos.
o Fenómeno da privatização da administração dos impostos
➔ Capacidade tributária ativa (relação obrigacional fiscal) – qualidade de sujeito
ativo da relação de crédito em que a relação fiscal se consubstancia – direito
subjetivo ao crédito do imposto.
➔ Titularidade da receita dos impostos (fora da relação jurídica fiscal/fora da
relação tributária) – posição ou qualidade da entidade a favor de quem está
subjetivamente consignada (por imposição constitucional ou legal) às receitas
de um determinado imposto e que não dispõe das outras titularidades ativas
fiscais, designadamente, a capacidade tributária ativa.
o Dá origem a uma relação de crédito de direito público financeiro, não a
uma relação de direito fiscal
o Relação entre os serviços de finanças do Estado (representante legal?) e
o titular dessas receitas fiscais (606.º CC?)
Lado passivo
➔ Sujeito passivo ou devedor de imposto em sentido amplo – sujeito que está
legalmente adstrito, ao dever de efetuar a obrigação de uma prestação de
carácter tributário(imposto) perante o credor. Esta pessoa tanto pode estar
obrigada a cumprir a obrigação principal fiscal, que é a obrigação de pagar o
imposto, como pode estar apenas obrigado a efetuar uma prestação acessória.
o Devedor de imposto em sentido estrito ou contribuinte – aquele que
tem a obrigação de cumprir a obrigação em sentido principal, sendo a
pessoa em cuja esfera jurídica se verifica o facto tributário, ou o titular
da manifestação de capacidade tributiva e que deve suportar o
desfalque patrimonial inerente ao imposto.
▪ Tanto é contribuinte o chamado contribuinte direto – o referido
desfalque patrimonial ocorre diretamente na sua esfera seja ele
ou não o devedor do imposto – como o indireto – que sofre
desfalque patrimonial através do fenómeno económico da
repercussão legal do imposto – basta repercussão legalmente
pretendida ou prevista, mesmo se não legalmente exigida
▪ É por isso que no ART. 18.º/4/a) da LGT, embora se reconheça aí,
o dito contribuinte indireto, um direito de reação mesmo se se
lhe nega aí a qualidade de sujeito passivo.
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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

• Contribuinte de direito – pessoa em cuja esfera jurídica


se verifica o facto tributário, ou seja, a pessoa em relação
à qual se verifica o pressuposto de facto do imposto.
• Contribuinte de facto – pessoa titular da manifestação da
capacidade tributiva cujo património aquele imposto visa
onerar, ou seja, em virtude da repercussão, suporta
economicamente o imposto.
▪ Ex. Imposto sobre produtos petrolíferos – recai sobre as
gasolineiras, mas as pessoas que compram gasolina é que são a
pessoa titular da manifestação da capacidade tributiva cujo
património aquele imposto visa onerar – “Suportamos o IVA,
não pagamos ao Estado o IVA”. – ART.18.º/4 LGT. O imposto
repercute-se economicamente quando é integrado no preço de
um produto. Se for integrado num produto um valor de IVA
acima do legalmente exigível, a pessoa (substituto; responsável;
sucessor) pode reclamar.
o Outros devedores do imposto – ex. substituto, responsável ou sucessor
o O contribuinte é um devedor qualificado porque é um devedor direto (e
não indireto como o substituto tributário), originário (e não derivado,
como o sucessor legal) e principal (e não acessório, como é o
responsável fiscal).

Substituição Tributária: (devedor indireto – substituto)


Temos a noção de substituição tributária presente no ART.20.º LGT – o pagamento do
imposto é devido em primeira linha por pessoa diversa daquela em cuja esfera jurídica
se verifica o facto tributário, ou seja, quando a prestação tributária é exigida a pessoa
diversa do contribuinte. Sendo a substituição efetivada através do mecanismo da
retenção na fonte do imposto devido – estando o entendimento da retenção na fonte
presente no ART.34.º LGT. A LGT entende a retenção na fonte em termos que abrange
não apenas a verdadeira retenção na fonte, mas também os pagamentos por conta de
imposto efetuados por terceiro.
De um lado, reconduz-se a substituição tributária à que se concretiza na técnica da
retenção na fonte, reduzindo o substituto a um retentor do imposto, quando é
possível haver substituição tributária sem retenção; de outro lado, pode haver
retenção na fonte sem haver substituição tributaria, ao menos substituição tributária
em sentido próprio.
O Estado (credor), contribuinte(lado passivo) – o substituo tributário vai substituir-se
ao contribuinte. Este substitui-se através do mecanismo da retenção na fonte do
imposto que é devido. O substituto tributário é a pessoa que representa a fonte do
rendimento do contribuinte. A estrutura de substituição tributária é igual tanto em
sentido próprio como impróprio.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Substituição tributária em sentido próprio (definitiva ou total): Temos o


exemplo do regime dos rendimento sujeitos a taxas liberatórias (ART.71.º/1 a 5
CIRS); os rendimentos, sujeitos a substituições, não são englobados para efeitos
da sua tributação segundo o regime geral e segundo as taxas gerais –
ART.22.º/3 CIRS.
o A razão de ser é a simplificação do processo de cobrança e entrega do
imposto, antecipação de receita e, em certa medida, forma de alguma
“anestesia fiscal”
O IRS é um imposto único sobre o rendimento que incide sobre a globalidade dos
rendimentos do contribuinte. – “Os rendimentos são entregues em várias gavetas do
IRS, e depois vai tudo para o mesmo saco – fase de encubamento – para ter um
tratamento único ao abrigo do IRS”. Contudo, há rendimentos que escapam ao
encubamento, sendo que têm um tratamento tributário autónomo, sendo sujeitos a
taxas liberatórias. Ex. Os rendimentos de capitais são os rendimentos dos juros. Os
bancos são quem paga os juros, sendo a fonte deste rendimento. Os bancos vão
funcionar como substituto tributário, quando colocam o valor, reduzem o montante de
imposto que esses juros têm de pagar. ART.71.º CIRS – quem for titular de
rendimentos de capitais vai pagar 28%, mas é o banco que entrega esses 28% ao
Estado. O montante legal de imposto que é devido por esse rendimento fica cumprido
e pago com o mecanismo da retenção na fonte – aquilo que aquele rendimento devia
pagar, em termos de IRS, 28%, fica cumprido através da retenção na fonte pois esse
rendimento “nunca irá para o bolo”, sob pena de estar sujeito às taxas gerais de IRS.
o As taxas liberatórias e a CRP: a unicidade do IRS (e a relativa
“cedularidade” pressuposta no regime da taxa liberatória); a
progressividade da taxa geral de IRS (e a proporcionalidade da taxa
liberatória). Ou seja, nós temos o problema das taxas liberatórias –
sendo que estas ferem a ideia da unidade e unicidade (sujeito ao
mesmo regime jurídico) o imposto e a ideia da progressividade do
imposto (as taxas aumentam à medida que aumenta a matéria
coletável) – ART.103.º: 1. Proíbe que certos rendimento tenham um
regime próprio. 2. Se uma pessoa tiver rendimentos exclusivos da
categoria dos rendimentos de capitais, o IRS é proporcional e não
progressivo. Se alguém tiver contas em bancos, qualquer que seja a
quantia, paga sempre a mesma taxa, 28%. Apesar disto, o TC considerou
não haver inconstitucionalidade, pois o que se quer é a globalidade do
IRS ser único e progressivo, independentemente de algumas exceções. –
O montante que deve ser pago pelos juros corresponde ao montante
que deve ser retido na fonte.

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➔ Substituição tributária em sentido impróprio (não definitiva): Esta


substituição tem lugar quando a retenção na fonte efetuada pelo substituto,
não é uma retenção definitiva, mas assume o carácter de pagamento por conta
do imposto devido a final, não sendo uma retenção definitiva.
o O que é o pagamento por conta (ppc)? É a entrega pecuniária
antecipada efetuada pelo sujeito passivo (pelo próprio contribuinte) no
período de formação do facto tributário, sendo que temos 3 prestações
pecuniárias antecipadas que o contribuinte faz no período de formação
do facto tributário – ART.33.º LGT – v.g. 102.º CIRS (categoria B)
▪ Há dever de englobamento dos rendimentos sujeitos a ppc, eles
concorrem, na sua totalidade (sendo irrelevante o montante que
tenha sido adiantado através do ppc) para a determinação do
rendimento coletável e, logo, para a determinação da taxa
aplicável, mas, depois de apurada a coleta, há lugar à dedução
dos ppc – ART.78.º/2 e 97.º/3 CIRS
▪ Pode também haver lugar à restituição oficiosa do imposto pago
a mais – v.g. 96.º CIRS
Exemplo de substituição imprópria: ART. 99.º, 98.º, 100.º CIRS – há um dever de
englobamento dos rendimentos sujeitos a retenção na fonte com a natureza de ppc,
eles concorrem para a determinação do rendimento coletável (sendo irrelevante o
montante que tenha sido adiantado ao Estado pelo terceiro, através do mecanismo da
retenção na fonte) e, logo, para a determinação da taxa aplicável, mas, depois de
apurada a coleta, há lugar à dedução dos montantes retidos – ART.78.º/2 e 97.º/3 CIRS
o A razão de ser é o aproveitamento da relação especial entre substituo e
substituído com vista à antecipação de receitas, forma de “anestesia
fiscal” – ART.96.º/1 CIRS – e simplificação do processo de cobrança e
entrega do imposto (na substituição, a lógica é a de haver menos
substitutos do que substituídos; se se aplicasse o sistema do ppc nas
situações sujeitas a substituição imprópria, haveria mais pagadores por
conta do que substitutos)
o Um caso em que a substituição própria/definitiva se transforma em
substituição imprópria/não definitiva – ART.71.º/6 e 7 CIRS
Ex. A – Professor B – Advogado. Ganhei 200 mil euros e fiz 3 pagamentos por conta no
valor de 20 mil € cada um. Vou englobar o valor dos rendimentos da categoria B, 200
mil mais 2 mil da faculdade, mais livros, etc. O montante dos pagamentos por
montante não corresponde ao montante de imposto que vai ter de pagar. O
pagamento por conta é efetuado pelo próprio sujeito passivo. Ex. há menos advogados
do que clientes de advogados. Os cliente são a fonte do rendimento de REO, mas
também exerce funções de professor, tendo como fonte de rendimento a FDUC. Há
mais clientes de advogados do que advogados e há mais professores do que
faculdades. No primeiro caso, o mais é fonte de rendimento, no segundo, o mais é o
titular do rendimento. Se fosse o Estado, no primeiro caso, se queria entregas

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pecuniárias antecipadas pedia aos advogados e não aos cliente. No segundo caso,
pedia à FDUC. A FDUC vai substituir-se ao REO na realização dos 3 pagamentos por
conta – temos uma substituição tributária em sentido impróprio, mas é materialmente
igual ao pagamento por conta, mas feita por um terceiro – ART.78.º/2 CIRS - deduções
à coleta (montante do imposto a pagar).
Regime jurídico da responsabilidade em caso de substituição tributária – ART.28.º
LGT
Quanto ao regime jurídico da substituição tributária, nós temos que esta se concretiza
numa relação de tipo triangular entre o substituto, a administração fiscal e o
contribuinte/substituído. E, nesta relação triangular, temos no respeitante à relação
entre o credor/Fisco e o devedor, um devedor primário, em primeira linha ou
originário, que é o substituto, e um devedor secundário, em segunda linha ou
responsável subsidiário, que é o contribuinte/substituído. No respeitante à relação
entre o substituto e o substituído, temos um direito de retenção ou de regresso do
substituto face ao substituído ou contribuinte.
No ART.28.º LGT temos na substituição tributária três situações de responsabilidade
tributária:
➔ Se quantias foram retidas, mas não entregues ao Estado, ou seja, qualquer
espécie de substituição tributária, mas só se aplica aos casos em tenha havido
retenção na fonte (n.º1): o substituto é o único responsável e o substituído é
desonerado de qualquer responsabilidade pelo seu pagamento. Só paga o
substituto não o substituído.
➔ Se quantias não foram retidas na retenção com natureza de pagamento por
conta, em sentido impróprio (n.º2): nos casos de a retenção ser efetuada a
título de pagamento por conta do imposto do substituído ou contribuinte
devido a final – o substituído (v.g. trabalhador, no caso da categoria A do IRS)
é responsável originário e o substituto (v.g. entidade empregadora) é
responsável subsidiário. Primeiro responde o substituído depois o substituto.
➔ Se quantias não foram retidas na substituição em sentido próprio (n.º3): nos
casos em que a retenção não é a título de pagamento por conta do imposto do
contribuinte devido a final, mas a título de pagamento definitivo, em que o
substituto não procede à retenção – o substituto (v.g. a instituição bancária, no
caso da categoria E do IRS) é responsável originário e o substituído (v.g. o
depositante ou titular da conta bancária) é responsável subsidiário, ou seja,
primeiro responde o substituto e depois o substituído.

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Responsabilidade tributária, por dividas de outrem (devedor acessório): ocorre


quando pessoa diversa do devedor originário é responsável pelo pagamento do
imposto – ART.24.º e ss. da LGT.
➔ Em regra, a responsabilidade tributária é subsidiária (ART.22.º/4 LGT: depende
da prévia excussão/esgotamento do património do devedor originário –
ART.153.º CPPT – isto é, o responsável só pode ser chamado depois do fisco ter
esgotado o património do devedor originário, depois de esgotar o património
sem satisfação integral da dívida é que pode ser chamado o responsável
tributário.) e só pode ser efetivada no processo de execução fiscal –
ART.23.º/1 LGT – isto é, o responsável responde mas é sempre no contexto de
um processo especifico (processo este que tem várias garantias e direitos),
através da chamada reversão da execução fiscal – ART.23.º/2 LGT e ART.157.º
e ss. CPPT.
o A suspensão do processo de execução fiscal – ART.23.º/3 LGT
o Garantias legais do revertido
▪ Oposição à execução – 204.º/1/b) – se entender que a reversão
é ilegal por não se verificarem os pressupostos da reversão ou os
pressupostos da responsabilidade tributária
▪ Reclamação ou impugnação do ato tributário (da dívida
tributária), se entender que há ilegalidade deste último –
ART.22.º/5 LGT
▪ Pedido de revisão da matéria coletável
➔ Casos de responsabilidade tributária solidária: “os gestores de bens ou direitos
de não residentes sem estabelecimento estável em território português são
solidariamente responsáveis em relação a estes e entre si por todas as
contribuições e impostos do não residente relativos ao exercício do seu cargo”
– ART.27.º LGT
o Se um dos responsáveis pagar a dívida do sujeito passivo fica com um
direito de crédito sobre o sujeito passivo e outro ou outros eventuais
responsáveis
➔ Em caso de pluralidade de responsáveis (subsidiários), a responsabilidade pode
ser solidária (total), caso em que a execução pode reverter contra qualquer um
dos sujeitos, que responde pela integralidade da dívida, ou subsidiária (parcelar
ou por “quotas”), caso em que os responsáveis apenas respondem
individualmente por parte da dívida.
➔ O caso da responsabilidade dos corpos sociais – ART.24.º LGT
o “Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no
período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou
entrega tenha terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos,
tiver sido por culpa sua que o património da pessoa coletiva se tornou
insuficiente para a sua satisfação” (ónus da prova da AT)
o “Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período do exercício do seu cargo, quando não

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provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento” (há presunção
de culpa pelo não pagamento da dívida tributária: ónus da prova do
gerente)
▪ AT, previamente, tem de provar exercício efetivo da gerência,
não sendo suficiente a prova da “gerência de direito”.
➔ Solidariedade tributária – esta verifica-se quando o credor do imposto pode
exigir o cumprimento integral da dívida tributária (ART.22.º/1 LGT) tanto ao
devedor como ao responsável ou responsáveis – quando os pressupostos do
facto tributário se verificam em relação a mais do que uma pessoa – ART.21.º
LGT – a AT pode exigir cumprimento integral da dívida tributária a qualquer um
dos sujeitos passivos

Sucessão legal (devedores derivados) – é o fenómeno da sucessão, da morte de


alguém e ocorre com a transmissão da obrigação tributária do de cujos para os seus
sucessores (herdeiros – recebem conta parte da herança; ou legatários – recebem
coisa proprietária), com o limite das forças da herança ou legado (29.º/2 LGT e 155.º
CPPT).
➔ Em qualquer dos casos, seja por herdeiros ou legatários, estes só são
responsáveis até às forças da herança ou do legado. Ex. A recebeu um carro no
valor de 2000€, então este não pode ser chamado a pagar por mais de 2000€
de dívidas tributárias, ou seja, só até aos limites das forças da herança.

Transmissão da obrigação fiscal pelo lado ativo – princípio/ regra da


intransmissibilidade, dos créditos e das dívidas tributárias – ART.29.º/1/3 LGT – os
créditos e as dívidas tributárias são insuscetíveis de transmissão.
➔ A sub-rogação nos direitos da Fazenda Pública – ART.41.º LGT. O terceiro
assume, nas relações tributárias, o lugar que cabia à AT e passa a gozar das
correspondentes garantias públicas, nos termos do ART.92.º CPPT.
Esta ocorre quando um terceiro procede ao pagamento da dívida do
contribuinte. A regra é de que isto não é possível, não há transmissibilidade, no
entanto, no ART.41.º LGT, permite-se que em certas situações alguém possa
proceder ao pagamento das dívidas do contribuinte. Assim, se esse terceiro
pagar a dívida do contribuinte, este terceiro vai estar subdelegado na
administração tributária, fica como credor do contribuinte.
o ART.41.º/2 – verificadas as seguintes condições: 1) ter decorrido o prazo
do pagamento voluntário do imposto; 2) ter havido o terceiro requerido
a sub-rogação; 3) ter obtido autorização do devedor do imposto ou
provado interesse legitimo tem lugar uma transmissão da obrigação
fiscal pelo lado ativo, ou seja, relativamente ao credor do imposto.
o O terceiro, que paga o imposto de outrem e obtém a sub-rogação
assume na relação tributária o lugar que cabia antes à Fazenda Púbica.
Assim, de um lado, o crédito do sub-rogado face ao devedor fica com as
mesmas garantias (pessoais e reais) que tinha a Fazenda Pública; e de
outro lado tenha ao seu dispor o mesmo processo de cobrança coerciva,

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ou seja, o processo de execução fiscal que cabia à Fazenda Pública –


ART.92.º CPPT.
➔ É duvidoso se o instituto da sub-rogação se aplica ao direito de regresso (contra
o devedor originário ou contra os demais responsáveis solidários) dos
responsáveis fiscais que satisfizeram a totalidade do crédito fiscal do devedor
originário, ou seja, é muito duvidoso pois implica que o credor/o terceiro, possa
exercer das mesmas armas designadamente de se poder fazer uso do processo
de execução fiscal.
Rendimento coletável/ Matéria coletável – Procedimento Tributário
Esta atividade administrativa ocorre no contexto do procedimento tributário e tem
três fases:
➔ Fase preparatória: lançamento
o Lançamento subjetivo – consiste em determinar o sujeito passivo do
imposto, ou seja, identificar o contribuinte.
o Lançamento objetivo – consiste na determinação da matéria tributável,
ou seja, a taxa do imposto/a alíquota que incide sempre sobre um valor.
Ex. A determinação do valor fiscalmente relevante para cada um dos
imóveis para efeitos de IMI é matéria tributável. A determinação do
valor fiscalmente relevante para cada um de nós para efeitos do IRS é
matéria tributável. A determinação da matéria coletável pode fazer-se
por duas vias (art.81.º e 83.º LGT):
▪ Direta – é a regra (art.81.º) sendo a determinação do valor real
dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação
▪ Indireta – é sempre subsidiária e é excecional porque só pode
ter lugar nos casos expressamente previstos na lei (art.81.º);
sendo determinação do valor dos rendimentos a partir de
indícios, presunções ou outros elementos de que a
administração tributária disponha. (art.83.º)
• As duas vias de determinação da matéria coletável têm
em vista apurar o valor real. Acontece que a avaliação
direta assenta em cálculos, em elementos objetivos, em
documentação, em juízos técnicos. Ex. a determinação
do valor do imóvel, vai aos critérios que existem na lei
(ver se tem ou não piscina, o local onde se encontra
localizado, se tem escolas perto, entre outros critérios e
depois calcular o valor). A avaliação indireta também
procura determinar o valor real só que nestes casos não
existem esses elementos objetivos, e, portanto, apesar
de o objetivo ser o mesmo, a avaliação indireta chega
sempre à determinação de um valor que é ficcionado,
presumido.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Fase construtiva: liquidação – determinação da coleta através da aplicação da


taxa à matéria coletável ou tributável
➔ Fase executiva: cobrança – sendo que, a cobrança pode ser voluntária,
correspondendo à aceitação do pagamento dentro do prazo estabelecido, ou
coerciva, sendo esta a que ocorre no contexto do processo de execução fiscal
Quais são os casos em que a lei geral tributária admite recurso à avaliação indireta?
Art.87.º LGT.
➔ Alínea a) – regime simplificado de tributação que acontece no caso da
categoria B (empresariais e profissionais) dos rendimentos do IRS (art.28.º
CIRS): se se aplicar o regime da contabilidade estamos no domínio da avaliação
direta (al. b) do art.28.º LGT), se se aplicar as regras decorrentes do regime
simplificado da al.a) do art.28.º estamos no domínio da avaliação indireta.
o Art.28.º/2: um advogado que exerça a sua atividade em regime liberal e
fature 200.000€ ou menos fica sujeito ao regime simplificado de
tributação , se faturar acima disto fica sujeito ao regime da
contabilidade organizada. Este regime da contabilidade organizada
segue as regras do IRC, segundo o art.32.º porque alguém nestas
circunstâncias, a faturar 200.000€ funciona como uma empresa e tem
decerto, uma organização de produção eficiente tal como têm as
sociedades comerciais.
o Art.87.º/3 – se a pessoa ficar sujeita ao RST o sujeito passivo pode optar
pela determinação dos rendimentos com base na contabilidade. Se o
sujeito passivo assim optar este terá de pagar a um revisor oficial de
contas (desvantagem aparente por ter uma despesa acrescida).
▪ No quadro de avaliação da matéria tributável segundo o RST, no
ART.31.º CIRS, nós temos por exemplo um advogado que tem
25% a título de despesas e só teriam 75% de rentabilidade. Se
tiver recebido 200.000€ estando sujeito ao regime simplificado,
significa que 50.000€ estariam afastados a título de despesas. –
Para o Dr. Casalta Nabais, o RST não é, em rigor, um verdadeiro
regime de avaliação indireta, isto porque: i) não é um caso de
avaliação subsidiária, é uma avaliação a título principal; ii) não se
trata de apurar o rendimento real a partir de presunções, mas
sim de tributar um rendimento presumido em função de uma
presunção de custos, isto é, a ideia não é sobrecarregar os
titulares de rendimentos mais baixos com obrigações
contabilísticas mais complexas. Assim, maior parte dos
advogados terá um nível de despesa superior a 25% e, por isso,
teria mais vantagens em estar no regime da contabilidade
organizada, mas isso implica tanta complexidade que as pessoas
acabam por não o fazer.
➔ Alínea b) – remissão para o artigo 88.º - imaginando-se que perdem os
elementos de contabilidade, como por exemplo uma sociedade de advogados

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que sofre uma inundação, e, assim, a AT não pode determinar concretamente


qual é a matéria tributável desse sujeito vai recorrer, segundo os termos do
art.90.º a determinados indícios ou presunções que lhe permitam chegar a um
resultado que pode ser próximo do real. São utilizados para determinar a
matéria tributável através de métodos indiretos, sendo o mecanismo de
avaliação indireta da matéria coletável.
➔ Alínea c) – possibilidade de utilizar outro método indireto de avaliação quando
a matéria tributável do sujeito passivo se afastar sem razão justificada – “mais
de 30% para menos, ou durante três anos seguidos mais de 15% para menos da
que resultaria da aplicação dos indicadores objetivos da atividade de base
técnico-científica referidos na presente lei”. Os indicadores de atividade
inferiores aos normais constam do art.89.º que remete para a portaria do
Ministério das Finanças que não existe, por isso, esta alínea c) não é exequível,
não tem aplicação.
➔ Alínea d) – rendimentos declarados que se afastaram significativamente sem
razão justificável dos padrões de rendimento que razoavelmente uma pessoa
pode permitir através das manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito
passivo nos termos do art.89.º-A/4. Ex. alguém comprou em 2020 um imóvel
de valor superior a 1 milhão. Se a pessoa não tiver declarado rendimentos que
correspondam, pelo menos, a 20% do valor da aquisição há um desvio que para
a lei fiscal é relevante. Isso vai dar origem à determinação indireta da matéria
tributável. Assim, notifica-se o contribuinte para que ele justifique o desvio do
rendimento padrão, se houver justificação não há qualquer problema, se não
houver justificação dá-se origem numa determinação indireta da matéria
tributável. Então, neste exemplo, temos de apresentar rendimento de
200.000€, se apresentamos só 100.000€ tem de se inscrever outros 100.000€
na categoria G do IRS (incrementos patrimoniais), ou seja, inscreve-se o
rendimento que é necessário para que a declaração de rendimentos do sujeito
atinja os valores de rendimento padrão.
➔ Alínea e) – neste caso a contabilidade parece sugerir que não há lucro, mas não
há razão que justifique que não haja esse lucro – “quando os sujeitos passivos
apresentarem sem razão justificada resultados tributáveis nulos ou prejuízos
durante três anos consecutivos”. Para esta hipótese o legislador não diz que
regime especifico temos para a determinação da matéria coletável, havendo
um problema, mas não se disse como se resolve. – Há a posição de que se deva
aplicar o regime regra presente no art.90.º da LGT. A AT defende que se trata
de um caso de contabilidade que não oferece fiabilidade onde, de tal forma, se
deve aplicar o art.88.º LGT. E, há quem diga também, que nada disto se pode
aplicar porque tem a ver com a determinação da matéria coletável e, como tal,
mesmo havendo uma lacuna esta não pode ser integrada porque sendo
matéria de incidência objetiva (que se insere em matéria relativa aos
elementos essenciais dos impostos) não é passível de integração por via
analógica onde vale o princípio da tipicidade – art.11.º/4 LGT.

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➔ Alínea f) – acréscimo de património – verifica-se um acréscimo de património


ou liberalidades (doações) e isso não bate certo com a declaração de
rendimentos. Assim, neste caso temos o regime do art.89.º-A, n.º3/5/7 – temos
um regime igual ao regime da al.a), ou seja, inscreve-se na categoria G do IRS o
montante que seja necessário para que não haja desfasamento entre os valores
da declaração do IRS e os montantes do rendimento padrão que resultariam
dos realizados pelo sujeito passivo.
Quando a matéria tributável tenha sido definida através do mecanismo de avaliação
indireta, o contribuinte, ao não concordar com a avaliação que foi feita, pode
contestar os resultados a que chegou a AT, através de mecanismos de impugnação
especificamente previstos na lei. A AT recorre a estes mecanismos onde tem de
notificar o contribuinte de que vai realizar a avaliação indireta e depois o contribuinte
através da sua avaliação perante a decisão pode lançar mão do mecanismo que está
no art.91.º da LGT que consiste num pedido de revisão de matéria tributável, no prazo
de 30 dias. Este pedido é uma espécie de debate contraditório entre o perito do
contribuinte e o perito da AT. O perito do contribuinte é indicado no seu
requerimento, e a AT irá indicar também o seu perito. Se depois houver um acordo
entre ambos quanto ao valor da matéria coletável que deva ser fixado, então o
imposto será sempre liquidado de acordo com esse valor acordado. Se não houver
qualquer acordo, a AT irá fixar ela mesma o valor da matéria coletável, tomando em
consideração as posições dos dois peritos, sendo que o imposto será liquidado com
base nisso. Da decisão de avaliação indireta da matéria tributável, de entre diversos
erros ou ilegalidades há dois que são destacados pelo legislador – o recurso aos
métodos indiretos e o erro na qualificação da matéria coletável. Depois do imposto
estar liquidado, admita-se que o contribuinte impugne judicialmente a liquidação com
fundamento no tal erro nos pressupostos do recurso à avaliação indireta da matéria
coletável ou ao erro na quantificação indireta da matéria coletável. Se não tiver
formulado o pedido de revisão, não poderá mais tarde impugnar o ato de liquidação
com estes fundamentos, mas poderá fundamentar com qualquer outra ilegalidade –
art.86.º/5 LGT. Ou seja, vamos imaginar que o contribuinte é notificado da decisão e
não reage porque está convicto que o deixa impugnar até ao final do procedimento, ou
seja, na liquidação. Pode nesta altura o contribuinte ir tomar a liquidação com base
numa destas ilegalidades? Não. Para que, por ocasião da liquidação o contribuinte
pudesse invocar uma destas duas ilegalidades seria necessário ele fazer inicialmente o
pedido de revisão, o mecanismo do art.91.º. Este contribuinte que não tenha feito este
pedido inicialmente poderá mais tarde impugnar o ato de liquidação, sim, com
fundamento em qualquer ilegalidade com a exceção dos dois erros: do recurso aos
métodos indiretos; erro na qualificação da matéria coletável. Estes erros só podem ser
fundamentados numa impugnação judicial quando o contribuinte tenha feito o prévio
pedido de revisão.

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Regime do IRS (Imposto Sobre o Rendimento das pessoas Singulares)


O IRS é o imposto das pessoas singulares, este imposto é único, ou seja, está
globalmente sujeito a um mesmo regime e progressivo, isto é, as taxas aumentam à
medida que aumenta a matéria coletável.
A distinção em Portugal entre o IRS e o IRC é entre a natureza jurídica do contribuinte,
temos pessoa singular (IRS) e pessoa coletiva (IRC).
O IRC incide sobre o rendimento das pessoas coletivas, e nesse rendimento temos os
rendimentos empresarias (das sociedades comerciais) e os rendimentos associativos
ou fundacionais. O IRC não incide sobre as empresas em rigor, mas sim sobre as
pessoas coletivas, sendo que algumas destas estruturam-se sobre forma empresarial e
outras não. Ao IRS podemos ir buscar a mesma coisa, pois incide também sobre
algumas empresas, designadamente na categoria B que a partir de certa dimensão
exercem a sua profissão de forma empresarial, o que não acontece com o trabalhador
por conta de outrem, distanciando-se dos rendimentos da categoria B. O Dr. Casalta
Nabais defende a idçeia de uma tributação dos rendimentos empresariais uniformes,
sejam eles individuais ou coletivos. Mas não estamos perante este critério da
empresarialidade da tributação dos rendimentos empresariais uniformes. Em Portugal,
se os rendimentos forem singulares estamos perante o IRS e se os rendimentos forem
coletivos estamos perante o IRC.
➔ Incidência pessoal do IRS – prevista no art.13.º e ss. CIRS:
o O IRS incide sobre os residentes e incide também sobre os não
residente que obtenham rendimentos no território português. A
diferença é:
▪ Perante os residentes incide o princípio da universalidade –
Worldwide income – o IRS tributa tanto os rendimentos que os
residentes tenham obtido em Portugal como aqueles que
tenham obtido fora de Portugal.
▪ Perante os não residente incide o princípio da territorialidade –
Source principle – o IRS tributa apenas os rendimentos que eles
tenham obtido em Portugal.
o Família – nos termos do art.13.º/2 CIRS – a família não é
necessariamente uma unidade fiscal. No n.º4 deste mesmo artigo
temos a lista de quem faz parte do agregado familiar.
➔ Incidência real do IRS – o IRS é um imposto único sobre a globalidade dos
rendimentos de cada pessoa singular, mas existem diferentes categoriais de
rendimentos, e essa categoria tem diferentes regimes jurídicos.

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Art.1.º/1 CIRS – encontramos diferentes categorias do IRS:


➔ CATEGORIA A – Rendimentos de trabalho dependente – ART.2.º CIRS:
rendimentos de trabalho dependente, setor público e privado; contratos de
prestação de serviços em que o prestador de serviços é como um trabalhador
porque presta os seus serviços consoante a direção e autoridade de outrem;
conta também o PR, PM,…
➔ CATEGORIA B – Rendimentos empresariais e profissionais – ART.3.º CIRS:
exercício de qualquer atividade comercial, industrial (que antes pertenciam à
categoria C ); atividades agrícolas ou pecuárias (que antes pertenciam à
categoria D) – ART.4.º CIRS. Antes estava inserido na categoria B apenas o
rendimento dos profissionais liberais e os rendimentos das atividades
comerciais, industriais e agrícolas ou pecuárias inseridas nas categorias C e D.
Estas categorias C e D foram eliminadas e passaram a fazer parte da categoria B
(art.3.º/1/b) CIRS e portaria n.º11/20011), visto que todos estes podiam estar
sujeitos ao mesmo regime porque todos estes rendimentos obtidos são de
forma organizada, duradoura e fora de um contexto de contrato de trabalho.
➔ CATEGORIA E – Rendimentos de capitais – ART.5.º CIRS: responde ao princípio
da tipicidade – juros ou rendimentos proporcionados pela aplicação do capital.
➔ CATEGORIA F – Rendimentos prediais – ART.8.º/1/2 CIRS – resulta das rendas
de prédios rústicos, urbanos ou mistos. Aqui, não resulta a alienação de prédios
só a cedência temporária de um prédio, o arrendamento, a alienação de
prédios insere-se nos incrementos patrimoniais da categoria G.
➔ CATEGORIA G – Incrementos patrimoniais – ART.9.º CIRS – categoria residual
dos rendimentos – as mais valias (transação com vantagem económica de bens
móveis e imóveis); indemnizações por danos não patrimoniais; acréscimos
patrimoniais não justificados.
➔ CATEGORIA H – Pensões – ART.11.º CIRS – pensões de aposentação, reforma,
invalidez, residência, rendas temporárias ou vitalícias, prestações de
companhias de seguros.

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Como é que se determina o montante de IRS a pagar?


1. Qualificar o rendimento em causa – subsumir um rendimento numa certa
categoria
2. Apurar o rendimento bruto ou ilíquido de cada categoria – soma de todos os
rendimentos que foram qualificados em cada categoria
3. Abatimentos do rendimento de cada categoria – ART.56.º-A CIRS – sujeitos
passivos com deficiência
4. Deduções especificas de cada categoria – estas funcionam dentro de cada
categoria. A ideia é tornar o rendimento ilíquido de cada categoria a
rendimento líquido, ou seja, é deduzir ao rendimento bruto as despesas que
foram necessárias para obtê-lo. Nem todas as categorias têm deduções
especificas e quando existe nem sempre se pretende uma dedução total das
despesas em causa.
a. Categoria A – ART.25.º e ss. CIRS – Temos uma dedução abstrata, sendo
que cada um pode deduzir ao rendimento da categoria A 4104€, não
interessando o montante especifico recebido, já que a dedução
especifica será sempre a mesma.
b. Categoria B – ART. 28.º CIRS – como já foi visto no tema da avaliação
indireta, há aqui duas formas de determinar o rendimento líquido das
atividades empresariais e profissionais:
i. Através do regime simplificado de tributação – ART.28.º/1/a) e
31.º CIRS – Se alguém da categoria B vender mercadorias/
produtos e tiver ganho 1 milhão€/ano a dedução especifica é de
850.000€, deduzindo-se esse valor fica apenas com um
rendimento líquido de 150.000€. Assim, tem 15% de lucro na sua
atividade. (al. a) art.31.º). Se se tratar de atividades profissionais
dos advogados, o rendimento líquido é 75%, considerando que
um advogado precisa de apenas 25% para obter o seu
rendimento, deduzindo-se os 25% e sendo o seu rendimento
75%, no caso do 1milhão€/ano abatem-se 250.000€ ficando com
750.000€ para efeitos de tributação
ii. Através do regime da contabilidade – ART.28.º/1/b) e 32.º -
tratam-se os sujeitos passivos como se fossem verdadeiras
empresas, remetendo-se o seu rendimento líquido para as
regras da contabilidade comercial onde os sujeitos passivos
deduzem as despesas profissionais que são deduzíveis.
c. Categoria E – ART.40.º CIRS – não tem deduções especificas.
d. Categoria F – ART.41.º CIRS – alguém é proprietário de um imóvel e
paga condomínio, paga despesas para arranjar o elevador, estas
despesas são deduzidas.
e. Categoria G – ART.42.º CIRS – apenas há lugar a deduções sobre as mais
valias, sem ser as mais valias não são feitas deduções.
f. Categoria H – ART.53.º CIRS

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

5. Depois de feitas as deduções especificas temos o rendimento líquido por


categoria.
6. Englobamento – soma dos vários rendimentos líquidos por categoria –
ART.22.º CIRS – fase de união do IRS – terminou a fase da disciplina segregada e
passa a uma disciplina unitária. Nos termos do art.22.º/3/b) não contam para
efeitos de englobamento as retenções na fonte a título definitivo, nos casos de
substituição em sentido próprio.
7. Dedução de perdas – ART.55.º CIRS – a dedução de perdas abrange dois
fenómenos:
a. Intercomunicabilidade horizontal dos custos entre diferentes categorias
– verifica-se no mesmo ano fiscal e põe potencialmente em jogo todas
as categorias – este fenómeno é totalmente afastado, não podemos
deduzir os custos entre diferentes categorias. Não posso deduzir aos
resultados positivos da categoria B, os resultados negativos de outra
qualquer categoria. Assim, na prática, vigora o princípio oposto, ou seja,
o princípio da não intercomunicabilidade dos gastos.
b. Reporte de prejuízos para os anos futuros – tem a ver com os anos
fiscais futuros, o resultado negativo líquido apurado numa categoria só
pode ser reportado aos 12 anos seguintes aquele a que respeita. Se
tenho um resultado líquido negativo de 100.000€ na categoria B tenho
12 anos para fazer o reporte de prejuízos, para imputar esse resultado
negativo aos resultados líquidos positivos da mesma categoria-
8. Obtenção do rendimento global líquido através da dedução de perdas –
ART.22.º/1 CIRS – depois da dedução de perdas, obtêm-se o rendimento global
líquido que equivale ao rendimento coletável.
9. Liquidação – ART.68.º CIRS – aplicação das taxas ao rendimento tributável –
estando estas taxas presente no art.68.º/1 onde existem duas tabelas A e B
sendo uma normal e a outra a média. Estas duas taxas permitem que depois do
imposto não haja ninguém que ganhe mais e acabe por ficar com menos do
que alguém que ganhe menos. O IRS pretende que aqueles que ganham mais
paguem mais, mas não chegar ao ponto de fazer com que alguém que ganhe
mais do que outro, só por causa da taxa fique a perder, pois isso seria um
desincentivo à obtenção de rendimentos.
a. Ex. O nosso rendimento coletável é de 30.000€. Deste rendimento
partimos em duas partes, tendo uma das partes de bater no limite
máximo do maior escalão que esse rendimento dividido em 2 pode
caber. Será aplicada a taxa do B) de 24.96 pois sendo 30 mil não é
possível ser incluída no teto de escalão seguinte que vai até 36 mil.
Dividindo estes 30 mil em duas partes, a 25.75 mil aplica-se a taxa da
coluna B de 24.967%, enquanto o remanescente, aos outros 5 mil,
aplica-se a taxa da coluna A do escalão imediatamente superior, ou seja,
37 mil.
b. Existe ainda o quociente conjugal – ART.69.º CIRS – tem em vista
neutralizar os efeitos nefastos do casamento em matéria fiscal. Se 2

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

pessoas têm rendimentos, são casadas e optam por uma tributação


conjunta, as taxas de IRS são maiores do que as taxas aplicáveis a cada
parte separada desse rendimento familiar. Temos um rendimento
familiar de 120, divide-se por metade, dá-se 60, aplica-se a taxa do IRS
dá um x e multiplica-se por 2.
10. Coleta – ART.78.º CIRS – a coleta corresponde ao montante de imposto a
pagar. Na generalidade dos impostos, quando se determina a coleta,
determina-se ao mesmo tempo o montante de imposto a pagar. Contudo no
art.78.º CIRS temos que existem deduções à coleta, havendo duas
essencialmente importantes:
a. Dupla Tributação internacional – ART.81.º - quando a mesma pessoa é
tributada pelo mesmo facto no quadro de ou dois ou mais impostos
similares sendo internacional porque esses dois impostos são de
diferentes Estados. Prevê-se no art.81.º um crédito de imposto, onde
este a possibilidade de deduzir o crédito de imposto por dupla
tributação internacional que corresponde ao montante de imposto que
se tenha pagado no outro estado, por conta do imposto estrangeiro.
b. Dedução à coleta por natureza (deduções à coleta com base na
retenção na fonte) – ART.78.º/2 – pagamentos por conta e retenções na
fonte que têm natureza de pagamento por conta (retenções a título
provisório). Na categoria B, há 3 ppc ao longo do ano civil (ART.102.º
CIRS), existindo retenções na fonte devido à quantidade de pessoas que
são titulares de rendimento. É de referir que esta forma antecipada de
pagamento se aplica apenas aos rendimentos da Categoria B.
i. Categoria B – a fonte de rendimento do advogado são os seus
clientes, existindo mais clientes que advogados. Categoria A – a
fonte de rendimento de um professor é a faculdade, sendo que a
faculdade tem mais funcionários. Os ppc tem de alcançar um
bom resultado a nível da eficiência fiscal, logo vai se pedir em
rigor à universidade para reter na fonte em ppc o professor e ao
advogado para reter na fonte em ppc os clientes.
1. As deduções à coleta quando são superiores ao imposto
devido, o contribuinte tem direito ao reembolso da
diferença, e isto é possível porque os valores que o
Estado exige que o contribuinte vá fazendo por conta da
categoria B são elevados fazendo com as pessoas tenham
direito a receber IRS. Em rigor, aquilo é um abuso fiscal
do Estado, mas muitas pessoas veem como uma
poupança forçada.

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A tipologia de atos no procedimento tributário


Advertência: na terminologia da lei esta matéria é inconsistente
➔ Atos puramente interlocutórios – atos preparatórios e prévios dos atos
tributários, relevantes para o conteúdo da liquidação daqueles, mas que, não
sendo imediatamente lesivos, não são impugnáveis.
o Vale o princípio da impugnação unitária, nos termos do qual só é
impugnável o ato final do procedimento – art.54.º CPPT – podendo
invocar-se, nessa altura, e contra este, todas as ilegalidades ocorridas
no procedimento (ilegalidades derivadas) e todas as ilegalidades
próprias de que esse ato padeça.
➔ Atos em matéria tributária em sentido estrito – atos prévios da liquidação,
que preparam a liquidação, iguais aos anteriores, mas com uma nota de
diferenciação decisiva: são “destacáveis” do respetivo procedimento para
efeitos de impugnação (direta e autónoma) contenciosa direta.
o Atos de fixação da matéria tributável que não dão origem a qualquer
liquidação– art.86.º/3 – o contribuinte pode pretender impugná-los,
porque, apesar de ter apurado resultados tributários negativos, a lei
permite muitas vezes que os prejuízos de anos passados possam ser
reportados a anos futuros.
o Atos de fixação da matéria tributável (art.89.º-A/7) – a lei permite que
este ato de fixação da matéria tributável por mecanismos indiretos seja
autonomamente impugnado. Ele é prévio à liquidação, mas ainda assim,
o legislador considera-o autonomamente impugnável.
➔ Atos tributários (atos tributários em sentido estrito ou liquidações
administrativas) – atos de liquidação administrativa dos impostos, ou seja,
praticados pela AT (IRS) – é o principal ato praticado pela administração
tributária. O ato tributário é a liquidação administrativa dos impostos
praticados pela autoridade tributária, como ocorre no IRS: temos de apresentar
a declaração de rendimentos, não apresentando a declaração com as contas já
realizadas.
o Regime da impugnação dos atos tributários:
▪ A impugnação judicial da liquidação não depende de
impugnação administrativa prévia: não depende de reclamação,
recurso hierárquico necessário, mesmo quando são feitas por
órgãos subalternos da AT – art.60.º CPPT
▪ Deve ser apresentada no prazo de 3 meses salvo a nulidade que
é invocável a todo o tempo – art.102.º CPPT
▪ É fundamento para a impugnação qualquer ilegalidade – art.99.º
CPPT – incluindo a errónea quantificação dos rendimentos,
lucros, valores patrimoniais e outros factos tributários –
entendeu-se que a quantificação de rendimentos era resultado
do exercício de poderes de discricionariedade técnica e que
escapavam ao controlo do tribunal, assim, o legislador para

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

enviar que uma tese dessas se mantivesse, veio dizer que a


errónea quantificação do ato tributário é uma ilegalidade
arguível em tribunal, não fazendo parte do exercício do poder
discricionário.
▪ ART.100.º CPPT – o ato tributário deve ser anulado sempre que
a prova produzida resulte fundada dúvida da existência da
fundamentação do facto tributário – isto é uma norma crucial no
sistema porque revela que o ónus da prova sobre a correção do
juízo sobre a existência do facto tributário e sobre a
quantificação do ato tributário, pertence à administração e se
ela não conseguir convencer o juiz para lá de qualquer dúvida
razoável de que o facto tributário existe e de que o valor que ela
alega para esse facto tributário é o correto, o tribunal anula o
ato de liquidação do imposto. Até aí a petição inicial do processo
pode ser apresentada no Tribunal Tributário competente ou o
próprio serviço periférico local onde a liquidação tenha sido
praticada a quem cabe, então, a sua remessa para o tribunal. O
advogado tanto pode enviar a petição inicial através da
plataforma eletrónica como pode dirigir-se à repartição de
finanças e apresentar aí a impugnação. A administração
tributária envia o processo para o tribunal – art.103.º CPPT;
Art.112.º CPPT – diz que quando a impugnação e a petição inicial
tenha sido apresentado no tal serviço periférico local, a AT pode
proceder à anulação da liquidação. O processo já não segue para
tribunal porque ficou resolvido dentro da própria administração.
▪ A impugnação judicial não determina a suspensão da eficácia do
ato salvo se for ou salvo se já tiver sido prestável em garantia
adequada – art.199.º e 102.º CPPT – as formas da garantia que
pode ser dada a administração tributária para fazer para os
efeitos da liquidação. Se não for prestada a garantia, a
Administração pode proceder à liquidação fiscal – penhora de
contas bancárias, leilão de bens.
➔ As liquidações de 2º grau (ou liquidações adicionais) que recaem sobre factos
tributários que já foram objeto de liquidação (ou que recaem sobre anteriores
liquidações)
o Surgem, muitas vezes, associadas a procedimento de inspeção tributária
➔ “Liquidações” efetuadas pelos sujeitos passivos
o Autoliquidações : apresentação de uma declaração-liquidação do
contribuinte acompanhada pelo respetivo pagamento: a aceitação da
declaração por parte da AT configura uma homologação implícita –
131.º CPPT. (há impostos em que a liquidação é efetuada pelo próprio
contribuinte, e nesse caso, o contribuinte apresenta uma declaração
com a liquidação do imposto acompanhada de um cheque ou de uma

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transferência bancária, se tiver havido um erro na autoliquidação, o


contribuinte deve seguir o mecanismo do art.131.º CPPT).
o Liquidações em substituição – retenções na fonte – 132.º CPPT – se o
substituto ou o substituído quiser impugnar a retenção na fonte por ela
ter sido feita por excesso ou defeito. Se for por defeito pode ser a
entidade empregadora, se for por excesso tanto pode ser o trabalhador
como a entidade empregadora.
o Pagamentos por conta: 133.º CPPT
➔ Atos administrativos relativos a questões tributárias – distinção fundamental:
comportam (1)/ não comportam (2) a apreciação da legalidade de um ato de
liquidação (de taxa ou imposto)
o Exemplo de atos administrativos relativos a questões tributárias que
comportam a apreciação da legalidade de um ato de liquidação de taxa
ou imposto (1): decisão de uma reclamação ou recurso hierárquico de
uma liquidação. (Se o contribuinte interpõe recurso hierárquico de uma
liquidação de um imposto para o Ministro das Finanças, a decisão deste
recurso hierárquico é um ato administrativo relativo a uma questão
tributária que comporta a apreciação da legalidade de um ato de
liquidação.
o Exemplo de atos administrativos relativos a questões tributárias que
não comportam a apreciação da legalidade de um ato de liquidação de
taxa ou imposto (2): atos administrativos praticados no contexto de
relações tributárias (isto é, que convocam a interpretação e aplicação
de normas de direito fiscal ou de direito tributário), mas inseridos em
procedimentos, ou conclusivos de procedimentos, distintos e
autónomos do procedimento adotado em vista da prática de um ato de
liquidação (v.g., indeferimento ou deferimento de benefícios fiscais,
indeferimento do pedido de pagamento do imposto em prestações ou
do pedido de declaração de sub-rogação, decisão de derrogação
administrativa do dever de sigilo bancário, aplicação das normas anti
abuso, decisões de fixação de valores patrimoniais, etc.)
▪ Caso especial do reconhecimento de benefícios fiscais –
art.65.º/4 CPPT – recurso hierárquico necessário da decisão de
indeferimento: Estes atos são praticados no contexto de
relações jurídicas tributarias, de relações que convocam a
interpretação e aplicação de normas de direito fiscal/tributário,
mas que não são nem prévios de uma liquidação nem são uma
liquidação. 2 atos administrativos relativos a questões tributárias
• Comportam a apreciação de um ato de liquidação
• Não comportam a legalidade de um ato de liquidação
▪ A administração tem de decidir se autoriza ou não um pedido de
pagamento do imposto em prestações. A administração
tributária pede reconhecimento da legalidade de um ato de
liquidação. Alguém é notificado da liquidação e apresenta uma

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reclamação, ou recurso hierárquico. A decisão deste recurso


hierárquico não é nem prévia a liquidação, nem é a própria
liquidação, mas sim, a apreciação da legalidade de uma
liquidação já feita. Estes atos podem ser impugnados direta e
autonomamente, sem necessidade da prévia impugnação
administrativa. Qualquer ato administrativo relativo a questão
tributária pode ser impugnado judicialmente de forma direta e
autónoma – art.95.º/2 LGT e art.97.º/1 CPPT. A impugnação
administrativa que o contribuinte resolva fazer é sempre
facultativa e não tem efeitos suspensivos do prazo de
impugnação da liquidação. Pedimos o pagamento do imposto
em prestações, a Administração diz que é indeferido, então
podemos ir a tribunal. Mas, podemos ir reclamar ou interpor um
recurso hierárquico desta decisão. Mas, se dizermos isto, o prazo
para impugnar não para, 3 meses, e, além disso não se pode
impugnar a decisão que seja de novo indeferimento, o que
significa, que normalmente só uma pessoa descuidada é que vai
utilizar este mecanismo e vai diretamente para o tribunal. Estes
atos são impugnáveis nos tribunais tributários. O legislador diz
que se chamam atos administrativos, mas dada a sua afinidade
com o direito tributário, são impugnáveis nos TT e não nos TA.
São, então, impugnáveis nos TT (art.49.º CPPT), mas, depois, o
legislador começa a preocupar-se com o código do processo que
diz que o juiz do TT tem de observar para julgar estes atos. Se for
um ato administrativo relativo a uma questão tributária que
comporta a apreciação da legalidade de um ato de liquidação,
então o juiz do TT deve olhar para o CPPT. Se for um ato
administrativo relativo a uma questão tributária que não
comporte a apreciação da legalidade de uma liquidação, então o
legislador diz que neste caso se aplicam as regras do CPTA
(regras que se aplicam nos TA) – art.97.º/1/p) e CPPT.
➔ Em suma, segundo o Dr. Casalta Nabais, temos atos tributários em sentido
amplo, que se dividem em:
o Atos tributários em sentido estrito (liquidação de tributos)
o Atos em matéria tributária em sentido amplo, que, por sua vez, se
dividem em:
▪ Atos em matéria em sentido estrito
▪ Atos administrativos relativos a questões tributárias
➔ A invalidade total e parcial do ato de liquidação
o O ato de liquidação é um ato divisível e a ilegalidade pode inquinar
apenas parte do ato
o Quando for assim, o tribunal anula o ato apenas nessa parte, salvo se
estiver em causa o exercício de valorações próprias da função

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administrativa (que é um limite funcional da justiça tributária), caso em


que deve proceder-se à anulação total do ato
o Ex. AT utiliza, ao abrigo do art.90º/1, a), LGT, uma margem média de
lucro líquido que o tribunal considera excessiva. O tribunal não pode
substituir-se à AT na escolha da margem de lucro adequada. Anula
totalmente o ato e a AT efetuará depois uma nova liquidação, com os
critérios legais corretos

1. Impugnação de atos em matéria tributária


1.1. Decisões de determinação da matéria tributável
➔ Atos de fixação/determinação da matéria tributável através de avaliação direta:
86º/1 LGT. A avaliação direta é suscetível, nos termos da lei, de impugnação
contenciosa direta. Mas, princípio da impugnação unitária (54º CPPT) e
listagem de atos lesivos de direitos do 95º/2 LGT.
o Impugnáveis diretamente quando não derem origem a qualquer
liquidação [86º/3 LGT e 97º/1, b), CPPT]
Nas decisões de determinação de matéria tributável – existem os que são de avaliação
direta da matéria tributável e os que são de avaliação direta tributável – as confusões
são imensas – art.89.º LGT – em rigor esse artigo tem uma leitura jurídica
completamente diferente da leitura das formas verbais.
1- Art.86.º/1 – a avaliação direta que tinha tudo para ser um ato preparatório é
transformado num ato em matéria tributaria em sentido estrito, porque é passível de
impugnação em matéria contenciosa direta. Há, no entanto, uma leitura que se faz e é
prevalecente na doutrina e na jurisprudência que diz que os atos de avaliação indireta
não são em principio de matéria de impugnação contenciosa
a. Se se ler o 97.º CPPT – vai se ver que dai consta uma lista que é considerada
exaustiva de atos que são passiveis de impugnação contenciosa e desta lista
não estão os atos de avaliação direta de matéria tributável. Os atos de
avaliação direta não são passiveis de impugnação contenciosa salvo quando
esses atos de determinação não deem origem a uma liquidação – quando o
resultado a que se chega é negativo, não apura um rendimento património,
mas sim uma perda – os impostos receiem sobre riquezas – alguém que tem
perdas não tem capacidade contributiva – se não há liquidação então o ato
final do procedimento é este – o procedimento acaba aqui não continua para
efeitos de liquidação. Este ato que apura a perda é o ato final do
procedimento. – por que razão é que um contribuinte numa hipóteses em que
o fisco apura uma perda poderá querer impugnar o ato – porque em alguns
impostos, como o IRS, o devedor admite um reporte de prejuízo que sofreu
num ano para anos subsequentes em que tenha resultados positivos – se é
assim, pode ser conveniente a um contribuinte apurar mais perdas do que
aquelas já verificadas pela administração tributária.
➔ Atos de fixação da matéria tributável por avaliação/métodos indiretos (86º/3
e 5 LGT e 117º/1 CPPT): pedido de revisão (91º e 92º LGT).
o Caso especial dos atos de fixação da matéria tributável com base no
89º-A LGT (89º-A/7 LGT)

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Se o contribuinte quiser garantir, acautelar a possibilidade de impugnar a liquidação que venha


a ser feita com base no erro na quantificação da avaliação indireta ou erro nos pressupostos
para recorrer a avaliação indireta, ela tem, no momento em que é notificado da decisão da
determinação da matéria coletável por avaliação indireta, de lançar mão do mecanismo do
art.91.º CPPT (pedido de revisão da matéria coletável).

1.2. Decisões de correção quantitativa da matéria tributável


➔ Correções quantitativas: AT procede à correção da matéria tributável
determinada com base em métodos indiretos
o Impugnação judicial depende de prévia utilização do procedimento de
revisão da matéria tributável (91º LGT)
➔ Correções técnicas: correções que a AT faz à matéria tributável determinada no
âmbito da avaliação direta (v.g., não consideração de determinadas verbas
como gastos fiscais assim qualificadas na DR ou a correção aos valores de base
contabilística necessários ao apuramento do lucro tributável no regime
simplificado)
o Apenas podem ser contestadas no âmbito de uma futura impugnação
judicial da liquidação
➔ Correções aritméticas ou meramente aritméticas: correção, pela AT, de erros
de cálculo das declarações de rendimento.
o Apenas podem ser contestadas no âmbito de uma futura impugnação
judicial da liquidação
1.3. Correção de erros da AT (95º-A a 95-C CPPT)
2. Impugnação dos atos administrativos relativos a questões tributárias
➔ Ver 97º/1, d), e 97º/2 CPPT
➔ Em regra, há lugar à sua impugnação judicial direta, sem necessidade de prévia
impugnação administrativa — 95º/2, f), g) e h), LGT, e 97º/1, d), CPPT
➔ A impugnação administrativa é meramente facultativa e sem efeitos
suspensivos e a decisão de impugnação é insuscetível de impugnação judicial
➔ Em regra, são impugnáveis nos tribunais tributários (49º ETAF)
➔ O processo segue as regras do CPTA (97º/2 CPPT), mais concretamente, por via
da ação administrativa de impugnação de atos administrativos ou de
condenação à prática do ato devido
3. Impugnação judicial dos atos tributários em sentido estrito (ou liquidações):
99º e ss. CPPT
➔ Com exceção do 117º CPPT, a impugnação judicial da liquidação não depende
de impugnação administrativa prévia, isto é, reclamação ou recurso hierárquico
necessário (mesmo quando esses atos são praticados por órgãos subalternos,
como os diretores dos serviços periféricos regionais e locais: 60º CPPT) e deve
ser apresentada no prazo de 3 meses [102º, a) ou b), CPPT], salvo nulidade,
invocável a todo o tempo (102º/3 do CPPT)
➔ Fundamentos da impugnação: “qualquer ilegalidade” (99º CPPT), incluindo a
“errónea quantificação dos rendimentos, lucros, valores patrimoniais e outros
factos tributários”, cuja sindicabilidade era antes discutida por representar, em
certa medida, o uso de poderes de “discricionariedade técnica”

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Além disso, nos termos do 100º/1 CPPT, o ato tributário deve ser anulado
“sempre que da prova produzida resulte fundada dúvida sobre a existência e
quantificação do facto tributário”, o que significa que cabe à AT o ónus da
prova da correção dos pressupostos da liquidação, e, consequentemente, a
dúvida resolve-se contra o Fisco.
➔ A petição inicial (cujos requisitos estão fixados no 108º CPPT) pode ser
apresentada no Tribunal Tributário competente ou no serviço periférico local
onde haja sido praticado o ato (103º/1 CPPT), a quem cabe, então, a sua
remessa ao tribunal (103º/3 CPPT). A contestação cabe ao Representante da
Fazenda Pública (110º/1 e 15º CPPT). O regime especial da Administração
Indireta e da Administração Autónoma (mandatário próprio)
➔ O dirigente do serviço periférico local ou do serviço periférico regional podem
proceder à anulação administrativa do ato impugnado (112º/1/2 CPPT),
embora caiba ao RFP promover a extinção do processo (art. 112º/4)
➔ A impugnação judicial não determina a suspensão da eficácia do ato, salvo se
for (103º/4 CPPT) ou já tiver sido (103º/5: no âmbito de anterior RG) prestada
garantia adequada (formas: 199º CPPT)
4. As garantias administrativas impugnatórias dos contribuintes (reclamação e
recurso hierárquico)
➔ A anormal (e desnecessária) complexidade do sistema de garantias
➔ A reclamação “graciosa” ou administrativa (RA)
o Em regra, é facultativa, pode ter por fundamento qualquer ilegalidade
(99º, ex vi do 70º/1 CPPT) e deve ser apresentada perante o serviço
periférico local (“serviço de finanças”), mas, em alguns casos, dirigida ao
órgão periférico regional da AT (“direção de finanças”) ou ao dirigente
máximo do serviço (“diretor-geral”) (73º/1 e 75º CPPT) — sendo por
isso uma espécie de “reclamação hierárquica” ou de um “semirecurso”)
o Prazo: 120 dias (70º/1 CPPT): solução pouco coerente, pois o prazo para
a impugnação judicial é de 3 meses e, depois de decidida a reclamação,
reabre-se a via da impugnação
o Não suspende a eficácia do ato impugnado (69º, f), CPPT, salvo em
casos excecionais, como no 92º/8), a não ser que seja prestada garantia
adequada (170º e 199º CPPT)
o O indeferimento da reclamação administrativa(RA) está sujeito a
audição prévia do reclamante [60º/1, b), LGT]
o Do indeferimento da RA pode haver RH facultativo a interpor no prazo
de 30 dias, com efeito devolutivo (76º/1 CPPT), ou impugnação judicial
no prazo de três meses após a notificação [102º/1, b), CPPT; tratando-se
de indeferimento tácito, o prazo é igualmente de três meses contatos
da formação dessa presunção. v. 102º/1, d)]
o A decisão sobre o RH é ainda passível de ação administrativa no prazo
de 3 meses (CPTA), salvo se dela já tiver sido deduzida impugnação
judicial (76º/2 CPPT)

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

o Não pode ser deduzida RA quando já tiver sido apresentada


impugnação judicial com o mesmo fundamento (68º/2 CPPT): se o
fundamento da reclamação for diferente, a mesma deve ser apensa à
impugnação (111º/4 CPPT), o que significa que a reclamação será
decidida pelo tribunal
o Os “custos” (sancionatórios?) do procedimento administrativo de
impugnação (77º CPPT) e a suposta regra da gratuitidade da reclamação
[69º, d), CPPT]
o Caso especial do reconhecimento de benefícios fiscais (65º/4): recurso
hierárquico necessário da decisão de indeferimento

o Os casos de reclamação graciosa necessária ou obrigatória:


131º/132º/133º CPPT ― liquidações efetuadas pelo contribuinte ou por
terceiro. A obrigatoriedade da reclamação tem em vista permitir aos
serviços da AT tomar verdadeiramente contacto com o “ato tributário”
▪ Salvo nos casos previstos no 131º/3 CPPT, a impugnação da
autoliquidação feita pelo contribuinte depende de reclamação
prévia para o dirigente do órgão periférico regional da AT, no
prazo de 2 anos após a entrega da declaração: em caso de
indeferimento expresso ou silente da RG, o contribuinte pode
impugnar judicialmente a autoliquidação (não o indeferimento),
no prazo de 30 dias a contar deste (131º CPPT)
▪ Impugnação da retenção na fonte: salvo nos casos do 131º/3
CPPT (v. remissão 132º/6), o substituto (não sendo possível o
desconto – 132º/2) pode impugnar a entrega de imposto
superior ao retido, através de RG (necessária) para o órgão
periférico regional da AT no prazo de 2 anos a contar do termo
do ano fiscal, e, em caso de indeferimento (expresso ou silente)
da RG, impugnar, junto do TT, a “entrega indevida nos mesmos
termos que do ato da liquidação”, no prazo de 30 dias
(132º/1/3)
• O substituído pode impugnar judicialmente a retenção a
mais que lhe tenha sido efetuada, se se tratar de
liquidações definitivas, precedendo, em regra (v. 132º/6),
RG (132º/4). Se retenção tiver a mera natureza de
pagamento por conta, o substituído terá sempre direito à
devolução da diferença, acrescida de uma remuneração
compensatória.
▪ Impugnação dos pagamentos por conta (do imposto devido a
final): primeiro, mediante RG (necessária) para o órgão
periférico local da AT competente, no prazo de 30 dias após o
pagamento indevido, e, no caso de indeferimento, mediante
impugnação judicial do ato de pagamento, nos mesmos termos
que do ato de liquidação, mas no prazo de 30 dias e só quando

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

se invoque erro sobre os pressupostos da existência do


pagamento ou do seu quantitativo quando determinado pela
Administração fiscal (133º CPPT)
o O recurso hierárquico (RH): 66º CPPT
▪ Em regra, natureza facultativa e efeitos devolutivos (67º/1 CPPT)
▪ As decisões da AT podem ser objeto de RH apresentado junto do
autor do ato recorrido e dirigido, ao que parece, ao Ministro das
Finanças (66º/2 – e não ao DGI, apesar do 47º/3 CPPT)
▪ Prazo: 30 dias (66º/2)
▪ Salvo se a questão comportar a apreciação da legalidade do ato
de liquidação (caso em que se impõe a impugnação judicial), do
indeferimento do RH (necessário ou interposto do
indeferimento de uma reclamação nos termos do 76º/2 CPPT)
cabe ainda ação administrativa no prazo de 3 meses (CPTA) após
a notificação, salvo se de tal decisão já tiver sido deduzida
impugnação judicial com o mesmo objeto (76º/2 CPPT, parte
final)
➔ A revisão do ato tributário (78º LGT)
o Meio que não depende apenas da iniciativa do sujeito passivo (pode
resultar da iniciativa da AT)
o Meio que pode ser utilizado em sentido desfavorável ao contribuinte
(78º, nºs 4 e 5)
o A enorme importância prática da revisão do ato tributário
o A “interpretação construtiva” do STA no caso da revisão por iniciativa da
AT, conjugando o princípio da decisão (dever de decidir) e o princípio da
legalidade (dever de rever o ato tributário se for ilegal), por um lado, e
um conceito amplo de “erro imputável aos serviços” (qualquer
ilegalidade não imputável ao contribuinte) Sendo que da decisão do
pedido de revisão oficiosa cabe impugnação judicial…
o A estabilidade do ato administrativo e estabilidade do ato tributário

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Direito Fiscal I
Dr. Rodrigo Esteves de Oliveira
Ano letivo: 2021 / 2022
Casos práticos das aulas práticas
Mara Luísa Rito de Oliveira Pinto

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CASOS DAS AULAS PRÁTICAS:


Caso prático 1
Considerando que a economia portuguesa está em franca recuperação, o Governo
aprovou em fevereiro de 2022 um decreto-lei no qual se continham as seguintes
medidas
a. Redução da taxa do imposto Y, de 20 para 10%.
b. Eliminação da taxa que era devida pela obtenção de certificados
universitários.
c. Alteração do órgão competente para a liquidação do imposto X.
Pronuncie-se sobre cada uma das medidas, do ponto de vista jurídico-constitucional.
Resolução:
O Governo não é competente para reduzir a taxa do imposto, segundo o princípio da
legalidade fiscal, nos termos do artigo 165.º/1/i) da CRP. Em matéria de impostos, vale
o princípio da legalidade fiscal, nos termos do qual a intervenção em matéria de
impostos seja modificando-os, criando-os ou extinguindo-os, dependendo sempre de
uma lei do Parlamento, ou pelo menos de uma prévia habilitação parlamentar, através
de uma lei de autorização que reconduz a um decreto-lei autorizado no qual o
Governo pode legislar.
Nota: não tem de ser o Governo a criar o imposto, a modificá-lo ou a extingui-lo,
apenas não é possível haver uma intervenção na matéria, sem que a AR intervenha.
Este princípio tem um fundamento democrático, alicerçado na Magna Carta inglesa –
“no taxation without representation”. Se a lógica é democrática, não interessa se a
alteração é feita contra ou a favor do património do contribuinte; não pode haver
intervenção em matéria fiscal sem intervenção do Parlamento, sendo que o princípio
da legalidade fiscal não vale em Direito Fiscal; apenas uma matéria está dominada
sobre este princípio – a matéria relativa aos elementos essenciais do imposto: o
princípio da legalidade fiscal só vale na mediada que a intervenção incida sobre os
elementos essenciais do imposto – ART.103.º/2 CRP
➔ Incidência
o Subjetiva – quem é o contribuinte, contribuintes e demais sujeitos
passivos
o Objetiva – sobre que facto recai o imposto, qual é a definição normativa
do facto gerador do imposto (facto tributário), também a definição
normativa da matéria tributável ou coletável (definição de regras de
apuramento do valor que vai ser sujeito a imposto). Ex. IMI, o facto
tributário é a propriedade de um imóvel.
o Temporal – qual é o período de tempo a que se aplica
o Especial – a que território se aplica; Portugal continental, inteiro, uma
região, etc.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

➔ Taxa
➔ Benefícios fiscais
➔ Garantias dos contribuintes
De volta ao caso prático:
1ª medida – é inconstitucional, por violação do princípio da legalidade fiscal inscrito no
artigo 165.º/1/i).
2ª medida – Tributos em Portugal
Distinção tripartida dos tributos – Estão todos sujeitos ao mesmo regime jurídico
constitucional?
➔ Impostos
➔ Taxas – as taxas só estão sujeitas ao regime jurídico da CRP, no que diz respeito
ao seu regime geral. O Governo não pode criar o regime geral das taxas,
enquanto lei de valor reforçado, que se impõe às demais leis. Até agora, não há
nenhuma lei que contenha o regime geral das taxas, apenas das taxas das
autarquias locais. Assim, cada taxa pode ser criada pelo Governo, quando
existir o regime geral das taxas, as taxas que o Governo crie têm de obedecer a
esse regime, até lá, obedece à CRP. Posto isto, as taxas, em rigor, estão apenas
sujeitas ao princípio da legalidade administrativa e não fiscal – a atividade
administrativa tem de ter um prévio respaldo legal, habilitação legal prévia,
sendo este conceito amplo – qualquer lei: lei, decreto-lei, decreto-legislativo
regional.
➔ Demais contribuições financeiras.
o Impostos vs. Taxas: O imposto é um tributo unilateral, só uma das
partes tem uma obrigação: o único devedor é o contribuinte, o credor
não está obrigado a prestar a favor do contribuinte nenhuma prestação;
nas taxas prevalece a ideia da relação comutativa, da troca
administrativa. As taxas são uns tributos causais, como as autoestradas
– ART.4.º/2 LGT.
2ª medida: Taxa devida pela prestação concreta de um serviço público, logo está
sujeita ao respetivo regime jurídico constitucional. Umas coisas são as taxas enquanto
tributos (portagens, moderadora, etc.) e a taxa de imposto (10%, 15%, etc.). Então,
aqui, nesta 2ª medida não há qualquer problema. Para a legitimidade jurídico-
constitucional de uma taxa, não basta a bilateralidade, é também necessária a
proporcionalidade entre aquilo que se recebe e aquilo que se paga (razoável
proporção). Havendo uma grave desproporção entre aquilo que se recebe e aquilo que
se paga, então a taxa passa a ser inconstitucional, por 1 de duas razões:
➔ A taxa viola o princípio da proporcionalidade:
➔ Ou porque se houver uma grave desproporção entre os dois, perde-se a relação
de bilateralidade, uma vez que esta pressupõe uma relação de proporção – se
perde a bilateralidade, o imposto tem de ser aprovado pela AR, havendo
violação do princípio da legalidade fiscal.

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3ª medida:
Impostos – Princípio da legalidade fiscal. Aqui não está em causa a incidência do
imposto, a taxa, garantias dos contribuintes. Temos uma intervenção do governo em
matéria fiscal, mas fora da matéria dos elementos essenciais do imposto. No âmbito
fiscal, liquidar o imposto significa o ato tributário por excelência, ato que identifica o
sujeito passivo, determinando o imposto a pagar. Do ponto de vista jurídico-
constitucional, não há nada a apontar, inscreve-se na competência normal concorrente
do Governo., não sendo matéria reservada da AR.
Caso Prático 2:
Ao prever a possibilidade de os municípios fixarem a taxa de IMI, o artigo 112.º do
Código do IMI é inconstitucional por violar o princípio da legalidade fiscal. O Código
do IMI foi afirmado pela Lei n.º1/2002.
Resolução:
Em Portugal, poderia ser da competência dos municípios, liquidar e cobrar o IMI, mas
para isso, teriam de assumir essa competência. Contudo, poderiam continuar a pagar
ao Estado para que este assegure as tarefas de lançamento liquidação e cobrança do
IMI – distinção entre impostos estaduais e locais; é um imposto municipal, pois a
receita é a favor dos municípios, mas quem lança e cobra é o Estado, logo, o imposto é
estadual – critério da qualidade do sujeito ativo da relação fiscal, que é dada pela
competência tributária para lançar e liquidar o imposto.
A matéria sob judice é da competência relativa da AR. O princípio da legalidade fiscal
não existe apenas que haja uma mera intervenção da AR, exigindo que os elementos
essenciais do imposto estejam definidos na lei (lei do Parlamento, ou decreto-lei
autorizado pelo Parlamento). Os municípios não têm poder legislativo, não podem
aprovar leis, apenas regulamentos. Logo, haver taxa de imposto aprovado por
regulamento violaria o princípio da legalidade fiscal, pois exige que os elementos
essenciais do imposto estejam definidos na lei. Assim, à primeira vista, esta
possibilidade seria inconstitucional.
Contudo, há alguns desvios a um entendimento rigoroso deste princípio: desvios
consagrados na CRP:
➔ Ex. ART.241.º CRP diz que os municípios podem gozar de poder tributário
próprio nos termos da lei. O poder tributário é, pode definição, o poder de
definir elementos essenciais do imposto – poderá não haver
inconstitucionalidade nestas autorizações legislativas em matéria fiscal em
favor dos municípios.
Assim, tem-se entendido que não é inconstitucional, pois de alguma maneira, a lógica
do princípio mantém-se, pois, a taxa do IMI tem de ser aprovada pelas Assembleias
Municipais – eleitas pela população – continuam a ser os representantes dos sujeitos
passivos, contribuintes de IMI, a definir o elemento essencial do imposto.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Caso prático 3
Para fazer face às consequências financeiras da condição pandémica, o Parlamento
aprovou hoje um diploma legal com a seguinte medida
a. As taxas gerais do IRS são aumentadas em 2% com efeitos a 1/01/2022
Resolução: Aqui estamos perante um caso prático sobre efeitos retroativos, tendo em
conta os princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança. A retroatividade
não é proibida no ordenamento jurídico nacional. Em matéria fiscal, há proibição de
impostos retroativos desfavoráveis. Não há proibição Não há proibição de
retroatividade no Direito Fiscal, apenas não podem ser criados impostos retroativos
mais desfavoráveis ao contribuinte, se a retroatividade for favorável ao contribuinte.
Do ponto de vista da segurança jurídica não há qualquer problema.
Segundo os termos do artigo 103.º/3 CRP – nos impostos retroativos que se incidam
dentro da categoria da retroatividade em sentido próprio ou autêntica temos
retroatividade de uma lei que pretende regular factos tributários que nasceram,
desenvolveram e já se extinguiram ao abrigo da lei antiga (“factos mortos para o
direito à data da entrada em vigor da lei nova”). O facto tributário do IRS são os
rendimento – o facto tributário vai de 1 de janeiro a 31 de dezembro, sendo este
periódico. O IVA, na perspetiva do prestador do serviço pode corresponder a um facto
tributário durador e recorrente. O IVA incide sobre o consumo, tem como sujeito
passivo a pessoa que empresta o bem, o bar, etc. Nós, cidadãos, não temos relação
com o Estado. O contribuinte do IVA é a empresa que gera o bar. A venda de cafés é
uma atividade corrente, diária, para os efeitos do IRC, o imposto toma a atividade do
bar olhando para o ano inteiro, o IVA incide atomisticamente sobre uma operação.
O IRS vai de 1 de janeiro a 31 de dezembro. No caso prático em questão, a lei vai até 1
de janeiro de 2022, é retroativa, mas é retroatividade inautêntica ou imprópria.
Quando a lei nova entra em vigor, o facto tributário já nasceu, já se desenvolveu em
parte – 3 meses completos – e ainda não se extinguiu. A retroatividade inautêntica ou
imprópria não é nem permitida, nem proibida. Logo é necessário convocar os
princípios pertinentes na matéria:
Princípio da segurança jurídica – todas as pessoas podem exigir do Estado-Direito que
aos seus atos e comportamentos se apliquem as leis que estavam em vigor à data que
esses comportamentos foram adotados. Contudo, o Direito é suscetível à mudança: o
direito ou é pioneiro da mudança ou acompanha essa mudança; “não há um direito à
petrificação do Direito”.
Temos então de ter em conta a “possibilidade de auto-revisibilidade do juízo do
legislador” – realizando 3 testes para estas matérias: 1. O grau de confiança das
pessoas na estabilização da taxa de IRS; 2. O grau/medida de instrução fiscal:
aumentaram quanto? Pouco ou muito? 3. Quais os valores jurídicos/políticos/sociais
que se pretendem tutelar com o aumento do imposto? Posto isto, podemos analisar se
é ou não inconstitucional.

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Caso prático 4
Em determinadas hipóteses, as taxas devidas pela remoção de obstáculos jurídicos
ao comportamento de particulares, devem ser qualificadas como licenças fiscais.
Resolução:
O legislador seleciona uns comportamentos que são objetivamente perigosos,
normalmente punidos como crime; mas há outros comportamentos cuja perigosidade
para certos valores económicos e sociais pode ser afastada em concreto.
Ou seja, prima face, podem constituir comportamentos perigosos, mas pode-se chegar
à conclusão de que afinal não há perigo – o legislador cria um obstáculo, ex. não pode
circular na via pública salvo se tiver a carta de condução, não pode circular com uma
arma de fogo, salvo se tiver uma licença. No momento em que a AP averigua da
perigosidade e passa uma licença, exige uma taxa que é devida pela remoção do
obstáculo jurídico.
Temos o problema de que é muito fácil criar obstáculos jurídicos (ex. publicidade no
meu terreno, carro, ter animais, etc.). Assim, a doutrina apresenta 2 posições:
1. A posição do Dr. Casalta Nabais – estas taxas devidas pela remoção de
obstáculos jurídicos, só são legitimas se a criação do obstáculo jurídico for
justificada à luz do interesse público.
2. Posição do Dr. Teixeira Ribeiro – estas taxas só serão legítimas se a licença der
acesso a um bem semipúblico, ou seja, a um bem que satisfaz simultaneamente
necessidades coletivas e individuais.
Por exemplo, a licença de uso e porte de armas – o obstáculo jurídico é que a lei proíbe
o uso e porte de armas, salvo se existir uma licença. De acordo com a tese do Dr.
Casalta Nabais, esta licença seria legítima, se não houvesse interesse público, seria
uma licença fiscal. Assim, concluímos que seria uma licença fiscal.
Assim, a afirmação é verdadeira pois em certos casos o obstáculo jurídico não é criado
com fundamento em razões ponderosas de interesse público.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Caso Prático 5
Para fazer face à subida do preço do petróleo nos mercados internacionais a
Assembleia da República aprovou uma lei que continha a seguinte medida:
“A entidade reguladora dos serviços energéticos fica autorizada a subir até 2% as
taxas do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos.”
Pronuncie-se sobre a conformidade jurídico-constitucional deste diploma.
Resolução:
Neste caso prático estamos perante a competência relativa da AR, que está presente
no artigo 165.º/1/i) da CRP – que consiste no princípio da legalidade fiscal.
Sendo a AR uma entidade competente para legislar sobre a matéria dos impostos pode
ou não a AR fazer o que fez com este diploma, poderá este aprovar uma lei que
autoriza a entidade dos serviços energéticos a aumentar taxas dos impostos? Não.
Porque segundo o princípio da legalidade fiscal temos uma exigência e imposição de
que os elementos essenciais dos impostos só possam ser regulados pela AR, através de
uma lei ou um decreto-lei autorizado. Os elementos essenciais dos impostos que tem
de ser regulados pela AR são a incidência, tanto a subjetiva como a objetiva, a taxa, os
benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Ora, se é assim, então, isto significa
que a AR não pode autorizar uma outra entidade a definir ela mesma qual é a taxa do
imposto. A taxa do imposto, tem que constar, em regra, de um de dois diplomas: ou de
uma lei da AR ou de um decreto-lei autorizado pela AR. E, depois, existem alguns
desvios a esta ideia que resulta do facto de que a própria CRP atribui um poder
tributário próprio a outras entidades, nomeadamente às administrações autónomas
territoriais, caracterizando-se estas por serem: as próprias regiões autónomas que tem
uma autonomia político-administrativa muito acentuada e reconhecida pela CRP, no
artigo 227.º/1/i) da CRP temos reconhecido o poder tributário próprio das regiões
autónomas; as autarquias locais, nomeadamente os municípios, que também dispõem
de um poder tributário próprio. Sendo que, este poder tributário o poder de regular os
elementos essenciais dos impostos.
Assim, fazendo parte do princípio da legalidade administrativa e não do princípio da
legalidade fiscal, temos as seguintes operações administrativas:
➔ Operação de lançamento – sendo a operação através da qual se identifica um
ou um dos sujeitos passivos do impostos e se calcula o valor da matéria
tributável
➔ Operação de liquidação – sendo a operação através da qual se aplica a taxa do
imposto à matéria tributável. Através desta via, decide-se qual é o montante do
imposto a pagar, sendo então a operação administrativa que torna certa,
líquida e exigível a obrigação do pagamento do imposto.
➔ Operação de cobrança – sendo a operação que ocorre dentro do prazo do
pagamento voluntário do imposto, havendo lugar ao pagamento do imposto
dentro do prazo ou coerciva, quando passado esse prazo, a administração pode

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

lançar mão dos mecanismos da cobrança coerciva do imposto, instaurando um


processo de execução fiscal (PEF).
Assim, conseguimos concluir que neste caso em específico a AR não pode autorizar a
entidade reguladora a subir a taxa do imposto porque viola o princípio da legalidade
fiscal.
Caso prático 6
O Governo em 1999 aprova um decreto-lei que estabelece o seguinte:
“Quando houver lugar à alienação onerosa ou ao arrendamento de imóveis situados
na zona geográfica de realização da EXPO98 proceder-se-á ao cálculo da mais-valia
que seja imputável às infraestruturas públicas que foram criadas com a EXPO98. E
sobre essa mais-valia recairá uma taxa EXPO98 no valor de 30% do valor dessa mais-
valia.”
Pronuncie-se sobre a conformidade jurídico-constitucional deste diploma.
Resolução:
Neste caso em concreto, importa sabermos em rigor que tributo aqui está em causa. O
governo diz que criou uma taxa e temos de saber qual é o tributo em causa. Sendo que
temos como tributos: as taxas, os impostos, as demais contribuições financeiras e as
contribuições especiais – segundo os termos do artigo 4.º LGT.
Nós vemos que estas figuras se distinguem umas das outras, e que estas têm uma
justificação autónoma. Mas, a questão é saber se no plano jurídico nós devemos
procurar um regime para cada uma destas figuras, ou seja, se devemos apresentar um
regime para estas três figuras constituindo um regime tripartido, tendo em
consideração que o artigo 4.º/3 da LGT refere que as contribuições especiais fazem
parte do regime jurídico dos impostos, ou se, pelo contrário, devemos apenas
reconhecer autonomia aos impostos ou taxas, constituindo um regime binário ou
divisão dicotómica.
No nosso curso, apenas reconhecemos autonomia às figuras dos impostos e das taxas,
constituindo assim, um regime binário partilhando do regime constitucional. Do ponto
de vista económico há as contribuições especiais, financeiras, impostos e taxas.
Já a nível jurídico, como temos um regime binário, considera-se que só há regime de
impostos e taxas, estando, então, as contribuições especiais dentro do regime dos
impostos e as contribuições financeiras dentro do regime das taxas. Segundo o
Acórdão de 26/09/2018, quer os impostos quer as contribuições podem ter na sua
origem prestações administrativas dirigidas a grupos mais ou menos alargados. Assim,
as contribuições especiais e as financeiras são, em certo sentido, tributos grupais.
Sendo que, no caso das contribuições especiais, esse grupo de pessoas está ligado por
uma particular manifestação de capacidade contributiva decorrente do exercício de
uma ação administrativa. No caso das Contribuições Financeiras, o que existe é uma
partilha de uma específica contraprestação de natureza grupal.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

Segundo o Dr. Casalta Nabais as contribuições especiais e as contribuições financeiras


têm em comum não o facto de se dirigirem a normais detentores de capacidade
contributiva nem a destinatários de específicas constituições, mas antes a grupos de
pessoas legadas.
Nós temos duas espécies de contribuições especiais:
➔ Contribuições especiais de melhor – estando presente na 1ª parte do artigo
4.º/3 da LGT – “benefícios ou aumentos de valor dos seus bens em resultado
de obras públicas ou da criação ou ampliação de serviços públicos”
➔ Contribuições especiais por maior despesa – estando presente na 2ª parte do
artigo 4.º/3 da LGT – “no especial desgaste de bens públicos ocasionados pelo
exercício de uma atividade”
➔ A ideia de grupo das contribuições especiais consiste num grupo com uma
certa capacidade contributiva.
o Do ponto de vista jurídico, estas contribuições especiais têm de ser
consideradas impostos, estando no regime jurídico dos impostos.
E temos, então, as contribuições financeiras:
➔ Contribuições destinadas a compensar a existência de determinados de
regulação ou supervisão – tendo uma natureza grupal porque vão incidir sobre
o grupo de operadores que atua num certo setor.
➔ A ideia de grupo das contribuições financeiras é a associação de pessoas que
provocam uma certa atividade administrativa de supervisão de regulação,
sendo que funciona uma ideia de contraprestação genérica e proporção –
temos uma bilateralidade genérica, mais ainda assim uma bilateralidade.
o Estas contribuições financeiras são reconduzíveis às figuras das taxas,
estando estas no regime jurídico das taxas.
Neste caso conseguimos, então, chegar à conclusão de que este tributo era uma
contribuição especial de melhoria. Assim, o Governo não podia criar a taxa EXPO98
porque era em rigor uma contribuição especial, e estas são materialmente impostos,
tendo o mesmo regime jurídico-constitucional dos imposto, logo, aquele diploma
padecia de inconstitucionalidade orgânica pelo facto to Governo, ou seja, o órgão em
questão não poder criar impostos.

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Caso Prático 7
Diga se a seguinte afirmação é Verdadeira ou Falsa:
A retroatividade é proibida no Direito Fiscal.
Esta afirmação é Falsa.
O Princípio da Segurança Jurídica visa proteger/tutelar as expectativas constituindo
uma proteção de confiança, constituindo que as pessoas devem poder confiar que aos
seus comportamentos, aos seus atos e omissões se associam os efeitos jurídicos
previstos e prescritos no ordenamento jurídico em vigor à data em que esses
comportamentos foram adotados. E essa confiança está presente na manutenção do
status quo jurídico é frustrada se vier uma medida que lese essas pessoas. Se vier uma
lei que extingue um imposto ou que reduz um imposto não pode haver, por definição,
problemas a nível do Princípio da Segurança Jurídica. A única retroatividade que pode
ser proibida é a retroatividade de resultado desfavorável para os contribuintes. Em
segundo lugar, só há retroatividade fiscal desfavorável quando a retroatividade é
autentica ou em sentido próprio, ou seja, aquela que tem por objeto factos tributários
que nasceram ao abrigo da lei antiga e já se extinguiram ao abrigo da lei antiga.
Segundo os termos do artigo 103.º/3 da CRP, só a retroatividade em sentido próprio é
que está proibida. A retroatividade imprópria não está proibida na CRP, mas também
não está permitida ou autorizada pela CRP. Não havendo regra sobre o assunto, temos
de recorrer aos assuntos pertinentes: ao princípio da segurança jurídica; no entanto,
existem outros porque se o princípio da segurança jurídica se constitui obstáculo
suficiente a qualquer retroatividade então nós tínhamos o nosso sistema jurídico
essencialmente petrificado ou congelado. O principio da segurança jurídica é apenas
um entre vários princípios pertinentes para tratar do problema da retroatividade. É,
então, necessário proceder a 3 testes:
1. Peso que representa o grau de convicção dos contribuintes na estabilização da
lei fiscal/do status quo. Ex. Imagine-se que a Outubro de 2021 o PR e o PM
dizem recorrentemente que vai ser necessário aumentar as taxas de IRS e estas
eram aumentadas em Janeiro, o peso correspondente à nossa convicção era
fraco porque fomos avisados recorrentemente. Agora se o PR e o PM tivessem
dito que os impostos não iam subir, a nossa convicção que não iria mudar era
grande porque fomos avisados do contrário do que ocorreu.
2. Grau de oneração fiscal – ex. as pessoas vão pagar mais imposto, mas qual é o
aumento da carga fiscal? 0,2%? Então é pouco, o grau de oneração fiscal é
baixo. 15%? É imenso, o grau de oneração fiscal é elevado.
3. Análise do bem jurídico que se quis tutelar/proteger da maior oneração fiscal.
Os impostos vão ser aumentados porquê? Para evitar que Portugal entre em
incumprimento com os países internacionais para que a Troika não volte a
Portugal? É então um bem jurídico precioso. É para ajudar num evento
cultural? É um bem jurídico pouco precioso.

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Mara Pinto Direito Fiscal I |2021/2022

No fim de todos estes testes, possivelmente, haveria diversas soluções ao critério das
pessoas, mas é o Tribunal Constitucional que no final irá ditar se aquela subida é pouco
ou não preciosa para aquela lei retroativa, considerando se esta pode entrar em vigor
e causar efeitos ou não.
Caso Prático 8
Carla, trabalhadora do Pingo Doce, recebeu por inteiro os seus vencimentos mensais
durante todo o ano de 2021 sem que, portanto, Jerónimo Martins, S.A., tivesse
concebido à retenção da fonte que era devida.
Resolução:
Neste caso prático, temos de qualificar a relação que aqui está em causa, sendo que
esta não é uma normal relação tributária, há aqui um triângulo entre o contribuinte,
um terceiro e a administração tributária. A retenção na fonte encontra-se definida no
artigo 34.º da LGT, referindo que “As entregas pecuniárias efetuadas por dedução nos
rendimentos pagos ou postos à disposição do titular pelo substituto titular constituem
retenção na fonte.” Já tendo em conta os termos do artigo 20.º da LGT temos a
substituição tributária, que segundo o n.º2 deste mesmo artigo temos regulado que a
substituição tributária é efetivada através do mecanismo de retenção na fonte do
imposto devido, e no n.º1 temos presente que esta substituição existe quando a
prestação tributária for exigida a pessoa diferente do contribuinte, ou seja, o
substituto.
Neste caso em concreto, temos a Carla, a Jerónimo Martins, S.A. e o fisco. A Jerónimo
Martins, S.A. devia reter na fonte uma parte e depois entregar ao fisco.
Temos aqui uma substituição tributária em sentido impróprio, sendo que esta
substituição tem lugar quando a retenção na fonte efetuada pelo substituto, não é
uma retenção definitiva, mas assume o carácter de pagamento por conta do imposto
devido a final. A logica desta retenção na fonte é a lógica dura de o pagamento da
conta com a particularidade do pagamento da conta ser feito por um terceiro que é
substituto.
Nós temos o regime da responsabilidade tributária prevista no artigo 28.º - sendo que,
o n.º1 só vale para os casos em que houve retenção e não houve entrega do
montante; logo será o n.º2 ou 3. E conseguimos concluir que aplicamos o 2 porque
este vale para as hipóteses em que a retenção da fonte tem natureza por conta do
imposto devido a final, e o que se diz é que o primeiro responsável, ou seja o
responsável em primeira linha é a Carla, e se o património da Carla não for suficiente
para pagar, então a Jerónimo Martins S.A. pode ser chamada a pagar essa divida
enquanto responsável subsidiário através da reversão do processo de execução fiscal.

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Caso Prático 9
Na sequência das cheias vivenciadas em Dezembro de 2019, António, dono de uma
tornearia, viu a sua contabilidade organizada, relativa aos últimos cinco exercícios
dessa sua atividade profissional, destruída.

1. A Administração Tributária, socorrendo-se para o efeito de vários indícios e


presunções, fixou a matéria coletável de António, para o ano de 2019, em
400.000€. António consultou o seu advogado e chegaram à conclusão de que a
AT não poderia ter avaliado a matéria coletável através de indícios e
presunções. Na sua opinião assiste-lhes razão?
Nós estamos a recorrer a indícios e presunções, ou seja, temos uma avaliação indireta
sendo que esta se caracteriza por ser subsidiária e excecional. Subsidiária porque só
pode ter lugar se não puder funcionar na avaliação direta de cada tributo e excecional,
porque só pode ter lugar nos casos expressamente previstos na lei e se não houver uma
previsão legal, esta não poderá ter lugar. Ora a avaliação indireta está presente no
art.87.º, sendo que no n.1, al.b) temos o caso em que temos uma impossibilidade de
comprovação e quantificação direta e exata dos elementos indispensáveis à correta
determinação da matéria tributável de qualquer imposto, pelo que podiam realizar a
avaliação indireta. Neste caso temos o regime mais densificado no art.88.º Assim, aqui,
a AT não podendo determinar exatamente qual é a matéria tributável desse sujeito, vai
recorrer, nos termos do art.90.º a determinados indícios ou presunções que lhe
permitem chegar a um resultado próximo do real.

2. António, entendendo que a Administração Tributária não iria proceder à


liquidação do imposto, já que a mesma para si era ilegal, por se basear em
indícios e não no valor real dos rendimentos, não reagiu. Sucede que a AT
liquidou o imposto. António pode agora reagir?
Pode, porque o contribuinte pode impugnar no prazo da impugnação judicial, 3 meses
tendo em conta os termos do artigo 102.º CPPT. António pode impugnar a liquidação
porque os atos tributários mais concretamente, as liquidações administrativas dos
impostos não estão sujeitas a impugnação administrativa prévia – reclamação ou
recurso hierárquico. Poderia impugnar, no entanto, é necessário ter em conta o
argumento dado pelo mesmo.
Se estiver em causa dois vícios: erro na quantificação ou erro nos pressupostos deve ser
apresentado um pedido de revisão junto da AT, segundo os termos do art.91.º LGT. Ora,
aqui o argumento dado por António é de se basear em indícios e não no valor real dos
rendimentos, logo tem o argumento baseado no erro. No entanto, com este argumento
para se poder impugnar, tem de haver uma impugnação administrativa prévia – uma
reclamação ou recurso hierárquico.

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Se porventura, António não tiver procedido a esse pedido na altura em que foi
notificado, ele poderá sempre impugnar com qualquer fundamentos menos os dois
anteriormente referidos: erro na quantificação ou erro nos pressupostos. Segundo os
termos do artigo 86.º/5, podemos concluir que era necessário uma prévia reclamação
para uma impugnação judicial, concluindo assim, que António não poderia agir com tal
fundamento. Mas, se este invocar qualquer outro fundamento o mesmo poderia
impugnar judicialmente, podendo assim, reagir.

Caso Prático 10
No ano de 2016, António, que trabalha como empregado têxtil na sociedade B,
recebeu os seguintes rendimentos: de ordenado, 20.000€; de juros de depósito à
ordem, pagos pelo Banco CC, 500€; de rendas de uma habitação que tem em Coimbra,
5.000€.
Nesse mesmo ano, António teve as seguintes despesas: obras realizadas na habitação,
para a tornar habitável, 1000€; pagamento da creche do seu filho, 700€.
Responda, fundamentadamente, às seguintes questões:
1- Qual o enquadramento e regime fiscal, em sede de IRS, dos rendimentos de
António?
Estamos aqui perante um caso de enquadramento e regime fiscal em sede de IRS,
pretendendo saber onde se enquadram, os rendimentos de António. Ora, o IRS é o
imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, sendo que este deverá ser único –
o que significa que deve ser globalmente sujeito a um mesmo regime, ou pelo menos, a
um regime que obedece aos mesmos valores; e progressivo, o que significa que as taxas
aumentam à medida que aumenta a matéria coletável, segundo os termos do art.104.º
CRP. Ora, este imposto incide sobre o valor anual do rendimento das seguintes
categorias, mesmo quando provenientes de atos ilícitos, depois de efetuadas as
correspondentes deduções e abatimentos (art.1.º CIRS): Categoria A, B, E, F, G e H,
sendo que a C e D, anteriormente existiam, mas os factos tributários abrangidos por
estas passaram a estar abrangidos pela categoria G. Começando pelo ordenado de
20.000€ que recebeu do seu trabalho como empregado têxtil na sociedade B, este
rendimento enquadra-se na categoria A do IRS, artigo 2.º do CIRS. Sendo que nesta
categoria está essencialmente presente os rendimentos do trabalho dependente, seja
no setor privado como no setor publico. Para esta categoria A, nós temos uma dedução
especifica, presente nos art.25.º e ss. do CIRS. Assim, A para receber os 20.000€ terá
tido despesas na deslocação para obter o rendimento dos 20.000€, esta quantia não é
líquida, existiram despesas, então, António pode deduzir 4104€ aos 20.000€ sendo que
estas deduções são feitas de forma abstrata. Os juros de depósito à ordem , pagos pelo
Banco CC de 500€ encontram-se inseridos na categoria E que se classifica na categoria
dos rendimentos de capitais, ou seja, a categoria dos juros. Nesta categoria, segundo os
termos do art.5.º/2 CIRS, temos a especificidade deste rendimento de que é este que
está sujeito a uma taxa liberatória prevista no art.71.º do CIRS.

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Assim, este rendimento está livre de imposto, porque já lhe foram aplicadas as taxas
liberatórias, sendo que é inserido nesta categoria, mas não é aplicado qualquer imposto.
As rendas de uma habitação que tem em Coimbra de 5.000€ estão inseridas na categoria
F, sendo esta a categoria dos rendimentos prediais – art.8.º CIRS. Há, também o caso,
de existirem pessoas que fazem da cedência/arrendamento de prédios a sua profissão,
onde o contribuinte pode optar por colocar estes rendimentos na categoria B, dos
rendimentos empresariais e profissionais.

2- Qual o enquadramento fiscal, em sede de IRS, das despesas de António?


Em relação às obras realizadas na habitação de 1000€ temos uma dedução especifica no
quadro da categoria F, segundo os termos do art.41.º do CIRS todos os gastos para obter
rendimentos desta categoria, deduz-se efetivamente todos os gastos, não havendo a
presunção, e sim uma dedução de todos os gastos para obter rendimentos. Depois
temos o pagamento da creche do filho, de 700€, onde aqui temos uma dedução à coleta
inseridas nas despesas de educação e formação, presentes no art.78.º/1/d) do CIRS.

Caso Prático 11

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