Você está na página 1de 79

Direito Fiscal I

PowerPoints e Aulas – Marta Costa Santos

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 1


Em alguns países, a matéria de “Direito Fiscal” é designada por “Direito tributário”, isso acontece
porque os impostos são apenas uma categoria de tributos, os tributos são muito mais amplos
que somente os impostos (taxas, por exemplo). Contudo, optamos por chamar “Direito Fiscal”
tendo em vista que nos concentraremos mais nos impostos.

Noção de imposto em termos objetivos


§ É uma prestação (relação de natureza obrigacional), gerida e administrada por
entidades públicas, no exercício típico de poderes de autoridade.
§ Pecuniária (traduzida em dinheiro). OBS: o imposto pode ser pago em espécie (ação em
pagamento), contudo, é muito excecional, normalmente tem que ser pago em dinheiro.
§ Unilateral, ou seja, sem contraprestação específica (não é possível estabelecer,
individualmente, uma relação entre o montante de imposto suportado e a
contraprestação recebida). Financiam as funções e atividades públicas em geral.
o Essa característica que distingue os impostos das taxas. Significa que quando eu
pago o imposto eu não estou a retribuir uma contra prestação especifica que
foi feita, ou seja, eu não sei quando pago o IRS se aquela receita vai ser afeta a
educação, a saúde, a segurança social, eu sei é que eu pago o imposto para
financiar tarefas de interesse geral, para que o Estado consiga obter as receitas
que necessita para o financiamento das funções e atividade de interesse geral.
Sendo assim, é unilateral porque não há uma contraprestação específica para o
imposto.
Já no caso das propinas, trata-se claramente uma taxa, sei que pago a propina
e em contrapartida vou ter uma prestação, como ter aulas, ir à biblioteca.
Enquanto com a taxa sei que estou a pagar para me beneficiar de um serviço,
quando pago o imposto não tenho nada que seja dado em troca a mim,
especificamente, eu pago para financiar o interesse geral.
§ Definitiva: unilateral também para o futuro, não é um empréstimo forçado.
o O pagamento do imposto não é empréstimo, o estado não vai me devolver o
imposto (na “devolução” não é o retorno do imposto que eles pagaram, e sim o
que os contribuintes pagaram a mais, as entidades patronais habitualmente
pagam o salário liquido, não bruto, assim, retém uma parte do salario dos
trabalhadores para entregar aos cofres do estado, paga em avanço uma parte
dos impostos do trabalhador, isso acontece para que o Estado tenha receitas
antecipadas e para o trabalhador não fugir daquele imposto, portanto, chega
no fim do ano e as pessoas apresentam as declarações de rendimento, o que
acontece é que pega-se nisso tudo e o estado vai fazer um cálculo e pode chegar
à conclusão que as pessoas pagaram mais imposto do que o que era devido, e
se chegar a essa conclusão, devolve-se o que foi pago a mais, não está a
devolver impostos, e sim o que foi pago a mais).
§ Coativa: a fonte da obrigação do imposto resulta do preenchimento do facto tributário
e a sua execução pode ser exigida pela Administração Fiscal através do procedimento
de execução fiscal.

Qual é o facto tributário do IMI, IRS e IRC?


§ IMI: imposto municipal sobre imoveis: o facto tributário do IMI é ter um imóvel, ser
proprietário de um imóvel.
§ Facto tributário do IRS: ser uma pessoa singular e ter um rendimento
§ Facto tributário do IRC: uma empresa obter lucros.
Verificado o facto tributário, tem que se pagar impostos, caso não se pague, será levado a cabo
um processo de execução fiscal.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 2


Noção de imposto em termos subjetivos
Faz referência aos sujeitos que integram a relação jurídica obrigacional do imposto.
É uma prestação exigida a (ou devida por) detentores de capacidade contributiva; a favor de
entidades que exerçam funções públicas.
§ “Detentores de capacidade contributiva”: são aqueles que revelem, através dos
rendimentos que auferem, dos bens cuja titularidade lhes corresponda ou do consumo
que realizem, dispor de capacidade financeira para contribuir para sustentar os
encargos públicos. Ou seja, a medida do imposto é a capacidade contributiva, a lógica
dos impostos é de “quem tem mais paga mais, e que tem menos, paga menos. O
rendimento das pessoas é um dos fatores para revelar a capacidade contributiva,
contudo, o património também é levado em conta, além do consumo também ser capaz
de revelar capacidade contributiva (ex: não tenho rendimentos, mas tenho uma Ferrari,
um Rolex, logo, tenho capacidade contributiva). Há pessoas com rendimentos muito
baixos, mas que, por exemplo, possuem casas que valem 350 mil euros, e o que
acontece é que se verifica uma manifestação de fortuna (a pessoa tem que estar a
ocultar alguma coisa do estado para conseguir adquirir esses bens, tendo em vista que
não possui grandes rendimentos. Por isso as grandes fortunas costumam estão
habitualmente em nome de terceiros e não de quem realmente possui as fortunas,
devido à manifestação de fortuna).

Noção de imposto em termos teleológicos


O imposto é caracterizado pelo facto de: as receitas obtidas terem de se destinar à realização
de tarefas de interesse geral (caráter financeiro do imposto), desde que a obrigação de onde
decorrem não tenha caráter sancionatório (contra – ordenações, multas, confisco,
indemnizações).
§ Art. 10 LGT: tributação dos rendimentos ou atos ilícitos. Mesmo que seja ilícito, se gera
rendimentos, é o que interessa.
Ou seja, a nível teleológico são receitas para financiar tarefas levada à cabo pelo estado de
interesse geral e nunca pode ter carater sancionatório (E quanto aos juros? Verdadeiramente
não tem carater sancionatório).
Em suma:
Notas Objetivas Notas Subjetivas Notas teleológicas
§ Uma prestação § Exigida a detentores § Com vista à
§ Pecuniária de capacidade realização de tarefas
§ Com estrutura contributiva de interesse geral
unilateral § Exigida pelo Estado § Sem caráter
§ Coativa ou outras entidades sancionatório.
§ Definitiva Públicas

Objetivos essenciais dos impostos:


§ Financiamento das funções estaduais
§ Redistribuição do rendimento
Conceito tradicional de imposto: De acordo com Alberto Xavier, é uma prestação patrimonial,
estabelecida por lei a favor de uma entidade que tem a seu cargo o exercício de funções
públicas, com o fim imediato de obter meios destinados ao seu financiamento.

Notas comuns a todos os tributos:


§ Receitas coativas
§ Prestações (relação jurídica obrigacional) patrimoniais (devem ser pagas em dinheiro)
§ Definitivas (não geram direito a reembolso, restituição ou indemnização)
§ A favor de entidades que têm a seu cargo o exercício de funções públicas

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 3


§ Finalidade imediata: obtenção de meios destinados ao financiamento daquelas
entidades. Tem sempre como objetivo obter meios financeiros necessários para uma
determinada tarefa, para que aquela entidade consiga alcançar aquele objetivo, não se
pode pagar algo para satisfazer interesses pessoais, deve ser afeto ao interesse público.

Alternativa: divisão tricotómica: impostos, taxas e contribuições ou tributos especiais.


A opção pela divisão dicotómica em termos jurídico – fiscais, especialmente ao nível jurídico
– constitucional. O curso defende uma divisão dicotómica dos tributos, deve ser feita entre
impostos e taxas, pois em relação às contribuições especiais e financeiras, às contribuições
especiais aplica-se o regime dos impostos, e às contribuições financeiras aplica-se o regime das
taxas. Por isso, o curso defende a divisão apenas em impostos e taxas (pois o regime aplicado às
outras é essencialmente o aplicado à essas duas).

Divisão dicotómica ou bipartida ou binária

Tributos unilaterais Tributos bilaterais

Impostos Taxas

Reservas à lei parlamentar ou


decreto-lei autorizado
Princípio da legalidade fiscal relativamente ao regime geral

A sua medida assenta no


princípio da
Princípio da capacidade proporcionalidade
contributiva taxa/prestação estadual
proporcionada ou taxa/custos
específicos causados à
respectiva comunidade

TAXAS
As taxas são (contra) prestações patrimoniais de caráter bilateral, ou seja, assentam numa
relação jurídica do tipo do ut des = à contraprestação tributária do particular a favor do Estado
e demais entes públicos corresponde uma anterior prestação específica, uma atividade desses
mesmos entes (prestação concreta de um serviço público; disponibilização de um bem do
domínio público e/ou remoção de um obstáculo jurídico a particulares (art. 4/2 LGT)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 4


especialmente dirigida ao respetivo obrigado, não visando comportar, portanto, prestações
difusas tal como os impostos. Nas taxas, por serem bilaterais, há uma contraprestação
específica.
A medida para o pagamento do imposto é a capacidade contributiva enquanto que nas taxas
não é isso, não se olha para a capacidade contributiva das pessoas, são duas medidas, primeiro
faz-se uma análise da proporcionalidade – aquilo que eu pago é proporcional ao serviço? a
contraprestação que eu tenho. A proporcionalidade aqui é do lado do contribuinte, o que
pagamos de propinas por exemplo é muito pouco em relação ao que recebemos de volta. A
proporcionalidade é violada se aquilo que eu pagar for superior ao que eu recebo, aí viola-se o
princípio.
Sempre ao analisar uma taxa tenho que ver se é bilateral, depois se está ou não respeitado o
princípio da proporcionalidade. São essas as duas medidas para proceder à análise de uma
taxa.
Na taxa, a contraprestação é especificamente dirigida “a mim” (na faculdade: cada um faz um
exame, é corrigido individualmente, tem uma nota na pauta individualmente). Há um conjunto
de serviços individualizados.
EX: sempre que obtenho uma licença eu tenho uma contraprestação específica, esta é: a
autoridade remove o obstáculo jurídico e eu pago a taxa para obter uma autorização jurídica.
Art. 165 CRP
(Reserva relativa de competência legislativa)
1. É da exclusiva competência da AR legislar sobe as seguintes matérias, salvo autorização
ao Governo:
Alínea i: Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições
financeiras a favor das entidades públicas.
Quando em Direito Constitucional I, falamos do Estado de Direito, falamos no subprincípio da
legalidade, e aqui falamos da reserva de lei da assembleia da república. Na reserva de lei vimos
que essa pode ser absoluta ou relativa, na relativa que está no art. 165, vimos que à partida é
uma matéria que só a AR pode legislar, mas com autorização, o governo pode legislar, e na alínea
i estabelece que no caso dos impostos, sempre que está em causa a criação de um novo imposto
ou a alteração essencial de um imposto, obrigatoriamente tem que ser feito pela AR ou pelo
Governo através de decreto-lei autorizado, é chamado legalidade fiscal, mas é diferente em
relação as taxas, a criação de uma taxa não necessita de ser feita pela AR ou decreto de lei
autorizado, só a modificação do regime geral das taxas é que precisa, mas quanto à criação não
é preciso, isso significa que as taxas têm vindo a crescer cada vez mais (o que pesa mais hoje
não são os impostos, e sim a tributação com as taxas, porque não estão sujeitas ao principio da
legalidade, como a criação dos impostos está sujeita a AR, veio-se tentar criar rendimentos que
não precisassem passar pela AR, que tivessem essa facilidade).

Se olharmos para o art. 4/2 da LGT:


§ “Prestação concreta de um serviço público”: financiar as prestações divisíveis e
individualizáveis de serviços públicos, desde que a necessidade do serviço tenha sido
gerada pelo sujeito passivo. EX: taxa pela recolha do lixo.
§ “Utilização de um bem do domínio público”: compensar a comunidade por um
uso/aproveitamento individualizado de um bem do domínio público. EX: taxas
municipais de direitos de passagem, ou então o Cartola, por exemplo, é localizado no
meio da praça da república, está a utilizar um domínio público, e por isso deve pagar
uma taxa por essa utilização.
§ “Remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares”: remunerar
um encargo específico ocasionado pela remoção de um obstáculo jurídico. EX: taxa de
publicidade.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 5


Falsas taxas: como a criação das taxas é muito mais simples que a criação do imposto o que
acontece é que tem surgido taxas inconstitucionais, porque não se consegue identificar nas
mesmas o carater da bilateralidade.

Uma diferença muito relevante quanto ao regime constitucional é que o Princípio da legalidade
fiscal só vale para os impostos.
Como saber se é uma taxa ou imposto?
§ Unilateralidade dos impostos e bilateralidade das taxas
§ A medida ou critério do tributo: se for com base na proporcionalidade entre o tributo e
a respetiva contraprestação específica é taxa; se a medida/critério for a capacidade
contributiva (art. 103/1 e 104/1 a 4 da CRP; Art. 4/1 LGT), é imposto.
§ Aplica-se aos impostos o princípio da não retroatividade (art. 103/3 CRP), enquanto as
taxas são norteadas pelo princípio geral da segurança jurídica decorrente do Estado
Democrático de Direito (Art. 2 CRP)
o Quanto à proteção jurídica e segurança, vimos a proibição da retroatividade
(leis que pretendem produzir efeitos para o passado) e um dos casos da
proibição da retroatividade são os impostos retroativos, se há um imposto
criado para o passado, tem uma retroatividade autêntica, é inconstitucional.
Isso vale para os impostos (art. 103), mas não vale para as taxas, elas podem ser
inconstitucionais, mas não por uma inconstitucionalidade expressamente
prevista na constituição, e sim por violação da segurança jurídica e proteção da
confiança. Se eu criar uma suposta taxa, que depois chega-se a conclusão de
que verdadeiramente é um imposto, é inconstitucional.
Para saber se está em causa uma taxa, devemos fazer dois testes:
§ Para averiguar a natureza jurídica do tributo é necessário fazer o teste da bilateralidade
e o da proporcionalidade, uma vez que o tributo pode ser bilateral, mas não haver
proporcionalidade entre a prestação e a contraprestação específica.
§ A desproporcionalidade entre a quantia a pagar e, o benefício (utilidade do serviço) que
retira deverá ser intolerável para que se conclua que foi violado o princípio da
proporcionalidade.
Ou seja, devemos analisar se há ou não bilateralidade (quando é uma falsa taxa, normalmente
é aqui que para), e depois temos que analisar a proporcionalidade entre aquilo que pagamos e
aquilo que recebemos (muito difícil ser considerada inconstitucional por esse princípio, o TC tem
dito que só será inconstitucional quando for um caso flagrante, só se for mesmo intolerável, e é
muito difícil se provar que é intolerável), normalmente se tem que “chumbar”, chumba na
bilateralidade

Caso prático 1
A cobrança de uma taxa municipal pela renovação anual da licença de fixação de painéis
publicitários no domínio privado pode ser verdadeiramente considerada uma taxa ou se,
contrariamente, deverá ser qualificada como um imposto?
R: Quanto à taxa de publicidade não há dúvidas de que é de facto uma taxa. Quando eu quero
fazer uma publicidade tenho que pagar a taxa de publicidade, para conseguir a licença, e não é
só passar um mero papel, o município tem que ver se não é racista, se não viola os bons
costumes, etc.
Os municípios começaram a encontrar nas taxas uma forma de se financiar, e começaram a
cobrar uma taxa de renovação da publicidade, tudo da publicidade era exatamente o mesmo,
mas se eu anualmente quisesse manter aquela publicidade, o município exigia a tal taxa. Isso foi
ao TC, para discutir se era constitucional ou não, porque não havia uma contraprestação
específica, passavam-se licenças para publicidades exatamente iguais as que tinham sido
avaliadas antes.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 6


A doutora susana tavares julgou essa taxa inconstitucional porque não havia uma
contraprestação especifica. Foi ao TC por causa da Pizzahut e o TC disse que não era
inconstitucional porque há uma contraprestação específica, o gozo do espaço público
comunicacional, sempre que estou a utilizar uma publicidade, estou supostamente a utilizar o
espaço público comunicacional (se houver muita criatividade, sempre pode-se encontrar uma
contraprestação, como o TC fez).
Ou seja, a decisão do Tribunal Constitucional no acórdão número 177/2010 diz tratar-se de uma
verdadeira taxa, cuja contrapartida consiste no “gozo do espaço público comunicacional”. A
perspetiva do Doutor Casalta Nabais é de que trata-se verdadeiramente de um imposto, dado
não existir uma contraprestação específica individualizável de fruição de um bem ou serviço de
natureza municipal.
O art. 4/2 da LGT estabelece que “as taxas assentam na prestação concreta de um serviço
público, na utilização de um bem do domínio público ou na remoção de um obstáculo jurídico
ao comportamento dos particulares”. No caso de “remoção de um obstáculo jurídico” (=
licenças), apenas se configurarão como verdadeiras taxas naqueles casos em que o obstáculo
jurídico a remover constitua um obstáculo real, levantado por exigência de um específico
interesse administrativo.
EX: a taxa devida pelo licenciamento de publicidade (é deferente da taxa pela renovação da
licença) já é uma verdadeira taxa, uma vez que o município deve controlar a qualidade da
publicidade e o enquadramento urbanístico da mesma.

Exemplos de taxas:
1) Taxa de publicidade
2) Taxas por infra – estruturas urbanísticas (Acórdão do TC nº 357/99)
3) Propinas universitárias, pagas nas universidades públicas
4) As portagens (a propósito da ponte 25 de abril) (acórdão do TC nº 640/95 – princípio da
proporcionalidade.
5) A taxa de compensação por deficiência de estacionamento
6) Taxa exigida pela recolha do lixo (acórdão do TC 1139/96)
7) Taxa de segurança alimentar mais (acórdão nº 539/2015)

Contribuições Especiais x Contribuições Financeiras

Tributo Estrutura Critério (medida) Princípio da


legalidade
Imposto Unilateral Capacidade Sujeito à reserva
contributiva relativa da
competência da AR
relativamente à
criação e aos
elementos essenciais
(articulação entre o
art. 165/1/i e o art.
103/2 CRP
Taxa Bilateral Proporcionalidade Sujeito à reserva
entre a prestação e a relativa da
contraprestação competência da AR
relativamente ao seu
regime geral
Contribuição Unilateral (art. 4/3 Capacidade Sujeito à reserva
especial LGT) contributiva relativa da

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 7


competência da AR
relativamente à
criação e aos
elementos essenciais
Contribuição Bilateral Proporcionalidade Apenas quanto ao
Financeira entre a prestação e a regime geral
contraprestação

Contribuições Especiais
São consideradas impostos. Podem assentar na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou
aumentos de valor dos seus bens em resultados de obras públicas; ou de criação ou ampliação
de serviços públicos ocasionados pelo exercício de uma atividade (art. 4/3 LGT).
EX:
§ Contribuições por maiores despesas – encargo por deficiência de estacionamento
§ Aumento de valor dos seus bens – contribuição especial devida pelo aumento de valor
dos prédios rústicos e terrenos para construção decorrente da sua situação nas áreas
de intervenção da CRIL, CREL, CRIP, CREP
§ Especial desgaste de bens públicos – “imposto” de camionagem

Contribuições Financeiras
Aqui estamos perante taxas. São cobradas para a cobertura das despesas de pessoas coletivas
públicas não territoriais. Visam, assim, o sustento financeiro dessas entidades. Essas
contribuições financeiras são intituladas de tributos parafiscais. Não são impostos porque não
são uma participação nos gastos gerais da comunidade, mas também não são uma retribuição
de um serviço concretamente prestado por uma entidade pública ao sujeito passivo.
§ Exemplo: taxa de regulação e supervisão que visa financiar a ação quotidiana da
Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Introduzidas pela revisão constitucional de 1997, a categoria tributária das contribuições
financeiras a favor das entidades públicas, são tributos parafiscais que se situam num ponto
intermédio entre a taxa e o imposto.
As contribuições financeiras constituem um tertium genus de receitas fiscais, que poderão ser
qualificadas como taxas coletivas, na medida em que compartilham:
1. Em parte da natureza dos impostos (porque não tem necessariamente uma
contrapartida individualizada para cada contribuinte)
2. Em parte da natureza das taxas (porque visam retribuir o serviço prestado por uma
instituição pública a certo círculo ou certa categoria de pessoas ou entidades que
beneficiam coletivamente de uma atividade administrativa).
As contribuições distinguem-se especialmente das taxas porque não se dirigem à compensação
de prestações efetivamente provocadas ou aproveitadas pelo sujeito passivo, mas à
compensação de prestações que apenas presumivelmente são provocadas ou aproveitadas pelo
sujeito passivo, correspondendo a uma relação de bilateralidade genérica.
§ Preenchem esse requisito as situações em que a prestação poderá beneficiar
potencialmente um grupo homogéneo ou um conjunto diferenciável de destinatários e
aquelas em que a responsabilidade pelo financiamento de uma tarefa administrativa é
imputável a um determinado grupo que mantém alguma proximidade com as
finalidades que através dessa atividade se pretendem atingir.
O art. 165/1/i da CRP estabelece dois regimes de reserva relativa da AR:
§ Um para os impostos, sujeitando-os ao exigente princípio da legalidade fiscal
§ Outro para as taxas e demais contribuições financeiras, traduzido na integração do seu
“regime geral” na reserva relativa da competência legislativa da AR.
§ Significa isto que as contribuições de melhoria e as contribuições financeira não estão
sujeitas em igual medida ao princípio da legalidade.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 8


O Art. 3/2 e 3 LGT – as contribuições financeiras não são ainda objeto de um regime jurídico
próprio, pelo que são equiparadas, em termos do seu regime, às taxas e as contribuições
especiais são consideradas impostos.

Em suma: em relação às contribuições especiais e financeiras, na prática passa-se tudo


exatamente igual aos impostos e às taxas, porque às especiais aplica-se o regime dos impostos
e às financeiras aplicamos o regime das taxas, mas sai muito em questões de comentar (Ex: as
comissões especiais e financeiras não estão sujeitas em mesma medida ao princípio da
legalidade).
Art. 4/3 LGT fala das contribuições especiais (são consideradas impostos), e se são consideradas
impostos, porque não chama tudo impostos? Apesar de se aplicar o regime dos impostos, elas
não são iguais aos impostos, porque enquanto no imposto não há o carater bilateral, é
unilateral, nas contribuições especiais eu não posso falar numa bilateralidade, mas eu pago-a
porque fui beneficiada de alguma forma (enquanto nas taxas, há uma contraprestação
individualizada, não podemos falar nisso nas contribuições especiais, eu tive sorte e fui
beneficiada por alguma coisa que aconteceu). Não é uma taxa, mas também não podemos dizer
que é um imposto.

Momentos da vida do imposto


1º Estabelecimento, criação, instituição ou incidência
1) Facto gerador: facto, atividade ou situação que dá origem ao imposto
2) Sujeitos: ativos e passivos da obrigação do imposto
3) Montante do imposto: definição da matéria coletável, da taxa e das deduções à coleta
4) Benefícios fiscais
EX IRS:
Facto gerador: artigo 1, número 1 e 2 do CIRS e artigos 2 a 12
Sujeitos da obrigação de imposto: art. 13/1
Montante do imposto: art. 68 e 68 – A (taxas); art. 78 e ss (deduções à coleta)
Benefícios fiscais – Estatuto dos benefícios fiscais – art. 2/1

2º Aplicação, efetivação, administração ou gestão


1) Lançamento: identificação do contribuinte, determinação da matéria coletável e da
taxa.
2) Liquidação: determinação da coleta através da aplicação da taxa à matéria coletável, se
for o caso, procede-se ainda a deduções à coleta, para determinar assim o montante de
imposto a pagar.
3) Cobrança/Pagamento: o imposto entra nos cofres do Estado, através do pagamento
espontâneo ou da cobrança coerciva.

Facto tributário – situação de facto que dá origem ao pagamento de imposto

Liquidação (em sentido restrito) – operação matemática que consiste na aplicação da taxa à
matéria coletável (= valor sujeito a tributação) para obter a coleta.

Cobrança – pagamento do imposto (cobrança voluntária) ou execução fiscal (cobrança coerciva)

O Sistema fiscal Português


1. Impostos sobre o rendimento

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 9


o Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) – valor anual dos
rendimentos das categorias do trabalho dependente, empresariais e
profissionais, capitais, prediais, patrimoniais e pensões, auferidos por pessoas
singulares.
o Imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) – valor anual dos lucros
ou do rendimento global líquido das pessoas coletivas, consoante estas exerçam
ou não, respetivamente, a título principal uma atividade comercial, industrial
ou agrícola.
o Imposto especial sobre o jogo – duas parcelas: uma percentagem do capital de
giro inicial e uma percentagem dos lucros brutos das bancas

2. Impostos sobre o património


o Imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT): valor das
transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade ou de figuras
parcelares desse direito, sobre imóveis situados no território português,
qualquer que seja o título por que se operem.
o Imposto municipal sobre imóveis (IMI): valor patrimonial tributário dos prédios
rústicos e urbanos situados no território português.
o Imposto do selo (IS): valor das transmissões gratuitas de bens

3. Impostos sobre o consumo


o Imposto sobre o valor acrescentado (IVA): transmissões de bens e prestações
de serviços efetuadas no território nacional, a título oneroso, por sujeitos
passivos agindo como tal
o Impostos especiais sobre o consumo (IECs)
ü IABA- imposto sobre álcool e bebidas
ü ISP – imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos
ü IT – imposto sobre o tabaco

4. Nova fiscalidade (art. 104 CRP – quadro não exaustivo)


o Imposto sobre veículos (ISV) – atribuição de matrícula portuguesa a certas
classes de veículos com o objetivo de cobrir custos por estes gerados nos
domínios do ambiente, infra – estruturas viárias e sinistralidade rodoviária.
Procura em grande medida dar resposta aos novos desafios da fiscalidade no
campo económico, onerando especialmente a aquisição de veículos mais
poluentes e que desgastam de forma mais intensa as infra – estruturas, não só
no momento da compra (imposto sobre veículos), mas também anualmente,
enquanto se mantiver a titularidade do veiculo (imposto único de circulação).
o Imposto único de circulação (IUC) – propriedade de veículos (atestada pelo
registro nacional) com o objetivo de cobrir custos por estes gerados nos
domínios viário e ambiental.

Coordenadas constitucionais do sistema fiscal português


§ Artigos 103 e 104 da CRP
§ Unicidade e progressividade da tributação do rendimento pessoal x tributação dos
rendimentos de capital a taxas liberatórias (art. 71 CIRS);
Devido à existência de diversas taxas liberatórias (rendimentos de capitais), o IRS está longe de
ser um imposto único. A CRP estabelece, no seu art. 104/1, que o imposto sobre o rendimento
é único. Daí o apuramento da matéria coletável em sede de IRS estar sujeito a englobamento
(art. 22 CIRS), somando-se todos os rendimentos das diversas categorias e do agregado familiar
para tributá-los conjuntamente e à mesma taxa (progressiva).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 10


§ Não obstante, a unicidade e progressividade do IRS são flexibilizadas pela tributação em
separado e proporcional mediante taxas liberatórias e definitivas (retenção na fonte a
título definitivo com substituição tributária total) dos diversos rendimentos previstos no
art. 71, estabelecendo um regime distinto ao aplicável aos demais rendimentos. A opção
pelo englobamento (art. 22 e 71/6) como salvaguarda da constitucionalidade das taxas
liberatórias.
§ A progressividade do imposto é igualmente afetada pela existência de taxas especiais

Tipologia de impostos

Impostos reais e pessoais


Impostos reais Impostos Pessoais
• Não tomam em consideração a • Tomam em consideração, em maior
situação económica e pessoal do ou menor grau, aspetos económicos
contribuinte e sociais dos contribuintes
• Incidem objetivamente sobre a 1) Consideram o rendimento global
matéria tributável dos contribuintes
• EX: IMI, IMT, IVA, IRC 2) Excluem o mínimo de existência
3) Admitem deduções de encargos
sociais de natureza pessoal e
familiar (saúde, ensino, etc)
4) Taxa progressiva
5) Aplicação do quociente familiar
aos contribuintes casados e aos
que vivam em união de facto e
optem por esta modalidade
EX: IRS

Impostos periódicos e impostos de obrigação única


A distinção releva ao nível da determinação da caducidade do direito à liquidação e à prescrição
das dívidas tributárias.
• Periódicos: assentam numa relação jurídica duradoura. A liquidação é efetuada
periodicamente, enquanto se mantiver o pressuposto da tributação. EX: IRC, IRS
• Obrigação Única: correspondem a atos isolados, mesmo quando são repetidos. EX: IVA,
ISP.
Os prazos de prescrição (8 anos), art. 48 LGT e caducidade (4 anos), art. 45 LGT, contam-se:
• Nos impostos periódicos, a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário
• Nos impostos de obrigação única, a partir da data em que o facto tributário ocorreu

Essa distinção é fundamental para:


• Estabelecer o início da contagem do prazo de que a AT dispõe para tornar líquida e
exigível a obrigação de imposto (art. 45/4 da LGT, prazo de caducidade)
o Impostos periódicos: 4 anos a partir do termo do ano em que se verificou o
facto tributário
o Impostos de obrigação única: 4 anos a partir da data em que o facto tributário
ocorreu.
No caso do IVA e nos impostos sobre o rendimento quando haja retenção na
fonte a título definitivo o prazo conta-se a partir do início do ano civil seguinte
àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto ou o facto tributário.
• Estabelecer o início da contagem do prazo de que a AT dispõe para poder promover a
cobrança coerciva das dívidas fiscais (art. 48 da LGT, prazo de prescrição, 8 anos).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 11


Caso prático 2
Em janeiro de 2018 a AT procedeu à cobrança coerciva da dívida de IVA da empresa X, S.A
referente ao ano de 2008.
1 Imagine que os sócios desta empresa o procuram, nessa mesma data, para que os aconselhe
sobre a eventual prescrição dessa dívida. O que lhes diria?
R: Estando em causa uma dívida de IVA referente a 2008, e sendo este imposto de obrigação
única o termo inicial do prazo de prescrição (de 8 anos) conta-se, por via da alteração que o art.
40 da Lei nº 55-B/2004 introduziu no nº 1 do art. 48 da LGT, a partir do ano civil seguinte àquele
em que se verificou a exigibilidade do imposto, ou seja, a partir de 01/01/2009.
Logo, em 01/01/2017 a AT deixa de poder promover a cobrança coerciva das dívidas fiscais.

2 Como classifica o IVA, tendo em conta a tipologia dos impostos?


R: É um imposto indireto, de acordo com o critério económico da repercussão económica e o
critério jurídico da relação jurídica base do imposto ou da fonte da obrigação do imposto. É um
imposto de obrigação única, real, e de quota variável, taxa fixa.

Em suma: os impostos de obrigação única são aqueles em que a obrigação do imposto constitui-
se instantaneamente (por um facto ou ato isolado no tempo ou por factos ou atos sem
continuidade entre si).
Os impostos periódicos, por sua vez, são aqueles em que a relação jurídica fonte da obrigação
de imposto tem em sua base situações estáveis, que se prolongam no tempo, dando origem,
por conseguinte, a obrigações periódicas, que se renovam todos os anos. Assim, incidem ao
longo do tempo sobre uma mesma situação jurídica, somente se estabilizando o período da
tributação ao fim do período fiscal (ex: no IRS, no ano civil), já que o facto tributário é de
formação sucessiva.
A utilidade prática da distinção decorre da configuração do elemento temporal do facto
tributário: os impostos duradouros (ou periódicos), por terem na base do facto tributário um
elemento temporal que tende a manter-se, colocam o problema do fracionamento jurídico
desse facto (diferença entre ato e facto tributário), ou seja, o problema do período do imposto
(que, em geral, coincide com o ano civil).
Daí que, para os impostos de obrigação única, o termo a quo da contagem dos prazos de
caducidade da liquidação e prescrição da obrigação de imposto dá-se na data em que o facto
tributário foi praticado, à exceção do IVA, enquanto, para os impostos periódicos, tal contagem
inicia-se a partir do término do ano em que se verificou o facto tributário (art. 45/4 e 48/1 LGT,
respetivamente), ressalvando-se os casos de retenção na fonte a titulo definitivo.
A diferença reflete-se também na aferição da natureza e limites da retroatividade das leis
fiscais (se autêntica ou inautêntica, se proibida pelo art. 103/3 da CRP ou apreciável com base
em parâmetros mais flexíveis, à luz de uma ponderação entre o princípio da segurança
jurídica/confiança legitima e o interesse público de arrecadação).
Isto porque, nos casos em que o facto tributário que a lei nova pretende regular já se tenha
formado totalmente, então estará em causa a proibição constitucional da retroatividade
(autêntica), o que, nos impostos de obrigação única, não coloca maiores problemas.
Já em casos que o facto tributário ainda esteja em formação (para os impostos periódicos) e
advenha uma nova lei, se configura uma retroatividade de natureza inautêntica ou, até, para
alguns autores, uma retrospectividade.
Para este efeito, o TC analisando a constitucionalidade de leis que modificaram a taxa do IRS ao
longo do ano fiscal, já decidiu (ex: Acórdãos 399/2010 e 18/2011) que “é possível, no que diz
respeito aos impostos periódicos, a aprovação de leis no decurso do período de tributação que
se destinem a produzir efeitos em relação a todo esse período, ficando, no entanto, tais leis
sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado de Direito, como seja o teste da proteção
da confiança (e não, assim, à expressa vedação de retroatividade do art. 103/3 CRP)”-

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 12


Impostos direitos e indiretos
Existem dois critérios para fazer a distinção, o critério da relação jurídica base de imposto e o
critério da repercussão económica.
1) Classificação em relação a critérios econômicos
§ Critério da repercussão económica
Valor desses impostos é ou não repercutido no adquirente final de bens e
serviços?
Impostos indiretos: aquele em que o suportador económico do imposto não se
identifica com o sujeito passivo do mesmo, estando a repercussão económica
legalmente prevista. EX: IVA, IEC, IS
Impostos diretos: IRS, IRC, IMT e IMI

Como funciona o IVA?

Repercussão Económica do Imposto


É uma técnica utilizada sobretudo nos impostos sobre o consumo, em que a capacidade
contributiva que se pretende tributar é a dos consumidores finais dos produtos e serviços
existentes/prestados no mercado. O desfalque patrimonial do imposto devido ocorre, portanto,
na sua esfera, através do fenómeno económico da repercussão do imposto, isto é, o valor final
dos produtos e serviços negociados no mercado reflete na esfera patrimonial do consumidor o
montante do imposto incidente sobre aquele bem/operação.

2) Classificação em função de critérios jurídicos


§ Critério da relação jurídica base do imposto ou da fonte da obrigação do imposto
O critério de distinção reside no tipo de relação jurídica fonte da obrigação do
imposto (art. 736/2 CC).
Imposto indireto: aquele que tem por base um facto ou ato isolado. Coincidem
com os impostos de obrigação única. EX: IVA, ISP, IA
Imposto direto: incide sobre relações jurídicas duradouras, impondo uma
renovação periódica da obrigação do imposto. Coincidem com os impostos
periódicos. Ex. IRS, IRC

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 13


Impostos de quota fixa e impostos de quota variável
Aqui relaciona-se com o facto de haver variação ou não do imposto em função da matéria
coletável.
Impostos de quota fixa: a própria lei indica a importância fixa a pagar, dispensando as operações
de liquidação. Ou seja, o valor a pagar está diretamente previsto na lei.
Impostos de quota variável: são aquele em que o montante do imposto varia consoante o valor
da matéria coletável, sendo determinado a partir da aplicação de uma taxa. São a maior parte
dos impostos, a lei não nos diz diretamente o montante a pagar, o que faz é uma determinação
a partir da aplicação de uma taxa. Dentro dos impostos de quota variável temos ainda os de taxa
fixa ou de taxa variável (obs: não confundir taxa com quota)
§ Impostos de quota variável de taxa fixa: A taxa mantém-se inalterada
independentemente do valor da matéria coletável. Também denominados
impostos proporcionais (ou seja, é sempre a mesma taxa, o IRC, por exemplo,
não importa de a empresa teve um lucro maior ou menor). EX: IRC (art.87), IMI,
IVA
§ Impostos de quota variável de taxa variável: a taxa aumenta ou diminui
consoante aumente ou diminua a matéria coletável.
o Impostos progressivos: a taxa aumenta à medida que aumenta a
matéria coletável. EX: IRS
ü Progressividade global: a matéria coletável é dividida em
classes, partindo do zero ou do mínimo de isenção, fazendo-se
depois corresponder uma taxa (que aumenta gradualmente) a
cada classe de matéria coletável, taxa que se aplica à totalidade
da matéria coletável. Ou seja, aqui aplica-se uma única taxa a
todo o escalão. EX: IUC
ü Progressividade por escalões: a matéria coletável é igualmente
dividida em várias partes, sendo cada uma delas tributada à
taxa correspondente. Ou seja, diferente da progressividade
global, aqui, em cada parte da matéria coletável aplica-se uma
taxa específica.
o Impostos regressivos: a taxa diminui à medida que aumenta a matéria
coletável.
Em Portugal não há nenhum imposto regressivo (embora alguns
autores digam que o IVA é um imposto regressivo, porque
verdadeiramente, quanto mais rendimento eu tenho, continuo a pagar
a mesma coisa, o preço para mim é igual o de outra pessoa).

Rendimento acréscimo e rendimento produto


O conceito de rendimento – acréscimo substituiu o conceito de rendimento – produto. De
acordo com este último, o rendimento para efeitos de tributação traduz-se no resultado obtido
a partir da participação numa atividade produtiva, conceito que acabou por se tornar
imperativo perante a divulgação dos rendimentos de capitais (art. 5 CIRS). Ou seja, só seria
considerado rendimento o rendimento que deriva de uma atividade produtiva, como o salário.
Mas compreendeu-se rapidamente que haviam rendimentos para além destes.
Surgiu, assim, o conceito de rendimento – acréscimo para englobar todas as manifestações de
incremento líquido do património de um sujeito, que pode ser gasto sem diminuição do
património inicial.

Caso prático
António, promotor de vendas de uma empresa de peixe congelado, recebeu da entidade
patronal, no ano de 2018, para além do salário o direito a utilizar a viatura de serviço para
férias e outras deslocações pessoais. Partindo do conceito de rendimento para efeitos de

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 14


tributação, indique se aquele direito deve ser considerado rendimento para efeitos da
declaração anual a apresentar nos serviços de finanças e porquê.
R: No caso, a utilização da viatura de serviço para fins pessoais consubstancia um acréscimo de
rendimento, na medida em que “liberta” o António de ter que adquirir uma viatura própria para
essa finalidade ou de suportar outros custos com transportes no domínio da sua atividade
pessoal e não profissional, pois esses custos são suportados pela entidade patronal, e aqui
verificamos o acréscimo de rendimento.
Como indício de que o raciocínio anterior está correto, podemos referir que o art. 2/1/9 do CIRS
integra no âmbito dos rendimentos do trabalho dependente (categoria A) os resultantes da
utilização pessoal pelo trabalhador de viatura automóvel que gere encargos para a entidade
patronal, quando exista acordo escrito entre o trabalhador e a entidade patronal sobre a
imputação àquele da referida viatura automóvel.

Princípios Jurídico – constitucionais da tributação

Universalidade

Igualdade

Materiais Justiça

Progressividade

Princípios
Capacidade
Econômica

Formais Legalidade

Princípio da legalidade fiscal


Tem uma função de garantia (art. 103/3) e está ligado ao princípio democrático.
§ Vertente formal: divisão vertical dos poderes tributários (entre AR, Governo, Regiões
Autónomas e Autarquias Locais, art. 165/1/i CRP).
§ Vertente Material: Princípio da tipicidade fiscal (art. 103/2 CRP)
No taxation without representation: os impostos só poderão ser cobrados quando forem
consentidos por aqueles que os têm de suportar, através das assembleias representativas (auto
– tributação), ou seja, só somos obrigados a pagar os impostos se consentirmos.
§ Direito de resistência fiscal: art. 103/3 CRP, ninguém é obrigado a pagar impostos que
não sejam criados de acordo com a constituição.
Podemos falar de uma legalidade fiscal no âmbito formal ou material.
§ Âmbito formal: garantia da vontade popular, há para isso, uma divisão do poder
tributário, repartição dos poderes tributários entre a AR, Governos e as regiões
autônomas e autarquias locais. Releva aqui para saber quem pode criar impostos e
alterar os elementos essenciais (art. 103/2 expõe-nos os elementos essenciais). OBS:
significa que se sair num caso pratico que o governo através de decreto-lei aumentou o
IVA (não ta a criar um imposto novo, mas está a alterar um elemento essencial), não
pode ser feito pelo governo, deve ser pela AR ou um decreto de lei autorizado, não pode
ser um DL simples.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 15


§ Âmbito material: exigências de densificação da lei fiscal no que respeita aos elementos
essenciais dos impostos. Também damos o nome de Princípio da Tipicidade.
Vertente Formal do Princípio da Legalidade Fiscal
Integra na reserva relativa de competência legislativa da AR a matéria de criação de impostos e
sistema fiscal. Art. 103/2 (primeira parte) e 165/1/i CRP.
Tratando-se de uma reserva relativa, admite que o exercício do poder legislativo possa caber ao
Governo.
§ É necessário que seja aprovada uma lei de autorização legislativa, cujo conteúdo mínimo
(determinação do objeto, do sentido, da extensão e da duração da autorização
legislativa) há de incluir, de acordo com a regra geral do art. 165/2 CRP uma indicação
sumária quanto aos elementos essenciais dos impostos.
Intervenção da AR: na criação e modelação dos elementos essenciais dos impostos e também
para a extinção ou desagravamento do imposto (dimensão democrática).

O princípio da legalidade fiscal vale para a criação dos impostos e a alteração dos elementos
essenciais, mas, além desses elementos, temos ainda 2 elementos não essenciais, a liquidação
e a cobrança.
Quanto aos elementos não essenciais dos impostos, onde se inserem os elementos dos
impostos referentes à liquidação e à cobrança dispõe o art. 103/3 CRP que os mesmos têm de
ser feitos nos termos da lei. Contudo, não se encontram sujeitos à reserva de lei parlamentar
(art. 103/2 e 165/1/i CRP), mas a reserva de diploma legislativo, isto é, aos atos legislativos
previstos no número 1 do art. 112 CRP.
Cobrança: momento em que se o contribuinte não pagar voluntariamente, vai começar uma
cobrança coercitiva.

A atividade da administração fiscal (gestão e administração do imposto, que corresponde à


liquidação em sentido amplo) rege-se pelo princípio da legalidade administrativa o que significa
que carece sempre de lei prévia (princípio da precedência, preferência e prevalência da lei).
Art. 6 CRP: Portugal é politicamente um Estado Unitário com regiões autônomas, mas, com
níveis de autonomia.
§ Autonomia regional, que é de natureza político – administrativa (art. 225 CRP)
§ Autonomia do poder local, que é de natureza administrativa (art. 237 CRP)
Quais são os poderes tributários que a constituição e a lei conferem a cada uma destas entidades
de modo a garantir que estas obtenham as receitas necessárias à prossecução das suas
atribuições?
Poder tributário ou poder de instituir os impostos: poder de criar impostos e definir os
elementos essenciais dos impostos. É um poder derivado, quando é exercido por via
regulamentar, nos termos da lei, por entidades não soberanas, como as autarquias locais.

Os poderes tributários das regiões autônomas


Art. 227/1/i e J, CRP.
Intervenção do legislador nacional – Lei das finanças das regiões autônomas e estatuto político
– administrativo das RA:
a) Poder de instituir impostos regionais (art. 57 LFRA)
b) Poder de adaptar o sistema fiscal às especificidades regionais (art. 56/2/b e 59 LFRA)
c) Direito às receitas fiscais cobradas ou geradas nas regiões autônomas
Artigos: 57, 56/2/b, e 59
Caso prático
Ana (proprietária de um prédio urbano), notificada pela direção geral de impostos para
proceder ao pagamento do Imposto Municipal sobre imóveis, considera que a taxa aplicável
(de 0,4%) não podia ter sido fixada mediante deliberação da Assembleia Municipal de
Coimbra, como efetivamente aconteceu e resolveu pedir esclarecimento à DGI que a informa

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 16


prontamente que “está tudo previsto na lei, no número 5 do art. 112 do Código do Imposto
Municipal sobre imóveis”.
Ana resolve pedir a sua opinião fundamentada, pretendendo saber se essa norma legal
respeita os princípios constitucionais fiscais aplicáveis.
R: podem exercer por via regulamentar (na dependência da lei) alguns poderes tributários
próprios (art. 238/4 CRP). São os municípios, mediante deliberação da assembleia municipal,
que fixam a taxa de IMI a aplicar e cada ano, dentro dos intervalos previstos na alínea C do nº 1
do art. 112 do CIMI, podendo esta ser fixada por freguesia (nº 5, art. 112). Aplicam-se a nível
nacionais para prédios rústicos 0,8% e para prédios urbanos 0,3% a 0,45%. Nos prédios mistos,
aplicar-se-á ao valor patrimonial tributário de cada parte, a respectiva taxa. Os municípios,
mediante deliberação da assembleia municipal, podem majorar ou reduzir as taxas gerais, em
determinadas situações previstas no artigo 112 do CIMI (ex: operações de reabilitação)
baseando-se em tabelas e valores fixados.

Poderes tributários das autarquias locais


Art. 238/4 e 254/1 CRP.
Intervenção do legislador nacional – lei das finanças locais (LFL):
a) Poderes tributários propriamente ditos (art. 16 – isenções e benefícios fiscais, art. 18 –
derrama, art. 25 – repartição de recursos públicos entre o Estado e os municípios e art.
26 – participação variável no IRS, LFL)
b) Direito às receitas (art. 14 LFL) – IMI, IMT e parcela do IUC
Artigos: 16, 25, 26 e 14
As autarquias locais não dispõem de poder legislativo, mas, podem exercer por via regulamentar
(na dependência da lei) alguns poderes tributários próprios (art. 238/4 CRP).

Caso Prático
Suponha que a AR aprovou, no passado mês de janeiro, um pacote de medidas de reação à
crise que atinge as finanças públicas. Entre as várias medidas aprovadas conta-se a criação de
um imposto extraordinário incidente sobre o rendimento. Nada dispôs, no entanto, quanto à
liquidação e cobrança deste imposto.
Poderá o governo disciplinar estes aspectos? Em caso afirmativo, em que termos?
R: O principio da legalidade fiscal vale para a criação dos impostos e alteração dos elementos
essenciais (art. 103/3), mas se olharmos para o (103/3/parte final – resistência fiscal) além
daqueles elementos essenciais, temos ainda dois elementos não essenciais dos impostos, a
liquidação e a cobrança. A cobrança traduz-se no momento em que se o contribuinte não pagar
voluntariamente, vai começar uma cobrança coercitiva. Sendo elementos não essenciais não
estão sujeitos ao princípio da legalidade fiscal,
Então sim, o governo pode disciplinar estes aspetos, e não precisa ser através de decreto-lei
autorizado, porque a liquidação e a cobrança não estão sujeitos à lei da AR ou decreto lei de
autorização. Tem que estar sujeito a ato legislativo, art. 112/1, lei, decreto-lei ou decreto
legislativo regional (não pode ser legislado através de um decreto regulamentar).
Estão sujeitos ao princípio da precedência da lei, a atividade da administração de gestão e
administração da atividade fiscal (a liquidação e a cobrança) está sujeita ao princípio da
legalidade administrativa (que não é a mesma coisa que o princípio da legalidade fiscal. Ou seja,
precedência, preferência e prevalência da lei).
Caso Prático
Suponha que, no dia 1 de Março deste ano, o Governo aprova em Conselho de Ministros um
Decreto Regulamentar, onde se dispõe:
“Os artigos 13º/1, e 15º/1 do Código do IRS, passam a ter a seguinte redação:
Artigo 13º/1: Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares de nacionalidade portuguesa, as
pessoas singulares que residam em território português e as que, nele não residindo, aqui
obtenham rendimentos.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 17


Artigo 15º/1: Sendo as pessoas de nacionalidade portuguesa ou residentes em território
português, o IRS incide sobre a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora
desse território”.
Aprecie o referido Decreto Regulamentar à luz da constituição fiscal
R: Há aqui a alteração de um elemento essencial do imposto, temos que ir ver ao IRS o que diz
o art. 13 e ao 15, e ver se a redação alterou alguma coisa ou não.
A alteração dos impostos está incluída no art. 165/i, qualquer um dos elementos essenciais que
se altere tem que alterar com uma lei da AR ou um decreto-lei autorizado.
Há aqui uma violação do princípio da legalidade fiscal, na sua dimensão de reserva de lei formal,
esse princípio, previsto no art. 165/1/i, não vale apenas para a “criação” propriamente dita, mas
também para a definição de todos os elementos essenciais dos impostos.
Apenas a AR diretamente ou o Governo através de decreto-lei autorizado, ou seja, na sequência
de autorização legislativa da AR, podem legislar em matéria de criação e definição dos
elementos essenciais, entre os quais se inclui a incidência, taxa do imposto, os benefícios ficais
e as garantias dos contribuintes (articulação entre o art. 165/1/i e o art. 103/2 CRP).
Essa autorização legislativa da AR ao governo tem que incluir no seu conteúdo mínimo uma
indicação quanto aos elementos essenciais dos impostos.
No caso acima, foi feito através de um “decreto regulamentar”, ou seja, não foi uma lei, nem
um decreto-lei autorizado, sendo assim, há uma inconstitucionalidade orgânica.

Impostos estaduais e impostos não estaduais


Diz respeito à titularidade da relação jurídica fiscal. Nem toda a receita dos impostos é destinada
aos cofres gerais do Estado.

Impostos comunitários (pauta aduaneira


comum/relações comerciais entre EM e
países terceiros) e internacionais (contratos
para exploração comercial de recursos
naturais provenientes dos fundos marinhos Atende-se à titularidade da
celebrados com a Autoridade Internacional receita do imposto, não se
dos Fundos Marinhos) esquecendo, contudo, que a
aplicação das regras de
lançamento, liquidação e
Impostos regionais e municipais (IMT, cobrança destes impostos são
IMI, Imposto sobre veículos, ...) alheias à vontade das
autarquias. Daí alguns autores
falarem de impostos estaduais
Impostos Estaduais de receita consignada aos
municípios

Vertente material do Princípio da Legalidade Fiscal


O Princípio da tipicidade da lei fiscal ou Princípio da legalidade fiscal na vertente material diz-
nos que a lei fiscal tem que ser suficientemente densa e precisa quanto aos elementos essenciais
dos impostos. Art. 103/2/2ª parte CRP (a incidência, a taxa ou alíquota do imposto, os benefícios
fiscais, as garantias dos contribuintes).
§ Muitas vezes na lei fiscal não se utiliza conceitos precisos, utilizam-se conceitos
indeterminados para que ela consiga combater a fuga e evasão fiscal.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 18


A lei fiscal tem que ser o mais densa e precisa possível, não pode haver à partida
margens para dúvida, duplas interpretações, contudo, o princípio da tipicidade fiscal
não pode ser levado muito a peito, temos aqui um problema, quanto mais tipicidade
temos, menos discricionariedade existe, mais segurança o contribuinte tem
(exatamente porque tira a discricionariedade a administração tributária), mas tem
menos eficiência no combate à fraude e evasão fiscal.
E quanto menos tipicidade houver, há mais discricionariedade, menos segurança para
os contribuintes, contudo, permite uma maior eficiência e um combate mais eficaz
contra à fraude e evasão fiscal.

Tipicidade

Menos tipicidade Mais tipicidade

Mais Menos
discricionariedade discricionariedade

Menos segurança Mais segurança


para os para os
contribuintes e contribuintes e
mais eficiência no menos eficiência no
combate à fraude combate à fraude e
e evasão fiscais evasão fiscais

Desafios ao Princípio da tipicidade da lei fiscal


§ Garantia da clareza e determinabilidade das leis vs. Complexidade atual da atividade
económica e promoção da luta contra a fraude, evasão fiscal e elisão fiscal abusiva
§ Normas de “hipótese legal fechada” / normas de “hipótese legal aberta” (ex: art. 38/2
LGT, foge muito do princípio da tipicidade fiscal).
§ Possibilidade de utilização pelo legislador de conceitos indeterminados como meio de
atribuição de poderes discricionários à AT (completáveis através de instrumentos típicos
do poder regulamentar – ex: circulares e ofícios circulados, para assegurar a unidade
das decisões).
§ Atribuição de poderes discricionários típicos à AT, conferindo-lhe uma margem de livre
apreciação que o juiz deve respeitar (EX: art. 29/4 CIRS).

Caso Prático
Abel tem uma empresa em nome individual que atua no ramo da comercialização de águas
minerais. Suponha que Abel transferiu para o seu património particular uma viatura afeta à
sua atividade empresarial, atribuindo-lhe o valor de 5.000€. Ao abrigo do disposto no nº 4 do
artigo 29 do CIRS, a Administração Fiscal corrigiu esse valor, fixando-o em 7500€.
Aprecie o preceito à luz do princípio da tipicidade fiscal.
Tópicos a mencionar: O princípio da tipicidade fiscal (artigo 103/2 CRP) enquanto dimensão
material do princípio da legalidade fiscal – os elementos essenciais dos impostos (incidência,
taxa, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes); exigência de densidade das normas

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 19


jurídicas fiscais que versem sobre os elementos essenciais dos impostos e a correspondente
limitação da discricionariedade administrativa (margem de livre apreciação/conceitos
indeterminados); a atual compreensão da determinabilidade das normas jurídicas fiscais em
razão de interesses públicos relevantes, como os da luta contra a fraude, a evasão e elisão
fiscais; aplicação ao caso concreto: conceitos indeterminados (“valor de mercado”, “pessoas
independentes”), dá margem de livre apreciação (“pode ser objeto de correção”).

Aplicação da lei fiscal no tempo


Princípio da Segurança Jurídica e proteção da confiança
É importante perceber quando serão aplicadas as leis fiscais. EX: uma lei sai hoje, sobre o IRS,
saber se já se pode aplicar amanhã ou se só vai ser aplicada no próximo ano fiscal.
1) Proibição constitucional de impostos retroativos
O art. 103/3 da CRP consagra a proibição constitucional dos impostos retroativos. A
referência autónoma aos impostos retroativos demonstra que estes constituem uma
violação gravíssima ao Princípio do Estado de Direito, nomeadamente, aos subprincípios
concretizadores da segurança e da proteção da confiança.
Quando um imposto tem natureza retroativa?
Quando se reporta a factos tributários já ocorridos. Estamos perante situações da vida
que já ocorreram e que a norma legal posterior vem tributar, sem que antes estivessem
sujeitas a tributação, ou quando a norma vem agravar a respetiva tributação. Ou seja, a
lei que altera ou cria o novo imposto, não se pode aplicar a situações esgotadas do
passado, ocorre quando uma lei pretende produzir efeitos para o passado.
Podemos falar de diferentes graus de retroatividade (ac. TC 399/2010):
§ Retroatividade inautêntica: a nova lei visa aplicar-se a factos tributários ocorridos ao
abrigo de uma lei anterior, mas que a liquidação e a cobrança ainda não ocorreram
quando a lei nasce. Ou seja, factos tributários ocorridos ao abrigo da lei antiga, mas em
que a sua liquidação e cobrança ocorrem após a entrada em vigor da lei nova.
§ Retroatividade autêntica: sempre que há um facto tributário já ocorrido, uma situação
esgotada no passado, é proibida pela constituição. Para existir a retroatividade
autêntica, tem que existir sempre uma situação que está completamente vencida não
passado. Ou seja, uma lei nova visa ser aplicada à factos tributários passados em que
todos os seus efeitos tenham sido produzidos ao abrigo da lei antiga e que estejam
totalmente consolidados. É inconstitucional por violação do art. 103/3.
§ Retrospetividade: situações em que a nova lei pretende se aplicar a fatos que ainda
estão a formar-se, em parte já se formaram no âmbito da lei antiga, e parte vão se
formar na nova lei. Ou seja, factos tributários que continuam a formar-se na vigência
dessa lei nova, não tendo ocorrido totalmente ao abrigo da lei antiga.

Casos específicos a ter em conta:


§ Impostos de obrigação única: o imposto é retroativo sempre que abrange factos
tributários que já ocorreram previamente.
§ Impostos com liquidações agregadas (EX: IVA): por motivos de praticabilidade, ocorre a
liquidação agregada de um conjunto de factos tributários.
o E se a alteração legislativa ocorrer durante esse período? Só poderá
incidir sobre factos tributários futuros.
o E se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do
período de tributação (separação entre factos prévios e posteriores)? O
agravamento fiscal apenas poderá ser aplicado ao período tributário
seguinte, em que todos os factos tributários sujeitos a agregação
tenham tido lugar depois da entrada em vigor da norma fiscal que
agrava a tributação.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 20


Caso de retroatividade inautêntica – estamos assim no domínio do
princípio da proteção da confiança legítima e já não da proibição
constitucional de retroatividade do imposto.
§ Impostos periódicos: sendo o facto tributário continuo, se o agravamento fiscal ocorrer
durante o ano fiscal (correspondente ao período de formação do imposto), apenas deve,
recomendavelmente, ser aplicado ao período decorrido a partir da sua entrada em
vigor.
o Mas e se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do
período de tributação? Retrospetividade – a admissibilidade constitucional do
agravamento fiscal deverá ser analisada em função do princípio da proteção da
confiança legítima, porque o facto tributário ainda não se esgotou, logo não
se aplica a proibição do art. 103/3 da CRP.

Art. 103/3 CRP - proibição constitucional


de impostos retroativos

Não se aplica a situações de mera Aplica-se, apenas,à situações de


retrospectividade, nem de retroatividade retroatividade autêntica
inautêntica

Princípio da proteção da confiança em matéria de lei fiscal retroativa

Não se esgota na proibição de impostos retroativos (art.103/3 CRP)

Aplica-se, também, às situações de retroatividade inautêntica (aqui com especial intensidade)

A alteração legislativa tem lugar depois de esgotado o facto tributário, mas antes de
efetuada a sua liquidação e cobrança

E às situações de lei fiscal retrospectiva

situações em que o facto tributário ainda não completou a sua formação

Em 1997 a não retroatividade dos impostos passou a ser expressamente acolhida na CRP (art.
103/3). No entanto, o relevo do Princípio da Segurança Jurídica na análise da questão da
legitimidade constitucional dos impostos não se limita à proibição de retroatividade. Resultante
da ideia de Estado Democrático de Direito, o Princípio da segurança jurídica relaciona-se com a
necessidade de assegurar estabilidade às relações jurídicas, inclusive as fiscais, dirigindo-se
essencialmente ao legislador não só no âmbito da vedação da retroatividade, como também
ao nível da livre revogabilidade e alterabilidade de leis fiscais favoráveis, em especial das que
se referem a benefícios fiscais.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 21


Ainda impõe a necessidade de tutela da confiança dos contribuintes, dirigindo-se igualmente
aos aplicadores do direito.
O princípio opera como critério de ponderação em situações de retroatividade imprópria ou
inautêntica, à luz do interesse público na obtenção de receitas fiscais.
Sobre o ponto, relevante é a jurisprudência do Tribunal Constitucional, os acórdãos 128/2009,
399/2010 e 18/2011.
Logo, o âmbito de incidência e de aplicação do princípio da segurança jurídica é mais amplo que
a proibição de retroatividade dos impostos, ainda guardando importante relevo na análise da
questão da legitimidade constitucional dos impostos a despeito da previsão constitucional
expressa de não retroatividade.
OBS: O art. 103/3 nem sempre existiu, foi criado por uma revisão constitucional, é uma
especificação do princípio do estado de direito, e dentro deste principio temos o subprincípio
da segurança jurídica e proteção da confiança. O art. 103/3 não é nem mais nem menos que
uma especificação jurídica do princípio da proteção da confiança. Para os impostos retroativos
autênticos, já sabemos que são inconstitucionais por força do art. 103/3, Sempre que há um
facto tributário já ocorrido, uma situação já esgotada no passado, temos uma situação proibida
pela constituição.
Contudo, há situações em que não se sabe se são inconstitucionais, nesse caso, podem ser
inconstitucionais se violarem o princípio da segurança jurídica e proteção da confiança.

Quando a retroatividade da lei fiscal não interfere com os elementos essenciais dos impostos,
aplica-se o Princípio da Proteção da Confiança, não onera a tributação de factos tributários
passados ou que se iniciarem em momento passado e ainda decorrem, mas, revela-se prejudicial
para os sujeitos passivos, por lhes impor novos encargos com os quais estes legitimamente não
contavam, há violação das expectativas legitimas.

Para os casos de retroatividade inautêntica e retrospectividade:


Ponderação à luz do princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança.
2 condições:
1. A afetação de expectativas será intolerável quando constitua uma alteração da ordem
jurídica “surpreendente”, com a qual não se podia razoavelmente contar
2. Não existir necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses protegidos pela
Constituição e que devam ter-se por prevalecentes: ponderação à luz do princípio da
proporcionalidade.
Teste 1: Existência de comportamentos idóneos à criação das expectativas
Teste 2: Legitimidade das expectativas, devem funda-se em razões atendíveis e justificadas
Teste 3: Intensidade das expectativas na planificação dos comportamentos
Teste 4: Inexistência da necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionais prevalecentes.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 22


nº1 - proibição de impostos
retroativos

nº 2 - factos tributários de formação sucessiva, a lei


nova só se aplica ao período decorrido a partir da
sua entrada em vigor

Art. 12 da nº3 - as normas sobre procedimento e processo


LGT são de aplicação imediata, desde que a alteração
não viole o princípio da proteção da confiança

nº4 - a aplicação imediata do nº3 não tem lugar


quando a norma em causa modifique as regras de
incidência, sendo capaz de originar um
agravamento da tributação, em desrespeito com a
proibição do art. 103/3 CRP

Caso Prático
Em março de 2018, o Governo aprovou um decreto – lei autorizado contendo algumas
medidas extraordinárias para fazer face ao descontrole na execução orçamental em curso:
i) Aumento de 3,5% para 5% da sobretaxa extraordinária prevista no artigo 72º-A
do CIRS, incidente sobre os rendimentos auferido pelos sujeitos passivos durante
o ano fiscal de 2017
ii) Imagine agora que aquele aumento incide sobre os rendimentos auferidos pelos
sujeitos passivos em 2018
Quid iuris?
R: Na alínea i) estamos perante um imposto retroativo, reporta-se a factos tributários já
ocorridos. Estamos perante situações da vida que já ocorreram e que a norma legal posterior
vem agravar a respetiva tributação. A proibição constitucional expressa no art. 103/3 CRP
apenas se refere a estas situações. Na alínea ii) o imposto não é retroativo, logo, não se aplica a
proibição constitucional do art. 103/3. Estamos perante uma situação de retroatividade
inautêntica (para alguns autores retrospectividade) – situação em que o facto tributário ainda
não completou a sua formação. Necessidade de ponderar a alteração no âmbito do princípio da
segurança jurídica e da proteção da confiança (os testes das “expectativas” e do princípio da
proporcionalidade”).

Tributações Autónomas de Despesas -Art. 73 CIRS e 88 CIRC


São despesas que concorrem para a formação do lucro tributável, mas são também tributadas
autonomamente (ex: despesas de representação; ajudas de custo).
Nestes casos como há deferimento temporal da liquidação e do pagamento do imposto, que
apenas ocorrem no fim do ano, conjuntamente com a liquidação e cobrança dos rendimentos
apurados em sede de IRS ou IRC, é sempre devido o imposto, mesmo que o sujeito passivo venha
a obter rendimentos no fim do período tributário ou a apresentar prejuízos.
Ou seja, as tributações autónomas têm uma lógica muito específica, de tributar despesas ao
invés de tributar rendimentos. Ocorre a tributação em um momento, mas o pagamento é
deferido no tempo, não depende dos rendimentos que vão ter no final do ano, no momento em
que se faz a despesa que se é tributado, a liquidação e a cobrança é que serão feitos no final do
ano (esse tipo de tributação levanta problema quando se trata da alteração de taxas. A pessoa
é tributada, entretanto, quando a lei altera, ainda não foi feito o pagamento do imposto, este
ainda não foi liquidado).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 23


Esse tipo de tributação visa tributar um conjunto de realidades que nada têm a ver com o lucro
real das empresas. São despesas que concorrem pra a formação do lucro tributável, mas são
também elas tributadas autonomamente.
Há a sujeição de várias despesas a tributação autónoma em IRS e IRC, embora com a consciência
de que não se trata propriamente de IRS e IRC (visam tributar o rendimento e não despesas
efetuadas), mas da substituição de uma tributação de rendimentos “implícitos” de pessoas
singulares, que se considera inatingível de forma direta.
O facto tributário que dá origem ao imposto, é instantâneo: esgota-se no ato de realização de
determinada despesa que está sujeita a tributação (embora, o apuramento do montante de
imposto, resultante da aplicação das diversas taxas de tributação aos diversos atos de realização
de despesa considerados, se venha a efetuar no fim de um determinado período tributário).
Mas o facto de a liquidação do imposto se efetuada no fim de um determinado período não
transforma o mesmo num imposto periódico, de formação sucessiva ou de caráter duradouro.

Recapitulando:
A retroatividade só tem importância se houver agravamento da tributação, ou um
acontecimento da vida que não era tributada e passa a ser. Se for para a diminuição da
tributação dos contribuintes não há mal. Só é proibida se visa piorar a situação.
Não há uma proibição direta na constituição da retroatividade inautêntica nem da
retrospetividade. E nessas situações? não há inconstitucionalidade? Pode haver
inconstitucionalidade, desde que viole o princípio da segurança jurídica e da proteção da
confiança.
Ou seja, existem diferentes graus de retroatividade:
Retroatividade autêntica: proibida pelo art. 103/3 CRP, a menos que o regime a aplicar seja
mais favorável.
Retroatividade inautêntica: uma lei nova que se vai aplicar a um facto jurídico passado já
consumado, mas cuja liquidação e cobrança ainda não foram realizadas. Ex: tributação
autónoma (despesas tributadas autonomamente do IRC e do IRS);
A retrospetividade acontece quando estamos perante impostos periódicos, de formação
sucessiva, ou seja, que não se esgotam em um único momento.
§ Casos em que a nova lei que surge se aplica a um facto jurídico que se iniciou na
vigência da lei anterior e que se continua a formar já com a vigência da nova lei. A lei
nova só se deve aplicar à parte do imposto que ainda não se formou. A parte do facto
jurídico que já se formou deve ser tributada segundo a lei anterior. O ideal seria que a
nova lei mencionasse que apenas entra em vigor no ano seguinte, a partir de 1 de
janeiro.
Quer a retroatividade inautêntica quer a retrospectividade não são proibidas pelo 103.º/3 CRP.
Em todo o caso, podem ser inconstitucionais, se houver violação do princípio da segurança
jurídica ou da proteção da confiança legítima.
Essa é a perspetiva que segue o TC, mas o Doutor Casalta Nabais não segue essa perspetiva. Ele
não faz distinção entre retroatividade inautêntica e retrospetividade, porque diz que a
liquidação e a cobrança não são elementos essenciais dos impostos, e como não são essenciais,
não interessa se a lei altera-se antes de haver a liquidação e a cobrança, o que interessa é que a
lei alterou-se e o facto tributário já ocorreu no passado, e se já ocorreu no passado, o que temos
é uma retroatividade autentica.
Para o Doutor Casalta Nabais, a retroatividade inautêntica é a “nossa” retrospetividade. Ele
distingue quando a lei quer se aplicar a facto tributário já formado no passado, independente
da liquidação e da cobrança, que é o caso da retroatividade autêntica, e a nossa
retrospetividade, que ele chama de retroatividade inautêntica, a lei nasce hoje, e aplica-se a um
facto de formação sucessiva.
Portanto, diferentemente de outros autores, e da interpretação do TC, ele distingue apenas
entre retroatividade autêntica (factos jurídicos consumados no passado, e inclui aqui as

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 24


“nossas” situações de retroatividade inautêntica, por não considerar a liquidação e a cobrança
elementos essenciais dos impostos e incluir os casos como da tributação autónoma no âmbito
de retroatividade autêntica, que é proibida pelo art. 103/3 CRP – os 4 elementos essenciais
estão mencionados no art. 103/2) e retroatividade inautêntica (aquilo que a maioria dos
autores e o TC denominam de retrospetividade).
Os casos da retroatividade inautêntica merecem uma maior proteção da confiança do que os da
retrospetividade, na medida em que a confiança do contribuinte é maior quando o imposto está
totalmente formado, apenas lhe faltando dois elementos não essenciais como são a liquidação
e a cobrança, em comparação com um facto jurídico ainda em formação. Os casos de
retrospetividade gozam de menor proteção porque o imposto ainda não se formou totalmente
e a lei fiscal está sujeita a constante mudança.
Teste da confiança legítima (TC):
§ Teste 1: a afetação das expetativas deve ser intolerável, o qual não se podia prever.
§ Teste 2: tem que existir comportamentos por parte do estado idóneos a induzir o
contribuinte a achar que a situação não se alteraria
§ Teste 3: o contribuinte tem que ter expetativas sérias, estas devem fundar-se em razões
atendíveis e justificáveis que permitiam ao contribuinte acreditar que a lei não seria
alterada.
§ Teste 4: ter em conta a proporcionalidade em sentido estrito, mesmo se as expetativas
tiverem sido violadas, na ponderação entre as legitimas expetativas e o interesse
publico, o interesse publico prevalecer, não se pode proteger as legitimas expetativas.

Posição do TC -acs. 310/2012 (defendida Posição do TC – ac. 399/10; 18/2011


pelo Dr. Casalta Nabais (defendida pela Dra. Suzana Tavares)
Facto tributário instantâneo Facto tributário estruturalmente ligado ao
IRC (periódico)
Retroatividade autêntica Retroatividade inautêntica
Proibição constitucional de retroatividade Princípio da proteção da confiança (art. 2
(art.103/3 CRP) CRP) – necessidade de ponderar se o
contribuinte teria realizado a despesa se a
taxa fosse mais agravada.
Inconstitucional Não inconstitucional
Art. 12/1 da LGT (mesma coisa que o 103/3, remeter de um para o outro) e art. 12/2 LGT.

Caso prático
A AR emanou, em dezembro de 2018, uma lei prevendo, entre outras medidas, um aumento
de 15% para 20% da taxa de tributação autónoma das despesas com viaturas prevista no art.
88 do CIRC.
A empresa Le FDUC, Lda. Pretende saber se esta medida poderá aplicar-se a despesas com
viaturas por ela realizadas em Janeiro de 2018. O que lhe diria?
R: Caso de retroatividade inautêntica (retroatividade autêntica para Casalta Nabais, logo
inconstitucional). O TC já defendeu ambas as posições. Todo o facto tributário já ocorreu, está
esgotado no passado. Mas a liquidação e a cobrança não foram ainda realizadas. Pelo que este
caso não é inconstitucional em virtude do 103.º/3, mas poderá sim sê-lo em virtude da proteção
da confiança legítima ou da segurança jurídica.
Num caso prático, temos de expor ambas as posições doutrinais e explicar as diferentes
consequências de cada uma delas. Assim, nestes casos da tributação autónoma, pode haver
inconstitucionalidade ou não dependendo da posição doutrinal adotada.

Interpretação Jurídica de normas fiscais – art. 11 LGT

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 25


O art. 11 da LGT diz-nos como devem ser interpretadas as normas fiscais, elas são interpretadas
como quaisquer outras normas. Teoria da interpretação das normas fiscais de acordo com as
regras e princípios gerais de interpretação jurídica (art. 11/1 LGT e art. 9º CC).
Qual sentido que deve ser atribuído a alguns conceitos próprios de outros ramos do direito
quando se trata de apurar o regime fiscal a que os mesmos devem ficar subordinados?
Art. 11/2 LGT: o termo deve ser interpretado no mesmo sentido que tem no ramo de direito a
que pertence, salvo se outro decorrer diretamente da lei. Se houverem termos de ramos
específicos do direito, aplica-se o significado que tem nos outros ramos de direito.
E se persistirem dúvidas sobre o sentido das normas de incidência a aplicar?
Art. 11/3 LGT: deve atender-se à substância económica dos factos tributários (o que isso
significa? Significa tentar verificar quais situações económicas da vida o legislador quis tributar
com aquela disposição).
§ Não constitui uma autorização genérica à AT para que a mesma possa desconsiderar os
aspetos formais dos negócios jurídicos, aplicando a lei tributária apenas com
fundamento nos efeitos económicos gerados por esses negócios (não é igual à
interpretação económica das leis fiscais – defendendo que a lei fiscal tem sempre um
significado económico, na medida em que se apoia em fenómenos económicos,
entende que o intérprete deve sempre procurar determinar na lei o tipo de situações
económicas que o legislador quis submeter à tributação).
Constitui um critério residual (“persistindo a dúvida”) para auxiliar à correta aplicação
da lei fiscal
Ou seja:
1º regras gerais
2º outros ramos do direito
3º substância econômica

Integração de lacunas das normas tributárias


Quanto aos elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa ou alíquota do imposto,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes) não pode ocorrer integração de lacunas (art.
11/4).
Contudo, pode haver uma interpretação extensiva – alargamento da letra da lei, de modo a
conferir-lhe um alcance conforme o pensamento legislativo, o que só é possível se se concluir
que a fórmula verbal adotada diz menos do que o legislador pretendia – art. 11/4 a contrario
sensu
Normas de lançamento, liquidação e cobrança: possibilidade de aplicação das regras gerais
sobre integração de lacunas.
Ou seja, o que está sujeito a reserva de lei da AR, impostos, criação dos impostos, e elementos
essenciais, não pode haver integração de lacunas mas pode haver uma interpretação extensiva
(prever casos que não estão previstos na letra da lei se se chegar a conclusão que o legislador,
com a letra da lei, disse menos que queria dizer, ou seja, queria dizer mais do que aquilo que
disse, mas ao colocar na letra da lei, previu menos do que queria, quando estamos a redigir a
norma, às vezes não conseguimos dar o alcance que pretendemos, art. 11/4 LGT).

Caso prático
O art. 8/2, do CIMI, estatui que, “nos casos de usufruto ou de direito de superfície, o imposto
é devido pelo usufrutuário ou pelo superficiário”. A Administração Fiscal considera que este
preceito é aplicável a concessionários de bens do domínio público, invocando, para tanto, o
princípio do in dúbio pro fiscum.
Abel, concessionário de um bem do domínio público hídrico em Ponte da Barca, argumenta
que tal norma não lhe é aplicável, por força do disposto no artigo 11/4 da LGT.
Identifique o problema jurídico em causa e formule a argumentação de cada um dos
intervenientes no litígio.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 26


R: identificação do problema em causa como da interpretação jurídica de normas fiscais (art. 11
LGT).
Teoria da interpretação das normas fiscais de acordo com as regras e princípios gerais de
interpretação jurídica (art. 11/1 LGT e 9 CC).
Proibição de aplicação analógica de normas tributárias abrangidas pela reserva de lei (art. 11/4)
e admissibilidade de interpretação extensiva (art. 11/4 a contrario sensu); referência às normas
tributárias abrangidas pela reserva de lei e ao elemento essencial dos impostos em questão –
incidência subjetiva.
Referência ao art. 11/3 “substância económica dos fatos” – e explicitação do seu significado.

Caso prático
A AR aprovou uma lei que prevê a concessão de benefícios fiscais, a nível de IRC, para as
empresas que procedam à “criação líquida de postos de trabalho para trabalhadores
admitidos por contrato de trabalho sem termo com idade não superior a 30 anos”.
Marta, que tem uma empresa de software, decidiu converter todos os contratos de trabalho
a termo dos seus trabalhadores mais jovens em contratos de trabalho sem termo, esperando
com isso que lhe fosse reconhecido o dito benefício.
Tal pretensão foi, porém, rejeitada pela AT, com base no art. 11/3 da LGT
Identifique o problema jurídico em causa e formule a argumentação de cada um dos
intervenientes no litígio.
R: Acórdão do STA de 23/09/2009, processo 0248/09: Sumário: O incentivo à criação de
emprego para jovens, previsto no art. 48º-A do Estatuto dos Benefícios Fiscais, na redação
introduzida pela Lei nº 72/98, de 3 de Novembro (a que corresponde o art. 17.o na redacção de
2001) só é atribuído quando houver «criação líquida de postos de trabalho para trabalhadores
admitidos por contrato sem termo com idade não superior a 30 anos», o que pressupõe
aumento do número global de trabalhadores da empresa admitidos por contrato sem termo
com idade não superior a 30 anos em determinado exercício

Caso prático
O parlamento aprova um novo imposto sobre as emissões dos veículos automóveis e consagra
como sujeito passivo do tributo o “titular do veículo”.
A administração tributária tem dúvidas na liquidação do imposto quando esteja em causa um
aluguer de longa duração, hesitando entre liquidar o imposto à empresa proprietária ou ao
locador que utiliza a viatura pelos 4 anos previstos no contrato. Como deverá proceder?
Quem deve ser tributado pelo fisco, o proprietário ou o locador de longo prazo (leasing)?
Este é um caso prático que trata do problema da interpretação da lei fiscal, como tal devemos
analisar o artigo 11.º da LGT.
O que significa ser titular? O termo titular não é relativo a nenhum ramo específico do direito.
Substância económica - este imposto visa tributar as emissões de CO2. Como tal, o legislador
quis tributar quem utiliza o veículo e, como tal, polui o ambiente. Assim sendo, o titular do
veículo é o locador, sendo este quem deve ser tributado.
Fazer referência ao problema da interpretação da lei fiscal (art. 11 LGT e 9 CC). Art. 11/3 LGT –
não decorrendo diretamente da lei o sentido de atribuir ao conceito “titular do veículo”, nem se
encontrando tal conceito associado a outro ramo de direito (art. 11/2 LGT), a AT deve atender,
residualmente, à substância econômica dos factos tributários (que não se confunde com uma
interpretação econômica das leis fiscais). Constitui um critério residual (“persistindo a dúvida”)
de interpretação normativa para auxiliar à correta aplicação da lei fiscal.
De acordo com a substância econômica dos factos tributários, a AT poderia liquidar o imposto
sobre as emissões dos veículos automóveis ao locador que utiliza a viatura pelos 4 anos previstos
no contrato, uma vez que é o mesmo que retira o proveito econômico do uso do veículo e,
consequentemente, o que polui, por essa razão o visado diretamente pelo legislador.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 27


O critério previsto no art. 11/3 da LGT não constitui uma autorização genérica à AT para que a
mesma possa desconsiderar os aspectos formais dos negócios jurídicos, aplicando a lei tributária
apenas com fundamento nos efeitos econômicos gerados por esses negócios.
Este critério não deve funcionar como um instrumento de combate à fraude fiscal, o que não
impede a sua mobilização quando esteja em causa a utilização de esquemas formais simples de
elisão fiscal abusiva, que não levantem dúvidas quanto à sua desconformidade com a ordem
jurídica.
Tratando-se de um tributo ambiental, cumpre também um importante propósito extrafiscal de
modificação de comportamentos (racionalização do uso do automóvel), pelo que apenas o
utilizador do automóvel (o locador) compre este requisito.

Aplicação da Lei fiscal no Espaço


Como identificar os factos tributários ocorridos em território nacional? Art. 13 LGT, sem
prejuízo de convenções internacionais de que Portugal seja parte e salvo disposição legal em
sentido contrário, as normas tributárias aplicam-se aos factos que ocorram no território
nacionais.
Nº2 – regra worldwide income (princípio da universalidade ou do rendimento mundial).
Contudo, sempre que exista uma regra especial constante de Convenção Internacional a
mesma prevalece.
Elementos de conexão relevantes para cada tipo de imposto
§ Impostos sobre o rendimento – art. 13 e ss CIRS; 2º e 4º CIRC: residência do
beneficiário do rendimento (princípio da universalidade) e o local da produção do
rendimento (princípio da territorialidade)
§ Tributação do patrimônio: residência do proprietário ou titular dos bens patrimoniais e
lugar da situação dos mesmos
Cada código de imposto apresenta as suas regras próprias para a determinação dos residentes
(ex: 16 CIRS; 2 CIRC)
Aplicação da lei fiscal no espaço – IRS
Elementos de conexão (art. Residência Origem ou fonte dos
13/3 CIRS) rendimentos
Quem está sujeito a IRS? Residentes (art. 13/1 Não residentes (art. 13/1,
primeira parte; 16 CIRS) segunda parte)
Âmbito da sujeição Regra do WWI (art. 15/1 Rendimentos obtidos em
CIRS) território português (art.
15/2 e 18 CIRS)

Aplicação da lei fiscal no espaço – IRC


Elementos de conexão Sede/direção efetiva Origem ou fonte dos
rendimentos
Quem está sujeito ao IRC? Entidades com sede ou Entidades sem sede ou
direção efetiva em território direção efetiva em território
português (art.2º/1/a e b português (art.2/2/c CIRC)
CIRC)
Âmbito da sujeição Regra do WWI (art. 4/1 CIRC) Rendimentos obtidos em
território português e não
sujeitos a IRS (art. 4/2 e 3
CIRC)
O conceito de
estabelecimento estável (art.
5 CIRC)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 28


Por outras palavras: Os artigos da LGT aplicáveis aplicam-se de forma subsidiária, isto é, quando
não existam convenções internacionais contra a dupla tributação com o país em causa.
IRS: 13.º/1 CIRS – Critérios da residência (regra da universalidade) e da origem ou fonte dos
rendimentos (regra da territorialidade). Artigo 15.º/2 IRS remete para o artigo 18.º e 78.º/4.

Quem é que é considerado residente em Portugal (art. 16.º CIRS)? Analisar as várias alíneas do
artigo 16.º CIRS.
16.º/6 CIRS remete para a Portaria 150/2004 de 13 de fevereiro – ‘São ainda havidos como
residentes as pessoas com nacionalidade portuguesa que deslocalizem a sua residência fiscal
para país, território ou região, sujeito a um regime fiscal claramente mais favorável constante
de lista aprovada por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças…’

Como é que são considerados os rendimentos obtidos em território português (art. 18.º CIRS)?
18.º/1/a) e c) CIRS remete para o 71.º/4/a) - Retenção na fonte a título definitivo (o sujeito
passivo, sendo a retenção definitiva, não terá mais que declarar o rendimento, porque recebe
já o rendimento expurgado do imposto; busca-se evitar que quem obtém rendimentos em
Portugal fuja aos impostos), realizada através das taxas liberatórias (71.º/4 CIRS). Trata-se de
uma taxa proporcional e já não progressiva. Não confundir 18.º/1/c com 16.º/1/c. Alínea h) –
rendimento imóveis

IRC: Critério da universalidade (regra do WWI – art. 4.º/1 CIRC) – Entidades com sede ou direção
efetiva em território português (art. 2.º/1/a e b CIRC)
Critério da territorialidade (origem ou fonte dos rendimento) – Entidades sem sede ou direção
efetiva em território português (art. 2.º/1/c CIRC) - Rendimentos obtidos em território
português e não sujeitos a IRS (art. 4.º/2 e 3 CIRC) - Conceito do estabelecimento estável (art.
5.º CIRC)

Caso Prático
Atente nas seguintes situações:
i) Marta, residente em Portugal, auferiu rendimento em França pela realização de
interessantes palestras sobre direito fiscal
ii) Suzana, de nacionalidade portuguesa, mas que deslocalizou a sua residência para
as Ilhas Cayman, auferiu rendimentos empresariais em França
iii) Maurice, residente em França, auferiu rendas provenientes de imóveis localizados
em Portugal e trabalhou entre maio e agosto, mediante remuneração, num navio
com pavilhão português.
a) Diga se estas pessoas pagam impostos em Portugal e em que termos
b) Admitindo que Marta também pagou impostos em França pelos rendimentos ali
auferidos, identifique o problema em causa e avance critérios para a sua resolução.
R: A)
i) Pessoas singulares residentes em território português pagam imposto em Portugal
pela totalidade dos seus rendimentos (art. 13/1 CIRS). Sendo residente o IRS incide
sobre a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território
– art. 15/1 CIRS, regra worldwide income (princípio da universalidade ou do
rendimento mundial).
ii) Pessoas singulares residentes em território português pagam imposto em Portugal
pela totalidade dos seus rendimentos (regra do rendimento mundial ou WWI. Art.
15/1 CIRS. São também havidos por residentes em Portugal, nos termos do artigo
16/6 CIRS, as pessoas de nacionalidade portuguesa que deslocalizem a sua
residência para país, território ou região sujeito a um regime fiscal claramente mais
favorável. Portaria nº 150/2004 de 13 de fevereiro. Logo, Suzana, de nacionalidade

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 29


portuguesa, está sujeita a IRS pela totalidade dos rendimentos obtidos,
independentemente de os mesmos terem sido obtidos em Portugal ou não.
iii) No caso de não residentes o elemento de conexão é a origem ou fonte dos
rendimentos, de acordo com o art. 13/1. Estão sujeitos a IRS pelos rendimentos
obtidos em território português (art. 15/2 e 18 CIRS):
o Rendas provenientes de imóveis (art. 18/1/H CIRS)
o Rendimentos auferidos pelo trabalho durante 4 meses num navio com pavilhão
português (art. 16/1/a e 18/1/c CIRS.
Como será tributado os rendimentos auferidos pelo Maurice pelo trabalho durante
6 meses num navio com pavilhão português? É um rendimento de trabalho
dependente obtido por um não residente, logo é tributado à taxa liberatória
(Imposto proporcional: a taxa mantém-se inalterada independentemente do valor
da matéria coletável. Não toma em consideração, em maior ou menor grau,
aspectos econômicos e sociais dos contribuintes) de 25% - art. 71/4/a.
B)
Dupla tributação internacional (o sujeito passivo paga imposto duas vezes sobre o mesmo
rendimento).
A regra clássica da territorialidade dos impostos, embora ainda mantenha a sua validade, não
pode deixar de adaptar-se à internacionalização dos factos tributários.
Art. 13/1 LGT refere que “sem prejuízo de convenções internacionais de que Portugal seja parte
e salvo disposição legal em contrario”
Se não existir uma convenção internacional para eliminação da dupla tributação entre Portugal
e França, terão que ser aplicadas as regras para a eliminação da dupla tributação – art. 81
CIRS.
Método da imputação ou do crédito de imposto (a Marta poderia deduzir em Portugal o valor
do imposto pago em França até ao limite do imposto que seria pago em Portugal por aquele
rendimento).

A Relação Jurídica Fiscal


A relação tributária apresenta evidente complexidades, desdobrando-se em diversas relações.
Tem 3 acepções ou sentidos:
1) Acepção constitucional: Estado-comunidade/contribuinte
Encargo que o Estado – Comunidade impõe sobre os respectivos membros com o
objetivo de garantir liquidez para a realização das tarefas de interesse geral. Alguns
autores consideram que se está perante um dever fundamental do contribuinte perante
o Estado – Comunidade.
2) Acepção administrativa: Administração Fiscal/contribuinte
o Administração fiscal: dotada de um poder público, que a habilita a praticar atos
de autoridade, nos quais fixa o conteúdo da obrigação do imposto que cada um
deve cumprir.
o Destinatários dos atos de autoridade: uma pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado, que recai o dever jurídico de os executar de forma
voluntária dentro do prazo estabelecido na lei (pagamento do imposto). E o
ônus de proceder à sua impugnação quando entender que os mesmos
desrespeitam o disposto nas regras ou princípios plasmados na lei, na CRP ou
em outros instrumentos normativos aplicáveis.
3) Acepção obrigacional: Fazenda Pública/contribuinte
É uma relação de crédito entre a Fazenda pública (capacidade tributaria ativa, ou seja,
o poder de exigir o crédito do imposto) e o contribuinte (que fica obrigado a satisfazer
o crédito tributário). Obrigação que goza de garantias especiais, nos termos da lei.
Sujeitos da relação jurídica fiscal – lado ativo/lado passivo

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 30


• Do lado ativo: a complexidade assenta nas diferentes figuras que poderão ser
consideradas sob o ponto de vista doutrinário:
o O titular do poder tributário (o legislador)
o A entidade titular da competência tributária (liquidação, lançamento e cobrança
dos impostos)
o O sujeito detentor de capacidade tributária ativa (que possui o direito de crédito
e, assim, o de exigir o pagamento do tributo)
o E a entidade consignatária da receita dos tributos (quem irá, ao fim, receber o
resultado financeiro da tributação, como os Municípios no IMI).
Valendo ainda referir que, positivamente, conforme o art. 18/1 e 2 da LGT, a entidade
de direito público titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributarias
(sujeito ativo em sentido legal e estrito), poderá valer-se de representante e nem
sempre será o Estado, hipótese em que os documentos emitidos pela administração
tributária deverão mencionar a denominação do sujeito ativo.
• Do lado passivo: consoante bem expressa o art. 18/3 da LGT, é possível que se
estabeleçam: relações simples entre o sujeito ativo e o contribuinte (quem pratica o
facto gerador e cuja capacidade é a que se quer alcançar) ou relações mais complexas
no caso de não se concentrarem no contribuinte os deveres tributários, hipótese da
substituição tributária (art. 20 e 28 LGT), da responsabilidade tributária (arts. 22 a 28 d
LGT), em que outras pessoas (o substituto, os gestores, etc) irão, solidária ou
subsidiariamente, assumir obrigações de natureza fiscal.
Nesses casos, para além das relações que se venham a estabelecer entre o Estado e o
contribuinte, somam-se (ou desdobram-se) outras relações (entre o Estado e o
substituto, entre o Estado e o responsável), que, ademais, poderão igualmente verificar-
se nas hipóteses de transmissão de créditos e obrigações tributárias (art. 29 LGT) e de
sub-rogação (art. 41 LGT) ou cessão de crédito (Lei nº103/2003).
Objeto da relação jurídica fiscal – a obrigação fiscal
o Constituição
o Modificação
o Extinção
Do ponto de vista do seu objeto, para além da obrigação principal, que é a de pagar o imposto,
apresentam-se ainda obrigações acessórias inúmeras (art. 31 LGT), que se revestem de
naturezas múltiplas (ex: apresentar declarações de rendimentos e de início de atividade, pagar
verbas acessórias como os juros, manter contabilidade organizada, emitir fatura, etc), sendo
certo que nem sempre o devedor da obrigação principal será a mesma pessoa encarregada de
cumprir ou auxiliar no cumprimento de obrigações acessórias (ex: art. 18/3/b LGT),
demonstrando a grande complexidade de que se revestem as relações tributárias, as quais se
desdobram, efetivamente, em diversas relações).
Garantias da obrigação fiscal (art. 50 LGT)
A obrigação fiscal propriamente dita estruturalmente é uma obrigação como qualquer outra
(direito de crédito/dever de pagamento). É uma obrigação legal, que tem por fonte a lei (art. 36
LGT), tem caráter público (presunção de legalidade do ato tributário).
É uma obrigação exequível (carece de execução), executiva (a sua execução não depende de
qualquer pronúncia) e semi-executória (a sua execução corre, na maior parte, na administração
tributária, e em parte nos tribunais tributários).
É uma obrigação indisponível e irrenunciável (art. 30/2 LGT e 85/3 CPPT), autotitulada (a AT cria
os seus próprios títulos executivos, constituídos pelas certidões das notas de cobrança – art. 88
CPPT).
A obrigação fiscal propriamente dita é especialmente garantida quanto ao seu cumprimento
(garantias especiais que colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos credores
comuns).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 31


Sujeitos da relação jurídico - fiscal
aqueles que segundo a lei podem ser sujeitos de
Detentores de personalidade tributária
relações jurídicas tributárias

Relações jurídicas tributárias


Obrigações acessórias: conjunto de
Contemplam a obrigação principal de pagamento da obrigações que visam possibilitar o
dívida tributária apuramento da obrigação de imposto
(art. 31/2 da LGT)

Caráter complexo da relação jurídica fiscal


Possibilidade de encontrar, quer do lado ativo da relação jurídica, quer do lado passivo, a presença de
mais do que uma forma de titularidade
É necessário distinguir:
• Poder tributário: poder de criar impostos e definir os elementos essenciais dos
impostos. É derivado quando exercido por via regulamentar por entidades não
soberanas (ex: autarquias locais)
• Competência tributária: gestão do imposto (praticar os atos de lançamento, liquidação
e cobrança)
• Capacidade tributária ativa: titularidade de um direito subjetivo ao crédito do imposto
(credor tributário)
• Titularidade da receita fiscal: poder da entidade a quem determinada receita se
encontra subjetivamente consignada de exigir a sua efetiva atribuição.
• Contribuinte: é o titular da manifestação da capacidade contributiva e suporta o
desfalque patrimonial
• Sujeito passivo: pessoa a quem a lei impõe o cumprimento de uma obrigação fiscal (art.
18/3 LGT)
• Devedor do imposto: pessoa sobre quem impende o dever de satisfazer uma
determinada prestação tributária (em sentido estrito – devedor principal; em sentido
amplo – todos aqueles aos quais o Fisco exige, subsidiariamente, o crédito do imposto)
• Suportador do encargo do imposto por repercussão legal: pessoa que suporta
financeiramente o imposto através do mecanismo de repercussão legal, ou seja,
repercute-se no adquirente do bem ou serviço o valor do imposto.

Hipótese
Maria é proprietária de um apartamento em Coimbra. Paga o IMI. Quem são os titulares do
lado ativo e passivo desta relação?
R: Quanto ao lado ativo:
Poder tributário: AR (lei 26/2003 – autoriza o governo a aprovar o CIMI), Governo (DL 287/2003),
deliberação da Assembleia Municipal de Coimbra que fixa a alíquota (alínea c do nº 1 do art. 112
do CIMI)
Competência tributária, capacidade tributária e titularidade da receita: a administração
tributária liquida o imposto, a fazenda pública exige a sua cobrança (entidade à qual a lei
reconhece o poder de exigir o crédito do imposto), a autarquia local fica com a receita.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 32


Quanto ao lado passivo: Maria é contribuinte, devedor do imposto, o sujeito passivo do imposto
(aquele que é chamado ao cumprimento das obrigações fiscais, principais e acessórias)

Aspectos a ter em conta na identificação dos sujeitos passivos


• Domicílio fiscal: é este o elemento que permite identificar os residentes, art. 19 LGT
• Representante legal: nos casos em que o sujeito passivo não é residente e não dispõe
de um estabelecimento estável em Portugal (art. 5 do CIRC), a lei impõe, naqueles casos,
a designação de um representante legal com residência em território nacional (art. 19/6
LGT e art.130 CIRS e art. 126 CIRC). Caso não haja esta designação (art. 124 RGIT) e
interdição das garantias de reclamação, recurso e impugnação (art. 19/7 LGT), para não
residentes da, ou residentes que se ausentem para a UE, desde que esse Estado esteja
vinculado à cooperação administrativa, esta designação deixou de ser obrigatória (art.
19/8 LGT)
Transparência Fiscal
Em certas situações o direito fiscal opta por não considerar sujeitos passivos da relação jurídica
fiscal algumas entidades dotadas de personalidade jurídica. Art. 6 CIRC – desconsidera a
personalidade jurídica das sociedades aí indicadas, não lhes reconhecendo personalidade
tributária.

Hipótese
João M, Marta M e Margarida M. são sócios da “M. Sociedade de Advogados”. Explique como
é tributado o rendimento dessa sociedade.
R: No caso, trata-se de uma sociedade de profissionais desprovida de personalidade jurídica. O
apuramento da matéria coletável é feito segundo as regras do CIRC, apesar de estas entidades
não serem tributadas em IRC (art. 12 CIRC). Regime da transparência fiscal (art. 6 CIRC) e
imputação do rendimento líquido na matéria coletável de cada um dos sócios na categoria B do
CIRS (art. 20 CIRS9 – tributação dos advogados em IRS.

O objeto da relação jurídica fiscal: a obrigação fiscal


• Obrigação principal (satisfação da dívida tributária – art. 35 LGT) e obrigações acessórias
(visam possibilitar o apuramento da obrigação de imposto – 30 e 31 LGT: apresentação
de declarações, exibição de documentos fiscalmente relevantes e a prestação de
informações – art. 31/1 e 2 LGT)
• Os juros (art. 30/1 LGT)

Juros Compensatórios Juros de mora Juros indemnizatórios


Art. 35 LGT Art. 44 e 102/2 LGT e 86/1 Art. 43 LGT e 61 CPPT
CPPT
Sujeito passivo: AT Sujeito passivo: AT AT: sujeito passivo
AT: sujeito passivo
• Atraso na • Falta de pagamento Ressarcir o sujeito passivo
liquidação, de parte da dívida tributária pelo pagamento indevido de
ou da totalidade do no prazo legal (art. prestação tributária.
imposto, imputável 84 e 85/2 CPPT) • Art. 43/1 LGT
ao sujeito passivo • São devidos desde o • Art. 43/3/A LGT e 94
ou quando o sujeito termo do prazo para CIRS
passivo, também o pagamento • Art. 43/3/B LGT
por facto a si voluntário até à data • Art. 43/3/C LGT
imputável, recebeu do pagamento da São contados desde a data do
pagamento indevido do

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 33


reembolso superior dívida (art. 44/2 e 3 imposto até à data do
ao devido. LGT). processamento da respectiva
• Estes juros são nota de crédito (art. 6175 do
calculados à taxa de CPPT).
juro legal fixada nos
termos do art. 559/1
do CC
• Objetivo: reparar o
dano sofrido pela AT
que, por facto
imputável ao sujeito
passivo, se viu
privada de dispor de
uma receita que lhe
era devida.
Desde 2007: Art. 102/2 da LGT – juros de mora a favor do contribuinte.
Possibilidade de pagamento de juros de mora a favor do contribuinte, a pedido deste, quando
a sentença implicar a restituição do tributo já pago, sendo aqueles devidos a partir do termo do
prazo de execução espontânea da decisão.

Modificação da obrigação fiscal


A modificação da obrigação fiscal pode ser uma modificação subjetiva de responsabilidade
tributária ou substituição tributária.

I. Responsabilidade tributária
Responsabilidade tributária pelas dívidas de outrem (art. 22/2 LGT)
Em regra: responsabilidade subsidiária (art. Nos casos previstos na lei: responsabilidade
22/4 LGT e 153 CPPT) solidária (art. 22/4, a contrario sensu LGT)
EX: responsabilidade dos administradores, EX: responsabilidade do representante fiscal
gerentes e diretores (art. 24 LGT) (art. 27 LGT) e dos sócios de sociedades de
responsabilidade ilimitada (art. 21/2 LGT)
A responsabilidade tributária é em regra subsidiária (art. 22/4 LGT), o responsável tributário só
é chamado a satisfazer a dívida do sujeito passivo depois de esgotado todo o patrimônio deste,
ou seja, depois de comprovado no processo de execução fiscal que não existem bens
penhoráveis do devedor originário ou que há insuficiência do patrimônio do devedor para a
satisfação da dívida exequenda (art. 23/2 LGT e 153/2 CPPT). Ou seja, a responsabilidade é,
normalmente, subsidiária, existe um devedor principal e é esse a que a administração tributária
pode exigir o pagamento da dívida, só se esse sujeito principal não tiver meios para pagar a
dívida é que se chama, subsidiariamente o responsável tributário.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 34


EX:

AF exige o pagamento da coleta de IRC à empresa X (devedor originário)

Empresa X não tem pratrimónio suficiente para satisfazer a dívida


tributária

Facto que é demonstrado no processo de execução fiscal

O processo de execução fiscal reverte sobre o responsável tributário

MAS

A obrigação da empresa X pagar juros de mora e as custas, no caso de lhe viram a ser
encontrados bens (art. 23/6 LGT)
O responsável subsidiário fica isento de custas do processo de execução fiscal (art. 22/1 LGT)
e de juros de mora liquidados no processo de execução fiscal se, citado para cumprir a
dívida constante no título executivo, efetuar o respectivo pagamento no prazo de oposição à
execução fiscal (art. 23/5 LGT)
O art. 153/2 CPPT diz-nos os requisitos para se chamar um terceiro para o pagamento da dívida.
Os requisitos são que o devedor principal não tenha património ou não seja suficiente para
pagar a dívida.
Como se chama o terceiro? Faz o chamamento através de um processo de reversão (art. 23 LGT)

ü Responsabilidade dos administradores, gerentes e diretores (art. 24 LGT)


Caso de solidariedade entre os responsáveis fiscais subsidiários
Quem responde subsidiariamente? (art. 24/1/A e B LGT)
a) Os gerentes e administradores que já não exerçam o cargo no momento em que se
verifica a falta de pagamento (ónus da prova pertence à AT)
b) Os gerentes e administradores que exerçam o cargo no momento em que se verifica
a falta de pagamento (ónus da prova pertence aos gerentes e administradores)
OBS: de acordo com a jurisprudência do STA, não é possível extrair a gerência de
facto da gerência de direito. O gerente de direito só é responsabilizado se a
Fazenda Pública provar que ele efetivamente exercia a gerência. Exercício efetivo
da gerência de fato, mesmo que sem legitimação social.
Ou seja:
O art. 24 é o artigo chave em matéria de responsabilidade subsidiária dos administradores,
diretores e gerentes. Essas pessoas podem ser responsáveis subsidiariamente da empresa que
administram ou gerem.
Quando o artigo diz “Exerçam de facto”, usa essa denominação pois há casos em que usam-se
nomes de pessoas que, por exemplo, não exercem cargo nenhum no negócio, e servem só para
assinar os documentos. A primeira lógica do art. 24 é que só pode ser responsabilizado, alguém
que exerça funções de facto. Mesmo que não tenham o seu nome como gerentes de direito. O
que interessa é se exerce ou não a gerência de facto.
O primeiro ónus da prova que tem que ser feito para se poder provar o art. 24, chamar o
responsável subsidiário, é o ónus da gerência de facto. Quem é que tem esse ónus? A
administração tributaria.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 35


A administração tributária tem que provar desde logo que aquela pessoa, contra quem ela está
a reverter a dívida, é um gerente de facto, e o que releva para saber da gerência de facto é o dia
a dia da empresa.
Quanto às alíneas A e B, é necessário analisá-las, é para elas que olhamos quando queremos
saber se foi feita uma correta reversão, pois a AT vai dizer se reverteu pelo artigo 24, alínea A
ou pela alínea B, e isso é relevante pois o ónus da prova muda de uma para a outra.
• Alínea A: A administração tributária vai ter que provar, que apesar do fim do prazo para
pagamento daquele tributo, foi por culpa daquele gerente que a sociedade não tem
património suficiente para pagar a dívida. Quando fala-se aqui de culpa, não é de dolo,
e sim de praticar atos que impedem o pagamento. Aqui o ónus da prova é da
administração tributária. Se ela reverter pela alínea A, vai ter que provar que apesar do
prazo ter encerrado, foi culpa do gerente a sociedade não ter património. Normalmente
a administração foge sempre da alínea A, porque o ónus da prova é dela, e usa a alínea
B.
• Alínea B: a administração tributária depara-se aqui com uma vantagem, prefere essa
alínea pois o ónus da prova cabe aos gerentes e administradores. Aqui os
administradores e gerentes tem que provar que a falta de património não é por culpa
sua.
Ou seja, temos 3 ónus da prova no artigo 24, o primeiro é o da administração tributária, que
tem que provar que aquela pessoa que se está a reverter a divida é um gerente de facto. O
segundo ónus da prova é o da alínea A, nesse caso a administração tributária tem que provar
que foi culpa do gerente/administrador, e o terceiro é o da alínea B, cabe ao próprio
administrador ou gestor provar que não foi por culpa sua que a sociedade não tem património.
Não se esquecer que é uma responsabilidade subsidiaria, cabe à administração provar que o
devedor principal não consegue pagar isso.

Como se efetiva a responsabilidade subsidiária? Através da reversão do processo de execução


fiscal (art. 23/1 LGT) – modificação subjetiva da instância, pelo chamamento, a fim de ocupar a
posição passiva na ação, de alguém que não é o devedor que figura no título.
Os pressupostos da reversão encontram-se no art. 153/3 CPPT.
Direitos do responsável subsidiário (revertido):
ü Direito de audição prévia (art. 23/4 LGT)
ü Benefício da excussão prévia - a administração tributária tem que primeiro excutir o
património do devedor principal. E só quando ele verificar que não há mais património
é que pode cobrar do outro.

Suspensão do processo de execução fiscal em caso de reversão (art. 23/3 LGT)


• Se no momento da reversão (provada a fundada insuficiência dos bens do devedor
originário) não for possível determinar a suficiência dos bens penhorados por não estar
definido com precisão o montante a pagar pelo responsável subsidiário, o processo de
execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à completa
excussão do património do executado, sem prejuízo de adoção das medidas cautelares
adequadas.
• A execução fica suspensa relativamente ao responsável subsidiário até estar definido
com precisão o montante que ele terá que pagar.
• Objetivo: havendo já a certeza quanto à insuficiência dos bens do devedor originário, o
interesse público na interrupção da prescrição, pode justificar que a reversão ocorra
antes da excussão – ver Acórdão do STA de 12/04/2012 (processo 257/12).

Meios de reação:
• Dedução de oposição à execução (art. 203 e 204 CPPT)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 36


A oposição à execução é o meio processual adequado para o executado, por reversão, discutir
em juízo o despacho determinativo dessa reversão, nomeadamente, imputando-lhe vícios de
forma por ausência de fundamentação e preterição de formalidade legais, mais devendo
enquadrar-se este fundamento da oposição no art. 204/1/i do CPPT.
• Reclamação graciosa (art. 68 e ss CPPT) e impugnação judicial (art. 99 e 102 CPPT) – art.
22/5 LGT - Quando em causa não está o ato de reversão, e acho que em causa está o
montante da dívida, posso fazer uma reclamação graciosa ou posso fazer uma
impugnação judicial.

Responsabilidade subsidiária quando exista mais do que um responsável tributário para a


mesma dívida tributária:

Art. 24/1/A da LGT Administração Fiscal exige o pagamento de IRC à


empresa X

Responsabilidade
subsidiária dos
administradores
face à empresa
Empresa X não tem
patrimônio suficiente
para satisfazer a dívida
tributária
Administrador Administrador 2
(diretor, gerente, ...) Pode ser chamado a
1 satisfazer a
Pode ser chamado a totalidade da
satisfazer a totalidade obrigação fiscal que
da obrigação fiscal ainda não foi
que ainda não foi satisfeita
satisfeita

Exemplo quandoResponsabilidade
há mais do que um solidária entre os
responsável sócios. Quando
tributário: um satisfaça
suponhamos que sãotem umirmãs
duas
direito de crédito sobre o outro
e uma mãe que têm uma sociedade, e essa sociedade não tem património suficiente, a
administração tributária vai cobrar entre as irmãs e a mãe, a pessoa entre as 3 que tiver mais
dinheiro. Depois, a que pagou tem direito a regresso, pode receber o dinheiro de volta do
pagamento que fez a mais. A responsabilidade é solidária entre os gerentes para que a
administração tributaria possa buscar naquele que tem mais. Ela é subsidiaria face à empresa,
mas solidária em relação aos gerentes.

Responsabilidade solidária: exemplo – responsabilidade de gestores de bens ou direitos de não


residentes sem estabelecimento estável em território português.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 37


Pessoa coletiva X, estrangeira sem Os responsáveis podem
estabelecimento estável em ser demandados
Portugal conjuntamente com o
sujeito passivo (pessoa
Administração Fiscal coletiva X) ou se for um
Exige o pagamento de IRC João, residente em Portugal e a satisfazer a totalidade
correspondente a rendimentos representante da pessoa coletiva X do valor da dívida em
da pessoa coletiva X, estrangeira junto da AF falta, fica com um
sem estabelecimento estável em direito de crédito
Portugal (direito de regresso)
Luís, residente em Portugal e sobre o sujeito passivo e
representante da pessoa coletiva os demais responsáveis
X junto da AF solidários (art. 23/6)
LGT

Ou seja, há uma dívida de uma pessoa que está no estrangeiro, que não está em Portugal, e tem
representantes fiscais no país, a administração fiscal pode exigir o cumprimento da dívida aos
representantes fiscais.

Outras situações de responsabilidade ilimitada:


• Liquidação de sociedades de responsabilidade ilimitada – art. 21/2 LGT
• Quando os pressupostos do facto tributário se verifiquem em relação a mais de uma
pessoa (ex: IMI quando existem dois comproprietários de um prédio indiviso) – cada um
dos comproprietários pode vir a ser chamado a satisfazer a totalidade da obrigação
fiscal, ficando com um direito de crédito sobre o outro.

II. Substituição Tributária – Art. 20/1 LGT


Substituição total/retenção na fonte a título Substituição parcial/retenção na fonte a
definitivo (por ex. art. 71/1 e 4 CIRS e 94/3 título de pagamento por conta do imposto
CIRC) devido a final (não confundir com os
pagamentos por conta realizados pelo
próprio contribuinte – art. 102 CIRS) – ex. art.
98 e 99 CIRS e 94/1 CIRC
Vantagens: Vantagens:
• Redução da complexidade da • Anestesia fiscal
atividade administrativa • Antecipação da receita fiscal
• Diminuição da evasão fiscal

a) Substituição tributária total


A substituição abrange tanto a obrigação de imposto como a generalidade das
obrigações fiscais acessórias.
Art. 20 LGT: a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte, sendo a
mesma efetivada através do mecanismo da retenção na fonte com caráter definitivo do
imposto devido.
Art. 34 da LGT

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 38


Terceiro: obrigação de
deduzir parcelas do
Administração rendimento pago ou posto à
Fiscal disposição do sujeito Sujeito Passivo
passivo, para depois fazer a
Exemplos: sua entrega à Administração
Fiscalliberatórias (ex: Juros de depósito à ordem ou a prazo)
• Rendimentos sujeitos a taxas
• A entidade bancária (substituto) ao reter na fonte a título definitivo, o montante do
imposto, elimina a obrigação de o contribuinte, querendo, no fim do ano, ter que incluir
este rendimento na sua declaração anual de rendimentos (art. 71/6 CIRS)
• Art. 88/3 CIRC – pessoas coletivas não residentes e sem estabelecimento estável em
território português tributadas em IRC
Há aqui rendimentos que são retidos ao contribuinte, a título definitivo, o substituto substitui
totalmente o substituído. Diminui a complexidade da atividade administrativa e diminui a
evasão fiscal (evita a fraude, se aquele montante ficar retido na fonte, não há hipóteses, já foi
retirado o montante).
O substituto é sempre uma pessoa que coloca rendimentos à disposição de outra, do
substituído. Mas, ao invés de colocar todo o rendimento, entregar o bolo completo, já entrega
sem uma fatia.

b) Substituição tributária parcial

Põe à disposição um
Terceiro determinado rendimento Contribuinte

O “substituído tem que


Obrigado a cumprir a generalidade ou
algumas das obrigações
fiscais acessórias
Efetuar retenções na fonte a título de pagamento por conta do
imposto que é devido no fim do ano por aquele

Entregas pecuniárias antecipadas


efetuadas pelos sujeitos passivos no
Exemplo: Rendimentos do trabalho
períododependente
de formação do facto
tributário (art. 33 LGT)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 39


Entidade Empregadora
Mas retém uma parcela a título de imposto
Paga os salários
devido no fim do ano (art. 99 CIRS)

Retenção de acordo com as taxas estipuladas na tabela prevista no art. 100 CIRS
A parcela retida é entregue aos cofres do Estado pela entidade empregadora, sobre a qual impendem
várias obrigações acessórias (art. 119 CIRS)

O trabalhador, no fim do ano, tem de apresentar a sua declaração de rendimentos


Procede-se ao apuramento do imposto nos
E ao pagamento do valor em falta
termos gerais

Se o valor retido na fonte for superior ao imposto devido, é restituído ao trabalhador


a parte excedente através da restituição oficiosa do imposto (art. 96 CIRS)

Retenção na fonte a título definitivo


• Substituto retém, mas não entrega (art.
28/1 LGT)
Responsabilidade tributária • Substituto não retém ou não retém na
em caso de substituição totalidade (art. 28/3 LGT)
tributária
Art. 28 LGT Pagamento por conta efetuado por terceiro
• Substituto retém, mas não entrega (art.
28/1 LGT)
• Substituto não retém ou não retém na
totalidade (art. 28/2 LGT)

Caso Prático
Jaime é titular de um depósito a prazo no banco F, pelo qual aufere anualmente juros no
montante de 300€.
a) Identifique o tipo de substituição tributaria que o rendimento em presença pode
originar
R: Pode originar uma retenção na fonte a título definitivo, também designada,
substituição total.
b) Suponha que o Banco F retém, mas não entrega ao Estado as importâncias devidas
por Jaime a título de imposto. Caso o correspondente imposto nunca chegue a ser
pago, quem responde pelo pagamento da dívida tributária?

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 40


R: O banco faz uma retenção na fonte a título definitivo, e não entrega o imposto à AF.
A AT não pode demandar o depositante pelas quantias retidas pelo Banco e não
entregues à AT.
Art. 28/3 LGT, exemplo: o banco efetuou uma liquidação dos juros de depósito à taxa
de 12% em vez de aplicar a taxa de 28% prevista no CIRS. A AT irá exigir o valor do
imposto em falta ao Banco e só se este não cumprir, e depois de excutido o respectivo
património em sede de execução fiscal, é que o depositante poderá ser chamado a repor
o valor do imposto em falta.

Caso Prático
Carlos é trabalhador da empresa SZX, Lda., que lhe paga uma remuneração mensal ilíquida no
valor de 1350€.
a) Identifique o tipo de substituição tributaria que o rendimento em presença pode
originar
R: Substituição Parcial
b) Imagine que, no mês de janeiro de 2017, a SZX, Lda. Não reteve as importâncias
devidas, a título de imposto, por Carlos. Caso o correspondente imposto nunca chegue
a ser pago, quem responde pelo pagamento da dívida tributária?
R: Ocorre uma substituição parcial, retenção na fonte de terceiro por conta do
pagamento do imposto que o sujeito passivo irá efetuar no fim do ano – pagamento por
conta realizado por terceiro.
Substituto deveria ter retido e não reteve, ou reteve menos do que deveria ter retido?
Art. 28/2 LGT:
• Responsabilidade originária dos substituídos – porque é sobre eles que recaem
os pressupostos legais da tributação, sendo eles que sofrem o desfalque
patrimonial.
• Responsabilidade subsidiária do substituto
Ou seja, se a sociedade X estando obrigada a efetuar mensalmente as retenções na
fonte não o tenha feito e o trabalhador no fim do ano não satisfaça a obrigação de
imposto, a AT pode exigir à entidade empregadora, a título de responsabilidade
tributária, subsidiariamente à excussão do património do trabalhador, o pagamento do
valor correspondente ao imposto que devia ter sido retido na fonte e não foi.
O substituto fica sempre sujeito aos juros compensatórios – art. 28/2/2ª parte LGT –
porque a fazenda pública vai receber o dinheiro mais tarde, sendo a responsabilidade
por esse atraso do substituto que devia ter retido e não reteve (tinha um dever legal de
retenção).
Se a entidade patronal reteve, mas não entregou nos cofres do Estado, o substituído
fica desonerado de qualquer responsabilidade – art. 28/1
OBS: não confundir o art. 20 LGT com responsabilidade tributária
Art. 33 – substituição parcial
Art. 34 – substituição total
Porque existe esse número 6 no artigo 71? Porque é possível englobar rendimentos que já foram
sujeitos a taxa deliberatórias? É uma forma de contornar a crítica que fazem às taxas
deliberatórias. Permitindo que sejam englobadas. Está a evitar aquilo que a constituição diz.
Mas na prática ninguém engloba esses rendimentos.
Art. 28 LGT: sai sempre em exame.
Art. 28/1: aplica-se à substituição parcial e total.
Número 2: só se aplica à substituição parcial.
Número 3: só se aplica à substituição total.
O art. 28/1 quando o imposto é retido, mas não é entregue no cofre do estado

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 41


Número 2: quando o imposto não é retido ou é retido em valor inferior o que tinha que ser.
Significa que primeiro a administração tributária chama atenção ao trabalhador, e se este não
tiver património, chama-se o substituto.
• Se não pagou, atrasou a tributação, e por isso os juros de mora recaem na empresa, pois
o dever de tributar era dela
• Existem três responsabilidades, o do trabalhador, o do substituto, e a entidade patronal.
Número 3: quando o imposto não é retido ou é retido em valor inferior ao que tinha que ser.
• É o oposto da substituição parcial. O responsável em primeira linha não é o substituto,
e sim o substituído, o banco.

Transmissão da obrigação fiscal


A obrigação fiscal é indisponível (art. 29, 30/2 e 36 LGT), é intransmissível.
Contudo, a lei admite dois casos de transmissão da obrigação fiscal (pelo lado passivo):
• Sucessão legal - art. 29/2 LGT (imagine que o contribuinte morre, o facto dele morrer
não extingue a dívida com a administração tributária, se ele deixar herança, a herança
é afeta para pagar a divida tributaria, art. 29/2. Os herdeiros não vão ser
responsabilizados com seu património para o pagamento da divida, só vão responder
com a herança, mas o património pessoal fica intacto).
• Sub-rogação fiscal (art. 41/1 LGT)
o Momento (art. 91/1, 2 e 3 CPPT)
o Efeitos (art. 41/2 LGT e 92 CPPT)
Com a sub-rogação transmite-se para o sub-rogado a titularidade do crédito que a
administração tributária detinha sobre o obrigado tributário.
Mantém-se as garantias, privilégios e a possibilidade de utilização do processo de
execução fiscal para a sua cobrança coerciva, requerendo a sua instauração, se o
pagamento ocorreu antes dela, ou o seu prosseguimento.
Contudo, a sub-rogação fiscal implica o consentimento da administração fiscal e do
contribuinte. Remissão do art. 41/2 LGT para o art. 91/1 e 3 CPPT).

Extinção da obrigação fiscal


• Pagamento voluntário (art. 41/1 LGT e 84 e 85 CPPT); pagamento em prestações (art.
42 LGT; 86/2 e 199 CPPT).
• Cobrança coerciva: quando o sujeito passivo não pague o imposto devido no prazo legal,
fica sujeito ao processo de execução fiscal (art. 148 CPPT) e ao pagamento de juros
moratórios.
Poderá Manuel proceder ao pagamento do imposto em dívida através da entrega de 50
toneladas de batata?
• Dação em pagamento de bens móveis ou imóveis (art. 201 e 202 CPPT – necessidade
de autorização); dação antes da instauração do processo de execução fiscal – art. 87
CPPT)
• Compensação
o Compensação por iniciativa da AF (art. 89 CPPT)
o Compensação por iniciativa do contribuinte (art. 90 CPPT).
Caducidade do direito à liquidação (art. 45 LGT) – prazo que a lei reconhece à AT para esta
proceder à liquidação dos impostos e à respetiva notificação aos contribuintes de forma válida,
constituindo-os na obrigação de cumprir a obrigação tributária que por efeito desse ato se torna
certa, líquida e exigível. Prazo de 4 anos, ou 12 nos casos do nº 7/45º LGT
Prescrição da dívida tributária (art. 48 LGT) – causa de extinção da obrigação tributária.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 42


Estabelecer o início da contagem do Impostos periódicos: 4 anos a
prazo de que a AF dispõe para tornar partir do termo do ano em
líquida e exigível a obrigação de imposto que se verificou o facto
tributário
Art. 45/4 LGT Prazo
de caducidade
Distinção Impostos de obrigação única
fundamental 4 anos a partir da data em que
para: o facto tributário ocorreu.
No caso do IVA e nos impostos
sobre o rendimento quando
haja retenção na fonte a título
Estabelecer o início da contagem definitivo o prazo conta-se a
do prazo de que a AF dispõe para partir do início do ano civil
poder promover a cobrança seguinte àquele em que se
coerciva das dívidas fiscais verificou a exigibilidade do
imposto ou facto tributário.

Art. 48 LGT Prazo de 8 anos


prescrição

Pagamento voluntário do
imposto – 30 dias (art. 84 e 85/2
CPPT)

Processo de execução
fiscal/cobrança coerciva do
imposto (art. 148 CPPT)
Pedido de pagamento da
dívida tributária em prestações
(art. 42 LGT e 86/2)

Venda dos bens penhorados

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 43


Procedimentos tributários (art. 54 LGT)

Procedimentos tributários Ações complementares de Procedimento de liquidação


especiais informação e fiscalização (art. 69 e ss. LGT)
Por exemplo: tributária
- Procedimento de derrogação - Procedimento de informação
do sigilo bancário (art. 63 – A, B e vinculativa (art. 68 LGT e 57
C LGT) CPPT) Determinação/avaliação da
- Procedimento para o - Procedimento de inspeção matéria tributável ou
reconhecimento de benefícios tributária (art. 63 LGT) lançamento objetivo
fiscais (art. 65 CPPT)
- Procedimento para a aplicação
de normas anti-abuso (art. 63
CPPT)

Procedimento tributário é a sucessão de atos dirigida à declaração de direitos tributários (art.


54 LGT) e compreende, de acordo com o art. 44 CPPT, entre outros elementos:
o O conjunto de ações preparatórias ou complementares da liquidação dos tributos ou de
confirmação dos factos tributários declarados pelos sujeitos passivos ou outros
obrigados tributários.
o A liquidação dos tributos, quando efetuada pela administração tributária
o A avaliação direta ou indireta dos rendimentos ou valores patrimoniais.

Procedimento de liquidação dos impostos


Objetivo: proceder ao apuramento (tornar certa e líquida) da obrigação de imposto
Regra geral: avaliação direta da matéria coletável (art. 81 LGT) – visa-se a determinação do valor
real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação, razão pela qual a avaliação dos rendimentos
ou valores sujeitos a tributação se fundamenta em critérios objetivos (art. 84/1 LGT)
Os procedimentos de liquidação, conforme o imposto a que respeitam, caracterizam-se por um
conjunto sucessivo de operações de culmina com a determinação do valor do imposto a pagar,
consubstanciando o ato tributário.

Inicia-se • Art. 69 LGT


• Procedimento de liquidação instaura-se com as declarações dos
contribuintes ou, na falta ou vício destas, com base em todos os elementos
de que disponha ou venha a obter a entidade competente (art. 59 CPPT)

Prazos • Contam-se nos termos do art. 279 CC (art. 20 CPPT e 57/3 LGT)
procedimentais • 57/2 LGT e 21/A CPPT

Direção da • Fase na qual se procede à recolha de prova


instrução • Cabe ao órgão da AT competente para a decisão (art. 71 LGT)
• O ónus da prova recai sobre quem invoca os factos (art. 74LGT) – exceções
art. 74/3

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 44


A AT está obrigada a pronunciar-se sobre todos os assuntos da sua competência, quando
devidamente instada a fazê-lo e tem o dever de decidir (art. 56 LGT) a não ser que se tenha
pronunciado há menos de dois anos sobre pedido do mesmo autor com idênticos objeto e
fundamentos ou se tiver sido ultrapassado o prazo legal de revisão do ato tributário.
A decisão final do procedimento – seja o ato de liquidação ou uma decisão da AT – carece de
fundamentação (art. 77 LGT).
A eficácia do ato final do procedimento depende de notificação (art. 77/6 LGT e 36/1 CPPT e
arts. 38 a 43 do CPPT). A caixa postal eletrónica obrigatória integra o domicílio fiscal (art. 19/2 e
9 da LGT).
A liquidação tem de ser validamente notificada ao sujeito passivo no prazo de 4 anos, sob pena
de caducidade do direito de liquidar os tributos (art. 45/1 LGT).

Avaliação da matéria tributável – conjunto de operações necessárias para determinar a


matéria coletável, isto é, a base de incidência do tributo. Fase essencial do procedimento de
liquidação
Avaliação direta (art. 83/1 LGT) Avaliação indireta (art. 60/1/d, 81/1, 83/2,
Diretamente, segundo os critérios próprios 85/2 LGT)
de cada tributo Só nos casos e condições expressamente
previstos na lei (art. 81/1 e 87 LGT)
o Por determinação da AT o Excecional (art. 81/1 e 87/1/A a F
o Por determinação do sujeito passivo LGT)
(autoliquidação) o Subsidiária da avaliação direta (art.
85/1 LGT)

A. Avaliação direta da matéria tributável


Visa a determinação do valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação (art.
83/1 LGT) e compete, em regra, à Administração Tributária (ex: IMI, IRS), e, nos casos
de autoliquidação (ex: IVA e IRC) ao sujeito passivo do imposto. Não há autoliquidação
no IRS – art. 75 CIRS
• A avaliação dos rendimentos ou valores sujeitos a tributação baseia-se em
critérios objetivos e deve ser devidamente fundamentada, contendo
obrigatoriamente a indicação dos critérios utilizados e a ponderação dos fatores
que influenciaram a determinação do seu resultado (art. 84/1 e 3 LGT).
• Quando a avaliação venha a ser efetuada pelo sujeito passivo no âmbito dos
procedimentos de autoliquidação, o mesmo deverá, sempre que solicitado pela
AT, esclarecer os critérios utilizados e a sua aplicação na determinação dos
valores que declarou (art. 84/2 LGT)

B. Avaliação indireta da matéria tributável


É subsidiária da avaliação direta, pelo que se lhe aplicam sempre que possível e a lei não
prescrever em sentido diferente, as regras da avaliação direta (art. 81/1 e 85 LGT).
• Visa a determinação do valor dos rendimentos ou bens tributáveis a partir de
indícios, presunções ou outros elementos de que a administração tributária
disponha – art. 83/2 LGT
• Verificada qualquer uma das circunstâncias do art. 87/1, a determinação da
matéria coletável faz-se tomando em consideração os elementos enunciados
no art. 90 LGT.
ü Situações em que se admite a avaliação da matéria coletável por métodos indiretos (art.
87/1 LGT):
• Regime simplificado de tributação (art. 87/1/A LGT; 28 e 31 CIRS; 86-A CIRC)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 45


• Impossibilidade de comprovação e quantificação direta e exata dos elementos
indispensáveis à correta determinação da matéria tributável (art. 87/1/B; 88 e
90 LGT)
• Declaração sistemática de prejuízos fiscais em (pelo menos) três anos
consecutivos ou em três anos num período de cinco (art. 87/1/E e 90 LGT)
• Manifestações de fortuna (art. 87/1/D e 89-A LGT)
• Acréscimos injustificados de património (art. 87/1/F e 89-A/5 LGT)
O regime simplificado é uma opção de tributação dos rendimentos válida para
profissionais liberais e empresários em nome individual, que, no exercício da sua
atividade, tenham um montante anual ilíquido de rendimentos inferior ou igual a
200.000€.
Neste regime, são considerados para efeitos de tributação nos rendimentos de
atividades profissionais constantes na tabela a que se refere o artigo 151º do código do
IRS 75% do rendimento declarado. Os restantes 25% são considerados como encargos
próprios da atividade e, consequentemente, livres de impostos. Assim, não se declara
no IRS despesas da atividade, como deslocações, aquisição de bens ou serviços
indispensáveis à atividade, no regime simplificado.
Caso a atividade se refira a vendas, prestação de serviços no âmbito das atividades
hoteleiras e similares, restauração e bebidas e subsídios destinados à exploração, a
despesa imputável à atividade corresponde a 85% do volume de negócios.

Alínea A: o regime simplificado de tributação (art. 87/1/A LGT) não constitui um verdadeiro caso
de avaliação indireta da matéria coletável pelas seguintes razões:
1) Em primeiro lugar porque não se trata de um caso de aplicação subsidiária de um
método de quantificação da matéria coletável, mas antes de uma opção do sujeito
passivo em alternativa ao regime de contabilidade organizada (art. 81/2 LGT; art. 28/1
e 31 CIRS; 86-A CIRC), desde que preencha os requisitos para poder realizar essa opção
(art. 28/2 CIRS).
2) Em segundo lugar, porque neste caso não se trata de apurar o rendimento real a partir
de indícios ou presunções, mas sim de tributar um rendimento-presumido, que se aceita
de modo alternativo ao rendimento real, como forma de não sobrecarregar os titulares
de rendimentos mais baixos com obrigações contabilísticas mais complexas.

A posição do curso é de que os dois únicos casos de “verdadeira” avaliação da matéria tributável
por métodos indiretos são: impossibilidade de comprovação direta e exata dos elementos
indispensáveis à correta determinação da matéria tributável (art.87/1/b, 88 e 90 LGT), por se
verificar qualquer anomalia ou incorreção que inviabiliza o apuramento daquela e declaração
sistemática de prejuízos fiscais em (pelo menos) três anos consecutivos ou em três anos num
período de cinco (art. 87/1/E e 90 LGT).
Ou seja: em rigor, apenas no caso de impossibilidade de comprovação e quantificação direta,
estamos perante uma verdadeira situação de determinação da matéria coletável por métodos
indiretos.
Nos demais casos, ou se pretende, à partida, apurar um rendimento diverso do rendimento
real revelado pela contabilidade, que assim é afastada quanto aos gastos, ou há lugar à
inversão do ónus da prova, presumindo-se rendimentos não declarados se o contribuinte não
justificar esses outros rendimentos.
A lista de critérios do art. 90/1 não é taxativa.

Por outras palavras: A avaliação indireta é excecional, só ocorre quando estiver em causa uma
das situações do art. 87 da LGT, só assim pode haver avaliação indireta.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 46


A avaliação indireta é subsidiaria da direta (tudo que não estiver previsto na avaliação indireta,
aplica-se as regras da avaliação direta, art. 85/1 LGT).
Nem todas as situações do art. 87 são situações de verdadeira avaliação indireta, circular
alíneas B e E do art. 87, que o curso entende que são verdadeiramente as únicas situações de
avaliação indireta, os verdadeiros casos. Só nesses casos que verdadeiramente não é possível
apurar através de métodos diretos a matéria coletável.
As outras são uma intenção da administração tributária de considerar que os rendimentos que
estão declarados não correspondem verdadeiramente os rendimentos recebidos. A
administração consegue determinar, mas entende que aquilo que está plasmado não
corresponde a verdade (são as manifestações de fortuna).
Alínea B, remissão art. 88 (casos práticos são sempre uma situação do 88), o art. 88 é meramente
exemplificativo, não é taxativo. Nessas situações são verdadeiros casos de impossibilidade de se
proceder por métodos diretos.
Quais são os verdadeiros casos de avaliação indireta? Alínea B e E.
Quanto as alíneas C, D e F, o que se pretende é inverter o ónus da prova, se não decorre dos
rendimentos declaradas, tem que se explicar como se consegue ter aquele património (na B e E
não, é impossível através de métodos objetivos saber qual é o real rendimento)
A alínea A não tem nada a ver com isto, tem a ver com o regime simplificado. Regime
simplificado de tributação, alínea A, remeter, art. 28 CIRS e 86-A CIRC.
Nos rendimentos empresariais, no IRS (ex: rendimentos enquanto advogada), são rendimentos
da categoria B, posso, para determinar os mesmos, utilizar 2 metodos. São rendimentos da
minha atividade, usados para a minha própria atividade.
Mas, isto é dispendioso, implica lá estar um contabilista, uma serie de coisas, e por isso o
legislador criou o regime simplificado. Ao invés de se apurar todos os rendimentos, todas as
despesas, não é necessário isso, pois há uma presunção, o estado presume que uma parte é
rendimento, e outra parte é para as despesas. Remissao 28 CIRS para o art. 31 CIRS. Só fica
abrangido pelo regime simplificado quem os rendimentos não ultrapassarem 250.000€.

Procedimento Especial de revisão da matéria coletável – Art 91 LGT

Procedimento especial de revisão da matéria


tributável

§ Objetivo do § Prazo: 30 dias (art. 91/1 LGT)


procedimento § Pressuposto da impugnação
§ Intervenção de um judicial do ato de liquidação (art.
perito 117/1 CPPT e 86/5 LGT)
independente (art.
91/4 LGT) § Acordo entre o perito da AT e o
perito do contribuinte (art. 92/3
LGT)
§ Falta de acordo entre os peritos
Resultados do (art. 92/6 LGT)
§ Concordância entre o parecer do
perito do contribuinte e o parecer
do perito independente (art. 92/8
LGT)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 47


Determinada a matéria coletável por métodos indiretos, caso o sujeito passivo não concorde
com a quantificação efetuada pela AT, pode recorrer ao Procedimento especial de revisão da
matéria coletável (art. 91 LGT).
§ Não se aplica aos casos de regime simplificado (art. 91/1), nem às situações de
manifestação de fortuna (art. 89-A/7)
§ Inicia-se a pedido do contribuinte, através do requerimento dirigido ao órgão da
administração tributária da área do seu domicílio fiscal
§ Nos 30 dias contados a partir da data da notificação da decisão.
§ O pedido suspende o procedimento de liquidação do tributo (art. 91/2 LGT) – apenas
até à decisão final tomada neste procedimento.

O procedimento:
i. Debate contraditório entre o perito indicado pelo contribuinte logo no requerimento
inicial e o perito indicado pela administração tributária (que deve constar na lista
aprovada pelo Ministério das Finanças, exceto: art. 91/4 – 93; 92/7 e 8)
ii. Se houver acordo entre os peritos, o tributo é liquidado com base na matéria tributável
acordada, não podendo a AT alterar o valor dessa matéria tributável – art. 92/3, 4 e 5.
Inimpugnabilidade no caso de existência de acordo em sede de pedido de revisão (art.
86/4 LGT) – exceção: não pode considerar-se o sujeito passivo vinculado pelo acordo
que seja obtido, sempre que se demonstre que o representante não agiu dentro dos
limites dos seus poderes de representação e agiu em sentido contrário a estes poderes.
iii. Se não houver acordo, a AT fixa unilateralmente o valor da matéria coletável tendo em
conta as posições dos dois peritos (art. 92/6)
iv. Nomeação de perito independente: art. 91/4, 92/7 e 8 LGT

O pedido de revisão é um preliminar indispensável para a posterior impugnação da liquidação


com fundamento em ilegalidade por erro na quantificação ou nos pressupostos de
determinação da matéria tributável – art. 86/5LGT e 117/1 do CPPT
Se não tiver havido aquele pedido, pode posteriormente impugnar, mas apenas com base em
outros fundamentos, por exemplo, falta de fundamentação (art. 117/2 CPPT)

Quando a impugnação for apresentada pelo responsável subsidiário não se aplica o art. 86/5,
Dado que o art. 22/4 LGT garante ao responsável subsidiário o direito à reclamação e à
impugnação da matéria tributável, nos mesmos termos do devedor principal, e não lhe for
possível, no caso de fixação da matéria tributável por métodos indiretos, requerer ou intervir,
por se encontrar findo, no procedimento de revisão, poderá mesmo assim impugnar a avaliação
indireta com um fundamento em ilegalidade por erro na quantificação ou nos pressupostos de
determinação da matéria tributável.

Imagine agora que:


§ A liquidação adicional foi fixada através de uma avaliação indireta. E a devedora
originária não solicitou a revisão da matéria tributável fixada através do pedido de
revisão, previsto no artigo 91 LGT.
§ Pode agora o responsável subsidiário, contra quem foi revertida a dívida, vir solicitar
esta revisão?
Posição assumida pelo STA: o responsável subsidiário pode formular pedido de revisão
da matéria coletável apurada através de métodos indiretos na sequência da sua citação
no processo executivo, data a partir da qual se deve contar o prazo de trinta dias
previsto para o efeito no nº1 do art. 91 LGT (ex: Acórdão do STA de 17/03/2011,
processo nº 0876/09).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 48


Princípio da impugnação unitária (art. 54 CPPT) atento o critério da lesividade dos atos
Ou seja, salvo quando forem imediatamente lesivos dos direitos do contribuinte ou
disposições expressa em sentido diferente, não são suscetíveis de impugnação
contenciosa os atos interlocutórios do procedimento, sem prejuízo de poder ser
invocada na impugnação da decisão final qualquer ilegalidade anteriormente cometida.
A possibilidade de impugnar: atos de fixação da matéria tributável por métodos
indiretos propriamente ditos, em que essa fixação só pode ser contestada judicialmente
na impugnação da liquidação (nesta parte, prevalece a regra da impugnação unitária –
art. 54 CPPT), se previamente o contribuinte tiver lançado mão do pedido de revisão da
matéria tributável (art. 87/5 e 91 LGT).
Correção quantitativa: tem lugar quando a administração tributária procede à correção da
matéria tributável determinada com base em métodos indiretos, correção cuja impugnação
judicial está dependente de prévia impugnação administrativa através do procedimento de
revisão da matéria tributável fixada por métodos indiretos, se os fundamentos da impugnação
judicial forem um dos previstos no art. 86/5 LGT.
A natureza da correção administrativa mencionada supra é diferente das correções técnicas,
que são correções que a administração tributária faz à matéria tributável determinada no
âmbito da avaliação direta, como correção concretizada, por exemplo, na não consideração de
determinadas verbas como gastos fiscais assim qualificadas na declaração de rendimentos. Estas
correções apenas podem ser impugnadas judicialmente em sede de impugnação da
consequente liquidação, embora não se exija qualquer prévia impugnação administrativa.
Caso prático
Num processo de inspeção tributária iniciado em 2018, a Autoridade Tributária considerou
que os registros contabilísticos da sociedade XPTO, Lda, referentes ao ano 2016 eram
insuficientes, não sendo possível quantificar a matéria tributável a partir da contabilidade de
forma exata. Assim, notificou a sociedade de que iria proceder à correção da quantificação da
matéria tributável através da aplicação de uma margem média de lucro de 3,5%/ano,
correspondente a um acréscimo da matéria tributável no valor de 60.000€. Após audição da
sociedade XPTO, foi fixada a correspondente matéria tributável de IRC, tendo a empresa sido
notificada desse facto, e de seguida a AT procedeu à liquidação do imposto em Abril de 2016.
1) Identifique a natureza da correção administrativa referida, referindo-se ao
procedimento de determinação da matéria tributável que lhe está subjacente.
Pontos a desenvolver: Correção quantitativa, distinção para as correções técnicas e
aritméticas; a Administração Tributária procedeu à correção da matéria tributável
determinada com base em métodos indiretos; características da avaliação indireta da
matéria tributável – excecional e subsidiária da avaliação direta (arts. 81 e 85 LGT);
explicitação do encadeamento nos casos de impossibilidade de comprovação e
quantificação direta e exata dos elementos indispensáveis à correta determinação da
matéria coletável (arts. 87/1/b, 88 e 90 LGT); os critérios do artigo 90 da LGT e a
determinação do rendimento real presumido; a hipótese como verdadeiro caso de
avaliação indirecta.
2) Suponha que a sociedade XPTO pretende reagir judicialmente contra a referida
correção por entender haver erro na quantificação da matéria tributável, falta de
fundamentação de direito e decurso do prazo de caducidade do direito à liquidação.
Pode fazê-lo?
R: O Princípio da impugnação unitária – art. 54 CPPT e a sua refração no âmbito da
avaliação indireta em função da avaliação em causa e, no caso, a inimpugnabilidade
judicial da concreta decisão de correção; equacionar a existência prévia à liquidação de
pedido especial de revisão da matéria tributável (arts. 91 e 92LGT) como condição da
impugnação judicial da liquidação com fundamento em erro na quantificação ou nos
pressupostos da determinação indireta da matéria tributável (arts. 86/5 LGT e 117/1
CPPT); Em caso de inexistência desse pedido, preclusão da impugnação quanto ao erro

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 49


na quantificação; a inimpugnabilidade no caso de existência de acordo em sede de
pedido de revisão (86/4 LGT); Desnecessidade do pedido de revisão para impugnação
com fundamento na falta de fundamentação de direito e no decurso do prazo de
caducidade do direito à liquidação já não seria necessário recorrer a tal pedido como
condição de impugnação judicial da liquidação.

Procedimento de liquidação do IRS

Totalidade dos seus


rendimentos, incluindo
Pessoas singulares os obtidos fora do
residentes (16º CIRS) território nacional –
Princípio da
universalidade ou do
rendimento mundial
Incidência pessoal – art.
13 CIRS
São tributadas apenas
pelos rendimentos
Pessoas singulares não obtidos em Portugal,
residentes isto é, Princípio da
territorialidade (art.
15/2)
Existindo agregado familiar o
imposto é apurado
individualmente em relação a
cada cônjuge ou unido de facto, a
não ser que seja exercida a opção Tributação em IRS dos residentes não habituais:
pela tributação conjunta – a) os rendimentos obtidos em Portugal por estes residentes não ficam sujeitos
art.13/2 – alteração da Lei nº 82 – a englobamento
E/2014 de 31/12, que entrou em b) tributação proporcional – já que esses rendimentos ficam submetidos a
vigor em 01/01/2015 uma única taxa, a cobrar segundo a técnica da retenção na fonte a título
definitivo (art. 71/4).

Agregado familiar: art. 13/3 e 4


Casados: com a reforma de 2015 a tributação separada do casal passa a ser a regra
do IRS, embora se salvaguarde a opção pela tributação conjunta – que protege os
casais com rendimento de valores díspares – art. 59
Unidos de facto: art. 14, podem optar pela tributação conjunta ou manterem-se na
tributação separada.
No caso dos contribuintes que não optarem pela entrega da declaração conjunta, os
respetivos dependentes passam a poder integrar a declaração de cada um dos
progenitores, ou seja, podem ser incluídos em mais do que uma declaração anual de
IRS:

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 50


Fase do Imposto
Lançamento Objetivo
1. Perante um determinado rendimento haverá que o qualificar como integrando uma
categoria:
Categoria A – rendimentos do trabalho dependente – art. 2º
Categoria B – rendimentos empresariais e profissionais – art. 3º e 4º
Categoria E – rendimentos de capitais – arts. 5º, 6º e 7º
Categoria F – rendimentos prediais – art. 8º
Categoria G – incrementos patrimoniais – art. 9º e 10º
Categoria H – pensões – art. 11º
2. Determinar, face às normas de incidência real da respetiva categoria, se o rendimento
em causa é ou não tributado
3. Qualificar qual o rendimento coletável, que em muitos casos não corresponderá ao total
obtido. Quando a obtenção de um determinado rendimento implique que o
contribuinte suporte custos.
4. Só são dedutíveis os custos ou outros valores expressamente previstos na lei, a qual não
permite sempre a integral dedutibilidade de todos os encargos suportados pelos
contribuintes para a obtenção de alguns rendimentos. Deduções específicas – este
apuramento acontece categoria a categoria = valores que a lei permite que sejam
subtraídos ao rendimento bruto para se apurar o rendimento líquido tributável – art.
25º ss.

Liquidação em sentido amplo


Após apurado o rendimento líquido tributável de cada categoria:
1) Os rendimentos das várias categorias são sujeitos a englobamento, apurando-se o
rendimento total (ou global) líquido – art. 22º
§ O englobamento não abrange a totalidade do rendimento tributável (rendimentos
sujeitos a taxas liberatórias – art. 71º) ou são englobados se tal for opção do sujeito
passivo
2) Ao rendimento coletável é aplicada a taxa (liquidação em sentido estrito), obtendo-se a
COLETA – art. 68º e 68º - A.
3) À coleta serão realizadas deduções – deduções à coleta: art. 78º e ss.
4) Obtendo-se, desta forma, o valor do imposto a pagar.

Rendimento líquido de cada categoria

Deduções específicas (art. 25º e ss)

Rendimento líquido de cada categoria

Rendimento líquido total Englobamento – art. 22

Rendimento coletável Quociente familiar

Taxa

Coleta

Deduções à coleta

Imposto a pagar

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 51


1) Qualificar o rendimento como integrando uma categoria
Incidência Real
Categoria A
Abrange os rendimentos obtidos no quadro de relações de trabalho subordinado ou em
situações equivalentes.
Rendimentos resultantes:
o Do contrato de trabalho ou equiparado – art. 2/1/A
o Do contrato de aquisição de serviços ou outro de idêntica natureza em que o
trabalho seja prestado sob a autoridade e direção do adquirente dos serviços
(ex: “a recibos verdes”) – art. 2º/1/B
Para distinguir face à Categoria B é necessário aferir se o trabalho é
efetivamente prestado sob a autoridade e direção de outrem.
Art. 28/8 – quando a prestação de serviços seja feita a uma única entidade, o
sujeito passivo pode optar pela tributação de acordo com as regras da
categoria A.
o Do exercício de função, serviço ou cargo público – art.2/1/C.
Os funcionários públicos são juridicamente verdadeiros trabalhadores por conta
de outrem, só que os respetivos contratos regem-se por legislação especial.
o Da atribuição a título de pré – reforma, pré – aposentação, reserva (estas duas
últimas para os elementos da PSP e das forças armadas, incluindo a GNR), com
ou sem prestação de trabalho (rendimentos que não são inseríveis na Categoria
H – art. 2/1/D
Þ Incluem-se aqui outros rendimentos pagos pela entidade patronal ou
por terceiros no interesse desta – ex: fundos de pensões. Ou seja,
prestações atribuídas, não importa a que título, antes de verificados os
requisitos exigidos nos regimes obrigatórios de segurança social para a
passagem à situação de reforma, e, bem assim, as prestações que
continuem a ser devidas até que se verifiquem os requisitos necessários
à passagem à situação de reforma.
o As remunerações dos órgãos estatutários das pessoas coletivas (exclusão dos
ROC quando nessa qualidade integrem os órgãos estatutários e outras pessoas
coletivas, na medida em que são profissionais independentes – art. 53 do DL nº
487/99, de 16 de novembro – art. 2/3/A
Rendimentos não sujeitos a tributação:
Art.2 – A exclui da incidência do imposto determinadas importâncias –
desagravamentos estruturais
o Abonos de família
o Subsídios de refeição
o Contribuições da entidade patronal para seguros de vida
o Fundo de pensões
o Regimes complementares de segurança social
o Benefícios imputáveis à utilização e fruição de realizações de utilidade social e
de lazer mantidas pela entidade patronal
o Despesas por esta suportadas com ações de formação profissional dos
trabalhadores
o Ajudas de custo na parte em que não excedam os limites legais – al. D, nº3, art-

o Verbas atribuídas ao trabalhador para despesas de deslocação, viagens ou
representação (ex: gastos com alimentação, alojamento, recepções, etc)
As prestações não podem constituir um benefício individualizado e não podem ser
objeto de qualquer forma de antecipação da sua disponibilidade.
Categoria B

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 52


A partir de 2001, essa categoria passou a integrar os rendimentos empresariais e
profissionais, tendo sido suprimidas as categorias C e D.
O art. 3º passou a prever o exercício de qualquer atividade comercial, industrial,
agrícola, silvícola ou pecuária – nº1/A e os auferidos no exercício, por conta própria, de
qualquer atividade de prestação de serviços, incluindo as de caráter científico, artístico
ou técnico (nº1/B).
O Art.4º enumera (meramente exemplificativa) quais as atividades geradoras de
rendimentos empresariais para efeitos de tributação + art. 151º e portaria nº 1011/2001
de 21 de agosto – lista de atividades também a título exemplificativo.
São consideradas atividades comerciais e industriais, designadamente: a compra e
venda, fabricação, pesca, exploração minerais e outras indústrias extrativas,
transportes, construção civil, urbanística e exploração de loteamentos, atividades
hoteleiras e similares, restauração e bebidas, agências de viagem e turismo, artesanato,
atividades agrícolas e pecuárias não conexas com a exploração da terra ou em que esta
tenha caráter manifestamente acessório, atividades agrícolas, silvícolas e pecuária
integrados noutras de natureza comercial ou industrial.
São consideradas atividades agrícolas, silvícolas ou pecuárias, designadamente: as
comerciais ou industriais, meramente exclusiva, os produtos das próprias explorações
agrícolas, silvícolas ou pecuárias; a caça e a exploração de pastos naturais, água e outros
produtos espontâneos; exploração de marinhas de sal; explorações agrícolas
investigação e obtenção de novas variedades animais e vegetais, dependentes daquelas
atividades.
o Exclusão de certos rendimentos: art. 3º nº4 do CIRS (o valor do IAS para o ano
de 2019 é de 435,76€, logo, 4,5 x 435,76 = 1960,92€).

Outros rendimentos desta categoria


o Art. 3/1/C em princípio, estes rendimentos apenas são de incluir nesta
categoria quando auferidos pelo respetivo titular originário (inventor, autor)
Þ Direitos de autor e direitos conexos (regulados no Código do direito de
autor e direitos conexos), quando o cedente seja o titular originário.
Þ Se os direitos de autor forem explorados por uma editora? Constituem
rendimentos de capitais – categoria G
Þ Os direitos de propriedade industrial tutelam as invenções, as marcas,
o design, os sinais distintivos do comércio, etc.
Þ Rendimentos obtidos pela prestação de informações respeitantes a
uma experiência adquirida no setor industrial, comercial ou científico
(Know How).
o Art.3/2: rendimentos prediais, de capitais e mais valias quando obtidos em
conexão com atividades de natureza empresarial ou profissional. EX: mais –
valia obtida por um advogado com a venda do seu escritório.
o Art.3/2/ D e E: rendimentos provenientes da cessão temporária de um
estabelecimento e as importâncias recebidas a título de indemnização, conexas
com a atividade exercida (ex: pela mudança do local do respetivo exercício).
o Comprar casa para revender: possibilidade de inclusão nas categorias B
(art.3/1/A e nº2/C, no caso do exercício de atividade empresarial.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 53


Categoria E – Rendimentos de capitais
Rendimentos resultantes da aplicação de capitais, em que se compreendem,
nomeadamente, os juros provenientes de contratos de mútuo e de abertura de créditos,
os juros derivados de depósitos à ordem ou a prazo em instituições financeiras, os juros
e outros rendimentos de títulos, incluindo os títulos de dívida pública, os lucros das
entidades sujeitas ao imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas colocados à
disposição dos respetivos associados.

Categoria F
o Noção de prédio – art. 2 do CIMI. EX: uma fração de terreno com ou sem os
edifícios ou outras construções neles implantados.
o Nº4/ art.8º - todo o bem móvel assente o mesmo local por período superior a
12 meses (ex: caravana, tenda destinada a espetáculos)
o Tem que existir uma renda. Prédios não arrendados não são tributados em sede
de IRS
o O titular de tais rendas não é necessariamente o proprietário. Ex: art.8/2/C.
o Rendas de prédios rústicos, urbanos e mistos pagos ou colocados à disposição
dos respetivos titulares e decorrentes da locação de tais prédios ou de cessões
de exploração de estabelecimentos comerciais ou industriais, incluindo a dos
bens móveis que aí se encontrem, bem como a diferença das rendas obtidas
pelo sublocator.
o Inclui também as rendas derivas da instalação num terreno ou no telhado de
um edifício de antenas de telemóveis, painéis publicitários, cedência do uso de
partes comuns na propriedade horizontal.
O rendimento imputado à casa de habitação não integra o rendimento tributável
em IRS, a título de rendimentos pessoais.
ATENÇÃO: COMPRAR CASA PARA ARRENDAR: possível inclusão na categoria B no
caso de exercício de atividade empresarial (art.3/1 e 2/A) ou opção do sujeito
passivo (art.8/1 parte final).

Categoria G
Ampliada pela Lei nº 30 – G/2000
o Mais valias + outros incrementos patrimoniais
o Designação deveria ser “outros incrementos patrimoniais” uma vez que
todos os rendimentos são incrementos patrimoniais.
o Ganhos resultantes da alienação onerosa de direitos reais, de partes sociais
e da propriedade intelectual ou industrial (quando quem transmite não é o
autor).
o Da cessação de posições contratuais ou outros direitos relativos a imóveis
o Indemnizações que visem a reparação de danos emergentes não
comprovados e de lucros cessantes (considerando-se apenas os destinados
a ressarcir os benefícios líquidos deixados de obter em consequência da
lesão).
Art. 12 – exclui as indemnizações atribuídas em consequência de lesão corporal, doença
ou morte, quando pagas por entidades públicas + Art. 9/1/B – exclui indemnizações que
visem a reparação de danos não patrimoniais, quando fixadas por decisão judicial ou
arbitral ou resultante de acordo homologado judicialmente.

Categoria H
Pensões de aposentação ou reforma, de invalidez, de sobrevivência, e outras de idêntica
natureza, pagas por entes públicos (segurança social) ou privados (companhias de

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 54


seguros), as de alimentos, as rendas temporárias ou vitalícias, outras de idêntica
natureza (art. 11/1).
Conceder um tratamento mais favorável a estes rendimentos.

Delimitação negativa da incidência: art. 12 – exclusões tributárias de caráter primário.


Situações que o legislador não pretende tributar em IRS:
• Ou porque são tributadas em sede de outros impostos. EXs: incrementos patrimoniais
provenientes de transmissões gratuitas sujeitas ao Imposto de Selo; rendimento
provenientes do exercício da atividade de profissionais de espetáculos ou desportistas
quando esses rendimentos sejam tributados em IRC – art. 12/3
• Ou porque as quer livre de impostos. EX: nº1, nº2, nº4, nº5
• Art.3/4 CIRS: rendimentos das atividades agrícolas, silvícolas e pecuárias quando o valor
dos proveitos ou das receitas ... Não excedo por agregado familiar quatro vezes e meia
o valor anual do IAS.

Caso prático
Diga se são tributáveis, e em que categoria de rendimentos do IRS, os seguintes proventos
auferidos por pessoas singulares residentes no território português.
a) Mais – valia pela alienação de uma casa de habitação própria e permanente, em que o valor
de realização foi reinvestido, no ano seguinte, na aquisição de outra casa com o mesmo
destino
R: tributável na categoria G (art. 9 e 10/1 alínea A do CIRS), salvo se verificada a hipótese prevista
no artigo 10/5 do CIRS.
b) Rendimento de uma exploração apícola.
R: Tributável na categoria B (art.3/1/A e 4/4), como rendimento de atividade agrícola, silvícola
ou pecuária, salvo se verificada a hipótese prevista no art.3/4.

Caso Prático
Diga se são tributáveis, e em que categoria de rendimentos do IRS, os seguintes proventos
auferidos por pessoas singulares residentes no território português. Deve indicar sempre as
normas em que baseia a sua resposta.
1. Pensão de pré aposentação do intendente Silva, da PSP.
R: categoria A – art. 2/1/D
2. Abono para falhas auferido por um empregado de um hipermercado no valor de 10% da
sua remuneração mensal fixa
R: abono para falhas – subsídio destinado a indemnizar o funcionário de despesas ou riscos
especiais a que o sujeita a função – é tributável na categoria A, al. C do nº3, do art.2, na parte
em que excedam 5% da remuneração mensal fixa.
3. Rendimento resultante da sublocação de um apartamento
R: Tributável na categoria F (art.8/2/C) a diferença, auferida pelo sublocador, entre a renda
recebida do subarrendatário e a paga ao senhorio.
4. Mais – valia pela alienação de uma casa de habitação própria e permanente, em que o valor
de realização foi reinvestido, no ano seguinte, na aquisição de outra casa com o mesmo
destino, situada no Tajiquistão, devido à emigração do proprietário da casa para esse país
R: tributável na categoria G (art.9 e 10/1/A do CIRS). Não se aplica a exceção do art. 10/5/A, uma
vez que o imóvel não se situa nem em Portugal, nem na UE, nem num Estado do espaço
econômico europeu.
5. Subsídio de refeição pago ao gerente de uma sociedade por quotas, em vales de refeição,
no valor do dobro do valor fixado para os servidores do Estado.
R: isento de pagamento de imposto – art.2/3/B ponto 2 – não excede os 60%.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 55


Caso prático
Imagine que o Sr. XYZ, nacional português e domiciliado no Porto, vai receber no ano de 2015
os seguintes rendimentos líquidos de deduções: (i) 15.000,00€ por seu trabalho como gerente
administrativo da empresa ABC Sapatos Ltda., com sede em Vila Nova de Gaia; (ii) 10.000€
pelas apresentações que realiza como músico aos finais de semana em Lisboa e Leiria; (iii)
2.000€ pelos concertos realizados em Vigo, Espanha, e (iv) 4.000€ de direitos de autor.
Relativamente ao IRS do período tributário de 2015, qual é a matéria tributável?
R: A matéria tributável do IRS determina-se consoante os arts. 22º e ss. Do CIRS. Na espécie, os
rendimentos constantes do enunciado já se encontram líquidos de deduções, de modo que a
matéria tributável será calculada a partir do englobamento dos rendimentos das várias
categorias auferidos em cada ano.
Assim, tem-se, para cada categoria A (art.2 CIRS), o valor de 15.000,00€ pelo trabalho como
gerente administrativo da empresa ABC Sapatos Ltda; e para a categoria B (art. 3/1/B e nº5 C/
art. 151 anexo 1, 2, cd. 2013), 10.000€ pelas apresentações que realiza como músico aos finais
de semana em Lisboa e Leiria, 2.000€ pelos concertos realizados em Vigo, Espanha, e 4.000€ de
direitos de autor. Não há notícia de quaisquer outros rendimentos enquadráveis nas demais
categorias, de modo que a matéria coletável será determinada mediante englobamento dos
rendimentos líquidos das categorias A e B, a saber (15.000 + 16.000), totalizando 31.000€.

2) Deduções específicas -não sai muito


Despesas necessárias à obtenção do respetivo rendimento. Em tese, as deduções visam
libertar o rendimento dos encargos inerentes à sua aquisição
- Para a A, art. 25, 26, 27
- Para a B, art. 28 a 39, 31 e 32 (e, no caso deste último, o 33)
- Para a E, art. 49 e 40 – A
- Para a F, art. 41
- Para a G, art. 42 a 52
- Para a H, art. 53
Determinação do rendimento bruto por categoria - deduções específicas p/cada
categoria = rendimento líquido p/ cada categoria
Apuramento do rendimento global líquido ou rendimento líquido total através do
englobamento, art. 22º, soma dos rendimentos líquidos de cada categoria.

Dedução de perdas
Princípio da não intercomunicabilidade dos gastos: art. 55/1 parece consagrar o
princípio da intercumunicabilidade dos gastos, mas as exceções são tantas nos restantes
números que podemos afirmar que não existe intercomunicabilidade.
Mesmo dentro da mesma categoria de rendimentos não existe uma comunicabilidade
total dos prejuízos. EX: art. 55/1/B.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 56


3) Taxas
Escalões de IRS – art. 68 CIRS

João e Maria são casado e obtêm, cada um, anualmente, rendimentos tributáveis
sujeitos a englobamento de 37.500€. O rendimento do casal é, assim, de 75.000€.
Optam pela tributação conjunta, como determino as taxas aplicáveis?
R: art. 68 CIRS – taxas gerais, sistema de progressividade por escalões (ao rendimento
situado no intervalo de cada escalão é aplicável a respetiva taxa).

Taxas Liberatórias
Libertam das obrigações de declaração, de englobamento e pagamento pelo
contribuinte (a obrigação de imposto considera-se cumprida com a retenção efetuada
pela entidade pagadora). Substituição fiscal total. Retenção na fonte a título definitivo.
Art. 71- não há, regra geral, englobamento. EX: juros de depósito a prazo (categoria
E).
As taxas incidem sobre rendimentos brutos. Nº6 – relativamente a certos rendimentos,
há a possibilidade de opção de englobamento (faculdade raramente exercida).

Taxas especiais (taxas proporcionais)


Art. 72º - taxa de 10%:
- Gorjetas
- Saldo positivo entre determinadas mais e menos – valias mobiliárias (das quais se
destaca as obtidas na venda de ações e/ou quotas).
Não são taxas liberatórias porque o sujeito passivo mantém a obrigação de fazer constar
estes rendimentos da respetiva declaração.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 57


4) Coleta
Aplicação da taxa à matéria coletável
5) Deduções – 78º e ss
Só depois temos o montante de imposto a pagar
• Deduções à coleta – ao imposto liquidado subtrai-se um valor fixo por cada
membro do agregado familiar e os valores resultantes da aplicação de
percentagens fixadas por lei ao montante de cada um desses tipos de despesas.
6) Pagamento do imposto
O IRS é pago, em larga medida, antecipadamente, seja através da retenção na fonte,
seja através dos pagamentos por conta.

Em suma:
Operações de determinação do IRS:
1) Determinação do rendimento bruto p/categoria – Deduções específicas por cada categoria =
rendimento líquido p/ cada categoria
2) Soma dos rendimentos líquidos de cada categoria (englobamento – art. 22)
3) Rendimento englobado – algumas perdas (art. 55) = rendimento global líquido
Sendo contribuintes casados ou em união de facto: coeficiente familiar – art.69/1 = coleta –
deduções a esta = imposto a pagar.

Caso prático
João é proprietário de um prédio urbano, que lhe havia sido doado pelo seu pai, e o qual
habitou durante 5 anos, tendo, posteriormente, vendido o mesmo a António por 150.000€.
António arrendou, em Março de 2015, por 10.000€ anuais, a Daniela, tradutora, que celebrou
com Mauricio, estudante Erasmus, um contrato de prestação de serviços de tradução dos
manuais, com o valor unitário de 5.000€.
Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência dos impostos a
que respeitem
R:
Propriedade do prédio urbano pelo João: ser proprietário de um imóvel é um facto tributário
(tem que pagar IMI, o sujeito passivo é João). Art. 1 e 2 do CIMI, Imposto sobre o patrimônio –
Imposto Municipal sobre imóveis.
Sujeição passiva: art. 8 CIMI, João.
Doação pelo pai: art.1/1, 1.2 Tabela Geral do Imposto do Selo – isento – art.6/E, sujeita, no
entanto à verba 1.1, de 0,8%, sendo o sujeito passivo o adquirente dos bens – art.2
Transmissão onerosa de bem imóvel do João ao António: art.1 e 2 do CIMT, imposto sobre o
patrimônio, Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis. Sujeição passiva:
art. 4 do CIMT, António.
Art.1/1 do CIS, Imposto de selo, celebração do contrato. Sujeição Passiva: art. 2 e 3/A, António.
Venda de prédio doado pelo João: tributável na categoria G (artigos 9 e 10, número 1/ alínea A
e 4 do CIRS, salvo se verificada a hipótese prevista no artigo 10/5, do CIRS. Artigo 43/2 CIRS.
Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares. Sujeição passiva: art.13/1, João.
Propriedade do prédio urbano pelo António: art. 1 e 2 do CIMI, imposto sobre o patrimônio,
imposto municipal sobre imóveis.
Sujeição Passiva: art.8 do CIMI – António
Arrendamento do imóvel por António à Daniela:
Art.1/1 do CIS
Imposto de selo – celebração do contrato
Sujeição passiva: art.2 e 3/3/B – António
Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por António:
Art.1/1, 4/1/N ou art.8/1 e 2/A do CIRS
Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 58


Sujeição passiva: art.13/1 – António
Obtenção de rendimentos pela Daniela com a prestação de serviços de tradutora:
Art.1, 3/1/B, tabela de atividades do art. 151 do CIRS, 1334 do CIRS
Imposto sobre rendimento – Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares
Sujeição passiva: art. 13 CIRS – Daniela
Prestação de serviços pela Daniela:
Art.1/1/A e 4/1 CIVA
Imposto sobre o consumo – imposto sobre o valor acrescentado
Sujeição passiva: art.2/1/A – Daniela

Caso prático
Considere que, no ano de 2015, a Sra. ABC auferiu 30.000€ pela sua atividade como advogada
da sociedade ABC e JJB Advogados e 5.000 pelo arrendamento deum prédio urbano da sua
propriedade. O Sr. XYZ, seu marido, vai obter, no mesmo ano, 15.000€ da sua atividade de
caçador e de exploração direta de pastos naturais. O casal vai receber ainda 1.000€ de juros
de depósito a prazo que detém numa instituição bancária.
Com base nos elementos apresentados, responda justificadamente:
Quais os impostos a que a sra. ABC e o Sr. XYZ estão sujeitos?
R: Pode haver auferido rendimentos das categorias B (sócia e advogada da sociedade ABC e JJB
advogados), E (juros de depósitos a prazo, tributados via taxas liberatórias) e F (rendimentos
prediais por arrendamento de um prédio urbano de sua propriedade), a Sra. ABC estará sujeita
à incidência do IRS no ano de 2015, conforme a disciplina dos artigos 1;3;5;8;13 e 71 do CIRS.
Por haver auferido rendimentos da categoria B (atividade de caçador e de exploração direta de
pastos naturais) e E (juros de depósitos a prazo, tributados via taxas liberatórias), também o Sr.
XYZ estará sujeito à incidência de IRS no ano de 2015, conforme os arts. 1:3:4/4/B;5;13 e 71
CIRS.
Pela prestação de serviços de advocacia realizados, incidirá IVA (art.1/1/A; 4/1 CIVA), bem como
será devido este imposto pelo Sr. XYZ nas trocas que realizar relativamente ao produto da caça
e exploração de pastos naturais, seja quando habituais tais transmissões de bens (art.1/1; 2/1/A
e 3ºdo CIVA), seja quando não habituais (art.1/1; 2/1/A, segunda e terceira parte, e 3º do CIVA).
Cogita-se, ainda, a incidência do IMI, dada a propriedade do prédio urbano pela Sra. ABC (art.1,
2 e 8 do CIMI), e a incidência do IS, considerando a celebração de um contrato de arrendamento
entre a Sra. ABC e o respetivo arrendatário (art.1, nº1; art.2, e 3/3/A do CIS).

Quais os termos gerais de liquidação e cobrança do IRS? Ou indique como se procederá à


determinação do seu rendimento tributável?
O IRS é liquidado, em termos gerais, da seguinte forma: procede-se à categorização dos
rendimentos em cada uma das categorias constantes nos arts. 1 a 12 do CIRS; realizam-se as
deduções específicas de cada categoria (art. 25 a 54 do CIRS), apurando-se os rendimentos
líquidos de cada categoria; segue-se então o englobamento (art.22), rendimentos sujeitos a
taxas liberatórias não são englobados, exceto se houver opção pelo englobamento, art.71/6,
sendo certo que eventuais prejuízos não são comunicáveis entre categorias (art.55), de modo
que, nesta etapa, procede-se à soma do resultado líquido positivo de cada uma das categorias.
Optando o casal pela tributação conjunta, haverá de ser, após o englobamento, aplicado o
quociente familiar, calculado nos termos do art. 59 e 69 do CIRS, dividindo-se a matéria coletável
por 2.
Sobre o resultado da divisão incidem as taxas média e normal (art.68) para o escalão de
rendimento correspondente procedendo-se, então, à multiplicação do resultado da coleta pelo
mesmo quociente família de 2. Deste resultado, subtraem-se as deduções gerais à coleta (art.
78 e ss. Do CIRS), chegando-se à coleta líquida, que será o total de imposto a pagar.
Não optando pela tributação conjunta, inexistirá divisão e multiplicação pelo quociente familiar,
procedendo-se diretamente à aplicação das taxas ao rendimento global de cada membro do

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 59


casal (Sra. ABC e Sr. XYZ), separadamente, com a incidência das deduções à coleta reputáveis a
cada um.
É de salientar que a liquidação do IRS dá-se mediante declaração do sujeito passivo (art. 60 e 61
do CIRS), nas formas do art. 75 ss. Do CIRS).
A cobrança do imposto será feita na forma dos arts. 97 e ss. Do CIRS, valendo ressaltar que, para
os rendimentos da categoria B, são devidos 3 pagamentos por conta do imposto devido a final
(art. 102 do CIRS).
Por fim, considerando que os juros de depósitos a prazo estão sujeitos a taxa liberatória (art.
71/1/A do CIRS), a incidência do IRS dar-se-á aquando do pagamento de juros pela instituição
bancária com a retenção na fonte a título definitivo da taxa de 28%, liberando integralmente os
contribuintes (art.28/1 LGT) – retenção na fonte a título definitivo.

Caso prático
Diga, separadamente (enquadrando e justificando legalmente a sua resposta), se os seguintes
factos estão sujeitos ao pagamento de imposto e qual:
(I) Rendimentos provenientes da atividade de Belmira, como médica
(II) Ganhos de venda de uma casa em Paris, de que Sheldon era proprietário
(III) Herança recebida por Belmira, pela morte de sua mãe
(IV) Cedência de direitos de autor de Sheldon Cooper para a sociedade Big Bang, S.A
R: i: rendimentos da categoria A trabalho dependente: art.2º nº1 do CIRS, sendo possível
inclusão na categoria B, como rendimentos profissionais, artigo 3º/1/B do CIRS
Ii: rendimentos da categoria G, art.9/1/A e 10/1/A, exclusão do reinvestimento previsto no
artigo 10/5 CIRS.
Iii: sujeição a imposto de selo, art. 1/1, parte final, e tabela geral verbas 1.2 e 1.2; isenção quanto
à verba 1.2, art.6º do CIS
Iv: rendimentos da categoria B, artigo 3/1/C do CIRS, afastar a aplicabilidade do artigo 5/1, alínea
M, sendo rendimentos auferidos pelo seu titular originário não há lugar à aplicação dos artigos
5/1/M e 10/1/C, transmissão gratuita: imposto de selo, art.1/1, parte final e nº2/E, e art.2º CIS.

As manifestações de fortuna – 89 – A LGT


Manifestações de fortuna Rendimento padrão
1 – Imóveis de valor de aquisição igual ou 20% do valor de aquisição
superior a 250.000€
2- Automóveis ligeiros de passageiros de 50% do valor no ano de matrícula com o
valor igual ou superior a 10.000€ abatimento de 20% por cada um dos anos
seguintes
3 – Barcos de recreio de valor igual ou Valor no ano de registro, com o abatimento
superior a 25.000€ de 20% por cada um dos anos seguintes.
4 – Aeronaves de turismo Valor no ano de registro, com o abatimento
de 20% por cada um dos anos seguintes.
Na determinação da existência ou não de uma manifestação de fortuna segundo o disposto na
tabela, são tomados em consideração os elementos do nº2, art. 89 – A
Exemplo:
Supomos que Alfredo tem:
o Rendimento declarado: 21.000€
o Manifestação de fortuna: prédio no valor de 350.000€
o Rendimento padrão: 20‰ x 350.000€ = 70.000
o Rendimento declarado é inferior em mais de 30% ao rendimento padrão? Sim (70.000
x 30% = 21.000€/70.000 – 21000 = 49.000€).

Aplicação do regime das manifestações de fortuna (art. 89 – A/1


LGT)

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 60


Falso caso de avaliação indireta
Em bom rigor, a correção de matéria coletável com base no rendimento padrão não
consubstancia um caso de avaliação indireta da matéria coletável e sim uma tributação de um
rendimento presumidamente ocultado

A não ser que a Administração Tributária utilize a faculdade prevista no art. 89 – A/4 da LGT e,
com base nos critérios do art. 90 fixe um rendimento superior ao rendimento padrão (valor de
rendimento presumidamente ocultado, fixado pelo legislador com base em regras de
experiência.
Art. 89 – A LGT
Casos em que os rendimentos declarados em sede de IRS se afastam significativamente para
menos, sem razão justificada, dos padrões de rendimento que razoavelmente possam permitir
as manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito passivo.
Ónus da prova: se se verificar alguma das situações tipificadas como manifestações de fortuna
(art. 89 – A/1 e 87/1/F), cabe ao sujeito passivo a comprovação de que correspondem à
realidade os rendimentos declarados e que é outra a fonte das manifestações de fortuna – art.
89 – A/3 LGT. EX: herança ou doação, rendimentos que não esteja obrigado a declarar, etc.
E se não fizer essa prova? Considera-se como rendimento tributável em sede de IRS, a
enquadrar na categoria G (incrementos patrimoniais), o rendimento padrão enunciado na
tabela do nº4 (falso caso de avaliação indireta). Contudo, caso hajam indícios fundados de
acordo com os critérios previstos no art. 90 a AT pode fixar um rendimento superior a esse
rendimento padrão.

Manifestações de fortuna (art. 89 – A)

Pressupostos de funcionamento

Dois problemas: Consequências da não ilisão da


(1) Ilisão parcial da presunção pelo contribuinte:
presunção
- A AT procede à correção da matéria
(2) Extensão temporal da
tributável que o legislador qualifica
presunção de rendimento
também como avaliação indireta da
matéria tributável
- Acréscimo de rendimento é incluído
na Categoria G (art.9º)

Recurso contencioso autónomo,


A tramitar como processo urgente
(art. 146 – B CPPT e arts. 89 – A/7

Justificação Parcial
Quando o sujeito passivo apenas consegue fazer uma justificação parcial de origem do
rendimento que lhe permitiu realizar os negócios qualificados, segundo a lei, como
manifestações de fortuna.
Nestes casos, o tribunal tem entendido que esta justificação não é suficiente para afastar a
aplicação do regime jurídico das manifestações de fortuna, mas a mesma há de relevar para a

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 61


fixação presuntiva do montante do acréscimo patrimonial não justificado, desde que tal
justificação parcial não constitua uma fraude à lei.

Impugnação dos atos que determinam a aplicação do regime jurídico das manifestações de
fortuna
Da decisão de avaliação da matéria coletável segundo os critérios do art. 89 – A/1 e 4 cabe
recurso para o tribunal tributário.
Este recurso tem efeito suspensivo, tramita com o processo urgente.
Não é aplicável o procedimento do pedido de revisão da matéria coletável – Art. 89 – A/7 e 8
LGT e art. 146 – B CPPT. Ou seja, admite-se no âmbito da impugnação judicial a análise da
ilegalidade por excesso de quantificação, mesmo sem o pedido de revisão.

Exceção ao princípio da impugnação unitária (art. 54 do CPPT – insusceptibilidade de


impugnação contenciosa direta de atos interlocutórios do procedimento), uma vez que se
admite a impugnação autônoma de um ato destacável do procedimento tributário.

Meios de reação contra atos tributários


Quando quisermos reagir contra um ato tributário, temos dois grandes tipos de meios, os meios
graciosos e os meios contenciosos.
Meios administrativos Meios judiciais
o Reclamação Graciosa (art. 68 e ss. Impugnação judicial (art. 97/1/A a G CPPT):
CPPT) o Liquidação de tributos
o Recurso hierárquico (art. 66 CPPT) o Indeferimento de reclamações
o Revisão tributária (art. 78 LGT) graciosas
o Fixação da matéria coletável quando
não dê origem a liquidação de
tributos
o Indeferimento de atos
administrativos que comportem a
apreciação da legalidade do ato de
liquidação
o Agravamento à coleta
o Fixação de valores patrimoniais
Recurso contencioso/ ação administrativa –
art. 97/2 CPPT, segue a tramitação do CPPTA:
o Atos administrativos em matéria
tributária que não comportem
apreciação da legalidade da
liquidação (por ex: ato resultante de
um procedimento de inspeção)
Vamos ver quando podemos utilizar cada um, como coordenamos isso com a impugnação
judicial e quais são os casos de reclamação graciosa obrigatória.
Meios Administrativos:
Reclamação Graciosa
Noção: art. 68/1 CPPT
o Art. 70/6 e 73/1 – a reclamação pode ser apresentada por escrito ou oralmente (em
caso de manifesta simplicidade) e reduzida a termos nos serviços da AT. Ou seja, não é
necessário apresentar por escrito, podemos nos dirigir às finanças e fazer a reclamação
verbalmente, e as finanças redigem por escrito.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 62


o Limitação dos meios probatórios – apenas provas documentais e elementos oficiais de
que os serviços disponham, sem prejuízo do disposto no art. 69/E – Art.50 CPPT e 58
LGT.
o A dedução da reclamação graciosa não suspende os efeitos do ato tributário, salvo:
• No caso previsto no art. 92/8 LGT
• Ou, quando for prestada garantia adequada (garantia bancária, caução,
seguro – caução – 199 e 169 CPPT).
Não tem efeito suspensivo porque se tivesse, qualquer pessoa iria reclamar, provocando
uma demora no processo, por isso, se quisermos que tenha efeito suspensivo, temos
que prestar garantia.
OBS: Existem duas situações que tem efeito suspensivo, mesmo que não tenha prestado
garantia: quando dois peritos estão de acordo e a administração tributária fixa a matéria
coletável numa quantia diferente, nesse caso, há efeito suspensivo, porque há grande
chance do contribuinte ter razão (podendo reclamar ou impugnar com efeito
suspensivo). E se se provar que a pessoa não tem condições para prestar garantia (mas
é muito difícil se provar que não se tem como prestar garantia).
Art.183 – A: a garantia caduca se a reclamação não for decidida dentro do prazo estipulado
(um ano a contar da data da sua interposição), o que constitui uma garantia importante para os
sujeitos passivos.

Tramitação
Art. 73 CPPT:
o A reclamação graciosa pode ser deduzida com os fundament0os previstos para a
impugnação judicial (art. 70/1 e 99 CPPT).
o É apresentada no prazo de 120 dias, contados a partir dos factos previstos no art. 102/1
CPPT – art.70/1. A lei dá esse prazo de 120 dias para incentivar as pessoas a recorrerem
à reclamação graciosa ao invés de irem direto ao tribunal (o prazo da impugnação
judicial é de 3 meses invariavelmente, após a reclamação graciosa abre-se novamente
o prazo para a impugnação judicial).
o Salvo quando a lei estabeleça em sentido diferente, a reclamação graciosa é dirigida ao
órgão periférico regional da AT e instruída, quando necessário, pelo serviço periférico
local da área do domicílio ou sede do contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação
– art.73 CPPT
o O órgão periférico local instaurará o processo, dentro de um prazo não superior a 90
dias, com os elementos de que disponha e elaborará proposta fundamentada da
decisão
o Art, 75: nos demais casos, a entidade competente para a decisão de reclamação graciosa
é o dirigente do órgão periférico regional da área do domicílio ou sede do contribuinte,
da situação dos bens ou da liquidação – art.75/1
o Se a entidade competente para a decisão entender que a mesma deve ser indeferida,
cabe-lhe entender que a mesma deve ser indeferida, cabe-lhe elaborar proposta de
decisão e ouvir o reclamante nos termos do art.60/1/B da LGT, podendo esta
formalidade ser dispensada nos termos do art. 60/3 da LGT
o A notificação da decisão deve ser acompanhada da proposta de decisão elaborada pelo
serviço periférico local – art. 37/1 CPPT
OBS: Qual é o prazo para ser decidida a reclamação graciosa pela AT? Se formos ao Art. 68 ss.
Não encontramos um prazo, não se diz, e não se diz porque o prazo está no art. 57/1 da LGT, é
o prazo geral (remeter do art. 68 para o 57/1 LGT), 4 meses, o prazo geral aplica-se sempre na
falta de um prazo específico.
Se ao fim dos 4 meses, a AT não disser nada, há o indeferimento tácito, presume-se que a AT
deu resposta, que ela indeferiu a minha reclamação (isso acontece para proteger o contribuinte,

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 63


para não ficar sempre à espera). Ao fim desses 4 meses, o contribuinte tem mais 3 meses para
impugnar judicialmente.
Se houver resposta no prazo dos 4 meses (em geral há resposta), os meus 3 meses para
impugnar judicialmente começam no momento que eu for notificada da decisão.
Procedimento:
Apresento a reclamação graciosa, por escrito ou não, em 120 dias, dirigido ao órgão periférico
regional da AT, mas entrego o requerimento no serviço que praticou o ato que estou a reagir
(entrega-se aqui, não ao órgão periférico regional, para caso o serviço queira corrigir, pode fazer
naquele momento, e o ato nem chega a subir, já se corrige ali). Esse órgão periférico local tem
90 dias para elaborar uma proposta de decisão e manda subir para o órgão periférico regional,
que vai analisar, e tomar uma decisão, ou defere a reclamação graciosa ou indefere a
reclamação graciosa.
Se tiver uma proposta de decisão de indeferimento, tem sempre que informar o contribuinte,
que à partida vai indeferir a reclamação graciosa, para o contribuinte, se quiser, exercer o seu
direito a audição, ou se não quiser, não exerce.

Apresentação de reclamação

Fase instrutória (organização do processo e eventual produção de prova


complementa) da competência dos serviços de finanças

Audição prévia do reclamante caso se projete tomar uma decisão


desfavorável

Decisão do diretor de finanças, ao qual o processo é remetido (art. 73/5 do


CPPT)

Perante um ato tributário ilegal o sujeito pode optar entre:


1. Deduzir reclamação graciosa no prazo de 120 dias – art. 70 CPPT
2. Impugnar judicialmente no prazo de 3 meses (aproximadamente 90 dias) – art. 102 CPPT
Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada
impugnação judicial com o mesmo fundamento (art. 68/2 CPPT)
I. O sujeito passivo pode reclamar e aguardar pela decisão da reclamação:
Þ Se houve indeferimento expresso pode ser objeto de impugnação judicial no
prazo de 3 meses – art. 102/1/B CPPT
Þ Se houver indeferimento tácito (que se forma 4 meses depois do pedido – art.
57/1 LGT) pode impugnar no prazo de 3 meses a contar do dia em que
cumprem 4 meses posteriores à entrega da petição (art. 102/1/D CPPT).
II. O sujeito pode reclamar e impugnar, se deduzir impugnação ainda no prazo de 3
meses, caso em que a reclamação sobre e é decidida pelo tribunal (art. 111/3 CPPT). Se

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 64


eu apresentar uma reclamação graciosa, dentro do prazo, mas depois, ainda enquanto
o processo da reclamação graciosa estiver a decorrer, posso desistir e impugnar
judicialmente? Sim, se estiver dentro dos 3 meses da impugnação judicial, sim, o que
acontece com a reclamação graciosa é que ela sobe, e é afixada à impugnação judicial.

III. O sujeito pode impugnar e depois reclamar, desde que utilize um fundamento
diverso daquele que invocou na impugnação (art. 68/2 CPPT), sendo a mesma neste
caso também apensa ao processo de impugnação judicial (art. 111/4 CPPT) – forma de
alargar a causa de pedir da impugnação judicial.
Ou seja, se eu apresentar uma impugnação judicial primeiro, e depois resolver fazer
reclamação graciosa, pode? Em regra, não. O que pode acontecer é, eu me esqueço de
um argumento, não usei na reclamação judicial, faço uma reclamação graciosa com
outro argumento, e essa reclamação graciosa vai subir, para a impugnação judicial, é
juntada ao processo principal e decide-se as duas coisas.
Mas a reclamação nunca vai poder ser com os mesmos fundamentos que a impugnação
judicial.
Nunca posso impugnar e depois reclamar com os mesmo argumentos.

IV. O sujeito não pode impugnar e depois reclamar, se o fizer com o mesmo fundamento
(art. 68/2 CPPT)

V. Não pode ser deduzida impugnação judicial depois de terminado o prazo dos 3 meses
(art, 102 CPPT), sem que antes tenha havido decisão expressa da reclamação ou e tenha
formado o ato de tácito indeferimento

VI. Do deferimento pode ainda ser interposto recurso hierárquico, e deste,


posteriormente, ação administrativa relativa à decisão do recurso, quando não estiver
e causa a legalidade do ato de liquidação – art. 76/2 e 97/1/D CPPT.

Casos de reclamação graciosa obrigatória


Casos em que as liquidações ou são efetuadas pelos sujeitos passivos ou resultam de
declarações por eles apresentadas.
Não existe um procedimento prévio dirigido ao conhecimento da situação tributaria do sujeito
passivo que culmine numa decisão administrativa fixando o montante do imposto.
Discordando o sujeito passivo da liquidação não faria sentido o recurso imediato à impugnação
contenciosa. É necessário provocar, por via da reclamação obrigatória, uma decisão
administrativa.
Se tal decisão não der satisfação à pretensão do interessado fica-lhe aberto (só então) o caminho
para a impugnação.
1) Art. 131 CPPT – Em caso de autoliquidação (ex: IVA, art.27 CIVA; e o IRC, art. 89/A CIRC).
Em caso de erro na autoliquidação, a impugnação será obrigatoriamente precedida de
reclamação graciosa, dirigida ao dirigente do órgão periférico regional da administração
tributária.
No prazo de 2 anos após a apresentação da declaração.
Contudo, art. 131/3 (situação em que não é obrigatória a reclamação, o prazo para a
impugnação não depende de reclamação prévia, devendo a mesma ser apresentada no
prazo de três meses a contar do 102º).
Porque nesse caso, só se pode impugnar judicialmente se antes houver reclamação
graciosa? São situações em que a AT ainda não participou, são situações de
autoliquidação do próprio sujeito passivo, como o IVA, e se exige que haja a reclamação
graciosa para que a AT possa se pronunciar sobre aqueles atos. Só se não se resolver
através da reclamação graciosa, é que se pode impugnar.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 65


Acórdão do STA de 12/10/2011, proc. Nº 0860/10
Þ No caso de erro na autoliquidação, a lei exige a reclamação graciosa prévia
como forma de abrir a via contenciosa, a menos que (1º) o fundamento da
impugnação seja exclusivamente de direito e (2º) a autoliquidação tenha sido
efetuada de acordo com orientações genéricas emitidas pela AT (art. 131/1 e 3
do CPPT).
Þ Isto, porque a autoliquidação, que é efetuada pelo contribuinte, não constitui
um ato administrativo e, por isso, não é impugnável diretamente, exigindo-se
antes da impugnação uma atuação da AT no sentido de “administrativizar” o
ato.
Þ O segundo dos dois requisitos cumulativos exigidos pelo nº3 do art. 131 do
CPPT para dispensar a reclamação prévia enquanto condição para abrir a via
contenciosa em caso de autoliquidação – a autoliquidação tiver sido efetuada
de acordo com orientações genéricas emitidas pela administração tributária –
justifica-se, porque, nesta hipótese, a AT já se pronunciou previamente sobre
a questão suscitada e encontra-se vinculada pelas orientações (art. 68/4 da
LGT), motivo porque seria inútil suscitar a sua intervenção através de
reclamação graciosa, que teria de ser indeferida.
Por outras palavras: O art. 131: caso em que o próprio sujeito passivo liquida o imposto, IVA, IRC
(caso do IRS não se enquadra, nós só apresentamos os rendimentos, quem liquida é a AT
depois). Nestes casos, imaginemos que nos enganemos, a impugnação só pode ser feita com
previa reclamação.
Exceção: 131/3: aqui imagine que eu fiz uma autoliquidação com base em fundamentos que a
AT me deu, mas eu não concordo, nesse caso, já não tenho que reclamar previamente (porque
não ia valer de nada, a AT já me disse que para ela a autoliquidação deve ser feita daquela forma.
Por isso, quando estiver em causa uma liquidação de direito, não é necessária a reclamação
prévia).

2) Art. 132 CPPT – Em caso de substituição tributária (ex: 71/6 CIRS; pagamento do
imposto devido a final)
A retenção na fonte é suscetível de impugnação por parte do substituto em caso de erro
na entrega de imposto superior ao retido.
Neste caso, a regra é a de que o imposto entregue a mais será descontado nas entregas
seguintes da mesma natureza a efetuar no ano do pagamento indevido.
Só no caso de não ser possível corrigir desta forma, é que o substituto terá de
impugnar judicialmente a retenção na fonte, mas antes terá de reclamar
graciosamente para o órgão periférico regional da administração tributária
competente, no prazo de 2 anos a contar do termo do ano do pagamento indevido
(art. 131/2 e 3 CPPT).
Nº4: o mesmo se aplica ao substituído da retenção na fonte que lhe tiver sido efetuada.
Esta possibilidade está vedada aos casos de retenção com natureza de pagamento por
conta do imposto devido a final, pois neste caso o substituído terá sempre direito à
devolução da diferença, acrescida de uma remuneração compensatória (ex: 96º CIRS)
Contudo, também aqui se aplica o disposto no nº3/art.131.

OU seja: Este artigo é especialmente para esses casos de substituição. Imaginemos que
o substituto entrega mais imposto que devia entregar, ele pode impugnar. O imposto
pago a mais pode ser descontado nas entregas seguintes. O problema é quando não há
entregas seguintes, porque não há mais descontos, aí sim, dá a possibilidade para o
substituto de reclamar graciosamente antes de impugnar. Ele pode impugnar, mas tem
que previamente fazer uma reclamação graciosa. Aqui o prazo é de 2 anos do momento
em que entregou nos cofres mais dinheiro que devia ser entregue.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 66


E o substituído, porque não pode reclamar? Porque não é preciso reclamar, os
substituídos, por conta de imposto de vida final, recebem em maio/junho o reembolso.
O único substituído que pode reclamar são os substituídos na fonte a título definitivo
(remeter do nº4 para o art. 96 CIRS).

3) Art.103 CPPT – Em caso de pagamento por conta (ex: 102 CIRS)


Nº1: a impugnação judicial deve ter por fundamento erro sobre os pressupostos da sua
existência ou do seu quantitativo quando determinado pela AT.
Nº2: a impugnação depende da prévia reclamação graciosa para o órgão periférico local
da AT, no prazo de 30 dias após o pagamento indevido
Nº3: Se a reclamação for expressamente indeferida, o contribuinte poderá, no prazo de
30 dias, impugnar o ato nos mesmos termos em que é impugnável o ato de liquidação.
Nº4: grande exceção em direito fiscal. O silencio da administração é interpretado
normalmente como um indeferimento, mas aqui, considera-se que a reclamação foi
tacitamente deferida (há ganho de causa). 90 dias após a apresentação da reclamação
sem que a mesma tenha sido indeferida, a mesma considera-se tacitamente deferida.
OBS: não confundir pagamentos por conta (eu tenho meu imposto para pagar, ao invés
de pagar de uma vez tudo, pago dividido ao estado) com retenção (na retenção eu
retenho dinheiro a outra pessoa).
A impugnação do pagamento por conta depende da prévia reclamação graciosa. Paga-
se e depois tem 30 dias para reagir.

“Penalidade” para uso indevido da reclamação graciosa


Art. 77 do CPPT: agravamento da coleta para os casos em que a reclamação graciosa é usada
indevidamente.
Þ Nos casos em que a reclamação graciosa não seja condição de impugnação judicial e
não existam motivos que razoavelmente a fundamentem
Þ A entidade competente para a decisão aplicará um agravamento graduado até 5% da
coleta do objeto do pedido, o qual será liquidado adicionalmente, a título de custas,
pelo órgão periférico local do domicílio ou sede do reclamante, da situação dos bens ou
da liquidação.
Þ No caso de reclamação graciosa obrigatória – nº2
Þ Nº3 – o agravamento (nº1 ou 2) pode ser objeto de impugnação autónoma com
fundamento na injustiça da decisão condenatória.
OBS: IRC e IVA – há sempre autoliquidação (nos casos, temos que prestar atenção se é
liquidação, pagamento por conta ou retenção na fonte).
Prescrição da dívida: podem lançar mão da reclamação graciosa ou impugnação judicial.
Sempre que aparecer um banco a reter juros, é uma retenção na fonte a título definitivo. 28/1
substituição total e parcial (nº2 parcial, nº3 substituição total).
Sempre que for uma entidade patronal a reter dinheiro dos trabalhadores é uma retenção na
fonte a título parcial.

Recurso Hierárquico

Reclamação Graciosa Recurso hierárquico

Meio administrativo para Meio administrativo para atacar


atacar atos de liquidação decisões dos órgãos da AT

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 67


Não pode interpor-se recursos hierárquicos de um ato de liquidação, mas apenas de atos
administrativos respeitantes a questões tributárias ou de decisões administrativas que versem
sobre a apreciação dos atos de liquidação (ex: decisões de reclamação graciosas de atos de
liquidação). Ou seja, se eu for para o recurso hierárquico, eu quero reagir contra o ato
administrativo em si, recorro para o órgão superior “a queixar” (nunca dizer isso em exame), do
órgão inferior (caso eu não concorde com o indeferimento).
O recurso hierárquico apenas pode ser utilizado no procedimento tributário quando a lei
expressamente o determinar.
o Art. 67/1 CPPT: tem natureza meramente facultativa e efeito devolutivo, salvo
disposição em contrário da lei tributária.
o Art. 66/2 CPPT: os recursos hierárquicos são dirigidos ao mais elevado superior
hierárquico do autor do ato.
Interpostos no prazo de 30 dias a contar da notificação do acto respetivo perante o autor do
acto recorrido, ou, no caso de indeferimento tácito, a partir da data em que se formou o acto
de indeferimento tácito – art. 66/5 CPPT
Tramitação:
o O autor do ato dispõe de 15 dias para proceder à revogação total ou parcial do acto
• Se o acto for totalmente revogado, o recurso fica sem efeito por inutilidade
superveniente
• Se houver mera revogação parcial ou se o autor do acto entender que o mesmo
deve ser mantido, deve fazer subir o recurso acompanhado do processo a que
respeite o acto ou, quando o recurso tiver efeito meramente devolutivo, com
um extrato do mesmo.
o Os recursos são decididos no prazo de 60 dias, findo o qual se consideram tacitamente
indeferidos.
o Art. 76/2 CPPT – a decisão do recurso hierárquico é passível de recurso contencioso
(ação administrativa) salvo se de tal decisão já tiver sido deduzida impugnação judicial
com o mesmo objeto = se o ato em questão comportar a apreciação da legalidade do
ato de liquidação.
o Art. 97/1 D e P – o meio processual adequado para impugnação de actos da AT que
comportem a apreciação da legalidade do acto de liquidação é a impugnação judicial –
art.99 e ss CPPT, reservando-se a Ação Administrativa – Art.37 e ss CPTA, para a
impugnação dos actos administrativos relativos a questões tributárias que não
comportem a apreciação da legalidade do acto de liquidação – art.97/2 CPPT (ex:
ausência de fundamentação, ausência de notificação, etc.)
o Logo, do acto de indeferimento de recurso hierárquico interposto de indeferimento
de reclamação graciosa, que comporta a apreciação da legalidade de ato de liquidação,
cabe a impugnação judicial (que se rege pelo CPPT) e não recurso contencioso (que se
rege pelo CPTA).
o Art. 98/4 CPPT

Perante o indeferimento expresso da reclamação graciosa o sujeito pode optar entre:


ü Interpor recurso hierárquico no prazo de 30 dias (art. 76 e 66/2 do CPPT).
ü Impugnar judicialmente no prazo de 3 meses (revogado o 102/2 do CPPT).
No caso de optar por interpor o recurso hierárquico e guardar pela decisão:
ü Se houver indeferimento expresso do recurso, pode impugnar a liquidação no prazo de
3 meses (art. 102/1/B CPPT).
ü Se houver indeferimento tácito (que se forma 60 dias depois do pedido – art.66/5 do
CPPT) pode impugnar no prazo de 3 meses (art. 102/1/D CPPT).
Ou seja: para haver recurso hierárquico, o que tem que estar em causa é um ato que não está
fundamentado, ou por exemplo, não tive direito a audição prévia, eu só vou para o recurso
hierárquico quando quero atacar o ato em si (“estou a fazer queixinhas”), diferentemente,

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 68


quando quero atacar a liquidação, opto pela impugnação judicial.
Depois do recurso hierárquico, continuamos a ter prazo para a impugnação judicial.
Na reclamação graciosa, não temos um prazo para a decisão, temos que ir na lei geral para ver
o prazo, que serão 4 meses, já no caso do recurso hierárquico, o CPPT nos diz o prazo para ser
decidido, que são de 60 dias (art. 66/5 CPPT), se a AT não disser nada, há um indeferimento
tácito (se não ocorresse o indeferimento tácito, o contribuinte estaria desprotegido).

1. O sujeito pode recorrer hierarquicamente e impugnar, se deduzir impugnação ainda no


prazo de 3 meses, caso em que o recurso sobe e é decidido pelo tribunal – art.111/3 e
5 CPPT.
2. O sujeito passivo pode impugnar e depois recorrer, desde que o recurso tenha um
objeto diferente, sendo o mesmo neste caso também apenso ao processo de
impugnação judicial (art.111/4 e 5 CPPT).
3. O sujeito não pode propor Ação Administrativa (pedido de impugnação do acto
administrativo) relativamente à decisão do recurso se já tiver deduzido impugnação
judicial com o mesmo objeto (art. 76/2 CPPT), entende-se que o objeto é o mesmo
quando a decisão do recurso hierárquico comportar a apreciação da legalidade do acto
de liquidação.

Caso Prático
Suponha que Sheldon Cooper deduziu uma reclamação graciosa contra uma liquidação
adicional de IVA relativo ao ano de 2017, que lhe fora notificada em 30 de setembro de 2018.
A reclamação graciosa deu entrada no dia 15 de janeiro de 2019 no serviço de finanças de
Aveiro, mas até à data o reclamante não foi notificado de qualquer decisão da administração
fiscal.
Inconformado com o silêncio da administração, Sheldon Cooper pretende reagir. Explique as
possibilidades que lhe assistem.
R: referência aos meios administrativos e judiciais. Formação de indeferimento tácito,
explicitação do seu sentido, relacionar com o princípio da decisão e explicitar quando ocorre.
Explicitação das possíveis vias de ação: recurso hierárquico (prazo) seguido de impugnação ou
ação administrativa especial, ou impugnação judicial (prazos). O eventual recurso à intimação
para um comportamento e o dever de decisão expressa.

Indeferimento tácito X Princípio da decisão


Art.13 CPA – encerra dois princípios: o da pronúncia (contido no seu nº1) e o da decisão
(regulado no seu nº2).
ü Se não o fizerem, presume-se indeferido (no caso da consequência da falta de decisão
não ser o deferimento tácito) esse pedido.
ü O indeferimento tácito formado nesses moldes é contenciosamente impugnável.
Art. 147 CPPT: intimação para um comportamento
A presunção de indeferimento tácito constitui uma ficção jurídica destinada a facultar ao lesado
o acesso à via judicial perante a omissão do dever de decisão, que nem preclude a possibilidade
de este vir a recorrer a intimação judicial para um comportamento, nem transfere para o
campo da “discricionariedade administrativa” o dever geral de decidir a reclamação, que
apenas se tem por excluído nos casos previstos no nº2 do art.56 LGT (acórdão so STA de
31/03/2016, proc. 0411/15).
Ler o art.13 CPA

Revisão do acto tributário (art. 78 LGT)


Não confundir com o pedido de revisão do art. 91. É um mecanismo complementar, só se pode
lançar mão quando não há mais nenhum outro meio de defesa (ou porque já passaram os prazos

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 69


todos). Essa revisão tanto pode funcionar a favor ou contra o contribuinte. É um meio de defesa,
mas pode ser utilizado contra.
Fundamento: princípio da legalidade da administração
Modalidades:
1. Revisão por iniciativa da AT, no prazo de quatro anos após a liquidação, ou a todo o
tempo caso o tributo ainda não tenha sido pago, com fundamento em erro imputável
aos serviços (art. 78/1, in fine, LGT).
2. Por iniciativa do sujeito passivo, no prazo de reclamação administrativa (no prazo de
15 dias fixado no art. 191/3 do CPA, ainda que alguma doutrina entenda que vale aqui
o prazo de 120 dias da reclamação graciosa).
3. Revisão excecional da matéria tributável, quando autorizada pelo dirigente máximo do
serviço, no prazo de 3 anos após o acto tributário, com fundamento em injustiça grave
e notória, desde que o erro não seja imputável a comportamento negligente do
contribuinte (art. 78/4 e 5 LGT).
A revisão dos actos tributários pode derivar da iniciativa do sujeito passivo ou da AT. Logo, é um
meio que não opera exclusivamente em sentido favorável ao contribuinte, podendo ser utilizado
para rever a matéria tributável apurada com fundamento em injustiça grave ou notória de que
tenha resultado elevado prejuízo para a Fazenda Nacional (art. 78/4 e 5 LGT).
Pode ser também por iniciativa da AT – prazo de 4 anos após a liquidação ou a todo o tempo
se o tributo ainda não tiver sido pago, com fundamento em erro imputável aos serviços.
Relativa à revisão dos actos tributários por iniciativa da AT – Interpretação construtiva do STA:
ü “erro imputável aos serviços” concretiza qualquer ilegalidade não imputável ao
contribuinte, mas à Administração.
ü Da decisão do pedido de revisão cabe também impugnação no prazo de três meses (art.
95/1 e 2/D) da LGT e 102 do CPPT), porque a revisão do acto tributário, sempre que
exista erro imputável aos serviços, de que tenha resultado imposto pago a mais ou de
injustiça grave ou notória na tributação, constitui um poder – dever de revisão oficiosa.
A revisão é um meio de defesa complementar e não alternativo. Significa que o contribuinte só
pode lançar mão quando já não tenha nenhum outro meio de defesa à sua disposição (ou
porque já os esgotou ou porque já não tem prazo para lançar mão dos mesmos).
Assim sendo, e com a interpretação do STA podemos afirmar que o pedido de revisão oficiosa a
pedido do contribuinte pode ser feito no prazo de 4 anos sempre que esteja em causa erro
imputável aos serviços.

Acórdão STA de 14/03/2012, proc. Nº 01007/11


I. A revisão do acto tributário por iniciativa da Administração tributária pode ser efetuada
a pedido do contribuinte, como resulta do art.78/7 da LGT e do artigo 86/4/A do CPPT,
no prazo de 4 anos contados da liquidação (ou, no caso do tributo não ter sido pago, a
todo o tempo), ficando com isso investido de um direito a uma decisão sobre o pedido
formulado.
II. E o “erro imputável aos serviços” a que alude o artigo 78/1, in fine, da LGT compreende
não só o lapso, o erro material ou o erro de facto, como também, o erro de direito, e
essa imputabilidade aos serviços é independente da demonstração da culpa dos
funcionários envolvidos na emissão da liquidação afetada pelo erro.
Essa possibilidade de a revisão oficiosa, que deve ser da iniciativa da administração tributária,
ser suscitada por um pedido do contribuinte veio a ser confirmada pela alínea A no nº4 do art.
86 do CPPT, que refere a apresentação de “pedido de revisão oficiosa da liquidação do tributo,
com fundamento em erro imutável aos serviços. É assim, inequívoco que se admite, a par da
denominada revisão do acto tributário por iniciativa do contribuinte (dentro do prazo de
reclamação), que se faça, também na sequência de pedido seu, a revisão oficiosa (que a
administração deve realizar por sua iniciativa).

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 70


Meios judiciais
Processo de impugnação judicial
Art. 99 e ss. CPPT – aplica-se apenas à impugnação de actos tributários, ou seja, actos de
liquidação de tributos.
1. Petição inicial: art. 108 CPPT, prazo de 3 meses, art. 102 CPPT, exceto quando o
fundamento da impugnação é a nulidade (art. 102/3)
A lista de fundamentos do art. 99 é meramente indicativa.
Local de apresentação da P.I: nº1 e 2 do art. 103
Efeito suspensivo da impugnação mediante prestação de garantia: art.103, nº4 e art.
199 ou no caso previsto pelo art. 92/8 LGT.
2. Contestação: art. 110
3. Organização do processo administrativo: art. 111
Se tiver sido apresentada reclamação graciosa ou recurso hierárquico e antes da decisão
dos mesmos for apresentada impugnação judicial, os mesmos são apensos a esta. O
mesmo acontece se forem apresentados posteriormente à impugnação, mas com um
fundamento distinto, art. 111/3 e 5.
4. Revogação do acto impugnado: art. 112 (prazo de 30 dias).
5. Art. 113 ou Instrução: 114 a 119
6. Alegações: art. 120
7. Vista ao MP: art. 121
8. Sentença: art. 122 a 126

Legalidade do acto
tributário

Reclamação Impugnação
Graciosa Em certas situações
Judicial
obrigatório: revisão
da matéria coletável
OU (art.91 da LGT)

Decisão Favorável
OU Ilegalidade da
OU liquidação de
tributo
Recurso
Hierárquico

Decisão Favorável

OU
Pedido de
Ação impugnação do
Administrativa acto administrativo

Em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido pretender questionar os


pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da dívida:

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 71


ü Deduz oposição à execução fiscal /art. 204/B e I do CPPT) – pressupostos da
responsabilidade tributária
ü E impugna o acto de liquidação (art. 22/4 da LGT) – legalidade da dívida
Não é possível, nos termos do art. 104 do CPPT, cumular as duas pretensões na mesma ação.

Caso prático
Joaquim é gerente da empresa “Le FDUC, LDA” desde Fevereiro de 2013. Na sequência de um
procedimento de inspeção tributária, relativo ao exercício de 2012, a Administração Tributária
procedeu a uma correção da matéria tributável por métodos indiretos, da qual resultou uma
liquidação adicional a título de IRC, no montante de 10.000€. Suponha que, decorrido o prazo
legal (outubro 2013), a Le FDUC não efetuou o pagamento da dívida tributária.
Como a empresa não dispunha de bens suficientes para pagar a dívida, esta foi revertida
contra Joaquim. Por sua vez, Joaquim entende que a AT não provou a sua gerência da facto e
pretende ainda impugnar a liquidação adicional por entender ter havido um erro na
quantificação da matéria coletável. De que meios é que o Joaquim se pode socorrer?
R: reversão: art. 153/2 CPPT. Para reagir contra o acto de reversão: oposição à execução,
fundamento: ausência de prova da Administração de facto da Oponente na devedora originária
(art. 24 da LGT).
Para impugnação do acto de liquidação: fundamento previsto no art. 86/5 da LGT, necessário
proceder primeiramente ao pedido de revisão da matéria coletável, art. 91 LGT.
Como o artigo 22/4 LGT, garante ao responsável subsidiário o direito à reclamação e à
impugnação da matéria tributável, nos mesmos termos do devedor principal, o STA tem vindo
a defender que o responsável subsidiário neste caso tem o direito de fazer o pedido do artigo
91 da LGT, no prazo de 30 dias após a sua citação para o processo executivo (ver acórdão do STA
de 17/03/2011, processo nº 0876/09).
Contudo, mesmo que não faça aquele pedido tem direito de impugnar com base nos
fundamentos previstos no artigo 86/5 LGT.

Caso Prático
Francisco e Humberto exerceram as funções de gerência da sociedade F. & H. Teclados
Furiosos, Lda, entre os anos de 2010 e 2015. Face ao modo negligente e irresponsável como
sempre exerceram as suas funções, foram substituídos, no dia 1 de janeiro de 2016 por Idalina
e João.
Com efeito, durante o período em que Francisco e Humberto geriram a sociedade F. & H.
Teclados Furiosos, Lda: (1) não foi feito qualquer registo contabilístico, (ii) as importâncias que
retiveram aos seus trabalhadores não foram entregues nos cofres da Fazenda Pública e (iii) o
patrimônio da sociedade sofreu sério desfalque.
1) Pode a administração tributária proceder à fixação da matéria coletável sem quaisquer
registos contabilísticos?
R: Sim, pode. Está em causa a avaliação indireta da matéria coletável: à partida (art. 81/1 LGT)
a matéria coletável é determinada por mero cálculo (elementos exclusivamente objetivos +
operações matemáticas) ou por avaliação (métodos que envolvem subjetividade, apesar do que
se estabelece no nº1 do art. 84); De acordo com o art. 81/1 LGT distingue-se entre a avaliação
direta (visa a determinação do valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação) e a
avaliação indireta (determinação do valor dos rendimentos ou bens tributáveis a partir de
indícios, presunções ou outros elementos), tendo esta última sempre caráter excecional (art.
87) e sendo subsidiária da avaliação direta.
Apesar do seu caráter excecional, um dos casos permitidos é quando é impossível comprovar e
quantificar direta e exatamente os elementos indispensáveis à correta determinação da matéria
coletável do imposto (art. 87/B LGT); Referir a al. A do art.88, que densifica a previsão anterior
e o art. 90 LGT em relação à forma de quantificação.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 72


2) Quem pode ser, e em que termos, considerado responsável pelo pagamento das
importâncias retidas pela entidade patronal aos trabalhadores e não entregues nos cofres da
Fazenda Pública?
R: Enquadramento da questão: está em causa o regime da substituição tributária (explicação
sumária; relação triangular substituto – substituído – AF), regime nos arts. 20/1 e 2 e art. 34 LGT;
retenção na fonte.
Em termos de responsabilidade os substituídos (entidade patronal: “entidade obrigada à
retenção” são responsáveis originários pelas importâncias retidas e não entregues nos cofres do
Estado, ficando os substitutos (trabalhadores) desonerados de qualquer responsabilidade no
seu pagamento – art. 28/1 LGT.

3) No dia 20 de Maio de 2017 terminou o prazo de pagamento de uma dívida de imposto da


sociedade referente ao exercício de 2015. Não tendo a mesma sido paga no prazo legal, a
Administração Fiscal instaurou um processo de execução fiscal contra a sociedade F. & H.
Teclados Furiosos, Lda. Quem pode ser responsabilizado, e em que termos, por aquelas
dívidas de imposto?
R: Identificação do problema: estamos perante uma situação de responsabilidade tributária, a
qual tem aqui (como acontece em regra) natureza subsidiária. A responsabilidade é subsidiária
em relação à sociedade, mas solidária entre os gerentes.
Art. 22 e 24 LGT e 159 e ss CPPT. O art. 24 refere expressamente a situação dos gerentes. Nos
termos do art. 159 do CPPT, eles podem vir a ser chamados no processo de execução fiscal,
dando-se a reversão do processo de execução fiscal.
Aplicação no caso concreto: em primeiro lugar será responsabilizada a sociedade, se, no
processo de execução fiscal se deparar com a insuficiência dos bens da mesma, terá lugar a
reversão do processo de execução fiscal contra os responsáveis (neste caso, F e H): art. 23 LGT
e 159 CPPT.
Diferença entre o regime das alíneas A e B do art. 24/1, principalmente quanto à questão da
culpa e sua projeção no caso concreto (a possível defesa dos gerentes da alínea B (Idalina e
João), em sede de audição e/ou oposição à execução).

Execução Fiscal
Cobrança coerciva das dívidas tributárias (sem prejuízo de este procedimento ser também
utilizado para cobrança de outras dívidas – art. 148/2 CPPT).
Crítica ao 103/1 LGT: o processo de execução fiscal conjuga e articula actos da AT e fases
processuais aí enxertadas que são dirigidas pelos tribunais tirbutários. Contudo, maior parte do
procedimento decorre na AT.
Fases principais do procedimento de execução fiscal:
1. Instauração da execução
2. Citação do devedor Fase que decorre nos tribunais
3. Oposição à execução tributários
Fase que decorre nos tribunais
4. Penhora
tributários
5. Embargos de terceiro
6. Convocação, verificação e graduação dos créditos
Fase que decorre nos tribunais
7. Reclamação judicial tributários
8. Venda dos bens penhorados
9. Extinção ou reversão da execução

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 73


Oposição à Execução Fiscal
Fundamentos consagrados no art. 204 CPPT.
(Sub)processo judicial enxertado no procedimento de execução fiscal, no qual o executado
contesta, perante o tribunal tributário a legalidade do processo de execução.
Nesta fase já não é possível ao executado questionar a legalidade do acto tributário – exceto al.
H, nº1, art. 204 CPPT.
Em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido pretender questionar os
pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da dívida:
ü Deduz oposição à execução fiscal (art. 204, al. B e i do CPPT).
ü E impugna o acto de liquidação (art.22/4 da LGT).
Não é possível, nos termos do art. 104 do CPPT, cumular as duas pretensões na mesma ação.
Exemplo de fundamentos da oposição em caso de reversão do processo de execução fiscal:
o Violação formal do direito de audição da Oponente;
o Vício de forma por ausência de fundamentação, com consequente nulidade da citação,
que impede a Oponente de fazer uma defesa ciente daquilo que lhe é imputado, dos
impostos em causa, das liquidações a que se reportam, como é que as mesmas foram
determinadas, fundamentos da AT para provar a culpa da Oponente na falta de
pagamento das dívidas exequendas
o Violação da subsidiariedade da responsabilidade da Oponente e da ausência de prova
de insuficiência fundada de património da devedora originária para pagamento das
dívidas
o Ausência de prova da Administração de facto da Oponente na devedora originária

Regra geral: a oposição não suspende a execução


o Exceção: a oposição suspende a execução até ao trânsito em julgado da mesma, desde
que seja constituída garantia (art. 212, 169/9 e 199 CPPT).
o Pode ser pedida e dispensa de prestação de garantia se se provar que a mesma irá
causar um prejuízo irreparável ou se houver falta de meios econômicos – art. 170 CPPT.
o Porque a oposição à execução fiscal, embora com tramitação processual autónoma,
funciona como uma contestação à execução fiscal, não pode aquele que foi citado em
várias execuções fiscais que não se encontram apensadas deduzir uma única oposição,
ainda que os fundamentos por que se opõe sejam os mesmos.
o Transitada em julgado a fase de oposição à execução fiscal, o processo é devolvido ao
órgão de execução fiscal que, consoante a decisão, poderá dar continuidade ao
procedimento de execução fiscal (art. 213 CPPT).

Questões:
A analogia é proibida no âmbito do direito fiscal?
R: Falso. Análise da disposição do artigo 11/4, da LGT; explicitação da “reserva de lei da
Assembleia da República – princípio da legalidade fiscal (elementos essenciais do imposto) e a
questão da tipicidade; compatibilidade constitucional da analogia com os princípios
constitucionais: o artigo 11/4, LGT, como opção meramente legislativa e não como injunção
constitucional; a analogia não é proibida, por lei, no Direito Fiscal, fora do domínio dos
elementos essenciais do imposto.

Caso prático 1
Manuel é trabalhador da empresa XPTO, Lda, auferindo uma remuneração mensal líquida no
valor de 1.500€

a) Imagine que, no ano de 2016, a XPTO, Lda. pagou a Manuel um valor superior a título
de salários, por não ter realizado mensalmente a retenção na fonte dos montantes
que a lei impunha. Caso Manuel não venha a pagar voluntariamente o valor de IRS

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 74


correspondente à liquidação do ano de 2016, pode a empresa XPTO, Lda ser chamada
a fazê-lo? Com que fundamento legal? Correção: identificação do problema –
responsabilidade tributária em caso de substituição tributária (art. 28 LGT);
identificação do tipo de substituição tributária em causa – substituição tributária parcial
ou retenção na fonte a título de pagamento por conta do imposto devido a final;
substituto (XPTO, Lda.) não reteve as importâncias devidas a título de imposto pelo
substituído (Manuel), logo, nos termos do artigo 28/2 LGT, responde a título subsidiário
pela dívida tributária, respondendo o trabalhador a título principal.
b) E caso Manuel pague a totalidade do imposto devido relativamente ao ano de 2016,
haverá ainda fundamento legal para impor à empresa o pagamento de algum
montante? A que título? Correção: A XPTO, Lda. (substituto) fica ainda sujeita ao
pagamento de juros compensatórios, nos termos do art. 28/2 LGT; juros
compensatórios são as importâncias devidas em virtude de um atraso na liquidação
imputável ao sujeito passivo (artigo 35 LGT)
c) Quando é que ocorre a reversão da execução fiscal e como se compagina com o
“benefício de excussão prévia”? Correção: responsabilidade subsidiária (art. 22/4 LGT);
reversão da execução fiscal (art. 153/2 CPPT); benefício da excussão prévia: revertido,
enquanto responsável subsidiário, tem o direito de recusar o pagamento da dívida
tributária enquanto não estiver excutido (executado/vendido) o património do devedor
originário; conciliação ocorre através da suspensão oficiosa do processo de execução
fiscal, sem necessidade de o revertido prestar garantia idónea, quando não seja possível
determinar com exatidão o valor dos bens penhorados do devedor originário (art. 23/3
LGT); nos restantes casos, não há suspensão da execução fiscal, a menos que o revertido
preste garantia idónea nos termos gerais (arts. 169 e 199 CPPT);
d) Poderá Manuel proceder ao pagamento do imposto em dívida através da entrega de
50 toneladas de batata? Explique. Correção: formas de extinção da obrigação fiscal –
+ dação em pagamento (arts. 201 e 202 CPPT): pagamento da dívida tributária, pelo
executado ou por terceiro, através da entrega de bens móveis ou imóveis que não
dinheiro; exige- se que os bens dados em pagamento não tenham valor superior à dívida
exequenda e acrescido, salvo nos casos em que se demonstrar a possibilidade de
imediata utilização dos referidos bens para fins de interesse público ou social;
e) Imagine agora que a XPTO, Lda, tinha efectuado as competentes retenções na fonte,
mas entregara à Fazenda Pública um montante de imposto superior ao retido em
relação ao último trimestre de 2016. Como deve agir para regularizar a situação?
Correção: situação de reclamação graciosa obrigatória (art. 132 CPPT) em caso de
substituição tributária (total/ parcial); se o substituto (empregador) entregar ao Estado
montante de imposto superior ao retido e já não for possível efectuar
acertos/descontos nas entregas posteriores, a impugnação judicial da entrega está
dependente de prévia dedução de reclamação graciosa, no prazo de 2 anos contados a
partir da entrega excessiva (art. 132/3 CPPT); impugnação judicial do acto de
indeferimento da reclamação graciosa no prazo de 3 meses (art. 102/1 CPPT);
fundamento da reclamação graciosa obrigatória e excepções (arts. 132/6 e 131/3 CPPT);

Caso Prático 2
Joaquim Posto, Juiz-Conselheiro reformado, aufere uma pensão no valor anual de €
80.000,00 e recebe €4.000,00, por ano, de rendas de um apartamento T3 que arrendou a
estudantes, relativamente ao qual suportou €1.000,00 de IMI e €10.000,00 de despesas de
conservação. A) Indique, fundamentadamente, como se procederá ao apuramento do
rendimento colectável desse sujeito passivo;
R: Pensão no valor anual de € 80.000,00 – categoria H; € 4.000,00, por ano, de rendas de um
apartamento T3 - categoria F; Relativamente aos € 80.000,00 é necessário proceder- se às
deduções específicas previstas no 53/4; Relativamente aos €1.000,00 de IMI e €10.000,00 de

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 75


despesas de conservação que suportou – art. 41, nos 7 e 8 deduções, para que se determine
o rendimento líquido da categoria. Contudo, estes gastos não podem ser comunicados às
outras categorias, ou seja, pertencem à categoria F e não à H - Princípio da não
intercomunicabilidade dos gastos – art. 55/1/ b). Logo, estas deduções têm de ser feitas na
categoria F. €4.000,00 – € 11.000,00 = - € 7.000,00; Art. 55/ 1/ b) – o resultado líquido
negativo apurado na categoria F só pode ser reportado aos seis anos seguintes àquele a que
respeita

Caso Prático 3
Albertino vendeu em Junho de 2011, por € 250.000,00, a sua casa de habitação que adquirira
quatro meses antes por € 200.000,00, tendo aplicado o valor de realização decorrente da
venda na aquisição de um outro imóvel por € 750.000,00.
Tendo em consideração estes elementos, responda de forma justificada à seguinte questão:
Existirá, neste caso, tributação em sede de IRS, a título de mais-valias?
R: Tributável na categoria G (artigos 9 e 10/1, alínea A e 4 do CIRS), salvo se verificada a
hipótese prevista no artigo 10 /5, do CIRS, ou seja, se o reinvestimento cumprir as condições aí
previstas; caso tal não aconteça, a mais-valia será apenas considerada em 50% (artigo 43/2
CIRS).

Caso prático 4
Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência dos impostos a
que respeitem:
A Sra. ABC comprou, em 2010, um prédio urbano localizado na R. das Flores, no. 1, Coimbra,
por € 100.000,00, o qual vendeu, em 2014, ao Sr. XPTO por € 180.000,00. O Sr. XPTO
transformou esse prédio no seu escritório para a prestação de serviços de consultoria, que
lhe renderam, em 2014, € 120.000,00.
R:
- Transmissão onerosa de imóvel do antigo proprietário para a Sra. ABC em 2010:
Arts. 1 e 2 do CIMT
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
Sujeição passiva: art. 4 do CIMT – Sra. ABC
Art. 1/1 do CIS
Imposto de Selo - celebração do contrato Sujeição passiva: art. 2 e 3/3, al. A– Sra. ABC
- Propriedade do prédio urbano localizado na R. das Flores, nº. 1, Coimbra, pela Sra. ABC:
Arts.1 e 2 do CIMI
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre Imóveis
Sujeição passiva: art. 8 do CIMI – Sra. ABC
- Transmissão onerosa de bem imóvel da Sra. ABC ao Sr. XPTO em 2014:
Arts. 1 e 2 do CIMT
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
Sujeição passiva: art. 4 do CIMT – Sr. XPTO
Art. 1/1 do CIS
Imposto de Selo - celebração do contrato Sujeição passiva: art. 2 e 3/3, al. A – Sr. XPTO
- Mais-valia obtida pela Sra. ABC com a venda do imóvel em 2014:
Arts. 1; 9/1/A; e 10/1/A do CIRS
Imposto sobre o rendimento - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares Sujeição
passiva: art. 13 CIRS – Sra. ABC
- Obtenção de rendimentos com a prestação de serviços de consultoria pelo Sr. XPTO em 2014:
Arts. 1; 3/1/B do CIRS
Imposto sobre o rendimento - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
Sujeição passiva: art. 13 CIRS – Sr. XPTO
- Prestação de serviços pelo Sr. XPTO:

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 76


Arts. 1/1/A; 4/1 CIVA
Imposto sobre o consumo - Imposto sobre o Valor Acrescentado Sujeição passiva: art. 2/1/A –
Sr. XPTO
- Propriedade do prédio urbano localizado à R. das Flores, nº. 1, Coimbra, pelo Sr. XPTO: Arts.1
e 2 do CIMI
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre Imóveis
Sujeição passiva: art. 8 do CIMI – Sr. XPTO

Caso Prático 5
António dispõe de € 300.000 de que espera não precisar nos próximos 5 anos e que pretende
investir em Portugal. Mas está hesitante entre: 1) constituir um depósito bancário a prazo
por 5 anos, 2) comprar imóveis para revender; 3) comprar ações na Bolsa de Valores; ou 4)
comprar um imóvel para arrendar a estudantes.
António conhece as implicações jurídicas gerais que cada uma destas opções desencadeia,
mas não sabe com que consequências fiscais pode contar. Tente ajudá-lo, indicando o
tratamento fiscal correspondente ao rendimento que possa obter no caso de optar por cada
uma dessas situações.
R:
1) Tributação em sede de IRS - Categoria E – artigo 5/1 e 2, alínea B – sujeição à taxa
liberatória 28% artigo 71/1, alínea A e possibilidade de opção pelo seu englobamento;
2) Possibilidade de inclusão nas Categorias B (art. 3/1, alínea A e nº 2, alínea C, no caso de
exercício de atividade empresarial; a tributação das mais-valias, nos restantes casos,
enquadrada na Categoria G (artigo 9 e 10/1, al. A, sendo neste caso o saldo das mais-valias
considerado apenas em 50% (art. 43/2);
3) Eventuais rendimentos das acções: Dividendos – Categoria E (artigo 5/1 e 2, alínea H; e, no
caso de alienação das ações, eventuais mais-valias (artigo 9 e 10/1, alínea B– Em ambos os
casos, aplicação de taxa liberatória de 28%, e possível opção pelo englobamento;
4) Rendimento proveniente do arrendamento: Categoria F (artigo 8/1 e 2). Possível inclusão
na Categoria B no caso de exercício de atividade empresarial (art. 3/1 e 2, alíneas A ou opção
do sujeito passivo (artigo 8/1, parte final). Sendo tributados como rendimentos de categoria F,
serão sujeitos à taxa especial de 28% (artigo 72/1, al. E, existindo opção pelo seu
englobamento.

Caso prático 6
Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência dos impostos a
que respeitem:
O Sr. ABC, proprietário do imóvel situado na R. da Indústria no. 10, Lisboa, celebrou, em
2013, com a empresa XYZ Calçados S.A., contrato de arrendamento do imóvel pelo período
de 10 anos, iniciando-se, naquele local, em Janeiro de 2014, actividade industrial de
produção de calçado por parte da arrendatária. No ano de 2014 a empresa XYZ Calçados S.A.
obteve rendimentos de € 3.000.000,00 pela venda de 20.000 unidades de mercadoria a
diversas lojas no território português.
R:
Propriedade do prédio urbano localizado à R. da Indústria, no. 1, Coimbra, pelo Sr. ABC:
Arts.1 e 2 do CIMI
Imposto Municipal sobre Imóveis Sujeição passiva: art. 8 do CIMI – Sr. ABC
• Arrendamento do imóvel por ABC à empresa XYZ Calçados S.A.: Art. 1/1 do CIS
Imposto de Selo - celebração do contrato
Sujeição passiva: art. 2 e 3/2, al. A – Sr. ABC
• Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por ABC:
Arts. 1/1; 3/2, al. A; 4/1, al. N ou art. 8/1 e 2, al. A do CIRS Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 77


Sujeição passiva: art. 13, nº1 – Sr. ABC
• Obtenção de rendimentos com a actividade industrial de produção de calçado por parte da
arrendatária em 2014:
Arts. 1 e 3/1, al. A do CIRC
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas
Sujeição passiva: art. 2/1, al. A do CIRC – empresa XYZ Calçados S.A.
• Venda de 20.000 unidades de mercadoria a diversas lojas no território português por XYZ
Calçados:
Arts. 1º/ 1, al. A; 3/1 CIVA
Imposto sobre o Valor Acrescentado
Sujeição passiva: art. 2/1, al. A – empresa XYZ Calçados S.A.

Caso Prático 7
Ana doou, em 2010, ao seu filho Bernardo um prédio urbano avaliado em €100.000.
Bernardo habitou no imóvel até 15 de Janeiro de 2015, data em que o vendeu a Carlos por
€130.000. Após realizar obras no imóvel, Carlos arrendou- o, em Fevereiro de 2015, por
€20.000 anuais, a Daniela.
Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência dos impostos a
que respeitem.
R: Doação da Ana ao seu filho – art. 1/1, 1.2 Tabela Geral do Imposto do Selo – isento – art. 6,
al. e)
Sujeita, no entanto, à verba 1.1. o,8%, sendo o sujeito passivo o adquirente dos bens – artigo 2
Propriedade do prédio urbano pelo Bernardo: Arts.1 e 2 do CIMI
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre Imóveis Sujeição passiva: art. 8 do CIMI
– Bernardo
Transmissão onerosa de bem imóvel do Bernardo para Carlos: Arts. 1 e 2 do CIMT
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
Sujeição passiva: art. 4 do CIMT – Carlos
Art. 1/1 do CIS
Imposto de Selo - celebração do contrato: verba 1.1. da Tabela Geral do I.S.
Sujeição passiva: art. 2 e 3/3, al. A – Carlos
Venda de prédio doado pelo Bernardo: Tributável na categoria G (artigos 9 e 10/1, alínea A e
4 do CIRS), salvo se verificada a hipótese prevista no artigo 10/5, do CIRS.
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares Sujeição passiva: art. 13/1 – Bernardo
Propriedade do prédio urbano pelo Carlos:
Arts.1 e 2 do CIMI
Imposto sobre o património - Imposto Municipal sobre Imóveis Sujeição passiva: art. 8 do CIMI
– Carlos
Arrendamento do imóvel por Carlos à Daniela: Art. 1/1 do CIS
Imposto de Selo - celebração do contrato: Verba 2 da Tabela Geral do I.S.
Sujeição passiva: art. 2 e 3/3/B – Carlos
Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por Carlos: Arts. 1/1; 4/1/N ou art.
8/1 e 2/A do CIRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
Sujeição passiva: art. 13/1 – Carlos

Caso prático 8
Suponha que, em 2015, Bernardo auferiu ainda rendimentos provenientes de trabalho
dependente no valor de €10.000 e juros de depósitos a prazo no valor de €500,00. Indique
como se procederá à determinação do seu rendimento tributável
R:
• A consideração das categorias de rendimento em causa (a necessidade de discriminação
qualitativa do rendimento); Identificação das categorias em causa: Categoria G artigo 10/1/A e

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 78


4 , não sendo tributável no caso de preenchidos os pressupostos do 10/5; A (Rendimentos
provenientes de trabalho dependente) artigo 2, E artigo 5/1 e 2, al. B (juros de depósitos a
prazo);
• Determinação do rendimento líquido no âmbito de cada categoria: deduções específicas;
noção e finalidade face à consideração do “rendimento líquido”; Em concreto: Categoria A –
artigo 25; Categoria G –: considerar o saldo relevado em 50% - artigo 43/2, equacionar os
critérios de determinação dos valores de aquisição e de realização; Categoria E – inexistência
de deduções face ao caso concreto;
• O englobamento (art. 22) e o caráter único do IRS a questão dos rendimentos sujeitos a
taxas liberatórias [rendimentos sujeitos a taxas liberatórias, como é o caso dos juros no nosso
caso, não são englobados, excepto se houver opção pelo englobamento – nº6, art. 71],
procedendo-se à soma do resultado líquido positivo de cada uma das categorias.

Ana Carolina Magalhães Braga Andrade Turma Única FDUC 2018/2019 79

Você também pode gostar