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Breve Introdução

O presente trabalho é elaborado por orientação do docente da cadeira, e tem como tema
“Garantias jurídicas dos administrados”. Este trabalho visa essencialmente estudar e
compreender as garantias jurídicas dos administrados, pelo que iremos dissecar, ainda que de
forma sucinta, sobre o conceito de garantias jurídicas dos administrados, as suas espécies e os
seus efeitos. Para a materialização deste trabalho iremos recorrer aos manuais, bem como a
interpretação das leis pertinentes para o tema.

Garantias dos administrados

Atribui se aos particulares determinados poderes jurídicos que funcionem como protecção
contra os abusos e ilegalidades da Administração Pública, que se designam por garantias dos
particulares.

Para MACIE (2015, p. 385) as garantias jurídicas consistem em meios que a ordem jurídica põe
à disposição dos administrados para a defesa dos seus direitos subjectivos e interesse legalmente
protegidos contra a administração. No mesmo sentido AMARAL (2012, p. 746) define garantias
como meios criados pela ordem jurídica com a finalidade de evitar ou sancionar quer a violação
do Direito Objectivo, quer as ofensas dos direitos subjectivos e interesses legalmente protegidos
dos particulares, pela Administração Publica.

Do último conceito pode se inferir que as garantias dos administrados comportam algumas
espécies, quais sejam:

 Garantias preventivas ou reparadoras: nos dizeres de Albano MACIE (2015, p. 385)


estas destinam se a evitar violações por parte da Administração Publica ou a repará-las,
eliminando actos ilegais, aplicando sanções ou impondo indemnizações ou outras
condutas legalmente possíveis.
 Garantias de Direito Objectivo ou dos particulares: as primeiras têm em vista,
primordialmente, defender o ordenamento objectivo contra actos ilegais da
Administração Pública enquanto as garantias dos particulares tem como fito defender os
direitos subjectivos ou interesses legítimos dos particulares contra as actuações da
Administração Publica que os violem ou prejudicam.
 Garantias de legalidade ou de mérito: que visam prevenir ou reparar ofensas ao bloco
de legalidade em vigor (por exemplo o recurso contencioso de anulação), ou a aferir a
conveniência e a oportunidade que da atitude da administração.
Garantias administrativas

De acordo com MACIE (2015, p. 391) garantias administrativas ou graciosas são aquelas que
se efectivam perante os órgãos da Administração Pública, visando controlar a legalidade e o
mérito das decisões administrativas, principalmente, dos órgãos inferiores perante os respectivos
órgãos superiores, ou perante os órgãos tutelares.

A doutrina é unânime em considerar que as garantias administrativas são mais importantes e


eficazes do que as garantias políticas. Fundamentam esse entendimento no facto de que a
Administração Pública deve agir de acordo com o princípio da legalidade enquanto as garantias
políticas tem como base a oportunidade política. Acresce ainda o facto de que é possível fazer,
legalmente, o controlo das actuações dos órgãos decisores perante os recursos dos particulares.
No entanto AMARAL (2012, p. 758), apesar de também considerar as garantias graciosas mais
importantes e eficazes, entende que que as garantias graciosas não são inteiramente satisfatórias
porque por um lado, os órgãos da Administração Pública se movem por preocupações políticas;
por outro, porque muitas vezes os órgãos da Administração Pública guiam se por critérios da
eficiência na prossecução do interesse publico do que pelo desejo rigoroso e escrupuloso de
respeitar a legalidade e os direitos subjectivos e interesses legalmente protegidos dos
particulares.

As garantias graciosas dividem se em garantias petitórias e garantias impugnatórias.

Garantias petitórias

As garantias petitórias são aquelas que se efectivam dentro da Administração Pública, baseadas
num pedido de um particular endereçado a um órgão da administrativo para que time as
providencias necessárias a satisfação do interesse do particular, conforme é de lei.

Direito de petição: consiste na faculdade de dirigir pedidos à Administração Pública para que
tome determinadas decisões ou providências que fazem falta. Pressupõe a falta de uma
determinada decisão, a qual é necessária mais ainda não foi tomada: o direito a petição visa
justamente obter da Administração a decisão cuja falta se faz sentir. O pedido a que se referiu é
feito por meio de um requerimento, e este na esteira de MACIE (2015, p. 393) pode visar
diferentes fins quais sejam: iniciar um procedimento administrativo, obter informação da
Administração Pública sobre o andamento de procedimentos em que sejam directamente
interessados, bem como conhecer as resoluções definitivas que forem tomadas, solicitar a
passagem de certidão, acesso a arquivos etc.

Direito de representação: Para MACIE (2015, 393) é um requerimento ou pedido dirigido a um


órgão da Administração Publica, que tomou uma decisão, visando preveni-lo sobre a eventual
ilegalidade de inconveniência da decisão tomada e das consequências da decisão. Nesta garantia
podemos falar do direito da respeitosa representação, que os funcionários podem exercer
perante ordens ilegítimas dos seus superiores hierárquicos ou cuja autencidade eles duvidem, de
modo a obter uma confirmação por escrito, a qual, se for obtida ou pelo menos for pedida, exclui
a responsabilidade do subalterno que vai executar essa ordem. Este direito está previsto no nᵒ 3
do artigo 44 da EGAFE.

Direito de queixa: Para AMARAL a queixa consiste na faculdade de promover a abertura de um


processo que culminará com a aplicação de uma sanção a um agente administrativo. No entender
do mesmo o particular queixa se de um comportamento de um funcionário ou agente: não há
queixas de actos administrativos, há queixas de comportamentos de pessoas ou de
comportamento de pessoas. Exemplo: O particular pode queixar se quando não for atendido com
urbanidade, de modo a que seja instaurado um processo contra o funcionário faltoso.

Direito de denúncia: é acto pelo qual o particular leva ao conhecimento de certa autoridade a
ocorrência de um determinado facto ou a existência de uma certa situação sobre os quais aquela
autoridade tenha, por dever ofício, a obrigação de investigar. Exemplo: Os particulares podem
denunciar à polícia situações de tentativa de corrupção por parte de um funcionário público para
garantir a celeridade de um expediente.

Direito de oposição administrativa: Para MACIE (2015, p. 395) é a faculdade de contestar as


decisões que a Administração Pública projecta tomar, por sua iniciativa ou dando satisfação a
pedidos de particulares, publicamente conhecidas. Exemplo:

Garantias impugnatórias

São aquelas que perante um acto administrativo já praticado, os particulares são admitidos por lei
a impugnar esse acto, isto é, a ataca-lo com determinados fundamentos. AMARAL (2017, p.
618) definiu os como meios de impugnação de actos administrativos perante órgãos da
Administração Pública. O direito de impugnação decorre do nᵒ 1 do artigo 153 da LPA, e nos
termos do artigo 154 conjugado com o artigo 155 da LPA os titulares de direitos subjectivos e
interesses legalmente protegidos que considerem lesados pelo acto administrativo podem
impugnar com fundamento na ilegalidade, inconveniência e inoportunidade do acto
administrativo.

Reclamação: A reclamação é feita junto ao órgão que tomou a decisão anterior, salvo disposição
em especial deve ser interposta no prazo de 15 dias a contar da notificação ou da data em que o
interessado tomar conhecimento do acto e deve ser apreciada e decidida no prazo de dez dias
desde a data da sua apresentação (art 158 conjugado com o art 161 da LPA). Quanto aos efeitos,
dada a sua natureza facultativa, não suspende a execução do acto (nᵒ 1 do art 159 da LPA), mas
suspende e interrompe o prazo para a interposição do recurso hierárquico.

Recurso hierárquico: é o meio de impugnação de um acto administrativo praticado por um


órgão subalterno, perante o respectivo superior hierárquico, de modo a obter a revogação ou
substituição do acto praticado. Figuram como pressupostos do recurso hierárquico, a existência
(i) de uma hierarquia administrativa; (ii) a existência de uma estrutura tripartida, onde
encontramos o recorrente (particular), recorrido (subalterno, também órgão designado órgão a
quo) e o órgão de recurso (superior hierárquico ou órgão ad quem) e (iii) a decisão tomada pelo
subalterno não se enquadrar no âmbito da competência exclusiva. Quanto as espécies o recurso
hierárquico pode ser necessário, facultativo e impróprio.

Recurso hierárquico necessário: este mostra se crucial naqueles casos em que seja necessário
alcançar uma decisão verticalmente definitiva, para que a mesma possa ser susceptível do
recurso contencioso. O recurso hierárquico necessário suspende a execução do acto
administrativo recorrido (nᵒ 2 do art 166 da LPA).

Recurso hierárquico facultativo: No entender de MACIE este é um meio de impugnação das


decisões do subalterno perante o respectivo chefe, contudo a sua interposição não é obrigatória e
não interrompe a contagem dos prazos para efeitos de recurso contencioso de anulação, pois o
acto, por si só, já é definitivo e executório.
Recurso hierárquico impróprio: nos termos do nᵒ 1 do atigo 172 da LPA, o recurso diz se
impróprio quando interposto para um órgão que exerça poder de supervisão sobre um outro da
mesma pessoa colectiva, fora do âmbito da hierarquia administrativa. Cabe ainda recurso
hierárquico impróprio para os órgãos colectivos em relação aos actos administrativos praticados
por qualquer dos seus membros (nᵒ 2 do art 172 da LPA).

Recurso tutelar: Esta espécie de garantia esta prevista no artigo 173 da LPA e tem por objecto
actos administrativos praticados por pessoas colectivas publicas sujeitas a tutela ou
superintendência. Nesta senda o recurso é dirigido ao órgão que tutela ou superintende ao órgão
que praticou o acto administrativo, porem este recurso só pode ser feitos nos casos
expressamente previstos na lei (nᵒ 2 do artigo 173 da LPA).

Recurso de revisão: este assume uma natureza extraordinária, e da se naqueles casos em que o
particular toma conhecimento de novos factos, que se mostram bastantes, para a alteração da
decisão anteriormente tomada. A revisão deve ser requerida até 180 dias, contados da data de
conhecimentos dos novos factos (nᵒ 1 do artigo 174 da LPA).

Queixa ao provedor da justiça: os cidadãos, podem apresentar petições, queixas ou


reclamações por actos ou omissões dos poderes públicos ao Provedor da Justiça, que as aprecia,
sem poder decisório, dirigindo aos órgãos competentes as necessárias recomendações para
prevenir e reparar as injustiças conforme o nᵒ 1 do artigo 175 da LPA conjugado com o nᵒ 1 do
art 258 da CRM. O Provedor pode actuar ex officio no caso de violação dos, direitos, liberdades e
garantias fundamentais dos cidadãos.

Garantias impugnatórias contenciosas

As garantias impugnatórias contenciosas são aquelas que são dirigidas aos tribunais, máxime os
tribunais administrativos e não comuns. Estas garantias decorrem da própria CRM que preceitua
no seu artigo 69 que todos o cidadãos tem o direito de recorrer aos tribunais para impugnar todos
os actos que violam os seus direitos subjectivos e interesses legalmente protegidos, bem como o
estatuído no nᵒ 2 e 3 do artigo 153 da LPA. Segundo MACIE (2015, p. 411) o contencioso
administrativo é o conjunto de litígios entre a Administração Publica e os particulares que hajam
de ser dirimidos pelo TA ou pelos tribunais administrativos.
Recurso contencioso

O recurso contencioso consiste na impugnação de todos actos administrativos que se mostrem


lesivos a esfera jurídica do particular, junto dos tribunais administrativos, já que não vigora mais
a teoria do acto definitivo e executório. Nos termos do artigo 32 da LPAC estes recursos são de
mera legalidade e tem como objecto a declaração da anulabilidade, nulidade e inexistência dos
actos recorridos. Este recurso funda se na incompetência, usurpação de poderes, desvio de poder,
violação da lei e vícios formais (art 34 da LPAC). Relativamente aos efeitos nos termos do nᵒ 1
do art 36 da LPAC este recurso não suspende a execução do acto recorrido, mas nos casos
previsto no nᵒ 2 do artigo 36 da LPAC pode suspender a eficácia do acto recorrido.

As acções administrativas

Neste caso não temos um acto administrativo prévio, por isso considera se que este é o meio
adequado para pedir aos tribunais administrativos uma primeira definição do direito aplicável ao
caso concreto, nos casos em que a AP não prócer a definição unilateral por meio de um acto
administrativo. Para Albano Macie estamos aqui em sede de um contencioso por atribuição. As
acções podem ser incidir sobre contratos administrativos, responsabilidade civil extracontratual,
reconhecimento de direitos e interesses legalmente protegidos, determinação da prática de actos
legalmente devidos (ex vi art 111 da LPAC).

Conclusão

Chegados aqui importa tecer algumas considerações finais que nos foram possíveis assacar após
a realização deste trabalho. As garantias jurídicas dos administrados mostram se de extrema
importância para a salvaguarda do direito objectivo, bem como para a salvaguarda dos direitos
subjectivos e interesses legalmente protegidos dos particulares, porque vezes sem contem a
Administração Publica omite a prática actos que lesam sobremaneira a esfera jurídica dos
administrados. Ao nosso ver as garantias graciosas permitem a Administração Publica (re)
ponderar a sua decisão, podendo mante-la, revoga-la ou substitui lá. O recurso contencioso, que
tal como a própria expressa sugeri, efectiva se junto aos tribunais administrativos, não é
condicionado a exaustão dos meios graciosos, o particular pode recorrer a estes por qualquer acto
que viole os seus direitos subjectivos. O facto do Provedor de Justiça não ter nenhum poder
decisório e as suas recomendações não serem vinculativas, reduz se a importância deste órgão no
panorama de defesa dos direitos subjectivos e interesses legalmente protegidos dos particulares.
Referências bibliográficas

AMARAL, Diogo Freita do. (2012). Curso de Direito Administrativo. Voll II. 2ᵃ ed. Almedina.

MACIE, Albano. (2015). Licoes de Direito Admnistrativo. Vol III

Legislação

Lei nᵒ 14/2011 de 10 de Agosto – Lei do procedimento administrativo (LPA)

Lei nᵒ 7/ 2014 de 28 de Fevereiro – Lei do processo administrativo contencioso (LPAC)

Lei nᵒ 1/2018 de 12 de Junho – Constituição da República de Moçambique (CRM)

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