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TRABALHO DE FIM DO CURSO

Nome do Estudante:
Maria João Cumbula
Monografia apresentada à Faculdade de Direito
da Universidade Eduardo Mondlane, como requisito para a culmin
ÍNDICE

DEDICATÓRIA………………………………………...........................................……..I
AGRADECIMENTOS…………………………….........................................................II
RESUMO………………………………………….........................................................III
ABSTRACT………………………………....................................................................IV
LISTA DE ABREVIATURAS..........................................................................................v
INTRODUÇÃO.................................................................................................................1
1.1. Delimitação do Tema..................................................................................................1
1.2. Jusitificativa do tema..................................................................................................1
1.3. Problematização do tema e questões de partida.........................................................2
1.4. Objectivos do trabalho................................................................................................3
1.4.1. Objectivo geral........................................................................................................3
1.4.2. Objectivos específicos.............................................................................................3
1.5. Metodologia................................................................................................................4
1.6. Plano de exposição.....................................................................................................6
CAPÍTULO I: Aspectos relevantes da desconsideração da personalidade jurídica das
sociedades e da sociedade por quotas................................................................................7
1. A personalidade jurídica................................................................................................7
1.1. Aquisição e efeitos da aquisição da personalidade jurídica pelas sociedades
comerciais..........................................................................................................................8
1.2. Desconsideração da personalidade jurídica................................................................9
1.2.1. Considerações Gerais..............................................................................................9
1.2.2. Noção da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades
comerciais........................................................................................................................10
1.2.3. Pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica.................................11
1.2.3.1. Fraude e abuso do poder económico..................................................................13
1.2.3.2. Violação dos direitos essenciais do consumidor e do ambiente.........................14
1.2.3.3. Uso da personalidade jurídica da sociedade para prejudicar interesses do sócio,
do trabalhador da sociedade, de terceiro, do Estado e da comunidade............................15
1.2.3.4. Falência da sociedade do mesmo grupo de sociedades......................................15
1.3. Sociedade por quotas................................................................................................16
CAPÍTULO II: Efeitos e natureza da desconsideração da personalidade jurídica nas
sociedades por quotas......................................................................................................19
2. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades por quotas......19
2.1. Afastamento episódico da personalidade jurídica das sociedades por quotas..........19
2.2. Afastamento episódico da autonomia patrimonial das sociedades por quotas.........20
3. Natureza e regime de responsabilidade dos sócios na desconsideração da
personalidade jurídica das sociedades por quotas...........................................................20
CAPÍTULO III: Desconsideração da personalidade jurídica ao nível do direito
comparado.......................................................................................................................23
3. Casos do Brasil e Portugal...........................................................................................23
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................28
4.1. CONCLUSÕES........................................................................................................28
4.2. RECOMENDAÇÕES...............................................................................................29
5. CONSTRANGIMENTOS ENFRENTADOS NA REALIZAÇÃO DO
TRABALHO...................................................................................................................30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................31
DEDICATÓRIA

Dedico o trabalho, à minha família, minha maior fonte de inspiração.

i
AGRADECIMENTOS

Ao Criador pelo dom da vida e por tornar possível o impossível;

Aos meus pais, que sempre me incentivaram a nunca desistir diante das adversidades,
que surgiram durante o processo de minha formação;

Ao Constâncio, meu parceiro e melhor amigo, sem apoio do qual este trabalho não teria
êxito;

Aos meus amigos e colegas, pelo apoio, durante todo processo académico;

À Faculdade de Direito, pela oportunidade de poder ser uma das formandas dessa
instituição;

Aos docentes, que muito contribuíram no processo de minha formação;

Ao meu Supervisor, o Dr. Almeida Machava, pela excelente supervisão durante a


realização deste trabalho.

ii
RESUMO

O presente trabalho está subordinado ao tema “Desconsideração da personalidade


jurídica nas sociedades por quotas”. De forma geral, Com o trabalho pretende-se
abordar o regime jurídico da desconsideração da personalidade jurídica nas sociedades
por quotas no ordenamento jurídico moçambicano. Em termos específicos, pretende-se
apresentar a noção da desconsideração da personalidade jurídica, elencar as situações
que podem conduzir à desconsideração da personalidade jurídica nas sociedades por
quotas, apresentar os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica societária nas
sociedades por quotas, identificar o regime de responsabilidade dos sócios decorrente da
desconsideração da personalidade jurídica nas sociedades por quotas. A realização do
trabalho faz-se com recurso a uma combinação de vários métodos, descritivo-
exploratório, qualitativo e documental, visto que esta combinação proporciona melhores
resultados. Da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades comerciais
resulta a responsabilidade ilimitada dos sócios.

Palavras-chave: Desconsideração da personalidade jurídica, Sócios, Sociedades por


quotas.

iii
ABSTRACT

This work has as subject "Disregard of legal entity in the private limited companies ".
In general, the work aims to approach the legal regime of the disregard of private
limited companies in Mozambican legal system. Specifically, the works search to
present the notion of the disregard of legal personality, to list the situations that may
lead to the disregard of legal personality in private limited companies, to present the
effects of the disregard of private limited companies, to identify the liability regime of
the shareholder arising from the disregard of legal personality in the private limited
companies. Methodologically, the work is based in a combination of several methods,
descriptive-exploratory, qualitative and documentary, since this combination provides
better results. The disregard of legal personality of private limited companies results in
the unlimited liability of the shareholders.

Keywords: Disregard of legal personality, Shareholders, Private limited companies.

iv
LISTA DE ABREVIATURAS

AG - Assembleia Geral

Art. – Artigo

CA – Conselho de Administração

CCom. – Código Comercial

Cf. Confira

CF – Conselho Fiscal

CPC. - Código do Processo Civil

CRM - Constituição da República de Moçambique

CSC. – Código das Sociedades Comerciais

Dec.- lei - Decreto-lei

LDC – Lei de Defesa do Consumidor

Nº. – Número

P. – Página

RJIREC - Regime Jurídico da Insolvência e da Recuperação de Empresários Comerciais

v
INTRODUÇÃO

1.1. Delimitação do tema

O presente trabalho tem como tema “Desconsideração da personalidade jurídica nas


sociedades por quotas”.

A desconsideração da personalidade jurídica das sociedades é um instituto jurídico que


foi consagrado no Código Comercial, na versão aprovada pelo Decreto-Lei nº 2/2005,
de 27 de Dezembro, posteriormente actualizado pelo Decreto-Lei n° 1/2018, de 4 de
Maio, com o intuito de eliminar os efeitos de actuação dolosa dos sócios das sociedades
comerciais, bem como para efeitos de responsabilização dos sócios, desde que esteja
provado que, na prossecução do seu objecto social, causaram prejuízos na esfera
jurídica de terceiros.

O instituto da desconsideração veio demonstrar que o princípio da atribuição da


personalidade jurídica às sociedades por quotas e da separação patrimonial, que é uma
ficção jurídica, não pode ser visto, em si, como sendo um valor absoluto e muito menos
pode ter a natureza de manto ou véu de protecção de práticas ilícitas ou abusivas,
contrárias à ordem jurídica, repudiáveis e que causem prejuízos a terceiros.

Assim, quando ocorra a utilização indevida da personalidade jurídica das sociedades


comerciais em geral e das sociedades por quotas, de modo particular, que seja ou passe
a ser instrumento de abusiva obtenção de vantagens estranhas ao fim social, contrários
a normas ou princípios gerais, como o da boa-fé e do abuso de direito, relacionados com
a instrumentalização da personalidade jurídica, deve deitar-se mão à desconsideração
desta, mas isso só acontecerá depois de terem sido ponderados os verdadeiros interesses
em causa.

1.2. Justificativa do tema

A escolha do tema justifica-se por duas razões:

A primeira grande razão é o facto de, actualmente, ser visível o esforço de expandir e
dinamizar a economia nacional, visando incentivar a protecção de bens e serviços, para
responder à demanda do mercado de forma sustentável, facto que tem contribuído para
um crescente número de sociedades comerciais de responsabilidade limitada, por estes

1
oferecerem maior protecção ao património pessoal dos sócios, em relação às dívidas
contraídas no âmbito do cumprimento do objecto social. Estamos a falar em concreto
das sociedades anónimas e das sociedades por quotas.

A segunda última razão reside no facto de, não obstante o instituto da desconsideração
da personalidade jurídica, ter uma consagração legal no art. 87 do CCom., ainda
persistirem dificuldades para a sua concretização, o que, de certa forma, tem feito com
que continue havendo o uso abusivo da personalidade jurídica das sociedades por parte
dos sócios.

1.3. Problematização do tema e questões de partida

A teoria da “desconsideração da personalidade jurídica” constitui uma problemática que


pode ser analisada sob diversos aspectos. Aparece muitas vezes ligada ao uso da
sociedade como instrumento de fraude, contudo o que se levanta é o da ausência de
normas que problema regulam o seu processamento, isto é, há um vazio legal, o que tem
constituído um perigo, dada a vulnerabilidade de interpretação e aplicação equívoca da
forma do processo (acção ou incidente), que se mostra adequado para o fim pretendido,
bem como a incerteza do momento processual, para o levantamento da questão, uma
vez que, não será suficiente apresentar apenas os fundamentos que justifiquem a
desconsideração, mas também mostra-se necessário antes de mais a obtenção de uma
decisão para que se obtenha o fim último, que é a responsabilização dos seus sócios.

O outro problema é relativo à ambiguidade e impraticabilidade dos principais


pressupostos ou requisitos exigidos pelo art. 87 do CCom., porque entende-se que em
termos práticos há dificuldade de obtenção de provas da existência do dolo ou culpa
para que se declare a desconsideração, dito de outra forma, há um vazio legal na
legislação comercial, no que toca à descrição do que seja susceptível de constituir prova
de dolo ou culpa na actuação dos sócios.

Esta problemática, embora aplicável a outros típos societários, ganha especial relevo em
se tratando de sociedades comerciais por quotas porque nestas, em regra, conforme
resulta do art. 286 do CCom. apenas o património social responde para com os credores
pelas dívidas da sociedade, daí que a noss abordagem se vá restringir a este típo
societário.

2
No âmbito das sociedades comerciais de responsabilidade limitada destacam-se as
sociedades por quotas e as sociedades anónimas. Ainda que não haja dados estatísticos
relativos ao número concreto de registo de umas e outras no ordenamento jurídico
moçambicano, a experiência de vida prática demonstra de forma incontestável que
estatisticamente, a maior parte das sociedades têm-se constituído sob a forma de
sociedades comerciais por quotas, dada a existência de menos burocracias e a simp
constituição licidade que rodeia o processo da sua e registo. Nesta convicção, tendo em
conta a nossa realidade, cremos sem margem de dúvidas que a nível do nosso
ordenamento jurídico será nesta espécie de sociedade que se suscitará com maior
frequência a questão da desconsideração da personalidade, quando as sociedades por
quotas forem usadas para prejudicar terceiros. Pelo que, é imperioso e necessário
perceber como é que a ordem jurídica tratará a questão da desconsideração da
personalidade quando estiverem em causa as sociedades comerciais por quotas.

Desta feita, do presente trabalho sobressãem como questões a serem respondidas as


seguintes:

a) Quais são as causas da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades


comerciais por quotas?
b) Quais serão as consequências da desconsideração da personalidade jurídica das
sociedades comerciais por quotas?
c) Em que moldes serão responsabilizados os sócios? Será uma responsabilização
solidária, subsidiária ou ilimitada?

1.4. Objectivos do trabalho

1.4.1. Objectivo geral


 Abordar o regime jurídico da desconsideração da personalidade jurídica
nas sociedades por quotas.

1.4.2. Objectivos específicos

 Apresentar uma noção da desconsideração da personalidade jurídica;


 Elencar as diversas situações que podem conduzir a desconsideração da
personalidade jurídica das sociedades por quotas, confirme o previsto no
art. 87 do CCom;

3
 Apresentar os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica
societária nas sociedades por quotas;
 Identificar o regime responsabilidade dos sócios decorrente da
desconsideração da personalidade jurídica nas sociedades por quotas.

1.5. Metodologia

Segundo Markoni e Lakatos1, pesquisa é um “procedimento reflexivo sistemático,


controlado e crítico, que permite descobrir novos factos ou dados, relações ou leis, em
qualquer campo de conhecimento”.

O trabalho terá um carácter descritivo-exploratório, situando-se no nível I de


conhecimentos, acordo com a hierarquia dos níveis de investigação, pois o seu objectivo
será denominar, classificar, descrever ou conceptualizar uma situação e existem a
partida poucos conhecimentos no domínio da desconsideração da personalidade jurídica
das sociedades por quotas, isto é, este tipo de estudo pretende “ descrever os factos e
fenómenos de determinada realidade”2. O carácter exploratório do estudo, explica-se
porque o objectivo do estudo será explorar o domínio em profundidade e explorar o
conceito da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades por quotas, para
extrair dele todas as manifestações com vista a descrever o fenómeno.

Assim, pode-se afirmar que se tratará de um estudo do tipo exploratório, uma vez que as
pesquisas deste tipo não são feitas apenas para conhecer o tipo de relação, mas sim, para
determinar a relação existente3.

Simultanemante, a pesquisa será de natureza explicativa, pois, conforme ensina Gil4, a


pesquisa explicativa tem como objectivo básico a identificação dos factores que
determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenómeno. É o tipo de pesquisa
que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois, tenta explicar a razão e as
relações de causa e efeito dos fenómenos. No caso presente, a pesquisa explicativa vai
consistir na identificação na percepção da desconsideração da personalidade jurídica,

1
MARKONI, A. LAKATOS, M. E., Fundamentos de metodologia científica, 5ª Edição, Editora Atlas,
São Paulo, 2003, p. 155.
2
SOUSA, Hugo Luís Marques de, A prática baseada em evidência, Universidade Fernando Pessoa,
Porto, 2012, p. 15.
3
RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa Social Métodos e Técnicas, 3ª Ed., Atlas, São Paulo,
1999, p. 17.
4
GIL, A. C., Métodos e técnicas de pesquisa social, 5ª Edição, Atlas, São Paulo, 1999, p. 28.

4
das causa que lhe dão lugar, do processualismo para a sua consumação bem como de
como é que tal opera nas sociedades por quotas.

Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois, esta busca captar não só a
aparência do fenómeno como também suas essências, procurando explicar sua origem,
relações e mudanças, e tentando intuir as consequências5. Esta pesquisa envolve ainda a
obtenção de dados descritivos, obtidos no contacto directo do pesquisador com a
situação estudada6.

Relativamente às técnicas de colecta de dados, estas são um conjunto de regras ou


processos utilizados por uma ciência, ou seja, corresponde à parte prática da colecta de
dados7. Será usada a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica.

A pesquisa documental vai consistir na colecta de dados em fontes primárias, como


documentos escritos, pertencentes a bibliotecas, arquivos públicos, arquivos privados de
instituições e domicílios. No caso vertente, a pesquisa documental vai também consistir
no uso de algumas fontes primárias como a legislação, doutrina do Direito Comercial,
alguns acórdãos do Tribunal Supremo, entre outros, visando maior percepção do
fenómeno em abordagem

No que respeita à pesquisa documental, esta trata de contribuições culturais ou


científicas realizadas no passado sobre um determinado assunto, tema ou problema que
possa ser estudado8. Ela é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído,
principalmente, de livros e artigos científicos9. Aqui, a pesquisa documental vai
naturalmente, consistir no recurso à doutrina, particularmente às obras de direito
comercial, direito do consumidor, direito civil, direito processual civil, artigos
científicos, dissertações, teses, jornais, acórdãos e demais materiais que abordem sobre
a descaracterização da personalidade das sociedades comerciais.

5
OLIVEIRA, MAXWELL Ferreira de, Metodologia Científica: um manual para a realização de
pesquisas em administração, Universidade Federal de Goiás, 2011, p. 24.
6
BOGDAN R. S., BIKLEN S., Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos
métodos, 12ª Edição, Porto, 2003, p. 45.
7
MARKONI, A. LAKATOS, M. E, obra citada, p. 65.
8
CERVO A. L. , BERVIAN, P. A., Metodologia Científica, 5ª Edição, Prentice Hall, São Paulo, 2002, p.
87.
9
VERGARA, SYLVIA, Projectos e relatórios de pesquisa em administração, 3ª Edição, Atlas, Rio de
Janeiro, 2000, p. 76.

5
1.6. Plano de exposição

O trabalho compreende a introdução que contém a introdução, a delimitação do tema,


justificativa do tema, problematização do tema, os objectivos da pesquisa (geral e
específicos) e a metodologia e três (3) capítulos.

O primeiro capítulo, é concernente aos aspectos relevantes da desconsideração da


personalidade jurídica das sociedade e da sociedade comercial por quotas, abrangendo a
personalidade jurídica, à sua aquisição e efeitos nas sociedades comerciais. Neste
capítulo, ainda serão abordadas a desconsideração da personalidade jurídica, a sua
noção, pressupostos para a sua verificação e as características gerais das sociedades por
quotas, os efeitos da deconsideração da personalidade jurídica das sociedades por
quotas.

O segundo capítulo está voltado aos efeitos e à natureza da desconsideração da


personalidade jurídica nas sociedades por quotas bem como à natureza e ao regime de
responsabilidade dos sócios na desconsideração da personalidade jurídica nas
sociedades por quotas.

Por sua vez, o terceiro capítulo será relativo à desconsideração da personalidade jurídica
ao nível do direito comparado, dando-se particular enfoque aos ordenamentos jurídicos
português e brasileiro.

De seguida, far-se-ão as conclusões e recomendações pertinentes bem como o


levantamento dos constrangimentos enfrentados ao longo da elaboração do trabalho.

6
CAPÍTULO I – Aspectos relevantes da desconsideração da personalidade jurídica
das sociedades e da sociedade por quotas em particular

1. A personalidade jurídica

Ao nível da doutrina existem várias definições para a figura da personalidade jurídica, a


saber:

Para Mota Pinto, a personalidade jurídica é a susceptibilidade de ser titular de direitos e


obrigações e é reconhecida pelo Direito a toda a pessoa humana10.

Segundo Luís Brito Correia, a personalidade jurídica consiste na susceptibilidade de ser


titular de direitos e obrigaçoes, ou seja, ser um centro de imputação de direitos e
obrigações, o que não se confunde com a autonomia patrimonial11.

Para Miguel J. A. Pupo Correia12, a personalidade jurídica consiste na susceptibilidade


de ser sujeito de direitos e obrigações.

Não obstante, na fase inicial a ideia de personalidade jurídica ter sido reconduzida à
pessoa humana, hodiernamente são também susceptíveis de personalidade jurídica as
organizações de pessoas e/ou bens, portanto, sendo neste caso designada de
personalidade colectiva. Neste sentido, a personalidade jurídica das pessoas colectivas
reconduz-nos à personalidade colectiva.

Entre as inúmeras teorias sobre a natureza jurídica da personalidade jurídica, ganha


particular destaque a doutrina de Savigny, segundo o qual, “a pessoa é todo o sujeito de
relações jurídicas que, tecnicamente, não corresponde a uma “pessoa natural” mas
que seja tratado, como pessoa, através de uma ficçao teórica, numa situação que se
justifica, para permitir determinado escopo humano”13.

10
PINTO, Carlos Alberto da Mota, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª Edição (edição de António Pinto
Monteiro e Paulo Mota Pinto), Coimbra Editora, Coimbra, 2005, p. 201.
11
CORREIA, Luís Brito, Direito Comercial – Sociedades Comerciais, Vol. II, 2ª Tiragem, AAFDL,
Lisboa, 1989, p. 236.
12
CORREIA, Miguel Pupo J. A. Direito Comercial - Direito Empresarial, 11ª Ed., Ediforum, Lisboa,
2009, p. 100.
13
CORDEIRO, António Menezes, O levantamento da personalidade colectiva no direito civil e
comercial, Almedina, Coimbra, 2000, p. 39.

7
Actualmente, ao nível da doutrina, apresenta-se como dominante a concepção técnico-
jurídica da pessoa colectiva, “produto da técnica jurídica, abastraindo de considerações
éticas, sociais e político-gerais, não baseando nos substratos meta-jurídicos o seu
específico modo de ser, a personalidade colectiva é um expediente utilizável por uma
séria de diferenciadas organizações, pelo qual a ordem jurídica atribui às mesmas a
qualidade de sujeitos de direito, de autónomos centros de imputação de efeitos
jurídicos”14.

A personalidade jurídica desempenha uma função normativa e uma função ideológica.


A função normativa traduz-se na atribuição, pela lei, da “autonomia patrimonial perfeita
das sociedades por quotas e anónimas”15. A função ideológica tem que ver com o
benefício da responsabilidade limitada dos sócios. Por consequência, as sociedade
comerciais devem possuir as suas dívidas e os sócios as suas (porque são sujeitos
diferentes), pelo que, não devem os sócios responder pelas dívidas da sociedade.

A atribuição personalidade jurídica das sociedades, resulta do reconhecimento das


sociedades enquanto unitários sujeitos de direitos e deveres, a possibilidade de terem
um nome, uma sede e mesmo um património autónomo. Deste modo, a separação da
personalidade da sociedade da dos sócios revela-se fundamental, pois permite a
separação da esfera patrimonial entre a pessoas colectiva e os seus sócios, de tal forma
que não se pode confundir a pessoa colectiva com a figura dos sócios16.

1.1. Aquisição e efeitos da aquisição da personalidade jurídica pelas sociedades


comerciais

No geral, as doutrinas portuguesa e alemã defendem que a personalidade jurídica das


sociedades comerciais adquire-se, com o registo, porque é este momento que se que se
dá a separação do património social com o dos sócios, na fase entre a escritura pública e
o registo os sócios mantém a personalidade pessoal17.

14
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Da Empresariedade – As Empresas em Direito, Almedina,
Coimbra, 1996, p. 198 e ss.
15
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Da Empresariedade – As Empresas em Direito, Almedina,
Coimbra, 2011, p. 98.
16
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, tradução de João Baptista Machado, 6ª Edição, Martins
Fontes, São Paulo, 1984, p. 215.
17
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol. I, Escolar Editora,
Maputo, 2013, p. 130.

8
Nos termos do disposto no artigo 86 do Código Comercial “as sociedades comerciais
adquirem personalidade jurídica a partir da data do respectivo acto constitutivo”. A
partir do acto constitutivo nasce uma nova pessoa jurídica que se transforma em
autónomo centro de imputação jurídica e adquire um novo núcleo de direitos e
deveres18.

A aquisição da personalidade jurídica pela sociedade tem os seguintes efeitos19:


 Passa a ser um centro de imputação de direitos e deveres;
 Assume a responsabilidade civil nos termos do artigo 89 CCom;
 Ocorre uma separação efectiva entre a personalidade dos sócios e da sociedade;
 A sociedade passa a responder nos termos do artigo 102 do CCom., salvo
quando se decrete a invalidade do acto constitutivo;
 A sociedade passa a possuir património próprio;
 A sociedade poder ser demandada ou demandar em juízo.

1.2. Desconsideração da personalidade jurídica

1.2.1. Considerações Gerais

A desconsideração da personalidade jurídica foi inicialmente discutida nas


jurisprudências inglesa e norte-americana, tendo sido apelidade de doutrina do
“disregard of legal entity”20. Contudo, é em 1955, na Alemanha, que se encontra a
primeira abordagem de maneira sistemática, através de Rolf Serick, através da sua obra
intitulada “Rechstsform und Realitat Juristischer Personen”21, justificando a
necessidade de levantar o véu da personalidade com base no abuso do direito22.

Na ordem jurídica portuguesa, com grande influência em Moçambique a


desconsideração da personalidade jurídica teve acolhimento por via doutrinária, não
tanto jurisprudencial, devendo-se as primeiras perscrutações ao Professor Ferrer

18
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Do Abuso de Direito, Ensaio de um Critério em Direito Civil e
nas Deliberações Sociais, Almedina, Coimbra, 1999, p. 102.
19
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol. I, Escolar Editora,
Maputo, 2013, p. 132.
20
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, 2ª
Edição, Universidade Lusíada Editora, 2005, p. 27.
21
Traduzido para o português como “Forma jurídica e realidade das pessoas colectivas”, in CORDEIRO,
Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p. 29.
22
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p. 29

9
Correia23 aquando da análise do regime das sociedades unipessoais e os problemas
advenientes de abuso da personalização na persecução de interresses pessoais
contraditórios com os interesses sociais. Posteriormente, com a sua expansão pelo
mundo, veio a ser consagrado no nosso ordenamento jurídico.

1.2.2. Noção da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades


comerciais

O instituto da desconsideração da personalidade jurídica foi criado com o objectivo de


afastar, ainda que temporariamente, a personalidade jurídica e a autonomia patrimonial
da sociedade, com vista atingir o património pessoal dos sócios, de forma ilimitada, até
que estes cumpram com as suas obrigações.

A despersonalização consiste em pôr em causa a personalidade jurídica atribuída, por


lei, a uma determinada pessoa colectiva; neste caso, de uma sociedade comercial. Isto
consiste em retirar-lhe o estatuto de ser sujeito de direitos e obrigações. Portanto, anula-
se, definitivamente a personalidade jurídica da pessoa jurídica, ou seja, a pessoa
jurídica deixa de existir.

Na desconsideração da personalidade jurídica, a sociedade ainda continua sujeito de


direitos e obrigações, o que acontece é que, verificados alguns pressupostos, põe-se de
lado a sua personalidade jurídica, e considera-se como centro de relações jurídicas o
sujeito singular que pratica um determinado acto em nome da sociedade que a
representa, isto é, passa-se para pessoa singular a responsabilidade que em condições
normais seria da pessoa representada. Portanto, a desconsideração é uma forma de
coibir o uso indevido do privilégio do instituto da personalidade jurídica, permitindo-se
a suspensão temporária da eficácia do acto constitutivo da pessoa jurídica.

Aqui fica claro que, o princípio da autonomia patrimonial não é absoluto, porque o
mesmo poderá ser afastado nos casos da desconsideração da personalidade
jurídica, para que haja uma responsabilidade directa e pessoal dos sócios.

A doutrina avança diferentes definições para o instituto jurídico da desconsideração da


personalidade jurídica.

23
CORREIA, Ferrer, Sociedades Unipessoais de Responsabilidade Limitada, in “Estudos de Direito
Civil, Comercial e Criminal”, Almedina, Coimbra, p. 209.

10
Para Coutinho de Abreu24, a desconsideração da personalidade jurídica é a derrogação
ou não observância da autonomia jurídico-subjectiva e/ou patrimonial das sociedades
em face dos respectivos sócios.

Por sua vez, Maria de Fátima Ribeiro25, define a desconsideração da personalidade


jurídica é a operação pela qual a personalidade jurídica de uma pessoa colectiva é
afastada, retirada.

Em síntese, pode-se dizer que a desconsideração da personalidade jurídica a técnica


jurídica que i) responsabiliza directamente os sócios de uma sociedade comercial por
determinadas dívidas contraídas por aqueles em nome desta ou ii) imputa àqueles
determinadas características ou comportamentos desta. Responsabilizando-se os sócios,
o levantamento inobserva temporariamente o principio da autonomia patrimonial
conferida pela personificação, fazendo aqueles sócios responder directamente por certas
dívidas sociais, desde que a sua conduta possa ser qualificada como a) abusiva, b)
causadora de um prejuízo a credores e desde que se verifique uma situação, c)
materialmente injusta com a qual a ordem jurídica não possa condescender.

Para Pedro Cordeiro26, a desconsideração da personalidade é o desrespeito pelo


princípio da separação entre a pessoa colectiva e os seus sócios ou, dito de outro modo,
desconsiderar significa derrogar o princípio significa derrogar o princípio da separação
entre a pessoa colectiva e aqueles que por detrás dela actuam.

1.2.3. Pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica

Para Fábio Ulhoa Coelho, o pressuposto da desconsideração da personalidade jurídica é


a ocorrência de fraude por meio da separação patrimonial27, sendo que é insuficiente a
simples insolvência do ente colectivo, hipótese em que, não tendo havido fraude na
utilização da separação patrimonial, as regras de limitação da responsabilidade dos
sócios terão ampla vigência.

24
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial – Das Sociedades, Vol. II,
Almedina, Coimbra, 2011, p. 176.
25
RIBEIRO, Maria de Fátima, A Tutela dos Credores por Quotas e a “Desconsideração da
Personalidade Jurídica”, Almedina, Coimbra, 2009, p. 67.
26
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, 2ª
Edição, Universidade Lusíada Editora, 2005, p. 19.
27
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 23ª Edição, Saraiva, São Paulo, 2011, p. 153.

11
Ademais, a desconsideração da personalidade jurídica é instrumento de eliminação do
mau uso da pessoa jurídica.

Entretanto, a desconsideração da personalidade jurídica não atinge a validade do acto


constitutivo, mas sim sua eficácia episódica, pois uma sociedade que tenha autonomia
patrimonial desconsiderada continua válida, assim como válidos são todos os demais
actos que praticou. A separação patrimonial em relação aos seus sócios é que não
produzirá, nenhum efeito na decisão judicial referente àquele específico acto objectivo
da fraude. Sendo que a desconsideração da personalidade jurídica é mais vantajoso em
relação a outros mecanismos de coibição da fraude, tais como anulação ou dissolução da
sociedade.

Por apenas suspender a eficácia do acto constitutivo, no episódio sobre o qual recaí o
julgamento, sem invalidá-lo, a teoria da desconsideração preserva a empresa, que não
será necessariamente atingida por acto fraudulento de um de seus sócios resguardando-
se, desta forma os demais interesses que gravitam ao seu redor, como o dos empregos,
dos demais sócios, da comunidade etc.

À luz do corpo do artigo 87 do Código Comercial “será desconsiderada a personalidade


jurídica e responsabilizados os sócios, quando agirem culposa ou dolosamente...”. Deste
texto retira-se o elemento subjectivo da desconsideração da personalidade jurídica, mais
exactamente ao elemento culpa, entendida como “juízo de censura ao agente por ter
adoptado a conduta que adoptou, quando de acordo com o comando legal estaria
obrigado a adoptar conduta diferente, portanto, é a omissão da diligência que seria
exigível ao agente de acordo com o padrão de conduta que a lei impõe”28 ou como
afirma o Professor Menezes Cordeiro29, trata-se do desvalor atribuido pela ordem
jurídica ao facto voluntário do agente, que é visto como axiologicamente reprovável.

A conduta dos sócios pode ser assumir a forma negligente e a forma dolosa.

A actuação culposa mencionada acima remete-nos para a existência negligência da parte


dos sócios da sociedade, e a negligência significa a violação do dever de diligência ou
cuidado a que se está legalmente obrigado30. Na negligência, o agente não deseja

28
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, 8ª Edição, Almedina, Coimbra, 2009, pp. 313-314.
29
CORDEIRO, António Menezes, Direito das Obrigações, Vol. I, AAFDL, Lisboa, 1980, p. 308.
30
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, p. 315.

12
efectivamente a verificação do facto, ainda que a omissão do dever de cuidado a que
está obrigado o torne responsável.

Por sua vez, a actuação dolosa corresponde à intenção do agente de praticar o facto31

No entanto, entre nós, os pressupostos para a desconsideração da personalidade jurídica


das sociedades comerciais constam do art. 87 do CCom., e resumem-se no seguinte:

 Fraude e abuso de poder económico;


 Violação dos direitos essenciais do consumidor e do meio ambiente;
 Uso da personalidade jurídica com intenção de prejudicar os interesses do sócio,
do trabalhador da sociedade, de terceiro, Estado e da comunidade onde actue a
sociedade; e
 Nos casos de falência.

1.2.3.1. Fraude e abuso do poder económico

Verifica-se a fraude quando usando a permissão conferida por uma norma, se praticam
actos que visam um resultado proibido por outra norma32. Trata-se de um vastísimo
conjunto de situações, tendencialemnte intencionais, em que o sujeito engana outros,
causando directa ou indirectamente danos económico-sociais33.

Como se pode ver, o legislador não indica claramente o que se deve entender por
fraude, o que pode abrir espaço para a existência de interpretações subjectivas. Note-se
que a fraude pode causar danos a terceiros privados que contactem ou negociem com a
sociedade ou de natureza fiscal (o que conduz à fraude fiscal), quando causa prejuízos
de natureza fiscal ao Estado. No silêncio do Código Comercial, parece dever se admitir
as duas formas no nosso ordenamento jurídico.

O Abuso de poder económico está relacionado com a violação das regras de


concorrência, podendo se subsumir em actos susceptíveis de, no desenvolvimento de
uma actividade económica, prejudicar outro agente económico que, por sua vez,

31
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, p. 315.
32
PRATA, Ana, Dicionário Jurídico-Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização Judiciária, 3ª
Edição, Revista e Actualizada, Almedina, Coimbra, 1995, p. 486.
33
PIMENTA, Carlos, Esboço de Quantificação da Fraude em Portugal, Edições Húmus, Observatório
de Economia e Gestão de Fraude, 2009, p. 5.

13
também exerce uma determinada actividade económica, com o fim último de obter
vantagens de natureza económica34.

1.2.3.2. Violação dos direitos essenciais do consumidor e do ambiente

A violação dos direitos essenciais do consumidor e do ambiente está intimamente ligada


aos chamados interesses difusos, que incidem sobre bens indvisíveis e, por isso, não
podendo ser divididos por cada um dos seus titulares35.

Os direitos essenciais do consumidor estão previstos na Lei de Defesa do Consumidor,


aprovada pela Lei n° 22/2009, de 28 de Setembro, mais concretamente no seu artigo 5 e
resumem-se no seguinte:

 Qualidade dos bens e serviços;


 Protecção da vida, saúde e da segurança;
 Formação e educação para o consumo;
 Informação para o consumo;
 Prevenção e reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que resultem
da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, colectivos ou
difusos;
 Protecção jurídica e justiça acessível e pronta;
 Participação, por via representativa, na definição legal ou administrativa dos
seus direitos e interesses;
 Protecção contra a publicidade enganosa e abusiva.

Quanto ao direito ao ambiente, trata-se de um direito com dignidade constitucional,


estando previsto no artigo 90 da Constituição da República de Moçambique (CRM)36. O
n° 1 do artigo 90 da CRM ao estabelecer que “todo o cidadão tem o direito de viver
num ambiente equilibrado...”, consagra uma perspectiva subjectivista, isto é, que se
baseia no cidadão enquanto sujeito de direitos e deveres constitucionalmente

34
OLAVO, Carlos, Propriedade Industrial, Almedina, Coimbra, 1997, pp. 145-146.
35
CANOTILHO, JOSÉ Joaquim Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª Edição,
Almedina Coimbra, 2003, p. 234.
36
Este artigo com epígrafe “Direito ao ambiente”, estebelece que:/
“1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender.
2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, adoptam
políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os recursos naturais”.

14
consagrados, reconhecendo a existência de um direito subjectivo ao ambiente, sutónomo
e distinto dos demais direitos constitucionalmente consagrados37.

Por sua vez, o n° 2 do mesmo artigo ao impor o Estado no sentido amplo (incluindo,
portanto, autarquias locais) a obrigação de adoptar políticas direccionadas à defesa do
ambiente consagra uma perspectiva objectivista, fundamentado no entendimento de que
o ambiente é um bem público, por consequência estarem essencialmente em causa
interesses públicos ou colectivos, isto é, da colectividade no seu todo e não de cidadãos
individualmente considerados38.

1.2.3.3. Uso da personalidade jurídica da sociedade para prejudicar interesses do


sócio, do trabalhador da sociedade, de terceiro, do Estado e da comunidade

Aqui trata-se de situações que elém de afectarem pessoas internas da vida da sociedade,
propagam-se para o ambiente externo, pondo em causa a protecção de bens jurídicos
fundamentais da comunidade jurídica.

1.2.3.4. Falência da sociedade do mesmo grupo de sociedades

O Regime Jurídico da Insolvência e da Recuperação de Empresários Comerciais


(RJIREC) foi consagrado pelo Decreto-Lei n° 1/2013, de 4 de Julho. Para efeitos deste
regime, o n° 1 do artigo 1 dispõe que a insolvência corresponde à “...situação de
impossibilidade de cumprimento de obrigações vencidas por parte dos empresários
comerciais e de outras entidades...”39.

Perante a impossibilidade do cumprimento das obrigações pela sociedade insolvente, é


importante que se vá à esfera dos sócios para verificar se a insolvência é ou não
consequência de actos de gestão danosa da qual resultem consequências negativas para
terceiro – esta é a razão da consagração legislativa.

Importa referir que a responsansabilização pessoal dos sócios nas sociedades de


responsabilidade limitada no pedido de insolvência consta do n° 1 do artigo 76 do
Regime Jurídico da Insolvência e da Recuperação de Empresários Comerciais, que

37
SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito de Ambiente, 2ª Edição, Centro de Formação
Jurídica e Judiciária, Maputo, 2008, p. 102.
38
SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito de Ambiente, p. 102.
39
As outras entidades aqui englobadas são: as associações e fundações, as sociedades civis, as
cooperativas, as pessoas singulares (n° 2 do artigo 2 do RJIREC).

15
estabelece que “a responsabilidade pessoal dos sócios de sociedade de
responsabilidade limitada, directores, administradores ou gerentes, estabelecida nas
respectivas leis, é apurada no próprio tribunal da insolvência, independentemente da
realização do activo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o
processo de declaração previsto no Código de Processo Civil”.

1.3. Sociedade por quotas

As sociedades por quotas constituem uma espécie de transição entre as sociedades de


pessoas (de que é tipo a sociedade em nome colectivo) e as sociedades de capital ( de
que é tipo a sociedade anónima).

Sendo que na sociedade por quotas o capital está dividido em quotas e os sócios
respondem solidariamente pela realização do capital social ( nº 1 do art. 283 do CCom.).

O legislador comercial, dá a prerrogativa dos cônjuges poderem constituir uma


sociedade por quotas de responsabilidade limitada, independentemente do regime de
bens do casamento ( art. 284 do CCom.).

A lei comercial, também admite participação do menor de idade com sócio, mesmo que
este não esteja emancipado ou autorizado a exercer o comércio, desde que o capital
social se encontre integralmente realizado e assim de mantenha enquanto perdurar a
menoridade, sendo proibida a sua participação na administração ( art. 285 do CCom).

 Realização das quotas

Em regra, deve constar do contrato de sociedade, com indicação do modo e do prazo da


sua realização (alínea g) do n° 1 do artigo 92 do Código Comercial).

As participações de capital social, em regra, devem ser integralmente realizadas no


momeno do acto constitutivo (n° 1 do artigo 116 do Código Comercial).

Os sócios têm a obrigação de realizar o capital que subscreveram dentro dos prazos
estabelecidos no contrato de sociedade sob pena de incorrer na qualidade de sócio
remisso, com as devidas consequências40.

Ao capital social que cada sócio subscreva no contrato de sociedade apenas pode
corresponder a uma quota ( nº 5 do art. 290 do CCom.).

40
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, p. 191.

16
O capital que cada sócio subscreva ou lhe fique a pertencer em qualquer aumento de
capital só pode corresponder a uma nova quota ( nº 6 do art. 290 do CCom.).

As quotas que correspondem diretos especiais são independentes e indivisíveis ( nº 7 do


art. 290 do CCom.).

Sendo que, o valor nominal de cada quota deve ser expresso em moeda nacional, que
deve ser igual ou superior a quinhentos mil meticais, e constituir um múltiplo de cem (
nº 1 do art. 290 do CCom).

Quando o capital social seja realizado por meio de transferência para a sociedade de um
direito de crédito sobre terceiro e este não for pontualmente satisfeito pelo devedor, o
sócio deve realizar em dinheiro o crédito ou parte não recebida pela sociedade no prazo
de oito dias após o vencimento.

Caso o capital for realizado em espécie, este carecerá de avaliação para efeitos de
determinação do valor exacto da participação ( nº 1 do art. 114 do CCom), contudo, esta
situação tem sido objecto de uma intensa discussão a nível doutrinária, pois entende-se
que há uma disparidade em relação ao capital que o sócio subscreveu, facto que fez com
que o legislador estabelecesse no nº 4 do art.112 do CCom, o dever do sócio entrar com
a diferença em dinheiro para a integralização do capital subscrito.

Não são admitidas contribuições de indústria (nº 2do art.290 do CCom).

 Liberação da quota

A sociedade não pode amortizar as quotas que não estejam totalmente libertadas, isto é,
cujas entradas não estejam totalmente pagas a não ser que o capital social seja
simultaneamente reduzido ao montante correspondente41.

 Amortização da quota

Amortizar uma quota é extingui-la, restituindo ao sócio a respectiva importância, sem


que seja afectado o capital social, isto implica necessariamente que a sociedade, só pode
amortizar quotas a custa de disponibilidades correspondentes a reserva legal ou de
quaisquer outras existentes para além do capital social (art. 301 e 303 do CCom.).

41
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, p. 193.

17
Os motivos que determinam a amortização de quotas constam do nº.1 do art.300 do
CCom, variando o regime conforme se trate de amortização por exclusão do sócio (art.
304 do CCom.) ou amortização por exoneração de sócio (art. 305 do CCom.).

A forma e prazo de amortização constam do art. 302 do CCom.

Por último dizer que a amortização de quotas só pode fazer-se quando elas estejam
inteiramente libertadas ou realizadas (nº 3 do art. 300 do CCom.).

 Exclusão do sócio

Exclusão é diferente da exoneração, pois na exclusão o sócio, uma vez verificada a


causa prevista no contrato de sociedade ou na lei, comunica por escrito à sociedade a
sua intenção de amortizar a sua quota e sair da sociedade, isto é, na exclusão o sócio
deixar de pertencer a sociedade a partir de uma decisão unilateral da sociedade de
acordo com os casos previstos no contrato de sociedade.

No entanto, a saída do sócio pode resultar de decisão judicial em acção proposta pela
sociedade após prévia deliberação, quando o comportamento do sócio haja sido desleal
ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, lhe tenha causado ou
possam vir a causar prejuízos significativos.

Capítulo II: Efeitos e natureza da desconsideração da personalidade jurídica nas


sociedades por quotas

18
2. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades por quotas

Da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades, decorrem como efeitos:

 O afastamento episódico da personalidade jurídica das sociedades por quotas;


 O afastamento episódico da autonomia patrimonial das Sociedades por quotas e;
 A responsabilidade ilimitada dos sócios (dada a relevância que esta questão
assume para o trabalho, este ponto será abordado em um título autónomo).

Quanto ao último efeito, há que fazer um reparo, pois entende-se que os sócios
respondem directa e pessoalmente pelo uso indevido da personalidade jurídica ou pelo
desvirtuamento das finalidades prosseguidas pela sociedade, não se operando neste caso
a responsabilidade solidária e muito menos subsidiária entre os sócios e a sociedade,
prevista no nº. 1 do art. 287 do CCom.

2.1. Afastamento episódico da personalidade jurídica das sociedades por quotas

Pedro Cordeiro42, reduz a questão do afastamento da personalidade jurídica à questão da


desfuncionalização da responsabilidade limitada “a desconsideração como instituto
jurídico autónomo não é fenómeno relativo a personalidade jurídica, mas sim a
responsabilidade limitada”. O afastamento respeitaria apenas aos casos de
responsabilidade em sociedades de subcapitalização e mistura de patrimónios entre o
património da sociedade e dos sócios.

Importa salientar que, a sociedade e a personificação seriam funcionais, o facto de a


função ter sido atingida que permitirá chegar ao afastamento da personalidade,
aproximando a situação do abuso de direito.

O afastamento da personalidade jurídica, seria assim, a consequência do uso da


sociedade como instrumento de fraude ou abuso do poder económico, ocorrendo o
desvirtuamento do objecto social, a que a sociedade visava alcançar.

Segundo Maria de Fátima Ribeiro, no contexto das sociedades por quotas impõe-se
distinguir os casos de imputação e os de responsabilidade: a responsabilização do sócio
pelas obrigações sociais não passa necessariamente pelo afastamento da personalidade
jurídica da sociedade e pela imputação das obrigações sociais ao sócio, ou seja, não é

42
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p.
104.

19
necessário fazer desaparecer a sociedade da relação jurídica estabelecida com terceiro, a
sociedade conserva intacta a personalidade jurídica e a sua autonomia patrimonial,
quando é posta em causa pela responsabilidade de outro ou outros patrimónios.
Havendo apenas que impedir o sócio ou sócios de invocar o benefício da
responsabilidade limitada em conformidade com isto, não existiria um verdadeiro
problema de afastamento da personalidade jurídica nos casos de subcapitalização, sendo
que os sócios nem têm a obrigação jurídica de capitalização adequada e nem tão-pouco
– ou nem sempre – nos casos de controlo da sociedade por parte de um sócio, já que
existem, em princípio, outras soluções aplicáveis e legalmente previstas apenas na
hipótese de afastamento da personalidade jurídica se justificaria, por ser a única solução
capaz de assegurar a tutela dos credores sociais – e, ainda assim, apenas no caso de a
sociedade se encontrar insolvente.

2.2. Afastamento episódico da autonomia patrimonial das sociedades por quotas

Antes de mais, devemos deixar claro que, o princípio da autonomia patrimonial não é
absoluto, pois existiram casos em que o mesmo poderá ser afastado, como acontece nos
casos previstos no art. 87 do CCom, cuja verificação dita o afastamento da
personalidade jurídica e consequentemente da autonomia patrimonial da sociedade, para
se atingir directamente o património pessoal dos sócios.

3. Natureza e regime de responsabilidade dos sócios na desconsideração da


personalidade jurídica nas sociedades por quotas

Neste ponto, pretende-se essencialmente discutir se a responsabilidade que recai sobre


os sócios em consequência da desconsideração da personalidade das sociedades por
quotas, isto é, se ela vai ser solidária, subisidíária ou ilimitada.

Antes de entrar nas espécies de responsabilidade, convém referir que, numa situação
normal de uma sociedade por quotas, se não houvesse essa desconsideração,
provavelmente a responsabilidade dos sócios iria operacionalizar nos seguintes moldes:

Os sócios somente seriam solidariamente responsáveis pela realização do capital social,


conforme o nº 1 do art. 283 do CCom., isto significa que, se um sócio não pagar à
sociedade a sua entrada tempestivamente, os demais deverão responderão
solidariamente.

20
No que respeita à responsabilidade do património social, ao abrigo do artigo 286 do
Código Comercial, só a sociedade com o seu patrimómio, é que responde pelas suas
dívidas para com os credores. Portanto os sócios não respondem com os seus bens pelas
dívidas da sociedade, a menos que no pacto social se tenha estipulado que um ou mais
sócios serão responsáveis pelas dívidas daquela, até determinado montante e solidária
ou subsidiariamente em relação à sociedade , conforme dispõe o art. 287 do CCom.

Portanto, à luz do nº 1 do art. 287 do CCom, o legislador dá a faculdade das partes


poderem no contrato de sociedade estipularem que os sócios serem respondidos não só
pela realização do capital, mas também respondão perante os credores da sociedade até
determinado montante; essa responsabilidade tanto pode ser solidária com a sociedade,
como subsidiária em relação a ela, mas, para todos os casos que assim devem responder,
deve ser igual.

Já entrando propriamente no campo da determinação da natureza e regime de


responsabilidade dos sócios na desconsideração da personalidade jurídica das
sociedades por quotas, a responsabilidade solidária reconduz-nos para a existência de
pluralidade de obrigados, o regime das relações entre os vários devedores e o credor
comum (ou os vários credores e devedores)43. Visto nesses termos, aplicando o regime
da responsabilidade solidária à matéria da desconsideração, significaria a admissão da
responsabilização quer da sociedade em si, quer dos sócios, podendo-se recorrer a
qualquer deles para a reparação dos danos causados. No entanto, atento ao fim da
desconsideração da personalidade das sociedades por quotas, que é de atingir a esfera
patrimonial dos sócios, tal é de afastar veementemente, pleo que, a responsabilidade dos
sócios não pode jamais revestir natureza solidária.

No que respeita à responsabilidade subsidiária, esta existe quando tiver lugar à prévia
execussão dos bens do devedor originário. A aplicação da responsabilidade subsidiária à
desconsideração da personalidade jurídica das sociedades traduzir-se-ia em que
primeiro teria que se responsabilizar a sociedade de per si, e só em caso desta não
possuir bens suficientes para a satisfação os créditos de terceiros é que atacaria a esfera
patrimonial dos sócios. Todavia, à semelhança do que se disse acima ao tratar da
responsabilidade solidária, constata-se que a admissão da responsabilidade subsidiária
esvaziaria os fins da desconsideração da personalidade da sociedade que é justamente a

43
PRATA, ANA, Dicionário Jurídico-Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização Judiciária,
3ª Edição, Revista e Actualizada, Almedina, Coimbra, 1995, p. 911.

21
responsabilização dos sócios em virtude de terem actuado em desconfomidade com a
ordem jurídica vigente. Por outro lado, também seria um contrasenso sabido que, nas
sociedade, em princípio, não se admite tal responsabilidade (artigo 286 do Código
Comercial), a não ser em situações excepcionais, previstas no artigo 287 do Código
Comercial.

Mas porque há uma desconsideração da personalidade jurídica, não ocorrerá a


responsabilidade solidária, e muito menos a subsidiária, na medida em que, em boa
verdade, a responsabilidade dos sócios será ilimitada, em função de ter sido afastada a
personalidade jurídica e a autonomia patrimonial da sociedade, o que significa que a
responsabilização dos sócios em consequência da desconsideração da personalidade das
sociedades por quotas irá até onde forem os danos causados pela actuação ilícita dos
próprios sócios.

A figura da desconsideração da personalidade jurídica societária é de suma importância


para efeitos de responsabilização patrimonial daquele que instrumentalizando a
sociedade, retirou proveitos próprios actuando em desconformidade com as finalidades
para as quais a sociedade foi criada e essa responsabilidade será ilimitada.

22
Capítulo III: Desconsideração da personalidade jurídica ao nível do direito
comparado

3. Casos do Brasil e Portugal

O Brasil, adoptou de forma clara e expressa a figura da desconsideração da


personalidade jurídica, cuja primeira regulamentação sobre a matéria ocorreu na Lei nº.
8.078/90, que trata do Código de Defesa do Consumidor, na IV secção, mais
precisamente no art. 28 que estabelece que “o juiz poderá desconsiderar a
personalidade jurídica das sociedades quando, em detrimento do consumidor, houver
abuso de direito, excesso de poder, infracção da lei, facto e acto ilícito ou violação dos
estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração”.

Depois surgiu a Lei Antitruste, a Lei nº 8.884/94, revogada pela actual Lei nº 12.529/11,
esta última preservando e hipótese da desconsideração da personalidade jurídica,
estabelecendo em seu art. 34 que “a personalidade jurídica do responsável por
infracção da ordem económica poderá ser desconsiderada quando houver da parte
deste abuso de direito, excesso de poder, infracção da lei, facto ou acto ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social”, complementando a hipótese no parágrafo
único do referido artigo ao determinar que “a desconsideração também será efetivada
quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração”.

Em 1998 foi editada a Lei nº 9.605/98, que versava sobre a responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, incluindo-se na legislação brasileira mais a hipótese de
desconsideração da personalidade jurídica prevista no art.4 da referida lei prevendo
expressamente que “poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente”.

O Código Civil Brasileiro também resolveu prestigiar a teoria da desconsideração da


personalidade jurídica inserindo expressamente no art. 50 do Código Civil de 2002, que
dispõe que “em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e

23
determinadas relações de obrigações sejam estendidas aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica”44.

Como forma de harmonização da legislação já existente, o novo Código de Processo


Civil Brasileiro, apresenta em seu capítulo IV as regras para a instauração do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica, uniformizando o procedimento.

Assim, entende-se por desconsideração da personalidade jurídica, como sendo o


mecanismo processual concedido ao credor para, que quando houver entraves à
satisfação de seu crédito, possa adentrar os bens particulares dos sócios da sociedade
devedora45.

Daqui se depreende que no ordenamento jurídico brasileiro está legalmente consagrado


o instituto da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades comerciais

No que respeita à rdem jurídica portuguesa, constata-se que Portugal não adoptou uma
disposição legal concreta, que expressamente estabelece a admissibilidade da figura da
desconsideração. No entanto, ainda assim, existem disposições do Código das
Sociedades Comerciais que a doutrina tem entendido como remissivas ao regime da
desconsideração da personalidade jurídica das sociedades comerciais, a saber: o artigo
84, o n° 4 do artigo 180, o n° 3 do artigo 245, os artigos 477, 501 e 502. De seguita,
procede-se à análise de alguns e as observações doutrinárias a seu respeito.

O n° 1 do artigo 84 do Código das Sociedades Comerciais com epígrafe


“responsabilidade do sócio único” prevê que “sem prejuízo da aplicação do disposto no
artigo anterior e também do disposto quanto a sociedades coligadas, se for declarada
falida uma sociedade reduzida a um único sócio, este responde ilimitadamente pelas
obrigações sociais contraídas no período posterior à concentração das quotas ou das
acções, contanto que se prove que nesse período não foram observados os preceitos da
lei que estabelecem a afectação do património da sociedade ao cumprimento das
respectivas obrigações”. Segundo o Professor Oliveira Ascensão46, este artigo é uma
norma desconsiderante da personalidade, pois “há que reconhecer que o artigo 84 é
efectivamente uma hipótese de desconsideração. Em relação à onduta do sócio único,

44
Brasil. Código Civil, 2002. Código Civil. 53ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
45
BITTENCOURT, Hayna. A Desconsideração da Personalidade Jurídica – Modalidade e
Possibilidades, Rio de Janeiro: Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2013, p. 4.
46
ASCENSÃO, Oliveira, Sociedades Comerciais, Parte Geral, Vol. IV, p. 75.

24
não toma em conta a interposição da personalidade colectiva, e os credores poder-se-ão
satisfazer directamente, através do patrónio daquele”.

O n° 1 do artigo 501 do Código das Sociedades Comerciais com epígrafe


“responsabilidade para com os credores da sociedade subordinada” estabelece que “a
sociedade directora é responsável pelas obrigações da sociedade subordinada,
constituídas antes ou depois da celebração do contrato de subordinação, até ao termo
deste”. Este artigo versa sobre a responsabilidade para com os credores da sociedade
subordinada estabelecendo que a sociedade directora é responsável pela obrigações da
sociedade subordinada, contraídas antes ou depois da celebração do contrato de
subordinação, até ao termo deste atribuindo ainda que responsabilidade da sociedade
directora não pode ser exigida antes de decorridos trinta dias sobre a constituição em
mora da sociedade subordinada, muito menos move-se a execução contra a sociedade
directora com base em título exequível contra a sociedade subordinada47. Assim, o
sócio, a título de excepção, irá responder por dívidas da sociedade, que em princípio não
são suas. Com esta consagração, pretende-se proteger os credores da sociedade
dominada até mesmo do uso lícito do poder legal de direcção pela sociedade dominante.
A simples actuação de domínio já caracteriza a responsabilidade.

No que toca ao art. 502 do Código das Sociedades Comerciais, com epígrafe
“responsabilidade por perdas da sociedade subordinada”, prevê que “a sociedade
subordinada tem o direito de exigir que a sociedade directora compense as perdas
anuais que, por qualquer razão, se verifiquem durantea vigência do contrato de
subordinação, sempre que estas não forem compensadas pelas reservas constituídas
durante o mesmo período”. Este preceito trata da responsabilidade por perdas da
sociedade subordinada, determinando que este tenha o direito de exigir que a sociedade
directora compensa as perdas anuais que, por qualquer razão, se verifiquem, durante a
vigência do contrato de subordinação, sempre que não forem compensadas pelas
reservas constituídas durante o mesmo período. Além disso a responsabilidade prevista
só é exigível após o termo do contrato de subordinação, mas torna-se exigível durante a
vigência do contrato, se subordinação for declarada falida48.

47
OLIVEIRA, José Arnaldo de, OLIVEIRA, Vilmar Rego, A Desconsideração da Personalidade das
Sociedades Comerciais, in Revista Brasileira de Direito Empresarial, V. 4, n° 1, Jan/Jun. 2018, p. 106.
48
OLIVEIRA, José Arnaldo de, OLIVEIRA, Vilmar Rego, A Desconsideração da Personalidade das
Sociedades Comerciais, in Revista Brasileira de Direito Empresarial, V. 4, n° 1, Jan/Jun. 2018, p. 107.

25
Como se observa, as regras supra referidas estão no rol de excepções previstas na lei
Portuguesa para o princípio da separação patrimonial, de forma a privilegiar a
desconsideração da personalidade jurídica face à necessidade de proteger a boa-fé dos
credores.

Não obstante, constar-se que as normas actualmente existentes no direito português, são
regras específicas e não gerais, comportando e aceitando apenas uma quando dada
pequena e específica de casos ocorridos na arena jurídica.

há disposições no CSC, que transparecem soluções similares a da desconsideração ,


como são os casos dos arts. 84, 501 e 502, 180 nº4, 254 nº 3 e 477, ambos do CSC.

Ademais o instituto da desconsideração da personalidade jurídica societária tem em


mira a responsabilização do património daquele que, instrumentalizando a sociedade,
retirou proveito próprio actuando em disformidade com as finalidades para os quais a
sociedade foi criada49 .sendo, que o poder de actuar através de sociedade tem limites
intrínsecos, cuja à partida seria estranho que tal poder fosse absoluto, permitindo
contrariar os fundamentos do ordenamento jurídico, tais limites são o levantamento da
personalidade jurídica50.

Contudo, o abuso do instituto da personalidade colectiva é uma situação de abuso do


direito ou exercício inadmissível de posições Jurídicas, verificada a propósito da
actuação através de uma pessoa colectiva.

O recurso ao instituto do levantamento da personalidade colectiva é de carácter


subsidiária, só assumindo cabimento caso não exista outro fundamento legal que
invalide a conduta desrespeitosa51.

Logo, podemos concluir que no ordenamento jurídico português não existe preceito
legal que regule e tutele expressamente a figura, pelo que a determinação das
circunstâncias susceptíveis de sua aplicação é fundamentalmente casuística, doutrinária
e jurisprudencial, embora a sua configuração seja apoiada em princípios gerais

49
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo nº. 14744.18.8 T8LSB-A.L1-2, Relator Gabriela
Cunha Rodrigues. Arresto, Abuso de Direito, Desconsideração da Personalidade Jurídica, 05 de Março de
2020.
50
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães. Processo nº. 2217/10.0TBGMR.G1. Relatora: Maria
Luísa Ramos. Desconsideração da personalidade jurídica, Abuso de Direito. 21 de Novembro de 2016.
51
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça. Processo nº.446/11.9TYLSB.L1.S1. Relatora: Graça
Amaral. Desconsideração da Personalidade Jurídica, Sociedade Por Quotas, Património Autónomo,
Subsidiariedade, Dano, Nexo de Causalidade, 19 de Junho de 2018.

26
positivamente consagrados como seja abuso de direito, a má-fé e o instituto de
prejudicar o terceiro.

27
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

4.1. CONCLUSÕES

O instituto da desconsideração da personalidade jurídica foi criado com o objectivo de


afastar, ainda que temporariamente, a personalidade jurídica e a autonomia patrimonial
da sociedade, com vista atingir o património pessoal dos sócios, de forma ilimitada, até
que estes cumpram com as suas obrigações.

A desconsideração da personalidade jurídica das sociedades comerciais, na medida em


que constitui um instituto jurídico que vai implicar a derrogação da autonomia
patrimonial da sociedade e responsabilizar os sócios da sociedade que através da sua
actuação culposa ou dolosa causem prejuízos a terceiros, revela-se um mecanismo de
grande utilidade para a existência de paz jurídica no ordenamento jurídico
moçambicano.

No ordenamento jurídico moçambicano, diferentemente do que sucede no ordenamento


jurídico português, os pressupostos para a efectivação da desconsideração da
personalidade jurídica das sociedades comerciais são de ordem legal, e relacionam-se a
actos culposos ou dolosos levados a cabo pelos sócios para a prática de fraude e abuso
de poder económico, violação dos direitos essenciais do consumidor e do meio
ambiente, uso da personalidade jurídica com intenção de prejudicar os interesses do
sócio, do trabalhador da sociedade, de terceiro, Estado e da comunidade onde actue a
sociedade e nos casos de falência da sociedade do mesmo grupo de sociedades - trata-se
de situações que vão claramente em contramão ao próprio objecto da sociedade
comercial.

Com a efectivação da desconsideração da personalidade das sociedades comerciais,


responsabiliza-se directamente os sócios da sociedade visada, tendo em vista que eles é
que terão praticado os actos que fundamentam a desconsideração da personalidade.

A responsabilidade dos sócios decorrente da desconsideração da personalidade das


sociedades comerciais não se subsume à responsabilidade solidária nem à
responsabilidade subsidiária, porquanto, com a desconsideração atinge-se a esfera
jurídica dos sócios que são os agentes dos actos que a justificam e não a sociedade em
si. Pelo contrário, trata-se de uma responsabilidade ilimitada que consistirá em os sócios
responderem na íntegra pelos danos que a sua actuação desconforme com a ordem
jurídica que tiver provocado.
28
4.2. RECOMENDAÇÕES

Fazendo uma triagem geral, em síntese, importa deixar as seguintes recomendações:

Para toda a comunidade jurídica:

1. A consciência para a existência da desconsideração jurídica das sociedades


comerciais para a tutela dos direitos e interesses da comunidade jurídica como
um todo, a qual se pode recorrer para a salvaguarda dos direitos de terceiros que
possam ser afectados por actos lesivos protagonizados pelos sócios das
sociedades comerciais por quotas.

Para os sócios das sociedades por quotas:

2. Uma gestão prudencial dos negócios que se proponham prosseguir com a


criação das sociedades comerciais, uma gestão que se espera de um bonus pater
familia;

Para o legislador:

3. A necessidade urgente de aprovação de um quadro legal sobre o processamento


da desconsideração da personalidade jurídica, para evitar possíveis
interpretações equivocadas do instituto da desconsideração e que faça a
descrição do que seja susceptível de constituir dolo ou culpa, facto que poderá
facilitar a obtenção de provas por parte dos interessados, em verem a
personalidade jurídica da sociedade, desconsiderada e assegurar que esses
tenham acesso aos meios de provas da má actuação dos gestores da sociedade, e
por fim que a tramitação do processo seja mais célere, com vista a garantir uma
maior economia processual.

29
5. CONSTRANGIMENTOS ENFRENTADOS NA REALIZAÇÃO DO
TRABALHO

Na elaboração da presente monografia, tivemos os seguintes constrangimentos:

4. Literatura e doutrina moçambicana inerente ao tema quase inexistente, razão


pela qual se recorreu à doutrina estrangeira, para posteriormente se fazer as
necessárias adaptações à nossa realidade jurídica.

30
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Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro, parcialmente alterado pelo Decreto-Lei
nº 2/2009 de 24 de Abril.

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publicada na I Série do Boletim da República, n° 38, de 28 de Setembro de 2009

Regulamento da Lei de Defesa do Consumidor, aprovado pelo Decreto n° 27/2016, de


18 de Julho.

Código de Processo Civil Moçambicano.

LEGISLAÇÃO ESTRANGEIRA

Código Civil Brasileiro

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Código de Processo Civil Brasileiro


33
Código das Sociedades Comerciais Português

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