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Nome do Estudante:
Maria João Cumbula
Monografia apresentada à Faculdade de Direito
da Universidade Eduardo Mondlane, como requisito para a culmin
ÍNDICE
DEDICATÓRIA………………………………………...........................................……..I
AGRADECIMENTOS…………………………….........................................................II
RESUMO………………………………………….........................................................III
ABSTRACT………………………………....................................................................IV
LISTA DE ABREVIATURAS..........................................................................................v
INTRODUÇÃO.................................................................................................................1
1.1. Delimitação do Tema..................................................................................................1
1.2. Jusitificativa do tema..................................................................................................1
1.3. Problematização do tema e questões de partida.........................................................2
1.4. Objectivos do trabalho................................................................................................3
1.4.1. Objectivo geral........................................................................................................3
1.4.2. Objectivos específicos.............................................................................................3
1.5. Metodologia................................................................................................................4
1.6. Plano de exposição.....................................................................................................6
CAPÍTULO I: Aspectos relevantes da desconsideração da personalidade jurídica das
sociedades e da sociedade por quotas................................................................................7
1. A personalidade jurídica................................................................................................7
1.1. Aquisição e efeitos da aquisição da personalidade jurídica pelas sociedades
comerciais..........................................................................................................................8
1.2. Desconsideração da personalidade jurídica................................................................9
1.2.1. Considerações Gerais..............................................................................................9
1.2.2. Noção da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades
comerciais........................................................................................................................10
1.2.3. Pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica.................................11
1.2.3.1. Fraude e abuso do poder económico..................................................................13
1.2.3.2. Violação dos direitos essenciais do consumidor e do ambiente.........................14
1.2.3.3. Uso da personalidade jurídica da sociedade para prejudicar interesses do sócio,
do trabalhador da sociedade, de terceiro, do Estado e da comunidade............................15
1.2.3.4. Falência da sociedade do mesmo grupo de sociedades......................................15
1.3. Sociedade por quotas................................................................................................16
CAPÍTULO II: Efeitos e natureza da desconsideração da personalidade jurídica nas
sociedades por quotas......................................................................................................19
2. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades por quotas......19
2.1. Afastamento episódico da personalidade jurídica das sociedades por quotas..........19
2.2. Afastamento episódico da autonomia patrimonial das sociedades por quotas.........20
3. Natureza e regime de responsabilidade dos sócios na desconsideração da
personalidade jurídica das sociedades por quotas...........................................................20
CAPÍTULO III: Desconsideração da personalidade jurídica ao nível do direito
comparado.......................................................................................................................23
3. Casos do Brasil e Portugal...........................................................................................23
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................28
4.1. CONCLUSÕES........................................................................................................28
4.2. RECOMENDAÇÕES...............................................................................................29
5. CONSTRANGIMENTOS ENFRENTADOS NA REALIZAÇÃO DO
TRABALHO...................................................................................................................30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................31
DEDICATÓRIA
i
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que sempre me incentivaram a nunca desistir diante das adversidades,
que surgiram durante o processo de minha formação;
Ao Constâncio, meu parceiro e melhor amigo, sem apoio do qual este trabalho não teria
êxito;
Aos meus amigos e colegas, pelo apoio, durante todo processo académico;
À Faculdade de Direito, pela oportunidade de poder ser uma das formandas dessa
instituição;
ii
RESUMO
iii
ABSTRACT
This work has as subject "Disregard of legal entity in the private limited companies ".
In general, the work aims to approach the legal regime of the disregard of private
limited companies in Mozambican legal system. Specifically, the works search to
present the notion of the disregard of legal personality, to list the situations that may
lead to the disregard of legal personality in private limited companies, to present the
effects of the disregard of private limited companies, to identify the liability regime of
the shareholder arising from the disregard of legal personality in the private limited
companies. Methodologically, the work is based in a combination of several methods,
descriptive-exploratory, qualitative and documentary, since this combination provides
better results. The disregard of legal personality of private limited companies results in
the unlimited liability of the shareholders.
iv
LISTA DE ABREVIATURAS
AG - Assembleia Geral
Art. – Artigo
CA – Conselho de Administração
Cf. Confira
CF – Conselho Fiscal
Nº. – Número
P. – Página
v
INTRODUÇÃO
A primeira grande razão é o facto de, actualmente, ser visível o esforço de expandir e
dinamizar a economia nacional, visando incentivar a protecção de bens e serviços, para
responder à demanda do mercado de forma sustentável, facto que tem contribuído para
um crescente número de sociedades comerciais de responsabilidade limitada, por estes
1
oferecerem maior protecção ao património pessoal dos sócios, em relação às dívidas
contraídas no âmbito do cumprimento do objecto social. Estamos a falar em concreto
das sociedades anónimas e das sociedades por quotas.
A segunda última razão reside no facto de, não obstante o instituto da desconsideração
da personalidade jurídica, ter uma consagração legal no art. 87 do CCom., ainda
persistirem dificuldades para a sua concretização, o que, de certa forma, tem feito com
que continue havendo o uso abusivo da personalidade jurídica das sociedades por parte
dos sócios.
Esta problemática, embora aplicável a outros típos societários, ganha especial relevo em
se tratando de sociedades comerciais por quotas porque nestas, em regra, conforme
resulta do art. 286 do CCom. apenas o património social responde para com os credores
pelas dívidas da sociedade, daí que a noss abordagem se vá restringir a este típo
societário.
2
No âmbito das sociedades comerciais de responsabilidade limitada destacam-se as
sociedades por quotas e as sociedades anónimas. Ainda que não haja dados estatísticos
relativos ao número concreto de registo de umas e outras no ordenamento jurídico
moçambicano, a experiência de vida prática demonstra de forma incontestável que
estatisticamente, a maior parte das sociedades têm-se constituído sob a forma de
sociedades comerciais por quotas, dada a existência de menos burocracias e a simp
constituição licidade que rodeia o processo da sua e registo. Nesta convicção, tendo em
conta a nossa realidade, cremos sem margem de dúvidas que a nível do nosso
ordenamento jurídico será nesta espécie de sociedade que se suscitará com maior
frequência a questão da desconsideração da personalidade, quando as sociedades por
quotas forem usadas para prejudicar terceiros. Pelo que, é imperioso e necessário
perceber como é que a ordem jurídica tratará a questão da desconsideração da
personalidade quando estiverem em causa as sociedades comerciais por quotas.
3
Apresentar os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica
societária nas sociedades por quotas;
Identificar o regime responsabilidade dos sócios decorrente da
desconsideração da personalidade jurídica nas sociedades por quotas.
1.5. Metodologia
Assim, pode-se afirmar que se tratará de um estudo do tipo exploratório, uma vez que as
pesquisas deste tipo não são feitas apenas para conhecer o tipo de relação, mas sim, para
determinar a relação existente3.
1
MARKONI, A. LAKATOS, M. E., Fundamentos de metodologia científica, 5ª Edição, Editora Atlas,
São Paulo, 2003, p. 155.
2
SOUSA, Hugo Luís Marques de, A prática baseada em evidência, Universidade Fernando Pessoa,
Porto, 2012, p. 15.
3
RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa Social Métodos e Técnicas, 3ª Ed., Atlas, São Paulo,
1999, p. 17.
4
GIL, A. C., Métodos e técnicas de pesquisa social, 5ª Edição, Atlas, São Paulo, 1999, p. 28.
4
das causa que lhe dão lugar, do processualismo para a sua consumação bem como de
como é que tal opera nas sociedades por quotas.
Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois, esta busca captar não só a
aparência do fenómeno como também suas essências, procurando explicar sua origem,
relações e mudanças, e tentando intuir as consequências5. Esta pesquisa envolve ainda a
obtenção de dados descritivos, obtidos no contacto directo do pesquisador com a
situação estudada6.
5
OLIVEIRA, MAXWELL Ferreira de, Metodologia Científica: um manual para a realização de
pesquisas em administração, Universidade Federal de Goiás, 2011, p. 24.
6
BOGDAN R. S., BIKLEN S., Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos
métodos, 12ª Edição, Porto, 2003, p. 45.
7
MARKONI, A. LAKATOS, M. E, obra citada, p. 65.
8
CERVO A. L. , BERVIAN, P. A., Metodologia Científica, 5ª Edição, Prentice Hall, São Paulo, 2002, p.
87.
9
VERGARA, SYLVIA, Projectos e relatórios de pesquisa em administração, 3ª Edição, Atlas, Rio de
Janeiro, 2000, p. 76.
5
1.6. Plano de exposição
Por sua vez, o terceiro capítulo será relativo à desconsideração da personalidade jurídica
ao nível do direito comparado, dando-se particular enfoque aos ordenamentos jurídicos
português e brasileiro.
6
CAPÍTULO I – Aspectos relevantes da desconsideração da personalidade jurídica
das sociedades e da sociedade por quotas em particular
1. A personalidade jurídica
Não obstante, na fase inicial a ideia de personalidade jurídica ter sido reconduzida à
pessoa humana, hodiernamente são também susceptíveis de personalidade jurídica as
organizações de pessoas e/ou bens, portanto, sendo neste caso designada de
personalidade colectiva. Neste sentido, a personalidade jurídica das pessoas colectivas
reconduz-nos à personalidade colectiva.
10
PINTO, Carlos Alberto da Mota, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª Edição (edição de António Pinto
Monteiro e Paulo Mota Pinto), Coimbra Editora, Coimbra, 2005, p. 201.
11
CORREIA, Luís Brito, Direito Comercial – Sociedades Comerciais, Vol. II, 2ª Tiragem, AAFDL,
Lisboa, 1989, p. 236.
12
CORREIA, Miguel Pupo J. A. Direito Comercial - Direito Empresarial, 11ª Ed., Ediforum, Lisboa,
2009, p. 100.
13
CORDEIRO, António Menezes, O levantamento da personalidade colectiva no direito civil e
comercial, Almedina, Coimbra, 2000, p. 39.
7
Actualmente, ao nível da doutrina, apresenta-se como dominante a concepção técnico-
jurídica da pessoa colectiva, “produto da técnica jurídica, abastraindo de considerações
éticas, sociais e político-gerais, não baseando nos substratos meta-jurídicos o seu
específico modo de ser, a personalidade colectiva é um expediente utilizável por uma
séria de diferenciadas organizações, pelo qual a ordem jurídica atribui às mesmas a
qualidade de sujeitos de direito, de autónomos centros de imputação de efeitos
jurídicos”14.
14
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Da Empresariedade – As Empresas em Direito, Almedina,
Coimbra, 1996, p. 198 e ss.
15
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Da Empresariedade – As Empresas em Direito, Almedina,
Coimbra, 2011, p. 98.
16
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, tradução de João Baptista Machado, 6ª Edição, Martins
Fontes, São Paulo, 1984, p. 215.
17
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol. I, Escolar Editora,
Maputo, 2013, p. 130.
8
Nos termos do disposto no artigo 86 do Código Comercial “as sociedades comerciais
adquirem personalidade jurídica a partir da data do respectivo acto constitutivo”. A
partir do acto constitutivo nasce uma nova pessoa jurídica que se transforma em
autónomo centro de imputação jurídica e adquire um novo núcleo de direitos e
deveres18.
18
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Do Abuso de Direito, Ensaio de um Critério em Direito Civil e
nas Deliberações Sociais, Almedina, Coimbra, 1999, p. 102.
19
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol. I, Escolar Editora,
Maputo, 2013, p. 132.
20
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, 2ª
Edição, Universidade Lusíada Editora, 2005, p. 27.
21
Traduzido para o português como “Forma jurídica e realidade das pessoas colectivas”, in CORDEIRO,
Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p. 29.
22
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p. 29
9
Correia23 aquando da análise do regime das sociedades unipessoais e os problemas
advenientes de abuso da personalização na persecução de interresses pessoais
contraditórios com os interesses sociais. Posteriormente, com a sua expansão pelo
mundo, veio a ser consagrado no nosso ordenamento jurídico.
Aqui fica claro que, o princípio da autonomia patrimonial não é absoluto, porque o
mesmo poderá ser afastado nos casos da desconsideração da personalidade
jurídica, para que haja uma responsabilidade directa e pessoal dos sócios.
23
CORREIA, Ferrer, Sociedades Unipessoais de Responsabilidade Limitada, in “Estudos de Direito
Civil, Comercial e Criminal”, Almedina, Coimbra, p. 209.
10
Para Coutinho de Abreu24, a desconsideração da personalidade jurídica é a derrogação
ou não observância da autonomia jurídico-subjectiva e/ou patrimonial das sociedades
em face dos respectivos sócios.
24
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial – Das Sociedades, Vol. II,
Almedina, Coimbra, 2011, p. 176.
25
RIBEIRO, Maria de Fátima, A Tutela dos Credores por Quotas e a “Desconsideração da
Personalidade Jurídica”, Almedina, Coimbra, 2009, p. 67.
26
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, 2ª
Edição, Universidade Lusíada Editora, 2005, p. 19.
27
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 23ª Edição, Saraiva, São Paulo, 2011, p. 153.
11
Ademais, a desconsideração da personalidade jurídica é instrumento de eliminação do
mau uso da pessoa jurídica.
Por apenas suspender a eficácia do acto constitutivo, no episódio sobre o qual recaí o
julgamento, sem invalidá-lo, a teoria da desconsideração preserva a empresa, que não
será necessariamente atingida por acto fraudulento de um de seus sócios resguardando-
se, desta forma os demais interesses que gravitam ao seu redor, como o dos empregos,
dos demais sócios, da comunidade etc.
A conduta dos sócios pode ser assumir a forma negligente e a forma dolosa.
28
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, 8ª Edição, Almedina, Coimbra, 2009, pp. 313-314.
29
CORDEIRO, António Menezes, Direito das Obrigações, Vol. I, AAFDL, Lisboa, 1980, p. 308.
30
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, p. 315.
12
efectivamente a verificação do facto, ainda que a omissão do dever de cuidado a que
está obrigado o torne responsável.
Por sua vez, a actuação dolosa corresponde à intenção do agente de praticar o facto31
Verifica-se a fraude quando usando a permissão conferida por uma norma, se praticam
actos que visam um resultado proibido por outra norma32. Trata-se de um vastísimo
conjunto de situações, tendencialemnte intencionais, em que o sujeito engana outros,
causando directa ou indirectamente danos económico-sociais33.
Como se pode ver, o legislador não indica claramente o que se deve entender por
fraude, o que pode abrir espaço para a existência de interpretações subjectivas. Note-se
que a fraude pode causar danos a terceiros privados que contactem ou negociem com a
sociedade ou de natureza fiscal (o que conduz à fraude fiscal), quando causa prejuízos
de natureza fiscal ao Estado. No silêncio do Código Comercial, parece dever se admitir
as duas formas no nosso ordenamento jurídico.
31
LEITÃO, Luís Manuel Telles de Menezes, Direito das Obrigações – Introdução, Da Constituição das
Obrigações, Vol. I, p. 315.
32
PRATA, Ana, Dicionário Jurídico-Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização Judiciária, 3ª
Edição, Revista e Actualizada, Almedina, Coimbra, 1995, p. 486.
33
PIMENTA, Carlos, Esboço de Quantificação da Fraude em Portugal, Edições Húmus, Observatório
de Economia e Gestão de Fraude, 2009, p. 5.
13
também exerce uma determinada actividade económica, com o fim último de obter
vantagens de natureza económica34.
34
OLAVO, Carlos, Propriedade Industrial, Almedina, Coimbra, 1997, pp. 145-146.
35
CANOTILHO, JOSÉ Joaquim Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª Edição,
Almedina Coimbra, 2003, p. 234.
36
Este artigo com epígrafe “Direito ao ambiente”, estebelece que:/
“1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender.
2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, adoptam
políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os recursos naturais”.
14
consagrados, reconhecendo a existência de um direito subjectivo ao ambiente, sutónomo
e distinto dos demais direitos constitucionalmente consagrados37.
Por sua vez, o n° 2 do mesmo artigo ao impor o Estado no sentido amplo (incluindo,
portanto, autarquias locais) a obrigação de adoptar políticas direccionadas à defesa do
ambiente consagra uma perspectiva objectivista, fundamentado no entendimento de que
o ambiente é um bem público, por consequência estarem essencialmente em causa
interesses públicos ou colectivos, isto é, da colectividade no seu todo e não de cidadãos
individualmente considerados38.
Aqui trata-se de situações que elém de afectarem pessoas internas da vida da sociedade,
propagam-se para o ambiente externo, pondo em causa a protecção de bens jurídicos
fundamentais da comunidade jurídica.
37
SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito de Ambiente, 2ª Edição, Centro de Formação
Jurídica e Judiciária, Maputo, 2008, p. 102.
38
SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito de Ambiente, p. 102.
39
As outras entidades aqui englobadas são: as associações e fundações, as sociedades civis, as
cooperativas, as pessoas singulares (n° 2 do artigo 2 do RJIREC).
15
estabelece que “a responsabilidade pessoal dos sócios de sociedade de
responsabilidade limitada, directores, administradores ou gerentes, estabelecida nas
respectivas leis, é apurada no próprio tribunal da insolvência, independentemente da
realização do activo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o
processo de declaração previsto no Código de Processo Civil”.
Sendo que na sociedade por quotas o capital está dividido em quotas e os sócios
respondem solidariamente pela realização do capital social ( nº 1 do art. 283 do CCom.).
A lei comercial, também admite participação do menor de idade com sócio, mesmo que
este não esteja emancipado ou autorizado a exercer o comércio, desde que o capital
social se encontre integralmente realizado e assim de mantenha enquanto perdurar a
menoridade, sendo proibida a sua participação na administração ( art. 285 do CCom).
Os sócios têm a obrigação de realizar o capital que subscreveram dentro dos prazos
estabelecidos no contrato de sociedade sob pena de incorrer na qualidade de sócio
remisso, com as devidas consequências40.
Ao capital social que cada sócio subscreva no contrato de sociedade apenas pode
corresponder a uma quota ( nº 5 do art. 290 do CCom.).
40
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, p. 191.
16
O capital que cada sócio subscreva ou lhe fique a pertencer em qualquer aumento de
capital só pode corresponder a uma nova quota ( nº 6 do art. 290 do CCom.).
Sendo que, o valor nominal de cada quota deve ser expresso em moeda nacional, que
deve ser igual ou superior a quinhentos mil meticais, e constituir um múltiplo de cem (
nº 1 do art. 290 do CCom).
Quando o capital social seja realizado por meio de transferência para a sociedade de um
direito de crédito sobre terceiro e este não for pontualmente satisfeito pelo devedor, o
sócio deve realizar em dinheiro o crédito ou parte não recebida pela sociedade no prazo
de oito dias após o vencimento.
Caso o capital for realizado em espécie, este carecerá de avaliação para efeitos de
determinação do valor exacto da participação ( nº 1 do art. 114 do CCom), contudo, esta
situação tem sido objecto de uma intensa discussão a nível doutrinária, pois entende-se
que há uma disparidade em relação ao capital que o sócio subscreveu, facto que fez com
que o legislador estabelecesse no nº 4 do art.112 do CCom, o dever do sócio entrar com
a diferença em dinheiro para a integralização do capital subscrito.
Liberação da quota
A sociedade não pode amortizar as quotas que não estejam totalmente libertadas, isto é,
cujas entradas não estejam totalmente pagas a não ser que o capital social seja
simultaneamente reduzido ao montante correspondente41.
Amortização da quota
41
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, p. 193.
17
Os motivos que determinam a amortização de quotas constam do nº.1 do art.300 do
CCom, variando o regime conforme se trate de amortização por exclusão do sócio (art.
304 do CCom.) ou amortização por exoneração de sócio (art. 305 do CCom.).
Por último dizer que a amortização de quotas só pode fazer-se quando elas estejam
inteiramente libertadas ou realizadas (nº 3 do art. 300 do CCom.).
Exclusão do sócio
No entanto, a saída do sócio pode resultar de decisão judicial em acção proposta pela
sociedade após prévia deliberação, quando o comportamento do sócio haja sido desleal
ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, lhe tenha causado ou
possam vir a causar prejuízos significativos.
18
2. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades por quotas
Quanto ao último efeito, há que fazer um reparo, pois entende-se que os sócios
respondem directa e pessoalmente pelo uso indevido da personalidade jurídica ou pelo
desvirtuamento das finalidades prosseguidas pela sociedade, não se operando neste caso
a responsabilidade solidária e muito menos subsidiária entre os sócios e a sociedade,
prevista no nº. 1 do art. 287 do CCom.
Segundo Maria de Fátima Ribeiro, no contexto das sociedades por quotas impõe-se
distinguir os casos de imputação e os de responsabilidade: a responsabilização do sócio
pelas obrigações sociais não passa necessariamente pelo afastamento da personalidade
jurídica da sociedade e pela imputação das obrigações sociais ao sócio, ou seja, não é
42
CORDEIRO, Pedro, A Desconsideração da Personalidade Jurídica das Sociedades Comerciais, p.
104.
19
necessário fazer desaparecer a sociedade da relação jurídica estabelecida com terceiro, a
sociedade conserva intacta a personalidade jurídica e a sua autonomia patrimonial,
quando é posta em causa pela responsabilidade de outro ou outros patrimónios.
Havendo apenas que impedir o sócio ou sócios de invocar o benefício da
responsabilidade limitada em conformidade com isto, não existiria um verdadeiro
problema de afastamento da personalidade jurídica nos casos de subcapitalização, sendo
que os sócios nem têm a obrigação jurídica de capitalização adequada e nem tão-pouco
– ou nem sempre – nos casos de controlo da sociedade por parte de um sócio, já que
existem, em princípio, outras soluções aplicáveis e legalmente previstas apenas na
hipótese de afastamento da personalidade jurídica se justificaria, por ser a única solução
capaz de assegurar a tutela dos credores sociais – e, ainda assim, apenas no caso de a
sociedade se encontrar insolvente.
Antes de mais, devemos deixar claro que, o princípio da autonomia patrimonial não é
absoluto, pois existiram casos em que o mesmo poderá ser afastado, como acontece nos
casos previstos no art. 87 do CCom, cuja verificação dita o afastamento da
personalidade jurídica e consequentemente da autonomia patrimonial da sociedade, para
se atingir directamente o património pessoal dos sócios.
Antes de entrar nas espécies de responsabilidade, convém referir que, numa situação
normal de uma sociedade por quotas, se não houvesse essa desconsideração,
provavelmente a responsabilidade dos sócios iria operacionalizar nos seguintes moldes:
20
No que respeita à responsabilidade do património social, ao abrigo do artigo 286 do
Código Comercial, só a sociedade com o seu patrimómio, é que responde pelas suas
dívidas para com os credores. Portanto os sócios não respondem com os seus bens pelas
dívidas da sociedade, a menos que no pacto social se tenha estipulado que um ou mais
sócios serão responsáveis pelas dívidas daquela, até determinado montante e solidária
ou subsidiariamente em relação à sociedade , conforme dispõe o art. 287 do CCom.
No que respeita à responsabilidade subsidiária, esta existe quando tiver lugar à prévia
execussão dos bens do devedor originário. A aplicação da responsabilidade subsidiária à
desconsideração da personalidade jurídica das sociedades traduzir-se-ia em que
primeiro teria que se responsabilizar a sociedade de per si, e só em caso desta não
possuir bens suficientes para a satisfação os créditos de terceiros é que atacaria a esfera
patrimonial dos sócios. Todavia, à semelhança do que se disse acima ao tratar da
responsabilidade solidária, constata-se que a admissão da responsabilidade subsidiária
esvaziaria os fins da desconsideração da personalidade da sociedade que é justamente a
43
PRATA, ANA, Dicionário Jurídico-Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização Judiciária,
3ª Edição, Revista e Actualizada, Almedina, Coimbra, 1995, p. 911.
21
responsabilização dos sócios em virtude de terem actuado em desconfomidade com a
ordem jurídica vigente. Por outro lado, também seria um contrasenso sabido que, nas
sociedade, em princípio, não se admite tal responsabilidade (artigo 286 do Código
Comercial), a não ser em situações excepcionais, previstas no artigo 287 do Código
Comercial.
22
Capítulo III: Desconsideração da personalidade jurídica ao nível do direito
comparado
Depois surgiu a Lei Antitruste, a Lei nº 8.884/94, revogada pela actual Lei nº 12.529/11,
esta última preservando e hipótese da desconsideração da personalidade jurídica,
estabelecendo em seu art. 34 que “a personalidade jurídica do responsável por
infracção da ordem económica poderá ser desconsiderada quando houver da parte
deste abuso de direito, excesso de poder, infracção da lei, facto ou acto ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social”, complementando a hipótese no parágrafo
único do referido artigo ao determinar que “a desconsideração também será efetivada
quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração”.
Em 1998 foi editada a Lei nº 9.605/98, que versava sobre a responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, incluindo-se na legislação brasileira mais a hipótese de
desconsideração da personalidade jurídica prevista no art.4 da referida lei prevendo
expressamente que “poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente”.
23
determinadas relações de obrigações sejam estendidas aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica”44.
No que respeita à rdem jurídica portuguesa, constata-se que Portugal não adoptou uma
disposição legal concreta, que expressamente estabelece a admissibilidade da figura da
desconsideração. No entanto, ainda assim, existem disposições do Código das
Sociedades Comerciais que a doutrina tem entendido como remissivas ao regime da
desconsideração da personalidade jurídica das sociedades comerciais, a saber: o artigo
84, o n° 4 do artigo 180, o n° 3 do artigo 245, os artigos 477, 501 e 502. De seguita,
procede-se à análise de alguns e as observações doutrinárias a seu respeito.
44
Brasil. Código Civil, 2002. Código Civil. 53ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
45
BITTENCOURT, Hayna. A Desconsideração da Personalidade Jurídica – Modalidade e
Possibilidades, Rio de Janeiro: Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2013, p. 4.
46
ASCENSÃO, Oliveira, Sociedades Comerciais, Parte Geral, Vol. IV, p. 75.
24
não toma em conta a interposição da personalidade colectiva, e os credores poder-se-ão
satisfazer directamente, através do patrónio daquele”.
No que toca ao art. 502 do Código das Sociedades Comerciais, com epígrafe
“responsabilidade por perdas da sociedade subordinada”, prevê que “a sociedade
subordinada tem o direito de exigir que a sociedade directora compense as perdas
anuais que, por qualquer razão, se verifiquem durantea vigência do contrato de
subordinação, sempre que estas não forem compensadas pelas reservas constituídas
durante o mesmo período”. Este preceito trata da responsabilidade por perdas da
sociedade subordinada, determinando que este tenha o direito de exigir que a sociedade
directora compensa as perdas anuais que, por qualquer razão, se verifiquem, durante a
vigência do contrato de subordinação, sempre que não forem compensadas pelas
reservas constituídas durante o mesmo período. Além disso a responsabilidade prevista
só é exigível após o termo do contrato de subordinação, mas torna-se exigível durante a
vigência do contrato, se subordinação for declarada falida48.
47
OLIVEIRA, José Arnaldo de, OLIVEIRA, Vilmar Rego, A Desconsideração da Personalidade das
Sociedades Comerciais, in Revista Brasileira de Direito Empresarial, V. 4, n° 1, Jan/Jun. 2018, p. 106.
48
OLIVEIRA, José Arnaldo de, OLIVEIRA, Vilmar Rego, A Desconsideração da Personalidade das
Sociedades Comerciais, in Revista Brasileira de Direito Empresarial, V. 4, n° 1, Jan/Jun. 2018, p. 107.
25
Como se observa, as regras supra referidas estão no rol de excepções previstas na lei
Portuguesa para o princípio da separação patrimonial, de forma a privilegiar a
desconsideração da personalidade jurídica face à necessidade de proteger a boa-fé dos
credores.
Não obstante, constar-se que as normas actualmente existentes no direito português, são
regras específicas e não gerais, comportando e aceitando apenas uma quando dada
pequena e específica de casos ocorridos na arena jurídica.
Logo, podemos concluir que no ordenamento jurídico português não existe preceito
legal que regule e tutele expressamente a figura, pelo que a determinação das
circunstâncias susceptíveis de sua aplicação é fundamentalmente casuística, doutrinária
e jurisprudencial, embora a sua configuração seja apoiada em princípios gerais
49
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo nº. 14744.18.8 T8LSB-A.L1-2, Relator Gabriela
Cunha Rodrigues. Arresto, Abuso de Direito, Desconsideração da Personalidade Jurídica, 05 de Março de
2020.
50
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães. Processo nº. 2217/10.0TBGMR.G1. Relatora: Maria
Luísa Ramos. Desconsideração da personalidade jurídica, Abuso de Direito. 21 de Novembro de 2016.
51
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça. Processo nº.446/11.9TYLSB.L1.S1. Relatora: Graça
Amaral. Desconsideração da Personalidade Jurídica, Sociedade Por Quotas, Património Autónomo,
Subsidiariedade, Dano, Nexo de Causalidade, 19 de Junho de 2018.
26
positivamente consagrados como seja abuso de direito, a má-fé e o instituto de
prejudicar o terceiro.
27
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
4.1. CONCLUSÕES
Para o legislador:
29
5. CONSTRANGIMENTOS ENFRENTADOS NA REALIZAÇÃO DO
TRABALHO
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOUTRINA
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial – Das Sociedades,
Vol. II, Almedina, Coimbra, 2011.
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 23ª Edição, Saraiva, São Paulo,
2011.
31
CORREIA, Luís Brito, Direito Comercial – Sociedades Comerciais, Vol. II, 2ª
Tiragem, AAFDL, Lisboa, 1989.
GIL, A. C., Métodos e técnicas de pesquisa social, 5ª Edição, Atlas, São Paulo, 1999.
PINTO, Carlos Alberto da Mota, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª Edição (edição de
António Pinto Monteiro e Paulo Mota Pinto), Coimbra Editora, Coimbra, 2005.
32
SOUSA, Hugo Luís Marques de, A prática baseada em evidência, Universidade
Fernando Pessoa, Porto, 2012.
LEGISLAÇÃO
LEGISLAÇÃO ESTRANGEIRA
JURISPRUDÊNCIA PORTUGUESA
34