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Mudanças na

Lei do Inquilinato
o Advogado Osvaldo Marchini Filho discorre sobre as
mudanças ocorridas na Lei do Inquilinato com a edição da
Lei n° 12.112. Para isso, ele centraliza a temática nas normas
processuais, particularmente no que refere à concessão de
liminar para despejo quando da dívida locatícia, pela falta de
pagamento do aluguel. Acredita o autor que as normas são be-
néficas tanto para o locador, quanto para o locatário. Portanto,
as relações jurídicas no plano imobiliário estariam mais pro-
tegidas e honrariam os pactos firmados. Acredita que com as A ZONA DE CONFORTO
benesses trazidas pela lei, dentro de um fator de garantia para
os dois lados, o contrato de locação resguardaria os direitos dos DOS ADVOGADOS
contratantes. (Página 9) Porque os escritórios abandonam o sucesso
O Consultor Alexandre Motta apresenta-nos artigo sobre a
r---~---i.[ Legislação ll!'--'-~-'-"" gestão profissional dos escritórios de advocacia. Para isso, ana-
lisa o fato de haver escritórios que prosperam e outros que ficam
~ ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
estagnados em suas posições, as quais ele chama de "Zona de
Licitação e contratação de serviços de
Conforto dos Advogados". Avalia, o autor, que o maior pro blema
publicidade: normas
está no fato de que os advogados em sua maioria não exercem o
A Lei n° 12.232, de 29.04.10, dispõe sobre as normas
poder da vontade de mudar e buscar novos desafios. Incrementar
gerais para licitação e contratação pela Administração
o próprio negócio, a sua situação de prosperidade fica em um
Pública de serviços de publicidade prestados por
plano do imaginário, sem a efetiva ação pelo novo e pelo melhor
intermédio de agências de propaganda no âmbito
para o seu escritório. Defende que os advogados que prosperam
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
buscam ideias rentáveis ao escritório, sempre balanceando com
Municípios. Subordinam-se ao disposto nesta Lei os
a estrutura interna do seu ambiente de trabalho. Por fim, acredita
órgãos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, as
que uma visão macro do que pode ser feito e os passos envolvidos
pessoas da Administração indireta e todas as entidades
no planejamento devem ser criados e executados por profissio-
controladas direta ou indiretamente pelos entes
nais qualificados e especializados na área de desenvolvimento e
referidos acima. Considera-se serviços de publicidade,
gestão empresarial de marketing. (Página 3)
o conjunto de atividades realizadas integradamente
que tenham por objetivo o estudo, o planejamento,
SINOPSE------~
a conceituação, a concepção, a criação, a execução
TEMA DA SEMANA.......................... .................................. 3
interna, a intermediação e a supervisão da execução PROCESSOS & PROCEDIMENTOS ......................................... 5
externa e a distribuição de publicidade aos veículos POLÍTICA ECONÔMICA ........ :............................................. 8
e demais meios de divulgação, com o objetivo de TRIBUNA JURÍDICA ......................................................... 9
DOUTRINA .................................................................... 10
promover ft,;;"
ª"venda de bens ou serviços de qualquer
ESPAÇO UNIVERSITÁRIO ................................................... 14
natureza, difundir ideias ou informar o público em DIA A DIA...................................................................... 15
geral. (Página 18) IN LEGIS........................................................................ 18
, INDICADORES .............................. .................................. 23
Doutrina

o CONFLITO ENTRE A PROTEÇÃO DO NOME


EMPRESARIAL ANTE O REGISTRO DA MARCA
NO ORDENAMENTO JURíDICO BRASILEIRO
Sfi-{i
I
~

JANINE GONÇALVES DE ARAÚJO EYNG

CONSIDERAÇÕES viços" (art. 122, LPI - Lei de Propriedade Saraiva, 2003.) define o instituto como
PRELIMINARES Industrial) . sendo um direito pessoal, protegido pela
Enquanto que a marca identifica os lei contra atos de concorrência desleal,
ste trabalho destina-se a abordar produtos fabricados e comercializados visando ao interesse social e ao desenvol-

E as soluções previstas no ordena-


mento jurídico brasileiro, bem
como aplicadas pelos tribunais, nos
pelo empresário, ou os serviços por ele
prestados, o nome empresarial desti-
na-se a identificar o empresário.
vimento tecnológico.
a nome empresarial possui duas
funções: uma objetiva e outra subjetiva.
casos de conflito entre o nome empresa- a empresário, ao desenvolver a A primeira consiste na reputação que
rial e a marca. empresa, necessita identificar-se em face o empresário possui perante os seus
Para tanto cumpre definir ambos os das obrigações por ele assumidas, daí a concorrentes, fornecedores e clientela,
institutos, de modo a esclarecer a natu- necessidade de atribuição de um nome. em suma, proteger a concorrência;
reza jurídica de cada um. a nome é um atributo do empresário ou enquanto que a segunda representa a sua
Após essa abordagem, é importante dasociedade empresaria. individualidade, sua subjetividade como
analisar as diferenças inerentes a cada empresário, é a forma como ele se identi-
instituto, além de verificar e mencionar a fica perante o mundo jurídico.
tutela da legislação brasileira. Neste aspecto, cumpre remeter à
Sob esse enfoque, abordar-se-á a "AS DIFERENÇAS função que o nome tinha na época em
abrangência da aplicabilidade da Con- que o Direito Comercial adotava a Teoria
venção de Paris, daLei de Registros Públi-
ESTABELECIDAS Francesa dos Atos de Comércio, que foi
cos, da Lei de Propriedade Industrial, do ENTRE NOME substituída pela teoria italiana, chamada
Código Penal e, sobretudo, da Constitui- Teoria da Empresa.
ção da República. EMPRESARIAL EO Naquela época, o nome comercial
Enfim, alcançar-se-á a proble- era utilizado para diferenciar um comer-
mática deste trabalho, que consiste
NOME DA MARCA ciante de seus concorrentes, perante sua
na análise do conflito entre o nome ADVÊM DA NATUREZA clientela.
empresarial e a marca, quando ambos Hodieranamente, na medida em que
possuem identidade de expressão, e os JURíDICA DISTINTA a marca se presta a identificar o produto
seus titulares contendem acerca de seu ou serviço, a clientela passa a nortear-se
uso exclusivo.
DESTES DOIS por ela. Logo, a função mercadológica
A fim de elucidar a questão, abordar- INSTITUTOS." que o nome possuía na vetustaaplicabili-
se-á o entendimento das Cortes brasilei- dade no Direito Comercial, hoje é substi-
ras quanto à matéria. tuída pela marca.
Diante da abordagem proposta, Este fenômeno é consequência do
proceder-se-á à conclusão. Dylson Doria (DaRIA, Dylson. Curso fenômeno da economia de massa, na
de Direito Comercial. 13. ed. v.I. rev. e medida em que estabelece-se uma inver-
DEFINiÇÃO DE NOME atual. São Paulo: Saraiva, 1998) assim são: outrora, o produto adquiria prestígio
EMPRESARIAL E DE MARCA define nome empresarial: "( ... ) vem a ser em função do seu fabricante ou comer-
o adotado pela pessoa física ou jurídica ciante; atualmente, asseverando-se,
A marca é definida como um dos qua- para o exercício do comércio e por cujo sobretudo, os efeitos repercutidos pela
tro bens que compõem a propriedade meio se identifica'. defesa da concorrência e pela adoção de
industrial. "É o sinal distintivo, suscetí- Já Ricardo Negrão~:6NEGRÃa, medidas protecionistas ao consumidor
vel de percepção visual, que identifica, Ricardo. Manual de DireitO Comercial e (CDC - Código de Defesa do Consu-
direta ou indiretamente, produtos ou ser- de Empresa. 3. ed. v.I. reformo São Paulo: midor), o empresário torna-se notório

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pela qualidade do seu produto ou do seu imaterial, que compõe o conjunto de Saraiva, 2003, esclarece que a marca tem
serviço. bens incorpóreos do estabelecimento sua proteção restrita à classe de pro-
Por conseguinte, extrai-se a utilidade empresarial, pode ser alienado, inclusive. dutos ou serviços em que se encontra
do nome e da marca, de modo que se Sua natureza jurídica é de propriedade registrada pelo INPI (excetuando-se a
depreende que não se confundem, uma industrial. marca de alto renome, que tem proteção
vez que tem, cada qual, uma função Outrossim, importante esclarecer que abrange todas as classes), isto se dá
específica, qual seja, o nome identifica que a tutela do nome empresarial advém devido ao princípio da especificidade da
o empresário e a marca identifica o da Lei de Regitros Públicos, a saber: Lei de marca. Entretanto, este princípio não se
produto ou serviço que corresponde ao Registros Públicos n° 8.934/94. Enquanto aplica à tutela material do nome, uma vez
objeto da empresa por ele desenvolvida. que a tutela da marca é assegurada pela que este é protegido independentemente
LPI - Lei de Propriedade Industrial. do ramo de atividade econômica a que se
PREVISÃO NO ORDENAMENTO dedica o empresário.
JURíDICO BRASILEIRO DIFERENÇAS ENTRE O E, por fim, o prazo <te duração da
REGIME JURíDICO DO NOME proteção do nome difere-se do da marca.
A Carta Magna, em seu art. 5°, inciso EMPRESARIAL E DA MARCA Esta última tem a garantia de tutela por
XXIX, assim dispõe: dez anos, sendo renováveis por perío-
As diferenças estabelecidas entre dos iguais e sucessivos. O nome goza
'Art. 50 (...) nome empresarial e o nome da marca de proteção por prazo indeterminado.
XXIX - a lei assegurará aos autores de advêm da natureza jurídica distinta Enquanto estiver em atividade o empre-
inventos industriais privilégios temporá- destes dois institutos, conforme mencio- sário. Nesse sentido, importante alertar
rios para sua utilização, bem como prote- nado no item anterior. que se esse se mantiver inativo por prazo
ção ás criações industriais, à propriedade Nesta esteira, cotejam-se as diferen- superior a dez anos, deve comunicar à
das marcas, aos nomes de empresas e a ças entre o regime jurídico de cada qual: junta comercial sua atividade, sob pena
outros signos distintivos, tendo em vista órgão registrário; âmbito territorial da de perder a proteção ao nome. É o que
o interesse social e o desenvolvimento tutela; âmbito material da tutela e âmbito dispõe a Lei de Registros Públicos n°
tecnológico e econômico do país." temporal. 8.934/94, art. 60:
O registro do nome empresarial
Portanto há tutela constitucional compete às Juntas Comerciais, como se "Art. 60. A firma individual ou a so-
tanto do nome empresarial enquanto da depreende do art. 32 da Lei de Registros ciedade que não proceder a qualquer
marca. Públicos, inciso lI, alínea a. Enquanto arquivamento no período de dez anos
Também a Convenção de Paris, que o registro da marca compete ao consecutivos deverá comunicar à junta
datada de 1883, da qual o Brasil é signa- INPI - Instituto Nacional de Propriedade comercial que deseja manter-se em fun-
tário e um dos fundadores, ratificada Industrial. cionamento.
pelo Decreto n° 75.572/75, tutela o nome No que tange ao âmbito territorial § loNa ausência dessa comunicação,
comercial e a marca como bens de pro- da tutela, advém dos limites da área de a empresa mercantil será considerada
priedade industrial. atuação dos órgãos registrários. O nome inativa, promovendo a junta comercial
Cumpre esclarecer, porém, que a tem proteção somente na unidade da o cancelamento do registro, com a perda
natureza jurídica dos dois institutos é federação em que foi registrado, uma vez automática da proteção ao nome empre-
diversa no Brasil, na medida em que, o que a competência das Juntas Comer- sarial."
nome tem natureza jurídica de direito ciais é estadual. Assim, o empresário ao
pessoal, uma vez que se inadmite sua promover o arquivamento de seus atos DIREITOS
cessação ou transferência desassociada constitutivos, promove, por conseguinte, DECORRENTES DO REGISTRO
do próprio empresário, ainda que se a proteção ao uso exclusivo de seu nome.
suceda o trespasse (alienação do esta- Contudo, somente naquela: unidade da O registro do nome empresarial, por
belecimento empresarial), logo não faz federação. meio do arquivamento dos atos constitu-
parte do fundo de comércio, que pode Já a marca, por ser registrada no tivos' implica na imediata proteção. Con-
ser alienado separadamente, mas sim, INPI, que é uma autarquia federal, tem a forme prevê a Lei de Registros Públicos n°
está relacionado ao sujeito da empresa abrangência nacional da tutela. A marca 8.934/94, art. 33:
(empresário), é um direito de personali- possui, ainda, a tutela nos demais países
dade da pessoa jurídica ou do empresário unionistas, se presentes as condições da "A proteção ao nome empresarial de-
individual, estando legitimamente asso- Convenção de Paris. corre automaticamente do arquivamento
ciado àsuaimagem. Também há diferenças quanto ao dos atos constitutivos de firma individual
Logo sua natureza jurídica é um âmbito material da tutela. Neste sentido e de sociedades, ou de suas alterações."
direito pessoal com tutela pela defesa da o comercialista Fábio Ulhoa Coelho, em
concorrência, e~repressão àconcorrên- seu Curso de Direito Comercial. 7. ed. rev. O nome empresarial obedece aos
cia desleal. e atual., de acordo com o novo Código princípios da veracidade e da novidade.
Já a marca, sem dúvida, é um bem Civil e alterações da LSA. V. 1. São Paulo: Assim sendo, o empresário titular de um

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nome pode impedir outrem de adotar adquira notoriedade perante a clientela, o registro de marca, cuja qual se identi-
nome igualou semelhante, ainda que de modo a valorizar o seu aviamento, fique com nome empresarial utilizado
suas atividades sejam distintas. Desde muito trabalho, organização e inves- anteriormente.
que ambos os empresários estejam timentos são devidos. Entretanto, o Tal entendimento funda-se no prin-
registrados na mesma unidade da fe- empresário, sobretudo o de pequeno cípio da prioridade, e tem aplicabi-
deração. Com fulcro na Lei de Registros e médio porte às vezes não protege os lidade estando o nome empresarial
Públicos n° 8.934/94, art. 35: ativos intangíveis, e não dá a devida registrado ou não, uma vez que alei não
importância em criar e registrar uma exige o registro, faz menção somente ao
"Não podem ser arquivados: (... ). marca para identificar os seus produtos uso anterior.
V - os atos de empresas mercantis com serviços e o fazem por meio da difusão Ademais, a LPI prevê em seu art. 124,
nome idêntico ou semelhante a outro já de seu próprio nome. inciso V, que não são registráveis repro-
existente." O risco emerge quando um outro dução ou imitação de elemento carac-
empresário, ou mesmo pessoa natural, terístico ou diferenciador de título de
o registro da marca validamente requer seja promovido o registro de estabelecimento ou nome de empresa
expedido tem como consequência a marca que se identifique com o nome de terceiros, suscetível de causar con-
propriedade da marca ao seu titular, desse referido empresário. Caso tal fusão ou associação com estes sinais
sendo-lhe assegurada a exploração registro se materialize mediante a con- distintivos.
exclusiva em todo o território nacional, cessão do certificado emitido pelo INPI, Novamente, a LPI tutela o nome
conforme prevê o art. 129 da pu. Para como consequência, é possível que o empresarial ante a marca, assegurando
tanto há que se observar o princípio da proprietário da marca venha a impedir a não registrabilidade de "elemento
especificidade, pelo qual se norteia o o titular do nome de continuar a utili- característico ou diferenciado r" de
direito marcário, que consiste na prote- zá-lo, uma vez que esta é consequência nome preexistente.
ção da marca registrada dos produtos e do registro da marca. Ressalte-se, porém, que se faz neces-
serviços da mesma classe. A despeito das diferenças já men- sária a interpretação gramatical do
Destarte, o registro da marca sub- cionadas acerca dos regimes jurídicos referido dispositivo legal, no que tange
mete-se à novidade relativa como con- do nome e da marca, estabelece-se um à restrição e especificidade ressaltada
dição para sua obtenção que para se conflito em virtude da possibilidade pelo legislador, ao afirmar que o dispo-
alcançar a finalidade para a qual se dis- de utilização do núcleo de um nome sitivo somente se aplica se suscetível
põe, a saber: individuar um produto ou empresarial como marca. o registro de causar confusão entre o
serviço de seus concorrentes, de modo a Nesse caso, debate-se se é possí- nome e a marca.
identificá-lo, individuá -lo. vel tutelar o nome empresarial ante a Tal entendimento se explica em
A novidade relativa consiste em pro- marca, considerando que são institutos razão de se evitar o desvio de clientela.
porcionar ao signo adotado (expressão de natureza jurídica distinta. Logo, se a classe em que se pretende
linguística, nominativa, ou desenhos A esse respeito esclarece o Doutor registrar a marca não for idêntica a que
ou logotipos) uma utilização inusitada. em Direito Industrial, João Marcelo de pertencem os produtos ou serviços
Que se aplica à determinada classe dos Lima Assafim, em seu artigo intitulado objeto da atividade praticada pelo titu-
produtos ou serviços em que se classi- La Tutela deI Nombre Comercial Ante lar do nome empresarial usado ante-
fica o objeto identificado pela marca. la Marca en la Legislacion Brasilena, riormente, então não há que se negar
A extensão da tutela do registro da que é possível tutelar-se indiretamente o registro, porquanto não se vislumbra
marca, portanto, restringe-se à classe o nome empresarial por intermédio concorrência desleal.
de produtos ou serviços em que é regis- de dispositivo preconizado pela LPI, a O entendimento aqui sustentado
trada. saber, o art. 195, inciso V, in verbis: também vai ao encontro da tipificação
O registro da marca observa, ainda, penal contida no Código Penal, art.
o princípio da prioridade, firt to file, "Art. 195. Comete crime de concor- 196, inciso VII, § l°, que configura como
conforme insculpe o art. 127 da LPI, que rência desleal quem: tipo penal o uso não autorizado tanto
consiste em garantir a legitimidade do C..) do nome empresarial não arquivado,
registro a quem primeiro o requerer, ou V- usa, indevidamente, nome comer- quanto o não arquivado. Também com
comprovar o uso anterior e efetivo. cial, título de estabelecimento ou insígnia a intenção de coibir o desvio de clientela
alheios ou vende, expõe ou oferece à ven- e a apropriação parasitária do prestígio
DO CONFLITO ENTRE NOME da ou tem em estoque produto com essas alheio, o teor do art. 195, V, LPI.
EMPRESARIAL E MARCA referências."
POSICIONAMENTO DOS
Como é de sabença, para que o Logo, o referido doutrinador sus- TRIBUNAIS BRASILEIROS
empresário se torne conhecido no tenta que, ainda que distintos os insti-
mercado, que alcance credibilidade tutos <.4J. marca e do nome empresarial, Não obstante os argumentos abor-
dentre os fornecedores, seja de insu- com ii;imo na LPI, a fim de se coibir a dados no item anterior, que defendem,
mos ou de capital, bem como para que concorrência desleal, é possível impedir fundamentados na legislação, a supre-

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Doutrina

macia do nome empresarial sobre a e demais objetos utilizados na explo- Outros julgados evidenciam, lado
marca, se respeitados os princípios da ração de sua atividade, do seu nome outro, o entendimento dos tribunais
especificidade e da prioridade, as Cor- comercial, arquivado no Registro do brasileiros, sobretudo do STJ, no sen-
tes brasileiras têm tido entendimento Comércio com anterioridade". Então tido de manter o uso exclusivo do nome
diverso. conclui que, a fim de se evitar a con- empresarial por aquele que primeiro o
Para elucidar tais entendimentos fusão da marca registrada com parte tenha registrado, não obstante o registro
jurisprudenciais, trazem-se à baila os jul- do nome do outro empresário que não posterior por outrem da marca coin-
gados transcritos por Gladston Mamede, registrou a marca, deveria esta última cidente, que não poderia alterar o seu
em sua obra Direito Empresarial Brasi- abster-se de utilizar parte do nome que nome devido ao fato de possuir o regis-
leiro: empresa e atuação empresarial. v. 1. se identificava com a marca registrada, tro da marca. Neste sentido colham-se
São Paulo: Atlas, 2004, a seguir: sob pena de multa diária, sem prejuízo, as decisões nos REesp nOS 35.806-SP,
O Superior Tribunal de Justiça - STJ, entretanto, do uso da integralidade de 8.339-Sp, 9.568-RJ e 6.169-MG.
ao julgar o REsp nO 406. 763-SP entendeu seu nome empresarial. Este julgado é
que, ainda que o nome empresarial, do REsp n° 40.190-RJ. Tendo sido reite- CONCLUSÃO
naquele caso, se tratasse de patroní- rado o mesmo entendimento nos julga-
mico, não conferiria direito exclusivo ao dos dos REsp nOS 40.598-SP e 119.998-Sp, O nome empresarial e a marca são
empresário titular, uma vez que se ambos do STJ, todos da Terceira Turma. institutos distintos que, no entanto, às
tratava de marca registrada, razão pela Também no julgamento do REsp n° vezes podem gerar confusão se o núcleo
qual outrem não poderia utilizá -lo. 77.549-MG, também da Terceira Turma, do nome for utilizado por empresário
Lado outro, também o STJ, assim o Ministro Relator Carlos Alberto Mene- diverso como marca para identificar
dispôs acerda da possibilidade de zes Direito, assim proferiu o seu voto: seus produtos ou serviços.
uma pessoa jurídica não titular de A LPI dispõe de dispositivo que
uma marca registrada por terceiro, "Ora, se a autora provou o seu regis- configura como crime contra a defesa
continuar a utilizar o mesmo signo tro, o que não se discuta, ao que pode da concorrência a utilização indevida
da marca, que compõe o seu nome a justiça negar-lhe o uso excluisvo da de nome empresarial. Também elenca
comercial, para identificar os produ- marca registrada, não se questionando, como não são registráveis reprodução
tos por ela comercializados, o Relator e faço ressalva para bem esclarecer o ou imitação de elemento característico
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, meu sentir sobra a matéria jurídica, o ou diferenciador de título de estabele-
asseverou, "ser suficiente o arqui- uso pela ré do seu nome comercial. (... ) A cimento ou nome de empresa de tercei-
vamento dos atos constitutivos no ré, que tem registro incontestado, pode ros' suscetível de causar confusão ou
Registro do Comércio para conferir continuar a usar o seu nome comercial, associação com estes sinais distintivos.
ao nome comercial proteção nacio- pode identificar o seu estabelecimento Todavia, a jurisprudência tem pres-
nal e internaicoal (... )., mas sustenta comercial com o nome que registrou tigiado a proteção da marca, em detri-
que, em oposição tem-se a "eficácia na Junta Comercial e que, portanto, nos mento da do nome empresarial, ainda
erga omnes conferida pelo registro da termos da legislação em vigor, está pro- que o registro deste último seja anterior
marca no INPI, nos termos do antigo tegido." ao da marca. Ressalva-se, porém, que
Código de Propriedade Industrial (Lei em consonância com o princípio da
nO 5.772/71), ainda aplicável à espécie". Entretanto, como esclarece Mamede, especialidade, o segmento de mercado
Conclui que "descaberia obstar que a a titular do nome, sob pena de multa dos produtos ou serviços identificados
ré se utilizasse na sua razão social, nas diária, foi impedida de rotular os pro- pela marca seja o mesmo do empresário
placas e letreiros de seus estabeleci- dutos com a marca, porquanto não a titular do nome, de forma a se evitar a
mentos, assim como nos documentos registrou. confusão e o devia da clientela. (fU

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Conveção de Paris/1883. LegislacionBrasileiía. MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial


Decreto n° 75.572/75. BORGES, João Eunápio. Curso de Direito Brasileiro: empresa e atuação empresa-
Constituição da República do Brasil de 1988. Comercial. v. 1 e 2. Rio de Janeiro: rial. v.l. São Paulo: Atlas, 2004.
Decreto-Lein° 7.903/45. Forense, 1959. MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial:
Lei n° 5.772/7l. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito empresa comercial, empresários indivi-
Lei no 9.279/96. Comercial. 7. ed. v.l. rev. e atual., de acordo duais, microempresas, sociedades comer-
Lei n° 8.934, de 18 de novembro de 1994. com o novo Código Civil e alterações da ciais, fundo de comércio. ed. rev, e atual.
Decreto na 916, de 24 de outubro de 1890. LSA. São Paulo: Saraiva, 2003. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
Código Civil, Lei n° 10.406, de 2002. DORIA, Dylson. Curso de Direito Comercial. REQUlÃO, Rubens. Curso de Direito Comer-
ASSAFIM, João Marcelo de Lima. La Tutela 13. ed. v. l. rev, e atual. São Paulo: Saraiva, cial. 27. ed. v. 1. rev, e atual. por Rubens
delNombre Comercial Ante la Marca en la 1998. Edmundo Requião. São Paulo, 2007.

JANINE GONÇALVES DE ARAÚJO EYNG é Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC-MG).

10 de maip de 2010 fm24-19/13

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