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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

Antónia Francisco da Costa Mudubai


Dércio José Salato
Isabel Afonso Augusto Picardo
Manecas Manuel Adolfo Marrove
Nólmica Lemos Albino
Pereira Pereira Ramudala
Richad António Manuel

Registo como Obrigação do Empresário.

Quelimane

2023
Antónia Francisco da Costa Mudubai
Dércio José Salato
Isabel Afonso Augusto Picardo
Manecas Manuel Adolfo Marrove
Nólmica Lemos Albino
Pereira Pereira Ramudala
Richad António Manuel

Registo como Obrigação do Empresário.

Trabalho em grupo a ser submetido à Faculdade de


Letras e Humanidades - Universidade Licungo, Curso
de Licenciatura em Direito, como requisito para a
avaliação na disciplina de Direito Comercial I.

Docente: Dr. Dionizio Aramuge

Quelimane

2023
Índice

1. Introdução ............................................................................................................................... 3
2. Registo comercial como obrigação do empresário ................................................................. 4
2.1 Breve contextualização ..................................................................................................... 4
2.2 Organização do registo comercial .................................................................................... 5
2.2.1 Competência territorial das conservatórias do registo comercial .............................. 6
2.2.2 Os suportes de registo ................................................................................................ 6
2.2.3 Formas de registo ...................................................................................................... 7
2.2.4 Registos provisórios e definitivos ............................................................................. 8
2.3 Os princípios norteadores do registo comercial ............................................................... 8
2.3.1 Princípio da obrigatoriedade ...................................................................................... 8
2.3.2 Princípio da instância................................................................................................. 9
2.3.3 Princípio da legitimidade ........................................................................................... 9
2.3.4 Princípio da legalidade .............................................................................................. 9
2.3.5 Princípio da prioridade ............................................................................................ 10
2.3.6 Princípio da eficácia ................................................................................................ 10
2.3.7 Princípio da oponibilidade a terceiros ..................................................................... 10
2.3.8 Princípio da publicidade .......................................................................................... 10
2.4 Factos sujeitos a registo .................................................................................................. 11
3. Conclusão ............................................................................................................................. 14
4. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 15
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1. Introdução
O presente trabalho de pesquisa, com o tema Registo como Obrigação do
Empresário, busca analisar, no escopo do Direito Comercial, o rol das obrigações à que, por
força da lei, com enfoque ao Código Comercial, os empresários se encontram vinculados no
exercício da actividade comercial.

O tema em questão, como se referiu, é decorrente do Direito Comercial, de tal modo


que, para o seu estudo, socorremo-nos das disposições vertidas no Código Comercial,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 1/2022, de 1 de 25 de Maio, bem assim das disposições
constantes da Lei e Regulamento do Registo das Entidades Legais, aprovados pelo Decreto-
Lei n.º 1/2006, de 3 de Maio, e demais legislações esparsas sobre a matéria.

Não obstante a análise do quadro legal que disciplina a matéria em estudo, o trabalho é
igualmente realizado à luz das análises apresentadas por doutrinadores como Manuel
Guilherme Júnior (2013), no seu Manual de Direito Comercial Moçambicanos, Vol. I, que
advoga, em tópicos específicos, sobre as obrigações dos empresários, com especial relevo, ao
que aqui é debruçado, sobre o registo como obrigação especial do empresário.

Este é um trabalho académico de cariz bibliográfico, o que implica afirmar que a


metodologia aplicada para a sua realização foi baseada na pesquisa bibliográfica. Aliás, já
assenta Lima (1997, p.24) que “a pesquisa bibliográfica é a actividade de localização e
consulta de fontes diversas de informações escritas, para colectar dados gerais ou específicos
a respeito de um tema”.

O trabalho comporta três partes fundamentais, sendo a primeira a presente introdução,


onde se procede a apresentação do seu objectivo e a metodologia utilizada para a sua
efectivação. A segunda parte, concernente ao desenvolvimento, identifica e descreve,
fundamentalmente, os actos e factos susceptíveis ao registo pelos empresários, tipificadas na
legislação moçambicana, bem assim os fundamentos doutrinários que se assumem nesta
matéria. A terceira parte do trabalho, relativa à conclusão, apresenta de forma expressa as
principais ilações tiradas na realização deste estudo.
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2. Registo comercial como obrigação do empresário


2.1 Breve contextualização
A Constituição da República de Moçambique (CRM) determina que a organização
económica e social visa a satisfação das necessidades essenciais da população e a promoção
do bem-estar social, assentando, entre outros, nos termos do disposto nas alíneas c) e d) do
artigo 97 da CRM, aprovada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, respectivamente, nos
seguintes princípios:
a) Na iniciativa dos agentes económicos;
b) Na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social.

Mais ainda, a mesma CRM, no n.º 1 e 3 do artigo 99, estabelece, entre outros, o sector
privado como proprietário dos meios de produção, cuja gestão pertence a pessoas singulares
ou colectivas privadas. O Estado, neste esteio, promove e apoia a participação activa do
empresariado nacional no quadro de desenvolvimento e consolidação da economia do pais,
criando incentivos destinados a proporcionar o crescimento do empresariado nacional em todo
o país, conforme se extrai do disposto no artigo 107 da CRM.

Ora, os princípios acima destacados, que norteiam a política económica do Estado,


abrem espaço para a criação e desenvolvimento de empresas privadas, regidas por estatutos
próprios, com personalidade e capacidade jurídicas próprias, podendo o empresário ser
empresário individual ou sociedade empresarial, nos termos do Código Comercial, aprovado
pelo Decreto n.º 1/2022, de 25 de Maio.

À esse empresário, quer seja individual ou sociedade empresarial, estão acometidas


obrigações especiais, previstas no artigo 19 do Código Comercial, como sejam:
a) Adoptar uma firma;
b) Escriturar em ordem uniforme as operações ligadas ao exercício da sua empresa;
c) Fazer inscrever na entidade competente os actos sujeitos ao registo comercial; e
d) Prestar contas.

Para efeitos do presente trabalho, importa-nos a obrigação especial disposta na alínea c)


do artigo 19 do Código Comercial, o da obrigatoriedade de registo dos actos a eles sujeitos
nas entidades competentes, com especial atenção à norma prevista no artigo 36 do mesmo
Código.
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De acordo com Guilherme Júnior (2013, p. 81), “o registo comercial tem por fim
publicar os actos que compreendem a descrição e identificação do empresário e todos os actos
relevantes que como tal a lei só qualifica e por isso sujeito a registo”. Nos termos do disposto
no n.º 1 do artigo 36 do Código Comercial, conjugado com a alínea a) do artigo 1 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais, o registo empresarial destina-se a dar
publicidade à situação jurídica do empresário e da sua actividade empresarial, tendo por
finalidade a segurança jurídica e a produção de efeitos perante terceiros. Ainda, a alínea b) do
artigo 1 do Regulamento do Registo de Entidades Legais, determina que o registo em causa
visa verificar a admissibilidade das firmas e denominações, bem como garantir a sua
protecção a nível nacional.

O termo publicidade que aqui utilizamos tem um sentido próprio ou técnico: é o


conhecimento registal de que resulta a atribuição de uma presunção de verdade aos actos que
os registos públicos atestam. A esmagadora maioria dos cidadãos empresários não está
sensibilizada para o objecto, efeitos e fins do registo obrigatório que resultam do dever
jurídico de registar. Este é um saber que pertence a determinadas categorias de profissionais:
advogados, solicitadores, notários, juristas peritos em registos. A experiência já nos
demonstrou que os empresários do segmento micro, pequena e média empresa, para cumprir a
obrigação de registar, recorrem aos profissionais que sabem preencher um requerimento de
registo, organizar os documentos que fundamentam o pedido, enfim, cumprir a tempo todas as
obrigações legais.

A publicidade é o objecto do registo comercial, e com ela visa-se a segurança do


comércio jurídico. Ora, a actividade que assegura aquele efeito e proteção jurídica está a
cargo de um registo público que dá a conhecer a situação jurídica dos comerciantes – pessoas
individuais e sociedades – através de procedimentos definidos a lei e que conferem fé pública
aos actos registados. Ora, o dever de promover os registos obrigatórios incumbe às pessoas a
ele sujeitas, que podem sofrer sanções – pagamento de coimas – no caso de incumprimento
daqueles deveres legais, ou cumprimento intempestivo (ver artigo 19 do Código Comercial).

2.2 Organização do registo comercial


As conservatórias do registo de entidades legais são serviços desconcentrados e têm
competência genérica e podem funcionar como serviços autónomos ou em regime de
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anexação, em locais onde não existam conservatórias privativas, com outras conservatórias do
registo civil, predial e automóvel e notário, conforme se extrai do disposto no n.º 2 do artigo 9
do Regulamento do Registo de Entidades Legais.

2.2.1 Competência territorial das conservatórias do registo comercial


Com a introdução do sistema integrado de registo de entidades legais, baseado nas
novas tecnologia informáticas, previsto no n.º 1 do artigo 4 do Decreto-Lei n.º 1/2006, de 3 de
Maio, tem permitido abandonar, gradualmente, a competência territorial exclusiva de cada
conservatória para lavrar os registos consoante a sede da sociedade.

Deste modo, é competente para a matrícula das empresas comerciais e outras entidades
legais e, bem assim, para o registo dos factos correlativos qualquer conservatória de registo
das entidades legais, nos termos do artigo 10 do Regulamento do Registo de Entidades
Legais. Esta competência é alargada quando tratar-se de entidades legais estrangeiras com
sede no território nacional, que tenha por objecto qualquer ramo de actividade em
Moçambique (artigo 11).

No entanto, há que referir que após o registo na Conservatória de Registo das Entidades
Legais, ocorre, nos termos do artigo 4 do Regulamento do Licenciamento da Actividade
Comercial, aprovado pelo decreto n.º 34/2013, de 2 de Agosto, o licenciamento da actividade
por órgãos competentes para o efeito, como sejam:
a) Ministro que superintende a área do comércio: autoriza o licenciamento das
representações comerciais estrangeiras;
b) Director Executivo do BAÚ: autorizar o licenciamento do exercício do comércio a
grosso, comércio a retalho, de prestação de serviços e o registo de operadores de
comércio externo e emissão de cartão de operador de comércio externo;
c) Administrador Distrital: autoriza o licenciamento do exercício do comércio a retalho e
de prestação de serviços por parte de micro e pequenas empresas, onde não existam os
Balcões de Atendimento Único.

2.2.2 Os suportes de registo


Os actos de registo são efetuados em suporte eletrónico e os documentos que serviram
de base àqueles ficarão arquivados na pasta eletrónica, conforme se extrai do artigo 14 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais. Este é um processo em curso que depois de
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totalmente realizado constituirá a pasta eletrónica da sociedade. Com estes documentos físicos
cria-se uma pasta digital de cada entidade, de onde se poderão emitir certidões a partir de
qualquer conservatória, independentemente da sua sede social.

A cada ficha da entidade comercial está associada uma pasta (ver artigo 45 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais). Os documentos e a requisição de registo em
impresso oficial que fundamentam cada pedido de registo são digitalizados numa destas fases:
no final da apresentação e no final dos pedidos de registo por depósito; na elaboração e
confirmação do registo.

2.2.3 Formas de registo


A recolha dos elementos a inserir no registo a partir dos documentos que o
fundamentam, e da requisição de registo, está prevista na lei, para cada acto de registo: a
matrícula, as inscrições, os averbamentos e as publicações. A matrícula decorre do primeiro
registo da entidade e destina-se, nos termos do artigo 53 e seguintes do Regulamento do
Registo de Entidades Legais, a identificar cada entidade sujeita a registo. Os registos podem
ser feitos por transcrição ou por depósito.

2.2.3.1 Registos por transcrição


Os registos feitos por transcrição extratam, dos documentos apresentados, os elementos
que definem a situação jurídica das entidades sujeitas a registo. Transcrição ou extrato
parecem ter o mesmo significado para o legislador, em vez de serem dois termos antagónicos.
Segundo Seabra Lopes (2009, p. 211), “o registo por transcrição não é uma cópia literal dos
documentos”. Por isso o autor critica a utilização do termo transcrição, quando na verdade se
trata de extractação dos elementos essenciais para efectuar os registos e publicações.

2.2.3.2 Registos por depósito


Nos registos por depósito, tal como nos registos por transcrição, os documentos que
ficam arquivados depois de efectuado o registo fazem parte integrante da menção na
publicidade do registo (ver artigo 46 do Regulamento do Registo de Entidades Legais). Os
restantes factos sujeitos a registo por depósito, consistem na menção do arquivamento dos
documentos que titulam os registos.
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2.2.4 Registos provisórios e definitivos


Estes registos, que podem ser matriculas ou inscrições, podem ser provisórios ou
definitivos (ver artigo 56 e 72 do Regulamento de Registo de Entidades Legais).

Celebrada a escritura pública e emitida a certidão e o extracto, faz-se o registo


provisório da sociedade na Conservatória do Registo Comercial (com indicação dos nomes
dos gerentes ou administradores).

As matrículas provisórias por natureza são aquelas cuja abertura é determinada por
inscrições provisórias, com excepção da sua conversão em definitivas se, na vigência da
inscrição provisória que lhe deu causa, for definitivamente registado qualquer facto que lhes
respeite, nos termos do artigo 57 do Regulamento de Registo de Entidades Legais.

Por seu turno, as inscrições são provisórias por natureza (por disposição legal só possa
ser requerida como provisória) ou por dúvidas (quando tendo sido requerida como definitiva,
suscite dúvidas ao Conservador), nos termos do artigo 72 e seguintes do Regulamento de
Registo de Entidades Legais.

O registo definitivo da sociedade comercial é feito após a publicação dos estatutos da


sociedade no Boletim da República ("BR"). O registo definitivo é feito na Conservatória do
Registo Comercial mediante submissão de um requerimento e apresentação da cópia do BR
com os estatutos publicados.

2.3 Os princípios norteadores do registo comercial


O papel dos princípios na correta interpretação e integração das normas é de tal modo
importante que devemos recorrer sempre àqueles, e de acordo com os mesmos aplicar a
norma ao caso concreto.

2.3.1 Princípio da obrigatoriedade


Os registos obrigatórios estão tipificados, tanto no Código Comercial como no
Regulamento do Registo de Entidades Legais, bem como em normas avulsas que regulam as
entidades a ele sujeitos (ver alínea c) do artigo 19 do Código Comercial). O dever de
promover o registo que cabe às sociedades comerciais e entidades afins pode ser cumprido
através dos meios ao dispor que são vários.
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Em seus apontamentos, Menezes Cordeiro (2004) destaca uma bifurcação deste


princípio, afirmando que exige uma obrigatoriedade directa e uma obrigatoriedade indirecta, a
saber: a obrigatoriedade directa decorre da interpretação conjugada daquelas normas que
indicam os fatos sujeitos a registo obrigatório. Enquanto a obrigatoriedade indirecta divisa-se
no necessário envio mensal, pelos notários da relação dos atos por eles praticados e que
titulem fatos sujeitos a registo.

2.3.2 Princípio da instância


O pedido do registo comercial é efetuado, nos termos do artigo 39 do Regulamento de
Registo de Entidades Legais, a pedido dos interessados em impresso de modelo aprovado.
Quanto aos factos relativos à titularidade e outros direitos sobre as participações sociais cabe
ao representante da sociedade promover os registos pelos meios postos à sua disposição, isto
é, presencialmente, por correio, ou via electrónica.

2.3.3 Princípio da legitimidade


O registo pode ser pedido pelos próprios, pelos representantes legais ou pelas pessoas
que nele tenham interesse. Representantes, para efeitos de registo, são aqueles que tiverem
poderes de representação para intervir, por exemplo os representantes estatutários, gerentes e
administradores (ver artigo 40 do Regulamento do Registo de Entidades Legais). Para além
das pessoas atrás mencionadas, têm interesse em promover o registo, o comerciante
individual, nos actos respeitantes ao início, alteração ou cessação da sua actividade.

2.3.4 Princípio da legalidade


O princípio da legalidade, tal como está previsto no preceito do artigo 16 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais, tem aplicação directa aos registos por
transcrição. Nos registos por depósito, cuja responsabilidade, na promoção, no cumprimento
dos princípios atrás enunciados, pertence à sociedade, o controle do regular cumprimento da
lei ainda assim é feito reflexamente. Por isso, o registo por depósito que tenham reflexo nos
registos por transcrição, não pode o conservador “deixar passar” sem a devida verificação da
legalidade, porque deve apreciar a validade do pedido do registo por transcrição, “em face dos
registos anteriores”.
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2.3.5 Princípio da prioridade


A prevalência cronológica dos actos de registo é assegurada pela ordem do pedido –
data e hora – e assim permanece mesmo quando o registo é lavrado por dúvidas ou se for
recusado pelo conservador, nos termos do disposto no artigo 19 do Regulamento do Registo
de Entidades Legais.

2.3.6 Princípio da eficácia


O registo assume efeito constitutivo quanto à constituição das sociedades comerciais.
Estas só adquirem personalidade jurídica pelo registo da sua constituição.

Para além da constituição, da dissolução, da penhora, penhor, constituição de usufruto,


os restantes fatos sujeitos a registo têm uma eficácia relativa, só produzem efeitos perante
terceiros depois de registados e feita a sua publicação quando a esta estão sujeitos. Antes do
registo só podem ser invocados efeitos entre as partes ou os seus herdeiros (ver artigo 18 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais).

O ato sujeito a registo e não registado tem uma eficácia mais reduzida, a eficácia entre
as partes e consequentemente a inoponibilidade a terceiros. Se a sociedade começar a
funcionar antes do registo teremos uma sociedade irregular ou sociedade em formação.

2.3.7 Princípio da oponibilidade a terceiros


O efeito da oponibilidade a terceiros só tem cabimento após a publicação, para os actos
sujeitos a registo e publicação. A referida publicação efetua-se com base nos dados
transmitidos oficiosamente por via eletrónica. Então, nos casos em que a publicação dos actos
de registo não é obrigatória, presume-se que o terceiro tem condições a partir da certidão de
registo para conhecer a situação da pessoa coletiva e todos os registos correspondentes à
situação jurídica da mesma, nos “precisos termos em que é definida” (ver artigo 17 do
Regulamento do Registo de Entidades Legais).

2.3.8 Princípio da publicidade


A situação jurídica dos comerciantes, sejam eles pessoas singulares ou colectivas, é a
matéria da publicidade em registo comercial. Os efeitos do registo, a eficácia da publicidade,
geram presunção de verdade, acessível por todos os interessados. A publicidade é efetuada
pelo registo e respetiva publicação, esta só para alguns atos registais, de acesso público por
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meio de publicação no Boletim da República (ver artigo 90 do Regulamento do Registo de


Entidades Legais).

Para saber o teor de todos os registos relativos aos comerciantes – individuais e


sociedades – a ele sujeitos, também se “prevê a possibilidade de pedir certidões dos atos de
registo e dos documentos arquivados, bem como a obtenção de informações verbais ou
escritas sobre o conteúdo de uns e outros e ainda, a possibilidade de obtenção de informações
não certificadas dos registos e despachos e de quaisquer outros documentos” (ver artigo 111
do Regulamento do Registo de Entidades Legais).

2.4 Factos sujeitos a registo


O artigo 3 do Regulamento do Registo de Entidades Legais, define os factos sujeitos a
registo, sem prejuízo daqueles que constam de diplomas esparsos, como sejam:
a) o acto constitutivo, incluindo os estatutos, e respectivas alterações;
b) a firma e a sede social;
c) a deliberação de aquisição e alienação de bens a sócios ou associados e o relatório de
avaliação que lhe serviu de base;
d) a unificação, divisão e transmissão de quotas de sociedades por quotas, bem como de
partes sociais de sócios capitalistas de sociedades de capital e trabalho;
e) a promessa de alienação ou de oneração de partes de capital de sociedades de capital e
trabalho e de quotas de sociedades por quotas, bem como os pactos de preferência, se
se tiver convencionado atribuir-lhes eficácia real, e a obrigação de preferência a que,
em disposição de última vontade, o testador tenha atribuído igual eficácia;
f) a transmissão de partes sociais de sócios de indústria das sociedades de capital e
trabalho, a constituição de direitos reais de gozo ou de garantia sobre elas, e a sua
transmissão, modificação e extinção, bem como a penhora do direito aos lucros e à
quota de liquidação;
g) a constituição e a transmissão de usufruto, penhor, arresto, arrolamento e penhora de
quotas ou de direitos sobre elas e ainda quaisquer actos ou providências que afectem a
sua livre disposição;
h) a exoneração e exclusão de sócios de sociedades de capital e trabalho, bem como a
extinção de parte social por falecimento do sócio e a admissão de novos sócios;
i) a entrada, exclusão e exoneração de membros do consórcio;
j) a amortização de quotas e a exclusão e exoneração de sócios de sociedades por quotas;
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k) a deliberação de remição de acções;


l) a emissão de obrigações, cédulas ou escritos de obrigação geral das sociedades ou de
particulares, bem como a sua amortização ordinária e extraordinária;
m) a designação, a cessação de funções, por qualquer causa que não seja o decurso do
tempo, bem como a alteração do mandato dos membros dos órgãos de administração e
de fiscalização e procuradores;
n) as limitações aos poderes dos administradores e liquidatários;
o) a mudança de sede, bem como a abertura e encerramento de sucursais e outras formas
de representação;
p) a transformação, prorrogação, fusão, cisão, transformação e dissolução, bem como o
aumento e redução ou reintegração do capital social;
q) a designação e cessação de funções, anterior ao encerramento da liquidação, dos
liquidatários, bem como os actos de modificação dos poderes legais ou contratuais dos
liquidatários;
r) a extinção pelo encerramento da liquidação;
s) a suspensão da actividade e o seu reinício;
t) o projecto e oferta pública de venda de acções, bem como o seu cancelamento;
u) quaisquer outros factos referentes às empresas que a lei declare sujeitos a registo.

São ainda sujeitos a registo, nos termos do artigo 5 do Regulamento que temos vindo a
citar, as acções e decisões seguintes:
a) as acções que tenham como fim, principal ou acessório, declarar, fazer reconhecer,
constituir, modificar ou extinguir qualquer dos direitos referidos nos artigos anteriores
ou a reforma, a declaração de nulidade ou a anulação de um registo ou do seu
cancelamento;
b) as acções de declaração de nulidade ou anulação do acto constitutivo das entidades
legais;
c) as acções de declaração de nulidade ou anulação de deliberações sociais e as
providências cautelares de suspensão destas;
d) as providências cautelares não especificadas requeridas com referência às acções
mencionadas nas alíneas anteriores;
e) as decisões finais, com trânsito em julgado, proferidas nas acções e procedimentos
cautelares referidos nas alíneas anteriores;
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f) as decisões judiciais, com trânsito em julgado, de homologação ou rejeição das


deliberações das assembleias de credores que tenham aprovado, no respectivo
processo judicial, a concordata ou o acordo de credores;
g) as sentenças declaratórias de falência, com trânsito em julgado;
h) os despachos, com trânsito em julgado, do levantamento da inibição e reabilitação do
falido;
i) as decisões judiciais com trânsito em julgado relativas à autorização para a prática de
actos de comércio por incapazes.
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3. Conclusão
O registo comercial revela-se de suma importância pela publicidade que dá aos actos
sujeitos a registo pelo empresário, pois publicitam-se as actividades do empresário comercial
para o conhecimento de quem com ele contrata, bem como do público em geral.

Neste trabalho, foi possível destacar sobre quem recai a competência de registar tais
actos, que constituem obrigação do empresário, bem assim das formas do seu registo, quer
estes sejam provisórios ou definitivos, ainda por transcrição ou depósito.

Em resultado da pesquisa, fica claro que estão sujeitos a registo os actos constitutivos,
modificativos e extintivos das empresas, com enfoque àqueles que a Lei de Registo das
Entidades Legais e seu regulamento já determinam para o seu registo, bem assim outros actos
e factos previstos em lei especial.

Concluindo, é possível afirmar que o fim primordial do registo comercial obrigatório


consiste em dar publicidade às situações jurídicas das entidades àquele sujeito.
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4. Referências Bibliográficas
Guilherme Júnior, M. (2013). Manual de Direito Comercial Moçambicano. Vol. I. Maputo:
Escolar Editora.

Lima, M. C. (1997). A Engenharia da Produção Acadêmica. São Paulo: Unidas.

Menezes Cordeiro, A. M. R. (2004). Manual de Direito das Sociedades. Vol. I Das


sociedades em geral, Coimbra: Ed. Almedina.

República de Moçambique. Decreto n.º 34/2013, de 2 de Agosto – Regulamento do


Licenciamento da Actividade Comercial. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

República de Moçambique. Decreto-Lei n.º 1/2006, de 3 de Maio – Lei e Regulamento de


Registo de Entidades Legais. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

República de Moçambique. Decreto-Lei n.º 1/2022, de 25 de Maio – Código Comercial.


Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

República de Moçambique. Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho – Constituição da República de


Moçambique. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

Seabra Lopes, J. de (2009). Direito dos Registos e do Notariado. 5.ª ed. Coimbra: Ed.
Almedina.

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