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APOSTILA DE
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL I
Profa. Évelyn Cintra Araújo
PUC/GOIÁS
2018
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1 INTRODUÇÃO
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As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e
formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais).
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O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se
instaurou em virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem
processos próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude
de um direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc.
Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o
chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de forma ou
instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou substancial, que
solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo.
Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito
desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito germânico,
formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até XVI.
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O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se
extraíram as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas
as ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de
obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre
convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente no
processo penal, depois no civil.
Conclui-se que, na fase imanentista, o direito processual era totalmente confundido com
o direito civil (privado e material). Portanto, havia uma grande confusão metodológica entre
ambos, negando-se a existência autônoma do processo, o qual se encontrava imanente, ou seja,
dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material e
vice-versa.
Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por exemplo, a
possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente a declaração de
inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também de que, ainda que
ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o pedido, negando a existência
do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente decretar a prescrição (perda da
pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a instauração do processo.
Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo exclusivamente
à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma comissão foi formada para a
elaboração de um código unitário, o que redundou no surgimento de nosso primeiro CPC (Código
de Processo Civil) em 1939.
Como bem nos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no CPC
de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, portuguesa
e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, ora
demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”.
Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do
Ministro Alfredo Buzaid, discípulo direto do processualista italiano Enrico Tullio Liebman
(radicado no Brasil no período da 2ª Guerra Mundial, vindo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973,
o qual sofreu, ao longo de sua vigência, várias alterações e reformas, todas na tentativa de se
alcançar, conforme pregam os instrumentalistas, um processo mais efetivo possível. O propósito
era abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão nos bem ensinado pela
tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo de resultados.
Todavia, mesmo tendo sofrido diversas alterações, tal código já não atendia os clamores
sociais da celeridade processual, bem como ignorava o amadurecimento do sistema de precedentes
jurisprudenciais, uma vez que os tribunais passaram a desenvolver cada vez mais mecanismos e
procedimentos com vistas a entrega de uma tutela jurisdicional efetiva.
Dentro desse contexto, surgiu no Senado Federal o PL n. 166/10, com o fim de elaborar um
novo CPC. De autoria de uma comissão de juristas presidida pelo então Min. do STF, Luiz Fux, e
subscritado pelo então presidente do Senado, José Sarney, teve por principal objetivo combater a
morosidade da Justiça, incorporando ao Direito brasileiro mecanismos consagrados em outros
países, como o incidente de resolução de demandas repetitivas, existente no Direito alemão.
Outro objetivo foi simplificar o processo civil, eliminando os recursos, como o agravo
retido e os embargos infringentes, bem como muitos procedimentos especiais, que muitas vezes
retardavam a aplicação da Justiça. Também teve por alvo fortalecer a conciliação extrajudicial,
além de processar o réu que deixar de comparecer injustificadamente à fase de conciliação à
condenação a ato atentatório à dignidade da Justiça, etc.
Assim, depois de mais de 4 anos de tramitação no Senado e na Câmara de Deputados, com
intensos debates no Parlamento, em audiências públicas e na comunidade jurídica, finalmente o
NCPC foi sancionado, com alguns vetos, em 16 de março de 2015 e publicado no dia seguinte,
entrando em vigor no dia 18 de março de 2016. O NCPC é dividido em 2 partes: uma Parte Geral,
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composta de 6 Livros; e uma Parte Especial, com 3 Livros, totalizando 1.072 artigos, incluindo aí as
Disposições Finais e Transitórias.
1.4 Fontes
O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde perenemente
nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, motivação.
Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos
fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem
(princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e aplicação
do direito.
Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre os
quais podemos destacar:
b) Leis Federais => de acordo com o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre
direito processual. Sendo assim, a maioria das leis processuais são federais, sendo a mais
importante a Lei n. 13.105/15, ou seja, o CPC. Mas há outras também relevantes como a Lei
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6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da locação/despejo);
Lei 12.016/09 (mandado de segurança) etc.
c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que
são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da União.
Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos de
apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na
imprensa oficial local.
Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm os
Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, desde que
não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, não há como se
negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual.
d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o
funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao
procedimento. Ex:. incidentes de competência dos tribunais, como os incidentes de assunção
de competência e de resolução de demandas repetitivas, cujo procedimento é o estabelecido nos
RI’s dos tribunais.
e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo o
sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em
institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no mundo
jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art.
373), a do livre convencimento motivado (art. 371) etc.
f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de
obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do NCPC, autor e
demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação,
respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos advogados
de descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova
admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase
postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir.
g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual Civil.
Ex:. Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Alexandre Câmara; Amaral Santos; Fidélis dos Santos;
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Dinamarco; Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Athos Gusmão
Carneiro; Frederico Marques; Ovídio Baptista; Marinoni, Talamini; Elpídio Donizete; Wambier;
Didier Júnior; Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizetti; Daniel Amorim
Assumpção Neves etc.
h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É inegável
a força das súmulas e da jurisprudência dominante dos tribunais (força dos precendentes),
principalmente dos superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos
fracassarem precocemente ou terem seus méritos julgados procedentes (providos)
monocraticamente pelo relator (art. 932, NCPC); ou, ainda, de considerar uma causa com
repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso extraordinário (art. 1.035, §3º) etc.
- art. 1º => de acordo com este artigo, hoje não é possível compreender o processo civil sem examinar
a CF. Isso é reflexo da força normativa da constituição, devendo as normas do CPC estar em
conformidade com a CF.
- art. 2º => consagra os princípios do dispositivo (da ação ou da demanda) e inquisitivo (ou impulso
oficial). Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da prática
dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Do princípio do
dispositivo derivam-se outros como o princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao
pedido (arts. 141 e 492).
As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de
cautela); art. 370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz de
mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo restringe-se à
propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à instrução do processo.
Obs: a abertura de processo de inventário de ofício não se afigura mais uma exceção no NCPC ao
princípio do dispositivo.
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- art. 3º => princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual decorre do art. 5º, XXXV, CF. Garante a
todos o acesso ao Poder Judiciário, que não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir
uma pretensão, pois a jurisdição é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe
para si a responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma
medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer
situação.
Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um princípio
derivado, denominado de princípio do non liquet.
A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição a
todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, nasce para o
seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário.
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO (§§1º, 2º e 3º): os meios alternativos de solução de conflitos,
como a mediação, a conciliação e arbitragem.
A mediação e a conciliação, que podem ocorrer dentro ou fora do processo judicial, é uma
forma de solução de conflitos dada pelas próprias partes (autocomposição), embora seja auxiliada
e estimulada por um terceiro, o mediador ou o conciliador. A diferença entre elas está na existência
ou não de vínculo anterior entre as partes (art. 165, §§ 2º e 3º). De acordo com o novo CPC, a
conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por todos os operadores do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros
do MP), inclusive no curso do processo judicial (art. 3º, § 3º).
Já, na arbitragem, a solução é dada por um terceiro escolhido pelas partes, conhecido
como árbitro, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. A arbitragem foi
adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem,
onde as partes pactuam, por força da previsão em contrato da cláusula compromissória (pré-
lide), a arbitragem como meio de solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o
negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da jurisdição estatal (há quem defenda a
inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do acesso ao Judiciário e do juiz natural –
art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato ocorra, tais partes firmarão o
compromisso arbitral (pós-lide), o que na prática ocorre normalmente ao final da audiência de
conciliação na Corte.
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Segundo a Lei 9.307/96, a decisão do árbitro é uma sentença (título executivo judicial),
contra a qual não cabe qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua
publicação, caso tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe
tão somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas o poder jurisdicional de execução de suas
próprias decisões.
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física, capaz e de confiança
das partes; e que a arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direitos
patrimoniais disponíveis.
- art. 4º => este artigo contempla 3 princípios diferentes: o princípio da duração razoável do
processo; o da primazia da decisão de mérito; e o da efetividade.
- art. 5º => princípio da boa fé processual, que está previsto no art. 5º, NCPC. Tal princípio impõe a
todo aquele, que de qualquer forma participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com
a boa-fé. Portanto, trata-se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às
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partes, mas aos seus advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça.
Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê
no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta cláusula
geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a expressão: devido
processo leal).
O desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo
legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); responsabilidade
civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), do intérprete (art. 164); do
advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato atentatório à dignidade da justiça (ao
devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 774; e às partes que não comparecem
injustificadamente na audiência de conciliação ou mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de
evidência quando o réu abusar do direito de defesa (art. 311, I); etc.
lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio se
revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, ou, antes
de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com lealdade e boa-
fé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes de decidir (art. 10); e de prevenção,
apontando deficiências nas postulações às partes, para que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321;
932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º).
- art. 7º => princípio da igualdade processual, também conhecido como paridade de armas,
compreende dois aspectos:
- Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às
partes. Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC.
- Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade seja
mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma igualdade
proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 58, §3º -
honorários proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 180);
prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173).
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao
princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais profiram
sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, impedindo que pessoas
que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes.
- art. 8º => de acordo com este artigo, o juiz deve atender aos fins sociais e às exigências do bem
comum (art. 5º LINDB); deve resguardar e promover a dignidade da pessoa humana e observar a
proporcionalidade, a razoabilidade (atualidades da CF), a legalidade, a publicidade e a eficiência
(art. 37 CF).
• Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras funções
estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no Executivo, por meio do
orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito do jurisdicionado de participar
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no processo com o fim de legitimar o provimento jurisdicional (isso decorre do Estado
Democrático de Direito).
A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o
requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. Nesse caso,
fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, já que ele só será
estabelecido num momento posterior do procedimento. É o que está estabelecido no parágrafo
único do art. 9º, cujo rol não é exaustivo (ex.: liminar possessória, liminar em despejo, etc.)
Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, na
medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de defesas.
Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de provar a sua tese
(antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso é que é ampla!
- art. 10 => Regra da proibição de decisão surpresa, que é, na verdade, verdadeiro desdobramento ou
concretizado do princípio do contraditório, já que deve o juiz, sempre antes de decidir, ainda
que relativamente à questões conhecíveis de ofício (inconstitucionalidade de lei, decadência,
incompetência absoluta, etc), consultar às partes para evitar decisões surpresas. Tal regra se
aplica em todas as instâncias, sob pena de nulidade da decisão.
- art. 12 => Regra do respeito à ordem cronológica de conclusão. Os juízes e os tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (redação
dada pela Lei n. 13.256/16, que alterou o CPC/15). Tal regra prestigia a igualdade e a duração
razoável do processo; e somente se aplica às decisões finais (sentenças e acórdãos). Exceções (§ 2º).
2 JURISDIÇÃO
e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que seu
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objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio Tornaghi
e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas sim a
pretensão, a pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido litígio.
Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos menores.
a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para
tanto (os juízes concursados).
b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro
de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites da
jurisdição, que estudaremos mais adiante).
c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos judiciais,
não podendo ser delegadas a outrem.
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos limites
da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado àquele de que
ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do país, entre os quais não
há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não se trata de delegação de
jurisdição, mas, sim, de competência.
Grande parte da doutrina entende que a arbitragem configura delegação da jurisdição
estatal a particulares (árbitros). No entanto, há entendimento no sentido de que, como
veremos, a arbitragem se enquadra no que Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais
(expressão utilizada na doutrina pátria por Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser
proferida uma
sentença, compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder de executá-la , tarefa esta
exclusiva do Estado.
d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o seu
fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se impõe,
independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato emitido por
um poder soberano do Estado.
e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a obrigação
de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O juiz não pode
deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF e art. 3º do NCPC – princípio da
inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe
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dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB).
f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária
brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário.
b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo todos
aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se mediante os
atos de comunicação (citação, intimação etc).
c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de
utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do processo.
Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar alguém da sala
de audiência etc.
d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei diante
de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de controvérsia. Ao
decidir, o juiz deve observar as seguintes regras:
d.1) o juiz é obrigado a decidir – arts. 3º e 140 (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
non liquet);
d.2) excepcionalmente, o juiz julgará com equidade – art. 140;
d.3) o juiz decidirá o mérito nos limites do propostos pelas partes (a sentença tem que ser
congruente, adstrita ao pedido) – arts. 142 e 492;
d.4) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; d.5) o
juiz decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo - art. 371.
e) execução2 (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e
realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial.
f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de
cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável ou de
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A melhor e mais moderna doutrina tem lembrado também do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá,
de ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da efetividade processual.
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difícil reparação pela demora do processo (art. 297).
2.4 Classificação
Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está
previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa, que pode ser de rito comum (art. 318 a 512,
NCPC) ou especial (arts. 539 a 718, NCPC).
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é
aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm interesses
comuns.
Segundo a doutrina minoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista,
a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses
privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem
sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico
firmado pelas partes.
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio
(contenda) a ser resolvido pelo Estado.
Todavia, convém notar que, atualmente, grande parcela da doutrina filia-se a teoria
revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso
concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente homologando-o.
Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e jurisdição
voluntária através do seguinte paralelo:
CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA
Lide Interesses comuns
Ação Requerimento
Partes Interessados
Contraditório Sem contraditório
Processo Procedimento
Sentença Decisão homologatória
Coisa julgada Sem Coisa julgada
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3 COMPETÊNCIA
3.1 Conceito
Vimos que jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito no caso concreto, solucionando
o litigo.
Vimos também que, dentre outros, a jurisdição é regida pelo princípio da investidura,
segundo o qual só pode ser exercida por quem foi investido de tal poder, a saber, os juízes.
Portanto, todo juiz é dotado de JURISDIÇÃO, ou seja, é dotado do poder jurisdicional.
Entretanto, pela impossibilidade de os juízes exercerem tal poder em todo território
nacional ao mesmo tempo (não obstante a previsão do art. 16, NCPC3), é que o ordenamento
jurídico previu uma distribuição, uma repartição desse poder, em partes iguais ( na mesma
proporção), entre todos os juízes que compõe o Poder Judiciário.
A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina
COMPETÊNCIA.
Não há diferença substancial entre jurisdição e competência; comparando seria falar do
bolo e da fatia: a competência é a fatia, é uma fração da jurisdição.
ASSIM, competência é a quantidade de poder atribuído a determinado órgão judicial; é a
medida, a delimitação da jurisdição.
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Na verdade, quando o art. 16 do NCPC diz que “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o
território nacional....”, não quer dizer que os mesmos exercerão atividade jurisdicional em toda a extensão de nosso
país posto que é, por óbvio, fisicamente e humanamente impossível; mas está a se referir ao poder conferido a tais
órgãos de dizer o direito no caso concreto com eficácia em todo o país: não é concebível que um juiz profira uma
decisão que só produza efeitos na localidade onde a proferiu, mas sim em todo o território nacional.
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Obs: exclusão da justiça brasileira por convenção entre as partes: art. 25, NCPC.
Significa dizer que se fixa a competência do juízo no momento em que a petição inicial é
protocolizada ou distribuída (onde houver mais de um), ainda que posteriormente houver
modificações, como, por exemplo, alteração /correção do valor causa ou adiantamento de pedido
pelo autor, tais modificações não tem o condão de alterar a competência.
Consagra-se regra da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis), que é ressalvada
apenas quando houver supressão do órgão judiciário ou alteração de sua competência absoluta
(Ex: fim da Justiça do Trabalho, deslocando os processos para a Justiça comum; ou alteração da
competência das Varas de Família para abranger causas que versam sobre sucessões).
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1º) Material (competência em razão da matéria) => leva em conta a natureza da causa, ou seja, a
qualidade da relação jurídica material. Exemplo: questões de família, falência, registro público,
criminais, precatórios, ambiental etc.
2º) Pessoal (competência em razão da pessoa envolvida no litígio): este é o critério utilizado pelo
legislador constituinte para definir a competência da Justiça Federal4, separando-a da Justiça
Estadual. Mas, ainda no âmbito desta, o critério também é utilizado quando nas causas estiverem
envolvidas a pessoa da Fazenda Pública do Estado ou do Município, prevendo, assim, em lei, a
criação de Varas Especializadas em Fazenda Pública Estadual ou Municipal.
Tal critério também é utilizado pelas Leis n. 10.259/01 e 12.153/09, que previram,
respectivamente, os Juizados Federais e da Fazenda Pública.
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De acordo com o art. 45 do NCPC, em caso de intervenção de ente federal, o processo deverá ser remetido à justiça
federal, salvo nos casos de ações de recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente do trabalho e ações
sujeitas à justiça eleitoral e do trabalho. Súmulas 150, 224 e 254, STJ.
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3º) Valor da causa => a competência é definida de acordo com o valor que se atribui à causa no
momento da propositura da ação (alterações posteriores não interferirão na competência). Assim,
a depender do valor, a causa será de competência de um ou outro órgão jurisdicional.
Vale lembrar os Juizados Especiais Cíveis Estaduais são competentes nas causas de até 40
salários mínimos (Lei n. 9.099/95) e os Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/01) e os da
Fazenda Pública (Lei n. 12.153/09) nas causas de até 60 salários mínimos em que estejam envolvidas
a Fazenda Pública da União, dos Estados ou dos Municípios, respectivamente.
Acima destes valores, a causa deverá ser processada necessariamente na Justiça Comum,
estadual ou federal. Para se evitar que a causa tramite na Justiça Comum, deverá então o autor
renunciar na petição inicial do valor excedente, seja de forma tácita (se JEC) ou expressamente (se
JEF ou JEFP).
4º) Funcional (competência em razão da função ou da hierarquia) => define-se de acordo com as
funções desempenhadas ou pela posição do órgão jurisdicional no processo, repartindo a
competência em competência de 1º grau, recursal; para ação principal e incidental (ex: art. 61,
NCPC); etc.
5º) Territorial (ou de foro) => causas distribuídas segundo a comodidade das partes ou pela
facilidade do processo (artigos 46 ao 53, NCPC). Leva em consideração o local onde a causa dever
ser ajuizada.
Há 2 (duas) regras gerais:
- domicílio do réu (art. 46) => para as ações fundadas em direito pessoal (obrigações) e em direito real
(propriedade etc) sobre bens MÓVEIS.
Claro que se o réu tiver mais de um domicílio, será competente o foro de qualquer deles(§1º);
se incerto ou desconhecido seu domicílio, poderá ser demandado onde for encontrado ou no
domicílio do autor (§2º); se tiver domicílio fora do Brasil, também poderá ser demandado no
domicílio do autor (§3º); ou, havendo 2 ou mais réus com diferentes domicílios, será competente o
foro de qualquer deles (§4º).
- situação da coisa (art. 47) => para as ações fundadas em direito real sobre bens IMÓVEIS, inclusive as
ações possessórias imobiliárias (§2º), embora sejam consideradas ações de direito pessoal.
ATENÇÃO: de acordo com o §1º do art. 47, se o litígio NÃO recair sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova,
será opcional ao autor ajuizar a ação real imobiliária no foro da situação da coisa, ou no do
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domicílio do réu ou no foro de eleição. Porém, raramente veremos um litígio assim, pois quase
todas as ações reais imobiliárias versam sobre tais assuntos (Exemplo possível: ação real
imobiliária que discuta direito real de garantia sobre bem imóvel, ou seja, hipoteca).
- Foros Especiais:
✓ Ações relacionadas ao Direito das Sucessões ou em que o espólio for réu => foro dodomicíliodo autor da
herança (art. 48);
✓ Ações em desfavor de ausente => foro de seu último domicílio (art. 49);
✓ Ação em desfavor de incapazes => forodeseurepresentante ouassistente (art. 50);
✓ Ações em que os entes públicos são parte => foro do domicílio do réu (se o ente for autor), ou foro do
domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato, no da situação da coisa, ou no DF ou na capital do ente federado (se o ente for
réu) (arts. 51 e 52);
✓ Ações de família => foro do último domicílio do casal ou do réu, no caso de nenhuma das partes nele mais residir (se não tiver
filhos incapazes); ou do domicílio do guarda (se tiver filhos incapazes) (art. 53, I);
✓ Ação em que se pedem alimentos => forododomicílio doalimentando (art. 53, II);
✓ Ação para cumprimento de obrigação => foroondeaobrigaçãodevesersatisfeita(art. 53, III, d);
✓ Ação fundada no Estatuto do Idoso => foro da residência do idoso (art. 53, III, e);
✓ Ação de indenização (geral) => foro do lugar do ato ou fatoilícito (art. 53, IV, a);
✓ Ação de indenização em razão de delito ou de acidente de veículos => forodolugardofatoilícito OU do
domicílio do autor (art. 53, V).
CUIDADO:
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1) Nem sempre o critério territorial terá natureza relativa. Quando o artigo 47, caput e seu §2º
(ações possessórias imobiliárias) estabelecem a competência apenas no foro da situação da coisa,
não deixa opção para o autor, revelando-se, excepcionalmente, em um critério absoluto.
2) O mesmo deve ser dito em relação ao critério valor da causa no tocante à competência dos JF’s e
JFP’s, uma vez que suas respectivas leis (Lei n. 10.259/01 e Lei n. 12.153/09) estabelecem que se a
causa em que as Fazendas Públicas estão envolvidas não excederem a 60 salários mínimos e no
lugar estiver instalado o respectivo juizado, não terá o autor opção em ajuizar a ação na Justiça
Comum (Federal ou Estadual, perante a Vara da Fazenda Pública), sob pena de incorrer em
incompetência absoluta deste juízo.
4. Pode ser conhecida de ofício. 4. Não pode ser conhecida de ofício (Súmula 33,
STJ) – salvo cláusula de eleição de foro
abusiva - §3º, art. 63.
- voluntária: quando as partes estabelecem foro de eleição para determinado negócio jurídico (art.
78, CC); ou quando o réu não alega a incompetência relativa no prazo da defesa (contestação).
- legal ou necessária: decorre da lei, que prevê a reunião de ações que tramitam em juízos
diferentes para o julgamento em conjunto perante o juízo prevento (ou seja, no juízo onde houve
o protocolo ou a distribuição da petição inicial – art. 59), evitando, com isso, decisões
contraditórias. Isso se dá em razão da conexão ou da continência.
d.1) Conexão (art. 55): reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
PEDIDO ou a CAUSA de pedir.
O §3º do art. 55 entendeu se tratar de conexas também duas ou mais causas que guardam
entre si um vínculo de semelhança de tal ordem que justifique a reunião delas num mesmo juízo
para evitar decisões contraditórias e racionalizar o trabalho do judiciário.
EXEMPLO: Alimentos e investigação de paternidade não são, a rigor, conexas, pois não
possuem o mesmo pedido ou causa de pedir. [1ª) dever alimentar decorrente da relação de
parentesco e do binômio necessário-possibilidade; 2ª) vinculo de filiação]. Há aqui, na verdade,
uma relação de prejudicialidade (o julgamento de 1 prejudica a da outra).
As ações somente são reunidas se ainda não tiver sido proferida sentença
d.2) Continência (art. 56): dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e a causa de pedir, mas o PEDIDO de uma, por ser mais amplo,
ABRANGE (contém) o das outras. Exemplo: ação em que se pede anulação de uma cláusula
contratual; e outra ação em se pede a anulação de todo o contrato (este último é mais amplo).
Se a ação continente (mais ampla) foi proposta anteriormente, a ação contida (menos
ampla) é extinta sem resolução do mérito. Por outro lado, se a ação contida foi proposta
primeiramente, as ações devem ser reunidas (art. 57).
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- positivo => quando 2 ( dois) ou mais juízes só declaram competentes para a mesma causa.
- negativo => quando 2 ( dois) ou mais juízes de declaram incompetentes para a mesma causa,
atribuindo um ao outro a competência.
A AÇÃO é o direito pelo qual a jurisdição é provocada, pois que ela é inerte.
Mas qual é a natureza jurídica da ação? É um direito:
- subjetivo, pois quando o direito objetivo previu o Judiciário como sendo o único dotado de poder
para solucionar os conflitos, em contrapartida, deu ao indivíduo a prerrogativa de chamar o
Estado para tal responsabilidade toda vez em que estivesse envolvido em algum litígio.
- público, exatamente porque provoca um dos poderes do Estado – o Judiciário.
- autônomo e abstrato, pois o direito de ação existe independentemente da efetiva ou concreta
existência do direito alegado, ou seja, ele é exercido em abstração do direito material litigioso,
aludindo o autor a ele hipoteticamente.
Como desdobramento desta teoria, surgiu a teoria eclética, de Enrico Tullio Liebman,
para quem o direito de ação existe em abstração do direito material, mas não é absoluto e
incondicionado, devendo o autor atender algumas condições, as chamadas de condições da ação,
quais sejam, o interesse de agir e a legitimidade das partes. Ou seja, seria necessário ao autor
aludir a um interesse previsto no ordenamento jurídico em face de alguém que
hipoteticamente fosse o sujeito passivo da relação material para que o Estado prestasse a
tutela jurisdicional.
Sendo assim, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser considerada pelo próprio
Liebman como condição da ação, uma vez que a sua análise implicaria necessariamente numa
análise meritória.
E esta é a posição do atual CPC já que no seu art. 17 exige a observância apenas do
interesse e da legitimidade para se postular em juízo; e no art. 485, VI, estabelece que tal
inobservância fará com que o juiz não resolva o mérito. Em todos os casos, não se menciona mais o
pedido juridicamente possível, o que denota a ideia segundo o qual o mesmo passou a ser tratado
realmente como uma questão de mérito.
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4.2 Condições da ação (legitimidade e interesse)
a) Legitimidade para a causa (ad causam) ou das partes (ativa e passiva) – arts. 17 e 18, NCPC.
Legitimidade é a capacidade específica para determinados atos da vida civil. O tutor, por
exemplo, embora maior e capaz, não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo
ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma, maiores e capazes, não poderão se casar entre
si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica para o ato.
A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão
capazes especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que
hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de Carnelutti, “a
pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e as da lide.
Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário,
respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário,
será considerado terceiro interessado, e não parte legítima.
Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade
é ordinária.
Entretanto, existem casos em que o ordenamento jurídico autoriza outrem, que não
titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver
correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação
processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade
extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz:
“ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico” (para Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier Jr, e a maioria esmagadora da doutrina, não
há necessidade de expressa previsão na lei, basta que tal autorização decorra do sistema).
Exemplos:
1) o Ministério Público na defesa os interesses sociais e individuais indisponíveis
(ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) –
a) Partes
Quando se fala em partes, fala-se nas pessoas que estão envolvidas no litígio. E só se
envolvem em conflitos, em litígios, pessoas, ou seja, aqueles que são dotados de personalidade
jurídica. Nesse sentido, fala-se em capacidade de ser parte, que corresponde exatamente à
personalidade civil (arts. 1º e 2º do Código Civil). Portanto, podem ser partes autora e ré:
➢ a pessoa natural: seja criança, doente mental ou adulto normal etc;
➢ a pessoa jurídica: de direito privado (empresa, associações, fundações, sociedades de
economia mista e empresas públicas) ou de direito público (União, Estados, DF, Municípios,
Territórios, e suas respectivas autarquias e fundações públicas).
Na prática, muitos profissionais incorrem no erro de figurar como parte órgãos
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governamentais ou departamentos, como Secretarias da Saúde, da Educação, Polícia Militar etc,
que, na verdade, não são dotados de personalidade jurídica. Nesse caso, a parte deverá ser a
pessoa jurídica a qual o respectivo órgão se vincula, ou seja, o Município, o Estado etc. Por se
tratar de uma ficção, ou seja, de uma abstração, deverá ser representada legalmente (art. 75).
➢ os entes derpersonalizados: como a massa falida, a herança jacente ou vacante, o espólio e o
condomínio, que a própria lei (art. 75, V, VI, VII, XI, NCPC, respectivamente) excetuou,
permitindo que figurem como partes.
Mas, não basta a capacidade de ser parte. É necessário ter a capacidade de estar em juízo ou
processual, o que não é privilégio para todos que se envolvem em litígios. A capacidade de estar em
juízo corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02. Portanto, apenas aqueles que
são habilitados à prática de todos os atos da vida civil é que podem estar em juízo (art. 70, NCPC),
Do contrário, é preciso que a parte esteja representada, quando se tratar de absolutamente
incapaz; ou assistida, quando relativamente incapaz (art. 71, NCPC).
É por isso que se lê, por exemplo, nas petições de ação de conhecimento com pedido de
investigação de paternidade, ou de alimentos, o seguinte: “FULANINHO DE TAL, neste ato
representado por sua genitora, FULANA DE TAL....”.
Por outro lado, pessoas jurídicas NÃO dependem de representante legal para estarem em
juízo pois já possuem tal capacidade desde a sua constituição ou registro. Ou seja, diferentemente
das pessoas físicas que só adquirem capacidade anos após à aquisição da personalidade, as
pessoas jurídicas adquirem capacidade concomitantemente à personalidade.
No entanto, por serem ficções ou abstrações da lei, dependem de pessoas físicas para se
fazerem presentes em seus atos. Tal representação, ou melhor, presentação, é feita na forma do
art. 75 do CPC.
b) Causa de Pedir
Tratam-se das razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido.
Segundo a doutrina, a causa de pedir pode ser de duas espécies: remota ou próxima.
A remota diz respeito aos fatos, que podem ser constitutivos (que dão vida à vontade da
lei, ou seja, fazem nascer o direito a que se alega – ex: empréstimo, ato ilícito); extintivos (fazem
cessar uma vontade da lei, extinguindo um direito – ex: pagamento, remissão de dívida);
modificativos (tendem a alterar a constituição de um direito – ex: alegação de parcelamento de
dívida); ou impeditivos (circunstância que impede a constituição de um direito – ex:
incapacidade, simulação, erro etc.).
É importante a diferenciação dos fatos, pois que, segundo o art. 373 do CPC, o autor tem
o ônus de provar apenas os fatos constitutivos, e o réu os demais, mesmo porque, obviamente, só
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a ele interessa alegar extinção, modificação ou impedimento à direito. Normalmente, o autor
justifica a declaração, a constituição ou a condenação à prestação de um direito seu, através dos
fatos que o constituem.
Já a causa de pedir próxima diz respeito aos fundamentos jurídicos que embasam o pedido.
Não se quer dizer aqui o fundamento legal, o dispositivo da lei, pois não há necessidade de indicar
ao juiz a norma violada. Segundo a velha máxima romana, “juria novit cúria”, o juiz conhece o direito.
Por conseguinte, os fundamentos jurídicos são as consequências jurídicas que extraem dos fatos.
Por exemplo, se o locatário não paga o aluguel, a consequência jurídica é o seu despejo.
No processo civil, adota-se a teoria da substanciação, que exige do autor, na petição inicial, a
indicação dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima), conforme o
inciso III do art. 319. Opõe-se a esta a teoria da individuação, segundo a qual basta ao autor indicar
apenas os fatos OU apenas os fundamentos jurídicos.
c) Pedido
O pedido pode ser dividido em duas espécies: o imediato e o mediato.
O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que pode ser de
conhecimento ou de execução. Especificamente considerando os efeitos produzidos pela
sentença de conhecimento, o pedido pode consistir em um(a):
=> declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica (ação declaratória, positiva ou
negativa – art. 19, I, NCPC);
=> constituição ou desconstituição de uma relação jurídica (ação constitutiva ou desconstitutiva);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação dar quantia (ação condenatória);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de
dinheiro), ordenando-o (coerção indireta) a prestá-la, sob pena de sofrer alguma medida de
efetivação indireta (como as multas – astreintes) e até crime de desobediência (ação mandamental);
=> a condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de
dinheiro), determinando a adoção de medidas de sub-rogação, mediante coerção direta
(como busca e apreensão remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva; etc), caso o réu não cumpra espontaneamente o direito reconhecido nesta
mesma decisão (executiva latosensu).
Estas duas últimas ações (mandamental e executiva latosensu) não passam de condenações
atreladas com medidas de efetivação, razão pela qual são conhecidas como ações ou
processos sincréticos (pois há conhecimento + execução na mesma decisão). São também
conhecidas como tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e de entrega de coisa,
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respectivamente previstas nos arts. 497 e 498 c/c art. 536, §1º, NCPC, em contraponto a
chamada tutela genérica (art. 499 do NCPC), hoje uma grande exceção no processo civil
moderno.
Por outro lado, o pedido mediato é o bem jurídico de direito material que se pretende seja
tutelado pela sentença (o despejo, o pagamento, a nulidade do contrato etc).
Diferem-se na medida em que o pedido imediato tem conteúdo processual, dirigido
contra o Estado (pois só ele pode entregar a tutela jurisdicional), e o mediato tem conteúdo
material, dirigido contra o réu (quem pode entregar o bem de direito pleiteado).
Vê-se, portanto, que a AÇÃO é classificada tomando por base o pedido imediato, já que
ela é o direito à tutela jurisdicional, não levando em conta o pedido mediato, que a ele não se
vincula (autonomia e abstração da ação).
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5 PROCESSO
PROCESSO é a relação jurídica processual, por isso de direito público, que une autor, juiz e
réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência ordenada de atos, com vistas a um fim, qual
seja, a entrega da tutela jurisdicional justa e efetiva.
Portanto, o processo apresenta 2 aspectos:
- interior ou intrínseco => o processo é a relação jurídica que se instaura e se desenvolve entre autor,
juiz e réu.
- exterior ou extrínseco => o processo se revela num conjunto de atos concatenados visando a
sentença, a que denominamos de procedimento.
À título de ilustração, podemos afirmar que enquanto o processo é o instrumento, o
VEÍCULO conduzido pelas partes e pelo juiz rumo à sentença; o procedimento é o CAMINHO,
o CURSO, o ITINERÁRIO pelo qual o processo passa para chegar a esse destino.
Vários são os caminhos ou itinerários, ou seja, procedimentos, estabelecidos pela lei, para
se chegar à solução final da lide, dentre os quais podemos classificar: comum e especial.
O procedimento comum é aquele adotado quando não há para a causa previsão de
procedimento especial, seja no próprio código ou na lei especial (art. 318, NCPC). O rito comum é,
portanto, a regra geral, sendo aplicado subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e
ao processo de execução.
O Código prevê também os procedimentos especiais, seja de jurisdição contenciosa
(consignação em pagamento, exigir contas, monitória, possessórias, inventário e partilha etc, que,
normalmente, após algumas providências próprias específicas, caem no procedimento ordinário),
seja de jurisdição voluntária (divórcio e separação consensuais, herança jacente; arrecadação dos
bens do ausente; interdição etc) – arts. 539 a 718 e 719 a 770, respectivamente.
Os dois primeiros sujeitos (autor e réu) são conhecidos como PARTES. Logo, concluímos
haver no processo apenas duas partes: a ATIVA e a PASSIVA.
O conceito de partes é importante na medida em que determina os efeitos da sentença, os
quais, regra geral, só alcançam elas, e também porque as diferenciam do chamando terceiro. Aliás,
essa é a inteligência do artigo 506 do NCPC, in verbis: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros”.
Entretanto, quando a lei autoriza é possível ao terceiro ingressar, intervir no processo como
parte. Nesse caso, o terceiro interveniente deixará de ser mero terceiro, adquirindo regra geral a
condição de parte, o que incluir o fato de ser alcançado pelos efeitos da sentença. São espécies de
intervenção de terceiros previstos no NCPC: a assistência (arts. 119 a 124); a denunciação da lide
(arts. 125 a 129); o chamamento ao processo (arts. 130 a 132); o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e o amicus curiae (art. 138), os quais ainda serão mais tarde
estudados.
O MP também pode figurar como parte quando atuar na defesa de interesse coletivo.
Nesse caso, a sua atuação dar-se-á como substituto processual, posto que a sua legitimidade é
extraordinária (artigo 177 do NCPC).
Coisa diversa é quando o MP atua como fiscal da ordem jurídica (custos legis) quando a causa
versar interesse de menor questão de estado ou interesse público (artigo 178 do NCPC). Ele o fará
não na condição de parquet ou de terceiro, mas atuará como uma espécie de amicus curiae (amigo da
corte).
Advogados, peritos, assistentes técnicos, oficial de justiça, etc, JAMAIS poderão ser
entendidos como partes. O primeiro é figura indispensável à administração da justiça e os últimos,
auxiliares da justiça.
ATENÇÃO: Dispensa de advogado: nos JEC’s (causas de 1ª instância de valor não excedente a 20
salários mínimos); e nos JEF’s e JEFP’s (também só na 1ª instância, até o teto máximo – 60 salários
mínimos).
Por serem pressupostos processuais, o juiz poderá analisá-las de ofício, e, caso não estejam
presentes, deve ele, mediante suspensão do processo, fixar prazo para que o defeito seja sanado,
sob as consequências do art. 76 do NCPC (extinção do processo ou revelia).
Cumpre ainda, dentro do assunto da capacidade processual, já estudado, fazer as seguintes
e últimas observações:
- capacidade do incapaz sem representante (ou os interesses deste colidem com os daquele), do
réu revel preso e o citado fictamente (por edital ou com hora certa) - art. 72, NCPC.
O juiz nomeará um curador especial para tais pessoas, sendo tal função exercida pela
Defensoria Pública, o qual pode praticar todos os atos de defesa do curatelado, tais como
oferecer contestação, interpor recurso, produzir prova, opor embargos à execução (Sum. 196
STJ), etc.
Como regra, a pessoa casada tem capacidade processual, mas, para ações reais imobiliárias,
o cônjuge necessita do consentimento do outro (autorização marital ou outorga uxória),
exceto se casado pelo regime da separação absoluta de bens. Se o consentimento não pode ser
dado ou não é dado por injusta razão, o cônjuge deve pedir o suprimento do consentimento ao
juízo de família (art. 74).
Por outro lado, os §§ 1º e 2º do art. 73 tratam de demandas em que há litisconsórcio
necessário entre os cônjuges (ambos devem figurar no polo passivo).
Havendo prova da união estável nos autos, também haverá necessidade de
consentimento/ citação do companheiro (§3º, art. 73).
Substituição processual ocorre quando a lei permite que alguém em nome próprio,
pleiteia direito alheio. Por exemplo, quando o MP atua na defesa de direitos coletivos, difusos
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ou individuais homogêneos, onde o verdadeiro titular do direito não é o MP, mas a coletividade,
que está por ele substituída. Tem a ver com a legitimidade extraordinária prevista como
exceção no artigo 18 do NCPC.
O artigo 77 do NCPC enumera vários deveres das partes e dos seus procuradores, os quais
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podem ser resumidos no dever geral de procederem com lealdade e boa-fé processual.
Destacam-se os deveres dos incisos IV e VI, quais sejam, o dever de cumprir e não criar
embaraços ao cumprimento das decisões judiciais (que cabe à parte e não ao seu representante
judicial - §8º) e de não agir em atentado processual (alterar ilicitamente a situação de fato,
induzindo o juiz a erro), os quais importam em ato atentatório à dignidade da justiça (Contempt of
Court).
Neste caso, impõem-se à parte (e não aos advogados, defensores públicos ou membros do
Ministério Público - a responsabilidade destes se dá no âmbito administrativo - §6º) uma multa de
até 20% o valor da causa (§2º) ou, se esse for irrisório ou inestimável, até 10 salários mínimos (§5º), a
qual será revertida à União ou ao Estado (que a receberá mediante execução fiscal depois de
inscrita na dívida ativa), especificamente aos fundos de modernização do Poder Judiciário - art. 97,
NCPC (§3º).
No caso do atentado, além da multa, o juiz deverá determinar o retorno ao estado de
fato anterior e pode proibir a parte de falar nos autos até que isso ocorra (§7º).
Enquanto no art. 77, acima citado, o NCPC lista os deveres das partes e seus procuradores
(exceto nos casos dos já comentados incisos IV e VI, que implicam em ato atentatório à dignidade
da justiça), no art. 79 e, principalmente, no art. 80, ele prevê as hipóteses que configuram o seu
desrespeito, reputando a parte ou interveniente como litigante de má-fé.
Portanto, nestes casos, deverão eles ser condenados, a requerimento ou de ofício pelo juiz,
em litigância de má fé, sujeitando-se, de acordo com o art. 81:
- a uma multa superior a 1% e inferior a 10% do valor atualizado da causa ou, se esse for irrisório ou
inestimável, até 10 salários mínimos, a qual será revertida à outra parte, que foi sua vítima (art. 96,
NCPC);
- à indenização à parte contrária dos prejuízos que ela sofreu (o juiz deve fixar o valor da
indenização; não sendo possível, será liquidado);
- à honorários advocatícios e todas as despesas efetuadas pela parte vítima.
- o autor além de prover as despesas de seus atos, pagará também as despesas de atos
praticados pelo juiz e os requeridos pelo MP, quando este atuar como fiscal da ordem jurídica
(§1º);
- quanto aos honorários periciais, a parte que requereu a perícia efetua o pagamento; mas se a
perícia for requerida por ambas as partes ou determinada de ofício pelo juiz, os honorários são
rateados (art. 95 NCPC);
- o vencido será condenado, além do principal, a pagar ao vencedor as despesas que este antecipou
(§2º, art. 82), bem como os honorários ao advogado do vencedor – art. 85 (os chamados “honorários
de sucumbência”). ATENÇÃO: honorários de sucumbência ≠ honorários contratuais;
- em caso de sucumbência recíproca, as despesas serão distribuídas entre as partes
proporcionalmente (art. 86);
- em caso de desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido, as despesas e honorários serão
pagos pela parte responsável pelo ato abdicativo (art. 90);
- em caso de atos requeridos pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público (quando for parte)
ou pela Defensoria Pública, não há exigência de antecipação do pagamento das despesas. Ao
final, se elas forem vencidas, deverão reembolsar ao vencedor as despesas que ele tiver pago (art.
91, NCPC).
O pedido de assistência pode ser feito em qualquer fase do processo (petição inicial,
contestação, em recurso etc), por pessoa natural ou jurídica, e o juiz somente deve indeferi-lo se
houver prova nos autos quanto à capacidade econômica da parte (art. 99, NCPC).
A parte tem direito à gratuidade mesmo quando está representada por advogado
particular (art. 99, § 4º, NCPC).
Quando o benefício da gratuidade é concedido, a parte contrária pode impugnar esse
direito, a fim de que o juízo o revogue – art. 100 NCPC.
Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação
caberá agravo de instrumento, exceto de resolvida em sentença, quando então caberá apelação
(art. 101).
Confirmada a denegação ou revogação da gratuidade, ou até sobrevindo o trânsito em
julgado da referida decisão, a parte deverá efetuar o recolhimento das custas processuais (art. 101,
§2º e art. 102).
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigação relativamente à lide => aqui é o direito
material, que lhes são comuns que vai permitir a formação do litisconsórcio. Ex: solidariedade
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ativa ou passiva, vários credores solidários acionam do mesmo devedor, ou vários devedores
solidários sendo acionados pelo credor comum.
II) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir => basta a coincidência com
o objeto ou com a causa de pedir. Isso para evitar decisões contraditórias e também por razão
de economia processual. Ex. vítimas de um mesmo acidente automobilístico demandando
contra o responsável por perdas e danos.
III) ocorrer afinidade de questão por um ponto comum de fato ou de direito => não se trata do
mesmo fato, mas de fatos semelhantes, análogos. Ex: Ações de cobrança movida pelo síndico de
condomínio em face de dois ou mais condôminos.
b) Espécies de litisconsórcio:
Conclui-se, assim, que todo litisconsórcio unitário é necessário5, mas nem todo
litisconsórcio necessário é unitário. É possível que ele seja necessário e simples (Ex:. usucapião – a
ação é necessariamente promovida contra o proprietário do bem usucapiendo e seus
confrontantes, mas a decisão será diversa para cada qual deles).
- facultativo (art. 113): é contrário ao necessário, ou seja, é aquele cuja formação não é obrigatória; é
determinado pelas partes por razões de economia processual. Isso significa que, se o autor
preferir, poderá entrar sozinho com sua ação ou demandar contra cada réu separadamente em ação
distintas.
ATENÇÃO: Vale registrar que não existe litisconsórcio necessário ATIVO, mas só passivo,
pois ninguém é obrigado a ir a juízo juntamente com o outro, sob pena de violação ao
princípio constitucional do acesso ao Judiciário (ademais, o direito de ação é uma faculdade para
o seu titular). Por outro lado, quanto ao litisconsórcio simples, poderá este ser ativo ou passivo.
De acordo com o §1º do art. 113, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, limitar o número
de litigantes, na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
Obviamente que essa limitação só pode ocorrer no litisconsórcio facultativo, e o pedido de
5
Exemplo de litisconsórcio unitário e facultativo seria nas ações coletivas (ação popular, ação civil pública etc) em
que os co-legitimados, apesar de poderem ou não se consorciarem no pólo ativo (Ex: MP e Defensoria Pública), estão
em substituição processual defendendo o direito do mesmo substituído, a coletividade. Ora, a decisão, nesse caso, deve
ser a mesma a todos aqueles que pertencem à coletividade (não é possível, por exemplo, garantir a proteção ao meio
ambiente a uns, e não a outros, pertencentes ao mesmo grupo).
45
limitação INTERROMPE o prazo para a resposta, que só recomeçará a fluir da intimação da
decisão que o solucionar (art. 113 §2º). Mas, enfim, o que o referido dispositivo prevê é o
DESMENBRAMENTO do processo com litisconsórcio multitudinário em tantos outros processos,
que continuarão a tramitar no mesmo juízo, em conexão.
- a partir da juntada do último AR ou do último mandado citatório cumprido (art. 231, §1º);
- aplicação do artigo 229 (prazo em dobro se os litisconsortes estiverem litigando com
advogados diferentes pertencentes a escritórios de advocacia distintos), salvo embargos do
executado (artigo 915, § 3º, NCPC).
Vimos, segundo o art. 506 do NCPC, que “a sentença faz coisa julgada às partes em as quais é dada, não
prejudicando terceiros”. Todavia, existe a possibilidade destes serem atingidos de forma reflexa pela
coisa julgada, razão pela qual se justifica o seu ingresso no processo, desde que tenham interesse
ou vínculo jurídico no processo. A tal fenômeno processual dá-se o nome de intervenção de
terceiros.
a) Conceito
Portanto, trata-se da possibilidade de um terceiro ingressar no processo, assumindo a
condição de parte, desde que demonstre interesse jurídico ligado à relação jurídica material
discutida. A intervenção de terceiros repercute:
• na esfera subjetiva – pois amplia as partes.
• na esfera objetiva – pois amplia o objeto do processo, agregando pedido novo, formulado pelo
terceiro interveniente.
Justamente por isso NÃO CABE intervenção de terceiros:
• nos Juizados (artigo 10, Lei 9.099/95)
• na ADI, ADC e ADPF, pois são processos objetivos, onde se discute apenas direito em tese, e não
direito subjetivo das partes.
b) Espécies
São espécies ou modalidades de intervenção de terceiros previstas no NCPC:
46
- Assistência (arts. 119 a 124);
- Denunciação da lide (arts. 125 a 129);
- Chamamento ao processo (arts. 130 a 132);
- Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e
- Amicus Curiae (art. 138).
c) Características
A intervenção de terceiros pode ser provocada ou espontânea, a depender se a iniciativa é
de uma das partes do processo ou do próprio terceiro. Seguindo essa linha de raciocínio, pode-se
dizer que, enquanto a assistência é uma espécie de intervenção de terceiro espontâneo, todas as
demais modalidades são intervenções provocadas.
Interessante notar que, quando o terceiro intervém, ele ingressa em um dos pólos do
processo como uma parte a mais, coadjuvante à parte original, formando um litisconsórcio
ulterior.
A assistência é uma intervenção espontânea, que pode ocorrer em qualquer dos pólos do
processo (ativo ou passivo) e em qualquer fase do processo, fundada em interesse jurídico6 (e não
econômico, social ou corporativo).
➢ assistência simples (arts. 121 e 122) => é aquele que intervém para auxiliar o assistente na busca
pela vitória no processo, por manter com ele uma relação jurídica conexa àquela posta em juízo,
sofrendo os efeitos da sentença por via reflexa. Assim, o interesse do terceiro é indireto, ou seja, não é
vinculado diretamente ao mérito da causa Ex: sublocatário.
Os poderes do assistente simples são mais limitados, pois, embora possa reforçar os
argumentos do assistido, requerer provas e recorrer, não pode se opor à transação, à desistência, à
renúncia ou ao reconhecimento do pedido feito pela parte principal. É considerado como parte
meramente auxiliar.
6
As pessoas jurídicas de direito público, quais sejam, a União, Estados, DF, Municípios respectivas autarquias e
fundações públicas, poderão, nas causas cuja decisão passa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
INTERVIR, independentemente da demonstração de interesse jurídico. (artigo 5º, caput e parágrafo único da Lei
9469/97). A doutrina considera essa forma de intervenção anômala, pois se dispensa o interesse jurídico. Para Athos G.
Carneiro, não se trata de intervenção de terceiros, mas de intervenção da pessoa jurídica de direito público como amicus
curiae, que, diante da complexidade técnica ou política da causa, intervém para dar um suporte maior à decisão do juiz.
Essa intervenção não é para ser assistente, mas para auxiliar o juízo, elucidando os fatos.
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➢ assistência litisconsorcial (arts. 123 e 124) => considera-se assistente litisconsorcial aquele que
intervém no processo assumindo condição de parte, em litisconsórcio unitário ulterior com a
parte principal (chamada de assistida), sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele
e o adversário do assistido.
Aqui o interesse do terceiro é direto, isto é, o assistente defende um direito que lhe é próprio, pois se
trata na verdade de um co-legitimado que, por algum motivo, não iniciou o processo como parte.
Ex: a esposa, que autorizou o marido a mover ação real imobiliária, decide depois ingressar no feito.
Ao contrário do assistente simples, seus poderes não são limitados na medida em que
detém interesse próprio. Portanto, o assistente litisconsorcial pode assumir posição contrária ao
do assistido que desiste, renuncia, confessa, transige do recurso.
Ademais, o assistente litisconsorcial fica submetido aos efeitos da coisa julgada (ao
contrário do assistente simples que sofrerá apenas uma eficácia preclusiva da intervenção), só
podendo discutir o que ficou decidido, em futura demanda processo, quando se tratar das
exceções previstas no art. 123 do NCPC.
7
Interessante notar que o denunciado será, em relação à parte adversária do denunciante, um legitimado
extraordinário, defendendo direito alheio em nome próprio, já que não tem qualquer vínculo ou relação jurídica com
ele; e, em relação ao denunciante, um litisconsorte unitário, porque ou ambos ganham ou perdem, e, futuramente, seu
réu, como já dito.
48
A denunciação da lide pode decorrer de:
- direito resultante da evicção (inciso I, art. 125) – é o exemplo acima citado. Cuidado: Só se admite
uma única denunciação da lide sucessiva promovida pelo denunciado contra o seu sucessor
imediato (§2º); ou seja, só cabem no máximo 2 denunciações no processo. Por outro lado, não é
cabível a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante imediato, mas a
qualquer um dos alienantes anteriores (por conta da revogação do art. 456 do CC pelo art. 1.072, II
do NCPC).
- direito a indenização em ação regressiva (inciso II, art. 125) – abrange todos os casos em que o réu,
vencido no processo, poderá voltar-se contra aquele que, pela lei8 ou contrato9, terá que indenizá-
lo pelos prejuízos decorrentes da sua sucumbência.
A denunciação da lide é uma opção da parte, consoante o §1º do art. 125 (fim à antiga
celeuma trazida pelo CPC de 73, que dizia ser “obrigatória”). Isso significa que quem não faz a
denunciação pode exercer o direito de regresso em uma ação autônoma.
É uma intervenção provocada apenas pelo réu quando este na qualidade de devedor
solidário, pretender que os co-obrigados sejam também declarados responsáveis na mesma
sentença.
Justifica-se pelo vínculo existente solidariamente passiva entre o réu-chamante e o
terceiro- chamado. Consequência: formação de um litisconsórcio facultativo passivo simples.
O objetivo é a obtenção de um título judicial (sentença) para que aquele que saldou a
dívida possa exigi-la, na sua integralidade, do(s) devedor(es) solidário(s) nos mesmos autos (art.
132).
8
Exemplo de obrigado pela lei a indenizar o denunciante => o Estado, que vier a perder uma demanda de reparação de
danos, pode denunciar o servidor que, em seu nome, acabou praticando o ilícito (art. 37, parágrafo 6º, CF; e art. 43, CC).
9
Exemplo de obrigado pelo contrato a indenizar o denunciante => o segurado, que perde a demanda de reparação de
danos acidente de veículo, poderá denunciar a seguradora, que, pelo contrato de seguro, deverá reembolsá-lo dos
prejuízos sofridos com a sucumbência.
49
empresa demandada, desconsiderando provisoriamente a personalidade jurídica desta e
permitindo o ingresso no processo dos sócios, garantindo-lhes o contraditório e a ampla defesa (art.
135).
A desconsideração inversa também foi expressamente prevista pelo NCPC (§2º do art. 133):
busca-se patrimônio do sócio na pessoa jurídica, permitindo o ingresso desta quando aquele
estiver sendo demandado (Ex: em ações de divórcio quando o marido mistura seus bens, cuja
meação a esposa tem direito, no patrimônio da empresa, escudando-se por detrás desta).
Importante considerar que o que o NCPC regulamenta é o procedimento para que a
desconsideração seja efetuada, mas, como bem aponta o §1º do art. 133, os requisitos para admissão
estão estabelecidos pela lei material (ex.: art. 50, CC – teoria maior: deve-se provar o abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial; e art. 28,
§5º, CDC – teoria menor: tais elementos são presumidos em favor do consumidor, que é
hipossuficiente).
Não cabe desconsideração de ofício; ela depende de requerimento da parte ou do MP,
quando intervém como fiscal da ordem jurídica (art. 133, caput).
É o amigo da Corte, do tribunal, ou seja, é alguém que intervém para auxiliar o órgão
jurisdicional na solução do conflito, que fornece elementos para que este decida de forma melhor.
São fundamentos para a intervenção do amicus curiae:
- relevância da matéria;
- especificidade do tema objeto da demanda;
- repercussão social da controvérsia.
Exemplos de intervenção no STF: pesquisa com células tronco, aborto de fetos anencéfalos,
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punição criminal pela publicação de livros de apologia ao nazismo, ensino religioso em escolas
públicas, programa “Mais Médicos”, biografias não autorizadas, importação de pneus usados, etc.
Podem ser amicus curiae:
- pessoa natural,
- pessoa jurídica,
- órgão despersonalizado,
- entidade especializada.
O amicus curiae deve ter representatividade adequada.
A atuação pode ser determinada de ofício pelo julgador ou requerida pela parte ou pelo
próprio amicus curiae.
51
6 ATOS PROCESSUAIS (arts. 188 a 293, NCPC)
6.1 Conceito
Como é espécie do gênero “atos jurídicos”, ato processual é toda ação humana que produz
efeito jurídico em relação ao processo. É praticado no processo e produz efeitos sobre ele. Ex:
petição inicial, citação, contestação, provas, decisões judiciais, recursos, autocomposição, etc.
6.2 Classificação
O NCPC classifica os atos processuais levando em conta o sujeito que os pratica. Assim,
temos: atos das partes, do juiz e dos serventuários da justiça.
a) atos das partes (autor, réu, terceiros intervenientes e o MP) => podem ser:
- postulatórios => são aqueles que buscam um determinado provimento judicial. Ex:. petição inicial;
petição interlocutória; contestação; reconvenção; réplica do autor; recurso etc.
- instrutórios => objetivam carrear provas aos autos do processo, a fim de formar o convencimento do
juiz. Ex: juntada de documento; arrolamento de testemunhas; formulação de quesitos para o perito
etc.
- dispositivos => são atos que envolvem a disposição de uma faculdade processual ou direito. Ex:
desistência da ação, do recurso; renúncia do direito material; reconhecimento do pedido;
transação etc. Em regra, os atos das partes têm eficácia imediata; todavia, os atos dispositivos
necessitam de homologação do juiz para surtirem seus devidos efeitos (art. 200, parágrafo
único).
- reais => traduzem em realizações processuais concretas, materiais. Ex:. exibir uma coisa;
comparecer a uma audiência.
b) atos do juiz => o NCPC fala em “pronunciamentos” do juiz, ao invés de atos. São eles: a sentença,
as decisões interlocutórias e os despachos (art. 203).
- sentença (§1º) => é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485
(extinção sem resolução do mérito - reconhecimento de vício processual insanável) ou 487
(resolução do mérito - julgamento de procedência ou improcedência do pedido; homologação
de desistência ou renúncia; reconhecimento de prescrição ou decadência etc), põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
52
Percebe-se que dois critérios foram utilizados em tal conceito pelo legislador: o material
(conteúdo da sentença – 485/sentença terminativa ou processual; 487/sentença definitiva ou
de mérito) e o finalístico (a diferença, neste último, em relação à redação mais remota do CPC
anterior, é que o legislador de 2015 sabiamente referiu-se ao fim do procedimento cognitivo, e não
ao processo, vez que é sabido ser possível o processo continuar mesmo após a sentença, como nos
casos em que há interposição de recurso e/ou o cumprimento da sentença).
- decisão interlocutória (§2º) => por critério residual, é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não seja sentença. Em razão disso, pode surgir certa dificuldade em se distinguir
sentença de decisão interlocutória, pois que, em ambas, o juiz decide (seja questão de mérito 10 ou
não). Mas é simples identificá-los porque sempre que o juiz decidir pondo fim à fase cognitiva ou
ao processo de execução será sentença; do contrário, será decisão interlocutória.
Ex.: concessão ou indeferimento de liminar; reconhecimento ou não de suspeição/
impedimento; concessão ou indeferimento dos benefícios da assistência; admissão de intervenção
de terceiros; indeferimento de uma prova etc.
- despachos (§3º) => são os todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou
a requerimento da parte. Não tem conteúdo decisório: apenas impulsionam o processo,
determinando a prática de atos para a continuidade da marcha procedimental. Ex: despacho que
apenas ordena a citação do réu; a intimação das partes ou de testemunhas; que designa audiência
etc.
CUIDADO: quando o “despacho” tiver conteúdo decisório. Neste caso, trata-se, na verdade,
de decisão interlocutória (Ex: “despacho” que recebe a petição inicial; que defere ou indefere
antecipação dos efeitos da tutela; que saneia o processo, deferindo ou indeferindo provas a serem
produzidas na audiência de instrução). Na prática, infelizmente é muito comum os juízes e os
tribunais nomearem de despachos aquilo que são verdadeiras decisões interlocutórias.
Por fim, vale registrar que, quando a decisão for proferida pelo tribunal 11, que atua em
colegiado, haverá uma conjugação de opiniões de seus vários membros. Desta forma, suas decisões
são denominadas de acórdãos (art. 204). Diz-se acórdão, pois deriva do verbo “acordar”, não no
sentido de despertar, mas sim de fazer acordo.
10
A doutrina sempre reconheceu a possibilidade de o juiz proferir decisão interlocutória de mérito, embora seja uma
situação incomum. Um grande exemplo, inclusive reconhecido pela lei (art. 356, §5º c/c art. 1.015, II, NCPC), é o
julgamento antecipado parcial do mérito, pois que o juiz, neste caso, julga antecipadamente um dos pedidos sem por
fim à fase cognitiva, uma vez que o processo prosseguirá em relação aos demais pedidos não julgados. Outro exemplo:
renúncia parcial.
11
É possível os desembargadores e ministros também proferem decisões de forma individual, e não em colegiado,
ocasião em que não estarão proferindo acórdãos, mas sim decisões monocráticas.
53
c) atos dos serventuários da justiça: podem praticar alguns atos ordinatórios, movimentando o
processo, mas estão sujeitos à revisão pelo juiz quando necessário (art. 203, §4º). Ex: abertura de
vista às partes; juntada etc.
a) não dependem de forma determinada (não solenes) => se a lei expressamente exigir
determinada forma, são considerados válidos os atos, ainda que praticados de outro modo, se
atingirem sua finalidade (princípio da instrumentalidade das formas – art. 188). Obs:. Prática por
meios eletrônicos (Lei n. 11.419/06 e arts. 193 a 199, NCPC).
b) são públicos => de acordo com os arts. 93, IX, CF e 189 do NCPC, os atos processuais são
públicos. Correm, porém, em segredo de justiça apenas os processos em que:
- exigir o interesse público ou social;
- os que dizem respeito ao casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
- em que constem de dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; e
- que versem sobre arbitragem, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem.
Vale lembrar que, nestes casos em que o processo tramita em segredo de justiça, somente as
partes e seus advogados terão acesso aos autos, podendo o terceiro pedir certidão (§1º, art. 189).
c) podem ser objeto de negócio jurídico processual => é a possibilidade de as partes, desde que
plenamente capazes e versar o processo sobre direito que admite autocomposição, ajustar atos e
procedimentos cuja eficácia repercutem no processo. Pode ser celebrado antes ou durante o
processo.
O CPC/1973 previa alguns negócios processuais típicos: cláusula de eleição de foro,
convenção sobre o ônus da prova, suspensão do processo por convenção das partes, etc. O
CPC/2015 aumentou o rol dos negócios típicos e criou a atipicidade da negociação processual em
seu art. 190. Exemplos de negócios atípicos válidos: instância única, criação de impenhorabilidade
ou de prova atípica, ampliação ou redução de prazos, etc.
O negócio processual só poderá ser recusado pelo juiz, de ofício ou a requerimento, nos
casos de:
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d) devem ser praticados com o uso da língua portuguesa => documento em língua estrangeira só
será juntado nos autos se acompanhado de versão para a língua portuguesa feita por via
diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (art. 192, parágrafo
único).
e) devem ser praticados em determinado tempo e lugar => de acordo com o art. 212 do NCPC, os
atos processuais devem ser realizados, em regra, em dias úteis, das 6h às 20h, e na sede do juízo
(art. 217).
Entretanto, citações, intimações e penhoras podem ser realizadas nos feriados, férias
forenses ou fora do horário legal, independentemente de autorização judicial (§2º, art. 212).
O protocolo da petição em autos físicos deve observar o horário de funcionamento do
fórum ou tribunal (§3º); mas no caso da prática eletrônica de ato processual, pode ela ocorrer em
qualquer horário até às 24 horas do último dia do prazo, observando-se o horário vigente no juízo
onde o ato vai ser praticado (art. 213).
ATENÇÃO: de acordo com o art. 214 do NCPC, não se praticarão atos processuais
durante as férias forenses e nos feriados (além dos previstos em lei, incluem sábados, domingos
e dias em que não haja expediente forense), exceto as citações, intimações e penhoras (como já
ressalvado anteriormente), e as tutelas de urgência (tutela cautelar e tutela antecipada).
6.3.1 classificação
55
a) quanto à origem:
- legais => exemplo é o art. 335, que prevê o prazo de 15 para a resposta do réu. Importa esclarecer
que se a lei não prever ou o juiz não fixar, o prazo para a prática do ato processual será de 5 dias,
conforme o §3º do art. 218.
- judiciais => é o prazo fixado ou determinado pelo juiz. Exemplos: art. 76 (sanar incapacidade
processual ou irregularidade de representação); art. 815 (prazo para satisfazer obrigação de fazer).
- convencionais => são aqueles estabelecidos em contrato. Ex:. art. 191 (calendário processual); art.
313, II (suspensão do processo por convenção entre as partes).
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Existem também outras preclusões:
• Lógica – impossibilidade de praticar um ato por já ter a parte praticado outro incompatível com ele. Ex:. ao
contestar, o réu alega a nulidade ou falta de citação, sendo que o comparecimento espontâneo supre a nulidade ou a
falta da citação (§1º do art. 239, NCPC). Assim, o ato de contestar precluiu por ser incompatível com a defesa da falta
ou nulidade de citação (o inciso I do art 337 do NCPC deveria ser revisto pelo legislador).
• Consumativa – perda da faculdade de praticar novamente um ato processual ou de complementá-lo por já tê-lo
praticado anteriormente, reputando-o, portanto, consumado. Ex:. interpor recurso novamente, relativa à parte da
decisão que não se recorreu na 1ª oportunidade, só porque ainda remanesceu prazo para tanto.
• Judicial (pro iudicato) – impossibilidade de o juiz, depois de proferir a decisão, altera-la (exceção: art. 494, I e II; art.
331; e art. 332, §3º - juízo de retratação).
56
6.3.2 Suspensão nas “férias forenses”
De acordo com o art. 220 do NCPC, suspende-se o prazo processual no período de 20/12 a 20/01,
salvo nas hipóteses previstas no art. 215 (procedimentos de jurisdição voluntária; ação de alimentos e
processos de nomeação ou remoção de tutor ou curador; e os que a lei determinar).
Em que pese o NCPC falar de “férias forenses”, o Judiciário não interromperá suas atividades
no referido período, uma vez que o art. 93, XII, da CF, com a nova redação dada pela EC 45/05,
acabou com as férias coletivas de juízes e tribunais.
O que ocorre é uma mera suspensão dos prazos processuais, não havendo audiências ou
sessões de julgamento, mas os juízes, membros do MP, da Defensoria Pública e Advocacia Pública
exercerão suas atividades normalmente, paralisando apenas quando nos feriados ou nos dias de
férias individuais.
ATENÇÃO: Suspensão ≠ Interrupção de prazo:
✓ havendo suspensão, o prazo deve ser restituído por tempo igual ao que faltava para sua
complementação (ex.: semana da conciliação) – art. 221, NCPC
✓ em caso de interrupção, o prazo é restituído integralmente (ex.: oposição de embargos
de declaração – art. 1026, NCPC).
Na contagem de prazo processual em dias, computar-se-ão somente os dias úteis (art. 219)
e a regra é que se desconta o dia do início (dies a quo) e computa-se o dia do término (dies ad quem), de
acordo com o art. 224, NCPC.
Se o dia do início ou do término cair em dia em que o expediente forense for encerrado
antes ou iniciado depois da hora normal, ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica,
57
prorroga-se para o próximo dia útil (§1º, art. 224).
Havendo vários réus, o prazo para contestar só tem início após a última citação (§1º, art.
231). No caso de intimação, o prazo de cada uma é contado individualmente (§2º).
O juízo põe os interessados a par do que ocorre no processo e os convoca a praticar os atos
que lhes compete. A comunicação normalmente é feita pelo escrivão e pelo oficial de justiça por
ordem do juiz.
Os atos processuais podem ser realizados por meio de videoconferência ou outro recurso
tecnológico.
Em comarcas contíguas ou da mesma região metropolitana, o oficial de justiça pode
realizar citações, intimações, penhora e outros atos executivos – art. 255 NCPC.
6.4.1 Citação
a) Conceito => de acordo com o art. 238, é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual.
Como se depreende do art. 239, a citação é pressuposto de validade da relação processual
(completa a formação da relação jurídica processual), e não de existência, já que é possível o
processo findar-se antes da citação, v.g., indeferimento liminar da petição inicial, improcedência
liminar do pedido (art. 332), situações em que se considera excepcionalmente o processo válido,
58
pois a citação ficará postergada ou diferida.
b.2) processual:
- induz a litispendência => significa que se outra ação não pode ser proposta com os mesmos
elementos a partir da citação válida do réu, sob pena de configurar litispendência.
59
c) Modalidades de citação
c.1) Por correio (arts. 247 e 248) => mediante carta registrada com aviso de recebimento (AR). Em
condomínio, a carta pode ser entregue ao porteiro (§4º, art. 248); e, tratando-se de pessoa jurídica,
a carta pode ser entregue ao administrador, gerente ou funcionário responsável por receber
correspondência (§2º, art. 248).
É a regra geral, salvo:
• nas ações de estado (ex.: ação de divórcio);
• quando o citando for incapaz ou for pessoa jurídica de direito público;
• quando o citando residir em local não atendido pelos correios;
• se o autor requerer, justificadamente, que ela seja realizada de outra forma.
O CPC 1973 vedava a citação pelo correio nas execuções; o CPC 2015 excluiu essa vedação.
c.2) Por Oficial de Justiça (arts. 249 a 251) => só ocorre nos casos em que não é possível a citação por
correio, conforme exceções acima descritas. O oficial faz a leitura do mandado, entrega a contrafé,
certifica o recebimento ou a recusa da contrafé e obtém a nota de ciente ou certifica que o
demandado não a apôs.
c.3) Por hora certa (art. 252) => nada mais é que uma citação feita por oficial de justiça. Ocorre quando
o oficial suspeitar de que o demandado está se ocultando para evitar a citação, após havê-lo
procurado por 2 vezes, sem o encontrar.
Nesse caso, o oficial deve comunicar alguém da família ou o vizinho que voltará no dia útil
seguinte, em hora determinada, para fazer a citação. Retornando no dia e hora combinado, o
citando ainda não estiver presente, o oficial dará por feita a citação, deixando a contrafé com
pessoa da família ou com qualquer vizinho.
Feita a citação, o escrivão enviará ao réu uma correspondência, física ou eletrônica, no
prazo de 10 dias, cientificando-lhe de tudo, de acordo com a exigência do art. 254, sendo tal envio
condição para o aperfeiçoamento da citação.
60
c.4) Por Edital (arts. 256 a 259) => cita-se o requerido por edital quando for desconhecido, incerto, ou
de localização ignorada, incerta ou inacessível, ou em outros casos previstos na lei.
Será também considerado em local ignorado ou incerto se forem infrutíferas as tentativas de
localização do réu, inclusive mediante requisição em cadastros (§3º, art. 256).
O Edital será publicado no site do tribunal e na plataforma de editais do CNJ
(excepcionalmente em jornal local), num prazo fixado pelo juiz de 20 a 60 dias, findo o qual
começará a fluir o prazo para a defesa do legitimado passivo. Não se admite citação edilícia nos
Juizados Especiais Cíveis (art. 18, §2º, Lei 9.099/95).
c.5) Por meio eletrônico (art. 246, V): as pessoas jurídicas, públicas e privadas, são preferencialmente
citadas ou intimadas por meio eletrônico. Para tanto, são obrigadas a se cadastrarem nos sistemas
de processo eletrônico, exceto se tratar de microempresas e empresas de pequeno porte.
6.4.2 Intimações
É ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo (art. 269). É dirigida a
qualquer das partes, seus advogados, auxiliares da justiça (peritos, depositários, testemunhas) ou
a terceiros, a quem cumpre realizar determinado ato no processo.
As intimações efetuam-se de ofício e será feita:
- sempre que possível, por meio eletrônico;
- quando não realizadas por meio eletrônico, pela publicação dos atos no órgão oficial (Diário de Justiça);
Obs: se inviável por meio eletrônico e não houver na localidade publicação em órgão oficial, os
advogados das partes serão intimados pessoalmente, por mandado ou por carta registrada, com AR, a
depender de residem ou não na sede do juízo;
- por correio (atenção: modificação de endereço da parte ou do advogado sem comunicação ao juízo:
a intimação enviada ao endereço primitivo será válida);
- pelo escrivão: no balcão.
- por oficial de justiça via mandado: quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.
- por hora certa ou por edital: caso necessário.
- em audiência: quando o advogado toma ciência do ato durante sua realização.
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6.4.3 Cartas
Ocorre quando o ato processual tiver de ser praticado em local diverso da sede do juízo. As
cartas podem ser:
- de ordem: se dirigidas a juiz ou tribunal subordinado àquele de que ela emanar. Exemplo: o
tribunal determina a oitiva de testemunha pelo juízo de 1º grau;
- rogatórias: quando dirigidas à autoridade judiciária estrangeira. Podem ser ativas, quando
endereçadas a juízo estrangeiro, ou passivas, quando recebidas por autoridade judiciária brasileira.
Vale lembrar que, depois de cumprida a carta (ativa), o teor desta só terá valor no território
nacional depois de submeter à apreciação do STJ (art. 105, I, alínea i, 2ª parte; e art. 961, NCPC) – é
a chamada concessão do exequatur à carta rogatória.
- precatórias: endereçadas a outro órgão judiciário do país, de competência territorial diversa,
entre os quais não há relação hierárquica. Somente poderá ser recusado seu cumprimento,
mediante despacho motivado, quando não estiver revestida dos requisitos legais, quando o juízo
deprecado carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia ou quando tiver dúvida
quanto à sua autenticidade (art. 267).
Obs: o NCPC estabeleceu também a chamada carta arbitral, consistente no pedido do
juízo arbitral ao órgão do Poder Judiciário para que pratique ou determine cumprimento de
ato processual de sua competência territorial.
Como nos demais atos jurídicos, devem ser observados os requisitos de validade na prática
dos atos processuais, sob pena de se acharem eivados de vícios, os quais, a depender da gravidade,
se classificam em:
- atos inexistentes: o ato inexistente é uma mera aparência, por não reunir condições mínimas para
sua constituição, não podendo ser convalidado ou suprido. Exemplo clássico é a “sentença”
proferida por quem não seja juiz.
- ato nulo: o ato é existente, mas padece de um defeito resultante de violação de norma de interesse
público, devendo ser reconhecida de ofício e em qualquer tempo e grau de jurisdição. Ex:. citação
com inobservância das prescrições legais (art. 280).
- ato anulável: o defeito resulta da violação de norma de interesse particular, de forma que ao
interessado cabe alegá-lo na primeira oportunidade, sob pena de convalidação do ato. Pela mesma
razão, só será decretada sua nulidade se houver prévia demonstração de prejuízo. Ex: a falta da
manifestação do MP (art. 279, §§1º e 2º).
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- ato irregular: representa violação mínima da norma processual, não acarretando desfazimento do
ato. Ex: sentença proferida além do prazo legal.
a) do interesse de agir => quem deu causa à nulidade não pode argui-la (art. 276), nem se repetirá
o ato em favor de quem não sofreu o prejuízo (art. 288, §§1º e 2º).
b) instrumentalidade das formas => não se proclama a nulidade se o ato defeituoso tiver atingido
a finalidade buscada pela lei e não tiver prejudicado a outra parte (art. 277).
c) causalidade => a decretação da nulidade só contamina os atos que dependam daquele anulado,
subsistindo válidos os dele independentes (art. 288).
e) preclusão => cabe à parte alegar a nulidade relativa na primeira oportunidade que tiver de falar
nos autos, sob pena de preclusão (art. 278).