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APOSTILA DE
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL I
Profa. Évelyn Cintra Araújo

PUC/GOIÁS
2018
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1 INTRODUÇÃO

Se pudéssemos conceituar Direito diríamos que é “o conjunto das normas gerais e


positivas que regulam a vida social”.
Portanto, o principal objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais intersubjetivas;
é tornar possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem (ubi jus ibi societas – não há direito sem
sociedade) através de regras de conduta dotadas de coercibilidade.
Estabelecido o direito objetivo, faz nascer, por outro lado, a prerrogativa ou a faculdade
individual de exigir o cumprimento dos preceitos que lhe diga respeito. Portanto, se a norma diz
que “todos são iguais”, surge para cada um o direito de ser tratado sem discriminação. Fala-se,
então, em direitosubjetivo.
A facultas e a norma são os dois lados de um mesmo fenômeno: um é o aspecto individual, o
outro o aspecto social. Qualquer direito pode ser apreciado pelo lado do indivíduo, que dele extrai
uma segurança jurídica ou uma função, como pelo lado do agrupamento social, que institui uma
regra de conduta.
O direito subjetivo manifesta-se através de uma relação jurídica, a qual pressupõe um
sujeito, que é o ser a quem a ordem jurídica assegura um poder ou um dever de agir; um objeto, que
é o bem ou a vantagem sobre a qual o sujeito exerce tal poder ou dever; e um vínculo, que é o liame
que une ambos os sujeitos ou partes entre si e estes com o objeto, formando a relação jurídica.
A vida em sociedade produz uma série de relações, que, quando protegidas pela ordem
jurídica, transformam-se em relações jurídicas, como o casamento, o emprego, o aluguel de um
imóvel etc. Todas elas são motivadas pelo desejo de satisfazer um direito subjetivo (para Ihering,
direito subjetivo é “o interesse juridicamente protegido”), ou seja, uma necessidade, um interesse
(formar uma família, ganhar dinheiro, ter um lugar para morar etc). Quando isso ocorre fala-se em
relação jurídica material.
Mas pode acontecer que, numa relação jurídica material entre A e B, os interesses sejam
opostos; por exemplo, A quer manter o casamento, mas B não. Surge, então, um conflito de interesses, ou
seja, um “choque de duas ou mais vontades sobre o mesmo objeto”.
Nesse momento, se A insiste em manter a sua posição, exigindo que B subordine ao seu
interesse, surge o que chamamos de pretensão. Pretensão, portanto, é “a exigência de subordinação
de um interesse alheio ao próprio.”

Se B ceder, o conflito é resolvido pela satisfação da pretensão de A.


Porém, se B resiste, nasce uma lide, que, no conceito brilhante de Carnellutti, nada mais é
que “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.
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Nesse momento ENCERRA O PLANO DE DIREITO MATERIAL1...
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Acontece que, quando o Estado se estruturou e passou a dotar-se de maior poder, trouxe
para si a responsabilidade de ditar a solução para os conflitos de interesses, proibindo qualquer
espécie de justiça privada (atualmente, excepcionalmente, admite-se a autotutela, como o desforço
imediato, a legítima defesa e a greve).
O Estado assume, assim, o monopólio da JURISDIÇÃO (que significa dizer o direito no
caso concreto), exercido precipuamente por um de seus poderes – o Poder Judiciário.
Como consequência da previsão desse direito objetivo à jurisdição (aliás, consagrado a
nível constitucional – art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”), ofertou-se ao indivíduo, que não podia mais realizar o seu interesse através da própria
força, o poder, a prerrogativa, a faculdade, o direito subjetivo de bater às portas do Judiciário para
exigir a solução do litígio que porventura pudesse estar envolvido.
Tal direito subjetivo de provocar a jurisdição denominou-se direito de AÇÃO. Mas, como ele é
exercido?
O direito de ação é exercido através de um ato processual chamado demanda. Portanto,
demanda é o ato processual pelo qual o autor exercita o direito de ação. Este ato materializa-se
através de um instrumento denominado petição inicial.
Mas, assim como se assegura ao autor o direito à tutela jurisdicional, o qual é exercido
por meio do direito de ação, ao réu é garantido direito correlato, dando-lhe a chance de
receber a prestação jurisdicional (direito à análise do mérito; de preferência, no sentido de
improcedência do pedido do autor – tutela jurisdicional negativa). A este direito dá-se o nome
de direito à defesa, previsto constitucionalmente no art. 5º, LV.
O direito de defesa é exercido através de alguns atos, quais sejam, a contestação e a
reconvenção, os quais se materializam também através de uma petição, que, por não mais ser inicial, é
chamada genericamente de petição interlocutória.
Oportunizado ao réu o direito de defesa, independentemente se ele o tenha exercido ou
não através de quaisquer daqueles atos, tem-se por formado o PROCESSO completamente.
Assim, o processo poder ser entendido como sendo a relação jurídica de direito público
(processual) que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência
ordenada de atos com vistas a um fim, qual seja, a sentença.

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As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e
formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais).
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O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se
instaurou em virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem
processos próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude
de um direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc.
Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o
chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de forma ou
instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou substancial, que
solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo.

1.1 Conceito de Direito Processual Civil

A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo Civil,


Processo Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem prática e
didática, conforme a natureza da lide posta em juízo.
Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina mais
robusta nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios que regem o
exercício conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da defesa pelo
demandado” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO).
Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do
exercício da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS; THEODORO JÚNIOR).
Por fim, uma das melhores conceituações é a trazida pelo processualista italiano
Chiovenda, para quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata do
complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA).
É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que
instrumentaliza (este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), devendo,
portanto, sempre ser afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma relação de
dependência do direito processual para com o direito material, o que, na verdade, não existe.
Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações
jurídicas entre os particulares, o direito processual visa regular uma das funções soberanas do
Estado (função jurisdicional). Dessa forma, ainda que a lide seja eminentemente de interesse
privado, há no processo sempre um interesse público, qual seja, a pacificação social e a
manutenção da ordem jurídica.
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1.2 Evolução Histórica do Direito Processual Civil

A história do Direito Processual Civil processo se desenvolveu em 3 fases: imanentista,


científica e instrumentalista.

1.2.1 IMANENTISTA (do Direito Romano até 1868)

Também conhecida por fase civilista ou privatista, a fase imanentista surgiu no


Direito Romano, tendo como principais expoentes Celso, Ulpiano e Savigny, e durou até meados
de 1868.
Durante toda a sua longa existência, o imanentismo foi “evoluindo”, razão pela qual pode
ser melhor compreendido em sub-fases, quais sejam:
a) primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais deviam ser
manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a demanda caso se
equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados).
b) período formulário => com a expansão do Império Romano, o manejo das 5 ações da lei ficou
limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e concedia uma
fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o objeto do conflito,
cabendo ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa – semelhante ao instituto
do Júri Popular). Já havia advogados e princípios do livre convencimento do juiz e do contraditório.
c) fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz como o único
investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser eminentemente ESCRITO,
compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua execução.
Porém, com a queda do Império, o processo civil sofreu um retrocesso ao ser influenciado
pelo direito do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo formalismo exacerbado, fanatismo
religioso e misticismos. Foi nesse contexto que surgiram os chamados “juízos de Deus”, “duelos
judiciais” e “ordálias”.
O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo
regras legais, não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o
cumprimento/realização da “prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito positivo. Não
se buscava a verdade real, mas a formal, pois se acreditava na INTERFERENCIA DIVINA nos
julgamentos (autênticos jogos de azar ou rituais de bruxaria).

Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito
desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito germânico,
formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até XVI.
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O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se
extraíram as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas
as ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de
obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre
convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente no
processo penal, depois no civil.
Conclui-se que, na fase imanentista, o direito processual era totalmente confundido com
o direito civil (privado e material). Portanto, havia uma grande confusão metodológica entre
ambos, negando-se a existência autônoma do processo, o qual se encontrava imanente, ou seja,
dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material e
vice-versa.
Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por exemplo, a
possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente a declaração de
inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também de que, ainda que
ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o pedido, negando a existência
do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente decretar a prescrição (perda da
pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a instauração do processo.

1.2.2 CIENTÍFICA (de 1868 a 1950)

Com o fracasso do imanentismo, as doutrinas alemã (expoentes: Oskar Von Bulow,


Windscheid) e italiana (Calamandrei, Chiovenda, Carnelutti, Liebman), desenvolveram a teoria
do processo como ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total
independência em relação ao direito material.
Enquanto este sempre teve uma configuração linear (sujeitos ativo/passivo; objeto – bem
da vida; e vínculo de direito material), o processo revela-se como uma relação jurídica triangular,
com elementos próprios e distintos (sujeitos ativo/passivo e o Estado-juiz; objeto – pedido; e
vínculo de direito processual). Assim, haveria duas relações jurídicas autônomas: a material e a
processual, as quais não seconfundiam.
Consequentemente, o direito processual passou a ser compreendido como ramo
autônomo e público, com institutos e princípios próprios. As provas deixaram de ser tarifadas e
passaram a ser valoradas pelo juiz segundo critérios próprios (deixando de atuar como expectador
da vitória do mais hábil), tendo amplos poderes, inclusive, na sua produção; etc.
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Todavia, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo,


deixando de servir ao direito material, o que criou excessos formalistas. Dessa forma, tal processo
era permeado por ideais iluministas e liberalistas, onde a propriedade individual, a autonomia da
vontade e a titularidade do direito de agir exclusiva ao titular do direito privado eram “a pedra de
toque”.

1.2.3 INSTRUMENTISTA (de 1950 aos dias atuais)

Por forte influência das doutrinas de Garth (EUA) e Cappelletti (ITA), os


intrumentistas ou instrumentalistas vão além dos autonomistas e veem o processo como
instrumento não só de realização dos interesses particulares, como também de pacificação
social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça, em tempo hábil e com o
menor dispêndio possível.
O processo deixa, então, de ser um fim em si mesmo, e passa ser considerado um meio, um
veículo para se atingir um fim, qual seja, a solução do litígio por meio de uma tutela jurisdicional
efetiva. Dessa forma, reaproxima-se o direito material do processual, sem, contudo, perder a
autonomia do processo.

1.3 História do Direito Processual Civil Brasileiro

Até a independência, vigorou no Brasil a legislação portuguesa, consistente nas chamadas


Ordenações do Reino (Ordenações Afonsinas, de D. Afonso V, de 1446; as Ordenações Manuelinas,
de D. Manuel, de 1521; e as Ordenações Filipinas, de Filipe II, de 1603). Tinham por principais
características:
a) forma escrita, o juiz só podia apreciar o que estava nos autos (verdade formal);
b) as partes não participavam da inquirição de testemunhas;
c) princípio do dispositivo: autor e réu eram os donos do processo, cuja movimentação era
privilégio das partes.
Em 1850, o Brasil editou o Regulamento n. 737, o primeiro Código Processual nacional, que
visava regular apenas as causas comerciais. Já no período republicano, o referido regulamento
alcançou também as causas cíveis, por força da alteração dada pelo Regulamento n. 763, de 1890.
Logo após, em 1891, a Constituição estabeleceu a divisão da Justiça Federal e Estadual, e,
consequentemente, o poder de legislar sobre processo para cada esfera da federação, dando
surgimento a um Código Federal e a vários Códigos estaduais, que acabaram por ser repetições do
primeiro.
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Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo exclusivamente
à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma comissão foi formada para a
elaboração de um código unitário, o que redundou no surgimento de nosso primeiro CPC (Código
de Processo Civil) em 1939.
Como bem nos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no CPC
de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, portuguesa
e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, ora
demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”.
Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do
Ministro Alfredo Buzaid, discípulo direto do processualista italiano Enrico Tullio Liebman
(radicado no Brasil no período da 2ª Guerra Mundial, vindo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973,
o qual sofreu, ao longo de sua vigência, várias alterações e reformas, todas na tentativa de se
alcançar, conforme pregam os instrumentalistas, um processo mais efetivo possível. O propósito
era abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão nos bem ensinado pela
tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo de resultados.
Todavia, mesmo tendo sofrido diversas alterações, tal código já não atendia os clamores
sociais da celeridade processual, bem como ignorava o amadurecimento do sistema de precedentes
jurisprudenciais, uma vez que os tribunais passaram a desenvolver cada vez mais mecanismos e
procedimentos com vistas a entrega de uma tutela jurisdicional efetiva.
Dentro desse contexto, surgiu no Senado Federal o PL n. 166/10, com o fim de elaborar um
novo CPC. De autoria de uma comissão de juristas presidida pelo então Min. do STF, Luiz Fux, e
subscritado pelo então presidente do Senado, José Sarney, teve por principal objetivo combater a
morosidade da Justiça, incorporando ao Direito brasileiro mecanismos consagrados em outros
países, como o incidente de resolução de demandas repetitivas, existente no Direito alemão.
Outro objetivo foi simplificar o processo civil, eliminando os recursos, como o agravo
retido e os embargos infringentes, bem como muitos procedimentos especiais, que muitas vezes
retardavam a aplicação da Justiça. Também teve por alvo fortalecer a conciliação extrajudicial,
além de processar o réu que deixar de comparecer injustificadamente à fase de conciliação à
condenação a ato atentatório à dignidade da Justiça, etc.
Assim, depois de mais de 4 anos de tramitação no Senado e na Câmara de Deputados, com
intensos debates no Parlamento, em audiências públicas e na comunidade jurídica, finalmente o
NCPC foi sancionado, com alguns vetos, em 16 de março de 2015 e publicado no dia seguinte,
entrando em vigor no dia 18 de março de 2016. O NCPC é dividido em 2 partes: uma Parte Geral,
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composta de 6 Livros; e uma Parte Especial, com 3 Livros, totalizando 1.072 artigos, incluindo aí as
Disposições Finais e Transitórias.

1.4 Fontes

O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde perenemente
nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, motivação.
Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos
fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem
(princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e aplicação
do direito.
Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre os
quais podemos destacar:

a) Constituição Federal => nela se encontram as normas fundamentais aplicáveis ao processo,


especialmente no rol do art. 5º, como, por exemplo, os princípios do devido processo legal (inc.
LIV), do contraditório e da ampla defesa (LV), da acessibilidade ao Judiciário (XXXV), da proibição
de obtenção de provas ilícitas (LVI), da celeridade ou da duração razoável do processo (LXXVIII),
além de regras acerca da organização e competência de julgar processos, em única ou última
instância, pelos juízes e tribunais (arts. 102 e ss).
Vale lembrar, nesse contexto, das emendas constitucionais. À guisa de exemplo,
podemos citar a EC 62/2009, que trata do novo regime dos precatórios, e a EC 66/2010, que
instituiu o divórcio direto, independentemente do prazo de separação.
Em virtude de vários preceitos processuais estarem consagrados constitucionalmente é
que se tem falado numa ‘constitucionalização do Direito Processual’, dando origem a uma subdivisão do
estudo deste ramo do direito em: Direito Constitucional Processual (consistente num conjunto
de normas de índole constitucional que visam garantir o processo, assegurando que este seja
mais justo) e Direito Processual Constitucional (consistente num conjunto de normas de
índole processual que se encontram na Lei Maior, objetivando garantir a sua aplicação e a sua
supremacia. Ex: previsão do mandado de segurança, mandado de injunção, recurso
extraordinário).

b) Leis Federais => de acordo com o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre
direito processual. Sendo assim, a maioria das leis processuais são federais, sendo a mais
importante a Lei n. 13.105/15, ou seja, o CPC. Mas há outras também relevantes como a Lei
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6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da locação/despejo);
Lei 12.016/09 (mandado de segurança) etc.

c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que
são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da União.
Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos de
apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na
imprensa oficial local.
Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm os
Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, desde que
não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, não há como se
negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual.

d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o
funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao
procedimento. Ex:. incidentes de competência dos tribunais, como os incidentes de assunção
de competência e de resolução de demandas repetitivas, cujo procedimento é o estabelecido nos
RI’s dos tribunais.

e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo o
sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em
institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no mundo
jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art.
373), a do livre convencimento motivado (art. 371) etc.

f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de
obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do NCPC, autor e
demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação,
respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos advogados
de descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova
admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase
postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir.

g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual Civil.
Ex:. Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Alexandre Câmara; Amaral Santos; Fidélis dos Santos;
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Dinamarco; Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Athos Gusmão
Carneiro; Frederico Marques; Ovídio Baptista; Marinoni, Talamini; Elpídio Donizete; Wambier;
Didier Júnior; Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizetti; Daniel Amorim
Assumpção Neves etc.

h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É inegável
a força das súmulas e da jurisprudência dominante dos tribunais (força dos precendentes),
principalmente dos superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos
fracassarem precocemente ou terem seus méritos julgados procedentes (providos)
monocraticamente pelo relator (art. 932, NCPC); ou, ainda, de considerar uma causa com
repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso extraordinário (art. 1.035, §3º) etc.

1.5 Normas fundamentais e aplicação das normas processuais

1.5.1 Normas fundamentais

Os artigos 1º a 12 do CPC consagram princípios e regras aplicável ao processo cível, senão


vejamos:

- art. 1º => de acordo com este artigo, hoje não é possível compreender o processo civil sem examinar
a CF. Isso é reflexo da força normativa da constituição, devendo as normas do CPC estar em
conformidade com a CF.

- art. 2º => consagra os princípios do dispositivo (da ação ou da demanda) e inquisitivo (ou impulso
oficial). Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da prática
dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Do princípio do
dispositivo derivam-se outros como o princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao
pedido (arts. 141 e 492).
As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de
cautela); art. 370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz de
mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo restringe-se à
propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à instrução do processo.
Obs: a abertura de processo de inventário de ofício não se afigura mais uma exceção no NCPC ao
princípio do dispositivo.
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Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente


porque cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª parte), pois
é interesse do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê das partes.

- art. 3º => princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual decorre do art. 5º, XXXV, CF. Garante a
todos o acesso ao Poder Judiciário, que não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir
uma pretensão, pois a jurisdição é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe
para si a responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma
medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer
situação.
Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um princípio
derivado, denominado de princípio do non liquet.
A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição a
todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, nasce para o
seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário.
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO (§§1º, 2º e 3º): os meios alternativos de solução de conflitos,
como a mediação, a conciliação e arbitragem.
A mediação e a conciliação, que podem ocorrer dentro ou fora do processo judicial, é uma
forma de solução de conflitos dada pelas próprias partes (autocomposição), embora seja auxiliada
e estimulada por um terceiro, o mediador ou o conciliador. A diferença entre elas está na existência
ou não de vínculo anterior entre as partes (art. 165, §§ 2º e 3º). De acordo com o novo CPC, a
conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por todos os operadores do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros
do MP), inclusive no curso do processo judicial (art. 3º, § 3º).
Já, na arbitragem, a solução é dada por um terceiro escolhido pelas partes, conhecido
como árbitro, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. A arbitragem foi
adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem,
onde as partes pactuam, por força da previsão em contrato da cláusula compromissória (pré-
lide), a arbitragem como meio de solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o
negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da jurisdição estatal (há quem defenda a
inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do acesso ao Judiciário e do juiz natural –
art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato ocorra, tais partes firmarão o
compromisso arbitral (pós-lide), o que na prática ocorre normalmente ao final da audiência de
conciliação na Corte.
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Segundo a Lei 9.307/96, a decisão do árbitro é uma sentença (título executivo judicial),
contra a qual não cabe qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua
publicação, caso tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe
tão somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas o poder jurisdicional de execução de suas
próprias decisões.
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física, capaz e de confiança
das partes; e que a arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direitos
patrimoniais disponíveis.

- art. 4º => este artigo contempla 3 princípios diferentes: o princípio da duração razoável do
processo; o da primazia da decisão de mérito; e o da efetividade.

O princípioda duraçãorazoável do processo (antes conhecido como princípio da celeridade) é o mais


recente princípio processual constitucional, inserido no art. 5º, inciso LXXVIII por meio da EC
45/04. Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente
necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não
significa que será mínima, pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma duração
razoável para se alcançar o melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o mais justo
resultado possível ao processo.
Já o princípio da primazia da decisão de mérito remete a ideia de que a solução de mérito é
prioritária em relação à solução que não o enfrenta, devendo o juiz evitar, sempre que possível, de
extinguir o feito em razão de nulidades processuais, deixando de analisar as questões principais.
Um exemplo disso é a previsão do art. 139, IX, do CPC, que diz ser dever do juiz determinar o
suprimento de pressupostos e o saneamento de outros vícios processuais. Outra disposição
aplicável é a do art. 321, que diz que, quando a petição inicial contiver defeitos corrigíveis, não
deverá o juiz indeferí-la sem antes dar oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias.
Por fim, de acordo com o princípio da efetividade do processo, as partes têm o direito à satisfação da
decisão. Garante-se o direito fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já
reconhecido. Afinal, não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. Dessa
forma, este princípio está muito relacionado à fase executória do processo de conhecimento e ao
processo de execução.

- art. 5º => princípio da boa fé processual, que está previsto no art. 5º, NCPC. Tal princípio impõe a
todo aquele, que de qualquer forma participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com
a boa-fé. Portanto, trata-se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às
14
partes, mas aos seus advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça.
Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê
no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta cláusula
geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a expressão: devido
processo leal).
O desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo
legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); responsabilidade
civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), do intérprete (art. 164); do
advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato atentatório à dignidade da justiça (ao
devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 774; e às partes que não comparecem
injustificadamente na audiência de conciliação ou mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de
evidência quando o réu abusar do direito de defesa (art. 311, I); etc.

- art. 6º => princípio da cooperação. Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do


inquisitivo separadamente, certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o
Novo Código de Processo Civil chama de princípio da cooperação.
Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de
processo: o modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o modelo
inquisitivo, o qual confere poderes ao juiz.
Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos dois
modelos é adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por exemplo, de
instaurar o processo e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes instrutórios.
Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo
cooperativo, segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes quanto o
juiz, devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e
efetiva. Estas são as palavras descritas no art. 6º, do NCPC.
Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só
do juiz, que, tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases,
comparticipam de todos os atos praticados do processo.
Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e
equilíbrio na condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e imparcial no
momento da decisão do processo (modelo inquisitivo).
O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveres de esclarecimento (os
demandantes devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), de
15

lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio se
revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, ou, antes
de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com lealdade e boa-
fé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes de decidir (art. 10); e de prevenção,
apontando deficiências nas postulações às partes, para que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321;
932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º).

- art. 7º => princípio da igualdade processual, também conhecido como paridade de armas,
compreende dois aspectos:
- Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às
partes. Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC.
- Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade seja
mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma igualdade
proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 58, §3º -
honorários proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 180);
prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173).
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao
princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais profiram
sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, impedindo que pessoas
que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes.

- art. 8º => de acordo com este artigo, o juiz deve atender aos fins sociais e às exigências do bem
comum (art. 5º LINDB); deve resguardar e promover a dignidade da pessoa humana e observar a
proporcionalidade, a razoabilidade (atualidades da CF), a legalidade, a publicidade e a eficiência
(art. 37 CF).

- art. 9º => consagra o princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF).


O contraditório também deve ser estudado sob dois enfoques ou aspectos:
• Jurídico – garantir o contraditório implica em dar à parte oportunidade de participar do processo
em igualdade de condições. Dessa forma, por exemplo, se a uma parte foi dado o direito de juntar
um documento no processo, à outra deve ser garantido o direito de sobre ele manifestar-se. Ou,
então, se à autora deu-se o direito de acionar o Estado-juiz formulando suas pretensões, ao
respectivo requerido deve ser dada oportunidade de responder aos termos da ação.

• Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras funções
estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no Executivo, por meio do
orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito do jurisdicionado de participar
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no processo com o fim de legitimar o provimento jurisdicional (isso decorre do Estado
Democrático de Direito).
A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o
requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. Nesse caso,
fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, já que ele só será
estabelecido num momento posterior do procedimento. É o que está estabelecido no parágrafo
único do art. 9º, cujo rol não é exaustivo (ex.: liminar possessória, liminar em despejo, etc.)
Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, na
medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de defesas.
Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de provar a sua tese
(antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso é que é ampla!

- art. 10 => Regra da proibição de decisão surpresa, que é, na verdade, verdadeiro desdobramento ou
concretizado do princípio do contraditório, já que deve o juiz, sempre antes de decidir, ainda
que relativamente à questões conhecíveis de ofício (inconstitucionalidade de lei, decadência,
incompetência absoluta, etc), consultar às partes para evitar decisões surpresas. Tal regra se
aplica em todas as instâncias, sob pena de nulidade da decisão.

- art. 11 => princípios da publicidade e da motivação/fundamentação (art. 93, IX, CF).


Previsto também no art. 189 do CPC, o princípio da publicidade consiste na garantia
fundamental de tornar públicos todos os atos judiciais. É, portanto, um instrumento de
proteção das partes contra juízos arbitrários e secretos, bem como de fiscalização popular aos
atos judiciais, tendo, assim, 2 dimensões: uma interna – publicidade para as partes; e outra
externa – publicidade para terceiros, salvo quando a defesa da intimidade ou o interesse social
exigir a restrição da publicidade apenas à interna.
Tais exceções estão mais bem descritas nos incisos I a IV do art. 189 do NCPC, exigindo,
portanto, que o processo corra em segredo de justiça nas seguintes situações:
- processos que exigir interesse público ou social;
- processos que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação (acabou
com a EC66/10), união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
- processos em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
- processos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde
que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
Em tais casos, restringe-se às partes e seus procuradores o direito de consultar os autos e
de pedir certidões (§1º), podendo o terceiro juridicamente interessado obter certidão do
dispositivo da sentença mediante requerimento (§2º).
17
Já o princípio da motivação ou da fundamentação das decisões judiciais exige que o juiz ou
tribunal, ao decidir, exponha os motivos, as razões que formaram o seu convencimento, sob pena
de nulidade. O art. 489, §1º trouxe um elenco de situações nas quais não se considera a decisão
judicial fundamentada, passível, portanto, de decretação de nulidade, que, nesse caso, se faz por
meio da oposição do recurso de embargos de declaração (art. 1.022, parágrafo único, II, CPC).

- art. 12 => Regra do respeito à ordem cronológica de conclusão. Os juízes e os tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (redação
dada pela Lei n. 13.256/16, que alterou o CPC/15). Tal regra prestigia a igualdade e a duração
razoável do processo; e somente se aplica às decisões finais (sentenças e acórdãos). Exceções (§ 2º).

1.5.2 Aplicação da norma processual no tempo e no espaço.

Quanto à aplicação da norma processual no espaço, aplica-se o princípio da


territorialidade (lex fori), ou seja, o exercício da jurisdição em território nacional rege-se pelas
normas processuais brasileiras, ressalvados os tratados internacionais (art. 13).
Já quanto ao tempo, a norma processual nova não retroage, aplicando-se imediatamente aos
processos em curso, com a preservação apenas dos atos processuais já praticados (tempus regit
actum). Aplica-se, portanto, o princípio do isolamento dos atos processuais.
Por fim, registra-se o caráter subsidiário (há norma, mas é incompleta) e supletivo (quando
há lacuna total de norma) do CPC em relação os demais processos, como o eleitoral e trabalhista,
administrativo.
18

2 JURISDIÇÃO

2.1 Conceito e características

Sabe-se que o Estado, com o fim da monarquia absolutista, em pleno Iluminismo, se


estruturou e se modernizou, consagrando a já aristotélica tripartição dos poderes, por meio dos
quais o Estado exerce as funções legislativa (responsável pela estruturação da ordem jurídica pela
elaboração das leis), administrativa (cujo papel é o de aplicar a lei na busca do bem
comum/coletivo) e jurisdicional (a qual faz atuar a vontade da lei no caso concreto, solucionando
as lides).
A função jurisdicional difere da legislativa, na medida em que esta é anterior ao caso
concreto, sendo exercida para prever casos ou situações gerais e abstratas; também difere da
função administrativa em que pese esta última não ser substitutiva à vontade das partes, mas
sim de iniciativa do próprio Estado na tutela do bem estar social mediante a aplicação de
programas e ações de governo.
Jurisdição, etimologicamente, significa dizer o direito. É, portanto, “a função pela qual o
direito é aplicável ao caso concreto”. Não obstante tal conceituação, há quem também a
identifique à atividade ou ao próprio poder estatal de decidir os litígios (Poder Judiciário). Neste
último aspecto, a jurisdição, por ser um monopólio estatal, equivale também a um dever, já que o
Estado não pode se eximir de solucionar ou de compor as lides que porventura os indivíduos da
sociedade, os quais estão proibidos de exercer a autotutela ou a justiça privada, possam estar
envolvidos.
A jurisdição caracteriza-se pela:
a) substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do
monopólio da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, que
não a observaram espontaneamente.
b) definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões judiciais
tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. Já as decisões
administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo Judiciário, exceto aquelas
fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito administrativo).
c) inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma
atividade desinteressada, imparcial e equidistante dos interesses das partes.
d) instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos legais
violados, ou seja, é um instrumento da sanção.

e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que seu
19
objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio Tornaghi

e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas sim a
pretensão, a pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido litígio.
Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos menores.

2.2 Princípios da jurisdição

A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam:

a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para
tanto (os juízes concursados).
b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro
de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites da
jurisdição, que estudaremos mais adiante).
c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos judiciais,
não podendo ser delegadas a outrem.
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos limites
da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado àquele de que
ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do país, entre os quais não
há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não se trata de delegação de
jurisdição, mas, sim, de competência.
Grande parte da doutrina entende que a arbitragem configura delegação da jurisdição
estatal a particulares (árbitros). No entanto, há entendimento no sentido de que, como
veremos, a arbitragem se enquadra no que Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais
(expressão utilizada na doutrina pátria por Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser
proferida uma
sentença, compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder de executá-la , tarefa esta
exclusiva do Estado.
d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o seu
fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se impõe,
independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato emitido por
um poder soberano do Estado.
e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a obrigação
de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O juiz não pode
deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF e art. 3º do NCPC – princípio da
inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe
20
dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB).
f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária
brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário.

2.3 Poderes da jurisdição

São poderes da jurisdição:


a) conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. Ou seja
compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, de prover a
regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de existência e de validade da
relação processual, das condições da ação e de recolher o material probatório.

b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo todos
aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se mediante os
atos de comunicação (citação, intimação etc).
c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de
utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do processo.
Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar alguém da sala
de audiência etc.
d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei diante
de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de controvérsia. Ao
decidir, o juiz deve observar as seguintes regras:
d.1) o juiz é obrigado a decidir – arts. 3º e 140 (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
non liquet);
d.2) excepcionalmente, o juiz julgará com equidade – art. 140;

d.3) o juiz decidirá o mérito nos limites do propostos pelas partes (a sentença tem que ser
congruente, adstrita ao pedido) – arts. 142 e 492;
d.4) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; d.5) o
juiz decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo - art. 371.
e) execução2 (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e
realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial.

f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de
cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável ou de

2
A melhor e mais moderna doutrina tem lembrado também do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá,
de ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da efetividade processual.
21
difícil reparação pela demora do processo (art. 297).

2.4 Classificação

Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está
previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa, que pode ser de rito comum (art. 318 a 512,
NCPC) ou especial (arts. 539 a 718, NCPC).
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é
aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm interesses
comuns.
Segundo a doutrina minoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista,
a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses
privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem
sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico
firmado pelas partes.
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio
(contenda) a ser resolvido pelo Estado.
Todavia, convém notar que, atualmente, grande parcela da doutrina filia-se a teoria
revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso
concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente homologando-o.
Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e jurisdição
voluntária através do seguinte paralelo:

CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA
Lide Interesses comuns
Ação Requerimento
Partes Interessados
Contraditório Sem contraditório
Processo Procedimento
Sentença Decisão homologatória
Coisa julgada Sem Coisa julgada
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3 COMPETÊNCIA

3.1 Conceito

Vimos que jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito no caso concreto, solucionando
o litigo.
Vimos também que, dentre outros, a jurisdição é regida pelo princípio da investidura,
segundo o qual só pode ser exercida por quem foi investido de tal poder, a saber, os juízes.
Portanto, todo juiz é dotado de JURISDIÇÃO, ou seja, é dotado do poder jurisdicional.
Entretanto, pela impossibilidade de os juízes exercerem tal poder em todo território
nacional ao mesmo tempo (não obstante a previsão do art. 16, NCPC3), é que o ordenamento
jurídico previu uma distribuição, uma repartição desse poder, em partes iguais ( na mesma
proporção), entre todos os juízes que compõe o Poder Judiciário.
A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina
COMPETÊNCIA.
Não há diferença substancial entre jurisdição e competência; comparando seria falar do
bolo e da fatia: a competência é a fatia, é uma fração da jurisdição.
ASSIM, competência é a quantidade de poder atribuído a determinado órgão judicial; é a
medida, a delimitação da jurisdição.

3.2 Limites da Jurisdição Nacional

O NCPC estabeleceu os limites da jurisdição nacional em seus arts. 21 ao 25, definindo a


competência internacional e a competência interna da autoridade brasileira.

3.2.1 Competência internacional

É a competência da autoridade judiciária brasileira para demandas que tenham algum


ponto de conexão com o Brasil. Pode ser concorrente (ou cumulativa) com as demais autoridades
judiciárias do mundo; ou exclusiva, com exclusão de qualquer outra.

3
Na verdade, quando o art. 16 do NCPC diz que “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o
território nacional....”, não quer dizer que os mesmos exercerão atividade jurisdicional em toda a extensão de nosso
país posto que é, por óbvio, fisicamente e humanamente impossível; mas está a se referir ao poder conferido a tais
órgãos de dizer o direito no caso concreto com eficácia em todo o país: não é concebível que um juiz profira uma
decisão que só produza efeitos na localidade onde a proferiu, mas sim em todo o território nacional.
23

a) competência concorrente ou cumulativa (arts. 21 e 22)


- causas que podem ser julgadas por tribunais brasileiros ou estrangeiros (previstas nos incisos do
arts. 21 e 22 – em geral, são causas relacionadas a direitos pessoais);
- se a causa for julgada por um tribunal estrangeiro, para que a sentença tenha efeitos e seja
executada no Brasil, ela deverá ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, CF);
- litispendência entre ação no Brasil e no exterior: é solucionada conforme o art. 24, NCPC.

b) competência exclusiva (art. 23)


- causas que somente podem ser julgadas por tribunais brasileiros (previstas nos incisos do art. 23,
normalmente ligadas a direitos reais sobre bens imóveis situados no Brasil, ou que impliquem em
partilha dos mesmos, como inventário, divórcio etc).
- caso o judiciário de outro país julgue uma das causas relacionadas no art. 23, NCPC, a sentença
estrangeira NÃO será homologada pelo STJ (art. 964, NCPC).

Obs: exclusão da justiça brasileira por convenção entre as partes: art. 25, NCPC.

3.2.2 Competência interna

a) Fixação da competência interna (artigo 43, NCPC)

“Art. 43 - Determina-se a competência NO MOMENTO do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo


irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente salvo quando suprimirem o
órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.”

Significa dizer que se fixa a competência do juízo no momento em que a petição inicial é
protocolizada ou distribuída (onde houver mais de um), ainda que posteriormente houver
modificações, como, por exemplo, alteração /correção do valor causa ou adiantamento de pedido
pelo autor, tais modificações não tem o condão de alterar a competência.
Consagra-se regra da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis), que é ressalvada
apenas quando houver supressão do órgão judiciário ou alteração de sua competência absoluta
(Ex: fim da Justiça do Trabalho, deslocando os processos para a Justiça comum; ou alteração da
competência das Varas de Família para abranger causas que versam sobre sucessões).
24

b) Critérios de distribuição/determinação da competência interna

A Constituição Federal de 1988 faz a grande 1º distribuição da competência interna ao


dividir o Judiciário em 5 “Justiças”: Justiça Estadual, Justiça Federal, Justiça do Trabalho,
Justiça Militar, Justiça Eleitoral, a depender da causa, ou seja, da natureza do litígio.
À Justiça do Trabalho incumbe, especialmente a solução dos litígios trabalhistas.
À Justiça Militar, aos litígios Militares.
À Justiça Eleitoral, cumpre solucionar apenas os litígios eleitorais.
Por darem solução à litígios específicos é que as chamamos de Justiça Especial.
Por exclusão, à Justiça Estadual e à Justiça Federal caberá a solução de litígios comuns, ou
seja, que não sejam trabalhista, eleitoral ou militar. Em virtude disso, são conhecidas por Justiça
Comum.
Dentro da chamada Justiça Comum, também por critério de exclusão e levando em
consideração a presença da pessoa da União Federal, o que não for competência da Justiça Comum
Federal (artigo 109, CF) será da Justiça Comum Estadual.
Mas ambas possuem vários órgãos jurisdicionais, cuja competência é distribuída, por sua
vez, através de 5 critérios legais (previstos no NCPC e nos Códigos de Organização Judiciária dos
Estados):

1º) Material (competência em razão da matéria) => leva em conta a natureza da causa, ou seja, a
qualidade da relação jurídica material. Exemplo: questões de família, falência, registro público,
criminais, precatórios, ambiental etc.

2º) Pessoal (competência em razão da pessoa envolvida no litígio): este é o critério utilizado pelo
legislador constituinte para definir a competência da Justiça Federal4, separando-a da Justiça
Estadual. Mas, ainda no âmbito desta, o critério também é utilizado quando nas causas estiverem
envolvidas a pessoa da Fazenda Pública do Estado ou do Município, prevendo, assim, em lei, a
criação de Varas Especializadas em Fazenda Pública Estadual ou Municipal.
Tal critério também é utilizado pelas Leis n. 10.259/01 e 12.153/09, que previram,
respectivamente, os Juizados Federais e da Fazenda Pública.

4
De acordo com o art. 45 do NCPC, em caso de intervenção de ente federal, o processo deverá ser remetido à justiça
federal, salvo nos casos de ações de recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente do trabalho e ações
sujeitas à justiça eleitoral e do trabalho. Súmulas 150, 224 e 254, STJ.
25

3º) Valor da causa => a competência é definida de acordo com o valor que se atribui à causa no
momento da propositura da ação (alterações posteriores não interferirão na competência). Assim,
a depender do valor, a causa será de competência de um ou outro órgão jurisdicional.
Vale lembrar os Juizados Especiais Cíveis Estaduais são competentes nas causas de até 40
salários mínimos (Lei n. 9.099/95) e os Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/01) e os da
Fazenda Pública (Lei n. 12.153/09) nas causas de até 60 salários mínimos em que estejam envolvidas
a Fazenda Pública da União, dos Estados ou dos Municípios, respectivamente.
Acima destes valores, a causa deverá ser processada necessariamente na Justiça Comum,
estadual ou federal. Para se evitar que a causa tramite na Justiça Comum, deverá então o autor
renunciar na petição inicial do valor excedente, seja de forma tácita (se JEC) ou expressamente (se
JEF ou JEFP).

4º) Funcional (competência em razão da função ou da hierarquia) => define-se de acordo com as
funções desempenhadas ou pela posição do órgão jurisdicional no processo, repartindo a
competência em competência de 1º grau, recursal; para ação principal e incidental (ex: art. 61,
NCPC); etc.

5º) Territorial (ou de foro) => causas distribuídas segundo a comodidade das partes ou pela
facilidade do processo (artigos 46 ao 53, NCPC). Leva em consideração o local onde a causa dever
ser ajuizada.
Há 2 (duas) regras gerais:

- domicílio do réu (art. 46) => para as ações fundadas em direito pessoal (obrigações) e em direito real
(propriedade etc) sobre bens MÓVEIS.
Claro que se o réu tiver mais de um domicílio, será competente o foro de qualquer deles(§1º);
se incerto ou desconhecido seu domicílio, poderá ser demandado onde for encontrado ou no
domicílio do autor (§2º); se tiver domicílio fora do Brasil, também poderá ser demandado no
domicílio do autor (§3º); ou, havendo 2 ou mais réus com diferentes domicílios, será competente o
foro de qualquer deles (§4º).

- situação da coisa (art. 47) => para as ações fundadas em direito real sobre bens IMÓVEIS, inclusive as
ações possessórias imobiliárias (§2º), embora sejam consideradas ações de direito pessoal.
ATENÇÃO: de acordo com o §1º do art. 47, se o litígio NÃO recair sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova,
será opcional ao autor ajuizar a ação real imobiliária no foro da situação da coisa, ou no do
26
domicílio do réu ou no foro de eleição. Porém, raramente veremos um litígio assim, pois quase
todas as ações reais imobiliárias versam sobre tais assuntos (Exemplo possível: ação real
imobiliária que discuta direito real de garantia sobre bem imóvel, ou seja, hipoteca).

- Foros Especiais:
✓ Ações relacionadas ao Direito das Sucessões ou em que o espólio for réu => foro dodomicíliodo autor da
herança (art. 48);
✓ Ações em desfavor de ausente => foro de seu último domicílio (art. 49);
✓ Ação em desfavor de incapazes => forodeseurepresentante ouassistente (art. 50);
✓ Ações em que os entes públicos são parte => foro do domicílio do réu (se o ente for autor), ou foro do
domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato, no da situação da coisa, ou no DF ou na capital do ente federado (se o ente for
réu) (arts. 51 e 52);
✓ Ações de família => foro do último domicílio do casal ou do réu, no caso de nenhuma das partes nele mais residir (se não tiver
filhos incapazes); ou do domicílio do guarda (se tiver filhos incapazes) (art. 53, I);
✓ Ação em que se pedem alimentos => forododomicílio doalimentando (art. 53, II);
✓ Ação para cumprimento de obrigação => foroondeaobrigaçãodevesersatisfeita(art. 53, III, d);
✓ Ação fundada no Estatuto do Idoso => foro da residência do idoso (art. 53, III, e);
✓ Ação de indenização (geral) => foro do lugar do ato ou fatoilícito (art. 53, IV, a);
✓ Ação de indenização em razão de delito ou de acidente de veículos => forodolugardofatoilícito OU do
domicílio do autor (art. 53, V).

c) Competência relativa e absoluta

Os 3 primeiros critérios (material, pessoal e funcional) são considerados critérios de


competência absoluta, ou seja, não pode a competência ser modificada pelas partes, pois é
determinada para atender o interesse público (art. 62, NCPC).
Já os 2 últimos critérios (valor da causa e territorial), via de regra, se referem à
competência relativa, ou seja, aquela que pode ser alterada pela vontade das partes, as quais
podem alterar o regime legal caso disponham em contrário através da chamada cláusula de
eleição de foro (art. 63, NCPC).

CUIDADO:
27

1) Nem sempre o critério territorial terá natureza relativa. Quando o artigo 47, caput e seu §2º
(ações possessórias imobiliárias) estabelecem a competência apenas no foro da situação da coisa,
não deixa opção para o autor, revelando-se, excepcionalmente, em um critério absoluto.
2) O mesmo deve ser dito em relação ao critério valor da causa no tocante à competência dos JF’s e
JFP’s, uma vez que suas respectivas leis (Lei n. 10.259/01 e Lei n. 12.153/09) estabelecem que se a
causa em que as Fazendas Públicas estão envolvidas não excederem a 60 salários mínimos e no
lugar estiver instalado o respectivo juizado, não terá o autor opção em ajuizar a ação na Justiça
Comum (Federal ou Estadual, perante a Vara da Fazenda Pública), sob pena de incorrer em
incompetência absoluta deste juízo.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA (art. 63)


(arts. 62, 64, §1º)
1 . Determinada no interesse público; 1. Determinada para atender interesse
particular;
2. Inderrogável pela vontade das partes; 2. Derrogável pela vontade das partes;
3. A respectiva incompetência deve ser alegada 3. A respectiva incompetência só pode ser
pelo réu, preferencialmente, em preliminar da alegada pelo réu em preliminar da contestação,
contestação. Mas, por ela ser determinada pelo sob pena de preclusão e prorrogação da
interesse público, pode ser alegada em competência;
qualquer tempo e grau de jurisdição (não está
sujeita a preclusão);

4. Pode ser conhecida de ofício. 4. Não pode ser conhecida de ofício (Súmula 33,
STJ) – salvo cláusula de eleição de foro
abusiva - §3º, art. 63.

Se a alegação de incompetência, absoluta ou relativa, for acolhida, a consequência é a


remessa dos autos ao juízo competente, conservando-se os efeitos das decisões proferidas pelo
juízo incompetente até que outra seja proferida pelo competente (art. 64, §§3º e 4º, NCPC). OBS:
Nos Juizados a consequência pode ser a extinção do processo.
28

d) Modificação (ou prorrogação) da competência (arts. 54 a 63)

Ocorre quando se amplia a esfera da competência de um órgão judiciário para conhecer de


certas causas que, ordinariamente, não estariam enquadradas em sua esfera de atribuição. Só é
possível a modificação de competência RELATIVA (art. 54) e ela pode ser:

- voluntária: quando as partes estabelecem foro de eleição para determinado negócio jurídico (art.
78, CC); ou quando o réu não alega a incompetência relativa no prazo da defesa (contestação).

- legal ou necessária: decorre da lei, que prevê a reunião de ações que tramitam em juízos
diferentes para o julgamento em conjunto perante o juízo prevento (ou seja, no juízo onde houve
o protocolo ou a distribuição da petição inicial – art. 59), evitando, com isso, decisões
contraditórias. Isso se dá em razão da conexão ou da continência.

d.1) Conexão (art. 55): reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
PEDIDO ou a CAUSA de pedir.
O §3º do art. 55 entendeu se tratar de conexas também duas ou mais causas que guardam
entre si um vínculo de semelhança de tal ordem que justifique a reunião delas num mesmo juízo
para evitar decisões contraditórias e racionalizar o trabalho do judiciário.
EXEMPLO: Alimentos e investigação de paternidade não são, a rigor, conexas, pois não
possuem o mesmo pedido ou causa de pedir. [1ª) dever alimentar decorrente da relação de
parentesco e do binômio necessário-possibilidade; 2ª) vinculo de filiação]. Há aqui, na verdade,
uma relação de prejudicialidade (o julgamento de 1 prejudica a da outra).
As ações somente são reunidas se ainda não tiver sido proferida sentença

d.2) Continência (art. 56): dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e a causa de pedir, mas o PEDIDO de uma, por ser mais amplo,
ABRANGE (contém) o das outras. Exemplo: ação em que se pede anulação de uma cláusula
contratual; e outra ação em se pede a anulação de todo o contrato (este último é mais amplo).
Se a ação continente (mais ampla) foi proposta anteriormente, a ação contida (menos
ampla) é extinta sem resolução do mérito. Por outro lado, se a ação contida foi proposta
primeiramente, as ações devem ser reunidas (art. 57).
29

e) Conflito de competência (art. 66)

Ocorre o conflito quando mais de 1 órgão judicial se considera competente ou incompetente


para julgar a mesma causa. Será:

- positivo => quando 2 ( dois) ou mais juízes só declaram competentes para a mesma causa.
- negativo => quando 2 ( dois) ou mais juízes de declaram incompetentes para a mesma causa,
atribuindo um ao outro a competência.

É um incidente suscitado pelas partes, pelos juízes conflitantes ou pelo Ministério


Público, para apurar a competência, cujo julgamento será sempre do tribunal, hierarquicamente
superior ao dos juízes onde se deu o conflito.
Decorre, portanto, do princípio do direito alemão kompetenz-kompetenz, pois é da competência
do juiz (tribunal) declarar a sua própria competência ou incompetência, e não de outro poder
estatal.
Se o conflito envolve:
- Tribunais superiores => compete ao STF;
- Tribunais inferiores (TRF x TJ); ou Tribunal e juízes a ele não vinculados; ou juízes de Tribunais
diferentes => STJ;
- Juízes do TRF => TRF;
- Juízes do TJ => TJ.
30
4 AÇÃO

4.1 Conceito e Natureza jurídica

A AÇÃO é o direito pelo qual a jurisdição é provocada, pois que ela é inerte.
Mas qual é a natureza jurídica da ação? É um direito:
- subjetivo, pois quando o direito objetivo previu o Judiciário como sendo o único dotado de poder
para solucionar os conflitos, em contrapartida, deu ao indivíduo a prerrogativa de chamar o
Estado para tal responsabilidade toda vez em que estivesse envolvido em algum litígio.
- público, exatamente porque provoca um dos poderes do Estado – o Judiciário.
- autônomo e abstrato, pois o direito de ação existe independentemente da efetiva ou concreta
existência do direito alegado, ou seja, ele é exercido em abstração do direito material litigioso,
aludindo o autor a ele hipoteticamente.

Como desdobramento desta teoria, surgiu a teoria eclética, de Enrico Tullio Liebman,
para quem o direito de ação existe em abstração do direito material, mas não é absoluto e
incondicionado, devendo o autor atender algumas condições, as chamadas de condições da ação,
quais sejam, o interesse de agir e a legitimidade das partes. Ou seja, seria necessário ao autor
aludir a um interesse previsto no ordenamento jurídico em face de alguém que
hipoteticamente fosse o sujeito passivo da relação material para que o Estado prestasse a
tutela jurisdicional.

Nesta lógica, a análise inicial do juiz a respeito se dá continuidade ou não ao processo (é


uma espécie de juízo de admissibilidade) seria meramente superficial, sem incorrer no erro de
adentrar na situação fática posta em juízo, ou seja, no mérito da causa (vertente da teoria eclética,
conhecida como teoria da asserção, adotada pelo STJ).

Sendo assim, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser considerada pelo próprio
Liebman como condição da ação, uma vez que a sua análise implicaria necessariamente numa
análise meritória.
E esta é a posição do atual CPC já que no seu art. 17 exige a observância apenas do
interesse e da legitimidade para se postular em juízo; e no art. 485, VI, estabelece que tal
inobservância fará com que o juiz não resolva o mérito. Em todos os casos, não se menciona mais o
pedido juridicamente possível, o que denota a ideia segundo o qual o mesmo passou a ser tratado
realmente como uma questão de mérito.
31
4.2 Condições da ação (legitimidade e interesse)

a) Legitimidade para a causa (ad causam) ou das partes (ativa e passiva) – arts. 17 e 18, NCPC.
Legitimidade é a capacidade específica para determinados atos da vida civil. O tutor, por
exemplo, embora maior e capaz, não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo
ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma, maiores e capazes, não poderão se casar entre
si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica para o ato.
A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão
capazes especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que
hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de Carnelutti, “a
pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e as da lide.
Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário,
respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário,
será considerado terceiro interessado, e não parte legítima.
Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade
é ordinária.

Entretanto, existem casos em que o ordenamento jurídico autoriza outrem, que não
titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver
correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação
processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade
extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz:
“ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico” (para Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier Jr, e a maioria esmagadora da doutrina, não
há necessidade de expressa previsão na lei, basta que tal autorização decorra do sistema).
Exemplos:
1) o Ministério Público na defesa os interesses sociais e individuais indisponíveis
(ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) –

art. 177, NCPC c/c art. 127, CF;


2) o sindicato, na defesa dos interesses da categoria – art. 8º, III, CF/88;
3) o condomínio, na defesa dos interesses comuns – art. 1.348, III, CC.

A legitimidade extraordinária, portanto, só é admitida excepcionalmente, quando


houver previsão legal, o que faz dela a exceção e não a regra.
32

b) Interesse de agir (ou processual, ou das partes)


Consiste na utilidade de obter um proveito, um resultado mediante o provimento
jurisdicional, bem como na necessidade de se recorrer ao Judiciário para obter este proveito. Está
previsto no art. 17, NCPC.
Ex: 1) ação de cobrança => expor o crédito, não documentado, e a impossibilidade de
obtê- lo diante da recusa de cumprimento espontâneo do devedor.
2) ação monitória => expor o crédito, porém baseado em prova escrita sem eficácia
de título executivo, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do
devedor.
3) ação de execução => expor o crédito, consubstanciado em um título executivo
extrajudicial, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do devedor.

4.3 Elementos (identificadores) da ação

A ação se identifica e se difere de outra pela existência e configuração de três elementos:


partes, causa de pedir e pedido.
Quando duas ou mais ações tiverem os mesmos elementos (mesmas partes, mesma causa
de pedir e mesmo pedido) diz-se que ocorreu litispendência (pendência de duas lides ou causas
idênticas), o que autorizará o juiz a extinguir o segundo processo (art. 485, V), já que o sistema
não admite a coexistência de duas ou mais ações idênticas (isso pode gerar a coexistência de
decisões conflitantes sobre a mesma causa, conflitantes, e, por consequência, trazer insegurança
jurídica).
A litispendência está conceituada no art. 337, §§1º, 2º e 3º, NCPC.

a) Partes
Quando se fala em partes, fala-se nas pessoas que estão envolvidas no litígio. E só se
envolvem em conflitos, em litígios, pessoas, ou seja, aqueles que são dotados de personalidade
jurídica. Nesse sentido, fala-se em capacidade de ser parte, que corresponde exatamente à
personalidade civil (arts. 1º e 2º do Código Civil). Portanto, podem ser partes autora e ré:
➢ a pessoa natural: seja criança, doente mental ou adulto normal etc;
➢ a pessoa jurídica: de direito privado (empresa, associações, fundações, sociedades de
economia mista e empresas públicas) ou de direito público (União, Estados, DF, Municípios,
Territórios, e suas respectivas autarquias e fundações públicas).
Na prática, muitos profissionais incorrem no erro de figurar como parte órgãos
33
governamentais ou departamentos, como Secretarias da Saúde, da Educação, Polícia Militar etc,
que, na verdade, não são dotados de personalidade jurídica. Nesse caso, a parte deverá ser a
pessoa jurídica a qual o respectivo órgão se vincula, ou seja, o Município, o Estado etc. Por se
tratar de uma ficção, ou seja, de uma abstração, deverá ser representada legalmente (art. 75).
➢ os entes derpersonalizados: como a massa falida, a herança jacente ou vacante, o espólio e o
condomínio, que a própria lei (art. 75, V, VI, VII, XI, NCPC, respectivamente) excetuou,
permitindo que figurem como partes.
Mas, não basta a capacidade de ser parte. É necessário ter a capacidade de estar em juízo ou
processual, o que não é privilégio para todos que se envolvem em litígios. A capacidade de estar em
juízo corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02. Portanto, apenas aqueles que
são habilitados à prática de todos os atos da vida civil é que podem estar em juízo (art. 70, NCPC),
Do contrário, é preciso que a parte esteja representada, quando se tratar de absolutamente
incapaz; ou assistida, quando relativamente incapaz (art. 71, NCPC).
É por isso que se lê, por exemplo, nas petições de ação de conhecimento com pedido de
investigação de paternidade, ou de alimentos, o seguinte: “FULANINHO DE TAL, neste ato
representado por sua genitora, FULANA DE TAL....”.
Por outro lado, pessoas jurídicas NÃO dependem de representante legal para estarem em
juízo pois já possuem tal capacidade desde a sua constituição ou registro. Ou seja, diferentemente
das pessoas físicas que só adquirem capacidade anos após à aquisição da personalidade, as
pessoas jurídicas adquirem capacidade concomitantemente à personalidade.
No entanto, por serem ficções ou abstrações da lei, dependem de pessoas físicas para se
fazerem presentes em seus atos. Tal representação, ou melhor, presentação, é feita na forma do
art. 75 do CPC.

b) Causa de Pedir
Tratam-se das razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido.
Segundo a doutrina, a causa de pedir pode ser de duas espécies: remota ou próxima.
A remota diz respeito aos fatos, que podem ser constitutivos (que dão vida à vontade da
lei, ou seja, fazem nascer o direito a que se alega – ex: empréstimo, ato ilícito); extintivos (fazem
cessar uma vontade da lei, extinguindo um direito – ex: pagamento, remissão de dívida);
modificativos (tendem a alterar a constituição de um direito – ex: alegação de parcelamento de
dívida); ou impeditivos (circunstância que impede a constituição de um direito – ex:
incapacidade, simulação, erro etc.).
É importante a diferenciação dos fatos, pois que, segundo o art. 373 do CPC, o autor tem
o ônus de provar apenas os fatos constitutivos, e o réu os demais, mesmo porque, obviamente, só
34
a ele interessa alegar extinção, modificação ou impedimento à direito. Normalmente, o autor
justifica a declaração, a constituição ou a condenação à prestação de um direito seu, através dos
fatos que o constituem.
Já a causa de pedir próxima diz respeito aos fundamentos jurídicos que embasam o pedido.
Não se quer dizer aqui o fundamento legal, o dispositivo da lei, pois não há necessidade de indicar
ao juiz a norma violada. Segundo a velha máxima romana, “juria novit cúria”, o juiz conhece o direito.
Por conseguinte, os fundamentos jurídicos são as consequências jurídicas que extraem dos fatos.
Por exemplo, se o locatário não paga o aluguel, a consequência jurídica é o seu despejo.
No processo civil, adota-se a teoria da substanciação, que exige do autor, na petição inicial, a
indicação dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima), conforme o
inciso III do art. 319. Opõe-se a esta a teoria da individuação, segundo a qual basta ao autor indicar
apenas os fatos OU apenas os fundamentos jurídicos.

c) Pedido
O pedido pode ser dividido em duas espécies: o imediato e o mediato.
O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que pode ser de
conhecimento ou de execução. Especificamente considerando os efeitos produzidos pela
sentença de conhecimento, o pedido pode consistir em um(a):
=> declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica (ação declaratória, positiva ou
negativa – art. 19, I, NCPC);
=> constituição ou desconstituição de uma relação jurídica (ação constitutiva ou desconstitutiva);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação dar quantia (ação condenatória);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de
dinheiro), ordenando-o (coerção indireta) a prestá-la, sob pena de sofrer alguma medida de
efetivação indireta (como as multas – astreintes) e até crime de desobediência (ação mandamental);
=> a condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de
dinheiro), determinando a adoção de medidas de sub-rogação, mediante coerção direta
(como busca e apreensão remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva; etc), caso o réu não cumpra espontaneamente o direito reconhecido nesta
mesma decisão (executiva latosensu).

Estas duas últimas ações (mandamental e executiva latosensu) não passam de condenações
atreladas com medidas de efetivação, razão pela qual são conhecidas como ações ou
processos sincréticos (pois há conhecimento + execução na mesma decisão). São também
conhecidas como tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e de entrega de coisa,
35
respectivamente previstas nos arts. 497 e 498 c/c art. 536, §1º, NCPC, em contraponto a
chamada tutela genérica (art. 499 do NCPC), hoje uma grande exceção no processo civil
moderno.
Por outro lado, o pedido mediato é o bem jurídico de direito material que se pretende seja
tutelado pela sentença (o despejo, o pagamento, a nulidade do contrato etc).
Diferem-se na medida em que o pedido imediato tem conteúdo processual, dirigido
contra o Estado (pois só ele pode entregar a tutela jurisdicional), e o mediato tem conteúdo
material, dirigido contra o réu (quem pode entregar o bem de direito pleiteado).
Vê-se, portanto, que a AÇÃO é classificada tomando por base o pedido imediato, já que
ela é o direito à tutela jurisdicional, não levando em conta o pedido mediato, que a ele não se
vincula (autonomia e abstração da ação).
36
5 PROCESSO

O processo completa a trilogia processual, pois, provocada a jurisdição pela ação, a


vontade da lei se concretizará mediante o processo, que atua como um instrumento da jurisdição.

5.1 Processo e procedimento

PROCESSO é a relação jurídica processual, por isso de direito público, que une autor, juiz e
réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência ordenada de atos, com vistas a um fim, qual
seja, a entrega da tutela jurisdicional justa e efetiva.
Portanto, o processo apresenta 2 aspectos:
- interior ou intrínseco => o processo é a relação jurídica que se instaura e se desenvolve entre autor,
juiz e réu.
- exterior ou extrínseco => o processo se revela num conjunto de atos concatenados visando a
sentença, a que denominamos de procedimento.
À título de ilustração, podemos afirmar que enquanto o processo é o instrumento, o
VEÍCULO conduzido pelas partes e pelo juiz rumo à sentença; o procedimento é o CAMINHO,
o CURSO, o ITINERÁRIO pelo qual o processo passa para chegar a esse destino.
Vários são os caminhos ou itinerários, ou seja, procedimentos, estabelecidos pela lei, para
se chegar à solução final da lide, dentre os quais podemos classificar: comum e especial.
O procedimento comum é aquele adotado quando não há para a causa previsão de
procedimento especial, seja no próprio código ou na lei especial (art. 318, NCPC). O rito comum é,
portanto, a regra geral, sendo aplicado subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e
ao processo de execução.
O Código prevê também os procedimentos especiais, seja de jurisdição contenciosa
(consignação em pagamento, exigir contas, monitória, possessórias, inventário e partilha etc, que,
normalmente, após algumas providências próprias específicas, caem no procedimento ordinário),
seja de jurisdição voluntária (divórcio e separação consensuais, herança jacente; arrecadação dos
bens do ausente; interdição etc) – arts. 539 a 718 e 719 a 770, respectivamente.

Leis especiais também regulam procedimentos especiais, como o do mandado de segurança


(Lei n. 12.016/09), o das causas de competência dos Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01;
12.153/09) etc.

5.2 Sujeitos da relação processual

São sujeitos do processo (a relação jurídica processual é triangular):


- AUTOR: que ocupa o pólo ativo, pois foi quem procurou a jurisdição pelo exercício da ação.
37
- RÉU: que ocupa o pólo passivo e que vai responder pela ação.
- JUIZ: que está numa posição soberana, porém equidistante das partes, pelo fato de exercer a
jurisdição.

Os dois primeiros sujeitos (autor e réu) são conhecidos como PARTES. Logo, concluímos
haver no processo apenas duas partes: a ATIVA e a PASSIVA.
O conceito de partes é importante na medida em que determina os efeitos da sentença, os
quais, regra geral, só alcançam elas, e também porque as diferenciam do chamando terceiro. Aliás,
essa é a inteligência do artigo 506 do NCPC, in verbis: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros”.
Entretanto, quando a lei autoriza é possível ao terceiro ingressar, intervir no processo como
parte. Nesse caso, o terceiro interveniente deixará de ser mero terceiro, adquirindo regra geral a
condição de parte, o que incluir o fato de ser alcançado pelos efeitos da sentença. São espécies de
intervenção de terceiros previstos no NCPC: a assistência (arts. 119 a 124); a denunciação da lide
(arts. 125 a 129); o chamamento ao processo (arts. 130 a 132); o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e o amicus curiae (art. 138), os quais ainda serão mais tarde
estudados.
O MP também pode figurar como parte quando atuar na defesa de interesse coletivo.
Nesse caso, a sua atuação dar-se-á como substituto processual, posto que a sua legitimidade é
extraordinária (artigo 177 do NCPC).
Coisa diversa é quando o MP atua como fiscal da ordem jurídica (custos legis) quando a causa
versar interesse de menor questão de estado ou interesse público (artigo 178 do NCPC). Ele o fará
não na condição de parquet ou de terceiro, mas atuará como uma espécie de amicus curiae (amigo da
corte).
Advogados, peritos, assistentes técnicos, oficial de justiça, etc, JAMAIS poderão ser
entendidos como partes. O primeiro é figura indispensável à administração da justiça e os últimos,
auxiliares da justiça.

5.2.1 Das Partes e Procuradores

a) Capacidade processual e postulatória

Para o processo se desenvolver VALIDAMENTE é necessário, dentre outros pressupostos,


que as partes tenham capacidade processual e capacidade postulatória.
Em outras palavras: elas, para estarem em juízo, para praticarem os atos processuais, devem
ser dotadas de capacidade civil e estarem representadas por um advogado regularmente inscrito na
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OAB e dotado de poderes para tanto mediante procuração (vide arts. 105 e ss, CPC – contéudo da
procuração – poderes para o foro em geral e poderes específicos), salvo se for demandar em causa
própria.

ATENÇÃO: Dispensa de advogado: nos JEC’s (causas de 1ª instância de valor não excedente a 20
salários mínimos); e nos JEF’s e JEFP’s (também só na 1ª instância, até o teto máximo – 60 salários
mínimos).

Por serem pressupostos processuais, o juiz poderá analisá-las de ofício, e, caso não estejam
presentes, deve ele, mediante suspensão do processo, fixar prazo para que o defeito seja sanado,
sob as consequências do art. 76 do NCPC (extinção do processo ou revelia).
Cumpre ainda, dentro do assunto da capacidade processual, já estudado, fazer as seguintes
e últimas observações:
- capacidade do incapaz sem representante (ou os interesses deste colidem com os daquele), do
réu revel preso e o citado fictamente (por edital ou com hora certa) - art. 72, NCPC.
O juiz nomeará um curador especial para tais pessoas, sendo tal função exercida pela
Defensoria Pública, o qual pode praticar todos os atos de defesa do curatelado, tais como
oferecer contestação, interpor recurso, produzir prova, opor embargos à execução (Sum. 196
STJ), etc.

- capacidade processual das pessoas casadas (arts. 73 e 74 do NCPC):

Como regra, a pessoa casada tem capacidade processual, mas, para ações reais imobiliárias,
o cônjuge necessita do consentimento do outro (autorização marital ou outorga uxória),
exceto se casado pelo regime da separação absoluta de bens. Se o consentimento não pode ser
dado ou não é dado por injusta razão, o cônjuge deve pedir o suprimento do consentimento ao
juízo de família (art. 74).
Por outro lado, os §§ 1º e 2º do art. 73 tratam de demandas em que há litisconsórcio
necessário entre os cônjuges (ambos devem figurar no polo passivo).
Havendo prova da união estável nos autos, também haverá necessidade de
consentimento/ citação do companheiro (§3º, art. 73).

b) Substituição processual e sucessão processual

Substituição processual ocorre quando a lei permite que alguém em nome próprio,
pleiteia direito alheio. Por exemplo, quando o MP atua na defesa de direitos coletivos, difusos
39
ou individuais homogêneos, onde o verdadeiro titular do direito não é o MP, mas a coletividade,
que está por ele substituída. Tem a ver com a legitimidade extraordinária prevista como
exceção no artigo 18 do NCPC.

Já a sucessão processual, permite que, no curso do processo, seja em virtude da morte da


parte (causa mortis), ou seja, pela transferência em vida do objeto litigioso para terceiro (inter vivos),
ocorre uma alteração no pólo ativo ou passivo (a depender do caso).
Há uma sucessão processual, pois que um terceiro sucederá a parte, ingressando no processo
em seu lugar, assumindo o pólo ativo ou passivo. CUIDADO: pois o sucessor não é substituto
processual; ele pleiteia em nome próprio direito próprio, visto que passa a ser novo titular do
direito ou da obrigação.
A confusão terminológica é frequente porque, na sucessão, em sua essência, ocorre uma
substituição de partes, saindo uma para outra assumir o seu lugar.
Mas uma coisa é SUBSTITUIÇÃO DE PARTES, e a outra coisa bem diversa é a
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL.
No 1º caso, trata-se de SUCESSÃO PROCESSUAL.
No 2º caso, LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA.
Feitas tais diferenças, cumpre-nos notar que o NCPC trata a sucessão como uma exceção,
uma vez que o artigo 108 proclama que “no curso do processo, somente é lícita a sucessão voluntária
das partes nos casos expressos em lei” (regra da perpetuatio legitimationis).
E tais casos estão previstos nos artigos seguintes: art. 109, que trata da sucessão por ato inter
vivos, e art. 110, que trata da sucessão causa mortis.
Na sucessão inter vivos o adquirente da coisa ou o cessionário do direito SÓ poderá ingressar
em juízo, substituindo ou sucedendo o alienante ou cedente, que é a parte original no processo, se
a parte contrária o consentir (§ 1º). Por outro lado, se esta não concordar, o terceiro adquirente ou
cessionário não sucederá a parte original, que permanece no processo, mas poderá intervir como
seu assistente litisconsorcial (§2º).
Já na sucessão causa mortis, a substituição ocorrerá pelo espólio ou pelos seus sucessores
(depende se já houve ou não a partilha) que deverão se habitar. Para tanto, o processo será
suspenso (artigo 313, §1º e 2º).
Por fim, os artigos 111 e 112 tratam da substituição de seus procuradores, seja por revogação
do mandato (iniciativa da parte) ou pela renúncia do mandato (iniciativa do advogado).

c) direitos e deveres das partes e de seus procuradores

O artigo 77 do NCPC enumera vários deveres das partes e dos seus procuradores, os quais
40
podem ser resumidos no dever geral de procederem com lealdade e boa-fé processual.

Destacam-se os deveres dos incisos IV e VI, quais sejam, o dever de cumprir e não criar
embaraços ao cumprimento das decisões judiciais (que cabe à parte e não ao seu representante
judicial - §8º) e de não agir em atentado processual (alterar ilicitamente a situação de fato,
induzindo o juiz a erro), os quais importam em ato atentatório à dignidade da justiça (Contempt of
Court).
Neste caso, impõem-se à parte (e não aos advogados, defensores públicos ou membros do
Ministério Público - a responsabilidade destes se dá no âmbito administrativo - §6º) uma multa de
até 20% o valor da causa (§2º) ou, se esse for irrisório ou inestimável, até 10 salários mínimos (§5º), a
qual será revertida à União ou ao Estado (que a receberá mediante execução fiscal depois de
inscrita na dívida ativa), especificamente aos fundos de modernização do Poder Judiciário - art. 97,
NCPC (§3º).
No caso do atentado, além da multa, o juiz deverá determinar o retorno ao estado de
fato anterior e pode proibir a parte de falar nos autos até que isso ocorra (§7º).

c.1) Responsabilidade das partes por dano processual – arts. 79 a 81 NCPC

Enquanto no art. 77, acima citado, o NCPC lista os deveres das partes e seus procuradores
(exceto nos casos dos já comentados incisos IV e VI, que implicam em ato atentatório à dignidade
da justiça), no art. 79 e, principalmente, no art. 80, ele prevê as hipóteses que configuram o seu
desrespeito, reputando a parte ou interveniente como litigante de má-fé.
Portanto, nestes casos, deverão eles ser condenados, a requerimento ou de ofício pelo juiz,
em litigância de má fé, sujeitando-se, de acordo com o art. 81:
- a uma multa superior a 1% e inferior a 10% do valor atualizado da causa ou, se esse for irrisório ou
inestimável, até 10 salários mínimos, a qual será revertida à outra parte, que foi sua vítima (art. 96,
NCPC);
- à indenização à parte contrária dos prejuízos que ela sofreu (o juiz deve fixar o valor da
indenização; não sendo possível, será liquidado);
- à honorários advocatícios e todas as despesas efetuadas pela parte vítima.

c.2) Despesas processuais e honorários advocatícios – arts. 82 a 97 NCPC

Algumas observações deverão ser feitas:


- em regra, cada parte adianta as despesas dos atos que requerer ou realizar (att. 82, caput);
41

- o autor além de prover as despesas de seus atos, pagará também as despesas de atos
praticados pelo juiz e os requeridos pelo MP, quando este atuar como fiscal da ordem jurídica
(§1º);
- quanto aos honorários periciais, a parte que requereu a perícia efetua o pagamento; mas se a
perícia for requerida por ambas as partes ou determinada de ofício pelo juiz, os honorários são
rateados (art. 95 NCPC);
- o vencido será condenado, além do principal, a pagar ao vencedor as despesas que este antecipou
(§2º, art. 82), bem como os honorários ao advogado do vencedor – art. 85 (os chamados “honorários
de sucumbência”). ATENÇÃO: honorários de sucumbência ≠ honorários contratuais;
- em caso de sucumbência recíproca, as despesas serão distribuídas entre as partes
proporcionalmente (art. 86);
- em caso de desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido, as despesas e honorários serão
pagos pela parte responsável pelo ato abdicativo (art. 90);
- em caso de atos requeridos pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público (quando for parte)
ou pela Defensoria Pública, não há exigência de antecipação do pagamento das despesas. Ao
final, se elas forem vencidas, deverão reembolsar ao vencedor as despesas que ele tiver pago (art.
91, NCPC).

c.3) honorários de sucumbência (art. 85, NCPC):

Como se viu anteriormente, a parte vencida será condenada a pagar honorários de


sucumbência em favor do advogado da parte vencedora da demanda.
Os honorários de sucumbência são fixados entre 10 e 20% do valor da condenação ou do
proveito econômico obtido ou sobre o valor atualizado da causa ou por apreciação equitativa (§§ 2º
e 8º), levando em consideração alguns critérios definidos na lei (grau de zelo do profissional; lugar
de prestação do serviço etc). ATENÇÃO: sendo vencida a Fazenda Pública, o percentual é variável a
depender da faixa da condenação (incisos I a V do art. 85), e, sendo de valor inestimável ou
irrisório o proveito econômico, o juiz fixará por apreciação equitativa (§8º).
Mesmo quando o advogado atua em causa própria ele tem direito a honorários de
sucumbência, se for o vencedor (§ 17). Também tem direito a honorários de sucumbência o
advogado público (§19).
O prolongamento do processo, em razão da interposição de recurso, importa em
majoração dos honorários (§ 11).
Se a sentença for omissa quanto aos honorários e transitar em julgado, é possível ao
advogado propor ação autônoma visando à condenação (§ 18).
42

c.4) Gratuidade da justiça – arts. 98 a 102, NCPC

A gratuidade pode importar em (art. 98, §§ 1º, 5º e 6º, NCPC):


- isenção de todas as despesas,
- isenção de despesas de atos processuais específicos,
- redução de percentual das despesas,
- pagamento parcelado das despesas.

Se a parte beneficiária da gratuidade for vencida, a ela se atribuirá o ônus da sucumbência,


mas somente haverá execução se a situação de insuficiência for alterada no prazo de 5 anos (art.
98, §§ 2º e 3º, NCPC).

O pedido de assistência pode ser feito em qualquer fase do processo (petição inicial,
contestação, em recurso etc), por pessoa natural ou jurídica, e o juiz somente deve indeferi-lo se
houver prova nos autos quanto à capacidade econômica da parte (art. 99, NCPC).
A parte tem direito à gratuidade mesmo quando está representada por advogado
particular (art. 99, § 4º, NCPC).
Quando o benefício da gratuidade é concedido, a parte contrária pode impugnar esse
direito, a fim de que o juízo o revogue – art. 100 NCPC.
Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação
caberá agravo de instrumento, exceto de resolvida em sentença, quando então caberá apelação
(art. 101).
Confirmada a denegação ou revogação da gratuidade, ou até sobrevindo o trânsito em
julgado da referida decisão, a parte deverá efetuar o recolhimento das custas processuais (art. 101,
§2º e art. 102).

5.2.2 Pluralidade de Partes (ou Litisconsórcio)

a) Conceito e previsão legal


É o fenômeno processual consistente na pluralidade de partes litigantes no mesmo pólo da
relação processual, ou seja, a possibilidade de duas ou mais pessoas litigarem, no mesmo processo,
em conjunto, ativa ou passivamente.
De acordo com o art. 113 do NCPC, isso é possível quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigação relativamente à lide => aqui é o direito
material, que lhes são comuns que vai permitir a formação do litisconsórcio. Ex: solidariedade
43
ativa ou passiva, vários credores solidários acionam do mesmo devedor, ou vários devedores
solidários sendo acionados pelo credor comum.

II) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir => basta a coincidência com
o objeto ou com a causa de pedir. Isso para evitar decisões contraditórias e também por razão
de economia processual. Ex. vítimas de um mesmo acidente automobilístico demandando
contra o responsável por perdas e danos.

III) ocorrer afinidade de questão por um ponto comum de fato ou de direito => não se trata do
mesmo fato, mas de fatos semelhantes, análogos. Ex: Ações de cobrança movida pelo síndico de
condomínio em face de dois ou mais condôminos.

b) Espécies de litisconsórcio:

b.1) quanto ao número de litigantes:


- ativo: mais de um litigante no pólo ativo (A, B x C);
- passivo: mais de um litigante no pólo passivo (A x B,C);
- misto: mais de um litigante em ambos os pólos do processo (A, B x C,D).

b.2) quanto ao momento em que se forma:


- inicial: concomitante com o processo - é a regra;
- ulterior: se forma no curso do processo. Ex: aquele que ocorre quando falece uma parte e se
habitam vários herdeiros, em sucessão causa mortis.

b.3) quanto à uniformidade da decisão para os litigantes:


- unitário: quando a decisão deva ser dada de modo uniforme para todos os litisconsortes. Isso
ocorre pelo fato de os litisconsortes participarem da mesma relação jurídica material cujo objeto
seja indivisível. Ex: dois proprietários de uma vaca; ação reivindicatória por pessoas casadas em
regime de comunhão; ação de obrigação de fazer contra dois arquitetos contratados para elaborar
um projeto.
- simples: quando a decisão não tenha que ser uniforme para todos os litisconsorciados.

Interpretando o art. 117 do NCPC, conclui-se que, no litisconsórcio simples, cada um é


considerado como litigante distinto (as condutas de um não beneficiam nem prejudicam o outro);
não se podendo afirmar o mesmo em relação ao litisconsórcio unitário, onde os atos e as omissões
44
de um não prejudicam os outros, mas podem beneficiar.

b.4) quanto à obrigatoriedade de sua formação:


- necessário: quando somente se pode formar validamente o processo com a presença de todos
os litisconsortes no processo. Sua formação é obrigatória. De acordo com o art. 114 do NCPC,
isso ocorrerá quando:
• a lei prever (Ex: art. 73, §1º, NCPC – cônjuges nas ações ali previstas);
• a relação jurídica controvertida assim exigir: é o caso do litisconsórcio unitário (se a
decisão deva ser dada de modo uniforme a todos os litisconsortes, por consequência, a sua
formação é obrigatória).

Conclui-se, assim, que todo litisconsórcio unitário é necessário5, mas nem todo
litisconsórcio necessário é unitário. É possível que ele seja necessário e simples (Ex:. usucapião – a
ação é necessariamente promovida contra o proprietário do bem usucapiendo e seus
confrontantes, mas a decisão será diversa para cada qual deles).

- facultativo (art. 113): é contrário ao necessário, ou seja, é aquele cuja formação não é obrigatória; é
determinado pelas partes por razões de economia processual. Isso significa que, se o autor
preferir, poderá entrar sozinho com sua ação ou demandar contra cada réu separadamente em ação
distintas.
ATENÇÃO: Vale registrar que não existe litisconsórcio necessário ATIVO, mas só passivo,
pois ninguém é obrigado a ir a juízo juntamente com o outro, sob pena de violação ao
princípio constitucional do acesso ao Judiciário (ademais, o direito de ação é uma faculdade para
o seu titular). Por outro lado, quanto ao litisconsórcio simples, poderá este ser ativo ou passivo.

c) Limitação do número de litigantes (litisconsórcio multitudinário)

De acordo com o §1º do art. 113, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, limitar o número
de litigantes, na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
Obviamente que essa limitação só pode ocorrer no litisconsórcio facultativo, e o pedido de

5
Exemplo de litisconsórcio unitário e facultativo seria nas ações coletivas (ação popular, ação civil pública etc) em
que os co-legitimados, apesar de poderem ou não se consorciarem no pólo ativo (Ex: MP e Defensoria Pública), estão
em substituição processual defendendo o direito do mesmo substituído, a coletividade. Ora, a decisão, nesse caso, deve
ser a mesma a todos aqueles que pertencem à coletividade (não é possível, por exemplo, garantir a proteção ao meio
ambiente a uns, e não a outros, pertencentes ao mesmo grupo).
45
limitação INTERROMPE o prazo para a resposta, que só recomeçará a fluir da intimação da
decisão que o solucionar (art. 113 §2º). Mas, enfim, o que o referido dispositivo prevê é o
DESMENBRAMENTO do processo com litisconsórcio multitudinário em tantos outros processos,
que continuarão a tramitar no mesmo juízo, em conexão.

d) Contagem de prazo processual para litisconsortes passivos:

- a partir da juntada do último AR ou do último mandado citatório cumprido (art. 231, §1º);
- aplicação do artigo 229 (prazo em dobro se os litisconsortes estiverem litigando com
advogados diferentes pertencentes a escritórios de advocacia distintos), salvo embargos do
executado (artigo 915, § 3º, NCPC).

5.2.3 Intervenção de terceiros

Vimos, segundo o art. 506 do NCPC, que “a sentença faz coisa julgada às partes em as quais é dada, não
prejudicando terceiros”. Todavia, existe a possibilidade destes serem atingidos de forma reflexa pela
coisa julgada, razão pela qual se justifica o seu ingresso no processo, desde que tenham interesse
ou vínculo jurídico no processo. A tal fenômeno processual dá-se o nome de intervenção de
terceiros.

a) Conceito
Portanto, trata-se da possibilidade de um terceiro ingressar no processo, assumindo a
condição de parte, desde que demonstre interesse jurídico ligado à relação jurídica material
discutida. A intervenção de terceiros repercute:
• na esfera subjetiva – pois amplia as partes.
• na esfera objetiva – pois amplia o objeto do processo, agregando pedido novo, formulado pelo
terceiro interveniente.
Justamente por isso NÃO CABE intervenção de terceiros:
• nos Juizados (artigo 10, Lei 9.099/95)
• na ADI, ADC e ADPF, pois são processos objetivos, onde se discute apenas direito em tese, e não
direito subjetivo das partes.

b) Espécies
São espécies ou modalidades de intervenção de terceiros previstas no NCPC:
46
- Assistência (arts. 119 a 124);
- Denunciação da lide (arts. 125 a 129);
- Chamamento ao processo (arts. 130 a 132);
- Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e
- Amicus Curiae (art. 138).

c) Características
A intervenção de terceiros pode ser provocada ou espontânea, a depender se a iniciativa é
de uma das partes do processo ou do próprio terceiro. Seguindo essa linha de raciocínio, pode-se
dizer que, enquanto a assistência é uma espécie de intervenção de terceiro espontâneo, todas as
demais modalidades são intervenções provocadas.
Interessante notar que, quando o terceiro intervém, ele ingressa em um dos pólos do
processo como uma parte a mais, coadjuvante à parte original, formando um litisconsórcio
ulterior.

d) Da Assistência (arts. 119 a 124)

A assistência é uma intervenção espontânea, que pode ocorrer em qualquer dos pólos do
processo (ativo ou passivo) e em qualquer fase do processo, fundada em interesse jurídico6 (e não
econômico, social ou corporativo).

Divide-se em duas espécies:

➢ assistência simples (arts. 121 e 122) => é aquele que intervém para auxiliar o assistente na busca
pela vitória no processo, por manter com ele uma relação jurídica conexa àquela posta em juízo,
sofrendo os efeitos da sentença por via reflexa. Assim, o interesse do terceiro é indireto, ou seja, não é
vinculado diretamente ao mérito da causa Ex: sublocatário.
Os poderes do assistente simples são mais limitados, pois, embora possa reforçar os
argumentos do assistido, requerer provas e recorrer, não pode se opor à transação, à desistência, à
renúncia ou ao reconhecimento do pedido feito pela parte principal. É considerado como parte
meramente auxiliar.

6
As pessoas jurídicas de direito público, quais sejam, a União, Estados, DF, Municípios respectivas autarquias e
fundações públicas, poderão, nas causas cuja decisão passa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
INTERVIR, independentemente da demonstração de interesse jurídico. (artigo 5º, caput e parágrafo único da Lei
9469/97). A doutrina considera essa forma de intervenção anômala, pois se dispensa o interesse jurídico. Para Athos G.
Carneiro, não se trata de intervenção de terceiros, mas de intervenção da pessoa jurídica de direito público como amicus
curiae, que, diante da complexidade técnica ou política da causa, intervém para dar um suporte maior à decisão do juiz.
Essa intervenção não é para ser assistente, mas para auxiliar o juízo, elucidando os fatos.
47
➢ assistência litisconsorcial (arts. 123 e 124) => considera-se assistente litisconsorcial aquele que
intervém no processo assumindo condição de parte, em litisconsórcio unitário ulterior com a
parte principal (chamada de assistida), sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele
e o adversário do assistido.
Aqui o interesse do terceiro é direto, isto é, o assistente defende um direito que lhe é próprio, pois se
trata na verdade de um co-legitimado que, por algum motivo, não iniciou o processo como parte.
Ex: a esposa, que autorizou o marido a mover ação real imobiliária, decide depois ingressar no feito.

Ao contrário do assistente simples, seus poderes não são limitados na medida em que
detém interesse próprio. Portanto, o assistente litisconsorcial pode assumir posição contrária ao
do assistido que desiste, renuncia, confessa, transige do recurso.
Ademais, o assistente litisconsorcial fica submetido aos efeitos da coisa julgada (ao
contrário do assistente simples que sofrerá apenas uma eficácia preclusiva da intervenção), só
podendo discutir o que ficou decidido, em futura demanda processo, quando se tratar das
exceções previstas no art. 123 do NCPC.

e) Da Denunciação da Lide (arts. 125 a 129)

É uma ação secundária, de natureza condenatória, ajuizada em face de um terceiro, no


curso de outra ação condenatória principal, com o objetivo de garantir, caso venha a perder a
demanda, o direito de regresso contra ele nos mesmos autos.
EXEMPLO:
A comprou um carro de B, que foi apreendido, por ter sido clonado;
A move uma ação de indenização contra B;
B denuncia da lide à C (terceiro), que lhe vendeu o veículo;
São duas demandas: a de A x B e a de B x C.

Atenção: só haverá necessidade de se julgar a denunciação se o denunciante restar


sucumbente na ação principal. Nesse caso, o denunciado, que até então litigava ao seu lado
com vistas à vitória, passa a ser seu réu a partir de então.7

7
Interessante notar que o denunciado será, em relação à parte adversária do denunciante, um legitimado
extraordinário, defendendo direito alheio em nome próprio, já que não tem qualquer vínculo ou relação jurídica com
ele; e, em relação ao denunciante, um litisconsorte unitário, porque ou ambos ganham ou perdem, e, futuramente, seu
réu, como já dito.
48
A denunciação da lide pode decorrer de:

- direito resultante da evicção (inciso I, art. 125) – é o exemplo acima citado. Cuidado: Só se admite
uma única denunciação da lide sucessiva promovida pelo denunciado contra o seu sucessor
imediato (§2º); ou seja, só cabem no máximo 2 denunciações no processo. Por outro lado, não é
cabível a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante imediato, mas a
qualquer um dos alienantes anteriores (por conta da revogação do art. 456 do CC pelo art. 1.072, II
do NCPC).

- direito a indenização em ação regressiva (inciso II, art. 125) – abrange todos os casos em que o réu,
vencido no processo, poderá voltar-se contra aquele que, pela lei8 ou contrato9, terá que indenizá-
lo pelos prejuízos decorrentes da sua sucumbência.

A denunciação da lide é uma opção da parte, consoante o §1º do art. 125 (fim à antiga
celeuma trazida pelo CPC de 73, que dizia ser “obrigatória”). Isso significa que quem não faz a
denunciação pode exercer o direito de regresso em uma ação autônoma.

f) Do Chamamento ao Processo (arts. 130 a 132)

É uma intervenção provocada apenas pelo réu quando este na qualidade de devedor
solidário, pretender que os co-obrigados sejam também declarados responsáveis na mesma
sentença.
Justifica-se pelo vínculo existente solidariamente passiva entre o réu-chamante e o
terceiro- chamado. Consequência: formação de um litisconsórcio facultativo passivo simples.
O objetivo é a obtenção de um título judicial (sentença) para que aquele que saldou a
dívida possa exigi-la, na sua integralidade, do(s) devedor(es) solidário(s) nos mesmos autos (art.
132).

g) Do Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica (arts. 133 a 137)

Consiste no reconhecimento judicial, mediante requerimento da parte ou do MP, de que os


bens dos sócios ou administradores da pessoa jurídica respondam pelas dívidas ou obrigações da

8
Exemplo de obrigado pela lei a indenizar o denunciante => o Estado, que vier a perder uma demanda de reparação de
danos, pode denunciar o servidor que, em seu nome, acabou praticando o ilícito (art. 37, parágrafo 6º, CF; e art. 43, CC).
9
Exemplo de obrigado pelo contrato a indenizar o denunciante => o segurado, que perde a demanda de reparação de
danos acidente de veículo, poderá denunciar a seguradora, que, pelo contrato de seguro, deverá reembolsá-lo dos
prejuízos sofridos com a sucumbência.
49
empresa demandada, desconsiderando provisoriamente a personalidade jurídica desta e
permitindo o ingresso no processo dos sócios, garantindo-lhes o contraditório e a ampla defesa (art.
135).
A desconsideração inversa também foi expressamente prevista pelo NCPC (§2º do art. 133):
busca-se patrimônio do sócio na pessoa jurídica, permitindo o ingresso desta quando aquele
estiver sendo demandado (Ex: em ações de divórcio quando o marido mistura seus bens, cuja
meação a esposa tem direito, no patrimônio da empresa, escudando-se por detrás desta).
Importante considerar que o que o NCPC regulamenta é o procedimento para que a
desconsideração seja efetuada, mas, como bem aponta o §1º do art. 133, os requisitos para admissão
estão estabelecidos pela lei material (ex.: art. 50, CC – teoria maior: deve-se provar o abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial; e art. 28,
§5º, CDC – teoria menor: tais elementos são presumidos em favor do consumidor, que é
hipossuficiente).
Não cabe desconsideração de ofício; ela depende de requerimento da parte ou do MP,
quando intervém como fiscal da ordem jurídica (art. 133, caput).

É cabível em qualquer fase do processo do processo de conhecimento, incluindo as fases de


cumprimento de sentença e recursal, e no processo de execução, os quais ficarão suspensos
enquanto o incidente não é analisado e decidido (por decisão interlocutória, contra a qual cabe
agravo de instrumento; e se for decisão do relator, caberá agravo interno).
De acordo com o §4º do art. 134, o requerimento de desconsideração deve ser
fundamentado e feito por petição interlocutória, pois, caso contrário, se for feito junto com o
pedido principal na petição inicial, dispensa-se logicamente a instauração do incidente, não
havendo que se falar em intervenção de um terceiro, mas sim de citação do sócio ou da pessoa
jurídica como réus (art. 134,
§2º).

h) Do Amicus Curiae (art. 138)

É o amigo da Corte, do tribunal, ou seja, é alguém que intervém para auxiliar o órgão
jurisdicional na solução do conflito, que fornece elementos para que este decida de forma melhor.
São fundamentos para a intervenção do amicus curiae:
- relevância da matéria;
- especificidade do tema objeto da demanda;
- repercussão social da controvérsia.
Exemplos de intervenção no STF: pesquisa com células tronco, aborto de fetos anencéfalos,
50
punição criminal pela publicação de livros de apologia ao nazismo, ensino religioso em escolas
públicas, programa “Mais Médicos”, biografias não autorizadas, importação de pneus usados, etc.
Podem ser amicus curiae:
- pessoa natural,
- pessoa jurídica,
- órgão despersonalizado,
- entidade especializada.
O amicus curiae deve ter representatividade adequada.
A atuação pode ser determinada de ofício pelo julgador ou requerida pela parte ou pelo
próprio amicus curiae.
51
6 ATOS PROCESSUAIS (arts. 188 a 293, NCPC)

6.1 Conceito

Como é espécie do gênero “atos jurídicos”, ato processual é toda ação humana que produz
efeito jurídico em relação ao processo. É praticado no processo e produz efeitos sobre ele. Ex:
petição inicial, citação, contestação, provas, decisões judiciais, recursos, autocomposição, etc.

6.2 Classificação

O NCPC classifica os atos processuais levando em conta o sujeito que os pratica. Assim,
temos: atos das partes, do juiz e dos serventuários da justiça.

a) atos das partes (autor, réu, terceiros intervenientes e o MP) => podem ser:
- postulatórios => são aqueles que buscam um determinado provimento judicial. Ex:. petição inicial;
petição interlocutória; contestação; reconvenção; réplica do autor; recurso etc.
- instrutórios => objetivam carrear provas aos autos do processo, a fim de formar o convencimento do
juiz. Ex: juntada de documento; arrolamento de testemunhas; formulação de quesitos para o perito
etc.
- dispositivos => são atos que envolvem a disposição de uma faculdade processual ou direito. Ex:
desistência da ação, do recurso; renúncia do direito material; reconhecimento do pedido;
transação etc. Em regra, os atos das partes têm eficácia imediata; todavia, os atos dispositivos
necessitam de homologação do juiz para surtirem seus devidos efeitos (art. 200, parágrafo
único).
- reais => traduzem em realizações processuais concretas, materiais. Ex:. exibir uma coisa;
comparecer a uma audiência.

b) atos do juiz => o NCPC fala em “pronunciamentos” do juiz, ao invés de atos. São eles: a sentença,
as decisões interlocutórias e os despachos (art. 203).
- sentença (§1º) => é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485
(extinção sem resolução do mérito - reconhecimento de vício processual insanável) ou 487
(resolução do mérito - julgamento de procedência ou improcedência do pedido; homologação
de desistência ou renúncia; reconhecimento de prescrição ou decadência etc), põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
52
Percebe-se que dois critérios foram utilizados em tal conceito pelo legislador: o material
(conteúdo da sentença – 485/sentença terminativa ou processual; 487/sentença definitiva ou
de mérito) e o finalístico (a diferença, neste último, em relação à redação mais remota do CPC
anterior, é que o legislador de 2015 sabiamente referiu-se ao fim do procedimento cognitivo, e não
ao processo, vez que é sabido ser possível o processo continuar mesmo após a sentença, como nos
casos em que há interposição de recurso e/ou o cumprimento da sentença).

- decisão interlocutória (§2º) => por critério residual, é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não seja sentença. Em razão disso, pode surgir certa dificuldade em se distinguir
sentença de decisão interlocutória, pois que, em ambas, o juiz decide (seja questão de mérito 10 ou
não). Mas é simples identificá-los porque sempre que o juiz decidir pondo fim à fase cognitiva ou
ao processo de execução será sentença; do contrário, será decisão interlocutória.
Ex.: concessão ou indeferimento de liminar; reconhecimento ou não de suspeição/
impedimento; concessão ou indeferimento dos benefícios da assistência; admissão de intervenção
de terceiros; indeferimento de uma prova etc.

- despachos (§3º) => são os todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou
a requerimento da parte. Não tem conteúdo decisório: apenas impulsionam o processo,
determinando a prática de atos para a continuidade da marcha procedimental. Ex: despacho que
apenas ordena a citação do réu; a intimação das partes ou de testemunhas; que designa audiência
etc.
CUIDADO: quando o “despacho” tiver conteúdo decisório. Neste caso, trata-se, na verdade,
de decisão interlocutória (Ex: “despacho” que recebe a petição inicial; que defere ou indefere
antecipação dos efeitos da tutela; que saneia o processo, deferindo ou indeferindo provas a serem
produzidas na audiência de instrução). Na prática, infelizmente é muito comum os juízes e os
tribunais nomearem de despachos aquilo que são verdadeiras decisões interlocutórias.
Por fim, vale registrar que, quando a decisão for proferida pelo tribunal 11, que atua em
colegiado, haverá uma conjugação de opiniões de seus vários membros. Desta forma, suas decisões
são denominadas de acórdãos (art. 204). Diz-se acórdão, pois deriva do verbo “acordar”, não no
sentido de despertar, mas sim de fazer acordo.

10
A doutrina sempre reconheceu a possibilidade de o juiz proferir decisão interlocutória de mérito, embora seja uma
situação incomum. Um grande exemplo, inclusive reconhecido pela lei (art. 356, §5º c/c art. 1.015, II, NCPC), é o
julgamento antecipado parcial do mérito, pois que o juiz, neste caso, julga antecipadamente um dos pedidos sem por
fim à fase cognitiva, uma vez que o processo prosseguirá em relação aos demais pedidos não julgados. Outro exemplo:
renúncia parcial.
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É possível os desembargadores e ministros também proferem decisões de forma individual, e não em colegiado,
ocasião em que não estarão proferindo acórdãos, mas sim decisões monocráticas.
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c) atos dos serventuários da justiça: podem praticar alguns atos ordinatórios, movimentando o
processo, mas estão sujeitos à revisão pelo juiz quando necessário (art. 203, §4º). Ex: abertura de
vista às partes; juntada etc.

6.2.1 Disciplina legal dos atos processuais

Segundo o NCPC, os atos processuais:

a) não dependem de forma determinada (não solenes) => se a lei expressamente exigir
determinada forma, são considerados válidos os atos, ainda que praticados de outro modo, se
atingirem sua finalidade (princípio da instrumentalidade das formas – art. 188). Obs:. Prática por
meios eletrônicos (Lei n. 11.419/06 e arts. 193 a 199, NCPC).

b) são públicos => de acordo com os arts. 93, IX, CF e 189 do NCPC, os atos processuais são
públicos. Correm, porém, em segredo de justiça apenas os processos em que:
- exigir o interesse público ou social;
- os que dizem respeito ao casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
- em que constem de dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; e
- que versem sobre arbitragem, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem.
Vale lembrar que, nestes casos em que o processo tramita em segredo de justiça, somente as
partes e seus advogados terão acesso aos autos, podendo o terceiro pedir certidão (§1º, art. 189).

c) podem ser objeto de negócio jurídico processual => é a possibilidade de as partes, desde que
plenamente capazes e versar o processo sobre direito que admite autocomposição, ajustar atos e
procedimentos cuja eficácia repercutem no processo. Pode ser celebrado antes ou durante o
processo.
O CPC/1973 previa alguns negócios processuais típicos: cláusula de eleição de foro,
convenção sobre o ônus da prova, suspensão do processo por convenção das partes, etc. O
CPC/2015 aumentou o rol dos negócios típicos e criou a atipicidade da negociação processual em
seu art. 190. Exemplos de negócios atípicos válidos: instância única, criação de impenhorabilidade
ou de prova atípica, ampliação ou redução de prazos, etc.
O negócio processual só poderá ser recusado pelo juiz, de ofício ou a requerimento, nos
casos de:
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- invalidade (exemplos de negócios inválidos: acordo sobre competência absoluta, criação de


recursos, acordo para não intervenção do MP, etc.);
- inserção abusiva em contrato de adesão;
- alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade (ex: o consumidor, o
trabalhador etc).
Por fim, registra-se que está intimamente ligado aos negócios processuais o chamado
calendário processual, que nada mais é do que um agendamento dos atos processuais de
comum acordo entre juízes e partes, fixando um calendário para a prática dos mesmos (art.
191). O calendário dispensa a intimação das partes quanto aos atos processuais e audiências,
cujas datas tiverem sido designadas no calendário.

d) devem ser praticados com o uso da língua portuguesa => documento em língua estrangeira só
será juntado nos autos se acompanhado de versão para a língua portuguesa feita por via
diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (art. 192, parágrafo
único).

e) devem ser praticados em determinado tempo e lugar => de acordo com o art. 212 do NCPC, os
atos processuais devem ser realizados, em regra, em dias úteis, das 6h às 20h, e na sede do juízo
(art. 217).
Entretanto, citações, intimações e penhoras podem ser realizadas nos feriados, férias
forenses ou fora do horário legal, independentemente de autorização judicial (§2º, art. 212).
O protocolo da petição em autos físicos deve observar o horário de funcionamento do
fórum ou tribunal (§3º); mas no caso da prática eletrônica de ato processual, pode ela ocorrer em
qualquer horário até às 24 horas do último dia do prazo, observando-se o horário vigente no juízo
onde o ato vai ser praticado (art. 213).
ATENÇÃO: de acordo com o art. 214 do NCPC, não se praticarão atos processuais
durante as férias forenses e nos feriados (além dos previstos em lei, incluem sábados, domingos
e dias em que não haja expediente forense), exceto as citações, intimações e penhoras (como já
ressalvado anteriormente), e as tutelas de urgência (tutela cautelar e tutela antecipada).

6.3 Prazos processuais


É o espaço de tempo em que o ato processual da parte pode ser validamente praticado. Está
delimitado pelo termo inicial (dies a quo) e pelo termo final (dies ad quem).

6.3.1 classificação
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Os prazos podem ser classificados:

a) quanto à origem:
- legais => exemplo é o art. 335, que prevê o prazo de 15 para a resposta do réu. Importa esclarecer
que se a lei não prever ou o juiz não fixar, o prazo para a prática do ato processual será de 5 dias,
conforme o §3º do art. 218.
- judiciais => é o prazo fixado ou determinado pelo juiz. Exemplos: art. 76 (sanar incapacidade
processual ou irregularidade de representação); art. 815 (prazo para satisfazer obrigação de fazer).
- convencionais => são aqueles estabelecidos em contrato. Ex:. art. 191 (calendário processual); art.
313, II (suspensão do processo por convenção entre as partes).

b) quanto à possibilidade de prorrogação:


- peremptórios => são aqueles que não podem ser alterados pelo juiz, nem pelas partes.
Normalmente, os prazos legais são peremptórios.
- dilatórios => estes podem sofrer alterações pela vontade das partes ou do juiz, atendidos os limites
fixados na lei. Ex:. suspensão do processo por convenção das partes não pode ultrapassar 60 dias
(art. 265, §3º); prazo para o autor oferecer a réplica ou impugnação à contestação (arts. 350 e 351),
uma vez que o seu não oferecimento não lhe gera qualquer ônus.

c) quanto às consequências de seu descumprimento:


- próprios => são os dirigidos às partes e terceiros, passíveis de consequências processuais (Ex:
preclusão temporal12 – perda da faculdade de praticar o ato processual pelo decurso do prazo).
- impróprios => dirigidos aos juízes (art. 226 e 227) e aos serventuários da justiça (art. 228), cuja
inobservância não gera consequências jurídicas, mas apenas de natureza disciplinar. Obs:. MP,
como custos legis, segundo a nova lei do mandado de segurança, está sujeito a prazo impróprio (Lei n.
12.016/09).

12
Existem também outras preclusões:
• Lógica – impossibilidade de praticar um ato por já ter a parte praticado outro incompatível com ele. Ex:. ao
contestar, o réu alega a nulidade ou falta de citação, sendo que o comparecimento espontâneo supre a nulidade ou a
falta da citação (§1º do art. 239, NCPC). Assim, o ato de contestar precluiu por ser incompatível com a defesa da falta
ou nulidade de citação (o inciso I do art 337 do NCPC deveria ser revisto pelo legislador).
• Consumativa – perda da faculdade de praticar novamente um ato processual ou de complementá-lo por já tê-lo
praticado anteriormente, reputando-o, portanto, consumado. Ex:. interpor recurso novamente, relativa à parte da
decisão que não se recorreu na 1ª oportunidade, só porque ainda remanesceu prazo para tanto.
• Judicial (pro iudicato) – impossibilidade de o juiz, depois de proferir a decisão, altera-la (exceção: art. 494, I e II; art.
331; e art. 332, §3º - juízo de retratação).
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6.3.2 Suspensão nas “férias forenses”

De acordo com o art. 220 do NCPC, suspende-se o prazo processual no período de 20/12 a 20/01,
salvo nas hipóteses previstas no art. 215 (procedimentos de jurisdição voluntária; ação de alimentos e
processos de nomeação ou remoção de tutor ou curador; e os que a lei determinar).
Em que pese o NCPC falar de “férias forenses”, o Judiciário não interromperá suas atividades
no referido período, uma vez que o art. 93, XII, da CF, com a nova redação dada pela EC 45/05,
acabou com as férias coletivas de juízes e tribunais.
O que ocorre é uma mera suspensão dos prazos processuais, não havendo audiências ou
sessões de julgamento, mas os juízes, membros do MP, da Defensoria Pública e Advocacia Pública
exercerão suas atividades normalmente, paralisando apenas quando nos feriados ou nos dias de
férias individuais.
ATENÇÃO: Suspensão ≠ Interrupção de prazo:
✓ havendo suspensão, o prazo deve ser restituído por tempo igual ao que faltava para sua
complementação (ex.: semana da conciliação) – art. 221, NCPC
✓ em caso de interrupção, o prazo é restituído integralmente (ex.: oposição de embargos
de declaração – art. 1026, NCPC).

6.3.3 Prerrogativa de prazo dobrado


- MP (art. 180);
- Fazenda Pública da União, Estados, DF e Municípios, o que compreende suas respectivas
autarquias e fundações públicas (art. 183);
- Defensoria Pública e advogados de escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas (art. 186, caput e §3º);
- Litisconsortes representados por diferentes advogados, pertencentes a escritórios de advocacia
distintos (art. 229). A dobra não se aplica em autos eletrônicos (§2º), tampouco para oferecer
embargos à execução (art. 915, §3º). Se houverem 2 réus e 1 deles oferece defesa, cessa também a
contagem em dobro.

6.3.4 Contagem dos prazos

Na contagem de prazo processual em dias, computar-se-ão somente os dias úteis (art. 219)
e a regra é que se desconta o dia do início (dies a quo) e computa-se o dia do término (dies ad quem), de
acordo com o art. 224, NCPC.
Se o dia do início ou do término cair em dia em que o expediente forense for encerrado
antes ou iniciado depois da hora normal, ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica,
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prorroga-se para o próximo dia útil (§1º, art. 224).

Conforme art. 231 NCPC, considera-se dia do começo do prazo:


- o da juntada do AR (aviso de recebimento) aos autos, quando a citação ou intimação ocorrer pelo
correio;
- o da juntada do mandado aos autos, quando ocorrer por oficial de justiça (inclusive na citação
com hora certa - §4º);
- a data do ato do escrivão ou do chefe de secretaria, quando ocorrer “em balcão”;
- o dia útil seguinte ao fim do prazo marcado pelo juiz, quando ocorrer por edital;
- o dia útil seguinte à consulta, quando ocorrer de forma eletrônica;
- a data da publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça;
- o da juntada da comunicação feita pelo juízo deprecado (art. 232 NCPC), ou, não sendo feita tal
comunicação, da juntada da própria carta no juízo deprecante, quando a citação ou intimação
ocorrer por carta precatória, rogatória ou de ordem;
- o dia da carga, quando a intimação ocorrer por meio da retirada dos autos.

Havendo vários réus, o prazo para contestar só tem início após a última citação (§1º, art.
231). No caso de intimação, o prazo de cada uma é contado individualmente (§2º).

6.4 Comunicação dos atos processuais

O juízo põe os interessados a par do que ocorre no processo e os convoca a praticar os atos
que lhes compete. A comunicação normalmente é feita pelo escrivão e pelo oficial de justiça por
ordem do juiz.
Os atos processuais podem ser realizados por meio de videoconferência ou outro recurso
tecnológico.
Em comarcas contíguas ou da mesma região metropolitana, o oficial de justiça pode
realizar citações, intimações, penhora e outros atos executivos – art. 255 NCPC.

6.4.1 Citação

a) Conceito => de acordo com o art. 238, é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual.
Como se depreende do art. 239, a citação é pressuposto de validade da relação processual
(completa a formação da relação jurídica processual), e não de existência, já que é possível o
processo findar-se antes da citação, v.g., indeferimento liminar da petição inicial, improcedência
liminar do pedido (art. 332), situações em que se considera excepcionalmente o processo válido,
58
pois a citação ficará postergada ou diferida.

Sendo pressuposto de validade, conclui-se, então, que, se houver defeito de citação, o


processo será NULO. Tal nulidade, por ser insanável, pode ser arguida pelo réu em qualquer
momento do processo: na ocasião da contestação; na fase recursal; na fase executória; depois
do trânsito em julgado pela ação declaratória de nulidade (querella nullitatis insanabilis); e até mesmo
via mandado de segurança (RSTJ 46/528).
Será considerada inválida a citação quando ela for realizada sem observar as formalidades
legais (art. 280) ou quando forem violadas as vedações previstas no art. 244 e 245, NCPC.
Todavia, conforme o art.239, §1º, o comparecimento espontâneo do réu, sem se manifestar
sobre o vício, supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para
apresentação de contestação ou de embargos à execução.
A citação deve ser feita pessoalmente ao demandado, mas também pode ser feita ao seu
representante legal ou ao seu procurador (se da procuração constar poder especial para receber
citação).
A citação dos entes públicos (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias e
fundações de direito público) é feita perante o órgão de advocacia pública responsável pela
representação judicial do ente.

b) Efeitos da citação (ainda que ordenada por juízo incompetente).

b.1) materiais (atuam diretamente sobre o direito material invocado):


- constitui em mora o devedor;
- torna litigiosa a coisa => pois, segundo a maioria da doutrina, é inegável sua repercussão na
disciplina da evicção (adquirente que vem a perder o bem, objeto do processo, por sentença
transitada em julgado).
Obs: a interrupção da prescrição não decorre mais da citação válida, mas, antes disso, decorre do
mero despacho que ordena a citação, retroagindo à data da propositura da ação desde que o autor
adote, no prazo de 10 dias, as providências necessárias para viabilizar a citação (§§1º e 2º, art. 240).
Tal efeito retroativo aplica-se também à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei
(§4º).

b.2) processual:
- induz a litispendência => significa que se outra ação não pode ser proposta com os mesmos
elementos a partir da citação válida do réu, sob pena de configurar litispendência.
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c) Modalidades de citação

Primeiramente, convém esclarecer que as modalidades de citação classificam-se em: reais,


ou seja, aquelas em que se dá ciência direta ao interessado (pelo correio, pelo oficial de justiça, pelo
escrivão ou eletrônica); ou ficta ou presumida, que é aquela feita através de um órgão ou um
terceiro que se presuma faça chegar a ocorrência ao conhecimento do interessado (por edital ou por
hora certa).
Em ambas as modalidades de citação ficta o juiz dará curador ao demandado revel,
enquanto não for constituído advogado nos autos, nos termos do art. 72, II, NCPC.

c.1) Por correio (arts. 247 e 248) => mediante carta registrada com aviso de recebimento (AR). Em
condomínio, a carta pode ser entregue ao porteiro (§4º, art. 248); e, tratando-se de pessoa jurídica,
a carta pode ser entregue ao administrador, gerente ou funcionário responsável por receber
correspondência (§2º, art. 248).
É a regra geral, salvo:
• nas ações de estado (ex.: ação de divórcio);
• quando o citando for incapaz ou for pessoa jurídica de direito público;
• quando o citando residir em local não atendido pelos correios;
• se o autor requerer, justificadamente, que ela seja realizada de outra forma.
O CPC 1973 vedava a citação pelo correio nas execuções; o CPC 2015 excluiu essa vedação.

c.2) Por Oficial de Justiça (arts. 249 a 251) => só ocorre nos casos em que não é possível a citação por
correio, conforme exceções acima descritas. O oficial faz a leitura do mandado, entrega a contrafé,
certifica o recebimento ou a recusa da contrafé e obtém a nota de ciente ou certifica que o
demandado não a apôs.

c.3) Por hora certa (art. 252) => nada mais é que uma citação feita por oficial de justiça. Ocorre quando
o oficial suspeitar de que o demandado está se ocultando para evitar a citação, após havê-lo
procurado por 2 vezes, sem o encontrar.
Nesse caso, o oficial deve comunicar alguém da família ou o vizinho que voltará no dia útil
seguinte, em hora determinada, para fazer a citação. Retornando no dia e hora combinado, o
citando ainda não estiver presente, o oficial dará por feita a citação, deixando a contrafé com
pessoa da família ou com qualquer vizinho.
Feita a citação, o escrivão enviará ao réu uma correspondência, física ou eletrônica, no
prazo de 10 dias, cientificando-lhe de tudo, de acordo com a exigência do art. 254, sendo tal envio
condição para o aperfeiçoamento da citação.
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c.4) Por Edital (arts. 256 a 259) => cita-se o requerido por edital quando for desconhecido, incerto, ou
de localização ignorada, incerta ou inacessível, ou em outros casos previstos na lei.
Será também considerado em local ignorado ou incerto se forem infrutíferas as tentativas de
localização do réu, inclusive mediante requisição em cadastros (§3º, art. 256).
O Edital será publicado no site do tribunal e na plataforma de editais do CNJ
(excepcionalmente em jornal local), num prazo fixado pelo juiz de 20 a 60 dias, findo o qual
começará a fluir o prazo para a defesa do legitimado passivo. Não se admite citação edilícia nos
Juizados Especiais Cíveis (art. 18, §2º, Lei 9.099/95).

c.5) Por meio eletrônico (art. 246, V): as pessoas jurídicas, públicas e privadas, são preferencialmente
citadas ou intimadas por meio eletrônico. Para tanto, são obrigadas a se cadastrarem nos sistemas
de processo eletrônico, exceto se tratar de microempresas e empresas de pequeno porte.

c.6) Peloescrivão/ chefe de secretaria: realizada quando o citando comparece em cartório.

6.4.2 Intimações

É ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo (art. 269). É dirigida a
qualquer das partes, seus advogados, auxiliares da justiça (peritos, depositários, testemunhas) ou
a terceiros, a quem cumpre realizar determinado ato no processo.
As intimações efetuam-se de ofício e será feita:
- sempre que possível, por meio eletrônico;
- quando não realizadas por meio eletrônico, pela publicação dos atos no órgão oficial (Diário de Justiça);
Obs: se inviável por meio eletrônico e não houver na localidade publicação em órgão oficial, os
advogados das partes serão intimados pessoalmente, por mandado ou por carta registrada, com AR, a
depender de residem ou não na sede do juízo;
- por correio (atenção: modificação de endereço da parte ou do advogado sem comunicação ao juízo:
a intimação enviada ao endereço primitivo será válida);
- pelo escrivão: no balcão.
- por oficial de justiça via mandado: quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.
- por hora certa ou por edital: caso necessário.
- em audiência: quando o advogado toma ciência do ato durante sua realização.
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6.4.3 Cartas

Ocorre quando o ato processual tiver de ser praticado em local diverso da sede do juízo. As
cartas podem ser:
- de ordem: se dirigidas a juiz ou tribunal subordinado àquele de que ela emanar. Exemplo: o
tribunal determina a oitiva de testemunha pelo juízo de 1º grau;
- rogatórias: quando dirigidas à autoridade judiciária estrangeira. Podem ser ativas, quando
endereçadas a juízo estrangeiro, ou passivas, quando recebidas por autoridade judiciária brasileira.
Vale lembrar que, depois de cumprida a carta (ativa), o teor desta só terá valor no território
nacional depois de submeter à apreciação do STJ (art. 105, I, alínea i, 2ª parte; e art. 961, NCPC) – é
a chamada concessão do exequatur à carta rogatória.
- precatórias: endereçadas a outro órgão judiciário do país, de competência territorial diversa,
entre os quais não há relação hierárquica. Somente poderá ser recusado seu cumprimento,
mediante despacho motivado, quando não estiver revestida dos requisitos legais, quando o juízo
deprecado carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia ou quando tiver dúvida
quanto à sua autenticidade (art. 267).
Obs: o NCPC estabeleceu também a chamada carta arbitral, consistente no pedido do
juízo arbitral ao órgão do Poder Judiciário para que pratique ou determine cumprimento de
ato processual de sua competência territorial.

6.5 Nulidade dos atos processuais

Como nos demais atos jurídicos, devem ser observados os requisitos de validade na prática
dos atos processuais, sob pena de se acharem eivados de vícios, os quais, a depender da gravidade,
se classificam em:
- atos inexistentes: o ato inexistente é uma mera aparência, por não reunir condições mínimas para
sua constituição, não podendo ser convalidado ou suprido. Exemplo clássico é a “sentença”
proferida por quem não seja juiz.
- ato nulo: o ato é existente, mas padece de um defeito resultante de violação de norma de interesse
público, devendo ser reconhecida de ofício e em qualquer tempo e grau de jurisdição. Ex:. citação
com inobservância das prescrições legais (art. 280).
- ato anulável: o defeito resulta da violação de norma de interesse particular, de forma que ao
interessado cabe alegá-lo na primeira oportunidade, sob pena de convalidação do ato. Pela mesma
razão, só será decretada sua nulidade se houver prévia demonstração de prejuízo. Ex: a falta da
manifestação do MP (art. 279, §§1º e 2º).
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- ato irregular: representa violação mínima da norma processual, não acarretando desfazimento do
ato. Ex: sentença proferida além do prazo legal.

6.5.1 Princípios que regem o sistema de nulidades

a) do interesse de agir => quem deu causa à nulidade não pode argui-la (art. 276), nem se repetirá
o ato em favor de quem não sofreu o prejuízo (art. 288, §§1º e 2º).

b) instrumentalidade das formas => não se proclama a nulidade se o ato defeituoso tiver atingido
a finalidade buscada pela lei e não tiver prejudicado a outra parte (art. 277).

c) causalidade => a decretação da nulidade só contamina os atos que dependam daquele anulado,
subsistindo válidos os dele independentes (art. 288).

d) do aproveitamento ou da conservação => decorre do princípio anterior, já que é possível o


aproveitamento de atos que não foram atingidos pelo vício ou que não dependam do ato nulo.
Ex: atos não decisórios, praticados por juízo incompetente, são aproveitáveis.

e) preclusão => cabe à parte alegar a nulidade relativa na primeira oportunidade que tiver de falar
nos autos, sob pena de preclusão (art. 278).

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