Você está na página 1de 16

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA DE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PROFª. MESTRA GLÁUCIA BORGES

APOSTILA I
HISTÓRIA SOCIAL DA INFÂNCIA;
PROTEÇÃO INTEGRAL;
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE;
PRINCÍPIOS.
HISTÓRIA SOCIAL DA INFÂNCIA

EUROPA

Na Europa, havia uma constituição de um modelo ideal de criança, aquela que


tivesse percepção de adulto. Crianças e adultos eram tratados como iguais socialmente,
mas ainda como uma concepção de “menores” que os adultos, facilitando a exploração,
os maus-tratos.
Exemplo: não sentavam a mesa, comiam os restos. Eram aproveitadas na
força de trabalho, uma vez que eram consideradas um pouco mais que os animais ou
pequenos animais.
O “sentimento de infância foi construído socialmente no final da idade média,
até então as crianças eram tratadas como ‘adultos em miniatura’ e que necessitavam de
cuidados básicos só até conseguirem executar tudo sozinhas” (ARIÈS, 2002).
A vida era vista de forma homogênea, não havia diferenciação entre os
períodos da vida. Denominações como criança, adolescente e adulto só foram surgir com
a sociedade moderna.
A ideia de infância estava ligada à ideia de dependência. Na etimologia o termo
‘infância’, em latim in-fans, quer dizer sem linguagem.
Essa análise foi feita a partir de obras de arte, onde se identificou que crianças
eram representadas de forma adulta, como se fossem miniaturas, e isso demonstrava a
ausência de sentimento de infância. Os retratos da infância (pinturas, esculturas...) até o
século XV/XVI, são todos com traços de adultos. Ex.: imagens em igrejas.
Ausência sentimento de infância: alto índice de mortalidade infantil e de
infanticídio praticado pelas mulheres na Idade Média. Era bastante comum entre as
famílias, perdas de filhos ainda pequenos e visto com bastante naturalidade, pois
poderiam ser substituído por outros. O próprio sentimento de amor materno/paterno vai
ser construído posteriormente.
GRANDES NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

A travessia era difícil para os adultos e mais ainda para os “miúdos”.

GRUMETES: crianças que trabalhavam nos navios para que os adultos


descansassem. As famílias entregavam os seus filhos à marinha em troca de dinheiro.
Um ou outro era órfão. Todos eram pobres. Os pais recebiam o soldo pelo trabalho dos
filhos, aumentando a economia familiar. Se morressem, era menos uma boca para
alimentar. Embora não passassem de crianças/adolescentes, eles realizavam a bordo
todas as tarefas de um adulto e recebiam de soldo menos da metade do que um marujo
na mais baixa posição. Os que faleciam eram jogados ao mar. Muitos eram abusados
sexualmente.

“Todos dormiam juntos no convés, ficando trancados, sob chuva ou sol. Não
tinham direito a camas ou baús para guardar seus pertences. A comida era pouca:
biscoito e um pote de água, por dia. Uma libra e meia de carne seca, peixes secos,
cebolas e manteiga, por mês. Nada de desperdício. Higiene? Os navios não dispunham
de banheiros. Nas longas travessias, não havia lugar para elegância nem olfatos
delicados. Teriam que usar pequenos assentos dispostos sobre as amuradas. Como os
marinheiros, eles usariam a mesma roupa, meses a fio e esta só seria lavada pela água
da chuva. Aos poucos, os trapos se transformariam numa segunda pele, de cor indefinida
e cheiro ruim. A pele, propriamente dita, ia acumular crostas de sujeira. Piolhos, pulgas
e sarna fariam parte do cotidiano. As mãos ficariam como bolos de carne sangrenta e as
unhas, quebradas e descoloridas” (Mary Del Priore).

PAJENS: ainda nas navegações, outras crianças eram denominadas de


pajens. Provinham de setores médios urbanos, de famílias protegidas pela nobreza ou
da baixa nobreza, pois estas viam na expansão marítima a possibilidade de ascensão
social de seus filhos. Seus serviços eram mais leves e, geralmente, atuavam junto aos
oficiais, o que lhes dava diversas vantagens, inclusive de alimentação; raramente eram
castigados, o que era comum para os grumetes e ainda tinham poder sobre esses.
“ÓRFÃS DO REI”: as meninas órfãs ou pobres eram levadas contra sua
vontade e nomeadas como órfãs do Rei. Tinham entre 14 e 30 anos, porém dava-se
preferência às com menos de 17, que eram enviadas às colônias portuguesas para
constituírem família. Vinham para o Brasil para se casarem com os filhos da nobreza ou
eram vendidas na índia. As que eram levadas tinham que ser virgem e ter todos os
dentes. Algumas mães quebravam os dentes de suas filhas para elas não serem levadas.

Assim as crianças que chegavam ao Brasil não eram ainda adultos, mas eram
tratadas como se fossem. Traziam já essas crianças uma herança de pobreza, não havia
para com elas nenhum sentimento de proteção ou cuidado, mas sim de exploração.

BRASIL

No Brasil a história da infância não é muito diferente daquela escrita por


europeus, ou seja, havia uma ausência em relação à infância na sociedade e nos seus
escritos.

CRIANÇAS INDÍGENAS – “CURUMINS”

No Brasil Colonial e Imperial (1500 - 1889), a exploração infantil era aceita e


justificada por toda a sociedade, a exemplo, a exploração do trabalho de crianças
indígenas e africanas, pois não existia o sentimento de infância, havia um processo de
desumanização.
No Brasil Colônia, boa parte das crianças indígenas estava sob os cuidados
dos padres da Companhia de Jesus, responsáveis por sua catequese e educação.
As crianças eram mais acessíveis que os adultos no processo de catequização
e conquista, pois eram atraídos por inúmeras atividades, sobretudo as musicais (nativos
adultos que se convertiam mais por medo do que por acreditarem na fé cristã). Os padres
evangelizavam pelo temor, que passava por um rígido sistema de disciplina com
vigilância, delação e castigos corporais. Também, pela dificuldade de comunicação pela
língua nativa, era mais fácil com as crianças.

CRIANÇAS ESCRAVIZADAS

Aos nascidos, caso sobrevivessem, poderiam ficar aos cuidados da mãe ou


ser vendido pelo senhor de escravos para trabalhar em outra fazenda ou casa. A
separação de famílias escravas era constante. A orfandade não era uma preocupação
dos senhores de escravos, pois logo que conseguia executar algumas atividades, as
crianças eram obrigadas ao trabalho.
Na faixa etária dos 12 anos de idade era o momento em que já estavam
totalmente aptos ao trabalho. Muitos traziam no sobrenome a profissão como “Chico
Roça, João Pastor, Ana Mucama”. A mão de obra escrava infantil era utilizada em
diversas atividades, como agricultura, comércio e serviço doméstico.
A Lei nº 2.040, de 28 de setembro de 1871 - Lei do Ventre Livre, assegurou
alguns direitos às crianças. (Lei Áurea em 1888). A partir dessa lei, os nascidos seriam
“livres”, garantindo o fim gradual da escravidão pela infância, assim como, a proibição da
venda de crianças com idade inferior a 12 anos.

...Até 1900 – FINAL DO IMPÉRIO E INÍCIO DA REPÚBLICA

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA: As populações economicamente carentes


eram entregues aos cuidados da Igreja Católica através de algumas instituições, entre
elas as Santas Casas de Misericórdia. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no
ano de 1543, na Capitania de São Vicente (Vila de Santos). Estas instituições atuavam
tanto com os doentes quanto com os órfãos e desprovidos.
- Rodas dos expostos: o sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa,
tinha o objetivo de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos. A Roda
constituía-se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do próprio eixo com uma
abertura em uma das faces, alocada em um tipo de janela onde eram colocados os
bebês. A estrutura física da roda privilegiava o anonimato das mães, que não podiam,
pelos padrões da época, assumir publicamente a condição de mães solteiras. O trabalho
das crianças era explorado nas Santas Casas.
*As rodas dos expostos duraram até 1950 no Brasil.

Com a crescente urbanização, ocorreu também o aumento populacional nas


grandes cidades. As desigualdades sociais impostas pelo descaso das autoridades com
a população mais pobre, tem como consequência o aumento da criminalidade nos
centros urbanos. Os criminalistas, diante dos elevados índices de delinquência,
buscavam por vezes na infância a origem do problema.
As autoridades acreditavam que acabariam com a criminalidade nos centros
urbanos ao “cuidar” das crianças/adolescentes, esse cuidado na maioria das vezes se
referia a obrigação ao trabalho e penalização dos crimes cometidos pelas crianças e
adolescentes.
Não só a clausura era utilizada como punição para estas crianças, como
posteriormente, o trabalho forçado foi utilizado como medida punitiva. O Código Penal da
época punibilizava crianças e adolescentes se tivessem discernimento do que fizeram.

1900 A 1930 – A REPÚBLICA

O início do século XX foi marcado, no Brasil pelo surgimento das lutas sociais
do proletariado nascente.
Ex.: o Comitê de Defesa Proletária foi criado durante a greve geral de 1917, e
reivindicava, entre outras coisas, a proibição do trabalho de pessoas com menos de 14
anos e a abolição do trabalho noturno de mulheres e de menores de 18 anos.
Em 1923, foi criado o JUIZADO DE MENORES, tendo Mello Mattos como o
primeiro Juiz de Menores da América Latina.
No Brasil, até 1927, a fonte legal relacionada à criança e ao adolescente se
dava através do Código Penal de 1890, em que era verificada apenas a sua
responsabilidade ou irresponsabilidade, ou seja, a capacidade de entender seus atos e
não sua capacidade biológica. A primeira Constituição que registrou certa preocupação
com infância foi somente a de 1934, isto é, 110 anos após a promulgação da primeira
Constituição brasileira.
Primeiro CÓDIGO DE MENORES DO BRASIL (e da América Latina): no ano
de 1927, foi promulgado o Decreto nº. 17.943-A, que consolidou as leis de assistência e
proteção aos “menores”, instituindo o que foi chamado de que ficou popularmente
conhecido como Código Mello Mattos.
Esse Código de Menores era endereçado apenas às crianças tidas como em
"situação irregular". O código definia, já em seu Artigo 1º, a quem a lei se aplicava:
"O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos
de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente as medidas de
assistência e proteção contidas neste Código."
O Código de Menores visava estabelecer diretrizes para o tratamento da
infância e juventude excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e
pátrio poder, delinquência e liberdade vigiada. Revestia a figura do juiz de grande poder,
sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e
da ética do juiz.
O Código de Menores fez com que o Estado passasse a intervir na vida desta
população, institucionalizando aqueles que eram considerados abandonados, tornando-
se uma verdadeira prática de controle social.
Nessa fase, crianças e adolescentes eram vistas como problemas que
deveriam ser resolvidos através de assistencialismo Estatal, mascarado pela assistência
aos desamparados, excluindo cada vez mais aquelas cuja situação financeira da família
era precária.
Vigorava a doutrina menorista: calcada na representação da infância
estigmatizada pela sua condição de pobreza, delinquência, mendicância e perigo. A
estigmatização de crianças e adolescentes como “menores” foi resultado da própria
intervenção Estatal.

1931 A 1945 – ESTADO NOVO

Houve o surgimento de um Estado autoritário, que vigorou entre 1937 e 1945.


Em 1942, período considerado especialmente autoritário do Estado Novo, foi
criado o Serviço de Assistência ao Menor – SAM, pelo Decreto nº. 3.779, de 1941.
Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um
equivalente do sistema penitenciário para a infância. Sua orientação era correcional-
repressiva. O sistema previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato
infracional e para o “menor” carente e abandonado, de acordo com a tabela:

SITUAÇÃO IRREGULAR Adolescente autor de ato Menor carente e abandonado


infracional
TIPO DE ATENDIMENTO Internatos: reformatórios e casas de Patronatos agrícolas e escolas de
correção aprendizagem de ofícios urbanos

1945 A 1964 - REDEMOCRATIZAÇÃO

O Governo Vargas é deposto em 1945 e uma nova constituição é promulgada


em 1946, a quarta Constituição do país. De caráter liberal, esta constituição simbolizou a
volta das instituições democráticas.
Em 1950, foi instalado o primeiro escritório do UNICEF no Brasil, em João
Pessoa, na Paraíba. O SAM passa a ser considerado, perante a opinião pública,
repressivo, desumanizante e conhecido como "universidade do crime".

1964 A 1979 – REGIME MILITAR

O Golpe Militar de 1964 instituiu uma ditadura militar, interrompendo por mais
de 20 anos o avanço da democracia no país. O período dos governos militares foi
pautado, para a área da infância, por dois documentos significativos e indicadores da
visão vigente:
A Lei que criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Lei 4.513 de
1/12/64). O Código de Menores de 1979 (Lei 6697 de 10/10/79).
A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM tinha como
objetivo formular e implantar a Política Nacional do Bem Estar do Menor, herdando do
SAM toda a sua cultura organizacional. Tinha perspectiva de que o “menor” seria um
problema de segurança nacional e não uma questão social.
Instituiu institucionalizações para a promoção da segurança social, o que se
conclui por uma fase difícil para as crianças e adolescentes pobres ou abandonadas por
suas famílias, que eram culpabilizadas por sua situação precária.

Segundo CÓDIGO DE MENORES: lei nº. 6.697 de 1979, constituiu-se em uma


revisão do Código de Menores de 1927, não rompendo, no entanto, com sua linha
principal de arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população infanto-
juvenil.
Esta lei introduziu o conceito de "menor em situação irregular", que reunia o
conjunto de meninos e meninas que estavam dentro do que alguns autores denominam
infância em "perigo" e infância "perigosa". Esta população era colocada como objeto
potencial da administração da Justiça de Menores.

DÉCADA DE 80 – ABERTURA POLÍTICA E NOVA REDEMOCRATIZAÇÃO

A década de 80 permitiu que a abertura democrática se tornasse uma


realidade. Isto se materializou com a promulgação, em 1988, da Constituição Federal,
considerada a Constituição Cidadã.
Para os movimentos sociais pela infância brasileira, a década de 80
representou também importantes e decisivas conquistas. A organização dos grupos em
torno do tema da infância era basicamente de dois tipos: os menoristas e os estatutistas.
Os primeiros defendiam a manutenção do Código de Menores, que se
propunha a regulamentar a situação das crianças e adolescentes que estivessem em
situação irregular (Doutrina da Situação Irregular).
Já os estatutistas defendiam uma grande mudança no código, instituindo
novos e amplos direitos às crianças e aos adolescentes, que passariam a ser sujeito de
direitos e a contar com uma Política de Proteção Integral.
Na Assembleia Constituinte organizou-se um grupo de trabalho comprometido
com o tema da criança e do adolescente, cujo resultado concretizou-se no artigo 227,
que introduz conteúdo e enfoque próprios da Teoria da Proteção Integral, advindo da
Organização das Nações Unidas, trazendo os avanços da normativa internacional para
a população infanto-juvenil brasileira.
Vide art. 227, da CF.
Em caráter prioritário, a constituinte tornou as crianças e os adolescentes
titulares de direitos fundamentais, que devem ser garantidos pela chamada de tríplice
responsabilidade compartilhada, quer seja, a família, a sociedade e o Estado, adotando
o sistema de proteção com base nas organizações internacionais.
Crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidas como sujeito de
direitos. Estavam lançadas, portanto, as bases do Estatuto da Criança e do Adolescente.

DÉCADA DE 90 – CONSOLIDANDO A DEMOCRACIA

Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90: julho de 1990, um


documento de direitos humanos que contempla o que há de mais avançado na normativa
internacional em respeito aos direitos da população infanto-juvenil. O Estatuto revogou o
Código de Menores e rompeu com as doutrinas menorista e da situação irregular,
adotando a teoria da Proteção Integral.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CÓDIGOS DE MENORES ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
Menores Crianças e adolescentes
Doutrina menorista e da situação irregular Teoria da Proteção Integral
Eram objeto de tutela do Estado. Não tinham São sujeitos de Direitos
direito a contraditório e ampla defesa
Dever da família, o Estado intervinha de forma Dever solidário de proteção entre a família, a
subsidiária sociedade e o Estado
Poder centralizado: só cabia à União. Poder descentralizado: municipalização do
atendimento.
Título I – Disposições preliminares

Título II – Direitos fundamentais


PARTE GERAL
Título III –
Da prevenção
Título I –
Da Política de Atendimento
ESTATUTO DA CRIANÇA
Título II –
E DO ADOLESCENTE Das Medidas de Proteção
Título III –
Da Prática de Ato Infracional
Título IV - Das Medidas
PARTE Pertinentes aos Pais ou
ESPECIAL
Responsável
Título V - Do Conselho Tutelar

Título VI - Do Acesso à Justiça

Título VII - Dos Crimes e Das


Infrações Administrativas

CONEXÃO DO ESTATUTO COM AS DEMAS ÁREAS DO DIREITO E DO


SERVIÇO SOCIAL: interdisciplinar - Direito Constitucional, Direito das Famílias (conv.
familiar e comunitária), Direito do Trabalho (direito a profissionalização e proteção),
Direito Penal (envolve crimes, a partir do art. 228, temos os chamados crimes em espécie.
Crimes em que, via de regra, as vítimas são crianças e adolescentes).

PROTEÇÃO INTEGRAL

TREJATÓRIA DO SEU RECONHECIMENTO


- INTERNACIONAL

No plano internacional, considera-se criança todo ser humano com menos de


18 anos de idade!
DECLARAÇÃO DE GENEBRA DE 1924

Em âmbito internacional, a Declaração de Genebra iniciou a rota do


reconhecimento da necessidade de novos olhares para as regras relacionadas a garantia
dos direitos das crianças, sendo o primeiro documento internacional voltado à proteção
das mesmas.
Trata-se de um documento sucinto que, em verdade, não se refere a direitos
em si, mas sim a responsabilidades que os adultos deveriam ter frente às crianças, isso
porque, as crianças dependiam de os adultos defenderem os seus interesses, uma vez
que suas vozes e opiniões não eram levadas em consideração até então.

DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA – 1959

Esta Declaração teve por base as assertivas da Declaração de Genebra e a


Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, considerando que a criança
necessita de cuidados especiais, com a proteção legal adequada, antes e depois do
nascimento.
Estabeleceu direitos e liberdades, além de ter convocando os Estados
membros e, por consequência, os pais e toda a sociedade, a reconhecerem os direitos e
medidas de acordo com os dez princípios da Declaração.
Fez-se mais ampla que a Declaração de Genebra: reconheceu as crianças
como sujeitos de direitos, incluindo não só as necessidades materiais, mas também a
preocupação com o imaterial, ou seja, os aspectos relacionados ao amor e ao cuidado,
entre outros.

CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA - 1989

Com unanimidade, foi proclamada pelas Nações Unidas a Convenção sobre


os Direitos da Criança. A Convenção trouxe cinquenta e quatro artigos reflexivos sobre a
importância da cooperação internacional para a melhoria das condições de vida das
crianças de todos os países, tornando-se uma das convenções mais ratificadas em todo
o mundo até hoje, contando com 196 países.
É considerada a carta magna para as crianças de todo o mundo.
Foi o primeiro documento internacional legalmente vinculante, tendo natureza
coercitiva e obrigando os Estados partes a se posicionarem, diferentemente da
Declaração sobre os Direitos da Criança, que tratava apenas de sugestões ou
recomendações.
Ademais, não se limitou somente à sua proteção e provisão, mas também a
participação, tornando a infância protagonista de sua própria vida. Engloba direitos
econômicos, sociais, culturais, políticos e civis, influenciando os países membros a
alterarem suas leis internas quanto a garantia de direitos de crianças e adolescentes.
Ratificada pelo Brasil: Decreto nº. 99.710/1990.

CONCEITO DE PROTEÇÃO INTEGRAL

A Proteção Integral deriva do plano internacional. Não se refere ou não se


reduz a um tratado ou a um documento legal, mas a “um referencial paradigmático para
a formação de um substrato teórico constitutivo do Direito da Criança e do Adolescente”
(CUSTÓDIO, 2008, p. 22), que influenciou inicialmente o campo normativo internacional
e, posteriormente a nacional.
A Proteção Integral, portanto, fez com que crianças e adolescentes fossem
reconhecidas como sujeitos de direitos com prioridade absoluta em decorrência do seu
peculiar estado de desenvolvimento, devendo os seus direitos serem garantidos pela
tríplice responsabilidade compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado, sempre
levando em consideração o seu melhor interesse.

TREJATÓRIA DO SEU RECONHECIMENTO


- NACIONAL

No âmbito nacional, a trajetória legal da tutela jurídica dos direitos de crianças


e adolescentes perpassou períodos diferentes do internacional, mesmo quando na esfera
internacional já ocorria o reconhecimento de que a mudança no cuidado de crianças e
adolescentes se fazia necessária.

1959 DECLARAÇÃO 1989


1924 DECLARAÇÃO DE
SOBRE OS DIREITOS DA CONVENÇÃO SOBRE OS
GENEBRA
CRIANÇA DIREITOS DA CRIANÇA

1988
1927 CÓDIGO 1979 CÓDIGO 1990
DE MENORES DE MENORES CONSTITUIÇÃO
ECA
FEDERAL

O campo dos direitos das crianças e dos adolescentes possui um fundamento


teórico bem definido, que rompeu e superou drasticamente a existência de qualquer outra
anteriormente utilizada, não havendo discussões sobre sua incidência
A Proteção Integral é um campo pelo qual se busca melhor delinear e entender
a área do direito das crianças e dos adolescentes, pela ótica da relevância dos mesmos
enquanto sujeitos de direitos, buscando a efetividade dos direitos fundamentais às
crianças e adolescentes inerentes. Não é uma recomendação, mas sim, uma diretriz
determinante em todas as relações que envolvam essa população.
Para se entender crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, faz-se
importante assimilar a grandiosidade da Proteção Integral.
Contudo, apesar destas conquistas e reconhecimentos, ainda persistem
situações as quais crianças são vítimas, necessitando que a sociedade e o Estado, de
fato, façam valer os preceitos da Proteção Integral, a fim de que as crianças e
adolescentes possam ter um pleno desenvolvimento, através da satisfação das
necessidades que são próprias desta fase.
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Direito da Criança e do Adolescente não se refere a uma legislação


específica, surgiu antes da legislação estatutária ou tratados internacionais, devendo ser
compreendido em uma dimensão transdisciplinar. Direitos são reconhecidos! É
fundamentada pela teoria da Proteção Integral, a fim de se levar em conta todos os
valores, princípios e regras inerentes.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

PRIORIDADE ABSOLUTA

Trata-se de um princípio concretizante do Direito da Criança e do Adolescente,


expresso na Constituição (art. 227, da Constituição Federal) e no Estatuto (art. 4º, do
Estatuto da Criança e do Adolescente). Veio dos tratados internacionais. Traz o dever à
família, à sociedade e ao Estado de assegurar a toda criança e adolescente,
prioritariamente, a efetivação de todos os seus direitos fundamentais.
Trata-se de um instrumento de efetividade para as políticas públicas, onde
crianças e adolescentes deverão estar sempre em primeiro lugar na escala das
preocupações da família, da comunidade, do Poder Público e da sociedade em geral.
A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
MELHOR/SUPERIOR INTERESSE

Princípio implícito na legislação brasileira, sendo um dos marcos da


Convenção sobre os Direitos da Criança (art. 3º, CDC). É um princípio determinante do
Direito da Criança e do Adolescente, que estrutura o cumprimento da Proteção Integral.
Impõe que todos os atos da família, da sociedade e do Estado devem levar
em conta o melhor interesse da criança ou do adolescente ou seja, deve prevalecer o
interesse destes em decorrência daqueles.
O melhor interesse deve ser levado em consideração, inclusive, na elaboração
e interpretação de leis. Trata-se de instrumento garantidor do direito das crianças e
adolescentes, sendo orientador de decisões públicas, auxiliador na resolução da colisão
de conflitos de normas, orientador de legislações e um mecanismo necessário e eficaz
para fortalecer o princípio da prioridade absoluta.

BIBLIOGRAFIA COMPILADA E ESQUEMATIZADA

AMIM, Andréa Rodrigues; MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coords.).
Curso de Direito da Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos, 11. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaskman. 2ª ed.
Rio de Janeiro: LCT, 1981.

CUSTÓDIO, André Viana. Teoria da proteção integral: pressuposto para compreensão


do direito da criança e do adolescente. Revista do Direito, v. 29, 2008.

PEREIRA, Tânia da Silva (Coord.). O melhor interesse da criança: um debate


interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

RIZZINI, Irene; RIZZINI, Irma. A institucionalização de crianças no Brasil: percurso


histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004.

VERONESE, Josiane Rose Petry; ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo.
Estatuto da criança e do adolescente: 25 anos de desafios e conquistas. São Paulo:
Saraiva, 2015.

VERONESE, Josiane Rose Petry; VERONESE, Valdemar P. da Luz (Coord.). Direito da


criança e do adolescente, v. 5. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006. P. 9-10.

Você também pode gostar