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1. Introdução
O presente trabalho tem como objeto o estudo das novas fontes
do direito internacional do comércio, em especial a lex mercatoria
e suas repercussões no direito internacional e nos ordenamentos
jurídicos nacionais, principalmente no âmbito do surgimento de no-
vos atores globais e de novas formas de regulação das relações entre
esses sujeitos.
O trabalho visa analisar o conceito da “nova lex mercatoria”
para compreender o contexto mais amplo em está inserida, o de
uma nova forma de regulação global de relações existentes em diver-
sos campos da economia e da sociedade a fim de elaborar questiona-
mentos acerca das vantagens e desvantagens deste direito “global”.
2. Desenvolvimento
As relações comerciais e seus mecanismos próprios de regu-
lamentação, desde os mais remotos tempos, sempre desafiaram os
regramentos jurídicos regionais, e ainda foram fundamentais para
a derrocada de alguns, como no caso dos diversos ordenamentos
medievais, apoiados na forma de exploração feudal.
Por suas próprias características, a atividade mercantil sempre
procurou formas de regular sua atividade sem depender, necessaria-
mente, da intervenção estatal. Esta, muitas vezes, constituiu, inclusi-
ve, um óbice aos interesses do capital mercantil.
O ponto central nesse processo é a insatisfação mercantil com
a diversidade de formas com que os ordenamentos estatais sempre
trataram, nos variados sistemas jurídicos, a atividade comercial. É
antigo o esforço dos comerciantes em criar regras que superem as
barreiras nacionais, por um lado, e de uniformização de formas de
regramento, pelos ordenamentos jurídicos internos, por outro.
Ao trabalhar a questão da uniformização de regras do comércio
internacional, o Professor Oscar Tenório (1948, p. 380) diz que:
Tendo em vista esta tendência, que se fortalece cada vez mais,
alguns autores distinguem o Direito Comercial Internacional
do Direito Internacional Comercial. O primeiro trata dos con-
flitos de leis mercantis regendo o direito interno; o segundo
das leis uniformes tendentes a uma solução internacional dos
conflitos. A distinção embora apoiada na realidade das coisas,
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3. Conclusões
Após a análise dos textos citados percebe-se que o futuro do Di-
reito e de sua legitimação podem passar por transformações substan-
ciais e a lex mercatoria nada mais é do que a ponta de um grande
iceberg, uma vez que o Direito internacional, embora caminhe para
um direito de integração, ainda é um direito de coexistência. Neste
sentido, como afirma Teubner (2003, p. 13), se o Direito internacio-
nal não passa da “relação intersistêmica entre unidades nacionais
com elementos transnacionais relativamente fracos, outros subsis-
temas sociais já começaram a formar uma autêntica sociedade mun-
dial, ou melhor, uma quantidade fragmentada de sistemas mundiais
distintos”.
Os Estados nacionais nitidamente encontram cada vez maiores
dificuldades para manter a exclusividade na criação e na administra-
ção dos conflitos na sociedade. Para José Eduardo Faria (2010, p. 7),
os institutos jurídicos e as instituições estatais têm se revelado inca-
pazes de se ajustar às transformações da economia e da sociedade.
Diante do número cada vez maior de sistemas de interação
econômica, social e política fora do controle do Estado, cons-
tituindo uma ampla gama de centros de referência de inte-
resses diversificados, essas instituições tendem a perder sua
centralidade e principalmente sua exclusividade. (Faria, 2010,
p. 7).
Verifica-se que os novos mecanismos pluralistas de regramento
da sociedade mundial, dos quais a de maior destaque atualmente
é a lex mercatoria, possuem amplas condições de se legitimar en-
quanto regras jurídicas, dentre outros motivos, por emanarem da
vontade dos agentes sociais envolvidos nos mais variados setores da
sociedade, e sua obrigatoriedade decorrer da aceitação por parte de
tais grupos.
Entretanto, deve-se olhar com atenção para o fato dos novos
conjuntos normativos serem criados a partir de discursos isolados e
de possivelmente neles não existir uma preocupação com as reper-
cussões que possam ocorrer em outros sistemas. Algumas perguntas
ainda carecem de respostas: Em que medida a nova lex mercatoria
pode ser controlada a fim de não comprometer a efetivação e ga-
rantia dos direitos fundamentais? Ou ainda, quais seriam os meca-
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4. Referências Bibliográficas
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