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Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica
Internacional e Regional

Nesta última unidade do nosso curso de Direito Econômico, buscaremos


um enfoque mais internacional e regional da matéria, destacando as suas
especificidades. Conheceremos as funções do Fundo Monetário Internacional
(FMI) e estudaremos o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio. Nessa aula
também nos dedicaremos a conhecer melhor a Organização Mundial do
Comércio (OMC), chamando a atenção para a União Européia e a
consolidação do Mercosul, como blocos econômicos regionais.

Bons estudos!

Prof. Ms. Marcio Morena

1. A ordem econômica mundial e o Direito Econômico Internacional.

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


A ordem econômica internacional vem reger a abrangente sistemática
jurídica imposta pela universalização das relações econômicas, que
ultrapassam os limites dos territórios e fomentam as transações internacionais
impostas pelo capitalismo globalizado.
Para Carreau, Juillard e Flory, a Ordem Económica Internacional, em
sentido amplo, designa “o conjunto coerente de regras jurídicas orientadas em
função das finalidades do sistema”.1
Mais elaborada é a concepção de Petersmann2 que distingue três
acepções do conceito de Ordem Económica Internacional (OEI):

- Acepção descritiva ou empírica: OEI refere-se à realidade e à interacção


dos elementos da economia internacional;

1
CARREAU, Dominique, JUILLARD, Patrick, FLORY, Thiébaut. Droit International Économique. 2. ed.
Paris:LGDI, 1980. p. 40..
2
Ver E.-U. PETERSMANN, “International Economic Order”, in Encyclopedia of Public International Law,
p.1129 (adiante PETERSMANN, “International Economic Order”); E.-U. PETERSMANN, “International
Economic Theory and International Economic Law: On the Tasks of a Legal Theory of International
Economic Order”, in St.J.McDONALD, D.M. JOHNSTON, The Structure and Process of International Law,
Haia, 1983, p. 258; E.-U. PETERSMANN, Constitutional Functions and Constitutional Problems of
International Economic Law, Friburgo, 1991.

1
- Acepção jurídica: OEI designa o conjunto de princípios jurídicos, regras
e instituições que moldam a OEI factual e que, ao promover a segurança
jurídica e ao reduzir os custos de transacção internacionais, contribuem
para uma afectação de recursos eficiente;
- Acepção normativa (dever-ser): OEI traduz ordens ideais ou teorias de
uma economia internacional que funcione satisfatoriamente e possa
permitir melhorias das OEI factuais e jurídicas, de modo a construir um
sistema coerente capaz de atingir os objectivos acordados (ou pelo
menos geralmente aceites) de forma ordenada.
O século XIX apresentou uma perspectiva de ordem econômica
internacional privada, decorrente justamente dos cànones do liberalismo
econômico, que atribuía aos indivíduos a atividade econômica, enquanto
permanecia como atribuição do Estado a atividade política.
Entretanto, a partir do século XX três fenômenos vieram mostrar a
necessidade de o Estado voltar o seu olhar novamente ao campo econômico: a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a crise do capitalismo (1930) e a
Segunda Grande Guerra (1939-1945).

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Pode-se dizer que é nesse momento histórico que as relações
econômicas deixam o plano individual ou privado para inserir-se no contexto
das relações entre nações, operando-se uma verdadeira “publicização”,
passando-se a pensar na instituição de uma sociedade internacional com a
finalidade de eliminr os conflitos, fundamentalmente de origem econômica, e
com o objetivo de alcançar a paz mundial.3
Nesse contexto, Raymond Aron assinala uma contradição fundamental
entre a existência de convenções internacionais cada vez mais numerosas,
uma legalização cada vez mais ampla, o respeito às leis por um número cada
vez maior de Estados e, por outro lado, a inegável realidade internacional dos
fatos das rivalidades de poder, das contradições de interesses e das
incompatibilidades ideológicas.4
Os sujeitos criadores e operantes na funcionalidade da organização
nternacional da economia são os Estados nacionais, as empresas
multinacionais e os Organismos e Instituições internacionais, os quais juntos

3
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 111.
4
ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Brasília: UNB, 1979. p. 672.

2
elaboram as políticas econômicas que são destinadas ao desenvolvimento e
melhoramento das relações internacionais econômicas.
Nesse diapasão, caberá então ao Direito Econômico Internacional
articular as diferentes ordens jurídicas buscando uma harmonização nos planos
nacional e internacional.
O Direito Econômico Internacional surge como um ramo novo e
autônomo: um direito que articularia as diferentes ordens jurídicas, a
internacional e a nacional, e que enquadraria as relações econômicas. Ou
ainda, como explica Fonseca:
“O Direito Econômico Internacional surge com a finalidade
precípua de estabelecer o enquadramento para a adoção, por
todos os sujeitos internacinais, de políticas econômicas
destinadas a aum aprimoramento constante do nível de
5
desenvolvimento”.

Carreau o define como um ramo do Direito internacional que


regulamenta, de um lado a instalação sobre o território dos estados de diversos
fatores de produção (pessoas e capitais) de proveniência estrangeira e, por

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outro lado, as transações internacionais relativas a bens, serviços e capitais.6
Pode-se compreender que o Direito Econômico Internacional apresenta
características instáveis, por depender exponencialmente dos fenômenos
econômicos, os quais são volúveis e adaptáveis que se refletem em suas
normas.
Como observam Carreau, Juillard e Flory, tais normas se caracterizam
como obrigações de comportamento, sendo formuladas no condicional ou
também com expressões que indicam um esforço ou uma tentativa por parte do
agente.
A norma de Direito Econômico está sempre aderida à realidade
flutuante, aliando esta característica à generalidade inerente a toda norma
jurídica. Como conseqüência dessa aderência à realidade concreta, surge a
característica da maleabilidade, que dá à norma destinada a reger os
fenômenos econômicos a possibilidade de mudança contínua.7

5
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Op. cit. p. 112.
6
CARREAU, Dominique, JUILLARD, Patrick, FLORY, Thiébaut. Op. cit. p. 11.
7
Idem. p. 23.

3
Tomando essa realidade, percebe-se a dificuldade da normatização do
Direito Econômico Internacional, um direito mutável, onde as relações jurídico-
econômicas estão em constante transformação. Talvez essa seja uma das
maiores dificuldades encontradas pela doutrina e para os próprios operadores
do direito.
As normas, bem como as sanções que norteiam as relações econômicas
internacionais, giram em torno de um panorama onde se buscam formas de
solucionar as transgressões a elas, com condições que possibilitem a
continuidade da interdependência econômica pacífica.
De modo geral, o que se cultua é a busca de uma forma de solucionar
os litígios sem que se faça necessário um rigoroso trâmite processual, assim,
tornando o Direito Econômico Internacional mais dinâmico, moldando-se à
particularidade dos diversos conflitos de interesse que o norteiam.
Quais seriam então quais as regras jurídicas que constituem o objeto do
Direito Econômico internacional? É possível encontrar na doutrina três
correntes distintas. Vamos verificá-las.
A primeira procura enquadrar as regras aplicáveis às relações

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econômicas internacionais de forma unitária num Direito Econômico
Transnacional, que agruparia as regras relevantes das diversas ordens
jurídicas em causa (direito nacional, com particular destaque para as normas
de Direito Internacional Privado), as regras de Direito Internacional Público que
regem essas relações, e ainda uma “terceira ordem”, a lex mercatoria.
Também na doutrina alemã encontramos autores que, com base na
unidade da economia internacional defendem um conceito de Direito
Internacional Económico capaz de englobar todos os tipos de normas que
regulam as relações económicas internacionais, independentemente da sua
origem ou natureza pública ou privada.8
Para Behrens, essa unidade da economia internacional funda-se na
divisão internacional de trabalho, na interação das políticas econômicas e nos
bens públicos internacionais e efeitos externos, sendo o Direito Internacional
Econômico o ramo do Direito que regula as transações econômicas que
atravessam as fronteiras nacionais.
8
BEHRENS, Peter. “Elements in the Definition of International Economic Law”, Law and State, 1988, vol.
38, p. 9; HERDEGEN, Matthias. Internationales Wirtschaftsrecht. 2. ed. Munique: Verlag C. H. Beck, 1995.
p. 3.

4
De um ponto de vista dogmático, colocar regras que se dirigem ao
comportamento de particulares a par de normas que visam a conduta de
Estados soberanos parece forçar demasiado qualquer visão realista dos
interesses em jogo, equiparando interesse privado e interesse público.
A generalidade da doutrina tem procurado uma delimitação mais
rigorosa do Direito Internacional Econômico, atendendo, sobretudo, ao risco de
querer abarcar realidades demasiado heterogêneas com uma noção
amplíssima de Direito Internacional Económico, a exemplo das críticas dirigidas
à concepção do Direito Transnacional desenvolvida por Jessup.9
A segunda grande corrente doutrinal a considerar procura integrar o
Direito Internacional Econômico no âmbito do Direito Internacional público,
constituindo aquele um simples ramo substantivo deste último. Para Weil, “no
plano científico, o direito internacional económico não constitui senão um
capítulo entre outros do direito internacional geral”.10
A terceira corrente que podemos identificar defende a autonomia do
Direito Internacional Econômico face ao Direito Internacional Público,
invocando um conjunto de características que o tornariam distinto deste Para

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John Kackson, o Direito Internacional Econômico apresenta “certas
características ou pelo menos nuances” que o distinguem do Direito
Internacional geral.11
Em primeiro lugar, a predominância de regras emanadas de fontes
convencionais, sendo escassas as normas de Direito Internacional Económico
de origem consuetudinária. Seguidamente, o grau de interpenetração entre as
normas de Direito Internacional Econômico e as normas de direito interno seria
superior ao encontrado no Direito Internacional geral.
Em resumo, as três posições examinadas refletem diferentes
metodologias de abordagem de uma mesma realidade: a primeira procura
unificar um ramo heterogéneo, que se alimenta tanto do direito privado como
do público, em função da unicidade do seu objecto; a segunda, caracteriza o
Direito Internacional Econômico não só em função do seu objecto como

9
Ver Philip JESSUP, Transnational Law. New Haven: Yale Univ. Press, 1956.
10
PROSPER WEIL. “Le droit international économique: Mythe ou réalité?”, Aspects du droit international
économique. Paris: Pédone, 1972. p. 34.
11
JACKSON, John H. “Global Economics and International Economic Law”, Journal of International
Economic Law, vol. 1, nº 1, 1998. p. 1.

5
também da fonte e natureza dessas regras, limitando o seu âmbito ao direito
aplicável aos sujeitos de Direito Internacional Público, ainda que estas digam
igualmente respeito aos particulares, mesmo sem os subjectivarem enquanto
destinatários directos das normas emanadas da ordem jurídica internacional; a
terceira posição procura transcender a ordem jurídica, mantendo-se, todavia,
no lado público da regulação das relações econômicas internacionais: o Direito
Internacional Económico seria então um direito autónomo que articularia as
diferentes ordens jurídicas, a internacional e as nacionais, que enquadram
aquelas relações económicas.
Independentemente da posição que se adote, das diferentes definições
é possível extrair um núcleo indiscutível que integra o Direito Internacional
Econômico: as regras de Direito Internacional Público que têm por objeto as
relações econômicas internacionais.

2. A cooperação internacional econômica.

Após as duas guerras mundiais, os Estados perceberam a necessidade

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de que houvesse a cooperação mútua, mormente no plano de vista econômico,
consagrando-se o princípio da autodeterminação dos povos e da justiça e
progresso social para todos os países da nova comunidade universal que
surgiu.
Essa mudança substancial de postura pode ser vislumbrada claramente
por meio de alguns dos tópicos do Pacto da Sociedade das Nações Unidas.
Passemos a examinar alguns de seus trechos, iniciando por seu preâmbulo
que assim preconiza:
“As altas partes contratantes
Considerando que, para desenvolver a cooperação entre as Nações e
para lhes garantir a paz e a segurança, importa: aceitar certas
obrigações de não recorrer à guerra; manter claramente relações
internacionais fundadas sobre a justiça e a honra; observar
rigorosamente as prescrições do Direito Internacional, reconhecidas
de ora em diante com regra de conduta efectiva dos Governos; fazer
reinar a justiça e respeitar escrupulosamente todas as obrigações dos
Tratados nas relações mútuas dos povos organizados;
Adoptam o presente Pacto que institui a Sociedade das Nações.”

6
A Carta das Nações Unidas já aporta condições de uma copperação
mais concreta, no plano econômico, com a finalidade de promover o progresso
econômico e social, de tal sorte a propiciar a todos melhores condições de
vida, como se aduz dos seguintes tópicos:
“Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos:
a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra,que por duas
vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à
humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem,
na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos
homens e das mulheres, assim como das nações grandes e
pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o
respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do
direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso
social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.
E para tais fins,
praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons
vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança
internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição
dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no
interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para

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promover o progresso econômico e social de todos os povos (grifo
nosso)”.

A Carta expõe ainda os objetivos e princípios que deverão nortear as


ações dos Estados:
“Os objetivos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir
os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por
meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do
direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou
situações que possam levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no
respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação
dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da
paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou
humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos

7
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a
consecução desses objetivos comuns.”
Para que se dê concreture a tais objetivos, a Assembléia-Geral deverá
fomentar a cooperação internacional no domínio econômico, social, cultural,
educacional e da saúde e favorecer o pleno gozo dos direitos do homem e das
liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça,
sexo, língua ou religião, consoante o artigo 13. E o artigo 55 estabelece as
metas a serem alcançadas:
“Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar,
necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações,
baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da
autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão:
a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de
progresso e desenvolvimento econômico e social;
b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais,
sanitários e conexos; a cooperação internacional, de caráter cultural e
educacional; e

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c) o respeito universal e efetivo raça, sexo, língua ou religião.”
Com o passar do tempo se adotou uma nova ordem econômica
internacional, cristalizada por meio de alguns marcos, como a Conferência de
Bandung, em 1955, na qual os países afro-asiáticos, tomando consciência da
situação de exploração dos países em desenvolvimento, se unem para resolver
conjuntamente seus problemas.
Em 1962 realiza-se a Conferência do Cairo, da qual o Brasil participa, e
na qual se recomendava a convocação de uma conferência internacional para
tratar de temas sobre comércio e desenvolvimento, e principalmente das
relações econômicas entre países em via de desenvolvimento e os países
desenvolvidos.
Em 1964 realiza-se a Conferência das Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento (CNUCED ou UNCTAD, em inglês). Nessa ocasiões se
defendeu a necessidade de construir uma nova ordem econômica para resolver
problemas os problemas do comércio e desenvolvimento, principalmente os
atinentes ao desequilíbrio entre nações desenvolvidas e em vias de
desenvolvimento.

8
O objetivo básico é o de promover o comércio internacional para
acelerar o desenvolvimento, preconizando-se um Sistema Geral de
Preferências (SGP), pelo qual os países desenvolvidos devem assegurar um
tratamento preferencial para os produtos manufaturados importados pelos
países em desenvolvimento, a fum de reduzir a proteção efetiva e elevada que
esses produtos padecem, visando-se romper com o imperialismo de muitos
países desenvolvidos.
Nesse diapasão, é possível afirmar que o Direito Econômico
Internacional surgido depois da Segunda Guerra Mundial foi um direito
codificador porque se limitou a cristalizar as concepções até então
predominantes. Já o Direito Internacional surgido com a Nova Ordem
Econômica Internacional é um direito reformador ou transformador, porque
pretende estabelecer critérios concretizadores de um desenvolvimento
satisfatório para todas as nações, eliminando o grave hiato que as separa.12
Em 1974 foi aprovada a Resolução 3.281 (XXIX) na ONU, que adotou e
proclamou a Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados. Essa Carta
se baseia em 15 princípios fundamentais:

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 Soberania, integridade territorial e independência política dos Estados;
 Igualdade soberana de todos os Estados;
 Não-agressão
 Não-intervenção
 Benefício mútuo e eqüitativo;
 Coexistência pacífica;
 Igualdade de direitos e livre determinação dos povos;
 Solução pacífica de controvérsias;
 Reparação das injustiças existentes por império da forá, que privem uma
nação dos meios naturais necessários para seu desenvolvimento
normal;
 Cumprimento de boa-fé das obrigações internacionais;
 Respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais;
 Abstenção de todo intento de buscar hegemonia e esferas de influência;
 Fomento da justiça social internacional;
 Cooperação internacionalpara o desenvolvimento;

12
CARREAU, Dominique, JUILLARD, Patrick, FLORY, Thiébaut. Op. cit. p. 87.

9
 Livre acesso ao mar e desde o mar para países sem litoral dentro do
marco dos princípios acima enunciados.

No artigo 1º da carta está estabelecido que “todo estado tem o direito


soberano e inalienável de escolher seu sistema econômico, assim como seu
sistema político, social e cultural, de acordo com a vontde de seu povo, sem
ingerência, coação nem ameaças externas de qualquer espécie” e o art. 2º
complementa: “todo Estado tem e exerce livremente soberania plea e
permanente, inclusive posse, uso e disposição, sobre toda a sua riqueza,
recursos naturais e atividades econômicas”.
A Carta estabelece no ítem 3 do art. 13 a obrigação dos países
desenvolvidos de “cooperar com os países em desenvolvimento para o
estabelecimento, fortalecimento e desenvolvimento de suas infra-estruturas
científicas e tecnológica, de modo a ajudar a expandir e transformar as
economias dos países em desenvolvimento”. Na mesma esteira, o art. 19
estabelece para os países desenvolvidos a obrigação de “conceder um
tratamento preferencial generalizado, sem reciprocidade e sem discriminação,

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aos países em desenvolvimento naquelas esferas da cooperação internacional
em que seja factível”.
Outro princípio fundamental é o da cooperação internacional a nível
econômico. O preâmbulo da declaração coloca como objetivo básico a
“cooperação entre todos os Estados, independentemente de seus sistemas
econômicos ou sociais”. O art. 11 dispõe:
“Todos os Estados devem cooperar para robustecer e melhorar
continuamente a eficácia das organizações internacionais na
aplicação de medidas que estimulem o progresso econômico geral de
todos os países, em particular dos países em desenvolvimento, e,
para isso, devem cooperar para adotá-las, quando seja apropriado,
às necessidades cambiantes da cooperação econômica
internacional”.

A interdependência econômica é também um princípio fundamental da


seguraná econômica, como se aduz do art. 24 da Carta, no qual se determina
que “todos os Estados têm o dever de conduzir suas relações econômicas
mútuas, de forma a levar em conta os interesses dos demais países. Em

10
particular, todos os Estados devem evitar prejudicar os interesses dos demais
países. Em particular, todos os Estados devem evitar os interesses dos países
em desenvolvimento”.

3. O Fundo Monetário Internacional (FMI)

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização


internacional cujo escopo é assegurar o bom funcionamento do sistema
financeiro mundial pelo monitoramento das taxas de câmbio e da balança de
pagamentos, através de assistência técnica e financeira. Sua sede é em
Washington, DC, Estados Unidos da América.
O FMI se auto-proclama como uma organização de 185 países,
trabalhando por uma cooperação monetária global, assegurar estabilidade
financeira, facilitar o comércio internacional, promover altos níveis de emprego
e desenvolvimento econômico sustentável, além de reduzir a pobreza.
O FMI é, portanto, um organismo governamental, regido por funcionários
públicos, de mais de 112 governos diferentes. Os seus recursos são

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controlados por 112 governos, os Estados Unidos têm 18% dos votos, 10% a
mais do que deveriam se o critério fosse população, e 20% a menos se o
critério fosse produção. Portanto, não se trata de uma organismo privado!
O FMI foi criado em 1945 com o objetivo de zelar pela estabilidade do
sistema monetário internacional, notadamente através da promoção da
cooperação e da consulta em assuntos monetários entre os seus 184 países
membros. Com exceção de Coréia do Norte, Cuba, Liechtenstein, Andorra,
Mônaco, Tuvalu e Nauru, todos os membros da ONU fazem parte do FMI.
O FMI foi criado, entre outros, por John Maynard Keynes, um
economista intervencionista, hoje considerado centro-esquerda. Segundo o
prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, seus piores alunos terminavam
trabalhando no FMI, os melhores em Wall Street.
Juntamente com o BIRD, o FMI emergiu das Conferências de Bretton
Woods como um dos pilares da ordem econômica internacional do pós-Guerra.
O FMI busca evitar que desequilíbrios nos balanços de pagamentos e
nos sistemas cambiais dos países membros possam prejudicar a expansão do
comércio e dos fluxos de capitais internacionais.

11
O Fundo favorece a progressiva eliminação das restrições cambiais nos
países membros e concede recursos temporariamente para evitar ou remediar
desequilíbrios no balanço de pagamentos. Além disso, o FMI planeja e
monitora programas de ajustes estruturais e oferece assistência técnica e
treinamento para os países membros.
Dessa feita, podemos dizer que os objetivos do FMI são:
 Promover a cooperação monetária internacional, fornecendo um
mecanismo de consulta e colaboração na resolução dos problemas
financeiros;
 Favorecer a expansão equilibrada do comércio, proporcionando
níveis elevados de emprego e trazendo desenvolvimento dos
recursos produtivos;
 Oferecer ajuda financeira aos países membros em dificuldades
econômicas, emprestando recursos com prazos limitados;
 Contribuir para a instituição de um sistema multilateral de
pagamentos e promover a estabilidade dos câmbios.
O ativo financeiro do FMI é o Direito Especial de Saque. Substitui o ouro

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e o dólar para efeitos de troca. Funciona apenas entre bancos centrais e
também pode ser trocado por moeda corrente com o aval do FMI.
Tendo sido criado em 1969, começou a ser utilizado apenas em 1981.
Seu valor é determinado pela variação média da taxa de câmbio dos cinco
maiores exportadores do mundo: França (Euro), Alemanha (Euro), Japão
(iene), Reino Unido (libra esterlina) e Estados Unidos (dólar estadunidense). A
partir de 1999, o euro substituiu as moedas francesa e alemã neste cálculo.
O Fundo possui hoje, aproximadamente, U$ 310 bilhões, ou DES 213
bilhões, disponíveis para empréstimo. A cotação do DES hoje (16 de maio de
2005) é de USD 1,49405.[2] Através de média ponderada: soma de uma quantia
específica das 4 moedas com a cotação em dólar estadunidense, com base
nas taxas diárias de câmbio do mercado de Londres.
Cada país membro detém no FMI uma cota a ser determinada com base
em seus indicadores econômicos, entre eles o PIB. Quanto maior a
contribuição ao FMI, maior é o peso do voto nas decisões. Há uma revisão
geral das cotas a cada cinco anos.

12
O Fundo pode propor um aumento nas cotas de determinado país, mas
é necessária a aprovação por 85 % dos votos para qualquer modificação. Os
membros que queiram aumentar sua cota devem pagar ao Fundo a mesma
quantia em DES correspondente ao aumento.
Os cinco maiores acionistas são: Estados Unidos, Alemanha, Japão,
França e Reino Unido. Cada país pode sacar 25 % de sua cota
correspondente.
Acima deste percentual, é preciso assinar um termo (carta de intenções,
atrelada geralmente a um memorando técnico de entendimento) onde se
compromete a reduzir o déficit fiscal e promover a estabilização monetária. A
partir de 1980, o FMI passa a funcionar como supervisor da dívida externa.
Recentemente, o combate à pobreza mundial vem-se tornando uma
preocupação central.

4. Acordo Geral Sobre tarifas e Comércio (GATT)

O Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio ou “Acordo Geral

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sobre Tarifas e Comércio” (em inglês: General Agreement on Tariffs and Trade,
ou simplesmente, GATT) foi estabelecido em 1947.
O seu escopo primeiro era a busca da harmonização das políticas
aduaneiras dos Estados signatários, inclusive, está na base da criação da
Organização Mundial de Comércio.
Pode-se dizer que o GATT, como é mais conhecido, é um conjunto de
normas e concessões tarifárias, criado com a função de impulsionar a
liberalização comercial e combater práticas protecionistas, regular,
provisoriamente, as relações comerciais internacionais.
Após a Segunda Guerra Mundial, vários países decidiram regular as
relações econômicas internacionais, não só com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida de seus cidadãos, mas também por entenderem que os
problemas econômicos influíam seriamente nas relações entre os Governos.
Para regular aspectos financeiros e monetários, foram criados o BIRD (Banco
Mundial) e o FMI, e no âmbito comercial, foi discutida a criação da Organização
Internacional do Comércio - OIC, que funcionaria como uma agência
especializada das Nações Unidas.

13
Em 1950, visando impulsionar a liberalização comercial, combater
práticas protecionistas adotadas desde a década de 30, 23 países,
posteriormente denominados fundadores, iniciaram negociações tarifárias.
Essa primeira rodada de negociações resultou em 45.000 concessões e o
conjunto de normas e concessões tarifárias estabelecido passou a ser
denominado Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - GATT.
Os membros fundadores, juntamente com outros países, formaram um
grupo que elaborou o projeto de criação da OIC, sendo os Estados Unidos um
dos países mais atuantes no convencimento da ideia do liberalismo comercial
regulamentado em bases multilaterais.
O fórum de discussões, que se estendeu de Novembro de 1947 a Março
de 1948, ocorreu em Havana, Cuba, e culminou com a assinatura da Carta de
Havana, na qual constava a criação da OIC. O projeto de criação da OIC era
ambicioso pois, além de estabelecer disciplinas para o comércio de bens,
continha normas sobre emprego, práticas comerciais restritivas, investimentos
estrangeiros e serviços.
Apesar do papel preponderante desempenhado pelos Estados Unidos

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nestas negociações, questões políticas internas levaram o país a anunciar, em
1950, o não encaminhamento do projeto ao Congresso para sua ratificação.
Sem a participação dos Estados Unidos, a criação da Organização
Internacional do Comércio fracassou.
Dessa forma, o GATT, um acordo criado para regular provisoriamente as
relações comerciais internacionais, foi o instrumento que, de fato,
regulamentou por mais de quatro décadas as relações comerciais entre os
países.
Durante a Rodada Uruguai de negociações, voltou-se a discutir sobre a
criação de um organismo internacional destinado a regulamentar o comércio
internacional, não apenas de bens, mas também serviços, além de temas
relacionados a investimentos e propriedade intelectual, entre outros.
Como resultado, a Ata da Rodada Uruguai inclui um novo Acordo de
Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT 94), o qual mantêm a vigência do GATT
47, o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS), o Acordo sobre
Investimentos (TRIMS), o Acordo sobre direitos de Propriedade Intelectual
(TRIPS), além de acordos destinados a regulamentar procedimentos de

14
solução de controvérsias, medidas antidumping, medidas de salvaguarda,
medidas compensatórias, valoração aduaneira, licenciamento, procedimentos,
etc. Por fim, a Ata da Rodada Uruguai também contém o acordo constitutivo da
Organização Mundial de Comércio (OMC), encarregada de efetivar e garantir a
aplicação dos acordos citados.
Em suma, o GATT foi um órgão criado a fim de harmonizar a política
aduaneira entre países, mas no início não tinha o poder de punir, julgar e
fiscalizar países infratores. Entretanto, em uma reunião da OMC em 2003, com
a liderança de Brasil, África do Sul e Índia, foi criado o G20 (países em
desenvolvimento); a partir daí o GATT teve o poder de fiscalizar, julgar e punir
países infratores.

5. A Organização Mundial do Comércio (OMC)

A Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização


internacional que trata das regras sobre o comércio entre as nações. Os
membros da OMC negociam e assinam acordos que depois são ratificados

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


pelo parlamento de cada nação e passam a regular o comércio internacional.
Em inglês é denominada World Trade Organization” (WTO) e possui 153
membros.
O surgimento da OMC constituiu um marco na ordem internacional que
começara a ser delineada no fim da Segunda Guerra Mundial. Ela surge a
partir dos preceitos estabelecidos pela Organização Internacional do Comércio,
consolidados na Carta de Havana, e, uma vez que esta não foi levada adiante
pela não aceitação do Congresso dos E.U.A., principal economia do planeta,
com um PIB maior do que o das outras potências todas somadas, imputou-os
no GATT de 1947, um acordo temporário que acabou vigorando até a criação
efetiva da OMC após as negociações da Rodada Uruguai em 1995.
A OMC entrou em funcionamento em 1 de Janeiro de 1995. Portugal
aderiu em 15 de Abril de 1994 e, em 23 de Julho de 2008, Cabo Verde se
tornou o seu mais novo membro.
Podemos resumir as suas funções da seguinte forma:
 gerenciar os acordos que compõem o sistema multilateral de
comércio

15
 servir de fórum para comércio internacional (firmar acordos
internacionais)
 supervisionar a adoção dos acordos e implementação destes
acordos pelos membros da organização(verificar as políticas
comerciais nacionais).
Outra função muito importante na OMC é o Sistema de resolução de
Controvérsias da OMC, o que a destaca entre outras instituições internacionais.
Este mecanismo foi criado para solucionar os conflitos gerados pela aplicação
dos acordos sobre o comércio internacional entre os membros da OMC.
As negociações na OMC são feitas em Rodadas, hoje, ocorre a Rodada
de Doha (Agenda de Desenvolvimento de Doha - Doha Development Agenda)
iniciada em 2001.
Além disso, a OMC realiza Conferências Ministeriais a cada dois anos.
Existe um Conselho Geral que implementa as decisões alcançadas na
Conferência e é responsável pela administração diária. A Conferência
Ministerial escolhe um diretor geral com o mandato de quatro anos, atualmente
o Diretor geral é Pascal Lamy, que tomou posse em 1 de Setembro de 2005.

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


A atuação da OMC pauta-se por alguns princípios na busca do livre
comércio e também da igualdade entre os países. Vamos examiná-los.
 Princípio da Não-Discriminação: este princípio envolve duas
considerações. O Art. I do GATT 1994, na parte referente a bens,
estabelece o princípio da nação mais favorecida. Isto significa que se um
país conceder a outro país um benefício terá obrigatoriamente que
estender aos demais membros da OMC a mesma vantagem ou
privilégio. O Art. III do GATT 1994, na parte referente a bens, estabelece
o princípio do tratamento nacional. Este impede o tratamento
diferenciado aos produtos internacionais para evitar desfavorecê-los na
competição com os produtos nacionais.

 Princípio da Previsibilidade: para impedir a restrição ao comércio


internacional este princípio garante a previsibilidade sobre as regras e
sobre o acesso ao comércio internacional por meio da consolidação dos
compromissos tarifários para bens e das listas de ofertas em serviços.
Regula também outras áreas da OMC, como TRIPS* Página oficial

16
sobre o Acordo TRIPs (em inglês) , TRIMS Acordo Geral de Tarifas e
Comércio, Barreiras Técnicas e SPS.

 Princípio da Concorrência Leal: este princípio visa garantir um comércio


internacional justo, sem práticas desleais, como os subsídios (alguns
Estados dão dinheiro aos agricultores de seus países, permitindo a
produção de itens mais baratos e mais competitivos perante os
itens/produtos dos outros países). Previsto nos Arts. VI e XVI. No
entanto, só foram efetivados após os Acordos Antidumping e de
Subsídios, que, além de regularem estas práticas, também previram
medidas para combater os danos delas provenientes.

 Princípio da Proibição de Restrições Quantitativas: estabelecido no Art.


XI do GATT 1994 impede que os países façam restrições quantitativas,
ou seja, imponham quotas ou proibições a certos produtos internacionais
como forma de proteger a produção nacional. A OMC aceita apenas o
uso das tarifas como forma de proteção, desde que a lista de

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


compromissos dos países preveja o uso de quotas tarifárias.

 Princípio do Tratamento Especial e Diferenciado para Países em


Desenvolvimento: estabelecido no Art. XXVIII e na Parte IV do GATT
1994. Por este princípio os países em desenvolvimento terão vantagens
tarifárias, além de medidas mais favoráveis que deverão ser realizadas
pelos países desenvolvidos.

 A OMC surgiu do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) que foi


criado após a Segunda Guerra Mundial conjuntamente com outras
instituições multilaterais dedicadas à cooperação econômica
internacional, como as instituições criadas com Acordos de Bretton
Woods: o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional).

 Em dezembro de 1945, os Estados Unidos convidaram seus aliados de


guerra a iniciar negociações a fim de criarem um acordo multilateral para
a redução recíproca das tarifas de comércio de bens. Para realizar este

17
objetivo, tentou-se criar a Organização Internacional do Comércio (ITO-
International Trade Organization). Um Comitê Preparatório teve início
em fevereiro de 1946 e trabalhou até novembro de 1947. Em Março de
1948 as negociações quanto à Carta da OIT não foram completadas
com sucesso em Havana. Esta Carta tentava estabelecer efetivamente a
OIT e designar as principais regras para o comércio internacional e
outros assuntos econômicos. Esta Carta nunca entrou em vigor, foi
submetida inúmeras vezes ao Congresso Norte Americano que nunca a
aprovou.

 Em outubro de 1947 um acordo foi alcançado pelo GATT. Finalmente,


em 30 de outubro de 1947, 23 países assinaram o “Protocolo de
Provisão de Aplicação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio” com o
objetivo de evitar a onda protecionista que marcou os anos 30. Nesta
época os países tomaram uma série de medidas para proteger os
produtos nacionais e evitar a entrada de produtos de outros países,
como por meio de altos impostos para importação.

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


 Na ausência de uma real organização internacional para o comércio, o
GATT supriu essa demanda, como uma instituição provisória.

 O GATT foi o único instrumento multilateral a tratar do comércio


internacional de 1948 até o estabelecimento em 1995 da OMC. Apesar
das tentativas de se criar algum mecanismo institucionalizado para tratar
do comércio internacional, o GATT continuou operando por quase meio
século como um mecanismo semi-institucionalizado.

 Após uma série de negociações frustradas, na Rodada do Uruguai foi


criada a OMC, de caráter permanente, substituindo o GATT.

 As negociações no âmbito do antigo GATT e hoje na OMC são


chamadas de rodadas. A cada rodada é lançada uma agenda de temas
que serão discutidos entre os membros da OMC para firmarem acordos.
O Art. XXVIII do GATT prevê as rodadas como forma dos Membros da

18
OMC negociarem e decidirem sobre a diminuição das tarifas de
importação e a abertura dos mercados, por exemplo. No GATT (1947 a
1994) ocorreram 8 Rodadas de Negociação e na OMC em 2001 iniciou-
se a Rodada de Doha ainda em curso. O resumo das Rodadas de
Negociação na história do sistema multilateral de comércio:

 1a rodada:Genebra - 1947-23 Países participantes - tema coberto:


tarifas

 2a rodada: Annecy - 1949-13 Países participantes - tema coberto: tarifas

 3a rodada: Torquay - 1950,51- 38 Países participantes - tema coberto:


tarifas

 4a rodada: Genebra - 1955,56 - 26 Países participantes - tema


coberto:tarifas

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


 5a rodada: Dillon - 1960,61- 26 Países participante s - tema coberto:
tarifas

 6a rodada:Kennedy - 1964,67-62 Países participantes - temas cobertos:


tarifas e medidas “antidumping”

 7a rodada: Tóquio - 1973,79 - 102 Países participantes - temas


cobertos: tarifas, medidas não tarifárias, cláusula de habilitação

 8a rodada: Uruguai - 1986,93 - 123 Países participantes - temas


cobertos: tarifas, agricultura, serviços, propriedade intelectual, medidas
de investimento, novo marco jurídico, OMC.

 9a rodada: Doha - 2001,?- 149 Países participantes - temas cobertos:


tarifas, agricultura, serviços, facilitação de comércio, solução de
controvérsias, "regras".

19
6. União Européia

As informações a seguir foram todas extraídas do site oficial da União


européia, em português de Portugal. Para maiores informações, consulte:
http://europa.eu

6.1. História
A União Europeia foi criada com o objectivo de pôr termo às frequentes
guerras sangrentas entre países vizinhos, que culminaram na Segunda Guerra
Mundial.
A partir de 1950, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço começa a
unir económica e politicamente os países europeus, tendo em vista assegurar
uma paz duradoura. Os seis países fundadores são a Alemanha, a Bélgica, a
França, a Itália, o Luxemburgo e os Países Baixos.
Os anos 50 são dominados pela guerra fria entre o bloco de Leste e o
Ocidente. Em 1956, o movimento de protesto contra o regime comunista na
Hungria é reprimido pelos tanques soviéticos. No ano seguinte, em 1957, a

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


União Soviética lança o primeiro satélite artificial (o Sputnik 1), liderando a
"corrida espacial". Ainda em 1957, o Tratado de Roma institui a Comunidade
Económica Europeia (CEE) ou “Mercado Comum”.
A década de 60 é caracterizada pela emergência de uma “cultura
jovem”, com grupos como The Beatles, que atraem multidões de jovens por
onde quer que passem, contribuindo para lançar uma verdadeira revolução
cultural e acentuando o fosso entre as gerações.
Trata-se de um bom período para a economia, favorecida pelo facto de
os países da União Europeia terem deixado de cobrar direitos aduaneiros
sobre as trocas comerciais realizadas entre si. Além disso, decidem também
implantar um controlo conjunto da produção alimentar, de forma a assegurar
alimentos suficientes para todos. Em breve, se passaria a registar, aliás,
excedentes de produtos agrícolas.
O mês de Maio de 68 tornou-se famoso pelas manifestações de
estudantes em Paris, tendo muitas mudanças na sociedade e a nível dos
comportamentos ficado para sempre associadas à denominada “geração de
68”.

20
A Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido aderem à União Europeia em 1
de Janeiro de 1973, elevando assim o número dos Estados-Membros para
nove. Na sequência do breve, mas violento, conflito israelo-árabe em Outubro
de 1973, a Europa debate-se com uma crise energética e problemas
económicos.
A queda do regime de Salazar em Portugal, em 1974, e a morte do
General Franco em Espanha, em 1975, põem fim às últimas ditaduras de
direita na Europa.
No âmbito da política regional da União Europeia, começam a ser
atribuídas elevadas verbas para fomentar a criação de empregos e de infra-
estruturas nas regiões mais pobres. O Parlamento Europeu aumenta a sua
influência na UE e, em 1979, os cidadãos passam, pela primeira vez, a poder
eleger directamente os seus deputados.
O sindicato polaco Solidarność e o seu dirigente Lech Walesa tornam-se
muito conhecidos não só na Europa como no mundo inteiro na sequência do
movimento grevista dos trabalhadores do estaleiro de Gdansk durante o Verão
de 1980.

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


Em 1981, a Grécia torna-se o décimo Estado-Membro da UE, seguindo-
se-lhe a Espanha e Portugal cinco anos mais tarde. Em 1986, é assinado o
Acto Único Europeu, um Tratado que prevê um vasto programa para seis anos
destinado a eliminar os entraves que se opõem ao livre fluxo de comércio na
UE, criando assim o “Mercado Único”.
Com a queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro de 1989, dá-se uma
grande convulsão política: a fronteira entre a Alemanha de Leste e a Alemanha
Ocidental é aberta pela primeira vez em 28 anos e as duas Alemanhas em
breve se reunificarão, formando um único país.
Com o desmoronamento do comunismo na Europa Central e Oriental,
assiste-se a um estreitamento das relações entre os europeus. Em 1993, é
concluído o Mercado Único com as “quatro liberdades”: livre circulação de
mercadorias, de serviços, de pessoas e de capitais.
A década de 90 é também marcada por mais dois Tratados, o Tratado
da União Europeia ou Tratado de Maastricht, de 1993, e o Tratado de
Amesterdão, de 1999. A opinião pública mostra-se preocupada com a

21
protecção do ambiente e com a forma como os europeus poderão colaborar
entre si em matéria de defesa e segurança.
Em 1995, a União Europeia passa a incluir três novos Estados-
Membros, a Áustria, a Finlândia e a Suécia. Uma pequena localidade
luxemburguesa dá o seu nome aos acordos de “Schengen”, que gradualmente
permitirão às pessoas viajar sem que os seus passaportes sejam objecto de
controlo nas fronteiras. Milhões de jovens estudam noutros países com o apoio
da UE. A comunicação é facilitada à medida que cada vez mais pessoas
começam a utilizar o telemóvel e a Internet.
O euro é a nova moeda de muitos europeus. O 11 de Setembro de 2001
torna-se sinónimo de “Guerra contra o terrorismo” depois de terem sido
desviados aviões para embaterem em edifícios de Nova Iorque e Washington.
Os Estados-Membros da União Europeia começam a trabalhar cada vez
mais em conjunto para lutar contra a criminalidade. As divisões políticas entre a
Europa Ocidental e a Europa Oriental são finalmente declaradas sanadas
quando dez novos países aderem à União Europeia em 2004. Muitos
consideram que é altura de a Europa ter uma constituição. Mas a questão de

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


saber qual o tipo de constituição mais adequada está longe de ser consensual,
pelo que o debate sobre o futuro da Europa continua.

6.2. O Euro

O euro foi lançado em 1º de Janeiro de 1999, passando a ser a moeda


de mais de 300 milhões de pessoas na Europa. Nos primeiros três anos, foi
uma moeda invisível, apenas utilizada para fins contabilísticos, por exemplo,
em pagamentos electrónicos.
As notas e moedas de euro entraram em circulação em
1 de Janeiro de 2002, substituindo as então notas e moedas nacionais (por
exemplo, o franco belga e o marco alemão), a taxas de conversão irrevogáveis.
Actualmente, as notas e moedas de euro têm curso legal em 16 dos
27 Estados-Membros da União Europeia, incluindo os departamentos
ultramarinos, territórios e ilhas que fazem parte ou estão associados a países
da área do euro.

22
Estes países formam a área do euro. Os micro-estados da Cidade do
Vaticano, Mónaco e São Marino também utilizam o euro ao abrigo de um
acordo formal com a Comunidade Europeia. Andorra, o Kosovo e o
Montenegro utilizam igualmente o euro, mas sem um acordo formal.
As notas (e moedas) de euro circulam amplamente na área do euro,
sobretudo devido ao turismo, às viagens de negócios e às compras
transfronteiras. Antes da introdução do euro, as notas nacionais também
“circulavam” a nível transfronteiras, ainda que de forma bastante mais limitada,
e tinham de ser depois “repatriadas” para o banco central emissor, sobretudo
através do sistema bancário comercial.
Com o euro, estas devoluções tornaram-se desnecessárias. Todavia,
uma vez que grandes quantidades de notas de euro não permanecem no país
emissor, sendo antes utilizadas para efetuar pagamentos em outros países da
área do euro, os bancos centrais têm de voltar a distribuí-las, de modo a evitar
o défice de notas num país e excedentes em outros. Essas transferências são
coordenadas a nível central e financiadas pelo BCE.
O numerário é apenas uma das múltiplas formas de pagamento e

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


continua a ser importante apesar da maior utilização de cartões de pagamento,
débitos directos e outros meios de pagamento escriturais nas últimas décadas.
A posição do Eurosistema face aos diferentes instrumentos de
pagamento é neutra. No entanto, o funcionamento regular e eficiente dos
sistemas de pagamento exige diversos tipos de instrumentos com
características e vantagens distintas. O numerário é, sem dúvida, o instrumento
mais utilizado para pagamentos de retalho na área do euro, estando em
circulação cerca de 800 mil milhões de euros.
Enquanto instrumento de pagamento, o numerário possui algumas
características únicas:
 é o instrumento mais barato para pagamentos de retalho de pequeno
montante, sendo a média geral dos custos por transacção menor
para o numerário do que para instrumentos de pagamento
electrónicos equivalentes;
 é o instrumento de pagamento de contingência mais importante na
actual infra-estrutura de pagamentos;

23
 está “ao alcance de todos”, dado que permite a realização de
pagamentos por indivíduos que não dispõem de contas bancárias,
que têm acesso limitado a elas ou que não têm a possibilidade de
utilizar instrumentos de pagamento electrónicos;
 permite aos clientes controlarem melhor as suas despesas; e
 tem demonstrado ser um instrumento seguro em termos de
resistência à fraude/contrafacção.
Legalmente, tanto o BCE como os bancos centrais nacionais (BCN) dos
países da área do euro têm o direito de emitir notas de euro. Na prática,
apenas os BCN têm a capacidade para emitir e retirar de circulação notas (e
moedas) de euro.
O BCE não dispõe de serviços de caixa e não realiza operações em
numerário. Quanto às moedas de euro, os emissores legais são os países da
área do euro. A Comissão Europeia coordena todos os aspectos referentes às
moedas ao nível da área do euro. Para mais informações, consultar o sítio da
Comissão Européia.
O BCE é responsável pela supervisão das actividades dos BCN e toma

Unidade: A regulação jurídica da Ordem Econômica Internacional e Regional


a iniciativa quanto a novas harmonizações dos serviços de numerário na área
do euro, ao passo que os BCN são responsáveis pelo funcionamento dos
respectivos sistemas nacionais de distribuição de numerário.
Os BCN colocam notas e moedas em circulação através do sistema
bancário e, em menor escala, através do comércio a retalho. O BCE não pode
executar estas operações, visto que não dispõe de departamentos técnicos
próprios (unidades de distribuição, unidades de processamento de notas,
caixas-fortes, etc.).

6.3. A economia européia

A União Económica e Monetária (UEM) constitui o quadro para a


cooperação no domínio da política económica, do qual fazem parte todos os
países da UE. É neste contexto que estabelecem orientações comuns para
tratar questões económicas importantes.
O resultado é mais crescimento, mais emprego e um nível de bem-estar
social mais elevado para todos. Além disso, esta cooperação permite à UE

24
reagir aos desafios económicos e financeiros mundiais de forma coordenada,
reforça a sua resistência aos choques vindos do exterior e possibilita um
tratamento mais eficaz dos problemas económicos e financeiros.
A UE adoptou uma resposta coordenada face à actual crise económica e
financeira desde o seu início em Outubro de 2008. Os governos nacionais, o
Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia têm colaborado para
proteger as poupanças, manter o fluxo de crédito acessível para as empresas e
os particulares e instaurar um melhor sistema de governança financeira à
escala mundial. O objectivo não é apenas restaurar a estabilidade mas também
criar condições para relançar o crescimento e a criação de emprego.
Até agora, os governos da UE afectaram mais de dois biliões de euros
ao esforço de recuperação económica. Os dirigentes da UE coordenaram as
suas intervenções, apoiando os bancos e proporcionando garantias para os
empréstimos interbancários. A UE também aumentou para 50 000 euros o
valor mínimo das garantias das contas de poupança nacionais dos particulares.
Ter o euro como moeda comum numa grande parte da UE foi muito útil
durante a crise. Facilitou uma resposta coordenada da UE à crise mundial do

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crédito e proporcionou mais estabilidade do que seria possível se o euro não
existisse. Por exemplo, o facto de o BCE poder reduzir as taxas de juro para
toda a zona euro (em vez de cada país estabelecer a sua própria taxa) permite
que os bancos em toda a UE emprestem dinheiro uns aos outros nas mesmas
condições.
O euro é utilizado diariamente por mais de 60 % dos cidadãos da UE.
Com a moeda única, todos ficam a ganhar: os custos associados ao câmbio de
divisas durante as viagens de turismo ou de negócios desapareceram na zona
euro; os custos associados aos pagamentos transfronteiras desapareceram na
maioria dos casos ou diminuíram significativamente; consumidores e empresas
podem comparar os preços mais facilmente, o que estimula a concorrência.
Pertencer à zona euro é uma garantia para a estabilidade dos preços. O
BCE fixa as taxas de juro a um nível susceptível de manter, a prazo, a inflação
na zona euro abaixo dos 2 %. Também gere as reservas de divisas da UE e
pode intervir nos mercados internacionais de divisas para influenciar a taxa de
juro do euro.

25
O euro deverá ser usado por todos os países da UE, mas apenas
quando as suas economias estiverem prontas para tal. Os países que aderiram
à UE em 2004 e 2007 estão assim a entrar gradualmente na zona euro.
Por sua vez, a Dinamarca e o Reino Unido escolheram não usar o euro
ao abrigo de acordos políticos especiais. Para entrar na zona euro, um país
tem de manter estável durante dois anos a taxa de câmbio da sua moeda
nacional e satisfazer outros critérios relacionados com as taxas de juro, o
défice orçamental, a taxa de inflação e o nível da dívida pública.
O BCE tem por missão não só manter os preços estáveis, mas também
assegurar pagamentos transfronteiras tão baratos quanto possível para os
bancos e os consumidores.
É precisamente isto que se propõe fazer o sistema de pagamento em
tempo real conhecido por sistema TARGET que é utilizado pelo BCE e pelos
bancos nacionais para pagamentos de grandes montantes e que, no futuro,
oferecerá vantagens semelhantes para as operações sobre títulos.
O BCE e a Comissão Europeia colaboram na criação de um Espaço
Único de Pagamentos em Euros (SEPA - Single Euro Payments Area) tendo

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em vista ampliar os benefícios resultantes de pagamentos mais eficientes e
baratos. Um dia, todos os pagamentos em euros, independentemente da forma
como forem efectuados (por transferência bancária, débito directo ou cartão),
serão tratados exactamente do mesmo modo quer sejam nacionais ou
internacionais. A UE está actualmente a alargar os benefícios aos pagamento
por débito directo.

7. O Mercado Comum do Sul (Mercosul)

As informações a seguir foram todas extraídas do site oficial do


Mercosul, em português. Para maiores informações, consulte:
www.mercosur.org.uy

7.1. Antecedentes históricos


A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do
Paraguai e a República Oriental do Uruguai assinaram em 26 de março de

26
1991 o Tratado de Assunção, com vistas a criar o Mercado Comum do Sul -
MERCOSUL.
Os quatro Estados Partes que constituem o MERCOSUL partilham
valores que se exprimem em suas sociedades democráticas, pluralistas,
defensoras das liberdades fundamentais, dos direitos humanos, da proteção do
meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, e partilham, ainda, seu
compromisso com a consolidação da democracia, com a segurança jurídica,
com o combate à pobreza e com o desenvolvimento econômico e social com
equidade.
Com essa base fundamental de coincidências, os parceiros buscaram a
ampliação das dimensões dos respectivos mercados nacionais por meio da
integração, que é uma condição fundamental para acelerar seus processos de
desenvolvimento econômico com justiça social.
Portanto, o objetivo primordial do Tratado de Assunção é a integração
dos quatro Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e
fatores produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC),
da adoção de uma política comercial comum, da coordenação de políticas

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macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes.
Na Cúpula de Presidentes de Ouro Preto, em dezembro de 1994, foi
aprovado um Protocolo Adicional ao Tratado de Assunção - o Protocolo de
Ouro Preto - que estabelece a estrutura institucional do MERCOSUL e o dota
de personalidade jurídica internacional. Em Ouro Preto concluiu o período de
transição e foram adotados os instrumentos fundamentais de política comercial
comum que caracterizam a União Aduaneira.
Portanto, os Estados Partes resolveram iniciar uma nova etapa, para
atingir um mercado único que gerasse maior crescimento econômico para os
Estados Partes, por meio do aproveitamento da especialização produtiva, das
economias de escala, da complementação comercial e do maior poder
negociador do bloco com outros blocos ou países.

27
7.2. O Mercosul Político
O MERCOSUL assenta os alicerces que enquadram as relações entre
os Estados Partes e representa, acima de tudo, um Acordo Político.O
MERCOSUL é um fator de estabilidade na região, pois gera uma trama de
interesses e relações que torna mais profundas as ligações, tanto econômicas
quanto políticas, e neutraliza as tendências à fragmentação.
Os responsáveis políticos, as burocracias estatais, os trabalhadores e os
empresários têm no MERCOSUL um âmbito de discussão, de múltiplas e
complexas facetas, onde podem ser abordados assuntos de interesse comum.
Nesse contexto, os quatro Estados Partes do MERCOSUL, junto com a
Bolívia e o Chile, constituíram o "Mecanismo de Consulta e Concertação
Política" por meio do qual são consensualizadas posições em matérias de
alcance regional que vão além do estritamente econômico e comercial.
Na X Reunião do Conselho do Mercado Comum (San Luis, 25 de Junho
de 1996) foi assinada a "Declaração Presidencial sobre Compromisso
Democrático no MERCOSUL", bem como o Protocolo de Adesão da Bolívia e
do Chile a essa Declaração, instrumento que traduz a plena vigência das

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instituições democráticas, condição indispensável para a existência e o
desenvolvimento do MERCOSUL.
Na mesma ocasião, foi assinada uma Declaração dos Presidentes dos
Estados Partes do MERCOSUL, da Bolívia e do Chile, reafirmando seu
respaldo aos direitos legítimos da República Argentina na disputa de soberania
sobre a questão das Ilhas Malvinas.
Posteriormente, na Reunião do Conselho do Mercado Comum, em julho
de 1998, os Presidentes dos Estados Partes do MERCOSUL e das Repúblicas
da Bolívia e do Chile assinaram o "Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso
Democrático".
Nesse documento os seis países reconhecem a vigência das instituições
democráticas como condição indispensável para a existência e o
desenvolvimento dos processos de integração, e que toda alteração da ordem
democrática é um obstáculo inaceitável para a continuidade do processo de
integração regional.
Ainda na referida reunião foi assinada a "Declaração Política do
MERCOSUL, da Bolívia e do Chile como zona de Paz", mediante a qual os seis

28
países manifestam que a paz é um elemento essencial para a continuidade e
para o desenvolvimento do processo de integração regional.
A esse respeito, os seis governos acordaram, dentre outros pontos,
fortalecer os mecanismos de consulta e de cooperação sobre temas de
segurança e de defesa existentes entre seus países e promover sua
progressiva coordenação, e fazer esforços conjuntos nos foros pertinentes para
avançar na consolidação de acordos internacionais focados na consecução do
objetivo da não-proliferação e do desarmamento nuclear em todos seus
aspectos.
Levando em conta o compromisso do MERCOSUL com o
aprofundamento do processo de integração regional e a importância de
desenvolver e intensificar as relações com os Países-Membros da ALADI com
os quais o MERCOSUL assinou Acordos de Livre-Comércio para atingir aquele
objetivo, o Conselho do Mercado Comum aprovou a Decisão CMC Nº 18/04,
que estabelece as condições para a associação dos Países-Membros da
ALADI ao MERCOSUL e regulamenta sua participação nas reuniões dos
órgãos da estrutura institucional do bloco.

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Conforme estabelecido na referida Decisão, os países interessados
terão de aderir ao "Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no
MERCOSUL, na República da Bolívia e na República do Chile", e à
"Declaração Presidencial sobre Compromisso Democrático no MERCOSUL".
Poderão, ainda, participar como convidados das reuniões dos órgãos da
estrutura institucional do MERCOSUL para tratar temas de interesse comum.
Atualmente, os Estados Associados ao MERCOSUL são a Bolívia, o
Chile, o Peru, o Equador e a Colômbia.
Na Decisão CMC Nº 28/04 são estabelecidas regras orientadoras para a
negociação de Acordos celebrados com os Estados Associados ao
MERCOSUL, especialmente no tocante à modalidade de assinatura, à entrada
em vigor, à solução de controvérsias e à eventual adesão de outros Estados
Associados.
Um fato especialmente importante dos últimos anos é a solicitação da
República Bolivariana da Venezuela de ingresso como membro pleno ao
MERCOSUL. Essa solicitação ocorreu ao amparo do Artigo 20 do Tratado de

29
Assunção, que admite a adesão dos demais Países-Membros da Associação
Latino-Americana de Integração (ALADI) ao bloco.
A esse respeito, os Estados Partes do MERCOSUL reafirmaram a
importância da adesão da República Bolivariana da Venezuela ao MERCOSUL
para a consolidação do processo de integração da América do Sul no contexto
da integração latino-americana.
No ano de 2005 foi aprovada a Decisão CMC Nº 28/05, que regulamenta
as condições necessárias para a adesão de um novo Estado Parte ao
MERCOSUL, à luz dos objetivos e dos princípios estabelecidos no Tratado de
Assunção.
Nesse âmbito, em 4 de julho de 2006 foi aprovado o Protocolo de
Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao MERCOSUL, que
estabelece as condições e os prazos previstos para a plena incorporação da
Venezuela ao bloco. Conforme estabelecido no Protocolo, a República
Bolivariana da Venezuela desenvolverá sua integração ao MERCOSUL de
acordo com os compromissos dele derivados e seguindo os princípios de
gradualidade, flexibilidade e equilíbrio, de reconhecimento das assimetrias, e

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de tratamento diferencial, bem como os de segurança alimentar, de meios de
subsistência e de desenvolvimento rural integral.
A entrada em vigor do Protocolo requer que ele seja ratificado pelos
Congressos dos cinco países envolvidos. Por enquanto, a referida adesão foi
aprovada pelos Parlamentos da Venezuela, da Argentina, do Brasil e do
Uruguai, estando ainda pendente a aprovação do Parlamento do Paraguai.
Por sua vez, vale assinalar que, por meio da Decisão CMC Nº 05/07, foi
criado o Observatório da Democracia do MERCOSUL (ODM), levando em
conta que a plena vigência das instituições democráticas é condição essencial
para o desenvolvimento do processo de integração do MERCOSUL.
Dentre os objetivos gerais do ODM referimos: contribuir para o
fortalecimento dos objetivos do Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso
Democrático no MERCOSUL, na República da Bolívia e na República do Chile;
acompanhar os processos eleitorais nos Estados Partes do MERCOSUL;
coordenar as atividades do Corpo de Observadores Eleitorais do MERCOSUL
sob encomenda do Estado-Parte onde for ocorrer o processo eleitoral, elaborar

30
as normas para o desempenho de suas funções, e desenvolver atividades e
estudos ligados à consolidação da democracia na região.

7.3. O Mercosul Econômico-comercial


A conformação e a consolidação do MERCOSUL como União Aduaneira
entre os quatro países envolvem a administração sub-regional das políticas
comerciais, superando o recurso de adoção de medidas unilaterais dessa
natureza, garantindo condutas previsíveis e não prejudiciais para os parceiros.
Portanto, a entrada em vigor de uma Tarifa Externa Comum (TEC)
significa que as eventuais modificações dos níveis de proteção dos setores
produtivos tenham de ser consensualizadas de forma quadripartita, provendo
um âmbito de maior previsibilidade e certeza para a tomada de decisões dos
agentes econômicos.
A nova política comercial comum tende a fortalecer e reafirmar os
processos de abertura e de inserção nos mercados mundiais. O MERCOSUL
foi concebido como um instrumento para uma inserção mais adequada de
nossos países no mundo exterior, contando com a TEC como um instrumento

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para melhorar a competitividade.
Esse novo cenário gera maior previsibilidade e certeza na estrutura
tarifária, fomentando o comércio intra-regional e novos investimentos de
empresas regionais e estrangeiras que tentam aproveitar as vantagens e os
atrativos do mercado ampliado.
A captação de investimentos é um dos objetivos centrais do
MERCOSUL. Em um cenário internacional tão competitivo, onde os países se
esforçam para oferecer estímulos aos investidores, a busca e a consolidação
da União Aduaneira tenderão a serem vantagens fundamentais, pois isso
oferecerá um âmbito muito propício para atrair capitais.
Apesar de todas as dificuldades decorrentes do difícil cenário econômico
internacional e dos inconvenientes resultantes dos processos de restruturação
das economias internas, o MERCOSUL tem sido um dos principais receptores
mundiais de investimentos estrangeiros diretos.
O MERCOSUL tem procurado que o processo de integração ocorra
sobre bases realistas e flexíveis, para que o processo possa adaptar os
instrumentos às realidades dos quatro países que o constituem.

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Por isso, em 2000, os Estados Partes do MERCOSUL resolveram iniciar
uma nova etapa do processo de integração regional, cujo objetivo fundamental
foi consolidar o caminho para a União Aduaneira, tanto no âmbito sub-regional
quanto no externo.
Nesse contexto, os Governos dos Estados Partes do MERCOSUL
reconhecem o papel central da convergência e da coordenação
macroeconômica no aprofundamento do processo de integração.
A partir desse momento, os Estados Partes resolveram priorizar o tratamento
dos seguintes temas:
1) agilização dos trâmites nas fronteiras,
2) convergência da tarifa externa comum e eliminação de sua dupla
cobrança,
3) adoção de critérios para a distribuição da renda aduaneira dos Estados
Partes do MERCOSUL,
4) fortalecimento institucional e,
5) relacionamento externo do bloco com outros blocos ou países.
Quanto à eliminação da dupla cobrança da TEC, o primeiro avanço

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importante ocorreu em 2004, quando a Decisão CMC Nº 54/04 foi aprovada.
Dessa forma, foram estabelecidas as diretrizes para o processo de transição
para o pleno funcionamento da União Aduaneira. A regulamentação da
Decisão CMC Nº 54/04 foi aprovada em 2005, mediante a Decisão CMC Nº
37/05.
Conforme a referida Decisão, esse processo envolve avançar em
normas e procedimentos que facilitem tanto a circulação quanto o controle,
dentro do MERCOSUL, dos bens importados no território aduaneiro ampliado,
e estabelecer um mecanismo de distribuição da renda aduaneira e a
eliminação da multiplicidade de cobrança da TEC, com vistas a estimular a
incorporação de valor agregado nos produtos originários da União Aduaneira e
a promoção de novas atividades produtivas.
Foi estabelecido, portanto, o princípio de que os bens importados do
resto do mundo que cumprissem a política tarifária comum receberiam o
tratamento de bens originários do MERCOSUL, tanto para sua circulação
dentro do território dos Estados Partes quanto para sua incorporação nos

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processos de produção. Com vistas a permitir a implementação do que
estabelece o Artigo 1° da Decisão CMC Nº 54/04, previu-se:
a) A adoção do Código Aduaneiro do MERCOSUL;
b) A interconexão on-line dos sistemas informáticos de gestão aduaneira
existentes nos Estados Partes do MERCOSUL;
c) Um mecanismo para a distribuição da renda, com a definição de
modalidades e procedimentos.
A partir desse momento, progrediu-se na interconexão on-line das
Aduanas dos quatro Estados Partes, atualmente operante e disponível o
Sistema de Intercâmbio de Informações dos Registros Aduaneiros (Sistema
INDIRA) em cada uma das Aduanas dos países do MERCOSUL.
Foram aprovadas, ainda, normas tendentes ao estabelecimento de
mecanismos para facilitar e simplificar o comércio intrazona, tais como a
Resolução GMC Nº 21/05, “Mecanismo para a Facilitação do Comércio
Intrazona” e a Resolução GMC Nº 02/09, “Procedimento Simplificado de
Despacho Aduaneiro Intra-MERCOSUL”.
O Conselho do Mercado Comum aprovou, no ano 2007, o “Sistema de

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Pagamento em Moedas Locais” para o comércio entre os Estados Partes do
MERCOSUL, objetivando reduzir os custos financeiros nas transações
comerciais e contribuir para o incremento do intercâmbio de bens entre os
países membros.
Em 2009, mediante a aprovação da Decisão Nº 09/09, o sistema foi
estendido a transações de qualquer natureza realizadas entre os Estados
Partes do MERCOSUL.
A fim de facilitar a aplicação do Regime de Origem MERCOSUL, tanto
para as autoridades competentes quanto para os operadores comerciais, o
Conselho Mercado Comum aprovou a Decisão Nº 01/09, mediante a qual se
unificaram todas as normas referidas ao Regime de Origem MERCOSUL.
No segundo semestre de 2009, a Comissão de Comércio do
MERCOSUL aprovou a Diretriz Nº 30/09 que prevê a substituição progressiva
dos certificados de origem em papel por certificados de origem digitais, o que
contribuirá para facilitar o comércio entre os Estados Partes.

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Referências

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141.
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