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Manual

de
Obrigações Fiscais, Sociais e Legais I

Resultado de Conhecer os principios básicos da legislação comercial, laboral, e fiscal


Aprendizagem 1: em Moçambique

Critérios de Desempenho: a) Identifica os vários ramos do direito e a sua aplicação


b) Estabelece a ligação entre o direito comercial e fiscal e a
organização
c) Identifica os principios básicos da legislação labobarl
d) Realiza os procedimentos necessários à liquidação das obrigações
sociais, fiscais e legais
Âmbito de Aplicação:

Contexto: Aplicável no contexto do cumprimento das obrigações sociais, fiscais e


legais;

Código Comercial, Código do IVA, Código do IRPC e IRPS, Normas de INSS,


Meios: Legislação laboral; Estatutos dos Beneficios fiscais;

Evidências Requeridas: Evidência escrita e/ou oral de que o formando identifica as normas
comerciais, fiscais e sociais a que está sujeita uma organização

Temas

1. Introdução 3. Legislação Laboral


1.1 Noção de Direito 3.1 Lei do Trabalho
1.2 O direito e suas divisões 3.2 Princípios Básicos
1.3 A organização económica do Estado 4. 4. Interpretação e Integração das Normas
Moçambicano Fiscais
1.4 Enquadramento e âmbito das Principais 5. 5. Aplicação da Lei no Espaço e no tempo
Fontes de Direito 6. Teoria geral do Imposto
2. A actividade Financeira do Estado 6.1 Conceito
2.1 O Direito Comercial e Fiscal 6.2 Distinção de Outras figuras jurídicas
2.2 O Direito Financeiro afins
2.3 O Direito Fiscal e Direito Tributário 6.3 Objectivos do Imposto
2.4 A relação do Direito com as 6.4 Classificação dos Impostos

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Organizações

1. Introdução

O ser humano necessita de assegurar, desde a sua nascença, certos cuidados e consições de vida
(por exemplo, alimentação, cuidados de saúde, integridade física, etc.) sem os quais não
consegue sobreviver. A dependência em que o ser humano é colocado por essa necessidade de
sobrevivência implica também um relacionamento com outros seres humanos. Desde logo com
os progenitores e restante família, depois com os membros da comunidade onde se insere, mais
tarde na sociedade onde exerce a sua actividade económica.

Na busca do seu bem estar e no desenvolvimento da sua actividade económica, o indivíduo


prossegue sobretudo os seus próprios interesses, que algumas vezes podem ser contraditórios
com os dos restantes elementos da comunidade com quem habita, seja ela uma aldeia, cidade ou
país.

A necessidade de regular harmoniosamente os diversos interesses frequentemente contraditórios


dos cidadãos determina a existência do DIREITO.

1.1Noção geral de Direito

Pela experiência, observação e intuição, todos temos uma noção empírica de Direito, que é, por
assim vivida a todos os momentos perante factos correntes e vulgares da vida.

Assim, juntos vamos dar uma ideia aproximada de Direito, tentando responder, em termos ainda
absolutamente definitivos e rigorosos a interrogação que naturalmente acode o nosso modulo: o

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que é Direito? Para respondermos esta questão vamos ver os vários sentidos da palavra Direito.

1.1.1 Sentidos da palavra Direito

Frase 1: Aldair está sentado do lado direito do João.


- A frase direito na frase exprime a localização e posição.

Frase 2: Jorge pagou 50 mil de Mt de direitos Alfandegários pela importação da sua viatura.
- Na frase a palavra direito tem sentido de imposto aduaneiro, ou seja receita cobrada pelo
imposto pela importação da viatura.

Frase 3: o Direito Moçambicano não prevê pena de morte (vide art. 40 nr 2 CRM).
- Na frase a palavra direito tem sentido de lei norma ou normas com assento Constitucional.

Assim, podemos concluir que a palavra Direito não tem um conceito único. A palavra Direito é
polissémica, equívoca, ou seja, é uma palavra dotada de larga densidade semântica. E o seu
sentido real em cada caso de concreto depende do respectivo contexto frasal.

1.1.2 Outros sentidos da palavra Direito

Direito positivo a expressão significa leis que num determinado País e numa certa época e
determinada história está em vigor ou estão sendo aplicadas leis ou normas com existência
efectiva, que constitui direito positivo.

Ex: as leis que estão em vigor e que nos regem, como a CRM, Código Civil, etc.
Não fazem parte do direito positivo as leis que não estão em vigor, as leis revogadas.Ex: a lei de
Trabalho (lei 8/98 de 24 de Julho).

Direito Natural significa princípios da natureza humana, ou seja princípios que caracterizam o
Homem ou interferem nas suas relações ou incarnados na vida do próprio Homem.: alguém

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cruza-se com uma pessoa e cumprimenta como etiqueta da pessoa.

Eis tantas hipóteses e a enumeração seria infindável em que está em causa o Direito em que se
desenvolvem actividades que são por ele pautadas e comandadas.
Sendo assim podemos dizer juridicamente que:

Direito traduz-se em regras de conduta social, preceitos que ordenam e regulam a convivência
dos homens na sociedade, mediante a imposição de acções e abstenções. O Direito diz o que se
deve fazer e o que não se deve fazer.

Ex. 1: proíbe o furto, o homicídio.


Ex. 2: aquele a quem é feito um empréstimo de dinheiro (Mutuário) fica constituído no dever ou
obrigação imposta por lei de restituir, em determinado momento, à parte - mutuante o capital
que recebeu.

Podemos também definir Direito como o conjunto de regras de conduta social, estabelecidas em
vista da paz, da justiça e do bem comum e impostas pela força, quando necessários e possíveis.

E ainda como um conjunto de normas de conduta impostas para regularizar a convivência


humana em sociedade.

Concluindo, o Direito será assim uma ciência social que estrutura os princípios e as regras de
vivência em sociedade. Deste mode, pode afirmar-se que existe Direito porque existe vida em
conjunto. O Direito é consequentemente uma emanação do viver social e uma necessidade deste.

1.2O Direito e suas Divisões

O Direito é Uno. Mas, para comodidade e sistematização do seu estudo, é normal considerar-se
nas suas diversas divisões. Assim, fala-se em Direito Civil, Direito penal, Direito Comercial, etc.
São os vários ramos de direito, que representam os diferentes aspectos em que se prefiguram as
relações jurídicas num meio social.

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Extensão do Direito: necessidade de o dividir em ramos

O Direito positivo é extremamente vasto e isso traz a necessidade sempre de separar em grandes
ramos autónomos.

Há as que regulam as relações entre os povos; as que fixam a organização e estrutura do Estado;
as que presidem à gestão dos interesses públicos; as que reprimem ou combatem os crimes.

Fazem parte do direito as normas jurídicas que se destinam a regular diferentes esferas da vida
social. Por isso, costumam formar-se subsistemas jurídicos, com princípios específicos e dotados
de uma estrutura interna que os define como ramos autónomos em relação a outros sectores da
actividade jurídica. Há múltiplas formas de classificar o direito em ramos, mas aqui se adoptará a
mais genérica e simples.

Uma primeira classificação das normas do direito divide-as em dois grandes grupos: as de
Direito Público e as de Direito Privado.

São Normas de Direito Público aquelas normas e actuações nas quais o Estado ou entidades
públicas se acham presentes como tais, ou seja, exercendo seu poder. As normas de Direito
Público podem regular acções dentro de um mesmo país, ou as relações do país com indivíduos.
O que caracteriza essas normas é a especial presença do poder Estatal (ius imperi).

O Direito Privado se constitui de normas que regulam as relações entre pessoas. Da mesma
forma, são de Direito Privado as acções em que o Estado entra como particular, sem usar a sua
condição de poder, o chamado ius imperi .

O Direito Internacional Público regula a actuação do Estado e de seus organismos nas relações
com outros Estados. Regula situações internacionais, e se desenvolve a partir do Direito interno,
(vide art. 17 CRM).

Até metade do século XX criaram-se diversas organizações internacionais, como a Organização

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das Nações Unidas, que embora não sejam Estados regem-se pelo direito internacional Público.

A notável integração económica e social do mundo moderno exigiu a progressiva consolidação


das normas de Direito Internacional, que exercem uma influência cada vez maior nos sistemas
jurídicos internos dos Estados. Cada vez mais, os problemas enfrentados pelas pessoas em
particular dizem respeito à humanidade no seu conjunto.

Ex: A Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Carta Africana dos Direitos do Homem e
dos Povos, que consagram normas que dizem respeito a dignidade da pessoa humana.

Por isso, estas normas aplicam-se a toda a gente independentemente da pessoa ou Estado, as
chamadas normas Ius Gentium.

1.2.1 Direito Público

Dentro do Direito Público, distinguem-se vários ramos de Direito. Assim, temos o Direito
Constitucional, Direito Administrativo, Direito Financeiro, Direito Penal ou Criminal, Direito
Processual, que iremos analisar.

Direito Constitucional
Tem por objectivo a estrutura do estado, estabelecendo os direitos fundamentais da pessoa
Humana. Refere-se à relação entre o poder político e os cidadãos.

É o conjunto de normas que determinam a organização fundamental do Estado, regulando as suas


funções superiores de direcção e coordenação da vida social e estabelecendo as garantias
individuais dos cidadãos.
Ex: temos a estrutura do Estado Moçambicano plasmada na Constituição da República

Direito Administrativo
Estabelece os preceitos relativos à administração da coisa pública (regula a constituição e o
funcionamento da administração pública).

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Trata da relação Público com as actividades administrativas, com os particulares e com as
entidades públicas como o Governo.

Ex: a CRM consagra a Administração Pública no art. 249 e seguintes, nos termos do qual o nº 1
refere que “A Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação respeita os
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos”.

Direito Financeiro
Cuida da organização das Finanças do Estado. Regula a cobrança de receitas (Direito Fiscal) e as
despesas públicas.
Ex1: O art. 126 da CRM consagra o sistema financeiro e fiscal de Moçambique.
Ex:2 O Orçamento do Estado.

Direito Penal
Define as condutas criminosas visando preveni-las e repeli-las (tipifica, define e comina sanções
aos ilícitos penais).

É o direito público do Estado em que o próprio Estado não se apresenta como particular. “Ius
Puniend” que é o direito de punir; quer dizer que o Estado tem esse poder de aplicar as sanções
penais e definir o crime.

Ex: muitas vezes os homens praticam actos contrários ao Direito estabelecido, actos ilícitos, que
revestem duas modalidades; o ilícito criminal e o ilícito civil. O ilícito civil pertence ao direito
privado; enquanto o ilícito criminal é aquele acto que o legislador qualifica e trata como crime.

Direito Processual
Trata da distribuição da justiça, regula o processamento das acções perante o poder judiciário
(são os meios e os modos para o exercício do direito material).
Ex: o Estado para poder desempenhar a sua função jurisdicional, precisa instituir órgãos deles
incumbidos, os tribunais, definindo a sua estrutura e disciplinando a sua actividade. Estas normas
constituem o Direito Processual.

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Direito do Trabalho
Tem como objectivo reger as relações de trabalho subordinado. Para alguns doutrinários o
Direito de Trabalho é um direito “misto”, por tratar o interesse dos particulares mas sob
intervenção do Estado.

Ex: temos a Lei do Trabalho Lei 23/2007, de 1 de Agosto, aprovada aos 11 de Maio de 2009,
pela Assembleia da República que é o mais alto órgão de poder legislativo em Moçambique.

1.2.2 Direito Privado

Quanto ao Direito privado, sabemos que regula as relações de carácter particular, relações que se
estabelecem entre indivíduos, ou entre eles e as colectividades. E o seu maior interesse consiste
em representar um importante baluarte da pessoa Humana, pois nele está em causa essa pessoa
em toda a sua vida privada e no que tem de mais íntimo. E divide-se em Direito Civil e Direito
Comercial. Assim temos:

Direito Civil
Que regula os direitos e obrigações de ordem privada, concernente às pessoas, aos bens e às suas
relações.

Ex: a pessoa é sujeita de direitos e obrigações.


Ainda consagra-se os direitos interrogáveis os chamados direitos de personalidade que são: o
direito à vida, à honra, à liberdade, etc.

Direito Comercial
São normas que disciplinam sob os mais variados aspectos, a actividade mercantil. Tem carácter
especial, pois é restrito às relações derivadas dos actos de comércio. Considera-se ser o direito da
Empresa.
Ex: temos Código Comercial que regula a actividade dos Empresários comerciais, bem como os

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actos considerados comerciais.

1.3 Organização Económica do Estado Moçambicano

1.3.1 Aspectos gerais


De um modo geral, a sociedade organiza sua economia de três formas, a fim de resolver os três
problemas da economia: « o que» , «como» e «para quem produzir». Estas formas de
organização são: economia de mercado, economia planificada centralmente e economia mista.

Economia de mercado
Na economia de mercado (economia livre) o Estado participa da vida económica com acções
reguladoras. É uma economia baseada na propriedade privada e na livre iniciativa, os agentes
económicos preocupam-se em resolver isoladamente seus próprios problemas, tentando
sobreviver na concorrência imposta pelos mercados.

Economia planificada centralmente

Esse tipo de organização económica é característico dos países socialistas, em que prevalece a
propriedade estatal dos meios de produção. Nesse tipo de sistema as questões de «o que»,
«como» e «para quem produzir» não são resolvidas de maneira descentralizada, por meio de
mercados e preços, mas pelo planeamento central, em que a maior parte das decisões de natureza
económica é tomada pelo Estado.

Economia mista
Nos sistemas de economia mista, uma parte dos meios de produção pertence ao Estado e outra
parte pertence ao sector privado.

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Qual é a organização económica de Moçambique?

Deste a independência, Moçambique conheceu três Constituições, nomeadamente a Constituição


da República Popular de Moçambique de 1975 em que a sua economia era centralmente
planificada, caracteristico dos paises Socialistas, regime adoptado logo após a proclamação da
Independência de Moçambique.

A segunda Constituição de 1990 que culminou com a introdução do multipartidarismo em


Moçambique e consequentemente a sua economia ali patente era mista.

A terceira Constituição da República de Moçambique, denominada Constituição moderna, veio


consagrar que «A República de Moçambique é um Estado independente, soberano, democrático
e de justiça social», que tem entre outros objectivos fundamentais a edificação de uma sociedade
de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos;
a promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país; a defesa e a
promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a lei; vide art. 1 e 11 da
CRM. Através desta Constituição é introduzida a economia de mercado.

Assim, a CRM, consagra no Título IV organização económica, social, financeira e fiscal, patente
no artigo 96, que a política económica do Estado é dirigida à construção das bases fundamentais
do desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao reforço da soberania do
Estado e à consolidação da unidade nacional, através da participação dos cidadãos, bem como da
utilização eficiente dos recursos humanos e materiais, (vide nr 1 do art. 96 CRM). E sem
prejuízo do desenvolvimento equilibrado, o Estado garante a distribuição da riqueza nacional,
reconhecendo e valorizando o papel das zonas produtoras.

O artigo 97 da CRM de 2004, estabelece os Princípios fundamentais da organização económica e


social da República de Moçambique que visam a satisfação das necessidades essenciais da
população e a promoção do bem-estar social e assenta nos seguintes princípios fundamentais:

a) na valorização do trabalho;

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b) nas forças do mercado;
c) na iniciativa dos agentes económicos;
d) na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social;
e) na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o
interesse colectivo;
f) na protecção do sector cooperativo e social;
g) na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento
económico e social.

E ainda o artigo 99 CRM, vem consagrar os “Sectores de propriedade dos meios de produção”
em que a economia nacional garante a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de
produção:
 O sector público é constituído pelos meios de produção cuja propriedade e gestão
pertence ao Estado ou a outras entidades públicas.
 O sector privado é constituído pelos meios de produção cuja propriedade ou gestão
pertence a pessoas singulares ou colectivas privadas, sem prejuízo do disposto no número
seguinte.
 O sector cooperativo e social compreende especificamente:
a) Os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais;
b) Os meios de produção destinados à exploração colectiva por trabalhadores;
c) Os meios de produção possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter
lucrativo, que tenham como principal objectivo a solidariedade social,
designadamente entidades de natureza mutualista.

No capítulo II da Constituição da República, vem consagrar a Organização económica de


Moçambique, em que, estabelece o seguinte:

Artigo 101
Coordenação da actividade económica
1. O Estado promove, coordena e fiscaliza a actividade económica agindo directa ou
indirectamente para a solução dos problemas fundamentais do povo e para a redução das

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desigualdades sociais e regionais.
2. O investimento do Estado deve desempenhar um papel impulsionador na promoção do
desenvolvimento equilibrado.

Artigo 105

(Sector familiar)
1. Na satisfação das necessidades essenciais da população, ao sector familiar cabe um papel
fundamental.
2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e encoraja os camponeses, bem como
os trabalhadores individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de produção.

Artigo 106
(Produção de pequena escala)
O Estado reconhece a contribuição da produção de pequena escala para a economia nacional e
apoia o seu desenvolvimento como forma de valorizar as capacidades e a criatividade do povo.

Artigo 107
(Empresariado nacional)
1. O Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional no quadro do
desenvolvimento e da consolidação da economia do país.
2. O Estado cria os incentivos destinados a proporcionar o crescimento do empresariado nacional
em todo o país, em especial nas zonas rurais.

Artigo 108
(Investimento estrangeiro)
1. O Estado garante o investimento estrangeiro, o qual opera no quadro da sua política
económica.
2. Os empreendimentos estrangeiros são autorizados em todo o território nacional e em todos os
sectores económicos, excepto naqueles que estejam reservados à propriedade ou exploração
exclusiva do Estado.

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Nestes termos podemos dizer que Moçambique adoptou a economia de mercado, na medida em
que o estado promove, coordena e fiscaliza a actividade económica agindo directa ou
indirectamente para a solução dos problemas fundamentais do povo e para a redução das
desigualdades sociais e regionais.

O sistema de “economia de mercado” recentemente adoptado pelo Governo é novo e o aparelho


do sector agrário ainda não está preparado para as suas tarefas, tal como acontece noutros
sectores. A falta de coordenação entre os diferentes actores dos vários sectores (agricultores
empresariais, grupos associativos, ONG’s e programas do próprio Estado), conduz a uma certa
anarquia não havendo responsabilidade de quem faz o quê, confundindo deste modo o pequeno e
médio produtor criador da riqueza.

1.4- Fontes de Direito na Ordem Jurídica Moçambicana

O problema da criação do Direito tem haver com fontes do Direito. E o problema da evolução
tem haver com as transformações ou metamorfoses que o Direito sofre ao longo da historia.

Assim, podemos difinir que são fontes do Direito os modos de formação e revelação das normas
jurídicas.

As fontes do Direito Moçambicano são as mesmas de qualquer País do sistema Romano-


Germânico que são designadamente:
 A lei: norma jurídica criada e imposta por uma autoridade com poder para o fazer (poder
legislativo)
 O costume: norma jurídica resultante da prática repetida e habitual de uma conduta
encarada como obrigatória.
 A jurisprudência: orientações que, em matéria de determinação e aplicação da lei,
decorrem da actividade prática de aplicação do direito pelos órgãos da sociedade para tal
encarregados (os tribunais).
 A doutrina: actividade de estudo teórico dou dogmático do direito.

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São fontes do direito as origens do direito, ou seja, o lugar ou a matéria prima pela qual nasce o
direito. Estas fontes podem ser materiais ou formais.

A fonte material refere-se ao organismo que tem poderes para sua elaboração e criação. O artigo
169 nº 1, da Constituição da República estabelece que «A Assembleia da República é o mais alto
orgão legislativo na República de Moçambique », portanto é a fonte de produção das leis na
ordem juridica moçambicana.

As fontes formais são aquelas pela qual o direito se manifesta. As fontes formais podem ser
imediatas e mediatas.

As fontes formais imediatas são as normas legais. Importa observar que um dos mais
importantes princípios de direito, no âmbito fiscal, é a disposição constitucional que estabelece
que «os impostos são criados ou alterados por lei, que os fixa segundo critérios de justiça social»
vide art. 100 CRM.

Isso quer dizer que se não existir uma norma legal que defina como são criados os impostos, não
haverá outra norma que pune as infracções fiscais.

As fontes formais mediatas são os costumes, os princípios gerais do direito, a jurisprudência e


a doutrina.

Não tendo força vinculativa própria, são contudo, importantes pelo modo como influenciam o
processo de formação e revelação da norma jurídica. Com base nesta distinção, só a lei é
considerada verdadeira fonte do Direito, isto é, fonte imediata do Direito. Todas as outras são
fontes mediatas.

A Lei

A palavra lei comporta vários sentidos. É multifacetada. Podemos falar de lei para significar todo
nosso sistema juridico e toda nossa ordem juridica. Pode ainda significar lei como qualquer

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ramo de Direito. Pode significar lei como o acto normativo que é legislativo propriamente dita
em sentido formal que se identifica a mesma através da lei como respectiva lei, podemos falar lei
a mesma determinada regra ou norma.

No nosso estudo importa-nos referir lei em sentido formal que designa aquilo que se chama a
actividade legislativa propriamente dita, ou seja, a actividade exercida por determinado ou
determinados órgãos oficialmente quailificados. Esses órgãos constituem o que se chama o poder
legislativo que é AR- Assembleia da República.

O processo de elaboração de uma lei

A actividade legislativa não é feita da mesma forma pela Assembleia da República e pelo
Governo:
Temos o processo de formação das leis da Assembleia da República que se inicia com a
apresentação do texto sobre o qual se pretende que a Assembleia da República se pronuncie. Esta
apresentação pode ser efectuada:

 Pelos Deputados, tomando a designação de Projecto de Lei.


 Pelos Grupos Parlamentares, tomando a designação de Projecto de Lei.
 Pelo Governo, tomando a designação de Proposta de Lei.

Apresentado o texto à Assembleia da República, é por esta discutido e votado na generalidade,


passando-se depois à discussão na especialidade, isto é, à discussão de cada um dos preceitos
nele contido, podendo os deputados apresentar propostas de emenda em relação a cada um deles.
Através da votação na especialidade fixa-se o conteúdo do preceito, optando a Assembleia da
República pelo texto original constante da emenda, procedendo-se posteriormente a uma votação
final global.

O texto deste modo conseguido é enviado, sob a forma de decreto, para o Presidente da
República promulgar sendo que a promulgação é o acto pelo qual o Presidente da República
atesta solenemente a existência de norma e intima à sua observação.

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O Presidente da República poderá não promulgar o diploma e exercer o direito de veto, vide
art.163 CRM. A promulgação é uma etapa essencial de todo o processo legislativo, pois, só após
esta, o texto toma a designação de Lei e a falta de promulgação implica a Inexistência Jurídica do
Acto. Após a promulgação, o diploma é remetido ao Governo para referenda ministerial,
seguindo-se a publicação no Boletim da República.

Segue-se o período do vacatio legis até que se dê a sua entrada em vigor.

A hierarquia das leis

Da hierarquia das leis, resulta que as leis de hierarquia inferior não podem contrariar as leis de
hierarquia superior, antes tem de se conformar com elas; as leis de hierarquia igual ou superior
podem contrariar leis de hierarquia igual ou inferior, e então diz-se que a lei mais recente revoga
a lei mais antiga. Para estabelecer esta hierarquia há que distinguir:

 Leis ou normas constitucionais: o poder de estabelecer normas constitucionais


denomina-se poder constituinte e ocupa o lugar cimeiro do poder legislativo. As leis ou
normas constitucionais são, assim, aquelas que estão contidas na Constituição e
encontram-se no topo da hierarquia das leis.
 Leis ou normas ordinárias: são todas as restantes leis ou normas e podem agrupar-se em:
Leis ou normas ordinárias reforçadas: encontram-se imediatamente abaixo das leis
constitucionais, não tem a mesma finalidade e o seu processo de elaboração é mais fácil.
São considerados verdadeiros actos legislativos e provêm de órgãos com competência
legislativa, que é Assembleia da República (vide 168 ss CRM).

A Assembleia da República é o mais alto orgão legislativo na República de Moçambique, vide


art. 169 CRM. É considerada o órgão legislativo por excelência e dela provêm as leis. Porém, só
a Lei provinda deste orgão se destina a estabelecer verdadeiras regras jurídicas.

O Governo no exercício das suas funções legislativas, compete aprovar Decretos-Lei mediante

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autorização legislativa da Assembleia da Republica, como resulta do art. 204 CRM. Para além
das funções propriamente ditas, tem ainda competência regulamentar, que exerce através de
regulamentos, sendo o principal órgão com competência regulamentar.

Os regulamentos do Governo podem assumir as seguintes formas:


 Decretos e Regulamentares: são diplomas emanados pelo Governo e promulgados pelo
PR.
 Resoluções do Conselho de Ministros: provêm do Conselho de Ministros e não tem de
ser promulgadas pelo PR.
 Portarias: são ordens do Governo, dadas por um ou mais ministros e que também não
têm de ser promulgadas pelo PR.
 Despachos Normativos e Ministeriais: são diplomas que têm apenas como destinatário
os subordinados do ministro ou ministros signatários e valem unicamente dentro do
Ministério respectivo.
 Instruções: são meros regulamentos internos, contendo ordens dadas pelos ministros aos
respectivos funcionários, ou estabelecendo directrizes para melhor aplicação dos
diplomas normativos.
 Circulares: é a designação dada às instruções quando estas são dirigidas a diversos
serviços.
As posturas são regulamentos autónomos, locais, de polícia, provindos dos corpos
administrativos competentes.

O Costume

Constitui um outro processo de formação do Direito. No costume a norma forma-se


espontaneamente no meio social.

A base de todo o costume é uma repetição de práticas sociais que podemos designar por uso.
Mas não basta o uso para que o costume exista, é necessário ainda que essas práticas sejam
acompanhadas da consciência da sua obrigatoriedade.

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O costume possui dois elementos:
• Corpus: prática constante.
• Animus: convicção de obrigatoriedade; nada mais é preciso para que se verifique o
costume.

Podemos definir costume como o conjunto de práticas sociais reiteradas e acompanhadas da


convicção de obrigatoriedade.

O Direito Consuetudinário (formado através do costume) é um direito não deliberadamente


produzido, sendo considerado por alguns autores como fonte privilegiada do Direito.

O constume é condicionado aos seguintes requisitos:


• Não ser contrário à lei expressa.
• Ter pelo menos 100 anos.
• Ser conforme à boa-razão.

A lei oferece a vantagem da segurança e da certeza, enquanto o costume é de prova difícil; mas
por isso mesmo a lei tem muito maior dificuldade em acompanhar a evolução social, enquanto o
costume se vai espontaneamente adaptando.

A Jurisprudência

Usa-se frequentemente para designar a orientação geral seguida pelos tribunais no julgamento
dos diversos casos concretos da vida social. Outras vezes, é entendida como o conjunto de
decisões dos tribunais sobre os litígios que lhe são submetidos.

Tais decisões podem assumir a forma de:

• Sentenças: quando proferidas por um tribunal singular.


• Acórdãos: quando proferidas por um tribunal colectivo (pelo menos 3 juízes).

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Uma questão que se coloca é a de saber se esses modos de decidir têm validade além do
respectivo processo, criando regras para os casos futuros. É o que acontece nos sistemas jurídicos
inglês e americano, em que a jurisprudência é a fonte do direito.

Entre nós, o juiz tem de julgar unicamente de “harmonia com a lei e a sua consciência”, sendo
perfeitamente irrelevante que a tal decisão contrarie a que tenha sido tomada por outro Tribunal,
ainda que de categoria mais elevada.

A jurisprudência não é fonte imediata do Direito; contudo, na medida em que ao longo dos
tempos vai explicitando uma determinada consciência jurídica geral, contribui para a formação
de verdadeiras normas jurídicas.

A doutrina

Compreende as opiniões ou pareceres dos jurisconsultos sobre a regulamentação adequada das


diversas relações sociais. Consiste nos artigos, monografias, escritos científicos, etc., que se
debruçam sobre os problemas jurídicos.

Na Ordem Jurídica Moçambicana doutrina não é considerada fonte do Direito. O valor de uma
opinião, por mais categorizado que seja o jurista que a emite, não lhe confere razão extrínseca,
do carácter formal, que a imponha como obrigatória.

2. Actividade Financeira do Estado

A compreensão e estudo do Direito Fiscal pressupõe a assimilação prévia do conceito de


actividade financeira.

Este conceito que antecede historicamente aquele, é essencial para enquadrar os impostos e o seu
papel num Estado Moderno.

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O Estado, ao prosseguir os seus fins tem necessidades economicas cuja satisfação implica
despesas. Dai que o Estado e as restantes entidades publicas, desenvolvem uma actividade que
permite:
 a obtenção dos meios económicos que asseguram a satisfação das necessidades públicas;
 o correcto emprego dos meios obtidos; e
 a coordenação entre os meios e as necessidades públicas a satisfazer.

Esta actividade denomina-se Actividade Financeira do Estado.

Estes meios económicos obtidos pelo Estado e depois usados para a satisfação das necessidades
públicas , têm a designação de Receitas Públicas.

As receitas públicas frequentes em Moçambique são:

 As receitas patrimoniais – que provém do rendimento do património que o Estado dispõe


quer seja de dominio privado, por ex: lucros, rendas, etc., quer do dominio público.

 Taxas – valor de contrapartida da prestação de serviços públicos (polícia, saúde,


educação, etc).

 Impostos – pagamentos feitos pelos contribuintes ao Estado sem contrapartida imediata


ou específica.

 Empréstimos – créditos dados ao Estado com vencimento de juros.

2.1Direito Financeiro

O Direito Financeiro é um conjunto de normas reguladoras da actividade financeira do Estado.


Vimos anteriormente, que a actividade financeira do Estado corresponde a acção que este
desenvolve no sentido de realizar despesas públicas e de promover a obtenção dos meios
indispensáveis à cobertura das referidas despesas.

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O Direito financeiro é constituído por normas bastante heterogêneas, umas disciplinando a
percepção das receitas voluntárias, outras a arrecadação das receitas coactivas e ainda outras
regulando a realização das despesas, tendo a destacar as normas da elaboração do Orçamento.

Face a esta complexidade, tem-se procurado isolar as normas relativas a arrecadação de receitas ,
cujo montante é autoritariamente fixado pelo Estado e que constituem o Direito Fiscal ou
Tributário.

É costume distinguir no Direito Financeiro, em função do respectivo objecto, três sectores:


 Direito das Receitas;
 Direitos das Despesas;
 Direitos da administração fazendária.

2.2 O Direito Fiscal

Direito fiscal: é o conjunto de normas que regulam as relações que se estabelecem entre o estado
e os outros entes públicos, por um lado e os cidadãos por outro, por via do imposto. Essas
normas regulam as várias fases do imposto: incidência, lançamento, liquidação e cobrança.

Tendo presente que o imposto é uma das receitas do Orçamento do Estado, que integra a
actividade financeira do Estado e que “ o conjunto de normas que regulam a obtenção, gestão e
dispêndio dos meios financeiros públicos é o Direito Financeiro “, verificamos que o Direito
Fiscal é um ramo do Direito Financeiro.

O Direito Fiscal trata tudo aquilo que constitui a regulamentação das receitas fiscais de Estado, e
trata toda actividade financeira do Estado tendente a arrecadação e angariação das receitas, trata
também todo tipo de relação que desenvolve a cobrança de taxas.

21
Princípios do Direito Fiscal

O dia-a-dia de um Técnico de Contas é marcado por regras de Direito Fiscal. Assim sendo, faz
todo o sentido o conhecimento dos seus princípios fundamentais.

O Homem é um ser social que realiza o seu quadro completo de necessidades mediante a
concretização de relações sociais com o seu semelhante. Todavia, a vivência em sociedade
implica regras, as quais têm de ser implementadas e garantidas por uma autoridade superior,
conhecida como Estado.

O conceito de Estado tem vindo, progressivamente, a alargar as suas funções e domínios, a áreas
antes inimagináveis. A consequência óbvia foi o incremento das necessidades financeiras do
Estado, só possíveis de concretizar mediante a implementação de impostos. De facto, os
impostos são o preço pela nossa vida em sociedade. Odiados, mas necessários para a
concretização dos valores da democracia, igualdade e Estado social.

Os impostos nem sempre tiveram as características que hoje conhecemos. Na Idade Média
tinham um carácter extraordinário. Os monarcas apenas se podiam socorrer deles em situações
anómalas que assim o justificassem, sendo o suporte financeiro da coroa as receitas dos seus
bens. Por outro lado, a deliberação da cobrança de impostos tinha de ser aprovada pelas Cortes,
onde estavam representados os contribuintes, bem de acordo com a máxima da Magna Carta
Inglesa de1215 - No taxation without representation.

Só mais tarde, e no âmbito do processo de reforço e centralização dos poderes reais, e da


construção do Estado moderno dos séculos XVI, XVII e XVIII, foi abandonada a regra de
convocação das cortes para a aprovação dos impostos. O Estado moderno e centralizado,
adoptou uma estrutura burocrática e objectivos de tal ordem que o recurso às receitas fiscais foi
sendo banalizado, conferindo aos impostos o carácter permanente e decisivo no financiamento
do Estado que hoje conhecemos.

22
Actualmente, o envolvimento e a complexidade dos impostos impõem a implementação de um
ramo jurídico dedicado em exclusivo a esta temática: o Direito Fiscal.

O Direito Fiscal é definido como um ramo do Direito Público dotado de autonomia própria que
regulamenta e disciplina todo o processo tributário, desde o nascimento, desenvolvimento e
extinção da obrigação tributária, tendo como conceito nuclear o imposto. Não existe, todavia, por
parte da doutrina uma definição unânime de imposto.

Numa definição geral, imposto é uma prestação patrimonial devida, de natureza definitiva, com
carácter obrigacional, estabelecido por lei, exigível a quem tem capacidade contributiva, a favor
de entidades que exerçam funções públicas com carácter de unilateralidade e sem carácter de
sanção. O carácter obrigacional do imposto significa que ele é o objecto de uma obrigação, a
obrigação fiscal. Por outro lado, o imposto é uma prestação, identificada como uma conduta
exigida ao devedor de natureza simultaneamente pecuniária e definitiva, pois não confere ao
devedor a sua devolução, sendo igualmente unilateral, pois o imposto é uma prestação que não
pressupõe uma contrapartida directa e individualizada, ao contrário das taxas. Por último, refira-
se que a prestação é estabelecida a favor de entidades públicas, ou entidades que exerçam
funções públicas, em regra pessoas colectivas de direito público, tendo por fim a obtenção das
receitas necessárias à prossecução das actividades do Estado nos seus diferentes domínios.
direit
Ao nível dos princípios de raiz constitucional, temos o princípio da legalidade, o princípio da
segurança jurídica, o princípio da protecção jurídica, o princípio da igualdade e o princípio do
Estado social.

O princípio de legalidade, expresso no artigo 100 da Constituição da República Moçambique


(CRM) impõe que os impostos são criados ou alterados por lei, que os fixa segundo critérios de
justiça social. Nesta perspectiva, o princípio da legalidade está ligado umbilicalmente ao
princípio democrático, visto que os impostos apenas podem ser criados e regulamentados pelo
órgão que representa directamente o povo soberano – a Assembleia da República. De facto, o
artigo 179.º n.º 2, alínea e) estabelece que é da exclusiva competência da Assembleia da
República definir as bases da politica de impostos e o sistema fiscal.

23
Quer isto dizer que os impostos apenas podem nascer ou de uma lei da Assembleia da República
ou de um decreto-lei autorizado pelo Governo, habilitado primeiramente por uma lei de
autorização legislativa nos termos do artigo 180.º, nº 1, 2, 3 e 4 da CRM. Sem este pressuposto
formal, os impostos serão ilegais e inválidos.

O princípio da Segurança jurídica, prevê que a lei não prejudicará o direito adquirido, o acto
juridico perfeito e a coisa julgada. Nesse sentido, este princípio surge no intuito de proteger o
indivíduo na construção e elaboração de normas novas, visando um mínimo de confiabilidade do
indivíduo para com o Esatdo, principalmente no que tange a impossibilidade de criação de
normas retroactivas e vedação à flexibilização da coisa julgada.
Em matéria tributária, o princípio da segurança jurídica funciona como uma protecção da
confiança do cidadão no Estado ou Administração Pública, ou seja, protege o cidadão no intuito
de que os actos praticados pela administração publica não serão de forma repentina, isto é, não
pode a administração pública mudar uma interpretação na aplicação de determinado tributo,
querendo cobrar, de forma retroactiva.

O princípio da protecção jurídica é o fundamento de todo o ordenamento jurídico e também a


finalidade última do Direito. A interpretação do direito não pode estar dissociada dos princípios
constitucionais e principalmente dos princípios que consagram direitos fundamentais.

O princípio da igualdade é um princípio jurídico - constitucional, transversal a todo o


ordenamento jurídico, que ao nível do Direito Fiscal se expressa na obrigação universal de todos
os cidadãos se encontrarem adstritos ao pagamento de impostos. Todavia, uma das dimensões do
princípio da igualdade é a proibição do arbítrio, ou seja, deve ser tratada de forma igual as
situações iguais, e de forma desigual as situações desiguais. Neste sentido, a obrigação do
pagamento de impostos é mediada pela capacidade contributiva. Implica, assim, igual imposto
para os que dispõem de igual capacidade contributiva (igualdade horizontal) e diferente imposto
para os que dispõem de diferente capacidade contributiva, na proporção desta diferença
(igualdade vertical). Mas princípio da igualdade também se expressa na obrigação da imposição

24
de medidas diferenciadoras de modo a obter uma igualdade de oportunidades necessária à
igualdade real entre cidadãos.

2.3 O Direito Fiscal e o Direito Tributário

Embora o objectivo deste módulo seja o Direito Fiscal, muitas vezes se emprega a expressão
Direito Tributário e coloca-se logo a dúvida de saber qual a diferença.

Na generalidade da doutrina, a expressão direito fiscal é empregue como sinónimo de direito


tributário, tratando ambos do estudo do direito relativo aos impostos, sendo certo, porém, que a
expressão direito tributário é para alguns autores mais ampla que o Direito Fiscal uma vez que
este se relaciona apenas às receitas coactivas enquanto o Direito Tributário, é mais abrangente,
incluindo as taxas e outras categorias de receitas públicas.

Neste módulo, não faremos distinção entre Direito fiscal e Direito Tributário, considerando-os
como sinónimos e os mesmas serão usados indistintamente para caracterizar o objecto do nosso
estudo.

2.4 O Direito Fiscal e outros Ramos do Direito

O Direito Fiscal, enquanto disciplina jurídica, é uma ciência de normatividade pois o seu objecto
está nas normas jurídico-fiscais, pelo que encara o fenómeno fiscal não como uma realidade
social deontológica, mas sim como dever abstracto que tem o sentido de um dever efectivo.
Trata-se de um ramo de direito que integra regras que assumem todas as características das
normas jurídicas em geral, isto é, generalidade, abstracção, hipoteticidade, hiteronomia e
imperatividade.

Por sua vez, a ciência fiscal é um aspecto da ciência das finanças, que encara o fenónemo fiscal,
o imposto, numa óptica económica, como ingresso público, enquanto fenómeno social factico e
não já normativo, procurando determinar regularidades económico-financeiras entre os
fenómenos estidados de forma a poder enunciar as Leis que a eles presidem.

25
Porém, a doutrina dos anos 50, em frança, começou a falar em Ciência e Técnica Fiscal, não
como um ramo ou um aspecto das Finanças públicas mas antes como nova estruturação do saber
teórico da fiscalidade.

O Direito Fiscal e o Direito Constitucional

O Direito Fiscal subordina-se, assim como todas as normas de outros ramos de Direito, às regras
constantes do direito constitucional material e inerente ao Estado de Direito e que são
constituídas por princípios que se impõem ao próprio legislador. Trata-se de princípios da
Constituição material do Estado de Direito, consagrado no artigo 66 da CRM que concede
igualdade jurídica aos cidadãos.

Mas a própria CRM contém normas de natureza fiscal que a doutrina designa de constituição
fiscal, como sucede com as normas constantes dos artigos 50 e da alínea j) do nº 2 do Artigo 135.

O Direito Fiscal e o Direito Administrativo

Embora com autonomias próprias, estes dois ramos de Direito mantêm entre si uma relação
íntima, pois todas as actividades de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos seguem um
processo administrativo, que é conduzido por órgãos da administração pública.

O Direito Fiscal e o Direito Privado

O Direito Fiscal, acolhe conceitos de direito privado, com o sentido técnico – jurídico que aí
possuem. É o caso do conceito de obrigação: as regras da relação jurídica obrigacional do Estado
– contribuinte, são as regras da obrigação do direito privado.

No entanto, podem também conceitos com um sentido próprio em direito privado, serem
utilizados pelo direito fiscal noutro sentido. É o que sucede por exemplo com o conceito de
transmissão (da propriedade) de prédio, proprietário, comércio, etc.

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O Direito Fiscal e o Direito Internacional

A globalização da economia, isto é a integração da economia numa zona mais vasta do que o
território nacional, tem também incidências no campo fiscal.

Isso levou ao estabelecimento de relações jurídicas entre os Estados, para evitar nomeadamente
que a mesma situação seja tributada em mais de um dos Estados ou em nenhum deles.

Assim , Moçambique tem vido a celebrar, com diversos países, convenções para evitar estes
fenómenos da dupla tributação e evasão fiscal internacionais.

Os objectivos dos acordos para evitar a dupla tributação consistem em servir interesses dos
países outorgantes, embora se verifiquem muitas vezes contradições ou conflitos de interesses,
quando estes se realizam entre países desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento.

Os primeiros defendem o princípio de que a tributação do rendimento deve ser feita


prioritariamente no país de origem da empresa ou dos técnicos, enquanto que os segundos
defendem que a tributação deve ser efectuada prioritariamente no país onde os rendimentos são
produzidos, argumentando que o país exportador do capital e tecnologia beneficia já da
importação dos dividendos e dos royalties.

Em Moçambique, a ausência de um acordo para evitar a dupla tributação fiscal sobre o


rendimento, anula sobremaneira os incentivos fiscais concedidos no quadro do investimento
directo estrangeiro, pois a estes investidores é concedida uma isenção fiscal, e o mesmo
rendimento que aqui é isento de tributação, é integralmente tributado no país de origem, o que
significa na prática que os recursos financeiros que o Tesouro Público Moçambicano abdica pela
via da isenção são trasnferidos para o Tesouro desses países.

Direito Fiscal e o Direito Criminal

O não cumprimento das obrigações fiscais está sujeito a sanções. Em todos os códigos de
impostos existe um capítulo relativo às penalidades no qual se estabelecem as respectivas
punições e as regras de procedimento.

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Em alguns países admitem-se penas de prisão nas transgressões fiscais e, nessas condições, a
relação do Direito Fiscal com o Direito Criminal geralmente é bastante forte, pois aplicam-se,
por remissão ou por transgressão, as mesmas regras.

No caso de Moçambique, as dívidas fiscais até dezembro de 2002 não são convertíveis em
prisão. Mas, a reforma fiscal introduzida pela lei 15/2002 estabelece a possibilidade de certas
infrações fiscais poderem vir a ser considerados crimes puníveis com pena de prisão.

Contudo, as normas fiscais impõem, o cumprimento de certos deveres. Tais deveres podem
consistir:

a) Numa acção (por exemplo a representação de uma declaração fiscal);

b) Ou numa omissão (por exemplo a não escrituração de um livro obrigatório).

Pelo incumprimento, as mesmas leis conferem à administração poderes para imporem sanções
que tem, por regra, carácter pecuniário.

3. Legislação Laboral

A legislação laboral tem em vista definir os princípios gerais e estabelecer o regime jurídico
aplicável às relações individuais e colectivas de trabalho subordinado, prestado por conta de
outrém e mediante remuneração.

A evolução económica, social e política do País, exige a conformação do quadro jurídico-legal


que disciplina o trabalho, o emprego e a segurança social. Nestes termos, ao abrigo do disposto
no nº 1 do artigo 179 da Constituição, a Assemblaia da República aprovou a Lei nº 23/2007 de 1
de Agosto, mais conhecida como Lei do Trabalho.

Esta é a terceira geração da legislação laboral.

A primeira foi em 1985, que era considerada proteccionista do trabalhador e visava fazer face às
grandes tarefas da Reconstrução nacional.

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A segunda, Lei nº 8/98, visava garantir a eficiência do aparelho produtivo face às alterações
suscitadas pelo sistema de economia de mercado.

A terceira e presente Lei nº 23/2007 de 1 de Agosto, pretende facilitar o investimento e


desenvolvimento económico, proteccionista do empresariado e mais aberta ao movimento
sindical. É uma lei que reflecte algumas diferenças, mais ampla, liberal e flexível.

As principais alterações introduzidas por este novo diploma legam referem-se a:

 Possibilidade de resolução de conflitos individuais de trabalho através da Mediação e


Arbitragem laboral.

 Regime de férias e faltas.

 Contratação de mão de obra estrangeira que passa a ser através de quotas.

 Novos tipos de contratos e limites alargados para os contratos a prazo.

 Prazos diferenciados na instauração de processo disciplinar.

 Redução significativa da indemnização em caso de renúncia do contrato por iniciativa do


empregador.

3.1 Lei do trabalho

De acordo com o artigo 2 da Lei nº 23/2007, em relação ao âmbito de aplicação, define-se


que:

1. A presente Lei aplica-se às relações jurídicas de trabalho subordinado estabelecidas entre


empregadores e trabalhadores nacionais e estrangeiros, de todos os ramos de actividade,
que exerçam a sua actividade no país.

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2. A presente Lei aplica-se também às relações jurtídicas de trabalho constituídas entre
pessoas colectivas de direito público e os seus trabalhadores, desde que estes não sejam
funcionários do estado ou cuja relação não seja regulada por legislação específica.

3. São reguladas pela legislação específica:

a) As relações jurídicas de trabalho dos funcionários do Estado.

b) As relações jurídicas de trabalho de pessoas ao serviço de Autarquias Locais.

4. A presente Lei aplica-se ainda, com as necessárias adaptações, às associações, ONG´s e


ao sector cooperativo, no que respeita aos trabalhadores assalariados.

3.2 Princípios Fundamentais

A interpretação e aplicação das normas da Lei do trabalho, obedece ao princípio do direito ao


trabalho, da estabilidade no emprego e no posto de trabalho, da alteração das circusnstâncias e da
não discriminação em razão da orientação sexual, raça ou de ser portador de HIV/Sida.

Sempre que entre uma norma da Lei do trabalho ou de outros diplomas que regulam as relações
de trabalho houver uma contradição, prevalece o conteúdo que resultar da interpretação que se
conforme com os direitos acima definidos.

No caso de violação culposa de qualquer princípio definido na Lei do Trabalho, aquele se torna
nulo e de nenhum efeito o acto jurídico praticado nessas circunstâncias, sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal do infractor.

Princípio da Protecção da Dignidade do Trabalhador

De entre os princípios da protecção e dignidade do trabalhador, inseridos nos artigos 5 a 9 da Lei


do trabalho, destacam-se:

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 Direito à privacidade: o empregador obriga-se a respeitar os direitos de personalidade do
trabalhador, em especial, o direito à reserva da intimidade da vida privada.

 Protecção de dados pessoais: o empregador não pode exigir ao trabalhador, no acto da


contratação ou na execução do contrato de trabalho, a prestação de informações relativas
à sua vida privada, excepto quando particulares exigências inerentes à natureza da
actividade profissional o exijam, por força da lei ou dos usos de cado profissão, e seja
previamente fornecida, por escrito a respectiva fundamentação.

 Testes e Exames médicos: Quando necessário, o empregador pode solicitar ao trabalhador


a realização ou apresentação de testes ou exames médicos, para comprovação da sua
condição física ou psíquica, saldo disposição legal em contrário.

 Meios de vigilância à distância: O empregador não deve utilizar os meis de vigilância à


distância no local de trabalho, mediante a utilização de equipamento tecnológico, com a
finalidade de controlar o desempenho profissional do trabalhador, salvo se estes se
destinem à protecção e segurança de pessoas e bens, bem como quando a sua utilização
integre o processo produtivo.

 Direito à confidencialidade da correspondência: A correspondência do trabalhador, de


natureza pessoal, efectuada por qualquer meio de comunicação privada, designadamente
cartas e mensagens electrónicas, é inviolável, salvo nos casos expressamente previstos na
lei.

Princípio da Protecção da Maternidade e da Paternidade

 Protecção da maternidade e da paternidade: O Estado garante a protecção aos pais ou


tutores no exercício da sua função social de manutenção, educação e cuidados de saúde
dos filhos, sem prejuízo da sua realização profissional. São assim garantidos direitos
especiais relacionados com a meternidade, a paternidade e o cuidado dos filhos na sua
infância.

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 Direcitos especiais da mulher trabalhadora: São assegurados à trabalhadora, durante o
período da gravidez e após o parto, direitos especiais consagrados no artigo 11 da Lei do
Trabalho.

 Licença de maternidade e paternidade: A trabalhadora tem direito, além das férias


normais, a uma licença por maternidade de sessenta dias consecutivos, a qual pode ter
início vinte dias antes da data provável do parto, podendo o seu gozo ser consecutivo. O
pai tem direito a uma licença por paternidade de um dia, de dois em dois anos, que deve
ser gozada no dia imediatamente a seguir ao parto.

Não pretendendo neste capítulo, estudar todo o conteúdo da lei laboral, mas simplesmente dar a
conhecer a sua existência e a sua composição, passamos a eneumerar os divreos assuntos
abordados na lei:

Capítulo I – Disposições gerais


Secção I – Objecto e âmbito
Secção II – Proncípios gerais
Subsecção I – Protecçao da dignidade do trabalhador
Subsecção II – Protecção da dignidade do trabalhador
Subsecção III – Protecção da maternidade e da paternidade
Capítulo II – Fontes de direito do trabalho
Capítulo III – Relacção Individual do trabalho
Secção I – Disposições gerais
Secção II – Sujeitos da relação individual do trabalho
Subsecção I – Trabalho de menores
Subsecção II – Trabalho de portador de deficiência
Subsecção III – Trabalhador estudante
Subsecção IV – Trabalhador emigrante
Subsecção V – Trabalhador estrangeiro

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Subsecção VI – Empresas
Secção III – Formação de contrato de trabalho
Secção IV – Duração da relação de trabalho
Secção V – Período probatório
Secção VI – Invalidade do contrato de trabalho
Secção VII – Direitos e deveres das partes
Subsecção I – Direitos das partes
Subsecção II – Deveres das partes
Subsecção III – Poderes do empregador
Subsecção IV – Processo disciplinar
Secção VIII – Modificação do contrato de trabalho
Secção IX – Duração da prestação do trabalho
Secção X – Interrupção da prestação de trabalho
Secção XI – Remuneração do trabalhador
Subsecção I – Regime remuneratório geral
Subsecção II – Regimes remuneratórios especiais
Subsecção III – Tutela de remuneração
Capítulo IV – Suspensão e cessação da relação de trabalho
Secção I – Suspensão da relação de trabalho
Secção II – Cessação da relação de trabalho
Capítulo V – Direitos colectivos e relações colectivas de trabalho
Secção I – Princípios gerais
Secção II – Constituição de associações sindicais e de empregadores
Secção III – Sujeitos das relações colectivas de trabalho
Secção IV – Exercício da actividade sindical
Secção V – Liberdade de associação dos empregados
Secção VI – regime da negociação colectiva

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Subsecção I – Disposições gerais
Subsecção II – Procedimentos da negociação colectiva
Subsecção III – Procedimentos da negociação colectiva
Subsecção IV – Mediação
Subsecção V – Arbitragem laboral
Secção VII – Direito a greve
Subsecção I – Disposições gerais sobre a greve
Subsecção II – Princípios gerais
Subsecção III – Regimes especiais da greve
Subsecção IV – Procedimentos, efeitos e exercício efectivo da greve
Capítulo VI – Higiene, segurança e saúde dos trabalhadores
Secção I – Higiene e segurança no trabalho
Secção II – Saúde dos trabalhadores
Secção III – Acidentes de trabalho e doenças profissionais
Subsecção I – Conceito de acidente de trabalho
Subsecção II – Doenças profissionais
Subsecção III – Disposições comuns sobre acidentes de trabalho e doenças
Profissionais
Capítulo VII – Emprego e formação profissional
Secção I – Princípios gerais
Secção II – Emprego
Secção III – Promoção de acesso ao emprego para jovens
Secção IV – Formação profissional
Secção V – Avaliação profissional de trabalhadores
Capítulo VIII – Segurança Social
Capítulo IX – Fiscalização e contravenções
Secção I – Inspecção

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Secção II – Contravenções
Secção III – Regime sancionatório
Capítulo X – Disposições finais.

4. Interpretação e integração das normas Fiscais

“A lei é criada para ser aplicada”.

Para isso, a lei tem de ser compreendida, ou seja, interpretada. Assim, interpretá-la, é determinar
o seu sentido e alcance. Só depois disso é que pode ser aplicada aos casos concretos.

A interpretação não deve cingir-se à letra, mas sim reconstruir a partir do texto o pensamento do
legislador. Na fixação e alcance da lei, o intérprete deve presumir que o legislador consagrou as
soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados.

Entretanto, embora vigore o princípio da plenitude do sistema jurídico, o certo é que existem
lacunas (casos omissos), pelo que é necessário a sua integração – determinação da norma
aplicável.

4.1 Espécie de Interpretação (segundo a fonte)

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a) Autêntica (do próprio legislador)

É feita por lei de nível hierárquico ou superior à norma interpretada. A lei interpretativa é
vinculativa, ainda que esteja errada (caso em que revoga a lei anterior). Exemplo, um Diploma
Ministerial que clarifica outro anterior.

b) Oficial (das autoridades administrativas)

É feita por lei de nível hierárquico inferior. Ex: um diploma ministerial que operacionaliza um
decreto.

c) Interpretação judicial (dos tribunais)

Feita pelos tribunais em determinado processo, tendo valor vinculativo somente neste.

d) Doutrinal

Feita por juristas ou qualquer pessoa não qualificada. Não tem força vinculativa, embora possa
persuadir pelo prestígio do intérprete ou pela coerência lógica da argumentação.

4.2 Elementos da Interpretação

a) Literal

É baseada na letra da lei, no sentido textual.

b) Racional

Além do sentido textual, há que ter em conta o elemento lógico. Aqui, dve-se presumir que as
palavras e expressões do texto legal foram utilizadas com o sentido técnico que mais se ajusta à
índole e natureza do fenómeno tributário e ao imposto ou instituto em que a norma se enquadra.

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Argumentos:

 Argumentos por maioria de razão

“A lei que permite o mais permite o menos”.


“A lei que proíbe o menos proíbe o mais”

 Relação entre os meios e os fins

“A lei que permite ou proibe o fim, proibe os meios (necessários à consecução desse fim ou que
necessariamente a ele conduzam”.

c) Sistemática

A interpretação deve ter em conta a “unidade do sitema jurídico”, isto é, o sentido da fonte é
determinado não só por si mesmo, mas também pelo conjunto, que não poderá comportar
contradições. Portanto, “as leis se interpretam umas pelas outras”

Nestes termos, o diploma deve ser analisado tendo em conta o seu conjunto, o seu contexto.

d) Histórica

A interpretação deve ter em conta a história da lei (próxima e remota; legal e social), ou seja, “as
circunstâncias em que a lei foi elaborada”, recorrendo se necessário a documentos e factos
como:

 Antecedentes normativos (internos e externos);

 Trabalhos preparatórios (estudos, projectos, relatórios parlamentares, etc);

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 Preâmbulo do diploma;

 Circunstancialismo social (como é que apareceu a lei com aquele conteúdo).

Solução a adoptar

A doutrina dominante para a interpretação das normas fiscais vai no sentido de que se devem
aplicar aí as regras gerais de interpretação, isto é, permitir a interpretação extensiva.

O direito fiscal está hoje modelado pelo princípio da legalidade e é tão limitador de direitos
individuais como todos os outros ramos de direito. Por isso, deve ser permitido ao intérprete
procurar a “ratio” do preceito, o sentido da norma que corresponda ao seu espírito, mesmo que tal
sentido, cabendo embora de algum modo na letra dela, não tenha aí encontrado uma perfeita e
correspondente expressão verbal. Exceptuam-se, os casos em que a Lei afaste a interpretação
extensiva.

5. Aplicação da Lei no Espaço e no Tempo

5.1 Aplicação da lei fiscal no tempo

Comporta três questões fundamentais: o início da vigência, a cessação da sua vigência e a


sucessão de normas.

a) Início da vigência

A validade jurídica de qualquer norma depende da sua publicação no Boletim da República.


Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar, ou o que for
determinado em legislação especial. Assim, o início da vigência pode estar:

 Expresso – a lei pode entrar em vigor imediatamente, após certo tempo, ou em data
fixada.
 Omisso – haverá sempre uma lei que regula casos deste género.

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b) Cessação da vigência da lei

O termo da vigência da lei corresponde ao momento em que cessa o seu valor vinculativo. A lei
pode deixar de vigorar por caducidade (expirou o prazo), revogação (substituida por outra).

c) Suspensão

A suspensão afecta a eficácia da lei, mas não a sua existência. Durante algum tempo deixa de ser
aplicada. Entretanto, pode ser reposta. A suspensão é da competência do mesmo órgão que pode
revogá-la.

5.2 Aplicação da lei fiscal no espaço

Do princípio do exclusivismo do Estado decorre como seu colorário, o princípio da


territorialidade do imposto, pelo qual o poder de tributar só pode ser exercido dentro do território
do Estado.

Mesmo assim, este princípio não evita conflitos com sistemas fiscais estrangeiros como seja:

 Os conflitos internacionais positivos (dupla tributação ou pluritributação) – tributação da


mesma manifestação de riqueza em mais de um país;

 Os conflitos internacionais negativos (evasão fiscal internacional) – a tributação da


manifestação de riqueza escapa aos dois países.

Para evitar estes conflitos têm sido celebrados acordos internacionais sobre a dupla tributação.

39
6. Teoria Geral do Imposto

6.1Conceito

O imposto é uma prestação coactiva, patrimonial, definitiva e unilateral, estabelecidade por lei,
sem carácter de sansão, a favor do Estado, para realização de fins públicos.

Expressões relevantes neste conceito:

 coactiva – não é facultativa, é imposta pelo Estado;

 patrimonial – passível de avaliação pecuniária (em dinheiro);

 definitiva – sem direito a restituição, reembolso, retribuição ou indemnização;

 unilateral – sem contraprestação específica, individual, imediata e directa.

 estabelecida por lei – princípio (constitucional) da legalidade;

 sem carácter de sansão – não resulta de uma punição;

 a favor do Estado – Estado em sentido amplo (ente público);

 fins públicos – sociais, económicos, etc.

6.2Distinção de outras figuras afins

Imposto, Taxa, sanções patrimoniais, empréstimo público e tributos parafiscais são figura
jurídicas afins, com muitas características comuns, mas que não se podem confundir.

40
Taxa

É muito semelhante ao imposto diferindo deste porque aquela é o pagamento em virtude da


utilização individual de um serviço público ou de um bem de domínio público, de que
abstractamente todos necessitam, mas que só alguns procuram. Portanto, há uma prestação
bilateral dado ser uma troca mediante pagamento. É o caso de propinas, taxas camarárias, de
radiodifusão.

Entretanto, apesar de as taxas equivalerem a preços de serviços públicos não devem corresponder
a preços de mercado.

Sansão Patrimonial (Multas , juros)

Uma multa tem carácter punitivo em virtude de ter cometido um acto ilícito, nomeadamente:

 ilícitos criminais de justiça ou administrativos (transgressões);

 atrasos no cumprimento de obrigações legais.

Empréstimo Público

Mesmo que o empréstimo se encontre sujeito a um regime de coação para recolha do dinheiro,
também não se pode confundir o imposto com o empréstimo público, pois este não será uma
prestação definitiva, visto que terá de ser reembolsado ou amortizado, nem será uma prestação
unilateral, visto que o empréstimo vence sempre juros.

6.3Objectivos do Imposto

41
Como já foi referenciado os impostos são colectados para a satisfação de necessidades públicas,
ou seja, fiscais (obtenção de receita), e extrafiscais (sociais e outros).

 Fiscais – satisfação das necessidades financeiras do Estado;

 Sociais – partilha e divisão (redistribuição) justa da riqueza, dos rendimentos e


diminuição da desigualdade social;

 Económicos – ajudar no monitoramento da inflação, actuando (reduzindo ou


aumentando) sobre o rendimento disponível e consequentemente sobre o consumo
das famílias; permitir a selectividade do consumo, aplicando impostos altos/baixos
conforme o produto seja de utilidade ou é supérfulo; proteger a indústria nacional
(fixando pautas preferenciais ou educadoras).

 Políticos – atingir um objectivo que se avizinha difícil; persuadir os visados para um


certo fim.

6.4Classificação dos Impostos

Existem vários critérios de classificação, mas vejamos alguns.

a) Segundo o âmbito de aplicação territorial:

 nacionais – liquidam-se em todo o território nacional (IRPC);

 continentais/estaduais – liquidam-se numa parte do território;

 locais – liquidam-se apenas numa parcela específica do território (autarquias).

b) Segundo o seu objecto (matéria colectável)

42
 sobre o rendimento – produzido, não capitalizado nem consumido (IRPS);

 sobre o capital (património) – sobre a riqueza possuida (riqueza em si mesma) -


perspectiva estática ( é o caso da contribuição autárquica), ou sobre a transmissão da
riqueza – perspectiva dinâmica (SISA);

 sobre o consumo ou a despesa – pode atingir a generalidade da despesa (IVA), ou


pode ser sobre certas despesas - consumos específicos (produtos petrolíferos,
bebidas, tabaco, etc.) .

c) Segundo o critério legal1

 directos – incidem sobre o rendimento e património (capital), cuja matéria colectável


é directamentamente determinada. É o caso do IRPS;

 indirectos – incidem sobre o consumo (despesa). Ex: direitos e imposições


aduaneiras ou o IVA;

 especiais – é uma derivação dos dois primeiros e dizem respeito a factos abrangidos
por estes (impostos) mas que são objecto de tratamento específico. É o caso dos
impostos sobre o consumo de tabaco e sobre o jogo.

d) Segundo a situação (pessoal) do contribuinte

Nestes, há predominância dos aspectos subjectivos ou objectivos do contribuinte (estado civil,


agregado familiar, etc). Assim temos:

1
Esta designação não é pacífica

43
 reais (objectivos) – não personalizados, ou seja, não atendem à situação pessoal
(capacidade contributiva) do sujeito passivo. É o caso dos direitos aduaneiros ou
IRPC.

 pessoais (subjectivos) – personalizados, atendem à situação pessoal (capacidade


contributiva) do sujeito passivo. Ex: o IRPS.

Refira-se que a situação pessoal deve considerar o rendimento global e dispor de características
como a isenção do mínimo de existência, deduções para encargos pessoais e familiares, etc.

e) Segundo o carácter permanente ou transitório da situação tributária

São situações permanentes e estáveis a posse de um prédio ou o exercício de uma actividade


profissional. Por outro, casos como a aquisição de bens/serviços, a importação/exportação, são
situações ocasionais ou transitórias. Assim, temos:

 periódicos – aqueles que se renovam nos sucessivos períodos de tributação


(geralmente anuais). Ex: o IRPC;

 de obrigação única – tributam factos isolados, dando origem a uma obrigação


tributária única, não renovável. É o caso das imposições aduaneiras.

e) Segundo o carácter normal ou excepcional das circunstâncias que determinam a tributação:

 ordinários – a tributação é determinada por circunstâncias normais. É o caso da


maioria dos impostos;

 extraordinários – são determinados por circunstâncias excepcionais e normalmente


transitórias (emergência nacional, crises, calamidades).

f) Segundo o grau de autonomia

44
 principais – gozam de autonomia, quer no plano normativo, quer no plano das
relações tributárias concretas (existem por si próprios). Ex: IVA.

 acessórios – acrescem aos principais, de cuja existência dependem em conreto (são os


chamados impostos “filhos”). É o caso da sobretaxa.

g) Segundo o tipo de taxas

 com taxas ad valorem – o imposto corresponde à aplicação da taxa (em percentagem)


sobre o valor da matéria colectável ou contravalor. Ex: o IVA e as imposições
aduaneiras.

 com taxas específicas – aplicam-se por cada unidade física do produto tributado –
número ou quantidade. Ex: 10 000,00MT por kg, metro, litro, etc.

Resultado de Preencher os modelos obrigatórios para o pagamento das obrigações


sociais, fiscais e legais
Aprendizagem 2:

Critérios de Desempenho: a) Identifica correctamente os modelos obrigatórios e auxiliares


para o cumprimento das obrigações sociais, fiscais e legais

b) Identifica correctamente as fontes de informação para o


preenchimento dos respectivos modelos

c) Preenche correctamente os diversos modelos

Âmbito de Aplicação:

Contexto: Aplicável no contexto do cumprimento das obrigações sociais, fiscais e


legais;

Código Comercial, Código do IVA, Código do IRPC e IRPS, Normas de INSS,


Meios: Legislação laboral; modelo IRPS, IRPC, IVA e do INSS; mapas auxiliares;
folha de calculo;

Evidências Requeridas: Evidência prática que o formando preenche correctamente os modelos

45
do IRPS, IRPC, IVA e INSS.

Temas

7. Relação Jurídica Fiscal e Obrigação fiscal e


8. 8. Processo administrativo do Imposto e
social
obrigações sociais
7.1 Conceitos
8.1 Fases da Vida do imposto
7.2 Obrigações ou Deveres, tributário ou
8.2 Extinção da obrigação tributária
fiscal e sociais
8.3 Estrutura do Imposto
7.3 Pressupostos da relação jurídica
9. 9. Princípios gerais do ordenamento
7.4 Obrigações jurídico fiscal e obrigações
jurídico -fiscal-administrativo
sociais
Moçambicano
7.5 Momento da constituição das
10. Preenchimento dos Diversos modelos para
obrigações fiscais e sociais
cumprimento das obrigações fiscais e
7.6 Elementos da relação jurídico fiscal e
sociais
social

7. Relação Jurídica Fiscal e Obrigação fiscal e social

7.1 Conceitos

Existe relação jurídica quando entre duas ou mais partes se estabelecem deveres e obrigações. É
o caso dos contratos (de energia, água, casamento, transporte, etc). E onde se paga / cobra
imposto há sempre uma relação que se estabelece entre os que devem pagar, os que arrecadam e
os destinatários desse imposto.

Pode-se assim dizer, que a relação jurídica fiscal compreende a obrigação de imposto e as
obrigações ou deveres, tributários e ou fiscais, acessórios.

7.2 Obrigações ou deveres, tributários ou fiscal, acessórios

46
Estes deveres variam, em número e conteúdo, de imposto para imposto, mas podem classificar-
se em função dos seus obrigados, do objecto imediato e das suas finalidades.
a) Quanto aos obrigados – distinguem os deveres a que são obrigados os próprios
contribuintes dos deveres a que são obrigadoas outras pessoas.
b) Quanto ao objecto imediato – distinguem-se as obrigações cujo objecto consiste numa
acção das obrigações cujo objecto é a omissão.
c) Quanto as finalidades: podem ser para:
 Determinar e identificar o sujeito sobre quem recai a obrigação do imposto;
 Facilitar a determinação do objecto do imposto
 Garantir a cobrança do imposto;
 Fiscalizar o cumprimento dos deveres que incidem sobre os obrigados fiscais.

O Sistema Fiscal Moçambicano

O sistema tributário moçambicano integra impostos directos e impostos indirectos, actuando a


diversos níveis, designadamente:

a) Tributação directa dos rendimentos e da riqueza;


b) Tributação indirecta, incidindo sobre os níveis de despesa dos cidadãos.

A tributação directa dos rendimentos na República de Moçambique faz-se através dos seguintes
impostos:
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas - IRPC
 Imposto sobre os rendimentos das Pessoas Singulares - IRPS
 Imposto Complementar

O sistema de impostos sobre a despesa compreende o Imposto sobre o Valor Acrescentado e o


Imposto sobre Consumos Específicos.

O sistema tributário inclui ainda outros impostos e taxas específicas nomeadamente:

47
 Contribuição Predial
 Contribuição de Registo
 Imposto de Turismo
 Imposto sobre os Combustíveis
 Impostos específicos sobre a produção de petróleo e prospecção e exploração mineira

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas – IRPC

Incidência
Lucros resultantes de uma actividade de natureza comercial ou industrial e de actividades por
conta própria não sujeitas ao Imposto Sobre os Rendimentos do Trabalho.
Taxas
Agricultura e Pecuária - 10% nos exercícios fiscais de 1998 a 2007, passando para 32% a partir
do exercício de 2008;
Outras actividades - 32%
Obrigatoriedade de apresentação de contas auditadas:
Contribuintes do Grupo A da Contribuição Industrial quando notificados pela administração
fiscal, investimento directo estrangeiro, empresas estrangeiras e empresas em regime especial.

IVA – Imposto sobre o Valor acrescentado


Incidência
Transmissões de bens e prestações de serviços efectuadas no território nacional, bem como
importações de bens.
Taxas
A taxa aplicável é única, de 17%.

Imposto sobre consumos específicos


Este imposto foi introduzido paralelamente com o Imposto sobre o Valor Acrescentado.
Incidência

48
O Imposto sobre Consumos Específicos incide sobre determinados bens, produzidos ou
importados. De entre os bens sujeitos a este imposto destacam-se as bebidas alcoólicas, tabaco e
veículos automóveis.
Taxas
As taxas variam de 20% a 75%.

Imposto Complementar
O Imposto Complementar incide sobre:
 As mais-valias ou ganhos obtidos por alienação onerosa de partes sociais, incluindo
amortização;
 Rendimentos da aplicação de capitais, desde que produzidos no país;
 Rendimento global das pessoas singulares, com exclusão dos rendimentos abrangidos
pelo Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares - Secção A, desde que os
seus titulares sejam residentes no país.
As taxas de Imposto Complementar aplicáveis ao rendimento global das pessoas singulares
variam de 8% a 40% de acordo com o valor do rendimento.

Imposto sobre o rendimento das Pessoas Singulares - IRPS


Secção A
São sujeitos ao IRPS - secção A:
· Aqueles que prestem serviços profissionais por conta de outrém
· Os que prestem serviços remunerados a título independente ou em regime de avença
Taxas
1. Trabalhadores nacionais e estrangeiros residentes de 10% a 20%;
2. As remunerações acidentais e de trabalho independente são tributadas em 15% até 9 milhões
de meticais e 20% sobre o excedente (ex: trabalho em regime de avença);
3. Os rendimentos auferidos por trabalhadores não residentes ficam sujeitos à taxa liberatória de
20%.

Segurança Social
São abrangidos pelo Sistema de Segurança Social:

49
 Os trabalhadores assalariados nacionais e estrangeiros residentes;
 Os familiares a cargo dos trabalhadores previstos no ponto anterior;
 Outras categorias de trabalhadores.
A inscrição no sistema de segurança social dos trabalhadores e respectivas entidades
empregadoras é obrigatória.
Taxas
7%, sendo 4% pagos pela entidade empregadora e 3% pelo trabalhador.

Imposto Pessoal Autárquico


Nas zonas onde haja Autarquias Locais, os nacionais e estrangeiros estão sujeitos a este imposto,
cujas taxas são fixadas anualmente pelas Assembleias Autárquicas. O mesmo é devido a partir do
ano seguinte àquele em que fixarem residência no território nacional. Este imposto é pago uma
só vez através de descontos nos salários do mês de Fevereiro de cada ano.

Imposto de Selo
O Imposto de Selo recai sobre os documentos, livros, papeis e actos identificados numa tabela
específica ou em leis especiais. As taxas do Imposto de Selo variam em função dos valores dos
recibos de quitação ou da natureza do documento que se pretende selar.
Direitos Aduaneiros
Os seguintes direitos são aplicados sobre o valor CIF de bens importados:
 Bens essenciais 0%
 Matéria Prima 2,5%
 Bens de capitais (equipamentos e maquinaria) 5%
 Bens Intermediários 7,5%
 Bens de Consumo 35%
A lei obriga à inspecção pré-embarque a todos os bens importados cujo valor seja superior a
USD 2.500.

SISA (Contribuição de Registo)

50
A transferência de propriedade imobiliária está sujeita a um imposto denominado Sisa, cuja taxa
é de 5% na primeira transmissão e de 10% nas transmissões subsequentes, incidente sobre o
valor da transmissão e adicionais.

Contribuição Predial
A Contribuição Predial incide sobre as rendas de prédios urbanos à taxa de 10%. (Vide
adicionalmente Imposto Predial Autárquico).

Imposto sobre Doações e Sucessões


As taxas variam entre 1% a 30% de acordo com o valor da herança e a relação entre o doador e o
beneficiário.

Imposto de Turismo
O Imposto de Turismo é de 3% para a indústria hoteleira e similares e de 2% para os serviços
prestados pelas agências de viagem, agentes de turismo e operadores turísticos.

Impostos Autárquicos
Sobre o valor patrimonial dos prédios urbanos situados nas Autarquias Locais incide o Imposto
Predial Autárquico cujas taxas são fixadas pela Assembleia Municipal, variando entre 0,2% e 1%
do valor patrimonial.

Taxa por Actividade Económica


É devida pelo exercício de qualquer actividade de natureza comercial ou industrial, incluindo a
prestação de serviços na área da respectiva autarquia, desde que tal actividade seja exercida num
estabelecimento. A taxa é fixada anualmente pelas assembleias autárquicas.

7.3 Pressupostos da Relação Jurídica

Os pressupostos da relação jurídica correspondem ao conjunto de condições de que a lei faz


depender o nascimento da relação jurídica.
Estes podem classificar-se quanto à sua natureza e quanto ao seu âmbito.

51
a) Quanto à sua natureza – podem ser subjectivos e objectivos, consoante dizem respeito a
qualquer dos sujeitos da relação ou ao seu objecto.
b) Quanto ao âmbito – podem ser genéricos, comuns a todas as relações de imposto e
específicos, quando respeitam a determinado tipo de imposto, susceptível a uma
enumeração geral.

7.4 Obrigação Jurídico – Fiscal

No que respeita a sua estrutura fundamental, a obrigação fiscal não difere da obrigação civil.
Porém quanto ao seu regime jurídico, aparecem características distintas, a saber:
a) A obrigação civil é, normalmente modelada em grande medida, pela vontade das partes; a
obrigação fiscal é uma obrigação dependente da lei.
b) Na obrigação civil o sujeito activo pode dispor de seu crédito, pode renunciar a ele,
enquanto a obrigação fiscal é indisponível, é irrenunciável.
c) A administração tributária goza da presunçãode legalidade dos actos administrativos e de
privilégios de execução prévia.
d) O regime específico das garantias é um elemento caracterizador da obrigação fiscal.

7.5 Momento da Constituição da Obrigação

A obrigação do imposto deriva da lei. Assim a obrigação nasce no momento da entrada em vigor
da lei.

A obrigação fiscal nasce com a realização do facto tributável descrito na previsão normativa, mas
os poderes e deveres que se integram na relação jurídica tributária só adquirem plena operância
com o acto tributável, sendo este um acto administrativo que fixa o montante do imposto que o
contribuinte tem de pagar em resultado da aplicação da lei fiscal aos factos nela previstos.

O acto tributável goza de presunção de legalidade, sendo por natureza definitivo e executório, no
sentido de que é dotado de eficácia para fixar os direitos do Estado e do contribuinte, sendo que

52
se este não cumprir com a sua obrigação, poderá sofrer uma execução fiscal, não carecendo de
autorização dos Tribunais.

O acto tributário é um processo administrativo de natureza burocrática (processo tributário


gracioso) que implica:

 a determinação do sujeito passivo da obrigação fiscal e da respectiva matéria colectável


(lançamento);

 a aplicação da taxa do imposto sobre a matéria colectável (liquidação).

7.6 Elementos da relação jurídico Fiscal

Existe relação jurídica quando entre duas ou mais partes se estabelecem deveres e obrigações. É
o caso dos contratos (de energia, água, casamento, transporte, etc). E onde se paga / cobra
imposto há sempre uma relação que se estabelece entre os que devem pagar, os que arrecadam e
os destinatários desse imposto. Assim temos:

a) Sujeito activo

Sujeito activo da relação tributária é todo o ente dotado de personalidade jurídica que a lei fiscal
atribui o direito de arrecadar o imposto. É o caso do Estado, ATM ou Finanças, das autarquias e
de institutos públicos.

O Estado – através do Ministério das Finanças (Fazenda) é o sujeito activo por excelência e o
mais importante, tanto pelo número bem como valor das relações fiscais em que intervém.

b) Sujeito passivo, devedor e contribuinte

53
É a pessoa singular/colectiva que a lei fiscal obriga a efectuar a liquidação do imposto ou outros
deveres acessórios (como a retenção na fonte). É, no fundo, o devedor efectivo do imposto. O
contribuinte é o detentor do rendimento sujeito a imposto e sobre ele recai a responsabilidade de
suportar o desfalque patrimonial.

Por outro lado, pode ou não suceder que estas três figuras estejam reunidas numa só pessoa, ou
sejam as três diferentes. Se o sujeito passivo devedor do imposto é:

 a pessoa que a lei obrigatoriamente vinculou ao pagamento – então é o devedor original; ou

 outra pessoa / entidade obrigada também por lei verificadas certas circunstâncias específicas
– é o devedor não original.

c) Substituição tributária

Acontece sempre que a lei impõe o dever de liquidar o imposto, não ao dono do rendimento –
substituído, mas a um terceiro que assim ocupa, desde o início até à extinção da relação
tributária, a posição de sujeito passivo – substituto. É o caso de cobrança por retenção na fonte.

Assim, o substituto é, para todos os efeitos legais, o devedor originário do imposto, enquanto que
o substituído (titular dos rendimentos sujeitos a imposto) apenas é responsável pela diferença
entre as importâncias que deveriam ter sido deduzidas e as que o foram.

A substituição fiscal reduz o campo de manobras da evasão fiscal, o número de pessoas a


entregar o imposto é menor – o que facilita a gestão, e é mais certa a entrada da receita nos
cofres públicos, uma vez que geralmente o património do substituto oferece maiores garantias
que o do substituído.

d) Sucessão tributária

54
Dá-se quando a posição de sujeito passivo – sucedido, passa a ser ocupada por uma terceira
pessoa – sucessora, alheia à constituição da relação tributária (o sucessor passa a ocupar o lugar
do sucedido).

A sucessão tributária só pode acontecer por morte do sujeito passivo, caso em que os herdeiros
são responsáveis (devedores não originários) pelas dívidas até ao valor dos bens herdados.

e) Responsabilidade tributária

A responsabilidade tributária (fiscal) por dívida de outrem é subsidiária. Por exemplo, os


administradores, gerentes e outras pessoas que exercem funções de administração nas empresas e
sociedades de responsabilidade são subsidiariamente responsáveis em relação àquelas e
solidariamente entre si por todas as contribuições e impostos relativos ao período de exercício a
seu cargo, salvo se provarem que não foi por sua culpa que o património da sociedade se tornou
insuficiente para a satisfação dos créditos fiscais; os liquidatários de uma sociedade devem antes
satisfazer as dívidas fiscais, sob pena de ficarem pessoal e solidariamente responsáveis pelas
importâncias respectivas.

8. Processo Administrativo do Imposto

8.1Fases da Vida do Imposto

Os diversos momentos da vida do imposto passam necessariamente por três ou quatro fases,
conforme os casos, nomeadamente:

 Criação – quando se publica um comando legal (lei, decreto, diploma ministerial) que
introduz um imposto, está-se criando esse imposto;

55
 Lançamento – identificação do sujeito contribuinte e cálculo da matéria colectável sobre
a qual incidirá a taxa de imposto;

 Liquidação – aplicação da taxa de imposto sobre a matéria colectável;

 Cobrança/pagamento – corresponde à arrecadação propriamente dita.

Pela liquidação obtém-se a colecta, ou seja, a verba principal do imposto (o imposto calculado), a
qual, todavia, nem sempre corresponde à importância a pagar, como se pode ver já a seguir:

Imposto a pagar = Colecta – deduções à colecta

Colecta = matéria colectável x taxa do imposto

Por vezes, a importância a pagar não corresponde apenas à colecta (com ou sem dedução), mas
também a adicionais (impostos acessórios) .

Tipos de Liquidação

a) definitiva – efectuadas pelas repartições de finanças;

b) provisória, nos seguintes casos:

 quando efectuada pelo contribuinte (autoliquidação);

 quando efectuada por um substituto fiscal (caso de retenção na fonte);

56
 quando os serviços fiscais não dispõem ainda de todos os elementos relativos à situação
tributária.

A liquidação provisória só passa a definitiva depois de homologada/corrigida pela Administração


Fiscal.

Sempre que a autoridade competente tome conhecimento de factos tributáveis não declarados, o
processo de liquidação é instaurado oficiosamente (liquidação oficiosa).

As Finanças devem efectuar uma liquidação adicional sempre que se verifique ter havido
prejuízo para o Estado na liquidação anterior:

 em virtude de erros ou omissões;

 por se concluir após exame à escrita do contrbuinte que é devido maior imposto.

8.2 Obrigação Fiscal

Como já foi referido, a relação jurídico-fiscal baseia-se no imposto. A mesma caracteriza-se por
ser uma obrigação:

 Legal – tem como fonte a lei.

 Pública – a sua disciplina jurídica integra o Direito Público.

57
 Exequível e executória – o acto tributável não é autoexequível, daí carecer de execução.
No entanto, a execução não está dependente de qualquer outra pronúncia para além da
constituída pelo próprio acto tributário.

 Semi-executória – na medida em que a execução corre, em parte, na administração


tributária (nos serviços de finanças), cabendo às Finanças a instrução do processo
executório.

 Especialmente garantida – o crédito fiscal goza de garantis especiais (por exemplo, a


caução)

8.3 Extinção da Obrigação Fiscal

Uma relação jurídica obrigacional quando surge é para se extinguir mediante o cumprimento do
dever criado pelo vínculo.

A relação jurídico fiscal, tendo natureza obrigacional, cria para o devedor o dever de pagar o
imposto. Com o pagamento extingue-se a obrigação.

O pagamento é, assim, a forma mais vulgar e corrente de extinçao das obrigações. No caso
conceto da obrigação fiscal, o pagamento em numerário reveste particular importância, porque o
dinheiro é indispensável para fazer face às despesas correntes do estado e a ruptura nos
pagamentos implicaria graves problemas na normal e corrente gestão do Estado. Resulta do
afirmado, que o interesse do estado é receber em numerário.

Outras formas de extinção da obrigação Fiscal

 Dação em cumprimento – é uma forma de extinçao que consiste na prestação, com o


acordo das partes, de coisa diversa da que constitui o objecto da obrigação. Esta prestação
exonera o devedor da sua obrigação.

 Prescrição – O prazo das dívidas fiscais geralmente é de quinze anos. A reclamação, a


impugnação, o recurso e a execução interrompem a prescrição. Se o processo estiver

58
parado por facto não imputável ao contribuinte durante mais de um ano, o efeito será de
suspensão, somando-se o tempo que decorrer após este período com o que tiver decorrido
até a data da autuação.

 Compensação – No caso de anulação da liquidação, será de imediato processado o título


de anulação. Se o contribuinte tiver constituído outra obrigação no mesmo imposto,
poderá compensá-la com o crédito do título.

 Confusão – verifica-se quando o sujeito activo é simultaneamente o sujeito passivo.

8.4 Estrutura do Imposto

A relação jurídica fiscal resulta da conjugação de um facto com uma norma.

As normas que tornam fiscalmente relevantes os factos da vida social e económica e lhe dão
conteúdo fiscal são designadas por normas de incidência.

Por si so, as normas de incidência não bastam para se aferir se o cidadão, ou empresa, está ou
não sujeito ao pagamento do imposto. È que, por razões de interesse público, o legislador pode
decidir não exigir o pagamento a determinadas actividades ou entes, estabelecendo isenções.

Numa isenção, o ente está sujeito a lei de imposto mas isento da obrigação de pagamento. Deve
distinguir-se esta situação da de delimitação negativa de incid~encia em que a lei expressamente
exclui da definição de actividade sujeita a imposto, uma ou algumas situações que se poderia
pensar à partida estarem sujeitas mas que são aprticulamentente e especialmente excluídas da
norma de incidência.

Não basta que a lei defina as situações fiscalmente relevantes, é indispensável que se executem
um conjunto de operações materiais por parte da Administração fiscal que permitem:

 A determinação da matéria colectável sujeita a imposto;

 A determinação do sujeito passivo;

 A determinação da taxa a aplicar;

59
 A efectiva aplicação da taxa à ametéria colectável (determinação da colecta);

 A cobrança da colecta e efectivo encaixe pelo Estado.

Porque a actividade da Administração sópode efectuar-se no cumprimento da lei e precedendo


esta (princípio da legalidade), existem todo um conjunto de normas que regulamentam as
diversas fases apontadas.

Normas de determinação da matéria colectável

Corresponde a um conjunto de operações levadas a cabo pela Administração ou pela


Administração e os particulares contribuintes para se determinar e evidenciar quais os elemntos
de actividade (ampresarial, pessoal, profissional), fiscalmente relevantes. Dentro da
complexidade dos factos da vida social e pessoal, são relevados, anotados e inscritos os factos
fiscalmente relevantes. Com este conjunto de operações lógicas e mecanismos chega-se ao
rendimento, despesa ou património fiscalmente relevante.

Normas de determinação do sujeito passivo ou de lançamento

Não basta determinar a matéria colectável. Antes os simultâneamente às operações a efectuar, é


necessário determinar o sujeito passivo titular da matéria colectável. Pode acontecer que por
razões várias, não seja possível atribuir a um indivíduo em particular a manifestação de riqueza
sujeita à tributação. Neste caso o Direito Fiscal atribuirá personalidade tributária a essas
situações (herança jacente, sociedade s irregulares, etc. )

A definição do sujeito passivo tributário é uma operação indispensável de concretização da


relação jurídica fiscal e passo essencial para a posterior imputação de colecta (aplicação da taxa à
matéria colectável). A operação de determinação do sujeito passivo designa-se lançamento.

Normas de determinação da taxa a aplicar

Quanto a taxa é única, a questão não levanta quaisquer problemas. Quando estamos perante taxas
progressivas há que definir qual a que se deve aplicar face ao nível da matéria colectável e à taxa
em vigor.

60
Da aplicação da taxa à matéria colectável resulta a colecta que é o momento do imposto devido,
Esta operação designa-se por Liquidação.

A cobrança

O fim para que os impostos são criados não fica completo sem o efectivo encaixe da quantia
devida e sua posterior reafectação aos diversos fins do estado.

A cobrança é o conjunto de actos e operações materiais que visam tornar efectiva a receita. È a
operação consequente ao cumprimento da obrigação fiscal pelo devedor.

A compreensão e conhecimento de qualquer imposto passa necessariamente pela análise e


aprofundamento destas diversas fases da figura tributária.

9 Princípios Gerais do ordenamento Jurídico – Fiscal Administrativo


Moçambicano

A questão penal em Direito Fiscal tem um enquadramento específico que resulta da particular
especificidade que reveste a relação jurídico- fiscal. Esta, desenrola-se entre o Estado e o
contribuinte que vê amputados os seus rendimentos ou património sem que haja uma relação
directa entre esse facto e os benefícios que recolhe do Estado (Poliícia, Administração, Justiça,
Saúde, Educação, etc.). Este facto, aliado a esse outro de existirem no pensamento económico
inúmeras doutrinas que preconizam um papel não interventor ao Estado, leva a que exista uma
tendência para a despenalização do crime fiscal, considerando-o como tolerável ou aceitável face
à agressão do património privado que representaria o imposto.

Uma sociedade coerente, moderna e organizada não pode, nem deve aceitar estas concepções que
se devem considerar hoja ultrapassadas atenta a importância do imposto no financiamento das
actividades públicas e o papel destas na criação do bem estar social geral.

A penalização de possíveis infracções fiscais tem de situar-se ao nível do não cumprimento dos
deveres e obrigações acessórios e nunca por do não cumprimento de obrigação do imposto ou
seja o seu não pagamento.

61
Uma infracção fiscal surge assim, do facto de não se ter declarado, atempadameente os
rendimentos, de não se cumprir o prazo de auto liquidação ou de indicar erradamente montantes
para a matéria colectável.

É o que estatui o artigo 8 do Diploma Legislativo 783 de 18-04-1942:

“Quando a liquidação das contribuições e impostos não tiver sido feita nos prazos fixados nos
respectivos regulamentos por motivos imputáveis aos contribuintes, ou quando, tendo-se feito
nesses prazos venha ser considerada pelos mesmos motivos manifestamente inexacta, levantar-
se-á o competente auto de transgressão, que fará fé até prova em contrário.

§ Único. Proceder-se-á da mesma forma sempre que ao contribuinte haja de ser imposta qualquer
pena pela transgressão das leis e regulamentos tributários, ainda que da mesma transgressão
nenhum prejuízo tenha resultado para a liquidação do imposto”.

Do preceito citado, resulta claramente que não se integra no conceito de violação de lei ou
regulamento, para efeitos de transgressão, o não pagamento do imposto.

A utilização da expressão “transgressão” deixa de fora a questão da qualificação do acto


praticado como “crime” ou “contravenção” englobando-se uns e outros na designação genériica
apontada.

O fundamento teórico da existência da transgressão é a violação do dever de declaração que tem


subjacente o princípio da “boa fé” ou da “confiança” que deve presidir nas relações entre o
contribuinte e a Administração. A violação dessa boa fé ou confiança implicam uma ruptura nas
relações entre o contribuinte e a administração que deverão ser sancionadas com multa,
penalizando-se essa violação e prevenindo que outros pratiquem o mesmo acto. As penas têm
fins preventivos e punitivos.

A multa é variável e deverá atender aos seguintes elementos:

 Valor do imposto que deveria ser pago se a infracção não fosse cometida;

 Actos de ocultação, na medida em que dificultaem a descoberta da infracção;

 Carácter acidental ou frequente da sua ocorrência;

62
 Ter o não havido efectivo prejuízo para a Fazenda nacional;

 Utilização de meios fraudulentos;

 Tentativa de suborno ou de obtenção de vantagem ilegal junto dos funcionários;

 Especial obrigação de não cometer a infracção;

 Dolo ou simples negligência;

 Existência de pagamento espontâneo.

A reincidência é definida como a situação em que o infractor, tendo sido consenado por sentença
transitada em julgado, comete a mesma infracção antes de terem decorrido cinco anos sobre
aquela condenação, ainda que a pena da primeira infracção tenha sido prescrita.

A reincidência só é factor agravante da multa nos casos em que a lei expressamente o determine.

O pagamento expontâneo ou seja, o pagamento efectuado pelo infractor antes de ter entrado em
qualquer serviço da administração fiscal o auto de transgressão, participação, ou denúncia,
implica a redução a metade da multa, nos termos do artigo ....

Não se considerará expontâneo, no entanto, o pagamento da multa que for solicitado


pisteriormente ao início de qualquer fiscalização ou exame à escrita do infractor.

Quando a violação de várias obrigações for feita por um só comportamento, será aplicada uma só
penalidade ou, sendo diferentes, a mais grave.

O acto de transgressão só pode ser levantado no prazo de cinco anos a contar da data em que a
infracção foi cometida e extingue o procedimento para a aplicação das multas se ficar parado por
mais de cinco anos.

A responsabilidade por infracções fiscais extingue-se nos seguintes casos:

 Pagamento das multas

 Prescrição do procedimento judicial ou da pena

63
 Amnistia

 Morte do infractor.

A obrigação de pagar qualquer multa prescreve passados dez anos sobre o trânsito em julgado da
condenação.

A morte do infractor extingue a responsabilidade por infracções fiscais, mas a obrigação de pagar
qualquer multa passa para os herdeiros do infractor se a decisão condenatória tiver transitado em
julgado, em vida deste.

Os técnicos de contas podem ver s sua inscrição suspensa e cancelada caso se recusem à
exibição, de escrita ou sejam coniventes com essa recusa. A subscrição de qualquer declaração
pelos técnicos de contas nas quais se verifiquem omissões ou inexactidões pode determinar o
cancelamento das inscrições pelo Ministro das Finanças.

Processos

Um processo correctamente instruído deverá passar pelas seguintes fases:

1. Auto de transgressão – levantado perante duas testemunhas mencionando o objecto da


transgressão e o artigo da lei infringido. Deverá ser assinado pelas testemunhas e pelo
transgressor caso queira e possa escrever e pela entidade ou funcionário que fizer a
diligência. Caso não queiram ou não possam, disso se fará menção. A competência para o
levantamento do auto é do Director nacional, directores provinciais e funcionários a
quem os regulamentos expressamente confiram tal atribuição.

2. Envio ao Secretário ou delegado de fazenda – em três dias deverá notificar o transgressor


para contestar, querendo, sob pena de condenação imediata. O prazo para a contestação é
fixado pelo Sectretário da Fazenda tendo em atenção a distância a que reside o infractor e
demais circunstâncias.

a) Se o transgressor não contestar – O chefe da repartição proferirá sentença


condenatória, devendo previamente certificar-se de que a notificação foi feita com as

64
formalidades legais. Da liquidação se extrairá certidão, a fim de instaurar
imediatamente execução fiscal. A dívida será debitada ao recebedor num único
conhecimento.

b) Se o transgressor contestar – O secretário ou delegado da Fazenda procederá à


instauração do processo, devendo ouvir testemunhas em auto e por escrito, após o que
proferirá sentença fundamentada fixando a multa e adicionais e as pessoas
responsáveis pelo seu pagamento. A sentença é notificada ao transgressor no prazo de
cinco dias.

3. Cabe recurso para o Tribunal Administrativo no prazo de 8 (oito) dias.

4. O recurso tem efeito suspensivo caso haja depósito ou caução da multa. Se a caução ou o
deósito não forem prestados, o recurso tem efeito meramente devolutivo. Se já houver
penhora que garanta o pagamento da dívida, não é necessário qualquer depósito e o
processo executivo ficará suspenso até à resolução do pleito.

Assim, desde que exista: depósito, caução ou penhora, o recurso tem efeito suspensivo e devrá
ser apreciado antes da venda dos bens em praça.

Reclamações contenciosas

O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial, que será apresentada na repartição de
finanças, assinada por advogado, solicitador ou pelo interessado. Os motivos que podem levar à
impugnação do acto de liquidação são, designadamente:

 Inexistência ou cessação dos factos tributários

 Erro na determinação da matéroa colectável e do seu valor

 Erro na designação ou transferência da inscrição de prédios, pessoas, factos ou valores

65
 Duplicação oi omissão relativo à inscrição de contribuintes ou descrição dos factos
tributários

 Aplicação da taxa diferente da devida ou erro de cálculo na fixação da colecta ou de


quaisquer adicionais

 Duplicação de colecta

 Ilegalidadeda contribuição do imposto

 Incompetência do funcionário que o liquida

 Incompetência do tribunal.

De notar que a enumeração legal não é taxativa podendo a reclamação contenciosa ser feita com
base em qualquer outra ilegalidade do acto tributário.

O prazo para apresentação da petição inicial é de sessenta dias sobre a prática do acto que
contará ao dia imediato ao da abertura do cofre ou ao dia da liquidação ou notificação se for
cobrada eventualmente, excepto nos casos da existência de prazos legais especiais previstos na
lei.

Requisitos da petição inicial

 Ser assinada por advogado, solicitador e/ou o próprio;

 Indicar até três testemunhas (se for caso disso), por cada facto num máximo de cinco;

 Juntar todos os documentos com a reclamação.

Actos processuais

 O depoimento das testemunhas será reduzido a escrito;

 Será passado recibo da apresentação da P.I. caso isso seja solicitado pela parte
impugnante;

66
 A sentença será lavrada após produzida a prova e ouvidos por escrito as testemunhas e as
entidades oficiais que tiverem alguma informação sobre o assunto.

 A competência para lavrar a sentença é o cheque de Repartição de Finanças na sua


qualidade de Juiz das contribuições e impostos;

 A sentença deve ser proferida no prazo de trinta dias e as decisões deverão ser
notificadas aos reclamantes no prazo de cinco dias, pessoalmente ou pelo correio com
aviso de recepção.

Recurso

 Da decisão cabe recurso para o tribunal Administrativo, a interpor no prazo de oito dias;

 As alegações de recurso deverão constar logo junto com requerimento sob pena de o
emso ser julgado deserto. As alegações podem ser feitas no tribunal de recurso desde que
o declare no prazo de 24 horas a contar da notificação;

 O Chefe da Repartição pode contraminutar ou sustentar o direito da Fazenda Nacional.

A Fazenda nacional pode igualmente recorrer nos mesmos prazos e com os mesmos
fundamentos. Os recursos só têm efeito suspensivo se os mesmos depositarem as importâncias
impugnadas ou as multas ou se for prestada caução mediante garantia bancária. Se já existir
penhora que garanta o pagamento da dívida não é necessária a prestação de caução e o processo
executivo ficará suspenso até à resolução do pleito.

Processo gracioso

Reclamação ordinária – A possibilidade de reclamar ordinariamente consta em todas as leis


fiscais. Pode mesmo defender-se que é um direito do contribuinte que não necessitaria de ter
consagração legal. Hoje, na Constituição da república de Moçambique, tem consagração legal
entroncando no direito a dirigir petições e reclamações ao Estado.

67
A reclamação ordinária pode ser feita com base em qualquer fundamento de mérito ou legalidade
e pelo directamente interessado, dirigida à entidade que patricou o acto. Da decisão cabe recurso
hierárquico ou reclamação contenciosa conforme o caso.

Processo executivo

O processo tem por base um título executivo pelo qual se determina o direito do exequente. O
título executivo deverá obedecer a determinados requisitos devendo a dívida ser certa, liquida e
exigível.

Antecede a emissão do título executivo o relaxe que vem definido na lei, como falta de
pagamento dentro dos prazos legais. Segue-se a citação, em que após dela, nomeam-se bens à
penhora.

O direito de nomeação é, antes do mais, do executado e só depois do tribunal. A penhora é


registada se incidir sobre bens sujeitos a esta formalidade. Na penhora deverão primeiro,
penhorar-se os bens móveis e só depois os imóveis.

A seguir à penhora segue-se a praça e arrematação. O produto da venda dos bens satisfaz
dívidas, custas e emolumentos. O remanescente é entregue ao executado se este o requerer.

Oposição à execução

O executado pode opor-se à execução mediante simples requerimento, embargos ou embargos de


terceiro. Não é possível usar simultaneamente, dos dois meios de oposição. O prazo para deduzir
a oposição é de dez dias.

A oposição por simples requerimento só pode ter algum dos fundamentos seguintes:

 Ilegitimidade da pessoa citada;

 Pagamento da dívida exequenda

 Prescrição da dívida;

 Duplicação de colecta;

 Falta ou nulidade da primeira citação.

68
Além destes a oposição por embargos poderá ter mais os seguintes:

 Ilegalidade da contribuição;

 Falsidade do documento;

 Litígio pendente;

 Não pertencerem ao executado os bens penhorados.

Efeito – o efeitodos embargos só é suspensiva se prestar garantia ou caução mediante depósito.

Recursos – dos despachos negativos cabe recurso nos termos gerais.

10 Preenchimento dos diversos modelos para cumprimento das obrigações


fiscais

Vide formulários em anexo e as respectivas instruções de preenchimento

Resultado de Realizar os procedimentos necessarios para o pagamento das


obrigações sociais, fiscais e legais
Aprendizagem 3:

Critérios de Desempenho: a) Identifica correctamente o calendário de pagamento das


obrigações sociais, fiscais e legais

69
b) Identifica correctamente as entidades receptoras dos modelos
obrigatórios

c) Identifica correctamente as diversas formas de pagamento das


obrigações sociais, legais e fiscais;

d) Identifica os procedimentos de pagamento das obrigações


sociais, legais e fiscais;
Âmbito de Aplicação:

Contexto: Aplicável no contexto do cumprimento das obrigações sociais, fiscais e


legais;

Legislação fiscal e social;; modelo IRPS, IRPC, IVA e do INSS; mapas


Meios: auxiliares;

Evidências Requeridas: Evidência escrita e/ou oral que o formando identifica todos os
procedimentos para efectuar o pagamento das obrigações sociais, fiscais
e laborais e obtenção dos respectivos comprovativos.

Temas

13. Formas de Pagamento


11. Calendário das Obrigações Fiscais e Sociais
14. Normas e Procedimentos de
12. Identificação das entidades receptoras
pagamento das obrigações fiscais e
das Obrigações fiscais e sociais
sociais

11.Calendário das Obrigações Fiscais

Janeiro
• Até ao dia 10 - Entrega às Direcções de Áreas Fiscais, pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte (ART° 83 do CIRPS);

70
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento, à final, do IRPS relativo ao rendimento do
ano anterior;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento, à final, do IRPC relativo ao rendimento do
ano anterior (art. 90 do CIRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal, e ao trimestre anterior, para os do Regime Simplificado de Tributação;
• Durante o mês e até ao fim de Março - Pagamento do Imposto sobre Veículos.

Fevereiro
• Até ao dia 10 - Entrega às Direcções de Áreas Fiscais, pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte (art. 83 do CIRPS);
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento, à final, do IRPC relativo ao rendimento do
ano anterior (art. 90 do CIRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal;
• Durante o mês e até ao fim de Março - Pagamento do Imposto sobre Veículos;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento de IRPS relativo aos rendimentos do ano
anterior (art. 82, n.º 1 CIRPS);

Março
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento a final do IRPC relativos aos rendimentos do
ano anterior (art. 90 do CIRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal;
• Até ao fim do mês - Pagamento do Imposto sobre Veículos;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento de IRPS relativo aos rendimentos do ano
anterior (art. 82, n.º 1 CIRPS).
• Até ao fim do mês - Entrega da Declaração Anual de rendimentos do exercício anterior pelos

71
sujeitos passivos (al a) Nº 1 art.
56 Modelo 10).

Abril
• Até ao dia 10 - Entrega às Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento, à final, do IRPC relativos aos rendimentos do
ano anterior (art. 90 do CIRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal e ao trimestre
anterior, para os do regime simplificado de tributação;
• Durante o mês e até ao fim de Maio - Pagamento de IRPS relativo aos rendimentos do ano
anterior (art. 82, nº 1 CIRPS);
• Até ao fim do mês - Entrega da Declaração Anual de rendimentos do exercício anterior pelos
sujeitos passivos alinea b) nº 1
artº 56 CIRPS - Modelo 10 e Anexos

Maio
• Até ao dia 10 - Entrega às Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao último dia do mês - Pagamento, à final, do IRPS relativo ao rendimento do ano anterior;
• Até ao último dia do mês - Pagamento, à final, do IRPC relativo ao rendimento do ano anterior
(art. 90 do CIRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal;
• Até ao fim de Maio - 1ª Prestação do Pagamento por Conta do IRPC, a), n°1, art. 90 do CIRPC.
• Até ao fim deste mês- Entrega da Declaração de Rendimentos do exercício anterior pelos
Sujeitos Passivos com contabilidade
organizada e Regime Simplificado de escrituração (art. 106 do CIRPC) - Modelos 22 e 22A;

72
Junho
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao dia 20 -1ª Prestação do Pagamento por Conta de IRPS, 2ª Categoria;
• Até ao último dia do mês - 1ª Prestação do Pagamento Especial por Conta de IRPC (art. 92 n°1
do CIRPC).
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal;
• Até ao fim deste mês - Entrega da Declaração Anual de Informação Contabilística e Fiscal do
exercício anterior pelos Sujeitos
Passivos artº 98 do IRPS e art° 106 do CIRPC - Modelo 20 e Anexos e Modelo 20 I;

Julho
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte (art. 82, nº 1 CIRPS/IRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal e ao trimestre
anterior, para os do regime simplificado de tributação;
• Até ao último dia do mês - 2ª Prestação do Pagamento por Conta do IRPC (art. 90 n°1, a), do
CIRPC;

Agosto
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte (art. 82, nº 1 CIRPS/IRPC);
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do regime normal;
• Até ao último dia do mês - 2ª Prestação do Pagamento Especial por Conta de IRPC (art. 92 n°1
do CIRPC)

73
Setembro
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao dia 20 - 2º Pagamento por Conta de IRPS, 2ª Categoria;
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do regime normal;
• Até ao último dia do mês - 3ª Prestação do Pagamento por Conta de IRPC;

Outubro
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal e ao trimestre
anterior, para os do Regime Simplificado de Tributação;
• Até ao último dia do mês - 3ª Prestação do Pagamento Especial por Conta de IRPC (art. 92 n°1
do CIRPC).

Novembro
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos
do Regime Normal;
• Até ao dia 20 - Pagamento da 3ª Prestação Pagamento por Conta de IRPS 2ª Categoria;

Dezembro
• Até ao dia 10 - Entrega nas Direcções de Áreas Fiscais pelos Serviços Públicos, das receitas por
elas cobradas, no mês anterior;
• Até ao dia 20 - Pagamento do IRPS e IRPC retidos na fonte;
• Até ao último dia do mês - Pagamento do IVA relativo ao mês anterior, pelos sujeitos passivos

74
do Regime Normal.

12. Identificação das entidades receptoras das Obrigações Fiscais

De entre as diversas receitas que compõem o Orçamento do Estado, revelam pela sua
importância e dimensão os impostos. Em Moçambique os impostos representam cerca de 35%
das receitas totais internas do Estado.

O estudo do fenómeno imposto, justifica-se não só pela importância que esta receita tem no
Orçamento do Estado, como pelo facto de corresponder a uma apropriação do Estado sem
contrapartida directa, imediata ou específica para o contribuinte. Esta apropriação, tão carregada
de conexões e repercussões históricas de domínio e sujeição, em todas as civilizações e
particularmente na civilização aficana, representa uma relação de poder entre o Estado e o
contribuinte, com uma apropriação de propriedade do particular sem contrapartida.

Para satisfazer esses intentos, o Estado cria, através do Governo, instituições especializadas para
a administração do imposto, que no caso de Moçambique é o Ministério das Finanças, através
das suas diversas delegações ou Recebedorias de Fazenda pública.

Portanto a entidade receptora das obrigações fiscais é o Ministério das Finanças.

Mas conforme se verificou, os impostos não representam a única fonte de rendimento para o
Estado satisfazer as suas necessidades, pois existem outros tributos ou contribuições dos
cidadãos em geral ou das unidades económicas, que podem ser traduzidas em Taxas, Multas,
Coimas, Juros, Empréstimos, etc.

Assim, de acordo com o tipo de imposto ou taxa a ser pago, e de acordo com o destino do
mesmo, são identificadas outras instituições do Estado ou afins, para a recepção dos mesmos,
como por exemplo:

- Alguns Ministérios – Educação, Saúde, Transportes, Obras públicas, Agricultura, etc.;

- Autarquias Locais – para os casos de Taxa de actividade económica, Imposto predial autáquico,
Imposto pessoal autárquico, etc.

75
- Instituto de segurança Social – participação para o processo de reforma e outras pensões;

- Sindicatos – para a recolha das contribuições da profissionalização das actividades;

- Etc.

13. Formas de Pagamento

De acordo com o conceito do Imposto, prestação coactiva e pecuniária, a forma de pagamento


prevista deverá ser em dinheiro, decorrente da necessidade que o próprio Estado tem, para fazer
a cobertura das suas necessidades através da realização de despesas. Pese embora este facto, há
impostos que podem ser pagos em bens ou serviços, de acordo com o estipulado nas próprias leis
que os regem, na impossibilidade de satisfação directa em dinheiro, mas o objectivo final, fará
consequentemente com que estes valores patrimoniais sejam transformados em dinheiro para a
sua mais flexível afectação.

14. Normas e procedimentos de pagamento das obrigações fiscais e sociais

Neste capítulo faremos uma abordagem de âmbito geral sobre as normas e procedimentos de
pagamento das obrigações fiscais, pois cada tipo de imposto rege-se pelas suas especificidades,
mas vamos encontar aqui, aquilo que constuem pontos comuns nesta matéria.

O pagamento do Imposto deverá ser efectuado na Recebedoria de Fazenda competente.

Considera-se Recebedoria de Fazenda competente, a da área fiscal onde o sujeito passivo tiver a
sua sede, estabelecimento principal ou na falta deste a do domicilio.

O Ministro das Finanças poderá, quando se acharem criadas as condições necessárias para o
efeito, regulamentar a cobrança do imposto nas delegações, agências ou balcões de instituições
bancárias, e em determinados Serviços Centrais.

76
Para efeitos do pagamento do imposto, os sujeitos passivos deverão preencher a respectiva guia
ou declaração periódica prevista em cada tipo de imposto e entregá-la na Repartição de Finanças
competente, simultaneamente com o meio de pagamento de valor correspondente ao da dívida do
imposto.

Nos casos em que o imposto é liquidado pelos serviços e nas situações de sujeitos passivos que
pratiquem uma só operação tributável, bem como, quando se trate de sujeitos passivos
enquadrados no regime de tributação simplificada o pagamento do imposto será efectuado
através de declarações de modelo apropriado.

O pagameto do imposto poderá ser efectuado através dos seguintes meios de pagamento:
a. Moeda com curso legal no país;
b. Cheques emitidos à ordem do Recebedor de Fazenda;
c. Vales de correio; e
d. Transferência bancária

Cada meio de pagamento deverá respeitar a uma única declaração e em princípio, deverão ser
recusados os meios de pagamento de quantitativo diferente ao imposto que se destina a pagar.

Sendo utilizado o cheque ou o vale do correio como meio de pagamento, deverão ser respeitados
os seguintes requisitos:
a. O respectivo montante não poderá diferir do montante constante do documento de
cobrança;
b. O valor do meio do pagamento a utilizar deverá ser arredondado, por excesso para
meticais, emitido à ordem do Recebedor de Fazenda e cruzado;
c. Deverá ser aposto no verso o Número Único de Identificação Tributária do respectivo
sujeito passivo;
2. A omissão dos requisitos enunciados no número anterior que não seja ou não possa ser
suprido no momento da cobrança implicará a não aceitação do cheque por parte da
entidade cobradora.

77
Quando a declaração periódica for apresentada sem o respectivo meio de pagamento, ou este se
mostre insuficiente face ao valor aí apurado, o pagamento do imposto devido poderá, ainda, ser
efectuado, no prazo adicional estipulado e permitido em cada tipo imposto. Findo este prazo se
procederá à emissão da certidão de relaxe, já estudado nos capítulos anetriores, sem prejuízo de
eventual compensação que poderá ser efectuada no caso de existirem, em conta corrente, créditos
de igual natureza.

Quando o valor da autoliquidação for inferior ao que resultar da liquidação efectuada pelos
serviços, face aos elementos inscritos na declaração, proceder-se-á à rectificação da mesma,
liquidando-se, adicionalmente, a diferença e notificando-se, em conformidade o sujeito passivo.

Se a entrega do imposto apurado na declaração periódica, eventualmente corrigido pelos


serviços, tiver sido feita por importância superior à devida, será a diferença daí resultante
comunicada ao sujeito passivo para que por ele possa ser considerada em futuras declarações que
venham a ser apresentadas dentro dos respectivos prazos legais.

Na utilização, por dedução, dos créditos comunicados aplicar-se-á o limite temporal estabelecido
nas normas de cada um dos tipos de imposto, sendo que a compensação só poderá ser efectuada
após a recepção efectiva da comunicação a remeter pelos Serviços Fiscais.

Havendo erro na liquidação e não procedendo o sujeito passivo à respectiva regularização pela
forma e nos prazos estabelecidos, devem os Serviços Fiscais:

a. Proceder à liquidação adicional do imposto devido;


b. Considerar como não efectuadas quaisquer rectificações posteriores, sendo a diferença
entre a importância constante do meio de pagamento e a do imposto apurado pelos
Serviços Fiscais, tratada conforme o seu valor seja, respectivamente, negativo ou positivo.

78
Sem prejuízo da sua manutenção em conta corrente e da sua utilização em períodos de imposto
seguintes, os créditos disponíveis e transportados de períodos anteriores não poderão ser
utilizados, por dedução, em declarações periódicas apresentadas fora do prazo.

As liquidações efectuadas pelos Serviços, quando reportadas ao mesmo ano fiscal, podem ser
agregadas numa só, por forma a corresponder um único documento de cobrança, sem prejuízo da
aplicação do princípio segundo o qual cada período de imposto, deve respeitar um valor de
imposto e respectivos acréscimos.

Havendo lugar à devolução de cheques por falta de provisão ou por falta de algum dos requisitos
formais que impossibilite o pagamento do imposto, a Repartição de Finanças competente
notificará desse facto o sujeito passivo devedor, para que no prazo de cinco dias regularize a
situação.

Findo o prazo para regularização da dívida, a Repartição de Finanças virtualizará a dívida


correspondente ao imposto em falta para efeitos de cobrança coerciva.

Independentemente da regularização efectuada pelo sujeito passivo, a Repartição de Finanças


competente fará a devida participação ao tribunal territorialmente competente para efeitos de
procedimento criminal que ao caso couber.

Serão considerados nulos todos os pagamentos que não permitam a arrecadação da receita
relativa ao imposto.

A entidade cobradora dará quitação no documento de cobrança através da validação por caixa
registadora ou por aposição de carimbo de cobrança. O documento de quitação do pagamento
deverá manter-se na posse do devedor pelo prazo de cinco anos.

79
ANEXOS

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