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ORDEM ECONÔMICA
3.1 Conceito
Visão geral
Conceito
Âmbitos de análise:
a) Regra Geral
A Regra Geral que vigora (art. 24) é de que há uma competência concorrente da União e dos
Estados/DF para legislar sobre: “Direito econômico” / “Produção e consumo”.
(obs: não fala dos Municípios, logo eles não têm competência!)
E aí vem a pergunta: Se é possível conceder tanto uma lei federal quanto estadual que trate
sobre isto, ou seja, há uma competência concorrente, qual acatar em caso de conflito?
Além disso, o artigo traz a ideia de que não há uma relação de hierarquia, mas de
pressuposto: As normas Estaduais pressupõem as normas federais enquanto não houver a
norma federal que trata daquele respectivo assunto. E, no caso, desta norma federal ser
criada/existir, as leis estaduais não poderão ser revogadas, mas elas vão ser limitadas na
sua eficácia, ou seja, na sua capacidade de produção de efeito.
Então, é como se a lei federal passasse a colocar uma trava para a aplicação da lei estadual
daquilo que ela conflitasse.
Ex: Uber e a pólitica do transporte urbano - Existem as leis estaduais que tratam de transporte
(as vezes, até constituições estaduais!), mas temos uma lei geral (federal) que estabelece as
diretrizes gerais para o serviço de transporte urbano. E aí entra a polêmica do Uber que tinha
gente dizendo que era proibido e outros dizendo que era permitido.
Diante dessa discussão, a União decidiu incluir na Lei Geral que trata de transportes urbanos,
disposições que falam sobre o transporte individual privado de passageiros. A partir daí,
nenhum Estado poderia dispor de maneira diferente.
Serviços, atividades ou bens da própria União, dos Estados e dos Municípios (Ex: Rios que
banham mais de um Estado!)
Sistemas monetário e financeiro (Ex: Não teria lógica cada Estado ter a sua própria
moeda!)
Outros temas considerados de interesse nacional (Ex: Águas; Informática; Política de
transportes; Jogos e sorteios)
c) “Assuntos de interesse local” -> [art. 30]
A questão aqui é que não se admite na ordem econômica qualquer sistema de organização
de atividade produtiva baseada em exploração de mão de obra. Ou seja, a preocupação
não é o trabalho em si, mas a dinâmica de como ele será estruturado, buscando-se uma
condição digna.
[trabalho é visto como fator de produção (fonte de recursos para a subsistência do
homem)]
Estado deve atuar para a criação de mais e melhores oportunidades de trabalho. Ex:
b) Livre Iniciativa
Componentes ou desdobramentos
Liberdade de empresa (empresa não é a pessoa jurídica, mas a estrutura organizada de
exploração de determinada atividade, ou seja, eu posso ser empresário individual sem ser
pessoa jurídica!) - Eu posso escolher a forma como desejo organizar a minha atividade
(Ninguém vai dizer se minha parede deve ser preta ou branca, o tamanho do meu
estabelecimento, o que tenho q ter dentro do meu estabelecimento etc.), exceto em casos
como de saúde pública.
Ex: Quando um padeiro pode vende pão de bicicleta.
No entanto, o Estado vai ficar de olho em certas atividades para que não haja sonegação
fiscal, necessitando, por exemplo, de inscrições em cadastros fiscais pq essas atividades
incidem os chamados fatos geradores de determinados tributos. (ocorrência em si, que
traz à tona a exigência do respectivo ônus para o contribuinte.)
Liberdade de trabalho (profissão ou ofício individual) – Como titular de uma determinada
iniciativa privativa, se eu não quiser exercer a atividade de empresa, eu posso escolher a
minha forma de trabalho.
Ex: Um músico quando toca no nosso happy hour - Não se pode exigir deste músico uma
inscrição na ordem dos músicos do Brasil, já que esta atividade não traz perigo de saúde
pública nem contraria interesse jurídico.
Ex2: No caso dos advogados, o STF considera válido a necessidade de OAB, pois apesar de
se ter a liberdade de ofício/profissão, é uma profissão regulamentada que exige o mínimo
de aptidão técnica sob pena de ser criado um “caos jurídico” na sociedade.
Liberdade de contrato – Podem ser estabelecidas quaisquer regras no contrato desde que
sejam observadas as diretrizes gerais que estão em disposições próprias que, neste caso,
estão em código civil.
Existem alguns contratos específicos que o Estado vai estabelecer algumas regras, como os
contratos entre as distribuidoras de energia e os consumidores, bem como os contratos
privados de planos de saúde, que tem suas cláusulas, ainda que parcialmente, ditadas pela
agência nacional de saúde suplementar.
REFLEXÃO
A Livre Iniciativa consubstancia valor absoluto, a ponto de obstar qualquer ação estatal
que a limite? Não. Em alguns momentos o Estado vai intervir, como o caso em que se
precisa de OAB para advogar.
A Livre Iniciativa tem matriz individual ou coletiva? (tem um conteúdo que busca
defender o indivíduo ou a coletividade?) Contra quem se dirige? A livre iniciativa é um
direito que tem exclusividade individual. O constituinte colocou a livre iniciativa como
fundamento, pois o objetivo dela é criar uma barreira de contenção para a intromissão
indevida do Estado na atividade ou naquela organização de atividade produtiva por parte
do cidadão.
Só o Estado que pode restringir a livre iniciativa, mediante a exigência de alvará,
permissão, concessão, proibição de exercer determinada atividade.
Não se deve confundir a violação à livre iniciativa no plano dos fatos da violação no âmbito
do direito. Qualquer norma do Estado que limite a minha liberdade ela vai limitar a minha
livre iniciativa.
(Ex: Quando o Estado determina o horário que tenho que funcionar, o local onde eu posso
me estabelecer, as regras sanitárias que eu tenho que observar, que minha atividade que
está em uma área de proteção ambiental precisa observar determinadas regras de
recomposição da flora, tudo isso limita sem dúvidas a minha livre iniciativa.)
Mas a questão não é se viola ou não a minha ação no mundo dos fatos, mas em que
medida essa limitação tem um fundamento jurídico válido.
Logo, em algumas instâncias haverá um conflito entre a liberdade individual e os direitos
da coletividade que o Estado pretende proteger.
Diante disso, o STF utiliza basicamente dois passos: se há um fundamento jurídico que
justifique (Ex: o que levou a ser tomada aquela atitude não é a quantidade de sal, mas a
condição sanitária, isto é, a forma como aquele sal é armazenado que pode gerar a
proliferação de microrganismos.) [Por questões sanitárias, há fundamento!] e se essa
limitação é o meio menos intrusivo/gravoso para garantir esse direito.
Se ambas respostas forem sim, significa que essa lei é constitucional, ainda que limite a
livre iniciativa, pois ela tem uma justificativa tanto no que diz respeito ao seu mérito
quanto no que diz respeito a sua razoabilidade/proporcionalidade.
4.2.2 Objetivos da Ordem Econômica
Precedentes:
ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 2.649 – Passe livre a pessoas com deficiência
Havia uma Lei federal em que os ônibus de transporte interestadual têm que ter uma
quantidade determinada de vagas gratuitas para que as pessoas que apresentarem a
carteira provando serem deficientes, possam viajar.
As associações das empresas de ônibus questionaram isso, alegando ser inconstitucional,
por interferir na liberdade de cobrar/fixar preço.
No entanto, o STF alegou que a empresa é concessionária de serviço público e o Estado é o
ente titular e, portanto, ditará as regras. Além disso, o STF disse que havia uma convenção
que tratava de direitos de pessoas com deficiência, e uma delas era a obrigação de garantir
a liberdade de locomoção de pessoas deficientes.
Assim sendo, embora tenha se limitado a livre iniciativa da empresa de cobrar, há um
fundamento jurídico válido na própria constituição.
Outrossim, considerando o principio da proporcionalidade, se o ônibus tem cerca de 45
lugares, 3 lugares não seria nem 10%, o que, segundo o STF, não seria desproporcional e,
por sua vez, legal.
Deve ser conjugado com o art. 3º (Objetivo fundamental da RFB: construção de sociedade
livre, justa e solidária)
Ex: Algumas crianças (Ex: com determinado grau de autismo) exigem um maior grau de
atenção e, portanto, diante da determinação de uma lei de atendimento adequado e
inclusivo, a escola acabava colocando professores auxiliares/estagiários para ajudar o
professor regente. No entanto, este custo era passado para o aluno.
Diante disso, o STF disse que é uma questão de justiça social e, portanto, esta lei é
constitucional e, portanto, não é permitido que se passe para o aluno o custo adicional.
c) Soberania Nacional
Soberania no campo econômico (Uma das expressões do “poder nacional”, isto é, poder
do país fazer valer suas decisões no âmbito internacional) – A ideia é que o Brasil tenha
condições de ter uma vida verdadeiramente independente, ou seja, que consiga exercer
suas próprias decisões sem ficar na dependência de outro país, no qual, por exemplo,
dependa economicamente, influenciando sua tomada de decisão de alguma maneira.
Busca uma participação ativa do Brasil no cenário econômico mundial - A ideia não é
pregar o nacionalismo xenófobo. Não se está sendo discutido se o capital estrangeiro é
bom ou ruim, mas, sim, apenas sendo estabelecido algumas premissas para atuação, seja
do legislador ou governante, para assegurar as prerrogativas próprias do país. (a CRFB
prevê a integração do Brasil com outros países!)
REFLEXÃO
A lei diz que tem liberdade de ação econômica, mas algumas coisas (Ex: maquinários
específicos) não podem ser compradas, por exemplo, por ser do Estado. A ideia é que não
adianta ter a possibilidade formal de livre atuação se não se tem a possibilidade material
de se ter acesso aos bens de produção necessários para desempenhar a sua atividade.
Alguns precedentes:
ADI 3934 – Lei de Falências –Estabelece limites à preferência de créditos trabalhistas
Se você tem, por exemplo, uma ação trabalhista ou uma empresa com risco de falir/em
recuperação judicial, a ideia é que: Se você tem 300 salários mínimos e o limite é 150, vc
recebe os 150 e vai para o final da fila. Em caso de sobrar, recebe o resto. De início parece
anticonstitucional por conta de direito trabalhista e o ferimento ao princípio do trabalho
humano, mas o supremo acatou na ideia de que as vezes é melhor tirar um pouco de cada
um para que todos possam receber alguma coisa.
c) Livre concorrência
Requer arcabouço jurídico e institucional próprio para dotar o Estado de meios para
atuação
d) Direito do Consumidor
Embora seja matéria de competência concorrente, não se admite que ente federativo
legisle sobre serviços públicos de titularidade de outro.
ADI 3322 - é inconstitucional lei do Distrito Federal que impõe obrigação de discriminar
informações sobre cada ligação local na fatura de serviços de telefonia fixa
Precedentes:
RMS 23.732 – Fixação de preço diretamente no produto
e) Defesa do meio ambiente
Alguns precedentes:
ADI 3.540 – Limitação da supressão de vegetação
ADI 3.378 – Compensação por empreendimento de grande impacto ambiental
Representa mais do que a mera redução dos níveis de desemprego. Tem relação direta
com o valor social do trabalho. Busca, mais especificamente, dar efetividade à valorização
do trabalho humano, indicando a necessidade de criação de mais oportunidades de
ocupação profissional (Expansão das oportunidades de emprego a serviço de uma causa
produtiva.)
Entre os juristas, está associada apenas ao fator trabalho. Entre os economistas, tem
sentido mais amplo.
Impõe ao Estado deveres positivos (adotar políticas que fomentem a criação de empregos)
e negativos (abster-se de adotar políticas que prejudiquem o nível de emprego).
Contudo, não garante o direito absoluto e irrestrito de acesso a todo e qualquer mercado
Serviços públicos são “área de domínio público”
Conflito entre a livre iniciativa com matriz coletiva e os princípios que vão estabelecer
proteções sobre o direito de matriz coletiva. Ou seja, tem-se o individual versus o coletivo.
Que racionalidade é possível extrair dos precedentes do STF? E Como aplicar esta
racionalidade ao cotidiano da Administração Econômica?
O STF vai estabelecer alguns passos para tomar a decisão para resolver esses conflitos.
Primeiro vai verificar se atividade econômica de sentido estrito ou de serviço público. Se for de
serviço público, talvez resolva isso a partir de uma perspectiva de repartição de competência,
onde será verificado se estamos diante de alguma regra de repartição de competência que
possa limitar a capacidade de algum desses dois lados de argumentar/legislar. Porém, sendo
atividade econômica de sentido estrito, o STF costuma privilegiar o aspecto coletivo. Por
último, o STF faz o teste da proporcionalidade (Há um meio menos gravoso de resolver isto
sem limitar quem quer que seja?).