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3.

ORDEM ECONÔMICA

3.1 Conceito

 Modo de ser da Economia, isto é, Relação entre os agentes econômicos e os fatores de


produção na prática.
 Modo ou forma de ordenação da Economia determinado pelo Direito, isto é,
orientação e direcionamento da Economia por princípios e regras jurídicas
 Conjunto de normas de conduta ou instituições estabelecidas (que tem por objeto)
para ordenar ou organizar o processo econômico (determinam que, como e quando
os fatos econômicos podem ou não ser postos em prática na sociedade), sendo
moldadas pelo ordenamento jurídico.

 Constitui, na verdade, uma ordem jurídico-político-econômica, popularmente


chamadas de ordem econômica.

3.2 Questões para reflexão

 Qual a relação entre modelos de Estado e Ordem Econômica? A ordem jurídico


econômica ela positiva escolhas, principalmente as escolhas relacionadas ao modelo
de Estado. Assim sendo, a ordem econômica representa/conforma a economia,
direciona/regra o funcionamento da economia e, dentre outras coisas, disciplina ou
reflete a escolha política sobre o modelo de Estado.

 No modelo de Estado liberal como se apresenta usualmente a Ordem Econômica?


Com o menor nível de intervenção e com uma preocupação mais voltada a
propriedade privada do que qualquer outra coisa.
3.2 Perspectiva territorial

 Há diferentes âmbitos de regramento das relações econômicas (não sendo


necessariamente nacionais), mas que muitas vezes se intercambiam, que trocam
influências e contribuições entre si.
 Definição se dá a partir das fontes dessa disciplina e da natureza dos agentes
econômicos envolvidos
 Segundo a perspectiva territorial, identifica-se: Ordem Econômica Internacional,
Ordem Econômica Regional (Ex: Blocos de integração, como o MERCOSUL, EU etc.) e
Ordem Econômica Nacional.

a) Ordem Econômica Internacional

 Disciplina as relações comerciais e econômicas entre as Pessoas Jurídicas de Direito


Público Externo, cujo objetivo é viabilizar a integração econômica desses Estados, já que
não faz sentido ter uma ordem econômica internacional se eu não quiser que os Estados
façam trocas econômicas entre si.

 Regida pelo Direito Econômico Internacional e delineada por tratados, convenções e


acordos.
 Atores: a Sociedade Econômica Internacional

 Sujeitos de Direito Econômico - São aqueles aos quais o DI reconhece personalidade


jurídica, isto é, são as pessoas que possuem aptidão para ser titulares direitos e obrigações
no plano internacional. Ex: Estados soberanos e organizações internacionais
Outros atores de Sujeito Econômico - São aqueles que, a despeito de não contarem com
PJ reconhecida pelo DI, também tomam parte na sociedade econômica internacional Ex:
Fóruns não-institucionalizados de cooperação (Ex: G-20), empresas transnacionais e
organizações não-governamentais (ex: ICC, IATA)

 Principais organizações na atualidade: Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco


de Compensações Internacionais (BIS, que é conhecido como o banco central dos bancos
centrais nacionais), Grupo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI, que
busca prestar assistência técnica e financeira para países com dificuldade. Basicamente
financia governos.).
b) Ordem Econômica Nacional

 Disciplina, no âmbito interno de cada País, o exercício da Atividade Econômica e as


relações entre os agentes econômicos, sendo delineada pelo ordenamento interno de
cada País.

 Fundamentos, princípios, objetivos que informam a AE; Formas de atuação ou


intervenção; Repartição de competências entre os diferentes entes federativos (Quem vai
legislar, quem vai explorar etc.); e Possibilidades, limites e condições da atuação dos AE
privados Organização da economia.

3.4 Questões para reflexão

Como se dá a articulação ou interação entre as ordens econômicas nacional e


internacional? Que tipo de forças ou fatores influenciam essa interação? A ordem
econômica nacional influencia a internacional pq ela representa a consolidação de ideais
que aquele país vai defender lá fora e vai utilizar como uma diretriz para saber se concorda
ou não com determinadas normas, mas por outro lado a ordem econômica internacional
também influencia a nacional porque tem certos foros internacionais que o país precisa de
convite e para isto muitas vezes é necessário que o país mostre o mínimo de
aderência/simpatia (Ex: Quer entrar na OCDE, tem que passar um filtro de admissão).

A soberania é uma tipo um filtro/barreira de contenção entre a ordem econômica


internacional e a nacional, onde quanto mais forte/eficaz for o princípio da soberania
nacional, em termos de gerar efeitos no país, determinará o quanto esta ordem econômica
internacional terá o poder de nos influenciar. Ex: Já aconteceu de mudarmos nossas leis de
propriedade intelectual por pressões americanas, no qual o EUA estava incomodado com a
pirataria de software que vigorava no Brasil.
3.5 Constituição Econômica

Visão geral

 Parte fundamental, núcleo ou “centro de gravidade” do sistema normativo que vai


irradiar princípios e regras, muitas vezes, para a organização da atividade econômica,
para que o legislador nacional de uma maneira geral observe isso.

Conceito

 É um conjunto de princípios e regras fundamentas de organização da atividade


econômica que, de modo geral, estão presentes no corpo da carta MAGNA.

 “Conjunto de normas que conferem o direito ao exercício de AE e enunciam as


restrições gerais a esse mesmo direito, além de colocarem à disposição do Estado e
das suas instituições um conjunto de instrumentos que lhe permitem regular o
processo econômico e definir os objetivos a que essa regulação deve obedecer”.

 A constituição Econômica representa o conjunto de disposições constitucionais que


disciplinas ou dispõe sobre a atividade econômica, ou repercute sobre ela, e são assim
consideradas ainda que não estejam no título próprio. Podendo, portanto, estar
presente em dispositivos esparsos do texto constitucional.
4. ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE
ECONÔMICA

4.1 Repartição de Competências

 Âmbitos de análise:

 Competência Legislativa – Envolve a capacidade/competência de produzir leis que


moldam o processo econômico de uma maneira geral.
 Competência Administrativa – Vai moldar a capacidade desse ou daquele ente
subnacional e até da União de explorar/atuar em determinado serviço ou atividade.

4.1.2 Competência Legislativa

a) Regra Geral

A Regra Geral que vigora (art. 24) é de que há uma competência concorrente da União e dos
Estados/DF para legislar sobre: “Direito econômico” / “Produção e consumo”.
(obs: não fala dos Municípios, logo eles não têm competência!)

E aí vem a pergunta: Se é possível conceder tanto uma lei federal quanto estadual que trate
sobre isto, ou seja, há uma competência concorrente, qual acatar em caso de conflito?

Neste caso a solução constituinte apresentada no art. 24, é que:


 A União tem competência para estabelecer normas gerais, não apenas federal, mas tbm de
caráter nacional.
Obs: Essa competência não pode impor a qualquer ente federativo “restrição à exploração
de serviço público para além daquela já prevista na constituição” (ADPF 42).
Ex: Impedir que os Estados criem suas loterias estaduais, pois, conforme analisado pelo
STF, a União tem poder para regulamentar e estabelecer o sistema de loterias, mas não a
exclusividade da exploração, já que este tipo de serviço não foi vedado pela constituição].

 Além disso, o artigo traz a ideia de que não há uma relação de hierarquia, mas de
pressuposto: As normas Estaduais pressupõem as normas federais enquanto não houver a
norma federal que trata daquele respectivo assunto. E, no caso, desta norma federal ser
criada/existir, as leis estaduais não poderão ser revogadas, mas elas vão ser limitadas na
sua eficácia, ou seja, na sua capacidade de produção de efeito.

Então, é como se a lei federal passasse a colocar uma trava para a aplicação da lei estadual
daquilo que ela conflitasse.

Ex: Uber e a pólitica do transporte urbano - Existem as leis estaduais que tratam de transporte
(as vezes, até constituições estaduais!), mas temos uma lei geral (federal) que estabelece as
diretrizes gerais para o serviço de transporte urbano. E aí entra a polêmica do Uber que tinha
gente dizendo que era proibido e outros dizendo que era permitido.
Diante dessa discussão, a União decidiu incluir na Lei Geral que trata de transportes urbanos,
disposições que falam sobre o transporte individual privado de passageiros. A partir daí,
nenhum Estado poderia dispor de maneira diferente.

b) Exceções (Casos que a constituição só permite a União atuar!) [art.22]:

 Serviços, atividades ou bens da própria União, dos Estados e dos Municípios (Ex: Rios que
banham mais de um Estado!)
 Sistemas monetário e financeiro (Ex: Não teria lógica cada Estado ter a sua própria
moeda!)
 Outros temas considerados de interesse nacional (Ex: Águas; Informática; Política de
transportes; Jogos e sorteios)
c) “Assuntos de interesse local” -> [art. 30]

 Os municípios podem legislar sobre determinados assuntos! (Competência legislativa dos


municípios)
 Temas de interesse local muitas vezes repercutem sobre atividades econômicas
Ex: Estabelecimento de regras de funcionamento do comércio local (horário, localização,
condições de atendimento ao público etc., são assuntos de interesse específico da
comunidade em que se inserem
4.1.3 Competência Administrativa

O princípio da preponderância de interesses significa dizer que aqueles serviços que se


entende que são de interesses mais específicos daquela comunidade que ele se insere, estarão
dispostos pelos municípios. Alguns, inclusive estão previstos na constituição (Infraestrutura
urbana e transporte inframunicipal, isto é, aquele que circula apenas no município.).
Os outros serviços públicos de uma maneira geral são da União (água, energia,
telecomunicações etc.) e o que sobrar vai para os Estados. (o Estado só tem uma competência
para serviço público: O Gás canalizado!)
4.2 Regra-Matriz da Constituição Econômica

 Art. 170 – “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...)”

Contempla, portanto: Fundamentos, Objetivos e Princípios.

4.2.1 Fundamento da Ordem Econômica

a) Valorização do trabalho humano

 O foco não é a relação de emprego e trabalho/direitos trabalhistas, pois já existem


disposições específicas para isto na constituição.

 A questão aqui é que não se admite na ordem econômica qualquer sistema de organização
de atividade produtiva baseada em exploração de mão de obra. Ou seja, a preocupação
não é o trabalho em si, mas a dinâmica de como ele será estruturado, buscando-se uma
condição digna.
[trabalho é visto como fator de produção (fonte de recursos para a subsistência do
homem)]

 Estado deve atuar para a criação de mais e melhores oportunidades de trabalho. Ex:

 Políticas de capacitação de mão-de-obra

 Políticas de Formalização do Trabalho - O Estado deve atuar para criar


políticas/ações/medidas que contribuam para a formalização do trabalho. Assim,
quaisquer normas que sejam consideradas como fragilizadoras dessa formalização,
permitindo a formação de normas de relações jurídicas precárias (rarefeitas de direitos e
obrigações) entre as pessoas, será contrária a este dispositivo.
É com base neste dispositivo que se sustentou que a terceirização das atividades fins de
determinadas empresas poderia implicar a violação ao princípio da valorização do trabalho
humano.
Porém, o STF entendeu que não viola, pois terceirizar não significa que o trabalhador não
terá direito trabalhista, ele só não vai ter o direito trabalhista para reclamar perante a
empresa tomadora do serviço, mas ele vai ter uma empresa por trás prestadora de mão de
obra. Então, o STF disse que há relação de trabalho, as regras de salário mínimo são
obedecidas e todas as outras regras, a única coisa que muda é de quem ele vai pleitear.

 Exemplo de precedentes sobre o assunto: Direito ao salário mesmo em caso de nulidade


de ato de provimento de cargo público.
Antigamente um determinado Juiz nomeado por seleção (antigamente chamado de
classista: quando não é nomeado por concurso), por algum motivo foi nomeado sem
atender algum critério não observado e, por conta disso, foi afastado sendo cobrado a
restituição de todos valores que ele recebeu desde sua nomeação até seu afastamento.
No entanto, o STF decidiu que mesmo considerando que o ato de nomeação da posse até
o ato afastamento é nulo (o juiz não poderia ter sido nomeado e, portanto, deveria ser
afastado), ele não deve gerar efeito (Se trabalhou, faz jus ao salário, já que não tem como
se devolver o tempo do trabalho). Logo, segundo o STF, valorizar o trabalho humano
significa assegurar o direito ao recebimento do salário dele nesse período.

b) Livre Iniciativa

 É a liberdade de ação econômica (produção, circulação e distribuição de riquezas) que é


assegurada aos cidadãos, respeitando, claro, a alguns limites impostos pelo Estado.

 Evidencia a adoção do sistema capitalista, sob a forma de uma economia de mercado.


(Agentes são livres para escolher a AE e os meios de seu exercício).

 Componentes ou desdobramentos
 Liberdade de empresa (empresa não é a pessoa jurídica, mas a estrutura organizada de
exploração de determinada atividade, ou seja, eu posso ser empresário individual sem ser
pessoa jurídica!) - Eu posso escolher a forma como desejo organizar a minha atividade
(Ninguém vai dizer se minha parede deve ser preta ou branca, o tamanho do meu
estabelecimento, o que tenho q ter dentro do meu estabelecimento etc.), exceto em casos
como de saúde pública.
Ex: Quando um padeiro pode vende pão de bicicleta.
No entanto, o Estado vai ficar de olho em certas atividades para que não haja sonegação
fiscal, necessitando, por exemplo, de inscrições em cadastros fiscais pq essas atividades
incidem os chamados fatos geradores de determinados tributos. (ocorrência em si, que
traz à tona a exigência do respectivo ônus para o contribuinte.)
 Liberdade de trabalho (profissão ou ofício individual) – Como titular de uma determinada
iniciativa privativa, se eu não quiser exercer a atividade de empresa, eu posso escolher a
minha forma de trabalho.
Ex: Um músico quando toca no nosso happy hour - Não se pode exigir deste músico uma
inscrição na ordem dos músicos do Brasil, já que esta atividade não traz perigo de saúde
pública nem contraria interesse jurídico.
Ex2: No caso dos advogados, o STF considera válido a necessidade de OAB, pois apesar de
se ter a liberdade de ofício/profissão, é uma profissão regulamentada que exige o mínimo
de aptidão técnica sob pena de ser criado um “caos jurídico” na sociedade.

 Liberdade de contrato – Podem ser estabelecidas quaisquer regras no contrato desde que
sejam observadas as diretrizes gerais que estão em disposições próprias que, neste caso,
estão em código civil.
Existem alguns contratos específicos que o Estado vai estabelecer algumas regras, como os
contratos entre as distribuidoras de energia e os consumidores, bem como os contratos
privados de planos de saúde, que tem suas cláusulas, ainda que parcialmente, ditadas pela
agência nacional de saúde suplementar.

 REFLEXÃO
 A Livre Iniciativa consubstancia valor absoluto, a ponto de obstar qualquer ação estatal
que a limite? Não. Em alguns momentos o Estado vai intervir, como o caso em que se
precisa de OAB para advogar.

 A Livre Iniciativa tem matriz individual ou coletiva? (tem um conteúdo que busca
defender o indivíduo ou a coletividade?) Contra quem se dirige? A livre iniciativa é um
direito que tem exclusividade individual. O constituinte colocou a livre iniciativa como
fundamento, pois o objetivo dela é criar uma barreira de contenção para a intromissão
indevida do Estado na atividade ou naquela organização de atividade produtiva por parte
do cidadão.
Só o Estado que pode restringir a livre iniciativa, mediante a exigência de alvará,
permissão, concessão, proibição de exercer determinada atividade.

 Onde a Administração deve buscar elementos para definir se o fundamento da Livre


Iniciativa foi ou não violado no caso concreto? (Ex: Quando se manda colocar nos
restaurantes sachês de sal/ketchup, proibindo as vasilhas de sal/ketchup)

 A livre iniciativa é um preceito de matriz individual, ou seja, é sempre um direito/garantia


contra intromissão (inclusive colocada num dos desdobramentos das nações Unidas como
um dos direitos de liberdades civil!). Assim sendo, considerando-se que um princípio
constitucional só se limita com outro princípio constitucional, para se fazer um juízo mais
concreto/circunstancial, a primeira coisa a ser observada é se há um elemento em que se
possa justificar e depois se é razoável/proporcional (se existe outro meio menos gravoso).

 Não se deve confundir a violação à livre iniciativa no plano dos fatos da violação no âmbito
do direito. Qualquer norma do Estado que limite a minha liberdade ela vai limitar a minha
livre iniciativa.
(Ex: Quando o Estado determina o horário que tenho que funcionar, o local onde eu posso
me estabelecer, as regras sanitárias que eu tenho que observar, que minha atividade que
está em uma área de proteção ambiental precisa observar determinadas regras de
recomposição da flora, tudo isso limita sem dúvidas a minha livre iniciativa.)
Mas a questão não é se viola ou não a minha ação no mundo dos fatos, mas em que
medida essa limitação tem um fundamento jurídico válido.
 Logo, em algumas instâncias haverá um conflito entre a liberdade individual e os direitos
da coletividade que o Estado pretende proteger.
Diante disso, o STF utiliza basicamente dois passos: se há um fundamento jurídico que
justifique (Ex: o que levou a ser tomada aquela atitude não é a quantidade de sal, mas a
condição sanitária, isto é, a forma como aquele sal é armazenado que pode gerar a
proliferação de microrganismos.) [Por questões sanitárias, há fundamento!] e se essa
limitação é o meio menos intrusivo/gravoso para garantir esse direito.

Se ambas respostas forem sim, significa que essa lei é constitucional, ainda que limite a
livre iniciativa, pois ela tem uma justificativa tanto no que diz respeito ao seu mérito
quanto no que diz respeito a sua razoabilidade/proporcionalidade.
4.2.2 Objetivos da Ordem Econômica

a) Existência Digna – No âmbito das relações públicas, manifesta-se na forma de políticas


governamentais (Ex: Políticas de previdência e assistência social e Políticas de acesso a
renda mínima)

 Precedentes:

 ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 2.649 – Passe livre a pessoas com deficiência
Havia uma Lei federal em que os ônibus de transporte interestadual têm que ter uma
quantidade determinada de vagas gratuitas para que as pessoas que apresentarem a
carteira provando serem deficientes, possam viajar.
As associações das empresas de ônibus questionaram isso, alegando ser inconstitucional,
por interferir na liberdade de cobrar/fixar preço.
No entanto, o STF alegou que a empresa é concessionária de serviço público e o Estado é o
ente titular e, portanto, ditará as regras. Além disso, o STF disse que havia uma convenção
que tratava de direitos de pessoas com deficiência, e uma delas era a obrigação de garantir
a liberdade de locomoção de pessoas deficientes.
Assim sendo, embora tenha se limitado a livre iniciativa da empresa de cobrar, há um
fundamento jurídico válido na própria constituição.
Outrossim, considerando o principio da proporcionalidade, se o ônibus tem cerca de 45
lugares, 3 lugares não seria nem 10%, o que, segundo o STF, não seria desproporcional e,
por sua vez, legal.

 ARE 639.337 – Obrigação do Município de matricular crianças em escola próxima da


residência ou do trabalho dos responsáveis
Essa obrigação do munícipio foi assegurada em nome da existência digna

 MI 7300 – Dever do governo federal implementar o pagamento do programa de renda


básica de cidadania para os brasileiros em situação de extrema pobreza
Entendeu-se que isto era constitucional e não havia sido regulamentado, então
determinou que até 2022 deve ser estabelecido isto em nome da existência digna.
b) Justiça Social – Busca-se que as garantia econômicas reflitam um mínimo de equidade na
dinâmica das suas relações (oferta, negociações etc.), isto é, distribuição equitativa da
riqueza, para que todos possam viver dignamente (Noção de Justiça Distributiva)

 Deve ser conjugado com o art. 3º (Objetivo fundamental da RFB: construção de sociedade
livre, justa e solidária)

 Impõe a atuação do Estado no sentido de proporcionar acesso, equilíbrio e igualdade de


oportunidades

Ex: Lei nº 10.101/2000 - Participação dos trabalhadores nos lucros/resultados das


empresas

Regime trabalhista e tributário diferenciado (as verbas de participação de lucros não


integram as regras trabalhistas e estão sujeitas a regime tributário diferenciado), como
forma de incentivar a prática de distribuição dessa participação.
A empresa se vê numa facilidade quando quer dar uma participação de lucro, pois ela não
se preocupa em pagar INSS, FGTS etc. Muitas vezes até deixam de dar um salário maior e
recompensam com a participação de lucro por conta disso. (Isso não se trata de sonegação
de imposto, mas de um planejamento tributário que seja melhor para todos!)

 Precedente: ADI 5.357 – Obrigatoriedade das escolas privadas oferecerem atendimento


educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência, sem custo adicional.

Ex: Algumas crianças (Ex: com determinado grau de autismo) exigem um maior grau de
atenção e, portanto, diante da determinação de uma lei de atendimento adequado e
inclusivo, a escola acabava colocando professores auxiliares/estagiários para ajudar o
professor regente. No entanto, este custo era passado para o aluno.
Diante disso, o STF disse que é uma questão de justiça social e, portanto, esta lei é
constitucional e, portanto, não é permitido que se passe para o aluno o custo adicional.
c) Soberania Nacional

 Soberania no campo econômico (Uma das expressões do “poder nacional”, isto é, poder
do país fazer valer suas decisões no âmbito internacional) – A ideia é que o Brasil tenha
condições de ter uma vida verdadeiramente independente, ou seja, que consiga exercer
suas próprias decisões sem ficar na dependência de outro país, no qual, por exemplo,
dependa economicamente, influenciando sua tomada de decisão de alguma maneira.

 Preconiza a estruturação da Ordem Econômica de forma a evitar a dependência


econômica ou tecnológica (Foco na emancipação econômica!)

 Busca uma participação ativa do Brasil no cenário econômico mundial - A ideia não é
pregar o nacionalismo xenófobo. Não se está sendo discutido se o capital estrangeiro é
bom ou ruim, mas, sim, apenas sendo estabelecido algumas premissas para atuação, seja
do legislador ou governante, para assegurar as prerrogativas próprias do país. (a CRFB
prevê a integração do Brasil com outros países!)

 Objetivos: Desenvolvimento da indústria nacional; Capacitação e desenvolvimento


tecnológico e Preservação de interesses, bens ou áreas consideradas estratégicas.

 REFLEXÃO

 Como esse princípio da soberania repercute sobre a atuação da Administração


Econômica (ministério da economia, BNDS e outros que cuidam da economia.)? Que
exemplos recentes de compras e contratações você apontaria como relacionados ao
debate sobre “soberania econômica”?

O compartilhamento de tecnologia como orientadora de processos de compras públicas de


caráter, sobretudo internacional, são expressões da soberania econômica enquanto princípio
da ordem econômica. Isto porque permite acesso ao conhecimento e, muitas vezes, permite
que se aprenda a fazer, desenvolver e até vender. Um exemplo é a compra recente de aviões
de combate, como o caça F-39 Gripen. Como as aeronaves vão ser construídas com a
participação de engenheiros brasileiros, em um processo de transferência de conhecimento e
tecnologia, posteriormente o avião poderá ser montado no Brasil, expandindo a frota para
além das unidades compradas da Suécia.
4.2.3 Princípios da Ordem Econômica

a) Propriedade privada (dos meios de produção!)

 Busca-se preservar um pressuposto da liberdade de ação econômica: O livre exercício da


AE pressupõe a disponibilidade e a proteção da propriedade dos meios de produção

A lei diz que tem liberdade de ação econômica, mas algumas coisas (Ex: maquinários
específicos) não podem ser compradas, por exemplo, por ser do Estado. A ideia é que não
adianta ter a possibilidade formal de livre atuação se não se tem a possibilidade material
de se ter acesso aos bens de produção necessários para desempenhar a sua atividade.

 Aplica-se às várias formas de configuração da propriedade (Propriedade móvel, imóvel,


imaterial ...) Ex: flagrância do perfume, música, carro, casa etc.

b) Função social da propriedade

 Condicionamento dos direitos inerentes à propriedade


 Rejeição da propriedade absoluta e Adoção de um conceito dinâmico (não estático) de
propriedade - A ideia é de que a propriedade não cumpre função absoluta. Ela deve estar
necessariamente vinculada a um propósito produtivo (Propriedade enquanto instrumento
de geração de riquezas).
 Condiciona as diferentes formas de propriedade (Propriedade urbana e rural ; Empresa; e
Contratos)
Além da preocupação com os bens em si, há também uma preocupação de como os
contratos são celebrados (quais as obrigações etc.).

 Alguns precedentes:
ADI 3934 – Lei de Falências –Estabelece limites à preferência de créditos trabalhistas
Se você tem, por exemplo, uma ação trabalhista ou uma empresa com risco de falir/em
recuperação judicial, a ideia é que: Se você tem 300 salários mínimos e o limite é 150, vc
recebe os 150 e vai para o final da fila. Em caso de sobrar, recebe o resto. De início parece
anticonstitucional por conta de direito trabalhista e o ferimento ao princípio do trabalho
humano, mas o supremo acatou na ideia de que as vezes é melhor tirar um pouco de cada
um para que todos possam receber alguma coisa.
c) Livre concorrência

 Revela a adoção do sistema de economia de mercado, baseado na rivalidade dos agentes.


Busca-se garantir aos agentes econômicos a oportunidade de competir de forma justa e
leal.

 Requer ações estatais para sua efetividade (Incentivo à competição e à eficiência;


Prevenção e repressão do abuso do poder econômico) no intuito de preservar a liberdade
de escolha, melhor qualidade de produtos e serviços, e menores preços.

 Requer arcabouço jurídico e institucional próprio para dotar o Estado de meios para
atuação

 Foco da proteção: coletividade (A coletividade é a titular dos bens jurídicos protegidos)

d) Direito do Consumidor

 Este princípio sinaliza a necessidade de “Preservação de direitos básicos do indivíduo no


âmbito das relações econômicas” (Tavares)
 Busca do efetivo equilíbrio nas relações jurídico-econômicas
 Necessário contraponto em uma economia de mercado
 Evita abusos e exploração do consumidor

 Concretiza-se mediante diferentes âmbitos de atuação estatal:

Legislativo – Estabelecer meios de acesso à informação para a tomada de decisão,


proteção contratual e contra práticas abusivas e enganosas e, facilitação da defesa de
direitos.

Administrativo  Criação de aparato estatal específico.

 Embora seja matéria de competência concorrente, não se admite que ente federativo
legisle sobre serviços públicos de titularidade de outro.
ADI 3322 - é inconstitucional lei do Distrito Federal que impõe obrigação de discriminar
informações sobre cada ligação local na fatura de serviços de telefonia fixa

 Precedentes:
RMS 23.732 – Fixação de preço diretamente no produto
e) Defesa do meio ambiente

 Sinaliza que não quer desenvolvimento a qualquer custo, condicionando o exercício da


atividade econômica evidenciando a opção por desenvolvimento sustentável, isto é,
buscando atender a demanda presente sem comprometer as gerações futuras.

 Contrapõe-se aos princípios da Lei da Livre Iniciativa e da propriedade privada

 Busca conciliar os interesses produtivos com o bem estar da coletividade (Degradação do


MA compromete a qualidade de vida e o próprio desenvolvimento da atividade
econômica)

 Alguns precedentes:
ADI 3.540 – Limitação da supressão de vegetação
ADI 3.378 – Compensação por empreendimento de grande impacto ambiental

f) Redução das desigualdades

 Busca a concretização, no campo econômico, do preceito constitucional da isonomia


 Revela o compromisso com um desenvolvimento harmônico (Estimular a distribuição dos
resultados da AE)

 Em princípio, é dirigido ao Estado


Não repercute diretamente sobre os agentes econômicos privados, mas o Estado pode
estimular condutas nesse sentido.

 Justifica um tratamento diferenciado, com políticas específicas para regiões específicas


(atrair empresas mediante redução de subsídios etc.)
Ex: Zona Franca de Manaus
Em tramitação (PEC 19/2011): Zona Franca do Semiárido Nordestino

g) Busca do pleno emprego

 Representa mais do que a mera redução dos níveis de desemprego. Tem relação direta
com o valor social do trabalho. Busca, mais especificamente, dar efetividade à valorização
do trabalho humano, indicando a necessidade de criação de mais oportunidades de
ocupação profissional (Expansão das oportunidades de emprego a serviço de uma causa
produtiva.)

 Entre os juristas, está associada apenas ao fator trabalho. Entre os economistas, tem
sentido mais amplo.

 Tem um cunho programático (Estabelece um objetivo e não um direito / Não garante a


diminuição do emprego nem gera um direito a emprego)

 Impõe ao Estado deveres positivos (adotar políticas que fomentem a criação de empregos)
e negativos (abster-se de adotar políticas que prejudiquem o nível de emprego).

h) Tratamento favorecido para EPP

 Busca criar condições materiais de competitividade aos pequenos empresários


Relevância das ME & EPP na criação de postos de trabalho no Brasil

 Para tanto, deve-se reduzir os custos das pequenas entidades econômicas.

 Esse tratamento favorecido contribui para a efetividade dos princípios da LI e da livre


concorrência.
 Determina o estabelecimento de tratamento diferenciado, compatível com seu porte
econômico.

Art. 179 – “simplificação, redução ou eliminação de obrigações administrativas, tributárias,


previdenciárias e creditícias”
i) Livre exercício da AE

 Estabelece como regra a liberdade de ingresso ou acesso à AE pelos agentes

 Excepcionalidade das restrições estatais, que devem atender a algumas condições:


Devem observar a forma de lei
Devem visar ao bem da coletividade
Devem ser razoáveis e proporcionais

 Contudo, não garante o direito absoluto e irrestrito de acesso a todo e qualquer mercado
Serviços públicos são “área de domínio público”

 Questões para reflexão

 Que tipo de conflitos de normas se vislumbram nos precedentes analisados?

Conflito entre a livre iniciativa com matriz coletiva e os princípios que vão estabelecer
proteções sobre o direito de matriz coletiva. Ou seja, tem-se o individual versus o coletivo.

 Que racionalidade é possível extrair dos precedentes do STF? E Como aplicar esta
racionalidade ao cotidiano da Administração Econômica?

O STF vai estabelecer alguns passos para tomar a decisão para resolver esses conflitos.
Primeiro vai verificar se atividade econômica de sentido estrito ou de serviço público. Se for de
serviço público, talvez resolva isso a partir de uma perspectiva de repartição de competência,
onde será verificado se estamos diante de alguma regra de repartição de competência que
possa limitar a capacidade de algum desses dois lados de argumentar/legislar. Porém, sendo
atividade econômica de sentido estrito, o STF costuma privilegiar o aspecto coletivo. Por
último, o STF faz o teste da proporcionalidade (Há um meio menos gravoso de resolver isto
sem limitar quem quer que seja?).

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