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TRIBUTÁRIO E CÓDIGO DE
PROCESSO TRIBUTÁRIO
AULA 1
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Por conta de seu objeto, o direito financeiro não é sinônimo de direito
tributário. Ambos são ramos apartados. Enquanto o direito financeiro se ocupa
da atividade de gestão financeira, o direito tributário irá se ocupar da obrigação
tributária. É o direito tributário que irá regular a atividade arrecadatória do
Estado e a relação entre Poder Público e contribuintes. De acordo com Hugo
de Brito Machado (2004, p. 63), “O Direito Tributário é o ramo do Direito que se
ocupa das relações entre o fisco e as pessoas sujeitas às imposições
tributárias de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo
o cidadão contra os abusos desse poder.”
Como se pode imaginar, a relação jurídica tributária, justamente por
envolver uma imposição do Estado perante os particulares, exigindo uma parcela
de sua riqueza, não pode ser uma relação que não possua uma extensa
regulamentação, até para se evitar abusos e atividades confiscatórias. Assim, o
direito tributário consiste no conjunto de normas e princípios que irão nortear a
disciplinar a atuação do Poder Público na instituição e na cobrança de tributos e
na atividade fiscalizatória que daquelas deriva.
Em resumo, o direito tributário é o arcabouço normativo que permite o
ingresso de receita nos cofres públicos, enquanto o direito financeiro perpassa o
que ocorre após esse ingresso de receita.
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A Constituição Brasileira contém inúmeros dispositivos que tratam sobre
a matéria tributária, isso porque o legislador constituinte não se restringiu a tratar
apenas dos aspectos mais relevantes para uma Constituição (Brasil, 1988),
conforme afirma Geraldo Ataliba (1966, p. 20):
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Segundo Eduardo Sabbag (2015, p. 281), as fontes formais “[...]
correspondem ao conjunto das normas de direito tributário, estando inseridas no
art. 96 do CTN, sob o rótulo de ‘legislação tributária’”. A redação do art. 96 do
Código Tributário Nacional (CTN) prevê: “A expressão ‘legislação tributária’
compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e
as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e
relações jurídicas a eles pertinentes” (Brasil, 1966). Entretanto, devemos
considerar que o conceito de legislação tributária não deve ser confundido com
o conceito de lei tributária. O primeiro diz respeito a uma espécie das fontes
formais; já o segundo é mais amplo e compreende toda e qualquer norma que
regule o direito tributário.
Por sua vez, as fontes materiais são pressupostos que integram a norma
jurídica e definem o fato gerador da obrigação tributária. De acordo com o art.
114 do CTN (Brasil, 1966), essa situação é definida em lei como necessária e
suficiente para sua ocorrência. Assim, “a situação é sempre um fato, descrito de
forma abstrata e genérica na norma legal, que, uma vez ocorrida em concreto
opera-se o fenômeno da subsunção do fato à hipótese legal prevista, isto é, gera
a obrigação de pagar o tributo” (Carota, 2020, p. 44).
Como visto anteriormente, a lei é a principal fonte do direito tributário;
contudo, compondo o ordenamento jurídico tributário há diversos instrumentos
normativos. São eles:
a. Constituição Federal
b. Lei ordinária
c. Medidas provisórias
d. Leis delegadas
e. Resoluções e decretos legislativos
f. Decretos regulamentares
g. Tratados e convenções internacionais
h. Normas complementares: atos normativos, decisões administrativas,
práticas reiteradas e convênios
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TEMA 4 – INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA
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responsabilidade pelo juiz, como expõe Dworkin (2005), o juiz tal como um autor
responsável por um capítulo de um romance que deverá ser escrito por muitas
mãos.
Como se tanto já não fosse difícil, o intérprete da lei irá se deparar com
um desafio constante: a lei apresentará lacunas e omissões. Nem todos os textos
legais estarão completos, assim como nem todas as molduras são vendidas com
os quadros acompanhando. Assim sendo, durante o processo hermenêutico, o
julgador poderá fazer-se valer de sua atividade supletiva: da integração. Nesse
sentido, é possível sustentar, conforme Bittar e Almeida (2019, p. 901), que: “O
sistema jurídico em si, e por si, não pode ser completo; pode, sim, apresentar
soluções para necessidades aplicativas, para hipóteses de lacuna”. Ou seja,
dificilmente o sistema estará fechado, funcionando e sendo operacionalizado de
modo autônomo e independente. As capilaridades e incompletudes não só são
inerentes, mas sadias à evolução do direito.
Reconhece-se, portanto, que o ordenamento jurídico, em que pese seja
demonstrado como um sistema coeso, é essencialmente aberto e, portanto,
estará sempre sujeito a lacunas. Diante dessas inúmeras possibilidades,
levando, inclusive, em consideração as características de generalidade,
imperatividade e competência das leis, os processos interpretativos poderão ser
inúmeros.
Quanto à origem, a interpretação pode ser classificada como:
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• Interpretação gramatical: entendida também como literal, é realizada pelo
entendimento do sentido da linguagem utilizada, de modo que o intérprete
deverá conhecer o significado de cada vocábulo, cláusula e partícula dos
textos legais utilizados.
• Interpretação lógica: trata-se de um processo delicado, tendo em vista
que vai além de uma análise gramatical, exigindo do intérprete o
conhecimento das razões por detrás do ditame legal, do contexto e das
condições que inspiraram a lei, de modo que, assim, se possa verificar os
seus reais objetivos.
• Interpretação sistemática: é ainda mais profunda que a análise lógica, vez
que não somente o contexto bastará, mas, sim, a percepção de que a lei
estará associada (por vezes subordinada) a outros conjuntos e
dispositivos interconectados na sociedade, não somente os legais, mas
no que concerne ao contexto de outros campos do conhecimento.
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12.376/2010), que irá reger todo o nosso ordenamento jurídico. Não obstante, a
legislação tributária ainda comporta algumas especificidades, que são regidas
pelo CTN e pela Constituição Federal (Brasil, 1966, 1988, 2010).
Assim, para compreender todos esses aspectos, passamos à análise de
cada um desses regramentos gerais.
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Como se pode observar, a vigência de uma lei depende de um aspecto
temporal e de um aspecto espacial.
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b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de
ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha
implicado em falta de pagamento de tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei
vigente ao tempo da sua prática.
Art. 144.
[...]
§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à
ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos
critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os
poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado
ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso,
para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros. (Brasil,
1966)
NA PRÁTICA
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parágrafo único, da CF/88). Cláusula nona do Convênio ICMS nº 93/15.
Inconstitucionalidade.
1. A EC nº 87/15 criou nova relação jurídico-tributária entre o remetente
do bem ou serviço (contribuinte) e o estado de destino nas operações
com bens e serviços destinados a consumidor final não contribuinte do
ICMS. O imposto incidente nessas operações e prestações, que antes
era devido totalmente ao estado de origem, passou a ser dividido entre
dois sujeitos ativos, cabendo ao estado de origem o ICMS calculado
com base na alíquota interestadual e ao estado de destino, o diferencial
entre a alíquota interestadual e sua alíquota interna.
2. Convênio interestadual não pode suprir a ausência de lei
complementar dispondo sobre obrigação tributária, contribuintes,
bases de cálculo/alíquotas e créditos de ICMS nas operações ou
prestações interestaduais com consumidor final não contribuinte do
imposto, como fizeram as cláusulas primeira, segunda, terceira e sexta
do Convênio ICMS nº 93/15.
3. A cláusula nona do Convênio ICMS nº 93/15, ao determinar a
extensão da sistemática da EC nº 87/2015 aos optantes do Simples
Nacional, adentra no campo material de incidência da LC nº 123/06,
que estabelece normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e
favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas de
pequeno porte, à luz do art. 146, inciso III, d, e parágrafo único, da
Constituição Federal.
4. Tese fixada para o Tema nº 1.093: “A cobrança do diferencial de
alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda
Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei complementar
veiculando normas gerais”.
5. Recurso extraordinário provido, assentando-se a invalidade da
cobrança do diferencial de alíquota do ICMS, na forma do Convênio nº
93/1, em operação interestadual envolvendo mercadoria destinada a
consumidor final não contribuinte.
6. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade das
cláusulas primeira, segunda, terceira, sexta e nona do convênio
questionado, de modo que a decisão produza efeitos, quanto à
cláusula nona, desde a data da concessão da medida cautelar nos
autos da ADI nº 5.464/DF e, quanto às cláusulas primeira, segunda,
terceira e sexta, a partir do exercício financeiro seguinte à conclusão
deste julgamento (2022), aplicando-se a mesma solução em relação
às respectivas leis dos estados e do Distrito Federal, para as quais a
decisão deverá produzir efeitos a partir do exercício financeiro seguinte
à conclusão deste julgamento (2022), exceto no que diz respeito às
normas legais que versarem sobre a cláusula nona do Convênio ICMS
nº 93/15, cujos efeitos deverão retroagir à data da concessão da
medida cautelar nos autos da ADI nº 5.464/DF. Ficam ressalvadas da
modulação as ações judiciais em curso. (Brasil, 2021)
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1.153.083 MT
2009/0159636-0. Relator: Ministro Sérgio Kukina. Data de julgamento: 6 de
novembro de 2014. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 19 nov. 2014.
KELSEN, H. Teoria pura do direito. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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