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SEMANA 01 – INTRODUÇÃO AO DIREITO TRIBUTÁRIO

Para compreender o Direito Tributário enquanto disciplina e seu espaço


no meio jurídico é necessário relembrar, inicialmente, algumas questões gerais
de Direito e do ordenamento jurídico.

Com efeito, a vida em sociedade demanda a criação de certas


regras/ordem, com o intuito de viabilizar o convívio entre pessoas com histórias,
pensamentos, experiências diferentes. Essa ordem é construída, em grande
parte, por meio do Direito, consubstanciado em suas normas e princípios.

As normas que compõem o ordenamento jurídico não têm a mesma


importância, sendo organizadas em uma hierarquia que deve ser respeitada. A
forma mais tradicional de representação dessa hierarquia do ordenamento
jurídico é uma pirâmide, conforme abaixo:

Desse modo, uma norma da base da pirâmide não pode contrariar outra
norma mais ao topo. Para além disso, cada faixa da pirâmide e, mais
especificamente, cada norma ali indicada tem uma função diferente no
ordenamento jurídico. Ao mesmo passo em que todas contribuem para a ordem
e organização da sociedade e do Estado, algumas dão diretivas mais gerais e
outras são específicas, algumas tratam de princípios e outras de questões mais
práticas de funcionamento de órgãos, cidades, etc. A especificidade tende a
crescer de cima para abaixo, sendo a Constituição a norma mais geral e os atos
administrativos os mais específicos.
Na Constituição, temos uma norma elaborada figurativamente pelo povo,
trazendo seus valores básicos na forma de princípios e direitos fundamentais, de
organização do Estado, dos Poderes Públicos, dentre outras disposições gerais
ligadas à formação da ordem social. Além dessas normas, a Constituição prevê
também a forma de custeio dessa estrutura estatal, a qual deverá garantir todos
os direitos previstos. Assim, estabelecem-se os bônus, mas também os ônus que
o sustentam, pois para concretizar direitos o Estado precisa de recursos.

Esses recursos necessários ao desenvolvimento e alcance das finalidades


do Estado (a concretização dos ideais pelos quais ele foi formado, sejam
políticos, econômicos, sociais, etc.) são chamados de receitas públicas, e
podem ser de dois tipos: originais e derivadas.

As receitas originais são aquelas obtidas por meio do próprio


patrimônio do Estado, ou seja, as que são extraídas da administração estatal
como um todo, de seus bens e atividades econômicas nas quais envolvido
(empresas públicas, por exemplo). Por outro lado, a receita derivada é aquela
que advém do patrimônio privado, detido pelo particular, pelas pessoas em geral.
Essa é constituída, basicamente, pela arrecadação de tributos, tratando-se de
fonte significativa em termos de montante arrecadado e em termos de
representatividade, explicitando a importância e a participação de cada pessoa
no todo da sociedade que ela também integra e forma.

O Direito Tributário é, precisamente, o conjunto de normas e


princípios que regulam as relações jurídicas entre o Estado (tratado pelo nome
de FISCO nesse contexto) e o particular (tratado como “contribuinte”) no âmbito
das obrigações tributárias (dentro da ideia de custeio e de receitas derivadas), na
qual o primeiro tem o direito de exigir tributos e o segundo o dever de pagá-los,
de contribuir.

O Direito Tributário apresenta forte relação com a contabilidade, visto que


a contabilidade serve para que se tenha transparência quanto ao patrimônio de
uma pessoa, dotando os usuários das informações importantes para a tomada de
decisões. O Direito Tributário, por sua vez, permite vislumbrar as hipóteses de
incidência tributária sobre esse patrimônio, viabilizando tomadas de decisões
mais precisas, voltadas ao planejamento, transparência e à fiscalização estatal.
Ainda, trata-se de matéria relevante para conhecimento de todo e
qualquer cidadão, na medida em que impacta a todos diretamente e, por vezes,
pode ser fonte de conflitos, manifestações populares e até revoluções, como
vivenciado ao longo da história. No lugar de uma abordagem mais belicosa,
contudo, propõe-se um olhar responsável sobre a tributação. A contribuição do
particular pode ser compreendida como um dever fundamental necessário para a
existência e atuação plena do Estado, que sem recursos não tem como entregar
os benefícios a que todos têm direito. Não se trata exatamente de um valor
retirado do patrimônio do particular, mas sim de um valor cujo destino do
dispêndio não é decidido diretamente por ele; ele apenas escolhe as pessoas que
irão tomar essas decisões (por meio das eleições). No mais, as consequências
desse dispêndio público irão favorecer os particulares em algum sentido, já que
também faz parte dessa sociedade.

Assim, é importante distinguir entre tributação, como algo inerente ao


convívio social e à necessidade de custeio do aparato e da atividade do Estado, e
questões relativas à distribuição dos tributos entre pessoas com diferentes
capacidades econômicas, carga tributária (porcentagem de tributação em cima
do PIB nacional), bem como à gestão da receita pública.

No ponto, sugere-se uma visita ao Portal da Transparência


(https://portaldatransparencia.gov.br/), onde é possível acompanhar a gestão
feita sobre a receita pública e, assim, fiscalizar o destino dos tributos pagos.
Ainda, deve-se estar ciente que a receita pública é estimada anualmente e as
destinações dadas ao orçamento público podem ser consultadas no início de cada
ano e acompanhadas pelo cidadão, tanto na Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) (https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-
orcamentarias/ldo) como na Lei de Orçamento Anual (LOA)
(https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-orcamentarias/loa).

Por fim, cumpre mencionar que nem sempre os tributos são fixados
apenas com intuito de arrecadação de receitas (fiscalidade). Por vezes, o
montante arrecadado ou a tributação de determinada atividade pode ser
estratégica, buscando desestimular o consumo de um produto por exemplo (caso
da tributação de maior monta em produtos como cigarros e bebidas alcóolicas),
estimular determinadas atividades (caso dos incentivos fiscais sobre o setor
automobilístico, por exemplo), dentre outras. É o que chamamos de
extrafiscalidade.

CONCEITO DE TRIBUTO
Segundo o art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN), o tributo pode ser
definido da seguinte forma:

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em


moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada.

Vamos compreender o que cada um desses termos implica:

- Prestação compulsória: o tributo é uma prestação compulsória, ou


seja, obrigatória, não dependendo da vontade dos envolvidos para existir. A
compulsoriedade diz respeito ao nascimento da obrigação tributária, que surge a
partir da ocorrência de um fato gerador específico, não sendo necessária
qualquer ato, vontade ou mesmo concordância do contribuinte ou do Estado
para que surja. Essa compulsoriedade, contudo, deve ser compreendida em
relação ao nascimento da obrigação, não quanto ao seu cumprimento (ou seja, se
o particular irã pagar de fato o tributo, quando e de que modo são questões que
já dependem de certos atos a serem praticados pelas partes envolvidas).

- Pecuniária, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: o


tributo é necessariamente uma prestação determinada e quantificada em
dinheiro, independentemente da forma como ela porventura venha a ser
cumprida/paga. Não é possível fixar tributos que sejam obrigações de fazer algo
ou não fazer algo, tampouco podem ser fixados tributos in natura, como na
forma de trabalho, alimentos, animais, objetos, etc. Somente se admite tributo
fixado em dinheiro (normalmente uma porcentagem de algum valor).

- Que não constitua sanção de ato ilícito: há uma diferença


fundamental entre tributo e aquilo que chamamos de multa ou sanção. Enquanto
o primeiro (tributo) incide sobre fatos e atividades lícitas (condutas regulares da
vida em sociedade, como trabalho, recebimento de remuneração, aquisição e
transferência de propriedade etc.), a multa incide sobre fatos ilícitos (ou seja,
justamente quando uma conduta irregular ou proibida é praticada). Assim,
quando praticado um ato ilícito, eventual valor que venha a ser pago o será em
razão de sanção/penalidade aplicada como resposta a esse ilícito, recebendo o
nome de multa.

- Instituída em lei: somente lei pode instituir tributo, regulando a


relação jurídica tributária. Somente a lei pode criar, alterar ou extinguir tributo
(lei do ente competente). Lembrando da pirâmide do ordenamento jurídico, os
atos administrativos – que ficam hierarquicamente abaixo das leis – não podem
instituir tributos.

- Cobrada mediante atividade administrativa plenamente


vinculada: há dois pontos relevantes aqui. O primeiro é a restrição da
tributação à atividade administrativa, ou seja, à atividade Estatal, o que implica
que somente Pessoa Jurídica de Direito Público pode ser sujeito ativo da relação
tributária (não podem ser cobrados tributos por outras entidades, como
sindicatos, por exemplo). Essa restrição se justifica dadas as atividades e poderes
envolvidos na atividade (que demanda cobranças, aplicação de sanções dentre
outras manifestações de poder). Em segundo, a menção à plena vinculatividade
impõe um dever positivo de obrigatoriedade no lançamento e cobrança dos
tributos pela autoridade administrativo (funcionário público) nos moldes
estritamente legais, sem liberdade para que o agente abra mão de cobrar
determinado tributo fora das hipóteses legais, ou permanecer passivo e
negligente, deixando de cobrar e buscar a satisfação da obrigação tributária do
particular.

Por fim, é necessário fazer breve ressalva sobre os atos administrativos, os


quais dizemos que são de ordem vinculada (quando devem ser realizados
estritamente nos termos da lei) ou discricionários (quando a própria lei permite
algum poder decisório à autoridade administrativa, o qual deve ser exercido
dentro de um juízo de conveniência e oportunidade). No caso da cobrança de
tributos, a atividade administrativa deverá ser vinculada aos termos da Lei, sem
espaço para tomadas de decisões da autoridade.
FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO
Quando falamos em “fontes” no Direito, estamos nos referindo aos tipos
de normas/regras do ordenamento jurídico que tratam de determinado tema. No
caso do Direito Tributário, as fontes são aquelas onde existem normas que
regulam a relação de obrigação tributária entre Fisco e Contribuinte.

Cita-se, portanto, os artigos 145 a 162 e 195 da Constituição (que prevê os


tributos); o Código Tributário Nacional (que dá as bases para a cobrança desses
tributos) e leis estaduais e municipais (que regulam fatores como alíquotas e
isenções de seus próprios tributos).

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