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Contextualização

Podemos dizer que a primeira forma de imposto remonta à antiguidade. As comunidades


derrotadas nas guerras ficavam sujeitas ao pagamento de uma contribuição à comunidade
triunfadora, marcando, assim, signo da servidão, do domínio ou da dependência. Essa
contribuição era imposta unilateralmente pela comunidade vencedora com o fundamento que
pelo seu pagamento a derrotada podia continuar a usufruir dos seus bens e terras. O Estado para a
realização dos fins que se propõe, e que se traduzem na realização de despesas orientadas
fundamentalmente à satisfação das necessidades públicas (necessidades colectivas), necessita de
receitas. Tais receitas provêm prioritariamente da cobrança de tributos (prestações compulsivas,
pecuniárias ou em espécie) que podem revestir a natureza de impostos ou de taxas, ou da venda e
exploração de bens do património público (receitas patrimoniais.

A forma normal do financiamento do estado contemporâneo é o imposto. Pela natureza das


ciências que o tratam, nesta cadeira, a noção do imposto chega a ser similar da do tributo. Pode-
se, porém, distinguir, dizendo que o Tributo, é o género a que a espécie Imposto pertence (Waty
2004: 159).

O Tributo é tido como sendo uma prestação patrimonial definitiva, publicada por lei, em sentido
amplo, a favor de uma entidade pública para a satisfação das necessidades públicas, sem carácter
de sanção e independente e vínculos anteriores.

Elaborado por : Rogério Luís Macamo Direito Fiscal


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Conceitualização do Imposto

Segundo Teixeira (1985: 36) o imposto é uma prestação pecuniária efectiva, de pagamento
coercivo com carácter unilateral e definitivo, em geral não consignados a nenhum tipo de
utilizações, sendo uma prestação devida ao Estado, estabelecida por lei sem carácter de sanção,
tendo como objectivo a realização de fins públicos.
Para Waty (2004: 160), imposto é uma prestação coactiva, patrimonial, positiva, definitiva, não
sinalagmática, sem carácter de sanção, estabelecida por lei, a favor de uma entidade pública ou
com funções públicas, para a satisfação de necessidades públicas e redistribuição de riqueza,
independente de qualquer vínculo anterior. Neste conceito pode perceber-se que, o sujeito activo
não é apenas o Estado, como também todas as entidades públicas ou com funções públicas,
como, aliás, a LBST define, no artigo 56, que o sistema tributário integra impostos nacionais e
autárquicos.
Por seu turno, Guimarães (1993: 17), por uma questão metodológica e pedagógica, define o
imposto como sendo uma prestação definitiva e unilateral estabelecida por lei a favor de uma
pessoa que exerce funções públicas para a realização de fins públicos, e que não constitui sanção
de um acto ilícito.
Para o Teixeira (1995: 35), imposto é uma prestação definitva e unilateral, estabelecida pela lei a
favor de uma pessoa colectiva de direito público, para a realização de fins públicos, a qual não
constitui sanção de um acto ilícito.
Nabais (2008: 11) define o imposto com base em três elementos, “um elemento objectivo, um
elemento subjectivo e um elemento teológico (ou finalista) ”. Objectivo porque o imposto é uma
prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coerciva. Subjectivo, o imposto é exigido a (ou
devida por) detentores (individuais ou colectivos) de capacidade contributiva (ability to pay) a
favor de entidades que exerçam funções ou tarefas públicas. O elemento teológico (ou finalista)
o imposto ser exigido pelas entidades que exercem funções públicas, sem carácter sancionatório.

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Fases do Imposto
A incidência
Em abstracto, se definem os pressupostos tributários que fazem nascer a obrigação de imposto,
em que, em abstracto, se define a matéria colectável do imposto e identificam os sujeitos
passivos da relação jurídica fiscal a que o mesmo dará lugar. É a fase, em suma, em que a lei
determina o que vai estar sujeito a imposto (incidência real) e quem vai estar sujeito a imposto
(incidência pessoal).
Como elemento essencial do imposto que é , a incidência está sujeita ao princípio da legalidade
fiscal.
A par da incidência positiva (definida pelas chamadas normas de incidência, reais e pessoais),
temos que considerar uma incidência negativa, integrada pelas normas que estabelecem isenções
de imposto, quer excluindo da tributação situações que, a não ser a norma de isenção, caberiam
no âmbito de previsão da norma real impositiva (incidência real negativa), quer excluindo do
universo dos contribuintes, sujeitos que, sem a norma de isenção, se constituiriam normalmente
como devedores do imposto (incidência pessoal negativa). Um e outro caso, bem diferentes das
situações de não tributação, em que o âmbito de previsão da norma de incidência positiva não
compreende os factos e os sujeitos considerados, não sendo necessária nenhuma norma de
isenção para que estes fiquem fora do quadro legal de sujeição a imposto.

O lançamento
Corresponde ao momento do início da aplicação da lei. É a fase em que, do geral e abstracto da
incidência, se passa ao individual e concreto; é a fase em que se processam as operações
conducentes à identificação particular dos sujeitos passivos e à determinação concreta da matéria
colectável sobre que vai incidir o imposto.
Nos principais impostos que compõem actualmente o sistema fiscal português (IRS, IRC, IVA),
as operações de lançamento são efectuadas pelo próprio contribuinte, por isso se falando, a este
propósito, em auto lançamento do imposto.

A liquidação
É a operação aritmética de aplicação de uma taxa à matéria colectável apurada na fase do
lançamento, para determinação do montante exacto de imposto devido pelo sujeito passivo

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(colecta). Naqueles impostos em que a lei prevê a possibilidade de deduções à colecta, a


liquidação abrange também os cálculos decorrentes destas deduções.
Hoje generaliza-se a tendência para agrupar sob a mesma designação "liquidação", quer as
operações de liquidação propriamente ditas que acabámos de referir, quer as operações de
lançamento mencionadas no ponto anterior. Ao usarmos agora a expressão "liquidação", temos,
pois, que distinguir entre uma liquidação em sentido estrito (a operação aritmética de aplicação
de uma taxa à matéria colectável) e uma liquidação em sentido amplo, que abarca tanto a dita
operação aritmética, a liquidação em sentido estrito, como todas as outras operações de
lançamento.

A cobrança (pagamento)
Cobrança e pagamento são expressões que traduzem a mesma realidade jurídica. A primeira
assumida do ponto de vista da administração fiscal, que cobra o imposto; a segunda encarada do
ponto de vista do contribuinte, que o paga. É a fase final da vida do imposto, para que tende toda
a relação jurídica fiscal. Com a cobrança (pagamento) os valores correspondentes ao imposto vão
dar entrada nos cofres do Estado e com isso a relação jurídica fiscal, normalmente, extinguir-se-
á.
Classificação de Imposto

Segundo a Lei nº 15/2002, de 26 de Junho, os impostos em Moçambique classificam-se em


nacionais ou autárquicos. Os nacionais classificam-se, por sua vez, em impostos directos ou
indirectos, conforme actuam ao nível da tributação directa dos rendimentos e do património e, na
tributação indirecta do consumo ou despesa. Nestas diferentes classificações, importa aprofundar
sobre os impostos directos e impostos indirectos.

Imposto Directo

Os principais impostos directos são o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
IRPS, o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas IRPC, o Imposto Pessoal
Autárquico, Imposto sobre Veículos Imposto Predial Autárquico , Imposto sobre as
Transmissões e Doações.

Em geral, refere-se a um imposto directamente pago ao governo ou administração fiscal, cobrado


sem intermediação de consumidores ou firma, e que incide por norma directamente sobre o

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rendimento apurado. A tributação directa é geralmente declarativa, que é estabelecida tanto pelo
indivíduo ou por terceiros em seu nome no caso de retenção na fonte.

Imposto directo é pago por parte das pessoas (jurídicas ou naturais) directamente ao governo a
quem é imposto (muitas vezes acompanhada de uma declaração fiscal apresentada pelo
contribuinte). Alguns impostos incidem sobre o rendimento, outros sobre entes corporativos e
alguns incidem também sobre transferências, tais como impostos sobre herança e imposto sobre
doações.

O imposto Indirecto

É um tipo de imposto que incide sobre transacções de mercadorias e serviços, sendo a base
tributária os valores de compra e venda. Este tipo de imposto é cobrado tanto do produtor como
do consumidor, independentemente da condição social, e é calculado no valor adicionado e na
transacção total, como é o caso do Imposto sobre o Valor Acrescentado IVA, Imposto de Selo,
etc.

Impostos Autárquicos

Imposto Pessoal Autárquico (IPA)


De acordo com artigo 52 da Lei n o 1/2008, de 16 de janeio, O Imposto Pessoal Autárquico
substitui, nas autarquias, o Imposto de Reconstrução Nacional e incide sobre todas as pessoas
nacionais ou estrangeiras, residentes na respectiva autarquia, quando tenham entre 18 a 60 anos
de idade e para elas se verifiquem as circunstâncias de ocupação, aptidão para o trabalho. Para
efeitos de incidência do imposto, consideram-se residentes na autarquia as pessoas que aí tenham
domicílio fiscal.
Os novos residentes na autarquia ficam sujeitos ao pagamento de imposto na nova autarquia,
desde que não provem ter satisfeito a obrigação no local onde anteriormente estavam
domiciliados.
A Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, diz que o Imposto Pessoal Autárquico (IPA) é pago em
função de contraprestação de serviços como se de uma taxa se tratasse, este facto contraria a
estatuição e o imperativo legal deste Imposto. As taxas do Imposto Pessoal Autárquico (IPA) a

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vigorar anualmente em cada autarquia são estabelecida ate 30 de Setembro do ano anterior pela
respectiva assembleia autárquica, não podendo exceder no máximo dois décimos do salário
mínimo nacional dos trabalhadores da indústria.
O artigo 53 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, prevê a isenção do pagamento do Imposto
Pessoal Autárquico (IPA) para:

 Os indevidos, que por debilidades, doenças ou por deformidades físicas estejam


temporários ou permanentemente incapacitados de trabalhar;
 Os cidadãos no cumprimento de Sérvios Militar Obrigatório (SMO), compreendendo o
ano da incorporação e o ano a passagem a disponibilidade;
 Os estudantes que frequentam em regime de tempo inteiro, curso de nível médio ou
superior, incluindo o ano em que perderem essa qualidade, ate completarem 21 a 25 anos
de idade, respectivamente consoante se trata dom ensino médio ou superior, incluindo os
estudantes moçambicanos no estrangeiro;
 Os pensionistas do Estado, das Autarquias Locais, da Segurança Nacional, ou de outras
formas de pensão, quando não tenha outros rendimentos alem das respectivas pensões;
 A mulher camponesa e a mulher doméstica;
 Os estrangeiros ao serviço do país da respectiva nacionalidade, quando haja reciprocidade
de tratamento.

O artigo 53 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro ainda prevê a isenção do pagamento de Imposto


Pessoal Autárquico (IPA), em determinado ano, aos indivíduos que devido a calamidades
naturais ou outras circunstâncias excepcionais não se encontrem em condições de o satisfazer,
quando tal situação seja reconhecida pela Assembleia Municipal ou de Povoação, mediante
proposta fundamentada do executivo autárquico.

De acordo com artigo 54 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, o valor do Imposto Pessoal


Autárquico (IPA) a vigorar anualmente em cada autarquia, é determinado através da aplicação
das respectivas taxas, 4% para o nível A; 3% para o nível B; 2% para o nível C e 1% para o nível
D, conforme a classificação das autarquias locais, sobre o salário mínimo nacional mais elevado
em vigor em 30 de Junho do ano anterior.

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Imposto Predial Autárquico (IPRA)


De acordo com artigo 55 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro o Imposto Predial Autárquico
(IPRA) incide sobre o valor patrimonial dos prédios urbanos situados no território da respectiva
autarquia.
Para efeito do disposto no nº 1 do artigo 55 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro entende-se por
valor patrimonial dos prédios urbanos o constante nas matrizes prediais e, na falta destes, o valor
declarado pelo proprietário, a não ser que se afaste do preço normal do mercado e, por prédio
urbano, qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhes sirvam de logradouro.
Para determinação do preço normal de mercado, os órgãos competentes da autarquia deverão
promover acções de comprovação e fiscalização, considerando as operações realizadas entre
compradores e vendedores independentes, dos prédios com características semelhantes, tais
como antiguidade, dimensões e localização.
O artigo 56 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, diz que o Imposto Predial Autárquico (IPRA)
incide sobre os titulares do direito de propriedade à 31de Dezembro do ano anterior a que o
mesmo respeita, presumindo-se como tais as pessoas em nome de quem os mesmos se encontrem
inscritos na matriz predial ou que deles tenham posse a qualquer título naquela data. Nos casos
de co-propriedade ou de mais de um possuidor directo ou indirecto, o imposto é devido por
qualquer um deles sem prejuízo de direito de regresso.
No caso de herança indivisa os sucessores são responsáveis pelo pagamento do imposto
incidente sobre os imóveis que pertenciam ao finado.

O artigo 57 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, prevê a isenção do pagamento do Imposto Predial


Autárquico (IPRA) para:

 O Estado;
 As associações humanitárias e outras entidades que, sem intuito lucrativo, prossigam no
território da autarquia actividades de relevante interesse público, relativamente aos
prédios urbanos afectos à realização desses fins;
 Os Estados estrangeiros, relativamente aos prédios urbanos destinados exclusivamente à
sede da missão diplomática ou consular ou à residência do chefe da missão diplomática
ou do cônsul, quando haja reciprocidade de tratamento;

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 A própria autarquia e qualquer dos seus serviços, ainda que personalizados, relativamente
aos prédios que integrem o respectivo património.

O artigo 58 da Lei n o 1/2008, de 16 de Janeiro, prevê as seguintes taxas para o Imposto Predial
Autárquico (IPRA):

 Prédios destinados a habitação, 0.4%;


 Prédios destinados à actividades de natureza comercial, industrial ou para exercício de
actividades profissionais independentes bem como os destinados a outros fins, 0.7%.

Princípios da tributação

O processo de tributação estatal foi defendido inicialmente pelo liberalismo inglês,


principalmente por Adam Smith, advogando que a justiça, simplicidade e neutralidade eram os
preceitos da boa tributação. Estas considerações foram muito importantes no período clássico,
quando o imposto não era considerado uma questão económica. Actualmente, tais dogmas são
questionados e, inversamente ao que era defendido, a política fiscal é, muitas vezes, usada para
influenciar o comportamento do consumidor ou para influenciar o mercado em determinado
ponto ou sector que a autoridade considere existir uma avaria.

Justiça

Um sistema tributário é justo quando todos, do mais pobre ao mais rico, contribuem em
proporção directa à sua capacidade de pagar. Na definição de justiça tributária, está implícito
o princípio da progressividade – quem ganha mais deve contribuir com uma parcela maior do
que ganha, pois uma parte maior da sua renda não está comprometida com o atendimento de
necessidades básicas.

Simplicidade

De acordo com Smith, num sistema tributário simples é relativamente fácil e barato para
o contribuinte calcular e pagar quanto deve. A mesma facilidade tem o governo para fiscalizar se
o contribuinte pagou o que devia.

Neutralidade

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Neutralidade quer dizer que o sistema tributário não deve influenciar a evolução natural da
economia. Ou seja, não deve influir na competitividade e nas decisões das empresas e tão pouco
no comportamento do consumidor/contribuinte.

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