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Veja-se, a título de exemplo, a contribuição especial criada pelo Decreto-Lei n.º 51/95, de 22
de março – valorização de prédios em resultado da construção da Ponte Vasco da Gama.
Os interessados (grupo) numa prestação pública devem contribuir para o seu financiamento,
ainda que não beneficiem efetivamente da sua realização - contraprestação. Ou seja, cabe
no conceito o benefício indireto.
Quando não existir qualquer benefício para o grupo, ainda que indireto, inexiste a
contraprestação e, como tal, estamos na presença de um imposto.
Estes impostos podem ser gerais, Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) ou especiais –
Imposto sobre o Tabaco (IT) e o Imposto único de Circulação (IUC).
1.a) Autoatribuição
O sentido tradicional do princípio da legalidade inculca a ideia de auto tributação, ou seja, de
que os impostos têm de ser autorizados por aqueles que os devem suportar através dos seus
representantes no órgão titular do poder legislativo.
O princípio da legalidade assenta no consentimento democrático-representativo em matéria
tributária, cabe aos cidadãos conformar o contrato social e aos seus representantes decidir
sobre o seu financiamento e, também, quanto ao modo como se efetuará a distribuição dos
custos.
A doutrina identifica a primeira formulação do princípio na Magna Carta inglesa - no
tributation without representation.
A matriz histórica do princípio ancora-se na obrigatoriedade de os encargos tributários serem
votados pelas assembleias representativas da comunidade política – António Braz Teixeira.
A CRP consagra uma reserva relativa de competência legislativa - artigo 165.º, n.º 1, alíneas
c), d) e i), isto é, a Assembleia da República pode legislar sobre a matéria ou aprovar uma lei
de autorização que habilite o governo a legislar através de decreto-lei autorizado.
O artigo 165.º, n.º 2 da CRP determina que as leis de autorização legislativa devem definir o
objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, isto é, por esta via é possível, em
certa medida, definir a atuação do Governo.
1.b) Tipicidade
Não há imposto que não tenha refração legal (nullum tributum sine lege), nisto consiste a
denominada tipicidade tributária, é pela verificação dos pressupostos que se encontram
definidos na lei que, nessa exata medida, é possível proceder à tributação.
Assim, constitui um obstáculo intransponível a tal atividade (agressão patrimonial) a não
verificação desses pressupostos.
O imposto deve ser desenhado na lei de forma determinada, sem margem para
desenvolvimento regulamentar por parte do poder administrativo.
Assim, perante o princípio da legalidade tributária – artigo 165.º, n.º 1, al. i) da CRP – a
renúncia total ou parcial a créditos tributários respeitantes a impostos, estando relacionada
com a incidência dos mesmos terá de ser prevista em lei da Assembleia da República ou
Decreto-Lei aprovado com autorização legislativa
Contudo, essa proibição constitucional não integra a possibilidade de a Administração, por via
legislativa, (Lei ou Decreto-Lei), dispor de créditos já definidos, por exemplo, programa
PERES.
É proibida pela CRP a disponibilidade do crédito na definição do seu conteúdo (an da
obrigação), mas é legítima a disponibilidade do crédito já definido – artigo 30.º da LGT.
A obrigação de pagar impostos envolve uma agressão ao património dos contribuintes, por
isso, aplica-se o mesmo regime de proibição de retroatividade que vale para as restrições de
direitos, liberdades e garantias – artigos 103.º, n.º 3 e 18.º, n.º 3, ambos da CRP.
À luz da lição do Professor ALBERTO XAVIER é possível identificar três graus de
retroatividade: i) 1.º grau; ii) 2.º grau e iii) 3.º grau.
O artigo 12.º, n.º 1 da LGT veda a retroatividade de 1.º grau ou autêntica (na jurisprudência
do Tribunal Constitucional).
A retroatividade de 3. º grau não seria para o Professor ALBERTO XAVIER uma verdadeira
retroatividade.
A solução consiste em dividir os rendimentos de acordo com o critério pro rata temporis –
artigo 12.º, n.º 2 da LGT.
A qualificação que a doutrina atribui a cada uma destas situações não é convergente.
Embora haja maior consenso em considerar o 1. º grau acima descrito como retroatividade
autêntica, em relação aos segundo e terceiro graus, há quem considere que ambas as
situações se enquadram na ideia de retrospetividade (retroatividade inautêntica), enquanto
outros apenas incluem aqui o 3º grau.
Deve igualmente entender-se – dado ser essa a posição do Tribunal Constitucional, que é
igualmente seguida pela maioria da doutrina – que o artigo 103.º, n.º 3 da Constituição proíbe
igualmente a retroatividade de 2.º grau.
É consensual que o legislador apenas pretendeu incluir no n.º 3 do artigo 103.º da CRP, a
proibição da retroatividade autêntica, própria ou perfeita da lei fiscal.
3. Princípio da igualdade
A igualdade fiscal deve ser compreendida como uma refração do princípio constitucional da
igualdade.
A igualdade fiscal projeta-se como igualdade perante a lei (sentido formal) e igualdade na lei
(sentido material).
O princípio da igualdade fiscal sempre incorporou a ideia da universalidade – todos os
cidadãos estão vinculados ao dever de pagar impostos e o critério para o fazer é o da
capacidade contributiva.
4. Princípio da capacidade contributiva
Na relação jurídica tributária existe um sujeito ativo, o credor da prestação tributária (artigo
18.º da LGT), o Estado ou qualquer entidade pública com o poder de tributar (questão do
sujeito ativo do poder tributário e do sujeito ativo do crédito tributário).
Como sujeito ativo da relação jurídica tributária surge o Estado, a entidade de direito público
titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias.
A relação jurídica tributária, por vezes, utiliza a figura da substituição tributária, mediante a
qual a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte – artigo 20.º, n.º 2 da
LGT.
A substituição tributária justifica-se por motivos de segurança e economia – artigos 20.º e
28.º da LGT.
A retenção na fonte concretiza-se por entregas pecuniárias efetuadas por dedução nos
rendimentos pagos ou postos à disposição do titular do rendimento pelo substituto – retenção
na fonte do imposto devido.
Regra geral, é responsável pelo pagamento do crédito tributário o sujeito em relação ao qual
se verificaram os pressupostos do imposto – responsabilidade tributária.
Responsabilidade tributária:
i) Solidária;
ii) Subsidiária
A relação jurídica tributária tem origem na verificação do facto tributário – artigo 36.º da LGT.
Isto é, sem facto tributário não existe uma verdadeira relação jurídica.
É o facto tributário que gera a obrigação de imposto (estamos perante um facto desta
natureza quando se verificam os pressupostos da incidência do imposto, e.g., prestação de
serviços realizada por um sujeito passivo de IVA).
A matéria coletável constitui a dimensão quantitativa do facto tributário.
Extinção da relação jurídica tributária:
I. Pagamento
II. Caducidade
III. Prescrição
Pagamento
O pagamento (cumprimento voluntário) constitui a regra geral da extinção da relação jurídica
tributária – artigo 40.º da LGT.
O pagamento é efetuado dentro do prazo estabelecido nas leis tributárias, podendo este,
nomeadamente, ser efetuado em moeda corrente, cheque e débito em conta – artigo 40.º, n.º
1 da LGT.
Após o decurso do prazo de pagamento voluntário, inicia-se a contagem dos juros moratórios
(atraso no pagamento da dívida tributária já liquidada e exigível – artigo 44.º da LGT)
Caducidade
A caducidade do direito à liquidação emerge da falta de notificação válida ao contribuinte no
prazo de quatro anos, salvo quando a lei fixar outro – artigo 45.º da LGT.
A contagem é distinta consoante se trate de impostos periódicos ou de impostos de obrigação
única. Nos impostos periódicos, o termo inicial do prazo verifica-se no primeiro dia do ano
posterior ao da verificação do facto tributário – artigo 45.º, n.º 4 da LGT.
Nos impostos de obrigação única, o prazo conta-se a partir da data em que o facto tributário
ocorreu.
O prazo de caducidade do direito à liquidação suspende-se com a notificação ao contribuinte,
nos termos legais, da ordem de serviço ou despacho no início de ação de inspeção externa,
sem prejuízo de se atender à eventual duração da inspeção externa por prazo superior a seis
meses – artigo 46.º, n.º 1 da LGT.
O artigo 46.º, n.º 2 da LGT prevê outros fundamentos de suspensão da contagem do prazo
de caducidade.
Prescrição
O direito à cobrança das dívidas (créditos) tributárias prescreve com o decurso de oito anos,
prazo esse cujo início varia consoante estejamos perante impostos periódicos (termo do ano
em que se verificou o facto tributário) ou impostos de obrigação única (data em que ocorreu o
facto tributário).
O prazo de prescrição interrompe-se com base nos fundamentos descritos no artigo 49.º, n.º
1 da LGT (citação) e suspende-se, por exemplo, com o pagamento a prestações legalmente
autorizado – artigo 49.º, n.º 4 da LGT.
Garantia
O património do devedor (garantia geral) também constitui a garantia dos créditos tributários –
artigo 50.º, n.º 1 da LGT.
IRS
Incidência subjetiva – titular ou titulares do rendimento em questão – 13.º do Código do
Imposto sobre Rendimento das Pessoas Singulares ("CIRS").
Qual é a unidade tributária?
I. Indivíduo;
II. Unidade marital – agregado familiar
Caso exista agregado familiar, o imposto deve incidir sobre a totalidade das pessoas que o
integram.
Recorde-se que o artigo 104.º, n.º 1 da CRP determina que se deve atender às
necessidades e aos rendimentos do agregado familiar.
Apesar do imposto ser apurado individualmente, em relação a cada sujeito passivo, admite-se
a opção pela tributação conjunta dos rendimentos – artigo 13.º, n.º 2 do CIRS.
A identidade de domicílio fiscal dos sujeitos passivos durante pelo menos dois anos, ou
durante o período de tributação, faz presumir a existência da união de facto – artigo 14.º, n.º
2 do CIRS
União de facto (art.º 14º CIRS) - A Lei n.º 7/2001, de 11 de maio, alterada pela Lei n.º
23/2010, de 30 de agosto: obriga a ter a mesma morada fiscal há mais de 2 anos ou outra
prova documental fiscalmente aceite.
Incidência subjetiva
O artigo 13.º, n.º 1 do CIRS determina a sujeição ao IRS das pessoas singulares que
residam em território português, abrangendo a totalidade dos rendimentos obtidos no nosso
país, bem como os que sejam conseguidos fora desse território (artig0 15.º, n.º 1 do CIRS) –
âmbito da sujeição.
A determinação da residência é feita com base em diferentes critérios alternativos (artigo 16.º
do CIRS):
I. Que podem ser a permanência por mais de 183 dias (seguidos ou não) em território
nacional em qualquer período de 12 meses, com início ou fim no ano em causa.
II. ii) Ou a disposição nesse período de habitação, sugerindo a residência. Isto é,
recorre-se a um critério complementar de domicílio fiscal. A solução é particularmente
relevante em situações em que um indivíduo não esteja em nenhum Estado durante
mais de 183 dias.
III. Para que um sujeito possa ser considerado residente numa Região Autónoma deve
ter permanecido no território por mais de 183 dias. Para esse efeito, considera-se
que permanece numa Região Autónoma quem aí disponha da sua residência habitual
e nesta esteja registado para efeitos fiscais - artigo 17.º, n.º 2 do CIRS
Quando não possível determinar a permanência, seja atende-se ao critério do principal centro
de interesses. Com base neste critério, residem na Região Autónoma, as pessoas que
residam em território português e obtenham no território da Região Autónoma a maior parte
da base tributável, de acordo com o artigo 17.º, n.º 3 do CIRS.
Um cidadão europeu que trabalhe em Portugal, mas resida no território de outro Estado
Membro (Itália) não deve ser prejudicado na aplicação das regras do imposto sobre o
rendimento (em Portugal) face ao que sucederia se residisse em território português.
Outro princípio na determinação da incidência positiva do imposto é o princípio da fonte ou
da territorialidade – artigo 13.º do CIRS.
Este princípio rendimentos justifica a tributação dos obtidos em Portugal, independentemente
da sua natureza, residência e nacionalidade do sujeito passivo.
Relativamente aos não residentes apenas são tributados os rendimentos obtidos em território
português (artigos 15.º, n.º 2 e 18.º, ambos do CIRS) – âmbito da sujeição.
E quanto aos critérios para determinar a fonte dos rendimentos obtidos? No artigo 18.º do
CIRS o legislador utiliza vários critérios para a determinação da fonte dos rendimentos, o que
aumenta o risco de dupla tributação internacional.
Resumindo...
1. Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares que residam em território português e as
que, nele não residindo, aqui obtenham rendimentos.
2. O imposto é apurado individualmente em relação a cada cônjuge ou unido de facto,
exceto se for feita opção (anual) por tributação conjunta que implica o somatório dos
rendimentos de todos os membros do agregado.
3. A situação relevante é a que se verifica a 31 de Dezembro de cada ano.