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Contribuições financeiras

As contribuições financeiras subdividem-se em:


i. Contribuições especiais (emergentes do exercício de uma atividade administrativa); ou
ii. Outras contribuições financeiras (contraprestação de natureza coletiva - grupal).

Constituem um exemplo das contribuições especiais, as denominadas “contribuições de


melhoria”, quando um grupo de contribuintes obtém um benefício anormal de melhorias
realizadas com receitas públicas.

Veja-se, a título de exemplo, a contribuição especial criada pelo Decreto-Lei n.º 51/95, de 22
de março – valorização de prédios em resultado da construção da Ponte Vasco da Gama.

Classicamente apresentam-se como “impostos” especiais do grupo.


Se é verdade que a generalidade das contribuições são equiparadas às taxas, aplicando-se o
mesmo regime jurídico – artigo 3.º, n.º 3 da LGT, as contribuições especiais são
consideradas impostos – artigo 4.º, n.º 3 da LGT.

Nas outras contribuições financeiras destacamos os tributos parafiscais – prestações


obrigatórias realizadas em benefício de determinadas pessoas coletivas de direito público.
Pense-se, por exemplo, nas contribuições obrigatórias para a Segurança Social e as
quotizações pagas pelos associados de ordens profissionais.

Os interessados (grupo) numa prestação pública devem contribuir para o seu financiamento,
ainda que não beneficiem efetivamente da sua realização - contraprestação. Ou seja, cabe
no conceito o benefício indireto.
Quando não existir qualquer benefício para o grupo, ainda que indireto, inexiste a
contraprestação e, como tal, estamos na presença de um imposto.

Classificação dos impostos

a) Impostos sobre o rendimento, sobre o consumo e sobre o património;


A classificação traduz o elemento revelador da capacidade contributiva, objeto de incidência
do imposto – artigo 104.º da CRP.
I. A tributação do rendimento das pessoas – singulares ou coletivas - incide sobre
os acréscimos patrimoniais líquidos, obtidos pelo contribuinte em determinado
período de tempo, emergentes, ou não, do exercício de atividade económica
(rendimento acréscimo ≠ rendimento produto).
II. A tributação do património* incide sobre o rendimento acumulado pelo
contribuinte traduzido em valores patrimoniais líquidos (riqueza adquirida –
estática), como também a transmissão de determinados bens (aquisição de
riqueza).

*Os impostos sobre o património são:


- Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI);
- Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT);
- Imposto do Selo (IS).

III. Impostos sobre o consumo, incidem sobre o rendimento despendido pelos


contribuintes.

Estes impostos podem ser gerais, Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) ou especiais –
Imposto sobre o Tabaco (IT) e o Imposto único de Circulação (IUC).

b) Impostos diretos e impostos indiretos;


Os impostos diretos são aqueles que incidem sobre as manifestações imediatas (diretas) de
capacidade contributiva (rendimento e património), enquanto os indiretos atingem as
manifestações mediatas de capacidade contributiva (consumo).

c) Impostos pessoais e impostos reais;


A classificação distingue se os impostos consideram a matéria tributável de forma objetiva ou
subjetiva.
- Nos impostos reais a matéria tributável é apurada objetivamente, ou seja, sem atender a
circunstâncias pessoais do contribuinte – impostos sobre o consumo.
- Paralelamente, a imposição tributária nos impostos pessoais atende à situação pessoal do
contribuinte - composição do agregado familiar e despesas suportadas com habitação, saúde,
educação, como é o caso do IRS.

d) Impostos periódicos e impostos de obrigação única;


Designam-se de periódicos, os impostos que incidem sobre manifestações de capacidade
contributiva com caráter permanente, estável e duradoura - impostos sobre o rendimento.
São impostos de obrigação única são aqueles que incidem sobre manifestações transitórias
ou isoladas de capacidade contributiva – IMT e impostos sobre o consumo. Ou seja, tributam
factos isolados, sem caráter de continuidade.

e) Impostos de quota fixa e impostos de quota variável;


São de quota fixa os impostos em que a lei estabelece uma importância fixa (taxa ad
valorem) a pagar pelo contribuinte de forma indistinta. O imposto a pagar é sempre o mesmo,
o legislador renunciou à determinação do montante da matéria coletável. Ex: verbas da
Tabela Geral do Imposto do Selo – em que o montante de imposto a pagar está expresso em
euros, não variando consoante a matéria coletável.
Já nos impostos de quota variável, o montante a pagar varia em função da matéria tributável
(ou coletável), regra geral, através da aplicação de uma taxa específica à matéria coletável.

f) Impostos estaduais e impostos não estaduais;


Os impostos estaduais são aqueles em que o sujeito ativo é o Estado – credor da relação
jurídica fiscal, v.g., IRS, IRC e IVA).
Os impostos não estaduais são aqueles em que o sujeito ativo é outro ente público distinto do
Estado, v.g., autarquias locais no IMI e IMT.
g) Impostos proporcionais, progressivos e regressivos.
A classificação respeita às taxas aplicáveis à matéria tributável ou coletável.
Os impostos proporcionais são impostos de taxa fixa, qualquer que seja o montante da
matéria coletável. Ou, dito de outro modo, o seu montante não se altera em função do
quantum da matéria coletável.
- Os impostos progressivos são aqueles em que taxa aplicável vai aumentando à medida em
que se ergue o valor da matéria coletável.
Os impostos regressivos são aqueles em que a taxa aplicável diminui à medida em que
aumenta o valor da matéria coletável.

Princípios constitucionais de Direito Fiscal

O poder de tributar é objeto de limitação constitucional, pois é necessário distribuir os


encargos públicos por todos os cidadãos, obviando a que os grupos de pressão controlem o
aludido poder com vista à transferência (encargos) para aqueles que menos os podem
suportar.
A doutrina (Casalta Nabais) ensina que os aludidos limites podem revestir natureza formal,
determinando quem tributa e como se tributa, nomeadamente, o princípio da legalidade fiscal
e da segurança jurídica (proibição da retroatividade fiscal).

Já os limites de natureza material têm subjacente a ideia do que se tributa e quanto se


tributa, nos quais devemos, nomeadamente, isolar o princípio da igualdade, a concretizar
através da capacidade contributiva.

Limites Formais Limites Materiais


1. Princípio da legalidade 1. Princípio da
tributária igualdade
2. Princípio da 2. Princípio da
segurança jurídica capacidade
(proibição da contributiva
retroatividade fiscal)

1. Princípio da legitimidade tributária

1.a) Autoatribuição
O sentido tradicional do princípio da legalidade inculca a ideia de auto tributação, ou seja, de
que os impostos têm de ser autorizados por aqueles que os devem suportar através dos seus
representantes no órgão titular do poder legislativo.
O princípio da legalidade assenta no consentimento democrático-representativo em matéria
tributária, cabe aos cidadãos conformar o contrato social e aos seus representantes decidir
sobre o seu financiamento e, também, quanto ao modo como se efetuará a distribuição dos
custos.
A doutrina identifica a primeira formulação do princípio na Magna Carta inglesa - no
tributation without representation.
A matriz histórica do princípio ancora-se na obrigatoriedade de os encargos tributários serem
votados pelas assembleias representativas da comunidade política – António Braz Teixeira.

1.ab) Reserva de lei


O artigo 103.º, n.º 2 da CRP dispõe que: "Os impostos são criados por lei, que determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes".
- Reserva de lei (formal): Não podem ser exigidos impostos pela Administração Fiscal que
não sejam estabelecidas por lei anterior, ou seja, por norma geral e abstrata.
- Reserva de lei: De acordo com este princípio, a definição do imposto e dos seus elementos
essenciais é da competência da Assembleia da República, a reserva de lei formal. Assim, a
regulação da incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias do contribuinte
encontram-se sujeitas ao princípio da legalidade.

A CRP consagra uma reserva relativa de competência legislativa - artigo 165.º, n.º 1, alíneas
c), d) e i), isto é, a Assembleia da República pode legislar sobre a matéria ou aprovar uma lei
de autorização que habilite o governo a legislar através de decreto-lei autorizado.
O artigo 165.º, n.º 2 da CRP determina que as leis de autorização legislativa devem definir o
objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, isto é, por esta via é possível, em
certa medida, definir a atuação do Governo.

1.b) Tipicidade
Não há imposto que não tenha refração legal (nullum tributum sine lege), nisto consiste a
denominada tipicidade tributária, é pela verificação dos pressupostos que se encontram
definidos na lei que, nessa exata medida, é possível proceder à tributação.
Assim, constitui um obstáculo intransponível a tal atividade (agressão patrimonial) a não
verificação desses pressupostos.

O imposto deve ser desenhado na lei de forma determinada, sem margem para
desenvolvimento regulamentar por parte do poder administrativo.

1.c) Preeminência da lei


O legislador encontra-se vinculado à lei constitucional, bem como a Administração aos
comandos normativos.
É a lei que delimita o campo de atuação válida entre a Administração e os contribuintes. Com
efeito, a importância da matéria regulada legitima a instituição de uma garantia constitucional
e a sua regulação através da lei.
A regulação normativa deve conter o fundamento da conduta da Administração e todos os
critérios de decisão ao caso concreto, no sentido de que a decisão da Administração Fiscal
resulta da aplicação de tais critérios àquele caso.
A Administração encontra-se, na sua atuação, vinculada a observar o princípio da legalidade,
entendido como o respeito pelo conteúdo das normas que integram o ordenamento jurídico.
Neste particular, o princípio relaciona-se com o da legalidade da atuação administrativa.

Assim, perante o princípio da legalidade tributária – artigo 165.º, n.º 1, al. i) da CRP – a
renúncia total ou parcial a créditos tributários respeitantes a impostos, estando relacionada
com a incidência dos mesmos terá de ser prevista em lei da Assembleia da República ou
Decreto-Lei aprovado com autorização legislativa

Indisponibilidade do crédito tributário


Por força da tipicidade, não pode a Administração Fiscal dispor do crédito de imposto em
termos de violação aos poderes emergentes da lei tributária.

Indisponibilidade do crédito tributário


1. Com a verificação do facto tributário a Administração está obrigada a determinar o crédito
tributário.
2. A determinação do crédito tributário terá de ser efetuada à luz das regras vertidas na lei,
v.g., modo de determinação da matéria tributável e aplicação da(s) alíquota(s).

Contudo, essa proibição constitucional não integra a possibilidade de a Administração, por via
legislativa, (Lei ou Decreto-Lei), dispor de créditos já definidos, por exemplo, programa
PERES.
É proibida pela CRP a disponibilidade do crédito na definição do seu conteúdo (an da
obrigação), mas é legítima a disponibilidade do crédito já definido – artigo 30.º da LGT.

2. Princípio da segurança jurídica

a) Princípio da proibição da retroatividade fiscal

O princípio da segurança jurídica incorpora o conceito de Estado de direito democrático –


artigo 3.º da CRP.
O princípio da segurança jurídica limita a ação do legislador, pois proíbe, nomeadamente, a
construção de normas retroativas de natureza desfavorável.

A obrigação de pagar impostos envolve uma agressão ao património dos contribuintes, por
isso, aplica-se o mesmo regime de proibição de retroatividade que vale para as restrições de
direitos, liberdades e garantias – artigos 103.º, n.º 3 e 18.º, n.º 3, ambos da CRP.
À luz da lição do Professor ALBERTO XAVIER é possível identificar três graus de
retroatividade: i) 1.º grau; ii) 2.º grau e iii) 3.º grau.
O artigo 12.º, n.º 1 da LGT veda a retroatividade de 1.º grau ou autêntica (na jurisprudência
do Tribunal Constitucional).

Na retroatividade de segundo grau (imperfeita, imprópria), embora os factos se tenham


produzido inteiramente ao abrigo da lei antiga, os seus efeitos continuam a produzir-se no
domínio temporal da lei nova.
Na retroatividade de 3.º grau o facto não se verifica por inteiro ao abrigo da lei antiga, mas
prolonga a sua produção concreta no domínio temporal da lei nova.

A retroatividade de 3. º grau não seria para o Professor ALBERTO XAVIER uma verdadeira
retroatividade.
A solução consiste em dividir os rendimentos de acordo com o critério pro rata temporis –
artigo 12.º, n.º 2 da LGT.

A qualificação que a doutrina atribui a cada uma destas situações não é convergente.
Embora haja maior consenso em considerar o 1. º grau acima descrito como retroatividade
autêntica, em relação aos segundo e terceiro graus, há quem considere que ambas as
situações se enquadram na ideia de retrospetividade (retroatividade inautêntica), enquanto
outros apenas incluem aqui o 3º grau.
Deve igualmente entender-se – dado ser essa a posição do Tribunal Constitucional, que é
igualmente seguida pela maioria da doutrina – que o artigo 103.º, n.º 3 da Constituição proíbe
igualmente a retroatividade de 2.º grau.

É consensual que o legislador apenas pretendeu incluir no n.º 3 do artigo 103.º da CRP, a
proibição da retroatividade autêntica, própria ou perfeita da lei fiscal.

3. Princípio da igualdade

A igualdade fiscal deve ser compreendida como uma refração do princípio constitucional da
igualdade.
A igualdade fiscal projeta-se como igualdade perante a lei (sentido formal) e igualdade na lei
(sentido material).
O princípio da igualdade fiscal sempre incorporou a ideia da universalidade – todos os
cidadãos estão vinculados ao dever de pagar impostos e o critério para o fazer é o da
capacidade contributiva.
4. Princípio da capacidade contributiva

A capacidade contributiva constitui o pressuposto e o critério da tributação.


O princípio exige igual imposto para os que dispõem de igual capacidade contributiva
(igualdade horizontal) e diferente imposto para aqueles que detêm diferente capacidade
contributiva (igualdade vertical). Sendo certo que, nesta segunda hipótese, o imposto a pagar
deve traduzir essa diferença de capacidade contributiva.

1. De um ponto de vista negativo, a capacidade contributiva impõe que no tipo legal de


imposto não sejam considerados fatores como, por exemplo, o sexo, a religião e a
raça.
2. De um ponto de vista positivo, o tipo legal de imposto deve circunscrever-se aos
elementos financeiros, ao rendimento (líquido); à utilização que dele se faça
(consumo) e ao património

A atividade do legislador é conformada pelo princípio da igualdade.


Assim, conexo com o princípio da igualdade está o da capacidade contributiva, que impõe
que a Administração, na sua atividade de imposição tributária, valore a situação económica do
contribuinte, no sentido que tal capacidade constitua o pressuposto e a medida dessa ação.

De forma sumária, a capacidade contributiva é causa da tributação e, simultaneamente,


padrão de imposição, por isso, é fundamental para a concretização da Justiça fiscal material.
Repete-se, o que justifica a sujeição ao pagamento de impostos é a titularidade de
rendimentos, riqueza ou a realização de despesa, como tal, o que legitima a imposição é a
manifestação desses índices de capacidade económica.

A Relação jurídica tributária


Quando na vida real ocorre um facto previsto na lei como fonte de imposição fiscal, nasce a
relação jurídica tributária.
A relação em estudo estrutura-se como uma relação complexa, vislumbrando-se os
seguintes elementos: sujeitos, objeto, facto e garantia.

No artigo 1.º, n.º 2 da LGT determina-se que se consideram relações jurídico-tributárias, as


relações jurídicas estabelecidas entre a administração tributária, atuando como tal, e as
pessoas singulares e coletivas e outras entidades legalmente equiparadas a estas.
É com recurso ao conceito que se compreendem os direitos e deveres da administração
tributária e dos particulares.
Assim, ao lado do vínculo jurídico de natureza obrigacional, surgem um conjunto de deveres
jurídicos de natureza acessória, que impedem sobre o sujeito passivo da obrigação ou sobre
terceiros (substituição tributária).

Na relação jurídica tributária existe um sujeito ativo, o credor da prestação tributária (artigo
18.º da LGT), o Estado ou qualquer entidade pública com o poder de tributar (questão do
sujeito ativo do poder tributário e do sujeito ativo do crédito tributário).
Como sujeito ativo da relação jurídica tributária surge o Estado, a entidade de direito público
titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias.

O sujeito passivo da relação jurídica tributária é a pessoa singular ou coletiva, o património,


ou a organização de facto ou de direito que, à luz da lei, está vinculada ao cumprimento da
obrigação tributária, como o contribuinte, o substituto ou o responsável – artigo 18.º, n.º 3 da
LGT.

Determinam-se os sujeitos passivos da relação jurídica tributária a partir das normas de


incidência subjetiva dos impostos e com base nos princípios da residência e da fonte
(verdadeiros sujeitos passivos).
A personalidade jurídica não é o critério essencial para determinar o sujeito passivo.
Problemática do estabelecimento estável e da herança indivisa.

A relação jurídica tributária, por vezes, utiliza a figura da substituição tributária, mediante a
qual a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte – artigo 20.º, n.º 2 da
LGT.
A substituição tributária justifica-se por motivos de segurança e economia – artigos 20.º e
28.º da LGT.

A retenção na fonte concretiza-se por entregas pecuniárias efetuadas por dedução nos
rendimentos pagos ou postos à disposição do titular do rendimento pelo substituto – retenção
na fonte do imposto devido.

A retenção pode ser: i) Total (o substituído fica dispensado do cumprimento de qualquer


obrigação acessória); ii) Parcial (o substituído continua a ter de cumprir obrigações
acessórias).

Regra geral, é responsável pelo pagamento do crédito tributário o sujeito em relação ao qual
se verificaram os pressupostos do imposto – responsabilidade tributária.
Responsabilidade tributária:
i) Solidária;
ii) Subsidiária

Há responsabilidade tributária do sujeito passivo (originário) em relação ao qual se verificou o


facto tributário.
A responsabilidade solidária por dívidas tributárias exige a referência ao artigo 512.º do
Código Civil, no qual se estatui que a solidariedade entre os devedores - verifica-se quando
cada um deles responde pela prestação integral e esta a todos libera.
Respondem solidariamente pelos impostos em dívida as pessoas em relação às quais se
verifiquem os pressupostos de facto - artigo 21.º, n.º 1 da LGT.

A responsabilidade subsidiária ocorre quando em relação ao devedor originário se segue um


outro devedor que apenas pode ser demandado em segunda linha – artigo 23.º e 24.º da
LGT.
A responsabilidade tributária por dívidas de outrem é, por via de regra, subsidiária.
A responsabilidade tributária subsidiária efetiva-se por reversão da execução fiscal contra o
devedor subsidiário.

A reversão da execução fiscal destina-se a chamar à execução o responsável subsidiário


quando a administração tributária constate a impossibilidade de pagamento das dívidas da
devedora originária, a partir do património existente na sua esfera jurídica.

O artigo 24.º, n.º 1 da LGT permite a responsabilização dos administradores, diretores e


gerentes das pessoas coletivas executadas, ainda que somente de facto, para tanto exige o
preenchimento dos requisitos previstos, não só em tal normativo, como também no artigo 23.º
do mesmo diploma.

Ainda que a administração tributária promova a reversão, antes da excussão do património da


devedora originária, o artigo 23.º, n.º 3 da LGT determina a suspensão da execução até à
completa excussão do seu património.

Os pressupostos legais da reversão exigem, em primeiro lugar, que se encontre demonstrada


a insuficiência (ou inexistência) do património da devedora originária para o pagamento da
dívida exequenda e acrescidos.
A reversão efetua-se através de ato administrativo no âmbito do processo de execução fiscal,
sendo certo que o artigo 24.º, n.º 1, al. a) e b) da LGT determina as condições de efetivação
da reversão e a repartição do ónus da prova.

Em qualquer dos regimes, incumbe à administração tributária a prova do exercício de facto da


gerência, sob pena de ser valorada contra aquela a ausência de prova em tal sentido.

Objeto da relação jurídica tributária


O objeto da relação jurídica tributária integra os direitos e os deveres que impendem sobre as
partes.
O artigo 30.º da LGT determina que integra a relação jurídica, o crédito e a dívida tributária, o
direito a prestações acessórias de qualquer natureza e o correspondente dever ou sujeição, o
direito à dedução, reembolso ou restituição do imposto, como também o direito a juros
compensatórios e indemnizatórios.
O cumprimento da obrigação principal (pagamento do imposto) e das obrigações acessórias
constituem deveres dos sujeitos passivos.

A obrigação principal reconduz-se ao pagamento de uma quantia certa. Já obrigações


acessórias estão gizadas ao apuramento da obrigação (crédito) de imposto, concretizando-se,
nomeadamente, na apresentação de declarações, na exibição de documentos fiscalmente
relevantes e na prestação de informações – artigo 31.º, n.º2 da LGT.

O retardamento da liquidação imputável ao sujeito passivo legitima a liquidação de juros


compensatórios. O seu fundamento encontra-se no dano sofrido.
Os juros compensatórios distinguem-se dos juros moratórios (atraso no pagamento da
dívida tributária já liquidada e exigível) e dos indemnizatórios (devidos pela AT ao
contribuinte, sempre que se determine em sede de reclamação graciosa ou impugnação
judicial que existiu erro imputável aos serviços (da AT) e que tenha determinado o pagamento
da dívida tributária em montante superior ao legalmente devido.

A relação jurídica tributária tem origem na verificação do facto tributário – artigo 36.º da LGT.
Isto é, sem facto tributário não existe uma verdadeira relação jurídica.

É o facto tributário que gera a obrigação de imposto (estamos perante um facto desta
natureza quando se verificam os pressupostos da incidência do imposto, e.g., prestação de
serviços realizada por um sujeito passivo de IVA).
A matéria coletável constitui a dimensão quantitativa do facto tributário.
Extinção da relação jurídica tributária:
I. Pagamento
II. Caducidade
III. Prescrição

Pagamento
O pagamento (cumprimento voluntário) constitui a regra geral da extinção da relação jurídica
tributária – artigo 40.º da LGT.
O pagamento é efetuado dentro do prazo estabelecido nas leis tributárias, podendo este,
nomeadamente, ser efetuado em moeda corrente, cheque e débito em conta – artigo 40.º, n.º
1 da LGT.
Após o decurso do prazo de pagamento voluntário, inicia-se a contagem dos juros moratórios
(atraso no pagamento da dívida tributária já liquidada e exigível – artigo 44.º da LGT)

Caducidade
A caducidade do direito à liquidação emerge da falta de notificação válida ao contribuinte no
prazo de quatro anos, salvo quando a lei fixar outro – artigo 45.º da LGT.
A contagem é distinta consoante se trate de impostos periódicos ou de impostos de obrigação
única. Nos impostos periódicos, o termo inicial do prazo verifica-se no primeiro dia do ano
posterior ao da verificação do facto tributário – artigo 45.º, n.º 4 da LGT.
Nos impostos de obrigação única, o prazo conta-se a partir da data em que o facto tributário
ocorreu.
O prazo de caducidade do direito à liquidação suspende-se com a notificação ao contribuinte,
nos termos legais, da ordem de serviço ou despacho no início de ação de inspeção externa,
sem prejuízo de se atender à eventual duração da inspeção externa por prazo superior a seis
meses – artigo 46.º, n.º 1 da LGT.
O artigo 46.º, n.º 2 da LGT prevê outros fundamentos de suspensão da contagem do prazo
de caducidade.

Prescrição
O direito à cobrança das dívidas (créditos) tributárias prescreve com o decurso de oito anos,
prazo esse cujo início varia consoante estejamos perante impostos periódicos (termo do ano
em que se verificou o facto tributário) ou impostos de obrigação única (data em que ocorreu o
facto tributário).
O prazo de prescrição interrompe-se com base nos fundamentos descritos no artigo 49.º, n.º
1 da LGT (citação) e suspende-se, por exemplo, com o pagamento a prestações legalmente
autorizado – artigo 49.º, n.º 4 da LGT.
Garantia
O património do devedor (garantia geral) também constitui a garantia dos créditos tributários –
artigo 50.º, n.º 1 da LGT.

IRS – Imposto sobre o Rendimento

Os impostos sobre o rendimento incidem sobre as pessoas singulares e sobre as pessoas


coletivas. Ainda assim, os objetivos da tributação não são idênticos.

 IRS – o objetivo é a redistribuição do rendimento, permitindo taxas progressivas.


 IRC – o objetivo fulcral é a promoção do investimento e do crescimento económico,
com taxas proporcionais e moderadas.

IRS
Incidência subjetiva – titular ou titulares do rendimento em questão – 13.º do Código do
Imposto sobre Rendimento das Pessoas Singulares ("CIRS").
Qual é a unidade tributária?
I. Indivíduo;
II. Unidade marital – agregado familiar

Caso exista agregado familiar, o imposto deve incidir sobre a totalidade das pessoas que o
integram.
Recorde-se que o artigo 104.º, n.º 1 da CRP determina que se deve atender às
necessidades e aos rendimentos do agregado familiar.
Apesar do imposto ser apurado individualmente, em relação a cada sujeito passivo, admite-se
a opção pela tributação conjunta dos rendimentos – artigo 13.º, n.º 2 do CIRS.

 A identidade de domicílio fiscal dos sujeitos passivos durante pelo menos dois anos, ou
durante o período de tributação, faz presumir a existência da união de facto – artigo 14.º, n.º
2 do CIRS

União de facto (art.º 14º CIRS) - A Lei n.º 7/2001, de 11 de maio, alterada pela Lei n.º
23/2010, de 30 de agosto: obriga a ter a mesma morada fiscal há mais de 2 anos ou outra
prova documental fiscalmente aceite.
Incidência subjetiva
O artigo 13.º, n.º 1 do CIRS determina a sujeição ao IRS das pessoas singulares que
residam em território português, abrangendo a totalidade dos rendimentos obtidos no nosso
país, bem como os que sejam conseguidos fora desse território (artig0 15.º, n.º 1 do CIRS) –
âmbito da sujeição.
A determinação da residência é feita com base em diferentes critérios alternativos (artigo 16.º
do CIRS):
I. Que podem ser a permanência por mais de 183 dias (seguidos ou não) em território
nacional em qualquer período de 12 meses, com início ou fim no ano em causa.
II. ii) Ou a disposição nesse período de habitação, sugerindo a residência. Isto é,
recorre-se a um critério complementar de domicílio fiscal. A solução é particularmente
relevante em situações em que um indivíduo não esteja em nenhum Estado durante
mais de 183 dias.
III. Para que um sujeito possa ser considerado residente numa Região Autónoma deve
ter permanecido no território por mais de 183 dias. Para esse efeito, considera-se
que permanece numa Região Autónoma quem aí disponha da sua residência habitual
e nesta esteja registado para efeitos fiscais - artigo 17.º, n.º 2 do CIRS

Quando não possível determinar a permanência, seja atende-se ao critério do principal centro
de interesses. Com base neste critério, residem na Região Autónoma, as pessoas que
residam em território português e obtenham no território da Região Autónoma a maior parte
da base tributável, de acordo com o artigo 17.º, n.º 3 do CIRS.

O princípio da residência tem o seu fundamento no princípio do benefício, nos termos do


qual se presume que quem reside no território de um Estado por mais de 183 dias, colhe
benefícios que justificam a tributação.

3.º Estatuto de sujeição: Residentes não habituais (“RNH”) – beneficiam de


condições especiais de tributação. O regime jurídico dos RNH visa atrair
profissionais qualificados. Consideram-se residentes não habituais, os sujeitos
passivos que, tornando-se fiscalmente residentes, por aplicação de um dos
critérios do previstos no artigo 16.º, n.º 1 do CIRS, não tenham sido tributados
como residentes, em sede de IRS, nos cinco anos anteriores ao ano a que o
imposto respeita - artigo 16.º, n.º 8 do CIRS.
O sujeito passivo que seja considerado residente não habitual tem o direito a ser tributado
como tal, pelo período de 10 anos consecutivos, a partir do ano da sua inscrição em Portugal
– artigo 16.º, números 9 e 10 do CIRS.

Atividades de valor acrescentado – estão definidas, de modo objetivo, na portaria 12/2010,


de 23 de julho, na redação atualmente em vigor.

Os rendimentos líquidos das categorias A e B auferidos por residentes âmbito de atividades


de não habituais no valor acrescentado (Portaria n.º 12/2010, de 7 de setembro), obtidos em
território português, são tributadas em IRS à taxa especial de 20%.
É ainda possível que os sujeitos passivos residentes noutro Estado Membro da UE ou do
espaço económico europeu com o qual exista intercâmbio para troca de informações em
matéria fiscal optem pela tributação em Portugal, como se fossem sujeitos passivos residentes
não casados, desde que tenham obtido em território português 90% dos seus rendimentos
(incluindo os obtidos fora do território português) – art.º 17º-A CIRS.

Um cidadão europeu que trabalhe em Portugal, mas resida no território de outro Estado
Membro (Itália) não deve ser prejudicado na aplicação das regras do imposto sobre o
rendimento (em Portugal) face ao que sucederia se residisse em território português.
Outro princípio na determinação da incidência positiva do imposto é o princípio da fonte ou
da territorialidade – artigo 13.º do CIRS.
Este princípio rendimentos justifica a tributação dos obtidos em Portugal, independentemente
da sua natureza, residência e nacionalidade do sujeito passivo.
Relativamente aos não residentes apenas são tributados os rendimentos obtidos em território
português (artigos 15.º, n.º 2 e 18.º, ambos do CIRS) – âmbito da sujeição.

E quanto aos critérios para determinar a fonte dos rendimentos obtidos? No artigo 18.º do
CIRS o legislador utiliza vários critérios para a determinação da fonte dos rendimentos, o que
aumenta o risco de dupla tributação internacional.

Resumindo...
1. Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares que residam em território português e as
que, nele não residindo, aqui obtenham rendimentos.
2. O imposto é apurado individualmente em relação a cada cônjuge ou unido de facto,
exceto se for feita opção (anual) por tributação conjunta que implica o somatório dos
rendimentos de todos os membros do agregado.
3. A situação relevante é a que se verifica a 31 de Dezembro de cada ano.

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