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DIREITO FISCAL

ATIVIDADE FINANCEIRA PÚBLICA

A existência do Estado implica, necessariamente, a mobilização de recursos


financeiros, que podem ser obtidos por diversas vias. Atualmente, a via mais
importante é, sem dúvida, a fiscal, através da cobrança de impostos.
Os impostos são um método de obtenção de receita para financiar as suas despesas,
através de coletas sobre a propriedade privada ou o rendimento dos indivíduos.
Auto tributação - se um povo decide criar um Estado aceita auto tributar-se.

IMPOSTOS

Os impostos não têm uma finalidade apenas financeira.


Através dos impostos são prosseguidas outras finalidades não financeiras. São
instrumentos aptos a promover a redistribuição da riqueza.

Os impostos são uma das espécies de tributos (artigo 3o no2 da Lei Geral Tributária).
São estações pecuniárias coativas e unilaterais sem caráter de sanção que têm em
vista a persecução do interesse geral.
Assentam na capacidade contributiva, revelada, nos termos da lei, através do
rendimento ou da sua utilização e do património (artigo 4o da Lei Geral Tributária).
Quem tem competência para criar impostos é em princípio o parlamento e o governo
com certa restrição.

Impostos – São unilaterais. O contribuinte que paga o imposto não tem nenhum
direito a obter uma contrapartida específica pelo imposto que pagou.
Exemplo: acesso a serviços de saúde ou a frequência de uma escola pública. Há uma
contrapartida específica.

Taxas – São bilaterais. Paga-se uma taxa para obter algo em troca, um benefício.
(Critério do benefício).
Não tem que haver uma correspondência económica entre o que se paga e o que se
recebe. Exemplo de taxa: a propina.

As contribuições financeiras – Não são taxas nem impostos. Existência de uma


bilateralidade difusa (contrário de bilateralidade direta). Ex: existem contribuições em
vários setores específicos de atividade económica, setores regulares.
 Tipos de impostos (104º CRP)

 das empresas;
 sobre o rendimento;
 sobre o património;
 sobre o consumo.

Rendimento: incidem sobre os acréscimos patrimoniais líquidos obtidos pelo


contribuinte num determinado período de tempo, os quais podem ou não resultar do
exercício de determinada atividade económica produtiva.
Principais impostos sobre o rendimento:
 Imposto sobre o rendimento das Pessoas Singulares (IRS);
 Imposto sobre o rendimento das Pessoas Coletivas (IRC).

Património: tributam o rendimento acumulado pelo contribuinte traduzido em valores


patrimoniais líquidos, bem como as transmissões de determinados bens.
Podem incidir:
 apenas sobre certas transmissões de bens ou sobre o valor fundiário (Que diz
respeito a terrenos, terras; agrário) de determinadas parcelas de património 
impostos analíticos (ou especiais)  o que existe em Portugal (ex: IMI, IMT...)
 ou sobre a generalidade do património  impostos sintéticos (ou gerais)

Consumo: incidem sobre o rendimento despendido pelos contribuintes. Podem ser:


 Gerais (ou sintéticos), por exemplo, o Imposto sobre o Valor Acrescentado
(IVA);
 Analíticos (ou especiais), chamados de impostos especiais sobre o consumo,
por exemplo, o Imposto sobre o Álcool e as Bebidas Alcoólicas (IABA), o
Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP), o Imposto sobre o
Tabaco (IT), o Imposto sobre veículos (ISV) e o Imposto Único de Circulação
(IUC).

Impostos Diretos: são aqueles que incidem sobre as manifestações imediatas (diretas)
de capacidade contributiva (rendimento e património).

Impostos Indiretos: são aqueles que atingem as manifestações mediatas (indiretas) de


capacidade contributiva (como acontece nos impostos sobre o consumo).

Impostos Reais: são aqueles que não atendem à situação pessoal do contribuinte (é o
caso dos impostos sobre o consumo).

Impostos Pessoais: são os que tomam em consideração a situação pessoal do


contribuinte (nível de rendimento, composição do agregado familiar, despesas
suportadas com habitação, saúde, educação, entre outras), como sucede com o IRS.

Impostos Periódicos: incidem sobre manifestações de capacidade contributiva com


caráter estável e duradouro (imposto sobre o rendimento ou impostos sobre o valor
fundiário de bens imóveis).
Impostos de Obrigação Única: incidem sobre manifestações isoladas e instantâneas de
capacidade contributiva (como sucede com os impostos sobre o consumo ou com o
IMT).

Impostos de Quota Fixa: lei estabelece uma importância fixa a pagar pelo contribuinte.
Imposto de Quota Variável: o montante a pagar varia em função da matéria coletável
(normalmente, através da aplicação de um valor percentual – uma taxa específica – à
matéria coletável).

Impostos Estaduais: os impostos em que o sujeito ativo é o Estado.

Impostos Não Estaduais: aqueles em que o sujeito ativo é outro ente público distinto
do Estado.

Impostos Proporcionais: os impostos de taxa fixa, isto é, são impostos em que a taxa
aplicável não se altera em função do valor da matéria coletável. Exemplo: IVA.

Impostos Progressivos: os impostos em que a taxa aplicável vai aumentando à medida


que se eleva o valor da matéria coletável. Exemplo: IRS.

Impostos Regressivos: os impostos em que a taxa aplicável diminui à medida que


aumenta o valor da matéria coletável.

Impostos Comutativos: os impostos que visam corrigir determinadas falhas de


mercado associados à conduta legítima dos agentes económicos. Estes obrigam ao
pagamento pelos benefícios obtidos e à internalização de externalidades.

Impostos Restitutivos: os impostos que visam anular e confiscar os ganhos ilícitos


obtidos pelos particulares.
Em ambos os casos o objetivo é restaurar a distribuição que resultaria naturalmente
de um mercado a funcionar de acordo com a justiça transacional ou comutativa.

Impostos Distributivos: os impostos que visam corrigir a distribuição do rendimento


operada pelo mercado, de acordo com uma ideia de justiça social distributiva. São
Punitivos os impostos que visam desencorajar comportamentos indesejáveis e
antissociais, de acordo com uma lógica de justiça retributiva.

RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL COM OUTROS RAMOS

Direito Constitucional: Quando alguém é obrigado a pagar impostos. A constituição


estabelece o fundamento, o objetivo e os limites da tributação, assim se justificando
uma análise cuidada do direito constitucional tributário. Alguns dos princípios gerais
constitucionais como o princípio da igualdade, princípio da legalidade, princípio da
segurança jurídica tem implicações fortíssimas no direito fiscal.
Direito Internacional: No Direito Internacional há 2 critérios fundamentais para
alguém pagar IRS. Ou reside em Portugal ou obtém rendimentos em Portugal. Um
problema que o Direito Internacional vai resolver, através de tratados internacionais
específicos, que são as convenções para evitar a bitributação. Essas convenções são
tão importantes e abundantes que para facilitar às negociações entre os Estados que
pretendam celebrar esse tipo de Tratado existem modelos internacionais (com
estruturas, regras fundamentais e princípios fundamentais já estabelecidos) de
convenções que os Estados podem seguir. Portugal segue o modelo da Convenção da
OCDE.

Direito Da UE: Todas as leis de Direito Fiscal têm de estar em conformidade com o
Direito da União Europeia. Mesmo em impostos sobre o rendimento, onde a soberania
continua a ser dos Estados, há um limite, as regras em matéria de impostos diretos,
não podem restringir o mercado europeu e as liberdades fundamentais. Apesar dos
estados-membros serem soberanos na definição das suas regras fiscais, não podem
aprovar ou manter em vigor regras que colidam com essas liberdades fundamentais e
que restrinjam o mercado interno do mercado europeu. Exemplo: O IVA foi criado a
partir de uma diretiva da UE. Foi uma condição para fazer parte da UE, ter uma
estrutura de tributação no consumo harmonizada com os países da UE.

Direito Administrativo: Integra a generalidade das normas que disciplinam o


cumprimento das obrigações tributárias. O Direito Fiscal acabou por se afirmar como
um subsistema do Direito Administrativo. O procedimento tributário é uma espécie do
procedimento administrativo, pelo que os princípios do procedimento administrativo
se aplicam, nos seus elementos essenciais, às relações entre a administração fiscal e os
contribuintes. É a Administração Pública que liquida e cobra impostos, fiscaliza, etc. É
necessário um órgão da administração que assegure esse funcionamento.

Direito Civil: As regras para a interpretação da lei fiscal estão presentes no Código
Civil. Em princípio aplicam-se as regras de interpretação presentes no artigo 9o do
Código Civil. Muitos conceitos que utilizamos em direito fiscal são os conceitos de
direito civil. Os elementos da relação jurídica tributária (Direito Fiscal) são os mesmos
elementos da relação jurídica Civil.

Direito Penal: A lei tipifica como crimes determinadas infrações tributárias,


consideradas particularmente graves, puníveis com pena de prisão ou multa. Exemplo:
fuga ao fisco. Os princípios fundamentais são de direito penal - proibição da
retroatividade, princípio de tipicidade, etc. Portanto, a estrutura e os princípios
sancionatórios de Direito Fiscal advêm do Direito Penal.

Direito Comercial/Sociedades Comerciais: No domínio da tributação das empresas ele


assume particular relevo, designadamente no que concerne à estrutura das empresas
e a sua transformação, às alterações de capital e às suas relações com os sócios
(obrigações de entrada, distribuição de lucros, etc....).
Exemplo: Se uma sociedade anónima tem lucro, esse lucro vai ser tributado em IRC.
Direito do Trabalho: Quem obtiver rendimentos provenientes do trabalho tem que
pagar impostos. No IRS temos várias normas especificas que também levam para o
direito do trabalho. Quem cessa funções numa empresa, recebe uma indemnização.

RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL COM OUTRAS DISCIPLINAS

Economia: O Direito Fiscal encontra-se intimamente relacionado com a economia,


quer porque o nível de arrecadação dos tributos está dependente da atividade
económica desenvolvida, quer porque as opções políticas em matéria tributária afetam
diretamente o crescimento económico e o comportamento das pessoas (singulares e
coletivas).

Contabilidade: Em nome do princípio da tributação do rendimento real das pessoas


singulares e coletivas, o apuramento do lucro tributável deve, em princípio, fazer-se
com base na contabilidade dos sujeitos passivos, eventualmente corrigidos com base
em normas jurídico-tributárias.

A CONSTITUIÇÃO: PRIMEIRAS COORDENADAS DE REFLEXÃO


(1º e 2º CRP)

Limitação do poder político – num Estado de Direito é crucial garantir que não há
nenhum órgão do Estado com excesso de poder. Equilíbrio de poderes;
Temos um conjunto de interações entre os órgãos de soberania, uns controlam os
outros: parlamento eleito, preseidente da republica e os impostos que são
fundamentas, indispensáveis, para financiar o estado, mas representam uma
intromissão do Estado na esfera individual de cada cidadão, em sua liberdade e em seu
património.
A Constituição prevalece sobre as leis, embora já que temos que nos sujeitar primeiro
às leis da UE e do Direito Internacional;
A constituição deve ser com o um fio condutor com valores e princípios estruturantes
os quais se refletem em vário artigo, em várias partes da constituição. Quando
estudamos a constituição fiscal, artigos da constituição dedicado a matéria de
impostos, devemos interpretá-los e compreendê-lo no contexto da constituição. Deve
haver uma conexão de artigos.

 Fundamentos Constitucionais da Tributação:

Qualquer Estado necessita de recursos financeiros suficientes para realizar as tarefas


determinadas pela constituição, para dispor desses recursos financeiros necessita de
desenvolver uma atividade financeira publica, arrecadação de receita e realização de
despesas. Na maior parte dos casos a maior fonte de refeita são os Impostos.
Auto tributação: No taxation without representation - Estado de direito que em sua
atividade financeira pública é disciplinada por normas jurídicas correspondente ao
direito financeiro público (amplo)
Um povo que aceita criar um Estado, aceita a Auto tributação (aceita abdicar de uma
parcela de seu património/ rendimento, para financiar o Estado que tem um conjunto
de tarefas de interesse comum).

 Estados Fiscais – Estados financiados principalmente por impostos.


 Estados Tributários – Estados financiados principalmente por impostos, taxas e
contribuições.
 Estados Patrimoniais – Estados financiados principalmente por receitas
patrimoniais.

FINALIDADES DO SISTEMA FISCAL PORTUGUÊS


(103º, Nº1 CRP)

PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS

Principio da Universalidade: 12º CRP // O dever de pagar impostos é um dever


fundamental, portanto, o princípio da universalidade tem todo o sentido em matéria
tributária, por razões financeiras e de justiça tributária. Todas as pessoas estão sujeitas
ao dever de pagar impostos. Mas nem todos as pessoas pagam impostos, há isenções
possíveis no pagamento de impostos, situações que levam a que certas pessoas não
paguem impostos, mas não é pela exclusão do dever de pagar impostos, que essas
pessoas se beneficiam de um regime mais favorável em função de algum interesse
publico ou critérios constitucionais admissíveis. Exemplo: a questão dos critérios da
residência e da fonte permite excluir do dever de pagar impostos os cidadãos nacionais
não residentes que não aufiram qualquer rendimento em território nacional.

Principio da Igualdade Tributária: 13º CRP // Ninguém pode ser obrigado a pagar
mais ou menos impostos do que uma pessoa “igual”. As regras fiscais não podem ser
diferentes dependendo da religião, raça, sexo, etc... Dito isto, proíbe-se a
descriminação e do arbítrio, há igualdade perante os cargos públicos e o princípio da
capacidade contributiva como critério operativo de concretização do princípio da
igualdade e da justiça fiscal. Para se conseguir a justiça fiscal e igualdade material
quem está numa situação igual, deve ser tratado de maneira igual e quem está numa
situação diferente, deve ser tratado de maneira diferente. Qual é o critério legítimo da
diferenciação? É a capacidade contributiva / critério ou princípio da capacidade
contributiva, é aquele através do qual se concretiza o princípio da igualdade em
matéria fiscal ( 4º LGT).

Principio da Legalidade Tributária: 103º nº2 + 165º nº1 i) CRP + 8º Lei Geral Tributária
Primeiro ponto: É preciso saber a situação da vida social, descrita na lei cuja verificação
obriga ao pagamento de certo imposto.
A lei tem de descrever / detalhar, os factos, caso ocorram, que obrigam ao pagamento
de certo imposto. O legislador tem de descrever de forma clara e detalhada para que
não haja problema em entender a lei e que não ocorram lacunas. Para uma segurança
tributária. (exemplo: 2º IRS). Os impostos têm que estar na lei e são criados por lei,
logo determina-se:
 Incidência
 Taxa
 Benefícios fiscais
 Garantias dos contribuintes

Também existem sob-principios (165º CRP):


 Prevalência da lei
 Precedência da lei
 Reserva da lei
 Tipicidade

Princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança dos cidadãos: é uma


garantia de Estabilidade, Previsibilidade, clareza, publicidade (59º, nº3 LGT) e proibição
da retroatividade autentica das normas fiscais desfavoráveis (103º CRP). O Estado
ordenamento jurídico, a ideia é de que os cidadãos devem poder conhecer as regras
(publicidade) antecipadamente para poder respeitá-las (previsibilidade) e se manter
em vigor durante algum tempo (estabilidade), sendo redigida de forma a ser
compreendida pelos destinatários (clareza).

Principio da proporcionalidade: A retrospetividade é aceitável a menos que seja


excessiva de acordo com a proporcionalidade, ver se a medida é adequada, necessária
e proporcional em sentido restrito. A proibição do confisco.

EVASÃO E FRAUDE FISCAL

É fundamental quando se discute a igualdade e justiça tributária. O problema da fuga


aos impostos fez com que o Estado adotasse medidas para combater este problema.
 Tax avoidance: Aproveitam-se de imprecisões da lei, aproveita de forma
abusiva a lei para chegar a um resultado fiscal mais favorável. Não violam
diretamente a lei. Não se pode dizer que é legal, mas também não se pode
dizer que é ilegal, é a zona de fronteira entre o lícito e o ilícito.
(comportamentos extra legem)
 Tax evasion: O contribuinte infringe diretamente a lei. (conduta contra legem)
 Tax fraud: fraude fiscal (Artigo 103o do Regime Geral das Infrações Tributárias)

Clausula Geral Anti-Abuso: 38º, nº2 LGT // Pretende combater o planeamento fiscal,
particularmente dos contribuintes que se especializam em evitar ou minimizar os
impostos sem infringir a letra da lei, embora atentando contra o seu espírito. A mesma
repousa na verificação da insuficiência da existência de normas fiscais específicas e
detalhadas para combater eficazmente a elisão fiscal, sendo que sem este combate a
confiança pública no sistema fiscal, na administração fiscal e nos tribunais tributários é
definitivamente posta em causa, com elevados custos democráticos e constitucionais.
o imposto acaba por incidir, não sobre as transações que os contribuintes
formalmente realizaram, as transações de elisão, mas sobre as transações que eles
hipoteticamente celebrariam para a obtenção do efeito económico pretendido.
Ou seja, a cláusula geral anti-abuso vem permitir à autoridade tributária tributar o
sujeito não pelo contrato que celebrou, mas aquele que em condições normais teria
celebrado, considerando o verdadeiro contrato que queria realizar.

CAPACIDADE CONTRIBUTIVA
(4º, Nº1 LGT)

A tributação das pessoas singulares está subordinada ao princípio da capacidade


contributiva. Este princípio implica a tributação do rendimento global líquido, a
personalização do imposto e a consideração das necessidades do agregado familiar.
Consiste na capacidade económica de pagar impostos. Como é que alguém revela
capacidade contributiva? Através do rendimento, património e consumo.

INTERPRETAÇÃO DA LEI FISCAL


(11º LGT + 9º, nº1 CC)

A norma jurídica não corresponde necessariamente ao texto, há outros elementos que
através dos quais chegamos à norma.Para chegar na norma não basta o texto (Art.9°,
n°1 CC). Este artigo é uma exceção que vigora no direito civil. Nem tudo no direito
fiscal está sujeito a reserva de lei, mas fora disto em lei não há reserva de lei fiscal.

Elementos da interpretação:
 Textual-gramatical;
 Histórico-genérico;
 Lógico-sistemático;
 Teleológico-racional.

 Integração de lacunas e analogia (11º, nº4 LGT)

Não se admite a integração analógica quando em causa estejam os elementos


fundamentais dos impostos, enunciados no artigo 103o no2 da CRP. Portanto, a
analogia não pode violar os princípios da reserva de lei e da tipicidade da lei fiscal. No
entanto, admite-se a interpretação extensiva. Procura-se o verdadeiro sentido de um
conceito utilizado pelo legislador, sendo compatível com a reserva de lei. Neste caso
da analogia, pretende-se preencher uma lacuna mediante a aplicação, a um facto não
abrangido pelos conceitos do facto tributário, de princípios aplicáveis a este. O
legislador fiscal tem que expressamente dizer quais são os factos sujeitos a tributação.
Isso leva a que a lei tenha de ser muito detalhada, para não deixar de fora factos que
quer tributar. Se o legislador se esquecer de certo facto a administração tributária não
pode vir aplicar analogia.
 Interpretação da lei fiscal pela administração tributária

Importância da interpretação uniforme da lei fiscal pela administração tributária;


Eficácia meramente interna dos despachos,instruções,circularese outros similares;
Prevalência da lei; O problema dos conceitos vagos e indeterminados; Divergências
interpretativas e garantias dos contribuintes: a importância da tutela jurisdicional
efetiva.
É frequente a AT emitir ofícios circulares que servem para uniformizar a aplicação da
lei fiscal pelos seus vários serviços e localidades, esclarecendo qual é o sentido de certa
norma e impõe-se somente como orientação para os serviços; só vinculam os serviços
da AT, não tem valor de lei, portanto não vinculam o contribuinte. Em última instância
quem vai decidir, havendo oposição interpretativa, são os tribunais. AT vai ter para
fazer como entende, ou seja, quanto mais precisa for a lei menos margem a AT tem
para interpretar num sentido que não seja coincidente com o do contribuinte.

 Interpretação da lei em conformidade com fontes hierárquicas superiores


(Constituição, Direito da UE, Direito Internacional)

Se o intérprete chegar a 2 sentidos possíveis, 1 conforme com a CRP e outro


desconforme, deve prevalecer o sentido mais conforme com a CRP ou o único
conforme a CRP. Isto resulta da superioridade hierárquica da constituição face à lei e
traduz também uma ideia de aproveitamento da norma, isto é, antes de concluirmos
que a norma é inconstitucional (sentido 1), devemos ver se não é possível chegar a um
sentido (sentido 2) para aquela norma que a torne compatível com a CRP. O que
estamos a dizer para a CRP vale também para o DUE e para o DI, isto é, fontes
hierarquicamente superiores; se temos uma lei que tem de respeitar a CRP, o DUE e o
DI e há mais do que um sentido possível devemos concluir pelo sentido mais conforme
não só com a CRP, mas também com o DUE e o DI sob pena de chegarmos à conclusão
de que a norma é inválida.

LEIS FISCAIS INTERPRETATIVAS

 O legislador diz qual o sentido da interpretação da norma, e é o único que pode


fazer uma interpretação autêntica em matéria fiscal.
 O legislador fixa um certo sentido interpretativo para determinado texto.

O problema é que as leis interpretativas se integram nas leis interpretadas o que


significa que na prática esta norma interpretativa em matéria fiscal vai pretender
produzir efeitos desde a entrada em vigor da norma interpretada. (art.13° CC).
A norma interpretativa produz efeitos desde a entrada em vigor da norma que se
refere (norma interpretada). As leis fiscais interpretativas não são retroativas.
Estas normas interpretativas em matéria fiscal surgem quando há normas legais em
matéria fiscal mal feitas ou em que o resultado é contrário ao pretendido, em que a AT
vai perdendo os processos todos em tribunal e a forma do Estado ganhar os processos
é dizer que aquilo que realmente se quis com a norma era outra coisa. Procura-se de
certa forma através de uma lei interpretativa forçar a mão do legislador, portanto faz
todo o sentido que a lei deve valer para o futuro.
RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA
(1º, nº2 LGT)

Elementos da relação jurídica tributária:


 Sujeito;
 Objeto;
 Facto;
 Garantia.

Sujeitos: Administração tributária e as pessoas singulares e coletivas + Personalidade


tributária (15º LGT) + Capacidade tributaria (16º LGT) + Sujeito ativo e Sujeito passivo:
contribuinte; substituto; responsável (18º, nº1 e 3 LGT).

Contribuinte direito – aquele sobre quem recai a obrigação de pagar o imposto.


Exemplos:
IRS – titular do rendimento
IVA - consumidor
IMI – proprietário do imóvel

Contribuinte substituto – artigo 20o da Lei Geral Tributária


- Substituição tributária
- Concretiza-se através do mecanismo de retenção na fonte (artigo 34o de LGT)
- Não é o contribuinte que faz a tributação, é um terceiro (por exemplo: a entidade
patronal)
Exemplo: a entidade patronal está obrigada a reter uma percentagem do salário do
trabalhador e entregar à segurança social como pagamento antecipado do IRS desse
trabalhador.

Objeto: são os direitos e deveres/obrigações.


Direitos  direito à dedução, reembolso...
Deveres/Obrigações  pagamento de dividida tributária; apresentação de
declarações, exibição de documentos fiscalmente relevantes e a prestação de
informações.

Facto: É decisivo, é a situação da vida social descrita na lei, cuja verificação faz
nascer a obrigação tributária.
Permanência e alteração da relação jurídica tributária - quando se verifica um facto
tributário determinado, seja auferir um salário ou obter juros de um depósito a prazo,
mas quando se verifica aquele facto determina um conjunto de implicações jurídicas e
não pode qualquer uma das partes nem a administração nem o sujeito passivo alterar
nem mudar.
Condicionamento e contratualização - Há casos em que a lei permite celebração de
contratos fiscais.
Extinção (pagamento - via normal; caducidade do direito à liquidação-exceção;
prescrição da dívida/ prestação tributária - exceção)
 Responsabilidade tributária

Responsabilidade subsidiaria: 23º LGT // Só responde numa 2ª linha ou num 2º


momento pela dívida tributaria, ou seja, quem responde 1º é o responsável originário
e só se este não pagar a divida e comprovadamente não tiver meios para pagar a
divida (património, dinheiro...) é que é chamado a responder o responsável
subsidiário. É uma ordem de precedência, 1º o originário e depois o subsidiário.

Responsabilidade solidária: 21º LGT // quando 2 ou mais pessoas respondem ao


mesmo tempo pela totalidade da dívida. Exemplo: existem vários coproprietários de
um imóvel, quem vai pagar o IMI são todos os coproprietários.

Garantia: 50º e ss LGT // Uma das vias que a AT tem a sua disposição são as chamadas
providências cautelares, para garantir a cobrança dos montantes em divida. São
garantias que protegem a AT enquanto credor daqueles montantes.

EXTINÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA

Em vias normais é através do pagamento:


Ex.: Verifica-se o facto tributário, em virtude disso tem a obrigação de pagar o imposto
e ao pagar o imposto essa relação jurídica se extingue.

Porém há outras vias possíveis de extinção da relação jurídica tributária:


O que caduca é o direito, e o que prescreve é a divida ou prestação tributária (45º
LGT).
Quem faz a liquidação, regra geral, é a AT  Liquidação do imposto é o apuramento
do montante do imposto, é o cálculo do imposto. Só se pode pagar depois da
liquidação, do quanto devemos pagar.
Se por alguma razão a Autoridade tributária não proceder a liquidação do imposto no
prazo que tem para efeito e deixar transcorrer o prazo de 4 ANOS (45°, n°1 LGT) sem
notificar o contribuinte da liquidação de certo imposto o direito que a AT tem de fazer
essa liquidação caduca. A morte não extingue a relação jurídica tributária, o
património que houver até o limite da herança a divida tem que ser paga.A insolvência
também não extingue a relação jurídica tributária.
45º LGT – caducidade
48º LGT – prescrição

O sujeito passivo sabe quanto tem que pagar, mas não paga. Não pagando a AT
instaura um processo de execução fiscal para identificar e penhorar bens do
contribuinte se necessário, mas o contribuinte pode não ter bens em seu nome e a AT
não conseguindo encontrar bens ou rendimento que permita cobrar os montantes
devido tem o prazo limite de 8 ANOS para concluir esse processo de cobrança.
Passados 8 anos e a AT não conseguiu fazer essa cobrança considera-se a dívida
tributária prescrita, extinguindo-se dessa forma a relação jurídica tributária.
IMPOSTOS EM ESPECIAL

Os impostos sobre o rendimento incidem sobre as pessoas singulares e as pessoas


coletivas. No entanto, os objetivos prosseguidos relativamente a uns e a outros são
diferentes.Enquanto no caso do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares o
objetivo da redistribuição do rendimento tende a prevalecer, justificando a imposição
de taxas progressivas, no caso da tributação das pessoas coletivas é dominante o
objetivo da promoção do investimento e do crescimento económico, justificando taxas
tendencialmente proporcionais e moderadas.

O CONCEITO DE RENDIMENTO TRIBUTÁVEL

Rendimento – produto: conceito restrito de rendimento // o rendimento consiste no


valor dos acréscimos patrimoniais líquidos, obtidos num determinado período de
tempo, em resultado do exercício de determinada atividade produtiva. Ou seja, o
rendimento corresponde ao valor da remuneração dos fatores de produção, a qual
pode assumir a forma de salários, rendas, juros e lucros.

Rendimento – acréscimo: conceito lato de rendimento // Este conceito tem


subjacente a ideia de capacidade contributiva, uma vez que se considera como
rendimento qualquer acréscimo patrimonial líquido independentemente de ter sido
originado através do exercício de uma atividade produtiva ou não.
Exemplo: ganhos provenientes de lotarias  Pelo conceito restrito estes ganhos não
estariam sujeitos a tributação, mas pelo conceito lato estes ganhos já estariam sujeitos
a tributação.

Rendimento real: É o rendimento apurado, ou seja, o rendimento que o contribuinte


efetivamente auferiu (rendimento real efetivo), ou o que se presume que o
contribuinte obteve (rendimento real presumido). Relacionado com o princípio da
capacidade contributiva, está o princípio da tributação segundo o rendimento real.
Artigo 104º nº2 da CRP – as pessoas devem ser tributadas segundo o seu rendimento
real. O tribunal constitucional tem considerado que este princípio é uma exigência
constitucional que se aplica a toda a tributação do rendimento, não se limitando à
tributação do rendimento das empresas. É diferente do rendimento normal 
“Rendimento médio de uma série de anos, que um agente económico poderia obter
operando em condições normais” ou no “rendimento de determinado ano, que
poderia obter- se em condições normais”. O que resulta do artigo 104o no2 da CRP é
que a tributação das empresas deve, em princípio atender ao rendimento real das
mesmas (efetivo ou, em alternativa, presumido). Só excecionalmente se admite a
consideração do rendimento normal.

Rendimento liquido: Consequência dos princípios da capacidade contributiva e da


tributação segundo o rendimento real é o princípio da tributação segundo o
rendimento líquido ou o princípio da tributação segundo o rendimento líquido
objetivo, nos termos do qual apenas o montante líquido constitui (verdadeiro)
rendimento para o pagamento de impostos.
Este princípio justifica que ao rendimento total auferido sejam deduzidas despesas
específicas com a sua obtenção, uma vez que essas despesas constituem uma
expressão negativa da capacidade contributiva, desde que se revelem indispensáveis à
produção ou obtenção do rendimento.

PROGRESSIVIDADE VS PROPORCIONALIDADE FISCAL

A progressividade das taxas do imposto sobre o rendimento tem sido baseada em


argumentos igualitários (os ricos devem pagar mais do que os pobres) e utilitários
(presume-se que a utilidade marginal dos rendimentos decresce à medida que eles
aumentam, numa curva bastante inclinada).
A doutrina defende que a progressividade das taxas do imposto de rendimento é
suficiente para aferir da distribuição de recursos, oportunidades, rendimento ou bem-
estar na sociedade.
Da ideia de modelação do imposto sobre o rendimento de modo a torná-lo mais apto a
promover o crescimento económico e a criação de emprego, com a relegação da tarefa
redistributiva para a realização seletiva de despesa pública, surgem a propostas de
adoção de modelos de tributação proporcional do rendimento (flat tax).

Flat tax: O modelo de flat tax inicialmente proposto (modelo de Hall-Rabushka)


postulava a aplicação de uma taxa nominal única a todo o rendimento superior a
determinado limite mínimo, abaixo do qual haveria isenção. Este modelo também
pressupunha a abolição de outras isenções ou benefícios fiscais, o que permitiria
promover a eficiência e a simplicidade fiscais. Este modelo é habitualmente criticado
pelo facto de a taxa marginal de tributação diminuir para os detentores de
rendimentos mais elevados e aumentar para os rendimentos médios (os rendimentos
mais baixos ficariam isentos). Tal implicaria uma sobrecarga fiscal da classe média e
colocaria em causa a igualdade vertical.

IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS SINGULARES


(IRS)

Incide sobre o rendimento global líquido, estando sujeito ao princípio da capacidade


contributiva.
Trata-se de um imposto multinível, na medida em que é de recorte nacional embora
com forte influência europeia.
Tem natureza multifuncional, estando estruturado de maneira a poder servir, a um
tempo, finalidades fiscais, sociais, administrativas e regulatórias.

É um imposto:
 Direto
 Pessoal
 Periódico
 Único
 Progressivo
Direto: atinge diretamente a capacidade contributiva independente da utilização que
lhe dê.

Pessoal - tem em conta as circunstâncias pessoais e familiares dos contribuintes.

Periódico – é pago anualmente.


Único - todos os rendimentos das pessoas singulares são tendencialmente tributados
em IRS; o legislador acaba por definir algumas exceções (rendimento dos jogos,
lotarias).

Progressivo - tendencialmente progressivo, quanto mais elevado o rendimento maior


é a taxa aplicada; Exceção- rendimento de capitais são tributados com uma taxa
proporcional de 28%.

A questão da base subjetiva do imposto é o que a doutrina especializada discute sob a


epígrafe da unidade tributária. Trata-se de identificar o titular ou titulares do
rendimento em questão (artigos 13o e seguintes do CIRS). Individualistas defendem
que o indivíduo é a unidade tributária por excelência. Já os comunitaristas consideram
a unidade marital ou, mais amplamente, o agregado familiar. As soluções variam de
Estado para Estado. A relevância fiscal do agregado familiar deve ser compreendida à
luz da proteção constitucional da família. Nos termos da constituição incumbe ao
Estado, neste domínio, entre outras coisas, ter em conta os encargos familiares para
efeitos fiscais e de atribuição de benefícios sociais (artigo 67o no2, alínea F da CRP). No
mesmo sentido o artigo 104o no1 da CRP estabelece que a tributação do rendimento
das pessoas singulares deve atender às necessidades e aos rendimentos do agregado
familiar.

 Delimitação da incidência pessoal

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