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Fiscalidade

“Com os impostos pagamos civilização”

As receitas públicas por excelência são os impostos e as taxas. Contudo, a visão que
muitos têm sobre os impostos não é necessariamente positiva, vendo-os como uma
ameaça dos Estados aos seus cidadãos.

Contudo, é Wendell Holmes, que afirmou que “Impostos são o que pagamos por
uma sociedade civilizada”, vendo aqui os impostos como uma forma de
contribuirmos em conjunto para bens indispensáveis como a saúde, segurança,
instrução e ambiente.

O imposto: um instrumento de liberdade

Apesar de toda esta controvérsia e ultrapassada a ilusão de que se poderia viver num
Estado Patrimonial no qual, suprimida a propriedade privada, o património público
conseguiria alcançar os meios para a satisfação das necessidades públicas, são as
contribuições dos privados, que permitem o funcionamento do Estado. Do Estado
Patrimonial passou-se ao Estado Fiscal, assente num contrato entre os representantes e o
poder político.

Rendimento, património ou consumo?


1) Tributação do rendimento

Os impostos sobre o rendimento tendem a ter uma importância especial, desdobrando-se


entre rendimento pessoal e rendimento empresarial. Porém, a noção de rendimento é a
de o produto obtido durante certo período através da inserção da atividade produtiva.
Mas, numa definição mais lata, o rendimento corresponde ao acréscimo patrimonial num
certo período de tempo, subtraído da riqueza no início do período (esta é a aceção aceite
no Código do IRS).

O problema da tributação do rendimento singular levanta a questão de saber se os


contribuintes devem ser considerados de forma isolada/integrados numa unidade familiar.
Mas, a CRP é clara no sentido da tributação familiar, art.104º/1 CRP sendo este preceito
concretizado através do art.6º Lei Geral Tributária.

No que respeita ao imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas, este é criticado
por representar uma forma de dupla tributação. Tradicionalmente falava-se em tributação
do lucro real (aplicado às grandes empresas com contabilidade organizada) por oposição
ao rendimento presumido (assente em indicadores indiretos e aplicável às pequenas e
médias empresas).

A conceção de rendimento privilegiada legislativamente é alargada, fazendo-o


corresponder à variação do ativo líquido durante um certo período de tempo, art.3º/2
Código do IRC.

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Freitas Pereira explicita a base tributável em termos fiscais:

Base Tributável do IRC


Resultado Contabilístico + Variações patrimoniais positivas – Variações patrimoniais
negativas = Variações do património Líquido + Correções positivas (valores a acrescer) –
Correções negativas (valores a deduzir) = Lucro Tributável/Prejuízo para efeitos fiscais

2) Tributação do património

Os impostos também podem organizar-se em torno do património. De todas as formas de


tributação do património é o imposto sobre o património global a suscitar mais
controvérsias.

Se olharmos para o sistema fiscal português, encontramos um conjunto de impostos


quase todos ligados à administração local e que completam as receitas obtidas com base
em taxas municipais. São eles o IMI, o IMT, Imposto de Selo (se o beneficiário for
particular) e o IRC (se for uma pessoa coletiva).

3) Tributação do consumo

Este é o último modelo de tributação, sendo este, em regra, um imposto suportado pelo
consumidor final.

A tributação de consumo divide-se entre impostos gerais sobre as transações (atingem a


totalidade da despesa, independentemente da natureza) e impostos parcelares de
consumo (incidem apenas sobre a despesa de determinado produto).

Impostos sobre as transações


Impostos únicos Impostos em cascata
Que apenas atingem uma fase do Incidem em todas as fases do circuito
circuito entre produtor e consumidor. de produção e comercialização,
tributando o valor acrescentado,
deduzido do pago numa fase anterior.

Classificação dos impostos

Devemos antes de mais consolidar certos aspetos acerca da fiscalidade. Temos, assim,
várias classificações que facilitem o entendimento da realidade fiscal.

1º critério de base administrativa 2º critério de uma base de consideração


de efeitos económicos ligados aos
impostos
Impostos diretos Impostos indiretos
Pressupõe a prévia inscrição dos tributos Entendem que estes impostos são como
diretos num rol nominativo que não existia os impostos suscetíveis de repercussão
para os indiretos. Estes ao contrário dos sobre terceiros, o que não pode acontecer
indiretos, exigiam um procedimento de nos impostos diretos.

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lançamento.

3º critério (dominante em Portugal) assenta na forma como é revelada a manifestação


de capacidade contributiva
Os impostos diretos são aqueles em que essa manifestação é valorada no momento da
criação e indiretos aqueles que vão atingir manifestações da capacidade contributiva,
como a utilização da riqueza/rendimento.

Imposto reais Impostos pessoais


Considera a carga tributável de um modo Um imposto que integra para a definição
isolado. da carga fiscal a suportar elementos
resultantes da condição da vida pessoal
(ex: estado familiar)

Quota fixa Quota variável


A taxa aplicável mantém-se constante em A taxa aplicável modifica-se tornando-se
face de alterações de rendimento. menor nos impostos regressivos e mais
alta nos progressivos.

Impostos Periódicos Impostos de obrigação única


Recaem sobre situações reveladoras de Atingem um ato isolado (ex: transação).
uma certa estabilidade no tempo do
ato/facto originário da tributação.

Impostos Principais Impostos Acessórios Impostos Dependentes


O imposto é válido por si São calculados em função Imposto vê a sua existência
mesmo sem exigência de da coleta do imposto ligada à existência de outro
qualquer outra figura principal, sob a forma de imposto prévio.
tributária prévia. aditamento.

Impostos estaduais Impostos não estaduais


1ª ideia: prende-se com a distinção consoante o sujeito ativo da relação jurídica do
imposto seja o Estado ou outra entidade estadual como a autarquia.
2ª ideia: prende-se com consoante a receita obtida seja afetada ao orçamento do
Estado ou de outras entidades, falando-se em impostos centrais, regionais e locais.

Em suma, a classificação fundamental é a dos impostos sobre o rendimento, sobre o


consumo e sobre o património.

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