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I. Introdução
1. Direito Fiscal, Fiscalidade e Ciência e Técnica Fiscal
‣ O DF é um ramo de Direito que tem como objeto o conceito de imposto e as normas jurídicas
que o regulam.
‣ O conteúdo do DF é frequentemente confundido com a Fiscalidade e com a Ciência e Técnica
Fiscal.
‣ Distinção entre DF e CTF: a CTF encara questões relativas aos impostos como realidades
sociais meramente fáticas, e não como um dever-ser, com generalidade, abstração e
imperatividade.
‣ Distinção entre DF e Fiscalidade:
O DF tem enfoque jurídico e a Fiscalidade apenas trata dos aspetos jurídicos dos
impostos, não a título principal, mas apenas como uma das várias dimensões em que
se empreende a abordagem ao conceito de imposto
A Fiscalidade tem um sentido mais abrangente, tem um posicionamento
multidisciplinar onde convoca aspetos jurídicos, económicos, políticos e técnicos. A
tónica é posta, no entanto, nos fenómenos económico-financeiros
2. Direito Fiscal
‣ O DF surge como ramo de direito independente no início do século XX, mas a figura do
imposto é bem mais antiga.
‣ O DF é um ramo do Direito Público:
Através das suas normas são prosseguidos predominantemente interesses públicos,
relacionados com o financiamento das despesas públicas
Geram-se relações entre o Estado e os particulares, tendo o Estado jus imperii
(poder de tributar)
‣ Nem sempre foi assim, houve tentativas de reconduzir o Direito Fiscal ao Direito Privado
devido à estrutura obrigacional da relação jurídico-fiscal entre autoridade tributária e sujeitos
passivos.
‣ O DF integra vários tipos de normas: de incidência; de procedimento e processo fiscal; de
direito penal e contra-ordenacional fiscal. Destacam-se neste âmbito as normas relativas: à
soberania fiscal, à formulação das leis de imposto; à regulação do nascimento,
desenvolvimento e extinção do vinculo obrigacional entre o Estado e os outros entes públicos
e cidadãos contribuintes, previsão de sanções, etc.
‣ O DF tem uma forte relação com outros ramos de direito, sendo por isso um direito de
sobreposição. A relação mais próxima é com o Direito Financeiro ou o Direito das Finanças
Públicas:
O Direito Financeiro é o conjunto de normas que disciplinam a atividade financeira
do Estado e demais entes públicos, estendendo-se por 3 setores: receitas, despesas e
orçamentos. O direito das receitas divide-se em:
Direito patrimonial – receitas patrimoniais dos entes públicos: património
mobiliário, domínio rural e das explorações industriais e comerciais do
Estado;
Direito do crédito público – disciplina o recurso ao crédito pelas entidades
públicas
Direito Tributário – regula os impostos, as taxas e outras contribuições
financeiras (o Direito Fiscal regula apenas os impostos)
Exigida a Esta capacidade demonstra-se através dos rendimentos de cada um, por via
detentores de do património e por via do consumo. O art. 13º da CRP é a base para esta ideia
capacidade de capacidade contributiva – quem se encontra em igual situação, deve
contributiva contribuir de forma igual. Ver art. 4.º/1 da LGT.
Para realizar Os impostos não visam unicamente obter receitas (finalidade fiscal), mas
fins públicos repartir os encargos públicos, estimular setores da economia, entre outros
(finalidade extrafiscal).
2.1. As taxas
Enquanto os impostos são criados por lei da AR (bem como todas as alterações aos seus elementos
essenciais – incidência, garantia, benefícios fiscais e taxa), as taxas têm um regime menos exigente –
basta que se crie por lei formal o regime geral.
Imposto Taxa
Prestação =
Unilateral Bilateral
Definitiva =
Desta comparação ressaltam os dois critérios jurídicos da taxa que a distingue do imposto:
Bilateralidade
Proporcionalidade
Estes dois são os critérios mais precisos, mas existem outros critérios não tao fiáveis que podem
ter alguma utilidade:
Critério da voluntariedade: a decisão de beneficiar da utilidade proporcionada pela taxa é
voluntária (às vezes falha, p. ex, registo civil pelo qual é devido uma taxa obrigatória);
Critério da divisibilidade: do pagamento da taxa decorre uma utilidade divisível que
aproveita ao sujeito passivo individualmente. Está implícita na bilateralidade – só é
possível estabelecer nexo se a utilidade for divisível.
Consignação: O imposto caracteriza-se pela não consignação, não podendo ser consignados
para um determinado fim. As taxas, por sua vez, são consignadas: as receitas das taxas são
consignadas às despesas inerentes à prestação de utilidade.
A LGT, no Art. 4º/2, refere-se aos vários tipos de taxas:
1. Prestação de um serviço público – Propinas, certidões, taxas de saúde, taxas
moderadoras (o objetivo não é corresponder ao valor total do serviço, mas condicionar o
acesso ao mesmo);
2. Utilização de um bem de domínio público – Parquímetros, pagamento de entrada em
parques naturais, autoestrada, utilização do aeroporto, porto, etc;
3. Remoção de um obstáculo legal à atuação dos particulares – Taxa relativa ao porte de
arma, a licença de caça, espetáculos nas vias ou jardins de ar livre.
De Está em causa uma atuação de uma entidade pública que tem como resultado
melhoria valorizar o património de um contribuinte, não sendo este que desencadeia um
comportamento que manifeste capacidade contributiva, mas antes o Estado que
desencadeia uma atuação capaz de trazer esse efeito.
1. Dizem respeito a um nº limitado de sujeitos passivos e aplicam-se numa área
geográfica muito circunscrita (os impostos são + abrangentes, tirando os
impostos locais e os impostos especiais de consumo)
2. Na sua base está uma atividade Administrativa, e não uma atividade do
sujeito passivo (como é nos impostos)
3. A capacidade contributiva do SP não tem como referencia um acréscimo
patrimonial realizado, mas um acréscimo patrimonial em potência que só se
traduzirá num efetivo aumento da capacidade contributiva (???)
4. A bilateralidade não é perfeita. Nem todos vão achar vantajosa a atuação da
entidade pública.
5. Por outro lado, também não há consignação entre a receita arrecadada e uma
finalidade pública concreta, o que aproxima esta figura ao imposto.
Questão principal: será que está por de traz dos monopólios fiscais uma relação tributária
negativa? Isto é, será que a proibição de produzir certos bens para que o Estado os possa vender a
preços mais altos (como acontecia como o tabaco, fósforos, sal, etc.) podem ser reconduzidas à
figura de imposto?
Resposta: Não. O imposto é uma prestação de dare e unilateral, pelo que nos monopólios existe
bilateralidade (o pagamento do preço fiscal dá sempre direito à entrega do serviço vendido).
Assim, só se pode conceber uma aproximação ao conceito de imposto se se considerar aquela
componente do preço que corresponde a um excesso manifesto relativamente ao que seria o preço
normal de mercado.
3.2. Preço
‣ Corresponde à contrapartida pela aquisição de um determinado bem ou pelo benefício de um
determinado serviço
‣ Distingue-se do imposto por pressupor uma bilateralidade e por ser formado através da ação
do mercado (também é diferente da taxa neste último aspeto)
Entes públicos territoriais como titular ativo = Imposto não estadual (impostos
regionais e locais).
Princípio do Traduz-se na ideia de que cada um deve ser tributado de acordo com o
benefício benefício que retira dos bens públicos.
Estariam nas mesmas condições os que apreciam igualmente as
utilidades dos bens públicos e estariam dispostos a pagar o mesmo
preço pela utilidade proporcionada.
Objeções:
1. Há indivíduos que recebem benefícios de bens públicos e que não
devem ser chamados a contribuir para as despesas de produção dos
mesmos porque trata-se de indivíduos com menor capacidade
contributiva.
2. É difícil conhecer o benefício que cada indivíduo retira de cada bem
público e o preço que está disposto a pagar.
Princípio da Estão nas mesmas condições e, por isso, pagam o mesmo montante de
capacidade impostos, os indivíduos que tem a mesma capacidade económica. Estando em
contributiva condições diferentes, os indivíduos devem pagar montantes também diferentes
por terem capacidade económica distinta. Assim, cada um paga o imposto na
medida da sua capacidade.
A capacidade de pagar vai depender do dinheiro e bens convertíveis em
dinheiro que cada um dispõe (rendimento).
o Estão fora desta lógica indivíduos que, caso fossem sujeitos a
tributação, veriam a sua subsistência em risco.
o A isenção do mínimo de existência justifica que se isentem certos
sujeitos passivos, de modo a respeitar o direito à vida (Art. 4º/1 e
Art. 6º da LGT).
Igualdade horizontal:
‣ Se todos devem pagar impostos de acordo com o mesmo critério, então pessoas com o mesmo
rendimento devem pagar o mesmo imposto
‣ Admite que se faça discriminação com base na diferente qualidade dos rendimentos.
Os rendimentos de trabalho têm Os rendimentos do capital têm caráter
caráter temporário e além de exigirem perpétuo. Além disso, o capital produz
esforço, estão sujeitos a perigos (doença, rendimento sozinho sem exigir esforço.
incapacidade, etc)
‣ Assim, os rendimentos de capital deveriam ser mais tributados que os de trabalho, mas, na
prática, as taxas referentes aos rendimentos de capital não são menores. Há apenas algumas
deduções especificas que diferenciam o tratamento destes rendimentos.
Igualdade vertical:
‣ As pessoas com rendimentos distintos devem pagar um diferente montante de impostos.
‣ Realiza-se através de um sistema fiscal progressivo no seu conjunto (arts. 103.º/1 e 104.º/3
e 4 CRP). Tal como resulta da teoria económica da utilidade dos sacrifícios.
À luz desta teoria, a capacidade contributiva varia mais que proporcionalmente ao
rendimento.
Se A tem o dobro do rendimento de B, a sua capacidade de pagar impostos é mais que
dupla do que a de B.
Parte-se do princípio que pagar impostos significa renunciar à utilidade das parcelas de
rendimento que se entregam ao Estado. Ora, como renúncia = sacrifício, pagar impostos
traduz-se na realização de sacrifícios.
Assim, só há igualdade entre os SP’s quando o pagamento dos impostos implique para
todos as mesmas perdas de utilidade e os mesmos sacrifícios.
3. Lei
‣ Nos termos do n.º 2 do art. 103.º da CRP e do art. 165.º, n.º 1/i) da CRP, só através de lei da AR
se podem criar impostos e definir ou alterar a sua incidência, taxas, os benefícios fiscais e as
garantias dos contribuintes.
‣ Estas leis com a exceção da Lei das Finanças das Regiões Autónomas que deve assumir a
forma de lei orgânica (arts. 166.º/2 e 164.º/t) e 168.º/5 da CRP), revestem a forma de lei
simples. Como acontece, aliás, com a própria LGT.
4. Decreto-lei
Se o DL não for publicado no uso de uma autorização legislativa da AR, apenas poderá desenvolver
e completar os princípios ou bases definidos por lei, através de DL de desenvolvimento (art.
198.º/1/c) da CRP), ou então disciplinar os restantes elementos dos impostos (art. 103.º/3 da
CRP).
Só no que concerne às matérias do 103º/2 e 165º/1/i) é que a competência da AR é
exclusiva, não podendo o Governo dispor, por DL, contra o preceituado na lei, sob pena de
inconstitucionalidade material.
Quanto às restantes matérias a competência dos dois órgãos é concorrente, pelo que nada
impede o Governo de alterar ou revogar, por via de DL, o que a esse respeito estiver
disposto em lei anterior da AR (art. 198.º/1/a) e 112.º/2 da CRP).
A AR pode, no entanto, submeter os DL a apreciação para efeitos de vigência ou alteração
(art. 169º/1, salvo 198.º/2). Excetuam-se os casos em que existem leis de autorização
legislativa, sejam elas comuns ou constantes da Lei do Orçamento do Estado (165.º/2 e 5)
8. Direito Fiscal da UE
O direito tributário da UE é um ramo do direito tributário mais adaptado às questões tributárias
que surgem no âmbito da UE. O seu âmbito é mais alargado, não se reconduzindo unicamente à
regulação dos impostos europeus. Isto porque os impostos verdadeiramente europeus são muito
poucos e, além disso, têm um peso ínfimo nas receitas da UE.
Os impostos da União Europeia compreendem unicamente:
Aqueles que são cobrados aos seus funcionários;
Por outro lado, o IVA, que é muitas vezes entendido como um imposto verdadeiramente europeu,
não o é, traduzindo-se apenas em imposto harmonizado (mas é na mesma um imposto de
referencia para o financiamento da UE).
Uma das áreas importantes que pode ser reconduzida ao objeto do direito tributário da União
Europeia é a tributação indireta no domínio dos Estados da União e o esforço de harmonização
alcançado a esse nível. Releva também a atenção dada à tributação direta e aos esforços de
desenvolvimento no sentido de alcançar a harmonização semelhante à que já domina nos
impostos indiretos, combatendo assim uma série de obstáculos que ocorrem nesse campo de
tributação.
9. Contratos
Podem existir contratos fiscais em domínios fora da matéria essencial dos impostos, como no
âmbito da cobrança e da liquidação em sentido estrito – situações em que as exigências em termos
do princípio da legalidade não serão tão grandes.
No entanto, quando estejam em causa os elementos essenciais dos impostos, não deveria ser
possível regulá-las através de meros contratos, sob pena de se violar o princípio da legalidade.
Esta relutância tem duas exceções:
1. Concessão de benefícios fiscais: face às motivações de ordem pública e às considerações
Direito Económico, permitem que admitamos a sua regulação sobre a forma contratual.
2. Situações excecionais e devidamente ponderadas: em que, por justificadas razões de
ordem pública, nomeadamente a celeridade e o evitar de conflitos, os contratos podem ser
fonte de direito fiscal. São exemplo disso os acordos prévios sobre preços de transferência
regulados no art. 138º do CIRC.
Fora destes domínios, não se admite qualquer desvio.
10. Costume
Decorre do princípio da legalidade fiscal a impossibilidade de criar impostos ou dispor acerca dos
seus elementos essenciais de forma inovadora, por outra forma que não seja a lei da AR ou
Decreto-Lei autorizado. Assim, o costume nunca poderá ser fonte de Direito Fiscal .
12. Codificação
O código será fonte se a legislação que o compõe tiver essa propriedade, não valendo o código
enquanto aspeto meramente formal só por si.
Capítulo 2: Norma e Facto Tributário
1. Norma tributária
‣ Compreende, como qualquer norma jurídica, uma previsão ou hipótese e uma estatuição ou
efeito jurídico.
o Previsão = facto que dá origem ao nascimento da obrigação fiscal ou imposto
o Estatuição = criação da obrigação fiscal
‣ De entre destes elementos da NT, é a previsão que grosso modo corresponde ao facto
tributário.
Normas de No DF, a norma jurídica não se encontra normalmente referida a uma mera
formulação disposição legal ou artigo, sendo necessário conjugar vários textos para se
fragmentária formar uma norma completa = há uma formulação fragmentária:
Não só a previsão se encontra num artigo legal diferente daquele onde
se encontra a estatuição, como cada um desses elementos se encontra,
por si, igualmente dispersos por diversos preceitos.
O facto tributário também resulta normalmente da conjugação de vários
artigos legais, situadas inclusive em vários diplomas.
Complexos – são formados por vários elementos materiais ligados juridicamente numa
unidade teleológica objetiva.
(Ex.: impostos sobre o rendimento, onde o facto tributário se forma progressivamente no
tempo.)
b) subelemento temporal: o facto tributário ocupa sempre um período de tempo, que pode ser >
ou <. O elemento temporal é essencial à existência do próprio elemento material porque a
perceção de rendimento apenas pode ser determinada através da comparação de duas situações
patrimoniais separadas por um período de tempo. O elemento temporal é imprescindível para a
análise de vários problemas correntes no DF:
o A estrutura temporal do facto tributário. Podem ser:
Instantâneos – Esgotam-se num certo lapso de tempo, verificando-se logo que ocorre o
facto material e dando lugar a uma obrigação tributária autónoma
Duradouros (ou periódicos) – São aqueles que se reiteram no tempo, não se esgotando
num momento determinado.
o O momento do nascimento da obrigação tributária
O facto tributário só surge no momento em que o aspeto temporal se combina com os
restantes elementos que o compõem, originando-se só aí a obrigação tributária.
o O momento da exigibilidade da prestação tributária
Distancia-se do momento anterior por razões práticas.
c) subelemento quantitativo: Diz respeito aos fatores legais de medição do objeto material do
imposto. Não se mede a perceção do rendimento, mas os bens materiais e imateriais que formam
parte do elemento objetivo do facto tributário. O elemento quantitativo consiste:
Nos preceitos que definem a realidade a medir (rendimento);
d) subelemento espacial: Diz respeito à conexão do facto tributário com um dado território –
necessidade de fixar elementos de conexão com determinado ordenamento jurídico.
6. Integração de lacunas
A LGT sustenta a impossibilidade de integração de lacunas no domínio dos elementos essenciais
dos impostos, invocando para isso o princípio da legalidade fiscal, no seu artigo 11.º, nº 4 da LGT
que determina que «As lacunas resultantes de normas tributárias abrangidas na reserva de lei da
Assembleia da República não são suscetíveis de integração analógica».
Desta disposição decorre que:
Também estão vedados quaisquer outros meios de integração de lacunas quando estejam
em causa os elementos essenciais dos impostos, incluindo, por exemplo, a criação de
normas dentro do espírito do sistema.
Fora das matérias essenciais julgamos que é de admitir a analogia ou qualquer outra forma
de integração de lacunas.
7. Aplicação da lei fiscal no espaço
Para que uma norma tributária se aplique a uma determinada situação concreta é necessário que
se verifique uma conexão entre essa situação e o ordenamento jurídico de que essa norma faz
parte.
Tradicionalmente, essa conexão fazia-se pelo território. Atualmente, a conexão de base territorial
é complementada com uma conexão de natureza subjetiva ou pessoal, afirmando-se elementos de
conexão como a nacionalidade, residência e a sede ou direção efetiva (art. 13º/2 da LGT).
No domínio do IRS coexistem elementos de conexão reais com elementos de conexão pessoais. Os
não residentes são tributados pelos rendimentos que obtenham em Portugal e os residentes por
todos os rendimentos que obtenham independentemente do local onde sejam obtidos (art. 15.º do
CIRS).
A obrigação fiscal tem caraterísticas únicas que a diferenciam claramente das obrigações jurídicas
privadas. Assim, a obrigação fiscal caracteriza-se por ser uma obrigação:
1. Legal
Porque se trata de uma obrigação que tem por fonte a lei. Por isso nasce do encontro do
facto gerador ou facto tributário com a hipótese legal (art.º 36.º/1 da LGT).
2. Pública
Porque a sua disciplina jurídica integra o direito público, tal se traduz na presunção de
legalidade do ato tributário que suporta a sua exigibilidade.
3. Exequível e executiva
Na medida em que, por um lado, o ato tributário não é auto-exequível, e, por outro lado, a sua
execução não está dependente de qualquer outra pronúncia para além da constituída pelo
próprio ato tributário.
4. Semi-executória
Pois a sua execução corre principalmente na administração tributária e, secundariamente, nos
tribunais tributários. Ver art.º 151.º do CPPT.
5. Indisponível e irrenunciável
Na medida em que, ao credor não cabem quaisquer poderes para conceder moratórias, admitir
o pagamento em prestações ou conceder o perdão da dívida (art.º 29.º/1/3, 36.º/3, 37.º/2 e
30.º/2 da LGT). Uma exceção ao princípio enunciado constitui o pagamento dos impostos em
prestações naqueles casos em que o contribuinte está legalmente autorizado a requerer esse
pagamento (arts. 42.º da LGT, 86.º/2/3 e 196.º do CPPT.
6. Autotitulada
Ou seja, é uma obrigação relativamente à qual a administração fiscal cria os seus próprios
títulos executivos, constituídos pelas certidões de dívida extraídas pelos serviços competentes
das notas de cobrança ou de outros elementos que tiverem ao seu dispor, sendo estas
certidões que servirão de base à instauração do correspondente processo de execução fiscal
(art.º 88.º do CPPT).
7. Especialmente garantida
Finalmente estamos perante uma obrigação especialmente garantida, dadas as garantias
especiais que rodeiam o crédito tributário, garantias que colocam o credor tributário, por
via de regra, numa posição particularmente vantajoso face aos credores comuns
9.2. O sujeito ativo da relação jurídica fiscal
É de começar por dizer que a titularidade ativa da relação jurídicofiscal em sentido amplo,
comporta diversas situações: o poder tributário, a competência tributária, a capacidade tributária
(ativa) e a titularidade da receita fiscal.
Em sentido restrito ou técnico, o poder tributário consubstancia-se no poder conferido
constitucionalmente ao legislador para a criação, instituição, estabelecimento ou “invenção” dos
impostos e a sua disciplina essencial. Por conseguinte inserindo-se na relação constitucional fiscal,
distingue-se das outras titularidades ativas relativas aos impostos, isto é, da competência
tributária que se localiza na relação administrativa fiscal da capacidade tributária ativa que se
integra na relação obrigacional fiscal, e da titularidade da receita fiscal que se situa mesmo fora da
relação tributária.
A competência tributária diz respeito à administração ou gestão dos impostos, traduzida no
lançamento, liquidação e cobrança dos impostos, uma competência que tradicionalmente cabia à
administração fiscal, mas que hoje em dia, se divide entre a administração fiscal e os particulares
(art.º 59.º da LGT).
Por sua vez, a capacidade tributária ativa traduz a qualidade de sujeito ativo da relação de crédito
em que a relação fiscal se consubstancia. Consiste, por isso, na titularidade do crédito de imposto e
demais direitos tributários, uma qualidade que é inerente à personalidade tributária ativa ou
suscetibilidade de ser sujeito ativo da relação jurídica tributária e que cabe aos credores
tributários, entre os quais se destaca, pelo seu significado e importância, o credor do imposto
(art.º 15.º da LGT).
Finalmente, temos a titularidade da receita dos impostos, uma situação que se verifica naqueles
casos em que, por imposição constitucional ou legal, as receitas proporcionadas por certos
impostos estejam subjetivamente consignadas a determinados entes públicos que não tenham
todas ou algumas das outras titularidades fiscais ativas.
Uma questão a sublinhar é a do sujeito ativo da relação jurídica fiscal dos impostos de receita
regional ou municipal administrados pela administração fiscal do Estado. Para o Dr. Casalta
Nabais, tanto a afirmação nos Estatutos político-administrativos dos Açores e da Madeira da
qualidade de sujeito ativo da respetiva região autónoma relativamente aos impostos nela
cobrados, como a qualificação da administração fiscal do Estado sedeada nas regiões autónomas
como representante legal da respetiva administração regional (art.º 61.º/2/c da LFRA e art.º
18.º/1/2 da LGT).
O art.º18/3/4 da LGT definem o sujeito passivo da relação jurídica tributária; e em sede do IVA o
art.º 2/1 do CIVA enumera os sujeitos passivos do IVA e o art.º 2.º/2/a do RIVATI enumera os
sujeitos passivos do IVA nas transações intracomunitárias
9.3.2. A personalidade e a capacidade tributárias
Estas figuras reportam-se tanto aos sujeitos ativos como aos sujeitos passivos da relação jurídica
fiscal.
Em conformidade com os arts. 15.º e 16.º/2 da LGT, a personalidade tributária traduz-se na
suscetibilidade de ser sujeito (ativo ou passivo) de relações tributárias, sendo inerente a esta a
capacidade tributária (de gozo), ou seja, a qualidade de ser titular dos direitos e deveres
tributários correspondentes.
A capacidade tributária de exercício (ou de agir) reflete-se como a medida dos direitos e
deveres que cada sujeito pode exercer e cumprir por si.
Por conseguinte, podemos afirmar que ao tratar das relações entre o direito fiscal e o direito
privado, em princípio, serão sujeitos passivos das relações jurídicas tributárias os detentores de
personalidade jurídica; só não será assim quando a lei fiscal diga o contrário.
Ainda a respeito da personalidade tributária é de mencionar o agregado familiar (art.º 104.º da
CRP e o art.º 13.º do CIRS), não constitui sujeito passivo de IRS, mas tão-só uma unidade fiscal
para efeitos da tributação conjunta da família em sede deste imposto, quando tenha sido feita a
opção pela tributação conjunta (art.º 16.º/5/6 da LGT).
As unidades fiscais constituem suportes de lançamento e liquidação dos correspondentes
impostos, mas não sujeitos passivos. Em princípio, não há qualquer obstáculo a que as pessoas
coletivas públicas sejam sujeitos passivos da obrigação de imposto mesmo quando sejam
simultaneamente também sujeitos ativos dos mesmos impostos (art.º 9.º e art.º 2.º/1/a do CIRC).