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Direito  

Fiscal  I

Turma prática P2 – 1.ª parte


Marta Costa Santos
Noção  de  imposto  em  termos  objectivos:

ü  É uma prestação (relação de natureza obrigacional), gerida e


administrada por entidades públicas, no exercício típico de poderes de
autoridade;
ü  pecuniária (traduzida em dinheiro);
ü  unilateral, ou seja, sem contraprestação específica (não é possível
estabelecer, individualmente, uma relação entre o montante de imposto
suportado e a contraprestação recebida). Financiam as funções e
actividades públicas em geral;
ü  definitiva (unilateral também para o futuro, não é um empréstimo
forçado);
ü  coactiva (a fonte da obrigação do imposto resulta do preenchimento do
facto tributário e a sua execução pode ser exigida pela Administração
Fiscal através do procedimento de execução fiscal)
Noção  de  imposto  em  termos  subjectivos:

Referência aos sujeitos que integram a relação jurídica


obrigacional do imposto

•  É uma prestação:
1.  exigida a (ou devida por) detentores de capacidade
contributiva;

2.  a favor de entidades que exerçam funções públicas

àqueles que revelem, através dos rendimentos que


auferem, dos bens cuja titularidade lhes corresponda
ou do consumo que realizem, dispor de capacidade
financeira para contribuir para sustentar os encargos
públicos
Noção  de  imposto  em  termos  teleológicos:
•  O imposto é caracterizado pelo facto de:
1.  As receitas obtidas terem de se destinar à
realização de tarefas de interesse geral (carácter
financeiro do imposto)

2.  Desde que a obrigação de onde decorrem não


tenha carácter sancionatório (= contra-
ordenações; multas; confisco; indemnizações)

art. 10.º da LGT – tributação dos rendimentos ou


actos ilícitos
Em suma: um imposto é…
1.  Notas 2.  Notas 3.  Notas
objetivas: subjetivas: teleológicas:
•  Uma prestação •  Exigida a •  Com vista à
•  Pecuniária detentores de realização de
•  Com estrutura capacidade tarefas de
unilateral contributiva interesse geral
•  Exigida pelo •  Sem carácter
•  Coactiva
Estado ou sancionatório
•  Definitiva
outras
entidades
públicas
Dois objectivos essenciais dos impostos:
①  financiamento das funções estaduais
②  redistribuição do rendimento

•  Conceito tradicional de imposto:


prestação patrimonial, estabelecida por lei a
favor de uma entidade que tem a seu cargo o
exercício de funções públicas, com o fim
imediato de obter meios destinados ao seu
financiamento (Alberto Xavier)
Divisão  dos  tributos

•  Notas comuns a todos os tributos:


o  Receitas coactivas;
o  Prestações (relação jurídica obrigacional) patrimoniais;
o  Definitivas (não geram direito a reembolso, restituição ou
indemnização);
o  A favor de entidades que têm a seu cargo o exercício de funções
públicas
o  Finalidade imediata: obtenção de meios destinados ao
financiamento daquelas entidades.

•  A alternativa: divisão tricotómica: impostos, taxas e contribuições


ou tributos especiais.

•  A opção pela divisão dicotómica em termos jurídico-fiscais,


especialmente ao nível jurídico-constitucional.
Divisão  dicotómica  
ou  bipartida  ou  
binária

Tributos  unilaterais Tributos  bilaterais

Impostos Taxas

Princípio  da   Reserva  à  lei  parlamentar  


legalidade  fiscal ou  decreto-­‐‑lei  autorizado  
relativamente  ao  regime  
geral

Principio  da  
capacidade   A  sua  medida  assenta  no  princípio  da  
contributiva proporcionalidade  taxa/prestação  
estadual  proporcionada  ou  taxa/custos  
específicos  causados  à  respectiva  
comunidade
As  taxas…
•  São (contra)prestações patrimoniais de carácter
bilateral, ou seja, assentam numa relação jurídica do
tipo do ut des = à contraprestação tributária do
particular a favor do Estado e demais entes públicos
corresponde uma anterior prestação específica, uma
actividades desses mesmos entes (prestação concreta
de um serviço público; disponibilização de um bem do
domínio público e/ou remoção de um obstáculo
jurídico a particulares - art. 4.º, n.º 2 LGT) especialmente
dirigida ao respectivo obrigado, não visando comportar,
portanto, prestações difusas tal como os impostos.
Artigo  165.º  CRP
(Reserva relativa de competência legislativa)
1. É da exclusiva competência da Assembleia
da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo:
(…)
i) Criação de impostos e sistema fiscal e
regime geral das taxas e demais
contribuições financeiras a favor das
entidades públicas;
•  Diferença muito relevante quanto ao regime
constitucional: o princípio da legalidade fiscal só vale
para os impostos.
•  Taxa ou imposto?
o  Unilateralidade dos impostos e bilateralidade das taxas
o  A medida ou critério do tributo: se for com base na
p r o p o r c i o n a l i d a d e e n t re o t r i b u t o e a re s p e c t i v a
contraprestação específica é taxa; se a medida/critério for a
capacidade contributiva (arts. 103.º, n.º 1 e 104.º, nºs 1 a 4 da
CRP; art. 4.º, n.º 1 da LGT) é imposto;
o  Aplica-se aos impostos o princípio da não retroactividade (art.
103.º, n.º 3 CRP), enquanto as taxas são norteadas pelo
princípio geral da segurança jurídica decorrente do Estado
Democrático de Direito (art. 2.º CRP);
o  As confusões terminológicas: o nome não é tudo...
Dois  testes…
•  Para averiguar a natureza jurídica do tributo é
necessário fazer o teste da bilateralidade e o da
proporcionalidade, uma vez que o tributo pode ser
bilateral, mas não haver proporcionalidade entre a
prestação e a contraprestação específica

•  Ver Acórdãos do TC n.ºs 357/99, 410/2000, 274/2004,


471/2007
•  A desproporcionalidade entre a quantia a pagar e,
o benefício (utilidade do serviço) que retira deverá
ser intolerável para que se conclua que foi violado
o princípio da proporcionalidade.
Caso  prático  1  (taxas  ou  impostos?)
1) Taxa de publicidade
A cobrança de uma taxa municipal pela renovação anual da
licença de afixação de painéis publicitários no domínio privado
pode ser verdadeiramente considerada uma taxa ou se,
contrariamente, deverá ser qualificada como um imposto?

Decisão do Tribunal Constitucional no acórdão n.º 177/2010 – diz


tratar-se de uma verdadeira taxa, cuja contrapartida consiste no
“gozo do espaço público comunicacional”

Perspectiva do Curso – trata-se verdadeiramente de um imposto


dado não existir uma contraprestação específica individualizável
de fruição de um bem ou serviço de natureza municipal
•  Art. 4.º, n.º 2 da LGT; “as taxas assentam na prestação
concreta de um serviço público, na utilização de um bem do
domínio público ou na remoção de um obstáculo jurídico ao
comportamento dos particulares.”

•  No caso de “remoção de um obstáculo jurídico” (= licenças) -


apenas se configurarão como verdadeiras taxas naqueles
casos em que o obstáculo jurídico a remover constitua um
obstáculo real, levantado por exigência dum específico
interesse administrativo
•  Ex: taxa devida pelo licenciamento de publicidade (é
diferente da taxa pela renovação da licença) já é uma
verdadeira taxa, uma vez que o município deve controlar a
qualidade da publicidade e o enquadramento urbanístico da
mesma.
2) Taxas por infra-estruturas urbanísticas (ex: Acórdão do TC n.º
357/99)

3) Propinas universitárias, pagas nas universidades públicas

4) As portagens (a propósito da ponte 25 de Abril) (Acórdão do


TC n.º 640/95) – princípio da proporcionalidade

5) A taxa de compensação por deficiência de estacionamento –


Ac. TC n.º 277/86 – compensações especiais = tratamento dos
impostos

6) A taxa exigida pela recolha do lixo (Acórdão do TC 1139/96)

7) Taxa de radiodifusão portuguesa (Acórdão do TC 354/98)


Os  momenos  da  vida  do  
imposto

1.º - Estabelecimento, criação, instituição ou incidência


2.º - Aplicação, efectivação, administração ou gestão
1.º  -­‐‑  Estabelecimento,  criação,  instituição  ou  incidência

1)  Facto gerador: facto, actividade ou situação que


dá origem ao imposto;
2)  Sujeitos: activos e passivos da obrigação do
imposto;
3)  Montante do imposto: definição da matéria
colectável, da taxa e das deduções à colecta;
4)  Benefícios fiscais
Exemplo  IRS
1)  Facto gerador: artigo 1.º, n.ºs 1 e 2 do CIRS e arts.
2.º a 12.º
2)  Sujeitos da obrigação de imposto: art. 13.º, n.º 1
3)  Montante do imposto: art. 68.º e 68.º-A (taxas); art.
78.º e ss (deduções à colecta)
4)  Benefícios fiscais – Estatuto dos Benefícios Fiscais –
arts. 2.º, n.º 1
 

2.º  -­‐‑  Aplicação,  efectivação,  administração  ou  gestão

1)  Lançamento: identificação do contribuinte,


determinação da matéria colectável e da taxa;
2)  Liquidação: determinação da colecta através da
aplicação da taxa à matéria colectável; se for o
caso, procede-se ainda a deduções à colecta,
para determinar assim o montante de imposto a
pagar.
3)  Cobrança/pagamento: o imposto entra nos cofres
do Estado, através do pagamento espontâneo ou
da cobrança coerciva.
•  Facto tributário – situação de facto que dá origem
ao pagamento de imposto

•  Liquidação (em sentido restrito) – operação


matemática que consiste na aplicação da taxa à
matéria colectável (= valor sujeito a tributação)
para obter a colecta

•  Cobrança – pagamento do imposto (cobrança


voluntária) ou execução fiscal (cobrança coerciva)
Exemplo  IRS
1)  Lançamento: o Sr. A auferiu rendimentos da
categoria A e B do IRS no ano de 2015:
o  Categoria A: € 12.500
o  Categoria B: € 17.500

•  Englobamento dos rendimentos líquidos, determinando-se o


rendimento líquido total: € 30.000,00.
•  Se for um contribuinte casado ou unido de facto se
pretenderem aplica-se o quociente familiar para determinar a
taxa aplicável
•  Exemplo:
António e Maria, que não têm filhos, obtém, anualmente,
rendimentos tributáveis sujeitos a englobamento de €
25.000. O rendimento do casal é, assim, de € 50.000.
€ 50.000 : 2 = € 25.000 (quociente familiar art. 69.º)
 
Aplicação das taxas do art. 68.º CIRS:
 
€ 25.000 = € 20.000 + € 5.000 (divisão em duas parcelas de
acordo com o 68.º/2)
 
€ 20.000 x 23.6% (taxa coluna B) = 4.720

€ 5.000 x 37% (taxa da coluna A) = 1.850 


€ 4.720 + € 1.850 = € 6570 x 2 (quociente familiar – 69.º, 3) = €
13.140 (colecta)
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2) Liquidação:
Artigo 68.º do CIRS - Taxas gerais
1.  As taxas do imposto são as constantes da tabela seguinte:

Taxas  
Rendimento  colectável  (euros) (em  percentagem)
Normal Média  
(A) (B)
Até  7000 14,50 14,500
De  mais  de  7000  até  20  000 28,50 23,600
De  mais  de  20  000  até  40  000 37 30,300
De  mais  de  40  000  até  80  000 45 37,650
Superior  a  80  000 48 -­‐‑  

2. O quantitativo do rendimento colectável, quando superior a (euro) 7


000, é divido em duas partes: uma, igual ao limite do maior dos
escalões que nele couber, à qual se aplica a taxa da col. (B)
correspondente a esse escalão; outra, igual ao excedente, a que se
aplica a taxa da col. (A) respeitante ao escalão imediatamente
superior.
•  Art. 68.º CIRS – Taxas gerais
•  Sistema de progressividade por escalões: ao rendimento
situado no intervalo de cada escalão é aplicável a respectiva
taxa
•  Exemplo: rendimento colectável de € 37.500
 
Aplicação das taxas do art. 68.º CIRS:
 
€ 37.500 = € 20.000 + € 17.500 (divisão em duas parcelas de
acordo com o 68.º/2)
 
€ 20.000 x 23.6% (taxa coluna B) = € 4.720
Excedente  =  €  37.500  -­‐‑  €  20.000
€ 17.500 x 37% (taxa da coluna A) = € 6.475
 
€ 4.720 + € 6.475 = € 11.195 (colecta)

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O sistema fiscal português
1.  Impostos sobre o rendimento
•  Imposto sobre o rendimento das pessoas
singulares (IRS) - Valor anual dos rendimentos das
categorias do trabalho dependente, empresariais e
profissionais, capitais, prediais, patrimoniais e pensões,
auferidos por pessoas singulares

•  Imposto sobre o rendimento das pessoas


colectivas (IRC) - Valor anual dos lucros ou do
rendimento global líquido das pessoas colectivas, consoante
estas exerçam ou não, respectivamente, a título principal uma
actividade comercial, industrial ou agrícola

•  Imposto especial sobre o jogo - Duas parcelas:


uma percentagem do capital de giro inicial e uma
percentagem dos lucros brutos das bancas
2.  Impostos sobre o património
•  Imposto Municipal sobre as transmissões onerosas de
imóveis (IMT) - Valor das transmissões, a título oneroso, do
direito de propriedade ou de figuras parcelares desse
direito, sobre imóveis situados no território português,
qualquer que seja o título por que se operem

•  Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) - Valor


patrimonial tributário dos prédios rústicos e urbanos
situados no território português

•  Imposto do selo (IS) - Valor das transmissões gratuitas de


bens
3.  Impostos sobre o consumo
•  Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) -
Transmissões de bens e prestações de serviços
efectuadas no território nacional, a título
oneroso, por sujeitos passivos agindo como tal

•  Impostos especiais sobre o consumo (IECs):


o  IABA - Imposto sobre Álcool e Bebidas
o  ISP - Imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos
o  IT - Imposto sobre o tabaco
4.  Nova Fiscalidade (art. 104.º CRP – quadro não exaustivo)
•  Imposto sobre Veículos (ISV) – Atribuição de matrícula
portuguesa a certas classes de veículos com o objectivo de
cobrir custos por estes gerados nos domínios do ambiente,
infra-estruturas viárias e sinistralidade rodoviária.
•  Procura em grande medida dar resposta aos novos desafios
da fiscalidade no campo económico, onerando
especialmente a aquisição de veículos mais poluentes e que
desgastam de forma mais intensa as infra-estruturas, não só
no momento da compra (imposto sobre veículos), mas
também anualmente, enquanto se mantiver a titularidade do
veículo (imposto único de circulação).

•  Imposto Único de Circulação (IUC) - Propriedade de


veículos (atestada pelo registo nacional) com o objectivo de
cobrir custos por estes gerados nos domínios viário e
ambiental
Coordenadas constitucionais do sistema fiscal
português

•  Artigos 103.º e 104.º da Constituição


•  Unicidade e progressividade da tributação do rendimento
pessoal vs tributação dos rendimentos de capital a taxas
liberatórias (art. 71.º CIRS);
Devido à existência de diversas taxas liberatórias, o IRS está
longe de ser um imposto único.
A CRP estabelece, no seu art. 104º, nº. 1, que o imposto sobre o
rendimento é único. Daí o apuramento da matéria colectável
em sede de IRS estar sujeito a englobamento (art. 22º CIRS),
somando-se todos os rendimentos das diversas categorias e do
agregado familiar para tributá-los conjuntamente e à mesma
taxa (progressiva).
•  N ã o o b s t a n t e , a u n i c i d a d e e
progressividade do IRS são flexibilizadas
pela tributação em separado e
proporcional mediante taxas liberatórias
e definitivas (retenção na fonte a título
definitivo com substituição tributária
total) dos diversos rendimentos previstos
no art. 71º, estabelecendo um regime
distinto ao aplicável aos demais
rendimentos.
Algumas  tipologias  de  imposto
•  Impostos reais e pessoais
•  Impostos directos e indirectos
•  Impostos periódicos e impostos de
obrigação única
•  Impostos de quota fixa e impostos de
quota variável
Impostos  reais Impostos  pessoais

Não  tomam  em  consideração  a   Tomam  em  consideração,  em  maior  


situação  económica  e  pessoal  do   ou  menor  grau,  aspectos  económicos  
contribuinte e  sociais  dos  contribuintes

Incidem  objectivamente  sobre  a   1)   Consideram   o   rendimento   global   do  


matéria  tributável contribuintes
2)  Excluem  o  mínimo  de  existência
3)   Admitem   deduções   de   encargos  
sociais   de   natureza   pessoal   e   familiar  
(saúde,  ensino,  ...)
Exemplos:  IMI,  IMT,  IVA,  IRC 4)  Taxa  progressiva
5)   Aplicação   do   quociente   familiar   aos  
contribuintes   casados   e   aos   que   vivam  
em   união   de   facto   e   optem   por   esta  
modalidade  (alterações  do  OE  2015)

Exemplo:    IRS
Impostos  periódicos  e  impostos  de  obrigação  única

relevo  da  distinção  ao  nível  da  determinação  


da  caducidade  do  direito  à  liquidação  e  à  
prescrição  das  dívidas  tributárias

• Assentam  numa  relação  jurídica  duradoura


Impostos   • A   liquidação   é   efectuada   periodicamente,  
periódicos enquanto   se   mantiver   o   pressuposto   da  
tributação

Impostos  de  
• Correspondem  a  actos  isolados,  mesmo  
obrigação   quando  são  repetidos.
única
•  Os prazos de prescrição (8 anos) – art. 48.º LGT - e
caducidade (4 anos)- art. 45.º LGT - contam-se:

-  Nos impostos periódicos, a partir do termo do


ano em que se verificou o facto tributário;

-  Nos impostos de obrigação única, a partir da


data em que o facto tributário ocorreu;
Estabelecer  o  início  da  contagem   I m p o s t o s  
do  prazo  de  que  a  AF  dispõe  para   periódicos:  4  anos  a  
tornar  líquida  e  exigível  a   partir   do   termo   do  
obrigação  de  imposto   a n o   e m   q u e   s e  
verificou   o   facto  
tributário
Art.  45.º,  n.º  4  da  LGT
Prazo  de  caducidade Impostos   de   obrigação  
Distinção  
única
fundamental  
4   anos   a   partir   da   data   em  
para:
q u e   o   f a c t o   t r i b u t á r i o  
ocorreu.
No   caso   do   IVA   e   nos  
impostos  sobre  o  rendimento  
Estabelecer  o  início  da  contagem  do  
prazo  de  que  a  AF  dispõe  para   quando   haja   retenção   na  
fonte   a   título   definitivo   o  
poder  promover  a  cobrança  coerciva  
das  dívidas  fiscais prazo   conta-­‐‑se   a   partir   do  
início   do   ano   civil   seguinte  
àquele  em  que  se  verificou  a  
exigibilidade   do   imposto   ou  
Art.  48.º  da  LGT
8  anos o  facto  tributário
Prazo  de  prescrição
Caso  prático  2  (tipologias  de  impostos)

Em Janeiro de 2010 a AT procedeu à cobrança


coerciva da dívida de IVA da empresa X, S.A
referente ao ano de 2002.
1  Imagine que os sócios desta empresa o procuram,
nessa mesma data, para que os aconselhe sobre
a eventual prescrição dessa dívida. O que lhes
diria?
2  Como classifica o IVA, tendo em conta a tipologia
dos impostos?

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1.
Estando em causa uma dívida de IVA referente a
2002, e sendo este imposto de obrigação única o
termo inicial do prazo de prescrição (de 8 anos)
conta-se, por via da alteração que o art. 40.º da Lei
n.º 55-B/2004 introduziu no n.º 1 do art. 48.º da LGT, a
partir do ano civil seguinte àquele em que se verificou
a exigibilidade do imposto, ou seja, a partir de
1/1/2003.
Logo, em 1/1/2011 a AT deixa de poder promover a
cobrança coerciva das dívidas fiscais.
2.
ü  É um imposto indirecto, de acordo com o critério económico
da repercussão económica e o critério jurídico da relação
jurídica base do imposto ou da fonte da obrigação do
imposto
ü  É um imposto de obrigação única
ü  Imposto real
ü  Imposto de quota variável, taxa fixa
ü  Imposto não intencionalmente distorcedor
EM  SUMA:

•  Os impostos de obrigação única são aqueles em que a


obrigação do imposto constitui-se instantaneamente
(por um facto ou acto isolado no tempo ou por factos
ou actos sem continuidade entre si).
•  Os impostos periódicos, por sua vez, são aqueles em
que a relação jurídica fonte da obrigação de imposto
tem em sua base situações estáveis, que se prolongam
no tempo, dando origem, por conseguinte, a
obrigações periódicas, que se renovam todos os anos.
Assim, incidem ao longo do tempo sobre uma mesma
situação jurídica, somente se estabilizando o período da
tributação ao fim do período fiscal (v.g., no IRS, o ano
civil), já que o facto tributário é de formação sucessiva.
•  A utilidade prática da distinção decorre da
configuração do elemento temporal do facto
tributário:
o  os impostos duradouros (ou periódicos), por
terem na base do facto tributário um elemento
temporal que tende a manter-se, colocam o
problema do fraccionamento jurídico desse
facto (diferença entre acto e facto tributário),
ou seja, o problema do período do imposto
(que, em geral, coincide com o ano civil).
•  Daí que, para os impostos de obrigação única, o
termo a quo da contagem dos prazos de
caducidade da liquidação e prescrição da
obrigação de imposto dá-se na data em que o
facto tributário foi praticado, à excepção do IVA;
enquanto, para os impostos periódicos, tal
contagem inicia-se a partir do término do ano em
que se verificou o facto tributário (arts. 45º, n.º 4 e
48º, n.º 1 da LGT, respectivamente), ressalvando-se
os casos de retenção na fonte a título definitivo.
•  Finalmente, a diferença reflecte-se também na aferição
da natureza e limites da retroactividade das leis fiscais
(se autêntica ou inautêntica, se proibida pelo art. 103º,
n.º 3 da CRP ou apreciável com base em parâmetros
mais flexíveis, à luz de uma ponderação entre o
princípio da segurança jurídica/confiança legítima e o
interesse público de arrecadação).
•  Isto porque, nos casos em que o facto tributário que a
lei nova pretende regular já se tenha formado
totalmente, então estará em causa a proibição
constitucional da retroactividade (autêntica) – o que,
nos impostos de obrigação única, não coloca maiores
problemas;
•  Já em casos que o facto tributário ainda esteja em formação
(para os impostos periódicos) e advenha uma nova lei, se
configura uma retroactividade de natureza inautêntica ou,
até, para alguns autores, uma retrospectividade.
•  Para este efeito, o Tribunal Constitucional português,
analisando a constitucionalidade de leis que modificaram a
taxa do IRS ao longo do ano fiscal, já decidiu (v., p. ex.,
acórdãos 399/2010 e 18/2011) que “é possível, no que diz
respeito aos impostos periódicos, a aprovação de leis no
decurso do período de tributação que se destinem a produzir
efeitos em relação a todo esse período, ficando, no entanto,
tais leis sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado de
Direito, como seja o teste da protecção da confiança [e não,
assim, à expressa vedação de retroactividade do art. 103º, n.º
3 da CRP]”.
Impostos  directos  e  indirectos

•  Critérios de distinção

1.  Critério da relação jurídica base de imposto

2.  Critério da repercussão económica

•  Impostos directos: IRS, IRC, IMT e IMI

•  Impostos indirectos: IVA, IEC e IS


1)  Classificação em relação a critérios económicos
ü  Critério da repercussão económica
Valor destes impostos é ou não repercutido no
adquirente final de bens e serviços?
Impostos indirectos – aqueles em que o suportador
económico do imposto não se identifica com o sujeito
passivo do mesmo, estando a repercussão económica
legalmente prevista
•  Impostos directos: IRS, IRC, IMT e IMI

•  Impostos indirectos: IVA, IEC e IS


Como funciona o IVA?

Taxa  reduzida  (6%) Circuito  económico:  leite  achocolatado

Sujeito  passivo  de  IVA Suportador  económico

Produtor  (Nestlé) Retalhista  (Pingo  Doce) Consumidor  final  

Vende  a:  100 Vende  a:  200 Paga  200

Entrega  ao  Estado:  6 Liquida:  12  (200x6%) Suporta  o  imposto


(100x6%) Deduz  o  IVA  já  pago:  6
Entrega  ao  Estado:  6

Método  do  crédito  de  imposto



Cada  uma  das  empresas  liquida  IVA  nas  suas  vendas  e  deduz  o  IVA  que  
suportou  com  a  aquisição  dos  bens  e  serviços  necessários  para  a  sua  produção  
ou  comercialização.  O  único  que  não  pode  deduzir  o  IVA  suportado  nas  suas  
aquisições  é  o  consumidor  final.
Repercussão  económica  do  imposto
•  É uma técnica empregada sobretudo nos impostos
sobre o consumo, em que a capacidade
contributiva que se pretende tributar é a dos
consumidores finais dos produtos e serviços
existentes/prestados no mercado. O desfalque
patrimonial do imposto devido ocorre, portanto, na
sua esfera, através do fenómeno económico da
repercussão do imposto, isto é, o valor final dos
produtos e serviços negociados no mercado
reflecte na esfera patrimonial do consumidor o
montante do imposto incidente sobre aquele bem/
operação.
2) Classificação em função de critérios jurídicos
ü  Critério da relação jurídica base do imposto ou da fonte
da obrigação do imposto
Critério de distinção reside no tipo de relação jurídica fonte
da obrigação do imposto (seguido pelo n.º 2 do art. 736.º do
C. Civil)

Imposto indirecto Imposto directo


aquele que tem por aquele que incide sobre
base um facto ou relações jurídicas duradouras,
acto isolado. impondo uma renovação
Coincidem com os periódica da obrigação do
i m p o s t o s d e imposto.
Coincidem com os impostos
obrigação única.
peródicos.
Ex: IVA, ISP, IA Ex: IRS, IRC

Caso prático (impostos de quota fixa e impostos
de quota variável)

Atente nas seguintes tabelas e diga se nas mesmas


estão em causa impostos de quota fixa ou impostos de
quota variável.

a)  Tabela Geral do Imposto do Selo


(…)
4. Cheques de qualquer natureza, passados no
território nacional – por cada um……………€0,05
(…)
b) Artigo 11.º do IUC - Taxas – categoria C
As taxas aplicáveis aos veículos da categoria C são as
seguintes:

Veículos  de  peso  bruto  inferior  a  12  t


Escalões  de  peso  bruto   Taxas  anuais  
(em  quilogramas) (em  euros)

Até  2500 32
2  501  a  3500 52
3  501  a  7500 123
7501  a  11  999 200
c) Artigo 68.º do CIRS - Taxas gerais
1.  As taxas do imposto são as constantes da tabela seguinte:

Taxas  
Rendimento  colectável  (euros) (em  percentagem)
Normal Média  
(A) (B)
Até  7000 14,50 14,500
De  mais  de  7000  até  20  000 28,50 23,600
De  mais  de  20  000  até  40  000 37 30,300
De  mais  de  40  000  até  80  000 45 37,650
Superior  a  80  000 48 -­‐‑  

2. O quantitativo do rendimento colectável, quando superior a (euro) 7


000, é divido em duas partes: uma, igual ao limite do maior dos
escalões que nele couber, à qual se aplica a taxa da col. (B)
correspondente a esse escalão; outra, igual ao excedente, a que se
aplica a taxa da col. (A) respeitante ao escalão imediatamente
superior.
Impostos de quota fixa e impostos
de quota variável

•  Impostos de quota fixa (IS)


•  Impostos de quota variável
v  Impostos de taxa fixa ou proporcionais (IRC)
v  Impostos de taxa variável
ü  Regressivos
ü  Progressivos
A.  Progressividade global (IUC)
B.  Progressividade por escalões (IRS)
 
 
  IMPOSTOS   DE   QUOTA   FIXA   E   IMPOSTOS   DE   QUOTA   VARIÁVEL:  
variação  ou  não  do  imposto  em  função  da  matéria  colectável

Impostos  de   Impostos  de  


quota  fixa quota  variável

A  própria  lei  indica  a   São   aqueles   em   que   o  


importância   fixa   a   montante   do   imposto  
pagar,   dispensando   varia   consoante   o   valor  
a s   o p e r a ç õ e s   d e   da   matéria   colectável,  
liquidação sendo   determinado   a  
partir   da   aplicação   de  
uma  taxa
de  taxa  fixa  
A  taxa  mantém-­‐‑se  inalterada  
independentemente  do  valor  da  
matéria  colectável.  Também  
denominados  impostos  
proporcionais.  Ex:  IRC  (arts.  87.º  
e  ss)/  IMI  (art.  112.º)/  IVA
Impostos  
de  quota  
variável Impostos  progressivos
A  taxa  aumenta  à  
medida  que  aumenta  a  
de  taxa  variável   matéria  colectável.  Ex:  
A  taxa  aumenta  ou   IRS  
diminui  consoante  
aumente  ou  diminua  a   Impostos  regressivos  
matéria  colectável
A  taxa  diminui  à  
medida  que  aumenta  a  
matéria  colectável.
A  matéria  colectável  é  
divida  em  classes,  par-­‐‑  
Progressividade   tindo  do  zero  ou  do  
global mínimo  de  isenção,  
fazendo-­‐‑se  depois  
corresponder  uma  taxa  
(que  aumenta  
gradualmente)  a  cada  
classe  de  matéria  
colectável,  taxa  que  se  
aplica  à  totalidade  da  
matéria  colectável  

Impostos  
progressivos

A  matéria  colectável  é  
Progressividade  por   igualmente  dividida  em  
escalões várias  partes,  sendo  cada  
uma  delas  tributada  à  
taxa  correspondente.  
Impostos sobre o rendimento, sobre
o património e sobre o consumo

•  Impostos sobre o rendimento – IRS e IRC


•  Impostos sobre o património – IMI, IMT e o IS
•  Impostos sobre o consumo – IVA e os impostos
especiais de consumo (IEC): ISP, IT, IABA, ISV, IUC
Caso  Prático
•  António, promotor de vendas de uma empresa de
peixe congelado, recebeu da entidade patronal,
no ano de 2015, para além do salário o direito a
utilizar a viatura de serviço para férias e outras
deslocações pessoais. Partindo do conceito de
rendimento para efeitos de tributação, indique se
aquele direito deve ser considerado rendimento
para efeitos da declaração anual a apresentar nos
serviços de finanças e porquê.
Rendimento-­‐‑acréscimo  e  rendimento-­‐‑produto

•  O conceito de rendimento-acréscimo substituiu o


conceito de rendimento-produto. De acordo com este
último, o rendimento para efeitos de tributação traduz-
se no resultado obtido a partir da participação em uma
actividade produtiva, conceito que acabou por se
tor nar inoperativo perante a divulgação dos
rendimentos de capitais – art. 5.º CIRS.
•  Surgiu, assim, o conceito de rendimento-acréscimo para
englobar todas as manifestações de incremento líquido
do património de um sujeito, que pode ser gasto sem
diminuição do património inicial.
•  No caso em apreço, a utilização da viatura de serviço para fins pessoais
consubstancia um acréscimo de rendimento, na medida em que
“liberta” o António de ter que adquirir uma viatura própria para essa
finalidade ou de suportar outros custos com transportes no domínio da
sua actividade pessoal e não profissional, pois esses custos são
suportados pela entidade patronal – aqui verificamos o acréscimo de
rendimento.

•  Como indício de que o raciocínio anterior está correcto, podemos referir


que o art. 2.º, n.º 1, n.º 9 do CIRS integra no âmbito dos rendimentos do
trabalho dependente (categoria A) os resultantes da utilização pessoal
pelo trabalhador de viatura automóvel que gere encargos para a
entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o trabalhador e a
entidade patronal sobre a imputação àquele da referida viatura
automóvel.
Impostos  com  efeitos  económicos  e  impostos  pretensamente  neutros

•  Impostos neutros sob o ponto de vista


económico - “impostos não
distorcedores” (neutrais) são aqueles em
que um agente económico nada pode
fazer (legalmente) para evitar ou alterar a
sua incidência económica - “imposto lump-
sum” ou de montante fixo.

•  “Impostos distorcedores” – tendem a alterar


comportamentos económico dos sujeitos
passivos.
60
ü  Todos os impostos, em maior ou menor grau, são
distorcedores

Importa  distinguir  se  são


“impostos  
intencionalmente   “impostos  não  
distorcedores”  (também   intencionalmente  
designados  de  impostos   distorcedores”
pigouvianos)

E m   t e s e ,   p e r m i t e m   R e p r e s e n t a m   a  
gerar   receita   fiscal   e  
melhorar  a  eficiência  na  
generalidade   dos  
afectação   de   recursos   i m p o s t o s ,   s ã o  
(tributação   correctiva).   u t i l i z a d o s   c o m  
E x . :   t r i b u t a ç ã o   v i s t a   a p e n a s   à  
ambiental   o b t e n ç ã o   d e  

receitas.
61
Princípios  jurídico-­‐‑constitucionais  
da  tributação
Princípio  da  legalidade  fiscal

nullum  tributum  sine  lege,  ou  nullum  vectigal  sine  lege  


Vertente formal e material

63
Princípio da legalidade fiscal

Duas vertentes

Vertente  formal Vertente  material


Divisão  vertical  dos   Princípio  da  tipicidade  
poderes  tributários   fiscal  (art.  103.º,  n.º  2  
(entre  AR,  Governo,   CRP)
Regiões  Autónomas  e  
Autarquias  Locais  -­‐‑  
art.  165.º,  n.º  1,  i)  
CRP)  
No  taxation  without  representation
•  Auto-tributação - os impostos só poderão ser cobrados
quando forem consentidos por aqueles que os têm de
suportar, através das assembleias representativas
•  Direito de resistência fiscal – art 103.º/ n.º3 da CRP
•  Duas vertentes: uma no âmbito formal outra no âmbito
material

•  “Garantia da vontade •  Exigências de densificação


popular” da lei fiscal no que respeita
•  Repartição dos poderes aos elementos essenciais
tributários entre a dos impostos
Assembleia da República,
o Governo, as Regiões
autónomas e as Autarquias
Locais
Caso  prático  3  
Suponha que, no dia 1 de Abril deste ano, o Governo aprova em
Conselho de Ministros um Decreto Regulamentar, onde se dispõe:
“Os artigos 13.º, n.º 1, e 15.º, n.º 1 do Código do IRS, passam a ter a seguinte
redacção:
Artigo 13.º, n.º 1: Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares de nacionalidade
portuguesa, as pessoas singulares que residam em território português e as
que, nele não residindo, aqui obtenham rendimentos.
Artigo 15.º, n.º 1: Sendo as pessoas de nacionalidade portuguesa ou
residentes em território português, o IRS incide sobre a totalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território”.
ü  Aprecie o referido Decreto Regulamentar à luz da constituição fiscal
 

Vertente  formal  do  princípio  da  legalidade  fiscal


ü  Integra na reserva relativa de competência legislativa da AR a matéria
de criação de impostos e sistema fiscal. Art. 103.º/2 (primeira parte) e
art. 165.º/1/ i) da CRP
ü  Tratando-se de uma reserva relativa, admite que o exercício do poder
legislativo possa caber ao Governo

é necessário que seja aprovada uma lei de autorização


legislativa, cujo conteúdo mínimo há-de incluir, de acordo com a
regra geral do art. 165.º/2 da CRP, uma indicação sumária quanto
aos elementos essenciais dos impostos

Determinação   do   objecto,   do  
sentido,  da  extensão  e  da  duração  da  
autorização  legislativa
Resolução do caso prático
•  Violação do princípio da legalidade fiscal, na sua dimensão de
reserva de lei formal;

•  Este princípio, previsto no art. 165.º/1, al. i), não vale apenas para a
“criação” propriamente dita, mas também para a definição de todos
os elementos essenciais dos impostos.

•  Apenas a Assembleia da República – directamente - ou o Governo -


na sequência de autorização legislativa da AR - e através de um
Decreto-Lei autorizado podem legislar em matéria de criação e
definição dos elementos essenciais, entre os quais se inclui a
incidênca, taxa do imposto, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes - articulação entre o art. 165.º/1 i) e o art. 103.º/2 da CRP

•  Esta autorização legislativa da AR ao Governo tem de incluir no seu


conteúdo mínimo uma indicação quanto aos elementos essenciais
dos impostos
Caso  Prático  4  
Suponha que a Assembleia da República aprovou,
no passado mês de Janeiro, um pacote de medidas
de reacção à crise que atinge as finanças públicas.
Entre as várias medidas aprovadas conta-se a
criação de um imposto extraordinário incidente sobre
o rendimento. Nada dispôs, no entanto, quanto à
liquidação e cobrança deste imposto.
•  Poderá o Governo disciplinar estes aspectos? Em
caso afirmativo, em que termos?

69
•  Quanto aos elementos não essenciais dos impostos, onde se
inserem os elementos dos impostos referentes à liquidação e à
cobrança dispõe o art. 103.º/ n.º 3 da CRP que os mesmos têm
de ser feitos nos termos da lei. Contudo, não se encontram
sujeitos à reserva de lei parlamentar (103.º, n.º 2 e 165.º/n.º1/i)
da CRP), mas a reserva de diploma legislativo, isto é, aos actos
legislativos previstos no n.º 1 do art. 112.º da CRP.
•  A actividade da administração fiscal (gestão e administração
do imposto, que corresponde à liquidação em sentido amplo)
rege-se pelo princípio da legalidade administrativa o que
significa que carece sempre de lei prévia (princípio da
precedência, preferência e prevalência da lei)
•  Art. 6.º da CRP – Portugal é politicamente um
Estado Unitário com Regiões Autónomas
MAS

Com níveis de autonomia

Autonomia   regional,   que   Autonomia   do   poder  


é   de   natureza   político-­‐‑ local,  que  é  de  natureza  
administrativa   –   art.   225.º   administrativa   –   art.  
CRP 237.º  da  CRP

Quais  são  os  poderes  tributários  que  a  Constituição  e  a  lei  


conferem  a  cada  uma  destas  entidades  de  modo  a  garantir  que  
estas  obtenham  as  receitas  necessárias  à  prossecução  das  suas  
atribuições?
Poder tributário ou poder de instituir os impostos:
poder de criar impostos e definir os elementos
essenciais dos impostos. É um poder derivado,
quando é exercido por via regulamentar, nos termos
da lei, por entidades não soberanas, como as
autarquias locais.
Os poderes tributários das Regiões
Autónomas

•  Artigos 227.º, n.º 1, als. i) e j), da CRP;


•  Intervenção do legislador nacional – Lei das
Finanças das Regiões Autónomas (Lei das
Finanças das Regiões Autónomas) e Estatuto
Político-Administrativos das RA:
a)  Poder de instituir impostos regionais (art.
57.º LFRA)
b)  Poder de adaptar o sistema fiscal às
especificidades regionais (arts. 56.º, n.º 2,
al. b) e 59.º LFRA)
c)  Direito às receitas fiscais cobradas ou
geradas nas regiões autónomas
Caso  prático  5
Ana (proprietária de um prédio urbano), notificada
pela Direcção-Geral de Impostos para proceder ao
pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis,
considera que a taxa aplicável (de 0,4%) não podia
ter sido fixada mediante deliberação da Assembleia
Municipal de Coimbra, como efectivamente
aconteceu, e resolveu pedir esclarecimento à DGI
que a informa prontamente que “está tudo previsto
na lei, no n.º 5 do art. 112.º do Código do Imposto
Municipal sobre Imóveis”.
Ana resolve pedir a sua opinião fundamentada,
pretendendo saber se essa norma legal respeita os
princípios constitucionais fiscais aplicáveis.

74
•  Podem exercer por via regulamentar (na dependência da lei)
alguns poderes tributários próprios – art. 238.º/4 da CRP
•  São os municípios, mediante deliberação da assembleia
municipal, que fixam a taxa de IMI a aplicar em cada ano, dentro
dos intervalos previstos na alínea c) do n.º 1, do art. 112.º do CIMI,
podendo esta ser fixada por freguesia (n.º 5, art. 112.º).
•  Aplicam-se a nível nacional, as seguintes taxas:
o  prédios rústicos: 0,8%;
o  prédios urbanos: 0,3% a 0,5%.
Nos prédios mistos, aplicar-se-á ao valor patrimonial tributário de
cada parte, a respectiva taxa. Os municípios, mediante deliberação
da assembleia municipal, podem majorar ou reduzir as taxas gerais,
em determinadas situações previstas no artigo 112º do CIMI
(exemplo: operações de reabilitação) baseando-se em tabelas e
valores fixados.
Os poderes tributários das Autarquias
Locais

•  Artigos 238.º, n.º 4 e 254.º, n.º 1, da CRP;


•  Intervenção do legislador nacional – Lei das
Finanças Locais (LFL):
a)  Poderes tributários propriamente ditos
(arts. 16.º, 18.º, 25.º e 26.º LFL);
b)  Direito às receitas (art. 14.º LFL) – IMI,
IMT e parcela do IUC;
Autarquias locais

Não dispõem de poder legislativo

Mas

Podem exercer por via regulamentar (na dependência


da lei) alguns poderes tributários próprios – art. 238.º/4
da CRP
Caso prático 6

Abel tem uma empresa em nome individual que


actua no ramo da comercialização de águas minerais.
Suponha que Abel transferiu para o seu património
particular uma viatura afecta à sua atividade
empresarial, atribuindo-lhe o valor de € 5 000. Ao
abrigo do disposto no n.º 4 do artigo 29.º do CIRS, a
Administração Fiscal corrigiu esse valor, fixando-o em
€ 7 500.

Aprecie o preceito à luz do princípio da tipicidade


fiscal.
 
Vertente   material   do   princípio   da   legalidade  
fiscal

A lei fiscal tem de ser suficientemente densa e


precisa quanto aos elementos essenciais dos
impostos

ü  A  incidência;
Art.  103.º/2,  2.ª  parte   ü  A  taxa  ou  alíquota  do  
CRP imposto
ü  Os  beneficios  fiscais
ü  As  garantias  dos  
contribuintes

Princípio  da  tipicidade  da  lei  fiscal


Princípio  da  tipicidade  fiscal
Tipicidade

Menos  tipicidade Mais  tipicidade

Mais   Menos  
discricionariedade discricionariedade

•  Menos  segurança  para  os   •  Mais  segurança  para  os  


contribuintes contribuintes
•  Mais  eficiência  no   •  Menos  eficiência  no  
combate  à  fraude  e  evasão   combate  à  fraude  e  evasão  
fiscais fiscais
Desafios  ao  princípio  da  tipicidade  da  lei  fiscal
ü  Garantia da clareza e determinabilidade das leis vs complexidade
actual da actividade económica e promoção da luta contra a fraude,
evasão fiscal e elisão fiscal abusiva

ü  Normas de “hipótese legal fechada” / normas de “hipótese legal


aberta” (ex: 38º/2 LGT)

ü  Possibilidade de utilização pelo legislador de conceitos indeterminados


como meio de atribuição de poderes discricionários à AT (completáveis
através de instrumentos típicos do poder regulamentar – ex: circulares e
ofícios circulados, para assegurar a unidade das decisões)

ü  Atribuição de poderes discricionários típicos à AT, conferindo-lhe uma


margem de livre apreciação que o juiz deve respeitar (Ex: 29.º/4 CIRS)

81
Resolução do caso prático
•  Princípio da tipicidade fiscal (artigo 103.º/2 CRP) enquanto
dimensão material do princípio da legalidade fiscal – os
elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes);
•  Exigência de densidade das normas jurídicas fiscais que
versem sobre os elementos essenciais dos impostos e a
correspondente limitação da discricionariedade
administrativa (margem de livre apreciação/conceitos
indeterminados); a atual compressão da determinabilidade
das normas jurídicas fiscais em razão de interesses públicos
relevantes, como os da luta contra a fraude, a evasão e
elisão fiscais;
•  Aplicação ao caso concreto: conceitos indeterminados
(“valor de mercado”, “pessoas independentes”), margem de
livre apreciação (“pode ser objecto de correcção”)
Princípio  da  segurança  jurídica  e  
protecção  da  confiança

•  Aplicação da lei fiscal no tempo


1)  Proibição  constitucional  de  impostos  retroactivos  

Art. 103.º/3 da CRP – a referência autónoma aos impostos


retroactivos demonstra que estes constituem uma violação
gravíssima ao princípio do Estado de Direito, nomeadamente,
aos subprincípios concretizadores da segurança e da protecção
da confiança

Quando  é  que  o  imposto  tem  natureza  


retroactiva?

ü  Quando se reporta a factos tributários já ocorridos.


Estamos perante situações da vida que já ocorreram
e que a norma legal posterior vem tributar, sem que
antes estivessem sujeitas a tributação, ou quando a
norma vem agravar a respectiva tributação.
Casos  específicos  a  ter  em  conta:

v Impostos de obrigação única: o imposto é retroactivo


sempre que abrange factos tributários que já
ocorreram previamente
v Impostos com liquidações agregadas (ex: IVA): por
motivos de praticabilidade, ocorre a liquidação
agregada de um conjunto de factos tributários
v  Impostos periódicos (exs: IRS e IRC): sendo o facto
tributário contínuo, se o agravamento fiscal ocorrer
durante o ano fiscal (corresponde ao período de
formação do imposto), apenas deve,
RECOMENDAVELMENTE, ser aplicado ao período
decorrido a partir da sua entrada em vigor.
Ø  E se por motivos de praticabilidade não for possível
a fragmentação do período de tributação
(separação entre factos prévios e posteriores)?

O agravamento fiscal apenas poderá ser aplicado ao


período tributário seguinte, em que todos os factos tributários
sujeitos a agregação tenham tido lugar depois da entrada em
vigor da norma fiscal que agrava a tributação

caso de retroactividade inautêntica ou imprópria


estamos  assim

Domínio do princípio da protecção da confiança


legítima e já não da proibição constitucional de
retroactividade do imposto
Art.  103.º/3  CRP  –  
proibição  
constitucional  de  
impostos  retroactivos

Não  se  aplica  a   Aplica-­‐‑se,  apenas,  à  


situações  de   situações  de  
retroactividade   retroactividade  
inautêntica autêntica
Princípio  da  protecção  da  confiança  em  matéria  de  lei  fiscal  retroactiva

Não  se  esgota  na  proibição  de  impostos  retroactivos  (art.  103.º/3  CRP)

Aplica-­‐‑se,  também,  às  situações  de  retroactividade  inautêntica

A  alteração  legislativa  tem  lugar  depois  de  esgotado  o  facto  tributário,  


mas  antes  de  efectuada  a  sua  liquidação  e  cobrança  ou  situações  em  que  
o  facto  tributário  ainda  não  completou  a  sua  formação  (neste  último  
caso  alguns  autores  falam  de  retrospectividade)
Concluindo…
•  Em 1997 a não retroactividade dos impostos passou a ser
expressamente acolhida na CRP (art. 103º, n.º 3). No entanto, o
relevo do Princípio da Segurança Jurídica na análise da questão
da legitimidade constitucional dos impostos não se limita à
proibição de retroactividade. Resultante da ideia de Estado
Democrático de Direito, o princípio da segurança jurídica
relaciona-se com a necessidade de assegurar estabilidade às
relações jurídicas, inclusive as fiscais, dirigindo-se
essencialmente ao legislador não só no âmbito da vedação da
retroactividade, como também ao nível da livre revogabilidade
e alterabilidade de leis fiscais favoráveis, em especial das que se
referem a benefícios fiscais.
•  Ainda, impõe a necessidade de tutela da confiança dos
contribuintes, dirigindo-se igualmente aos aplicadores do direito.
•  O princípio opera como critério de ponderação em
situações de retroactividade imprópria ou inautêntica, à
luz do interesse público na obtenção de receitas fiscais.
•  Sobre o ponto, relevante é a jurisprudência do Tribunal
Constitucional, nomeadamente acórdãos 128/2009,
399/2010 e 18/2011.
•  Logo, o âmbito de incidência e de aplicação do
princípio da segurança jurídica é mais amplo que a
proibição de retroactividade dos impostos, ainda
guardando importante relevo na análise da questão da
legitimidade constitucional dos impostos a despeito da
previsão constitucional expressa de não
retroactividade.
Retroactividade da lei fiscal quando não interfere com os
elementos essenciais dos impostos

Aplicação do princípio da protecção da confiança

Não  onera  a  tributação  de  factos  tributários  passados  ou  


que  se  iniciaram  em  momento  passado  e  ainda  decorrem
MAS

Revela-­‐‑se  prejudicial  para  os  sujeitos  passivos,  por  lhes  


impor  novos  encargos  com  os  quais  estes  legitimamente  
não  contavam

Violação  das  expectativas  legítimas  


n.º  1  –  proibição  de  impostos  retroactivos

n.º  2  –  factos  tributários  de  formação  


sucessiva,  a  lei  nova  só  se  aplica  ao  período  
decorrido  a  partir  da  sua  entrada  em  vigor

Art.  12.º  da   n.º  3  –  as  normas  sobre  procedimento  e  


LGT processo  são  de  aplicação  imediata,  desde  que  
a  alteração  não  viole  o  princípio  da  protecção  
da  confiança

n.º  4  –  a  aplicação  imediata  do  n.º  3  não  tem  lugar  


quando  a  norma  em  causa  modifique  as  regras  de  
incidência,  sendo  capaz  de  originar  um  
agravamento  da  tributação,  em  desrespeito  com  a  
proibição  do  art.  103/3  da  CRP
Caso prático 5

Em Março de 2014, o Governo aprovou um decreto-lei


autorizado contendo algumas medidas extraordinárias
para fazer face ao descontrole na execução orçamental em
curso:
i)  Aumento de 3,5% para 5% da sobretaxa extraordinária
prevista no artigo 72.º-A do CIRS, incidente sobre os
rendimentos auferidos pelos sujeitos passivos durante
o ano fiscal de 2014.
ii)  Imagine agora que aquele aumento incide sobre os
rendimentos auferidos pelos sujeitos passivos em
2016.

Quid iuris?

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