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Aulas Práticas (Dra.

Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

www.martacostasantos.com
Direito Fiscal I palavra-passe: 2019taxasimpostos

O direito fiscal tem uma legislação muito complexa.

Por exemplo, quando compramos um café acontece logo um facto tributário


através do IVA incluído no preço do café.
É importante compreender que, quando falamos em tributos, não falamos
apenas de impostos, pois inclui, pelo menos, impostos e taxas.
A primeira parte da matéria é a de compreender a distinção entre: impostos e
taxas.

O que é um imposto?
É uma receita que é cobrada.

NOTA: O imposto não tem um carácter sancionatório, isto é, não se confunde


com uma multa. Se eu não pagar uma dívida que tenho para com um particular, a outra
parte pode recorrer para os tribunais. No entanto se eu não pagar um imposto à
Administração tributária não se recorre aos tribunais, pois é uma dívida ativa, e o que
vai acontecer é que a própria administração inicia um processo de execução e executa o
meu património e vendendo-o até à satisfação da dívida (é especial – precisamente
porque ela tem garantias especiais para o seu cumprimento, que uma dívida normal não
tem).
Em termos objectivos, o imposto:

o É uma prestação, gerida e administrada por entidades públicas, no


exercício típico de poderes de autoridade.

o É pecuniária (traduzida em dinheiro) – atenção: pode existir a dação do


pagamento (pagar através de batatas).

o É unilateral, isto é, sem contraprestação específica (não é possível


estabelecer, individualmente, uma relação entre o montante de imposto
suportado e a contraprestação recebida). Financiam as funções e
actividades públicas em geral.

NOTA: Quando pago um imposto não estou a retribuir uma contraprestação


específica que me foi feita (quando pago o IRS, não sei se aquela receita vai ser
afeta à educação, à saúde, apoio social, etc. Eu sei que pago o imposto para
financiar tarefas de interesse geral, para que o Estado consiga obter as receitas
que necessita para o financiamento das funções e finalidades de interesse geral.
Enquanto que, por exemplo, quando pago uma propina, é uma taxa, pois
quando a pago sei que terei uma contraprestação (ter aulas, exames, aceder às
bibliotecas).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 1


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o É definitiva, pois é unilateral para o futuro, não é um empréstimo


forçado.

NOTA: O pagamento de um imposto não é um empréstimo forçado. Quando se


chega ao final do ano e se apresenta declaração de rendimentos (com as despesas
que tiveram) – o estado irá calcular. Se chegar à conclusão de que pagaram a
mais aquilo que era devido, não é devolvido aquilo que as pessoas pagaram, mas
sim aquilo que pagaram a mais – a entidade patronal em vez de entregar o
salário bruto, entrega o salário liquido.

o É coativa – a fonte da obrigação do imposto resulta do preenchimento do


facto tributário e a sua execução pode ser exigida pela Administração
Fiscal através do procedimento de execução fiscal.
 Qual é o facto tributário do IMI? Ser-se proprietário de um
imóvel.
 O que leva ao pagamento o IUC (Imposto único de circulação)?
Quem for proprietário de um veículo tem de pagar.
 Qual é o facto tributário do IRS (imposto sobre o rendimento
das pessoas singulares)? É ser-se uma pessoa singular e obter-se
rendimentos.
 E do IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas)? É
uma empresa obter lucros.

Em termos subjetivos:

Referência aos sujeitos que integram a relação jurídica obrigacional do imposto.


É uma prestação:

o Exigida a (ou devida por) detentores de capacidade contributiva, isto


é, àqueles que revelem, através dos rendimentos que auferem, dos bens
cuja titularidade lhes corresponda ou do consumo que realizem, dispor de
capacidade financeira para contribuir para sustentar os encargos
públicos;
o A favor de entidades que exerçam funções públicas.
É devida pelos detentores de capacidade contributiva, isto é, a medida do
imposto é a capacidade contributiva.
NOTA: A capacidade contributiva, no IRS, a lógica é, quem tem mais paga
mais e quem tem menos paga menos, isto é, quem tiver mais capacidade contributiva
paga mais, quem tiver menos paga menos.

Um dos aspetos a ter em conta para analisar a capacidade contributiva são:

 Os rendimentos;
 O património (se tiver 0 rendimentos e usar um rolex e conduzir um ferrari);

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 O consumo (se for tomar café e almoçar a restaurantes caros).

A capacidade contributiva não se vê só através dos rendimentos mas também


através da “manifestação de fortuna”, isto é, há algo que se oculta ao Estado, pois nunca
se conseguiria adquirir certos bens, se verdadeiramente só ganhasse aquilo que declare.
Em suma, um imposto são receitas obtidas para financiar as tarefas a cabo do
Estado e de interesse geral. O imposto nunca tem carácter sancionatório.

Em termos teleológicos:

O imposto é caracterizado pelo facto de:

1. As receitas obtidas terem de se destinar à realização de tarefas de


interesse geral (carácter financeiro do imposto);
2. Desde que a obrigação de onde decorrem não tenha carácter
sancionatório (= contra-ordenações: multas; indemnizações)  art. 10º
LGT (tributação dos rendimentos ou actos ilícitos).

Em suma, um imposto é…

Notas objectivas Notas subjectivas Notas teleológicas

 Uma prestação  Exigida a  Com vista à


 Pecuniária detentores de realização de
 Com estrutura capacidade tarefas de interesse
unilateral contributiva geral
 Coativa  Exigida pelo Estado  Sem carácter
 Definitiva ou outras entidades sancionatório
públicos

Dois objectivos essenciais dos impostos:


1º Financiamento das funções estaduais;
2º Redistribuição do rendimento.

Conceito tradicional de imposto: “prestação patrimonial, estabelecida por lei a


favor de uma entidade que tem a seu cargo o exercício de funções públicas, com o fim
imediato de obter meios destinados ao seu financiamento” (Alberto Xavier).

Divisão dos tributos:


Todos os tributos têm um conjunto de características comuns:

 Têm receitas coativas;


 São prestações patrimoniais (são pagos em dinheiro);
 São definitivos (não geram direito a reembolso, restituição ou
indemnização);

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 São a favor de entidades públicas (atenção: é diferente de dizer que são


todos a favor do Estado, pois há taxas a favor dos municípios – taxas
municipais);
 Têm sempre como objetivo obter os meios financeiros necessários
para uma determinada tarefa.
 Em todos eles, o objetivo principal é o interesse público.

Impostos

Tributos
Princípio da legalidade fiscal
unilaterais

Princípio da capacidade contributiva


Divisão
dicotómica ou
bipartida ou
binária Taxas

Tributos Reserva à lei parlamentar ou decreto-lei autorizado erlativamente


bilaterais ao regime geral

A sua medida assenta no princípio da proporcionalidade taxa/prestação


estadual proporcionada ou taxa/custos específicos causados à respetiva
comunidade

A divisão tem de ser feita entre impostos e taxas, pois às contribuições


especiais aplica-se o regime dos impostos, às contribuições financeiras aplica-se o
regime das taxas (distinção dicotómica).
Nos tributos unilaterais: impostos (quando pago um imposto não vou ter uma
contraprestação específica)

Nos tributos bilaterais: taxas (em troca terei uma contraprestação específica)

Foquemo-nos no art. 165º/1 CRP:

No caso dos impostos, sempre que está em causa a criação de um novo


imposto ou modificação/alteração dos elementos essenciais dos impostos,
obrigatoriamente, tem de ser feita através de uma lei da AR ou um decreto-lei
autorizado – princípio da legalidade fiscal.

Relativamente às taxas, só a modificação do regime geral das taxas é que tem


de ser sujeita a lei da AR ou decreto-lei autorizado. Quanto à criação isso não é
necessário.

Hoje a tributação é feita, não tanto por impostos, mas mais através das taxas.
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No que diz respeito aos tributos unilaterais (impostos) há que ter em conta a
capacidade contributiva (princípio da capacidade contributiva).
Quanto aos tributos bilaterais (taxas), o que acontece é que se paga uma taxa
para obter uma contraprestação específica, por exemplo, o filho do Cristiano
Ronaldo ou filho de uma pessoa com menos posses, pagam o mesmo de propinas.

A medida da taxa é a análise da proporcionalidade, isto é, olhar para aquilo que


se paga e verificar se é proporcional à contraprestação que se tem – aqui, é uma
proporcionalidade do lado do contribuinte, por exemplo, quando pago propinas sei que
irei receber aulas, ter acesso a exames, etc. A proporcionalidade é violada se aquilo
que eu pago for superior aquilo que eu recebo.

NOTA: Quando olho para uma taxa tenho de verificar se é bilateral (se
obtenho alguma contraprestação específica). De seguida é necessário ver se está
respeitado o princípio da proporcionalidade (aquilo que recebo é proporcional aquilo
que pago).

O que é uma taxa?


É uma (contra) prestação de carácter bilateral, isto é, assenta numa relação
jurídica do tipo “dou para que me dês”. À contraprestação tributária do particular a
favor do Estado e demais entes públicos corresponde uma anterior prestação específica,
uma actividade desses mesmos entes (prestação concreta de um serviço público;
disponibilização de um bem do domínio público e/ou remoção de um obstáculo jurídico
a particulares – art. 4º/2 LGT) especialmente dirigida ao respectivo obrigado, não
visando comportar, portanto, prestações difusas tal como os impostos.

Ao pagamento da contraprestação corresponde um serviço/prestação que eu


recebi em troca, e que corresponde especificamente a mim.

Por exemplo, cada um de os alunos faz um exame, e esse mesmo exame é


corrigido individualmente; quando alguém que caça, tira licença para caçar – quando
se dirige ao município para tirar licença encontra-se perante um obstáculo jurídico (sem
a licença não pode caçar, ou ter em sua posse armas) – a partir do momento em que se
obtém a licença há uma contraprestação específica, isto é, a entidade que concede a
licença deve remover o obstáculo jurídico que impede a atividade – a licença tem de ser
individualizada, passada apenas ao interessado.

Art. 165º CRP (reserva relativa de competência legislativa)

1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as


seguintes matérias, salvo autorização ao Governo:
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e
demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas;

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De seguida, tomaremos atenção ao art. 4º LGT

 Art. 4º/2 LGT  “As taxas assentam na prestação concreta de um serviço


público, na utilização de um bem do domínio público ou na remoção de um
obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares”.

1) “Prestação concreta de um serviço público”: o objetivo é financiar as


prestações que são divisíveis e individualizáveis de serviços públicos,
desde que a necessidade do serviço tenha sido gerada pelo sujeito passivo

NOTA: Quando se pede licença de posse e uso de armas é desencadeado um


processo administrativo todo a pensar no particular – para averiguar se há ou não
condições para o uso e posse de armas); Mas atenção: pode suscitar algumas
dúvidas o caso da taxa de recolha do lixo  no entanto, o serviço de recolha do
lixo passa na rua porque cada um dos particulares produz lixo;

2) “Utilização de um bem do domínio público”: Compensar a


comunidade por um uso/aproveitamento individualizado de um bem do
domínio público.
Por exemplo, taxas municipais de direitos de passagem. No caso do
Cartola, como está inserido na Praça da República, está a utilizar o
domínio público. Para utilização do domínio público, o Cartola tem de
pagar uma taxa por utilização desse domínio. É o mesmo caso da MEO,
para conseguir estabelecer comunicações, passa uma série de
infraestruturas, e necessita de pagar uma taxa para conseguir aceder a
todos os locais desejados.

3) “Remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos


particulares”: Remunerar um encargo específico ocasionado pela
remoção de um obstáculo jurídico.
Por exemplo, é o caso evidente das licenças – taxa de publicidade (se
quiser fazer publicidade luminosa com uma mulher nua a mexer-se – é
necessário pedir uma licença para afixar o painel luminoso – o município
terá de analisar (controlar), nomeadamente, se a publicidade está de
acordo com os usos e bons costumes, com a moral pública). Não é só a
passagem de um “papel” é toda uma análise que está por trás, se pode ou
não ser entregue àquela determinada pessoa.

NOTA: “Falsas taxas” – como a criação das taxas é mais simples do que a
criação de um imposto (imposto sujeito ao principio da legalidade fiscal). O que
acontece é que surgem taxas inconstitucionais, pois não se consegue encontrar nas
mesmas o carácter de bilateralidade.

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Diferença muito relevante quanto ao regime constitucional: o princípio da


legalidade fiscal só vale para os impostos.

Taxa VS Imposto?
 Unilateralidade dos impostos e bilateralidade das taxas;
 A medida ou critério do tributo: se for com base na proporcionalidade
entre o tributo e a respectiva contraprestação específica é taxa; se a
medida/critério for a capacidade contributiva é imposto (art. 103º/1 e
104º/1 a 4 CRP; art. 4º/1 LGT);
 Aplica-se aos impostos o princípio da não retroactividade (art. 103º/3
CRP), enquanto as taxas são norteadas pelo princípio geral da segurança
jurídica decorrente do Estado Democrático de Direito (art. 2ºCRP)

Se há um imposto que é criado com efeitos só para o passado – é proibido pela


CRP (art. 103º LGT)

As taxas não estão sujeitas a uma inconstitucionalidade direta, no entanto


podem violar o princípio da segurança jurídica.

Para averiguar a natureza jurídica do tributo é necessário recorrer a dois testes,


em relação às taxas (ou “falsas taxas”, no caso de não se verificar o cumprimento dos 2
testes):

1º Teste da bilateralidade (normalmente quando é uma falsa taxa não se consegue


encontrar contraprestação específica)
2º Teste da proporcionalidade (entre aquilo que pagamos e aquilo que
recebemos). Só é considerada “falsa taxa” se se tratar de uma falta de
proporcionalidade intolerável, o que é muito difícil de provar.

Caso prático 1

1) Taxa de publicidade:

A cobrança de uma taxa municipal pela renovação anual da licença de afixação


de painéis publicitários no domínio privado pode ser verdadeiramente considerada uma
taxa ou se, contrariamente, deverá ser qualificada como um imposto?

Decisão do Tribunal Constitucional no acórdão n.º 177/2010 – diz tratar-se de


uma verdadeira taxa, cuja contrapartida consiste no “gozo do espaço público
comunicacional”.

Perspectiva do Dr. Casalta Nabais – trata-se verdadeiramente de um imposto


dado não existir uma contraprestação específica individualizável de fruição de um bem
ou serviço de natureza municipal.

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 Art. 4.º, n.º 2 da LGT; “as taxas assentam na prestação concreta de um


serviço público, na utilização de um bem do domínio público ou na
remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares.”
 No caso de “remoção de um obstáculo jurídico” (= licenças) - apenas se
configurarão como verdadeiras taxas naqueles casos em que o obstáculo
jurídico a remover constitua um obstáculo real, levantado por exigência
dum específico interesse administrativo.
 Ex: taxa devida pelo licenciamento de publicidade (é diferente da taxa
pela renovação da licença) já é uma verdadeira taxa, uma vez que o
município deve controlar a qualidade da publicidade e o enquadramento
urbanístico da mesma.

2) Taxas por infra-estruturas urbanísticas (ex: Acórdão do TC n.º 357/99)


3) Propinas universitárias, pagas nas universidades públicas

4) As portagens (a propósito da ponte 25 de Abril) (Acórdão do TC n.º


640/95) – princípio da proporcionalidade
5) A taxa de compensação por deficiência de estacionamento – Ac. TC n.º
277/86 – contribuições especiais = tratamento dos impostos
6) A taxa exigida pela recolha do lixo (Acórdão do TC 1139/96)

7) Taxa de segurança alimentar mais (Acórdão n.º 539/2015) –


contribuição financeira

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Para além dos impostos e taxas, há ainda mais dois tributos:

Contribuições Especiais VS Contribuições Financeiras


(na prática é exatamente igual)

Pergunta de exame: “As contribuições especiais e financeiras não estão


sujeitas, na mesma medida, ao princípio da legalidade fiscal”. VERDADEIRO – As
contribuições especiais, que se aplica o regime dos impostos, estão sujeitas ao princípio
da legalidade fiscal.

Tributo Estrutura Critério (medida) Princípio da


Legalidade

Sujeito à reserva
relativa da
competência da AR
Imposto Unilateral Capacidade relativamente à
contributiva criação e aos
elementos essenciais
(articulação entre o
art. 165º/1/i) e o art.
103º/2 CRP)

Sujeito à reserva
relativa da
Taxa Bilateral Proporcionalidade
competência da AR
entre a prestação e a
relativamente ao seu
contraprestação
regime geral

Contribuição Unilateral (4º/3º Capacidade Sujeito à reserva


Especial LGT) Contributiva relativa da
competência da AR
relativamente à
criação e aos
elementos essenciais

Contribuição Bilateral Proporcionalidade Apenas quanto ao


Financeira entre a prestação e a regime geral
contraprestação

 Contribuição Especial: (art. 4º/3 LGT)


Podem assentar na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou aumentos de
valor dos seus bens em resultados de obras públicas; ou de criação ou ampliação de
serviços públicos ou no especial desgaste de bens públicos ocasionados pelo exercício
de uma actividade (art. 4º/3 LGT).

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Apesar de se lhe aplicar o regime dos impostos, elas não iguais aos impostos,
pois enquanto que, num imposto, não há o carácter bilateral, uma vez que se está a
financiar o interesse geral, nas contribuições especiais, não há uma contraprestação
individualizável, isto é, “tive sorte” e fui beneficiada com algo que aconteceu.

Por exemplo:

1. Aumento de valor dos seus bens – Quando se faz uma estrada não é para
beneficiar o particular, mas haverá uma contribuição especial, devida ao aumento de
valor dos prédios rústicos e terrenos para a construção decorrente da sua situação nas
áreas de intervenção da CRIL (paga-se a contribuição porque houve um benefício);

2. Especial desgaste de bens públicos – “Imposto” de camionagem: entendia-se


que, um camião a passar na via pública, desgastava mais do que um veículo normal.
Isso implicava mais gastos por parte do Estado na reparação das estradas. Desse modo,
os camionistas estão sujeitos a um imposto de camionagem;

3. Contribuições por maiores despesas – Quando se faz um prédio, têm de se


criar x espaço de estacionamento. Se isso não acontecer tem se de criar um imposto para
compensar a falta de estacionamento (e pode levar a um aumento do estacionamento
público – é pago porque não criaram os espaços de estacionamento suficientes, mas não
lhes é garantido que haverá lugar nos estacionamentos públicos e, desse modo, não é
uma taxa, pois não há contraprestação).

 Contribuição Financeira:
Não se aplica o regime dos impostos, mas das taxas.

São cobradas para a cobertura das despesas de pessoas coletivas públicas não
territoriais. Visam, assim, o sustento dessas entidades.

Estas contribuições financeiras são intituladas de tributos parafiscais, que se situam


num ponto intermédio entre a taxa e o imposto. Não são impostos porque não são uma
participação nos gastos gerais da comunidade, mas também não são uma retribuição de
um serviço concretamente prestado por uma entidade pública ao sujeito passivo.

Por exemplo: taxa de regulação e supervisão que visa financiar a acção quotidiana
da Entidade Reguladores para a Comunicação social.
As contribuições financeiras poderão ser qualificadas como taxas coletivas, na
medida em que compartilham:
1. Em parte da natureza dos impostos (porque não têm necessariamente uma
contrapartida individualizada para cada contribuinte);
2. E em parte da natureza das taxas (porque visam retribuir o serviço
prestado por uma instituição pública a certo círculo ou certa categoria de
pessoas ou entidades que beneficiam colectivamente de uma actividade
administrativa).

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No entanto, é importante distinguir “taxas” de “contribuições financeiras”, pois


têm surgido com o nome de taxas, e isto leva a grandes discussões nos tribunais.
As contribuições não se dirigem à compensação de prestações efectivamente
provocadas ou aproveitadas pelo sujeito passivo, mas à compensação de prestações que
apenas presumivelmente são provocadas ou aproveitadas pelo sujeito passivo,
correspondendo a uma relação de bilateralidade genérica.

Preenchem esse requisito as situações em que a prestação poderá beneficiar


potencialmente de um grupo homogéneo ou um conjunto diferenciável de destinatários
e aquelas em que a responsabilidade pelo financiamento de uma tarefa administrativa é
imputável a um determinado grupo que mantém alguma proximidade com as finalidades
que através dessa actividade se pretendem atingir.

Em suma:

o Taxas: são prestações de um serviço individualizado


o Contribuições financeiras: são serviços prestados colectivamente a um
número de pessoas, que beneficiam daquele serviço.

O grande problema é quando se chama “taxa” àquilo que são “impostos”.


NOTA: Qualquer autoridade pública com poderes de autoridade pode criar taxas.

O art. 165º/1/i) CRP estabelece dois regimes de serva relativa da AR:

 Um para os impostos, sujeitando-os ao exigente princípio da legalidade


fiscal;
 Outro para as taxas e demais contribuições financeiras, traduzido na
integração do seu “regime geral” na reserva relativa da competência
legislativa da AR.
Significa isto que as contribuições de melhoria e as contribuições financeiras não
estão sujeitas em igual medida ao princípio da legalidade.
NOTA : art. 3º/2 e 3 LGT – as contribuições financeiras não são ainda objeto de
um regime jurídico próprio, pelo que são equiparadas, em termos do seu regime, às
taxas e as contribuições especiais são consideradas impostos

Os momentos da vida do imposto;


1) Momento da criação
 Facto gerador: facto, actividade ou situação que dá origem ao
imposto (nem tudo na vida gera a obrigação de pagar imposto);
 Sujeitos: ativos e passivos da obrigação do impsto (art. 13º/1 IRS);
 Montante do imposto: definição da matéria colectável, da taxa e das
deduções à colecta (podemos ter impostos que a lei diga,
directamente, quando se pagam);
 Benefícios fiscais

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Por exemplo IRS:


 Facto gerador: art. 1º/1 e 2 CIRS; art. 2º a 12º
 Sujeitos da obrigação de imposto: art. 13º/1
 Montante do imposto: art. 68º e 68º-A (taxas); art. 78º ss
(deduções à colecta);
 Benefícios fiscais: art. 2º/1

2) Momento da aplicação
 Lançamento: Identificação do contribuinte, determinação da matéria
colectável e da taxa; A Administração tributária é que vai dizer
quanto é que se vai pagar de imposto. Há impostos que são de
autoliquidação. No IRS, cada um de nós não auto-liquida nada, é a
Administração tributária que faz esse lançamento.
 Liquidação: Determinação da colecta através da aplicação da taxa à
matéria colectável; se for o caso, procede-se ainda a deduções à
colecta, para determinar assim o montante de imposto a pagar.
 Cobrança/Pagamento: O imposto entra nos cofres do Estado,
através do pagamento espontâneo ou da cobrança coerciva;
procedimento de execução fiscal contra nós, quando não pagamos
voluntariamente no tempo que temos (fazemo-lo coercivamente).

Facto Tributário – situação de facto que dá origem ao pagamento de imposto

Liquidação (em sentido estrito) – operação matemática que consiste na aplicação

da taxa à matéria colectável (= valor sujeito a tributação) para obter a colecta

Cobrança – pagamento do imposto (cobrança voluntária) ou execução fiscal

(cobrança coerciva)

O sistema fiscal português


1) Impostos sobre o rendimento
 Impostos sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS): valor
anual dos rendimentos das categorias do trabalho dependente,
empresariais e profissionais, capitais, prediais, patrimoniais e
pensões, auferidos por pessoas singulares.
 Imposto sobre pessoas coletivas (IRC): valor anual dos lucros ou
do rendimento global líquido das pessoas coletivas, consoante estas
exerçam ou não, respectivamente, a título principal uma actividade
comercial, industrial ou agrícola.

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 Imposto especial sobre o jogo: duas parcelas  uma percentagem


do capital de giro inicial e uma percentagem dos lucros brutos das
bancas.

2) Impostos sobre o património (IMI, IMT)


 Imposto Municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis
(IMT): valor das transmissões, a título oneroso, do direito de
propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre imóveis
situados no território português, qualquer que seja o título por que se
operem;
 Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI): valor patrimonial
tributário dos prédios rústicos e urbanos situados no território
português;
 Imposto do selo (IS): valor das transmissões gratuitas de bens

NOTA: Quando compro uma casa, para além de todos os anos a ter de pagar o IMI,
tenho de pagar o IMT.

(caso prático: mistura todos os impostos).

3) Impostos sobre o consumo


 Imposto sobre o valor acrescentado (IVA): transmissões de bens e
prestações de serviços efectuadas no território nacional, a título
oneroso, por sujeitos passivos agindo como tal;
 Impostos especiais sobre o consumo (IECs)
 IABA: Impostos sobre Álcool e Bebidas;
 ISP: Imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos;
 IT: Imposto sobre o tabaco

4) Impostos que têm uma intenção extra-fiscal


 Imposto sobre Veículos (ISV): atribuição de matrícula portuguesa a
certas classes de veículos com o objetivo de cobrir custos por estes
gerados nos domínios do ambiente, infra-estruturas viárias e
sinistralidade rodoviária.
Procura, em grande medida, dar resposta aos novos desafios da fiscalidade
no campo económico, onerando especialmente a aquisição de veículos mais
poluentes e que desgastam de forma mais intensa as infra-estruturas, não só
no momento da compra (imposto sobre veículos), mas também anualmente,
enquanto se mantiver a titularidade do veículo (imposto único de circulação).

 Imposto Único de Circulação (IUC): propriedade de veículos


(atestada pelo registo nacional) com o objetivo de cobrir custos por
estes gerados nos domínios viário e ambiental.

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O objetivo é, através do imposto, modificar ou influenciar, comportamentos:

 Relacionado com impostos ambientais:


 Imposto sobre veículos (ISV)
 Imposto único de circulação (IUC): tem de ser pago por
qualquer pessoa que seja proprietária de um veículo

Fogem um pouco à lógica de tributar os rendimentos.

Coordenadas constitucionais do sistema fiscal português


Pergunta de verdadeiro e falso: “O IRS é cada vez menos um imposto único e
progressivo.” (VERDADEIRO)

Art. 103º e 104º CRP


Unicidade e progressividade da tributação do rendimento pessoal VS tributação dos
rendimentos de capital a taxas liberatórias (art. 71º CIRS);

Devido à existência de diversas taxas liberatórias (rendimentos de capitais), o IRS


está longe de ser um imposto único.
A CRP estabelece, no seu art. 104º/1, que o imposto sobre o rendimento é único.
Daí o apuramento da matéria colectável em sede de IRS estar sujeito a englobamento
(art. 22º CIRS), somando-se todos os rendimentos das diversas categorias e do
agregado familiar para tributa-los conjuntamente à mesma taxa (progressiva).

Não obstante, a unicidade e progressividade do IRS são flexibilizadas pela


tributação em separado e proporcional mediante taxas liberatórias e definitivas
(retenção na fonte a título definitivo com substituição tributária total) dos diversos
rendimentos previstos no art. 71º, estabelecendo um regime distinto ao aplicável
aos demais rendimentos. A opção pelo englobamento (art. 22º e 71º/6) como
salvaguarda da constitucionalidade das taxas liberatórias.
A progressividade do imposto é igualmente afetada pela existência de taxas
especiais.

Art. 104º/1 CRP:

 É único  apuram-se os rendimentos que as pessoas têm nas várias


categorias e englobam-se (somam-se)
 Progressivo  à medida que a matéria colectável é maior – maior é o
imposto que vou pagar, e vice-versa.

Taxas progressivas  aumentam à medida que a matéria coletável aumenta, e


vice-versa.

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Hoje, é cada vez menos assim. Temos rendimentos no IRS tributados


autonomamente, nas taxas liberatórias, que são fixas (art. 71º CIRS). *Isto manda
abaixo a progressividade

Estes rendimentos sujeitos a taxas liberatórias não se englobam (somam).

Os rendimentos de capitais não se englobam. Isto significa que o IRS não é único (é
tendencialmente único), isto é, há alguns rendimentos que não são englobados.

Algumas tipologias de imposto


Os vários diplomas legais falam de impostos com estas diferentes categorias:

1. Impostos reais VS Impostos pessoais


Impostos reais:
o Não tomam em consideração a situação económica e pessoal do contribuinte;
o Incidem objectivamente sobre a matéria tributável
o Exemplos: IMI, IMT, IVA, IRC

Impostos pessoais:
o Tomam em consideração, em maior ou menor grau, aspectos económicos e
sociais dos contribuintes;
a) Consideram o rendimento global dos contribuintes;
b) Excluem o mínimo de existência;
c) Admitem deduções de encargos sociais de natureza pessoal e familiar
(saúde, ensino, …)
d) Taxa progressiva
e) Aplicação do quociente familiar aos contribuintes casados e aos que
vivam em união de facto e optem por esta modalidade
o Exemplo: IRS

Por exemplo: eu sou pobre, mas no testamento deixaram-me uma casa avaliada em
3M de euros, eu vou ter de pagar IMI.
O IRS já não é assim, toma em conta aspectos pessoais e socais dos contribuintes.

2. Impostos periódicos VS Impostos de obrigação


Relevo da distinção ao nível da determinação da caducidade do direito à liquidação
e à prescrição das dívidas tributárias.

Impostos periódicos:
o Assentam numa relação jurídica duradoura;
o A liquidação é efectuada periodicamente, enquanto se mantiver o
pressuposto da tributação;

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 15


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o Não se esgotam em atos isolados, formam-se ao longo do ano;


o Exemplo: IRC, IRS

Impostos de obrigação única:


o Correspondem a atos isolados, mesmo quando são repetidos;
o Exemplo: IVA, ISP, … (por cada ato isolado, paga-se IVA)

Prescrição e caducidade é diferente.

O prazo que a Administração Tributária tem para tornar a dívida certa e exigível –
fazer a liquidação  Caducidade

O prazo que a Administração Tributária tem para cobrar, coercivamente, o imposto


 Prescrição

Facto histórico:
 Liquidação  Caducidade (4 anos)
Art. 45º (caducidade) e 48º (prescrição) LGT
 Cobrança  Prescrição (8 anos)

Nos impostos periódicos: os prazos de prescrição (4 ou 8 anos) contam-se a partir


do termo do ano em que se verificou o facto tributário.
A dificuldade ocorre no âmbito dos impostos de obrigação única: os prazos de
prescrição (4 e 8 anos) começam-se a contar a partir da data em que o facto tributário
ocorreu. Aqui, o IVA, é sempre o pior, a não liquidação do IVA é crime  conta-se a
partir do ano civil seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade.

Caso prático 2

Em Janeiro de 2018, a AT procedeu à cobrança coerciva da dívida de IVA da


empresa X, S.A. referente ao ano de 2008.

1. Imagine que os sócios desta empresa o procuram, nessa mesma data,


para que os aconselhe sobre a eventual prescrição dessa dívida. O que
lhe diria?

Estando em causa uma dívida de IVA referente a 2008, e sendo este imposto de
obrigação única, o termo inicial do prazo de prescrição (de 8 anos) conta-se, por via da
alteração que o art. 40º da Lei nº 55-B/2004 introduziu no nº 1 do art. 48º LGT, a partir
do ano civil seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto, isto é, a
partir de 1/1/2019.

Logo, em 1/1/2017, a AT deixa de poder promover a cobrança coerciva das dívidas


fiscais.

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2. Como classifica o IVA, tendo em conta a tipologia dos impostos?


 É um imposto indirecto, de acordo com o critério económico da repercussão
económica e o critério jurídico da relação jurídica base do imposto ou da
fonte da obrigação ao imposto.
 É um imposto de obrigação
 Imposto real
 Imposto de quota variável, taxa fixa

Em suma:

Os impostos de obrigação única são aqueles em que a obrigação do imposto


constitui-se instantaneamente (por um facto ou ato isolado no tempo ou por factos ou
atos sem continuidade entre si).

Os impostos periódicos, por sua vez, são aqueles em que a relação jurídica fonte da
obrigação de impostos tem em sua base situações estáveis, que se prolongam no tempo,
dando origem, por conseguinte, a obrigações periódicas, que se renovam todos os anos.
Assim, incidem ao longo do tempo sobre uma mesma situação jurídica, somente se
estabilizando o período da tributação ao fim do período fiscal (por exemplo, no IRS, o
ano civil), já que o facto tributário é de formação sucessiva.

A utilidade prática da distinção decorre da configuração do elemento temporal do


facto tributário:

 Os impostos duradouros (ou periódicos), por terem na base do facto


tributário um elemento temporal que tende a manter-se, colocam o problema
do fraccionamento jurídico desse facto (diferença entre ato e facto
tributário), isto é, o problema do período do imposto (que, em geral, coincide
com o ano civil).

Daí que, para os impostos de obrigação única, o termo a quo da contagem dos
prazos de caducidade da liquidação e prescrição da obrigação de imposto dá-se na data
em que o facto tributário foi praticado, à excepção do IVA; enquanto, para os impostos
periódicos, tal contagem inicia-se a partir do término do ano em que se verificou o facto
tributário (arts. 45º, n.º 4 e 48º, n.º 1 da LGT, respectivamente), ressalvando-se os
casos de retenção na fonte a título definitivo.

Finalmente, a diferença reflecte-se também na aferição da natureza e limites da


retroactividade das leis fiscais (se autêntica ou inautêntica, se proibida pelo art. 103º,
n.º 3 da CRP ou apreciável com base em parâmetros mais flexíveis, à luz de uma
ponderação entre o princípio da segurança jurídica/confiança legítima e o interesse
público de arrecadação).

Isto porque, nos casos em que o facto tributário que a lei nova pretende regular já se
tenha formado totalmente, então estará em causa a proibição constitucional da

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retroactividade (autêntica) – o que, nos impostos de obrigação única, não coloca


maiores problemas.

Já em casos que o facto tributário ainda esteja em formação (para os impostos


periódicos) e advenha uma nova lei, se configura uma retroactividade de natureza
inautêntica ou, até, para alguns autores, uma retrospectividade.

Para este efeito, o Tribunal Constitucional português, analisando a


constitucionalidade de leis que modificaram a taxa do IRS ao longo do ano fiscal, já
decidiu (v., p. ex., acórdãos 399/2010 e 18/2011) que “é possível, no que diz respeito
aos impostos periódicos, a aprovação de leis no decurso do período de tributação que se
destinem a produzir efeitos em relação a todo esse período, ficando, no entanto, tais leis
sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado de Direito, como seja o teste da
protecção da confiança [e não, assim, à expressa vedação de retroactividade do art.
103º, n.º 3 da CRP]”.

3. Impostos diretos VS Impostos indirectos


Critérios de distinção:
I. Critério da relação jurídica base de imposto
II. Critério da repercussão económica (Mto. Importante)
o Impostos diretos: IRS, IRC, IMT e IMI
o Impostos indirectos: IVA, IEC e IS
a) Classificação em relação a critérios económicos
 Critério da repercussão económica:
Valor destes impostos é ou não repercutido no adquirente final de bens e serviços?

Impostos indirectos – aqueles em que o suportador económico do imposto não se


identifica com o sujeito passivo do mesmo, estando a repercussão económica
legalmente prevista.

o Impostos diretos: IRS, IRC, IMT e IMI


o Impostos indiretos: IVA, IEC e IS

Repercussão económica do imposto: é uma técnica utilizada sobretudo nos


impostos sobre o consumo, em que a capacidade contributiva que se pretende tributar é
a dos consumidores finais dos produtos e serviços existentes/prestados no mercado. O
desfalque patrimonial do imposto devido, ocorre, portanto, na sua esfera, através do
fenómeno económico da repercussão do imposto, isto é, o valor final dos produtos e
serviços negociados no mercado reflete, na esfera patrimonial do consumidor, o
montante do imposto incidente sobre aquele bem/operação.

(caso de imposto indireto)  ex: compro um pacote de leite no pingo doce  pago
o preço do leite + IVA, mas eu não sou o sujeito passivo (não entrego o IVA ao Estado)
 no entanto, vou ser eu a pagar. O comprador não vai entregar o imposto ao Estado (é
o pingo doce), mas é ele que vai ter o desfalque patrimonial  é o consumidor que
suporta o IVA. É a própria lei que estabelece legalmente este sistema de repercussão

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 18


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económica. Quem paga o IVA é o consumidor final. Quem vai suportar um imposto
é um terceiro, e não o sujeito passivo.

b) Classificação em função de critérios jurídicos


 Critério da relação jurídica base do imposto ou da fonte da obrigação
do imposto:

Critério de distinção reside no tipo de relação jurídica fonte da obrigação do imposto


(seguido pelo nº2 do art. 736º CC).

o Impostos direto:
 Aquele que incide sobre relações jurídicas duradouras, impondo uma
renovação periódica da obrigação do imposto.
 Coincidem com os impostos periódicos.
 Exemplo: IRS, IRC
o Imposto indireto:
 Aquele que tem por base um facto ou ato isolado.
 Coincidem com os impostos de obrigação única.
 Exemplo: IVA, ISP, IA

4. Impostos de quota fixa VS impostos de quota variável

Impostos de quota fixa (IS)


A própria lei indica a importância fixa a pagar, dispensando as operações de
liquidação.

Impostos de quota variável


São aqueles em que o montante do imposto varia consoante o valor da matéria
colectável, sendo determinado a partir da aplicação de uma taxa.
 Impostos de taxa fixa (IRC): a taxa mantém-se inalterada
independentemente do valor da matéria colectável. Também denominados
impostos proporcionais. Por exemplo, IRC (art. 87º e ss.), IMI (art.112º),
IVA.
 Impostos de taxa variável: a taxa aumenta ou diminui consoante aumente
ou diminua a matéria colectável.
 Impostos Regressivos: A taxa diminui à medida que aumenta a
matéria colectável.
 Impostos Progressivos: A taxa aumenta à medida que aumenta a
matéria colectável. Por exemplo, IRS.
i. Progressividade global (IUC): a matéria colectável é
dividida em classes, partindo do zero ou do mínimo de
isenção, fazendo-se depois corresponder uma taxa (que

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 19


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aumenta gradualmente) a cada classe de matéria colectável,


taxa que se aplica à totalidade da matéria colectável.
ii. Progressividade por escalões (IRS): a matéria colectável é
igualmente dividida em várias partes, sendo cada uma delas
tributada à taxa correspondente.

de taxa fixa Progressividade global


Impostos de Impostos
quota variável de taxa progressivos Progressividade por
variável Impostos escalões
regressivos

5. Impostos sobre o rendimento, sobre o património e sobre o


consumo
 Impostos sobre o rendimento: IRS e IRC
 Impostos sobre o património: IMI, IMT e o IS
 Impostos sobre o consumo: IVA e os impostos especiais de consumo (IEC):
ISP, IT, IABA, ISV, IUC

Caso prático 3

António, promotor de vendas de uma empresa de peixe congelado, recebeu da


entidade patronal, no ano de 2018, para além do salário o direito a utilizar a viatura de
serviço para férias e outras deslocações pessoais. Partindo do conceito de rendimento
para efeitos de tributação, indique se aquele direito deve ser considerado rendimento
para efeitos da declaração anual a apresentar nos serviços de finanças e porquê.

Resposta:

No caso em apreço, a utilização da viatura de serviço para fins pessoais


consubstancia um acréscimo de rendimento, na medida em que “liberta” o António
de ter que adquirir uma viatura própria para essa finalidade ou de suportar outros
custos com transportes no domínio da sua actividade pessoal e não profissional,
pois esses custos são suportados pela entidade patronal – aqui verificamos o
acréscimo de rendimento.

Como indício de que o raciocínio anterior está correcto, podemos referir que o art.
2.º, n.º 1, n.º 9 do CIRS integra no âmbito dos rendimentos do trabalho dependente
(categoria A) os resultantes da utilização pessoal pelo trabalhador de viatura automóvel
que gere encargos para a entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o
trabalhador e a entidade patronal sobre a imputação àquele da referida viatura
automóvel.
Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 20
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Rendimento-acréscimo e rendimento-produto:
O conceito de rendimento-acréscimo substituiu o conceito de rendimento-produto.
De acordo com este último, o rendimento para efeitos de tributação traduz-se no
resultado obtido a partir da participação numa actividade produtiva, conceito que
acabou por se tornar inoperativo perante a divulgação dos rendimentos de capitais – art.
5.º CIRS.

Surgiu, assim, o conceito de rendimento-acréscimo para englobar todas as


manifestações de incremento líquido do património de um sujeito, que pode ser
gasto sem diminuição do património inicial.

Princípios jurídico-constitucionais da tributação

Universalidade

Igualdade

Materiais Justiça

Progressividade
Princípios
Capacidade económica

Formais Legalidade

Princípio da legalidade fiscal (nullum tirbutum sine lege)

 Função de garantia (art. 103º/3)


 Ligado ao princípio democrático

O princípio da legalidade fiscal tem duas vertentes:

 Vertente formal: “garantia da vontade popular”. Repartição dos poderes


tributários (entre a AR, Governo, Regiões Autónomas e Autarquias Locais –
art. 165º/1/i) CRP)
 Vertente material: Exigências de densificação da lei fiscal no que respeita
aos elementos essenciais dos impostos. Princípio da tipicidade fiscal (art.
103º/2 CRP)

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Auto-tributação: os impostos só poderão ser cobrados quando forem consentidos


por aqueles que os têm de suportar, através das assembleias representativas.

Direito de resistência fiscal – art. 103º/3 CRP

Caso prático 4
Suponha que, no dia 1 de Março deste ano, o Governo aprova em Conselho de
Ministros um Decreto Regulamentar, onde se dispõe: “Os artigos 13.º, n.º 1, e 15.º, n.º 1
do Código do IRS, passam a ter a seguinte redacção:

 Artigo 13.º, n.º 1: Ficam sujeitas a IRS as pessoas singulares de


nacionalidade portuguesa, as pessoas singulares que residam em território
português e as que, nele não residindo, aqui obtenham rendimentos.
 Artigo 15.º, n.º 1: Sendo as pessoas de nacionalidade portuguesa ou
residentes em território português, o IRS incide sobre a totalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território”.

Aprecie o referido Decreto Regulamentar à luz da constituição fiscal

Resposta

Violação do princípio da legalidade fiscal, na sua dimensão de reserva de lei formal;

Este princípio, previsto no art. 165.º/1, al. i), não vale apenas para a “criação”

propriamente dita, mas também para a definição de todos os elementos essenciais

dos impostos.

Apenas a Assembleia da República – directamente - ou o Governo - na sequência de

autorização legislativa da AR - e através de um Decreto-Lei autorizado podem legislar

em matéria de criação e definição dos elementos essenciais, entre os quais se inclui a

incidência, taxa do imposto, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes -

articulação entre o art. 165.º/1 i) e o art. 103.º/2 da CRP

Esta autorização legislativa da AR ao Governo tem de incluir no seu conteúdo

mínimo uma indicação quanto aos elementos essenciais dos impostos.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 22


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Caso Prático 5

Suponha que a Assembleia da República aprovou, no passado mês de Janeiro, um


pacote de medidas de reacção à crise que atinge as finanças públicas.

Entre as várias medidas aprovadas conta-se a criação de um imposto extraordinário


incidente sobre o rendimento. Nada dispôs, no entanto, quanto à liquidação e cobrança
deste imposto.

Poderá o Governo disciplinar estes aspectos? Em caso afirmativo, em que termos?

Resposta

Sim, e não precisa de ser autorizado, pois a liquidação e a cobrança não estão
sujeitas a lei da AR ou decreto-lei autorizado.

Quanto aos elementos não essenciais dos impostos, onde se inserem os elementos
dos impostos referentes à liquidação e à cobrança dispõe o art. 103.º/ n.º 3 da CRP que
os mesmos têm de ser feitos nos termos da lei. Contudo, não se encontram sujeitos à
reserva de lei parlamentar (103.º, n.º 2 e 165.º/n.º1/i) da CRP), mas a reserva de
diploma legislativo, isto é, aos actos legislativos previstos no n.º 1 do art. 112.º da
CRP.

A actividade da administração fiscal (gestão e administração do imposto, que


corresponde à liquidação em sentido amplo) rege-se pelo princípio da legalidade
administrativa o que significa que carece sempre de lei prévia (princípio da
precedência, preferência e prevalência da lei).

Portugal é politicamente um Estado Unitário com Regiões Autónomas (art. 6º


CRP), mas com níveis de autonomia:

 Autonomia regional, que é de natureza político-administrativa – art.


225ºCRP;
 Autonomia do poder local, que é de natureza administrativa – art.
237ºCRP

Quais são os poderes tributários que a CRP e a lei conferem a cada uma destas
entidades de modo a garantir que estas obtenham as receitas necessárias à prossecução
das suas atribuições?

 Poder tributário ou poder de instituir os impostos: poder de criar


impostos e definir os elementos essenciais dos impostos. É um poder
derivado, quando é exercido por via regulamentar, nos termos da lei, por
entidades não soberanas, como as autarquias locais.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 23


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Poderes tributários das Regiões Autónomas (art. 227º/1/i e j) CRP)

Intervenção do legislador nacional – Lei das Finanças das Regiões Autónomas e


Estatuto Político-Administrativos das Regiões Autónomas:

a) Poder de instituir impostos regionais (art. 57º LFRA)


b) Poder de adaptar o sistema fiscal às especificidades regionais (art.
56º/2/b) e 59º LFRA)
c) Direito às receitas fiscais cobradas ou geradas nas regiões autónomas.

Caso Prático 6

Ana (proprietária de um prédio urbano), notificada pela Direcção-Geral de Impostos


para proceder ao pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis, considera que a taxa
aplicável (de 0,4%) não podia ter sido fixada mediante deliberação da Assembleia
Municipal de Coimbra, como efectivamente aconteceu, e resolveu pedir esclarecimento
à DGI que a informa prontamente que “está tudo previsto na lei, no n.º 5 do art. 112.º do
Código do Imposto Municipal sobre Imóveis”.

Ana resolve pedir a sua opinião fundamentada, pretendendo saber se essa norma
legal respeita os princípios constitucionais fiscais aplicáveis.

Resposta
Podem exercer por via regulamentar (na dependência da lei) alguns poderes tributários
próprios – art. 238.º/4 da CRP

São os municípios, mediante deliberação da assembleia municipal, que fixam a taxa de


IMI a aplicar em cada ano, dentro dos intervalos previstos na alínea c) do n.º 1, do art. 112.º do
CIMI, podendo esta ser fixada por freguesia (n.º 5, art. 112.º).

Aplicam-se a nível nacional, as seguintes taxas:

 prédios rústicos: 0,8%;


 prédios urbanos: 0,3% a 0,45%.

Nos prédios mistos, aplicar-se-á ao valor patrimonial tributário de cada parte, a respectiva
taxa. Os municípios, mediante deliberação da assembleia municipal, podem majorar ou reduzir
as taxas gerais, em determinadas situações previstas no artigo 112º do CIMI (exemplo:
operações de reabilitação) baseando-se em tabelas e valores fixados.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 24


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Poderes tributários das Autarquias Locais (art. 238º/4 e 254º/1


CRP)

Intervenção do legislador nacional – Lei das Finanças Locais (LFL):

a) Poderes tributários propriamente ditos (art. 16º - isenções e


benefícios fiscais; 18º - derrama; 25º - repartição de recursos públicos
entre o Estado e os municípios; 26º - participação variável no IRS, LFL);
b) Direito às receitas (art. 14º LFL) – IMI, IMT e parcela do IUC;

As autarquias locais não dispõem de poder legislativo, mas podem exercer, por via
regulamentar (na dependência da lei), alguns poderes tributários próprios (art. 238º/4
CRP).

5. Impostos estaduais VS Impostos não estaduais

Titularidade ativa da relação jurídica fiscal. Nem toda a receita dos impostos é
destinada aos cofres gerais do Estado.

Impostos comunitários (pauta aduaneira comum/relações comerciais entre EM e países


terceiros) e internacionais (contratos para exploração comercial de recursos naturais
provenientes dos fundos marinhos celebrados com a Autoridade Internacional dos
Fundos Marinhos)

Atende-se à titularidade da receita do


Impostos regionais e municipais
(IMT, IMI, Imposto sobre veículos) imposto, não se esquecendo, contudo, que a

aplicação das regras de lançamento,

Impostos estaduais liquidação e cobrança destes impostos são

alheias à vontade das autarquias. Daí alguns

autores falarem de impostos estaduais de

receita consignada aos municípios.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 25


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Caso Prático 7

Abel tem uma empresa em nome individual que actua no ramo da comercialização
de águas minerais.

Suponha que Abel transferiu para o seu património particular uma viatura afecta à
sua actividade empresarial, atribuindo-lhe o valor de € 5 000. Ao abrigo do disposto no
n.º 4 do artigo 29.º do CIRS, a Administração Fiscal corrigiu esse valor, fixando-o em
€ 7 500.

Aprecie o preceito à luz do princípio da tipicidade fiscal.

Resposta

Princípio da tipicidade fiscal (artigo 103.º/2 CRP) enquanto dimensão material do


princípio da legalidade fiscal – os elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes);

Exigência de densidade das normas jurídicas fiscais que versem sobre os elementos
essenciais dos impostos e a correspondente limitação da discricionariedade
administrativa (margem de livre apreciação/conceitos indeterminados); a atual
compressão da determinabilidade das normas jurídicas fiscais em razão de interesses
públicos relevantes, como os da luta contra a fraude, a evasão e elisão fiscais;

Aplicação ao caso concreto: conceitos indeterminados (“valor de mercado”,


“pessoas independentes”), margem de livre apreciação (“pode ser objecto de
correcção”).

Vertente material do princípio da legalidade fiscal:

A lei fiscal tem de ser suficientemente densa e precisa quanto aos elementos
essenciais dos impostos:

 A incidência;
 A taxa ou alíquota do imposto
Art. 103º/2, 2ª parte CRP
 Os benefícios fiscais
 As garantias dos contribuintes

Princípio da tipicidade da lei fiscal

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 26


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Princípio da tipicidade fiscal

Tipicidade

Menos tipicidade Mais tipicidade

Mais discricionariedade Menos discricionariedade

 Menos segurança para os  Mais segurança para os

contribuintes contribuintes

 Mais eficácia no combate à fraude  Menos eficácia no combate à


e evasão fiscais fraude e evasão fiscais

Desafios ao princípio da tipicidade da lei fiscal

 Garantia da clareza e determinabilidade das leis vs complexidade actual da


actividade económica e promoção da luta contra a fraude, evasão fiscal e
elisão fiscal abusiva;
 Normas de “hipótese legal fechada”/normas de “hipótese legal aberta”
(exemplo: art. 38º/2 LGT);
 Possibilidade de utilização pelo legislado de conceitos indeterminados como
meio de atribuição de poderes discricionários à AT (completáveis através de
instrumentos típicos do poder regulamentar – exemplo: circulares e ofícios
circulados, para assegurar a unidade das decisões);
 Atribuição de poderes discricionários típicos à AT, conferindo-lhe uma
margem de livre apreciação que o juiz deve respeitar (exemplo: art. 29º/4
CIRS)

Princípio da segurança jurídica e protecção da confiança

(aplicação da lei fiscal no tempo)

1) Proibição constitucional de impostos retroactivos

Segundo o art. 103º/3 CRP, a retroactividade é proibida para os impostos.

A referência autónoma aos impostos demonstra que estes constituem uma violação
gravíssima ao princípio do Estado de Direito, nomeadamente, aos subprincípio
concretizadores da segurança e da protecção da confiança.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 27


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Quando é que o imposto tem natureza retroactiva? Quanto se reporta a factos


tributários já ocorridos. Estamos perante situações da vida que já ocorreram e que a
norma legal posterior vem tributar, sem que antes estivesses sujeitas a tributação, ou
quando a norma vem agravar a respectiva tributação.

Diferentes graus de retroactividade:

 Aplicação de uma lei nova a:


 Factos tributários passados em que todos os seus efeitos tenham sido
produzidos ao abrigo da lei antiga e que estejam totalmente
consolidados;
 Factos tributários ocorridos ao abrigo da lei antiga, mas em que a sua
liquidação e cobrança ocorrem após a entrada em vigor da lei nova;
 Factos tributários que continuam a formar-se na vigência dessa lei
nova; não tendo ocorrido totalmente ao abrigo da lei antiga.

Casos específicos a ter em conta:

 Impostos de obrigação única: o imposto é retroactivo sempre que abrange


factos tributários que já ocorreram previamente.
 Impostos com liquidação agregadas: por motivos de praticabilidade,
ocorre a liquidação agregada de um conjunto de factos tributários (exemplo:
IVA).

Se a alteração legislativa ocorrer durante esse período? Só poderá incidir sobre


factos tributários futuros.

E se, por motivos de praticabilidade, não for possível a fragmentação do


período de tributação (separação entre factos prévios e posteriores)? O
agravamento fiscal apenas poderá ser aplicado ao período tributário seguinte, em que
todos os factos tributários sujeitos a agregação tenham tido lugar depois da entrada em
vigor da norma fiscal que agrava a tributação.

Caso de RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA

 Impostos periódicos: sendo o facto tributário contínuo, se o agravamento


fiscal ocorrer durante o ano fiscal (corresponde ao período de formação do
imposto), apenas deve, RECOMENDAVELMENTE, ser aplicado ao
período decorrido a partir da sua entrada em vigor.

Mas se por motivos de praticabilidade não for pssível a fragmentação do


período de tributação? RETROSPETIVIDADE.

A admissibilidade constitucional do agravamento fiscal deverá ser analisada em


função do princípio da protecção da confiança legítima, pois o facto tributário ainda não
se esgotou, logo não se aplica a proibição do art. 103º/3 CRP.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 28


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Não se aplica a situações de mera


retrospetividade, nem de
retroatividade inautêntica
Art. 103º/3 CRP
proibição constitucional
de impostos retroativos
Aplica-se, apenas, às situações de
retroatividade autêntica

Princípio da proteção da confiança em matéria de lei fiscal retroativa

Não se esgota na proibição de impostos retroativos (art. 103º/3 CRP)

Aplica-se, também às situações de retroatividade inautêntica (aqui com especial


intensidade)
A alteração legislativa tem lugar depois de esgotado o facto tributário, mas antes de
efectuada a sua liquidação e cobrança

E às situações de lei fiscal retrospectiva


Situações em que o facto tributário ainda não completou a sua formação

Concluindo…

Em 1997 a não retroactividade dos impostos passou a ser expressamente acolhida na


CRP (art. 103º, n.º 3). No entanto, o relevo do Princípio da Segurança Jurídica na
análise da questão da legitimidade constitucional dos impostos não se limita à proibição
de retroactividade. Resultante da ideia de Estado Democrático de Direito, o princípio da
segurança jurídica relaciona-se com a necessidade de assegurar estabilidade às
relações jurídicas, inclusive as fiscais, dirigindo-se essencialmente ao legislador não
só no âmbito da vedação da retroactividade, como também ao nível da livre
revogabilidade e alterabilidade de leis fiscais favoráveis, em especial das que se
referem a benefícios fiscais.

Ainda, impõe a necessidade de tutela da confiança dos contribuintes, dirigindo-


se igualmente aos aplicadores do direito.

O princípio opera como critério de ponderação em situações de retroactividade


imprópria ou inautêntica, à luz do interesse público na obtenção de receitas fiscais.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 29


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Sobre o ponto, relevante é a jurisprudência do Tribunal Constitucional,


nomeadamente acórdãos 128/2009, 399/2010 e 18/2011.

Logo, o âmbito de incidência e de aplicação do princípio da segurança jurídica


é mais amplo que a proibição de retroactividade dos impostos, ainda guardando
importante relevo na análise da questão da legitimidade constitucional dos
impostos a despeito da previsão constitucional expressa de não retroactividade.

Retroactividade da lei fiscal


quando não interfere com os Aplicação do princípio da
elementos essenciais dos proteção da confiança
impostos

Mas revela-se prejudicial para os Não onera a tributação de


sujeitos passivos, por lhes impor factos tributários
novos encargos com os quais passados ou que se
estes legitimamente não iniciaram em momento
contavam passado e ainda docorrem

Violação das expectativas


legitimas

Para os casos de retroactividade inautêntica (e retrospectividade)

Ponderação à luz do princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança.

2 condições:

1. A afectação de expectativas será intolerável quando constitua uma alteração


da ordem jurídica “surpreendente”, com a qual não se podia razoavelmente
contar;
2. Não existir necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses
protegidos pela CRP e que devam ter-se por prevalecentes: ponderação à luz
do princípio da proporcionalidade.

Teste 1: existência de comportamentos idóneos à criação das expectativas;

Teste 2: legitimidade das expectativas na planificação dos comportamentos;

Teste 3: intensidade das expectativas na planificação dos comportamentos;

Teste 4: inexistência da necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses


constitucionais prevalecentes.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 30


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

nº 1 - proibição de impostos retroativos

nº 2 - factos tributários de formação


sucessiva, a lei nova só se aplicaao período
decorrido a partir da sua entrada em vigor

Art. 12º LGT nº 3 - as normas sobre procedimento e


processo são de aplicação imediata, desde
que a alteração não viole o princípio da
proteção da confiança

nº 4 - a aplicação imediata do nº 3 não tem


lugar quando a norma em causa modifique as
regras de incidência, sendo capz de origniar
umagravamento da tributação, em desrespeito
com a proibição do art. 103º/3 CRP

Caso Prático 8

Em Março de 2018, o Governo aprovou um decreto-lei autorizado contendo


algumas medidas extraordinárias para fazer face ao descontrole na execução orçamental
em curso:

i. Aumento de 3,5% para 5% da sobretaxa extraordinária prevista no artigo


72.º-A do CIRS, incidente sobre os rendimentos auferidos pelos sujeitos
passivos durante o ano fiscal de 2017.
ii. Imagine agora que aquele aumento incide sobre os rendimentos auferidos
pelos sujeitos passivos em 2018.

Quid iuris?

Resposta

i. Imposto retroactivo. Reporta-se a factos tributários já ocorridos. Estamos


perante situações da vida que já ocorreram e que a norma legal posterior vem
agravar a respectiva tributação. A proibição constitucional expressa no art.
103.º/3 CRP apenas se refere a estas situações.

ii. Imposto não é retroactivo, logo não se aplica a proibição constitucional do


art. 103.º/3. Estamos perante uma situação de retroactividade inautêntica
(para alguns autores retrospectividade) - situação em que o facto tributário
ainda não completou a sua formação. Necessidade de ponderar a alteração no
âmbito do princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança (os
testes das “expectativas” e do princípio da proporcionalidade).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 31


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Caso Prático 9

A Assembleia da República emanou, em Dezembro de 2018, uma lei prevendo,


entre outras medidas, um aumento de 15% para 20% da taxa de tributação autónoma das
despesas com viaturas prevista no artigo 88.º do CIRC.

A empresa Le Fduc, Lda. pretende saber se esta medida poderá aplicar-se a despesas
com viaturas por ela realizadas em Janeiro de 2018. O que lhe diria?

Resposta

Tributações autónomas de despesas (arts. 73.º CIRS e 88.º do CIRC)

São despesas que concorrem para a formação do lucro tributável, mas são também
tributadas autonomamente – exs: despesas de representação; ajudas de custo;
“quilómetros”

Nestes casos como há diferimento temporal da liquidação e do pagamento do


imposto, que apenas ocorrem no fim do ano, conjuntamente com a liquidação e
cobrança dos rendimentos apurados em sede de IRS ou IRC, é sempre devido o
imposto, mesmo que o sujeito passivo venha a obter rendimentos no fim do período
tributário ou a apresentar prejuízos.

Visa tributar um conjunto de realidades que nada têm a ver com o lucro real das
empresas. Alguns exemplos: despesas de representação, ajudas de custo ou os chamados
"quilómetros".

São despesas que concorrem para a formação do lucro tributável, mas são também
elas tributadas autonomamente.

Sujeição de várias despesas a tributação autónoma em IRS e IRC, embora com a


consciência de que se não trata propriamente de IRS e IRC (visam tributar o rendimento
e não despesas efectuadas), mas da substituição de uma tributação de rendimentos
“implícitos” de pessoas singulares, que se considera inatingível de forma directa.

O facto gerador do imposto é a própria realização da despesa, não se estando


perante um facto complexo, de formação sucessiva ao longo de um ano, mas perante um
facto tributário instantâneo.

O facto tributário que dá origem ao imposto, é instantâneo: esgota-se no acto de


realização de determinada despesa que está sujeita a tributação (embora, o apuramento
do montante de imposto, resultante da aplicação das diversas taxas de tributação aos
diversos atos de realização de despesa considerados, se venha a efetuar no fim de um
determinado período tributário).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 32


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Mas o facto de a liquidação do imposto ser efectuada no fim de um determinado


período não transforma o mesmo num imposto periódico, de formação sucessiva ou de
caráter duradouro.

Tributação autónoma de despesas (art. 88º CIRC)

Posição do TC – acs. 310/2012 Posição do TC – ac, 399/10; 18/2011


(defendida pelo Dr. Casalta Nabais) (defendida pela Dra. Suzana Tavares)
Facto tributário instantâneo Facto tributário estruturalmente ligado ao
IRC (periódico)
Retroactividade autêntica Retroactividade inautêntica
Proibição constitucional de retroactividade Princípio da protecção da confiança (art. 2º
(art. 103º/3 CRP) CRP) [necessidade de ponderar se o
contribuinte teria realizado a despesa se a
taxa fosse mais agravada]

Inconstitucional Não inconstitucional

Interpretação jurídica de normas fiscais (art. 11º LGT)

Teoria da interpretação das normas fiscais de acordo com as regras e princípios


gerais de interpretação jurídica (artigo 11.º/1 LGT e art. 9.º CC)

 Qual o sentido que deve ser atribuído a alguns conceitos próprios de


outros ramos do direito quando se trata de apurar o regime fiscal a que
os mesmos devem ficar subordinados?

Art. 11.º, n.º 2 da LGT - o termo deve ser interpretado no mesmo sentido que tem
no ramo de direito a que pertence, salvo se outro decorrer directamente da lei

 Se persistirem dúvidas sobre o sentido das normas de incidência a


aplicar?

Art. 11.º, n.º 3 da LGT – deve atender-se à substância económica dos factos
tributários.

Art. 11º, nº 3 LGT

 Não constitui uma autorização genérica à AT para que a mesma possa


desconsiderar os aspectos formais dos negócios jurídicos, aplicando a lei
tributária apenas com fundamento nos efeitos económicos gerados por
esses negócios

(≠ interpretação económica das leis fiscais - defendendo que a lei fiscal tem sempre
um significado económico, na medida em que se apoia em fenómenos económicos,

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 33


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

entende que o intérprete deve sempre procurar determinar na lei o tipo de situações
económicas que o legislador quis submeter à tributação)

 Constitui um critério residual (“persistindo a dúvida”) para auxiliar à


correcta aplicação da lei fiscal.

Integração de lacunas das normas tributárias

Quanto aos elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa ou alíquota do


imposto, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes) não pode ocorrer integração de
lacunas - Art. 11.º, n.º 4

Contudo, pode haver uma interpretação extensiva – alargamento da letra da lei,


de modo a conferir-lhe um alcance conforme o pensamento legislativo, o que só é
possível se se concluir que a fórmula verbal adoptada diz menos do que o legislador
pretendia - artigo 11.º/4, a contrario sensu

Normas de lançamento, liquidação e cobrança

Possibilidade de aplicação das regras gerais sobre integração de lacunas

Caso Prático 10

O artigo 8.º, n.º 2, do CIMI, estatui que, “nos casos de usufruto ou de direito de
superfície, o imposto é devido pelo usufrutuário ou pelo superficiário”. A
Administração Fiscal considera que este preceito é aplicável a concessionários de bens
do domínio público, invocando, para tanto, o princípio do in dubio pro fiscum.

Abel, concessionário de um bem do domínio público hídrico sito em Ponte da


Barca, argumenta que tal norma não lhe é aplicável, por força do disposto no artigo 11.º,
n.º 4, da LGT.

Identifique o problema jurídico em causa e formule a argumentação de cada um dos


intervenientes no litígio.

Resposta:

 Identificação do problema em causa – interpretação jurídica de normas


fiscais (artigo 11.º LGT);
 Teoria da interpretação das normas fiscais de acordo com as regras e
princípios gerais de interpretação jurídica (artigo 11.º/1 LGT e 9.º CC);
 Proibição de aplicação analógica de normas tributárias abrangidas pela
reserva de lei (artigo 11.º/4) e admissibilidade de interpretação extensiva
(artigo 11.º/4, a contrario sensu); referência às normas tributárias

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 34


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

abrangidas pela reserva de lei e ao elemento essencial dos impostos em


questão – incidência subjetiva;
 Referência ao artigo 11.º/3 – “substância económica dos factos” – e
explicitação do seu significado.

NOTA: Ver acórdão do STA de 19/10/2011, processo n.º 0351/11

Caso Prático 11

A Assembleia da República aprovou uma lei que prevê a concessão de benefícios


fiscais, a nível de IRC, para as empresas que procedam à “criação líquida de postos de
trabalho para trabalhadores admitidos por contrato de trabalho sem termo com idade
não superior a 30 anos”.

Marta, que tem uma empresa de software, decidiu converter todos os contratos de
trabalho a termo dos seus trabalhadores mais jovens em contratos de trabalho sem
termo, esperando com isso que lhe fosse reconhecido o dito benefício. Tal pretensão foi,
porém, rejeitada pela Administração Tributária, com base no artigo 11.º, n.º 3 da LGT.

Identifique o problema jurídico em causa e formule a argumentação de cada um dos


intervenientes no litígio.

Resposta:

Acórdão do STA de 23/09/2009, processo 0248/09

 Sumário: O incentivo à criação de emprego para jovens, previsto no art.


48.º-A do Estatuto dos Benefícios Fiscais, na redacção introduzida pela Lei
n.º 72/98, de 3 de Novembro (a que corresponde o art. 17.º na redacção de
2001) só é atribuído quando houver «criação líquida de postos de trabalho
para trabalhadores admitidos por contrato sem termo com idade não superior
a 30 anos», o que pressupõe aumento do número global de trabalhadores da
empresa admitidos por contrato sem termo com idade não superior a 30 anos
em determinado exercício

Caso Prático 12

O Parlamento aprova um novo imposto sobre as emissões dos veículos automóveis e


consagra como sujeito passivo do tributo o “titular do veículo”.

A Administração Tributária tem dúvidas na liquidação do imposto quando esteja em


causa um aluguer de longa duração, hesitando entre liquidar o imposto à empresa
proprietária ou ao locador que utiliza a viatura pelos 4 anos previstos no contrato. Como
deverá proceder?

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 35


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Resposta:

Referência ao problema da interpretação da lei fiscal (arts. 11.º da LGT e 9.º do C.


Civil).

 Art. 11.º, n.º 3 da LGT – não decorrendo directamente da lei o sentido a


atribuir ao conceito “titular do veículo”, nem se encontrando tal conceito
associado a outro ramo de direito (11.º, 2 LGT), a AT deve atender,
residualmente, à substância económica dos factos tributários (que não se
confunde com uma interpretação económica das leis fiscais). Constitui um
critério residual (“persistindo a dúvida”) de interpretação normativa para
auxiliar à correcta aplicação da lei fiscal.
 De acordo com a substância económica dos factos tributários, a AT
poderia liquidar o imposto sobre as emissões dos veículos automóveis ao
locador que utiliza a viatura pelos 4 anos previstos no contrato, uma vez
que é o mesmo que retira o proveito económico do uso do veículo e,
consequentemente, o que polui, por essa razão o visado directamente
pelo legislador.

Elementos de valorização:

O critério previsto no art. 11.º, n.º 3 da LGT não constitui uma autorização
genérica à AT para que a mesma possa desconsiderar os aspectos formais dos negócios
jurídicos, aplicando a lei tributária apenas com fundamento nos efeitos económicos
gerados por esses negócios.

Este critério não deve funcionar como um instrumento de combate à fraude fiscal, o
que não impede a sua mobilização quando esteja em causa a utilização de esquemas
formais simples de elisão fiscal abusiva, que não levantem dúvidas quanto à sua
desconformidade com a ordem jurídica.

Tratando-se de um tributo ambiental, cumpre também um importante


propósito extrafiscal de modificação de comportamentos (racionalização do uso do
automóvel), pelo que apenas o utilizador do automóvel (o locador) cumpre este
requisito.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 36


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

[Princípio da segurança jurídica e protecção da confiança]

(aplicação da lei fiscal no espaço)

Como identificar os factos tributários ocorridos em território nacional?

• Art. 13.º LGT

Sem prejuízo de convenções internacionais de que Portugal seja parte e salvo


disposição legal em sentido contrário, as normas tributárias aplicam-se aos factos que
ocorram no território nacional

Art.3º/ 2 – regra worldwide income (princípio da universalidade ou do rendimento


mundial)

Contudo, sempre que exista uma regra especial constante de Convenção


Internacional a mesma prevalece.

Elementos de conexão relevantes para cada tipo de imposto

 Impostos sobre o rendimento – arts. 13.º e ss CIRS; 2.º e 4.º CIRC:


 Residência do beneficiário do rendimento (princípio da
universalidade) e o local da produção do rendimento (princípio da
territorialidade)

 Tributação do património:
 Residência do proprietário ou titular dos bens patrimoniais e lugar da
situação dos mesmos

Cada código de imposto apresenta as suas regras próprias para a determinação dos
residentes (ex: 16.º CIRS; 2.º CIRC)

Aplicação da lei fiscal no espaço


Elementos de Origem ou fonte
conexão Residência dos rendimentos
(art. 13º/1 CIRS)
Quem está sujeito Residentes Não residentes
a IRS? (art. 13º/1, 1ª (art. 13º/1, 2ª
IRS parte; 16º CIRS) parte)
Rendimentos
Âmbito da Regra do WWI obtidos em
sujeição (art. 15º/1 CIRS) território português
(art. 15º/2 e 18º
CIRS)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 37


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Aplicação da lei fiscal no espaço


Elementos de Sede/direcção Origem ou fonte
conexão efectiva dos rendimentos
Entidades com sede Entidades sem sede
Quem está sujeito ou direcção efectiva ou direcção efectiva
a IRC? em território em território
IRC português português
(art. 2º/1/a) e b) (art. 2º/1/c) CIRC)
CIRC)
Rendimentos
Âmbito da Regra do WWI obtidos em
sujeição (art. 4º/1 CIRC) território português
e não sujeitos a IRS
(art. 4º/2 e 3
CIRC)
O conceito de
estabelecimento
estável
(art. 5º CIRC)

Caso Prático 13

Atente nas seguintes situações:

i. Marta, residente em Portugal, auferiu rendimentos em França pela realização


de interessantes palestras sobre direito fiscal.
ii. Suzana, de nacionalidade portuguesa mas que deslocalizou a sua residência
para as Ilhas Cayman, auferiu rendimentos empresariais em França;
iii. Maurice, residente em França, auferiu rendas provenientes de imóveis
localizados em Portugal e trabalhou entre Maio e Agosto, mediante
remuneração, num navio com pavilhão português;

a) Diga se estas pessoas pagam impostos em Portugal e em que termos.


b) Admitindo que Marta também pagou impostos em França pelos rendimentos
ali auferidos, identifique o problema em causa e avance critérios para a sua
resolução.

Resposta:

i. Marta, residente em Portugal, auferiu rendimentos em França pela realização


de interessantes palestras sobre direito fiscal.

Pessoas singulares residentes em território português pagam imposto em Portugal


pela totalidade dos seus rendimentos – art. 13.º/1 CIRS
Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 38
Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Sendo residente o IRS incide sobre a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os
obtidos fora desse território - artigo 15.º/1 CIRS - regra worldwide income (princípio
da universalidade ou do rendimento mundial).

ii. Suzana, de nacionalidade portuguesa mas que deslocalizou a sua residência


para as Ilhas Cayman, auferiu rendimentos empresariais em França;

Pessoas singulares residentes em território português pagam imposto em Portugal


pela totalidade dos seus rendimentos (regra do rendimento mundial ou do world wide
income) – artigo 15.º/1 CIRS;

São também havidos por residentes em Portugal, nos termos do artigo 16.º/6 CIRS,
as pessoas de nacionalidade portuguesa que deslocalizem a sua residência para país,
território ou região sujeito a um regime fiscal claramente mais favorável;

Portaria n.º 150/2004 de 13 de Fevereiro

Logo, Suzana, de nacionalidade portuguesa, está sujeita a IRS pela totalidade


dos rendimentos obtidos, independentemente de os mesmos terem sido obtidos em
Portugal ou não.

iii. Maurice, residente em França, auferiu rendas provenientes de imóveis


localizados em Portugal e trabalhou entre Maio e Outubro, mediante
remuneração, num navio com pavilhão português

No caso de não residentes o elemento de conexão é a origem ou fonte dos


rendimentos, de acordo com o art. 13.º/1

Estão sujeitos a IRS pelos rendimentos obtidos em território português (art. 15.º/2 e
18.º CIRS):

 Rendas provenientes de imóveis – 18.º/1/h) CIRS


 Rendimentos auferidos pelo trabalho durante 4 meses num navio com
pavilhão português – 16.º/1/a); 18.º/1/ c) CIRS.

Como será tributado os rendimentos auferidos pelo Maurice pelo trabalho


durante 6 meses num navio com pavilhão português?

 É um rendimento de trabalho dependente obtido por um não residente, logo é


tributado à taxa liberatória de 25% (art. 71º/4/a))

Imposto proporcional – a taxa mantém-se inalterada independentemente do valor


da matéria colectável. Não toma em consideração, em maior ou menor grau, aspectos
económicos e sociais dos contribuintes.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 39


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Admitindo que Marta também pagou impostos em França pelos rendimentos


ali auferidos, identifique o problema em causa e avance critérios para a sua
resolução.

 Dupla tributação internacional (o sujeito passivo paga imposto duas


vezes sobre o mesmo rendimento)

A regra clássica da territorialidade dos impostos, embora ainda mantenha a sua


validade, não pode deixar de adaptar-se à internacionalização dos factos tributários

Art. 13.º/1 da LGT refere que “sem prejuízo de convenções internacionais de que
Portugal seja parte e salvo disposição legal em contrário”

Se não existir uma convenção internacional para eliminação da dupla tributação


entre Portugal e França terão de ser aplicadas as regras para a eliminação da dupla
tributação - art. 81.º CIRS

Método da imputação ou do crédito de imposto (a Marta poderia deduzir em


Portugal o valor do imposto pago em França até ao limite do imposto que seria pago em
Portugal por aquele rendimento).

A relação jurídica fiscal

A relação tributária apresenta evidente complexidade, desdobrando-se em diversas


relações.

 Três acepções ou sentidos:


A. Acepção constitucional: Estado – comunidade/contribuinte
B. Acepção administrativa: Administração Fiscal/contribuinte
C. Acepção obrigacional: Fazenda Pública/contribuinte
 Sujeitos da relação jurídica fiscal – lado ativo/lado passivo
 Objeto da relação jurídica fiscal – a obrigação fiscal
 Constituição
 Modificação: subjectiva e objectiva
 Extinção
 Garantias da obrigação fiscal (art. 50º LGT)

A obrigação fiscal propriamente dita

o Estruturalmente é uma obrigação como qualquer outra (direito de


crédito/dever de pagamento);
o É uma obrigação legal: é uma obrigação que tem por fonte a lei - art. 36.º
LGT;
o Tem carácter público (presunção de legalidade do acto tributário);
o É uma obrigação exequível (carece de execução), executiva (a sua execução
não depende de qualquer pronúncia) e semi-executória (a sua execução

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 40


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

corre, na maior parte, na administração tributária, e em parte nos tribunais


tributários).
o É uma obrigação indisponível e irrenunciável (art. 30.º/2 LGT e 85.º/3
CPPT);
o Autotitulada (a AT cria os seus próprios títulos executivos, constituídos
pelas certidões das notas de cobrança – 88.º CPPT)
o Especialmente garantida quanto ao seu cumprimento (garantias especiais que
colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos credores
comuns).

(1) Diferentes acepções da relação jurídica fiscal:


A. Relação jurídica fiscal constitucional

Encargo que o Estado-comunidade impõe sobre os respectivos membros com o


objectivo de garantir liquidez para a realização das tarefas de interesse geral.

Alguns autores consideram que se está perante um dever fundamental do


contribuinte perante o Estado-comunidade.

B. Relação jurídica fiscal administrativa

Administração Fiscal: dotada de um poder público, que habilita a praticar atos de


autoridade, nos quais fixa o conteúdo da obrigação do imposto que cada um deve
cumprir.

Destinatário dos atos de autoridade:

 Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado;


 Recai o dever jurídico de os executar de forma voluntária dentro do prazo
estabelecido na lei (pagamento do imposto)
 Ónus de proceder à sua impugnação quando entender que os mesmo
desrespeitam o disposto nas regras ou princípio plasmados na lei, na CRP ou
em outros instrumentos normativos aplicáveis.

C. Relação jurídica fiscal obrigacional

Relação jurídica de crédito entre a Fazenda Pública (capacidade tributária ativa =


poder de exigir o crédito do imposto) e o contribuinte (que fica obrigado a satisfazer o
crédito tributário)  Obrigação que goza de garantias especiais, nos termos da lei.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 41


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

(2) Sujeitos da relação jurídica fiscal:

Sujeitos da relação jurídico-fiscal


aqueles que, segundo a lei, podem ser
Detentores de personalidade tributária
sujeitos de relações jurídicas tributárias

Relações jurídicas tributárias


Obrigações acessórias - conjunto de obrigações
Contemplam a obrigação principal de que visam possibilitar o apuramento da obrigação
pagamento da dívida tributária de imposto (art. 31º/2 LGT)

Catácter complexo da relação jurídica fiscal


Possibilidade de encontrar, quer do lado ativo da relação jurídica, quer do lado
passivo, a presença de mais do que uma forma de titularidade

Distinguir…

 Poder tributário: poder de criar impostos e definir os elementos essenciais


dos impostos. É derivado quando exercido por via regulamentar por
entidades não soberanas (exemplo: autarquias legais)
 Competência tributária: gestão do imposto (praticar os atos de lançamento,
liquidação e cobrança)
 Capacidade tributária ativa: titularidade de um direito subjectivo ao
crédito do imposto (credor tributário)
 Titularidade da receita fiscal: poder da entidade a quem determinada
receita se encontra subjectivamente consignada de exigir a sua efectiva
atribuição.
 Contribuinte: é o titular da manifestação da capacidade contributiva e
suporta o desfalque patrimonial
 Sujeito passivo: pessoa a quem a lei impõem o cumprimento de uma
obrigação fiscal (art. 18º/3 LGT)
 Devedor do imposto: pessoa sobre quem impede o dever de satisfazer uma
determinada prestação tributária (em sentido estrito – devedor principal; em
sentido amplo – todos aqueles aos quais o Fisco exige, subsidiariamente, o
crédito do imposto)
 Suportador do encargo do imposto por repercussão legal: pessoa que
suporta financeiramente o imposto através do mecanismos de repercussão
legal, isto é, repercute-se no adquirente do bem ou serviço o valor do
imposto.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 42


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Em suma…

Do lado activo, a complexidade assenta nas diferentes figuras que poderão ser
consideradas sob o ponto de vista doutrinário:

 O titular do poder tributário (o legislador),


 A entidade titular da competência tributária (liquidação, lançamento e
cobrança dos impostos),
 O sujeito detentor de capacidade tributária activa (que possui o direito de
crédito e, assim, o de exigir o pagamento do tributo)
 E a entidade consignatária da receita dos tributos (quem irá, ao fim, receber
o resultado financeiro da tributação, como os Municípios no IMI, v.g.)

Valendo ainda referir que, positivamente, conforme o art. 18º/1 e 2 da LGT, a


entidade de direito público titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações
tributárias (sujeito activo em sentido legal e estrito), poderá valer-se de representante e
nem sempre será o Estado, hipótese em que os documentos emitidos pela administração
tributária deverão mencionar a denominação do sujeito activo.

Do lado passivo, consoante bem expressa o art. 18º/3 da LGT, é possível que se
estabeleçam:

 Relações simples entre o sujeito activo e o contribuinte (quem pratica o facto


gerador e cuja capacidade é a que se quer alcançar) ou relações mais
complexas no caso de não se concentrarem no contribuinte os deveres
tributários, hipótese da substituição tributária (art. 20º e 28º da LGT), da
responsabilidade tributária (arts. 22 a 28º da LGT), em que outras pessoas
(o substituto, os gestores, liquidatários, etc.) irão, solidária ou
subsidiariamente, assumir obrigações de natureza fiscal.

 Nestes casos, para além das relações que se venham a estabelecer entre o
Estado e o contribuinte, somam-se (ou desdobram-se) outras relações (entre
o Estado e o substituto, entre o Estado e o responsável), que, ademais,
poderão igualmente verificar-se nas hipóteses de transmissão de créditos e
obrigações tributárias (art. 29º da LGT) e de sub-rogação (art. 41º da
LGT) ou cessão de créditos (Lei n.º 103/2003).

Do ponto de vista do seu objecto, para além da obrigação principal, que é a de


pagar o imposto, apresentam-se ainda obrigações acessórias inúmeras (art. 31º da
LGT), que se revestem de naturezas múltiplas (v.g., apresentar declarações de
rendimentos e de início de actividade, pagar verbas acessór ias como os juros, manter
contabilidade organizada, emitir factura, etc.), sendo certo que nem sempre o devedor
da obrigação principal será a mesma pessoa encarregada de cumprir ou auxiliar no
cumprimento de obrigações acessórias (v., p. ex., art. 18º/3/b) da LGT), demonstrando

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 43


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

a grande complexidade de que se revestem as relações tributárias, as quais se


desdobram, efetivamente, em diversas relações.

Caso Prático 14

A Maria é proprietária de um apartamento em Coimbra. Paga o IMI. Quem são os


titulares do lado ativo e passivo desta relação?

Resposta:

Lado ativo:

Competência tributária, capacidade


Poder Tributário tributária e titularidade da receita

AR (lei 26/2004 – autoriza o Governo a Administração tributária liquida o imposto


aprovar o CIMI)
Fazenda pública exige a sua cobrança
Governo (DL 278/2003) (entidade à qual a lei reconhece o poder de
exigir o crédito do imposto)
Deliberação da Assembleia Municipal de
Coimbra que fixa a alíquota A autarquia local fica com a receita
(alínea c) do nº1 do art. 112º CIMI)

Lado passivo:

Maria é:

o O contribuinte
o O devedor do imposto
o O sujeito passivo do imposto (aquele que é chamado ao cumprimento das
obrigações fiscais, principais e acessórias)

Aspetos a ter em conta na identificação dos sujeitos passivos:

 Domicílio fiscal:
 É este o elemento que permite identificar os residentes;
 Art. 19º LGT
 Representante legal:
 Nos casos em que o sujeito passivo não é residente e não dispõe de
um estabelecimento estável em Portugal (art. 5º CIRC)
 A lei impõe, naqueles casos, a designação de um representante legal
com residência em território nacional (art. 19º/6 LGT; art. 130º
CIRS; art. 126º CIRC)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 44


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Caso não haja esta designação – art. 124º RGIT e interdição das
garantias de reclamação, recurso e impugnação (art. 19º/7 LGT)
 Para não residentes, ou residentes que se ausentem ara a UE, desde
que esse Estado não esteja vinculado à cooperação administrativa,
esta designação deixou de ser obrigatória (art. 19º/8 LGT)

Caso Prático 15

João M., Marta M. e Margarida M. são sócios da “M. Sociedade de Advogados”.


Explique como é tributado o rendimento desta sociedade.

Resposta:

 Sociedade de profissionais desprovidas de personalidade tributária


 Apuramento da matéria colectável segundo as regras do CIRC, apesar de
estas entidades não serem tributadas em IRC (art. 12.º CIRC)
 Regime da transparência fiscal (art. 6.º CIRC)
 Imputação do rendimento líquido na matéria colectável de cada um dos
sócios na categoria B do CIRS (art. 20.º CIRS) – tributação dos advogados
em IRS

Transparência fiscal:

Em certas situações o direito fiscal opta por não considerar sujeitos passivos da
relação jurídica fiscal algumas entidades dotadas de personalidade jurídica.

O art. 6º CIRC, desconsidera a personalidade jurídica das sociedades aí indiciadas,


não lhes reconhecendo personalidade tributária.

(3) O objeto da relação jurídica fiscal: a obrigação fiscal

 Obrigação principal (satisfação da dívida tributária – art. 35º LGT) e


obrigações acessórias (visam possibilitar o apuramento da obrigação de
imposto – art. 30º e 31º LGT: apresentação de declarações, exibição de
documentos fiscalmente relevantes e a prestação de informações – art. 31º/1
e 2 LGT).
 Os juros (art. 30º/1 LGT)
o Juros compensatórios (art. 35º LGT)
o Juros de mora (art. 44º e 102º/2 LGT; 86º/1 CPPT)
o Juros indemnizatórios (art. 43º LGT; 61º CPPT)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 45


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Juros compensatórios Juros de mora Juros indemnizatórios

Art. 35º LGT Art. 44º e 102º/2 LGT; 86º/1 Art. 43º LGT; 61º CPPT
CPPT
Sujeito passivo  AT Sujeito passivo  AT AT  sujeito passivo
AT  sujeito passivo
 Atraso na liquidação,
de parte ou da
totalidade do imposto, Ressarcir o sujeito passivo
imputável ao sujeito pelo pagamento indevido
passivo ou quando o de prestação tributária
sujeito passivo, Falta de pagamento da dívida
também por facto a si tributária no prazo legal  43º/1 LGT
imputável, recebeu (art. 84º e 85º/2 CPPT)  43º/3/a) LGT e 94º
reembolso superior ao CIRS
devido  43º/3/b) LGT
 Estes juros são São devidos desde o termo do  43º/3/c) LGT
calculados à taxa de prazo para o pagamento
juro legal fixada nos voluntário até à data do
termos do art. 559º/1 pagamento da dívida São comandos desde a
CC (art. 44º/2 e 3 LGT) data do pagamento indevido
 Objetivo: reparar o do imposto até à data do
dano sofrido pela AT processamento da respectiva
que, por facto nota de crédito
imputável ao sujeito (art. 61º/5 CPPT)
passivo, se viu privada
de dispor de uma
receita que lhe era
devida.

NOTA: Art. 102º/2 da LGT – juros de mora a favor do contribuinte

Possibilidade de pagamento de juros de mora a favor do contribuinte, a pedido


deste, quando a sentença implicar a restituição do tributo já pago, sendo aqueles devidos
a partir do termo do prazo de execução espontânea da decisão

Caso Prático 16

Jorge adquiriu um prédio urbano no valor de €250.000, mas não entregou a


declaração devida para efeitos de IMT. Na sequência, a AT promove oficiosamente a
liquidação do imposto devido.

Uma vez efectuada a liquidação, Jorge não procede ao pontual pagamento do


imposto. Para além da dívida de imposto, que juros são devidos por Jorge à AT?

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 46


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Resposta:
Atraso na liquidação (art. 35º/6 LGT)

Dívida de imposto + juros


compensatórios (art. 35º LGT)
Liquidação da obrigação tributária

Fim do prazo legal para o pagamento


voluntário (art. 84º e 85º/2 CPPT)

Juros de mora (art. 44º/1 e 2


LGT)
Pagamento da dívida tributária

Caso Prático 17

Joaquim é gerente da empresa “Le Fduc, Lda.” Desde Fevereiro de 2014. Na


sequência de um procedimento de inspecção tributária, relativo ao exercício de 2015, a
Administração Tributária procedeu a uma correção da matéria tributável, da qual
resultou uma liquidação adicional, a título de IRC, no montante de €10.000.

a) Suponha que, decorrido o prazo legal (Outubro 2016), a “Le Fduc” não
efectuou o pagamento da dívida tributária. Caso se conclua que a empresa
não dispõe de bens suficientes para pagar a dívida, pode Joaquim ser
chamado a responder pelo seu pagamento?
b) Como se efectiva a responsabilidade de Joaquim?

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 47


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Modificação da obrigação fiscal

 Responsabilidade tributária
 Substituição tributária

A modificação subjectiva da obrigação fiscal:


Responsabilidade tributária

Responsabilidade tributária pelas dívidas de outrem (art. 22º/2 LGT)


Em regra: responsabilidade subsidiária (art. Nos casos previstos na lei: responsabilidade
22º/4 LGT e 153º CPPT) solidária (art. 22º/4, a contrario sensu LGT)

Exemplo: responsabilidade dos Exemplo: responsabilidade do representante


administradores, gerentes e directores (art. fiscal (art. 27º LGT) e dos sócios de
24º LGT) sociedades de responsabilidade ilimitada (art.
21º/2 LGT)

Art. 22º/4 LGT – responsabilidade tributária é, em regra, subsidiária.

O responsável tributário só é chamado a satisfazer a dívida tributária do sujeito


passivo depois de esgotado todo o património deste, isto é, depois de comprovado no
processo de execução fiscal que não existem bens penhoráveis do devedor originário ou
que há fundada insuficiência do património do devedor para a satisfação da dívida
exequenda – art. 23º/2 LGT e 153º/2 CPPT

AF exige o pagamento da colecta de IRC à empresa x (devedor originário)

Empresa x não tem património suficiente para satisfazer a dívida tributária

Facto que é demonstrado no processo de execução fiscal

O processo de execução fiscal reverte sobre o responsável tributário

A obrigação da empresa x pagar juros de mora e as custas, no caso de lhe virem a ser
encontrados bens - art. 23º/6 LGT
O Reponsável subsidiário fica isento de custas do processo de execução fiscal (art. 22º/1 LGT) e de juros de
mora liquidados no processo de execução fiscal se, citado para cumprir a dívida constante no título exeutivo,
efetuar o respetivo pagamento no prazo de oposição à execução fiscal (art. 23º/5 LGT)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 48


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Responsabilidade dos administradores, gerentes e diretores (art. 24º


LGT)

Caso de solidariedade entre os responsáveis fiscais subsidiários

Quem responde subsidiariamente?* (art. 24º/1/a) e b) LGT)

a) Os gerentes e administradores que já não exerçam o cargo no momento em


que se verifica a falta de pagamento  ónus da prova pertence à AT
b) Os gerentes e administradores que exerçam o cargo no momento em que se
verifica a falta de pagamento  ónus da prova pertence aos gerentes e
administradores

NOTA*: De acordo com a jurisprudência do STA, não é possível extrair a gerência


de facto da gerência de direito. O gerente de direito só é responsabilizado se a
Fazenda Pública provar que ele efectivamente exercia a gerência. Exercício
efectivo da gerência de facto, mesmo que sem legitimação social.

Responsabilidade subsidiária quando exista mais do que um


responsável tributário para a mesma dívida tributária

Art. 24º/1/a) LGT Administração Fiscal exige o


pagamento de IRC à empresa x

Responsabilidade

subsidiária dos
Empresa x
Não tem património administradores face à empresa
suficiente para satisfazer
a dívida tributária

Administrador (director, gerente, Administrador 2


...) 1
Pode ser chamado a satisfazer a
Pode ser chamada a satisfazer a totalidade da obrigação fiscal
totalidade da obrigação fiscal que que ainda não foi satisfeita
ainda não foi satisfeita

Responsabilidade solidária entre os sócios – Quando um satisfaça tem um direito de crédito sobre o outro

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 49


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Responsabilidade subsidiária

Como se efectiva? Através da reversão do processo de execução fiscal (art. 23º/1


LGT) – Modificação subjectiva da instância, pelo chamamento, a fim de ocupar a
posição passiva na acção, de alguém que não é o devedor que figura no título.

Pressupostos de reversão (art. 153º/2 CPPT)

Direito do responsável subsidiário (revertido):

a. Direito de audição prévia (art. 23º/4 LGT)


b. Benefício da excussão prévia

Suspensão do processo de execução fiscal em caso de reversão (art.


23º/3 LGT)

Se no momento da reversão (provada a fundada insuficiência dos bens do devedor


originário) não for possível determinar a suficiência dos bens penhorados por não estar
definido com precisão o montante a pagar pelo responsável subsidiário, o processo de
execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à completa
excussão do património do executado, sem prejuízo de adopção das medidas cautelares
adequadas.

A execução fica suspensa relativamente ao responsável subsidiário até estar


definido com precisão o montante que ele terá de pagar.

Objectivo: havendo já a certeza quanto à insuficiência dos bens do devedor


originário, o interesse público na interrupção da prescrição, pode justificar que a
reversão ocorra antes da excussão – ver acórdão do STA de 12/04/2012 (processo
257/12).

Meios de reacção:

 Dedução de oposição à execução (art, 203º e 204º CPPT)

A oposição à execução é o meio processual adequado para o executado, por


reversão, discutir em juízo o despacho determinativo dessa reversão, nomeadamente,
imputando-lhe vícios de forma por ausência de fundamentação e preterição de
formalidade legais, mas devendo enquadrar-se este fundamento da oposição no art.
2014º/1/i) CPPT.

 Reclamação graciosa (art. 68º e ss CPPT) e impugnação judicial (art. 99º


e 102º CPPT) – art. 22º/5 LGT

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 50


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Responsabilidade solidária

Exemplo: Responsabilidade de gestores de bens ou direitos de não residentes sem


estabelecimento estável em território português.

Pessoa colectiva x, Os responsáveis podem ser


estrangeira sem demandados
Administração Fiscal estabelecimento estável em conjuntamente com o
exige o pagamento de IRC Portugal sujeito passivo (pessoa
correspondente a João colectiva x) ou se for um a
rendimentos da pessoa Residente em Portugal e satisfazer a totalidade do
colectiva x, estrangeira representante da pessoa valor da dívida em falta,
sem estabelecimento colectiva x junto da AF fica com um direito de
estável em Portugal Luís crédito (direito de regresso)
Residente em Portugal e sobre o sujeito passivo e os
representante da pessoa demais responsáveis
colectiva x junto da AF solidários (art. 23º/6 LGT)

Outras situações de responsabilidade ilimitada

Liquidação de sociedades de responsabilidade ilimitada – art. 21º/2 LGT

Quando os pressupostos do facto tributário se verifiquem em relação a mais de uma


pessoa (exemplo: IMI quando existem dois comproprietários de um prédio indiviso) –
cada um dos comproprietários pode vir a ser chamado a satisfazer a totalidade da
obrigação fiscal, ficando com um direito de crédito sobre o outro.

Caso Prático 18

Jaime é titular de um depósito a prazo no Banco F, pelo qual aufere anualmente


juros no montante de €300.

a) Identifique o tipo de substituição tributária que o rendimento em presença


pode originar.
b) Suponha que o Banco F retém mas não entrega ao Estado as importâncias
devidas por Jaime a título de imposto. Caso o correspondente imposto nunca
chegue a ser pago, quem responde pelo pagamento da dívida tributária?

Resposta (art.28º/1 LGT)

Retenção Não
na fonte a entrega
Banco
título imposto à
definitivo AF

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 51


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

A AT não pode demandar o depositante pelas quantias retidas pelo Banco e não
entregues à AT.

N.º 3 do art. 28º LGT – exemplo: Banco efectuou uma liquidação dos juros de
depósito à taxa de 12% em vez de aplicar a taxa de 28% prevista no CIRS. A AT irá
exigir o valor do imposto em falta ao Banco e só se este não cumprir, e depois de
excutido o respectivo património em sede de execução fiscal, é que o depositante poderá
ser chamado a repor o valor do imposto em falta.

Caso Prático 19

Carlos é trabalhador da empresa SZX, Lda., que lhe paga uma remuneração mensal
ilíquida no valor de €1350.

a) Identifique o tipo de substituição tributária que o rendimento em


presença pode originar.
b) Imagine que, no mês de janeiro de 2017, a SZX, Lda. não reteve as
importâncias devidas, a título de imposto, por Carlos. Caso o
correspondente imposto nunca chegue a ser pago, quem responde pelo
pagamento da dívida tributária?

Resposta

Retenção na fonte de terceiro por conta do pagamento do imposto que o sujeito


passivo irá efetuar no fim do ano - pagamento por conta realizado por terceiro

 “substituição” parcial

Substituto deveria ter retido e não reteve, ou reteve menos do que deveria ter
retido?

 Art. 28.º/2 da LGT:


o Responsabilidade originária dos substituídos
o Responsabilidade subsidiária do substituto

Porque é sobre eles que recaem os pressupostos legais da tributação, sendo eles que
sofrem o desfalque patrimonial

Ou seja, se a Sociedade X estando obrigada a efectuar mensalmente as retenções na


fonte não o tenha feito e o trabalhador no fim do ano não satisfaça a obrigação de
imposto, a AT pode exigir à entidade empregadora, a título de responsabilidade
tributária, subsidiariamente à excussão do património do trabalhador, o pagamento do
valor correspondente ao imposto que devia ter sido retido na fonte e não foi.

O substituto fica sempre sujeito aos juros compensatórios – art. 28.º/2 /2.ª parte
LGT – porque a Fazenda Pública vai receber o dinheiro mais tarde, sendo a

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 52


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

responsabilidade por esse atraso do substituto que devia ter retido e não reteve
(tinha um dever legal de retenção).

Se a entidade patronal reteve mas não entregou nos cofres do Estado, o


substituído fica desonerado de qualquer responsabilidade – n.º 1, art. 28.º.

A modificação subjectiva da obrigação fiscal:

Substituição tributária

Substituição tributária (art. 20º/1 LGT)


Substituição total/retenção na fonte a Substituição parcial/retenção na fonte a
título definitivo título de pagamento por conta do
(por exemplo, art. 71º/1 e 4 CIRS; 94º/3 imposto devido a final*
CIRC) (por exemplo, art. 98º e 99º CIRS; 94º/1
CIRC)
Vantagens: Vantagens:
 Redução da complexidade da  Anestesia fiscal
actividade administrativa  Antecipação da receita fiscal
 Diminuição da evasão fiscal
*Não confundir com os pagamentos por conta realizados pelo próprio contribuinte
(art. 102º CIRS)

1) Substituição tributária total

A substituição abrange tanto a obrigação de imposto como a generalidade das


obrigações fiscais acessórias.

No art. 20º LGT, a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte,


sendo a mesma efectivada através do mecanismo da retenção na fonte com carácter
definitivo do imposto devido.

Art. 34º LGT

Terceiro – obrigação de deduzir

parcelas do rendimento pago ou posto

à disposição do sujeito passivo, para

depois fazer a sua entrega à Sujeito passivo


Administração
Administração Fiscal
fiscal

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 53


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Exemplos:

 Rendimentos sujeitos a taxas liberatórias (ex: juros de depósito à ordem ou a


prazo)
 A entidade bancária (substituto) ao reter na fonte a título definitivo, o
montante do imposto, elimina a obrigação de o contribuinte, querendo, no
fim do ano, ter de incluir este rendimento na sua declaração anual de
rendimentos (art. 71.º/6 CIRS).
 Art. 88.º, n.º 3 CIRC – pessoas colectivas não residentes e sem
estabelecimento estável em território português tributadas em IRC

2) Substituição tributária parcial

Terceiro Põe à disposição um Contribuinte


determinado rendimento

O “substituído” tem de

Obrigado a cumprir a generalidade ou

Efectuar retenções na fonte a título de pagamento por conta do algumas das obrigações fiscais
imposto que é devido no fim do ano por aquele
acessórias

Entregas pecuniárias antecipadas efectuadas pelos sujeitos passivos


no período de formação do facto tributário (art. 33º LGT)

Exemplo – Rendimentos do trabalho dependente


Entidade empregadora
Mas retém uma parcela a título de
Paga os salários imposto devido no fim do ano
(art. 99º CIRS)
Retenção de acordo com as taxas estipuladas na tabela prevista no
art. 100º CIRS
A parcela retida é entregue aos cofres do Estado pela entidade empregador, sobre
a qual impendem várias obrigações acessórias (art. 119º CIRS)
O trabalhador, no fim do ano, tem de apresentar a sua
declaração de rendimento
Procede-se ao apuramento do imposto E ao pagamento do valor em falta
nos termos gerais
Se o valor retido na fonte for superior ao imposto devido, é restituído ao
trabalhador a parte excedente através da restituição oficiosa do imposto
(art. 96º CIRS)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 54


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A modificação subjectiva da obrigação fiscal:

Substituição tributária (continuação)


Retenção na fonte a título definitivo:

 Substituto retém mas não entrega (art. 28º/1


LGT)
Responsabilidade tributária  Substituto não retém ou não retém na totalidade
em caso de substituição tributária (art. 28º/3 LGT)
Pagamento por conta efectuado por terceiro:
(art. 28º LGT )
 Substituo retém mas não entrega (art. 28º/1 LGT)
 Substituto não retém ou não retém na totalidade (art.
28º/2 LGT)

A transmissão da obrigação fiscal

Obrigação fiscal é indisponível (art. 29º, 30º/2 e 36º LGT).

A lei admite dois casos de transmissão da obrigação fiscal (pelo passivo):

o Sucessão legal (art. 29º/2 LGT)


o Subrogação fiscal (art. 41º/1 LGT)
 Momento (art. 91º/1, 2 e 3 CPPT)
 Efeitos (art. 41º/2 LGT; 92º CPPT)

Com a sub-rogação transmite-se para o sub-rogado a titularidade do crédito que a


administração tributária detinha sobre o obrigado tributário

Mantêm-se as garantias, privilégios e a possibilidade de utilização do processo de


execução fiscal para a sua cobrança coerciva, requerendo a sua instauração, se o
pagamento ocorreu antes dela, ou o seu prosseguimento.

A extinção da obrigação fiscal

 Pagamento voluntário (arts. 41º/1 LGT e 84.º e 85.º CPPT); pagamento


em prestações (42.º LGT; 86.º/2, 196.º e 199.º CPPT)

 Cobrança coerciva – quando o sujeito passivo não pague o imposto devido


no prazo legal, fica sujeito ao processo de execução fiscal (art. 148.º CPPT)
e ao pagamento de juros moratórios;

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 55


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Poderá o Manuel proceder ao pagamento do imposto em dívida através da entrega


de 50 toneladas de batata?

 Dação em pagamento de bens móveis ou imóveis (arts. 201.º e 202.º


CPPT – necessidade de autorização); dação antes da instauração do processo
de execução fiscal – art. 87.º CPPT
 Compensação
 Compensação por iniciativa da AF (art. 89.º CPPT)
 Compensação por iniciativa do contribuinte (art. 90.º CPPT)

 Caducidade do direito à liquidação (art. 45.º LGT) – prazo que a lei


reconhece à AT para esta proceder à liquidação dos impostos e à respectiva
notificação aos contribuintes de forma válida, constituindo-os na obrigação
de cumprir a obrigação tributária que por efeito desse acto se torna certa,
líquida e exigível.
Prazo de 4 anos, ou 12 nos casos do art. 45.º/7 LGT

 Prescrição da dívida tributária (art. 48.º LGT) – causa de extinção da


obrigação tributária.

Estabelecer o início da contagem do


prazo de que a AF dispõe para tornar Impostos periódicos: 4 anos a
líquida e exigível a obrigação de partir do termo do ano em que se
imposto verificou o facto tributário

Art. 45º/4 LGT


Impostos de obrigação única: 4
Prazo de caducidade anos a partir da data em que o facto
Distinção
tributário ocorreu. No caso do IVA e
fundamental para:
nos impostos sobre o rendimento
quando haja retenção na fonte a título
definitivo o prazo conta-se a a partir do
início do ano civil seguinte àquele em
que se verificou a exigibilidade do
Estabelecer o início da contagem do imposto ou o facto tributário
prazo de que a AF dispõe para poder
promover a cobrança coerciva das
dívidas fiscais

Art. 48º LGT


8 anos
Prazo de prescrição

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 56


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Processo de
Pagamento
execução
voluntário do Venda dos
Ato de fiscal/cobraça
imposto - 30 bens
liquidação coerciva do
dias (art. 84º e penhorados
imposto (art.
85º/2 CPPT)
148º CPPT)

Pedido de pagamento da
dívida tributária em prestações
(art. 42º LGT e 88º/2 CPPT)

Procedimentos tributários (art. 54º LGT)

Procedimentos Ações complementares de Procedimento de


tributários especiais informação e fiscalização liquidação
tributária
 Procedimento de  Procedimento de  Art. 69º e ss. LGT
derrogação do informação
sigilo bancário (art. vinculativa (art.
63º- A, B e C 68º LGT e 57º
LGT); CPPT);
 Procedimento para  Procedimento de Determinação/avaliação da
o reconhecimento inspeção tributária matéria tributável ou
de benefícios (art. 63º LGT) lançamento objetivo
fiscais (art. 65º (art. 81º - 94º LGT)
CPPT);
 Procedimento para
a aplicação de
normas anti-abuso
(art. 63º CPPT)

Procedimento tributário: sucessão de atos dirigida à declaração de direitos


tributários (art. 54º LGT) e compreende, de acordo com o art. 44º CPPT, entre outros
elementos:

 O conjunto de acções preparatórias ou complementares da liquidação dos


tributos ou de confirmação dos factos tributários declarados pelos sujeitos
passivos ou outros obrigados tributários;
 A liquidação dos tributos, quando efectuada pela administração tributária;

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 57


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 Avaliação direta ou indirecta dos rendimentos ou valores patrimoniais.

Procedimento de liquidação dos impostos

Objetivo: proceder ao apuramento (tornar certa e líquida) da obrigação de imposto.

Regra geral: avaliação direta da matéria colectável (art. 81º LGT)  visa-se a
determinação do valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação, razão pela
qual a avaliação dos rendimentos ou valores sujeitos a tributação se fundamenta em
critérios objectivos (art. 84º/1 LGT).

Os procedimentos de liquidação, conforme o imposto a que respeitam, caracterizam-


se por um conjunto sucessivo de operações que culmina com a determinação do valor
do imposto a pagar, consubstanciando o ato tributário.

 69º LGT
 Procedimento de liquidação instaura-se com as declarações
Inicia-se dos contribuintes ou, na falta ou vício destas, com base em
todos os elementos de que disponha ou venha a obter a
entidade competente (art. 59º CPPT)

Prazos  Contam-se nos termos do art. 279º CC (art. 20º CPPT e


procedimentais 57º/3 LGT)
 57º/2 LGT e 21º/a) CPPT
 Fase na qual se procede à recolha de prova
 Cabe ao órgão da AT competente para a decisão (art. 71º
Direção da instrução LGT)
 O ónus da prova recai sobre quem invoca os factos (art. 74º
LGT) – exceções: 74º/3

AT está obrigada a pronunciar-se sobre todos os assuntos da sua competência,


quando devidamente instada a fazê-lo e tem o dever de decidir (art. 56.º da LGT) a não
ser que se tenha pronunciado há menos de dois anos sobre pedido do mesmo autor com
idênticos objecto e fundamentos ou se tiver sido ultrapassado o prazo legal de revisão
do acto tributário.

A decisão final do procedimento – seja o acto de liquidação ou uma decisão da AT -


carece de fundamentação (art. 77.º LGT).

A eficácia do acto final do procedimento depende de notificação (art. 77.º/6 LGT e


36.º/1 do CPPT e arts. 38.º a 43.º do CPPT). A caixa postal electrónica obrigatória
integra o domicílio fiscal (art. 19.º/2 e 9 da LGT).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 58


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

A liquidação tem de ser validamente notificada ao sujeito passivo no prazo de 4


anos, sob pena de caducidade do direito de liquidar os tributos (art. 45.º/1 LGT).

Procedimento tributário: o procedimento de liquidação

Avaliação da matéria tributável – conjunto de operações necessárias para determinar


a matéria colectável, isto é, a base de incidência do tributo. Fase essencial do
procedimento de liquidação
Avaliação direta (art. 83º/1 LGT) Avaliação indirecta (art. 60º/1/d), 81º/1,
directamente, segundo os critérios 83º/2, 85º/2 LGT)
próprios de cada tributo só nos casos e condições expressamente
previstos na lei (art. 81º/1 e 87º LGT)
 Por determinação da AT  Excecional (art. 81º/1 e 87º/1/a) a
 Por determinação do sujeito f) LGT)
passivo (autoliquidação)  Subsidiária da avaliação direta
(art. 85º/1 LGT)

Avaliação direta da matéria colectável

Visa a determinação do valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação


(art. 83.º/1 LGT) e compete, em regra, à Administração Tributária (ex. IMI, IRS), e,
nos casos de autoliquidação (ex. IVA e IRC) ao sujeito passivo do imposto. Não há
autoliquidação no IRS – art. 75.º CIRS

A avaliação dos rendimentos ou valores sujeitos a tributação baseia-se em critérios


objectivos e deve ser devidamente fundamentada, contendo obrigatoriamente a
indicação dos critérios utilizados e a ponderação dos factores que influenciaram a
determinação do seu resultado (art. 84.º/1 e 3 LGT).

Quando a avaliação venha a ser efectuada pelo sujeito passivo no âmbito dos
procedimentos de autoliquidação, o mesmo deverá, sempre que solicitado pela
Administração Tributária, esclarecer os critérios utilizados e a sua aplicação na
determinação dos valores que declarou (art. 84.º/2 LGT).

Avaliação indireta da matéria colectável

É subsidiária da avaliação directa, pelo que se lhe aplicam, sempre que possível e a
lei não prescrever em sentido diferente, as regras da avaliação directa (arts. 81.º/ 1 e
85.º da LGT).

Visa a determinação do valor dos rendimentos ou bens tributáveis a partir de


indícios, presunções ou outros elementos de que a administração tributária
disponha – art. 83.º/2 LGT.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 59


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Verificada qualquer uma das circunstâncias do art. 87º/1, a determinação da


matéria colectável faz-se tomando em consideração os elementos enunciados no
art. 90.º da LGT.

Situações em que se admite a avaliação da matéria colectável por


métodos indiretos (art. 87º/1 LGT)

 Regime simplificado de tributação (art. 87º/1/a) LGT; art. 28º e 31º


CIRS; art. 86º-A CIRC);
 Impossibilidade de comprovação e quantificação direta e exata dos
elementos indispensáveis à correta determinação da matéria tributável
(art. 87º/1/b), 88º e 90º LGT);
 Declaração sistemática de prejuízos fiscais em, pelo menos, 3 anos
consecutivos ou em 3 anos num período de 5 (art. 87º/1/e) e 90º LGT);
 Manifestações de fortuna (art. 87º/1/d) e 89º-A LGT);
 Acréscimos injustificados de património (art. 87º/1/f) e 89º-A/5 LGT)

O regime simplificado é uma opção de tributação dos rendimentos válida para


profissionais liberais e empresários em nome individual, que, no exercício da sua
actividade, tenham um montante anual ilíquido de rendimentos inferior ou igual a €
200.000,00.

Neste regime, são considerados para efeitos de tributação nos rendimentos de


actividades profissionais constantes na tabela a que se refere o artigo 151.º do Código
do IRS 75% do rendimento declarado. Os restantes 25% são considerados como
encargos próprios da actividade e, consequentemente, livres de impostos. Assim, não se
declara no IRS despesas da actividade, como deslocações, aquisição de bens ou serviços
indispensáveis à actividade, no regime simplificado.

Caso a actividade se refira a vendas, prestação de serviços no âmbito das actividades


hoteleiras e similares, restauração e bebidas e subsídios destinados à exploração, a
despesa imputável à actividade corresponde a 85% do volume de negócios.

(1) Regime simplificado de tributação (art. 87/1/a) LGT; art. 28º e 31º CIRS;
86º-A CIRC)

Al. a) – o regime simplificado de tributação (art. 87.º/1 a) LGT) não constitui


um verdadeiro caso de avaliação indirecta da matéria colectável pelas seguintes
razões:

1) Em primeiro lugar porque não se trata de um caso de aplicação subsidiária


de um método de quantificação da matéria colectável, mas antes de uma
opção do sujeito passivo em alternativa ao regime de contabilidade
organizada (art. 81.º/2 LGT; art. 28.º/1 e 31.º CIRS e 86.º-A CIRC), desde
que preencha os requisitos para poder realizar essa opção (art. 28.º/2 CIRS);

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 60


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

2) Em segundo lugar, porque neste caso não se trata de apurar o rendimento


real a partir de indícios ou presunções, mas sim de tributar um
rendimento-presumido, que se aceita de modo alternativo ao rendimento
real, como forma de não sobrecarregar os titulares de rendimentos mais
baixos com obrigações contabilísticas mais complexas.

(2) Impossibilidade de comprovação e quantificação direta e exata dos


elementos indispensáveis à correta determinação da matéria tributável (art.
87º/1/b), 88º e 90º LGT) – por se verificar qualquer anomalia ou incorrecção
que inviabiliza o apuramento daquela

(3) Declaração sistemática de prejuízos fiscais em, pelo menos, 3 anos


consecutivos ou em 3 anos num período de 5 (art. 87º/1/ e 90º LGT)

Posição do curso: dois únicos casos de

“verdadeira” avaliação da matéria tributável por

métodos indiretos

NOTA:

Em rigor, apenas no caso de impossibilidade de comprovação e quantificação


directa, estamos perante uma verdadeira situação de determinação da matéria
colectável por métodos indiretos.

Nos demais casos, ou se pretende, à partida, apurar um rendimento diverso do


rendimento real revelado pela contabilidade, que assim é afastada quanto aos gastos,
ou há lugar à inversão do ónus da prova, presumindo-se rendimentos não
declarados se o contribuinte não justificar esses outros rendimentos.

A lista de critérios do art. 90.º/ 1 não é taxativa.

Caso Prático 18

Num processo de inspecção tributária iniciado em 2018, a Autoridade Tributária


considerou que os registos contabilísticos da sociedade XPTO, Lda, referentes ao ano
2016 eram insuficientes, não sendo possível quantificar a matéria tributável a partir da
contabilidade de forma exacta.

Assim, notificou a sociedade de que iria proceder à correcção da quantificação da


matéria tributável através da aplicação de uma margem média de lucro de 3,5%/ano,
correspondente a um acréscimo da matéria tributável no valor de €60.000,00. Após
Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 61
Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

audição da sociedade XPTO, foi fixada a correspondente matéria tributável de IRC,


tendo a empresa sido notificada desse facto, e de seguida a Autoridade Tributária
procedeu à liquidação do imposto em Abril de 2016.

a. Identifique a natureza da correção administrativa referida, referindo-se


ao procedimento de determinação da matéria tributável que lhe está
subjacente

Pontos a desenvolver:

 Correção quantitativa, distinção para as correções técnicas e aritméticas;


 A Administração Tributária procedeu à correção da matéria tributável
determinada com base em métodos indiretos; características da avaliação
indireta da matéria tributável – excecional e subsidiária da avaliação direta
(arts. 81.º e 85.º LGT);
 Explicitação do encadeamento nos casos de impossibilidade de comprovação
e quantificação direta e exata dos elementos indispensáveis à correta
determinação da matéria coletável (arts. 87.º/1/b, 88.º e 90.º LGT);
 Os critérios do artigo 90.º da LGT e a determinação do rendimento real
presumido; a hipótese como verdadeiro caso de avaliação indirecta.

b. Suponha que a sociedade XPTO pretende reagir judicialmente contra a


referida correção por entender haver erro na quantificação da matéria
tributável, falta de fundamentação de direito e decurso do prazo de
caducidade do direito à liquidação. Pode fazê-lo?

Pontos a desenvolver:

 O Princípio da impugnação unitária – art. 54.º CPPT e a sua refração no


âmbito da avaliação indireta em função da avaliação em causa e, no caso, a
inimpugnabilidade judicial da concreta decisão de correção;
 Equacionar a existência prévia à liquidação de pedido especial de revisão da
matéria tributável (arts. 91.º e 92.º LGT) como condição da impugnação
judicial da liquidação com fundamento em erro na quantificação ou nos
pressupostos da determinação indireta da matéria tributável (arts. 86.º/5
LGT e 117.º/1 CPPT);
 Em caso de inexistência desse pedido, preclusão da impugnação quanto ao
erro na quantificação; a inimpugnabilidade no caso de existência de acordo
em sede de pedido de revisão (86.º/4 LGT);
 Desnecessidade do pedido de revisão para impugnação com fundamento na
falta de fundamentação de direito e no decurso do prazo de caducidade do
direito à liquidação já não seria necessário recorrer a tal pedido como
condição de impugnação judicial da liquidação.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 62


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Procedimento especial de revisão da matéria colectável

(art. 91º LGT)

Procedimento especial de revisão da matéria tributável

 Objetivo do procedimento
 Intervenção de um perito  PRAZO: 30 dias (art. 91º/1 LGT)
independente (art. 91º/4  Pressuposto da impugnação judicial do ato de
LGT) liquidação (art. 117º/1 CPPT e 86º/5 LGT)

 Acordo entre o perito da AT e o perito do contribuinte (art.


Resultados do 92º/3 LGT);
 Falta de acordo entre os peritos (art. 92º/6 LGT)
 Concordância entre o parecer do perito contribuinte e o
parecer do perito independente (art. 92º/8 LGT)

Determinada a matéria colectável por métodos indiretos, caso o sujeito passivo não
concorde com a quantificação efectuada pela AT

Procedimento especial de revisão da matéria colectável (art. 91º LGT)

 Não se aplica aos casos de regime simplificado (art. 91º/1), nem às situações
de manifestação de fortuna (art. 89º-A/7);
 Inicia-se a pedido do contribuinte, através do requerimento dirigido ao órgão
da administração tributária da área do seu domicílio fiscal
 Nos 30 dias contados a partir da data da notificação da decisão
 O pedido suspende o procedimento de liquidação do tributo (art. 91º/2
LGT) – apenas até à decisão final tomada neste procedimento

O procedimento…

1. Debate contraditório entre o perito indicado pelo contribuinte logo no


requerimento inicial e o perito indicado pela administração tributária (que
deve constar na lista aprovada pelo Ministério das Finanças. Excepto: 91.º/4
– 93.º; 92.º/7 e 8)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 63


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

2. Se houver acordo entre os peritos, o tributo é liquidado com base na matéria


tributável acordada, não podendo a AT alterar o valor dessa matéria
tributável – 92.º, n.ºs 3, 4 e 5.
Inimpugnabilidade no caso de existência de acordo em sede de pedido de
revisão (86.º/4 LGT) – excepção: não pode considerar-se o sujeito passivo
vinculado pelo acordo que seja obtido, sempre que se demonstre que o
representante não agiu dentro dos limites dos seus poderes de representação
e agiu em sentido contrário a estes poderes.

3. Se não houver acordo, a AT fixa unilateralmente o valor da matéria


colectável tendo em conta as posições dos dois peritos – 92.º, n.º 6

4. Nomeação de perito independente: art. 91.º/4; art. 92.º/7 e 8 LGT.

O pedido de revisão é um preliminar indispensável para a posterior impugnação da


liquidação com fundamento em ilegalidade por erro na quantificação ou nos
pressupostos de determinação da matéria tributável - arts. 86.º/5 da LGT e 117.º/1
do CPPT.

Se não tiver havido aquele pedido, pode posteriormente impugnar mas apenas com
base em outros fundamentos, p. ex., falta de fundamentação – 117.º/2 CPPT

Quando a impugnação for apresentada pelo responsável subsidiário não se


aplica o art. 86.º, n.º 5.

Dado que o art. 22.º, n.º 4 da LGT garante ao responsável subsidiário o direito à
reclamação e à impugnação da matéria tributável, nos mesmos termos do devedor
principal, e não lhe for possível, no caso de fixação da matéria tributável por métodos
indiretos, requerer ou intervir, por se encontrar findo, no procedimento de revisão,
poderá mesmo assim impugnar a avaliação indirecta com fundamento em ilegalidade
por erro na quantificação ou nos pressupostos de determinação da matéria tributável.

Imagine agora que…

A liquidação adicional foi fixada através de uma avaliação indirecta. E a devedora


originária não solicitou a revisão da matéria tributável fixada através do pedido de
revisão, previsto no artigo 91.º da LGT.

Pode agora o responsável subsidiário, contra quem foi revertida a divida, vir
solicitar esta revisão?

Posição assumida pelo STA – O responsável subsidiário pode formular pedido de


revisão da matéria colectável apurada através de métodos indirectos na sequência da sua
citação no processo executivo, data a partir da qual se deve contar o prazo de

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 64


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

trinta dias previsto para o efeito no n.º 1 do artigo 91.º da LGT. (ex: Acórdão do
STA de 17/03/2011, processo n.º 0876/09).

Princípio da impugnação unitária (artigo 54.º do CPPT) atento o critério da


lesividade dos actos.

Ou seja, salvo quando forem imediatamente lesivos dos direitos do contribuinte ou


disposições expressa em sentido diferente, não são susceptíveis de impugnação
contenciosa os actos interlocutórios do procedimento, sem prejuízo de poder ser
invocada na impugnação da decisão final qualquer ilegalidade anteriormente
cometida

A possibilidade de impugnar:

 actos de fixação da matéria tributável por métodos indirectos


propriamente ditos, em que essa fixação só pode ser contestada
judicialmente na impugnação da liquidação (nesta parte, prevalece a
regra da impugnação unitária – art. 54.º CPPT), se previamente o
contribuinte tiver lançado mão do pedido de revisão da matéria
tributável (arts. 87.º/5 e 91.º LGT).

Correção quantitiva VS Correção técnica:

Correcção quantitativa: têm lugar quando a administração tributária procede à


correcção da matéria tributável determinada com base em métodos indirectos,
correcção cuja impugnação judicial está dependente de prévia impugnação
administrativa através do procedimento de revisão da matéria tributável fixada por
métodos indirectos, se os fundamentos da impugnação judicial forem um dos previstos
no art. 86.º/ 5 da LGT.

Correcções técnicas – são correcções que a administração tributária faz à matéria


tributável determinada no âmbito da avaliação directa, como correcção
concretizada, por exemplo, na não consideração de determinadas verbas como gastos
fiscais assim qualificadas na declaração de rendimentos. Estas correcções apenas podem
ser impugnadas judicialmente em sede de impugnação da consequente liquidação,
embora não se exija qualquer prévia impugnação administrativa.

Caso Prático 19

Em Março de 2014, Albertina, reformada de 85 anos, adquiriu uma “Ducati”


amarela no valor de €80.000, tendo, nesse ano, declarado um rendimento líquido de
€10.000.

a) Explique que consequências podem decorrer desta factualidade para a


situação fiscal de Albertina no ano de 2014 e 2015.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 65


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

b) Como pode Albertina reagir contra a decisão de correcção da matéria


coletável?

As manifestações de fortuna (art. 89º-A LGT)

Tabela (art. 89º-A/4)


Manifestação de fortuna Rendimento padrão
1 – Imóveis de valor de aquisição igual ou 20% do valor de aquisição.
superior a €250.000
2 – automóveis ligeiros de passageiros de 50% do valor no ano de matrícula com o
valor igual ou superior a €10.000 batimento de 20% por cada um dos anos
seguintes.
3 – Barcos de recreio de valor igual ou Valor no ano de registo, com o abatimento
superior a € 25.000 de 20% por cada um dos anos seguintes.
4 – Aeronaves de turismo Valor no ano de registo, com o abatimento
de 20% por cada um dos anos seguintes.

Na determinação da existência ou não de uma manifestação de fortuna segundo


disposto na tabela, são tomados em consideração os elementos do art. 89º-A/2 LGT.

Alfredo:

 Rendimento declarado: €20.000


 Manifestação de fortuna: prédio no valor de €350.000
 Rendimento-padrão: 20% x €350.000 = €70.000
 Rendimento declarado é inferior em mais de 30% ao rendimento
padrão? Sim (€70.000 x 30% = €21.000 / 70.000 – 21.000 = €49.000)

Aplicação do regime das manifestações de fortuna (art. 89º-A/1 LGT)

Falso caso de avaliação indirecta

Em bom rigor, a correcção da matéria colectável com base no rendimento padrão


não consubstancia um caso de avaliação indirecta da matéria colectável e sim uma
tributação de um rendimento presumidamente ocultado.

A não ser que a Administração Tributária utilize a faculdade prevista no art. 89º-
A/4 LGT e, com base nos critérios do art. 90º, fixe um rendimento superior ao
rendimento padrão (valor de rendimento presumidamente ocultado, fixado pelo
legislador com base em regras de experiência).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 66


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Art. 89º-A LGT

Casos em que os rendimentos declarados em sede de IRS se afastam


significativamente para menos, sem razão justificada, dos padrões de rendimento que
razoavelmente possam permitir as manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito
passivo

ÓNUS DA PROVA: se se verificar alguma das situações tipificadas como


manifestações de fortuna (art. 89.º-A/1 e 87.º/1/f), cabe ao sujeito passivo a
comprovação de que correspondem à realidade os rendimentos declarados e que é
outra a fonte das manifestações de fortuna – art. 89.º-A/3 LGT – ex: herança ou
doação, rendimentos que não esteja obrigado a declarar,...

SE NÃO FIZER ESSA PROVA? Considera-se como rendimento tributável em


sede de IRS, a enquadrar na categoria G (incrementos patrimoniais), o rendimento
padrão enunciado na tabela do n.º 4 (falso caso de avaliação da indirecta). Contudo,
caso hajam indícios fundados de acordo com os critérios previstos no art.º 90.º a AT
pode fixar um rendimento superior a esse rendimento padrão.

Manifestações de fortuna (art. 89º-A LGT)

Pressupostos de funcionamento
Dois problemas:

1) Ilisão parcial da presunção;


2) Extensão temporal da presunção Consequências da não ilisão da presunção
de rendimento pelo contribuinte:

o AT procede à correcção da matéria


tributável que o legislador qualifica
também como avaliação indirecta da
matéria tributável
o Acréscimo de rendimento é incluído na
categoria G (art. 9º/1/d) CIRS)

Recurso contencioso autónomo, a tramitar como

processo urgente (art. 146º-B CPPT; art. 89º-A/7 e 8 LGT)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 67


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Justificação parcial

Quando o sujeito passivo apenas consegue fazer uma justificação parcial da origem
do rendimento que lhe permitiu realizar os negócios qualificados, segundo a lei, como
manifestações de fortuna.

Nestes casos, o tribunal tem entendido que esta justificação não é suficiente para
afastar a aplicação do regime jurídico das manifestações de fortuna, MAS a mesma há-
de revelar para a fixação presuntiva do montante do acréscimo patrimonial não
justificado.

Desde que tal justificação parcial não constitua uma fraude à lei

Impugnação dos actos que determinam a aplicação do regime


jurídico das manifestações de fortuna

Da decisão de avaliação da matéria colectável segundo os critérios do art. 89.º-A/1


e 4 cabe recurso para o tribunal tributário

 Este recurso tem efeito suspensivo


 Tramita como processo urgente

Não é aplicável o procedimento do pedido de revisão da matéria colectável–


art.89.º-A/7 e 8 LGT e art. 146.º-B CPPT. Ou seja, admite-se no âmbito da
impugnação judicial a análise da ilegalidade por excesso de quantificação, mesmo sem
o pedido de revisão

Excepção ao princípio da impugnação unitária (art. 54.º do CPPT –


insusceptibilidade de impugnação contenciosa directa de actos interlocutórios do
procedimento), uma vez que se admite a impugnação autónoma de um acto destacável
do procedimento tributário.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 68


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Procedimento de liquidação do IRS


Totalidade dos seus
rendiemtnos, inclundo os
Pessoas singulares obtidos for a do território
residente (16º CIRS) nacional - princípio da
universalidade ou do
rendimento mundial
Incidência pessoal -
art. 13º CIRS
São tributadas apenas pelos
Pessoas singulares não rendimentos obtidos em
residentes Portugal, sito é, princípio da
territorialidade (art. 15º/2)
Existindo agregado familiar
o imposto é apurado
individualmente em relação a
cada cônjuge ou unido de facto, Tributação em IRS dos residentes não
a não ser que seja exercida a habituais:
opção pela tributação conjunta
a) Os rendimentos obtidos em Portugal por
– art. 13º/2 – alteração da Lei
estes residentes não ficam sujeitos a
nº 82-E/2014, de 31/12, que
englobamento;
entrou em vigor em 01/01/2015
b) Tributação proporcional – já que esses
rendimentos ficam submetidos a uma única
taxa, a cobrar segundo a técnica da retenção
na fonte a título definitivo (art. 71º/4)

Agregado familiar: art. 13º/ 3 e 4.

Casados – com a reforme de 2015 a tributação separada do casal passa a ser a regra
do IRS, embora se salvaguarde a opção pela tributação conjunta – que protege os casais
com rendimentos de valores díspares (art. 59º).

Unidos de factos – podem optar pela tributação conjunta ou manterem-se na


tributação separada (art. 14º)

No caso dos contribuintes que não optarem pela entrega da declaração conjunta, os
respectivos dependentes passam a poder integrar a declaração de cada um dos
progenitores, isto é, podem ser incluídos em mais do que uma declaração anual de IRS.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 69


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Fases do imposto

Lançamento objetivo

1. Perante um determinado rendimento haverá que qualificar como integrando


uma categoria:
o Categoria A – rendimentos do trabalho dependente (art. 2º)
o Categoria B – rendimentos empresariais e profissionais (art. 3º e 4º)
o Categoria E – rendimentos de capitais (art. 5º, 6º e 7º)
o Categoria F – rendimento prediais (art. 8º)
o Categoria G – incrementos patrimoniais (art. 9º e 10º)
o Categoria H – pensões (art. 11º)
2. Determinar, face às normas real da respectiva categoria, se o rendimento em
causa é ou não tributado
3. Quantificar qual o rendimento colectável, que em muitos casos não
corresponderá ao total obtido. Quando a obtenção de um determinado
rendimento implique que o contribuinte suporte custos
4. Só são dedutíveis os custos ou outros valores expressamente previstos na lei,
a qual não permite sempre a integral dedutibilidade de todos os encargos
suportados pelos contribuintes para a obtenção de alguns rendimentos.
DEDUÇOES ESPECÍFICAS  este apuramento acontece categoria a
categoria = valores que a lei permite que sejam subtraídos ao rendimento
bruto para se apurar o rendimento líquido tributável (art. 25º ss)

Liquidação em sentido amplo:


Após apurado o rendimento líquido tributável de cada categoria:
a) Os rendimentos das várias categorias são sujeitos a englobamento, apurando-
se o rendimento total (ou global) líquido – art. 22º
 O englobamento não abrange a totalidade do rendimento
tributável (rendimentos sujeitos a taxas liberatórias – art. 71º) ou
são englobados se tal for opção do sujeito passivo.
b) Ao rendimento colectável é aplicada taxa (liquidação em sentido estrito),
obtendo-se a COLECTA – art. 68º e 68º-A
c) À colecta serão realizadas deduções – DEDUÇÕES À COLECTA – art.
78º ss.
d) Obtendo-se, desta forma, o VALOR DO IMPOSTO A PAGAR

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 70


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Rendimento Deduções Rendimento


ilíquido de cada específicas líquido de cada
categoria (art. 25º) categoria

Rendimento Rendimento ENGLOBAMENTO


Taxa
colectável líquido total (art. 22º)

Quociente familiar

Deduções à
Colecta Imposto a pagar
colecta

1. Qualificar o rendimento como integrando uma categoria

Incidência real

o Categoria A – abrange os rendimentos obtidos no quadro de relações de


trabalho subordinado ou em situações equivalente.

Rendimentos resultantes:

a) Do contrato de trabalho ou equiparado


b) Do contrato de aquisição de serviços ou outro de idêntica natureza em que o
trabalho seja prestado sob autoridade e direcção do aquirente dos serviços
(exemplo: “a recibos verdes”) – art. 2º/1/b)

Para distinguir face à Categoria B, é necessário aferir se o trabalho é


efectivamente prestado sob autoridade e direcção de outrem.

Art.28º/8 – quando a prestação de serviços seja feita a uma única entidade, o sujeito
passivo pode optar pela tributação de acordo com as regras da categoria A.

c) Do exercício de função, serviço ou cargo público (art. 2º/1/c))

Os funcionários públicos são juridicamente verdadeiros trabalhadores por conta de


outrem, só que os respectivos contratos regem-se por legislação especial.

d) Da atribuição a título de pré-reforma, pré-aposentação, reserva (estas duas


últimas para os elementos da PSP e das Forças Armadas, incluindo a
Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 71
Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

GNR),com ou sem prestação de trabalho (rendimentos que não inseríveis


na Categoria H) – art. 2º/1/d)

Incluem-se aqui outros rendimentos pagos pela entidade patronal ou por terceiros no
interesse desta (exemplo: fundos de pensões). Isto é, prestações atribuídas, não importa
a que título, antes de verificados os requisitos exigidos nos regimes obrigatórios de
segurança social para a passagem à situação de reforma e, bem assim, as prestações que
continuem a ser devidas até que se verifiquem os requisitos necessário à passagem à
situação de reforma.

e) As remunerações dos órgãos estatutários das pessoas colectivas (exclusão


dos ROC quando nessa qualidade integrem os órgãos estatutários e outras
pessoas colectivas, na medida em que são profissionais independentes – art.
53º do DL nº 487/99, de16 de Novembro) – art. 2/3/a)

Rendimento não sujeitos a tributação:

Art. 2º-A exclui da incidência do imposto determinadas importâncias –


desagravamentos estruturais

 Abonos de família
 Subsídios de refeição
 Contribuições da entidade patronal para seguros de vida
 Fundos de pensões
 Regimes complementares de segurança social
 Benefícios imputáveis à utilização e fruição de realizações de utilidade social
e de lazer mantidas pela entidade patronal
 Despesas por esta suportadas com acções de formação profissional dos
trabalhadores
 Ajudas de custo na parte em que não excedam os limites legais (art. 2º/3/d))
 Verbas atribuídas ao trabalhador para despesas de deslocação, viagens ou
representação (exemplo: gastos com alimentação, alojamento, receções,…)

As prestações não podem constituir um benefício individualizado e não podem


ser objeto de qualquer forma de antecipação da sua disponibilidade.

o Categoria B – a partir de 2001, esta categoria passou a integrar os


rendimentos empresariais e profissionais, tendo sido suprimidas as
categorias C e D.

O art. 3º passou a prever o exercício de qualquer actividade comercial, industrial,


agrícola, silvícola ou pecuária (art.3º/1/a)) e os auferidos no exercício, por conta
própria, de qualquer actividade de prestação de serviços, incluindo as de carácter
científico, artístico ou técnico (art. 3º/1/b)).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 72


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

O art. 4º enumera, meramente exemplificativo, quais as atividades geradoras de


rendimentos empresariais para efeitos de tributação (art. 151º; Portaria nº 1011/2001 de
21 de agosto) – lista de actividades também a título exemplificativo.

São consideradas actividades comerciais e industriai, designadamente:

 Compra e venda:
 Fabricação;
 Pesca;
 Exploração mineira e outras indústrias extractivas;
 Transportes;
 Construção civil;
 Urbanística e exploração de loteamentos;
 Actividades hoteleiras e similares, restauração e bebidas;
 Agências de viagens e turismo;
 Artesanato;
 Actividades agrícolas e pecuárias não conexas com a exploração da terra ou
em que esta tenha carácter manifestamente acessório;
 Actividades agrícolas, silvícolas e pecuárias integradas noutras de natureza
comercial ou industrial.

São consideradas actividades agrícolas, silvícolas ou pecuárias, designadamente:

 As comerciais ou industriais, meramente acessórias ou complementares


daquelas, que utilizem, de forma exclusiva, os produtos das próprias
explorações agrícolas, silvícolas ou pecuárias;
 A caça e a exploração de pastos naturais, água e outros produtos
espontâneos;
 Exploração de marinhas de sal;
 Explorações agrícolas, investigação e obtenção de novas variedades animais
e vegetais, dependentes daquelas actividades.

Exclusão de certos rendimentos: art. 3º/4 CIRS.

Outros rendimentos desta categoria:

Art. 3º/1/c) – em princípio, estes rendimentos apenas são de incluir nesta categoria
quando auferidos pelo respectivo titular originário (inventor, autor, …):

 Direitos de autor e direitos conexos (regulados no Código do Direito de


Autor e dos Direitos Conexos), quando o cedente seja o titular originário;
 Se os direitos de autor forem explorados por uma editora? Constituem
rendimentos de capitais – categoria G
 Os direitos de propriedade industrial tutelam as invenções, as marcas, o
design, os sinais distintivos do comércio,…

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 73


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Rendimentos obtidos pela prestação de informações respeitantes a uma


experiência adquirida no sector industrial, comercial ou científico (know
how)

Art. 3º/2 – rendimentos prediais, de capitais e mais-valias quando obtidos em


conexão com actividades de natureza empresarial ou profissional (exemplo: mais-valia
obtida por um advogado com a venda do seu escritório).

Art. 3º/2/d) e e) – rendimentos provenientes da cessão temporária de um


estabelecimento e as importâncias recebidas a título de indemnização, conexas com a
actividade exercida (exemplo: pela mudança do local do respectivo exercício).

Comprar casa para vender:

 Possibilidade de inclusão nas Categorias B (art. 3º/1/a) e 2/c)), no caso de


exercício de actividade empresarial.

o Categoria E – rendimentos de capitais = rendimentos resultantes da


aplicação de capitais, em que se compreendem, nomeadamente, os juros
provenientes de contratos de mútuo e de abertura de créditos, os juros
derivados de depósitos à ordem ou a prazo em instituições financeiras, os
juros e outros rendimentos de títulos, incluindo os títulos de dívida pública,
os lucros das entidades sujeitas ao imposto sobre o rendimentos das pessoas
colectivas, colocados à disposição dos respectivos associados, …

o Categoria F

Noção de prédio (art. 2º CIMI) – exemplo: uma fracção de terreno com ou sem
edifícios ou outras construções neles implantados, …

No art. 8º/4 – todo o bem móvel assente no mesmo local por período superior a 12
meses (exemplo: caravana, tenda destinada a espectáculos)

Tem de existir uma renda  prédios não arrendados não são tributados em sede de
IRS.

O titular de tais rendas não é necessariamente o proprietário (exemplo: art.


8º/2/c)).

Esta categoria inclui:

 Rendas de prédios rústicos, urbanos e mistos pagos ou colocados à


disposição dos respectivos titulares e decorrentes da locação de tais prédios
ou de cessões de exploração de estabelecimentos comerciais ou industriais,
incluindo a dos bens móveis que aí se encontrem, bem como a diferença das
rendas obtidas pelo sublocador.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 74


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Inclui também:

 As rendas derivadas da instalação de um terreno ou no telhado de um


edifício de antenas de telemóveis;
 Painéis publicitários;
 Cedência do uso de partes comuns na propriedade horizontal.

O rendimento imputado à casa de habitação não integra o rendimento


tributável em IRS, a título de rendimentos prediais.

NOTA: Comprar casa para arrendar  possível inclusão na Categoria B, no


caso de exercício de actividade empresarial (art. 3º/1 e 2/a)) ou opção do sujeito
passivo (art. 8º/1, parte final).

o Categoria G

Ampliada pela Lei nº30-G/2000

 Mais valias + outros incrementos patrimoniais


 Designação deveria ser “outros incrementos patrimoniais”, uma vez que,
todos os rendimentos são incrementos patrimoniais.
 Ganhos resultantes da alienação onerosa de direitos reais, de partes sociais e
da propriedade intelectual ou industrial (quando quem transmite não é o
autor)
 Da cessação de posições contratuais ou outros direitos relativos a imóveis
 Indemnizações que visem a reparação dos danos emergentes não
comprovados e de lucros cessantes (considerando-se apenas os destinados a
ressarcir os benefícios líquidos deixados de obter em consequência da lesão).

O art. 12º - exclui as indemnizações atribuídas em consequência de lesão corporal,


doença ou morte, quando pagas por entidades públicas.

O art. 9º/1/b) – exclui as indemnizações que visem a reparação de danos não


patrimoniais, quando fixadas por decisão judicial ou arbitral ou resultante de acordo
homologado judicialmente.

o Categoria H

Pensões de aposentação ou reforma, de invalidez, de sobrevivência, e outras de


idêntica natureza, pagas por entes públicos (segurança social) ou privados (companhias
de seguros), as de alimentos, as rendas temporárias ou vitalícias, outras de idêntica
natureza (art. 11º/1).

Conceder um tratamento mais favorável a estes rendimentos.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 75


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Delimitação negativa da incidência:

Art. 12º- exclusões tributárias de carácter primário

Situações em que o legislador não pretende tributar em IRS:

 Ou porque são tributadas em sede de outros impostos (exemplo: incrementos


patrimoniais provenientes de transmissões gratuitas sujeitas ao Imposto de
Selo; rendimentos provenientes do exercício da actividade de profissionais
de espectáculos ou desportistas, quando esses rendimentos sejam tributados
em IRC – art. 12º/3
 Ou porque as quer livre de impostos (exemplo: nº1, nº2, nº4 e nº5)
 Art. 3º/4 CIRS – rendimentos das actividades agrícolas, silvícolas e
pecuárias quando o valor dos proveitos ou das receitas…Não exceda por
agregado familiar 4,5 vezes o valor anual do IAS.

Caso Prático 20

Diga se são tributáveis, e em que categoria de rendimentos do IRS, os seguintes


proventos auferidos por pessoas singulares residentes no território português.

a. Mais-valia pela alienação de uma casa de habitação própria e


permanente, em que o valor de realização foi reinvestido, no ano
seguinte, na aquisição de outra casa com o mesmo destino.

Tributável na categoria G (art. 9º e 10º/1/a) CIRS), salvo se verificada a hipótese


prevista no art. 10º/5 CIRS.

b. Rendimento de uma exploração apícola.

Tributável na categoria B (art. 3º/1/a) e 4º/4), como rendimento da actividades


agrícola, silvícola ou pecuária, salvo se verificada a hipótese prevista no art. 3º/4.

Caso Prático 21

Diga se são tributáveis, e em que categoria de rendimentos do IRS, os seguintes


proventos auferidos por pessoas singulares residentes no território português. Deve
indicar sempre a(s) norma(s) em que se baseia a sua resposta.

1. Pensão de pré-aposentação do intendente Silva, da Polícia de Segurança


Pública;

Tributável na categoria A (art. 2º/1/d)).

2. Abono para falhas auferido por um empregado de um hipermercado no


valor de 10% da sua remuneração mensal fixa;

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 76


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Abono para falhas – subsídio destinado a indemnizar o funcionário de despesas ou


riscos especiais a que o sujeita a função – é tributável na categoria A – art. 2º/3/c), na
parte em que excedam 5%da remuneração mensal fixa.

3. Rendimento resultante da sublocação de um apartamento;

Tributável na categoria F (art. 8º/2/c)) a diferença, auferida pelo sublocador, entre


a renda recebida do subarrendatário e a paga ao senhorio.

4. Mais-valia pela alienação de uma casa de habitação própria e


permanente, em que o valor de realização foi reinvestido, no ano
seguinte, na aquisição de outra casa com o mesmo destino, situada no
Tajiquistão, devido à emigração do proprietário para esse país;

Tributável na categoria G (art. 9º e 10º/1/a) CIRS). Não se aplica a exceção do


art. 10º/5/a), uma vez que o imóvel não se situa nem em Portugal, nem na União
Europeia, nem num Estado do espaço económico europeu.

5. Subsídio de refeição pago ao gerente de uma sociedade por quotas, em


vales de refeição, no valor do dobro do valor fixado para os servidores
do Estado.

Isento de pagamento de imposto (art. 2º/3/b), ponto 2) – não excede os 60%.

Caso Prático 21

Imagine que o Sr. XYZ, nacional português e domiciliado no Porto, vai receber no
ano de 2015, os seguintes rendimentos líquidos de deduções:

i. 15.000€ por seu trabalho como gerente administrativo da empresa ABC


Sapatos Ltda., com sede em Vila Nova de Gaia;
ii. 10.000,00€ pelas apresentações que realiza como música aos finais de
semana em Lisboa e Leiria;
iii. 2.000,00€ pelos concertos realizados em Vigo, Espanha;
iv. 4.000,00€ de direitos de autor.

Relativamente ao IRS do período tributário de 2015, qual é a matéria


tributável?

Resposta:

A matéria tributável do IRS determina-se consoante o art. 22º e ss. CIRS. Na


espécie, os rendimentos constantes do enunciado já se encontram líquidos de deduções,
de modo que a matéria tributável será calculada a partir do englobamento dos
rendimentos das várias categorias auferidos em cada ano.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 77


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Assim, tem-se, para a categoria A (art. 2º CIRS), o valor de 15.000,00 € pelo


trabalho como gerente administrativo da empresa ABC Sapatos Ltda; e, para a categoria
B (art. 3º/1/b) e 151º/5/c), Anexo I, 2, cd. 2013), 10.000,00€ pelas apresentações que
realiza como música aos finais de semana em Lisboa e Leiria, 2.000,00€ pelos concertos
realizados em Vigo, Espanha, e 4.000,00 €de direitos de autor. Não há notícia de
quaisquer outros rendimentos enquadráveis nas demais categorias, de modo a que, a
matéria colectável será determinada mediante englobamento dos rendimentos líquidos
das categorias A e B, a saber (15.000,00 + 16.000,00) totalizando 31.000,00.

2. Deduções específicas

Despesas necessárias à obtenção do respectivo rendimento. Em tese, as deduções


visam “libertar” o rendimento dos encargos inerentes à sua aquisição:

 Para A  art. 25º, 26º e 27º


 Para B  art. 28º a 39º, 31º e 32º (e, no caso deste último, o 33º)
 Para E  art. 40º e 40º-A
 Para F  art. 41º
 Para G  art. 42º a 52º
 Para H  art. 53º

Determinação por rendimento bruto por categoria

deduções específicas por cada categoria

rendimento líquido por cada categoria

Apuramento do rendimento global líquido ou rendimento líquido total através do


ENGLOBAMENTO – art. 22º - soma dos rendimentos líquidos de cada categoria.

Dedução de perdas

 Princípio da não intercomunicabilidade dos gastos – art. 55º/1 parece


consagrar o princípio da intercomunicabilidade dos gastos, mas as exceções
são tantas nos restantes números que podemos afirmar que não existe
intercomunicabilidade.
Mesmo dentro da mesma categoria de rendimentos não existe uma
comunicabilidade total dos prejuízos.
Exemplo: art. 55º/1/b)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 78


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

3. Taxa

Escalões de IRS (art. 68º)

Rendimento colectável Taxas (em percentagem)


(euros) Normal (A) Média (B)
Até 7091 14,50 14,500
De mais de 7.091 até 10.700 23,00 17,367
De mais 10.700 até 20.261 28,50 22,621
De mais 20.261até 25.000 35,00 24,967
De mais de 25.000 até 36.856 37,00 28,838
De mais de 36.856 até 80.640 45,00 37,613
Superior a 80.640 48 -

João e Maria são casados e obtêm, cada um, anualmente, rendimentos tributáveis
sujeitos a englobamento de 37.500€. O rendimento do casal é, assim, de 75.000€.
Optam pela tributação conjunta, como determino as taxas aplicáveis?

 Art. 68º CIRS – taxas gerais


 Sistema de progressividade por escalões: ao rendimento situado no intervalo
de cada escalão é aplicável a respectiva taxa.

75.000€ : 2 = 37.500€(quociente conjugal – art. 69º)

Aplicação das taxas do art. 68º CIRS:

37.500€ = 36.856 + 644€ (divisão em duas parcelas de acordo com o 68º/2)

36.856€ x 28,838 (taxa coluna B) = 10.629€


Excedente = 37.500€ - 36.856€
644€ x 45% (taxa coluna A) = 289,90

10.629€ + 289,80 x 2 (quociente conjugal – 69º/3) = 21.837, 60 (colecta)

Taxas liberatórias

Libertam das obrigações de declaração, de englobamento e pagamento pelo


contribuinte (a obrigação de imposto considera-se cumprida com a retenção efectuada
pela entidade pagadora). SUBSTITUIÇÃO FISCAL TOTAL. RETENÇÃO NA
FONTE A TÍTULO DEFINITIVO.

Art. 71º - não há, regra geral, englobamento. Exemplo: juros de depósito a prazo
(categoria E).

As taxas incidem sobre rendimentos brutos.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 79


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

nº 6 – relativamente a certos rendimentos, há a possibilidade de opção de


englobamento (faculdade raramente exercida).

Taxas especiais (taxas proporcionais)

Art. 72º - taxa de 10%:

 Gorjetas
 Saldo positivo entre determinadas mais e menos-valias mobiliárias (das
quais se destaca as obtidas na venda de acções e/ou quotas).

Não são taxas liberatórias porque o sujeito passivo mantém a obrigação de fazer
constar estes rendimentos da respectiva declaração.

4. Colecta

Aplicação da taxa à matéria colectável.

5. Deduções

Só depois temos o montante de imposto a pagar.

 Deduções à colecta – ao imposto liquidado subtrai-se um valor fixo por cada


membro do agregado familiar e os valores resultantes da aplicação de
percentagens fixadas por lei ao montante de cada um desses tipos de
despesas.

6. Pagamento do imposto

O IRS é pago, em larga medida, antecipadamente, seja através da retenção na fonte,


seja através dos pagamentos por conta.

Em suma…

Operações de determinação do IRS:

1. Determinação do rendimento bruto por categoria



Deduções específicas por cada categoria
=
Rendimento líquido por cada categoria

2. Soma dos rendimentos líquidos de cada categoria (englobamento – art. 22º)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 80


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

3. Rendimento englobado

Algumas perdas (art. 55º)
=
Rendimento global líquido

4. Sendo contribuintes casados ou em união de facto: coeficiente familiar


(art. 69º/1)
=
Colecta

Deduções a esta
=
Imposto a pagar

Caso Prático 22

João é proprietário de um prédio urbano, que lhe havia sido doado pelo seu pai,
e o qual habitou durante 5 anos, tendo, posteriormente, vendido o mesmo a António por
150.000€. António arrendou, em Março de 2015, por 10.000€ anuais, a Daniela,
tradutora, que celebrou com Maurício, estudante Erasmus, um contrato de prestação de
serviços de tradução dos manuais, com o valor unitário de 5.000,00€.
Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência
dos impostos a que respeitem.

Resposta:

1º Proprietário do prédio urbano pelo João:


 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – João

2º Doação pelo pai:


 Art. 1º/1, 1.2. Tabela Geral do Imposto do Selo – isento –
art. 6º/e).
 Sujeita, no entanto, à verba 1.1. 0,8% sendo o sujeito passivo o
adquirente dos bens (art. 2º)

3º Transmissão onerosa de bem imóvel do João ao António:


 Art. 1º e 2º CIMT
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis
 Sujeição passiva: art. 4º CIMT – António

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 81


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Art. 1º/1 CIS


 Imposto de Selo – celebração do contrato
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/3/a) – António

4º Venda de prédio doado pelo João:


 Tributável na categoria G (art. 9º e 10º/1/a) e 4 CIRS) salvo se
verificada a hipótese prevista no art. 10º/5 CIRS. Art. 43º/2
CIRS
 Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º/1 – João

5º Propriedade do prédio urbano pelo António:


 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – António
6º Arrendamento do imóvel por António à Daniela:
 Art. 1º/1 CIS
 Imposto de selo – celebração do contrato
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/3/b) – António

7º Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por


António:
 Art. 1º/1; 4º/1/n) ou art. 8º/1 e 8º/2/a) CIRS
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º/1 – António

8º Obtenção de rendimentos pela Daniela com a prestação de serviços


de tradutora:
 Art. 1º; 3º/1/b), tabela de actividades do art. 151º CIRS
 Imposto sobre o rendimento – Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º CIRS – Daniela

9º Prestação de serviços pela Daniela:


 Art. 1º/1/a); art. 4º/1 CIVA
 Imposto sobre o consumo – Impostos sobre o Valor
Acrescentado
 Sujeição passiva: art. 2º/1/a) – Daniela

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 82


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Caso Prático 23

Joaquim Posto, Juiz-Conselheiro reformado, aufere uma pensão no valor anual de


80.000,00€ e recebe 4.000,00€, por ano, de rendas de um apartamento T3 que arrendou
a estudantes, relativamente ao qual suportou 1.000,00€ de IMI e 10.000,00€ de despesas
de conservação.

a) Indique, fundamentalmente, como se procederá ao apuramento do


rendimento colectável desse sujeito passivo;

Resposta:

 Pensão no valor anual de 80.000,00 € – categoria H;


 4.000,00€, por ano, de rendas de um apartamento T3 – categoria F
 Relativamente aos 80.000,00€ é necessário proceder-se às deduções
específicas previstas no art. 53º/4
 Relativamente aos 1.000,00€ de IMI e 10.000,00€ de despesas de
conservação que suportou – art. 41º/7 e 8 deduções, para que se determine o
rendimento líquido da categoria.
 Contudo, estes gastos não podem ser comunicados às outras categorias, isto
é, pertencem à categoria F e não à H – princípio da não
intercomunicabilidade dos gastos (art. 55º/1/b))
 Logo, estas deduções têm de ser feitas na categoria F.
4.00,00€ - 11.000,00€ = - 7.000,00€
 Art. 55º/1/b) – o resultado líquido negativo apurado na categoria F só pode
ser reportado aos 6 anos seguintes àquele a que respeita.

Caso Prático 24

Albertino vendeu em Junho de 2011, por 250.000,00€, a sua casa de habitação que
adquirira 4 meses antes por 200.000,00€, tendo aplicado o valor de realização
decorrente da venda na aquisição de um outro imóvel por 750.000,00€.

Tendo em consideração estes elementos, responda de forma justificada à seguinte


questão:

Existirá, neste caso, tributação em sede de IRS, a título de mais-valias?

Resposta:

Tributável na categoria G (art. 9º e 10º/1/a) e 4 CIRS), salvo se verificada a


hipótese prevista no art. 10º/5 CIRS, isto é, se o reinvestimento cumprir as condições aí
previstas; caso tal não aconteça, a mais-valia será apenas considerada em 50% (art.
43º/2 CIRS).

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 83


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Caso Prático 25

Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência dos


impostos a que respeitem:

A Sra. ABC comprou, em 2010, um prédio urbano localizado na R. das Flores, nº1,
Coimbra, por 100.000,00€, o qual vendeu, em 2014, ao Sr. XPTO por 180.000,00€. O
Sr. XPTO transformou esse prédio no seu escritório para a prestação de serviços de
consultoria, que lhe renderam, em 2014, 120.000,00€.

Resposta:

 Transmissão onerosa de imóvel do antigo proprietário para a Sra. ABC


em 2010:
 Art. 1º e 2º CIMT
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis
 Sujeição passiva: art. 4º CIMT – Sra. ABC

 Art. 1º/1 CIS


 Imposto de selo – celebração do contrato
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/3/a) – Sra. ABC

 Propriedade do prédio urbano localizado na R. das Flores, nº1,


Coimbra, pela Sra. ABC:
 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Sra. ABC

 Transmissão onerosa de bem imóvel da Sra. ABC ao Sr. XPTO em


2014:
 Art. 1º e 2º CIMT
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis
 Sujeição passiva: art. 4º CIMT – Sr. XPTO

 Art. 1º/1 CIS


 Imposto de Selo – celebração do contrato
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/3/a) – Sr. XPTO

 Mais-valia obtida pela Sra. ABC com a venda do imóvel em 2014:


 Art. 1º; 9º/1/a); 10º/1/a) CIRS

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 84


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Imposto sobre o rendimento – Imposto sobre o Rendimento das


Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º CIRS – Sra. ABC

 Obtenção de rendimento com a prestação de serviços de consultadoria


pelo Sr. XPTO em 2014:
 Art. 1º; 3º/1/b) CIRS
 Imposto sobre o rendimento – Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º CIRS – Sr. XPTO

 Obtenção de rendimentos com a prestação de serviços de consultadoria


pelo Sr. XPTO em 2014:
 Art. 1º/1/a); art. 4º/1 CIVA
 Imposto sobre o consumo – Imposto sobre o Valor Acrescentado
 Sujeição passiva: art. 2º/1/a) – Sr. XPTO

 Prestação de serviços pelo Sr. XPTO:


 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Sr. XPTO

 Propriedade do prédio urbano localizado à R. das Flores, nº1, Coimbra,


pelo Sr. XPTO:
 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Sr. XPTO

Caso Prático 26

António dispõe de 300.000€ de que espera não precisar nos próximos 5 anos e que
pretender investir em Portugal. Mas está hesitante entre:

i. Constituir um depósito bancário a prazo por 5 anos;


ii. Comprar imóveis para revender;
iii. Comprar acções na Bolsa de Valores;
iv. Comprar um imóvel para arrendar a estudantes

António conhece as implicações jurídicas gerais que cada uma destas opções
desencadeia, mas não sabe com que consequências fiscais pode contar. Tente ajudá-lo,
indicando o tratamento fiscal correspondente ao rendimento que possa obter no caso de
optar por cada uma dessas situações.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 85


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Resposta:

1) Tributação em sede de IRS – Categoria E – art. 5º/1 e 2/b) – sujeição à taxa


liberatório 28% art. 71º/1/a) e possibilidade de opção pelo seu
englobamento;
2) Possibilidade de inclusão nas categorias B (art. 3º/1/a) e art. 3º/2/c)), no
caso de exercício de actividade empresarial; a tributação das mais-valias, nos
restantes casos, enquadradas na Categoria G (art. 9º e 10º/1/a)), sendo neste
caso o saldo das mais-valias considerado apenas em 50% (art. 43º/2).
3) Eventuais rendimentos das acções: dividendos –categoria E (art. 5º/1 e
3/h)); e, no caso de alienação das acções, eventuais mais-valias (art. 9º e
10º/1/b)) – em ambos os casos, aplicação da taxa liberatório de 28%, e
possível opção pelo englobamento;
4) Rendimento proveniente do arrendamento: Categoria F (art. 8º/1 e 2).
Possível inclusão na Categoria B no caso de o exercício de actividade
empresarial (art. 3º/1 e 2/a)) ou opção do sujeito passivo (art. 8º/1, parte
final). Sendo tributados como rendimentos de categoria F, serão sujeitos à
taxa especial de 28% (art. 72º), existindo opção pelo seu englobamento.

Caso Prático 27

Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência


dos impostos a que respeitem:
O Sr. ABC, proprietário do imóvel situado na R. da Indústria nº. 10, Lisboa,
celebrou, em 2013, com a empresa XYZ Calçados S.A., contrato de arrendamento do
imóvel pelo período de 10 anos, iniciando-se, naquele local, em Janeiro de 2014,
actividade industrial de produção de calçado por parte da arrendatária. No ano de 2014 a
empresa XYZ Calçados S.A. obteve rendimentos de € 3.000.000,00 pela venda de
20.000 unidades de mercadoria a diversas lojas no território português.

Resposta:

 Propriedade do prédio urbano à R. da Indústria, nº 1, Coimbra, pelo Sr.


ABC:
 Arts.1 º e 2º CIMI
 Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Sr. ABC

 Arrendamento do imóvel por ABC à empresa XYZ Calçados S.A.:


 Art. 1º/1 CIS
 Imposto de Selo – celebração do contrato
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/2/a) – Sr. ABC

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 86


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por ABC:


 Art. 1º/1; 3º/2/a); 4º/1/n) ou art. 8º/1 e 2/a) CIRS
 Impostos sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º/1 – Sr. ABC

 Obtenção de rendimentos com a actividade industrial de produção de


calçado por parte da arrendatária em 2014:
 Arts. 1º e 3º/1/a) CIRC
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
 Sujeição passiva: art. 2º/1/a) CIRC – empresa XYZ Calçados S.A.

 Venda de 20.000 unidades de mercadoria a diversas lojas no território


português por XYZ Calçados:
 Arts. 1º/1/a); 3º/1 CIVA
 Impostos sobre o Valor Acrescentado
 Sujeição passiva: art. 2º/1/a) – empresa XYZ Calçados S.A.

Caso Prático 28

Considere que, no ano de 2015, a Sra. ABC auferiu € 30.000,00 pela sua actividade
como advogada da sociedade ABC e JJB Advogados e € 5.000,00 pelo arrendamento de
um prédio urbano da sua propriedade. O Sr. XYZ, seu marido, vai obter, no mesmo ano,
€ 15.000,00 da sua actividade de caçador e de exploração directa de pastos naturais. O
casal vai receber ainda € 1.000,00 de juros de depósitos a prazo que detém numa
instituição bancária.

Com base nos elementos apresentados, responda justificadamente:

 Quais os impostos a que a Sra. ABC e o Sr. XYZ estão sujeitos?

Resposta:

Por haver auferido rendimentos das categorias B (sócia e advogada da sociedade


ABC e JJB Advogados), E (juros de depósitos a prazo, tributados via taxas
liberatórias) e F (rendimentos prediais por arrendamento de um prédio urbano de sua
propriedade), a Sra. ABC estará sujeita à incidência de IRS no ano de 2015, conforme a
disciplina dos artigos 1º; 3º; 5º; 8º; 13º; e 71º do CIRS.

Por haver auferido rendimentos da categoria B (actividade de caçador e de


exploração directa de pastos naturais) e E (juros de depósitos a prazo, tributados via
taxas liberatórias), também o Sr. XYZ estará sujeito à incidência de IRS no ano de
2015, conforme os arts. 1º; 3º; 4º, n.º 4, al. b; 5º; 13º; e 71º do CIRS.

Pela prestação de serviços de advocacia realizados, incidirá IVA (arts. 1º, nº. 1, al.
a; 4º, nº. 1 CIVA), bem como será devido este imposto pelo Sr. XYZ nas trocas que

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 87


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

realizar relativamente ao produto da caça e exploração de pastos naturais, seja quando


habituais tais transmissões de bens (arts. 1º, n.º 1; 2º, n.º 1, al. a; e 3º do CIVA),
seja quando não habituais (arts. 1º, n.º 1; 2º, n.º 1, al. a, segunda e terceira partes, e
3º do CIVA).

Cogita-se, ainda, a incidência do IMI, dada a propriedade do prédio urbano pela Sra.
ABC (arts.1º, 2º e 8º do CIMI), e a incidência do IS, considerando a celebração de um
contracto de arrendamento entre a Sra. ABC e o respectivo arrendatário (arts. 1º, n.º 1;
2º e 3º, n. 3, al. a do CIS).

Caso Prático 29

Quais os termos gerais de liquidação e cobrança do IRS? Ou Indique como se


procederá à determinação do seu rendimento tributável?

Resposta:

O IRS é liquidado, em termos gerais, da seguinte forma: procede-se à categorização


dos rendimentos em cada uma das categorias constantes nos arts. 1º a 12º do CIRS;
realizam-se as deduções específicas de cada categoria (arts. 25º a 54º do CIRS),
apurando-se os rendimentos líquidos de cada categoria; segue-se, então, o englobamento
(art. 22º) [rendimentos sujeitos a taxas liberatórias não são englobados, excepto se
houver opção pelo englobamento – n.º 6, art. 71.º], sendo certo que eventuais prejuízos
não são comunicáveis entre categorias (art. 55º), de modo que, nesta etapa, procede-se
à soma do resultado líquido positivo de cada uma das categorias.

Optando o casal pela tributação conjunta, haverá de ser, após o englobamento,


aplicado o quociente familiar, calculado nos termos do art. 59º e 69º CIRS, dividindo-
se a matéria colectável (rendimento global) por 2.

Sobre o resultado da divisão incidem as taxas média e normal (art. 68º) para o
escalão de rendimento correspondente, procedendo-se, então, à multiplicação do
resultado da colecta pelo mesmo quociente familiar de 2. Deste resultado, subtraem-se
as deduções gerais à colecta (art. 78º e ss. do CIRS), chegando-se à colecta líquida,
que será o total de imposto a pagar.

Não optando pela tributação conjunta, inexistirá divisão e multiplicação pelo


quociente familiar, procedendo-se directamente à aplicação das taxas ao rendimento
global de cada membro do casal (Sra. ABC e Sr. XYZ), separadamente, com a
incidência das deduções à colecta reputáveis a cada um.

É de se salientar que a liquidação do IRS dá-se mediante declaração do sujeito


passivo (arts. 60º e 61º do CIRS), nas formas dos arts. 75º e ss. do CIRS.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 88


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

A cobrança do imposto será feita na forma dos arts. 97º e ss. do CIRS, valendo
ressaltar que, para os rendimentos da categoria B, são devidos três pagamentos por
conta do imposto devido a final (art. 102º do CIRS).

Por fim, considerando que os juros de depósitos a prazo estão sujeitos a taxa
liberatória (art. 71º, n. 1, al. a do CIRS), a incidência do IRS dar-se-á aquando do
pagamento de juros pela instituição bancária com a retenção na fonte a título definitivo
da taxa de 28%, liberando integralmente os contribuintes (art. 28º, n.º 1 da LGT) –
retenção na fonte a título definitivo.

Caso Prático 30

Ana doou, em 2010, ao seu filho Bernardo um prédio urbano avaliado em €100.000.
Bernardo habitou no imóvel até 15 de Janeiro de 2015, data em que o vendeu a Carlos
por €130.000.

Após realizar obras no imóvel, Carlos arrendou-o, em Fevereiro de 2015, por


€20.000 anuais, a Daniela.

Enquadre os factos tributários referidos no âmbito das normas de incidência


dos impostos a que respeitem.

Resposta:

 Doação da Ana ao seu filho:


 Art. 1º/1, 1.2. Tabela Geral do Imposto do Selo – isento –art. 6º/e)
 Sujeita, no entanto, à verba 1.1. 0,8%, sendo o sujeito passivo o
adquirente dos bens – art.2º

 Propriedade do prédio urbano pelo Bernardo:


 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Bernardo

 Transmissão onerosa de bem imóvel do Bernardo para Carlos:


 Arts. 1º e 2º CIMT
 Impostos sobre o património – Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis
 Sujeição passiva: art. 4º CIMT – Carlos

 Art. 1º/1 CIS


 Imposto de Selo – celebração do contrato: verba 1.1. da Tabela Geral
do I.S.
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/3/a) – Carlos

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 89


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

 Venda de prédio doado pelo Bernardo:


 Tributável na categoria G (art. 9º e 10º/1/a) e 4 CIRS) salvo se
verificada a hipótese prevista no art. 10º/5 CIRS
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º/1 – Bernardo

 Propriedade do prédio urbano pelo Carlos:


 Art. 1º e 2º CIMI
 Imposto sobre o património – Imposto Municipal sobre Imóveis
 Sujeição passiva: art. 8º CIMI – Carlos

 Arrendamento do imóvel por Carlos à Daniela:


 Art. 1º/1 CIS
 Imposto de Selo – celebração do contrato: Verba 2 da Tabela Geral
do I.S.
 Sujeição passiva: art. 2º e 3º/b) – Carlos

 Obtenção de rendimentos com o arrendamento do imóvel por Carlos:


 Arts. 1º/1; 4º/1/n) ou art. 8º/1 e 2/a) CIRS
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
 Sujeição passiva: art. 13º/1 – Carlos

Caso Prático 31

Suponha que, em 2015, Bernardo auferiu ainda rendimentos provenientes de


trabalho dependente no valor de €10.000 e juros de depósitos a prazo no valor de
€500,00.

Indique como se procederá à determinação do seu rendimento tributável

Resposta:

A consideração das categorias de rendimento em causa (a necessidade de


discriminação qualitativa do rendimento).

Identificação das categorias em causa:

 Categoria G art. 10.º/1/a); art. 10º/4 , não sendo tributável no caso de


preenchidos os pressupostos do 10.º/5;
 A (Rendimentos provenientes de trabalho dependente) art. 2.º.
 E artigo 5.º/1 e 2/b) (juros de depósitos a prazo);

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 90


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Determinação do rendimento líquido no âmbito de cada categoria:

 Deduções específicas; noção e finalidade face à consideração do


“rendimento líquido”;

Em concreto:

 Categoria A – artigo 25.º;


 Categoria G –: considerar o saldo relevado em 50% - artigo 43.º, n.º 2,
equacionar os “critérios de determinação dos valores de aquisição e de
realização;
 Categoria E – inexistência de deduções face ao caso concreto;

O englobamento (art. 22º) e o carácter único do IRS a questão dos rendimentos


sujeitos a taxas liberatórias [rendimentos sujeitos a taxas liberatórias, como é o caso dos
juros no nosso caso, não são englobados, excepto se houver opção pelo englobamento –
art. 71.º/6], procedendo-se à soma do resultado líquido positivo de cada uma das
categorias.

Caso Prático 32

Diga, separadamente (enquadrando e justificando legalmente a sua resposta), se os


seguintes factos estão sujeitos ao pagamento de imposto e qual:

i. Rendimentos provenientes da actividade de Belmira, como médica;

Rendimentos de Categoria A trabalho dependente: artigo 2.º, n.º 1, do CIRS;


sendo possível inclusão na Categoria B, como rendimentos profissionais, artigo 3.º, n.º
1, al. b), do CIRS;

ii. Ganhos da venda de uma casa em Paris, de que Sheldon era


proprietário;

Rendimentos de Categoria G, artigo 9.º, n.º 1, al. a) e 10.º, n.º 1, al. a), exclusão
do reinvestimento previsto no artigo 10.º, n.º 5, CIRS;

iii. Herança recebida por Belmira, pela morte de sua mãe;

Sujeição a Imposto de Selo, artigo 1.º, n.º 1, parte final, e tabela Geral verbas 1.2.
e 1.2.; Isenção quanto à verba 1.2, artigo 6.º do CIS;

iv. Cedência de direitos de autor de Sheldon Cooper para a sociedade Big


Bang, S.A..

Rendimentos de Categoria B, artigo 3.º, n.º 1, alínea c), do CIRS – afastar a


aplicabilidade do artigo 5.º, n.º 1, alínea m), sendo rendimentos auferidos pelo seu
titular originário não há lugar à aplicação dos artigos 5.º, n.º 1, alínea m), e 10.º, n.º 1,

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 91


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

alínea c), CIRS (não era exigido a explicitação do regime de IVA); transmissão
gratuita: Imposto de selo, artigo 1.º, n.º 1, parte final e n.º 2 al. e), e artigo 2.º CIS.

Meios de reacção contra atos tributários

Reacção contra os atos tributários:

Meios administrativos Meios judiciais


 Reclamação graciosa (art. Impugnação judicial (art. 97º/1/a) a g)
68º e ss. CPPT) CPPT):
o Liquidação de tributos
o Indeferimento de reclamações
graciosas
o Fixação da matéria colectável
quando não dê origem a
liquidação de tributos
o Indeferimento de atos
administrativos que
comportem a apreciação da
legalidade do ato de liquidação
o Agravamento à colecta
o Fixação de valores
patrimoniais
 Recurso hierárquico (art. 66º Recurso contencioso/acção
CPPT) administrativa – art. 97º/2 CPPT, segue
 Revisão tributária (art. 78º a tramitação do CPTA:
LGT) o Atos administrativos em
matéria tributária que não
comportem apreciação da
legalidade da liquidação (por
exemplo: ato resultante de um
procedimento de inspecção)

Caso Prático 33

A AT alterou a declaração de IRS de Júlio e Júlia, por os mesmos não terem nela
incluído os rendimentos auferidos a título de “subsídio de residência”, pago pelo Estado
português, enquanto Júlia deu aulas em França.

Explique como podem os sujeitos passivos reagir contra o acto tributário em causa.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 92


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Caso Prático 34

Manuel é trabalhador da empresa XPTO, Lda., auferindo uma remuneração


mensal líquida no valor de € 1.500,00.

a) Imagine que, no ano de 2016, a XPTO, Lda. pagou a Manuel um valor


superior a título de salários, por não ter realizado mensalmente a
retenção na fonte dos montantes que a lei impunha. Caso Manuel não
venha a pagar voluntariamente o valor de IRS correspondente à
liquidação do ano de 2016, pode a empresa XPTO, Lda ser chamada a
fazê-lo? Com que fundamento legal?
Identificação do problema – responsabilidade tributária em caso de substituição
tributária (art. 28.º LGT);
Identificação do tipo de substituição tributária em causa – substituição tributária
parcial ou retenção na fonte a título de pagamento por conta do imposto devido a final;
Substituto (XPTO, Lda.) não reteve as importâncias devidas a título de imposto
pelo substituído (Manuel), logo, nos termos do artigo 28.º/2 LGT, responde a título
subsidiário pela dívida tributária, respondendo o trabalhador a título principal

b) E caso Manuel pague a totalidade do imposto devido relativamente ao


ano de 2016, haverá ainda fundamento legal para impor à empresa o
pagamento de algum montante? A que título?
A XPTO, Lda. (substituto) fica ainda sujeita ao pagamento de juros
compensatórios, nos termos do art. 28.º/2 LGT;
Juros compensatórios são as importâncias devidas em virtude de um atraso na
liquidação imputável ao sujeito passivo (artigo 35.º LGT)

c) Quando é que ocorre a reversão da execução fiscal e como se compagina


com o “benefício de excussão prévia”?
Responsabilidade subsidiária (art. 22.º/4 LGT);
Reversão da execução fiscal (art. 153.º/2 CPPT);
Benefício da excussão prévia: revertido, enquanto responsável subsidiário, tem o
direito de recusar o pagamento da dívida tributária enquanto não estiver excutido
(executado/vendido) o património do devedor originário;
Conciliação ocorre através da suspensão oficiosa do processo de execução fiscal,
sem necessidade de o revertido prestar garantia idónea, quando não seja possível
determinar com exatidão o valor dos bens penhorados do devedor originário (art. 23.º/3
LGT);
Nos restantes casos, não há suspensão da execução fiscal, a menos que o revertido
preste garantia idónea nos termos gerais (arts. 169.º e 199.º CPPT);

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 93


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

d) Poderá Manuel proceder ao pagamento do imposto em dívida através


da entrega de 50 toneladas de batata? Explique
Formas de extinção da obrigação fiscal – dação em pagamento (arts. 201.º e 202.º
CPPT): pagamento da dívida tributária, pelo executado ou por terceiro, através da
entrega de bens móveis ou imóveis que não dinheiro;
Exige-se que os bens dados em pagamento não tenham valor superior à dívida
exequenda e acrescido, salvo nos casos em que se demonstrar a possibilidade de
imediata utilização dos referidos bens para fins de interesse público ou social;

e) Imagine agora que a XPTO, Lda, tinha efectuado as competentes


retenções na fonte, mas entregara à Fazenda Pública um montante de
imposto superior ao retido em relação ao último trimestre de 2016.
Como deve agir para regularizar a situação?
Situação de reclamação graciosa obrigatória (art. 132.º CPPT) em caso de
substituição tributária (total/parcial);
Se o substituto (empregador) entregar ao Estado montante de imposto superior ao
retido e já não for possível efectuar acertos/descontos nas entregas posteriores, a
impugnação judicial da entrega está dependente de prévia dedução de reclamação
graciosa, no prazo de 2 anos contados a partir da entrega excessiva (art. 132.º/3 CPPT);
Impugnação judicial do acto de indeferimento da reclamação graciosa no prazo de 3
meses (art. 102.º/1 CPPT);
Fundamento da reclamação graciosa obrigatória e excepções (arts. 132.º/6 e
131.º/3 CPPT);

Reclamação graciosa
Noção: “O procedimento de reclamação graciosa visa a anulação total ou parcial
dos actos tributários por iniciativa do contribuinte, incluindo, nos termos da lei, os
substitutos e responsáveis.” (art. 68º/1 CPPT)
Arts 70.º/6 e 73.º/1 – a reclamação pode ser apresentada por escrito ou oralmente
(em caso de manifesta simplicidade) e reduzida a termo nos serviços da AT.
Limitação dos meios probatórios – apenas provas documentais e elementos oficiais
de que os serviços disponham, sem prejuízo do disposto no art. 69.º/e) (art. 50.º CPPT
e 58.º LGT)
A dedução da reclamação graciosa não suspende os efeitos do acto tributário,
salvo:
 no caso previsto no art. 92.º/8 LGT
 Ou, quando for prestada garantia adequada (garantia bancária, caução,
seguro-caução – 199.º e 169.º CPPT)
Art. 183.º-A – a garantia caduca se a reclamação não for decidida dentro do prazo
estipulado (um ano a contar da data da sua interposição), o que constitui uma garantia
importante para os sujeitos passivos.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 94


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Tramitação
Art. 73.º CPPT:
A reclamação graciosa pode ser deduzida com os fundamentos previstos para a
impugnação judicial (70.º/1 e 99.º CPPT)
É apresentada no prazo de 120 dias contados a partir dos factos previstos no art.
102.º/1 CPPT – art. 70.º/1
Salvo quando a lei estabeleça em sentido diferente, a reclamação graciosa é
dirigida ao órgão periférico regional da AT e instruída, quando necessário, pelo
serviço periférico local da área do domicílio ou sede do contribuinte, da situação
dos bens ou da liquidação – art. 73.º CPPT
O órgão periférico local instaurará o processo, dentro de um prazo não superior a
90 dias, com os elementos de que disponha e elaborará proposta fundamentada da
decisão.
Art. 75.º - nos demais casos, a entidade competente para a decisão de reclamação
graciosa é o dirigente do órgão periférico regional da área do domicílio ou sede do
contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação – 75.º/1
Se a entidade competente para a decisão entender que a mesma deve ser
indeferida, cabe-lhe elaborar proposta de decisão e ouvir o reclamante nos termos do
art. 60.º/1/b) da LGT, podendo esta formalidade ser dispensada nos termos do art.
60.º/3 da LGT
A notificação da decisão deve ser acompanhada da proposta de decisão elaborada
pelo serviço periférico local – art. 37.º/1 CPPT

Perante um ato tributário ilegal o sujeito pode optar entre:


1. Deduzir reclamação graciosa no prazo de 120 dias – art. 70º CPPT
2. Impugnar judicialmente no prazo de 3 meses (aproximadamente 90 dias) –
art. 102º CPPT

Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada
impugnação judicial como mesmo fundamento (art. 68º/2 CPPT):

1. O sujeito passivo pode reclamar e aguardar pela decisão da reclamação:


a) Se houver indeferimento expresso pode ser objeto de impugnação
judicial no prazo de 3 meses (art. 102º/1/b) CPPT)

b) Se houver indeferimento tácito (que se forma 4 meses depois do pedido


– art. 57º/1LGT) pode impugnar no prazo de 3 meses a contar do dia em
que cumprem 4 meses posteriores à entrega da petição (art. 102º/1/d)
CPPT)

2. O sujeito pode reclamar e impugnar, se deduzir impugnação ainda no


prazo de 3 meses, caso em que reclamação sobe e é decidida pelo tribunal
(art. 111º/3 CPPT)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 95


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

3. O sujeito pode impugnar e depois reclamar, desde que utilize um


fundamento diverso daquele que invocou na impugnação (art. 68º/2 CPPT),
sendo a mesma neste caso também apensa ao processo de impugnação
judicial (art. 111º/4 CPPT) – forma de alargar a causa de pedir da
impugnação judicial

4. O sujeito NÃO PODE impugnar e depois reclamar, se o fizer com o


mesmo fundamento (art. 68º/2 CPPT)

5. NÃO PODE ser deduzida impugnação judicial depois de terminado o prazo


dos 3 meses (art. 102º CPPT), sem que antes tenha havido decisão expressa
da reclamação ou se tenha formado o ato de tácito de indeferimento.

6. Do indeferimento pode ainda ser interposto recurso hierárquico, e deste,


posteriormente, acção administrativa relativa à decisão do recurso,
quando não estiver em causa a legalidade do ato de liquidação – art.
76º/2 e 97º/1/d) CPPT.

Casos de reclamação graciosa obrigatória

1) Art. 131º CPPT – Em caso de autoliquidação (exemplo: IVA (art. 27º


CIVA) e o IRC (art. 89º/a) CIRC)

Em caso de erro na autoliquidação, a impugnação será OBRIGATORIAMENTE


precedida de reclamação graciosa  dirigida ao dirigente do órgão periférico regional
da Administração Tributária  no prazo de 2 anos após a apresentação da declaração.

Contudo, art. 131º/3, situação em que não é obrigatória a reclamação, o prazo para
impugnação não depende de reclamação prévia, devendo a mesma ser apresentada no
prazo de 3 meses a contar do 102º.

NOTA: II - No caso de erro na autoliquidação, a lei exige a reclamação graciosa


prévia como forma de abrir a via contenciosa, a menos que (1.º) o fundamento da
impugnação seja exclusivamente de direito e (2.º) a autoliquidação tenha sido efectuada
de acordo com orientações genéricas emitidas pela AT (art. 131.º, n.ºs 1 e 3, do
CPPT).

III - Isto, porque a autoliquidação, que é efectuada pelo contribuinte, não constitui
um acto administrativo e, por isso, não é impugnável directamente, exigindo-se antes da
impugnação uma actuação da AT no sentido de “administrativizar” o acto.

IV - O segundo dos dois requisitos cumulativos exigidos pelo n.º 3 do art. 131.º do
CPPT para dispensar a reclamação prévia enquanto condição para abrir a via
contenciosa em caso de autoliquidação – «a autoliquidação tiver sido efectuada de
acordo com orientações genéricas emitidas pela administração tributária» – justifica-se

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 96


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

porque, nesta hipótese, a AT já se pronunciou previamente sobre a questão suscitada e


encontra-se vinculada pelas orientações (cfr. art. 68.º, n.º 4, da LGT), motivo porque
seria inútil suscitar a sua intervenção através de reclamação graciosa, que teria de ser
indeferida.

2) Art. 132º CPPT – Em caso de substituição tributária (exemplo: art. 71º/6


CIRC; pagamento do imposto devido final)

A retenção na fonte é susceptível de impugnação por parte do substituto em caso de


erro na entrega de imposto superior ao retido.

Neste caso, a regra é a de que o imposto entregue a mais será descontado nas
entregas seguintes da mesma natureza a efectuar no ano do pagamento indevido

Só no caso de não ser possível corrigir desta forma, é que o substituto terá de
impugnar judicialmente a retenção na fonte, MAS antes terá de reclamar
graciosamente para o órgão periférico regional da administração tributária
competente, no prazo de 2 anos a contar do termo do ano do pagamento indevido
(art. 132.º/2 e 3 CPPT).

N.º 4 - O mesmo se aplica ao substituído da retenção na fonte que lhe tiver sido
efectuada. Esta possibilidade está vedada aos casos de retenção com natureza de
pagamento por conta do imposto devido a final, pois neste caso o substituído terá
sempre direito à devolução da diferença, acrescida de uma remuneração
compensatória (ex: 96.º CIRS)

CONTUDO, também aqui se aplica o disposto no art. 131º/3.

3) Art. 133º CPPT – Em caso de pagamento por conta (exemplo: art. 102º
CIRS)

n.º 1 - A impugnação judicial deve ter por fundamento erro sobre os pressupostos da
sua existência ou do seu quantitativo quando determinado pela AT

n.º 2 - A impugnação depende de prévia reclamação graciosa para o órgão periférico


local da AT, no prazo de 30 dias após o pagamento indevido

n.º 3 - Se a reclamação for expressamente indeferida, o contribuinte poderá, no


prazo de 30 dias, impugnar o acto nos mesmos termos em que é impugnável o acto de
liquidação

n.º 4 – 90 dias após a apresentação da reclamação sem que a mesma tenha sido
indeferida, a mesma considera-se tacitamente deferida.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 97


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

“Penalidade” para uso indevido da reclamação graciosa

Art. 77.º do CPPT – agravamento da colecta para os casos em que a reclamação


graciosa é usada indevidamente

Nos casos em que a reclamação graciosa não seja condição de impugnação judicial e
não existam motivos que razoavelmente a fundamentem, a entidade competente para a
decisão aplicará um agravamento graduado até 5% da colecta objecto do pedido, o qual
será liquidado adicionalmente, a título de custas, pelo órgão periférico local do
domicílio ou sede do reclamante, da situação dos bens ou da liquidação.

No caso de reclamação graciosa obrigatória – n.º 2

N.º 3 – o agravamento (n.º1 ou 2) pode ser objecto de impugnação autónoma com


fundamento na injustiça da decisão condenatória.

Reclamação Graciosa Recurso Hierárquico


Meio administrativo para atacar atos de Meio administrativo para atacar decisões
liquidação dos órgãos da AT

 Não pode interpor-se recursos hierárquicos de um ato de liquidação, mas


apenas de atos administrativos respeitantes a questões tributárias ou de
decisões administrativas que versem sobre a apreciação dos atos de
liquidação (ex: decisões de reclamação graciosas de atos de liquidação)
 O recurso hierárquico apenas pode ser utilizado no procedimento tributário
quando a lei o expressamente o determinar
 Art. 67º/1 CPPT – tem natureza meramente facultativa e efeito devolutivo,
salvo disposição em contrário da lei tributária
 Art. 66º/2 CPPT – os recursos hierárquicos são dirigidos ao mais elevado
superior hierárquico do autor do ato
 Interpostos no prazo de 30 dias a contar da notificação do ato respectivo
perante o autor do ato recorrido, OU, NO CASO DE INDEFERIMENTO
TÁCITO, a partir da data em que se formou o ato de indeferimento tácito –
art. 57º/1 e 5 LGT

Tramitação

O autor do ato dispõe de 15 dias para proceder à revogação total ou parcial do ato:

 Se o ato for totalmente revogado, o recurso fica sem efeito por inutilidade
superveniente;
 Se houver mera revogação parcial ou se o autor do ato entender que o
mesmo deve ser mantido, deve fazer subir o recurso acompanhado do
processo a que respeito o ato ou, quando o recurso tiver efeito meramente
devolutivo, com um extracto do mesmo.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 98


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Os recursos são decididos no prazo de 60 dias, findo o qual se consideram


tacitamente indeferidos.

Art. 76º/2 CPPT – a decisão do recurso hierárquico é passível de recurso


contencioso (acção administrativa), salvo se de tal decisão já tiver sido deduzida
impugnação judicial com o mesmo objeto = se o ato em questão comportar a
apreciação da legalidade do ato de liquidação.

Art. 97.º/1, d) e p) – o meio processual adequado para impugnação de actos da AT


que comportem a apreciação da legalidade do acto de liquidação é a impugnação
judicial – arts. 99.º e ss CPPT - reservando-se a Acção Administra. – art. 37.º e ss
CPTA – para a impugnação dos actos administrativos relativos a questões tributárias
que não comportem a apreciação da legalidade do acto de liquidação – art. 97.º/2
CPPT (ex: ausência de fundamentação; ausência de notificação, ...).

Logo, do acto de indeferimento de recurso hierárquico interposto de


indeferimento de reclamação graciosa, que comporta a apreciação da legalidade de
acto de liquidação, cabe impugnação judicial (que se rege pelo CPPT) e não recurso
contencioso (que se rege pelo CPTA)

Art. 98.º/4 CPPT

 Perante o indeferimento expresso da reclamação graciosa o sujeito pode


optar entre:
 Interpor recurso hierárquico no prazo de 30 dias (arts. 76.º e 66.º/2
do CPPT)
 Impugnar judicialmente no prazo de 3 meses (revogado o 102.º/2 do
CPPT)
 No caso de optar por interpor o recurso hierárquico e guardar pela
decisão:
 Se houver indeferimento expresso do recurso, pode impugnar a
liquidação no prazo de três meses (art. 102.º/1/b) CPPT)
 Se houver indeferimento tácito (que se forma 60 dias depois do
pedido – art. 66.º/5 do CPPT) pode impugnar no prazo de três
meses (art.102.º/1/d) CPPT)

1. O sujeito pode recorrer hierarquicamente e impugnar, se deduzir


impugnação ainda no prazo de três meses, caso em que o recurso sobe e é
decidido pelo tribunal – art. 111.º/3 e 5 do CPPT

2. O sujeito passivo pode impugnar e depois recorrer, desde que recurso


tenha um objecto diferente, sendo o mesmo neste caso também apenso ao
processo de impugnação judicial (art. 111.º/4 e 5 CPPT)

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 99


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

3. O sujeito não pode propor AAdministrativa (pedido de impugnação do


acto administrativo) relativamente à decisão do recurso se já tiver deduzido
impugnação judicial com o mesmo objecto (art. 76.º/2 CPPT) (entende-se
que o objecto é o mesmo quando a decisão do recurso hierárquico comportar
a apreciação da legalidade do acto de liquidação).

Indeferimento tácito VS princípio da decisão

Art. 13.º CPA – encerra dois princípios:

 Princípio da pronúncia (contido no seu nº1);


 Princípio da decisão (regulado no seu nº2).
 Se não o fizerem, presume-se indeferido (no caso da consequência da falta
de decisão não ser o deferimento tácito) esse pedido.
 O indeferimento tácito formado nesses moldes é contenciosamente
impugnável.

Art. 147.º CPPT – intimação para um comportamento

A presunção de indeferimento tácito constitui uma ficção jurídica destinada a


facultar ao lesado o acesso à via judicial perante a omissão do dever de decisão, que
nem preclude a possibilidade de este vir a recorrer a intimação judicial para um
comportamento, nem transfere para o campo da “discricionariedade
administrativa” o dever legal de decidir a reclamação, que apenas se tem por
excluído nos casos previstos no n.º 2 do artigo 56.º da LGT (acórdão do STA de
31/3/2016, proc. 0411/15).

Revisão do ato tributário (art. 78º LGT)

Fundamento: princípio da legalidade da administração

Modalidades:

1) Revisão por iniciativa da AT, no prazo de 4 anos após a liquidação, ou a


todo tempo caso o tributo ainda não tenha sido pago, com fundamento em
erro imputável aos serviços (art. 78º/1, in fine LGT);
2) Por iniciativa do sujeito passivo, no prazo de reclamação administrativa (no
prazo de 15 dias fixado no art. 191º/3 CPA, ainda que alguma doutrina
entenda que vale aqui o prazo de 120 dias da reclamação graciosa)
3) Revisão excecional da matéria tributável, quando autorizada pelo dirigente
máximo do serviço, no prazo de 3 anos após o ato tributário, com
fundamento em injustiça grave e notória, desde que o erro não seja
imputável a comportamento negligente do contribuinte (art. 78º/4 e 5 LGT)

A revisão dos atos tributários pode derivar da iniciativa do sujeito passivo ou da AT.
Logo, é um meio que não opera exclusivamente em sentido favorável ao contribuinte,

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 100


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

podendo ser utilizado para rever a matéria tributável apurada com fundamento em
injustiça grave ou notória de que tenha resultado elevado prejuízo para a Fazenda
Nacional (art. 78º/4 e 5 LGT).

Pode ser também por iniciativa da AT – prazo de 4 anos após a liquidação ou a


todo o tempo se o tributo ainda não tiver sido pago, com fundamento em erro imputável
aos serviços.

Relativa à revisão dos actos tributários por iniciativa da AT – INTERPRETAÇÃO


CONSTRUTIVA do STA:

 “erro imputável aos serviços” concretiza qualquer ilegalidade não imputável


ao contribuinte mas à Administração
 da decisão do pedido de revisão cabe também impugnação no prazo de três
meses (art. 95.º/1 e 2 d) da LGT e 102.º do CPPT), porque a revisão do
acto tributário, sempre que exista erro imputável aos serviços, de que tenha
resultado imposto pago a mais ou de injustiça grave ou notória na tributação,
constitui um poder-dever de revisão oficiosa.

A revisão é um meio de defesa complementar e não alternativo. Significa que o


contribuinte só pode lançar mão quando já não tenha nenhum outro meio de defesa à
sua disposição (ou porque já os esgotou ou porque já não tem prazo para lançar mão dos
mesmos).

Assim sendo, e com a interpretação do STA podemos afirmar que o pedido de


revisão oficiosa a pedido do contribuinte pode ser feito no prazo de 4 anos sempre
que esteja em causa erro imputável aos serviços.

NOTA: I – A revisão do acto tributário por iniciativa da administração tributária


pode ser efectuada a pedido do contribuinte, como resulta do artigo 78.º/7, da LGT e
do artigo 86.º/4/a), do CPPT, no prazo de quatro anos contados da liquidação (ou, no
caso do tributo não ter sido pago, a todo o tempo), ficando com isso investido de um
direito a uma decisão sobre o pedido formulado.

II – E o “erro imputável aos serviços” a que alude o artigo 78.º, nº 1, in fine, da


LGT compreende não só o lapso, o erro material ou o erro de facto, como, também, o
erro de direito, e essa imputabilidade aos serviços é independente da demonstração da
culpa dos funcionários envolvidos na emissão da liquidação afectada pelo erro.

Esta possibilidade de a revisão «oficiosa», que deve ser da iniciativa da


administração tributária, ser suscitada por um pedido do contribuinte veio a ser
confirmada pelo art. 86º/4/a) do CPPT, que refere a apresentação de “pedido de
revisão oficiosa da liquidação do tributo, com fundamento em erro imputável aos
serviços”. É assim, inequívoco que se admite, a par da denominada revisão do acto
tributário por iniciativa do contribuinte (dentro do prazo de reclamação), que se

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 101


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

faça, também na sequência de pedido seu, a “revisão oficiosa” (que a


Administração deve realizar por sua iniciativa).

Processo de impugnação judicial

Art. 99º e ss CPPT aplica-se apenas à impugnação de atos tributários, isto é, atos de
liquidação de tributos.

1. Petição inicial – art. 108º CPPT – PRAZO DE 3 MESES – art. 102º


CPPT, exceto quando o fundamento da impugnação é a nulidade – art.
102º/3

A lista de fundamentos do art. 99º é meramente indicativa.

Local de apresentação da Petição Inicial – art. 103º/ 1 e 2

Efeito suspensivo da impugnação mediante prestação de garantia – art. 103º/4 e


199º, ou no caso previsto no art. 92º/8 LGT

2. Contestação – art. 110º


3. Organização do processo administrativo – art. 111º

Se tiver sido apresentada reclamação graciosa ou recurso hierárquico e antes da


decisão dos mesmos for apresentada impugnação judicial, os mesmos são apensos a
esta. O mesmo acontece se forem apresentados posteriormente à impugnação mas com
um fundamento distinto – art. 111º/3 e 5.

4. Revogação do ato impugnado – art. 112º (prazo de 30 dias)


5. Art. 113º ou Instrução – art. 114º a 119º
6. Alegações – art. 120º
7. Vista ao MP – art. 121º
8. Setença – art. 122º a 126º
Legalidade do Em certas situações
Reclamação ato tributário obrigatório: Revisão da
graciosa matéria colectável (art.
91º LGT)
Decisão ou Impugnação
desfavorável judicial
ou
Recurso
hierárquico ou
Decisão Ilegalidade da liquidação de tributo
desfavorável
ou
Acção
Administrativa Pedido de impugnação do ato
Especial
administrativo

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 102


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido pretender


questionar os pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da dívida:

 deduz oposição à execução fiscal (art. 204.º, als. b) e i) do CPPT) -


pressupostos da responsabilidade tributária
 e impugna o acto de liquidação (art. 22.º/4 da LGT) - legalidade da dívida

Não é possível, nos termos do art. 104.º do CPPT, cumular as duas pretensões na
mesma acção.

Execução fiscal

Cobrança coerciva das dívidas tributárias (sem prejuízo de este procedimento ser
também utilizado para cobrança de outras dívidas – art. 148.º/2 CPPT).

CRÍTICA AO 103.º/1 LGT – o processo de execução fiscal conjuga e articula


actos da AT e fases processuais aí enxertadas que são dirigidas pelos tribunais
tributários. Contudo, maior parte do procedimento decorre na AT.

Caso Prático 35

Joaquim é gerente da empresa “Le Fduc, Lda.” desde Fevereiro de 2013. Na


sequência de um procedimento de inspecção tributária, relativo ao exercício de 2012, a
Administração Tributária procedeu a uma correção da matéria tributável por métodos
indirectos, da qual resultou uma liquidação adicional, a título de IRC, no montante de
€10.000. Suponha que, decorrido o prazo legal (Outubro 2013), a “Le Fduc” não
efectuou o pagamento da dívida tributária.

Como a empresa não dispunha de bens suficientes para pagar a dívida, esta foi
revertida contra Joaquim. Por sua vez Joaquim entende que a AT não provou a sua
gerência de facto e pretende ainda impugnar a liquidação adicional por entender ter
havido um erro na quantificação da matéria colectável. De que meios é que o Joaquim
se pode socorrer?

Resposta:

Reversão – art. 153º/2 CPPT

Para REAGIR CONTRA O ACTO DE REVERSÃO: Oposição à execução –


fundamento: Ausência de prova da Administração de facto da Oponente na devedora
originária (artigo 24.º da LGT);

Para IMPUGNAÇAO DO ACTO DE LIQUIDAÇÃO – fundamento previsto no


artigo 86º/5 da LGT – necessário proceder primeiramente ao pedido de revisão da
matéria colectável – art. 91.º da LGT;

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 103


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Como o artigo 22º/4 da LGT garante ao responsável subsidiário o direito à


reclamação e à impugnação da matéria tributável, nos mesmos termos do devedor
principal, o STA tem vindo a defender que o responsável subsidiário neste caso tem
o direito de fazer o pedido do artigo 91.º da LGT, no prazo de 30 dias após a sua
citação para o processo executivo (ver acórdão do STA de 17/03/2011, processo n.º
0876/09, disponibilizado na minha página).

Contudo, mesmo que não faça aquele pedido tem direito a impugnar com base
nos fundamentos previstos no artigo 86.º, n.º 5 da LGT

Caso Prático 36

Francisco e Humberto exerceram as funções de gerência da sociedade F. & H.


Teclados Furiosos, Lda, entre os anos de 2010 e 2015. Face ao modo negligente e
irresponsável como sempre exerceram as suas funções, foram substituídos, no dia 1 de
Janeiro de 2016, por Idalina e João.

Com efeito, durante o período em que Francisco e Humberto geriram a sociedade F.


& H. Teclados Furiosos, Lda:

(1) não foi feito qualquer registo contabilístico;


(2) as importâncias que retiveram aos seus trabalhadores não foram entregues nos
cofres da Fazenda Pública;
(3) o património da sociedade sofreu sério desfalque.

1 – Pode a Administração Tributária proceder à fixação da matéria coletável


sem quaisquer registos contabilísticos?

Sim, pode. Está em causa a avaliação indireta da matéria coletável: à partida (art.
81.º/1 LGT) a matéria coletável é determinada por mero cálculo (elementos
exclusivamente objetivos + operações matemáticas) ou por avaliação (métodos que
envolvem subjetividade, apesar do que se estabelece no art. 84.º/1); De acordo com o
artigo 81.º/1 LGT distingue-se entre a avaliação direta (visa a determinação do valor
real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação) e a avaliação indirecta (determinação
do valor dos rendimentos ou bens tributáveis a partir de indícios, presunções ou outros
elementos), tendo esta última sempre carácter excecional (cf. art. 87.º) e sendo
subsidiária da avaliação direta.

Apesar do seu carácter excecional, um dos casos permitidos é quando é impossível


comprovar e quantificar direta e exatamente os elementos indispensáveis à correta
determinação da matéria coletável do imposto (art. 87.º b) da LGT); Referir no artigo
88.º/a), que densifica a previsão anterior e o art. 90.º LGT em relação à forma de
quantificação.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 104


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

2 – Quem pode ser, e em que termos, considerado responsável pelo pagamento


das importâncias retidas pela entidade patronal aos trabalhadores e não entregues
nos cofres da Fazenda Pública?

Enquadramento da questão: está em causa o regime da substituição tributária


(explicação sumária; a relação triangular substituto – substituído – Administração
fiscal); regime nos artigos 20.º/1 e 2 e 34.º LGT; retenção na fonte).

Em termos de responsabilidade os substituídos (entidade patronal; “entidade


obrigada à retenção”) são os responsáveis originários pelas “importâncias retidas e não
entregues nos cofres do Estado”, ficando os substitutos (trabalhadores) desonerados de
qualquer responsabilidade no seu pagamento – cfr. art. 28.º/1 LGT.

3 – No dia 20 de Maio de 2017 terminou o prazo de pagamento de uma dívida


de imposto da sociedade referente ao exercício de 2015. Não tendo a mesma sido
paga no prazo legal, a Administração Fiscal instaurou um processo de execução
fiscal contra a sociedade F. & H. Teclados Furiosos, Lda. Quem pode ser
responsabilizado, e em que termos, por aquela dívida de imposto?

Identificação do Problema: Estamos perante uma situação de responsabilidade


tributária, a qual tem aqui (como acontece em regra) natureza subsidiária. A
responsabilidade é subsidiária em relação à sociedade mas solidária entre os gerentes;

 artigos 22.º e 24.º LGT e 159.º e seg. CPPT


 o art. 24.º LGT refere expressamente a situação dos gerentes;
 nos termos do art. 159.º do CPPT, eles podem vir a ser chamados no
processo de execução fiscal, dando-se a reversão do processo de execução
fiscal.

Aplicação no caso concreto: em primeiro lugar será responsabilizada a sociedade;


se, no processo de execução fiscal se deparar com a insuficiência dos bens da mesma,
terá lugar a reversão do processo de execução fiscal contra os responsáveis (neste caso,
F e H): cfr. art. 23.º/LGT e 159.º CPPT.

Diferença entre o regime das alíneas a) e b) do 24.º/1, principalmente quanto à


questão da culpa e sua projeção no caso concreto (a possível defesa dos gerentes da
alínea b) (Idalina e João), em sede de audição e/ou oposição à execução).

Fases principais do procedimento de execução fiscal

1. Instauração da execução
2. Citação do devedor
3. Oposição à execução Fase que decorre nos tribunais tributários
4. Penhora
5. Embargos de terceiro Fase que decorre nos tribunais tributários
6. Convocação, verificação e graduação dos créditos

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 105


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

7. Reclamação judicial Fase que decorre nos tribunais tributários


8. Venda dos bens penhorados
9. Extinção ou reversão da execução

Oposição à execução fiscal

Fundamentos consagrados no art. 204.º CPPT

(Sub)processo judicial enxertado no procedimento de execução fiscal, no qual o


executado contesta, perante o tribunal tributário a legalidade do processo de execução.

Nesta fase já não é possível ao executado questionar a legalidade do acto tributário -


excepto art. 204.º/1/h) CPPT

Em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido pretender


questionar os pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da dívida:

 deduz oposição à execução fiscal (art. 204.º, als. b) e i) do CPPT)


 e impugna o acto de liquidação (art. 22.º/4 da LGT)

Não é possível, nos termos do art. 104.º do CPPT, cumular as duas pretensões na
mesma acção.

Exemplo de fundamentos da oposição em caso de reversão do processo de


execução fiscal:

 Violação formal do direito de audição da Oponente;

 Vício de forma por ausência de fundamentação, com consequente nulidade


da citação, que impede a Oponente de fazer uma defesa ciente daquilo que
lhe é imputado, dos impostos em causa, das liquidações a que se reportam,
como é que as mesmas foram determinadas, fundamentos da AT para provar
a culpa da Oponente na falta de pagamento das dívidas exequendas,

 Violação da subsidiariedade da responsabilidade da Oponente e da ausência


de prova de insuficiência fundada de património da devedora originária para
pagamento das dívidas

 Ausência de prova da Administração de facto da Oponente na devedora


originária

Regra Geral: a oposição não suspende a execução

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 106


Aulas Práticas (Dra. Marta Costa Santos) Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

Excepção: a oposição suspende a execução até ao trânsito em julgado da mesma,


desde que seja constituída GARANTIA (arts. 212.º, 169.º/9 e 199.º CPPT).

Pode ser pedida a dispensa de prestação de garantia se se provar que a mesma irá
causar um prejuízo irreparável, ou se houver falta de meios económicos – 170.º CPPT

Porque a oposição à execução fiscal, embora com tramitação processual autónoma,


funciona como uma contestação à execução fiscal, não pode aquele que foi citado em
várias execuções fiscais que não se encontram apensadas deduzir uma única oposição,
ainda que os fundamentos por que se opõe sejam os mesmos.

Transitada em julgado a fase de oposição à execução fiscal, o processo é devolvido


ao órgão de execução fiscal que, consoante a decisão, poderá dar continuidade ao
procedimento de execução fiscal (art. 213.º CPPT).

A analogia é proibida no âmbito do direito fiscal?

Falso. Análise da disposição do artigo 11.º/4, da LGT; explicitação da “reserva de


lei da Assembleia da República – princípio da legalidade fiscal (elementos essenciais
do imposto) e a questão da tipicidade; compatibilidade constitucional da analogia com
os princípios constitucionais:

 artigo 11º/4, LGT, como opção meramente legislativa e não como injunção
constitucional; a analogia não é proibida, por lei, no Direito Fiscal, fora do
domínio dos elementos essenciais do imposto.

Mafalda B. Duarte 2º ano / 2º Semestre 107

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