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NOÇÃO DE IMPOSTO
are unrequifed in the sense that beneflts provided by governments to taxpayers are not
14 Fiscalidade 1— Teoria Geral do Imposto— 1. Noção de imposto 15
Vejamos cada uma destas características de per si. Visa-se com ela significar que a obrigação de imposto é estabele
cida na lei ou por força da lei. Assim, verificado o pressuposto de cuja ocor
a) O imposto é uma prestação pecuniária. rência a lei faz depender o nascimento da obrigação de imposto, esta passa
Significa-se, deste modo, que o imposto é uma prestação em dinheiro a ser exigida independentemente da vontade do contribuinte. É certo que
ou em equivalente a dinheiro. E certo que, ao longo dos tempos, foi normal da vontade dos particulares pode resultar o colocarem-se ou não no âmbito
o pagamento do imposto em espécie, mas isso actualmente tem apenas um do facto gerador da obrigação fiscal. Só que uma vez este verificado a
interesse quase histórico. Com efeito, com a monetarização da economia a obrigação de imposto não mais está dependente dessa vontade. Por isso
cobrança do imposto em espécie foi sendo abandonada, designadamente se diz que a ocorrência do facto gerador pode depender da vontade privada,
pela sua incomodidade quer para os contribuintes quer para o Estado. mas a obrigação de imposto não, pois decorre da lei (é uma obrigação ex
Por outro lado, em termos financeiros, a transferência patrimonial operada .
6
lege)
pela via do imposto (em geral das mãos dos particulares para as mãos do O afirmar-se, porém, que o imposto é uma prestação coactiva não
ente público) terá de traduzir-se sempre pecuniariamente. quer dizer que seja necessariamente indispensável usar da coercibiidade
Não parece também, por isso mesmo, que se possa argumentar con para a cobrar. Como veremos, a cobrança só é coerciva se o contribuinte
tra a natureza pecuniária da prestação de imposto invocando que há casos não satisfizer o imposto no prazo do seu pagamento voluntário.
em que o imposto consiste num facto ou numa actividade, como aconte
ceria no imposto do selo quando pago por meio de estampilhas fiscais: o c) O imposto é uma prestação unilateral.
cumprimento da obrigação verifica-se com a inutilização da estampilha e Sublinha-se, deste modo, que à prestação de imposto não corres
não com a sua aquisição
. Em termos financeiros, porém, o que importa é
4 ponde qualquer contraprestação por parte da entidade dele beneficiária, o
o que a estampilha representa em dinheiro, sendo a sua aquisição requi que permite distinguir o imposto de outras figuras afins: v.g. a taxa e o
sito prévio sem o qual não se pode verificar aquele cumprimento
.
5 empréstimo forçado.
Assim, quando um particular satisfaz a obrigação de imposto nada
b) O imposto é uma prestação coactiva. recebe de específico em troca limita-se a contribuir para o financiamento
—
Trata-se de uma característica que se encontra traduzida na própria da actividade do ente que é destinatário dessa prestação. Nada pode exi
denominação imposto (o que também acontece noutros países: Espanha —
gir esse particular de concreto em consequência de ter satisfeito a sua
impuesto; Itália imposta; França— impôt).
—
obrigação. Diz-se, a este propósito, que, no caso do imposto, “não há
qualquer correlação previamente definida e devidamente calculada entre
normally in proportion ta their payments” e, por outro, que esse termo não inclui “fines
a prestação do contribuinte e os serviços que lhe são postos à disposição
unrelated to tax offences and compulsory loans paid to government”. Cf. OECD, pelas instituições públicas” .
o imposto do empréstimo e da requisição administrativa. Os reembolsos basta dizer que o Estado e as autarquias locais são os entes públicos a
ou restituições de impostos têm origem numa tributação indevida ou no quem são devidos a maior parte dos impostos.
pagamento de uma importância superior à devida. Sublinhe-se ainda que o elemento subjectivo da definição de imposto
se reporta apenas ao sujeito activo. Quanto aos sujeitos passivos, atenta a
e) O imposto é uma prestação sem carácter de sanção. sua diversidade, nenhuma característica especial reveste a noção de im
O imposto não tem carácter sancionatório, o que permite distinguir posto. Com efeito, estamos longe do “particular” que Jeze retinha como
a respectiva prestação das sanções patrimoniais, como o confisco e a sujeito passivo único da obrigação fiscal. Hoje é pacífico que qualquer
multa. Estas têm origem num facto ilícito e visam um fim preventivo e pessoa colectiva de direito público, incluindo o próprio Estado, pode ser
repressivo, o que não acontece com o imposto. devedor do impost&°.
É certo que, hoje em dia, o imposto tem, muitas vezes, uma finali
g) O imposto é uma prestação com vista à realização defins públicos.
dade intervencionista, sendo instrumento ao serviço de uma determinada
política económica e social, pelo que pode eventualmente desincentivar O objectivo tradicional do imposto é o de arrecadação de receitas
certas actividades ou situações tal como pode incentivar outras. E assim para que os entes públicos delas beneficiários possam realizar as tarefas
que, por exemplo, pode visualizar-se uma tributação que onere mais que lhes estão cometidas: é a chamada finalidade fiscal dos impostos.
pesadamente uma actividade especialmente poluidora, de acordo com o O imposto é hoje, porém, também utilizado para a prossecução de
princípio, cada vez mais aceite, do poluidor-pagador. Mas, nesses casos outros objectivos para além da cobertura das despesas públicas são —
não se trata de sancionar qualquer acto ilícito mas apenas de retirar as denominadas finalidades extra-fiscais dos impostos. Através delas o
consequências fiscais mais gravosas de determinadas situações. Aliás, um imposto é assumido como um instrumento de política, deixando, nessa
imposto directamente sancionatório, por equivaler a uma punição auto medida, de ser neutro.
mática por via legislativa, seria 8
inconstitucional
. Dentro desta última perspectiva veremos, a propósito da política fis
cal, que ao imposto podem ser consignados objectivos de política eco
nómica, da qual a política fiscal é parte integrante. Esses objectivos são
O O imposto é uma prestação devida ao Estado ou outros entes múltiplos e nem sempre totalmente compatíveis entre si. Os mais fre
públicos
quentes são a redistribuição do rendimento e da riqueza, a regulação
É o chamado elemento subjectivo da definição de imposto: na esteira conjuntural e o desenvolvimento económico.
da concepção de Giannini, o imposto, tal como os outros tributos, é sempre Pode até dizer-se que os dois tipos de finalidades fiscais e extra-
—
devido a um ente público: para uns, com o significado de pessoa colec fiscais estão simultaneamente presentes nos impostos: um imposto que
—
tiva de direito público, para outros, de entidades que exercem funções vise predosninantemente a obtenção de receitas não pode descurar a for
públicas A Constituição Portuguesa utiliza, porém, a expressão “Estado
.
9 ma como se reparte pelos contribuintes e os demais efeitos económicos
e outras entidades públicas” (art.° 103.°, n.° 1). dele decorrentes; um imposto cujo objectivo assente primacialmente em
Veremos adiante, ao tratar do sujeito activo da obrigação fiscal, que razões extra-fiscais origina sempre também a cobrança de receitas para o
formas assume a entidade a quem é devida a prestação de imposto. Para já, ente público.
Assim, ao sublinhar-se nesta característica do imposto a realização
SÃ Goiias, Nuno, Lições de Direito Fiscal, vol. 1, Lisboa, Centro de Estudos de fins públicos tem-se em vista acentuar que actualmente o imposto não
Fiscais, 1993, págs. 69 e segs. tem apenas propósitos de arrecadação de receitas, podendo até este
Giumi, A. D., Istituzioni di Diritto Tributario, 9’ cd. (nuova ristanipa), Milão, aspecto não constituir a sua primeira razão de ser.
Dott. A. Giuffré Editore, 1974, pág. 56 e, por exemplo, Biuz Teixaiiu, António, ob. cit.,
págs. 39 e 40 e SÃ GoMaS, Nuno, ob. cit., págs. 65 e segs. Cf. igualmente Soxes MAR
‘°Vejam-se a este propósito, por exemplo, a alínea a) do a.° 1 do art.’ 2.° do Código
TINEz, Pedro, Direito Fiscal, 7’ cd., Coimbra, Livraria Almedina, 1993, págs.
206 e segs. do IRC co art.° 2.’ do Código do IVA.
18 Fiscalidade
geira’ existe ainda, dentro dos tributos, uma outra figura para além do
2 —
BARBOSA Noousm’, Ruy, Curso de Direito Tributário, 5 ed., São Paulo, Saraiva, 1980,
as necessárias correcções das desigualdades na distribuição do rendimento e da
riqueza”. págs. 165 e segs. Por sua vez, em Espanha, o art.° 2.° da Ley General Tributaria define
No entanto, a Constituição da República enuncia expressamente a política fiscal a propó
contribuições especiais como os “tributos cuyo hecho imponible consiste en la obtención
sito da política do ambiente e da qualidade de vida [art.° 66.°, n.° 2, alinea h)], da protec
por ei obligado tributario de un beneficio o de un aumento de valor de sus bienes, como
ção da família [ait° 67.°, n.° 2, alíneaj)j e da criação e actividade das cooperativas (art.°
consecuencia de la realización de obras públicas o dei establecimiento o ampliación de
85.°, n.° 2).
servicios públicos”.
20 Fiscalidade
1— Teoria Geral do Imposto —2.0 imposto e algumas denominadas figuras afins 21
desgaste nas vias de comunicação provocado por veículos com certo peso
e determinadas características, o que daria lugar a contribuições para Uma primeira linha de distinção entre imposto e taxa baseia-se no
maiores despesas). Trata-se, porém, de figura que, embora exista no sis critério financeiro clássico segundo o qual o imposto destina-se primordial-
tema fiscal 3 mente ao financiamento dos serviços públicos indivisíveis (v.g., defesa
português’ não parece ter qualquer autonomia em relação
,
aos 4impostos’ Aliás, face à definição de imposto que se adoptou, não há
. nacional, diplomacia) enquanto que as taxas se destinam a cobrir, total ou
nenhuma característica diferenciadora entre impostos e contribuições espe parcialmente, serviços públicos divisíveis aqueles que prestam utilida
—
°
Desde sempre também na doutrina houve quem questionasse a autonomização imposto. Neste sentido, TEIXEUtA RIBEIRO, J.J., “Noção jurídica de taxa in Revista de
“,
das contribuições especiais face aos impostos cf., por exemplo, BERURJ, Antonio, Prin Legislação e Jurisprudência, Coimbra, ano 117, Fevereiro de 1985, pág. 292, que escreve
—
cipi di Diritto Tributarjo, vol. 1, Milão, Dou. A. Giuffré-Editore, 1952, págs. 209 e segs. a propósito das licenças para ter cão ou de uso e porte de arma: “(...) a entidade pública
‘
Cumoso DA COSTA, J. M., Curso de Direito Fiscal, 2 ed., Coimbra, 1972, pág. 15. aguarda que os particulares revelem a sua capacidade fiscal através do propósito de ter
cão, de usar arma, de ir à caça, para lhes exigir o respectivo imposto”. Cf. ainda MESQUITA
22 Fiscalidade 1 Teoria Geral do Imposto —2. O imposto e algumas denominadas figuras afins 23
significa que tenham necessariamente de cobrir o respectivo incumprimento por parte do Estado.
custo de pro
dução (veja-se o caso dos preços 24políticos)
.
Apesar de algumas zonas de fronteira poderem dar origem Plano Oficial de Contabilidade, são consideradas uma subconta da conta 631 Impostos
a dúvi
das, a distinção entre taxa e imposto assenta, pois, na existên indirectos.
—
cia ou não
de coniraprestação nos termos que se assinalaram. E 26
Isso explica a abundante doutrina e jurisprudência constitucional no domínio da
trata-se de uma distinção entre impostos e taxas. É exemplo da primeira, PAZ Faiusam., Eduardo, “Ainda
a
propósito da distinção entre impostos e taxas: o caso da taxa municipal devida pela rea
PALHA, Maria Margarida, “Sobre o conceito jurídico lização de infraestruturas urbanísticas in Ciência e Técnica Fiscal, n.° 380, Out-Dez/
de taxa”, in Estados comemorativos “,
do XX aniversário do CEF, vol. II, Lisboa, Centro de Estudos /1995, págs. 57-84. Quanto à segunda veja-se, por todos, o Acórdão do Tribunal Constitu
Fiscais, 1983, págs. 573-592 cional de 15 de Novembro de 1995 (Acórdão n.° 640/95) relativo à constitucionalidade
e PaTA CIJ1*IA, Paulo, XAVIER DE BASTO, 3. G. e LoBo da
XAVIER, António, “Os conceitos de
taxa e de imposto a propósito das licenças municipais”, Portaria nY 351/94, de 3 de Junho, quanto às portagens da ponte sobre o Tejo, in Ciência
—
Fisco, ano 5, o.” 51-52, Fev e Técnica Fiscal, n.° 380, Out-Dez/1995, págs. 253-296. Cf. ainda CASALTA NaMs,
-Mar!l993, págs. 3 e segs.
° XÂvIER, Alberto, ob. cit., págs. 42
“Jurisprudência do Tribunal Constitucional em Matéria Fiscal”, in Estudos sobre a
e segs.
22
Cf., por exemplo, SA1NZ DE BUJANDA, Fernando, ob. cit., págs. Jurisprudência do Tribunal Constitucional, Aequitas-Editorial Notícias, Lisboa, 1993,
22 172 e segs. págs. 254 e segs e, dando, nomeadamente, uma visão geral sobre a caracterização juris
SOUSA FINco, A.L., ob. cit, pág. 68.
23 prudencial do conceito de taxa, SALOANHA SANcuns, J. L. e TABORDA DA G.ivtA,
Cf., por exemplo, Coscij, Cesare, Scienza deile Finanza, João,
8’ ed., Torino, Unione “Taxas municipais pela ocupação do subsolo”, ia Fiscalidade, n.°’ 19/20, Julho-Setem
Tipografico-Editore Torinese, 1979, pág. 381, que inclui
as taxas nos preços políticos. bro/Outubro-Dezembro 2004, págs. 5-43.
Entre nós, veja-se Taoceii RIBEIRO, J.J., “Noção jurídica
24
de taxa”, págs. 289 e segs. Apesar disso, a ausência de uni regime geral de taxas tem levado alguns autores a
27
Xvma, Alberto, ob. cit., págs. 53 e segs.
25 questionar se não se estará, por isso, perante uma inconstitucionalidade por omissão
Nem sempre a própria terminologia utilizada ajuda a efectuar — cf.
uma distinção cor PAZ Fajumm’., Eduardo, Em Torno das Constituições Financeira e Fiscal
recta: há impostos que aparecem designados por taxas e dos Novos
(v.g. a extinta taxa militar) e taxas Desafios na Área das Finanças Públicas, Lisboa, Associação Académica da Faculdade de
com a denominação de impostos (v.g. o imposto de justiça).
Também para efeitos con Direito, 2001, págs. 34 e 35. Entretanto, foi publicada a Lei do Regime Geral das Taxas
tabilísticos se pode criticar alguma falta de rigor: as taxas,
relevadas na conta 6317 do das Autarquias Locais— Lei n.° 53-EJ2006, de 29 de Dezembro.
24 Fiscalidade
1—Teoria Geral do Imposto—2. O imposto e algumas denonzinadas figuras afins
25
°
SÉavuio CORREIA, J. M., “Teoria da relação jurídica do seguro social”, experiência portuguesa in Tributação do trabalho dependente relações com as con
“,
in Estu —
tribuições para a segurança social, Porto, Vida Económica, 2000, pp 9-3 1. Veja-se ainda
dos Sociais e Coiporativos, ano VII, 1968, a.° 27, págs. 300 e segs.
E XAVIER,
Alberto, ob. cit., págs. 66 e segs. JAMES, Simon e Nosas, Christopher, The Economics of Taxation, 7t8 cd.,
London, Pearson
Education Limitei, 2000, pág. 11.
26 Fiscalidade
contribuições individuais.
Aliás, nas classificações internacionais dos impostos incluem-se
normalmente as contribuições para a segurança social, como condição indis
pensável para se poderem fazer comparações entre os vários países quanto
à estrutura fiscal e ao nível da fiscalidade. E, assim, que, para a OCDE, as
contribuições para a segurança social que tenham uma natureza obrigató 3. ESTRUTURA E DINÂMICA DO IMPOSTO
ria, pagas a entidades públicas, são tratadas como receitas fiscais, estando
incluídas na correspondente classificação dos impostos
. Esta assimila
35 Caracterizado o imposto, importa analisar os seus elementos consti
ção ganha ainda maior justificação face à tendência que se tem verificado tutivos, a sua estrutura e bem assim o conjunto de operações que permi
em certos países, designadamente do norte da Europa, no sentido de inte tem a sua aplicação aos casos concretos, a sua dinâmica.
grar o imposto pessoal de rendimento e as contribuições para a segurança
social de modo a contrariar o efeito regressivo, em termos de equidade,
que delas pode resultar
.
36 3.1. Facto gerador do imposto. A incidência de um imposto
gerador da obrigação principal como a situação definida em lei como necessária e sufi
b) Calculadas com base cai remunerações, salários ou número de trabalhadores;
ciente à sua ocorrência. E, em Espanha, a “Ley General Tributaria” art.° 20.° conceitua
c) Afectas à cobertura das prestações de segurança social; — —
“hecho imponible” como sendo “ei pressupuesto fijado por la ley para configurar cada
d) Efectuadas pelas pessoas seguras ou seus empregadores.
36 tributo e cuya realización origina eI nacimiento de ia obligación tributaria principal”.
OCDE, La fiscalitá dans les pays développés, Paris, 1987, págs. 74 e 75.
XAVIER, Alberto, Manual de Direito Fiscal, vol. 1, Lisboa, 1974, pág. 249.
28 Fiscalidade 1— Teoria Geral do Imposto —3. Estrutura e dinâmica do imposto 29
°
Soutss MA1OTINEZ, Pedro, oh. cit., págs. 174 e segs
do aspecto material anteriormente referido.
41
Neste sentido, por exemplo, SAINZ os BUJANDA, Fernando, ob. Cit., págs. E aqui que, no domínio empresarial, desempenha um papel essencial
193 e
segs., XAVIER, Alberto, oh. cit., págs. 247 e segs. e Potes, Manuel, Da
dupla tributação a contabilidade. Com efeito, esta tem por finalidade primeira o conheci
jurídica internacional sobre o rendimento, Lisboa, Centro de Estudos Fiscais, 1984, mento da situação patrimonial e dos resultados (lucros ou prejuízos) das
pág. 350.
Interessante é a construção de ATALIBA que, usando a expressão “hipótese de
incidência”
para se referir à descrição legal do facto tributário, a ela se refere como una
e indivisível
apesar de possuir vários aspectos (pessoal, material, temporal e espacial), u Certos autores negam a existência deste aspecto
cuja considera no facto gerador do imposto,
ção não implica, porém, a sua decomposição em “partes” ou “elementos”.
Cf. ArAusA, dado que a conexão do facto tributário com um certo território é feita através de normas
Gemido, Hipótese de incidência Tributária, 2 cd., São Paulo, Editora
Revista dos Tribu de conflitos unilaterais. Cf., por exemplo, XAVJER, Alberto, ob. cit., pág. 253.
nais, 1978, págs. 78 e segs.
42 Para maiores desenvolvimentos FREITAs Peesrn., M. H., A periodização do lucro
X.v1Ee, Alberto, oh. cit., pág. 250.
tributável, Lisboa, Centro de Estudos Fiscais, 1988.
30 Fiscalidade
1— Teoria Geral do Imposto 3. Estrutura e dinâmica do imposto 31
A incidência, enquanto descrição legal do facto tributário, integra 49 atinge-se a distribuição final do imposto, ou seja a incidência
tempo —
do art.° 20.° que ‘la ley podrá completar la delimitacián deI hecho imponible mediante
—
obrigação de imposto podem ser descritos quer pela positiva quer pela la mención de supuestos de no sujeción”.
negativa. Neste último caso procede-se a uma delimitação negativa da Sirva de exemplo o art.° 9,0 do Código do IRC. As pessoas aqui enumeradas são
sujeitos passivos de IRC nos termos do art.° 2.° do respectivo Código pelo que em relação
a elas, quando se verifiquem os demais elementos do pressuposto do imposto, nasce a
Os dados e apuramentos feitos com base na contabilidade, quando esta estiver
correspondente obrigação fiscal, Só que a eficácia dessa sujeição é prejudicada porque o
organizada de acordo com a legislação comercial e fiscal, têm, aliás, urna presunção de
art.° 9,0 as declara isentas, nas condições no mesmo enunciadas. E como o facto isento é
veracidade alt° 75.°, n.° 1, da LGT —cabendo em geral à administração fiscal o ónus de
definido em função dos sujeitos passivos, estamos perante uma isenção subjectiva.
—
provar que os mesmos não correspondem à verdade. Sobre as condições que a contabili °
Cf., por exemplo, Pnsrro BARBOSA, A. S., Economia Pública, Lisboa, McGraw-Hill,
dade deve reunir para ter relevância fiscal, designadamente quanto aos registos e documen
1997, págs. 137 e 138.
tos justificativos que a suportam, veja-se FREIrAS PEREIRA, M. 14., “Relevância, em termos
Em muitos casos, em termos financeiros, a repercussão opera-se mesmo antes da
de apuramento do lucro tributável, de documentos internos justificativos de compras de
entrega do imposto ao Estado pelo contribuinte de direito.
existências”, in Ciência e Técnica Fiscal, n.° 365, Jan-Mar/1992, págs. 343-352.
TrmEIRA RIBEIRo, J.J., ob. cit., págs. 374 e segs.
5°
32 Fiscalidade
1— Teoria Geral do Imposto —3. Estrutura e dinâmica do imposto 33
Curva da oferta
Po antes de imposto
‘
Para maiores desenvolvimentos veja-se, por exemplo, Musoave, Richard A.
e MUSGRAVE, Peggy B., Public Finance in Theory and Practice, cd., New York,
McGraw-Hill, 1980, págs. 280 e segs. e Snourz, Joseph E., Economics ofPublic Quantidade
d
2
Sector,
ed., New York, W.W. Norton & Company, 1988, págs. 411 e segs.
Figura 2
34 Fiscalidade
1— Teoria Geral do Imposto —3. Estrutura e dinâmica do imposto 35
Po
7 E
Curva da oferta
antes de imposto
por benefícios fiscais que assumam esta modalidade.
Base tributável
Deduções e abatimentos à base tributável
7
-
= Matéria colectável
x Taxa
1
Qo=Q Quantidade = Colecta
- Deduções à colecta
Figura 3
= Imposto a pagar
Por isso se diz que, ceteris paribus, a repercussão varia
na razão
directa da elasticidade da oferta e na razão inversa
da elasticidade da pro
cura. Ou, dito de outro modo: “o lado do mercado O imposto (1), em termos de montante a pagar, é, deste modo, uma
(procura ou oferta)
relativamente mais elástico é o que fica, em termos função que geralmente depende de vários factores, dos quais se destacam
de incidência econó
mica, comparativamente menos . penaliz
5 2ado” a base tributável (BT) e a taxa (t):
I=I(BT,t,ccj3,y,...)
3.2. Matéria colectável, taxas e colecta onde Cc, 3, ‘y são parâmetros que também contribuem para a definição do
montante a pagar, designadamente as deduções à base tributável e as dedu
Definido o facto gerador do imposto assim como ções à colecta, pelo que todos são elementos essenciais para esse efeito e
as isenções, estão como tal devem ser encarados numa perspectiva de legalidade da tributação.
reunidos os elementos que, em termos de determinação
do seu montante,
permitem a quantificação da base tributável.
Esta base tributável, tal como resulta da incidência 3.2.2. Dado que nem sempre a matéria colectável coincide com a
real do imposto, base tributável e o imposto a pagar com a colecta, importa distinguir
nem sempre constitui a matéria colectável, pois àquela
são efectuadas entre taxa nominal ou estatutária de tributação e taxa efectiva de tributa
deduções e abatimentos, alguns dos quais se integram
na já referida figura ção. A primeira é a defmída na lei e que, aplicada à matéria colectável,
dos benefícios fiscais.
O cálculo do imposto pressupõe, por outro lado, regra permite determinar a colecta. A segunda é a que resulta da relação entre
geral, a apli imposto a pagar e um indicador da base tributável, sendo sempre muito
cação de uma taxa. Só assim não é, quando se está
perante um imposto importante precisar a que grandeza se reporta o cálculo da taxa 53
em que a lei fixa o respectivo valor numa certa import efectiva
.
ância os chama —
OECD, 2001.
Em Portugal, as estatísticas oficiais apresentam a taxa
efectiva de JRS como sendo
dada pela relação entre o total de IRS liquidado e o
rendimento bruto declarado e a taxa Está, aliás, aqui a explicação para o facto de o “Imposto sobre o rendimento do
efectiva de JRC como sendo expressa pela relação entre
IRC liquidado e matéria colec exercício” relevado, por estimativa, na conta 86 do ‘Plano Oficial de Contabilidade” não
tável acrescida dos benefícios que operam por
dedução ao lucro tributável e por dedução dever ser o resultado da aplicação da taxa nominal sobre o “Resultado antes de impostos”.
ao rendimento. Estudos empíricos sobre a realidade
portuguesa, incluindo taxas efectivas A relação entre estas duas variáveis contabilísticas constitui efectivamente uma aproxima
de tributação, podem ver-se, quanto ao IRS, em
Reis, Helder, Modelo Tax-Benefit (MIRS) ção à taxa efectiva de tributação da empresa em causa.
Análise descritiva ao 1RS, Documento de Trabalho n.° 23,
da Direcção-Geral de Estudos
—
e Previsão do Ministério das Finanças, Lisboa, Outubro AuERBACH, Alan J., Devraaux, Michael P. e StMPSON, Helen, Taxing Corporate
de 2001; quanto ao TRC, em income, Paper prepared for The Mirrless Review “Reforming the Tax System for the 21”
OUVEWA, Jorge, MoirmiRo, Fernanda e Sxr’rros, João,
Modelo de simulação do imposto Century”, March 2008. Veja-se igualmente OECD, Fundamental Refonn of Corporate
sobre as sociedades (MOSIS) Análise do IRC, Documento
—
de Trabalho n.° 34, da Direc Income Tax Paris, 2007, págs. 26 e segs. e FREETAS PEREIRA, M. H., Tributação das socie
ção-Geral de Estudos e Previsão do Ministério das Finanças,
Lisboa, Dezembro de 2003. dades e globalização económica, “Conferência Internacional “Portugal/União Europeia e
___
38 Fiscalidade
1— Teoria Geral do Imposto —3. Estrutura e dinâmica do imposto 39
Importa, assim, ter em conta o papel das taxas efectiv (1) e a totalidade da matéria colectável (MC):
as.
A maneira tradicional de medir o impacto da tribu 1
tação do lucro das tMMC
sociedades sobre o investimento em economia aber
ta é efectuado através
da chamada “taxa de tributação marginal efect
iva” [“efective marginal Taxa marginal do imposto (tm) é a relação percentual entre o au
tax rate” (EMTR)1. Uma “taxa de tributação
marginal efectiva” elevada mento do imposto e o aumento da matéria colectável:
aumenta o custo do capital e reduz, conseque
ntemente, o investimento.
Mais recentemente foi dada atenção às práticas -
das multinacionais t
m
na escolha de localizações alternativas para as suas
unidades de produção
— naturalmente, a escolha recairá, no aspecto fiscal,
na localização que Assim, para que a taxa média seja proporcional é necessário que
garanta um maior lucro após impostos. Isso leva
a considerar em que me seja igual à taxa marginal (tM= tm) Por sua vez, a taxa média é progres
dida o resultado antes de impostos é diminuído
pela tributação, o que é siva quando é inferior à taxa marginal (tM <tm) e é regressiva quando é
traduzido pela chamada “taxa de tributação
média efectiva” [“efective superior à taxa marginal (tM >
average tax rate” (EATR)J.
Dito de outro modo, no imposto proporcional a taxa média é cons
Assim, a taxa de tributação média efectiva seria
decisjva para a lo tante, no imposto progressivO é crescente e no imposto regressivo é decres
calização do investimento enquanto a taxa de tribu
tação marginal efectiva .
57
cente
determinaria a dimensão óptima do investimento.
O que se acaba de dizer em relação à taxa nominal de tributação é
igualmente aplicável relativamente à taxa efectiva, que é, aliás, a análise
3.2.3. A taxa nominal de tributação pode ser a mesm decisiva para verificar se um imposto é proporcional, progressivo ou re
a qualquer que
seja o valor da matéria colectável ou pode aum gressivo.
entar ou diminuir à me
dida que esta se eleva. Tem-se, nesses casos,
respectivamente, uma taxa Assim, por exemplo, num imposto sobre o consumo, poderá ter-se
proporcional, progressiva ou .regre6
5 ssiva em conta não apenas o consumo sobre que incide a tributação mas o
A este respeito revela-se da maior importância a disti consumo total, o que pode conduzir a que um imposto de taxa nominal
nção entre taxa
média e taxa marginal. proporcional se transforme num imposto de taxa efectiva proporcional,
progressiva ou regressiva, tudo dependendo dos outros elementos que o
os EUA Novas perspectivas económicas num
configuram. Do mesmo modo, existem hoje defensores do chamado im
—
contexto de globalização”, Instituto de posto linear sobre o rendimento em que seria usada uma taxa nominal
Direito Económico, Financeiro e Fiscal, Faculdade
de Direito de Lisboa, 23 a 27 de Junho
de 2008, a publicar in Ciência e Técnica Fiscal,
n.° 422, Juliio-Dezembro de 2008.
proporcional, o que não significaria, no entanto, que através do meca
Em alguns manuais aparece também referida a chama
da taxa degressiva: quando nismo das isenções na base e de deduções não se conseguisse uma certa
a taxa é, em princípio, proporcional, mas para progressividade do 58
imposto
.
valores até certo montante estabelecem-se
taxas progressivas inferiores àquela taxa. A diferen
de taxa degressiva está apenas na concepção que
ça entre impostos de taxa progressiva e O que se acaba de dizer quanto a cada imposto é igualmente apli
está subjacente a uns e outros quanto ao cável ao conjunto dos impostos existentes num dado país ao sistema
modo de realização da igualdade tributária. Com —
do contribuinte ou de um terceiro
, sendo, nos exactos termos da
61
(n.° 1 do art.° 82.° da LGT), da competência lei O modelo que se acaba de descrever sofre um desvio cota a inclu
da administração tributária são na avaliação indirecta do chamado “regime simp1ficado de tributa
ou, nos casos de auto-liquidação, do sujeito
passivo. O facto de tomar por ção” [alínea a) do art.° 87.° da LGT], que relativamente aos sujeitos pas
base uma declaração não significa que esta
não seja controlada deve-o sivos por ele abrangidos, como que transforma a avaliação indirecta no
ser, pelo que o regime é verdadeiramente o —
da chamada declaração con regime normal ou regime regra de tributação. Com efeito, a aplicação da
trolada (veja-se, por exemplo, o n.° 1 do art.°
16.° do Código do IRC). avaliação directa passa a ficar sujeita a expressa opção do sujeito passivo,
E, em princípio, até prova em contrário da
administração fiscal, “presu nas condições definidas na lei (n.° 2 do art.° 81.° da LGT), na falta da
mem-se verdadeiras e de boa fé as declarações
dos contribuintes apresen qual se aplica o regime simplificado. A situação é agravada pelo facto de
tadas nos termos previstos na lei, bem como
os dados e apuramentos ins este regime vir sendo aplicado não através de “indicadores objectivos de
critos na sua contabilidade ou escrita, quando
estas estiverem organizadas base técnico-científica para os diferentes sectores de actividade econó
de acordo com a legislação comercial e fiscal”
(n.° 1 do art.° 75.° da LGT). mica” mas através da aplicação ao volume de negócios de coeficientes
Consagra-se uma autêntica presunção de veracidade
quer dos elementos contabilísticos que as quer das declarações iguais para a generalidade dos sujeitos passivos (com a diferenciação
62
apoiam. apenas conforme se trate de vendas de mercadorias e produtos ou outros
A avaliação indirecta visa a determinação
da matéria colectável “a proveitos) e com a previsão de um limite mínimo (cf. art.° 31.0 do Código
partir de indícios, presunções OU Outros
elementos de que a administração do IRS e art.° 53.° do Código do IRC)
tributária disponha” (n.° 2 do art.° 83.° da .
65
LGT), sendo da competência
desta (n.° 2 do art.° 82.° da LGT), embora
com a participação do contri 3.3.3. Lançado e liquidado o imposto segue-se a última fase: a da
buinte nos termos fixados na lei (n.° 3 do
art.° 82.° da LGT).
63 Este tipo cobrança, pela qual o imposto entra nos cofres do Estado ou do outro
de avaliação é excepcional, sendo subsidiário
da avaliação directa (art.° ente público a quem é devido.
85.° da LGT), só podendo ter lugar nos casos
e condições expressamente São várias as questões que se colocam a este respeito.
previstos na lei (n.° 1 do art.° 81.0 da LGT),
que tipifica uns e outras (art.°’ Uma delas é a de saber a quem pode ser exigido o pagamento do
87.° e segs. da LGT). É que, no respeitante
à determinação da matéria imposto. O pagamento pode ser exigido, como se verá adiante, ao contri
colectável, o sistema fiscal português dá
absoluta prevalência ao método buinte ou outro responsável, nos termos da lei. A este propósito cumpre
de avaliação directa que outro não é do que
o método da declaração do distinguir os casos em que o pagamento é exigido ao titular da matéria
contribuinte (art. 65.° do Código do IRS,
16.° do Código do IRC e 27.° a colectável (contribuinte directo), e os casos em que o pagamento é exi
41.° do Código do IVA)M.
Destas diferentes formas de avaliação gido a um terceiro, que, por estar em especial relação comesse titular,
resultam várias consequên pode reter-lhe o imposto e entregá-lo nos cofres do Estado. E a chamada
cias também ao nível dos meios ao dispor
do contribuinte para fazer valer retenção na fonte, que anda ligada à figura da substituição tributária, de
os seus direitos, sendo uma delas que a
avaliação indirecta não é suscep que se tratará adiante. Nesse sentido, a Lei Geral Tributária estabelece no
tível de impugnação contenciosa directa,
excepto nos casos em que não seu art.° 34.° que “as entregas pecuniárias efectuadas por dedução nos
dê lugar a qualquer liquidação (n.° 3 do
art.° 86.° da LGT).
rendimentos pagos ou colocados à disposição do titular pelo substituto
6i
Taixant Risemo, 3.3., oh. cit., pág. 361.
62 61
A lei estabelece expressasnente os casos em Poder-se-á estar aqui também nos limites da constitucionalidade em face do impe
que esta presunção de veracidade
pode ser afastada (nY 2 do art.° 75.° da LGT). rativo de tributação segundo o rendimento real das empresas, e na medida em que os
u Está-se perante indicadores não permitem determinar um rendimento real ainda que presumido. Existe, no
o que Taixant RIBEIRO designa por
ou avaliação mista, que é sempre uma avaliação administiativa entanto, a atenuação derivada do facto de se tratar de um regime que os contribuintes
avaliação por presunção. Cf., oh. cit., págs.
segs. 359 e podem afastar mediante a opção pela avaliação directa. Veja-se adiante a nota 130. A Lei
‘ SOUSA, Alfredo e PAIXÃo,
José, Código de Procedimento e de Processo do OE para 2009 (Lei n.° 64.°-A]2008, de 31 de Dezembro) susendeu a aplicação do
tário Comentado e Anotado, Coimbra, Tribu regime simplificado em IRC a partir de 1 de Janeiro de 2009, estabelecendo um regime
—
tos indirectos está subjacente ao disposto nos directos e impos processo de lançamento do imposto. Assim, os impostos directos seriam
art.°’ 92.° e 93.° do Tratado cobrados de pessoas previamente inscritas num rol nominativo, enquanto
que institui a Comunidade Europeia, onde se
alude aos impostos sobre o que nos impostos indirectos esse rol não existe.
volume de negócios, aos impostos sobre consumos
específicos e a outros Trata-se de critério que teve grande aceitação na doutrina francesa e
impostos indirectos.
A classificação dos impostos em directos e que se adaptou ra.zoavelmente à situação fiscal dos países da Europa Oci
indirectos é também dental até ao começo do século XIX. No entanto, à medida que os siste
adoptada em Portugal para efeitos de classificação
económica das recei mas fiscais foram evoluindo com a introdução da retenção na fonte e da
tas públicas (Decreto-Lei n.° 26/2002, de
14 de Fevereiro)
, sendo im
73
postos directos os impostos sobre o rendimento autoliquidação esta teoria perdeu validade e hoje tem cada vez menos
e outros (v.g., imposto
municipal sobre imóveis, imposto municipal aplicação pois reconhece-se haver muitos impostos directos em que não
sobre veículos e imposto
municipal sobre transmissões onerosas de imóveis) existe a tal inscrição prévia num rol nominativo de contribuintes.
e impostos indirectos
os impostos sobre o consumo e Outros (v.g., Critério muito próximo deste foi o defendido por Otto Mayer, se
imposto do selo, impostos
. Esta dicotomia projecta-se também
74
rodoviários) gundo o qual seriam directos os impostos que implicam um processo de
ao nível do Plano Ofi
cial de Contabilidade Pública POCP lançamento, através do qual a administração fixaria o imposto a pagar
—
(Decreto-Lei n.° 232/97, de 3 de
Setembro), que classifica na conta 721 os impostos enquanto que nos impostos indirectos esse processo não existiria seriam
directos e na conta —
722 os impostos indirectos, que são também impostos sem lançamento ou de autolançamento feito pelo próprio con
as contas previstas no Plano
Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais tribuinte. Só que os casos em que não existe um lançamento por parte da
POCAL (Decreto-Lei
—
Almedina, 2006, pág. 48. Veja-se igualmente De acordo com esta teoria, muito desenvolvida no século XIX e
LOCAS Puts, Miguel, Dos privilégios
creditórios Regime jurídico e sua influência
concurso de credores, Coimbra, Almedina,
—
no dominante até aos anos 30 do século XX, os impostos indirectos, pela sua
2004, págs. 306 e segs.
Cf. igualmente a classificação económica
das receitas constante do Plano Oficial
própria natureza, seriam repercutíveis, enquanto que os impostos directos
de Contabilidade das Autarquias Locais não o seriam
.
76
POCAL (Decreto-Lei n.
—
0 54-A199, de 22 de
Fevereiro).
No tocante ao imposto do selo, sobretudo
com a integração na sua incidência, a
partir de 2004, das transmissões gratuitas de
bens, de que não sejam beneficiários o côn 76
juge, os descendentes e os ascendentes, Trata-se de teoria muito cara a alguns famosos economistas como Sru.4.zr Miu. e
anteriormente sujeitas a imposto sobre as suces
sões e doações, expressamente classificado LEON WALRA5. Assim, o primeiro, nos seus Principies of Political Economy, define impos
como imposto directo, a sua caracterização
como imposto indirecto é problemática e só é tos indirectos como os que são adiantados por uma pessoa que se faz reembolsar deles por
aceitável por uma questão de simplificação
atendendo às outras realidades abrangidas. outra e ,o segundo, nos seus Elements of Pure Economy, caracteriza-os como impostos
E também esta dicotomia que parece estar sobre produtos, sendo claro que os empresários se reembolsarão do seu pagamento atra
presente quando se alude a tributação vés da adição do respectivo montante nos preços dos produtos. Cf. Musoitava, Richard,
directa e tributação indirecta no art.° 6.0 da Lei
Geral Tributária.
The Theory of Public Finance, Tóquio, Mc Graw-Hill, 1959, págs. 230 e 231.
50 Fiscalidade
1—Teoria Geral do Imposto —4. Classflcação dos impostos 51
minam o imposto a pagar (impostos deter rendimento de 1 500 corresponde um imposto de 300. O sistema é simples
de quota variável).
Nos impostos de quota variável, a mas é criticável por não submeter as mesmas capacidades contributivas de
taxa ou taxas apresenta..se em
regra, sob a forma de uma base à mesma taxa pois estas serão tributadas à taxa que corresponder à
percentagem, que aplicada ao valor da
colectável determina a colecta, mas, matéria totalidade do rendimento. Por outro lado, a passagem de classe para classe
em alguns casos — os de tributação
especffica — a taxa corresponde a uma pode originar que o aumento de imposto a pagar por esse facto seja supe
de peso, superfície ou volume dos importância por cada unidade física
bens sobre que o imposto recai. No rior ao aumento da matéria colectável, o que tem de ser obviado estabele
meiro caso temos taxas ad valorem pri cendo que o contribuinte não pode ficar com um rendimento líquido menor
enquanto que no segundo temos taxas
espec(ficas, Esta distinção ganha do que aquele que lhe ficaria se o seu rendimento colectável correspon
especial Significado nos impostos
, O uso de taxas especfficas,
81
rectos indi desse ao limite máximo da classe imediatamente anterior.
embora se revele vantajoso sob o
de vista administrativo — é mais ponto Na progressividade por escalões a matéria colectável é dividida em
fácil determinar quantidades ou
que valores —, tem vários pesos do várias partes, sendo cada uma delas tributada a uma determinada taxa,
inconvenientes. Em primeiro lugar,
quanto maior é o preço dos produtos porque que vai aumentando à medida que aquela se eleva. Assim, para uma tabe
menor é a percentagem do imposto,
ou seja as taxas específicas la que se apresente do seguinte modo: até 1 000— 10 %; de 1 000 a 2 000
podem ser um factor de regressivjdade
tributação. Por outro lado, enquanto da — 20 %; mais de 2 000 — 30 %, para um rendimento de 1 500 será aplicá
a receita dos impostos ad
aumenta com a elevação dos preços valorem vel a taxa de 10 % sobre 1 000 e a taxa de 20 % sobre 500, donde resulta
e diminui com a sua baixa, a
dos impostos de taxa específica é receita um imposto de 200. Este tipo de progressividade permite realizar uma
insensível aos movimentos dos
o que, em períodos de inflação, preços, maior justiça já que o mesmo escalão de rendimentos, ainda que perten
faz com que as receitas do
cresçam conforme as suas necessidades. Estado não
cente a pessoas diversas, suporta a mesma taxa, mas é de aplicação prática
mais difícil. Para ultrapassar estas dificuldades tanto maiores quanto
—
4.3.2. Nos impostos de quota maior for o número de escalões — usam-se dois processos. Num deles, a
variável a taxa, como se viu atrás,
ser proporcional, progressiva, pode taxa constante da tabela (denominada taxa normal) é apenas aplicada à
degressiva ou regressiva.
Nos impostos de taxa progressiva parte superior da matéria colectável compreendida no respectivo escalão.
pode distinguir-se a progres
sividade global e a progressividade Ao resto da matéria colectável que é igual ao limite do maior dos esca
por escalões
,
82 —
lões que nela couber inteiramente — é aplicada uma taxa média, que,
Em Portugal, um exemplo de como o nome indica, é uma média ponderada das taxas normais aplicá
imposto de taxa específica é dado veis em cada um dos escalões compreendidos naquele limite. Pelo outro
sobre o consumo de álcool e pelo imposto
bebidas alcoólicas (por exemplo, em
imposto para bebidas espirituosas 2009, a taxa deste processo, à totalidade da matéria colectável é aplicada a taxa normal que
é de € 1001,35 por hectolitro de
na base de 100 % de volume, álcool puro contido, corresponder ao escalão respeitante à parte superior da matéria colec
medido à temperatura de 20.° C).
consumo sobre o tabaco contém um Também o imposto de
elemento específico (em que a taxa
é fixada em valor
tável, mas ao valor assim obtido é deduzida uma importância corres
absoluto por cada milheiro de cigarros)
e um elemento ad valorem. Por pondente à diferença entre o limite do maior dos escalões que couber na
sobre veículos, na componente sua vez, o imposto
cilindrica, tem uma taxa progressiva
de cilindrada. por centímetro cúbico matéria colectável tributado àquela taxa normal e o mesmo limite tribu
Tarjs, Louis e Ccyrrumrr,
Jean-Marje, Droir Fiscal,
tado taxa média acima indicada. No exemplo supra, considerando o
1980, págs. 60 e sega. éd., Paris, Dailoz, rendimento de 2 500, o primeiro processo consiste em aplicar a 500 a
taxa de 30 % e a 2 000 a taxa de 15 %,. donde resulta uma tributação total
54 Fiscalidade
1-. Teoria Geral do Imposto —4. Classficaçõo dos impostos 55
das pessoas singulares ou então calculam-se sobre a matéria colectável caso em que estamos
(IRS) apresenta uma progressividade por escalões. —
perante adicionamentos&l.
E diferente a situação dos impostos dependentes, que são devidos
4.4. Impostos periódicos e impostos de ainda que o não sejam os impostos principais de cujo objecto dependem.
obrigação única
Nos impostos periódicos o pressuposto de Assim, mesmo que por força de uma determinada isenção não seja devido
tributação apresenta uma o imposto principal isso não significa que não haja lugar ao imposto depen
certa característica de estabilidade ou continuidade
: a propriedade de um dente. A dependência não está, assim, na existência efectiva do imposto
prédio, o exercício de uma actividade comercial,
Pelo contrário, nos impostos de obrigação industrial ou agrícola. principal mas outrosssim no conteúdo deste, refiectindo-se qualquer cor
única esse pressuposto apre recção quanto a esse conteúdo, em sede de imposto principal, no imposto
senta-se isolado e mesmo quando se possa repetir
é tomado isoladamente: dependente.
aquisição de um prédio, transmissão de bens por
morte. Esta problemática tem sido especialmente posta, em Portugal, em
A continuidade com que se apresenta a
situação sujeita a imposto relação às derramas, que, ao longo do tempo, têm sido considerados como
no caso dos impostos periódicos, permite
referir a obrigação de imposto a impostos acessórios ou como impostos dependentes conforme a sua exi
um determinado período, a qual se renova
enquanto a situação se manti gência esteja ou não em tudo condicionada pela exigência do respectivo
ver. No entanto, essa continuidade é fonte de
problemas específicos que imposto principal. Após a alteração introduzida pelo Decreto-Lei n.° 470-
consistem em saber relativamente às situações
cujo desenvolvimento se -B/88, de 10 de Dezembro, ao art.° 5.° da Lei n.° 1/87, de 6 de Janeiro, a
encontra conexo com mais de um período como
é feita a sua imputação a derrama tem vindo a ser considerada como um imposto acessório
.
85
cada um deles ou seja como se efectua a
—
periodização dos rendimentos.
A distinção entre impostos periódicos e de
obrigação única reveste-
-se de grande importância, como se verá,
em termos de aplicação da lei 4.6. Impostos estaduais e impostos não estaduais
fiscal no tempo
.
83
Por outro lado, relativamente aos impostos
periódicos, em princípio Esta distinção tem por fundamento, sob o ponto de vista jurídico, a
enquanto não se verificar uma declaração que
comunique o termo da con natureza do sujeito activo da obrigação de imposto o credor do imposto.
tinuidade das situações sujeitas a imposto ou —
que altere os seus contor Se o sujeito activo éo Estado, temos os impostos estaduais; se o sujeito activo é
nos, os serviços fiscais presumirão essa
continuidade com as consequên
cias inerentes.
“Cf. XAVTER, Alberto, ob. ci:., pág. 94.
85
Em sentido diferente, defendendo que as derramas (veja-se adiante nota 87) são
4.5. Impostos principais, impostos acessórios impostos dependentes, CASALTA NASAIS, José, Direito Fiscal, 4 a
ed., Coimbra, Almedina,
e impostos dependentes 2006, pág. 63. Já o Supremo Tribunal Administrativo (STA), a propósito da consideração
como custo fiscal para efeitos de determinação do lucro tributável em IRC tem defendido
Os impostos principais gozam de autonomia, que a mesma é um imposto acessório, não dedutível como custo, mesmo anteriormente à
existem por si, não
dependendo da existência de qualquer relação actual redacção da alínea a) do n.° 1 do art.° 42.° do respectivo Código cf., por todos, o
tributária anterior. Por sua —
designados por impostos- Outubro de 2003, págs. 2298-2304. Com efeito, não pode deixar de se atender ao facto de
a redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.° 470-B/88 ter eliminado o disposto no n.° 3 do
“A distinção é também da maior importância art.° 5.° da Lei n.° 1/87, na sua versão inicial, que previa que as derramas também
para efeitos de contagem dos prazos
de caducidade e prescrição (veja-se nail Parte, incidiriam sobre as pessoas que seriam tributadas nos impostos principais se não benefi
ponto 13.3.7.).
ciassem de isenção destes impostos ou de outros benefícios fiscais.
56 Fiscalidade
1 — Teoria Geral do Fmposto — 4. Classificação dos impostos 57