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DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSO

TRIBUTÁRIO

Direito Constitucional Tributário

Competência Tributária

Aula 01 – Conceito de Tributo

Competência Tributária

Para compreender a Competência Tributária e a definição de seus


elementos e aspectos, é necessário primeiramente compreender o que é tributo. Ou
seja, qual o conceito de tributo, tendo em vista que, nem toda cobrança pode ser
considerada um tributo.

Diante disso, você se pergunta qual o conceito de tributo para o direito


constitucional tributário? De onde eu devo retirar tal significado?

A resposta é simples, do próprio Código Tributário Nacional (CTN).

Conceito de Tributo

Não obstante o conceito de tributo ser assunto de suma importância para a


própria aplicação da Constituição Federal dentro do Direito Tributário, nossa Carta
Magna não prescreve expressamente o que é um tributo, deixando a cargo da
legislação infraconstitucional tal tarefa (art. 146, III, “a”, CF).

Assim, a definição de tributo é dada pelo nosso Código Tributário Nacional,


em seu artigo 3º, vejamos:

CTN: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em


moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua

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sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada.

O referido artigo apresenta 5 (cinco) grandes características (elementos)


do conceito de tributo:

● Prestação pecuniária;
● Prestação compulsória;
● Que não constitua sanção de ato ilícito (não é multa);
● Atividade administrativa plenamente vinculada.

Futuramente, analisaremos detalhadamente cada um destes elementos que


constituem o conceito de tributo, mas primeiramente iremos analisar o entendimento
de alguns doutrinadores sobre o conceito de tributo.

Sobre o conceito de tributo apresentado pelo CTN, o professor Paulo de


Barros Carvalho preleciona:

A menção à norma jurídica que estatui a incidência está instituída na


cláusula ‘instituída em lei’, firmando o plano abstrato das formulações
legislativas. Por outro ângulo, ao explicitar que a prestação
pecuniária compulsória não pode constituir sanção de ato ilícito,
deixa transparecer, com hialina clareza, que haverá de surgir de um
evento lícito e, por via oblíqua, faz alusão ao fato concreto
acontecido segundo o modelo da hipótese. Finalmente, por três
insinuações diretas dá os elementos que integram a obrigação
tributária, enquanto laço jurídico que se instala ao ensejo da
ocorrência fática1.

Luís Eduardo Schoueri, prevê a noção de tributo como receita:


A existência do Estado Fiscal está atrelada à existência de tributos.
Na medida do agigantamento das tarefas estatais, cabe ao
ordenamento jurídico prever meios para o Estado financiar seus
gastos. Cogita-se, aqui a obtenção de receita pública2.

1
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 24 ed, São Paulo: Saraiva, 2012, p.
56.
2
SCHOUERI, Luís Eduardo. Curso de Direito Tributário, São Paulo, Saraiva, 2011,p. 111.

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Elementos do conceito de tributo

Como já vimos, o art. 3º do CTN apresenta 5 (cinco) grandes


características (elementos) do conceito de tributo:

1) PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA:

A palavra pecúnia vem do latim e significa dinheiro. Logo, prestação


pecuniária é aquela expressa em moeda (ou cujo valor que nela se possa exprimir),
isto é , dinheiro. Assim, tributo é uma prestação pecuniária, ou seja, a obrigação de
prestar dinheiro ao Estado. Esta obrigação de pagar tributo (ou a multa) é a
chamada obrigação principal, conforme preleciona o art. 113,§ 1º, CTN .

Diante disso, concluímos que ao elaborar o conceito de tributo o legislador


infraconstitucional quis afastar a cobrança de prestações in natura (em bens) ou in
labore (serviços), uma vez que nestas obrigações não existe o caráter pecuniário
que é essencial a definição de tributo.

Logo, pelo conceito de tributo apresentado pelo art. 3º do CTN, não pode
haver um tributo que exija prestação:

(i) In Natura: prestação em bens. Ex: produtos ou animais.


(ii) In Labore: prestação em serviços. Ex: serviço militar obrigatório, serviço
eleitoral, serviço prestado ao ser jurado no Tribunal do júri.

2) COMPULSÓRIA:

Segundo o Dicionário Aurélio a palavra compulsório é um adjetivo que


significa: que tem o efeito de compelir, obrigatório. Assim, sendo o tributo uma
prestação pecuniária compulsória, ele não é optativo ou alternativo, ou seja, não é
algo que você tenha a opção de pagar, tendo em vista , que se trata de uma
obrigação compulsória instituída em lei e imposta ao sujeito passivo da obrigação
tributária.

Logo, por ser a prestação pecuniária dotada de compulsoriedade, ela possui


coercibilidade, não dando ensejo a autonomia da vontade.

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Ora, o tributo não é pago por um ato de vontade, mas em estrito
cumprimento de uma determinação legal (lembre-se ele é imposto ao contribuinte e
não voluntário). Ou seja, o contribuinte é obrigado a pagar tributo, em razão da
relação de império que o Estado estabelece sobre a sociedade no exercício de sua
soberania. Logo, ocorrido o fato gerador da obrigação tributária, o sujeito passivo
tem o dever de pagar o tributo para o ente federativo competente (sujeito ativo),
independentemente de sua vontade.

A obrigação de pagar o tributo não é contratual, ela provém do estrito


cumprimento da lei, e por ser obrigação advinda de Direito Público, está lastreada
pelo Princípio da Supremacia do Interesse Público, o que dá guarida à imposição
unilateral da obrigação, independentemente da anuência do obrigado.

3) NÃO CONSTITUA SANÇÃO DE ATO ILÍCITO:

O legislador deixa claro que para ser tributo não pode constituir sanção de
ato ilício, dessa maneira as multas, conquanto igualmente receitas derivadas não se
confundem com o conceito de tributo.

Quando somos obrigados a pagar valores ao Estado em razão de infrações


que cometemos não se caracteriza o conceito de tributo, uma vez que se enquadra
em uma sanção de ato ilícito. Logo, eu pago tributo porque a lei determina que eu
pague em razão de um fato gerador e não como uma penalidade. Ou seja, eu não
pago tributo por ter feito algo errado, neste caso se enquadraria em multa e não em
tributo.

MULTA TRIBUTO
Tem caráter de punição por infração Deve ser cobrado de todos indistintame
legislação. como forma de fazer frente às despesa
públicas.

Segundo o doutrinador Hugo de Brito Machado:


O tributo se distingue da penalidade exatamente porque esta tem
como hipótese de incidência um ato ilícito, enquanto a hipótese de
incidência do tributo é sempre algo lícito. Não se conclua, por isto,
que um rendimento auferido em atividade ilícita não esteja sujeito ao

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tributo. Nem se diga que admitir a tributação de tal rendimento seria
admitir a tributação do ilícito3.

4) INSTITUÍDA EM LEI:

O tributo é uma obrigação ex lege, por isso sua compulsoriedade tem que
ser calcada em lei, lembre-se que eu não posso fazer ou deixar de fazer algo se não
em virtude de lei, e a matéria tributária não é diferente disso, em que pese o art. 5º,
II , CF tenha essa previsão, nos também a teremos no art. 150, I, CF desta vez de
acordo com o aspecto tributário.

Obedecendo o Princípio da Legalidade a instituição ou majoração de tributo


depende de lei (ordinária ou complementar), conforme o art. 150,I, CF c/c art. 97,I e
II, do CTN. Diante disso, o nascimento da obrigação tributária, ocorre pela realização
do fato descrito na hipótese de incidência prevista em lei, sendo a vontade das
partes irrelevante .

Como exceções ao Princípio da Legalidade Tributária, as alíquotas do


Imposto de Importação (II) , do Imposto de Exportação (IE), do Imposto de Produtos
Industrializados (IPI), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), CIDE-
Combustível e ICMS-Combustível poderão ser alteradas por ato do Poder Executivo,
em razão da natureza extrafiscal destes tributos.

Destaca-se que a Emenda Constitucional nº 32/01 derrogou parcialmente o


art. 3º CTN, prevendo a possibilidade de criação e majoração de impostos por
medida provisória, com exceção dos tributos instituídos por lei complementar.

A existência de lei para a instituição do tributo é requisito de validade para a


cobrança deste e não de existência.

Caso o ente federativo cobre tributo sem ser pautado em lei, teremos que
buscar o afastamento desta inconstitucionalidade administrativamente ou
judicialmente.

3
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 29 e.d, p. 57

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Aula 02 – Conceito de Tributo
5) ATIVIDADE VINCULADA:
O Poder de Tributar é prerrogativa do Poder Público de acordo com a
competência constitucional e mediante a atividade administrativa do lançamento
para exigir o tributo. Diante disso, a Administração Pública não pode decidir se quer
ou não cobrar um tributo, nem de quem ela quer cobrar, uma vez que, sua atividade
tem que ser vinculada a lei. Ou seja, não há qualquer grau de discricionariedade
(análise de conveniência e oportunidade) na cobrança do tributo por parte da
autoridade administrativa competente. Logo, a atividade vinculada é aquela exercida
pela autoridade administrativa em observância estrita à lei.
Assim, todo tributo está ligado a uma atividade administrativa plenamente
vinculada, isto é, está ligado ao fato deste vínculo estar relacionado a figura da
competência tributária.
Destaca-se que a atividade administrativa plenamente vinculada não está
ligada a contrapartida do Estado, mas sim a imposição da obrigação tributária
imposta ao contribuinte. Ou seja, a atividade administrativa plenamente vinculada
nada mais é que o lançamento, previsto no art. 142 do CTN:
CTN: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa
constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o
procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria
tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito
passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.
Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é
vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.

Portanto, o art. 142 do CTN define o lançamento como um procedimento,


uma atividade administrativa plenamente vinculada, indispensável a exigibilidade do
tributo, ele não é auto executório, ou seja, não pode ser executado de plano. Caso
existam inconstitucionalidades e ilegalidades, o contribuinte pode discutir
administrativamente e judicialmente a cobrança do tributo, não podendo ser alvo de

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atos autoexecutáveis de coerção que visem a obrigá-lo a pagar o tributo enquanto
este estiver em discussão.

Ora o ato de lançamento é o ato da autoridade administrativa competente


que verifica a ocorrência do fato gerador, determina a matéria tributável, calcula o
montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo, e se for o caso, propõe a
aplicação de penalidade cabível em razão de descumprimento de obrigação
tributária. Ex: carnê de IPTU.

Diante disso, conclui-se que o poder de lançar é um poder-dever e, se


verificado o fato gerador do tributo a cobrança através do lançamento deve ser
obrigatoriamente realizada.

Assim, para que algo seja classificado como tributo é necessário que possua
estes 5 (cinco) elementos cumulativamente, ou seja agregados, bem como um sexto
elemento que não se encontra expressamente indicado no artigo 3º do CTN, qual
seja: ser uma receita pública.

6) RECEITA PÚBLICA:

A Receita Pública é considerada o sexto elemento caracterizador do


conceito de tributo, e apesar de não estar expressamente consagrada no art. 3º do
CTN, é de suma importância para a caracterização do tributo.

É cediço que o Estado tem como objetivo promover o bem comum. Para que
ele chegue à consecução deste desígnio, precisa obter recursos, o que é realizado
através de receitas públicas que podem ser derivadas ou originárias.

Luís Eduardo Schoueri, prescreve em sua doutrina sobre receita pública:

A receita pública, por sua vez, pode decorrer de alguma riqueza


produzida pelo próprio Estado. A riqueza assim gerada terá origem
numa atividade do Estado (preços públicos) ou será uma
remuneração pelo emprego do patrimônio público (juros sobre
empréstimos públicos, royalties pelo uso de bens públicos, etc...). Em
qualquer dos casos, vê-se que o Estado, agente econômico que age
no mercado, está gerando riqueza, i.e., os valores assim recebido
pelo Estado constituem um acréscimo de riqueza para o País. Diz-se,
assim que se está diante de receitas originárias do Estado.
Opõem-se a estas as receitas derivadas, que, como será visto

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adiante, implicam transferência ao Estado de riqueza gerada pelo
particular 4.

Diante disso, os tributos fazem parte das receitas públicas derivadas, que
são aquelas cuja lei obriga o particular a contribuir com o Estado.
Conclui-se que para se caracterizar como tributo é imprescindível que seja
uma receita pública. O tributo só é tributo se ele for uma receita pública.
Sendo assim, se caracterizar como uma receita pública é o sexto elemento
caracterizador do conceito de tributo, ainda que este requisito não esteja
expressamente previsto no art. 3º do CTN.

⮚ O FGTS é tributo?
Ele é (i) prestação pecuniária, (ii) prestação compulsória, (iii) decorre de lei,
(iv) não é penalidade e (v) cobrada por meio de ato administrativo vinculado.
Todavia, o FGTS não é tributo, uma vez que não é uma receita pública, é pago para
o trabalhador em sua conta vinculada. Logo, ele não se enquadra no sexto elemento
de tributo.
Assim, entendeu o Supremo Tribunal Federal:
As contribuições ao FGTS não têm natureza tributária. O FGTS,
originalmente concebido como substitutivo da estabilidade no
emprego, tem natureza social trabalhista, e destina-se a constituir um
pecúlio para o trabalhador. O fato de suas contribuições serem
cobradas e sua aplicação ser administrada pelo Estado não as
transforma em receita pública, como já afirmou, enfaticamente, o
supremo Tribunal Federal (Pleno, RE 100.249/SP, Min. Oscar Corrêa,
Rel. p/acórdão Min. Neri da Silveira, DJ de 01-07-1988, p. 16903).
(excerto de voto do Des. Fed. Antônio Albino nos autos do AI
2005.04.01.054558-8/RS, 2ª T do TRF4, ago/06)

Nesse sentido, Leandro Paulsen:


O conceito trazido pelo CTN não faz referência à condição de receita
pública que é inerente ao tributo, receita esta que pode ser destinada
ao próprio ente tributante ou a terceiros, pessoas de direito público
ou mesmo de direito privado, desde que sem fins lucrativos, que
exerçam atividade do interesse público, como é o caso dos

4
SCHOUERI, Luís Eduardo. Curso de Direito Tributário, São Paulo, Saraiva, 2011,p.
111.

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sindicatos (art. 8º, IV, da CF) e dos entes sociais autônomos (art. 240
da CF). É por essa característica que se afasta a natureza tributária
da contribuição ao FGTS que, implicando depósito em conta
vinculada em nome do empregado, caracteriza-se como vantagem
trabalhista. 5

Natureza Jurídica do Tributo

Para ser possível compreender a classificação dos tributos em espécie,


faz-se necessário o prévio entendimento de famosa classificação dos tributos quanto
ao fato gerador.

Assim, a natureza jurídica do tributo é a posição que a espécie tributária


ocupa no ordenamento jurídico. Podendo ser: imposto, taxa, contribuição de
melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições sociais. Destaca-se que essa
divisão vai depender da corrente adotada Teoria Pentapartite (Pentapartida) x Teoria
Tripartite (Tripartida) . Vejamos:

O artigo 4º do CTN prescreve acerca da natureza jurídica de tributo:

5
Paulsen, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo – 8. e.d. – São Paulo,
Saraiva,2017

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CTN: Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada
pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para
qualificá-la:
I - a denominação e demais características formais adotadas pela
lei;
II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.

O referido artigo estatui o fato gerador como o único critério para definir a
natureza jurídica do tributo, sendo irrelevante (i) a denominação e demais
características formais e (ii) o destino da arrecadação.

1.2.2.1) Denominação
Como visto, o inciso I do art. 4º do CTN, prescreve que a denominação e
demais características formais do tributo são irrelevantes para qualificar a natureza
jurídica do tributo.
Assim, pouco importa o nome dado ao tributo, sendo necessário analisar
sua natureza jurídica específica, a característica que a legislação faz impor ao
tributo, como veremos mais para frente. Ou seja, uma espécie tributária nunca
deriva de sua denominação, mas sim, e tão somente, do seu fato gerador.

1.2.2.2) Destinação
O inciso II do art. 4º do CTN, preleciona que a destinação legal do produto
da arrecadação do tributo é irrelevante para qualificar sua natureza. Todavia, quanto
aos empréstimos compulsórios e às contribuições especiais, devemos lembrar que
se tratam de gravames finalísticos, não definidos pelo fato gerador, mas, sim, pela
finalidade pela qual foram instituídos.
Diante disso, considerar irrelevante a destinação legal do produto da
arrecadação para qualificar a natureza jurídica tributária não faz mais sentido, já que
os novos tipos tributários definidos na constituição, mas não no CTN, tem como
característica essencial justamente a vinculação dos recursos gerados.

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Ou seja, o inciso II do art. 4º do CTN, só fazia sentido nas espécies
tributárias apresentadas pela Teoria Tripartida (impostos, taxas e contribuições de
melhoria), antes do advento da CF/88 e do STF ter adotado a Teoria Pentapartida.
Sendo assim, atualmente a doutrina fala em análise conjugada da base de
cálculo e do fato gerador para a correta identificação da natureza jurídica da
obrigação tributária, bem como a necessidade de avaliar a finalidade das
contribuições especiais e a possibilidade ou não de devolução do dinheiro
arrecadado a título de empréstimos compulsórios.

Aula 03 – CONCEITOS IMPORTANTES

Conceitos Importantes

Para melhor entender o tema da COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA é


necessário entender três conceitos básicos e muito importantes do direito
tributário, quais sejam:

● Fato gerador
● Alíquota
● Base de Cálculo

Esses elementos são basilares na definição de qualquer tributo, ou seja,


todo tributo indistintamente e independentemente de sua espécie terá (i) fato
gerador, (ii) alíquota e (iii) base de cálculo para sua definição.

1) FATO GERADOR

O fato gerador é todo fato que a lei prevê como sendo um fato
tributável, ou seja, todo fato que a lei determina que seja um fato sujeito a
tributação. Ele é toda concretização, realização de uma situação que está

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prevista na norma como uma situação tributável. Por exemplo, o fato gerador do
Imposto Sobre Veículo Automotor (IPVA) é a propriedade, isto é, ser proprietário
de um veículo automotor autoriza a incidência do IPVA.

Segundo Geraldo Ataliba, o fato gerador:

é a materialização da hipótese de incidência, representando


o momento concreto de sua realização, que se opõe à
abstração do paradigma legal que o antecede6.

Destaca-se que a utilização do termo “fato gerador” foi, e ainda é, uma


das maiores discussões dentre os doutrinadores em matéria tributária do Brasil.
Isso ocorre, porque vários termos são usados com a mesma acepção, ou na
tentativa de contornar deficiência técnicas do termo original, ou com objetivo de
descrever com maior preciosismo o fenômeno do nascimento da obrigação
tributária. Diante disso, observamos os doutrinadores se utilizando de termos
como “hipótese de incidência”, “fato imponível”, “fato tributário”, “fato tributável”,
etc. Tal situação, leva muitos alunos a confundirem os termos “fato gerador”
com “hipótese de incidência” justamente por essa mescla de conceitos. Todavia,
esses dois conceitos não se confundem e a doutrina os diferencia como
veremos a seguir.

A grande maioria da doutrina segue a seguinte lógica, quando a lei prevê


um fato e esse fato é concretizado esse é o chamado “fato tributável”, “fato
imponível”, “fato tributário” ou “Fato Gerador”, o fato concretizado com base em
uma hipótese prevista. Enquanto isso, a chamada “Hipótese de Incidência” é a
Hipótese em Abstrato (quando ainda não ocorreu o fato). Ou seja, uma previsão
em abstrato, está na previsão legal da incidência tributária. Ex: “Se eu comprar
um veículo eu terei que pagar IPVA”.

Para melhor compreensão da referida diferença, apresentamos o quadro


abaixo:

FATO GERADOR HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA

6
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6 ed., São Paulo: Malheiros,2002, p. 68

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- É a concretização da situação - É uma previsão em abstrato da incidênc
hipotética, do tributo, na lei.
prevista em lei. - A lei quando institui um tributo, a fixa.
- É a hipótese em abstrato (quando ain
não
ocorreu o fato).

Não se esqueça que o fato gerador da obrigação principal se diferencia


do fato gerador da obrigação acessória, vejamos:

OBRIGAÇÃO PRINCIPAL OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA


- Prevista no art. 114 do CTN7. - Prevista no art. 115 do CTN8.
- o FATO GERADOR é a situaç - o FATO GERADOR é a situação fát
definida em que na
Lei como necessária e suficiente à su forma da legislação aplicável, impõe
ocorrência. prática
ou a abstenção de ato que não config
como
obrigação principal.

2) BASE DE CÁLCULO

Todo tributo é calculado sobre alguma coisa, essa alguma coisa é uma
base fixada sobre a qual será calculado o valor do imposto, de forma que, sobre
essa base será mensurado e calculado o valor a ser pago. Assim, a base de
cálculo nada mais é que uma grandeza definida pela lei, sobre a qual pode-se
mensurar o valor do tributo a ser pago em moeda. Por exemplo, no caso do IPVA
a base de cálculo é o valor do meu veículo, que pode ser consultado pela Tabela
FIPE. Destaca-se que a Tabela Fipe expressa preços médios de veículos
anunciados pelos vendedores, no mercado nacional, servindo apenas como um
parâmetro para negociações ou avaliações.

Ora, quem define a base de cálculo de um tributo é a lei, uma vez que é
ela que preleciona como se a apura o cálculo de determinada espécie tributária.

3) ALÍQUOTA

A alíquota pode ser um valor fixo ou um valor variável (percentual) que


assim como a base de cálculo também será definida por lei. Essa alíquota

7
CTN: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e
suficiente à sua ocorrência.
8
CTN: Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação
aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal.

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aplicada sobre a base de cálculo é que vai permitir se depreender o valor em
reais do tributo. A rigor é a lei que traz os elementos da alíquota, todavia,
algumas exceções permitirão a instituição ou variação de alíquota por ato
infralegal. Logo, alíquota é um valor fixo ou um percentual, definido em lei, que
aplicado sobre a base de cálculo permite apurar o tributo em moeda corrente.
Assim, o valor do tributo é encontrado pela fórmula: Base de cálculo x Alíquota.
Por exemplo, no caso do IPVA, a base de cálculo é o valor do veículo, este valor
poderíamos retirar de pesquisa a Tabela FIPE, já a alíquota do IPVA do Estado
de São Paulo é no valor de 4% (quatro por cento). Logo, para calcular o valor do
IPVA, temos que multiplicar o valor do meu veículo segundo dados da tabela
FIPE com a alíquota de 4% (quatro por cento), já que está é a alíquota aplicada a
veículo do meu Estado.

O que aprendemos hoje? Que é a lei que fixa o fato gerador, a base de
cálculo e a alíquota do tributo. Assim, qualquer cobrança feita fora desses
padrões padece de legitimidade, de legalidade, e pode ser discutida pelo
contribuinte administrativamente e judicialmente

NATUREZA FISCAL X NATUREZA EXTRAFISCAL

É possível caracterizar um tributo quanto a finalidade que lhe direciona a


lei tributária. Podendo essa finalidade afetar a economia. Diante disso, os tributos
segundo a sua finalidade podem ser: (i) fiscais, (ii) extrafiscais e (iii) parafiscais.
Vejamos cada uma destas classificações:

1) FISCAIS: o tributo de natureza fiscal é aquele cuja função preponderante é a


arrecadação de valores para compensar as despesas públicas. Estes tributos não
possuem finalidade específica, uma vez que apenas carregam as disponibilidades
financeiras para os cofres públicos.

2) EXTRAFISCAIS: o tributo de natureza extrafiscal não existe apenas para a manutenção


da máquina pública, uma vez que sua finalidade não é meramente arrecadatória, tendo
em vista que, possui traços regulatórios de certos comportamentos sociais, econômicos,
políticos, ambientais, sanitários, etc.

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3) PARAFISCAIS: os tributos parafiscais se verificam quando o sujeito competente para
instituir determinado tributo, ou seja, um dos entes federativos, delega a outra pessoa
jurídica de direito público a capacidade tributária (sujeição ativa do tributo), atribuindo-lhe
também o produto da arrecadação. Assim, os tributos parafiscais têm por objetivo
arrecadar para entidades que atuam paralelamente ao Estado.

ATENÇÃO!!!!
TRIBUTO FISCAL TRIBUTO EXTRAFISCAL
Possuem FUNÇÃO EMINENTEMENTE Além da função arrecadatória, estes
ARRECADATÓRIA, ou seja, sua função tributos possuem uma função principal, qual seja
preponderante é a arrecadação de FUNÇÃO DE REGULAR:
valores para compensar as despesas 1) ECONOMIA;
públicas. 2) MERCADO;
3) INTERESSE PÚBLICO.
Exemplos: ICMS, ISS, IPVA, IPTU, Exemplos: II, IE, IPI, IOF.
ITBI,
ITCMD. IPTU,

Aula 04 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Competência Tributária

A Constituição Federal disciplina a competência tributária, ou seja,


delimita os poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
(entes políticos, entes com poderes legislativos) na instituição das leis que
instituem tributos.

Ao analisar a figura da COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA, podemos dividi-la


em duas grandes figuras:

⮲ COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR


⮲ COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Passamos a análise de cada uma delas, bem como ao estudo dos tipos
de competência tributária.

Competência para Legislar

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É por meio desse exercício de competência que a UNIÃO, como ente
federativo, instituiu nosso Código Tributário Nacional (CTN) e todas as leis e
normas gerais de direito tributário como a Lei do ICMS (Lei Kandir – Lei nº 97/96),
do ISS (Lei nº 116/03), por exemplo.

A partir do momento em que a Constituição Federal define a quem


compete legislar sobre o que, nos temos a figura da competência para legislar
sobre aquele tema ou sobre os diversos temas em matéria tributária. Isto é, no
exercício dessa competência é a Constituição Federal que vai delimitar quais
são as competências, ou seja, até onde cada ente pode legislar.

Para melhor compreender este tema, devemos analisar o artigo 24 da


CF:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico; (...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais
não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Da leitura do artigo, podemos inferir que segundo a Constituição


Federal, a competência para legislar em matéria tributária - que é a
competência legislativa plena a que se refere o artigo 6º do CTN – é
concorrente. Logo, no âmbito da legislação concorrente, a competência da
União limita-se a estabelecer normas gerais em direito tributário, o que não exclui
nem a competência suplementar dos Estados e do Distrito Federal nem a
competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local. Isto
é, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e a própria União não podem ferir
as competências constitucionais, os princípios constitucionais em matéria
tributária.

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Assim, quando analisamos a Carta Magna notaremos que ela estabelece
limites para instituição de tributos, porém, o que vai acontecer é que a Fazenda
Pública Estadual e a Fazenda Municipal também terão legitimidade para
tratar do tema, desde que elas não ultrapassem esses limites fixados pela
União nessas chamadas normas gerais.

Ora, mas quem estabelece essas normas gerais em direito


tributário?

O Código Tributário Nacional (CTN) – Lei nº 1.572/66.

Caso as normas gerais falhem ou se omitam em algum aspecto, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão se utilizar de sua
competência suplementar, nos termos do § 2º do art. 24 da CF, para tratar de
determinado tema.

Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados poderão exercer


competência legislativa plena, para atender suas peculiaridades, conforme
disposto no § 3º do art. 24 da CF. Foi justamente o que ocorreu com o Imposto
Sobre Veículo Automotor (IPVA), uma vez que ele é um tributo que não foi
previsto pelo CTN, já que ele foi criado posteriormente.

Competência Tributária

Destaca-se que a Constituição Federal não cria tributos, ela dá


competência tributária para os entes federativos (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios) criarem seus tributos (art. 153 a 156 da CF). Logo, os
entes de federativos se valendo da competência dada pela Carta Magna criam
tributos por meio de lei. Vejamos:

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Assim, conclui-se que competência tributária é o poder atribuído pela
Carta Magna para instituição de tributos mediante lei, e, portanto, somente
pessoas jurídicas com capacidade para legislar podem ser titulares deste poder,
que é justamente o que ocorre com os entes federativos, nos termos do art. 6º do
CTN. Vejamos:

CTN: Art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária


compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as
limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições
dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios, e observado o disposto nesta Lei.
Parágrafo único. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo
ou em parte, a outras pessoas jurídicas de direito público
pertencerá à competência legislativa daquela a que tenham sido
atribuídos.

Ora, por se tratar de uma atribuição de poder, esse exercício de


competência dada aos entes federativos é facultativo, podendo o ente exercê-lo
ou não. Não existe uma obrigatoriedade, tendo em vista que a Constituição
reserva uma atribuição e não um dever aos entes.

A instituição de tributos é tarefa tipicamente legislativa e, portanto,


política. Logo, quando a constituição não dispões de forma contrária (a exemplo
doa arts. 148,153, VII e 154, I) a instituição de um tributo, sua modificação e sua
revogação se dão por lei ordinária.

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A COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA possui 4 (quatro) grandes
características dos tributos:

1) LEGISLAR
2) INSTITUIR indelegável Essas 4 características são a expressão
máxima da competência tributária
3) FISCALIZAR
4) ARRECADAR delegável

No tocante as características de legislar e instituir a competência


tributária é indelegável, nos termos do art. 7º do CTN (lei de normas gerais),
diferentemente das características de fiscalizar as quais podem ser delegadas,
vejamos:

Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das


funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis,
serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos
termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.
§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios
processuais que competem à pessoa jurídica de direito público
que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato
unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha
conferido.
§ 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a
pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar
tributos.”

Se admitíssemos a delegação de competência para instituir um tributo


estaríamos admitindo que a Constituição Federal fosse alterada por norma
infraconstitucional.

Tipos de Competência Tributária

A doutrina apresenta diversas classificações acerca da Competência


Tributária, hoje, apresentaremos a mais clássica e utilizada de todas, que é a
divisão em: (i) competência privativa, (ii) competência comum, (iii) competência
cumulativa. Vejamos:

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Competência Privativa: é a atribuição, com exclusividade, dada pela
Constituição Federal aos entes federativos, para criar um determinado tributo.
Por exemplo, ao atribuir competência para os Estados para a instituição do
Imposto Sobre Propriedade de Veículo (IPVA) a Constituição garante que
nenhum outro ente federativo tente instituir este imposto. Diante disso, evita-se
que outra esfera de poder tente invadir aquela competência.

Competência Comum: ocorre quando todos os entes federativos podem instituir


os mesmos tributos, como por exemplo as taxas e contribuição de melhoria.

Competência Cumulativa: se refere à aptidão da União, de criar tributos


em Territórios Federais, e à aptidão do Distrito Federal, de instituir os
impostos atribuídos à competência dos Estados e Municípios. Este tipo
de competência encontra-se previsto no art. 147 da CF, vejamos:

CF: Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os


impostos estaduais e, se o Território não for dividido em
Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito
Federal cabem os impostos municipais.

Daniela da Silva Tomaz - 11122166699


Bibliografia

ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6 ed., São Paulo:


Malheiros,2002.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 24 ed, São Paulo:


Saraiva, 2012.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 29 e.d, p. 57

PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo – 8. e.d. – São


Paulo, Saraiva,2017

SCHOUERI, Luís Eduardo. Curso de Direito Tributário, São Paulo, Saraiva,


2011.

Daniela da Silva Tomaz - 11122166699

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