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Módulo Controle da Incidência Tributária

INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS


MÓDULO: CONTROLE DA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
SEMINÁRIO: I- REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA, OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA E
SUJEIÇÃO PASSIVA

1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)? Qual a


função do consequente normativo?
R: Conforme preceitua os conceitos de Paulo de Barros Carvalho, norma jurídica
pe aquela que advém de uma interpretação do leitor de um texto de direito
positivo, ou seja, é aquela que decorre de uma percepção que se tem ao ler e
interpretar o referido texto, conforme palavras de PBC: as normas jurídicas são as
significações que a leitura do texto desperta em nosso espírito”.
Em relação a norma matriz de incidência tributária, entende-se que trata-se
de um pressuposto para o nascimento de uma obrigação tributária, v.g.:
“A norma tributária, em sentido estrito, reiteramos, é a que define a incidência
fiscal. Sua construção é obra do cientista do Direito e se apresenta, de final,
com a compostura própria dos juízos hipotético-condicionais. Haverá uma
hipótese, suposto ou antecedente, a que se conjuga um mandamento, uma
consequência ou estatuição.” (CARVALHO, 2014, p. 239)

Compreende-se, portanto, a RMIT como uma norma jurídica que, através da


interpretação do texto positivo tributário pode-se chegar a descrição de
acontecimentos e fatos na hipótese e, com isso, gerar uma prescrição de uma
obrigação patrimonial como consequência.
No que diz respeito ao consequente normativo, tem-se que este, faz com que
seja identificado o vínculo jurídico-tributário existente com o intuito de se fazer
identificar quem possui o direito subjetivo, a obrigação de cumprir a prestação da
demanda e o objeto da obrigação tributária. Ou seja, se mostra como o fim
satisfatório.

2. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não


pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique analisando
criticamente o art. 113 do CTN.
R: Inicialmente faz-se mister pontuar que a obrigação tributária pode ser
traduzida como uma obrigação principal e os deveres instrumentais como
obrigações acessórias visto que, a obrigação tributária se faz mostrar como o
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consequente pecuniário, a finalística do pagamento e os deveres instrumentais


informam algo necessário a se fazer realizar o pagamento.
O art. 113 do CTN discorre que:
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem
por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se
juntamente com o crédito dela decorrente.
§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por
objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos.
§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,
converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.

Depreende-se da interpretação do supracitado artigo que a natureza da multa não


é de obrigação tributária pois não advém de um fato gerador do tributo, decorre de
um descumprimento de algum preceito. Traduz-se como uma punição.

3. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii)
contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário –
distinguindo: substituição tributária para trás, para frente e convencional
(concomitante); agente de retenção e substituição para frente. O
responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da relação jurídica
tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii) de relação jurídica
sancionatória?
R: Pode-se configurar como sujeição passiva o momento em que é constatado
uma relação jurídico tributária entre os sujeitos. Com isso, ao destrinchar os
demais conceitos tem-se que o sujeito passivo da relação jurídico-tributária é a
pessoa que terá que cumprir a prestação pecuniária, é de quem é exigido a
obrigação de fazer, pode ser representado por uma pessoa física ou jurídica,
conforme preceitos do Prof. Paulo de Barros Carvalho:
Sujeito passivo da relação jurídica tributária é a pessoa — sujeito de direitos
— física ou jurídica, privada ou pública, de quem se exige o cumprimento da
prestação: pecuniária, nos nexos obrigacionais; e insuscetível de avaliação
patrimonial, nas relações que veiculam meros deveres instrumentais ou
formais. (CARVALHO, 2014, p. 298)

Esse mesmo sujeito passivo, por sua vez, pode-se configurar tanto como
contribuinte como substituto tributário, conforme o Art. 121 do CTN:
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
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I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação


que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei.

Conforme claramente exposto no artigo supracitado do Código Tributário


Nacional, contribuinte, é um tipo de sujeito passivo, sendo assim caracterizado
quando já existe uma relação pessoal e direta coma situação que constitua o
respectivo fato gerador, é o possuidor da obrigação tributária.
O responsável tributário necessita de uma determinação expressa em lei para
pagar o determinado tributo, ele recebe, literalmente, as responsabilidades do
contribuinte na relação jurídica.
Quando se trata de substituto tributário, Paulo de Barros Carvalho conceitua-o
como uma espécie de sujeição passiva indireta, que ocorre quando uma pessoa
(terceiro) fica com a incumbência de repassar valores de um fato gerador para o
Fisco. Essa terceira pessoa não realizou o fato gerador, mas tem relação com
quem realizou.
Dito isto, essa substituição pode ser para frente, para trás ou de forma
concomitante (convencional). A substituição para frente configura-se quando o
legislador elenca uma pessoa (terceiro) para recolher um tributo cujo fato gerador
ainda não ocorreu, esse valor geralmente é presumido, veja-se:
A substituição "para frente" ocorre quando uma terceira pessoa, geralmente o
industrial, se responsabiliza pelo pagamento do tributo devido pelo
comerciante atacadista ou varejista, que revende a mercadoria por ele
produzida. (TORRES, 2011, p. 266)

A substituição para trás é quando um contribuinte o legislador escolhe uma


pessoa para recolher um tributo referente a um fato gerador que já ocorreu mas
que não foi realizado por ela.
Por fim, a substituição concomitante ocorre quando o legislador elenca uma
pessoa para recolher o tributo de um fato gerador que esta ocorrendo, mas que
não foi realizado por ela.
Quanto ao questionamento da figura do responsável tributário do art. 121, II
do CTN, o mesmo figura na sujeição de relação de dever instrumental, pois ele
acaba por executar o papel que seria do contribuinte.
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4. A empresa “A” adquiriu estabelecimento empresarial da empresa “B” e


continuou sua atividade. Aproximadamente seis anos depois dessa
operação, a empresa “A” foi surpreendida com sua inclusão no polo
passivo de execuções fiscais ajuizadas pelo Fisco inauguralmente em face
da empresa “B”, para exigir tributos relativos a fatos geradores por ela
realizados. No contrato de compra e venda, não há disciplina a respeito das
dívidas tributárias anteriores à aquisição. Pergunta-se:

a) Pode o Fisco exigir da empresa “A” os tributos cujos fatos geradores foram
realizados pela empresa “B” antes da aquisição? Se positiva a resposta,
qual o prazo que o Fisco tem para proceder à inclusão da empresa “A” no
polo passivo das execuções fiscais? Em relação aos tributos decorrentes de
fatos geradores ocorridos anteriormente à compra e venda do
estabelecimento ainda não inscritos em dívida ativa no momento da
operação, quem deve figurar na CDA: a empresa A, B ou ambas? Há
relevância se houver no contrato cláusula de responsabilidade de “B”
quanto aos débitos anteriores à operação? (Vide anexo I).
R: Conforme preceitua o art. 132 a pessoa jurídica de direito privado que resultar
de fusão transformação ou incorporação de outra ou em outra e responsável
pelos tributos devidos até a data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado
fusionadas, transformadas ou incorporadas. Ou seja, o fisco pode exigir os
tributos da empresa A, de acordo com as hipóteses supracitadas.
A empresa A, ao adquirir a empresa B tornou-se dona e, com isso, não há
que se falar em fusão, transformação ou incorporação. Com isso, acaba por gerar
responsabilidade para ambas as partes, diferenciando se o adquirente não
continuar explorando a mesma atividade, este vai responder integralmente pelos
tributos e se continuar com a mesma atividade e o alienante também continuar u
vier a continuar 6 meses depois através de um novo comercio, este por sua vez,
entra como responsável subsidiário no pagamento dos referidos tributos.
Em relação ao contrato de cláusula de responsabilidade, tem-se que este não
tem muita relevância, visto que para a Fazenda Pública o responsável será a
empresa que adquire.

b) A empresa “A” responde pela: (i) multa de mora, (ii) multa pelo não
pagamento de tributo, (iii) juros e (iv) multa pelo descumprimento de
deveres instrumentais, se constituídas antes da operação de compra e
venda? E se constituídas depois da operação? (Vide anexos II e III).
R: De pronto, pode-se afirma que é pacificado a resposta de que a empresa A
responde apenas pelos juros e atualizações monetárias e pelas multas de mora,
veja-se:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da
obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com
este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem
responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
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II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou


curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por
estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou
pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos
tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em
razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de
penalidades, às de caráter moratório.

5. Quanto aos art. 124 e 135 do CTN, pergunta-se:

a) Qual a espécie de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN? Poderia


o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente,
executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V).
R: Pode-se depreender da leitura e interpretação do art. 135 do CTN que a
responsabilidade de que trata o mesmo, é a responsabilidade subsidiária, quando
versa sobre a hipótese convencional e responsabilidade solidária nas demais
hipóteses.
O fisco, por sua vez, não pode realizar o ato de lavrar um auto de infração
contra o contribuinte e, posteriormente, executar o sócio de forma solidária à
empresa. Visto que, para que seja acometida essa responsabilidade de terceiro, é
necessário, antes, haver a comprovação do dolo, sendo possivelmente
responsabilizado por isso o sócio que à época do ato ilegal.

b) A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar


a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? Em caso
positivo qual sócio ou administrador pode ser alcançado: o da época do
inadimplemento do tributo ou do momento em que ocorre a dissolução
irregular? (VI e VII e VIII)
R: Conforme preceitua o código civil, a dissolução irregular é uma das hipóteses
cabíveis para que enseje a responsabilidade pessoal do sócio, podendo este
arcar com as dívidas, inclusive, esta discussão já foi pacificada pelo STJ,
vejamos:
Súmula nº 435 -
Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no
seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.
Data da Publicação - DJ-e 13-5-2010

Por sua vez, o sócio que vai responder pela é o da época da dissolução
irregular.
c) O mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo pode ser
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justificativa para aplicação do artigo 135 do Código Tributário Nacional?


(Vide anexos IX e X).
R: Resta claro que o próprio art. 135 do CTN evidencia que o simples
inadimplemento não gera a responsabilidade tributária, visto que para que ela
ocorra são necessárias que os atos praticados por pessoas de gestão sejam
contrários à lei. De mesma forma, a matéria encontra-se sumulada pelo STJ:
Súmula nº 430-
O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só,
a responsabilidade solidária do sócio-gerente.
Data da Publicação - DJ-e 13-5-2010

6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se?

a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da


desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela
pode ser aplicada ao direito tributário para fins de caracterização de grupo
econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que
fundamentem a responsabilização do grupo econômico? A caracterização
implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo XI e XII).
R: Existem, no Brasil vários conceitos sobre o que de fato seria grupo
econômico, principalmente do aspecto societário e do concorrencial, mas pode-se
dizer, em uma breve síntese, que grupo econômico é aquele que advém da
junção de duas ou mais pessoas jurídicas que possuem afinidade em alguns
aspectos, como no quesito societário e a forma de sua administração.
Os requisitos necessários para a aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica são: o inadimplemento ou o descumprimento de uma
obrigação e o abuso com a presença do desvio de finalidade dentro da sociedade
ou até mesmo com a ocorrência de uma confusão patrimonial.
Quando houver a presença de abuso ou fraude dentro de um grupo
econômico e isso for anteriormente constatado há previsão de usar a
desconsideração da personalidade jurídica para acessar o erro.

b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade


jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de
2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela
obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo
econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do
crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo
passivo da execução fiscal?
R: Não existe uma regra, um parâmetro ou uma estipulação de limites
necessários na defesa, é essencial que seja oportunizado a ampla defesa e o
contraditório e a ampla defesa para a outra parte.
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7. Dada a seguinte Lei (fictícia):


Prefeitura de São Pedro, Lei n. 5.151, de 12/10/2015, D.M. 25/10/2015
Art. 1º Fica instituída taxa de conservação e limpeza urbana para o custeio do
serviço público municipal de conservação e limpeza de vias públicas.
Art. 2º A taxa tem como fato gerador a prestação do serviço de limpeza das
vias públicas.
Art. 3º A base de cálculo é o valor venal do imóvel.
Art. 4º A alíquota é de 0,1%.
Art. 5º O contribuinte é o proprietário do imóvel.
Art. 6º Dá-se a incidência todo dia 1º de cada ano.
Art. 7º A importância devida a título de tributo deve ser recolhida até o décimo
dia do segundo mês subsequente.
§ 1º No caso de locação, o locatário é responsável pelo recolhimento do
tributo.
§ 2º No caso de compra e venda realizada antes do prazo para o pagamento e
após o 1º dia do ano, o responsável pelo pagamento do tributo é o
adquirente do imóvel.
§ 3º O não recolhimento no prazo estipulado implica multa de 20% do valor do
tributo devido.
Art. 8º Fica o contribuinte obrigado a entregar para a Secretaria de
Planejamento Urbano declaração do valor imobiliário até o dia 10 de
novembro de cada ano.
Parágrafo único. A ausência da entrega no prazo a que se refere o caput deste
artigo implicará multa de 100 UFIRS.
[...].

Pergunta-se:
a) Construir as normas jurídicas veiculadas nessa lei, identificando os critérios
do consequente da RMIT.
R: Critério material: a prestação de um serviço de limpeza em vias públicas
Critério espacial: o Município da prestação do serviço
Critério temporal: 1º dia de cada ano
Critério pessoal: ser proprietário de um bem impovel
Critério quantitativo: a alíquota de 0,1% incidindo sobre o valor venal do
imóvel.
b) Quais as funções da base de cálculo? A base de cálculo eleita é compatível
com a hipótese tributária? Se incompatíveis, qual deve prevalecer para
efeito de se determinar a espécie tributária: o enunciado da hipótese
tributária ou o enunciado da base de cálculo? Ambos? Nenhum dos dois?
R: Existe duas hipóteses que caracterizam a base de cálculo em relação a
hipótese tributária. Neste caso, existe a súmula vinculante 19 do STF que afirma
haver essa compatibilidade no caso em questão, senão vejamos:
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A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de


coleta,
remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes
de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.

Em outro ponto de vista, o que eu simpatizo, pode-se dizer que a base de


cálculo em questão não é compatível devido ao fato de que o valor imobiliário do
imóvel não possui vinculação com o valor dispendido pelo Município para a
realização do serviço de limpeza.

Quando se trata da incompatibilidade entre a hipótese e a base de cálculo,


entendo que os dois são importantes mas, para haver a base de cálculo é
necessário antes a ocorrência da hipótese tributária, por isso, ela deve prevalecer.

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