Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Catherine Maia
Thiago Oliveira Moreira
Yara Maria Pereira Gurgel
Natal, 2022
CONSELHO CIENTÍFICO
Erivaldo Moreira Barbosa (Universidade Federal de Campina Grande) Fabio da Silva Veiga (Universidade
Lusófona do Porto - Portugal) Fabrício Germano Alves (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) José
Carlos de Medeiros Nóbrega (European Legal Studies Institute, Universität Osnabrück - Alemanha) José Orlando
Ribeiro Rosário (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) José Noronha Rodrigues (Universidade dos
Açores - Portugal) Juan Manuel Velázquez Gardeta (Universidad del País Vasco/Euskal Herriko Unibertsitatea
- Espanha) Orione Dantas de Medeiros (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Ricardo Sabastián
Piana (Universidad Nacional de La Plata) Roberto Muhájir Rahnemay Rabbani (Universidade Federal do Sul
da Bahia) Rodrigo Espiúca dos Anjos Siqueira (Centro Universitário Unieuro) Robson Antão de Medeiros
(Universidade Federal da Paraíba) Thiago Oliveira Moreira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Valfredo de Andrade Aguiar Filho (Universidade Federal da Paraíba) Yanko Marcius de Alencar Xavier
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
M217d
Maia, Catherine
Direito Internacional dos Direitos Humanos e as pessoas em situação de vulnerabilidade
– vol. 3 / Catherine Maia, Thiago Oliveira Moreira & Yara Maria Pereira Gurgel – 1. Ed.
– Natal – RN: Polimatia, 2022.
641 p.: v. 3 E-BOOK
Inclui Bibliografia
ISBN 978-65-84539-27-3
CDD: 341.481
CDU: 342.7/49
As opiniões externadas nas contribuições deste livro são de exclusiva responsabilidade dos autores.
PREFÁCIO....................................................................................11
APRESENTAÇÃO....................................................................................13
SOBRE OS COORDENADORES................................................................15
SOBRE OS AUTORES...................................................................................17
PARTE I
PROTEÇÃO GLOBAL E GERAL DOS DIREITOS HUMANOS
Claudia Loureiro
Juliana Aizawa
Aborto sob a perspectiva do Direito Internacional dos Direitos Humanos:
avanços e desafios para o Brasil..............................................................89
Daniela Bucci
PARTE II
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS MIGRANTES
Catherine Maia
Shashaank Bahadur Nagar
Rafaela Mendel
PARTE III
PROTEÇÃO REGIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
PARTE IV
IMPACTO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
HUMANOS NO ÂMBITO DOMÉSTICO
POSFÁCIO..........................................................................................639
PREFÁCIO
1 Temas de teoría del Estado. 2. ed. Buenos Aires: La Ley, 2014, p. 356.
2 Ibid., p. 356-357. O autor emprega entre parêntesis o termo “desciudadanización”.
3 Chris Thornhill (Crise democrática e direito constitucional global. São Paulo: Contracorrente, 2021.
p. 281-337), ao tempo no qual afirma que a democracia ao final do século XX restou moldada pela
influência da legislação internacional de direitos humanos sobre o direito constitucional nacional,
aponta várias razões pelas quais tal fenômeno fez irradiar um populismo que se encontra a atentar
contra a experiência democrática.
4 De la globalización económica a la globalización del derecho: los nuevos escenarios jurídicos. De-
rechos y Libertades – Revista del Instituto Bartolomé de las Casas, v. 8, p. 186-192, jan.-jun. de 2000.
11
Não por outro motivo que a autora5, em continuidade ao cenário
apresentado, propõe o desenvolvimento do campo jurídico transnacional, com
vistas à criação de mecanismos jurídicos que possam pretender o controle do novo
regime mundial de acumulação do capital.
Nesse contexto, não se pode deixar de ressaltar, ao nível da União
Europeia e, igualmente, da convivência dos países latino-americanos, as declarações
visando à tutela de direitos além do Estado nacional, propugnando o relevo de que
o ser humano, na sua dignidade, é o habitante do Mundo e, por isso, o destinatário
principal de uma proteção jurídica a mais igualitária possível.
Daí que merece destaque o trabalho de pesquisa que levaram a cabo
– e com indiscutível êxito – as Professoras Catherine Maia, da Universidade
Lusófona do Porto, Yara Maria Pereira Gurgel e o Professor Thiago Oliveira
Moreira, estes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao organizarem
e desenvolverem pesquisa, conjuntamente com outros Professores Doutores,
alunos de Pós-Graduação e Graduação, a qual se tornou realidade com o livro
“DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E AS PESSOAS
EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE”, cujo terceiro volume virá à luz do
público pela iniciativa alvissareira da Editora Polimatia.
Repartidos em quatro partes, os artigos, fruto de uma densa investigação,
abordam temas sobre: a proteção global e geral dos direitos humanos; a proteção
internacional dos migrantes; a tutela regional dos direitos humanos; e ainda sobre
o impacto da disciplina dos direitos humanos no Brasil.
Os textos, sem exceção, vão – e muito – além do descritivo, enveredando
pelo exame crítico. Mostram que o pesquisador é quem faz a sua própria caminhada,
tornando mais rica a doutrina com o seu escrito e, portanto, merecedor da atenção
do leitor.
Recife (PE), 03 de outubro de 2022.
5 Ibid., p. 193-194.
12
APRESENTAÇÃO
Catherine Maia
Professora Doutora em Direito Internacional da Faculdade de Direito e Ciência
Política da Universidade Lusófona do Porto, Portugal. Professora Visitante da
Sciences Po Paris e da Universidade Católica de Lyon, França. É consultora jurídica,
tendo participado em diversas missões junto de organizações internacionais,
representações diplomáticas e escritórios de advocacia.
15
SOBRE OS AUTORES
17
Catedrático e Investigador Coordenador no Centro Universitário Antônio
Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente, Professor Visitante na Escola Superior
da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil e da Pós-Graduação do Centro
Universitário Unitoledo de Araçatuba. Foi Juiz na Inter-American Human Rights
Moot Court Competition no Washington College of Law da American University
em 2011 e 2012.
Catherine Maia
Professora Doutora em Direito Internacional da Faculdade de Direito e Ciência
Política da Universidade Lusófona do Porto, Portugal. Professora Visitante da
Sciences Po Paris e da Universidade Católica de Lyon, França. É consultora jurídica,
tendo participado em diversas missões junto de organizações internacionais,
representações diplomáticas e escritórios de advocacia.
Claudia Loureiro
Professora Permanente do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade
Federal de Uberlândia. Professora do Curso de Graduação em Direito da
Universidade Federal de Uberlândia. Estágio de Pesquisa Pós-Doutoral em Direitos
Humanos concluído pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Estágio de Pesquisa Pós-Doutoral em Direito Internacional e Comparado concluído
pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutora e Mestre pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Membro da Nova Refugee Legal
18
Clinic – Lisboa; Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Biodireito e Direitos
Humanos – UFU.
Daniela Bucci
Doutora e mestra em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo (USP). Coord. Observatório de Direitos Humanos do Grande ABC
(ODHUSCS) da Universidade Municipal de São Caetano do Sul/SP (USCS).
Pesquisadora NETI/USP, coordenando o subgrupo das Cortes Internacionais
de Direitos Humanos. CV: http://lattes.cnpq.br/0786892225874329. E-mail:
daniela.bucci.db@gmail.com.
19
Joel Vidal de Negreiros Neto
Graduando em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Membro
pesquisador na linha de Direito Internacional dos Direitos Humanos do Observatório
de Direito Internacional do Rio Grande do Norte. joelvidaldenegreiros@gmail.com
Juliana Aizawa
Graduada em Direito UFMS/CPTL. Mestre em Fronteiras e Direitos Humanos
UFGD; Doutoranda em Geografia UFGD. Professora do curso de Direito da
UNIGRAN Dourados, Mato Grosso do Sul. Membro da Comissão de Direitos
Humanos para Migrantes e Refugiados da OAB Subseção Dourados.
20
as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). E-mail: liviacarmelia@
outlook.com.
Rafaela Mendel
Graduada em Direito pela Universidade Lusófona do Porto (Portugal). Mestranda
em Direitos Humanos pela Universidade do Minho (Portugal).
21
Pesquisa Criminalidade Violenta e Diretrizes para uma Política de Segurança
Pública no Estado do Rio Grande do Norte.
22
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN. Membro
do Conselho Nacional da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI).
Professor/Pesquisador Visitante da Universidade Lusófona do Porto. Líder do
Grupo de Pesquisa Direito Internacional dos Direitos Humanos e as Pessoas em
Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). Integrante do Grupo de Pesquisa
Observatório de Direito Internacional do Rio Grande do Norte (OBDI/UFRN).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8030681636075210. https://orcid.org/0000-0001-
6010-976X. E-mail: thiago.moreira@ufrn.br.
23
PARTE I
25
O desenvolvimento contemporâneo de um constitucionalismo
global
1 INTRODUÇÃO
27
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
28
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
29
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
31
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
16 VIVIANI, Maury Roberto. Constitucionalismo Global: crítica em face da realidade das relações
internacionais no cenário de uma nova ordem mundial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. p. 169.
17 ROCHA, Isly Queiroz Maia. Limites da Constitucionalização do Direito Internacional no Sistema
Interamericano: uma Análise dos Modelos Teóricos do Pluralismo Constitucional e do Constitucio-
nalismo Multinível. Revista Vertentes do Direito. v. 8. n. 1. 2021. p. 133
18 VIVIANI, Maury Roberto. A Amplitude Constitucional da Carta Das Nações Unidas: Controvér-
sias de uma Proposta de Constituição para a Comunidade Internacional. Conpedi Law Review. Oñati,
Espanha. v. 2, n. 2. 2016. p. 3.
19 KUMM, Mattias. Constitutionalism and the Cosmopolitan State. Indiana Journal of Global Legal
Studies. v. 20, n. 2, 2013, p. 9-10.
32
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
33
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
34
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 SLAUGHTER, Anne-Marie, 2004. A New World Order. Princeton University Press, Princeton
and Oxford. 2004.
31 TEUBNER, Gunther. Societal Constitutionalism: Alternatives to State Centred Constitutional
Theory. Storrs Lectures, Yale Law School, 2003.
32 CANOTILHO, J. J. Gomes. “Brancosos” e interconstitucionalidade: itinerários dos discursos sobre
a historicidade constitucional. Coimbra: Almedina, 2012.
33 MACCORMICK, Neil. “Beyond the Sovereign State”. The Modern Law Review, v. 56, n. 1,
jan/1993.
34 ACOSTA ALVARADO, Paola Andrea. Del diálogo interjudicial a la constitucionalización del dere-
cho internacional: la red judicial latinoamericana como prueba y motor del constitucionalismo mul-
tinivel. Tese (PhD in International Law and International Relations) – Complutense University of
Madrid, Ortega y Gasset University Research Institute, Madrid, 2013. p. 189.
35 CARVALHO, Leonardo Arquimimo de. Constitucionalização do Direito Internacional: uma (re)
introdução ao tema. Revista Via Iuris, São Paulo, dez. 2012. p. 87-88.
35
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
36
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
2020. p. 246
40 CALIXTO, Angela Jank; CARVALHO, Luciani Coimbra de. The role of human rights in the process
of constitutionalization of international law. Revista Novos Estudos Jurídicos – Eletrônica. v. 25, n. 1.
2020. p. 236
41 CARTA das Nações Unidas. 1945. Disponível em: http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/docu-
mentos/. Acesso em: 17 fev. 2022.
42 DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: https://www.unicef.
org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 9 maio 2021.
43 CALIXTO, Angela Jank; CARVALHO, Luciani Coimbra de. The Role Of Human Rights In The
Process Of Constitutionalization Of International Law. In: Revista Novos Estudos Jurídicos – Eletrôni-
ca. v. 25, n. 1. 2020. p. 243-244
44 CALIXTO, Angela Jank; CARVALHO, Luciani Coimbra de. The Role Of Human Rights In The
Process Of Constitutionalization Of International Law. Revista Novos Estudos Jurídicos – Eletrônica.
37
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
38
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Internacional pode ser concebido como um sistema jurídico vinculante para todos
os Estados, justamente por ser visto como um sistema constitucional autônomo47.
47 TAIAR, Rogério. Direito Internacional dos Direitos Humanos: uma discussão acerca da relativização
da soberania face à efetivação da proteção internacional dos Direitos Humanos. 2009. Tese (Direitos
Humanos) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. p. 196.
48 FASSBENDER, Bardo. La protección de los derechos humanos como contenido central del bien
común internacional. In: AZNAR, Mariano J. GUTIÉRREZ, Ignacio; PETERS, Anne (org.). La
Constitucionalización de la Comunidad Internacional. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010. p. 153
49 Artigo 53. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. 1969. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm. Acesso em 09 fev. 2022.
39
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
50 FASSBENDER, Bardo. La protección de los derechos humanos como contenido central del bien común
internacional. In: AZNAR, Mariano J. GUTIÉRREZ, Ignacio; PETERS, Anne. La Constitucionali-
zación de la Comunidad Internacional. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 138.
51 BARCELONA TRACTION, Light and Power Company, Limited. Arrêt, CIJ, Recueil 1970.
Julgamento de 5.02.1970. Disponível em: https://www. icj-cij.org/public/files/case-related/50/
050-19700205-JUD-01-00-EN.pdf
52 FASSBENDER, Bardo. La protección de los derechos humanos como contenido central del bien
común internacional. In: AZNAR, Mariano J. GUTIÉRREZ, Ignacio; PETERS, Anne. La Constitu-
cionalización de la Comunidad Internacional. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 140.
53 Ibid., p. 141.
54 Ibid., p. 149.
55 LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves; MOREIRA, Thiago Oliveira. Limites du Paradigme
Hiérarchique Dans L’incorporation du Statut de Rome Dans Les Expériences Française et Brésilienne.
In: MENEZES, Wagner (org.). Direito Internacional em Expansão, v. XIX, p. 38. Belo Horizonte:
Arraes, 2020.
40
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
56 Artigo 5.1. Estatuto de Roma do Tribunal Internacional. 1998. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4388.htm. Acesso em: 9 fev. 2022.
57 FASSBENDER, Bardo. International Constitutional Law: Written or Unwritten? Chinese Journal
of International Law, v. 15, n. 3. 2016. p. 512
41
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
58 FASSBENDER, Bardo. The United Nations Charter as the Constitution of the International Com-
munity. Leiden (Netherlands): Martinus Nijhoff, 2009. p. 86-115.
59 VIVIANI, Maury Roberto. A Amplitude Constitucional Da Carta Das Nações Unidas: Contro-
vérsias De Uma Proposta De Constituição Para A Comunidade Internacional. Conpedi Law Review,
Oñati, v. 2, n. 2. abr. 2016. p. 5.
60 FASSBENDER, Bardo. International Constitutional Law: Written or Unwritten? Chinese Journal
of International Law, v. 15, n. 3. 2016. p. 510
42
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
61 VIVIANI, Maury Roberto. A Amplitude Constitucional Da Carta Das Nações Unidas: Contro-
vérsias De Uma Proposta De Constituição Para A Comunidade Internacional. Conpedi Law Review,
Oñati, v. 2, n. 2. abr. 2016. p. 18.
62 FLOCKHART, Trine. The coming multi-order world. Contemporary Security Policy. v. 37, n. 1.
2016. p. 6-11.
63 Ibid., p. 9.
64 AHL, Björn. Chinese Positions on Global Constitutionalism, Community of Common Destiny
for Mankind, and the Future of International Law. The Chinese Journal of Comparative Law, 2021.
p. 17.
65 AFONSO, Henrique Weil; CASTRO, Thales Cavalcanti. Constitucionalismo Além Do Estado:
Perspectivas Históricas E Demandas Emancipatórias. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM.
v. 10, n. 2, 2015. p. 520.
43
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
66 FERREIRA, Francisco Gilney Bezerra de Carvalho; LIMA, Renata Albuquerque. Teoria constitu-
cional em mutação: perspectivas do constitucionalismo contemporâneo frente aos desafios da globa-
lização e transnacionalidade. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 13, n. 3, dez. 2017. p. 124.
67 CHEN, Wen Cheng; CHU, Shirley Chi. Taking Global Constitutionalism Seriously: A fra-
mework for Discourse. National Taiwan University Law Review, v. 11, n. 2. 2016. p. 402-404.
68 PETERS, Anne. Compensatory Constitutionalism: The Function and Potential of Fundamental
Norms and Structures. Leiden Journal of International Law, n. 19, 2006. p. 605.
69 CARVALHO, Leonardo Arquimimo de. Constitucionalização do Direito Internacional: uma (re)
introdução ao tema. Revista Via Iuris, São Paulo, dez. 2012. p. 89.
44
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
70 PETERS, Anne. The Merits of Global Constitutionalism. Indiana Journal of Global Legal Studies,
v. 16, n. 2. 2009. p. 407.
71 PETERS, Anne; ARMINGEON, Klaus. Introduction: Global Constitutionalism from an Inter-
disciplinary Perspective. Indiana Journal of Global Legal Studies, v. 16, n. 2, 2009. p. 388-389.
72 AHL, Björn. Chinese Positions on Global Constitutionalism, Community of Common Destiny
for Mankind, and the Future of International Law. The Chinese Journal of Comparative Law, 2021.
p. 16.
73 PETERS, Anne. The Merits of Global Constitutionalism. Indiana Journal of Global Legal Studies,
v. 16, n. 2. 2009. p. 397-398.
74 VIVIANI, Maury Roberto. A amplitude constitucional da Carta das Nações Unidas: controvér-
sias de uma proposta de constituição para a comunidade internacional. Conpedi Law Review. Oñati,
Espanha. v. 2, n. 2. 2016. p. 5-6.
75 AFONSO, Henrique Weil; CASTRO, Thales Cavalcanti. Constitucionalismo Além Do Estado:
Perspectivas Históricas E Demandas Emancipatórias. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM.
45
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
46
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
80 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constituciona e Teoria da Constituição. 7. ed. Coim-
bra: Almedina, 2008. p. 1370-1371.
81 VIVIANI, Maury Roberto. Constitucionalismo Global: crítica em face da realidade das relações in-
ternacionais no cenário de uma nova ordem mundial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. p. 173-176.
47
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
48
REFERÊNCIAS
CALIXTO, Angela Jank; CARVALHO, Luciani Coimbra de. The role of human
rights in the process of constitutionalization of international law. Revista Novos
Estudos Jurídicos – Eletrônica. v. 25, n. 1. 2020. p. 235-252.
49
CANOTILHO, J. J. Gomes. “Brancosos” e interconstitucionalidade: itinerários dos
discursos sobre a historicidade constitucional. Coimbra: Almedina, 2012.
50
FASSBENDER, Bardo. La protección de los derechos humanos como contenido
central del bien común internacional. In: AZNAR, Mariano J. GUTIÉRREZ,
Ignacio; PETERS, Anne. La Constitucionalización de la Comunidad Internacional,
p. 121 - 172. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010.
MACCORMICK, Neil. “Beyond the Sovereign State”. The Modern Law Review,
v.
56, N. 1, jan/1993.
51
Thiago Oliveira; OLIVEIRA, Diogo Pignataro de; XAVIER, Yanko. Direito
internacional na contemporaneidade, p. 143 -182. Brasília: CFOAB, 2018.
52
Direitos Humanos. 2009. Tese (Direitos Humanos) – Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2009.
53
A disciplina pós-nacional da corrupção transnacional
1 INTRODUÇÃO
1 Doutor em Direito Público, com distinção, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
com início da investigação no ano letivo de 2010/2011, extensão certificada pela Universidade de
Harvard (Justice, by Michael Sandel), em 2020, e pela Universidade de Yale, em 2021 (Moral Foun-
dations of Politics, by Ian Shapiro), e conclusão no ano letivo de 2020/2021, com arguição em provas
públicas em 2022. Concluiu a Pós-Graduação em Direitos Humanos, em 2010, pelo Centro de Di-
reitos Humanos da Universidade de Coimbra (Ius Gentium Conimbrigae), com 15 valores. Concluiu
a Pós-Graduação em Direito Civil e Processo Civil, em 2014, pelo Centro Universitário Antônio
Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente, summa cun laude.
2 Representante discente do Conselho Superior de Administração da Toledo Prudente (biênio
2022/2023). Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Toledo (PICT) pelo grupo de pesquisa
“Sincretismo Constitucional”. E-mail: danielrpferreira62@gmail.com.
55
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
56
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
57
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
58
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
8 HABERMAS, Jürgen. “Political Communication in Media Society: Does Democracy still have an
Epistemic Dimension? The Impact of Normative Theory on Empirical Research”. Europe. The Falte-
ring Project. Translated by Ciaran Cronin. Polily, 2009.
9 CHEVALLIER, Jacques. L’État post-moderne. 3. éd. 2008. p. 138-139.
10 CASTRO, Tony Gean Barbosa de. Enfrentamento da Corrupção Transnacional: essencialidade da
cooperação internacional. Corpus Delicti. Revista de Direito de Polícia Judiciária. Brasília (DF), v. 2,
n. 4, p. 227-244, jul./dez. 2018, p. 234.
11 JUBILUT, Liliana Lyra. Os Fundamentos do Direito Internacional Contemporâneo: da Coexis-
tência aos Valores Compartilhados. In: BRANT, Leonardo Nemer Caldeira (coord.). Anuário Brasi-
leiro de Direito Internacional, v. 2, n. 9, jul., 2010. Belo Horizonte: CEDIN, 2010. Disponível em:
http://centrodireitointernacional.com.br/static/anuario/5_V2/anuario_5_v2.pdf#page=203. Acesso
em: 24 dez. 2021. p. 105.
59
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
12 SILVA, Caíque Tomaz Leite da. Do realismo à constitucionalização do direito internacional. Revista
do Direito Público. Londrina, v. 9, n. 1, p. 135-162, jan/abr 2014. DOI: 10.5433/1980-511X.2014v9
n1p135. p. 141.
13 SILVA, Caíque Tomaz Leite da. op. cit., p. 148.
14 PENEBIANCO, Mario. Iura humanitatis: diritti umane e “nuovi” diritti fondamentali. Revista
Internazionale dei diritti dell’uomo. Ano XIV, 2001, p. 121 (tradução nossa).
15 ISA, Felipe Gómez. La protección de los derechos humanos. In: ISA, Felipe Gómes; PEREZA,
José Manuel (org.). La protección internacional de los derechos humanos en los albores del S. XXI. Uni-
versidad de Deusto: Bilbao, 2004. p. 23.
60
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
16 BROWNLIE, Ian. Principles of Public International Law. 17 ed. Oxford University Press, 2008.
p. 565.
17 SILVA, Caíque Tomaz Leite da. Do realismo à constitucionalização do direito internacional. Revista
do Direito Público. Londrina, v. 9, n. 1, p. 135-162, jan/abr 2014. DOI: 10.5433/1980-511X.2014v9
n1p135. p. 154.
18 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A humanização do direito internacional. Belo Hori-
zonte: Del Rey, 2006. p. 119-128.
19 LAUTERPACHT, Hersch. International Law and Human Rights. New York: F. E. Praeger, 1950.
p. 408.
61
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
20 UN doc.E/CN.4/L.610, 1962.
21 SILVA, Caíque Tomaz Leite da. Espaço “longo” tempo “breve”. Itinerários da metanarrativa cons-
titucional: o constitucionalismo sincrético. Revista Intertemas. Presidente Prudente, v. 15, p. 46-74,
nov. 2011, p. 57-60.
22 KOZMA, J.; NOWAK, M.; SCHEININ, M. A World Court of Human Rights – Consolidated
Statute and Commentary. Vienna: Neuer Wissenschaftlicher, 2010.
62
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
23 SILVA, Caíque Tomaz Leite da. Espaço “longo” tempo “breve”. Itinerários da metanarrativa cons-
titucional: o constitucionalismo sincrético. Revista Intertemas. Presidente Prudente, v. 15, p. 46-74,
nov. 2011, p. 56-57.
63
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
64
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
65
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
26 SANTOS, Boaventura de Sousa. “Droit: une carte de la lecture déformée. Pour une conception
post-moderne du droit”. Droit et société, 10, 1988, p. 382.
27 NEVES, A. Castanheira. “A redução política do pensamento metodológico-jurídico”. Digesta –
Escritos acerca do Direito, do Pensamento Jurídico, da sua Metodologia e Outros, v. 2. Coimbra, 1995.
p. 407.
28 STRANGE, Susan. States and Markets. London: Pinter Publishers, 1994. p. 62.
66
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
67
REFERÊNCIAS
CAVE, A. Deal that undid Bell Pottinger: inside story of the South Africa
scandal. (5/9/2017). The Guardian, 2017. Disponível em: https://www.
theguardian.com/media/2017/sep/05/bell-pottingersouth-africa-pr-firm. Acesso
em: 27 dez. 2021.
ISA, Felipe Gómez. La protección de los derechos humanos. In: ISA, Felipe
Gómes; PEREZA, José Manuel (org.). La protección internacional de los derechos
humanos en los albores del S. XXI. Universidad de Deusto: Bilbao, 2004.
68
http://centrodireitointernacional.com.br/static/anuario/5_V2/anuario_5_
v2.pdf#page=203. Acesso em: 24 dez. 2021.
69
2018. Disponível em: https://repositorio.cgu.gov.br/handle/1/31030. Acesso em:
18 dez. 2021.
SILVA, Caíque Tomaz Leite da. Espaço “longo” tempo “breve”. Itinerários da
metanarrativa constitucional: o constitucionalismo sincrético. Revista Intertemas.
Presidente Prudente, v. 15, p. 46-74, nov. 2011. Disponível em: http://
intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/INTERTEMAS/article/view/2769.
Acesso em: 23 dez. 2021.
UN doc.E/CN.4/L.610, 1962.
70
A perspectiva contemporânea da cidadania global
Claudia Loureiro1
Juliana Aizawa2
1 INTRODUÇÃO
71
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
72
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
73
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
amplitude para abarcar a situação de pessoas que não se encontram mais dentro das
fronteiras de seu Estado ou que não detêm nenhuma nacionalidade.
A esse respeito, é relevante destacar que:
74
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
7 HABERMAS, Jurgen. Sobre a Constituição da Europa. Trad. Denilson Luis Werle, Luis Repa e
Rúrion Melo. São Paulo: Unesp, 2012.
8 FERRAJOLI, Luigi. Más allá de la soberania y ciudadanía: um constitucionalismo global. Isono-
mia – Revista de Teoria y Filosofia del Derecho, n. 9, p. 173-184, oct. 1998. Disponível em: https://bit.
ly/3O54yTc. Acesso em: 20 abr. 2020.
75
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
76
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
77
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
16 BECK, Ulrich Critical theory of world risk society: a cosmopolitan vision. Constellations, v. 16,
n. 1, p. 3-22, 2009. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228042862_Critical_
Theory_of_World_Risk_Society_A_Cosmopolitan_Vision. Acesso: 8 abr. 2022.
17 ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012. p. 369.
78
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
18 BECK, Ulrich Critical theory of world risk society: a cosmopolitan vision. Constellations, v. 16,
n. 1, p. 3-22, 2009. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228042862_Criti-
cal_Theory_of_World_Risk_Society_A_Cosmopolitan_Vision. Acesso: 8 abr. 2022.
19 GIDDENS, Anthony. Risk and responsibility. The Modern Law Review, v. 62, n. 1, p. 1-10,
jan/1999. Disponível em: https://bit.ly/3NWv6G9v. Acesso em: 8 abr. 2022.
20 BECK, Ulrich Critical theory of world risk society: a cosmopolitan vision. Constellations, v. 16,
n. 1, p. 3-22, 2009. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228042862_Critical_
Theory_of_World_Risk_Society_A_Cosmopolitan_Vision. Acesso: 8 abr. 2022. p. 8
79
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
dicotomia entre países ricos e países pobres, países centrais e periféricos, inserindo
em situações de subalternidade aqueles que suportam as consequências das decisões
em face daqueles que tomam as decisões, o que fez com que o risco se expandisse
para o horizonte global, onde as fronteiras e os limites se tornam frágeis e porosos,
fazendo com que a justiça global seja uma emergência.
Assim, a pandemia e a colonialidade21 dos deslocamentos forçados
revelaram a existência de uma comunidade universal de cidadãos do mundo, com a
existência de unidades políticas organizadas através das organizações internacionais
e não governamentais, bem como por meio dos mecanismos de ação como
peticionamento individual e comitês dos tratados internacionais, entre outros.
A conceituação clássica de Estado-nação pode ser entendida, portanto,
como a centralização do poder político de um Estado territorialmente soberano,
socialmente representado pela “nação” que é composta por cidadãos com exercício
de direitos políticos ativos, quais sejam, capacidade de votarem e serem votados;
elegendo democraticamente seus representantes22.
A respeito, Rafestin assevera que: “É verdade que não vemos o Estado,
mas é também verdade que o Estado se mostra em todas as formas de manifestações
espaciais, da capital à fronteira, passando pelas malhas interiores hierarquizadas e
pelas redes de circulação”23.
Tal conceituação se tornou preponderante após as mazelas oriundas do
fim da II Guerra Mundial e o crescente período de interdependência de países ao
sul global, que ainda eram colônias dos países do norte global, especialmente, os
Estados Africanos que tiveram um número expressivo de países decolonizados após
1956.
A gestão financeira imatura, falta de permeabilidade de produtos postos
em mercado e habilidades restritas com as negociações internacionais trouxeram
aos “novos” Estados-nação o desafio em gerir seus territórios soberanos e assegurar a
tutela de direitos básicos aos nacionais. A soma dessas circunstâncias e o despreparo
das autoridades políticas, enfatiza “uma das características mais lamentáveis da época
80
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
24 SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 406.
25 MARINUCCI, Roberto; MILESI, Rosita. Migrantes e Refugiados: Por uma Cidadania Universal.
In: IMDH (org.). Refúgio, Migrações e Cidadania. Brasília: Acnur, 2006. p. 53-80. Disponível em:
https://bit.ly/3gO1g72. Acesso em: 3 fev. 2022. p. 33.
26 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: Do pensamento único à consciência universal. 19.
ed. Rio de Janeiro: Record LTDA, 2010.
27 BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de Crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. p. 42.
81
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
28 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Elementos para un enfoque de derechos humanos del fe-
nómeno de los flujos migratorios forzados. Guatemala: Oim, 2001. Disponível em: https://biblioteca.
corteidh.or.cr/tablas/13417.pdf. Acesso em: 27 jan. 2022. p. 15.
29 BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de Crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
30 BAUMAN, Zygmund. Medo Líquido. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar,
2008. p. 127.
31 BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de Crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. p. 41.
82
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
32 BAUMAN, Zygmund. Medo Líquido. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar,
2008. p.166.
33 SANTOS, Boaventura S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de
saberes. In: B. S. SANTOS; M. P. MENESES (orgs.), Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, p.
23-72, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3717L5z. Acesso em: 16 fev. 2021.
34 Ibid.
83
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
35 SASSEN, Saskia. Expulsões: Brutalidade e complexidade na economia global. Trad. Angélica Frei-
tas. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2016. p. 245.
36 SANTOS, Boaventura S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de
saberes. In: B. S. SANTOS; M. P. MENESES (orgs.), Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, p.
23-72, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3717L5z. Acesso em: 16 fev. 2021.
84
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
85
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmund. Estranos à nossa parte. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio
de Janeiro: Zahar, 2017.
86
GIDDENS, Anthony. Risk and responsibility. The Modern Law Review, v. 62, n.
1, p. 1-10, jan/1999. Disponível em: https://bit.ly/3NWv6G9v. Acesso: 8 abr.
2022.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
87
SANTOS, Boaventura S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais
a uma ecologia de saberes. In: B. S. SANTOS; M. P. MENESES (orgs.),
Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, p. 23-72, 2009. Disponível em:
https://bit.ly/3717L5z. Acesso em: 16 fev. 2021.
SMITH, David. L. Less than human. New York: St. Martin’s Griffin, 1953.
88
Aborto sob a perspectiva do Direito Internacional dos Direitos
Humanos: avanços e desafios para o Brasil
Daniela Bucci1
1 INTRODUÇÃO
1 Doutora e mestra em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
(USP). Coord. Observatório de Direitos Humanos do Grande ABC (ODHUSCS) da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul/SP (USCS). Pesquisadora NETI/USP, coordenando o subgru-
po das Cortes Internacionais de Direitos Humanos. CV: http://lattes.cnpq.br/0786892225874329.
E-mail: daniela.bucci.db@gmail.com.
2 Assim como os estados do Arizona, Florida e Kentucky. Disponível em: https://www.guttmacher.
org/state-policy. Acesso em: 10 abr. 2022.
89
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
aborto após essas seis semanas, como é o caso de uma recente lei de Idaho neste
sentido3.
Neste momento, centenas de projetos de lei a favor e contra o aborto
estão sendo apresentados pelos legisladores em diversos estados americanos. Além
disso, muitos estados não revogaram leis que criminalizavam o aborto anteriores
ao caso Roe v. Wade, de modo que, dependendo da decisão da Suprema Corte
em Dobbs v. Jackson, passarão a voltar a valer nos estados em que tinham sido
promulgadas, constituindo as chamadas “proibições de gatilho”, disparadas tão
logo a Suprema Corte mude sua postura a respeito do tema. Por outro lado, alguns
estados, antecipando-se à decisão de Dobbs v. Jackson, criaram leis para garantir o
aborto, como fez Washington4, por exemplo.
A recente liberação do aborto em outros países das Américas, como, por
exemplo, a Argentina, em 2020, o México, em 2021, e a Colômbia, em 2022,
comprova a necessidade de um amplo debate sobre o tema, e que a questão não está
pacificada no continente, assim como também não está no Brasil, considerado um
dos países mais restritivos ao aborto.
Pretende-se analisar com este artigo os parâmetros fornecidos pelas cortes
internacionais de direitos humanos à luz das normas internacionais de proteção
dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher no que dizem respeito ao aborto.
Em seguida, analisar como as questões levantadas podem impactar a proteção dos
direitos da mulher no Brasil, tendo-se como referência o caso da ADPF 442, em
trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF).
O método utilizado é empírico qualitativo por dedução, com base no
estudo da legislação e jurisprudência dos tribunais nacionais e cortes internacionais
de direitos humanos, a partir do estudo de teorias relevantes e análise descritiva e
crítica da realidade brasileira sobre o aborto no Brasil.
90
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
do aborto pela Suprema Corte americana, nos Estados Unidos, inserida no contexto
do recente movimento contrário capitaneado por outros países da região, como
Argentina, México e Colômbia.
O histórico caso Roe v. Wade5 e seu sucessor, o também famoso caso
Planned Parenthood v. Casey6 foram essenciais para permitir o aborto até a viabilidade
fetal, que pode ocorrer por volta da 23ª/24ª semanas de gestação, mesmo critério
adotado pela Colômbia ao descriminalizar o aborto até a 24ª semana7.
No caso Roe v. Wade, a Suprema Corte Americana, com base no direito
à privacidade, ponderou a proteção da saúde da mulher e a proteção da vida
humana em potencial, protegendo-se gradualmente o feto. Com a definição de
“viabilidade”, Roe v. Wade considerou a potencialidade do feto de viver fora do
útero materno, ainda que com ajuda artificial, de modo que havendo viabilidade,
haveria igualmente um dever do estado de proteger essa vida. Assim, a partir do
terceiro trimestre da gravidez, os estados poderiam, a partir daí, proibir a prática do
aborto absolutamente.
Substancialmente, com fundamento na 9ª Emenda, a Suprema Corte
Americana entendeu que a lei texana que proibia o aborto era inconstitucional, pois
violara o direito à privacidade da mulher. Até o final do primeiro trimestre, o estado
não poderia interferir na decisão da mulher, tendo em vista a inviabilidade do feto
de viver fora do útero, de modo que os estados não poderia criminalizar a prática do
aborto até então. A partir do 2º trimestre de gestação, os estados poderiam legislar
para proteger a vida da mãe. Uma vez verificada a viabilidade extrauterina do feto,
o estado teria o dever de protegê-la, proibindo a prática do aborto.
Situação semelhante ao caso paradigmático, o caso Dobbs v. Jackson
Women’s Health analisa uma lei do Mississippi, criada em dezembro de 2021, que
proíbe abortos após 15 semanas.
91
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
8 Correspondendo a 6-7% de todos os abortos praticados no país. JONES, Rachel K.; WITWER,
Elizabeth; JERMAN, Jenna. Abortion Incidence and Service Availability in the United States, 2017.
Disponível em: https://www.guttmacher.org/report/abortion-incidence-service-availability-us-2017.
Acesso em: 10 abr. 2022; Infográfico disponível em: https://www.guttmacher.org/infographic/2021/
estimated-54000-63000-us-abortions-year-occur-15-weeks-pregnancy. Acesso em: 10 abr. 2022.
9 Estabelece o artigo III da DUDH in verbis: “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e
à segurança pessoal”. Disponível em: http://unicrio.org.br/img/DeclUDHumanosVersoInternet.pdf.
Acesso em: 10 abr. 2022.
92
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
que tais direitos “derivam da dignidade inerente à pessoa humana”10, exigindo que
os estados assegurem a concretização deste direito11.
Especificamente, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW) reconhece o direito à igualdade
entre homens e mulheres e o princípio da não discriminação contra as mulheres,
determinando que os estados estabeleçam medidas que atinjam esses objetivos,
inclusive no que diz respeito à saúde das mulheres, conforme dispõe o artigo 12 do
documento12.
Na mesma linha, a proteção da vida encontra guarida nos sistemas
internacionais e regionais de proteção, como se depreende da leitura da Convenção
Europeia de Direitos Humanos (CEDH), em seu artigo 2º, e do artigo 4º da
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH)13. No âmbito da CADH,
está garantido o direito à vida, “em geral, desde a concepção”14.
Apesar da regulamentação internacional existente, a CADH não traz
claramente um “rol de exceções ao direito à vida, deixando, ainda, a critério dos
estados e de seus intérpretes estabelecerem as restrições do direito à vida”15. Por essa
razão, é mister buscar os parâmetros interpretativos sobre o tema no âmbito das
cortes regionais internacionais de proteção dos direitos humanos16.
10 BUCCI, Daniela. In Vitro Veritas: A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre
fecundação in vitro e possíveis consequências para a descriminalização do aborto. Boletim da Sociedade
Brasileira de Direito Internacional, v. 108, p. 95-120, 2020, p. 106. Disponível em: https://drive.goo-
gle.com/file/d/1n0hoq4idC2CUCoEIzEXFSkP7m0T-vg-7/view. Acesso em: 9 abr. 2022. p. 54-55.
11 PERRONE-MOISÉS, Cláudia. Direitos Humanos e Desenvolvimento: A Contribuição das Na-
ções Unidas. PERRONE-MOISÉS, Cláudia. (org.); AMARAL JUNIOR, A. (org.). O Cinqüentená-
rio da Declaração Universal dos Direitos do Homem. São Paulo: EDUSP, 1999. p. 180.
12 CIDH. Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o Acesso à Serviços de Saúde
Materna na Perspectiva de Direitos Humanos, § 84.
13 Disponível em: http://www.cidh.oas.org/Basicos/Portugues/c.Convencao_Americana.htm. Aces-
so em: 10 abr. 2022.
14 Ibid.,
15 BUCCI, Daniela. Dimensões jurídicas da proteção da vida e o aborto do feto anencéfalo. 1. ed. Curi-
tiba: Clássica, 2014. v. 1. p. 58.
16 Sobre o assunto ler: CARVALHO RAMOS, André de. Processo Internacional de Direitos Humanos:
análise dos sistemas de apuração de violações dos direitos humanos e a implementação das decisões
no Brasil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015; MENEZES, Wagner. Tribunais internacionais: jurisdição e
competência. São Paulo: Saraiva, 2013.
93
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
94
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
95
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
direitos das mulheres, tais como o direito à integridade física e psíquica, direito à
vida e a saúde, dentre outros.
No caso Artavia Murillo e outros v. Costa Rica27, a corte interpreta de
forma “histórica, sistemática e evolutiva”28 o artigo 4.1 da CADH, ressaltando
que “o não nascido não tem um direito absoluto à vida”29, permitindo a prática
do aborto para proteger a vida e a saúde da mulher30. Além disso, a Corte ainda
assevera o direito à mulher às tecnologias médicas que sejam necessárias para o
acesso à saúde reprodutiva31.
Como vimos, os parâmetros no sistema interamericano não são muito
claros: i) exige-se uma harmonização da proteção da vida do feto e da vida e da
saúde da mulher; ii) leis muito restritivas podem favorecer a prática ilegal do aborto;
iii) ao passo que, leis que proíbem absolutamente o aborto atingem os direitos à
vida, à integridade pessoal, à saúde e os direitos das mulheres, quando se tem risco
à saúde da mulher, a constatação da inviabilidade do feto e nos casos de gravidez
decorrentes de violência sexual ou incesto.
Considerando esses poucos parâmetros, vale a pena analisar a situação do
Brasil, como a legislação regula o tema, se está em linha com aqueles encontrados
no sistema interamericano de direitos humanos e quais os desafios que recaem
sobre o tema no país.
4 CONCLUSÃO
Conforme análise dos dados oficiais no Brasil, uma das principais causas
de morte de mulheres são complicações decorrentes de aborto. Como o aborto é
prática ilegal no país, sendo permitido em apenas algumas poucas circunstâncias,
as mulheres se submetem frequentemente a abortos clandestinos, “inseguros”, e
96
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
97
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
desde a concepção, ainda que se tenha adotado a teoria natalista para determinar
a partir de qual momento a pessoa passa a ser considerada sujeito de direitos no
Brasil, isto é, com o nascimento com vida.
Embora tramitem no Congresso Nacional brasileiro inúmeras leis
contrárias e favoráveis ao aborto, fato que, como dissemos acima, reflete a
complexidade do tema no país, ressalta-se o anteprojeto de alteração do Código
Penal brasileiro, projeto este que prevê a possibilidade de liberação total do aborto
até 12ª semana de gestação, dentre outras excludentes36.
Com relação ao tema, novamente o Supremo Tribunal Federal, como
o fez na ADPF 54, deverá se pronunciar sobre a difícil celeuma entre o direito à
vida e os direitos sexuais e reprodutivos da mulher e os demais direitos em jogo, na
ADPF 442, em que precisará decidir pela liberação ou não do aborto voluntário até
o terceiro mês de gestação37.
A ADPF 442/DF foi requerida pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL), com o objetivo de obter do STF a análise sobre os artigos 124 e 126 do
Código Penal brasileiro (Decreto-Lei 2.848/1940), baseando-se na violação dos
preceitos fundamentais contidos nos arts. 1º, I e II, 3º, IV, 5º, caput e I e III, 6º,
caput, 196 e 226, § 7º, da Constituição Federal, que versam sobre o princípio da
dignidade da pessoa humana, da cidadania, da não discriminação, da inviolabilidade
da vida, liberdade, igualdade, proibição de tortura ou tratamento desumano ou
degradante, saúde e planejamento familiar.
Dentre os principais argumentos apresentados, basicamente, o
requerente da ADPF 442/DF asseverou que as razões jurídicas que fundamentaram
a criminalização do aborto em 1940, hoje violariam os preceitos fundamentais
contidos na Constituição Federal de 1988. Destacou-se ainda a violação da
dignidade da mulher, no sentido de que não lhe teria sido reconhecida “a capacidade
36 BRASIL. Anteprojeto do novo Código Penal. Projeto de Lei do Senado n° 236, de 2012. Disponível
em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3515262&ts=1645029382318&dispo-
sition=inline. Acesso em: 20 abr. 2022.
37 Sobre o controle de Convencionalidade exercido pela Corte Interamericana, sugere-se a leitura da
análise crítica realizada por: MOREIRA, Thiago Oliveira. O Exercício do Controle de Convenciona-
lidade pela Corte Interamericana de Direitos Humanos: Uma Década de Decisões Assimétricas. In:
MENEZES, Wagner (org.). Direito Internacional em Expansão. Anais do XV CBDI, p. 251- 271.
Belo Horizonte: Arraes, 2017. p. 251- 271.
98
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
38 STF. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 442/DF. Rel. Min. Rosa
Weber. p. 4.
39 Ibid., p 4-5.
40 Ibid., p. 5.
41 Ibid., p. 5.
42 Ibid., p. 6.
99
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
sobre os riscos do aborto e a falta de clareza a respeito das leis que tratam do aborto,
dificultam o acesso aos serviços disponíveis, seja no momento em que a mulher nota
um atraso na menstruação ou mesmo em situações pós procedimentos abortivos43.
Desse modo, ao lado da necessidade de mais informação, mais cuidado e acesso aos
serviços e políticas destinadas ao aborto, “o acesso à informação jurídica também é
fundamental”44.
Somados a esses aspectos, pesquisas direcionadas para conhecer o perfil
das mulheres que praticam o aborto ilegal são extremamente relevantes para
compreender o fenômeno e auxiliar a criação de políticas públicas. Conforme
analisam DINIZ, MEDEIROS E MADEIRO, é a “mulher comum” que aborta,
mas a “forma não é homogênea em todos os grupos sociais”45. O que se nota,
portanto, é que leis proibitivas ao aborto, de fato, atingem ainda mais as mulheres
jovens, negras, indígenas, baixa escolaridade e economicamente desfavorecidas46,
até mesmo no Brasil.
Finalmente, o STF também deverá avaliar o seu papel como corte
constitucional e se cabe a ela ampliar as hipóteses de permissão do aborto ou ao
parlamento47. O ponto é que, apesar de os parâmetros internacionais não serem tão
bem estabelecidos com relação às hipóteses em que o aborto pode ser admitido,
destaca-se, como bem o fez a Comissão Interamericana, que a proteção da vida
e saúde da mulher precisam ser ponderadas em relação à proteção da vida do
feto, devendo ser levado em consideração dentre outros aspectos que leis muito
restritivas – como é o no caso brasileiro – acabam propiciando abortos inseguros
que colocam em risco a saúde e a vida da mulher, impactando o sistema público de
saúde, exigindo-se, portanto, do estado o enfrentamento da questão com a criação
de políticas públicas específicas para diminuir as mortes das mulheres, ampliar o
43 ROMERO M, GOMEZ PONCE DE LEON R, BACCARO LF, ET AL. Abortion related mor-
bidity in six Latin American and Caribbean countries: findings of the WHO/HRP multi-country
survey on abortion (MCS-A). BMJ Global Health 2021;6:e005618.doi:10. Disponível em: https://
gh.bmj.com/content/bmjgh/6/8/e005618.full.pdf, p. 5. Acesso em: 10 abr. 2022.
44 Ibid.,
45 DINIZ, Debora; MEDEIROS, Marcelo; MADEIRO, Alberto. Pesquisa nacional de
aborto 2016. Revista Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 653-660,
fev. 2017, p. 659. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1413-81232017000200653&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 abr. 2022.
46 Ibid.,
47 RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: Parâmetros dogmáticos. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2015.
100
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
101
REFERÊNCIAS
102
CORTE CONSTITUCIONAL COLOMBIANA. Decisão C-055-22, de 21 de
fevereiro de 2021. Disponível em: https://oig.cepal.org/sites/default/files/2022_
sentenciac05522_col.pdf. Acesso em: 29 mar. 2022.
103
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Relatório sobre Acceso a servicios
de salud materna desde una perspectiva de derechos humanos – Access to maternal
health services from a human rights perspective. OEA/Ser.L/V/II. Doc. 69
7 junio 2010. Disponível em: http://cidh.org/women/saludmaterna10sp/
SaludMaterna2010.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022.
104
PARTE II
Catherine Maia2
Shashaank Bahadur Nagar3
Rafaela Mendel4
1 INTRODUÇÃO
1 Uma análise da crise migratória entre a Polônia e a Bielorrússia foi publicada em inglês: MAIA,
Catherine, BAHADUR NAGAR, Shashaank, Poland-Belarus Border Crisis: A Vanishing Point of
International Refugee Law, Observatory on European Studies, 13 de dezembro de 2021.
2 Professora Doutora em Direito Internacional da Faculdade de Direito e Ciência Política da Uni-
versidade Lusófona do Porto, Portugal. Professora Visitante da Sciences Po Paris e da Universidade
Católica de Lyon, França.
3 Jurista especializado em Direitos Humanos e Direito dos Refugiados (Índia).
4 Graduada em Direito pela Universidade Lusófona do Porto (Portugal). Mestranda em Direitos
Humanos pela Universidade do Minho (Portugal).
5 ONU. Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, 28 de junho de 1951. Disponível em: ht-
tps://www.unhcr.org/1951-refugee-convention.html. Acesso em: 12 maio 2022.
107
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
aspetos mais básicos da vida dos mesmos, foi acusada de ser eurocêntrica por parte
principalmente de países do Oriente Médio e da Ásia do Sul e do Sudeste, cujos
vários ainda se abstêm de sua adesão6. Esses países frisam que a convenção foi
adotada após a Segunda Guerra mundial com o único objetivo de gerir o êxodo
da população europeia afetada pelas hostilidades armadas, pois geograficamente se
aplicava apenas às pessoas deslocadas dentro da Europa, enquanto temporalmente
se limitava aos deslocamentos causados pelos eventos ocorridos antes de 1 de janeiro
de 1951.
Com o propósito de ampliar o âmbito de aplicação da Convenção de
1951 a novas situações geradoras de conflitos e perseguições, foi adotado em 1967
o Protocolo de Nova Iorque7, que entrou em vigor no mesmo ano. Este Protocolo
veio retirar os entraves geográfico e temporal, bem como veio atribuir a natureza de
um princípio de direito internacional consuetudinário à não repulsão ou ao non-
refoulement, ou seja, à proibição do retorno forçado dos refugiados ou requerentes
de asilo para um país onde exista o risco de serem perseguidos e/ou sujeitos a tortura
ou outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Assim, consoante a Convenção de 1951, emendada pelo Protocolo
de 1967, os refugiados são aqueles que precisam buscar proteção em outro país
por se encontrarem em uma situação de perigosidade ou de perseguição em seu
território de origem, tal perseguição sendo exercida por motivos de raça, religião,
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opiniões
políticas8. Independentemente de se encontrar em um Estado que seja parte da
Convenção de 1951 ou do Protocolo de 1967, qualquer pessoa também poderá
ser reconhecida como refugiada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR) – organismo criado pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 1950 – cujo estatuto prevê que o seu mandato consiste em monitorizar
6 São partes na Convenção de 1951 146 Estados. Fonte: ONU, Treaty Series. Disponível em: https://
treaties.un.org/pages/ViewDetailsII.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=V-2&chapter=5&Temp=mtds-
g2&clang=_en. Acesso em: 12 maio 2022.
7 São partes no Protocolo de 1967 147 Estados, sendo este um instrumento independente da anterior
Convenção de 1951. Fonte: ONU, Treaty Series. Disponível em: https://treaties.un.org/pages/View-
Details.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=V-5&chapter=5&clang=_en. Acesso em: 12 maio 2022.
8 ACNUR. Manual de procedimentos e critérios para a determinação da condição de refugiado de acor-
do com a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados. Genebra,
2011, p. 17 e seg. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/Publica-
coes/2013/Manual_de_procedimentos_e_criterios_para_a_determinacao_da_condicao_de_refugia-
do.pdf. Acesso em: 15 dez. 2021.
108
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
9 OLIVEIRA, Lais Gonzales de. Barreiras fronteiriças contra o princípio de non-refoulement: a ina-
cessibilidade do território e a determinação do status de refugiado. Revista Brasileira de Estudos de
População, v. 34, 2017, p. 32.
10 UE. Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (versão consolidada). 1957. Disponí-
vel em: https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75e-
d71a1.0019.01/DOC_3&format=PDF. Acesso em: 12 maio 2022.
11 UE. Carta dos Direitos Fundamentais. 2000. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-con-
tent/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:12016P/TXT&from=FR. Acesso em: 12 maio 2022.
12 PARLAMENTO EUROPEU. Política de asilo. Fichas temáticas sobre a União Europeia, 2021.
Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/factsheets/pt/sheet/151/politica-de-asilo. Acesso em:
12 maio 2022.
109
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
2015 causado pela guerra na Síria, sendo uma das maiores crises deste tipo da
história contemporânea da Europa. Tal crise, cujo fim ainda não está à vista, é
marcada por um aumento exponencial dos fluxos migratórios provenientes da
África, do Oriente Médio e da Ásia do Sul. Esses migrantes e refugiados alcançam
à UE pela rota do Mar Mediterrâneo e pela rota dos Balcãs, por vezes através de
redes de traficantes, causando milhares de mortes e sérias tensões diplomáticas
entre os países europeus, particularmente entre os países de chegada, que insistem
na solidariedade da comunidade, e os países de destino, que demostram mais
reticência em participar na gestão dos migrantes e refugiados.
Especialmente nos anos de 2021 e 2022, a Europa enfrentou duas grandes
crises migratórias. A de 2021 foi fomentada pelo governo da Bielorrússia com o
propósito de desestabilizar a UE. A de 2022, originou-se pelo ataque armado russo
à Ucrânia em fevereiro daquele ano, o que gerou a mais rápida crise de refugiados
desde a Segunda Guerra mundial, com um movimento massivo de ucranianos às
fronteiras polonesa, húngara, romena e moldava. O posicionamento da Europa
perante estas crises migratórias foi descaradamente díspar conforme se tratava de
europeus ou de não europeus13.
Nesta perspectiva, este estudo está centrado em uma análise jurídico-
comparativa da Europa frente aos refugiados ucranianos e os refugiados não
europeus, pertencentes nomeadamente ao Oriente Médio e a África. Deste modo,
para esta pesquisa foi feita uma revisão de literatura e, através dela, foi utilizada
uma metodologia qualitativa para a análise jurídica das normas e jurisprudências
internacionais.
13 FERNANDEZ, Julian; FLEURY GRAFF, Thibaut; MARIE, Alexis. Agression de l’Ukraine et exil
de guerre: l’Europe, toute l’Europe, rien que l’Europe? Le Rubicon, 10 de março de 2022. Disponível
em: https://lerubicon.org/publication/ukraine-exil-de-guerre. Acesso em: 12 maio 2022.
110
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
111
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 CHUNG, Frank. ‘Grey-zone warfare’: Belarus accused of ‘weaponising’ migrants to flood Polish
border. News.com.au, 11 de novembro de 2021. Disponível em: https://www.news.com.au/technolo-
gy/innovation/military/grayzone-warfare-belarus-accused-of-weaponising-migrants-to-flood-polish-
-border/news-story/d5da550dcd473b256fcc93bb97b13907. Acesso em: 12 maio 2022.
15 ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 10 de dezembro de 1948. Disponível em:
https://www.un.org/en/about-us/universal-declaration-of-human-rights. Acesso em: 12 maio 2022.
16 UE. Regulamento (UE) nº 604/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de junho
de 2013, que estabelece os critérios e mecanismos de determinação do Estado-Membro responsável
pela análise de um pedido de proteção internacional apresentado num dos Estados-Membros por um
nacional de um país terceiro ou por um apátrida. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-con-
tent/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32013R0604. Acesso em: 12 maio 2022.
112
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
17 TEDH. M.K. e outros c. Polônia, queixas nos 40503/17, 42902/17 e 43643/17, acórdão de 23 de
julho de 2020.
18 TEDH. D.A. e outros c. Polônia, queixa n° 51246/17, acórdão de 8 de julho de 2021.
19 VALE, Pedro Augusto Costa; MOREIRA, Thiago Oliveira. Implementation of the non-re-
foulement principle in the European Court of Human Rights’ jurisprudence. In: GURGEL, Yara
Maria Pereira; MOREIRA, Thiago Oliveira (coords.). Direito Internacional dos Direitos Humanos e
as pessoas em situação de vulnerabilidade. v. 1. Natal: Polimatia, 2021. p. 223: “O princípio da não
repulsão é a pedra angular do regime de proteção, pois somente por meio dele todos os demais direitos
podem ser alcançados, doravante esse princípio é a materialização do direito fundamental de buscar
asilo” (tradução nossa).
20 Ibid., p. 6.
113
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
114
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
significa que não pode ser derrogado pelo Estado (caso Saadi c. Itália24). À luz
dos factos mencionados, incumbe, portanto, à Polônia examinar os pedidos de
asilo individualmente e conduzir uma investigação adequada sobre o “risco real”
enfrentado pelos requerentes de asilo ao serem reenviados antes de os retornar
efetivamente.
Ademais, o recurso concedido aos requerentes de asilo pelas autoridades
polonesas no processo de análise deve corresponder a um “recurso eficaz” perante
as autoridades nacionais. Por outras palavras, mesmo que a decisão seja contra o
requerente de asilo, este deve ter o direito de interpor recurso junto das autoridades
polonesas. A negação deste direito seria uma clara violação do artigo 4° do Protocolo
n° 4 da CEDH. Além disso, quando está em causa um risco para o direito à vida
ou o direito a não ser torturado, a decisão de recusa de entrada deve ter um efeito
suspensivo automático, até que o requerente de asilo tenha esgotado todos os
recursos domésticos efetivos. Caso contrário, seria novamente uma violação do
artigo 4° do Protocolo nº 4 da CEDH. É importante apontar que essa violação
pelas autoridades polonesas pode vir a acontecer, uma vez que estas não preveem no
seu sistema interno um efeito suspensivo automático para os requerentes de asilo,
tais decisões tendo, pelo contrário, um efeito imediato.
Em 14 de outubro de 2021, o Parlamento polonês aprovou uma emenda
colocando mais lenha na fogueira. O artigo 33º, n° 1, alínea a) da Lei sobre a
Concessão de Proteção a Estrangeiros no Território da República da Polônia, de 13
junho de 200325, dispõe que as autoridades podem desconsiderar o pedido de asilo
apresentado por uma pessoa que atravessasse irregularmente a fronteira polonesa,
a menos que: i) tenha chegado diretamente do território em que sua vida ou
liberdade estava sob ameaça de perseguição; ii) apresentou uma causa credível para
a entrada ilegal no território da República da Polônia; e iii) submeteu um pedido de
concessão de proteção internacional imediatamente após ter atravessado a fronteira.
Por outras palavras, salvo nas circunstâncias restritivas acima mencionadas, as
autoridades polonesas teriam o direito de repelir qualquer requerente de asilo que
entrasse no território nacional de forma irregular, legalizando assim a repulsão em
casos de entradas irregulares, o que é uma nítida violação do princípio da não
repulsão.
115
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
26 ACNUR. Observações do ACNUR sobre o projeto de lei que altera a Lei sobre os Estrangeiros e
a Lei sobre a Concessão de Proteção a Estrangeiros no Território da República da Polônia (UD265).
16 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.refworld.org/docid/61434b484.html. Acesso
em: 24 maio 2022.
116
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
117
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Turquia. Logo após, a UE firmou um acordo com o governo turco para fechar as
suas fronteiras, a fim de impedir o influxo, em troca de ajuda financeira. No entanto,
nos anos de 2019 e 2020, alegando que a UE não tinha cumprido a sua promessa, e
depois de várias ameaças, o governo turco decidiu reabrir as suas fronteiras, levando
imediatamente a que milhares de pessoas se aglomerassem na fronteira grega, por
terra e mar, forçando a UE a renovar as suas relações diplomáticas com a Turquia
com vista a limitar esses refugiados ao território turco. Também no passado, vários
regimes autoritários, nomeadamente Cuba, Líbia, ex-Jugoslávia, Uganda, Coreia
do Norte e muitos outros, usaram essa tática de guerra, a fim de exercer pressões
sobre outros países.
Enquanto a intenção da Bielorrússia por trás da alegada instrumentalização
política dos refugiados parece evidente, o intuito da Polônia, que exacerbou a
situação através das violações mencionadas, e mais recentemente através de sua
emenda legislativa, é ambíguo. De acordo com o relatório de Agnieszka Dudzińska
e Michał Kotnarowski29 de 2019, baseado na opinião pública do povo polonês, foi
concluído que este último tem uma atitude geralmente desfavorável em relação aos
muçulmanos e, portanto, se opõe à aceitação de refugiados de países do Oriente
Médio e da África. A política do governo de recusar pessoas daquelas regiões do
mundo corresponde à atitude de seus eleitores, sendo que o atual governo direitista
também teme ser substituído pela direita radical de seu país se eles irem contra
as aspirações de seus eleitores. Assim, à luz dos factos mencionados, parece que o
atual partido político no poder na Polônia deseja agradar aos seus eleitores para
ser reeleito nas próximas eleições polonesas de 2023, podendo-se fazer aqui um
paralelo com a estratégia de outros partidos políticos em todo o mundo para chegar
ao poder, especialmente a do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em relação
aos imigrantes mexicanos.
O cenário atual requer soluções políticas. Para tanto, a Polônia como a
Bielorrússia devem negociar pacificamente, na presença da UE e da Rússia, a fim
de alcançar uma solução amigável. Entretanto, o ACNUR e outras organizações
não governamentais deveriam ter um acesso total à região com vista a fornecer
ajuda humanitária, a Polônia deveria considerar os requerimentos de atribuição
do estatuto de refugiado, enquanto a Bielorrússia deveria parar de usar a violência
física e moral contra os refugiados e imigrantes sob sua jurisdição.
29 DUDZIŃSKA, Agnieszka, KOTNAROWSKI, Michał. Imaginary Muslims: how the Polish right
frames Islam. Brookings. 24 de julho de 2019. Disponível em: https://www.brookings.edu/research/
imaginary-muslims-how-polands-populists-frame-islam. Acesso em: 12 maio 2022.
118
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 ACNUR. Operational Data Portal: Ukraine Refugee Situation. Disponível em: https://data.unh-
cr.org/en/situations/ukraine. Acesso em: 22 maio 2022.
31 VIERLINGER, Julian. UN: Ukraine refugee crisis is Europe’s biggest since WWII. Atlantic Coun-
cil, 20 de abril de 2022. Disponível em: https://www.atlanticcouncil.org/blogs/ukrainealert/un-ukrai-
ne-refugee-crisis-is-europes-biggest-since-wwii. Acesso em: 22 maio 2022.
119
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
120
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
de requerimentos de asilo na UE34 – que a DPT fosse ativada, nem ela nem os
demais Estados-Membros que admitiram requerentes, fizeram quaisquer tentativas
para desencadear esta diretiva de 2001. Na época, os benefícios resultantes de
uma aplicação da dita diretiva apareceram como mínimos face aos custos elevados
de transação para se chegar a um acordo sobre a partilha das responsabilidades
entre os diversos países europeus35, em particular porque os eleitores não teriam
aceito o facto de que fluxo de pessoas de diversas origens culturais e religiosas
(independentemente de seu estatuto de refugiados) fossem indiscriminadamente
autorizadas a ficar, sobrecarregando assim os recursos nacionais limitados. Este
episódio tende assim a demonstrar que, mesmo quando a ativação pode parecer
teoricamente justificada, a decisão final depende sempre da vontade política.
Para acionar a DPT, é necessário que haja um “afluxo maciço” e que seja
relacionado a um grupo específico de “pessoas deslocadas”36. Todavia, a definição
destas duas noções é demasiado vaga, deixando espaço suficiente para uma
interpretação conforme o objetivo político desejado. O “afluxo maciço” é definido
pela DPT como a:
34 CONNOR, Phillip. Number of refugees to Europe surges to record 1.3 million in 2015. Pew Re-
search Center. 2 de agosto de 2016. Disponível em: https://www.pewresearch.org/global/2016/08/02/
number-of-refugees-to-europe-surges-to-record-1-3-million-in-2015. Acesso em: 12 maio 2022.
35 GLUNS, Danielle; WESSELS, Janna. Waste of paper or useful tool? The potential of the temporary
protection directive in the current “refugee crisis”. Refugee Survey Quarterly, v. 36, 2017, p. 57-83.
36 UE. Diretiva 2001/55/CE do Conselho, de 20 de julho de 2001, op. cit., artigo 1°.
37 Ibid., artigo 2°, alínea d).
121
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
122
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
meio de gás lacrimogêneo, granadas atordoantes e canhões de água nas mãos dos
gregos, quando a Turquia abriu a sua fronteira para a Europa, supostamente para
pressionar a UE a se submeter à sua demanda de lhe oferecer mais apoio para lidar
com as consequências da guerra na Síria41.
É um princípio bem estabelecido que quando um requerente de asilo
chega à fronteira para apresentar um pedido de asilo, esse indivíduo não deve ser
sumariamente afastado para o país terceiro de onde pretende entrar. Qualquer
afastamento sumário, sem avaliação do risco incorrido pelo Estado requerido não
só violaria o princípio da não repulsão, como também o artigo 3° da Convenção
de 1951, conforme consagrado pelo TEDH nos casos Ilias e Ahmed c. Hungria42,
M.A. e outros c. Lituânia43, e Sharifi e outros c. Itália e Grécia44. Mesmo quando um
requerente de asilo é interceptado pelo Estado requerido antes de chegar à fronteira
ou no alto mar, ainda assim tal requerente deverá ser considerado, para os efeitos
do artigo 1° da Convenção de 1951, dentro da jurisdição do Estado em causa por
exercer um controle sobre ele. Aliás, mesmo quando o requerente não pede asilo ou
não descreve o risco que corre, ainda assim o Estado requerido não fica isento de
sua obrigação nos termos do artigo 3° da Convenção de 1951, não tendo o direito
de o repelir, conforme indicado no caso Hirsi Jamaa e outros c. Itália45.
Além disso, a exclusão coletiva de requerentes de asilo ou migrantes é
proibida por força do artigo 4° do Protocolo nº 4 da CEDH. No caso N.D. e N.T.
c. Espanha46, o TEDH estabeleceu um sistema de dois níveis no qual: em primeiro
lugar, deve verificar-se se o Estado demandado proporcionou uma efetiva entrada
ao seu território, e se o procedimento fronteiriço previsto para a apresentação do
pedido de asilo por parte daqueles que fogem à perseguição está em conformidade
com o artigo 3° da Convenção de 1951, entre outras normas internacionais,
incluindo a CEDH; em segundo lugar, avaliar se há alguma razão convincente
123
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 CONCLUSÃO
124
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
125
REFERÊNCIAS
BRITO, Renata. Europe welcomes Ukrainian refugees – others, less so. Ap News.
28 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://apnews.com/article/russia-
ukraine-war-refugees-diversity-230b0cc790820b9bf8883f918fc8e313. Acesso em:
12 maio 2022.
126
pewresearch.org/global/2016/08/02/number-of-refugees-to-europe-surges-to-
record-1-3-million-in-2015/. Acesso em: 12 maio 2022.
127
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal
dos Direitos Humanos. 10 de dezembro de 1948. Disponível em: https://www.
un.org/en/about-us/universal-declaration-of-human-rights. Acesso em: 12 maio
2022.
128
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS HUMANOS (TEDH). N.D.
e N.T. c. Espanha, queixas nos 8675/15 e 8697/15, acórdão de 3 dezem-
bro de 2017. Disponível em: https://hudoc.echr.coe.int/eng#{%22ite-
mid%22:[%22001-177683%22]}. Acesso em: 12 maio 2022.
129
europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32013R0604. Acesso em: 12
maio 2022.
130
A proteção dos refugiados através da implementação da cláusula
social nos acordos de comércio internacional celebrados no âmbito
da Organização Mundial do Comércio
1 INTRODUÇÃO
1 Doutorando em Direito Internacional e Direito Comparado pela USP – Universidade de São Paulo.
Mestre em Direito pela UNIVEM – Centro Universitário Eurípedes de Marília, Professor de Direito
Civil e Direito Internacional Privado da Universidade Estadual de Londrina. Professor de Direito
Civil, Direito Internacional e Direitos Humanos da Universidade Pitágoras-Unopar e da Universi-
dade Uniderp-Anhanguera. Pesquisador do NETI – Núcleo de Estudos em Tribunais Internacionais
da Faculdade de Direito da USP. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3549947656974130. E-mail:
cmoreno@uel.br.
131
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
132
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
133
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
134
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
12 BRASIL. Lei n.º 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do
Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Brasília: Presidência da República,
1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm. Acesso em: 10 set 2020.
13 MENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 200.
14 Ibid.,, p. 201.
15 Ibid.,, p. 203.
16 BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Brasília: Presidência
da República, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
l13445.htm. Acesso em: 30 jan. 2022.
135
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
136
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
rotas de migração acarretava uma busca reduzida do país para concessão das figuras
protetivas.
A partir de 2015, a discussão sobre o assunto relativo aos deslocados e
refugiados passou a ser pauta da mídia no Brasil, bem como passou a preocupar o
Governo Federal, pois milhares de venezuelanos passaram a buscar um padrão de
vida melhor, fugindo da crise venezuelana que causa a escassez de alimentos.
Visando conceder mais celeridade aos pedidos de refúgio que têm sido
formulados pelos venezuelanos, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE)
reconheceu, em junho de 2019, que a Venezuela passa por um momento de
existência de grave e generalizada violação de direitos humanos, prevista no inciso
III, do artigo 1° da Lei n° 9.474/97, conforme destaca a Nota Técnica n.º 3/2019/
CONARE20 aditada pela Nota Técnica n.º 12/2019/CONARE21.
Assim, com o reconhecimento da existência de grave e generalizada
violação de direitos humanos na Venezuela, com a consequente simplificação dos
procedimentos, o Brasil passou a ter o maior número de venezuelanos reconhecidos
como refugiados, alcançando, em 2020, a marca de cerca de 46 mil pessoas.
Contudo, se estima que cerca de 260 mil venezuelanos vivam no Brasil, tendo sido
registrados mais de 130 mil pedidos de refúgio22.
137
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
138
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
139
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 Essa carne ou corte é chamada de halal, pois segue princípios do Islã tanto na produção quanto no
abate. Em árabe, a palavra significa legal, permitido. E os muçulmanos só podem consumir alimentos
que foram produzidos seguindo esse ritual islâmico. Os requisitos mais importantes são verificar e se
certificar de que as aves estejam vivas, apresentando sinais vitais, e fazer a degola da forma que manda
o Islã. Os sangradores devem ser muçulmanos praticantes. A degola deve ser realizada cortando as
jugulares, as veias e artérias, para poder fazer o sangramento correto da ave, escoando o sangue para
que o alimento seja próprio para a consumação; G1. Conheça o processo de criação e abate de frango
‘halal’, que segue preceitos islâmicos. 18 nov. 2011. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/
agronegocios/globo-rural/noticia/2018/11/18/conheca-o-processo-de-criacao-e-abate-de-frango-ha-
lal-que-segue-preceitos-islamicos.ghtml. Acesso em: 29 jan. 2022.
31 FELLET, João. Refugiados denunciam maus-tratos em fábrica da Sadia. BBC Brasil. 26 jan. 2012.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/01/120125_refugiados_maus_tra-
tos_sadia_jf. Acesso em: 29 jan. 2022.
32 ANNONI, Danielle; VALDES, Lysian Carolina. O direito internacional dos refugiados e o Brasil.
Curitiba: Juruá, 2013.
140
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
33 SPITZCOVSKY, Débora. 5 empresas envolvidas com trabalho escravo. The Greenest Post. Dis-
ponível em: https://thegreenestpost.com/5-empresas-envolvidas-com-trabalho-escravo/. Acesso em:
29 jan. 2022.
34 Ibid.,,
35 Os uigures são muçulmanos que habitam predominantemente a região autônoma de Xinjiang, no
noroeste da China, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão. Sua língua é parente da língua
turca e os uigures se veem culturalmente e etnicamente mais ligados à Ásia Central do que ao resto da
China; BBC BRASIL. Entenda a questão dos uigures na China. 7 jul. 2009. Disponível em: https://
www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/07/090707entendauigurestp. Acesso em: 29 jan. 2022.
36 ISTO É DINHEIRO. 7 fornecedores da Apple acusados de usar trabalho forçado na China. 11 maio
2021. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/7-fornecedores-da-apple-acusados-de-usar-
-trabalho-forcado-na-china/. Acesso em: 29 jan. 2022.
37 SPITZCOVSKY, Débora. 5 empresas envolvidas com trabalho escravo. The Greenest Post. Dis-
ponível em: https://thegreenestpost.com/5-empresas-envolvidas-com-trabalho-escravo/. Acesso em:
29 jan. 2022.
141
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
livre comércio, tem como consequência uma concorrência nunca vista no comércio
internacional, levando tais empresa a se digladiar na disputa por mercados38.
Pode-se citar que a globalização tem um caráter fragmentador e
segmentador, uma vez que sua velocidade tem potencial de gerar mais exclusão
social. Além do mais, grande parte dos migrantes que buscam trabalho tem baixa
qualificação e não tiveram a possibilidade de se adaptar a era das novas tecnologias.39
Dois pontos são de suma importância neste cenário: a) a globalização
da produção que envolve a promoção dos produtos em vários Estados para se
conquistar o mercado internacional e b) a divisão internacional do trabalho, que
se traduz pela alocação mais favorável e a menores custos da mão de obra pelas
empresas40.
Desta forma, verifica-se que na divisão internacional do trabalho, as
empresas têm optado pela redução dos custos com mão de obra, como demonstrado
pelos vários casos citados anteriormente, promovendo uma precarização da condição
dos trabalhadores migrantes, para que possam competir no mercado internacional,
praticando, reiteradamente, o chamado dumping social.
38 LAU, Ana Isaballa. A cláusula social no comércio internacional: A interação entre a OMC e a OIT
no combate ao dumping social. Revista Direito e Desenvolvimento, João Pessoa. v. 6. n.11, p. 189-206,
jan/jun. 2015. p. 191
39 FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 246.
40 GUIMARÃES, Priscila de Brito Ataíde. A imigração e a proteção do trabalho: o dilema entre a
aplicação do Estatuto do Estrangeiro e a proteção trabalhista dos imigrantes bolivianos e haitianos.
(dissertação – mestrado). Universidade Católica de Brasília, 2015. p. 23
142
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
41 Para uma maior explanação do impasse envolvendo a criação da OIC ver: BARRAL, Welber.
Dumping e comércio internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai. Rio de
Janeiro: Forense: 2000. p. 76/82.
42 LAU, Ana Isaballa. A cláusula social no comércio internacional: A interação entre a OMC e a OIT
no combate ao dumping social. Revista Direito e Desenvolvimento, João Pessoa. v. 6. n.11, p. 189-206,
jan/jun. 2015. p. 191
43 Ibid.,, p. 192.
143
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
144
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
145
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
146
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
53 CARISTINA, Jean Eduardo Aguiar; SAYEG, Ricardo Hasson. Dumping social: Infração da or-
dem econômica humanista. Lex Humana, Petrópolis, v. 6, n. 1, p. 73, 2014. p. 90.
54 LAU, Ana Isaballa. A cláusula social no comércio internacional: A interação entre a OMC e a OIT
no combate ao dumping social. Revista Direito e Desenvolvimento, João Pessoa. v. 6. n.11, p. 189-206,
jan/jun. 2015. p. 194.
55 RODRIGUES, Mônica Nogueira; GASPAR, Renata Alvares. A atuação da OMC frente aos de-
safios de concretização dos Direitos Humanos, em especial no tocante aos direitos trabalhistas: uma
perspectiva desde os países em desenvolvimento (BRICS). Revista de Estudos Jurídicos UNA, v. 5, n.
1, p. 29-59, 2018. p. 39.
56 TAIAR, Rogério; CAPUCIO, Camila. Organização Mundial do Comércio e os Direitos Huma-
nos: Uma relação possível? Revista da Faculdade de Direito da USP, jan/dez 2010, v. 105. p. 147.
147
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
148
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
149
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
150
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
6 CONCLUSÃO
66 AMARAL JÚNIOR, Alberto do. A OMC e o comércio internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2002.
p. 317.
151
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
152
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
153
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
ser bem menos precárias, caso referida cláusula fosse adotada e implementada nos
acordos de comércio internacional.
Caberia a OMC, junto com a OIC, estabelecer o padrão mínimo de
direitos trabalhistas que devem ser observados pelas empresas na produção de bens
e serviços que estejam na cadeia de produção. Por outro lado, caberia a OMC
regulamentar a forma de suspensão de vantagens, benefícios e concessões a produtos
produzidos em desconformidade com o padrão mínimo.
De forma geral, a adoção de cláusula social contra a prática do dumping
social, possibilitaria, de maneira direta, a proteção de todos os trabalhadores e, de
maneira indireta, protegeria todos os refugiados que, na atualidade são obrigados a
se submeter a condições precárias de trabalho.
154
REFERÊNCIAS
155
para Venezuelanos. Atualização I, maio 2019. Disponível em: https://www.
refworld.org/docid/5cd1950f4.html. Acesso em: 7 set. 2020.
156
BBC BRASIL. Entenda a questão dos uigures na China. 7 jul. 2009. Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/07/090707_entenda_
uigures_tp. Acesso em: 29 jan. 2022.
157
imigrantes sul-americanos no Brasil. Jacarezinho: Argumenta Journal Law, n. 26.
p. 337-374.
158
JUNIOR, Francisco Veras. Direito ao Trabalho: condição fundamental para a
integração da população refugiada no Brasil. Dignidade Re-Vista, v. 1, n. 2, p. 11,
2016.
159
MOREIRA, Julia Bertino. Redemocratização e direitos humanos: A política
para refugiados no Brasil. Revista brasileira de política internacional, v. 53, n.1,
Brasília, Jan./July 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=
S0034-73292010000100006&script=sci_arttext. Acesso em: 9 set. 2020.
O GLOBO. Justiça decide que Zara é responsável por trabalho escravo flagrado em
2011. 14 nov. 2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia
/justica-decide-que-zara-responsavel-por-trabalho-escravo-flagrado-
em-2011-22070129. Acesso em: 29 jan. 2022.
O GLOBO. Conheça o processo de criação e abate de frango halal que segue preceitos
islâmicos. 18 nov 2011. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/
agronegocios/globo-rural/noticia/2018/11/18/conheca-o-processo-de-criacao-e-
abate-de-frango-halal-que-segue-preceitos-islamicos.ghtml. Acesso em: 29 jan.
2022.
160
reporterbrasil.org.br/2011/08/roupas-da-zara-sao-fabricadas-com-mao-de-obra-
escrava/. Acesso em: 29 jan. 2022.
ROCHA, Dalton Caldeira. Clausula Social. In: BARRAL, Welber (org.). O Brasil
e a OMC. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2002.
161
SINGER, Peter. Um só mundo: A ética da Globalização. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
162
A concretização dos Direitos Humanos dos migrantes haitianos
no Sistema Interamericano
1 INTRODUÇÃO
1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Direito Internacional dos Direitos Humanos e as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade
(CNPq/UFRN). E-mail: liviacarmelia@outlook.com.
2 Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Graduação e Mestrado).
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do País Basco (UPV/EHU). Mestre em Direito pela
UFRN. Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra. Chefe do Departamento de Direito
Privado da UFRN. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN. Mem-
bro do Conselho Nacional da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Professor/Pesqui-
sador Visitante da Universidade Lusófona do Porto. Líder do Grupo de Pesquisa Direito Internacional
dos Direitos Humanos e as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). Coordenador
Adjunto do Observatório de Direito Internacional do Rio Grande do Norte (OBDI).
163
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
164
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
3 SILVA, João Carlos Jarochinsk. BÓGUS, Lúcia Maria Machado. SILVA, Stéfanie Angélica Gimenez
Jarochinski. Os fluxos migratórios mistos e os entraves à proteção aos refugiados. Revista Brasileira
de Estudos de População. Associação Brasileira de Estudos Populacionais, v. 33, n. 3, 2016. p. 16-30.
4 LAZCANO, Alfonso Jaime Martínez. Parámetros de protección del Sistema Interamericano de De-
rechos Humanos a la movilidad humana. Revista del Instituto de Ciencias Jurídicas de Puebla, México,
v. 15. n. 47, ENERO, jun. 2021, p. 37-62.
5 MATOS, Izabella Barison. Haitianos para o Brasil e o oeste de Santa Catarina: autopercepção acerca
da sua inserção e do acesso aos direitos fundamentais na comunidade brasileira. In: ROMAN, Darlan
José; MATOS, Izabella Barison (org.). Imigração haitiana: perfil, ambientação social e organizacional
no oeste catarinense, política migratória e aspectos da história do Haiti, p. 43-60. Unoesc, 2018.
6 DURANS, Cláudia Alves. SANTOS, Rosenverck Estrela. HAITI: significado histórico, realidade
e perspectivas. Revista Especial de Políticas Públicas, n. especial da VII JOINPP – Para além da crise
global: experiências e antecipações concretas, v. 20, 2016, p. 130.
7 MATOS, Izabella Barison. Haitianos para o Brasil e o oeste de Santa Catarina: autopercepção acerca
da sua inserção e do acesso aos direitos fundamentais na comunidade brasileira. In: ROMAN, Darlan
José; MATOS, Izabella Barison (org.). Imigração haitiana: perfil, ambientação social e organizacional
no oeste catarinense, política migratória e aspectos da história do Haiti, p. 43-60. Unoesc, 2018.
165
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Nesse contexto, a história de tal povo pode ser dividida, conforme ensina
Handerson Joseph, em quatro grandes fluxos migratórios8. O primeiro desses ciclos
ocorreu no período em que os Estados Unidos ocuparam o Haiti e a República
Dominicana. Nessa a mesma época, o crescimento das indústrias de cana de açúcar
comandadas pelo país interventor na América caribenha cominou na escassez de
mão de obra nessas regiões, fazendo com que cerca de 35 mil haitianos deixassem
seu país de origem entre 1915-1934.
Seguindo na análise histórica do país, o segundo fluxo ocorreu quando
o Haiti se encontrava sob forte influência da cultura norte-americana. À época,
uma das medidas tomadas pelo presidente Élie Lescot foi tornar a língua inglesa
uma matéria obrigatória nas escolas haitianas. Somado a esse fato, o número de
templos protestantes cresceu abruptamente na década de 1950. Nesse contexto,
as famílias mais abastardas enviaram seus filhos para os Estados Unidos em busca
de uma melhor qualidade de vida e da possibilidade de ascender socialmente com
mais facilidade.
A terceira saída em massa, por sua vez, foi contemporânea do golpe
sofrido pelo então presidente Jean-Bertrand Aristide. Ocorre que, na década de
1990, diversas pessoas utilizavam de botes para fugir do Haiti motivadas pela
perseguição política que os militares faziam contra os apoiadores de Aristide.
Durante esse período, cerca de 45 mil boat people foram interceptados em alto-mar,
além das diversas pessoas que foram deportadas ao ingressar nos Estados Unidos,
sem o devido processo legal.
Por fim, o último ciclo se deu com o terremoto que atingiu a ilha em
2010. Embora o país já se encontrasse em um estágio de caos social instalado, o
sismo agravou ainda mais a situação, fazendo com que o Haiti entrasse em uma fase
de migração forçada causada prioritariamente por questões ambientais.
Assim, pode-se afirmar que o Haiti vive em um constante colapso social,
da colonização9 até os dias atuais, sendo agravada pelo terremoto ocorrido em 2021
166
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
e pela pandemia da COVID-1910. Vale destacar que, antes do sismo, mais de 2/3
da população não tinha acesso ao sistema de saúde, sendo esse fato agravado pela
destruição de cerca de 60% das estruturas após o terremoto de 201011. Ademais,
cerca de 80% da população vive abaixo da linha de pobreza e apenas 10% têm
acesso à energia elétrica12.
Diante desse contexto, principalmente durante o primeiro e o terceiro
fluxos migratórios, a República Dominicana foi um destino procurado pelos
haitianos. No entanto, a acolhida não foi receptiva, como será detalhado na análise
dos casos concretos, o que gerou diversos transtornos até as gerações atuais de
descendentes de haitianos.
A seguir, serão brevemente detalhados o surgimento do Sistema
Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, principais documentos e órgãos
de monitoramento e controle.
10 CIDH. Res. 02/2021. Protection des personnes haïtiennes en mobilité humaine: solidarité intera-
méricaine. Disponível em: https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/Resolucion-2-21-fr.
pdf. Acesso em: 27 dez. 2021.
11 SILVA, Leda Maria Messias da; LIMA, Sarah Somensi. Imigração Haitiana no Brasil: os Motivos
da Onda Migratória, as Propostas para a Inclusão dos Imigrantes e a sua Proteção à Dignidade Hu-
mana. Direito, Estado e Sociedade, 2016, p. 167-195.
12 COSTA, Lívia Carmélia Nascimento. MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos Direitos
Humanos dos haitianos no Brasil após a vigência da Nova Lei de Migração. VIII Simpósio de Direito
Internacional da Universidade Federal do Ceará.
13 “Mais os limites à liberdade e à autonomia dos Estados não foram trazidos apenas pelo Direito
Humanitário. Um passo a mais foi dado para a construção da tese da relativização da soberania dos
Estados com a criação, após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), da Liga ou Sociedade das
Nações, cuja finalidade era a de promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando
agressões externas contra a integridade territorial e independência política de seus membros. Como
efeito concreto da limitação do Poder do Estado, a Convenção da Liga estabelecia sanções econômi-
167
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
cas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas
obrigações. Redefinia-se, desse modo, a noção de soberania absoluta do Estado, que passava a incor-
porar em seu conceito compromissos e obrigações de alcance internacional no que diz respeito aos
Direitos Humanos”. MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de Direitos
Humanos pela jurisdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015.
14 CORTEZ, Laura Maria Silva. MOREIRA, Thiago Oliveira. A tutela dos direitos humanos dos
migrantes pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Cadernos de Dereito Actual, n. 8, p.
440, 2017.
15 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2019.
16 TIGROUDJA, Hélène. Migrations, vulnérabilité et dignité dans la jurisprudence de la Cour inte-
raméricaine des droits de l’homme. Conseil constitutionnel, Titre VII. n. 6, 2021, p. 77-85.
168
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
17 MARTINI, Sandra Regina. SIMÕES, Bárbara Bruna de Oliveira. Estudo do Sistema Interameri-
cano de Proteção dos Direitos Humanos: Aspectos da Fraternidade em Casos de Migração na Corte
Interamericana. Revista direitos humanos e democracia, Unijuí, ano 6. n. 11. jan./jun. 2018, p. 379-
405.
18 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos sistemas
regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
19 BOLOGNA, Agostina Hernández. LEIVA, María José Jara. JORDÁN, Angela Peralta. Nacionali-
dad y apatridia. Análisis del caso Personas dominicanas y haitianas expulsadas vs. República Domini-
cana ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos. PÉRIPLOS – Revista de Investigación sobre
Migraciones, ano 3, n. 2, 2019. p. 89-116.
20 MARTINI, Sandra Regina. SIMÕES, Bárbara Bruna de Oliveira. Estudo do Sistema Interameri-
cano de Proteção dos Direitos Humanos: Aspectos da Fraternidade em Casos de Migração na Corte
Interamericana. Revista direitos humanos e democracia, Unijuí, ano 6. n. 11. jan./jun. 2018, p. 379-
405.
169
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
21 CORTEZ, Laura Maria Silva. MOREIRA, Thiago Oliveira. A tutela dos direitos humanos dos
migrantes pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Cadernos de Dereito Actual, n. 8, p.
440, 2017.
22 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos sistemas
regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
170
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
23 BERNARDES, Pedro Henrique Dias Alves. A apatridia dentro do regime interamericano de di-
reitos humanos: o caso de dominicanos de ascendência haitiana. Anais do II Simpósio Internacional
Pensar e Repensar a América Latina, p. 1-15, 2016.
24 BOLOGNA, Agostina Hernández. LEIVA, María José Jara. JORDÁN, Angela Peralta. Nacionali-
dad y apatridia. Análisis del caso Personas dominicanas y haitianas expulsadas vs. República Domini-
cana ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos. PÉRIPLOS – Revista de Investigación sobre
Migraciones, ano 3, n. 2, 2019. p. 89-116.
25 PIOVESAN, Flávia. FACHIN, Melina Girardi. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
26 CORTEZ, Laura Maria Silva. MOREIRA, Thiago Oliveira. A tutela dos direitos humanos dos
migrantes pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Cadernos de Dereito Actual, n. 8, p.
440, 2017.
171
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
172
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
dos Estados-parte. No entanto, como será visto, perseguições políticas são motivos
em destaque pelos quais os haitianos saem em migração, de modo que tais direitos
se encontram perenemente ameaçados. Se aproximando desse entendimento,
o artigo 9° traz o princípio da legalidade. Segundo o tal, para que alguém seja
condenado por algum crime, seus atos, ao tempo em que sejam praticados,
precisam, necessariamente, já serem tipificados.
Seguindo essa linha, outro direito que merece destaque é o acesso à
justiça, previsto no artigo XVIII da DADDH e no artigo 25 da CADH. Para além
do acesso ao sistema judiciário, a Corte já decidiu pela garantia de procedimentos
baseados no devido processo legal até em vias administrativas, de modo que as
decisões que determinarem a expulsão, extradição ou deportação de migrantes deve
ser determinada por um juiz30, com o devido direito ao contraditório. Ainda sobre
essa temática, a Corte IDH, por meio da sentença do caso La Cantuta vs. Peru,
também se manifestou no sentido de que o acesso à justiça é uma norma imperativa
inderrogável31.
Outro ponto que garante o acesso à justiça é a necessidade da expulsão de
qualquer migrante que ingressou legalmente ao país ser motivada por lei32. Ainda
sobre o tema, a OC 18/2033 determinou que não basta que ordenamento jurídico
se adeque ao SIPDH, sendo essa obrigação estendida aos poderes legislativo e
executivo33. Ademais, segundo a OC 16/1999, o indivíduo não nacional deve ter
acesso à assistência consular para que seja exercido o devido processo legal.
Por fim, no artigo 8° da CADH prevê as garantias judiciais as quais
todos devem ser submetidos. Dentre elas estão: (i) a publicidade do processo; (ii)
direito de defesa; (iii) presunção de inocência e (iv) presença de intérprete, quando
necessário. Somado ao artigo 25° do mesmo documento, o artigo 8° concretiza
o devido processo legal e o acesso à justiça. Dessa forma, por meio de instruções
procedimentais, a arbitrariedade no processo é contida34. No entanto, como será
173
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
35 MARTINI, Sandra Regina. SIMÕES, Bárbara Bruna de Oliveira. Estudo do Sistema Interameri-
cano de Proteção dos Direitos Humanos: Aspectos da Fraternidade em Casos de Migração na Corte
Interamericana. Revista direitos humanos e democracia, Unijuí, ano 6. n. 11. jan./jun. 2018, p. 379-
405.
36 HANASHIRO, Olaya Sílvia Machado Portella. O Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos
Humanos. São Paulo: EDUSP, 2001.
37 LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves; MOREIRA, Thiago Oliveira. O Emprego da Con-
venção Americana de Direitos Humanos na Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte. Revista Digital Constituição e Garantia de Direitos, v. 14, n. 3, 2021, p. 112-139.
174
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
38 VERAS, Nathália Santos; SENHORAS, Elói Martins. Direito dos migrantes e a Corte Interameri-
cana de Direitos Humanos. Boa Vista: UFRR, 2018.
39 HANASHIRO, Olaya Sílvia Machado Portella. O Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos
Humanos. São Paulo: EDUSP, 2001. p. 37.
40 ESIS, Ivette. PALUMA, Thiago. SILVA, Bianca Guimarães. Os parâmetros de proteção das mi-
grações no sistema interamericano de direitos humanos. Revista Jurídica Unicuritiba, Curitiba, v. 2,
n. 59. abr./jun. 2020, p. p. 427
41 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos sistemas
regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 160
42 COSTA, Luiz Rosado. Os direitos humanos dos migrantes na jurisprudência da corte intera-
mericana de direitos humanos. Congresso Internacional de Direitos Humanos. Migração e Direitos
Humanos nas fronteiras, p. 1-18. Universidade Católica Dom Bosco. Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul, 2016. p. 5
175
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Por meio das sentenças, a Corte passa a decidir quais serão as modalidades
de reparação adequadas para remediar o problema causado, sendo possíveis cinco
espécies de reparação: restituição do direito, compensação econômica, reabilitação,
medidas de satisfação e medidas de não repetição43. Dessa forma, o artigo 68.1 da
CADH prevê a obrigatoriedade da implantação da sentença da Corte no âmbito
interno de cada país, contudo, cabe é da discricionariedade do condenado quais
serão as autoridades internas responsáveis por isso44.
Outro importante ponto, diz respeito à vinculação da decisão aos Estados
que não estavam diretamente envolvidos no caso inicial, mas são Estados-membros,
de modo que, a partir da sentença, estão vinculados a ela, devendo seguir, desde de
logo, as orientações determinadas45. No momento pós-sentença não há espaço para
recursos, cabendo, apenas, pedido de interpretação. A função da Corte IDH, no
entanto, não acaba nesse momento, pois ainda haverá a supervisão de cumprimento
da sentença.
Nessa etapa, que tem como fulcro o artigo 65 da CADH, a Corte irá
analisar os relatórios estatais que fornecem informações acerca das medidas adotadas
para solucionar as violações debatidas no caso. Aqui, será possível a solicitação de
dados, informações e até a realização de audiências46 com o fito de averiguar se a
problemática ainda persiste ou se as medidas tomadas pelo Estado foram suficientes.
43 KLUGE, Cesar Henrique. A Atuação do Ministério Público Brasileiro no Âmbito do Sistema Inte-
ramericano de Proteção dos Direitos Humanos: perspectiva nacional e internacional. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2021.
44 Ibid.,, p. 129
45 Ibid.,, p. 129
46 Ibid.,, p. 130
176
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
47 CRUZ, Viviane Xavier de Araújo; GARCIA, Luciana Silva. MIRANDA, Juliana Gomes. Efetivi-
dade do sistema interamericano de direitos humanos no contexto do conflito na ilha de são domingos:
reflexões sobre os casos apresentados contra a república dominicana. Caderno de Relações Internacio-
nais, v. 11. n. 21. jul./dez. 2020, p. 313-345.
48 CIDH. Relatório n.º 51/1996. Disponível em: https://cidh.oas.org/annualrep/96port/Caso10675.
htm. Acesso em: 27 jan. 2022. p. 1
177
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
A partir desse ponto, serão analisadas sentenças proferidas pela Corte IDH.
Nesse caso, as meninas Dilcia Yean e Violeta Bosico, filhas de mães dominicanas
e pais haitianos, tiveram sua cidadania dominicana negada e, consequentemente,
tornaram-se apátridas por mais de quatro anos50. Isso ocorreu como consequência
178
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
51 SILVA, Karine de Souza; AMORIM, Luísa Milioli de. Migração haitiana e apatridia na República
Dominicana: intersecções entre racismo e colonialidade. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curi-
tiba – PR, Brasil, v. 64, n. 2, p. 15
52 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (COIDH). Casos das crianças Yean
e Bosico vs. República Dominicana. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de
8 de setembro de 2005. Série C.
53 CRUZ, Viviane Xavier de Araújo; GARCIA, Luciana Silva. MIRANDA, Juliana Gomes. Efetivi-
dade do sistema interamericano de direitos humanos no contexto do conflito na ilha de são domingos:
reflexões sobre os casos apresentados contra a república dominicana. Caderno de Relações Internacio-
nais, v. 11. n. 21. jul./dez. 2020, p. 332.
179
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Esse caso, por seu turno, resultou de uma perseguição armada dos
militares dominicanos contra imigrantes haitianos que estavam sendo transportados
em um caminhão que não parou em um posto de controle em Botoncillo54. Em
decorrência dos disparos efetuados pelos dominicanos, quatro haitianos morreram,
diversas pessoas ficaram feridas, além da expulsão, sem o devido rito processual, de
alguns migrantes envolvidos no acontecimento55.
Em 2012, a Corte IDH concluiu que houve diversas violações de
direitos humanos, dentre elas, a violação do direito à vida dos migrantes, de suas
integridades físicas e de sua liberdade56. Somada a elas, ainda houve transgressão no
direito de circulação, tendo em vista que houve uma expulsão em massa e no acesso
à justiça, vez que os militares que interviram na investigação dos fatos57. Outrossim,
54 ANGEL, Ramiro Avilés Miguel. El derecho a la vida en el caso Nadege Dorzema et al V República
Dominicana. In: Defending the Human Rights of Migrants in the Americas: The Nadège Dorzema et
al v Dominican Republic Case. Revue Québécoise de droit international, p. 363, 2013.
55 CRUZ, Viviane Xavier de Araújo; GARCIA, Luciana Silva. MIRANDA, Juliana Gomes. Efetivi-
dade do sistema interamericano de direitos humanos no contexto do conflito na ilha de são domingos:
reflexões sobre os casos apresentados contra a república dominicana. Caderno de Relações Internacio-
nais, v. 11, n. 21. Jul./dez. 2020. p. 327-328
56 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (COIDH). Caso Nadege Dorzema
e outros v. República Dominicana. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 24
de outubro de 2012. Série C.
57 LESPINASSE, Colette. L’affaire nadège dorzema et al: le sens d’une participation comme pétition-
naire. Quebec Journal of International Law, 2013, p. 20
180
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
58 CRUZ, Viviane Xavier de Araújo; GARCIA, Luciana Silva. MIRANDA, Juliana Gomes. Efetivi-
dade do sistema interamericano de direitos humanos no contexto do conflito na ilha de são domingos:
reflexões sobre os casos apresentados contra a república dominicana. Caderno de Relações Internacio-
nais, v. 11. n. 21. jul./dez. 2020, p. 328.
59 https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/SCS/republicadominicana/nadegedorzema/nade-
gedorzemap.pdf
60 Ibid.,, p. 333
61 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (COIDH). Caso das pessoas do-
minicanas e haitianas expulsas v. República Dominicana. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e
Custas. Sentença de 28 de agosto de 2014. Série C.
181
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
por sua vez, relataram dificuldades impostas pelo Estado para a emissão de
documentos oficiais, que comprovariam suas nacionalidades, tendo em vista que
nasceram na República Dominicana e lá vigora, pelo menos em tese, o princípio
do ius soli.
Em 2012, a CIDH submeteu esse caso à Corte alegando ter havido
detenção e expulsão arbitrarias de haitianos e dominicanos de descendência haitiana
da República Dominicana, sem que houvesse sido seguido o rito para expulsar
migrantes previsto no direito interno do país. Outrossim, ainda foi constatado pela
CIDH um conjunto de impeditivos para que os registros dos filhos de haitianos
nascidos dominicanos fossem realizados.
A Comissão ainda apontou que tais dificuldades em registrar os filhos
dos haitianos em território dominicano além de impedir que esses descendentes
tivessem uma nacionalidade, negou o reconhecimento do direito à identidade e ao
nome, sendo esses três elementos protegidos pelo SIPDH.
Outro ponto observado pela CIDH foi que a expulsão das vítimas
gerou uma situação de separação e incomunicabilidade familiar, o que culminou,
consequentemente, com a ruptura desses vínculos, além de dificultar a garantia
das necessidades básicas dessas famílias que, ao serem desintegradas, tiveram de
reformular seus postos, impossibilitando, por exemplo, as crianças de estudar.
Somando-se a isso, tem-se o fato de que tais núcleos foram expulsos de seu país,
estando em um local totalmente desconhecido, gerando mais um entrave ao
conseguir meios de subsistência.
Diante desse caos gerado pelas expulsões em massa, a Corte IDH decidiu
que a República Dominicana violou os direitos de personalidade e nome previstos
na CADH ao não permitir os seus registros como dominicanos por eles serem
descendentes de haitianos. Em decorrência desse último fato, também foi violado
o direito à não discriminação.
Ainda, foram infringidos os direitos a proibição de expulsão coletiva e
expulsão de nacionais, sem mencionar a proteção à família e o acesso à justiça, que
foi desrespeitado ao não ser seguido no momento das detenções e expulsões. Por
fim, a Corte entendeu que o direito à proteção da honra e dignidade das pessoas
expulsas também foi ferido durante o ocorrido.
Nesse contexto, em 2014, a Corte IDH sentenciou o Estado a adotar
medidas necessárias para regular um procedimento de inscrição de nascimento
acessível e simples, buscando evitar a apatridia. Ademais, ele deve garantir a
182
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
capacitação da população, para que não haja discriminação nas ações de expulsão e
que, durante elas, seja respeitado o devido processo legal, além de evitar as expulsões
coletivas.
No entanto, mais uma vez, a República Dominicana não cumpriu a
sentença proferida pela Corte, segundo o relatório de reparações pendentes de
cumprimento62. Na verdade, aconteceu o oposto: o país declarou que não iria
implementar a sentença inoportuna e tendenciosa. Outrossim, em novembro
de 2014, foi emitida a sentença TC 0256/14, reconhecendo a ilegitimidade da
competência contenciosa da Corte IDH para a República Dominicana, sob a
argumentação de que o instrumento de aceite estaria, supostamente, violado
formalmente. Assim, percebe-se que o posicionamento dominicano ao recepcionar
as decisões do SIPDH é extremamente negativo para a proteção dos migrantes
haitianos e a garantia de uma vida digna a esse povo fica prejudicada.
5 CONCLUSÃO
62 https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/SCS/republicadominicana/dominicanashaitianas/
dominicanashaitianasp.pdf.
183
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
184
REFERÊNCIAS
185
CORTEZ, Laura Maria Silva. MOREIRA, Thiago Oliveira. A tutela dos direitos
humanos dos migrantes pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
Cadernos de Dereito Actual, n. 8, p. 440, 2017.
186
KLUGE, Cesar Henrique. A Atuação do Ministério Público Brasileiro no Âmbito
do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: perspectiva nacional e
internacional. Belo Horizonte: D’Plácido, 2021.
187
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo
comparativo dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.
RISSON, Ana Paula. DAL MADRO, Márcia Luiza Pit. LAJÚS, Maris Luiza de
Souza. Imigração e trabalho precário: Reflexões acerca da chegada da população
haitiana no oeste de Santa Catarina. Periplos – Revista de Investigación sobre
Migraciones, v. 1, n. 1, 2017, p. 144-152.
SILVA, César Augusto Lopes S. da; MORO, Marcos Caio Lopes. Imigração
haitiana e o brasil: considerações sobre a negativa de caracterização do refúgio.
Revista Videre – Dourados, v. 6. n. 11. jan./jul., 2014, p. 16-33.
SILVA, João Carlos Jarochinsk. BÓGUS, Lúcia Maria Machado. SILVA, Stéfanie
Angélica Gimenez Jarochinski. Os fluxos migratórios mistos e os entraves à
proteção aos refugiados. Revista Brasileira de Estudos de População. Associação
Brasileira de Estudos Populacionais, v. 33, n. 3, 2016. p. 16-30.
SILVA, Leda Maria Messias da; LIMA, Sarah Somensi. Imigração Haitiana
no Brasil: os Motivos da Onda Migratória, as Propostas para a Inclusão dos
Imigrantes e a sua Proteção à Dignidade Humana. Direito, Estado e Sociedade,
2016, p. 167-195.
188
O Sistema Interamericano como locus de enfrentamento às
violações dos direitos de pessoas marginalizadas, em especial,
de refugiados LGBTI
1 INTRODUÇÃO
189
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
190
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
sofrida por essas pessoas quando buscam da tutela de outro Estado em virtude
de uma perseguição sofrida (a qual pode ou não estar igualmente relacionada à
orientação sexual), este estudo busca igualmente observar se o SIDH oferece uma
proteção específica a este grupo.
Em termos mais objetivos buscar-se-á analisar se esse Sistema atua de
maneira eficaz na promoção da tutela de pessoas marginalizadas e, diante disso,
se essa proteção abarca refugiados de orientação sexual e/ou identidade de gênero
diversas. No caso de a hipótese ser negativa, questionar-se-á a preparação do Sistema
para uma eventual abordagem do tema em casos futuros. Para tais fins, pontua-
se a realização de um estudo monográfico por meio da metodologia hipotético-
dedutiva de abordagem, a qual utiliza do modelo analítico-explicativo de análise
dos objetivos e das ferramentas documental (incluindo-se a jurisprudencial) e
bibliográfica de procedimento.
5 BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Nova edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
6 OEA. Carta da Organização dos Estados Americanos. 1948. preâmbulo.
7 Ibid.,, art. 3.
8 Aqui importa fazer algumas considerações sobre o termo “marginalidade”. Este teve o seu sentido
atrelado, nas ciências sociais, aos processos de urbanização posteriores à Segunda Guerra Mundial em
191
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
países latino-americanos em que começaram a brotar bairros marginais, sub standard, situados “nas
bordas ou margens do corpo urbano tradicional das cidades”. E com estes, constitui-se o “o problema
das ‘populações marginais’” ao sistema social usual (QUIJANO, Aníbal. Notas sobre o conceito de
marginalidade. In: L. Pereira (org.). Populações marginais. São Paulo: Duas Cidades, 1978. p. 18-19).
Logo, em seu princípio o termo referia-se a populações menos favorecidas em termos não apenas
estritamente econômicos como também de direitos sociais; afinal, segundo o citado autor: “[o pro-
blema] não era unicamente a moradia ou a habitação como tais que se encontravam em precariedade,
mas todo o conjunto de ‘serviços comunais’ (água, esgoto, luz elétrica, transportes) de certas áreas da
cidade”. Assim é que se desenvolve o termo ‘marginalidade’, hoje contemplando o próprio sentido
de identidade psicossociocultural, em que certos grupos de pessoas não apresentam um sentimento
de pertencimento ao todo, ao tradicional, e, ao mesmo tempo, dependem deste para serem/vive-
rem (MAIOLINO, Ana Lúcia G.; MANCEBO, Deise. Análise histórica da desigualdade: margina-
lidade, segregação e exclusão. Psicologia & Sociedade, v. 17, n. 2, p. 14-20, 2005. DOI: https://doi.
org/10.1590/S0102-71822005000200003).
9 MORAWA, Alexander H. E. Vulnerability as a Concept of International Human Rights Law. JIRD,
v. 6, n. 2, 2003, p. 139-155. Disponível em: https://ciaotest.cc.columbia.edu/olj/jird/jird_jun03_
moa01.pdf. Acesso em: 1 abr. 2022.
10 A hipervulnerabilidade decorre de aspectos múltiplos do entorno social que terminam por agravar
a situação de vulnerabilidade de certo sujeito. No Brasil, o termo deriva de um julgado do Superior
Tribunal de Justiça, o REsp 586.316/MG, quando o Min. Herman Benjamin expressou que, in
concreto, a pessoa está sujeita a diversos fatores que fazem com que a sua situação de vulnerabilidade
transcenda a visão já prejudicada de certo indivíduo, agravando-a, devendo o Estado preocupar-se
ainda mais com o mesmo. Nesse passo, o uso do termo tem sido alargado para diversas áreas, como,
por exemplo, para a situação de refugiados, os quais já estão em situação de vulnerabilidade pela
perseguição sofrida ensejadora do deslocamento, mas que, no país de destino, são rotineiramente
expostos a outras situações que agrava a sua situação, transformando-lhes, desta forma, em hipervul-
neráveis (GARBINI, V. G.; SQUEFF, T. A. F. R. C.; SANTOS, T. F. S. A vulnerabilidade agravada
dos refugiados na sociedade de Consumo. Revista de Direito do Consumidor, v. 119, ano 27, p. 19-47.
São Paulo: RT, set./out. 2018.).
192
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
11 Aqui, frisa-se o papel não apenas da aplicação horizontal dos efeitos dos direitos humanos, ensejan-
do que todos da sociedade operem para a proteção dos direitos fundamentais (e não apenas o Estado)
(SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2006), como também os próprios Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que igualmente induz
os atores privados a atuarem em prol da realização dos objetivos listados na Agenda 2030 (cf. SQUE-
FF, Tatiana Cardoso; D’AQUINO, Lúcia Souza. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e Covid-19:
impactos e perspectivas. Londrina: Thoth, 2022.).
12 GARBINI, V. G.; SQUEFF, T. A. F. R. C.; SANTOS, T. F. S. A vulnerabilidade agravada dos
refugiados na sociedade de Consumo. Revista de Direito do Consumidor, v. 119, ano 27, p. 19-47. São
Paulo: RT, set./out. 2018. p. 21.
193
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
direitos, no caso dos sujeitos marginalizados, por certo que reconhecer o grupo
em si e as vulnerabilidades que estes especificamente apresentam/enfrentam é
igualmente primordial para a busca da sua plena tutela.
Assim sendo, a CIDH, em seus relatórios, e a CtIDH, em suas decisões,
apresentam critérios de definição do que seriam essas pessoas marginalizadas diante
do contexto específico em que elas se encontram13. As duas instituições que formam
o SIDH têm tratado de casos de pessoas e grupos vulneráveis de maneira a formar
uma base documental e jurisprudencial relevantes sobre o tema. Dentre estes estão
as mulheres, as pessoas privadas de liberdade, as crianças, os povos indígenas, os
migrantes, refugiados e apátridas, e a população LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Intersexos). Logo, nesta seção, apresentar-se-ão os debates atinentes aos
quatro primeiros grupos citados, deixando as duas últimas categorias para serem
abordadas na seção subsequente pelas razões que serão posteriormente expostas.
194
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
195
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
da CIDH23 do caso Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil, que decorreu da
omissão do Estado brasileiro não só em relação da demora processual para ver o seu
caso de violência doméstica, que lhe causou paraplegia irreversível, apreciado pelo
Poder Judiciário Estado, como também pela inexistência, à época, de medidas que
prevenissem que tal situação de violência ocorresse em solo brasileiro. Nesse caso,
a CIDH considerou que o país violou o direito de proteção jurídica por não ter
punido o perpetuador das agressões e ter agido com negligência diante da situação.
Em acompanhamentos posteriores, a Comissão identificou a criação da Lei Maria
da Penha, em 2006, como instrumento normativo interno no país e alertou ao
Estado sobre a urgência de aplicar tal legislação efetivamente, além de continuar a
aplicar políticas públicas voltadas para prevenir, punir e erradicar a violência contra
a mulher24.
Apesar disso, deve-se pontuar que mesmo havendo tais desdobramentos,
ainda visualizam-se agressões sofridas por mulheres no Estado brasileiro. Exemplo
disso é o recente caso julgado pela CtIDH, Barbosa de Souza e outros vs. Brasil,
em 2021, que novamente evidencia a necessidade de o Estado agir para proteger
a mulher, mais especificamente, a mulher preta, pobre e nordestina (logo,
hipervulnerabilizada)25. Isso porque, o caso trata do homicídio e da ocultação de
cadáver praticados contra Márcia Barbosa de Souza, em João Pessoa em junho de
1998, por um deputado estadual.
Este caso apontou a existência de um padrão nos países latinos – haja vista
o que também foi observado no caso julgado pela CtIDH contra o México26 – de
questionar-se a vida pregressa da vítima, além da ocorrência de outros estereótipos
de gênero, na tentativa de justificar a violação perpetrada, o que não se poderia
admitir27. Ademais, assinalou a existência de um contexto de violência contra a
mulher no Brasil que, em que pese aprovada a Lei Maria da Penha, ainda se verifica
23 CIDH. Relatório Nº 54/01. Caso 12.051. Mérito. Maria da Penha Maia Fernandes. Brasil. 16
de abril de 2001. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm. Acesso
em: 30 mar. 2022.
24 Ibid
25 CIDH. Barbosa de Souza e outros. Brasil. Sentença. 7 de setembro de 2021. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_435_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
26 CIDH. González e outras (“Campo Algodoeiro”). México. Sentença. 16 de novembro de 2009.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_205_por.pdf. Acesso em: 30
mar. 2022.
27 CIDH. Barbosa de Souza e outros. Brasil. Sentença. 7 de setembro de 2021. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_435_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. p. 48.
196
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
a existência de muito espaço para o Estado agir, sobretudo, frente a este grupo
específico marginalizado de mulheres hipervulnerabilizadas28. E justamente nesse
ponto é que se destaca o papel da CtIDH (e do SIDH como um todo), em notar a
existência dessas (hiper)vulnerabilidades, e demandar que o Estado as corrija.
28 CIDH. Barbosa de Souza e outros. Brasil. Sentença. 7 de setembro de 2021. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_435_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. p. 47, 51-53.
29 Este documento foi gerado no âmbito da Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade nas Américas e o seu nome completo é ‘Princípios e Boas Práticas sobre a Proteção das
Pessoas Privadas de Liberdade nas Américas’. Enquanto ato de organização internacional, aprovado
pelos comissários da CIDH, ele é uma fonte com natureza obrigatória para os membros da OEA.
Todavia, servirá para fins interpretativos quando usada pela CtIDH quando analisando um pedido,
especialmente diante do art. 29(c) da CADH. Ela, inclusive, citou o referido documento na outorga
de medidas provisórias no caso do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho vs. Brasil, ao referenciar o
princípio XII sobre questões relativas ao alojamento, condições de higiene e vestuário dos apenados
que estariam sendo desrespeitados e, logo, seriam incompatíveis com a citada Resolução (CIDH.
Assunto do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho. Medidas Provisórias a respeito do Brasil. Resolução
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 22 de novembro de 2018, p. 68. Disponível em:
https://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/placido_se_03_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.). Já o
princípio X, sobre a saúde de pessoas encarceradas, foi apreciado em outra Medida Provisória, nova-
mente contra o Brasil, no caso do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em que determinou que os
apenados com tuberculose não poderiam voltar aos seus pavilhões dada a lata transmissibilidade da
doença (CIDH. Assunto do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Medidas Provisórias a respeito do
Brasil. Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 14 de outubro de 2019, p. 52.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/pedrinhas_se_03_por.pdf. Acesso em: 30
mar. 2022.).
30 OEA. Convenção Americana sobre os Direitos Humanos. 1969. art. 5.
31 OEA. Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura. 1984. art. 2.
197
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
32 OEA. Principles and Best Practices on the Protection of Persons Deprived of Liberty in the Americas.
2008. preâmbulo.
33 ONU. ONU preocupada com piora em prisões na América Latina após pandemia. ONU News, 5
maio 2020. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/05/1712612. Acesso em: 1 abr. 2022;
HRW. América Latina: Reduza a superlotação nas prisões para combater a COVID-19. HRW, 2 abr.
2020. Disponível em: https://www.hrw.org/pt/news/2020/04/02/340125. Acesso em: 1 abr. 2022.
34 CtIDH. Presídio Miguel Castro Castro. Peru. Mérito. 25 de novembro de 2006, p. 186.a.1. Dis-
ponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2016/04/7ef9a6d58703704d6c5e9a8a-
04cb09e9.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
35 Interessante notar que a foram os juízes da Corte que trouxeram a questão da mulher para a
apreciação, pontualmente, do dever do Estado em zelar para que as autoridades e agentes estatais se abs-
tenham de qualquer ação ou prática de violência contra a mulher (referindo-se ao art. 7 da Convenção
de 1994) (CtIDH, 2006, para 292), não se limitando, assim, a debater apenas os direitos das pessoas
privadas de liberdade, porquanto configurando o uso do princípio iura novit curia (CtIDH, 2006,
para 162), mas não sem críticas, tal como se absorve do voto do Juiz Sergio García Ramírez, que
condenou largamente essa medida por parte da Corte, entendendo que esta Convenção não deveria
ter sido considerada pelos magistrados para fins interpretativos (rememora-se que a confirmação da
justiciabilidade do citado art. 7, como aludido supra, só ocorreu em 2009 na CtIDH).
36 CtIDH, 2006. p. 413 e 432.
198
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
37 CIDH. Relatório Nº 63/99. Caso 11.427. Victor Rosario Congo. Equador. 1999, p. 6 10,103.
Disponível em: https://www.cidh.oas.org/annualrep/98eng/Merits/Ecuador%2011427.htm. Acesso
em: 30 mar. 2022; HILLMAN, Alison A. Protecting Mental Disability Rights: A Success Story in the
InterAmerican Human Rights System. Human Rights Brief, v. 12, n. 3, 2005, p. 25-28, p. 3.
38 CIDH. Resolução 1/2020. Pandemia y Derechos Humanos en las Américas. 2020. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022.
39 CRUZ, Elisa Costa. A vulnerabilidade de crianças na jurisprudência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos: análise de casos e de formas de incorporação no direito brasileiro. Revista dos Tri-
bunais [recurso eletrônico]. São Paulo, n. 999, jan. 2019, p. 71. Disponível em: https://dspace.almg.
gov.br/handle/11037/32259. Acesso em: 4 jul. 2019.
199
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
40 SQUEFF, Tatiana Cardoso; FREITAS, Felipe Simor de. Segurança jurídica na jurisdição contenciosa
da Corte Interamericana de Direitos Humanos através da sinalização-alerta de interpretações em Opiniões
Consultivas. 2022. No prelo.
41 Sobre o tema, a Corte, na OC 17/02, teceu que a Opinión Consultiva no constituye una mera espe-
culación académica y que el interés en la misma se justifica por el beneficio que pueda traer a la protección
internacional de los derechos humanos (CtIDH. Opinião Consultiva OC-17/2022. Condición Jurídica
y Derechos Humanos del Niño. 28 de agosto de 2002, p. 35. Disponível em: https://www.corteidh.
or.cr/docs/opiniones/seriea_17_esp.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022).
42 Este está assim redigido: Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menor
requer por parte da sua família, da sociedade e do Estado (OEA, 1969, art. 19).
43 CtIDH. Opinião Consultiva OC-17/2022. Condición Jurídica y Derechos Humanos del Niño.
28 de agosto de 2002. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_17_esp.pdf.
Acesso em: 30 mar. 2022. p. 9.
200
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
(a) a definição de criança44, (b) o direito à igualdade perante a lei45, (c) o princípio
do interesse superior do menor46, (d) os deveres da família, sociedade e Estado, em
que discutiu a excepcionalidade47 da separação da criança de sua família justamente
por ser ela o núcleo central da proteção do menor, além da necessidade de adequar
as instituições estatais e qualificar os seus funcionários para lidar com crianças e os
seus interesses48, e (e) as diretrizes para procedimentos judiciais/administrativos que
tenham crianças como partes, ressaltando a necessidade de observar-se o devido
processo legal, a presunção da inocência e a ampla defesa e contraditório, que inclui
a participação da criança no procedimento enquanto sujeito49.
Outra Opinião Consultiva de destaque é a n. 21/14, solicitada pela
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai em 2014, almejando determin[ar] com maior
precisão quais são as obrigações dos Estados com relação às medidas passíveis de serem
adotadas a respeito de meninos e meninas, associadas à sua condição migratória, ou à
de seus pais50. Importante essa Opinião, sobretudo, em função da prática de alguns
Estados em criminalizar a condição migratória e, além disso, promover a separação
das famílias, ocasionando prejuízos de ordem psíquica a ambos – condutas essas
rechaçadas pela Corte no documento em comento51.
Ademais, a Opinião, ao visualizar a hipervulnerabilidade a qual as
crianças migrantes são submetidas, relembra que os Estados estão obrigados
44 CtIDH. Opinião Consultiva OC-17/2022. Condición Jurídica y Derechos Humanos del Niño.
28 de agosto de 2002. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_17_esp.pdf.
Acesso em: 30 mar. 2022. p. 38-42.
45 Ibid.,, p. 43-45.
46 Ibid.,, p. 56-61.
47 Esse foi o ponto discutido no caso Fornerón e filha vs. Argentina, julgado pela CtIDH em 2012,
tendo a Corte defendido a necessidade de se favorecer, sempre, a manutenção da criança no núcleo
familiar, pois esta medida é que estaria de acordo com o princípio do superior interesse da criança. O
caso dizia respeito a separação de uma criança de sua família biológica, cuja excepcionalidade não foi
comprovada, logo, violando a CADH, em seu art. 17.
48 CtIDH, 2022. p. 62-91.
49 Ibid.,, p. 92-136.
50 CtIDH. Opinião Consultiva OC-24/17. Identidade de gênero, igualdade e não discriminação a
casais do mesmo sexo. 19 de agosto de 2014. p. 1. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/
opiniones/seriea_21_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
51 Sobre o tema, cf. de maneira mais detalhada o estudo de Squeff e Orlandini (SQUEFF, Tatiana
Cardoso; ORLANDINI, Marcia Leonora. Is there a latin american child migration law? Revista Vi-
dere, Dourados/MS, v. 11, n. 21, p. 121-134, jan./jun. 2019.), notadamente frente ao contexto e
práticas estadunidenses.
201
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
a amparar integralmente todos os menores que estão sob sua jurisdição, não
podendo a condição migratória prejudicar a sua ação/resposta no caso concreto,
notadamente pelo direito à igualdade e não discriminação52. Ainda, a Corte
aproveita a oportunidade para listar 10 diretrizes básicas que os Estados devem
respeitar quando agindo em relação às crianças migrantes, a saber:
202
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Sawhoyamaxa vs. Paraguai, como um exemplo, vez que, neste, foi identificada
a transferência progressiva de terras indígenas a não indígenas, culminando em
um prejuízo na subsistência dos primeiros (água, alimentação adequada, etc.).
Diante desse cenário, a Corte apontou para a ocorrência de violações aos direitos
das crianças. Isso porque, além de garantir a vida – obrigação comum a todas as
pessoas –, o Estado tem a responsabilidade de atuar como especial garantidor do
princípio do superior interesse da criança. Não obstante, as medidas reparatórias
recomendadas pela CtIDH não foram direcionadas especificamente às crianças da
comunidade57. Semelhante foram as suas conclusões no caso Comunidade Indígena
Xákmok Kásek vs. Paraguai, julgado pela Corte em 2010, denotando também a
ligação entre dois grupos marginalizados que são as crianças e os indígenas58.
Ao cabo, sobre o tema, interessante avultar que, por ocasião do Dia da
Infância e da Adolescência nas Américas, em 2020, a CIDH reiterou o seu papel de
acompanhamento de medidas adotadas pelos Estados na temática em questão. A
Comissão reforçou a necessidade de se manterem os esforços na tratativa das questões
concernentes às crianças e adolescentes, especialmente devido à desigualdade que
permeia o grupo, fazendo com que muitos desses indivíduos sejam privados de
direitos básicos, como a vida e o acesso à saúde e à educação. Finalmente, foram
reconhecidos fatores interseccionais que colocam pessoas desse grupo em situação
de especial vulnerabilidade, como gênero, etnia e/ou deficiência, além da Covid-19,
que intensificou os desafios para a sua proteção59.
Tribunais [recurso eletrônico]. São Paulo, n. 999, jan. 2019. Disponível em: https://dspace.almg.gov.
br/handle/11037/32259. Acesso em: 4 jul. 2019.
57 CtIDH. Comunidad Indígena Sawhoyamaxa. Paraguai. Sentença. 29 de março de 2006. Disponí-
vel em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_146_esp2.pdf. Acesso em: 2 abr. 2022.
58 CRUZ, 2019, p. 73-74; CtIDH. Comunidade Indígena Xákmok Kásek. Paraguai. Setença. 24 de
agosto de 2010. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_214_por.pdf.
Acesso em: 30 mar. 2022.
59 CIDH. Resolução 1/2020. Pandemia y Derechos Humanos en las Américas. 2020. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022.
203
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
60 OEA. Projeto de Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas. 1997. art. 4.
61 Ibid.,, art. 1.
62 OEA. Declaração Americana sobre o Direito dos Povos Indígenas. 2016. p. 1.
63 Ibid.,, preâmbulo.
64 Ibid., art. 1.
65 CIDH. Resolução 1/2020. Pandemia y Derechos Humanos en las Américas. 2020. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022. p. 56.
66 Ibid.,
204
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
67 CIDH. Resolução 1/2021. Miembros de los Pueblos Indígenas Guajajara y Awá de la Tierra Indí-
gena Araribóia respecto de Brasil. 2021. p. 4. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/
pdf/2021/1-21MC754-20BR.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022.
68 Ibid.,, p. 52.
69 Para mais casos, cf. Squeff (SQUEFF, Tatiana Cardoso. Estado Plurinacional: a proteção do indígena
em torno da construção da Hidrelétrica de Belo Monte. Curitiba: Juruá, 2016. p. 58-60), comentando
os casos Comunidade Mayagana Awas Tigni vs. Nicarágua, julgado em 2001; Povo Saramaka vs. Suri-
name, julgado em 2007, Povos Indígenas Kichwa de Sarayaku vs. Equador, julgado em 2012, além do
caso Comunidade Indígena Sawhoyamaxa vs. Paraguai, comentado no ponto do direito das crianças,
julgado em 2006.
70 CtIDH. Povo Indígena Xucuru e seus membros. Brasil. Sentença. 5 de fevereiro de 2018. p. 102,
148-149 e 162. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_346_por.pdf.
Acesso em: 2 abr. 2022.
71 Ibid.,, p. 131.
205
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
sendo este um dos pontos mais marcantes desse caso para o que se está discutindo
neste texto, isto é, acerca do reconhecimento da vulnerabilidade e do dever do
Estado frente a isso.
Ressalta-se, porém, que mesmo diante desse caso contencioso, o Brasil
parece ainda insistir em não assegurar os direitos das comunidades tradicionais
situadas em sua jurisdição. Afinal, no dia 5 de janeiro de 2022 foi apresentado
à Corte outro caso envolvendo o descaso do Estado para com as comunidades
quilombolas de Alcântara, as quais foram desprovidas de suas terras para a
instalação de uma base aeroespacial, logo, já transgredindo o direito a propriedade
destacado no parágrafo anterior, fazendo-o, porém, sem consulta prévia ou mesmo
a existência de mecanismos judiciais domésticos específicos que possam utilizar
para fins de remediar a situação72. De toda sorte, uma questão que se sobressai
dessa situação é o envolvimento do SIDH na tentativa de fazer cessar as violações,
especialmente em relação a pessoas marginalizadas, tal como se observou em todos
os outros exemplos anteriores a este, quando do descaso estatal.
Em vista disso, tem-se que a tutela de indivíduos e grupos marginalizados
resta consagrada ao se considerar que a CADH impõe aos Estados Partes, sob o
princípio da responsabilidade internacional, o dever de reparação integral. Isto
é, os Estados violadores têm a responsabilidade de reparar adequadamente a(s)
vítima(s) e seus familiares pelos danos causados pela violação de seus direitos73.
A responsabilidade internacional levada à cabo por meio do SIDH, portanto,
conforme assinala Ramos74, mostra ser o mecanismo apropriado para fazer com
que o equilíbrio entre os indivíduos na sociedade seja (re)estabelecido.
Sendo assim, cabe, a partir de então, explorar como o SIDH tem tratado
a realidade de outros grupos igualmente marginalizados, como os migrantes,
refugiados e apátridas e a população LGBTI, buscando verificar se, explicitamente,
ela também tutela opera no que concerne à condição migratória, orientação sexual
e identidade de gênero, mais especificamente, os refugiados LGBTI.
72 ALMEIDA, Paula Wojcikiewicz; PORTO, Gabriela Huhne. A polêmica sobre o Centro de Lan-
çamento de Alcântara chega à Corte IDH. Conjur, 2 fev. 2022. Disponível em: https://www.conjur.
com.br/2022-fev-02/opiniao-polemica-centro-alcantara-chega-corte-idh. Acesso em: 5 abr. 2022.
73 OEA, 1969. art. 63.1.
74 RAMOS, André de Carvalho. Responsabilidade Internacional do Estado por violação dos Direitos
Humanos. CEJ, Brasília, n. 29, abr./jun. 2005, p. 53-63, p. 58. Disponível em: https://revistacej.
cjf.jus.br/cej/index.php/revcej/article/view/663/843. Acesso em: 5 abr. 2022
206
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
75 CRENSHAW, Kimberle. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist
Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. University of Chi-
cago Legal Forum, n. 1, p. 139-167, 1989. Disponível em: https://chicagounbound.uchicago.edu/cgi/
viewcontent.cgi?article=1052&context=uclf. Acesso em: 28 ago. 2018.
76 HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações so-
ciais. Tempo Social, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 61-73, jun. 2014, p. 62. DOI: https://doi.org/10.1590/
S0103-20702014000100005.
77 CRENSHAW, Kimberlé W. Documento para o Encontro de Especialistas em Aspectos da Discri-
minação Racial Relativos ao Gênero. Estudos Feministas, a. 10, n. 1, p. 171-188, 2002.
78 JUNQUEIRA NETO. Políticas migratórias e o refúgio lgbti durante a pandemia da Covid-19 nas
américas: um estudo interseccional a partir da necropolítica. 2022. Trabalho de conclusão de curso,
Curso de Relações Internacionais, Instituto de Economia e Relações Internacionais, Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2022.
207
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
79 NASCIMENTO, Daniel Braga. Refúgio LGBTI: panorama nacional e internacional. Porto Alegre:
Fi, 2018. p. 26.
80 ACNUR. Brasil protege refugiados LGBTI, mostra levantamento inédito do ACNUR e do Mi-
nistério da Justiça. ACNUR, Brasília, 29 nov. 2018. Disponível em: https://www.acnur.org/portu-
gues/2018/11/29/brasil-protege-refugiados-lgbti-mostra-levantamentoinedito-do-acnur-e-do-minis-
terio-da-justica/. Acesso em: 11 abr. 2022.
208
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
81 CIDH. Resolução 1/2020. Pandemia y Derechos Humanos en las Américas. 2020. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022. p. 3.
82 OEA, 1969. art. 22.7.
83 OEA. Cartagena Declaration on Refugees. 1984. p. 3.
84 CtIDH. Família Pacheco Tineo. Brasil. Sentença. 25 de novembro de 2013. Disponível em: ht-
tps://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/BDL/2013/9390.pdf. Acesso em: 2 abr. 2022. p. 141.
209
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Fonte: ESIS, Ivette; PALUMA, Thiago; SILVA, Bianca G. Os parâmetros de proteção das migra-
ções no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Revista Jurídica, v. 2, n. 59, 2020, p. 423-
452, p. 428-429. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/
view/4099/371372412. Acesso em: 1 abr. 2022.
85 A CtIDH (2013a, o. 47 – nota 173) listou os 14 países, quais sejam: Argentina, Belize, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e
Uruguai.
86 ESIS, Ivette; PALUMA, Thiago; SILVA, Bianca G. Os parâmetros de proteção das migrações no Sis-
tema Interamericano de Direitos Humanos. Revista Jurídica, v. 2, n. 59, 2020, p. 423-452, p. 428-429.
Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/4099/371372412.
Acesso em: 1 abr. 2022.
210
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
87 CtIDH. Opinião Consultiva OC-18/03. A condição jurídica e os direitos dos migrantes indo-
cumentados. 17 de setembro de 2003. p. 68. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2016/04/58a49408579728bd7f7a6bf3f1f80051.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
88 Ibid., p. 110.
89 CtIDH. Opinião Consultiva OC-1/82. “Otros tratados” Objeto de la Función Consultiva de la
Corte (Art. 64 Convención Americana sobre Derechos Humanos). 24 de setembro de 1982. p. 51.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_01_esp1.pdf Acesso em: 30 mar.
2022.
90 Para uma análise dos três casos, cf. (SQUEFF, T. C.; PALUMA, T.; AYZAMA, A. C. ¿Justicia a
través de la Corte? La (in)efectividad de contestar la discriminación de los haitianos en la República
Dominicana. Revista Jurídica, Curitiba, v. 3, n. 60, 2020). Os autores concluem no texto que o fato de
a República Dominicana ter sido levada à Corte em três ocasiões denota a falta de eficácia do SIDH
na imposição do controle de convencionalidade, particularmente pela inexistência de mecanismos de
implementação de sentenças, restando, desta forma, dependentes do power of shame.
211
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
do país, sem seguir o devido processo legal para estes casos. Indagou-se, ainda,
as dificuldades enfrentadas por tais migrantes no registro de crianças nascidas em
território dominicano e na obtenção de nacionalidade91.
Diante dessa situação, a CtIDH reiterou a impossibilidade de os
descendentes herdarem a condição de irregularidade de seus genitores imigrantes.
Ademais, a Corte atestou a ilegalidade dos atos praticados pela República
Dominicana, solicitando que fossem tomadas as medidas necessárias para
que as normas internas que discriminavam pessoas haitianas e descendentes de
haitianos não mais continuassem produzindo efeitos jurídicos92, o que implicava,
numa necessidade de modificar-se a própria Constituição do país, recentemente
modificada para excluir tal grupo de migrantes93.
Por fim, nota-se que, diante da pandemia da Covid-19, o SIDH também
focou esforços na proteção de pessoas migrantes nas Américas. Durante o período
de crise sanitária global, a CIDH ordenou que os Estados americanos protegessem
esse grupo de pessoas vulneráveis, especialmente diante do fechamento de
fronteiras e, logo, do aumento no número de retornos forçados que, em alguns
casos, estavam sendo realizados sem a implementação de medidas sanitárias de
proteção. Portanto, se enfatizou a necessidade de respeito ao princípio da não-
devolução (non-refoulement) e de promover a regularização de pessoas migrantes no
território desses Estados, garantindo-lhes documentação de identificação e outras
condições necessárias para a sua permanência no Estado, garantindo, desta forma,
a condição de igualdade94.
212
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
95 CtIDH. Vélez Loor. Panamá. Provisional Measures. 29 de julho de 2020. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/velez_se_02_ing.pdf. Acesso em: 23 out. 2021.
96 CtIDH. Vélez Loor. Panamá. Provisional Measures. 24 de junho de 2021a. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/velez_se_03_ing.pdf. Acesso em: 23 out. 2021.
97 CtIDH. Vélez Loor. Panamá. Sentença. 13 de fevereiro de 2013. Disponível em: https://www.
corteidh.or.cr/docs/supervisiones/Velez_13_02_13_ing.pdf. Acesso em: 23 out. 2021; SQUEFF, Ta-
tiana Cardoso; SILVA, Bianca G. O caso Vélez Loor vs. Panamá da Corte Interamericana de Direitos
Humanos como paradigma para a construção de parâmetros migratórios Latino-Americanos. Revista
Brasileira de Políticas Públicas, v. 11, n. 2, 2021. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.
uniceub.br/RBPP/article/view/7841. Acesso em: 2 abr. 2022.
98 CtIDH. Vélez Loor. Panamá. Provisional Measures. 29 de julho de 2020. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/velez_se_02_ing.pdf. Acesso em 23 out. 2021.
99 CtIDH. Vicky Hernández y otras. Honduras. Sentença. 26 de março de 2021. Disponível em:
https://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_422_esp.pdf. Acesso em: 23 out. 2021.
213
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
100 OEA. Principles and Best Practices on the Protection of Persons Deprived of Liberty in the Americas.
2008. p. 1.
101 Ibid.,
102 BAHIA, Alexandre G. M. F. Homofobia no Brasil, resoluções internacionais e a Constituição de
1988. Jus.com.br, 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21999/homofobia-no-brasil-reso-
lucoes-internacionais-e-a-constituicao-de-1988. Acesso em: 30 mar. 2022.
103 OEA. Resolução 2504. Direitos Humanos, orientação sexual e identidade de gênero. 2009. p. 1.
104 BAHIA, Alexandre G. M. F. Homofobia no Brasil, resoluções internacionais e a Constituição de
1988. Jus.com.br, 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21999/homofobia-no-brasil-reso-
lucoes-internacionais-e-a-constituicao-de-1988. Acesso em: 30 mar. 2022.
214
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
físico e emocional de três crianças estariam em risco pelo fato de elas estarem sendo
criadas por sua mãe biológica e por sua companheira105. No plano interno, o pai
das três crianças obteve guarda unilateral provisória das mesmas em virtude da
orientação sexual da senhora Atala, mãe, que antes detinha a guarda unilateral das
mesmas, fundamentando tal decisão no fato de que ela teria colocado os “seus
interesses e bem-estar pessoal acima do bem-estar emocional e do adequado
processo de socialização das filhas106”.
Essa decisão provisória, em que pese tenha sido revertida no curso do
processo Chile, ao cabo, em sede recursal, foi mantida, de maneira que o pai das
crianças obteve a guarda definitiva delas, ocasionando o peticionamento para o
SIDH, haja vista a discriminação sofrida pela senhora Atala. A Corte, dessa
forma, entendeu que o Chile havia violado as suas obrigações internacionais, mais
precisamente, o artigo 1 da CADH, o qual impõe o dever de igualdade e não-
discriminação, tecendo que ele também abarcaria a proteção contra a discriminação
oriunda da orientação sexual107.
A Corte entendeu que a guarda foi atribuída indiretamente em virtude
da orientação sexual da senhora Atala – e não no melhor interesse do menor, como
arguiu o Chile. E mesmo se tal princípio fosse ponderado, tem-se que a sentença
jamais poderia ter sido minimamente discriminatória108. Isso porque, para que as
decisões domésticas serem consideradas discriminatórias perante o SIDH, não é
necessário que ela tenha sido “baseada ‘fundamental e unicamente’ na orientação
sexual da pessoa, pois basta constatar que de maneira explícita ou implícita se levou
em conta, até certo grau, a orientação sexual da pessoa para adotar determinada
decisão”, que ela já seria atentatória aos preceitos interamericanos109.
105 CtIDH. Atala Riffo e crianças. Chile. Mérito. 24 de fevereiro de 2012. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_239_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
106 Ibid.,
107 Ibid., p. 81.
108 CRUZ, Elisa Costa. A vulnerabilidade de crianças na jurisprudência da Corte Interamericana
de Direitos Humanos: análise de casos e de formas de incorporação no direito brasileiro. Revista dos
Tribunais [recurso eletrônico]. São Paulo, n. 999, jan. 2019. Disponível em: https://dspace.almg.gov.
br/handle/11037/32259. Acesso em: 4 jul. 2019. p. 76-77.
109 CtIDH. Atala Riffo e crianças. Chile. Mérito. 24 de fevereiro de 2012. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_239_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. p. 94.
215
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
110 CtIDH. Atala Riffo e crianças. Chile. Mérito. 24 de fevereiro de 2012. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_239_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. p. 94.
111 CtIDH. Opinião Consultiva OC-21/14. Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Migra-
ção e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. 24 de novembro de 2017. p. 3. Disponível em:
https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_24_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
112 Ibid., p. 33-47.
113 Ibid., p. 54.
114 Ibid., p. 75.
216
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
115 CtIDH. Opinião Consultiva OC-21/14. Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Mi-
gração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. 24 de novembro de 2017. p. 3. Disponível
em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_24_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. p. 228.
116 LEAL, Mônia Clarissa Hennig; LIMA, Sabrina Santos. A atuação da Corte Interamericana
de Direitos Humanos no que tange a grupos em situação de vulnerabilidade: Análise da Opinião
Consultiva 24/2017. IUS ET VERITAS, v. 1, n. 61, dezembro 2020, p. 194-205. DOI: https://doi.
org/10.18800/iusetveritas.202002.012. p. 61.
117 CIDH. Relatório Nº 11/16. Petição 362-09. Admissibilidade. Luiza Melinho. Brasil. 14 de abril
de 2016. Disponível em: https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/2016/brad362-09po.pdf. Acesso
em: 23 out. 2021.
118 CtIDH. Vicky Hernández y otras. Honduras. Sentença. 26 de março de 2021b, p. 89. Disponível
em: https://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_422_esp.pdf. Acesso em: 23 out. 2021.
217
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
o toque de recolher no país, no qual a força pública era a única autorizada a circular
pelas ruas. Dessa forma, a Corte determinou que Honduras teve responsabilidade
direta sobre a morte da ativista, estabelecendo o pagamento de compensação à
família da vítima119.
Outrossim, importa dizer que não há nenhum caso no SIDH até o
momento abordando a vulnerabilidade agravada de refugiados LGBTI, muito
embora saiba-se que este grupo enfrenta diversas dificuldades no que tange a tutela
de seus direitos. Nesse escopo, mostra-se relevante apreciar a interseccionalidade
existente entre as duas pautas – refugiados e pessoas LGBTI – no âmbito do SIDH,
na tentativa de avultar a preparação do sistema para a recepção de casos nesse
sentido.
119 CtIDH. Vélez Loor. Panamá. Provisional Measures. 24 de junho de 2021. Disponível em: https://
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/velez_se_03_ing.pdf. Acesso em 23 out. 2021. p. 189.
120 CRENSHAW, 1989.
121 HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais. Tempo Social, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 61-73, jun. 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/
S0103-20702014000100005. p. 62.
122 WELDON, S. Laurel. Intersectionality. In: GOERTZ, Gary; MAZUR, Amy G.; Politics, Gen-
der, and Concepts: Theory and Methodology. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2008. p.
193-218, p. 194.
218
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
123 CIDH. Violência contra Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo nas Américas. 2015.
p. 11. Disponível em: http://www.oas.org/pt/cidh/docs/pdf/violenciapessoaslgbti.pdf. Acesso em: 3
abr. 2022.
124 Ibid., p. 180.
125 CIDH. Avances y Desafíos hacia el reconocimiento de los derechos de las personas LGBTI en las
Américas. 2018. Disponível em: http://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/LGBTI-Reconocimiento-
Derechos2019.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022.
126 CIDH. Resolução 1/2020. Pandemia y Derechos Humanos en las Américas. 2020. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022. p. 6-7.
219
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
127 CIDH. Resolução 1/2021. Miembros de los Pueblos Indígenas Guajajara y Awá de la Tierra Indí-
gena Araribóia respecto de Brasil. 2021. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pd-
f/2021/1-21MC754-20BR.pdf. Acesso em: 3 abr. 2022. p. 129.
128 Ibid., p. 135.
129 WELDON, S. Laurel. Intersectionality. In: GOERTZ, Gary; MAZUR, Amy G.; Politics, Gen-
der, and Concepts: Theory and Methodology. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2008. p.195.
220
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 CONCLUSÃO
221
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
se observa é que o SIDH também poderá num futuro próximo vir a se ocupar de
situações que ensejam um enfrentamento a tais violações. Frente a isso, o que se
vislumbrou é que existem bases protetivas aos migrantes, refugiados e apátridas,
assim como há fundamentos normativos para a tutela de pessoas LGBTI – mas não
uma abordagem que reúna ambas.
Outrossim, isso não significa que o SIDH não está preparado para
lidar com este tema caso venha a enfrentá-lo, especialmente desde o caso Vicky
Hernández vs. Honduras. Isso, pois, neste caso se encontra um aspecto relevante
que é, por vezes, mencionado tanto pela Comissão quanto pela Corte: a questão
da interseccionalidade. Ela pode ser apreciada de modo a tratar as duas pautas –
refúgio e orientação sexual/identidade de gênero –, bem como as discriminações
e as hipervulnerabilidades a elas relacionadas, como questões tangenciais no bojo
do SIDH. Até mesmo porque, ignorar a natureza interseccional dos sistemas de
opressão impostos a esses grupos implicaria em negligenciar as experiências de
violência e violação de direitos sofridas por pessoas refugiadas LGBTI.
222
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Nova edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
223
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/46354/4/S2000617_en.pdf.
Acesso em: 23 out. 2021.
224
e adolescentes na região. CIDH, 10 jun. 2020. Disponível em: https://www.oas.
org/pt/cidh/prensa/notas/2020/133.asp. Acesso em: 2 abr. 2022.
CIDH. Relatório Nº 54/01. Caso 12.051. Petition and Case System. Maria da
Penha Maia Fernandes. Brasil. 2008. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/
annualrep/2008eng/Chap3.g.eng.htm. Acesso em: 30 mar. 2022.
CIDH. Relatório Nº 63/99. Caso 11.427. Victor Rosario Congo. Equador. 1999.
Disponível em: https://www.cidh.oas.org/annualrep/98eng/Merits/Ecuador%20
11427.htm. Acesso em: 30 mar. 2022.
225
incorporação no direito brasileiro. Revista dos Tribunais [recurso eletrônico].
São Paulo, n. 999, jan. 2019. Disponível em: https://dspace.almg.gov.br/
handle/11037/32259. Acesso em: 4 jul. 2019.
226
novembro de 2017. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/
seriea_24_por.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
227
ENCARNACIÓN, Omar G. Latin America’s Gay Rights Revolution. Journal of
Democracy, v. 22, n. 2, abril 2011, p. 104-118. Disponível em: https://muse.jhu.
edu/article/427164. Acesso em: 8 abr. 2022.
228
de Direito Brasileira, Florianópolis, v. 29, n. 11, mai./ago. 2021, p.144-163.
Disponível em: https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/6774/5811.
Acesso em: 8 abr. 2022.
229
OEA. Pacto de San José de Costa Rica. 2022.
OEA. Principles and Best Practices on the Protection of Persons Deprived of Liberty in
the Americas. 2008.
OEA. Projeto de Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas. 1997.
PIOVESAN, Flávia. Proteção dos direitos sociais: desafios do ius commune sul-
americano. Rev. TST, Brasília, v. 77, n. 4, out/dez 2011, p. 102-139.
230
em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/populacao-lgbti-refugiada-e-migrante-
encontra-duplo-desafio-em-busca-de-recomecos. Acesso em: 11 dez. 2021.
SQUEFF, Tatiana Cardoso; SILVA, Bianca G. O caso Vélez Loor vs. Panamá da
Corte Interamericana de Direitos Humanos como paradigma para a construção
de parâmetros migratórios Latino-Americanos. Revista Brasileira de Políticas
Públicas, v. 11, n. 2, 2021. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.
uniceub.br/RBPP/article/view/7841. Acesso em: 2 abr. 2022.
231
THE YOGYAKARTA PRINCIPLES: Principles on the application of
international human rights law in relation to sexual orientation and gender
identity. 2006. Disponível em: http://yogyakartaprinciples.org/wp-content/
uploads/2016/08/principles_en.pdf. Acesso em: 13 nov. 2021.
232
“Mail-order brides” and their possible framework as International
Trafficking in Persons: a study in the light of the Palermo Protocol
1 INTRODUÇÃO
233
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
unions – as will be shown throughout the research – usually occur between men
from the Global North and brides from underdeveloped countries, who are often
in a situation of economic and social vulnerability.
In this scenario, uncertainties arise regarding the vision of this
commodification of international marriages, in the sense of seeing it as a mere
transnational matrimonial migration – the result of free will and the search for social
mobility – or as a situation of international trafficking in women. After all, cases in
which the consent of travelers is conditioned to their contexts of hyposufficiency
are not uncommon, leading them to resort to unions that often trigger domestic
violence, sexual exploitation and servile marriages.
Faced with this situation of helplessness, the present research elects the
following questioning as problematic: Based on the criteria established by the
Palermo Protocol, can the phenomenon of “mail-order brides” be framed as a kind
of international trafficking in persons?
In order to answer this question, it was selected as objectives of the
work, firstly, the analysis of the main characteristics, causes and consequences of
the phenomenon of mail-order brides. Next, the issue of consent to international
trafficking in persons will be examined in light of the provisions of the Palermo
Protocol. And, finally, a parallel will be drawn between the results obtained, in the
sense of verifying, or not, the possibility of framing the phenomenon of “mail-
order brides” in the concept of international trafficking agreed by international
regulations.
Regarding the methodology used, a qualitative research will be developed,
with an exploratory objective and theoretical nature, in view of the chosen conceptual
object. In this bias, it will seek to employ, as research techniques, the bibliographic
and documentary study of articles, doctrines, theses and dissertations, both by
national and foreign authors, focused on the topic of international trafficking in
persons and mail-order brides. The justification for the use of such techniques
comes from the theoretical nature of the research, which seeks to verify the legal
framework for the phenomenon of mail-order brides. Due to this characteristic,
the aforementioned procedures were chosen as they were considered more adequate
to the speculative object of the investigation.
Furthermore, the present study is justified in view of the divergence
of perspectives around the theme, which disagree on the understanding of the
phenomenon of “mail-order brides” as an expression of female autonomy or a
violation of their human rights from their situations of vulnerability. Moreover,
234
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
it is also worth noting that, despite finding a fertile territory in the face of the
expansion of the internet, this event is still poorly explored by scientific literature,
which makes it even more urgent to carry out studies that seek to develop this
problem, in order to uncover prejudices and outline general lines of protection and
guarantee of rights.
At the end of the research, it is expected to contribute to the identification
of the international regulatory framework of the phenomenon of “mail-order
brides”, enhancing improvements in the elaboration of joint plans to protect the
rights of the actors involved.
3 RICORDEAU, Gwenola. Um estudo de caso sobre o policiamento global dos casamentos de mu-
lheres do Terceiro Mundo: mulheres filipinas e migração matrimonial. Cadernos Pagu, [S.l.], n. 51,
p. 1-28, 8 jan. 2018.
4 BÉLANGER, Danièle; FLYNN, Andrea. Gender and migration: Evidence from transnational
marriage migration. International Handbook on Gender and Demographic Processes, Dordrecht, p. 183-
201, 2018.
5 CUDOWSKA, Maria. Mail-Order Brides and Marriage Migration: a comparative study of the
problems in the U.S., Great Britain and Ireland. Miscellanea Historico-Iuridica, [S.L.], v. 15, n. 1, p.
351-370, 2016.
235
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Today, differently, entry into the wedding market can occur through a simple
“click”, using websites and virtual agencies specializing in international weddings6.
Such ostensive procedural changes have even generated questions about
the use of the term “mail-order brides”, considered outdated by authors such as
Jones7, who considers the expression “brides through the internet” to be more
appropriate in relation to the current dissemination of the practice in virtual zones.
In this context, according to research commissioned by the Committee
on Women’s Rights and Gender Equality of the European Parliament8, the use of
most of these virtual matchmaking agencies requires some kind of payment from
the “husbands”. These, as a rule, only need to enter basic personal information
– such as name, age, country and email address – to create their profiles on the
platforms. Online registration of women, on the other hand, commonly involves
more requirements, such as passport copies, webcam photos, or filling in long and
intrusive questionnaires9. In addition, male consumers are in control of initiating
conversations, and it is up to women to wait for the processions10. In this way,
men generally have much more information about their bride than she has about
them11, revealing a certain degree of gender inequality even in the users’ records.
When investigating the reasons that lead men and women to seek the
services of virtual marriage agencies, it is mentioned, in the first place, the economic
and social inequalities usually present among the engaged couples. In general, the
6 FOX, Bryanna; REID, Joan. Human trafficking and the darknet: technology, innovation, and
evolving criminal justice strategies. In: Fox B., Reid J., Masys A. (eds). Science Informed Policing: ad-
vanced Sciences and Technologies for Security Applications. Cham: Springer, 2020. p. 77-96.
7 JONES, J. Trafficking internet brides. Information & Communications Technology Law, [S.l.], v. 20,
p. 19–33, 2011; apud FOX, Bryanna; REID, Joan. Human trafficking and the darknet: technology,
innovation, and evolving criminal justice strategies. In: Fox B., Reid J., Masys A. (eds). Science In-
formed Policing: advanced Sciences and Technologies for Security Applications. Cham: Springer, 2020.
p. 77-96.
8 EUROPEAN PARLIAMENT’S COMMITTEE ON WOMEN’S RIGHTS AND GENDER
EQUALITY. International Marriage Brokers and Mail Order Brides: analysing the need for regulation.
European Union, Bruxelas, 2016.
9 JACKSON, Suzanne H. Marriages of Convenience: International Marriage Brokers, ‘Mail-Order
Brides,’ and Domestic Servitude. University of Toledo Law Review, [S.l.], v. 38, p. 895-922, 2007.
10 BASTOS, Isabel Cordeiro Cid. Noivas por encomenda: atualizando estereótipos. 2015. 63 f. TCC
(Graduação) – Curso de Bacharelado em Relações Internacionais, Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Florianópolis, 2015.
11 JACKSON, Suzanne H. Marriages of Convenience: International Marriage Brokers, ‘Mail-Order
Brides,’ and Domestic Servitude. University of Toledo Law Review, [S.l.], v. 38, p. 895-922, 2007.
236
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
men who use the services of virtual matchmaking agencies come from developed
nations in the Global North, while the brides tend to be nationals of developing
countries, especially East Asia, Latin America and Eastern Europe12.
In this context of economic disadvantage, custom-made marriages
usually represent an opportunity for social mobility for brides, who can use it as
a strategy to achieve economic security. Thus, as currency discrepancies between
countries increase, it is estimated that the search for commodified marriages is also
at risk of growing13, especially in the face of economic instability caused by the
COVID-19 pandemic.
As a rule, mail-order marriages signed through matchmaking agencies
result in the bride’s migration to the husband’s country of residence, preceded
by few or no previous face-to-face meetings between the two. Arriving at the
destination, aspects such as the difficulty of communicating in the foreign language
of the place and lack of knowledge about their rights can generate a legal and
interactional dependence on the man, which deepens the imbalances of power
within the marital relationship14.
Of course, many mail-order marriages prove to be real successes. The
apprehension of these cases as a rule, however, does not prove to be reasonable.
After all, such a process of commoditization of brides, combined with the usual
financial disparity between the parties and the removal from the family residing in
the country of origin, ends up making women extremely vulnerable to situations
of domestic violence, servile marriage and various other abuses committed within
the relationship. marital relationship15.
As Anderson16 argues, despite the fact that cases of domestic aggression are
hardly accounted for – due to the secrecy that involves the domestic environment –
237
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
it is possible to affirm that marital migrants face higher rates of this type of violence
when compared to non-migrants.
Among the reasons for this discrepancy, it is worth mentioning the
difficulty in accessing immigration assistance; strong linguistic and legal dependence;
and the illusion of purchase provided by matchmaking agencies, which can be seen
as a true “license to abuse” by husbands, both physically and psychologically17.
Furthermore, upon arriving in the country of their husbands, many mail-
order brides may be subjected to situations of “servile marriage”, which occur when
the woman is kept in domestic and sexual servitude as if this were the definition of
her role as a wife, without the possibility of becoming economically independent
from her husband18. In this way, migration is accompanied by the transfer of female
labor to reproductive work, which includes household chores, child and elderly
care, procreation and sexual assignment19.
However, it is worth mentioning that many brides fully accept the risk
of submitting to such a circumstance, a behavior that is the result of the cultural
erasure of the boundaries between “marriage” and “domestic employment”. In
this sense, it is curious to note that Filipino mail-order brides, for example, have
an anecdote in which the aforementioned approach echoes, namely: “I would
continue to wash the bathrooms, but at least they would be mine”20.
Such dangers arising from mail order marriages, however, are unequally
highlighted by matchmaking agencies, among which 27.59% do not mention
any risk, 51% mention the risks for the husband and only 20.69% report the
risks for both the spouses. The main warning, far from being the difficulties of the
238
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
relationship itself, refers to scamming practices, that is, when men send money to
finance their brides’ trip, and they never arrive21.
In view of these data, platforms are much more concerned with male
financial losses than with the safety and well-being of brides, who are, in general,
in a more critical position of vulnerability than that occupied by husbands, in view
of the aforementioned aspects.
Despite the numerous harmful aspects involved in mail-order marriages
– among which is the commercialized treatment of brides by various matchmaking
agencies and by the purchasing husbands themselves – more and more authors are
bringing a different perspective to the debate, emphasizing the need to consider the
autonomy and capacity for action of women who choose to be mail-order brides.
For Bail, Lieber and Ricordeau22, international marriage should also be
seen as a mean of female emancipation, and can be part of individual migration
strategies. In this bias, the reduction of mail-order brides to the category of naive
and victimized by predatory and violent men could be understood as a disdain for
their autonomy, both in terms of the decision to enter and to remain within such
marital arrangements23.
Such a process of victimization of mail-order brides may even be
related to official government measures to control matrimonial migration, usually
portrayed by the media as a “problem” for the receiving countries24. By defaming
and victimizing certain categories of migrants, State activities move away from
criticism and come to be framed as savior, glorious and heroic, aimed at protecting
an idealized “victim”25.
239
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
240
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
29 MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição
brasileira. 1. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. v. 1. p. 658.
30 UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIMES (UNODC). Global Report on Traf-
ficking in Persons. Viena, 2018. Disponível em: https://www.unodc.org/documents/data-and-analy-
sis/glotip/2018/GLOTiP_2018_BOOK_web_small.pdf. Acesso em: 16 set. 2021.
31 ABREU, Célia B.; ORDACGY, Fabrízia da F. P. B. O enfrentamento ao tráfico de pessoas: avanços
e dificuldades no Brasil. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 21, n. 1, p. 94-122, 2016.
32 ARAÚJO, Thainara Fraga. Vinculação do Brasil às normas internacionais de combate ao tráfico de
mulheres para fins de exploração sexual. 2019. 26 f. TCC (Graduação) – Curso de Bacharelado em
Direito, Universidade Católica de Salvador, Salvador, 2019.
33 MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição
brasileira. 1. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. v. 1. p. 658.
241
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
34 DANTAS, Beatriz Lodônio; MOREIRA, Thiago Oliveira. A (não) concessão de refúgio às vítimas
de tráfico internacional de pessoas no Brasil. In: GURGEL, Yara Maria Pereira; MOREIRA, Thiago
Oliveira (coords.); LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves (org.). O Direito Internacional dos Di-
reitos Humanos e as pessoas em situação de vulnerabilidade. Natal: Polimatia, 2021.
35 VELHO, Caroline de Azevedo; DIAS, Jadison Juarez Cavalcante; ROCHA, Mário Henrique da.
O combate ao tráfico de pessoas e a adequação da legislação nacional às normas internacionais. In:
SCAMPINI, Stella Fátima (org.). Tráfico de pessoas. Brasília: MPF, 2017. p. 10-19.
36 MOURA, Samantha Nagle Cunha de. O tráfico internacional de mulheres para exploração sexual:
a questão do consentimento no protocolo de Palermo. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.8, n.3, p. 2009-2028,
2013.
242
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
consensus of the victim starts to assume a fundamental position for the adequacy
of the fact to the norm37.
In this bias, the Protocol innovates by recognizing the existence of
voluntary prostitution, removing liability in cases where the woman consented
of her own free will to exercise prostitution in another country. In summary, if
the aforementioned means are not used, the subject’s consent will be taken into
account and there will be no configuration of international trafficking in persons,
as provided for in the Protocol. After all, it is not appropriate to talk about
exploitation or violation of human rights when dealing with a conscious choice38.
The great challenge posed by this change is the difficulty of distinguishing
the particular desire to migrate and the exploitation with the victim’s consent,
since the exploited subject rarely confirms his or her state of vulnerability. In this
horizon, the conciliation between individual freedom, on the one hand, and the
protection of minority groups, on the other, becomes complex, bringing out the
need for objective criteria that identify the situation of vulnerability – an inherently
subjective condition – and that protect the victim even in the face of their own
manifestation of will39.
Thus, it is essential to investigate the psychological, financial, social and
family circumstances of the victims, with the objective of verifying the existence
or not of a real situation of vulnerability exploited by traffickers for the purpose of
enticement.
However, it should be considered that the right to migrate is also a
consequence of human rights40. In this sense, those considered “trafficked” should
not be seen as “victims-objects” that must be rescued, but rather as subjects who
37 BIROL, Alline Pedro Jorge; MEDEIROS, Thamara Duarte Cunha. Entre dissensos e consensos:
tráfico de pessoas e situações de vulnerabilidade. In: SMANIO, Gianpaolo Poggio; PINTO, Felipe
Chiarello Desouza; ATCHABAHIAN, Ana Cláudia Ruy Cardia; ANDREUCCI, Ana Claudia Pom-
peu Torezan; JUNQUEIRA, Michelle Asato (org.). Pessoas invisíveis: prevenção e combate ao tráfico
interno e internacional de seres humanos. Londrina: Thoth, 2020. p. 278-289.
38 MOURA, Samantha Nagle Cunha de. O tráfico internacional de mulheres para exploração sexual:
a questão do consentimento no protocolo de Palermo. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.8, n.3, p. 2009-2028,
2013.
39 ABREU, Célia B.; ORDACGY, Fabrízia da F. P. B. O enfrentamento ao tráfico de pessoas: avanços
e dificuldades no Brasil. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 21, n. 1, p. 94-122, 2016.
40 Ibid.,
243
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
need to have their rights and entitlements recognized41. Therefore, attention is paid
to the risk of returning to moral hierarchies that denied the freedom of subjects and
the sexual autonomy of women42.
The legal framework and the advances established by the Palermo
Protocol, however, are not free from criticism. Firstly, it should be noted that the
document still reproduces the vision of the actors of human trafficking as being
reduced to three pre-defined roles, namely: the victim, the villain and the savior. In
this scenario, there is an eternal framing of women in the classification of “victims”,
which enshrines the need for protection and authorizes state actions – such as
stricter border control – to prevent or dissuade women and girls from migrating,
with the objective of “protecting them from danger”43.
The Palermo Protocol itself reflects the paternalistic nature of the
international community by explicitly identifying “women and children” as
inherently vulnerable beings in need of a heroic savior, that is, the state. Such
rhetoric becomes the basis for transnational legal and policy responses against
trafficking in persons, following a structure that serves specific state interests44.
In this context, the political construction of women as passive and naive
victims, rather than migrants in their own right, can also hide phenomena such as the
so-called “intentional matrimonial migration”, which occurs when displacement to
another country and marriage with a foreigner arises from an intentional search for
a spouse across national borders due to the subject’s particular needs and desires45.
As presented, this phenomenon is constantly made invisible by the
aforesaid salvationist discourses that ignore the female capacity for action, which
41 CHUANG, Janie A. Using global migration law to prevent human trafficking. American Journal
of Internacional Law, [S.l.], v. 111, p. 147-152, 2017.
42 BIROL, Alline Pedro Jorge; MEDEIROS, Thamara Duarte Cunha. Entre dissensos e consensos:
tráfico de pessoas e situações de vulnerabilidade. In: SMANIO, Gianpaolo Poggio; PINTO, Felipe
Chiarello Desouza; ATCHABAHIAN, Ana Cláudia Ruy Cardia; ANDREUCCI, Ana Claudia Pom-
peu Torezan; JUNQUEIRA, Michelle Asato (org.). Pessoas invisíveis: prevenção e combate ao tráfico
interno e internacional de seres humanos. Londrina: Thoth, 2020. p. 278-289.
43 FAULKNER, Elizabeth A. The victim, the villain and the rescuer: the trafficking of women and
contemporary abolition. The Journal of Law, Social Justice & Global Development, [S.l.], n. 21, p. 1-14,
2018.
44 Ibid.,
45 BÉLANGER, Danièle; FLYNN, Andrea. Gender and migration: Evidence from transnational
marriage migration. International Handbook on Gender and Demographic Processes, Dordrecht, p. 183-
201, 2018.
244
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
reaffirm a rhetoric in which migrant women “had to marry” foreign men, instead
of “wanted to marry”. As a result, the boundaries between “trafficking victims”
and “migrant women through marriage” become increasingly indiscriminate in
the face of imperialist foreign policies of the receiving countries46, which clearly
demonstrates the problem of “consent” for the definition of “trafficking” under the
Palermo Protocol.
This construction of the silenced and infantilized victim is also
responsible for diverting international attention from structural issues that motivate
migration and trafficking, such as inequality, poverty and discrimination, which
disproportionately affect women. This perpetuates a stereotyped scenario formed
by the villainous organized crime, the helpless victim, and the heroic savior state47.
It is against this background that arises the difficulties of framing the
phenomenon of “mail-order brides” as “international human trafficking” or as a
simple “intentional matrimonial migration”. This problem implies, in this context,
a need to verify issues such as consent, vulnerability and the ability to choose of the
women involved in such enterprise, taking into account the legal framework of the
Palermo Protocol.
245
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
in persons” even when there is consent from the trafficked person, as long as the
means set out above are verified.
In this spectrum, it is worth remembering that, as discussed in the second
section of this research, mail-order brides are often from poor countries, finding
themselves in situations of lack of opportunities and difficulty in accessing basic
services. Thus, being married to men from wealthy nations represents a chance to
achieve a better economic situation than that existing in their country of origin48.
This pattern closely reflects the one that is also found in the phenomenon
of international trafficking in persons, in which economic inequality between
countries emerges as one of the main risk factors, in accordance with the
considerations made in the previous session. In this vein, it is worth noting that
the underlying force that drives the mail-order industry itself is also this same
economic inequality seen in transnational crime. After all, as O’Rourke49 attests,
both the wealth of the groom’s country and the poverty of the bride’s country are
necessary elements for carrying out a mail-order marriage. While the rich man of
a developed nation has the financial power to “buy” a wife, the potential bride has
an incentive to leave her impoverished nation and have a higher standard of living
available in a developed country.
Not much different is what happens to victims of human trafficking who,
finding themselves in unfavorable situations, are deceived by misleading promises
and moved to other countries to be exploited. Consequently, it can be seen that the
geographical distribution of the countries of origin of the “brides” and “mail-order
brides” closely mirrors the receiving and sending countries portrayed by human
trafficking, that is, developing nations and developed nations, respectively50.
It is evident, therefore, that the economic difficulties of women in
developing countries have a strong influence on entry into the mail order-industry51,
48 YAKUSHKO, Oksana; RAJAN, Indhushree. Global Love for Sale: divergence and convergence of
human trafficking with “mail order brides” and international arranged marriage phenomena. Women
& Therapy, [S.l.], v. 40, n. 1-2, p. 190-206, 2016.
49 O’ROURKE, Kate. To Have and to Hold: A Postmodern Feminist Response to the Mail-Order
Bride Industry. Denver Journal of International Law and Policy, [S.l.], v. 30, n. 4, p. 476-497, 2020.
50 YAKUSHKO, Oksana; RAJAN, Indhushree. Global Love for Sale: divergence and convergence of
human trafficking with “mail order brides” and international arranged marriage phenomena. Women
& Therapy, [S.l.], v. 40, n. 1-2, p. 190-206, 2016.
51 EUROPEAN PARLIAMENT’S COMMITTEE ON WOMEN’S RIGHTS AND GENDER
EQUALITY. International Marriage Brokers and Mail Order Brides: analysing the need for regulation.
European Union, Bruxelas, 2016.
246
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
52 BASTOS, Isabel Cordeiro Cid. Noivas por encomenda: atualizando estereótipos. 2015. 63 f. TCC
(Graduação) – Curso de Bacharelado em Relações Internacionais, Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Florianópolis, 2015.
53 Ibid.,
54 AHMAD, Afkar. Trafficking: a mockery to women empowerment. Jharkhand Journal of Develop-
ment and Management Studies, [S.l.], v. 16, n. 2, p. 7757-7772, 2018.
55 SICO, Rachelle. In the Name of “Love”: Mail Order Brides-The Dangerous Legitimization of
Sex, Human and Labor Trafficking. Public Interest Law Reporter, [S.l.], v. 18, n. 3, p. 199-206, 2013.
56 RICORDEAU, Gwenola. Um estudo de caso sobre o policiamento global dos casamentos de
mulheres do Terceiro Mundo: mulheres filipinas e migração matrimonial. Cadernos Pagu, [S.l.], n.
51, p. 1-28, 8 jan. 2018.
247
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
and by government foreign policies, it was noted that not all participants in the
commercialized marriage industry corresponded to the usual representation of
poor and illiterate young people from underdeveloped countries.
At this point, it appears that the situation of vulnerability, although
common, is not a rule among mail-order brides. For many, there is a legitimate
desire to marry foreign men and migrate to other countries, including taking the
risks that may arise from marriage57.
The informed decision verified in the situations analyzed by the author,
however, is far from being a rule within the wedding industry. As previously
mentioned, most matchmaking agencies, in addition to providing little data on
the potential husband, do not usually warn about the risks involved in carrying
out a transnational union, which can contribute to many women entering the
marriage market without to be aware of the dangers they run or of the history
of their partners, based on decisions guided by the need and the desire for better
opportunities abroad.
In short, there would be a biased consent, taking into account the
omission of important information58. In this scenario, one could point to the use
of fraud or deceit as a means, fulfilling, again, one of the constituent elements of
the definition of trafficking by the Palermo Protocol.
Starting with the analysis of another element necessary for the
characterization of trafficking in persons, it has what the Palermo Protocol defines as
an “act”, that is, the “recruitment, transport, transfer, accommodation or reception
of people”, as provided in its art. 3. According to the European Parliament’s
Committee on Women’s Rights and Gender Equality59, such an item is easily
satisfied by the mail-order bride industry, as there is a transfer of brides from their
country of origin to the nation of the groom and their welcome on the arrival.
248
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Finally, the last element provided for by the Palermo Protocol is the
purpose, which includes, at a minimum, “the exploitation of the prostitution of
others or other forms of sexual exploitation, forced labour or services, slavery or
practices similar to slavery, servitude or the removal of organs”. As highlighted
above, this list is not exhaustive, and may include other forms of exploitation, such
as servile marriage, already explained.
Obviously, many mail-order marriages prove to be true examples
of marital harmony. However, it cannot be denied that the migratory status of
these women, together with their frequent financial incapacity, highlights their
vulnerability to situations of domestic violence, sexual exploitation and domestic
servitude in the country of destination. After all, the marketing itself developed by
wedding agencies is responsible for commodifying brides. In this way, instead of
projecting them as wives, agencies advertise them as if they were created, contrary
to what, ideally, should be a conventional relationship platform. In addition, a
husband’s unilateral payment for the use of the site can allow men to feel as if they
have “bought” their wives, having rights and dominion over them60.
Given the frequency of such exploitation contexts, the “purpose”
described by the Palermo Protocol would be verified, which would allow the
mail-order marriage industry to be considered, in general terms, as a practice
of international trafficking in persons, once the presence of the three elements
necessary for such a definition were verified.
However, as highlighted several times throughout the research, the items
identified, despite being common, are not an absolute rule in the face of several
cases of mail-order marriage. Hasty and general statements about the phenomenon
would run the risk of disregarding the particular experience of each couple, as well
as the autonomy and ability to choose brides, who are not always in situations of
vulnerability, fraud or coercion.
The opposite statement could reveal a reproduction of the previously
mentioned roles of victim, villain and savior, often used as protectionist and
paternalistic justifications for restricting the mobility of these migrant women.
249
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
61 O’ROURKE, Kate. To Have and to Hold: A Postmodern Feminist Response to the Mail-Order
Bride Industry. Denver Journal of International Law and Policy, [S.l.], v. 30, n. 4, p. 476-497, 2020.
62 Ibid.,
250
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSION
251
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
252
REFERENCES
253
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
FAULKNER, Elizabeth A. The victim, the villain and the rescuer: the trafficking
of women and contemporary abolition. The Journal of Law, Social Justice & Global
Development, [S.l.], n. 21, p. 1-14, 2018.
FOX, Bryanna; REID, Joan. Human trafficking and the darknet: technology,
innovation, and evolving criminal justice strategies. In: Fox B., Reid J., Masys A.
(eds). Science Informed Policing: advanced Sciences and Technologies for Security
Applications. Cham: Springer, 2020. p. 77-96.
254
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
255
arranged marriage phenomena. Women & Therapy, [S.l.], v. 40, n. 1-2, p. 190-
206, 2016.
256
PARTE III
257
A não discriminação da mulher na perspectiva do Sistema
Interamericano dos Direitos Humanos
1 INTRODUÇÃO
259
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
violada pela existência de um glass ceiling, isto é, uma barreira imaginária que
impede as mulheres de terem as mesmas oportunidades que os homens nas mais
variadas vertentes da sua vida (educação, trabalho, saúde, participação política),
assim como são constantes vítimas da discriminação de gênero.
No intuito de combater ou ao menos mitigar essa barreira da desigualdade
e discriminação de gênero é que se deu início a tutela da mulher no âmbito do
Direito Internacional, em seu sistema global e nos regionais como é o caso do
Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos (SIPDH) que será
objeto de análise desse estudo.
Diante desse cenário, o presente estudo tem como objetivo geral
responder a seguinte problemática: como o Sistema Interamericano de Proteção
aos Direitos Humanos (SIPDH) tutela a não discriminação em razão do gênero?
No intuito de responder a essa problemática será examinado o tema
da tutela normativa e jurisdicional da não discriminação em razão de gênero no
SIPDH, analisando os principais instrumentos normativos, como a Declaração
Americana de Direitos e Deveres do Homem (e da Mulher), a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos e a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, mais conhecida como Convenção
de Belém do Pará, bem como a concretização do princípio da não discriminação
de gênero no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
e da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em especial no que
tange aos direitos políticos, econômicos e sociais da mulher.
De modo que pesquisa objetiva avaliar como ocorre a proteção normativa
e jurisdicional da mulher no SIPDH, essencialmente quanto à concretização do
princípio da não discriminação. E para isso ser possível são adotados como objetivos
específicos discorrer sobre a teoria geral da igualdade e da não discriminação
no âmbito do Direito Internacional e sua configuração enquanto norma de jus
cogens; analisar a normativa interamericana de proteção à mulher e de combate à
discriminação em razão de gênero; examinar a tutela jurisdicional interamericana de
concretização da não discriminação em razão de gênero, com fixação de estândares.
A fim de cumprir esses objetivos, adota-se como metodologia uma pesquisa
de natureza teórico prática, com adoção do procedimento técnico da pesquisa
bibliográfica de obras de Fabián Salvioli, Antônio Augusto Cançado Trindade,
Yara Maria Pereira Gurgel, Maria José Franco Rodriguez, dissertações e teses, além
da análise exploratória das normativas e decisões da Comissão Interamericana
260
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 WORLD ECONOMIC FORUM. Global Gender Gap Report 2021. Disponível em: https://
movimentomulher360.com.br/wp-content/uploads/2021/04/WEF_GGGR_2021.pdf. Acesso em:
21. ago. 2021.
5 OBSERVATÓRIO DE IGUALDADE DE GÊNERO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE.
Autonomia econômica. Disponível em: https://oig.cepal.org/pt/autonomias/autonomia-economica.
Acesso em: 12 out. 2021.
261
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
262
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
263
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 GURGEL. Yara Maria Pereira. Direitos humanos, princípio da igualdade e não discriminação: sua
aplicação às relações de trabalho. 311 f. Tese (Doutorado em Direito) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 69.
15 ROCHA, Carmen Lúcia Antunes. Ação Afirmativa – O conteúdo democrático do princípio da
igualdade jurídica. Revista de informação legislativa, v. 33, n. 131, jul./set. 1996. p. 286.
16 GURGEL. Yara Maria Pereira. Direitos humanos, princípio da igualdade e não discriminação: sua
aplicação às relações de trabalho. 311 f. Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 71-73.
17 Ibid., p. 59.
264
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
18 PRATA, Ana Rita Souza. Igualdade e não discriminação de gênero contra as mulheres no direito
internacional dos direitos humanos: Análise da jurisprudência consultiva interamericana. 2018. 185
f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018. p. 43. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/
bitstream/handle/22016/2/Ana%20Rita%20Souza%20Prata.pdf. Acesso em: 16 nov. 2021.
19 SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; LOPES, Ana Maria D’Ávila; SPOSATO, Karyna Batista. Direito
internacional dos direitos humanos. Florianópolis: CONPEDI, 2015. p. 412-413. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/phc1kv31/odarX8Y2vzSWjYtV.pdf. Acesso em: 5
nov. 2021.
20 NUSSABUM, Martha. Sex and social justice. Oxford: Oxford University, 1999.
21 NUSSBAUM, Martha. Capabilities as fundamental entitlements: Sen and social justice. Feminist
Economics, v. 9, p. 33–59, 2003. Disponível em: https://philpapers.org/archive/NUSCAF.pdf. Acesso
em: 2 fev. 2022.
265
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
266
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
24 ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
25 MOREIRA, Thiago Oliveira. A Aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela
jurisdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015. p. 62-81.
26 Ibid., p. 67.
267
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
268
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
269
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
aplicado em sua conceção valorativa, isso significa que a lei não pode discriminar
qualquer pessoa a não ser que exista um fator razoável e plenamente justificável que
permita uma discriminação lícita para garantir a igualdade substancial e nesses casos
excepcionais não há que se falar em responsabilidade internacional do Estado33.
Acrescenta-se ainda que essa Convenção em seu artigo 29 estabelece a
aplicação do princípio pro persona no que tange aos Direitos Humanos, isso pois
ela afirma expressamente que nenhuma de suas disposições podem ser aplicadas em
detrimento de outra norma que conceda maior proteção ao ser humano34.
O princípio pro persona consiste em critério hermenêutico que busca pela
prevalência da norma que conceda maior proteção ao ser humano, o que contribui
para reduzir os conflitos de normas, aumentar a coordenação e cooperação entre
normas de direito internacional e destas com as de direito interno e ainda para
demonstrar que a coexistência desses instrumentos deve ser observada no sentido
de ampliar e fortalecer a proteção a pessoa humana35.
Assim, na busca da mais ampla proteção a mulher e no combate efetivo
à discriminação de gênero é necessária aplicação do princípio pro persona para
que haja aplicação da norma que conceda maior proteção a mulher e concretize
em maior grau a igualdade de gênero independente de onde essa norma esteja
positivada, seja na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em outro
instrumento normativo do sistema interamericano ou outro tratado ou fonte de
Direitos Humanos.
270
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
a Violência contra Mulher, mais conhecida como Convenção Belém do Pará. Esse
tratado consiste no marco jurídico interamericano de reconhecimento da existência
de violência enquanto resultado da discriminação contra a mulher nas esferas
pública e privada36.
Logo em seu preâmbulo, a Convenção estabelece que a eliminação da
violência contra a mulher é condição indispensável para o pleno desenvolvimento
individual e social da mulher e para o exercício de condições de igualdade para
participar em todos os âmbitos da vida, como educação e trabalho37.
Cumpre dizer que o conceito de violência desse tratado internacional
refere-se a todo e qualquer ato ou conduta baseado em discriminação de gênero que
implique qualquer tipo de dano ou sofrimento a mulher, tanto na esfera pública
quanto na privada38.
De modo a ampliar a sua proteção esta Convenção estabeleceu que
toda mulher tem direito a uma vida livre de violência (artigo 3°), que tem direito
ao exercício e proteção de todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
cultural, bem como todos os direitos consagrados nos instrumentos regionais e
internacionais de direitos humanos, incluindo o direito a igualdade (artigo 4°, caput
e alínea f ) e ainda descreveu expressamente que o direito à vida livre de violência
abrange uma vida livre de toda e qualquer forma de descriminação, reforçando a
vedação a discriminação de gênero e vai mais além ao dizer que toda mulher deve
ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados que sejam baseados em
inferioridade e subordinação (artigo 6°)39.
Ademais, a Convenção relatou a necessidade de realizar avaliações sobre
discriminação e violência intersetorial, isto é, situações de maior vulnerabilidade
36 GURGEL. Yara Maria Pereira. Direitos humanos, princípio da igualdade e não discriminação: sua
aplicação às relações de trabalho. 311 f. Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 148.
37 OEA. Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher.
Disponível em: http://www.cidh.org/basicos/portugues/m.belem.do.para.htm. Acesso em: 5 nov.
2021.
38 Ibid.,
39 Ibid.,
271
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
272
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
44 OEA. Convenção Americana sobre Direitos Humanos, 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.
org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em: 2 nov. 2021.
45 PRATA, Ana Rita Souza. Igualdade e não discriminação de gênero contra as mulheres no direito
internacional dos direitos humanos: Análise da jurisprudência consultiva interamericana. 2018. 185
f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018. p. 92-96. Disponível em: https://tede2.pucsp.
br/bitstream/handle/22016/2/Ana%20Rita%20Souza%20Prata.pdf. Acesso em: 16 nov. 2021.
46 VARELLA, Marcelo D; MACHADO, Natália Paes eme. A dignidade da mulher no direito
internacional: o Brasil face à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Revista IIDH, ISSN
1015-5074, Nº. 49, 2009. p. 480. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/r24591.pdf.
Acesso em: 10 out. 2021.
273
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
274
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
ser humano é dotado de igual dignidade e que não se pode admitir relações de
inferioridade/superioridade e a consequente discriminação quanto ao gozo de
direitos49.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos vem reiteradamente
definindo que a não discriminação é uma das bases fundamentais do sistema de
proteção de direitos humanos da OEA e que os principais instrumentos normativos
do Sistema Interamericano são inspirados pelo ideal de que “todos os homens (e
mulheres) nascem livres e iguais em dignidade e direitos”50.
Acrescenta-se que a jurisprudência desta Comissão também estabelece que
a Convenção Americana não proíbe todas as distinções de tratamento, podendo ser
feitas distinções compatíveis com Sistema Interamericano e que representem uma
forma razoável, objetiva e proporcional de combate das discriminações existentes
na realidade social. Em contrapartida a proibição se refere as discriminações que
consistem em critérios de distinção arbitrários e que resultem em detrimento de
direitos51.
Além disso, a Comissão afirma que para concretizar os princípios da
igualdade material e da não discriminação é necessário que os Estados atribuam
uma proteção e cuidado especial com aqueles indivíduos e grupos que são
historicamente sujeitos a discriminação. Inclusive, a CIDH reconhece as mulheres
como um grupo tradicionalmente discriminado do pleno exercício de direitos e
por isso destaca a necessidade urgente dos Estados atuarem ativamente no combate
dessa discriminação e na concretização da igualdade de gênero, como se pode
observar no exame de alguns dos estândares desde órgão no que tange a direitos
políticos, econômicos e sociais da mulher52.
Em relação aos direitos políticos, a CIDH em seu informe denominado
El camino hacia una democracia substantiva de 2011 concebeu que a participação
e representação adequada de mulheres na política é requisito imprescindível para
275
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
53 CIDH. El camino hacia una democracia sustantiva: la participación política de las mujeres en
las Américas. OEA/Ser.L/V/II. Doc. 79. 18 abril 2011. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/
pdf%20files/mujeres%20participacion%20politica.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021.
54 CIDH. El trabajo, la educación y los recursos de las mujeres: La ruta hacia la igualdad en la garantía
de los derechos económicos, sociales y culturales. OEA/Ser.L/V/II.143 Doc. 59. 3 noviembre 2011.
Disponível em: https://www.cidh.oas.org/pdf%20files/mujeresdesc2011.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021.
55 Ibid.,
56 CIDH. Informe No. 72/14. Caso 12.655. Fondo. IV. Bolivia. 15 de agosto de 2014.
276
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
57 CIDH. Las mujeres indígenas y sus derechos humanos en las Américas. OEA/Ser.L/V/II. Doc. 44/17.
17 abril 2017.
58 CORTE IDH. Caso I.V. Vs. Bolivia. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas.
Sentencia de 30 de noviembre de 2016. Serie C No. 329.
277
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
transmissão do vírus da mãe para a criança59. Além disso, ela já se manifestou que
no caso de mulheres com HIV a perspectiva de gênero demanda uma compreensão
de como essa doença afeta sua vida, escolhas e interações sociais60.
Em relação ao dever estatal perante o combate à violência e toda forma
de discriminação de gênero, a Corte IDH afirmou que o artigo 7° da Convenção
Belém do Para deve ser interpretada para alcançar todas as funções do poder público
(legislativo, executivo e judiciário) e ainda na espera privada. Assim, o combate à
violência de gênero requer a criação de normas jurídicas, de políticas públicas e
adoção de medidas para erradicar os estereótipos e as práticas que dão causa a toda
e qualquer forma de violência por razão de gênero contra a mulher61.
Já em referência ao direito à educação, a Corte IDH fixou o estândar do
direito a educação para meninas livre de violência, especificando que o conceito
de violência deve ser compreendido como qualquer ação ou conduta, com base
em questão de gênero e que cause qualquer tipo de sofrimento ou dano à mulher.
Para esse direito ser concretizado, a corte ainda estabeleceu o dever estatal de adotar
medidas que promovam o empoderamento das meninas, desconstruam estereótipos
de gênero e ainda reformas legais para enfrentar as discriminações diretas e indiretas
contra as meninas62.
Por sua vez, perante a vertente consultiva da Corte, passa-se a analisar
a Opinião Consultiva n° 27/2021, que versa sobre direitos trabalhistas, como a
liberdade sindical, sob a perspectiva do gênero. Nesse opinativo, a Corte defendeu
o direito das mulheres a igual remuneração dos homens por trabalho igual e que
para isso ser concretizados os Estados devem estabelecer por lei sistemas de fixação
de remuneração, promover tal igualdade em acordos coletivos e adotar medidas que
permitam a avaliação objetiva do emprego63.
59 CORTE IDH. Caso Cuscul Pivaral y otros Vs. Guatemala. Excepción Preliminar, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 de agosto de 2018. Serie C No. 359., Párrafo 137.
60 CORTE IDH. Caso Gonzales Lluy y otros Vs. Ecuador. Excepciones Preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 01 de septiembre de 2015. Serie C No. 298, Párrafo 288.
Ecuador, 2015.
61 CORTE IDH. Caso Mujeres Víctimas de Tortura Sexual en Atenco Vs. México. Excepción Preliminar,
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 28 de noviembre de 2018. Serie C No. 371.
62 CORTE IDH. Caso Guzmán Albarracín y otras Vs. Ecuador. Fondo, Reparaciones y Costas.
Sentencia de 24 de junio de 2020. Serie C No. 405, Párrafo 142.
63 CORTE IDH. Derechos a la libertad sindical, negociación colectiva y huelga, y su relación con otros
derechos, con perspectiva de género. Opinión Consultiva OC-27/21 de 5 de mayo de 2021. Serie A
No. 27.
278
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
64 CORTE IDH. Derechos a la libertad sindical, negociación colectiva y huelga, y su relación con otros
derechos, con perspectiva de género. Opinión Consultiva OC-27/21 de 5 de mayo de 2021. Serie A
No. 27.
279
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
280
REFERÊNCIAS
CIDH. Informe No. 72/14. Caso 12.655. Fondo. IV. Bolivia. 15 de agosto de
2014.
CIDH. Informe No. 75/15. Caso 12.923. Fondo. Rocío San Miguel Sosa y otras.
Venezuela. 28 de octubre de 2015.
CIDH. Las mujeres indígenas y sus derechos humanos en las Américas. OEA/
Ser.L/V/II. Doc. 44/17. 17 abril 2017.
281
CIDH. Violencia y discriminación contra mujeres, ninãs y adolescentes. Disponível
em: https://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/ViolenciaMujeresNNA.pdf.
Acesso em: 12 out. 2021.
CORTE IDH. Caso Cuscul Pivaral y otros Vs. Guatemala. Excepción Preliminar,
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 de agosto de 2018. Serie C No.
359.
CORTE IDH. Caso Gonzales Lluy y otros Vs. Ecuador. Excepciones Preliminares,
Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 01 de septiembre de 2015. Serie C
No. 298, Ecuador, 2015.
CORTE IDH. Caso Guzmán Albarracín y otras Vs. Ecuador. Fondo, Reparaciones
y Costas. Sentencia de 24 de junio de 2020. Serie C No. 405.
CORTE IDH. Caso Mujeres Víctimas de Tortura Sexual en Atenco Vs. México.
Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 28 de
noviembre de 2018. Serie C No. 371.
282
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da
Alemanha. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1998.
NUSSABUM, Martha. Sex and social justice. Oxford: Oxford University, 1999.
283
OEA. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, 1948. Disponível
em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/b.Declaracao_Americana.htm.
Acesso em: 1 nov. 2021.
284
VARELLA, Marcelo D; MACHADO, Natália Paes Leme. A dignidade da
mulher no direito internacional: o Brasil face à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos. Revista IIDH, ISSN 1015-5074, Nº. 49, 2009, p. 467-501.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/r24591.pdf. Acesso em: 10 out.
2021.
285
O princípio da igualdade e não discriminação no combate a
discriminação em razão de orientação sexual e identidade de
gênero a partir das decisões da Corte Interamericana de Direitos
Humanos
1 INTRODUÇÃO
65 Mestrando em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Especialista
em Direito Tributário pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
66 Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Chefe do Departamento de
Direito Privado da UFRN. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN.
Doutor e Mestre em Direito pela Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Mestre em Direito pela
UFRN. Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq/UFRN) Direito Internacional e as Pessoas em Situação
de Vulnerabilidade. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8030681636075210. E-mail: thiago.moreira@ufrn.
br.
67 Professora Dra. Associada III da UFRN. Mestre e Doutora em Direito das Relações Sociais pela
PUC/SP. Pós Doutora em Direitos Fundamentais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lis-
boa. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8686260157736966 E-mail: ygurgel@uol.com.br
287
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
288
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
289
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
68 MARINO, Tiago Fuchs; CARVALHO, Luciani Coimbra de; NASCIMENTO, João Pedro Rodri-
gues. A Corte Interamericana de Direitos Humanos e a proteção dos direitos LGBTI: construindo um
ius constitituonale commune baseado na diversidade. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília,
v. 11, n. 2, p. 715-735, 7 nov. 2021. Centro de Ensino Unificado de Brasília. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.5102/rbpp.v11i2.7382.
69 COSTA, Ângelo Brandelli; NARDI, Henrique Caetano. Homofobia e preconceito contra diver-
sidade sexual: debate conceitual. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 23, n. 3, p. 715-726, set. 2015.
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X201500030
0015&lng=pt&nrm=is. Acesso em: 10 out. 2021. http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-15.
70 ACONTECE ARTE E POLÍTICA LGBTI+; GRUPO GAY DA BAHIA. Relatório: observatório
de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil – 2020. Florianópolis, 2021. p. 79. ISBN: 978-65-994905-
0-7.
71 SIQUEIRA, D. P., MACHADO, R. A. (2018). A proteção dos direitos humanos LGBT e os prin-
cípios consagrados contra a discriminação atentatória. Revista Direitos Humanos e Democracia, 6(11),
167–201. Disponível em: https://doi.org/10.21527/2317-5389.2018.11.167-201.
290
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
72 SIQUEIRA, D. P., MACHADO, R. A. (2018). A proteção dos direitos humanos LGBT e os prin-
cípios consagrados contra a discriminação atentatória. Revista Direitos Humanos e Democracia, 6(11),
167–201. Disponível em: https://doi.org/10.21527/2317-5389.2018.11.167-201
73 Ibid., p .169.
74 José Carlos Teixeira GIORGIS, O Casamento Igualitário e o Direito Comparado. In: DIAS, Maria
Berenice. Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo. p. 682.
75 Ibid., p. 718.
291
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
em todas as nações analisadas, como plano de fundo para inércia dos Estados em
investigar os crimes cometidos em seus territórios.
Vejamos a seguir alguns dados que ilustram a problemática da
LGBTFOBIA, tomando como recorte geográfico os países membros da Organização
dos Estados Americanos – OEA, para que seja possível a compreensão do papel do
Sistema Interamericano de Direitos Humanos na defesa dessas pessoas.
De modo geral, os casos de violência cujas vítimas fazem parte de uma das
minorias englobadas pela sigla LGBTQIA+ não estão isolados na América Latina,
e muitos Estados nacionais não dispõem de um aparato legislativo e jurisdicional
para coibir esse tipo de violência. De acordo com a Rede que integra organizações
defensoras dos direitos LGBTI de várias nações, intitulada “Sin violência LGBTI”,
e que consiste em um sistema especializado que reúne informações sobre homicídios
de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e interessex na América Latina e Caribe,
entre os anos de 2014 e 2020, pelo menos 1949 pessoas LGBTI foram assassinadas
em dez dos onze países integrantes da Rede, e dessas, 1403 foram assassinadas por
motivos relacionados à sua sexualidade ou identidade de gênero. Somente no Brasil,
nesse mesmo período, estima-se que o total de homicídios ultrapasse 3599 casos.76
Somente no Brasil, de acordo com dados coletados pela organização não
governamental Grupo Gay da Bahia, que atua há mais de 40 anos na proteção
dos direitos LGBTQIA+, entre os anos de 2000 e 2020, cerca de 5.046 cidadãos
brasileiros foram vítimas de homicídio em razão de LGBTFOBIA77. Estima-se que
no ano de 2017 foram assassinadas 445 pessoas78, em 2018 foram 420 homicídios,
em 2019 registraram-se 329 mortes e no ano de 2020 foram registradas 237
mortes79.
292
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
293
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
reflexos nas relações internas dos Estados, em especial daqueles que não dispõem
de medidas legislativas para repressão e criminalização desse tipo de violência.
294
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
86 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Forense, 2019. p.
135.
87 MOREIRA, Thiago Oliveira. Aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela jurisdi-
ção brasileira. Natal: Edufrn, 2015. p. 74.
88 Ibid., p. 75.
295
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
89 MOREIRA, Thiago Oliveira. Aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela jurisdi-
ção brasileira. Natal: Edufrn, 2015. p. 75-76.
90 OEA. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. San Jose. 1969. Art. 1 par. 2.
296
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
91 MOREIRA, Thiago Oliveira. Aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela jurisdi-
ção brasileira. Natal: Edufrn, 2015. p. 76.
92 OEA. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. San Jose. 1969. Art Art. 1 par. 1.
93 Ibid., Art. 5 par. 1 e 2.
94 Ibid.,. Art. 8 par. 1.
95 Ibid., Art. 10.
96 OEA. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. San Jose. 1969. Art. 11.
97 Ibid., Art. 24.
297
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
98 GURGEL, Yara Maria Pereira. Direitos humanos, princípio da igualdade e não discriminação: sua
aplicação às relações de trabalho. 2007. 311 f. Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 40.
99 NOVAIS, Jorge Reis (ed.). A dignidade da pessoa humana: dignidade e direitos fundamentais.
Coimbra: Almedina, 2015. ISBN 978-972-40-6157-3. p. 13.
100 Ibid., p. 9.
101 NOVAIS, Jorge Reis (ed.). A dignidade da pessoa humana: dignidade e direitos fundamentais.
Coimbra: Almedina, 2015. ISBN 978-972-40-6157-3. p. 18.
298
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
102 NOVAIS, Jorge Reis (ed.). A dignidade da pessoa humana: dignidade e direitos fundamentais.
Coimbra: Almedina, 2015. ISBN 978-972-40-6157-3. p. 98.
103 Ibid., p. 98.
104 SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. 2. ed.
Belo Horizonte: Forum, 2016. p. 93.
105 GURGEL, Yara Maria Pereira. Conteúdo normativo da dignidade da pessoa humana e suas impli-
cações jurídicas na realização dos direitos fundamentais. 2018. 218 f. Tese (Pós-Doutorado) – Curso de
Ciências Jurídicas, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2018. p. 43.
106 Ibid., p. 45.
107 Ibid., p. 46.
299
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
108 GURGEL, Yara Maria Pereira. Conteúdo normativo da dignidade da pessoa humana e suas impli-
cações jurídicas na realização dos direitos fundamentais. 2018. 218 f. Tese (Pós-Doutorado) – Curso de
Ciências Jurídicas, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2018. p. 50.
109 Ibid., p. 62.
110 OEA. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. San Jose. 1969. Artigo 1º.
111 NASCIMENTO, João Pedro Rodrigues; MARINO, Tiago Fuchs; CARVALHO, Luciani Coim-
bra. A Corte Interamericana de direitos humanos e a proteção dos direitos LGBTI: construindo um
300
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Ius Constitutionale Commune baseado na diversidade. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasí-
lia, v. 11, n. 2. p.714-735, 2021. p. 725.
112 Conforme dados contidos no sítio da OEA. Disponível em: https://www.oas.org/en/sla/dil/in-
ter_american_treaties_A-69_discrimination_intolerance_signatories.asp). Acesso em: 12 mar. 2022.
113 NASCIMENTO, João Pedro Rodrigues; MARINO, Tiago Fuchs; CARVALHO, Luciani Coim-
bra. A Corte Interamericana de direitos humanos e a proteção dos direitos LGBTI: construindo um
Ius Constitutionale Commune baseado na diversidade. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília,
v. 11, n. 2. p.714-735, 2021. p. 726.
114 Ibid., p. 727.
115 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Sentença. Atala Riffo e filhas.
Chile. 24 de fevereiro de 2012. p. 34.
301
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
116 OEA. Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância. 2013. Con-
siderações Iniciais.
117 Ibid.,
118 Ibid., Considerações Iniciais.
119 Ibid., Artigo 1, item 1.
120 Ibid., Artigo 1, item 2.
121 Ibid., Artigo 1, item 5.
302
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
122 OEA. Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância. 2013. Con-
siderações Iniciais.
123 Ibid., Artigo 5.
124 Ibid., Artigo 7.
125 Ibid., Artigo 9.
126 Ibid., Artigo 10.
303
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
304
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
305
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
139 MOREIRA, Thiago Oliveira. Aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela juris-
dição brasileira. Natal: Edufrn, 2015. p. 78.
140 SPINIELI, A. L. P.; CONTREIRAS, A. F. Direitos Sexuais no Sistema Interamericano de Di-
reitos Humanos: o caso Atala Riffo como expressão da cidadania sexual. Cadernos Eletrônicos Direito
306
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
residente na cidade de Villarica, mãe de três crianças, M., V., e R., que apresentou
petição inicial á Comissão Interamericana de Direitos Humanos em desfavor do
Estado do Chile, na data de 24 de novembro de 2004, alegando violação de seus
direitos no processo de guarda das crianças e o suposto impacto da decisão da Corte
Suprema do Chile em seu projeto de vida pessoal e familiar141.
Para entender tal situação, remete-se a lide ao procedimento de guarda das
crianças, que envolve a senhora Atala e o seu ex-marido, o senhor Ricardo Allendez,
os quais decidiram finalizar seu relacionamento por meio de uma separação de fato,
e a guarda das crianças ficou mantida com a senhora Atala, com regime de visita
semanal ao genitor. Ocorre, que em novembro de 2002, a senhora Atala iniciou uma
convivência afetiva, dentro de sua casa, com uma companheira do mesmo sexo. E,
em janeiro de 2003 o genitor interpôs uma demanda de guarda e tutela perante o
Juizado de Menores de Vilarrica, argumentando que a mãe das crianças não estaria
capacitada para cuidar delas, em razão de sua “nova opção de vida sexual, somada a
convivência lésbica com outra mulher”, e que essa convivência “estava provocando
consequências danosas ao desenvolvimento dessas menores de idade”142.
Outros argumentos trazidos pelo senhor Ricardo Allendez, em sede
do procedimento de guarda das crianças, e imbuídos de preconceito, podem ser
conferidos no seguinte trecho, quando ele profere que “atribuir normalidade na
ordem jurídica a casais do mesmo sexo implicava desnaturalizar o sentido de casal
humano, homem-mulher e, portanto, alterava o sentido natural da família, pois
afetava os valores fundamentais da família como núcleo central da sociedade”143.
Ante o exposto, no decorrer do processo, o Juizado de Menores de
Villarica concedeu a guarda provisória ao genitor, interpretando que as atitudes
da genitora colocaram seus interesses e bem-estar pessoal acima do bem-estar
emocional dos filhos, e que sua convivência com a companheira do mesmo sexo
alterou a normalidade da rotina familiar e o adequado processo de socialização das
filhas.144 Em 29 de outubro de 2003, o Juizado de Menores de Villarica proferiu
sentença de mérito sobre o caso, negando a guarda ao genitor e considerando que
a orientação sexual da senhora Atala não representava impedimento para uma
307
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
308
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
309
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Judicial, bem como que várias secretarias e ministérios tem realizado atividades de
capacitação de seus funcionários.155 Reconhece também que estas iniciativas ainda
não consistem no efetivo cumprimento da sentença, pois não se configuram como
medidas permanentes que atinjam funcionários públicos a nível regional e nacional,
conforme determinado na sentença. Para tento, em suas considerações finais, a
Corte estabelece que o Chile indique todas as medidas adotadas para cumprir a
reparação que ainda se encontra pendentes156.
310
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
160 RIOS, Roger Raupp et al. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a discrimina-
ção contra pessoas LGBTTI: panorama, potencialidade e limites. Revista Direito e Práxis [online].
2017, v. 8, n. 2, p. 1545-1576, Epub Apr-Jun 2017. ISSN 2179-8966. Disponível em: https://doi.
org/10.12957/dep.2017.28033. Acesso em: 10 out. 2021.
161 Ibid., p. 1561.
162 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Sentença. Ángel Alberto Duque.
Colômbia. 26 de fevereiro de 2016. p. 53.
163 Ibid., p. 27.
311
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
a título de dano imaterial, e que tais medidas deveriam ser comprovadas por meio
de relatório no prazo de um ano164.
No que podemos nos referir ao cumprimento da sentença, por meio
de resolução de cumprimento publicada no ano de 2018, o tribunal entendeu
pelo cumprimento parcial da sentença, tendo em vista que foi implementada a
pensão de sobrevivência ao Sr. Duque, cumprido com dois meses após solicitado,
dentro do prazo estabelecido pela Corte que era de três meses, ficando pendente de
cumprimento os juros moratórios165.
Outrossim, em resolução publicada no ano de 2020, a Corte declarou
que foram pagos todos os juros moratórios referente ao período compreendido
desde o ano de 2002, quando o Sr. Duque apresentou seu requerimento inicial de
pensão. Dessa forma, a Corte Interamericana declarou o presente caso concluído,
em decorrência de o Estado ter cumprido integralmente com todas as medidas de
reparação impostas na sentença166.
164 RIOS, Roger Raupp et al. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a discrimina-
ção contra pessoas LGBTTI: panorama, potencialidade e limites. Revista Direito e Práxis [online].
2017, v. 8, n. 2, pp. 1545-1576, Epub Apr-Jun 2017. ISSN 2179-8966. Disponível em: https://doi.
org/10.12957/dep.2017.28033. Acesso em: 10 out. 2021.
165 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório de monitoramento, caso
Duque Vs. Colômbia.
166 Ibid.,
167 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Sentença. Azul Rojas Marín e
Outros. Peru. 12 de março de 2020. p. 4.
168 Ibid., p. 16.
312
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
169 ORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Sentença. Azul Rojas Marín e Ou-
tros. Peru. 12 de março de 2020. p. 17.
170 Ibid.,. p. 17.
171 Ibid., p. 57.
172 Ibid., p. 18.
173 Ibid., p. 20.
313
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
314
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
315
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
316
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
317
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
318
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
319
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
320
REFERÊNCIAS
321
[online]. 2019, v. 29, n. 04, e290414, Epub 25 Nov 2019. ISSN 1809-4481.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-73312019290414. Acesso em: 12
out. 2021.
322
GIORGIS, José Carlos Teixeira. O Casamento Igualitário e o Direito
Comparado. In: DIAS, Maria Berenice. Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo.
MARINO, Tiago Fuchs; CARVALHO, Luciani Coimbra de; NASCIMENTO,
João Pedro Rodrigues. A Corte Interamericana de Direitos Humanos e a proteção
dos direitos LGBTI: construindo um ius constitituonale commune baseado na
diversidade. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 11, n. 2, p. 715-
735, 7 nov. 2021. Centro de Ensino Unificado de Brasília. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.5102/rbpp.v11i2.7382.
PINTO, Isabella Vitral et al. Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos
de Notificação, Brasil, 2015 a 2017. Revista Brasileira de Epidemiologia [online].
2020, v. 23, Epub 03 Jul 2020. ISSN 1980-5497. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/1980-549720200006.supl.1. Acesso em: 12 jan. 2022.
323
PIOVESAN, Flávia; KAMIMURA, Akemi. Proteção internacional à diversidade
sexual e combate à violência e discriminação baseadas a orientação sexual e identidade
de gênero. Santiago: Anuario de Derecho Público, 2017.
324
A tutela do meio ambiente no sistema interamericano de direitos
humanos: da proteção reflexa à proteção autônoma da natureza
na opinião consultiva nº 23/2017
1 INTRODUÇÃO
325
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
326
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
que vive, dentre outras filosofias dos povos indígenas andinos8. No corrente ano
de 2022, o Chile se tornará o segundo país a incluir em sua nova Constituição os
direitos da natureza – o texto do possível artigo 9º expressa que indivíduos e povos
são interdependentes da natureza e formam, com ela, um todo inseparável; há a
previsão de que a redação da nova Constituição chilena será finalizada dentro de
alguns meses9.
Salienta-se também que outros Estados do Sul Global, tal qual a Bolívia
e a Colômbia, vêm tomando a dianteira na consolidação dos direitos da natureza,
aquela com a formulação de leis infraconstitucionais a partir de 2010, e esta
através de decisões judiciais da Corte Constitucional Colombiana, sendo as mais
conhecidas a de 2016 sobre a proteção do Rio Atrato e a de 2018 sobre a proteção
da Amazônia10. O Panamá, por sua vez, mais recentemente, em março de 2022,
sancionou lei infraconstitucional que reconhece os direitos da natureza de existir,
persistir e se regenerar. Ressalta-se que, aliás, de acordo com as Nações Unidas, pelo
menos trinta e sete países já incorporaram de alguma maneira, em nível oficial e
institucional, a proteção da natureza de forma autônoma11.
Assim, o presente artigo científico pretende analisar, especificamente,
a evolução da tutela ambiental exercida pelo Sistema Interamericano de Direitos
Humanos – SIDH, da Organização dos Estados Americanos – OEA, que tem
influência direta nos Estados americanos que são signatários dos seus instrumentos
normativos e têm que observar e aplicar a Declaração Americana dos Direitos e
8 MAMANI, Fernando Huanacumi. Vivir Bien/Buen Vivir: filosofía, políticas, estratégias y experiên-
cias regionales. CAB, 2010.
9 ACOSTA, Alberto. O Chile reconhece os direitos da Natureza. Latinoamérica21. Disponível em: ht-
tps://latinoamerica21.com/br/o-chile-reconhece-os-direitos-da-natureza/. Acesso em: 20 mar. 2022.
10 A Constituição da Bolívia de 2009, apesar de não prever expressamente a natureza como sujeito de
direitos, traz em seu preâmbulo que o Estado assume e promove princípios éticos e morais, incluindo
o Vivir Bien. O país desenvolveu também uma série de leis infraconstitucionais que reconhecem a
Terra como ser vivo com o qual o ser humano tem uma relação indivisível (Declaração Universal dos
Direitos da Mãe Terra de 2010; Lei nº 71 de 2010, chamada Lei de Direitos da Mãe Terra; e Lei nº
300 de 2012). A Colômbia, por sua vez, não disciplinou em sua Constituição ou em leis infracons-
titucionais a natureza enquanto sujeito de direitos, mas a Corte Constitucional Colombiana vem
inovando, apresentando decisões em que faz tal reconhecimento, com destaque para as sentenças que
definiram que o Rio Atrato e a Amazônia Colombiana contam com proteção de maneira autônoma.
11 SARLET, Ingo Wolfgang. FENSTERSEIFER, Tiago. Do direito constitucional ambiental ao di-
reito constitucional ecológico. Revista Consultor Jurídico, 2019. Disponível em: https://www.conjur.
com.br/2019-ago-30/direito-constitucional-ambiental-direitoconstitucional-ecologico Acesso em: 20
ago. 2019. ACOSTA, Op. Cit.
327
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
328
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
329
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015. LOPES, José Sérgio Leite (coord.). Ambientalização dos conflitos sociais: participação e controle
público da poluição industrial. Rio de Janeiro: Relume Dumará, Núcleo de Antropologia da Politica/
UFRJ, 2004.
15 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015. GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consulti-
va 23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente
no direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
16 GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consultiva
23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente no
direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
330
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
nos sistemas regionais de proteção que, a priori, não contam com proteção específica
sobre essa temática”17.
Frisa-se que o SIDH passou a contar, particularmente, com o Protocolo
Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais ou Protocolo de San Salvador (1988), que
reconhece expressamente no art. 11 o direito humano ao meio ambiente saudável.
O art. 1º, no entanto, dispõe que a obrigação de adotar os direitos reconhecidos
no protocolo terá implementação progressiva e limitada até o máximo de recursos
disponíveis e de acordo com o grau de desenvolvimento de cada Estado. Já o art.
19, parágrafo sexto, desse mesmo Protocolo restringe o âmbito de aplicação do
mecanismo de peticionamento individual ao direito sindical dos trabalhadores,
bem como ao direito à educação, não se aplicando ao direito ao meio ambiente.
Vale ressaltar que em 1993 a Conferência Mundial sobre Direitos
Humanos, realizada em Viena, afirmou que todos os direitos humanos são
universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados, corroborando
assim, em conjunto com a Conferência de Estocolmo e do Rio acima citadas, a
interconexão das temáticas ambientais aos mecanismos de proteção dos direitos
humanos.
Especificamente quanto ao Protocolo de San Salvador faz-se a observação
de que o principal objetivo da Organização dos Estados Americanos - OEA, ao
formulá-lo, foi de positivar direitos em forma de programa, considerando que “a
efetividade dos mesmos está estritamente vinculada ao grau de desenvolvimento
econômico de cada Estado, negando, portanto, a competência da Corte
Interamericana de condenar um Estado pela ausência de efetividade desses
direitos”18.
Foi esboçado, assim, a compreensão – pelo Protocolo de San Salvador
conferir ao direito ao meio ambiente a limitação de serem exigidos apenas até o
limite da progressividade, desenvolvimento e recursos disponíveis em cada Estado;
pelos arts. 44, 45 e 46 da CADH disciplinarem sobre a possibilidade de qualquer
331
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015; GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consulti-
va 23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente
no direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
20 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015. p. 216.
21 Ibid.,
332
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
22 LOPES, Ana Maria D’Ávila. MARQUES, Lucas Vieira Barjud. Proteção indireta do direito ao
meio ambiente na jurisprudência das cortes europeia e interamericana de direitos humanos. Revista
Brasileira de Direito Animal, v. 14, n. 01, 2019.
23 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015. p. 210-211.
24 GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consultiva
23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente no
direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
333
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
334
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Apenas um desses casos não dizia respeito às violações de direitos sofridas por povos
indígenas e comunidades tradicionais – que é o caso Claude Reyes e outros versus
Chile relativo à negativa do Estado do Chile em fornecer dados de um projeto
que desflorestava à três cidadãos chilenos. Quatro desses casos eram relativos aos
impactos decorrentes da não demarcação de terras indígenas e quilombolas no
Paraguai e no Suriname – Moiwana versus Suriname; Comunidade Indígena Yakye
Axa versus Paraguai; Comunidade Indígena Sawhoyamaxa versus Paraguai; Povo
Saramaka versus Suriname. O último caso envolve a concessão estatal de terras
indígenas para a exploração de petróleo sem a consulta prévia, livre e informada –
Povo indígena Kichwa de Sarayacu e seus membros versus Equador.
Percebe-se, de um modo geral, que a CIDH e a Corte IDH têm
reconhecido a concepção e a relação dos povos indígenas e comunidades tradicionais
com a propriedade, assegurando a sua garantia às terras, à natureza, à manutenção
de suas identidades culturais, de seus costumes e modos de vida. Têm consolidado o
entendimento do direito à propriedade previsto no art. 21 da Convenção Americana
para além da perspectiva mercadológica, para além do direito de alienação, do usar,
gozar e dispor, abrangendo os elementos que compõem a propriedade comunal dos
povos indígenas e comunidades tradicionais25.
A CIDH e a Corte IDH, levando em conta a perspectiva de propriedade
dos povos indígenas e comunidades tradicionais – a sua ligação com a natureza e a
importância dos seus territórios e elementos naturais para a continuidade de seus
hábitos e modos de vida – exercem a interpretação e a aplicação ampla dos direitos
positivados para que respaldem as necessidades fáticas analisadas nos casos, tal qual
comentam Lopes e Marques26. No caso Yakye Axa versus Paraguai, citado acima,
por exemplo, a Corte fortalece o entendimento de que o direito à vida “não se
restringe ao direito de sobrevivência em si, mas se estende à promoção de uma vida
com dignidade, exercida de forma plena com o acesso aos benefícios da cultura, à
saúde, alimentação, educação e ao meio ambiente sadio”27.
25 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015.
26 LOPES, Ana Maria D’Ávila. MARQUES, Lucas Vieira Barjud. Proteção indireta do direito ao
meio ambiente na jurisprudência das cortes europeia e interamericana de direitos humanos. Revista
Brasileira de Direito Animal, v. 14, n. 01, 2019.
27 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio
ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71,
2015. p. 214.
335
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
336
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Brasileira de Direito Animal, v. 14, n. 01, 2019; MAZZUOLI, Valério de Oliveira. TEXEIRA, Gus-
tavo de Faria Moreira. Tutela jurídica do meio ambiente na jurisprudência da Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Persona y Derecho, v. 71, 2015; TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos no limiar do novo século: recomendações para o
fortalecimento de seu mecanismo de proteção. In: Seminário a proteção internacional dos direitos
humanos e o brasil, 1999, Brasília, DF. Anais […] Brasília- DF; STJ, 1999.
31 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos no
limiar do novo século: recomendações para o fortalecimento de seu mecanismo de proteção. In:
Seminário a proteção internacional dos direitos humanos e o brasil, 1999, Brasília, DF. Anais […]
Brasília- DF; STJ, 1999. GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura.
Opinião consultiva 23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do
meio ambiente no direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
32 FERIA-TINTA, Monica; MILNES, Simon C. International Environmental Law for the 21 Cen-
tury: The Constitutionalization of the Tight to a Healthy Environment in the Inter-american Court
of Human Rights Advisory Opinion 23. ACDI, Bogotá, v. 12, 2019.
337
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
338
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
339
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
42 FERIA-TINTA, Monica; MILNES, Simon C. International Environmental Law for the 21 Cen-
tury: The Constitutionalization of the Tight to a Healthy Environment in the Inter-american Court
of Human Rights Advisory Opinion 23. ACDI, Bogotá, v. 12, 2019.
43 Ibid., CORTE IDH, Op. Cit.
44 CORTE IDH. Resumen Oficial de la OC- 23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”,
2017. p. 3. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/resumen_seriea_23_esp.pdf.
Acesso em: 15 mar. 2022.
340
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
45 CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”, 2017b.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_23_esp.pdf Acesso em: 15 mar.
2022.
46 Ibid., p. 4.
47 Ibid.,
48 Ibid., p. 2.
341
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
nesse sentido, “la Corte advierte una tendencia a reconocer personería jurídica y,
por ende, derechos a la naturaleza no solo en sentencias judiciales sino incluso en
ordenamientos constitucionales”49.
De fato, e como já citado, desde 2017, ano da Opinião Consultiva ora
analisada, tem sido gradativo o reconhecimento dos direitos da natureza dentre os
países latino-americanos e caribenhos. Destaca-se que o Equador já expressa, desde
2008, na sua Constituição a natureza como sujeito de direitos; a Bolívia também
conta, desde 2010, com leis infraconstitucionais que reconhecem a Terra como ser
vivo e a interdependência do ser humano; a Corte Constitucional Colombiana,
por sua vez, possui importante sentença de 2016 que reconhece o Rio Atrato, e
outra sentença mais recente de 2018 que reconhece a Amazônia, como sujeitos de
direitos; já o Panamá, no corrente ano de 2022, sancionou lei infraconstitucional
que reconhece os direitos da natureza de existir, persistir e se regenerar; e o Chile
está prestes a se tornar em 2022 o segundo Estado a reconhecer os direitos da
natureza na sua Constituição50.
Em continuação, a Corte IDH na Opinião Consultiva n. 23/2017
classificou os direitos especialmente vinculados ao meio ambiente em dois grupos:
i) os direitos substantivos que são vulneráveis à degradação ambiental, como o
direito à vida, à integridade pessoal, à saúde, além de outros; ii) e os vinculados à
formulação de políticas ambientais, ou seja, direitos de procedimentos, como direitos
de informação, de participação na tomada de decisões, de liberdade de expressão
e associação, além de outros. A Corte esclareceu, então, que iria se pronunciar na
Opinião Consultiva, ora analisada, sobre esses dois grupos, obrigações substantivas
e de procedimento do Estado em matéria de proteção ambiental51.
Em resposta a primeira pergunta, a Corte Interamericana opinou que
a jurisdição dos Estados quanto à proteção dos direitos humanos expressos na
Convenção Americana não se limita ao seu espaço territorial, mas que deve ser
analisada de maneira restritiva, como caso excepcional. Acrescentou que os Estados
49 CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”, 2017b.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_23_esp.pdf Acesso em: 15 mar.
2022. p. 29.
50 ACOSTA, Alberto. O Chile reconhece os direitos da Natureza. Latinoamérica21. Disponível
em: https://latinoamerica21.com/br/o-chile-reconhece-os-direitos-da-natureza/. Acesso em: 20 mar.
2022.
51 CORTE IDH. Resumen Oficial de la OC- 23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”,
2017. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/resumen_seriea_23_esp.pdf. Aces-
so em: 15 mar. 2022.
342
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
52 CORTE IDH. Resumen Oficial de la OC- 23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”,
2017. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/resumen_seriea_23_esp.pdf. Aces-
so em: 15 mar. 2022.
53 GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consultiva
23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente no
direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020.
54 CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-23/17 “Medio Ambiente y Derechos Humanos”, 2017b.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_23_esp.pdf. Acesso em: 15 mar.
2022.
55 FERIA-TINTA, Monica; MILNES, Simon C. International Environmental Law for the 21 Cen-
tury: The Constitutionalization of the Tight to a Healthy Environment in the Inter-american Court
of Human Rights Advisory Opinion 23. ACDI, Bogotá, v. 12, 2019.
343
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
56 BUITRAGO, Andrés Ordóñez. La Opinión Consultiva OC-23/17 sobre medio ambiente y dere-
chos humanos: aporte de Colombia y la Corte IDH al desarrollo progresivo del derecho internacio-
nal. ORBIS – Revista de la Asociación Diplomática de Colombia. n. 24, 2020.
344
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
57 GOMES, Carla Amado; SILVA, Josiane Schramm; CARMO, Valter Moura. Opinião consultiva
23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos e as inovações à tutela do meio ambiente no
direito internacional. Veredas do Direito, v. 17, 2020, p. 35.
58 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos no
limiar do novo século: recomendações para o fortalecimento de seu mecanismo de proteção. In: Se-
minário a proteção internacional dos direitos humanos e o Brasil, 1999, Brasília, DF. Anais […]
Brasília- DF; STJ, 1999.
59 LOPES, Ana Maria D’Ávila. MARQUES, Lucas Vieira Barjud. Proteção indireta do direito ao
meio ambiente na jurisprudência das cortes europeia e interamericana de direitos humanos. Revista
Brasileira de Direito Animal, v. 14, n. 01, 2019.
345
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
60 FERIA-TINTA, Monica; MILNES, Simon C. International Environmental Law for the 21 Centu-
ry: The Constitutionalization of the Tight to a Healthy Environment in the Inter-american Court of
Human Rights Advisory Opinion 23. ACDI, Bogotá, v. 12, 2019.
346
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
347
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
348
REFERÊNCIAS
349
MAMANI, Fernando Huanacumi. Vivir Bien/Buen Vivir: filosofía, políticas,
estratégias y experiências regionales. CAB, 2010.
ROCKSTRÖM, Johan et al. A safe operating space for humanity. Nature. v. 461,
2009.
350
A vida da população tradicional da etnia xikrin frente ao
empreendimento S11D e o entendimento da Corte Interamericana
de Direitos Humanos
1 INTRODUÇÃO
351
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
consequências são sentidas até hoje, na constante reivindicação dos seus direitos à
diversidade cultural frente à exploração de atividades econômicas que não somente
desconsideram estas comunidades tradicionais, como também desrespeitam a
autodeterminação desses povos, seus hábitos e costumes, além de se apropriarem
das terras onde vivem.
A mineração é uma atividade econômica que por estar inserida em um
contexto neoliberal, acaba ludibriando o crescimento econômico, enforcando o
desenvolvimento sustentável, de modo que o conceito de progresso vigente está
desconsiderando valores sociais, ambientais e culturais imprescindíveis a um país
pluriétnico.
Em razão disto, este artigo tem como problema de pesquisa compreender:
Como os direitos do povo indígena da etnia Xikrin podem ser assegurados no
processo de licenciamento ambiental do complexo S11D em Carajás no Pará a partir
dos parâmetros estabelecidos pela Corte Interamericana de Direitos Humanos?
O objetivo geral é assegurar os direitos da etnia Xikrin frente ao
empreendimento minerador S11D em Carajás no Pará fundamentado nas
sentenças da Corte IDH e amparar políticas públicas para o cumprimento correto
do licenciamento ambiental, em especial Consulta Prévia Livre e Informada e o
Estudo de Componente Indígena.
São objetivos específicos da pesquisa: Analisar o Sistema Interamericano
de proteção aos Direitos Humanos sobre os direitos dos Povos Indígenas. Explicar as
sentenças da Corte IDH que te similitude com o caso do Povo Xikrin e suas devidas
violações. Relatar o processo de licenciamento ambiental do empreendimento
S11D, suas falhas no tocante a comunidade indígena Xikrin e a importância
da Consulta Prévia Livre e Informada e do Estudo de Componente Indígena e
discutir a implantação comitê de monitoramento participativo para mitigar ou até
mesmo sanar as externalidades negativas vivenciadas pelo povo Xikrin auxiliando
na melhoria de políticas públicas indigenistas.
Para alcançar a finalidade pretendida na problemática será empregado
o estudo bibliográfico, de caráter qualitativo, aplicando-se o método hipotético
dedutivo, almejando responder à pergunta problema através da observação das
lacunas políticas e jurídicas existentes, embasadas em estudos anteriores, na leitura
das teorias existentes do assunto abordado e pesquisa bibliográfica, sendo realizada
a oitiva de líderes da comunidade Xikrin com o fulcro de edificar a base teórica do
tema.
352
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
3 ACSELRAD, Henri. MELLO Cecília Campelllo Amaral e BEZERRA, Gustavo das Neves. O
que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. ARRUDA, Paula; FERRAZ, Natasha;
RODRIGUES, Alessandro Baltazar. Conflitos jurídico políticos na Amazônia e o caso dos defensores e
das defensoras dos direitos humanos no Pará. 1. ed. São Paulo, 2018; BENTES, Natalia Mascarenhas
Simões; PEREIRA, Alsidéa Lice de Carvalho Jennings Pereira; ASSUNÇÃO, Marcos Venâncio Silva.
Os impactos do projeto ferro Carajás S11D na comunidade indígena Xikrin do Cateté e o objetivo do
desenvolvimento sustentável da ONU de n. 16. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.3, p.
31502-31525. 2021; MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos
humanos pela jurisdição brasileira. Natal: Edufrn, 2015.
353
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
354
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
355
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
a Relatoria sobre os Direitos dos Povos Indígenas, com objetivo de dar especial
atenção aos direitos dos indígenas que estão submetidos, constantemente, às
violações de direitos humanos por sua situação de vulnerabilidade.
No caso específico dos Povos Indígenas, a CIDH assinala que o direito à
consulta livre, prévia e informada é direito fundamental, de modo que aos Estados
soberanos cabe assegurar a participação efetiva dos Povos Indígenas em todas as
fases da atividade do empreendimento, nos processos de desenho, execução e
avaliação de projetos de desenvolvimento realizados em suas terras e territórios
ancestrais, podendo também haver intervenção após a instalação e funcionamento
do empreendimento.
Em relação ao mencionado direito à consulta livre, prévia e informada,
a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho, em seu artigo
6.1, prevê que a consulta deve ser feita mediante procedimentos apropriados e
em particular por meio de suas instituições representativas, cada vez que medidas
legislativas ou administrativas suscetíveis de afetar os Povos Indígenas diretamente
estejam em trâmite. Ademais, o artigo 6.2 do Convênio determina que as consultas
devem ser feitas de boa fé e de modo apropriado às circunstâncias, com a finalidade
de chegar a um acordo ou alcançar o consenso sobre as medidas propostas.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) evidencia
que, conforme o próprio sistema interamericano, os sujeitos são obrigados a cumprir
com o dever de consultar com o Estados em todos os níveis. Nessa perspectiva de
investigação dos direitos humanos, para além da proteção contida na legislação
nacional, mais também nos tratados internacionais aderidos pelo Brasil, analisando
os graves danos e violações às garantias humanas, sendo necessária argumentar uma
proteção em diferentes níveis para assim efetivar os direitos humanos em vários
segmentos, compreendendo a promoção dos direitos humanos em diversos níveis.5
A Corte Interamericana de Direitos Humanos assevera que não se deve
confundir os processos de socialização que realizam as empresas interessadas ou
terceiros com os povos indígenas sobre determinados projetos com os processos
de consulta que devem ser realizados pelos Estados. Com isso, o Tribunal explana
que a obrigação de consultar é responsabilidade do Estado, pelo que o processo de
consulta não é um dever delegável a terceiros interessados do poder privado, mesmo
que seja a própria empresa interessada na exploração dos recursos do território
5 URUEÑA, René. GALINDO George Rodrigo Bandeira. PÉREZ, Aida Torres (coord.). Proteção
multinível de direitos humanos na América Latina? Oportunidades, desafios e riscos. Proteção multinível
dos direitos humanos. Manual. Barcelona: Rede Direitos Humanos e Educação Superior, 2014.
356
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
6 CORTE IDH. Caso do Povo Kichwa de Sarayaku vs. Equador. Mérito e Reparações. Sentença de
27 de junho de 2012, par. 187. Série C n. 245. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/
casos/articulos/seriec_245_por.pdf. Acesso em: 17 jul. 2021.
7 ACSELRAD, Henri. MELLO Cecília Campelllo Amaral e BEZERRA, Gustavo das Neves. O que
é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
357
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
2.1.1 Povo indígena mayagna (sumo) awas tingi vs. Nicarágua. Sentença de 31
de agosto de 20018
8 Tópico escrito a partir da leitura da sentença Povo Indígena Mayagna (Sumo) Awas Tingi vs. Nica-
rágua. Sentença de 31 de agosto de 2001, da Corte IDH.
358
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
9 Tópico escrito a partir da leitura da sentença Povo Saramanka vs. Suriname, de 28 de novembro de
2007, da Corte IDH.
359
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
10 Tópico escrito a partir da leitura da sentença Povo Xucuru e seus membros vs Brasil, de 05 de
fevereiro de 2018, da Corte IDH.
11 BRASIL. Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Lex: dispõe sobre o estatuto do índio. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6001.htm. Acesso em: 18 jul. 2021.
360
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
12 Tópico escrito a partir da leitura da sentença Caso dos Membros das Comunidades Indígenas da
Associação Lhaka Honhat (nuestra terra) vs. Argentina, de 06 de fevereiro de 2020, da Corte IDH.
361
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
13 YAMADA, Erika M.; OLIVEIRA, Lúcia Alberta Andrade de. (org.). A Convenção 169 da OIT e
o direito à consulta livre, prévia e informada. Brasília: Funai/GIZ, 2013. 32 p. Disponível em: http://
www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/ascom/2014/doc/11-nov/convencaooit.pdf. Acesso em: 25
mar. 2021.
362
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 GARAVITO, Rodríguez; SALINAS, Natalia Orduz. La consulta previa a los pueblos indígenas: los
estándares del en el derecho internacional. Universidad de los Andes. Documentos número 2. Bogotá.
2010. Disponível em: Acesso em: 18 abr. 2020.
15 BENTES, Natalia Mascarenhas Simões; PEREIRA, Alsidéa Lice de Carvalho Jennings Pereira;
ASSUNÇÃO, Marcos Venâncio Silva. Os impactos do projeto ferro Carajás S11D na comunidade
indígena Xikrin do Cateté e o objetivo do desenvolvimento sustentável da ONU de n. 16. Brazilian
Journal of Development, Curitiba, v.7, n.3, p. 31502-31525. 2021.
363
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
16 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Desafios e conquistas do direito internacional dos direitos
humanos no início do século XXI. Organização dos Estados Americanos. Rio de Janeiro, 2006. Dispo-
nível em: https://www.oas.org/dil/esp/407-490%20cancado%20trindade%20oea%20cji%20%20.
def.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021.
364
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
365
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
bitstream/tede/8203/5/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20-%20Sanmarie%20Rigaud%20dos%20San-
tos%20%20-%202017.pdf. Acesso em: 22 mar 2020.
20 VALE. Complexo S11D Eliezer Batista. Disponível em: http://www.vale.com/brasil/PT/business/
mining/Paginas/s11d.aspx. Acesso em: 30 mar 2021.
21 Ibid., 2021.
22 LOPES, Rafael Rodrigues; SANTOS, Marcelo Melo dos; CRUZ, Thiago Martins da. Mineração
e conflitos pela posse da terra em Canaã dos Carajás: O caso do acampamento Planalto Serra Doura-
da. Revista do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (UFV), v.7, n.2, jul./dez. 2018. Disponí-
vel em: https://periodicos.ufv.br/rever/article/view/3405/1681. Acesso em: 22 mar. 2020.
23 BRASIL. 2021b. Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBIO). CONA-
MA. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Disponível em: https://www.icmbio.
gov.br/cecav/images/download/CONAMA%20237_191297.pdf. Acesso em: 30 mar. 2021.
366
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
367
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
povo indígena Xikrin que tem seu território na região vizinha ao empreendimento
S11D, onde o instituto da consulta prévia livre e informada não respeitou as
especificidades da TI Xikrin, que a falta do ECI é um problema latente que acarreta
na constante internalização das externalidades negativas pela comunidade, que
segue bravamente aguardando por uma CPLI adequada, assim como que seja
realizado o ECI e principalmente por uma mudança de paradigma do Governo.
A instalação e o desenrolar do Programa Grande Carajás, com excepcional
atenção ao S11D, aos olhos do autor Coelho são 30 anos de desenvolvimento
frustrado, uma tragédia humana, anunciando um futuro de injustiça socioambiental
e econômica, enfraquecendo o Estado Democrático de Direito pela não atenção as
comunidades tradicionais atacadas pelo empreendimento24.
Acerca disso, Reymão e Coimbra, tratam sobre a dicotomia de regiões
que embora ricas em recursos naturais, convivem com elevados percentuais de
pobreza e desigualdade, resultados dessa exploração não amparada pela participação
das comunidades tradicionais envolvidas direta ou indiretamente, através de
informações e com uma gestão de transparência25. Sendo defendido nesta pesquisa
a hipótese da criação de um Comitê de Monitoramento Participativo como meio de
habilitar a comunidade Xikrin a participar efetivamente no instituto da Consulta
Prévia, auxiliando na elaboração de Estudo de Componente Indígena que fomente
a reorganização do licenciamento ambiental suprindo as falhas nas condicionantes
das licenças; prévia, instalação e de operação. Elaborando as devidas condicionantes
ambientais e socioeconômicas ligadas a etnia Xikrin e assim conseguir suprir as
obrigações do Estado, bem como de proteger a TI Xikrin, prevenindo novos
fatores nocivos, conjecturando uma interligação dos níveis de proteção, interno e
internacional como será abordado no próximo tópico.
Deve-se alertar que o papel do estado brasileiro por ser um estado
democrático de direitos deve reduzir a desigualdades regionais e sociais como forma
de materializar o direito ao desenvolvimento da pessoa humana.
24 COELHO, Tádzio Peters; ZONTA, Márcio; TROCATE, Charles. Projeto Grande Carajás: trinta
anos de desenvolvimento frustrado. A Questão Mineral no Brasil v.1. Marabá: iGuana, 2015.
25 REYMÃO, Ana Elizabeth Neirão; COIMBRA, F.; MERLIN, L. Políticas públicas, orçamento
participativo e representação democrática na era digital. Direito e Desenvolvimento, v. 10, n. 1, p. 33-
50, 16 jul. 2019.
368
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
26 BENTES, Natalia Mascarenhas Simões; PEREIRA, Alsidéa Lice de Carvalho Jennings Pereira;
ASSUNÇÃO, Marcos Venâncio Silva. Os impactos do projeto ferro Carajás S11D na comunidade
indígena Xikrin do Cateté e o objetivo do desenvolvimento sustentável da ONU de n. 16. Brazilian
Journal of Development, Curitiba, v.7, n.3, p. 31502-31525. 2021.
369
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
27 ENTES, Natalia Mascarenhas Simões; PEREIRA, Alsidéa Lice de Carvalho Jennings Pereira;
ASSUNÇÃO, Marcos Venâncio Silva. Os impactos do projeto ferro Carajás S11D na comunidade
indígena Xikrin do Cateté e o objetivo do desenvolvimento sustentável da ONU de n. 16. Brazilian
Journal of Development, Curitiba, v.7, n.3, p. 31502-31525. 2021.
28 SANSON, Alexandre. Os Grupos de Pressão e a Consecução de Políticas Públicas. In: SMANIO,
Gianpaolo Poggio. BERTOLIN, Patrícia Tuma Martins. O direito e as políticas públicas no Brasil. São
Paulo: Atlas. 2013, p. 117-136.
370
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
29 MOREIRA, Eliane Cristina Pinto. Justiça socioambiental e direitos humanos: uma análise a partir
dos direitos territoriais de povo e comunidades tradicionais. Rio Janeiro: Lumen Juris, 2017.
30 ARRUDA, Paula; FERRAZ, Natasha; RODRIGUES, Alessandro Baltazar. Conflitos jurídico polí-
ticos na Amazônia e o caso dos defensores e das defensoras dos direitos humanos no Pará. 1. ed. São Paulo,
2018.
371
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
31 ANDRADE, Lúcia Mendonça Morato de. Terras Quilombolas: pressões e ameaças. Comissão
Pró-Índio de São Paulo, 1. ed., São Paulo, 2011. Disponível em: https://cpisp.org.br/wp-content/
uploads/2019/03/Pressoes_ameacas.pdf. Acesso em: 16 nov. 2020.
32 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela juris-
dição brasileira. Natal: Edufrn, 2015.
372
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
373
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
374
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
375
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
376
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
377
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
378
REFERÊNCIAS
379
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_245_por.
pdf. Acesso em: 17 jul. 2021.
CORTE IDH. Caso do Povo Xucuru vs. Brasil. Mérito e Reparações. Sentença de
05 de fevereiro de 2018. Série 346 Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/
docs/casos/articulos/seriec_346_por.pdf. Acesso em: 17 jul. 2021.
CORTE IDH. Caso Association Lhaka Honhat (nossa terra) vs. Argentina.
Disponível em:https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_400_esp.
pdf. Acesso em: 24 ago. 2021.
CORTE IDH. Caso do Povo Mayagna Sumo Awas Tingi vs. Nicarágua. Disponível
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_79_por.pdf. Acesso em: 24
ago. 2021.
380
Andes. Documentos número 2. Bogotá. 2010. Disponível em: Acesso em: 18
abr. 2020.
LOPES, Rafael Rodrigues; SANTOS, Marcelo Melo dos; CRUZ, Thiago Martins
da. Mineração e conflitos pela posse da terra em Canaã dos Carajás: O caso do
acampamento Planalto Serra Dourada. Revista do Programa de Pós-Graduação em
Extensão Rural (UFV), v.7, n.2, jul./dez. 2018. Disponível em: https://periodicos.
ufv.br/rever/article/view/3405/1681. Acesso em: 22 mar. 2020.
381
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Relatório de auditoria coordenada
na preparação do Governo Federal para a implementação dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável – Fase Nacional: relatório técnico. Brasília, 2017.
VALE. Complexo S11D Eliezer Batista. Disponível em: http://www.vale.com/
brasil/PT/business/mining/Paginas/s11d.aspx. Acesso em: 30 mar 2021.
YAMADA, Erika M.; OLIVEIRA, Lúcia Alberta Andrade de. (org.). A Convenção
169 da OIT e o direito à consulta livre, prévia e informada. Brasília: Funai/
GIZ, 2013. 32 p. Disponível em: http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/
ascom/2014/doc/11-nov/convencaooit.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021.
382
O direito à saúde no âmbito do Sistema Interamericano de
Proteção aos Direitos Humanos
1 INTRODUÇÃO
383
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
saúde, nesse mesmo sentido, em prol da luta pela garantia e promoção dos direitos
humanos, com a finalidade de adotar medidas em conformidade com as realidades
locais, foram criados sistemas regionais e, entre esses, aquele que será objeto de
estudo do artigo: o Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos
(SIPDH).
Na SIPDH o direito à saúde é previsto expressamente no art. 10 do
Protocolo Adicional à Convenção Americana em Matéria de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, de 1999, que estabelece à garantia universal a esse direito, além
de instituir obrigações aos Estados parte a fim de tornar efetiva tal previsão.
Nessa vertente, trata-se de um direito muito mais amplo, que necessita de
proteção em âmbito local, regional e universal, dessa forma, torna-se proeminente
o entendimento de como o Sistema Interamericano dispõe acerca das questões
relacionadas ao direito à saúde. Nessa perspectiva, indaga-se como o direito à saúde
é abordado no Sistema Interamericano?
Com o intuito de responder tal questionamento será feita uma
análise acerca das normativas e pronunciamentos desse sistema concernente à
matéria de proteção ao direito à saúde, tendo como objetivo a compreensão da
abrangência dessa proteção. Nessa vertente, além dos pronunciamentos do Sistema
Interamericano, também terá um papel importante a visão doutrinária acerca da
matéria, encontrada em revistas jurídicas, artigos e livros, com especial destaque a
autores como Flávia Piovesan e Oscar Parra Vera.
Nesse sentido, cabe elucidar que a coleta de dados para a análise
jurisprudencial dos casos envolvendo à tutela do direito à saúde pela Corte
Interamericana (Corte IDH), foi feita prioritariamente por meio do site4, no espaço
destinado a pesquisa foi colocada a palavra salud, o que gerou 936 resultados e, a
partir desses resultados, ocorreu a seleção de dados relevantes ao artigo.
Por fim, espera-se que com esse estudo seja possível propagar o acesso ao
conhecimento de qualidade, diante a importância do tema da proteção ao direito
à saúde no Sistema Interamericano, e que seja compreendido como esse sistema
regional vem se posicionando e como isso impacta a tutela do direito em tela.
384
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
385
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
7 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 247.
8 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 126-137.
9 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela jurisdi-
ção brasileira. Natal: EDUFRN, 2015. p. 74-75.
10 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2019, p. 136.
386
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
387
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 AZEVEDO NETO, Platon Teixeira de. A justiciabilidade dos direitos sociais nas Cortes Internacio-
nais de Justiça. São Paulo: LTr, 2017. p. 90.
15 CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Cuardenillo de Jurisprudencia
de la Corte Interamericana de Derechos Humanos nº 28: Derecho a la salud. San José, C.R: Corte IDH,
2020. p. 6-7.
16 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo comparativo dos sistemas
regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 222-228.
17 DOMÍNGUEZ, Pablo González. Los aportes del caso Cuscul Pivaral y otros vs. Guatemala a la
jurisprudencia de la Corte Interamericana en materia de derechos económicos, sociales, culturales y
ambientales. In: ANTONIAZZI, M. M.; RONCONO, L.; CLÉRICO, L. (org). Interamericaniza-
ción de los desca el caso Cuscul Pivaral de la corte IDH. p. 153-182.
388
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
389
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
21 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
p. 681.
22 Ibid., p. 682.
23 CIDH. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/
docs/folleto/CIDHFolleto_eng.pdf. Acesso em: 2 jan. 2022.
390
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
24 MASS, R. H.; DAROIT, A. P. The Inter-Amercican protection of human and social rights to
health. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/
rdisan/article/view/164199. Acesso em: 12 dez. 2021.
25 PIOVESAN, Flávia; FACHIN, Melina Girardi; MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Comentários à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 506.
26 CIDH. Resolução n. 1/2020 - Pandemia e Direitos Humanos nas Américas. Washington: CIDH,
2020. Disponível em: https://www.cidh.oas.org. Acesso em: 4 jan. 2022.
391
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
27 CIDH. Resolução n. 1/2020 - Pandemia e Direitos Humanos nas Américas. Washington: CIDH,
2020. Disponível em: https://www.cidh.oas.org. Acesso em: 4 jan. 2022.
28 CIDH. Informe sobre personas trans y de género diverso y sus derechos económicos, sociales, culturales y
ambientales. Aprovado em: 7 de agosto de 2020. p. 137-141.
29 CIDH. Situação dos direitos humanos no Brasil. Aprovado em: 12 fev. 2021. p. 167-173. Disponível
em: http://www.oas.org/pt/cidh/relatorios/pdfs/Brasil2021-pt.pdf. Acesso em: 1 fev. 2022.
392
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 “3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação
das disposições desta Convenção que lhe seja submetido, desde que os Estados Partes no caso tenham
reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como prevêem os
incisos anteriores, seja por convenção especial.”
31 SOUZA, Ana Paula de Jesus; DIAS, Clara Angélica Calvalcanti. A proteção interamericana do
direito à saúde e o novo movimento transconstitucional: um diálogo entre ordens jurídicas nacionais
e internacionais. Revista Videre, Dourados, v.12, n. 25. set./dez., 2020. p. 164-180.
32 Ibid., p. 164-180.
33 AZEVEDO NETO, Platon Teixeira de. A justiciabilidade dos direitos sociais nas Cortes de Justiça.
São Paulo: UFMG, 2016. p. 103.
393
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
394
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Foram analisados 35 casos que datam desde 2004 até o ano de 2021 e,
para facilitar a compreensão do leitor, ocorreu um divisão entre os casos em que o
direito à saúde é tratado de forma autônoma e aqueles em que esse direito é tutelado
de forma reflexa, nesse sentido, importante mencionar que em cada tópico os casos
foram organizados em ordem cronológica, tendo como data base a sentença.
Tendo sido esclarecida a metodologia utilizada na investigação dos casos,
será iniciada a apresentação dos dados examinados.
395
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
37 CIDH. Relatório Anual da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 2018. Disponível em:
https://www.corteidh.or.cr/sitios/informes/docs/POR/por_2018.pdf. Acesso em: 13 dez. 2021. p.
141-142.
38 Corte IDH. Caso Cuscul Pivaral y otros Vs. Guatemala. Excepción Preliminar, Fondo, Reparacio-
nes y Costas. Sentença de 23 de agosto de 2018. Serie C No. 359.
39 DOMÍNGUEZ, Pablo González. Op. Cit. p. 162-163.
396
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
397
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
41 Sanabria Moyano, J.; Merchán López, C.; Saavedra Ávila, M. Estándares de protección del Dere-
cho Humano a la salud en la Corte Interamericana de Derechos Humanos. El Ágora USB, 2019(1).
p. 138-139
398
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
42 CIDH. Caso de La Cruz Flores. Sentencia del 18 de noviembre de 2004. Serie C Nº 115, p. 101.
43 PARRA VERA, Oscar. La protección del derecho a la salud a través de casos contenciosos ante el sistema
interamericano de derechos humanos. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/r32459.pdf. p.
788-789.
399
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Outro caso marcante julgado pela Corte envolvendo o direito à saúde foi
o caso Ximenes Lopes Vs Brasil, foi essa situação que causou a primeira condenação
do Brasil no âmbito da proteção regional dos direitos humanos. Em suma, a família
de Ximenes o internou na Casa de Repouso Guararapes para fins de tratamento
psiquiátrico, no entanto, em razão de negligência e maus tratos, em 04 de outubro
de 1999 a vítima faleceu no local que deveria receber assistência44.
A família de Ximenes recorreu ao sistema judiciário brasileiro para
responsabilizar os funcionários da casa de repouso “Guararapes” pela comissão ou
omissão que decorreu na sua morte, no entanto, o Brasil não proporcionou o acesso
à justiça em tempo razoável, o que decorreu na aceitação da denúncia e, posterior,
condenação do Brasil por parte do SIPDH.
Nesse sentido, a Corte condenou o Estado brasileiro alegando que este
não cumpriu as garantias previstas nos artigos 4º (vida), 5º (integridade física), 8.1
(garantias judiciais) e 25.1 (proteção judicial), da Convenção Americana.
Um dos pontos importantes destacados na decisão é que no tratamento
psiquiátrico deve existir o respeito à intimidade e autonomia dos sujeitos - o
segundo podendo não ser absoluto, diante da necessidade do paciente. Devendo
400
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
ser aplicada a presunção de que as pessoas nessa situação são capazes de expressar
sua vontade, que deve ser levada em consideração e respeitada pelos médicos45.
Entre os principais pontos reparativos, a Corte impôs o dever de garantir
em prazo razoável a resolução interna do processo, o desenvolvimento de programas
com o fim de auxiliar os profissionais da saúde a compreender a melhor forma de
lidar com pessoas com deficiência mental e indenização à família.
45 CIDH. Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Fondo, Reparaciones e Costas. Sentencia de 4 de julio de
2006. Série C No. 149. p. 130.
401
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
402
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
403
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
A importância desse caso advém, em parte, por ser a primeira vez que
foi utilizada a defensoria pública para proteção perante o Tribunal Interamericano.
Mas, além disso, trata da proteção de uma pessoa com deficiência, ou seja, em
estado de vulnerabilidade, que começou a ter necessidades médicas em razão de um
acidente que ocorreu dentro da propriedade do Estado e teve sua condição médica
substancialmente agravada em razão do judiciário da Argentina não fornecer acesso
à justiça em tempo razoável.
A omissão da Argentina, que demorou excessivamente para responder a
demanda da família de Furlan, acarretou em diversas consequências, considerando
que o tratamento médico de qualidade da criança dependia da atuação do judiciário
que se mostrou ineficaz em proporcionar o acesso à justiça adequadamente, dessa
forma, ocasionando na piora do quadro médico de Furlan.
404
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
405
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
49 GURGEL, Yara Maria Pereira; MOREIRA, Thiago Oliveira (Coords.); LOPES FILHO, Francisco
Camargo Alves (Org.). O Direito Internacional dos Direitos Humanos e as pessoas em situação de
vulnerabilidade. Natal: Polimatia, 2021. p. 328.
406
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
50 BOLOGNA, Agostina H., LEIVA, María J.J. JORDÁN, Angela P. (2020). Nacionalidad y apatri-
dia. Análisis del caso Personas dominicanas y haitianas expulsadas vs. República Dominicana ante la
Corte Interamericana de Derechos Humanos. PÉRIPLOS, Revista de Investigación sobre Migracio-
nes. Ano 3 - Número 2 (2019), p. 96.
407
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
408
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
51 Cfr. Caso “Instituto de Reeducación del Menor” Vs. Paraguay. Excepciones Preliminares, Fondo,
Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de septiembre de 2004. Serie C No. 112, párr. 159, y Caso
Rodríguez Revolorio y otros Vs. Guatemala, párr. 71.
409
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
52 CIDH. Caso Noguera Vs. Paraguai. Sentença de 9 de março de 2020. Série C No. 401, p. 67.
410
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
31) Caso dos Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus Vs.
Brasil
Martina Rebeca Vera Rojas na época dos fatos era uma criança quando
a seguradora de saúde finalizou unilateralmente e arbitrariamente o contrato que
possibilitava o aparato necessário à sua hospitalização em domicílio, necessária em
razão de Vera Rojas ter a síndrome de Leigh.
Em virtude do descumprimento do dever estatal de regular e fiscalizar
os serviços privados de saúde, que nesse caso era essencial para proporcionar
uma vida digna a uma pessoa em estado de vulnerabilidade, a Corte condenou o
Estado por violar os princípios da saúde, integridade, garantias judiciais e proteção
411
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
judicial, além da proteção especial que deveria existir no caso por tratar de um caso
envolvendo à saúde de uma criança.
34) Caso dos Mergulhadores Misquitos (Lemoth Morris e outros) Vs. Honduras
Esse caso tem relação com pessoas que trabalhavam para empresas privadas
que não respeitavam os parâmetros de segurança, decorrendo em diversos desastres
no ambiente laboral, entre estes: o óbito de dezenove pessoas, o desaparecimento
de um adolescente e o adoecimento de vinte e dois trabalhadores em razão das
condições de trabalho.
Apesar das consequências desastrosas, na Corte IDH as parte conseguiram
alcançar uma solução amistosa e o Estado de Honduras se comprometeu a
proporcionar medidas de reparação às vítimas, o desenvolvimento de projetos
educativos para os misquitos, a assistência jurídica e as mudanças nas normativas
internas com a finalidade de uma atuação mais eficaz na fiscalização desses casos,
inclusive com a criação da Justiça do Trabalho em Honduras.
412
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
413
REFERÊNCIAS
414
MAAS, R. H.; DAROIT, A. P. The Inter-Amercican protection of human and
social rights to health. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, 2019, p. 13-31.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rdisan/article/view/164199. Acesso
em: 12 dez. 2021.
415
PARTE IV
1 INTRODUÇÃO
1 Advogada. Mestranda em Direito pela UFRN. Pesquisadora no Projeto Direito Estado e Femi-
nismos nos 30 anos da Constituição: estudos sobre interseccionalidade (UFRN). Pós-graduada em
trabalho e processo do trabalho pela Damásio Educacional. Pós-graduada em direito processual pela
PUC/MG. Graduada em Direito pela UFRN. E-mail: camilacribeiro_@hotmail.com. Lattes: http://
lattes.cnpq.br/3531944918718939. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2234-5849.
2 Assessora Ministerial no Ministério Público do Rio Grande do Norte. MPRN. Pós-graduada em
Direito Constitucional pela Rede LFF. Graduada em Direito pela UFRN.
3 Pós Doutora em Direitos Fundamentais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
(2019). Doutora (2007) e Mestre (2000) em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Graduação
em Direito pela UFRN (1997). Atualmente é Professora Associada II, com Dedicação Exclusiva,
junto a UFRN. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Constitucional, Direito
do Trabalho e Direitos Humanos. Advogada.
419
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
420
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 Vírus altamente contagioso, da família dos coronavírus, que causa doença respiratória nos seres
humanos, conhecida como Covid-19.
5 SAFFIOTI, Heleieth I. B. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987. Coleção polêmica. p.
9. Disponível em: https://contrapoder.net/wp-content/uploads/2020/06/O-poder-do-macho.pdf.
Acesso em: 25 jan. 2022.
421
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
6 LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. Trad.
Luiza Sellera. São Paulo: Cutrix, 2019. p. 29-30.
7 Ibid., p. 29-30. p. 285.
8 LUCENA, Mariana Barreto Nóbrega de. Morte violenta de mulheres no Brasil e novas vulnerabilida-
des: da violência do patriarcado privado à violência do patriarcado público. 1. ed. Gramado: Aspas,
2020.
422
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
9 IBGE. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. 2. ed. 2021. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101784_informativo.pdf. Acesso em: 27 jan.
2022.
10 IBGE. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. 2018. Disponível em: ht-
tps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf. Acesso em: 27 jan. 2022.
423
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
11 LIMA, Mariana. Com a pandemia, 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho. Obser-
vatório do terceiro setor. 07 jul. 2020. Disponível em: https://observatorio3setor.org.br/noticias/com-
-a-pandemia-7-milhoes-de-mulheres-deixaram-o-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 29 jan. 2022.
424
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
ainda mais para esse aumento do índice de desemprego do gênero feminino, mesmo
sendo uma responsabilidade não apenas atribuída à elas12.
Para aquelas que optaram por seguir no mercado de trabalho, outros
desafios: como exercer o labor quando não se tem com quem deixar os filhos? A
ausência no ambiente laboral é aceitável/justificável dentro dessa realidade? Como
conciliar a atividade profissional com as atividades domésticas (intensificadas no
isolamento social) e o dever de cuidado com os filhos, inclusive somada ao papel de
“professora”, diante da ausência de aulas presenciais e da nova realidade de educação
a distância?
Todas essas perguntas refletem na intensificação da sobrejornada
exercida pela mulher em tempos de pandemia. Se a problemática já existia, com
a calamidade pública essa questão se tornou gritante. Sem falar nas mulheres que
estavam na linha de frente, exercendo uma jornada de trabalho profissional ainda
mais exaustiva (física e psicologicamente), tendo que se desdobrar ainda mais para
dar conta de tudo, emprego, lar e filhos, acrescido ao medo da contaminação pelo
vírus, por estarem em maior exposição que as demais.
Destarte, em casos de mães que não têm com quem deixar as crianças,
algumas alternativas poderiam ser enquadradas, tais como: i) teletrabalho, trabalho
remoto ou outro tipo de trabalho a distância, que ainda assim refletem no aumento
da sobrecarga de trabalho, já que os cuidados com os filhos exige tempo integral (o
que inclui o tempo em que a empregada, em tese, estaria a serviço do empregador);
ii) banco de horas inverso (o que exigiria compensação posterior e, portanto, mais
tempo ausente do lar); iii) antecipação de férias (o que duraria apenas trinta dias);
suspensão do contrato do trabalho (o que implicaria na ausência de remuneração)
e redução de jornada (com a proporcional diminuição do valor da remuneração).
Note-se que tais “soluções” não funcionariam à longo prazo, o que não deixa outra
alternativa, se não a renúncia ao labor.
12 “[...] o aprofundamento da crise política, social e da própria democracia, intensificada pela crise
sanitária mundial, escancara a violência da sobrecarga de trabalho doméstico absolutamente essencial
em sociedades patriarcais, a responsabilidade feminina pelos espaços privados, ou seja, doméstico,
com os cuidados com os filhos e com a manutenção da estrutura familiar. Essas violências, cotidianas e
históricas, ganham ainda mais destaques evidenciando, mesmo com todas as conquistas feministas no
último período, o contraste enorme entre os espaços privados e públicos para as mulheres”. ARAÚJO,
Elita Isabella Morais Dorvillé et al. Mulheres, racismo e pandemia: perspectivas sobre direitos huma-
nos em um contexto de crise. In: RODRIGUES, Carla Estela; MELO, Ezilda; POLETINE, Maria
Júlia. Pandemia e mulheres.1 ed. Salvador: Studio Sala de Aula, 2020. v. 2.
425
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
426
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
427
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
15 ALENCAR, Joana et al. Políticas públicas e violência baseada no gênero durante a pandemia da
covid-19: ações presentes, ausentes e recomendadas. IPEA. DISOC – Diretoria de Estudos e Políticas
Sociais. n. 78. junho de 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=-
com_content&view=article&id=35884. Acesso em: 27 jan. 2022.
16 SAFFIOTI, Heleieth I. B. Já se mete a colher em briga de marido e mulher. São Paulo Perspec. São
Paulo, v. 13, n. 4, p. 82-91, dez. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar-
ttext&pid=S0102-88391999000400009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 jan. 2022.
17 Ibid.
428
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
que o homem se torna mais susceptível a praticar atos violentos. Seria, essa, portanto
uma forma de alimentar o ego e demonstrar “controle” dentro do lar.
A ONU Mulheres também compartilha dessa opinião. Ao elaborar a
cartilha intitulada “Prevenção da violência contra mulheres diante da Covid-19 na
américa latina e no Caribe”18, a ONU Mulheres destacou que a perda do trabalho,
a instabilidade econômica e o estresse são fatos que podem gerar no agressor a
sensação de perda do poder, o que poderia influenciar no aumento da frequência e
da gravidade da violência doméstica e mais, poderia gerar comportamentos nocivos
e abusivos, resultando em possível aumento de abuso sexual on-line ou nas ruas.
Somado ao isolamento social e ao impacto econômico (com a perda
do poder aquisitivo de homens e mulheres), a pandemia trouxe outros fatores
agravantes da violência doméstica e familiar, tais como: o abuso de drogas ilícitas e
lícitas; a dificuldade de acesso aos serviços de enfrentamento; estresses e oscilações
emocionais, bem como sobrecarga do trabalho reprodutivo às mulheres.
Quanto à dificuldade de acesso aos serviços de enfrentamento, tal fato
foi notório aos vislumbrar a queda nos índices de denúncias de violência doméstica
e familiar. O que é importante ressaltar é que essa baixa não demonstra uma
diminuição da prática da violência doméstica em si. Na realidade, essa queda traz
outra evidência: que as mulheres, por estarem isoladas e vigiadas cem por cento
do tempo por seus agressores, não conseguem acesso à pessoas e órgãos de apoio,
ficando reféns dentro do próprio lar19.
Quando em face de mulheres de grupos hipervulneráveis (idosas, com
deficiência, com orientação sexual diversa, trans, que vivem com HIV, migrantes,
deslocadas, refugiadas, vítimas de conflito armado, indígenas, afrodescendentes,
que vivem em zonas rurais ou em assentamentos informais), por estarem propensas
às mais variadas formas de discriminação, as situações de violência e de dificuldade
de acesso aos serviços essenciais de enfretamento são ainda maiores e mais
preocupantes. Conforme a ONU Mulheres:
18 MULHERES, ONU. Prevenção da violência contra mulheres diante da Covid-19 na América Latina
e no Caribe. BRIEF v. 1.1. 23 abr. 2020. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-con-
tent/uploads/2020/05/BRIEF-PORTUGUES.pdf. Acesso em: 27 jan. 2022.
19 Ibid.,
429
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
20 MULHERES, ONU. Prevenção da violência contra mulheres diante da Covid-19 na América Latina
e no Caribe. BRIEF v. 1.1. 23 abr. 2020. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-con-
tent/uploads/2020/05/BRIEF-PORTUGUES.pdf. Acesso em: 27 jan. 2022.
21 PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Mulheres e mercado de trabalho: pandemia e desigualdade de
gênero. Revista Justiça & Cidadania. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/mulheres-e-mer-
cado-de-trabalho-pandemia-e-desigualdade-de-genero/. Acesso em: 27 jan. 2022.
430
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
deixa à margem da atenção aquelas mulheres que sofrem formas de violências que
seriam mais bem tratadas no âmbito da saúde e da assistência psicossocial; etc22.
Considerando o contexto pandêmico e as lacunas acima expostas, a ONU
Mulheres expediu uma série de recomendações para a organização dos serviços e
coordenação da rede para atendimento à mulher, dentre elas: I) a avaliação dos
recursos tecnológicos e técnicos para transposição do atendimento presencial
para o remoto, considerando a adequação dos meios de atendimento (celulares,
aplicativos de mensagens, redes sociais), a capacitação dos profissionais, o alcance
de cada tipo de canal (tendo em vista a diversidade dos grupos de mulheres),
recomendando-se a adoção de mais de um meio de atendimento (inclusive com
a manutenção de meios presenciais), a segurança e a privacidade no atendimento
e uso de aparelhos e equipamentos exclusivamente institucionais, em quantidade
adequada ao número de profissionais. II) Modos alternativos para conectar as
mulheres aos serviços prestados, com a disposição de linhas gratuitas e, quando
possível, de meios de transporte que busquem a vítima em casa, já que nem todas as
mulheres têm acesso aos celulares ou mesmo ao uso da internet, seja pela ausência
de condições financeiras, seja pelo controle exercido pelo agressor. São exemplos de
canais alternativos: a instalação de balcões de informação em serviços essenciais e a
ajuda de redes comunitárias e pessoais.
Em sentido semelhante, também considerando o contexto pandêmico,
no que diz respeito à proteção dos direitos das mulheres, meninas e adolescentes, a
CIDH também trouxe algumas recomendações:
22 PASINATO, Wania. Diretrizes para atendimento em casos de violência de gênero contra meninas
e mulheres em tempos da pandemia da covid-19. ONU Mulheres. 2020, p. 9. Disponível em: http://
www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Diretrizes-para-atendimento_ONUMU-
LHERES.pdf. Acesso em: 26 abr. 2022.
431
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
23 OEA. A CIDH faz um chamado aos Estados a incorporar a perspectiva de gênero na resposta à
pandemia do COVID-19 e a combater a violência sexual e intra-familiar neste contexto. In: OEA.
Disponível em: https://www.oas.org/pt/cidh/prensa/notas/2020/074.asp. Acesso em: 26 abr. 2022.
432
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
433
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
24 MALISKA, Marcos Augusto. Art. 1º, I – a soberania. In: CANOILHO, J.J Gomes et al. Comen-
tários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 117.
25 ONU. COVID-19 Global Gender Response Tracker. Disponível em: https://data.undp.org/gender-
tracker/>. Acesso em: 28 jan. 2022.
434
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
435
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
436
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 ALENCAR, Joana et al. Políticas públicas e violência baseada no gênero durante a pandemia da
covid-19: ações presentes, ausentes e recomendadas. IPEA. DISOC – Diretoria de Estudos e Políticas
Sociais. Nota Técnica nº 78. Junho de 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.
php?option=com_content&view=article&id=35884. Acesso em: 27 jan. 2022.
437
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
438
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
439
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
tempo real, quando forem narrados casos de violência contra a mulher, o idoso, a
criança ou o adolescente, com a possibilidade de a vítima solicitar a aplicação de
qualquer medida protetiva de urgência de forma online e a autoridade competente
– inclusive policial – deferir a medida de forma eletrônica. Ainda, facultou a adoção
destes canais de atendimento pelos órgãos integrantes do Sistema de Justiça (Poder
Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública) e pelos demais órgãos do Poder
Executivo (art. 4º).
Ademais, enquanto perdurar o estado de emergência ocasionado pela
pandemia da Covid-19, autorizou-se a prorrogação automática das medidas
protetivas de urgência (art. 5º).
Fixou-se o prazo de 48h (quarenta e oito horas) para que as denúncias
recebidas pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) e o serviço de
proteção de crianças e adolescentes (Disque 100) sejam encaminhadas para os
órgãos competentes, os quais deverão garantir o atendimento de forma ágil (arts.
6º e 7º). Além disso, estipulou-se como obrigação do poder público a promoção de
campanha informativa com o intuito de fomentar a prevenção à violência doméstica
e tornar conhecido os mecanismos de denúncia acima mencionados (art. 8º).
Ainda, no início do mês de abril de 2020, o Governo Federal lançou
uma nova plataforma para receber denúncias de casos de violência doméstica e de
violação de direitos humanos: o aplicativo denominado “Direitos Humanos BR”
cuja função assemelha-se a dos canais de atendimento “Ligue 180” e “Disque 100”.
Em maio de 2020, o Governo Federal também lançou a campanha de
conscientização e enfrentamento à violência doméstica com o lema “Denuncie a
violência doméstica. Para algumas famílias, o isolamento está sendo ainda mais
difícil”31. Ainda, publicou a cartilha “Mulheres na Covid-19”, a qual orienta sobre
a saúde, o enfrentamento à violência doméstica e mercado de trabalho32.
Por sua vez, os governos estaduais possibilitaram que as vítimas de
violência doméstica registrassem boletins de ocorrência, através da internet,
tornando mais fácil a notificação por parte da ofendida – visto que, não raras
440
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
vezes, a vítima de violência doméstica sequer pode sair de sua casa para registrar os
boletins de ocorrência. Foram pioneiros os estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo e o Distrito Federal33.
Continuamente, em 28 de julho de 2021, foi promulgada a Lei nº
14.188, que define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência
Doméstica como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e
familiar contra a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
Maria da Penha), e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), em todo o território nacional; bem como altera o Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para modificar a modalidade da pena da
lesão corporal simples cometida contra a mulher por razões da condição do sexo
feminino e para criar o tipo penal de violência psicológica contra a mulher.
Destarte, em 31 de março de 2021, foi promulgada a Lei nº 14.132, a
fim de acrescentar o art. 147-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para prever o crime de perseguição, dentre outras providências.
No Estado do Rio Grande do Norte, merece destaque a campanha
virtual promovida por sua Assembleia Legislativa, denominada “Violência
Doméstica: precisamos dar um basta nisso”34. Além disso, por meio da Lei Estadual
nº 10.722/2020, o referido Ente instituiu o projeto “Casa Abrigo”, na capital do
estado, para receber mulheres vítimas de violência doméstica, bem como seus filhos
menores de idade e os maiores de idade com necessidades especiais que dependam
da genitora para sua sobrevivência35.
Em outra vertente, por meio da Lei Estadual nº 10.720/2020, o Governo
do Estado do Rio Grande do Norte determinou que os síndicos e/ou administradores
devem comunicar às autoridades competentes qualquer caso de violência doméstica
praticado contra mulher, criança, adolescente ou idoso, ocorrido nas unidades
33 OLIVEIRA, Renata Mariz de. Proteção às mulheres contra a violência doméstica na pandemia. 2020.
Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/326960/protecao-as-mulheres-contra-a-violen-
cia-domestica-na-pandemia. Acesso em: 28 jan. 2022.
34 RN, Assembleia Legislativa do. De forma pioneira, Assembleia lança campanha em ambiente virtual.
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Portal. Notícias. 2020. Disponível em http://www.
al.rn.gov.br/portal/noticias/19152/de-forma-pioneira-assembleia-lana-campanha-em-ambiente-vir-
tual. Acesso em: 28 jan. 2022.
35 RN. Lei nº 10.722. Autoriza o Poder Executivo a instituir o Projeto “Casa Abrigo”, com atendi-
mento regional, em Natal/RN. 2020. Disponível em: http://diariooficial.rn.gov.br/dei/dorn3/doc-
view.aspx?id_jor=00000001&data=20200528&id_doc=684412#:~:text=LEI%20N%C2%BA%20
10.722%2C%20DE%2027,regional%2C%20em%20Natal%2FRN. Acesso em: 28 jan. 2022.
441
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
36 ONU. Covid-19 e Igualdade de gênero: um apelo à ação para o setor privado. 2020. Disponível em:
http://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2020/04/Princ%C3%ADpios-de-Empodera-
mento-das-mulheres_COVID19_rev_2.pdf. Acesso em: 28 jan. 2022.
442
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
37 ONU. Covid-19 e Igualdade de gênero: um apelo à ação para o setor privado. 2020. Disponível em:
http://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2020/04/Princ%C3%ADpios-de-Empodera-
mento-das-mulheres_COVID19_rev_2.pdf. Acesso em: 28 jan. 2022.
443
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
38 ONU. Covid-19 e Igualdade de gênero: um apelo à ação para o setor privado. 2020. Disponível em:
http://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2020/04/Princ%C3%ADpios-de-Empodera-
mento-das-mulheres_COVID19_rev_2.pdf. Acesso em: 28 jan. 2022.
39 “Um plano de ações coordenadas em parceria com mais de 10 instituições da iniciativa privada,
da sociedade civil e setor público com o objetivo de mitigar os impactos do isolamento na vida de
mulheres e meninas por meio da prestação de serviços essenciais para a mulheres e meninas em situa-
ção de violência [...]. O Programa Você Não Está Sozinha se propõe a facilitar o pedido de ajuda e
ser uma ponte entre as necessidades básicas e psicológicas das mulheres e os recursos disponíveis para
apoiá-las. A partir de um processo de triagem por diferentes canais, a fim de compreender o nível de
risco e vulnerabilidade ao qual a mulher está sendo submetida, ela é direcionada a acessar diferentes
recursos como plataformas de apoio psicológico e jurídico, auxílios de transporte, suporte material,
alimentação, entre outros”. AVON. Você pode cuidar da sua vida. E da sua vizinha também. Disponí-
vel em: https://www.avon.com.br/instituto-avon/isoladassimsozinhasnao#. Acesso em: 28 jan. 2022.
40 EXAME. 4 ações sociais que empresas podem adotar na pandemia da covid-19. Da redação. 2020.
Disponível em: https://exame.com/brasil/4-acoes-sociais-que-empresas-podem-adotar-na-pandemia-
-da-covid-19/. Acesso em: 29 jan. 2022.
444
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
campanhas foram lançadas com este intuito – dentre elas, destaca-se a campanha
lançada pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ e a Associação dos Magistrados
Brasileiros – AMB, denominada “Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica”. A
campanha permite que a mulher que esteja em alguma situação de risco, faça um “X”
vermelho na mão e mostre para algum funcionário da farmácia, que imediatamente
deverá comunicar a situação para a autoridade competente (a campanha passou a
ser regulamentada pela citada Lei nº 14.188/2021)41.
Em outro âmbito, a Fundação Vale e a Rede Asta – com apoio tecnológico
da Petrobras, Microsoft e outras empresas – promoveram a iniciativa denominada
“Máscara + Renda”. Através desta campanha, as empresas selecionaram 1.000 (mil)
costureiras e artesãs de todas as regiões do país que produzirão máscaras de proteção
e receberão até R$ 900 (novecentos reais) mensais.42 As idealizadoras estimam que,
em três meses, serão 1,5 milhão de máscaras produzidas e doadas para organizações
sociais indicadas pelas próprias costureiras.
Nota-se um despertar do setor privado quanto a sua importância na luta
pela igualdade de gênero – o que se espera ser uma tendência para além do período
da pandemia e que alcance também a tão almejada igualdade salarial no âmbito
privado.
Compreendendo a importância que a sociedade possui na luta pela
igualdade de gênero, diversas Organizações não Governamentais – ONGs, bem
como coletivos autogerenciáveis e movimentos populares promoveram campanhas
para proteger mulheres da violência doméstica, bem como ajudar na subsistência
destas mulheres neste período pandêmico. A exemplo disso, A Central Única
das Favelas – CUFA com apoio de vários parceiros, instituiu o “Fundo solidário
COVID-19 para Mães das Favelas” 43. Por sua vez, o Instituto Casa Mãe e o
Coletivo MASSA criaram o movimento “Segura a Curva das Mães”. Trata-se de um
41 BANDEIRA, Regina. Sinal Vermelho: CNJ lança campanha de ajuda a vítimas de violência domés-
tica na pandemia. 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/sinal-vermelho-cnj-lanca-campanha-
-de-ajuda-a-vitimas-de-violencia-domestica-na-pandemia/. Acesso em: 29 jan. 2022.
42 RENDA, Máscara +. Projeto Máscara + Renda. Disponível em: http://mascaramaisrenda.com.br/.
Acesso em: 29 jan. 2022.
43 CUFA. Sua doação vai ajudar milhares de mães das favelas brasileiras. Central Única das Favelas.
Disponível em: https://www.maesdafavela.com.br/. Acesso em: 29 jan. 2022.
445
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
44 “Quando falamos de apoio integral estamos falando de: atendimento psicológico, pediátrico e
em saúde, suporte jurídico, apoio financeiro emergencial, apoio pedagógico escolar e não-escolar),
apoio ao luto, apoio à gestação, parto e pós-parto, rede de proteção e segurança contra a violência; e o
estabelecimento de vínculos e redes de apoio regionais entre as mães”. VAKINHA. Segura a curva das
mães! Disponível em: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/segura-a-curva-das-maes. Acesso em:
29 jan. 2022.
45 BENFEITORIAS. Impactando vidas pretas. Movimento Black Money – Afreektech. Disponível
em: https://benfeitoria.com/impactandovidaspretas. Acesso em: 29 jan. 2022.
46 TEODORO, Marina. Acolhimento às vítimas de violência fica nas mãos de ONGs. 2020. Disponível
em: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/acolhimento-as-vitimas-de-violencia-fica-nas-maos-de-
-ongs,632ae87902f0b951ce6e23bb751fec7ef18grdwj.html. Acesso em: 29 out. 2022.
47 “Diante da pandemia do coronavírus, os índices de violência doméstica dispararam e consequen-
temente, o número de pedidos de ajuda aqui no nosso site aumentou. Estamos recebendo mais de
20 pedidos por dia - é quase uma mulher pedindo ajuda a cada hora! E ainda não temos voluntárias
suficientes para ajudar todas elas. Para não deixar nenhuma mulher sofrer sozinha, precisamos urgente
446
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 CONCLUSÃO
de 5.500 novas voluntárias nos 27 Estados do Brasil”. ACOLHIMENTO, Mapa do. Nenhuma mu-
lher deve sofrer sozinha. Disponível em: https://www.mapadoacolhimento.org/#block-33233. Acesso
em: 29 jan. 2022.
447
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
448
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
449
REFERÊNCIAS
AVON. Você pode cuidar da sua vida. E da sua vizinha também. Disponível em:
https://www.avon.com.br/instituto-avon/isoladassimsozinhasnao#. Acesso em: 28
jan. 2022.
CUFA. Sua doação vai ajudar milhares de mães das favelas brasileiras. Central
Única das Favelas. Disponível em: https://www.maesdafavela.com.br/. Acesso em:
29 jan. 2022.
450
EXAME. 4 ações sociais que empresas podem adotar na pandemia da covid-19. Da
redação. 2020. Disponível em: https://exame.com/brasil/4-acoes-sociais-que-
empresas-podem-adotar-na-pandemia-da-covid-19/. Acesso em: 29 jan. 2022.
451
MULHERES. Trabalhadoras e suas famílias precisam de mais apoio na resposta à
Covid-19. In: ONU Mulheres. 2020. Disponível em: https://www.onumulheres.
org.br/noticias/trabalhadoras-e-suas-familias-precisam-de-mais-apoio-na-resposta-
a-covid-19/. Acesso em: 26 abr. 2022.
452
RIO GRANDE DO NORTE. Lei nº 10.722. Autoriza o Poder Executivo
a instituir o Projeto “Casa Abrigo”, com atendimento regional, em Natal/
RN. Publicada em 27 mai. 2020. Disponível em: http://diariooficial.
rn.gov.br/dei/dorn3/docview.aspx?id_jor=00000001&data=20200528&id_
doc=684412#:~:text=LEI%20N%C2%BA%2010.722%2C%20DE%20
27,regional%2C%20em%20Natal%2FRN. Acesso em: 28 jan. 2022.
453
Dignidade da pessoa humana como instrumento de humanização
na execução penal: uma análise da efetividade dos diplomas
internacionais no trabalho prisional brasileiro
1 INTRODUÇÃO
1 Advogada criminalista. Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela UNI/RN. Especialista em Direito Tributário pelo
Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Graduada em Direito pela Universidade Potiguar. Cola-
boradora do Projeto de Pesquisa Criminalidade Violenta e Diretrizes para uma Política de Segurança
Pública no Estado do Rio Grande do Norte.
2 Juiz Federal, Mestre e Doutor, Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN, Coordenador dos Projetos de Pesquisa O Direito Criminal como corpo normativo cons-
trutivo do sistema de proteção dos direitos e garantias fundamentais, nas perspectivas subjetiva e objetiva e
a Criminalidade violenta e diretrizes para uma política de segurança pública no Estado do Rio Grande do
Norte, Conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP e membro
da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN.
3 Pós-Doutora pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mestre e Doutora em Direito
do Trabalho pela PUC/SP. Professora Associada III da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
455
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 347 MC. Relator(a): Min. Marco Aurélio, Tribunal
Pleno, julgado em 09/09/2015, Processo Eletrônico DJe-031 DIVULG 18- 02-2016 PUBLIC
19-02-2016. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&do-
cID=10300665. Acesso em: 16 fev. 2022.
456
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
457
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 O World Prison Brief (WPB) é uma plataforma de acesso gratuito, responsável pela disponibilização
de dados estatísticos de todos os sistemas prisionais do mundo. É importante mencionar que os dados
disponibilizados podem ter referenciais temporais diversos, isso porque dependem de fontes oficiais
de cada país para o fornecimento dessas informações.
6 Dado referente ao número total da população prisional, incluindo presos em prisão preventiva, ano
de 2020.
7 BRIEF, World Prison. Highest to lowest – prison population total. Disponível em: https://www.
prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=All. Acesso
em: 6 out. 2021.
458
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
8 LEGALE, Siddharta; ARAÚJO, David. O Estado de Coisas Inconvencional: trazendo a Corte Inte-
ramericana de Direitos Humanos para o debate sobre o sistema prisional brasileiro. Revista Publicum,
Rio de Janeiro, ano 2016, v. 2, n. 2, p. 67-82, 2016. DOI 10.12957/publicum.2016.26042. Dispo-
nível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/publicum. Acesso em: 18 mar. 2022.
9 Ibid.,
10 SARMENTO, Daniel. A dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 15.
459
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
460
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
que não poderá sofrer qualquer afetação ou flexibilização sob risco de fomentar
insegurança jurídica em uma sociedade que deve ser democrática e inclusiva12.
Para Yara Gurgel13, a dignidade é acolhida no âmbito jurídico como
“norma-princípio condutora de toda estrutura constitucional do Estado de direito”.
Nesse sentido, denota-se que a dignidade humana possui inúmeras funções no
nosso ordenamento jurídico – fundamento, critério de interpretação, parâmetro de
ponderação, limite aos limites dos direitos fundamentais, entre outros –, de forma
que não pretendemos aqui esgotar toda a matéria que permeia esse conteúdo, mas
apenas trazer breves apontamentos para que possamos analisá-lo em um contexto
mais específico, qual seja, o prisional.
Sendo, indiscutivelmente, fundamento central do ordenamento jurídico
brasileiro, a dignidade humana, segundo Sarmento14, engloba quatro elementos
básicos para sua compreensão: (i) valor intrínseco da pessoa, (ii) autonomia, (iii)
mínimo existencial e (iv) reconhecimento. O autor, em síntese, aponta que o valor
intrínseco da pessoa postula que o ser humano jamais poderá ser tratado como
simples objeto, mas como um fim em si; a autonomia vem como sinônimo de
liberdade individual e pública; o mínimo existencial visa assegurar necessidades
básicas para uma vida digna e o reconhecimento se liga ao pertencimento do ser
humano a determinados grupos sociais.
Há, no entanto, diversos outros entendimentos sobre o que de fato
compõe o conteúdo mínimo da dignidade da pessoa humana. Luís Roberto
Barroso15 defende a existência de três elementos: (i) valor intrínseco, (ii) autonomia
e (iii) valor comunitário, sendo este último representado pela ideia de restrição
à autonomia individual em prol de metas coletivas que possam ser usufruídas
12 NOVAIS, Jorge Reis. A dignidade da pessoa humana. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2016. v. II – Dig-
nidade e Inconstitucionalidade. p. 39-40.
13 GURGEL, Yara Maria Pereira. Conteúdo normativo da dignidade da pessoa humana e suas implica-
ções jurídicas na realização dos direitos fundamentais. Tese de Pós-Doutoramento em Direito e Ciências
Jurídicas. Lisboa, 2018. p. 86.
14 SARMENTO, Daniel. A dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 98.
15 BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo:
a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Tradução de Humbero Laport
de Mello. 3. Reimpressão. Belo Horizonte: Fórum, 2014. p. 72-89.
461
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
pela maioria dos indivíduos. Por sua vez, Yara Gurgel16 admite que o conteúdo
normativo da dignidade da pessoa humana encontra-se baseado em três premissas:
(i) sua titulação, (ii) a igualdade de direitos e (iii) a autonomia individual. Em breve
síntese, destaque-se que a igual dignidade possui como base teórica a aplicação
do princípio da igualdade a todos os sujeitos de direito e a proibição de qualquer
tratamento ou restrição arbitrária aos direitos fundamentais. Já a autonomia
individual seria a própria capacidade individual de realizar suas próprias escolhas a
partir do exercício de seus direitos fundamentais.
Nesse sentido, percebemos que analisar a dignidade humana é também
lidar com a sua amplitude, mas isso não significa dizer que o seu uso deve se dar de
forma genérica e desarrazoada, muito pelo contrário. É imprescindível que o seu
conteúdo seja delimitado para que se possa efetivamente garantir a correta aplicação
em casos concretos, evitando qualquer desvirtuamento da sua finalidade.
Para Thiago Moreira17, os direitos humanos ao lado da própria dignidade
humana são conceitos indispensáveis à própria sociedade, mas muito além de discutir
sobre os conceitos que giram em torno da sua nomenclatura, faz-se importante e
imprescindível que políticas públicas estatais atuem de forma a concretizá-las, sob
pena de responsabilidade internacional.
Dito isso, denota-se que a dignidade humana desenvolve diversas funções
no ordenamento jurídico, sendo uma delas fundamento ou princípio estruturante
para os direitos fundamentais expressamente previstos e também parâmetro para
preenchimento de lacunas e omissões estatais. Logo, entender a dignidade humana
como conteúdo mínimo para elaboração de outras normativas é o caminho mais
seguro a ser traçado, uma vez que pensar o contrário seria equipará-la a um direito
fundamental, concordando com a ideia de que ela poderá ser ponderada diante de
qualquer conflito narrado em uma situação concreta, o que levaria à insegurança
do próprio direito postulado.
No entanto, percebe-se que o ordenamento jurídico brasileiro apesar de
dispor sobre a dignidade da pessoa humana de forma universal e igualitária, traz
ainda uma herança discriminatória e escravocrata muito forte, especialmente no
16 GURGEL, Yara Maria Pereira. Conteúdo normativo da dignidade da pessoa humana e suas implica-
ções jurídicas na realização dos direitos fundamentais. Tese de Pós-Doutoramento em Direito e Ciências
Jurídicas. Lisboa, 2018. p. 100-120.
17 MORERIA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela juris-
dição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015. p. 93.
462
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
18 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 85-86.
19 BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 7. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004. p. 32.
20 NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos humanos versus segurança pública. Rio de Janeiro: Forense,
2016. p. 17-23.
21 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete. 20. ed.
Petrópolis: Vozes, 1999. p. 12.
463
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
22 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 189.
23 Ibid., p. 188.
24 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 1989. p. 317.
25 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 192.
26 Ibid., p. 195.
464
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
27 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
p. 40.
465
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
significa que todos os seres humanos possuem direitos entre si e que também devem
ser respeitados pelo Estado.
A universalidade foi uma característica ressaltada no âmbito da própria
Declaração Universal dos Direitos Humanos, e posteriormente ratificadas nas
Conferências Mundiais de Direitos Humanos de Teerã (1968) e de Viena28 (1993)
e, em que pese receber críticas dos adeptos ao relativismo cultural, teoria que
defende que a concepção de direitos humanos adotada possuiria características
eminentemente ocidentais e desconsideraria as diferentes culturas existentes no
mundo, o universalismo procura igualar os direitos humanos a todas as culturas
fazendo com que violações aos direitos humanos não sejam justificadas através de
uma cultura de determinado país.
Assim, além de garantir uma igual dignidade e direitos a todos os seres
humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos também assegura, em
seus artigos 23 e 24, o direito ao trabalho a todo ser humano com condições justas
e favoráveis, direito a uma remuneração, entre outros direitos elencados no diploma
internacional, sem qualquer forma de distinção. Todavia, ao trazer algumas diretrizes
sobre os direitos assegurados aos seres humanos, emergiu o questionamento sobre
a natureza jurídica da Declaração Universal dos Direitos Humanos e se as normas
ali previstas possuiriam força jurídica obrigatória e vinculante aos Estados-partes.
Nesse contexto, foi com base em uma visão mais legalista – de que a
DUDH não possui força vinculante por não ser considerado um tratado – que se
fomentou a discussão sobre uma “juridicização” da Declaração, fazendo com que
fossem elaborados dois Pactos, um contendo os direitos civis e políticos (PIDCP),
e o outro abordando os direitos econômicos, sociais e culturais (PIDESC), ambos
aprovados somente no ano de 1966, formando a conhecida Carta Internacional de
Direitos Humanos (Internacional Bill of Rights). No entanto, apesar de terem sido
aprovados no ano de 1966, os Pactos entraram em vigor somente em 1976, quando
alcançaram o número mínimo de ratificações29. No âmbito brasileiro, os textos
foram aprovados por meio do Decreto Legislativo nº 226, de 12 de dezembro
466
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
p. 242-255.
31 A Convenção delimita o termo “tortura” como “qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de
terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha co-
metido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por
qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza”.
467
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
32 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
468
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
33 SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Execução penal no sistema penitenciário federal. Natal: OWL,
2020. p. 35-38.
34 Ibid., p. 41.
35 NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos humanos versus segurança pública. Rio de Janeiro: Forense,
2016.
469
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
36 ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p.
24
37 Termo adotado em razão dos significados depreciativos e ultrapassados vinculados ao termo “res-
socialização”.
38 SILVA JUNIOR, Walter Nunes da, Olavo Hamilton (org.). Crime, violência e segurança pública:
apontamentos para uma política de estado. Natal: Owl, 2021. p. 174.
39 Ibid.,. p. 170.
470
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
471
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
472
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
de 2019, destacou que o Estado do Rio Grande do Norte é um dos que possui a
menor taxa de presos que exercem atividades laborais do país42.
Nesse estudo, foi realizada consulta ao Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (INFOPEN) relativo ao período de janeiro a junho de
202143, e de relatório encaminhado pelo Departamento de Promoção à Cidadania
(DPC), da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) atinente
às informações do sistema prisional do RN no ano de 2021 requeridas no âmbito
do projeto de pesquisa “Criminalidade violenta e diretrizes para uma Política
de Segurança Pública no Estado do Rio Grande do Norte”, sob coordenação do
Professor Walter Nunes da Silva Júnior.
Visando uma melhor compreensão da descrição dos dados estatísticos
no estado do Rio Grande do Norte, optou-se por discriminar inicialmente as
informações divulgadas pela plataforma do Depen referente à população prisional
em programa laboral nos últimos cinco anos para, logo após, expor os dados
encaminhados pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP).
A última atualização do painel do Sistema de Informações Estatísticas do
Sistema Penitenciário Brasileiro (SISDEPEN) mostra que no ano de 2017 apenas
1,68% da população prisional do estado do Rio Grande do Norte, presos em celas
físicas, encontrava-se inserido em programa laboral. Nos anos posteriores, percebe-
se um discreto aumento, sendo divulgado como último valor, a porcentagem de
4,72% em 2021.
473
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
474
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
475
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
mesmo ano (254 internos em programa laboral), percebe-se que há uma diferença
de levantamento de dados no número de 07 reclusos.
Neste cenário, o protagonismo que deveria ser exercido pelos presos
acaba dando espaço a uma realidade distorcida da lei, em que a realização de
determinadas formas de trabalho penitenciário, apesar de necessário ao cotidiano
prisional, se torna absolutamente distante da realidade, violando preceitos básicos
como o direito a receber remuneração, mesmo em seu patamar mínimo previsto
pela LEP, além de deixar de preparar os presos para o real mercado de trabalho ou
garantir uma efetiva reinserção social44.
5 CONCLUSÃO
44 ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p.
88.
476
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
477
REFERÊNCIAS
BRIEF, World Prison. Highest to lowest – prison population total. Disponível em:
https://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_
region_taxonomy_tid=All. Acesso em: 6 out. 2021.
478
portal/images/noticias/2019/setembro/Relatório_de_Visitas_Prisionais_-_versão_
final_2.pdf. Acesso em: 28 jan. 2022.
479
NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos humanos versus segurança pública. Rio de
Janeiro: Forense, 2016.
ONU, Organização das Nações Unidas. Regras Mínimas das Nações Unidas para o
Tratamento de Presos. Brasília: Brasília Jurídica, 2001.
RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.
ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Execução penal no sistema penitenciário federal.
Natal: OWL, 2020.
SILVA JUNIOR, Walter Nunes da, Olavo Hamilton (org.). Crime, violência e
segurança pública: apontamentos para uma política de estado. Natal: Owl, 2020.
480
Os Estados Unidos e a abertura constitucional ao direito
interamericano dos direitos humanos
1 INTRODUÇÃO
1 Graduando em Direito pela UFRN. Integrante do Grupo de Pesquisa Direito Internacional dos Di-
reitos Humanos e as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). Monitor da disciplina
DIDH (2020.2 e 2021.1).
2 Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Graduação e Mestrado).
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do País Basco (UPV/EHU). Mestre em Direito pela
UFRN. Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra. Chefe do Departamento de Di-
reito Privado da UFRN. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN.
Membro do Conselho Nacional da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Professor/
Pesquisador Visitante na Universidade Lusófona do Porto. Líder do Grupo de Pesquisa Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos e as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8030681636075210. https://orcid.org/0000-0001-6010-976X. E-mail: thia-
go.moreira@ufrn.br.
481
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
482
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
483
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
3 MESQUITA, Márcio Araújo de. VELLASCO, Abner. O constitucionalismo de Hans Kelsen con-
traposto ao de Carl Schmitt. Revista FIDES, Natal, v. 1, n. 1, fev./jul. 2010, p. 125-139.
4 SCHWARTS, Bernard. American Constitutional Law. p. 9.
5 Ibid., p. 3.
6 Ibid., p. 4.
7 “[…] it fails to recognize that governmental bodies other than the Supreme Court also contribute
to an overall interpretation of the Constitution. By passing the War Powers Resolution of 1973, for
example, the US Congress undertook to define the constitutional limits of the president’s powers to
initiate and conduct undeclared war, an issue the Supreme Court has refused to consider. Likewise, in
the Speedy Trial Act of 1984, Congress took upon itself constitutional interpretation in the sphere of
criminal procedure, declaring that a defendant not brought to trial within one hundred days of arrest
can move for a dismissal of the charges. In so doing, it gave meaning to a constitutional provision that
the Supreme Court itself has acknowledged to be vaguer than any other procedural right. And in the
Voting Rights Act of 1982, Congress held that the Fifteenth Amendment (barring states from deny-
ing citizens the right to vote on account of race, color, or previous condition of servitude”) bans not
only intentional discrimination against the voting rights of minorities (what the Supreme Court had
484
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
held) but any electoral scheme that has the effect of preventing minority voters from electing “rep-
resentatives of their choice.” […)] ROSSUM, Ralph A; ALLAN TARR, G. American Constitutional
Law. v. 1: The structure os Government. 10. ed. New York: Westview Press, 2017. p. 2.
8 “On what constitutional basis, for example, can one object to the Supreme Court’s decisions in
Dred Scott v. Sandford (1857), declaring that African Americans could not be citizens, and in Plessy v.
Ferguson (1896), upholding racial segregation?” Ibid., p. 3.
9 SCHWARTS, Bernard. American Constitutional Law. p. 4.
10 TETLEY, William. Common Law v. Civil Law (Codified and Uncodified). Louisiana Law Review,
vol. 60, nº 3, 2000. p. 701.
11 THAYER, James B. The origin and scope of the american doctrine of constitutional law. Harvard
Law Review, Vol. 7, nº 3, 1893, p. 130-31.
12 ADLER, Matthew D. Rights Against Rules: the moral structure of american constitutional law.
Michigan Law Review, Volume 97, nº 1, p. 3.
485
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
13 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1569.
486
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
14 “As far as the American position on the relationship between municipal law and customary inter-
national law is concerned, it appears to be very similar to British practice, apart from the need to take
the Constitution into account. The US Supreme Court in Boos v. Barry emphasized that, ‘As a general
proposition, it is of course correct that the United States has a vital national interest in complying
with international law.’ However, the rules of international law were subject to the Constitution.”
SHAW, Malcom M. International Law. New York: Cambridge University Press, 2008. p. 157.
15 “This Constitution, and the Laws of the United States which shall be made in Pursuance thereof,
and all Treaties made, or which shall be made under the Authority of the United States, shall be the
supreme Law of the Land; and the Judges in every State shall be bound thereby, and Thing in the
Constitution or laws of any State to the Contrary notwithstanding”. NATIONAL CONSTITU-
TIONAL CENTER. Interactive Constitution, 2021. Disponível em: https://constitutioncenter.org/
interactive-constitution/article/article-vi. Acesso em: 5 maio 2021.
16 LINDE, Christopher. The U.S. constitution and international law: finding the balance. Journal of
Transnational Law & Policy, v. 15, no. 2, 2006, p. 309.
17 THAMILMARAN, V. T. international law and national law elements of automatic incorporation.
Sri Lanka Journal of International Law, 11, 1999, p. 241.
18 HENDERSON, Humberto. Los tratados internacionales de derechos humanos en el orden inter-
no: la importancia del principio pro homine. Revista IIDH, 2004, v. 39, p. 81.
487
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
488
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Nos dias de hoje, a regra geral da derrogação por lei mais nova ainda se
mantém. No entanto, variadas decisões agiram de forma a enfraquecer a influência
dos tratados de direito internacional no país. Pode-se citar, como exemplo, a
atitude da Suprema Corte em 1957 no caso Reid v. Covert, quando ignorou os
tratados internacionais pactuados com nações estrangeiras e reclamou competência
das cortes militares dos Estados Unidos para julgar duas mulheres de militares
americanos acusadas de matá-los, ambas em solo estrangeiro (uma na Inglaterra
e outra no Japão). Na ocasião, a Corte afirmou que “the United States is entirely a
creature of the Constitution” and “[i]ts power and authority have no other source”. E
ainda que “no agreement with a foreign nation can confer power on the Congress, or on
any other branch Government, which is free from the restraints of the Constitution”25.
Um dos casos mais importantes nesse aspecto foi o Medellín v Texas, no
qual a Suprema Corte manteve uma posição originalista em várias declarações.
Uma dessas foi que os tratados não poderiam criar direitos individuais, exceto se o
legislativo editasse estatutos de implementação que os abarcassem (semelhantemente
ao modelo inglês) ou se o texto tratasse de um modo para a sua “auto execução” na
proteção dos direitos elencados26.
A afirmação de que os tratados em geral não seriam autoexecutáveis (ou
seja, não teriam força de lei se não estabelecessem uma forma direta de execução
pelas autoridades locais) levou a jurisprudência da Suprema Corte a uma posição
profundamente conservadora quanto aos tratados de direito internacional. Um
exemplo da influência direta desse aspecto foi em 2014, no caso Bond v. United
States. O caso tomou forma quando uma mulher tentou utilizar de tóxicos químicos
para envenenar outra, portanto violando a Chemical Weapons Convention, um
tratado adotado pelos EUA, em 1997. A questão discutida seria se o estatuto seria
aplicado a ela em juízo (já que teria praticado exatamente a conduta de um de seus
dispositivos) ou se seria utilizada a lei penal específica interna27.
A Corte então entendeu que uma interpretação literal dos artigos da
Convenção não era correta, e que a conduta adequada naquele caso específico
seria a tipificação de acordo com a lei federal norte-americana, que usualmente
25 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1570.
26 SOCARRAS, Michael. International Law and the Constitution. The Federal Courts Law Review.
v. 4. nº 2, 2011. p. 4.
27 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1571.
489
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
aloca tais casos para a responsabilidade dos juízos estaduais. Dessa maneira, a
mulher não poderia ser criminalizada de acordo com os dispositivos do tratado,
pois seria necessário que o congresso implementasse um ato interno para definir
especificamente que aquele ato seria criminalizado pelo tratado (o que tiraria
a competência da corte estadual). A conclusão prática foi que nenhum tratado
poderia criminalizar condutas se esse aspecto não fosse particularmente regulado e
atestado pelo Congresso28. Estas e outras decisões29 mostram uma postura de fato
reagente ao direito internacional, no que concerne aos tratados.
28 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1571.. p. 1571-1572.
29 Ver: Missouri v. Holland 252 U.S. 414 (1920) e Boos v. Barry 485 U.S. 312 (1988).
30 PAUST, Jordon J. Human Rights and the Ninth Amendment: a New Form of Guarantee. Cornell
Law Review, v. 60, nº 2, Article 3. 1975, p. 237.
31 SANTOS, Eduardo Rodrigues dos. Direitos fundamentais atípicos: análise da cláusula de abertura
– art. 5º, §2º, da CF/88. Salvador: JusPodivm, 2017. p. 22 - 23.
490
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
32 Seguindo o entendimento de Paust, a IX emenda não seria utilizada (pelo menos não em um
primeiro momento) como forma de implementação de direitos internacionalmente aceitos na ordem
doméstica por meio de novos atos legislativos, mas sim reconhecendo que os direitos humanos bá-
sicos reconhecidos por essas mesmas ordens internacionais já seriam abarcados pela Constituição. A
questão é que talvez as cortes americanas não tenham dado importância à existência dessa proteção
constitucional, o que teria causado um direito arbitrário e baseado em preferências pessoais. Ver:
PAUST, Jordon J. Human Rights and the Ninth Amendment: a New Form of Guarantee. Cornell
Law Review, v. 60, Issue 2, Article 3. 1975, p. 234.
33 Barnett menciona o histórico descaso da suprema corte americana ao interpretar a IX emenda
como uma “irrelevância constitucional”, revelando uma postura altamente originalista no sentido do
apego ao constitucionalismo puramente formal. Ver: BARNETT, Randy E. The Ninth Amendment:
It means What it Says. Texas Law Review. v. 85, nº 1, 2006, p. 2.
34 LINDE, Christopher. The U.S. constitution and international law: finding the balance. Journal of
Transnational Law & Policy, v. 15, no. 2, 2006, p. 309-310.
491
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
qualquer ato suplementar. Isso foi ilustrado no caso Paquete Habana, em que a
Suprema Corte Americana afirmou que onde não havia regulação de um tratado
internacional, ato legislativo ou ação de controle do executivo haveria de se imperar
os costumes internacionais35.
Apesar de essa menção, ainda no ano de 1900, por muito tempo não
houveram discussões relevantes sobre a força dos costumes internacionais no
âmbito interno. Isso mudou em 1980, em uma decisão histórica que versou sobre
o status legal da law of nations, no caso Filartiga v. Pena-Irala. Todo o debate
jurídico que envolveu o caso estava centrado em uma antiga lei federal adotada em
1789, a Alien Tort Statute (ATS), que impunha a competência federal para julgar
ações promovidas por pessoas que não tinham nacionalidade americana, quando
houvessem delitos que violassem o direito internacional36.
O caso em particular tratava de uma ação feita por um grupo de pessoas de
nacionalidade paraguaia (os Filartigas) contra Alerico Noberto Pena-Irala (Pena), um
inspetor de polícia também paraguaio que teria participado no sequestro e tortura de
um dos filhos dos Filartigas, Joelito, em razão de retaliação política contra o seu pai.
Os procedimentos criminais no Paraguai foram infrutíferos e Pena mudou-se para
os Estados Unidos. Na ocasião, a ação fora proposta à justiça americana invocando
o ATS, requerendo criminalização de acordo com os costumes internacionais (tais
como a proibição à tortura)37. A Court of Appeals então reconheceu, em uma das
poucas decisões favoráveis ao direito internacional dos direitos humanos, que as
ações de Pena de fato violavam os costumes internacionais.
A consequência dessa decisão é que, como afirmado pela Corte, os
costumes fariam parte da lei federal, o que daria base constitucional para a utilização
do ATS – especialmente em casos onde há violações aos direitos humanos. Em um
dos votos foi afirmado que tal caso “represented “a small but important step in the
fulfillment of the ageless dream to free all people from brutal violence”38.
No campo doutrinário as críticas foram (e ainda são) mais frequentes
do que as concordâncias. Alguns afirmam que o intento original do congresso não
35 LINDE, Christopher. The U.S. constitution and international law: finding the balance. Journal of
Transnational Law & Policy, v. 15, no. 2, 2006, p. 309-310. p. 313.
36 SOCARRAS, Michael. International Law and the Constitution. The Federal Courts Law Review.
v. 4. nº 2, 2011. p. 4.
37 LINDE, Christopher. The U.S. constitution and international law: finding the balance. Journal of
Transnational Law & Policy, v. 15, no. 2, 2006. p. 315.
38 Ibid., p. 316.
492
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
39 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1575.
40 TUOMALA, Jeffrey. The Intersection os International Law, the U.S Constitution, and Just War
Doctrine. Liberty University Law Review v. 11, no. 2, Fall 2016, p. 339-422.
41 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1576.
42 Ibid., p. 1576.
493
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
43 BRADLEY, Curtis A. The Supreme Court as a filter between international law and american con-
stitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1576.
44 SHAW, Malcom M. International Law… p. 158.
45 “[…] lower courts had been expressing concerns for years that they did not have enough guid-
ance about what they should be doing in these international cases […]”. BRADLEY, Curtis A. The
Supreme Court as a filter between international law and american constitutionalism. California Law
Review, 2016, v. 104, nº 6, p. 1575-2576.
46 Taxman, dyllan moreno. unratified Treaties and the Constitutionality of Signatory Obligations: A
Conceptual Solution. The University of Memphis Law Review, v. 50, 2019. p. 148.
494
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
47 MACIEL, Débora Alves; FERREIRA, Marrielle Maia Alves; KOERNER, Andrei. Os Estados
Unidos e os mecanismos regionais de proteção dos direitos humanos. Lua Nova. 2013, n. 90, p. 272.
48 DIAB, Joseph. United States Ratification of the American Convention on Human Rights. Duke
Journal of Comparative & International Law, v. 22, 1992, p. 324.
49 MACIEL, Débora Alves; FERREIRA, Marrielle Maia Alves; KOERNER, Andrei. Os Estados
Unidos e os mecanismos regionais de proteção dos direitos humanos. Lua Nova. 2013, n. 90, p.
274-275.
50 DIAB, Joseph. United States Ratification of the American Convention on Human Rights. Duke
Journal of Comparative & International Law, v. 22, 1992, p. 324-235.
51 LOVELAND, Justin M. 40 Years Later: It’s time for US ratification of the American Convention
on Human Rights. Seattle Journal for Social Justice, v 18, nº 2, 2020, p. 134.
495
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
496
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
497
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
2022, das quais versam sobre conteúdos sensíveis a muitas comunidades étnicas,
religiosas e culturais60_61.
Destaca-se o aumento vertiginoso, de 2018 a 2021, das denúncias
admitidas: 24 (vinte e quatro) em um período de quatro anos, em oposição às
5 (cinco) nos anos de 2014 a 2017. Parte dessas estão relacionadas aos efeitos
migratórios negativos causados pela pandemia do COVID-19, em que, de
acordo com a opinião da CIDH, os EUA estariam realizando procedimentos de
expulsão acelerada de pessoas em situação de vulnerabilidade “sem avaliar possíveis
necessidades de proteção, de garantia do acesso à migração, asilo ou procedimentos
de proteção no território dos Estados, e sem aplicar os protocolos sanitários
correspondentes para evitar a propagação do COVID-19”62.
Assim, é visível que, embora o país tenha estruturas legais suficientes para
abrigar os instrumentos do SIPDH, há uma série de barreiras, tanto legislativas
quanto jurisprudenciais, a esse processo. O que se tem é uma situação que, mesmo
por uma ação contundente do legislativo e a plena ratificação da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, ainda se questiona a eficácia completa da
norma, pois poderiam surgir diversas manobras hermenêuticas para inviabilizar o
pleno cumprimento do acordo. Um exemplo disso é o caso da Convenção Contra
a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que
o país assinou e ratificou, mas a considerou como não auto executável, de acordo
com o Senado.63
498
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
499
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
que não foi possível recuperar o relatório, sendo 1 (um) em 1987 e 1 (um) em
1989. Resta, portanto, o exame de 47 (quarenta e sete) relatórios.
Divide-se a análise em torno da temática geral dos casos, seguindo assim
a ordem da maior aparição, seguido da segunda maior, e assim por diante. O
grupamento das temáticas, então, segue a lógica utilizada pela Comissão na parte
final do relatório, onde expõe se houve (ou não) violação aos direitos da Declaração
Americana, e quais artigos ou disposições exatamente, o Estado teria vilipendiado.
Preliminarmente, em uma inspeção coletiva, foi possível aferir a
existência de violação dos Estados Unidos da América em 46 (quarenta e seis)
dos 47 (quarenta e sete) casos analisados, correspondendo a uma taxa de 97,87%
(noventa e sete vírgula oitenta e sete por cento). Somente em um caso, o Baby Boy,
de 1981, a Comissão constatou que não houve nenhuma forma de vilipêndio aos
direitos contidos na Declaração Americana.
Já com relação aos grupos temáticos, a maior incidência de violações do
país se deu no campo da agressão ao artigo I, que versa sobre o direito fundamental
e humano à vida, à liberdade e à segurança, no contexto da aplicação e execução
das penas capitais, ainda presentes no sistema legal norte-americano. Representam
um universo de 34 (trinta e quatro) casos em que houve a violação do país nesse
sentido, inclusive contendo infrações relativas ao devido processo legal (artigo
XVIII)67 e a outras ilegalidades no processo de execução penal.
Destacam-se, desse grupo de relatórios, os que falam sobre o
prosseguimento da execução em menores de idade, que aconteceu em 5 (cinco)
casos. De acordo com a opinião da corte, além dos artigos I (direito à vida), VII
(proteção da criança e do adolescente), XVIII (devido processo legal) e vários
outros dispositivos da Declaração Americana, os Estados Unidos também estão
em desacordo com as normas internacionais de jus cogens, por permitir uma prática
já há muito expurgada dos sistemas jurídicos civilizados. O primeiro relatório em
que há a presença desse tipo de violação data de 1987, no caso Roach y Pinkerton
vs United States, que firmou o entendimento da comissão para casos no mesmo
sentido68.
67 Artigo XVIII - Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve
poder contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a proteja contra
atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, quaisquer dos direitos fundamentais consagrados
constitucionalmente.
68 “La Comisión considera que los Estados miembros de la OEA reconocen una norma de jus co-
gens que prohibe la ejecución de niños menores de edad. Tal norma es aceptada por todos los Estados
500
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
del Sistema Interamericano, incluyendo los Estados Unidos. […] La Comisión considera que este
caso surge no porque haya duda de la existencia de una norma internacional sobre la prohibición
de la imposición de la pena de muerte para niños menores de edad, sino porque los Estados Unidos
disputan el alegato de que existe un consenso sobre la mayoría de edad.” CIDH, Informe nº 62/02.
Caso 12.285.. Fondo (Publicación). Michel Domingues. Estados Unidos de America. 6 de marzo de
1981. Disponível em: http://www.cidh.oas.org/annualrep/2002sp/EEUU.12285a.htm. Acesso em:
5 maio 2022.
69 “84. En opinión de la Comisión, las evidencias descritas anteriormente ilustran claramente que, al
persistir en la práctica de ejecutar a delincuentes menores de 18 años, Estados Unidos se singulariza
entre las naciones del mundo desarrollado tradicional y en el sistema interamericano, y ha quedado
cada vez más aislado en la comunidad mundial. Las pruebas abrumadoras de la práctica mundial de
los Estados indicada ilustra la congruencia y generalización entre los Estados del mundo en el sentido
de que la comunidad mundial considera que la ejecución de delincuentes menores de 18 años en mo-
mentos de cometer el delito es incongruente con las normas imperantes de decencia. Por lo tanto, la
Comisión opina que ha surgido una norma del derecho internacional consuetudinario que prohibe la
ejecución de delincuentes menores de 18 años en momentos de cometer el delito. 85. Además, en
base a la información que tuvo ante sí, la Comisión ha comprobado que ésta ha sido reconocida como
una norma de carácter suficientemente inalienable como para constituir una norma de jus cogens,
evolución prevista por la Comisión en su decisión en Roach y Pinkerton. Como se señaló, casi todos
los Estados naciones han rechazado la imposición de la pena capital a personas menores de 18 años,
en su forma más explícita, a través de la ratificación del PIDCP, la Convención de la ONU sobre los
Derechos del Niño y la Convención Americana sobre Derechos Humanos, tratados en los que esta
proscripción se reconoce como no derogable.” CIDH, Informe nº 62/02. Caso 12.285. Fondo (Publi-
cación). Michel Domingues. Estados Unidos de America. 6 de marzo de 1981. Disponível em: http://
www.cidh.oas.org/annualrep/2002sp/EEUU.12285a.htm. Acesso em: 5 maio 2022.
501
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
70 CIDH. Juan Raul Garza. Estados Unidos de America. 4 de abril de 2001. Informe nº 52/01.
Caso 12.243. Disponível em: http://www.cidh.oas.org/annualrep/2000sp/CapituloIII/Fondo/
EEUU12.243.htm. Acesso em: 5 maio 2022.
71 CIDH. Djamel Ameziane. Estados Unidos de America. 22 de abril de 2020. Informe nº 29/20.
502
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
503
REFERÊNCIAS
BARNETT, Randy E. The ninth amendment: it means what it says. Texas Law
Review. v. 85, nº 1, 2006, p. 1-82.
BRADLEY, Curtis A. The supreme court as a filter between international law and
american constitutionalism. California Law Review, 2016, v. 104, nº6, p. 1567-
1578.
504
LINDE, Christopher. The u.s. constitution and international law: finding the
balance. Journal of Transnational Law & Policy, v. 15, no. 2, 2006, p. 305-340.
PAUST, Jordon J. Human rights and the ninth amendment: a new form of
guarantee. Cornell Law Review, v. 60, nº 2, Article 3. 1975, p. 231-267.
SOCARRAS, Michael. International law and the Constitution. The Federal Courts
Law Review, v. 4, nº 2, 2011, p. 1-56.
505
Signatory Obligations: A Conceptual Solution. The University of Memphis Law
Review, v. 50, 2019, p. 137-167.
506
A aplicação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região
1 INTRODUÇÃO
1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Lattes: http://
lattes.cnpq.br/9150665095781493. E-mail: janinejp2010@gmail.com.
2 Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Graduação e Mestrado).
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do País Basco (UPV/EHU). Mestre em Direito pela
UFRN. Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra. Chefe do Departamento de Di-
reito Privado da UFRN. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN.
Membro do Conselho Nacional da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Professor/
Pesquisador Visitante na Universidade Lusófona do Porto. Líder do Grupo de Pesquisa Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos e as Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (CNPq/UFRN). Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8030681636075210. https://orcid.org/0000-0001-6010-976X. E-mail: thiago.
moreira@ufrn.br.
3 Art. 5º, § 3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
507
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
508
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
se que hoje em dia ainda existe certa resistência no que diz respeito à aplicação
de tratados internacionais de direitos humanos pela jurisprudência brasileira. A
partir disso, compreende-se a importância desse estudo para o nosso ordenamento
jurídico: traçar um paralelo entre a teoria e a práxis, de modo a desenvolver uma
cultura de proteção aos direitos humanos e consequentemente de respeito às
normas internacionais.
4 MIRANDA, Mariana Almeida Picanço de; CUNHA, José Ricardo. Poder Judiciário Brasileiro e a
Proteção dos Direitos Humanos: Aplicabilidade e incorporação das decisões da Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas,
2010. p. 25.
5 GALINDO, Bruno. Transitional Justice in Brazil and the Jurisprudence of the Inter-American
Court of Human Rights: a difficult dialogue with the Brazilian judiciary. Seqüência - Estudos Jurídicos
e Políticos, Florianópolis, v. 39, n. 79, p. 27-44, ago. 2018. p. 28. Disponível em: https://periodicos.
ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/2177-7055.2018v39n79p27. Acesso em: 12 jan. 2022.
509
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
510
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
511
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
512
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
com deficiência, além de visar a sua plena integração à sociedade18. Por fim, nota-se
que somente 19 dos 35 países da OEA aderiram ao tratado19.
Ademais, também se configuram como diplomas legais do Protocolo
de Salvador, que funciona como um protocolo adicional à Convenção Americana
sobre Direitos Humanos com matérias de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
adotado em San Salvador, em 1988; o Protocolo para Abolição da Pena de Morte,
também funciona como um protocolo adicional àquele tratado, mas refere-se à
abolição da pena de morte e foi dotado em Assunção, em 199020.
Além disso, têm-se a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir
a Tortura, assinada em Cartagena das Índias, em 1985, cujo objetivo é prevenir
e punir a tortura, estabelecendo obrigações aos Estados partes21; assim como a
Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas, adotada
em Belém do Pará, em 1994, que visa a prevenção e punição do desaparecimento
forçado de pessoas, ainda que em estado de emergência ou sob quaisquer outras
circunstâncias22.
18 Artigo 2. Esta Convenção tem por objetivo prevenir e eliminar todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua plena integração à sociedade.
19 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Assinaturas e Ratificações da Convenção
Interamericana para Eliminação de todas as formas de Discriminação de Pessoas com Deficiência. Dispo-
nível em: http://www.oas.org/juridico/english/sigs/a-65.html. Acesso em: 13 mar. 2022.
20 GONÇALVES, Tamara Amoroso. Direitos humanos das mulheres e a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos: uma análise de casos admitidos entre 1970 e 2008. Dissertação (Mestrado junto
ao Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos), Faculdade de Direito, Universidade de São
Paulo. São Paulo, 2011, p.81.
21 Artigo 1. Os Estados Partes obrigam-se a prevenir e a punir a tortura, nos termos desta Convenção.
22 Artigo I. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a: a. não praticar, nem permitir,
nem tolerar o desaparecimento forçado de pessoas, nem mesmo em estado de emergência, exceção ou
suspensão de garantias individuais; [...].
513
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
quais aderiu somente a partir de sua introdução no plano doméstico, por meio do
processo de internalização23.
Na internalização, ocorre uma transformação da norma internacional em
normativa típica de direito interno, na qual é necessária manifestação do Poder
Legislativo para que possa produzir efeitos no âmbito nacional24. Nesse sentido,
pode-se afirmar que a Convenção Americana adentrou nosso ordenamento jurídico
através do Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992.
Em razão do procedimento legislativo seguido em meio ao processo de
internalização descrito, muito se discutiu a respeito de seu posicionamento em meio
a hierarquia entre Tratados de Direitos Humanos, leis ordinárias e a Constituição.
Até a década de 70, por exemplo, entendia-se – com base nas decisões do Supremo
Tribunal Federal – pela supralegalidade dos tratados. A partir do julgamento do
RE 80.004/SE, no entanto, o cenário mudou e o STF posicionou-se pela paridade
normativa entre leis ordinárias e tratados internacionais, ainda que tratassem sobre
direitos humanos25.
A Constituição de 1988 fortaleceu esse entendimento, de modo que
prevalecia o paradigma da hierarquia infraconstitucional dos tratados. Com o
estabelecimento da Emenda nº 45/2004, porém, tem-se que o posicionamento
da Corte foi novamente modificado, em razão do acréscimo do §3º ao art. 5º, da
CF/88, pelo qual os tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros detém status de emenda constitucional.
Nesse sentido, suscitaram-se dúvidas a respeito da situação dos tratados
já aprovados antes do referido dispositivo. Com o julgamento do RE 466.343/SP,
no qual o STF discutiu acerca prisão por dívida do depositário infiel - combatida
23 REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2018. p. 10.
24 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 9. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015. p. 94.
25 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos pela
jurisdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015.
514
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
26 Artigo 7, 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.
27 Artigo 5º, LXVII. Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
28 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos pela
jurisdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015
29 LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves; MOREIRA, Thiago Oliveira. O emprego da Con-
venção Americana de Direitos Humanos na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte. Revista Digital Constituição e Garantia de Direitos, Natal, v. 14, n. 3, p. 112-139, ago. 2021.
Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/25360. Aces-
so em: 15 dez. 2021, p. 112.
30 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
p. 514.
31 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015, p. 265.
515
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
516
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
35 Artigo 19. Direitos da criança. Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição
de menor requer por parte da sua família, da sociedade e do Estado.
36 PETERKE, Sven; FARIAS, Paloma Leite Diniz. 50 anos dos “direitos da criança” na Convenção
Americana de Direitos Humanos: a história do artigo 19. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
17, n. 1, p. 310-323, 2020.
37 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Recomendação nº. 123, de 7 de janeiro de 2022.
Brasília, DF. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_123_09112010_11102012190713.
pdf. Acesso em: 12 jan. 2022.
517
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Americana per si. Por conseguinte, restaram 40 decisões, as quais serão estudadas
para compreensão de 2 aspectos: se realmente o Pacto de San José da Costa Rica é
usado nas fundamentações ou se foi somente citada; e como foi aplicado, em caso
de ter servido na ratio decidendi.
Com vistas ao aprofundamento da pesquisa, os mesmos termos foram
inseridos na caixa de pesquisa da plataforma do Conselho de Justiça Federal (https://
www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/unificada/). Para o filtro “convenção americana”,
resultaram 23 processos, dos quais 7 compreendiam o período analisado. Com
“pacto de san josé”, 23 processos também foram listados, dos quais 6 se encaixam
no lapso temporal selecionado. Em ambos os casos, os processos já tinham sido
contemplados pela busca no site do próprio tribunal.
Sob esse prisma, pontua-se que 38 processos foram estudados para que
fosse avaliada a aplicação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em
meio às determinações do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Isso porque 2
das decisões que compreendiam os filtros selecionados não estavam disponíveis nos
sítios eletrônicos supramencionados. Das 38 decisões analisadas, 15 somente citam
a Convenção, enquanto 23 usam-na como fundamentação, de forma correta ou
não, conforme visualiza-se abaixo.
518
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Também foram objeto de estudo Agravos de Instrumento (2), Habeas Corpus (2),
Remessas Necessárias (2), Revisão Criminal (1) e Agravo de Execução Penal (1),
conforme se vê:
Gráfico 2 - Tipo de ação analisada
519
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
520
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
521
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
522
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
da informação que deveria ser repassada ao fisco. Por isso, a pena não seria contrária
às disposições constitucionais nem ao Pacto, negando provimento à apelação.
523
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
524
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
525
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
43 Artigo 23. Direitos Políticos. 1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportu-
nidades: de participar na direção dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes
livremente eleitos; de votar e ser eleitos em eleições periódicas autênticas, realizadas por sufrágio uni-
versal e igual e por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos eleitores; e de ter acesso,
em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. 2. A lei pode regular o exercício
dos direitos e oportunidades a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivos de idade,
nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz
competente, em processo penal.
44 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação nº 18.183/DF. Relatora: Ministra Cármen Lú-
cia. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 16 dez. 2014.
526
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Por fim, urge a análise das decisões que fizeram somente menção à
CADH. Notou-se, nesse sentido, que a maioria delas foi encontrada como resultado
da pesquisa por trazer os termos assinalados (“convenção americana” e “pacto de
san jose”), dentro do filtro temporal selecionado (2015-2022), por apresentá-los
nos relatórios - e não como fundamentação. Ou seja, normalmente uma das partes
- apelantes, recorridos ou impetrantes - sinalizavam os dispositivos da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos infringidos, ao seu ponto de vista, mas não
eram analisados per si em meio à fundamentação e, consequentemente, como ratio
decidendi.
Assim, no total, 15 decisões seguiram essa linha, as quais serão comentadas
brevemente a seguir.
Quanto ao direito à defesa, 3 acórdãos citaram a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos. É o caso da Apelação Criminal nº 0003780-
98.2014.4.05.8400, na qual a Defensoria Pública da União (DPU) arguiu nulidade
insanável de cerceamento de defesa, consistente na ausência de notificação do
acusado, suscitando o art. 8°, 2, d, da CADH, mas a decisão de 05/08/2021 fez
mera menção à passagem exposta, não usando o Pacto como fundamentação;
45 Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos. 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a
comunidade e a humanidade. 2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais,
pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, numa sociedade democrática.
527
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
528
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
decidiu que o duplo grau de jurisdição não equivale à revisão obrigatória de toda
decisão proferida pela instância a quo, mas que devem ser respeitados os requisitos
de admissibilidade, negando provimento ao recurso.
Sob outro prisma, os Habeas Corpus nº 0802654-47.2020.4.05.0000,
julgado em 28/04/2020, e 0803556-97.2020.4.05.0000, julgado em 20/06/2020,
foram impetrados pela defesa, aduzindo que as prisões mereciam pronta revogação
ou substituição por outra espécie de medida cautelar, com fulcro na CADH, na
Resolução nº 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça e outras legislações. As
duas ordens foram concedidas, embora não tenha sido usada a Convenção como
fundamentação, mas somente citada nos relatórios.
Na Apelação Cível nº 0802600-68.2015.4.05.8500, julgada em
07/10/2021, foi citada no relatório por meio de referência ao alegado pelo
Ministério Público ao propor a ação, que tinha como objeto a adaptação dos prédios
públicos da União e do Estado de Sergipe, com vistas a tornarem-se acessíveis às
pessoas com deficiência em meio aos dias de votação. Os entes insurgiram-se contra
a sentença que julgou parcialmente o pedido e os condenou solidariamente. Frisa-
se que se decidiu, por unanimidade, pelo provimento das apelações, em razão da
impossibilidade da adaptação de todos os prédios pela limitação de recursos para
tanto e que o Tribunal poderia ter feito uso dos artigos mencionados pelo Parquet
Federal, especialmente os 1º e 4º no tocante ao direito à igualdade, o que não foi
feito.
O acórdão da Apelação nº 0805320-27.2018.4.05.8201 utiliza a CADH
– na figura do art. 20 – como exemplo de que o direito de nacionalidade é anterior
à Constituição Federal de 1988 e por isso negou o recurso da União que pretendia
anular sentença que homologou opção pela nacionalidade brasileira manifestada
pela requerente, nascida no Paraguai, filha de mãe brasileira e residente no Brasil,
e autorizou registro de seu termo de nascimento em Cartório de Registro Civil
de Campina Grande/PB, pedindo que a situação fosse analisada com base na
CF/1967, que regia o assunto na época do nascimento.
No processo nº 0805239-09.2019.4.05.0000, o denunciado pelo
Ministério Público Federal pelo crime de falsidade ideológica em continuidade
delitiva defendeu-se alegando, entre outros argumentos, que seu silêncio – no fato
de não ter ele respondido a ofício que lhe foi encaminhado na fase investigatória
– não pode ser considerado em seu desfavor, sob pena de ofensa à Convenção
Americana de Direitos Humanos (artigo 8º, §2º, especialmente), dentre outras. O
Pleno recebeu a denúncia e não comentou sobre a CADH.
529
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
530
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
5 CONCLUSÃO
531
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
nosso Judiciário e sua utilização deve ser plena, de modo a salvaguardar os direitos
de todos os indivíduos envolvidos no processo.
532
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Lourdes Maria; ALMEIDA, Tânia Mara Campos de. Vinte anos da
Convenção de Belém do Pará e a Lei Maria da Penha. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 501-517, maio-ago. 2015.
533
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. MAS nº 89.310/PE. Relator:
Desembargador Federal Marcelo Navarro. Diário da Justiça. Pernambuco, 05 mai.
2005.
534
LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves; MOREIRA, Thiago Oliveira. O
emprego da Convenção Americana de Direitos Humanos na jurisprudência
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Revista Digital Constituição e
Garantia de Direitos, Natal, v. 14, n. 3, p. 112-139, ago. 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/25360.
Acesso em: 15 dez. 2021.
535
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Interamericana
para Prevenir e Punir a Tortura. 9 de dezembro de 1985. Disponível em: http://
www.cidh.org/basicos/portugues/i.Tortura.htm. Acesso em: 13 mar. 2022.
PETERKE, Sven; FARIAS, Paloma Leite Diniz. 50 anos dos “direitos da criança”
na Convenção Americana de Direitos Humanos: a história do artigo 19. Revista
de Direito Internacional, Brasília, v. 17, n. 1, p. 310-323, 2020.
REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 17. ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
536
A efetividade das Soluções Amistosas no âmbito do Sistema
Interamericano: um estudo à luz dos casos brasileiros
1 INTRODUÇÃO
1 Mestranda do programa de Pós- graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, na área de concentração Constituição e Garantias de Direitos. Graduada em Direito pela
Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte, com Especialização em Teoria e Prática de Processo
judicial – UNP. Advogada militante em Direito Civil – especialmente em Direito de Família com
atuação em processos de Inventário. Atualmente, exercendo a função de Conciliadora na Justiça Fe-
deral do Rio Grande do Norte (JFRN) e na Câmara de Conciliação de Mediação e Arbitragem do Rio
Grande do Norte (CCMEAR). E-mail: micharlyadv@yahoo.com.br.
2 Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Chefe do Departamento de
Direito Privado da UFRN. Vice Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRN.
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade del País Vasco (UPV/EHU). Mestre em Direito pela
UFRN. Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq/UFRN) Direito Internacional e as Pessoas em Situação
de Vulnerabilidade. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8030681636075210. E-mail: thiago.moreira@ufrn.
br.
3 Possui Graduação em Direito pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1976), Mestrado em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP (1998) e Doutorado em Di-
reito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP (2011). Atualmente é Professor
Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Chefe do Departamento de Direito
Processual e Propedêutica desta mesma instituição. Tem experiência na área de Direito Público e
Processual. E-mail: orlando09ribeiro@gmail.com.
537
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
538
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
539
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Desta feita, tais dados subsidiará a pretensão da pesquisa, que por seu
turno busca produzir um texto científico que traga uma exploração relevante quanto
a real efetividade da aplicação das Soluções Amistosas, especialmente nos casos em
que o Brasil foi parte. Contribuindo ainda para uma melhor conscientização a
respeito da necessidade de se fomentar o consenso e o diálogo através dos Meios
Alternativos de Soluções de Conflitos, preponderando precipuamente o respeito
aos Direitos Humanos.
Contudo, a justifica da presente pesquisa, se dá em razão da necessidade de
se ampliar o debate sobre a efetividade das Soluções Amistosas no âmbito do SIPDH,
para fins de trazer não só uma contribuição acadêmica relevante, mas também
fortalecer a ideia de consenso nas situações de lide envolvendo os Direitos Humanos.
Precipuamente, fomentando uma reflexão salutar a respeito da efetividade e do
cumprimento integral das reparações nesse sentido, numa perspectiva doutrinária.
Dessa forma, incentivando a sociedade em âmbito internacional, a utilizar com
mais afinco o referido instituto, prezando sempre por uma maior garantia no que
tange o cumprimento das imputações e reparações às vítimas, ou as famílias que
tiveram seus Direitos Humanos violados, favorecendo uma maior proteção, e por
consequência coibindo todo e qualquer tipo de violação, nos termos do artigo 1º
da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH)6.
540
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
sendo todo desacordo entre fato ou direito entre dois Estados, ou um determinado
conflito entre duas teses jurídicas entre dois Estados.
Nesse contexto, frente aos tantos conflitos envolvendo os Direitos
Humanos, e ante as inúmeras situações de intolerância configuradas pelas mais
variadas formas de violência nas relações sociais, onde se evidencia um verdadeiro
desrespeito aos direitos fundamentais – faz-se imprescindível estabelecer novas
formas de resoluções de conflitos que visem além de reparações em sentido prático,
a pacificação social. Logo, a ideia de consenso se mostrando amplamente eficaz
para fins de resoluções pacíficas sob a ótica do diálogo nos embates de ordem
Internacional, tendo em vista a grande incidência de violações aos Direitos
Humanos universalmente consagrados.
Assim, ante um determinado conflito a nível Internacional, seja em
qualquer esfera, os Estados geralmente pugnam por resoluções pacíficas, conforme
a adequação de cada caso concreto, e de acordo com as suas possibilidades. Como
é o caso da República Federativa do Brasil, que em sua condição de Estado
Democrático de Direito e a partir do advento da Constituição Federal de 1988,
tem galgado uma melhor atuação nas demandas envolvendo Direitos Humanos,
utilizando-se de Meios Alternativos de Solução de Conflitos.
Dessa forma, apresentando tais meios como sendo um mecanismo
eficaz na busca por resoluções pacíficas no referido âmbito, especialmente através
das Soluções Amistosas, que por seu turno buscam dirimir o conflito pela via da
negociação, da conciliação e do consenso, com fins de além de resolver a contenda,
trazer a reparação justa e equilibrada frente aquele que teve seu direito humano
violado. Embora passível de críticas, em alguns casos, no tocante as reparações
imputadas ao Estado violador.
Enfatiza-se, portanto, que ante os conflitos em suas mais variadas ordens,
especialmente em âmbito internacional, restou-se evidenciada uma necessidade de
se ampliar o debate sobre os Meios Alternativos de Solução de Conflitos, com
escopo de promover a paz social e fomentar resoluções pacíficas, conforme algumas
convenções que se deram para este fim, dentre as quais é possível citar as Convenções
de Haia (1899 e 1907), bem como, o Ato Geral para solução pacífica de conflitos
internacionais no ano de 1928 – denominado como Ato Geral de Arbitragem de
541
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Genebra – Todas com o objetivo comum de buscar maior proteção aos Direitos
Humanos em sua universalidade8.
Por fim, e coadunando-se, o artigo 1º do Decreto 19.841/459 elenca os
propósitos das Nações Unidas, estabelecendo suas premissas com base nos ditames
legais entabulados, e tantos mais que amparam a temática, depreendendo-se a
necessidade e a importância das Soluções Amistosas nas resoluções de conflitos em
âmbito Internacional, corroborando com a ideia de que o diálogo é uma ferramenta
basilar ante os conflitos na ordem Internacional.
8 LOPES, Ana Maria D´Ávila Lopes; CHEHAB, Isabelle Maria Vasconcelos. Bloco de constituciona-
lidade e controle de convencionalidade: reforçando a proteção dos direitos humanos no Brasil. Revista
Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 12, n. 2, p. 82-94, 2016. Disponível em: https://seer.imed.edu.
br/ index.php/revistadedireito/article/view/1367/1004. Acesso em: 20 set. 2021.
9 BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Capítulo I – Propósitos e Princípios.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm. Acesso em:
20 set. 2021.
10 LOPES, Ana Maria D´Ávila Lopes; DAMASCENO, Maria Lívia. Damasceno. Procedimento de
solução amistosa perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos: casos brasileiros. Pensar
– Revista de Ciências Jurídicas, v. 25, n. 2, p. 1-18, abr./jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.
unifor.br/rpen/article/viewFile/10162/pdf. Acesso em: 22 set. 2021.
542
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
11 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela ju-
risdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bits-
tream/123456789/19482/4/A%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Tratados%20Interna-
cionais%20de%20Direitos%20Humanos.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
543
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
544
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
12 MOREIRA, Thiago Oliveira; CORTEZ, L. M. S. A tutela dos direitos humanos dos migran-
tes pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Cadernos de Dereito Actual, v. 8, p. 439-
452, 2017. Disponível em: http://www.cadernosdedereitoactual.es/ojs/index.php/cadernos/article/
view/264. Acesso em: 20 out. 2021.
13 MOREIRA, Thiago Oliveira. A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos pela ju-
risdição brasileira. Natal: EDUFRN, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bits-
tream/123456789/19482/4/A%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Tratados%20Interna-
cionais%20de%20Direitos%20Humanos.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
14 Ibid.,
545
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
546
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
547
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
lecionando que tais comunicações deverão ser apresentadas por um Estado Parte
que haja feito declaração reconhecendo a competência da Comissão, não sendo
admitida nenhuma comunicação contra um Estado Parte que não haja feito tal
declaração18.
Imperioso destacar também, a necessidade de atendimento de alguns
requisitos imprescindíveis para que uma petição ou comunicação seja aceita pela
Comissão – conforme dispõe o artigo 46 da CADH19 em suas alíneas, para fins
de não incorrer em não aceitação do pedido ou comunicação. Destacando-se que
não há possibilidade de prorrogação no que concerne ao exame de admissibilidade
quando do protocolo da petição, ou da comunicação ante a Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Ou seja, no ato da propositura da denúncia ou queixa a
Corte, esta deverá passar por um novo exame de admissibilidade20.
Nessa perspectiva, em sendo admitida a petição ou comunicação, se
fará necessário requerer informações ao Governo daquele Estado que praticou
tais violações, para posteriormente, serem estabelecidas as hipóteses elencadas no
artigo 4821 da respeitável Comissão. Para a partir de tais premissas ser realizado
uma espécie de citação com fins de conhecimento do inteiro teor das arguições
22 Artigo 48. 1. “Publicado um relatório sobre solução amistosa ou quanto ao mérito, que contenha
suas recomendações, a Comissão poderá adotar as medidas de acompanhamento que considerar opor-
tunas, tais como a solicitação de informação às partes e a realização de audiências, a fim de verificar
o cumprimento de acordos de solução amistosa e de recomendações.” Artigo 48. 2. “A Comissão
informará, na forma que considerar oportuna, sobre os avanços no cumprimento de tais acordos e
recomendações.” COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Regulamento
da Comissão Interamericana de direitos humanos. Aprovado pela Comissão em seu 137° período ordi-
nário de sessões, realizado de 28 de outubro a 13 de novembro de 2009. Washington D.C: CIDH,
2009. Disponível em: http://www.cidh.org/basicos/portugues/u.regulamento.cidh.htm. Acesso em: 22
out. 2021.
23 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Regulamento da Comissão In-
teramericana de direitos humanos. Aprovado pela Comissão em seu 137° período ordinário de sessões,
realizado de 28 de outubro a 13 de novembro de 2009. Washington D.C: CIDH, 2009. Disponível
em: http://www.cidh.org/basicos/portugues/u.regulamento.cidh.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
24 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Pacto de San José da Costa Rica,
1969 – ratificada pelo Brasil em 25.09.1992. Disponível em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodees-
tudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm. Acesso em: 26 set. 2021. Artigo 5º - “Direito à
integridade pessoal”.
549
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
550
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
28 TRINDADE, Ivonei Souza. Solução amistosa de casos na CIDH e na Corte IDH: noções básicas.”
Clube De Autores, 2019. Acesso em: 20 out. 2021.
29 Informes Soluções Amistosas no Brasil. Disponível em: OEA: CIDH: Informes de Solução Amis-
tosa (oas.org). Acesso em: 22 set. 2021.
551
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
552
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
553
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
seu pretório, restava demonstrado que o País havia sido omisso, ou tinha permitido
de certa forma, tamanha afronta ao que é entabulado na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos e na Declaração Americana dos Direitos e deveres do
Homem.
Assim, a proibição de violação de direitos a que se refere o caso do
adolescente José Pereira, fora fundamentada inicialmente no que aduz o artigo 1º da
Convenção Americana de Direitos Humanos30, onde é imposto um dever legal de
respeito aos direitos e liberdades do homem. Consecutivamente, se estendendo tal
lecionar no artigo 6º que rechaça a situação da escravidão e da servidão, somando-
se ainda a alusão dos artigos 8º e 25º do mesmo diploma legal, em que se infere
as garantias e proteção judicial, enfatizando que são muitos os dispositivos que
fundamenta a matéria, não restando dúvidas quanto a determinação legal que coíbe
toda e qualquer violação nesse sentido.
Logo, vê-se que as razões apontadas em sede de exordial protocolada
junto a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, se deu em razão da
violência inconteste; na privação de liberdade e na imposição de endividamento
aos trabalhadores, haja vista lhes restarem condicionados que a saída daquele
local indigno somente se daria após a “quitação do débito” referentes a habitação,
comida, e até mesmo o translado da viagem31.
Com isso, restou viabilizada em sede de autocomposição, uma negociação
para fins de se alcançar uma Solução Amistosa referente ao caso em tela, quando
em 18 de setembro de 2003 – ou seja, após 13 anos do acontecido – o Estado
brasileiro representado pela secretaria especial de Direitos Humanos da presidência
da República e os peticionários que levaram a denúncia a Corte, celebraram um
acordo em sede de Solução Amistosa com fins de reparação pelos danos causados.
Contudo, o Brasil reconheceu sua responsabilidade internacional – apesar
do crime não ter sido praticado por seus agentes estatais – restando o referido
reconhecimento perante a Comissão, bem como, o reconhecimento público
durante a solenidade da criação da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
30 OEA: CIDH: Informes de Solução Amistosa (oas.org). Acesso em: 22 set. 2021.
31 LOPES, Ana Maria D´Ávila Lopes; DAMASCENO, Maria Lívia. Damasceno. Procedimento de
solução amistosa perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos: casos brasileiros. Pensar
– Revista de Ciências Jurídicas, v. 25, n. 2, p. 1-18, abr./jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.
unifor.br/rpen/article/viewFile/10162/pdf. Acesso em: 5 out. 2021.
554
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
555
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
34 MOREIRA, Thiago O.; GURGEL, Yara M. Pereira; LINS, Ricardo G. de Sousa. O trabalho
escravo contemporâneo no Brasil e o caso José Pereira: o que efetivamente mudou? Revista Jurídica
Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v. 4, p. 1-30, 2021.
556
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
casos. Desta forma, só depois desses longos anos é que fora possível identificar o
criminoso, que por seu turno confessou o assassinato de trinta (30) menores no
Estado do Maranhão, sendo 12 deles na cidade de Altamira no Estado do Pará.
Ante a confissão que se deu tardia, mas a tempo, finalmente o Réu foi condenado,
pairando especulações de que ele não agiu sozinho35.
Desta feita, em dezembro de 2005, fora celebrado acordo através de
Solução Amistosa, dando-se por encerrado os casos denominados “Os Meninos
Emasculados”, responsabilizando-se o Brasil internacionalmente pelos crimes em
comento. Sendo assim, além do reconhecimento público de responsabilização
em inauguração do Complexo Integrado de Proteção à Criança e ao Adolescente,
também fora instalada a título de reparação simbólica uma placa homenageando
as vítimas.
Ademais o Brasil ainda se comprometera a realizar o julgamento dos
criminosos, e cumprir reparações pecuniárias com o pagamento mensal no valor
de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada uma das famílias das vítimas a título
de indenização, perdurando tal obrigação por quinze (15) anos; que, “embora
algumas delas tenham demorado a ser efetivadas, contribuiriam para dar um certo
sentimento de justiça aos familiares das vítimas” conforme apontado por Lacerda36,
restando também a obrigação de inclusão das famílias dos menores em programas
de habitação de interesse social pelo período de um ano.
Em sede de medida de prevenção, ficara determinado que o Estado do
Maranhão capacitaria melhor e de forma mais específica o seu corpo policial no
enfrentamento de ocorrências com menores, melhorando suas estruturas físicas,
bem como, ficara determinado outras medidas de caráter social que melhor
atendam demandas dessa natureza, sendo criada uma Comissão Estadual de
Acompanhamento e Execução do Acordo de Solução Amistosa do Caso denominado
“Meninos Emasculados”.
Contudo, no que concerne as medidas imputadas ao Brasil, resta
evidenciado de que o referido compromisso intermediado pela OEA, não fora
35 LACERDA, Paula Mendes. A nossa “luta por justiça”: violência, trajetórias de mobilização e a
pesquisa antropológica contemporânea. FONSECA, Claudia et al. (org.). Antropologia e Direitos Hu-
manos 6. Rio de Janeiro: Mórula, 2016. p. 15- 46. Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/
publicacoes2/ livros/AntropologiaDireitosHumanos6.pdf Acesso em: 1 out. 2021.
36 LACERDA, Paula Mendes. O “Caso dos meninos emasculados de Altamira”: polícia, justiça e mo-
vimento social. 2012. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal de Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro. 2012.
557
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
37 GLOBAL, Justiça. Meninos emasculados: Brasil apresenta falhas no cumprimento da solução amis-
tosa. 2007. Disponível em: http://www.global.org.br/blog/meninos-emasculados-brasil-apresenta-fa-
lhas-no-cumprimento-da-solucao-amistosa/. Acesso em: 18 dez. 2021.
38 TANCREDO, João. O Brasil e a Corte Interamericana de Direitos Humanos: O Caso do Cadete
Marcio Lapoente da Silveira. Jornal do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ. Rio de Janeiro, ano 24, n.
72, jul. 2010. Disponível em: http://www.torturanuncamaisrj.org.br/jornal/gtnm_72/artigo.html.
Acesso em: 9 out. 2021.
558
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
39 FRANÇA, F. G. DE. O Caso Márcio Lapoente e a questão dos Direitos Humanos nas Casernas
Militares. Confluências. Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito, 22(1), 71-88. 2020. https://
doi.org/10.22409/conflu.v22i1.40627. Acesso em: 9 out. 2021.
40 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988.
41 CELSO DE MELLO ARQUIVA PROCESSO CONTRA ACORDO COM OEA. 2012. Con-
sultor Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-out-04/celso-mello-arquiva-proces-
so-acordo-morte-militar. Acesso em: 9 out. 2021.
559
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
42 FRANÇA, F. G. DE. (2020). O Caso Márcio Lapoente e a questão dos Direitos Humanos nas
Casernas Militares. Confluências. Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito, 22(1), 71-88. https://
doi.org/10.22409/conflu.v22i1.40627. Acesso em: 9 out. 2021.
43 Acordo de Solução Amistosa – 3. “O presente Acordo de Solução Amistosa tem por objetivo
estabelecer medidas concretas para garantir a reparação dos danos materiais e morais sofridos pelos
familiares das oito vítimas identificadas na cláusula 2 em resposta a suas demandas e para prevenir
toda nova violação, e dar com isso por concluído o Caso N° 12.277 uma vez cumprido de maneira
integral o disposto no presente Acordo”. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HU-
MANOS. Relatório nº. 136/21, 26 de junho de 2021. Caso 12.277. Solução amistosa. Fazenda Ubá.
Brasil. Disponível em: https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/2021/BRSA12.277PORT.pdf. Acesso
em: 5 out. 2021.
560
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
violações dos direitos em desfavor das vítimas da fazenda Ubá. Dentre tais ofensas,
restou caracterizado a violação ao Direito à vida; à proteção e às garantias judiciais,
premissas essas consagradas na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Destarte, restara convencionado precipuamente o reconhecimento
público de responsabilidade internacional imputada ao Brasil com pedido de
desculpas formal à família, em cerimônia pública, com uma homenagem às vítimas
insculpidas em uma placa. Já a título de medida reparadora, o Estado ergueria um
“monumento comemorativo em homenagem à luta pela posse da terra”
No que concerne a reparação pecuniária, restara determinado uma
indenização pelos danos morais e materiais no valor de R$ 38.400,00 (trinta
e oito mil e quatrocentos reais) em favor de um representante de cada familiar
das vítimas, tendo em vista as violações reconhecidas no âmbito legal. Ficando
estabelecido ainda que “o Estado do Pará concederia uma pensão legal, vitalícia,
exclusiva e intransferível, com caráter especial, num montante mensal igual a 1,5
salário-mínimo (um salário-mínimo e meio), a um representante de cada uma das
famílias das vítimas, em conformidade com o projeto de lei promovido pelo Poder
Executivo, que será aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado”44.
Outrossim, além das reparações e indenizações em favor dos familiares
das vítimas, através das Soluções Amistosas, restou estabelecido no relatório
136/21, ainda a inclusão efetiva dos familiares das vítimas em programas e projetos
do Estado. Somando-se ainda a condenação em medidas de prevenção, para fins
de viabilizar os trabalhos da comissão estadual na luta contra os homicídios por
razões de posse da terra, com a participação dos órgãos federais. Por fim, restando
determinado a implantação de mecanismos de acompanhamento e fiscalização
quanto a compatibilidade e cumprimento dos acordos. Sendo os termos do acordo
aprovado e assinado pelas partes em 19 de julho de 2010.
No entanto, somente depois de passados 34 anos do ocorrido, finalmente
o mandante do crime, em data de 24 de janeiro de 2019, José Edmundo Ortiz
Vergolino, foi preso pela polícia do Estado do Pará. Ressaltando que, o criminoso
até chegou a cumprir pena em 2006, no presídio de Marabá, porém, pouco
tempo depois fora beneficiado com prisão domiciliar, tendo em vista um alvará de
561
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
562
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
casos em que o Brasil foi parte, haja vista a problemática quanto a efetividade da
aplicação do referido instituto, e a ausência de um cumprimento fiel e integral
do que fora avençado em sede de Solução Amistosa. Com isso, propiciando os
seguintes questionamentos: É possível vislumbrar uma real efetividade da aplicação
das Soluções Amistosas frente aos casos de violações dos Direitos Humanos? Qual
o percentual de resolução frente a quantidade de casos admitidos em que o Brasil
foi parte? Todos os casos admitidos e resolvidos foram devidamente homologados
e cumpridos em sua integralidade?
Em que pese o percentual de admissibilidade de casos levados a Corte
para fins de aplicação das Soluções Amistosas em que o Brasil foi parte, tem-se
que dos cento e noventa e quatro (194) casos admitidos, apenas quatro (4) foram
resolvidos com a consequente homologação pela via da Soluções Amistosas. Assim,
restando evidenciado um percentual de 2,06% dos casos totais. Porém, ainda que
seja um percentual pequeno, evidencia-se que todos os casos admitidos para fins da
referida aplicação, foram resolvidos e homologados na medida de suas condições
através do instituto em discurso.
Embora, faça-se imperioso ressaltar a ausência de um cumprimento
integral de todas as responsabilizações ao Estado, como se observa: a) no caso
José Pereira, que mesmo com grande repercussão, nem todos os criminosos foram
punidos e presos; b) como ocorre ainda com o caso dos Meninos Emasculados,
onde algumas famílias apesar de terem sido beneficiadas com o Programa de
Habitação de Interesse Social, ainda se encontram em condições desfavoráveis
de moradias, situação em que o Estado se responsabilizou em construir novas
residências às famílias; c) o caso do cadete Marcio Lapoente da Silveira, em que
o autor do crime ainda não foi sentenciado; d) e o caso da Fazenda Ubá, que por
seu turno, o mandante do crime só fora preso em definitivo em janeiro de 2019,
encontrando-se alguns condenados ainda foragidos.
Toda via, ainda que se não se vislumbre o cumprimento integral de todas
as imputações conforme o que fora avençado em sede de Solução Amistosa, não
obsta a eficiência da aplicabilidade do referido instituto, tendo em vista que dos
quatro (4) casos submetidos para o mencionado fim, todos foram resolvidos pela
via do consenso e do diálogo, trazendo um alento relevante as famílias das vítimas,
e um senso de justiça ante as violações incontestavelmente comprovadas. Portanto,
se mostrando as Soluções Amistosas, um instrumento eficaz na busca pela proteção
dos Direitos Humanos.
563
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
564
REFERÊNCIAS
565
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Brasília: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 set. 2021.
566
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS. Assinada
na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, San José,
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.
org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em: 26 set. 2021.
567
em: https://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/830/1573. Acesso em: 26 set.
2021.
LOPES, Ana Maria D´Ávila Lopes; CHEHAB, Isabelle Maria Vasconcelos. Bloco
de constitucionalidade e controle de convencionalidade: reforçando a proteção
dos direitos humanos no Brasil. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v.
12, n. 2, p. 82-94, 2016. Disponível em: https://seer.imed.edu.br/index.php/
revistadedireito/article/view/1367/1004. Acesso em: 20 set. 2021.
568
LOPES, Ana Maria D´Ávila Lopes; DAMASCENO, Maria Lívia. Damasceno.
Procedimento de solução amistosa perante a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos: casos brasileiros. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, v. 25, n. 2, p.
1-18, abr./jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.unifor.br/rpen/article/
viewFile/10162/pdf. Acesso em: 22 set. 2021.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2004. v. 1.
569
Mais/RJ. Rio de Janeiro, ano 24, n. 72, jul. 2010. Disponível em: http://www.
torturanuncamaisrj.org.br/jornal/gtnm_72/artigo.html. Acesso em: 9 out. 2021.
570
Pessoas Portadoras de Deficiência, Pessoas com Deficiência e/ou
Necessidades Educativas Especiais: o que dizem os tratados e a
jurisprudência?
1 INTRODUÇÃO
571
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
572
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
6 Nos dias atuais existe um embate para fazer a revisão destes dados. Cf. SIMÕES, André et al
(org.). Panorama nacional e internacional na produção de indicadores sociais: grupos populacionais
específicos e uso do tempo. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.
br/visualizacao/livros/liv101562.pdf. Acesso em: 11 jun. 2021.
7 PERUZZO, Pedro Pulzatto; LOPES, Lucas Silva. Afirmação e promoção do direito às diferenças
das pessoas com deficiência e as contribuições do Sistema interamericano de direitos humanos. Revista
Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, v. 14, n. 3 / 2019. p 19-34.
573
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
deficiência era de apenas 81,7 %. Também 61,1% das pessoas com deficiência não
tem nenhum grau de instrução, ao mesmo tempo que os brasileiros tidos como
“normais” na mesma situação é de 38,2%8.
Na avaliação do IPEA9 em termos de participação escolar, ocupação e
renda, há índices que demonstram um atendimento na escola ineficiente e com
impactos nos indicadores do grau de trabalho e rendimentos, os quais na maioria
dos casos, fazem com que as pessoas com deficiência dependam de benefícios sociais
do governo brasileiro.
A guisa de comparação, conforme a Pesquisa Nacional Continuada de
2006, do Instituto Nacional de Estatística e Informática INEI, população estimada
do Peru com algum tipo de deficiência é em torno de 9% da população total10.
574
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
11 ANGELES, Malena Pineda. The role of the office of the people’s defender of Peru in the protection
and promotion of the rights of persons with disabilities. In: Mecanismos nacionales de monitoreo de la
convencion sobre los derechos de las personas con discapacidad.1 ed. Comision nacional de los derechos
humanos. DF México, 2008. p. 169.
12 Ibid., p. 173.
13 ALVARADO, Sergio Fernando Morales. National monitoring mechanisms of the international
convention on the rights of persons with disabilities. the Guatemalan experience. In: Mecanismos
nacionales de monitoreo de la convencion sobre los drechos de las personas con discapacidad.1 ed. Comision
nacional de los derechos humanos. DF México, 2008. p. 155.
14 Ibid., p. 155.
575
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
falta disposições para a Proteção e Promoção do direito ao trabalho das pessoas com
deficiência15.
Na Venezuela a causa dos direitos das pessoas com deficiência veio
ser referido pela primeira vez na atual Constituição, texto fundamental este que
reconhece a partir de sua exposição de motivos “garantir a autonomia funcional
dos seres humanos com deficiências ou necessidades especiais”; e do seu preâmbulo
consagra a igualdade de direitos para todos os cidadãos, sem qualquer discriminação;
e a primeira coleta os seguintes artigos: 81 e 101 CRBV16.
Em 05 de janeiro de 2007 ocorreu um grande progresso legislativo no
país, com a entrada em vigor pela chamada Lei para a Integração das Pessoas com
Deficiência (LPcD), que estabeleceu o regime jurídico aplicável às pessoas com
deficiência e continha medidas relacionadas com a integração educacional, saúde,
promoção do emprego e acesso gratuito a serviços e instalações de uso público;
no entanto, ele não tinha enunciado ou o desenvolvimento de outros direitos
fundamentais das pessoas com deficiência, incluindo o direito de acesso à cultura,
ao esporte ou recreação, e mecanismos de apoio para o exercício dos direitos
econômicos17.
Sobre o direito ao trabalho, a Venezuela incentiva as instituições nacionais,
estaduais, empresa municipal e paroquial, bem como público, privado ou misto,
de incorporar em seus locais de trabalho há menos cinco por cento (5%) pessoas
com deficiência permanente. Ao mesmo tempo, forçando os órgãos e autoridades
nacionais, estaduais e municipais, bem como empresa pública, privada ou mista
para atender os padrões da Comissão Venezuela de Norma Industrial (COVENIN),
bem como normas técnicas sobre acessibilidade e transitabilidade das pessoas com
deficiência. E gratuidade de transporte urbano para as pessoas com deficiência18.
576
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
19 CARVALHO RAMOS, André de. Processo internacional de direitos humanos. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 126.
20 Tem força de instrumento normativo.
21 DANTAS, Beatriz Lodônio; MOREIRA, Thiago Oliveria. A (não) concessão de refúgio às vítimas
de tráfico internacional de pessoas no Brasil. In: GURGEL, Yara Maria Pereira; MOREIRA, Tiago
Oliveira Moreira (coord.). LOPES FILHO, Francisco Camargo Alves (org.). O Direito Internacional
dos Direitos Humanos e as pessoas em situação de vulnerabilidade. v. 1. Natal: Polimatia, 2021. p. 25-62.
577
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
22 No sistema global destaca-se, não só a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência,
mas também a Convenção sobre os direitos da Criança, a Convenção sobre a Eliminação de todas as
formas de Discriminação Racial, a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação
contra as Mulheres, e a Convenção sobre a proteção dos direitos de todos os Trabalhadores Migrantes
e membros das suas famílias.
23 O Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos relativo à Abolição da Pena de
Morte; a Convenção Interamericana sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas com deficiência; a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e
Formas Correlatas de Intolerância; a Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de
Pessoas; a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura; a Convenção Interamericana
contra toda a Forma de Discriminação e Intolerância; e a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher.
24 Argentina, Barbados, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Domi-
nicana, Equador, El Salvador, Grenada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua,
Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela.
25 CONVENÇÃO Americana de Direitos Humanos. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/ba
sicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em: 7 nov. 2021
578
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
26 Protocolo de San Salvador. Artigo 13.3.e Os Estados Partes no presente Protocolo reconhecem
que, para conseguir o pleno exercício do direito à educação: e. deverão ser estabelecidos programas
de ensino diferenciado para as pessoas com deficiência, a fim proporcionar uma instrução especial e
formação a pessoas com impedimentos físicos ou deficiência mental.
27 Protocolo de San Salvador. Artigo 6.2 Os Estados Partes comprometem-se em adotar as medidas
que garantam plena efetividade do direito ao trabalho, principalmente as referentes à consecução
do pleno emprego, à orientação vocacional e ao desenvolvimento de projetos de formação técnico-
-profissional, principalmente os destinados às pessoas com deficiência. Os Estados Partes também se
comprometem a executar e fortalecer programas que coadjuvem uma adequada atenção familiar, a fim
de que a mulher tenha uma real possibilidade de exercer o direito ao trabalho.
28 Promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956, de 08.10.2001.
29 Artigo I. Para os efeitos desta Convenção, entende-se por: 1. Deficiência. O termo “deficiência”
significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita
a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo
ambiente econômico e social. 2. Discriminação contra as pessoas com deficiência. a) o termo “discri-
minação contra as pessoas com deficiência” significa toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada
em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de defi-
ciência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento,
gozo ou exercício por parte das pessoas com deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades
fundamentais. b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado
Parte para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência,
desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas e
que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou preferência. Nos casos em que a legislação
interna preveja a declaração de interdição, quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar,
esta não constituirá discriminação.
579
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
580
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
mensura pelas palavras, mas pelos fatos. De boas intenções, o inferno está cheio”. BOBBIO, Norber-
to. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 80.
32 BREGAGLIO LAZARTE, Renata. La incorporación de la Discapacidad en el sistema interameri-
cana. Principales regulaciones y estândares post-Convención. In: BELTRÃO, Jane Felipe et al. Dere-
chos de los grupos vulverables. Red de Derechos Humanos y Educación Superior. Barcelona: Universitat
Pompeu Fabra, 2014. p. 113 -133.
33 Aprovado por Resolução de 8 março 2007. OEA/Ser.L/XXIV.2.1. CEDDIS/doc.4/07 rev.3 corr.
1.
581
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
34 “El Sistema Interamericano es único en cuanto que todos los Estados Miembros de la OEA están
sujetos al derecho de petición, ya sea como estados Partes de La Convención, ya a través del sistema
fundado en la Carta. La reclamaciones interestatales no están previstas expresamente tratándose de
Estados que no son Partes de la Convención; en el caso de los que sí lo son, las reclamaciones inte-
restatales son optativas”. NORRIS, Robert E.; BUERGENTHAL, Thomas; SHELTON, Dinah. La
protecion de los derechos humanos en las Americas. Madri: Instituto interamericano de derechos huma-
nos. Civitas S.A., 1994. p. 262.
35 PALUMBO, Lívia Pelli. A efetivação dos direitos das pessoas com deficiência pelos sistemas de
proteção dos direitos humanos: Sistema americano e europeu. Revista direitos sociais e políticas públicas
(UNIFAFIBE). v. 1, n. 2, 2003. ISSN 2318-5732. p. 114 – 135.
36 ESTATUTO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Disponível em:
https://www.cidh.oas.org/Basicos/Portugues/v.Estatuto.Corte.htm#:~:text=Artigo%201.,citada%20
Con en%-C3%A7%C3%A3o%20e%20deste%20Estatuto. Acesso em: 7 nov. 2021.
582
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
37 PERUZZO, Pedro Pulzatto; LOPES, Lucas Silva. Afirmação e promoção do direito às diferenças
das pessoas com deficiência e as contribuições do Sistema interamericano de direitos humanos. Revista
eletrônica do curso de direito da UFSM, v. 14, n. 3. 2019.
38 Admitido pela CIDH pelo Informe 17/06 del 2 de marzo de 2006.
39 ONU. Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Comunicação nº 3/2011, Caso H.
M. Vs. Suécia, CRPD/C/7/D/3/2011, 19 de abril de 2012, par. 8.3.
583
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
40 BENTES, Natalia Mascarenhas Simoes; NASCIMENTO, Gustavo Oliveria do; BRAGA, Luis
Paulo Fernandes. A pessoa com deficiência mental no Brasil e o cumprimento das diretrizes da corte
interamericana de Direitos Humanos e do objetivo do desenvolvimento sustentável 3 da ONU. Bra-
zilian Journal of Development, Curitiba, v. 7, n. 6, p. 62377-62398 jun. 2021.
41 MUÑOZ, Jesica Paola Gómez. La protección a los derechos humanos de las personas en situación
de discapacidad por parte de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos. Revista IIDH (ins-
tituto interamericano de DH), v. 62, 2015, p. 113-146.
42 CIDH Relatório n° 63/99. Caso 11427. Caso Víctor Rosario Congo vs. Ecuador, de 13 de abril
de 1999.
43 CIDH. Relatório nº 52/13 casos 11.575, 12.333 y 12.341, Clearence Allen Lackey y otros,
Miguel Angel Flores y otros y James Wilson Chambers vs. Estados Unidos, 15 de julho de 2013.
44 CIDH, Reatório nº. 44/14, Caso 12.873, Edgar Tamayo Arias vs. Estados Unidos, 17 de julho
de 2014.
584
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
45 CIDH, Informe No. 73/09, petición 4392-02, admisibilidad, Wellington Geovanny Peñafiel Pár-
raga vs. Equador, 2009.
46 CIDH, Informe No. 121/09, petición 1186-04, admisibilidad, Opario Lemoth Morris y otros
(buzos miskitos) vs. Honduras, 12 de noviembre de 2009.
47 CIDH, Informe No. 141/10, petición 247-07, admisibilidad, Luis Eduardo Guachalá Chimbó vs.
Ecuador 1 de noviembre de 2010.
48 CIDH, Informe No. 142/10, caso 11.513, admisibilidad, María Zambrano vs. Equador, 1 de
noviembre de 2010.
49 CIDH, Informe No. 13/12, petición 1064-05, admisibilidad, Luis Fernando Guevara Díaz vs.
Costa Rica, 20 de marzo de 2012.
585
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
50 Impende ressaltar, que um caso parecido foi reconhecido por um tribunal brasileiro, invocando a
Convenção da Guatemala, Ver: TRT-2: 1000361-40.2021.5.02.0371 SP
51 CIDH, Informe No. 94/13, petición 790-05, admisibilidad, Pacientes del Servicio de Psiquiatría
del Hospital Santo Tomás vs. Panamá, 4 de noviembre de 2013.
52 CIDH, Informe No. 56/14, petición 886-04, informe de admisibilidad, Ronal Jared Martínez y
familia y Marlon Fabricio Hernández Fúnez vs. Honduras, 21 de julio de 2014.
53 Disponivel em: http://www.cidh.org/medidas/2003.sp.htma.
54 Disability Rights International, Solicitud de medidas cautelares a favor de las 334 personas con
discapacidad mental internadas en el Hospital Federico Mora, en Guatemala, Guatemala, 13 de oc-
tubre de 2012..
55 CIDH, Medidas Cautelares 370/12 – 334 Pacientes del Hospital Federico Mora, Guatemala, 20
de noviembre de 1012 (http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/cautelares.asp#tab2012).
56 Medida Cautelar No. 376-15 Irene respecto de Argentina 7 de julio de 2016. El 7 de agosto de
2015. (http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2016/MC376-15-ES.pdf )
586
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
57 Sesión: 172 Periodo de Sesiones; Fecha: 8/5/ 2019 Acceso a la educación inclusiva de
Personas con Discapacidad en la Región Participantes; Sesión: 171 Período de Sesiones; Fecha: 14/2/
2019 Denuncias de tortura, tratos crueles, inhumanos y degradantes en hospitales psiquiátricos en
Argentina; Sesión: 169 Periodo de Sesiones; Fecha: 4/10/ 2018 Política de drogas y denun-
cias de prácticas violatorias de derechos humanos del modelo de atención a la salud mental
en México; Sesión: 169 Periodo de Sesiones; Fecha: 1/10/ 2018 Derechos de las personas con
discapacidad en El Salvador ; Sesión: 168 Periodo de Sesiones CIDH; Fecha: 11/5/2018 Situación
de derechos sexuales y reproductivos de mujeres y niñas con discapacidad en las Américas Situación
de derechos humanos de las personas con discapacidad en Venezuela; Sesión: 164 Periodo de
Sesiones; Fecha: 5/9/2017 Situación de personas con discapacidad en Cuba; Sesión: 157 Periodo
de Sesiones; Fecha: 4/4/2016 Países: Ecuador Temas: Derechos de las Personas Privadas de Libertad,
Peticiones y Casos, Derechos de las Personas con Discapacidad; Sesión: 154 Periodo de Sesiones; Fe-
cha: 20/3/2015 Países: Guyana Temas: Derechos de las Mujeres, Derechos de los Pueblos Indígenas,
Derechos Económicos, Sociales y Culturales, Derechos de las Personas LGBTI, Derechos de las Per-
sonas con Discapacidad; Sesión: 154 Periodo de Sesiones; Fecha: 19/3/2015 Situación del derecho al
trabajo de las personas con disca-pacidad en Tucumán, Argentina y Acceso a la justicia para personas
con discapacidad en Guatemala; Sesión: 150 Periodo de Sesiones; Fecha: 25/3/2014 Situación de
derechos humanos de las personas con discapacidad en Cuba.Situación de la capacidad jurídica y el
acceso a la justicia de las personas con discapacidad en América Latina; Sesión: 150 Periodo de
Sesiones; Fecha: 24/3/2014 Violaciones a los derechos sexuales y reproductivos de las personas
con discapacidad en Colombia; Sesión: 149 Periodo de Se-siones; Fecha: 1/11/2013 Situación de
derechos humanos de las personas con discapacidad mental e intelectual en Perú; Sesión: 144 Periodo
de Sesiones; Fecha: 23/3/2012 Denuncias sobre segregación institucional y sobre abusos de niños y
adultos con discapacidad en México; Sesión: 143 Período de Sesiones; Fecha: 24/10/2011, Países:
Honduras Temas: Derechos de los Pueblos Indígenas, Derechos de los Afrodescendientes / Contra la
Discriminación Racial, Peticiones y Casos, Derechos de las Per-sonas con Discapacidad; Sesión: 140
Período de Sesiones; Fecha: 28/10/2010 Maltrato a niños y niñas con discapacidad en instituciones
estatales en las Américas; Sesión: 137 Período de Sesiones; Fecha: 6/11/2009 Derecho a la educación
de las personas con discapacidad en las Américas.
58 CIDH, Informe No. 86/11, caso 12.232, solución amistosa, María Soledad Cisternas Reyes vs.
Chile, 21 de julio de 2011.
59 Disponível em: http://www.oas.org/es/cidh/informes/tematicos.asp.
587
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Impende ressaltar que para aplicar os direitos humanos das pessoas com
deficiência, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ou também designada
Tribunal Interamericano dos Direitos Humanos (Corte IDH) possui dois
instrumentos de hirarquia superior especificamente sobre esses direitos, que é a
Convenção Interamericana sobre Eliminação de toda a forma de discriminação
contra pessoas “portadoras” de deficiência (CePD) para aplicação imediata e direta
e a Convenão da ONU, de Nova York, sobre os direitos das pessoas com deficiência
(CDPD), esta última utilizada como ferramenta de hermenêutica.
Fica significativo perceber que a conceitualização da Convenção
Interamericana dos direitos das pessoas com deficiência foi feita anteriormente a
588
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
CDPD, fica evidente uma contradição entre estas definições, enquanto a CePD
aborda a definição médica, consolando a incapacidade na pessoa ligadamente com
sua invalidez62.
Neste contexto o Corte IDH teve que fazer um limiar de intrepretação
entre termos parecidos na CePD e na CDPD para concluir pelo conceito do
modelo social63.
Também salientando que pela cláusula pro peersona, a interpratação dada
aos artigos 18 do Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (PoCADH)64 e o art. 9ª (CETFDM)65,devem levar em consideração o
modelo social da CDPD.
As barreiras foram ditas em uma sentença sobre crianças com deficiência66,
citando que estas pessoas sofrem de quatro tipos de barreiras, as “físicas ou
arquitetónicas”, as “comunicativas” e as de “atitudes”67, além das “socioeconomicas”.
62 Corte IDH. Caso Furlan e Familiares vs. Argentina, Sentença de 31 de agosto de 2012, Exceções
Preliminares. Mérito, Reparações e Custas, § 128-130, 133.
63 Corte IDH. Caso Artavia Murillo y otros (Fecundación in vitro) vs. Costa Rica. Excepciones Pre-
limares, Fondo, Reparaciones Y Costas, Sentencia de 28 de noviembre de 2012. § 290 e 291
64 Artigo 18. Proteção de Deficientes. Toda pessoa afetada pela diminuição de suas capacidades
físicas e mentais tem direito a receber atenção especial, a fim de alcançar o máximo desenvolvimento
de sua personalidade. Os Estados-Partes comprometem-se a adotar as medidas necessárias para esse
fim e, especialmente, a: a) executar programas específicos destinados a proporcionar aos deficientes
os recursos e o ambiente necessário para alcançar esse objetivo, inclusive programas de trabalho ade-
quados a suas possibilidades e que deverão ser livremente aceitos por eles ou, quando for o caso, por
seus representantes legais; b) proporcionar formação especial aos familiares dos deficientes, a fim de
ajudá-los a resolver os problemas de convivência e a convertê-los em elementos atuantes do desenvol-
vimento físico, mental e emocional dos deficientes; c) incluir, de maneira prioritária, em seus planos
de desenvolvimento urbano a consideração de soluções para os requisitos específicos decorrentes das
necessidades desse grupo; d) promover a formação de organizações sociais nas quais os deficientes
possam desenvolver uma vida plena.
65 Convenção de Belém do Pará: Para a adoção das medidas a que se refere este capítulo, os Estados
Partes levarão especialmente em conta a situação da mulher vulnerável a violência por sua raça, origem
étnica ou condição de migrante, de refugiada ou de deslocada, entre outros motivos. Também será
considerada sujeitada a violência a gestante, deficiente, menor, idosa ou em situação sócio-econômica
desfavorável, afetada por situações de conflito armado ou de privação da liberdade.
66 CG nº 9 (Direito das crianças com deficiência), de 27 de fevereiro de 2007, § 37 e 39 (t.l.).
67 Barreiras atitudinais encontra-se previsto no art. 3º, inciso IV, alínea “e”, da LBI ou Estatuto da
pessoa com deficiência.
589
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
68 YEPES, Rodrigo Uprimny; DUQUE, Luz María Sánchez. Convención Americana sobre Derechos
Humanos -Comentario. Berlín: Konrad AdenauerStiftung, 2014. p. 587-588.
69 Corte IDH. Caso Artavia Murillo y otros (Fecundación in vitro) vs. Costa Rica. Excepciones
Prelimares, Fondo, Reparaciones Y Costas, Sentencia de 28 de noviembre de 2012. § 288-289 e 293.
70 Vide Resolução 1/2020 da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência onde o
Brasil aprova o Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado.
590
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
591
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
77 CORTE IDH, Caso “Furlan e familiares Vs. Argentina”. Sentença de 31 de agosto de 2012,
parágrafo 114. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_246_esp.pdf.
Acesso em: 12 jun. 2021.
592
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
78 CORTE IDH, Caso “Furlan e familiares Vs. Argentina”. Sentença de 31 de agosto de 2012,
parágrafo 114. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_246_esp.pdf.
Acesso em: 12 jun. 2021.
79 ASTROGA, Luis Fernando. Convención sobre los Derechos de las Personas con Discapacidad:
esperanza e instrumento para construir un mundo más accesible e inclusivo. Revista CEJIL, ano III,
Nº 4, dezembro de 2008, p. 139.
593
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
80 BORGES, Nadine Monteiro. O caso Damião Ximenes: uma análise sociojurídica do acesso à Co-
missão e à Corte Interamericana de Direitos Humanos. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências
Jurídicas e Sociais) – Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2008. p. 26.
81 “Este caso reveste-se de particular importância dado que oferece ao Sistema Interamericano de
Proteção dos Direitos Humanos a oportunidade de desenvolver sua jurisprudência em relação aos
direitos e à situação de vulnerabilidade especial das pessoas portadoras de deficiência mental, bem
como sobre os tratamentos cruéis e discriminatório a que são frequentemente expostas”. Ibid., p. 26.
82 “39. O fato de ser a vítima direta do presente caso uma pessoa portadora de deficiência mental (o
primeiro caso do gênero perante a Corte) reveste-o de circunstância agravante. Na presente Sentença,
a Corte reconhece a proteção especial que requerem as pessoas particularmente vulneráveis, portado-
ras de deficiência mental, – como o Sr. Damião Ximenes Lopes, vítima fatal no cas d’espèce (pars.
103-105), – e adverte que: ‘[...] a vulnerabilidade intrínseca das pessoas com deficiências mentais é
agravada pelo alto grau de intimidade que caracteriza os tratamentos das enfermidades psiquiátricas,
que torna essas pessoas mais suscetíveis a tratamentos abusivos quando são submetidas a internação’
(par. 106) [...]. 40. As obrigações de proteção, – ainda mais em uma situação de alta vulnerabilidade
da vítima como a presente, – revestem-se de caráter erga omnes (par. 85), abarcando também as
relações interindividuais, tendo presente o dever do Estado de prevenção e de devida diligência, sobre-
tudo em relação a pessoas que se encontram sobre seus cuidados. A saúde pública é um bem público,
não uma mercadoria. Em meus numerosos escritos e Votos no seio desta Corte, venho expressando
há tantos anos meu entendimento no sentido de que todas as obrigações convencionais de proteção
revestem-se de um caráter erga omnes. É-me particularmente difícil escapar da impressão que me
594
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
assalta no sentido de que em todo esse tempo talvez tenha eu escrito e continue escrevendo para os
pássaros [...]” Disponível em: http:www.corteidh.org.cr. Acesso em: 13 jun. 2021.
83 “2. Os direitos e as garantias universais, que têm caráter básico e foram pensados para a generalida-
de das pessoas, devem ser complementados, afinados, precisados com direitos e garantias que operam
junto a indivíduos pertencentes a grupos, setores ou comunidades específicos, isto é, que adquirem
sentido para a particularidade de algumas ou muitas pessoas, mas não todas. Isto permite ver, por de-
trás do desenho genérico do ser humano, membro de uma sociedade uniforme – que pode alçar-se na
abstração a partir de sujeitos homogêneos –, o caso ou os casos de seres humanos de carne e osso, com
perfil característico e exigências diferenciadas. 3. Certamente é tarefa do Estado – e isto se acha em
sua origem e justificação – preservar os direitos de todas as pessoas sujeitas a sua jurisdição, conceito
de amplo alcance, que naturalmente transcende as conotações territoriais, observando para isso as
condutas ativas ou omissivas que melhor correspondam a essa tutela para favorecer o gozo e exercício
dos direitos. Nesse sentido, o Estado deve evitar escrupulosamente a desigualdade e a discriminação
e proporcionar o amparo universal das pessoas que se encontrem sob sua jurisdição, sem mirar para
condições individuais ou de grupo que possam subtrair-las da proteção geral ou impor-lhes – de jure
ou de facto – ônus adicionais ou desproteções específicas [...].” Disponível em: http:www.corteidh.
org.cr. Acesso em: 13 jun. 2021.
84 PIOVESAN, Flávia. Reforma do Judiciário e direitos humanos. In: ALARCÓN, Pietro de Jesús
Lora; LENZA, Pedro; TAVARES, André Ramos (coord.). Reforma do judiciário analisada e comenta-
da. São Paulo: Método, 2005.
85 Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Consti-
tuição da República, e considerando a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no
caso Damião Ximenes Lopes; considerando a existência de previsão orçamentária para pagamento de
indenização a vítimas de violação das obrigações contraídas pela União por meio da adesão a tratados
595
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
internacionais de proteção dos direitos humanos; DECRETA: Art. 1º Fica autorizado a Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República a promover as gestões necessárias ao
cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, expedida em 4 de julho de
2006, referente ao caso Damião Ximenes Lopes, em especial a indenização pelas violações dos direitos
humanos aos familiares ou a quem de direito couber, na forma do Anexo a este Decreto. Art. 2º Este
Decreto entra em vigor na data de sua publicação. BRASIL, 2007.
86 “Destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos...”. Cf. Constituição
da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 10 mar. 2021.
596
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
87 Cf. CANOTILHO, José Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993.
p. 587.
88 Ver: https://www.academia.edu/31356317/MOREIRA_Thiago_Oliveira_A_Aplica%C3%A7%-
C3%A3o_dos_Tratados_Internacionais_de_Direitos_Humanos_pela_jurisdi%C3%A7%C3%A3o_
brasileira_Natal_EDUFRN_2015.
89 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos humanos:
fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 631.
90 Cf. LOUREIRO, Sílvia Maria da Silveira. Os Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos na
Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 44-48.
597
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
91 Ver: STF. RE 466.343, rel. min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar Mendes, j. 3-12-2008,
P, DJE de 5-6-2009, Tema 60.
92 Mecanismo de controle estabelecido no artigo VI.3 da CIPCD e nos artigos 16 a 22 do Regula-
mento.
598
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
599
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
uma deficiência, para essa diferença o relatório traz sua explicação, in verbis94. A
taxa de analfabetismo da população geral é de 10,5% população sem deficiência
7,9% população com deficiência 32,2%. Sobre o Nível educacional (dados Censo
Escolar 2018): Indicador Educação Infantil: 0,54; Indicador Ensino Fundamental:
2,87; Indicador Ensino Médio: 0,75; Indicador acima de 18 anos (EJA e Ensino
Superior): 0,12. Número médio de anos de estudo da população com deficiência
(não há recorte de deficiência na PNAD)95. Taxa de ocupação da população com
deficiência 46,2 %. Pessoas com deficiência em cargos de representação eletiva
à nível nacional: apenas dois, Mara Gabrilli e Felipe Rigoni, dentre quase 600
parlamentares, totalizando somente 0,34 %.
No item “Indicador de Autonomia Pessoal e Vida Independente” e sub-
item “1.2: Garantia de acesso a veículos automotores adaptados para pessoas com
deficiência”. O brasil alegou que possui a lei de isenção de impostos (Lei nº 8.989,
de 24 de fevereiro de 1995, mas esqueceu de avisar que este direito ficou nestes
2 anos de pandemia covid19 em desuso, por conta da medida provisória 1.034,
de 01 de março de 2021, que limitou em R$ 70 mil reais o valor máximo de
94 “Esse valor total corresponde ao número de manifestações de deficiências, ou seja, inclui duplici-
dade no caso de pessoas que possuem mais de uma deficiência (pessoas com deficiências multiplicas).
O total de pessoas com deficiência residentes no Brasil, em 2010, é de 12.748.663, ou seja, 6,7%
da população brasileira registrada pelo Censo Demográfico de 2010. Esse corte utilizado seguem as
recomendações internacionais, em consonância com o Washington Group, ou seja, as pessoas com
deficiência foram aquelas que responderam ao Censo que tinham “muita dificuldade” ou “não conse-
gue de modo algum” em uma ou mais questões do tema apresentadas no questionário do Censo 2010.
Para mais esclarecimentos: ftp.ibge.gov.br › notas_tecnicas › nota_tecnica_2018_01_censo2010. Para
todo esse relatório, para os dados oriundos do Censo, foi utilizado esse corte”. Disponível em: https://
www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/atuacao-internacional/relatorios-internacionais-1/relato-
rio-brasileiro-de-cumprimento-da-convencao-interamericana-para-a-eliminacao-de-todas-as-formas-
-de-discriminacao-contra-as-pessoas-com-deficiencia-ciaddis.
95 “Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostraram diferenças significativas entre o nível de
instrução das pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas e o daquelas sem alguma
dessas deficiências. Enquanto 61,1% da população de 15 anos ou mais de idade com deficiência não
tinha instrução ou possuía apenas o fundamental incompleto, esse percentual era de 38,2% para as
pessoas de 15 anos ou mais que declararam não ter nenhuma das deficiências investigadas, represen-
tando uma diferença de 22,9 pontos percentuais. A segunda maior diferença em pontos percentuais
foi observada para o ensino médio completo e o superior incompleto, onde o percentual de população
de 15 anos ou mais com deficiência foi de 17,7% contra 29,7% para as pessoas sem deficiência. Ob-
servou-se ainda que a menor diferença estava no ensino superior completo: 6,7% para a população de
15 anos ou mais com deficiência e 10,4% para a população sem deficiência”. Disponível em: https://
www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/atuacao-internacional/relatorios-internacionais-1/relato-
rio-brasileiro-de-cumprimento-da-convencao-interamericana-para-a-eliminacao-de-todas-as-formas-
-de-discriminacao-contra-as-pessoas-com-deficiencia-ciaddis.
600
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
96 O artigo I.2 alinha b) in fine da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência da O.E.A necessita ser reinterpretado
à luz do novo paradigma do artigo 12 citado. Não se trata apenas de analisar a perspectiva de avaliar
a legislação interna de cada Estado Parte relacionada com a interdição e tutela, mas também analisar,
para além de questões jurídicas, as implicações práticas destas medidas estatais. Não se deve confundir
o sistema de capacidade/incapacidade de exercício dos direitos em determinadas circunstâncias, com a
procura de um modo de representação diferente das pessoas com deficiência que sustente a autonomia
das mesmas, reconheça a sua plena capacidade jurídica e personalidade jurídica e proponha um modo
de apoio e garantias, apenas nos casos em que isso seja necessário. Ou seja, partir das competências
das pessoas, daquilo que podem fazer por si próprias, para depois determinar as circunstâncias que
necessitam de apoios com salvaguardas.
97 CEDDIS. Comentário Geral da Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discrimina-
ção contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, sobre a necessidade de interpretar o artigo I.2, alinha
B) In fine da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação con-
tra as Pessoas Portadoras de Deficiência, no contexto do artigo 12 da Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 28 de abril de 2011.
601
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
98 “DECISÃO: [...] Em síntese, o impetrante alega que se inscreveu como candidato portador de
deficiência auditiva (hipoacusia neurossensorial bilateral) e logrou êxito nas provas objetiva e sub-
jetiva do certame. Contudo, foi excluído do concurso após o exame da perícia médica, o qual con-
cluiu que ele possuiria anacusia unilateral, o que não configuraria a condição de deficiência auditiva
prevista no Decreto 3.298/99 (com redação dada pelo Decreto 5.296/2004). Afirma que recorreu
administrativamente do resultado da perícia, mas não obteve êxito. Segundo a petição inicial, não
se pode conceber uma interpretação isolada e literal do disposto no art. 4º, inciso II do Decreto
3.298/99, o qual deve ser interpretado em consonância com o conceito de deficiência previsto no
art. 3º e de acordo com o que dispõe a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Decreto 3.956/01). [...]
Segundo o laudo da perícia médica, o impetrante teria anacusia unilateral no ouvido direito (50dB)
e audição normal no ouvido esquerdo (20dB), conforme aferição na frequência de 500HZ, o que
afastaria a constatação de perda bilateral exigida no Decreto. [...] Ante o exposto, na linha da ju-
risprudência desta Corte, nego seguimento ao mandado de segurança (art. 10 da Lei 12.016/09)”.
Publique-se. Brasília, 1º de fevereiro de 2011.Ministro G ILMAR MENDES Relator Documento
assinado digitalmente. STF - MS: 29910 DF, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julga-
mento: 01/02/2011, Data de Publicação: DJe-026 DIVULG 08/02/2011 PUBLIC 09/02/2011.
99 Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=332796.
Acesso em: 12 nov. 2021.
602
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
no caso concreto, o julgamento do STF não entrou nas supostas barreiras sociais
impostas pelo meio100.
Analisando o modelo social fica evidente que não se pode concluir pela
existencia ou não de uma deficiencias, baseada apenas em questoes médicas dos
individuos; pelo inverso, induz a uma investigação do caso real para saber se a
suposta deficiência deixa penoso o exercício dos seus direitos perante o ambiente
economico e social em que a pessoa encontra-se inserida. “Trata-se de enunciado
sumular e precedente que se encontram na contramão da evolução do estudo da
pessoa com deficiência,” tanto da CDPD, quando do próprio estatuto da pessoa
com deficiência (Lei Brasileira de Inclusão – LBI), manchando os princípios da
dignidade da pessoa humana, da autonomia, da isonomia, e obstruíndo a plena e
efetiva participação no processo democrático101.
A Segunda Turma do STJ no Recurso Especial 1.607.472-PE, que teve
como relator o Ministro Herman Benjamim, reconheceu o dever do Estado em
garantir o acesso pleno tendo em vista a definição de desenho universal. No mesmo
sentido, a 4ª Turma do TRF da 3 Região:
100 CUNHA, Beatriz Carvalho de Araújo. Caso Gonzales Lluy e otros vs. Equador: estigmatização e
permeabilidade do conceito de deficiência. In: Cadernos estratégicos: análise estratégica dos julgados da
Corte Interamericana de Direitos Humanos / Coordenação Geral de Programas Institucionais, Centro
de Estudos Jurídicos – CEJUR. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
2018. 330 págs. p. 149-150
101 CUNHA, Beatriz Carvalho de Araújo. Caso Gonzales Lluy e otros vs. Equador: estigmatização e
permeabilidade do conceito de deficiência. In: Cadernos estratégicos: análise estratégica dos julgados da
Corte Interamericana de Direitos Humanos / Coordenação Geral de Programas Institucionais, Centro
de Estudos Jurídicos – CEJUR. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
2018. p. 150.
603
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
604
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
direitos, inclusive, o passe livre”. Por analogia, diálogo entre as cortes, a Corte IDH
proíbiu a discriminação contra pessoas portadoras de HIV105.
Na Ação Declaratória de Inconstitucionalidade 4.388(47) / GO106. O
Pleno do STF ao julgar a constitucionalidade formal e material de artigos de lei
estadual de Goiás, na qual retratava a reserva de percentual de cargos e empregos
públicos para pessoas com deficiência. No que diz respeito à inconstitucionalidade
material, foi alegado que foi feito um parâmetro subjetivista sobre a deficiência, de
um jeito para excluir das cotas aquelas pessoas que possuem métodos de compensação
da deficiência. Nestes termos, a lei questionada limitava a definição de deficiência,
afrontando os princípios da dignidade da pessoa humana e da isnomia. O TRT-
77 AACC 0080461-41.2020.5.07.0000 CE, invalidou a Cláusula 17ª da CCT
2020/2021 celebrada entre o SEACEC e o SINTRATEL que limitou, reduziu,
aniquilou o mínimo protetivo legal de cota de contratação de trabalhadores pessoa
com deficiência, alterando ilicitamente a base de cálculo, a “solução encontrada
pelo setor” fere “o Decreto 3.956/2011, que adotou no Brasil a Convenção
Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência – Convenção da Guatemala”.
O TRT-15 no RO 2715/2012 SP citou a convenção da Guatemala
para declarar que “é ilegal exigir-se do candidato com deficiência aptidão plena
para a assunção de qualquer cargo”. Nota-se que a presente decisão foi dada em
consonancia ao item 2 do artigo 1 da Convenção, que consagrou o princípio da
não discriminação por motivo de deficiência. A presente decisão foi anteriora a LBI
(Estatuto da Pessoa com Deficiência) que proíbiu expressamente no artigo 34 tal
discriminação. Em sentido parecido, o TJ-SP na APL 0031056-09.2011.8.26.0053,
citou a Convenção para julgar pela inadimissibilidade de cassação de licença de
termo de permissão de uso de vendendor ambulante pessoa com deficiência.
O TRT-2 no proc. 1000361-40.2021.5.02.0371 SP, emitiu uma decisão
em sentido analago um caso admitido pela CIDH, relatório nº 13/12107, e enviado
para a Corte IDH através do relatório Nº 084/21, Luis Fernando Guevara Dias
105 Corte IDH. Caso Chinchilla Sandoval vs. Guatemala. Sentencia de 29 de febrero de 2016. Ex-
cepcíon preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas, § 203-207 e 208.
106 O STF declarou inconstitucional alguns pontos da lei do Estado de Goiás, que proíbia pessoas
com deficiência auditiva bilateral que fizessem uso de aparelho, próteses auditivas de concorrerem no
direito as cotas.
107 CIDH, Informe No. 13/12, petición 1064-05, admisibilidad, Luis Fernando Guevara Díaz vs.
Costa Rica, 20 de marzo de 2012.
605
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
x Costa Rica, no caso brasileiro o TRT-2 invocou o caso Damião Ximenes Lopes
e a Convenção da Guatemala no sentido considerar dispensa discriminatória de
empregado acometido de esquizofrenia.
O TJ-RJ MS 0018974-22.2019.8.19.0000 não usou o rol taxativo do
conceito de deficiência do direito interno, em um concuros que o setor de saúde que
considerou que a deficiência física do impetrante não o habilita para ter ocncorrido
à vaga reservada Cita a Convenção da Guatemala108, assentou a necessidade de
prestigiar-se a norma mais favorável, como forma de extrair-se a máxima eficácia,
no caso concreto o impetrante demonstrou a deficiência não apenas por laudo
particular, mas Principalmente do laudo pericial realizado nos autos109, conforme já
decidiu o STJ110. Ficou provado que sofre de limitação física com perda funiconal
da coluna vertebral em 75 %, devido a fratura cervical C5, decorrente de acidente
automobilistico (CID 10 T91 – 1), que resulta na diminuição da função, com
dificuldade de rotação do pescoço para ambos os lados (menos de 40 % do
movimento completo), não podendo o impetrante realizar tarefas com cargas acima
de 5 % de seu preso, flexão e/ou extensão da coluna vertebral, bem como necessita
de desempenhar seu trabalho com intervalos de repouso.
5 CONCLUSÃO
606
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
607
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
608
REFERÊNCIAS
ANGELES, Malena Pineda. The role of the office of the people’s defender of peru
in the protection and promotion of the rights of persons with disabilities. In:
Mecanismos nacionales de monitoreo de la convencion sobre los drechos de las personas
con discapacidad.1 ed. Comisión nacional de los derechos humanos. DF México,
2008.
ASTROGA, Luis Fernando. Convención sobre los Derechos de las Personas con
Discapacidad: esperanza e instrumento para construir un mundo más accesible e
inclusivo. Revista CEJIL, ano III, nº 4, dezembro de 2008.
609
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos
humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991.
CUNHA, Beatriz Carvalho de Araújo. Caso Gonzales Lluy e otros vs. Equador:
estigmatização e permeabilidade do conceito de deficiência. In: Cadernos
estratégicos: análise estratégica dos julgados da Corte Interamericana de Direitos
Humanos / Coordenação Geral de Programas Institucionais, Centro de Estudos
Juridicos – CEJUR. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro, 2018. p. 330.
610
PAIVA, Caio Cezar. HEEMANN, Thimothie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. 2. ed. Belo Horizonte: CEI, 2017.
PALUMBO, Lívia Pelli. A efetivação dos direitos das pessoas com deficiência
pelos sistemas de proteção dos direitos humanos: Sistema americano e europeu.
Revista direitos sociais e políticas públicas (UNIFAFIBE), v. 1, n. 2, 2003.
PEREZ, Gabriela del Mar Ramires. Best practices and better experiences of the
office of the people’s defender of the Bolivarian Republic of Venezuela in the
promotion, defence and vigilance of the human rights of persons with disabilities.
In.: Mecanismos nacionales de monitoreo de la convencion sobre los drechos de las
personas con discapacidad.1 ed. Comision nacional de los derechos humanos. DF
México, 2008.
SOUSA, Filipe Venade de. A convenção das nações unidas sobre os direitos das
pessoas com deficiência no ordenamento jurídico português: contributo para a
compreensão do estatuto jusfundamental. Coimbra: Almedina, 2018.
611
A denúncia da Convenção n° 169 como mecanismo para inviabilizar
a presença migrante warao em solo brasileiro
1 INTRODUÇÃO
613
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
4 Por meio do Decreto nº 25.681-E, de 1° de Agosto de 2018, o Governo de Roraima decidiu restrin-
gir a entrada de cidadãos venezuelanos que não possuíam passaportes válidos por meio da fronteira
da Venezuela com o estado. Decreto disponível em: http://www.tjrr.jus.br/legislacao/phocadownload/
Decretos_Estaduais/2018/25681_e.pdf. Ainda é importante lembrar que o governo federal, durante
a pandemia da Covid-19 editou diversas portarias que visavam restringir a entrada de venezuelanos,
alegando razões sanitárias, todavia, a medida restringia unicamente a entrada de nacionais venezuela-
nos, isentando cidadãos de outros países.
5 Foi cogitada a possibilidade de se devolver alguns venezuelanos que se encontravam em território
brasileiro, fazendo-se uso de um ônibus que os levariam para o outro lado da fronteira.
6 No ano de 2018 uma medida de urgência foi deflagrada com o intuito de dar suporte humanitário
para os venezuelanos que entravam pela fronteira com o Brasil, trata-se da Operação Acolhida. Mais
informações no site: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/acolhida/sobre-a-operacao-acolhida-2.
614
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
615
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
616
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
recursos naturais levou a uma piora nas condições socioambientais das regiões
historicamente habitadas pelos Warao, levando a um aumento desse trânsito, que,
nos últimos anos, foi intensificado e modificado a partir da crise venezuelana.
Assim, apesar de sempre ocorrerem migrações deste grupo indígena, seja em solo
venezuelano, seja para além das fronteiras de seu território ancestral, observa-se
uma verdadeira mudança de paradigma a partir de 2016, deixando-se de ser uma
migração essencialmente por razões econômicas para ser considerada uma migração
forçada, pois ocorre em virtude de uma força maior, e que se faz de importância
para a sua sobrevivência.
A grande maioria dos Warao se desloca de Tucupita (Venezuela) até
Pacaraima (Brasil), sendo esta a primeira parada9, na fronteira entre esses países, em
grupos familiares extensivos, às vezes com dois grupos familiares cuja composição
pode atingir até 40 indígenas, chefiados por um ou dois aidamos10.
Em levantamento realizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados, constatou-se que 20% dos migrantes em Boa Vista e Pacaraima
falam português, e 90% são da etnia Warao, e, consoante, desse total de migrantes,
94% possuíam CPF e Protocolo de Refúgio, 85% obtiveram a Carteira do SUS,
e apenas 31% haviam CTPS11. Foi constatado que 60% do total dos migrantes
dessas cidades não estavam em nenhum programa de assistência social12, que, em
conjunto com o preconceito quanto à migração de indivíduos fora do eixo europeu
ocidental e norte americano, potencializa a sua vulnerabilidade em relação a sua
aceitação e inserção às políticas públicas e na sociedade nacional.
617
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
618
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
mais importante ao comparar a Convenção n° 169, que é uma das bases legais para
a legitimidade desses indivíduos perante a proteção jurídica brasileira.
15 CARDOSO, João Luis M. S.; MOREIRA, Thiago Oliveira. O (des)respeito aos direitos humanos
dos migrantes venezuelanos no contexto da pandemia da Covid-19. In.: CARVALHO RAMOS,
André de; FRIEDRICH, Tatyana; MOREIRA, Thiago Oliveira (coord.); ALVES, Fabrício Germano;
BARBERO GONZÁLEZ, Iker; VEDOVATO, Luís Renato (org.). Direitos humanos dos migrantes e
pandemia. Curitiba: Instituto Memória, 2021, p. 301. Disponível em: http://www.institutomemoria.
com.br/detalhes.asp?id=613. Acesso em: 29 maio 2022.
16 MOREIRA, Thiago Oliveira. A Aplicação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos
pela jurisdição brasileira. Natal: EDUFRN, p. 63, 2015. Disponível em: https://www.academia.
619
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
edu/31356317/MOREIRA_Thiago_Oliveira_A_Aplicação_dos_Tratados_Internacionais_de_Direi-
tos_Humanos_pela_jurisdição_brasileira_Natal_EDUFRN_2015. Acesso em: 29 maio 2022.
17 CIRINO, Carlos Alberto M. Índios, imigrantes e refugiados: os warao e a proteção jurídica do
estado brasileiro. Revista Entrerios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [s.l.], v. 3, n. 02, p.
132-133, 7 dez. 2020. Universidade Federal do Piaui. http://dx.doi.org/10.26694/rer.v3i02.11028.
Acesso em: 27 jun. 2021.
18 Tais normativas serão melhor apreciadas no próximo subtópico, dedicado às normativas internas,
como explicitado no início do tópico 3.
19 Nenhum Estado Parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro
Estado quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida à
tortura
620
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
20 BICHARA, Jahyr-Philippe. Proteção internacional dos migrantes: entre prerrogativas e obrigações dos
estados. Ril Brasília, Brasília, v. 220, n. 55, p. 130, jun. 2018. Disponível em: https://www12.senado.
leg.br/ril/edicoes/55/220/ril_v55_n220_p123.pdf. Acesso em: 29 maio 2022.
21 Ibid., p. 130.
22 CIRINO, Carlos Alberto M. Índios, imigrantes e refugiados: os warao e a proteção jurídica do
estado brasileiro. Revista Entrerios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [s.l.], v. 3, n. 02,
p. 1322, 7 dez. 2020. Universidade Federal do Piaui. http://dx.doi.org/10.26694/rer.v3i02.11028.
Acesso em: 27 jun. 2021.
621
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
23 DA SILVEIRA, Marina; CARNEIRO, Cynthia. A declaração das nações unidas sobre os direitos dos
povos indígenas e os impactos da nova lei de migração brasileira sobre o direito de livre circulação do povo
warao. PÉRIPLOS. GT CLACSO – Fronteiras internacionais e migração indígena na América do
Sul, v. 2, n° 2, p. 75, 2019.
24 Na Mensagem de Veto, o Presidente da República em exercício à época, afirmou que se fazia
necessário vetar o §2º, do art. 1º da Lei de Migração pois este configurava afronta ao princípio da
soberania, como que feria preceitos constitucionais.
25 CIRINO, Carlos Alberto M. Índios, imigrantes e refugiados: os warao e a proteção jurídica do
estado brasileiro. Revista Entrerios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [s.l.], v. 3, n. 02,
p. 132, 7 dez. 2020. Universidade Federal do Piaui. http://dx.doi.org/10.26694/rer.v3i02.11028.
Acesso em: 27 jun. 2021.
26 DA SILVEIRA, Marina; CARNEIRO, Cynthia. A declaração das nações unidas sobre os direitos dos
povos indígenas e os impactos da nova lei de migração brasileira sobre o direito de livre circulação do povo
warao. PÉRIPLOS. GT CLACSO – Fronteiras internacionais e migração indígena na América do
Sul, v. 2, n° 2, p. 98-99, 2019.
27 Ibid., p. 99-100.
622
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
28 São diversas as críticas apresentadas ao uso do visto humanitário, tendo em vista sua aplicação
extensiva, inclusive em situações que caberia o reconhecimento do status de refugiado. Saliente-se que
o visto humanitário deveria ser encarado como mecanismo subsidiário de proteção, quando não se
pode aplicar o Estatuto dos Refugiados.
29 DA SILVEIRA, Marina; CARNEIRO, Cynthia. A declaração das nações unidas sobre os direitos dos
povos indígenas e os impactos da nova lei de migração brasileira sobre o direito de livre circulação do povo
warao. PÉRIPLOS. GT CLACSO – Fronteiras internacionais e migração indígena na América do
Sul, v. 2, n° 2, p. 83, 2019.
623
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
30 DA SILVEIRA, Marina; CARNEIRO, Cynthia. A declaração das nações unidas sobre os direitos dos
povos indígenas e os impactos da nova lei de migração brasileira sobre o direito de livre circulação do povo
warao. PÉRIPLOS. GT CLACSO – Fronteiras internacionais e migração indígena na América do
Sul, v. 2, n° 2, p. 83, 2019.
31 Ibid.,
624
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
625
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
para os indígenas, que, ao invés de serem recepcionados pela própria força estatal,
são relegados às iniciativas civis e voluntárias, que ainda não são capazes de suprir
toda a demanda, como de atender de forma global as necessidades desses migrantes.
Em vista disso, e em razão do aumento das violações de direitos humanos
e de sua vulnerabilidade histórica, o Governo Federal, com fundamento no artigo
62 da Constituição de 1988, adotou a Medida Provisória nº 82.024, convertida na
Lei nº 13.684, em 21 de junho e 2018, que dispõe sobre “as medidas de assistência
emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente
de fluxo migratório provocado por crise humanitária”33.
Apesar desse despreparo brasileiro para lidar com a situação, a Convenção
n° 169 já havia sido recepcionada pelo sistema jurídico brasileiro desde 2004, e,
portanto, já havia a responsabilidade em desenvolver medidas que promovessem
a plena efetividade dos direitos sociais, econômicos e culturais desses povos,
respeitando a sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, e as suas
instituições, o que não foi realizado, ainda que a migração Warao já fosse observada
desde muito antes. Não existem informações sobre a existência de pesquisas sobre os
Warao antes de 2017, quando foram solicitados pareceres aos peritos do Ministério
Público Federal sobre a questão, não houve sequer a realização de consultas e
tentativa de cooperação com esses grupos por parte dos agentes públicos do Estado
de Roraima, o que é expressamente recomendado pelo item 225, do artigo 15 do
documento34.
O veto ao livre trânsito dos povos originários entre fronteiras também
é um fato que demonstra a desconformidade do Brasil quanto à Convenção nº
169, que em seu artigo 14, § 1º, visto que a migração Warao já contemplava uma
área cultura essencial para a sua subsistência que lhes era negada ou dificultada via
tentativas de deportação, precariedade nas condições de vida e inacessibilidade à
documentação. Consoante, nenhuma lei brasileira dispõe do artigo 7 da Convenção,
que considera o direito de suas tradições e de como esse aspecto afeta a área laboral
desses indígenas, um tópico que dialoga com a falta de oportunidades equitativas e
justas para a solução das controvérsias estabelecidas contra os Waraos, em violação
aos seus direitos individual e coletivo.
33 DA SILVEIRA, Marina; CARNEIRO, Cynthia. A declaração das nações unidas sobre os direitos dos
povos indígenas e os impactos da nova lei de migração brasileira sobre o direito de livre circulação do povo
warao. PÉRIPLOS. GT CLACSO – Fronteiras internacionais e migração indígena na América do
Sul, v. 2, n° 2, p. 88, 2019.
34 Ibid., p. 89.
626
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
627
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
35 PEREIRA, Ana Cristiana P.; SILVA JÚNIOR, Eraldo. As Omissões da Constituição Brasileira em
Relação aos Tratados Internacionais: vigência, eficácia e denúncia. Boletim da Sociedade Brasileira de
Direito Internacional, v. 104, n.º 131-135, p. 285-308, 2018.
628
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
direitos dos povos indígenas e quilombolas, além das consequências que poderiam
advir de uma denúncia da convenção por parte do Brasil.
Ponto que será tratado no tópico subsequente, as controvérsias na
forma e possibilidade de denúncia de tratados internacionais também foram
observados quando da manifestação Ministerial, demonstrando mais uma vez
as inconformidades do PDL 177/2021, especialmente no que toca a vedação do
retrocesso em matéria de direitos fundamentais.
Não é difícil imaginar as consequências acarretadas pela denúncia da
Convenção pelo Brasil. Os povos indígenas enfrentam especial dificuldade no acesso
aos direitos básicos, além de sofrerem diretamente com o avanço do desmatamento
e da apropriação de terras por garimpeiros e fazendas de pasto, fato este que tem se
acentuado nos últimos anos, especialmente na região amazônica36.
A revogação da Convenção nº 169 poderia representar uma maior
fragilidade na garantia de direitos desses povos, sendo um instrumento de proteção
a menos para dar segurança jurídica a esses grupos. Além disso, a denúncia do
tratado, como bem citou o MPF em sua manifestação, representa afronta à
diversos preceitos constitucionais, tais quais a autodeterminação dos povos (art.
4º, III, CF) e ao objetivo fundamental de erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III, CF), indo além, por cercear
direitos basilares desses povos, o PDL representa verdadeira violação do princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF).
Não somente por representar retrocesso em seu conteúdo, o PDL
177/2021 apresenta inconsistências jurídicas, entre elas a inconvencionalidade
e inconstitucionalidade do texto apresentado, como será melhor explicitado no
tópico que se segue.
629
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
seguido para a realização da denúncia dos tratados pelo Brasil37. É nesse sentido,
e por isso merece algumas pontuações acerca do tema, que se desenrola o debate
sobre a possibilidade de revogação da Convenção nº 169 da OIT no Brasil.
A principal questão a ser levantada está também sendo discutida no
Supremo Tribunal Federal (STF), trata-se de discussão acerca do procedimento
pelo qual o Brasil pode denunciar e revogar tratados internacionais com os quais se
comprometeu. No STF, a discussão se dá em torno da revogação da Convenção 158
também da OIT, que foi revogada por ato unilateral do Presidente da República.
Por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a ADI-1625, é defendida
a tese de que, para resolver tratados internacionais, é preciso que haja chancela
do Congresso Nacional, acatando ou não se o Brasil pode deixar o tratado em
comento.
Tal tese defendida toma por base o texto constitucional, em seu art. 49,
inciso primeiro, onde se fala na competência exclusiva do Congresso para resolver
definitivamente sobre tratados de direito internacional38. Todavia, a falta de clareza
do texto constitucional, deixa em dúvidas se há de fato a necessidade de anuência
do Legislativo para concretizar o ato de denúncia e revogação daqueles tratados que
assim o possibilitem.
Na ocasião, o debate no Supremo Tribunal Federal já perdura por longos
20 anos, ainda sem haver uma deliberação definitiva acerca do tema, a ADI-1625
aguarda resposta do Colegiado, mas já conta com alguns votos, sendo ao menos
quatro votos pela procedência/parcial procedência da ação que pede a revogação do
Decreto Presidencial que revoga a Convenção 158 no Brasil39.
No mais, não parece lógico que seja necessária deliberação do Congresso
acerca da ratificação de Tratados Internacionais pelo Brasil, mas, na possibilidade
de denúncia do tratado, essa exigência seja dispensada, podendo ser formalizada
630
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
40 REIS, Luciano E. Dos tratados internacionais: o procedimento para a sua elaboração e a existência de
pressupostos formalísticos para a concretização de uma denúncia sob o prisma da Constituição de 1988.
Direito Público (Porto Alegre), v. 9, p. 97-120, 2013.
41 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Nota Técnica – Projeto de Decreto Legislativo 177/2021
(Denúncia da Convenção 169 da OIT). Brasília, 2021.
631
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
dez em dez anos, contando da data da entrada em vigor, para que o país faça a
denúncia da convenção42, neste caso, como houve uma revogação, em 2019, apenas
com o fim de reorganização das Convenções da OIT ratificadas pelo Brasil e sua
posterior republicação43, o Brasil só poderia vir a denunciar, pela análise ministerial,
a Convenção 169, no ano de 202944.
6 CONCLUSÃO
632
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
633
REFERÊNCIAS
634
Brasileira. In.: VIEIRA, Gustavo Oliveira (org.). MERCOSUL 30 ANOS:
caminhos e possibilidades. Curitiba: Instituto Memória, 2021, p. 397 – 410.
DUPAS, Elaine. et. al. A nova Lei de Migração e o veto à livre circulação de
povos indígenas e populações tradicionais transfronteiriças. In: XIV Congresso
Internacional de Direitos Humanos, UCDB e UFMS, 14-16 ago. 2017. Disponível
em: https://cidh2017.files.wordpress.com/2017/10/ar_gt2-4.pdf.
635
FUNAI. OEA aprova Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
Fundação Nacional do Índio, [S.l.], 28 jun. 2016. Disponível em: http://www.
funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/3815-oea.
GOMES, Joséli F. Nova Lei de Migração brasileira: análise dos avanços face
ao Estatuto do Estrangeiro e das dificuldades postas pelos vetos presidenciais.
In: Questões de Direito Internacional: pessoa, comércio e procedimento II [livro
eletrônico]. / Frederico Eduardo Zenedin (coord.). Curitiba: Editora JML, 2018.
P. 9-33.
636
PEREIRA, Ana Cristina Paulo; SILVA JÚNIOR, Eraldo. As omissões da
Constituição brasileira em relação aos tratados internacionais: vigência, eficácia e
denúncia. Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, v. 104, n.º 131-
135, p. 285-308, 2018.
637
POSFÁCIO
639
revelado uma nítida dificuldade com o método subsuntivo de aplicação normativa
e a consequente dificuldade de extrair normatividade do direito internacional para
fazê-lo incidir nas situações jurídicas concretas.
Com efeito, as regras de direito internacional são dotadas de níveis
de generalidade e abstração ainda mais exacerbados do que aquelas de direito
doméstico. Nem poderia ser diferente: a materialidade da regra internacional
precisa ser suficientemente ampla para possibilitar sua compatibilização, para fins
de aplicação, com todos os sistemas jurídicos domésticos nos quais deve ingressar
validamente.
Para além de seu plano semântico, a dimensão pragmática da regra de
direito internacional pressupõe a contextualização, no direito doméstico, de seu
conteúdo normativo para possibilitar sua procedimentalização e consequente
incidência nas situações jurídicas concretas abrangidas por sua materialidade,
sem a qual sua eficácia é indevidamente comprometida. Por isso mesmo, o direito
internacional parece ser, à primeira vista, algo distante do profissional do direito
que atua no cotidiano.
Nesse sentido, é preciso cada vez mais pesquisar sobre a relação entre o
direito internacional dos direitos humanos e o direito doméstico, destacando-se a
importância de trabalhos com abordagem empírica e análise jurimétrica. Sem isso,
a dimensão ética que se depreende do campo semântico da norma internacional
não consegue alcançar os titulares de direitos subjetivos dela decorrentes. E, por
óbvio, se isso não acontece, o direito internacional gravita no sistema jurídico mais
como uma disciplina jurídica ou como um ideal de justiça do que propriamente
um corpo de regras e princípios dotados de validade e eficácia.
Como juiz federal no Rio Grande do Norte, faço um especial destaque ao
trabalho de Janine Praxedes do Nascimento Ribeiro de Andrade e de Thiago Oliveira
Moreira intitulado “A aplicação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região”, revelador da baixa normatividade
das normas do tratado na jurisprudência do TRF5. As conclusões são relevantes
e mostram a importância de se investir no tema no âmbito da instituição, que,
aliás, é estratégica, em certa medida, no que se refere à proteção regional dos
direitos humanos, em face da condenação, pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos, no caso Povo Indígena Xukuru e seus membros v. Brasil, com reflexos
na jurisdição da Justiça Federal da 5ª Região.
640
Sobre o assunto, convém noticiar o protagonismo do TRF5, entre todos
os tribunais brasileiros, na criação da Unidade de Monitoramento e Fiscalização
de decisões, deliberações e recomendações do Sistema Interamericano de Proteção
aos Direitos Humanos, no âmbito da Justiça Federal da 5ª Região (UMF/JF5),
congênere de outra estrutura equivalente no Conselho Nacional de Justiça. A
iniciativa – que conta, entre seus colaboradores, comigo e com o professor doutor
Thiago Oliveira Moreira, coordenador desta obra – expressa um importante
compromisso institucional com o resguardo da normatividade do sistema regional
de direitos humanos no direito doméstico.
Para que essa engrenagem e outras que virão produzam os resultados
esperados, precisamos de pesquisas em direito internacional que se aproximem
da realidade diária, a fim de possibilitar que seu corpo de normas, através de sua
aplicação pelas instituições domésticas, chegue às ruas e lares dos brasileiros. A
presente obra é, pois, mais um tijolo na construção de um enredo mais humano no
palco da história.
Natal-RN, 23 de outubro de 2022.
641