Você está na página 1de 360

Equipe organizadora

Aleson Pereira de Sousa


Ana Laura de Cabral Sobreira
Danilo Duarte de Assis Gadelha
Diana Pontes da Silva
Edeltrudes de Oliveira Lima
Edvaldo Balbino Alves Júnior
Francielly Negreiros de Araújo
Francisco Patricio de Andrade Júnior
Giulian César da Silva Sá
Helivaldo Diógenes da Silva Souza
José Marreiro de Sales-Neto
Laísa Vilar Cordeiro
Larissa Rodrigues Bernardo
Pedro Thiago Ramalho de Figueiredo
Sarah de Sousa Ferreira
Vanessa de Melo Cavalcanti Dantas
Vanessa Morais Muniz
Prof. Me. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial

Dr. Cristiano S. Araujo


Assessor

Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira


Diretora Administrativa
Presidente da Editora

CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
Prof. Dr. Henryk Siewierski (UnB)
Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG Catalão)
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana (UNESP)
Profa. Me. Margareth Leber Macedo (UFT)
Profa. Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno (UFG)
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
Profa. Dra. Leila Bijos (UnB)
Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá (UFPR)
Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
PESQUISAS DESENVOLVIDAS
EM UNIVERSIDADES FEDERAIS
E SUAS APLICABILIDADES
PARA A SOCIEDADE

Editora Espaço Acadêmico


Goiânia - Goiás
2020
Copyright © 2020 by Laísa Cordeiro

Editora Espaço Acadêmico


Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15, Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
Site: http://editoraespacoacademico.com.br/

Contatos:
Prof. Gil Barreto - (62) 98345-2156 / (62) 3946-1080
Larissa Pereira - (62) 98230-1212

Editoração: Larissa Luz dos Santos


Capa: Larissa Luz dos Santos
Direito de Imagem: Projetado por freepik.com
Projetado por rawpixel.com - freepik.com

CIP - Brasil - Catalogação na Fonte

00000 Aqui se faz ciência! : pesquisas desenvolvidas em


universidades federais e suas aplicabilidades para a
sociedade [livro eletrônico] / Organizadores Laísa Vilar
Cordeiro ... [et al.]. – Goiânia : Editora Espaço
Acadêmico, 2020.
360 p. ; Ebook [PDF].

Inclui referências bibliográficas


ISBN 978-65-00-06195-6

1. Ciências. 2. Ciências – pesquisas – universidades federais. I.


Cordeiro, Laísa Vilar (org.).
CDU 001.891
Índice para catálogo sistemático
1. Ciências – pesquisas – universidades federais......... 001.891

O conteúdo de cada capítulo, bem como suas correções e confiabilidade


são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores

DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou
por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito dos autores.
A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido
pelo artigo 184 do Código Penal.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil


2020
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO..........................................................................................19

BIOTECNOLOGIA
O PRIMEIRO SORO ANTIAPÍLICO DO MUNDO: UMA PESQUISA QUE
JÁ TEM SALVADO VIDAS...........................................................................21
Francilene Capel Tavares de Carvalho e Lucilene Delazari dos Santos

OTIMIZANDO AS RESPOSTAS DAS PLANTAS AOS ESTRESSES


AMBIENTAIS.................................................................................................24
Éderson Akio Kido

RESPOSTAS MOLECULARES QUE REVELAM A TOLERÂNCIA À


SECA EM FEIJÃO-CAUPI............................................................................27
Kátia Paulino de Sousa e Éderson Akio Kido

APROVEITANDO MARCAS GENÉTICAS DE CANA-DE-AÇÚCAR EM


ESPÉCIES FORRAGEIRAS DO GÊNERO Pennisetum..............................30
Rahisa Helena da Silva e Éderson Akio Kido

ESTUDOS DE GENES PARA O MELHORAMENTO VEGETAL.............33


Francielly Negreiros de Araújo e Éderson Akio Kido

LECTINAS: FERRAMENTAS PARA O COMBATE DE MICOSES..........35


Suéllen Pedrosa da Silva e Thiago Henrique Napoleão

AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE OVICIDA DE LECTINAS CONTRA


Aedes Aegypti.................................................................................................38
Robson Raion de Vasconcelos Alves e Patrícia Maria Guedes Paiva

LECTINA - UMA HEROÍNA NA LUTA CONTRA A RESISTÊNCIA


BACTERIANA...............................................................................................41
Nathália Regina Galvão Silva e Patrícia Maria Guedes Paiva
LECTINAS VEGETAIS E SEU POTENCIAL COMO MARCADORES EM
TECIDOS MAMÁRIOS HUMANOS...........................................................44
Abdênego Rodrigues da Silva e Thiago Henrique Napoleão

VARIAÇÕES INTRAESPECÍFICAS NA COMPOSIÇÃO E TOXICIDADE


DE PEÇONHAS DE SERPENTES BRASILEIRAS.....................................47
Diana Pontes da Silva e Matheus de Freitas Fernandes-Pedrosa

BIOLOGIA MOLECULAR
O IMPACTO DA RADIAÇÃO IONIZANTE NATURAL NA ESTABILIDADE
DO GENOMA HUMANO.............................................................................51
Luíza Araújo da Costa Xavier e Viviane Souza do Amaral

O DNA E SEUS MISTÉRIOS..........................................................................54


Naila Francis Paulo de Oliveira

IMUNORREGULAÇÃO DA PRÉ-ECLÂMPSIA.........................................57
Camila Rodrigues de Melo Barbosa

O USO DA IMUNOINFORMÁTICA NO ESTUDO E DESENVOLVIMENTO


DE VACINAS.................................................................................................60
Vanessa de Melo Cavalcanti Dantas

ASSOCIAÇÃO ENTRE A INFECÇÃO PELO HPV E OS MECANISMOS


DE MODULAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE...............................................64
Neila Caroline Henrique da Silva

VÍRUS Zika: DA EPIDEMIA À SOLUÇÃO.................................................67


Lucas Coêlho Bernardo

CARACTERIZAÇÃO DO GERMOPLASMA DE Vigna spp.: UMA


ABORDAGEM CITOGENÔMICA COMPARATIVA..................................70
Fernanda de Oliveira Bustamante e Ana Christina Brasileiro Vidal

ANÁLISE DE TRANSCRIPTÔMICA DO PINHÃO-MANSO EXPOSTO


AO ESTRESSE DE SALINIDADE DO SOLO..............................................73
Jorge Luís Bandeira da Silva Filho e Éderson Akio Kido
EXPRESSÃO DE GENES OSMOPROTETORES EM PINHÃ-MANSO SOB
ESTRESSE SALINO......................................................................................76
Elvia Jéssica da Silva Oliveira e Éderson Akio Kido

ECOLOGIA
DIVERSIDADE E ECOLOGIA DE SAMAMBAIAS E LICÓFITAS NO
NORDESTE BRASILEIRO...........................................................................80
Rafael de Paiva Farias

ANATOMIA VEGETAL COMO FERRAMENTA PARA COMPREENDER


QUESTÕES ECOLÓGICAS..........................................................................83
Emilia Cristina Pereira de Arruda e Lucas da Penha Xavier

FISIOPATOLOGIA
MECANISMOS GLUTAMATÉRGICOS ASTROCÍTICOS ESTÃO
PREJUDICADOS NO BULBO DE RATOS COM HIPERTENSÃO
RENOVASCULAR.........................................................................................87
Atalia Ferreira de Lima Flôr e Josiane de Campos Cruz

CARACTERIZAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DE PEÇONHAS DO GÊNERO


Bothrops..........................................................................................................90
Ilanna Chrisley Pinheiro Barroca e Matheus Fernandes de Freitas Pedrosa

FARMACOLOGIA
A DIFERENÇA ENTRE O VENENO E O REMÉDIO É A DOSE?................94
Matheus Cavalcanti de Barros e Patrícia Maria Guedes Paiva

“CAUSA DA MORTE: FALÊNCIA DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS” -


PROCURANDO ALTERNATIVAS PARA REVERTER ESTE QUADRO....97
Filipe Rodolfo Moreira Borges de Oliveira e Regina de Sordi

PRODUTOS NATURAIS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS


INFLAMATÓRIAS........................................................................................100
José Marreiro de Sales-Neto e Sandra Rodrigues-Mascarenhas
LIMFA – LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA Da
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA/PB E SUA CONTRIBUIÇÃO
NO CONTEXTO CIENTÍFICO DO BRASIL..............................................103
Marcia Regina Piuvezam

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIDIARREICA E DOS EFEITOS NA


MOTILIDADE GASTRINTESTINAL DO ESTRAGOL EM
CAMUNDONGOS.......................................................................................106
Leiliane Macena Oliveira Silva e Leônia Maria Batista

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIDIARREICA E DOS EFEITOS


NA MOTILIDADE GASTRINTESTINAL Da A-ASARONA EM
CAMUNDONGOS.......................................................................................109
Alessa Oliveira Silva e Leonia Maria Batista

ATIVIDADE FARMACOLÓGICA DE PRODUTOS NATURAIS NO


TRATO GASTRINTESTINAL.....................................................................112
Edvaldo Balbino Alves Júnior e Leônia Maria Batista

A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS EM PSICOFARMACOLOGIA PARA A


SOCIEDADE................................................................................................114
Jéssica Cabral de Andrade e Reinaldo Nóbrega de Almeida

A IMPORTÂNCIA DA BUSCA DE NOVAS SUBSTÂNCIAS COM


ATIVIDADE ANTIDEPRESSIVA...............................................................117
César Alves Carneiro e Mirian Graciela Da Silva Stiebbe Salvadori

SUBSTÂNCIAS NATURAIS PODEM PROTEGER DE CONVULSÕES?....120


Aline Matilde Ferreira dos Santos e Leandro Rodrigo Ribeiro

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM


Lactobacillus Aidophilus (LA–05) NOS PARÂMETROS
CARDIOVASCULARES DE ANIMAIS NORMOTENSOS
E HIPERTENSOS.........................................................................................123
Danilo Duarte de Assis Gadelha e Maria do Socorro França Falcão

POTENCIAL TERAPÊUTICO DE PEPTÍDEOS SEM PONTES


DISSULFETO PRESENTES NA PEÇONHA DE ESCORPIÕES..............126
Alessandra Daniele da Silva e Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa
USO DE PLANTAS MEDICINAIS PARA O TRATAMENTO DE
ENVENENAMENTOS CAUSADOS POR SERPENTES.................129
Júlia Gabriela Ramos Passos e Jacinthia Beatriz Xavier dos Santos

BUSCA POR SUBSTÂNCIA COM ATIVIDADE CONTRA Klebsiella


Pneumoniae..................................................................................................132
Laísa Vilar Cordeiro e Edeltrudes de Oliveira Lima

BUSCA POR SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE


ANTI-Microsporum......................................................................................135
Francisco Patricio de Andrade Júnior e Edeltrudes de Oliveira Lima

SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE CONTRA FUNGOS DO GÊNERO


Aspergillus....................................................................................................137
Elba dos Santos Ferreira e Ricardo Dias de Castro

ESTUDO DE COMPOSTOS SINTÉTICOS COM ATIVIDADE


ANTI-Cryptococcus......................................................................................140
Anna Paula de Castro Teixeira e Igara Oliveira Lima

Atividade antifúngica de NOVAS drogas naturais: um


estudo realizado em alimentos.................................................143
César Augusto Costa de Medeiros e Fillipe de Oliveira Pereira

DESCOBRINDO O POTENCIAL ANTIFÚNGICO DE PRODUTOS


NATURAIS SOBRE FUNGOS DERMATÓFITOS.....................................146
Josenildo Cândido de Oliveira e Fillipe de Oliveira Pereira

Escherichia Coli: BUSCA POR SUBSTÂNCIAS PROMISSORAS A


FÁRMACOS................................................................................................149
Maria Franncielly Simões de Morais e Edeltrudes de Oliveira Lima

PESQUISA POR NOVAS SUBSTÂNCIAS COM AÇÃO


ANTIFÚNGICA............................................................................................152
Maria Thaynara Jorge Freire e Egberto Santos Carmo

USO DE PRODUTOS NATURAIS NO COMBATE AO CÂNCER DE


MAMA.........................................................................................................155
Jéssyka Samara de Oliveira Macedo e Bruna Braga Dantas
MOLÉCULAS SINTÉTICAS COM ATIVIDADE ANTIFÚNGICA
AnTE A ESPÉCIES DO GÊNERO Candida CAUSADORAS DE
ONICOMICOSES..........................................................................................158
Shellygton Lima da Silva e Edeltrudes de Oliveira Lima

PRODUTOS VEGETAIS COMO FONTE PARA CONSUMO DE


ANTIOXIDANTES.......................................................................................161
Aleson Pereira de Sousa, Abrahão Alves de Oliveira Filho e
Rita de Cássia da Silveira e Sá

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE BIOLÓGICA E ANTIMICRO-BIANA DE


pRODUTOS NATURAIS.............................................................................164
Aratã Oliveira Cortez Costa, Edeltrudes de Oliveira Lima e
Reinaldo Nóbrega de Almeida

O EFEITO DO ALFA-TERPINEOL SOBRE O ENVELHECIMENTO


CARDIOVASCULAR: O PAPEL DA SENESCÊNCIA E SUAS VIAS DE
SINALIZAÇÃO...........................................................................................167
Arthur José Pontes Oliveira de Almeida e Isac Almeida de Medeiros

USO DE PLANTAS DO NORDESTE BRASILEIRO NO TRATAMENTO


DE DESORDENS INFLAMATÓRIAS ......................................................170
Allanny Alves Furtado e Manoela Torres do Rêgo

ENVENENAMENTO POR SERPENTES PEÇONHENTAS,UM PROBLEMA


PARA A SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL...................................................173
Sarah de Sousa Ferreira e Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

EFEITOS FARMACOLÓGICOS E TÓXICOLÓGICOS DO FLAVONOIDES


NARINGENINA...........................................................................................176
Fabio Correia Lima Nepomuceno e Hilzeth de Luna Freire Pessôa

AVANÇOS DE NOVAS ALTERNATIVAS MEDICAMENTOSAS PARA O


MANEJO DA DOR......................................................................................179
Humberto de Carvalho Aragão Neto e Reinaldo Nóbrega de Almeida

PRODUTOS VEGETAIS COMO FONTE PARA TRATAMENTO DA


ANSIEDADE................................................................................................182
Humberto Hugo Nunes de Andrade e Reinaldo Nóbrega de Almeida
A BUSCA POR NOVOS AGENTES ANTIBACTERIANOS A PARTIR DE
FONTES VEGETAIS...................................................................................185
Inácio Ricardo Alves Vasconcelos e Hilzeth de Luna Freire Pessôa

MICRORGANISMOS DO BEM: A BUSCA POR NOVOS


PROBIÓTICOS............................................................................................188
Wallace Felipe Blohem Pessoa

Uncaria Tomentosa MELHORA SENSIBILIDADE À INSULINA E


INFLAMAÇÃO HEPÁTICA EM MODELOS DE CAMUNDONGOS
OBESOS.......................................................................................................190
Layanne Cabral da Cunha Araujo

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS ANTIBACTERIANO E TÓXICOS DO


EXSUDATO DE Anacardium Occidentale L. (GOMA DO
CAJUEIRO) .................................................................................................193
Rebecca Rhuanny Tolentino Limeira e Hilzeth de Luna Freire Pêssoa

AVALIAÇÃO DO PERFIL ANTIBACTERIANO E EFEITOS


TOXICOLÓGICOS DOS DERIVADOS DE 2-CIANOACETAMIDA,
ACRILATOS E CARBOTIOAMIDAS........................................................196
Zilka Nanes Lima e Hilzeth de Luna Freire Pessôa

MODULAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE CÉLULAS TUMORAIS À


QUIMIOTERAPIA.......................................................................................199
Jephesson Alex Floriano dos Santos e Guido Lenz

INVESTIGAÇÃO DO EFEITO ANTI-INFLAMATÓRIO DE UM


ALCALOIDE SINTÉTICO EM MODELO EXPERIMENTAL DE EDEMA
DE PATA.......................................................................................................202
Cosmo Isaías Duvirgens Vieira e Marcia Regina Piuvezam

AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO COM UM ALCALOIDE SINTÉTICO


INÉDITO EM MODELO DE LESÃO PULMONAR AGUDA .....................205
João Batista de Oliveira e Márcia Regina Piuvezam

INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO DE UM ALCALOIDE


SINTÉTICO SOBRE DOENÇAS RESPIRATÓRIAS ALÉRGICAS...........208
Louise Mangueira de Lima e Marcia Regina Piuvezam
PRODUTOS NATURAIS COMO FONTE PARA O TRATAMENTO DE
DOENÇA DE ORIGEM iNFLAMATÓRIA: a LPA/SDRA .......................211
Larissa Rodrigues Bernardo e Márcia Regina Piuvezam

SAÚDE COLETIVA
FATORES MATERNOS ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL: QI E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL.....................................215
Giselle Souza de Paiva e Sophie Helena Eickmann

PATÓGENOS ZOONÓTICOS EM ECTOPARASITOS DE ANIMAIS


DOMÉSTICOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO – BRASIL.................219
Jéssica Cardoso Pessoa de Oliveira e Rafael Antonio do Nascimento Ramos

FAUNA FLEBOTOMÍNICA NO MUNICÍPIO DE GARANHUNS,


PERNAMBUCO, BRASIL...........................................................................222
Carlos Roberto Cruz Ubirajara Filho e Rafael Antonio do Nascimento Ramos

ANÁLISE DA SOROPOSITIVIDADE E FATORES ASSOCIADOS À


LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA.................................................225
Vanessa Santos de Arruda Barbosa

ANÁLISE DOS ACIDENTES POR ANIMAIS E DO ATENDIMENTO


PROFILÁTICO ANTIRRÁBICO HUMANO.............................................228
Lídio Tiago Alves Pequeno e Vanessa Santos de Arruda Barbosa

IMPLANTAÇÃO DA FARMÁCIA CLÍNICA NA FARMÁCIA ESCOLA


MANOEL CASADO DE ALMEIDA ..........................................................231
Amanda Batista da Silva e Camila de Albuquerque Montenegro

ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS E OFERTA DO


CUIDADO FARMACÊUTICO À POPULAÇÃO CUITEENSE................234
Maria Jaíne Lima Dantas e Camila de Albuquerque Montenegro

DOENÇA DE CHAGAS: UM MAL ANTIGO, PORÉM AINDA SEM


SOLUÇÃO....................................................................................................237
Alison Pontes da Silva e Bruna Braga Dantas

ARMAZENAMENTO E DESCARTE DE MEDICAMENTOS EM


DOMICÍLIOS...............................................................................................240
Andrezza Duarte Farias
EPIDEMIOLOGIA DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA
À SAÚDE......................................................................................................243
Bruno Henrique Andrade Galvão

controle de qualidade e
tecnologia farmacêutica
CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA PARA A QUALIDADE
DAS PLANTAS MEDICINAIS PARA PREPARAÇÃO DE CHÁ.................247
Laura Carolina Lima Romeu e Júlia Beatriz Pereira de Souza

MELHORIA DA QUALIDADE DE FÁRMACOS HIPOGLICEMIANTES


COM PROBLEMAS DE SOLUBILIDADE AQUOSA..............................250
José Venâncio Chaves Júnior, Cícero Flávio Soares Aragão e
Fábio Santos de Souza

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE LIBERAÇÃO CONTENDO


SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE ANTIMICROBIANA......................253
Vanessa Morais Muniz, Fábio Correia Sampaio e Fábio Santos de Souza

DESENVOLVIMENTO DE NANOEMULSÕES CONTENDO EXTRATO


HIDROETANÓLICO DAS FOLHAS DE Kalanchoe laciniata (l.) DC.....256
Samara Vitória Ferreira de Araújo e Márcio Ferrari

NANOTECNOLOGIA FARMACÊUTICA APLICADA AO


DESENVOLVIMENTO DE SOROS E VACINAS......................................259
Fiamma Gláucia da Silva e Karla Samara Rocha Soares

química medicinal
EXTRATOS DE PLANTAS E PRODUTOS NA NEUTRALIZAÇÃO
DE AÇÕES TÓXICAS CAUSADAS POR VENENOS DE SERPENTES:
UTILIZAÇÃO E PERSPECTIVAS..............................................................263
Eduardo Coriolano de Oliveira

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E ANTITUMORAL


DE OLIGÔMEROS DE QUITOSANA.......................................................266
Nayara Sousa da Silva e Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa
VERSATILIDADE BIOLÓGICA E APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS
DE EXTRATOS VEGETAIS .......................................................................269
Giulian César da Silva Sá e Adriana Ferreira Uchôa

ESTUDO DE BIOMOLÉCULAS DE FUNGOS COM AÇÃO ANTIBIOFILME


DE BACTÉRIAS..........................................................................................272
Geovanna Maria de Medeiros Moura e Elizeu Antunes Santos

ANÁLOGOS DO ÁCIDO CINÂMICO COMO FONTE DE FÁRMACOS


LEISHMANICIDAS.....................................................................................275
Mayara Castro de Morais

ISOLAMENTO E ATIVIDADE FARMACOLÓGICA DE


SUBSTÂNCIAS OBTIDAS DE PLANTAS DO SEMIÁRIDO
PARAIBANO................................................................................................278
Joanda Paolla Raimundo e Silva e Josean Fechine Tavares

PESQUISA FITOQUÍMICA E FARMACOLÓGICA DE Pilosocereus sp.


(Cactaceae)....................................................................................................281
Ana Laura de Cabral Sobreira e Maria de Fátima Vanderlei de Souza

METABOLÔMICA DE PLANTAS..............................................................284
Augusto Lopes Souto

BUSCA DE PROTÓTIPOS A FÁRMACOS EM PLANTAS


MEDICINAIS DO GÊNERO Maytenus COM ATIVIDADE
GASTROPROTETORA...............................................................................287
Pedro Thiago Ramalho de Figueiredo e Vicente Carlos de Oliveira Costa

ATIVIDADE DE PROTEÇÃO SOLAR DE EXTRATOS VEGETAIS ........290


Juliana de Medeiros Gomes e Josean Fechine Tavares

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ANÁLOGOS DA


COMBRETASTATINA D-2 UTILIZANDO COMO INTERMEDIÁRIO O
PRODUTO NATURAL EUGENOL.............................................................293
Josefa Aqueline da Cunha Lima e Juliano Carlo Rufino de Freitas

A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS COM ATIVIDADE


ANTICANCERÍGENA.................................................................................295
Carla Daniele Pinheiro Rodrigues e Cláudia Quintino da Rocha
A SÍNTESE ORGÂNICA ALIADA AOS PRODUTOS NATURAIS NA
PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS COM FINS MEDICINAIS.............297
Fernando Ferreira Leite e Francisco Jaime Bezerra Mendonça Junior

SÍNTESE E AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE NOVOS COMPOSTOS 1,2,3-


TRIAZÓLICOS ASSOCIADOS A CARBOIDRATOS................................300
Cosme Silva Santos e Juliano Carlo Rufino de Freitas

O USO DE PRODUTOS NATURAIS PARA TRATAMENTO DE FRATURAS


ÓSSEAS.......................................................................................................303
Icaro Rodrigo Dutra Cunha e Cláudia Quintino da Rocha

SÍNTESE E AVALIAÇÃO ANTIMICROBIANA DE NOVAS


SELENOGLICOLICAMIDAS.....................................................................306
Maria das Neves Silva Neta e José Maria Barbosa Filho

INOVAÇÕES FARMACÊUTICAS DA Piper Nigrum - ESTUDOS QUÍMICOS


E BIOLÓGICOS DE NOVOS DERIVADOS DA PIPERINA .......................309
Helivaldo Diógenes da Silva Souza

DOCKING MOLECULAR, SÍNTESE E AVALIAÇÃO ANTINEOPLÁSICA


DE NOVOS CARBOIDRATOS ENIDIÍNICOS........................................312
Jadson de Farias Silva e Juliano Carlo Rufino de Freitas

SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO IN SILICO DE


DERIVADOS DE CHALCONAS HETEROCÍCLICAS ............................314
Gabrielly Diniz Duarte e Luis Cezar Rodrigues

SÍNTESE DE COMPOSTOS ISOQUINOLÍNICOS COM POTENCIAL


EFEITO TOCOLÍTICO ...............................................................................317
Luiz André de Araújo Silva e Luís Cezar Rodrigues

PRODUÇÃO SINTÉTICA DE COMPOSTOS NATURAIS DO TIPO


NEOLIGNANAS E AVALIAÇÃO BIOLÓGICA COMO POTENCIAIS
ANTITUMORAIS ANTIMICROBIANOS..................................................320
Bruno Hanrry Melo de Oliveira e Luis Cézar Rodrigues

DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS SINTÉTICOS BASEADOS EM


PRODUTOS NATURAIS.............................................................................322
Flávio Valadares Pereira Borges, José Maria Barbosa-Filho e
Luis Cezar Rodrigues
IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS FITOQUÍMICOS NO
DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS........................................325
Janderson Barbosa Leite de Albuquerque

APLICAÇÃO DOS PRODUTOS NATURAIS PARA O TRATAMENTO DE


DOENÇAS INFECCIOSAS.........................................................................328
José Lima Pereira Filho

O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NATURAIS E O ACESSO AO


TRATAMENTO DE DOENÇAS NEGLIGENCIADAS..............................331
Luna Nascimento Vasconcelos e Cláudia Quintino da Rocha

A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NA MEDICINA


VETERINÁRIA............................................................................................334
Rafaela Silva Serejo e Cláudia Quintino da Rocha

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PROTÓTIPOS DEnTRIAZÓIS


FTALIMÍDICOS APLICADOS NO TRATAMENTO DE INFECÇÕES
FÚNGICAS...................................................................................................337
Rodrigo Ribeiro Alves Caiana e Juliano Carlo Rufino de Freitas

A UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS: DA ANTIGUIDADE MÍSTICA


À ATUALIDADE CIENTÍFICA.................................................................340
Yan Michel Lopes Fernandes e Odair dos Santos Monteiro

APLICAÇÃO DE MÉTODOS COMPUTACIONAIS NO PLANEJAMENTO


DE MEDICAMENTOS CONTRA LEISHMANIOSE..............................343
Jéssika de Oliveira Viana

física experimental E FÍSICA GERAL


TERMODINÂMICA QUÂNTICA: UMA PORTA PARA FUTURAS
TECNOLOGIAS..............................................................................347
Bertúlio de Lima Bernardo

O SURPREENDENTE MUNDO DOS NANOMATERIAIS......................350


Mirleide Dantas Lopes

CIÊNCIA NA PRAÇA: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA


NA AMAZÔNIA..........................................................................................353
Luis Eduardo de Carvalho Maciel e Rubens Silva
gastronomia
DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE SORBET DE COCO
VERDE (Cocos Nucífera L.).........................................................................357
Ingrid Conceição Dantas Guerra
Apresentação

Caros Leitores

Sejam bem-vindos ao projeto “Aqui se faz ciência! Pesquisas desen-


volvidas em Universidades Federais e suas aplicabilidades para a sociedade”!
Este e-book foi idealizado e organizado voluntariamente por pós-graduandos
de Universidades Federais (UF) brasileiras. Foram reunidos pesquisadores de
diversas UFs para escreverem um pouco sobre suas pesquisas, de forma sim-
ples, clara e objetiva, para que este livro consiga alcançar o maior número de
pessoas possível. Este projeto é dedicado a todos aqueles que tenham interesse
em conhecer um pouco mais sobre o que é feito nas Universidades Federais e
que, em algum momento, já se perguntaram: Para que serve a pesquisa cien-
tífica? O que os pesquisadores procuram? Como isso pode beneficiar a socie-
dade? Quais descobertas estão sendo feitas? Qual o lado bom e o lado ruim de
ser pesquisador?
Queremos que você, leitor, entenda um pouco sobre o universo da pes-
quisa científica brasileira. Os capítulos são divididos em três partes: “Intro-
dução ao tema”, “Referências” e “Como eu faço ciência”. Na “Introdução ao
tema” você encontrará uma breve explanação sobre o assunto da pesquisa,
para situá-lo sobre o tema. Em seguida haverá referências de artigos científi-
cos, livros e websites que foram citados no texto introdutório e são importan-
tes para aquele tema. Assim, caso você queira se aprofundar no assunto, é só
procurar estes materiais. Por fim, vem o terceiro tópico: “Como eu faço ciên-
cia”, onde consta um depoimento pessoal do pesquisador, autor do capítulo,
falando sobre sua visão acerca daquela pesquisa e também sobre a importân-
cia dela para a sociedade.
No início de cada capítulo aparecem os nomes do pesquisador e de seu
orientador ou coorientador, seguidos das suas filiações, ou seja: Universidades
e Programas de Pós-graduação aos quais eles são vinculados. Você também
encontrará o e-mail destes pesquisadores. Caso alguma pesquisa tenha cha-
mado sua atenção e você queira saber mais sobre ela, pode entrar em contato
com os pesquisadores através do e-mail pessoal deles. Será uma honra receber
qualquer pessoa que queira conversar um pouco mais sobre pesquisa científi-
ca, afinal, aqui se faz ciência!
O conteúdo de cada capítulo, bem como suas correções e confiabilidade
são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

- 19 -
biOTECNOLOGIA
O PRIMEIRO SORO ANTIAPÍLICO DO MUNDO:
UMA PESQUISA QUE JÁ TEM SALVADO VIDAS

Francilene Capel Tavares de Carvalhoa


Lucilene Delazari dos Santos b

INTRODUÇÃO AO TEMA

As abelhas são os principais grupos animais polinizadores da região


tropical do planeta. Essa conexão que as abelhas e as plantas possuem bene-
ficia de forma incondicional a polinização para muitos organismos vegetais.
O ato de forragear pelas abelhas em diversas plantas permite que elas levem
pólens de um lugar para o outro, de uma planta para a outra, favorecendo,
assim, o desenvolvimento e a sobrevivência de muitas espécies de plantas. As
abelhas naturalizadas dependem da vegetação nativa para a sobrevivência dos
seus enxames e para garantir a produção de produtos naturais como mel e a
geleia real, por exemplo1.
Em 1840, iniciou-se a introdução das primeiras colônias de abelhas
oriundas da Europa (Espanha, Portugal, Alemanha e Itália). As primeiras
subespécies criadas foram Apis mellifera, denominadas abelhas pretas ou
alemãs, Apis mellifera carnica e Apis mellifera ligustica, popularmente de-
nominadas abelhas italianas. Entretanto, no ano de 1950, há notificações de
taxas elevadas de óbitos devido ao aparecimento de diversas pragas e doenças.
E nesse período, estima-se que 80% das colônias de abelhas tenham sido dizi-
madas. Com o intuito de aumentar a resistência das abelhas às pragas e aten-
der às necessidades básicas dos produtos naturais produzidos pelas abelhas,
o professor Warwick Estevam Kerr dirigiu-se à África para selecionar colô-
nias de abelhas africanas Apis mellifera scutellata.

a Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da UNESP, Botucatu, SP e Programa


de Pós-graduação em Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), SP, francile-
ne_capel@hotmail.com
b Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da UNESP, Botucatu, SP e Programa
de Pós-graduação em Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), SP, lucilene.
delazari@ unesp.br

- 21 -
Entretanto, após a chegada dessas abelhas africanas ao Brasil, mais pre-
cisamente na cidade de Rio Claro, interior do estado de São Paulo, houve
um incidente gravíssimo, no qual 26 colônias de abelhas africanas escapa-
ram e cruzaram com as abelhas europeias presentes nesta mesma região. Este
processo de cruzamento chamado hibridização promoveu o aparecimento das
abelhas africanizadas. Em 45 dias, estas novas abelhas iniciaram sua disper-
são pelo Brasil, causando inúmeros acidentes. A grande capacidade de enxa-
meação resultou na expansão dessas abelhas pelo território brasileiro e outros
países do continente americano2.
Devido a esse processo de dispersão das abelhas africanizadas, ocorreram
várias dificuldades e acidentes graves a fatais por causa do instinto defensivo
dessa espécie e sua fácil adaptação ao ambiente3. Atualmente, os acidentes cau-
sados por abelhas africanizadas têm ganhado destaque em saúde pública devido
à gravidade e à elevada letalidade no continente americano. Segundo o Sistema
de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde do Brasil, os
acidentes por abelhas representam cerca de 7% do número total de acidentes
causados por animais peçonhentos e a ausência de um soro específico disponí-
vel para a rede pública de saúde torna o problema ainda mais complexo4.
Em 2014, pesquisadores do Centro de Estudos de Venenos e Animais
Peçonhentos (CEVAP) da UNESP, juntamente com as Instituições: Faculda-
de de Medicina da UNESP de Botucatu, Instituto Butantan e Instituto Vital
Brazil, produziram um soro inédito contra múltiplas picadas de abelhas. Por
meio de um protocolo clínico, este novo soro contra picadas de abelhas teve a
capacidade de neutralizar o veneno da abelha circulante no paciente5, salvan-
do a vida dos acometidos por muitas picadas. O soro antiapílico é um produto
inovador, inédito e estratégico para a rede SUS, além de ter sido desenvolvido
com bases e parcerias internacionais.

REFERÊNCIAS

1. DEGRAND-HOFFMAN, G; GRAHAM, H.; AHUAMDA, F.;


SMART, M.; ZIOLKOWSKI, N. The Economics of Honey Bee (Hymenoptera:
Apidae) Management and Overwintering Strategies for Colonies Used to Polli-
nate Almonds. Journal of Economic Entomology, v. 112, n.4, p.1-10, 2019.

2. CAMARGO, J. M. F.; STORT, A. C. A abelha: Apis mellifera Lin-


naeus. São Paulo: Edart, 1973.

3. FERREIRA-JR, R.S.; ALMEIDA, R.; BARRAVIERA, S. R. S.;


BARRAVIERA, B. Historical perspective and human consequences of Afri-
canized bee stings in the Americas. Journal of Toxicology and Environ-
mental Health, Part B, v. 15, p. 97-108, 2012.

- 22 -
4. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICA-
ÇÃO – SINAN. Ministério da Saúde do Brasil. 2010. Disponível em: http://
dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/index.php. Acesso em: 26 set. 2019.

5. BARBOSA, A. N.; BOYER, L.; CHIPPAUX, J. P.; MEDOLAGO,


N. B.; CARAMORI, C. A.; PAIXÃO, A. G.; POLI, J. P. V.; MENDES, M.
B.; DOS SANTOS, L.D.; FERREIRA-JR, R. S.; BARRAVIERA, B. A clini-
cal trial protocol to treat massive Africanized honeybee (Apis mellifera) atta-
ck with a new apilic antivenom. Journal of Venomous Animals and Toxins
including Tropical Diseases, v. 23, n. 14, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Francilene Capel Tavares de Carvalho, sou aluna de douto-


rado do Programa de Pós-graduação em Doenças Tropicais pela Faculdade de
Medicina de Botucatu, UNESP, e atualmente sou bolsista pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Em meu projeto de
doutorado, eu e a minha orientadora, a professora Dra. Lucilene Delazari dos
Santos, pesquisadora do Centro de Estudos de Venenos e Animas Peçonhentos
(CEVAP) da UNESP, fazemos parte de uma equipe multidisciplinar, na qual
médicos, biomédicos, enfermeiros, farmacêuticos, biólogos, veterinários, se
reuniram para investigar a segurança e a menor dose adequada deste soro
antiapílico inédito. Atualmente, este soro está sendo testado em pacientes que
sofrem múltiplas picadas de abelha africanizadas por meio de um ensaio clíni-
co. Os resultados preliminares se mostraram muito promissores. Acreditamos
que num futuro próximo este novo soro poderá ser distribuído em todo o con-
tinente americano para salvar a vida de pessoas acometidas por estes animais.
A minha atuação nesse trabalho, na manipulação das amostras de sangue
desses pacientes, seja indo buscar estas amostras biológicas, sendo por meio das
técnicas que quantificam o veneno da abelha no sangue destes pacientes, fez
crescer dentro de mim uma paixão avassaladora pela ciência. Eu me encontrei
nessa área! Por mim, ficaria horas e horas falando da minha rotina, o quanto é
gratificante poder ajudar a sociedade, o quanto nossas jornadas de trabalho me
inspiram a dar o melhor de mim e a buscar soluções para esta problemática.

- 23 -
OTIMIZANDO AS RESPOSTAS DAS PLANTAS
AOS ESTRESSES AMBIENTAIS

Éderson Akio Kidoa

INTRODUÇÃO

O Brasil é uma potência na produção de alimentos. Essa condição é re-


conhecida mundialmente. Grande parte desse sucesso se deve aos brasileiros
envolvidos no setor: empresários, agricultores e pesquisadores. Do pequeno
ao grande produtor, nossos cultivos precisam de cuidados. Assim, novas téc-
nicas e produtos foram desenvolvidos e aprimorados. Entretanto, empregá-los
tem um custo, nem sempre acessível para todos. Adicionalmente, as plantas
estão sujeitas a fatores nem sempre controláveis, como o clima (ex.: seca,
inundação, temperaturas extremas) ou controláveis de forma difícil (ex.: lavar
um solo salino), custosa (ex.: várias aplicações contra doenças), ou danosa
(ex.: excesso de defensivos químicos), e os danos decorrentes podem com-
prometer totalmente a receita. Melhorar as plantas para uma maior produção,
melhor tolerância às doenças ou suportar as mudanças climáticas é investir
para que nossa agricultura continue exitosa e mais sustentável.
O melhoramento genético é a forma mais barata para resolver parte
desses problemas, ao mesmo tempo em que assegura, também, a segurança
alimentar de parte da população. Entretanto, as pesquisas que movem o me-
lhoramento genético, e que sempre estiveram por de trás do sucesso de nossas
plantas, são desconhecidas de grande parte da população e de seus governan-
tes. Para se ter ideia, uma variedade de cana-de-açúcar quando lançada teve os
primeiros cruzamentos feitos há cerca de nove/dez anos.
Esse tempo, do primeiro cruzamento até o lançamento de uma nova
variedade, já foi de mais de 15 anos. Portanto, qualquer solução/técnica ad-

a Universidade Federal de Pernambuco e Programa de pós-graduação em Genética. ederson.kido@cnpq.br

- 24 -
vinda da pesquisa de base, em grande parte feita no Brasil pelas Universidades
públicas e Institutos de Pesquisas, pode abreviar esse tempo, sendo útil para
os diversos programas de melhoramento vegetal. A urgência é premente, pois,
desenvolver plantas olhando para as necessidades do mercado consumidor é
um dos principais objetivos dos programas de melhoramento genético e cons-
titui busca permanente de seus pesquisadores.

REFERÊNCIAS

1. Ferreira-Neto, J.R.C. et al. Inositol phosphates and Raffinose


family oligosaccharides pathways: Structural genomics and transcriptomics in
soybean under root dehydration. Plant Gene, v. 20, p. 100202, 2019.

2. da Silva, M.D. et al. Genotype-dependent regulation of drought-re-


sponsive genes in tolerant and sensitive sugarcane cultivars. Gene, v. 633,
p. 17-27, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Éderson Akio Kido, sou professor da Universidade Federal


de Pernambuco (UFPE), e orientador de alunos de mestrado e doutorado dos
Programas de Pós-graduação em Genética (PPGG), e em Ciências Biológicas
(PPGCB), ambos da UFPE, bem como de doutorandos em Biotecnologia, pela
Rede Nordestina de Biotecnologia (RENORBIO, ponto focal UFPE). Tam-
bém sou bolsista de produtividade em pesquisa (nível 2), pelo Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O cerne da pesquisa realizada pelo nosso grupo tem por finalidade iden-
tificar genes importantes na tolerância de plantas cultivadas, em relação aos
estresses ambientais que as acometem. O grupo enfoca culturas importantes
em nossa alimentação regional (feijão-caupi e macaxeira), ou nacional/mun-
dial (soja), ou na geração de biocombustíveis, como a cana-de-açúcar e o pi-
nhão-manso (biodiesel). Em princípio, ela é base para que melhoristas a apli-
quem em seus programas de melhoramento, podendo contribuir para abreviar
o tempo necessário para lançamento de novos materiais, que em geral é de
vários anos, até o lançamento de uma nova variedade (ou cultivar) no merca-

- 25 -
do. Esse tempo reflete os inúmeros ciclos de cruzamentos e etapas de seleção
envolvidos em um programa, e que necessitam de vários ensaios, feitos em
diferentes locais e em vários anos. Assim, materiais modernos e eficientes na
produção, e à disposição dos agricultores, é sonho de todo melhorista.
Além disso, o cultivo nem sempre é feito em condições ideais, ocorren-
do em locais marginais, como em solos salino, ou áreas sujeitas a secas, altas
temperaturas, ou doenças. Nessas situações de estresses, o agricultor geral-
mente perde parte ou a totalidade de sua produção, comprometendo a renda.
Uma forma de assegurar certo rendimento, principalmente aos pequenos pro-
dutores, é fornecer-lhes sementes ou plantas melhoradas, mais adequadas para
a realidade desses cultivos.
Assim, a pesquisa desenvolvida pelo nosso grupo1,2 busca identificar
genes candidatos associados à tolerância aos estresses. Ela parte da premissa
de que uma planta responde ao estímulo do estresse através da expressão de
determinados genes, e uma planta tolerante responde de forma diferente de
uma sensível ou susceptível ao agente estressante. Esses genes poderiam ser
alvos, no futuro, dos programas de melhoramento genético vegetal. Logo, as
pesquisas detrás de nossas plantas são a mola propulsora de nossa agricultura
e movem grande parte da nossa economia.
No entanto, para que isso continue é necessário investir em recursos
humanos, através de nossos programas de pós-graduação, e materiais, dando
condições às nossas pesquisas. O investimento governamental na pesquisa re-
torna trazendo dinamismo ao setor agrícola, e faz com que nossa refeição seja
mais saborosa, colorida e nutritiva. Pense nisso, ao se sentar à mesa, e tenha
um bom apetite!

- 26 -
RESPOSTAS MOLECULARES QUE REVELAM
A TOLERÂNCIA À SECA EM FEIJÃO-CAUPI

Kátia Paulino de Sousaa


Éderson Akio Kido b

INTRODUÇÃO AO TEMA

O crescimento populacional, associado a uma população com uma ex-


pectativa de vida cada vez maior, necessita de uma crescente demanda pela
produção de alimentos. Esta demanda requer um aumento na produção agrí-
cola que, muitas vezes, necessita da incorporação de novas áreas que nem
sempre são adequadas ao cultivo. Além disso, mudanças climáticas e recursos
hídricos limitados acabam prejudicando essa produção agrícola.
Assim, as plantas ficam suscetíveis a fatores ambientais estressantes de-
vido às condições climáticas, do solo, presença de herbívoros, doenças, entre
outros fatores, o que contribui para uma redução na produção das culturas¹.
Estresses bióticos e abióticos afetam de forma negativa a produção das cultu-
ras. Entre os estresses abióticos, a seca é o mais prejudicial e, cada vez mais,
tem conseguido atingir áreas agricultáveis².
O feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] é um importante com-
ponente alimentar para a população brasileira, sendo uma cultura pouco exi-
gente em relação à fertilidade do solo e que apresenta certa tolerância à seca e
às altas temperaturas. Fatores ambientais adversos acabam prejudicando essa
cultura, causando perdas e prejuízos, tanto ao produtor quanto para o consu-
midor (a falta de produção acaba aumentando o preço do produto que já está
em falta no mercado).
Para sobreviver em condições adversas as plantas precisam dispor de
uma eficiente sinalização e ativação de seus genes, desencadeando respostas
que, quando devidamente conhecidas, permitem a sua compreensão¹. Nes-

a Universidade Federal de Pernambuco – Renorbio (Rede Nordeste de Biotecnologia). katiaps@ifto.edu.br


b Universidade Federal de Pernambuco – Renorbio (Rede Nordeste de Biotecnologia).kido.ufpe@
gmail.com

- 27 -
se sentido, o melhoramento genético, visando a uma maior adaptação desta
cultura às condições de déficit hídrico, se faz necessário, sendo essenciais
os estudos relacionados aos seus mecanismos de defesa, para que se possam
desenvolver plantas mais bem adaptadas às condições não ideais para cultivo.
Assim, é importante, para o feijão-caupi e outras leguminosas a realiza-
ção de pesquisas referentes às respostas moleculares da planta sob estas condi-
ções, permitindo identificar genes que se expressam em situações de estresse.
Ao longo do tempo, as plantas desenvolveram diferentes formas para se ajustar
a essas condições estressantes, sendo essencial estudar quais genes são expres-
sos nessas situações, e que são essenciais para a sobrevivência da planta.
Com o desenvolvimento de tecnologias moleculares, que permitiram
o sequenciamento de genes expressos por um organismo, mecanismos de to-
lerância ou sensibilidade de um organismo sob estresse têm sido alvo de es-
tudos¹. Assim, quando a planta está em situação de estresse, diferentes genes
expressam diferentes proteínas. Em uma planta tolerante haverá produção de
proteínas que permitirão a ela sobreviver ao estresse, enquanto uma planta
sensível produzirá proteínas que não serão suficientes para sua sobrevivência.
É primordial conhecermos esses genes, pois ao identificarmos os genes mais
expressos na planta tolerante, porém ausentes ou inativos na planta sensível,
poderemos selecionar aquelas que possuem esses genes sendo expressos,
e que deverão ser, portanto, mais tolerantes à seca.

REFERÊNCIAS
1. KIDO, E.A.; FERREIRA NETO, J.R.C.; BRITTO-KIDO, S.A.;
PANDOLFI, V.; BENKO-ISEPPON, A.M. DeepSuperSAGE in a Friendly
Bioinformatic Approach: Identifying Molecular Targets Responding to Abi-
otic Stress in Plants Advanced. In: Rajarshi Kumar Gaur; Pradeep Sharma.
(Org.). Molecular Approaches in Plant Abiotic Stress. 1.ed. Boca Raton,
Florida: CRC Press, 2013.

2. DA SILVA, M.D.; SILVA, R.L.O.; FERREIRA NETO, J.R.C.;


BENKO-ISEPPON, A.M.; KIDO, E.A. Genotype-dependent regulation of
drought-responsive genes in tolerant and sensitive sugarcane cultivars. Gene,
v. 633, p. 17-27, 2017.

- 28 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Kátia Paulino de Sousa, sou aluna de doutorado do Pro-


grama de Pós-graduação em Biotecnologia - RENORBIO – Rede Nordes-
te de Biotecnologia na Universidade Federal de Pernambuco, orientada pelo
professor Dr. Éderson Akio Kido. Sou bolsista Capes – Programa Novo
Prodoutoral (pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Tocantins – Campus Araguatins, onde sou docente) e minha pesquisa está re-
lacionada à identificação dos genes relacionados com a tolerância à seca, e que
poderão ser usados no futuro para selecionar plantas que melhor se adequam
a cada região do nosso país.
Pesquisas relacionadas à produção de alimentos são essenciais ao per-
mitirem que culturas como o feijão-caupi possam ter sua produtividade pre-
servada, apesar do clima seco e da falta de chuvas em várias regiões do país.
A utilização de variedades/cultivares adaptadas às regiões mais áridas minimi-
za, não só prejuízos para o produtor e para o consumidor, como também para
o meio ambiente, ao evitar que novas áreas preservadas sejam destruídas para
implantação desses cultivos.
Ser pesquisador no Brasil é um desafio geográfico, econômico e social,
pois as capitais e grandes centros urbanos acabam concentrando as pesquisas
mais avançadas, deixando o interior, principalmente da região Norte do país,
menos capacitado em recursos humanos, sendo essencial a formação de pesqui-
sadores que possam atuar nessa região. Além de doutoranda, sou professora do
Instituto Federal do Tocantins – Campus Araguatins, município situado a 600
quilômetros da capital, Palmas. Um campus que dá seus primeiros passos no
ramo da pesquisa e que me fez buscar formação em uma universidade conceitu-
ada para que eu possa, ao retornar ao meu estado, ajudá-lo no desenvolvimento
de pesquisas, no crescimento regional e na formação de nossos discentes.

- 29 -
APROVEITANDO MARCAS GENÉTICAS DE
CANA-DE-AÇÚCAR EM ESPÉCIES FORRAGEIRAS
DO GÊNERO Pennisetum

Rahisa Helena da Silvaa


Éderson Akio Kidob

INTRODUÇÃO AO TEMA

As espécies Pennisetum purpureum (capim-elefante) Schum e P. glau-


cum (milheto) R. Brown são gramíneas, assim como o arroz (Oryza sativa),
o milho (Zea mays) e o trigo (Triticum spp.), os três cereais mais importantes
do mundo. As duas são gramíneas forrageiras de grande potencial nutricional
para a pecuária nacional. Os grãos de milheto também podem ser utilizados na
alimentação humana. Ambas são cultivadas em quase todas as regiões tropi-
cais e subtropicais do mundo, sendo consideradas rústicas e menos exigentes,
quanto à disponibilidade de água, se comparado ao milho, o que as torna ex-
celentes candidatas para cultivo nas condições nordestinas.
Em programas de melhoramento genético, elas podem gerar híbridos
interespecíficos (indivíduos obtidos a partir do cruzamento de parentais de
espécies diferentes). Para garantir este tipo de cruzamento, é necessário co-
nhecer a variabilidade genética presente nas espécies envolvidas. Esta varia-
bilidade é estimada através de marcadores moleculares, os quais permitem
romper as dificuldades de se selecionar com base em caracteres morfológicos,
reduzindo, desta forma, o tempo necessário para o desenvolvimento de uma
cultivar promissora¹.
Existem várias técnicas disponíveis para se obter marcadores mole-
culares em plantas; dentre elas, aquelas que envolvem os marcadores mi-
crossatélites ou SSR (Simple Sequence Repeat) são bem informativas e têm
sido preferíveis².

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. rahisahelena@


gmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. kido.ufpe@gmail.com

- 30 -
As duas culturas, apesar de relevantes para a agricultura, são considera-
das espécies órfãs, em relação a outras gramíneas mais estudadas. O desenvol-
vimento de marcadores SSR, quando feito de novo, é relativamente trabalhoso
e de custos elevados. Uma forma alternativa de se desenvolver SSRs é através
de ESTs (Expressed Sequence Tag) disponíveis em bancos de dados públicos;
no entanto, as duas espécies órfãs não dispõem de biomoléculas suficientes. Por
outro lado, para cana-de-açúcar (Saccharum spp.) há 285.216 ESTs depositadas
no NCBI (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/), o maior banco público de biomolé-
culas. Logo, o desenvolvimento de marcadores EST-SSR (microssatélites a par-
tir de ESTs; microssatélites gênicos) torna-se possível a partir da cana-de-açú-
car, que é taxonomicamente próxima do capim-elefante e do milheto.
Microssatélites localizados em regiões gênicas já foram relatados em
processos como organização da cromatina, estruturação do RNA, ciclo celular,
sistema de reparo, dentre outros³. A literatura relata altas taxas de transferibili-
dade para este tipo de marcador, Jain et al. (2014)4 obtiveram 100% de transfe-
ribilidade de um total de 35 pares de primers EST-SSR testados em 11 espécies
de plantas (Datura metel, Datura innoxia, Withania coagulans, Withania somni-
fera, Capsicum annuum, Eclipta alba, Steviare baudiana, Citrullus colocynthis,
Ocimum sanctum, Catharanthus roseus, e Moringa oleifera).
Da mesma forma, Ul Haq et al. (2016)5 observaram uma expressiva
transferibilidade (64,86%) de marcadores EST-SSR, quando desenvolvidos
a partir de ESTs de Saccharum spp., e testados entre espécies diferentes do
mesmo gênero (S. robustum, S. spontaneum e S. officinarum).

REFERÊNCIAS

1. KUMAR, L. S. DNA markers in plant improvement: na overview.


Biotechnology advances, v. 17, n. 2, p. 143-182, 1999.

2. KALIA, R. K. et al. Microsatellite markers: an overview of the re-


cent progress in plants. Euphytica, v. 177, n. 3, p. 309-334, 2011.

3. LI, Y. et al. Microsatellites within genes: structure, function, and evo-


lution. Molecular biology and evolution, v. 21, n. 6, p. 991-1007, 2004.

4. JAIN, R. et al. Identification and characterization of microsatellites


in expressed sequence tags and their cross transferability in different plants.
International jornal of genomics, v. 2014, 2014.

- 31 -
5. UL HAQ, S. et al. Assessment of functional EST-SSR markers
(Sugarcane) in cross-species transferability, genetic diversity among poace-
ae plants, and bulk segregation analysis. Genetics research international,
v. 2016, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Rahisa Helena da Silva, sou graduada em Ciências bio-


lógicas (Bacharelado) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
mestranda do Programa de Pós-graduação em Genética, sob orientação do
professor Dr. Éderson Akio Kido, e bolsista pelo Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Minha pesquisa foi desenvolvi-
da durante minha graduação, por meio do Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação Científica (PIBIC), também custeado pelo CNPq. No trabalho,
a taxa de transferibilidade de marcadores EST-SSR, desenvolvidos a partir de
uma espécie evolutivamente próxima (cana-de-açúcar) das espécies alvo do
trabalho (capim-elefante e milheto), foi avaliada. Essa informação é importan-
te para os programas de melhoramento, visto que a estimativa de variabilidade
genética é um ponto inicial do melhoramento genético de qualquer cultura.
Assim, um conjunto de 18 pares de primers foi proposto, sintetizado e tes-
tado em reações de PCR, utilizando-se DNAs de 14 acessos (2 de cana-de-açú-
car, 10 de capim-elefante e 2 de milheto). Como resultados, 17 primers ampli-
ficaram nos acessos analisados, e 16 foram transferíveis para capim-elefante
e, destes, nove foram transferíveis também para milheto. Estes marcadores
poderão contribuir em análises genéticas com as espécies em questão e outras
do gênero Pennisetum, ao mesmo tempo que demonstram ser uma fonte pro-
missora e de baixo custo de se desenvolver marcadores.

- 32 -
ESTUDOS DE GENES PARA O
MELHORAMENTO VEGETAL

Francielly Negreiros de Araújoa


Éderson Akio Kidob

INTRODUÇÃO AO TEMA

As mudanças climáticas enfrentadas nos últimos anos vêm causando di-


versos danos ao meio ambiente, exigindo adaptação a condições adversas, como
seca e altas temperaturas, características comuns em alguns ecossistemas do
Brasil, como o Cerrado e a Caatinga1. O estresse ambiental, também conhecido
como abiótico, é uma das principais ameaças à sobrevivência de plantas cultiva-
das, as quais desempenham um papel importante na subsistência humana.
O desenvolvimento das plantas é diretamente afetado pelas condições
ambientais do local de cultivo, em diferentes graus de estresses, podendo le-
var à perda total da plantação. Diante desse desafio, as plantas desenvolveram
mecanismos celulares para detectar e responder a tais condições2. A defesa ve-
getal envolve tanto mecanismos que estão sempre presentes na planta quanto
os que precisam de algum estímulo para serem ativados. A reposta das plantas
a estresses, como a baixa disponibilidade de água e salinidade dos solos, en-
volve ativação de genes específicos3.
Em virtude da escassez de água que vem se agravando globalmente,
tem sido gerado um maior acúmulo de sais nos solos, sendo considerado um
fator prejudicial para o crescimento das plantas, provocando prejuízos na qua-
lidade e rendimento da produção agrícola. Portanto, a identificação e compre-
ensão da função de genes envolvidos na resposta ao sal fornecem informações
importantes a respeito da defesa vegetal.

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.


franciellyng@hotmail.com.
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.
kido.ufpe@gmail.com

- 33 -
REFERÊNCIAS

1. BENKO-ISEPPON, A. M. et al. Prospecção de Genes de Resistência


à Seca e à Salinidade em Plantas Nativas e Cultivadas (Exploration of Genes
for Resistance to Drought and Salinity in Native and Cultivated Plants). Re-
vista Brasileira de Geografia Física, v. 4, n. 6, p. 1112-1134, 2011.

2. YE, Y. et al. The role of receptor-like protein kinases (RLKs) in abiotic


stress response in plants. Plant Cell Reports, v. 36, n. 2, p. 235-242, 2017.

3. QIN, X. et al. A novel transcription factor JcNAC1 response to stress in


new model woody plant Jatropha curcas. Planta, v. 239, n. 2, p. 511–520, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Francielly Negreiros de Araújo, sou aluna de doutorado do


Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Pernambuco, orientada pelo professor Dr. Éderson Akio Kido. Sou bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e
minha pesquisa é voltada para a identificação de genes capazes de conferir às
plantas uma maior tolerância ao estresse salino, garantindo a sobrevivência de
cultivos de importância econômica para o país. O foco do estudo é a espécie
Jatropha curcas, popularmente conhecida como pinhão-manso.
As sementes do pinhão-manso são ricas em óleo, apresentando um po-
tencial para a produção de biodiesel. A identificação dos genes envolvidos na
resposta do pinhão-manso ao sal ajudará a melhorar a tolerância das plantas
sensíveis a esse estresse, por meio de cruzamentos e seleção, ou mesmo da
engenharia genética, contribuindo diretamente com a sociedade ao promover
o desenvolvimento da cultura em solos marginais e o progresso da agricultura
como um todo.
Apesar de o Brasil ser um país rico em biodiversidade e fonte inesti-
mável para estudos nas mais diversas áreas, o investimento na educação e re-
cursos para pesquisa ainda são bastante limitados, restringindo o potencial de
projetos, alunos e pesquisadores. O apoio financeiro às instituições de ensino,
por parte do Governo Federal, é, portanto, imprescindível para o desenvolvi-
mento do país.

- 34 -
LECTINAS: FERRAMENTAS PARA
O COMBATE DE MICOSES

Suéllen Pedrosa da Silva a


Thiago Henrique Napoleão b

INTRODUÇÃO AO TEMA

Você já teve infecções causadas por fungos? Se sim certamente sabe o


quão incômodos esses organismos podem ser. Os fungos podem ser responsa-
bilizados pelas mais diversas micoses, como o pano branco, vilão das piscinas
e praias, e as impigens.
O cenário fica ainda mais alarmante no caso dos fungos oportunistas
que acometem pacientes imunodeprimidos, ou seja, indivíduos que possuem
o sistema imune “enfraquecido”. As espécies de fungo do gênero Candida são
umas das maiores causadoras de morte em imunodeprimidos, com destaque
para as espécies Candida albicans, Candida tropicalis, Candida glabrata e
Candida parapsilosis1.
Usualmente o tratamento das micoses é feito com os antifúngicos dis-
poníveis no mercado, no entanto a barreira enfrentada pelos pesquisadores e
médicos é a resistência que os fungos vêm desenvolvendo a esses fármacos,
além dos diversos efeitos colaterais causados pelo uso deles.
Diante dos expostos anteriores fica o questionamento: Será que é possí-
vel a produção de novos medicamentos menos tóxicos que possam ser aplica-
dos no tratamento das micoses? A comunidade científica vem demonstrando
que sim, pois a biodiversidade brasileira conta com uma variedade de plantas
com potencial biotecnológico para o tratamento de diversas doenças. Esse
potencial está atrelado principalmente à presença de moléculas com proprie-

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.


suellenpedrosasilva@gmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.
thiagohn86@yahoo.com.br.

- 35 -
dades medicinais nessas plantas, tais como os metabólitos secundários e as
proteínas, dentre estas as lectinas2.
As lectinas se destacam pela sua capacidade de interagir com a superfí-
cie celular dos microrganismos podendo desencadear uma série de respostas
que resultam na inibição do crescimento e até a morte deles. Essas moléculas
podem ser encontradas nos animais e nas plantas e após isoladas podem ter a
sua atividade antimicrobiana avaliada. Diversos estudos encontrados na lite-
ratura já comprovam que as lectinas são potenciais ferramentas para o auxílio
no desenvolvimento de novas drogas antifúngicas, demonstrando até maior
eficácia que os próprios antifúngicos em alguns casos3.

REFERÊNCIAS

1. CÓRDOBA, S. et al. Antifungal Activity of Essential Oils Against


Candida Species Isolated from Clinical Samples. Mycopathologia, p. 1-9, 2019.

2. DA SILVA, P. M. et al. PgTeL, the lectin found in Punica grana-


tum juice, is an antifungal agent against Candida albicans and Candida kru-
sei. International journal of biological macromolecules, v. 108, p. 391-
400, 2018.

3. PROCÓPIO, T. F. et al. CasuL: A new lectin isolated from Calliandra


surinamensis leaf pinnulae with cytotoxicity to cancer cells, antimicrobial ac-
tivity and antibiofilm effect. International journal of biological macromo-
lecules, v. 98, p. 419-429, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Olá, meu nome é Suéllen Pedrosa da Silva, recentemente iniciei meu


doutorado no programa de pós-graduação em Ciências Biológicas na Uni-
versidade Federal de Pernambuco. Em 2015 comecei a trabalhar com o iso-
lamento de lectinas e sigo desde então nessa linha de pesquisa orientada pelo
professor doutor Thiago Henrique Napoleão. Sou bolsista pela coordenação
de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior, ou se preferir, apenas Ca-
pes. Meu trabalho de pesquisa visa contribuir de alguma forma na descoberta

- 36 -
de novas moléculas com potenciais bioativos que possam ser empregadas no
controle não só de micoses, mas hoje vamos nos deter a elas.
Durante meu mestrado, junto à equipe de pesquisa do Departamento de
Proteínas da UFPE, descobrimos e isolamos uma nova lectina capaz de inibir
e matar diversas espécies do gênero Candida se mostrando promissora para o
controle dessas doenças, claro que mais estudos serão necessários para com-
provar sua eficácia e não toxicidade ante o organismo humano, e isso só será
possível graças ao custeamento da minha pesquisa pelos órgãos de fomento.
Fazer ciência é ver que nosso esforço trouxe uma parcela de contribui-
ção para a sociedade. É um trabalho gratificante e ao mesmo tempo frustrante,
gratificante pois sei que nosso papel possui uma grande importância, e frus-
trante pois ainda existem pessoas que acreditam que o desenvolvimento do
país pode andar separado do avanço da ciência, o que para mim é praticamente
impossível. Valendo relembrar que é graças às Ciências e Tecnologias que
são desenvolvidos os alimentos, utensílios, medicamentos e os mais diversos
produtos que a nossa cabeça possa imaginar. Espero continuar fazendo o que
gosto, e que outras pessoas tenham a oportunidade de, assim como eu, conse-
guir chegar até o doutorado.
Que o futuro esteja a nosso favor!

- 37 -
AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE OVICIDA DE
LECTINAS CONTRA Aedes Aegypti

Robson Raion de Vasconcelos Alvesa


Patrícia Maria Guedes Paivab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O mosquito Aedes aegypti é considerado um dos vetores responsáveis


pela transmissão do vírus da dengue, bem como dos vírus causadores da
febre amarela, da febre chinkungunya e da febre zika e a sua disseminação
está associada ao crescimento desordenado das cidades e à falta de sanea-
mento básico e habitação, o que acaba favorecendo criadouros para os mos-
quitos. A população de A. aegypti tem adquirido resistência aos inseticidas
químicos utilizados, sendo necessárias aplicações crescentes para o controle
efetivo do mosquito.
As plantas dispõem de mecanismos contra a ação de insetos fitopa-
tógenos, como a capacidade de sintetizar metabólitos e proteínas que agem
como toxinas e, portanto, são fontes de moléculas alternativas para contro-
le de insetos1. Diversas proteínas de origem vegetal têm sido investigadas
quanto à atividade inseticida contra A. aegypti. Dentre essas proteínas, po-
demos citar as lectinas.
Lectinas com atividade contra as larvas de A. aegypti já foram en-
contradas em sementes de Moringa oleifera (denominada de WSMoL, do
inglês water soluble Moringa oleifera lectin) e no cerne (MuHL, do inglês
M. urundeuva heartwood lectin), entrecasca (MuBL, do inglês M. urun-
deuva bark lectin) e folhas (MuLL, do inglês M. urundeuva leaf lectin)
de Myracrodruon urundeuva, uma espécie popularmente conhecida como
aroeira-do-sertão2,3.

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.


robson.raion@gmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.
ppaiva63@yahoo.com.br

- 38 -
No entanto, não existiam trabalhos que relacionassem a ação ovicida
(impedir a eclosão dos ovos) das lectinas citadas com A. aegypti. Desta forma,
Alves et al. (2019)4 propuseram investigar se as lectinas isoladas de entrecas-
ca (MuBL) e do cerne (MuHL) de Myracrodruon urundeuva, bem como a lec-
tina de sementes de Moringa oleifera (WSMoL) possuíam atividade ovicida
contra Aedes aegypti e quais os possíveis danos que essas proteínas poderiam
causar aos ovos analisados.
Os autores determinaram que as concentrações proteicas capazes de
impedir em 50% a eclosão dos ovos (denominado de EC50) de A. aegypti
foram de 0,26 mg/mL para a lectina MuBL e de 0,80 mg/mL para MuHL.
A atividade ovicida de WSMoL foi descrita anteriormente com o valor de
0,10 mg/mL. Em análise por microscopia eletrônica de varredura, foi obser-
vado que as lectinas são capazes de destruir as células da camada exocori-
ônica (camada externa nos ovos de A. aegypti). As lectinas também foram
conjugadas a um marcador fluorescente para verificar se elas eram capazes
de penetrar nos ovos. As imagens de microscopia de fluorescência revelaram
que as lectinas penetravam nos ovos atingindo os embriões e estavam pre-
sentes nas regiões da cabeça, proventriculo e trato digestivo.
Em conclusão, as lectinas de M. urundeuva também são agentes ovicidas
contra A. aegypti e a atividade ovicida de WSMoL, MuBL e MuHL está ligada à
destruição das células da camada externa e à penetração dessas proteínas no ovo
e a interação com o trato digestivo do embrião em desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

1. STANGARLIN, J. R. et al. A defesa vegetal contra fitopatóge-


nos. Scientia Agraria Paranaensis, v. 10, n. 1, p. 18, 2011.

2. COELHO, J. S. et al. Effect of Moringa oleifera lectin on development


and mortality of Aedes aegypti larvae. Chemosphere, v. 77, p. 934-938, 2009.

3. NAPOLEÃO, T. H. et al. Effect of Myracrodruon urundeuva leaf


lectin on survival and digestive enzymes of Aedes aegypti larvae. Parasitolo-
gy Research, v. 110, 2012.

4. ALVES, R. R. V. et al. Ovicidal lectins from Moringa oleifera and


Myracrodruon urundeuva cause alterations in chorionic surface and penetrate
the embryos of Aedes aegypti eggs. Pest Management Science, 2019.

- 39 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Robson Raion de Vasconcelos Alves, sou aluno de douto-
rado do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Pernambuco, orientado pela professora Patrícia Maria Guedes Paiva.
Sou bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
gico (CNPq) e minha pesquisa é sobre a atividade inseticida de lectinas.
O meu trabalho busca determinar a atividade ovicida de lectinas contra
A. aegypti. Esse mosquito constitui um grupo altamente relevante na transmis-
são de diferentes patógenos causadores de doenças à saúde humana, sendo o
vetor de quatro das principais arboviroses que despertam interesse aos órgãos
públicos de saúde.
Um benefício direto que esse estudo proporciona à população é a ob-
tenção de uma proteína purificada de origem vegetal que pode ser utilizada
no controle do A. aegypti, uma vez que o mosquito tem adquirido resistência
aos inseticidas químicos utilizados, sendo necessárias aplicações crescentes
para o seu controle, o que acarreta um aumento de risco de intoxicação para a
população, animais e meio ambiente.

- 40 -
LECTINA - UMA HEROÍNA NA LUTA CONTRA
A RESISTÊNCIA BACTERIANA

Nathália Regina Galvão Silvaa


Patrícia Maria Guedes Paivab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A palavra “proteína” é vista em diversos lugares no dia a dia, mas o que


seria uma proteína? Basicamente, é uma molécula que está em todos os seres
vivos e possui um importante papel para a manutenção da vida, através da parti-
cipação de diversos processos metabólicos. Quando se ler/ouve a palavra “pro-
teínas” é automático pensar em alimentação, pois estão altamente relacionadas
à nutrição, entretanto, existem diversas funções para elas, como proteger, sus-
tentar e até mesmo serve para acelerar algum processo dentro do nosso corpo.
Agora que sabemos o que é uma proteína, vamos falar de um tipo es-
pecífico. A lectina é uma que pode ser encontrada nas plantas, nos humanos,
bactérias, fungos, todos os seres vivos. Há muito tempo, em 1888, a primeira
lectina foi descoberta da planta mamona e foi chamada de ricina, para a sur-
presa de muitos ela era tóxica e poderia ser utilizada como uma arma. Vilã
para alguns, heroína para outros. Essa foi a forma que a lectina foi apresentada
ao mundo. A partir desse momento, muitos pesquisadores buscaram enten-
der melhor essa proteína e ela continuou impressionando a todos, porque não
existia apenas uma forma de lectina, a ricina era apenas uma dentre tantas ou-
tras variedades. Ou seja, as lectinas começaram a demonstrar diversas ações,
poderia ser tóxica ou não, ou, por exemplo, matar bactérias ou não. Tudo isso
ocorria independentemente do organismo de onde ela era extraída, não impor-
tava a espécie da planta, a lectina nunca seria a mesma. Da mesma forma que
cada pessoa possui sua própria identidade, cada espécie de organismo possui
sua própria lectina.

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas. nathaliar-


galvao@gmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas. ppaiva63@
yahoo.com.br

- 41 -
Mas, o que fazia os pesquisadores saberem que todas essas proteínas
pertenciam à classe das lectinas? Esse tipo tem uma peculiaridade que a faz
ser uma heroína ou uma vilã, ela pode se ligar de forma específica a açúcares
e esses estão presentes nas estruturas de todas as células, então uma lectina
pode se ligar a uma célula particular e interagir com ela. Pode ser ruim para
o ser humano, afetando nossas células, ou pode não afetar o ser humano e
afetar outro organismo. Nesse cenário, a lectina possui um superpoder para
combater bactérias.
Um dos grandes problemas dentro da área da saúde é a resistência bac-
teriana. No momento em que os antibióticos não conseguem funcionar, como
impedir a evolução de uma infecção, a pessoa infectada vai a óbito. Por que
isso acontece? Por que o antibiótico não consegue mais matar a bactéria? Pri-
meiro, a evolução, onde esses microrganismos que não foram afetadas pelo
antibiótico específico conseguem se reproduzir e gerar mais bactérias resis-
tentes. Outros motivos são o uso inadequado do antibiótico, quando você não
usa pelo tempo correto que o médico passou, ou quando é utilizado antibiótico
sem necessidade, ou o uso indiscriminado na agropecuária, por exemplo.
E o que a lectina pode fazer por nós? Como ela pode mudar esse episó-
dio e nos salvar? Por causa de seu superpoder, ela pode ligar a membrana da
bactéria e romper a célula, fazendo com que ela morra ou diminua a sua pro-
liferação. Além desse mecanismo, existem outras formas relacionadas às vias
metabólicas, expressões genéticas e vias imunológicas. Todos os mecanismos
são diferentes aos dos antibióticos, aos quais as bactérias estão “acostumadas”
e dessa forma é possível matar as resistentes a um antibiótico. Além de que,
cada lectina extraída de plantas diferentes pode apresentar especificidade di-
ferente para as classes de açúcares, o que faz com que possa existir uma am-
pla gama de possibilidades para combater as bactérias, tendo em vista que os
açúcares de suas membranas podem mudar de acordo com o tipo da bactéria.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Nathália Regina Galvão Silva, sou aluna de mestrado do


Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Pernambuco, orientada pela professora Patrícia Maria Guedes Paiva. Sou
bolsista pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco
(Facepe) e minha pesquisa é sobre extrair e isolar uma lectina da semente
de Adenanthera pavonina L. (olho-de-pombo) e utilizar para o tratamento de
infecções bacterianas.

- 42 -
Ser pesquisadora no Brasil é difícil, existe a falta de recurso que abran-
ge toda a ciência, como também muitas vezes ocorre a desvalorização profis-
sional pela sociedade. Entretanto, a pesquisa é algo sensacional, entender o
porquê de determinadas coisas, descobrir algo importante que pode ser usado
pelas próximas gerações, tanto como algo aplicado ou como pesquisa básica,
é revigorante, prazeroso, especial. Assim como existir a chance de poder de-
senvolver ou encontrar algo que possa ajudar as pessoas.
Na minha linha de pesquisa, especificamente, a sociedade pode ser be-
neficiada através de um composto natural que possui atividade antibacteriana
e pode ser um alvo para o combate da resistência. Não apenas na área hospita-
lar, mas nas outras que utilizam de antibióticos para seus fins. De maneira in-
direta, o conhecimento sobre as maneiras inadequadas do uso de antibióticos e
os problemas para a humanidade que são causados pela resistência bacteriana
pode sensibilizar a população e desta forma pode ocorrer uma conscientização
acerca do tema.

- 43 -
LECTINAS VEGETAIS E SEU POTENCIAL COMO
MARCADORES EM TECIDOS MAMÁRIOS HUMANOS

Abdênego Rodrigues da Silvaa


Thiago Henrique Napoleão b

INTRODUÇÃO AO TEMA

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de cem doenças que têm


em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e ór-
gãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas
e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem
espalhar-se para outras regiões do corpo (metástase). As causas do câncer são
variadas, podendo se referir ao meio ambiente e aos hábitos e/ou costumes
próprios de uma sociedade, como fumar e consumo de bebidas alcoólica, tam-
bém existem fatores geneticamente predeterminados1.
A estimativa é que, em 2030, haverá 21,4 milhões de novos casos de
câncer e 13,2 milhões de novas mortes no mundo2. No Brasil, a estimativa
para o ano de 2016 apontou para a ocorrência de aproximadamente 421 mil
casos novos de câncer, não incluindo os casos de pele não melanoma, refor-
çando a magnitude do problema do câncer no país.
Cada célula possui quantidades e espécies de carboidratos (açúcares)
diferentes, presentes em sua superfície. Os carboidratos ligados a lipídios
formam os glicolipídios, os ligados a proteínas presentes na membrana, que
podem ser chamados de glicoproteínas. Os glicolipídios e as glicoproteínas
atuam de maneira a formar uma cobertura externa à membrana plasmáti-
ca. Em células normais, existem padrões desses carboidratos, em células de
câncer existem outros padrões, ou seja, à medida que a célula vai se trans-
formando, seu glicopadrão também altera. Sabendo disso, se conseguirmos

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas. rodriguesa-


bdenego@gmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas. thiago-
hn86@yahoo.com.br

- 44 -
estudar esse padrão, podemos prever se a célula poderá se transformar em
um tumor ou não.
Para poder estudar esse desenvolvimento utilizando como referência
esses açúcares, é necessária uma molécula que se ligue e funcione como uma
sonda. Lectinas são proteínas que se ligam a carboidratos, sendo amplamente
encontradas na natureza, incluindo microrganismos, plantas e animais. As lec-
tinas são capazes de detectar diferenças, mesmo que pequenas, em estruturas
de carboidratos presentes na superfície de células e em tecidos3,4,5.

REFERÊNCIAS

1. INCA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva.


Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Educação; organi-
zação Luiz Claudio Santos Thuler. ABC do câncer: abordagens básicas para
o controle do câncer. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2013.

2. IYER, A.K.; SINGH, A.; GANTA, S.; AMIJI, M.M. Role of inte-
grated cancer nanomedicine in overcoming drug resistance. Advanced Drug
Delivery Reviews, v. 65, p. 1784-1802, 2013.

3. DIAS, R. O. et al. Insights into animal and plant lectins with antimi-
crobial activities. Molecules, v. 20, p. 519-541, 2015.

4. PAIVA, P.M.G.; NAPOLEÃO, T.H.; SANTOS, N.D.L.; CORREIA,


M.T.S.; NAVARRO, D. M.A.F.; COELHO, L.C.B.B. Plant compounds with
Aedes aegypti larvicidal activity and other biological properties. In: LIONG,
M-T. (Ed.) Bioprocess Sciences and Technology, New York: Nova Science
Publishes, 2011, p. 269-294.

5. PROCÓPIO, T.F.; MOURA, M.C.; ALBUQUERQUE, L.P.;


GOMES, F.S.; SANTOS, N.D.L.; COELHO, L.C.B.B.; PONTUAL, E.V.;
PAIVA, P.M.G. Antibacterial lectins: Action mechanisms, defensive roles
and biotechnological potential. In: COLLINS, E. (Ed.) Antibacterials:
Synthesis, Properties and Biological Activities, New York, Nova Science
Publishers Inc., 2017.

- 45 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Abdênego Rodrigues, sou engenheiro químico, faço mes-


trado no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológica da Universidade
Federal de Pernambuco, orientado pelo professor Thiago Henrique Napoleão.
Minha pesquisa fica dentro do ramo da glicobiologia. Verifico que a alteração
nesses perfis de carboidratos, associada à doença, tem grande potencial como
fonte de marcadores associados a tumores e na predição do comportamento tu-
moral. Identificar alterações na glicosilação em um estágio inicial do desenvol-
vimento do tumor pode oferecer a possibilidade de compreender seu papel no
desenvolvimento da doença, monitorando a doença, progressão e fornecimento
de ferramentas para orientar a terapia. Faço parte do laboratório de Bioquímica
de proteínas, existem vários pesquisadores fazendo mestrado, doutorado e está-
gios em pós-doutorados. A maioria trabalha com moléculas isoladas ou extratos
de plantas de origem da Caatinga, e suas pesquisas estão voltadas para ativida-
des antimicrobiana, antiparasitária, larvicida, antitumoral, etc.
As proteínas (Lectinas) que utilizo para se ligar a esses carboidratos
vêm de duas plantas bastantes conhecidas no nordeste brasileiro, a Aroeira
da praia e a Romã. O nome dessas lectinas são SteLL e PgTeL, a primeira é
isolada das folhas e a segunda do líquido que fica dentro do fruto. O processo
de purificação e isolamento é bem demorado, alguns meses. É um trabalho
de bastante importância, ele abra portas para muitas aplicações, por exemplo,
o desenvolvimento de biosensores que possam detectar de maneira muito es-
pecífica um possível tumor ou seu desenvolvimento, auxiliando uma biópsia.
Fico muito feliz por poder ajudar a ciência nacional e, assim, desen-
volver produtos e técnicas que possam proporcionar uma melhor qualidade
de vida às pessoas. Fazer ciência no Brasil é difícil, demanda muito tempo,
esforço e pouco retorno. A pesquisa é indispensável para o avanço tecnológico
e crescimento do país.

- 46 -
VARIAÇÕES INTRAESPECÍFICAS NA
COMPOSIÇÃO E TOXICIDADE DE PEÇONHAS
DE SERPENTES BRASILEIRAS

Diana Pontes da Silvaa


Matheus de Freitas Fernandes-Pedrosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os acidentes ofídicos são considerados um grave problema de saúde


pública em todo o mundo, considerando o alto número de ocorrências e a
morbimortalidade ocasionada. A Organização Mundial de Saúde estima que,
anualmente, ocorram 2,7 milhões de casos de envenenamento, culminando
em 85.000 óbitos1.
A profusão de sintomas observados nas vítimas deve-se à variedade de
componentes tóxicos presentes na peçonha, levando a um quadro clínico ca-
racterizado por paralisia grave, hemorragia, insuficiência renal e dano tecidual
intenso no local da picada, podendo culminar na amputação de membros. Os
principais componentes das peçonhas que estão envolvidos nos efeitos obser-
vados são moléculas denominadas proteínas, que são divididas em classes e
subclasses de acordo com sua função e/ou particularidades de sua estrutura2,3.
Cada classe de proteínas da peçonha interfere seletivamente em mecanis-
mos fisiológicos específicos, de forma que os sintomas observados são atribuí-
dos à ação majoritária de determinadas classes proteicas. Por exemplo, a classe
das metaloproteases ofídicas é fortemente associada ao rompimento de vasos e
hemorragia, as serinoproteases têm sido relacionadas aos distúrbios na coagu-
lação sanguínea e as fosfolipases A2 têm forte ação inflamatória comprovada2.
Entretanto, diversos estudos têm apontado que essa composição não
é fixa, podendo variar até mesmo entre serpentes da mesma espécie, o que
é chamado de variação intraespecífica da peçonha. Com isso, as peçonhas
de indivíduos da mesma espécie podem apresentar diferenças relacionadas a
uma maior ou menor abundância de determinadas classes proteicas. Esse fe-

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Programa de Pós-graduação em Bioquímica


(PPgBioq). diana.ponts@gmail.com.
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Departamento de Farmácia. mpedrosa@ufrnet.br

- 47 -
nômeno está relacionado a fatores como a idade da serpente, seu habitat, sexo
e distribuição geográfica, de forma que uma serpente filhote pode apresentar
uma peçonha com maior potencial inflamatório do que uma serpente adulta da
mesma espécie, por exemplo. Diante disso, é plausível inferir que também os
sintomas desencadeados por essas peçonhas podem sofrer variação e levar a
quadros de envenenamento distintos, em humanos2,3.
O soro antiofídico é um único tratamento disponível atualmente para o
envenenamento, e seu processo de fabricação consiste em inocular a peçonha
de diferentes espécies de serpente no organismo de um cavalo, que reage de-
senvolvendo anticorpos específicos para as toxinas presentes nas peçonhas.
Tais anticorpos, após retirados do sangue do cavalo, são usados para a fabri-
cação do soro.
Considerando a variação supracitada, tais toxinas podem sofrer mudan-
ças em sua abundância e até mesmo estar ausentes, podendo levar a alterações
qualiquantitativas nos anticorpos produzidos e, dessa forma, comprometer a
eficácia do soro2.,3 Diante disso, é crucial levar em consideração a variação
intraespecífica das peçonhas no momento da fabricação do soro antiofídico,
de forma que os fatores associados a essa variação (idade, sexo, região geo-
gráfica, etc.) sejam respeitados.

REFERÊNCIAS

1. WHO - World Health Organization. List of neglected tropical dis-


eases. 2014. Disponível em: http://www.who.int/neglected_diseases/diseases/
en/. Acesso em: 15 set. 2019.

2. AMAZONAS, D. R.; PORTES-JUNIOR, J. A.; NISHIYAMA-JR,


M. Y.; NICOLAU, C. A.; CHALKIDIS, H. M.; MOURÃO, R. H. V.; GRA-
ZZIOTIN, F. G.; ROKYTA, D. R; GIBBS, H. L.; VALENTE, R. H.; JUN-
QUEIRA-DE-AZEVEDO, I. L. M.; MOURA-DA-SILVA, A. M. Molecular
mechanisms underlying intraspecific variation in snake venom. Journal of
Proteomics, v. 181, p. 60-72, 2018.

3. JORGE, R. J. B. Venômica e antivenômica de Bothrops erythro-


melas: estudo da variação intraespecífica. 2015. 131 p. Tese (Doutorado em
Farmacologia) - Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2015.

- 48 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Diana Pontes da Silva, sou aluna de doutorado do Progra-
ma de Pós-graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, orientada pelo professor Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa. Sou
bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), e minha pesquisa é sobre a análise da variação intraespecífica na
composição e toxicidade da peçonha de machos e fêmeas da serpente Bo-
throps leucurus, uma espécie de jararaca que ocorre no Nordeste.
Pesquisas dessa natureza podem auxiliar na compreensão dos fatores
que governam a variabilidade na composição e toxicidade das peçonhas, di-
recionando de forma mais precisa a seleção de espécimes para a produção
do soro e, dessa forma, aumentando a sua efetividade. O aperfeiçoamento
da soroterapia antiveneno é urgente e necessária, considerando os numerosos
estudos que indicam a sua pouca efetividade ante as peçonhas de diversas es-
pécies de importância médica, e a ampla variabilidade que tem sido observada
em serpentes da mesma espécie.
A falta de incentivo, a escassez de recursos e a insegurança crescente
são obstáculos enfrentados não só por mim e pelo grupo no qual estou inse-
rida, mas por uma boa parte dos pós-graduandos brasileiros. Apesar disso,
a grande mola propulsora e fonte de força é saber que as pesquisas que desen-
volvemos em nosso laboratório podem vir a ser um dos blocos que vão auxi-
liar na construção de soluções para a sociedade, principalmente de sua parcela
mais carente de serviços de saúde.
E por falar em sociedade, que bom que iniciativas como a deste livro
estão passando a existir com mais frequência. A sociedade precisa entrar nas
universidades e conhecer a ciência brasileira que está sendo feita, com todo o
seu valor e potencial; e nós, os pós-graduandos, precisamos ir além dos even-
tos acadêmicos e entregar o conhecimento produzido a quem é devido, de fato
e de direito. Este, a meu ver, é o ponto central para a tão sonhada valorização
dos nossos cientistas.

- 49 -
BIOLOGIA
MOLECULAR
O IMPACTO DA RADIAÇÃO IONIZANTE NATURAL
NA ESTABILIDADE DO GENOMA HUMANO

Luíza Araújo da Costa Xaviera


Viviane Souza do Amaralb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A exposição dos seres humanos à radiação ionizante é um evento que


acontece a toda hora em qualquer lugar do planeta Terra. Pode acontecer a
partir de fontes naturais, como a radiação cósmica e solar, ou pela ação das
atividades dos próprios humanos, como aplicações médicas de diagnóstico
(raios-x, tomografia computadorizada) e atividades industriais (mineração).
O perigo da exposição à radiação ionizante para a saúde humana e outros
seres vivos ficou muito mais evidenciado nos acidentes radioativos, como as
bombas atômicas lançadas na Segunda Guerra Mundial, a explosão do quarto
reator nuclear em Chernobyl, Ucrânia, e o acidente com cloreto de césio em
Goiânia, aqui no Brasil. Entretanto, estes acidentes podem ser considerados
eventos pouco comuns de exposição à radiação. Dentre as fontes de radia-
ção a que os humanos são expostos de forma mais comum em seu dia a dia,
destaca-se o radônio.
O radônio é um gás sem cor, sem cheiro e sem gosto. Ele surge a partir
do urânio, que fica contido em alguns tipos de rochas. Como também, esse gás
pode se dissolver na água. Por ser um elemento químico instável, o radônio
se transforma rapidamente em outros elementos químicos para tentar alcançar
a estabilidade. É durante esse processo de transformações, chamado de de-
caimento, que o radônio emite a radiação ionizante. Por ser um gás presente
no ar, as pessoas acabam respirando o radônio, e ele passa pelo processo de
decaimento no interior dos pulmões, liberando radiação até se transformar no
elemento estável final chumbo.

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica. luizabio-


med@gmail.com.
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica. vi.mariga@
gmail.com.

- 51 -
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)1, a radiação liberada
neste processo aumenta o risco de desenvolver câncer. Logo, a exposição na-
tural ao radônio é um fato de preocupação mundial, ao ponto de muitos países
terem implementado medidas de controle e diminuído a exposição a este gás,
além de disponibilizar para a população informações sobre esta problemática.
Por outro lado, aqui no Brasil ainda não há regulamentos ou leis que delimi-
tam, controlam ou remedeiam a exposição ao radônio.
No interior do Rio Grande do Norte, existe uma pequena cidade cha-
mada Lajes Pintadas, com aproximadamente quatro mil habitantes. A média
dos níveis do radônio no ar é quase três vezes maior do que o limite estabe-
lecido pela OMS1, que é 100 Bq/m3 (Becquerel por metro cúbico). Portanto,
pode-se afirmar que os habitantes deste lugar são expostos ao longo de toda a
sua vida a altos níveis de radiação ionizante vinda de fontes naturais (solo, ar e
água). Foi a partir deste problema local que surgiu o projeto de pesquisa sobre
radiação ionizante em nosso laboratório. O principal objetivo é compreender
como esse tipo de exposição natural à radiação ionizante afeta o DNA dessas
pessoas e que risco isso acarreta no desenvolvimento do câncer.

REFERÊNCIAS

1. Organização Mundial de Saúde. Manual da OMS sobre radônio


em ambientes internos: uma perspectiva de saúde pública. Editado por
Hajo Zeeb e Ferid Shannoun. 1. ed. São Paulo, SP, 2016. Disponível em: ht-
tps://apps.who.int/iris/handle/10665/44149. Acesso em: set. 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Luíza Xavier, aluna de doutorado do Programa de Pós-graduação


em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
orientada pela professora Dra. Viviane Souza do Amaral. Recebo bolsa da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para
desenvolver um trabalho que visa investigar os efeitos da radiação ionizante
natural no DNA das pessoas.
Essa pesquisa científica possui uma aplicação direta para a sociedade,
em especial para a população da cidade-alvo do trabalho, Lajes Pintas/RN,
onde foi realizada a coleta de dados e amostras biológicas. Mesmo sendo um
cenário local, condições similares são encontradas em outras partes do Bra-

- 52 -
sil e do mundo, como Índia, Irã e Estados Unidos. As discussões resultantes
desta pesquisa poderão fornecer evidências para uma futura e efetiva comu-
nicação do perigo e dos riscos à saúde provenientes da radiação ionizante
natural. Esta etapa envolve a conscientização e educação da população local
a respeito deste fenômeno.
Este trabalho, portanto, vem contribuindo para elevar o nível de com-
preensão das populações-alvo a respeito de um problema ambiental e como
podemos lidar com suas consequências a curto e longo prazo. Inclusive, há
alguns anos, desde que foi iniciado esse projeto, já foram realizados eventos
na cidade com esta finalidade – palestras, feiras e minicursos de ciências na
praça local para toda a comunidade. Além disso, com a exposição do tema e
das evidências obtidas no estudo às autoridades competentes, pode-se até es-
perar que medidas políticas em saúde pública sejam desenvolvidas, analisadas
e efetivadas com a finalidade de aplicar melhorias para a prevenção, recupera-
ção e a manutenção da qualidade de vida dos habitantes do município.
Como o Brasil é um grande país em desenvolvimento, ainda passamos
por bastante dificuldades. É comum a demora em chegar um reagente químico
ou um equipamento, dos quais muitos são de outros estados ou mesmo impor-
tados de outros países (para quem mora no Nordeste, como é o nosso caso,
a demora é ainda maior em comparação com o Sudeste, por exemplo), e ainda
há escassez de incentivos financeiros para sustentar e ampliar as pesquisas
científicas básicas e aplicadas.
Mesmo que não seja uma profissão reconhecida legalmente no Brasil,
penso que ser cientista ainda assim é uma atividade extremamente importan-
te, tanto no sentido individual como coletivamente. Quando você realmente
mergulha nessa vida de pensar e fazer ciência, você é capaz de aprender sobre
basicamente qualquer assunto a respeito do nosso mundo (e outros mundos
também!). Toda essa bagagem de conhecimentos adquiridos e acumulados
confere um imenso poder de transformação sociocultural para a própria pes-
soa e as outras ao seu redor.
Pessoalmente, penso que os projetos em parcerias e o momento de ana-
lisar os dados são os mais empolgantes, porque a elaboração de projetos co-
laborativos com diversos grupos é fundamental nesta área para ser possível o
desenvolvimento de trabalhos mais robustos que possam responder às pergun-
tas com menos incertezas. Como também, você acaba alimentando relações
profissionais duradouras e mesmo amizades pessoais ao participar de projetos
em grupos. Além disso, depois de muita leitura e estudo, é na etapa de análise
de dados que você inevitavelmente vai encontrar as respostas que procurava,
as quais (quase sempre) podem chegar a surpreendê-lo!

- 53 -
O DNA E SEUS MISTÉRIOS

Naila Francis Paulo de Oliveiraa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os seres vivos são formados por células e estas apresentam em seu


interior a molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico). O DNA é responsá-
vel por manter e transmitir as características dos seres vivos, tais como: cor
e tamanho da semente no caso de vegetais; presença de pelos ou escamas no
caso de animais; capacidade de causar infecções no caso de parasitas como
bactérias, protozoários e fungos; altura, cor dos olhos e suscetibilidade a do-
enças no caso de seres humanos. Até mesmo os vírus, que muitos cientistas
consideram que não são seres vivos, apresentam DNA.
Para o DNA determinar uma característica ele é “lido” pela célula, ori-
ginando o RNA (ácido ribonucleico), que por sua vez serve de molde para a
produção de proteínas que serão utilizadas pelas células. Conclusão: o DNA
é responsável por determinar as características dos seres vivos, uma vez que
ele tem a informação para a produção de proteínas, e são elas as responsáveis
pelas mais diversas características e atividades celulares. A ciência que estu-
da o DNA e sua relação com as características dos seres vivos é a Genética.
Desde Gregor Mendell, com a formulação das leis da hereditariedade (1865)1,
a Francis Crick, com a descoberta da estrutura da molécula de DNA (1953)2,
muitos avanços aplicados à saúde foram possíveis, como o diagnóstico de
doenças baseado na genética do indivíduo.
A partir dos estudos de Conrad Waddington (1942)3 descobriu-se que o
DNA pode estar ligado a radicais químicos e isso pode alterar como ele é lido.
De maneira geral, um dos radicais químicos ao qual o DNA pode estar ligado
é o radical metil (CH3) e esse radical pode impedir a leitura do DNA. Conclu-
são: quando o DNA está metilado, ou seja, quando apresenta o radical metil,

a Universidade Federal da Paraíba-Centro de Ciências Exatas e da Natureza - Departamento de Biologia


Molecular- Laboratório de Genética Molecular Humana. nailafpo@dbm.ufpb.br

- 54 -
o RNA e a proteínas que seriam produzidos a partir do DNA serão produzidos
em quantidades menores ou até mesmo não serão produzidos.
Esse é um mecanismo normal das nossas células para controlar quanto
e quais RNAs e proteínas serão produzidos pela célula, afinal, não precisamos
que todos os RNAs e proteínas sejam produzidos a todo momento em nossas
células. Por exemplo, em determinadas doenças é importante que nossas célu-
las produzam (dentre outras proteínas) uma proteína chamada interleucina-6
(IL-6). Essa proteína promove a inflamação e a inflamação, por sua vez, é
importante para solucionarmos o problema que nosso corpo está enfrentando.
Contudo, depois que a IL-6 cumpriu o seu papel, é importante que ela
deixe de ser produzida ou seja produzida em quantidades menores. Produção
de IL-6 em grandes quantidades quando não é preciso pode levar a doenças
inflamatórias crônicas. Alguns pesquisadores descobriram que a produção ex-
cessiva de IL-6 está ligada à falta de radical metil em uma parte específica do
DNA. Dessa forma, o estudo da metilação do DNA está levando os cientistas a
descobrirem como algumas doenças acontecem e como a produção de RNA e
proteínas é orquestrada pela célula. A ciência que estuda a metilação do DNA
é chamada de Epigenética (Epi, do grego= “por cima”).
Outra descoberta muito interessante é que a metilação do DNA é rever-
sível, ou seja, pode ser alterada por fatores ambientais. O próprio envelheci-
mento altera esse perfil e é normal. Como fator ambiental podemos entender
toda influência sobre o indivíduo, como: hábitos de fumar, de beber, hábitos
nutricionais, uso de medicamentos, exposição solar, infecções, atividade físi-
ca, exposição a agrotóxicos e até mesmo o estresse já foi associado a altera-
ções no perfil de metilação de DNA de uma célula.
De fato, esse perfil de metilação muda ao longo da nossa vida, mas o
problema está em como esse perfil vai colaborar ou não para a nossa saúde.
Sabe-se que o tabagismo e agrotóxicos, por exemplo, estão associados a
um perfil de metilação que altera como o DNA é lido e consequentemente
leva ao aumento ou diminuição de proteínas importantes. Por outro lado, a
atividade física e a nutrição balanceada estão associadas a alterações nesse
perfil que nos favorecem.
Conclusão: não somos somente determinados pelo nosso genoma (todo
o DNA celular), mas também pelo nosso epigenoma (conjunto dos radicais quí-
micos do DNA), e essa descoberta ampliou a visão de como o material genético
pode responder ao meio ambiente e assim influenciar a predisposição a doenças.
Em adição a essas descobertas, sabe-se que a metilação do DNA é herdável, ou
seja, esse perfil presente nos óvulos e espermatozoides de nossos pais foram
passados para nós. Herdamos esse perfil e vamos modificá-lo ao longo do tem-
po. Essas modificações podem ser boas ou ruins dependendo dos nossos hábitos.

REFERÊNCIAS

1. EL-HANI, C.N. O Mendel mítico sob um olhar crítico: o papel de Men-


del na história da genética. Genética na Escola, v. 11, n. 2, p. 272-285, 2016.

- 55 -
2. A descoberta do DNA e o projeto genoma. Revista da Associação
Médica Brasileira, v. 51, n. 1, p. 1, 2005.

3. RIVAS, M.P.; TEIXEIRA, A.C.B.; KREPISCHI, A.C.V. Epigenéti-


ca: conceito, mecanismos e impacto em doenças humanas. Genética na Es-
cola, v. 14, n. 1, p. 14-25, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Naila F. P de Oliveira, sou professora da Universidade


Federal da Paraíba (UFPB) e atuo no Laboratório de Genética Molecular Hu-
mana. Minha pesquisa é sobre o efeito de fatores sobre o perfil de metilação de
DNA (fatores como: envelhecimento, tabagismo, exposição solar, nutrição),
bem como sobre o estudo da metilação do DNA em doenças que acometem a
boca. De maneira geral nosso Laboratório está interessado em descobrir quan-
to e qual parte do nosso DNA está metilado; se isso é influenciado por fatores
ambientais e se há diferenças entre pessoas doentes ou não. Essas descobertas
podem ajudar as pessoas a tomarem decisões de quais hábitos são bons ou não
para a saúde delas. Essas descobertas são importantes também para ajudar no
diagnóstico de doenças bucais.
A parte difícil é que, para essas pesquisas serem realizadas, precisamos
de equipamentos e materiais caros, contudo, mesmo com essas dificuldades,
o Laboratório de Genética Molecular Humana da UFPB está conseguindo fa-
zer várias descobertas interessantes que podem futuramente auxiliar na Saúde
Pública. Por exemplo, já descobrimos que o hábito de fumar altera o perfil de
metilação de DNA de células da boca. Descobrimos também que o envelhe-
cimento leva a alterações no perfil de metilação de células da boca. Ainda em
células bucais descobrimos que pessoas com uma doença que afeta a gengiva
apresentam um perfil de metilação de DNA diferente de pessoas que não têm
a doença. Esses estudos foram feitos analisando somente uma parte do DNA,
ou seja, há muita coisa ainda para ser descoberta!
Sabe aquela frase “você é o que você come”? Pois é, com as descobertas
da Epigenética podemos ampliar a frase para “Você é o que você faz e o que os
seus pais fizeram”, uma vez que o perfil de metilação de DNA é influenciado
pelos nossos hábitos e é herdável. Mas não para por aí, além do radical metil
há outros radicais que se ligam ao DNA e os pesquisadores estão estudando a
sua função. Há muitos mistérios para serem revelados ainda!

- 56 -
IMUNORREGULAÇÃO DA PRÉ-ECLÂMPSIA

Camila Rodrigues de Melo Barbosaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

As síndromes hipertensivas que ocorrem durante a gravidez impactam


negativamente os indicadores de saúde materna e infantil em todo o mundo.
Elas são as maiores causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal,
estando associadas, também, ao aumento de gastos com saúde.1
Dentre as síndromes mais comuns, a pré-eclâmpsia é a mais prevalente,
atingindo em torno de 8 a 10% das gestantes no mundo, e é caracterizada por
quadro de hipertensão identificado pela primeira vez após a 20ª semana de
gestação associada à presença de proteína na urina e/ou cefaleia, turbidez vi-
sual, dor abdominal, com a função renal e hepática alteradas, podendo evoluir
para trombocitopenia e edema pulmonar.2
A etiologia e patogênese da doença envolvem uma combinação de fato-
res de predisposição materno-fetal, além de fatores ambientais que ainda não
são totalmente conhecidos. A fisiopatologia da pré-eclâmpsia inclui a ativação
inadequada de células que revestem os vasos sanguíneos, resposta inflamató-
ria exacerbada e a invasão superficial das células do embrião em formação nas
artérias uterinas, acarretando diminuição do aporte nutricional e oxigenação
da mãe para a placenta, desencadeando um mecanismo compensatório de au-
mento da pressão arterial materna, com o objetivo de aumentar o fluxo dessas
substâncias e proteger o feto da restrição nutricional e do aporte diminuído de
oxigênio característico dessa condição.3
No que diz respeito ao componente imunológico da pré-eclâmpsia, há
a participação de moléculas do Antígeno Leucocitário Humano (HLA), das
quais, o subtipo não clássico G é o mais estudado. Alguns estudos confirma-
ram que essa molécula é encontrada em maior quantidade em gestações com

a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM Programa de Pós-
-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde. camila_rdemelo@hotmail.com

- 57 -
desfecho favorável, comparada a pacientes que apresentaram complicações
como pré-eclâmpsia, em que seu nível foi reduzido, mostrando que a sua bai-
xa quantidade tem papel fundamental na fisiopatologia e mediação imunoló-
gica na pré-eclâmpsia.4
Apesar do grande número de estudos, a influência dessa molécula na
gestação não é totalmente elucidada, mas sugere-se seu envolvimento na di-
ferenciação do tecido fetal, implantação do embrião, formação dos vasos da
placenta e principalmente na prevenção do ataque ao embrião pelas células de
defesa maternas. A chamada teoria imunológica propõe que a resposta imune
materna inadequada à presença do feto leva a alterações patológicas precoce-
mente na placenta, embora os sinais só se tornem visíveis no terceiro trimestre
de gestação.5
Diante disso, vários estudos estão sendo realizados em todo o mundo
buscando identificar os aspectos imunológicos envolvidos na gestação, com
o objetivo de obter melhor compreensão dos processos que levam à gestação
bem-sucedida ou ao aparecimento de disfunções como a pré-eclâmpsia.

REFERÊNCIAS

1. MARTINS, A. C. S.; SILVA, L. S. Epidemiological profile of mater-


nal mortality. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, p. 677–683, 2018.

2. RAMOS, J. G. L.; SASS, N.; COSTA, S. H. M. Pré-eclâmpsia. Re-


vista Brasileira de Ginecologia e Obstetricia, v. 39, n. 9, p. 496–512, 2017.

3. GERALDO, J.; SASS, N.; COSTA, S., Pré-eclâmpsia. Revista bra-


sileira de ginecologia e obstetricia, p. 496–512, 2017.

4. HUNT, Joan S; LANGAT, Daudi L. HLA-G: a human pregnancy-re-


lated immunomodulator. Current Opinion in Pharmacology, [s.l.], v. 9,
n. 4, p.462-469, ago. 2009.

5. ROKHAFROOZ, S. et al. Association between HLA-G 14bp Gene


Polymorphism and Serum sHLA-G Protein Concentrations in Preeclamptic
Patients and Normal Pregnant Women. Immunological Investigations, v. 47,
n. 6, p. 558–568, 2018.

- 58 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Camila Rodrigues de Melo Barbosa, sou aluna de mestra-
do do programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde
na Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz-PE) e minha pesquisa tem ênfase em
Imunogenética, estudando a Imunorregulação da Pré-eclâmpsia relacionada
a sua gravidade e repercussão para o recém-nascido. Sou enfermeira, traba-
lho na UTI neonatal de um Hospital Universitário e vejo diariamente casos
de recém-nascidos prematuros decorrentes de complicações relacionadas à
pré-eclâmpsia, condição que, se bem diagnosticada e conduzida, evitaria sig-
nificativamente a morbidade e mortalidade, além de desafogar os serviços pú-
blicos de saúde e diminuir custos relacionados à assistência.
É com muito orgulho que faço parte de uma equipe de profissionais
que, apesar das dificuldades, conseguem prestar assistência de excelência em
um serviço de referência no SUS, além de preceptorar alunos de graduação
e residentes, que estão somando forças com qualidade no atendimento aos
pacientes. A partir da vontade em adquirir um olhar diferente acerca de uma
condição que atinge tantas pacientes, resolvi me aprofundar e encarar a pes-
quisa de bancada, que é um desafio, para entender os mecanismos genéticos
e imunológicos que culminam nas manifestações clínicas que presencio na
rotina da assistência direta às pacientes e seus recém-nascidos.
Apesar da evolução perceptível da ciência ao longo dos anos e sua evi-
dente contribuição na sociedade, ainda há uma lacuna importante para que os
mecanismos de muitas doenças sejam desvendados e isso só irá ocorrer de
forma efetiva quando a pesquisa for devidamente incentivada. Infelizmente o
caminho é árduo, sem financiamento adequado e sem a valorização merecida,
tornando a realização de pesquisa ainda um desafio para muitos cientistas bra-
sileiros, apesar da certeza no retorno positivo que ela trará para a sociedade.
A busca de novos mecanismos com o objetivo de diminuir as com-
plicações que acompanham as mulheres com pré-eclâmpsia é fundamental,
e identificá-los e estudá-los contribuem para o desenvolvimento de estratégias
de prevenção, detecção precoce e tratamento efetivo para as pacientes e seus
recém-nascidos, além de contribuir para a manutenção da pesquisa na área imu-
nogenética com enfoque materno-infantil sempre em constante atualização.

- 59 -
O USO DA IMUNOINFORMÁTICA NO ESTUDO
E DESENVOLVIMENTO DE VACINAS

Vanessa de Melo Cavalcanti Dantasa

INTRODUÇÃO AO TEMA

A descoberta das vacinas como um meio de garantir proteção à popula-


ção garantiu a sobrevivência de diversos povos por todo o mundo, pois muitas
vacinas já foram desenvolvidas contra vírus e bactérias extremamente letais e
evitaram diversas mortes, como as vacinas da Influenza (gripe), Sarampo, Ru-
béola, assim como contra microrganismos que trazem sequelas permanentes,
como a Poliomielite (vírus que causa paralisia infantil), ou até mesmo para
aquelas pessoas que sofrem de doenças alérgicas muito debilitantes, como a
vacina para a asma.
Apesar de hoje já haver disponíveis diversas vacinas para vários tipos de
vírus e bactérias, com o aumento da globalização e da interação entre as pessoas,
desmatamento sem controle, poluições de rios e lagos e alterações em biomas de
diversas regiões, muitas outras doenças têm se espalhado pelo mundo, trazendo
preocupação a serviços públicos e necessitando de que mais pesquisadores se
envolvam na construção de vacinas com maior urgência. Doenças emergentes
que causam dados de mortes alarmantes, como Ebola, Dengue, Zika, Chikun-
gunya e HIV, vêm se tornando e permanecendo no foco de pesquisadores da
saúde para a busca de vacinas seguras, eficazes e em curto espaço de tempo.
Com a tecnologia avançando e tornando no nosso dia a dia mais fácil,
a informática e uso de softwares vêm dominando diversas áreas, e estes
vêm se desenvolvendo para a área da saúde. A bioinformática vem sendo
utilizada visando ao entendimento de fenômenos biológicos e aquisição e
exploração de seus dados biológicos, sendo possível transformar dados bru-
tos em dados úteis para pesquisas, buscando o entendimento de fenômenos
genômicos, bem como a exploração e identificação de padrões e caracterís-
ticas intrínsecas que permeiam a essência dos dados biológicos.1
a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM Programa de Pós-
-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde. vanessa_mjpo@hotmail.com

- 60 -
Desta forma, com o uso da bioinformática é possível ter conhecimento
de todo o genoma de um microrganismo virulento, chamado rasteramento in
silico, buscando os antígenos protetores mais prováveis antes de realizar ex-
perimentos confirmatórios como alvo para vacinas ou diagnóstico. Essa abor-
dagem foi usada pela primeira vez para identificar antígenos como possíveis
vacinas candidatas contra o meningococo do sorogrupo B, vacina que já é
circulada e disponibilizada à população em geral.
Além de ter as vantagens de apresentar baixo custo e curto período de
tempo para execução, com essa abordagem é possível identificar proteínas
de membrana externa ou associadas à superfície, peptídeos sinalizadores,
lipoproteínas ou domínios de ligação a células hospedeiras, onde a maioria
dos algoritmos usa o alinhamento de sequências para identificar antígenos2,3.
E, desta forma, o pesquisador, ao iniciar o trabalho dentro do laboratório,
já terá em mãos resultados prévios de estudos feitos no computador, garan-
tindo mais sucesso na obtenção de bons resultados em seus experimentos.
A Imunoinformática, que é um ramo dentro da Bioinformática, vem
se tornando um campo cada vez mais utilizado, por envolver estudos de
interações de microrganismos com o nosso corpo. Essa área pode ser utili-
zada para estudar novos e inovadores meios de diagnósticos de doenças que
dificilmente são diagnosticadas com as ferramentas que temos hoje, e até
mesmo voltada para desenvolver vacinas, pois os softwares trazem resulta-
dos muito precisos e de bons indicadores de que aquele alvo pode ser usado
para a vacina.
Esta forma de estudo vem sendo amplamente usada para desenvolver
vacinas de vírus importantes como o Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV), vírus da herpes, vírus Ebola e vírus da Dengue. E por que o uso dessa
ferramenta é vantajoso nesses estudos? Porque buscar essa estratégia de imu-
nonformática como um estudo prévio à preparação de vacinas facilita para o
pesquisador que passa a ter resultados virtuais confiáveis e que, ao começar os
experimentos laboratoriais seguindo o que foi observado nos softwares, pode
ter mais sucesso no desenvolvimento da vacina e então levar à sociedade uma
vacina eficaz em um curto espaço de tempo.4,5

REFERÊNCIAS

1. EZZIANE, Z. Applications of artificial intelligence in bioinformat-


ics: A review. Expert System with Applications, v. 30, p. 2-10, 2006.

2. BENDTSEN, J. D. et al. Improved prediction of signal peptides: Sig-


nalP 3.0. Journal of Molecular Biology, v. 340, p. 783–795, 2004.

3. PETSKO, G. A.; RINGE, D. Protein structure and function. Black-


well Publishing, 2004.

- 61 -
4. NIELSEN, M. et al. NetMHCpan, a method for quantitative pre-
dictions of peptide binding to any HLA-A and-B locus protein of known se-
quence. PloS One, v. 2, n. 8, p. 796, 2007.

5. RAPPUOLI, R. et al. Reverse vaccinology 2.0: Human immunology


instructs vaccine antigen design. Journal of Experimental Medicine, v. 213,
n. 4, p. 469-481, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Vanessa de Melo Cavalcanti Dantas, sou aluna de doutorado


do Programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde do
Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE), orientada pela professora Dra. Clarice
Neuenschwander Lins de Morais. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa envolve o
estudo de Imunoinformática no desenvolvimento de vacina contra arboviroses.
Sou biomédica, e desde a minha graduação me envolvi na área da pes-
quisa e iniciação científica. Descobri esta área por pura paixão e afinidade, não
tive referências dentro da minha casa, pois meus pais não concluíram a gradu-
ação e nem em minha família há parentes pesquisadores. Eu me identifiquei e
me apaixonei pelo fato de poder trabalhar e desenvolver um produto que possa
impactar positivamente a sociedade.
No entanto, no Brasil, trabalhar como pesquisador traz muitas dificulda-
des. Recebemos bolsas de valores defasados, nunca há perspectiva de reajustes,
estruturas laboratoriais precárias, falta de investimentos necessários e todos es-
ses fatores impedem que as pesquisas sejam desenvolvidas com qualidade.
Diversas vezes vemos nas mídias sociais e televisivas descobertas im-
portantes de pesquisadores, como a importância da associação da microcefalia
congênita com a infecção pelo vírus Zika, medicamentos contra câncer, o que
nos traz muito orgulho. Entretanto, são poucos os casos de pesquisas impac-
tantes no nosso país, e isso se deve à falta de investimento em diversas outras
pesquisas importantes, dificultando a descoberta de resultados.
Diversos países que estavam extremamente devastados se reergueram
graças ao crescimento na área da ciência e educação, como um grande exem-
plo, a China. Isto nos mostra que a ciência é um dos pilares importantes de
crescimento do país e que é mais do que urgente termos governos que queiram
investir na pesquisa e em nós, pesquisadores. Pesquisa não é apenas gastos,
pesquisa é ter um novo medicamento para o câncer, é ter um novo diagnóstico
para doenças dificilmente diagnosticadas, é descobrir relações genéticas com

- 62 -
doenças das quais não se sabe sua origem. Fazer pesquisa traz benefícios à
sociedade e ao país, pois traz qualidade de vida, chances de cura para as mais
variadas enfermidades e perspectiva de dias melhores.

- 63 -
ASSOCIAÇÃO ENTRE A INFECÇÃO PELO
HPV E OS MECANISMOS DE MODULAÇÃO
DA RESPOSTA IMUNE

Neila Caroline Henrique da Silvaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

O câncer de colo do útero é um problema de saúde pública que atin-


ge mulheres em todo o mundo, principalmente em países subdesenvolvidos,
como é o caso do Brasil, onde, segundo estimativas do Instituto Nacional de
Câncer (Inca)1, há cerca de 16.370 novos casos por ano da doença. O principal
fator de risco para o desenvolvimento do câncer de colo do útero é a asso-
ciação da infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV), que pode
levar ao surgimento de lesões intraepiteliais cervicais2.
Normalmente a infecção pelo HPV inicia-se a partir de uma lesão curá-
vel e benigna na maioria dos casos. Logo, com a presença do vírus durante
vários anos, a infeção pode se tornar persistente, e isso irá depender do vírus
(tipo do HPV infectado) e dos fatores relacionados à mulher (fumo, uso de an-
ticoncepcionais, fatores genéticos, início da menarca, imunidade baixa, entre
outros). Além disso, o vírus do HPV que não está só relacionado a lesões no
colo uterino pode atingir tanto mulheres como homens e pode afetar outras
regiões do corpo (vulva, pênis, ânus, orofaringe e boca).
O rastreamento para o câncer de colo é realizado através da citologia
oncótica (Papanicolau) e da colposcopia, que são destinados a mulheres as-
sintomáticas com o objetivo de identificar as possíveis lesões e realizar o tra-
tamento adequado, a fim de evitar o surgimento do câncer de colo uterino.
Entretanto, muitas vezes, o rastreamento não é eficiente, devido ao manejo
inadequado de lesões intraepiteliais de mulheres que estão na faixa etária de
risco ou não têm acesso ao serviço de saúde de qualidade e informação a res-
peito da importância do exame, podendo levar ao aumento do risco de desen-
volvimento de câncer cervical.

a Instituto Aggeu Magalhães Fiocruz-PE. neila_carol0212@hotmail.com

- 64 -
Sabe-se que a resposta imunológica do hospedeiro é o elemento-cha-
ve para evitar que as lesões cervicais progridam para o câncer de colo do
útero por provocar a eliminação eficiente do vírus HPV. Entretanto, existem
vários mecanismos de escape da resposta imune criada pelos vírus que ga-
rantem sua replicação e sobrevivência. Diante disto, vemos a necessidade
e a importância de estudar os mecanismos celulares envolvidos na resposta
imune ante a infecção pelo HPV, a fim de entender como o vírus consegue
driblar o sistema de vigilância imunológico e levar à progressão de lesões
cervicais, formando tumores3.

REFERÊNCIAS

1. INCA Instituto Nacional de Câncer. Controle do câncer no colo de


útero. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_pro-
gramas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/
fatores_risco. Acesso em: 28 mar. 2019.

2. DE ALMEIDA, L. M. et al. Human Papillomavirus Genotype Dis-


tribution among Cervical Cancer Patients prior to Brazilian National HPV
Immunization Program. Journal of Environmental and Public Health, [s.
l.], v. 2017, 2017.

3. GRABOWSKA, A.K.; and RIEMER, A.B. The Invisible Enemy–


How Human Papillomaviruses Avoid Recognition and Clearance by the Host
Immune System. Open Virol Journal, v. 6, p. 249–256, 2012.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Neila Caroline Henrique da Silva, sou aluna de mestrado


do Programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde do
Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE). Sou bolsista pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é
sobre como o vírus do HPV consegue modificar a resposta imune levando à
progressão de lesões cervicais formando tumores.
Muitos imaginam que cientistas são aquelas pessoas muito inteligentes
que fazem vários experimentos sem sentido ou que ganham prêmios Nobel
como é mostrado nos filmes. Mas, na realidade, o cientista pode ser uma pes-
soa comum como eu e você que, diferentemente das pessoas que constituem

- 65 -
a sociedade, tentam descobrir algo novo que possa ser usado em prol de toda
uma comunidade.
Para mim, fazer ciência no Brasil me traz um misto de sentimentos, já
que em nosso país temos diversos Centros de Pesquisas, que trabalham com
os mais diversos temas e nas mais diversas áreas e desta forma conseguimos
alcançar novas descobertas que possam beneficiar a sociedade como um todo.
Para mim, fazer ciência é ter a satisfação de chegar aos ambulatórios e saber
que de alguma forma, direta ou indiretamente, através das minhas produções
científicas, estou contribuindo com a melhora da qualidade de vida de milha-
res de mulheres. Além da satisfação de poder contribuir no diagnóstico preco-
ce e poder proporcionar outras formas de diagnóstico mais específicos que não
são disponibilizados pelo SUS.
Entretanto, ao mesmo tempo que vemos diversas pesquisas que auxi-
liam a população brasileira, temos que retratar o outro lado da moeda, que
são todas as dificuldades e frustações que é fazer pesquisa neste país, onde,
por exemplo, para que se façam estudos para a descoberta de uma vacina, são
necessários anos de dedicação de toda uma equipe e principalmente é preciso
que tenha um alto investimento, e normalmente esse investimento é feito pe-
los órgãos de fomento que auxiliam para que as pesquisas sejam realizadas.
Nos últimos anos, temos convivido diariamente com a falta de investi-
mento e de infraestrutura, o que impede que possamos progredir e desenvol-
ver nossas pesquisas com qualidade. Além disso, vivemos com a falta de va-
lorização dos alunos de pós-graduação que são responsáveis por mais de 80%
das pesquisas realizadas no país. Por esses e outros motivos temos dificuldade
de conseguir continuar progredindo com a pesquisa no Brasil.

- 66 -
VÍRUS Zika: DA EPIDEMIA À SOLUÇÃO

Lucas Coêlho Bernardoa

INTRODUÇÃO AO TEMA

O zika é um vírus do gênero Flavivirus, que tem preocupado as equipes


de saúde e pesquisadores da área devido ao número de surtos registrados e
as manifestações clínicas causadas em pacientes infectados. Cerca de 80%
dos indivíduos infectados são portadores assintomáticos e que posteriormente
podem tornar-se sintomáticos, apresentando quadro febril, dores nas articu-
lações, dores de cabeça e manifestações cutâneas por um período de dias ou
algumas semanas1.
Em 2016 no Brasil, principalmente na região Nordeste, foram vistos
números crescentes de bebês recém-nascidos diagnosticados com doenças
neurológicas, principalmente, microcefalia congênita. Esses surtos foram re-
gistrados em locais considerados como áreas epidêmicas pelo vírus Zika, e,
consequentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mesmo an
o, declarou estado de emergência global2.
A partir do estudo publicado por Albuquerque (2018)3 viu-se que, em
amostras do líquido amniótico de gestantes que tiveram filhos diagnosticados
com microcefalia congênita, foram encontrados fragmentos de material ge-
nético e proteínas virais de zika, fortificando uma relação negativa entre a in-
fecção de zika e o desenvolvimento cerebral. Assim, a teoria é que a principal
causa da microcefalia congênita foi a infecção das mães dessas crianças pelo
vírus em alguma das fases de gestação.
Por ser uma arbovirose (vírus transmitidos por mosquitos-vetores)
tornou-se um agravante à saúde pública, e suas consequências despertaram
a preocupação dos profissionais da saúde e pesquisadores envolvidos em
alavancar esforços e traçar métodos para combater a problemática do vírus
e sua ampla distribuição.
a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Biologia Aplicada à Saúde. lu-
cascoelhobernardo.lb@gmail.com

- 67 -
REFERÊNCIAS

1. NUNES, M. L. et al. Microcephaly and Zika vírus: a clinical and ep-


idemiological analysis of the current outbreak in Brazil. Jornal de Pediatria,
v. 92, n. 3, p. 230-240, 2016.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária.


Boletim epidemiológico, v. 49, n. 31, 2018.

3. ALBUQUERQUE, M. F. P. M. et al. Epidemia de microcefalia e


vírus Zika: a construção do conhecimento em epidemiologia. Cadernos de
Saúde Pública, v. 34, p. 1-14, 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Lucas Coêlho Bernardo, sou aluno de mestrado no Pro-


grama de Pós-graduação em Biologia Aplicada à Saúde da Universidade Fe-
deral de Pernambuco (UFPE), orientado pelo professor Lucas André Caval-
canti Brandão. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior e a pesquisa que desenvolvo pretende estudar como o vírus
zika interage com o corpo humano, tentando compreender essa relação nega-
tiva para o hospedeiro a partir de processos das moléculas virais.
Interessantemente, quando fiz seleção de mestrado na UFPE nunca ima-
ginei trabalhar com pesquisas na área de Virologia, sendo assim uma grande
surpresa desafiadora. Quando me pedem para falar sobre alguma experiência
marcante, a primeira que vem à minha mente foi participar de um mutirão
com objetivo de coletar sangue de mães de crianças com microcefalia, numa
comunidade na Zona Norte da cidade de Recife. Após o contato com algumas
delas, vi que são guerreiras todos os dias, por enfrentar diferentes obstáculos
para cuidar de suas crianças (a maioria cadeirante, com menos de 10 anos de
idade, diagnosticadas com microcefalia ou paralisia cerebral), e que a batalha
inicia quando levantam logo cedo para cuidar de seus filhos (ou sobrinhos ou
netos), alimentando-se pouco e/ou se esquecendo da própria saúde.
Às vezes, grandes pesquisadores de laboratórios e/ou instituições de
ensino são excelentes profissionais de atuação. Mas acredito que o contato
com o público-alvo que você, pesquisador, tem como objetivo beneficiar, deve
existir em algum momento. A sensibilização ao próximo pode tornar-se um
fator estimulador ou solucionar algum problema tanto emocional quanto pro-
fissional, até porque somos humanos, não máquinas.

- 68 -
Muitos questionamentos ainda são feitos, muitas dúvidas ainda não fo-
ram esclarecidas. Ainda não sabemos com certeza o porquê das infecções pelo
vírus zika terem diminuído, ou o motivo pelo qual outras mães infectadas ti-
veram filhos sem qualquer tipo de síndrome neurológica. Portanto, a pesquisa
quanto à biologia da interação do vírus com o corpo humano deu seus primei-
ros passos nos últimos cinco anos, após os surtos que atingiram a América
do Sul. Seria uma resistência pelo sistema imunológico entre as populações?
Ou simplesmente houve um controle biológico contra os mosquitos-vetores?
E se outro surto acometer as regiões susceptíveis, quais as soluções? Essas
perguntas podem obter respostas se as pesquisas continuarem a existir, sen-
do financiadas por entidades privadas ou por meio de investimentos públicos
para comprar materiais, aprofundar nas tecnologias e ofertar bolsas de auxílio
aos estudantes de pós-graduação.

- 69 -
CARACTERIZAÇÃO DO GERMOPLASMA DE
Vigna spp.: UMA ABORDAGEM CITOGENÔMICA
COMPARATIVA

Fernanda de Oliveira Bustamantea


Ana Christina Brasileiro Vidalb

INTRODUÇÃO AO TEMA

O feijão-caupi (Vigna unguiculata), também denominado feijão macas-


sar ou feijão fradinho, é o ingrediente principal do arrumadinho, típico prato
da região Nordeste. É rico em nutrientes e fonte de proteínas, carboidratos,
vitaminas e minerais, além de apresentar boa digestibilidade quando compara-
do aos demais feijões. É o principal feijão cultivado e consumido nas regiões
Norte e Nordeste do País, com destacado valor socioeconômico, representan-
do um importante papel na geração de empregos e renda.1,2
Devido a sua grande relevância alimentícia e econômica, vários gru-
pos de pesquisa vêm estudando essa importante cultura. A exemplo do pro-
jeto genoma humano, que objetivou caracterizar todo o material genético
(DNA) da espécie humana, alguns desses grupos de pesquisa têm trabalhado
na caracterização do genoma do feijão-caupi3. Tais estudos são importantes
para determinar a localização de regiões responsáveis por características que
podem interferir, por exemplo, no aumento da produção ou na sua resistên-
cia a pragas e doenças.
Além disso, o estudo do genoma de uma espécie pode ser complemen-
tado por estudos citogenéticos, os quais permitem a localização precisa de
uma região de interesse nos cromossomos. Cada cromossomo, por sua vez,
é constituído por uma molécula de DNA (associada a proteínas e RNA), res-
ponsável pelas características de cada indivíduo.
Mesmo com a reconhecida importância dos feijões, ainda não há es-
tudos suficientes que caracterizem e comparem os diferentes feijões. Assim,

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. fobustamante@hot-


mail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. brasileirovidal.ac@
gmail.com

- 70 -
o nosso grupo de pesquisa estuda os cromossomos de diferentes feijões do
gênero Vigna. Nós identificamos regiões específicas nos cromossomos de
feijões, de forma que quando essas regiões estão presentes na espécie avalia-
da podem ser detectadas pela emissão de fluorescência em diferentes cores.
Dessa forma, podemos comparar diferentes espécies, detectar alte-
rações e assim realizar a caracterização citogenética das espécies, ou seja,
a caracterização do germoplasma de diferentes feijões por meio de análises
cromossômicas, servindo como referência para estudos futuros. Tais informa-
ções podem ser utilizadas como base para estudos de organização do genoma,
evolução e programas de melhoramento genético dessas espécies, que são de
grande importância socioeconômica, especialmente para a região Nordeste.

REFERÊNCIAS

1. FREIRE-FILHO, R. F.; RIBEIRO, V. Q.; ROCHA, M. D. R. et al.


Feijão-caupi no Brasil: Produção, melhoramento genético, avanços e desa-
fios. Teresina: Embrapa Meio Norte. 2011. p. 84.

2. ROCHA, M. M.; DAMASCENO E SILVA, K. J.; MENEZES JU-


NIOR, J. A. N. Cultivo de Feijão-Caupi – Importância econômica. 2017.
Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/
doc/1071700/1/SistemaProducaoCaupiCapituloImportanciaEconomica.pdf.
Acesso em: 29 set. 2019.

3. LONARDI, S.; MUÑOZ-AMATRIAÍN, M.; LIANG, Q. et al. The


genome of cowpea (Vigna unguiculata [L.] Walp.). The Plant Journal, v. 98,
p. 767-782, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Fernanda de Oliveira Bustamante, sou professora visitante


no Departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco, onde
atuo em colaboração com a professora Ana Christina Brasileiro Vidal, outros
parceiros da UFPE e colaboradores internacionais. Nossa pesquisa visa for-
necer informações sobre a relação de parentesco entre os feijões do gênero
Vigna e outros feijões proximamente relacionados, resultando em dados im-
portantes para programas de melhoramento, podendo, por exemplo, facilitar a
transferência de características de interesse entre as espécies avaliadas, além
de contribuir para outras pesquisas relacionadas.

- 71 -
Recentemente, estamos implementando a técnica de código de barras
por Oligo-FISH (Hibridização In Situ Fluoresecente por oligonucleotídeos).
Semelhantemente à identificação realizada em um supermercado, que detecta
cada item pelo seu código de barras, essa metodologia permite a identificação
individual de cada um dos 11 pares cromossômicos do feijão-caupi, os quais
são extremamente similares. Além disso, essa técnica pode ser aplicada aos
demais feijões e outras espécies proximamente relacionadas, de forma rápida
e eficiente, facilitando a obtenção de informações, caracterização e compara-
ção entre diferentes espécies.
Realizar pesquisa é algo extremamente gratificante para nós, pois obte-
mos informações inéditas que, aliadas às demais informações já disponíveis
sobre as espécies avaliadas, permitem o entendimento do todo. Nesse sentido,
a nossa pesquisa representa uma das peças de um quebra-cabeça, sem a qual
não é possível identificar a imagem completa. Além do mais, é muito gratifi-
cante poder contribuir para a formação de pessoas, nos níveis de graduação,
mestrado e doutorado. Por outro lado, a burocracia envolvida na compra de
materiais e equipamentos e a verba escassa disponibilizada para a realização
de pesquisa no Brasil dificultam e atrasam a obtenção de resultados. Apenas
com muita dedicação e criatividade é possível avançar.

- 72 -
ANÁLISE DE TRANSCRIPTÔMICA DO
PINHÃO-MANSO EXPOSTO AO ESTRESSE DE
SALINIDADE DO SOLO

Jorge Luís Bandeira da Silva Filhoa


Éderson Akio Kidob

INTRODUÇÃO AO TEMA

O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é uma planta da família Eu-


phorbiaceae, cujas sementes, responsáveis por 2/3 do peso do fruto, possuem
óleo vegetal com alta concentração de ácidos graxos insaturados, sendo es-
tes atrativos para a indústria de biocombustíveis. A exploração comercial do
pinhão-manso no Brasil é recente, com plantações com menos de duas décadas
de idade, sem cultivares melhorados para produção comercial em larga escala1.
A planta, no entanto, apresenta relativa tolerância ao estresse hídrico, podendo
ser cultivada em regiões áridas e semiáridas, porém, ela é relativamente sen-
sível à salinização dos solos.
Em áreas candidatas ao seu cultivo, em regiões semiáridas/áridas, de
baixa precipitação pluviométrica, os solos salinos e sódicos podem ocorrer
naturalmente, afetando o crescimento das plantas, e consequentemente as pro-
dutividades. Tal situação pode impedir o desenvolvimento rentável da espécie
em áreas do Nordeste.
Sendo organismos sésseis, as plantas precisam responder a este tipo
de condição ambiental, orquestrando seu maquinário genético, a fim de pro-
duzir proteínas, a partir de genes que confiram certo grau de adaptabilidade
à condição salina. Análises genômicas têm relevado complexas redes de re-
gulação destes genes, tendo participação de elementos regulatórios variados.
Uma classe especial destes reguladores atua indiretamente no DNA, sendo
denominados correguladores (CoREGs), ao controlar a expressão gênica, ati-
vando ou reprimindo genes, por mecanismos de interação entre proteínas, ou
restringindo/liberando o acesso a regiões do DNA2.
a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de pós-graduação em Ciências Biológicas. jorge-
08luis94@gmail.com.
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de pós-graduação em Ciências Biológicas. kido.
ufpe@gmail.com

- 73 -
A análise transcriptômica representa a manifestação global do conjunto
de genes de um genoma, em resposta a um estímulo, possibilitando a com-
paração de plantas diferentes (uma sensível e outra tolerante à salinidade).
Assim, é possível identificar e interpretar as respostas gênicas que conferem
ou não características desejáveis.
Assim, analisar a expressão gênica de genes CoREGs em plantas de pi-
nhão-manso, em condições de estresse salino, é importante para os programas
de melhoramento da espécie, pois podem contribuir para o desenvolvimento
de materiais tolerantes ao estresse em questão.

REFERÊNCIAS

1. CARELS, N. Jatropha curcas: a review. Advances in botanical re-


search, v. 50, p. 39-86, 2009.

2. FANG, H. et al. Expression analysis of histone acetyltransferases in


rice under drought stress. Biochemical and biophysical research communi-
cations, v. 443, n. 2, p. 400-405, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Jorge Luís Bandeira da Silva Filho, sou mestrando do


Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Pernambuco, sob orientação do professor Dr. Éderson Akio Kido, e bolsista
pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe).
Minha pesquisa se relaciona com a transcriptômica dos genes correguladores
em pinhão-manso sob estresse salino.
Atualmente, produzir pesquisa nas áreas ligadas ao setor agrícola é in-
teressante, devido à posição regional e mundial do Brasil, como potência no
setor. O desenvolvimento de pesquisas, que visam à melhoria ou ao desen-
volvimento de culturas com potencial econômico, é benquisto. As informa-
ções descobertas ao longo da pesquisa são sempre motivadoras, podendo ser
inéditas e com potencial de retorno econômico à sociedade, especialmente ao
produtor rural, principal motivador da pesquisa.
Apesar da euforia de se descobrir e compreender informações importan-
tes para o melhoramento, no caso do pinhão-manso, existem também certas
frustrações, por exemplo, os recursos limitados para se fazer algum tipo de aná-
lise ou experimento, que poderiam produzir informações ainda mais relevantes.
Desta forma, algumas vezes informações valiosas acabam se perdendo.

- 74 -
Nesta pesquisa, análises de bioinformática identificaram grupos de ge-
nes CoREGs, que estariam envolvidos na resposta ao estresse salino. Estes
grupos (famílias AUX/IAA, Jumonji e PHD) atuam, principalmente, desati-
vando a expressão de outros genes na planta de pinhão-manso, e que não
seriam necessários naquele momento, na resposta ao sal. O grupo AUX/IAA
merece ainda destaque pela influência direta na distribuição de proteínas Au-
xinas, as quais atuam no desenvolvimento e arquitetura das raízes. Cresci-
mento de raízes é um fenômeno importante na adaptação da planta ao estresse
salino, visando a uma melhor captação de água no solo.
Assim, os benefícios que trabalhos como este podem levar ao seu pú-
blico-alvo resultam em uma cultura melhorada, capaz de resistir melhor a in-
tempéries do ambiente, principalmente no Nordeste, região reconhecidamente
castigada pela seca e vulnerável à salinização dos solos.
A exploração do pinhão-manso como produtor de óleo vegetal para pro-
dução de biocombustíveis, através de plantas mais tolerantes, significa melhor
produção, menor perda, e maior lucro, traduzindo em melhoria econômica,
em desenvolvimento regional e nacional.

- 75 -
EXPRESSÃO DE GENES OSMOPROTETORES
EM PINHÃO-MANSO SOB ESTRESSE SALINO

Elvia Jéssica da Silva Oliveiraa


Éderson Akio Kidob

INTRODUÇÃO AO TEMA

O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é uma planta lenhosa pertencente


à família Euphorbiaceae. Esta planta é adaptada facilmente ao solo árido,
além de possuir alto teor de óleo em suas sementes, o que significa que elas
podem ser utilizadas como fonte de biocombustível, tornando-se atraentes por
produzir uma fonte de combustível renovável. O pinhão-manso apresenta to-
lerância a vários estresses, incluindo seca. No entanto, não suporta bem1 o
estresse salino.
A salinidade pode ser causada tanto por agentes naturais quanto por
ações antrópicas, e ela produz efeitos negativos na fotossíntese, diminuindo
a fixação do CO2, e ocasionando um menor crescimento. Este estresse é co-
mumente associado com o aumento da fotorrespiração. Como consequência,
são afetados o balanço da absorção da luz, o transporte de elétrons dentro das
membranas dos tilacoídes, e a redução das reações do ciclo de Calvin-Benson2.
A salinidade pode também causar conflitos em nutrientes, por competição com
nutrientes essenciais. Assim, a limitação ao crescimento e desenvolvimento da
planta pode ser consequência de efeitos osmóticos (seca fisiológica), ou de
toxidez de íons (pela absorção excessiva de Na+ e Cl-) ou decorrentes de dese-
quilíbrios nutricionais, na absorção e distribuição dos nutrientes3.
Em resposta ao estresse salino e à seca, as plantas possuem estratégias
que se ajustam osmoticamente, como o acúmulo de osmoprotetores (osmóli-
tos orgânicos ou solutos compatíveis) que envolve mudanças em nível morfo-
lógico, fisiológico e molecular. A planta aumenta a produção desses osmopro-

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. elviajessica@hot-


mail.com.
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Genética. kido.ufpe@gmail.com.

- 76 -
tetores e regula a homeostase de nutrientes ao nível celular, funcionando como
mecanismo de defesa contra estresses salino e seca. Estes osmoprotetores,
provavelmente universais, regulam o ajustamento osmótico celular, minimi-
zando danos causados por espécies reativas de oxigênio (ROS), prevenindo
prejuízos às membranas e proteínas4. Os osmoprotetores preservam o apare-
lho celular dos prejuízos da desidratação, e ao mesmo tempo não interferem
nos processos metabólicos normais.

REFERÊNCIAS

1. DÍAZ-LÓPEZ, L. et al. The tolerance of Jatropha curcas seedlings


to NaCl: an ecophysiological analysis. Plant physiology and biochemistry,
v. 54, p. 34-42, 2012.

2.DEINLEIN, U. et al. Plant salt-tolerance mechanisms. Trends in


Plant Science, v.19, p. 371–379, 2014.

3.MUNNS, R. Comparative physiology of salt and water stress. Plant,


Cell & Environment, v. 25, p. 239-250. 2002.

4. GALVANI, A. The challenge of the food sufficiency through salt


tolerant crops. Reviws in Environmental Science and Biotechnology, v. 6,
p. 3–16, 2007.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Elvia Jéssica da Silva Oliveira, sou aluna de doutorado


do Programa de pós-graduação em Genética da Universidade Federal de Per-
nambuco, orientada pelo professor Dr. Éderson Akio Kido. Sou bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e mi-
nha pesquisa é sobre a Expressão de Genes Osmoprotetores em Pinhão-manso
(Jatropha curcas L.) sob Estresse Salino. Essa pesquisa propõe identificar ge-
nes que atuam em vias metabólicas relacionadas com a síntese de osmopro-
tetores quando a planta pinhão-manso está sob estresse salino. Esses genes
podem ser úteis para desenvolver plantas tolerantes à salinidade.
A pesquisa no Brasil na área vegetal é essencial para obter informações
relacionadas ao potencial que cada planta tem para ser utilizada como fonte
de recurso natural renovável, como é o caso do pinhão-manso, uma planta en-
contrada no território brasileiro, em regiões semiáridas, e que tem alto poten-

- 77 -
cial para produção de biocombustível, sendo relativamente tolerante à seca,
porém, sensível à salinidade. Visto que há mecanismos que atuam ajustando
as atividades metabólicas da planta sob estresse, para se conhecer e enten-
der esses mecanismos de defesa é preciso aprofundar-se no tema. E isso só é
possível através da pesquisa baseada em experimentos e em análises labora-
toriais realizadas, principalmente, por discentes. A capacidade de realizar es-
tudos assim contribui para o conhecimento intelectual de nós, pesquisadores,
proporcionando experiências únicas. Fazer pesquisa vai além das descobertas
científicas, é também compartilhar vivências, discuti-las e aprender com os
erros, para se aprimorar cada dia mais.
O maior desafio é conseguir responder à pergunta proposta na pesquisa,
verificando se as hipóteses esperadas serão confirmadas. Com isso se iniciam
os desafios secundários, comuns a todos os pesquisadores, a quantidade limi-
tada e/ou às vezes insuficiente de material. Outro entrave são o armazenamen-
to, manipulação e discussão de grandes quantidades de dados, bem como a
administração do tempo, para cumprir o cronograma sugerido.
O Brasil é um país rico em recursos naturais renováveis e poder
utilizá-los de forma consciente é importante para a preservação do meio am-
biente, por isso o uso de biocombustíveis é considerado vantajoso, por possuir
menor índice de poluição com a sua queima e processamento; e se podem ser
cultivados são, portanto, renováveis. Então, entender o papel dos mecanismos
moleculares e fisiológicos do pinhão-manso fornece dados promissores para
posteriores pesquisas aplicadas ao melhoramento genético dessa planta.

- 78 -
ECOLOGIA
DIVERSIDADE E ECOLOGIA DE SAMAMBAIAS
E LICÓFITAS NO NORDESTE BRASILEIRO

Rafael de Paiva Fariasa

INTRODUÇÃO AO TEMA

As samambaias e licófitas, anteriormente denominadas “Pteridófitas”,


representam pouco mais de 10.000 espécies vegetais, com ampla distribui-
ção mundial, especialmente nas Florestas Tropicais úmidas, em habitats som-
breados e úmidos. O Brasil é um dos países que abriga alta diversidade de
samambaias e licófitas, com cerca de 1.250 espécies1. A maior parte dessa
diversidade é registrada na Floresta Atlântica (883 espécies), onde também há
mais espécies endêmicas e ameaçadas.
A Amazônia registra a segunda maior diversidade (503 espécies) de
samambaias e licófitas, seguida por Cerrado (269 espécies), Pantanal (30 es-
pécies), Caatinga (26 espécies) e Pampa (oito espécies)1. A diversidade de
samambaias e licófitas no Nordeste brasileiro é de aproximadamente 502
espécies, número este menor que aquele registrado no Sudeste (841 espé-
cies), Sul (576 espécies) e Norte (547 espécies), e maior ao registrada no
Centro-Oeste (394 espécies)1.
Comumente, as samambaias e licófitas são admiradas e utilizadas como
plantas ornamentais, remetendo a alguns uma saudosa lembrança da casa dos
pais e/ou avós. Entretanto, além da beleza em sua variedade de formas e cores,
as samambaias e licófitas exercem papel ecológico importante em seus habi-
tats, bem como possuem importância econômica em diversas localidades do
mundo. Algumas espécies de samambaias e licófitas por exemplo podem ser
utilizadas na alimentação (consumo de báculos; i.e. folhas jovens, principal-
mente em países asiáticos; no Brasil, destaque para o estado de Minas Gerais);
como medicamentos; e na agricultura, com destaque para o uso da samambaia

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal. rafaelpfarias@


hotmail.com

- 80 -
Azolla Lam., fixadora de nitrogênio e inserida em plantações de arroz, princi-
palmente na Ásia2.
Ecologicamente, as samambaias e licófitas participam efetivamente na
manutenção da umidade florestal, favorecendo os processos de desenvolvi-
mento e estabelecimento de outros grupos vegetais e animais, necessários ao
equilíbrio ecológico do ambiente. Algumas espécies possuem a habilidade
de remover compostos tóxicos, evidenciando uma importante função das sa-
mambaias no processo de conservação e restauração ambiental. Além disso,
algumas samambaias possibilitam a indicação de tipos de solo e ambientes
perturbados, mensurando o nível de conservação destes e, portanto, sendo im-
portantes em estudos de monitoramento ambiental2.

REFERÊNCIAS

1. PRADO et al. Diversity of ferns and lycophytes in Brazil. Rodrigué-


sia, v. 66, n. 4, p. 1073-1083, 2015.

2. SHARPE, J.M.; MEHLTRETER, K.; WALKER, L.R. 2010. Eco-


logical importance of ferns. In: MEHLTRETER, K.; WALKER, L.R.;
SHARPE, J.M. (Eds.). Fern Ecology. Cambridge University Press, Ney
York. 2010. p. 1-21.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Rafael de Paiva Farias, sou pós-doutorando do Programa


de Pós-graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Pernam-
buco. Sou bolsista pela Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e minha pesquisa é sobre a diversidade e ecologia das
samambaias e licófitas em diferentes perspectivas, apresentadas a seguir. (1)
Pesquisas de inventários florísticos de samambaias e licófitas, os quais per-
mitem reconhecer áreas florestais que detêm maior número de espécies, atu-
alizam os padrões biogeográficos das espécies ou indicam novos registros de
espécies, representando informações fundamentais para vários estudos bioló-
gicos e estratégias futuras de conservação. (2) Pesquisas acerca da fenologia
das samambaias, isto é, das suas respostas de crescimento, desenvolvimento
e reprodução em relação ao clima (e.g. pluviosidade, temperatura, umidade
relativa do ar), constituindo o conhecimento básico para manejo de espécies,
bem como, de reconhecimento de “sinalizadores” para futuras mudanças cli-
máticas, dada a forte dependência das samambaias ao clima. (3) Pesquisas

- 81 -
acerca das interações de samambaias e herbívoros, as quais têm mostrado
que esse grupo de plantas possuem um número expressivo de interações, es-
pecialmente com insetos, mesmo sem flores e frutos, estruturas presentes nas
dominantes angiospermas e que coevoluíram com os insetos. As samambaias,
por exemplo, podem hospedar insetos galhadores, que em sua maioria são es-
pecializados às plantas hospedeiras, e podem também serem consumidas por
lagartas e formigas cortadeiras. Adicionalmente, as pesquisas têm demonstra-
do que samambaias expressam múltiplos traços de defesas contra herbívoros.
Algumas espécies possuem defesas físicas (exemplo tricomas) e baixa qua-
lidade nutricional (nitrogênio e fósforo). As samambaias possuem um forte
“arsenal” de defesas químicas. (4) Estudos de atividade antibacteriana e anti-
fúngica utilizando a “arsenal” químico das samambaias, que têm demonstrado
ser efetivo contra diferentes tipos de bactérias e fungos. Em síntese, as minhas
pesquisas possibilitam uma melhor compreensão ao mundo natural e como
esse deverá ser conservado para usos diversos da sociedade, a exemplo da
busca de substâncias químicas para diversas finalidades.
Atualmente, meu sentimento é de contrastes com o fazer pesquisa no
Brasil, se por um lado cada vez mais me consolido como um recurso humano
que produz informações importantes na área de pesquisa apresentada acima,
por outro lado, tenho uma incerteza sobre minha fixação como Pesquisador/
Professor em Universidades públicas ou Institutos de Pesquisa. Mais difícil
ainda é saber que essa incerteza faz parte de uma geração de recém-doutores
nas mais diversas áreas da ciência no Brasil. Portanto, há o risco iminente de
a atual geração não ser aproveitada em sua maioria, representando a ruptura
para várias pesquisas.

- 82 -
ANATOMIA VEGETAL COMO FERRAMENTA PARA
COMPREENDER QUESTÕES ECOLÓGICAS

Emilia Cristina Pereira de Arrudaa


Lucas da Penha Xavierb

INTRODUÇÃO

A Anatomia Vegetal é uma tradicional área da botânica que estuda as


células e tecidos das plantas e tem se mostrado uma ferramenta versátil para
estudos ecológicos, uma vez que pode ajudar a prevenir danos severos ou
mesmo irreversíveis às espécies vegetais, já que é possível diagnosticar pro-
blemas locais em nível celular e de tecido e propor soluções para estes, evitan-
do, assim, efeitos sistêmicos. Embora esta área apresente tamanha relevância,
o cenário atual é um tanto quanto desfavorável no que diz respeito à execução
de pesquisas, sobretudo, as avançadas, uma vez que, mesmo para realização
das mais simples técnicas anatômicas, é necessário um aparato laboratorial
que inclui reagentes e equipamentos, o que acaba inviabilizando o andamento
das pesquisas na área quando os recursos financeiros se tornam escassos.
Dentre os principais estudos de ecologia vegetal cuja anatomia vem
sendo aplicada de forma eficiente, é possível citar estudos na Caatinga, cujo
ambiente apresenta como principais desafios para as plantas o déficit hídri-
co, ou seja, a escassez de água, e a elevada incidência de raios ultravioleta
(UV), fatores fortemente afetados pelas mudanças climáticas1. Tais mudanças
podem ocasionar níveis severos de evapotranspiração (perda de água de um
ecossistema para a atmosfera) que podem comprometer o desenvolvimento da
planta e, em casos extremos, levar a sua morte.
Nesse contexto, a anatomia vegetal tem contribuído com a compreen-
são das estruturas morfoanatômicas que podem auxiliar as plantas a driblarem
esses efeitos danosos, como: estômatos, tricomas, cutícula e tecidos armaze-
nadores de substâncias2.
a Universidade Federal de Pernambuco e Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal. emilia_arru-
da@yahoo.com.br
b Universidade Federal de Pernambuco e Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal. lucas.penha.
xavier@hotmail.com

- 83 -
A anatomia vegetal também tem sido utilizada para estudos com es-
pécies de manguezais, que constituem um ecossistema costeiro de transição
caracterizado, dentre outros aspectos, pela vegetação heterogênea e elevada
salinidade. Esses ecossistemas são responsáveis pela subsistência de muitas
comunidades ribeirinhas e vêm sendo amplamente afetados pela ação antrópi-
ca, que tem alterado, consideravelmente, a sua dinâmica.
Estudos anatômicos têm contribuído para a compreensão de adaptações
das plantas à salinidade, bem como para entender as respostas delas antropiza-
ção, sobretudo, quanto à introdução dos metais pesados. Algumas das respos-
tas morfoanatômicas das plantas a tais condições incluem ajustes em tecidos
como a epiderme, o mesofilo e ao sistema vascular, além de síntese e armaze-
namento de compostos fenólicos e outros componentes químicos usados para
a defesa das espécies vegetais, bem como o armazenamento dos metais em
compartimentos celulares como vacúolo, por exemplo3.

REFERÊNCIAS

1. REIS, A. C. Clima da caatinga. Anais da Academia Brasileira de


Ciências, n. 48, p. 325-335, 1976.

2. LEWIS, M.C. The physiological significance of variation in leaf


structure. Science Progress, Oxford, v. 60, p. 25-51, 1972.

3. SILVA, J. M. et al. Caracterização anatômica e perfis químicos de


folhas de Avicennia schaueriana Stapf. & Leech. Ex Moldenke e Rhizophora
mangle L. de manguezais impactados e não impactados do litoral paulista.
INSULA Revista de Botânica, v. 39, p. 14, 2010.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou a Dra. Emília Cristina Pereira de Arruda, lotada no Departamento


de Botânica do Centro de Biociências da Universidade Federal de Pernambu-
co desde 18 de janeiro de 2011. Sou docente do Programa de Pós-graduação
em Biologia Vegetal, bem como dos cursos de graduação em Licenciatura em
Ciências Biológicas, Bacharelado em Ciências Biológicas e Bacharelado em
Ciências Biológicas/ênfase ambientais. Além disso, coordeno o Laboratório
multiusuário de Anatomia Vegetal (LAVeg), onde, foram/são desenvolvidas
pesquisas incluindo trabalhos de conclusão de curso, projetos de Iniciação
Científica, Dissertações e Teses, com temas sobre estratégias e ajustes de es-

- 84 -
truturas morfoanatômicas de diferentes espécies de plantas superiores ocor-
rentes em ecossistemas como manguezais, Mata Atlântica e Caatinga com
abordagens evolutivas, taxonômicas e, sobretudo, ecológicas.
No momento, diante da escassez de recursos que tem afetado negativa-
mente a pesquisa brasileira, o LAVeg vem estabelecendo parcerias com outras
instituições, como o Laboratório de Imunopatogia Keizo Asami (LIKA), Uni-
versidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), para manutenção do desenvolvimento dos projetos atuais e conti-
nuidades e, consequentemente, das linhas de pesquisas na área.
Mesmo diante dos obstáculos impostos à ciência na atualidade, o Labo-
ratório de Anatomia Vegetal da UFPE tem contribuído de forma considerável
com a ciência e a sociedade brasileira tanto no cenário regional quanto no
nacional. No que diz respeito à Caatinga, o LAVeg tem revelado importan-
tes dados acerca da dinâmica de espécies vegetais de famílias altamente re-
presentativas para o ecossistema como Cactaceae, Fabaceae e Bromeliaceae
ante o cenário das mudanças climáticas atuais e suas previsões futuras. Nesse
contexto, as pesquisas desenvolvidas no LAVeg têm ajudado a entender como
essas plantas conseguem sobreviver a condições de déficit hídrico e elevadas
incidências de raios UV utilizando características morfoanatômicas.
Outros resultados incluem a compreensão do comportamento de espé-
cies aquáticas, através das respostas das plantas à ação antrópica em ambientes
de manguezal as quais são fundamentais para auxiliar nas projeções futuras
quanto à determinação de espécies bioindicadoras de condições ambientais,
bem como o seu biomonitoramento, que podem contribuir com a conservação
desse ecossistema.
O LAVeg atua ainda em projetos didáticos como a elaboração de la-
minário e modelos para disciplinas de graduação e exposições didáticas para
escolas, universidades e outras instituições de ensino com viés extensionista,
que visam, acima de tudo, traduzir para a sociedade de forma clara e simples
a importância e função desta tradicional área da botânica.
E é dessa forma que o LAVeg segue na luta a favor da ciência brasileira,
mesmo com escassez de recursos, adaptação de protocolos e buscando parce-
rias, este laboratório resiste para manter suas linhas de pesquisa em evidência
ante as adversidades que põem em risco a academia no Brasil!

- 85 -
FISIOPATOLOGIA
MECANISMOS GLUTAMATÉRGICOS ASTROCÍTICOS
ESTÃO PREJUDICADOS NO BULBO DE RATOS COM
HIPERTENSÃO RENOVASCULAR

Atalia Ferreira de Lima Flôra


Josiane de Campos Cruzb

COMO SE INICIA A HIPEIRTENSÃO NO CÉREBRO?

A hipertensão é uma doença silenciosa, caracterizada pela elevação crô-


nica e persistente da pressão arterial. O perigo da hipertensão é que seu desen-
volvimento é complexo, multifatorial e leva à alteração do funcionamento de
vários órgãos, principalmente dos rins, do coração, das glândulas endócrinas
e do cérebro. As pesquisas na área mostram que este último, o cérebro, parece
ser a chave do estabelecimento da hipertensão, porque quando sofre mudanças
começa a controlar de maneira desequilibrada todos os outros órgãos.
O que muitas pessoas não sabem é que, embora a hipertensão seja mui-
to comum no mundo e já haja inclusive medicamentos para tratá-la, ainda não
se sabe muito do básico: como se inicia a hipertensão no cérebro.
O que sabemos é que existem algumas regiões cerebrais muito im-
portantes chamadas “Hipotálamo e Bulbo” que controlam a pressão arterial.
O Hipotálamo e o Bulbo mantêm a pressão arterial nos níveis certos e compa-
tíveis com a vida, mas quando a hipertensão se inicia no cérebro a atividade
dessas regiões muda, elas acumulam neurotransmissores excitatórios (como o
glutamato) e ficam superativadas. Isto é muito perigoso, porque a superativa-
ção delas também leva à superativação de muitos órgãos causando, por exem-
plo, aumento da liberação de adrenalina, dos batimentos cardíacos, da pressão
nas artérias, na liberação de outros hormônios hipertensivos.
A parte interessante desse quebra-cabeça é que trabalhos recentes estão
sugerindo que não apenas neurônios, mas outras células chamadas “Astrócitos”
podem participar dessa superativação no hipotálamo e bulbo, mas não se sabe

a Universidade Federal da Paraíba e Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas.


bioatalia@gmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba e Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas.
josianecruz@cbiotec.ufpb.br.

- 87 -
ao certo como. Estes astrócitos são considerados o tipo mais comum de células
da glia, mais populosas do cérebro inteiro. Existem 50 vezes mais células da
glia no cérebro do que neurônios e elas têm importantes funções no desenvol-
vimento, na estrutura, no metabolismo, na sinalização e na proteção do cérebro.
Pesquisas com ratos feitas pelo grupo de Nephtali Marina (2016)1 mos-
traram diversos indícios de que as células da glia do bulbo, especialmente os
astrócitos, estão associadas com o desenvolvimento de doenças cardiovascula-
res como a hipertensão e a insuficiência cardíaca crônica. Mas como a glia, em
especial os astrócitos, podem levar à superativação do hipotálamo e bulbo para
gerar a hipertensão? Essa é a questão a que a nossa pesquisa procura responder.
De maneira inédita, nós vimos que as células da glia contribuem para
a redução/normalização da pressão arterial dos ratos2. Então nós suspeitamos
que ‘se os astrócitos contribuem para reduzir/normalizar a pressão arterial,
talvez na hipertensão eles não estejam funcionando corretamente’.
Pensamos: - De que forma os astrócitos podem reduzir a ativação dessas
áreas, para reduzir a pressão arterial? Talvez reduzindo a concentração de gluta-
mato. Veja só, se normalmente os astrócitos reduzem o glutamato nessas áreas,
é possível que o glutamato aumentado na hipertensão seja devido ao mau fun-
cionamento dos astrócitos. Opa! Parece que finalmente conduzimos você a nos-
sa hipótese. Além disso, vimos que há uma molécula aumentada na hipertensão
chamada Angiotensina II, que impede a redução de glutamato pelos astrócitos2.
Por isso, também estamos vendo se a inibição da Angiotensina II restaura esta
disfunção e reduz a superativação do bulbo em ratos hipertensos.

REFERÊNCIAS

1. MARINA, N.; TESCHEMACHER, A.G.; KASPAROV, S.; GOU-


RINE, A.V. Glia, sympathetic activity and cardiovascular disease. Experi-
mental Physiology, v. 101, n. 5, p. 565–576, 2016.

2. FLÔR, A.F.L.; BRITO ALVES, J.L.; FRANÇA-SILVA, M.S.; BALA-


RINI, C.M.; ELIAS, L.L.K.; RUGINSK, S.G.; ANTUNES-RODRIGUES, J.;
BRAGA, V.A.; CRUZ, J.C. Glial Cells Are Involved in ANG-II-Induced Va-
sopressin Release and Sodium Intake in Awake Rats. Frontiers in Physiolo-
gy, v. 9, n. 430, 2018.

- 88 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Olá, eu sou Atalia Flôr. Aluna de doutorado do Programa Multicên-


trico de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal
da Paraíba, orientada pela professora Josiane de Campos Cruz. Sou bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Ca-
pes) e minha pesquisa é de Ciência Básica, porque investiga se as células
da glia do bulbo, em especial os astrócitos, têm disfunção da captação de
glutamato durante a hipertensão.
Poucos trabalhos investigam mecanismos centrais envolvidos em pato-
logias aqui no país, porque para isso são necessários equipamentos extrema-
mente caros e, muitas vezes, importados. Por exemplo, para realização desta
pesquisa, em especial, são necessários animais experimentais, drogas impor-
tadas, instrumentos cirúrgicos, aparelhos computadorizados para monitora-
mento da pressão arterial, os mais diversos tipos de insumos descartáveis la-
boratoriais, equipamentos de médio e grande porte especializados em biologia
molecular, entre outros. E o mais importante, mão de obra especializada em
diferentes técnicas e experiência em leitura e discussão científica. Não é fá-
cil, nem rápido conseguir estas atribuições profissionais. Demanda abdicação,
tempo e muito esforço, além de paixão pela pesquisa. Nossa felicidade está
em adicionar conhecimento inédito à ciência e possibilitar um futuro melhor.
Absolutamente tudo que há na sociedade nasceu de um conhecimento
básico, uma ciência básica. Na minha área, esta ciência contribui para salvar
vidas com a formulação de medicamentos, terapias, kits para diagnósticos de
doenças cardiovasculares, marca-passo, stents, próteses para válvulas do co-
ração, entre outras coisas. Por isso, pesquisas de ciência básica são tão impor-
tantes. Embora o trabalho científico exija muito e em muitos sentidos, o maior
entrave que temos hoje é a falta de recursos públicos para continuar.
Além disso, há pesquisadores de pós-graduação que ainda participam
de outros projetos. Eu, por exemplo, ainda desenvolvo três outras pesquisas
diferentes, como: 1) Qual o segredo da longevidade? 2) Uso de novos trata-
mentos para a insuficiência cardíaca na menopausa; e 3) Por que hiperten-
sos são mais sensíveis ao sal? Por isso, precisamos encontrar mais meios de
divulgar e de conhecer a importância da pesquisa científica brasileira que nós
fazemos para melhorar os diversos problemas da sociedade.

- 89 -
CARACTERIZAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DE
PEÇONHAS DO GÊNERO Bothrops

Ilanna Chrisley Pinheiro Barrocaa


Matheus Fernandes de Freitas Pedrosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os acidentes ofídicos são considerados um grave problema de saúde


pública em países tropicais, principalmente naqueles com serviços de saúde
deficientes. Desde 1995, o registro de acidentes ofídicos se tornou um agravo
de notificação compulsória no Brasil1, no entanto, os números reportados po-
dem ser considerados subnotificados2. Levando em conta a frequência, mor-
talidade e morbidade atribuídos a esses episódios, a Organização Mundial de
Saúde (OMS), desde 2009, incluiu os acidentes ofídicos na lista de doenças
tropicais negligenciadas3.
No Brasil, dados do Sistema de Informação de Agravos e Notificação
(Sinan) registraram, entre 2004 e 2016, 202.288 casos de ofidismo, dentre
os quais 752 evoluíram para o óbito da vítima, conferindo uma letalidade
de 0,37% aos acidentes ofídicos, nesse período2. Dentre os casos de envene-
namento por serpentes peçonhentas, 90% são provocados por serpentes do
gênero Bothrops, o que torna esse gênero de interesse médico5.
A sintomatologia dos acidentes botrópicos é caracterizada por altera-
ções em nível local e sistêmico. Tais alterações estão relacionadas à complexa
composição das peçonhas, que afetam a homeostasia do organismo dos indiví-
duos e desencadeiam o quadro inflamatório clássico que pode levar à lesão do
tecido, o que ressalta a complexidade da fisiopatologia do envenenamento2,5.
Em nível local, as manifestações clínicas mais comuns apresentadas
pelos pacientes acometidos por acidentes botrópicos são perda tecidual decor-
rente da inflamação local, dor e edema desencadeados pelas enzimas proteolí-
a Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica (Tecbiofar), Departamento de Farmácia, Fa-
culdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. ilannacpb@gmail.com
b Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica (Tecbiofar), Departamento de Farmácia, Fa-
culdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. mffpedrosa@gmail.com

- 90 -
ticas presentes na peçonha. Tal dano pode evoluir para necrose, cuja extensão
pode variar dependendo de fatores como a demora para administrar a sorote-
rapia antiveneno e o manejo inadequado da lesão formada no local da picada,
empregando intervenções populares, como o uso de torniquetes5. Em média,
cerca de 1.000 pacientes sofrem sequelas relacionadas às complicações locais
destacadas, anualmente, devido aos fatores supracitados1.
Além disso, algumas toxinas presentes na peçonha podem provocar
distúrbios na circulação sanguínea, provocando hemorragia local e sistê-
mica, e desordens na hemostasia. Esse mecanismo tem grande impacto nos
distúrbios sistêmicos, desencadeados por meio da ação sinérgica de diver-
sas toxinas, que causam perda da integridade e morte celular, obstrução na
circulação e vasodilatação, que podem levar à hipotensão e comprometer o
fornecimento de sangue para vários órgãos. Isso afeta órgãos vitais como os
rins, gerando insuficiência renal aguda pela hipoperfusão e dano ao tecido
renal; e como o coração, uma vez que o baixo suprimento de sangue pode
promover falência cardíaca3,5.
A peçonha é composta de uma mistura bioquímica complexa com pre-
dominância proteica, apresentando toxinas que agem em diversos alvos fisio-
lógicos. Considerando a variabilidade que tem sido descrita na composição
proteica e atividades funcionais de peçonhas ofídicas, é pertinente afirmar que
pode haver diferenças nas manifestações sintomatológicas, gerando, assim,
quadros clínicos de complexidades distintas2. Por isso, é de extrema importân-
cia a caracterização das peçonhas ofídicas quanto às suas ações fisiopatológi-
cas, uma vez que essa compreensão pode dar subsídio ao manejo clínico para
promover um tratamento complementar à soroterapia disponível, reduzindo o
acontecimento de sequelas.

REFERÊNCIAS
1. SILVA, J. F. Efeito inibitório do decocto das folhas de Jatropha
gossypiifolia L. contra a toxicidade local e sistêmica da peçonha da ser-
pente Bothrops erythromelas. 2018. 278f. Tese (Doutorado em Bioquími-
ca) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2018.

2. ALBUQUERQUE, P. L. M. M. Novos biomarcadores de lesão re-


nal aguda em envenenamento humano por serpentes do gênero Bothrops.
2019. 155 f. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) - Faculdade de Medicina,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019.

3. NAUMANN, G. B. Alterações cardiovasculares induzidas pela


peçonha da serpente Bothrops leucurus. 2018. 123f. Tese (Doutorado em
Ciências Fisiológicas) – Departamento de Ciências Fisiológicas, Universida-
de Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.

- 91 -
5. NORÕES, T. B. S. Efeitos renais promovidos pelo veneno da ser-
pente Bothrops atrox e liberação sistêmica de óxido nítrico. 2009. 85 f.
Dissertação (Mestrado em Farmacologia) - Faculdade de Medicina, Universi-
dade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Ilanna Chrisley, sou aluna de iniciação científica do Labora-


tório de Biotecnologia Farmacêutica da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, orientada pelo professor Matheus Fernandes de Freitas Pedrosa. Minha
pesquisa é sobre a caracterização fisiopatológica de peçonhas de serpentes do
gênero Bothrops. Como já destacado na introdução, o estudo da fisiopatologia
do envenenamento permite uma melhor compreensão sobre os mecanismos mo-
leculares envolvidos na toxicidade do veneno. Conhecer o veneno não apenas
nos permite que entendamos sua ação no organismo, como também contribui
para a implementação de uma melhoria na terapia antiveneno disponível atual-
mente, priorizando a diminuição de sequelas para os pacientes.
Tal estudo é importante para a sociedade porque a maioria das vítimas
acometidas pelo envenenamento botrópico são moradores da zona rural, que
tem pobre acesso a serviços de saúde que disponibilizam o soro. Como afetam
principalmente agricultores de baixa renda, além de afetar a saúde, esses aci-
dentes podem impactar social e economicamente as vítimas, uma vez que as
sequelas da picada podem diminuir a produtividade dos trabalhadores e afetar
suas fontes de renda. A negligência desse problema de saúde pública apenas
aprofunda o quadro de pobreza e desigualdade social que afeta muitos países
tropicais subdesenvolvidos.

- 92 -
FARMACOLOGIA
A DIFERENÇA ENTRE O VENENO E
O REMÉDIO É A DOSE?

Matheus Cavalcanti de Barrosa


Patrícia Maria Guedes Paivab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A relação dos seres humanos com as plantas acompanha toda a nossa


trajetória até os dias de hoje, uma vez que delas é possível obter, dentre outros
elementos, alimentos, abrigo, armas, combustível e ferramentas essenciais
para o combate de doenças.
Nesse contexto, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), as plantas medicinais são aquelas que possuem na sua constituição
substâncias que podem ser utilizadas para fins terapêuticos¹. Para se ter uma
ideia da importância dessas plantas, 80% da população dos países em desen-
volvimento utilizam práticas tradicionais nos seus cuidados básicos de saúde,
e 85% dessas pessoas utilizam plantas ou preparações².
Quem nunca tomou um chá de boldo (Pneumus boldus Molina) ao sentir
no estômago certo desconforto acompanhado de gases? Ou até mesmo tomou
ou cheirou algum composto que tinha como base as folhas de hortelã (Mentha
x piperita L.) quando esteve resfriado? Já ouviu falar da capacidade da Aroeira
(Schinus terebinthifolia Raddi) em combater inflamações e cicatrizar feridas ou
da utilização da Alcachofra (Cynara scolymus L.) no tratamento de diabetes?
E sobre o uso da Babosa (Aloe vera L.) para o tratamento de queimaduras?
Como já mencionado, o potencial dessas plantas está relacionado à
presença de componentes químicos na sua constituição. Apesar disso, é im-
portante entender que, mesmo sendo de origem natural, as plantas podem
oferecer, ou não, algum tipo de risco à saúde, uma vez que em sua consti-

a Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas


matheus01cavalcanti@hotmail.com
b Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas
ppaivaufpe@yahoo.com.br

- 94 -
tuição há uma gama de outras substâncias além daquela responsável pela
atividade de interesse.
A exemplo, alguns estudos relataram a correlação entre a utilização do
chá de boldo e casos de alergias, diminuição do efeito de medicamentos, efei-
tos tóxicos para o fígado e potenciais abortivos e teratogênicos (capacidade de
causar malformações no feto) ³.
Desta forma, é essencial conhecer os efeitos adversos que as plantas
medicinais podem causar, a fim de estabelecer os parâmetros de utilização
segura desses produtos, como a dosagem correta e o tempo de utilização
adequado. Por isso, agências regulatórias como a Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária (Anvisa), requerem estudos toxicológicos para o registro
de novos produtos.
No entanto, para algumas plantas comumente utilizadas pela popu-
lação, esses dados são bem escassos. Esse é o caso da Moringa oleifera,
conhecida somente como moringa, planta bastante conhecida e utilizada em
países como o Brasil devido ao seu grande potencial nutricional e medicinal.
Devido aos múltiplos usos que apresenta, a moringa também é conhecida
como planta milagrosa em muitos lugares. A farinha e o chá das folhas já
são consumidos em todo o país, bem como utilizados para alimentação de
animais não humanos.
Em suma, a avaliação da toxicidade de produtos é essencial, pois visa
garantir a segurança da utilização deles pela população como uma estratégia
de promoção de saúde e bem-estar para todos. Além disso, tem como objetivo
orientar as pessoas sobre a forma correta de fazer uso desses materiais, desfa-
zendo a crença de que produtos naturais podem ser tomados à vontade. Afinal,
a diferença entre o remédio e o veneno pode ser a dose, certo?

REFERÊNCIAS

1. JUNIOR, V. F. V.; PINTO, A. C.; MACIEL, APARECIDA, M. M.


Plantas medicinais: cura segura. Química nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, 2005.

2. MACEDO, J. A. B. Plantas medicinais e fitoterápicos na aten-


ção primária à saúde: contribuição para profissionais prescritores.
2016. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Instituto de
Tecnologia em Fármacos/Farmanguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio
de Janeiro, 2016.

3. RUIZ, A. L. T.; TAFFARELLO, D.; SOUZA, V. H.; CARVAL-


HO, J. E. Pharmacology and toxicology of Peumus boldus and Baccharis
genistelloides. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, n. 2, p. 295-
300, 2008.

- 95 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Caro leitor, meu nome é Matheus Cavalcanti de Barros, sou aluno de
mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (PPGCB)
da Universidade Federal de Pernambuco, orientado pela Professora Patrícia
Maria Guedes Paiva. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa tem como objetivo ava-
liar o potencial toxicológico das folhas de Moringa oleifera, conforme foi
mais bem esclarecido na seção anterior.
Como cientista e aluno, quando projeto um trabalho, sempre penso nas
melhores perguntas a fim de contribuir cada vez mais com o desenvolvimento
científico e tecnológico do Brasil. A formulação de novos medicamentos à
base de plantas não só tem como objetivo aumentar as possibilidades de trata-
mentos para doenças, mas também contribui para a economia do país, gerando
empregos e renda para muitas pessoas.
O nosso país é rico por natureza (literalmente). Temos água, biodiver-
sidade animal e vegetal, clima propício e muitos outros fatores. No entanto,
é necessário que foquemos no que de fato interessa. Diante do potencial que
temos, sinto a cada dia que nós podemos muito mais. Nenhuma riqueza pas-
sageira poderá valer mais que os novos conhecimentos gerados e os possíveis
caminhos de inovação tecnológica que se abrirão. Inovação esta que possui
um grande valor agregado para a economia e capaz de transformar o Brasil
naquilo que realmente é: um grande arsenal de novas substâncias que apresen-
tam diversos potenciais, especialmente para a saúde.
E como iremos descobrir as armas desse arsenal sem a ciência?

- 96 -
“CAUSA DA MORTE: FALÊNCIA DE MÚLTIPLOS
ÓRGÃOS” - PROCURANDO ALTERNATIVAS PARA
REVERTER ESTE QUADRO

Filipe Rodolfo Moreira Borges de Oliveiraa


Regina de Sordib

INTRODUÇÃO AO TEMA

Muito provavelmente você já escutou em algum telejornal que algum


artista morreu por causa de uma “falência de múltiplos órgãos” ou “disfunção
orgânica”. Ou até mesmo algum parente ou conhecido seu tenha falecido por
essa causa. Mas o que isso quer dizer? Qual a explicação por trás desses termos?
De maneira bem simples, a explicação é: por qualquer que seja a razão,
os órgãos da pessoa pararam de trabalhar. Ou seja, os rins pararam de filtrar
o sangue. O fígado deixou de processar substâncias. Os pulmões não conse-
guiam mais realizar a oxigenação do sangue. O coração parou de bombear o
sangue adequadamente. E o resultado de tudo isso é um colapso generalizado
que culmina com a morte do indivíduo. Uma das razões mais comuns que le-
vam a essa falência orgânica é o choque. Mas não o choque elétrico, apesar de
este também ser uma causa comum de morte. O choque ao qual nos referimos
é o choque causado pela pressão arterial muito baixa (hipotensão arterial).
Os valores normais de pressão arterial são geralmente a máxima
120 mmHg e a mínima 80 mmHg (ou, simplesmente, 12 por 8). Esses va-
lores garantem que o sangue consiga circular de maneira eficiente por todo
o corpo, levando oxigênio e nutrientes para todas as células dos órgãos.
Quando uma pessoa entra em choque isso quer dizer que a pressão arterial
fica tão baixa que o sangue não consegue chegar adequadamente a todas as
partes do corpo, fazendo com que as células deixem de receber nutrientes e
comecem a acumular os produtos que deveriam ser excretados, danificando
o funcionamento dos órgãos. Mas o que faz uma pessoa ter uma queda tão
brusca da pressão arterial e ter um choque? Duas das causas mais comuns
são o choque hemorrágico e o choque séptico.
a Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Farmacologia. filipe.rodol-
fo4@gmail.com.
b Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Farmacologia. r.sordi@ufsc.br.

- 97 -
O choque hemorrágico acontece quando uma pessoa tem uma perda
muito grande de sangue devido a um trauma, por exemplo, um acidente au-
tomobilístico ou ferimento com armas. O volume de sangue dentro dos vasos
(ou volemia) influencia diretamente os valores da pressão arterial. Uma vez
que esse volume de sangue é reduzido por causa de uma hemorragia, a pres-
são sanguínea também será reduzida, diminuindo a quantidade de sangue que
chega aos órgãos. E isso causa um dano aos órgãos.
Já o choque séptico é uma consequência de uma infecção por microrga-
nismos (principalmente bactérias) que podem se espalhar pelo corpo (conhe-
cido popularmente como “infecção generalizada” ou “infecção hospitalar”).
Uma vez que a infecção se espalha, o corpo perde a capacidade de combater
o microrganismo causador da doença e começa a entrar em colapso. Uma si-
tuação bastante comum, de acordo com Mayr (2014)1, é quando um paciente
tem uma pneumonia (uma infecção bacteriana nos pulmões em que o paciente
apresenta febre, cansaço, falta de ar, entre outros sintomas) e as bactérias que
estavam apenas nos pulmões saem de lá, caem na corrente sanguínea e se es-
palham por outros órgãos. Quando isso acontece, os órgãos começam a parar
de trabalhar corretamente, o coração perde a capacidade de bombear o sangue
adequadamente, levando o paciente ao choque.
Por mais que os profissionais de saúde tentem tratar os pacientes com
choque da melhor maneira possível, ainda hoje não existem tratamentos es-
pecíficos para estas condições. Infelizmente, grande parte dos pacientes que
apresentam choque morre devido à disfunção de múltiplos órgãos que é con-
sequência da baixa pressão. Portanto, dentro dessa perspectiva, inúmeros pes-
quisadores procuram maneiras diferentes de tratamento e manejo do choque.

REFERÊNCIAS

1. MAYR, Florian B.; YENDE, Sachin; ANGUS, Derek C. Epidemiol-


ogy of severe sepsis. Virulence, v. 5, n. 1, p. 4-11, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Filipe Oliveira e sou aluno de doutorado do Programa de


Pós-graduação em Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
Recebo uma bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes) para poder desenvolver, em tempo integral, meu
trabalho no Laboratório de Doenças Cardiovasculares e Renais (LabCaRe).
O nosso foco no LabCaRe é estudar as alterações fisiológicas induzidas por

- 98 -
diferentes modelos experimentais de choque e tentar achar possíveis alvos
terapêuticos para tratar essas condições. Em outras palavras: nós induzimos o
choque em animais de laboratório e tentamos tratá-los, focando em diferentes
estruturas do organismo e vendo como os animais respondem.
Existem, atualmente, dois modelos experimentais que utilizamos no
nosso laboratório: o choque séptico em camundongos, induzido por um mo-
delo de pneumonia através da administração de uma bactéria diretamente na
traqueia do animal; e o choque hemorrágico, induzido em ratos através da re-
tirada seguida da reintrodução do sangue no animal. Dessa forma tentamos ao
máximo imitar o que acontece com os seres humanos que desenvolvem cho-
que séptico ou choque hemorrágico, e assim investigamos alternativas para
tentar encontrar possíveis tratamentos para o dano de órgãos que ocorre como
consequência destes processos.
Infelizmente, estes modelos experimentais são bastante complexos e
difíceis de fazer. É necessário muito treinamento para realizar este tipo de
experimento. Além disso, trabalhar com animais de experimentação é uma
coisa cara e complicada, pois existem muitas variáveis que podem atrapalhar
o andamento da pesquisa. Outro ponto que dificulta a execução desse tipo de
projeto são os preços dos reagentes utilizados e a escassez de recursos.
Entretanto, mesmo com todas as dificuldades, trabalhar neste campo é
uma coisa bastante recompensadora. Afinal, nós estamos procurando alterna-
tivas de tratamento para condições de saúde que ainda hoje levam milhões de
pessoas ao óbito. Fazer ciência é algo difícil, mas o bem alcançado é maior.

- 99 -
PRODUTOS NATURAIS NO TRATAMENTO
DE DOENÇAS INFLAMATÓRIAS

José Marreiro de Sales-Netoa


Sandra Rodrigues-Mascarenhasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Organismos microscópicos (p. ex., bactérias, vírus, fungos e protozoá-


rios) são constantemente inalados e ingeridos, além de habitarem a nossa pele
e as nossas mucosas. Alguns microrganismos patogênicos podem penetrar no
organismo humano e causar doenças infecciosas. Em contrapartida, possuí-
mos órgãos (p. ex., baço, linfonodos, medula óssea e timo), células (p. ex., ba-
sófilos, células assassinas naturais, células dendríticas, eosinófilos, linfócitos,
mastócitos, monócitos/macrófagos e neutrófilos) e moléculas (p. ex., alarmi-
nas, anticorpos, catelicidinas, citocinas, defensinas, proteínas da fase aguda e
proteínas do sistema complemento), que, em conjunto, são responsáveis pela
proteção do organismo humano contra doenças, reconhecendo e eliminando
microrganismos invasores por meio de uma resposta coletiva e organizada,
chamada resposta imunológica. Os órgãos, células e moléculas responsáveis
por essa proteção formam o sistema imunológico. 1
A inflamação é uma resposta imunológica dos tecidos vascularizados
estimulada por diversos fatores, os mais comuns são as infecções e as lesões
(p. ex., queimaduras, traumas, entre outras). Como resultado, células e molé-
culas do sistema imunológico são recrutadas do sangue para o tecido afetado,
onde liberam vários mediadores inflamatórios (p. ex., citocinas, eicosanoides
e quimiocinas). Após a eliminação do estímulo, a resposta inflamatória é en-
cerrada e a restauração do tecido lesionado é iniciada. Embora normalmente
seja capaz de restaurar a integridade perdida, a inflamação desregulada pode
se tornar uma doença (p. ex., artrite reumatoide, asma, aterosclerose, doença

a Centro de Biotecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, BR (Programa de Pós-gra-
duação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos). engenheiro.sales@gmail.com.
b Centro de Biotecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, BR (Programa de Pós-gra-
duação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos). sandra@cbiotec.ufpb.br.

- 100 -
de Crohn, fibrose cística, pneumonia, sepse e tuberculose), danificando te-
cidos saudáveis do organismo humano. A desregulação da inflamação pode
ocorrer quando células patogênicas e células saudáveis são danificadas, ini-
ciando respostas inflamatórias adicionais.2, 3
Atualmente, os medicamentos mais utilizados para o tratamento de do-
enças inflamatórias são anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e esteroi-
dais, embora, em muitos casos, ambos induzam efeitos colaterais graves e
sejam inadequados para o uso prolongado. A partir dessas premissas, os pro-
dutos naturais tornam-se importantes fontes de princípios ativos para o desen-
volvimento de novos medicamentos. Nesse contexto, os produtos naturais são
moléculas produzidas por plantas, fungos, bactérias e outros organismos; ou
moléculas artificialmente modificadas a partir dessas precursoras. 4

REFERÊNCIAS

1. PARKIN, J.; COHEN, B. An overview of the immune system. Lan-


cet, v. 357, n. 9270, p. 1777-1789, 2001.

2. MEDZHITOV, R. Origin and physiological roles of inflammation.


Nature, v. 454, n. 7203, p. 428-435, 2008.

3. NATHAN, C. Points of control in inflammation. Nature, v. 420,


n. 6917, p. 846-852, 2002.

4. ROMANO, B.; IQBAL, A. J.; MAIONE, F. Natural Anti-Inflamma-


tory Products/Compounds: Hopes and Reality. Mediators of Inflammation,
v. 2015, p. 374-239, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é José Marreiro de Sales Neto, sou formado em Engenharia de


Biotecnologia e Bioprocessos pela Universidade Federal da Paraíba (UFCG), na
qual fui orientado pela Profa. Dra. Glauciane Danusa Coelho; e mestre em Bio-
tecnologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na qual fui orientado
pela Profa. Dra. Sandra Rodrigues Mascarenhas. Atualmente, sou doutorando
do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos
(PgPNSB) da UFPB, área de concentração farmacologia, também sob a orien-
tação da Profa. Dra. Sandra Rodrigues Mascarenhas, no qual sou bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

- 101 -
É gratificante poder contribuir ativamente com o avanço da ciência.
Não se trata apenas de obter um título de bacharel, mestre ou doutor, mas fa-
zer parte de contexto maior que se chama ciência, ou seja, fazer ciência com
as próprias mãos. Minha pesquisa investiga o efeito anti-inflamatório de uma
molécula produzida por fungos. Essa pesquisa pode fornecer um novo fárma-
co com atividade anti-inflamatória, servir de base para pesquisas posteriores,
contribuir para o entendimento de processos fisiológicos de doenças inflama-
tórias, entre outros.
Apesar da sua importância, a ciência no Brasil enfrenta muitos proble-
mas, como o sucateamento de instituições de pesquisa, falta de fomento para
projetos de pesquisa e escassez de bolsas de estudo (iniciação científica, mes-
trado, doutorado e pós-doutorado). Por isso, é importante estimular políticas
públicas que preservem e permitam o avanço da ciência no Brasil.

- 102 -
LIMFA – LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA/PB E
SUA CONTRIBUIÇÃO NO CONTEXTO CIENTÍFICO
DO BRASIL

Marcia Regina Piuvezama

INTRODUÇÃO AO TEMA

O Laboratório de Imunofarmacologia (LIMFA) faz parte do comple-


xo de laboratórios de pesquisa que compõem o Programa de Pós-graduação
em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (nível 6/Capes/2019) –mestra-
do e doutorado- da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa/
PB/Brasil. O LIMFA tem por objetivo principal formar recursos humanos/
técnico-científico na área de Imunologia e capacitá-los para o magistério e/ou
pesquisa, bem como no gerenciamento de formação científica de estudantes
de graduação e/ou pós-graduação.
Para alcançar tal objetivo, o Laboratório é composto pela orientadora e
os estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado que têm implantado
modelos experimentais de inflamação aguda, tais como lesão pulmonar aguda,
alergias das vias aéreas, tais como asma e rinite, bem como alergia alimentar.
Esses modelos experimentais utilizam camundongos da linhagem isogênica
BALB/c (mesma carga genética) pois são animais susceptíveis a desenvolver
doenças com fisiopatologias semelhantes às dos humanos. Os estudos científi-
cos que envolvem o desenvolvimento de doenças nos animais são submetidos
ao Comitê de Ética Animal da UFPB que analisa e, se aprovado, são executados
constituindo dissertações e teses, bem como trabalhos publicados nacional e
internacionalmente para o conhecimento dos pares, bem como para a sociedade.
Nossos trabalhos analisam extratos de plantas medicinais utilizadas,
pela população, para o tratamento de doenças, bem como seus componentes
quimicamente isolados no sentido de respaldá-los quanto as suas eficácia e
segurança para os usuários, pois é sabido que o uso inadequado poderá causar

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos, João Pessoa/PB, Brasil. mrpiuvezam@ltf.ufpb.br

- 103 -
danos à saúde. Portanto, nesse contexto descreveremos alguns dos trabalhos
mais relevantes realizados no LIMFA.
A planta Cissampelos sympodialis (Menispermacaea), vegetal símbolo
do estado da Paraíba (Lei Estadual n. 9.801 de 14 e junho de 2012) é conhe-
cida, popularmente, por milona, orelha de onça e abutera, sendo utilizada na
medicina popular para minimizar as crises de asma, bronquite e rinite. Nossos
trabalhos demonstraram que o extrato etanólico das folhas da planta diminuiu
o processo inflamatório nas vias aéreas superior (via o modelo experimental
de rinite)1, inferior (via modelo experimental de asma)2, bem como na alergia
alimentar3, respaldando cientificamente a planta no sentido de que ela apre-
senta propriedades anti-inflamatória e imuno moduladora.
Em 2015 obtivemos o registro da seguinte patente: (Br 1 o 2013 009409-
9 a2.) “Processo para produção de extrato etanólico de milona com concentra-
ção padronizada de marcadores, extrato obtido, composições farmacêuticas e
uso de composições obtidas” (INPI- Instituto Nacional da Propriedade Indus-
trial). Em adição, testamos dois alcaloides (componentes isolados da planta)
denominados de warifteina e milonina e obtivemos resultados semelhantes
demonstrando que a planta contém substâncias que melhoram as condições
clínicas nessas patologias.1,2,3,4
Mais recentemente, estudando um alcaloide sintético denominado
MHTP, com rendimento de síntese de 93,45%, no modelo experimental de
síndrome de asma e rinite alérgicas combinadas (CARAS), verificamos que
esse alcaloide sintético apresenta propriedades anti-inflamatória e imunomo-
duladora possibilitando, portanto, realizar testes clínicos de fase I, pois, além
de não apresentar toxicidade também não apresenta a problemática de sua
produção em larga escala5. Em 2016 depositamos (INPI - Instituto Nacional
da Propriedade Industrial) a seguinte patente: (Br1020160182255) “Alcaloide
sintético denominado MHTP no tratamento da inflamação”.
Ante o exposto estamos convictos de que a partir de estudos não clíni-
cos com plantas medicinais e seus compostos podemos encontrar moléculas
que poderão ser acrescentadas ao arsenal de drogas para tratar alergias, bem
como processos inflamatórios e melhorar a condição de vida humana.

REFERÊNCIAS

1. VIEIRA, Giciane C.; GADELHA, Francisco A.A.F.; PEREIRA, Ra-


quel F.; FERREIRA, Laércia K.D.P., BARBOSA-FILHO, José M., BOZZA,
Patricia T., PIUVEZAM, Marcia R. Warifteine, an alkaloid of Cissampelos
sympodialis, modulates allergic profile in a chronic allergic rhinitis model.
Revista brasileira de farmacognosia, Curitiba, v. 28, n. 1, p. 50-56, 2018.

2. BEZERRA-SANTOS, C. R.; VIEIRA-DE-ABREU, A.; VIEIRA


G.C.; FILHO JR.; BARBOSA-FILHO, J.M.; PIRES, A.L.; MARTINS, M.A.;

- 104 -
SOUZA, H.S.; BANDEIRA-MELO, C.; BOZZA, P.T.; PIUVEZAM MR. Ef-
fectiveness of Cissampelos sympodialis and its isolated alkaloid warifteine
in airway hyperreactivity and lung remodeling in a mouse model of asthma.
International Immunopharmacology, v 13, p. 148–155, 2012.

3. COSTA, H. F.; LEITE, F.C., ALVES, A.F.; BARBOSA-FILHO,


J.M.; DOS SANTOS, C.R.; PIUVEZAM MR. Managing murine food allergy
with Cissampelos sympodialis Eichl (Menispermaceae) and its alkaloids. In-
ternational Immunopharmacology, v 17, p. 1-9, 2013.

4. SILVA. L.R.; ALVES AF, CAVALCANTE-SILVA LHA, BRAGA


RM, DE ALMEIDA RN, BARBOSA-FILHO JM, PIUVEZAM MR. Mi-
lonine, a Morphinandienone Alkaloid, Has Anti-Inflammatory and Analgesic
Effects by Inhibiting TNF-α and I-1β Production. Inflammation, p. 1-12,
2017. DOI: 10.1007/s10753-017-0647-9

5. FERREIRA, L. K.D.P.; PAIVA FERREIRA, L.A.M.; ALVES, A.F.;


LEITE, F.C.; DE ARAÚJO SILVA, L.A.; VIEIRA, G.C.; RODRIGUES,
L.C., PIUVEZAM, M.R. MHTP, 2-Methoxy-4-(7-methoxy-1,2,3,4-tetrahy-
droisoquinolin-1-yl) phenol, a Synthetic Alkaloid, Induces IFN-γ Production
in Murine Model of Ovalbumin-Induced Pulmonary Allergic Inflammation.
Inflammation, p. 1-13, 2018. DOI: 10.1007/s10753-018-0855-y.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Marcia Regina Piuvezam, sou professora e pesquisadora


na UFPB desde 1994 e, ante o exposto neste relato, acredito que o financia-
mento de pessoal (bolsas de estudos para estudantes e pesquisadores – bolsa
PQ), bem como o de projetos de pesquisa por parte do Governo Federal, gera,
sobretudo, recursos humanos de alta qualidade que trabalharão nas áreas de
pesquisa e/ou docência, contribuindo assim para o progresso do país.
Em adição, obtêm-se preciosas informações sobre plantas e seus com-
postos que tornarão suas utilizações mais eficazes e seguras para seus usuá-
rios, bem como fornecem conhecimentos científicos que proporcionarão às
indústrias farmacêuticas desenvolverem medicamentos a serem acrescenta-
dos ao arsenal de drogas para o tratamento apropriado de doenças, melho-
rando, portanto, a condição da saúde pública no Brasil e proporcionando
autonomia ao país, minimizando a nossa dependência externa.

- 105 -
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIDIARREICA E DOS
EFEITOS NA MOTILIDADE GASTRINTESTINAL DO
ESTRAGOL EM CAMUNDONGOS

Leiliane Macena Oliveira Silvaa


Leônia Maria Batistab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A diarreia é um distúrbio que acomete o trato gastrintestinal (TGI), sendo


caracterizado por uma anormalidade na consistência das fezes (semissólidas e
líquidas) e pelo aumento na frequência de defecação, de três ou mais vezes
em um período de vinte e quatro horas3, como consequência de alterações nos
processos de secreção, absorção e da motilidade intestinal. É umas das afecções
mais prevalentes, acometendo cerca de três a cinco bilhões de pessoas em todo
o mundo, sendo considerada um importante problema de saúde pública2.
Os medicamentos antidiarreicos empregados na prática clínica apresen-
tam vários efeitos colaterais, como vômitos, febre e dificuldade respiratória4.
Assim, faz-se necessário a pesquisa por novas alternativas terapêuticas para
o tratamento dessa doença, especialmente a partir de produtos naturais, que
consistem em uma fonte promissora de moléculas com atividades biológicas
para tratar diversas desordens do TGI, a exemplo da diarreia1,5.
Nessa perspectiva, esta pesquisa se propõe a avaliar a atividade anti-
diarreica e os efeitos na motilidade gastrintestinal do Estragol, um constituinte
de óleos essenciais de muitas plantas bastante utilizadas na medicina popular,
amplamente empregadas na aromaterapia, visando expandir as alternativas
terapêuticas para a diarreia.

REFERÊNCIAS

1. AHN, K. The worldwide trend of using botanical drugs and strategies


for developing global drugs. BMB Reports, v. 50, n. 3, p. 111–116, 2017.

a Universidade Federal da Paraíba - CCS/UFPB. macenaleiliane@gmail.com


b Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos – CCS/UFPB. leoniab@uol.com.br

- 106 -
2. ANDRADE, J.A.B.; FAGUNDES NETO, U. Persistent diarrhea: still
an important challenge for the pediatrician. Journal of Pediatrics, v. 8, n. 3,
p. 199-205, 2011.

3. BARKA, AOUADHI, C.; TLILI, M.; ALIMI, H.; BEN MILED, H.;
BEN RHOUMA, K.; SAKLY, M.; KSOURI, R.; SCHNEIDER, Y.J.; MAAR-
OUFI, A.; TEBOURBI, O. Evaluation of the anti-diarrheal activity of the hydro-
methanolic root extract of Rhus tripartita (Ucria) (Anacardiacae). Elsevier, v. 83,
p. 827–834, 2016.

4. TADESSE, T. T.; HAILU, E. E.; GURMU, E. E.; MECHESSO,


F. F. Experimental assessment of antidiarrheal and antisecretory activity of
80% methanolic leaf extract of Zehneria scabra in mice. BMC Complemen-
tary and Alternative Medicine, v. 14, n. 1, p. 1–8, 2014.

5. SHEN, B. A New Golden Age of Natural Products Drug Discov-


ery. Cell, v. 163, n. 6, p.1297-1300, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Leiliane Macena Oliveira Silva, sou aluna de gradua-


ção do curso de Farmácia da UFPB e bolsista de Iniciação Científica pelo
Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq), sob orientação da
Profª. Drª. Leônia Maria Batista. Minha pesquisa é sobre a avaliação da ati-
vidade antidiarreica do Estragol, uma substância presente em muitos óleos
essenciais, com o objetivo de ampliar as alternativas terapêuticas para o
tratamento da diarreia. Os experimentos são realizados no Laboratório de
Farmacologia pertencente ao Programa de Pós-graduação em Produtos Na-
turais e Sintéticos Bioativos – CCS/UFPB.
Sou pesquisadora há mais de um ano e faço parte de um grupo de pes-
quisa que estuda moléculas bioativas que combatam diversas doenças que aco-
metem o TGI, incluindo a diarreia, que é o foco da minha pesquisa. Durante
esse tempo foram inúmeros os conhecimentos adquiridos e contribuições para a
melhoria da saúde da população, apesar das dificuldades encontradas durante a
trajetória, como falta de alguns recursos para realizar as experimentações.
Ser um pesquisador é uma experiencia ímpar, por isso é necessário que
essa oportunidade seja disponibilizada para uma maior parte da população,
como também que a sociedade tenha conhecimento a respeito dos benefícios
que a pesquisa oferece, para que assim possamos avançar e que os frutos das
pesquisas possam ser aproveitados por todos.

- 107 -
O Brasil é um país com notáveis carências sociais, por isso, o investi-
mento de recursos públicos na pesquisa científica e tecnológica é de extrema
importância para que o país avance. Há falhas e limitações no cenário da pes-
quisa nacional, mas é preciso seguir firme e mostrar que a pesquisa é a base da
inovação, essencial ao desenvolvimento econômico, à melhoria da qualidade
de vida da população e à geração de riqueza. Fazemos ciência de qualidade
sim e é preciso a união de todos para que haja o reconhecimento disso e que
seja produzida uma ciência de qualidade, de relevância e de grande impacto
para a sociedade.

- 108 -
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIDIARREICA E DOS
EFEITOS NA MOTILIDADE GASTRINTESTINAL DA
A-ASARONA EM CAMUNDONGOS

Alessa Oliveira Silvaa


Leonia Maria Batistab

INTRODUÇÃO

A diarreia é um distúrbio que favorece o amolecimento das fezes, bem


como um aumento na frequência de evacuações durante o dia. Nessa doença,
o indivíduo perde água e eletrólitos durante o processo diarreico, o que pode
levar a um quadro de desidratação grave, caso não seja tratado adequada-
mente. Há vários fatores que podem estar envolvidos no processo diarreico,
a exemplo das alergias alimentares, a utilização de alguns medicamentos (an-
timicrobianos e anti-inflamatórios) e as infecções bacterianas, as quais são
bem comuns dentro da população mundial1.
Essa doença geralmente vem acompanhada de alguns sinais e sintomas
como náuseas, vômitos, cólica abdominal e fezes de odor desagradável com
presença de sangue e/ou de muco 2.
Foi estimada a ocorrência de um bilhão de casos de diarreia ao ano,
atingindo também crianças menores de cinco anos, o que corresponde apro-
ximadamente a 1400 mortes de crianças por dia. Essas ocorrências estão re-
lacionadas diretamente à falta de saneamento básico, higiene, desnutrição e
desidratação da população 3.
Em muitos casos, não há necessidade da utilização de medicamentos,
sendo necessário apenas a ingestão de líquidos para repor o que foi perdido
no quadro diarreico. Em casos mais complicados, utilizam-se medicamentos,
a exemplo da loperamida, para evitar complicações mais graves. Porém,
a loperamida possui alguns efeitos adversos, como episódios de náuseas e
vômitos, constipação e erupções cutâneas 4.

a Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Universidade Federal da


Paraíba. alessaoliveira16@gmail.com
b Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Universidade Federal da
Paraíba. leoniab@uol.com.br

- 109 -
Nessa perspectiva se faz necessária a busca por novas alternativas tera-
pêuticas que proporcionem uma maior facilidade de acesso, além de garantir
eficácia, baixa toxicidade e efeitos colaterais reduzidos. Desta forma os pro-
dutos naturais, em especial as plantas medicinais, constituem bons pontos de
partida para a descoberta de novos medicamentos

REFERÊNCIAS

1. HIMANSHU, B.S. Antidiarrhoeal investigation of Apium leptophyl-


lum (Pers.) by modulation of NaþKþATPase, nitrous oxide and intestinal tran-
sit in rats. Biomedicine Journal, n. 39, p. 376, 381, 2016.

2. BARRACA ,J.M.B. Protocolo diagnóstico de la diarrea crónica.


Medicine. v. 12, n. 4.

3. FISCHER, W. C. L. et al. Childhood Pneumonia and Diarrhea. Glob-


al Burden of Childhood Pneumonia and Diarrhea Baltimore, USA, 2013,
p.197- 202, 2016.

4. ARAÚJO T.S.L. Antidiarrheal activity of cashew GUM, a complex


heteropolysaccharide extracted from exudate o Anacardium occidentale L.
in rodents. Journal of Ethnopharmacology, v.174, p. 299-307, 2015.

5. CHEN, J. D. Z.; YIN, J.; WEI, W. Electrical therapies for gastrointes-


tinal motility disorders. Expert Review of Gastroenterology & Hepatology,
v. 11, n. 5, p. 407–418, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Alessa Oliveira Silva, sou aluna de iniciação científica do


Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da
Universidade Federal da Paraíba, orientada pela professora Dra. Leonia Maria
Batista. Sou aluna voluntária (PIVIC), e meu projeto tem o intuito de avaliar
a atividade antidiarreica da alfa-asarona e os mecanismos de ação envolvidos.
É um projeto extremamente interessante, em que se utiliza uma subs-
tância teste (previamente escolhida) em diferentes doses, e se avalia a sua
atividade antidiarreica ante a parâmetros já estabelecidos, e de acordo com o
desempenho, faz-se a escolha da melhor dose. Faz mais de um ano que parti-
cipo desse projeto e fico encantada com todos os resultados e como isso pode

- 110 -
ser promissor, na construção de um novo medicamento eficaz. Embora sempre
haja alguns empecilhos pelo caminho que dificultam a pesquisa, como a não
valorização da pesquisa no Brasil, e consequentemente a falta de investimento
necessário nessa área.
Muitos projetos visam a um papel muito importante na sociedade atu-
al, como a busca de novos medicamentos para a cura de doenças como as
neoplasias. Pesquisas como esta devem ter uma atenção maior, já que o cân-
cer é um problema mundial, que vem atingindo grande parte da população.
A descoberta de um medicamento promissor para essa doença é extremamente
significativa para toda a população.
Recentemente testamos uma substância com atividade antidiarreica
promissora, de potência consideravelmente superior aos medicamentos já
existentes em farmácias para tal distúrbio. O próximo passo será investigar os
mecanismos de ação pelo qual a substância age. Ela poderá ser utilizada para
a fabricação de um possível medicamento a partir de testes complementares.

- 111 -
ATIVIDADE FARMACOLÓGICA DE PRODUTOS
NATURAIS NO TRATO GASTRINTESTINAL

Edvaldo Balbino Alves Júniora


Leônia Maria Batistab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O trato gastrintestinal (TGI) consiste em um tubo oco de aproximada-


mente seis metros de comprimento que se estende da boca até o ânus. Dentre
suas funções, destacam-se o processamento e armazenamento de alimentos,
absorção de nutrientes e sistema de defesa ante os microrganismos ingeridos
juntamente com os alimentos.
As afecções mais frequentes no TGI são: dispepsia, úlceras pépticas,
colite ulcerativa ou doença de Crohn e diarreia. Essas doenças causam um alto
índice de morbidade e mortalidade na população mundial, bem como transtor-
nos às políticas públicas de saúde, se fazendo necessária a busca por alternati-
vas terapêuticas como forma de melhorar o tratamento já existente.
As úlceras pépticas são inflamações que podem surgir no esôfago (úlce-
ras esofágicas), estômago (úlceras gástricas) ou no duodeno (úlceras duodenais)
e se caracterizam pelo surgimento de pontos hemorrágicos e lesões necrotizan-
tes que podem danificar tecidos mais superficiais até tecidos mais profundos1.
As doenças inflamatórias intestinais podem ser classificadas em doença
de Crohn e colite ulcerativa, ambas de caráter crônico e com recidivas que
comprometem a integridade e funcionalidade do TGI, e resulta em desordens
intestinais e deficiência na absorção de nutrientes essenciais para o funciona-
mento do organismo2.
Embora já exista tratamento farmacológico para essas doenças, a tera-
pêutica existente no mercado apresenta algumas limitações como os efeitos
colaterais, o alto custo dos medicamentos e em muitos casos a recidiva da
doença. Dessa forma é importante a busca de novos tratamentos a fim de di-
minuir essas limitações e melhorar a saúde dos indivíduos. Nessa perspectiva

a Universidade Federal da Paraíba, PgPNSB. edvaldojunioralves@gmail.com


b Orientadora, UFPB, DCF/PgPNSB. leoniab@uol.com.br

- 112 -
surgem os produtos naturais, em especial as plantas medicinais, como fontes
potenciais de novas moléculas biologicamente ativas, eficazes, seguras, que
poderão ser utilizadas no tratamento das afecções do trato gastrintestinal.

REFERÊNCIAS
1. ALVES JÚNIOR, E.B. Avaliação da atividade gastroprotetora do
estragol em modelos animais. Dissertação (Mestrado) - Universidade Fede-
ral da Paraíba, 2019.

2. FORMIGA, R.O. Atividade antiulcerogênica e anti-inflamatória


intestinal do p-cimeno e do ácido rosmarínico em modelos animais. Dis-
sertação (Mestrado) - Universidade Federal da Paraíba, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Meu nome é Edvaldo Balbino, pós-graduando em nível de doutorado
do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da
Universidade Federal da Paraíba, bolsista pelo Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico (CNPq), orientado pela professora Dra.
Leônia Maria Batista. A minha pesquisa versa sobre o uso de um produto natural
sintético bioativo para o tratamento de úlceras pépticas e de colite ulcerativa.
O meu contato com a pesquisa iniciou na graduação de Farmácia. Nos
primeiros períodos do curso já estava imerso no programa de pesquisa oferecido
pelo curso de Farmácia na Universidade Estadual da Paraíba (onde me graduei).
Sempre trabalhei com produtos naturais devido a seu potencial terapêutico ante
a diversas doenças e da necessidade de validação de seu uso popular.
O conhecimento acerca do uso popular dos produtos naturais, em es-
pecial das plantas medicinais, passa de geração em geração, porém muitos
deles se perdem com o tempo. Daí a necessidade de registro e validação des-
ses produtos de forma a possibilitar o uso seguro, eficaz e com menos efeitos
colaterais. Todas essas ações beneficiam a população, uma vez que novas al-
ternativas poderão ser lançadas no mercado e a qualidade de vida é melhorada
com esses avanços científicos.
Algumas substâncias testadas já demonstraram uma atividade signifi-
cativa contra as principais afecções do TGI, com resultados animadores ante
a úlcera gástrica e duodenal e colite ulcerativa. Entretanto, precisa de testes
complementares. Novas pesquisas estão sendo realizadas com esses compos-
tos para que, quem sabe em um futuro próximo, elas possam ser incorporadas
às terapias atuais e enfim chegarem às prateleiras das farmácias para atender
às necessidades da população.

- 113 -
A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS EM
PSICOFARMACOLOGIA PARA A SOCIEDADE

Jéssica Cabral de Andradea


Reinaldo Nóbrega de Almeidab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Nos últimos anos, os avanços tecnológicos impactaram diretamente a


rotina das pessoas. É notória a mudança no comportamento dos indivíduos,
que estão se tornando cada vez mais doentes, ante as diversas exigências do
meio. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar da saúde física, visto
que o estado de saúde de uma pessoa só será considerado “perfeito” se a saúde
física, a mental e o meio social no qual este indivíduo está inserido estiverem
em sintonia. Nesse contexto, atualmente, o aparecimento de doenças, como a
ansiedade, se torna cada vez mais comum.
A ansiedade é caracterizada como um estado incontrolável de medo, em
que esse medo não surge ante a uma situação real de perigo. A ansiedade in-
tensifica algumas funções que são reguladas pelo sistema nervoso autônomo,
como frequência cardíaca e sudorese, por exemplo, intensificando mais ainda
o “quadro ansioso”1.
Após o paciente ser diagnosticado com ansiedade, na grande maioria
dos casos, se inicia o tratamento com psicotrópicos, que são medicamentos
que atuam modulando o sistema nervoso central (SNC). Uma das classes que
são utilizadas para tratar os transtornos da ansiedade são os benzodiazepíni-
cos, como o diazepam. Porém, a utilização desses medicamentos causa nos
pacientes diversos efeitos colaterais.
Conforme indicam diversos estudos publicados nos últimos anos, é
possível afirmar que o uso irracional de psicotrópicos pode trazer diversos
problemas, dentre estes, intoxicação, tolerância e dependência farmacoló-

a Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (Universidade


Federal da Paraíba UFPB). jessicaca@ltf.ufpb.br
b Docente do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (Universidade Fe-
deral da Paraíba UFPB). reinaldo@ltf.ufpb.br

- 114 -
gica. Uma outra desvantagem apresentada pela administração de fármacos
para o tratamento da ansiedade é o tempo necessário para que o efeito da
substância seja alcançado, levando a uma baixa adesão ao tratamento por
parte dos usuários.
Para minimizar os efeitos indesejáveis provenientes dos agentes tera-
pêuticos disponíveis no mercado, busca-se o desenvolvimento de novos com-
postos com potencial terapêutico, podendo ser utilizados de forma mais se-
gura, com baixo custo de produção e sem comprometer os recursos naturais.
Os óleos essenciais são substâncias obtidas a partir de plantas aromá-
ticas, que exalam de suas folhas (ou outras partes) odores. Estes produtos
são bastante utilizados pela medicina popular, pois apresentam uma grande
aplicabilidade. Também são utilizados na indústria farmacêutica com as mais
variadas finalidades, devido ao seu grande potencial terapêutico, dentre estes,
atividade ansiolítica2,3.
Pesquisas recentes sugerem que os óleos essenciais agem modulando a
transmissão central. A percepção de odores tem sido relacionada com padrões
comportamentais, sugerindo, desta forma, uma correlação neuroanatômica
entre o cheiro e demonstrações de emoções. Diversos efeitos fisiológicos, be-
néficos, têm sido descritos, em estudos com seres humanos (clínicos), após a
inalação de óleos essenciais, dentre esses, uma redução dos efeitos psicológi-
cos como o estresse e estados de agitação e ansiedade.
O citronelal, juntamente com outros compostos (citral, geranial, linalol
e citronelol), são os monoterpenos mais importantes e empregados atualmente
na indústria farmacêutica, por apresentarem em estudos anteriores forte ação
depressora sobre o sistema nervoso central, apresentando propriedades seda-
tivas e hipnóticas4. Recentemente, em trabalhos realizados pelo grupo de pes-
quisa, o (+)-Borneol, demonstrou possuir efeitos analgésicos, antidepressivos
e anti-inflamatórios, sendo descrito como um modulador positivo da ativação
dos receptores GABAA.

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA, R. N.; BARBOS-FILHO, J. M. Drogas psicotrópicas.


Psicofarmacologia: fundamentos práticos, 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2006. cap.1, p. 3-23.

2. ALMEIDA, R. N.; NAVARRO, D. S.; BARBOS-FILHO, J. M.


Plants with central analgesic activity. Phytomedicine, v.8, p. 310-322, 2001.

3. ALMEIDA, R. N.; MOTTA, S. C.; FATURI, C. B.; CATALLANI,


B.; LEITE, J. R. Anxiolytic-like effects of rose oil inhalation on the elevated
plus-maze test in rats. Pharmacology Biochemistry and Behavior, v. 77,
p. 361-364, 2004.

- 115 -
4. GUIMARÃES, A. G.; QUINTANS, J. S. S.; QUINTANS-JÚNIOR,
L. J. Monoterpenes with analgesic activity--a systematic review. Phytothera-
py Research, v. 27, p. 1-15, 2013.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Jéssica Cabral de Andrade, sou aluna de doutorado do Pro-


grama de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Uni-
versidade Federal da Paraíba, orientada pelo professor Dr. Reinaldo Nóbrega
de Almeida. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de
Nível Superior (Capes) e desenvolvo minha tese na área de psicofarmacolo-
gia. O laboratório de psicofarmacologia tem como objetivo primordial desen-
volver estudos empregando metodologias comportamentais, com substâncias
de origem vegetal e/ou obtidas por rotas sintéticas que apresentem um poten-
cial efeito no Sistema Nervoso Central (SNC).
Ao longo desses anos de atividades, diversos trabalhos têm sido desen-
volvidos, sob a coordenação dos pesquisadores vinculados a este laboratório,
onde estes trabalhos resultam em teses de doutorado, dissertações de mestrado
e contribuições a agências de fomento.
O objetivo do meu estudo é caracterizar farmacologicamente uma
substância pertencente à classe dos monoterpenos, que são compostos pre-
sentes em óleos essenciais, de plantas aromáticas, com potencial atividade
ansiolítica, através de ensaios não clínicos. Essa etapa é muito importante,
pois irá fornecer subsídios para as etapas posteriores do desenvolvimento de
novos medicamentos.
As pesquisas científicas no Brasil têm passado por grandes transforma-
ções nos últimos anos. As universidades que desenvolvem atividades de pes-
quisa têm contribuído para a formação de pesquisadores cada vez mais qualifi-
cados. A grande maioria das invenções hoje disponíveis no mercado surgiram
a partir de estudos em universidades públicas. As etapas de desenvolvimento
de um produto farmacêutico, por exemplo, são bastante complexas, exigindo
matérias-primas e equipamentos diversos. Em algumas universidades, a ob-
tenção e o acesso a certos produtos são, na maioria das vezes, impossíveis,
impedindo que um potencial produto terapêutico seja desenvolvido e lançado
no mercado, trazendo mais benefícios para a população.

- 116 -
A IMPORTÂNCIA DA BUSCA DE NOVAS
SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE ANTIDEPRESSIVA

César Alves Carneiroa


Mirian Graciela Da Silva Stiebbe Salvadorib

INTRODUÇÃO AO TEMA

A depressão (Transtorno Depressivo Maior) é um transtorno comporta-


mental crônico que tem como principais sintomas o mau humor generalizado,
perda de interesse em atividades cotidianas como trabalhar, estudar, sair com
os amigos, assistir a filmes, passear com o cachorro, entre outras. Isso ocorre,
principalmente, porque o indivíduo deixa de sentir prazer em algo que ante-
riormente era prazeroso, sentindo uma apatia constante com sentimento de
inutilidade e se não for acompanhado e tratado pode levar ao suicídio1.
Atualmente é um dos assuntos mais comentados, porém a depressão
sempre esteve presente ao longo da história. Desde a Grécia antiga, com
Hipócrates, considerado o pai da medicina, se entendia que algumas pessoas
eram acometidas por uma melancolia profunda que poderia levar inclusive
à morte. À medida que a ciência se desenvolveu e a medicina pôde compre-
ender melhor os transtornos comportamentais, a partir do século 19, se ini-
ciaram as pesquisas necessárias para entender quais alterações no organismo
seriam as causadoras da depressão e o que se poderia fazer para reverter e
até evitar o transtorno2.
Hoje se compreende que a causa da depressão é a junção de vários fa-
tores como alterações no DNA, processos inflamatórios, desequilíbrio hormo-
nal, redução de neurotransmissores, estresse, traumas e até a condição social
do indivíduo3. Outro dado importante é que mulheres apresentam duas vezes
mais chances de desenvolver o transtorno do que os homens4.

a Universidade Federal da Paraíba; Programa de Pós-graduação em Neurociência Cognitiva e Comporta-


mento. carneiro.cesaralves@gmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba; Departamento de Psicologia, Programa de Pós-graduação em Neuro-
ciência Cognitiva e Comportamento. mirian.salvadori@gmail.com.

- 117 -
Uma das razões de ser tão debatida a importância do diagnóstico e tra-
tamento da depressão nos últimos anos é o seu crescente número, de acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 350 milhões de pesso-
as vivem com depressão e até 2020 ela se tornará o segundo maior transtorno
comportamental no mundo, o que torna importantes a pesquisa e o desenvol-
vimento de novos tratamentos5.

REFERÊNCIAS

1. GOLD, P. W.; VIEIRA, R. M.; PAVLATOU, M. G. Clinical and bio-


chemical manifestations of depression: relation to the neurobiology of stress.
Neural Plasticity, p. 1-11, 2015.

2. SOUZA, T. R.; LACERDA, A. L. T. Depressão ao longo da história.


Cap. 1. QUEVEDO, J.; SILVA, A. G. Depressão: teoria e clínica. Porto Ale-
gre: Artmed, 2013. 248p.

3. SOUSA, R. B. S. Avaliação do papel do sistema purinérgico e


dopaminérgico no efeito antidepressivo promovido por MK-801 em pei-
xezebra (Danio rerio). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2015. p. 77.

4. AMERICAN PSYCHIATNC ASSOCIATION, DSM-V. Porto Ale-


gre: Artmed, 2014. 948p.

5. BRASIL. Antidepressivos no transtorno depressivo maior em adul-


tos. Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde, n.18,
p.1-35, 2012.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é César Alves Carneiro, sou aluno de mestrado do Programa


de Pós-graduação em Neurociência Cognitiva e Comportamento da Universi-
dade Federal da Paraíba e orientado pela professora Drª. Mirian Graciela Da
Silva Stiebbe Salvadori. Sou aluno-pesquisador não bolsista, porém recebe-
mos apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
co (CNPq) para a compra de materiais e manutenção do laboratório.
Trabalho com a temática da depressão e sobre a atividade antide-
pressiva de produtos naturais ou sintéticos, desde o curso de graduação há

- 118 -
aproximadamente quatro anos, acumulando experiência nessa área. Meu
mestrado é sobre a investigação da atividade antidepressiva de um isômero
do anetol, e estamos pesquisando se essa substância poderá ser utilizada
como antidepressiva.
Os atuais tratamentos medicamentosos existentes causam inúmeros
efeitos colaterais muito incômodos para os pacientes, além de demorarem para
sentir a melhora e inclusive em alguns casos serem resistentes ao tratamento.
Assim, procuramos alternativas com menos efeitos e também mais eficientes.
Além de descobrir uma provável nova medicação, com o método que utiliza-
mos vamos entender melhor como os antidepressivos atuam no organismo e
auxiliar em novas pesquisas voltadas para esta patologia.
Fazer pesquisa no Brasil é bastante árduo, aqui aprendemos da maneira
mais difícil principalmente por falta: de investimento, de incentivo, de valo-
rização e por recursos limitados, a fazer o melhor de forma mais criativa pos-
sível e que possa garantir que a pesquisa seja fidedigna. Porém, mesmo com
esses obstáculos, é gratificante pesquisar, o conhecimento adquirido por meio
das leituras e práticas de laboratório é único e muito valioso (só quem passa
por essa experiência sabe o que é), além de estudar sobre algo que poderá aju-
dar pessoas que enfrentam essa doença tão séria e estigmatizada.

- 119 -
SUBSTÂNCIAS NATURAIS PODEM PROTEGER
DE CONVULSÕES?

Aline Matilde Ferreira dos Santosa


Leandro Rodrigo Ribeirob

INTRODUÇÃO AO TEMA

A epilepsia é uma doença cerebral crônica, recorrente e imprevisível,


que pode afetar qualquer um em qualquer idade. Dessa forma, aproximada-
mente 50 milhões de pessoas no mundo todo são afetadas por um dos di-
ferentes tipos de epilepsia1, que podem ter causas genéticas ou podem ser
adquiridas após um traumatismo cranioencefálico, por exemplo. Logo, para se
ter certeza da existência de um quadro de epilepsia, o diagnóstico deve ser re-
alizado por um médico especializado, utilizando ferramentas como a imagem
por ressonância magnética e o eletroencefalograma.
Assim, se por algum motivo ocorre um desequilíbrio nas funções dos
neurônios do nosso cérebro, com descargas elétricas súbitas, excessivas e si-
multâneas, é possível desencadear desde alterações discretas no comporta-
mento da pessoa até manifestações na forma de crises epilépticas, como as
convulsões. Nessa situação a pessoa apresenta movimentos involuntários e
desordenados, podendo haver perda de consciência, dependendo das áreas ce-
rebrais que estão sendo afetadas. Além disso, esse episódio convulsivo pode
durar de poucos segundos a vários minutos, causando a morte de neurônios
cerebrais, o que é considerado grave e, portanto, necessita de medidas tera-
pêuticas urgentes.
Para pessoas que convivem com a epilepsia, seus familiares e amigos,
há duas boas e uma má notícia. A primeira boa notícia é que já existem inú-
meros medicamentos que podem ser indicados para tratar os variados tipos da
doença. A má notícia é que esses tratamentos podem ser ineficazes em mais de

a Universidade Federal da Paraíba, Graduação em Farmácia. eualineferrer@gmail.com.


b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Neurociência Cognitiva e Comporta-
mento. leandrorodrigoribeiro@yahoo.com.br.

- 120 -
30% dos pacientes ou, ainda, apresentar diversos efeitos indesejados2. Contu-
do, a segunda boa notícia é que, nesse exato momento, milhares de cientistas
em todo o mundo estão realizando pesquisas buscando novas formas de trata-
mento mais seguros e eficientes, que tenham um menor impacto no cotidiano
e melhorem a qualidade de vida dos pacientes.
Nessa busca por novas opções de tratamento, várias moléculas estão
sendo estudadas, incluindo inúmeras provenientes de plantas populares. Essas
plantas são constituídas por substâncias que podem ser benéficas ou maléficas
para outros organismos e, portanto, devem ser isoladas e testadas individual-
mente em animais de laboratório3 com o objetivo de identificar sua capacidade
de ação como possível medicamento.
Dessa forma, se uma substância natural apresenta um bom resultado
em modelos animais, ela passa a ser sintetizada através de reações químicas,
permitindo sua produção em grande quantidade para ser usada em estudos
clínicos, com seres humanos, e, posteriormente, com a aprovação por agên-
cias de controle de qualidade, o novo medicamento pode ser disponibilizado
para comercialização e tratamento das doenças para as quais foram realiza-
dos os estudos.
O Brasil se mostra privilegiado por ter uma grande biodiversidade e
um enorme potencial florístico, o que favorece a pesquisa de possíveis novos
medicamentos. Assim, o Laboratório de Psicofarmacologia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), em colaboração com outros laboratórios, testa
diversas substâncias naturais há anos e já encontrou resultados promissores
para o tratamento e/ou prevenção de convulsões e doenças relacionadas. Nos-
so propósito, então, é continuar investigando para responder como e se essas
substâncias naturais são capazes de proteger de convulsões.

REFERÊNCIAS

1. OMS. Organização Mundial de Saúde. Epilepsy: a public health im-


perative. Disponível em: https://www.who.int/mental_health/neurology/epi-
lepsy/report_2019/en/. Acesso em: 20 set. 2019.

2. CHEN, Z.; BRODIE, M. J.; LIEW, D.; KWAN, P. Treatment Out-


comes in Patients With Newly Diagnosed Epilepsy Treated With Established
and New Antiepileptic Drugs: A 30-Year Longitudinal Cohort Study. JAMA
Neurology, v. 75, n. 3, p. 279-286, 2018.

3. CARLINI, E. A. (Org.); MENDES, F. R. (Org.). Protocolos em psi-


cofarmacologia comportamental: um guia para a pesquisa de drogas com
ação sobre o SNC, com ênfase nas plantas medicinais. 1. ed. São Paulo: Edi-
tora Fap-Unifesp, 2011.

- 121 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Aline Matilde, sou aluna do curso de Farmácia da UFPB


e bolsista de iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimen-
to Científico e Tecnológico (CNPQ). Participo de pesquisas científicas desde
2015, quando entrei na graduação e me encantei por essa área. Já trabalhei
com pesquisas sobre depressão e, nos últimos anos, os projetos de pesquisa
em que me inseri foram relacionados à epilepsia, sendo um deles premiado
como um dos melhores trabalhos de iniciação científica da nossa universidade.
Além da pesquisa, também sou apaixonada por plantas e suas diversas
aplicações, por isso atuo também como monitora da disciplina de Fitoterapia,
tendo o privilégio de estudar ainda mais as plantas para, assim, dar suporte aos
professores da disciplina e poder fazer isso na UFPB, uma das universidades
de maior referência em estudos com plantas medicinais do nosso país.
Como já dito, os medicamentos disponíveis hoje em dia para o tra-
tamento da epilepsia ainda possuem diversos efeitos indesejados, que im-
pedem que o paciente realize o tratamento, por sentir-se mal ou até impos-
sibilitado de realizar funções diárias normais. Por isso, o meu objetivo é
pesquisar substâncias que possam se tornar novas opções de medicamentos
capazes de prevenir as crises convulsivas, características da epilepsia, além
de reduzir os efeitos indesejados, melhorando a qualidade de vida daqueles
que convivem com o diagnóstico dessa doença e, também, a aceitação e re-
alização adequada do tratamento.
Entretanto, pesquisas necessitam de tempo e muito empenho por par-
te de diferentes pesquisadores de vários laboratórios. Estudos como esse en-
volvem alunos da graduação (iniciação científica), mestrandos, doutorandos,
pós-doutorandos e professores pesquisadores de várias áreas do conhecimen-
to. Logo, o ato de pesquisar é um trabalho que requer paciência, dedicação e
esforços, mas ainda assim é muito gratificante saber que eu e meus colegas
podemos contribuir de alguma forma para beneficiar a saúde e a qualidade de
vida de outras pessoas.

- 122 -
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO
COM Lactobacillus Acidophilus (LA–05) NOS
PARÂMETROS CARDIOVASCULARES DE ANIMAIS
NORMOTENSOS E HIPERTENSOS

Danilo Duarte de Assis Gadelhaa


Maria do Socorro França Falcãob

PROBIÓTICOS AUXLIAM NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO

Muito se tem falado sobre a utilização de microrganismos promoven-


do benefícios à saúde de indivíduos que os consomem. Probióticos são orga-
nimos vivos que, quando fornecidos na concentração adequada, possuem a
capacidade de favorecer a saúde do hospedeiro. Atualmente eles são inseri-
dos em dietas podendo ser encontrados em iogurtes, queijos, pães e bebidas
fermentadas. Dentre a vasta gama de resultados que vem sendo obtidos, mui-
tos estudos apontam que probióticos podem favorecer um melhor controle da
pressão arterial em indivíduos hipertensos.
A hipertensão é uma condição clínica provocada por diversas razões
e se caracteriza por apresentar valores de pressão iguais ou maiores que
140mmHg por 90mmHg. Podendo ser classificada como essencial/primária
ou secundária, existe uma dificuldade de realizar seu controle devido à carac-
terística de ser multifatorial. A indústria farmacêutica fornece várias opções
medicamentosas para hipertensão, porém problemas como interação com ou-
tros medicamentos, além das várias reações adversas apresentadas, é neces-
sário encontrar caminhos que sejam viáveis e produzam efeitos benéficos na
vida dos indivíduos.
As diretrizes atuais para o controle da hipertensão arterial propõem me-
didas de estilo de vida, incluindo abordagens dietéticas, quando apropriado,
em todos os pacientes, incluindo aqueles que necessitam de tratamento me-
dicamentoso. O objetivo dessas medidas de estilo de vida é reduzir a pressão

a Universidade Federal da Paraíba e Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-


ativos, daniloduartea@ltf.ufpb.br.
b Universidade Federal da Paraíba e Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos, francasilva@cbiotec.ufpb.br.

- 123 -
arterial, controlar outros fatores de risco e reduzir o número ou as doses de
medicamentos anti-hipertensivo¹.
As bactérias do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium são as mais
utilizadas como probióticos, porque têm sido isoladas de todas as porções do
trato gastrintestinal de um humano saudável, além de possuírem efeitos bené-
ficos na microbiota intestinal humana, promovendo uma melhora na resistên-
cia contra patógenos, evidenciando que o uso de microrganismos benéficos
favorece os mecanismos de defesa naturais do hospedeiro²,³.
Assim sendo, nós tivemos o interesse de buscar entender melhor como
um tratamento com probiótico pode auxiliar no controle da hipertensão, ten-
tando entender de que maneira essa melhora está sendo promovida.

REFERÊNCIAS

1. DUNNE, C.; MURPHY, L.; FLYNN, S.; O’MAHONY,


L.; O’HALLORAN, S.; FEENEY, M. Probiotics: from myth to reality. De-
monstrations os functionality in animal models os disease and in human clini-
cal trails. Antonie Van Leeuwenhoek, v. 76, n. 14, p. 279-92, jul-nov. 1999.

2. MANCIA, G.; FAGARD, R.; NARKIEWICZ, K.; REDON, J. ESH/


ESC Practice Guidelines for the Management of Arterial Hypertension. Blood
Pressure, n. 23, p. 3–16, 2014.

3. PUUPPONEN-PIMIA, R.; AURA, A. M.; OKSMANCALDENTEY,


K. M.; MYLLARIEN, P.; SAARELA, M.; MATTILA-SANHOLM. Develop-
ment of functional ingredientes of gut health. Trends food science technolo-
gic, Amsterdam, n. 13, p. 3-11, 2002.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Danilo Duarte. Sou farmacêutico e aluno bolsista do


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
de doutorado no programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sinté-
ticos Bioativos da Universidade Federal da Paraíba e desenvolvo pesquisa,
sob orientação da Profª. Drª. Maria do Socorro, voltada para a área de far-
macologia cardiovascular.
Realizo ciência na universidade desde que ingressei e sempre consegui
observar o quão são gratificantes em nível pessoal, e satisfatório em nível so-
cial, os trabalhos desenvolvidos por todos os pesquisadores das mais diversas
áreas. Trabalhar com pesquisa aguça o senso crítico e nos deixa mais sagazes

- 124 -
e sensíveis às necessidades da sociedade, percebendo até onde chega um tra-
balho realizado em uma bancada.
Diferentemente do que muitos pensam, não estamos voltados em prol
da salvação mundial a partir de uma cápsula milagrosa, nossos esforços são
mais voltados para o entendimento e esclarecimentos de algumas doenças
que afligem a população. No caso da minha pesquisa, a hipertensão é uma
questão de saúde pública com estimativa de presença em 25% da população
brasileira, o que quer dizer que, somente no Brasil, quatro de cada 10 pes-
soas possuem hipertensão. Então, entender como a hipertensão funciona e
buscar meios de melhorar seu controle são muito importantes e essenciais
para manutenção da saúde.
Mesmo com a quantidade de medicamentos hipertensivos existentes no
mercado, a hipertensão contínua apresentando resistências para o seu trata-
mento. Por sua vez, isso instiga a pesquisa de novas formas para se controlar
a pressão alta. Como já dito, as diretrizes para controle da hipertensão preco-
nizam como primeira escolha um tratamento não medicamentoso e mudanças
no estilo de vida. Com o auxílio de outras pesquisas, realizadas por cientistas,
percebemos que microrganismos podem ser inseridos na alimentação e pro-
mover benefícios à saúde. Foi quando surgiu a ideia do nosso projeto: como
um probiótico pode melhorar o controle da hipertensão?
Teremos muito a caminhar ainda na tentativa de entender por completo
como os processos do organismo funcionam, mas tenho certeza de que todos
os passos valerão a pena. No fim das contas, toda pesquisa realizada dentro e
fora das universidades possui o mesmo foco: melhorar a qualidade de vida das
pessoas. Na atual situação, lutamos contra muitas correntes que tentam barrar
nosso trabalho, mas a ciência sempre foi a luz que guiou a sociedade para o
futuro e agora não será diferente.

- 125 -
POTENCIAL TERAPÊUTICO DE PEPTÍDEOS SEM
PONTES DISSULFETO PRESENTES NA PEÇONHA
DE ESCORPIÕES

Alessandra Daniele da Silvaa


Matheus de Freitas Fernandes Pedrosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O rápido surgimento de microrganismos resistentes aos medicamen-


tos convencionais consiste em um grave problema de saúde pública mundial,
sendo estimado que, em 2050, cerca de 10 milhões de óbitos ocorram devido
a doenças infecciosas associadas a patógenos multirresistentes aos fármacos
existentes. A possibilidade de iniciar uma era “pós-antibiótica” impulsiona
a busca por novas moléculas com ação antimicrobiana em diferentes fon-
tes naturais. Componentes com ação antibiótica na peçonha de diferentes
espécies de animais têm sido alvo de estudos científicos, constituindo um
conjunto de moléculas biologicamente ativas com elevado potencial para
uso terapêutico.
A peçonha de escorpiões consiste em uma fonte de moléculas eficien-
tes para a defesa e captura de presas, que, aliada à elevada capacidade de
adaptação ao meio ambiente, proporcionou a sobrevivência desses animais
ao longo do processo evolutivo1. Entre os componentes químicos presentes
na peçonha de escorpiões, os peptídeos sem pontes dissulfeto (PSPDs) or-
respondem a biomoléculas formadas por uma sequência de 13 a 56 resíduos
de aminoácidos com atividade multifuncional relatada na literatura. Estes
peptídeos têm demonstrando ação antibacteriana, antifúngica, antiparasitá-
ria, antiviral, hemolítica, anticâncer, anti-inflamatória, quelante de metais,
potencializador da bradicinina e a capacidade de modular o sistema imu-
nológico, constituindo componentes promissores para serem utilizados no
desenvolvimento de novos medicamentos2.

a Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica, Pós-graduação em Desenvolvimento e Ino-


vação Tecnológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. alessandra.daniele@outlook.com
b Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica, Departamento de Farmácia, Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte. mpedrosa@ufrnet.br

- 126 -
O escorpião Tityus stigmurus corresponde à espécie predominante no
Nordeste brasileiro, sendo o principal responsável pelos acidentes por escor-
piões na região. A avaliação da diversidade molecular da glândula de peçonha
deste escorpião tem sido demonstrada por uma abordagem por transcriptômi-
ca, revelando abundante presença de PSPDs e, portanto, representa um rico
arsenal de componentes bioativos ainda pouco explorados, com elevado po-
tencial farmacoterapêutico3.
Stigmurina e TsAP-2 são PSPDs presentes na glândula da peçonha do
escorpião T. stigmurus, com atividade anticâncer, antifúngica e antibacteriana
comprovada in vitro, dotadas também de ação antibiótica no modelo de sepse
em animais experimentais. Stigmurina também tem revelado efeito antipara-
sitário sobre o Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas, em
estudos in vitro4,5.
Considerado o rápido surgimento de patógenos multirresistentes, a ur-
gente necessidade da produção de novos fármacos e a ampla diversidade mo-
lecular pouco explorada da peçonha de escorpiões, estudos científicos que
revelem o potencial antimicrobiano de componentes biologicamente ativos
presentes na peçonha desses animais são relevantes para a sociedade, uma
vez que constituem uma etapa fundamental para o desenvolvimento de novos
medicamentos anti-infecciosos.

REFERÊNCIAS

1. ALMAAYTAH, A.; ALBALAS, Q. Scorpion venom peptides with


no disulfide bridges: A review. Peptides, v. 51, p. 35–45, 2014.

2. ALMEIDA, D. D. et al. Profiling the resting venom gland of the


scorpion Tityus stigmurus through a transcriptomic survey. BMC genomics,
v. 13, p. 362, 2012.

3. DANIELE-SILVA, A. et al. Stigmurin and TsAP-2 from Tityus stig-


murus scorpion venom: Assessment of structure and therapeutic potential in
experimental sepsis. Toxicon, v. 121, p. 10–21, 2016.

4. GOYFFON, M.; TOURNIER, J.N. Scorpions: a presentation. To-


xins, v. 6, n. 7, p. 2137–2148, 2014.

5. PARENTE, A. M. S. et al. Analogs of the scorpion venom peptide


Stigmurin: Structural assessment, toxicity, and increased antimicrobial activi-
ty. Toxins, v. 10, n. 4, 2018.

- 127 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Sou Alessandra Daniele, doutoranda do Programa de Pós-graduação
em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos (PPgDITM)
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sob a orientação do
professor Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa, e bolsista pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A minha pesquisa
consiste em avaliar o efeito promissor de biomoléculas presentes na peço-
nha do escorpião Tityus stigmurus para o desenvolvimento de novos fármacos
com ação antiviral, antiparasitária, antibacteriana e antifúngica.
Estudos publicados em periódicos internacionais pelo nosso grupo de
pesquisa (Tecbiofar) têm demonstrado o potencial farmacoterapêutico da Stig-
murina e TsAP-2, ambos componentes presentes na peçonha deste escorpião,
mostrando ação antimicrobiana contra um amplo espectro de microrganismos
in vitro e in vivo, revelando um elevado potencial para serem utilizados como
modelo na obtenção de novos agentes anti-infecciosos.
A partir de peptídeos presentes na peçonha do escorpião T. stigmurus,
moléculas modificadas com maior potencial antimicrobiano e baixa toxici-
dade também têm sido também desenvolvidas no Tecbiofar, resultando no
depósito de pedido de patente pela UFRN, demonstrando também ação contra
o agente causador da doença de Chagas, em estudos in vitro.
É um privilégio fazer parte da pesquisa no Brasil com o objetivo de
obter novos agentes terapêuticos que possam ser utilizados pela sociedade a
partir de componentes presentes na natureza. Apesar da escassez de recursos
financeiros para a ampla caracterização da atividade biológica destas molé-
culas, nosso laboratório tem obtido bons resultados que demonstram para a
comunidade científica a importância e o potencial biotecnológico de peptídeos
presentes na peçonha do escorpião Tityus stigmurus.
Considerando a diversidade de moléculas presente na peçonha do es-
corpião T. stigmurus, sua ação multifuncional e a urgente necessidade no de-
senvolvimento de novos agentes antimicrobianos, esta pesquisa proporciona
um maior conhecimento dos constituintes da peçonha deste escorpião, além
de revelar um amplo conjunto de moléculas com elevado potencial para a
obtenção de novos fármacos.

- 128 -
USO DE PLANTAS MEDICINAIS PARA O
TRATAMENTO DE ENVENENAMENTOS CAUSADOS
POR SERPENTES

Júlia Gabriela Ramos Passosa


Jacinthia Beatriz Xavier dos Santosb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Envenenamentos provocados por serpentes são considerados um gran-


de problema de saúde pública em diversas regiões do mundo, principalmente
em países tropicais e subtropicais. Dentre os gêneros de maior importância
médica no Brasil, destaca-se o gênero Bothrops, que compreende serpentes
conhecidas popularmente como jararacas, e que é responsável por cerca de
90% dos acidentes ofídicos que ocorrem em nosso país. O envenenamento
botrópico possui efeitos locais muito presentes, tendo como principais sinto-
mas o edema, hemorragia e necrose, que são as principais causas de sequelas
permanentes, além de efeitos sistêmicos consideráveis, como alterações car-
diovasculares, coagulopatia e alterações renais1,2.
Os acidentes por serpentes foram inseridos na lista de doenças negli-
genciadas pela Organização Mundial de Saúde, já que estes atingem, princi-
palmente, populações pobres e pessoas que vivem nas zonas rurais. Fazem
parte do grupo mais acometido por esse tipo de acidente homens, com idade
média de 45 anos, e os principais membros atingidos são os inferiores. É vá-
lido ressaltar que estes acidentes provocam complicações locais geradas pela
falta de informação sobre como reagir a esse tipo de envenenamento, fazendo
com que alguns pacientes realizem procedimentos errados, como o uso de
torniquetes. O atraso da soroterapia também é fator determinante para o de-
senvolvimento de danos locais, que podem evoluir para necrose e amputação
do membro acometido, ou até ser causa de óbito da vítima 3,4.

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Ino-


vação Tecnológica em Medicamentos. juliagabriela_23@hotmail.com
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas.
jacinthia_beatriz@hotmail.com

- 129 -
Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
mostram que no Brasil, no ano de 2018, ocorreram mais de 28 mil acidentes
por serpentes peçonhentas, sendo as regiões Norte e Nordeste, respectivamen-
te, com o primeiro e o segundo maiores números de casos do país, totali-
zando mais de 16 mil casos nessas regiões nesse ano. Também foi mostrado
pelo Sinan que, em 2018, ocorreram cerca de 106 mortes no país geradas por
envenenamentos ocasionados por serpentes, tendo nos últimos 18 anos sido
registrados mais de 1.992 casos de óbitos ocasionados por acidentes ofídicos.
O único tratamento existente para o envenenamento por serpentes é
o soro antibotrópico por via intravenosa, ou, em sua falta, associações dos
soros antibotrópico-crotálico ou antibotrópico-laquético. Todavia, o soro an-
tibotrópico apresenta algumas limitações, dentre elas: não é eficaz para inibir
os efeitos locais, o atraso na administração pode atrapalhar a eficácia do trata-
mento, visto que as alterações patológicas têm início rápido, risco de reações
imunológicas, além do difícil acesso a algumas regiões5.

REFERÊNCIAS

1. GUTIÉRREZ, J. M.; THEAKSTON, R. D. G.; WARRELL, D. A.


Confronting the Neglected Problem of Snake Bite Envenoming: The Need for
a Global Partnership. PLOS Medicine, v. 3, n. 6, 2006.

2. FÉLIX-SILVA, J. et al. Inhibition of local effects induced by Both-


rops erythromelas snake venom: Assessment of the effectiveness of Brazilian
polyvalent bothropic antivenom and aqueous leaf extract of Jatropha gossypii-
folia. Toxicon, v. 125, n., p. 74-83, 2017.

3. GUTIERREZ, J. M. et al. Tissue pathology induced by snake ven-


oms: how to understand a complex pattern of alterations from a systems biol-
ogy perspective. Toxicon, v. 55, n. 1, p. 166-170, 2010.

4. BRASIL. Guia de Vigilância Epidemiológica. Ed. Brasília: Minis-


tério da Saúde, 2009.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de diagnóstico e tratamen-


to de acidentes por animais peçonhentos. Brasília: Fundação Nacional de
Saúde, 2001.

- 130 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Somos Júlia Gabriela Ramos Passos e Jacinthia Beatriz Xavier dos San-
tos, alunas de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
e Inovação Tecnológica em Medicamentos e pelo Programa de Pós-graduação
em Ciências Farmacêuticas, respectivamente, pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, orientadas pelo professor Matheus de Freitas Fernandes
Pedrosa. Somos bolsistas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes) e nossa pesquisa tem como objetivo desenvolver
uma nova formulação tópica contendo extratos de plantas que possuam poten-
cial para combater os efeitos locais gerados pelo envenenamento induzidos
por serpentes botrópicas.
Fazer pesquisa é um trabalho árduo, uma vez que podemos nos deparar
com frustrações causadas pela falta de recursos para dar continuidade a traba-
lhos que já estão apresentando bons resultados. Trabalhar com pesquisa tam-
bém requer muito sacrifício, como noites de sono perdidas em prol de estudos,
além de datas como feriados e finais de semana dedicadas a experimentos
importantes. Porém, nós, pesquisadores, sabemos o quanto é gratificante obter
um bom resultado, que possa gerar um novo produto que ajude a melhorar a
qualidade de vida de muitas pessoas, ou até salvá-las, além de contribuir com
o aumento da produção científica em nosso país.
Nossa pesquisa busca trazer benefícios para a sociedade através do de-
senvolvimento de um produto à base de extratos de plantas que possa agir
inibindo os efeitos locais gerados pelo envenenamento por serpentes. Assim,
a vítima, muitas vezes trabalhadores rurais, poderá ter acesso a um tratamento
mais rápido, de fácil acesso e administração, além do baixo custo, sendo esta
inovação uma nova possível opção para retardar ou inibir os efeitos locais
causados pelo envenenamento por serpentes botrópicas, melhorando o prog-
nóstico do paciente até sua chegada ao hospital.
Já foram realizados, em nosso grupo de pesquisa, estudos acerca do
poder antiofídico de plantas do gênero Jatropha, conhecidas popularmente
como “pinhão”, e foi observado que o extrato aquoso das folhas da J. gossy-
piifolia (“pinhão-roxo”) e de J.mollissima (“pinhão-bravo”) inibiu de forma
eficiente os efeitos locais provocados por espécies botrópicas. Também já foi
desenvolvido um gel por via tópica contendo o extrato aquoso das folhas de
J. gossypiifolia que foi capaz de inibir de forma eficaz modelos de inflamação
induzidos em modelos in vivo.

- 131 -
BUSCA POR SUBSTÂNCIA COM ATIVIDADE
CONTRA Klebsiella Pneumoniae

Laísa Vilar Cordeiroa


Edeltrudes de Oliveira Limab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Klebsiella pneumoniae é o nome dado a uma espécie de bactéria per-


tencente ao grupo das Gram-negativas. Essa espécie, que possui forma de bas-
tonete e uma cápsula ao seu redor, tem se tornado motivo de grande interesse
para estudos na área da saúde atualmente, devido ao aumento no número de
casos de infecções causadas por este microrganismo. Tais infecções ocorrem
tanto no ambiente hospitalar quanto fora deste (infecções comunitárias) e as
bactérias acometem principalmente o trato urinário, respiratório, pele, partes
moles, trato gastrointestinal e corrente sanguínea. São consideradas de alta
gravidade, principalmente quando afetam indivíduos que possuem o sistema
imunológico comprometido1.
Estima-se que essa espécie, sozinha, seja responsável por aproximada-
mente um terço do total das infecções causadas por bactérias Gram-negativas
em geral. No Brasil, K. pneumoniae ocupa o terceiro lugar entre os agentes
causadores das infecções hospitalares2. Já na Paraíba, a espécie foi identifica-
da como o principal microrganismo causador de infecções em dois hospitais
universitários de grande porte3. Além disso, as bactérias da espécie K. pneu-
moniae possuem uma grande capacidade de adquirir resistência a múltiplos
antibióticos e o aumento dos índices de bactérias resistentes trazem um grande
desafio no tratamento das infecções.
Em 2017 a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou uma lista
das mais importantes bactérias para as quais há a necessidade urgente de se-

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. laisavilar@gmail.com
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. edelolima@yahoo.com.br

- 132 -
rem desenvolvidos novos tratamentos. Os especialistas utilizaram como base
para construção deste documento critérios como mortalidade, prevalência da
resistência e transmissibilidade. A lista foi dividida em três níveis de neces-
sidade de desenvolvimento de antibióticos: crítico, alto e médio. Dentro do
grupo crítico, está a espécie K. pneumoniae 4.
O aumento do número de indivíduos com infecções causadas por K.
pneumoniae, somado ao fato de que estas bactérias conseguem ser resistentes
aos vários medicamentos que temos disponíveis no mercado, faz com que
sejam necessários investir esforços para reverter ou minimizar este quadro,
pois, caso contrário, estima-se que a partir de 2050 as “superbactérias” pode-
rão matar aproximadamente 10 milhões de pessoas por ano, superando, assim,
o número de óbitos pelo câncer, de acordo com a OMS.

REFERÊNCIAS

1. LOCKHART, S. R.; ABRAMSON, M. A.; BEEKMANN, S. E.;


GALLAGHER, G.; RIEDEL, S.; DIEKEMA, D. J.; QUINN, J. P.; DOERN,
G.V. Antimicrobial resistance among Gram-negative bacilli causing infec-
tions in intensive care unit patients in the United States between 1993 and
2004. Journal of Clinical Microbiology, v. 45, p. 3352-3359, 2007.

2. MARRA, A. R; CAMARGO, L. F.; PIGNATARI, A. C.; SUKIEN-


NIK, T.; BEHAR, P. R.; MEDEIROS, E. A.; RIBEIRO, J.; GIRÃO, E.;
CORREA, L.; GUERRA, C.; BRITES, C.; PEREIRA, C. A.; CARNEIRO,
I.; REIS, M.; DE SOUZA, M. A.; TRANCHESI, R.; BARATA, C. U.; ED-
MOND, M. B. Brazilian SCOPE Study Group. Nosocomial bloodstream in-
fections in Brazilian hospitals: analysis of 2,563 cases from a prosprective
nationwide surveillance study. Journal of Clinical Microbiology, v. 49, n.7,
p. 1866-1871, 2011.

3. PAZ, M. C. F.; FORTES, D. I. F. M.; SILVA, D. H. G. Análise da in-


fecção hospitalar em um hospital universitário na paraíba no período de 2012
a 2014. Revista Saúde e Ciência, v. 4, n. 3, p. 31-43, 2015.

4. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global priority list


of antibiotic-resistant bacteria to guide research, discovery, and develop-
ment of new antibiotics. 2017. Disponível em: https://www.who.int/medi-
cines/publications/WHO-PPL-Short_Summary_25Feb-ET_NM_WHO.pdf /.
Acesso em: 01 out. 2019.

- 133 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Laísa Vilar Cordeiro, sou aluna de doutorado do Progra-
ma de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (PgPNSB)
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). De antemão, deixo
aqui meus agradecimentos à Capes, à UFPB e ao PgPNSB pelo apoio à reali-
zação da minha pesquisa de doutorado, bem como por garantirem a execução
de outras pesquisas aqui no Brasil.
Meu doutorado se concentra no campo da farmacologia, com ênfase em
microbiologia. O objetivo da minha pesquisa é encontrar uma substância que
tenha atividade contra bactérias da espécie Klebsiella pneumoniae, sejam elas
sensíveis ou resistentes aos medicamentos convencionais que já existem no mer-
cado. Foram testadas mais de cem moléculas para, enfim, ser encontrada uma
substância que conseguisse atuar contra estas bactérias. Com esta molécula, que
é uma amida sintética, sigo investigando seu potencial de uso na prática clínica e
também por qual mecanismo ela atua para conseguir matar os microrganismos.
Este projeto pode impactar diretamente a sociedade, uma vez que esta
molécula pode vir a se tornar um medicamento, após serem feitos exaustivos
testes para que se chegue a um produto final disponível em farmácias e hospi-
tais. Como explicado na introdução ao tema, embora tenhamos muitas opções
de medicamentos antibacterianos comercializados atualmente, os microrga-
nismos estão adquirindo cada vez mais resistência a estes tratamentos.
Assim, é muito importante que consigamos ter alternativas de novos
medicamentos, para tratar infecções que já não respondem mais aos medica-
mentos convencionais. Para que um novo medicamento seja produzido, são
necessários muitos anos de pesquisa de base (para encontrar uma molécula
com boa atividade) e mais vários anos para testar a eficácia e segurança daque-
le produto, pois o objetivo principal é sempre garantir a saúde dos usuários.
As Universidades Federais são locais onde existem pesquisas de quali-
dade, embora os pesquisadores contem, muitas vezes, com recursos bastante
limitados. Todas as pesquisas visam beneficiar a população, direta ou indireta-
mente. Investir nas pesquisas realizadas nas Universidades Federais é garantir
que esse investimento retorne para a população na forma de produto, serviço
ou conhecimento. Garante também a formação de profissionais altamente qua-
lificados e é de fundamental importância para o desenvolvimento de um país.

- 134 -
BUSCA POR SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE
ANTI-Microsporum

Francisco Patricio de Andrade Júniora


Edeltrudes de Oliveira Limab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os fungos são micro-organismos que podem ser encontrados na água,


solo, ar e alimentos, podendo causar o desenvolvimento de doenças em seres
humanos, a exemplo dos fungos do gênero Microsporum, que são transmiti-
dos pelo contato com outros seres humanos ou animais infectados e pelo solo1.
Esses micro-organismos são responsáveis por causar micoses, prin-
cipalmente, em pele e pelos, sendo estas conhecidas como dermatofitoses e
popularmente como tinhas, podendo atingir indivíduos de ambos os sexos e
todas as faixas etárias2.
As tinhas de pele são nomeadas de tinea corporis e se apresentam como
lesões em formato de anel, de coloração avermelhada com tamanho variável,
que podem se espalhar pelo tronco e demais extremidades. Enquanto as ti-
nhas que surgem em pelos são nomeadas de Tinea capitis e são comumente
observadas nos cílios, sobrancelhas e couro cabeludo se apresentando como
lesões brandas, descamativas e/ou avermelhadas, podendo ocasionar perda de
cabelo, atingindo, principalmente, crianças1,2,3.
O tratamento medicamentoso empregado para esse tipo de doença é
feito por meio do uso de cetoconazol, itraconazol e griseofulvina, entretanto
nota-se que atualmente há casos em que os fungos de gênero Microsporum
encontram-se resistentes a essa terapêutica contribuindo para o aumento de
lesões físicas e psicológicas2, fazendo com que seja necessária a busca por
novas moléculas com atividade anti-Microsporum.

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. juniorfarmacia.ufcg@outlook.com
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. edelolima@yahoo.com

- 135 -
REFERÊNCIAS

1.HAWKINS, D. M.; SMIDT, A. C. Superficial fungal infections in


Children. Pediatric Clinics of North America, v. 61, n.2, p. 443-455, 2014.

2.LANA, D. F. D.; BATISTA, B. G.; ALVES, S. H.; FUENTEFRIA,


A. M. Dermatofitoses: agentes etiológicos, formas clínicas, terapêutica e no-
vas perspectivas no tratamento. Clinical & Biomedical Research, v. 36, n. 4,
p. 230-241, 2016.

3.CHAMPAGNE, C.; ALWASH, N.; PATEL, M.; ARUJUNA,


N.; FARRANT, P. Hair loss in infancy and childhood. Paediatrics and Child
Health, v. 25, n. 2, p. 66-71, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Francisco Patricio de Andrade Júnior, sou farmacêutico e


estudante de Mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Produtos Natu-
rais e Sintéticos Bioativos da Universidade Federal da Paraíba sob a orien-
tação da Professora Doutora Edeltrudes de Oliveira Lima. Sou bolsista pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
me dedico exclusivamente ao desenvolvimento de pesquisa e a produção de
artigos científicos.
Nosso estudo busca testar moléculas de origem natural ou sintética que
apresentem atividade contra fungos do gênero Microsporum. Além disso, ain-
da estudamos a forma que essas moléculas podem agir nesses patógenos e
comparamos com outros fármacos já utilizados na prática clínica e, por vezes,
é possível encontrar substâncias promissoras e que apresentam potencial para
tornarem-se candidatos a fármaco no futuro. Contudo, para que isso possa
ocorrer são necessários anos de estudo e dedicação, assim como mais investi-
mentos em infraestrutura, equipamentos e incentivo financeiro.
Atualmente, estamos estudando uma nova molécula sintética que
apresentou melhor atividade do que o cetoconazol e griseofulvina contra
fungos do gênero Microsporum, o que nos estimula a continuar. Eu me sinto
extremamente feliz por estar contribuindo para o desenvolvimento da pes-
quisa brasileira e a sociedade, uma vez que este estudo pode originar dire-
tamente um novo medicamento e contribuir para o tratamento de diversas
pessoas que estão sofrendo com fungos resistentes aos medicamentos já dis-
poníveis no mercado.

- 136 -
SUBSTÂNCIAS COM ATIVIDADE CONTRA FUNGOS
DO GÊNERO Aspergillus

Elba dos Santos Ferreiraa


Ricardo Dias de Castrob

INTRODUÇÃO AO TEMA

Aspergilose é uma infecção fúngica oportunista, das mais comuns em


todo o mundo, e atinge principalmente indivíduos com baixa imunidade.
É causada por fungos do gênero Aspergillus, que compreende fungos filamen-
tosos, amplamente distribuídos na natureza, sendo encontrados no solo, no
material orgânico em decomposição, podendo originar vários quadros clíni-
cos, responsáveis por altas taxas de mortalidade1.
Sua contaminação para o ser humano se dá por inalação de estruturas
reprodutivas, chamadas esporos ou conídios, sendo a via aérea a principal via
de penetração. Entretanto, esses fungos podem contaminar ferimentos, como
também penetrar nos tecidos por ocasião de cirurgias. A inalação de esporos
também pode causar doenças pulmonares que vão desde a inflamação local
das vias aéreas a infecções pulmonares graves e com risco de vida, tais como
Aspergilose broncopulmonar alérgica e Aspergilose invasiva2.
Além da infecção nos pulmões, que é a forma mais grave da Aspergilose,
os fungos do gênero Aspergillus também podem causar Aspergilose cutânea (in-
fecção na pele), otomicose aspergilar (infecção do ouvido), onicomicose asper-
gilar (infecções nas unhas), sinusite aspergilar (infecção dos seios paranasais),
acometimento neurológico, e micotoxicoses, que representam intoxicações por
toxinas produzidas por este gênero, que contaminam alimentos3.
O medicamento mais utilizado e mais eficiente hoje para o tratamento
da Aspergilose é o Voriconazol. Entretanto, em alguns casos, pode ocorrer
uma “adaptação” dos fungos a esse medicamento criando mecanismos de re-

a Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. elbaferreira99@gmail.com
b Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos e Programa de Pós-graduação em Odontologia Social. rcastro@ccs.ufpb.br

- 137 -
sistência, de forma que o indivíduo faz uso do medicamento, e este não faz
mais efeito no fungo. Dessa forma, os sintomas não desaparecem e o indiví-
duo não obtém a cura da doença.
Quando acontecem casos de resistência ao Voriconazol, ou os pacientes
não podem usar esse medicamento por algum outro motivo, o medicamento de
escolha é a Anfotericina B. No entanto, esse medicamento possui uso limitado,
devido a sua toxicidade. Outros medicamentos podem ser utilizados, entretanto,
são menos eficientes que o Voriconazol e a Anfotericina B, entre eles, pode-se
falar do itraconazol, posaconazol, isavuconazol, caspofungina e micafungina.
Diante desses desafios no tratamento da doença, e sabendo que existem
formas graves da Aspergilose, com altas taxas de mortalidade dos indivíduos
que contraem a doença, torna-se importante e necessário desenvolver novos
medicamentos que possam tratar a Aspergilose nos casos em que os medica-
mentos que se tem hoje não são eficazes, e devolver a saúde a essas pessoas.
Para isso são necessários anos e anos de pesquisa, na busca de novas subs-
tâncias, realização de testes que comprovem a eficácia, e investimento para a
produção do medicamento.

REFERÊNCIAS

1. JIANG, Z.; WANG, Y.; JIANG, Y.; XU, Y.; MENG, B. Vertebral
osteomyelitis and epidural abscess due to Aspergillus nidulans resulting in
spinal cord compression: Case report and literature review, Journal of Inter-
national Medical Research, v. 41, n. 2, p. 502–510, 2013.

2. BEISSWENGER, C.; HESS, C.; BALS, R. Aspergillus fumigatus


conidia induce interferon-b signalling in respiratory epithelial cells. Europe-
an Respiratory Journal, v. 39, p. 411–418, 2012.

3. SIDRIM, J. J. C.; ROCHA, M. F. G. Micologia médica à luz de au-


tores contemporâneos. Rio de Janeiro/RJ: Guanabara Koogan, 2004.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Elba dos Santos Ferreira, sou aluna de doutorado


do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos
da Universidade Federal da Paraíba, orientada pelo professor Ricardo Dias
de Castro. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesso-
al de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre a busca de novas

- 138 -
substâncias ativas que possam se tornar futuros medicamentos para o tratamento
da Aspergilose.
Desde a minha graduação, mais ou menos no quarto período, percebi a
minha paixão pela ciência, e decidi que queria me tornar professora e pesquisa-
dora. Sinto-me privilegiada por ter escolhido essa área de trabalho para a minha
vida profissional, porque assim consigo entender um pouco mais sobre esse tipo
de doença para buscar novas alternativas terapêuticas para o tratamento e cura,
e dessa forma poder contribuir para o tratamento de muitas pessoas.
Uma grande felicidade na pesquisa hoje para mim é ver resultados po-
sitivos. Ver que depois de muito estudo, preparo do experimento, execução da
técnica, consigo ver que uma substância mostra eficácia em causar a morte do
fungo, e pode vir a se tornar um medicamento futuramente. Ao mesmo tempo,
me sinto desanimada em saber que aquele resultado antifúngico daquela subs-
tância poderá nunca nem sair da Universidade, devido à dificuldade no avanço
da pesquisa, por vários motivos, seja falta de investimento em equipamentos
mais modernos para dar uma qualidade melhor aos resultados, seja pela falta
de interesse da própria indústria farmacêutica brasileira em fazer parcerias
com as Universidades para desenvolver novas substâncias. Mas continuo es-
perançosa de que essa realidade possa mudar.
O maior objetivo em desenvolver pesquisa é beneficiar a sociedade,
trazendo resultados bons de produtos que possam se tornar medicamentos se-
guros e eficazes, e que possam ser comercializados a um baixo custo, para
que todos possam ter acesso. Além disso, a pesquisa na farmacologia propicia
mais conhecimento sobre a doença estudada, o que favorece o estudo para o
desenvolvimento de medicamentos por outros pesquisadores também.
Na minha pesquisa, foi testada uma molécula contra Aspergillus fla-
vus e Aspergillus niger, duas espécies do gênero Aspergillus que causam a
Aspergilose, e foi observado que essa molécula possui atividade antifúngica,
inibindo a propagação e causando a morte destes fungos. Além disso, a espé-
cie de A. niger utilizada foi resistente aos dois principais medicamentos utili-
zados no tratamento da Aspergilose, que são o Voriconazol e a Anfotericina B,
e a substância teste foi eficaz contra essa espécie, mostrando assim que esta
substância pode ser utilizada para o tratamento da Aspergilose causada por
espécies resistentes, beneficiando muitas pessoas que contraiam essa doença.

- 139 -
ESTUDO DE COMPOSTOS SINTÉTICOS COM
ATIVIDADE ANTI-Cryptococcus

Anna Paula de Castro Teixeiraa


Igara Oliveira Limab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Cryptococcus é um gênero que inclui espécies fúngicas unicelulares e


encapsuladas, a exemplo de C. neoformans e C. gattii. Ao microscópio óptico,
o micro-organismo é visto em contraste com a tinta nanquim, caracterizando
a presença de uma colônia oval, unicelular, na qual se pode ver nitidamente a
cápsula polissacarídica1.
Comumente encontradas em centros urbanos, em fezes de pombos ou
em eucalipto, as espécies desse gênero são disseminadas em todo o mundo.
Infecciona pacientes com a imunidade comprometida e, em alguns casos,
imunocompotentes. A criptococose pode acometer também animais domésti-
cos, sendo popularmente conhecida como doença do pombo2.
O processo infeccioso é iniciado após a inalação da levedura e alo-
jamento no pulmão, desencadeando pneumonia criptocócica. Quando o fun-
go migra para o sistema nervoso central, desencadeia a meningoencefalite.
Os sintomas podem incluir estado mental alterado, dor de cabeça prolongada,
febre e mal-estar, fotofobia e rigidez na nuca3,4.
O tratamento de escolha é a administração do complexo lipídico da
anfotericina B com a 5-flucitosina, por um período mínimo de duas semanas e
terapia de manutenção com o fluconazol durante seis a doze meses4.
No Brasil, a criptococose causou 80% do número de óbitos em pa-
cientes infectados no período de 2000 a 2012, sendo majoritário em pacien-
tes portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Sendo
assim, esses pacientes, mesmo em tratamento antirretroviral e fazendo uso

a Universidade Federal de Campina Grande – Campus Cuité (PB). Centro de Educação e Saúde. Progra-
ma de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotecnologia. annapaula.1993@gmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande. Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotec-
nologia – Campus Cuité (PB). Centro de Educação e Saúde. igaralima.ufcg@gmail.com

- 140 -
da terapia antifúngica, nem sempre obtêm um quadro clínico de melhora,
tendo em vista que a terapêutica medicamentosa não foi capaz de eliminar
completamente a levedura5.

REFERÊNCIAS

1. MAZIARZ, E. K.; PERFECT, J.R. Cryptococcosis. Infectious Dis-


ease Clinics, v. 30, n. 1, p. 179-206, 2016.

2. EL-FANE, M.; BADAOUI, L.; OULADLAHSEN, A.; SODQI, M.;


MARIH, L.; CHALIB, A.; MORHOUM EL FILALI, K. Cryptococcosis during
HIV infection. Journal de Mycologie Médicale, v. 25, n. 4, p. 257-62, 2015.

3. SILVA, M. A. P.; GAGLIANI, L. H. Diagnóstico e prevalência da me-


ningite criptococócica em pacientes portadores da Sindrome da Imunodeficiên-
ca Adquirida–SIDA. UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 11, n. 22, p. 23-44, 2014.

4. BADDLEY, J W; FORREST, G N. Cryptococcosis in solid organ trans-


plantation -Guidelines from the American Society of Transplantation Infectious
Diseases Community of Practice. Clinical trasnplatation, p. e13543, 2019.

5. SOARES, E. A. et al. Mortality by cryptococcosis in Brazil from 2000


to 2012 A descriptive epidemiological study. PLoS Neglected Tropical Disea-
ses, v. 13, n. 7, p. e0007569, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Anna Paula de Castro Teixeira, sou aluna do Programa de


Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotecnologia, orientada pela profes-
sora Dra. Igara Oliveira Lima. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e me dedico exclusivamente a
minha pesquisa sobre a busca de novos fármacos como alternativa em poten-
cial para o tratamento da criptococose.
Sou inserida em um meio social em que as pessoas ainda acreditam
que a pesquisa pode sim fazer diferença no desenvolvimento socioeconô-
mico do país. Estudamos moléculas orgânicas obtidas pelo processo de sín-
tese como forma de inovação tecnológica para a busca de alternativas em
potencial para o tratamento de criptococose. É possível que essas moléculas
sejam candidatas a se tornarem novos fármacos, e para isso, nossos estudos

- 141 -
constituem as primeiras etapas da fase pré-clínica para o desenvolvimento
de medicamentos. Para isto, é necessário que haja investimentos, infraestru-
tura e incentivo financeiro.
Hoje me sinto encorajada a cada desafio que a pesquisa tem me propor-
cionado e dessa forma continuar contribuindo cientificamente para a pesquisa
in vitro de moléculas contra a criptococose. Atualmente, nossos estudos já
renderam duas patentes depositadas no Instituto de Nacional da Propriedade
Industrial (INPI) e estamos em fase de escrita de material para publicação
(artigos e patentes), sendo de relevância científica a pesquisa nessa linha, uma
vez que se trata de moléculas em potencial para o desenvolvimento de medi-
camentos que possuam ação anti-Cryptococcus.

- 142 -
Atividade antifúngica de NOVAS drogas
naturais: um estudo realizado em alimentos

César Augusto Costa de Medeirosa


Fillipe de Oliveira Pereirab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A contaminação de alimentos por microrganismos acarreta grandes pro-


blemas relacionados a perdas de produção dos alimentos e a Doenças Trans-
mitidas por Alimentos (DTA). Os fungos são seres que contaminam bastante
os alimentos, onde, além de causarem perdas destes alimentos, podem causar
problemas para a saúde, uma vez que produzem substâncias tóxicas aos seres
humanos e animais¹ ².
Com o objetivo de reduzir perdas na produção alimentícia, a utilização
de produtos químicos como conservantes que viessem a controlar a prolifera-
ção de fungos tornou-se uma alternativa viável. Porém, muitas questões têm
desestimulado o uso destes conservantes químicos, visto que estes estão asso-
ciados à toxicidade e ao surgimento de câncer ³.
Diante desta problemática, muitas pesquisas relacionadas ao desenvol-
vimento e avaliação da atividade de drogas que venham a desempenhar o
papel de conservantes de alimentos sem causar prejuízos à saúde dos consu-
midores são de extrema importância. O uso de drogas naturais, além de con-
trolar a proliferação de pragas como os fungos, ainda pode ser uma alternativa
sustentável, visto que não agridem o meio ambiente.
Sabendo desde já que as plantas medicinais se apresentam como fon-
te de novas drogas que podem ser úteis para esta conservação de alimentos,
a nossa pesquisa teve como finalidade a avaliação da atividade antifúngica de
uma substância presente nas flores da camomila, em que utilizamos grãos de
milho como alimento para verificar a atividade.

a Graduando do curso de Bacharelado em Farmácia (Universidade Federal de Campina Grande).


cesaracmcosta@gmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Educação e Saúde (CES), Campus Cuité
–PB. fillipefop@yahoo.com.br.

- 143 -
REFERÊNCIAS

1. MACWAN, S. R.; DABHI, B. K.; APARNATHI, K. D.; PRAJAPA-


TI, J. B. Essential oils of herbs and spices: Their antimicrobial activity and
application in preservation of food. International Journal of Current Mi-
crobiology and Applied Sciences, v. 5, n. 5, p. 885-901, 2016.

2. VILLEGAS-RASCON, R. E. et al. Control of mycotoxigenic fungi


with microcapsules of essential oils encapsulated in chitosan. Food Sci. Tech-
nology, Campinas, 2017.

3. ABBASZADEH, S.; SHARIFZADEH, A.; SHOKRI, H., KHOS-


RAVI, A. R.; ABBASZADEH, A. Antifungal efficacy of thymol, carvacrol,
eugenol and menthol as alternative agents to control the growth of food-rele-
vant fungi. Journal de Mycologie Médicale/Journal of Medical Mycology,
v. 24, n. 2, p. e51-e56, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é César Augusto Costa de Medeiros, sou aluno de graduação


do curso de Bacharelado em Farmácia da Universidade Federal de Campina
Grande, orientado pelo professor Dr. Fillipe de Oliveira Pereira. Fui bolsista
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
durante o desenvolvimento do estudo, no período de 09/2017 a 09/2018 e a
referida pesquisa trata sobre a avaliação da atividade antifúngica de novas
drogas e seu potencial na conservação de alimentos, utilizando alternativas
naturais, como substâncias extraídas de plantas medicinais.
Durante a avaliação da atividade protetora da droga sobre os alimen-
tos, obtivemos um resultado bastante promissor, visto que ela conseguiu
controlar a proliferação de fungos nos grãos de milho. Entretanto, não só
avaliamos a atividade da droga, como também resolvemos aperfeiçoar o
rendimento de outras técnicas de conservação de alimentos, a exemplo da
utilização do Cloreto de Sódio (NaCl), mais conhecido como sal de cozinha,
que também é um excelente conservante de alimentos, mas que pode vir a
causar outros prejuízos à saúde do consumidor, como hipertensão, caso seja
utilizado em alta quantidade. Desta forma a união da droga natural com o
sal de cozinha resultou excelente atividade conservadora de alimentos, prin-
cipalmente pelo fato de que os dois juntos, em pequena quantidade, conse-
guiram controlar o fungo.

- 144 -
Estas técnicas de conservação, utilizando drogas naturais, são bastante
favoráveis à população, visto que, impedindo a proliferação de microrganis-
mos nos alimentos, resulta em diminuição no número de intoxicações cau-
sadas por alimentos contaminados. O aumento de investimentos nesta área,
junto da divulgação de resultados promissores da atividade destes produtos
naturais, é bastante importante, tanto para o despertar de novas pesquisas ante
a outros compostos extraídos de plantas medicinais, visto que as utilizações de
técnicas sustentáveis são bem-vistas para o futuro da nossa população.

- 145 -
DESCOBRINDO O POTENCIAL ANTIFÚNGICO
DE PRODUTOS NATURAIS SOBRE FUNGOS
DERMATÓFITOS

Josenildo Cândido de Oliveiraa


Fillipe de Oliveira Pereirab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Fungos são micro-organismos presentes na natureza que desempenham


funções vitais para o meio ambiente. Os fungos possuem as mais diversas
utilidades, ora na natureza, atuando na decomposição de matéria orgânica, ora
para os seres humanos, já que alguns fungos servem de fonte para produção
de medicamentos e outros são importantes para a indústria de alimentos, cer-
vejas, vinhos, cachaça, entre outros. No entanto, existem também grupos de
fungos capazes de causar doenças aos seres humanos e animais, como é o caso
dos fungos chamados de dermatófitos. Estes dermatófitos são classificados em
três gêneros: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton1.
Esta característica dos fungos de causarem doenças se dá porque a pele,
os pelos e unhas de seres humanos e dos animais têm em sua constituição
uma proteína chamada de queratina. Os dermatófitos utilizam essa proteína
como fonte de alimento e por isso eles invadem e colonizam nossos tecidos,
causando lesões superficiais na pele, chamadas de tineas2. Essas lesões podem
atingir partes específicas do corpo e por isso são classificadas com o nome
tinea, seguida da região afetada, como: a tinea corporis afeta ombros, tronco
e braços, a infecção nas unhas é chamada de tinea das unhas e a infecção nos
pés é conhecida como tinea pedis e assim sucessivamente1.
Mas no dia a dia estas doenças são muito conhecidas por impingem,
impinge, pé de atleta, unha mofada (“fofa”) entre outros. Essas doenças são
um problema que afeta a população no mundo inteiro e entre os principais gru-
pos de pessoas acometidas estão idosos e pessoas que estão com suas defesas

a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Educação e Saúde (CES), Campus
Cuité – PB. josenildooliver@rocketmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Educação e Saúde (CES), Campus
Cuité – PB. fillipefop@yahoo.com.br

- 146 -
imunológicas frágeis como as que fazem transplante de órgão, tratamento para
câncer e pacientes com AIDS.
Apesar de existirem medicamentos disponíveis para o tratamento, mui-
tas vezes podem ocasionar problemas para os pacientes, o que faz com que
muitos abandonem o tratamento antes do tempo previsto para cura. Outra li-
mitação é a quantidade reduzida de medicamentos com ação antifúngica que
existem atualmente. Assim como outros seres vivos os fungos conseguem se
adaptar ao meio em que vivem e desenvolvem defesas próprias que impedem
que o medicamento exerça sua ação e não consiga servir para tratar a doença2.
Por isso, precisamos buscar outras formas de tratar essas doenças.
Novas pesquisas estão sendo realizadas com o objetivo de descobrir e
desenvolver novas alternativas de tratamento para essas doenças. Uma vez
que a natureza é rica em diversidade de plantas medicinais, é possível encon-
trar nelas inúmeras moléculas com atividade contra fungos. Algumas plantas
são muito perfumadas e exalam um aroma muitas vezes bem agradável. Pois
bem, este aroma é devido ao óleo essencial presente nas plantas. Estes óleos
podem ser utilizados na fabricação de perfumes e produtos cosméticos, mas
também eles possuem um grande potencial antimicrobiano. Isto se deve ao
fato de estes óleos possuírem moléculas importantes como terpenos, dentre
várias outras substâncias3.
O que fazemos no laboratório é verificar se drogas ou moléculas oriun-
das das plantas têm a capacidade de eliminar o fungo ou impedir sua prolife-
ração e se quando combinado com um medicamento que já existe no mercado
ele consegue melhorar sua atividade. Isto pode ser extremamente útil porque
pode reduzir o desenvolvimento de resistência dos fungos, o que reflete em
menos recaídas ou retorno da doença na população.
Essas pesquisas trazem resultados e informações importantes que podem
ser usados para melhorar a saúde da população e servirão para o futuro desen-
volvimento de medicamentos antifúngicos ainda mais eficazes. Uma forma de
beneficiar o paciente é reduzir os efeitos adversos, o que resultará em um tra-
tamento mais agradável que terá menos chances de ser abandonado. A ciência
avança criando perspectivas, cabendo às pesquisas científicas comprovarem.

REFERÊNCIAS

1. DALLA LANA, D. F. et al. Dermatofitoses: agentes etiológicos, for-


mas clínicas, terapêutica e novas perspectivas de tratamento. Clinical & Bio-
medical Research, v. 36, n. 4, p. 230-241, 2016.

2. DE AGUIAR PERES, N. T. et al. Dermatófitos: interação patógeno-


-hospedeiro e resistência a antifúngicos. Anais Brasileiros Dermatologia,
v. 85, n. 5, p. 657-67, 2010.

3. LOPES, G.; PINTO, E.; SALGUEIRO, L. Natural Products: An Al-


ternative to Conventional Therapy for Dermatophytosis? Mycopathologia,
v. 182, n. 1-2, p. 143-167, 2016.

- 147 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Josenildo Cândido de Oliveira, sou bacharel em Farmácia
pela Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde
- Campus Cuité-PB, orientando do professor Dr. Fillipe de Oliveira Pereira.
Fui aluno de iniciação científica em um projeto institucional e minha pesquisa
visava verificar o potencial antifúngico de produtos naturais como terpenos na
modulação da sensibilidade de fungos dermatófitos como Trichophyton spp.
ao fármaco antifúngico griseofulvina.
Desenvolver uma pesquisa é algo gratificante. A troca de informações
e o engajamento com a equipe envolvida enriquecem a vivência do aluno na
universidade e complementam sua formação acadêmica à medida que faze-
mos ciência.
Os conhecimentos obtidos correm o mundo vinculado a artigos cientí-
ficos, livros e outros meios beneficiando também outras pesquisas em outras
instituições. Isto faz parte da maioria das pesquisas envolvendo ciências bási-
cas. E assim contribuímos embasando futuras pesquisas que visem à aplicação
desses compostos com capacidade antifúngica no desenvolvimento de medi-
camentos que busquem tratar infecções por fungos dermatófitos.
Em nossa pesquisa um dos terpenos demonstrou promissora atividade
quando associado ao fármaco griseofulvina que é tradicionalmente utilizado
na clínica. Apesar de serem necessários mais estudos e aprofundamentos, os
resultados obtidos sugerem um possível uso no tratamento de infecções fúngi-
cas superficiais especialmente nas dermatofitoses.

- 148 -
Escherichia Coli: BUSCA POR SUBSTÂNCIAS
PROMISSORAS A FÁRMACOS

Maria Franncielly Simões de Moraisa


Edeltrudes de Oliveira Limab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Desde 98 A. C. Lucretius, através de seus poemas, falava sobre a exis-


tência de seres vivos de tamanho tão pequeno que era impossível de serem ob-
servados pelo ser humano, mas, em contrapartida, eram capazes de lhe causar
doenças. Esses pequenos seres vivos são o que hoje se define como bactérias,
que são classificadas como micro-organismos procariontes e unicelulares e
que podem ser encontradas no ar, na água, no solo, nos alimentos e na micro-
biota normal dos mais diversos animais, incluindo o ser humano1,2.
Muitas bactérias podem viver de forma harmônica com o seu hospe-
deiro e, portanto, são classificadas como comensais. Porém, em determi-
nadas circunstâncias, tais como situações de estresse, de imunodeficiência
e de variação de temperatura, umidade e/ou pH, essas bactérias podem se
reproduzir de maneira exacerbada, colonizando ambientes atípicos e, tor-
nando-se, assim, patogênicas. A exemplo tem-se a Escherichia coli, bact
éria Gram negativa que normalmente habita o intestino dos animais, porém
algumas cepas são capazes de causar diversas infecções intestinais e extrain-
testinais, tais como infecções do trato urinário, diarreia, meningite neonatal
e, até mesmo, septicemia3,4.
Por muito tempo as infecções causadas por bactérias Gram negativas
eram controladas por meio do tratamento com antibióticos da classe das cefa-
losporinas entretanto, devido aos diversos mecanismos de resistência desen-
volvidos pelas bactérias ao longo dos anos, essa alternativa farmacológica, de
maneira isolada, não é mais capaz de conter todas as infecções causadas pela

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. franncirllysimoes@gmail.com
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. edelolima@yahoo.com

- 149 -
Escherichia coli e, dessa maneira, se faz necessária a busca por novas molé-
culas com atividade farmacológica ante a esse tipo de bactéria4,5.

REFERÊNCIAS

1. RODRIGUES, F. J. B.; BARROSO, A. P. D. Etiologia e sensibilida-


de bacteriana em infecções do tracto urinário. Revista Portuguesa de Saúde
Pública, v. 29, n. 2, p. 123-131, 2011.

2.SANTOS, N. Q. A resistência bacteriana no contexto hospitalar. Tex-


to Contexto Enfermagem, v. 13, n.esp, p. 64-10, 2004.

3. PRESCOTT, L. M., HARLEY, J. P.; KLEIN, D.A. Microbiology. ed


6. New York: McGraw Hill, 2005.

4. LIMA, D. S.; LIMA, J. C.; CAVALCANTI, R. M. C. B.; SANTOS,


B. H. C.; LIMA, I. O. Estudo da atividade antibacteriana dos monoter-
penos timol e carvacrol contra cepas de Escherichia coli produtoras de
β-lactamases de amplo espectro. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 8,
n. 1, p. 17-21, 2017.

5. RATH, S.; DUBEY, D.; SAHU, M. C.; PADHY, R. N. Surveillance of


ESBL producing multidrug resistant Escherichia coli in a teaching hospital in
India. Asian Pacific Journal of Tropical Disease, v. 4, n. 2, p. 140-149, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu, Maria Franncielly Simões de Morais, sou farmacêutica pela


Universidade Federal de Campina Grande – Centro de Educação e Saúde
(UFCG – CES), pós-graduanda em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêu-
tica pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ) e mestranda em
Farmacologia, com ênfase em Microbiologia, pelo programa de Pós-gradua-
ção em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Universidade Federal da
Paraíba, sob orientação da Professora Doutora Edeltrudes de Oliveira Lima.
Nossa pesquisa tem por objetivo testar moléculas inéditas, de origem
sintética, na tentativa de encontrar alguma (s) substância (s) que apresente
(m) atividade farmacológica ante a bactérias que já se mostram resistentes aos
medicamentos atualmente disponíveis no mercado farmacêutico, tais como a

- 150 -
Escherichia coli, de origem hospitalar. Além disso, ainda fazemos testes para
elucidar o mecanismo de ação dessas moléculas e comparamos com fármacos
que já são prescritos e utilizados por pacientes ambulatoriais e hospitalizados.
A incessante busca por essas substâncias não se limita somente a en-
contrar moléculas com boa atividade farmacológica. Há também uma pre-
ocupação quanto à sua toxicidade, pois de nada adianta apresentarem uma
excelente atividade farmacológica e serem potencialmente tóxicas. Portanto,
dessa maneira se caminha na busca por substâncias promissoras que, futura-
mente, podem se tornar medicamentos e representar uma nova alternativa de
tratamento para essas infecções bacterianas, ajudando, assim, a sociedade na
luta contra essas infecções que, de maneira geral, representam grande risco
para a saúde e elevado custo para os cofres públicos.
Sinto-me extremamente realizada e honrada por, através do meu pro-
jeto de pesquisa, fazer ciência para a sociedade, tendo em vista que busco
uma nova alternativa de tratamento para infecções bacterianas que, por muitas
vezes, o tratamento com os antibióticos já existentes no mercado não é mais
eficaz. Porém, vale ressaltar que fazer pesquisa de qualidade e com responsa-
bilidade ética e moral requer muito estudo, dedicação e investimento.

- 151 -
PESQUISA POR NOVAS SUBSTÂNCIAS COM
AÇÃO ANTIFÚNGICA

Maria Thaynara Jorge Freirea


Egberto Santos Carmob

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os fungos são seres eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, ampla-


mente distribuídos na natureza, inclusive tendo alguns representantes, como
as leveduras do gênero Candida, fazendo parte da composição da microbiota
humana. São comumente encontrados residentes na mucosa gastrointestinal,
vaginal e oral. Quando acontece algum desequilíbrio na imunidade, alguns
organismos comensais podem tornar-se perigosos, ou seja, são capazes de
causar doenças.1
Leveduras do gênero Candida podem causar, por oportunismo, doenças
denominadas candidíases, especialmente em indivíduos com algum tipo de
deficiência imunológica, como é o caso daqueles com a síndrome da imuno-
deficiência adquirida (SIDA), pessoas transplantadas em terapia imunossu-
pressora e pacientes em tratamento de câncer. Dentre as principais espécies
que causam candidíase, destacam-se Candida albicans, Candida parapsilosis,
C. tropicalis, C. krusei e C. glabrata.2
Além do fluconazol, outros fármacos para tratamento de micoses são utili-
zados na prática clínica, como: anfotericina B, nistatina, voriconazol, intracona-
zol e mais recentemente membros da classe das equinocandinas, como a caspo-
fungina. O tempo de tratamento depende do fármaco e da gravidade da infecção,
variando de acordo com o quadro clínico do paciente. Contudo, um grande pro-
blema que vem sendo enfrentado nos últimos anos relaciona-se ao aparecimento
de cepas resistentes ao tratamento farmacológico. A citar como exemplo, espé-
cies como C. kruzei e C. glabrata possuem resistências intrínseca ao fluconazol,
não devendo ser prescrito nas infecções por estes microrganismos.3

a Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. thaynarajorgef68@gmail.com.


b Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. egbertosantos@ufcg.edu.br.

- 152 -
Outro grande problema relacionado ao tratamento antifúngico reside no
fato de muitos deles apresentarem potenciais e importantes reações adversas,
como desordens gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal) e mani-
festações toxicológicas nos rins e fígado. Tais fatos podem colaborar para que
indivíduos abandonem o tratamento e, consequentemente, também contribuir
com o surgimento de microrganismos resistentes.4
Todos esses problemas citados acima, atrelados ao limitado arsenal te-
rapêutico disponível no mercado, estimulam pesquisadores a estudar mais so-
bre o assunto, buscando por novas substâncias que demonstrem ação antifún-
gica, sendo, preferencialmente, mais seguras, efetivas e de baixo custo. Essa
busca por novas substâncias pode ser feita tanto a partir de produtos de origem
natural, como é o caso das plantas, como também por produtos sintéticos.5

REFERÊNCIAS

1.PLAS, R. V. D. Candidíase oral: Manifestações clínicas e Tratamen-


to. Dissertação. Porto: Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernan-
do Pessoa, 2016.

2.KHEDRI, S. et al. Iranian HIV/AIDS patients with oropharyngeal


candidiasis: identification, prevalence and antifungal susceptibility of Candi-
da species. Letters in Applied Microbiology, v. 67, n. 4, p. 392-399, 2018.

3.GRANINGER, Wolfgang; DIAB-ELSCHAHAWI, Magda; PREST-


ERL, Elisabeth. Antifungal Agents. In: Clinically Relevant Mycoses. Spring-
er, Cham, 2019. p. 31-42.

4. KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farmacolo-


gia Básica e Clínica. 12. ed. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda, 2014.

5.SILVA, Diego Romário et al. Os produtos naturais são uma alternati-


va para o tratamento da candidose oral? Uma revisão de ensaios clínicos. Ar-
chives of Health Investigation, v. 7, n. 12, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Maria Thaynara Jorge Freire, sou aluna de gradua-


ção em Farmácia da Universidade Federal de Campina Grande, orientada
pelo professor Egberto Santos Carmo e pude experimentar um pouco da

- 153 -
pesquisa científica, investigando, através de testes em laboratório, novas
substâncias antifúngicas.
Além de melhorar o vínculo aluno-professor, visto que ele se faz neces-
sário para a sua realização, a pesquisa aumenta o interesse do aluno em des-
cobrir novas oportunidades e aproveitar as oportunidades que lhe aparecem.
Como vantagem, podemos apresentar os resultados satisfatórios que foram
obtidos, bem como o aprendizado que foi desenvolvido por volta da pesqui-
sa, entretanto, a carência de verbas/financiamento muitas vezes prejudica a
continuidade e avanço de alguns projetos. Na formação acadêmica, durante a
pesquisa realizada, bons frutos foram colhidos, como trabalhos publicados em
eventos científicos, artigos e patente.
Pesquisas nas universidades trazem grandes benefícios não só aos alu-
nos que estão se graduando, mas principalmente para a sociedade que recebe
material humano qualificado e se beneficia das pesquisas que são desenvolvi-
das em suas instalações. Estudar a possibilidade de ter novos fármacos com
grandes vantagens sobre os fármacos já existentes é um grande avanço para
a população em geral que sofre os problemas da infecção fúngica e muitas
vezes do próprio tratamento disponível. Como demonstrado, a pesquisa se
faz necessária e para tanto deve ter o devido olhar das autoridades para que os
financiamentos nunca faltem e que possamos caminhar como todo país desen-
volvido que investe em ciência, tecnologia e educação.

- 154 -
USO DE PRODUTOS NATURAIS NO COMBATE
AO CÂNCER DE MAMA

Jéssyka Samara de Oliveira Macedoa


Bruna Braga Dantasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

O câncer de mama representa atualmente uma das principais causas de


morte entre as mulheres. Só entre 2014 e 2017, mais de 135 mil óbitos acon-
teceram no Brasil em virtude dessa doença, um valor que corresponde a apro-
ximadamente 15% das mortes totais ocorridas nesse mesmo período1. Estudos
apontam, ainda, que a cada ano mais de 60 mil brasileiras serão diagnostica-
das com câncer de mama, o que, por sua vez, implica elevação do número de
mortes por essa causa2.
É importante enfatizar, ainda, que, como os homens apresentam tecido
mamário, eles também são acometidos pelo câncer de mama. Atualmente, os
casos e as mortes por câncer de mama em homens representam menos de 1%
do total de óbitos por câncer no Brasil e no mundo, no entanto, esse valor tem
aumentado cada vez mais, tornando a busca pela resolução desse problema
importante para ambos os sexos3,4.
Como a população está cada vez mais exposta a fatores que levam ao
desenvolvimento deste tipo de câncer, como uso de hormônios externos, ges-
tação tardia, menor número de filhos, alimentação inadequada e sedentarismo,
o aumento desses valores em ambos os sexos se torna uma realidade cada vez
mais presente2. Para evitar ou amenizar esse problema, é importante que os
esforços voltados ao combate da doença sejam intensificados.
As formas de combate mais importantes incluem a prevenção primária
e secundária da doença, que, por sua vez, envolvem a diminuição da expo-

a Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Unidade Acadêmica de Enfer-
magem. samara.jessyka@hotmail.com.
b Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Unidade Acadêmica de Saúde.
brunabdantas@gmail.com.

- 155 -
sição da população aos fatores de risco mencionados e a oferta de métodos
de diagnóstico e tratamento acessíveis à população. Através dessas formas,
diversos países têm alcançado redução dos casos de câncer de mama, assim
como a sua mortalidade, o que leva a crer que estas intervenções sejam funda-
mentais também no Brasil5.

REFERÊNCIAS

1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (BRASIL). Controle do


câncer de mama. In: INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (BRASIL).
Tratamento para o câncer de mama, 2018. Disponível em: https://www.inca.
gov.br/controle-do-cancer-de-mama/acoes-de-controle/tratamento.Acesso
em: 28 set. 2019.

2. FRASSON, A. Câncer de mama em mulheres jovens: mitos e ver-


dades. In: VEJA. Letra de médico. Disponível em: https://veja.abril.com.br/
blog/letra-de-medico/cancer-de-mama-em-mulheres-jovens-verdades-e-mi-
tos/. Acesso em: 28 set. 2019.

3. MACEDO, J. S. O.; LIMA TERCEIRO, L. DANTAS, B. B. Cân-


cer de mama: análise da mortalidade e perspectiva de tratamento. Revista de
Ciências da Saúde Nova Esperança, v. 17, n. 2, p. 6-18, 2019. Disponível
em: https://revista.facene.com.br/index.php/revistane/article/view/217. Aces-
so em: 30 set. 2019.

4. FRASSON, A. Câncer de mama masculino: informação para reduzir


a mortalidade. In: VEJA. Letra de médico. Disponível em: https://veja.abril.
com.br/blog/letra-de-medico/cancer-de-mama-masculino-informacao-ajuda-
-a-reduzir-a-mortalidade/. Acesso em: 28 set. 2019.

5. ROCHA-BRISCHILIARI, S. C. et al. The rise in mortality from


breast cancer in Young women: trend analysis in Brazil. Plos One, v. 12,
n. 1, 2017. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/
journal.pone.0168950. Acesso em: 21 mai. 2019.

- 156 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Jéssyka Samara de Oliveira Macedo, sou estudante do


curso de Enfermagem, pelo Centro de Educação e Saúde da Universidade Fe-
deral de Campina Grande, localizado na cidade de Cuité, interior da Paraíba.
Juntamente com minha orientadora, Bruna Braga Dantas, e com o apoio do
Departamento de Biologia Celular e Molecular da Universidade Federal da
Paraíba, desenvolvi uma pesquisa voltada ao combate ao câncer de mama,
através da busca e descoberta de substâncias que pudessem tratar a doença e
proporcionar a cura aos indivíduos que têm sofrido com ela.
Como sabido, o câncer de mama representa uma das principais cau-
sas de mortalidade feminina, apresentando valores que se elevam cada vez
mais com o avançar do tempo, inclusive no sexo masculino2,3. Nesse sentido,
o tratamento representa um dos pilares principais para que ocorra a redução
da mortalidade por essa causa, sendo importante também que a forma de tra-
tamento, além de combater a doença, seja acessível economicamente à po-
pulação, de modo que todos possam ser alcançados e venham a obter uma
assistência de saúde adequada5.
Na minha pesquisa, estudamos a atividade da carvona, uma substân-
cia encontrada em compostos bastante conhecidos e utilizados na culinária
brasileira, o cominho e o hortelã. Vimos que, quando em contato com células
de câncer de mama, a carvona causa uma série de danos a essas células, reve-
lando nessa substância o potencial de criação de um novo medicamento para
tratar esse tipo de câncer.
Importa ressaltar que a atividade da carvona foi observada tanto em cé-
lulas de câncer de mama sensíveis à terapia hormonal, que são tratáveis mais
facilmente, como em células resistentes à terapia hormonal, que são de difícil
tratamento. Isso implica dizer que a carvona tem um potencial de tratamento
que abrange desde os cânceres de mama simples aos mais complexos. Ade-
mais, por se tratar de um produto natural, a carvona apresenta um potencial de
custo reduzido, o que faz dela economicamente acessível.
Muitos testes ainda necessitam serem realizados para que a carvona ve-
nha a se tornar um medicamento utilizado no tratamento do câncer de mama,
por isso, torna-se tão necessário o investimento nesta e em outras pesquisas
com essa mesma natureza.
A realização desta pesquisa, apesar de requerer o meu deslocamento para
outra instituição, o que comprometeu a realização de outros experimentos, per-
mitiu constatar indícios da atividade anticâncer da carvona, revelando o poten-
cial de criação de um novo medicamento voltado para o tratamento do câncer de
mama, o que trouxe grande enriquecimento acadêmico-profissional e pessoal.

- 157 -
MOLÉCULAS SINTÉTICAS COM ATIVIDADE
ANTIFÚNGICA ANTE A ESPÉCIES DO GÊNERO
Candida CAUSADORAS DE ONICOMICOSES

Shellygton Lima da Silvaa


Edeltrudes de Oliveira Limab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Em meados do século XIX, as doenças que existiam em unhas eram


consideradas pelos pesquisadores daquele tempo como doenças raras, sendo
descritas pela primeira vez por Meissner, um estudante alemão, no ano de
1853. Existem diversos patógenos que possuem a capacidade de causar doen-
ças em unhas, como os fungos, seres microscópicos que podem ocasionar uma
micose, denominada de onicomicose. Com o passar dos anos, essa doença
foi sendo diagnosticada com mais frequência entre pessoas de todo o mundo,
devido à migração de indivíduos e consequente distribuição de espécies de
fungos por todo o planeta. Além disso, outros fatores, como mudanças no esti-
lo de vida, uso de sapatos fechados por horas, passar muito tempo em contato
com água de piscinas, areias de praias e o uso coletivo de materiais de higiene
de unhas, também estão envolvidos1,2.
Se pararmos para refletir sobre a quantidade de pessoas afetadas por
essa doença, interferindo diretamente em sua convivência social, em ativida-
des de trabalho e nos gastos com a saúde, verificaremos a relevância de minha
pesquisa científica. A ação antifúngica é uma ferramenta essencial na terapia
de doenças infecciosas em unhas causadas por fungos, seres capazes de viver
em quase todos os tipos de ambiente, desde casca de árvores até mesmo dentro
do corpo de humanos e animais.
Dentre as diversas espécies de fungos causadoras de onicomicoses é
possível citar membros do gênero Candida, tendo as espécies: Candida al-
bicans, Candida tropicalis e Candida parapsilosis como as mais comumente

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. shellygton@hotmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. edelolima@yahoo.com.br

- 158 -
observadas em infecções fúngicas envolvendo unhas. Esses micro-organis-
mos podem viver sem causar doenças em diversas partes do corpo humano,
mas podem tornar-se potencialmente nocivos, em pessoas idosas, usuários de
alguns tipos de medicamentos, indivíduos transplantados e portadores da sín-
drome da imunodeficiência adquirida3.
Ao longo dos anos as infecções de unhas são tratadas com medica-
mentos de uso tópico (esmaltes e pomadas) e aqueles que podem ser ingeri-
dos (cápsulas e comprimidos). Entretanto, com o passar do tempo, os fungos
desenvolveram mecanismos de resistência, ou seja, os micro-organismos
conseguem escapar da ação dos medicamentos, não sendo afetados e/ou
mortos. Em virtude desse grande problema de saúde pública é extremamente
necessário estudar a atividade biológica de novas moléculas sintéticas, que
apresentem potencial antifúngico e que, talvez, possam tornarem-se medi-
camentos para serem utilizados pela população contra doenças fúngicas em
unhas de modo rápido, econômico e que não causem desconforto na saúde
durante o uso.

REFERÊNCIAS

1. ELEWSKI, B; RICHERT, B. Onychomycosis: Diagnosis and Effec-


tive Management. 2. ed. Editado por Dimitris Rigopoulos. Reykjavík: John
Wiley & Sons Ltda., 2018.

2. ARENDRUP, M. C.; PATTERSON, T. F. Multidrug-resistant Can-


dida: epidemiology, molecular mechanisms, and treatment. The Journal of
Infectious Diseases, v. 216, n. 3, p. 445-451, 2017.

3. CRUZ, L. C.; EHRHARDT, A. Atividade antifúngica do resveratrol


em cepas de Candida spp. Revista Sustinere, v. 7, n. 1, p. 153-167, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu, Shellygton Lima da Silva, sou farmacêutico generalista pela Uni-


versidade Federal de Campina Grande, do Centro de Educação e Saúde, na ci-
dade de Cuité, um município situado na microrregião do Curimataú Ocidental
no estado da Paraíba. Possuo mestrado em farmacologia, pelo programa de
Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Universidade
Federal da Paraíba. Hoje, sou aluno em nível de doutorado pelo mesmo pro-
grama de pós-graduação e universidade com ênfase em estudos de doenças

- 159 -
infecciosas ocasionadas por fungos, orientado pela Professora Doutora Edel-
trudes de Oliveira Lima.
Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
vel Superior (Capes), uma fundação do Ministério da Educação (MEC), que
desempenha papel fundamental na expansão e consolidação dos estudos de
pós-graduação em nosso país. Minha linha de pesquisa está centrada na área
de microbiologia, com propósito de testar moléculas sintéticas para serem uti-
lizadas como possíveis medicamentos contra fungos. Recentemente foi reali-
zada uma pesquisa em nosso laboratório com diversas moléculas sintetizadas
em laboratório e foi observado que algumas delas possuem atividades promis-
soras, contra esses fungos que desencadeiam essa doença.
Há um longo e árduo caminho na busca incessante por novas substâncias,
pois apenas a atividade farmacológica, ou seja, a capacidade da molécula em
matar os micro-organismos que causam a doença, não é o fator primordial de
sucesso nos estudos de pesquisa científica. Essas moléculas devem ser sintetiza-
das de modo rápido, fácil, com baixos custos e que sejam mais eficazes, seguras
e menos tóxicas para que possam, no futuro, serem utilizadas por todas as pes-
soas, abrangendo principalmente os cidadãos mais necessitados de um acesso
aos serviços de saúde público e de qualidade em nosso país. É por vocês e para
vocês, que nós, pesquisadores, lutamos incansavelmente todos os dias.
Logo, pensar na melhoria e na qualidade de vida da população é um fa-
tor primordial em nossas pesquisas diárias, testando diferentes moléculas para
serem futuros medicamentos, representando uma nova forma de tratamento
para as infecções fúngicas das unhas, contemplando assim toda a sociedade,
minimizando riscos para a saúde, gastos financeiros individuais, bem como
aos sistemas de saúde.
Sinto-me honrado em fazer ciência em nosso país e desenvolver um
grandioso projeto de pesquisa, apesar de todas as dificuldades impostas no
caminho, como a falta de incentivos financeiros para aquisição de equipamen-
tos, substâncias, reagentes e a cobrança monstruosa em sermos os melhores
em produção e pesquisa científica. Eu, como pesquisador, busco desenvolver
uma pesquisa em laboratório com qualidade, seriedade, profissionalismo, res-
ponsabilidade social e ética, trazendo mais conhecimentos sobre a doença,
como pode ser tratada, curada mais facilmente e contribuindo com o presente
e futuro das pesquisas científicas.

- 160 -
PRODUTOS VEGETAIS COMO FONTE PARA
CONSUMO DE ANTIOXIDANTES

Aleson Pereira de Sousaa


Abrahão Alves de Oliveira Filhob
Rita de Cássia da Silveira e Sác

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas medicinais são utilizadas na cura e prevenção de doenças ao


longo do tempo por diversos povos. O conhecimento popular sobre as espé-
cies vegetais passa pelas gerações, automaticamente colecionando relatos de
uso, aplicação, manipulação e melhor eficiência para determinados tipos de
agravos à saúde. Os compostos pertencentes a estes vegetais são utilizados
cotidianamente pelas populações na alimentação, higienização corporal, aro-
matização de ambientes, defesa contra agentes biológicos (vetores), físicos
(radiação ultravioleta) e químicos (substâncias conservantes).
O Brasil se destaca em relação aos demais países por possuir uma vasta
biodiversidade vegetal, apresentando a maior variedade de gênero, famílias,
espécies de plantas e organismos vivos na natureza. Muitas destas plantas
sintetizam compostos bioativos durante o metabolismo secundário. Essas
substâncias apresentam muitas atividades biológicas, que são o produto de
investigação de vários pesquisadores, a saber: antioxidante, anti-inflamatório,
antibacteriano, antifúngico, hipoglicemiante, entre outras. Portanto, é de total
importância o estudo fitoquímico (estudo dos compostos químicos vegetais)
de plantas medicinais para identificação e quantificação de compostos que
possuem ação biológica1,2.
O grande interesse nessas substâncias biologicamente ativas de origem
vegetal é a busca de novos inibidores, principalmente na identificação e iso-

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). aleson_155@hotmail.com
b Docente dos cursos de Odontologia e Ciências Biológicas da (Universidade Federal de Campina Grande
UFCG). abrahao.farm@gmail.com
c Docente (coordenadora) do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica
de Medicamentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). ritacassia.sa@bol.com.br

- 161 -
lamento de substâncias do metabolismo secundário das plantas capazes de
retardar a ação de enzimas-chaves em doenças e/ou ativarem outras molé-
culas que atuem de forma a debelá-las3. Esses compostos presentes na nossa
alimentação e de uso medicinal, se forem ingeridos/utilizados em quantidades
adequadas, podem desempenhar papel preventivo contra diversas doenças, in-
fectantes e debilitantes 4.

REFERÊNCIAS

1. DE SOUSA GOMES, R. V. R.; VILELA, V. L. R.; DA NÓBREGA


GOMES, E.; MAIA, A. J.; ATHAYDE, A. C. R. Análise fitoquímica de ex-
tratos botânicos utilizados no tratamento de helmintoses gastrintestinais de
pequenos ruminantes. Revista Caatinga, v. 24, n. 4, p. 172-177, 2011.

2. RODRIGUES, L. S.; DA SILVA, A. R. A.; MACÊDO, A. A. M.


Noni (Morinda citrifolia Linn.): Determinação Fitoquímica e Potencial An-
tioxidante pelo Método DPPH. Conexões-Ciência e Tecnologia, v. 11, n. 4,
p. 47-54, 2017.

3. DE FALCO, A., CUKIERMAN, D. S., HAUSER-DAVIS, R. A.,


REY, N. A. Doença de alzheimer: hipóteses etiológicas e perspectivas de tra-
tamento. Química Nova, v. 39, n. 1, p. 63-80, 2016.

4. AL-GUBORY, K. H.; FOWLER, P. A.; GARREL, C. The roles of


cellular reactive oxygen species, oxidative stress and antioxidants in pregnan-
cy outcomes. The International Journal of Biochemistry & Cell Biology,
v.42, p. 1634-1650, 2010.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Aleson Pereira de Sousa, aluno de doutorado do Programa de


Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientado pela professora
Rita de Cássia da Silveira de Sá. Sou bolsista pela Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre
“A avaliação da toxicidade e potencial biológico de flavonoides, substâncias
isoladas de plantas nativas da região norte e nordeste do Brasil”.
Atuando como pesquisador de substâncias antioxidantes, tive a opor-
tunidade de trabalhar com alimentos na pesquisa realizada para obtenção

- 162 -
do título de mestre no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e
Molecular da UFPB. Isolei e testei o potencial antioxidante da principal
proteína de inhames com uso comercial na região nordeste do Brasil, ob-
tendo bons resultados, que foram publicados em revistas científicas. Esses
estudos contribuíram para pesquisas subsequentes de alunos de doutorado,
que empregaram metodologias de inovação para uso das propriedades desta
hortaliça de uso popular.
As atividades de pesquisa recente que desenvolvo no doutorado são
sobre o potencial antioxidante dos flavonoides (compostos de metabolismo
secundário vegetal) de plantas nativas das regiões norte e nordeste do Brasil.
Estou obtendo bons resultados em relação ao seu teor de redução de radicais
livres e na verificação de seu baixo teor de toxicidade em hemácias humanas.
Esses testes iniciais nos permitirão elaborar um método para empregar inova-
ções tecnológicas sobre essa matriz biológica, com o intuito de fazer melhor
aproveitamento do potencial das substâncias e traçar planos de realizar a en-
trada de novos produtos naturais no mercado.
As pesquisas com produtos naturais promovem o conhecimento cientí-
fico da flora brasileira, enriquecendo o patrimônio natural, e confirmando ou
desmistificando conhecimentos populares sobre uso destas plantas, além de
viabilizar a inclusão de novos produtos para consumo no mercado.
A relevância científica de novas substâncias para aplicação comercial e
biotecnológica é o desejo de todos os pesquisadores. O Brasil possui uma cul-
tura rica em saberes populares, despertando nosso interesse na investigação
por trás destes efeitos biológicos. A grande variedade de alimentos (frutas e
legumes), raízes e plantas usadas cotidianamente na mesa dos brasileiros, que
buscam uma melhor qualidade de vida, tem sido alvo da atenção destes con-
sumidores. Portanto, a procura por antioxidantes naturais é promissora, pois,
além de seu uso na alimentação, também podem ser desenvolvidos complexos
vitamínicos, cápsulas naturais, incorporados em outras fontes para uso, como
pomadas, cremes e géis.

- 163 -
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE BIOLÓGICA E
ANTIMICROBIANA DE PRODUTOS NATURAIS

Aratã Oliveira Cortez Costaa


Edeltrudes de Oliveira Limab
Reinaldo Nóbrega de Almeidac

INTRODUÇÃO AO TEMA

O uso de plantas medicinais em países em desenvolvimento é bastante


expressivo. Deste modo, uma parte da população brasileira utiliza as plantas
medicinais com base no conhecimento e uso popular como único recurso te-
rapêutico. Com isso, tornaram-se uma importante fonte de produtos naturais
biologicamente ativos, que podem resultar na descoberta de novos fármacos 1,2.
Os óleos essenciais, que são um complexo aromático, contêm uma mis-
tura de diversos fitoconstituintes químicos oriundos do metabolismo secundá-
rio das plantas. Já revelaram e continuam a revelar em todo o mundo inúmeras
propriedades biológicas exercidas sobre animais, plantas e seres humanos3.
A falha na terapêutica aos agentes antimicrobianos pode ser observa-
da in vitro e in vivo e é correlacionada ao fenômeno chamado “resistência”.
Quando a resistência é observada in vitro pode ser classificada em intrínseca,
ou seja, o próprio microrganismo naturalmente é resistente. A resistência ob-
servada in vivo é direcionada à resistência clínica que corresponde à soma de
vários fatores, relacionados ao estado imunológico do hospedeiro4.
Então, para inovações mais eficazes, são procuradas diversas estratégias,
o que inclui a busca de novas drogas naturais ou sintéticas com amplo espectro,
capazes de abranger cepas resistentes, mas que ao mesmo tempo não revelem
tantos efeitos colaterais e adversos aos usuários e que o tratamento tenha me-
nor tempo de duração, ou seja, o alcance de uma droga ideal. Apesar da sua

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (Universidade


Federal da Paraíba UFPB). aratacortez@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (Universidade Fe-
deral da Paraíba UFPB). edelolima@yahoo.com.br
c Docente do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (Universidade Fe-
deral da Paraíba UFPB). edelolima@yahoo.com.br

- 164 -
importância, o potencial que o país possui para a descoberta de novos fármacos
derivados de produtos naturais ainda é pouco explorado, diferentemente do que
ocorre em países como Alemanha, Canadá e Estados Unidos, que possuem um
alto investimento financeiro em pesquisas na área das plantas medicinais5.

REFERÊNCIAS

1. ARGENTA, S.C.; ARGENTA, L.C.; GIACOMELLI, S.R.; CEZA-


ROTTO, V.S. Plantas Medicinais: Cultura popular versus ciência. Vivências,
v.7, n.12, p.51-60, 2011.

2. GUIDO, R. V. C.; ANDRICOPULO, A. D.; OLIVA, G. Planejamen-


to de fármacos, biotecnologia e química medicinal: aplicações em doenças
infecciosas. Estudos Avançados, v. 24, n. 70, p. 81–98, 2010.

3. BASER, K. H. C.; BUCHBAUER, G. Handbook of essential oils:


science, technology, and applications. NovaYorque: CRC Press Taylor &
Francis Group. 2010. p. 235-280.

4. ESPINEL-INGROFF, A. Mechanisms of resistance to antifungal


agents: Yeasts and filamentous fungi. Revista Iberoamericana de Micologia,
v. 25, n. 2, p. 101-106, 2008.

5. SOUSA, F. C. F.; MELO, C. T. V.; CITÓ, M. C. O.; FELIX, F. H. C.;


VASCONCELOS, S. M. M.; FONTELES, M. M. F.; FILHO, J. M. B.; VIA-
NA, G. S. B. Plantas medicinais e seus constituintes bioativos: Uma revisão
da bioatividade e potenciais benefícios nos distúrbios da ansiedade em mode-
los animais. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, p. 642-654, 2008.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Aratã Oliveira Cortez Costa, tenho mestrado em farmacologia


pelo Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos
(PgPNSB) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientado pela Profa.
Drª. Edeltrudes de Oliveira Lima, e atualmente sou aluno de doutorado por
este mesmo programa, orientado pelo Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida.
Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior (Capes) e minha pesquisa atualmente é sobre “Avaliação comparativa da
atividade nociceptiva de isômeros de monoterpenos”.

- 165 -
Na minha pesquisa de mestrado, acompanhado pela Profa. Edeltrudes,
fui capaz de testar diversos produtos naturais, na forma de extratos brutos e
isolados, sendo a ênfase da minha dissertação o trabalho realizado com um
fitoconstituinte da classe dos monoterpenos, os isômeros do Citronelal, um
aldeído extraído de plantas e comumente utilizado no mercado como forma
de cosméticos, chás e até repelentes. Nesta pesquisa obtive como resultados
uma atividade promissora destes produtos naturais sobre fungos do gênero
Cryptococcus., responsáveis por infecções de caráter grave no sistema nervo-
so central, levando ao quadro de meningite. Além disto, em outras pesquisas,
estes fitoconstituintes apresentaram atividade contra uma diversa gama de mi-
crorganismos, demonstrando sua capacidade de melhoramento das terapêuti-
cas atuais e de estudos de melhoramento molecular.
Agora no doutorado, orientado pelo Prof. Reinaldo, estou testando a
atividade destes compostos diretamente no sistema nervoso central, por meio
da sua ação nociceptiva, ou seja, verificando se este fitoconstituinte é capaz
de inibir a dor e até impedir quadros inflamatórios. Bem como avaliando a
atividade dos isômeros (diferentes formas que são apresentadas na natureza)
desta substância, assim sendo capaz de dar um direcionamento molecular do
resultado, possibilitando assim uma abertura de caminho mais minuciosa para
a formulação de um novo fármaco capaz de agir diretamente na dor sem cau-
sar efeitos indesejados.
Atualmente no Brasil, a pesquisa de produtos naturais e seus efeitos é
bem ampla e uma das melhores do mundo, demonstrando ótimos resultados,
especialmente o programa do qual faço parte (PgPNSB/UFPB), correspon-
dendo a um dos cursos de maior conceito nas regiões norte, nordeste e centro-
-oeste, em sua área. Porém, estas atividades às vezes encontram dificuldades,
principalmente no âmbito financeiro, ao depararmos com a falta de algum
equipamento ou não possibilitar uma análise mais aprofundada dos resultados
devido à pesquisa se encerrar no meio por algum motivo. As dificuldades são
vivenciadas por todos, e mesmo com todas as pedras no caminho consegui-
mos continuar caminhando para alcançar e manter reconhecimento mundial
de nossas pesquisas. Temos de manter o pensamento de que a inovação e a
busca de conhecimento não podem parar nem serem impedidas ou atrasadas.
Portanto devemos sempre reavivar a chama do conhecimento e a man-
ter ativa em nossas mentes, o Brasil precisa de inovação e pesquisa para con-
tinuar a se desenvolver e manter estatura de país de respeito ante as grandes
potências do mundo, nesta era em que conhecimento e inovação fazem parte
de 90% do nosso cotidiano. E principalmente reconhecer o trabalho realizado
por milhares de pesquisadores que atuam em busca desse bem comum.

- 166 -
O EFEITO DO ALFA-TERPINEOL SOBRE O
ENVELHECIMENTO CARDIOVASCULAR: O PAPEL
DA SENESCÊNCIA E SUAS VIAS DE SINALIZAÇÃO

Arthur José Pontes Oliveira de Almeidaa


Isac Almeida de Medeirosb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A população está envelhecendo. Atualmente, cerca de 12% da popu-


lação brasileira tem acima de 65 anos de idade. Em 2050, esse número che-
gará a cerca de 22%, tornando o Brasil um país envelhecido1. No entanto,
a qualidade de vida desses cidadãos não acompanha esse crescimento. Câncer,
diabetes, desordens neurodegenerativas e doenças cardiovasculares têm sua
prevalência aumentada com a idade. Em destaque, as doenças cardiovascula-
res são a principal causa de morte no Brasil e no mundo.
Assim como os caminhos fisiopatológicos do desenvolvimento das
doenças são estudados, o envelhecimento pode ser visto nessa perspecti-
va2. Nesse contexto, cientistas descobriram em ratos de laboratório que,
modificando os caminhos moleculares que levam ao envelhecimento (por
exemplo, usando medicamentos para aumentar a longevidade), a incidên-
cia de doenças diminuía drasticamente. Ademais, em estudo publicado em
5 de setembro de 2019, numa conceituada revista científica norte-americana,
Aging Cell, pesquisadores da universidade do Sul da Califórnia conseguiram
reverter a idade biológica de humanos em 2,5 anos, usando uma mistura de
medicamentos (um hormônio do crescimento e dois para diabetes)3. Dessa
forma, pela primeira vez na história, estamos próximos de prolongar a idade
dos indivíduos, além de diminuir a incidência de doenças associadas à idade.
Parece perfeito, não?
Para isso, precisamos entender como o ser envelhece. Em resumo,
o envelhecimento é caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas,

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). arthur-jp@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medicamen-
tos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). isac.ufpb@gmail.com

- 167 -
a nível molecular, celular e tecidual, o qual envolve uma variedade de meca-
nismos como redução no tamanho dos telômeros, o estresse oxidativo, uma
inflamação persistente e desregulação em processos de produção de energia.
Embora muitas teorias tenham sido propostas, nenhuma, até agora, parece ser
totalmente satisfatória.
Além disso, o processo de senescência celular, o qual pode ser chamado
de envelhecimento da célula, parece ser um papel central nesse processo. Esse
tipo de célula continua viva, porém com suas funções metabólicas compro-
metidas, contribuindo para a perda funcional dos seres longevos. Em 2016,
o cientista Jan Van Deursen e colaboradores na Mayo Clinic (Minnesota) mos-
traram que matando as células senescentes conseguiam retardar vários aspec-
tos do envelhecimento em ratos, como a melhora no sistema cardiovascular,
atraindo a atenção da comunidade científica para o tema 4.
Portanto, a descoberta de fármacos que atuam nos caminhos molecula-
res do envelhecimento pode proporcionar um aumento na longevidade, bem
como a redução na incidência de doenças relacionadas com a idade. Desse
modo, associar uma dieta saudável, com atividade física e ferramentas farma-
cológicas são a tríade necessária para alcançar esse objetivo.

REFERÊNCIAS

1. UN. “UNDESA Population Division, World population prospects:


the 2015 revision”. HelpAge, Global AgeWatch Index 2015: Insight Report,
HelpAge International, London WC1A 9GB, UK, 2015.

2. DE ALMEIDA, A.J.P.O.; RIBEIRO, T.P.; DE MEDEIROS, I. A. Ag-


ing: Molecular Pathways and Implications on the Cardiovascular System. Ox-
idative Medicine and Cellular Longegity, v. 2017, 19 pages, 2017.

3. FAHY, G. M.; BROOKE, R. T.; WATSON, J. P.; GOOD, Z.;


VASANAWALA, S. S.; MAECKER, H.; HORVATH, S. Reversal of epi-
genetic aging and immunosenescent trends in humans. Aging cell, v.2019,
12 pages, 2019.

4. BAKER, D. J.; CHILDS, B. G.; DURIK, M.; WIJERS, M. E.; SIE-


BEN, C. J.; ZHONG, J.; KHAZAIE, K. Naturally occurring p16Ink4a-posi-
tive cells shorten healthy lifespan. Nature, v. 530, n. 7589, p. 184–189, 2016.

- 168 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Sou Arthur José Pontes Oliveira de Almeida, aluno de doutorado do
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de
Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientado pelo
professor Dr. Isac Almeida de Medeiros. Sou bolsista pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa
é sobre “O efeito do alfa-terpineol sobre o envelhecimento cardiovascular:
o papel da senescência e suas vias de sinalização”.
Em 2012, ingressei no curso de farmácia da UFPB. Logo nos primei-
ros meses de curso, fui selecionado para o Programa de Jovens Talentos para
Pesquisa, no qual durante um ano trabalhei no isolamento de potenciais an-
timicrobianos. Após o término da vigência, tive a oportunidade de conhe-
cer o Laboratório de Farmacologia Cardiovascular, dirigido pelo professor
Dr. Isac Almeida de Medeiros. Logo, passei a me dedicar às atividades do la-
boratório, aprendendo técnicas de pesquisa em equipamentos modernos como
a microscopia de fluorescência e a citometria de fluxo (equipamento usado
para contagem de células).
Além disso, a constante busca pelo conhecimento (envolvendo o siste-
ma cardiovascular), a interação com alunos visitantes estrangeiros e as apre-
sentações dos trabalhos científicos, contribuíram para o aprendizado referente
à temática. Descobri que a pesquisa seria o norte a ser seguido. Um exemplo
de um estudo desenvolvido foi o artigo de revisão sobre envelhecimento car-
diovascular, publicado numa revista de renome internacional (Oxidative Me-
dicine and Cellular Longevity), cujo título foi: “Aging: molecular pathways
and implications on the cardiovascular system” [2]. Foi a primeira projeção,
ainda durante a graduação, daquilo que seria foco do meu doutorado.
Todavia, após três anos de atuação, e com o final do curso, ingressei
no mercado de trabalho atuando como farmacêutico. Dois anos se passaram
e o sonho de ser pesquisador se tornava cada vez mais distante. No entanto,
outra vez convidado pelo professor Dr. Isac Almeida de Medeiros, regressei
à UFPB como aluno de doutorado. A minha volta está atrelada a um único
objetivo. Descobrir novas moléculas capazes de reduzir os efeitos deletérios
do envelhecimento e promover o avanço da idade de forma saudável. Propor-
cionar à população ferramentas farmacológicas capazes de desfrutar de uma
velhice digna e saudável. Somente com investimento em ciência e tecnologia
poderemos alcançar esses objetivos.

- 169 -
USO DE PLANTAS DO NORDESTE BRASILEIRO
NO TRATAMENTO DE DESORDENS INFLAMATÓRIAS

Allanny Alves Furtadoa


Manoela Torres do Rêgob

INTRODUÇÃO AO TEMA

O uso de plantas medicinais para o alívio de sintomas de diversas do-


enças é considerado um costume milenar (há mais de 3000 anos a.C.), que de-
correu do acúmulo de conhecimentos práticos de diferentes povos. Atualmente
essa prática se mantém viva, principalmente em tribos indígenas e em regiões
rurais de diversos locais. Nas áreas rurais brasileiras, as condições socioeconô-
micas mais desprivilegiadas e a baixa renda, juntamente com a falta de acesso
à atenção básica de saúde, favorecem a busca por novas formas de tratamentos
mais acessíveis, como o uso de plantas medicinais, que comumente são muito
abundantes nessas regiões. Sendo assim, a maioria das pesquisas que ocorrem
nesse sentido partem primeiramente do relato de uso popular de uma determina-
da planta, presente em uma ou em várias regiões geográficas, para o tratamento
de determinada doença ou sintomas causados por ela.
Seguindo esse raciocínio, foram realizados estudos com plantas encon-
tradas no nordeste brasileiro, principalmente na região da Caatinga, em que
existem relatos comprovados de uso popular para o tratamento de doenças
inflamatórias. São as folhas da Ipomoea asarifolia (salsa de praia) e da Aspi-
dosperma pyrifolium (pereiro), cascas da Mimosa tenuiflora (jurema-preta) e
os frutos da Hancornia speciosa (mangabeira). Foram feitos decoctos (chás),
com as partes das plantas, e realizadas análises para descobrir moléculas quí-
micas presentes, que poderiam estar associadas às atividades anti-inflamató-
rias relatadas pela população.

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-graduação em Bioquímica. allannyfur-


tado@ufrn.edu.br.
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-graduação em Química. manoelator-
res@ufrn.edu.br.

- 170 -
Foram encontradas moléculas importantíssimas com potencial ação
anti-inflamatória, como a rutina, ácido clorogênico e ácido caféico. Além dis-
so, foram realizados testes em camundongos, em que se induziu um processo
inflamatório nesses animais e estes foram tratados com os chás dessas plantas,
funcionando como um remédio. Como resultados, tivemos que essas plantas
apresentaram uma atividade anti-inflamatória muito importante, diminuindo
os efeitos clássicos da inflamação1,2.
Tais resultados demonstram a capacidade dessas plantas em resolver
desordens inflamatórias, comprovando cientificamente o que a população re-
lata. Além disso, através de estudos mais aprofundados, essas plantas podem
vir a tornarem-se medicamentos no futuro, seja pelo isolamento de algumas
moléculas presentes nestes “chás”, ou o próprio “chá” ser utilizado como me-
dicamento fitoterápico.

REFERÊNCIAS

1. TORRES-RÊGO, M.; FURTADO, A.A.; BITENCOURT, M.A.O. et


al. Anti-inflammatory activity of aqueous extract and bioactive compounds
identified from the fruits of Hancornia speciosa Gomes (Apocynaceae). BMC
Complementary and Alternative Medicine, v.16, p. 1–10, 2016.

2. FURTADO, A.A.; TORRES-RÊGO, M.; LIMA, M.C.J.S. et al.


Aqueous extract from Ipomoea asarifolia (Convolvulaceae) leaves and its
phenolic compounds have anti-inflammatory activity in murine models of
edema, peritonitis and air-pouch inflammation. Journal of Ethnopharmacolo-
gy, v. 192, p. 225–235, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Olá! Nós nos chamamos Allanny Furtado (aluna de doutorado pelo


Programa de Pós-graduação em Bioquímica) e Manoela Torres (estágio
pós-doutoral pelo Programa de Pós-graduação em Química), somos farmacêu-
ticas formadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
As pesquisas que relatamos acima foram desenvolvidas no período da nossa
iniciação científica e mestrado, pelo Programa de Pós-graduação em Ciên-
cias Farmacêuticas da UFRN, com bolsas financiadas pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e sob a orientação do
Professor Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa.

- 171 -
Nossa pesquisa com produtos naturais originados de plantas iniciou-se
na graduação, como alunas de iniciação científica (2011-2013), quando acom-
panhávamos alunas de doutorado na época (Mariana Bitencourt e Maíra Lima).
Em meados de 2013 e início de 2014, ingressamos no mestrado, dando conti-
nuidade ao que tínhamos iniciado nos anos anteriores, especificamente, com as
plantas I. asarifolia (Allanny) e H. speciosa (Manoela). No curso de mestrado
pudemos aprofundar um pouco mais na identificação dos componentes quími-
cos dessas plantas, como também aprendemos e empregamos diferentes mode-
los de experimentos com animais, cada um utilizado, para que nos respondesse
por quais vias de bloqueio da inflamação os decoctos dessas plantas poderiam
estar atuando. Além disso, pudemos dar respaldo científico à população, que
relata sobre essas plantas possuírem atividade anti-inflamatória, confirmando o
uso popular.
Estudos com plantas são importantíssimos olhando do ponto de vista de
tratamentos alternativos aos medicamentos convencionais (os que são vendi-
dos comercialmente). E por que buscar alternativas à terapia convencional? Por
exemplo, se pensarmos em uma pessoa que tem uma doença crônica (doença
que não tem cura), que vai precisar tomar um medicamento para o resto da sua
vida, esse paciente, ao longo do tempo, pode desenvolver algum tipo de intole-
rância ou um efeito indesejável ao medicamento. Ou se pensarmos em pessoas
que têm alergias a determinados medicamentos. Estas pessoas, precisarão de
alternativas terapêuticas, por isso a importância de pesquisas nessa área. Sempre
haverá pessoas necessitando de alternativas terapêuticas e nós, como pesquisa-
dores, devemos realizá-las, pensando sempre no bem-estar e/ou cura delas.
Realizar pesquisa no Brasil tem suas dificuldades (alto custo com com-
pras de reagentes e equipamentos, por exemplo), como qualquer profissão as
tem, mas nada disso nos impediu de prosseguir, porque, além de ser o que
gostamos de fazer (tendo em vista que realizamos pesquisa até hoje), temos
a visão de que nos traz não só benefícios intelectuais, mas leva inúmeros be-
nefícios para a sociedade. Geração de novos e qualificados professores para
diferentes instituições de ensino, descoberta de diferentes medicamentos para
o tratamento de doenças, bem como o entendimento de como as doenças po-
dem ocorrer, são poucos os exemplos diante da imensidão que a ciência pode
oferecer. Imaginem se pudéssemos exemplificar para cada área de atuação!
Além de ser lindo, vale a pena fazer pesquisa e ciência no país!

- 172 -
ENVENENAMENTO POR SERPENTES PEÇONHENTAS,
UM PROBLEMA PARA A SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL

Sarah de Sousa Ferreiraa


Matheus de Freitas Fernandes Pedrosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O envenenamento por serpentes peçonhentas apresenta um elevado


número de casos em países tropicais, sendo considerado um problema de
saúde pública. No Brasil, o Norte e Nordeste são as regiões mais acome-
tidas por este tipo de acidente, só em 2018 ocorreram mais de 28 mil1 e
acredita-se que este número seja ainda maior, pois muitos casos não são
notificados nos serviços de saúde.
As serpentes popularmente conhecidas como jararacas (gênero Bo-
throps) são as principais responsáveis por estes acidentes no Brasil. O enve-
nenamento por serpentes deste gênero é chamado de acidente botrópico e os
indivíduos podem apresentar no local da picada alguns sintomas, tais como:
dor, inchaço, dano tecidual, bolhas e sangramentos. Outros sintomas, que en-
volvem todo o organismo (chamado de efeitos sistêmicos), também são fre-
quentes, como: diminuição da pressão arterial, problemas nos rins e alteração
na coagulação do sangue2.
Atualmente o único tratamento para o envenenamento por serpentes é
a soroterapia. Neste tratamento, os pacientes recebem o soro com proteínas,
chamadas de anticorpos, que irão neutralizar os componentes presentes no ve-
neno. Embora este tratamento seja bastante eficaz para neutralizar os efeitos
sistêmicos, a neutralização dos efeitos no local da picada não ocorre de forma
eficiente, e alguns pacientes ficam com danos permanentes, podendo até perder
algum membro do corpo. Além disto, a população rural geralmente possui baixo
acesso aos serviços de saúde, o que dificulta o tratamento logo após a picada.

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de pós-graduação em Bioquímica. sarahfer-


reir@outlook.com.
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de pós-graduação em Bioquímica. mffpedro-
sa@gmail.com

- 173 -
Deste modo, um tratamento complementar à soroterapia torna-se im-
portante, pois pode apresentar novas alternativas para melhorar o tratamento
em pacientes que sofreram este tipo de acidente. Alguns estudos têm demons-
trado que as plantas possuem compostos capazes de tratar os efeitos do en-
venenamento3. Estes compostos são bastante encontrados na natureza e apre-
sentam muitos efeitos benéficos, como, conseguem diminuir o inchaço e o
sangramento provocado pelo veneno.
Neste contexto, o estudo destes compostos torna-se de grande impor-
tância para o desenvolvimento de novas terapias farmacêuticas que possam
tratar os efeitos provocados pelo veneno, principalmente aqueles relacionados
ao local da picada.

REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Acidentes por animais peçonhentos.


Brasília, 2019. Disponível em: http:// https://portalarquivos2.saude.gov.br/
images/pdf/2019/junho/05/02-Dados-Epidemiologicos-SiteSVS--maio-2019-
---INCIDENCIA.pdf . Acesso em: 28 set. 2019.

2. ASSAFIM, M.; OLIVEIRA, E. C.; BENEDITO, S. E.; FERNANDES,


C. P.; LOBO, J. F. R.; SANCHEZ, E. F.; ROCHA, L. M.; FULY, A. L. Hype-
ricum brasiliense plant extract neutralizes some biological effects of Bothrops
jararaca snake venom. Journal of Venom Research, v. 2, p. 11–16, 2011.

3. SOARES, A. M.; TICLI, F. K.; MARCUSSI, S.; LOURENÇO, M.


V.; JANUÁRIO, A. H.; SAMPAIO, S. V.; GILGIO, J. R.; LOMONTE, B.;
PEREIRA, P. S. Medicinal plants with inhibitory properties against snake
venoms. Current Medicinal Chemistry, v. 12, n. 22, p. 2625–2641, 2005.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Meu nome é Sarah de Sousa Ferreira, aluna de doutorado do Pro-
grama de Pós-graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, sendo orientada pelo professor doutor Matheus de Frei-
tas Fernandes Pedrosa. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre a melhoria
do tratamento de acidentes por serpentes peçonhentas através da busca de
novas terapias farmacêuticas que complementem a soroterapia, único trata-
mento utilizado atualmente.
Fazer ciência no Brasil é uma gratidão e um desafio. Nós, brasileiros,
possuímos universidades de qualidade, algumas das quais estão entre as me-

- 174 -
lhores do mundo. Neste universo é possível formar, além de bons profissionais,
cidadãos capazes de transformar positivamente a sociedade. Ainda, é nas uni-
versidades que a pesquisa científica é desenvolvida quase em sua totalidade.
Podemos notar que durante os últimos anos ocorreu uma melhoria na
qualidade de vida dos seres humanos, como, a expectativa de vida da popu-
lação aumentou e a tecnologia nos trouxe uma nova forma de ver o mundo.
Todas estas, e muitas outras, conquistas só se tornaram realidade através da
ciência. Portanto, as universidades têm um papel fundamental no desenvolvi-
mento de alternativas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Contudo, o nosso país tem enfrentado grandes desafios neste aspecto,
e o principal deles é a falta de recursos. Muitas pesquisas desenvolvidas aqui
correm o risco de serem interrompidas por falta de investimento, e os cientis-
tas precisam procurar meios próprios para que isto não aconteça. Outro fator
limitante é o baixo acesso da população ao conhecimento baseado no método
científico desenvolvido dentro das universidades.
Portanto, acredito que a pesquisa científica no Brasil precisa, com ur-
gência, além de recursos, fazer parte do dia a dia da população; necessita de
condições para gerar o conhecimento e utilizá-lo em benefício da sociedade.
Investir em conhecimento é a chave para um futuro melhor.

- 175 -
EFEITOS FARMACOLÓGICOS E TÓXICOLÓGICOS
DOS FLAVONOIDES NARINGENINA

Fabio Correia Lima Nepomucenoa


Hilzeth de Luna Freire Pessôab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os flavonoides são a classe abrangente de fitonutrientes, comumente


observada na maioria dos vegetais e plantas. Eles são os responsáveis por ​​
transmitir tipos vívidos de cores e sabores em frutas e legumes. Os flavonoides
são essenciais para a inibição do ciclo celular, fixação de nitrogênio, filtragem
UV e atuam como mensageiros químicos em plantas superiores. São conheci-
dos por exibir ações anti-inflamatórias, antialérgicas, anti-hepatotóxicas, anti-
carcinogênicas e antitrombóticas1.
Naringenina, uma flavanona predominante natural, possui uma ampla
gama de atividades biológicas e farmacológicas. Evidências acumuladas su-
gerem que naringenina é capaz de modular as respostas inflamatórias agudas e
crônicas e, por conseguinte, podem ser usadas para fins terapêuticos. O papel
da naringenina e do citrino flavanona hesperetina relacionado no tratamento
da doença tem recebido atenção considerável, com particular interesse como
compostos anticancerígenos e antiaterogênicos. A naringenina está associada
a efeitos benéficos na osteoporose, câncer e doenças cardiovasculares, possui
atividades anticâncer, antimutagênica, anti-inflamatória e antiaterogênica 2.
O grande interesse pelos flavonoides naringenina surgiu por sua boa ati-
vidade antimicrobiana contra linhagens de importância clínica e por sua baixa
toxicidade tanto nos estudos in vitro como in vivo, para que se possa desenvol-
ver um produto que amplie as alternativas terapêuticas ou complemente as já
existentes e que possa ser utilizado com eficácia e segurança pela população.

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). fabiocln21@yahoo.com.br
b Docente (vice-coordenadora) do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecno-
lógica em Medicamentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). hilzeth@gmail.com

- 176 -
REFERÊNCIAS

1.WILCOX L. J.; BORRADAILE N. M.; HUFF M. W. Antiatherogenic


properties of naringenin, a citrus flavonoid. Cardiovascular Drug Reviews,
v. 17, p. 160-178, 1999.

2. LIU, X.; WANG, W.; HU, H.; TANG, N.; ZHANG, C., LIANG, W.
et al. Smad 3 specific inhibitor, naringenin, decreases the expression of ex-
tracellular matrix induced by TGF-beta 1 in cultured rat hepatic stellate cells.
Pharmaceutical Research, v. 23, p. 82-89, 2006.

3. ZENG W., J. I. N. L.; ZHANG F.; ZHANG C.; LIANG W. Nar-


ingenin as a Potential Immunomodulator in Therapeutics, Pharmacological
Research. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.phrs.2018.08.002

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Eu, Fabio Correia Lima Nepomuceno, sou aluno de doutorado do Pro-
grama de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em
Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientado pela
professora Dra. Hilzeth de Luna Freire Pessôa com a pesquisa sobre Efeitos
Farmacológicos e Tóxicológicos dos Flavonoides Naringenina.
É possível acreditar que os fitoterápicos e/ou fitofármacos podem ser
competitivos, mesmo que seja em áreas totalmente limitadas, ante a estes
fármacos modernos, mas se faz necessário que exista viabilidade para se in-
vestir em fitoterápicos e/ou fitofármacos, considerando o futuro dos fármacos
puros, que serão produzidos pela nova linha da Química Medicinal.
Desta forma, verificamos que o mercado mundial de fitoterápicos (com-
preendido como extratos vegetais, ou seja, de uma mistura de vários com-
postos, química e farmacologicamente quantificados) cresce gradativamente.
Sendo assim, são necessárias novas pesquisas para análises de substâncias
farmacológicas e toxicológicas que apresentem uma boa atividade antimicro-
biana contra linhagens de importância clínica, e que possuam baixa toxicidade
tanto nos estudos in vitro como in vivo, o que justifica a necessidade da reali-
zação da nossa pesquisa com os flavonoides naringenina.
Mesmo com os efeitos farmacológicos da naringenina já terem sido
estudados em animais experimentais e em estudos de cultura celular in vitro,
a similaridade com os efeitos de outras substâncias em vários estados de do-
ença requer estudos de aumento de escala com este produto natural potencial-
mente benéfico em ensaios clínicos.

- 177 -
Nossa pesquisa com os flavonoides naringenina e seus derivados glo-
cosilados naringina trará como contribuição a avaliação das propriedades
físico-químicas, farmacológicas, farmacocinéticas e toxicológicas teóricas,
assim como a bioatividade relacionada a importantes alvos de drogas, utili-
zando softwares para triagem in silico.
Sendo assim, esperamos que os flavonoides naringenina apresentem
uma boa atividade antimicrobiana contra linhagens de importância clínica e
que possuam baixa toxicidade tanto nos estudos in vitro como in vivo. Assim,
iremos desenvolver um produto que amplie as alternativas terapêuticas ou
complemente as já existentes e que possa ser utilizado com eficácia e seguran-
ça pela população.

- 178 -
AVANÇOS DE NOVAS ALTERNATIVAS
MEDICAMENTOSAS PARA O MANEJO DA DOR

Humberto de Carvalho Aragão Netoa


Reinaldo Nóbrega de Almeidab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP),


a dor está definida como uma experiência sensorial ou emocional desagradá-
vel associada a um dano tecidual real ou potencial e descrita em termos dessa
lesão. Já a nocicepção consiste na real injúria tecidual ou em um evento po-
tencialmente danoso transduzido e codificado por nociceptores. A dor possui
uma natureza subjetiva caracterizada por sintomas físícos e psicológicos. En-
quanto a nocicepção pode ocorrer independentemente da dor, já que consiste
em um processo fisiológico que não apresenta componente subjetivo, portanto
refere-se à percepção consciente ou não do estímulo doloroso1. Por sua vez,
o processamento da dor envolve a ativação do córtex somatossensorial em
áreas responsáveis pela cognição, emoção e sensação2. O conhecimento da
fisiopatologia da dor é uma importante ferramenta para o entendimento dos
mecanismos desencadeantes dos processos dolorosos, sejam fisiológicos ou
principalmente patológicos .
Estudos prévios têm revelado que a prevalência da dor crônica é de
37,3% e 41,1% da população adulta nos países desenvolvidos e em desenvol-
vimento, respectivamente, dessa forma, pode-se pensar que a dor alcançou
posição de epidemia em todo o mundo3. No Brasil, a dor aguda é responsável
por 70% dos pacientes que buscam os consultórios, representando um terço
das consultas médicas. A dor crônica compromete a atividade profissional de
94,9% dos brasileiros portadores dessa doença 4. A Organização Mundial de
Saúde (WHO) revelou que indivíduos portadores de dores recorrentes pos-

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). netohumbertoo@outlook.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). reinaldoan@uol.com.br

- 179 -
suem quatro vezes mais chances de terem depressão ou ansiedade que os in-
divíduos sem a doença 5.
Embora o nosso conhecimento sobre os mecanismos da dor tenha au-
mentado, drogas com atividade analgésica ainda possuem limitações em ter-
mos de aprimoramento. Assim, é necessário investir no desenvolvimento de
novos fármacos para o controle da dor, com maior especificidade e melhor
biodisponibilidade, gerando analgésicos mais eficazes e seguros.

REFERÊNCIAS

1. LOESER, J. D.; TREEDE, R. D. The Kyoto protocol of IASP Basic


Pain Terminology. Pain, v. 137, p. 473-477, 2008.

2. SCHNAKERS, C.; CHATELLE, C.; DEMERTZI, A.; MAJERUS, S.;


LAUREYS, S. What about pain in disorders of consciousness? Journal of the
American Association of Pharmaceutical Scientists, v. 14, p. 437-444, 2012.

3. TSANG, A. et al. Common chronic pain conditions in developed


and developing countries: gender and age differences and comorbidity with
depression-anxiety disorders. The Journal of Pain, v. 9, p. 883-891, 2008.

4. TEXEIRA, M.J. Fisiopatologia da nocicepção e da supressão da dor.


Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial, v. 1, p. 329-334, 2001.

5. GUREJE, O.; VON KORFF, M.; SIMON, G.E.; GATER, R. Persistent


pain and well-being: A World Health Organization study in primary care. Jour-
nal of the American Medical Association, v. 280, p. 147-151, 1998.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Humberto de Carvalho Aragão Neto, sou aluno de douto-


rado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecno-
lógica em Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba, orientado pelo
professor Reinaldo Nóbrega de Almeida. Atualmente sou voluntário e minha
pesquisa é sobre a procura de novos fármacos para o tratamento dos mais di-
versos tipos de condições dolorosas.
Quem aqui nunca sentiu uma dor de cabeça? Ou sofreu uma queda e
ficou com o corpo todo dolorido? Sempre que isso acontece corremos para a

- 180 -
farmácia e compramos um analgésico, não é mesmo? Afinal de contas, nin-
guém merece ficar sentindo dor.
Pois bem, atualmente existe um considerável número de medicamentos
que servem para este fim: aliviar a dor. Porém, nem todos funcionam da mes-
ma forma para cada um, alguns acabam causando menos efeitos benéficos,
outros promovem alergias, e a maioria deles possui os tão indesejados efeitos
adversos. Pensando nisso, a proposta da minha pesquisa é encontrar novas
moléculas que possam oferecer efeitos analgésicos mais intensos e que neces-
sitem de uma menor dose para tal. Não seria ótimo trocar aquele comprimido
enorme de paracetamol 750mg por outro bem pequenininho? E além disso,
o principal: um que leve toda a sua dor embora.
Atualmente estamos investigando a atividade de novos compostos hí-
bridos. Isso significa que juntamos duas moléculas que já têm retrospecto po-
sitivo no tratamento da dor em apenas uma. Perceba que não é uma associação
de medicamentos, mas sim uma “ligação” entre suas estruturas moleculares.
Isso pode gerar um novo fármaco capaz de exercer o efeito de ambas as mo-
léculas. Agora pense naquela situação na qual você teria que tomar dois medi-
camentos diferentes para aliviar sintomas indesejados... Pensou? Pois é, com
essa nova alternativa, você não mais precisaria.
Nossa perspectiva a curto prazo é aprofundar essa pesquisa e gerar em-
basamento científico capaz de comprovar tal atividade. A longo prazo pre-
tendemos levar esta inovação para a sociedade, que é a principal razão para
estarmos fazendo isso. Nossa meta é simples e objetiva: gerar conhecimento
e o levar para a população, contribuindo com a melhoria na qualidade de vida
do brasileiro.

- 181 -
PRODUTOS VEGETAIS COMO FONTE PARA
TRATAMENTO DA ANSIEDADE

Humberto Hugo Nunes de Andradea


Reinaldo Nóbrega de Almeidab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A ansiedade é um estado emocional que decorre da previsão de situ-


ações futuras, tendo componentes fisiológicos e comportamentais, podendo
acarretar incapacidade funcional1. Os transtornos de ansiedade apresentam
características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamen-
tais relacionados. Medo é a resposta emocional à ameaça iminente real, en-
quanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura2. Esses dois estados se
diferenciam com o medo sendo mais frequentemente associado a períodos de
aumento da excitabilidade autonômica, necessária para luta ou fuga, e a ansie-
dade sendo mais frequentemente associada à tensão muscular e vigilância em
preparação para perigo futuro. Os transtornos de ansiedade se diferenciam do
medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além
de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento 2.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a pre-
valência mundial do transtorno de ansiedade é de aproximadamente 3,6%, al-
cançando maiores proporções no continente americano. No Brasil estudos pré-
vios têm revelado uma alta prevalência de transtorno de ansiedade (27,4%)3.
Os principais sintomas provocados pela ansiedade são as disfunções do
sistema nervoso autônomo como aumento da frequência cardíaca e força de
contração, dispneia, aumento da secreção gástrica, urgências de micção e de-
fecação, sudorese, tensão muscular, sensação de medo e estresse psicológico,
levando o paciente a referir dor 2,4.

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). humbertohugo_92@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). reinaldoan@oul.com.br

- 182 -
O tratamento farmacológico para estas desordens provoca altos custos,
gerando um importante problema de saúde pública. As drogas capazes de re-
duzir a ansiedade possuem muitos efeitos colaterais, como: sedação, amnésia,
dependência, síndrome de abstinência e relaxamento muscular, e mesmo com
a grande quantidade de medicamentos ansiolíticos disponíveis para comercia-
lização, tem-se despertado o interesse da busca por novas drogas ansiolíticas
por parte dos pesquisadores5.

REFERÊNCIAS

1. RAVINDRAN, L. N.; STEIN, M. B. The pharmacologic treatment of


anxiety disorders: a review of progress. The Journal of clinical psychiatry,
v. 71, n.7, p. 839-854, 2010.

2. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e es-


tatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

3. COSTA, C. O. D.; BRANCO, J. C.; VIEIRA, I. S.; SOUZA, L. D. D.


M.; SILVA, R. A. D. Prevalência de ansiedade e fatores associados em adul-
tos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 68, n. 2, p. 92-100, 2019.

4. GRAEFF, F. G.; GUIMARÃES, F. S. Fundamentos de psicofarmaco-


logia. In: Fundamentos de Psicofarmacologia, 2000.

5. ALMEIDA, R. N.; MOTTA, S. C.; DE BRITO FATURI, C.; CATAL-


LANI, B.; LEITE, J. R. Anxiolytic-like effects of rose oil inhalation on the
elevated plus-maze test in rats. Pharmacology Biochemistry and Behavior,
v. 77, n. 2, p. 361-364, 2004.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Humberto Hugo Nunes de Andrade, aluno de doutorado do Progra-


ma de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medi-
camentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientado pelo professor
Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre “Efei-
tos centrais do álcool cinâmico: um fitoquímico bioativo da canela”.
Atuando como pesquisador no laboratório de Psicofarmacologia da
UFPB, estudando substâncias com atividade em nível de Sistema Nervoso

- 183 -
Central, tive a oportunidade de avaliar o efeito central do álcool cinâmico,
onde obtive como resultados atividades antinociceptiva e ansiolítica em mo-
delos não clínicos (estudo com animais), os resultados servirão para publica-
ções em revistas científicas e contribuirão para pesquisas subsequentes.
Atualmente existe um considerável número de medicamentos para o
tratamento da ansiedade. No entanto a maioria deles possui os tão indeseja-
dos efeitos adversos. Pensando nisso, propõe-se encontrar candidatos a novos
medicamentos que possam oferecer efeito ansiolítico mais intenso com menos
efeitos adversos. O uso de produtos naturais e seus metabólitos no controle da
ansiedade tem despertado especial interesse pela ciência na atualidade, com
destaque para as plantas medicinais.
Nosso objetivo é aprofundar esse estudo, a fim de comprovar tal ativi-
dade na perspectiva de levar esta inovação para a sociedade, contribuindo com
a qualidade de vida da população. Contudo, importante ressaltar algumas di-
ficuldades encontradas para execução de nossos estudos. A falta de incentivo
para a pesquisa é tida como um empecilho para a continuidade e obtenção de
resultados promissores em um menor espaço de tempo.

- 184 -
A BUSCA POR NOVOS AGENTES ANTIBACTERIANOS
A PARTIR DE FONTES VEGETAIS

Inácio Ricardo Alves Vasconcelosa


Hilzeth de Luna Freire Pessôab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Antibióticos são compostos naturais ou sintéticos capazes de inibir o


crescimento ou causar a morte de fungos ou bactérias. Podem ser classificados
como bactericidas, quando causam a morte da bactéria, ou bacteriostáticos,
quando promovem a inibição do crescimento bacteriano1.
A resistência bacteriana é considerada como um grande problema para
a saúde pública mundial, é o maior obstáculo para o sucesso de um tratamen-
to, visto que o número de antibióticos válidos disponíveis continua a reduzir 2.
A busca por novos princípios ativos eficazes no combate às bactérias
multirresistentes é necessária, e os vegetais são uma excelente fonte destes
compostos, tendo em vista que a diversidade molecular dos produtos natu-
rais é muito superior àquela derivada dos processos de síntese química3. Esta
variedade de substâncias químicas pertencentes a diferentes classes, oriundas
do metabolismo secundário vegetal, torna interessante a pesquisa de novos
fármacos a partir de plantas.
Assim como a avaliação da atividade antibacteriana, mostra-se igual-
mente importante a avaliação da atividade moduladora da resistência e, no
combate à disseminação de bactérias patogênicas resistentes a antibióticos,
combinações múltiplas de drogas e produtos naturais de origem vegetal têm
sido utilizadas para alterar a ação do antibiótico, através do aumento da ativi-
dade antibiótica ou revertendo a resistência ao antibiótico 4.
Além das ações farmacológicas de extratos de plantas e compostos
isolados destas, é importante verificar outras atividades, pois alguns de seus

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). inacio.vasconcelos@hotmail.com
b Docente (vice coordenadora) do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnoló-
gica em Medicamentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). hilzeth@gmail.com

- 185 -
constituintes biologicamente ativos podem ser tóxicos para o organismo, de-
vendo, portanto, ser avaliado o potencial citotóxico e genotóxico através de
experimentos capazes de fornecer, com razoável margem de segurança, indi-
cações sobre os riscos envolvidos na sua utilização 5.

REFERÊNCIAS
1. WALSH, C. Antibiotics: Actions, Origins, Resistence. ASM Press:
Washington, 2003.

2. OLIVEIRA, A. C.; SILVA, R. S. Desafios de cuidar em saúde frente


à resistência bacteriana: uma revisão. Revista Eletrônica de Enfermagem,
v. 10, p. 189-197, 2008.

3. NOVAIS, T. S.; COSTA, J. F. O.; DAVID, J. P. D. L.; DAVID, J. M.;


QUEIROZ, L. P. D.; FRANÇA, F.; SANTOS, R. R. D. Atividade antibacteria-
na em alguns extratos de vegetais do semi-árido brasileiro. Revista Brasileira
de Farmacognosia, v.13, supl. 2, p. 5-8, 2003.

4. COUTINHO, H. D.; COSTA, J. G.; LIMA, E. O.; FALCÃO-SIL-


VA, V. S.; JÚNIOR, J. P. S. Herbal therapy associated with antibiotic
therapy: Potentiation of the antibiotic activity against methicillin – resistant
Staphylococcus aureus by Turnera ulmifolia L. BMC Complementary and
Alternative Medicine, v.9, n.13, 2009.

5. BENIGNI, R. Structure activity relationship studies of chemical mu-


tagens and carcinogens mechanistic investigations and prediction approaches.
Chemical Reviews, v.105, p. 767-800, 2005.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Inácio Ricardo Alves Vasconcelos, sou aluno de douto-


rado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tec-
nológica em Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
orientado pela professora Dra. Hilzeth de Luna Freire Pessôa e minha pes-
quisa é sobre “Investigação do efeito antibacteriano e modulador da resis-
tência a antibióticos do trans- Cafeato de α-Terpineol e compostos interme-
diários de sua síntese: α-Terpineol e Cloracetato de α-Terpineol”, trabalho
de pesquisa realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvi-

- 186 -
mento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Universidade Federal da Para-
íba (UFPB), sendo esse apoio de fundamental importância para realização
dos projetos de pesquisa.
Obtive o título de mestre pelo Programa de Pós-graduação em Produtos
Naturais e Sintéticos Bioativos da UFPB, na área de concentração Farmaco-
logia, no qual, também orientado pela professora Dra. Hilzeth de Luna Freire
Pessôa e com apoio da Capes, CNPq e UFPB, pesquisei sobre “Investigação
dos efeitos antibacteriano, antioxidante, citotóxico e genotóxico do óleo es-
sencial do caule de Croton tricolor Klotzsch ex Baill”, tendo resultados divul-
gados e publicados.
O Brasil é um país de dimensões continentais, apresentando vários bio-
mas, entre eles a Caatinga, que é exclusivamente brasileiro, refletindo numa
enorme biodiversidade e, com isso, uma grande variedade de espécies animais
e vegetais como fontes de pesquisa na busca por novos fármacos ativos contra
várias doenças.
Como pesquisador, trabalhei durante o mestrado com o óleo essencial
extraído de uma planta nativa da Caatinga do nordeste brasileiro, Croton tri-
color, na qual foi verificada atividade antibacteriana contra algumas espécies
de importância clínica. No doutorado, a pesquisa pretende avaliar a atividade
antibacteriana de produtos isolados, obtidos através de síntese, quanto à pre-
sença de ação contra espécies de importância clínica.
Todas as pesquisas científicas a partir de produtos naturais ou sintéticos
são importantes na formação do conhecimento, pois cada pesquisa é poten-
cialmente promissora no que diz respeito a uma descoberta valorosa, e mes-
mo que o resultado da pesquisa não produza resultados interessantes, agrega
conhecimento e pode dar um direcionamento para futuros pesquisadores ou
indicar a necessidade de aprofundamento nos estudos. Quando se inicia uma
pesquisa, muitas vezes, tem-se um mundo obscuro pela frente e, à medida que
a pesquisa avança, esse mundo desconhecido vai tomando forma, podendo se
revelar um verdadeiro achado que pode trazer benefícios para a sociedade,
como uma nova opção de tratamento para uma doença.
A pesquisa é um grande instrumento na construção do conhecimento
que vai integrar as bases de dados, sendo muito importante na formação aca-
dêmica do profissional, professor ou futuro pesquisador.

- 187 -
MICRORGANISMOS DO BEM:
A BUSCA POR NOVOS PROBIÓTICOS

Wallace Felipe Blohem Pessoaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Probióticos são formulações que contêm microrganismos vivos (bacté-


rias ou fungos unicelulares) e que são capazes de conferir benefícios à saúde
humana após uma correta administração 1.
As bactérias láticas são parte integrante dos microrganismos que ha-
bitam no intestino e no trato urogenital de seres humanos e diversos outros
animais vertebrados e vêm sendo amplamente utilizadas como probióticos,
devido ao conceito de que a sua atividade seria acentuada em organismos da
mesma espécie da qual a cepa foi primariamente isolada 2.
No entanto, novos estudos têm mostrado que microrganismos de ori-
gem extraintestinal, isolados principalmente de produtos de origem vegetal e
alimentos fermentados, exibem efeitos promissores no tratamento e preven-
ção de inúmeras doenças intestinais e extraintestinais 3.
Desta maneira, a busca por novas linhagens de bactérias com poten-
cial probiótico tem despertado interesse dos setores industrial e científico
devido principalmente à demanda do mercado por alimentos funcionais, te-
rapias com menos efeitos colaterais e pelos inúmeros benefícios atribuídos
a esses microrganismos 4.

REFERÊNCIAS
1. OUWEHAND, A.C.; SALMINEN, S.; ISOLAURI, E. Probiotics:
an overview of beneficial effects. Antonie van Leeuwenhoek, v. 82, n. 1-4,
p. 279–289, 2002.

a Docente do Departamento de Fisiologia e Patologia (CCS/UFPB) e do Mestrado Profissional em Ensino


de Biologia (PROFBIO/UFPB). wall.bmd@gmail.com

- 188 -
2. CROSS M.L. Microbes versus microbes: immune signals generated by
probiotic lactobacilli and their role in protection against microbial pathogens.
FEMS Immunology and Medical Microbiology, v. 34, n. 4, p. 245-253. 2002.

3. CHEN, Z. Y., HSIEH, Y. M., HUANG, C. C., TSAI, C. C. Inhibitory


effects of probiotic Lactobacillus on the growth of human colonic carcinoma
cell line HT-29. Molecules, v. 22, n. 107, p. 1-12, 2017.

4. DE MORENO DE LEBLANC, A.; LEBLANC, J. G. Effect of pro-


biotic administration on the intestinal microbiota, current knowledge and
potential applications. World Journal of Gastroenterology, v. 20, n. 44,
p. 16518-16528, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Wallace Felipe Blohem Pessoa, sou biomédico graduado


na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), mestre e doutor em Biologia
e Biotecnologia de Microrganismos pela mesma Instituição. Atualmente sou
docente lotado no Departamento de Fisiologia e Patologia, Centro de Ciências
da Saúde da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Uma das minhas linhas
de pesquisa, desenvolvida desde o doutorado, é a busca por novos micror-
ganismos com potencial probiótico de fontes não humanas, como vegetais e
produtos fermentados.
Fazer pesquisa hoje no Brasil é bastante desafiador, mas gratificante! Em-
bora algumas vezes haja carência infraestutural e/ou falta de recursos destinados
à pesquisa, a possibilidade de descobertas inéditas e de estabelecimento de novas
linhas de pesquisa a partir de um projeto já em andamento é algo que me motiva a
seguir em frente. Saber que não se está só, que existem outras pessoas em outras
instituições traçando metas paralelas, estabelecer parcerias interinstitucionais e
poder compartilhar dados e vivências é algo que impulsiona a fazer ciência.
A pesquisa de novos microrganismos probióticos tem apresentado re-
sultados promissores. Como fruto dela, foram identificadas diversas cepas de
Lactobacillus (bactérias láticas) isoladas da fermentação do cacau apresentan-
do atividade antibacteriana, imunomodulatória e protetora do microambiente
vaginal. Esses isolados mostram-se promissores para o desenvolvimento de
agentes profiláticos.
Nossos resultados podem servir de base para estudos futuros que objeti-
vam avaliar mecanismos moleculares relacionados à inibição de microrganis-
mos patogênicos por Lactobacillus e seus produtos, bem como avaliar a capa-
cidade imunomodulatória de Lactobacillus isolados de fontes não humanas.

- 189 -
Uncaria Tomentosa MELHORA SENSIBILIDADE À
INSULINA E INFLAMAÇÃO HEPÁTICA EM MODELOS
DE CAMUNDONGOS OBESOS

Layanne Cabral da Cunha Araujoa

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas medicinais têm sido utilizadas em diversas regiões do mundo


ao longo da história, muitos produtos naturais são e foram usados por longos
períodos de tempo, sendo, portanto, considerados seguros e eficazes. Eles conti-
nuam sendo fontes de substâncias potencialmente aplicáveis com propriedades
biológicas, farmacológicas ou terapêuticas. Entre 25 e 50% dos medicamentos
atualmente comercializados devem suas origens aos produtos naturais1,2.
A fitoterapia é parte integrante do desenvolvimento da civilização mo-
derna, e vários medicamentos fitoterápicos têm sido prescritos para tratar
doenças. Alguns fitoterápicos são utilizados como imunomoduladores, que
são agentes naturais ou sintéticos que, ao modificar o sistema imunológico,
promovem um benefício terapêutico. Dentre fitoterápicos com efeito imuno-
modulador, podemos citar a Uncaria tomentosa, ou popularmente conhecida
como “unha de gato”, que faz parte da relação nacional de medicamentos
essenciais (Rename) ao SUS2,3,4.
O objetivo da nossa pesquisa foi analisar o efeito do extrato seco da
Uncaria tomentosa (“unha de gato”) sobre a resistência à insulina, inflamação
e esteatose hepática em camundongos obesos.
Como resultados obtivemos que o tratamento com o extrato da “unha
de gato” foi capaz de reduzir em aproximadamente 22% a massa corporal dos
animais obesos. Além disso, aumentou a sensibilidade à insulina nos animais
magros, reverteu a intolerância à glicose e a resistência à insulina nos obesos.
O tratamento também aumentou o gasto energético, reduziu o acúmulo da
gordura e da inflamação no fígado.

a Doutora pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). ay_biomed@
yahoo.com.br

- 190 -
Em conjunto, esses dados fornecem evidências experimentais, pela pri-
meira vez, de que o tratamento com “unha de gato” deve ser avaliado como
potencial terapêutica no combate à obesidade, à desregulação da glicemia e às
doenças do fígado gorduroso não alcóolico.

REFERÊNCIAS
1. CALIXTO, J.B. Twenty-five years of research on medicinal plants
in Latin America. A personal view. Journal Ethnopharmacoly, v.100,
p.131-134, 2005.

2. AKRAMl, M.; HAMID, A.; KHALIU, A.; GHAFFAR4, A.; TAYY-


ABA, N.; SAEED, A.; ALF, M.; NAVEED, A. Review on medicinal uses,
pharmacological, phytochemistry and immunomodula tory activity of plants.
International Journal of Immunopathology and Pharmacology, v. 27,
n. 3, p. 313-319, 2014.

3. ABAJO, C.; BOFFILL, M.; CAMPO, J.; ALEXANDRA, M.; GON-


ZALEZ, Y.; MITJANS, M.; PILAR, V. M. In vitro study of the antioxidant
and immunomodulatory activity of aqueous infusion of Bidenspilosa. Jour-
nal Ethnopharmacoly, v. 93, p. 319-23, 2004.

4. BARAYA, Y. S.; WONG, K. K.; YAACOB, N. S. The Immuno-


modulatory Potential of Selected Bioactive Plant-Based Compounds in
Breast Cancer: A Review. Anticancer Agents Medical Chemical, v. 17,
n. 6, p. 770-783, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Layanne Cabral da Cunha Araújo, sou doutora pelo Ins-
tituto de Ciência Biomédicas da Universidade de São Paulo, meu trabalho
foi orientado pela professora Carla Roberta de Oliveira Carvalho. Fui bol-
sista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e minha pesquisa teve como objetivo descobrir um novo efeito de um
medicamento fitoterápico já comercializado no mercado.
A pesquisa me encanta, sinto-me realizada com a pesquisa pelo fato
de descobrir algo novo, em que posso ajudar a população no tratamento de
doenças, e dessa forma contribuir com a sociedade. Porém somos pouco
reconhecidos no nosso país. Fazemos pesquisa no Brasil não pelo reconhe-
cimento, seja ele financeiro ou profissional, visto que a nossa profissão de

- 191 -
cientista não é regularizada no país. Não somos bem remunerados, mas fa-
zemos pelo gostar.
A ciência é vida, é através dela que encontramos cura para diversas
doenças, precisamos lutar pela nossa ciência e progredir. No nosso estudo,
por exemplo, analisamos um medicamento que é um produto natural, que já
é regularizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e já é
comercializado, ele tem efeito anti-inflamatório. Provamos com a nossa pes-
quisa que ele pode ter um novo efeito, ser um alvo terapêutico para doenças
relacionadas à obesidade como diabetes, resistência à insulina e esteatose-he-
pática. Esses testes foram feitos em animais e agora serão feitos em humanos.
Dessa forma, estamos descobrindo um novo efeito de um mesmo medicamen-
to e contribuindo com a sociedade para o tratamento de doenças.

- 192 -
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS ANTIBACTERIANO
E TÓXICOS DO EXSUDATO DE Anacardium
Occidentale L. (GOMA DO CAJUEIRO)

Rebecca Rhuanny Tolentino Limeiraa


Hilzeth de Luna Freire Pêssoab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A mucosite oral (MO) é um efeito adverso agudo importante na cavi-


dade oral em pacientes submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia, sendo
considerada a causa mais comum de morbidade e mortalidade. As lesões bu-
cais podem levar a uma diminuição considerável da qualidade de vida nestes
pacientes ocasionando dificuldade na alimentação, dor ou ardor ao engolir e
má coordenação dos músculos da fala. Além disso, as lesões podem represen-
tar uma porta de entrada para infecções oportunistas1.
Do ponto de vista clínico, a mucosite oral induzida por quimioterapia é
caracterizada como uma lesão eritematosa, com presença de edema ou ulce-
ração, que podem ser acompanhados por alterações que vão desde sensação
de queimação discreta à grave. Sintomas como transtornos alimentares e do
sono, dificuldades de comunicação, bem como a dor aguda, também estão
associados à doença e ocasionam redução da qualidade de vida dos indivíduos
acometidos, em algumas situações pode provocar perda de consciência e ces-
sação forçada do tratamento2.
Um estudo de metanálise evidenciou que a utilização da laserterapia
de baixa potência e de soluções para bochecho à base de antimicrobianos,
especialmente digluconato de clorexidina a 0,12%, são eficazes para o tra-
tamento da mucosite oral. Porém, a eficácia de outros fármacos, com ação
anti-inflamatória, analgésica e cicatrizante, por exemplo, ainda não foi esta-
belecida, impulsionando o desenvolvimento de investigações que colaborem
para o avanço do conhecimento científico nessa área3.

a Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). rebecca.rhuanny@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). hilzeth@gmail.com

- 193 -
As plantas medicinais têm contribuído fortemente para o desenvolvi-
mento de novas estratégias terapêuticas por meio de seus metabólitos secun-
dários. Estes são conhecidos por atuar de forma direta ou indireta no orga-
nismo, podendo inibir ou ativar importantes alvos moleculares e celulares,
constituindo uma ajuda nos cuidados primários de saúde e um complemento
terapêutico, compatível com a medicina convencional. Para isso, deve haver
garantia de segurança em relação a efeitos tóxicos e conhecimentos sobre efei-
tos secundários, interações, contraindicações, mutagenicidade, dentre outros4.
Anacardium occidentale L (cajueiro) é uma planta de grande valor me-
dicinal, originária do Brasil, encontrada principalmente em climas tropicais e
subtropicais, e do seu gênero é a única espécie cultivada comercialmente. No
nordeste brasileiro, os extratos das folhas, das cascas, das raízes, assim como
a castanha e a goma do cajueiro são amplamente utilizados na medicina tradi-
cional para o tratamento de várias doenças 4.
A goma do cajueiro tem sido reportada, como um potente anti-inflama-
tório, bem como apresenta atividade cicatrizante, antibacteriana, antifúngica,
antileishmaniose e antiulcerogênica5. Assim, uma vez que não há um trata-
mento padrão e definitivo para a mucosite oral destaca-se a importância em
avaliar os efeitos antibacteriano e tóxico da goma do cajueiro, um heteropo-
lissacarídeo extraído do exsudato de Anacardium occidentale L., o que pode
acarretar a ampliação de alternativas terapêuticas.

REFERÊNCIAS
1. ZHANG, L., YANG, X., SUN, Z., LI, J., ZHU, H., LI, J., PANG,
Y. Dendritic cell vaccine and cytokine-induced killer cell therapy for the
treatment of advanced non-small cell lung cancer. Oncology Letters, v. 11,
p. 2605-2610, 2016.

2. CHAVÉLLI-LOPEZ, B. Oral toxicity produced by chemotherapy:


A systematic review. Journal of Clinical and Experimental Dentistry, v. 6,
p. 81-90, 2014.

3. LIMEIRA, R. R. T. Efeito de uma solução tópica oral de multi-


componente no tratamento da mucosite oral quimioinduzida em Ratos
wistar. Dissertação (Mestrado em Odontologia) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2018.

4. LEÓDIDO, A. C. M.; ALVARENGA, E. M.; ARAÚJO, T. S. L.;


SOUSA, N. A.; COSTA, D. S.; SOUZA, F. M.; MEDEIROS, J. V. R. Pros-
pecção tecnológica de polissacarídeos com atividade antidiarreica. Revista
GEINTEC, v. 7, p. 3655- 68, 2017.

5. ARAÚJO, T. S.; COSTA, D. S.; SOUSA, N. A.; SOUZA, L. K.; DE


ARAÚJO, S.; OLIVEIRA, A. P.; MEDEIROS, J. V. R. Antidiarrheal activi-

- 194 -
ty of cashew GUM, a complex heteropolysaccharide extracted from exudate
of Anacardium occidentale L. in rodents. Journal of Ethnopharmacology,
v. 41, p. 378-87, 2015b.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Rebecca Rhuanny Tolentino Limeira, sou discente de dou-


torado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tec-
nológica em Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba, orientada
pela professora doutora Hilzeth de Luna Freire Pessôa. A minha pesquisa é
financiada pela Capes, CNPq e UFPB e tem como objetivo avaliar os efeitos
antibacteriano e tóxico da goma do cajueiro, um heteropolissacarídeo extraído
do exsudato de Anacardium occidentale L., para que possa ser utilizado com
eficácia e segurança para o tratamento da mucosite oral quimioinduzida.
Sabe-se que fazer ciência no Brasil é um desafio por si só, enfrentamos
o desincentivo à tecnologia mais moderna e inovação, o que acaba retirando
boa parte do tempo e energia dos pesquisadores. Tais dificuldades são a ponta
do iceberg de problemas que fazem parte da vida de quase todo cientista bra-
sileiro, seja ele atuante na área pública ou privada.
Entretanto, é nítido que a ciência brasileira contribuiu enormemente
para que o país tivesse destaque. Além de crescer e aumentar seu impacto,
a ciência brasileira conseguiu se impor no cenário mundial. No entanto, en-
tendendo que a pesquisa científica merece um espaço importante e estratégico
dentro das instituições, também em momentos de crise. Por essa razão, apoio
para que as iniciativas de investimento em pesquisa se multipliquem e cum-
pram o seu papel, de modo a incentivar uma cultura voltada à divulgação de
ciência nas instituições.
Portanto, na busca de novas alternativas terapêuticas para contribuir
socialmente, pensando na redução dos efeitos colaterais oriundos de quimio-
terápicos no tratamento do câncer, a exemplo da mucosite oral que até o mo-
mento ainda não existe tratamento eficaz para este agravo, vários produtos
naturais têm sido testados. Com isso, a goma do cajueiro tem sido reportada
como um potente anti-inflamatório, bem como apresenta atividade cicatrizan-
te, antibacteriana, antifúngica, antileishmaniose e antiulcerogênica. Uma vez
que não há um tratamento padrão e definitivo para a mucosite oral o estudo
que estamos desevolvendo tem por objetivo avaliar os efeitos antibacteriano e
tóxico da goma do cajueiro, um heteropolissacarídeo extraído do exsudato de
Anacardium occidentale L., o que pode ampliar as alternativas terapêuticas ou
complementar as já existentes.

- 195 -
AVALIAÇÃO DO PERFIL ANTIBACTERIANO E
EFEITOS TOXICOLÓGICOS DOS DERIVADOS DE
2-CIANOACETAMIDA, ACRILATOS E
CARBOTIOAMIDAS

Zilka Nanes Limaa


Hilzeth de Luna Freire Pessôab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A utilização inadequada de antimicrobianos pode levar a um compro-


metimento da resposta clínica, tanto em infecções aparentemente simples
como também em infecções mais severas, assim aumentam os custos com
internação e são selecionados clones de bactérias multirresistentes. Os efeitos
prejudiciais da resistência antimicrobiana já estão se manifestando em todo
o mundo. As infecções resistentes a antimicrobianos atualmente ceifam pelo
menos 50.000 vidas a cada ano em toda a Europa e EUA, com centenas de
milhares morrendo em outras áreas do mundo. Atualmente, existem infecções
para as quais não existem opções na antibioticoterapia. Muitos dos antibióti-
cos que utilizamos desde o advento da penicilina até os dias atuais são subs-
tâncias, ou derivados, tipicamente fabricados por outros microrganismos para
exterminar seus concorrentes.
Dos fármacos introduzidos na terapêutica, apesar de não utilizar as
bases moleculares das doenças como suporte para o planejamento de novos
fármacos, entre uma das técnicas mais proveitosa está a modificação mo-
lecular. Além disso, vale ressaltar que este tipo de metodologia se mostra
claramente mais vantajosa, tanto em relação ao tempo de execução, quanto
em termos de investimentos 1.
A recente preocupação com o meio ambiente está aumentando o inte-
resse pelo desenvolvimento de processos limpos e econômicos para a produ-
ção de produtos químicos finos. Neste contexto, a condensação aldólica vem
sendo bastante aplicada em síntese orgânica. Neste tipo de reação, moléculas

a Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos - UFPB. zilkananeslima@gmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos - UFPB. hilzeth@gmail.com

- 196 -
complexas e contendo grupos funcionais específicos podem ser formadas atra-
vés da condensação de duas ou mais moléculas simples, empregando como
catalisador uma base fraca. Entre outras vantagens deste tipo de reação, estão
a simplicidade e a fácil execução 2. É importante o conhecimento prévio de
inúmeras viabilidades sintéticas, unido à contínua busca para o desenvolvi-
mento de estruturas biologicamente mais ativas e terapeuticamente úteis com
potencial antimicrobiano.
Atualmente os compostos derivados da cianoacetamida são utilizados
como fungicidas sistêmico e tópico, apresentando eficácia contra os fungos da
ordem dos Peronosporales que causam prejuízos a diversos tipos de plantas 3.
Os acrilatos exibem considerável efeito anticancerígeno inibindo o
crescimento ou a reprodução das células malignas, incluindo carcinoma
pancreático, de mama, cervical, de laringe, de colón, de melanomas e fibro-
blastos humanos 4.
Poucos dados são encontrados na literatura quanto à atividade antimi-
crobiana das carbotioamidas. Em 2016 foi relatado efeito antifúngico conside-
rável para a amida gálica e amida vanílica e efeito antibacteriano para a amida
4-metoxicinâmica5.

REFERÊNCIAS
1. WERMUTH, C. G. Strategies in the seach for new lead compouds
or original working hypothesis. C. 6, 125-143p. In: WERMUTH, C. G., Ed
The practice of medicinal chemistry, 2. ed. London: Academic Press. 2008.
p. 67-91.

2. VELOSO, C. O.; PINTO, A. C.; SANTOS, E. N.; MONTEIRO, J. L.


F. 23-P-29-Synthesis of fine chemicals intermediates over basic zeolites. Stu-
dies in Surface Science and Catalysis, v. 135, p. 237, 2001.

3. PINILLA-MONSALVE, G. D.; MANRIQUE-HERNÁNDEZ, E.


F.; CABALLERO-CARVAJAL, A. J.; GÓMEZ-RODRÍGUEZ, E.; MARÍN-
-HERNÁNDEZ, L. R.; PORTILLA-PORTILLA, Á.; GAMBOA-TOLOZA,
N. Neurotoxicología de plaguicidas prevalentes en la región Andina Colom-
biana. Medicas UIS, Bicaramanga, v. 27, n. 3, p. 57-67, 2014.

4. HRANJEC, M.; GRDISA, M.; PAVELIC, K.; BOYKIN, D.M.;


KARMINSKI-ZAMOLA. Synthesis anf antitumor evaluation of som nem
substituted amidino-benzidimidazolyl-furyl-phenil-acrylates and naphtho
[2,1-b] furan-carboxylates. Il Farmaco v. 58, p. 131319-1324, 2003.

5. MONTES, R, C. Amidas halogenadas: reações de acoplamento e


investigação in silico da atividade antimicrobiana. 276p. Tese (Doutorado)

- 197 -
– Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Zilka Nanes Lima, sou aluna de doutorado do Programa de


Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientada pela Professora
Doutora Hilzeth de Luna Freire Pessôa. Sou Professora efetiva no campus
I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e atualmente estou afastada
para cursar doutoramento, a minha pesquisa é sobre a descoberta de novos
fármacos sintéticos promissores a antibióticos que não sejam tóxicos para uso
humano. A minha pesquisa recebe ajuda financeira da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e UFPB.
Sou egressa do curso de Farmácia da UFPB. No 2º período do curso
eu já estava em iniciação científica no Laboratório de Genética de Microrga-
nismos (LGM) sendo orientada pelo Professor Doutor José Pinto de Siqueira
Júnior, a parceria seguiu até o final do mestrado. No LGM comprovei a im-
portância que a pesquisa tem para o futuro do país. Durante o mestrado fui
bolsista Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior) e durante a Iniciação Científica fui bolsista do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFPB). Todo aprendizado acumulado
nos laboratórios de pesquisa fez o diferencial para que eu exerça o ensino,
a pesquisa e a extensão na UEPB. Sou ponte na formação de pesquisadores,
profissionais da saúde e professores universitários e de ensino técnico.
A importância da minha pesquisa de doutoramento está centrada nas
principais razões que justificam a necessidade urgente por novos agentes anti-
bióticos: a) altas taxas de resistência bacteriana, especialmente em ambientes
hospitalares; b) o decréscimo constante observado no número total de novos
agentes antimicrobianos aprovados pelo FDA (Food Drug Administration);
c) doenças infecciosas são a segunda maior causa de mortalidade do mundo;
d) a necessidade de agentes que atuem por mecanismos de ação diferentes aos
fármacos em uso.

- 198 -
MODULAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE CÉLULAS
TUMORAIS À QUIMIOTERAPIA

Jephesson Alex Floriano dos Santosa


Guido Lenzb

INTRODUÇÃO AO TEMA

O câncer é um conjunto de diversas doenças, caracterizado pelo cres-


cimento celular anormal com potencial para invadir tecidos adjacentes ou
distantes1. Essa doença nos aflige desde antes de o princípio como Homo sa-
piens, entretanto sua incidência aumentou acentuadamente nas últimas déca-
das. Esse fato se deu principalmente pelo aumento da expectativa de vida de
população, uma crescente exposição a fatores de risco relacionados ao estilo
de vida, e a ampliação da presença de agentes carcinogênicos no ambiente em
produtos de consumo2.
O processo de resistência à terapia ocorre quando as células tumorais
deixam de responder ao tratamento quimioterápico por diversos mecanismos,
que podemos incluir desde mecanismos genéticos, como a perda de genes
responsáveis por levar a célula a um processo de morte programada, ou até
por mecanismos epigenéticos, que por sua vez correspondem a um processo
de alteração da expressão de proteínas das vias relacionadas, e também por
modificações no microambiente no qual a célula tumoral reside3.
Para explicar melhor o processo de resistência, é necessário começar
pelo conceito de heterogeneidade tumoral, que se refere à existência de sub-
populações de células com fenótipos e genótipos distintos, que podem apre-
sentar comportamentos biológicos divergentes dentro de um mesmo tumor
primário4. Essas alterações constituem uma potencial vantagem seletiva no
crescimento tumoral, independentemente de essas alterações serem ao acaso
ou motivadas por um programa transcricional aberrante1.

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da UFRGS (Universidade


Federal do Rio Grande do Sul). jephesson@gmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da UFRGS (Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul). gulenz@gmail.com

- 199 -
Ao longo dos anos foi sugerido que as alterações genéticas eram res-
ponsáveis pela resistência das células tumorais a diferentes fármacos, como
alterações em genes envolvidos no reparo do DNA, na captação, nos proces-
sos de morte e nos pontos de checagem do ciclo celular5. Nos últimos anos,
tornou-se evidente que mecanismos epigenéticos aberrantes também desem-
penham um papel crucial na tolerância à terapia. Como exemplos, regiões que
apresentam hipermetilação do DNA podem levar ao silenciamento de genes
supressores tumores e consequentemente comprometer as vias de morte1.
Partindo desses conceitos, torna-se importante a investigação de fárma-
cos que possam regular, reduzir ou alterar a dinâmica transcricional temporal
das células tumorais, e consequentemente melhorar a eficiência de resposta
das células tumorais aos quimioterápicos atuais.

REFERÊNCIAS
1. ASSENOV, T.; BROCK, D.; GERHAUSER, C. Intratumor heteroge-
neity in epigenetic patterns. Seminars in Cancer Biology, v 51, p. 12-21, 2018.

2. FAGUET, G. B. A brief history of cancer: Age-old milestones un-


derlying our current knowledge database. International Journal of Cancer,
v. 136, p. 2022-1036, 2015.

3. Cancer Therapeutic Resistance. Nature. Disponível em: https://www.


nature.com/subjects/cancer-therapeutic-resistance. Acesso em: 30 set. 2019.

4. FISHER, R.; PUSZTAI, L.; SWANTON, C. Cancer heterogeneity:


implications for targeted therapeutics. British Journal of Cancer, v. 108,
n. 3, p 479-485, 2013.

5. BROXTERMAN H.J.; GOTINK K.J.; VERHEUL H.M. Understand-


ing the causes of multidrug resistance in cancer: a comparison of doxorubicin
and sunitinib. Drug Resist Updat, v. 12, p. 114–126, 2009.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Meu nome é Jephesson Alex Floriano dos Santos, sou aluno de dou-
torado do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da
UFRGS, orientado pelo professor Dr. Guido Lenz. Bolsista pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é
sobre a modulação do fenótipo de tolerância à quimioterapia por modificações
em vias epigenéticas.

- 200 -
A pesquisa começa com uma expectativa muito grande, desde o pro-
cesso de fazer algo que possa beneficiar pessoas em larga escala e ao próprio
ganho pessoal e imensurável de fazer uma pesquisa com alto impacto. O Eu-
reka da pesquisa é quase que sempre o ponto máximo, o prazer da descoberta
é algo que realmente lhe traz uma sensação muito plena e sublime. Entretanto,
acredito que minha maior meta é vê-la sendo aplicada, e que toda a população
possa beneficiar-se dela.
Por ter um carinho muito especial pela assistência em saúde no SUS,
meu ideal seria ver que resultados da minha pesquisa possam sem aplicados
para ajudar a dar uma melhor expectativa e qualidade de vida a esses pa-
cientes, independentemente de qual estrato social ele pertença. Acredito que a
pesquisa de qualidade em instituições públicas é uma das formas de garantir
acesso de toda a população a terapias inovadoras.
A principal frustração com relação à pesquisa infelizmente é a fal-
ta de investimentos em insumos e equipamentos. Temos uma mão de obra
bastante qualificada e preparada, e excelentes universidades formadoras de
recursos humanos, entretanto sempre esbarramos na falta de recursos para
desenvolver um projeto com otimização de tempo e que responda a todos os
nossos questionamentos.
A ideia inicial da nossa pesquisa é comprovar incialmente nossa hipó-
tese sobre os fenótipos de tolerância à quimioterapia. Como benefício para a
sociedade, nossa pesquisa não envolve a descoberta de um novo medicamento
no mercado, mas sim medicamentos que já são utilizados na clínica e que
podem contribuir para aumento da sensibilidade das células tumorais aos qui-
mioterápicos atuais.

- 201 -
INVESTIGAÇÃO DO EFEITO ANTI-INFLAMATÓRIO
DE UM ALCALOIDE SINTÉTICO EM MODELO
EXPERIMENTAL DE EDEMA DE PATA

Cosmo Isaías Duvirgens Vieiraa


Marcia Regina Piuvezamb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A inflamação aguda é uma resposta benéfica de suma importância para


o organismo, uma vez que visa reestabelecer o equilíbrio tecidual. Todavia,
quando esse processo persiste por muito tempo, torna-se danoso, podendo
evoluir para doenças. Após um estímulo as células fagocíticas são ativadas e
migram para o local da infecção. A partir dessa ativação, elas produzem e li-
beram mediadores pró-inflamatórios, os quais atuam local ou sistemicamente
desencadeando sinais e sintomas clínicos1.
Atualmente há uma variedade de princípios ativos utilizados na tera-
pia anti-inflamatória, no entanto, muitos deles proporcionam efeitos colaterais
que nos incentivam a busca de novas moléculas mais eficazes de fontes vege-
tais ou sintéticas que sejam promissoras para o tratamento da inflamação que
promovam menos efeitos colaterais e sejam isentas de toxicidade2. Assim, os
estudos farmacológicos de moléculas oriundas de fontes naturais ou química
orgânica sintética tornam-se promissores na descoberta de novas terapias anti-
-inflamatórias. Os alcaloides são constituintes químicos, vastamente distribu-
ídos no reino vegetal, que se apresentam em diferentes estruturas químicas,
rotas metabólicas e diversas atividades terapêuticas importantes3. Especifi-
camente efeitos analgésicos, relaxante muscular, antimicrobiana, bem como
efeito anti-inflamatório4.
Desse modo, nossa pesquisa está voltada a investigar o efeito terapêu-
tico de um novo alcaloide, sintetizado na Universidade Federal da Paraíba,
em modelos experimentais edematogênicos induzidos por agentes flogistícos,
com intuito de que ela seja promissora para o tratamento de processos infla-
matórios agudos.
a Universidade Federal da Paraíba. c.isaias@outlook.com
b Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. mrpiuvezam@ltf.ufpb.br

- 202 -
REFERÊNCIAS

1. MEDZHITOV, R. Inflammation 2010: New adventures of an old


flame. CELL, v. 140, n. 6, p. 771-776, 2010.

2. ALVES, M.T.A.F. Plantas medicinais no alívio da dor inflamató-


ria. 1 jul. 2014.

3. ALVES, A. F.; VIEIRA, G.C.; GADELHA, F.A.A.F.; CAVALCAN-


TE-SILVA L.H.A.; MARTINS, M.A.; BARBOSA-FILHO, J.M.; PIUVE-
ZAM, M.R. Milonine, an Alkaloid of Cissampelos sympodialis Eichl. (Meni-
spermaceae) Inhibits histamine release of activated mast cells. Inflammation,
v. 40, n. 6, p. 2118–2128, 15 dez. 2017.

4. SILVA, L.R.; ALVES, A.F.; CAVALCANTE-SILVA L.H.A.; BRA-


GA, R.M.; ALMEIDA, R.N.; BARBOSA-FILHO, J.M.; PIUVEZAM, M.R.
Milonine, a morphinandienone alkaloid, has anti-inflammatory and analgesic
effects by inhibiting TNF-α and IL-1β production. Inflammation, v. 40, n. 6,
p. 2074–2085, 11 dez 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Cosmo Isaías Duvirgens Vieira, graduando do curso bacha-


relado em Farmácia generalista da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
João Pessoa, PB. Sou membro do projeto de iniciação científica do Laborató-
rio de Imunofarmacologia (IPeFarM-UFPB), o qual é vinculado ao Programa
de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, sob a orienta-
ção da Profª. Drª. Marcia Regina Piuvezam. Atualmente sou voluntário, mas
fui bolsista durante alguns anos pela Universidade Federal da Paraíba (PIBIC/
UFPB), tendo como foco de pesquisa não clínica o efeito do tratamento com
moléculas imunomoduladoras de origem natural ou sintética em modelo ex-
perimental de inflamação aguda.
Antes de ingressar na universidade pública já pensava em ser pesqui-
sador, descobrir moléculas que fossem eficazes para o tratamento de determi-
nadas doenças, acreditava que poderia ajudar a sociedade de alguma maneira,
e não foi “diferente”. Atualmente, realizo pesquisa não clínica dentro da uni-
versidade há três anos, sendo um desafio, no entanto me sinto gratificado por
estar contribuindo com algo para a população, e isso é muito prazeroso.

- 203 -
Atualmente, a situação da pesquisa científica no Brasil vem passando por
vários obstáculos, que pode interferir na geração do conhecimento científico,
tais como, a falta de investimentos, altos preços cobrados pelos materiais e a
falta de uma política interna de apoio à pesquisa. Apesar disso, a pesquisa cientí-
fica tem sido essencial para meu crescimento acadêmico, tem contribuído para o
desenvolvimento técnico-científico, aprimorando meu senso crítico na pesquisa,
e disseminando um vasto conhecimento de técnicas e metodologias.
O processo inflamatório é desencadeado devido à presença de um agen-
te nocivo no tecido, se este for debelado, a homeostasia é restabelecida, po-
rém, se o estímulo permanecer, o processo irá persistir e evoluir desenvolven-
do várias enfermidades como doenças pulmonares, cardíacas, câncer, entre
outras. Para que isto não ocorra, é necessário limitar o processo inflamatório
pela eliminação do infiltrado celular e a produção de mediadores inflamatórios
sem que desencadeie uma resposta autoimune.
Desse modo, nossa atual pesquisa objetiva investigar o efeito anti-in-
flamatório do alcaloide sintético inédito tetrahidroisoquinolinico 2-(7-metoxi-
-1,2,3,4-tetrahidroisoquinolin-1-il) fenol (MTF) em modelo experimental de
edema de pata induzido por agentes flogísticos, com intuito de compreender-
mos os possíveis mecanismos e efeitos da molécula teste, que posteriormente
possa ser incluída na pesquisa clínica e no arsenal farmacoterapêutico com
ação antiedematogênica e anti-inflamatória.

- 204 -
AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO COM UM ALCALOIDE
SINTÉTICO INÉDITO EM MODELO DE LESÃO
PULMONAR AGUDA

João Batista de Oliveiraa


Márcia Regina Piuvezamb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Inúmeras são as doenças que podem acometer o trato respiratório e, den-


tre elas, muitas possuem tratamentos que desfavorecem a qualidade de vida dos
acometidos, levando a uma taxa de mortalidade de 7,5 milhões de indivíduos
por ano, em decorrência de complicações¹. Dentre essas doenças, podemos citar
a Lesão Pulmonar Aguda (LPA), que é uma condição presente no início da Sín-
drome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), uma doença de condição
inflamatória, que danifica a microestrutura pulmonar e permite que esse fique
cheio de fluidos, dificultando diretamente a respiração do indivíduo².
Diversos fatores estabelecidos são conhecidos e contribuem para o sur-
gimento da LPA, tais como sepse, drogas, álcool, pneumonia, doenças vas-
culares de colágeno, dentre outros. Porém, já se sabe que a LPA/SDRA pode
se desenvolver sem fatores predefinidos³, o que se mostra algo preocupante,
visto que o agravamento dessa doença pode levar rapidamente o indivíduo a
óbito, com taxa de mortalidade que varia de 29% a 49,5%.
O tratamento para LPA/SDRA ainda se mostra limitado, sendo utilizada
primariamente a ventilação mecânica, acompanhada do uso de medicamentos
como corticosteroides e broncodilatadores, porém a utilização desses medica-
mentos pode levar a uma série de efeitos indesejáveis que não podem ser to-
lerados em pacientes de alto risco4. Diante disso, os estudos são encorajados,
a fim de investigar moléculas com ação mais específica, visando a um melhor
tratamento com menos efeitos colaterais.
Dentre as inúmeras moléculas estudadas, os alcaloides são uma classe
de metabólitos secundários que estão presentes em diversas espécies de plan-

a Graduando em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba. joa1.oliv@gmail.com


b Universidade Federal da Paraíba/Programa de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. mrpiuvezam@
ltf.ufpb.br

- 205 -
tas, onde suas atividades terapêuticas são amplamente investigadas há muitos
anos, porém sua obtenção e purificação de fontes naturais exige um alto extra-
tivismo vegetal, colocando as preparações sintéticas como uma proposta atra-
ente e promissora para o desenvolvimento de novos medicamentos e produção
em larga escala.
Portanto, nossa pesquisa está direcionada a investigar a ação terapêu-
tica de um novo alcaloide, sintetizado na Universidade Federal da Paraíba,
sobre os processos inflamatórios da LPA, a fim de avaliar se o tratamento com
essa molécula pode beneficiar de forma eficaz os principais sinais do agrava-
mento da doença.

REFERÊNCIAS

1. NAGHAVI, M.; WANG, H.; LOZANO, R. et al. Global, regional,


and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240
causes of death, 1990-2013: A systematic analysis for the Global Burden of
Disease Study 2013. The Lancet, v. 385, n. 9963, p. 117–171, 2015.

2. BERNARD, G. R.; ARTIGAS, A.; BRIGHAM, K.L.; et al. Report of


the American-European consensus conference on ARDS: Definitions, mecha-
nisms, relevant outcomes and clinical trial coordination. Consensus Commit-
tee. Intensive Care Medicine, v. 9, n. 1, p. 72–81, 1994.

3. HARRINGTON, J. S.; SCHENCK, E.J.; OROMENDIA, C. et al.


Acute respiratory distress syndrome without identifiable risk factors: A sec-
ondary analysis of the ARDS network trials. Journal of Critical Care, v. 47,
p. 49–54, 2018.

4. ARTIGAS, A.; CAMPRUBÍ-RIMBLAS, M.; TANTINYÀ, N.; et al.


Inhalation therapies in acute respiratory distress syndrome. Annals of Trans-
lational Medicine, v. 5, n. 14, p. 293–293, jul. 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo João Batista de Oliveira, sou aluno do curso de bacharela-


do em Farmácia da Universidade Federal da Paraíba, onde atuo também como
aluno de iniciação científica orientado pela professora Dra. Márcia Regina Piu-
vezam. Atualmente sou voluntário, mas fui bolsista durante três anos pelo Con-
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC/CNPq),

- 206 -
investigando moléculas de origem natural ou sintética que possuam atividades
terapêuticas sobre doenças inflamatórias que acometem o sistema respiratório,
atualmente com ênfase em rinite alérgica, asma e Lesão Pulmonar Aguda (LPA).
Desenvolver pesquisa sendo ainda aluno de graduação é um desafio,
visto a densa carga horária do curso, as responsabilidades exigidas para o alu-
no pesquisador e a inexperiência diante dos caminhos da investigação. Toda-
via, é gratificante ser pesquisador em uma universidade pública e de qualida-
de, com um histórico sólido e renomado no campo da pesquisa, onde, mesmo
com as dificuldades no que tange a recursos e equipamentos, há uma contri-
buição importante para a sociedade e para a formação intelectual do aluno.
As doenças inflamatórias se manifestam nos mais diversos órgãos do
corpo, todavia, quando presentes em órgãos vitais como os pulmões, a preo-
cupação para o manejo desta é ainda mais importante, pois o próprio corpo, na
tentativa de defender-se de um agente agressor, acaba danificando a si próprio
e causando inúmeras complicações. Na LPA, o processo inflamatório é tão
intenso e agressivo que as células que compõem a estrutura pulmonar são
danificadas, deixando os sacos alveolares cheios de fluidos, impedindo assim
que o ar circule e consequentemente que o indivíduo possa respirar com fa-
cilidade. Essa complicação leva a uma piora progressiva, que se não tratada
corretamente, pode rapidamente levar o indivíduo a óbito.
Nossa pesquisa objetiva avaliar o tratamento com o alcaloide
sintético inédito 2-(7-methoxy-1,2,3,4-tetrahydroisoquinolin-1-yl) phenol
(C16H17NO2), codificado MTF, diante de um modelo experimental de LPA rea-
lizado em camundongos. Essa molécula é derivada de outro alcaloide sintético,
o MHTP, que demonstrou atividades farmacológicas importantes sobre os
estudos experimentais em doenças inflamatórias, o que nos faz acreditar que
essa molécula pode vir a agregar de forma efetiva o arsenal terapêutico para
o tratamento de doenças inflamatórias.
A busca de novas moléculas que possuam um potencial terapêutico e
específico para a LPA é muito importante, e a viabilidade deste trabalho é
essencial para a compreensão dos mecanismos imunológicos que caracteri-
zam a doença em estudo, bem como ao reproduzir em laboratório o conhe-
cimento dos padrões celulares e moleculares que se tornam imprescindíveis
para uma abordagem terapêutica mais eficiente, visando à redução de efeitos
colaterais e inespecíficos ocasionados pelos protocolos de tratamentos ad-
ministrados atualmente.

- 207 -
INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO
DE UM ALCALOIDE SINTÉTICO SOBRE DOENÇAS
RESPIRATÓRIAS ALÉRGICAS

Louise Mangueira de Limaa


Marcia Regina Piuvezamb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A asma é uma doença respiratória caracterizada por uma inflamação crô-


nica das vias aéreas inferiores, hiperresponsividade brônquica e obstrução do
fluxo aéreo, com sintomas característicos, incluindo sibilo, falta de ar e tosse. Já
a rinite alérgica é uma doença que acomete as vias aéreas superiores, provocando
inflamação na membrana nasal e apresentando sintomas como obstrução nasal,
secreção, prurido e espirros. Essas doenças do trato respiratório têm mostrado
uma conexão íntima em sua gênese, coexistência e similaridades desencadeadas
pelos mesmos agentes etiológicos, com o mesmo perfil celular inflamatório e
compartilhando o tratamento terapêutico. Essa conexão é atualmente sugerida
como “Síndrome da Asma e Rinite Alérgicas Combinadas (CARAS)”1.
Na CARAS, a resposta imunológica aos alérgenos caracteriza-se pelo
desenvolvimento de uma resposta imune do tipo 2 e consequente diferencia-
ção de células TH2, que secretam as citocinas inflamatórias (IL-4, IL-5 e IL-
13) e levam à produção de IgE, ativação de mastócitos e resposta eosinofíli-
ca2. A polarização para o perfil TH2 ocorre nos linfócitos, com a ativação de
fatores de transcrição, como o NF-κB (fator nuclear–kappa B), que contribui
para patogênese da CARAS por levar a uma inflamação crônica, hiperres-
ponsividade e remodelação fibrótica das vias aéreas. Esse fator de transcrição
promove a expressão de gens citocinas e acelera a resposta inflamatória pelas
vias de transdução de sinal, como a da Akt (agammaglobulinaemia tyrosine
kinase)/PKB (proteína quinase B). Outra via de sinalização que contribui para
o processo inflamatório na CARAS é a ativação da p38MAPK, uma proteína

a Universidade Federal da Paraíba. louisemangueira123@gmail.com.


b Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. mrpiuvezam@ltf.ufpb.br.

- 208 -
quinase ativada por mitógeno que atua na expressão de várias proteínas infla-
matórias relevantes na asma3.
Devido à grande dificuldade terapêutica no manejo dos pacientes com
CARAS, a demanda pela investigação de novas substâncias promissoras
e seletivas às moléculas-alvo envolvidas na fisiopatologia da doença vem
crescendo. Nesse contexto, as preparações sintéticas apresentam uma al-
ternativa bastante atraente do ponto de vista econômico e o alcaloide sin-
tético MHTP [2-methoxy-4-(7-methoxy-1,2,3,4-tetrahydroisoquinolin-1-yl)
phenol] surge como uma alternativa promissora para o tratamento de doen-
ças inflamatórias.
Esse alcaloide apresenta estrutura semelhante aos alcaloides tetrahi-
droisoquinolínicos criptostilina I, criptostilina II, alcaloides naturais isola-
dos a partir da planta Cryptostylis fulva. Estudos relatam que ele possui
baixa toxicidade aguda in vivo e não apresenta atividade genotóxica no en-
saio de micronúcleo em sangue periférico4. O MHTP apresenta atividade
anti-inflamatória em modelo experimental de lesão pulmonar aguda (LPA)
e em cultura de macrófagos peritoneais, diminuindo a produção e liberação
de citocinas pró-inflamatórias e de óxido nítrico. Além disso, em modelo
experimental de inflamação pulmonar alérgica, o MHTP foi capaz de dimi-
nuir de forma significativa a produção das citocinas IL-13, IL-4 e IL-17 e
de reduzir a quantidade de eosinófilos na cavidade pulmonar e no lavado do
fluido broncoalveolar (BALF)5.

REFERÊNCIAS

1. PAIVA-FERREIRA, L.K.D.; PAIVA-FERREIRA, L.A.M.; MON-


TEIRO, T.M. et al. Combined allergic rhinitis and asthma syndrome (CAR-
AS). International Immunopharmacology, v. 74, p. 105718, 2019.

2. FAHY, J. V. Type 2 inflammation in asthma--present in most, absent


in many. Nature Reviews Immunology, v. 15, n. 1, p. 57–65, 2015.

3. CHAGPAR, R.B.; LINKS, P.H.; PASTOR, M.C.; et al. Direct posi-


tive regulation of PTEN by the p85 subunit of phosphatidylinositol 3-kinase.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 107, n. 12, p. 5471–
5476, 2010.

4. FERREIRA, L.K.D.P. Avaliação da toxicidade pré-clínica


aguda e genotoxicidade do alcaloide sintético MHTP [1-(3-metoxi-4-
hidroxifenil)-7-metoxi-1, 2, 3, 4, - tetrahidroisoquinolina]. 2015. 52 f. Dis-
sertação (Mestrado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos) – Universi-
dade Federal da Paraíba, João Pessoa.

- 209 -
5. PAIVA-FERREIRA, L.K.D.; PAIVA-FERREIRA, L.A.M.; ALVES,
A.F. et al. MHTP, 2-Methoxy-4-(7-methoxy-1,2,3,4-tetrahydroisoquino-
lin-1-yl) phenol, a Synthetic Alkaloid, Induces IFN-γ Production in Murine
Model of Ovalbumin-Induced Pulmonary Allergic Inflammation. Inflamma-
tion, v. 41, n. 6, p. 2116–2128, 22 dez. 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Louise Mangueira de Lima, sou estudante do curso de


Fármacia da Universidade Federal da Paraíba e aluna de iniciação científi-
ca orientada pela professora Dra. Marcia Regina Piuvezam, coordenadora
do Laboratório de Imunofarmacologia da UFPB, vinculado ao Programa de
Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Sou bolsista pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
minha pesquisa é sobre a descoberta de novas moléculas com potencial far-
macológico para tratamento de doenças respiratórias.
Realizo pesquisa dentro da universidade desde o meu segundo perío-
do da graduação e me realizo a cada dia com a escolha que fiz. A pesquisa
científica é um grande instrumento na construção do conhecimento do aluno
e fornece subsídios para o seu desevolvimento durante e posteriormente à
graduação, tanto na teoria quanto na prática. Durante a pesquisa, pude me for-
talecer na capacidade de análise crítica, amplificando as habilidades ligadas
à iniciação científica, como a criação e a testes de hipóteses de estudo, aná-
lise de dados e a escrita acadêmica. Infelizmente, a pesquisa no Brasil ainda
apresenta algumas falhas que nos impedem de crescer no âmbito científico,
como a falta de incentivos institucionais, a falta de verbas específicas para a
pesquisa e a falta de uma política interna de apoio à pesquisa, impossibilitando
o avanço científico.
Entretanto, vejo no desenvolvimento da minha pesquisa uma grande
importância. As doenças respiratórias, incluindo a CARAS, apresentam ele-
vados índices de morbimortalidade em todo o mundo e contribuem com um
grande número de internações hospitalares. Nossa pesquisa tem como objeti-
vo contribuir para uma melhor compreensão da patogênese da síndrome, bem
como avaliar o tratamento com o MHTP e seu mecanismo de ação na fisio-
patologia da doença, adicionando-o ao arsenal terapêutico para o tratamento
dessa síndrome alérgica, pois alguns pacientes não respondem às estratégias
terapêuticas convencionais.

- 210 -
PRODUTOS NATURAIS COMO FONTE PARA
O TRATAMENTO DE DOENÇA DE ORIGEM
INFLAMATÓRIA: a LPA/SDRA

Larissa Rodrigues Bernardoa


Márcia Regina Piuvezamb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A inflamação é uma reação de defesa do organismo ante a uma agressão.


Diversas doenças são capazes de ativar essa reação do organismo, contudo,
em muitos casos ela torna-se exacerbada e prejudicial ao tecido. Para que não
se torne prejudicial ao organismo, em alguns casos, faz-se comumente o uso
de substâncias anti-inflamatórias, que possuem a habilidade de controlar esse
complexo processo1.
Uma doença relacionada a esta reação é a lesão pulmonar aguda (LPA)
e sua forma mais grave é a síndrome do desconforto respiratório agudo
(SDRA), que é definida como uma doença multifatorial devido a apresentar
muitos fenótipos clínicos. Estudos relatam que sua etiologia pode surgir de
doenças infecciosas, como pneumonia e sepse, que podem gerar uma insufi-
ciência respiratória persistente e dependência prolongada de ventilação mecâ-
nica, fatores que aumentam a suscetibilidade à disfunção de múltiplos órgãos,
como também podem levar à morte. Nesse sentido, dados epidemiológicos
mostram que a taxa de mortalidade é alta. No Brasil, essa taxa chega a 38,5%
para os pacientes acometidos em unidades de tratamento intensivo (UTI), em
uma média de 28 dias2.
Atualmente, apesar dos vários estudos que visam ao melhor entendi-
mento do desencadeamento da LPA/SDRA, no diagnóstico e no seu tratamen-
to, ainda não há registros de terapias específicas. A forma de tratamento en-
volve cuidados gerais de suporte prescrito na condição subjacente do paciente,

a Doutoranda no Programa de Pós-graduação de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos -UFPB. rs.larissa@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos e Programa de Pós-graduação de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos - UFPB. mrpiuvezam@
ltf.ufpb.br

- 211 -
incluindo ventilação mecânica e administração de corticosteroides. Pode-se
dizer então que a LPA/SDRA é uma necessidade médica não atendida e que
novas terapias devem ser desenvolvidas para melhorar os resultados clínicos e
diminuir a taxa de mortalidade3.
Nesse sentido, a utilização de diversas partes de plantas medicinais pela
população tem sido um importante recurso terapêutico nos tratamentos de di-
versas doenças inflamatórias. Dessa forma, estudos científicos têm sido realiza-
dos no mundo inteiro, com a finalidade de investigar a atividade farmacológica
dos produtos naturais de plantas (compostos isolados e/ou extratos) no sen-
tido de respaldar cientificamente as suas utilizações, bem como desenvolver
fitoterápicos e/ou fitofármacos para o tratamento de várias doenças de origem
inflamatória. Assim, a partir desses estudos, uma substância pode ser promisso-
ra para obter um tratamento específico para a LPA/SDRA.

REFERÊNCIAS

1. MEDZHITOV, R. Origin and physiological roles of inflammation.


Nature, v. 454, n. 7203, p. 428-35, 2008.

2. CASER, E. B; ZANDONADE, E.; PEREIRA, E.; GAMA,


A.M.; BARBAS, C.S. Impact of Distinct Definitions of Acute Lung Injury
on Its Incidence and Outcomes in Brazilian ICUs: Prospective Evaluation of
7,133 Patients*. Critical Care Medicine, v. 42, n. 3, p. 574-82, 2014.

3. SHAFEEQ, H.; LAT, I. Pharmacotherapy for Acute Respiratory Dis-


tress Syndrome. Pharmacotherapy, v. 32, n. 10, p. 943-57, 2012.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Larissa Rodrigues Bernardo, sou aluna de doutorado do


Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em
Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba, orientada pela professora
Marcia Regina Piuvezam. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamen-
to de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa envolve o teste
de substâncias de origem natural e isolados de planta medicinal em modelos
experimentais in vivo de inflamação aguda, como a LPA.
Motivada desde sempre pela variedade de fenômenos existentes na na-
tureza, particularmente aqueles no âmbito do estudo da vida. Minha atual mo-

- 212 -
tivação se baseia em desvendar os mecanismos envolvidos na atividade anti-
-inflamatória de drogas derivadas de produtos naturais. Considero o trabalho
motivador no sentido de que é indiscutível a necessidade cada vez maior de
pesquisar as possíveis propriedades farmacológicas das plantas, em busca de
alternativas terapêuticas que apresentem eficácia, efeitos adversos menores e
baixo custo. Assim, enxergo nesse tipo de trabalho uma forma de retribuir à
sociedade o fato de ter tido minha formação e estar realizando minha pesquisa
em uma universidade pública, mesmo apesar de o avanço científico ser mais
lento do que gostaria por falta de recursos e equipamentos.
A confirmação do conhecimento popular acerca das propriedades me-
dicinais de compostos naturais, o incentivo à pesquisa e a comercialização
de espécies vegetais brasileiras criam novos empregos, renda, integração
regional, ou seja, gera economias importantes para o desenvolvimento do
país. A partir disso, os produtos naturais mostram cada vez mais oportu-
nidades para encontrar moléculas com potencial para a criação de novos
medicamentos para tratamento de diversas doenças como aquelas que de-
sencadeiam a inflamação.

- 213 -
saúde coletiva
FATORES MATERNOS ASSOCIADOS AO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL: QI E INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL

Giselle Souza de Paivaa


Sophie Helena Eickmannb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Crianças saudáveis e bem estimuladas se tornarão mais provavelmente


adultos saudáveis e aptos do aspecto laboral e social. Por isso, a promoção
e a vigilância do desenvolvimento infantil são fundamentais para o futuro
da criança. É necessário o direcionamento de esforços governamentais e da
sociedade em geral para o investimento neste aspecto relevante da infância,
principalmente em países de baixa e média rendas, como é o caso do Brasil.
Nestes países, estimativas recentes indicam que 250 milhões de crianças me-
nores de cinco anos podem não alcançar seu potencial de desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM)1.
Este período da vida tem um impacto fundamental sobre o DNPM, pois
nele ocorre um intenso e rápido desenvolvimento cerebral. Genes, experiên-
cias e ambiente interagem dinâmica e continuamente num processo que molda
competências cognitivas, sociais, emocionais e de linguagem. Assim, experi-
ências negativas e crônicas em idade precoce, tais como negligência, abuso,
violência e pobreza (um conceito denominado estresse tóxico), na ausência
de experiências protetoras, exercem maior risco para alterações de aspectos
neurobiológicos relacionados ao estresse, alterando a arquitetura cerebral e
podendo levar a problemas de saúde futuros2.
Por outro lado, sabe-se que um desenvolvimento biológico e com-
portamental saudável depende de um ambiente que seja responsivo, ou
seja, que dê suporte e responda às necessidades da criança, estimulando e

a Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adoles-


cente. giselle.spaiva@yahoo.com.br
b Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adoles-
cente. sophie.eickmann@gmail.com

- 215 -
fornecendo-lhe afeto, desta forma favorecendo o aprendizado, a resolução
de problemas e a autorregulação2.
Dentre os fatores que podem influenciar o desenvolvimento das crian-
ças estão aqueles relacionados a condições maternas, especialmente o impacto
que habilidades cognitivas (ou coeficiente de inteligência – QI) e a inteli-
gência emocional. Segundo Bronfenbrenner e Ceci (1994)3, a relação entre
as características maternas e as da criança estão no microssistema onde esta
passa a maior parte de seu tempo, sendo denominados processos proximais e
merecendo atenção os aspectos que podem ser beneficiados com recursos e
suportes adicionais por parte da sociedade.
Crianças cujas mães têm QI mais baixo apresentaram pior desempe-
nho cognitivo, avaliados em diferentes momentos de vida e com diferentes
escalas de avaliação4. Estes estudos investigam o QI, em sua maioria, como
um indicador da transmissão genética entre mãe e filho. Outra característica
materna que pode influenciar o desenvolvimento da criança é a inteligência
emocional. Segundo uma revisão da literatura5, adultos com maiores pontu-
ações da inteligência emocional apresentaram menos depressão, ansiedade
e relacionamentos conflituosos. Por outro lado, estas pessoas apresentaram
maior satisfação, felicidade no casamento e estilo de apego seguro com seus
filhos5. Estas últimas características podem favorecer a estimulação que as
mães exercem sobre seus filhos, tendo impacto positivo sobre o desenvolvi-
mento da criança.

REFERÊNCIAS

1. BLACK, M. M. et al. Early Childhood Development: from Science


to Scale 1: Early childhood development coming of age: science through the
life course. Lancet, v. 7, n. 389 (10064), p. 77–90, 2017.

2. NATIONAL RESEARCH COUNCIL AND INSTITUTE OF MED-


ICINE. The Science of Neglect: The Persistent Absence of Responsive Care
Disrupts the Developing Brain: working paper. n.12. 2012. Disponível em:
http:\\www.developingchild.net. Acesso em: 19 jan. 2019.

3. BRONFENBRENNER, U.; CECI, S.J. Nature-nurture reconceptu-


alized in developmental perspective: a biological model. Psychological Re-
view, v.101, n. 4, p. 568-586, 1994.

4. ERICKSEN H.L.F. et al. Predictors of Intelligence at the Age of 5:


Family, Pregnancy and Birth Characteristics, Postnatal Influences, and Post-
natal Growth. PLoS ONE, v. 8, n.11, 2013.

- 216 -
5. BRACKETT, M.A.; RIVERS, S.E.; SALOVEY, P. Emotional Intel-
ligence: implications for personal, social, academic and workplace success.
Social and Personality Psychology Compass, v.5, n.1, p. 88-103, 2011.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Giselle Souza de Paiva, sou aluna de doutorado do Progra-


ma de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade
Federal de Pernambuco, orientada pela professora Sophie Helena Eickmann.
Minha pesquisa é sobre a influência que algumas características relacionadas
à mãe (QI e inteligência emocional) podem exercer sobre o desenvolvimento
neuropsicomotor da criança (cognição, linguagem e motricidade), em duas
comunidades de baixo nível socioeconômico da cidade do Recife. Para isto,
utilizamos instrumentos considerados de excelência para avaliar estas variá-
veis e, além disso, coletamos inúmeros fatores socioeconômicos que podem
interferir nessa relação.
Sou fisioterapeuta, filha de professores pesquisadores e cresci envolvi-
da neste ambiente estimulador. Tenho consciência de que estas experiências,
desde uma idade muito precoce, influenciaram e continuarão influenciando
minhas escolhas, desafios e conquistas. Tive também professores inspirado-
res em minha formação, seja na graduação ou na pós-graduação. Para mim,
o caminho do pesquisador no Brasil é permeado por altos e baixos. É com sa-
tisfação que encontro professores e orientadores altamente capacitados e atu-
antes, apaixonados pelo que fazem. É também estimulante receber estudantes
de programas de iniciação científica da graduação e mestrandos que “vestem
a camisa”, formam um time que preza pela qualidade e que se esforçam, com
responsabilidade, para que seus resultados retornem para a sociedade no intui-
to de mudar realidades.
No entanto, no Brasil, o pesquisador é um eterno batalhador. As difi-
culdades para mim estão mais relacionadas à falta de recursos que possam
propiciar o estímulo à pesquisa, como, por meio da oferta de mais bolsas de
iniciação científica e de financiamento para o deslocamento e alimentação dos
assistentes de pesquisa. Isto poderia auxiliar no aumento do número de crian-
ças do estudo e dar ainda mais força ao projeto.
Toda pesquisa tem o objetivo primordial de trazer benefícios para
a sociedade. Os nossos resultados poderão auxiliar no direcionamento de
recursos e políticas públicas para o investimento na primeira infância. No
Brasil, apesar de existir uma legislação e políticas no atendimento às neces-
sidades das crianças nos primeiros anos de vida, ainda existe o desafio de
atendê-las de forma integral e com qualidade, o que pode reduzir desigual-

- 217 -
dades sociais e econômicas e minimizar a transmissão intergeracional da
pobreza. Isto porque os custos do investimento neste período da infância são
menores em comparação àqueles destinados à reversão de problemas poste-
riores e promovem mobilidade social, criam oportunidades e fomentam uma
economia e uma sociedade saudável.
Além disso, nossos resultados poderão auxiliar na implementação de
programas de educação em saúde para as mães com foco na estimulação psi-
cossocial. Estas intervenções devem servir de estímulo e aprendizagem para
os pais sobre a importância de apoiar o desenvolvimento de seus filhos, sendo
consistentes, responsivos e que suas interações e estimulações sejam plenas de
afeto, para minimizar os riscos ambientais a que estas crianças são expostas e
promover seu pleno potencial de desenvolvimento, sendo cidadãos produtivos.

- 218 -
PATÓGENOS ZOONÓTICOS EM ECTOPARASITOS
DE ANIMAIS DOMÉSTICOS NO ESTADO DE
PERNAMBUCO – BRASIL

Jéssica Cardoso Pessoa de Oliveiraa


Rafael Antonio do Nascimento Ramosb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Inicialmente, é importante falar sobre a Saúde Única, um conceito que


considera a indissociabilidade entre a saúde humana, animal e ambiental,
admitindo o vínculo entre esses ‘grupos’. Aliada a isto, a interação entre
humanos e animais se dá em diversos ambientes e em vários níveis, ocasio-
nalmente, resultando na transmissão de bioagentes entre estes vertebrados.
Fato é que a maioria das doenças emergentes (doenças novas) e reemergen-
tes (doenças que reaparecem) são de origem zoonótica, bem como a grande
parte das doenças infecciosas humanas têm em seu ciclo a participação de
pelo menos um animal1.
Nos últimos anos o número de animais domésticos tem crescido bastan-
te e o convívio destes com os humanos se torna cada vez mais estreito. Sendo
assim, esse convívio pode permitir a interação entre o homem, animais e ecto-
parasitos, e consequentemente os patógenos por eles veiculados.
Entende-se por ectoparasitos os invertebrados que se localizam na parte
externa do corpo de seus hospedeiros, alimentando-se de sangue (hemato-
fagia) para seu desenvolvimento e reprodução, sendo capazes de parasitar a
maioria dos animais vertebrados, incluindo os seres humanos2. Dentre os prin-
cipais ectoparasitos hematófagos destacam-se os carrapatos e pulgas, devido a
sua ampla distribuição geográfica, causarem prejuízos econômicos na medici-
na veterinária e serem responsáveis por transmitir uma diversidade de patóge-
nos zoonóticos, ou seja, oferecem risco à saúde dos animais e seres humanos3.
Dentre os patógenos causadores de doenças veiculados estritamente por
carrapatos e pulgas destacam-se as bactérias Rickettsia spp., Borrelia spp. e Y.
a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Programa de Pós-graduação em Biociência Ani-
mal. jessica.pessoli@gmail.com
b Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Programa de Pós-graduação em Biociência Ani-
mal. rafaelanramos10@yahoo.com.br

- 219 -
pestis, bioagentes causadores da Febre Maculosa Brasileira (FBM), Síndrome
Baggio-Yoshinari (Doença de Lyme) e Peste, respectivamente. Essas doenças
podem cursar com formas leves e atípicas até formas graves, levando a óbito.
Vale ressaltar que o Brasil é um país que oferece condições ideais à manuten-
ção dos ciclos destas doenças, como: condições ecológicas e geográficas espe-
cíficas, fauna diversificada de hospedeiros vertebrados e ectofauna (carrapatos
e pulgas) com cerca de 130 espécies descritas4,5, embora algumas sejam mais
competentes na transmissão de patógenos do que outras.

REFERÊNCIAS

1. BEHAVESH, C.B.; SINCLAIR, J. Successes and remaining chal-


lenges within the One Health approach Scientific and Technical Review. OIE,
v. 38, n. 1, 2019.

2. MENCKE, N. Future challenges for parasitology: vector control and


‘One health’ in Europe: the veterinary medicinal view on CVBDs such as tick
borreliosis, rickettsiosis and canine leishmaniosis. Veterinary Parasitology,
v. 195, p. 256-271, 2013.

3. DANTAS-TORRES, F.; OTRANTO, D. Best practices for prevent-


ing vector-borne diseases in dogs and Humans. Trends in Parasitology, v. 32,
p. 43-55, 2016.

4. LINARDI, P.M. Checklist dos Sifonápteros (Insecta) do Estado do


Mato Grosso, Brasil. Iheringia, Série Zoologia, v. 107, n. e2017148, 2017.

5. ZIMMERMANN, N. P. et al. Wildlife species, Ixodid fauna and new


host records for ticks in an Amazon forest area, Rondônia, Brazil. Revista
Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 27, n. 2, p. 177-182, 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Jéssica Cardoso Pessoa de Oliveira, sou aluna de mestrado


do Programa de Pós-graduação em Biociência Animal da Universidade Fede-
ral Rural de Pernambuco, orientada pelo professor Rafael Antonio do Nasci-
mento Ramos. Sou bolsista pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia
do Estado de Pernambuco (Facepe) e minha pesquisa é sobre a identificação
de ectoparasitos em animais domésticos e a investigação de patógenos zoonó-
ticos nestes ectoparasitos.

- 220 -
Fazer pesquisa é um desafio em qualquer lugar do mundo, exige do
pesquisador, mas não se pode deixar de fazer pesquisa. Embora alguns fato-
res sejam limitantes e comprometam a capacidade de incrementar a pesquisa,
sempre existirá o bônus em gerar conhecimento, descobrir algo inédito, forta-
lecer ou refutar ideias e poder contribuir de alguma forma com o aumento da
produção científica.
Os benefícios desta pesquisa para a sociedade remetem à aquisição de
novos conhecimentos sobre aspectos epidemiológicos da Febre maculosa brasi-
leira, Síndrome Baggio-Yoshinari e Peste, doenças que têm seus agentes etioló-
gicos transmitidos por carrapatos e pulgas. Ao saber quais espécies de pulgas e
carrapatos parasitam os animais domésticos, é possível fornecer uma base para
outras pesquisas, relacionadas ao controle destes ectoparasitos, assim como sa-
ber quais agentes causadores de doenças estão em contato com estes.
Até o momento, dentre as espécies de ectoparasitos identificadas na
pesquisa, a pulga Ctenocephalides felis e os carrapatos Amblyomma ovale e
Amblyomma sculptum estão implicados diretamente com o ciclo de espécies
de riquétsias no Brasil; e análises moleculares apontaram para bactérias dos
gêneros Rickettsia e Borrelia. Portanto, os dados obtidos nesta pesquisa são
fundamentais para entender melhor o risco de exposição dos animais domés-
ticos e humanos a esses ectoparasitos e, consequentemente, aos patógenos por
eles transmitidos.

- 221 -
FAUNA FLEBOTOMÍNICA NO MUNICÍPIO DE
GARANHUNS, PERNAMBUCO, BRASIL

Carlos Roberto Cruz Ubirajara Filhoa


Rafael Antonio do Nascimento Ramosb

INTRODUÇÃO AO TEMA

As leishmanioses são doenças negligenciadas de ampla distribuição


mundial, que representam um importante problema de saúde pública, poden-
do assumir formas clínicas graves. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (WHO), cerca de 350 milhões de pessoas estão em risco de infecção e
aproximadamente dois milhões de novos casos ocorrem todos os anos1.
As doenças são causadas por diferentes espécies de protozoários do
gênero Leishmania, com a transmissão vetorial desses parasitos entre seus
reservatórios primários e, acidentalmente, para o homem, sendo realizada por
via da fêmea de flebotomíneo, mais conhecido como mosquito palha, ao rea-
lizar o repasto sanguíneo2.
Os flebotomíneos estão presentes em diversas regiões do planeta, es-
tando presentes na Europa, Ásia, África, Oceania e nas Américas, nas mais
diversas condições climáticas e de altitude, sendo representados por inúmeras
espécies, as quais são mais abundantes nas regiões tropicais e subtropicais.
São encontrados em desde ambientes silvestres e rurais até em áreas densa-
mente urbanizadas3.
Por ser essencial na transmissão do microorganismo que causa a do-
ença, é importante determinar a presença e abundância de populações de fle-
botomíneos vetores, pois isso é que determina a distribuição e dinâmica de
transmissão do agente etiológico, e devido à capacidade de adaptação destes
dipteros às alterações ambientais promovidas pela ação antrópica, a epide-
miologia das leishmanioses se torna complexa4.

a Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, Programa de Pós-graduação em Biociência Ani-


mal - PPGBA. carlosubirajarafilho_vet@hotmail.com
b Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns – UFRPE/UAG, Pro-
grama de Pós-graduação em Biociência Animal-PPGBA. rafaelanramos10@yahoo.com.br

- 222 -
Atualmente os flebotomíneos são representados por mais de 1.000 es-
pécies, com mais de 530 espécies registradas nas Américas, sendo mais da
metade registrada no Brasil. Aproximadamente 56 espécies de flebotomíneos
foram comprovadas ou suspeitas de transmitir Leishmaniano Novo Mundo,
sendo o Brasil um dos maiores focos, com várias espécies envolvidas nos ci-
clos de transmissão da Leishmaniose Tegumentar (LT) e da Leishmaniose Vis-
ceral (LV), dentre as quais Lutzomyia umbratilis, Lutzomyia flaviscutellata,
Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia, Lutzomyia wellcomei, Lutzomyia
complexa e Lutzomyialongipalpis, além de algumas espécies com possível
envolvimento na transmissão de Leishmania spp. como Lutzomyiamigonei,
Lutzomyiacruzi, Lutzomyiaevandroi. Contudo, compreender a ecologia desse
inseto vetor é importante para entender o ciclo epidemiológico e refinar as
estratégias de controle.
Diante do exposto, estudos destinados ao conhecimento da fauna flebo-
tominica em diferentes áreas do Brasil são de grande valia.

REFERÊNCIAS

1. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Health topies: Leish-


maniasis, 2014. Disponível em: http://www.who.int/topies/leishmaniasis/en/.
Acesso em 10 abr. 2019.

2. LAINSON, R. Leishmania e Leishmaniose, com particular referên-


cia à Região Amazônica do Brasil. Revista Paraense de medicina, v.11, n.1,
p. 29-40, 1997.

3. MAROLI, M.; FELICIANGELI, M. D.; BICHAUD, L.; CHARREL,


R. N.; GRADONI, L. Phlebotomines and flies and the spreading of leishma-
niases and other diseases of public health concern. Medical and Veterinary
Entomology, v. 27, n. 2, p. 123-147, 2013.

4. GUIMARÃES, V. C. F. V.; COSTA, P. L.; SILVA, F. J.; SILVA, K. T.;


SILVA, K. G.; ARAÚJO, A. I. F.; RODRIGUES, E. H. G.; BRANDÃO-FIL-
HO, S. P. Phlebotomines and flies (Diptera: Psychodidae) in São Vicente Fér-
rer, a sympatric área to cutaneous and visceral leishmaniasis in the state of
Pernambuco, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropi-
cal, v. 45, n. 1, p. 66-70, 2012.

- 223 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu Nome é Carlos Roberto Cruz Ubirajara Filho, sou aluno de mes-
trado do Programa de Pós-graduação em Biociência Animal da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, orientado pelo Professor Dr. Rafael Antonio
do Nascimento Ramos. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre a detecção da
presença e distribuição espacial da fauna do mosquito palha, transmissor do
agente causador das leishmanioses, no município de Garanhuns-PE.
A pesquisa, em minha visão, é a mola de propulsão do desenvolvimen-
to de qualquer nação, e ser um pesquisador é trazer à luz os conhecimentos
gerados por ela, visando contribuir de forma efetiva para a compreensão e
melhoria do mundo. Ser pesquisador no Brasil é viver um misto de sensações,
é descobrir agentes causadores de doenças, drogas eficazes para elas, cura
de doenças, é descobrir algo inédito que contribua para a construção de um
mundo melhor e mais harmonioso, entretanto é ser meio que um malabarista,
é tentar equilibrar três bolas com apenas duas mãos, é fazer muito com pouco,
é buscar desenvolvimento sendo subdesenvolvido.
A execução desta pesquisa irá contribuir para um melhor entendimento
do ciclo epidemiológico das leishmanioses no município de Garanhuns–PE,
uma vez que são zoonoses que dependem de um vetor, mosquito palha, para
promover a disseminação e circulação do agente causador da enfermidade.
A presença de tal vetor já foi confirmada por esta pesquisa, sendo necessária
a continuidade para determinação da variedade de espécies de flebotomíneos
que estão presentes no município em questão.
Os dados gerados serão convertidos em informações valiosas para os
serviços de saúde, pois, sabendo quais e onde estão esses vetores, facilita o seu
controle e consequentemente o controle das leishmanioses, além de fornecer
um alicerce para novas pesquisas, uma vez que o conhecimento é infinito, que
sempre existirão novas demandas para serem estudadas e analisadas diante de
um mundo tão dinâmico.

- 224 -
ANÁLISE DA SOROPOSITIVIDADE E FATORES
ASSOCIADOS À LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

Vanessa Santos de Arruda Barbosaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

A leishmaniose visceral americana (LVA) ou calazar é uma doença para-


sitária, causada pelo protozoário Leishmania e transmitida ao homem através da
picada do inseto flebotomíneo, conhecido popularmente como mosquito-palha.
É uma zoonose típica de áreas rurais do Nordeste que vem se urbanizando e
expandindo, sendo encontrada, atualmente, nas cinco regiões brasileiras1.
Os cães têm importante papel na cadeia de transmissão da LVA, pois
eles são os principais reservatórios nas áreas urbanas, ou seja, abrigam o pa-
rasito e servem de fonte de infecção para que o mosquito-palha se infecte
e assim transmita o parasito aos humanos. No cão, a leishmaniose visceral
apresenta grande espectro clínico, que varia desde animais sem sintomas até
aqueles com grande debilidade orgânica podendo evoluir ao óbito2.
No Brasil, as infecções caninas têm sido mais prevalentes e mostram
estreita relação com as infecções humanas. Devido a esse fator, a leish-
maniose visceral canina (LVC) vem sendo investigada em seus aspectos
clínicos, geográficos, ambientais e sociais, buscando-se formas de diminuir
a sua expansão3.
Tanto em áreas de transmissão, como nos municípios silenciosos (sem
transmissão confirmada, mas com presença do mosquito-palha) se faz o in-
quérito sorológico canino, no qual se pesquisa a presença de anticorpos contra
o parasito no sangue dos animais através de duas técnicas diferentes. Esse
monitoramento da população canina objetiva determinar as taxas de prevalên-
cia (número de casos caninos em determinado período) e identificar os focos
silenciosos da doença para que sejam aplicadas as medidas de controle. Essas
ações seguem as orientações técnicas do Ministério da Saúde1,4.

a Centro de Educação e Saúde/Universidade Federal de Campina Grande – Cuité/PB. vanessabarbo-


sa@ufcg.edu.br

- 225 -
Os resultados dos exames sorológicos, dados clínicos e informações
sobre as condições de vida do animal são inseridos nas Fichas de Notifica-
ção e Investigação do Cão Suspeito, que ficam armazenadas nas secretarias
municipais de saúde. Ao se analisar essas fichas, consegue-se, através de fer-
ramentas estatísticas, traçar o percentual de cães positivos na região por mês
e ano, verificando-se a prevalência e/ou incidência regional da parasitose, os
sinais clínicos mais encontrados nos cães sintomáticos, as regiões do municí-
pio (área urbana ou rural) e os bairros onde encontram-se com mais frequência
os cães parasitados.
Também se consegue analisar a frequência da soropositividade (nú-
mero de cães positivos para anticorpos) por sexo, faixa de idade, condições
de vida (errantes ou domiciliados), cor, pelagem e raça. Esses dados podem
mostrar quais são os fatores associados às infecções caninas e em quais áreas
geográficas se necessitam maiores intervenções ou intensificação das medidas
de combate à parasitose pelos agentes de endemias. Além disso consegue-se
verificar a efetividade das ações podendo embasar a reavaliação delas para
que surtam efeito na diminuição do número de casos.
Nesse sentido, se conhecer a soropositividade da LVC em diferentes
localidades e avaliar quais seriam os fatores que contribuem para a infecção
dos cães é importante para se traçarem estratégias de controle da parasitose.

REFERÊNCIAS

1.BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. v. 3,


n.1. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

2.BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saú-


de, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância
e controle da leishmaniose visceral. 2014. Disponível em: http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_controle_leishmaniose_
visceral_1edicao.pdf. Acesso em: 23 set. 2019.

3.COSTA, D.N.C.C.; BERMUDI, P.M.M.; RODAS, L.A.C.; NUNES,


C.M.; HIRAMOTO, R.M.; TOLEZANO, J.E. et al. Leishmaniose visceral
em humanos e relação com medidas de controle vetorial e canino. Revista de
Saúde Pública, v. 52, n. 92, p.1-11, 2018.

4.ALVES, T.W.B.; PONTES, E.D.S.; BARBOSA, V.S.A. Soroprevalên-


cia da leishmaniose visceral canina em Cuité-PB. American Journal of Med-
icine and Health, p.1-7, 2018. Disponível em: https://aepub.com/wp-content/
uploads/2018/11/AJMH-2018-10-1807.pdf. Acesso em: 23 set. 2019.

- 226 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Vanessa Santos de Arruda Barbosa, sou professora da Uni-
versidade Federal de Campina Grande e orientadora do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq. Ser orientadora de inicia-
ção científica é desafiante e gratificante. Investe-se bastante tempo e esforço
no aprendizado do aluno que irá desenvolver todas as etapas da metodologia
científica e uma visão investigativa e crítica de sua área, levando-o ao amadu-
recimento acadêmico que lhe possibilitará evoluir em sua jornada profissional.
Fazer pesquisa em uma universidade é uma excelente oportunidade de
aprendizado, crescimento pessoal e transformação social, pois é uma forma de
utilizar o conhecimento científico no enfrentamento das problemáticas sociais
e de saúde. Minha pesquisa investiga a presença de leishmaniose visceral ca-
nina em municípios da Paraíba e Rio Grande do Norte e os fatores epidemio-
lógicos associados à infecção dos cães.
Em parceria com as secretarias municipais, os dados dos inquéritos so-
rológicos caninos são analisados com ferramentas estatísticas e os resultados
dessas análises são disponibilizados aos gestores municipais, para embasar o
planejamento de ações de combate a essa parasitose. Essa análise é importan-
te devido aos profissionais de endemias, muitas vezes, não possuírem ferra-
mentas e/ou treinamento estatístico para analisar os dados e, por vezes, esses
são vistos de forma isolada, podendo trazer uma visão distante da realidade.
Ao ajudar na análise e interpretação dos dados epidemiológicos do município
a pesquisa não permanece isolada na Universidade, mas se aproxima da socie-
dade trazendo-lhe benefícios.
Pesquisas em saúde coletiva objetivam buscar soluções para proble-
mas de saúde coletiva com apoio científico, já que os resultados dos estudos
podem trazer subsídios para a implantação de políticas públicas eficientes de
vigilância à LVC nos municípios investigados. Nesse sentido, esta pesquisa se
legitima por vincular a produção de conhecimento às estratégias de campo no
combate a essa grave zoonose.

- 227 -
ANÁLISE DOS ACIDENTES POR ANIMAIS E DO
ATENDIMENTO PROFILÁTICO ANTIRRÁBICO
HUMANO

Lídio Tiago Alves Pequenoa


Vanessa Santos de Arruda Barbosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A raiva humana é uma doença causada por um vírus que afeta o sistema
nervoso central. Pode levar à morte em quase 100% dos casos, quando não
há tratamento profilático adequado, ou seja, medidas preventivas para que o
indivíduo não desenvolva a doença. Está entre as principais doenças transmi-
tidas por animais, se mantendo como um sério problema de saúde pública em
todo o mundo1.
A principal forma de se contrair o vírus é pelo contato com a saliva de
um animal infectado, sendo a mordedura a forma mais comum de transmissão
para humanos2. Os cães e gatos são os principais transmissores do vírus, pois
eles convivem frequentemente com o homem, tanto na cidade como na zona
rural. Além destes, animais silvestres, como morcegos, macacos, raposas, roe-
dores silvestres, gambás e outros, também podem transmitir o vírus3.
No mundo, cerca de 59 mil pessoas morrem todos os anos pela raiva.
No Brasil, cada região apresenta suas particularidades a respeito da raiva, sen-
do mais comum nas regiões Norte e Nordeste do país. A Paraíba é considerada
área endêmica para raiva animal, ou seja, é constante a presença do vírus nesse
estado, com registros em animais de criação, domésticos e silvestres4.
Quando alguém sofre um acidente com animais, ou seja, é mordido
ou passa por alguma situação que o coloque em risco de contrair o vírus da
raiva, é aconselhável que procure a unidade de saúde mais próxima, para
que seja feita a avaliação do acidente e saber qual será o tratamento preven-
tivo mais indicado. O profissional, então, avalia o tipo de agressão (acidente

a Universidade Federal de Campina Grande/Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. li-


dioalves2009@hotmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande/Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG vanessabarbo-
sa@ufcg.edu.br

- 228 -
leve ou grave), a espécie animal envolvida, o tipo de lesão (profundidade e
extensão) e em quais locais do corpo ocorreram, se o animal tinha suspeita
de raiva no momento da agressão, se é passível de ser observado por 10 dias,
sua procedência e hábitos de vida (em caso de animais domésticos)5.
A partir de todos esses dados o profissional de saúde prescreve o trata-
mento profilático pós-exposição (após o acidente), que deve ser adotado para
cada caso. Esse tratamento deve seguir o protocolo do Ministério da Saúde
(MS)5 e pode ter várias condutas, como: dispensa do tratamento, a observação
do animal por 10 dias (apenas para animais domésticos), vacinação antirrábica
e o número de doses e se necessita usar também soro antirrábico5.
Todas as informações sobre os acidentes e o tratamento prescrito para
cada caso ficam registradas nas fichas de notificação antirrábicas em um sis-
tema chamado Sinan (Sistema de Informação de Agravo e Notificação). Con-
sultando-se essas fichas, pode-se conhecer as características dos agravos, tipos
mais frequentes, quais animais são mais envolvidos, o perfil dos acidentados e
as áreas geográficas em que mais ocorrem. Essas informações são importantes
para que se possa direcionar as medidas de promoção em saúde.
Nesse contexto também é possível analisar se as condutas profiláticas
foram adequadas em cada caso, ou seja, se seguiram o protocolo do MS5, se
está havendo prescrições desnecessárias (doses excessivas de vacina) ou se as
doses prescritas são suficientes para o tipo de caso e se os pacientes recebe-
ram todas as doses ou abandonaram o tratamento. Consegue-se avaliar se os
animais envolvidos foram acompanhados clinicamente e se os profissionais
de saúde preencheram todos os dados na ficha de notificação. Esses resultados
dão suporte para se conhecer a qualidade do serviço ofertado pelas equipes de
saúde, o treinamento delas e as caraterísticas dos acidentes e das pessoas en-
volvidas, impactando diretamente no planejamento de estratégias de combate
à raiva humana e animal nos municípios estudados.

REFERÊNCIAS

1. AZEVEDO, J.P.; OLIVEIRA, J.C.P.; PALMEIRA, P.A.; FORMIGA,


N.V.L.; BARBOSA, V.S.A. Avaliação dos atendimentos da profilaxia antirrá-
bica humana em um município da Paraíba. Cadernos Saúde Coletiva, v. 26,
n. 1, p. 7-14, 2018.

2. FRIAS, D.F.R.; CARVALHO, A.A.B.; NUNES, J.O.R. Proposta de


nova metodologia de apoio para indicação racional de profilaxia antirrábica
humana pós-exposição. Arquivos de Ciências da Saúde da Unipar, v. 20,
n. 1, p. 9-18, 29, 2016.

3. RODRIGUES, R.C.A.; ZUBEN, A.P.B.V.; LUCCA, T.; REICH-


MANN, M.L.A.B. Campanhas de vacinação antirrábica em cães e gatos e po-

- 229 -
sitividade para raiva em morcegos, no período de 2004 a 2014, em Campinas,
São Paulo. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 26, n. 3, p. 621-628, 2017.

4. ANDRADE, J.; AZEVEDO, S.; PECONICK, A. P.; PEREIRA, S.;


BARÇANTE, J.; VILAR, A. L.; SILVA, M. Estudo retrospectivo da raiva no
estado da Paraíba, Brasil, 2004 a 2011. Brazilian Journal of Veterinary Re-
search and Animal Science, v. 51, n. 3, p. 212-219, 2014.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota Informativa nº 26-SEI/2017-


-CGPNI/DEVIT/SVS/MS. Informa sobre alterações no esquema de vacinação
da raiva humana pós-exposição e dá outras orientações, 2017. Disponível em:
http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/agosto/04/Nota-Informati-
va-N-26_SEI_2017_CGPNI_DEVIT_SVS_MS.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Lídio Tiago Alves Pequeno, sou aluno de graduação em


bacharelado em Farmácia, e faço parte do Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação Científica – PIBIC da Universidade Federal de Campina Gran-
de, orientado pela professora Vanessa Santos de Arruda Barbosa. Sou bolsista
pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e minha pesquisa é
sobre os casos de acidentes em que o ser humano se expõe ao vírus da raiva,
visando avaliar como aconteceu o acidente, local, que tipo de animal e como
o tratamento pós-exposição aconteceu. Meu trabalho é feito com dados do
município de Barra de Santa Rosa na Paraíba
Sinto-me honrado por poder realizar uma pesquisa, pois tenho total cer-
teza de que a maioria dos alunos que fazem algum curso superior queriam ter
esse privilégio, e ainda mais, em ter a oportunidade de pesquisar dados de
minha cidade natal, me deixando ainda mais ligado e feliz com a pesquisa.

- 230 -
IMPLANTAÇÃO DA FARMÁCIA CLÍNICA NA
FARMÁCIA ESCOLA MANOEL CASADO DE ALMEIDA

Amanda Batista da Silvaa


Camila de Albuquerque Montenegrob

INTRODUÇÃO AO TEMA

A profissão farmacêutica é uma das mais antigas existentes na socie-


dade e, assim como diversas outras, passou por mudanças que seguiram as
transformações ocorridas no país e no mundo, sejam elas políticas, econômi-
cas ou sociais. Dessa forma, a trajetória do farmacêutico pode ser resumida
em três estágios: o primeiro, em que retrata um quadro de economia pequena e
um cuidado mais básico com a saúde, existindo uma proximidade entre o pro-
fissional e o paciente. A segunda fase, caracterizada pelo distanciamento do
farmacêutico da sua função na saúde individual e coletiva, devido ao desen-
volvimento de medicamentos industrializados. O terceiro estágio é marcado
pela retomada da relação profissional-usuário do medicamento, com potencial
para se tornar paciente, visto a lacuna anteriormente deixada que culminou na
ocorrência de eventos adversos também justificada pelos usos indevidos de
medicamentos. Com isso, iniciou-se a era do Cuidado Farmacêutico com a
implantação da Farmácia Clínica no mundo1.
Além de se evitar o uso incorreto dos medicamentos, auxiliando com
informações e acompanhamento com a atuação do profissional farmacêuti-
co, podemos ter uma melhora no quadro de saúde pública existente no país.
É evidente que o Sistema Único de Saúde (SUS) passa por certas dificulda-
des e que temos um cenário de sobrecarga devido a um aumento da demanda
no uso dos medicamentos, pelo fato de o Brasil ter uma população que en-
velhece, com estimativa de que em 2060 o percentual de pessoas com mais
de 65 anos seja de 25,5%, sendo um quarto da população total que será de
228,3 milhões2.

a Universidade Federal de Campina Grande. amandabs57@live.com.


b Universidade Federal de Campina Grande. camontenegro2502@gmail.com.

- 231 -
Com o aumento da expectativa de vida há uma maior incidência de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a diabetes mellitus e a hi-
pertensão arterial sistêmica, tornando interessante a atuação do farmacêutico
clínico como um agente que assume o compromisso e institui uma correspon-
sabilidade no tratamento de uso contínuo com aquele indivíduo acometido,
buscando sensibilizá-lo quanto à necessidade da aceitação do tratamento, da
utilização correta e otimizar os resultados para lhe assegurar bem-estar. Desta
forma, o farmacêutico clínico atua para diminuir transtornos e dar maiores
orientações à população, via ofertas de serviços clínicos, além de reduzir a
superlotação, longas filas e demora para o atendimento às necessidades em
saúde, seja no setor público, seja no privado3.

REFERÊNCIAS

1. SOARES, A. L. P. P. P.; COSTA, M. A.; TEIXEIRA, J. J. V. Nível de


entendimento sobre prescrição farmacêutica no Brasil. Estamos preparados
para essa nova realidade?. Infarma, Ciências Farmacêuticas, Paraná, v. 28,
p.149-156, 2016.

2. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção.


2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-
-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-popu-
lacao-2018-numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047.
Acesso em: 14 fev. 2019.

3. MIRANDA, G. M. D.; MENDES, A. C. G.; SILVA, A. L. A. O en-


velhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais
e futuras. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro,
Brasil, v. 19, n. 3, p. 507-519, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Amanda Batista da Silva, sou aluna do curso de Bacha-


relado em Farmácia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),
do Centro de Educação e Saúde (CES), campus de Cuité/PB, onde sou orien-
tada pela Professora Doutora Camila de Albuquerque Montenegro. Fui bol-
sista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e minha pesquisa teve como objetivo a implantação da Farmácia Clí-
nica na Farmácia Escola Manoel Casado de Almeida, pertencente à UFCG,

- 232 -
campus Cuité-PB, tendo em vista o perfil epidemiológico da população acadê-
mica e do município como um todo, considerando as necessidades em saúde
apresentadas pela comunidade.
Em relação aos resultados encontrados no estudo realizado no muni-
cípio de Cuité/PB, foi possível verificar que as mulheres são a maioria; há
prevalência dos idosos; predominância da profissão de agricultores e a doença
crônica não transmissível (DCNT) mais notificada no município foi a hiper-
tensão, com 67,5% das mulheres acometidas. Assim, constatou-se que existe
uma correlação entre a maior expectativa de vida e o aparecimento de DCNT.
Em se tratando da população acadêmica, o gênero predominante entre
os alunos foi o feminino (64,3%), e o masculino entre os servidores (55,3%).
A faixa etária de 20 a 29 anos foi mais prevalente entre os alunos; entre os
servidores, foi de 30 a 39 anos. No que se refere ao perfil do estado da saúde,
os servidores apresentaram um percentual maior de DCNT em comparação
com os estudantes, 18,4% e 12,7%, respectivamente, sendo a asma entre os
estudantes e a diabetes mellitus entre os servidores (5,3%).
A partir desses dados, definiu-se ofertar na Farmácia Escola os servi-
ços: educação e rastreamento em saúde, revisão da farmacoterapia, acompa-
nhamento farmacoterapêutico e os procedimentos de organização de medica-
mentos, aferição de pressão arterial, teste de glicemia capilar e determinação
de medidas antropométricas, apresentados à comunidade acadêmica por meio
de uma campanha de educação e rastreamento em saúde.
Com a notificação desses dados, o monitoramento dos pacientes, o de-
senvolvimento de um vínculo por meio da comunicação mais próxima à co-
munidade, podemos mostrar a importância do profissional farmacêutico e da
pesquisa, bem como da extensão nas Universidades Federais.

- 233 -
ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS
E OFERTA DO CUIDADO FARMACÊUTICO À
POPULAÇÃO CUITEENSE

Maria Jaíne Lima Dantasa


Camila de Albuquerque Montenegrob

INTRODUÇÃO AO TEMA

O uso das plantas medicinais é uma prática muito antiga que permeia o
cotidiano da humanidade até os dias atuais, promovendo a cura ou diminuindo
sinais e sintomas de várias doenças na sociedade. É uma das formas de remé-
dios mais disponíveis à população, isso devido à grande quantidade de plantas
existentes no mundo, inclusive no Brasil, onde se concentra uma das maio-
res reservas de biodiversidade vegetal1. Além deste, outros fatores motivam a
utilização de plantas em tratamentos, como a impossibilidade de acesso aos
medicamentos convencionais, principalmente por parte das populações mais
carentes e com baixa renda familiar, associando-se à forte crença tradicional
transmitida entre gerações familiares2.
Sobre o saber popular, algumas informações insuficientes e equivoca-
das a respeito de determinados tratamentos naturais são propagadas, inclusive
nas classes menos privilegiadas, levando ao autoconsumo incorreto de plantas
medicinais/fitoterápicos comprometendo e, em algumas situações, agravando
o estado de saúde delas. Nesse cenário, o profissional farmacêutico surge com
os serviços direcionados à saúde do paciente para aplicação dos seus conhe-
cimentos específicos, a fim de resolver os diversos problemas decorrentes de
terapias irracionais e irresponsáveis e, sobretudo, instruir sobre o uso correto,
adequado e racional 3.
Nesta perspectiva, surge o serviço de educação em saúde como alter-
nativa para melhorar a capacidade de compreensão da população acerca de
assuntos relacionados à saúde e de solução para esta problemática, acen-
tuando, sobretudo, a qualidade de vida na região. Além disso, por meio da

a Universidade Federal de Campina Grande. jainedantas14@gmail.com


b Universidade Federal de Campina Grande. camontenegro2502@gmail.com

- 234 -
educação em saúde é oportunizado aos profissionais e estudantes da saúde
a ampliação dos seus conhecimentos adquiridos na formação acadêmica e
também é considerado como um fator fundamental para o paciente adquirir
um compromisso com sua própria saúde, levando a uma conscientização do
processo saúde-doença, cujo objetivo é a mudança nos hábitos de saúde por
meio do autocuidado 4.

REFERÊNCIAS

1. BADKE, M. R.; SOMAVILLA, C. A.; HEISLER, E. V.; ANDRADE,


A.; BUDÓ, M. L. D.; GARLE, T. M. B. Saber popular: uso de plantas medi-
cinais como forma terapêutica no cuidado à saúde. Revista de Enfermagem
da UFSM, [s.l.], v. 6, n. 2, p. 225-234, 2016.

2. FIRMO, W.C.A.; MENEZES, V. J.M.; PASSOS, C.E.C.; DIAS,


C.N.; ALVES, L.P.L.; DIAS, I.C.L.; SANTOS, N. M. Contexto histórico, uso
popular e concepção científica sobre plantas medicinais. Cad. Pesq., v. 18,
p. 90-95, 2011.

3. ALMEIDA, R. B.; MENDES, D. H. C.; DALPIZZOL, P. A. Ensino


farmacêutico no Brasil na perspectiva de uma formação clínica. Revista de
ciências farmacêuticas básica e aplicada, v. 35, n. 3, p. 354, 2015.

4. SANTOS, F. D. R. P.; NUNES, S.F. L.; PASCOAL, L.M.; SILVA, J.


O.; ALMEIDA, R. P. Educação em saúde para pacientes no pós-operatório de
cirurgias torácicas e abdominais. Revista Ciência em Extensão, v. 11, n. 1,
p. 171-177, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Maria Jaíne Lima Dantas, sou aluna do curso bacharelado
em Farmácia da Universidade Federal de Campina Grande, do Centro de Edu-
cação e Saúde (CES), campus de Cuité/PB e participei como voluntária do pro-
jeto de iniciação científica orientado pela professora Doutora Camila de Albu-
querque Montenegro, sobre a oferta da educação em saúde através do cuidado
farmacêutico no uso de plantas medicinais pelos usuários da Unidade Básica de
Saúde (UBS) Ezequias Venâncio dos Santos, no município de Cuité-PB.
Diante do que foi desenvolvido na pesquisa percebeu-se que 82,5%
dos 189 participantes do estudo costumam fazer uso de plantas medici-
nais, havendo uma prevalência de 89,1% para o gênero feminino. Relacio-

- 235 -
nado à faixa etária, a predominância foi de indivíduos com 18 a 29 anos,
e 48,7% apresentaram grau de escolaridade considerado baixo, 55,8% fazem
uso de algum medicamento como forma de tratamento para alguma doença
ou afecção e 57,1% afirmaram utilizar frequentemente (diariamente/sema-
nalmente) as plantas.
As informações passadas de geração a geração através do saber popular
apresentaram os maiores percentuais e dentre as plantas mais citadas desta-
cam-se: boldo (Peumus boldus Molina), erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.
E. Br.), capim santo (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf), camomila (Matrica-
ria recutita L.), erva-doce (Pimpinella anisum L.), flor de sabugueira (sabu-
gueiro Sambucus nigra L.), eucalipto (Eucalyptus globulus Labill) e alecrim
(Rosmarinus officinalis L.)
É de grande importância a realização de pesquisas como estas, para se
ter percepção das principais carências da sociedade relacionadas ao conheci-
mento, e ao longo da pesquisa, podemos perceber as necessidades da popu-
lação acerca do uso das plantas, como, como se faz um chá, sua indicação,
entre outras variáveis. Diante disso, para se ter um melhor desenvolvimento
do estudo, foi elaborado o Guia de Plantas Medicinais com informações uti-
lizando linguagem acessível e ilustrações para o melhor entendimento dos
pacientes, para que tivessem acesso às informações sobre o uso correto das
espécies vegetais em sua própria casa.
Por falta de recursos financeiros, foram confeccionadas duas unidades
do guia, um sorteado entre os pacientes que estiveram presentes no nosso
“Chá de conversas” sobre o uso racional de plantas medicinais e o outro se
encontra disponível na UBS em que se realizou a pesquisa.
Mesmo com algumas dificuldades, conseguimos beneficiar a população
com os conhecimentos obtidos por meio de dados científicos disponíveis na
literatura, para que a fitoterapia seja mais difundida, segura e efetiva na vida
de todos os usuários. Podemos, ainda, destacar a importância do papel do
farmacêutico como um agente que promove, protege, recupera e mantém a
saúde da população, racionalizando tratamentos, por exemplo, via serviço de
educação em saúde, dentro de uma equipe multiprofissional.

- 236 -
DOENÇA DE CHAGAS: UM MAL ANTIGO,
PORÉM AINDA SEM SOLUÇÃO

Alison Pontes da Silvaa


Bruna Braga Dantasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A doença de Chagas foi descoberta no Brasil, em 1909, pelo médico e


pesquisador Carlos Chagas. Sabe-se que esta doença é causada pelo Trypa-
nosoma cruzi, que comumente pode infectar o ser humano através de insetos,
conhecidos popularmente como “barbeiros”. Estes insetos conseguiram se
adaptar em ambientes domésticos, sendo frequentemente encontrados em ca-
sas de taipa, e se alimentam de sangue humano (são hematófagos). Assim, ao
picar um indivíduo, os barbeiros induzem prurido (coceira) e depositam suas
fezes próximo ao local da picada, deste modo, quando a pessoa coça, as fezes
podem entrar em contato com o sangue humano, caso o inseto esteja contami-
nado, as fezes contendo o parasita são a principal forma de contaminação1,2.
Esta doença pode apresentar sinais e sintomas comuns a outras enfer-
midades, como febre, por exemplo, ou mesmo pode desencadear um período
muito longo (10 a 30 anos) sem quaisquer sintomatologias, isto promove um
retardo no diagnóstico e tratamento precoce. Assim, muitas vezes só é possí-
vel identificar a doença de forma tardia, quando o quadro clínico apresenta
manifestações graves e de difícil tratamento. Entre essas manifestações, é pos-
sível citar: aumento do coração, fígado e baço, comprometimento do sistema
nervoso, entre outras1.
Apesar de ter sido descoberta há mais de cem anos, a doença de Cha-
gas ainda não possui um tratamento eficaz e seguro, pois os medicamentos
disponíveis para a população são poucos e os que existem não são bem to-
lerados pelo organismo do paciente, a ponto de causarem efeitos maléficos
em muitos casos1.
a Graduando em Farmácia pela Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde.
alisonpds2@gmail.com
b Professora Adjunta da Universidade Federal de Campina Grande, doutora em Biotecnologia. brunab-
dantas@gmail.com

- 237 -
Vale destacar que a doença de Chagas afeta principalmente os paí-
ses que possuem índices de pobreza mais elevados, de forma que os países
latino-americanos concentram a maior parte dos infectados em todo o mundo.
Nesse contexto, o Brasil é considerado um dos países com mais pessoas afe-
tadas ou sob risco de adquirirem a doença2.

REFERÊNCIAS

1. ÁLVAREZ-HERNÁNDEZ, D. A.; FRANYUTI-KELLY, G. A.; DÍ-


AZ-LÓPEZ-SILVA, R.; GONZÁLEZ-CHÁVEZ, A. M.; GONZÁLEZ-HER-
MOSILLO-CORNEJO, D.; VÁZQUEZ-LÓPEZ, R. Chagas disease: current
perspectives on a forgotten disease. Revista Médica del Hospital General de
México, v. 81, n. 3, p. 154-164, 2018.

2. DIAS, J. C. P.; RAMOS JR, A. N.; GONTIJO, E. D.; LUQUETTI,


A.; SHIKANAI-YASUDA, M. A.; COURA, J. R. et al. II Consenso Brasileiro
em Doença de Chagas. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, n. espe-
cial, p. 7-86, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Meu nome é Alison Pontes da Silva, sou aluno de graduação do cur-
so de Farmácia pela Universidade Federal de Campina Grande, Centro de
Educação e Saúde, campus Cuité, orientado pela professora Drª. Bruna Bra-
ga Dantas. Buscamos reconhecer características da população em tratamento
para doença de Chagas, no Brasil, assim como reunir informações sobre o
potencial terapêutico de produtos naturais derivados de plantas.
De forma geral, foi possível observar que os registros hospitalares no
Brasil apresentaram um declínio a partir de 2008, além de que houve uma
predominância de indivíduos do sexo masculino e da faixa etária acima de
50 anos. No entanto, observa-se um aumento no número de óbitos e no valor
médio gasto por internação nos últimos quatro anos. Isso indica que, apesar
do aumento nos gastos, não está havendo um êxito na recuperação como se
espera. Tal observação demonstra que é necessário o reconhecimento do perfil
da população com doença de Chagas, para que se possa propor o desenvolvi-
mento de políticas específicas de prevenção e diagnóstico precoce, para que o
aumento de verbas possa, então, ser diretamente proporcional à recuperação e
reestabelecimento da saúde destes pacientes.
Quanto às perspectivas terapêuticas, foi possível observar uma série de
investigações baseadas em produtos naturais que apresentam efeitos promis-

- 238 -
sores, equiparáveis ou superiores aos observados pelos medicamentos usados
para o tratamento. Dentre as pesquisas observadas, vale salientar que mais de
um terço (36,8%) é de plantas oriundas da flora brasileira, demonstrando a
necessidade de preservação ambiental e de investimento para que estas pes-
quisas possam vir a ser concluídas e aumentarem as opções de tratamento para
doença de Chagas, inclusive buscando uma proposta de cura.
Vale ainda salientar que, por ser uma doença associada a países com
baixo desenvolvimento econômico, esta não é uma pesquisa vislumbrada por
grandes empresas farmacêuticas, que visam também ao lucro, mas é uma pes-
quisa essencialmente desenvolvida e apoiada por governos que busquem a
saúde e melhoria da qualidade de vida da sua população.
Diante disso, torna-se evidente a importância de pesquisar a respeito da
doença de Chagas, a fim de conhecer o seu perfil epidemiológico, bem como
investigar novas opções de tratamento para esta parasitose que ainda afeta
diversas pessoas no Brasil e no mundo.

- 239 -
ARMAZENAMENTO E DESCARTE
DE MEDICAMENTOS EM DOMICÍLIOS

Andrezza Duarte Fariasa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Grande parte da população brasileira possui medicamentos em casa,


formando o que chamamos de ‘farmácia caseira’ ou ‘farmacinha’. Geralmen-
te, é composta por medicamentos que sobram de tratamentos anteriores e que
foram comprados sem prescrição e estão fora de uso. É importante ter cuidado
no momento de utilizar os itens da farmácia que se tem em casa. Além de
facilitar a automedicação, esses medicamentos podem pôr risco à saúde, pois
possibilitam a intoxicação por uso acidental de crianças e também, quando
armazenados de forma inadequada, podem ter sua qualidade prejudicada.
O uso de medicamentos da farmácia caseira, por automedicação, pode
colocar a saúde da pessoa em risco, pois um sintoma conhecido que se torna
frequente, sendo tratado em casa pode adiar o diagnóstico de uma doença mais
séria ou ainda desenvolver alergias, diminuição do efeito de antibióticos, inte-
ragir com novos medicamentos e reações indesejadas. Assim, é importante a
orientação de um profissional de saúde, a fim de evitar os possíveis danos do
uso de medicamentos por conta própria.
O medicamento é o maior responsável por intoxicação em humanos.
Em 2016, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sini-
tox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) registrou 80.082 mil casos de into-
xicação humana, dos quais 27.261 (34,04%) foram por medicamentos com 52
óbitos registrados1. As crianças de 0 a 4 anos foram as mais intoxicadas, com
7534 casos (27,64%), o que evidencia a importância de guardar medicamentos
em locais que dificultem seu acesso, preferencialmente altos e com fechadura.
Nem sempre as pessoas guardam sua ‘farmacinha’ no local adequado,
o que pode prejudicar o efeito dos medicamentos. Quando expostos a condições
adversas de umidade, temperatura e luz, podem transformar-se em substâncias

a Universidade Federal de Campina Grande. andrezzadfarias@gmail

- 240 -
tóxicas2. A temperatura é considerada o mais importante dos fatores ambientais,
pois acelera a degradação dos medicamentos. A umidade pode promover rea-
ções químicas e a luz pode desencadear a instabilidade. Assim, locais quentes
como a cozinha e úmidos como o banheiro não são adequados para guardar
medicamentos. Eles podem causar alterações em sua composição, diminuindo o
efeito ou causando efeitos tóxicos, mesmo estando dentro do prazo de validade.
Portanto, os medicamentos devem ser guardados em local arejado e seguro, sem
exposição à luz, calor ou umidade, em sua embalagem original, identificados
pelo nome e com data de validade, o que nem sempre ocorre.
Outro problema relacionado à guarda de medicamentos em domicílio é
sobre o que fazer quando o medicamento está vencido. Geralmente, as pessoas
utilizam o vaso sanitário ou o lixo comum, o que pode causar impactos ambien-
tais extremamente relevantes, afetando diversos ecossistemas. Quando lançados
na rede de esgoto ou lixo doméstico, os medicamentos constituem um grande
problema, o que acarreta um maior risco de intoxicação humana e também a
contaminação do solo, dos rios, afetando a qualidade da água e provocando
efeitos, cada vez maiores, de poluição ambiental. Assim, os medicamentos ven-
cidos em casa podem ser entregues em farmácias comunitárias, onde será feito
o descarte apropriado sem expor o meio ambiente e a população a esses riscos3.
O armazenamento e o descarte de medicamentos devem ser realizados de
forma responsável, pois como são produtos químicos passam por reações que
podem causar intoxicações, alterar o efeito ou mesmo perder suas propriedades.

REFERÊNCIAS

1. SINITOX. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO


FARMACOLóGICAS. Dados nacionais, 2016. Disponível em: https://sini-
tox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais Acesso em: 24 set. 2018.

2. DAL PIZZOL, T. S.; PICCOLLI, A; BRUGNERA, Q. Análise dos


estoques domiciliares de medicamentos essenciais no Sul do Brasil. Acta
Farmacêutica Bonaerense, v. 25, n. 4, p. 601-607, 2006.

3. JÁCOME, R. C. Avaliação do estoque e acondicionamento de me-


dicamentos em domicílios na cidade de Cuité-PB. 2012. 44 f. Monogra-
fia (Graduação em Farmácia) - Universidade Federal de Campina Grande,
UFCG, Cuité - PB, 2012.

- 241 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Sou Andrezza Duarte Farias, aluna de doutorado do Programa de
Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPgSCol/UFRN) e professora do curso de Farmácia do Centro de Edu-
cação e Saúde da Universidade Federal de Campina Grande (CES/UFCG).
A pesquisa apresentada teve início a partir de um Projeto de Extensão em que
os estudantes, ao visitarem residências junto com os Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) no município de Cuité, PB, observaram que existiam problemas
no armazenamento de medicamentos. Então, elaboramos um Projeto de Pes-
quisa com o objetivo de investigar a maneira como ocorria.
Foram visitadas 256 residências no município de Cuité (PB), destas,
75,8% apresentaram farmácia caseira, com uma média de 3,3 medicamentos/
residência. Um dos principais lugares de armazenamento de medicamentos
foi dentro do armário da cozinha (26,36%) e 76,2% foram considerados ao
alcance das crianças. O descarte era realizado 53,62% no lixo comum sem
nenhum cuidado.
Após identificar esses resultados, realizamos uma Campanha sobre o
Uso Racional de Medicamentos em que visitamos as residências, identifica-
mos medicamentos vencidos, recolhendo-os e realizando a devida orientação.
Com esse trabalho, podemos exemplificar como a pesquisa pode beneficiar a
população: identificamos um problema sobre o uso de medicamentos e reali-
zamos ações de forma a minimizá-lo.
Realizar pesquisa é um desafio, pois precisa de um bom planejamen-
to, que envolve organização e estrutura de recursos financeiros e humanos.
A principal dificuldade é a limitação dos recursos financeiros, pois nem todo es-
tudante pode vivenciar a experiência da pesquisa na universidade, assim como
tem-se restrição para sua execução, precisando economizar na abrangência das
ações. Uma das alegrias de se fazer pesquisa é conseguir resultados que podem
contribuir, neste caso, tanto para uma melhoria do uso de medicamentos pela
população em geral quanto na formação dos alunos que no futuro poderão ter
um olhar diferenciado para as necessidades e realidade das pessoas.

- 242 -
EPIDEMIOLOGIA DE INFECÇÕES RELACIONADAS
À ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Bruno Henrique Andrade Galvãoa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são consideradas


problema de saúde pública, causando impulso na morbidade e mortalidade, no
tempo de internação, em despesas com procedimentos diagnósticos e terapêu-
ticos, impactando, ocasionando problemas éticos, jurídicos e sociais1.
Conforme o Ministério da Saúde, estima-se que os indicadores de IRAS
alcancem 14% das internações no país. Dados epidemiológicos podem contri-
buir para melhoria das políticas de saúde que visam ao enfrentamento desse
tipo de enfermidade2.
Observando o impacto das IRAS, é imprescindível que os serviços de
saúde constituam Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), con-
forme orienta a legislação brasileira, baseando-se na Portaria n. 2.616/98, que
visa à implantação e execução de Programa de Controle de Infecção Hospi-
talar (PCIH) para diminuir os indicadores de infecção a um nível admissível,
tornando-se alicerce para um atendimento de excelência e de comprometi-
mento com a segurança do paciente3,4.

REFERÊNCIAS

1. BARROS, L.M.; BENTO, J.N.C.; CAETANO, J.Á.; MOREI-


RA, R.A.N.; PEREIRA, F.G.F.; FROTA, N.M.; ARAÚJO, T.M.; SOARES,
E. Prevalência de micro-organismo e sensibilidade antimicrobiana de in-
fecções hospitalares em unidade de terapia intensiva de hospital público no

a Docente do Departamento de Fisiologia Patologia/Centro de Ciências da Saúde e do Mestrado Profissional


de Ensino de Biologia/Centro de Ciências Exatas e da Natureza - UFPB. brunogalvao.ufpb@gmail.com

- 243 -
Brasil. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 33, n. 3,
p. 429-435, 2012, lil-658502.

2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Critérios Diag-


nósticos de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. [Internet]. Brasí-
lia: Anvisa, 2013.

3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de


prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde [Internet]. Brasí-
lia: Anvisa, 2013.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 2.616, de 12 de


maio de 1998. Dispõe sobre diretrizes e normas para a prevenção e o controle
das infecções hospitalares [Internet]. Brasília, 1998.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Bruno Henrique Andrade Galvão, biomédico pela Universidade


Federal de Pernambuco, professor de Microbiologia do Departamento de Fi-
siologia e Patologia do Centro de Ciências da Saúde/UFPB. Sou credenciado
ao Mestrado Profissional de Ensino de Biologia (PROFBIO) do Centro de
Ciências Exatas e da Natureza/UFPB.
Atuando como pesquisador na área de Epidemiologia de Infecções Re-
lacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), tenho a oportunidade de trabalhar
com ensino de microbiologia no Programa de Pós-graduação em Ensino de
Biologia/UFPB.
Durante o mestrado no Programa de Pós-graduação em Medicina Tro-
pical/UFPE trabalhei com determinação de microbiota conjuntival durante
o perioperatório de pacientes portadores de Degeneração Macular Relacio-
nada à Idade (DMRI) que eram submetidos a um protocolo de tratamento
com sequenciado de injeção intravítrea de antiangiogênico. O estudo con-
tribuiu para identificar o perfil de microbiota bacteriana e fúngica de idosos
portadores de DMRI, além da determinação do perfil de sensibilidade aos
antimicrobianos.
Os resultados foram importantes para mudanças nos protocolos de tra-
tamento e estratégias de controle de IRAS desse grupo de paciente, visto que
infecções oftalmológicas são graves e principalmente nessa faixa etária.
No decorrer do curso de doutorado no Programa de Pós-graduação em
Medicina Tropical/UFPE a linha de pesquisa foi relacionando desnutrição e
esquistossomose crônica em modelo murino, um estudo de microbiota intes-

- 244 -
tinal e translocação microbiana. Os resultados puderam contribuir para pre-
encher uma lacuna ante a uma doença negligenciada e suas cormorbidades.
As pesquisas com microbiologia e epidemiologia de IRAS requerem
muita dedicação, investimento e parceria para alcançar os objetivos. Os re-
sultados têm possibilitado contribuir para o desenvolvimento de estratégia
epidemiológica da dinâmica das IRAS nos serviços de saúde. Os dados cientí-
ficos advindos dessa linha de pesquisa têm corroborado para que a legislação
brasileira possa promover uma ação direta sobre o ato do cuidar e desenvolver
a cultura de segurança do paciente. Além de contribuir para conhecer o perfil
microbiológico de cada instituição que promove assistência à saúde.
A pesquisa com microbiologia é instigante, mas o pesquisador de-
verá desenvolver sua habilidade de investigador com um mundo não vi-
sível aos olhos. Devido a isso, nossas pesquisas poderão contribuir para o
entendimento de diversas ações entre humanos e micro-organismos e suas
relações ecológicas.

- 245 -
CONTROLE
DE QUALIDADE
e
tecnologia
farmacêutica
CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA PARA
A QUALIDADE DAS PLANTAS MEDICINAIS PARA
PREPARAÇÃO DE CHÁ

Laura Carolina Lima Romeua


Júlia Beatriz Pereira de Souzab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O conhecimento popular sobre plantas medicinais representa um im-


portante papel no tratamento de várias doenças, oferecendo inúmeros benefí-
cios, tanto pela eficácia quanto pela facilidade de acesso ao público. Muitas
vezes, a população enxerga as plantas medicinais como uma alternativa de
tratamento eficaz e barata. Para tanto, o conhecimento popular, associado ao
conhecimento técnico, auxilia na obtenção de dados para que garantam quali-
dade, eficácia e segurança no uso delas.
Admite-se que o cuidado realizado por meio de plantas seja favorável
à saúde humana, desde que empregadas de forma correta. Logo, requer cui-
dados relacionados à seleção baseada na comprovação científica de eficácia e
segurança terapêuticas, bem como de um material vegetal de qualidade ade-
quada, pois as propriedades medicinais podem ser perdidas, bem como situa-
ções adversas provenientes de contaminações podem surgir.
O chá é a forma de preparação para uso de plantas medicinais mais cita-
da para o tratamento de inúmeras doenças. Entre os fatores que influenciam no
sucesso do tratamento encontra-se a qualidade do material vegetal utilizado na
preparação do remédio caseiro (chá, lambedor, garrafada, etc.).
As plantas medicinais podem ser usadas na sua forma in natura, tão
logo sejam coletadas, muitas vezes nos quintais residenciais, ou na forma
seca. Neste caso, partes da planta passam por processos de coleta, secagem,
trituração, entre outros, e assim podem ser armazenadas e comercializadas por
período de tempo mais longo.

a Universidade Federal de Campina Grande/Curso de Bacharelado em Farmácia. lauraromeuufcg@


gmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande/Curso de Bacharelado em Farmácia. juliabtriz@gmail.com

- 247 -
O material vegetal seco (droga vegetal) está sujeito a uma série de pro-
blemas que vão desde equívocos entre espécies, fraudes a degradações e con-
taminações diversas. Essas alterações se constituem em perda da qualidade e
refletem tanto na eficácia quanto na segurança do produto.
Para a avaliação da qualidade, realiza-se uma série de experimentos
com o objetivo de verificar se o material em análise se encontra em confor-
midade com parâmetros previamente estabelecidos de forma a garantir que a
droga vegetal mantenha suas propriedades medicinais originais, e assim cum-
pram o seu papel terapêutico.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Laura Carolina Lima Romeu, sou aluna de graduação


do curso de bacharelado em Farmácia da Universidade Federal de Campina
Grande, orientada pela professora Júlia Beatriz Pereira de Souza. Sou bolsista
no Programa de Iniciação Científica e minha pesquisa é sobre controle de
qualidade das plantas comercializadas para preparação de chá.
Creio que a curiosidade é um dos maiores incentivos para alguém que
trabalha com pesquisa, muitos são movidos pela vontade de conhecer o novo
e aprender com todo o processo que se tem até chegar lá. O processo de des-
coberta não é fácil, exige muito daqueles que o fazem, principalmente quando
não se tem apoio para tal pesquisa.
Infelizmente a realidade atual do nosso país não é uma das melhores
para aqueles que almejam trabalhar com ciência e tecnologia, contamos com
pouco recurso financeiro e isso implica diretamente os materiais e estrutura
necessária para realizar certas pesquisas. Muito se ouve sobre a precariedade
nas instituições de ensino superior, mesmo assim, nós, pesquisadores, conse-
guimos avançar e produzir ciência de qualidade.
Apesar das dificuldades, o dia a dia nos laboratórios também traz di-
versas felicidades, pois é muito gratificante produzir ciência e saber que seus
resultados podem melhorar a vida das pessoas, estes podem tanto serem apli-
cados na melhoria de algo já existente quanto fazerem parte de uma descober-
ta, como uma nova substância que servirá como medicamento.
No caso da nossa pesquisa trabalhamos diretamente na qualidade de ma-
téria-prima para a produção de chá, isso gera uma grande contribuição na vida
da comunidade local, pois muitas pessoas fazem uso dessa alternativa para tratar
doenças. Ou seja, por meio da nossa investigação podemos compreender se a
população está correndo risco ao utilizar os produtos comercializados na região.
Análises que comprovem a qualidade de manejo, produção e armaze-
namento do material vegetal destinado ao preparo de chás são importantes

- 248 -
para a saúde da população, pois garantem aos usuários um produto com boas
condições físicas e biológicas, além de fornecer informações que contribuem
para o uso correto, seguro e eficaz.
Assim, as pesquisas científicas pretendem resgatar o conhecimento tra-
dicional de forma a comprovar sua eficácia, ao passo que obtêm informações
técnicas úteis para a orientação, tanto aos profissionais de saúde quanto aos
usuários, como forma de obtenção dos melhores resultados com o uso seguro
e eficaz das plantas medicinais, traduzindo-se no seu uso racional.
As flores de sabugueiro (Sambucus spp) são utilizadas para a prepa-
ração de chá popularmente empregado no tratamento primário de sintomas
de gripes e resfriados, sendo alvo de diversas pesquisas relacionadas às suas
propriedades terapêuticas.
A nossa pesquisa teve como objetivo avaliar a qualidade de cinco amos-
tras de flores de sabugueiro vendidas no mercado local. Os dados revelaram
falhas no processamento/armazenamento das flores, mostrando importantes
desvios de qualidade nos produtos comercializados. Em todas as amostras
foi confirmada a presença dos ativos medicinais (fenóis totais e flavonoides).
Contudo, observou-se presença de material estranho acima dos limites aceitá-
veis em quatro amostras. Apenas uma amostra foi aprovada em todos os testes
físico-químicos, duas amostras ultrapassaram o limite permitido para conta-
minação por fungos e todas as amostras estavam contaminadas por patógenos
(Escherichia coli ou Salmonella sp).
Isso implica diretamente a qualidade do produto final. O elevado teor de
material estranho e umidade favorece a contaminação microbiana das amos-
tras, além do risco de adulteração por outras espécies de plantas. Como cons-
tatado, todas as amostras estavam contaminadas por bactérias patogênicas,
tornando-as impróprias para o consumo humano. Diante de tais resultados,
percebem-se negligências por parte dos produtores deste ramo, que podem ser
revertidas com fiscalizações mais eficientes por parte dos órgãos competentes
e até mesmo pela implantação de medidas de conscientização a respeito dos
riscos aos quais expõem seus consumidores com ausência de procedimentos
corretos desde o cultivo à rotulagem dos produtos.

- 249 -
MELHORIA DA QUALIDADE DE FÁRMACOS
HIPOGLICEMIANTES COM PROBLEMAS DE
SOLUBILIDADE AQUOSA

José Venâncio Chaves Júniora


Cícero Flávio Soares Aragãob
Fábio Santos de Souzac

INTRODUÇÃO AO TEMA

O medicamento é um produto tecnológico relacionado à saúde, indis-


pensável nos dias de hoje, sendo composto pelo fármaco (a substância ativa) e
vários outros componentes que possibilitam, além de outras funções, dar a for-
ma característica ao medicamento (comprimido, xarope, etc.) e que o fármaco
seja absorvido e exerça seu efeito terapêutico (analgésico, anti-inflamatório,
etc.). Esse processo de absorção representa a passagem do fármaco para o san-
gue, onde ocorre a distribuição para os diversos locais do corpo. Dessa forma,
a absorção representa um processo essencial para que a maioria dos fármacos
exerça sua função, quando ingeridos pela via oral 1.
Uma característica do fármaco muito importante que pode modificar ou
impedir essa absorção é a solubilidade deste em água. Simplificando, pode-
mos entender que um fármaco tem uma solubilidade alta quando é colocado
na água e consegue se dissolver completamente. E por que o fármaco precisa
ser solúvel em água e não outro líquido? Porque o corpo humano é formado
por sua maior parte de água, sendo esse o líquido em que o fármaco vai se
dissolver e se distribuir por todo o corpo2.
Um fármaco que não é solúvel em água não consegue ser bem absor-
vido e assim não consegue ser distribuído pelo corpo para exercer seu efeito
terapêutico. Grande parte dos fármacos hoje apresentam baixa solubilidade na
água. Com essa introdução simples, podemos entender várias linhas de pes-

a Doutorando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN). josevenanciocjr@gmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos (Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN). cicero.aragao@yahoo.com.br
c Docente do Curso de Bacharelado em Farmácia e Coordenador do Laboratório de Controle de Qualida-
de de Produtos Farmacêuticos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). souzafss@yahoo.com.br

- 250 -
quisa atualmente realizadas no Brasil e no mundo. Nessas linhas de pesquisa,
os pesquisadores são capazes de resolver esse problema através de modifica-
ções nas propriedades químicas desses fármacos e assim aumentar a solubili-
dade em água3.
São várias as formas de modificar as propriedades químicas para alcan-
çar esse aumento de solubilidade dos fármacos, e cada pesquisador pode ter
sua linha de pesquisa com uma dessas formas (que estão englobadas dentro do
que é conhecido como tecnologia farmacêutica).

REFERÊNCIAS
1. KALEPU, S.; NEKKANI, V. Insoluble drug delivery strategies: re-
view of recent advances and business prospects. Acta Pharmaceutica Sinica
B, v. 5, n. 5, p. 442-453, 2015.

2. AULTON, M. E.; TAYLOR, K. M. Delineamento de formas farma-


cêuticas. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 856p.

3. HEALY, A. M.; WORKU, Z. A.; KUMAR, D.; MADI, A. M. Phar-


maceutical solvates, hydrates and amorphous forms. Advanced Drug Deli-
very Reviews, v. 17, n. 1, p. 25-46, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é José Venâncio Chaves Júnior, aluno de doutorado do Pro-


grama de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em
Medicamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
orientado pelos professores Cícero Flávio Soares Aragão e Fábio Santos de
Souza. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
vel Superior (Capes).
Minha graduação foi na Universidade Federal da Paraíba, onde tive a
oportunidade de ingressar nesse universo da ciência e conhecer linhas de pes-
quisa no controle de qualidade de medicamentos e na tecnologia farmacêutica.
No mestrado, no Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da
UFRN, foi onde de fato obtive maior interesse e experiência na tecnologia
farmacêutica e realizei pesquisas com potenciais fármacos com problemas de
solubilidade, que tiveram resultados publicados em revistas científicas inter-
nacionais. Esses resultados contribuem para pesquisas subsequentes de outros

- 251 -
alunos de pós-graduação, que utilizam desses fármacos em suas pesquisas
para o desenvolvimento de novos medicamentos.
Comecei nessa linha de pesquisa, de fármacos com baixa solubilidade
em água, pela importância que ela representa. Fácil perceber a importância
dessas pesquisas não é mesmo? Sem esse tipo de pesquisa alguns fármacos
não poderiam ser utilizados pois não seriam absorvidos. Estratégias utilizadas
para aumentar a solubilidade desses fármacos são extremamente interessantes,
principalmente por diminuir os custos com o desenvolvimento e comerciali-
zação de novos fármacos, os quais são obtidos através de altos investimentos
por parte das indústrias farmacêuticas. Você deve conhecer algum desses fár-
macos que tiveram sua solubilidade aumentada, para que os medicamentos
pudessem ser utilizados com sucesso com melhoria de sua qualidade, são al-
guns deles: a atorvastatina (para diminuir o colesterol) e o ibuprofeno (para
tratar inflamação) 1.
Como mencionado, existem várias formas de aumentar a solubilidade
de um fármaco. Uma forma de alcançar esse objetivo é associar esse fármaco,
com baixa solubilidade na água, com outra substância química que possui
alta solubilidade na água. Minha pesquisa atual no doutorado é focada nesse
tipo de associação; mais especificamente com fármacos com potencial hipo-
glicemiante (que diminuem a glicose no sangue de pessoas com diabetes); em
que um objetivo a ser alcançado fundamenta-se no desenvolvimento de novos
medicamentos melhorando sua qualidade e tornando-os mais eficazes e com
menos efeitos colaterais, do que os medicamentos atualmente comercializa-
dos, para o tratamento da diabetes.

- 252 -
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE
LIBERAÇÃO CONTENDO SUBSTÂNCIAS COM
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

Vanessa Morais Muniza


Fábio Correia Sampaiob
Fábio Santos de Souzac

INTRODUÇÃO AO TEMA

Mesmo com uma gama de opções de antimicrobianos, de acordo com


a Organização Mundial da Saúde, o número de bactérias resistentes aos me-
dicamentos vem crescendo cada vez mais no decorrer dos anos1. Até infec-
ções menores podem se tornar mortais. Pela diversidade de microrganismos
e a possível resistência deles a certos medicamentos, encontramos o uso de
antibacterianos variados para poder contornar esta situação2. Em relação a
esta problemática, surge a estratégia de combinação de moléculas novas com
antimicrobianos já existentes. O objetivo é a potencialização dos efeitos anti-
microbianos, que podemos chamar de sinergismo de ação3.
Vinculada a esta investigação, a utilização de artifícios inovadores é
essencial para alcançar novas opções terapêuticas. A associação de mais de
um agente antimicrobiano permite uma flexibilidade maior quanto às concen-
trações utilizadas, bem como uma diminuição de efeitos indesejados. Ainda e,
especialmente, proporciona um sinergismo de atividade, diminuindo a chance
de mecanismo de resistência dos microrganismos. Sistemas de liberação con-
trolada também vêm sendo cada vez mais utilizados para que seja possível
acompanhar a liberação dos compostos ativos de acordo com o objetivo de
cada pesquisador.
Algumas das vantagens terapêuticas destes sistemas são: liberação
controlada de baixas doses de fármacos, redução da concentração do fár-

a Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). nessammuniz@hotmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). fcsampa@gmail.com
c Docente no Curso de Bacharelado em Farmácia e Coordenador do Laboratório de Controle de Qualida-
de de Produtos Farmacêuticos (Universidade Federal da Paraíba UFPB). souzafss@yahoo.com.br

- 253 -
maco em locais que não representam o alvo terapêutico, diminuindo possí-
veis efeitos colaterais, e proteção dos compostos sensíveis à temperatura4.
Alguns dos benefícios envolvem um aumento da eficiência terapêutica, por
meio da redução da dose e da frequência de administração, quando compa-
rado a fármacos tradicionais5.

REFERÊNCIAS
1. OMS. Organização Mundial da Saúde. “Antimicrobial resistance:
global report on surveillance”. WHO Press, Geneva, 2014.

2. SOKOLIK, C. G.; BEN-SHABAT-BINYAMINI, Rina; GEDAN-


KEN, Aharon; LELLOUVHE, Jean-Paul. Proteinaceous microspheres as a
delivery system for carvacrol and thymol in antibacterial applications. Ultra-
sonics Sonochemistry, v. 41, p. 288–296, 2017.

3. ZACCHINO, S. A.; BUTASSI, Estefanía; CORDISCO, Estefanía;


SVETAZ, Laura A. Hybrid combinations containing natural products and an-
timicrobial drugs that interfere with bacterial and fungal biofilms. Phytome-
dicine, v. 37, p. 14–26, august 2017.

4. SILVA, C.; RIBEIRO, A.; FERREIRA, D.; VEIGA, F. Administra-


ção oral de peptídeos e proteínas: ll. aplicação de métodos de microencapsu-
lação. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 39, p. 01-20, 2003.

5. CARVALHO, F. C.; CHORILLI, M.; GREMIÃO, P. D.. Plataformas


Bio (Muco) Adesivas Poliméricas Baseadas em Nanotecnologia para Libe-
ração Controlada de Fármacos - Propriedades, Metodologias e Aplicações.
Polímeros, v. 24, n. 2, p. 203-213, 2014.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Vanessa Morais Muniz, farmacêutica pela UFPB, aluna de dou-


torado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação
Tecnológica em Medicamentos, vinculada ao programa pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), orientada pelo professor Dr. Fábio Correia Sam-
paio e pelo professor Dr. Fábio Santos de Souza. Sou bolsista pela Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Fundação de Apoio
à Pesquisa do Estado da Paraíba (Capes/FAPESQ) e minha pesquisa envolve

- 254 -
a área de tecnologia farmacêutica, em que faço uso de técnicas para melho-
rar a eficiência de medicamentos.
A minha pesquisa se iniciou no Programa de Pós-graduação em Ciên-
cias Farmacêuticas pela UFPE, com apoio na UFPB. Durante os dois anos de
mestrado, tive a oportunidade de desenvolver um sistema de liberação con-
trolado, contendo duas substâncias que possuem atividade antimicrobiana.
Realizei vários experimentos e pude constatar a potencial atividade do meu
produto. As várias vantagens já foram citadas, especialmente em relação às
substâncias antimicrobianas, levando em consideração a conhecida “resis-
tência microbiana”. Ela existe e vem dificultando o tratamento para várias
doenças. Então é aí que eu entro, por meio de técnicas que diminuem o risco
de essa resistência acontecer. Além disso, o sistema de liberação permite que
o produto seja liberado aos poucos, diminuindo o número de doses a serem
tomadas pelo paciente, além das outras vantagens já mencionadas.
Como o produto que desenvolvi no mestrado foi muito interessan-
te, eu o trouxe para o meu doutorado, mas agora com novas ideias. Além
de fazer todos os testes para provar a eficácia e segurança do produto, vou
adicioná-lo a uma forma farmacêutica (forma de apresentação do medica-
mento). Ao ser adicionado a uma forma farmacêutica, vou poder fazer outros
testes e direcioná-lo para o tratamento de algumas doenças, umas delas é a
estomatite protética, uma infecção causada pelo uso de prótese dentária total,
conhecida popularmente como dentadura. A maioria das pessoas que usam
esta prótese passam por esta situação desagradável.
Já existem alguns tratamentos para esta doença, mas é algo realmente
difícil de ser controlado. A infecção acontece por meio de microrganismos
que já estão na nossa boca e a reinfecção por meio da prótese dentária é muito
comum. Os pacientes são acometidos pela dor, que interfere na mastigação e
deglutição dos alimentos. Além do incômodo, acaba afetando também a vida
social de algumas destas pessoas, que algumas vezes param de usar a prótese
para evitar a remissão da infecção ou porque acaba piorando a dor. Meu in-
tuito é conseguir terminar todos os testes necessários e que um dia as pessoas
possam fazer uso do fruto do meu mestrado/doutorado. São muitos passos
ainda pela frente, mas temos que ter um objetivo em mente e tentar cumprir
metas para alcançá-lo.
Entrei na área de pesquisa desde a graduação, já tive a oportunidade
de vivenciar diferentes campos em que a ciência viva se faz presente. Venho
colocando em prática o conhecimento que adquiri e as técnicas que aprendi
durante o meu contato com a universidade e com os professores. Ainda venho
aprendendo muito neste ambiente. A vontade de contribuir com a sociedade
está enraizada no trabalho dos pesquisadores.

- 255 -
DESENVOLVIMENTO DE NANOEMULSÕES
CONTENDO EXTRATO HIDROETANÓLICO DAS
FOLHAS DE Kalanchoe Laciniata (L.) DC .

Samara Vitória Ferreira de Araújoa


Márcio Ferrarib

INTRODUÇÃO AO TEMA

O mercado cosmético é muito dinâmico e voltado para novidades e


inovações. A nanotecnologia em produtos cosméticos tem sido cada vez mais
relatada com o direcionamento para produtos com destaque a algumas van-
tagens em relação às formas convencionais e com sensorial mais apropriado
para aplicação tópica1. A busca por formulações com melhor performance tem
sido estimulante e desafiadora para os pesquisadores da área cosmética.
Valorizando a biodiversidade brasileira e seguindo as tendências de
mercado, estudos vêm demonstrando o potencial promissor de extratos ve-
getais em formulações cosméticas. A Kalanchoe laciniata (L.) DC., conhe-
cida popularmente, dentre outros, como saião e coirama branca, é de grande
importância para a região do semiárido nordestino e destaca-se por ser uma
planta de fácil cultivo que sintetiza metabólitos de interesse para a indústria
cosmética. Dentre esses metabólitos encontram-se os polifenois, utilizados
pela indústria cosmética em produtos com atividade antioxidante2.
Substâncias com potencial antioxidante podem ser benéficas para pre-
venir e minimizar alterações na pele, caracterizadas como sinais do envelheci-
mento cutâneo. O processo de envelhecimento da pele acontece de forma na-
tural e progressiva e há diferentes teorias descritas na literatura para explicar
os mecanismos envolvidos, sendo o estresse oxidativo e a ação dos radicais
livres as mais debatidas e amplamente estudadas3. Portanto, gerar produtos
bioativos com comprovação científica é de grande interesse para a indústria

a Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (Universidade Federal do Rio


Grande do Norte UFRN). samaravitoria1@gmail.com
b Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte UFRN). ferrarimarcio@uol.com.br

- 256 -
cosmética, além de atender às expectativas dos consumidores de diferentes
faixas etárias e agregar valor à cadeia produtiva da planta em estudo.

REFERÊNCIAS
1. CHELLAPA, P.; ARIFFIN, F. D.; EID, A. M.; ALMAHGOUBIL,
A. A.; MOHAMED, A. T.; ISSA, Y. S. ELMARZUGIL, N. A. Nanoemulsion
for cosmetic application. European Journal of Biomedical and Pharma-
ceutical Sciences, v. 3, n. 7, p. 08-11, 2016.

2. EID, O.; EZZAT, S.; GRONAID, M. CHOUCRY, M. Crassulaceae


(chemistry and pharmacology) - A review. Future Journal of Pharmaceuti-
cal Sciences, v.4, n.2, p. 234-224, 2018.

3. KAMMEYER, A.; LUITEN, R. M. Oxidation events and skin aging.


Ageing Research Reviews, v. 21 p. 16-29, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Samara Vitória Ferreira de Araújo, sou aluna de mestrado


do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, orientada pelo professor Márcio Ferrari. Sou
bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) e nossa pesquisa versa sobre a produção de nanocosméticos com ação
antioxidante contendo o extrato da planta Kalanchoe laciniata (L.) DC. para
prevenir e minimizar sinais do envelhecimento da pele.
Durante o curso de mestrado, estou realizando experimentos que de-
monstram como uma substância pode atuar em diferentes mecanismos e usar
esses conhecimentos para beneficiar a população no tocante ao desenvolvi-
mento de produtos cosméticos mais seguros e eficazes. Houve momentos em
que a falta de recursos financeiros impactou na realização de algumas ativi-
dades, havendo a necessidade de o grupo de pesquisa adquiri-las utilizando
recursos próprios e buscando colaborações. Desse modo, as dificuldades en-
contradas mostraram-me que não se pode desistir de fazer ciência e que estas
servem de aprendizados para a maturidade científica.
Com o aumento na expectativa de vida há um interesse crescente em
envelhecer com qualidade minimizando e retardando as marcas e sinais do
envelhecimento na pele. Diante disso, o desenvolvimento de nanocosméticos

- 257 -
antioxidantes pode trazer tanto benefícios estéticos como benefícios sociais,
uma vez que conflui com o conceito de beleza imposto e contribui para a in-
serção das pessoas na sociedade.
O mercado de produtos para cuidados com a pele é um dos que mais
crescem e recebem investimentos financeiros, sempre com lançamentos de
novos produtos. Atualmente o uso de matérias-primas de fontes vegetais é
uma demanda dentro do mercado de cosméticos que conflui com a valorização
da biodiversidade brasileira, em especial neste estudo, espécies da Caatinga,
bioma exclusivamente brasileiro.
Recentemente, avaliamos o extrato da Kalanchoe laciniata (L.) DC.
quanto à atividade antioxidante e obtivemos resultados promissores, e por isso
as etapas seguintes desta pesquisa serão o desenvolvimento de uma nanoemul-
são cosmética e a sua avaliação clínica quanto às melhorias no relevo cutâneo.
Em adição, a exploração racional da planta associa grandes benefícios socio-
econômicos e regionais com destaque para o ineditismo desta pesquisa, pois
não há relatos na literatura científica quanto à aplicação de extratos vegetais
da espécie Kalanchoe laciniata (L.) DC. em nanoemulsões cosméticas com
atividade antioxidante.

- 258 -
NANOTECNOLOGIA FARMACÊUTICA APLICADA
AO DESENVOLVIMENTO DE SOROS E VACINAS

Fiamma Gláucia da Silvaa


Karla Samara Rocha Soaresb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Pesquisas desenvolvidas na área da imunologia relacionadas à produ-


ção de soros contra toxinas de animais peçonhentos causadores de acidentes
vêm evoluindo ao longo dos anos, muitas alternativas tecnológicas foram em-
pregadas na busca pelos produtos de boa qualidade que são fabricados atu-
almente. No entanto, ainda há muito o que fazer e buscar nesta área com o
intuito de se obter produtos mais seguros e eficazes e minimizar os custos1.
Acidentes com animais peçonhentos representa um sério problema de
saúde pública, e chamo atenção principalmente para os acidentes ocasionados
por escorpiões e serpentes, devido à alta morbidade e mortalidade, respectiva-
mente. No que diz respeito aos escorpiões, diversas espécies se adaptaram à
vida urbana, o que implica os maiores números de casos de acidentes por ano
no Brasil, com a ocorrência de aproximadamente 125 mil casos de acidentes
no ano de 2017.
O envenenamento por picadas de serpente é uma doença tropical negli-
genciada de caráter ocupacional que afeta principalmente comunidades rurais
e pobres de países tropicais e subtropicais na África, Ásia, Oceania e Amé-
rica Latina. No Brasil, segundo dados obtidos no Sistema de Informações de
Agravos de Notificação (Sinan), o envenenamento por picada de serpente tem
aumentado ao longo dos anos, ocorrendo em 2017 aproximadamente 30.000
casos de ofídismo2.
Pensando nisso o nosso grupo de pesquisa se comprometeu em estudar
novas alternativas terapêuticas que possam vir a complementar o tratamento

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Programa de Pós-graduação em Ciências Far-
macêuticas. fiammaglaucia@gmail.com
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Programa de Pós-graduação em Desenvolvi-
mento e Inovação Tecnológica em Medicamentos. karllasamara@yahoo.com.br

- 259 -
para acidentes por animais peçonhentos. Com isso, nossas pesquisas envol-
vem o desenvolvimento e a produção de um sistema nanoparticulado biocom-
patível e biodegradável para liberar de forma controlada pequenas doses das
peçonhas de serpentes e escorpiões, que serão utilizadas como formulações
para realização das imunizações.
A produção de soros antiofídicos e antiescorpiônicos que estão dis-
poníveis para a população ocorre através da hiperimunização de animais de
grande porte, geralmente são utilizados cavalos, as formulações aplicadas
são compostas por um adjuvante associado à peçonha de uma ou mais es-
pécies de serpentes ou escorpiões, produzindo soros monovalentes ou poli-
valentes3. E para que serve os adjuvantes? São substâncias que aumentam a
imunogenicidade dos antígenos. O hidróxido de alumínio é o único adjuvan-
te aprovado para o uso em humanos, mas que provoca uma série de efeitos
inflamatórios desconfortáveis.
O intuito das imunizações com as formulações nanotecnológicas é
produzir novos soros antivenenos mais potentes para neutralizar o envene-
namento ocasionado por serpentes e escorpiões, possibilitando uma dose
menor de antígeno imunizante, seguido de uma melhor resposta de títulos de
anticorpos, bem como diminuir os efeitos adversos ocasionados pelo imuno-
adjuvante tradicional.

REFERÊNCIAS
1. SQUAIELLA-BAPTISTÃO, C. C; SANT’ANNA, O. A; MARCELI-
NO, J. R; TAMBOURGI, D. V. The history of antivenoms development: Be-
yond Calmette and Vital Brazil. Toxicon, v. 150, p. 86–95, 2018.

2. BRASIL. Sistema de Informação de Agravo de Notificação: Casos


Ofidismo, 2018. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/
pdf/2018/junho/25/1-Casos-Ofidismo-2000-2017.pdf. Acesso em: 29 set. 2019.

3. GUTIÉRREZ, J. M.; LEÓN, G.; BURNOUF, T. Antivenoms for the


treatment of snakebite envenomings: The road ahead. Biologicals, v. 39, n. 3,
p. 129–142, 2011.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Nós somos Karla Samara Rocha Soares e Fiamma Gláucia da Sil-


va, doutora em Bioquímica pelo Programa de Pós-graduação em Bioquí-

- 260 -
mica, atualmente desenvolvendo o estágio pós-doutoral pelo Programa de
Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos,
e mestre em Ciências Farmacêuticas pelo Programa de Pós-graduação em Ci-
ências Farmacêuticas, atualmente doutoranda do Programa de Pós-graduação
em Ciências Farmacêuticas, respectivamente, ambas sob a supervisão do Pro-
fessor Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa, bolsistas pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Junto ao grupo desenvolvemos uma linha de pesquisa relacionada à ob-
tenção de nanossistemas para liberação de peptídeos/proteínas da peçonha de
serpentes e escorpiões a serem aplicados como adjuvantes em vacinas propor-
cionando a obtenção de produtos biotecnológicos inovadores, especialmente na
obtenção de soros no tratamento com imunobiológicos envolvendo antivenenos.
O desenvolvimento dessa linha de pesquisa foi um trabalho bastante
desafiador, que exigiu muita dedicação, mas com o qual obtivemos resulta-
dos bastante promissores, que, com a realização de mais ensaios laboratoriais,
venha a gerar a obtenção de produtos inovadores que tragam benefícios à
população, auxiliando no tratamento dos casos de envenenamento causados
por serpentes e escorpiões.

- 261 -
química
medicinal
EXTRATOS DE PLANTAS E PRODUTOS NA
NEUTRALIZAÇÃO DE AÇÕES TÓXICAS CAUSADAS
POR VENENOS DE SERPENTES: UTILIZAÇÃO E
PERSPECTIVAS

Eduardo Coriolano de Oliveiraa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os acidentes provocados por mordidas de serpentes (ofidismo) repre-


sentam um importante problema de saúde pública. Acredita-se que, no mundo,
mais de cinco milhões de pessoas sofram essas picadas, sendo a metade delas
provocadas por serpentes peçonhentas. Vale ressaltar que animal peçonhento
é aquele que, além de produzir o veneno, possui um mecanismo de armazena-
mento e de inoculação da chamada peçonha (veneno). Esses acidentes geram,
aproximadamente, 125 mil mortes e deixam milhares de pessoas com seque-
las; estima-se que a, cada sete sobreviventes, ao menos uma pessoa apresenta
uma morbidade permanente1. No Brasil ocorrem cerca de 30 mil acidentes e,
aproximadamente, 100 mortes todo ano.
Os venenos das serpentes possuem uma infinidade de moléculas (toxi-
nas), que são responsáveis pelos efeitos tóxicos. Esses efeitos podem ser divi-
didos em sistêmicos - podem aparecer em qualquer parte do corpo, longe do
local da picada - ou efeitos locais – aqueles que se situam no local da picada.
Como exemplos de efeitos sistêmicos têm-se hemorragias sistêmicas, coá-
gulos sanguíneos, parada cardiorrespiratória, insuficiência renal, que podem
evoluir para a morte do paciente. Como efeitos locais pode-se ter dor, edema,
presença de bolhas, hemorragia no local da picada, necrose – que é a morte do
tecido afetado -, paralisia do membro picado, podendo evoluir para a amputa-
ção do membro, gerando o que se chama de sequela permanente2.
O tratamento indicado em todo o mundo para o acidente ofídico é a
administração intravenosa de soro antiveneno (soroterapia), normalmente
produzido em cavalos. Apesar de reverter com bastante eficácia os efeitos

a Universidade Federal Fluminense; Programa de Pós-graduação em Ciências e Biotecnologia. eduardo-


coriolano@globo.com

- 263 -
sistêmicos, a soroterapia é pouco eficaz na neutralização dos efeitos locais,
que são responsáveis pelas sequelas observadas nos acidentados. Além disso,
o alto custo de produção e a termolabilidade dos soros (os soros precisam ser
estocados em geladeira, pois perdem sua função em temperaturas muito ele-
vadas) geram dificuldades na distribuição e na estocagem destes, dificultando
ainda mais o tratamento de vítimas em regiões distantes da rede hospitalar.
Ainda assim, alguns pacientes que recebem a soroterapia podem desenvolver
reações alérgicas ao soro, como febre e urticária, sendo estes últimos fatores
facilmente revertidos com medicamentos específicos2.
Tendo em vista os problemas descritos, é importante buscar novos tra-
tamentos que possam complementar e/ou serem alternativas à atual terapia
visando ao cuidado dos efeitos do veneno nas vítimas, principalmente contra
os sintomas locais.
Sabemos que as plantas são usadas para o tratamento de diversas do-
enças, em todo o mundo e nas mais variadas formas (chás, sucos, emplastros,
xarope, pomadas, entre outras)3. Por isso, nosso trabalho de pesquisa avalia
a ação antiofídica de diferentes extratos vegetais. Trabalhamos com as es-
pécies Baccharis arctostaphyloides, Erythroxylum ovalifolium, Erythroxylum
subsecile, Manilkara subsericea, Myrsine parvifolia, Myrsine rubra, Piper
divaricatum e Vernonia crotonoides (fornecidos pelo Laboratório de Tecnolo-
gia de Produtos Naturais da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal
Fluminense, sob coordenação do Prof. Dr. Leandro Machado Rocha) e Stryph-
nodendron adstringens (fornecidos pelo Departamento de Farmácia e Farma-
cologia do Centro de Ciências e Saúde da Universidade Estadual de Maringá,
Paraná, sob coordenação do Prof. Dr. João Carlos Palazzo de Mello).

REFERÊNCIAS

1. KASTURIRATNE, A; WICKREMASINGHE, A. R; DE SILVA, N;


GUNAWARDENA, N. K; PATHMESWARAN, A; PREMARATNA, R; SAV-
IOLLI, L; LALLOO, D. G; DE SILVA, H. J. Estimating the global burden of
snakebite: A literature analysis and modelling based on regional estimates of
envenoming and deaths. PLoS Med, v. 5 n. 11, p. 1591-1604, 2008.

2. FUNASA. Manual de diagnóstico e tratamento e acidentes por ani-


mais peçonhentos. 2 ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. 120 p.

3. ZENI, A. L.B; PARISOTTO, A. V; MATTOS, G; HELENA, E. T. S.


Utilização de Plantas medicinais como remédio caseiro na Atenção Primária
em Blumenau, Santa Catarina, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v.22, n. 8,
p. 2703-2712, 2017.

- 264 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Eduardo Coriolano de Oliveira, estou no estágio de
pós-doutoramento, vinculado ao programa de pós-graduação em Ciências e
Biotecnologia da Universidade Federal Fluminense, que fica em Niterói, no
estado do Rio de Janeiro. Sou bolsista da Fundação Carlos Chagas Filho de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), em convênio com
a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
órgão que paga minha bolsa, e minha pesquisa é sobre a busca de tratamentos
alternativos aos acidentes provocados por picadas de serpentes.
Apesar dos problemas de infraestrutura, poucos recursos para a com-
pra de material e/ou equipamentos fundamentais para o desenvolvimento da
pesquisa, a demora no processo de importação desses produtos, entre outros
fatores, é extremamente gratificante saber que posso contribuir com a socieda-
de quando descubro que uma planta (seu extrato) pode auxiliar no tratamento
ao ofidismo, e que isso pode vir a salvar a vida de alguém. Além disso, na
pesquisa, estamos sempre lendo as novidades para o tratamento de diferentes
doenças, buscando novos métodos para nossos experimentos e isso traz uma
enorme contribuição para minha formação.
Buscar uma forma de tratamento alternativo para o acidente ofídico
é extremamente importante, principalmente se levarmos em consideração
que normalmente pessoas pobres são afetadas. A alternativa à soroterapia
se faz necessária, principalmente, para essa população que não possui aces-
so facilitado ao atendimento médico-hospitalar. Descobrir que um chá, por
exemplo, tem ação antiveneno de serpente é bastante interessante e pode
ajudar a salvar vidas.

- 265 -
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E
ANTITUMORAL DE OLIGÔMEROS DE QUITOSANA

Nayara Sousa da Silvaa


Matheus de Freitas Fernandes Pedrosab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Todo ano, de seis a oito milhões de cascas de caranguejo, lagosta e


camarão são desprezadas na natureza. E se pudéssemos transformar esses
resíduos em um produto multifuncional de alto valor e ainda diminuindo a
poluição no meio ambiente? Tudo isso é possível com a produção de quitosa-
na1. A quitosana é uma molécula derivada da quitina, o constituinte principal
das cascas dos crustáceos. A quitosana é utilizada em diversas áreas, como a
agrícola, biomédica, cosmética, alimentos, farmacêutica e nanotecnológica.
A ampla utilização da quitosana está relacionada com as suas propriedades
biocompatível, biodegradável e não tóxico. Em especial na área farmacêutica,
estudos demonstram o efeito desse composto contra diversos microrganismos,
doenças inflamatórias, diabetes e obesidade2.
Entretanto, a quitosana apresenta limitação no seu uso devido à difi-
culdade de solubilização em água em pH neutro, sendo solúvel apenas em
meios ácidos, e a sua elevada viscosidade. Como alternativa a esse problema,
é empregado o processo de hidrólise da quitosana. Na hidrólise, a quitosa-
na é quebrada em pedaços menores, chamados de oligômeros de quitosana
(QOS), através do emprego de reagentes químicos ou enzimas. Assim como
a quitosana, os QOS apresentam diversas atividades biológicas como antimi-
crobiano, antioxidante, anti-inflamatório e demonstrando resultados benéficos
na doença de Alzheimer3. Desta forma, demonstra assim o potencial uso dos
oligômeros de quitosana como molécula terapêutica.

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas.


nay.sou@hotmail.com
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas.
mffpedrosa@gmail.com.

- 266 -
REFERÊNCIAS

1. HAMED, I; ÖZOGUL, F; REGENSTEIN, J. M. Industrial applica-


tions of crustacean by-products (chitin, chitosan, and chitooligosaccharides):
A review. Trends Food Sci Technol, v. 48, p. 40-50, 2016.

2. ZHANG, J.; XIA, W.; LIU, P.; CHENG, Q.; TAHIROU, T.; GU,
W.; LI, B. Chitosan modification and pharmaceutical/biomedical applications.
Mar Drugs, v. 8, n. 7, p. 1962-1987, 2010.

3. NAVEED, M.; PHIL, L.; SOHAIL, M.; HASNAT, M.; BAIG, M. F.


A.; IHSAN, A. U.; SHUMZAID, M.; KAKAR, M. U.; KHAN, T. M.; AKA-
BAR, M. D.; HUSSAIN, M. I. ZHOU, Q. Chitosan oligosaccharide (COS):
An overview. International Journal of Biological Macromolecules, v. 129,
p. 827-843, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Nayara Sousa da Silva, aluna de mestrado do Programa de


Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, orientada pelo professor Matheus de Freitas Fernandes
Pedrosa. Assim como a maioria dos alunos do programa, sou bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O objeto de estudo do meu mestrado é a produção de oligômeros de quitosana,
moléculas bioativas derivadas de cascas de crustáceos como o camarão e o
caranguejo. Com esses oligômeros, iremos investigar a sua estrutura química,
toxicidade e seu potencial biológico.
Iniciei nesse projeto em 2015 ainda como aluna de iniciação científica
durante a minha graduação em Farmácia. Desde cedo presenciei as alegrias
de se fazer ciência, como a emoção dos meus primeiros resultados positi-
vos, o aprendizado de novas metodologias, o trabalho em equipe e todas as
palestras e discussões com outros cientistas que me ensinaram a desenvol-
ver um olhar científico e mais crítico das coisas ao meu redor. Ao mesmo
tempo, aprendi que nem tudo é perfeito, a pressão para conseguir resultados
ao mesmo tempo que não é possível realizar experimentos por falta de equi-
pamentos e as longas jornadas no laboratório que duram de 10 a 14 horas
por dia. Porém, a minha principal frustação é a falta de reconhecimento pela
sociedade da importância do nosso trabalho, o que me motivou a ajudar o
projeto Aqui se Faz Ciência.

- 267 -
No meu mestrado, estudo como materiais que antes seriam despreza-
dos na natureza podem ser transformados em moléculas com potencial de se
tornarem um produto biotecnológico. Seja como um medicamento que auxi-
lie no tratamento de infecções, ou a utilização em outras indústrias, como a
indústria agrícola no revestimento de frutas impedindo a contaminação por
microrganismos sem causar danos a nossa saúde. Investigo também a ação dos
QOS ante a parasitas causadores de doenças negligenciadas como a Doença
de Chagas e leishmaniose e células de linhagens cancerígenas. Assim, meu
projeto auxilia a sociedade trazendo maior esclarecimento sobre a utilização
de oligômeros de quitosana como agente antimicrobiano, e indiretamente,
a importância da reciclagem de resíduos da carcinicultura para a produção de
moléculas bioativas.

- 268 -
VERSATILIDADE BIOLÓGICA E APLICAÇÕES
BIOTECNOLÓGICAS DE EXTRATOS VEGETAIS

Giulian César da Silva Sáa


Adriana Ferreira Uchôab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A riqueza da flora mundial vem despertando o interesse em pesquisa-


dores desde 1753, quando Linnaeus acreditava que a biodiversidade vege-
tal global perfazia cerca de 10 mil espécies descritas. O Brasil, em especial,
configura-se como um país extremamente biodiverso, sendo possível demar-
car seis grandes Domínios Fitogeográficos: a Amazônia, o Cerrado, a Mata
Atlântica, a Caatinga, o Pampa e o Pantanal. Destes, apenas a Caatinga, com
seus 844.453 km2 de clima semiárido, é o único domínio fitogeográfico ex-
clusivamente brasileiro1. Nosso país é abundante em angiospermas (plantas
com flores), em especial leguminosas, que propiciam o refúgio de inúmeros
artrópodes, principalmente insetos herbívoros; o estabelecimento de relações
simbióticas com bactérias fixadoras de nitrogênio; e o provimento e acúmulo
de carbono e nitrogênio nos ecossistemas.
As leguminosas são também excelentes fontes de alimento e são ri-
cas em fatores antinutricionais, biomoléculas originadas durante o armazena-
mento ou processamento dos alimentos que, diretamente ou através de seus
produtos metabólicos, interferem na assimilação de um ou mais nutrientes;
revelando sua importância nutricional e química. Com base nisso, inúmeros
pesquisadores vêm ganhando interesse em explorar a versatilidade biológica
e aplicações biotecnológicas de seus extratos na perspectiva de ofertar uma
melhoria na qualidade de vida da população. As atividades biológicas desses
extratos envolvem sua ação como antidiabéticos, antioxidantes, anti-inflama-

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica, giuliance-


sarsa@gmail.com
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica, afu-
choa2003@yahoo.com.br

- 269 -
tórios, cicatrizantes, antimicrobianos, anticancerígenos, antivirais, inseticidas,
larvicidas, piscicidas, dentre outras.
Uma das aplicações biotecnológicas dos extratos vegetais que vem ga-
nhando espaço na ciência é sua utilização no manejo de arboviroses (doenças
causadas por artrópodes), como dengue, febre amarela, chikungunya e zika.
A dengue é considerada a principal e mais distribuída doença viral transmiti-
da por mosquitos do gênero Aedes2 e a febre zika, em especial, tem ganhado
maior ênfase por sua associação com má formação congênita e microcefa-
lia3,4. Todas essas arboviroses ainda são susceptíveis à ampla disseminação do
vírus que as acometem, pois ainda não há vacina para prevenir a infecção e
nem drogas específicas para combater os vírus nas pessoas infectadas, sendo
o controle do vetor (mosquitos dos gêneros Aedes, Culex, Haemagogus dentre
outros) a solução mais comumente disponível5.
Diante do exposto, faz-se necessário intensificar estudos voltados à in-
vestigação da caracterização antinutricional e bioquímica de extratos vege-
tais na tentativa de ampliar a compreensão e sua aplicabilidade no controle e
erradicação de enfermidades, melhoria da qualidade de vida da população e,
com isso, promover o progresso na/da indústria farmacêutica e erradicar fito
e hematopatógenos.

REFERÊNCIAS

1. FORZZA, R.C. et al. (Org.) Catálogo de plantas e fungos do Bra-


sil. v.1. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Ja-
neiro/Andrea Jakobsson Estúdio, 2010. 875p.

2. AZARI-HAMIDIAN, S.; NOROUZI, B.; HARBACH, R.E. A de-


tailed review of the mosquitoes (Diptera: Culicidae) of Iran and their medical
and veterinary importance. Acta Tropica, v. 194, p. 106-122, 2019.

3. FRANÇA, T.L.B. et al. Growth and development of children with


microcephaly associated with congenital zika virus syndrome in Brazil. In-
ternational Journal of Environmental Research and Public Health, v. 15,
n. 9, p. 1-11, 2018.

4. ALMEIDA, R.N. et al. Zika virus vaccines: challenges and perspec-


tives. Vaccines (Basel), v. 6, n. 3, p. 2-13, 2018.

5. PATTERSON, J.; SAMMON, M.; GARG, M. Dengue, Zika and Chi-


kungunya: emerging arboviruses in the new world. The Western Journal of
Emergency Medicine, v. 17, n. 6, p. 671-679, 2016.

- 270 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Giulian Sá, sou aluno de doutorado do Programa de
Pós-graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te, orientado pela professora doutora Adriana Ferreira Uchôa. Sou bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha
pesquisa envolve a busca por novos fármacos à base de extratos vegetais para
o combate a arboviroses e tratamento de infecções microbianas, como também
para a viabilização de novos produtos com potencial antioxidante no mercado.
Com muito orgulho, sou nordestino do alto sertão paraibano e desde a
graduação que sou motivado a (re)conhecer as potencialidades da Caatinga e
nelas intervir, na perspectiva de mostrar ao mundo que ela não é um bioma/
ecossistema pobre em biodiversidade ou que seus recursos vegetais são escas-
sos. Desse modo, e motivado pelo sangue nordestino que pulsa em mim, me
sinto na obrigação de defender meu bioma/ecossistema e divulgar tudo que ele
pode trazer como contributo para a ciência nacional e internacional; e assim
tenho feito. Contudo, sei que o atual cenário que vivemos nos limita a pro-
gredir com essa visão e colher todos os frutos que ensejamos. Porém, sejamos
como o Nordeste: persistente e resistente!
Infelizmente, o mundo inteiro enfrenta o desafio da cocirculação de ar-
boviroses de grande importância para a saúde pública, cujos vetores dos agen-
tes etiológicos a cada dia tornam-se mais resistentes a inseticidas sintéticos,
levando as atuais políticas de controle ao insucesso. Todas essas arboviroses
apresentam alto risco de disseminação, morbidade e mortalidade humana em
muitos países, inclusive no nosso, pela ausência de vacinas para prevenir as
infecções, e drogas específicas e sem resistência nos vetores para combater os
vírus. A opção que nos resta é o controle desse vetor e, nesse cenário, nosso
grupo de pesquisa vem obtendo satisfatórios resultados ao identificar extratos
à base de vegetais da Caatinga, ecologicamente amigáveis e sem toxicidade
humana e ambiental, como potentes larvicidas naturais. Adicionalmente, esses
extratos vêm mostrando potencial uso no controle de infecções microbianas e
como promissores agentes antioxidantes.
Ao saber que o controle efetivo desses vetores não é alcançado com
o emprego único das campanhas de intervenção propostas pelo Ministério
da Saúde brasileiro, mas sim pelo seu manejo integrado, convidamos a po-
pulação a se sensibilizar de seu papel no crescimento e manutenção do país,
corroborando, assim, com a eficácia dos achados por esta e outras pesquisas
incríveis, realizadas por ávidos pesquisadores brasileiros.

- 271 -
ESTUDO DE BIOMOLÉCULAS DE FUNGOS COM
AÇÃO ANTIBIOFILME DE BACTÉRIAS

Geovanna Maria de Medeiros Mouraa


Elizeu Antunes Santosb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Um dos benefícios da ciência tem sido a melhoria da qualidade de vida


da humanidade, graças, inclusive, à descoberta de substâncias com papel me-
dicinal presentes em diversos organismos vivos. Dentre esses organismos es-
tão os fungos, cuja diversidade, baseada em estudos moleculares, é estimada
em 5,1 milhões de espécies, das quais somente cerca de 98 mil são conhecidas
pela ciência, o que equivale a apenas 1,9% do total. A diversidade, extensão
e conservação de fungos têm recebido a atenção da ciência, principalmente
nas duas últimas décadas, mais do que em qualquer outro período da história1.
Há muitos anos os fungos vêm sendo utilizados com finalidade medici-
nal na cultura asiática, o que sempre despertou o interesse dos pesquisadores
na busca por novos fármacos e aplicações biotecnológicas desses organismos.
A demanda atual de estudos na busca por novas fontes de biomoléculas reflete
no crescente interesse por organismos como os fungos, principalmente daque-
les poucos explorados2.
As propriedades medicinais atribuídas aos fungos incluem uma grande
coleção de antibacterianos, antifúngicos, antivirais, antitumorais, antiparasi-
tários, antioxidantes e muitos outros efeitos. Existem mais de 126 aplicações
medicinais relacionadas a componentes fúngicos (principalmente cogumelos)
encontradas em pesquisas científicas3.
Os extratos de corpos fúngicos de frutificação são, muitas vezes, ri-
cos em compostos bioativos de elevado valor medicinal incluindo: lecti-
nas, polissacarídeos, inibidores de proteases, compostos secundários, entre

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica. geovan-


na_m3@hotmail.com
b Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioquímica. elizeu.
ufrn@gmail.com

- 272 -
outros4. Todas essas biomoléculas citadas apresentam inúmeras atividades
farmacológicas e podem atuar como futuros medicamentos inovadores5.
Nosso projeto visa alcançar um novo repertório biomolecular fúngico
em conjunto com suas possíveis aplicações na biologia através de algumas
atividades laboratorial, como atividades anticoagulantes, hemaglutinantes,
hemolíticas e antioxidantes.

REFERÊNCIAS

1. HAWKSWORTH, D.; GARDENS, R. B.; HAWKSWORTH, D. L.


Fungal diversity and its implications for genetic resource collections. Studies
in Mycology, nov. 2014.

2. BLACKWELL, M. THE FUNGI: 1, 2, 3 … 5.1 MILLION SPE-


CIES? American Journal of Botany, v. 98, n. 3, p. 426–438, 2011.

3. WASSER, S. P. Current findings, future trends, and unsolved prob-


lems in studies of medicinal mushrooms. Applied Microbiology and Bio-
technology, v. 89, n. 5, p. 1323–1332, 2011.

4. CARMEN, S. Bioactives from Mushroom and Their Application.


In: Food Bioactives. [s.l: s.n.]. p. 23–57.

5. VIEIRA GOMES, D. C. et al. Antioxidant, anti-inflammatory and


cytotoxic/antitumoral bioactives from the phylum Basidiomycota and their
possible mechanisms of action. Biomedicine and Pharmacotherapy, v. 112,
n. august 2018, p. 108643, 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Geovanna Maria de Medeiros de Moura, sou bacha-


rel em Ciências Biológicas e, atualmente, sou mestranda do Programa de
Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Norte, orientada pelo Prof. Elizeu Antunes dos Santos.
Através do mestrado recebo uma bolsa pela Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo meu projeto, que faz parte
de uma das linhas de pesquisa em que trato neste capítulo. Trabalho na puri-
ficação e descrição de uma proteína de fungo com a propriedade de impedir
a formação de biofilme bacteriano.

- 273 -
Trabalhar com pesquisa no Brasil é, no mínimo, desafiador. A falta de
alguns recursos – tanto de maquinário como de reagentes – limita a nossa
pesquisa, mas ao mesmo tempo nos permite trabalhar com excelência com
o que já temos. Aplicar o método científico e ir a fundo no que pode ser fei-
to exigem dedicação e responsabilidade. Muitas vezes os experimentos não
acontecem como esperávamos e é necessário manter a calma, rever o que foi
feito, e estudar ainda mais para obter êxito ou rever nossas hipóteses. Com
isso aprendi bastante a lidar com frustrações e ter uma postura metodológica
na minha pesquisa.
Apesar dos percalços, nada se compara com a alegria de um experimen-
to que deu certo e poder utilizar o meu trabalho como uma forma de solucionar
problemas enfrentados no âmbito da saúde pública. Dar uma aplicabilidade e
retorno para a sociedade é a matriz das pesquisas desenvolvidas no Brasil e no
mundo, por isso é tão importante veicular informações sobre o que é feito em
nossas universidades e como isso pode beneficiar a todos.
No meu estudo, por exemplo, além de buscar a purificação e descrição
de uma proteína de fungo completamente nova para a literatura científica,
procuro mostrar como essa proteína é capaz de impedir a formação do biofil-
me bacteriano, um mecanismo responsável por 80% das infecções bacteria-
nas. Além disso, podemos elucidar o mecanismo de ação antibiofilme dessa
proteína, bem como testar outras de suas ações biotecnológicas e contribuir
para o acervo de estratégias farmacológicas - desenvolvendo assim um novo
medicamento ou potencializando os já existentes.

- 274 -
ANÁLOGOS DO ÁCIDO CINÂMICO COMO FONTE
DE FÁRMACOS LEISHMANICIDAS

Mayara Castro de Moraisa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Doenças negligenciadas fazem parte de um grupo de doenças causadas


por vírus, bactérias, protozoários e helmintos. São predominantes em países
em desenvolvimento localizados na África, na Ásia e nas Américas, não repre-
sentam um mercado lucrativo para as grandes multinacionais farmacêuticas e
os penosos processos de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos
justificam a falta de investimento do setor privado nesse segmento1.
A leishmaniose é uma das doenças negligenciadas e apresenta manifes-
tações clínicas diversas. Pode ser tegumentar ou visceral. A doença visceral
(calazar) é caracterizada por febre irregular, esplenomegalia e anemia. A te-
gumentar pode apresentar-se com grau de severidade variável, desde úlceras
cutâneas localizadas, podendo ter cura espontânea, até a forma cutâneo-muco-
sa, resistente ao tratamento2. Ambas as formas têm alta incidência no mundo3.
Os fármacos de primeira linha para o tratamento das leishmanioses são
os antimoniais. As drogas de segunda geração (não antimoniais) utilizadas são
a pentamidina e a anfotericina B. Os antimoniais apresentam alta toxicidade
e a pentamidina pode causar hipoglicemia, hipotensão, alterações cardioló-
gicas, nefrotoxicidade e até morte repentina, enquanto que a anfotericina B
é nefrotóxica. A miltefosina - o primeiro medicamento leishmanicida de uso
oral utilizado - está em desuso devido às toxicidades hepática, renal e terato-
genicidade, além da resistência adquirida pelo parasita a esse medicamento4.
O ácido cinâmico consiste em um ácido graxo aromático de ocorrência
natural com origem em plantas superiores e encontrado em estoraques, óleos
de canela e folhas de coca. Possuindo diversas atividades biológicas, dentre
elas, antiparasitária, antimicrobiana, antifúngica e antitumoral 5.

a Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medica-


mentos (Universidade Federal da Paraíba - UFPB). mayaracastro@ltf.ufpb.br

- 275 -
REFERÊNCIAS

1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças negligenciadas: estratégias do


Ministério da Saúde. Revista de Saúde Pública, v. 44, p. 200-202, 2010.

2. GOTO, H., LINDOSO, J.A.L. Current diagnosis and treatment of


cutaneous and mucocutaneous leishmaniasis. Expert Review of Anti-infecti-
ve Therapy, v. 8, p. 419-433, 2010.

3. SOUZA, W. S. Doenças negligenciadas. 1 ed. Rio de Janeiro: Aca-


demia Brasileira de Ciências, 2010.

4. DERAY, G., MERCADAL, L., BAGNIS, C. Nephrotoxicity of am-


photericin B. Nephrologie, v. 23, n.3, p.119-122, 2002.

5. EKMEKCIOGLU, C., FEYERTAG, J., MARKTL, W. Cinnamic


acid inhibits proliferation and modulates brush border membrane enzyme ac-
tivities in Caco-2 cells. Cancer Letters, v. 128, n. 2, p. 137-144, 1998.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Mayara Castro de Morais, aluna de doutorado do Programa de


Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamen-
tos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientada pelo professor Dr.
Damião Pergentino de Sousa. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre “Ativi-
dade leishmanicida de ésteres e amidas derivadas do ácido cinâmico”.
Como pesquisadora no laboratório de Química Farmacêutica do Cen-
tro de Ciências da Saúde que faz parte do Departamento de Ciências Far-
macêuticas, tive a oportunidade de trabalhar com análogos do ácido ferúli-
co, o que me rendeu o título de mestra no Programa de Pós-graduação em
Produtos Naturais e Sintéticos Bioatívos da UFPB. Sintetizei, purifiquei,
identifiquei e testei o potencial citotóxico de amidas análogas do ácido ferú-
lico (derivado cinâmico). Com bons resultados, estamos testando em outra
atividade biológica.
Atualmente, desenvolvo no doutorado uma pesquisa relacionada ao po-
tencial leishmanicida de análogos ésteres e amidas do ácido cinâmico. Com
base na literatura, desenvolvi uma metodologia rápida, econômica e eficaz de
preparação dos análogos. Os testes biológicos serão realizados na UFPB sob
a orientação da professora Dra. Tatjana Keesen de Sousa Lima, adjunta do

- 276 -
Departamento de Biologia Celular e Molecular do Centro de Biotecnologia da
Universidade Federal da Paraíba.
O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta. Temos um imensu-
rável patrimônio genético com valor econômico-estratégico incalculável em
várias atividades, mas é no meio do desenvolvimento de novos medicamentos
onde está sua maior potencialidade. Porém, a falta de incentivo governamen-
tal às pesquisas é um desafio para o desenvolvimento de estudos e descobertas
de novos fármacos a partir de produtos naturais.

- 277 -
ISOLAMENTO E ATIVIDADE FARMACOLÓGICA
DE SUBSTÂNCIAS OBTIDAS DE PLANTAS DO
SEMIÁRIDO PARAIBANO

Joanda Paolla Raimundo e Silvaa


Josean Fechine Tavaresb

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas proporcionam muitos benefícios aos seres humanos, seja na


forma de alimento, na fabricação de produtos industriais, como o biodiesel,
mas as espécies vegetais têm seu potencial demonstrado principalmente na
cura e tratamento de várias doenças, como câncer e malária, tendo função
antiviral, analgésica, expectorante, anti-inflamatória, antimicrobiana, entre
muitas outras1,2.
O Brasil possui cerca de 46.000 espécies de plantas, quase metade,
43%, é exclusiva do território nacional e, em média, cerca de 250 novas espé-
cies são descobertas por ano. Esses dados colocam o Brasil como o país com a
maior riqueza de plantas no mundo e demonstram que o nosso país possui nes-
sas espécies possibilidades de descobertas de substâncias promissoras, através
da investigação de suas propriedades curativas3,4.
Diante deste cenário, a pesquisa com espécies vegetais possui extrema
importância na descoberta de novos medicamentos para as doenças que afli-
gem a humanidade.

REFERÊNCIAS

1. AMARAL, L. C. G. S; ABREU, Y. V. Evolução do Mercado Bra-


sileiro de Biodiesel sob a Ótica dos Leilões Promovidos pela ANP: 2005 a
2014. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 54, n. 4, p. 729-750, 2016.

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. joandapaolla.1@gmail.com
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. josean@ltf.ufpb.br

- 278 -
2. NEWMAN, D. J.; CRAGG, G. M. Products as Sources of New
Drugs from 1981 to 2014. Journal of Natural Products, v.79, n. 3, p. 629-
661, 2016.

3. FIORAVANTI, C. A maior diversidade de plantas do mundo. Pesqui-


sa FAPESP, ed. 241, v. 47, 2016.

4. MARTINS-RAMOS, D.; BORTOLUZZI, R.L.C.; MANTOVANI,


A. Plantas medicinais de um remascente de Floresta Ombrófila Mista Alto-
montana, Urupema, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, v. 12, n. 3, p. 380-397, 2010.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Joanda Paolla Raimundo e Silva, sou aluna de doutorado


do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos
da Universidade Federal da Paraíba, orientada pelo professor Josean Fechine
Tavares. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre a busca de novas substâncias
com potencial terapêutico, nas plantas do semiárido paraibano.
Na minha rotina de pesquisa, estudo a espécie Justicia aequilabris
(Nees) Lindau, ela é uma planta da mesma família do chachambá, que é mui-
to utilizado no Brasil para asma. Na procura de substâncias de uma espécie,
aprende-se muito sobre como as plantas se relacionam com o meio ambiente,
pois muitas das substâncias que as plantas produzem são para sua defesa con-
tra predadores, bactérias e fungos. A pesquisa científica pode comprovar se
esta substância que a planta produziu pode, por exemplo, possuir atividade an-
tifúngica e antibacteriana e desta forma transformar-se em um medicamento.
Os seres humanos, desde os tempos mais antigos, perceberam que al-
gumas plantas tinham essas atividades, e passaram de geração em geração a
informação de quais plantas eram medicinais e para que serviam, foi desta
forma que, por exemplo, hoje sabemos que chá de camomila acalma ou que a
casca do caju é bom para feridas, então não tem como separar a pesquisa com
plantas de duas coisas, o cuidado com o meio ambiente e o debate com a po-
pulação sobre o uso de plantas medicinais. Desta forma, no doutorado, junto
com mais colegas de pós-graduação decidimos dialogar com a comunidade
sobre o potencial das plantas.
Em 2017 atuamos em uma escola pública que disponibilizava o ensino
médio para adolescentes, essa faixa etária compreende a fase de formação do
pensamento crítico e nos tempos atuais é comprovado que os adolescentes não

- 279 -
utilizam com frequência ou não conhecem as plantas que podem ser usadas
como medicinais. Deste modo, usando gincanas, oficinas, rodas de conversa e
dinâmicas, construiu-se um diálogo com os alunos sobre as plantas que eles e
suas famílias utilizavam, orientando-os sobre o uso adequado.
Convivendo com a comunidade escolar outras necessidades foram vi-
sualizadas, como a falta de ambientes verdes na escola e nas casas dos alunos,
o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e a pouca ingestão de
micronutrientes. Desta forma, ações foram realizadas, como a construção de
uma horta com plantas medicinais e alimentícias, feita com materiais reciclá-
veis levados pelos alunos (garrafas pets, pneus e outros), e para adubar a horta,
os restos de alimentos da merenda foram usados na construção de uma com-
posteira doméstica. Outros profissionais foram convidados a acompanhar o
projeto, nutricionistas conversaram sobre alimentação saudável e composição
dos alimentos e uma agroecóloga orientou a manutenção da horta.
Junto com os alunos debatemos sobre ensino na universidade pública,
as pesquisas no Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Bioati-
vos da UFPB e sua história. Além disso, discutiu-se acerca da profissão do
farmacêutico e ainda as oportunidades e auxílios a que eles teriam direito nas
Instituições de Ensino Superior públicas, assim esperamos que eles aspirem a
este caminho.
Após dialogar com a comunidade escolar sobre plantas medicinais, eu
e meus colegas de doutorado, em 2018, atuamos em Unidades Básicas de
Saúde, onde estamos desenvolvendo ações até hoje. Neste ambiente foram
realizadas rodas de conversas com a população e foi visto quais plantas me-
dicinais eles utilizavam e as suas principais queixas de saúde. Desta forma,
ações como oficinas, rodas de conversa e sala de espera foram realizadas com
a finalidade de discutir sobre modos de preparo, quais plantas são tóxicas, uso
de plantas medicinais por gestantes, crianças e pacientes de doenças crônicas,
e alguns uso inadequados, principalmente quanto ao uso de plantas que não
podem ser ingeridas, apenas usadas na pele.
Neste caminho percorrido na pós-graduação compreendi que fazer pes-
quisa é algo que o ajuda tanto em uma formação técnica, como lhe traz a sensi-
bilidade de buscar melhorar a sociedade. Descobri muitas substâncias a partir
da planta que estudo, mas principalmente aprendi muito com todas as pessoas
envolvidas neste processo, com os colegas de doutorado que me acompanham
durante os experimentos, independentemente do dia da semana ou hora, para
assim em equipe gerarmos descobertas incríveis, com os professores sempre
lutando para conseguir financiamento para evitar que a pesquisa pare, com
todos os funcionários que ajudam, seja no socorro com algum equipamento
ou na palavra de incentivo, e principalmente, com todos os alunos, pacientes e
profissionais de saúde, onde tive a oportunidade de escutar e levar um pouco
do que aprendi na pós-graduação, porque essa é a prova de que pesquisa alia-
da à comunidade se torna a melhor parceria que uma sociedade pode ter para
promover o bem-estar aos seus cidadãos.

- 280 -
PESQUISA FITOQUÍMICA E FARMACOLÓGICA
DE Pilosocereus sp. (Cactaceae)

Ana Laura de Cabral Sobreiraa


Maria de Fátima Vanderlei de Souzab

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas medicinais fazem parte do cotidiano tradicional há gera-


ções e o conhecimento sobre os benefícios que estas plantas apresentam é
repassado para a comunidade acadêmica, que tenta a todo custo produzir e
tirar o máximo de informações úteis para a produção de remédios, o desen-
volvimento de novas formulações nutricionais, formulação cosmética, entre
outras aplicações.
A biodiversidade existente no Brasil nos proporciona estudar diversas
espécies vegetais que apresentam conhecimentos ainda não divulgados. Um
dos biomas que apresentam importância comercial no nosso país é a Caa-
tinga, nele são encontradas peculiaridades que ainda estão sendo estudadas,
entre estas a composição química e as ações farmacológicas das plantas que
compreendem a sua vegetação. As poucas informações que compreendem
essas plantas é o mesmo motivo que aproxima os pesquisadores e a busca
por novos conhecimentos.
Existe atualmente um potencial avanço tecnológico no estudo e na ino-
vação à procura de novos remédios tendo como fonte as plantas, entre essas
espécies estão aquelas pertencentes ao gênero Pilosocereus, pertencentes à
família Cactaceae. Este gênero possui aproximadamente 35 espécies, den-
tre elas destaca-se Pilosocereus gounellei, conhecido popularmente como
xique-xique, que é utilizado pela medicina popular como gastroprotetora,
atividades confirmadas cientificamente por Sousa et al. (2018), anti-inflama-
tória2 e anti-oxidante3,4. Pilosocereus pachycladus, conhecido popularmente

a Universidade Federal da Paraíba/Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecno-


lógica em Medicamentos. lauracabralas@gmail.com
b Universidade Federal da Paraíba/Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecno-
lógica em Medicamentos. mfvanderlei@ltf.ufpb.br

- 281 -
como facheiro, utilizado para a cura de inflamações da próstata e urinária
(BRITO-FILHO et al., 2017) e no auxílio à nutrição das pessoas.
No que se refere à pesquisa na área da Fitoquímica com espécies do
gênero Pilosocereus se pode destacar a presença em suas espécies de compos-
tos químicos das classes dos derivados da clorofila, esteroides, flavonoides,
alcamidas, ácidos e aldeídos fenólicos, ácido graxos e lignoides3,5.

REFERÊNCIAS

1. SOUSA, G. A. et al. Gastroprotective effect of ethanol extracts of


cladodes and roots of Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly.
Ex Rowl (Cactaceae) on experimental ulcer models. Journal of ethnophar-
macology, v. 218, p. 100-108, 2018.

2. DIAS, G. E. N. et al. Acute oral toxicity and anti-inflammatory ac-


tivity of ethanolic extract from Pilosocereus gounellei (fac weber) in rats.
International Journal of Pharmacognosy and Phytochemical Research,
v. 7, p. 1-6, 2015.

3. MACIEL, J. New Alcamide and Anti-oxidant Activity of Pilosoce-


reus gounellei A. Weber ex K. Schum. Bly. ex Rowl. (Cactaceae). Molecules,
v. 21, p. 11-13, 2016.

4. GONÇALVES, A. S. M. et al. Pilosocereus arrabidae (Byles &


Rowley) of the Grumari Sandbank, RJ, Brazil: Physical, chemical characteri-
zations and antioxidante activities correlated to detection of flavonoids. Foof
Res. Int, v. 70, p. 110-117, 2015.

5. BRITO-FILHO, S. G. et al. Phytochemical study of Pilosocereus


pachycladus and antibiotic-resistance modifying activity of syringaldehyde.
Brazilian Journal of Pharmacognosy, v. 27, p. 453-458, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Ana Laura de Cabral Sobreira, sou aluna de doutorado


do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica
em Medicamentos pela Universidade Federal da Paraíba, orientada pela pro-
fessora Maria de Fátima Vanderlei de Souza. Sou bolsista pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa

- 282 -
é sobre a descoberta de novas fontes de fármacos a partir de plantas que são
utilizadas pela comunidade em geral, que com o seu conhecimento tradicional
realiza o seu uso para determinado efeito benéfico.
Realizar pesquisa no Brasil é no mínimo desafiador, ainda mais quando
a gente está fora de grandes centros de pesquisas. Isto vira um estímulo natu-
ral, é acordar todo dia com a certeza de que estamos no caminho certo, que a
ciência, pesquisa e a educação podem transformar mentes, podem descobrir
e realizar o que era impensável antes. É gratificante ter a possibilidade de
descobrir uma substância inédita e saber que ela pode ter uma maior atividade
benéfica que outras já existentes e como resultado ela vai ajudar muitas pes-
soas. Diante de um cenário tão desafiador as adversidades vêm para ensinar,
amadurecer, para crescimento profissional e pessoal. No caminho haverá sem-
pre aquelas pessoas que vão lhe dar a mão e ensinar o quanto cada dia vale a
pena em busca de um bem maior.
É com grande entusiasmo que realizo a minha pesquisa, que tem
como principal objetivo contribuir de forma direta para a sociedade, devol-
vendo-lhe todo o seu investimento financeiro para a minha qualificação. Este
investimento está sendo realizado por meio da nossa busca incessante, atra-
vés de pesquisas na área da Química Orgânica, subárea Fitoquímica, em que
se buscam substâncias que poderão levar à descoberta de novas drogas com
atividades terapêuticas, se comprometendo, portanto, em encontrar resultados
que possam contribuir com o crescimento das Ciências Farmacêuticas.

- 283 -
METABOLÔMICA DE PLANTAS

Augusto Lopes Soutoa

INTRODUÇÃO

A metabolômica estuda, de forma analítica, o metaboloma, ou seja, to-


dos os metabólitos presentes em determinado sistema biológico1. No caso da
metabolômica de plantas, estudam-se dois tipos de metabólitos: os metabó-
litos primários e secundários. Os primários, como carboidratos, proteínas e
lipídios, estão relacionados a processos metabólicos básicos do organismo,
como respiração celular, fotossíntese e crescimento; enquanto que os metabó-
litos secundários estão relacionados a processos mais direcionados à defesa,
sobrevivência e reprodução, como flavonoides, alcaloides terpenoides, este-
roides e lignoides, que, além de possuírem funções ecológicas, desempenham
atividades terapêuticas nos seres humanos, podendo ser utilizados no desen-
volvimento de fármacos e medicamentos fitoterápicos2 .
Sob uma perspectiva mais dinâmica, Kim e colaboradores (2011)3
definem metabolômica como uma “foto” de um organismo, a qual mostra
quais compostos estariam presentes e em quais concentrações em determi-
nado cenário ou momento. Desta forma, a análise de um conjunto de “fotos”
poderia indicar em tempo real o estado fisiológico da planta ou descrever
como ela responde aos diferentes tipos de situação em que ela se encontra,
sendo considerado atualmente um importante segmento da ciência, ampla-
mente utilizado em pesquisas voltadas para diversas áreas, como: agrono-
mia, ecologia, farmácia e nutrição.
Após o processo de germinação de sementes, são formadas as plântulas,
que representam o estágio inicial de desenvolvimento, caracterizado por uma
produção limitada de metabólitos secundários, pois, além de possuírem pou-
cas e pequenas folhas para realizar fotossíntese, sua raiz tem baixa capacidade

a Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. augustosouto@gmail.com

- 284 -
de captação de água e sais minerais4. Desta forma, o estudo químico realizado
durante os diferentes estágios de desenvolvimento da planta (desde a germina-
ção até a fase adulta), também conhecido como estudo de ontogenia química,
é de suma importância para a área agronômica e farmacêutica, pois, através
desses estudos, podemos saber, por exemplo, quando determinado composto
químico de interesse se encontrará em maior concentração em determinada
planta. Quando a cana-de-açúcar terá maior concentração de sacarose disponí-
vel para que eu possa extraí-la e produzir mais açúcar ou álcool e desta forma
ter mais lucro? Quando determinado princípio ativo de uma planta medicinal
estará na concentração ideal para que eu possa coletá-la e produzir um fitote-
rápico que realmente seja eficaz? Os estudos de ontogenia química de plantas
fornecem essas respostas!5.

REFERÊNCIAS

1. VUCKOVIC, D. Current trends and challenges in sample prepara-


tion for global metabolomics using liquid chromatography-mass spectrom-
etry. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v. 403, p. 1523-1548, 2012.

2. LEITE, J. P. V. Fitoterapia: Bases Científicas e Tecnológicas. São


Paulo: Editora Atheneu, 2009.

3. KIM, H.K.; CHOI, Y.H.; VERPOORTE, R. NMR-based plant me-


tabolomics: where do we stand, where do we go? Trends in Biotechnology,
v. 29, p. 267-275, 2011.

4. EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Raven Biology of Plants. 8 ed.


New York: W. H. Freeman and company, 2012.

5. GAIA, A. M.; YAMAGUCHI, L. F.; JEFFREY, C. S.; KATO, M. J.


Age-dependent changes from allyphenol to prenylated benzoic acid produc-
tion in Piper gauchaudianum Kunth. Phytochemistry, v. 106, p. 86-93, 2014

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Augusto Lopes Souto, sou professor visitante da Univer-


sidade Federal da Paraíba - UFPB, atualmente leciono nos cursos de gradu-
ação e pós-graduação, disciplinas relacionadas à fitoquímica. Minha linha
de pesquisa é voltada para a metabolômica de espécies vegetais, mais pre-

- 285 -
cisamente, estudos de ontogenia química de plantas tradicionais utilizadas
na medicina popular ou plantas medicinais de interesse ao Sistema Único de
Saúde (SUS).
Partindo do princípio de que uma planta é um ser vivo, deve-se levar
em conta que seus metabólitos secundários, substâncias a que são atribuídas
suas atividades terapêuticas, estão presentes de forma dinâmica, variando sua
composição de acordo com diversos fatores, como solo, temperatura, umidade
e estágio de desenvolvimento. Uma vez controlados todos esses fatores men-
cionados, o estudo de ontogenia química pode ser realizado com confiança.
Espécies vegetais medicinais podem ser coletadas em momento ina-
dequado, onde a concentração de seus componentes terapêuticos não é o
suficiente para agir no organismo de forma eficaz, levando ao agravamento
do estado de saúde do paciente, assim como à sua desconfiança sobre o uso
de plantas medicinais e fitoterápicos. Nós pretendemos resgatar esta con-
fiança através do estudo químico destas espécies durante todo o seu ciclo de
vida, possibilitando correlacionar a concentração de seus componentes tera-
pêuticos com o estágio de desenvolvimento correspondente, e desta forma,
saber qual é a melhor época de colheita delas, atribuindo maior qualidade,
segurança e eficácia da droga vegetal que será utilizada como matéria-prima
na produção de fitoterápicos, melhorando consequentemente a qualidade de
vida da população.
Fazer ciência e aprender algo novo todos os dias, aliados à motivação
de converter esse conhecimento adquirido em melhoria da qualidade de vida
da população, é algo de valor inestimável e proporcionado quase que exclusi-
vamente pelas universidades públicas, que são extremamente dinâmicas, pois,
além de nos permitir ensinar e pesquisar, é possível gerir projetos, fazer parte
de bancas examinadoras de teses e dissertações, ministrar minicursos e pales-
tras, fazer intercâmbio com outras instituições, incrementar a nossa rede de
contatos, aprender novas técnicas e novos idiomas, enfim, evoluir cada vez
mais, não somente como cientista, mas como pessoa.
Ser pesquisador no Brasil não é fácil, pois nem sempre consegui-
mos trabalhar com os recursos e estruturas de que gostaríamos, além disso,
o caminho para se tornar doutor em uma linha de pesquisa é bastante longo,
entretanto, se você gostar do que faz, for persistente, tiver paciência e gostar
de sair da zona de conforto, essa maratona será tão prazerosa quanto uma
volta no parque.

- 286 -
BUSCA DE PROTÓTIPOS A FÁRMACOS EM
PLANTAS MEDICINAIS DO GÊNERO Maytenus
COM ATIVIDADE GASTROPROTETORA

Pedro Thiago Ramalho de Figueiredoa


Vicente Carlos de Oliveira Costab

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas medicinais apresentam grande importância para a humani-


dade, seja para o tratamento e cura de enfermidades, como também usadas
como alimento. Os primeiros registros do uso das plantas medicinais com
finalidade terapêutica são encontrados no Egito antigo, China e Índia. O Brasil
compreende 22% do total da vegetação mundial, em que mais de 50.000 espé-
cies de vegetais foram catalogadas e estão distribuídas nas principais regiões
brasileiras, estes vegetais são utilizados pela população no combate e preven-
ção de doenças na forma de infusões, decoctos, garrafadas, entre outros1. Por
mais que apresente essa riqueza geográfica, existem poucos estudos de plantas
medicinais para registro de medicamentos fitoterápicos em comparação com o
Japão, EUA e países da Europa2.
Dessa maneira, destacam-se as plantas medicinais do gênero Maytenus,
como exemplo, a espinheira-santa, sendo utilizada especialmente para a gas-
troproteção, prevenção de úlceras e auxiliar nos processos diarreicos. Outras
atividades benéficas destes vegetais são para o tratamento da diabetes, proble-
mas renais e como anti-inflamatório. Os benefícios que as plantas medicinais
causam são determinados pelas substâncias químicas presentes, chamadas de
metabólitos secundários, os mais abundantes na espinheira-santa são triterpe-
nos, diterpenos, alcaloides e os flavonoides3.
Devido à grande importância desses vegetais para a humanidade a quí-
mica medicinal busca encontrar substâncias químicas presentes nas plantas
medicinais do gênero Maytenus que apresentem eficácia comprovada e baixos

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. pedro@ltf.ufpb.br.
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. vicente@ltf.ufpb.br.

- 287 -
efeitos adversos que possam vir a se tornar protótipos de futuros fármacos,
como também realizar a produção e o desenvolvimento de medicamentos fito-
terápicos com esses vegetais.

REFERÊNCIAS

1. CARVALHO, A. C. B.; RAMALHO, L. S.; MARQUES, R. F. O.;


PERFEITO, J. P. S. Regulation of herbal medicines in Brazil. Journal of Eth-
nopharmacology, in press 2014.

2. VELOSO, C.C.; SOARES, G. L.; PEREZ, A. C.; RODRIGUES, V.


G.; SILVA, F. C. Pharmacological potential of Maytenus species and isolated
constituents, especially tingenone, for treatment of painful inflammatory dis-
eases. Brazilian Journal of Pharmacognosy v. 27, p. 533-40, 2017.

3. NIERO, R.; ANDRADE, S. F.; CECHINEL-FILHO, V. A review os


the ethnopharmacology, phytochemistry and pharmacology of plants of the
Maytenus Genus. Current Pharmaceutical Design, v. 17, p 1851-71, 2011.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Pedro Thiago Ramalho de Figueiredo, sou aluno de dou-


torado do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos da Universidade Federal da Paraíba, área de atuação farmacoquímica,
orientado pelo professor Dr. Vicente Carlos de Oliveira Costa. Sou bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e
minha pesquisa intitula-se estudo fitoquímico e biológico direcionado por es-
pectrometria de massas de espécies do gênero Maytenus. Meu projeto consiste
na busca de novas substâncias com potencial a fármacos que possam estar
presentes nas espécies de Maytenus. Após identificar e isolar essas substâncias
químicas iremos testá-las para atividades que ajudem na proteção do estôma-
go e contra microrganismos causadores de doenças gástricas.
Diante disto, meu projeto tem por objetivo principal auxiliar as indús-
trias farmacêuticas a realizarem estudos mais detalhados das substâncias quí-
micas obtidas das plantas medicinais do gênero Maytenus que apresentarem
uma melhor atividade farmacológica nos testes prévios. Dessa maneira, minha
pesquisa contribui para que novos medicamentos oriundos de plantas medi-
cinais venham a ser produzidos, consequentemente beneficiando a população
que apresenta doenças gastrointestinais.

- 288 -
Sou farmacêutico formado pela Universidade Federal da Paraíba e tive
a oportunidade de presenciar a importância das plantas medicinais desde o
início do curso de farmácia. Fui privilegiado em fazer parte do laboratório de
pesquisa em química de produtos naturais como aluno do Programa Institu-
cional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) em que realizei o isolamento
de substâncias químicas presentes nos vegetais. Sou grato a este programa
de iniciação científica, pois me mostrou a importância de realizar pesquisa e
abrir os olhos para que exista um melhor desenvolvimento da saúde no Brasil,
levando a um aumento no bem-estar social e qualidade de vida das pessoas,
dessa maneira a pesquisa científica está diretamente relacionada ao cresci-
mento desses fatores.
Desde que me tornei aluno de iniciação científica tive o privilégio de
presenciar diversos tipos de pesquisas que com os recursos necessários pode-
rão beneficiar grandemente a sociedade. Seja a descoberta de novos medica-
mentos, como também, a melhoria nas terapias já existentes. Fazer parte deste
mundo acadêmico científico é de grande importância para mim, pois, mesmo
com dificuldade em obter recursos, locais de trabalho em que são necessários
mais investimentos, podemos desenvolver pesquisas que irão mudar a quali-
dade de vida das pessoas. Nós, pesquisadores iremos sempre continuar nossos
projetos em prol de algo maior, sempre buscando as alternativas necessárias
para aperfeiçoar a saúde humana.

- 289 -
ATIVIDADE DE PROTEÇÃO SOLAR
DE EXTRATOS VEGETAIS

Juliana de Medeiros Gomesa


Josean Fechine Tavaresb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A Terra recebe constantemente luz vinda do sol e entre 5 a 10% da luz


do sol que chega ao planeta corresponde à radiação ultravioleta (UV) (200-
400nm), que é dividida em três partes, UVC, UVB e UVA. Essa radiação
possui a importante tarefa de contribuir para a produção de vitamina D, pois
ela só é formada após a exposição do indivíduo à radiação UVB. Além disso,
a radiação UV também é responsável por outros efeitos benéficos, como no
tratamento de vitiligo e psoríase. Mas, embora essa radiação tenha seus be-
nefícios para o nosso corpo, ela pode causar muitos problemas sérios de pele,
principalmente naquelas pessoas que se expõem de maneira excessiva ao sol,
tais como: queimaduras solares, supressão do sistema imunológico, carcino-
gênese e envelhecimento precoce¹.
Dentro desse contexto, o câncer de pele é uma realidade no nosso país e
ele representa o tipo de câncer mais comum existente na população brasileira,
estando em torno de 30% dos casos de câncer registrados no Brasil, segundo
o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Isso acontece porque no Brasil, em condições de céu limpo, a radiação
ultravioleta é sempre muito alta, independentemente da estação do ano em
praticamente todo o seu território. Então é muito importante que a população
utilize meios para se proteger do sol, na intenção de evitar prejuízos causa-
dos à pele, como descrito acima. Por isso, é necessária a utilização de roupas
adequadas à proteção contra os raios ultravioletas, chapéu, óculos escuros e,

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. juli.mg@hotmail.com
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. juli.mg@hotmail.com

- 290 -
principalmente, filtros solares, já que estes são compostos por substâncias es-
pecíficas capazes de proteger a pele¹.
Diante disso, a busca por compostos que tenham ação de filtrar a ra-
diação solar e, dessa forma, protegê-la, vem aumentando. Assim, produtos
naturais, ou seja, substâncias de origem vegetal ou animal (ao invés de sinté-
ticos) se tornam uma boa alternativa, já que extratos de plantas, por exemplo,
possuem uma grande variedade de compostos, que podem agir juntos para
proteger a pele, enquanto que substâncias feitas em laboratório têm a limita-
ção de apresentarem uma única estrutura e que muitas vezes não atendem a
toda a complexidade que é proteger a pele contra a radiação ultravioleta de
forma eficiente.
Dessa forma, reconhecendo o potencial da flora brasileira, sendo o Bra-
sil detentor de 22% de todas as espécies vegetais do mundo², bem como o
potencial medicinal das plantas aqui existentes, a ideia da pesquisa nessa área,
voltada para os produtos naturais, é justamente encontrar um extrato vegetal
que seja capaz de proteger a pele contra a radiação solar de forma eficiente e
que seja barato.

REFERÊNCIAS

1. SCHALKA, S. et al. Brazilian Consensus on Photoprotection. Anais


Brasileiro de Dermatologia, v. 89, n. 6, Suppl 1, p. S6-73, 2014.

2. RATES, S. M. K. Plants as source of drugs. Toxicon., v. 39, n. 5,


p. 603-13, 2001.

3. BRASIL. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Câncer de Pele me-


lanoma, 2016. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/
tiposdecancer/site/home/pele_melanoma.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Juliana de Medeiros Gomes, sou aluna de doutorado do


Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da
Universidade Federal da Paraíba, orientado pelo professor Dr. Josean Fechine
Tavares. Sou bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e minha pesquisa é sobre a procura de um extrato ve-
getal capaz de apresentar atividade de proteção à pele para a produção de um
protetor solar que seja eficaz e mais barato que os já presentes no mercado.

- 291 -
Recentemente, conseguimos encontrar um extrato vegetal bastante promissor
e a pesquisa avança para o desenvolvimento de um protetor solar com ele. Es-
tamos lutando para conseguir produzir um protetor solar bom que seja acessí-
vel a todos, já que, de maneira prática, a prevenção do câncer de pele também
se faz dessa forma e, se a população tiver acesso a um protetor eficaz e barato,
isso significa uma população menos doente, mais ativa, diminuindo inclusive
os custos do Estado em saúde.
Fazer pesquisa no Brasil vai ser sempre uma tarefa muito gratificante,
mas ao mesmo tempo complicada, pois, embora consigamos trazer resultados
inovadores e promissores para a sociedade, temos sempre que lidar com a
frustração que é a falta de interesse em investir mais em pesquisa, o que mui-
tas vezes nos limita em avançar mais rapidamente com nossos resultados, pois
o tipo de experimento ou equipamento de que precisamos para a análise não
está disponível, então muitas vezes precisamos enviar nossas amostras para
outros lugares ou até países.
Atrelado a isso, existe a frustração que é o fato de a população não saber
para que serve a pesquisa dentro das universidades. Esse tipo de informação
já deveria ser introduzido de forma clara desde o ensino fundamental nas es-
colas, quanto mais valor se dá à pesquisa de um país, mais este país cresce e
se desenvolve. Sempre que existe uma epidemia de alguma doença ou uma
doença nova surge e é necessário vacina ou um medicamento de maneira ur-
gente, são os pesquisadores do nosso país que correm atrás de uma solução de
maneira incansável, então dar valor à pesquisa é dar valor a melhores condi-
ções de vida.
Na minha experiência pessoal, ao frequentar o “mundo da pós-gradu-
ação”, o amadurecimento acadêmico é feito diariamente. A vivência das dis-
ciplinas, bem como o contato diário com os outros pós-graduandos e pesqui-
sadores do Programa, amplia nossos horizontes, uma vez que respirar tanto
conhecimento e trabalhar em um projeto próprio nos faz crescer bastante como
profissional, abre a mente, possibilitando a criação de ideias que nos ajudem
a encontrar meios de contribuir com a sociedade de forma positiva para a sua
evolução, estimulando o desenvolvimento de uma ciência mais humana.

- 292 -
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ANÁLOGOS
DA COMBRETASTATINA D-2 UTILIZANDO COMO
INTERMEDIÁRIO O PRODUTO NATURAL EUGENOL

Josefa Aqueline da Cunha Limaa


Juliano Carlo Rufino de Freitasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Existe uma estreita ligação entre a humanidade e os produtos naturais,


uma vez que estes são empregados na busca por alívio e cura de doenças.
Além disso, a utilização de produtos naturais é bastante relatada na medicina
popular desde os tempos imemoriais. Vale ressaltar que os produtos naturais
servem de fonte e inspiração de novas substâncias, sendo responsáveis por
uma parcela dos medicamentos aprovados e comercializados1.
Diante deste aspecto, a pesquisa teve como enfoque sintetizar estruturas
análogas/similares a Combretastatina D-2, um produto natural com ação antican-
cerígena que apresentou inibição do crescimento de diversas linhagens de células
cancerígenas com baixos valores de concentração inibitória na faixa de 2,7-10
μg/mL. A Combretastatina D-2, encontrada na espécie de salgueiro sul-africano
Combretum caffrum2, atua no processo de divisão celular, provocando distúrbios
na dinâmica dos processos da célula e consequentemente a morte dela.
Devido à baixa disponibilidade da Combretastatina D-2 na natureza,
foram descritas diversas formas para obtê-la por via sintética. No entanto, até
o presente momento, a literatura não descreve sua síntese utilizando como
reagente/intermediário sintético o eugenol.
O eugenol é uma substância disponível na natureza, presente em maior
quantidade na árvore do cravo (Eugenia caryophyllata L. Merr. & Perry (Myr-
taceae) = Syzygium aromaticum), o qual apresenta diversas atividades bioló-
gicas, como ação analgésica, antipirética, anestésica, anti-inflamatória, anti-
fúngica, antibacteriana, anticancerígena, atividade repelente ante a insetos3,4.

a Universidade Federal Rural do Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Química. akelinecunha@


gmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Programa de Pós-graduação
em Ciências Naturais e Biotecnologia. julianocrf@gmail.com

- 293 -
REFERÊNCIAS

1. KINGSTON, D. G. I. Modern Natural Products Drug Discovery and Its


Relevance to Biodiversity Conservation. Journal of Natural Products, v. 74,
p. 496–511, 2012.

2. PETTIT, G. R.; QUISTORF, P. D.; FRY, J. A.; HERALD, D. L.; HAMEL,


E.; CHAPUIS, J. C. Antineoplastic Agents. 565. Synthesis of Combretastatin
D-2 Phosphate and Dihydro-combretastatin D-2. Journal of Natural Prod-
ucts, v. 72, n. 5, p. 876-883, 2009.

3. RAJPUT, J. D. et al. Perspectives on medicinal properties of natural


phenolic monoterpenoids and their hybrids. Molecular Diversity, v. 22, n.1,
p. 225-245, 2018.

4. KAUFMAN, T. S. The Multiple Faces of Eugenol. A Versatile Start-


ing Material and Building Block for Organic and Bio-Organic Synthesis and
a Convenient Precursor Toward Bio-Based Fine Chemicals. Journal of the
Brazilian Chemical Society, v. 26, n. 6, p. 1055-1085, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Josefa Aqueline da Cunha Lima, sou aluna de doutorado


do Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal Rural
do Pernambuco, orientada pelo professor Juliano Carlo Rufino de Freitas. Sou
bolsista pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Pernambuco
(Facepe) e minha pesquisa é voltada para síntese de estruturas análogas ao
produto natural Combretastatina D-2, o qual apresenta atividade antiprolifera-
tiva, ou seja, estruturas que causam inibição de células cancerígenas.
De modo geral, minha pesquisa é muito promissora, uma vez que esta-
mos literalmente propondo algo novo baseado em fatos bem fundamentados,
o que proporciona vários questionamentos e reflexões, os quais não são des-
critos em livros ou artigos científicos.
Sintetizar substâncias que têm potencial para inibir células canceríge-
nas é contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos. Esse tipo
de pesquisa beneficia toda a sociedade, pois aborda temas importantes para
a saúde pública, como o câncer. Além disso, permite a construção de novos
conhecimentos sobre a ação de análogos de produtos naturais, sua respectiva
ação terapêutica e pesquisas futuras acerca deste tema.

- 294 -
A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS
COM ATIVIDADE ANTICANCERÍGENA

Carla Daniele Pinheiro Rodriguesa


Cláudia Quintino da Rochab

INTRODUÇÃO AO TEMA

O câncer é uma doença que apresenta altas taxas de mortalidade e é


considerado um problema de saúde pública para o mundo desenvolvido – e
para nações em desenvolvimento. Nos últimos anos as plantas passaram a
representar uma fonte de modelo para o desenvolvimento de medicamentos,
pois o uso no dia a dia está cada vez maior. O tratamento dos cânceres, em sua
grande maioria, é considerado como um dos problemas mais desafiadores da
medicina, pois os medicamentos que fazem parte do tratamento trazem muitos
efeitos colaterais, e de acordo com a localização, a extensão e o tipo de câncer
pode-se optar por um ou por uma associação de tratamentos, dentre os quais
se destacam a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia.
Ao longo dos anos observa-se cada vez mais a procura de tratamentos
“alternativos e/ou complementares” para o câncer por parte dos pacientes,
juntamente com os médicos e algumas vezes o paciente busca por conta pró-
pria ou com ajuda de familiares, amigos ou vizinhos, outras formas de trata-
mento e na maioria das vezes optam pelo uso de produtos naturais1.
Existem muitos trabalhos que vêm demonstrando que o consumo de al-
gumas plantas pode promover ação anticancerígena. Nos países em processo
de desenvolvimento o grande consumo de terapias alternativas ou comple-
mentares, como o uso de plantas medicinais, se atribui à maior disponibilidade
e acesso e essa importância dos produtos naturais é particularmente evidente
nas áreas de câncer e doenças infeciosas, em que mais da metade dos medi-
camentos utilizados hoje como forma de tratamento são de origem natural2.

a Universidade Federal do Maranhão. krla.pinheiro12@gmail.com


b Universidade Federal do Maranhão e Programa de Pós-graduação em Química. claudiarocha3@
yahoo.com.br

- 295 -
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Esti-
mativa/2019: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2019.

2. NEWMAN, D. J.; CRAGG, G. M. Natural products as sources of


new drugs over the 30 years from 1981 to 2010. Journal of Natural Pro-
ducts, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Carla Daniele Pinheiro Rodrigues, sou aluna de Inicia-


ção Científica do Laboratório de Estudos Avançados em Fitomedicamentos da
Universidade Federal do Maranhão, orientada pela professora doutora Clau-
dia Quintino da Rocha. Sou bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e minha
pesquisa é sobre a busca por tratamentos para o câncer.
Considero a pesquisa científica um ato de extrema relevância para o
desenvolvimento do meu perfil acadêmico e profissional. A pesquisa consoli-
da o ensino já que através dele ocorre transferência de saber e deve, portanto,
ser vista como um bem incalculável, como a alavanca do conhecimento dife-
rencial e a maneira mais confiável de crescimento social. Nessa perspectiva,
mesmo diante da insuficiência de equipamentos mais modernos por falta de
recursos, nosso grupo não desanima, combinamos a criatividade, resiliência,
paixão e teimosia e aos poucos vamos resolvendo as dificuldades que encon-
tramos no caminho, pois o nosso objetivo é melhorar a qualidade de vida das
pessoas. Portanto, essa experiência me agrega valores não somente na minha
vida acadêmica, como também pessoal, contribuindo para o meu amadureci-
mento, como estudante e futura pesquisadora.
Nosso grupo de pesquisa na Universidade Federal do Maranhão estuda
as plantas que as pessoas, principalmente do interior do Maranhão, usam para
fazer seus chás. Levamos essas plantas para nosso laboratório, estudamos o que
tem nelas e com isso já conseguimos isolar substâncias novas que podem “ma-
tar” o câncer e isso é algo muito importante, pois essas substâncias revelaram
ser melhores que os “remédios” que os médicos usam nos hospitais para tratar
o câncer e podem não trazer os efeitos colaterais que a quimioterapia hoje causa
nas pessoas que fazem tratamento dessa doença. Essas moléculas poderão ser
usadas para gerar um produto e assim vir a se tornar um novo medicamento que
irá beneficiar várias pessoas. Logo, isso nos deixa imensamente felizez, pois
mesmo com pouco recurso estamos fazendo a ciência acontecer.

- 296 -
A SÍNTESE ORGÂNICA ALIADA AOS PRODUTOS
NATURAIS NA PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS
COM FINS MEDICINAIS

Fernando Ferreira Leitea


Francisco Jaime Bezerra Mendonça Juniorb

INTRODUÇÃO

Existem relatos na história do uso das plantas pelos indígenas para


atividades como caça, a exemplo do curare usado para facilitar a captura de
animais, além de uso com fins medicinais, para tratamento de ferimentos e
doenças. Esse é um conhecimento que se passa por gerações prevalecendo
até hoje. Quem nunca ouviu a vovó dizer que vai preparar um chazinho de
camomila para se acalmar, ou preparou um chá de boldo para aquela comida
que não desceu bem? Pois é, os vegetais possuem um grande potencial com
relação à produção de medicamentos, e o Brasil possui a maior biodiversida-
de do mundo, com base nisso temos o dever não apenas de proteger nossas
florestas, como também de investigar de maneira racional os poderes que
esses vegetais apresentam.
A ciência dos produtos vegetais, aliada aos conhecimentos de sínte-
se orgânica, nos permite conhecer o potencial apresentado pelos vegetais e
reproduzir na indústria farmacêutica, contribuindo para que haja uma pre-
servação de nossa flora sem perder os potenciais que essas plantas possuem.
A partir do estudo científico aprofundado de uma espécie vegetal, é possível
determinar as propriedades dessa espécie, e dizer com segurança a substância
ou o conjunto de substâncias responsável(is) por essa atividade.
Uma vez que esse conhecimento seja alcançado é possível produzir esses
compostos em laboratório, aumentando a quantidade obtida dessas substâncias,
contribuindo com a preservação dos nossos vegetais. Pense bem, pegando como
exemplo um medicamento fitoterápico já vendido no mercado como o vale-
riana, extraído da espécie Valeriana officinalis e amplamente utilizado como
a Universidade Federal da Paraíba - Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos. fernandoferreira_15@hotmail.com
b Universidade Estadual da Paraíba - Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos. franciscojbmendonca@yahoo.com.br

- 297 -
calmante natural, além de atuar contra depressão e o estresse, uma vez que se
determine qual a substância ou conjunto de substâncias responsável(is) e por
esse efeito, pode-se sintetizar essa substância em laboratório, tendo em vista que
nos vegetais esses compostos apresentam baixas quantidades.
Na terapêutica enfrentamos diariamente o combate contra diversas do-
enças, a busca incessante pela cura destes males se torna cada vez mais difícil,
quer seja pelo aparecimento de novas enfermidades, quer seja pelos mecanis-
mos de resistência apresentados pelos organismos já existentes. A exemplo
temos a leishmaniose visceral (LV), que é uma zoonose caracterizada pelo
envolvimento sistêmico, que afeta milhões de pessoas em regiões tropicais e
subtropicais do globo. Há uma incidência estimada de 500.000 casos novos e
50.000 mortes a cada ano no mundo, com números que tendem a crescer ainda
mais2. Só aqui no Brasil o número de casos relatados entre os anos de 2005 e
2009 foi mais de 18.3001.
As bactérias e os fungos são microrganismos que, como a malária3,
vêm cada vez mais apresentando resistência aos medicamentos disponíveis
no mercado, dificultando o tratamento e consequentemente a cura, sem contar
que os medicamentos hoje comercializados debilitam o sistema imunológico
por não serem tão seletivos ao microrganismo que causa a doença. Pensando
nisso cabe a nós, pesquisadores, buscar alternativas medicamentosas que se-
jam mais eficientes e mais seletivas, potencializando o efeito e diminuindo os
efeitos colaterais dos medicamentos.
As dichalconas são uma classe de substâncias que apresentam um gran-
de potencial na terapêutica. Sharma e seus colaboradores relataram em um
estudo publicado em 20183 atividades promissoras dessa classe de compostos
ante o Plasmodium falciparum, agente causador da malária. A malária é uma
doença que vem apresentando grandes dificuldades com relação ao seu trata-
mento, o que se deve à capacidade do parasita de adquirir resistência aos me-
dicamentos atuantes na terapêutica. Pensando nisso, temos como finalidade
realizar estudos aprofundados dessa classe de compostos, com o objetivo de
buscar formas alternativas de tratamento para essas doenças.

REFERÊNCIAS
1. OLIVEIRA, J. M. et al. Mortalidade por leishmaniose visceral: as-
pectos clínicos e laboratoriais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, v. 43, p. 188-193, 2010.

2. PELISSARI, D. M. et al. Tratamento da leishmaniose visceral e


leishmaniose tegumentar americana no Brasil. Epidemiologia e Serviços de
Saúde, v. 20, n. 1, p. 107-110, 2011.

3. SHARMA, U. K. et al. Facile synthesis of vanillin-based novel bis-


chalcones identifies one that induces apoptosis and displays synergy with Ar-

- 298 -
temisinin in killing chloroquine resistant Plasmodium falciparum. European
Journal of Medicinal Chemistry, v. 155, p. 623-638, 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Fernando Ferreira Leite, sou aluno de doutorado do Pro-


grama de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da Uni-
versidade Federal da Paraíba, orientado pelo professor doutor Francisco Jaime
Bezerra Mendonça Junior. Sou bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico (CNPq) e minha pesquisa é sobre “Síntese
de análogos di-flavonoides e di-chalconas com avaliação de potencial ativida-
de antimicrobiana e leishmanicida”. Com base nessa resistência apresentada
por esses agentes causadores de doenças, como já descrito, a nossa pesquisa
consiste em buscar avaliar essas substâncias quanto à possibilidade de se tor-
narem possíveis medicamentos como formas alternativas para o tratamento
de doenças causadas por bactérias, fungos, contra a leishmaniose e a malária.
É gratificante fazer ciência e colaborar com o avanço medicinal e tec-
nológico, nosso objetivo principal sempre foi o de trazer benefícios a nossa
população, ajudando no quesito saúde que, embora fragilizado, segue firme no
combate às enfermidades. Entretanto, no Brasil a pesquisa vem encontrando
diversas dificuldades, sendo cada vez mais sucateada, isso fragiliza nossos pes-
quisadores e dificulta na busca pelo conhecimento e tratamento desses males.
Fazendo um comparativo com as grandes potências mundiais como o
Japão, Finlândia e Alemanha, o investimento em pesquisa e educação no Bra-
sil está entre os piores índices, o que dificulta a realização desses projetos e
consequentemente causa grande desinteresse dos jovens pelas ciências. Temos
que reverter este quadro, para que o Brasil possa avançar e se tornar um país
de primeiro mundo, e para isto o único caminho se dá através da educação.
Deixo aqui os meus agradecimentos pela atenção dada a este texto, e convido
a todos que se interessarem, para conhecer as pesquisas nas universidades fe-
derais e estaduais, pois aqui se faz ciência, meu muito obrigado a você, leitor,
e até a próxima!

- 299 -
SÍNTESE E AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE NOVOS
COMPOSTOS 1,2,3-TRIAZÓLICOS ASSOCIADOS
A CARBOIDRATOS

Cosme Silva Santosa


Juliano Carlo Rufino de Freitasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Os compostos heterocíclicos apresentam em sua estrutura anéis con-


tendo átomos de carbono e heteroátomos como oxigênio, nitrogênio, enxofre,
dentre outros. Moléculas pertencentes a essa classe de compostos desempe-
nham importante papel em nossas vidas, pois cerca de 70% de todos os me-
dicamentos e agroquímicos comercializados são compostos heterocíclicos.
Além disso, muitos heterociclos fazem parte da estrutura de muitas moléculas
essenciais para nossa vida, como vitaminas, enzimas, hormônios, proteínas,
carboidratos, alcaloides, esteroides e ácidos nucleicos.
Os heterociclos podem ser encontrados na natureza (naturais), geral-
mente em plantas e em animais ou podem ser obtidos em laboratório (sinté-
ticos). Uma importante classe de heterociclos sintéticos são os 1,2,3-triazóis,
cuja fórmula molecular é C2H3N3. Atualmente, os 1,2,3-triazóis são utilizados
pela indústria principalmente como corantes sintéticos e como agroquímicos
que ajudam no controle de pragas nas plantações para gerar alimento sufi-
ciente para as 7,6 bilhões de pessoas no planeta. Além disso, a descoberta de
novos medicamentos é um dos aspectos mais promissores dos 1,2,3-triazóis,
pois esse anel já se encontra na estrutura de fármacos comerciais e muitos es-
tudos recentes estão prestes a lançarem novos fármacos no mercado contendo
a unidade 1,2,3-triazólica.
Atualmente, existem diferentes maneiras para sintetizar os 1,2,3-tria-
zóis, contudo, o principal método para obtenção desses compostos foi desen-
volvido, concomitantemente, por dois grupos de pesquisas, um dinamarquês,
conduzido pelo pesquisador Morten P. Meldal (2002)1 e outro norte-ameri-
a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Programa de Pós-graduação em Química. cosme.quimi-
ca_21@hotmail.com
b Universidade Federal de Campina Grande e Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotec-
nologia. julianocrufino@pq.cnpq.br

- 300 -
cano, conduzido pelo pesquisador Karl Barry Sharpless (2002)2. Diante das
contribuições desses dois grupos de pesquisas, a preparação de compostos
1,2,3-triazólicos tornou-se prática e eficiente, o que tem impulsionado ou-
tros grupos de pesquisa a sintetizarem novas moléculas contendo a unidade
1,2,3-triazólica. Adicionalmente, muitos estudos têm relatado que essas molé-
culas podem atuar como anti-inflamatórios, antivirais, no combate a infecções
bacterianas e, especialmente, como anticancerígenos3.
Uma das principais linhas de pesquisas atuais é o desenvolvimento de
novas moléculas que apresentem ação anticancerígena, pois o câncer é a se-
gunda causa mais comum de morte em todo o mundo e espera-se um aumento
para 19,3 milhões de novos casos por ano até 2025. Além disso, devido à com-
plexidade dessa doença, ainda não foram desenvolvidos medicamentos que
sejam altamente potentes e seletivos, ou seja, que destruam apenas as células
tumorais sem danificar as células sadias.
Diante do potencial dos 1,2,3-triazóis e da praticidade de obter novas e
variadas moléculas contendo essa unidade heterocíclica, nossa pesquisa tem
como objetivo central a obtenção de novos 1,2,3-triazóis associados a carboi-
dratos e avaliar o potencial antiproliferativo dessas moléculas ante a diferen-
tes tipos de células tumorais.

REFERÊNCIAS

1. MELDAL, M.; TØRNOE, C. W. Cu-Catalyzed Azide-Alkyne Cyc-


loaddition. Chemical Reviews, v. 108, p. 2952-3015, 2008.

2. ROSTOVTSEV, V. V.; GREEN, L. G.; FOKIN, V. V.; SHARPLESS,


K. B. A Stepwise Huisgen Cycloaddition Process: Copper(I)-Catalyzed Regi-
oselective “Ligation” of Azides and Terminal Alkynes. Angewandt Chemie,
v. 41, p. 2596-2599, 2002.

3. DHEER, D.; SINGH, V.; SHANKAR, R. Medicinal Attributes


of 1,2,3-Triazoles: Current Developments. Bioorganic Chemistry, v. 71,
p. 30-54. 2017.

4. SANTOS, J. A. M. et al. Structure-based design, synthesis and antitu-


moral evaluation of enulosides. European Journal of Medicinal Chemistry,
v. 128, p. 192-201, 2017.

- 301 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Cosme Silva Santos, sou aluno de doutorado do Programa
de Pós-graduação em Química da Universidade Federal Rural de Pernambu-
co (UFRPE), orientado pelo professor Juliano Carlo Rufino de Freitas. Sou
bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) e minha pesquisa descreve a síntese e avaliação biológica de novos
compostos 1,2,3-triazólicos associados a carboidratos.
O interesse na associação dos carboidratos é justificável pelo fato de
estas moléculas serem abundantes na natureza e por apresentarem biocompa-
tibilidade com os organismos vivos. Além disso, recentemente, nosso grupo
de pesquisa publicou um importante estudo envolvendo a preparação de mo-
léculas pertencentes à classe dos carboidratos no European Journal of Medi-
cinal Chemistry4, sendo esta uma das mais importantes revistas de química
medicinal do mundo. As moléculas envolvidas nesse estudo apresentaram
importante atividade contra o câncer de pulmão humano, câncer de mama,
leucemia promielocítica aguda humana e câncer de laringe.
Desse modo, esperamos que a preparação de moléculas contendo a uni-
dade 1,2,3-triazólica associada a carboidratos seja uma estratégia promisso-
ra e venha contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos mais
eficientes, com baixa toxicidade e com custos reduzidos para os sistemas de
saúde, e consequentemente beneficie diretamente a sociedade.
Escolhemos trabalhar com os 1,2,3-triazóis e com os carboidratos por
apresentarem um potencial biológico promissor e também por não demandar
de muitos recursos financeiros. Embora eu seja aluno da UFRPE, minha pes-
quisa é desenvolvida na Universidade Federal de Campina Grande, no campus
de Cuité-PB. Apesar das limitações inerentes à qualquer pesquisa, não me
sinto desmotivado, tento me adaptar a essas condições e produzir ciência da
melhor forma possível.

- 302 -
O USO DE PRODUTOS NATURAIS PARA
TRATAMENTO DE FRATURAS ÓSSEAS

Icaro Rodrigo Dutra Cunhaa


Cláudia Quintino da Rochab

INTRODUÇÃO AO TEMA

A principal função dos ossos é sustentar o esqueleto, o qual sustenta ór-


gãos como coração, pulmão, o cérebro e muitos outros. Os ossos podem sofrer
algum trauma e consequentemente fraturas que podem ocorrer por meio de
um acidente doméstico, como quedas de escadas e quedas em banheiro; este
último acometendo principalmente os idosos. Um dos principais motivos de
fraturas ósseas são os acidentes envolvendo moto ou carro.
Quando esses acidentes acontecem, geralmente o paciente fica muito
debilitado e impossibilitado de fazer tarefas cotidianas como trabalhar, andar,
desconforto, dores, traumas e até mesmo ficar sem conseguir sair da cama.
Além dos acidentes algumas doenças também podem aumentar as chances de
ocorrer fraturas ósseas, como a osteoporose. Por todos esses fatores e também
pelas consequências que as fraturas ósseas causam nos pacientes, é de suma
importância a pesquisa por novos medicamentos e terapias que melhorem o
tratamento dessa condição.
A flora brasileira é uma das mais diversificadas e ricas do planeta e isso
inclui o seu bioma chamado Cerrado. Este bioma perdeu 46% de suas plantas
nativas e somente 20% dele permanece sem ser tocado pelo homem. Se esse rit-
mo de desmatamento e queimadas continuar, estima-se que 1.140 espécies de-
saparecerão em pouco tempo. A planta estudada nesta pesquisa é originalmente
do bioma Cerrado e é conhecida popularmente como “cervejinha do campo”.
A pesquisa por novas substâncias derivadas de plantas é de suma importância,
visto que os vegetais possuem uma infinidade de novos compostos que podem
ter potenciais farmacológicos, ou seja, uma alta chance de curar várias doenças1.

a Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Farmácia. icarodutra99@hotmail.com


b Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Química. claudiarocha3@yahoo.com.br

- 303 -
Para a descoberta de novas substâncias e consequentemente novos
medicamentos, vários processos de investigação envolvendo a química são
utilizados. Alguns desses procedimentos, conhecidos como Cromatografia,
são bem complexos e requerem muita dedicação e tempo dos pesquisadores.
Somente com esses processos que há a possibilidade de descobrir moléculas
inéditas, as quais podem ser derivadas de qualquer parte do vegetal: folha,
flor, caule ou raiz.
Logo após ou juntamente com essa investigação química, o extrato da
planta é testado em animais como ratos ou coelhos com fraturas ósseas, por
exemplo, com o objetivo de descobrir se possui atividade cicatrizante. De
acordo com os resultados decorrentes desse teste, o desenvolvimento de um
candidato a novo medicamento continua, pois, até chegar à comercialização
para a população em geral, há uma série de testes e pesquisas a serem feitos.
Isso demanda ainda mais tempo e investimentos2,3.
É de suma importância a pesquisa de substâncias derivadas de plan-
tas nativas do Brasil e o desenvolvimento de um medicamento, sobretudo
em situações que acontecem com muita frequência não só nosso país, mas
também no mundo todo. Além do mais, atualmente, o tratamento de fraturas
ósseas, principalmente as que acontecem em grandes ossos como o do qua-
dril (íleo) e da perna (fêmur ou tíbia) e debilitam o paciente, é demorado e
possui poucas alternativas.

REFERÊNCIAS

1. BERNARDO B. N. S. (Rio de Janeiro). Combinação de políticas


pode evitar extinções de proporções históricas projetadas para o Cerra-
do. 2016. Disponível em: http://www.iis-rio.org/noticia/75. Acesso em: 19
ago. 2019.

2. BOAS, G. K. V.; GILON, C. Contribuição ao debate sobre o papel da


inovação em medicamentos a partir da biodiversidade. Revista Fitos, v. 10,
n. 2, p. 103-114, 2016.

3. DA ROCHA, C. Q. et al. Gastroprotective effects of hydroethan-


olic root extract of Arrabidaea brachypoda: Evidences of cytoprotection
and isolation of unusual glycosylated polyphenols. Phytochemistry, v. 135,
p. 93-105, 2017.

- 304 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Icaro Rodrigo Dutra, sou aluno do 10º período do curso
de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e também faço
parte do Laboratório de Estudos Avançados em Fitomedicamentos (LEAF),
orientado pela professora Drª. Cláudia Quintino da Rocha, vinculada ao De-
partamento de Química da UFMA. Desde o início da minha vida na univer-
sidade eu faço pesquisa na área de Química de Produtos Naturais e minha
principal linha de pesquisa é a busca de uma nova terapia medicamentosa para
o tratamento de fraturas ósseas.
A minha experiência fazendo pesquisa científica no Brasil é muito gra-
tificante, pois posso mergulhar no mundo da ciência e ir além do que aprendo
no meu curso. Entretanto, a dificuldade de novos recursos e a falta de um
maior investimento para a pesquisa no país me frustra um pouco, pois às vezes
uma parte da pesquisa tem de ser feita em outros estados ou até mesmo em
outros países por falta de equipamentos mais sofisticados ou produtos.
A busca por novos fármacos derivados de plantas beneficia diretamente
a população em geral, visto que essas espécies estão livres e abundantemente
disponíveis na natureza, tornando esse processo mais barato. Por conseguinte,
aumentar o arsenal de medicamentos para o tratamento das fraturas ósseas é
indispensável, pois é uma condição de saúde que causa vários desequilíbrios.
Recentemente, com testes em modelo in vivo, o extrato das folhas da
“cervejinha do campo” mostrou um potencial muito alto de cicatrização de
fraturas ósseas em ratos, superando até mesmo o fármaco existente nos hos-
pitais e que é utilizado em pacientes com grandes traumas ósseos. Isso nos
anima e nos faz ter esperança no futuro da ciência brasileira. Esses resultados
são promissores e vai nos auxiliar cada vez mais para o desenvolvimento de
um novo medicamento, além de ajudar outras pesquisas conseguintes que be-
neficiarão a sociedade em geral.

- 305 -
SÍNTESE E AVALIAÇÃO ANTIMICROBIANA
DE NOVAS SELENOGLICOLICAMIDAS

Maria das Neves Silva Netaa


José Maria Barbosa Filhob

INTRODUÇÃO AO TEMA

A cada dia o número de infecções causadas por fungos oportunistas


vem aumentando de forma alarmante, atingindo principalmente indivíduos
com sistema imunológico comprometido que em sua maioria são pacientes
transplantados, portadores do vírus HIV e pacientes com câncer.
O gênero Candida representa um dos principais grupos de leveduras
causadoras de infecções oportunistas. As espécies deste gênero estão comu-
mente encontradas no trato gastrointestinal, no sistema urinário, pele e mu-
cosa do sistema respiratório dos seres humanos, no entanto são patógenas em
pacientes imunocomprometidos e podem causar infecções sistêmicas.
Além deste, também são de importância clínica os fungos filamentosos
Aspergillus e Penicillium. Os fungos do gênero Aspergillus são encontrados
principalmente no solo e em materiais em decomposição, causam infecções
principalmente nas vias aéreas, podendo apresentar vários quadros clínicos e
levar à infecção sistêmica.
As espécies do gênero Penicillium são encontradas no solo, madeira,
na vegetação, ambientes contendo água. As principais infecções causadas são
respiratórias e na pele.
Atualmente, entre os fármacos utilizados na terapêutica de infecções
fúngicas destacam-se o fluconazol e a anfotericina B. No entanto, muitos pro-
blemas estão associados ao uso desses medicamentos, incluindo a elevada
toxicidade, tratamento prolongado, desistência dos pacientes, recidiva da do-
ença e principalmente a resistência das espécies fúngicas ao fármaco.

a Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-


tivos. neves_neta@hotmail.com
b Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioa-
tivos. jbarbosa@ltf.ufpb.br

- 306 -
Diante das limitações das terapêuticas existentes, as infecções fúngicas
têm demonstrado a necessidade da busca de novos fármacos e novas estraté-
gias para um tratamento eficaz e com qualidade.
O selênio é um mineral essencial para saúde e bom funcionamento do
corpo, apresenta atividades biológicas muito importantes relacionadas a com-
plexos enzimáticas e metabólicos. As principais fontes deste mineral na dieta
são carnes, fígado, frutos do mar e castanha-do-pará. A deficiência do selênio
no organismo está relacionada com várias doenças, como as cardiovasculares,
diabetes e até mesmo câncer1.
Os compostos organoselênio tem apresentado diversos efeitos proteto-
res, destacando a atividade antitumoral, antibacteriano, antiviral, antifúngica,
anti-histamínicos e antiparasitários2.
Em vista do que foi exposto compostos organoslênio são uma estratégia
interessante na busca de novas moléculas para o tratamento de infecções fún-
gicas. Desse modo, o objetivo deste estudo é sintetizar uma série de compos-
tos organoselênio inéditos, com potencial atividade antifúngica.

REFERÊNCIAS

1. ATHAYDE-FILHO, P. F.; SOUZA, A. G.; MORAIS, S. A.; BOTE-


LHO, J. R.; BARBOSA-FILHO, J. M.; MILLER, J.; LIRA, B. F. Synthesis
and characterization of three new organo-selenium compounds. A convenient
synthesis of aroylselenoglycolic acids. ARKIVOC, v. 6, p. 22-26, 2004.

2. MUGESH, G.; SINGH, H. B. Synthetic organoselenium compounds


as antioxidants: glutathione peroxidase activity. Chemical Society Reviews,
v. 29, p. 347-357, 2000.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Maria das Neves Silva Neta, sou aluna do mestrado do
Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da
Universidade Federal da Paraíba, orientada pelo professor José Maria Barbosa
Filho e coorientada por Helivaldo Diógenes da Silva. Minha pesquisa é sobre
a procura de novas moléculas com potencial atividade antifúngica para trata-
mento de infecções fúngicas oportunistas.
Fazer ciência é uma verdadeira realização pessoal, adquirir conhecimento
e construir novas ideias que ajudam a solucionar problemas na sociedade, sacia
a alma de qualquer pesquisador. Alcançando o objetivo deste estudo, estaremos
contribuindo diretamente na qualidade de vida de inúmeras pessoas.

- 307 -
Acredito que dois sentimentos definem bem um pesquisador, amor e
criatividade! O ser humano por si só é curioso e a ciência nos permite explorar
e avançar em questionamentos e problemas que surgem ao longo da história.
Amor porque para aquilo que amamos dedicamos nosso tempo, energia, aten-
ção e é exatamente isto que o cientista faz com seu estudo, ama. No entanto,
de forma menos abstrata, as frustrações acontecem, tanto pela falta de equi-
pamentos mais modernos que permitam o avanço, quanto pela falta de uma
substância, de investimentos e de reconhecimento.
É necessária uma maior integração do Ministério da Ciência e Tecno-
logia com o próprio povo, para que entendam o que fazemos de verdade e
assim se conscientizem de que muitas coisas do seu cotidiano são o retorno
das nossas pesquisas.

- 308 -
INOVAÇÕES FARMACÊUTICAS DA Piper Nigrum
ESTUDOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DE NOVOS
DERIVADOS DA PIPERINA

Helivaldo Diógenes da Silva Souzaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Nos últimos anos, progressos significativos foram realizados no de-


senvolvimento de novas substâncias bioativas ou marcadores biológicos para
diagnosticar e tratar o câncer de diversos tipos (mama, útero, pulmão, prósta-
ta, leucemia, etc.) tendo em vista que é a causa de milhares de óbitos por ano
em todo o mundo.
A Doença da Neoplasia (câncer) é uma classe de doença identificada
pelo crescimento descontrolado e disseminação de células anormais, que po-
dem ser induzidas por fatores ambientais externos (radiação, substâncias quí-
micas e organismos infecciosos) ou fatores internos (mutações, hormônios e
imunidade alterada)1.
Centros de pesquisas ao redor do mundo vêm pesquisando, desenvol-
vendo novas moléculas capazes de tratar o câncer por definitivo. Nesse sen-
tido, a busca por compostos bioativos naturais ou sintéticos com potencial
para o tratamento e prevenção de doenças humanas e para atender a essa e
outras necessidades é atualmente um tema central em muitos laboratórios
de pesquisas e indústrias. Os avanços alcançados nos centros de pesquisas
mostram um crescente interesse pelos compostos naturais que interagem efi-
cientemente com proteínas, DNA e outras moléculas biológicas para produ-
zir um resultado desejado2.
No desenvolvimento de pesquisas farmacêuticas, a química medicinal
da piperina tem atraído a atenção de vários grupos de pesquisadores das aca-
demias no Brasil3 e no exterior, devido as suas atividades biológicas e farma-
cológicas úteis que os inúmeros análogos da piperina possuem como anti-
leishmaniose, antichagásicos, anticâncer e antimicobriana.

* Universidade Federal da Paraíba e Programa de Pós-graduação em Química. helivaldog3@gmail.com

- 309 -
A amida/alcaloide natural piperina é o principal constituinte quími-
co de Piper nigrum Piperaceae, ocorrendo em maior proporção nos frutos da
planta. Piper nigrum, popularmente conhecida como pimenta-do-reino, tem
seu uso bastante difundido na medicina popular da Índia, país de onde é ori-
ginária, sendo no Brasil seu principal uso como condimento. O Brasil é um dos
maiores produtores da pimenta-do-reino, oscilando entre a segunda e a terceira
posição no mercado mundial. Das 50 mil toneladas por ano, cerca de 45 mil são
exportadas, principalmente para o mercado europeu e para os Estados Unidos4.
Em vista do que foi exposto, os compostos contendo a piperina são uma
estratégia interessante na busca de novas moléculas para o tratamento de cân-
cer. Desse modo, o objetivo deste estudo é sintetizar uma série de compostos
derivados da piperina inéditos, com potencial atividade anticâncer.

REFERÊNCIAS

1. MATSUO A. L; TANAKA A. S; JULIANO M. A.; RODRIGUES


E. G.; TRAVASSOS L. R. A novel melanoma-targeting peptide screened by
phage display exhibits antitumor activity. Journal of Molecular Medicine,
v. 88, n. 12, p. 1255–64, 2010.

2. GIL CHAVEZ, G. J.; VILLA, J. A.; AYALA-ZAVALA, J. F.; HE-


REDIA, J. B.; SULPUVEDA, D.; YAHIA, E. M.; GONZÁLEZ-AGUIAR,
G. A. Technologies for extraction and production of bioactive compounds to
be used as nutraceuticals and food ingredients: An Overview. Comprehensive
Reviews in Food Science and Food Safety, v. 12, n. 1, p. 5-23, 2013.

3. FERREIRA, W. S.; FRANKLIM, T. N.; LOPES, N. D.; DE LIMA,


M. E. F. Piperina, seus análogos e derivados: Potencial como antiparasitários.
Revista Virtual de Química, v. 4, n. 3, p. 208-224, 2012.

4. CEPLAC. Disponível em: http://www.ceplac.gov.br/radar/pimenta-


doreino.htm. Acesso em: 3 out. 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Helivaldo Diógenes da Silva Souza, sou pós-doutoran-


do pelo Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Fede-
ral da Paraíba, supervisionado pelo professor Dr. Petrônio Filgueiras de
Athayde-Filho. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-

- 310 -
soal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre o desenvolvimento
de novas moléculas derivadas da piperina que venham apresentar proprie-
dades anticâncer.
Fazer pesquisa é aprimorar os conhecimentos adquiridos na sala de
aula e aplicar na prática em prol da sociedade. Para minha pessoa, a pesqui-
sa é um bem maior que possuo e que nada vai tirar de mim, mesmo com as
dificuldades explícitas, como: falta de equipamentos modernos, reagentes,
solventes, dentre outras.
Recentemente, o nosso grupo de pesquisa, LPBS - Laboratório de Pes-
quisa em Bioenergia e Síntese Orgânica da Universidade Federal da Paraíba,
realizou testes preliminares com alguns compostos análogos da piperina, que
apresentaram resultados animadores inferindo que a nova substância apresen-
ta atividade antitumoral potente “in vivo” em modelo de carcinoma ascítico de
Ehrlich, com mecanismo que envolve possivelmente a indução de apoptose e
efeitos antiangiogênicos, reduzindo significativamente a microdensidade vas-
cular peritumoral e ainda com baixa toxicidade.

- 311 -
DOCKING MOLECULAR, SÍNTESE E AVALIAÇÃO
ANTINEOPLÁSICA DE NOVOS CARBOIDRATOS
ENIDIÍNICOS

Jadson de Farias Silvaa


Juliano Carlo Rufino de Freitas b

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização, a humanidade vem utilizando os


produtos naturais de maneiras bem diversificadas, a citar, através da ingestão
de ervas e folhas no intuito de aliviar dores e curar doenças. Por exemplo, a
medicina chinesa descreve o uso de inúmeras plantas, cujo isolamento de seus
princípios ativos vem sendo constantemente realizado. Além disso, os produ-
tos naturais servem como fonte de inspiração para o químico orgânico, pois
auxilia no desenvolvimento de novos medicamentos1.
Dentre os diversos produtos naturais, vale destacar a Calicheamicina,
uma substância isolada do microrganismo Micronospora echinospora spp. Cali-
chensis, em meados de 1980, a qual atua na terapia direcionada contra o câncer.
Esta atividade anticancerígena da Calicheamicina é justificada, em
parte, devido a sua estrutura apresentar uma unidade enediínica. Os sistemas
enediínicos são constituídos por duas ligações triplas conjugadas a uma liga-
ção dupla, em que, em condições químicas favoráveis, são capazes de sofrer
cicloaromatização levando à formação de um diradical aromático, o qual se
liga ao DNA (ácido desoxirribonucleico) abstraindo um hidrogênio da unida-
de sacarídica causando a sua clivagem2.
Além do sistema enidiínico, a Calicheimicina apresenta em sua estrutu-
ra algumas unidades sacarídicas, as quais podem contribuir para um aumen-
to da afinidade desta substância no alvo molecular presente nos processos
biológicos, uma vez que os carboidratos são estruturas fundamentais para os
organismos vivos3.

a Universidade Federal Rural de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Química. jadson_nf@hot-


mail.com
b Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Programa de Pós-graduação
em Ciências Naturais e Biotecnologia. julianocrf@gmail.com.

- 312 -
Visando ao potencial dos produtos naturais e em especial da Calichei-
micina, o projeto de pesquisa tem como objetivo desenvolver novas substân-
cias que apresentem estruturas análogas a este produto natural e que venham
ser utilizadas na terapia contra o câncer.

REFERÊNCIAS

1. SHEN, B. A New Golden Age of Natural Products Drug Discovery.


Cell, v. 163, n. 6, p. 1297–1300, 2015.

2. BASAK, A.; MANDAL, S.; BAG, S. S. Chelation-Controlled Berg-


man Cyclization: Synthesis and Reactivity of Enediynyl Ligands. Chemical
Reviews, v. 103, n. 10, p. 4077–4094, 2003.

3. RUDOLF, J. D.; YAN, X.; SHEN, B. Genome neighborhood network


reveals insights into enediyne biosynthesis and facilitates prediction and pri-
oritization for discovery. Journal of Industrial Microbiology and Biotech-
nology, v. 43, n. 2–3, p. 261–276, 2016.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA


Meu nome é Jadson de Farias Silva, sou aluno de doutorado do Progra-
ma de Pós-graduação em Química da Universidade Federal Rural de Pernam-
buco, orientado pelo professor Juliano Carlo Rufino de Freitas. Sou bolsista
da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
(Facepe) e minha pesquisa é direcionada para o desenvolvimento sintético de
novos carboidratos enidiínico, análogos a Calicheimicina visando a sua apli-
cação na terapia contra o câncer.
Minha pesquisa é extremamente importante para o país, pois através
dela podemos desenvolver novos medicamentos voltados para o tratamento
do câncer garantindo uma sobrevida e quem sabe a cura dos pacientes diag-
nosticados com essa doença.

- 313 -
SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO
IN SILICO DE DERIVADOS DE CHALCONAS
HETEROCÍCLICAS

Gabrielly Diniz Duartea


Luis Cezar Rodriguesb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Chalconas são metabólitos secundários1 encontrados em diversos tipos


de plantas e fazem parte de uma classe de compostos que apresentam atividade
biológica significativa, mesmo em baixas concentrações. Por ser uma classe
muito extensa de produtos naturais, apresentando diversas atividades, as modi-
ficações dessas moléculas podem ser orientadas para produzir um melhor efeito
biológico, seja pela adição de grupos funcionais, seja pela modificação de sua
estrutura básica, sempre visando maximizar suas atividades terapêuticas.
A síntese de compostos naturais é cada vez mais valorizada, tanto pela
preservação das plantas, uma vez que representa uma forma alternativa ao
extrativismo natural, seja como ferramenta para a produção racional de fárma-
cos, além de possibilitar o aumento da pureza do produto final, assim como a
eficiência dos processos de obtenção destes medicamentos, já que para obter
quantidades significativas de um composto natural é preciso usar um volume
muito grande da planta que tem de passar por processos de extração e purifi-
cação complexos e custosos.
Existem várias metodologias descritas na literatura para obtenção de
chalconas por síntese2, como já trabalhamos com estes compostos, decidimos
manter a nossa metodologia e introduzir novos grupos funcionais em reações
subsequentes a fim de gerar uma biblioteca de compostos inéditos que podem
ser testados para diversos tipos de atividades, como antioxidante, antitumoral,
antimicrobiana, dentre outras.

a Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Biotecnologia. gabriellydduarte@


gmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Biotecnologia. lcezar@cbiotec.
ufpb.br.

- 314 -
Para tornar este processo de testes mais eficiente, nós decidimos tam-
bém usar ferramentas computacionais para testar se estas moléculas possuem
interação com alvos já conhecidos e desta forma direcionar os testes para as
funções correspondentes aos alvos mais promissores. Assim, evitamos que
uma biblioteca inteira tenha que ser testada em animais ou células, tornando
o processo de obtenção de resultados mais rápido e também menos custoso3.
As ferramentas computacionais têm progredido muito nos últimos tem-
pos, principalmente devido ao vertiginoso crescimento do poder dos proces-
sadores, as interfaces gráficas, muito desenvolvidas nos videogames tridimen-
sionais, são hoje utilizados para visualizar o comportamento do fármaco no
sítio ativo, isto permite desenhar moléculas que mimetizam e até superem os
produtos naturais em suas bioatividades.
A síntese de novos compostos e seus testes posteriores têm grande im-
pacto na sociedade, uma vez que há sempre uma demanda para novos fárma-
cos que podem auxiliar no tratamento de doenças, melhorando a qualidade de
vida dos pacientes.

REFERÊNCIAS

1. ÁVILA, H.P.; SMÂNIA, E.F.A; MONACHE, F.D.; SMÂNIA, A.


Structure–activity relationship of antibacterial chalcones. Bioorganic & Me-
dicinal Chemistry, v. 16, n. 22, p. 9790–9794, 2008.

2. CHAVAN, B.B.; GADEKAR, A.S.; MEHTA, P.P; VAWHAL, P.K.;


KOLSURE, A.K.; CHABUKSWAR, A.R. Synthesis and Medicinal Signifi-
cance of Chalcones-A Review. Asian Journal of Biomedical and Pharma-
ceutical Sciences, v. 6, n. 56, p. 01–07, 2016.

3. ELKIN, M.; NEWHOUSE, T. R. Computational chemistry strategies


in natural product synthesis. Chemical Society Reviews, v. 47, n. 21, p. 7830-
7844, 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Gabrielly Duarte, sou aluna de mestrado do Programa de


Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba, orienta-
da pelo professor Luis Cezar Rodrigues. Atualmente não sou bolsista e minha
pesquisa é sobre a síntese de novos fármacos a partir de chalconas.
Fazer pesquisa no Brasil para mim é um privilégio que eu sou muito
grata por ter, já que muitas pessoas, mesmo querendo seguir este caminho,

- 315 -
acabam não conseguindo conciliar a vida acadêmica com outros aspectos das
suas vidas. Quando traçamos rotas e colocamos o nosso projeto no papel, tudo
parece muito distante e às vezes até difícil de realizar, mas tendo bases e refe-
rências coerentes, vemos que é sim possível.
Nesses sete meses de mestrado, consegui obter mais moléculas que o
que tínhamos planejado de início e tudo isso se deve ao conhecimento e con-
fiança que o meu orientador depositou em mim. Durante este percurso tam-
bém encontrei dificuldades, muitas vezes coisas que fogem do nosso controle,
mas que devem ser enfrentadas e contornadas com muita criatividade.
Saber que a minha pesquisa pode ser o ponto de partida para o desen-
volvimento de fármacos cada vez mais específicos e potentes é uma das coi-
sas que me fazem continuar seguindo em frente e me superando a cada dia.
O fato de contribuir também para a formação de outros mestres e doutores
fornecendo moléculas para testes também é um ponto bastante positivo da
minha pesquisa.
Uma das primeiras moléculas que eu sintetizei no mestrado foi testa-
da extensivamente para a sua atividade antioxidante e citotoxicidade, sendo
estes testes parte de um projeto de doutorado de um grupo de pesquisadores
da UFPB. Esta mesma molécula também foi testada por outro grupo de cola-
boradores para sua atividade vasodilatadora e teve resultados promissores em
baixas concentrações. Estas colaborações com outros grupos de pesquisa são
essenciais para que o projeto tenha sentido e gere um impacto na sociedade.

- 316 -
SÍNTESE DE COMPOSTOS ISOQUINOLÍNICOS
COM POTENCIAL EFEITO TOCOLÍTICO

Luiz André de Araújo Silvaa


Luís Cezar Rodriguesb

INTRODUÇÃO AO TEMA

As isoquinolinas são alcaloides presentes em muitos vegetais, sendo


uma classe importante de produtos naturais, estando presentes na composição
de muitos medicamentos. Existe relatos de isoquinolínicos apresentando di-
versas atividades biológicas, sendo por isso utilizados contra infecções, para o
tratamento de parasitoses, anti-hipertensivos, analgésicos, anti-inflamatórios,
anti-histamínicos, dentre outras aplicações1.
Como exemplos de isoquinolínicos podemos citar a morfina, que foi
descoberta no início do século XIX por um farmacêutico alemão, possuindo
o maior poder analgésico utilizado na terapêutica humana até os dias atuais,
outro exemplo é a boldina isoquinolina, que está presente no boldo-do-chile e
é utilizado como protetor do fígado.2,3
As dificuldades para obtenção e isolamento de quantidades signifi-
cativas dessas isoquinolinas por extrativismo vegetal, além de fornecer pe-
quenas quantidades de substâncias, comprometem a preservação da espécie
vegetal produtora, representando um método pouco atraente do ponto de
vista econômico, por estes motivos, é vantajoso que esses produtos sejam
reproduzidos em laboratório de forma sintética, viabilizando sua produção
em média e larga escalas.4
A ciência da química medicinal envolve o desenho e a síntese de no-
vos medicamentos, com base no entendimento de como os medicamentos
funcionam no corpo em nível molecular. A química medicinal é uma ciência
multidisciplinar que engloba química orgânica sintética, química de produtos

a Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tec-


nológica em Medicamentos. luiz32@gmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tec-
nológica em Medicamentos. luiscezarodrigues@gmail.com.

- 317 -
naturais, enzimologia, biologia química, biologia estrutural, cristalografia e
métodos computacionais, todos voltados para a descoberta e desenvolvimento
de novos agentes terapêuticos.5

REFERÊNCIAS

1. SHAMMA, M. et al. Pakistanine and pakistanamine, two novel di-


meric isoquinoline alkaloids. Journal of the American Chemical Society,
v. 94, n. 4, p. 1381-1382, 1972.

2. COURTWRIGHT, D. T. Forces of habit. Harvard University


Press, 2009.

3. LUCH, A. On the impact of the molecule structure in chemical


carcinogenesis. In: Molecular, clinical and environmental toxicology.
Birkhäuser Basel, 2009. p. 151-179.

4. KRAUSE, J.; TOBIN, G. Discovery, development, and regulation of


natural products. Using old solutions to new problems-natural drug discov-
ery in the 21st century, 2013. p., 3-35.

5. PRAJAPAT, P.; YOGI, P.; TALESARA, G. L. Synthesis of Biologi-


cal Significant New 1-(1, 3-benzoxazol-2-yl) guanidine Derivatives. Journal
of Chemistry and Chemical Sciences, v. 5, p. 670-681, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Luiz André de Araújo Silva, sou aluno de doutorado do


Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em
Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba, orientado pelo professor
Doutor Luís Cezar Rodrigues. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre síntese
de derivados isoquinolínicos com potencial efeito nas contrações uterinas em
partos prematuros, entre outras bioatividades, visando obter novos candidatos
com menor efeitos colaterais.
A pesquisa em nosso laboratório se mostra promissora, visto que os me-
dicamentos para diminuir contrações uterinas apresentam muitos efeitos co-
laterais indesejados, aplicando metodologias sintéticas clássicas e adaptadas,

- 318 -
para produzir novas moléculas com probabilidade de no futuro, após estudos
em animais e humanos, chegar a ser tornarem novos medicamentos.
Como exemplo de isoquinolínico de importância, já produzido em nos-
so laboratório, podemos citar um que chamamos de MHTP, este composto foi
testado para diversas atividades, sendo estudado em trabalhos de doutorado
e mestrado de alguns de nossos colegas de pós-graduação. Estes estudos de-
monstraram como esta substância atua nos organismos vivos, apresentando
ótimos resultados, como cardiovascular e antiasmático. Os excelentes resul-
tados apresentados neste último estudo foram motivo para um depositado de
patente para essa molécula.
Além das dificuldades técnicas e científicas próprias de qualquer pes-
quisa inovadora, temos também as dificuldades decorrentes das deficiências
de infraestrutura, como necessidade de instalações adequadas, sistema de des-
carte dos resíduos efetuado de forma apropriada, instalações para proteção
contra a toxicidade das matérias-primas utilizadas, falta de uma linha de gás
para reações em atmosfera inerte.
Existem também dificuldades legais e burocráticas decorrentes das di-
versas autorizações e licenças necessárias para a compra, transporte e manu-
seio de diversas matérias-primas utilizadas em nosso trabalho. Um problema
relevante são os elevados custos dos equipamentos, insumos, solventes e
materiais necessários. Dentro deste contexto temos que agradecer os servi-
ços de nossa central analítica que, mesmo em vista das grandes dificuldades
citadas, têm se mostrado de grande ajuda na identificação e análise dos pro-
dutos produzidos.

- 319 -
PRODUÇÃO SINTÉTICA DE COMPOSTOS NATURAIS
DO TIPO NEOLIGNANAS E AVALIAÇÃO BIOLÓGICA
COMO POTENCIAIS ANTITUMORAIS
ANTIMICROBIANOS

Bruno Hanrry Melo de Oliveiraa


Luis Cézar Rodriguesb

INTRODUÇÃO AO TEMA

A utilização de produtos naturais para curar e aliviar doenças foi o


primeiro objetivo conhecido desses compostos na medicina, que têm sido
utilizados por seres humanos há séculos1. Atualmente os produtos naturais
são uma das mais importantes fontes de medicamentos, isso se dá principal-
mente por causa de sua diversidade estrutural e também devido à prevalên-
cia biológica deles2.
No entanto a obtenção desses produtos de forma natural nem sempre
é uma opção viável para a criação de um medicamento, um dos principais
problemas encontrado se dá devido à pequena quantidade presente desses pro-
dutos extraídos de plantas e micro-organismos, inviabilizando muitas vezes o
processo industrial3.
Uma solução alternativa para o problema exposto acima é a síntese em
laboratório desses produtos naturais ou até mesmo de produtos que sejam aná-
logos, não sendo necessário então a utilização de plantas ou micro-organismos
para a sua obtenção. Como exemplos de produtos naturais e seus análogos que
podem ser sintetizados em laboratório podemos citar aqui a classe das neolig-
nanas, objetivo principal deste trabalho, que podem ser sintetizadas através da
oxidação enzimática ou agentes oxidantes como FeCl3 e AgO24.
Os produtos naturais da classe neolignanas já são conhecidos na litera-
tura por terem diversas atividades farmacológicas, dentre elas podemos citar
atividades antiparasitária5, antibacteriana, fungicida e inseticida. Neste senti-
do a síntese desses produtos em laboratório facilita a sua obtenção em maiores

a Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Biotecnologia. hanrygb@hotmail.com


b Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Biotecnologia. luiscezarodrigues@
gmail.com

- 320 -
quantidades se comparadas às obtidas por via natural, o que possibilita tam-
bém a disponibilização destes produtos para ensaios biológicos.
REFERÊNCIAS

1. VIEGAS JR, C.; BOLZANI, V. S.; BARREIRO, E. J. Os produtos


naturais e a química medicinal moderna. Química Nova, p. 326-337, 2006.

2. WANG, S.; DONG, G.; SHENG, C. Structural simplification of nat-


ural products. Chemical reviews, v. 119, n. 6, p. 4180-4220, 2019.

3. BARROS, L. F. L. et al. Essential oil and other constituents from


Magnolia ovata fruit. Natural Product Communications, v. 7, n. 10, 2012.

4. WARD, R. S. The synthesis of lignans and neolignans. Chemical


Society Reviews, v. 11, n. 2, p. 75-125, 1982.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Bruno Hanrry Melo de Oliveira, sou aluno de mestrado


do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal da
Paraíba, orientado pelo professor Dr. Luis Cézar Rodrigues. Sou bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e mi-
nha pesquisa é sobre a síntese de produtos naturais e sua avaliação biológica
como potenciais agentes antitumorais e antimicrobianos.
Fazer pesquisa no Brasil para mim é interessante ao mesmo tempo que
intrigante, pois aqui, mesmo com todas as dificuldades estruturais e financei-
ras, temos pessoas com muita vontade de fazer pesquisa, e isso torna o tra-
balho cada vez mais interessante. O que me faz pensar sobre o que seríamos
capazes de desenvolver se tivéssemos uma estrutura melhor.
Em nosso laboratório pesquisamos métodos sintéticos para o desen-
volvimento de substâncias com potencial para se tornar um medicamento no
futuro. Essas pesquisas podem chegar a desenvolver algo inédito, como um
novo antibiótico, antifúngico, antitumoral, entre outros, ajudando assim a po-
pulação como um todo.
Como exemplo podemos citar uma molécula que sintetizamos, (±)Acu-
minatin, um produto natural, neolignana, que se mostrou tóxica para células
tumorais de câncer de mama, e também para leucemia promielocítica, em
concentrações pequenas, indicando, assim, ser uma molécula com potencial
atividade antitumoral.

- 321 -
DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS SINTÉTICOS
BASEADOS EM PRODUTOS NATURAIS

Flávio Valadares Pereira Borgesa


José Maria Barbosa-Filhob
Luis Cezar Rodriguesc

INTRODUÇÃO AO TEMA

Sim, você leu corretamente o título! Entendemos que parece estranho


à primeira leitura, mas no decorrer deste capítulo explicaremos como mui-
tos fármacos e medicamentos sintéticos se inspiram em produtos de origem
natural. A utilização de produtos para saúde de origem vegetal e animal re-
monta a tempos mais antigos. Ao longo da história, o homem foi aprendendo
a selecionar plantas para a sua alimentação e para o alívio de seus males e
doenças1. Até o início do século XIX a química sintética ainda engatinhava
e a síntese de substâncias orgânicas era considerada impossível. Somente
com o experimento de Wölher, em 1828, foi obtida em laboratório a ureia,
principal produto orgânico excretado por mamíferos. Ou seja, substâncias
produzidas pelos seres vivos poderiam ser obtidas em laboratórios.
Novas técnicas sintéticas e o avanço da era industrial, com a produção
em grande escala, impulsionaram a busca por novos fármacos com melho-
res atividades terapêuticas e menos efeitos colaterais. Se alguns produtos
naturais podiam ser sintetizados, por que não aplicar a síntese orgânica na
obtenção de medicamentos?
Os extratos de salgueiro (Salix alba, L.) no alívio de dores articulares,
de cabeça e para reduzir a febre foram gradativamente substituídos pelo ácido
acetil salicílico (AAS, Aspirina®), obtido por Hoffman em 18972.
Entretanto não podemos desprezar o uso de medicamentos fitoterápicos
como algo pertencente ao passado e sem comprovação científica. Afinal ape-

a Universidade Federal da Paraíba - Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-


ativos. flavinhovb@hotmail.com.
b Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos. barbosa@ltf.ufpb.br
c Universidade Federal da Paraíba – Departamento de Biotecnologia. luiscezarodrigues@gmail.com

- 322 -
nas pelo trabalho de Johann A. Buchner, que isolou a salicilina e desvendou
sua estrutura química é que foi possível a obtenção sintética do ácido salicílico
e posteriormente do AAS. Diversos medicamentos hoje disponíveis para cui-
dados com a saúde foram derivados de produtos naturais. Ao perceber isto, o
prezado leitor começa a entender que os produtos naturais servem de modelo
para o desenvolvimento de novos medicamentos desde o início do desenvol-
vimento da química orgânica e o surgimento de um novo campo das ciências
da natureza: a Química Medicinal.
Então, por que não explorar mais ainda novas fontes de produtos na-
turais, para só depois desenvolver fármacos sintéticos? A resposta é simples:
nem sempre as plantas fornecem as substâncias em quantidade e pureza ne-
cessárias para todos os testes.
No isolamento da substância iangambina, a cada 10,7 kg de cascas de
caule e folhas de “louro-de-cheiro” (Ocotea duckei, V.), são isolados 448,2 mg
da substância pura, com rendimento inferior a 0,06%3. Este é considerado, em
termos de isolamento, um rendimento excelente, apesar de se mostrar inviável
para produção de medicamentos em escala industrial.
Considerando seu potencial terapêutico para prevenção de trombose,
como anticoagulante, protetor cardiovascular, etc., é necessária a obtenção
da iangambina por uma rota sintética. Só dessa forma poderemos conhecer
toda a extensão de suas propriedades terapêuticas e toxicológicas, avaliando
assim a viabilidade de a molécula se tornar um medicamento. Em todas as
diversas etapas de desenvolvimento de um novo medicamento, desde os es-
tudos farmacológicos iniciais, passando por testes em animais, para só então
se iniciarem os ensaios em voluntários, sempre é necessário o consumo de
uma certa quantidade da substância em estudo. Faz-se então necessária uma
forma de obtenção rápida, de baixo custo e com bons rendimentos.
Todos esses passos envolvem recursos financeiros, humanos e tempo.
Considerando que mais de 95% das pesquisas científicas do Brasil são de-
senvolvidas em universidades públicas, faz-se necessário que a população e
a classe política exijam o devido investimento, planejamento e incentivo à
formação de recursos humanos.
Infelizmente, a ciência no Brasil sempre foi encarada como um gas-
to e raramente como um investimento. O desenvolvimento científico de
um país não é algo a ser realizado a curto prazo. São necessários planeja-
mento, orientação, parâmetros bem definidos e reavaliação constante para
que a sociedade tenha o devido retorno dos recursos investidos, seja na
forma de medicamentos, técnicas e serviços de saúde ou na melhor forma-
ção de profissionais.
A pesquisa científica brasileira, por ser desenvolvida em sua esmaga-
dora maioria nas universidades públicas, tem necessidade da participação da
sociedade, seja na cobrança de transparência dos recursos empregados ou na
preparação de políticas de ingresso de novos pesquisadores. Assim, teremos
uma consistência no desenvolvimento da ciência brasileira, encarada não ape-
nas como um investimento, mas uma questão de soberania nacional.

- 323 -
REFERÊNCIAS

1. FERREIRA, Vitor F.; PINTO, Angelo C. A fitoterapia no mundo


atual. Química Nova, São Paulo, v. 33, n. 9, p. 1829, 2010.

2. VIEGAS JR, Cláudio; BOLZANI, Vanderlan da Silva; BARREI-


RO, Eliezer J. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Química
Nova, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 326-337, apr. 2006.

3. BARBOSA-FILHO, J.M. et al. Ocotea Duckei: Exceptional source


of yangambin and other furofuran lignans. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, v. 71, n. 2, p. 231-238, 1999.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

O começo de minha contribuição para a ciência consistiu na primeira


síntese de uma molécula chamada cafeato de alfa-terpineol, isolada por Cos-
ta em 2010. A equipe conseguiu isolar 12 mg dessa molécula inédita e com
propriedades farmacológicas não exploradas. Até o presente momento tenho
quatro artigos publicados em revistas internacionais, totalizando 19 moléculas
sintetizadas, cinco delas inéditas e uma de síntese inédita. Atualmente, seis
delas estão sendo testadas com atividades antimicrobianas, para espécimes
resistentes aos antibióticos classicamente utilizados na clínica médica.
Outra proposta de meu doutorado é sintetizar a iangambina, inicialmen-
te isolada da Ocotea duckei, V., com notáveis propriedades farmacológicas,
isolada pela primeira vez em 1997 através de uma parceria entre a Fiocruz e a
UFPB. A molécula foi testada como protetor cardiovascular e chamou muita
atenção da comunidade científica pela sua potência, demonstrando a impor-
tância da pesquisa de moléculas com finalidades terapêuticas.
Infelizmente as dificuldades na execução de meu trabalho são diver-
sas, desde o valor da bolsa de doutorado, que não é reajustada desde 2013,
a dificuldade na aquisição de insumos, estou aguardando há mais de 15 meses
o envio de um reagente e mesmo a falta de reconhecimento da atividade de
pesquisador, que sequer é considerada como trabalho no Brasil.

- 324 -
IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS FITOQUÍMICOS
NO DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS

Janderson Barbosa Leite de Albuquerquea

INTRODUÇÃO AO TEMA

As plantas medicinais, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (Anvisa), são aquelas capazes de aliviar ou curar doenças e têm tra-
dição de uso como remédio em uma população ou comunidade. Diversos me-
dicamentos provenientes de produtos naturais são capazes de combater 87%
das enfermidades humanas, dentre elas, atuando em ações antibacterianas,
antiparasitárias, anticancerígenas e imunossupressoras2.
O homem procurou desde cedo recursos para sua sobrevivência na na-
tureza e foi por meio de necessidades maiores que ele buscou formas de aliviar
suas dores e cura dos males utilizando as plantas, que eram escolhidas de for-
ma aleatória e por intermédio de observações e experimentações. Ao longo de
muitas gerações, percebeu que elas poderiam provocar reações benéficas ou
maléficas, levando assim à cura ou à morte desses povos1.
O Sistema Único de Saúde (SUS) implantou em 2006 fontes terapêu-
ticas, como a Fitoterapia e a Homeopatia, por meio da Portaria MS/GM
Nº 971, na proposta de Política Nacional de Práticas Integrativas e Com-
plementares (PNPIC) e aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS)
sobre a importância do uso das plantas medicinais como alternativas concisas
para o tratamento de doenças.
Os diversos estudos sobre as plantas medicinais têm por base suas uti-
lizações pela população como remédios caseiros fornecendo a elaboração de
estudos fitoquímicos e farmacológicos por parte dos pesquisadores, a fim de
garantir a confirmação da segurança e eficácia do uso desses medicamentos à
base dessas plantas, conhecidas como fitoterápicos3.
A Fitoquímica é uma área de estudos voltada à extração de substâncias
a partir das plantas através de técnicas específicas e que posteriormente são

a Universidade Federal da Paraíba, Graduação em Farmácia. jandersonalbuquerque@hotmail.com

- 325 -
testadas biologicamente através da farmacologia. Esses estudos têm se tor-
nado um caminho de alternativas para o desenvolvimento de medicamentos
à base vegetal, ou então por meio de reações sintéticas ou semissintéticas a
partir de moléculas preexistentes com o intuito de maximizar o combate às
diversas doenças que assolam o mundo atualmente.
As pesquisas realizadas em laboratórios de Fitoquímica envolvem
desde a coleta das partes das plantas que serão utilizadas, secagem e tritu-
ração delas, até os procedimentos de extração e técnicas de isolamento das
substâncias ativas. É através destes estudos que se pode comprovar o uso de
diversas espécies vegetais na medicina popular no que se refere às ativida-
des biológicas, sendo hoje relatadas na literatura, por exemplo, no combate
a processos asmáticos, inflamatórios, e eficazes no tratamento de diversos
tipos de câncer.
Portanto, as pesquisas científicas se mostraram desde sempre promis-
soras ante o combate às doenças, tornando os caminhos mais propícios para
a constatação do poder de cura através de extratos e substâncias isoladas das
plantas medicinais. Estas são hoje em dia utilizadas na produção de cosmé-
ticos e perfumes; como fontes alimentícias e principalmente pela indústria
farmacêutica com escala na produção de medicamentos.

REFERÊNCIAS

1.BEVILACQUA, H. G. C. R. Planejamento de horta medicinal e


comunitária. Divisão Tec. Esc. Municipal de Jardinagem/Curso de Plantas
medicinais – São Paulo, 2010.

2.BRANDÃO, H. N. et al. Química e farmacologia de quimioterápicos


antineoplásicos derivados de plantas. Química Nova, v. 33, n. 6, p. 1359-
1369, 2010.

3.LEÃO, R. B. A.; FERREIRA, M. R. C.; JARDIM, M. A. G. Levan-


tamento de plantas de uso terapêutico no município de Santa Bárbara do
Pará, Estado do Pará, Brasil. Revista Brasileira de Farmácia, v. 88, n. 1,
p. 21-25, 2007.

- 326 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Janderson Barbosa Leite de Albuquerque, aluno de gra-
duação em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba, orientado pela
professora Drª. Maria de Fátima Vanderlei de Souza. Sou aluno do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), bolsista pelo Conse-
lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e minha
pesquisa é sobre o “Estudo Fitoquímico de Pavonia malacophylla, espécie
esta pertencente à família Malvaceae” com a finalidade de isolar seus consti-
tuintes químicos e disponibilizá-los para testes farmacológicos.
Por experiência própria, a pesquisa é uma área de grande reconhecimen-
to pessoal, visto que podemos obter a partir desses estudos o desenvolvimento
de um futuro medicamento que seja utilizado no tratamento de enfermidades.
É muito gratificante realizar pesquisas na área fitoquímica, ante os estudos dos
constituintes químicos das plantas e como eles podem atuar na terapêutica.
As pesquisas realizadas no Brasil já foram bastante reconhecidas, po-
rém com os descasos encontrados atualmente, sua valorização vem decaindo,
sendo mais difícil seu desenvolvimento nas universidades. Os estudos fito-
químicos são a base para a obtenção de futuros fármacos provenientes das
plantas medicinais, tendo em vista que estes promovem tratamentos e curas
das enfermidades disseminadas mundialmente.
A realização de pesquisas científicas traz um benefício grande para a
sociedade, uma vez que estas contribuem para o desenvolvimento de outras
metodologias e que podem ser usadas como base por diferentes pesquisado-
res. Como exemplo, a espécie-alvo da minha pesquisa apresenta substâncias
que já foram testadas farmacologicamente com ações anti-inflamatórias, an-
tioxidantes e antimicrobianas. Através de estudos mais aprofundados com esta
espécie e posteriores análises das diversas substâncias que já foram ou que
serão isoladas, pode-se um dia alcançar o seu uso como medicamento no tra-
tamento das doenças em humanos, possibilitando a cura destes males.

- 327 -
APLICAÇÃO DOS PRODUTOS NATURAIS PARA
O TRATAMENTO DE DOENÇAS INFECCIOSAS

José Lima Pereira Filhoa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Há muito tempo, os recursos oriundos da natureza são utilizados pela


humanidade para os mais diversos fins, dentre eles, para o tratamento contra
diferentes tipos de patologias ocasionadas por microrganismos. Com o pas-
sar dos anos, as plantas continuam desempenhando um papel fundamental no
que tange à saúde das pessoas, uma vez que podem ser fonte de compostos
bioativos eficazes no combate a doenças, além disso, são capazes de fornecer
estruturas químicas que podem ser utilizadas como protótipos para a síntese
de novos medicamentos.1
Sabe-se que os microrganismos são um dos principais agentes causa-
dores de doenças no homem, sendo estes, principalmente, bactérias e fungos.
Nas últimas décadas houve um crescente aumento da resistência dos micror-
ganismos aos antimicrobianos já existentes. Esse padrão de resistência está
relacionado a alguns fatores, tais como: a prática da automedicação, lixo hos-
pitalar e descarte inadequado de medicamentos.2
A resistência bacteriana aos antimicrobianos mais tradicionais é atual-
mente um dos maiores e mais consideráveis obstáculos para a saúde pública
em razão de apresentar consequências clínicas drásticas e preocupantes tanto
para hospitais quanto para a sociedade3. Dessa forma, a busca por substâncias
resultantes do metabolismo secundário de plantas tornou-se uma alternativa
no desenvolvimento de novos agentes antibióticos que sejam eficazes contra
diferentes tipos de microrganismos causadores de doenças infecciosas.
A espécie Calotropis procera, presente nas regiões tropicais do Brasil,
é uma planta que possui algumas atividades biológicas já constatadas e que
parecem ter um interessante potencial antimicrobiano. Porém, são escassos os

a Universidade Federal do Maranhão. jolipe320@gmail.com

- 328 -
estudos realizados com ela. Com isso, torna-se necessária uma pesquisa mais
aprofundada sobre essa espécie vegetal, uma vez que estudos preliminares a
mostram como uma planta rica em compostos de interesse clínico.4

REFERÊNCIAS

1. CASANOVA, L. M.; COSTA, S. S. Interações sinérgicas em produ-


tos naturais: potencial terapêutico e desafios. Revista Virtual de Química,
v. 9, n. 2, p. 575-595, 2017.

2. COSTA, A. L. P.; JUNIOR, A. C. S. S. Resistência bacteriana aos


antibióticos e Saúde Pública: uma breve revisão de literatura. Estação Cien-
tífica (UNIFAP), v. 7, n. 2, p. 45-57, 2017.

3. SILVA, M. O.; AQUINO, S. Resistência aos antimicrobianos: uma


revisão dos desafios na busca por novas alternativas de tratamento. Revista de
Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 8, n. 4, p. 472-482, 2018.

4. JESUS COSTA, N. D. et al. Potencial terapêutico e tecnológico da


planta Calotropis procera. Revista GEINTEC - Gestão, Inovação e Tecno-
logias, v. 5, n. 3, p. 2222-2236, 2015.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é José Lima Pereira Filho, sou aluno de Graduação do curso
de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão e membro do Laboratório
de Produtos Naturais, tendo orientação do Professor Dr. Roberto Sigfrido Gal-
legos Olea. Sou aluno voluntário do Programa Institucional de Bolsas de Ini-
ciação Científica (PIBIC) e minha pesquisa é sobre a identificação e isolamen-
to de compostos bioativos para avaliação do seu potencial antimicrobiano.
Atualmente, trabalho com a identificação, isolamento e avaliação da
atividade antimicrobiana de compostos presentes nas raízes da espécie Calo-
tropis procera, conhecida popularmente como “ciúme”. O principal objetivo
deste trabalho está em encontrar compostos que sejam eficazes no combate a
diferentes microrganismos, como bactérias e fungos. Um fator interessante do
meu trabalho de pesquisa está na possibilidade da identificação de compostos
inéditos que podem ser mais eficazes, no combate a doenças infecciosas, do
que qualquer outro já elucidado.

- 329 -
Para a realização da pesquisa que efetuo em laboratório, tornam-se ne-
cessários recursos financeiros para a compra de materiais que serão utilizados
em todos os processos da obtenção dos compostos até a aplicação destes em
atividades biológicas desejadas. Algo que vivencio e que deixa preocupado
qualquer jovem que está iniciando sua carreira como cientista são os escassos
recursos que temos disponíveis. Para que sejam realizadas nossas pesquisas,
são necessárias parcerias com outras Universidades e Instituições de Fomen-
to, uma vez que por si só não conseguiríamos avançar, tanto pela falta de
alguns equipamentos como pela falta de consumíveis em laboratório.
Apesar da deficiência em recursos e dos mais variados desafios enfren-
tados diariamente, continuar trabalhando na linha de pesquisa em que atuo me
traz uma enorme satisfação por saber que realizo pesquisa de qualidade e que
contribuo de forma irrefutável à sociedade. A contribuição se dá através de es-
tudos mais aprofundados que podem colaborar tanto na descoberta de um novo
fitomedicamento com ação antimicrobiana, como em fornecer informações para
outros pesquisadores que poderão contribuir com estudos mais avançados.
Recentemente, em parceria com o Laboratório de Microbiologia do Con-
trole de Qualidade de Alimentos e Água da Universidade Federal do Maranhão
(PCQA-UFMA), foram realizados testes para avaliar a atividade antimicrobiana
das raízes da espécie vegetal Calotropis procera e constatou-se que ela apresen-
ta ótima ação antimicrobiana contra diferentes microrganismos causadores de
doenças em humanos, como Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
Somado a isso, em parceria com o Laboratório de Imunologia e Micro-
biologia das Infecções Respiratórias da Universidade Ceuma, foi avaliado o
grau de toxicidade das raízes dessa espécie vegetal e obteve-se como resultado
uma baixa toxicidade dela. Em decorrência dessa baixa toxicidade, é neces-
sária a continuação dos estudos com essa espécie, uma vez que esta apresenta
potencial para ser utilizada como um novo medicamento fitoterápico.
Por certo, há uma enorme importância em buscar-se por medicamentos
de origem natural, uma vez que estes são mais baratos quando comparados
aos fármacos sintéticos. Logo, a contribuição para a economia da população
e do Sistema Único de Saúde (SUS) é inquestionável, pois a implantação de
uma nova planta medicinal com ação antimicrobiana na Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (Rename) resultaria na redução de gastos do
Governo Federal.

- 330 -
O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NATURAIS
E O ACESSO AO TRATAMENTO DE DOENÇAS
NEGLIGENCIADAS

Luna Nascimento Vasconcelosa


Cláudia Quintino da Rochab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Segundo a Agência Fiocruz, as doenças negligenciadas são aquelas


causadas por agentes infecciosos ou parasitas e são consideradas endêmicas
em populações de baixa renda; dentre estas, podem-se citar a malária, leish-
maniose, dengue e tuberculose. A prevalência dessas doenças na população
local é um dos pontos mais importantes da saúde pública, influenciada por
fatores como: falta de opções terapêuticas que entreguem eficiência de trata-
mento sem grandes ocorrências de efeitos colaterais ao paciente e, às vezes,
quando existentes boas opções de medicamento, este não está financeiramente
acessível ao usuário1.
O desenvolvimento de novos “remédios” é um processo dispendioso
e demorado para as indústrias farmacêuticas, podendo levar cerca de doze
anos entre o desenho molecular do fármaco e todos os ensaios clínicos para
o licenciamento e posterior comercialização do medicamento. Além disso,
a industrialização de medicamentos não segue uma trajetória contínua se com-
parada entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, visto que a procura
por novos fármacos leva em consideração a existência de um público-alvo
disposto a pagar pelo medicamento novo, geralmente um valor acima da mé-
dia do que já se tem disponível no mercado. Com isso nem todas as pessoas
poderão comprar os remédios nas farmácias.
A atualização de tecnologias não é acompanhada por toda população
dos países pobres. Segundo a Organização Médicos Sem Fronteiras, oito em
cada 10 pessoas conseguem ter acesso apenas a 20% dos medicamentos dispo-

a Graduação Farmácia, Universidade Federal do Maranhão. mahialuna@outlook.com.


b Universidade Federal do Maranhão. Programa de Pós-graduação em Química. claudiarocha3@
yahoo.com.br

- 331 -
níveis no mercado, isso porque os remédios, em sua maioria, são muito caros.
Considerando isso, os produtos naturais, como aquelas plantas costumeira-
mente usadas no preparo de chás e outros remédios, são a maior promessa de
solução daquele problema visto que podem ser uma fonte barata e acessível a
novos fármacos com grande potencial terapêutico.
Com isso, em 2006 foi instituído no Brasil o Decreto nº 5.813, que
apresentou diretrizes da, até então, nova Política Nacional de Plantas Medici-
nais e Fitoterápicos sequenciada da criação do Programa Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos (PPNPMF), cujo objetivo concentra-se em garantir
à população o acesso a medicamentos de plantas medicinais e seus remédios
derivados, valorizando a biodiversidade brasileira de estimular a produção
industrial na área de medicamentos, proporcionado, assim, desenvolvimento
econômico e até geração de emprego2..
Além disso, um dos princípios norteadores da PPNPMF é “a amplia-
ção das opções terapêuticas e melhoria da atenção à saúde aos usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS)”3. O reconhecimento do governo sobre as
vantagens do uso de medicamentos com base na vegetação local confirma a
importância em se buscar cada vez mais soluções curativas e de prevenção
por meio daquelas, sendo uma possibilidade de acesso à saúde disponível à
população já que se trata de uma matéria-prima nativa. O estudo de plantas
medicinais proporciona inúmeras possibilidades, quase que infinitas, quan-
do se trata de novas substâncias com potencial terapêutico, assim como uma
fonte de matéria para o desenvolvimento de novos medicamentos antipara-
sitários por caminhos mais simples e baratos do que ocorre na produção de
medicamentos pelas indústrias farmacêuticas.

REFERÊNCIAS

1. HENRIQUES, M. G. M. O. et al. Plantas Medicinais e Medicamen-


tos Fitoterápicos no Combate a Doenças Negligenciadas: uma Alternativa Vi-
ável? Revista Fitos, [S.l.], v. 1, n. 01, p. 30-35, out. 2013.

2. MSF - MÉDICOS SEM FRONTEIRAS. Campanha de acesso a me-


dicamentos essenciais e grupo de trabalho de drogas para doenças negligen-
ciadas. Desequilíbrio Fatal: A crise em Pesquisa e Desenvolvimento de Dro-
gas para Doenças Negligenciadas. Boletim Setembro, 2001.

3. BRASIL. Ministério da Saúde. Governo Brasileiro (Org.). Política e


Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 2019. Disponí-
vel em: http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-de-
-plantas-medicinais-e-fitoterapicos-ppnpmf/politica-e-programa-nacional-de-
-plantas-medicinais-e-fitoterapicos. Acesso em: 22 set. 2019.

- 332 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Meu nome é Luna Nascimento Vasconcelos, sou aluna de iniciação
científica no Laboratório de Estudos Avançados em Fitomedicamentos e gra-
duanda do curso de Farmácia pela Universidade Federal do Maranhão, uma
rotina na minha vida há quase três anos.
Fazer pesquisa é quase como cuidar e ver um filho nascer, crescer e
ganhar um lugar no mundo. No início tudo é muito novo, você se pergunta se
dará certo, se as pessoas irão acreditar na sua ideia e todo dia em laboratório é
um momento de aprendizagem e ganho de experiência, até que em um piscar
de olhos você está em eventos apresentando suas descobertas e compartilhan-
do conhecimento com outras pessoas de interesses comuns. Trabalhar na área
do estudo de plantas, acima de tudo, é observar como a natureza nos provê
soluções enquanto o nosso trabalho nada mais é do que tornar isso um conhe-
cimento acessível e aplicável.
A minha realização na pesquisa é saber que, depois de muito estudo,
chegamos a resultados que podem ajudar a curar, por exemplo, uma doença.
O descobrimento de novas moléculas que podem ser usadas parar curar uma
doença não é somente um resultado da universidade, é também a possibilidade
de mais acesso à saúde, de maior promoção de bem-estar, é maior cuidado
com aquelas pessoas que carecem de meios para comprar um medicamento
caro; que agora então poderia ser produzido por técnicas mais baratas a partir
de um planta nativa da região em questão.
Desta forma, posso dizer que, apesar das inúmeras dificuldades e obstá-
culos enfrentados pelo caminho da pesquisa (principalmente a falta de inves-
timento do governo), sinto-me feliz por contribuir para com a ciência aplicada
à saúde, e com isso hoje posso ver o resultado de tanto trabalho por meio de
nossas descobertas no estudo da planta cervejinha do campo e tentar desenvol-
ver um remédio que possa curar a malária, a Chagas e a leishmaniose.

- 333 -
A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS
NA MEDICINA VETERINÁRIA

Rafaela Silva Serejoa


Cláudia Quintino da Rochab

INTRODUÇÃO AO TEMA
As plantas possuem uma grande diversidade de moléculas químicas
que são obtidas através do seu metabolismo secundário. Os produtos secundá-
rios são responsáveis pela proteção das plantas contra predadores e doenças.
É provável que a importância ecológica tenha alguma relação com potencial
efeito medicinal para os seres humanos. Sendo assim, as substâncias vegetais
vêm contribuindo com diversas moléculas com alvos farmacológicos.
Na medicina veterinária, por exemplo, se tem uma grande preocupa-
ção com o sistema de produção de bovinos. Ao longo dos anos a pecuária
vem sofrendo prejuízos econômicos com altas infestações de carrapato, que é
conhecido popularmente como o “carrapato-do-boi” (nome científico: Rhipi-
cephalus microplus)¹.
O carrapato-do-boi é o principal parasito dos bovinos nos países tropi-
cais e subtropicais devido a sua ampla distribuição geográfica. No hospedeiro
o parasita pode provocar perdas no peso e na qualidade do couro, diminuição
na produção de leite e diminuição na ingestão de alimento.²
Além disso, esse carrapato é considerado um dos principais transmisso-
res dos parasitas protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina, causadores
da doença tristeza parasitária bovina, que afeta gravemente o desenvolvimen-
to do gado, podendo levá-lo à morte em poucos meses.³
Atualmente o controle de carrapatos é feito através do uso inadequado
de produtos químicos, o que pode afetar o meio ambiente. O uso em grande
quantidade desses produtos aumenta a resistência dos carrapatos aos carrapa-
ticidas sintéticos e a grande preocupação com o meio ambiente tem levado

a Discente da Universidade Federal do Maranhão, Curso de Ciências Biológicas. rafaelaserejo27@


gmail.com
b Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-graduação de Química. claudiarocha3@
yahoo.com.br

- 334 -
muitos pesquisadores a buscarem alternativas viáveis e seguras no controle de
carrapatos que prejudicam bovinos de interesse comercial.
A utilização de produtos carrapaticidas naturais a partir de extratos ve-
getais ou óleos essenciais e a identificação de compostos químicos bioativos
presentes caracterizam-se como uma alternativa efetiva, segura e promissora.
A produção de substâncias bioativas pelas plantas ocorre através de diversas
vias metabólicas, ocasionando em muitos compostos dos quais somente são
identificados em determinados grupos de plantas e em concentrações diferentes.
Produtos à base de plantas são de fácil acesso e podem diminuir os
danos ao meio ambiente. É notável que ao longo dos anos tenha crescido o
número de publicações demonstrando o efeito de moléculas de plantas com
atividade carrapaticida, muitos trabalhos têm obtido resultado eficiente, justi-
ficando os investimentos no uso desses princípios ativos na busca por novas
fontes de moléculas para a produção de novas formulações que possam com-
bater o carrapato bovino.

REFERÊNCIAS

1.HOLETZ, F.B.; HOMES, M. J.; LEE, C. C.; STEVENTON, G.


Screening of some plants used in the Brazilian folk medicine for the treatment
of infectious diseases. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 97, n. 7,
p. 1027-1031, 2002.

2.CATTO, J. B.; BIANCHIN, I.; SAITO, M. L. Efeito acaricida in


vitro de extratos de plantas do Pantanal no carrapato de bovinos, Rhi-
picephalus (Boophilus) microplus. Campo Grande, Ms: Embrapa Gado de
Corte, 2009. 26 p. Disponível em: http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/
bp/BP26. pdf. Acesso em: 4 nov. 2018.

3.MCKOSKER, P. L. The global importance of Babesiosis. In Babesi-


osis. (Ristic, M., J.P. Kreier Eds). Academic Press, New York, p. 1-24, 1981.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Eu me chamo Rafaela Silva Serejo, sou aluna de graduação do cur-


so de Ciências Biológicas e faço parte do Laboratório de Estudos Avan-
çados em Fitomedicamentos (LEAF) da Universidade Federal do Mara-
nhão, orientada pela professora Cláudia Quintino da Rocha. Sou aluna de
iniciação científica voluntária e minha pesquisa é sobre o uso de extratos

- 335 -
vegetais ou compostos isolados bioativos para controle do carrapato Rhipi-
cephalos microplus.
Quando conheci a área de Produtos Naturais comecei a me apaixonar
pela ciência. A área que escolhi para trabalhar é multidisciplinar e isso faz
com que vários profissionais se juntem em busca de uma melhoria na área de
produção de fármacos oriundos de vegetais. Durante o desenvolvimento da
minha pesquisa descobri que uma espécie vegetal tóxica presente na nossa
Mata Atlântica brasileira tem um grande potencial carrapaticida; é algo iné-
dito que foi evidenciado pelo nosso Grupo de pesquisa (LEAF). Apesar de
o nosso laboratório não obter equipamentos modernos conseguimos realizar
pesquisas de ponta que resultam em publicações de artigos, patentes e prêmios
em eventos científicos.
Diante disso a minha pesquisa pode beneficiar as áreas da medicina
veterinária, pecuária e o meio ambiente. Produtos de origem vegetal podem
diminuir a resistência de parasitos, diminuir os malefícios causados pelo car-
rapato no gado e reduzir o impacto do uso de produtos químicos sintéticos no
meio ambiente. Com a descoberta de um novo potencial farmacológico vindo
de um extrato vegetal e de compostos isolados dele, pode ser possível a evi-
dência de um novo medicamento de uso veterinário.

- 336 -
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PROTÓTIPOS
DEnTRIAZÓIS FTALIMÍDICOS APLICADOS NO
TRATAMENTO DE INFECÇÕES FÚNGICAS

Rodrigo Ribeiro Alves Caianaa


Juliano Carlo Rufino de Freitasb

INTRODUÇÃO AO TEMA

Desde o início da história humana constata-se o interesse do homem em


obter recursos para aliviar suas dores e tratar doenças. Entretanto, mesmo em
face de toda tecnologia desenvolvida, faz-se necessária a descoberta de novos
medicamentos, principalmente para o tratamento de agentes infecciosos como
bactérias, fungos, vírus, dentre outros organismos patogênicos. Estes micror-
ganismos têm chamado a atenção dos profissionais e órgãos de saúde, pois,
além de causarem diferentes tipos de infecções, estes agentes patogênicos fre-
quentemente estão envolvidos em episódios de resistência, um processo em
que o microrganismo se torna menos sensível ao antimicrobiano usado perma-
necendo no organismo hospedeiro mesmo após o tratamento1.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é essencial que a
humanidade priorize os problemas gerados pelos episódios de resistência an-
timicrobiana e se empenhe no desenvolvimento de ações que visem ao seu
combate, uma vez que, na ausência de descobertas e avanços significativos
nos tratamentos e no combate de microrganismos resistentes, estima-se que
surgirão doenças incuráveis pela tecnologia atual, podendo matar 10 milhões
de pessoas até o ano de 20501.
Devido a isso, vários ramos da ciência têm trabalhado em conjunto
para obter novas substâncias com ação antimicrobiana, a fim de aumentar
a quantidade de medicamentos disponíveis para o tratamento das doenças
infecciosas, inclusive aquelas causadas por microrganismos resistentes.

a Universidade Federal de Campina Grande, Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotec-


nologia. rodrigoribeiroalves@hotmail.com.
b Universidade Federal de Campina Grande, Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotec-
nologia. julianocrf@gmail.com.

- 337 -
Diante desta situação, a pesquisa e o desenvolvimento de novos agentes an-
timicrobianos se destacam como uma das frentes mais eficazes no combate
deste problema de saúde, buscando a descoberta de novas substâncias com
diferentes características farmacêuticas que agreguem melhorias em relação
aos tratamentos atuais, tanto nos padrões de segurança, quanto de eficácia2.
É nesse cenário que a obtenção de substâncias via síntese orgânica se
destaca, principalmente quando elas apresentam características biológicas
promissoras. Uma classe de substâncias que está presente nos agentes antimi-
crobianos atuais são os triazóis.
Os triazóis são substâncias heterocíclicas caracterizadas por conter em
sua estrutura química um anel de cinco membros formados por dois átomos
de carbono e três de nitrogênio. Alguns exemplares desta classe são bem co-
nhecidos por sua ação antimicrobiana, sendo amplamente empregados no tra-
tamento de diferentes infecções fúngicas, como o fluconazol e o voriconazol.
Sabe-se que a atividade antifúngica dos triazóis é devido a sua capaci-
dade de impedir que estes microrganismos produzam um componente essen-
cial à sua sobrevivência, o ergosterol, o qual atua colaborando para a integri-
dade das membranas fúngicas de forma semelhante ao que é desempenhado
pelo colesterol nas membranas humanas.
Além deste emprego, diversos estudos também apontam substâncias
desta classe desempenhando outras atividades biológicas, como anticancerí-
gena, anti-inflamatória, antiviral, etc.3 Este fato conduz à elaboração de estu-
dos que possam explorar a ação de novas substâncias, a fim de desenvolver
novos medicamentos que possam ser aplicados no tratamento destas doenças.
Desta forma, o presente trabalho busca a obtenção de novos exemplares tria-
zólicos que desempenhem atividade antifúngica adequada, colaborando para
o desenvolvimento de novos tratamentos contra estes microganismos que se-
jam eficazes e seguros.

REFERÊNCIAS

1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Antibacterial Agents in


Clinical Development. An analysis of the antibacterial clinical development
pipeline, including tuberculosis. Geneva, Switzerland, WHO/EMP/IAU/2017.

2. VICINI, P.; GERONIKAKI, A.; ANASTASIA. K.; INCERTI,


M.; ZANI, F. Synthesis and antimicrobial activity of novel 2-thiazolylimi-
no-5-arylidene-4- thiazolidinones. Bioorganic & Medicinal Chemistry,
v. 14, p. 3859–3864, 2006.

3. DHEER, D.; SINGH, V.; SHANKAR, R. Medicinal attributes of


1,2,3-triazoles: Current developments. Bioorganic Chemistry, v. 71, p. 30-
54, 2017.

- 338 -
COMO EU FAÇO cIÊNCIA
Sou Rodrigo Ribeiro, farmacêutico e aluno de mestrado do Programa
de Pós-graduação em Ciências Naturais e Biotecnologia (PPGCNBiotec) da
Universidade Federal de Campina Grande, orientado pelo professor Juliano
Freitas. Diante do que foi previamente exposto, minha pesquisa visa ao desen-
volvimento de novos agentes triazólicos, a fim de colaborar para a descoberta
de novos medicamentos que possam ser empregados no tratamento de infec-
ções fúngicas, inclusive aquelas causadas por microrganismos resistentes.
É gratificante poder contribuir através da minha pesquisa para o de-
senvolvimento da ciência e bem-estar social mesmo diante de dificuldades
características do próprio processo de produção e desenvolvimento de novos
medicamentos, como o elevado tempo e capital requeridos no trajeto.
Desta forma, minha pesquisa visa principalmente suprir a demanda por
novos medicamentos, e aumentar o número de substâncias que possam se tor-
nar fármacos comerciais futuramente, colaborando para o bem-estar social
tanto do ponto de vista médico, quanto científico e financeiro, uma vez que os
avanços farmacêuticos estão entre as tecnologias de maior retorno monetário
da atualidade.

- 339 -
A UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS:
DA ANTIGUIDADE MÍSTICA À ATUALIDADE
CIENTÍFICA

Yan Michel Lopes Fernandesa


Odair dos Santos Monteirob

INTRODUÇÃO AO TEMA

A importância do estudo de produtos naturais tem sido reconhecida com


o decorrer dos anos. Há milênios o homem vê na natureza recursos que apenas
ela pode fornecer e se esforça para investigá-los. A biologia e a química há
décadas têm andado de mãos dadas para explorar, desmistificar e confirmar
certos conhecimentos do senso comum sobre isso – ou desmenti-los.
Óleos essenciais, também chamados de óleos voláteis, são complexas
misturas – derivadas de plantas denominadas aromáticas – por geralmente
apresentarem fortes odores – que variam de espécie para espécie e que pos-
suem diversas funções biológicas, como proteger a planta de predadores,
orientar polinizadores e como resposta a diversos fatores externos como clima
e solo, para melhor sobrevivência ante a estes estímulos.
No livro A Química de Fragrâncias (de David H. Pybus e Charles S.
Sell, não traduzido para o português), os autores mostram a utilização de óleos
essenciais como aromas há incontáveis anos, citando registros da exportação
comercial das cidades Atenas e Corinto e contam que em 800 a.C. já se traba-
lhava com óleos de flores e plantas maceradas. Nessa época, os óleos essen-
ciais já eram utilizados em rituais religiosos e eram relacionados a efeitos na
alma, a quintessência dos seres humanos.
Os relatos históricos também narram a utilização de essências como
moedas de troca nas rotas comerciais da Babilônia (650 a.C.); nos banhos de
Cleópatra (69 a.C. – 30 a.C.) com aromas de rosa especialmente refinados;
até seu uso ser completamente difundido pelo Império Romano, quando rotas
comerciais para a Arábia, para a Índia e para a China foram instauradas. Já
na Renascença, nobres dispunham de perfumistas pessoais, que trabalhavam

a Programa de Pós-graduação em Química – Universidade Federal do Maranhão. yfernandes04@gmail.com


b Universidade Federal do Maranhão, Programa Bionorte. odairsmonteiro@yahoo.com.br

- 340 -
confeccionando aromas originais e únicos para seus contratantes. E na Era das
Revoluções, entre os séculos XVII e XVIII, fragrâncias eram necessárias em
grandes quantidades para combater o forte odor de prisões, hospitais, navios,
igrejas, teatros, oficinas, fábricas e onde mais houvesse aglomerações de pes-
soas. Após o século XVIII, diversas descobertas sobre a composição química
dos óleos essenciais provocaram a produção industrial de perfumes que foi
alavancada no começo do século XX pelo surgimento dos designers de moda
e pela multiplicação dos consumidores.1
Atualmente, diversos pesquisadores do Brasil e do mundo desenvol-
vem inúmeros trabalhos investigativos que relacionam a atividade potencial
de óleos essenciais, no combate a insetos, como defensivos agrícolas mais
limpos, no controle de vetores de doenças negligenciadas, como caramujos,
mosquito-da-dengue, vermes, carrapatos, entre outros, e até mesmo no de-
senvolvimento de remédios que combatam o câncer. Além disso, óleos es-
senciais também são utilizados na indústria alimentícia como aromatizan-
tes e como matéria-prima para conservantes; na odontologia, como agente
antibacteriano; e na área de cosméticos, como agentes antioxidantes para
prevenção de envelhecimento.2
Todas estas características dos óleos estão diretamente relacionadas às
suas composições químicas: são seus componentes químicos que possuem as
características citadas acima.
Apesar disso, conhecer toda a composição química (ou pelo menos
grande parte) de um óleo é o primeiro passo para identificar suas possíveis
aplicações: uma das substâncias presentes nele geralmente possui uma de-
terminada característica, mas que não necessariamente ditará todas as suas
propriedades químicas ou biológicas, podendo substâncias em menores quan-
tidades trabalhar em conjunto ou em oposição.2
O Laboratório de Produtos Naturais da Universidade Federal do Ma-
ranhão possui parceria com diversos outros laboratórios do país, e hoje se
subdivide em dois grupos: o Laboratório de Óleos Essenciais (LOE) e o Labo-
ratório de Estudos Avançados em Fitomedicamentos (LEAF). Tem o professor
Dr. José Guilherme Soares Maia como coordenador-geral do grupo de óleos
essenciais e o professor Dr. Odair dos Santos Monteiro como coordenador
local, o principal objetivo é realizar uma investigação química e biológica de
plantas aromáticas do Cerrado maranhense e da Amazônia Oriental.
Atualmente, o grupo de pesquisa possui uma vasta base de dados ain-
da em publicação, base que cataloga informações sobre estas plantas, como:
nome popular, classificação taxonômica, usos na medicina popular, atividades
biológicas e químicas e seus potenciais usos, como em remédios ou em defen-
sivos agrícolas.

- 341 -
REFERÊNCIAS

1. PYBUS, D. H.; SELL, C. S. The Chemistry of Fragrances. The


Royal Society of Chemistry. Cambridge, Reino Unido, 1999.

2. FERNANDES, Y. M. L. Banco de Dados de Óleos Essenciais de


espécies vegetais do Cerrado maranhense: Composição Química. 2017.
92p. Monografia (Graduação) – UFMA. São Luís, 2017.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Yan Michel Lopes Fernandes e sou aluno de mestrado do


Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal do Mara-
nhão, orientado pela professora Dra. Cláudia Quintino da Rocha. Sou bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e minha
pesquisa atual é sobre a utilização do óleo essencial das folhas de pitangueira
(Eugenia punicifolia) como potencial anticancerígeno.
Tivemos, o grupo e eu, a grata surpresa de nos deparar com ótimos
resultados, obtendo uma ação muito parecida com a de um remédio já em
utilização, sendo muito menos tóxico, ou seja, que não causaria tantos efeitos
colaterais quanto os que se aplicam nos já debilitados pacientes com câncer.
Isso significa que pode, no futuro, ser utilizado como auxílio do tratamento ou
até substituir os remédios atuais.
Uma das nossas maiores dificuldades, no entanto, é o financiamento das
nossas pesquisas. Nosso laboratório hoje, apesar de continuar desenvolvendo
essa e outras pesquisas muito importantes, não recebe nenhum incentivo fi-
nanceiro de nenhum órgão ou instituição, isso faz com que nos faltem equipa-
mentos e materiais de consumo. Nossos alunos, desde aqueles que ainda estão
na graduação, até aqueles que já concluíram seu doutorado, estão cada vez
mais escassos por falta de bolsas.
Nossa equipe possui ótimos alunos e, principalmente, ótimos profes-
sores que nos deixam muito incentivados a continuar no mundo acadêmico.
As pesquisas que desenvolvemos nos enchem de orgulho e de curiosida-
de, ansiosos por novas descobertas. Seguimos fazendo nossa parte, moti-
vados pelos bons resultados e por nossas perspectivas de futuro, apesar de
todas dificuldades.

- 342 -
APLICAÇÃO DE MÉTODOS COMPUTACIONAIS NO
PLANEJAMENTO DE MEDICAMENTOS CONTRA
LEISHMANIOSE

Jéssika de Oliveira Vianaa

INTRODUÇÃO AO TEMA

A medicina moderna tem se utilizado de diversas ferramentas para


compreender como os sistemas biológicos funcionam. Dentre as várias áreas
da medicina, a bioinformática surgiu como uma ciência interdisciplinar por
integrar várias áreas de estudo, como biologia, química, matemática e com-
putação. Assim, o conceito de Bioinformática é dado pela análise de dados
biológicos (como o DNA, proteínas, membranas) utilizando-se a computação.
Na bioinformática os estudos são voltados à montagem e análise de
genes para descoberta de mutações (como câncer ou doenças genéticas),
a descoberta de novos medicamentos (mais potentes, específicos e com bai-
xo ou nenhum efeito tóxico), a visualização de estruturas celulares (como
membranas, proteínas, RNA e DNA), o estudo da neurociência em compre-
ender conexões nervosas e como o cérebro funciona, a interação entre es-
truturas químicas (ação do medicamento e onde ele atua, ou seja, em algum
receptor biológico), dentre outras inúmeras aplicações existentes1.
Aliado ao desenvolvimento dessas pesquisas, o rápido desenvolvi-
mento de computadores com grande processamento tem trazido vantagens
para as pesquisas da bioinformática, isto porque atualmente existe uma gran-
de quantidade de dados, conhecidos no inglês como big data, disponíveis a
serem estudados. Na área medicinal, estes dados podem ser informações
estruturais sobre células, medicamentos DNA, RNA e proteínas, o que torna
possível o desenvolvimento e aplicação destas pesquisas.
O revolucionário, e importante, fator nestas pesquisas é a obtenção de
resultados mais precisos em uma menor quantidade de tempo, e também com
diminuição dos custos, acelerando a pesquisa. Por exemplo, o desenvolvimen-

a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Bioinformática. viana-


1jess@gmail.com

- 343 -
to de um medicamento (desde sua ideia até chegar às prateleiras das farmácias)
dura cerca de 16 anos2, enquanto que utilizando ferramentas computacionais
este tempo pode ser diminuído, como visto com o medicamento Saquinavir
no tratamento do HIV3.

REFERÊNCIAS

1. LEHUGEUR, T.P.; MELO, H.C.S. Bioinformática aplicada no de-


senvolvimento de novos fármacos. Psicologia e Saúde em Debate, v. 4,
p. 55-55, 2018.

2. OOMS, F. Molecular modeling and computer aided drug design.


Examples of their applications in medicinal chemistry. Current Medicinal
Chemistry, v. 7, p. 141-158, 2000.

3. TALELE, T.T.; KHEDKAR, S.A.; RIGBY, A.C. Successful appli-


cations of computer aided drug discovery: moving drugs from concept to the
clinic. Current Topics In Medicinal Chemistry, v. 10, n. 1, p. 127-141, 2010.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Jéssika de Oliveira Viana, sou aluna de doutorado do


Programa de Pós-graduação em Bioinformática da Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Norte, orientada pelo professor Dr. Euzébio Gui-
marães Barbosa. Sou bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) e minha pesquisa é sobre a busca de
novos fármacos para o tratamento da doença leishmaniose utilizando ferra-
mentas computacionais.
Trabalhar com pesquisa é um ato que envolve a curiosidade e desenvol-
vimento de uma ideia criada por você, ou seja, descobrir algo inédito levado
por uma ideia e fazer a pesquisa para encontrar sua resposta. Na área medici-
nal, esta ideia pode ser descobrir um novo fármaco para a cura de uma doença,
descobrir um gene responsável por alguma doença que não se sabe o porquê
de ela ocorrer, ou até mesmo criar um novo aplicativo que possa ser usado
pelos cientistas, como é o caso do aplicativo Chimera: nele é possível ver
estruturas de moléculas como proteínas, lipídios e medicamentos.
A felicidade envolta na minha pesquisa de fármacos para a leishmanio-
se é levar a cura para inúmeras pessoas que sofrem desta doença, visto que ela

- 344 -
ocorre em grande proporção nos países subdesenvolvidos, países estes com
pouco tratamento e baixas condições de saúde para a população. Assim, fazer
pesquisa é fazer algo que o leve a melhorar uma situação como um todo, que
gere um estudo de impacto positivo para a sociedade.
Por outro lado, também é importante destacar as dificuldades em desen-
volver pesquisa, que pode ser pela baixa disponibilidade de recursos, pouca
infraestrutura local, e uma que está acima de todas, e que todo pesquisador
precisa ter consciência, é que a ciência não é algo direto, ou seja, você pode
demorar a alcançar seu objetivo final da pesquisa. Um exemplo claro que vivi
foi criar um fármaco e vi que ele apresentou baixa atividade biológica para
uma bactéria patológica. Desta forma, tive que estudar mais a química do
composto e a biologia da bactéria e criar um fármaco mais potente e mais
específico para a bactéria do meu estudo.
Um verdadeiro pesquisador precisa lidar com todas estas situações,
a fim de estudar cada vez mais para se alcançar seu objetivo, isto porque sua
principal motivação é saber que seu estudo irá beneficiar a sociedade de algu-
ma forma, seja direta ou indiretamente. No desenvolvimento de um fármaco,
o benefício direto é a criação de um novo medicamento, o produto a ser utili-
zado pela população, enquanto este estudo também irá atuar de forma indireta
por trazer mais conhecimento sobre a leishmaniose e contribuir para outras
pesquisas posteriormente.
Um dos estudos mais recentes que desenvolvi foi compreender o que
um fármaco apresentava em sua estrutura para que apresentasse uma alta ati-
vidade antibacteriana (tuberculose). Para este estudo realizei pesquisas com-
putacionais calculando descritores moleculares (características físico-quími-
cas do fármaco), quais as reações químicas que mudam a estrutura química
do fármaco e como ele interage com proteínas desta bactéria. Assim, observei
que quando meu composto apresenta grandes ramificações alifáticas ele me-
lhora a atividade biológica, e assim criei um novo fármaco que apresentasse
essa característica de modo que ele se torne um novo medicamento que irá
curar os pacientes infectados com a tuberculose.

- 345 -
física
experimental
E física GERAL
TERMODINÂMICA QUÂNTICA:
UMA PORTA PARA FUTURAS TECNOLOGIAS

Bertúlio de Lima Bernardoa

INTRODUÇÃO AO TEMA

O estudo da física dita pré-moderna, ou “clássica”, é fundamentado


em três grandes pilares: a mecânica clássica, instituída a partir das leis do
movimento apresentadas nos monumentais trabalhos de Isaac Newton no
final do século XVII; o eletromagnetismo, originado a partir dos trabalhos
de nomes como Faraday, Ampére e Maxwell, vindo a unificar as leis da ele-
tricidade, do magnetismo e da óptica, que pareciam independentes até o final
do século XVIII; e a termodinâmica, iniciada a partir de uma única obra do
engenheiro francês Sadi Carnot no início do século XVII, cujo objetivo prin-
cipal era o de conhecer o limite de eficiência das máquinas térmicas, e que
inspirou Clausius e Joule para formular suas leis de caráter universal. Dentre
as físicas clássicas, aqui estaremos mais interessados na termodinâmica para
posteriormente tentarmos fazer sua ligação com uma das teorias modernas
da física: a mecânica quântica.
A termodinâmica configura-se como uma das teorias mais sólidas da
física, uma vez que suas leis desconhecem inconsistências ou contraexemplos
com relação ao que é observado experimentalmente, desde a concepção de
suas bases. Devido ao grandioso sucesso da teoria, sua atuação ocorre de for-
ma imprescindível em diferentes contextos da ciência e da tecnologia, como
na química e nas engenharias. Diferentemente de outras teorias físicas, seu
caráter genérico se deve ao fato de não precisar explorar o comportamento
fundamental dos constituintes de um sistema físico, mas sim por analisar as
trocas de energia com um ambiente externo que podem ocasionar em traba-
lho útil. Essa particularidade torna a termodinâmica uma poderosa ferramenta

a Departamento de Física, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil. bertulio@fisica.


ufpb.br

- 347 -
para análise de qualquer sistema na escala macroscópica, quer no âmbito teó-
rico, quer no âmbito experimental.
Contudo, com os avanços tecnológicos e a necessidade cada vez maior de
miniaturização de dispositivos mecânicos e eletrônicos para aumentar a capa-
cidade e a eficiência de aparelhos úteis na vida humana, surgiu inevitavelmente
uma preocupação acerca da validade das leis que regem a termodinâmica no
limite em que o sistema é constituído por um pequeno número de átomos in-
teragindo com um reservatório térmico. Em situações como esta, as oscilações
térmicas não são desprezíveis, de modo que os conceitos de calor e trabalho
devem ser tratados como variáveis estocásticas, ou seja, que podem possuir um
valor diferente quando medidos em um conjunto de situações equivalentes.
Em tais circunstâncias, além dos conceitos termodinâmicos, exige-se
também a utilização dos preceitos da mecânica quântica para a análise desses
microssistemas. Neste contexto, uma vez que essas são teorias independentes,
sendo esta última mais fundamental que a primeira, ao relacionarmos as duas
precisamos nos preocupar em saber de que forma fenômenos exclusivamente
quânticos afetam o comportamento termodinâmico de sistemas físicos consti-
tuídos por poucos átomos.
Por sua vez, a teoria quântica, juntamente com a da relatividade geral,
forma o que conhecemos hoje como “física moderna”. Ambas sugiram no início
do século XX como formas de corrigir a mecânica clássica em certas situações
em que esta última não era condizente com resultados experimentais. Assim,
a mecânica quântica veio substituir a mecânica de Newton quando tratamos de
objetos muito pequenos, da ordem do tamanho dos átomos e dos elétrons.
Esta nova física, fundada por vários grandes cientistas como Planck,
Heisenberg, Bohr, Schrödinger, e Einstein, conseguia predizer resultados
experimentais referentes ao mundo microscópico, tais como descobrir a
constituição química das estrelas somente a partir das cores da luz emiti-
da por elas, ou entender por que certos materiais conduzem mais calor ou
eletricidade que outros. Além disso, a mecânica quântica trouxe com ela
inúmeros avanços tecnológicos, como o advento dos semicondutores, sem
os quais não poderíamos ter hoje um aparelho de TV ou um computador em
nossas casas, bem como as imagens de raios-X e de ressonância magnética,
bastante úteis na medicina.
Esquecendo um pouco dos benefícios propiciados pela teoria quântica,
é imprescindível falar de certas “estranhezas” que a teoria possui, que vão de
encontro à nossa visão realista do mundo. Aqui, gostaria de mencionar duas
dessas estranhezas: a “coerência quântica” e o “entrelaçamento quântico”. De
forma geral, a primeira está vinculada ao fato de uma partícula atômica se
comportar como se pudesse estar em dois locais ao mesmo tempo. A segunda
diz respeito ao fato de duas partículas, ditas entrelaçadas quanticamente, po-
derem interferir instantaneamente no comportamento uma da outra quando so-
mente uma delas é perturbada, não importando o quão afastadas elas estejam.
Essas estranhezas também já estão levando ao surgimento de novas tecnolo-

- 348 -
gias magníficas, como a comunicação 100% segura, através da criptografia
quântica, e do que um dia poderá ser o computador quântico, um dispositivo
que se propõe a realizar tarefas bem mais complexas do que os computadores
que temos em nossos lares hoje, mas em um tempo muito mais curto.
Tendo exposto as bases do tema específico desta pesquisa, a termodinâ-
mica e a mecânica quântica, vamos explorar nessas linhas finais um pouco mais
sobre a fusão dessas teorias, a termodinâmica quântica. Como exposto acima, o
tema termodinâmica quântica visa obter conhecimento acerca dos processos de
transferência de energia que ocorrem na microescala. Tal conhecimento objetiva
contribuir para o desenvolvimento de futuras tecnologias, tais como: nanomo-
tores e dispositivos optomecânicos que operam em escala atômica. De forma
geral, a ideia é reconstruir a termodinâmica, dessa vez buscando por elemen-
tos como máquinas térmicas eficientes que funcionem com base em entidades
quânticas, ou investigando possíveis transições de fase da matéria quando com-
posta por um pequeno número de átomos, em que as estranhezas quânticas que
mencionamos se fazem presentes, e não podem ser negligenciadas1.

REFERÊNCIAS

1. DEFFNER, S.; CAMPBELL. Quantum Thermodynamics. USA:


IOP Concise Physics, 2019. E-Book. ISBN 978-1-64327-658-8. Disponível em:
https://iopscience.iop.org/book/978-1-64327-658-8. Acesso em: 15 set. 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Sou Bertúlio de Lima Bernardo, professor do Departamento de Física


da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e bolsista de produtividade em
pesquisa do CNPq nível 2. Minha pesquisa tem foco na teoria da informação
quântica e nos fundamentos da mecânica quântica. Prioritariamente, minha
pesquisa tem um viés científico, ou seja, ela visa descobrir o modo com que a
natureza se comporta nas condições que especificamos. Porém, a história da
ciência nos diz que tal busca pelo conhecimento quase sempre traz benefícios
para a vida humana de maneira às vezes inesperada.

- 349 -
O SURPREENDENTE MUNDO
DOS NANOMATERIAIS

Mirleide Dantas Lopesa

INTRODUÇÃO AO TEMA

Nas últimas décadas, pesquisas envolvendo nanomateriais têm sido re-


alizadas em diferentes áreas do conhecimento¹. O prefixo nano, por sua vez,
tem se tornado cada vez mais comum na vida cotidiana, sendo possível en-
contrá-lo em rótulos de cosméticos e remédios, aparelhos eletrodomésticos,
materiais desportivos, setor vestuário, chips para celulares, dentre outros. Mas
o que de fato significa esse prefixo e até que ponto ele realmente se faz pre-
sente em nossa realidade?
O termo nano vem do grego e significa anão, na contemporaneidade ele
indica a bilionésima parte de alguma coisa². O nanômetro (nm), por exemplo,
indica a bilionésima parte do metro, ou seja, se uma régua de 1 metro for
dividida em 1 bilhão de partes, cada parte terá 1 nm, o que equivale a 10⁻⁹
m. Assim sendo, podemos afirmar que os nanomateriais são materiais cujas
dimensões são da ordem de nanômetros.
O papel da física neste cenário, que é essencialmente interdisciplinar,
é extremamente relevante. A escala nanométrica coincide justamente com
a escala atômica e molecular, na qual os fenômenos quânticos começam a
surgir. Materiais nesta ordem de grandeza tendem a ter características bem
incomuns, quando comparados a suas versões em dimensões macroscópicas.
Podemos citar, como exemplo, o ouro, que usualmente é dourado, porém em
dimensões nanométricas pode apresentar diferentes tonalidades.
O desenvolvimento científico e tecnológico que experimentamos hoje
é em muito decorrente dos diferentes processos de miniaturização, que con-
vergem para a escala nanométrica. A área do conhecimento na qual se insere
o estudo dos nanomateriais é conhecida como nanociência e nanotecnologia

a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). mirleide_dantas@yahoo.com.br

- 350 -
(N&N). Apesar de estarem diretamente relacionadas, a nanociência diz res-
peito às pesquisas realizadas na escala atômica e molecular, enquanto a nano-
tecnologia ocupa-se das aplicações tecnológicas desenvolvidas nesta escala.
Os avanços recentes no âmbito do estudo dos nanomateriais estão re-
lacionados ao desenvolvimento de microscópios que permitiram observar
melhor estas nanoestruturas. O físico Richard Feynman, em 1959, já havia
previsto algumas aplicações que hoje estão sendo implementadas, ele inclu-
sive apontou que tais aplicações eram inviáveis na época, em decorrência das
limitações dos microscópios, que só começaram a ser contornadas a partir de
1981, com o desenvolvimento do microscópio de tunelamento³.
Atualmente os nanomateriais já integram algumas tecnologias, que aos
poucos estão sendo inseridas no mercado. Mas o fato é que a população, de
modo geral, desconhece as questões básicas relativas a esta área do conheci-
mento e, em razão disso, pode acabar sendo ludibriada pelo engodo pseudo-
científico, que se apoia na ignorância para comercializar produtos cujas pro-
priedades nem sempre são bem conhecidas.

REFERÊNCIAS

1. BERNARDO, G. A. M.; LOPES, M. D.; AZEVEDO, S. A. F. Estu-


do teórico sobre as propriedades eletrônicas de nanoestruturas de carbono e
h-BN. Pesquisa e Ensino em Ciências Exatas e da Natureza, v. 02, n. 01,
p. 71-81, 2018.

2. MELO, C. P.; PIMENTA, M. Nanociências e nanotecnologia. Parce-


rias Estratégicas, v. 09, n. 18, p. 09-21, 2004.

3. SCHULZ, P. A. Há mais história lá embaixo - um convite para rever uma


palestra. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 40, n. 04, p. 01-05, 2018.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Mirleide Dantas Lopes, sou professora do Curso de Li-


cenciatura em Física, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),
campus Cajazeiras, localizado no Alto Sertão Paraibano. Sou doutora em Fí-
sica Teórica, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em minha tese
investiguei, por meio de simulação computacional, diferentes nanomateriais,
analisando especialmente suas propriedades eletrônicas e estruturais, a fim de
averiguar a aplicabilidade destes em dispositivos eletrônicos.

- 351 -
Atualmente ainda trabalho com os nanomateriais, no entanto, tenho
me preocupado em levar estas discussões para a Educação Básica, uma vez
que a temática tem surgido com certa frequência nos livros didáticos deste
nível de ensino, bem como nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), e os professores, de modo geral, não têm demonstrado afinidade
com o tema.
Especificamente, tenho atuado no âmbito da formação de professores
de Física, objetivando formar profissionais que sejam capazes de promover
estas discussões em seus espaços de atuação. Para tanto, desenvolvo o projeto
“Abordando a Nanociência e a Nanotecnologia através da experimentação de
baixo custo”, que é financiado com recursos próprios.
Recentemente tive um outro projeto aprovado, “Maravilhas e incertezas
do nanomundo: abordando a Nanociência e a Nanotecnologia na Educação
Básica”, a ser desenvolvido no âmbito do Programa PIBIC-EM/CNPq, no en-
tanto, ele teve a sua cota de bolsa cancelada, em razão do contingenciamento
de recursos para pesquisa e por isso não pôde ser desenvolvido.
As ideias relativas ao estudo dos nanomateriais precisam ser ampla-
mente difundidas, pois a sociedade ainda é desconhecedora desta área do co-
nhecimento, que já está impactando diretamente as nossas vidas. É necessário,
por meio de um processo de alfabetização científica, tornar estas discussões
mais acessíveis e interessantes ao público não acadêmico, para assim evitar
que falsas informações relativas à N&N sejam difundidas e utilizadas por pes-
soas mal-intencionadas.
Notadamente, as pesquisas relativas a esta área do conhecimento ocor-
rem em uma escala muito diminuta e nem sempre aquilo que supostamente
é nanotecnológico de fato tem nanomaterias. Por esta razão, é preciso desen-
volver junto à população ações que estimulem uma postura crítica e reflexiva.
A pesquisa científica, a ser desenvolvida no espaço escolar e na formação de
professores, é um instrumento que pode e tem sido utilizado para promover
ações dessa natureza de forma satisfatória.

- 352 -
CIÊNCIA NA PRAÇA: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
E TECNOLÓGICA NA AMAZÔNIA

Luis Eduardo de Carvalho Maciela


Rubens Silvab

INTRODUÇÃO AO TEMA

Não apenas no Brasil, mas em diversos países, percebeu-se a necessida-


de da criação de métodos para promover a divulgação científica e popularizar
a ciência. Nesse viés, instituíram-se meios de divulgação científica que até
os dias de hoje são eficazes, quais sejam, por exemplo, a internet, os museus
e os centros de ciências. Estes meios utilizam-se de ferramentas lúdicas para
se apresentar o conteúdo científico ao público. Ou seja, é através de métodos
interativos de exposição ou experimentação que se apresentam fenômenos
naturais, sob uma perspectiva científica, à população. Diante de atividades
experimentais o indivíduo consegue relacionar o mundo abstrato, o mundo
dos conceitos, com o mundo empírico.
É neste espírito que o projeto Ciência na Praça foi criado, para assim
divulgar a ciência e a tecnologia através da experimentação; tornar o conhe-
cimento científico acessível para uma gama maior da população; bem como
despertar a curiosidade e motivar possíveis vocações científicas nos visitantes
que apreciarem as atividades do projeto. O projeto consiste em exposições
experimentais, palestras e oficinas abertas ao público.
As palestras geralmente ocorrem em locais de fácil acesso ao público,
como auditórios municipais, escolas públicas, institutos federais e universida-
des. Essas abordam temas variados, como: história da ciência, neurociência, as-
tronomia, robótica, projetos de engenharia, etc. Já nas oficinas, os participantes
aprendem a produzir experimentos de baixo custo e de fácil confecção utilizan-

a Universidade Federal do Pará, Faculdade de Física, Bolsista Programa Educação Tutorial – Física. lcar-
valhomaciel@gmail.com
b Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Exatas e Naturais, Professor da Faculdade de Físi-
ca, Tutor Programa Educação – Tutorial. rubsilva@ufpa.br

- 353 -
do, muitas vezes, matérias de baixo custo ou reutilizado. Exemplos desses expe-
rimentos elaborados nestas oficinas são a lata mágica, o ludião e minissistemas
solares. As exposições experimentais geralmente ocorrem em praças públicas e
são de livre acesso à sociedade, nessas exposições, são apresentados, de forma
lúdica e interativa, diversos experimentos, tanto de baixo custo quanto industria-
lizados. Dentre os quais, podemos citar: o Gerador de Van de Graaff, o Circuito
Humano, a Gaiola de Faraday, a Bobina de Tesla, etc.
O projeto e a sua composição: O projeto foi desenvolvido pelo profes-
sor doutor Rubens Silva, no ano de 2013, apoiado pelos projetos de extensão
da Faculdade de Física da UFPA, campus Belém. Inicialmente, as apresenta-
ções eram feitas em escolas, tanto públicas quanto privadas, principalmente
nas cidades do interior do Pará. Nessas apresentações eram expostos temas
relacionados à Física e suas aplicações. Porém, nessas exposições eram uti-
lizados somente banners ilustrativos para associar aos conteúdos expostos,
sendo essa metodologia pouco atraente para um aluno de nível médio.
Após algumas edições do evento, os palestrantes passaram a utilizar,
além dos banners, experimentos de baixo custo e de fácil produção em suas
apresentações. Por essa ocasião, percebeu-se que os experimentos passaram
a se destacar nas exposições ante os banners, haja vista seu caráter lúdico pe-
rante o público leigo. As apresentações ocorriam nas escolas e eram abertas ao
público geral, inclusive aos alunos de outras instituições de ensino1.
Tempos depois optou-se em tornar as apresentações mais íntimas da
sociedade, logo passaram a ocorrer em praças públicas, objetivando facilitar o
acesso tanto dos alunos quanto das pessoas próximas ao local do evento. Essa
mudança na estrutura do evento surtiu efeitos positivos, ampliando a parcela
da população atendida. Os experimentos utilizados nas exposições aos alu-
nos, em especial, visam suprir a carência experimental das instituições locais,
sejam elas da rede pública de ensino ou privada. São realizadas oficinas de
experimentos, para professores e alunos, ministradas por membros do grupo
de apoio do projeto, voltados à qualificação dos professores na elaboração
de material experimental expositivo para uso em sala de aula, haja vista a
necessidade de uma formação articulada entre teoria e prática por parte dos
professores de ciências, visando desenvolver sua autonomia docente.
É grande a mobilização feita pelos órgãos locais envolvidos na organi-
zação, bem como pela divulgação nas escolas e mesmo nos locais do even-
to. Nas cidades visitadas, o projeto vem, cada vez mais, ganhando apoio das
prefeituras, de professores, secretarias de educação, de escolas públicas e
privadas. O que demonstra a visibilidade atingida pelo Ciência na Praça. Re-
sultados obtidos através das listas repassadas ao público durante as exposi-
ções demonstram a participação de pelo menos 200 participantes por evento.
O número de ouvintes estimados por evento é bem maior, haja vista que so-
mente é tomada uma pequena lista de amostragem em um dos estandes dos
mais de 20 que geralmente compõem as apresentações.

- 354 -
Também é possível notar a presença massiva da sociedade através dos
registros fotográficos e dos vídeos de divulgação disponíveis na internet.
A cada ação, é notório o quanto é importante desenvolver o projeto, aproxi-
mando sempre um grande público das práticas científicas, fazendo com que
os objetivos sejam alcançados. As oficinas também demonstram alcançar seus
objetivos, visto que, tanto professores quanto alunos inscrevem-se em bom
número como participante. Sendo assim, a metodologia empregada pelo pro-
jeto tem se mostrado eficiente no que se propõe, qual seja: despertar a curiosi-
dade e interesse da sociedade pela ciência2.

REFERÊNCIAS

1. MIYAKE, R. II Feira de Experimentos de Ciência e Tecnologia.


Pará, 2019. Disponível em: https: //portal.ufpa.br/. Acesso em: 15 set. 2019.

2. Youtube. Projeto Ciências na Praça UFPA, 2017. Disponível em:


https://w ww.youtube.com/channel/UCIuAevAjEYWn3n1YNdqt-TA. Aces-
so em: 15 set. 2019.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Luis Eduardo de Carvalho Maciel, estou no sexto se-


mestre do curso de licenciatura e bacharelado em Física pela Universidade
Federal do Pará, e há dois anos sou bolsista do Fundo Nacional do De-
senvolvimento da Educação (FNDE) do grupo PET-Física coordenado pelo
Professor Rubens Silva. Atuo com o professor nas atividades de extensão e
pesquisa em ensino de física, e estou envolvido com o projeto Ciência na
Praça há pouco mais de um ano.
A cada edição do Ciência na Praça acredito cada vez mais no trabalho
que estamos exercendo na sociedade, o alcance do projeto é gigantesco, sendo
uma aprendizagem incalculável. Durante muito tempo o elo entre a comu-
nidade acadêmica e o restante da população ficou quase esquecido, devido
às dificuldades e especificidades de nossos estudos e da natureza de nossas
pesquisas. Entretanto os projetos de extensão são fundamentais para reavivar,
reaproximar e mostrar à população brasileira a qualidade de nossas pesquisas
e o comprometimento com o desenvolvimento social, econômico e tecnológi-
co de nosso país.

- 355 -
gastronomia
DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE
SORBET DE COCO VERDE (Cocos Nucifera L.)

Ingrid Conceição Dantas Guerraa

INTRODUÇÃO AO TEMA

O consumo da água de coco no Brasil chega a 350 milhões de litros


considerando o consumo na forma fresca e industrializada. O aumento da de-
manda por este produto gera uma quantidade muito grande de resíduos sólidos
tendo em vista que aproximadamente 85% do peso do coco é casca 1.
O albúmen sólido (polpa de coco verde) possui boas qualidades nu-
tricionais, tendo em sua composição água, açúcares, proteínas e gorduras2.
Mesmo tendo boa qualidade nutricional, existem poucas ações para combater
o desperdício dessa matéria-prima alimentar, dando à cadeia do coco um des-
tino sustentável.
O desenvolvimento de gelados comestíveis utilizando a polpa de coco
verde apresenta-se como alternativa para combater o desperdício desta maté-
ria-prima. Dentre estes, os sorbets são essencialmente feitos de água, açúcar e
o mínimo de 25% de fruta, não permitindo adição de gordura na formulação.
A polpa de coco verde mostra-se como opção promissora, uma vez que a
composição desta polpa possui em sua composição proteínas e gorduras que
permitem uma boa capacidade de emulsão3.
Para produzir os sorbets, obteve-se a polpa de pontos de venda da cida-
de de João Pessoa-PB. Os cocos que foram abertos para a água ser comerciali-
zada em garrafas de polietileno foram utilizados para retirada da polpa. Cocos
em que a água foi consumida com canudo ou já haviam sido descartados não
foram usados de modo a garantir a segurança alimentar. Os demais ingredien-
tes foram obtidos no comércio local de João Pessoa.
Foram produzidas duas formulações de sorbets de coco verde: a pri-
meira com 30% de coco verde e a segunda com 35% de coco verde. A polpa
de coco verde foi retirada das embalagens, cortada em pedaços pequenos e

a Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Gastronomia. ingridcdantas@hotmail.com

- 357 -
triturada em processador tipo mixer no modo “pulsar”. Em seguida foram
adicionados a água, o açúcar, glicose e os aditivos. A mistura foi homogenei-
zada durante oito minutos e em seguida congelada em sorveteira. Os produtos
foram embalados e armazenados a -17ºC ± 2oC em recipientes de dois litros.
Não houve crescimento dos microrganismos pesquisados, sendo, portan-
to, preparações aptas ao consumo humano. O emprego de temperaturas muito
baixas, aliado às boas práticas de fabricação durante a coleta e produção dos
sorbets, contribuiu para a boa qualidade microbiológica dos produtos. O sorbet
elaborado com 35% de polpa de coco verde apresentou melhor viscosidade.
Em relação aos testes sensoriais, as notas atribuídas pelos avaliadores
indicaram a boa aceitação dos produtos tendo em vista que os scores atribuí-
dos ficaram, em sua maioria, entre “gostei”, “gostei muito” e “gostei muitíssi-
mo”. Também foi avaliada a intenção de compra dos sorbets de coco verde e
o resultado mostrou que a maior parte possivelmente compraria e certamente
compraria os sorbets de coco verde.
Assim, o desenvolvimento de sorbets utilizando polpa de coco verde é
uma alternativa para combater o desperdício dessa matéria-prima de boa quali-
dade nutricional, além de agregar valor econômico à cadeia do coco no Brasil.

REFERÊNCIAS

1. IGUTI, A. M.; PEREIRA, A. C. I.; FABIANO, L.; SILVA, R. A. F.;


RIBEIRO, E.P Substitution of ingredients by green coconut (Cocos nucifera
L) pulp in ice cream formulation. Procedia Food Science, v. 1, p. 1610 –
1617, 2011.

2. TEIXEIRA, N.S.; TORREZAN, R.; DE GRANDI, D.; FREIT-


AS-SÁ, C.; PONTES, S.M.; RIBEIRO, L.O.; CABRAL, L.M.C.; MATTA,
V.M. Development of a fruit smoothie with solid albumen of green coconut.
Ciência Rural, Santa Maria, v. 49, n. 1, 2019.

3. SANTANA, I. A.; RIBEIRO, E. P.; IGUTI, A. M. Evaluation of green


coconut (Cocos nucifera L.) pulp for use as milk, fat and emulsifier replacer in
ice cream. Procedia Food Science, n. 1, p. 447-1453, 2011.

COMO EU FAÇO cIÊNCIA

Meu nome é Ingrid Conceição Dantas Guerra e sou professora do De-


partamento de Gastronomia da Universidade Federal da Paraíba. As pesquisas
que coordeno na área de ciência e tecnologia de alimentos e na área gastro-

- 358 -
nomia são direcionadas ao Desenvolvimento Regional do estado da Paraíba
e da nossa região (Nordeste). Há três anos pesquisamos o potencial de uso
da polpa de coco verde tendo sido desenvolvidos produtos diversos (bebidas
fermentadas, sorvete, sorbet), produtos estes seguros para consumo humano
e passíveis de serem produzidos e comercializados. Nesses três anos, o que
produzimos com a polpa do coco verde se transformou em uma cartilha e as
tecnologias produzidas foram difundidas em Cozinhas Comunitárias da Cida-
de de João Pessoa como estratégia de fornecer um destino sustentável a essa
matéria-prima que é descartada, bem como, gerador de renda para pessoas em
situação de vulnerabilidade.
Os benefícios das pesquisas com a polpa do coco verde estão relaciona-
dos tanto em relação ao cumprimento dos objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável como com a inclusão produtiva de pessoas em situação de vulne-
rabilidade social (está sendo criado pela prefeitura o grupo de mulheres “Do-
nas do coco” de economia solidária). Também estão em andamento ensaios de
determinação de vida-de-prateleira para transferência, direcionando produtos
de coco para os produtores no sertão e no litoral do estado, fortalecendo a
cadeia do coco no estado.
Com a condução do projeto de aproveitamento da polpa de coco verde
a UFPB e a Prefeitura de João Pessoa ganharam uma premiação de reconhe-
cimento pelo combate ao desperdício de alimentos concedida pelo Ministério
do Meio Ambiente em 2018, o prêmio Elo Cidadão, concedido pela UFPB em
2018, e está como finalista do prêmio Bratzoa de Sustentabilidade em 2019.
A limitação de recursos tem dificultado sobremaneira a continuação das
pesquisas tanto no que diz respeito às análises necessárias para fechar a carac-
terização de novos produtos, bem como as pesquisas para dar destino à casca
(parte fibrosa do mesocarpo).

- 359 -
ISBN 978-65-00-06195-6

Você também pode gostar