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Qualitativa em
Saúde
conhecimento e aplicabilidade
Organizadores
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira
Nelson Filice de Barros
Raimunda Magalhães da Silva
Investigação
Qualitativa em Saúde
conhecimento e aplicabilidade
Ficha Técnica
Organizadores: Ellen Synthia Fernandes de Oliveira, Nelson Filice de Barros e Raimunda Magalhães da Silva
Autores: Ana Maria Fontenelle Catrib; Aline Veras Brilhante; António Pedro Costa; Catarina
Brandão; Christina Cesar Praça Brasil; Cleomar de Sousa Rocha; Dayse Cristine Dantas Brito Neri de
Souza; Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Eliamar Aparecida de Barros Fleury; Helena Gonçalves
Jardim; Jaime Moreira Ribeiro; José Manuel Peixoto Caldas; Juan Carlos Aneiros Fernandez;
Juliana da Fonseca Bezerra; Juliana Luporini do Nascimento; Ligia Moreira de Almeida; Luiza Jane
Eyre de Souza Vieira; Marcelo Castellanos; Maria Alves Barbosa; Mariana Teixeira da Silva; Mário
Silva Approbato; Myrella Silveira Macedo Cançado; Nelson Filice De Barros; Rafael Afonso da Silva;
Raimunda Magalhães da Silva; Renata da Costa Rodrigues; Ricardo Antônio Gonçalves Teixeira;
Rodrigo Carvalho do Rego Barros; Rosendo Freitas de Amorim
Edição: Ludomedia
Rua Centro Vidreiro, 405
São Roque
3720-626 Oliveira de Azeméis
Aveiro - PORTUGAL
Impressão: RealBase
Depósito Legal:
Conselho Editorial
Aila Maria Leite Sampaio | Universidade de Fortaleza (Brasil)
Carlos Cardoso Silva | Universidade Federal de Goiás (Brasil)
Emília Coutinho | Escola Superior de Saúde de Viseu (Portugal)
Jorge Alberto Bernstein Iriart | Universidade Federal da Bahia (Brasil)
Maria Zaíra Turchi | Universidade Federal de Goiás (Brasil)
Marília Rua | Universidade de Aveiro (Portugal)
Sandra Rocha do Nascimento | Universidade Federal de Goiás (Brasil)
Editora Ludomedia
Diretor
António Pedro Costa
SubDiretora
Sónia Mendes
Conselho Editorial
Ana Paula Macedo (UM, Portugal) Lia Raquel Oliveira (UM, Portugal)
António Moreira (UA, Portugal) Luís Eduardo Ruano (UCC, Colômbia)
Catarina Brandão (FPCE-UP, Portugal) Luis M. Casas (UNEX, Espanha)
Christina Brasil (UNIFOR, Brasil) Luis Paulo Reis (UM, Portugal)
Cristina Rosa Soares Lavareda Baixinho Marília Rua, (UA, Portugal)
(ESEL, Portugal)
Raimunda Silva (UNIFOR, Brasil)
Dayse Neri de Souza (UA, Portugal)
Ricardo Luengo (UNEX, Espanha)
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira (UFG, Brasil)
Emiko Yoshikawa Egry (USP, Brasil) Ricardo Teixeira (UFG, Brasil)
Francislê Neri de Souza (UA, Portugal) Ronaldo Nunes Linhares (UNIT, Brasil)
Isabel Pinho (UA, Portugal) Sandro Dutra (UEG, Brasil)
Jaime Ribeiro (IPL, Portugal) Simone Tuzzo (UFG, Brasil)
João Amado (FPCE-UC, Portugal) Susana Sá (UM, Portugal)
Copyright © Ludomedia
ÍNDICE
PREFÁCIO
Marcelo E. P. Castellanos ...................................................................................................... 7
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Helena Gonçalves Jardim ..................................................................................................... 11
PREFÁCIO
Marcelo E. P. Castellanos
Universidade Federal da Bahia
mcastellanos@ufba.br
Por vezes, navegamos em direção das terras portuguesas, para descobrir, a partir
de entrevistas semi-estruturadas com mulheres africanas migrantes, residentes
em uma das regiões mais ricas de portugal, como elas vivenciam importantes
processos de vulnerabilização, por ocasião de suas experiências gestacionais e
maternas, enredadas que estão em tramas burocráticas de relações sociais, a
partir das quais o (neo)colonialismo se recoloca, já em um novo contexto social.
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PREFÁCIO | Marcelo E. P. Castellanos
sudeste e sul “maravilha”), vamos em direção aos dramas vividos por mulheres
que encontram na fertilização in vitro, uma última opção para viabilizar sua
experiência gestacional. Aí, temos um encontro marcado com a musicoterapia
e sua capacidade de afluir (e influir sobre) sentimentos, percepções, ideias que
conformam o caminhar dessas mulheres em direção ao rebento, tão desejado.
Paramos, então, em uma estação para repousar. Nela, tomamos água, sentamos
em um banco, descansamos os pés e a cabeça. Esta começa a voar longe, solta
em imagens de ir e de vir, voando por nossas andanças. Então, começa a
se concentrar em um pensar com olhar atento, um olhar repousado sobre
esse nosso caminhar. E assim começa a contar uma narrativa do se construir
no caminho. Imbuídos desse espírito, somos levados a “tatear” a construção
metodológica do pesquisador e dos pesquisados, na investigação de práticas
de cuidado à saúde em comunidades de terreiro. Tateando, sentimos o chão
dos terreiros em que pesquisador e pesquisados procuram se sustentar, nesse
encontro propiciado, mais uma vez, pela observação participante. E assim
somos levados a entrar nesse “processo vivo” de reflexão. Também encontramos
interessantes reflexões sobre a construção do percurso metodológico em uma
pesquisa sobre educação sexual e adolescência, em que se empregou a análise
do discurso. Já com um olhar um pouco mais sistemático, somos levados
a refletir sobre as características, possibilidades abertas e pertinências do
interacionismo simbólico e do estudo de caso, como perspectivas de análise
na área da saúde.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Ainda que a “viagem” propiciada por este livro não siga forçosamente o roteiro
traçado neste pequeno texto, vale a dica.
Boa jornada!
REFERÊNCIA
SILVA, M. J. Kalunga: Origens e Significados (final). Acessado em: 19/10/16. Disponível em:
http://www.dm.com.br/opiniao/2015/04/kalunga-origens-e-significados-final.html
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PREFÁCIO | Marcelo E. P. Castellanos
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
hjardim@staff.uma.pt
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CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS | Helena Gonçalves Jardim
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Observa-se, assim, que pesquisadores do campo da saúde têm cada vez mais
utilizado metodologias e epistemes da investigação qualitativa com o fim de obter
ganhos relacionais e a efetiva promoção da saúde, pois, dada a globalização,
acompanhada pela calamidade ecológica da contemporaneidade, só deste
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CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS | Helena Gonçalves Jardim
REFERÊNCIAS
ATKINSON, P.; DELAMONT, S.; HOUSLEY, W. Contours of Culture: Complex Ethnography
and the Ethnography of Complexity. Lanham: Rowman Altamira, 2008.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. 8a ed. São Paulo:
Hucitec, 2004.
SOUZA, J. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São
Paulo: LeYa, 2015.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
MUSICOTERAPIA EM MULHERES
SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO
Eliamar Aparecida de Barros Fleury1; Maria Alves Barbosa2;
Mário Silva Approbato3
1
Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás; 2Faculdade de Enfermagem
da Universidade Federal de Goiás; 3Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás
SINOPSE
A infertilidade pode desencadear alterações psicológicas em pacientes com a doença. A
musicoterapia interativa possibilita a auto-expressão da pessoa. O objeto de interesse desse estudo
foi compreender de que forma a musicoterapia pode auxiliar mulheres inférteis submetidas a
técnicas de alta complexidade. Estudo descritivo-exploratório qualitativo, parte de pesquisa de
doutorado, aprovada em Comitê de Ética em Pesquisa. Participaram 32 mulheres inférteis,
atendidas individualmente e foram realizados registros em áudio. Utilizou-se questionários para
coleta de dados e o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp. A análise de conteúdo levou à
criação de categorias. Para análise descritiva utilizou-se o software WebQDA, Statistical Package
for the Social Sciences e Programa Excel. Conclui-se que as composições musicais das mulheres
traduziram dificuldades emocionais decorrentes da infertilidade e, possivelmente, agravadas
durante o tratamento. Musicoterapia, a partir da aplicação de métodos específicos, poderá
amenizar o sofrimento psíquico das pacientes durante o tratamento.
INTRODUÇÃO
Infertilidade é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares sem uso de
contracepção (GNOTH et al., 2005), sendo um problema comum em todo
o mundo. Segundo a OMS, a infertilidade afeta, mundialmente, de 8% a
15% dos casais. No Brasil estima-se haver 51 milhões de mulheres em idade
reprodutiva, podendo-se calcular a existência de 4 a 7 milhões de mulheres
inférteis em nosso país, o que torna essa doença um problema de Saúde
Pública (GRADVOHL et al., 2013).
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
OBJETIVOS
Apresentar perfil sociodemográfico e clínico de mulheres em TRA atendidas
em um hospital público universitário.
METODOLOGIA
Estudo descritivo-exploratório qualitativo, recorte de pesquisa de doutorado1,
em andamento, aprovada em Comitê de Ética da instituição onde o estudo
foi realizado. Participaram 32 mulheres inférteis, atendidas no Laboratório
de Reprodução Humana, vinculado ao Departamento de Ginecologia e
Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
(LabRep/HC/UFG).
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
RESULTADOS
Os dados sociodemográficos e clínicos apontam média de idade das
participantes de 33,8 anos (24-41 anos) e distribuição igualitária de pacientes
referente ao grau de escolaridade, ou seja, 46,9% possuem Ensino Superior,
46,9% Ensino Médio e uma minoria (6,3%) tem Ensino Fundamental.
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
Posso ser totalmente eu, me expressar de forma livre, sem culpa ou medo (P33).
Felicidade3
DIMINUIÇÃO DO ESTRESSE
Do total das participantes, 75% referem que a musicoterapia contribuiu na
minimização do estresse experimentado durante a TRA. Este fato pode ser
observado em respostas ao QAp, sobre os atendimentos de musicoterapia,
conforme se segue:
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Dá uma luz pra gente ... uma calma [referindo-se aos atendimentos]. Tira a
gente um pouco do stress, da tensão que a gente fica... aí você já entra lá pra
dentro mais tranquila. (P29)
Desabafo
Não estou conseguindo concentrar. Hoje eu não estou. Estava confiante. Agora,
nem tanto. Parece que eu quero correr. Meu corpo não quer ficar aqui. Tô me
sentindo pressionada. Agora resolveu desabar. Queria que esse momento. O da
minha gravidez (do meu tratamento4), tivesse tudo equilibrado. (P3)
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
Tanto, tanto andei. Gastei, chorei, lamentei [choro]…Para realizar meu sonho,
meu sonho de ser mãe de novo… quero e preciso estar preparada pelo que
pode acontecer. (P133)
(…) nesse dia que começa já acordei nervosa [choro] com muito medo e muito
pessimista. Acho que não vai dar certo (…). (P133)
5 Esse tipo de comunicação abrange os aspectos não verbais envolvidos no processo comunicacional, tais como,
postura, gestos, movimentos corporais, inflexões da voz, ritmos e entonações das palavras. (TORMA, 2015).
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Eu to com muita raiva. Raiva de tudo isso. É a terceira vez que isso acontece.
Se hoje formasse embrião, seria um milagre. (p.145)
CONCLUSÕES
As participantes demonstraram boa aceitação à terapêutica em si, bem como,
um engajamento positivo à proposta apresentada. A musicoterapia se mostra
efetiva às mulheres em TRA, ao favorecer um espaço seguro e acolhedor para
expressão de sentimentos e sensações referentes à infertilidade e ao TRA,
por meio da composição musical assistida. Em nosso estudo as composições
musicais das mulheres em TRA traduziram algumas das dificuldades
emocionais decorrentes da infertilidade e, possivelmente, agravadas durante
o tratamento.
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
REFERÊNCIAS
ALCÂNTARA-SILVA, T.R.M. Estudo randomizado testando musicoterapia na redução da
fadiga relacionada ao câncer em mulheres com neoplasia maligna de mama ou
ginecológica em curso de radioterapia. 2012. 142 f. Tese (Doutorado) - Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
de Goiás, Goiânia, 2012.
APPROBATO, M.S. Infertilidade. In: PORTO, C.C. (Org). Clínica médica na prática diária.
1a edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
BRADT, J., DILEO, C., SHIM, M. Music interventions for preoperative anxiety. Cochrane Database
of Systematic Reviews. 2013, Issue 6, Art. Disponível em: https://www.temple.edu/boyer/
community/documents/musicintervntionsforpreoperativeanxiety.published.pdf
GNOTH, C. et al. Definition and prevalence of subfertility and infertility 2005. Human
Reprod, v. 20, n. 5, p. 1144-1147, 2005.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
MOREIRA, S.N.T. et al. Estresse e ansiedade em mulheres inférteis. Rev Bras Ginecol Obstet,
v. 6, n. 28, p.358-64, 2006.
PETERSON, B.D.; et al. Are severe depressive symptoms associated with infertility-related
distress in individuals and their partners? Human Reproduction. 2014:29(1): 76-82.
QUEIROZ, G.J. Pereira de. Aspectos da Musicalidade e da Música de Paul Nordoff: e suas
implicações na prática clínica musicoterapêutica. São Paulo: Apontamentos, 2003.
114 p.
SOUZA, M.C. B. Infertilidade e Reprodução Assistida. Este tal Desejo de Ter um Filho. In:
SOUZA, M.C.B.; MOURA, M. D.; GRYNSZPAN, D. (Eds.). Vivências em tempo
de reprodução assistida. O dito e o não-dito. Rio de Janeiro: Revinter; 2008. p. 1-66.
SOUZA, F.N.; COSTA, A.P.; MOREIRA, A. WebQDA: software de apoio à análise qualitativa.
Atas da 5a Conf. Ibéria de Sistemas e Tecnologias de Informação. p. (CISTI2010),
p. 293-298, 2010.
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MUSICOTERAPIA EM MULHERES SUBMETIDAS A FERTILIZAÇÃO IN VITRO | Eliamar Fleury; Maria Barbosa; Mário Approbato
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
OS SENTIDOS DO MESTRADO
PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA
ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL
DE TRABALHO
SINOPSE
O estudo teve como objetivo analisar os sentidos atribuídos pelos gestores dos serviços de saúde
do Estado de Goiás sobre a contribuição do curso de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva
na atuação do servidor em seu local de trabalho. Os dados foram coletados por entrevistas
semiestruturadas e submetidos a análise de conteúdo temática. Os sentidos atribuídos são,
em parte, compatíveis com o documento normativo da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, embora observe-se que ocorrem dificuldades da parte dos gestores
em impulsar o egresso em cargos de gestão e desenvolvimento de projetos de intervenção.
Conclui-se que, com base em generalização analítica, apoiada nos dados pessoais e locais
apresentados, bem como na literatura sobre o assunto no Brasil, que mesmo com importantes
desafios de curto, médio e longo alcance, essa modalidade de produção de conhecimento e
inovação tecnológica é fundamental para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
Os mestrados profissionais (MP), modalidade de formação de pós-graduação
stricto sensu, foram concebidos no “Parecer Sucupira” (BRASIL, 1965),
documento que lançou as bases da Pós-Graduação (PG) no Brasil. Entretanto
somente em 1995, por meio da Portaria 47/95 (CAPES, 1995), passaram a
ser praticados e conhecidos, gerando, desde então, discussões dentro e fora da
academia acerca da validade de sua titulação, da sua estrutura curricular, dentre
outros aspectos (FISCHER; WAIANDT, 2012; MACIEL; NOGUEIRA, 2012).
A regulamentação dos MPs (CAPES, 1998) traz como proposta a criação de
cursos de natureza qualitativamente diferente dos mestrados acadêmicos,
tendo como características: articulação com uma base de pesquisa consolidada;
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório-descritivo, com
chefes imediatos dos profissionais egressos de um curso de MPSC, sobre a
contribuição do servidor egresso em seu local de trabalho.
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
Cabe ressaltar que este capitulo é parte de uma pesquisa mais ampla sobre
os egressos do MPSC de uma instituição pública da região Centro-Oeste,
que envolveu uma grande quantidade de dados para análise, levantados por
meio de questionário e entrevistas. O estudo foi financiado pela Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e submetido ao Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Plataforma
Brasil e aprovado com o Parecer nº1.292.381. E, para preservar o sigilo dos
entrevistados, eles foram nomeados por ordem sequencial de E1 a E12.
RESULTADOS
A análise dos sentidos atribuídos pelos gestores dos serviços de saúde sobre
esta modalidade de pós-graduação e a contribuição do servidor egresso em
seu local de trabalho, bem como as transformações e modificações geradas no
cenário de prática identificadas nas entrevistas, é importante para o avanço do
conhecimento sobre esse espaço de articulação entre a academia e o serviço.
Categorias Referências
Contribuição do MP na atuação do servidor 32
Atuação profissional na equipe de trabalho 32
Modificação no trabalho 33
Sugestões de melhorias para o MP 39
Total 136
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
MODIFICAÇÃO NO TRABALHO
Os gestores identificaram modificações no trabalho dos egressos, citando
projetos que foram realizados e colocados em prática, não somente referentes
à dissertação, mas também outros construídos durante e depois do mestrado.
MELHORIAS PARA O MP
Muitas sugestões de melhorias para o MP, principalmente voltadas para
aplicabilidade dos produtos e para contemplar os temas prioritários para o
SUS foram declaradas pelos participantes.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Talvez uma proposta que pudesse formalizar um pouco isso, poderia ser o fato da universidade,
já que ela pede a liberação, que também solicitasse um ”rol” de temas que pudessem ser
desenvolvidos por aquele aluno... Uma discussão mesmo.... Não quer dizer que isso amarraria
os projetos, só em termos de sugestão, seria interessante. E11
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
Eu acredito que o MP, assim como todas as outras áreas de ensino precisa de continuidade,
então o que eu acho que falta no MP é o doutorado e o pós-doutorado pra fechar. E4
DISCUSSÃO
O nosso estudo mostra que além da necessidade de qualificação do profissional,
urge uma efetiva integração entre a universidade e a sociedade, bem como
uma valorização da interdisciplinaridade e de projetos que sejam capazes de
transformar a realidade, o processo de trabalho e o conhecimento.
Acreditamos que sim, com base nos sentidos positivos atribuídos pelos
gestores, que se nos apresentaram como importantes evidências. Como
sustenta Ribeiro (2006), os desafios do MP são tão grandes ou ainda maiores
do que os dos programas acadêmicos, pois a implementação de um modelo
de formação profissional ainda é uma aposta baseada nos princípios de que
a pesquisa deve atender à demanda da prática e que o trabalho é a base de
um processo de formação. Sobretudo, na medida em que inclui práticas de
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como foco conhecer os sentidos atribuídos pelos gestores
e chefes imediatos dos profissionais egressos do MPSC da Universidade Federal
de Goiás sobre a sua contribuição na transformação de diferentes cenários de
prática do SUS. Foram explorados os sentidos associados a quatro categorias
de análise relacionadas às Contribuições do Mestrado Profissional na Atuação
do Servidor, Atuação Profissional na Equipe de Trabalho, Modificação no
Trabalho e Sugestões de Melhorias para o MP.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
REFERÊNCIAS
ALMEIDA-FILHO, N. M. D. Contextos, impasses e desafios na formação de trabalhadores
em Saúde Coletiva no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, v. 18, n. 7, p. 1677-1682, 2013.
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
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OS SENTIDOS DO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA ATUAÇÃO DO SERVIDOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO
Ellen Synthia Fernandes de Oliveira; Mariana Teixeira da Silva; Nelson Filice de Barros
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
cpraca@unifor.br; rmsilva@unifor.br
SINOPSE
Os estudos qualitativos ampliam-se na área da saúde por possibilitarem a visualização mais
profunda dos problemas e viabilizarem a incorporação do significado e da intencionalidade
dos atos, das relações e das estruturas sociais. Isto posto, torna factível dar ênfase à observação
das qualidades das entidades e dos processos, além da compreensão dos significados que não
são examinados ou medidos experimentalmente. Observa-se que a pesquisa qualitativa envolve
abordagens que procuram entender ou interpretar os fenômenos em termos dos significados que
as pessoas lhes conferem. Para o desenvolvimento desse tipo de estudo, é necessário optar por
um referencial teórico-metodológico que contemple as dimensões que se buscam compreender.
Assim, ao se falar em sentidos, compreensões, ações, interpretações e intencionalidade,
voltaremos, neste capítulo, o olhar para um relato de experiência sobre pesquisas que utilizaram
o Interacionismo Simbólico e a sistematização da metodologia utilizada para facilitar a coleta,
a análise e a interpretação dos dados.
INTRODUÇÃO
A pesquisa qualitativa volta o seu olhar para o estudo de grupos ou
experiências relacionadas à saúde ou à doença, em que o assunto é pouco
conhecido ou o conhecimento que se tem parece insuficiente ou inadequado
(RICHARDS; MORSE, 2007). Além disso, esses estudos também se aplicam
para a concepção de novas ideias sobre fenômenos, grupos, experiências ou
conceitos estudados em momentos anteriores (CRESWELL, 2010).
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
Nesse sentido, Becker (1996) aponta que a pesquisa qualitativa contempla uma
abordagem naturalista e interpretativa do cenário em estudo, ou seja, que seus
pesquisadores estudam as coisas em seus ambientes naturais, na tentativa de
entender ou interpretar os fenômenos de acordo com os significados atribuídos
pelos indivíduos.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Sob este mesmo prisma, essas autoras defendem a ideia de que o Interacionismo
Simbólico possibilita a análise dos processos de socialização e ressocialização,
além de favorecer o estudo da mobilização de mudanças de opinião,
comportamentos, expectativas e exigências.
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
Haguette (2007) e Blumer (1969) ainda chamam a atenção para o fato de que
essas premissas reforçam a ideia de que o sentido (ou significado) das coisas para
o comportamento humano é fundamental para o Interacionismo Simbólico,
o que corresponde a um dos diferenciais dessa teoria. Por isso, é importante
ressaltar que a utilização dos significados envolve uma interpretação, que
passa por duas etapas, quais sejam:
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
Para a análise dos trabalhos, utilizou-se uma planilha do Excel Standard 2010,
na qual se evidenciaram os seguintes dados: título, descritor utilizado na busca,
categoria (tese ou dissertação), ano, objetivo, referencial teórico-metodológico
adotado, técnica de análise de dados e temáticas.
Morgan (1997) aponta que os grupos focais são uma técnica de pesquisa
que coleta dados com base em interações grupais, ao se debater um assunto
específico proposto pelo pesquisador. Esta interação coaduna-se com o
Interacionismo Simbólico (BLUMER, 1969), o que possibilitou à pesquisadora
obter informações de caráter qualitativo em profundidade, uma vez que a
técnica foi capaz de revelar as percepções das participantes sobre a saúde
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Para a realização dos grupos focais, foi utilizado um roteiro com questões
norteadoras, o qual possibilitou realizar um debate participativo e promover
um aprofundamento relacionado aos sentidos da voz para as professoras do
Ensino Fundamental, suas atitudes perante a ocorrência de alterações vocais
e os impactos destas na vida pessoal, profissional e social (MINAYO, 2010).
Trad (2009, p. 788) aponta que “na formatação do roteiro dos grupos, é
imprescindível não perder de vista a coerência deste processo com o referencial
teórico-metodológico adotado na pesquisa”, o que é confirmado por vários
autores, incluindo Minayo (2010) e Minayo (2013). Assim, no roteiro do GF
elaborado para esta pesquisa, observa-se a relação das questões norteadoras
com as três premissas do Interacionismo Simbólico (BLUMER, 1969),
facilitando a contextualização das respostas das participantes sobre saúde
vocal na perspectiva teórico-metodológica que embasa a discussão, uma vez
que esta teoria configura como método significativo para os pesquisadores e
profissionais de saúde interessados em juízos de valor sobre o assunto estudado
(LOPES; JORGE, 2005). Diante do exposto, as questões elaboradas para o
roteiro do GF foram as seguintes:
1ª. Premissa – O ser humano age com relação às coisas na base dos sentidos
que elas têm para ele.
a. Como você usa a sua voz (na vida pessoal, social e profissional)?
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
e. O que você acha que prejudica a sua voz (emoções, período pré-menstrual,
envelhecimento, uso excessivo, condições ambientais adversas, etc)?
c. Como professora e mulher, acha que tem mais chance de ter problemas
na voz? Por quê?
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
Constituído coletivamente
Conhecimento primário
Redirecionável/Novo conhecimento
INTERAÇÕES SOCIAIS
MEDIAÇÕES
RESULTADOS
Blumer (1969) defende a ideia de que os grupos humanos existem em ação e
assim devem ser vistos, num continuum de interação que pode ser modificado
pelo contexto e pela necessidade. As interações sociais geram ações e reações,
as quais podem mudar as interpretações das situações e objetos da vida diária,
o que pode ser verificado pela representação gráfica apresentada na Figura 1.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
fonoaudiólogo, com substrato no que ele diz, nos seus argumentos, nas suas
interferências, na sua ressignificação das falas dos participantes, ou seja, os
significados constituídos pelos professores não representam meramente um
processo interpretativo individual, mas coletivo, pautado nas interações, como
postula o Interacionismo Simbólico.
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Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização da estratégia metodológica descrita neste estudo, a qual predefiniu
as temáticas de análise dos dados qualitativos com base nas premissas do
Interacionismo Simbólico, possibilitou estabelecer um perfil detalhado da
saúde vocal das participantes, uma vez que os conhecimentos, os sentimentos,
as ações e as interpretações das professoras sobre a voz permitiram um olhar
contextualizado sobre a questão. Isso favoreceu aos pesquisadores uma
visão ampliada do problema e a captação das três dimensões – sentidos,
ações e interpretações. Tal procedimento impactará de forma mais efetiva
na instrumentalização das docentes e dos gestores escolares e municipais a
redimensionarem os conhecimentos e as ações voltadas à saúde vocal.
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
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UM OLHAR SOBRE A APLICAÇÃO DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO EM PESQUISAS NA ÁREA DA SAÚDE
Christina Cesar Praça Brasil, Raimunda Magalhães da Silva
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
juancaf@fcm.unicamp.br; rafonso@fcm.unicamp.br
SINOPSE
As reflexões que seguem cuidam de um dos processos de pesquisa que compuseram o projeto
“Práticas populares de cuidado à saúde em comunidades de terreiros”. É um projeto com
múltiplos territórios de investigação/produção. Aqui nos concentramos em uma de suas etapas,
a experiência dos estudos de caso em comunidades de terreiros. O objetivo do capítulo é expor
o modo como se operou sua metodologia, como processo vivo, trazendo, ao final, não uma
síntese de seus múltiplos resultados, mas alguns trechos extraídos de estudos de caso em que
seus deslocamentos (a um só tempo, metodológicos, conceituais e ético-políticos) se tornam mais
evidentes, na narrativa singular do pesquisador.
1. CAMINHADAS E NARRATIVAS
Um texto clássico das Ciências Sociais diz que “a metodologia é importante
demais para ser deixada aos metodólogos” (BECKER, 1994, p. 17). O que
subjaz a essa afirmação – à qual nos alinhamos – é a ideia de “um modelo
artesanal de ciência, no qual cada trabalhador produz as teorias e métodos
necessários para o trabalho que está sendo feito” (IDEM, p.12). Segundo esse
autor, mais do que se preocupar com “regras de procedimento”, o pesquisador
social deve ampliar as possibilidades do “julgamento humano”, tornando as
bases deste “tão explícitas quanto possível, de modo que outros possam chegar
a suas conclusões” (IDEM, p. 19-20).
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O MÉTODO QUE SE PERFAZ TATEANDO | Juan Carlos Aneiros Fernandez; Rafael Afonso da Silva
2. MUITOS CAMINHANTES
A nossa não foi uma caminhada solitária, nem sequer foi uma caminhada, mas
caminhadas intercomunicantes de múltiplos sujeitos, um processo em que não
havia apenas uma atenção ativada em deslocamento e em que houve intensa
negociação de rotas.
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Assim, mapeamos conceitos que nos pareciam úteis para as conversas que
pretendíamos iniciar, malgrado sabendo que não poderiam ser assumidas
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O MÉTODO QUE SE PERFAZ TATEANDO | Juan Carlos Aneiros Fernandez; Rafael Afonso da Silva
como conceitos dos sujeitos que iríamos encontrar. Procuramos pistas de “como
chegar”, de “como se comportar”, estratégias de “civilidade” aprendidas por
pesquisadores em experiências com as comunidades de terreiro ou mesmo
com outras, mas conscientes de que essa sabedoria acadêmica socialmente
acumulada poderia não nos valer em uma série de intercursos específicos.
Levantamos recursos vernaculares que poderiam facilitar a conversa, embora
assumindo o risco, ou melhor, contando otimistamente com a possibilidade de
ver esse glossário mínimo se desfazer. Em suma, reunimos “coisas”, “sentidos
feitos”, para (uma vez colocadas na mesa, como cartas em um jogo) nos
levarem a outras, “sentidos por fazer”, conhecimentos novos produzidos como
interconhecimentos emergentes de nossa própria pesquisa. Com essas “coisas”,
elaboramos nossos mapas, roteiros, bússolas, quadrantes. Aqui delinearemos
algumas dimensões de três “mapas”.
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A solução que encontramos para chegar a esse “máximo possível” foi estimular
os pesquisadores a relatarem experiências subjetivas de interação com o outro.
É algo como ter redirecionado uma convocação de Bachelard (1977, p. 25) aos
cientistas de então: “mostrem-nos, sobretudo, as ideias vagas, as contradições,
as ideias fixas, as convicções sem prova (...), a fuga dos projetos, as intuições
inconfessadas”.
Não podemos falar sobre nossos “objetos de estudo” sem nos referir ao impacto
deles sobre nós mesmos. De fato, quando deparamos a leitura conjunta do
material coletado e transcrito, notamos a dificuldade que seria a produção
dos relatórios parciais que instruiriam a continuidade de cada estudo. Foi
preciso que o primeiro relatório parcial, considerado por parte do grupo como
“excessivamente subjetivo”, criasse a possibilidade de percebermos que, se
pretendíamos uma “ecologia de saberes”, teríamos de aprender, nós mesmos,
a “ecologizar”.
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Os relatos finais dos casos foram, por fim, entregues para uma leitura pelos
pesquisadores desnucleados ou conduzida a uma leitura conjunta entre estes
e os pesquisadores nucleados, sendo as modificações necessárias realizadas
nesses contextos. Modificações de pequena monta, caberia dizer. Tivemos
uma recepção satisfatória dos estudos de caso pelos sujeitos entrevistados
e, em alguns casos, um retorno muito positivo e, por isso, estimulante. Esse
resultado, no entanto, foi o produto de uma sinuosa caminhada anterior, com
seus percalços e desvios, encruzilhas e deslocamentos, como ilustrado a seguir
pelos excertos de alguns estudos de caso.
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O MÉTODO QUE SE PERFAZ TATEANDO | Juan Carlos Aneiros Fernandez; Rafael Afonso da Silva
Ainda que antes dessa segunda entrevista, quando eu o levei, a seu pedido, a um
destino para tratar de um assunto particular e breve, ele tenha me dito que havia
me subestimado, pois a pesquisa parecia muito interessante, o fato é que durante
essa entrevista, por diversas vezes, ele interrompia abruptamente sua resposta e,
de modo gestual discreto, mas também performático, parecia dizer: Próxima!
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Disse ele: Isso é importante porque vai registrar a diversidade e não tratar
uniformemente as origens das nações, a origem étnica de cada povo que nos
fez essas contribuições. Então, Nkisi.
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O MÉTODO QUE SE PERFAZ TATEANDO | Juan Carlos Aneiros Fernandez; Rafael Afonso da Silva
Experimentei, por essa razão, também uma surpresa, no caso, com o material.
Na verdade, penso ter me surpreendido comigo mesmo. O bastante para
rejeitar a quase totalidade dos comentários que eu tinha aposto ao texto
transcrito da entrevista para levar à discussão inicial com o grupo.
Há um mecanismo ardiloso por trás de tão nobre iniciativa que cabe denunciar.
E o fazemos em uma perspectiva de autocrítica. Tal iniciativa pressupõe que:
as comunidades de terreiros não sabem o que é o SUS; a linguagem para
comunicação com as comunidades de terreiros deve ser simples; é o SUS (e
não os terreiros) quem pode mais adequadamente ensinar sobre a pluralidade.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
O ardil a que nos referimos, ou o que, de fato, coça, reside em outro ponto:
estamos, como sanitaristas e gestores, muito habituados a “falar” do “SUS
ideal” e menos interessados em “ouvir” o que os usuários têm a dizer sobre
o “SUS real” que experimentam no dia a dia. Isso é muito significativo,
sobretudo, em razão da intencionalidade desta proposta de estudo de percorrer
um trajeto investigativo que iria das comunidades de terreiros em direção ao
sistema de saúde e não o inverso, trajeto que chama a atenção para o fato de
que a saúde, sua produção e cuidado, não é exclusividade dos profissionais
do sistema oficial de saúde. A informação sobre saúde de que precisamos
é também aquela que advém das comunidades, se, é claro, escutarmos e
levarmos a sério o que escutamos.
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O MÉTODO QUE SE PERFAZ TATEANDO | Juan Carlos Aneiros Fernandez; Rafael Afonso da Silva
REFERÊNCIAS
BACHELARD, G. Epistemologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
BASSI, Francesca. Revisitando os tabus: as cautelas rituais do povo santo. Religião e sociedade, v.
32, n.2, 2012, p. 170-192.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
SINOPSE
Este capítulo é um recorte de um estudo que objetivou analisar as percepções das mulheres,
parteiras e famílias da comunidade ‘Kalunga” sobre o processo gestacional vivenciado e as escolhas
relacionadas ao tipo do parto. Localizada no nordeste do Estado de Goiás encontra-se a “Kalunga”,
uma importante comunidade de remanescentes de quilombos do Brasil em razão de sua extensão,
número de habitantes e história. O território é considerado sagrado, no qual a relação com a terra,
o tempo de plantio, as cheias e as secas de seus rios definem seus ciclos. Nele, a mulher desempenha
funções importantes para a manutenção da vida, entre elas, o ofício de parteira. As parteiras
conhecem os ciclos femininos, as plantas medicinais, orações e canções voltadas à parturição criando
um sistema terapêutico peculiar. Para tanto, foi realizada extensa observação participante utilizando-
se de referenciais teóricos concernentes às etapas do trabalho de campo.
A COMUNIDADE KALUNGA
A Comunidade kalunga é uma das mais importantes comunidades de
remanescentes de quilombos no Brasil, em virtude da sua extensão, do número de
habitantes e história. Localiza-se no nordeste do estado de Goiás, na microrregião
da Chapada dos Veadeiros, a 600 km de distância de Goiânia e a 330 km de
Brasília. Ocupa uma área de 253,2 mil hectares, com uma população estimada
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Renata da Costa Rodrigues; Juliana Luporini do Nascimento; Juliana da Fonseca Bezerra
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A TRAMA DO TEMPO
Compreendendo a complexidade das inter-relações que integram este estudo,
foi possível considerar três “movimentos” essenciais no campo teórico.
Pretende-se conferir uma dinâmica neste trabalho, por isso, a consideração
dos “movimentos”, o primeiro se dirigindo ao passado, o segundo ao presente
e o terceiro reportando-se ao futuro.
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Renata da Costa Rodrigues; Juliana Luporini do Nascimento; Juliana da Fonseca Bezerra
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
ANÁLISES
As mulheres Kalunga, na hora do parto, auxiliavam as parturientes a
extravasar suas dores coletivamente. Tradicionalmente, quatro mulheres
conduziam o partejo: a parteira do “buraco”, que tinha a função de amparar
o bebê e a única a ver a genitália feminina; a do “suspiro”, que era quem
segurava a mulher e realizava massagem; a da “banda”, providenciava o
material necessário (água quente, chás, banhos e prepara o caldos) e também,
a do “consolo” que encorajava e acalmava a gestante em períodos avançados
do trabalho de parto (SCHUMAER; VITAL BRASIL, 2007).
O deslocamento é realizado pelo caminhão pau de arara que não tem dia certo
para transitar. Há temporadas em que faz a viagem todos os dias e, em outras,
em dias alternados. Às vezes pode ficar até três dias sem passar. Por isso, a
gestante necessita ir com antecedência para a consulta e permanecer na cidade.
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Renata da Costa Rodrigues; Juliana Luporini do Nascimento; Juliana da Fonseca Bezerra
Além disso, o custo do transporte é alto, pois ela gasta metade da sua renda
mensal, já que para a grande maioria das famílias a renda é proveniente do
Bolsa Família, com transporte para utilização de um serviço público que
deveria ser disponibilizado na própria comunidade, sabendo que o transporte
é apenas um dos gastos, pois há também o custo de permanência na cidade.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Uma gestante Kalunga relatou que, em seu parto anterior, além de ser deixada
sem acompanhante, amarraram-na com uma borracha na cabeceira da maca,
um braço para cada lado, com infusão intravenosa de ocitocina para acelerar
as contrações. A Lei Nº 12.895 de, 18 de dezembro de 2013, assegura que toda
parturiente tem direito a um acompanhante em seu trabalho de parto, assim
como, no estabelecimento, devem estar visíveis informativos sobre esse direito.
2 Entende-se por sistemas peritos: “[...] sistemas de excelência técnica ou competência profissional que
organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (GIDDENS, 1997:30).
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Renata da Costa Rodrigues; Juliana Luporini do Nascimento; Juliana da Fonseca Bezerra
A maior objeção foi com a alimentação oferecida pelo hospital, pois o resguardo
da mulher kalunga, em grande parte, é realizado com restrição de alimentos.
O resguardo é a prática de auto-atenção3 mais preservada pelas mulheres,
corresponde ao período de 40 dias após o parto. Elas aderem à prescrição médica,
mas, quando retornam à comunidade, retomam as práticas de saúde apreendidas
por gerações, se medicam com plantas, tomam garrafadas e fazem a dieta. Esta
situação configura-se como zona de “intermedicalidade” em que os saberes
tradicionais e biomédicos interagem e disputam dentro da mesma arena.
3 Os estudos sobre as práticas de auto-atenção analisam espaços em que diferentes conhecimentos sobre
cura, doença e saúde são articulados e ressignificados pelos sujeitos.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
CONCLUSÕES
O processo de “medicalização” do parto na comunidade se intensificou no
ano de 2010, com um evento denominado “evento desestruturante”, em que
ocorreu o óbito da filha de um dos agentes comunitários de saúde. Após esse
acontecimento, o medo das mulheres da comunidade de terem partos na roça
aumentou. A função do ACS em identificar as gestantes e encaminhá-las para a
cidade se fortaleceu e a responsabilidade recaiu sobre as parteiras, com grande
peso. O medo de serem processadas fez com que se eximissem de suas funções.
O conflito e a disputa recaem sobre as mulheres que querem realizar seus partos, mas
suas ações se alinham às recomendações biomédicas. O “evento desestruturante”
justifica a ação de se deslocar, mas não altera o sentido de que o parto na comunidade
é melhor, que a mulher é “bem cuidada” e nem “tão queixosa”.
REFERÊNCIAS
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Comunicações., São Paulo, 2006.
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COMO NASCE UM KALUNGA? PRÁTICAS E PERCEPÇÕES DE MULHERES E PARTEIRAS
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2015.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
ligia_almeida@med.up.pt; drjosemanuelpeixotocaldas@gmail.com;
janeeyre@unifor.br; rmsilva@unifor.br
SINOPSE
Gravidez e maternidade são períodos de maior vulnerabilidade para a mulher, daí a necessidade
de caracterizar a saúde materna e neonatal, considerando fatores como: utilização, acesso
e qualidade dos cuidados recebidos, validados pela perspectiva das usuárias, permitindo a
construção de uma visão holística e integrada. A pesquisa segue uma metodologia qualitativa
para coleta e análise de dados. A recolha de informações foi obtida de mulheres africanas,
independentemente da situação documental, residentes na área metropolitana do Porto.
As queixas referem-se à interpretabilidade da lei e usurpação dos direitos dos imigrantes. A
burocracia associada à supervisão da entrada de imigrantes parece ser extremamente prejudicial,
perpetuando as vulnerabilidades inerentes ao processo de migração. Especial atenção pois, deve
ser prestada às necessidades específicas e à compreensão das imigrantes durante a gravidez e
maternidade, a fim de melhorar a saúde, assegurar o acesso, promover a equidade e qualidade
dos cuidados de saúde para todos.
INTRODUÇÃO
As tendências migratórias representam oportunidades de evolução irrefutáveis
para a União Europeia, atendendo a necessidades específicas do mercado de
trabalho, essenciais à manutenção da sua estrutura social, e para a retomada
do desenvolvimento econômico e cultural. Em Portugal, nos últimos anos, os
censos demonstram que os fluxos migratórios desempenharam um importante
papel, contrariando o envelhecimento demográfico (natalidade decrescente
entre mulheres autóctones, sendo as migrantes que mais contribuem para a
manutenção das taxas de fertilidade, fecundidade e nascimentos) (CALDAS,
2007; PADILLA; MIGUEL, 2009).
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
MÉTODOS
O presente estudo resulta de um Projeto de Investigação financiado pela FCT,
“Saúde e Cidadania: Disparidades e necessidades interculturais na atenção
sanitária às mães imigrantes” (Ref.: PTDC/CS-SOC/113384/2009), ainda
a decorrer. No âmago da investigação encontra-se o estudo e observação da
“cidadania da saúde“ e seus determinantes, visando à saúde das mulheres
imigrantes grávidas e o acesso aos cuidados de saúde materno-infantis como
um elemento fulcral para a promulgação dos direitos da cidadania em Portugal.
OBJETIVOS
Os objetivos da investigação original prendem-se com a análise do papel da
cultura da população imigrante e autóctone com o intuito de perscrutar se
existem desigualdades nos acessos aos cuidados de saúde materna, considerando
todos os atores deste contexto. Pretende-se ainda proporcionar ferramentas
essenciais às boas práticas no domínio dos cuidados da saúde materna, pelo
desenvolvimento de uma avaliação multimétodo das necessidades de saúde
desta população.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
PARTICIPANTES
Este estudo tem como participantes principais mães recentes imigrantes e
portuguesas, residentes na área metropolitana do Porto. As imigrantes são
filhas de pais estrangeiros e nasceram elas próprias fora do território nacional:
países de Leste, Brasil e PALOP (grupos étnicos mais representativos do
contexto imigratório português). Desta conjuntura, destacamos e analisamos
os discursos e experiências das mulheres Africanas, junto das quais se procedeu
à explicação geral do estudo e objetivos, monitorização de autorização para
a realização de gravações áudio das entrevistas, interesse e compliance em
participar desta pesquisa, e recolha de consentimento informado. A aprovação
para a condução do estudo foi obtida a partir dos Conselhos de Administração
e do Comité de Ética de todas as instituições envolvidas.
PROCEDIMENTOS
O protocolo da investigação original segue uma metodologia de recolha e
análise de dados mista (interface quantitativa e qualitativa). A amostra foi
intencional, e respondeu aos seguintes critérios de inclusão: foram recrutadas
mães recentes, com crianças de idade inferior a 36 meses (contemplando todo
o espectro da idade fértil), residentes na área metropolitana do Porto, cujos
pais não tenham nascido em Portugal (no caso das migrantes).
ANÁLISE DE DADOS
Técnicas de análise de conteúdo e categorização das informações emergentes
foram usadas para efetuar uma análise sistemática dos dados coletados, que
envolveu a transcrição de entrevistas e notas de campo. Após a recolha de todos
os dados, uma interpretação ampla da informação resultante foi realizada.
Procurou efetuar-se uma análise sistemática dos dados sobre as informações
recolhidas entre o contingente feminino referido (que envolveu um processo
de busca e organização de transcrição de entrevistas, notas de campo e demais
matérias), com o objetivo de aumentar a compreensão desses mesmos materiais
(BOGDAN; BIKLEN, 2003) por meio de técnicas de análise de conteúdo.
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
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RESULTADOS QUALITATIVOS
Características sociodemográficas das participantes:
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
ESTADO DE SAÚDE
Relativamente à subcategoria “Estado de Saúde”, observa-se que os conteúdos
emergidos são variáveis. A autoavaliação do estado de saúde foi solicitada
a cada participante, e a maioria das mulheres classificaram-se como muito
saudáveis, apenas reportando problemas de saúde minor ou resolvidos quando
da chegada a Portugal: “O problema de saúde que eu tinha era malária. Parecia uma
maldição, porque eu estava sempre doente!”(Participante Africana).
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I. Gravidez e pós-parto
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Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
No que concerne aos níveis de ação das mulheres portuguesas para a superação
de dificuldades, observa-se que, apesar de informadas sobre o funcionamento
do SNS, as mulheres portuguesas de baixo nível socioeconômico (NSE)
só efetuam reclamações verbais, reivindicando os seus direitos (reais ou
percebidos) exclusivamente por meio de protesto oral. Em situações muito
graves ou circunstâncias com elevada probabilidade de falha médica, elas
tendem a não prosseguir com as queixas: “A parte final do parto correu mal. Ao
retirar a placenta, os médicos não eliminaram completamente os restos ... E isso me fez
102
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
desenvolver uma infeção que me obrigou a ficar hospitalizada alguns dias. Eu não estava
satisfeita, [...] mas eu não reclamei.” (Participante Portuguesa).
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
A investigação em curso revela que a maioria dos motivos de insatisfação diz respeito
a aspectos não contemplados na legislação, facilitadores da interpretabilidade
da lei e sua invasão por parte dos que primeiramente recebem os migrantes. A
burocratização crescente associada às instituições que o Governo Português oferece
para supervisionar e regular a entrada e integração de imigrantes no país tem
sido extremamente prejudicial, exponenciando dificuldades e vulnerabilidades
decorrentes da migração nas suas trajetórias de vida.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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SAÚDE MATERNA E EQUIDADE NOS CUIDADOS DE SAÚDE DAS MIGRANTES AFRICANAS
Ligia de Almeida; José Caldas; Luiza Vieira; Raimunda da Silva
108
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
professorricardoteixeira@gmail.com; filice@fcm.unicamp.br;
rodrigokarvalho@yahoo.com.br; cleomarrocha@gmail.com
SINOPSE
Este capítulo apresenta uma pesquisa sobre o cuidado da saúde do professor no contexto
hospitalar. Objetiva analisar a proposta de formação de professores da rede estadual de
educação de Goiás em saúde mental, utilizando-se de mídias interativas enquanto recurso de
apoio e o Problem-Based Learning (PBL) enquanto proposta pedagógica. Fundamenta as bases
teóricas no contexto político da classe hospitalar e os aspectos da saúde do professor. Apresenta,
enquanto recorte metodológico, uma pesquisa-ação em uma perspectiva existencial, proposta
de Barbier (2002). Partindo da do diálogo, do trabalho coletivo e colaborativo, a formação
contemplou 150 profissionais da educação. A formação proporcionou, aos participantes, uma
ressignificação da representação de “loucura”, superação da insegurança em lidar com os casos
envolvendo transtorno mental, o que permitiu a atribuição de novos sentidos à sua prática.
INTRODUÇÃO
Este texto é parte dos resultados da pesquisa realizada com professores de classe
hospitalar vinculados ao Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar do
Estado de Goiás (NAEH), órgão vinculado à Gerência de Ensino Especial
(GEEE), da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (SEDUCE).
Propôs-se, enquanto objetivo, analisar a formação de professores em saúde
mental, desenvolvido, em parte, por um curso de formação com uso de mídias
interativas e metodologia pedagógica do Problem-Based Learning (PBL). A
pesquisa, de base exploratória e de dimensão qualitativa, se valeu da pesquisa-
ação em uma perspectiva existencial, proposta por Barbier (2002).
109
CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
Os professores de classe hospitalar convivem com dois dos fatores de risco para
síndrome de burnout, pois seu trabalho abarca, ao mesmo tempo, questões
de educação e saúde. A pesquisa de Branco (2008) constatou um índice
significativo de burnout entre as professoras de classe hospitalar, com 25 dos
27 professores, que participaram do estudo, apresentando sintomas.
Observa-se que a falta de um treinamento mais consistente que prepare esses professores
para o ingresso na realidade hospitalar – esclarecendo suas rotinas, dinâmicas de
funcionamento e especificidades dos quadros de adoecimento das crianças – é um
fator que concorre negativamente para a permanência ou desempenho satisfatório
desses professores. (BARROS, 2007). Concebendo o caráter multidisciplinar
necessário à formação de um professor de classe hospitalar, a autora considera
fundamental aproximá-los do conhecimento produzido por todas as disciplinas
envolvidas no cuidado com o aluno. Observa, também, que a educação profissional
em saúde, tradicionalmente destinada à formação de médicos, enfermeiros, dentistas,
psicólogos, assim como de técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde,
entre outros, tem muito a oferecer à formação dos professores de classe hospitalar,
tomando-se o devido cuidado com os cursos tradicionais de educação profissional em
saúde, recheados de termos técnicos de difícil alcance para os profissionais da área da
educação. Ressalta, ainda, a necessidade de uma capacitação voltada para o trabalho
intersetorial, destacando como proposta para essa qualificação o uso das “narrativas
em medicina”, evocando sua característica como ferramenta de ensino da arte da
comunicação médico-paciente (BARROS, 2007).
112
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
CAMINHOS DA INVESTIGAÇÃO
Os profissionais da educação estudados estavam lotados no Núcleo de
Atendimento Educacional Hospitalar (NAEH), órgão da Gerência de Ensino
Especial da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte de Goiás
(SEDUCE). Participaram da pesquisa a coordenadora geral do NAEH, o
psicólogo institucional deste órgão, bem como as 68 professoras que realizam
atendimento educacional hospitalar ou domiciliar. O estudo foi realizado no
período de março de 2015 a maio de 2016.
113
CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
AS TÉCNICAS DA PESQUISA-AÇÃO
O primeiro quesito para realizar uma pesquisa-ação existencial é ser aceito
pelo grupo pesquisado. No caso desta pesquisa, a aceitação ocorreu de forma
gradual. A noção de campo de pesquisa não tem sua delimitação rigidamente
estipulada. Todos os lugares ou situações, desde os oficiais e formais (reuniões,
conselhos de administração, assembleias e etc.) até os informais (cafés, lugares
recreativos, de culto, reuniões familiares, encontros de confraternização) se
constituíram como fontes de dados para pesquisa.
114
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
problemática abordada, após uma reflexão prévia e uma ação planejada, uma
elevação de consciência é acrescentada ao entendimento desse objeto. Por
mais que o problema não tenha se resolvido por completo, podemos dizer que
o conhecimento sobre ele mudou e, com isso, a forma de se relacionar com
esse problema também irá mudar.
115
CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
A PROPOSTA DE FORMAÇÃO
A formação foi elaborada com uma adaptação do método Problem-Based
Learning (PBL), uma metodologia de aprendizagem baseada em problemas
e que elege como foco o aprendizado centrado no aluno (BERBEL, 1998). A
construção da autonomia na aprendizagem, pressuposto do PBL, perpassa pela
orientação, discussão e resolução de problemas formulados pelos educadores
(PERRENOUD, 2002). No PBL, a aprendizagem não está ligada direta e
exclusivamente nas atividades de ensino, como ocorre nos moldes tradicionais.
Compete aos alunos assumirem o papel ativo de buscar o conhecimento
(CABRAL; ALMEIDA, 2014).
116
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
1 Todo material desenvolvido, discutido, trabalhado, bem como as filmagens dos encontros presenciais
realizados na UFG encontram-se disponíveis no blog do NAEH, com acesso pelo endereço eletrônico:
http://naehgoias.blogspot.com.br/p/formacao-continuada.html
117
CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
neste texto, mas que foram fundamentais para a ação refletida em espiral
(ação-reflexão-ação), aumentando o nível de consciência dos pesquisadores
sobre o problema, permitindo que um novo planejamento ocorresse para
realização de nova abordagem mais madura e mais próxima do objetivo de
co-construção do objeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As professoras das classes hospitalares e do atendimento educacional domiciliar
encontram-se mais expostas aos riscos da saúde, por atuarem na interseção
das áreas da saúde e da educação. O sofrimento envolvido no atendimento a
alunos com transtorno mental se revelou o tema mais emergente, entre os que
afetavam a saúde das professoras do NAEH.
120
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Tendo em vista que a realidade de cada serviço e os fatores que incidem sobre
a saúde dos trabalhadores são inúmeros e diferenciados em cada situação
concreta, a ação proposta não é replicável diretamente em outras realidades,
sem as devidas ressalvas, cuidados e adaptações. Apesar disso, a pesquisa-ação
demonstrou ser uma ferramenta útil aos gestores na promoção da saúde dos
seus trabalhadores e na qualidade dos serviços prestados à população.
REFERÊNCIAS
ALVES, Wanderson Ferreira; SOARES JÚNIOR, Néri Emílio. A noção de qualificação do
trabalho nas pesquisas em educação: uma análise da produção acadêmica do GT
Trabalho e Educação / ANPEd. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 24, n. 1,
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121
CUIDADO DA SAÚDE DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR EM GOIÁS: UMA PESQUISA-AÇÃO EXISTENCIAL
Ricardo Teixeira; Nelson de Barros; Rodrigo Barros; Cleomar Rocha
CABRAL, Hérica do Socorro Rodrigues; ALMEIDA, Kowaska Vieira Guedes. Problem Based
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VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,1994
122
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
SINOPSE
Este capítulo apresenta um recorte de uma pesquisa que se propunha na análise das percepções
de docentes do Ensino Médio sobre a Sexualidade na adolescência e sobre a Educação Sexual
nas escolas. Considerando o poder social oriundo do discurso e o papel da linguagem como
máquina simbólico-ideológica, a pesquisa buscou analisar os discursos dos professores, situados
pelas mudanças sócio-históricas em processamento sem ignorar os processos ideológicos em
meio ao qual os discursos sociais são formados. Nosso estudo demonstra de forma minuciosa
o valor e a pertinência da pesquisa qualitativa, destacando o emprego da Análise do Discurso
como ferramenta privilegiada para investigação de temas como a sexualidade, porquanto há
uma exigência de compreensão e interpretação de aspectos da subjetividade humana possível
apenas nesse horizonte metodológico.
INTRODUÇÃO
Nas três últimas décadas assistiu-se no Brasil um recrudescimento dos
problemas relacionados à sexualidade, com destaque para contaminação por
doenças sexualmente transmissíveis (DST), gravidez na adolescência, aborto e
início de práticas sexuais cada vez mais precoces (BRASIL, 2010).
123
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
PERCURSO METODOLÓGICO
Considerando que a natureza do objeto de estudo é fator determinante para
a escolha do método a ser empregado, optamos por realizar essa pesquisa
mediante um desenho compreensivo, intencionando apreender os sentidos
atribuídos à mulher, à sexualidade e às relações de gênero na cultura nordestina
e sua relação com as vulnerabilidades às quais as mulheres estão expostas.
124
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
125
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
Para Duarte (2004), transcrever e ler cada entrevista realizada, antes de partir
para a seguinte ajuda a corrigir erros, a evitar respostas induzidas e a reavaliar
os rumos da investigação. As entrevistas não forma editadas, tendo em vista
que foi utilizada a análise do discurso.
Muito do que nos é dito é profundamente subjetivo, pois se trata do modo como
aquele sujeito observa, vivencia e analisa seu tempo histórico, seu momento
e seu meio social; é sempre um, entre muitos pontos de vista possíveis. Assim,
126
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
127
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
Para Pêcheux (1988), havia uma analogia entre ideologia e inconsciente, que
embora distintos, estariam interligados: o inconsciente no sentido freudiano e a
ideologia na acepção marxista; inconsciente como lugar do desejo e ideologia
como lugar do assujeitamento.
128
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Porém não são os sujeitos falantes que livremente, através do uso que delas
fazem, instituem o seu sentido. Este é, no entender de Pêcheux, determinado
pelas posições ideológicas colocadas em jogo nos processos sócio históricos em
que as palavras, expressões e proposições são produzidas (PÊCHEUX, 1988).
Noutras palavras, o que o sujeito diz é determinado pelas condições sócio
históricas nas quais ele o diz. Portanto, uma palavra terá um sentido a ou b
conforme seja dita de tais ou quais lugares no interior de uma formação social.
129
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
130
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
ASPECTOS ÉTICOS
Conforme as recomendações da resolução n° 196/96, do CNS/MS – Brasil,
aprovada na 59ª Reunião Ordinária, em 10 de outubro de 1996, os critérios
éticos foram obedecidos para se proceder com a investigação junto a estes
informantes, estando assim baseada em diretrizes e normas regulamentares de
pesquisas que envolvem seres humanos no território brasileiro (BRASIL,1996).
131
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
RESULTADO E DISCUSSÃO
• Educação em Saúde e Educação Sexual
Promoção de saúde é quando, eh, seja uma entidade feito uma ONG, seja
uma entidade mantida pelo governo, ela promove palestras, promove, eh,
eventos, promove, eh, divulgações sobre a saúde, sobre os vários aspectos da
saúde em si, pra evitar, pra prevenir a transmissão de doenças, essas
coisas. Pra mim é isso. (Docente 5)
132
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
A educação em saúde seria justamente, eh, como se diz, o ato dessas promoções,
por que esses eventos, a meu ver, tem cunho educativo, certo, é quando você
está educando alguém, falando de cuidado, explicando sobre as doenças e
sobre a prevenção, seria justamente a prática dessa promoção em saúde.
Quando acontece na escola, aí essa informação passa do palestrante, do
divulgador em direção ao público alvo, que são os alunos. (Docente 5)
É educar as pessoas pra saúde, né, por que tem pessoas que falam em
promoção da saúde e na verdade não ensinam o básico pra ter essa promoção.
Quando você fala em promoção da saúde, o pessoal pensa logo em distribuir
remédio, em aplicar...eh...em...aplicar medicamento...nos locais e isso não é
promoção de saúde, é ensinar as pessoas a não pegar doença! Pra mim promoção de
saúde basicamente seria isso, seria essa conscientização das pessoas de cuidarem
da saúde delas e não ficar esperando que alguém faça isso por elas. (Docente 1)
Promoção de saúde eu posso definir que seja aquilo que se faz pra promover a
saúde, pra espalhar, pra disseminar a saúde, para levar a informação
pra pessoa que você quer atingir, seja na escola, seja em outro lugar, uma rua,
um bairro, enfim. Tendo conhecimento é mais fácil das pessoas terem saúde,
não só a física, mas de tudo. E educação em saúde seria associado a tudo isso,
seria exatamente esse processo de levar essa informação. (Docente 3)
134
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Esse contraste fica claro na interjeição “isso não é promoção de saúde, é ensinar
as pessoas a não pegar doença!”. Tal expressão de ideias antagonistas reflete a
falta de consenso entre os próprios profissionais da saúde diante do tema.
135
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
Desta forma, é compreensível que, apesar das novas proposições, haja dificuldade
de se evitar os discursos tradicionais da saúde pública na prática contemporânea
da educação em saúde. Nesse contexto, tem havido confusão entre as posições
ideológicas (a antiga e a nova frequentemente entrando em conflito entre si) e as
definições técnicas do que seja instruir as pessoas sobre a saúde.
136
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Educação sexual é isso. É orientar o que é certo, o que é errado, o que pode o
que não pode, explicar as consequências, por que tem consequências, diretas e
indiretas. Uma menina dessas engravida...acabou a vida dela...vai só cuidar de
menino. Então tem que orientar...pra vida, mesmo. (Docente 4)
A gente sabe que hoje muitas das doenças que atingem mais severamente,
principalmente os nossos adolescentes, estão ligados a questão sexual, desde
doenças como a AIDS ate doenças mais simples como uma simples...eh...uma
simples candidíase...uma...uma dermatite...e...e isso tá muito ligado. (Docente 5)
O sexo está relacionado com várias doenças, não é? Então eu acho que você
tem que educar, tem que direcionar pra prevenir essas doenças. (Docente 6)
137
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
“a fazer o que tá sendo proposto pela pessoa que está ali”, ao invés de estimular
o seu posicionamento crítico, estamos reproduzindo o modelo de ‘educação
bancária’, criticado por Freire (2005). Dessa forma, as advertências transmitidas
aos jovens perdem em credibilidade, diminuindo o seu poder de conscientização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Método por excelência de pesquisa associado ao campo da linguagem e
da linguística, a Análise do Discurso (AD) chegou à Saúde Coletiva
por intermédio das Ciências Sociais e Humanas em Saúde. A Análise do
Discurso permite trazer à lume os recônditos e ignorados significados e
sentidos que ficam perdidos quando utilizamos exclusivamente metodologias
quantitativas em pesquisas da Saúde.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, AG de. Aspectos da Filosofia da Linguagem – contribuição para um confronto e
uma aproximação entre filosofia e ciência da linguagem. Cadernos da Seaf vol.1, p.
65-86, 1978.
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JORGE, MAC. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2000,
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ORLANDI, EP. Discurso, imaginário social e conhecimento. Em aberto, n.61, ano 14. Brasília:
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ORLANDI, EP. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2009,
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PÊCHEUX M. Sá há causa daquilo que lhe falha ou o inverno político francês: início de uma
retificação. In:___________. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do
óbvio. Tradução de Eni P. Orlandi et al. Campinas: Editora da UNICAMP, ANEXO
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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141
DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS | Aline Brilhante; Ana Catrib; Rosendo Amorim
142
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
SINOPSE
Este capítulo debruça-se sobre a utilização da metodologia do estudo de caso no campo da
saúde, apresentando perspectivas diferenciadas e justificando a sua aplicabilidade. Procura
contribuir para a sistematização dos critérios de qualidade que o investigador que adota esta
metodologia deve respeitar, de forma a aumentar a qualidade das inferências a realizar a partir
da sua investigação. O capítulo demonstra ainda o papel dos pacotes de software de análise de
dados qualitativos (QDAS) no processo de assegurar a qualidade de investigações que adotem a
desafiante metodologia do estudo de caso, o que se torna particularmente relevante, dado que
esta é por vezes operacionalizada sem que se observe o devido rigor.
INTRODUÇÃO
A progressão académica conduziu a uma corrida desenfreada pela produção
e disseminação de trabalhos académicos e científicos em revistas e eventos
científicos. Todos querem investigar, dar-se a conhecer e ao seu trabalho,
muitas vezes desprovidos do rigor que deve pautar a investigação científica.
O que fazer, como fazer e tempo para o fazer são talvez as questões que mais
assolam os investigadores dos nossos dias. A necessidade de rápida, oportuna e
confortável produção leva a que muitos considerem a investigação qualitativa
e, em particular a metodologia de estudo de caso, como uma saída mais fácil.
143
METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
Deturpado por falsos valores, o estudo de caso é, como se diz na gíria portuguesa
“pau para toda a obra”; desde curtos trabalhos de investigação a trabalhos
finais de curso, podemos vê-lo em diversificadas formas de apresentação.
Contudo, muitos dos estudos que se apresentam como estudos de caso na
realidade não o são, baseando-se única e exclusivamente no facto de serem
desenvolvidos com apenas uma unidade ou por incluírem um número muito
reduzido de sujeitos (ALVES-MAZZOTTI, 2006). Aqui convém alertar que
um estudo de caso ultrapassa a noção de se trabalhar apenas com “um caso”,
é toda uma panóplia de procedimentos assente num arquétipo que almeja
entendimento aprofundado e consubstanciado em dados que emergem de
métodos e técnicas rigorosamente conduzidos.
Oriundo das ciências sociais, para muitos será bizarro a utilização do estudo
de caso na área da saúde, embora haja já uma longa história de convivência.
A título de exemplo invoca-se a abordagem médica que, para compreender a
doença se tem tradicionalmente sustentado fortemente em dados qualitativos,
e em particular em estudos de caso, para ilustrar fenómenos importantes ou
interessantes. Além disso, não é descabido mencionar que grande parte do
trabalho diário de médicos e outros profissionais de saúde ainda envolve (e sempre
envolverá) decisões que são mais de natureza qualitativa do que quantitativa.
144
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Mas afinal em que consiste um estudo de caso? Qual a sua pertinência na área da
saúde? Como conduzir um estudo de caso? Como processar e interpretar os dados
que dele resultam? Estas são algumas das questões a que tentaremos dar resposta
neste capítulo. Tentaremos apresentar uma súmula das características essenciais de
um estudo de caso com enfoque no campo da saúde, as questões da qualidade das
inferências e a forma como a utilização de QDAS contribuiu para essa qualidade.
145
METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
O modelo lógico representa uma teoria inicial sobre o(s) caso(s), definindo
uma sequência temporal de eventos considerando a variável independente
e a dependente. O investigador define esse modelo sequencial teórico e vai
observar se este se verifica, comparando a sequência observada de eventos
no terreno com o modelo definido. Assim, por exemplo, poderá definir que
um programa de intervenção no grupo de cuidadores de um centro de saúde
(i.e., médicos, enfermeiros e secretários clínicos) focando o relacionamento
com os utentes centrado no cliente, será seguido de uma nova forma de
comunicação entre os profissionais (i.e., na forma de reflexões partilhadas
acerca da intervenção, novos canais de comunicação) e que a esta nova forma
de comunicação se seguirá uma nova forma de relacionamento com os utentes,
por exemplo, centrada no cliente vs centrada no médico. Assim, o investigador
procura defender a relação entre a variável independente (i.e., a intervenção)
e o efeito causal ou variável dependente (i.e., a forma de relacionamento com
os utentes). Importa que o recurso aos modelos lógicos não descure o contexto,
que é central no estudo de caso, e que se considere igualmente as transições
entre os eventos no caso.
153
METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
2.3.2 REPLICAÇÃO
154
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
esperar que a tese seja falsa em casos “intermédios”, no sentido em que estes
não reunirão à partida as condições entendidas como sendo favoráveis para
que a tese seja observada. Concretizando esta ideia, Flyvbjerb refere que o
estudo de caso único pode ser ideal para se realizar o teste de “falsificação”
proposto por Karl Popper (1959, in Flyvbjerb, 2006), que traduz “one of the
most rigorous test to which a scientific proposition can be subjected: If just one
observation does not fit the proposition, it is considered not valid generally and
must therefore be either revised” (FLYVBJERB, 2006, p. 227-228).
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METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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METODOLOGIA DE ESTUDO DE CASO EM SAÚDE: CONTRIBUTOS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Jaime Moreira Ribeiro; Catarina Brandão; António Pedro Costa
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
CONCLUSÃO
A complexidade das questões que os profissionais de saúde têm de enfrentar
e o crescente reconhecimento pelos responsáveis políticos, académicos e
profissionais acerca do valor dos estudos de caso na avaliação das intervenções
dos serviços de saúde, sugerem que o uso destes estudos é susceptível de aumentar
no futuro. Esta estratégia possibilita, entre outras coisas, o desenvolvimento de
intervenções, procedimentos e políticas que carecem de um estudo detalhado
de ações e interações num contexto de vida real. Por conseguinte, deve ser
considerado quando as metodologias de cariz experimental são inadequadas
para responder às questões de investigação ou impossíveis de realizar.
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160
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA
DA DENGUE
Myrella Silveira Macedo Cançado1, Ellen Synthia Fernandes de
Oliveira1 e Dayse Cristine Dantas Brito Neri de Souza2
Universidade Federal de Goiás (UFG-Brasil) e 2Universidade de Aveiro (UA-Portugal)
1
SINOPSE
Os comitês de mobilização contra dengue são fundamentais para o planejamento e a execução
de medidas de prevenção da doença. Analisar a atuação dos representantes do Comitê de
Mobilização Social contra o Aedes aegypti do Estado de Goiás, Brasil, nas ações intersetoriais
de vigilância em saúde, foi o alvo deste capítulo. Estudo descritivo-analítico e transversal de
abordagem qualitativa, com aplicação de questionários aos membros do comitê. A análise dos
relatos se deu por meio da técnica de Análise de Conteúdo, e auxílio do programa webQDA, que
suscitou três categorias: 1) manejo do vetor: indicando uso de inseticidas; 2) manejo ambiental:
expressando a necessidade de realização frequente de supervisão e limpeza de calhas e ralos e 3)
intersetorialidade: com relatos de participação de diferentes setores. Observou-se a dificuldade
dos participantes em realizarem ações intersetoriais.
INTRODUÇÃO
No Brasil, durante a maior parte do século XX, as ações de vigilância,
prevenção e combate às doenças transmissíveis, sobretudo a Dengue, foram
estruturadas como programas centralizados, através da formulação e execução
realizadas diretamente pelo Governo Federal (BRASIL, 2009).
161
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
METODOLOGIA
Estudo do tipo descritivo-analítico e transversal com representantes do Comitê
de Mobilização Social contra o Aedes aegypti do Estado de Goiás no período de
agosto de 2012 a agosto de 2014. O Comitê situa-se no município de Goiânia
e compõe-se de representantes de Instituições públicas, privadas e sociedade
civil do Estado de Goiás.
163
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos discursos dos participantes suscitou em dez categorias, sendo que
dessas, três foram objeto de estudo desta pesquisa: manejo do vetor, manejo
ambiental e intersetorialidade. Estas categorias foram definidas porque se
remetiam à Dimensão Vigilância em Saúde e as demais faziam referência a
outras ideias não estudadas neste capítulo (Quadro 1).
QUESTÃO CATEGORIAS DO
CATEGORIAS
NORTEADORA OBJETO DE ESTUDO
(1) palestras, (2) outras
práticas, (3) capacitação,
Relate, resumidamente, as (5) manejo do vetor (6)
(4) equipes de educação
principais ações de prevenção manejo ambiental, (7)
em saúde, (5) manejo do
e combate à Dengue intersetorialidade
vetor, (6) manejo ambiental,
realizadas por você, entre
(7) intersetorialidade, (8)
2011 e 2013.
assessoria, (9) supervisão, (10)
avaliação.
Fonte: Autor
164
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
Fonte: Autor
Salienta-se que uma mesma ação pode ter sido citada por mais de um
participante e um mesmo participante pode ter mencionado, na mesma
resposta, ações diferentes. Portanto as ideias são descritas conforme a
quantidade de vezes que foram mencionadas pelos participantes.
Apesar da vacina contra a Dengue estar disponível no Brasil, esta situação é recente
e o seu acesso ainda está restrito à Rede Privada, o que dificulta a imunização da
maioria da população, já que seu custo é, relativamente, alto (PORTAL BRASIL,
165
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
2016). Sendo assim, o controle químico do Aedes aegypti ainda é a principal medida
de controle (GOMES, 2014; GONÇALVES et al., 2015).
Além disso, o uso de inseticidas é limitado, devendo ser adotado mediante uso
racional e seguro devido à possibilidade de desenvolvimento de resistência dos
vetores aos produtos, possibilidade de gerar impactos ambientais e ocasionar
a intoxicação do agente de combate a endemias (GUZMAN et al., 2010;
JÚNIOR; TORRES; SILVA, 2015).
166
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
167
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
1.3 INTERSETORIALIDADE
Em relação à intersetorialidade, identificou-se que dos 44 participantes, sete
(15,9%) realizaram algum tipo de ação com essa perspectiva. Foram citados
168
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
169
A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
A intersetorialidade surgiu como uma nova lógica norteadora das políticas públicas,
sobretudo as de combate à Dengue, uma vez que possibilita a articulação entre os
diversos saberes e experiências. Ademais, cria espaços onde as relações de poder
são compartilhadas e os interesses individuais são coletivizados (GASPERIN,
2012; NASCIMENTO; RODRIGUES-JÚNIOR, 2016).
CONCLUSÕES
No sentido de responder a pergunta inspiradora do estudo, os representantes
do Comitê de Mobilização Social contra o Aedes aegypti do Estado de Goiás
realizam ações de vigilância em saúde, sendo o manejo ambiental a atividade
predominante entre os participantes, o que evidencia a insistência em
continuar com o modelo tradicional de combate à Dengue pautado no uso de
inseticidas, tão nocivos para a comunidade e para o meio ambiente.
170
Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
REFERÊNCIAS
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A INTERSETORIALIDADE NA VIGILÂNCIA DA DENGUE | Myrella Cançado, Ellen de Oliveira e Dayse de Souza
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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NOTAS BIOGRÁFICAS
CATARINA BRANDÃO
Licenciada e doutorada pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto, onde é docente desde 2001. Desenvolve
investigação qualitativa acerca dos desafios da liderança, dinâmicas
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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NOTAS BIOGRÁFICAS
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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NOTAS BIOGRÁFICAS
MARCELO CASTELLANOS
Graduação em Ciências Sociais pela UNICAMP, mestrado e doutorado em
Saúde Coletiva pela mesma universidade. Pós-doutorado em sociologia na
Université Pierre-Mendès-France, com o apoio da CAPES, desenvolvendo
estudos sobre adoecimento crônico, vulnerabilidade e desigualdades em saúde.
Professor adjunto no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da
Bahia. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em sociologia
do adoecimento crônico, formação em saúde coletiva, pesquisa qualitativa e
estudos narrativos e atenção primária em saúde.
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
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NOTAS BIOGRÁFICAS
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Investigação Qualitativa em Saúde: conhecimento e aplicabilidade
183
NOTAS