Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CULTURAL
Professor(a) Ma. Renata Oliveira dos Santos
REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira
DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença
DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima
DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini
DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos
Hugo Batalhoti Morangueira
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto
FICHA CATALOGRÁFICA
2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie.
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva
dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da
obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la
de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Professor(a) Ma. Renata Oliveira dos Santos
3
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à disciplina de Antropologia Cultural!
O objetivo geral desta disciplina será refletir sobre os estudos antropológicos, com-
preendendo o conceito dessa ciência, sua importância e seus objetivos. Com o propósito de
entender as diferenças entre o eu e o outro, para que não haja nenhum tipo de preconceito
e discriminação em relação à diversidade social e religiosa existente no Brasil.
Dessa maneira, seu material didático está dividido da seguinte forma:
Na Unidade I iremos conversar sobre o conceito de cultura e seu desenvolvimento
dentro da ciência chamada de Antropologia. Espera-se que você entenda que culturas
são diferentes e precisam ser respeitadas. Porém, sem o conhecimento de seu sentido e
significado corremos o risco de nos tornar intolerantes e discriminatórios.
Sendo assim, na Unidade II vamos compreender um pouco mais sobre essa relação
entre o Eu e Outro, com o objetivo de entendermos que se faz necessário a compreensão
dos conceitos de etnocentrismo, relativismo cultural e identidade que nos ajudarão a perce-
ber o quanto estamos interligados. Isso nos revelará que a relação entre os sujeitos sociais é
permeada por muitos símbolos que demonstram quem somos e como agimos em sociedade.
Aprofundando um pouco mais nossos estudos, na Unidade III conversaremos so-
bre a questão do sincretismo religioso e as religiões de matrizes africanas que fazem parte
da formação histórica e religiosa do Brasil. Lembrando que qualquer tipo de preconceito é
gerado pela ignorância, a falta de conhecimento e a recusa de respeitar as diferenças.
Por fim, na Unidade IV refletiremos sobre a necessidade da formação de um(a)
professor(a) que seja livre de atitudes racistas, sexistas, homofóbicas, preconceituosas e
discriminatórias. Um(a) educador(a) que entenda que não pode reproduzir e nem mesmo
deixar com que isso aconteça em sala de aula. Assim, pensaremos sobre a construção de
uma educação antirracista, humanizada e corajosa frente a uma sociedade tão desigual.
Acreditamos que a mudança cultural é uma ação demorada e muito complexa.
Entretanto, ela é possível. Afinal, como afirmou o grande ativista negro Nelson Mandela:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser
ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu
oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”.
4
SUMÁRIO
UNIDADE 1
Cultura, Pra Quê?
UNIDADE 2
Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
UNIDADE 3
Antropologia Brasileira
e o Sincretismo Religioso
UNIDADE 4
Por uma Pedagogia Antirracista
5
1
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
UNIDADE
Plano de Estudos
• Você sabe o que é cultura?
• Antropologia: uma ciência em constantes mudanças
• O antropólogo: quem é ele?
• Entenda: cada cultura tem sua própria lógica
Objetivos da Aprendizagem
• Conceitos e definições de cultura
• Campos de estudo da antropologia
• Refletir sobre o papel do antropólogo
• Compreender a importância dos estudos antropológicos contra
discriminação, preconceito e intolerância
INTRODUÇÃO
Somos todos(as) preconceituosos(as)!
Logo de cara, ler essa frase nos causa um pouco de desconforto, não é mesmo?
Pois bem, é justamente para repensar nossos privilégios sociais e lugares que ocupamos
na sociedade que a Antropologia começará a fazer parte das nossas discussões.
Você verá que muitas coisas que faz, fala, a maneira como reage e age no meio
social estão relacionadas a sua cultura. Mesmo que não saiba ainda, nós reproduzimos
muitas falas e ações de quem faz parte do cotidiano que vivenciamos. Assim, vamos cons-
truindo e desconstruindo nossas ideias e maneira de pensar o mundo.
Claro que você já deve ter percebido que muitos atos de racismos, preconceitos em
relação a identidades de gênero, violências contra mulheres e homossexuais estão cada
vez mais presente nos noticiários, nas redes sociais. Denúncias que se repetem e que
deveriam nos levar a pensar: “Mas, afinal, por que essas coisas acontecem?”
Bom, sabe aquela frase que nossos pais/avós falam e que, muitas vezes, nos irrita:
“na minha época não era assim”? Então, é que vivemos em contextos históricos, políticos,
educacionais e econômicos diferentes. Assim, a maneira como uma coisa era pensada
anteriormente pode não ter nenhum significado e sentido agora.
Lembre-se, culturas são dinâmicas. Elas se movem e se modificam o tempo todo.
Por isso, atos racistas, preconceituosos e discriminatórios, que historicamente foram
naturalizados, em nossos tempos, são cada vez mais problematizados e combatidos. As
diferenças fazem parte da nossa sociedade e elas precisam ser entendidas e respeitadas.
Todos os sujeitos sociais devem ter seus direitos sociais e judiciários assegurados, para que
ninguém fique à margem do todo social, simplesmente porque sua forma de ver, pensar,
agir e estar no mundo é singular, específica em relação ao outro.
Dessa Maneira, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre a antropologia, de-
monstrando como, na prática cotidiana, ela nos permite compreender o outro e a nossa
própria sociedade por meio de perspectivas diversas, que não podem ser consideradas
melhores ou piores; superiores ou inferiores; boas ou ruins.
Nossos estudos estão ancorados, justamente, nessa última área, em que gestos,
trocas simbólicas e os detalhes de quem somos e agimos no dia a dia fazem parte daquilo
que buscamos compreender. Já que muitas vezes essas manifestações são responsáveis
por criar nossa própria identidade.
Não se esqueça que, para a antropologia, nossa maneira de andar, dormir, nos
encontrar, emocionar, comemorar e reagir são produtos de escolhas culturais que podemos
realizar de maneira consciente ou apenas reproduzindo os reflexos que interiorizamos.
Dessa maneira, quando nos propomos a ver o mundo com outra perspectiva, somos
conduzidos, por essa ciência, a uma verdadeira revolução do olhar:
“Eu sou mil possíveis em mim; mas não posso me resignar a querer apenas um
deles” (Roger Bastide).
O ANTROPÓLOGO:
QUEM É ELE?
[...] o ato de escrever e o de pensar são de tal forma solidários entre si, jun-
tos, formam praticamente um mesmo ato cognitivo. Isso significa que, nesse
caso, o texto não espera que seu autor tenha primeiro todas as respostas,
para, só então, poder ser iniciado. Entendo que na elaboração de uma boa
narrativa, o pesquisador, de posse de suas observações devidamente orga-
nizadas, inicia um processo de textualização, concomitante ao processo de
produção do conhecimento (OLIVEIRA, 2000, p. 32).
Diante disso, podemos afirmar que o ato de olhar, ouvir e escrever são próprios da an-
tropologia, e podem promover uma maneira de entender o mundo de forma relativizada. Eles
devem ser vistos de maneira tematizada e etapas da construção de novos conhecimentos.
ENTENDA: CADA
CULTURA TEM SUA
PRÓPRIA LÓGICA
“A falta de cultura é um dos maiores fomentos da infelicidade de um povo. E não adianta dizer o contrário.
Quem é analfabeto cultural, não sabe interpretar a vida” (Renan Venâncio).
Qual a razão da cultura ser um aspecto tão importante para a compreensão do meio em que vivemos?
MINER, H. Os ritos corporais dos Nacirema. In: ROONEY, A. K.; VORE, P. L. de (Orgs.). YOU AND T HE OTHERS - Readings
in Introductory Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.
FILME/VÍDEO
• Título: O casamento Grego
• Ano: 2002
• Sinopse: Todos na família Portokalos estão preocupados com
Toula (Nia Vardalos). Ainda solteira aos 30 anos de idade, ela tra-
balha no Dancing’s Zorba, o restaurante de seus pais, Gus (Michael
Constantine) e Maria (Lainie Kazan). Após começar a trabalhar na
agência de viagens de sua tia, ela se apaixona por Ian Miller (John
Corbett), um professor que é alto, bonito e que definitivamente não
é grego. Toula não está certa do que será mais aborrecedor para o
seu pai: Ian ser estrangeiro ou ser vegetariano.
WEB
Pegar toda a complexidade de uma pessoa e de seu contexto e
reduzi-los a um só aspecto é o que Chimamanda chama de o perigo
da história única. Como uma estudante nigeriana em uma universi-
dade nos Estados Unidos, ela vivenciou com frequência isso.
RESPEITO ÀS
DIFERENÇAS: EU
E O OUTRO
Plano de Estudos
• Eu e o outro: Sociedade do Desvio
• Etnocentrismo.
• Relativismo Cultural
• Identidade
Objetivos da Aprendizagem
• Refletir sobre as diferenças da relação entre o eu e o outro
• Compreender o conceito de Etnocentrismo e como sua perpetuação
provoca ações preconceituosas e discriminatórias
• Entender a importância do conceito de relativismo cultural para a
diversidade
• Refletir sobre o que significa ter identidade
INTRODUÇÃO
Durante toda a Unidade I nosso desafio foi compreender o conceito de cultura.
Descobrimos que existe uma ciência responsável por esse tipo de estudo chamada de
Antropologia e que aquele que desenvolve suas pesquisas é chamado de antropólogo. Por
fim, percebemos que, ao entender as diferenças entre as pessoas, é possível construir uma
nova perspectiva social, incapaz de atos preconceituosos e discriminatórios.
Nosso desafio agora, na Unidade II, é refletirmos como esse conceito de cultura
se revela no cotidiano, nas ações que desenvolvemos em relação ao outro e na busca por
uma sociedade que possa entender que cada indivíduo é diferente e precisa ter o direito de
ser quem desejar.
Nesse sentido, vamos compreender quem determina ou não que o outro pode ser
excluído da sociedade por não se encaixar em um determinado padrão. Para isso, vamos
debater sobre o conceito de desvio e como ele se propaga quando não estamos preparados
para a diversidade social.
Ao ser incapaz de pensar no outro como ele realmente é e desejar modificá-lo,
podemos cometer uma grave ação chamada de etnocentrismo. Veremos que esse conceito
explica, por exemplo, a ação dos invasores portugueses no Brasil e porque eles acredita-
vam que a nação que aqui vivia deveria ser colonizada por uma civilização superior, no
caso, a europeia.
Porém, quando entendemos que somos diferentes e respeitamos, somos capazes
de desenvolvermos um olhar mais sensível capaz de entender as razões que nos diferem,
auxiliando nas lutas sociais daqueles que ficam à margem de uma sociedade etnocêntrica.
Para essa discussão, vamos refletir sobre o conceito de relativismo cultural.
Para encerrar as reflexões dessa unidade, iremos nos debruçar sobre o conceito de
Identidade, qual sua importância e relevância para podermos afirmar quem somos.
BONS ESTUDOS!
EU E O OUTRO:
SOCIEDADE DO
DESVIO
Para convivermos em sociedade, é preciso entender que cada grupo social faz as
suas próprias regras e, por isso, tentam impô-las aos indivíduos que fazem parte de uma
determinada estrutura social.
O fato é que as regras sociais tendem a definir os comportamentos adequados das
pessoas para cada situação, o que pode significar a definição do que é certo ou errado.
Com toda certeza você já deve ter passado por experiências em que pensou: “quem definiu
que isso era correto?”.
Pois bem, a ideia de certo e errado está mais relacionada às subjetividades impos-
tas pelo coletivo do que na liberdade individual. Aprendemos e ensinamos essas noções,
sem, muitas vezes, questionar como elas foram determinadas.
Segundo Becker (2008), todas as pessoas que não seguem regras impostas são
consideradas infratoras e vistas como outsiders. A pessoa rotulada dessa maneira é percebida
por outros como aquela que está fora da normalidade, do padrão e que quebra todas as re-
gras, simplesmente por não as seguir. Como você acha que um outsider é visto socialmente?
Será que você pode ser entendido como um outsider? Este se caracteriza por ser
um desviante e é rotulado assim por outras pessoas. O julgamento que precede a esse tipo
de indivíduo se baseia na ideia de que todos devemos agir de maneira igual, quando isso
não ocorre deve ser corrigido.
O desvio pode ser entendido por algumas concepções:
ETNOCENTRISMO
Em uma sociedade repleta de padrões sociais, não é fácil conviver com as dife-
renças. Bom, até agora você já deve ter aprendido uma porção de coisas sobre cultura e,
provavelmente, deve estar imaginando como poderá absorver todo esse conhecimento para
o seu dia a dia. Pois bem, a partir do momento em que respeitamos o outro, é impossível
ser um etnocêntrico e é sobre esse conceito que vamos debater a partir de agora.
No mundo em que vivemos podemos observar uma grande dificuldade de aceitar quem
é diferente do padrão normativo. Muitas vezes somos questionados por nossa forma de pensar,
de agir, falar, nos vestir e, até mesmo, andar. Para aqueles que acreditam que o mundo pode
ser apenas de um jeito, ser alguém considerado diferente, como vimos, é ser um desviante.
Mas, o que acontece para que os seres humanos não consigam viver de maneira
harmoniosa a diversidade? O fato é que todas as vezes que uma pessoa julga a outra
ou tenta homogeneizar os modos de ser, viver e se comportar, o que ela está fazendo é
entender o outro por sua própria ótica. Ficou confuso? Vamos à explicação.
Bom, toda vez que fazemos um comentário sobre um indivíduo, podemos utilizar
a expressão popular de que “estamos medindo a pessoa com a nossa própria régua”.
Isso significa que os padrões que temos fazem com que eu acredite que o outro deva ser
e pensar exatamente igual a mim. Assim, todo aquele que se recusar a ter as mesmas
percepções da vida como as que tenho será descartado da minha conivência e também
julgado por suas escolhas diferentes.
Esse tipo de percepção quando direcionada para o coletivo pode ocasionar o desprezo
e a aniquilação de grupos. A partir de um momento que uma determinada sociedade se sente
RELATIVISMO
CULTURAL
IDENTIDADE
Se neste momento eu lhe perguntasse qual sua identidade, como você responde-
ria? Será que aquela imagem que está no documento de identidade representa exatamente
quem você é? Pois bem, saber quem somos faz parte de entendermos como nos diferen-
ciamos das demais pessoas com quem convivemos e nos tornamos alguém único.
Quando falamos de identidade podemos entender o conceito como um espaço de
pertencimento, se estamos refletindo sobre o lugar que habitamos ou nos reconhecemos
em grupo. Por isso, a ideia de identidade cultural pode ser entendida como cada sociedade
elabora sua própria cultura a partir das influências e do encontro com outras manifestações
que vão determinando a maneira como cada grupo irá agir no cotidiano.
Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2005), vivemos em uma sociedade
moderna que se caracteriza pela liquidez. Isso significa que as nossas ações são rápidas e
fluídas, por essa razão os laços que estabelecemos com o próximo são líquidos. Para ele, a
descoberta da identidade pode ser identificada como problemática quando se pretende defi-
ni-la apenas de maneira única. Assim, a nossa existência individual pode ser entendida como
fragmentada. Com isso, somos muitos, ao mesmo tempo que habitamos apenas um corpo.
Se eu perguntasse a você como seria a sua maneira de se representar, o que você
me diria? A questão “quem eu sou” é muito antiga e profunda. Ela pode ser pensada de
diferentes formas. Desta maneira, você pode ser homem ou mulher, casado ou solteiro, tor-
cer por um determinado time de futebol, ser atleta, professor, filho, filha, sacerdote, médica,
pastora, patroa, sócia, proprietária, estudante, presidente, amigo. Enfim, cada uma dessas
facetas pode te definir. Assim sendo, você é uma variável de representações identificadas
por ti e pelos outros.
Fonte: a autora
Quando chamamos alguém de louco, o que de fato queremos dizer? E quando alguém nos chama de louco,
será que se trata de alguma questão de fato mental?
“Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando
não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente
são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto o que um tipo faz, mas o
modo como a maioria das pessoas o encara quando o faz” (William Faulkner).
Fonte: BRUM, E. De uma Branca para Outra. El País, fev. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/
brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html. Acesso em: 15 ago. 2020.
FILME/VÍDEO
• Título: Ninguém sabe que estou aqui.
• Ano: 2020
• Sinopse: é a história de Memo (Jorge Garcia), morador de uma
remota fazenda de ovelhas no Chile, que esconde sua linda voz
do mundo. Traumatizado por acontecimentos do passado, ele vive
de maneira solitária, até que uma mulher lhe oferece a chance de
encontrar a paz que tanto procura.
WEB
• Propaganda - Identidade - Fernando Meirelles.
• Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yKG8no8OKDg.
ANTROPOLOGIA
BRASILEIRA E O
SINCRETISMO
RELIGIOSO
Professor(a) Ma. Renata Oliveira dos Santos
Plano de Estudos
• Cultura Material e Imaterial
• Antropologia das religiões
• Sincretismo religioso no Brasil
• Religiões afro brasileiras: Candomblé e a Umbanda
Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar a diferença entre cultura material e imaterial
• Compreender a importância dos estudos da antropologia da religião
• Refletir sobre o sincretismo religioso no Brasil
• Conhecer as principais religiões de matriz africana que fazem parte
da cultura brasileira
INTRODUÇÃO
Chegamos a nossa Unidade III e nela você será convidado(a) a aprofundar um
pouco mais seus conhecimentos em relação à antropologia e à religião. Será que você já
conhece algo sobre as religiões de matriz africana que temos em nosso país? Ou apenas
tem reproduzido saberes que não são verdadeiros?
Faço esses questionamentos a você, pois quando não conhecemos algo corremos
o risco de nos tornar pessoas etnocêntricas, discriminatórias e também preconceituosas.
Você sabia que pessoas que profetizam as religiões afro brasileiras muitas vezes
são atacadas fisicamente por fazerem parte de uma denominação religiosa tida como ruim?
Isso acontece por falta de conhecimento. Por isso, vamos compreender sobre a história e a
importância do Candomblé e da Umbanda para a formação cultural de nosso país
Novamente, reafirmamos que é preciso compreender que culturas são diferentes e
as manifestações religiosas, tidas como um fenômeno social, também são distintas entre si.
Sabendo disso, todas necessitam ser respeitadas em suas especificidades.
Como brasileiro, um dos principais traços da nossa cultura religiosa é sermos, em
grande maioria, sincréticos em nossas manifestações de cunho religiosas. Mas, afinal o
que isso significa?
Bom, você verá que no dia a dia somos capazes de misturar as crenças mais diver-
sas e conviver com símbolos que são importantes para denominações religiosas diferentes.
Por isso, somos um país tão especial quando falamos de cultura.
BONS ESTUDOS!
CULTURA
MATERIAL
E IMATERIAL
Você já deve ter percebido que a cultura é algo muito importante para a compreen-
são dos grupos e povos de todo mundo. Ela nos ajuda a entender que cada pessoa sofrerá
influências diversas para a sua formação social e, assim, verá o mundo com perspectivas
que irão se modificar a partir do momento que seu contato com a realidade for permeado
por contatos e ações variadas.
Segundo Oliveira (2001), para conhecermos um determinado povo, devemos pres-
tar atenção aos elementos que os formam, representados pelos traços culturais; complexo
cultural; área cultural; padrão cultural; subcultura.
ANTROPOLOGIA
DAS RELIGIÕES
SINCRETISMO
RELIGIOSO NO
BRASIL
Com toda certeza você já deve ter caminhado por sua cidade. Se você fez esse
tipo andança, deve ter reparado que a religião está presente em vários momentos. Seja por
meio das inúmeras igrejas existentes ou templos, mesquitas, terreiros e casas de orações.
Quando nos propomos a estudar Antropologia, o que vai nos acontecer é que
nosso olhar, até então bem restrito, vai começar a se desenvolver, no sentido de que é
preciso ver além para poder entender que somos diferentes e isso implica na maneira como
entendemos a fé e suas manifestações.
Como já sabemos, a convivência pacífica entre as culturas diferentes e as religiões
só é possível quando compreendemos que não existe algo nem melhor ou pior, maior
ou menor, superior ou inferior. Afinal, vivemos e proferimos nossas crenças de maneiras
diferentes e isso precisa ser respeitado.
As manifestações religiosas são um marco na formação humana. Desde sempre
estamos rodeados de símbolos que nos remetem alguma relação entre o eu e o sagrado.
Crucifixos, fitinhas amarradas no braço, livros sagrados, rituais de iniciação e conversão
que fazem sentido para quem os pratica e também aqueles que se propõem a aprender
sobre coisas que desconhecem.
Somente através de muita leitura e estudos somos capazes de não sermos pre-
conceituosos e promover uma sociedade mais harmônica. Capaz de conviver com as
diferenças entre as pessoas, suas crenças e manifestações religiosas.
Você sabe que vivemos em um país muito misturado, não é mesmo? Aqui se formou
uma cultura que, sobre três grandes influências, forma nossa sociedade brasileira. Como
A história do Brasil nos mostra o quanto nossa formação é feita da junção de diferen-
tes povos e culturas. Do invasor português, perpassando pelas incontáveis tribos indígenas
existentes no país e pela escravidão pujante e por séculos que permitiram a vinda do negro
africano. Mesmo diante dessa história, ainda somos incapazes de conviver com as diferen-
ças, de respeitarmos o outro e entendermos quanta riqueza existe em uma cultura.
No caso da religião, isso ainda é muito grave, pois impede que as pessoas pro-
fetizem a sua fé da maneira como aprenderam e desejam. Consequentemente, aquele
que não segue um padrão social estabelecido é tratado como um desviante e também
sofre ações racistas, discriminatórias e preconceituosas. Precisamos ressaltar que atitudes
racistas são permeadas pela ideia de desqualificar, desprestigiar aquilo que é significativo
e tem sentido para o outro em relação ao que parece uma verdade absoluta.
Quando um indivíduo é proibido de profetizar a sua fé ele sofre racismo, precon-
ceito e discriminação. Os judeus sofreram racismo, pois a perseguição que sofreram se
justificava pela maneira como profetizavam sua fé e conduziam seu jeito de entender a
vida. Os ciganos também sofrem racismo pelas razões semelhantes, ou seja, por estarem
fora de um padrão determinado como único.
Mas, sem dúvida, a manifestação mais racista que podemos acompanhar em rela-
ção às religiões no cotidiano brasileiro se relaciona às manifestações de matrizes africanas.
Afinal, o que você sabe sobre a Umbanda e o Candomblé? Elas te causam aversão? Mas
se você não conhece nada sobre elas, por que as desqualifica?
Bom, o nosso desafio nessa parte final da unidade é, justamente, desmistificar o
que você não conhece e promover um aprendizado, de fato, sobre as características do
Candomblé e da Umbanda.
4.2 Umbanda
Essa é uma palavra derivada do dialeto quimbundo e tem por significado “curan-
deirismo ou arte da cura”. Como já adiantei para você, ela é uma religião criada no Brasil,
em 1908, por Zélio Fernandino de Moraes, que passou a incorporar um espírito chamado
Caboclo das Sete Encruzilhadas. A partir daí ele começou a dar instruções de cura, dando
início à Umbanda. Trata-se de uma religião com a cara brasileira, misturando elementos dos
cultos africanos com santos católicos e tradições indígenas, além do espiritismo kardecista. É
importante ressaltar que essa é uma das possibilidades de pensar as origens dessa religião.
As pessoas que proferem a religião Umbanda tem como crença a existência de um
deus soberano chamado Olorum. Acreditam, ainda, na imortalidade da alma, na reencarnação e
no carma. E fazem reverência a entidades tidas como espíritos capazes de guiar os indivíduos.
Quanto aos rituais, estes são realizados por meio de batuques acompanhados de
cânticos sagrados em língua portuguesa. Os médiuns são aqueles que incorporam entidades,
são responsáveis por curar, aconselhar, avaliar e propor mudanças na vida das pessoas.
Assim como acontece com os Orixás, que se assemelham aos homens e mulheres,
na Umbanda, os espíritos ou entidades, também possuem hábitos mundanos. Podem fumar
muitos charutos, cigarros comuns ou de fumo e usarem álcool durante a incorporação e os
trabalhos realizados nos terreiros.
Por fim, as cerimônias realizadas são chamadas de sessão, gira ou banda. São
presididas por uma dirigente espiritual, identificadas como mãe de santo e pai de santo.
Devemos ressaltar que essa religião tem como um dos marcos sincréticos do cris-
tianismo a prática da caridade.
Menina vítima de intolerância religiosa diz que vai ser difícil esquecer pedrada
Criança é do candomblé e foi agredida na saída do culto.
A marca da violência está na cabeça da menina de 11 anos que foi agredida no Su-
búrbio do Rio por intolerância religiosa, mas esta não é a maior cicatriz. “Achei que ia morrer.
Eu sei que vai ser difícil. Toda vez que eu fecho o olho eu vejo tudo de novo. Isso vai ser
difícil de tirar da memória”, afirmou Kailane Campos, que é candomblecista e foi apedrejada
na saída de um culto. Ela deu a declaração em entrevista ao RJTV desta terça-feira (16).
A garota foi agredida no último domingo (14) e, segundo a avó, que é mãe de
santo, todos estavam vestidos de branco, porque tinham acabado de sair do culto. Eles
caminhavam para casa, na Vila da Penha, quando dois homens começaram a insultar o
grupo. Um deles jogou uma pedra, que bateu num poste e depois atingiu a menina.
“O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar
todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’”, afirmou a avó da menina,
Káthia Marinho.
Na delegacia, o caso foi registrado como preconceito de raça, cor, etnia ou religião
e também como lesão corporal, provocada por pedrada. Os agressores fugiram num ônibus
que passava pela Avenida Meriti, no mesmo bairro. A polícia, agora, busca imagens das
câmeras de segurança do veículo para tentar identificar os dois homens.
A avó da criança lançou uma campanha na internet e tirou fotos segurando um
cartaz com as frases: “Eu visto branco, branco da paz. Sou do candomblé, e você?”. A
campanha recebeu o apoio de amigos e pessoas que defendem a liberdade religiosa. Uma
delas escreveu: “Mãe Kátia, estamos juntos nessa”.
Iniciada no candomblé há mais de 30 anos, a avó da garota diz que nunca havia
passado por uma situação como essa.
Fonte: G1. Menina vítima de intolerância religiosa diz que vai ser difícil esquecer pedrada. 2015. Disponível em:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/06/menina-vitima-de-intolerancia-religiosa-diz-que-vai-ser-dificil-
esquecer-pedrada.html. Acesso em: 25 ago. 2020.
POR UMA
PEDAGOGIA
ANTIRRACISTA
Professor(a) Ma. Renata Oliveira dos Santos
Plano de Estudos
• Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educati-
va, por Paulo Freire.
• Lugar de Fala, por Djamila Ribeiro.
• O que é empoderamento? Por Joice Berth
• Educar para uma sociedade Antirracista.
Objetivos da Aprendizagem
• Refletir sobre uma prática pedagógica docente que seja libertadora,
humanizada e conscientizadora.
• Compreender o que significa o conceito de Lugar de fala.
• Entender a importância do empoderamento social, econômico,
político e cultural dos grupos minoritários.
• Pensar como desenvolver uma ação Antirracista que se construa e
se perpetue dentro e fora do ambiente escolar.
INTRODUÇÃO
Chegamos à Unidade IV com aquela sensação de que o caminho do aprendizado
nos reserva muitas surpresas e que todo novo conhecimento precisa ser absorvido como
elementos fundamentais para a nossa prática em sala de aula.
Prática essa que precisa ser desenvolvida de maneira pedagógica, com sentido
e significado que seja capaz de promover um aprendizado cada vez mais relacionado à
realidade vivenciada, tanto por professores quanto por alunos.
Assim, iremos refletir sobre os saberes necessários para a prática docente, a partir
da chamada Pedagogia da Autonomia, defendida pelo grande educador Paulo Freire. Com
o propósito de entendermos que uma ação docente precisa ser libertadora, conscientizado-
ra e capaz de promover educadores e educandos mais humanizados, que saibam conviver
com as diferenças, sendo incapazes de promover atitudes de intolerância, racistas, precon-
ceituosas e discriminatórias.
Vamos nos debruçar sobre o conceito de lugar de fala tão divulgado hoje na mídia
e que muitas vezes é confundido como sendo aquele que só quem vive uma determinada
situação pode se pronunciar sobre. Será que o conceito significa isso mesmo?
A partir da ideia de lugar de fala, iremos aprender sobre outro importante conceito,
o de empoderamento. Este deve ocorrer de maneira pessoal e também coletiva. O que
implicará em mudanças, tanto no indivíduo quanto na sociedade. Percebemos que na
atualidade, por exemplo, os crimes contra as mulheres se perpetuam, porque elas, muitas
vezes, são dependentes de seus agressores e se sentem incapazes de modificar a realida-
de. Assim, vamos refletir sobre como a cultura pode auxiliar no empoderamento de todos.
Por fim, vamos entender um pouco sobre um movimento social que tem crescido
muito em nossa cultura para que sejamos pessoas Antirracistas. Isso tem como significado
uma mudança radical em nossa cultura e implica em aprendermos que nada é natural ou
normal e que atos racistas não podem ser entendidos como brincadeiras, pois não são.
Eles são, sim, crimes previstos nas leis brasileiras
Você já deve ter ouvido falar do grande educador brasileiro Paulo Freire, não é mes-
mo? Ele é uma referência em vários países e universidades do mundo todo. É tão importante
que se tornou tema de um curso em uma das maiores universidades do Estados Unidos.
Como educador, Paulo Freire defendia uma prática pedagógica que pudesse liber-
tar as pessoas, a partir da problematização e da palavra geradora. Consciente do grande
número de analfabetos em nossa sociedade, Freire criou uma pedagogia capaz de educar
com o aluno e não apenas para ele. Assim, seria possível conhecer as demandas reais para
o seu ensino-aprendizagem.
Diante de uma sociedade totalmente desigual, esse educador acreditava que a
educação deveria ser libertadora e não bancária. O conceito de educação bancária remete
a ideia de que os professores seriam os detentores do saber e poderiam fazer depósitos
de conhecimento nos alunos que jamais o questionariam, mantendo-o como o detentor
absoluto do saber.
Para Freire essa era uma ideia absurda e que deveria ser abandonada pelos
professores e professoras, que deveriam promover uma prática educativa transformadora.
Uma pedagogia que fosse fundada na ética, no respeito à dignidade, à diversidade e na
própria autonomia do educando.
Dessa maneira, a relação entre professor e aluno deveria ser feita por meio da
amorosidade, capaz de despertar curiosidade, aberta ao diálogo e ao conhecimento das
realidades vivenciadas. É preciso entender que ninguém se educa sozinho, ninguém educa
o outro, os homens se educam entre si por meio de sua relação com o mundo.
A partir dessas exigências, Freire (2017) afirma que a prática educativa não pode ser
entendida como uma experiência fria e sem alma. Não devemos reprimir nossas emoções,
sentimentos, desejos e sonhos. Precisamos lembrar sempre que somos humanos capazes
de ensinar e aprender o tempo todo como outros seres humanos. Isso não significa que a
maneira como devemos estar em sala de aula não demande rigor e disciplina intelectual.
Pelo contrário, é quando entendemos que a educação se realizada na teoria e na prática é
que compreendemos que ela é feita de gente com gente.
Você já deve ter percebido que nos últimos anos tem-se acirrado a luta contra
vários tipos de preconceitos, não é mesmo? Casos de racismo, homofobia, machismo e
sexismo são constantes em nossa sociedade. Para alguns, isso é normal e são considera-
das práticas sociais aceitáveis. Mas, nada é normal ou natural.
Os comportamentos sociais são muito influenciados pela cultura. A expressão “na
minha época não era assim”, permite compreender exatamente como as pessoas desejam
manter o mundo. Para uma minoria, a sociedade é pensada por meio de inúmeros privilé-
gios, que são realmente para poucos.
Quais são os privilégios que você possui? É homem? Branco? Heterossexual?
Cristão? Mulher? Branca? Heterossexual? Ou você acha que nada disso influi em seu
dia a dia? Pois bem, quando somos privilegiados, dificilmente queremos pensar sobre o
outro. Essa é a razão para que muitas lutas e reivindicações sejam chamadas de “mimimi”.
Expressão usadas por aqueles que não conseguem admitir que nossa sociedade é desi-
gual ou que, de alguma maneira, sente que seus privilégios serão retirados, divididos e
repartidos com o outro, que lhes parece tão inferior.
Vivemos em uma sociedade desigual. Em que a relação entre o eu e outro se es-
tabelece das mais diferentes formas. Assim, as diferenças culturais e sociais estão sempre
nos permitindo entender como o próprio meio social se constrói, determinando quem tem
ou não direitos ou deveres.
O QUE É EMPODERAMENTO?
POR JOICE BERTH
Diante de uma sociedade tão diversa e com muitos casos de preconceito e discrimi-
nação, faz-se necessário aprender que ser fora do que é chamado de padrão por um grupo
social, não é nenhum problema. O problema maior é impedir que as pessoas possam viver,
pensar, agir e se comportar da maneira como acharem pertinente. Sem interferir na ação
do outro, com respeito e tendo assegurados seus direitos e deveres.
O conceito lugar de fala que vimos anteriormente tem sido muito usado para dar
voz aqueles que sempre estiveram na margem social, seja pela sua raça, crença religiosa,
orientação sexual ou gênero. Poder falar e ser ouvido é também um ato de existir.
Outra ideia que tem sido muito difundida também é a de empoderamento. Você
saberia me dizer o que isso significa? Para Joice Berth (2018, p. 14), “o empoderamento é
um instrumento de emancipação política e social” que não propõe criar relações que sejam
paternalistas ou assistencialistas e nem muito menos tratar todas as pessoas da mesma
maneira, sem respeitar suas diferenças.
Dar poder é permitir com que cada indivíduo, por meio de uma consciência co-
letiva, possa se afirmar como queira, por meio da autoafirmação, autorreconhecimento,
autovalorização e autoconhecimento de si mesmo, que o ajude a conhecer a sua própria
história, entendendo sua condição social e política. Promovendo uma autoaceitação de
suas características tanto estéticas quanto culturais.
Podendo ser quem quiser ser, as pessoas percebem que, muitas vezes, a própria so-
ciedade as impede de profetizar a sua fé, no caso das religiões de matriz africanas, a se sentir
bonita, quando tem sua cor de pele ou cabelo tidos como ruins e imperfeitos, e a se relacionar
amorosamente com quem desejar. Neste sentido, ao se empoderar, você pode lutar contra toda
ação opressora que impede de se manifestar e viver como acredita ser melhor para si.
• Cognitiva - em que a mulher pode desenvolver uma visão crítica sobre a socie-
dade ou meio em que vive;
• Psicológica - a construção de um sentimento de autoestima que tende a pro-
tegê-la de qualquer ação contra sua própria pessoa;
• Política - o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as desigual-
dades sociais e de poder que possa despertar a capacidade de organização e
mobilização da sociedade.
• Econômica - a capacidade de gerar renda individualmente.
Você consegue imaginar por que essas dimensões são importantes para as mulhe-
res? É que, infelizmente, vivemos em um país em que o índice de crimes e violências contra
mulheres ainda é muito grande. E o mais assustador é que eles ocorrem, muitas vezes,
dentro de casa, o que dificulta a independência feminina. Por isso, uma mulher empoderada
é aquela que pode se proteger desses abusos e se manter na sociedade com voz ativa.
EDUCAR PARA
UMA SOCIEDADE
ANTIRRACISTA
Você já deve ter reparado que essa disciplina é marcada pela ideia do respeito e
da mudança de atitude. A coisa mais difícil para mudar em uma sociedade é, justamente,
a cultura. E sabe por que isso ocorre? Porque somos acostumados a sermos apenas de
um único jeito. Porém, você já deve ter entendido que vivendo com pessoas tão diversas
é impossível não mudar. Aqueles que escolhem evitar a mudança, continuam no mundo,
muitas vezes, cheios de preconceitos e avessos à diversidade.
Caso você já atue em sala de aula, já percebeu o quanto aquele é um espaço da
diversidade... Pois bem, o que fazer com tantas demandas e pessoas diferentes? Se você
ainda não está na sala de aula, faça uma reflexão de como foi sua vivência escolar. Com
toda certeza perceberá que não existe um espaço mais variado de pessoas, estilos, modos
de agir e de pensar diferenciado.
Por essa razão, o término da disciplina de Antropologia Cultural não poderia ser
de outro jeito. Já que você aprendeu sobre o conceito de cultura, a relação com outro,
identidade, crenças e representações religiosas estigmatizadas. Nada mais correto do que
refletirmos sobre a nossa atuação como professores, não é mesmo?
Diante de tanta diversidade social e cultural, qual o melhor caminho para seguir-
mos? Vimos com Paulo Freire, no início da unidade, que ser professor ou professora possui
várias exigências, em especial, a capacidade de escutar e dialogar. Isso implica em entender
nossos alunos e alunas como seres pensantes, que possuem sua própria cultura. Assim,
educandos e educadores estão em eterna troca de ensino e de aprendizado.
Depois entendemos que para vivermos em sociedade se faz necessário reconhe-
cer quem somos e lutarmos para termos voz ativa, que possa ser ouvida por todos sem
discriminação e preconceito. Falar é existir.
E será falando que podemos nos empoderar. Ou seja, ter o poder de entender que
aquilo que sou deve ser respeitado. Assim, ao me empoderar, devo ter a consciência de
que preciso também mudar o mundo ao meu redor.
Para Ribeiro (2019), ao se perceber criticamente, você deverá ter uma outra postura
frente a uma sociedade opressora que não promove o respeito. É preciso entender sobre
privilégios e lutar para que eles não sejam para poucos. Se faz necessário querer aprender
sempre: “Pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão
que as privilegia historicamente, produzindo desigualdades, e pessoas negras podem se
conscientizar dos processos históricos para não reproduzi-los” (RIBEIRO, 2019, p. 108).
Então, será que você está pronto(a) para ser um(a) professor(a) ou um(a) profes-
sor(a) antirracista?
Espiral
Geovani Martins – Livro: O sol na cabeça.
Começou muito cedo. Eu não entendia. Quando passei a voltar sozinho da escola,
percebi esses movimentos. Primeiro com os moleques do colégio particular que ficava na
esquina da rua da minha escola, eles tremiam quando meu bonde passava. Era estranho,
até engraçado, porque meus amigos e eu, na nossa própria escola, não metíamos medo em
ninguém. Muito pelo contrário, vivíamos fugindo dos moleques maiores, mais fortes, mais
corajosos e violentos. Andando pelas ruas da Gávea, com meu uniforme escolar, me sentia
um desses moleques que me intimidavam na sala de aula. Principalmente quando passava
na frente do colégio particular, ou quando uma velha segurava a bolsa e atravessava a rua
pra não topar comigo. Tinha vezes, naquela época, que eu gostava dessa sensação. Mas,
como já disse, eu não entendia nada do que estava acontecendo. As pessoas costumam
dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se compararmos a outras favelas na
Zona Norte, Oeste, Baixada.
De certa forma, entendo esse pensamento, acredito que tenha sentido. O que pou-
co se fala é que, diferente das outras favelas, o abismo que marca a fronteira entre o morro
e o asfalto na Zona Sul é muito mais profundo. É foda sair do beco, dividindo com canos e
mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos,
desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas
de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas
ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas
particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante.
E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros. Nunca esquecerei da
minha primeira perseguição. Tudo começou do jeito que eu mais detestava: quando eu,
de tão distraído, me assustava com o susto da pessoa e, quando via, era eu o motivo,
a ameaça. Prendi a respiração, o choro, me segurei, mais de uma vez, pra não xingar a
velha que visivelmente se incomodava de dividir comigo, e só comigo, o ponto de ônibus.
No entanto, dessa vez, ao invés de sair de perto, como sempre fazia, me aproximei. Ela
tentava olhar pra trás sem mostrar que estava olhando, eu ia chegando mais perto. Ela
começou a olhar em volta, buscando ajuda, suplicando com os olhos, daí então colei junto
73
fim, entendemos que essas religiões estão, de alguma forma, presentes em nosso cotidia-
no, pois vivemos em uma sociedade marcada pelo sincretismo religioso.
Para finalizar nossa aventura do conhecimento pelos caminhos da Antropologia
Cultural, na Unidade IV fomos desafiados a pensar uma prática pedagógica mais humana,
conscientizadora, libertadora e Antirracista. Para isso, recorremos aos escritos do grande
educador Paulo Freire, que nos mostrou quais as exigências fundamentais para nossa
formação educacional.
O fato de saber ouvir e dialogar com o outro permite que a gente entenda que
existem várias vozes no mundo. Infelizmente, algumas delas são caladas pela nossa desi-
gualdade social, econômica, histórica, política e cultural. Por isso, o conceito de lugar de fala
é tão importante. É preciso dar voz a quem sempre esteve à margem da sociedade. Quando
somos capazes de ouvir o outro, podemos entender também o conceito de empoderamento.
Vimos que empoderar vai além de uma ideia individual, mas ela se alastra para o
coletivo. Empoderar-se é ter autoconhecimento, autovalorização, autorreconhecimento e au-
toaceitação. Em um país como o nosso, em que a violência contra as mulheres é gritante, é
muito importante de que elas sejam empoderadas. De maneira cognitiva, psicológica, política e
econômica. Só assim será possível mudar uma estatística tão cruel que cresce cada vez mais.
Enfim, ao conhecermos tudo isso, é possível desenvolver uma educação que pro-
mova seres antirracistas. Em que professores, professoras e seus alunos e alunas sejam
capazes de não mais reproduzir uma cultura excludente, mas sim uma cultura inclusiva,
respeitosa, capaz de viver pacificamente com as diferenças.
74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
EXAME. IBGE: População negra é principal vítima de homicídio no Brasil. 2019. Disponível
em: https://exame.com/brasil/ibge-populacao-negra-e-principal-vitima-de-homicidio-no-
-brasil/. Acesso em: 28 ago. 2020.
75
GAGLIONE, I. Antropologia das Religiões. 2016. Disponível em: https://obenedito.com.
br/antropologia-das-religioes/. Acesso em: 24 ago. 2020.
MÍDIA NINJA. Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser
antirracista. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/numa-
-sociedade-racista-n%C3%A3o-basta-n%C3%A3o-ser-racista-%C3%A9-necess%C3%A-
1rio-ser-antirracista-n/1340647316093410/. Acesso em: 28 ago. 2020.
RIBEIRO, D. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
76
RIBERIO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
WE MYSTIC. 5 coisas que você precisa saber sobre o Candomblé. 2020. Disponível
em: https://www.wemystic.com.br/curiosidades-candomble/. Acesso em: 24 ago. 2020.
77
ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE
Praça Brasil , 250 - Centro
CEP 87702 - 320
Paranavaí - PR - Brasil
TELEFONE (44) 3045 - 9898