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Cultura e Sociedade
2016
Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM
ISBN 978-85-62203-28-2
CDD 301
Apresentação
Professora
Dra. Maria de Fátima Silva Porto
Ementa
Cultura e Sociedade
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Objetivos
Considerações iniciais
Estudar e conhecer a cultura de nossa sociedade é de extrema importância, pois o homem é produto e
produtor da cultura na qual foi e continua sendo socializado.
Assim, caro (a) aluno (a), você, como produto e produtor de sua cultura, reflete essa, por meio de seus
valores, comportamentos, hábitos, costumes, sentimentos, gestos e tantas outras ações no seu dia a dia.
Compreender as origens da palavra cultura e suas definições bem como o significado dos símbolos culturais
são conhecimentos necessários e essenciais para que você entenda os motivos pelos quais você é como é.
Reflexão
Cultura e Sociedade
Você já se perguntou por que toma banho todos os dias, come com talheres, ingere
determinados alimentos e dorme em uma cama? Já se perguntou sobre a maneira
de sentar, chorar, sorrir, casar, trabalhar, o modo de vestir, enfim, sobre tudo o que
você pratica no seu cotidiano? Pois bem, o modo como você vive, sente e age
reflete a sua cultura.
Por meio dessa reflexão, você, caro (a) aluno (a), pode entender por que estudar a cultura é tão importante,
e é sobre ela que passaremos a tratar.
1 O Homem e a cultura
A cultura é parte integrante do homem. Suas origens, seus símbolos e seus significados traduzem a forma
pela qual o ser humano foi formado ou socializado.
Segundo Laraia (2011), a palavra cultura está associada ao momento em que foi elaborada a primeira
norma ou regra entre os homens. Essa seria a criação de um padrão de comportamento generalizado, isto
é, comum para todas as sociedades humanas. Essa primeira norma foi a proibição do incesto.
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Importante
Caro (a) aluno (a), você sabe que, em nossa sociedade, a prática do incesto é considerada crime; portanto,
tornou-se uma norma, uma lei, criada pelos homens para normalizar ou padronizar o comportamento dos
indivíduos, não somente na nossa, mas em outras sociedades também.
Conectando Saberes
Cultura e Sociedade
As origens da palavra Cultura não podem ser atribuídas a apenas um pensador ou autor. À medida que
aprofundamos nossos estudos em qualquer área, percebemos que existem várias visões ou interpretações
sobre o mesmo tema, conforme o ponto de vista de cada estudioso.
Nesse sentido, abordamos também o enfoque do antropólogo americano Leslie White (1955), citado por
Laraia (2011), considerando que foi a criação dos símbolos que marcou a transição do estado animal para
a condição do humano.
Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou nos-
sos ancestrais antropoides em homens e fê-los humanos. Todas as civilizações se espalharam e per-
petuaram somente pelo uso de símbolos [...] . Toda cultura depende de símbolos. [...] Uma criança do
gênero Homo torna-se humana somente quando é introduzida e participa da ordem de fenômenos
superorgânicos que é a cultura. E a chave deste mundo, e o meio de participação nele, é o símbolo.
Portanto, de acordo com White (1955 apud Laraia, 2011), foi a geração de símbolos que criou a cultura, que
é também responsável por sua perpetuação. O que diferencia o ser humano do animal é o símbolo, o qual
determina o comportamento simbólico do homem ao representar, por meio desse, o que é importante e
o que possui significado para cada indivíduo.
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Reflexão
[...] um símbolo é alguma coisa que se apresenta no lugar de outra e presentifica
algo que está ausente (CHAUI, 1996, p.294).
Observa-se, então, que, para conhecermos e para decifrarmos o significado do símbolo, precisamos
conhecer a cultura que o criou, traduzido na prática do cotidiano das pessoas de uma determinada
sociedade.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Para ilustrar, além dos exemplos citados no quadro acima, acrescentamos que a cor branca na China
representa o luto, e não a paz.
Conectando Saberes
Além das versões sobre as origens da cultura apresentadas até o momento, outros pensadores, como
Roger Lewin (1981) e Richard Leackey (1981), atribuem o início da cultura às mudanças evolutivas do
cérebro dos primatas; a uma visão que sobrepujou o faro, mas não perdeu o olfato; e à utilização das mãos,
cuja capacidade não existe para nenhum outro mamífero. Outro autor, David Pilbeam (1973), destaca
o bipedismo como uma diferença entre os primatas e os demais mamíferos, sendo, portanto, a posição
ereta, a liberação das mãos, também reforçada pelo autor Kennetn P. Oakley, causas do desenvolvimento
da inteligência do ser humano. Esses fatores provocaram um cérebro mais complexo e volumoso (LARAIA,
2011).
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Como você pode observar, caro (a) estudante, as origens da palavra cultura possuem várias interpretações
ou versões, e não apenas uma única explicação.
É preciso destacar ainda, a importância dos símbolos na cultura, por eles representarem aquilo que
elegemos como valores em nossa sociedade e em nossa vida pessoal.
Reflexão
Após essa explanação sobre as origens da palavra cultura, passaremos ao significado do termo cultura.
Cultura e Sociedade
Caro (a) estudante, assim como as origens da cultura nos apresentam várias versões, a definição do conceito
de cultura também possui várias interpretações e, por isso, não é possível reduzir o seu significado a uma
única interpretação.
A palavra cultura pode ser empregada em vários sentidos e é, ao mesmo tempo, contraditória. Ela pode
significar a posse de conhecimentos, isto é, uma pessoa culta, um ser alfabetizado que conhece sobre
arte, línguas, literatura. O contrário é ser inculto, ou seja, não ter cultura (conhecimento). Saindo da esfera
pessoal, a cultura pode ser apropriada por uma coletividade, significando a cultura de uma determinada
comunidade ou sociedade específica para distinguir os diversos e inúmeros tipos de cultura, como a
brasileira, a italiana, a japonesa, a alemã, a francesa, a americana e todas as demais existentes. A cultura
também designa as atividades artísticas como a dança, a música, o teatro, as artes e tantas outras (CHAUI,
1996).
Pode-se usar a palavra cultura para designar uma plantação, ou seja, uma “cultura de feijão”, uma “cultura
de arroz”, referente à agricultura. O termo, pode ser usado para nos referirmos a um conhecimento e a uma
prática da medicina laboratorial, isto é, realizar um exame de “cultura fecal”, por exemplo.
Uma das pioneiras ou primeiras definições de cultura é atribuída a Taylor (apud TOMAZI, 2010, p.172), a
qual se transcreve: “[...] cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito,
além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade”.
Feitas essas abordagens, chamamos a atenção para os significados de cultura, segundo Chaui (1996, p.
292), no quadro abaixo:
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Importante
1. “Vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar.
Cultura significa cuidado do homem com a Natureza. Donde: agricultura.
Significava, também, cuidado dos homens com os deuses. Donde: culto.
Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo das crianças, com sua educação
e formação. Donde: puericultura (em latim, puer significa menino; puera, menina)”.
Nesse sentido, Chaui (1996) enfatiza que a cultura referia-se à educação espiritual das crianças, ao cultivo
das qualidades naturais como a índole, o temperamento, o caráter, para que essas crianças se tornassem
indivíduos virtuosos. Nesse significado, natureza e cultura não se excluem, porque os homens, considerados
seres naturais, são da primeira natureza; e os seres, formados e socializados pela educação, são da segunda
natureza, e essa educação adquirida contribuiu para o aperfeiçoamento da natureza inata, ou seja, da
primeira natureza.
Além desse primeiro significado, Chaui (1996) ainda define cultura por meio de uma segunda versão, a
seguir:
Cultura e Sociedade
Importante
Observa-se, de acordo com a definição acima, que após o século XVIII, ocorre a separação entre natureza e
cultura, pois a Natureza será considerada determinista, ou seja, mecânica, e a cultura ocorrerá no homem
que possui liberdade, que é racional, que é capaz de agir por escolhas, conforme seus valores e princípios.
Nesse momento, os homens passam a discernir as diferenças entre “[...] justo e injusto, sagrado e profano,
belo e feio” (CHAUI, 1996, p. 293).
Nesse momento ainda, de acordo com a filósofa Chaui (1996), a cultura terá o sinônimo de História,
caracterizada pela relação dos homens no tempo, com o tempo, com o espaço, com a natureza, e com
os próprios seres humanos organizados em sociedade. As obras humanas passam a caracterizar e serem
expressas numa dada civilização.
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Contextualização
Como já foi dito, caro (a) estudante, a cultura possui várias definições. Pela
perspectiva histórica, explicitada no parágrafo acima, os pensadores que a
defendem são Karl Marx e Hegel. Entretanto, a Antropologia define a cultura por
meio de formas diferentes, quais sejam: pela “[...] criação da ordem simbólica da
lei [...]”; pela “[...] criação de uma ordem simbólica da linguagem, do espaço, do
tempo, do sagrado e do profano, do visível e do invisível”, e pelo “[...] conjunto
de práticas, comportamentos, ações e instituições pelas quais os humanos se
relacionam entre si e com a Natureza [...]” (CHAUI, 1996, p.294-5).
Por meio da visão antropológica, não se fala em cultura, e sim, em culturas, pelo fato de todos os elementos
que a compõem variarem de uma organização social para outra, como as leis, as normas ou as regras, as
crenças, os hábitos, os costumes, os instrumentos, os artefatos, as artes, as práticas e as instituições, entre
outros. (CHAUI, 1996).
Podemos dizer, então, que os principais elementos identificadores da cultura estão ligados à vida material,
às interações sociais, à linguagem, à estética, à religião, aos hábitos alimentares, entre outros.
Nota-se, portanto, que muitos aspectos da vida de uma sociedade ou de um indivíduo são abarcados pela
cultura. Por meio do estudo desses elementos, conhece-se a cultura de qualquer grupo, comunidade ou
Cultura e Sociedade
sociedade ou identifica-se a cultura de qualquer pessoa, estando ela em qualquer lugar ou em qualquer
grupo.
Dica
Em qualquer sociedade, quando uma criança nasce, já está estabelecido o mundo cultural, pelo fato de
já existir um sistema, um código de significados e de valores. Nesse mundo no qual a criança irá se situar,
aprende-se a língua, a forma de se alimentar, o modo de como se sentar, brincar, correr, andar, sorrir, chorar,
a entonação da voz nas conversas, em conformidade com o ambiente, as relações sociais e familiares, e
tudo mais que se refere ao comportamento humano e social. As emoções e os sentimentos também são
modelados conforme as normas, as regras de conduta, os valores e a forma como as relações entre os
membros da sociedade é organizada (TOMAZI, 2000).
Portanto, prezado (a) estudante, desde a infância, a cultura norteia o seu modo de sentir, pensar e agir.
Além de a cultura ser composta por diversos elementos e abranger diversos aspectos, ela possui também
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características próprias do contexto em que é produzida.
NORMAS
MANIFESTA-SE POR MEIO
DE DIVERSOS SISTEMAS.
TUDO QUE É PRODUZIDO
VALORES PELO SER HUMANO.
CONSTRUÍDA E
APRESENTA ELEMENTOS COMPARTILHADA PELOS
TANGÍVEIS E INTANGÍVEIS. MEMBROS
DE UMA SOCIEDADE.
Cultura e Sociedade
DIFERENTES TIPOS DE CULTURA
Como você pode verificar, estudante, as divergências e as discussões sobre a definição conceitual de
cultura são muitas e continuam em curso.
Considerações finais
Após o estudo do tema “O homem e a cultura”, pode-se avaliar o quanto a cultura é inerente à vida de
qualquer ser humano, pois este é produtor e produto daquela. É o conhecimento de suas origens, de seus
hábitos e costumes, os quais são adquiridos pela cultura.
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As origens da palavra cultura são diversas e com interpretações diferentes pelos vários pensadores.
A existência dos símbolos na cultura representa o nosso imaginário, aquilo que está ausente e carregado
de valores importantes para cada um (a) de nós.
Você aprendeu ainda que o termo cultura possui vários significados e que não existe apenas uma cultura,
mas várias culturas, constituídas de elementos e de características que nos revelam que a cultura abrange
todos os aspectos de nossas vidas, como também de qualquer grupo ou sociedade. Portanto, conhecer e
estudar a cultura, suas origens, seus símbolos e suas definições assinala o ponto de partida para que você,
estudante, possa refletir sobre sua própria cultura em sua existência humana.
Referências
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
Cultura e Sociedade
Aula 2
O homem e os aspectos biológicos e
culturais
2
Sumário
Aula 2 - O homem e os aspectos biológicos e culturais
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
2 O homem e os aspectos biológicos e culturais�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
2.1 O homem: ser biológico e cultural�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
2.2 Endoculturação e aculturação�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
2.3 Cultura popular e cultura erudita�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������6
Considerações finais�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������9
Referências�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������9
Cultura e Sociedade
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Objetivos
Considerações iniciais
Caro (a) estudante, até aqui você conheceu algumas versões da origem da palavra cultura, o significado de
símbolo cultural, bem como algumas definições do termo cultura.
Nesta aula, você irá conhecer que existem aspectos humanos que são da natureza biológica ou fisiológica,
ou seja, aspectos que estão presentes em todo ser humano, independentemente do lugar onde nasceu
ou vive. Outros aspectos referem-se ao aprendizado, isto é, à maneira como o ser humano foi socializado,
o que se refere ao aspecto cultural dos indivíduos.
Cultura e Sociedade
Trataremos, também, das conceituações, diferenças e características da cultura popular e da cultura
erudita. Veremos como esses dois tipos de cultura são importantes e fazem-se presentes no dia a dia de
todos os indivíduos, bem como são partes da cultura nacional.
O homem possui aspectos que são de natureza biológica e cultural, sendo esses coexistentes em seu
cotidiano. Por influência de outras culturas, sofre a endoculturação e a aculturação, convive também com
culturas diferenciadas, isto é, com a cultura erudita e com a cultura popular.
Agora, você irá conhecer quais são os aspectos biológicos e culturais que caracterizam o ser humano.
O homem é um ser biológico e cultural, isto é, ele possui características que são universais, as quais são
iguais para todos os homens. Esses aspectos são biológicos, como o ato de comer, de dormir, de andar,
de respirar, de defecar. Qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo, comunidade ou sociedade,
precisa desses fatores biológicos ou fisiológicos para sobreviver. Concorda?
Por sua vez, os caracteres referentes à cultura, ou seja, aqueles elementos que a caracterizam, o que come,
como dorme, como anda (ou como senta), como defeca, podem ser praticados de formas diferentes em
lugares diversos, ou ser diferentes para pessoas que possuem utensílios ou estruturas diferentes para
essas necessidades fisiológicas. Essas formas de práticas e de estruturas diferentes ocorrem de maneiras
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diversas devido à educação, por influência do poder econômico da família, o que reflete em construções
de moradias e nas condições de infraestrutura em que o indivíduo está inserido, dentre tantos outros
fatores.
Reflexão
Qualquer criança normal pode ser educada em qualquer cultura, desde que tenha
sido levada logo após o seu nascimento para outro país, ou sua cultura será sempre
aquela do seu país de nascimento?
Segundo Laraia (2011, p.17), “[...] as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.”
Assim, as diferenças ocorrem pela história cultural de cada sociedade.
Contextualização
Cultura e Sociedade
um marido moderno por meio da mamadeira. E os nossos índios Tupi mostram
que o marido pode ser o protagonista mais importante do parto. É ele que se
recolhe à rede, e não a mulher, e faz o resguardo considerado importante para a
sua saúde e a do recém-nascido” (LARAIA, 2011, p.19).
Nesse sentido, não é uma racionalidade biológica que determina as diferenças culturais.
Já foi citado, em passagens anteriores, que o comportamento do ser humano é produto de uma socialização,
de uma educação ou de um aprendizado. Esse processo, de acordo com Laraia (2011), denomina-se
endoculturação.
Contextualização
Não existe uma etnia superior à outra por conta de diferenças genéticas hereditárias. Esse tipo de
pensamento, ao contrário, é o que leva ao preconceito, veiculado ainda por velhas e persistentes teorias
que reforçam e conferem características específicas inatas às sociedades, umas com características de
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superioridade, e outras, de inferioridade (LARAIA, 2011).
Reflexão
De acordo com o autor Laraia (2011), é a educação a responsável pelo comportamento das pessoas.
Importante
A cultura interfere na motivação, “[...] na satisfação das necessidades fisiológicas básicas. [...] ela pode
condicionar outros aspectos biológicos e até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros do
sistema” (LARAIA, 2011, p.75).
Cultura e Sociedade
Como exemplo de uma desmotivação, citamos a apatia que se sobrepõe aos valores de autoestima de um
determinado grupo em um momento de crise. Outro exemplo pode ser a apatia e a tristeza que os africanos
sofreram ao ser transportados de seu habitat, de seu mundo cultural para outro contexto cultural diferente
do seu, nesse caso, para o Brasil. Essa tristeza foi denominada de banzo (saudade), levando, inclusive, à
morte, além de muitos suicídios (LARAIA, 2011).
Outra área fértil para se verificar a influência da cultura sobre o biológico se refere às doenças psicossomáticas.
Contextualização
A presença, portanto, da força dos padrões culturais sobre o biológico fica muito evidente, não somente
pelos exemplos citados anteriormente, mas também pelo nosso próprio conhecimento dessas influências
em nosso dia a dia, com as quais vivenciamos.
Veja, prezado (a) aluno (a), outro campo em que se percebe a grande influência da cultura: as curas de
doenças, que podem ser reais ou imaginárias. É comum acreditar que a fé cura e/ou faz milagres, por ser
nossa sociedade formada pela influência da fé católica, adquirida pela aculturação.
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Importante
A fé é pessoal, é da esfera privada do indivíduo; e essa fé cultural que influencia a cura tem suas condições,
conforme cita Laraia (2011, p.77-78): “Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do
remédio ou no poder dos agentes culturais”.
Um agente de cura pode ser o xamã, o pajé, como pode recorrer às rezas das religiões diversas, às imagens
de santas e de santos, às promessas, e a tantos outros meios que você, estudante, sabe que existem em
nossas práticas diárias e na sociedade atual.
Caro (a) aluno (a), você já deve ter ouvido falar em cultura popular e cultura erudita, não é mesmo? Parece
que as duas são separadas, mas não são.
Cultura e Sociedade
Reflexão
De onde surgiu a ideia de que cultura popular e cultura erudita são opostas e/ou
separadas?
Entre cultura popular e cultura erudita existem características ou divisões específicas a cada uma delas,
mas essas singularidades nos servem para a compreensão mental dos termos, e não para separá-las.
Por ser a sociedade dividida em classes sociais, a cultura foi identificada conforme essa classificação,
atribuindo a cultura popular às classes populares, e a cultura erudita às classes superiores ou à elite.
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Contextualização
Atualmente, percebe-se que a divisão rígida entre cultura popular e erudita que se colocava anteriormente
está se desvaindo cada vez mais, pelo fato de os meios de comunicação terem tido uma expansão muito
grande e veloz e, com isso, aumentando a possibilidade de uma difusão das culturas com mais rapidez e
facilidade entre os diversos e inúmeros grupos de pessoas no mundo inteiro (DIAS, 2010).
Conforme Tomazi (2010, p.175), ”no decorrer do século XX, com o desenvolvimento das tecnologias de
comunicação, o cinema, a televisão e a internet tornaram-se instrumentos de trocas culturais intensas [...]”.
Cultura e Sociedade
Assim, os contatos entre pessoas e países diferentes impulsionaram as trocas culturais, com influências e
ganhos para todos, inclusive apresentando à cultura mundializada formas e/ou elementos culturais pouco
conhecidos ou pouco divulgados.
Importante
Todos esses produtos são colocados e/ou oferecidos no mercado global como mercadoria e consumidos
por qualquer indivíduo que possa comprá-los. Existem objetos na área da cultura erudita que são deixados
como herança, por conta de seu alto valor de mercado (TOMAZI, 2010).
Ainda, enfatiza Tomazi (2010, p. 175): “O mundo não era mais apenas o local em que um grupo vivia.
Tornou-se muito mais amplo, assim como as possibilidades culturais”.
Por isso, a ideia de que cultura popular e cultura erudita são consumidas separadamente é um grande
equívoco, tendo em vista o grande processo de circulação das diferentes culturas.
“A cultura nacional passou a ter determinada constituição e os valores e bens culturais de vários povos ou
países cruzaram-se, com a consequente ampliação das influências recíprocas” (TOMAZI, 2010, p. 175).
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A cultura erudita pressupõe um conhecimento elaborado, adquirido nas instituições acadêmicas,
bibliotecas e museus, advindo de um saber institucionalizado e intelectualizado. É um saber formal.
Por isso, os conceitos de cultura popular e cultura erudita camuflam ainda uma escala de valor, de valoração,
como se o popular fosse inferior ao erudito.
Importante
Assim, caro (a) aluno (a), a cultura popular é aquela produzida pelo povo e consumida pelo povo.
É um produto de um conhecimento ou saber que não é institucional, isto é, não é aprendido na escola, nos
colégios ou nas academias.
A cultura popular se manifesta de várias formas: pela arte, pelo folclore, pela religião (sincretismo
religioso, como mistura de elementos africanos com o catolicismo), pela música, pelas canções e danças,
pela culinária, pelos contos e fábulas, pela literatura de cordel, pelos provérbios, pela tradição e por outras
Cultura e Sociedade
formas mais.
Contextualização
“A palavra folclore (do inglês folklore, junção de folk, ‘povo’, e lore, ‘saber’) significa
‘discurso do povo’, ‘sabedoria do povo’ ou ‘conhecimento do povo’ ” (TOMAZI,
2010, p. 176).
O sincretismo religioso, segundo Marconi e Presotto (2008, p.46) é “[ ] a fusão de dois elementos culturais
análogos (crenças e práticas), de culturas distintas ou não.”
Dessa forma, o sincretismo no Brasil apresenta-se com grandes fusões, com um número imenso de misturas
de práticas até difíceis de conhecer e de citar. Como exemplo, registramos uma das práticas de sincretismo
mais conhecidas, que é a umbanda, com misturas do catolicismo, de práticas dos africanos, dos indígenas
e do espiritismo (MARCONI; PRESOTTO, 2008).
Considerando outras manifestações populares, você, prezado (a) estudante, já deve ter o conhecimento
sobre os diversos movimentos e expressões urbanas atuais, como o hip-hop, o rap, o reggae, os grafites, e
tantas outras.
O surgimento de novos produtos e manifestações nos mostra que há uma constante renovação, criação e
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recriação da cultura popular por meio do povo.
Segundo Bosi (1972), a cultura não é apenas um produto que se consome ou se adquire, mas é algo que
se produz, que se faz, é um processo contínuo. Não se deve comparar ou separar cultura popular ou de
cultura erudita. O fato de ter cultura não significa ser superior e não ter cultura não significa ser inferior.
Essa ideia de posse de cultura foi apropriada injustamente para a diferenciação social e, por meio dela,
houve a imposição de uma cultura superior que não é real, que não é verdade e que não existe.
Considerações finais
Após este estudo, caro (a) aluno (a), você percebeu que o ser humano possui aspectos biológicos e culturais.
A cultura é tão influente na vida das pessoas que provoca mudanças no biológico e no aparecimento de
doenças psicossomáticas nas pessoas, de acordo com seus valores e crenças. A cultura popular e a cultura
erudita, apesar de características diferentes, não se sobrepõem uma à outra, ou seja, uma não é superior
à outra. Por meio da grande expansão dos meios de comunicação e do crescente avanço tecnológico,
estão disponíveis atualmente vários canais de divulgação entre e para todas as pessoas. Os países também
tiveram e continuam a ter o mundo cultural ampliado. As trocas e as influências entre produtos, entre
a cultura popular e a cultura erudita, cada vez mais influenciam-se reciprocamente e são absorvidas e
consumidas no dia a dia pelas pessoas. A cultura popular e a erudita se complementam, coexistem em
nossas vidas, sendo as duas partes integrantes da cultura brasileira.
Cultura e Sociedade
Referências
BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cultura popular: leituras de operárias. Petrópolis: Vozes, 1972.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São
Paulo: Atlas, 2008.
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Caro (a) estudante, daremos sequência, nesta aula, ao tema da Cultura, por sua importância, por sua
extensão e por sua profundidade.
O termo multiculturalismo busca entender e refletir sobre a imensa diversidade cultural que existe na
sociedade brasileira e sobre a necessidade da prática da alteridade, isto é, o respeito ao outro, para que
possamos construir uma sociedade menos injusta, desigual e violenta. Respeitar as diferentes etnias é
combater o etnocentrismo e buscar estabelecer relações étnico-raciais sem preconceitos, discriminação,
racismo e exclusão, entendendo que todos os indivíduos possuem os mesmos direitos, independentemente
de sua cor, etnia, orientação sexual, opções de religião, opções políticas, classe social e quaisquer outras
Cultura e Sociedade
diferenças.
A sociedade é complexa por apresentar uma grande diversidade multicultural e pluricultural, devido
aos grupos étnicos que estabelecem relações diversas e ao relativismo cultural. Essas relações podem
manifestar-se de várias formas, como o etnocentrismo, o preconceito, a discriminação, o racismo e a
exclusão social.
A sociedade brasileira é composta por várias etnias, por isso, é uma sociedade que apresenta uma grande
diversidade cultural.
Contextualização
O pluralismo étnico brasileiro, portanto, tem seu registro e seus direitos reconhecidos somente a partir do
texto da Constituição Brasileira de 1988, revelando-nos o quanto esse debate foi marginalizado e ainda
continua sendo evitado.
Observe, caro (a) aluno (a), que usamos o conceito de pluralismo, diferente do multiculturalismo, mas
ambos são convergentes.
Importante
Cultura e Sociedade
O multiculturalismo apresenta-se na esfera da convivência entre as culturas ou etnias diferentes e é
também pluralista, isto é, aceita pensamentos diferentes. Assim, enfatiza-se que o pluralismo refere-
se mais ao campo do pensamento, às ideias diferentes sobre um mesmo tema e, reforça-se, não a um
pensamento único.
Infelizmente, caro (a) aluno (a), existe uma grande resistência e uma dificuldade entre as pessoas em aceitar
o outro como um igual em direitos.
De acordo com Tomazi (2010, p.174) “[...] cada grupo ou sociedade considera-se superior e olha com
desprezo e desdém os outros, tidos como estranhos ou estrangeiros.” E essa manifestação de negação em
relação ao outro denomina-se etnocentrismo.
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3.2 Etnocentrismo
Importante
Ao longo do processo histórico, existem inúmeros exemplos de etnocentrismo manifestados por meio de
comportamento agressivo, de hostilidade, de atitudes de superioridade, de violência, de discriminação,
de ofensas e de agressividade verbal e, também, por formas mais brutas, como as guerras, os massacres,
o colonialismo, o imperialismo ou o neocoloniasmo, entre tantas outras formas e cenas de violência e de
horror. Entre esses, no século XX, os mais conhecidos são o nazismo e o fascismo.
Atualmente, a título de ilustração, a ideia de que a cultura ocidental sempre foi e ainda continua sendo
vista como superior é vigente, impondo sua cultura a outros povos. Por meio dessa ideia de superioridade,
etnocêntrica, outras culturas diferentes, consideradas inferiores, foram ou são levadas a adotar os valores
da cultura ocidental em detrimento de seus próprios valores, crenças, costumes, hábitos e normas; enfim,
Cultura e Sociedade
perderam ou perdem sua própria cultura. Essas diferenças tornavam ou tornam as sociedades diferentes,
mas não inferiores (TOMAZI, 2010).
Contextualização
Caro (a) aluno (a), você aceitaria e entenderia a cultura do outro, diferente da sua cultura?
Para resolver ou refletir sobre as diferenças culturais de cada sociedade ou grupo, em defesa de seus
próprios valores, costumes, crenças, normas, hábitos, enfim, de seu universo cultural, surgiu a expressão
relativismo cultural, em oposição ao etnocentrismo.
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3.3 Relativismo cultural
Contextualização
Cada sociedade, por meio de sua cultura, seus padrões ou valores, decide o que é o bem, o mal, o certo, o
errado, o justo ou o injusto para seus membros. O que pode ser correto para uma determinada sociedade
pode ser errado para outra e, por isso, diz-se que é relativo, quando se pergunta o que é certo ou errado
para uma determinada sociedade.
Cultura e Sociedade
Reflexão
Caso alguém pergunte a você, aluno (a), se comer carne de vaca é crime, o que
responderia?
Esperamos que você tenha refletido e respondido que é relativo, ou seja, depende da sociedade à qual
estamos nos referindo. No Brasil, não é crime, pois a vaca é um animal criado para se abater e sua carne é
consumida como alimento. Por outro lado, na Índia, exceto para as classes mais pobres, comer carne de
vaca é crime, tendo em vista que na sociedade hindu a vaca é considerada um animal sagrado.
Contextualização
“No Brasil, come-se manteiga; na África, ela serve para untar o corpo. Pescoços
longos (mulheres-girafas da Birmânia), lábios deformados (indígenas brasileiros),
nariz furado (indianas), escarificação facial (entre aborígenes australianos),
deformações cranianas (índios sul-americanos) são valores culturais para
essas sociedades. Esses tipos de adornos significam beleza. O infanticídio e
o gerontocídio*, costumes praticados em algumas culturas (esquimós), são
totalmente rejeitados por outra(s)” (MARCONI; PRESOTTO, 2008, p.32).
Pelos exemplos sobre o relativismo cultural, observa-se, então, que muitos padrões de beleza, de costumes
e de práticas, que são aspectos da cultura, são eleitos como corretos e comuns a determinadas comunidades
e sociedades, enquanto que esses mesmos valores podem ser renegados por outra(s).
Dentro da diversidade cultural brasileira, existem inúmeras culturas ou subculturas locais, todas elas
integrantes da cultura nacional brasileira.
Cultura Brasileira
Subculturas da
Cultura e Sociedade
Cultura Brasileira
Feminina
Masculina
Nordestina
Pataxós
Para que essas culturas/subculturas sejam visíveis, conhecidas e valorizadas, não somente pelos próprios
membros que as compõem, mas por toda a sociedade brasileira, foram criadas leis específicas para estudá-
las e divulgá-las nas instituições escolares.
8
Contextualização
Por isso, caro (a) estudante, o termo subcultura pode ser empregado para denominar os diversos grupos
étnicos locais, regionais, as classes sociais, dentre outros. Também não existe subcultura superior ou inferior,
mas sim, diferente, conforme sua constituição, estrutura e organização (MARCONI; PRESOTTO, 2008).
Dica
O termo subcultura pode ser usado como sinônimo de cultura. Os dois termos
estão corretos, mesmo tratando-se de um grupo menor localizado em qualquer
território, região ou município.
Cultura e Sociedade
Segundo o Selo UNICEF (2008), é de fundamental importância que jovens, crianças, adultos, enfim, todos
os membros de uma determinada localidade conheçam as especificidades de sua subcultura ou cultura, o
que leva à construção de uma identidade étnico-racial local e/ou regional.
Esses locais são diversos e inúmeros, incluindo bairros, quilombos, aldeias, terreiros, assentamentos e tantos
outros, e não importa a cor da pele, a classe social, a opção religiosa, a orientação sexual e a etnia. Todos os
indivíduos devem conhecer, reconhecer e valorizar sua subcultura ou cultura, por ser parte integrante da
diversidade cultural brasileira.
Reflexão
Ao tratarmos sobre as relações étnico-raciais nesta aula, você, prezado (a) estudante, pode estar se
perguntando:
A etnia, segundo Dias (2004), é o que diferencia os diversos grupos conforme seus padrões culturais,
9
preservando, de uma forma geral, os seus costumes antigos, seus antepassados. Os membros pertencentes
a um determinado grupo étnico cultivam e preservam seus valores, costumes e práticas por meio de várias
formas, como a comida, a música, a dança, os rituais, as datas comemorativas que lhes são significativas e
outras tantas formas.
Contextualização
Os grupos étnicos se diferenciam, além da própria cultura (modo de vida, língua, hábitos e costumes),
também pelas características físicas, ou seja, pela cor dos olhos e da pele, pelo tipo de cabelo, pelo formato
dos olhos, pelos contornos do rosto, pela estatura, cujas características os tornam pertencentes a um
determinado grupo e, ao mesmo tempo, os tornam diferentes de outro (DIAS, 2008).
A raça pura, por meio de explicações biológicas e científicas, não existe. Inicialmente, o conceito de raça
Cultura e Sociedade
foi usado para caracterizar o tipo físico; entretanto, esse uso já foi superado, pois as formas físicas como
o nariz, os lábios, a cabeça (formato), o tipo de cabelo e até mesmo o tipo de sangue, por exemplo, não
são tão diferentes entre os seres humanos para que se possa considerar que existem raças puras ou tão
diferentes (DIAS, 2008).
Contextualização
As classificações dos grupos raciais no Brasil são três: os brancos ou caucasoides, os asiáticos ou
mongoloides e os negros ou negroides. Cientificamente, entre os grupos raciais, as semelhanças são muito
mais significativas e em maior número do que as diferenças entre eles (DIAS, 2008).
Alguns grupos étnicos e raciais também são considerados grupos minoritários. Um grupo minoritário não
se define pelo número de componentes, mas, sim, pela condição de subordinação e opressão em relação
10
a outro (s) grupo (s). Por suas diferenças físicas, despertam comportamentos e reações negativas por parte
de outros indivíduos na sociedade, gerando o preconceito, a discriminação, o racismo e a exclusão.
Todos estes termos, ou seja, o preconceito, a discriminação, o racismo e a exclusão, geram atitudes, ações
e comportamentos de agressividade, imorais, antiéticos e injustos, os quais devem ser denunciados e
combatidos entre as relações humanas.
DISCRIMINAÇÃO
Cultura e Sociedade
“O racismo, [...] é uma ideologia baseada na
crença de que características herdadas, como a
cor da pele, são um sinal de inferioridade que
justifica um tratamento discriminatório das
pessoas com essa herança.” RACISMO
Prezado (a) aluno (a), reflita sobre o quanto o preconceito, a discriminação, o racismo e a exclusão são
negativos e provocam tanta injustiça e desigualdade entre as pessoas de uma sociedade.
Vejamos: Segundo Dias (2010), o preconceito é o juízo de valor preconcebido, estereótipo dado como
padrão e não tem fundamentação. O preconceito é mais um comportamento do que a prática da
discriminação, ou seja, um indivíduo pode ser preconceituoso sem exercer a discriminação.
Dessa forma, a discriminação é um ato, uma ação concreta do preconceito contra outra pessoa ou grupo,
11
de forma negativa, injusta e com desigualdade.
Já foi dito que a cultura é adquirida, por isso, o preconceito e a discriminação são também adquiridos e
aprendidos por meio da socialização, da família, da escola, da igreja, pelos meios de comunicação, pelos
livros, filmes e por tantos outros meios e formas.
Contextualização
O racismo é uma prática e um comportamento de discriminação por conta da cor da pele, justificado pelas
pessoas preconceituosas como uma condição de inferioridade.
Cultura e Sociedade
A exclusão também é uma forma da discriminação e do preconceito, privando pessoas ou grupos de
exercerem seus direitos, de participação e de integração na sociedade (DIAS, 2010).
Importante
Para uma melhor compreensão sobre esse tema, sugerimos que assista ao filme
Hotel Ruanda (1994), que trata do genocídio, ocorrido em Ruanda e Burandi, de
quase 300 mil pessoas, devido ao um conflito étnico entre Tutsis e Hutus. O filme
é baseado em fatos reais.
Reflexão
O que está sendo feito para minimizar essas injustiças e essas desigualdades?
Para tentar minimizar essas formas de exclusão e de discriminação no Brasil, foram criadas políticas públicas
12
e privadas também denominadas de ações afirmativas.
Como exemplo, podemos citar a instituição de cotas ou número de vagas nas universidades públicas para
os negros, o número de vagas para as mulheres na política, a reserva de vagas em concurso público ou de
trabalho para as pessoas especiais, e tantos outros.
Nessa perspectiva, as ações afirmativas implementadas procuram integrar, buscam uma convivência
pacífica entre os grupos étnicos-raciais e lutam para combater a discriminação, o preconceito, o racismo e
a exclusão presentes na sociedade brasileira.
Entretanto, existem muitas controvérsias nos debates quando estes se referem à reserva de vagas ou de
cotas para os negros nas universidades públicas. Existem pessoas que concordam, como existem pessoas
que não concordam.
Considerações finais
A sociedade brasileira apresenta uma diversidade cultural muito rica e complexa. Você percebe, caro
(a) estudante, que essa diversidade cultural, essa mistura de tantas culturas diferentes é, ao mesmo
tempo, um grande exemplo de convivência entre as etnias. Entretanto, é também um campo repleto de
comportamentos, de atitudes e de ações deliberadas negativas, injustas, desiguais e violentas, a exemplo
do etnocentrismo, do preconceito, da discriminação, do racismo e da exclusão.
Cultura e Sociedade
Por isso, estudar e conhecer as relações étnico-raciais torna-se fundamental para que você e todos nós
possamos contribuir para a denúncia e a desconstrução dessas formas injustas de comportamento e de
tratamento em relação aos grupos minoritários étnico-raciais, integrantes da sociedade brasileira.
Referências
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2008.
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
A formação do povo brasileiro tem em seu cerne a história e a cultura dos africanos vindos para o Brasil
desde o início de nossa colonização, a partir do século XVI (1500). Apesar dessa importância na própria
história do Brasil, a visão sobre os afro-brasileiros é preconceituosa, repleta de injustiças, desigualdades,
discriminação, racismo e exclusão, termos esses já conhecidos e vistos na aula anterior. Por serem os
afro-brasileiros um grupo-étnico minoritário que sofreu e ainda sofre todas essas formas de injustiças, de
violência cultural e física, criou-se uma lei específica para garantir e para valorizar a história e a cultura afro-
brasileira no território nacional.
Cultura e Sociedade
4 História e cultura afro-brasileira
A história dos negros africanos reflete uma grande miscigenação, uma aculturação e uma grande
contribuição na formação da nação brasileira, traduzida nos diversos e inúmeros legados deixados por
esse grupo étnico.
A partir de 10 de março de 2008 entrou em vigor a Lei nº 11.645, com o seguinte texto:
Altera a Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de
2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro Brasileira e Indígena (BRASIL,
2008)1.
Por meio dessa lei houve uma mudança no sistema educacional brasileiro, determinando a obrigatoriedade
do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena na rede pública, privada, e nas Instituições de
Educação Superior, principalmente naqueles cursos que atuam na formação inicial e continuada de
professores.
Caro (a) estudante, nesta aula de número 4 abordamos a história e a cultura afro-brasileira e, na aula 5,
abordaremos a história e a cultura indígena, devido à extensão e à grande produção de cada um dos
temas.
A partir do século XVI, início da colonização brasileira, os portugueses deram início ao comércio negreiro,
Contextualização
“A primeira lei que contribuiu para o final da escravidão foi a Lei Eusébio de
Queirós, decretada em 1850, que extinguia o tráfico negreiro em nosso país”
(COSTA; MELLO, 1992, p.173).
Antes de virem para o Brasil como escravos, os negros africanos viviam em seus países de origem, com suas
culturas, organização, modo de vida, costumes, língua, religião, enfim, com seus estilos de vida, conforme
as características dos inúmeros grupos e tribos. Possuíam níveis de cultura diferenciados, uns mais simples,
outros mais elevados.
Com a apreensão dos negros para fomentar a mão de obra colonial brasileira, os portugueses modificaram
e destruíram inúmeros grupos de africanos em seu próprio país.
Os negros africanos vieram do litoral e do interior da África, principalmente da Guiné, de Angola, do Congo
Cultura e Sociedade
e da Costa da Mina.
Importante
Verifica-se, portanto, a grande diversidade das atividades que os negros africanos exerciam em seu país
de origem, bem como as diferentes formas de conhecimento, de práticas e de crenças religiosas, de
organização e de estruturação social, política e cultural de seus grupos e tribos.
O Brasil apresenta-se como um país de grande miscigenação, ou seja, o seu povo foi formado pela união
ou mistura de etnias diferentes.
5
Contextualização
Dessa forma, caro (a) aluno (a), você percebe que o povo brasileiro tem em sua gênese a miscigenação ou
mistura de três etnias: a branca, representada pelo português europeu; a negra, representada pelos negros
africanos; e a índia, representada pelos índios do Brasil.
Entretanto, apesar da miscigenação, o racismo não foi eliminado nem melhorou ou abrandou a violência
praticada contra os negros e os índios. Essas práticas nos revelam a grande opressão, dominação e violência
que caracterizam e marcam a história da constituição do Brasil.
As três etnias são culturas e povos tão diferentes em suas origens e entre si, mas que, devido à fusão
Cultura e Sociedade
multicultural e multirracial, conforme Ribeiro (1995), são os elementos formadores da sociedade brasileira.
Dessa forma, por meio de uma visão mais generalizada, distinguem-se os sertanejos (Nordeste); os
caboclos (Amazônia); os crioulos (do litoral); os caipiras (Sudeste e Centro do país); os gaúchos (sul).
Segundo Coimbra (1997), o fenômeno da miscigenação no Brasil é algo que não se observa em nenhuma
outra realidade histórica, com imensas influências e consequências no surgimento de um novo homem
para a formação do povo brasileiro.
Como consequência dos cruzamentos das etnias, de acordo com Marconi e Presotto (2008), surgiram
outros mestiços, citados a seguir, conforme suas procedências e resultados étnicos:
Ao longo do processo histórico de formação, somaram-se a esses também diversos imigrantes que vieram
para o Brasil, como os italianos, alemães, espanhóis, holandeses, franceses, ingleses, suíços, finlandeses,
poloneses, árabes, judeus, japoneses, coreanos e tantos outros, em menor número.
Contextualização
Mesmo a Igreja Católica, com a imposição de seus dogmas e valores, incluindo as relações monogâmicas
para as diversas etnias por meio do casamento oficial, as práticas sexuais ocorriam com grande liberdade
e permissividade, possibilitando aos homens, inclusive aos casados, a prática de relações extraconjugais.
Além disso, a sociedade brasileira foi construída na base da desigualdade cultural, social, política e
econômica, com uma hierarquia rígida, com uma divisão de classes e poder econômico muitos distintos,
sem possibilidade de mobilidade social. O poder político e econômico era exercido pelo senhor da casa
grande, dono das grandes propriedades rurais, dos engenhos e dos escravos.
Dessa forma, a sociedade brasileira, em sua formação, teve como características também o patriarcalismo
Cultura e Sociedade
e o machismo.
No patriarcalismo, o chefe ou o senhor da casa grande era quem detinha o poder, mandava em todos os
aspectos, era o páter famílias, provedor e controlador de todos os membros sob seu domínio , incluindo a
família (mulher e filhos).
Nessa perspectiva, é que todas as diferenças das diversas etnias-raciais foram consideradas inferiores.
Inverteu-se a diferença dos negros, dos mulatos, dos índios, das mulheres, dos homoafetivos (gays)
masculinos e femininos, dos pobres, e de tantos outros grupos étnico-raciais, em condição de inferioridade.
Contextualização
A miscigenação entre os grupos étnicos-raciais provocou uma aculturação por meio da mistura ou do
cruzamento, acarretando mudanças nos próprios padrões originais.
Contextualização
Nesse sentido, portanto, é que, havendo a fusão entre as culturas europeia, africana e indígena, constitui-
se a sociedade do povo brasileiro.
Cultura e Sociedade
sociedade que se constituía.
Segundo Marconi e Presotto (2008), os negros africanos, ao chegarem ao Brasil, caso constituíssem famílias
inteiras, essas eram propositalmente separadas (marido, mulher, filhos (as), pais ou demais parentes
mais próximos), para que não ficassem juntos na propriedade para a qual seriam levados. Essa forma de
violência facilitava a aculturação, ou seja, a imposição de outros valores e de normas pelo poder senhorial,
e dificultava a fuga entre eles, pois a diversidade da língua entre as tribos africanas sempre foi muito rica
e complexa.
Reflexão
Desse modo, a sociedade brasileira é resultado também desse processo de aculturação, no qual a etnia
e as culturas negras perdem parte de suas características originais. Esse processo de perda de parte da
cultura étnico-racial é denominado também de destribalização e deculturação.
Essas “[...] provocaram a perda de suas características puras [...], mas em grande parte perpetuadas [...],
quando se consideram os conteúdos religiosos africanos impregnados na cultura brasileira” (MARCONI;
PRESOTTO, 2008, p. 284).
8
Assim, mesmo perdendo suas características originais, a etnia afro-brasileira lutou, resistiu e soube
preservar grande parte de sua cultura.
Observa-se e conhece-se esse legado por meio das grandes contribuições deixadas como herança pelos
negros africanos na formação do povo brasileiro. É o que veremos a seguir.
O universo das contribuições deixadas como herança pela etnia negra na contribuição do povo brasileiro é
imenso, sendo impossível uma abordagem completa. Por isso, faremos uma discussão, apontando apenas
algumas, dentre inúmeras contribuições.
Aluno (a), você, no seu dia a dia, tem contato com muitas práticas deixadas pelos negros africanos, pois a
herança deles é inquestionável e é parte da cultura da nação brasileira.
De acordo com Ribeiro (1995), a vida dos negros africanos era dura e desumana. Esses foram submetidos à
imposição da mão de obra escrava, e mesmo assim, conseguiram permanecer humanos. A violência crua,
os castigos e as torturas humilhantes, a solidão, a destituição da família e do sexo, provocaram muitos
movimentos de resistência, por meio de fugas e de suicídios.
Dentre tantas fugas para os negros se protegerem dos maus tratos, da brutalidade e do terrível destino
Cultura e Sociedade
da escravidão, a mais famosa foi a que resultou na formação do Quilombo dos Palmares, (entre os anos de
1629 a 1694, no estado de Alagoas), cujo líder foi Zumbi.
Os quilombos eram comunidades criadas pelos negros que fugiam, para se defender da escravidão e das
perseguições.
Importante
“Apesar de seu papel como agente cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro
teve uma importância crucial, tanto por sua presença como a massa trabalhadora
que produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira,
mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro
com suas cores mais fortes” (RIBEIRO, 1995, p. 114).
Reflexão
Religião: práticas religiosas e mágicas, representações simbólicas, ritos, festas religiosas, práticas espíritas,
todas misturadas ao catolicismo e às práticas indígenas, o que gerou o sincretismo religioso (expressão
já vista anteriormente), mas vamos relembrá-la na definição abaixo:
Reflexão
Afirma Ribeiro (1995) que nunca se viu um catolicismo popular tão discrepante, ou seja, tão diferente de
qualquer heresia cristã que se perseguia.
Vamos citar apenas algumas práticas e santos como exemplos do sincretismo religioso: Umbanda,
Candomblé, macumba, Xangô, Tambor, Batuques ou Parás, orixás, Xangô, Ogum, Iemanjá, Iansã, Oxum e
tantos outros exemplos.
Cultura e Sociedade
bronze e de ferro, na cerâmica, na escultura, na pintura, na criação de armas de pesca e de caça, nos
instrumentos de mineração, na arquitetura, no artesanato, nas vestimentas (indumentária), nos ornamentos
(colares, brincos, braceletes etc.).
A contribuição na música e na dança foi muito significativa, principalmente na música, por meio do ritmo,
a exemplo do samba, maracatu, congada, maxixe, batuque, além de muitos cantos e cantigas.
Contextualização
A herança deixada pelos negros no campo da alimentação é muito rica e diversa. Além desses alimentos
citados acima, lembramos os mais usados, como o azeite de dendê, o vatapá, o bobó, a cocada, o caruru, a
feijoada, o pé-de-moleque, o quindim e outros.
Houve grande influência negra na língua portuguesa, com expressões linguísticas ou novos vocábulos
africanos, como macumba, bengala, fubá, cachaça, banana, quitanda, chuchu, caçula, moleque e tantos
outros.
10
Na literatura popular herdamos as lendas, as fábulas, os contos, as poesias etc.
Por meio dessas diversas formas de herança deixadas pelos negros africanos, observa-se que essa foi
assimilada por todo o território brasileiro, apesar da existência de algumas diferenças em práticas locais,
regionais e de estados, sem, no entanto, segundo Marconi e Presotto (2008), ameaçar a integração da
nação nacional.
Considerações finais
Após esta aula, você, caro (a) aluno (a), pode perceber o quanto é importante conhecer, propagar e valorizar
a história e a cultura dos negros africanos e dos afro-brasileiros, por sua grande e crucial importância
na formação do povo brasileiro. Trazidos de sua terra natal, a África, os negros foram escravizados pelo
europeu para ser a mão de obra que sustentou a economia brasileira durante séculos. Foram humilhados,
torturados, aculturados, destribalizados e deculturados, mas nunca deixaram de lutar para preservar sua
cultura.
As suas contribuições culturais continuam sendo praticadas até hoje, são parte do nosso cotidiano e parte
integrante da cultura nacional brasileira em inúmeros e diversos setores.
Cultura e Sociedade
das crianças e dos jovens brasileiros para a valorização das culturas dos nossos antepassados que tanto
contribuíram para a constituição da nossa diversidade cultural.
Referências
Brasil. Lei nº 10. 639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 09 de jan. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 28 ago. 2014.
COSTA; Luis César Amad; MELLO, Leonel Itaussu. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1992.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2008.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das letras,
1995.
Aula 5
História e cultura indígena
2
Sumário
Aula 5 - História e cultura indígena
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
5 História e cultura indígena ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
5.1 Definição dos termos índio e indígena���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
5.2 Diretos humanos, dizimação e população atual���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5
5.3 Modo de vida dos indígenas����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������8
5.4 Herança cultural dos indígenas�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 10
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 11
Referências ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 12
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Caro (a) aluno (a), a obrigatoriedade de se estudar a história e a cultura dos indígenas no Brasil foi instituída
por lei, da mesma forma que a história e a cultura afro-brasileira.
Altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de
2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” (BRASIL,
1996)²1 .
Cultura e Sociedade
Dessa forma, a partir do ano de 2008, todas as instituições de ensino passaram a contemplar em seus
currículos esse grupo étnico, com o objetivo de valorizar e de resgatar o seu legado nas diversas áreas
cultural, econômica, política e social, no processo de construção da história do Brasil e de seu povo.
O significado dos termos índio e indígena nos contextualiza para o entendimento do nome do nativo
brasileiro. A história do grupo étnico dos índios é apresentada como parte integrante da história do Brasil,
revelando o seu modo de vida, a riqueza do seu legado e o seu direito a ter direitos.
Não existe somente uma cultura indígena, mas temos várias culturas, por suas diversas diferenças entre
as inúmeras tribos existentes.
Importante
“[...] o termo ‘indígena’ se refere aos antigos habitantes que aqui se encontravam
antes da vinda dos europeus [...]. Muitos [...] grupos estão tentando reavivar suas
próprias culturas, como uma forma de se fortalecerem, em uma sociedade que
não os reconhece como completamente iguais – são índios - [...]. A busca de
fortalecimento da identidade cultural e de resgate das tradições, ao mesmo tempo
que fortalece o autoestima dos povos indígenas, fortalece a cultura brasileira mais
geral” (DIAS, 2010, p. 77).
Os índios, portanto, já viviam no território brasileiro há milhares de anos, apesar da convenção da data do
descobrimento do Brasil ter sido oficializada pelo europeu no século XV ou no ano de 1500. Milhares de
índios foram aculturados, por meio do contato com o europeu, acarretando a subordinação e o extermínio
ou dizimação de muitos grupos étnicos indígenas.
Na definição do termo indígena, acrescentamos também outra visão em um contexto mais atual,
reproduzida no quadro abaixo:
Importante
Cultura e Sociedade
“[...] indígena é, no Brasil de hoje, essencialmente, aquela parcela da população
que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, em suas diversas
variantes, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades
que a vinculam a uma tradição pré-colombiana” (RIBEIRO, 1997, p. 254).
Dessa forma, percebe-se a necessidade de uma consciência por parte de toda sociedade brasileira para
ajudar a defender e a preservar a cultura e os valores de cada grupo étnico-indígena.
Depois de quase uma destruição total sofrida pelos indígenas, resta à sociedade brasileira reconhecê-los
como índios específicos, com seus costumes e identificação de seu grupo étnico, apesar de aculturados.
Contextualização
A etnia índia, juntamente com a etnia branca e negra, também é formadora do povo brasileiro.
Atualmente, ainda existem diversas áreas culturais indígenas espalhadas no território nacional e, dentre
tantas, ressaltam-se:
5
Makuxi
NORTE- AMAZÔNICA Oiampi
(três subáreas) Maku Tukuna
Funiô
Potiguara
NORDESTE Pataxó
Makali
JURUÁ-PURUS
ÁREAS CULTURAIS INDÍGENAS
Yamamadi
Kaxinawa
GUAPORÉ
(três subáreas) Katukina
Nandeva
PARANÁ Kawiá
Mbuá (Guarani)
Kamayurá Bororo
Waurá Apinayé
Bakairi TOCANTINS- XINGU Xavante
ALTO XINGU (três subáreas)
Suyá Kayapó
Karajá
PINDARÉ- GURUPI
Tenetchara
TAPAJÓS- MADEIRA
(duas subáreas) Urubus-Kaapor
Guajá
Mundukuru PARAGUAI
Mawé
Outros grupos Tupi TIETÊ- URUGUAI Kadiwéu Terêna
Kaiangáng
Cultura e Sociedade
Fonte: MARCONI; PRESOTTO, 2008, p. 217. Adaptado pela autora.
Por toda a extensão do litoral encontravam-se as aldeias e as comunidades indígenas. Segundo Marconi
e Presotto (2008), a maior predominância cultural entre os indígenas era da tribo Tupi que, por sua vez,
tinha diversos grupos integrantes com os tupis-guaranis (compostos pelos grupos Tamoio, Tupinambás,
Tupiniquim e tantos outros).
A língua mais falada e difundida era a tupi, usada tanto por vários grupos como pelos colonizadores. A
diversidade linguística era muito grande, pelo fato de cada cultura ou grupo ter sua própria língua. No século
XVI, por exemplo, encontram-se em torno de 900 línguas (MARCONI; PRESOTTO,2008). Diferentemente, os
padrões culturais dos indígenas não variavam tanto entre os mesmos, sendo um fator que facilitava o
processo da colonização.
Entre os índios houve também, como nos grupos africanos, uma imposição de valores, provocando a
aculturação, a destribalização e a deculturação (termos já vistos anteriormente), causas do desaparecimento
de muitas tribos indígenas.
As pesquisas nas áreas da arqueologia e da paleontologia citam que a presença do homem no Brasil data
de aproximadamente 8000 a.C; conforme os testemunhos fósseis do Homem da Lagoa Santa, no Estado
de Minas Gerais. Outras pesquisas apontam os sambaquis, testemunhados por meio de grandes montes
de rochas, fósseis, restos de utensílios de cozinha, tudo isso deixado pelo homem de Sambaqui. O depósito
citado como o mais antigo dentre os Sambaquis é chamado de Marutá, localizado na baía de Santos, por
volta de 5000 a.C. (MARCONI; PRESOTTO, 2008).
6
Para defender e preservar os valores culturais dos indígenas, a Constituição Federal de 1988 contempla
vários direitos para esse grupo étnico.
Para tanto, a resolução nº 1, de 30 de maio de 2012 reforça as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos, cuja resolução protege todos os grupos étnicos para a sua preservação, defesa e igualdade
de direitos para todos os cidadãos e cidadãs. O estudo dos Direitos Humanos, independentemente de
qualquer grupo étnico específico, será tratado com maiores detalhes na aula 8.
O artigo 5º do parecer CNE/CP nº 8/2012, com base nas leis nº 9.13,1 de 24 de novembro de 1995, e 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, estabelece:
Art 5º A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo central a formação para a vida e para
a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização
social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário (Resolução CNE/CP
1/2012).
Em seu Artigo 3º, essa Resolução ainda enfatiza o reconhecimento e a necessidade da valorização das
diversidades e diferenças, como o respeito à dignidade humana.
Dessa forma, a população indígena, de acordo com essa Resolução e com a Constituição Federal de 1988,
tem o direito de viver sua cultura, seu modo de vida e estilo, conforme suas diferenças.
Antes mesmo dessa Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, já se haviam instituído três línguas oficiais dos
indígenas, a saber:
Cultura e Sociedade
São Gabriel Ri N A Lei n° 145/2002, aprovada em
oN
da Cachoeira eg 22/11/2002, oficializou, além do
ro
português, outras três linguas indíge-
Manaus nas como oficiais no município:
Nheengatu, Tukano, Baniwa.
Distância:
847km de Manaus em linha reta
1.601 km de Manaus pelo rio.
Figura 7 Mapa da região onde três línguas indígenas são oficiais, além do português
Fonte: DIAS, 2010, p.78.
Segundo Ribeiro (1995), calcula-se que havia aproximadamente de 2 a 2,5 milhões de índios antes da
chegada do colonizador português no Brasil. Por volta do século XIX, calcula-se que havia 230 grupos e, já
em 1957, esse número diminuiu para 143 grupos tribais.
Observa-se, caro (a) aluno (a), que foram extintos em torno de 87 grupos de etnia indígena no território
nacional brasileiro em cinco décadas.
Reflexão
“Sobre esses índios assombrados com o que lhes sucedia é que caiu a pregação
missionária, como um flagelo. Com ela, os índios souberam que era por culpa
sua, de sua iniquidade, de seus pecados, que o bom Deus do céu caíra sobre
eles, como um cão selvagem, ameaçando lançá-los para sempre nos infernos.
O bem e o mal, a virtude e o pecado, o valor e a covardia, tudo se confundia,
transtrocando o belo com o feio, o ruim com o bom. Nada valia, agora e doravante,
o que para eles mais valia: a bravura gratuita, a vontade de beleza, a criatividade,
a solidariedade. A cristandade surgia a seus olhos como o mundo do pecado, das
enfermidades dolorosas e mortais, da covardia, que se adonava do mundo índio,
tudo conspurcando, tudo apodrecendo” (RIBEIRO, 1995, p.43).
Inicialmente, os índios se encantaram com o recém-chegado europeu, acreditando, de acordo com seus
valores, que seriam pessoas generosas.
Entretanto, com o passar dos anos, perceberam a catástrofe e o mal que havia caído sobre todos eles. O
contato com o branco levou-os à morte pela contaminação de doenças como coqueluche, tuberculose,
sarampo, além de várias epidemias e pestes. A imposição dos valores cristãos e europeus ia destribalizando
e deculturando os grupos indígenas, além da dizimação através de guerras de extermínio genocida,
etnocida e da escravização. Muitos índios fugiam para o interior das matas para se defender contra os
Cultura e Sociedade
horrores que o convívio dos brancos provocou entre eles (RIBEIRO, 1995).
Apesar da violenta opressão e dizimação, os índios sentiram-se atraídos pelos adornos e pelos instrumentos
que o europeu lhes oferecia com o objetivo de atraí-los e subjugá-los. Encantavam-se com machados,
canivetes, facões, facas, espelhos, tesouras, miçangas, e muitos grupos de índios ou até indivíduos do
mesmo grupo, brigavam e matavam por conta desses objetos, considerados preciosidades (RIBEIRO, 1995).
De acordo com Marconi e Presotto (2008), a queda na população indígena continua até o momento atual,
com uma representatividade de 0,2% da população brasileira, em 1957. A população indígena encontra-se
mais concentrada nos seguintes territórios:
Contextualização
62,9% da população
Amazônia 52.550 indígena
Brasil Central 18.125 21,6% da população
indígena
Brasil Oriental 7.700 9,0% da população indígena
Região Sul 5.525 6,5% da população indígena
O número mínimo da população indígena gira em torno de 68.100 e, no máximo, 99.700 membros, o que
comprova a grande dizimação do grupo étnico dos indígenas.
8
Além das medidas de defesa e de valorização do grupo étnico dos indígenas já citadas, surgiram outras
anteriormente: em 1910 foi criado o Serviço de Proteção aos Índios – SPI - pelo Marechal Rondon,
pacificador e humanista, mas extinto em 1967. Nesse mesmo ano foi criada outra Fundação com o objetivo
de substituir o SPI, que foi a Fundação Nacional do Índio.
Entretanto, as tentativas de apoio aos índios são ainda insatisfatórias, pelo fatos de os interesses econômicos
nacionais sobrepujarem os interesses dos grupos étnicos indígenas (MARCONI; PRESOTTO, 2008).
Recentemente, outras instituições foram criadas para a defesa da questão indígena no Brasil, como a
Associação Brasileira de Antropologia, Comissões Pró-Índio e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
No ano de 1980 criou-se a União das Nações Indígenas (Unind), composta por líderes de tribos indígenas
que conseguiram, pela primeira vez, que o presidente da FUNAI fosse eleito por indicação deles.
Os índios enfrentaram, resistiram e lutaram como puderam contra a violência, a subjugação e a escravização
realizada pelos colonizadores, para preservar seu modo de vida e suas diversas culturas.
Foram vencidos pelo europeu que, apesar de ser menos numeroso, possuía uma superioridade na
organização e na tecnologia das armas. Eram canhões, arcabuzes, isto é, armas de fogo que foram usadas
pelo europeu contra arcos, flechas, zarabatanas e tacapes feitos pelos próprios índios.
Cultura e Sociedade
Reflexão
“Frente à invasão europeia, os índios defenderam até o limite possível seu modo
de ser e de viver. Sobretudo depois de perderem as ilusões dos primeiros contatos
pacíficos, quando perceberam que a submissão ao invasor representa sua
desumanização como bestas de carga. Nesse conflito de vida ou morte, os índios
de um lado e os colonizadores do outro punham todas as suas energias, armas e
astúcias” (RIBEIRO, 1995, p.49).
Antes da invasão e da destribalização das culturas indígenas, essas viviam no território nacional brasileiro
com suas atividades cotidianas, com seu próprio estilo ou modo de vida.
Trabalhavam para se manter, por meio da agricultura, da coleta, da caça e da criação de animais.
A organização e a divisão de tarefas eram feitas de acordo com o sexo e por idade.
Entre os homens e as mulheres, a responsabilidade dos homens era caçar, pescar, limpar o terreno para a
roça, construir a aldeia (cabanas), e as canoas, e ocupar-se também com a guerra.
As mulheres eram responsáveis pela criação e pelo cuidado com as crianças, pela coleta de frutos (as),
pelo plantio e pela colheita das lavouras, preparando os alimentos (comida), e fabricando objetos de barro
(potes) e cestos.
9
O padre jesuíta José de Anchieta, que conviveu com os índios e passou a morar em São Vicente, em 1553,
deixou, num de seus relatos, os hábitos dos índios:
Todos andam nus. Mas os carijós e algumas tribos que vivem mais ao sul, por ser a terra ali muito
fria, usam peles de veados e de outros animais. Todos que viviam na Costa falam uma mesma língua
e comem carne humana. Não celebram casamentos. Assim, um só homem tem três ou quatro mu-
lheres. São muito dados ao vinho, que fazem de raízes da mandioca, que comem, de milho e ainda
de outras frutas (ANCHIETA apud ARRUDA, 1997, p.139).
De acordo com o relato, caro (a) aluno (a), pode-se observar o quanto o modo de vida dos índios era
diferente da cultura do branco português e também do negro.
E para você? O que é mais diferente na cultura dessas tribos citadas pelo padre José de Anchieta?
Você andaria nu, por exemplo, como esses índios? Você comeria carne humana?
Observe, então, a força e o poder de uma cultura, de um costume, de um hábito, das práticas culturais e
dos valores!
Por isso é que somos diferentes! É a cultura que nos faz perceber a nossa diferença em relação ao outro.
Somente nos reconhecemos em confronto com o outro, ou seja, com um diferente!
O que mais chama a atenção, pensamos, é o fato de os indígenas andarem nus (em algumas tribos, até hoje,
os indígenas têm o costume de andarem nus). Outro fato que chama a atenção era a prática de comerem
Cultura e Sociedade
carne humana. Você concorda? Essa prática já não existe nos dias atuais em nenhuma tribo indígena.
De acordo com Arruda (1997), os indígenas antropofágicos geralmente comiam carne humana após um
combate, caso o inimigo aprisionado fosse corajoso. Ao ingerir a carne do inimigo, os índios acreditavam
na incorporação de sua valentia e de sua força.
A forma de moradia era as cabanas ou ocas, um abrigo coletivo. O conjunto das ocas era no formato de
um círculo. No centro do círculo havia um pátio chamado de ocara, onde os índios celebravam as festas, os
rituais, as cerimônias religiosas, as reuniões coletivas e todas as diversas celebrações. A aldeia ou taba era
o conjunto das ocas e várias aldeias ou tabas formavam uma tribo. O conjunto das tribos constituía uma
nação indígena. Cada tribo era governada pelos índios mais velhos e mais respeitados, o que significava
liderança e prestígio entre os membros da aldeia.
As tribos indígenas não separavam o trabalho da vida social, pois tudo era integrado às festas, aos ritos e
às comemorações.
O tempo do trabalho variava de grupo para grupo e esse era feito para suprir as necessidades da tribo, e
não para acumular o excedente.
10
Contextualização
O fatos de os índios trabalharem menos não significava que eles tinham uma vida de privações, mas eles
produziam para as necessidades materiais e sociais, as quais eram totalmente satisfeitas.
A concepção de trabalho para as sociedades tribais era diferente da concepção capitalista, ou seja, os
índios não se preocupavam com a obtenção do lucro ou com a acumulação. Não produziam para vender,
para lucrar, mas para suprir suas necessidades básicas.
Reflexão
Cultura e Sociedade
no fim do mês. ‘Trabalham’ para viver, para prover às festas, para presentear. Mas
nunca mais que o estritamente necessário: a labuta não é um valor em si, não é
algo que tem preço, que se oferece num mercado; não se opõe ao lazer, dele não
se separando cronologicamente (‘hora de trabalhar, trabalhar’); não acontece em
lugar especial, nem se desvincula das demais atividades sociais (parentesco, magia,
religião, política, educação...). Sempre que se pareçam com o que chamamos
‘trabalho’, tais atividades são imediatamente detestadas. Aliás, no fundo, não o são
também entre nós?” (RODRIGUES, 1989, p.101).
Dessa forma, caro (a) aluno (a), você percebe que a acumulação capitalista não era parte da atividade do
trabalho dos índios, o que nos revela uma visão totalmente diferente da visão da sociedade brasileira em
relação à produção e ao próprio trabalho. Os alimentos que produziam ou obtinham pelo trabalho eram
divididos entre os índios da aldeia.
Por ser a etnia indígena um dos elementos formadores do povo brasileiro, não há como negar sua
importância.
Contudo, esse grupo étnico ainda sofre grande preconceito e discriminação, sendo mal visto pela própria
sociedade que ele ajudou a formar. Por isso, a necessidade de resgatar, conhecer ou reconhecer e valorizar
a história e a cultura desse grupo étnico.
11
Importante
“Não se pode relegar a plano secundário a contribuição cultural indígena. Ela foi
significativa [...]. Mesmo coagidos pela escravidão a que foram submetidos desde
o início, concorreram como etnia para os cruzamentos inter-raciais na formação do
povo brasileiro. Legaram elementos materiais e imateriais que foram assimilados,
como [...] usos e costumes, superstições, lendas etc.” (MARCONI; PRESOTTO, 2010,
p.282).
Muitos dos usos e costumes estão presentes e fazem parte do nosso hábito diário.
Como hábitos, por exemplo, citamos o banho, o uso de menos roupas, o tabaco, a queimada da roça para
limpar o terreno (apesar de essa prática ser condenada nos dias atuais) e outros;
Entre os objetos, instrumentos e utensílios, citamos a rede de dormir, a canoa, a jangada, o maracá
(instrumento musical), as armas de combate, objetos de cerâmica, cestaria e outros;
Cultura e Sociedade
No campo linguístico, temos um vocabulário rico e diverso, a exemplo de palavras como caju, jacaré,
Tietê, Curitiba, Piauí, sabiá, abacaxi, tatu e tantas outras, além de lendas, contos, fábulas, magias, crenças,
superstições e rituais de cura.
Segundo Arruda (1997), a base da dieta dos índios era a mandioca, da qual faziam o beiju e uma bebida de
nome cauim, que deixavam os índios em estado de embriagues.
A beleza de seus adornos (de plumas, de penas ou de outros materiais) nos impressiona, bem como as
pinturas nos corpos. Os homens se adornavam (ou se adornam até hoje) e se enfeitavam até mais do que
as próprias índias.
Como herança, os índios deixaram também o ritual das danças e dos cantos para as comemorações, para
as rezas e demais celebrações importantes.
Considerações finais
O grupo étnico dos índios, como você estudou, prezado (a) estudante, tinha o seu modo de vida, seus
costumes, enfim, sua própria cultura, até a invasão do europeu. Este provocou uma violenta destruição
na vida desses grupos étnicos indígenas, por meio da aculturação, destribalização, deculturação e
escravização. O número de indígenas que existe hoje no Brasil é muito reduzido, em consequência da
forma violenta da dizimação realizada pelo europeu. Os índios que sobreviveram foram resistentes a todas
essas formas de violência e conseguiram preservar sua cultura. Muitos dos seus elementos culturais são
visíveis e fazem parte da atual cultura nacional brasileira.
Há em curso uma tomada de consciência por alguns setores da sociedade brasileira na defesa das causas
12
indígenas, percebidas por meio de instituições de leis, resoluções, de diversas fundações e associações
que estão se mobilizando para defender os interesses dos índios brasileiros.
Referências
ARRUDA, José Jobson. História Integrada. 4. ed. São Paulo: Ática, 1997.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, para incluir no currículo oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 de março de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 20 ago. 2014.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Cultura e Sociedade
Atlas,2008.
_____________. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das letras,
1995.
RODRIGUES, José Carlos. Antropologia e comunicação: princípios radicais. Rio de Janeiro: Espaço e
Tempo, 1989.
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Estudante, vamos estudar o significado de ciência e abordar alguns tipos de conhecimentos, por ser
impossível conhecer e abordar todos. Assim, selecionamos o conhecimento popular, ou vulgar, também
conhecido por senso comum; o conhecimento religioso; o conhecimento filosófico; e o conhecimento
científico, os quais estão presentes e coexistem em nosso cotidiano. Cada um possui suas especificidades,
mas nenhum desses conhecimentos é superior ao outro, em termos de hierarquia.
Você irá observar, caro (a) aluno (a), que praticamos esses diferentes conhecimentos todos os dias e, por
isso, é fundamental que saibamos reconhecê-los.
Cultura e Sociedade
Abordamos as áreas do conhecimento, isto é, as ciências humanas e sociais e as ciências físicas e
naturais, apresentando suas diferenças. Finalizando, contemplamos o que é o método científico e suas
caracterizações.
Nesta aula, são abordados os conceitos de conhecimento e de ciência, além de alguns tipos de
conhecimento. As ciências exatas e humanas são tratadas em suas áreas específicas com o seu respectivo
método científico.
Desde o início do surgimento do homem no mundo, existe o conhecimento, pois este é criação e produção
do ser humano, sendo assim uma das diferenças principais entre o homem e o animal.
Contextualização
Dessa forma, o homem difere do animal por sua capacidade de raciocinar, pelo uso da razão, da observação,
da interpretação, de estabelecer relações entre seus pares e com outros, enfim, por ser capaz de adquirir
conhecimento ou do conhecer (MICHEL, 2005).
Importante
Cultura e Sociedade
Segundo Michel (2005), o conhecimento é muito mais do que a informação, pelo fato de o conhecimento ter
um significado, um contexto, ou seja, possui um tempo e um espaço, e exige interpretação. A informação,
por si só, não significa conhecimento, por não contribuir com novas possibilidades além daquelas que se
possui.
A ciência tem como significado conhecimento, ou seja, “[...] é um corpo de conhecimentos, que trabalha
com técnicas especializadas de verificação, interpretação e interferência da realidade” (MICHEL, 2005, p. 9).
Assim, a ciência possibilita o conhecimento científico que, por sua vez, exige um estudo sistemático,
rigoroso, com planejamento e desenvolvimento dentro dos métodos científicos exigidos pela própria
ciência.
Contextualização
Acrescenta Trujillo Ferrari (1974, p. 8) que “a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais,
dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
5
Observa-se, portanto, caro (a) aluno (a), que o conhecimento científico adquirido na esfera da ciência não
pode ser feito de qualquer maneira e, por isso, difere de qualquer outra forma de conhecimento.
c) Objeto. Subdividido em: Material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou ve-
rificar, de modo geral; Formal, o enfoque especial, em fase das diversas ciências que possuem o
mesmo objeto material.
Além dessas partes que a ciência contempla, esta possui também diversos ramos de estudo e diversas
ciências específicas. Por isso, devido à sua complexidade, conteúdo, objeto e temas, bem como aos
diferentes enunciados e aos empregos de metodologia ou de método científico (cujos significados
abordamos nos subitens seguintes desta aula), a ciência possui classificação e divisão, apresentadas no
organograma abaixo:
LÓGICA
FORMAIS
MATEMÁTICA
CIÊNCIAS FÍSICA
NATURAIS QUÍMICA
Cultura e Sociedade
FACTUAIS BIOLOGOGIA E OUTRAS
ANTROPOLOGIA CULTURAL
SOCIAIS DIREITO
ECONOMIA
POLÍTICA
PSICOLOGIA SOCIAL
SOCIOLOGIA
Caro (a) estudante, conforme citamos nas Considerações iniciais desta aula, vamos abordar alguns tipos de
conhecimentos expostos nos subitens abaixo:
Reflexão
Contextualização
O conhecimento popular não questiona por que as práticas que fazemos existem, por que elas funcionam
ou como se chegou a um determinado resultado.
Esse tipo de conhecimento não usa o método cientifico, o qual precisa ser comprovado e, por isso, o
conhecimento popular ou vulgar não é científico. Ele se coloca na esfera da irracionalidade, do subjetivo,
da percepção e da ação.
As características do conhecimento popular, ou vulgar, podem ser resumidas, segundo Lakatos e Marconi
(1991, p. 77), da seguinte forma:
Superficial, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente es-
Cultura e Sociedade
tando junto das coisas: expressa-se por frases como “porque o vi”, “porque o senti”, "porque o disse-
ram", “porque todo mundo diz”.
Subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, tanto os que
adquire por vivência própria quanto os “por ouvi dizer”;
Assistemático, pois essa “organização” das experiências não visa a uma sistematização das ideias,
nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;
Acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se mani-
festa sempre de uma forma crítica.
Assim, o conhecimento popular, ou vulgar, se limita à esfera da vida diária e não é comprovado por meio
de método científico.
Dica
Procure perguntar a sua mãe ou a sua avó por que um bebê não pode sair de casa
no sétimo dia de vida. Algumas pessoas dizem que a criança “vira o vento”. Dizem
ainda que é devido ao “mal do sétimo dia”.
Com certeza, qualquer uma das pessoas (mãe ou avó) irá responder que não sabe provar por que essa
ação faz mal. Responderão que “ouviram dizer” ou que foram suas antecessoras que lhes passaram essa
7
informação e, assim por diante, essa crença vai sendo transmitida pela oralidade e de geração em geração.
Daí porque o conhecimento popular, ou vulgar, é passado através das gerações, pela tradição, não sendo
provado nem questionado.
Contextualização
O conhecimento popular, ou do senso comum, apoia-se, então, naquilo que se pratica no dia a dia, no
cotidiano, sendo transmitido pelos ancestrais e pela tradição oral.
Reforçamos com Chaui (1996) que o senso comum ou os saberes do cotidiano apresentam as seguintes
características:
Cultura e Sociedade
toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos (CHAUI, 1996, P. 249).
Justifica-se, assim, grande parte de nossas superstições, medos, angústias e preconceitos que praticamos
no nosso cotidiano.
Observa-se, caro (a) estudante, que o conhecimento popular ou senso comum não compreende
o conhecimento científico, ou seja, eles são de esferas diferentes. Enquanto o primeiro é ametódico e
assistemático, o segundo exige o método científico, rigoroso e sistemático, conforme abordaremos no
subitem 6.5.
Esse tipo de conhecimento também não se encontra na esfera do racional, ou seja, é subjetivo, é baseado
na fé e na revelação divina. É irracional.
Importante
Esse tipo de conhecimento apoia-se, então, na aceitação da palavra divina, na crença e na fé inabalável.
Acredita-se na verdade do que é transmitido sem questionamentos, ou seja, a verdade é inquestionável
e sem comprovação científica.
Por isso, o conhecimento religioso é do âmbito pessoal ou privado, pois a pessoa escolhe ou decide se
deseja ter fé, crença ou acreditar em um ente ou poder sobrenatural. Ela acredita se quiser, sem necessidade
de comprovações científicas.
Esse conhecimento é diferente do conhecimento popular e do religioso, por se caracterizar pelo uso
da razão, por questionamentos, críticas, reflexões e por interessar-se pelos dilemas do ser humano em
sociedade (LAKATOS; MARCONI, 1991).
Importante
Cultura e Sociedade
“Este tipo de conhecimento procura o sentido, a justificação, as possibilidades
de interpretação a respeito do objeto de interesse. Ele procura compreender a
realidade em seu contexto universal; sua preocupação é a auto-reflexão do espírito
sobre a razão do seu comportamento, aspirando, assim, a uma inteligência geral,
ideal, a uma visão racional de mundo” (MICHEL, 2005, p. 19).
Dessa forma, o conhecimento filosófico não deseja comprovar a verdade dos fatos, mas refletir, questionar,
criticar e conhecer sobre o que a ciência apresenta à sociedade e aos indivíduos, buscando o bem comum
para as pessoas.
É o tipo de conhecimento que todo cidadão e cidadã deve ou deveria buscar, pois esse conhecimento
permite ou permitirá às pessoas que elas façam uso da argumentação, da reflexão e da crítica, para não
aceitarem ou se conformarem com os problemas, com as desigualdades e com as injustiças como sendo
naturais. O conhecimento filosófico é a busca do saber ou da sabedoria e, portanto, do conhecimento do
próprio conhecimento.
Esse tipo de conhecimento baseia-se na razão, na comprovação dos fatos por meio do método científico
(o qual abordamos com mais detalhes no subitem 6.7 desta aula), é rigoroso, sistemático (ordenado por
lógica) e metódico (por exigir o método científico).
9
Contextualização
O conhecimento científico, portanto, exige uma atitude inquisidora, pois é um conhecimento questionável,
falível, e busca uma explicação que faça sentido para as coisas, para os fenômenos ou quaisquer objetos
que foram ou que serão estudados.
■é
■ quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas
que pareçam ser diferentes;
Cultura e Sociedade
■■ é homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas
para fatos que nos parecem diferentes;
■■é generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os
mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura;
■■é diferenciador, pois não reúne nem generaliza por semelhanças aparentes, mas distingue os que
parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes;
■■procura [...] apresentar explicações racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-
-se ao espetacular, ao mágico e ao fantástico;
■■ afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixan-
do de projetá-los no mundo e nos outros;
■■ mostra que os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa expe-
riência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho da investigação científica.
10
Dica
Após a exposição das características do conhecimento científico, observa-se, caro (a) aluno(a), o quanto
este se difere do conhecimento popular ou do senso comum.
Ainda, de acordo com Lakatos e Marconi (1991), o conhecimento científico tem como características
ser factual, ou seja, que é real; ser contingente, isto é, faz uso da experiência; ser sistemático, por ser
ordenado por lógica; ser verificável, isto é, comprovado; ser falível, ou seja, não é definitivo ou absoluto, e
sim, aproximadamente exato, o que significa que novas interpretações ou novos estudos podem refutar
ou reformular o estudo que já foi realizado ou é vigente.
As áreas de conhecimento são diversas e podem ser divididas em áreas de concentração para especificar
o objeto de estudo com suas características e particularidades.
Cultura e Sociedade
Contextualização
Dessa forma, caro (a) aluno (a), o conhecimento não é acabado, não é uma verdade absoluta, pois pode e
está sempre sendo renovado ou modificado por novos estudos e/ou pesquisas.
Para saber sobre as áreas do conhecimento relacionadas aos cursos que lhes são específicos, apresentamos
o quadro a seguir:
11
OBJETO: Fenômenos OBJETO: Ciclo vital dos OBJETO: Manifestações OBJETO: O homem social,
físicos e naturais seres vivos - seres humanos artísticas dos seu comportamento e
vegetais, animais, sua evolução seres humanos relação com o meio,
e complexidade com o contexto social
Cultura e Sociedade
Estatística Medicina Veterinária Filosofia
Física Psicologia
Matemática História
Matemática Computacional Geografia Humana
Química Antropogogia
Geologia Ciência Política
Geografia Física Comunicação Social
Apesar de o conhecimento científico abranger várias áreas do saber, vamos nos deter nas ciências sociais
ou humanas e nas ciências físicas e naturais, que são ciências que apresentam muitas diferenças pelo fato
de o objeto de estudo de cada uma dessas ser específico e, portanto, diferente.
Segundo Michel (2005), as ciências humanas e sociais inserem-se em um contexto social, com várias
visões de pensamento, pelo fato de cada corrente de pensamento refletir um contexto, uma história e um
resultado de uma determinada realidade social.
Por ser histórico, o objeto das ciências humanas e sociais sofre mudanças ao longo do processo, de acordo
com o espaço e o tempo, sempre em transição. Nenhuma sociedade é definitiva, por ser ela reflexo de sua
realidade (MICHEL, 2005).
12
Importante
As ciências humanas e sociais estudam o homem e seu habitat ou meio ambiente, elegendo o próprio
homem como seu objeto de pesquisa. Isso reflete uma ideologia por parte dos pesquisadores, apesar da
obrigatoriedade do método científico e da busca da isenção ou imparcialidade para um resultado o mais
próximo da realidade (MICHEL, 2005).
Reforça Chaui (1996, p.271), que “[...] a expressão ciências humanas refere-se a aquelas ciências que têm
o próprio ser humano como objeto”.
As ciências físicas e naturais ou exatas, apesar de um desgaste no tempo, são cronológicas, e suas
características específicas não sofrem mudanças, não tendo consciência de si próprias como os homens e
Cultura e Sociedade
sendo independentes da ação do homem (MICHEL, 2005).
Por conta das diferenças do objeto de estudo das ciências humanas e sociais e das ciências físicas e naturais
e biológicas ou exatas, o emprego do método científico para as pesquisas também é divergente.
Para qualquer estudo ou pesquisa científica exige-se o método científico, pois é este que garante a
cientificidade em qualquer pesquisa.
O método científico significa o caminho a ser percorrido para se obter os resultados propostos em uma
pesquisa, seja ela de qualquer área do conhecimento.
13
Importante
Ainda, o método científico pode ser definido como: “[...] o conjunto das atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo [...], traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando as decisões do cientista” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 83).
Assim, o método científico colabora na investigação, devendo ser organizado e elaborado com cuidado
para orientar o estudo no descobrimento de um resultado com lógica e/ou de leis que o regem.
O método científico varia de acordo com o tipo de pesquisa e com as áreas de conhecimento.
Cultura e Sociedade
Na área das ciências humanas e sociais, por exemplo, os fenômenos apresentam-se com características
que demandam uma análise mais na forma qualitativa do que quantitativa.
Contextualização
“[...] a pesquisa social deve contemplar, sempre, uma análise qualitativa, pois
estuda a pessoa, a gente, em determinada condição social, grupo, classe social,
crenças, valores, significados. O seu objeto de estudo é complexo, inacabado,
contraditório, não pode ser generalizado e está em constante transformação”
(MICHEL, 2005, p. 24).
Nesse sentido, o método de análise qualitativa exige interpretação que depende do objeto em seu
contexto histórico, espacial e temporal.
Cada pesquisador possui uma visão diferente de mundo e uma possibilidade no final de sua pesquisa, não
podendo apresentar um resultado exato ou quantitativo.
Já nas pesquisas da área das ciências físico-naturais e biológicas, a análise manifesta-se mais na forma
do método de análise quantitativo, pois seus resultados podem ser exatos, mensurados ou medidos na
busca aproximada da verdade científica (MICHEL, 2005).
14
Reflexão
Caro (a) aluno (a), você concorda que uma pesquisa na área das ciências humanas
e sociais, apesar de ter o seu objeto de estudo diferente da área das ciências físicas
e naturais, pode, caso o pesquisador decida que seja necessário ou não, aplicar
também o método de análise quantitativa, juntamente com a análise qualitativa?
Espero que tenha refletido e respondido que sim, pois o pesquisador pode, mesmo sendo o seu objeto
relacionado ao próprio homem, optar por um tipo de pesquisa que precise, por exemplo, do número de
pessoas envolvidas no estudo.
Exemplificando:
Pode-se realizar uma pesquisa para saber quantas mulheres estão no curso de Agronomia, no ano de
2014 no Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM, e saber por que as mulheres optaram pelo
curso de Agronomia. No primeiro questionamento, aplica-se o método de análise quantitativa, isto é,
com um resultado exato e mensurado, e no segundo, aplica-se a análise qualitativa, ou seja, buscando-
se uma interpretação contextualizada, que expressa a visão de mundo das pessoas, da realidade social e
explica a motivação pela escolha do curso.
Cultura e Sociedade
O método científico é composto por técnicas, que são recursos ou ferramentas que contribuem para a
realização da pesquisa.
Segundo Michel (2005, p. 53), “[...] enquanto o método é a estratégia maior, a filosofia de ação, a técnica
são a tática, os passos e instrumentos necessários para o desenvolvimento do método e, portanto, para o
sucesso da pesquisa”.
A técnica, ainda de acordo com Marconi e Presotto (2008, p.12) “[...] consiste na habilidade em usar um
conjunto de normas para o levantamento de dados”.
A todo o conjunto ou suporte do caminho que orienta a pesquisa para a obtenção do conhecimento
científico, em seu processo de investigação e de busca, denominamos metodologia.
Conectando Saberes
Para aprofundar esse tema sugerimos a leitura de: RUIZ, J.A. Metodologia
científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 2002.
O método científico compõe-se de etapas que são necessárias para se alcançar os objetivos da pesquisa e
para cumprir a exigência da forma científica.
15
Para um entendimento mais claro, transcrevemos as etapas do método científico, de acordo com Bunge
(1980, p. 25):
d) Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a tentativa resul-
tar inútil, passa-se para a etapa seguinte [...].
e) Invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empí-
ricos que prometam resolver o problema;
h) Prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das teorias e da in-
formação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até
novo aviso. Do contrário, passa-se para etapa seguinte;
Cultura e Sociedade
i) Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solu-
ção incorreta. Esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação.
O método científico abrange diversas formas de métodos e, por isso, torna-se impossível abordarmos
todos neste espaço e tempo.
Por isso, caro (a) estudante, busque aprofundar esse tema por meio de muitas leituras, além das referências
citadas no final desta aula.
Considerações finais
O conhecimento é parte da vida humana desde os seus primórdios, sendo este muito vasto e diverso.
Assim, essas formas de conhecimentos coexistem em nosso dia a dia, mas nenhum desses conhecimentos
é mais importante que o outro, apesar de suas diferenças.
Vimos que as áreas do conhecimento são várias e que as ciências humanas e sociais apresentam grandes
divergências em relação à área do conhecimento das ciências físicas e naturais, pelo fato de o objeto de
estudo de cada uma destas ser também diferente.
16
A ciência é a busca do conhecimento científico, e para que se adquira este, é preciso fazer uso do método
científico, que é o caminho e a orientação para se alcançar o resultado proposto pela pesquisa científica. Ao
conjunto das técnicas, recursos e instrumentos usados na pesquisa científica, denominamos metodologia
científica.
Referências
BUNGE, Mário. Epistemologia: curso de atualização. São Paulo: T.A. Queiroz, EDUSP, 1980.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. rev.
e ampl. São Paulo: Atlas, 1991.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução, 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2008.
MICHEL, Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 2005.
Cultura e Sociedade
RUIZ,J.A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 2002.
TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da ciência. 2. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
Aula 7
Ética e Moral
2
Sumário
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Vamos abordar, nesta aula, valores e conceitos muito importantes para a nossa vida em sociedade, como
a ética e a moral.
O mundo inteiro, e principalmente a sociedade brasileira, estão clamando por valores éticos e morais,
para a consolidação de uma sociedade menos injusta, mais correta, pois a falta desses valores e seus
usos incorretos provocam injustiças, desigualdades, impunidades, corrupção e tantas outras mazelas que
testemunhamos no nosso dia a dia.
7 Ética e moral
Ética e moral são conceitos que fazem parte da nossa cultura, e seu conhecimento torna-se imprescindível
Cultura e Sociedade
na convivência humana, incluindo as regulamentações que tratam da ética no espaço profissional.
Qualquer sociedade, em qualquer época e lugar, possui ética e moral, sendo estas parte da cultura de cada
grupo social.
Cada sociedade elege, portanto, de acordo com sua cultura, qual é a sua moral vigente, isto é, o que é o
bem, o mal, o justo, o injusto, o certo, o errado. A ética julga a moral de cada grupo ou sociedade.
Reflexão
A moral e a ética estão, portanto, ligadas aos valores. Precisamos destes para viver em sociedade, para
normatizar e limitar as ações ou os comportamentos dos homens.
4
Os valores, de acordo com Aranha e Martins (2009), são herdados por meio da educação ou da socialização
que o indivíduo recebe da família e, portanto, da cultura na qual está inserido.
Os comportamentos são aprendidos: sentar à mesa, andar, o modo de vestir, quando e como falar nos
diferentes lugares, etc.
Ainda, aprendemos sobre os nossos deveres e sobre os direitos que regem a sociedade e, caso haja
transgressões, os comportamentos são julgados como maus ou bons (ARANHA; MARTINS, 2009).
A conduta ética exige o discernimento pelo indivíduo do que é o certo e o errado, o mal e o bem, o que é
proibido e o permitido, os vícios e as virtudes, o justo e o injusto, revelando, frente a essas diferenças, se
o indivíduo possui consciência e responsabilidade, virtudes necessárias para um comportamento ético
(CHAUI, 1996).
Importante
“O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formam
o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. Estas são realizadas pelo
sujeito moral, principal constituinte da existência ética. O sujeito ético ou moral,
isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:
Cultura e Sociedade
existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
- ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos,
atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o
constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa” (CHAUI, 1996, p. 337-338).
O sujeito moral, portanto, tem a decisão de optar por ser passivo ou ativo. O passivo é o sujeito que é
influenciado pela opinião dos outros, que se deixa arrastar pela impulsividade ou pela vontade de outra
pessoa, sem manifestar sua responsabilidade, vontade, liberdade e consciência. O sujeito ativo, ao contrário,
manifesta essas virtudes, tem opinião própria, questiona, discute, critica, procura e exige seus direitos,
como cumpre seus deveres. Age por vontade própria e por escolhas, enfim, é um sujeito autônomo, isto
é, possui autodeterminação, autonomia ou liberdade (CHAUI, 1996).
Existem muitas formas e tipos de valores; entretanto, vamos focar nos valores éticos e morais.
Segundo Aranha e Martins (2009), os conceitos de moral e ética são diferentes, mas, mesmo assim, são
usados por muitos pensadores como sendo sinônimos.
Importante
Observa-se, caro (a) aluno (a), que a ética julgará a moral que o indivíduo possui e pratica. Essa moral varia
de acordo com a sociedade, com o tempo e com o local, e apresenta-se com diversos pontos de vista, ou
seja, religioso, estético, ético, político, científico, e do ponto de trabalho e outros.
Importante
Cultura e Sociedade
nos perguntamos: o que devo fazer? Como devo agir nessa situação? O que é
certo? O que é condenável?, e assim por diante” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 214).
Reforça-se, assim, caro (a) aluno (a), que a moral é a ação concreta de nossos comportamentos, está no
nosso modo de agir, de pensar e de conviver com outras pessoas em todos os espaços sociais, no nosso
cotidiano.
A ética, então, julga se o nosso comportamento moral é ético ou não, de acordo com as normas e as regras
do grupo do qual participamos.
Quando o indivíduo nasce em uma determinada sociedade, já existe uma moral constituída, ou seja,
existem regras e normas que orientam o comportamento das pessoas. Caso essa norma estabelecida
seja afrontada ou não cumprida por um indivíduo, este será julgado como um sujeito imoral, portanto,
antiético. O contrário, isto é, se o sujeito obedece e às normas estabelecidas e as cumpre, será julgado
moralmente correto e ético (ARANHA; MARTINS, 2009).
Lembrando, caro (a) aluno (a), conforme já exposto, que a moral e o comportamento moral exigido
mudam conforme o lugar e o tempo, pelo fato de se mudarem as relações entre as pessoas e a forma de
organização da sociedade.
6
Contextualização
Caro (a) aluno (a), observa-se, então, que a moral possui também a influência da exterioridade, pelo fato de
o próprio sujeito, por meio da reflexão, da crítica, de sua consciência, de sua liberdade e responsabilidade,
escolher pessoalmente, por meio da interiorização, um comportamento moral ou imoral, julgado como
ético ou antiético.
Importante
Cultura e Sociedade
Outro autor nos ajuda a diferenciar a ética e a moral, quando cita: “A ética, num círculo mais abrangente,
elabora os princípios morais, enquanto a moral propriamente dita, em círculo menor, configura a ética
aplicada ao comportamento humano e social [...]” (PRUDENTE, 2000, p. 95-98).
Dessa forma, caro (a) aluno (a), observa-se que a moral é objeto da ética, isto é, uma depende da outra.
Reforçam Aranha e Martins (2009) que a moral pode cair no imoralismo e no individualismo, quando o
sujeito não tem princípios, por aplicar a regra somente de acordo com seus interesses pessoais. Existe uma
dimensão social refletida em dois pontos: no primeiro, é quando herdamos os valores do nosso grupo
social, e no segundo, quando os valores passam pelo nosso crivo pessoal e adquirimos a intersubjetividade
da moral, por uma perspectiva humana e madura. Isso significa que os valores não são apenas para nós
mesmo, mas para todos os que se relacionam com outras pessoas.
O comportamento moral de um indivíduo reflete nos seus pares e na sociedade e, por isso, além de ser
livre, intencional e consciente, o ato deve ser solidário e recíproco, um compromisso com os sujeitos com
os quais convivemos e nos comprometemos (ARANHA; MARTINS, 2009).
Nesse ponto, retomamos CHAUI (1996), bem como ARANHA e MARTINS (2009), por enfatizarem a
responsabilidade do sujeito no ato moral.
7
Contextualização
O indivíduo responsável sente-se no dever de cumprir a norma, não por uma obrigação, mas porque ele
impõe-se e/ou escolhe cumprir a norma, não por uma força exterior, mas interior, o que significa liberdade,
e não coerção.
É nesse ponto que está a ética, pois esta é apreendida, ou seja, ela é adquirida de dentro para fora, é uma
decisão assumida livremente.
Reflexão
A moral é imposta pela socialização, pela formação e educação do sujeito, por meio
das normas estabelecidas - de fora para dentro -, e a ética é apreendida, é escolha
do indivíduo - é de dentro para fora.
Cultura e Sociedade
O ato moral é também voluntário, por ser guiado pela vontade do indivíduo de alcançar um determinado
objetivo ou resultado (ARANHA; MARTINS, 2005).
Contextualização
O desejo, portanto, pode não ter regras e, por isso, pode ser perigoso para a vida em sociedade. A ausência
de regras gera a violência, e em um estado de anomia (sem regras), torna-se impossível a convivência
humana em qualquer espaço.
8
Reflexão
Caro (a) estudante, você já refletiu sobre o fato de um sujeito ter um desejo de
mudar a sociedade por considerar que as regras e as normas são injustas, que a
desigualdade, a impunidade, a corrupção, a falta de segurança, a miséria e tantas
outras mazelas deveriam ser mudadas?
Se esse sujeito é imoral ou antiético por ter o desejo e a vontade de mudar uma situação de injustiça,
a sua consciência moral o leva a arcar com todas as consequências e pode provocar movimentos de
conscientização entre as pessoas. Esses podem provocar mudanças que melhorem a vida de todos os
indivíduos em sociedade.
A esse ato de revolta contra o Estado de direito, de luta contra as injustiças, dá-se o nome de desobediência
civil.
Cultura e Sociedade
Contextualização
Como exemplo de sujeitos que usaram da desobediência civil para lutar contra as injustiças, com o desejo
de uma sociedade ou de um mundo melhor, lembramos aqui de Mahatma Gandhi (na Índia), Martin Luther
King (nos EUA) e Mandela (na África do Sul).
Gandhi organizou as pessoas para desobedecerem ao Estado de Direito, contra as leis injustas da dominação
britânica; Luther King liderou um movimento de luta pela conquista de direitos para os negos, contra o
racismo;Mandela lutou e conscientizou a população africana contra as injustiças de uma minoria branca,
contra as desigualdades e a segregação racial (apartheid) na África do Sul. Todos eles foram presos, mas
conseguiram mudar muitas coisas ou situações que eram bem piores do que como hoje se apresentam.
Dica
Sugerimos que você assista ao filme intitulado “Mandela: Meu Prisioneiro, Meu
Amigo” (2007). Esse filme mostra como Mandela, por meio da desobediência civil,
consegue lutar contra a segregação racial na África do Sul.
9
Existem ainda vários movimentos sociais (abolição da escravidão, por exemplo), que já conquistaram
muitas melhorias lideradas por inúmeros outros sujeitos, sendo impossível, neste espaço, aprofundá-los.
Conectando Saberes
SANCHEZ VÁSQUEZ, Adolfo. Ética. 20. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2000.
A ética é universal, isto é, ela existe para todos os indivíduos, em todas as sociedades, em todos os
segmentos, tanto na esfera micro como macro, a exemplo da política, da ciência, do meio ambiente, da
Cultura e Sociedade
indústria, da arte, da cultura, do ambiente de trabalho, das empresas, das instituições, da religião, da
família, das relações matrimoniais, sexuais, de vizinhança, enfim, em todos os espaços de convivência ou
de relações humanas.
Segundo Aranha e Martins (2009), com o avanço tecnológico na segunda metade do século XX, diversos
pensadores de diferentes áreas vêm denunciando os atos imorais e desastrosos ao meio ambiente e à vida
das pessoas em todos os campos.
Contextualização
Esse debate e essa reflexão estão congregando diversos intelectuais, pessoas comuns, leigas, entidades,
associações, profissionais diversos e todas as disciplinas como biologia, medicina, economia, teologia,
direito, psicologia, antropologia, sociologia, política, história, provocando uma interlocução multidisciplinar
(ARANHA; MARTINS, 2009).
É muito comum, caro (a) estudante, as pessoas criticarem o político no exercício da política. Entretanto,
10
esquecem-se de que a ética e a moral são parte de qualquer sujeito, sendo ele político ou não.
Reflexão
Caro (a) estudante, você já tomou água diretamente do próprio jarro que fica na
geladeira de sua casa para todos os moradores da casa?
Se você respondeu que sim, isto é, que já tomou água diretamente do jarro, você é, então, imoral e antiético,
e assim como o político que sobrepõe seus interesses pessoais acima dos coletivos, que rouba a coisa
pública, que suborna, corrompe e pratica tantos outros exemplos de corrupção.
Importante
Cultura e Sociedade
atos. O compromisso humano é a obediência à decisão livremente assumida”
(ARANHA; MARTINS, 2009, p. 216).
Por isso, a decisão de ser moral e ético é livre, não é por dominação. Quando é por dominação, ou seja,
porque tem uma câmara ou uma pessoa “vigiando”, o sujeito não é moral e ético.
Um indivíduo pode ser imoral por ignorância, por fraqueza ou por indiferença em relação às regras, normas
ou valores morais. Este é considerado, dentro de seu grupo, um desonesto ou imoral, por não seguir os
padrões morais estabelecidos (MATTAR, 2010).
Os padrões morais existem, já dito, em todos os espaços da convivência humana e, portanto, também no
ambiente de trabalho. Os códigos ou normas de conduta são um exemplo.
Contextualização
Dessa forma, a aplicação e a obrigatoriedade das regras, das normas e do comportamento adequado a
determinada profissão são chamadas de deontologia, o que pode ser melhor visualizado na figura abaixo:
ÉTICA
Princípios Gerais
MORAL
Aplicação ao comportamento
Humano e Social
DEONTOLOGIA
Aplicação às profissões
Cultura e Sociedade
Figura 10 Relação entre ética, moral e deontologia
Fonte: MATTAR, 2010, p.241. Adaptado pela autora.
Mattar (2010) nos esclarece que existem ainda as leis, que são obrigações sociais importantes para todas
as pessoas, sendo mais rígidas do que a deontologia. Caso um sujeito não cumpra as leis, este corre o
risco de perder a liberdade ou a qualificação profissional. São obrigações exteriores ao indivíduo, ou seja,
independem de sua vontade.
Na profissão, o não cumprimento das normas, da moral e da ética estabelecidas no código da empresa
onde o indivíduo atua implica sanções ou punições, situando-se no campo da moral (sanção moral) ou do
direito (sanção jurídica).
No espaço do trabalho, ou seja, dentro de uma empresa, existem inúmeras pessoas diferentes com
objetivos, responsabilidades, decisões, compromissos e relações sociais e, por isso, são agentes morais e
são julgados eticamente (MATTAR, 2009).
A empresa não é algo abstrato, ela é formada por pessoas que refletem os seus comportamentos morais e
éticos e ainda refletem a própria imagem da empresa perante a sociedade.
Atualmente, as empresas estão preocupadas com um ideal ético e moral, entendendo que “[...] as
organizações não são responsáveis por proteger apenas seus acionistas, mas também os interesses de
todos aqueles que com elas interagem e que são por elas afetados” (MATTAR, 2009, p. 242).
O desempenho das empresas, por meio de suas relações com os consumidores ou clientes, fornecedores,
funcionários ou colaboradores e demais categorias envolvidas, bem como sua postura em relação ao
12
meio ambiente e a realização de ações e/ou projetos sociais estão sendo atualmente avaliados sob uma
perspectiva moral e ética.
Contextualização
“[...] hoje se utiliza para avaliar as empresas, além do balanço patrimonial, também
a noção de balanço social. Podemos ver exemplos do desenvolvimento dessa
ideia nas atividades dos grandes bancos e empresas privadas que atualmente
demonstram uma crescente preocupação com o meio ambiente [...] ou com
causas sociais [...]” (MATTAR, 2009, p. 243).
Reforça Dias (2008) que as instituições econômicas, por conta de uma maior participação da sociedade
ou das comunidades, estão buscando se adaptar às novas exigências. Ainda, os cidadãos estão mais
organizados por meio de entidades e organizações não governamentais – ONGs.
Um fator que influenciou e continua influenciando as empresas para uma mudança na postura, com foco
em seus pressupostos éticos e morais, é a crescente e veloz comunicação tecnológica. A globalização
(um tema que veremos em aula posterior) encurtou as distâncias, o tempo, e aproximou pessoas de
vários países de cultura diferentes. Isso fez e faz com que surjam exigências e cobranças para uma ética
global, dentro de um comércio internacional. Todas essas mudanças estão provocando grandes debates e
Cultura e Sociedade
discussões em torno das questões morais e éticas, como as desigualdades, a desumanização do trabalho, as
agressões ambientais, a dominação e exploração, a homogeneização cultural, a colonização, a diversidade,
a competitividade, a distribuição desigual da riqueza, da terra, a pobreza, as diferenças salariais, a
privacidade, o assédio sexual, a discriminação, o preconceito, as relações de gênero, as informações
honestas e desonestas, os direitos autorais e intelectuais, as patentes e tantos outros problemas (MATTAR,
2009).
Considerações finais
A ética e a moral, como você pode perceber, prezado (a) estudante, são práticas do nosso cotidiano.
Qualquer indivíduo possui ética e moral, e estas são imprescindíveis para toda e qualquer sociedade, para
que os indivíduos possam conviver com respeito e dignidade. A moral reflete o comportamento prático,
de acordo com os valores do grupo no qual o sujeito vive, e a ética julga se esse comportamento é imoral
ou ético. A moral é imposta pela educação e a ética é apreendida pelo sujeito.
A ética e a moral, exercidas na esfera individual, também são estendidas a qualquer área, como a profissão,
os ambientes de trabalho, as empresas, as instituições, enfim, a todos e a qualquer espaço de relações
humanas.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2009.
13
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: 1996.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Pretice Hall, 2010.
HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
MARCONDES FILHO, Ciro. Ideologia: o que todo cidadão precisa saber sobre. São Paulo: Global, 1985.
MATTAR, João. Introdução à filosofia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
PRUDENTE, Antônio Souza. Ética e deontologia da magistratura no terceiro milênio. Revista CEJ, Brasília,
n. 12, p. 95-98, set./dez. 2000.
SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo. Ética. 20. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
Cultura e Sociedade
Aula 8
Ideologia, Democracia, Cidadania e Direitos
Humanos
2
Sumário
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
A ideologia está presente em nosso cotidiano e é transmitida por meio de vários canais para tentar nos
convencer a aceitar o conjunto de ideias de cada um deles. Apesar de ser caracterizada como manipulativa
e alienante, conhecemos a proposta para agirmos contra a ideologia do poder dominante.
A democracia é o nosso tipo de governo e, como prática, temos a eleição de nossos representantes por
meio do voto. Por ela significar governo do povo, torna-se fundamental conhecer um pouco sobre esse
significado. A cidadania foi estruturada para garantir os direitos universais do cidadão abrangendo os
Cultura e Sociedade
direitos sociais, políticos, civis e outros. A prática da cidadania e a defesa para sua existência significam
lutar pelos nossos direitos, pela participação e pelo exercício em uma sociedade democrática. A declaração
dos Direitos Humanos é a garantia dos direitos de todos os cidadãos do universo, acima de qualquer poder
instituído e de qualquer governante. Seu conhecimento torna-se necessário para o exercício de uma
cidadania ativa.
A democracia, nosso regime vigente, está perpassada por diferentes ideologias que devem ser conhecidas e
refletidas. A busca pela cidadania consiste em conquistar os diversos direitos que se encontram garantidos
como Direitos Humanos.
8.1 Ideologia
Segundo Chaui (1996), a ideologia surge quando as ideias substituem as divindades. Surgem então os
termos “[...] o Homem, a Pátria, a Família, a Escola, o Progresso, a Ciência, o Estado, o Bem, o justo, etc”. (p.
418). É um fenômeno moderno que explica a origem dos homens, da política e da sociedade por meio das
ações humanas, da consciência ou das ideias.
A ideologia, para Dias (2008, p. 363), significa um “sistema de ideias que compreendem uma doutrina
política ou social seguida por um partido ou grupo social”.
O conceito de ideologia, segundo Tomazi (2010), foi expresso pela primeira vez por Francis Bacon (1561-
1626), mas o termo ideologia é atribuído à Destutt de Tracy (1754-1836), pensador francês, por ele observar
4
a influência de fenômenos na elaboração das ideias como a razão, a vontade, a memória e a percepção.
Era a “ciência das ideias”. Em 1812, Napoleão Bonaparte afirmou, em um discurso, que seus adversários
eram metafísicos, não entendiam ou não pensavam conforme a realidade histórica do momento e, por
isso, surgiu o sentido da ideologia como uma “ilusão” ou “ideia falsa”, por não retratar a realidade como
acontecia (TOMAZI, 2010).
Auguste Comte (1798-1857) fez uso da explicação de ideologia de Destutt de Tracy, incorporando o
conjunto de ideias contextualizadas historicamente e as relações do corpo com o meio.
Émile Durkheim (1895) defendeu a ideia de que a ideologia era o oposto da ciência, criticando as ideias
subjetivas, as pré-noções, as ideias pré-científicas ou vulgares, para que o cientista fosse o mais objetivo
possível (TOMAZI, 2010).
Outro pensador, Karl Mannheim (1893-1947) (apud TOMAZI, 2010), apresentou duas definições de
ideologia: a particular e a total. Na primeira, oculta-se a realidade, fazendo-se uso de mentiras, provocando
equívocos e até autoenganos. A segunda, ou total, apresenta uma visão geral de uma determinada classe
social contextualizada, uma reprodução de ideias generalizadas.
Contextualização
Cultura e Sociedade
pensamento das classes dominantes, que visam à estabilização da ordem. Em
contraposição, ele chama de utopia o que pensam as classes oprimidas, que
buscam a transformação” (TOMAZI, 2010, p. 178).
Para Raymond Williams (apud Tomazi 2000), o conceito de ideologia ancora-se em três pontos:
2- Sistema de crenças ilusórias, ou “falsa consciência”, por não serem passíveis de comprovação, e por
serem opostas ao conhecimento científico;
Em 1846, ainda de acordo com Tomazi (2010), o pensador alemão Karl Marx definiu a ideologia, exposta
abaixo:
Importante
De acordo com Tomazi (2000), os pensadores Karl Marx e Engels, na obra “A ideologia alemã”, defendem
três elementos básicos para a definição de ideologia:
A sociedade invertida pela ideologia (que apresenta o que não é a realidade) pode ou poderá ser
desmascarada pelo conhecimento científico. A ciência ou a razão é considerada uma arma para criticar
e para combater a classe dominante no sistema capitalista pela classe dos trabalhadores (o proletariado).
Para Karl Marx, a ideologia é usada pela classe dominante para manter a dominação, impondo seus valores
e suas ideias para todas as classes sociais como sendo as mais corretas e as melhores. O Estado é ou será
o legitimador e o representante dos interesses da classe dominante, propagando a ideologia para toda a
sociedade de uma forma generalizada.
Dessa forma, a ideologia é usada para ocultar as desigualdades, a divisão das classes, os conflitos, as lutas
Cultura e Sociedade
e as diferenças, como se fosse uma sociedade sem conflitos, harmônica, homogênea ou sem diferenças.
Surge, então, a ideologia falsa, mascarada, lacunar, parcial, manipuladora, dominante e universal, que
esconde a realidade das coisas ou da sociedade como realmente ela é.
Entretanto, caro (a) estudante, a ideologia pode ser percebida de outro ponto de vista, por meio de uma
crítica positiva que desmascara a ideologia dominante e manipulativa. É a perspectiva ideológica do
pensador Antonio Gramsci (1891-1937).
A ideologia, segundo Antonio Gramsci (apud TOMAZI, 2010), pensador italiano, pode ser conceituada
como hegemonia, que significa supremacia.
Importante
“Para Gramsci, uma classe se torna hegemônica quando, além do poder coercitivo
e policial, utiliza a persuasão, o consenso, que é desenvolvido mediante um
sistema de ideias muito bem elaborado por intelectuais a serviço do poder, para
convencer a maioria das pessoas, até as das classes dominadas. Por esse processo,
cria-se uma “cultura dominante efetiva”, que deve penetrar no senso comum de
um povo, com o objetivo de demonstrar que a forma como aquele que domina vê
o mundo é a única possível” (TOMAZI, 2010, p. 182).
Segundo Gramsci (apud TOMAZI, 2010), a hegemonia é transmitida pelos aparelhos de hegemonia,
fazendo uso do ensino, da aprendizagem e do poder do convencimento por meio das escolas, do teatro,
da música, dos jornais, das revistas, enfim, de toda forma de divulgação cultural e de poder estatal.
6
Oposto a esse conceito ideológico de hegemonia, Gramsci (apud ARANHA; MARTINS, 2009), enfatiza
a contra-hegemonia para combater as ideias dominantes. Esta seria realizada pelos intelectuais
orgânicos, que são pessoas comuns, “[...] porque surgem ‘organicamente’ a partir de suas próprias fileiras,
contrapondo-se aos ‘intelectuais tradicionais’, a fim de constituírem coerentemente a concepção de
mundo dos dominados” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 126). Isso se traduz na organização e conscientização
das massas. Trazendo para o nosso momento atual, qualquer sujeito pode, se desejar, ser um “intelectual
orgânico”, na perspectiva da conscientização política.
Reflexão
Dica
Cultura e Sociedade
Então, caro (a) estudante, se desejar, você pode ser um “intelectual orgânico”!
Atualmente, em nossa sociedade capitalista, faz-se uso de um discurso hegemônico pelas classes
dominantes, ocultando as divisões de classes, as desigualdades, as contradições, os conflitos e as injustiças.
As diferenças culturais, sociais e econômicas, a diversidade entre as pessoas, classes ou segmentos são
ideologicamente tratados como se fossem todos iguais, impondo uma ideia de uniformidade que não
existe na sociedade. Passa, ainda, como forma ideológica, o conceito ou a ideia de felicidade ancorada
no poder econômico, na aquisição de bens materiais, na realização profissional, além da relação na esfera
amorosa (TOMAZI, 2010).
Assim, prezado (a) aluno (a), expressamos, no nosso dia a dia, por meio do comportamento, do modo de
pensar, do agir, das ações ou atos em nossas relações com outros, nossa ideologia.
Conectando Saberes
A existência da forma de governo da democracia no Brasil é recente, ainda está se estruturando, pois
percebe-se a permanência de práticas antigas como o clientelismo (política do favor), o nepotismo
(empregos de parentes nos serviços públicos) e corrupções (uso de recursos públicos em benefícios
pessoais ou privados) e tantas outras práticas abusivas e imorais (TOMAZI, 2010).
Lutar pelo aperfeiçoamento da democracia é, portanto, lutar pela participação do povo nas decisões e
deliberações públicas, junto ao poder, e não separado deste. É lutar pelo cumprimento de nossos direitos
garantidos pela lei e pela liberdade de se criar outros novos direitos, conforme a necessidade dos diferentes
grupos, classes e indivíduos.
Contextualização
A participação dos cidadãos na sociedade democrática ocorre por diversas formas. De acordo com Chaui
(1996), a prática democrática caracteriza-se por:
Cultura e Sociedade
a) eleições, em que, por meio do voto, o povo escolhe seus representantes. O poder é um “lugar vazio”, de
rotatividade. Essa participação na escolha do representante é o essencial da democracia;
b) o conflito é parte da democracia, pois a sociedade não é una, isto é, ela possui divisões, oposições, ideias
contrárias e diferentes, as quais são legítimas e legais na forma da democracia;
c) os cidadãos possuem direitos, e caso estes não existam ou não sejam cumpridos, reconhecidos e
respeitados, os sujeitos têm o direito de exigi-los, lutar por eles, sendo essa prática o cerne da democracia.
Os interesses, as necessidades ou carências diferem de um direito, pois, de acordo com cada grupo, classe,
categoria de pessoas ou local, estes são particulares ou específicos a cada realidade. Um direito, por
exemplo, é dirigido para todos os cidadãos, portanto, tem o caráter de ser geral e universal (CHAUI, 1996).
Importante
Na sociedade democrática, por meio de partidos políticos, associações, sindicatos, movimentos sociais
diversos, de classe e outros setores, existem organizações com um caráter de oposição ou contrários ao
poder do Estado. Por meio dessas organizações ou movimentos, os indivíduos exigem o cumprimento de
8
seus direitos bem como reivindicam outros novos direitos, de acordo com as necessidades específicas de
cada grupo ou segmento. A democracia é, assim, histórica, aberta às mudanças, ao que é novo, pois as
necessidades e os interesses mudam, conforme mudam os indivíduos e a própria sociedade (CHAUI, 1996).
As conquistas e as ampliações de direitos deram-se, por exemplo, com as lutas por liberdade e por
igualdade, expandindo os direitos civis e políticos, os direitos sociais, os direitos dos grupos minoritários,
os direitos relativos ao meio ambiente, à informação e a outros (CHAUI, 1996). Sobre esses direitos diversos,
falaremos, com mais detalhes, no próximo subitem 8.3, que trata da cidadania.
Cultura e Sociedade
afastamento ou abandono dos direitos sociais dá-se o nome de privatização, e ao abandono da
economia, desregulação.
Conectando Saberes
e) há uma separação entre os que detêm o saber, os que dirigem, os que são competentes, pois
possuem educação científica e tecnológica, e aqueles que só executam as tarefas, pois não detêm o
saber, o conhecimento e, por isso, só devem obedecer;
f ) informações disponíveis para a população são distorcidas, veiculadas pelos meios de comunicação
de massa, que só defendem e transmitem as informações conforme os interesses, os acordos
econômicos e políticos entre seus proprietários e os detentores econômicos.
Após essa síntese, observa-se que são vários os entraves que a democracia enfrenta para sua efetiva
consolidação. Entretanto, para combater esses entraves torna-se necessário uma educação que oriente
para as reivindicações, argumentações e críticas e que possibilite a exigência e o cumprimento de todos
9
os direitos já conquistados e outros novos direitos necessários, possíveis somente em uma sociedade
democrática.
A democracia no Brasil enfrenta todos os obstáculos resumidos acima, acrescidos de outros fatores, já dito,
ligados às práticas antigas de governos, como o clientelismo ou favoritismo, o paternalismo, o nepotismo,
a corrupção e a privatização do público. Mais recentemente, após 1980, reforçou-se a despolitização, em
favor da economia, das questões financeiras (TOMAZI, 2010).
Reflexão
Ainda, de acordo com Aranha e Martins (2009), a democracia sofre pela falta da transparência, isto é, a
tomada de decisões deveria ser “às claras”. Muitos dirigentes pervertem o poder, transformando- o em
benefícios pessoais ou em privilégios para uma minoria dominante.
Cultura e Sociedade
Portanto, caro (a) estudante, apesar das conquistas e das lutas de vários grupos sociais no Brasil, mais
recentemente, e até por novos mecanismos e técnicas de votar, de novas regras eleitorais, do voto
secreto, do uso de urnas eletrônicas, de cédulas únicas sob a responsabilidade do governo, do aumento
da fiscalização e de regras sob a responsabilidade da Justiça Eleitoral, ainda temos que percorrer um
longo caminho para a consolidação de um governo democrático e, além, de uma sociedade efetivamente
democrática.
8.3 Cidadania
O termo cidadania é usado frequentemente por muitas pessoas, sem, no entanto, se refletir sobre o seu
verdadeiro significado.
Reflexão
Você concorda que a cidadania, para ser exercida como realmente deve ou deveria
ser, depende apenas da vontade da pessoa que a promete?
10
Após o desenvolvimento desta aula, com uma orientação sobre o significado do termo “cidadania”, você
poderá ou não mudar sua resposta ou opinião. Voltaremos a essa reflexão, portanto, no final desta aula.
Os direitos de liberdade e de igualdade foram declarados universais, isto é, para todos os homens, com
a Revolução Francesa, em 1789, e foram expostos na “Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão”.
Apesar de garantir que os direitos eram válidos para todos os homens, as mulheres foram excluídas.
Nos séculos XVII e XVIII, apresentando uma forma ainda parcial, surgiu o termo "cidadania" com a
formulação dos direitos civis.
Contextualização
Conhecendo os direitos civis, você já percebe, caro (a) aluno(a), que estes não eram alcançados ou não
foram exercidos por todas as pessoas, como, até hoje, ainda não o são. A justiça, por exemplo, não garante
esses direitos civis para todos os homens, mas apenas para as pessoas que detêm propriedades e bens.
Cultura e Sociedade
Reflexão
No final do século XVIII, os direitos políticos foram reivindicados por meio de movimentos sociais e
populares com foco na participação política no período da formação do Estado democrático representativo.
Contextualização
Os direitos políticos, apesar de serem datados no século XVIII, não significavam também, como os direitos
civis, que estes contemplassem todas as pessoas. As mulheres novamente foram excluídas desse direito
político. Somente a partir do século XX, o direito de votar e de participar das disputas eleitorais foi estendido
às mulheres em um número significativo de países, inclusive no Brasil, no ano de 1931.
No século XX ocorreu a reivindicação para a conquista dos direitos sociais, tratando-se, mais
especificamente, das necessidades básicas para uma sobrevivência digna das pessoas.
11
Contextualização
Reflita, caro (a) estudante, sobre os nossos direitos sociais, que são deveres e obrigações que o Estado
deve cumprir e respeitar.
Esses direitos sociais também não contemplam todas as pessoas, sendo uma minoria que apresenta
condições de exercer e de usufruir desses direitos sociais.
Observe, então, o quanto estamos distantes da chamada cidadania, pois esta significa o nosso direito,
como cidadãos e cidadãs, de usufruir de todos esses direitos juntos, isto é, os direitos civis, os políticos e
os sociais.
Importante
Cultura e Sociedade
“Ser cidadão é ter a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais que
asseguram uma vida plena. Esses direitos não foram conferidos, mas exigidos,
integrados e assumidos pelas leis, pelas autoridades e pela população em geral”
(TOMAZI, 2010, p. 139).
À medida que os direitos sociais, políticos e civis foram sendo conquistados, por meio de movimentos
sociais, reivindicações e participação de diversos e diferentes grupos, foi-se construindo paralelamente a
cidadania (TOMAZI, 2010).
Outros direitos foram criados no final do século XX e no princípio do século XXI, os quais dizem respeito às
minorias específicas, como os índios, os negros, as crianças, os adolescentes, as mulheres, os consumidores,
os homoafetivos femininos e masculinos. Ainda foram criados outros direitos chamados difusos, relativos à
preservação do meio ambiente, ao tratamento e aos direitos dos animais, direitos de preservação da fauna
e da flora como condições para o equilíbrio da biodiversidade em todos os âmbitos e outros.
A nova noção de cidadania, a partir da década de 1990, segundo Dagnino (1994), pressupõe um cidadão
participativo na sociedade civil, que tem autonomia, que se reconhece como um agente capaz de
transformar, de mudar uma situação injusta por meio de políticas públicas que atendam aos interesses
específicos de um determinado grupo ou categoria. É a possibilidade de criar novos direitos. É a condição
de um cidadão que possa agir, refletir, pensar, criticar, questionar, tomar decisões e fazer escolhas a partir
de seu próprio lugar na sociedade. O fato que promoverá essa nova noção de cidadania é a educação,
responsável pela preparação do cidadão para a prática e o exercício da nova cidadania e, consequentemente,
para a construção de uma nova sociedade.
12
Conectando Saberes
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo:
Contexto, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Além desses direitos que compõem a cidadania, temos atualmente a garantia dos Direitos Humanos em
nível internacional, os quais abordarmos a seguir, no subitem 8.4.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Estados Unidos são a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da
Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1948“ (TOMAZI, 2010, p. 136).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu após a Segunda Guerra Mundial, por conta do espanto
que os horrores e as atrocidades cometidas contra a dignidade humana causaram às pessoas no mundo
todo. Nessa Declaração, todos os seres humanos foram contemplados. Os direitos foram ampliados nas
questões relativas à liberdade e à igualdade em todas as áreas como a cultural, a social e a econômica.
Afirma Tomazi (2010, p. 136) que “[...] os direitos humanos estão acima de qualquer poder existente, seja
do Estado, seja dos governantes”.
Dessa forma, existe uma vigilância universal na proteção dos direitos humanos. Caso haja violação desses
direitos, os responsáveis ou os infratores são julgados e punidos.
Contextualização
“A partir de 1948, portanto, a proteção dos direitos humanos deixou de ser matéria
de exclusivo interesse interno de um Estado, tornando-se tema de interesse
internacional. Afinal, aprendemos com o século XX que o Estado, por meio de
governos autoritários, pode converter-se no grande violador dos direitos de seus
próprios cidadãos” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 282).
13
Os regimes totalitários monopolizam o poder político e todas as áreas do âmbito social, sendo o oposto
das formas democráticas de governo. Como exemplo de regimes totalitários, citamos a Alemanha, com o
nazismo, e a Itália, com o fascismo.
A partir de 1948, conforme Aranha e Martins (2009), a ordem internacional apresentou inovações em três
aspectos, assim resumidos:
a) universalização: os direitos humanos são contextualizados, históricos e, por isso, não são
imutáveis, nem externos. Os direitos mudam de acordo com o tempo, com as pessoas e com o local,
por isso, são universalizáveis durante um período, mas não são universais;
b) indivisibilidade: os direitos de cidadania civis e políticos são indivisíveis, ou seja, não se separam
dos direitos sociais, econômicos e culturais, incluindo outros novos direitos no discurso da cidadania.
Esses novos direitos, alguns já citados, referem-se à defesa ambiental, à paz, à preservação do
patrimônio da humanidade, isto é, um bem comum para todos os homens;
c) participação: os direitos humanos são garantidos, primeiro, dentro de seus próprios estados.
Entretanto, se um cidadão sentir-se violado ou não atendido em seus direitos, esse cidadão pode
acionar os órgãos internacionais na sua defesa contra o próprio estado do qual faz parte.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Caro (a) estudante, você já ouviu ou já leu sobre a “Lei Maria da Penha”, uma lei
criada em 2007 para combater a violência doméstica contra as mulheres? A cidadã
Maria da Penha, autora da lei, recorreu aos organismos internacionais para que
essa lei fosse concretizada, tendo em vista que, no Brasil, ela não sentiu o apoio
necessário para a efetivação de tal lei. A partir da instituição dessa lei, a violência
doméstica contra a mulher tornou-se crime.
Esse fato nos mostra a possibilidade e a importância da sociedade civil na luta e na busca pelos seus
direitos.
Além desse exemplo da “Lei Maria da Penha”, outros problemas, de acordo com Aranha e Martins (2009),
como o racismo, a educação, a desigualdade na relação de gênero, a saúde e o trabalho infantil estão sendo
tratados e sendo assistidos pelas organizações responsáveis pelos direitos humanos, além da participação
de muitos ativistas e pessoas comuns na defesa dessas questões.
14
Importante
Após as exposições do significado de cidadania, que contempla vários tipos de direitos, percebe-se sua
relação direta com os direitos humanos, pois são, todos eles, direitos para garantir a dignidade humana.
Em 1988, a elaboração de nossa mais recente Constituição foi denominada de “Constituição Cidadã”, sendo
a primeira legislação de cunho democrático na história brasileira. Esta contemplou os direitos políticos,
civis e sociais, acima do próprio Estado e garantidos legalmente.
Entretanto, falta muito ainda para que todos os cidadãos tenham todos os seus direitos de cidadania
consolidados, lembrando, por exemplo, apenas dos direitos sociais como moradia, saúde, educação,
transporte coletivo, segurança, trabalho, lazer, justiça, terra, todos estes considerados direitos básicos para
Cultura e Sociedade
a dignidade humana.
Dica
Caro (a) aluno (a), após esta aula, volte ao primeiro ícone da REFLEXÃO e compare
se sua resposta permanece a mesma ou se você mudou de opinião.
Você concorda que todos os indivíduos que prometem “dar a cidadania para todas as pessoas”, em um
discurso político ou em outro lugar qualquer, têm conhecimento ou noção do significado real da cidadania,
que exige todos os direitos civis, políticos e sociais, principalmente, além de vários outros?
É preciso que o cidadão, para garantir, exercitar e tomar para si todos os seus direitos, seja participativo
e exija o cumprimento dos mesmos. Caso contrário, corre ou correrá o risco de esses direitos não serem
respeitados e tampouco reconhecidos.
Considerações finais
Você pode observar que as definições de ideologia são diversas e diferentes entre os pensadores citados
nesta aula. Percebe-se, então, o quanto o termo ideologia é complexo, é ambíguo e, ao mesmo tempo,
contraditório.
A democracia, que é a forma de governo no Brasil, está sendo construída, por se caracterizar ainda por
práticas antigas, autoritárias, clientelistas e de corrupção no âmbito institucional político. É parte de
uma sociedade democrática o direito de cidadania para todos os indivíduos, contemplando os direitos
civis, políticos, sociais, culturais, econômicos e outros. Na esfera democrática, temos também o direito do
exercício, da defesa, do respeito, do reconhecimento e do cumprimento dos Direitos Humanos. Entretanto,
apesar de esses direitos existirem na forma legal, é preciso que o cidadão exercite com práticas e ações, e
exija o cumprimento de tais direitos.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2009.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002.
Cultura e Sociedade
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
DAGNINO, Evelina (org.). Os Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MARCONDES FILHO, Ciro. Ideologia: o que todo cidadão precisa saber sobre. São Paulo: Global, 1985.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.
Aula 9 - Revisão I
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
9 Revisão de conteúdos����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 11
Referências�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 12
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Prezado (a) estudante, nesta aula vamos rever todos os conteúdos estudados, ou seja, a partir da aula 1 à
aula 8. Estude com atenção para que você possa fixar e/ou detectar alguma lacuna a ser revisada.
9 Revisão de conteúdos
Cultura e Sociedade
Vamos iniciar esta revisão com a Aula 1.
A cultura reflete como o ser humano foi e é formado ou socializado, pelo fato de que o homem é produtor
e produto desta.
A cultura tem várias interpretações sobre sua origem, quais sejam: o surgimento da primeira norma ou
regra; o surgimento da criação dos símbolos; as mudanças evolutivas do cérebro do homem; a liberação
das mãos; a capacidade do bipedismo, isto é, a posição ereta do homem.
A primeira regra ou norma apontada por alguns pensadores em diversas sociedades foi a proibição do
incesto, ou seja, as relações sexuais entre pessoas com parentescos de primeiro grau, como pais, filhos e
irmãos.
A cultura possui diversas interpretações na sua definição, entretanto, neste estudo, reforça-se o conjunto de
elementos que a compõe, como os valores, as leis, as normas, os hábitos, as crenças, os costumes, as artes,
as práticas, os instrumentos, os artefatos e as instituições. Todos esses elementos traduzem a formação, o
conhecimento de um indivíduo e a organização de um determinado grupo social ou sociedade.
A cultura, portanto, varia de acordo com o contexto histórico, isto é, com o tempo e o local.
Assim, não podemos falar de uma cultura apenas, mas de várias culturas, sendo estas diferentes de uma
sociedade para outra.
Relembrando que na Aula 2, refletimos sobre os aspectos biológicos e culturais do homem, apontando
algumas diferenças entre eles.
4
Os aspectos biológicos são aqueles que qualquer ser humano, em qualquer lugar e época no mundo,
necessita para sua sobrevivência. Esses são inerentes ao ser humano, como comer, dormir, respirar, andar
e defecar, por exemplo.
Os aspectos culturais são aqueles adquiridos pelo homem de acordo com sua formação, educação ou
socialização. O ato de comer, já dito, é biológico, mas o que se come é cultural.
Da mesma forma, o modo de andar, de sentar, de comer, de dormir, de defecar e outros, são aprendidos de
acordo com o grupo social ou com a sociedade na qual o indivíduo está inserido.
Ao processo de socialização do ser humano dá-se o nome de endoculturação, e à fusão de duas culturas
denomina-se aculturação.
A cultura tem um significado muito importante para o ser humano, sendo esta capaz de influenciar e
interferir no plano biológico do ser humano. Dessa forma, a cultura influencia no aspecto psicológico, nas
doenças, nos sentimentos, na fé, na religião, nas crenças, nas superstições e em outros diversos aspectos.
A cultura popular e a erudita são coexistentes na vida cotidiana dos indivíduos. Apesar de características
diferentes entre estas, uma não é mais importante que a outra, sendo, portanto, as duas formas integrantes
da cultura nacional.
A cultura popular é a cultura produzida pelo povo e consumida por esse mesmo povo. É adquirida
Cultura e Sociedade
informalmente, pela oralidade, e transmitida de geração em geração.
A cultura erudita caracteriza-se por ser um conhecimento formal, adquirido na esfera institucional ou
acadêmica. Refere-se ao conhecimento erudito, mais refinado e sofisticado, por ser intelectualizado e
formal.
Entretanto, percebe-se que a cultura popular e a cultura erudita sofrem interferências mútuas e, já dito,
coexistem no cotidiano de todas as pessoas.
As sociedades são compostas por diversas etnias, pois não existe uma raça pura em nenhum lugar do
universo.
A sociedade brasileira é, por exemplo, uma das sociedades mais miscigenadas, senão, a mais miscigenada
do mundo. Assim, convivemos com várias etnias diferentes, cuja diversidade recebe o nome de
multiculturalismo e de pluralismo.
Cada grupo social ou sociedade possui uma cultura diferente e não existe uma cultura que seja superior a
outra.
No contexto da diferença cultural, apresenta-se o relativismo cultural como forma de se perceber o quanto
a cultura varia de uma organização social para outra.
Lembramos aqui do exemplo dado na aula 3 sobre a prática do consumo da carne de vaca na Índia e no
Brasil.
Entretanto, lembre-se, caro (a) estudante, que o relativismo cultural tem limites, ou seja, nem tudo é
permitido, pois existem práticas culturais que foram ou são consideradas contra a dignidade humana.
Portanto, a cultura não é universal, cada grupo social possui a sua cultura específica e, aliás, até dentro de
um mesmo país existem as subculturas, apresentando características diferentes de um estado para outro,
de uma região para outra ou de um local para outro, por exemplo. O termo subcultura pode ser usado
como sinônimo de cultura.
As relações étnico-raciais tratam das diferenças dos diversos grupos que existem e da necessidade do
respeito nas relações entre os mesmos. Um grupo étnico-racial apresenta diferenças em relação a outro
Cultura e Sociedade
em seu modo de vida, na língua usada, em seus hábitos e costumes, não sendo, já dito, inferior a nenhum
outro por ser diferente.
O estudo dos grupos étnico-raciais e as relações entre os mesmos são fundamentais pelo fato de ainda
existir em preconceito, discriminação, racismo e exclusão social em relação a esses grupos étnico-raciais,
também denominados de grupos minoritários.
Todas essas atitudes que denegrirem o outro devem ser combatidas e, como você estudou, caro (a)
estudante, a cultura e os valores são adquiridos, e por isso, o preconceito, a discriminação, o racismo e
a exclusão são aprendidos. Cabe, portanto, refletir: se desejamos uma sociedade menos injusta, menos
violenta e mais ética e respeitosa, é preciso investir em uma formação das pessoas baseada no respeito às
diferenças.
Para atenuar essas práticas de discriminação e exclusão no Brasil, foram criadas as denominadas ações
afirmativas, políticas públicas que tentam minimizar as injustiças que existem entre os diversos grupos
étnico-raciais.
A aula 4 refere-se à história e à cultura afro-brasileira, um exemplo de ação para minimizar uma injustiça
em relação aos negros.
Estudar a história e a importância do negro é reconhecer seu lugar de destaque na formação da sociedade
brasileira.
Para tanto, desde 10 de março de 2008, entrou em vigor a Lei nº 11.645, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional com a obrigatoriedade de se incluir no currículo da rede de ensino essa temática.
6
Os negros, antes de serem trazidos ao Brasil para o trabalho escravo, viviam em sua terra de origem, a
África, com cultura própria, modo de vida, língua, organização, práticas religiosas, enfim, com seus estilos
de vida diferentes entre cada tribo.
A partir do momento que os negros foram arrancados de seu habitat e vieram para o Brasil, sua mão de
obra passou a ser o sustentáculo na economia colonial brasileira, iniciando-se a escravização e a violenta
exploração dos negros.
Com o cruzamento dos negros, dos brancos e dos índios no Brasil, formou-se uma sociedade miscigenada
com vários e com diversos tipos de pessoas, como os sertanejos, os caipiras, os gaúchos, e os mestiços,
como o mulato, o mameluco, o crioulo, o cafuzo, o cabra, o caboclo e o pardo.
A miscigenação foi uma prática comum pelo fato de se permitir uma liberdade sexual extraconjugal e
relações de amancebamento, apesar do esforço da igreja católica em pregar a prática do casamento
monogâmico.
A sociedade brasileira que se formou teve como característica o patriarcalismo e o machismo, justificada
pelo poder do homem, do pater famílias, sobre todos os seus dominados, inclusive, sobre a mulher e os
filhos.
À imposição dos valores da cultura portuguesa sobre a cultura dos negros dá-se o nome de aculturação e
deculturação, o que provocou mudanças nos padrões culturais originais dos dois grupos.
Cultura e Sociedade
A imposição de elementos da religião católica às práticas religiosas dos negros resultou no denominado
sincretismo religioso, uma mistura de práticas do catolicismo e, também, de práticas indígenas e espíritas.
Apesar da violência da colonização portuguesa sobre os diversos grupos negros, vindos principalmente
da Guiné, de Angola e da Mina da Costa, estes conseguiram, por meio de grandes esforços e tenacidade,
preservar parte de sua cultura e deixar um legado para a sociedade brasileira.
A herança dos afro-brasileiros é percebida em todas as áreas como na alimentação, na religião, na música,
na dança, nas artes, nas vestimentas, nos enfeites, nos instrumentos, nos objetos e em outros diversos
aspectos.
Reconhecer a sua posição como elemento formador da sociedade brasileira e respeitar sua diferença
étnico-racial são, no mínimo, uma obrigação da sociedade atual.
Na aula 5, tratamos da história e da cultura indígena para, a exemplo dos negros, reconhecê-los como
grupo étnico-racial com suas diferenças e como elemento formador da sociedade brasileira.
Para tanto, foi instituída, também desde 10 de março de 2008, a lei nº 11.645 que, como no caso da história
e da cultura afro-brasileira, determinou como obrigatório no currículo oficial da rede de ensino o estudo
sobre a “história e a cultura Indígena”.
Como visto, o termo indígena refere-se aos nativos que habitavam o território brasileiro antes da chegada
do europeu. O termo índio foi atribuído aos nativos por um equívoco de localização, ou seja, o europeu, ao
buscar a rota para as Índias, acreditou ter chegado a estas; entretanto, havia chegado a terras da américa
e, por isso, nomeou os nativos de “índios”.
7
Os índios, como um grupo étnico-racial específico, possuíam a sua cultura própria que variava de tribo
para tribo. Possuíam uma organização territorial, econômica, politica, social e cultural. Andavam nus,
algumas tribos praticavam a antropofagia, não conheciam a monogamia nem celebravam casamentos.
A economia e a alimentação dos índios baseavam-se na coleta de frutos, na pesca e na plantação de
mandioca e de milho, principalmente. A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade entre
as mulheres e os homens das aldeias. Os índios desconheciam a forma de produção capitalista, ou seja,
a prática do excedente para o lucro e, por isso, produziam o necessário para a sobrevivência, para trocas
e para presentear outras diversas tribos. A língua predominante era o tupi e existiam, aproximadamente,
900 línguas diferentes.
O choque cultural entre o índio e o europeu foi violento, provocando uma destribalização, uma
desoculturação e uma dizimação entre eles.
Na costa brasileira, infere-se que havia milhões de índios, a maioria dizimada por meio de mecanismos de
extermínio, como a contaminação por meio de várias doenças, epidemias, pestes, provocação de guerras
entre as próprias tribos, genocídios, suicídios, fugas para o interior das matas, escravização e outras formas
de extinção, de subjugação e de dominação.
Atualmente, o número dos grupos indígenas no Brasil é muito pequeno, ou seja, em torno de 0,2% da
população brasileira.
Como herança, os índios contribuíram com diversos e variados hábitos como a prática diária do banho, o
Cultura e Sociedade
uso da rede, o uso da farinha de milho, e do beiju, o ritual de danças e cantos, os rituais de cura, as magias,
as fábulas, os contos e inúmeras palavras do nosso vocabulário vigente, revelando-nos uma riqueza no
universo linguístico.
Na defesa das questões indígenas foram criadas diversas organizações, associações e entidades, dentre
elas, o Projeto Rondon, o Serviço de Proteção aos Índios – SPI, substituída pela Fundação Nacional do Índio
– FUNAI, e outras. Atualmente existem diversas instituições na defesa dos direitos dos índios, entretanto,
falta muito para se alcançarem resultados satisfatórios.
O índio brasileiro continua, infelizmente, muito discriminado na sociedade brasileira, não sendo respeitado
nem reconhecido como cidadão de direitos e como elemento formador de sua própria sociedade.
O conhecimento está presente na vida do ser humano desde o seu surgimento no universo e significa a
aquisição de algo novo sobre o que já se possui. Esse conhecimento varia de acordo com o tempo, com o
local e com os homens, sendo, portanto, contextualizado e histórico. O conhecimento é o que difere o ser
humano dos animais, por ser esse conhecimento um ato de criação, modificação e ação.
A ciência abrange o corpo do conhecimento, exigindo métodos científicos adequados, técnicas, recursos,
interpretação e um estudo rigoroso, racional, sistemático, planejado e verificável, em sua constituição.
As áreas do conhecimento científico são divididas para especificar o objeto de estudo de cada área,
conhecidas como ciências humanas, ou sociais, e ciências físicas e naturais, ou exatas. As disciplinas ou
áreas de concentração das áreas do conhecimento são inúmeras e se dividem entre estas, conforme suas
características específicas e o objeto de estudo.
O método científico é o caminho que se usa para alcançar o resultado proposto por meio de uma pesquisa.
Conforme a área do conhecimento, o objeto de estudo demanda uma forma de análise qualitativa ou
quantitativa.
Entretanto, uma pesquisa pode fazer uso das duas formas de análise, o que depende do tipo de pesquisa
e dos objetivos que o pesquisador pretende estudar e alcançar. O método científico é composto por
técnicas, recursos ou instrumentos que contribuem para o desenvolvimento da pesquisa, a cujo conjunto
Cultura e Sociedade
denomina-se metodologia.
A ética e a moral são valores indissociáveis e presentes na vida de qualquer sujeito, em qualquer ambiente,
área, situação, momento e ação.
Os valores são adquiridos pela cultura, por meio da formação ou socialização que o sujeito recebe pela
educação. Portanto, os valores são estabelecidos pelo grupo social ou pela sociedade na qual o indivíduo
está inserido. São históricos, variando conforme o tempo, o espaço e o povo. A partir dos valores, que são
éticos, afetivos, estéticos, religiosos e econômicos, aprendemos a discernir o que é o bem, o mal, o justo, o
injusto, o correto, o incorreto, etc.
A moral situa-se no âmbito dos valores, e refere-se às normas, às regras e aos padrões de comportamento
que um indivíduo adquire em uma determinada sociedade temporal e espacial. Reforça-se que a moral é
imposta, conforme os valores da moral vigente de um grupo social, e já está estabelecida.
A ética faz um julgamento da moral, é uma reflexão sobre a ação moral que o indivíduo traduz em seu
comportamento, em seus atos e em suas ações. A ética é, então, apreendida, ou seja, o sujeito tem a
escolha de ser ético ou não, de acordo com seu comportamento ou conduta moral. A ética reflete o caráter
do indivíduo, o seu senso moral e a sua consciência moral, revelando a sua moral individual. A moral é
objeto da ética, sendo diferente para cada sociedade determinada, conforme seus valores estabelecidos.
Assim, o que é moral e eticamente correto para uma sociedade pode não ser para outra. Como exemplo,
lembramos aqui novamente o uso do consumo da carne da vaca, na Índia, cujo hábito é considerado
crime, um ato imoral e antiético. No entanto, para a sociedade brasileira, essa prática não é crime, não é
imoral nem antiética.
9
A moral refere-se mais a ações concretas do dia a dia das pessoas, é da esfera individual. A partir desta, o
sujeito reflete sua moral em todos os outros espaços dos quais faz parte. Dessa forma, a moral e a ética
existem para todos os sujeitos e se encontram em todas as esferas micro e macro, como nas relações
matrimoniais, sexuais, familiares, na ciência, na arte, na indústria, na política, no trabalho, na profissão, na
empresa, nas instituições, enfim, em todos os espaços de convivência e de relações humanas.
A moral e a ética, portanto, estão presentes em todas as profissões para suas regulamentações, por meio
de estatutos e de códigos específicos a cada uma, e estão nos códigos de normas e de regras impostos em
qualquer ambiente de trabalho. Como exemplo, lembramos os códigos de ética usados nas empresas com
a finalidade de organizar, de limitar e de disciplinar, ou ainda, com a finalidade de buscar um ambiente
de respeito entre todos os sujeitos, para uma convivência moral e eticamente correta, de acordo com os
valores da própria empresa.
Atualmente, as empresas estão mais preocupadas com um comportamento mais ético entre os funcionários,
os colaboradores, os fornecedores, com os consumidores ou clientes, enfim, com a comunidade em seu
entorno, buscando atitudes morais e éticas que revelem uma responsabilidade social e uma consciência
ecológica. Mais recentemente, percebe-se que a população, os indivíduos de uma forma geral, a clientela
ou os consumidores, estão exigindo das empresas uma mudança em relação ao respeito aos valores morais
e éticos em suas atitudes e ações.
Torcemos para que essa exigência e essa cobrança se tornem práticas efetivas no cotidiano para todas as
pessoas, em todas as áreas, em todos os espaços e em todas as épocas.
Cultura e Sociedade
Em relação à aula 8, abordou-se a ideologia, a democracia, a cidadania e os Direitos Humanos, por existirem
em nossa vida em sociedade e em nossas práticas exercidas no dia a dia por todas as pessoas.
A ideologia possui vários significados, sendo difícil conceituá-la com uma definição apenas. Vários
pensadores clássicos definiram a ideologia de formas diferentes; entretanto, a definição que mais
influenciou e é referenciada até o momento é a definição apresentada pelos pensadores alemães Karl
Marx e Friedrich Engels em 1846, no livro A Ideologia Alemã.
A ideologia é definida como um conjunto de ideias e de valores usados pela classe dominante com o
objetivo de dominar e de controlar as massas.
A ideologia, nessa visão de dominação e de subjugação da sociedade civil, apresenta várias características
como sendo universal, manipulativa, lacunar, parcial, mascarada e mentirosa, por falsear ou esconder
a realidade como realmente ela é. É a “falsa consciência”, que distorce a realidade como uma máquina
fotográfica, isto é, inverte a sociedade de “cabeça para baixo”.
Dessa forma, a ideologia é usada pelos dominantes ou dirigentes com o objetivo de anular e de esconder
os conflitos, as contradições e as desigualdades das classes dentro de uma sociedade. Essas diferenças,
que são injustas, são justificadas como se fossem naturais. Essa ideologia do dominante tenta justificar o
status quo dos ricos e tenta naturalizar a pobreza e a miséria.
A ideologia é usada por todas as instâncias de poder, pelos partidos políticos, pelas igrejas, por associações,
entidades, sindicatos, escolas, empresas, instituições públicas e privadas, por meios de comunicação de
massa, propaganda, marketing, enfim, por todos os segmentos, e inclusive, por cada indivíduo na sociedade.
10
Assim, a necessidade da educação e de uma consciência política e crítica tornam-se prementes para
entendermos como a ideologia é usada. Devemos conhecer os meios adequados para combatê-la, e caso
a pessoa não concorde com a forma pela qual essa é usada, deve ou deveria lutar por outra possibilidade.
Após esse conhecimento por meio da educação e da conscientização, a escolha consciente é a condição
da liberdade e da autonomia do ser humano.
Uma ideia alternativa para o uso da ideologia dominante foi apresentada pelo pensador italiano Antonio
Gramsci, que denominou a ideologia de hegemonia pelas classes políticas dominantes.
A ideologia, segundo Gramsci, pode ser exercida por qualquer sujeito pertencente à classe trabalhadora
no papel de um “intelectual orgânico”, por pertencer à própria condição de trabalhador. Pelos mesmos
meios de transmissão da ideologia por parte dos dirigentes hegemônicos, o trabalhador faz uso e aproveita
desses mesmos espaços para denunciar, combater e propor seus ideais, seus valores, seus objetivos e,
portanto, agir como uma contra-ideologia do dominante.
A democracia é uma forma de governo que tem como característica a participação do povo. O Brasil
é uma sociedade democrática e representativa, ou seja, por meio do voto direto, elegemos os nossos
representantes por um período de tempo determinado.
Na democracia, a liberdade, a igualdade e todos os direitos dos cidadãos são assegurados, garantidos e
defendidos por uma Constituição Federal.
Cultura e Sociedade
Entretanto, muitos estudiosos apresentam as contradições, os obstáculos e as fragilidades da democracia
no Brasil.
Assim, mais do que uma forma de governo democrático, uma sociedade democrática efetiva precisa, antes
de mais nada, respeitar e exercitar todos os direitos adquiridos, instituídos e garantidos por lei para todos
os cidadãos e não para uma minoria apenas.
A cidadania é um conceito que infelizmente é distorcido por uma boa parte das pessoas e ainda longe de
ser conquistada.
Cidadania significa o direito a ter direitos e a possibilidade de cada cidadão ser um agente de transformação,
de agir, de lutar, de participar e de exigir políticas públicas que atendam aos objetivos específicos de cada
grupo social. É uma participação ativa do cidadão com autonomia, com capacidade de pensar, de criticar,
de tomar decisões, de fazer escolhas e de agir na luta para as mudanças necessárias. O fator que possibilita
essa concepção de cidadania ativa é a educação.
A cidadania engloba os direitos civis, os políticos e os direitos sociais, inicialmente, e ampliou-se com
novos direitos relativos ao meio ambiente, à paz, à defesa dos animais, das matas, da biodiversidade e
outros tantos.
11
Numa relação direta com a cidadania, contemplaram-se os Direitos Humanos, por conta de atos
considerados horrorosos e violentos contra a dignidade humana, a exemplo dos regimes totalitários da
Alemanha nazista e da Itália fascista.
Dessa forma, foi criada em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos para proteger, defender e
assegurar os direitos para todos os cidadãos e cidadãs do mundo e em todas as áreas.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos coloca-se acima do poder de qualquer país e de qualquer
governante, apresentando três aspectos no que se refere aos direitos, quais sejam: a universalização e não
universáveis; a indivisibilidade, isto é, os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais e quaisquer
outros novos direitos não podem ser separados; a participação, isto é, o direito do cidadão de acionar os
mecanismos internacionais, caso não seja atendido em seus direitos pelo país no qual vive.
A Constituição Federal de 1988, no Brasil, tem o cunho de ser uma “Constituição Cidadã”, por ser democrática
e por garantir os direitos civis, políticos e sociais acima do poder do Estado. Entretanto, não são respeitados
como deveriam ser.
Considerações finais
Nesta aula, fizemos a revisão dos conteúdos das primeiras oito aulas, abrangendo diversos temas.
Cultura e Sociedade
Esperamos, caro (a) estudante, que você tenha aproveitado essas aulas e percebido que todos os conteúdos
estudados fazem parte de seu cotidiano e, por isso, são temas da realidade.
Abordamos o significado e as formas de conhecimento com suas características bem como a história e a
cultura afro-brasileira e indígena e sua importância como elementos formadores do povo brasileiro.
Tratamos também do significado da ética e da moral, conceitos e valores necessários à vida em sociedade;
e dos conceitos de ideologia, democracia, cidadania e Direitos Humanos. Estes vieram para nos orientar
sobre os perigos da ideologia, e também suas formas de contribuição. Abordou-se a forma de governo
no Brasil, os direitos civis, políticos e sociais, econômicos, culturais e outros, e conhecemos a proposta da
nova cidadania. Abordamos a importância dos Direitos Humanos para todos os cidadãos e cidadãs, não
somente no Brasil, mas no mundo inteiro.
Além da leitura desses temas por meio das aulas, esperamos que você tenha realizado todas as sugestões
de leituras e de atividades apresentadas nos ícones “Conectando saberes”, e que tenha participado de
todos os exercícios propostos durante o desenvolvimento desta disciplina "Cultura e Sociedade", até o
momento.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. rev.
e ampl. São Paulo: Atlas, 1991.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 7. ed. São
Paulo: Atlas,2008.
MICHEL, Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 2005.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Cultura e Sociedade
Aula 10
Avaliação virtual
2
Prezado(a) Aluno(a),
Nesta aula você deverá acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e realizar a
Atividade Avaliativa on-line II , que consiste na resolução de 10 questões objetivas que
abordam o conteúdo das aulas 1 a 9.
Cultura e Sociedade
Aula 11
Os meios de comunicação de
massa e a mídia
2
Sumário
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Você, caro (a) estudante, pode perceber que a todo instante estamos recebendo milhares de informações
através de vários meios, a exemplo do jornal, do livro, das revistas, do rádio, do cinema, da televisão e da
internet, com toda a sua variedade e diversidade de recursos.
Esse avanço deve-se à tecnologia que, além de ter acelerado a mídia, acarretou também mudanças
Cultura e Sociedade
comportamentais individuais e globais. Assim, a utilização da tecnologia pode se dar tanto para fins de
manutenção de poder, de dominação, de controle e de censura, como para fins de utilidade pública.
O desenvolvimento das civilizações ocorreu na transição da forma oral do conhecimento para a escrita.
Aproximadamente em 1440, com a invenção da imprensa por Johannes Gutemberg, a disseminação da
escrita tornou-se mais intensa (SARTORI apud TOMAZI, 2010).
Anterior a essa data, a transmissão de informações ou do conhecimento era reduzida e, somente após essa
data e com o avanço tecnológico, foi-se ampliando o número de pessoas no mundo da comunicação.
A imprensa, por meio de jornais e de livros, era veiculada inicialmente apenas na forma escrita.
Segundo Chaui (1996), os meios de comunicação de massa dividem a sociedade em públicos distintos, isto
é, as classes sociais mais altas, as médias e as baixas. Os horários de transmissão (rádio e televisão) também
são organizados de acordo com a divisão das classes para atender ao público específico envolvendo a
ocupação, como “[...] donas-de-casa, trabalhadores manuais, profissionais liberais, executivos - a idade –
crianças, adolescentes, adultos – e o sexo” (CHAUI, 1996, p.331).
4
Essa organização por meio de classes e horários são exigências do patrocinador do programa, com o
objetivo de atingir os consumidores e/ou clientes de seus produtos, e ainda, para vender ou transmitir a
imagem de sua empresa pautada nos valores e princípios éticos vigentes na sociedade, com o objetivo de
transmitir uma imagem politicamente correta. Essa imagem é usada como uma forma também para atrair
e influenciar os clientes ou consumidores (CHAUI, 1996).
Nesse sentido, as informações ou as notícias veiculadas são aquelas que o patrocinador autorizar. Caso
haja alguma informação que não agrade o patrocinador (que pode ser uma pessoa física ou uma empresa
privada ou uma estatal ou o próprio governo), essa informação não é veiculada, pois não atende aos
interesses do patrocinador específico (CHAUI, 1996).
Dessa forma, ocorre um dos grandes males dos meios de comunicação de massa, que é a desinformação,
isto é, o patrocinador (privado ou estatal) não permite a veiculação de alguma notícia que pode ou poderá
prejudicar a pessoa, a empresa ou o governo. A notícia permitida é ou será apenas aquela que beneficiar
ou convier ao patrocinador. Isso provoca ou provocará um desrespeito aos direitos dos consumidores, dos
clientes e do público em geral, em receber todas as informações boas ou más (CHAUI, 1996).
Outro fator que se deve enfatizar é a fragmentação da notícia veiculada, sem uma contextualização, sem
uma sequência lógica com início, meio e fim, sem uma abordagem mais ampla, mas apenas a notícia
imediata por si só. A notícia é apresentada anulando a localização espacial e temporal, como se as distâncias
geográficas fossem todas igualmente próximas ou distantes, ou como se não tivessem uma referência
temporal, isto é, sem origem, sem continuidade, sem efeitos ou consequências. Existe um paradoxo,
Cultura e Sociedade
portanto, pois ao mesmo tempo em que nos apresentam o mundo inteiro, não sabemos realmente sobre
essa realidade, pois é tudo fragmentado e nos parece um mundo irreal ou ficcional (CHAUI, 1996). Outro
fator a ser destacado é a infantilização que a mídia provoca no público em geral, explicitada abaixo.
Contextualização
“Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue?
Criando em nós os desejos e oferecendo produtos (publicidade e programação)
para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e
o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em
algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito” (CHAUI, 1996, p. 332).
Nesse sentido, a mídia tem como objetivo, que também é parte de sua ideologia e função, atrair todo
o público em suas diversas classes, em seus diversos interesses e desejos, sem exigir nenhuma reflexão
crítica ou questionamentos. “A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para
sempre infantis” (CHAUI, 1996, p.332).
Assim, ao buscarmos a satisfação imediata de nossos desejos na mídia, como a atitude de uma criança que
chora por insatisfação entre o espaço da conquista e o seu objeto de desejo, agimos da mesma forma que
ela, ou seja, infantilizados.
5
Reflexão
Você, caro (a) estudante, já desejou algo que você conheceu ou viu por meio de
uma propaganda nos meios de comunicação de massa?
Ao refletir sobre essas perguntas, cremos que você pode avaliar o quanto o poder de influência da mídia é
grande e está constantemente presente em nossas vidas.
Reforça Chaui (1996) que nos meios de comunicação de massa existe também um autoritarismo camuflado
de democracia, e isto se dá na forma de uma “intimidação social”, por meio de aconselhamentos para
vivermos melhor em todos os âmbitos da vida. Sem percebermos, passamos a ser um público dócil e
passivo.
Importante
Cultura e Sociedade
tornam-se um processo de inculcação de valores, hábitos, comportamentos e ideias,
pois não estamos preparados para pensar, avaliar e julgar o que vemos, ouvimos
e lemos. Por isso, ficamos intimidados, isto é, passamos a considerar que nada
sabemos, que somos incompetentes para viver e agir se não seguirmos a autoridade
competente do especialista” (CHAUI, p. 333).
11.2 O Rádio
Após a invenção da imprensa no século XV, já citada, surgiram várias formas de transmissão da comunicação
de massa.
Dentre tantas, citamos os jornais, os livros, as revistas, o telégrafo, a fonografia, a fotografia, o rádio, o
cinema, a internet e outros.
Para esta aula, selecionamos alguns meios de comunicação de massa, dentre eles o rádio, o cinema, a
televisão e a internet, na impossibilidade de abordar todos.
O rádio é uma invenção do século XIX, originado dos EUA, e veio para o Brasil na década de 1920.
6
Segundo Tomazi (2010), a primeira transmissão no Brasil deu-se em 1922 e, até 1930, considerou-se
como sendo a primeira fase, caracterizada pela experimentação, com poucos aparelhos e emissoras mal
equipadas. A segunda fase teve início na década de 1930, com a ampliação da abrangência do rádio para
os ouvintes de algumas capitais, primeiramente, devido ao alto custo. Introduziu-se também a publicidade,
e foi com esse recurso que o rádio conseguiu manter sua estrutura e funcionamento.
O apogeu do rádio ocorreu entre 1930 e 1950, devido ao surgimento das radionovelas, programas de
auditório e outros tipos de programas. Nesse período, o rádio alcançou grande sucesso, obteve muitos
patrocinadores e teve grande ampliação das emissoras com ouvintes por todo o território nacional
(TOMAZI, 2010).
Durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937 a 1945), o rádio foi eleito um dos mais importantes instrumentos
de propagação dos ideais de dominação, de subjugação, de controle e de cerceamento à censura.
Cultura e Sociedade
A partir da década de 1930, portanto, especificamente durante o governo ditatorial de Vargas, o Estado
impôs ao rádio um controle por meio da censura e de leis regulatórias.
Contextualização
O presidente Getúlio Vargas fez uso do rádio para divulgar e inculcar uma ideologia de governo nacionalista
e ditatorial sobre a população brasileira, criando o programa denominado “Hora do Brasil”. Esse programa
era diário e sua divulgação era às 19 horas. Getúlio Vargas criou esse programa para alcançar todos os
lares brasileiros como uma forma de aproximação íntima, para conquistar e obter a simpatia popular e, ao
mesmo tempo, de intimidação e controle.
Para tanto, em 1939, o governo de Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP
-, com o objetivo de controlar e censurar os meios de comunicação de massa.
7
Contextualização
Caro(a) estudante, esse programa “Hora do Brasil” se estende até os dias de hoje, sendo veiculado
diariamente, no mesmo horário à época de Getúlio Vargas, ou seja, às 19 horas. Atualmente, o programa
se denomina “A voz do Brasil”, possui um formato mais atualizado em relação ao anterior, mas continua
noticiando as realizações e as obras do governo vigente, com introdução de outras notícias.
Dica
Você, prezado(a) aluno(a), já ouviu “A voz do Brasil?” Caso não, procure ouvi-lo e
conhecê-lo para fazer uma análise crítica, ok?
Cultura e Sociedade
Outro exemplo de uso do rádio como um poderoso instrumento de divulgação ideológica e de difusão
dos ideais, dos valores e do controle sobre as massas, é do ditador Adolf Hitler, na Alemanha nazista, e de
Mussolini, na Itália fascista, nas décadas de 1930 e 1940.
Criou-se na Itália, em 1935, um ministério de propaganda para a imposição e controle dos meios de
comunicação de massa por meio da rígida censura.
Contextualização
Da mesma forma, a Alemanha nazista, liderada por Adolf Hitler, controlava, disciplinava e propagava o
ideal nazista por meio do rádio, sendo este um instrumento obrigatório em todos os lares das famílias
alemãs e em tantos outros espaços privados e públicos. Também Stalin, na Rússia, fez uso do rádio como
instrumento de propaganda e dominação ideológica.
8
Conectando Saberes
O rádio teve um retrocesso em sua audiência e programação por volta de 1960 e 1970, período em que a
televisão era introduzida e se impunha como um poderoso meio de comunicação de massa.
Observa-se que a televisão superou o rádio em termos de consumo, mas não o substituiu nem acabou
com esse meio de comunicação, que é ainda um dos mais usados pela sociedade brasileira.
De acordo com Tomazi (2010), o rádio ganhou um novo vigor a partir de 1980, devido ao surgimento das
emissoras FM, que contavam com melhor qualidade e novos investimentos por meio da publicidade. Além
disso, houve o término da censura imposta às emissoras.
Cultura e Sociedade
Em 1922, havia 32 milhões de habitantes no Brasil, com uma emissora AM e
nenhuma emissora FM. Em 2007, com 189,9 milhões de habitantes, havia 1709
emissoras AM, 1455 emissoras FM, com o total de 3164 emissoras de rádio
(TOMAZI, 2010).
Atualmente, muitas emissoras de rádio são acessadas por meio da internet, criando-se uma nova proposta
de abrangência das massas. Cerca de 85% das emissoras são controladas por políticos, que delas se
apoderam para transmitir e para defender seus interesses e os dos seus patrocinadores. Os programas,
portanto, não são independentes, pela sua vinculação aos interesses privados de seus proprietários, de
seus patrocinadores e também pela indústria fonográfica – CDs e discos (TOMAZI, 2010).
Reflexão
Caro(a) estudante, você tem emissora(s) de rádio em sua cidade? Caso não tenha,
procure em uma cidade mais próxima à sua.
O cinema surgiu no final do século XIX, na França, com a apresentação de uma película pelos irmãos
Lumière. A partir da França, expandiu-se pela Europa, EUA e outros países. No Brasil, o seu início deu-se na
década de 1920.
O cinema introduziu a imagem com som, lembrando que, no início, o cinema era mudo.
Segundo Chaui (1996), o cinema, por ser integrante da indústria cultural e de uma sociedade de consumo,
depende de patrocinadores, da propaganda, de investimentos, do lucro gerado e, por isso, preocupa-se
com a moda e com o consumo.
O cinema tem como características a imagem em movimento, sonorizada, e é considerado uma forma de
arte contemporânea.
Importante
“[...] o cinema tem o poder extraordinário, próprio da obra de arte, de tornar presente
o ausente, próximo o distante, distante o próximo, entrecruzando realidade e
irrealidade, verdade e fantasia, reflexão e devaneio” (CHAUI, 1996, p. 333).
Cultura e Sociedade
Segundo Chaui (1996), o diretor do cinema tem a oportunidade de expressar sua criatividade, e o intérprete
tem a possibilidade de manifestar sua dramaticidade ou o seu talento cômico para todas as pessoas,
independentemente de suas diversidades étnicas, opções sexuais, de religião ou condições sociais. É,
assim, democrático.
Contextualização
O cinema possui um caráter político e social, sendo usado para diversos fins como educacionais,
propagandas partidárias, empresariais, pessoais e ideológicas para os diversos setores da sociedade. O
cinema é um agente de formação de opinião, causa efeitos na sociedade e, por isso, também demanda
preocupações e reflexões sobre a sua forma de utilização.
Enquanto o cinema, então, privilegia a imagem em movimento sonorizada, a televisão é vista como
um aparelho eletrodoméstico, ou seja, cada pessoa pode ter o seu, como um rádio, uma geladeira, uma
batedeira, um liquidificador etc. A relação entre o cinema e a televisão, atualmente, caro(a) estudante, é
10
que a produção cinematográfica, isto é, uma película ou um filme, pode ser visto e conhecido hoje por
meio do aparelho de televisão que, com as inovações tecnológicas, tornou-se também um “cinema em
casa”.
Nesse sentido, não há necessidade de se deslocar mais de sua residência, por exemplo, para assistir a um
filme.
Lembramos que, antes da televisão, o público que desejasse assistir a um filme ou a uma película, deveria
se deslocar até o cinema, uma estrutura com equipamentos e com instrumentos específicos e adequados
para a transmissão do filme. Acrescenta-se a essa mudança atual o uso da internet na programação, na
divulgação e no conhecimento dos filmes.
11.4 Televisão
Contextualização
“A televisão, nascida em meados do século XX, como o próprio nome indica (tele
–visão = “ver de longe”), criou um elemento completamente novo, em que o ver
tem preponderância sobre o ouvir. A voz dos apresentadores é secundária, pois é
subordinada às imagens que comenta e analisa. As imagens contam mais do que
as palavras. Nisso o indivíduo volta à sua condição animal” (TOMAZI, 2010, p. 185).
Cultura e Sociedade
No Brasil, a televisão chegou na década de 1950, e a primeira emissora foi a TV Tupi, fundada pelo jornalista
Assis Chateaubriand, em São Paulo, denominada “Diários e Emissoras Associadas”, com estações em várias
capitais no Brasil. Após vários anos de liderança, tornou-se visível a concorrência de outras emissoras como
a TV Paulista (1952), a TV Record (1955), em São Paulo; a TV Itacolomi (1958), em Belo Horizonte; a TV Rio
(1958), no Rio de Janeiro. A evolução do número de aparelhos de televisão no Brasil desde a década de sua
chegada foi intensa e imensa, ou seja, de 4,60% em 1960, para 95,10% em 2008, com maior predominância
na região sudeste (TOMAZI, 2010).
O investimento para o crescimento das emissoras privadas nas décadas de 1950 e 1960 deu-se por meio de
empréstimos de bancos públicos. Com o início do regime militar em 1964, houve uma grande intervenção
desse regime no poder estratégico ideológico da televisão, com o objetivo de divulgar e propagar seus
interesses. Para tanto, houve grandes investimentos nas telecomunicações, mas acompanhadas de censura
e de políticas culturais para normatização, limitações e regulamentações na programação (TOMAZI, 2010).
11
Apesar desse crescimento, as redes privadas de televisão obedeciam a imposições do Estado, pois este
tinha o poder de conceder ou retirar a concessão, durante o regime militar. Entretanto, mesmo com o
término da ditadura, as emissoras prosseguiram conforme as diretrizes dos governos posteriores. As
emissoras tentaram refletir uma imagem de liberdade, democracia, mas tornaram-se centro e foco do
poder político (TOMAZI, 2010).
Em 1990, houve uma mudança nas relações entre as emissoras e o Estado, devido à abolição da censura, à
queda dos investimentos públicos e ao início da transmissão a cabo. Apesar dessas alterações, percebe-se
Cultura e Sociedade
ainda a continuidade das orientações de quem ocupa o poder, pela forma do patrocínio.
A sociedade atual tem como característica o predomínio da imagem, provocando severas críticas entre
alguns pensadores. Sartori (apud TOMAZI, 2010) denuncia que a criança que vê televisão por muito
tempo, antes de aprender a ler e a escrever, perde a capacidade da abstração, o que é sensível e, por isso,
a capacidade da compreensão. O foco direciona-se para a capacidade de ver em detrimento do entender.
Por ser um meio de comunicação e veículo de difusão cultural e de cunho informativo, com grande presença
nos lares brasileiros, e ainda formadora de opinião, a televisão tem um grande poder de influenciar a
formação de um indivíduo, o comportamento, os hábitos, os costumes e os valores.
Por isso, existe uma preocupação sobre como proceder em relação aos diversos meios de comunicação de
massa. Pela televisão pode-se “ver tudo” sem nenhum deslocamento (TOMAZI, 2010).
Conectando Saberes
Sobre a influência da televisão na vida das pessoas, Ribeiro (2004) aponta vantagens e desvantagens sobre
esse meio de comunicação, conforme o ícone abaixo:
12
Importante
Apesar de todas as críticas e das preocupações com a forte influência da televisão na sociedade, o autor
Ribeiro (2004), de acordo com a citação no ícone acima, enfatizamos, aponta algumas ressalvas neste
universo.
Nem todos os indivíduos são reprodutores de uma homogeneização de comportamentos, existindo outros
que contestam, rebatem e reelaboram as informações com outras perspectivas. Caso não houvesse essas
pessoas, nada teria mudado ou mudaria, lembrando, como o próprio autor Ribeiro (2004), o término do
regime militar e as várias resistências e manifestações de diversos grupos contra o mesmo.
Atualmente, percebe-se uma mudança no papel da televisão brasileira, ao propor reflexões sobre vários
Cultura e Sociedade
temas em novelas, programas, debates e nos jornais, que antes não eram abordados, como as relações
homoafetivas masculina e feminina, a questão dos direitos e da violência contra a mulher, o racismo e
outros tipos de preconceitos, a inclusão e os direitos de portadores de necessidades especiais (RIBEIRO,
2004). Acrescentam-se o direito e o respeito aos grupos étnicos, a moral e a ética, o nepotismo, o suborno,
a corrupção, a impunidade, o abuso de poder, o tráfico de drogas, a falta de segurança, a degradação
ambiental e tantos outros mais.
Mesmo que as discussões e as reflexões sejam ainda superficiais ou não tenham um resultado efetivo,
o fato de vir à tona, começar uma denúncia e uma proposta de se pensar sobre os diversos problemas
existentes na sociedade brasileira, é melhor do que continuar no silêncio. Ainda existem muitos outros
temas que não são colocados na televisão para a reflexão, como o debate sobre a profunda desigualdade
social, a relação autoritária entre patrão e empregado e tantos outros (RIBEIRO, 2004). Apesar de ainda ser
em ritmo lento, percebe-se uma mudança também em uma parte da sociedade brasileira, por apresentar
uma exigência e uma cobrança maiores em relação aos inúmeros problemas existentes.
Importante
Conforme citada no ícone acima, a internet é um meio de comunicação de massa introduzida recentemente,
mas ainda muito restrita entre as pessoas.
Segundo Tomazi (2010), a internet teve início por meio de um projeto militar americano em 1960, para
possibilitar a comunicação entre as autoridades, no caso de ocorrer uma guerra nuclear. Surgiu, então,
uma forma de comunicação descentralizada, com pontos independentes, em que, se um dos pontos
fosse destruído, outros continuariam funcionando. Tal modelo foi expandido para a comunicação entre
pesquisadores de diversas universidades e, a partir daí, para os demais lugares.
Contextualização
A internet está afetando e mudando a vida pessoal, local, regional, nacional e global, devido à rapidez e às
milhares de informações veiculadas em tempo real e em qualquer lugar do mundo.
Cultura e Sociedade
As vantagens e desvantagens da internet se cruzam nos vários debates de pedagogos, sociólogos e demais
pensadores, apresentando críticas sobre o seu mal uso e sobre as inúmeras possibilidades positivas dos
recursos oferecidos.
Como crítica, dentre tantas, aponta-se o vocabulário fragmentado, enxuto e mínimo, deturpando a escrita
formal verbal, além da limitada confiabilidade das informações. Entretanto, como vantagens, aponta-se,
dentre tantas outras, uma abertura infinita para as pesquisas, bem como milhares de informações que
devemos saber processar, para que delas possamos nos apropriar. A internet abre a possibilidade de novos
recursos de comunicação como as redes sociais, sites, blogs, twitter, facebook e tantos outros. Todas as
possibilidades promovem comunicação e informação mais democrática, ágil e ampla.
Dica
Apesar da crescente expansão da internet, existe uma grande exclusão digital no Brasil, sendo o seu
reduzido acesso um exemplo das desigualdades na sociedade brasileira. Por isso, torna-se necessário um
investimento na educação, incluindo o conhecimento da tecnologia de informações e o acesso à internet.
14
Observa-se, por meio de pesquisas, a realidade da desigualdade no Brasil em relação ao acesso à internet,
sendo esta, um dos maiores meios de comunicação de massa da atualidade. Ainda há muitas pessoas
excluídas desse novo modelo de comunicação e informação.
Reflexão
Cultura e Sociedade
comunicação você usa para se informar? Esta aula contribuiu para você refletir
mais sobre o poder da mídia em seu cotidiano?
Considerações finais
Os meios de comunicação de massa e a mídia são usados para propagar, divulgar e inculcar valores,
comportamentos, hábitos, costumes e ideias, por empresas privadas, públicas, pelos diversos e diferentes
governos e ainda por qualquer pessoa que tenha acesso a esses instrumentos.
O rádio, o cinema, a televisão e a internet, por serem os meios de comunicação mais expressivos em nossa
sociedade, foram abordados em sua importância e características específicas.
Após esta aula, prezado(a) estudante, percebe-se o quanto é importante ter uma educação crítica, reflexiva
e questionadora, para entender como os meios de comunicação de massa ou mídia os utilizam para a
dominação e o controle das pessoas e das massas. Com essa educação e uma atitude crítica, pode-se atuar
ou agir para uma tomada de decisão que provoque melhores mudanças para todos os indivíduos em
sociedade.
Você concorda?
15
Referências
PAZZINATO, Alceu Luiz; SENISE, Maria Helena Valente. História Moderna e Contemporânea. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1997.
RIBEIRO, Renato Janine. O afeto autoritário: televisão, ética e democracia. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
SALVADORI, Maria Ângela B. Cidade em tempos modernos. São Paulo: Atual, 1995.
SARTORI, Giovanni. Homo Videns: televisão e pós-pensamento. São Paulo: EDUSC, 2011.
Cultura e Sociedade
Aula 12
Trabalho, mercado e
responsabilidade social
2
Sumário
Aula 12 - Trabalho, mercado e responsabilidade social
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
12 Trabalho, mercado e responsabilidade social�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
12.1 Trabalho: significado e contextualização��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
12.2 Educação e sociedade do conhecimento�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������7
12.3 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI�����������������������������������������������������������������������������������������������������������9
12.4 Empreendedorismo e inovação����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 12
12.5 Responsabilidade social: setor público, privado e terceiro setor��������������������������������������������������������������������������������������������������� 14
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 18
Referências�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 18
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
■■ Conceituar trabalho;
■■ Caracterizar as diversas formas de organização do trabalho;
■■ Definir sociedade do conhecimento e conhecer suas especificidades;
■■ Reconhecer a importância da educação na sociedade atual;
■■ Conhecer e refletir sobre as características do profissional do século XXI;
■■ Analisar as novas relações de trabalho e refletir sobre elas;
■■ Conceituar empreendedorismo;
■■ Distinguir inovação e invenção;
■■ Conceituar responsabilidade social e terceiro setor.
Considerações iniciais
O trabalho é parte da vida dos homens e revela a forma como estes retiram da natureza os recursos para
a sua sobrevivência. Conforme o tempo e o espaço, a forma de organização do trabalho sofre alterações,
modificando o modo de produção em cada sociedade contextualizada.
Cada forma de organização do trabalho reflete um mercado específico que, de acordo com suas
necessidades, exige mudanças no modo de produção. Por isso, surgiram várias formas de organização de
trabalho, as quais abordamos nesta aula.
Cultura e Sociedade
No mercado atual, a forma de organização de trabalho é o capitalismo, no qual foi introduzida, pelas
organizações empresariais, a responsabilidade social. A partir daí, a preocupação com a comunidade ou
sociedade é parte da atuação e da atitude das empresas, revelando uma responsabilidade ética.
Paralelamente, o estado ou a gestão pública, bem como o terceiro setor, que é a sociedade civil, também
integram essa concepção de responsabilidade social como um benefício coletivo. A parceria entre as
organizações privadas, o Estado e o terceiro setor é uma proposta possível para se minimizar os inúmeros
e graves problemas sociais brasileiros.
O trabalho é uma atividade humana que reflete o modelo do mercado em seu contexto histórico. No
momento atual, o mercado capitalista apresenta a introdução da responsabilidade social pelas organizações
empresariais como uma alternativa para melhorar a qualidade de vida da sociedade, em parceria com o
Estado e com o terceiro setor.
O trabalho é uma atividade humana que sempre fez parte da vida do homem desde o seu aparecimento
no mundo.
O trabalho é a relação do homem com a natureza, para extrair dela a matéria-prima necessária para a
4
sua sobrevivência. Segundo Marx (1989, p. 202), o homem “[...] atuando assim sobre a natureza externa e
modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza”. Karl Marx (1818-1883), filósofo alemão,
é um dos principais teóricos sobre o trabalho. De acordo com a época e o local, as relações de trabalho,
os meios de produção e as forças produtivas vão se modificando e são diferentes, devido às mudanças
provocadas no próprio interior do modo de produção de qualquer sociedade, conforme a perspectiva de
Marx (1989).
Contextualização
Dessa forma, quando surge a contradição entre as forças produtivas e as relações sociais de produção, o
modo de produção torna-se inadequado ou insuficiente. Esse é o momento da possibilidade da passagem
de um modo de produção para outro.
Cultura e Sociedade
Nesse sentido, de acordo com a necessidade do momento, a organização da produção sofre as mudanças
para atender às demandas e às exigências do mercado.
Importante
Dessa forma, o significado do trabalho foi mudado para atender à necessidade do sistema capitalista que
começava a se formatar no final da Idade Média, ou seja, desde o final do século XIV e início do século XV.
Entretanto, o trabalho não foi ou não é desenvolvido de forma igual nas diferentes sociedades, bem como
não tinha ou não tem o mesmo significado e valor.
A nossa sociedade atual tem como forma de organização da produção o sistema capitalista. A Idade
Moderna inicia-se no século XV (1453) e termina no século XVIII (1789), marcada, portanto, por duas
revoluções importantes: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
5
Importante
Caro (a) estudante, a sociedade capitalista na qual vivemos precisou de aproximadamente três séculos, ou
seja, 300 anos para ser estruturada.
No período da Idade Moderna, a concepção católica sobre o significado do trabalho foi criticada e sofreu
mudanças, pregando-se que o trabalho era digno, honroso, que o sucesso era uma graça de Deus e, por
isso, todos deveriam trabalhar. Essa ideologia foi divulgada pela classe burguesa e pelo protestantismo,
representado, dentre outros pregadores, por Calvino, criador de uma seita protestante (o calvinismo).
A ideologia do trabalho como um ato digno e necessário para a sobrevivência foi propagada como uma
doutrina, disciplinando e normatizando todos nós, formados dentro da ideologia capitalista, ou seja, para
Cultura e Sociedade
a forma de produção capitalista.
Reflexão
Caro (a) estudante, pergunte a uma pessoa qual é o tipo de trabalho que executa.
Caso ela responda que não trabalha, qual é a sua opinião sobre essa pessoa?
A maioria dos indivíduos de nossa sociedade responderia que essa pessoa é “vagabunda”, é “preguiçosa”, é
“alienada”, é um “estorvo”, é “subversiva”, é “doida” e tantos outros mais adjetivos negativos. Caso você tenha
a mesma ideia apresentada acima, significa que você tem a ideologia do trabalho como um elemento
central em sua vida, como é, aliás, para a maioria das pessoas que foram formadas dentro da ideologia
disciplinadora da sociedade capitalista.
6
Contextualização
A força dessa “doutrinação” é tão presente em nossa formação que a ideologia do trabalho digno e
necessário nos tornou, a nós mesmos, os nossos maiores controladores nessa “disciplinarização”.
Reflexão
Caso você tenha um trabalho, é preciso que alguém (sua mãe ou seu pai ou outra
pessoa, por exemplo), o acorde ou o tire da cama para ir trabalhar? Ou você levanta
na hora certa, porque sabe que, se não cumprir o horário no trabalho, será demitido?
Cultura e Sociedade
Caso você queira preservar o seu trabalho, você sabe claramente que você se tornou o seu maior “vigia”,
não concorda? Essa é a introjeção da ideologia do trabalho no sistema capitalista em que vivemos.
Contextualização
Desse modo, na sociedade capitalista, temos a divisão das classes sociais em proprietários e não proprietários.
Isso gera a desigualdade social e a obtenção do lucro, do excedente ou da mais-valia absoluta e relativa, de
acordo com Karl Marx (1989).
Entretanto, apesar de diferentes modos de produção existentes, detemo-nos na sociedade capitalista, por
ser esta, já dito, a sociedade na qual vivemos e convivemos com outros.
7
12.2 Educação e sociedade do conhecimento
Contextualização
As mudanças tecnológicas, além das matérias-primas e do capital, são acrescidas nessa sociedade do
conhecimento, como a internet, a digitalização e outros diversos recursos.
Como já visto, a forma de organização do trabalho muda conforme o local, o tempo e a sociedade, isto
é, cada modo de produção é contextualizado dentro do processo histórico. Nesse momento, portanto, a
força produtiva é o conteúdo do conhecimento que abrange as informações atualizadas e as inteligências
Cultura e Sociedade
ampliadas.
De acordo com Dávila Calle e Silva (2008), as características da sociedade do conhecimento são:
“A- Os produtos são valorados pelo conhecimento neles embutido. Assim o poderio econômico das
organizações e dos países está diretamente relacionado ao fator conhecimento.
E- Os fluxos de informação e conhecimento entre países são acrescentados aos fluxos de capital e bens
já existentes, tornando-se uma economia transnacional.
F- Ocorreu uma mudança no paradigma da comunicação, a lógica comunicacional de ‘um para muitos’
foi substituída pela de ‘muitos para muitos’, impulsionada pelo surgimento da internet como meio de
disseminação de informações e pelas novas tecnologias motivadas pela digitalização de documentos”
(DÁVILA CALLE; SILVA, 2008, p. 5).
Nesse sentido, além de todos os setores da sociedade que são afetados pelas novas alterações, a educação
também é provocada para realizar mudanças. Exigem-se novas capacidades e habilidades nos campos da
comunicação, do pensamento, da criticidade, para resolver problemas, para tomar decisões etc., em um
espaço de tempo mais rápido.
8
Os métodos de ensino e de aprendizagem devem ser revistos para se adaptarem ao novo contexto, tanto
na esfera da escola como na esfera do trabalho.
Reflexão
Caro (a) estudante, qual é o seu motivo ou objetivo ao buscar este curso? O fato
de você desejar uma qualificação, por exemplo, tem qual ou quais finalidades? É
um sonho pessoal, é uma necessidade para conseguir um emprego e um salário
melhores, é uma exigência familiar, é a continuidade de uma empresa familiar, é
um status ou um reconhecimento na sociedade ou no grupo social?
Qualquer motivo que você tiver relacionado, ou outros não expostos, provavelmente se encaixa na
valoração da nossa sociedade, não concorda? Até o sonho pessoal de realização está dentro dos valores
que a sociedade na qual vivemos atribui à educação, à escola, ao estudo ou ao conhecimento.
Althusser (1980) aponta a escola como um dos aparelhos ideológicos de maior poder de inculcação
ideológica e de capacidade de propagação de ideologias. Assim, observa-se a importância dessa instituição
na preparação do estudante para se adaptar à nova sociedade do conhecimento.
A qualificação e o conhecimento são ferramentas necessárias para a nova sociedade; entretanto, segundo
Cultura e Sociedade
Tomazi (2010), esses fatores não significam, por si só, garantia de emprego.
Busca-se, com isso, ser um candidato em potencial no mercado, mas não é a certeza do posto de trabalho.
Para determinados setores da produção, a qualificação é cada vez mais exigida, mas ainda existem muitas
funções nas quais o trabalhador pode aprender no processo de trabalho que executa.
Contextualização
Existem contradições na sociedade brasileira, isto é, em muitos postos de trabalho, como a faxina ou a
limpeza de uma empresa, exige-se no mínimo a formação no ensino médio. Outros profissionais graduados
e habilitados em diversas profissões não encontram trabalho em suas áreas específicas. Além disso, outro
fator real é o desemprego global, ou seja, este está ocorrendo no mundo todo e não somente no Brasil
(TOMAZI, 2010).
9
12.3 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI
Segundo Silva e Cunha (2002), o conceito do termo “emprego” vem sendo substituído por “trabalho”. Isso
significa que o número de empregos está diminuindo, mas trabalho, que é uma atividade humana, sempre
existiu, existe e irá existir.
Isso provoca, então, novas relações de trabalho por conta dos novos tipos de contratações.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Nessa perspectiva, a forma de trabalhar tradicional, antes muito técnica, repetitiva ou muito específica,
está sendo substituída por um trabalho de equipe, apoiado em projetos. As equipes são formadas por
trabalhadores para cumprirem as tarefas dentro de um projeto e, ao término, a equipe é dissolvida. Ao
surgir outro projeto, reúne-se a equipe para executá-lo e, assim, sucessivamente (DIAS, 2010).
Dessa forma, a tendência não é mais o trabalhador fixo, executando apenas uma tarefa ou função, mas
mudando de posições e executando várias tarefas ou funções.
Importante
Como visto, o conhecimento torna-se a matéria-prima mais exigida nesse novo processo, isto é, o
conhecimento geral, integralista e cultural supera as habilidades técnicas.
Os quatro pilares de uma nova educação para o século XXI foram apontados pela UNESCO e, conforme
Silva e Cunha (2002), são eles:
10
APRENDER
APRENDER
A VIVER
A FAZER
JUNTO
APRENDER
A SER
APRENDER
A CONHECER
Ainda, Silva e Cunha (2002) acrescentam as características do profissional ou do trabalhador do século XXI:
Cultura e Sociedade
1 S exível e não especialista demais 5 Assumir responsabilidades
2 Terinformação
mais criatividade do que
6 Ser empreendedor
3 Estudar durante toda a vida 7 Entender as diferenças culturais
4 Adquirir habilidades sociais
e capacidade de expressão 8 Adquirir intimidade com as
novas tecnologias
Acrescentam Silva e Cunha (2002) que os profissionais do futuro (que, aliás, já chegou) devem ser
competentes, bem-educados, bem-humorados, confiáveis, honestos e responsáveis.
11
Na mesma perspectiva, segundo De Masi, também citado por Silva e Cunha (2002), os valores emergentes
integrantes da formação e da educação profissional para essa nova sociedade do conhecimento são:
Por isso, é uma educação plural, polivalente, que exige uma cultura geral e com responsabilidade social,
esta, abordada no subitem 12.5.
Em relação ao trabalho, o ambiente pode ser outro, e não necessariamente a própria empresa ou escritório,
por exemplo. O trabalhador pode realizar uma tarefa em sua própria residência, pode prestar serviços para
uma empresa de outro país, além de ter a autonomia de controlar seus horários de trabalho, de acordo
com as regras da empresa. O importante é que, no prazo determinado, esse trabalhador apresente a sua
produtividade para a qual foi contratado. Caso não produza o esperado, perderá seu emprego.
Reflexão
Caro (a) aluno (a), boa parte das empresas permite essas opções ao trabalhador,
como escolher o seu horário de trabalho, levar o seu bicho de estimação, ir de
bermuda na sexta-feira, fazer o trabalho em casa etc. Além dessas escolhas, as
Cultura e Sociedade
empresas oferecem comida no próprio local de trabalho, quartinhos de dormir,
quadras de esporte, academia, jogos, planos de saúde, clubes recreativos e tantos
outros benefícios. Oferecem ainda premiações às equipes que resolvem problemas,
que ultrapassam as metas estabelecidas pela empresa, como viagens nacionais e
internacionais, jantares, presentes etc.
Como você, caro (a) aluno (a), interpreta essas mudanças? Você acredita que o
empregador (o dono dos meios de produção) ficou mais bondoso? Você acredita
que o sistema capitalista mudou e tornou-se mais humano? Qual é a sua opinião?
Lembramos que, em várias passagens, citamos que o sistema capitalista sofre mudanças de acordo com
as necessidades e as exigências do mercado. Por isso, o capitalismo muda apenas de roupa, ou seja, o
objetivo final foi, é e será sempre o mesmo, que é aumentar o lucro.
Dica
Prezado (a) estudante, todas essas mudanças são formas sutis de dominação. A
subjugação do homem pelo sistema capitalista continua. Mesmo que você seja
um defensor da forma de organização capitalista, você deve saber e entender
como é “denominado e explorado”, para, que por meio de uma consciência crítica,
pensante, reflexiva e autônoma, possa fazer suas escolhas ou opções, mas com
conhecimento e liberdade.
Deve-se combater a ideia, em que muitas pessoas ainda acreditam, de que “deve ser assim mesmo”, de que
não há alternativas ou perspectivas de mudanças.
Essas pessoas devem ser orientadas no sentido de que nada é natural, nada é definitivo, e sim, que a
sociedade capitalista na qual vivemos foi e é uma construção humana.
Caso as pessoas desejem mudanças, essas devem ser feitas por elas mesmas, de baixo para cima,
conforme todo o processo histórico nos mostra que todos os modos de produção foram superados. Isso
é conhecimento, que é obtido por meio da educação e, por isso, enfatizamos a necessidade crucial de
educação.
Cultura e Sociedade
12.4 Empreendedorismo e inovação
Na nova sociedade do conhecimento, várias características, qualidades e habilidades exigidas para o novo
profissional foram apresentadas no subitem anterior. Além destas, o profissional é ou será avaliado pelo
mercado conforme seu dinamismo, empreendedorismo e, já citado diversas vezes, por sua criatividade.
Contextualização
As características do empreendedorismo não são inatas, isto é, o indivíduo não nasce com elas. Estas são
aprendidas por meio da educação, das experiências e das práticas de trabalho. Entretanto, é preciso uma
atitude e um comportamento que são necessários a qualquer pessoa que deseja empreender.
13
Dica
Cultura e Sociedade
necessidade dentro do mercado competitivo, pelo fato de que, para cada mercadoria que é colocada
no mercado, o seu aspecto inovador determina seu sucesso ou não. A cada produto que é refutado no
mercado, deve-se à superação de outro por conta de suas inovações que vão atendendo melhor o cliente
ou o consumidor. Com uma rapidez cada vez maior, muitos produtos vão ficando defasados por conta da
inovação de outros. Isso é estendido para qualquer área, produto ou pessoa.
Reflexão
No mundo atual, inventar algo é muito difícil, tamanha é a produção em todos os segmentos. Mas se
alguém é capaz de inventar, é melhor ainda, se traz junto à sua invenção, a inovação também. Já, inovar
ocorre sobre algo já existente. Exemplo: se um indivíduo tem um restaurante, que é um tipo de comércio
antigo (e há milhões de restaurantes na cidade), esse indivíduo, que se torna também um empreendedor,
pode inovar com algum serviço, com algum tipo de comida, na forma de atendimento, no preço, no
horário, e tantos outros recursos, o que se torna um diferencial entre os demais restaurantes. O indivíduo
não inventou o restaurante, mas o inovou.
Percebe-se que a inovação, portanto, conforme já dito, pode ser feita com qualquer produto antigo. Assim,
infere-se que qualquer indivíduo pode ser um empreendedor, um inventor ou um inovador.
14
12.5 Responsabilidade social: setor público, privado e terceiro setor
Contextualização
Para uma melhor compreensão, separamos as definições dos termos responsabilidade e social. Segundo
Toldo (2002), responsabilidade é a ação com previsões de suas consequências, isto é, quem pratica uma
determinada ação no presente deve ter a responsabilidade de prever suas influências ou efeitos no futuro e,
caso seja necessário, corrigir o que for negativo. “Responsabilidade são ações e consequências previsíveis”
Cultura e Sociedade
(TOLDO, 2002, p. 78).
O termo social refere-se ao espaço onde se travam as relações humanas entre os indivíduos em uma
determinada sociedade, em que os interesses coletivos se sobrepõem ao individual. A sociedade “[...] é a
composição de um grupo, da organização de suas características comuns que se manifestam por meio de
suas crenças, valores, tradições, experiências, que, juntas, definem a sociedade” (TOLDO, 2002, p. 79).
Assim, a responsabilidade social busca promover ações que sejam benéficas para a sociedade, para o bem
público e coletivo, revendo seus efeitos e o alcance dessas ações.
Importante
As organizações empresariais possuem grande poder e força para interferir e melhorar o contexto social.
A produção literária traz inúmeras terminologias buscando um conceito que defina esse poder como
“[...] cidadania empresarial, filantropia empresarial, filantropia estratégica, solidariedade corporativa,
responsabilidade social empresarial, organização cidadã, etc.” (LIMA, 2002, p. 106).
Contextualização
Cultura e Sociedade
meio ambiente, as condições do ambiente de trabalho, a qualidade de vida de seus funcionários, um
diálogo ou comunicação transparente nos âmbitos interno e externo, clientes satisfeitos e interação com
todos os indivíduos e os stakeholders. Por meio da responsabilidade social, conhecem-se a filosofia, os
valores, a cultura, as políticas e a visão estratégica da empresa, bem como a postura e a convicção de seus
dirigentes (ORCHIS; YUNG; MORALES, 2002).
Dica
A abrangência da responsabilidade social de uma empresa é total em uma sociedade, e esta se expande
também ao setor público ou ao poder estatal. O apoio aos projetos do governo junto à sociedade civil,
às organizações não governamentais (ONGS) ou ao terceiro setor fazem parte de toda a abrangência da
responsabilidade social do setor privado.
16
Reflexão
“Se você reparar bem, não há nenhum conceito novo quando se pensa em
responsabilidade social. O que há, na verdade, é um novo olhar, uma nova maneira
de compreender as questões que envolvem todas as relações humanas, inclusive – e
especialmente – no universo empresarial. Quando se fala nesse assunto, estamos
tratando de ética, da relação socialmente responsável da empresa em todas as
suas ações, suas políticas, suas práticas, em tudo o que ela faz, suas atitudes com a
comunidade, empregados, fornecedores, com os fornecedores de seus fornecedores,
com o meio ambiente, governo, poder público, consumidores, mercado e com seus
acionistas. É preciso pensar todas essas relações como uma grande rede que se inter-
relaciona” (GRAJEU apud GARCIA, 2002, p. 27-28).
O governo ou o setor público, da mesma forma que o setor privado, deve adotar um comportamento
ético e responsável em todas as instâncias e promover políticas públicas, serviços públicos e cumprir suas
obrigações, como o respeito aos direitos dos indivíduos, ou criar novos direitos.
As demandas da sociedade civil são inúmeras. Dentre elas, a desigualdade social, a pobreza, a falta de
segurança, a criminalidade, a impunidade, a corrupção, a exclusão, o desemprego, a precariedade da
saúde, os diversos problemas na área da educação, as questões relativas ao gênero, à diversidade étnica,
à discriminação e tantas outras, devem ser focos das instituições governamentais, de qualquer gestão
Cultura e Sociedade
pública ou dos governos federal, estadual ou municipal.
A transparência em relação aos gastos públicos, isto é, a prestação de contas dos governos à sociedade
civil, o acesso às informações públicas e aos relatórios, a aplicação dos recursos públicos e seus resultados,
o controle e a inspeção, são exemplos também de uma atitude socialmente responsável, acrescidos de
todos os outros deveres atribuídos a uma gestão ou administração pública. O setor público, portanto, deve
contribuir com as políticas públicas demandadas pelas organizações não governamentais – ONGS -, pela
sociedade civil e, portanto, pelo terceiro setor.
Contextualização
Segundo Lima (2002), a sociedade civil, por conta dos diversos problemas sociais que o Brasil apresenta e,
principalmente, por conta da pobreza e da miséria de muitos, tem apresentado o início de uma mudança
por meio de um desconforto e de uma inquietação percebidos pela manifestação de alguns movimentos
sociais. A sociedade vem demonstrando uma nova percepção do poder da ação coletiva. O Estado, por
meio de seus governos, percebe essa emergente mudança e busca essa parceria com a sociedade civil,
ou o terceiro setor, para a construção de uma sociedade menos desigual, injusta e perversa, sobretudo
17
porque o próprio Estado nunca atendeu aos direitos garantidos por lei e continua não dando conta de
atender às novas demandas da sociedade civil. Por isso, surge também o conceito de governança.
Contextualização
Nesse sentido, o terceiro setor significa também organizações não governamentais – ONGS – e sociedade
civil, sendo esta última terminologia a mais usada no Brasil. Atualmente esse termo vem ganhando uma
nova percepção, passando a ser chamado também de organizações da sociedade civil (OSCs). A parceria
entre o Estado, as empresas privadas e o terceiro setor é que promoverá o bem-estar ou a melhoria da
qualidade de vida de todos os indivíduos ou da sociedade humana (LIMA, 2002).
Percebe-se, assim, a grande e a importante participação de todos os indivíduos representados pelo terceiro
setor nos projetos sociais, tanto na esfera governamental, quanto no âmbito das organizações empresariais.
O terceiro setor deve também ter uma atuação constante e fiscalizadora na defesa dos diversos e inúmeros
interesses da sociedade civil. Deve promover a participação dos sujeitos, assegurar o cumprimento de suas
Cultura e Sociedade
reivindicações, fazer respeitar os direitos e as conquistas alcançadas.
Reflexão
Enfatiza-se, então, que a resolução dos inúmeros e graves problemas sociais que o Brasil apresenta tem
como proposta alternativa a parceria entre o governo ou a gestão pública, as organizações empresariais, o
terceiro setor ou a sociedade civil, juntamente com a responsabilidade social do setor privado ou de todas as
organizações empresariais. Com parcerias e participação, pode-se e deve-se investir no desenvolvimento
social, cultural, econômico, político e ambiental da sociedade com uma melhor qualidade de vida para
todos os seres humanos, com responsabilidade ética.
18
Conectando Saberes
Caro (a) estudante, como é impossível, neste espaço, tratar de todos os termos
citados acima, sugerimos, então, para um aprofundamento e conhecimento
desses termos, a leitura do livro: Responsabilidade social das empresas (vários
autores). São Paulo: Peirópolis, 2002. PRÊMIO ETHOS-VALOR.
Considerações finais
O trabalho é parte da vida dos homens desde o seu aparecimento na terra e, por isso, é uma atividade
necessária à sua sobrevivência.
O trabalho, diferente do emprego, sofreu e sofre alterações em sua forma de organização, de acordo com
as exigências e demandas do mercado.
Cultura e Sociedade
Atualmente, a forma de organização do trabalho é o capitalismo e, consequentemente, o mercado é
orientado pelo capital, e as relações de trabalho são assalariadas.
Esse tipo de organização capitalista, caracterizada pela economia flexível, exige um profissional também
flexível. A ferramenta para o profissional do século XXI é o conhecimento, o qual é possível por meio do
incremento da educação formal.
A responsabilidade social é uma atitude ética exercida pelas organizações empresariais que se preocupam
e colaboram com a sociedade para melhorar as condições de vida dos sujeitos. Essa ação, iniciada pelas
empresas privadas, está promovendo parcerias com o Estado ou com as gestões públicas e com o terceiro
setor, que é a sociedade civil, para, juntos, buscarem uma melhoria para atenuar os inúmeros e profundos
problemas sociais existentes no Brasil.
Referências
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Lisboa: Ed. Presença, 1980.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de filosofia. São Paulo: Saraiva, 2010.
DÁVILA CALLE, Guilherme Antônio; SILVA, Edna Lúcia da. Inovação no contexto da sociedade do
19
conhecimento. Revista Textos de la Cibersociedad (España), n. 8, 2008. Disponível em: <https:/www.
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DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.
GARCIA, Bruno Gaspar. Responsabilidade social empresarial, Estado e sociedade civil: o caso do Instituto
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LIMA, Marirone Carvalho. Responsabilidade social: apoio das empresas privadas brasileiras à
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1989. v. I.
ORCHIS, Marcelo; YUNG, Maurício T.; MORALES, Santiado C. Impactos da responsabilidade social nos
objetivos e estratégias empresariais. In: Responsabilidade social das empresas (vários autores). São
Cultura e Sociedade
Paulo: Peirópolis, 2002.
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Minas Gerais/Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2007.
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TOLDO, Mariesa. Responsabilidade social empresarial. In: Responsabilidade social das empresas (vários
autores). São Paulo: Peirópolis, 2002.
Aula 13
Reestruturação produtiva
2
Sumário
Aula 13 - Reestruturação produtiva
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
13 Reestruturação produtiva������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
13.1 Novas formas de produção–contexto��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
13.2 Taylorismo�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
13.3 Fordismo����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������7
13.4 Toyotismo ou economia flexível���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 10
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 16
Referências�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 17
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
As novas formas de organização introduzidas no início do século XX, conhecidas como taylorismo, fordismo
e toyotismo, ou produção flexível, provocaram mudanças irreversíveis e profundas no mundo do trabalho.
A partir do taylorismo, com a introdução de novos recursos tecnológicos cada vez mais aperfeiçoados,
incrementou-se a produção com novos modelos organizacionais, como o fordismo e o toyotismo, ou
produção flexível, alterando toda a estrutura produtiva no sistema capitalista.
Por sua vez, as novas formas de produção alteraram também as relações de trabalho, o perfil do trabalhador
e, em consequência, de toda a cadeia produtiva e os âmbitos social, político, econômico, cultural, temporal
e geográfico da atual sociedade capitalista mundializada.
Cultura e Sociedade
13 Reestruturação produtiva
As novas formas de organização da produção capitalista iniciaram-se após a Revolução Industrial (século
XVIII), afetando e provocando mudanças, tanto na sociedade local como global. Essas novas formas são o
taylorismo, o fordismo e o toyotismo, ou produção flexível.
O sistema capitalista, a partir do início do século XX, sofreu novas transformações em suas formas de
organização de produção, provocadas pelas exigências e pelas novas demandas do mercado.
O sistema produtivo, cada vez mais aperfeiçoado com o surgimento de novas tecnologias e na busca
incessante e desenfreada por novos e mais lucros, acarretou a introdução de novas formas de organização
com o objetivo de sistematizar, racionalizar, aumentar a produção, e com o objetivo final, já dito, de
aumentar a lucratividade.
Nessa perspectiva, surgiram ideias para acelerar o lucro na forma de produzir, primeiramente, com dois
industrialistas americanos e, em seguida, com um industrialista japonês. O primeiro deles, conhecido
como o “Pai da administração científica” e fundador da forma de produção taylorista, foi o engenheiro
norte-americano Frederick Winslow Taylor.
4
13.2 Taylorismo
Conforme a necessidade e a demanda do mercado, a forma de produção no sistema capitalista deve mudar
para acompanhar as exigências e sobreviver nesse mercado. Ocorreram transformações econômicas e
sociais e o incremento da tecnologia, que provocou mudanças na Europa, a partir dos meados do século
XVIII. Nesse contexto, explodiu a Revolução Industrial, em 1789, na Inglaterra, alterando a forma de
produção, que antes era artesanal, para a forma de produção fabril, isto é, por meio das máquinas.
Importante
Simplificando, caro(a) aluno(a), a Revolução Industrial foi a substituição da mão de obra do homem pela
máquina. A partir daí, o mercado capitalista tornou-se cada vez mais complexo, expandiu-se velozmente,
exigindo mudanças na sua forma de produção. Surgiu, então, a forma de produção denominada de
Cultura e Sociedade
taylorismo para atender às novas demandas do mercado capitalista.
Importante
O processo produtivo proposto por Taylor denominou-se taylorismo que, conforme em Tomazi (2010),
pode ser caracterizado por:
5
impessoalidade na
controle das atividades aplicação das normas
divisão de especialistas
supervisão
(quem planeja ou cria, quem executa)
Reflexão
Cultura e Sociedade
Caro(a) estudante, você conhece algum colega de trabalho ou algum trabalhador
que “dá o nó” durante o serviço?
O trabalhador, no processo produtivo do taylorismo, fazia tarefas únicas, repetitivas, fatigantes e, por isso,
muito cansativas.
O trabalhador não era visto em sua condição humana, isto é, as doenças físicas, mentais ou psicológicas, o
cansaço, a fadiga e as condições de trabalho não eram focos de atenção.
6
Observam-se, caro(a) estudante, por meio do depoimento no ícone acima, a opressão e a imposição do
ritmo acelerado no trabalho.
Cultura e Sociedade
A exploração sobre o trabalhador ocorria de todas as formas, tirando, inclusive, o seu saber e o controle
sobre a máquina. O processo produtivo era controlado pela gerência, e o trabalhador acompanhava o
ritmo da máquina, sendo expropriado em todos os âmbitos de sua autonomia. O processo produtivo
desejava um trabalhador despolitizado, sem consciência, dócil, obediente, como uma “besta de carga”. Por
isso, esse trabalhador foi denominado de “homem-boi”.
As mulheres e crianças eram as mais exploradas nesse contexto, por pagarem a elas salários ainda mais
baixos que os dos homens. Muitas mulheres e crianças morriam em plena jornada de trabalho pela fadiga,
pelo cansaço, pelas péssimas condições de trabalho e, completando esse quadro perverso, pela fome, já
que as condições de vida extra fábrica também eram indignas.
Essa situação de exploração e expropriação dos trabalhadores provocou revoltas e greves entre os operários
durante todo o processo de desenvolvimento do capitalismo.
Contextualização
Para resolver as greves e os conflitos que ocorriam no interior das fábricas e, depois, nas empresas, buscou-se
um conjunto de regulamentações por meio de especialistas para resolvê-los, como psicólogos, sociólogos,
assistentes sociais e outros administradores. Em troca, a empresa oferecia-lhes benefícios, segurança e
apoio. Deveriam trabalhar unidos, em harmonia e coesos para o bem da empresa, propagando a ideologia
de que os trabalhadores eram parte dela. Essa ideologia impregnou todos os trabalhadores e chega até os
dias atuais no interior das empresas (TOMAZI, 2010).
Contextualização
Cultura e Sociedade
Exemplificando: o bom trabalhador deve “vestir a camisa da empresa”, sentir-se parte dela, ter consenso,
para, dessa forma, evitar todas as formas de resistência e conflito no ambiente de trabalho.
O modelo de produção taylorista não atendia mais às exigências do mercado, às novas mudanças e, por
isso, buscou-se incrementar ainda mais o processo produtivo com a introdução de uma nova forma de
produção, qual seja, o fordismo, abordado a seguir.
13.3 Fordismo
Com início em 1914, o novo modelo de produção denominado fordismo não substituiu o taylorismo, mas
foi introduzido para aperfeiçoá-lo e aprimorá-lo, com o objetivo de se alcançar o máximo de produtividade
por cada trabalhador.
Importante
Segundo Harvey (2003), Henry Ford deu início à carga horária de oito horas por dia e à recompensa de
cinco dólares para os trabalhadores da linha de montagem.
8
Entretanto, a consolidação do sistema fordista demandou quase cinquenta anos, por depender de vários
fatores institucionais e estatais, problemas do próprio capitalismo.
Importante
Características do fordismo
Cultura e Sociedade
B. O Trabalho
C. O Espaço
D. O Estado
■■ regulamentação;
■■ rigidez;
■■ negociação coletiva;
(continua)
9
(conclusão)
Importante
E. A Ideologia
Cultura e Sociedade
O capitalismo é dinâmico e, por isso, exige novas tecnologias, reorganização e inovações, provocando
nos capitalistas uma mudança para a obtenção da lucratividade. A luta pelo controle do trabalho e dos
mercados está relacionada com a tecnologia e a organização estrutural na busca pelo lucro. Esses fatores
são também necessários para a continuidade do capitalismo, além da ideologia propagada de que “[...] o
‘progresso’ é tanto inevitável como bom” (HARVEY, 1992, p. 169).
O fordismo influenciou o mundo do trabalho com a proposta de controlar, cada vez mais, os trabalhadores
e aperfeiçoar a eficiência, com preponderância até a década de 1970. A partir dessa época, outra forma de
organização do trabalho foi adotada pelo sistema capitalista, ou seja, o toyotismo, ou produção flexível,
tratado no subitem a seguir.
Conectando Saberes
Os filmes, cada um ao seu modo, retratam o cotidiano nas fábricas, bem como a
alienação e a exploração do operariado. Vale a pena conferir!
10
13.4 Toyotismo ou economia flexível
A partir da década de 1970, novas transformações provocaram alterações na forma de produção capitalista
em busca de mais lucros. Nesse período, houve uma recessão devido principalmente à crise do petróleo,
dentre outros fatores, impelindo os capitalistas a inovar na busca de um trabalho mais produtivo e lucrativo.
Cultura e Sociedade
Contextualização
Segundo Harvey (1992), as mudanças para a flexibilização na nova forma de produção do toyotismo são
atribuídas a vários fatores, quais sejam:
Contextualização
Observa-se, caro(a) estudante, que na forma atual do toyotismo, o trabalhador deve ser multifuncional,
polivalente, isto é, deve saber executar várias funções ao mesmo tempo.
Importante
Cultura e Sociedade
“estrutural” (em oposição a “friccional”), rápida destruição e reconstrução de
habilidades, ganhos modestos (quando há) de salários reais [...] e o retrocesso do
poder sindical – uma das culturas políticas do regime fordista” (HARVEY, 1992, p.
141).
De acordo com Harvey (1992), no mercado de trabalho ocorreu uma reestruturação radical; um mercado
volátil; um grande aumento da competitividade; uma diminuição de lucros; um enfraquecimento dos
sindicatos com mão de obra excedente e com grande número de desempregados ou subempregados; e
contratos de trabalho temporários, parciais, subcontratos e, por isso, flexíveis.
Criou-se um grupo de empregos denominado “Centro” que, de acordo com Harvey (1992), está diminuindo,
e conta com empregados que trabalham em tempo integral, com maior estabilidade de promoção e
oportunidade de reciclagens, com seguro, pensão e outras regalias. Esse grupo tem como características
ser flexível, adaptável em qualquer função e ser móvel geograficamente.
Essa subcontratação de empregos, aliada a uma produção em pequenos lotes, foi essencial para a
12
superação da rigidez da organização de produção fordista e, ainda, para atender com maior agilidade ou
rapidez às demandas do mercado capitalista.
Reflexão
A produção flexível acelerou o ritmo da inovação do produto e permitiu explorar novos nichos de mercado.
O tempo de giro foi drasticamente reduzido com a automação (substituição da mão de obra humana pela
tecnologia), como os robôs, por exemplo, advinda do avanço e do uso de novas tecnologias. A gestão de
estoques, dentro das novas formas organizacionais, instituiu o just-in-time, que é uma forma de controle
da quantidade de material essencial para a manutenção da produção, isto é, sem desperdício de matéria-
prima. Da mesma forma, o tempo de giro do produto ou sua durabilidade também diminui drasticamente
(HARVEY, 1992).
Cultura e Sociedade
Outras técnicas de controle na produção são denominadas kanban e produção enxuta.
Contextualização
Assim, caro(a) estudante, no modo de produção flexível ou do toyotismo, a produção capitalista busca
atender as demandas do mercado, ou seja, os gostos e os desejos dos consumidores, bem como a
demanda da quantidade dos produtos. Isso, para não esperdiçar ou sobrar produtos no mercado, para
que o capitalista não tenha prejuízos. Essa atitude na ponta do consumo não existia no modelo fordista.
Cultura e Sociedade
Paradoxalmente, os pequenos negócios ou organizações artesanais e patriarcais, também cresceram ou
floresceram, como o trabalho autônomo. Criam-se novas formas de respostas flexíveis nos mercados, nos
processos e no consumo (HARVEY, 1992).
Outro fator de grande importância e valorizado na produção flexível é a informação atualizada, rápida e
precisa.
Importante
“O acesso à informação, bem como o seu controle, aliados a uma forte capacidade
de análise instantânea de dados, tornaram-se essenciais à coordenação centralizada
de interesses corporativos descentralizados. A capacidade de resposta instantânea
a variações de taxas de câmbio, mudanças das modas e dos gostos e iniciativas dos
competidores tem hoje um caráter mais crucial para a sobrevivência corporativa do
que teve sobre o fordismo” (HARVEY, 1992, p.151).
A vantagem competitiva refere-se ainda ao acesso ao conhecimento cientifico e técnico, pois as novas
descobertas nesses âmbitos provocaram maiores possibilidades competitivas. Enfatiza Harvey (1992, p.
151): “o próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a ser produzida e vendida a quem pagar mais, sob
condições que são elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas”.
Dessa forma, na atual forma de organização flexível, o conhecimento, a qualificação profissional e a técnica
são elementos exigidos na competição para uma vaga de trabalho no mercado.
14
Reflexão
Seria para se tornar um candidato em potencial, mais bem preparado, para ser
aprovado em um concurso?
Por meio dessa reflexão, pode-se observar o quanto somos afetados e influenciados pelas exigências do
mercado capitalista.
Resumidamente, com apoio em Harvey (1992, p. 167,168 e 169), citamos as principais características da
Cultura e Sociedade
acumulação flexível ou produção just-in-time, com base em economia de escopo:
Importante
A. Processo de produção
(continua)
15
(continuação)
Importante
B. Trabalho
■■ múltiplas tarefas;
■■ pagamento pessoal (sistema detalhado de bonificações);
■■ eliminação da demarcação de tarefas;
■■ longo treinamento no trabalho;
■■ organização mais horizontal do trabalho;
■■ aprendizagem no trabalho;
■■ ênfase na corresponsabilidade do trabalhador;
■■ grande segurança no emprego para trabalhadores centrais (emprego
perpétuo). Nenhuma segurança no trabalho e condições de trabalho
ruins para trabalhadores temporários.
C. Espaço
Cultura e Sociedade
■■ diversificação do mercado de trabalho [...];
■■ proximidade espacial [...].
D. Estado
■■ desregulamentação/regulamentação;
■■ flexibilidade;
■■ divisão; individualização, negociações locais ou por empresa;
■■ privatização das necessidades coletivas e da seguridade social;
■■ desestabilização internacional; crescentes tensões geopolíticas;
■■descentralização e agudização da competição inter-regional/interurba-
na;
■■ o estado/cidade “empreendedor”;
■■ intervenção estatal direta em mercados através de aquisição;
■■ políticas regionais “territoriais” [...];
■■ pesquisa e desenvolvimento financiados pelo Estado;
■■ inovação liberada pelo Estado.
(continua)
16
(conclusão)
Importante
E. Ideologia
O momento atual do capitalismo é, portanto, caracterizado por inúmeras mudanças, em que o conhecimento
e a educação assumem uma importância fundamental, antes não reconhecida ou valorizada.
Conectando Saberes
Para um maior aprofundamento do tema desta aula sugerimos a leitura dos livros:
Cultura e Sociedade
novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999;
Considerações finais
Após o estudo das novas formas de produção introduzidas no início do século XX, como o taylorismo, o
fordismo e o toyotismo, ou produção flexível, observam-se as grandes mudanças provocadas na sociedade
capitalista em todos os seus setores e segmentos.
As grandes alterações possuem maior visibilidade na forma atual do toyotismo ou da produção flexível,
por abranger todas as mudanças anteriores, modificá-las conforme seus interesses e necessidades, e por
ser a forma na qual vivemos e trabalhamos.
As transformações e mudanças provocadas por essa última forma organizacional de produção são
inúmeras e diversas e, dentre tantas, resumidamente, enfatizam-se os seguintes aspectos:
Negativos:
Positivos:
Diante do exposto, observa-se que os aspectos negativos do modelo de produção toyotista se sobrepõem
aos positivos.
Referências
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
Cultura e Sociedade
IANNI, Octávio. O mundo do trabalho. In: FREITAS, Marcos Cezar de (org.). A reinvenção do futuro. São
Paulo: Cortez, 1996.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril cultural, 1983. v. I.
PAZZINATO, Alceu Luiz; SENISE, Maria Helena Valente. História moderna e contemporânea. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1997.
SENNET, Richard. A correção do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio
de Janeiro: Record, 1999.
WEIL, Simone. Carta a Albertina Thévenon (1934-5). In: BOSI, Ecléa (org.). A condição operária e outros
estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Aula 14
Globalização e Neoliberalismo
2
Sumário
Aula 14 - Globalização e Neoliberalismo
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
14 Globalização: contexto������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
14.1 O conceito de globalização����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5
14.2 Neoliberalismo: origem e conceito����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 10
14.3 Reflexos políticos-institucionais, econômicos e sociais da globalização e do neoliberalismo no Brasil������������������������� 14
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 17
Referências�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 18
Cultura e Sociedade
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Objetivos
Considerações iniciais
Após a década de 1970, o mundo apresentou mudanças em sua forma de organização capitalista. As
questões relativas às formas de produzir foram alteradas devido principalmente ao surgimento de novas
tecnologias. A partir das décadas de 1980 e 1990, o fenômeno da globalização provocou um aceleramento
do tempo e encurtou distâncias entre os povos e países por meio de uma comunicação tecnológica veloz.
A economia passou a ser praticada em escala mundial, quebrando barreiras alfandegárias e provocando
uma corrida extremamente competitiva entre as grandes corporações transnacionais. Paralelamente à
globalização, a filosofia do neoliberalismo veio reforçar o livre mercado, a livre iniciativa, a não intervenção
Cultura e Sociedade
do Estado na economia, esta mais acirrada e desigual entre os países. Nesse embate, os países ricos ou
desenvolvidos exploram ou dominam os chamados países periféricos (dentre eles, o Brasil), principalmente
devido às diferenças dos investimentos nas novas tecnologias em todos os segmentos.
14 Globalização: contexto
O comércio entre países já existia desde a antiguidade, se retornarmos ao processo histórico em seu
aspecto econômico, a exemplo das civilizações antigas como Roma, China, Egito e Grécia, dentre outras.
O comércio era feito por meio dos mares e por estradas, contando com um sistema de leis instituído pelos
gregos, possibilitando o comércio e a comunicação entre inúmeras civilizações. Nos séculos XV e XVI, os
portugueses e os espanhóis, principalmente, iniciaram as grandes navegações marítimas, conhecidas
como um período de grande expansão comercial e como descoberta de novos mercados consumidores
dos produtos europeus e, ao mesmo tempo, fornecedores de matéria-prima e de alimentos para o mercado
europeu. É nesse contexto que surge a América, inclusive o Brasil, no evento dos grandes descobrimentos
e da dominação colonial (ARRUDA; PILETTI, 1997).
No século XIX, assiste-se ao surgimento do Imperialismo ou Neocolonialismo, uma corrida dos países
europeus como Inglaterra, Itália, França, Alemanha, Bélgica e também, o Japão e os Estados Unidos da
América (EUA), para a conquista de novos mercados consumidores. O objetivo era escoar os produtos
industrializados por esses centros e, ao mesmo tempo, buscar matérias-primas para as suas indústrias.
Cada país industrializado pretendia conquistar ou explorar novos povos e, nesse momento, foram o
continente africano e o asiático os principais alvos atingidos para resolver os problemas da superprodução,
do controle de queda de preços e de juros, e da falta de matéria-prima (ARRUDA; PILETTI, 1997).
4
Importante
Todo esse movimento levou a uma desigualdade brutal entre os países industrializados, considerados
desenvolvidos, e os países colonizados ou dominados, considerados subdesenvolvidos, de acordo com a
nova divisão internacional do trabalho. Esse movimento significou, também, a ocidentalização do mundo
Cultura e Sociedade
e a consolidação do capitalismo nos países colonizados (ARRUDA; PILETTI, 1997).
Reflexão
Caro (a) estudante, você já recebeu uma notícia em tempo real, de qualquer lugar
do mundo, transmitindo uma ideia de que o tempo e o espaço se encurtaram?
Isso ocorre devido à globalização, às novas tecnologias em todos os setores, que provocaram e continuam
provocando uma aceleração no tempo e uma sensação de que as distâncias entre as pessoas e os países
diminuíram.
5
14.1 O conceito de globalização
O termo globalização foi introduzido em 1985, com o objetivo de caracterizar as grandes mudanças
ocorridas após o desmoronamento da divisão do mundo entre o sistema capitalista e a sociedade, ou seja,
com o fim da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Após esse colapso bipolar, o capitalismo
teve uma grande expansão entre inúmeras nações.
Contextualização
As empresas transnacionais investiram no uso das novas tecnologias em substituição ao domínio militar,
com a finalidade de expandir seus mercados consumidores e obter maiores lucros. Paralelo a esse aparato
tecnológico, criou-se um sistema financeiro ágil e arrojado, em níveis nacional e internacional. A disputa
instalada tem como foco o controle do comércio ou dos mercados mundiais. Para a defesa contra a entrada
das poderosas empresas transnacionais, surgiram os blocos econômicos regionalizados, a exemplo do
Cultura e Sociedade
Mercosul (PRAXEDES; PILETTI, 1997).
Contextualização
A partir de 1996, Bolívia e Chile entram como participantes e não como membros
plenos do Mercosul, associando-se à zona de livre comércio, que é uma área de
livre circulação de mercadorias isenta de cobranças de tarifas alfandegárias entre
esses países (PRAXEDES; PILETTI, 1997).
Dessa forma, o Mercosul foi criado por uma necessidade e por uma exigência da economia de mercado
globalizado, tornando-se a alternativa mais adequada para a proteção e defesa das empresas dos países
componentes, perante a concorrência e o domínio de outras empresas estrangeiras.
Além do bloco econômico do Mercosul, surgiram outros a partir de 1995, como o da União Europeia – UE;
e o Bloco Asiático.
6
Conectando Saberes
Com a globalização, portanto, os mercados locais e mundiais foram afetados em todos os segmentos,
apresentando as características no quadro abaixo.
Importante
Características da Globalização
Cultura e Sociedade
escala de produção, além de maior inserção numa economia cada vez mais com-
petitiva e globalizada;
■■ A terceirização de amplos setores da cadeia produtiva;
■■ A desterritorialização do capital em função do surgimento de um mercado fi-
nanceiro global que transaciona bilhões de dólares em todo o mundo.[...];
■■ A liberação e a expansão do comércio internacional num volume jamais visto,
possibilitando assim a integração total de praticamente todos os mercados do
mundo e superando fronteiras geográficas e barreiras histórico-culturais;
■■ A formação de megamercados (ou grandes blocos econômicos) com o intuito
de se alcançar maior integração regional e consequente expansão de mercados
[...];
■■ A organização dos processos produtivos em novos padrões – ideia de uma
fábrica global -, e de um trabalhador ‘sem pátria’;
■■ A contínua dissolução do mundo agrário e alteração das condições de vida e
de trabalho no campo - alterações nos processos produtivos do meio rural e dis-
seminação, nas áreas rurais, de valores socioculturais típicos do mundo urbano;
■■ O comprometimento da soberania nacional e a redefinição do papel tradi-
cional do Estado-nação, considerando-se que os grandes grupos financeiros e
empresas agem em escala planetária, independentemente das decisões gover-
namentais [...];
■■ A emergência de uma sociedade global de perfil crescentemente homoge-
neizado e caracterizado, também, pela ampliação das desigualdades, tensões,
contradições e carências” (MARQUES, 2006, p. 624, 625 e 626).
7
Observa-se, caro (a) aluno (a), como a globalização afetou a economia, como as finanças, o comércio e,
além, as tecnologias, a microeletrônica (informática, telecomunicações, entretenimento, etc.), materiais
novos, a biotecnologia (microrganismos, células animais e vegetais e enzimas, contribuindo nas indústrias
de alimentação, farmácia, medicina, bebidas, agricultura e outras). Além dessas alterações, as atividades
de qualquer indivíduo também foram afetadas em todas as esferas, como no trabalho, no consumo, no
modo de vestir, no lazer, nas formas e nos meios de comunicação, nas expressões, nos valores culturais, no
transporte, na alimentação etc.
Reflexão
Se você consome algum desses produtos e tantos outros, você está fazendo uso de mercadorias e produtos
do mercado globalizado.
Economia
Cultura e Sociedade
Tecnologia Meio ambiente
Globalização
Comunicações Cultura
Comércio
Alimentação
Dessa forma, é preciso refletir e saber transitar entre a cultura local e a global, sem permitir que esta destrua
a primeira, para que não se perca a identidade.
8
Importante
Nesse sentido, existe uma interação entre as culturas local, ou nacional, e global, o que não significa que
uma deve ou pode destruir a outra. Entretanto, é preciso alertar para a característica da homogeneização
que, por meio de seus produtos consumidos globalmente, não deve ameaçar as características culturais
singulares de cada país ou região ou localidade (DIAS, 2010).
Por outro lado, a globalização provoca também uma fragmentação da cultura e conflitos internacionais,
manifestados por meio da diversidade, das desigualdades, das contradições, dos conflitos entre grupos
étnicos, das tensões e dos antagonismos. Tem-se, dessa forma, os dois processos: a homogeneização e
o reforço da diversidade ou da heterogeneização das inúmeras e diversas culturas locais e grupais (DIAS,
2010).
Cultura e Sociedade
Tecnologia Meio ambiente
Globalização
Cultural
Comunicações Cultura
Transportes Comércio
Reforça-se que é preciso evitar a homogeneização cultural contra uma dominação, como também uma
fragmentação radical que prejudique a unidade nacional de qualquer povo ou nação.
Buscam-se, dentro do processo da globalização, novas adaptações, sem destruir o produto estrangeiro
ou a cultura local. Ocorre assim uma interação, uma influência recíproca, podendo surgir, inclusive, novas
práticas e valores.
9
A globalização, ainda como efeito, tem provocado o desemprego, a miséria e a desigualdade social.
Segundo Praxedes e Piletti (1997, p. 14), com a utilização de “menos matéria-prima e menos mão de
obra, passa a ocorrer um declínio acentuado no número de empregos em todo o mundo industrializado”.
Paroxalmente, os avanços tecnológicos promovem a riqueza e o aumento da produtividade para as
empresas ou para os capitalistas. Por outro viés, provocam o desemprego estrutural, significando que a
crise não é passageira, mas provoca a eliminação de postos de trabalho.
Importante
Cultura e Sociedade
exemplos, lembramos os problemas das agressões ambientais, as grandes migrações de pessoas dos países
pobres para os países mais ricos, o desacordo ou o desrespeito aos direitos dos trabalhadores, a fome
generalizada, as doenças, a falta de investimentos na saúde e na área da educação, o subdesenvolvimento,
o tráfico de drogas nos âmbitos nacional e internacional, a violência, a marginalização e a exclusão, as
injustiças e tantos outros.
Por conta das consequências negativas citadas acima, o processo da globalização deve ser amplamente
debatido e sofre diversas críticas, refletindo na organização de movimentos antiglobalização e de protestos
em diversos países do mundo. Um exemplo desses movimentos de protesto é o Fórum Social Mundial.
Contextualização
“Em 2001, 2002, 2003 e 2005 o Brasil sediou o Fórum de Porto Alegre (Fórum Social
Mundial), realizado como aposição ao Fórum de Davos (Fórum Econômico Mundial),
promovido pelo G-7 na Suíça, e à forma de globalização excludente defendida pelos
países que formam esse grupo. O Fórum Social Mundial tem como lema a frase ‘Um
outro mundo é possível’ e o Fórum Econômico Mundial se diz ‘comprometido com o
aperfeiçoamento do estado do mundo’” (ALMEIDA; RIGOLIN, 2006, p. 293).
Um dos aspectos mais criticados e perversos da sociedade capitalista atual é a globalização da pobreza,
percebida no distanciamento cada vez maior entre os mais ricos e os pobres. Isso revela o crescimento
das desigualdades sociais no mundo todo, não somente entre os indivíduos, mas também entre regiões,
estados e países.
10
Conectando Saberes
Na década de 1970, devido a um período de crise provocado pelo petróleo, o mundo capitalista se viu
frente à necessidade de profundas mudanças econômicas. Anteriormente a esse período, a política que
se praticava era o denominado Welfare State, isto é, “Estado do Bem-Estar social”. Este foi introduzido após
a Segunda Mundial, por volta de 1945, com os objetivos de reconstruir os países capitalistas desgastados
pela guerra e conquistar as nações para integrá-las ao sistema capitalista.
Contextualização
Cultura e Sociedade
State, caracterizado pela construção de uma extensa rede de proteção social, cujas
bases fundamentavam-se na firme atuação do Estado em diversas instâncias, tais
como previdência, educação, saúde, habitação popular, enfim, a promoção do
bem-estar do trabalhador. Outras medidas foram implementadas visando a uma
melhor distribuição de renda por meio de elevação dos salários, da consolidação de
conquistas sociais e de garantias de plena liberdade sindical” (MARQUES, 2006, p.
627).
A economia capitalista teve um grande crescimento desde o término da Segunda Guerra Mundial até a
década de 1970, sendo capaz de exercer os princípios do “Estado do Bem-Estar Social”. Tinha o objetivo
de “atrair” os trabalhadores para o sistema capitalista, com a ideia de “humanizar” o trabalho, contra a
expansão da ideologia socialista. Nesse momento iniciava-se a “Guerra Fria” (MARQUES, 2006).
Com o colapso e a estagnação da economia, portanto, nos anos de 1970, o Welfare State ou o “Estado do
Bem–Estar” entrou em crise. Para enfrentá-la, os países tiveram que reduzir os gastos direcionados aos
serviços sociais e, assim, introduziram o neoliberalismo (MARQUES, 2006).
11
Importante
As ideias de Hayek podem ser resumidas da seguinte forma, conforme Marques (2006):
Dessa forma, os gastos do Estado com as políticas sociais provocavam déficits no orçamento, aumentavam
a inflação, os impostos, coibiam a liberdade de comércio e a liberdade individual. Nessa perspectiva, o
indivíduo é que deveria ser o responsável pelo seu bem-estar social e pagar pelos seus usos, e não o
Cultura e Sociedade
Estado. Retornou-se ao Estado Mínimo, isto é, a não intervenção do Estado na economia e na vida das
pessoas, uma influência da filosofia do liberalismo introduzida no século XVIII.
Contextualização
Com essa retomada do liberalismo do século XVIII, portanto, criou-se o denominado estado neoliberal,
reforçando os valores do sistema capitalista, como o individualismo, o modo de vida, a livre iniciativa no
mercado, a ênfase na privatização de empresas, no consumismo como felicidade ou realização pessoal
e outros (TOMAZI, 2010). Os primeiros países a adotar o neoliberalismo foram a Inglaterra, no governo
de Margareth Thatcher, e os Estados Unidos, no governo de Ronald Reagan. Esse modelo expandiu-se,
depois, para diversos e inúmeros países como a América latina, incluindo o Brasil, cujo tema é abordado
no subitem 14.4.
Importante
Cultura e Sociedade
Com a introdução do neoliberalismo, a economia passou a exercer o papel mais importante, inclusive
acima da política. As grandes organizações, empresas e corporações responsáveis pela produção de
mercadorias e possuidoras do capital financeiro passaram a controlar e a interferir nas próprias decisões
governamentais.
Uma boa parte das empresas públicas passaram a ser privatizadas, incluindo outras medidas e propostas,
citadas abaixo:
13
Importante
Medidas do neoliberalismo
Cultura e Sociedade
tando uma significativa flexibilização que se traduzia no aumento dos meca-
nismos informais de trabalho – na verdade, uma precarização do trabalho”
(MARQUES, 2006, p. 627-628).
Os países mais ricos, ditos desenvolvidos, que são os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão, continuam
a explorar e dominar os países mais pobres ou periféricos, os chamados subdesenvolvidos, incluindo a
América Latina, a África, a Índia, a Oceania e alguns países asiáticos.
As críticas ao neoliberalismo, de forma bem resumida, podem ser as seguintes, de acordo com Marques
(2006):
Reflexão
Caro (a) estudante, você tem a liberdade de opção e o direito de iniciar uma
atividade comercial em qualquer ramo e em qualquer lugar. Entretanto, caso o seu
negócio não dê certo, ou seja, se você caia em falência, a culpa é de quem?
De forma geral, a culpa pelo insucesso ou pela não capacidade de se manter no mercado é atribuída ao
indivíduo, tido como incompetente, não é? Esse é um exemplo da força da característica do individualismo
exacerbado apregoado pelo neoliberalismo.
Os fatores que levam um negócio à falência são vários, presentes no capitalismo neoliberal, que tem
como característica, dentre outras, a concorrência desigual e desleal no mercado, em que os mais fortes
engolem os mais fracos. Assim, é comum e mais fácil jogar ou atribuir a culpa do fracasso somente em cima
do indivíduo, isentando o sistema capitalista neoliberal e o Estado de suas responsabilidades e funestas
consequências.
Cultura e Sociedade
O Brasil, como país integrante da América Latina, adotou os princípios neoliberais introduzidos por meio
de acordos pressionados por organismos internacionais, a exemplo do Consenso de Washington.
Contextualização
Conforme exposto acima, o governo norte-americano, como um dos patrocinadores do evento, tinha
interesses e objetivos a serem introduzidos nas reformas neoliberais para a América Latina. As reformas
podem ser resumidas da seguinte forma:
15
Importante
A internacionalização da indústria brasileira tem seus antecedentes nos anos de 1960, no governo de
Cultura e Sociedade
Juscelino Kubitschek, período no qual ocorreu a consolidação efetiva da referida industrialização.
Entre 1967 e 1973, durante o governo militar, ocorreu o “milagre econômico brasileiro”, quando o Brasil
atingiu a 8ª posição mundial no Produto Interno Bruto (PIB) e o 1 lugar em relação aos países considerados
subdesenvolvidos industrializados ou às economias periféricas (ALMEIDA; RIGOLIN, 2006).
Com incentivos por meio de volumosos empréstimos internacionais, o Brasil alcançou uma produção
industrial satisfatória. Por outro lado, a dívida externa cresceu muito, acarretando diversos problemas
como as desigualdades sociais, pelo fato de a riqueza produzida ter sido desviada para o pagamento das
dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (ALMEIDA; RIGOLIN, 2006).
Dessa forma, o Brasil chegou à década de 1980 com uma dívida externa vultosa, além de enfrentar os
inúmeros aumentos do preço do petróleo na esfera internacional. Esse período ficou marcado como a
“década perdida”, com quedas na produção industrial e uma economia com pouco crescimento (ALMEIDA;
RIGOLIN, 2006). A globalização e o neoliberalismo consolidam-se no Brasil na década de 1990, junto às
crises econômicas.
16
Contextualização
“[...] o capital transnacional passou a controlar cada vez mais não só a industrialização,
mas também toda a economia brasileira, incluindo os setores agropecuários e
de serviços. Neste último, destacam-se os que dão suporte à atividade industrial,
como o energético, o de telecomunicações e o de transportes, com a privatização de
empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Empresa Brasileira de
Telecomunicações (Embratel) e grande parte das ferrovias e rodovias que compõem
a malha de transportes do país” (ALMEIDA; RIGOLIN, 2006, p. 395).
No período atual, isto é, no século XXI, o Brasil sofre as consequências da crise mundial, instalada, inclusive,
entre os grandes econômicos ou potências, a exemplo dos Estados Unidos e do Japão.
Cultura e Sociedade
de Tecnologia da Informação para o período 2004-2005, o que atinge diretamente o
desempenho industrial do país” (ALMEIDA; RIGOLIN, 2006, p. 395).
A tendência da globalização é exigir, cada vez mais, um crescente uso e aplicação das tecnologias de
informação e comunicação. Essa necessidade afeta diretamente a eficiência, a integração e o crescimento
de uma economia dentro do mercado global.
Contextualização
Os princípios do neoliberalismo, integrantes da globalização, têm suas consequências para todos os países
considerados emergentes (que continuam sendo aqueles antes denominados subdesenvolvidos) ou
periféricos.
17
O Brasil, sendo um desses, sofre, da mesma forma, as consequências ou os reflexos negativos nos âmbitos
políticos-institucionais, econômicos e sociais, expostos no quadro abaixo:
Importante
Reflexos negativos
Nesse sentido, com as crises atuais e com as consequências negativas estas as sociedades, principalmente
as consideradas economias periféricas, devem refletir sobre a possibilidade de alternativas para minimizar
os graves problemas já apresentados.
Cultura e Sociedade
[...] a crise atual do neoliberalismo pode(m) significar a exigência de novas estruturas politicas, so-
ciais e econômicas que permitam a gestão dos patrimônios públicos e privados, de maneira a impe-
dir privilégio ou exploração e proporcionar iguais oportunidades de trabalho e de acesso aos bens
produzidos pela sociedade.
Assim, deve-se lutar para prevalecer os interesses coletivos sobre os particulares ou individuais, com a
participação dos sujeitos e organizações da sociedade civil na defesa de suas necessidades e para minimizar
a brutal desigualdade. A distribuição da renda com mais justiça é um fator imprescindível.
Considerações finais
Com a expansão dos mercados capitalistas provocada pela globalização, o mercado tomou dimensões
mundializadas. Nesse contexto, as grandes empresas ou corporações passaram a ditar as normas do
mercado e das transações financeiras, sobrepujando o próprio poder político das nações. Junto à
globalização, os países se adequaram aos princípios do neoliberalismo, reforçando a livre iniciativa no
mercado e o Estado Mínimo, o qual deixou de investir nos serviços públicos sociais, como a educação,
a saúde, a previdência, a moradia e outros. A globalização e o neoliberalismo privilegiaram somente
os países ricos. Os países pobres foram e são explorados e dominados no mercado global e neoliberal,
principalmente pelo não investimento em novas tecnologias. As consequências da globalização e do
neoliberalismo foram e continuam sendo nefastas, provocando alterações no mundo do trabalho e na
vida dos indivíduos. Ocorreu a globalização da miséria, da pobreza e, aprofundam-se, cada vez mais, as
diferenças sociais entre os países ricos e pobres.
Referências
ALMEIDA, Lúcia Marina de; RIGOLIN, Tércio Barbosa. Geografia. São Paulo: Ática, 2006.
ARANHA; Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2009.
ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
IANNI, Octávio. O mundo do trabalho. In: FREITAS, Marcos Cezar de (org.). A reinvenção do futuro. São
Paulo: Cortez, 1996.
Cultura e Sociedade
PILETTI, Nelson. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Ática, 1996.
PRAXEDES, Walter; PILETTI, Nelson. O Mercosul e a sociedade global. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997.
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Na sociedade global convivemos com quatro gerações diferentes, denominadas Geração Baby Boomers,
Geração X, Geração Y e Geração Z. Entre essas, as diferenças foram e são causadas pelo surgimento das
novas tecnologias.
Assim, todo o aparato das novas mídias, como a internet, as diversas formas de redes sociais, e-mails,
computador, celular e tantas outras, são ferramentas cotidianas para as gerações Y e Z. Estas se diferenciam
das gerações Baby Boomers e X por diversas características apresentadas nos subitens a seguir.
Cultura e Sociedade
As gerações apresentam mudanças muito rápidas devido à influência das novas tecnologias. Essas
mudanças refletem comportamentos e valores distintos entre as gerações, gerando conflitos e, por isso, a
necessidade de uma reflexão sobre a convivência das quatro gerações na sociedade atual.
A sociedade é constituída por pessoas diferentes em vários aspectos e, no momento atual, essas diferenças
revelam-se contundentes entre as gerações em um curto espaço de tempo.
As gerações consideradas mais velhas são as gerações Baby Boomers e a geração X. Os Baby Boomers são os
pais da geração X, que são, por sua vez, os pais da geração Y, e avós e/ou bisavós da Geração Z.
Baby Boomers é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma
explosão populacional. Baby Boom em inglês ou, em uma tradução livre, “Explosão
de Bebês” (SERRANO, 2010)4.
Importante
Os Baby Boomers tinham como valor trabalhar muito e aposentar mais tarde. O tempo de duração em uma
única empresa ou trabalho era valorizado, isto é, eles não mudavam de emprego. O orgulho era aposentar-
se no primeiro emprego, e a carreira era linear.
A geração Baby Boomers lutou por direitos, por maior liberdade sexual, pelo uso de contraceptivos e pela
Cultura e Sociedade
liberdade de expressão, e manifestou-se contra os valores do capitalismo ganancioso. Alguns participaram
do movimento do Woodstock, um momento de contestação de muitos e diversos grupos, a exemplo dos
hippies.
A geração Baby Boomers tinha poucas redes de televisão e seus telefones eram fixos (pregados na parede).
Seus representantes viveram sob regimes ditatoriais, lutaram pela democracia e por muitos direitos, no
período de sua juventude. O lema era “é proibido proibir”. Conheceram as novas tecnologias somente
agora, nesse momento atual, com uma idade mais avançada.
5
Conectando Saberes
Nacionalidade: EUA
A outra parte da geração X é a X propriamente, que são os indivíduos nascidos entre 1965 e 1980, portanto,
são os filhos da Baby Boomers e pais da Geração Y.
Essa geração vivenciou, em 1981, o surgimento da AIDS, o que afetou mudanças de comportamento na
geração seguinte, ou seja, a Y.
Cultura e Sociedade
Importante
Características da Geração X
Reflexão
Pergunte a seus pais como eles foram criados ou formados e, depois, pergunte a
eles como criaram ou formaram você.
Compare, analise e reflita. Você perceberá que a mudança de uma geração para a
outra foi muito grande na forma de educar e na mudança dos valores.
6
Exemplificando:
Os seus avós educaram seus pais para que, quando crianças, esperassem todos os adultos se alimentarem
primeiro, para depois, comerem. Um “olhar” era suficiente para impor respeito, obediência e ordem entre
os filhos em qualquer recinto.
Já os seus pais criaram você (e/ou seus irmãos) como sendo as crianças as primeiras a se alimentar. Só
depois dos filhos alimentados é que os seus pais iriam comer.
Essa mudança provocou uma violenta “virada” na forma de tratar, criar e educar os filhos. Os pais que são
da geração X inverteram todo o papel social das crianças que são hoje as gerações Y e Z. Essas crianças ou
filhos passaram a ser o “foco” central e mais importante da família.
Contextualização
Cultura e Sociedade
achou os resultados fortes demais. O Relatório foi então publicado por Deverson junto
a um correspondente americano, Charles Hamblett, que lendo os resultados resolveu
chamar a geração de ‘X’. Hoje não se sabe ao certo se o ‘X’ se refere à expressão em
inglês ‘X rated’, que significa ações ou produtos pornográficos, ou se a referência é
ao ‘X’ utilizado em matemática, como uma incógnita a ser descoberta” (SERRANO,
2010).
Segundo Rifiotis (1995), a socialização do indivíduo tem início na relação com a família. Primeiro, com
as funções maternais e paternais e, depois, expandindo-se ou generalizando-se para os indivíduos da
sociedade.
A definição dos grupos, da idade e, por isso, dos grupos etários, é um dos fatores essenciais para os papéis
que cada indivíduo irá exercer em sociedade. É importante também para a preservação, a manutenção e a
reprodução social. As imagens que são construídas no âmbito familiar tornam-se gerais para os membros
da sociedade (RIFIOTIS, 1995).
De acordo com Rifiotis (1995), na área da antropologia, a discussão em torno das questões etárias,
independentemente do meio cultural ou do contexto histórico, é constantemente debatidas e tem
presença marcante.
7
Importante
Assim, a idade presente no desenvolvimento individual e social é uma construção imaginária, e cada cultura
constrói ou produz a sua visão ou a sua interpretação. Por meio da cultura, dos comportamentos sociais
e das instituições, a idade ou as “idades da vida” são construídas conforme os valores de cada realidade,
sociedade ou grupo.
Cultura e Sociedade
não estão pré-definidos, mas representam um leque de possibilidades, ele deve optar, a cada inte-
ração, por uma determinada orientação de valor. Estas orientações de valor geram uma expectativa
de atitudes, ou seja, de comportamentos socialmente diferenciados e relacionados com os papéis
sociais desempenhados (RIFIOTIS, 1995, p. 108).
A interpretação, portanto, em relação às idades e aos grupos etários dependem de cada sociedade em seu
contexto histórico. Por isso, as mudanças, os valores e os comportamentos são adquiridos conforme sua
socialização ou formação familiar.
A geração Y corresponde aos nascidos nos anos de 1980 a 1990. “É a geração dos Power Rangers e da
internet, da variedade, das tecnologias que mudam contínua e vertiginosamente” (LOMBARDIA, 2008).
Os jovens da geração Y nasceram em contato com a televisão, com computadores, com celulares e com
novas tecnologias. É conhecida como “elite urbana” ou como CBP (cosmopolitan business people), que
significa pessoas de negócios cosmopolitas. “Cerca de 91,6% dos que têm entre 16 e 24 anos são usuários
da internet, porcentagem que cai para 63,4% no caso das pessoas entre 35 e 44 anos. Já se acostumaram
ao bombardeio de imagens, à informação imediata e visual, à realidade em 3D (LOMBARDIA, 2008).
Os jovens da geração Y são chamados também de “[...] Millennials por serem a geração da mudança do
milênio (SERRANO, 2010).
8
O nome geração Y tem essa definição “[...] criada pelo Advertising Age. Uma
revista de publicidade e propaganda norte americana, que definiu, em 1993, os
hábitos de consumo dos adolescentes da época. Como eram filhos dos integrantes da
Geração X, se achou óbvio, que esta nova geração fosse chamada pela próxima letra
do Alfabeto” (SERRANO, 2010).
Caro (a) estudante, observa-se que a geração Z, portanto, tem também, pela lógica da explicação no ícone
acima, a mesma explicação para o seu nome.
A geração Y não tem muita paciência, sendo conhecida como a geração do “imediato”, do “já” é da “agora”.
Não se importa e não conhece os processos, pois buscam somente os resultados.
Contextualização
Características da geração Y
Cultura e Sociedade
■■ Costumam conhecer vários idiomas;
■■ têm nível de educação alto (MBA, mestrado);
■■ são solteiros ou casados com poucos filhos;
■■ têm rede de amizades global;
■■ têm experiências multinacionais;
■■ têm gostos variados (esportes, artes, leitura, viagens);
■■ contam com o manejo das novas tecnologias, que é inerente, di-
ário;
■■ buscam carreiras brilhantes, salários altos;
■■ trabalham em equipe;
■■ preferem ambiente de trabalho informal.
Acrescenta Serrano (2010) que as características da Geração Y podem também apresentar os seguintes
aspectos:
9
Importante
A geração Z são os jovens nascidos entre as décadas de 1990 e 2009, confudidos um pouco com os mais
novos na geração Y.
A geração Z já nasceu conectada com as novas tecnologias disponíveis e portáteis, sendo, portanto,
altamente tecnológica.
Contextualização
Cultura e Sociedade
“Eles cresceram em meados dos anos 90, rodeados pelas inovações tecnológicas –
como a internet e o celular. Sua personalidade é ditada pelo ritmo da tecnologia.
Assim são os jovens da chamada Geração Z, o aqui e o agora” (PAULA, 2011, s/p).
As mudanças em uma determinada geração não significam que as mais atuais destruam todas as
anteriores. Muitas características de uma geração anterior podem ser mantidas ou ser aperfeiçoadas, e não
necessariamente destruídas. Existem, por exemplo, muitas características da geração Y que apresentam
uma continuidade na geração Z. Outras, devido ao surgimento das novas tecnologias, vão se aperfeiçoando
ou sendo substituídas.
10
Importante
Características da Geração Z
A globalização, como uma informação cada vez mais veloz, provoca uma sensação de impaciência, de
Cultura e Sociedade
intolerância, de individualismo e de impulsividade em todos os indivíduos, não somente nos jovens da
geração Z (PAULA, 2011).
Por se caracterizar como um tempo muito rápido, com o surgimento de coisas e de informações a todo
instante, o próprio período propicia uma falta de planejamento e dificuldades para projetos mais longos,
ou voltados para o futuro (PAULA, 2011).
Reflexão
Caso não busquemos nos conhecer ou exercitar as nossas capacidades cognitivas, não saberemos projetar
ou identificar o que almejamos. O automatismo é um perigo. É nesse mesmo contexto que a Geração Z
se encontra e, por isso, deve-se investir nas capacidades humanas, não somente eles, mas todos nós, pois
estamos também sendo afetados por todas as inseguranças, incertezas e pressões da sociedade atual
(PAULA, 2011).
11
Para tanto, é preciso uma mudança de conduta, reforça-se, não somente para a geração Z, mas para a
nossa também.
É possível afirmar, inclusive, que talvez estejamos abandonando a nossa capacidade de identificar,
perceber, conduzir e gerenciar o nosso próprio caminho e, desta maneira, pouco podemos fazer
pelos nossos jovens.
Reflexão
Cultura e Sociedade
A geração Z, portanto, apresenta pontos positivos e pontos negativos, ou seja, por um lado é dotada de
conhecimentos tecnológicos avançados e atualizados, mas, por outro, está correndo a perigo da falta
de integração humana. Por isso, a preocupação e o desafio da sociedade para o preparo na lida com os
anseios, com as expectativas e com os desejos da geração Z (PAULA, 2011).
As diferenças entre as gerações são percebidas e são parte de muitos ambientes de trabalho. Transitar
e conviver com essas gerações implica um comportamento flexível, criativo e inovador. Dentro dessa
diversidade, as gerações Y e Z demandam novas estratégias e programas para se manter no emprego.
12
Contextualização
Atração:
■■ equilíbrio entre a profissão e a vida pessoal, salário adequado, estabi-
lidade;
■■ valorizam e representam a diversidade;
■■ curto prazo.
Remuneração:
■■ relacionada com resultados;
■■ alta remuneração.
Retenção:
■■ responsabilidade individual;
■liberdade
■ para tomada de decisões;
■■ decisão partilhada e não hierárquica;
■■ flexibilidade de tempo e espaço (esfera privada);
■■ estilo de vida e de ver o trabalho respeitados;
■■ fidelidade temporária (e não para a vida toda).
Cultura e Sociedade
Ambiente:
O conhecimento das estratégias para o planejamento de programas para atender e atrair as novas
gerações Y e Z demanda novas políticas e mudanças na organização das empresas ou de qualquer espaço
de trabalho.
Os jovens Y e Z precisam de estímulos e desafios para contribuírem com o que têm de melhor e são capazes,
como: “[...] a ousadia, a criatividade, a facilidade para realizar tarefas múltiplas e o espírito questionador”
(PERISCINOTO,2010).
13
Acrescenta Periscinoto (2010):
Com características tão peculiares, principalmente para a geração anterior – que teve de se adaptar,
à marra, às modernidades tecnológicas, e para quem o mundo digital não é o habitat natural, é
compreensível que surjam dificuldades na comunicação entre eles.
O conflito ou a oposição entre as gerações de acordo com os grupos etários surge no interior da própria
família. Esse antagonismo está sempre em evidência, mesmo a família mantendo-se unida. Esse conflito
estende-se, a partir da unidade familiar, para as classes sociais.
Importante
“Nos anos 50 e 70, o campo do conflito de gerações ganhou uma grande visibilidade,
tendo sido objeto de reflexão em toda a literatura especializada, desde S. N.
Eisenstadt, M. Mead a D. Paulme. A ideia do ‘conflito de gerações’ está tão presente
entre nós, atualmente, que tendemos a considerá-la como um processo universal,
senão natural. Este processo tomou contornos de uma espécie de ‘implícito cultural’
do nosso imaginário sobre a passagem para a ‘idade adulta’.
[...]
Um evento que nos serve de referencial para as mudanças ocorridas a partir dos anos
50 ficou conhecido como Maio de 68, e teve as suas múltiplas facetas analisadas por
E. Morin. Dentre elas, destacamos a perda de predomínio dos velhos, num processo de
Cultura e Sociedade
degerontização” (RIFIOTIS, 1995, p117-118).
Nesse processo, o conflito não se situa na esfera individual ou nas relações individuais, mas ao extrapolar
os limites da família, alcança as classes sociais. O conflito deixa de ser um problema familiar, ou apenas
entre os pais e filhos, e torna-se assim um problema social (RIFIOTIS, 1995).
Com o desenvolvimento das civilizações a autoridade dos velhos se degrada, o acesso à idade adul-
ta é abrandado: não há ruptura dilacerante entre a infância e a idade de homem: o casulo familiar
cerca, durante muito tempo com sua tépida proteção, a formação do indivíduo: o adeus ao reino da
mãe não é consumado, a não ser pela morte.
Dessa forma, a figura, a imagem e o poder paterno são enfraquecidos. Entretanto, reforça Rifiotis (1995),
que o conflito na sociedade atual, e do qual a antropologia está se referindo, é o modelo que se encontra
“[...] na inadequação das respostas dos pais face a situações de mudança [...]” (RIFIOTIS, 1995, p. 199). Não é
um conflito necessariamente de poder, como citado por Morin (1997), mas é levado pelo desenvolvimento
de novas tecnologias, em que as pessoas idosas encontram dificuldades para dominar.
14
Contextualização
“Ambos, pais e filhos, estavam a procura de uma nova identidade, uns e outros
percebiam que estavam mergulhados num mundo sem precedentes. Cada qual
então se fechava sobre si mesmo, e, ampliando cada vez mais a distância que os
separava, aprofundava-se o fosso entre eles. O conflito de gerações é sem dúvida um
fenômeno social com base etária e desdobramentos nas relações intra-familiares.
Além disto, destaque-se que, no seu conjunto, estas manifestações não tornaram
as proporções, digamos, revolucionárias. Tratava-se de uma busca de uma nova
identidade” (RIFIOTIS, 1995, p. 120).
Assim, o conflito entre pais e filhos, ou o conflito entre as gerações, não significa um distanciamento entre
ambos, e sim, uma busca de construção e encontro de suas próprias identidades. Não existe uma fórmula
correta para a resolução das questões, dos problemas das idades ou dos conflitos entre gerações, pois os
seus significados são variáveis, estão sujeitos às mudanças e somente têm sentido no seu próprio tempo e
espaço, isto é, em seu contexto histórico próprio (RIFIOTIS, 1995).
Nesse sentido, é preciso investir nas relações entre as diferentes gerações, para que cada uma possa
contribuir com suas competências, habilidades e capacidades. As novas gerações provocam renovações
e inovações às empresas, características que são imprescindíveis no mundo atual, para a sobrevivência
de qualquer negócio no mercado. São esses jovens que têm e terão a responsabilidade da construção do
Cultura e Sociedade
futuro em todas as esferas da sociedade.
Considerações finais
O conflito entre as gerações Baby Boomers, Geração X, Geração Y e Geração Z são apontadas e estão
presentes nos vários ambientes de convivência, principalmente no trabalho.
Cada geração foi formada ou educada conforme os valores da família e, naturalmente, conforme as
exigências da sociedade e do contexto, gerando, portanto, a interação de cada indivíduo com o seu meio.
As idades, os grupos etários e, portanto, os conflitos entre as gerações variam de acordo com cada
sociedade, isto é, com sua cultura e valores.
As características de cada geração, estudadas nesta aula, foram marcadas pela influência das novas
tecnologias, afetando o comportamento e os valores de cada uma delas.
Com a diversidade das gerações que convivem na sociedade atual, não só as empresas ou outros espaços
de trabalho, mas todas as pessoas devem repensar e reorganizar seus próprios princípios e condutas para
uma convivência equilibrada e respeitosa entre todas as gerações.
Referências
LOMBARDIA, Pilar Garcia. Quem é a geração Y. Revista HSM Management, 70, ano 12, set./out., p. 52-60,
2008.
15
MORIN, E. Cultura de massa no século XX. o espírito do tempo. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1967.
PAULA, Gleysse Gonçalves de. Geração Z: tudo é para agora, Estado de Minas, Belo Horizonte, 10 fev.
2011, s./p.
RIFIOTIS, Theophilos. Grupos etários e conflitos de gerações: bases antropológicas para um diálogo
interdisciplinar. Revista Política & Trabalho. Edição 11, PB, set. 1995, p. 105-123.
Cultura e Sociedade
Aula 16
Lei Ambiental, ecologia e biodiversidade
2
Sumário
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Não há dúvidas de que a questão ambiental é um debate necessário e urgente no cenário de destruição
que se apresenta hoje, no século XXI.
Cultura e Sociedade
recursos poluidores da água, do ar, da atmosfera, de destruição das matas, dos animais, da fauna e da
flora, do aquecimento global e do efeito estufa. Em virtude dessas ações, as mudanças climáticas e todas
as consequências da catástrofe ambiental estão ameaçando a vida humana na Terra e, por isso, a urgência
para se pensar em um desenvolvimento sustentável do ser humano, do social, do econômico, do político
e do cultural, para se viver no presente e possibilitar a vida das gerações futuras.
Assim, pretende-se, nesta aula, discorrer acerca de algumas questões imbricadas nessa relação homem x
meio ambiente.
A crescente degradação ambiental levou à criação da Lei Ambiental e à adoção de outras medidas para o
despertar de uma consciência ecológica de respeito, de responsabilidade ética e de cidadania ambiental
para a preservação e a defesa do meio ambiente.
Os efeitos desastrosos da degradação ambiental são um problema grave pela forma como o homem
destruiu e continua destruindo o meio ambiente.
No caso do Brasil, o desmatamento e o início do esgotamento das reservas naturais vêm desde a data do
descobrimento do país, ou seja, no século XV, com a vinda dos portugueses em busca de lucro, de matéria-
prima e de mercado.
4
O primeiro produto praticamente extinto do litoral brasileiro foi o pau-brasil. Durante todos os séculos
seguintes, até hoje, todos os outros tipos de fontes ou recursos naturais foram explorados (PILETTI, 1996).
Um evento agravante foi a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII (1789) que, apesar
de ter provocado desenvolvimento e crescimento econômico, acarretou uma degradação sistemática,
desordenada e contínua do meio ambiente (DIAS, 2010).
Contextualização
No decorrer do século XX, principalmente a partir de 1970, os problemas ambientais foram se agravando,
principalmente por conta do crescimento econômico globalizado. As consequências da degradação
tornaram-se mais visíveis, por afetar negativamente a qualidade de vida de todos os indivíduos de qualquer
país do mundo (DIAS, 2010).
Cultura e Sociedade
Forçosamente, iniciou-se um debate sobre as questões ambientais e houve o início de uma tomada de
consciência ecológica que, aliás, começou muito tarde, tendo em vista que a degradação ambiental é
secular.
A partir da publicação do livro citado no ícone acima, intensificaram-se as preocupações sobre os danos
ambientais e os perigos da poluição, os quais passaram a ser vistos como graves problemas ambientais
em todo o planeta (DIAS, 2010).
Assim, surgiu a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA), sobre a qual, especificamente, destacam-se alguns aspectos no ícone abaixo.
5
Importante
“Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Nessa perspectiva, a “Educação Ambiental” torna-se integrante do processo educativo. Por essa lei, todos os
setores - Poder Público, instituições educativas, órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(Sisnama), meios de comunicação de massa, empresas, entidades de classes, instituições públicas e
privadas e sociedade civil - são convocados e responsabilizados para a preservação, para a prevenção, para
a recuperação, para a solução de problemas e para a melhoria do meio ambiente.
A Lei nº 9.795, nas seções II e III, por exemplo, trata de Educação Ambiental no ensino formal e não-
formal. O ensino formal, ensinado nas instituições de ensino públicas e privadas, deve contemplá-la em
todos os âmbitos curriculares, como na educação básica (infantil, fundamental e médio), na educação
Cultura e Sociedade
superior, especial, profissional e na educação de jovens e adultos. Na educação não-formal, deve-se buscar
a participação do Poder Público em todos os seus níveis (municipal, estadual e federal). Deve haver um
envolvimento da sociedade como um todo, bem como a divulgação de medidas por toda a mídia. Há que
se ter a participação de todas as instituições, como organizações não-governamentais, empresas públicas
e privadas, enfim, todos os membros e componentes da coletividade para uma educação e consciência
ecológica, com ações e práticas na defesa e melhoria da qualidade do meio ambiente.
Além da Lei nº 9.795, foi criada, também, a Resolução nº2, de 15 de junho de 2012, que estabelece as
“Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental”.
a Constituição Federal (CF) de 1988, no inciso VI do § 1º do artigo 225 determina que o Poder Públi-
co deve promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, pois ‘todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua-
lidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações [...].
Essa resolução amplia a noção dos princípios de sustentabilidade, de uma consciência e responsabilidade
cidadã, de uma cidadania ambiental ética, de valores, de novos interesses e visões de mundo, de um
enfoque humanista, democrático, de uma relação recíproca entre os indivíduos com a natureza. Enfim,
desperta uma consciência sobre a importância da participação da sociedade na preservação ambiental.
6
Importante
Por serem leis específicas, observa-se que a atenção, o interesse e a preocupação sobre a destruição do
meio ambiente passam para um patamar de maior importância e de necessidade de intervenção.
A relação entre a natureza e os homens é essencial para a construção da cidadania ambiental, pois dela
depende a condição e a qualidade de vida dos homens no meio ambiente.
A degradação da natureza teve maior visibilidade no final do século XX, quando surgiu a noção da cidadania
ambiental. Esta passou a ser um tema de interesse da sociedade civil, de grupos específicos, de todos os
Cultura e Sociedade
países e, por isso, tornou-se uma questão global (WALDMAN, 2003).
Contextualização
O tratamento da questão ambiental na Constituição de 1988, como novos direitos aos cidadãos, reveste-se
de um papel importante que integra o conceito de cidadania.
Assim, a questão ambiental, antes uma preocupação e defesa restrita aos grupos responsáveis pelos
movimentos ambientalistas, torna-se uma questão obrigatória em todos os âmbitos e setores. Os chefes
de Estado, as organizações não governamentais (ONGS), as empresas, as associações, os sindicatos, os
grupos rurais e urbanos, as instituições ou administrações públicas passaram a defender a preservação do
7
meio ambiente e os direitos dos cidadãos a uma vida de qualidade ambiental como um direito coletivo
(WALDMAN, 2003).
Importante
“Na medida em que a ação do homem é capaz de causar prejuízos irreversíveis aos
ecossistemas, ela coloca em risco permanente o meio ambiente, ameaçando, dessa
maneira, um direito fundamental para a vida. Esse quadro torna a questão ambiental
indissociável do conceito de cidadania. Qualquer ameaça a esse direito coloca em
perigo a própria existência do cidadão, que desse modo se vê na contingência de ao
menos se preocupar em protegê-los, garantindo, assim, a sua sobrevivência e a das
futuras gerações” (DIAS, 2010, p. 331).
Aos poucos, percebe-se a formação de uma consciência ecológica ou ambiental nos indivíduos. Por meio
das mídias, a divulgação sobre as questões ambientais é ampliada, facilitando as informações sobre os
processos ecológicos, os perigos ambientais e as consequências desastrosas e irreversíveis da ação do
homem sobre a natureza. As informações contribuem, dessa forma, para a formação de uma consciência
crítica na sociedade, levando a uma resistência às práticas de destruição e degradação do meio ambiente.
Assim, foram e vão surgindo as entidades ambientalistas, novos grupos e pessoas comuns reivindicando
novos direitos de cidadania em relação ao meio ambiente e com práticas cotidianas em busca da
Cultura e Sociedade
preservação e defesa da natureza. Essa luta tornou-se um objetivo comum, em que o meio ambiente é um
mundo comum de todos e para todos.
Após a Constituição de 1988, a questão ambiental passou a ter mais visibilidade no cenário nacional. Aos
poucos, a sociedade vem apresentando uma tomada de consciência em relação aos problemas do meio
ambiente. Os movimentos vão surgindo entre grupos organizados, formalizados ou não, como por meio
de ações coletivas e individuais (DIAS, 2010).
Contextualização
Importante
A partir de 1970, o debate ambiental foi acelerado por novos acontecimentos, como a “Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano”, em 1972, em Estocolmo, na Suécia, e a publicação do
“Relatório do Clube de Roma, Limites do crescimento”, em meados de 1973, entidade iniciada por empresários.
Essas novas reorientações alcançaram as academias e as esferas governamentais (DIAS, 2010).
Cultura e Sociedade
Contextualização
No ano de 1987, o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi mais divulgado por meio do “Relatório
da Comissão Brundtland, Nosso futuro comum” (Noruega), tornando-se mais popular e reforçado pela
“Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento” (CMMAD), em 1992. Por meio desta, foi
consolidado o conceito de “desenvolvimento sustentável”, ligando as questões do desenvolvimento
econômico às questões ambientais (DIAS, 2010).
9
Contextualização
Em 1993, foi realizada a “Convenção sobre Biodiversidade”, com o objetivo de defender a fauna e a flora nas
florestas tropicais, principalmente.
Em 1994, ocorreu a “Convenção sobre Mudanças Climáticas” para a adoção de medidas contra a poluição
de emissão de poluentes na atmosfera pelas indústrias. Essa convenção gerou o “Protocolo de Kyoto”,
efetivado em 1997, no Japão, e assinado por oitenta e quatro (84) países. Esse acordo priorizava deter o
avanço da destruição da camada de ozônio, do efeito estufa, da desertificação, além de prever a substituição
Cultura e Sociedade
de produtos poluentes como o petróleo por outros menos poluentes etc. Os Estados Unidos, que são
responsáveis pela maior quantidade na emissão de gases, por exemplo, saíram do acordo do “Protocolo
de Kyoto”, em 2001, alegando ser o mesmo prejudicial ao seu crescimento econômico (WALDMAN, 2003).
Segundo esse documento elaborado pela ONU, o desenvolvimento sustentável deve ser realizado com
foco no ser humano, visto que
a razão de ser do desenvolvimento é o ser humano, que o gera. Por isso, o desenvolvimento deve ter
três atributos básicos: desenvolvimento das pessoas, aumentando suas oportunidades, capacidades,
potencialidades e direito de escolha; desenvolvimento para as pessoas, garantindo que seus resul-
tados sejam apropriados equitativamente pela população; e desenvolvimento pelas pessoas, isto é,
alargando a parcela de poder dos indivíduos e comunidades humanas durante sua participação
ativa na inibição do processo de desenvolvimento do qual são sujeitos e beneficiários.
Nesse sentido, o relatório da ONU enfatiza o sustentável com a equidade, para a construção da sociedade
e para a distribuição dos seus resultados, os quais se direcionam para as pessoas do mundo atual e para
as gerações que virão. A sustentabilidade envolve todos os segmentos como o político, o social, o cultural,
o meio ambiente e o econômico. Surge, dessa forma, o “Desenvolvimento Humano Sustentável” – DHS -,
com o objetivo de atender às necessidades de todos esses segmentos.
Ainda, por pressões de ações e movimentos no mundo todo, a ONU adotou medidas de orientação para
todos os membros em relação às questões ambientais. Os problemas, as motivações e os questionamentos
que permeiam os movimentos ambientais são inúmeros, de acordo com Tomazi (2010), os quais resumimos
no ícone abaixo:
10
Importante
Todos esses questionamentos são traduzidos em uma crescente cultura ambiental que, disseminada entre
as pessoas, gera ações e obrigam os governos a criar políticas que busquem soluções ou resolvam os
Cultura e Sociedade
problemas que afetam o modo de vida das pessoas.
A forma como o homem destruiu o meio ambiente a partir da introdução da industrialização moderna
(século XVIII) até os dias atuais provocou danos à natureza considerados irreversíveis.
De acordo com Adas (1984), os principais impactos ambientais foram causados pelos seguintes fatores:
■■ Compostos orgânicos: são os combustíveis fósseis, como o gás natural, o carvão mineral e o
petróleo. Estes poluem as águas, provocam o efeito estufa, as chuvas ácidas e as ilhas de calor.
■■ Compostos inorgânicos: são os metais pesados. Como exemplo, tem-se o cádmio e o chumbo.
Estes são transformados em resíduos industriais, poluindo os rios e o ar.
■■Chuva ácida: resultante da queima de combustíveis fósseis, provocando queima das matas, cor-
rosão, avalanches, soterramentos, inundações etc., por meio do ácido sulfúrico e do ácido nítrico.
■■ Efeito estufa: intensa poluição na atmosfera provocada pelas chaminés das indústrias, pelos
automotores, pelas termoelétricas e outras. Aumenta-se, cada vez mais, o acúmulo de gases na
atmosfera, o que acarreta retenção de calor e aumento da temperatura na terra.
■■Redução da camada de ozônio: esta é responsável pela proteção e regulação da vida no plane-
ta, pois filtra os perigosos raios ultravioleta emanados pelo sol. Esses raios causam câncer de pele,
problemas de visão, alteram a fotossíntese dos vegetais, afetam os animais e tantos outros. Os
gases clorofluorcarbonos (CFCs), empregados como fluidos de refrigeração nos vários aparelhos
eletrodomésticos, como geladeiras e ar condicionado, os solventes e outros produtos químicos,
são responsáveis também pela redução da camada de ozônio.
11
Sobre o efeito estufa, enfatiza Cotrim (2010) que a mudança do clima é conhecida como aquecimento
global, pelo fato de a temperatura da terra ter aumentado desde a Revolução Industrial.
Importante
Reflexão
Cultura e Sociedade
Caro(a) estudante, você, como qualquer um de nós, é afetado por todos esses
efeitos destruidores do meio ambiente. Você já refletiu sobre a importância de sua
contribuição para amenizar essa destruição?
Para uma consciência planetária, no século XXI, uma comissão de estudiosos, de nível internacional, sob a
tutela da ONU, elaborou um documento denominado “Carta da Terra”. Esse documento tem como propósito
despertar e orientar a humanidade em direção a uma ética ambiental, respeitando-se o desenvolvimento
sustentável que prioriza o ser humano, o social e não apenas o econômico. Citamos apenas pequenos
trechos da “Carta da Terra” no ícone abaixo:
12
Contextualização
“PREÂMBULO
RESPONSABILIDADE UNIVERSAL
Dessa forma, caro (a) estudante, a participação de todos, isto é, dos governos do mundo todo, em todos os
níveis (municipal, estadual, federal), das instituições públicas e privadas, das organizações, das entidades,
das associações, da sociedade civil e de todo cidadão e cidadã, é fundamental na luta pela defesa da terra
Cultura e Sociedade
como um bem comum.
Conectando Saberes
Considerações finais
A questão ambiental torna-se, no século XXI, um dos maiores temas no debate global. As consequências
desastrosas de destruição ambiental ameaçam a vida planetária.
Deve-se preservar o meio ambiente para que as gerações futuras possam sobreviver neste planeta.
Referências
ADAS, Melhem. Geografia, aspectos humanos e naturais da geografia do Brasil. São Paulo: Moderna,
1984.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 14/nov/2014.
Cultura e Sociedade
PILETTI, Nelson. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Ática, 1996.
RESOLUÇÃO CNE/CP2/2012. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de jun. 2012- Seção I –p. 70.
TOMAZI, Nelson. Iniciação à sociologia. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Atual, 2000.
WALDMAN, M. Natureza e sociedade como espaço de cidadania. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (orgs.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 545-561.
Aula 17
Relações sociais de gênero
2
Sumário
Aula 17 - Relações sociais de gênero
Considerações iniciais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
17 Relações sociais de gênero����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
17.1 Conceito de gênero�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
17.2 O feminismo no Brasil, suas origens e precursoras��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������6
17.3 Movimento feminista���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������8
17.4 Desigualdade e discriminação da mulher na cultura e na sociedade brasileira���������������������������������������������������������������������� 13
Considerações finais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 17
Referências�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 18
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
Além da mulher, existem outros grupos de pessoas que são também discriminados, por não se adequarem
ao modelo patriarcal construído e estabelecido como superior em nossa sociedade. Esses grupos são
Cultura e Sociedade
compostos pelos homossexuais masculino e feminino, pelos transexuais e por outros indivíduos de
orientação sexual diversa.
A desigualdade e a exclusão são percebidas em todos os espaços da sociedade e nos âmbitos econômico,
político, social e histórico.
Assim, as relações de gênero abordam as interações entre as definições do que é o masculino e o feminino
e as funções ou papéis estabelecidos para o homem e para a mulher.
A introdução do conceito de gênero na produção literária veio contribuir para denunciar o preconceito, a
discriminação e as relações de desigualdade entre homens e mulheres. A palavra “gênero” possui muitos
significados, mas, neste estudo, interessa-nos a socialização que atribui aos homens e às mulheres formas
de comportamento diferentes.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Caro(a) estudante, você já refletiu sobre a diferença entre sexo e gênero?
Sexo: são os atributos biológicos da mulher e do homem, isto é, são as diferenças físicas, anatômicas e
endocrinológicas com as quais nascem homens e mulheres (VILA NOVA, 2004).
Importante
O fato de um menino nascer com a genitália masculina não significa que ele será
um homem e, da mesma forma, se uma menina nasce com a genitália feminina,
não significa que ela será mulher.
Não são os tributos biológicos ou fisiológicos que determinam os comportamentos específicos do que é
ser homem ou ser mulher. Por isso, as ideias do que é ser masculino e ser feminino variam de cultura para
cultura (VILA NOVA, 2004).
5
Contextualização
O termo gênero, então, passa a ser utilizado nas academias, principalmente, pelas feministas “[...] como
uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos [...]” (SCOTT, mimeo, p. 5). Rejeitam
o determinismo biológico e suas atribuições exclusivas em relação ao sexo ou à diferença sexual.
O gênero traz também a socialização dos papéis sociais de homens e mulheres por meio de seus
comportamentos diferentes nos vários espaços sociais, como no trabalho, na família, na relação com o
outro etc. Esses papéis de gênero são criados no processo de formação ou socialização dos indivíduos, de
acordo com a cultura.
Importante
Cultura e Sociedade
“De acordo com os tradicionais padrões de comportamento dos papéis de gênero que
influenciam na socialização das crianças no Brasil, os meninos têm de ser masculinos
(ativos, agressivos, rudes, ousados e dominantes), enquanto as meninas devem ser
femininas (frágeis, emocionais, doces e submissas) [...]” (DIAS, 2010, p. 222).
A socialização, por meio dos pais ou da família, é a primeira forma que repassa os papéis sociais de gênero.
Depois, essa socialização se amplia por meio dos grupos de amigos, dos meios de comunicação de massa,
das leis, da escola, da religião etc.
Por isso, o termo gênero foi e é utilizado para denunciar a desigualdade da mulher, a inferioridade, a
opressão, a violência, a educação sexista e assimétrica, tudo isso construído pela cultura do poder
masculino na sociedade brasileira, especificamente.
Conectando Saberes
Caro(a) estudante, para saber mais sobre o conceito de “gênero”, leia: SCOTT, Joan.
Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Tradução, mimeo.
O conceito de gênero vem contribuir também para o entendimento de que não existe somente o macho
e a fêmea, isto é, homem e mulher. Os indivíduos possuem gêneros diferentes, conforme sua orientação
sexual, a exemplo dos homoafetivos masculinos (gays), homoafetivos femininos (lésbicas), transexuais ou
intersexos, transgêneros, bissexuais, hermafroditas, assexuados e tantas outras variações da identidade de
6
gênero. Todos esses indivíduos sofrem discriminação e uma pressão social por agir e por não agir conforme
a norma social baseada nos dois gêneros apenas, ou seja, macho e fêmea.
O ser humano é muito complexo, e não se conhece a grande variedade de identidade de gênero existente
na sociedade. Seu conteúdo, pela sua extensão, torna-se inviável neste espaço limitado.
Dica
Os antecedentes do início do feminismo no Brasil devem-se à Revolução Francesa, século XVIII, quando
algumas mulheres, a exemplo de Olympe de Gouges, em 1932, reivindicavam o direito ao voto para as
mulheres. Em meados do século XIX, o movimento espalhou-se por outros países da europa e pelos Estados
Unidos, principalmente, surgindo, assim, o primeiro movimento feminino no mundo (PINTO, 2003). Outros
nomes podem ser destacados, como Mary Wollstonecraft (1759-1797), inglesa, que publicou um ensaio
Cultura e Sociedade
intitulado “Em defesa dos direitos da mulher”, e as francesas Jeanne Deroin (1894) e Flora Tristán (1803-
1844), líderes operárias e exemplos expressivos para a luta do movimento feminista (TOMAZI, 2010).
No Brasil, o início do feminismo reivindicava também os direitos políticos, isto é, reivindicava o direito das
mulheres a serem candidatas e eleitoras. Esse movimento foi liderado pela precursora Bertha Lutz, desde
1920 até 1970. Ele teve percussão nacional, mas, apesar de lutar para a mulher como sujeito político e
cidadão, não questionava as relações de gênero, ou seja, a posição de poder e de dominação do homem
sobre a mulher. Essa primeira vertente é conhecida, por isso, como “bem-comportada” (PINTO, 2003).
Entretanto, antes de Bertha Lutz, outra brasileira já havia demonstrado sua preocupação acerca da
emancipação da mulher, conforme o ícone abaixo.
“No Brasil, já em 1853, há mais de 140 anos, a educadora Nísia Floresta afirmava:
‘Enquanto pelo velho e novo mundo vai ressoando o brado – emancipação da mulher
– nossa débil voz se levanta, na capital do Império de Santa Cruz, clamando: educai
as mulheres’” (PILETTI, 1996, p. 367).
A segunda vertente, também no início do século XX, é conhecida como feminismo difuso, com participação
de mulheres da esfera pública, como jornalistas, escritoras, professoras etc.
7
Contextualização
“Preocupadas ou não com os direitos políticos, essas mulheres têm um campo mais
vasto de questões, defendem a educação da mulher e falam em dominação dos
homens e no interesse deles em deixar a mulher fora do mundo político. Em seus
textos, tocam em temas delicados para a época, como sexualidade e divórcio” (PINTO,
2003, p. 15).
A vertente acima é considerada como “menos comportada” dentro do movimento feminino brasileiro
(PINTO, 2003).
A terceira vertente foi dirigida por mulheres trabalhadoras e intelectualizadas, ligadas ao anarquismo e
ao Partido Comunista. Com uma postura mais radical, trouxeram as discussões sobre a exploração do
trabalho para o centro do debate. O nome de expressão desse momento é o de Maria Lacerda de Moura,
evidenciando-se as feministas, cuja vertente é dada como a “menos comportada” (PINTO, 2003). Outras
mulheres lutaram pelos direitos políticos no Brasil, como o direito ao voto, desde o século XIX, em vários
lugares. Eram vozes isoladas, mas, apesar disso, foram precursoras também desse movimento. Devido ao
longo processo histórico que esse conhecimento demanda, não o abordamos no espaço desta aula.
Cultura e Sociedade
Dica
PINTO, Maria Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São
Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
Os primeiros movimentos no Brasil não são considerados feministas pelo fato de não reivindicarem a
mudança dos papéis da condição da mulher na sociedade. Os movimentos de mulheres, nesse período,
preocuparam-se e reivindicaram questões relativas à esfera social, como moradia, saúde, escola, creches
e serviços públicos (PINTO, 2003). Não reivindicaram, ainda, direitos políticos e participação na esfera
política.
Reflexão
Nas décadas de 1970 e 1980 surgiram, com visibilidade, os primeiros grupos feministas no Brasil. Eles foram
influenciados pelos movimentos feministas americanos. Eram grupos dispersos em todos os estados do
Brasil; entretanto, os mais visíveis concentravam-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eram formados por
mulheres que atuavam na política e por acadêmicas reconhecidas (PINTO, 2003). O movimento revigorou-
se a partir de 1960, com estudos significativos e importantes sobre a condição feminina. Foram publicados
diversos livros, dentre os quais citamos A mística feminina, de Betty Friedan; Política sexual, de Kate Millet; A
condição da mulher, de Juliet Mitchel. Outra obra que foi e ainda é uma grande referência para as mulheres
é “O segundo sexo”, conforme mostrado no ícone abaixo.
Importante
O segundo sexo
Cultura e Sociedade
estuda a fundo o desenvolvimento psicológico da mulher e os condicionamentos
que ela sofre durante o período de sua socialização, condicionamentos que, ao invés
de integrá-la a seu sexo, tornam-na alienada, posto que é treinada para ser mero
apêndice do homem” (ALVES, Branca Moreira, PINTANGUY, Jacqueline. O que é
feminismo. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 50-52).
O movimento feminista agudizou os interesses pelos direitos políticos, civis e sociais, reivindicando e
questionando a desigualdade de gênero como resultado da cultura brasileira construída (TOMAZI, 2010).
Provocou ainda reações no governo constituído. Em torno desse movimento, criaram-se várias críticas
com características negativas pelo fato de que ele ameaçava o poder patriarcal. O feminismo, nessa fase,
foi chamado de “moderno” e um nome expoente é o de Romy Medeiros, advogada, que criou o “Conselho
Nacional de Mulheres”, em 1949. Romy liderou um congresso em 1972, o que permitiu uma repercussão
na impressa e presenças expressivas no evento (PINTO, 2003).
Contextualização
As feministas lutavam ainda contra a ditadura militar no Brasil, tendo em vista que este era o regime vigente
na década de 1970. Muitas militantes feministas foram presas, torturadas, perseguidas e exiladas durante
a ditadura (PINTO, 2003).
O primeiro grupo de feministas foi fundado por Branca Moreira Alves, em 1972, no governo Médici, auge da
ditadura. Outros nomes como Walnice Nogueira Galvão e Maria Luiza Heilborn, na época, são destacados.
Esses primeiros grupos e essas mulheres são pioneiros e responsáveis por introduzir as discussões sobre as
condições da mulher no Brasil, antes ignoradas (PINTO, 2003).
A partir de 1975, houve uma mudança no cenário das questões sobre a mulher, sendo este ano considerado
Cultura e Sociedade
o momento de inauguração do feminismo no Brasil, segundo Pinto (2003).
Importante
“[...] o que marcou realmente o ano na história do feminismo foi a decisão da ONU
(Organização das Nações Unidas) de defini-lo como o Ano Internacional da mulher e
o primeiro ano da década da mulher [...]. A questão da mulher ganhava a partir daí
um novo status, tanto diante de governos autoritários e sociedades conservadoras
como em relação a projetos ditos progressistas que costumeiramente viam com
grande desconfiança a causa feminista. No Brasil, muitos eventos de natureza e
abrangência diferenciadas marcaram a entrada definitiva das mulheres e de suas
questões na esfera pública” (PINTO, 2003, p. 56).
Vários e diferentes temas passaram a ser discutidos nos encontros, eventos e congressos, tais como
sexualidade, aborto, contracepção, diferenças de classe, etnia, religião, democracia, anistia ampla e geral,
eleições livres e diretas, direitos políticos, jurídicos, condição de opressão, questões e direitos coletivos,
direitos individuais, questões ecológicas, de gênero e tantos outros (PINTO, 2003).
Ainda a partir de 1975, desenvolveu-se no Brasil o feminismo acadêmico, uma forma de atuação que
abriu um novo caminho para as questões femininas e sobre a condição da mulher por meio de pesquisas
científicas (PINTO, 2003).
10
Importante
O fato é que o movimento feminista, mesmo sendo fragmentado, rechaçado e perseguido por ameaçar os
poderes vigentes e estabelecidos, estava presente e era uma realidade no Brasil.
Nos anos de 1980, com a redemocratização, o movimento feminista ganhou novos rumos e a adesão
de fortes grupos feministas com novas temáticas. Ocorreu, então, a institucionalização do movimento
feminista com o foco, principalmente, na saúde e na violência contra a mulher.
Cultura e Sociedade
As Nações Unidas definem violência contra a mulher como “qualquer ato de
violência baseado na diferença de gênero, que resulte em sofrimentos e danos
físicos, sexuais e psicológicos da mulher; inclusive ameaças de tais atos, coerção
e privação da liberdade sejam na vida pública ou privada” (Conselho Social e
Econômico, Nações Unidas, 1992).
(continua)
11
(conclusão)
Fonte: Disponível em: <www.ipas.org.br>. Acesso em: 13/set/2003. In: DIAS, 2010,
p. 226.
Atualmente, a violência no Brasil continua fazendo um grande número de vítimas. Apesar de medidas
tomadas por meio de políticas públicas, a exemplo da criação das Delegacias de Mulher e da “Lei Maria da
Penha”, em 2007, a violência doméstica ainda é uma questão a ser, pelo menos, minimizada.
Contextualização
Cultura e Sociedade
“A relação do feminismo com o campo político a partir de 1979 deve ser examinada
de três perspectivas complementares: a conquista de espaços no plano institucional,
por meio de Conselhos da Condição da Mulher e Delegacias da Mulher; a presença de
mulheres nos cargos eletivos; e as formas alternativas de participação políticas. Em
qualquer desses espaços a presença das mulheres e, mais do que isso, de feministas
tem sido fruto de múltiplas tensões resultantes de fatores como a própria resistência
de um campo completamente dominado por homens à entrada de mulheres e a
estratégia do próprio movimento, que muitas vezes viu o campo da política como
uma ameaça à sua unidade” (PINTO, 2003, p. 69).
Apesar das conquistas nos espaços institucionais, a presença da mulher no espaço legislativo era muito
fraca, não impedindo, entretanto, que as feministas trabalhassem nas propostas da Assembleia Nacional
Constituinte de 1988. Um amplo grupo formado por feministas elaborou um documento denominado
“Carta das Mulheres”, entregue aos constituintes, com uma gama imensa e variada de reivindicações dos
movimentos de mulheres, defendendo os seus direitos em inúmeros temas e com interesses específicos
a elas.
A seguir, baseados em Pinto (2003, p. 78), citamos alguns dentre os inúmeros direitos conquistados na
Constituição de 1988:
“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” (Art. 5º, I);
“às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante
o período de amamentação” (Idem, L);
“licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário com duração prevista de cento e vinte
dias” (Art. 7º, XVIII);
12
“licença paternidade, nos termos fixados em lei (Idem, XIX); proteção do mercado de trabalho da
mulher, mediante incentivos específicos nos termos da lei” (Idem, XX);
“são assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos [...] bem
como sua integração na previdência social” (Idem, XXXIV, parágrafo único);
“o título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou ambos, inde-
pendentemente do estado civil, nos termos e condições previstos em lei (Art. 189. Parágrafo único);
“os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos pelo homem e pela mulher”
(Art. 226, Parágrafo 5º);
A mobilização do movimento feminista foi um exemplo de atuação à época da Constituinte de 1988, por
clamar a sociedade civil para intervir na esfera política.
Muitas críticas em relação à desigualdade entre homens e mulheres no ambiente de trabalho e sobre a
Cultura e Sociedade
desigualdade sexual nas relações familiares também fizeram parte do debate à época da Constituição de
1988. Em relação às condições de trabalho, reforça-se:
é oportuno lembrar que a nova Constituição define vários direitos relativos às condições de tra-
balho; por exemplo, fixa em 44 horas a semana de trabalho, proíbe o trabalho para menores de 14
anos. Também introduz novos direitos: o 13º salário para os aposentados; a isonomia salarial entre
os estados da federação; remunerações não inferiores ao salário mínimo nacional, a inclusão dos
itens educação, tempo livre e vestuário no cálculo do salário legal; a validade de todos os direitos
trabalhistas, também para os empregos na agricultura; a proibição de demissões arbitrárias; a de-
finição de “penosidade” nas condições insalubres de trabalho; a proteção dos trabalhadores nos
processos de automação dos estabelecimentos; a criação de incentivos específicos para proteção
de mercado de trabalho da mulher. Novos direitos também são contemplados em áreas em que
o mundo do trabalho e as condições de vida estão diretamente ligadas: é ampliado o tempo de
licença maternidade; é introduzida a licença paternidade; são fixados limites diferentes de idade
para a aposentadoria dos homens e mulheres; é reconhecido o direito de chefe de família também
à mulher; é instituída a reciprocidade no casamento e a igualdade entre homem e mulher; é dado às
mulheres do campo o direito de registrar no seu nome os títulos de propriedade da terra (GIULANI,
2002, p. 658).
As mulheres passam a exigir que as normas universais de igualdade sejam estabelecidas e, por meio de
estudos e dados estatísticos, comprovam as constantes situações discriminatórias. Investem também em
normas, regras e princípios que respeitem a participação de homens e mulheres em igualdade nas várias
instâncias sociais e legalizadas juridicamente nas esferas local, regional e nacional (GIULANI, 2002).
Atualmente, no debate do movimento feminista, dentre vários temas, destacam-se, conforme Tomazi
(2010, p. 150):
Caro (a) estudante, como você pôde observar, as reivindicações dos movimentos feministas afetam a
vida de todos os indivíduos em sociedade e não somente a vida das mulheres. Eles não são coordenados
por poucas pessoas e estão em todos os países do mundo, pelo fato de as questões femininas serem
um problema para as mulheres em todo o universo. Suas manifestações e ações ocorrem no plano local,
regional, estadual, nacional e global, além de terem uma pluralidade de ideias, valores e diferenças nas
formas de desenvolvimento, situação, organização e manutenção (TOMAZI, 2010).
A partir de 1990 até os dias atuais, percebe-se menos expressão no feminismo brasileiro e no movimento
feminista. Entretanto, houve uma expansão de inúmeras organizações governamentais – ONGS -, com
foco nas questões das mulheres. A luta, portanto, não acabou.
Apesar das conquistas das mulheres em vários campos, a exemplo da educação, da participação no espaço
público e no mercado de trabalho, do direito de votar e de ser votada, e tantos outros, o caminho ainda é
muito longo para se conquistar a igualdade de direitos.
Cultura e Sociedade
Dica
Para saber mais sobre as questões, os projetos e os direitos das mulheres, acesse
<www.redegoverno.gov.br/mulhergoverno> e <www.cfemea.org.br>. Acesso
em: 14/nov/2014.
Contextualização
“Os estereótipos do que significa ser homem seguem o seguinte padrão: competição,
agressividade, frieza, racionalidade, força, segurança, independência, poligamia; tudo
para afirmar a sua masculinidade. [...] Os estereótipos que marcam o comportamento
das mulheres são: passividade, delicadeza, sensibilidade, falta de competitividade,
recato, discrição, compaixão, fragilidade, vaidade, coquetismo, beleza, monogamia
e, principalmente, a maternidade” (DIAS, 2010, p. 223).
Assim, o estereótipo dado como modelo padrão é o do homem “macho”, com características advindas do
homem europeu, as quais foram herdadas do processo de colonização do Brasil, ou seja, o homem deve
ser também branco, alto, magro e rico. Logo, todos os que não se adequaram a esse “modelo padrão”
foram considerados inferiores, quais sejam: as mulheres e, além delas, os negros, os índios, os homoafetivos
masculinos e femininos (gays e lésbicas, ou quaisquer outros de orientação sexual diferente do “macho”),
os pobres, os “sem terra”, enfim, todos os grupos minoritários e excluídos, que são a maioria da sociedade
brasileira.
Importante
“Na grande maioria das sociedades, direitos e oportunidades têm sido negados às
Cultura e Sociedade
mulheres com base no pressuposto de que o talento, a capacidade e o potencial
de trabalho dos sexos são diferentes em muitos aspectos, com desvantagem para
o sexo feminino. [...] Através da história, o status inferior da mulher foi aceito como
um fato natural, tanto pelos homens como pelas mulheres, e essa pressuposição
compartilhada por todos foi sendo passada de geração para geração” (DIAS, 2010,
p. 223).
As religiões, por exemplo, como o catolicismo e o islamismo, que são as maiores do mundo, reforçam, por
meio da Bíblia e do Alcorão, a condição de inferioridade da mulher em relação ao homem (DIAS, 2010).
A família, inclusive a própria mulher, ao educar e socializar o indivíduo, reproduz a desigualdade por meio
dos papéis sociais a ser cumpridos e normatizados, conforme os valores culturais da sociedade vigente.
Dessa forma, as crianças recebem uma formação que orienta seu papel social para a fase adulta como
homem ou mulher.
Reflexão
Caro(a) estudante, você teve uma educação sexista ou não? Qual é a sua posição
em relação à educação assimétrica entre o menino e a menina?
15
A sociedade brasileira apresenta reflexos de sua herança cultural de exclusão e de inferiorização da mulher
por ser ainda uma sociedade patriarcal e machista. Patriarcal, pelo fato de o homem ser considerado o
“chefe da casa”, o provedor, cujo poder de mando é dado ao pai. Machista, pelo fato de o homem ser
considerado “dono” da mulher, tratando-a como sua propriedade, adotando, por isso, atitudes de violência
e agressão.
No trabalho, mesmo ocupando as mesmas posições ou funções, com qualificação igual ao homem, um
grande número de mulheres ainda recebe salários inferiores.
Importante
“Há ainda que considerar o fato de que muitas ocupações são culturalmente definidas
como exclusivas dos homens. Se hoje a mulher já conseguiu o acesso a muitas
profissões durante muito tempo consideradas exclusivamente masculinas e conseguiu
a equiparação de seus salários em relação aos dos homens, por outro lado, não tem
conseguido com facilidade eliminar outro tipo de discriminação culturalmente muito
arraigada na cultura fortemente machista, como se usa denominar vulgarmente,
porém classificada com mais precisão como androcêntrica, das sociedades
contemporâneas. Trata-se do fato de que, além de ocuparem posições remuneradas
fora do lar, contribuindo, assim, para a elevação da renda de suas famílias, acumulam
seus status profissionais com as tradicionais obrigações, consideradas como próprias
da mulher, após o cumprimento de uma jornada de trabalho já por si extenuante no
mais das vezes. Cuidam da ordem do lar, da alimentação, das crianças e de tantas
Cultura e Sociedade
atividades mais, enquanto seus maridos acham natural seu presumível direito ao
repouso após o trabalho” (VILA NOVA, 2004, p. 208).
Outro grande problema na educação sexista a ser enfrentado é a questão da “divisão das tarefas domésticas”.
A cultura patriarcal e machista também vê como exclusivas das mulheres as tarefas domésticas como lavar,
passar, cozinhar, cuidar dos filhos e cumprir todas as atividades referentes ao espaço privado da casa.
Assim, criou-se o estereótipo da “Rainha do Lar”, sendo o espaço da mulher somente o da esfera doméstica,
do lar, privado e “sagrado”. Aos homens, foi reservado o espaço público e político, “profano” e agressivo.
Reflexão
Caro(a) estudante, você acredita que somente a mulher pode aprender a lavar,
cozinhar, passar e cuidar de seus filhos? As tarefas domésticas e a educação dos
filhos são responsabilidades somente de mulher?
A divisão das tarefas domésticas é, por isso, um dos pontos cruciais na igualdade de direitos. A condição
da mulher na sociedade, apesar das conquistas já consolidadas, passa por mudanças e transformações
“[...] que estão no nível mais profundo da cultura, dos padrões de comportamento, de pensamento e do
sentimento inconscientes” (VILA NOVA, 2003, p. 208).
A questão da discriminação e exclusão da mulher está relacionada também ao contexto da classe em que
ela está inserida.
16
Importante
“Não há como ignorar o fato de que o grau de consciência das injustiças a que
são submetidas as mulheres depende, embora não exclusivamente, de seu nível
de instrução, o qual, por sua vez, decorre diretamente da renda da família e, por
conseguinte, de sua posição na estrutura de classes de sua sociedade, embora este
quadro já venha sendo gradativamente alterado pela decisiva atuação de mulheres
mais conscientes de seus problemas específicos junto àquelas das classes de menor
poder aquisitivo” (VILA NOVA, 2003, p.209).
A questão da mulher diferencia-se, portanto, conforme sua situação econômica e conforme a sociedade
em que está inserida. Enquanto muitas mulheres bem-sucedidas, de situação econômica estável e de
sociedades consideradas desenvolvidas, já conseguiram várias conquistas e tiveram muitas de suas
reivindicações e de seus direitos atendidos, outras que vivem em situação de inferioridade e de violência
não alcançaram esse patamar de conquistas.
Contextualização
“No século XX, a desigualdade entre homens e mulheres foi contestada vigorosamente
em todo o mundo, com a criação de inúmeros movimentos que lutaram pela
Cultura e Sociedade
ampliação dos direitos das mulheres, questionando a estrutura institucionalizada
de desigualdade entre os sexos. O que era antes considerado como natural foi
questionado [...], obtendo-se hoje, por parte de muitas pessoas em inúmeros países,
a compreensão de que a desigualdade sexual é, nada mais, nada menos, que um
produto cultural da sociedade humana, e não um fato biológico imutável”(DIAS,
2010, p. 224-225).
Apesar de lentas, as mudanças vão sendo realizadas e percebidas em vários campos. Dentre tantas,
enfatiza-se que, a partir de 1990, por exemplo, as mulheres são maioria nos cursos universitários, inclusive
naqueles antes considerados exclusivamente masculinos, como Medicina, Direito, Engenharia, Farmácia,
Administração, Ciências Contábeis e outros.
Na sociedade atual, as características antes atribuídas às mulheres como negativas estão sendo valorizadas,
conforme o ícone abaixo:
17
Nessa perspectiva, na forma de organização capitalista do momento atual, que exige uma mão de
obra flexível dentro de uma economia flexível, a mulher tem grandes oportunidades e capacidade de
competitividade no mercado de trabalho.
Caro(a) estudante, se a sociedade brasileira foi construída para ser desigual, hierarquizada, assimétrica,
patriarcal e machista, ela pode ser também desconstruída, buscando-se uma sociedade menos desigual e
menos injusta.
Cultura e Sociedade
Se a diferença entre os sexos na sociedade brasileira foi usada para se considerar a mulher inferior e
excluída, pode-se e deve-se transformar essa diferença em algo positivo. A diferença é que traz a riqueza
da diversidade, da pluralidade e da multiplicidade.
Para uma transformação da sociedade, é necessária a participação de todos os agentes envolvidos nas
relações sociais existentes.
O homem, aqui o “masculino”, também é produto da mesma sociedade e não é possível mudar as relações
humanas em todos os espaços sociais e políticos sem a participação de todos os indivíduos de uma mesma
sociedade, portanto, juntamente com o homem.
O papel social, tanto da mulher quanto do homem, deve ser transformado concomitantemente, abarcando,
no mesmo processo, todas as outras diversas e inúmeras identidades de gênero que existem entre os seres
humanos.
Considerações finais
Como você pôde perceber, a desigualdade e a inferioridade da mulher foram construídas dentro da
sociedade brasileira desde o início de sua colonização. A questão da mulher como sexo inferior é universal,
sendo a diferença sexual usada para a sua exclusão, submissão e violência. O processo de socialização
transmitiu e transmite uma educação baseada na desigualdade de gênero, passada de geração em geração.
Principalmente pelo fato de a sociedade brasileira ser patriarcal e machista, a diferença da mulher foi
transformada em inferioridade, em desigualdade e em discriminação, pois ela não se enquadra dentro do
estereótipo padrão do “macho”.
18
Apesar de um longo processo histórico de exclusão e de um tratamento desigual em relação às mulheres
em todos os campos, atualmente, a mulher, por meio de movimentos femininos ou movimentos de
mulheres e feministas, vem desconstruindo essa sociedade construída pelo poder masculino.
Como vimos, as grandes conquistas das mulheres no século XX, dentre várias, foram o voto, o mercado de
trabalho e a educação.
Referências
DEL PRIORE, Mary (org.). História das mulheres no Brasil. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
GIULANI, Paola Cappellin. Os movimentos de trabalhadores e a sociedade brasileira. In: DEL PRIORE, Mary
(org.). História das mulheres no Brasil. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
PINTO, Maria Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação
Perseu Abramo, 2003.
SAMARA, Eni de Mesquita (org.). As idéias e os números do gênero. Argentina, Brasil e Chile no século
XIX. São Paulo: Editora Hucitec/CEDHAL/FFLCH-USP/Fundação VITAE, 1997.
Cultura e Sociedade
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Tradução, mimeo.
SOARES, Vera. Muitas fases do feminismo no Brasil. In: GODINHO, Tatau (org.). Mulher e política – gênero
e feminismo no Partido dos Trabalhadores. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1998.
VILA NOVA, Sebastião. Introdução à sociologia. 6. ed. rev. e aum. São Paulo: Atlas, 2004.
Aula 18
Violência urbana e rural
2
Sumário
Cultura e Sociedade
3
Objetivos
Considerações iniciais
A violência sempre fez parte do ambiente social, tendo sido crescente nos últimos tempos. A prática da
violência tem diversas motivações, e inúmeros fatores tentam explicá-la e/ou entendê-la como fenômeno
social. É nosso objetivo nesta aula discorrer acerca desses fatores que estão relacionados com o aumento
da violência na sociedade. Veremos que os altos índices de criminalidade, uso e tráfico de drogas,
sequestros, assaltos, formação de gangues, ataques incendiários, saqueamentos e várias outras formas de
violência são práticas cotidianas na sociedade. Isso tem despertado, apesar de tardiamente, maior atenção,
maior necessidade de estudos teóricos acadêmicos, discussões mais sérias e preocupações em diversos
segmentos da sociedade civil para um melhor entendimento e minoração dessa violência.
Como fenômeno social, a violência apresenta-se de várias formas, com diversos tipos de manifestações e
Cultura e Sociedade
intensidade de força. As suas diferenças ou divergências ocorrem de acordo com os interesses, objetivos,
com as insatisfações, carências e o caráter dos indivíduos que compõem o grupo ou a sociedade.
A violência urbana e rural são questões que o Brasil apresenta na atualidade e que assustam pela
gravidade. As causas são inúmeras, revelando uma ineficiência das instituições para resolvê-las. Por isso,
os movimentos sociais se apresentam como uma forma de contestação e de busca de soluções para as
injustiças e desigualdades que caracterizam a sociedade brasileira.
A violência é parte da vida em sociedade dos homens desde o seu surgimento no mundo. É parte da
convivência humana em todos os espaços e tem valores de julgamento diferentes em cada cultura ou país.
Assim, o que pode ser violento em uma determinada sociedade pode não ser para outra.
As cidades mais populosas são mais propícias a um número maior de violência. Não significa, entretanto,
que não exista violência em cidades pequenas ou em comunidades com um número restrito de habitantes.
A violência está instalada em todas as partes e lugares, inclusive no campo. São várias as causas que
provocam a violência, conforme veremos em seguida.
4
Contextualização
‘O uso que se faz do termo violência nas diversas ciências (ciências físicas, direito,
moral, filosofia) refere-se a situações de força (sobretudo de procedência exterior à
pessoa que a sofre) que se opõe à espontaneidade, à naturalidade, à responsabilidade
jurídica, à liberdade moral etc. Qualifica-se como ‘violento’ aquele fenômeno oposto
ao movimento espontâneo ou livre de um ser’” (DANIEL, 1982, p. 126-127).
A violência é, portanto, todo ato agressivo contra a pessoa humana, contra o patrimônio histórico, contra
os objetos, contra o meio ambiente (fauna, flora, rios, mares), enfim, contra todas as coisas. A violência
pode ocorrer de várias formas - física, psicológica, sexual, étnica, racial -, sendo, portanto, praticada de
inúmeras maneiras.
Importante
Cultura e Sociedade
Segundo o dicionário Houaiss, violência é a “[...] ação ou efeito de violentar, de
empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém);
ato violento, crueldade, força [...]”.
Observa-se, caro (a) estudante, que a violência é muito abrangente, tanto nas coisas que ela atinge quanto
nas ações e nos comportamentos dos indivíduos.
Ainda, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), violência pode ser definida como “[...] a imposição
de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Verifica-se que essa definição é um pouco restrita,
pelo fato de a violência ir além do sentimento da dor, cujo conceito pode variar de significado entre pessoas
e cultura. O que se ressalta, nessa definição, é que a violência pode ser evitável, sendo este o objetivo de
todos em sociedade.
5
Contextualização
O homem “[...] tem de definir, de forma mais ou menos clara, limites de sua ação.
Nesse sentido, viver em sociedade significa criar normas de comportamento, que
não determinam esferas específicas de ação para os homens, mas também criam
discriminações. Elas estabelecem o que é permitido e o que é proibido. Se tomo
o conceito de leis de um país, em seu desenvolvimento histórico, percebo que, a
cada um dos momentos históricos, esse conjunto de leis é a forma explícita da
institucionalização da violência – não fora assim, não haveria evolução das normas
jurídicas de um país” (ODALIA, 1983, p. 37).
Nesse sentido, a violência, seus limites e permissões são definidos e controlados pelas leis de qualquer
sociedade. A violência é assim institucionalizada, é política, é revolucionária e social, pois cada sociedade
diferente possui e produz violências diferentes e, por isso, é uma característica específica da estrutura de
cada realidade social (ODALIA, 1983).
Por essa perspectiva, as origens da violência na sociedade brasileira devem-se a vários fatores.
A violência está sempre presente entre nós e possui várias faces. Segundo Daniel (1982, p. 128), “[...] nunca
em tempo algum, como hoje, ela é uma das realidades mais horríveis, espantosas e aviltantes da nossa
civilização”.
Cultura e Sociedade
Reflexão
Caro (a) aluno (a), de onde surge toda a violência que vivemos atualmente?
Baseando-nos em Daniel (1982), percebemos que uma das maiores causas da violência no Brasil relaciona-
se ao crescimento urbano, que leva ao inchaço das cidades e a outros problemas estruturais.
São consideradas causas da violência diversas e graves questões que a sociedade brasileira apresenta,
dentre as quais destacam-se a desigualdade social, a má distribuição de renda, a concentração de terras
e de riqueza, o desemprego, o uso e tráfico de drogas, a falta das necessidades básicas como moradia,
educação, saúde, transporte coletivo e segurança, o desrespeito às leis e normas instituídas, a impunidade,
o neoliberalismo, o alto índice de criminalidade, a pobreza, os sequestros, a formação de gangues, os
assaltos, os ataques incendiários, os saqueamentos e tantas outras formas.
Por viver em sociedade, os indivíduos têm como premissa e necessidade uma organização para se conviver
com outros em comunidade ou coletividade, tanto pode ser em grupos pequenos, como comunidades
rurais, quanto em grupos maiores, como grandes centros urbanos.
6
18.2 Violência urbana
As grandes cidades oferecem condições mais propícias ao crescimento da violência, a qual é influenciada
e determinada por características específicas de cada sociedade, como valores morais, culturais, políticos,
econômicos e sociais. A violência urbana, então, é aquela que se desenvolve nas grandes cidades,
manifestando-se de várias formas.
Contextualização
Cultura e Sociedade
Na mesma perspectiva do autor citado acima, Daniel (1982) também cita algumas formas de violência
urbana, tais como violência contra a pessoa, violência na família, violência no ambiente de trabalho,
violência no trânsito, violência escolar e cultural, violência discriminatória, violência contra a mulher,
violência nos esportes, violência nos serviços de saúde, violência policial e violência contra o patrimônio.
A violência urbana como fenômeno social possui seu tempo histórico em qualquer sociedade, variando,
portanto, de acordo com a cultura, com as necessidades ou carências, com os problemas estruturais, sócio-
psicológicos e morais.
A manutenção da ordem pública pelo sistema vigente apresenta-se sob grande tensão e desiquilíbrio
entre o poder legítimo e o ilegítimo, o que leva a população a uma grande insegurança. Como exemplo,
podemos citar o poder dos traficantes nas favelas, principalmente no Rio de Janeiro, apresentando um
poder ilegal de força e controle perante o Estado constituído legal e democraticamente.
Outros fatores como a grande desigualdade – reflexo da perversa distribuição da renda, a educação de má
qualidade, o analfabetismo, a desobediência às regras, o desemprego, o alcoolismo, a falta de moradia,
a desigualdade na ocupação do solo, a falta de oportunidades ou de expectativas dos indivíduos – são,
ainda, provocadores da violência urbana.
Desse modo, as ações de violência, que podem ser individuais ou coletivas, possuem uma finalidade
específica e podem ser identificadas. Ocorrem em âmbitos domésticos ou públicos e políticos, e seus
resultados podem ser insignificantes, arrasadores ou transformadores para o bem ou para o mal.
No nosso caso, até o momento, a violência urbana tem se apresentado somente com aspectos maléficos,
afetando negativamente a vida cotidiana dos brasileiros.
7
Caro (a) estudante, como visto, a violência urbana está disseminada por todas as partes, em todos as
instituições públicas e particulares. Todo o sistema urbano está contaminado pela violência e, para vencê-
la, é preciso, então, mudar a estrutura deste. A participação de todos os indivíduos, de acordo com Daniel
(1982), é a forma mais eficaz para se combater a violência, por meio de associações, entidades e grupos,
todos unidos para enfrentar, discutir e propor soluções para o seu combate.
A vida rural diferencia-se da vida urbana por ser uma comunidade menos populosa, mais homogênea
cultural e socialmente. Na vida rural, a mobilidade social é menor que na vida urbana, e as relações são
mais estreitas. A interação entre os indivíduos é mais próxima, direta e concreta, devido ao tamanho do
grupo. As relações não são tão impessoais como na cidade. Entretanto, também neste espaço ocorre a
violência, devido a fatores como má distribuição de terras e exploração de trabalho escravo.
Contextualização
Cultura e Sociedade
se organizam e ocupam fazendas improdutivas ou terras públicas, em busca de um
pedaço de chão onde possam se instalar com sua família” (PILETTI, 1996, p. 369).
Percebe-se que as causas da violência no campo são reflexos da própria estrutura colonial na qual o Brasil
foi formado. A questão da violência é uma questão fundiária, de uma reforma agrária que não foi realizada.
Apesar de a vida rural ser menos complexa que a vida urbana, a violência no campo apresenta profundos e
graves fatores que a provocam. Com apoio na Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais – CONTAG,
por meio do Informe da Secretaria de Reforma Agrária e Meio Ambiente da CONTAG (2005), resumimos os
fatores que provocam a violência rural:
■■Concentração da terra: a concentração de terras nas mãos de poucos no Brasil é uma das maio-
res do mundo.
Importante
As consequências são o acirramento das disputas e dos conflitos no campo, como a grilagem das terras,
a exploração da mão de obra (semiescravidão), os ataques, os sequestros, as ameaças, os assassinatos
encomendados e a agressão criminosa ao meio ambiente.
Cultura e Sociedade
■■Impunidade: a não punição de pessoas que cometem os crimes no meio rural cria um ambiente
de insegurança e de medo.
Contextualização
“Para se ter uma ideia da gravidade da situação de impunidade no campo, basta que
se analise os dados registrados pela CPT – Comissão Pastoral da Terra, constatando
que durante os últimos 20 anos foram assassinados mais de 1.385 trabalhadores
rurais, lideranças e ativistas ligados aos movimentos sociais de luta pela terra e
pela reforma agrária no Brasil. Destes casos, somente 77 foram julgados, com a
condenação de apenas 15 mandantes e 65 executores. 523 destes assassinatos
aconteceram no estado do Pará e lá, apenas 10 casos foram a julgamento, com a
condenação de 5 mandamentos e 8 executores. Mesmo assim, todos os executores
condenados fugiram da cadeia. Três fazendeiros, condenados como mandantes de
assassinatos de sindicalistas estão em liberdade, pois um cumpre sua pena em prisão
domiciliar e os outros dois aguardam julgamento de recursos em liberdade há dois
anos, devido à parcialidade e morosidade da Justiça” (CONTAG, 2005).
Exemplos como os citados acima revelam a necessidade de uma reforma agrária, a existência de uma
impunidade assustadora, a falta de respeito e de justiça perante os trabalhadores rurais, os sindicalistas e
os defensores da terra.
De acordo com o informe da CONTAG (2005), muitas pessoas são ameaçadas de morte, chegando-se a
ter uma “[...] lista dos marcados para morrer”. Os nomes são sempre de sindicalistas, lideranças locais e
políticos que entravam os interesses dos grandes fazendeiros da região.
9
Os jagunços dos latifundiários eliminam os que atravessam o caminho de seus patrões. Apesar das
denúncias à justiça, às autoridades locais, estaduais e federais sobre essa lista elaborada pelos fazendeiros,
não há punições. Os assassinatos continuam sendo praticados, seguindo os nomes marcados na lista e
acrescidos de outros, à medida que vão surgindo.
De acordo com o informe da CONTAG (2005), a violência no campo tem várias características. Com o apoio
nessa fonte, resumimos as seguintes:
■■ É seletiva: a violência seleciona as pessoas que serão suas vítimas, recaindo sempre sobre “[...]
dirigentes sindicais, lideranças sociais, agentes pastorais e comunitários, religiosos, parlamentares,
advogados, etc” (CONTAG, 2005). Também, existe uma tabela de preços que varia de acordo com a
importância e influência da vítima.
■■ É institucional: as repressões que ocorrem no meio rural contra os trabalhadores rurais são
apoiadas pelo poder institucionalizado. A terra particular de um grande fazendeiro, com a defesa
do direito à propriedade, é mais forte do que o direito à terra para a sobrevivência de muitos tra-
balhadores. Assim, o poder estatal é conivente e contribui para a defesa do grande latifundiário e
dos fazendeiros proprietários. Para exemplificar, registra-se que, nos anos de 2003 e 2004, mais de
70 mil famílias sem terra foram vítimas de despejos, ordenados pelo Poder Judiciário e executados
violentamente pela polícia militar” (CONTAG, 2005).
■■ É organizada: os latifundiários se organizam em associações formais ou informais. Estas fun-
cionam como uma “rede” com fundos de financiamento para o combate, para os assassinatos e
massacres contra os trabalhadores rurais, principalmente os sem terra. As organizações têm como
Cultura e Sociedade
objetivo também proteger as grandes propriedades.
Contextualização
Importante destacar que a violência rural não se dá na mesma proporção em todas as regiões do país.
Existem estados em que ela se dá de forma mais acentuada, nos moldes mostrados nesta aula.
A violência no campo demanda medidas urgentes, profundas e corajosas. A reforma agrária é uma questão
que vem sendo adiada desde o período da colonização portuguesa no Brasil.
Além disso, é preciso que o poder judiciário julgue e puna os crimes que são praticados constantemente
contra os trabalhadores rurais e contra as pessoas que são líderes no campo, em busca de direitos e defesa
da sobrevivência. A impunidade é um fator que contribuiu com o aumento de crimes hediondos, de
assassinatos e, portanto, da violência contra os mais pobres e necessitados.
10
Importante
“Só com a democratização da terra será possível democratizar o poder e pôr fim à
truculência, intolerância e ganância dos latifundiários que colocam o direito à terra
acima do direito à vida e à cidadania.
É preciso que, de imediato, sejam tomadas medidas efetivas com a conclusão dos
processos de desapropriação, o impedimento dos despejos ilegais e arbitrários, a
retomada das terras públicas invadidas por grileiros destinando-as aos projetos de
assentamento, a ampliação dos recursos para erradicação do trabalho escravo e a
manutenção do Cadastro de Empregadores, conhecidos como “Lista Suja”, além da
suspensão dos planos irregulares de manejo florestal. Também é indispensável que o
Congresso Nacional cumpra o artigo 51 das Disposições Constitucionais Transitórias
determinando a revisão das doações, vendas e concessões de terras públicas no país e
que coloque em pauta para aprovação imediata a proposta de Emenda Constitucional
que confisca as terras onde se explora o trabalho escravo” (CONTAG, 2005).
Vários nomes são significativos nessa luta pela terra. Essas pessoas sofreram atos de violência que os levaram
à morte. Como exemplo, lembramos alguns assassinatos que tiveram grande repercussão no mundo todo,
como o de Chico Mendes, no Acre, o de Margarida Maria Alves, na Paraíba e o da Irmã Dorothy Stang, no
Cultura e Sociedade
Pará.
Como se observa, caro (a) estudante, os mandantes dos crimes não têm medo de punição ou represália, pois
sabem que a impunidade é garantida. Em 2009, de acordo com o informe da CONTAG (2005), o “Conselho
Nacional de Justiça” instituiu o “Fórum de monitoramento de conflitos fundiários rurais e urbanos”, cujo
primeiro encontro ocorreu no Mato Grosso do Sul, na cidade de Campo Grande. O objetivo do fórum foi
debater e buscar soluções que possam pelo menos amenizar a violência no campo.
Os movimentos sociais no Brasil são datados desde o período colonial até os dias atuais. Citamos,
resumidamente, alguns desses movimentos: os dos indígenas, dos negros africanos, da independência,
da abolição da escravidão, da Proclamação da República, de inúmeras revoltas e movimentos no final do
século XIX e durante o século XX, como Canudos, Contestado, Tenentismo, Movimento da Ação Integralista
(Integralismo), Aliança Nacional Libertadora – ANL -; e ainda os movimentos das Ligas Camponesas, as
várias greves, os diversos movimentos urbanos e rurais, o golpe militar de 1964, a Guerrilha do Araguaia,
11
o Movimento pela anistia, as Diretas Já, o movimento pela Constituinte, o movimento no ABCD (paulista),
o Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra (MST), os Movimentos contra o Custo de Vida (MCV) e
outros.
Pelo fato de serem inúmeros e diversos, selecionamos alguns movimentos sociais considerados da
atualidade, isto é, a partir de 1988, época da última Constituição chamada de Cidadã, na qual a participação
da sociedade civil foi chamada e valorizada como um instrumento para denunciar, questionar, exigir o
cumprimento dos direitos (bem como para criar novos direitos) e combater as desigualdades na sociedade
brasileira (TOMAZI, 2010).
Reflexão
Os movimentos sociais são constituídos por elementos como o projeto, a ideologia e a organização. O
projeto refere-se aos planos, aos objetivos, à ação de mudança ou conservação das relações sociais. A
ideologia refere-se aos valores, a ideias adotadas como direção da luta, de visão do mundo. A organização
refere-se à forma do movimento, isto é, é centralizada ou descentralizada. A centralizada é dirigida por um
líder ou mais, e a descentralizada não possui líderes determinados (FERREIRA, 2003).
Cultura e Sociedade
Contextualização
A partir da década de 1980, surgiu a temática do conceito de “novos movimentos sociais” e de “novos
sujeitos sociais” (NMSs). Os novos temas são
Além dos novos temas, os novos movimentos sociais ou movimentos populares abrangem inúmeros
movimentos urbanos, como
[...] as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), organizadas pela militância católica; o novo sindica-
lismo urbano, que gerou a CGT, a CUT e o Partido dos Trabalhadores, e, mais recentemente, [...]
o sindicalismo rural, o movimento feminista, o movimento ecológico, o movimento pacifista em
12
organização, além de diversos setores do movimento de jovens e outros (FERREIRA, 2003, p. 155).
Acrescentam-se, também, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), dos sem-teto, dos favelados,
o Movimento de Ação da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida (ACCMV).
“Há no Brasil um movimento social que não aparece muito nos jornais e na
televisão: O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, atuante principalmente nos
grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os
sem-teto agem de modo organizado. Uma das formas de pressão que adotam
é a ocupação de imóveis. As ações envolvem de cem a duzentas famílias, que
se instalam no local escolhido e informam às autoridades que passarão a viver
ali, mesmo em condições precárias, até que lhes seja propiciada uma opção de
moradia.
Cultura e Sociedade
pressão dos sem-tetos, os governos declaram esses edifícios de interesse social,
possibilitando que se tornem moradia para quem não a tem.
Os novos sujeitos exigem mudanças imediatas mais concretas no espaço micro ou local, indo além dos
direitos universais e abstratos. A consciência da participação na esfera da sociedade civil e não mais
somente no marco do Estado provocou e está provocando novos questionamentos, debates, denúncias e
busca de soluções para os diversos objetivos de cada grupo ou movimento (FERREIRA, 2003).
esses movimentos desenvolveram algo muito importante: a politização da esfera privada, ao tor-
nar as carências das populações pobres (urbanas e rurais), dos negros, das mulheres, das crianças,
entre outras, uma preocupação de toda a sociedade, e não somente do Estado. Abriu-se no Brasil a
possibilidade de se desenvolverem movimentos sem o controle do Estado, dos partidos políticos ou
de qualquer instituição. Podemos citar, entre outros os movimentos dos negros, das mulheres, dos
indígenas, dos ambientalistas, dos sem-terra, dos sem-teto, etc.
Esses movimentos sociais não têm como proposta tomar nenhum poder estatal, ou seja, não desejam o
poder institucional. Desejam que seus direitos sejam respeitados e cumpridos. Desejam ainda criar outros
novos direitos, conforme a necessidade de cada grupo ou da sociedade civil. Existe, assim, uma luta e uma
consciência pela busca de direitos coletivos.
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Reflexão
Caro (a) estudante, para que você possa participar, lutar por algo e exercer uma
ação política, não é necessário que seja um representante político ou que faça parte
da esfera institucional. Qualquer indivíduo pode agir politicamente, em qualquer
espaço político público para denunciar, questionar, debater, exigir seus direitos e
reivindicar novos direitos.
Os novos movimentos sociais estão mais direcionados para as questões cotidianas, levando os sujeitos a
uma intervenção na esfera política conforme seus interesses. A esfera social aponta uma visibilidade por
meio da participação e do interesse dos trabalhadores dentro dos vários espaços, como a empresa, os
serviços públicos, as associações de bairros ou administrações, os sindicatos e outros. Assim, os movimentos
sociais criaram novos espaços públicos fora do espaço institucional político. Estes trazem novos sujeitos
que estão atuando politicamente, sem necessariamente ser representantes políticos instituídos. Com essa
nova consciência política, os discursos estão sendo confrontados e os lugares, antes escuros e não vistos
pelo poder público, passam agora a ser vistos, conhecidos e reconhecidos em seus direitos já existentes e
no direito de se criar novos direitos.
Conectando Saberes
Cultura e Sociedade
Para um aprofundamento sobre o tema “movimentos sociais”, você pode ler o livro:
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e
contemporâneos. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
Considerações finais
Vimos, nesta aula, que a violência é um ato agressivo a qualquer pessoa e objeto, sendo diferente para
cada cultura e sociedade. É parte da convivência humana.
Vimos também que a violência urbana tem crescido assustadoramente nas últimas décadas em todo o
mundo. No caso do Brasil, é apontada como uma das mais graves, sendo diversas as suas causas, e dentre
tantas, apontam-se o não respeito às leis e normas instituídas e o inchaço das grandes cidades.
A violência rural é também uma das mais agressivas e graves, revelando-nos um universo de desigualdades,
de grande concentração de terras nas mãos de poucos, de impunidade, de crimes, assassinatos e invasões.
As causas são antigas, perpassando as questões fundiárias, da reforma agrária e dos grandes latifundiários,
questões essas nunca resolvidas.
Os movimentos sociais são parte da história do Brasil desde sua colonização. Isso revela-nos que não há
uma passividade na população brasileira. As reivindicações dos movimentos são caracterizadas pela busca
de direitos, sempre negados.
14
A partir da década de 1990, novos temas e novos sujeitos engrossaram os velhos movimentos sociais. Não
se pode dizer que velhos temas foram substituídos, e sim, que novos foram acrescidos, pois muitos temas
anteriores à década de 1990 continuam nas pautas das reivindicações de muitos movimentos sociais nos
dias atuais como, por exemplo, reforma agrária, moradia, educação, saúde, trabalho, vestuário, creches e
tantos outros.
Os novos sujeitos revelam uma sociedade civil mais politizada por entenderem que a mudança, as
conquistas, o cumprimento e a criação de novos direitos precisam e exigem a participação de todos os
indivíduos na busca de soluções e de melhorias coletivas.
Referências
Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais – CONTAG –, Informe da Secretaria de Reforma Agrária
e Meio Ambiente da CONTAG, 2005. A violência e impunidade no campo. Disponível em: <http://
www6.rel-uita.org/internacional/ddhh/contag-violencia-campo.htm>. Acesso em: 14/nov/2014.
DANIEL, Eduvaldo. Fenomenologia crítica da violência urbana. In: PUTY, Zinalda Castelo Branco;
BARCELOS, Cláudio Fleury; DANIEL, Eduvaldo. Violência urbana. Rio de Janeiro: Editora Codecri Ltda.,
1982. (Coleção Edições do Pasquim, v. 136).
DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro – cidadania hoje e amanhã. 7. ed. São Paulo: Ática, 1999.
Cultura e Sociedade
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 3. ed.
São Paulo: Loyola, 2002.
FERREIRA, Delson. Manual de sociologia: dos clássicos à sociedade da informação. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.
ODALIA, Nilo. O que é violência. São Paulo: Brasiliense, 1983 (Col. Primeiros Passos).
PILETTI, Nelson. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Ática, 1996.
Cultura e Sociedade
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Objetivo
■■ Sintetizar, a partir da revisão de conteúdos, todos os temas abordados da aula 11 à aula 18.
Considerações iniciais
Caro (a) aluno (a), nesta aula, proponho uma revisão de todo os conteúdos vistos nas aulas de número
11 a 18. Então, apresentarei a revisão na ordem em que se sucederam as aulas, como forma de facilitar
sua consulta a cada aula para releituras, quando sentir necessidade. Espero que este material, da forma
como o organizei, seja bastante útil para seus estudos e possa contribuir para que você tenha um bom
desempenho nas avaliações.
Lembro ainda que na avaliação final serão cobrados os conteúdos vistos também nas aulas de número 1 a
8. Assim, sugiro que você retome a aula de número 9, em que foi feita a revisão desses conteúdos.
Bons estudos!
Cultura e Sociedade
Revisão de conteúdos
A aula 11 desta disciplina versou sobre os meios de comunicação de massa, os quais, em todo o seu
conjunto, são denominados mídia.
Você viu que a imprensa, iniciada no século XV, era veiculada somente na forma escrita, por meio de jornais
e livros.
Viu também que a mídia serve tanto para informar algo que é positivo para o bem público, como é usada,
quanto para alienar e intimidar os indivíduos, de acordo com os interesses de quem a produz e a controla.
No século XIX, inventou-se o rádio nos Estados Unidos, mas este chegou ao Brasil mais tardiamente, na
década de 1920. O rádio foi um instrumento de divulgação poderoso, usado por vários países e governos
para propagar suas ideologias de controle, de dominação e de sustentação de poder. Dentre vários
governantes, citamos o presidente do Brasil, Getúlio Vargas, que, em seu governo ditatorial, com início
em 1930, fez uso do rádio para disseminar a ideologia de governo. Criou-se, para tanto, um programa
intitulado “Hora do Brasil”, veiculado diariamente às 19 horas, com o objetivo de abranger todos os lares
brasileiros para inculcar sua doutrina.
As emissoras de rádio são controladas por seus patrocinadores, transmitindo assim as ideias e as notícias
que lhes interessam.
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O cinema surgiu no final do século XIX, na França, chegando ao Brasil na mesma época que o rádio, ou seja,
em 1920.
Assim como as emissoras de rádio, o cinema também é controlado por seus patrocinadores, pois necessita
de verbas para sua produção.
O cinema introduziu a imagem com movimento, sonorizada, sendo considerado um produto de arte.
É usado para diversos fins e de diversas maneiras, como, por exemplo, na educação, nas propagandas
partidárias e nos comerciais, trazendo também a ideologia de cada um de seus produtores.
Já a televisão surgiu em meados do século XX, chegando ao Brasil na década de 1950, trazendo um novo
instrumento inovador na área da comunicação. A imagem tornou-se o foco central, acompanhada do som
e do movimento.
Cultura e Sociedade
Várias emissoras de TV foram criadas no Brasil e, atualmente, é difícil ver uma casa onde não há um aparelho
de TV. A TV é também uma forma de veiculação de informações de cunho negativo e positivo. Tanto pode
alienar as pessoas com suas propagandas e marketing para o consumismo, quanto pode também informar
e contribuir com a cultura brasileira. Atualmente, a televisão tem abordado temas que antes nunca haviam
sido tratados e que são partes do cotidiano das famílias brasileiras, como, por exemplo, o preconceito ao
diferente, as doenças da pós-modernidade, o racismo, a violência em diversas áreas e outros.
O mais novo meio de comunicação atualmente é a internet. Ela provocou mudanças drásticas nas vidas
das pessoas, devido ao avanço e à expansão da tecnologia.
A internet nos faz pensar que o mundo ficou pequeno e a distância entre as pessoas foi reduzida. A ilusão
desses pensamentos deve-se ao fato de assistirmos aos acontecimentos em tempo real e mantermos
contato imediato com outras pessoas do outro lado do mundo. A internet, da mesma forma que o rádio,
o cinema e a televisão, também tem seus pontos positivos e negativos, a depender da forma como é
utilizada.
A internet é ainda um meio de comunicação excludente, pois uma grande parcela da população brasileira
ainda não a possui.
Apesar de todos esses avanços midiáticos que abordamos, eles, por si só, não mudam a realidade. Para
que haja um acompanhamento das novas transformações e mudanças que o mundo atual nos apresenta,
torna-se necessário investir na educação, na tecnologia de informações e, consequentemente, no acesso à
internet, que é hoje uma forma midiática necessária para a inserção na sociedade globalizada. Lembramos,
no entanto, que a internet deve ser usada como recurso, e não como sendo a centralidade na vida das
pessoas.
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Na aula 12, você pôde ver que o trabalho é a forma que o homem usa para retirar da natureza aquilo de
que precisa para sua sobrevivência. Aprendeu que a forma de trabalhar muda conforme a sociedade, a
época e a cultura, já que o trabalho vai se modificando de acordo com a demanda da própria sociedade.
Assim, já tivemos várias formas no modo de produção, cada uma contextualizada e com suas características
específicas.
Atualmente vivemos no sistema produtivo do capitalismo, com relações assalariadas, em que os meios de
produção são controlados por uma minoria da população brasileira. Vimos que isso gera uma extrema e
violenta desigualdade social.
Para atender às necessidades e aos objetivos do capitalismo, a ideologia divulgada por todas as instituições
e outros meios é a de que o trabalho é digno e honroso. O homem que não trabalha foi e é considerado
“preguiçoso”, “indolente” e “vagabundo”.
Essa normatização e disciplinarização é tão impregnada entre nós, vinculada pela ideologia capitalista, que
somos hoje os nossos maiores vigilantes e controladores, para que atendamos às exigências do trabalho
nesse sistema.
Nesse momento, a educação do conhecimento torna-se uma necessidade para se trabalhar no mercado
atual. Exige-se do profissional uma qualificação para trabalhar nos novos postos de trabalho e para
acompanhar as mudanças que ocorrem rapidamente.
Cultura e Sociedade
A capacidade de se investir e buscar crescimento no mercado exige características empreendedoras para
competir e manter-se em qualquer área de trabalho no mercado. O indivíduo deve ter as habilidades, os
talentos e a qualificação que a nova forma de produção exige, e a única forma de se preparar para essa
competição é por meio da educação.
Nesta aula, você pôde perceber também que as empresas e as organizações não governamentais - ONGs -
vêm mudando sua visão de mundo e percebendo a necessidade de se investir e colaborar com a comunidade
em busca de melhorias em todas as áreas. Isso fez surgir, na década de 1980, o termo “responsabilidade
social”, por meio da qual as empresas, o terceiro setor e as instituições políticas começaram com as práticas
de intervenção na sociedade.
Percebe-se que há uma nova consciência política em processo, por parte das empresas e do terceiro setor,
na importância da responsabilidade social para contribuir com a melhoria da qualidade de vida para todos
em sociedade. Lembra-se também que, caso não haja pessoas em potencial para serem consumidores, o
próprio sistema capitalista e todas as empresas não sobrevivem. Existem, portanto, interesses mútuos.
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Comprova-se, concretamente, que a prática da responsabilidade social interfere na vida da comunidade,
com o poder de melhorá-la e investir nas necessidades para o bem coletivo e para um mundo comum.
O terceiro setor deve ter a consciência de que sua participação é crucial para o cumprimento dos direitos
e para o atendimento dos interesses e necessidades da sociedade civil. Para tal deve fiscalizar e criar novos
direitos, sendo um agente participativo que provoca as transformações que são importantes e necessárias
para todos os indivíduos em sociedade.
Dando sequência aos conteúdos, na aula 13 você pôde estudar também as novas formas de produção no
sistema capitalista. Viu que essas novas formas de produção, conhecidas como taylorismo, fordismo, neo-
fordismo, ou toyotismo, ou acumulação flexível, são consequências das exigências do mercado globalizado
e competitivo.
O taylorismo foi introduzido inicialmente nos Estados Unido por Frederick Taylor (1865-1914), conhecido
como o “pai da administração científica”. Em seguida, expandiu-se para outros países. O objetivo principal
era a racionalização do processo produtivo como controle das atividades em todos os setores para
aumentar a produtividade. A tecnologia foi um elemento detonador para essas mudanças. O trabalhador,
no taylorismo, não era visto em suas necessidades físicas, biológicas e psíquicas. Desejava-se um trabalhador
despolitizado que, por isso, era denominado “homem boi”. O trabalho era repetitivo, cansativo, fatigante,
provocando várias doenças entre os trabalhadores.
A partir do momento que o taylorismo não atendia mais às novas exigências do mercado capitalista, surgiu
Cultura e Sociedade
outra nova forma de produção, denominada de “fordismo”.
Essa forma foi introduzida por Henry Ford (1863-1947), norte-americano, com o objetivo de padronizar e
uniformizar as técnicas para diminuir os custos e o tempo, e aproveitar, ao máximo, a força do trabalhador.
Essas mudanças provocaram a produção em série ou em massa. Enfatiza-se que a meta era aumentar
a lucratividade sempre. O trabalho ainda continuava repetitivo, fatigante, cansativo, e o trabalhador era
desqualificado. Esse modelo de produção persistiu até a década de 1970.
A partir daí, foi introduzida outra forma de produção por dois engenheiros japoneses: Eiji Toyoda e Taiizhi
Ohno. Ambos pertenciam à Toyota Motor Company. Essa nova forma de produção foi denominada de
Toyotismo, ou acumulação flexível, ou neo-fordismo.
O objetivo central era “enxugar” a forma de produção: menos tempo, sem desperdício, no tempo e na hora
certa - “just-in-time” -, o sistema Kanban – senhas de comando -, alta tecnologia, organização e flexibilização,
isto é, produzir de acordo com a demanda do mercado e com muita rapidez.
Nessa nova forma de produção, mudou-se também a exigência para o trabalhador. Agora, este deveria
ser flexível, multifuncional, polivalente, qualificado e, por isso, com conhecimento acadêmico formal.
Reconhecem-se as características humanas por meio de políticas de incentivo, motivação, satisfação.
Lembre-se, é claro, que tudo isso era sempre com o objetivo de aumentar a lucratividade.
Dentre as consequências das novas formas de produção, estão o desemprego, o surgimento de novos
poderes e de pessoas descartáveis, a desburocratização das leis, os serviços temporários, o retrocesso dos
sindicatos de classe, a terceirização de serviços, e uma competição global mais acirrada e desigual entre os
países, por novas e potentes tecnologias.
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Essas tecnologias provocaram um aceleramento na produção, uma “aproximação” das pessoas e de lugares,
tudo no tempo real e imediato, mas também provocaram uma exclusão entre as pessoas.
Na aula 14, ficou evidenciado que o fenômeno da globalização cresceu vertiginosamente a partir das
décadas de 1970 e 1980, influenciado pelas inovações tecnológicas.
A economia se desenvolveu em escala mundial, provocando uma aceleração nos setores comerciais e
financeiros, alterando também as relações nas áreas local, estadual, nacional, e as relações humanas, no
trabalho, nas comunicações, no lazer, nos modos de vida, nos valores e outras.
A globalização se insere no neoliberalismo, momento atual do sistema capitalista. A sua origem está no
liberalismo do século XIII que, dentre outras características, propõe a livre iniciativa no mercado e a não
intervenção do Estado na economia – “Estado mínimo”.
A globalização, juntamente com a produção da acumulação flexível, “encurtou” o mundo – “tempo real”,
com a ilusão de que o tempo e o espaço se encurtaram.
O Brasil, para enfrentar a globalização, insere-se no bloco do Mercosul, composto também por outros
países latino-americanos: Argentina, Paraguai e Uruguai. O objetivo desses países é de se fortalecer frente
à concorrência e ao domínio das grandes empresas multinacionais.
Você pôde estudar e perceber que a globalização tem como premissa a homogeneização do consumo
Cultura e Sociedade
em todas as áreas, como se todos os indivíduos fossem iguais no mundo todo. É crucial que tenhamos a
consciência dessa ideologia homogeneizadora para não perdermos a nossa cultura local, os nossos valores
e nosso modo de vida específico, que é o que nos diferencia dos outros.
Por isso, devemos saber transitar entre a cultura globalizada e a cultura local. A globalização e o
neoliberalismo provocam reações de oposição entre pessoas de todos os países do mundo, devido às
suas consequências negativas, tais como a não distribuição da renda, o desemprego, a miséria, a pobreza,
a desigualdade, os subempregos, os subsalários, os contratos temporários, a terceirização, o desrespeito
aos direitos dos trabalhadores, a fome, as doenças, os tráficos de drogas, a marginalização, a exclusão,
o xenofobismo, o racismo, as injustiças, o distanciamento cada vez maior entre os países mais ricos e os
pobres e entre pessoas etc.
Surgem, então, diversos fóruns sociais mundiais, a exemplo do “Fórum Social Mundial”, realizado em Porto
Alegre, no Brasil, e em outros países durante vários anos seguidos. Esses fóruns têm o objetivo de denunciar
todas as mazelas citadas acima e tantas outras, buscando, por meio de debates, de diálogos e de políticas
públicas, amenizar todos esses graves problemas globalizados.
Vê-se, portanto, que é exigida uma intervenção rápida e profunda nas estruturas políticas, sociais e
econômicos para uma reversão de todos os problemas perversos provocados pela globalização e pelo
neoliberalismo.
São imprescindíveis, para tanto, a participação de todos os indivíduos da sociedade civil e a consciência
para lutar pelos interesses coletivos acima dos interesses particulares e pessoais. Além disso, é necessário
reduzir, principalmente, a brutal desigualdade no Brasil por meio de uma distribuição de renda menos
injusta e desigual.
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Ao apresentar para você, na aula seguinte, algumas discussões acerca das quatro diferentes gerações
que convivem em nossa sociedade (geração baby boomers, geração X, geração Y e geração Z), você pôde
aprender que elas são caracterizadas pelas datas de nascimento dos indivíduos e apresentam valores
e comportamentos diferenciados por conta da invasão tecnológica, com mais força na formação e na
socialização das gerações Y e Z.
Viu que os baby boomers são os nascidos entre 1946 e 1964, após a segunda guerra mundial; que a geração
“X” são os nascidos entre 1965 e 1980; que a “Y” são os nascidos da década de 1980 a 1990; e que os “Z” são
os que se inserem, aproximadamente, nas décadas de 1990 e 2009, confundindo-se com os mais novos da
geração “Y”.
Os baby boomers são mais conservadores e buscam estabilidade econômica, segurança na vida profissional
e são mais maduros. Essa geração lutou por direitos em todos os campos, como a liberdade de expressão, a
liberdade sexual, a contracepção, e voltou-se contra os valores gananciosos do capitalismo. Viveu o famoso
“Festival de Woodstock” e outros eventos.
Na época da geração X, foram introduzidas as redes de televisão e os telefones. Essa geração não nasceu
com as tecnologias existentes. Somente agora a geração X está aprendendo a manusear e a conviver com
as tecnologias.
Cultura e Sociedade
Pode-se dizer que essa geração é a que mais teve que “aprender e mudar”, como continua ainda nesse
processo, para acompanhar as novas exigências do momento atual e as novas tecnologias que vêm
surgindo em uma velocidade constante.
A geração Y é denominada de “millennials”, por ser considerada a geração da mudança, por vir dentro
de uma tecnologia avançada como a internet. Dentre várias características, vamos relembrar algumas:
constante mudança de emprego, procurando sempre galgar postos ou cargos e salários mais altos; não
fidelidade ao trabalho (à empresa); busca de conciliação entre o prazer, a motivação e a satisfação pessoal
com o trabalho; imediatismo – querem resultados rápidos -; multitarefas - várias funções ou atividades ao
mesmo tempo; adesão ao trabalho em equipe; gosto por hierarquia horizontal e ambiente de trabalho
informal.
A geração Z traz muitas características da geração Y, mas agudiza algumas delas, como a tecnologia
mais atual e inovadora, a exemplo da internet e do celular. Essa geração já nasceu com todo o aparato
tecnológico e continua nesse processo de inovação.
Os jovens dessa geração são imediatistas, intolerantes, impacientes e desejam tudo com muita rapidez. É
a geração do “aqui e agora”. São mais independentes, mas, paradoxalmente, apresentam inseguranças e
incertezas devido à pressão da própria sociedade capitalista da pós-modernidade.
Você deve ter entendido, ao longo de nossas discussões nesta aula, que a socialização e a formação das
pessoas influenciam os comportamentos, as atitudes, os valores, o modo de vida, enfim, a cultura que o
indivíduo adquire no primeiro grupo no qual convive, que é a família. Assim, a família é responsável pelas
mudanças e transformações que são concretizadas entre os indivíduos das diversas gerações. Essas são
acompanhadas pelas diferenças nos grupos etários, de acordo com cada sociedade e sua cultura.
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A partir da família, essa socialização tem prosseguimento em diversos espaços, a exemplo da escola, da
igreja, das associações, das entidades e outros, sendo também espaços de cultura que transmitem os
valores da sociedade na qual os indivíduos estão inseridos.
Na aula 16, foram abordadas questões acerca da degradação e da agressão ao meio ambiente provocadas
pelo homem desde a Resolução Industrial.
Você viu que, com as características do sistema produtivo capitalista, a intervenção do homem sobre a
natureza cresceu vertiginosamente, pela busca do lucro do capital.
Devido ao fato de muitas ações de degradação do meio ambiente estarem acontecendo e isso levar a
péssimas consequências, surgiram grupos ambientalistas e pessoas comuns de qualquer lugar do mundo
em defesa das questões ambientais.
Cultura e Sociedade
No Brasil, especificamente, criaram-se várias resoluções e medidas para enfrentar o problema. Criou-se,
também, em 1999, a Lei 9.795, específica ao meio ambiente, instituindo a “Política Nacional de Educação
Ambiental” (PNEA), em todas as modalidades e níveis do processo educacional, tanto formal quanto
informal.
A Lei n. 9.795 teve o reforço da Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012, por meio da qual se estabelecem
as “Diretrizes Curriculares”, enfatizando o direito de todos a uma vida com qualidade e de uso comum para
todas as gerações presentes e futuras.
Nesse contexto, surge a noção de cidadania ambiental para a preservação da natureza, e o debate em torno
de questões ambientais provoca o surgimento de congressos, eventos e fóruns. No Brasil, por exemplo, a
Constituição de 1988 possibilitou que a questão ambiental tivesse maior visibilidade nas esferas nacional,
estadual e local, provocando uma tomada de consciência em todos os níveis e segmentos da sociedade civil
por meio de grupos organizados ou não, formais e informais, e por meio de ações coletivas e individuais.
O primeiro exemplo de denúncia à destruição, mostrando as graves consequências ao meio ambiente, foi
feito em 1962 pela autora Rachel Carson, ao publicar o livro Primavera Silenciosa. Nele, ela denunciava os
malefícios do uso de inseticidas e pesticidas no meio ambiente.
A partir de 1970, os movimentos ecológicos espalham-se pelos países. No Brasil, por exemplo, foi realizada
a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento” (CNUMAD), consolidando
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o conceito de “desenvolvimento sustentável”, isto é, uma relação direta das questões do desenvolvimento
econômico com as questões do meio ambiente.
Sob a tutela da ONU foi elaborado um documento intitulado “Carta da Terra”, para despertar e orientar a
humanidade em direção a uma ética e a um respeito ambiental.
Você viu também que as consequências da destruição ambiental são irreversíveis e são muitas, tais como
a poluição do ar, da água, dos mares, dos rios, o efeito estufa ou aquecimento global, e a ameaça à fauna,
à flora, à vida de todos os indivíduos, da humanidade e do planeta.
Então, na busca pela amenização desses problemas, a participação de todos e a prática do exercício
da cidadania ambiental são fundamentais para a preservação do meio ambiente em todas as esferas
internacional, nacional, estadual e local. A exigência dos direitos ambientais, a criação de novas políticas
públicas e o cumprimento desses e dessas já existentes dependem da participação de todas as pessoas do
planeta Terra.
Cultura e Sociedade
Guarde essa ideia
Passando à aula seguinte, você estudou alguns movimentos, como os feministas, por exemplo, e viu
que o processo de socialização transmite os valores da família e da sociedade, reproduzindo, assim, a
desigualdade, a inferioridade e a exclusão da mulher na cultura brasileira. A diferença da mulher foi
traduzida em desigualdade e inferioridade, o que a excluiu como cidadã, portadora de direitos.
A sociedade brasileira, por suas características ainda patriarcais e machistas, tem como estereótipo o
modelo do homem “macho”, chefe e provedor da casa. Todos os indivíduos que não se enquadraram ou
não se enquadram dentro desse padrão foram e são excluídos, a exemplo das mulheres. Além delas, outros
indivíduos também foram e são considerados excluídos, como os homoafetivos femininos e masculinos e
todos aqueles que possuem orientação sexual diferente dos gêneros “masculino” ou “feminino”.
O conceito de gênero, surgido nos anos de 1980, foi utilizado pelas feministas, principalmente para denunciar
as relações entre homens e mulheres baseadas na desigualdade, na discriminação, no preconceito e na
exclusão da mulher.
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Por meio das relações de gênero, os estudos acadêmicos se ampliaram e contribuíram para se entender e
denunciar os papéis sociais sexistas, a divisão sexual no trabalho, a desigualdade entre mulher e homem
em todos os âmbitos- político, social, econômico e cultural -, em todas as esferas - local, regional e nacional.
Você estudou o feminismo no Brasil e pôde entender que ele engloba diversos movimentos de mulheres
e o movimento feminista. Desde o século XIX, esses movimentos já eram assinalados, mesmo que frágeis,
e eram liderados por mulheres consideradas precursoras.
O movimento feminista, ao longo de seu processo de atuação, abordou e aborda novos temas que dizem
respeito às questões feministas, como aborto, contracepção, violência doméstica, criação de delegacias
Cultura e Sociedade
de mulher, postos de saúde, creches e tantos outros. Esses movimentos estão espalhados por todos os
estados brasileiros e não contam com uma única direção em seu comando.
Por meio de associações, entidades, congressos e eventos, o movimento feminista continua sua luta,
apesar de menos ativo e com menos visibilidade na defesa das questões das mulheres. Atualmente, a
criação de várias organizações não governamentais – ONGs - tem um papel decisivo na continuidade pela
luta de direitos iguais para as mulheres em relação aos homens.
A diferença da mulher e as suas diferenças dentro da diferença não significam desigualdade nem
inferioridade. Todos os seres humanos, independentemente de sexo, orientação sexual, gênero, classe,
etnia, religião, cor ou status social, têm o direito de ter os mesmos direitos que o outro.
Encerrando essa nossa revisão, voltemos à aula 18, na qual foram discutidas questões referentes à violência.
Você pôde entender o conceito de violência, bem como suas origens e sua ramificação em violência urbana
e rural.
A violência é um ato de agressão praticada de várias formas e se diferencia de acordo com a cultura e a
sociedade na qual é praticada. Um determinado ato pode ser considerado violência em uma sociedade e
em outra pode ser entendido como um aspecto cultural, por exemplo.
A violência urbana é provocada por inúmeras e diversas causas, como o inchaço das grandes cidades, o
uso e o tráfico de drogas, as desigualdades, a má distribuição da renda, o analfabetismo, o desemprego, o
neoliberalismo, o desrespeito às leis, às normas e à pessoa, a desestruturação familiar, dentre outras.
Você viu ainda que a violência pode acontecer em diversos âmbitos e ambientes, por isso pode-se falar em
violência no ambiente de trabalho, no trânsito, na escola, na cultura, nos esportes, na saúde, na segurança
etc.
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Ao ver tratada a questão da violência rural no Brasil, você pôde notar que se apresenta um quadro
assustador pela gravidade das questões existentes.
Vimos que as causas maiores da violência rural são as grandes extensões de terra nas mãos de poucos
fazendeiros poderosos. O latifúndio é uma herança colonial, e a reforma agrária, necessária para resolver
esse problema de desigualdade, nunca foi enfrentada nem resolvida.
Além desse fator, viu-se que a impunidade é também um agravante à violência rural, pois leva os fazendeiros
a praticar crimes, assassinatos e outras torturas às pessoas que ameaçam seu poder econômico e político.
Os líderes sindicalistas, que são os defensores da terra e de muitas famílias pobres e carentes, são os alvos
dos fazendeiros. Esses líderes são assassinados pelos jagunços ou pistoleiros, a mando dos fazendeiros,
seguindo uma tabela de preços diferenciados, de acordo com a importância ou status do sujeito.
Muitos líderes e pessoas comuns, defensoras dos interesses das comunidades, já foram assassinados. Existe
uma lista feita pelos fazendeiros com os nomes das pessoas marcadas para morrer.
Os fazendeiros são organizados em redes, com financiamentos para combater as invasões e os atos de
violência contra os trabalhadores rurais. Além disso, têm o privilégio de ser defendidos pelo aparato
judicial, com a justificativa do direito à propriedade.
Você viu também que dessa realidade surgem os movimentos sociais, que, no Brasil, datam desde o
período colonial, chegando até os dias atuais.
Cultura e Sociedade
A partir de 1990, surgiram os “novos movimentos sociais” e os “novos sujeitos sociais”, por trazerem novos
temas e por darem início a uma participação mais ativa da sociedade civil dentro dos movimentos sociais.
Com esses novos movimentos e novos sujeitos, surgiram novos espaços públicos e políticos, para além
do espaço institucionalizado. Criou-se, assim, uma nova consciência política, necessária para o combate,
envolvendo a denúncia e a busca do cumprimento dos direitos para se criarem novos direitos. Buscam-se
ainda por meio desses movimentos, melhorias coletivas para todos os indivíduos da sociedade.
Considerações finais
Com esta aula, revisamos de forma bem sucinta todo o conteúdo estudado na última etapa da disciplina
Cultura e Sociedade. Espero ter contribuído para ampliar seus conhecimentos, relembrando sempre que
seu bom desempenho depende principalmente de seu esforço e de sua dedicação. Boas avaliações!
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Cultura e Sociedade
Aula 20
Avaliação presencial
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Prezado Aluno,
Instruções:
Ao chegar ao Polo de Apoio Presencial, apresente um documento válido com foto ao tutor
presencial. A falta de documentos impedirá a realização da avaliação;
Tempo de realização da avaliação: 4h (quatro horas) – período mínimo para permanência em sala:
1h (uma hora). Não será permitido deixar a sala antes desse período mínimo;
Tolerância para atraso: 30 (trinta) minutos após o início de realização da prova. Não será possível
ingressar na sala após o término da tolerância;
Aparelhos celulares ou equipamentos eletrônicos móveis deverão ser desligados e guardados,
não sendo permitido seu uso durante o período da prova mesmo fora da sala de avaliação;
É permitido o uso de calculadora, se necessário, desde que não seja no aparelho celular ou em
outro dispositivo móvel;
Não é permitido fazer consulta aos materiais do curso ou a outras fontes durante a avaliação;
Caso seja necessário sair da sala para dirigir-se ao banheiro, todos os pertences devem permanecer
na sala, sendo também necessário o acompanhamento de um dos fiscais de prova;
Cultura e Sociedade
A folha de resposta é o único documento válido para a correção da prova e o não preenchimento
e/ou preenchimento incorreto (rasura, indicação de mais de uma alternativa ou letra ilegível)
implica a anulação da questão.
As respostas das questões discursivas deverão ser transcritas com caneta esferográfica azul ou
preta, sem rasuras, para a folha de respostas de cada disciplina.
Ao término da avaliação, você, aluno, deverá entregar a prova, junto à folha de resposta, ao tutor
presencial. O cartão resposta será digitalizado e disponibilizado no AVA para sua conferência.