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2020
ESTUDO DO SER HUMANO CONTEMPORÂNEO
Camila de Oliveira Casar
Douglas Ochiai Padilha
Luiz Augusto de Mattos
Osmar Ponchirolli
Paulo Moacir Godoy Pozzebon
2020
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Fernando Rodrigo Andrian
CURADORIA TÉCNICA
Mônica Bertholdo
DESIGNER INSTRUCIONAL
Abner Pereira de Almeida
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Giovana Stimpel Amaral
PROJETO GRÁFICO
Impulsa Comunicação
DIAGRAMADORES
Daniel Landucci
CAPA
Jean dos Santos Mendonça
OSMAR PONCHIROLLI
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mes-
tre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Gradu-
ado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco (1988); e
em Teologia pela Studium Theologicum (1994). Atualmente, é professor da FAE Centro
Universitário. Professor pesquisador do grupo Economia Política do Poder em Estudos
Organizacionais e Observatório Interdisciplinar em Economia Política do Poder. Pes-
quisador na linha de epistemologia e teoria crítica; complexidade e redes em estudos
organizacionais. Líder do grupo de pesquisa sobre Teoria do Reconhecimento e Orga-
nizações da FAE Centro Universitário.
1. Informações e conhecimentos...............................................................................2 8
2. Educação ambiental...............................................................................................57
3. O desenvolvimento sustentável.............................................................................5 8
5. Ameaças ambientais..............................................................................................6 3
6. Riscos ambientais..................................................................................................6 5
2. O fenômeno religioso.............................................................................................7 7
significado das
CAIXAS DE DESTAQUE
Importante entender!
É um espaço dedicado a entender os conceitos centrais do
conteúdo.
Para refletir
Espaço para questionamento sobre o assunto. Situação
hipotética para reflexão e compreensão sobre o tema estudado.
Exemplo
Momento para se apresentar uma situação real do assunto
trabalhado.
Pesquise
Apresentação de fontes para que o aluno explore mais
o conteúdo abordado. Serão apresentados: livros, sites,
reportagens, dissertações, vídeos, revistas, etc.
Glossário
Termos e siglas específicas sobre o tema tratado na unidade.
Leis
Lei ou artigo de extrema importância para o aprofundamento
do aluno.
Leitura fundamental
Livros e textos imprescindíveis para o desenvolvimento da
aprendizagem do aluno.
Sugestão de leitura
Apresentação de leituras interessantes para o aluno,
relacionadas ao tema.
Relembre
Pontos fundamentais que guiarão o aluno. São nortes que
o ajudarão a interpretar o texto.
Curiosidades
Fato, acontecimento histórico ou ponto curioso relacionado
ao tema abordado.
Saiba mais
Livros e textos imprescindíveis para o desenvolvimento
da aprendizagem do aluno.
O Ser Humano e a Formação Cultural do Ocidente: Modernidade, Pós-Modernida-
de e Globalização
1 UNIDADE 1
INTRODUÇÃO
Esta Unidade de Estudo abordará os tópicos sobre o surgimento e as transformações da
modernidade, a sociedade pós-industrial e a cultura pós-moderna, e as caracterizações
da globalização. Veremos que o surgimento e o desenvolvimento de um período histórico
específico e importantíssimo, chamado modernidade, atinge a todos nós de maneiras
diversas, desde a organização de nossas instituições sociais mais básicas como família,
religião etc. às nossas concepções políticas. A todos aqueles e aquelas que desejam for-
mar consciência crítica e reflexiva sobre suas vidas e os contextos sociais, econômicos,
culturais e políticos em que estamos submersos, recomendamos a leitura atenta desta
Unidade de Estudo. Estudaremos a modernidade, com suas características marcantes,
acontecimentos principais e, como sempre, suas idiossincrasias fundamentais.
O objetivo desta Unidade de Estudo é modesto: esperamos que você possa agu-
çar seu olhar para as transformações sociais que o envolve e circunda muitas
vezes de maneira invisível e natural, mas, mesmo assim, irreversível. Esperamos,
8
ainda, que a leitura aqui proposta aguce suas indagações e desperte seu olhar 1
para as principais consequências da modernidade.
1.1 RENASCIMENTO
O período que será agora tratado re-
Fonte: 123RF.
Isso pode ser afirmado porque muitas mudanças importantes ocorreram na Europa
a partir do século XV; e estas mudanças serão as bases para a estrutura das socie-
dades contemporâneas.
10
05. Crescimento das cidades 1
Fonte: 123RF.
Como podemos perceber, Giddens nos esclarece sobre a radicalidade da mudança tra-
zida pela nova forma de viver e se organizar da Europa. Esta nova fase trouxe também
consequências importantes para os séculos seguintes. Será com base nas principais
ideias deste autor sobre as caracterizações e perigos trazidos pela modernidade, que
iniciaremos o segundo tópico desta Unidade.
O ritmo de mudança
A rapidez com que as mudanças acontecem na modernidade é extrema; isso pode ser
entendido como resultado do desenvolvimento da tecnologia, porém esta movimentação 01
também é observada em outras esferas.
Escopo da mudança
02 Isto é, o alvo das mudanças trazidas pela modernidade por intermédio do uso da
tecnologia mais incisivamente, partes do globo são colocadas em conexão e as transfor-
mações sociais acontecem em todo o planeta.
12
Prosseguindo em sua caracterização da modernidade, Anthony Giddens ressalta a im- 1
portância que alguns debates adquirem neste período. As preocupações com o meio
ambiente e a instrumentalização da natureza como fonte geradora de riqueza eco-
nômica são discussões que só farão sentido no contexto moderno. O autor entende que
foi somente neste contexto histórico específico que as “forças de produção” adquiriram
um potencial tão destrutivo em relação ao meio ambiente.
Ainda no que diz respeito ao ineditismo do poderio e desenvolvimento das forças militares
na modernidade, Anthony Giddens afirma que a junção entre inovação industrial e poder
militar remete à própria origem da industrialização moderna. Isto é, tendo a indústria e as
inovações tecnológicas neste período se desenvolvido de maneira tão eficiente e comple-
mentar, tais inovações não deixariam de se estender às forças militares da modernidade.
Neste sentido, este autor sugere que as análises que se empreendam sobre a modernidade se
esforcem para abarcar não somente as mudanças e avanços da modernidade, como também
os perigos e riscos que este período carrega no seio de suas características mais essenciais.
Iremos caracterizar a pós-modernidade, de onde surgiu e qual o seu campo de estudos origi-
nário e apresentaremos as principais transformações que possibilitaram a pós-modernidade,
como o desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede.
Você poderá enxergar claramente que a realidade que o cerca está permeada pelos
efeitos da pós-modernidade, pois as consequências da sociedade em rede nas rela-
ções de produção e nos movimentos sociais fazem parte, mesmo que de maneira indi-
reta, da vida de qualquer cidadão do século XXI.
1 ção de fronteiras e territórios, será esclarecida e debatida como manifestação das novas
relações sociais, políticas e econômicas que a pós-modernidade trouxe para o mundo.
A pós-modernidade passa a ser o termo usado, então, para denominar rupturas com
modelos e padrões de entendimento que são postos em xeque no momento em que o
mundo passa a conviver com intensas e profundas mudanças. Para Jurgen Habermas,
havia um “projeto da modernidade” que consistia:
14
1
Exemplos são Robert Venturi, Aldo Rossi, James Corbett, entre outros.
Sendo assim, a pós-modernidade, tendo nascido nas artes visuais, pode ser empregada
para entendermos os novos hábitos, costumes, formas de vida e movimentos sociais im-
pregnados pelas mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas do século XXI.
Para que essa transformação toda fosse possível, alguns acontecimentos foram cru-
ciais no decorrer do século XX. Entenderemos melhor do que estamos falando nos
tópicos seguintes, ao abordarmos as transformações fundamentais que possibilitaram
o advento da pós-modernidade.
1
O impacto da tecnologia da informação e sua consequente transfor-
mação nas relações sociais pode ser sentido em diferentes espaços e
maneiras. Desde as novas formas e processos de produção, isto é, na
organização das estruturas de trabalho na contemporaneidade, chegan-
do até às reivindicações sociais, ou seja, na maneira como os novos
movimentos sociais se articulam e tomam corpo, a pós-modernidade
exerce sua influência.
Esse novo modo de organizar a produção se caracteriza pela flexibilização dos processos
de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos produzidos e dos padrões de consumo.
Surgem nesse contexto muitos outros setores de produção, bem como novas maneiras de
fornecimento dos serviços financeiros, novos tipos de mercados, e, principalmente, muita
inovação comercial, tecnológica e organizacional, nos explica Harvey (2007, p. 140).
16
A acumulação flexível traz como resultados imediatos o aumento dos empregos e 1
oportunidades de empreendimentos no chamado “setor de serviços”, assim como par-
ques industriais em países de industrialização tardia ou capitalismo periférico, como
Brasil, Índia e África do Sul. Como consequência do aumento da produção pelas
novas tecnologias, a maneira de explorar o mercado e oferecer mercadorias também
se modifica.
A acumulação flexível confere “uma atenção muito maior às modas fugazes” e mobi-
liza “todos os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural” para
induzir o consumo a uma forma efêmera e descartável. Atrelado a esse processo, o
relacionamento com os produtos (com significativa vida útil menor) produzidos passa
a ser mais fugaz e caracteriza, portanto, uma “estética pós-moderna que celebra a di-
ferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de formas culturais”
(HARVEY, 2007, p. 148).
Nesse sentido, Castells afirma que as redes de comunicação (as famosas redes sociais) são,
em certa medida, temidas por governos e instituições de poder, pois são capazes de construir
novas formas de pensamento, direcionar atitudes, construir significados e mobilizar agentes
sociais, sejam eles individuais ou coletivos. Portanto, nos esclarece este autor, as modifica-
ções nas formas de comunicação afetaram definitivamente as relações de poder.
“As redes de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana (mas
não apenas) mediante as redes multimídia de comunicação de massa. Assim,
as redes de comunicação são fontes decisivas de construção do poder” (CAS-
TELLS, 2013, p. 12).
1
fomentados pelas informações mais imediatas e diversificadas possíveis, aptos a
articular ações conjugadas nos mais distantes lugares do globo ao mesmo tempo.
Não se faz mais necessário que as novas movimentações sociais sejam alocadas em
uma sede física, com uma escala hierárquica definida entre indivíduos e encontros pe-
riodizados entre seus membros. Basta que os manifestantes estejam organizados em
rede e se identifiquem em suas dificuldades e reivindicações.
“A autonomia da comunicação é
Fonte: 123RF.
a essência dos movimentos so-
ciais, ao permitir que o movimen-
to se forme e possibilitar que ele
se relacione com a sociedade
em geral, para além do controle
dos detentores do poder sobre
o poder da comunicação” (CAS-
TELLS, 2013, p. 16).
Ainda nas considerações de Manuel Castells sobre a influência das redes nas novas
movimentações sociais, o pensador espanhol afirma que o poder pode estar se deslo-
cando dos Estados-Nações para novas alianças e coalizões não governamentais. Estas
relações não pertencentes a nenhum território, mais fluidas e inconstantes, podem ser
lidas como resultantes da sociabilidade típica da pós-modernidade.
2.3 A DESTERRITORIALIZAÇÃO
Se uma das características marcantes da pós-modernidade se faz sentir nos novos movimentos
sociais, os quais passam a não necessitar mais de encontro físico entre todos os seus partici-
pantes, então entendemos que a desterritorialização é uma das faces da pós-modernidade.
Anthony Giddens (2012, p. 467) rotula o século XXI como “a era da migração”, isto
porque a intensificação da migração global após a Segunda Guerra Mundial, e espe-
18
cificamente em anos mais recentes, trouxe questões políticas e de governança muito 1
sérias para todo o mundo. Inegável, portanto, é a multiplicidade de dados culturais e
influências étnicas que permeiam as sociedades atingidas por este processo.
Fonte: 123RF.
Constituem exemplos de alguns desses espaços de desterritoriali-
zação os campos de refugiados, as colônias de imigrantes, multina-
cionais e empresas de capital misto, nos esclarece Cristina Costa
(2005, p. 237).
De uma maneira geral, o termo “global” se refere aos caminhos que as políticas econômicas
e sociais do mundo capitalista vêm trilhando a partir da década de 1980.
20
1
“Embora as forças econômicas sejam uma parte integral da globalização, seria erra-
do sugerir que elas a produzem sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, cul-
turais e econômicos cria a globalização contemporânea” (GIDDENS, 2012, p. 102).
Para isso, explicaremos a seguir alguns dos fatores que contribuíram para a globalização.
Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, esta disseminação da informação sofreu
grande transformação. Ela foi facilitada por vários avanços na estrutura das telecomu-
nicações do planeta como o desenvolvimento de um sistema de cabos mais eficiente e
menos caro e o desenvolvimento tecnológico dos satélites de comunicações, que a partir
da década de 1960 expandem as comunicações internacionais. A partir de então, grandes
quantidades de informação podem ser comprimidas e transferidas por meio digital.
1
Um exemplo claro das possibilidades trazidas pela tecnologia da comu-
nicação está na mobilização de milhares de pessoas em manifestações
políticas e culturais. Movimentos como a chamada Primavera Árabe
(grandes insurreições nos países árabes, a partir de 2009, quando mi-
lhares de pessoas saíram às ruas contra governos ditatoriais, inicia-se
na Líbia e se expande para vários países vizinhos); ou o Greenpeace
(importante Organização Não Governamental que luta pelas questões
ambientais), entre outros, podem ser classificados como ações que
buscam agir para além de seus territórios nacionais e são possíveis
graças à internet.
A primeira
A segunda
diz que indivíduos no mundo todo buscam, cada vez mais, forjar sua identidade
em fontes além de seu Estado-Nação. As identidades culturais locais passam por
transformações profundas, e um habitante da Irlanda do Norte, por exemplo, pode
se identificar culturalmente com um da França. A ideia da identificação patriótica
dos indivíduos com seu Estados-Nação está em xeque à medida que as políticas
em níveis globais e regionais se orientam para além das fronteiras geográficas.
Anthony Giddens (2012) afirma que, embora a globalização seja fomentada por grandes
trocas econômicas e desenvolvimento tecnológico, ela pode ser sentida nas relações
mais cotidianas. As transformações são vistas nas formas como as instituições sociais
mais elementares, como família, papéis sociais, identidades pessoais, relações de tra-
balho, sexualidade etc., são afetadas e reconfiguradas. Neste sentido, para o autor, a
globalização inaugura um período de ascensão do individualismo.
À medida que nos deparamos com transformações profundas nos mais elementares
pilares de sustentação da vida em sociedade, e tradições e costumes antigos já não fa-
zem mais sentido, é preciso que sejamos capazes de alterar a maneira como pensamos
a nós mesmos e surjam novos padrões identitários.
22
Os Fatores Econômicos 1
Dada a importância que a tecnologia da informação confere às identidades individuais
e a promoção de novas formas de comunicação, não podemos deixar de salientar que
os processos econômicos são cruciais para que a globalização atinja os patamares do
século XXI. Cada vez mais a economia global se orienta para as atividades ligadas à
tecnologia da informação, isto é, softwares de computador, mídia, produtos do entrete-
nimento e serviços baseados na internet. Segundo Anthony Giddens (2012, p. 106), a
globalização é orientada “por atividades que não têm peso e são intangíveis”.
A forma predominante da economia contemporânea passa a ser a rede entre diversas ativi-
dades que cruzam as fronteiras geográficas, tornando as empresas cada vez mais flexíveis
e dispersas em suas hierarquias e atividades. É necessário fazer parcerias e participar de
redes de distribuição mundial para estar presente nos negócios do mundo globalizado.
Os Blocos Econômicos
No entanto, o processo integrador das economias globais assume também as diferenças eco-
nômicas e políticas entre os países. Serão justamente essas diferenças entre os envolvidos que
representará um dos principais problemas enfrentados pela formação dos blocos econômicos
(por exemplo: União Europeia, Mercosul, Nafta, entre outros), símbolos da globalização.
A Imigração
No contexto dos blocos econômicos, as fronteiras são bastante livres e sem impedimen-
tos quando o que circula são as mercadorias. No entanto, quando se trata de pessoas,
1 especialmente aquelas vindas dos países de economias periféricas, como África, Amé-
rica Latina e Ásia, as fronteiras já não são tão desimpedidas.
Fonte: 123RF.
políticas restritivas são formas contem-
porâneas de segregação espacial e
consequente elemento fundamental de
distinção social.
Atrelada à face positiva e transformadora das relações sociais que a globalização pro-
mete, está sua face perversa e excludente. Para que o ideal de integração da globali-
zação se realize, é necessário abandonar antigas tradições e posições nacionalistas.
Neste sentido, podemos afirmar que um dos grandes desafios que se impõem às novas
relações entre os países é a questão da imigração e circulação de pessoas em busca
das promessas e benefícios do capitalismo globalizado.
É por isso que os efeitos negativos da globalização podem ser sentidos principalmente
nas regiões de capitalismo periférico onde a instalação de grandes multinacionais ex-
plora a força de trabalho regional muitas vezes de maneira injusta, como por exemplo,
pagando salários cada vez mais baixos, por muitas vezes mantendo os trabalhadores em
condições análogas à escravidão, aproveitando-se da pouca organização sindical dos
24
trabalhadores desses países, e ainda, valendo-se das isenções fiscais oferecidas por 1
líderes desses países para que instalem suas fábricas nesses locais. Também é possível
sentir os efeitos negativos da globalização nas consequências ao meio ambiente desses
países, em que o processo de dilapidação dos recursos naturais se mostra insustentável.
Por esses motivos, muitos estudiosos da globalização falam em estabelecer uma gover-
nança global. Esta proposta visa abordar de maneira global problemas que são criados
e têm consequências num nível global.
Os efeitos do aquecimento do
Fonte: 123RF.
planeta, da dissemi nação de do-
enças, da regulamentação de
mercados financeiros instáveis e
dependentes internacionalmente,
são exemplos de problemáticas
que surgem em função de uma
nova ordem econômica, política e
social que é a globalização.
Para a resolução destes entraves gerados pela internacionalização das relações, cada
vez mais se propõe que as soluções para estes se dê num nível global. Segundo Gi-
ddens (2012, p. 117), o estabelecimento de uma governança global pode ajudar “a
promover uma ordem mundial cosmopolita, na qual regras e padrões transparentes
para o comportamento internacional, como a defesa dos direitos humanos, sejam esta-
belecidos e observados”.
CONCLUSÃO
Nesta Unidade de Estudo abordamos os temas: modernidade, sociedade pós-indus-
trial e cultura pós-moderna, e globalização. Vimos que o período que chamamos de
modernidade se refere a transformações importantes em todas as instituições sociais:
desde as relações de trabalho, até a política e a economia. O Renascimento, como fato
importante e cabal trouxe uma nova maneira de o homem enxergar a si e o mundo em
que vive, enquanto que a Revolução Industrial mudou radicalmente a ordem produtiva
da vida econômica e alterou para sempre os modos de produção.
Esperamos que os elementos aqui apresentados tenham fomentado uma nova e mais
complexa maneira de enxergar o fenômeno que atinge a todos os cidadãos e todas as
cidadãs do mundo contemporâneo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio 5. ______. As consequências da modernidade. São
de Janeiro: Zahar, 2001. Paulo: Unesp, 1991.
2. CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e 6. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São
esperança: Movimentos sociais na era da internet. Paulo: Loyola, 2007.
Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 7. SILVA, Afrânio et al. Sociolo-
3. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciên- gia em movimento. São Paulo:
cia da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. Moderna, 2013.
4. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre:
Penso, 2012.
26
1
EXPRESSÕES E PROCESSOS DO
2
CONHECIMENTO E O HUMANO
COMO SER MULTIFACETÁRIO E RELACIONAL
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade abordaremos os tópicos sobre as formas e os processos do conheci-
mento e sobre o ser humano, destacando a dimensão biológica, a inteligência, a lingua-
gem, a cultura, a historicidade, a alienação e a busca do transcendente.
1. INFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS
Informações não são conhecimentos. Essa é a primeira distinção que devemos fazer.
Informações são registros de algumas características de fatos, objetos ou processos
que detectamos no mundo.Conhecimentos são conjuntos de informações organizadas,
articuladas e interpretadas, que nos ajudam a compreender uma parte da realidade
natural, social ou cultural do mundo em que vivemos.
28
lecer relações entre elas e interpretar seu significado. Só assim você
saberá se a cidade é populosa ou não, se é rica ou pobre, antiga ou 2
jovem, que tipos de empresas possui, se seus serviços de saúde e de
educação estão bem distribuídos ou não.
Todos os dias somos bombardeados por uma enorme quantidade de informações. Jor-
nais, revistas, TV, Internet, rádio, redes sociais... Não nos faltam informações. Na verda-
de, as temos em excesso. Isso cria um dos grandes desafios de nosso tempo: filtrar essas
informações, separando relevantes e irrelevantes, verdadeiras e falsas, úteis e inúteis.
Senso Comum
O senso comum pode ser entendido de duas formas distintas, mas que são complementares:
01
crenças religiosas, modos de fazer coisas e organizar a vida, mitos,
ideologias políticas, representações do que seja o mundo e a socie-
dade etc. Tudo isso misturado, num conjunto pouco organizado e
muitas vezes contraditório. Esse cabedal, entretanto, é da máxima
importância, pois permite a comunicação entre os membros do gru-
po social e, consequentemente, facilita a interação e a cooperação
entre eles. O senso comum forma uma visão de mundo, isto é, uma
representação, uma imagem de como é o mundo, que é a primeira
referência que temos do mundo que nos cerca e é a referência que
as pessoas usam como orientação para a vida cotidiana.
02
fragmentário e superficial. Isso porque o senso comum é muitas ve-
zes portador de uma atitude crédula e acrítica, que se satisfaz com
as aparências, que aceita opiniões somente porque foram emitidas
por supostas autoridades do saber, que admira as opiniões mais
chocantes. Podemos resumir afirmando que o senso comum não
examina seus conhecimentos: não pergunta pela origem das infor-
mações, não pergunta por sua veracidade, ou pelos interesses que
eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos.
Vale atentar para esta característica do senso comum: toda informação que se torna
senso comum, isto é, que se dissemina na sociedade e é repetida em toda parte, come-
ça a ser tomada como verdadeira. É como um boato maldoso: depois que se difunde,
ninguém mais se lembra de onde veio, quem o proferiu e com que interesse. Tornou-se
senso comum, todos o repetem como se fosse verdadeiro.
O exame do conhecimento é tarefa constante para todos aqueles que não se satisfa-
zem com aparências e buscam a verdade. Por isso, apesar de sua enorme importância
na vida cotidiana de indivíduos e coletividades, não podemos nos limitar a aceitar e
reproduzir os conteúdos superficiais do senso comum.
Mito
Mitos são também uma maneira de conhecer, que a humanidade vem utilizando desde
a mais remota antiguidade até hoje. Trata-se de uma forma de conhecimento baseada
30
fundamentalmente na compreensão intuitiva dos fatos, que é apresentada, em geral,
sob o formato de uma história. Essa narrativa apresenta, muitas vezes a saga de um
herói, a origem do cosmos ou dos deuses, a origem do ser humano, das raças e dos 2
povos, entre outros temas.
Os mitos são criados, anônima e coletivamente, para explicar o mundo em que vi-
vemos, especialmente os acontecimentos que nos amedrontam. Essa explicação não
segue critérios racionais, muito menos científicos, mas ensinam, por meio do compor-
tamento dos personagens da narrativa, a solução dos enigmas da vida, a identidade do
grupo social e o modo correto de se conduzir.
Todos os povos criam seus mitos e os utilizam para compreender os mistérios da vida
e do mundo.
UM MITO CONTEMPORÂNEO
Alguém já lhe contou a história seguinte? Ela já foi muito difundida no Brasil há
algumas décadas. Apesar de ser uma explicação mítica, foi aceita como válida
por amplos setores da sociedade brasileira:
“O Japão é um país muito pequeno, que fica do outro lado do mundo. Durante
a Segunda Guerra Mundial, foi inteiramente destruído. Mas os japoneses foram
tão esforçados, disciplinados e trabalhadores, que rapidamente reconstruíram
tudo e ainda se tornaram um dos países mais ricos do mundo”.
Essa narrativa surgiu nos anos 1960, quando o Japão experimentou um cresci-
mento econômico muito forte e impressionou o mundo todo com seus trens-ba-
la, automóveis baratos e aparelhos eletrônicos.
Ideologia
Desde Destutt de Tracy e Karl Marx, no século XIX, o fenômeno da ideologia tem des-
pertado interesse e inúmeros teóricos já se manifestaram sobre o tema, formulando
concepções das mais variadas. Com base nas ideias do filósofo polonês Adam Schaff
(1913-2000), apresentamos uma concepção ampla de ideologia, que nos fornece uma
interessante ferramenta para elaborar a crítica do conhecimento.
A ideologia é concebida, então, como uma visão de mundo sistematizada (ao contrário do
senso comum, que é uma visão de mundo desorganizada), modelada pelos interesses do
grupo que a elaborou, que atua afirmando a identidade do grupo, controlando as divergên-
cias de seus membros e difundindo por toda a sociedade a visão de mundo desse grupo.
32
de oposição ao grupo dominante. Contudo, a ideologia se torna falsa consciência e
obstáculo à compreensão da realidade sempre que está a serviço da dominação e, por
conseguinte, dos interesses de ocultação do real. 2
Os mecanismos utilizados pela ideologia para ocultar a realidade foram estudados por
Marilena Chauí (2008. p. 113.). Os principais são:
01. Naturalização
Faz com que os processos provocados pela intervenção humana sejam interpre-
tados como resultantes de fenômenos naturais;
Ciência
É muito importante examinarmos também a ciência. Trata-se da forma de conhecimento
mais prestigiosa dos últimos séculos. Dela se esperam conhecimentos verdadeiros e uma
explicação científica tende a ser aceita como verdadeira e incontestável.
A ciência tem limitações, contudo. Sua capacidade de conhecer vai somente até
onde é possível fazer experimentações, ou constatações empíricas. Muitas coisas
importantes ficam de fora do conhecimento científico:
pois a ciência não discute valores (o cientista é quem deve ter valores éticos);
A arte:
O campo da fé:
Dessa forma, o formidável poder explicativo da ciência nunca será capaz de esclarecer
toda a realidade, nem de afirmar a existência ou inexistência de Deus, a justiça, a bele-
za e muitos outros temas. Não poderá substituir outras formas de conhecimento, como
a filosofia, ou a experiência religiosa, mas poderá conviver com elas e mesmo cooperar,
pesquisando em seu campo próprio e com seus métodos específicos os aspectos bási-
cos dos fenômenos que interessam também a essas formas de saber.
34
Como Podemos Caracterizar o Conhecimento Científico?
O conhecimento produzido pela ciência pretende ser, acima de tudo, objetivo. Objetivo 2
é o conhecimento que traduz as características do objeto (a coisa) que está sendo co-
nhecido. É, portanto, um conhecimento fiel à realidade, evitando distorções introduzidas
pela subjetividade do cientista.
São modelos que pretendem descrever o funcionamento dos fenômenos, isto é, são
maquetes da realidade, que nos ajudam a compreendê-la. Nunca são, porém, repre-
sentações completas e infalíveis da realidade.
Técnicas e Tecnologia
Técnicas são as formas que a humanidade foi criando, ao longo da história, para trans-
formar materiais naturais nos bens de que tinha necessidade.
Por sua vez, a tecnologia surgiu com a ascensão da ciência moderna, no final do século
XVIII. Os cientistas da época procuravam explicar com ajuda da ciência o funcionamen-
to das técnicas tradicionais. Com isso, abriram caminho para o aperfeiçoamento dessas
técnicas por meio do conhecimento científico e para sua utilização na indústria. Surgiu
assim a eletrônica e a microeletrônica, a informática e todo o aparato que hoje utiliza-
mos nas telecomunicações e no processamento de informações.
Dessa maneira, é fácil entender que o principal papel da tecnologia tem sido o de esti-
mular a economia com novos e melhores produtos, cujo surgimento leva à substituição
de produtos anteriores e força a realização de novos investimentos. A tecnologia se
tornou um dos principais motores da economia capitalista. Contudo, seu uso deve ser
dirigido e, quando necessário, limitado, pela atuação responsável de cientistas e de
toda a sociedade.
Filosofia
Também a filosofia é um modo especial de elaborar conhecimentos. A própria palavra
filosofia o denuncia: no grego antigo, filo + sofia equivale a amor pela sabedoria, isto
é, uma busca contínua, amorosa e empenhada do conhecimento em direção à sabedo-
ria. Mas esta explicação não nos basta atualmente.
Como modo de conhecer, a filosofia pode ser compreendida como reflexão radical, ri-
gorosa e de conjunto sobre problemas que a realidade em que vivemos nos apresenta
(SAVIANI, 1983). Afirmar que a Filosofia é reflexão significa afirmar que a razão (nossa
capacidade de raciocinar) é o instrumento mais importante para a compreensão da rea-
lidade. Mas não é qualquer tipo de reflexão que pode ser chamada de filosófica.
36
Os objetivos desta reflexão são variados e diversos, conforme os diferentes autores e
correntes da filosofia. Observe a seguir:
2
Filosofia
Infelizmente não temos à nossa disposição a alternativa de adotar uma forma única e suficiente.
Contudo, não nos basta a ciência. As demais formas do conhecimento são também
necessárias para a vida humana atual.
O senso comum:
Os mitos,
38
As ideologias
2
proporcionam unidade e mobilização de grupos sociais.
A filosofia
Isso não significa aceitar, ingenuamente, qualquer opinião como válida, ou qualquer in-
formação como verdadeira. Precisamos nos aproximar criticamente de toda informação
e de todo conhecimento que nos é proposto.
Alimentada por uma atitude analítica, atenta, que não se satisfaz com as aparências,
não aceita passivamente opiniões e valores que lhe são propostos, mas quer interro-
gar o real e compreendê-lo profundamente, a criticidade requer um esforço metódico
e constante de exame dos conhecimentos e de busca de informações mais amplas e
precisas. Desse esforço depende a esperança de compreendermos melhor o mundo
em que vivemos.
Veremos algumas características que fazem do humano um ser tão especial. Essas
características indicam dimensões que, profundamente integradas, constituem o ser
humano. É fundamental entendê-las, pois, se as desconsiderarmos, correremos o risco
de construir uma visão distorcida do que é o ser humano.
O ser humano pode ser pensado como sendo constituído por múltiplas
dimensões profundamente integradas.
40
Somos, assim, filhos da Terra, que nos dá a vida biológica e o alimento
com que, diariamente, construímos nosso corpo e do qual retiramos a 2
energia de que necessitamos, e a qual devolveremos tudo um dia, ao
final da vida.
É para essa reflexão que nos convida a imagem utilizada pela Bíblia para descrever o
surgimento do ser humano: um boneco modelado em barro, no qual Deus introduziu
um espírito: “Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em
suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (BÍBLIA, Gn 2, 7).
A reflexão de Leonardo Boff (2013) nos ajuda a compreender melhor essa realidade:
Somos Terra que pensa, sente e ama. O ser humano, nas várias culturas e fa-
ses históricas, revelou essa intuição segura: pertencemos à Terra; somos filhos
e filhas da Terra; somos Terra. Daí que [a palavra] “homem” vem de “húmus”.
Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como
algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria
Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão,
de vontade, de responsabilidade e de veneração. Numa palavra: somos a Terra
no seu momento de autorrealização e de autoconsciência.
De fato, somos bastante semelhantes aos grandes primatas, como orangotangos, go-
rilas e chimpanzés. Somos mamíferos, organizados em simetria bilateral, dotados de
quatro membros divididos entre superiores e inferiores, possuímos polegares opositores
que permitem à mão segurar um objeto, um cérebro desenvolvido e a capacidade de
ficarmos eretos. Partilhamos com outros animais a capacidade de sentir dor e afeto, as
diferentes formas e graus da inteligência e da memória, o impulso sexual e reprodutivo.
Entretanto, alguns traços muito importantes nos diferenciam dos outros animais: a ado-
ção da postura ereta e a liberação das mãos, o maior desenvolvimento do cérebro, que
nos possibilita (como um sofisticado hardware biológico) uma complexa vida psíquica,
um grau extraordinário de inteligência e a elaboração da linguagem.
Essas características os tornam menos dependentes das mães (às vezes inteiramen-
te independentes), facilitando a sobrevivência em seu habitat natural e permitindo se
desenvolver rapidamente, alcançando em pouco tempo a plenitude física e a capaci-
dade reprodutiva.
42
andar sobre duas pernas;
2
falar e se comunicar, relacionar-se com outros seres humanos;
Algumas outras diferenças entre o ser humano e o animal serão a seguir destacadas.
Por isso, aranhas executam suas teias sempre da mesma forma, peixes
migram para se reproduzir (a piracema) quando recebem um certo es-
tímulo químico das águas do rio e pássaros constroem seus ninhos da
maneira típica de sua espécie.
Animais situados nos níveis mais elevados da escala zoológica possuem, além dos
instintos, uma certa inteligência concreta, que lhes permite responder de forma nova
e diferente a uma situação imprevista. Chamamos de concreta porque sua inteligência
está limitada ao aqui e agora, isto é, a resposta do animal depende dos elementos pre-
sentes e não faz uso de elementos anteriores nem de possibilidades futuras.
Ato voluntário: o ato humano é dirigido por uma finalidade consciente e livre-
mente escolhida. A inteligência permite ao ser humano escolher e coordenar os
meios que permitirão atingir essa finalidade.
Como sua comunicação se limita a sinais indicativos (índices), não podemos dizer que
os animais possuem linguagem propriamente dita.
44
2
O ser humano constantemente produz símbolos e cria linguagens para exprimir suas
experiências (isso se dá sempre no contexto das relações sociais). Devido a sua carac-
terística de representar por meio de relações arbitrárias e convencionais, a linguagem
permite ao ser humano se distanciar da experiência vivida aqui e agora e reorganizá-la
num outro nível, dando-lhe um novo sentido. Dessa forma, a linguagem dota o ser hu-
mano de um pensamento abstrato, capaz de operar no contexto de uma inteligência
abstrata. Por isso, podemos falar também que pensamento é linguagem.
Tudo isso é cultura. Cultura é o que o ser humano cria para prover sua subsistência,
proteger sua vida e dar-lhe significado. O termo “cultura” se refere, portanto, àquilo que
2 é feito pelo ser humano, opondo-se nesse sentido ao termo “natureza”.
O trabalho dos animais é apenas uma metáfora. Animais provêm sua subsistência cole-
tando, caçando ou pescando os alimentos que o ambiente natural lhes oferece. Cons-
troem ninhos e abrigos com os materiais que o ambiente lhes disponibiliza. Ao fazê-lo,
agem segundo seus instintos ou segundo a inteligência concreta de que dispõem.
Exemplos de trabalho:
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existência por meio de significados oletivamente elaborados. Cria laços políticos como
forma de pertencimento a grupos e promoção de seus interesses.
2
Física:
ausência de coação pela força;
Moral:
Política:
Psicológica:
que o ser humano tem de escolher entre fazer, ou não, uma determinada coisa,
2 de cumprir, ou não, uma determinada ação, quando já existem as condições
requeridas, ou ainda, de querer ou não querer agir, de escolher entre coisas
opostas, quando existem as condições para tal.
Semelhante a nosso prisioneiro fictício, quase nunca temos, para escolher, as alterna-
tivas que desejaríamos. Mesmo assim, temos escolhas e podemos fazê-las com base
em nosso livre-arbítrio.
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Não existe liberdade total. A liberdade humana é sempre limitada. Po-
demos ampliá-la por meio do conhecimento e do discernimento, ou por 2
meio de instrumentos que criamos para possibilitar certas ações que a
condição humana nos impede (um balão para voar, por exemplo). Po-
demos restringi-la por meio da ignorância, das coações descritas, dos
fortes sentimentos, ou de um sistema político opressor. Mas a liberdade
é uma faculdade humana tão fundamental quanto viver, pensar e tra-
balhar. Está sujeita às mesmas limitações do viver, pensar e trabalhar,
causadas pela nossa finitude.
O ser humano, que é também ser vivo e obedece à dinâmica da vida, tem um modo de
ser bem mais complexo e sem dúvida especial. Somos postos no mundo à revelia de
nossa vontade. No mundo, não escolhemos nossa condição: vivemos por meio do cor-
po que possuímos, educamo-nos num determinado ambiente familiar e cultural e, em
sociedade, convivemos com as limitações e possibilidades de um certo contexto históri-
co, político e econômico. Mergulhados no mundo, vivemos não apenas biologicamente,
mas tomamos consciência de nossa condição e, diante dela, somos levados a realizar
escolhas e a nos responsabilizar por elas. Convivemos com a incerteza e o risco que
cada escolha pode nos trazer.
Por isso, dizemos que o ser humano não apenas vive, mas existe. Não está no mundo
como os demais seres, mas projeta e modifica seu ser e o modo como está no mundo.
2 Vive, mas também “pilota” sua existência.
Por tudo isso, a pessoa humana é um fim em si mesma e nunca pode ser reduzida
a mero instrumento. Possui uma dignidade inerente a seu ser, irrenunciável, que lhe
confere um valor inestimável e idêntico para todos os seres humanos, independente-
mente de idade, etnia, cultura, crença ou condição socioeconômica. A pessoa humana
é, portanto, a razão de ser todas as instituições sociais, políticas e econômicas (ÁVILA,
1982, p. 452).
50
Por que a doença, o sofrimento, o mal e a morte? Por que estamos aqui? Há
algo além desta vida? Há um sentido para a vida humana? 2
Por isso, enquanto indivíduos, cada um de nós tem duas tarefas intransferíveis: conhe-
cer a si mesmo e elaborar seu projeto de vida.
2
Autoconhecimento: conhecimento profundo e progressivo de si mesmo.
Permite conhecer melhor suas capacidades e limitações e identificar
seus valores e anseios fundamentais.
Um projeto de vida é um plano de desenvolvimento pessoal, uma rota que você escolhe
para alcançar os objetivos mais importantes, isto é, aqueles que vão dar sentido à sua
vida, porque respondem aos anseios mais profundos de seu ser. Elaborar seu projeto
de vida supõe, além de estratégias e metas racionalmente elaboradas, responder, do
fundo do coração, a perguntas vitais e muito pessoais, como:
Que propósito e que uso quero dar aos 25 mil dias que tenho
pela frente?
Não confunda projeto de vida com projeto de carreira. Um plano para o desenvolvimen-
to da formação e da carreira profissional, fixando estratégias, metas e prazos é muito
importante para você se tornar um profissional bem-sucedido. No entanto, a carreira
profissional é apenas parte de sua vida e não toda a vida.
CONCLUSÃO
Nesta unidade vimos as principais modalidades de conhecimento atuantes em nossa
sociedade e as múltiplas dimensões do ser humano. Em nossa vida cotidiana, na inte-
ração social, no trabalho e mesmo nos estudos, recebemos uma enorme quantidade
de informações, estruturadas sob diferentes formas de conhecimento, sem indicação
52
de sua origem nem dos interesses de quem a veicula. É um desafio constante buscar
distinguir informações verdadeiras e falsas, relevantes e irrelevantes, descritivas ou
ideológicas, objetivas e subjetivas. Por isso, a crítica do conhecimento é uma tarefa 2
permanente, que deve se tornar, para nós, um verdadeiro hábito.
Todas essas dimensões estão essencialmente integradas no ser humano, que não é
uma simples soma de partes. Do ser humano, em cada época, conhecemos apenas
parte do que ele pode realizar, ser, fazer e sofrer. Conhecemos apenas parte do que
significa ser um ser humano. Por isso, nunca é demais lembrar: o ser humano ainda é
um mistério para si mesmo.
REFERÊNCIAS
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Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1983.
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8. CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São
Paulo: Brasiliense, 2008. p. 113.
INTRODUÇÃO
No início do século XX pouco se conhecia sobre a ecologia e as questões ambientais;
na época, um cidadão brasileiro poderia passar a vida toda sem se preocupar com o
meio ambiente. Atualmente, você já deve ter percebido que o ambiente é um assunto
incontornável. Assim como você, todos somos convocados a repensar nossas práticas
cotidianas, nossas formas de produzir e consumir, visando formas mais ecológicas de
viver e se desenvolver.
O objetivo com este estudo é que você desenvolva maior consciência sobre o ambiente
e seus vários problemas. Apresentaremos conhecimentos básicos sobre o meio am-
biente – tais como o desenvolvimento sustentável, a educação ambiental e os riscos
produzidos – buscando desenvolver sua capacidade de perceber os problemas ambien-
tais como processos complexos que envolvem de forma interdependentes elementos
sociais, políticos, econômicos e ecológicos. Você perceberá que as questões ambien-
tais são muito interessantes, profissionais do mundo todo trabalham intensamente sobre
elas desenvolvendo ideias e soluções. Este tópico é apenas um princípio ou incentivo
para você estudar e conhecer, ele não aborda todos os temas e problemas ambientais.
54
Resiliência é a capacidade de um sistema recuperar seu equilíbrio após este ter
sido rompido por um distúrbio, a resiliência também descreve a velocidade com
que uma comunidade retorna ao seu estado anterior após ter sido perturbada e 3
deslocada de tal estado (TOWNSEND et al., 2011, p. 357).
Fonte: 123RF.
tivos como Rapa Nui, é um conhecido
exemplo de degradação da terra causa-
da por seu uso desequilibrado em um
ecossistema sensível. A Ilha de Páscoa,
tornada um local praticamente sem ár-
vores, sofreu sérios prejuízos ambien-
tais, principalmente perda do solo por
erosão, o que ocasionou a decadência
Estátua Moai na Ilha de Páscoa, Chile. da população local.
Se durante milhares de anos a vida humana esteve muito submetida à natureza, com o
desenvolvimento das sociedades modernas industrializadas a transformação humana
sobre o ambiente se tornou intensa, ao mesmo tempo em que se instaurou uma busca
incessante por compreender a natureza para controlar e prever os processos naturais.
Estar atento à ecologia ambiental se tornou fundamental. Todos nós precisamos enfren-
tar as questões ambientais reconhecendo nossas responsabilidades, isso quer dizer
que precisamos não apenas controlar os danos ambientais, mas também repensar o
modo de vida das sociedades modernas industrializadas.
A preocupação com o impacto nocivo dos humanos sobre o mundo natural levou à
formação de movimentos sociais e políticos “verdes”, como o Greenpeace e o Parti-
do Verde. Embora existam visões de mundo e estratégias muito diferentes entre os
ambientalistas, é comum a preocupação e a ação em favor de preservar as espécies
remanescentes e conservar os recursos do planeta no lugar de exauri-los. Porém, es-
tes esforços não têm sido suficientes para evitar a poluição ambiental e um possível
aquecimento global excessivo. Reconhecendo o problema, cientistas e líderes, como o
Papa Francisco, afirmam que precisamos proteger nosso planeta unindo esforços para
enfrentar simultaneamente os problemas ambientais e sociais. Neste sentido, o Papa
Francisco, faz um apelo fundamental:
56
ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade
universal (FRANCISCO, 2015, p. 13).
3
2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O meio ambiente está sendo degradado em um ritmo muito mais rápido do que imagi-
návamos. A maior parte dessa “bagunça” é causada por atividades humanas. Os danos
são tanto a nível global como regional. Portanto, qualquer erro ou dano que tenha sido
causado por nós deve ser corrigido por nós.
Nesse sentido, para proteger e gerir o meio ambiente, é fundamental que tenhamos
uma boa Educação Ambiental (EA). É uma maneira de ensinar as pessoas e as socie-
dades sobre como usar os recursos presentes e futuros de forma melhor. Mediante a
educação ambiental, as pessoas podem adquirir conhecimento para lidar com as ques-
tões fundamentais que levam à poluição e ao esgotamento dos recursos.
3. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Em meados da década de 1970, um relatório científico encomendado pelo Clube de
Roma, intitulado Os Limites do Crescimento (MEADOWS, 1972), despertou o interes-
se público em relação aos problemas ambientais.
A ideia de reduzir severamente o crescimento econômico foi logo criticada por aqueles
que a julgavam desnecessária; estes críticos afirmavam que o desenvolvimento eco-
nômico poderia e deveria ser incentivado, pois este seria o único meio de ampliar a
riqueza mundial. E, se o desenvolvimento econômico fosse reduzido, os países menos
desenvolvidos nunca poderiam se industrializar como os países mais ricos.
58
É preciso lembrar que as questões ambientais ocorrem em um mundo fortemente desi-
gual e com interesses conflituosos. Os diferentes graus de desenvolvimento econômico
possibilitavam a suposição de que o crescimento econômico é possível a todos os paí-
ses, bastaria trilhar o caminho certo. 3
Bem-vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem
restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua polui-
ção, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento.
A faixa ficou famosa e resumia a posição do Brasil (sob ditadura militar) de que
o principal problema era a miséria e que era preciso desenvolver a economia
primeiro e pagar os custos da poluição ambiental mais tarde. Acreditava-se que o
desenvolvimento econômico dos países mais pobres não poderia ser sacrificado
por considerações ambientais.
O termo foi utilizado pela primeira vez no relatório Nosso Futuro Comum (World Com-
mission on Environment and Development, 1987), também conhecido como Relatório
Brundtland, de 1987, encomendado pelas Nações Unidas. Neste relatório, o desenvol-
vimento sustentável foi definido como o uso dos recursos renováveis para promover o
crescimento econômico, a proteção da biodiversidade e o compromisso com a manu-
tenção da pureza do ar, da água e da terra. O desenvolvimento sustentável é, então,
aquele que atende às necessidades de hoje, sem comprometer a capacidade de
as próximas gerações atenderem às suas próprias necessidades.
3 1. Sustentabilidade Social
2. Sustentabilidade Econômica
3. Sustentabilidade Ecológica
Além disso, o termo sustentabilidade é ambíguo, ele integra ao menos dois significados:
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O sociólogo ambientalista Enrique Leff (2006) aponta que tem ocorrido uma adoção
oportunista, por parte dos estados e das empresas, de novos valores trazidos pelo
ambientalismo. Para esse tipo de soluções falsamente sustentáveis, bastaria agregar
como valor a esses “produtos” o que, até então, era ignorado ou não contabilizado como 3
custos de produção, ou seja, a noção de desenvolvimento sustentável algumas vezes
tem sido utilizada para dar aparência ecológica a produtos e sistemas de produção que
são poluidores ou geradores de resíduos.
POSITIVO NEGATIVO
Segundo dados das Nações Unidas (UNEP, 2015) até 90% do lixo eletrônico
do mundo é despejado sem obedecer a nenhum critério ou respeito pelos hu-
manos ou pela natureza. Para Gana, por exemplo, são enviados contêineres
cheios de equipamentos eletrônicos obsoletos ou quebrados com a desculpa
de que os países ricos estão doando equipamentos para diminuir o abismo
digital entre ricos e pobres.
Por outro lado, a pobreza também intensifica as ameaças ambientais. A degradação do solo,
o desmatamento, a falta de água, as emissões de chumbo e a poluição do ar são problemas
que estão concentrados nos países e regiões mais pobres. As pessoas que possuem poucos
recursos têm poucas escolhas senão maximizar os recursos disponíveis a elas.
62
5. AMEAÇAS AMBIENTAIS
Atualmente, o mundo enfrenta diversas ameaças ambientais globais que podem ser
divididas, grosso modo, em dois tipos: a poluição e os resíduos lançados no meio am- 3
biente; e o esgotamento dos recursos renováveis.
5.1 A POLUIÇÃO DO AR
É causada pela emissão de substâncias tóxicas na atmosfera e pode ser a causa da
morte de mais de 2,7 milhões de pessoas por ano. A poluição do ar não afeta apenas a
saúde humana, seu impacto é também prejudicial para outros elementos do ecossiste-
ma, como no caso das chuvas ácidas.
No Canadá, por exemplo, grande parte da chuva ácida que ocorre no leste do país está
relacionada com a produção industrial do estado de Nova York, do outro lado da frontei-
ra entre os Estados Unidos da América e o Canadá.
Nos países e regiões onde ocorre a coleta de lixo, o problema ambiental é a dificuldade
no processo de descarte dessa enorme quantidade de resíduos.
No Brasil, a geração de lixo aumentou 29% entre 2003 e 2014, o equivalente a cinco
vezes a taxa de crescimento populacional no período. No entanto, a quantidade de re-
síduos com destinação adequada não acompanhou o crescimento da geração de lixo.
3 Em 2015, apenas 58,4% do total de lixo foi direcionado a aterros sanitários.
Em países como o Brasil, é provável que as pessoas não deem muita atenção para o abas-
tecimento de água, exceto em situações de seca. Porém, a falta d’água já afeta o Oriente
Médio, a China, a Índia e o norte da África. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula
que, até o ano 2050, 50 países enfrentarão crise no abastecimento de água.
Até 2050, prevê-se que a demanda global de água aumente em 55%, principal-
mente devido às crescentes demandas da produção, geração de eletricidade
térmica e uso doméstico.
64
A floresta amazônica brasileira representa 40% de toda a área de florestas
tropicais no mundo, cerca de 8,5 milhões de Km2.
3
A partir da eminência de desastres ambientais globais e a emergência de novos mer-
cados, as atenções de ambientalistas e conglomerados da indústria se voltaram para o
Brasil e sua riqueza em biodiversidade, deixando-o em uma situação complicada.
Como preservar a floresta e ao mesmo tempo como tirar proveito dessa po-
sição estratégica?
6. RISCOS AMBIENTAIS
Os humanos sempre enfrentaram riscos externos, como secas, terremotos, escassez e
tempestades provenientes do mundo natural, mas os riscos ambientais que nós vivemos
atualmente são diferentes, pois são riscos produzidos pelo impacto de nosso próprio co-
nhecimento e da tecnologia sobre o mundo natural. Existem diversos riscos produzidos,
mas os riscos mais famosos envolvem aquecimento global e alimentos transgênicos.
O aquecimento global é considerado por muitos como o desafio ambiental mais sério
que precisamos enfrentar. Atualmente, a maioria dos cientistas reconhece que o aque-
cimento global é causado pelo efeito estufa e que este efeito é uma consequência da
intervenção humana, ou seja, um risco produzido. Em função dos processos industriais,
temos um contínuo aumento na emissão e acúmulo de gases que provocam o “efeito
estufa”, ou seja, a ampliação de gases que armazenam o calor na atmosfera terrestre.
Outro tipo de risco produzido pelos seres humanos pode ser observado na produção
e consumo de alimentos transgênicos ou Organismos Geneticamente Modificados
(OGMs). Os alimentos transgênicos têm sua composição genética manipulada para que
sejam resistentes a agrotóxicos ou pragas e para que tenham maior produtividade. Eles
são diferentes de todos os organismos que já existiram, pois envolvem o transplante de
genes de um organismo para outro diferente.
Mesmo sendo rapidamente adotada, tendo em vista que o primeiro cultivo comercial ocor-
reu em 1999, ainda há incerteza sobre a segurança dos alimentos transgênicos para o
consumo humano e para os sistemas naturais. O risco está em não termos pleno conhe-
cimento sobre as consequências da ingestão destes alimentos por longos períodos.
Por isso, alguns países como França, Escócia, Japão, Nova Zelândia, Alemanha, Áus-
tria, Hungria, Grécia, Bulgária, Luxemburgo, entre outros, proíbem ou restringem a pro-
dução de alimentos geneticamente modificados em seus territórios. Estes países estão
adotando em suas políticas agrícolas e de saúde pública o princípio da precaução, ou
seja, um princípio moral e político que determina que se, na ausência de consenso
científico irrefutável, uma ação pode originar um dano irreversível público ou ambiental,
66
quem deve provar que a ação é segura é aquele que pretende praticar a ação. Ao res-
tringirem ou banirem os transgênicos e seus territórios, as populações e governos de
muitos países dão um sinal de que não têm confiança nos relatórios de segurança sobre
estes alimentos. Por isso, cientistas, como Ulrich Beck, afirmam que vivemos incertezas 3
sobre os riscos a que estamos expostos cotidianamente, não temos certezas sobre as
causas e as consequências de muitos riscos ambientais produzidos.
CONCLUSÃO
A ecologia nos fornece informação para compreender melhor o mundo em torno de nós,
nossa vida cotidiana e profissional. Os conhecimentos e saberes ambientais também
podem nos ajudar a melhorar o nosso ambiente, a gerir nossos recursos naturais e a
proteger nossa saúde.
Diante dos desafios ambientais que enfrentamos, seja na vida cotidiana ou globalmen-
te, é fundamental aprimorarmos nossos conhecimentos e dialogarmos entre diversos
saberes ambientais. A qualidade da vida humana na Terra depende do esforço conjunto
de todos – empresas, escolas, igrejas, Estados e cada cidadão – no sentido criarmos
solução para a atual crise socioambiental. A educação ambiental é uma das principais
ferramentas nesse processo de desenvolvimento ecológico sustentável, ela deve ser in-
centivada e praticada. A educação ambiental é um processo dinâmico. A fim de permitir
que as pessoas gozem de boa saúde e de uma elevada qualidade de vida, é vital evitar
efeitos nocivos para a saúde humana ou danos ao ambiente, causados pela poluição
do ar, da água e do solo. Nesse processo, meu caro aluno, sua responsabilidade é mer-
gulhar mais fundo na educação ambiental e aplicar seus conhecimentos nos espaços
que você convive. Repense suas práticas em casa, na rua e no trabalho. Pense global
e aja local contribuindo para as dimensões social, econômica e ambiental do desenvol-
vimento sustentável. Para nos aprofundarmos neste estudo, escolhemos alguns textos
e vídeos (organizados no Guia de Estudo) que vão lhe interessar, pois tratam de sua
vida neste planeta. Os livros reúnem muita informação relacionada ao meio ambiente,
desde análises sobre as políticas da ONU até técnicas de manejo ambiental. Abra um
livro e se surpreenda!
REFERÊNCIAS
1. BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Pers-
Modernização reflexiva: política, tradição e estética pectiva, 1972.
na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Edito- 11. MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History,
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14.PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilida-
4. DIAS, Genebaldo Freire Os 15 anos da educa- de, responsabilidade social e meio ambiente. São
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68
3
UNIDADE 4
INTRODUÇÃO
A presente Unidade de Estudo focará nos temas da política, da cidadania, da justiça
social e do fenômeno religioso. A política surgirá sempre que uma pluralidade de indiví-
duos estiver presente, pois as deliberações e ações que daí surgirem caracterizarão o
exercício mais nobre e complexo das atividades humanas.
Para esta Unidade de Estudo, a leitura atenta deste material, bem como a atenção es-
pecial a todos os acontecimentos políticos a sua volta, é de extrema importância para
uma base teórica e prática de nossas ações na sociedade. Toda e qualquer atividade
que nasça da pluralidade, será atividade política.
Neste sentido, tomamos a política como uma dessas formas de organização, denomina-
das instituições sociais. Refletir sobre tal organização social nos leva a questionarmos
seu histórico, seu sentido e sua significação para a sociedade em que estamos inseridos.
Para entendermos a política como instituição social, temos como horizonte a cultura
grega, de quem tal organização no ocidente é herdeira. É exatamente no período de
440 a 404 a.C., denominado de “século de Péricles”, que podemos observar a formação
inicial desta instituição como uma organização.
Sólon (594 a.C.), ao perceber que “a terra ateniense era pobre e a agricultura não
seria suficiente para manter a cidade” (CHAUÍ, 2002, p. 132), incentivou as atividades
70
do comércio e artesanato, empreendendo assim uma quebra do poder da aristocracia
fundiária e atraindo estrangeiros. A ideia deste legislador era incentivar a participação
no poder político a partir do critério da fortuna pessoal.
Domínio Público
4
Sólon (séculos VI a V a.C.): o estadista, legislador e poeta da
Grécia Antiga era considerado um dos grandes sábios desse pe-
ríodo, tendo composto inúmeros poemas importantes.
No entanto, foi somente a partir de Clístenes (510 a.C.) que se delimitou a pólis como
espaço político por excelência.
Domínio Público
A pólis não se referia à noção de cidade como a temos hoje, isto é, um conjunto
de edifícios e ruas, comércio e outras organizações destinadas a atender as
mais variadas demandas da comunidade. A pólis instituída neste período se
caracterizou como um espaço destinado aos indivíduos deliberarem e se ex-
pressarem coletivamente acerca dos assuntos da cidade.
Segundo Marilena Chauí (2002, p. 134), neste período, tinha-se “uma democracia direta
ou participativa e não uma democracia representativa, como as modernas”.
Diversas foram as transformações que esta instituição social sofreu ao longo do tempo.
Identificamos na modernidade o fortalecimento e a concentração das atribuições polí-
ticas nas mãos do chamado Estado Moderno.
4
Esta organização passa a dispor de um aparato jurídico-administrativo para a distribui-
ção dos recursos numa coletividade, bem como monopoliza o uso da violência e das
forças armadas, segundo o sociólogo Anthony Giddens (2012).
Percebemos, assim, que, tal como originalmente a pólis pensada pelos gregos, o Es-
tado Moderno representa o lugar em que as decisões sobre a cidade, isto é, a política
acontece em nossa sociedade.
Domínio Público
Nicolau Maquiavel (1469-1521): pensador, político e historiador
florentino da época do renascimento.
Em sua obra O príncipe, de 1513, Maquiavel nos fala das ações mais importantes para
que o governante tenha legitimidade sobre seus súditos. Nesta concepção, o poder
político é originado das relações sociais estabelecidas entre governantes e governados,
ou seja, a partir das relações sociais. Ao pensar a força do príncipe sobre seus súdi-
tos, a partir de suas ações, Maquiavel dará origem ao pensamento político moderno.
O Príncipe foi geralmente entendido como um manual contendo ideologia da classe
dominante. A política passa a ser entendida como um violento jogo de forças ao qual
se submetem moral, religião ou o direito – pois só neste confronto, ou a partir dele,
adquirem sentido.
Outro pensador que dedicou especial atenção à questão da política foi Max Weber
(1864-1920) para quem, assim como Maquiavel, o poder político era fruto das relações
sociais: “Todo poder é exercício e, quando exercitado, é política, pois poder é uma ação
social” (ARAÚJO, 2013, p. 144). Para este autor, a questão da legitimidade do poder
político também foi um tema bastante debatido.
72
Domínio Público
4
Max Weber (1824-1920): sociólogo alemão, considerado um
dos grandes nomes do início do pensamento sociológico.
01. Tradição
DEMO CRACIA
Nesta organização da política, a função soberana estava no poder das leis, ou seja,
as leis válidas a todos os cidadãos seriam a força maior neste tipo de organização.
Para Anthony Giddens (2012), a cidadania é uma das características essenciais dos
Estadosnação e, na atualidade, o conceito de cidadania se estende a todas as pessoas
pertencentes a um determinado Estado.
74
“Nas sociedades modernas, a maioria das pessoas que vivem dentro das fron-
teiras do sistema político é de cidadãos, tendo direitos e deveres comuns e se
considerando parte de uma nação” (GIDDENS, 2012, p. 699).
4
No decorrer dos séculos, percebemos o reconhecimento e a expansão dos direitos por
parte da população mais pobre. Esta ampliação veio como resultado de diversas lutas
e reivindicações para que os direitos de cidadania fossem reconhecidos a todos os in-
divíduos de determinado Estado.
O conceito inicial de cidadania surge juntamente com a pólis na Grécia Antiga, mas
se amplia e sofre transformações ao longo dos séculos e das transformações que as
instituições políticas passaram. Neste sentido, a justiça social se mostra como a ampla
possibilidade de que indivíduos possam usufruir de seus direitos e deveres enquanto
cidadãos de maneira igualitária e solidária em qualquer Estado-nação.
4
“A justiça apresenta-se como um conjunto de critérios ideais que devem presidir a
boa conduta e o desenvolvimento ordenado da coisa pública” (LUMIA 2003, p. 493).
FORMAL MATERIAL
PROCEDIMENTAL SUBSTANCIAL
Parte de uma definição formal da igualdade, Enfrenta a tarefa de escolher entre os princípios
isto é, da suposição de que todas as pesso- de distribuição mais adequados e o desafio de
as em uma sociedade ou grupo devem ser justificar as desigualdades dele decorrentes.
tratadas de acordo com regras idênticas.
Segundo Silva (2007, p. 115), “o Estado de Direito deixou de ser formal para transformar-se
em Estado Material de Direito”. Neste sentido, o Estado tende a realizar a justiça social.
A partir da modernidade, a Justiça deixou de ser apenas uma virtude e passou a ser
enfatizada como fundamento da sociedade. David Hume (1995), filósofo francês, de-
finiu a justiça como virtude artificial fundada numa convenção social preexistente. O
Utilitarismo pensou a justiça em termos teleológicos, isto é, como a maximização do
bem-estar social.
Kant (1994) conceituou a justiça como um dever absoluto que consistiria em tratar cada
ser humano com respeito, isto é, como um fim em si mesmo e não como meio para
obtenção de algo.
76
O tema da justiça e, consequentemente, da justiça social continua a suscitar im-
portantes debates no âmbito do pensamento contemporâneo. Há uma discussão
sobre a distribuição dos bens culturais, bem como as questões relacionadas aos
grupos vulneráveis, sobretudo mulheres e homossexuais.
4
A justiça social evidencia, além da dimensão política, a dimensão social do ser humano.
O ser humano é capaz de compreender a importância da alteridade (o outro). Necessi-
tamos do outro, no plano político, econômico e afetivo. Sem a alteridade, não teríamos
condições de saber quem somos e que rumo dar à nossa existência.
2. O FENÔMENO RELIGIOSO
O fenômeno religioso é uma das manifestações mais profundas e significativas do ser
humano. Sob variadas formas, está presente em toda a história humana e em todas as
sociedades. Sua influência se estende sobre todo o campo da cultura, das instituições
e das ações humanas.
Por isso, não se pode compreender o ser humano – nem ontem, nem hoje, nem nas
sociedades mais simples, nem nas mais complexas – sem refletir sobre o fenômeno re-
ligioso. Nem se pode viver plenamente a condição humana sem fazer, em algum grau,
a experiência religiosa.
No aspecto da secularização, por exemplo, há que dizer que não ocorreu um secularis-
mo, ou seja, uma total perda da dimensão transcendental e religiosa do ser humano. O
que tem ocorrido é um surto do sagrado, que é conhecido até nos países mais desen-
volvidos. No entanto, ocorre:
Tudo parece indicar que se pode viver uma vida social pós-religiosa, isto é, uma expe-
riência pessoal e social desligada de uma confissão religiosa (cristã, budista, islâmica
etc.). Contudo, apesar do aprofundamento da modernidade por influência do hipercapi-
talismo, é surpreendente a sede de Deus, sede da religião.
De repente uma experiência não institucionalizada, mas desde a fé, a crença num Sa-
grado, o Transcendente é algo perceptível na vida das pessoas. E mais ainda:
78
pela variedade de suas formas, encheu os espaços profanos do mundo que se
proclamava secularizado. [...] O fascínio pelo misticismo oriental, a ioga, o zem-
budismo, a meditação transcendental... todos estes elementos fizeram cair por
terra as previsões científicas acerca do fim da religião. Mudaram-se as vestes.
Frequentemente deixam-se de lado os símbolos ostensivamente religiosos. Mas 4
sempre, de uma forma ou de outra, é possível constatar no mundo humano e nos
recônditos da personalidade a presença obsessiva e incômoda das questões reli-
giosas. (ALVES, 2006, p. 36-37)
Enfim, dizer que a religião é uma ilusão ou que vai desaparecer significa não compreen-
der a importância da experiência religiosa para o ser humano, preferencialmente para
os mais vulneráveis e desprovidos de cuidados da sociedade.
Há que se compreender que a essência da religião não se reduz a uma ideia, mas tem
a ver com força. O crente que entra em comunhão com Deus se torna mais forte, para
suportar o sofrimento e as lutas do cotidiano. Por isso, o sagrado não tem a ver com um
saber, e sim com o poder.
O que se constata é que a religião não terá fim, pelo menos enquanto na Terra existir
o ser humano. Ou melhor, enquanto existir sociedade, a religião não desaparecerá. A
religião é resposta diante do não sentido, ou alento para o “suspiro do oprimido”.
4 Por isto a religião permanecerá até o fim. Como esperança e como protesto,
como símbolo que informa o homem da incompletude e definitiva de sua pró-
pria condição, como consciência de que tal sociedade ainda não chegou e
nunca chegará. (ALVES, 1987, p. 100)
01. Globalidade
Uma primeira característica é a globalidade – a experiência do divino, do
transcendente permeia toda a realidade. Tem a ver com tudo que existe, com o
todo da vida e da história. Consegue vivenciar a presença de Deus no espaço
do sagrado e no espaço secular;
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03. Diafania:
Toda pessoa está animada por uma espiritualidade ou por outra, porque todo
ser humano – cristão ou não, religioso ou não – é um ser também fundamen-
talmente espiritual. Toda mulher e todo homem são mais do que biologia pura.
É esse algo mais, muito mais, que os distingue do simples animal. [...] Perder
essa dimensão profunda é deixar de ser humano, é embrutecer-se. (CASAL-
DÁLIGA, 1998, p. 9)
Enfim, quanto mais uma pessoa vive e age à luz da experiência espiritual, mais poderá
cultivar opções profundas, grandes sonhos, valores éticos, responsabilidade com a hu-
manidade. A espiritualidade, por ser o mais profundamente humano, seria o que mais a
pessoa tem para ser à semelhança de Deus. E mais,
De acordo com a compreensão de Deus que se tem é que se vive; ou seja, se tenho
uma representação de um Deus autoritário, juiz, castigador, patriarcal... Com certeza
que minha vivência com o outro terá o reflexo dessa representação de Deus. Uma vida
assumida a partir do Deus humanizado e vivida de acordo com esse Deus é a única vida
que hoje pode ser sinal e compromisso de humanização para o mundo.
O que importa é a experiência do amor. A experiência religiosa tem que estar a serviço
do compromisso de amor; vale dizer, vivenciar o Evangelho.
A religião é boa se serve para manter a memória de Jesus, para preparar a aco-
lhida do evangelho ou para estimular a fidelidade. Mas a religião pode também
ocultar o evangelho, tornando-o a si própria a sua finalidade. Então ela transforma
a sua doutrina numa mitologia, os ritos num formalismo e a instituição num instru-
mento de poder. A religião vale se está a serviço do evangelho, mas é nociva se
ela se torna a si própria como o seu fim. [...] Só Deus salva e salva pela prática
do evangelho. Toda religião deve estar subordinada a essa fé e não substituí-la
por outra fé. Nenhuma religião salva porque somente Deus salva, e salva gratui-
tamente. (COMBLIN, 2012, p. 97)
82
Viver o Seguimento de Jesus é praticá-lo na história. É adentrar no caminho Dele, atitu-
de que significa viver o amor-misericórdia, a solidariedade-afetiva e efetiva, não como
sentimento, mas como agir concreto. O que importa é praticar a verdadeira religião:
“Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia a língua e engana o seu coração, então
é vã a sua religião. A religião pura e sem mácula aos olhos de deus e nosso Pai é esta: 4
visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste
mundo” (BÍBLIA, Tg 1, 26-27).
Trabalhar por uma civilização mais humanizada, onde todos os seres humanos e natu-
reza serão respeitados, implica superar a realidade fundamentalista que é encontrada
por toda a Terra. A atual globalização capitalista é força e “imperativo” imposto pelo
primeiro-mundo a partir de um fundamentalismo que se assenta na política de um Mer-
cado totalitário. O Mercado proclama: “fora de mim não há salvação” – se considera
legítimo e todo-poderoso. A política imperialista, neo-colonialista que se impõe sobre os
povos e os países mais pobres da Terra, tem a ver com um fundamentalismo guerreiro,
conquistador que pratica uma geopolítica desumanizadora, desapiedada e cruel.
A sociedade contemporânea tem uma causa responsável pelo sofrimento dos seres hu-
manos e pela destruição da natureza. Ou seja, a policrise (crise de múltiplas dimensões:
ecológica, social, política, financeira, ética etc.) que atravessa a humanidade e que tem
levado a situações assustadoras (terrorismo; migrações dos povos pobres; refugiados;
fome; miséria; exaustão dos recursos naturais; guerras etc.) tem como um fator impor-
tante para o seu desencadeamento a crise antropológica.
“Há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano.
Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32,1-35)
encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura
de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano”
(FRANCISCO, 2013).
A idolatria se dá pelo culto ao dinheiro, consumo, poder, ter etc. O ser humano endeusa
essas realidades e se submete a elas. Pelos ídolos se faz qualquer coisa!
84
O problema é que os ídolos são deuses que sobrevivem às custas de sacrifícios de
vidas humanas e da natureza.
o grito fundo que me acorda do torpor egoísta e me faz perguntar pelo outro, por
meu vizinho, por minha filha, pela criança caída na estrada... Outras vezes está
na pura beleza da aurora de um novo dia, ou no entardecer luminoso de certos
dias de outono ou num sorriso ou num olhar que desmancha nosso coração de
prazer. Por isso espero... Que o coração não seja soberbo e ganancioso. Que
nos eduquemos para desequilibrar a instável balança de nossa vida, para não
destruir a beleza que nos rodeia, para não ficar indiferente à dor alheia, para
não sermos os únicos a participar do banquete de maravilhas que a Terra azul
nos oferece. Minha fé e minha esperança se encontram, se dão as mãos, se
assemelham, se misturam, se atraem, se conflitam, vivem uma da outra. [...]
Sim eu creio, tenho fé e espero... No pão partilhado de cada dia, na acolhida
ao estrangeiro, no cuidado ao órfão e ao velho, ao drogado e ao alcoólatra, às
vítimas de tantas guerras... Eu creio, apesar do real escurecido que meus olhos
vêem hoje... [...] O provisório da vida é o chão que pisamos e, é nele, que a fé
e a esperança crescem. Por isso, a fé e a esperança nas coisas pequenas e
aparentemente insignificantes nutrem a... vida, fazem... vida, sustentam... vida.
(GEBARA, 2015)
A experiência religiosa tem que ser vivenciada à luz de uma fé que ilumina, ampara,
motiva, encoraja a seguir vivendo na esperança e no compromisso por um mundo onde
todos serão acolhidos no banquete do amor, da justiça, da liberdade e da paz.
CONCLUSÃO
Nesta Unidade de Estudo, buscamos compreender como aconteceu o nascimento
da política, mais especificamente a política ocidental, na Grécia Antiga. Desde então,
esta instituição eminentemente humana sofreu muitas transformações e passou a ser
objeto de análise de diversos autores, desde Nicolau Maquiavel, passado por Max
Weber, até Hannah Arendt.
Nesta Unidade, vimos também alguns pontos importantes sobre o fenômeno religioso e
algumas considerações para compreender o ser humano, como:
Todos esses pontos são chaves de leitura que podemos utilizar para interpretar as mani-
festações religiosas na sociedade em que vivemos e buscar experiências que permitam o
encontro com o divino e com o outro e, por isso, sejam verdadeiramente humanizadoras.
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