Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICOLOGIA
Professor(a) Ma. Emanoella dos Santos Ruffo
REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima
DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini
DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel
SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira
Bruna de Lima Ramos
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto
FICHA CATALOGRÁFICA
2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie.
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva
dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da
obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la
de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Professor(a) Ma. Emanoella dos Santos Ruffo
3
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo (a)!
Prezado (a) aluno (a), aqui iniciamos uma jornada para ampliar seu conhecimento,
mergulhando no universo da Psicologia a fim de aprender um pouco sobre esta disciplina,
dedicada a compreender melhor o ser humano em diversas dimensões. Nas páginas a
seguir, iremos conversar sobre a origem desta área do saber e sobre alguns de seus per-
sonagens, conceitos centrais e sua aplicação.
Na unidade I iremos conhecer a história da Psicologia, que se inicia nos questio-
namentos sobre a experiência humana feitos na Antiguidade; e evolui em conjunto com os
acontecimentos históricos, sofrendo influência da filosofia e das ciências naturais. Apren-
deremos mais sobre a diferença entre o conhecimento científico e o senso comum, e as
correntes de pensamento que levaram a necessidade de estabelecer esta nova disciplina
dedicada a analisar o sujeito.
Já na unidade II vamos conhecer as abordagens mais conhecidas da Psicologia
no contexto brasileiro: A Análise do Comportamento, também chamada de Behaviorismo,
a Psicanálise, o Humanismo e a abordagem Cognitivo Comportamental. Cada uma destas
abordagens tem uma maneira particular de entender o ser humano e suas ferramentas
específicas para resolver os problemas que se apresentam.
Em seguida, a unidade III apresentará alguns conceitos básicos da psicologia, tais
como a noção de desenvolvimento, a influência da genética e do ambiente na formação do
sujeito. E por fim, a unidade IV irá tratar de temas específicos da psicologia associada à re-
ligião, como as experiências psíquicas e as maneiras de abordar indivíduos em sofrimento
intenso, falando um pouco da atuação prática do psicólogo.
Espero que esta jornada pelo conhecimento possa lhe ser útil pessoal e profissio-
nalmente, e que os conteúdos desta apostila possam estimulá-lo para continuar trilhando
os caminhos da leitura e busca por novos saberes!
Bons estudos!
4
SUMÁRIO
UNIDADE 1
O Que é Psicologia?
UNIDADE 2
Teorias e Sistemas em Psicologia
UNIDADE 3
Como Pensa o Homem?
UNIDADE 4
Psicologia e Religião: Intersecções
5
1
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
UNIDADE
O QUE É PSICOLOGIA?
Plano de Estudos
• Conhecendo o homem: ciência e senso comum;
• Fundamentos históricos e epistemológicos da Psicologia;
• A Psicologia científica.
Objetivos da Aprendizagem
• Diferenciar o conhecimento científico do senso comum;
• Apresentar as correntes de pensamento que influenciaram
o surgimento da Psicologia científica;
• Conhecer as principais escolas do pensamento psicológico
(Estruturalismo, Funcionalismo e Associacionismo) em sua
origem.
INTRODUÇÃO
Caro (a) aluno (a), seja bem-vindo (a) a esta unidade!
Aqui, iniciaremos nosso percurso nos estudos, conhecendo um pouco mais sobre a
trajetória da Psicologia - desde os questionamentos realizados pelos gregos na Antiguidade
até sua constituição como uma disciplina científica, no final do século XIX. Em comparação
com outras disciplinas, como a Biologia e a Matemática, notamos que a Psicologia é uma
ciência bastante recente, e que ainda apresenta muitos debates sobre seus métodos de
pesquisa e abordagens em relação ao conhecimento.
Ao longo da História, o homem se questionou diversas vezes sobre o que o tornava
capaz de pensar. Este trabalho foi prioritariamente dos filósofos, que especularam onde se
localizava a sede da consciência e da racionalidade. As investigações filosóficas também
foram influenciadas pelo contexto histórico, pela religião no período medieval, e o rompi-
mento com esta forma de pensar que ocorreu no período moderno.
Os avanços sociais ocorridos na modernidade permitiram ao ser humano uma outra
maneira de entender sua realidade, como a exploração científica do corpo humano, o que
expandiu ainda mais o conhecimento obtido sobre si. Esta possibilidade se combinou com
o momento histórico no final do século XVIII, em que as sociedades ocidentais se reorgani-
zavam, acolhendo um aumento populacional e um novo modelo econômico e político, que
enfatizava a soberania individual e a liberdade. Neste período, tornou-se possível transfor-
mar as especulações filosóficas em estudos dotados de rigor científico, aproximando esta
nova disciplina do modo conceituado de produzir o saber próprio das Ciências Naturais.
Esta é a base da Psicologia que está na nossa sociedade, que produz conhe-
cimento sobre o homem e busca auxiliá-lo a se compreender melhor. Espero que esta
primeira unidade facilite sua aproximação com esta importante área do saber que se dedica
a conhecer nossa vida interior!
Bons estudos!
CONHECENDO O HOMEM:
CIÊNCIA E SENSO COMUM
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/copo-de-alto-angulo-com-bule-e-pote-de-mel_8560533.
htm#query=ch%C3%A1%20de%20camomila&position=26&from_view=search&track=ais
Assim como em outras áreas do saber, a maioria das pessoas possui algum conheci-
mento em Psicologia, que pode ser percebido no uso cotidiano de expressões como: “fulano
surtou”. Embora você não conheça a definição exata desta palavra dentro do contexto do saber
psicológico, possui noção de seu significado, e pode utilizá-la para explicar um estado emocional
que não costuma ser comum. Mas este entendimento tem como ponto de partida estudos reali-
zados num contexto formal, que buscam conhecer, nomear e explicar fenômenos que cercam e
despertam a curiosidade dos indivíduos; tais como a expressão de seus estados afetivos.
Assim, pode-se afirmar que o saber produzido pela ciência é diferente do conheci-
mento existente no senso comum: o saber científico busca conhecer determinados aspectos
por meio de uma investigação rigorosa, sistemática e controlada, a fim de obter conclusões
de forma objetiva e passível de verificação, para que possam ser generalizadas e atender a
demandas diversas. Um exemplo de conhecimento científico são os estudos sobre desenvol-
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
E EPISTEMOLÓGICOS DA
PSICOLOGIA
Fonte: RENASCIMENTO Artístico Cultural Científico – Séculos XIV, XV, XVI. DocPlayer, 2019. Disponível em: https://
docplayer.com.br/91302881-Renascimento-artistico-cultural-cientifico-seculos-xiv-xv-xvi.html Acesso em: 15 jul. 2022.
Na era moderna, a busca da razão contemplativa deu lugar a uma razão instrumen-
tal, que oferecesse um embasamento para a produção científica. Buscou-se compreender o
homem, analisando suas partes e seu modo de funcionamento, de modo similar às máqui-
nas que podiam ser construídas e naquele momento impulsionaram a economia capitalista:
a diretriz para o conhecimento científico tornou-se a utilidade prática de previsão e controle
de seus objetos (FIGUEIREDO, 2008).
A PSICOLOGIA
CIENTÍFICA
Fonte: LEIPZIG’TE Içgözlem Denemeleri. Wikimedia Commons, 1920. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Wundt-research-group.jpg#/media/File:Leipzig%27te_i%C3%A7g%C3%B6zlem_denemeleri.jpg Acesso em: 15 jul. 2022.
• Ano: 2018.
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=2aSxrLNsIYo
TEORIAS E
SISTEMAS EM
PSICOLOGIA
Professor(a) Ma. Emanoella dos Santos Ruffo
Plano de Estudos
• Behaviorismo: o estudo do comportamento;
• Psicanálise, a teoria do inconsciente;
• Existencialismo e humanismo.
Objetivos da Aprendizagem
• Conhecer as diferentes perspectivas sobre o homem para
as teorias comportamental, psicanalítica e humanista;
• Compreender o modelo estímulo-resposta, e os conceitos
de reforço, punição e extinção;
• Conhecer os modelos freudianos do psiquismo, e as
noções de mecanismos de defesa e repressão;
• Entender as influências da fenomenologia e do
existencialismo na psicologia humanista.
INTRODUÇÃO
Olá, aluno (a)! Vamos dar sequência aos seus estudos?
Nesta unidade, os assuntos serão algumas das abordagens que a Psicologia utiliza
para compreender o homem. Ao contrário do que pode parecer, não existe uma abordagem
melhor, ou pior: suas diferenças provêm da forma de ver o mundo, e repercutem no desen-
volvimento de teorias e modelos para explicar.
É possível que a Psicanálise seja a mais conhecida: por não ter se desenvolvido di-
retamente da Psicologia, está se popularizou entre médicos, além de outros pesquisadores
das ciências humanas, que utilizam seus conceitos em análises e produções socioculturais.
Mesmo sem ser uma abordagem exclusiva da psicologia, a prática da psicanálise se con-
funde com ela: a imagem popular que se tem do psicólogo como um profissional silencioso e
um paciente que se deita num divã e fala sobre o que sente deriva do método psicanalítico.
A análise do comportamento, por sua vez, derivou das primeiras teorias científi-
cas da Psicologia, tendo como propósito a construção de um conhecimento mensurável
e objetivo, estudando o comportamento de forma direta. Esta abordagem dos fenômenos
humanos entende que o indivíduo se comporta de forma diferente de acordo com os estí-
mulos recebidos e as consequências associadas à sua ação, o que permite discutir formas
de aprendizagem e transformações na forma de agir.
Já a abordagem humanista se aproxima da existencialista, baseadas no posicio-
namento filosófico da fenomenologia: esta teoria foi uma crítica aos modelos propostos por
Descartes, e buscava superar o dualismo entre corpo e mente. A psicologia iniciou uma
interlocução com esta forma de pensar, pois, alguns estudiosos consideram que não era
possível conhecer os fenômenos subjetivos por meio do método experimental.
Estas são algumas visões da Psicologia sobre o indivíduo, para que você entenda de
modo mais profundo de que forma o psicólogo trabalha com as pessoas. Espero que esta uni-
dade auxilie você a compreender melhor as teorias que sustentam o trabalho deste profissional!
Bons estudos!
BEHAVIORISMO:
O ESTUDO DO
COMPORTAMENTO
PSICANÁLISE, A TEORIA
DO INCONSCIENTE
EXISTENCIALISMO
E HUMANISMO
Fonte: MONTE, A. Monte de leituras: Blog do Alfredo Monte, 2011. Disponível em: https://armonte.wordpress.
com/2011/01/23/a-escola-da-possibilidade/ Acesso em: 10 set. 2022.
Outro pensador, Martin Heidegger, realizou uma articulação entre as teorias feno-
menológicas e existencialistas. Seu pensamento considerou o sujeito como alguém cuja
existência é livre e sua relação com o mundo é o que produz o sentido: não é possível
considerar uma existência em si mesmo. Este autor utiliza o termo Dasein para se referir à
sua compreensão de sujeito, alguém que existe em relação com o mundo, sem uma exis-
tência pensada previamente por outrem (JACÓ-VILELA, FERREIRA, PORTUGAL, 2006).
Além disso, ele aponta um modo de ser que encobre o existir, fazendo com que o
sujeito se expresse de forma inautêntica, relacionando-se com o mundo de forma prees-
tabelecida. Isto prejudica sua capacidade de expressar-se de modo singular. O indivíduo,
muitas vezes, também pode tomar como dado o sentido das relações consigo mesmo ou
com os outros, compreendendo sua existência como algo absoluto e natural.
Para Jacó-Vilela, Ferreira e Portugal (2006), este entendimento do mundo fracassa
quando algum objeto não funciona conforme o esperado, indicando ao indivíduo a possibi-
“Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que
modo específico ele pode ser salvo”.
Fonte: FREUD, S. A civilização e seus descontentes. Good Reads, 2018. Disponível em: https://www.
goodreads.com/quotes/9424573-n-o-existe-uma-regra-de-ouro-que-se-aplique-a Acesso em: 10 set. 2022.
Fonte: DE JESUS DA SILVA FAUSTINO, A.; LEAL, S. S. I.; SILVA, E V. R.; FARIAS, R. R. S. As abordagens terapêuticas
psicológicas na qualidade de vida dos autistas: Revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 8, p.
e16010816870, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/16870. Acesso em: 6 ago. 2022.
• Autor: B. F. Skinner
• Editora: Cultrix
• Ano: 2016
Objetivos da Aprendizagem
• O desenvolvimento do indivíduo;
UNIDADE
Plano de Estudos
equilibração;
3
Piaget;
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
INTRODUÇÃO
Olá, querido (a) aluno (a)!
Espero que você esteja apreciando esta trajetória pelas noções da Psicologia.
Conhecer o ser humano implica em realizar uma série de perguntas e investigações sobre
como ele desenvolve suas habilidades e o que pode influenciar este processo.
Em seu cotidiano, é possível que você já tenha se perguntado algumas vezes como
cada pessoa adquire suas características: se estas já acompanham o sujeito em seu nas-
cimento ou se são adquiridas de acordo com o meio e o contexto social. Também pode ser
debatido se essas características podem ser modificadas, e de qual forma isto pode ocorrer.
Esta é uma questão muito interessante, pois afeta diretamente nossa organização social.
Compreender as possibilidades que o ser humano contém em si serve para estabe-
lecermos leis e políticas que ordenam a vida em sociedade, traçando diretrizes que podem
orientar aquilo que é saudável e aceitável para a maioria. Esta é uma das consequências
práticas da Psicologia enquanto ciência humana.
Nesta Unidade, você conhecerá um pouco sobre os estudos de Jean Piaget, um
psicólogo que buscou compreender o desenvolvimento da capacidade cognitiva do indiví-
duo. As teorias dele possuem bastante reconhecimento no campo da Pedagogia, funda-
mentando práticas no campo do ensino e influenciando trabalhadores e estudiosos que, de
alguma forma, têm um trabalho que está relacionado à inteligência humana.
Olhando para a outra ponta do espectro das capacidades humanas, você também
conhecerá um pouco mais sobre as concepções sobre a loucura: teorizações do ser humano
sobre a perda da capacidade de ser racional. Ao longo da História, diferentes entendimentos
sobre este fenômeno desencadearam diferentes formas de lidar com ele, passando pela
recente prática de tratamento em manicômios, que é muito criticada atualmente.
Ótimos estudos!
O DESENVOLVIMENTO
DO INDIVÍDUO
A produção intelectual de Piaget, que ocorreu na primeira metade dos anos 1900, foi
influenciada pelo contato com o trabalho de outros estudiosos, cujo cerne era obter conhecimen-
to sobre o indivíduo para produzir medições e categorizações. Ribeiro e Souza (2020), falam
sobre a experiência de Piaget como tradutor de um teste de inteligência elaborado por Cyril Burt,
cujos trabalhos eram do interesse de Theodore Simon, médico e psicólogo que contribuiu com a
elaboração do primeiro teste de inteligência francês, juntamente com Alfred Binet.
O contato que Piaget teve com tal instrumento - composto por questões para as
quais a criança deveria realizar conclusões lógicas - o incitou a compreender as razões que
explicariam os erros e a incapacidade das crianças de responder a certas perguntas, o que
o levou a elaborar seu próprio método clínico (RIBEIRO, SOUZA; 2020).
O uso dos estádios propostos por Piaget, assim, serve para explicar, e não para
classificar e diferenciar as crianças – uso dado aos testes psicológicos que surgiram a partir
de estudos psicométricos, campo da Psicologia com grande influência da proposta de ciên-
cia feita a partir da observação e experimentação. Nesta Unidade, não nos aprofundaremos
nesta parte do trabalho do psicólogo, mas é importante saber que a aplicação destas ferra-
mentas e interpretação dos seus resultados são sujeitos a estudos e discussões rigorosas.
Historicamente, testes de inteligência foram utilizados de forma ampla para avaliação
em escolas e no exército, e descuidos em sua atenção e compilação de dados contribuíram
para a reprodução de preconceitos sobre as capacidades intelectuais de grupos étnicos,
como os negros, por exemplo (JACÓ-VILELA, FERREIRA, PORTUGAL, 2006). Aconteci-
mentos como estes permitem que seja feita uma reflexão sobre a Psicologia, entendida
não apenas como uma ciência para compreender o ser humano, mas também como um
conhecimento aplicado na prática a serviço dos interesses sociais, para pensarmos e qual
seu papel na defesa ou prejuízo de determinados grupos de pessoas.
A CONCEPÇÃO DE
LOUCURA E SUA RELAÇÃO
COM A PSICOLOGIA
No Brasil, a psicologia foi alçada à categoria profissional em 1962, marco que também
garantiu o estabelecimento das primeiras faculdades de psicologia. Na lei federal que versa sobre
o assunto, estabelece-se que uma das finalidades do trabalho deste novo profissional é solucionar
problemas de ajustamento. Assim, para além de conhecer os fenômenos mentais, o psicólogo
aplica seu conhecimento em casos nos quais há dificuldades de adaptação, desenvolvimento
incomum ou sofrimento excessivo. Isto associa o trabalho deste profissional ao cuidado com
indivíduos com transtornos mentais, o que torna importante conhecer um pouco deste assunto.
A psiquiatria, campo da medicina, também se desenvolveu com o objetivo de compreen-
der, categorizar e tratar estes quadros anormais que afligiam o ser humano. É neste ponto que
a psicologia mais se aproxima da psiquiatria, trabalhando frequentemente com suas noções
diagnósticas e associando suas teorias aos saberes sobre o funcionamento do organismo. É
com base nos trabalhos psiquiátricos que os profissionais da saúde diagnosticam as pessoas
atualmente, definindo se existem sintomas que apontam para uma anormalidade a ser tratada,
tal como depressão ou síndrome do pânico. Mas a compreensão de que o comportamento
aberrante é patológico e necessita de tratamento foi formada em um contexto histórico.
O entendimento ocidental da loucura na contemporaneidade é diferente da noção
encontrada em povos primitivos, que atribuíam tais alterações de conduta a forças sobre-
naturais. Em alguns casos, estas manifestações possuíam caráter sagrado e ritualístico,
podendo ser inclusive desejadas. Esta perspectiva difere muito da forma mais popular em
nossa sociedade de compreender alterações de consciência (DALGALARRONDO, 2008).
De acordo com Cherubini (2006), pode-se observar três modelos de pensamento
que se dedicam a investigar a loucura de formas diferentes no passar dos séculos, mas
Fonte: FLEURY, T. R. Photographie de “Pinel, médecin em chef de la Salpêtrière em 1975” Wikimedia Commons, 2017.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Photographie_du_tableau_%22Pinel,_m%C3%A9decin_
en_chef_de_la_Salp%C3%AAtri%C3%A8re_en_1795%22_-_Archives_nationales_(France).jpg Acesso em: 10 set. 2022.
Fonte: UNIVESP. Psicologia da Educação - Teoria histórico-cultural de Vygotsky e a Prática Educativa. Youtu-
be. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kSC8SKcMTtI. Acesso em: 01 ago. 2022.
“A moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito
que o indivíduo adquire por essas regras.”
Fonte: LÜCHMANN, L. H. H.; RODRIGUES, J. O movimento antimanicomial no Brasil. Ciência e saúde coletiva, v.
12, n. 2, abr. 2007. Disponível em https://doi.org/10.1590/S1413-81232007000200016. Acesso em: 10 ago. 2022.
• Ano: 2016.
PSICOLOGIA
E RELIGIÃO:
INTERSECÇÕES
Professor(a) Ma. Emanoella dos Santos Ruffo
Plano de Estudos
• A Psicologia da religião;
• O aconselhamento religioso.
Objetivos da Aprendizagem
• Entender o que é a Psicologia da religião;
• Compreender a relação entre a religião, qualidade de
vida e saúde mental;
• Compreender as técnicas utilizadas para desenvolver a
escuta ativa;
• Entender de que modo ocorre a aproximação entre
aconselhamento religioso e escuta psicanalítica.
INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo (a) novamente, aluno (a)!
Você irá iniciar a última Unidade desta disciplina. Como se sente? Até aqui você já
aprendeu muito sobre este campo do conhecimento que se tornou nosso foco! Fizemos um
passeio histórico, para compreender como o homem entendia a si mesmo em diferentes
momentos: na Antiguidade, no período medieval e na era moderna, época de muitas evo-
luções, que fez com que o ser humano finalmente pudesse conhecer a si próprio de uma
perspectiva biológica e experimental.
Esta possibilidade influenciou os estudiosos que se debruçavam sobre as questões
propostas por filósofos sobre a consciência e a existência da mente. No início, a Psicologia
buscou conhecer o ser humano por meio de experimentos e fenômenos que pudessem
ser medidos e quantificados. Mudanças na forma de entender a ciência levaram a novas
propostas teóricas para compreender o ser humano, que coexistem na Psicologia, funda-
mentando teorias e técnicas para compreender diferentes nuances da vida das pessoas.
Agora, após todos estes estudos, você está mais apto para articular algumas apro-
ximações entre a Psicologia e a religião! Nesta Unidade, você irá conhecer uma introdução
à Psicologia da religião, área da Psicologia que tem como objetivo compreender como os
fenômenos espirituais e religiosos afetam o indivíduo. A união entre estes dois campos
desperta muitas dúvidas e discussões, mas posso adiantar que não é possível conceber
uma Psicologia “religiosa”, que considere exclusivamente a visão particular de uma fé para
explicar os fenômenos humanos.
Ainda assim, como a religião faz parte da vida da maior parte das pessoas, impedir
este diálogo entre campos do conhecimento distintos é prejudicar a compreensão completa
do ser humano. Nas páginas seguintes, você poderá conhecer mais sobre as intersecções
encontradas entre estas duas formas de pensar a vida interna do indivíduo.
Desejo a você bons estudos!
A PSICOLOGIA
DA RELIGIÃO
Fonte: MULHER rezando na Igreja Cristo buen Viaje. Wikimedia Commons, 2014. Disponível: https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Woman_praying_in_Cristo_buen_Viaje_Church.jpg Acesso em: 10 ago. 2022.
FIGURA 2 – PRÁTICAS DE CURA ESPIRITUAL NÃO SÃO ACEITAS COMO PARTE DA CONDUTA
DO PSICÓLOGO
Fonte: CURA pela fé na Igreja Metodista Llandrindod Wells. Wikimedia Commons, 2010. Disponível: https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Faith_healing_at_Llandrindod_Wells_Methodist_Church_(4404430594).jpg Acesso em: 10 ago. 2022.
O ACONSELHAMENTO
RELIGIOSO
Fonte: PNG serviço de aconselhamento para mulheres. Wikimedia Commons, 2008. Disponível: https://commons.wikimedia.
org/wiki/File:PNG_counselling_service_for_women._PNG_2008._Photo-_AusAID_(10713786424).jpg Acesso em: 10 ago. 2022.
A OMS (2016) também cita a empatia como característica necessária para a escuta
ativa. A capacidade de compreender e partilhar os sentimentos do outro é fundamental para
entender a perspectiva de quem fala, além de servir para reforçar um vínculo entre o par que
conversa. Para ampliar esta compreensão, a recomendação é utilizar questões abertas, tais
como “como você se sente?” ao invés de “você está bem?”; “com quem você mora?” ao invés
de “você é casado(a)?” para estimular a pessoa a detalhar o que pensa. Questões fechadas
podem ser úteis diante de indivíduos retraídos, ou para encerrar conversas, se necessário.
Outra estratégia que pode ser utilizada para aprimorar a comunicação é a capacidade
de síntese do que o indivíduo relatou. Ao verbalizar os pontos principais do que foi dito pelo
sujeito, nas palavras do ouvinte, este tem a oportunidade de mostrar que estava atento ao
relato, ao mesmo tempo que pode clarificar se compreendeu corretamente. Utilizar termos
como, “me pareceu que você quis dizer...” e “o que eu entendi foi...” fortalecem esta perspecti-
va, de que o ouvinte quer compreender melhor o que o indivíduo está relatando (OMS, 2016).
Além desta referência para a construção de um bom vínculo com o sujeito que
necessita relatar seu sofrimento, Santos (2010) propôs o estabelecimento de uma reflexão
entre a psicanálise e o aconselhamento religioso. O autor apontou que a construção teórica
de Freud possui aspectos que antagonizam com a fé cristã, mas ressalta que a escuta
psicanalítica do indivíduo é um recurso interessante para este modelo de aconselhamento.
Para ele, a escuta deve ser realizada de forma isenta de parcialidade, que permita a ex-
pressão legítima dos tormentos do aconselhando.
(...) a psicanálise pode ter um efeito benéfico sobre formas de vivência religiosa
imatura ou até mesmo psicopatológica. Entretanto, entusiasmado com o uso
do dispositivo psicanalítico para o tratamento do sofrimento em sua prática
pastoral, ele minimizava as diferenças entre esses campos, na medida em que
seu forte desejo de integrá-los o impossibilitava de reconhecer diferenças fun-
damentais, que denunciariam como ilusória a sua concepção de alcançar uma
completa harmonia entre campos distintos (ALBUQUERQUE, 2017, p. 226).
“A psicanálise em si não é religiosa nem anti-religiosa, mas um instrumento apartidário do qual tanto o religioso
como o laico poderão servir-se, desde que aconteça tão somente a serviço da libertação dos sofredores.”
Este artigo apresenta uma discussão que aponta as semelhanças e diferenças entre
o atendimento psicológico e o aconselhamento espiritual, destacando os riscos de confusão
que podem ocorrer pela sobreposição de papéis e funções diversos às duas práticas.
Fonte: ALETTI, M. Atendimento psicológico e direção espiritual: semelhanças, diferenças, integrações e... confusões.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 24, n. 1, pp. 117-125, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-
37722008000100014. Acesso em: 02 ago. 2022.
• Editora: Ultimato.
• Ano: 1997.
71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, B. P. Sigmund Freud e Oskar Pfister: um diálogo sobre psicanálise e
religião. 2017. 242 f. Dissertação (Mestrado em Pesquisa Clínica em Psicanálise) - Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://www.bdtd.
uerj.br:8443/handle/1/14677. Acesso em: 10 ago. 2022.
BRASIL. Lei nº 10.126, de 6 de abril de 2001. Brasília: 2001. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 04 ago. 2022.
72
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Éti-
ca Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf. Acesso
em 12 ago. 2022.
FREUD, S. (1998). Cartas entre Freud e Pfister (1909 – 1939). Viçosa, MG: Ultimato.
73
PAIVA, G. J. Psicologia da Religião: natureza, história e pesquisa. Numen: revista de es-
tudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 21, n2, jul./dez. 2018, p. 9-3 https://periodicos.
ufjf.br/index.php/numen/article/view/25611
PIAGET, J. (1994). O juízo moral na criança (E. Lenardon, Trad.). São Paulo, SP: Sum-
mus. (Original publicado em 1932).
PINTO, A. C. O que é que a psicologia científica tem que a psicologia popular e o senso
comum não têm? Psicologia, Educação e Cultura, Portugal, v. 3, n. 1, p. 157-178, 1999.
74
ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE
Praça Brasil , 250 - Centro
CEP 87702 - 320
Paranavaí - PR - Brasil
TELEFONE (44) 3045 - 9898