Você está na página 1de 58

Instalações elétricas

de baixa tensão

Unidade 1
Fundamentos da eletricidade
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
JOSÉ AUGUSTO JUNIOR
AUTORIA
José Augusto Junior
Sou graduado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual
Paulista e mestre em Ciência e Tecnologia de Materiais pela UNESP. Além
de trabalhar como autônomo, projetando e executando obras (inclusive
instalações elétricas de baixa tensão) atuei por dois anos como docente
substituto, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP), lecionando disciplinas de diversas áreas da Engenharia
Civil ao curso Técnico em Edificações. Acredito que muito melhor do que
saber o que é algo, seja compreender o seu porquê! Enxergar, além do
simples conceito, a razão das coisas, expande nossos horizontes e nos
torna maiores e aptos a buscar mais! Por isso, fui convidado pela Editora
Telesapiens a integrar o elenco de autores independentes e me sinto
honrado em contribuir para a expansão do seu conhecimento! Desejo
muita energia à sua jornada de estudos!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Eletricidade e energia elétrica............................................................... 10
Eletricidade .........................................................................................................................................10

Geração de energia elétrica ................................................................................................... 18

Condutores e isolantes elétricos.......................................................... 22


Ligações atômicas...........................................................................................................................23

Ligações iônicas............................................................................................................25

Ligações covalentes...................................................................................................26

Ligações metálicas......................................................................................................27

Estrutura cristalina...........................................................................................................................29

Materiais utilizados em instalações elétricas............................................................. 30

Tensão - corrente e potência elétrica................................................. 34


Tensão elétrica...................................................................................................................................34

Corrente elétrica...............................................................................................................................37

Potência elétrica...............................................................................................................................37

Demanda de potência e o consumo de energia elétrica.................................. 40

Sistemas de fornecimento elétrico mono -


bi e trifásicos.................................................................................................. 45
Condutores que constituem as instalações elétricas...........................................47

Tensões de distribuição.............................................................................................................. 50

Sistemas de fornecimento........................................................................................................52

Sistema de fornecimento monofásico..........................................................53

Sistema de fornecimento bifásico....................................................................53

Sistema de fornecimento trifásico....................................................................54


Instalações elétricas de baixa tensão 7

01
UNIDADE
8 Instalações elétricas de baixa tensão

INTRODUÇÃO
A tela através da qual você lê este material, seu aparelho
celular, a luz que está acesa, a geladeira que guarda seus alimentos,
as estruturas hospitalares que salvam milhões de vidas todos os
dias. Desde as composições mais básicas até as mais complexas,
tudo depende de energia elétrica! Esse fenômeno tão grandioso e
revolucionário encanta e desafia a humanidade há muito tempo.

Você sabia que a eletricidade provém das menores estruturas


que conhecemos? Isso mesmo, conhecemos, porque não é possível
enxergá-la a olho nu. E, de maneira extraordinária, ela brota desse
universo tão minúsculo e desabrocha em estruturas gigantescas,
como as usinas hidrelétricas, percorrem quilômetros e quilômetros e
chega à palma de nossas mãos! É tudo tão simples e tão magnífico,
tão pequeno e tão grandioso. Não vivemos mais sem energia elétrica.
Vamos, então, conhecer os conceitos e os fenômenos que estão por
trás de tudo isso, desde os átomos até o fio que te conecta?
Instalações elétricas de baixa tensão 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:

1. Definir os conceitos básicos de eletricidade e energia elétrica.

2. Distinguir materiais condutores de materiais isolantes.

3. Definir os conceitos de tensão, potência e corrente elétrica,


discernindo sobre suas aplicações práticas.

4. Diferenciar fornecimentos de energia monofásicos, bifásicos e


trifásicos.
10 Instalações elétricas de baixa tensão

Eletricidade e energia elétrica


OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender


o fenômeno da eletricidade e, a partir deste, como é gerada
a energia elétrica, tão importante e útil ao nosso dia a dia.
Tais definições serão de muita valia para o entendimento
do funcionamento das instalações elétricas e suas
aplicabilidades. Vamos ao conhecimento? Muita energia
para você!

Eletricidade
Alguns conceitos já estão enraizados em nosso dia a dia, de modo
que, por muitas vezes, não paramos para refletir sobre o que está por trás
destes ou como ocorrem. Você saberia dizer, de maneira detalhada, o
que é eletricidade? Calma! Não precisa se desesperar se o que veio à sua
mente foram apenas ideias como a rede que passa em sua rua, tomar um
choque ou até mesmo acender uma luz. Todas essas ações e elementos
estão diretamente ligadas à eletricidade, todavia, o que ocorre para que
tudo isso aconteça?

Reunindo concepções abordadas por autores clássicos de física


como Bonjorno et al. (2016), Halliday e Resnick (2016) e Gaspar (2006),
podemos compreender o conceito de eletricidade da seguinte maneira:

DEFINIÇÃO:

A eletricidade diz respeito à medida da carga elétrica


verificada a partir das partículas elementares de um
átomo, sendo esta carga uma propriedade intrínseca das
mencionadas partículas quando estas se encontram em
desigualdade. Os fenômenos que ocorrem a partir da
ação das cargas elétricas são denominados Fenômenos
Elétricos e podem ser provocados através de mecanismos
distintos.
Instalações elétricas de baixa tensão 11

Para compreendermos melhor como estes fenômenos ocorrem e,


consequentemente, como a energia elétrica (que é o objeto de estudo
de nossa disciplina) é gerada, se faz importante relembrarmos (ou
conhecermos) o sistema que possui aquelas que chamamos de partículas
elementares: o átomo. Além disso, ao conhecer esse sistema, podemos
também definir de forma mais clara as partículas elementares, que são as
responsáveis pela geração de carga elétrica e como estas tendem a se
organizar e comportar.

A etimologia da palavra átomo, que provém do grego em que “a”


significa “não” e “tomo” significa “divisão”, é capaz de expor aquilo que por
muito tempo se acreditou que tal sistema seria: indivisível. Durante muito
tempo, acreditou-se que átomos eram esferas maciças e indivisíveis,
semelhantes às que hoje conhecemos como bolas de bilhar, ilustradas
na Figura 1, porém em proporções infinitamente menores e devidamente
dispostas para compor, de diferentes maneiras, a partir de distintas
substâncias, tudo o que havia no universo (FEITOSA, BARBOSA, FORTE
2016). Por muito tempo, os átomos foram compreendidos como esferas
maciças semelhantes a bolas de bilhar, porém em dimensões reduzidas
e organizações específicas
Figura 1 – Ilustração de bolas de bilhar

Fonte: Freepik

Todavia, com o avanço da ciência, chegou-se à conclusão que a


composição atômica se dá em partículas menores (aquelas que até então
estávamos denominando misteriosamente como elementares), que
são os prótons, os elétrons e os nêutrons e é justamente quando há o
deslocamento de prótons e/ou elétrons de um átomo que os fenômenos
elétricos acontecem (BONJORNO et al., 2016).
12 Instalações elétricas de baixa tensão

Tudo o que há no universo, todos os corpos e matérias, são


constituídos por átomos, sendo estes organizados de maneiras diferentes
de modo a compor os distintos elementos químicos que formam tudo
o que conhecemos (FERRARO, SOARES, 1998). Bonjorno et al. (2016)
explicam detalhadamente como os átomos são organizados:
Prótons e nêutrons estão arranjados na pequeníssima
região central que constitui o núcleo do átomo. Os
elétrons, por sua vez, deslocam-se rapidamente em torno
do núcleo, distribuídos nos diversos níveis de energia
permitidos. Esses níveis localizam-se em uma região
denominada eletrosfera. (BONJORNO et al. 2016, p. 15)

Com o avanço dos estudos científicos, atribuíram-se aos prótons


e elétrons cargas, as quais são denominadas cargas elétricas que, no
Sistema Internacional de Unidades são expressas em Coulomb (C). A
magnitude das cargas elétricas de um próton e de um elétron apresentam
o mesmo valor: 1,60 . 10-19 C (BONJORNO et al., 2016; CALLISTER, 2008).

No entanto, se as cargas elétricas de prótons e elétrons podem ser


expressas pelo mesmo valor, o que diferencia um elemento do outro?
Acredito que você, alguma vez na vida, já tenha ouvido a famosa frase de
que os opostos se atraem. Se ainda duvida da força dessa expressão em
alguns contextos, imagine um cabo de guerra, como na figura 2, apesar
de serem times opostos, o objetivo da brincadeira é puxar o adversário
para seu lado, ou seja, atrair o time oposto, certo?
Figura 2 – O cabo de guerra é um exemplo de que os opostos tendem a se atrair

Fonte: Freepik
Instalações elétricas de baixa tensão 13

A partir desta expressão popular e tão comum, os opostos se


atraem, podemos explicar perfeitamente a teoria que está por trás de
estruturas atômicas. O que diferencia os prótons dos elétrons é o fato de
que aos elétrons atribui-se carga elétrica negativa e aos prótons carga
elétrica positiva, ou seja, eles são opostos (BONJORNO et al., 2016). Isso
faz com que os prótons se concentrem no núcleo e, graças à atração de
cargas contrárias, os elétrons orbitam em torno deles.

Mas e quanto aos nêutrons, qual será sua carga? Ora, o nome dos
mesmos já é bastante sugestivo. Os nêutrons são neutros, ou seja, não
possuem carga. Porém, se concentram também no núcleo, juntamente
com os prótons e são de extrema importância para a estabilização do
sistema (CALLISTER, 2008).

A figura 3 traz uma representação atômica mais moderna, na qual


podemos verificar o núcleo, composto por prótons e nêutrons, e em
torno desses, os elétrons orbitando. As linhas brancas representam a
movimentação dos elétrons ao redor do núcleo, na eletrosfera.
Figura 3 – Representação atômica com prótons, nêutrons e elétrons

Fonte: Freepik

Apesar dos elétrons serem popularmente representados como


partículas que orbitam em volta do núcleo, se sabe que, na verdade, seu
comportamento se dá através de uma dualidade entre onda e partícula.
Isso significa afirmar que o posicionamento dos elétrons é visto como uma
probabilidade de localizações distintas ao redor do núcleo, não mais como
14 Instalações elétricas de baixa tensão

uma partícula que faz apenas um caminho específico, mas sim como uma
nuvem eletrônica de carga negativa que paira ao redor do núcleo, o qual,
por sua vez, possui carga positiva e, com isso, sempre atrai os elétrons
para sua órbita (CALLISTER, 2008).

SAIBA MAIS:

Ficou interessada em conhecer a história dos átomos e


saber como seu conceito passou de uma simples partícula
indivisível semelhante a uma bola de bilhar para uma
estrutura composta por prótons, elétrons e nêutrons? Além
disso, quais foram os pensadores e cientistas responsáveis
por essas descobertas? A Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em parceria com o Ministério
da Educação, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, lançou
uma produção audiovisual muito interessante, onde conta a
História dos Modelos Atômicos. Você pode acessá-la aqui.
Prepare a pipoca, porque esta é uma viagem no tempo
eletrizante!

Já sabemos o que é um átomo, quais são seus componentes e


como eles são carregados. Além disso, verificamos por definição, que
a eletricidade seria o resultado da carga elétrica dos componentes
atômicos. Todavia, como de fato um corpo passa a se tornar carregado
eletricamente?

As nomenclaturas de eletricidade e carga elétrica são bastante


sugestivas. Elas estão ligadas à quantidade de elétrons do corpo
eletrizado. Ferrero e Soares (1998, p. 499) afirmam que “a quantidade de
elétrons em falta ou excesso caracteriza a carga elétrica (Q) do corpo,
podendo ser positiva no primeiro caso e negativa no segundo”.

Isso mesmo! Um corpo pode ser carregado eletricamente tanto de


forma positiva, quanto de forma negativa e isso pode ser explicado a partir
de tudo aquilo que já aprendemos!

Se os elétrons possuem carga negativa e os prótons carga positiva,


um corpo em que há excesso de elétrons estará carregado eletricamente
de que maneira? Isso mesmo, de forma negativa! Quando o contrário
Instalações elétricas de baixa tensão 15

ocorre, um corpo perde elétrons e, consequentemente, possui prótons


em excesso, como ele ficará carregado? Muito bem, de forma positiva!
Mas, e se tivermos os números de cargas positivas e negativas iguais?
Nesse caso, o corpo estará com as cargas balanceadas, ou seja, se trata
de um objeto eletricamente neutro, conforme afirmam Halliday e Resnick
(2016). É por isso que não estamos constantemente tomando choques
por aí!

De maneira natural, a maioria dos corpos e elementos tendem a


estar em estado neutro, ou seja, possuem suas cargas positivas e negativas
balanceadas, a esta área da eletricidade denominamos eletrostática. Em
contrapartida, se a eletricidade é justamente gerada pelo desequilíbrio
entre prótons e elétrons ou simplesmente pelo excesso ou falta de
elétrons, como isso é provocado?

O fenômeno que provoca o surgimento de cargas elétricas (ou


eletricidade) é denominado eletrização e pode ocorrer através de
duas formas distintas quando analisados a partir do ramo eletrostático:
eletrização por contato e eletrização por indução (GASPAR, 2006).
Consequentemente, a partir desses princípios básicos se originam
diversos mecanismos capazes de produzir energia elétrica. Desse modo,
compreender os conceitos abordados pela eletroestática facilita, então, o
entendimento de conceitos inerentes à eletrodinâmica e eletromagnética,
que são diretamente responsáveis pela geração da energia elétrica na
forma como a recebemos.

Então, que tal compreendermos os princípios básicos de eletrização


por contato e indução para, enfim, verificarmos como a energia elétrica é
produzida?

A eletrização por contato (também chamada de eletrização por


atrito) ocorre quando corpos distintos são colocados em contato direto e,
com isso, suas estruturas atômicas passam a interagir. Dito de outro modo,
os elétrons mais externos dos átomos, em virtude de tanta proximidade, se
energizam e passam a migrar de um corpo para o outro. Nesse fenômeno,
a matéria que perdeu elétrons passa a se energizar positivamente já que
perdeu cargas negativas e a matéria que ganhou elétrons energiza-se
negativamente. É importante ressaltar que não há geração de energia
16 Instalações elétricas de baixa tensão

em excesso, a energização que ocorre é uma conservação das cargas


pré-existentes nos corpos envolvidos nesse sistema (GASPAR, 2006;
BONJORNO et al., 2016).

O atrito é a maneira mais comum de promover contato capaz de


energizar um corpo, até então, neutro. Todavia, se um dos corpos já estiver
energizado, não é necessário realizar a excitação eletrônica (ativação da
carga elétrica para níveis energéticos distintos) por meio de atrito, basta
promover o simples contato entre o corpo energizado e o que se encontra
em estado neutro para que, assim, a energização por contato (daquele
que estava neutro) ocorra (GASPAR, 2006).

IMPORTANTE:

Quando são mencionados os termos corpos e/ou matéria


estamos nos referindo, no contexto estudado, a quaisquer
elementos compostos por átomos.

A eletrização por indução, por sua vez, ocorre quando um corpo


induz o outro a se eletrizar, porém sem ter contato com ele. Basicamente,
um corpo já eletrizado é aproximado de um corpo neutro. Como reação de
tal aproximação, o corpo que se encontra em estado neutro (com prótons
e elétrons em equilíbrio) sofre uma polarização. Isto é, um desequilíbrio
de cargas orientado em direção do indutor e, assim, tende a buscar se
restabelecer. Para que o corpo neutro que foi induzido a se eletrizar assim
o faça, ele tende a buscar elétrons (ou descarregá-los, a depender da
carga do corpo indutor) de um corpo ainda maior, geralmente a Terra
(GASPAR, 2006).

Logo, para que o processo de eletrização ocorra, o corpo eletrizado


precisa estar em contato com um corpo ainda maior, para que assim
possa buscar ou descarregar elétrons para se reequilibrar, gerando um
fluxo de carga elétrica (GASPAR, 2006).

Mas o que se diferencia para que um corpo neutro induzido possa,


em uma situação, buscar elétrons da Terra e em outra, descarregar na
mesma?
Instalações elétricas de baixa tensão 17

Ora, tudo dependerá da carga do indutor. Se o corpo indutor estiver


energizado positivamente, a tendência é que o corpo induzido necessite
de mais cargas negativas (ou seja, se energize negativamente). Isso ocorre
para que entre em equilíbrio e atenda à sua demanda de elétrons e à do
indutor. Logo, tende a buscar elétrons da Terra. Nesse caso, quando o
indutor (positivo) for retirado da proximidade do corpo que foi induzido,
esse estará com excesso de cargas negativas, pois precisou buscar
em um corpo maior (a Terra) elétrons para atender a carga que a ele foi
induzida pelo corpo positivo (BONJORNO et al., 2016).

De forma contrária, conforme podemos observar na figura 4, se o


corpo indutor estiver com carga negativa (figura 4.a), o corpo induzido
tenderia a emitir elétrons para a Terra (figura 4.b) para que, desta maneira,
não perdesse seu equilíbrio. Todavia, com a retirada do corpo indutor, esse
teria elétrons em quantidade inferior e, com isso, resultaria em geração de
carga positiva (figura 4.c).
Figura 4 – Esquema de eletrização por indução: a) indutor negativo e induzido neutro,
b) processo de indução com polarização do induzido e emissão de elétrons para a Terra,
c) afastamento do indutor, resultando em corpo induzido com carga positiva

Indutor Induzido Indutor Induzido Indutor Induzido

a) b) c)

Terra Terra Terra

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Afinal de contas, o que tudo isso tem a ver com nosso dia a dia e,
principalmente, com a geração da energia que chega ao nosso uso?

Apesar de parecer um mecanismo complexo, não é difícil que


fenômenos de eletrização ocorram em atividades corriqueiras. Você já
levou um choque ao tocar em outra pessoa ou algum objeto? Pois então,
eis a eletrização por contato acontecendo! Você já fez uso de energia
elétrica hoje? Isso é resultado de um sistema de eletrização por indução,
porém eletromagnética.
18 Instalações elétricas de baixa tensão

Geração de energia elétrica


De acordo com o Balanço Energético Nacional produzido pela
Empresa de Pesquisa Energética (BEN, 2020 apud EPE, 2020) no ano de
2019, a produção de energia elétrica no Brasil se deu por meio de oito
matrizes principais, conforme exposto na Tabela a seguir.
Tabela 1 – Matrizes elétricas brasileiras e suas contribuições
para a produção de energia no Brasil no ano de 2019

Matriz Produção de Energia

Hidráulica 64,9%

Gás Natural 9,3%

Eólica 8,6%

Biomassa 8,4%

Carvão e Derivados 3,3%

Nuclear 2,5%

Solar 1,0%

Fonte: Ben (2020 apud EPE, 2020).

Conforme verifica-se na tabela, a maior parte da energia elétrica


brasileira é produzida através de usinas hidrelétricas, ou seja, que fazem
uso da força da água para a geração de energia elétrica. Todavia, apesar
da variação das matrizes de produção, na maioria delas o princípio que
prevalece é o mesmo: buscar uma fonte de energia mecânica (movimento)
e transformá-la em energia elétrica. Esse processo de transformação só
é possível graças a um princípio denominado indução eletromagnética.

Tendo o conhecimento prévio a respeito da eletrização por indução,


enquanto propriedade eletrostática (que ocorre sem que os corpos entrem
em contato direto) torna-se mais fácil a compreensão de como é promovida
a indução eletromagnética. Basicamente, na geração de energia elétrica
a indução se dá através de um campo magnético que induz a eletrização
de bobinas metálicas (fios, cabos ou barras, geralmente de cobre) e, a
partir disso, a geração de corrente elétrica. Entretanto, é importante que
uma das partes envolvidas nesse processo (as bobinas ou os imãs que
Instalações elétricas de baixa tensão 19

gerarão o campo eletromagnético) esteja em movimento, para assim,


promover uma variação no fluxo eletromagnético. Esse processo irá gerar
uma movimentação de elétrons livres disponíveis no metal da bobina
capaz de provocar o que chamamos de corrente elétrica (BONJORNO et
al., 2016; CRUZ, ANICETO, 2012; REIS, 2011; GUSSOW, 2009).

Em uma usina hidrelétrica, por exemplo, a água de um rio é represada


e passando por um conduto forçado (canal de dimensões limitadas que faz
com que o montante de água adquira força) é direcionada até as turbinas.
As turbinas são estruturas que geram energia mecânica (movimento) a
partir da passagem da água e, acima destas, se localizam os geradores de
energia. Esses geradores são compostos basicamente por grandes imãs
(que geram o fluxo eletromagnético que, ao variar, provoca a obtenção
de corrente elétrica) com bobinas de cobre posicionadas muito próximas
a eles. Com a força da água, as turbinas são movimentadas e, estando
ligadas ao gerador, fazem com que o rotor (parte que se movimenta) gire,
provocando a indução eletromagnética (REIS, 2011; PEREIRA, 2015).

SAIBA MAIS:

Quer ver em mais detalhes como se dá a geração de


energia elétrica em uma usina hidrelétrica? Assista ao
vídeo institucional disponibilizado pela Usina Hidrelétrica
Binacional de Itaipu, a maior geradora de energia do
planeta, que se localiza entre Brasil e Paraguai. Além
disso, no site da usina, são disponibilizadas diversas
informações técnicas. Acesse e se surpreenda com essa
gigante! Clique aqui.

Conforme mencionado, a diferença básica entre usinas hidrelétricas,


eólicas, termoelétricas e nucleares é apenas a força que promoverá a
rotação das turbinas (CRUZ; ANICETO, 2012).

Atualmente, são diversas as formas de geração e obtenção de


energia elétrica. Afinal de contas, a sociedade, os diversos setores
industriais e todas as ramificações que reverberam de nossa existência
já não funcionam mais sem o acesso a esse recurso. O avanço da ciência
e a modernização das estruturas têm corroborado para que as matrizes
20 Instalações elétricas de baixa tensão

energéticas sejam cada vez mais limpas e eficientes. Diante disso, fontes
renováveis, como a hidráulica e eólica, assumem parcelas importantes
na geração de energia nacional. Não obstante, espera-se que o acesso
a fontes independentes, como a energia solar, seja melhor promovido no
futuro. Apesar de, em suma, se tratarem de fontes limpas e renováveis,
é papel da sociedade utilizar a energia elétrica com responsabilidade e
consciência, para que o risco da escassez não seja iminente. Reconhecendo
o valor que tem no acesso a esse recurso, torna-se possível evoluir por
intermédio dele.

RESUMINDO:

Chegamos ao fim do nosso capítulo e desejamos que


a jornada do conhecimento até aqui tenha sido tão
entusiasmante para você que está aprendendo quanto
foi para nós que o estamos disponibilizando! Que tal
resumirmos brevemente o que estudamos para fixar o
conteúdo? Neste capítulo, definimos os conceitos básicos
que envolvem os processos de eletrização e geração de
energia elétrica. Para tal, verificamos que, assim como toda
matéria existente, a obtenção de energia elétrica também
é dependente dos menores sistemas constituintes de tudo
o que conhecemos: os átomos. Os átomos são organizados
em núcleo e eletrosfera, sendo o núcleo composto
por prótons e nêutrons e a eletrosfera por elétrons. Por
convenção, a carga elétrica dos prótons é positiva, dos
elétrons negativa e dos nêutrons neutra. Sendo assim, os
elétrons (carregados negativamente) são atraídos pelo
núcleo (carregado positivamente). Verificamos também
que naturalmente os corpos tendem a ser neutros, ou
seja, terem a mesma quantidade de prótons e elétrons.
Todavia, através de mecanismos específicos eles podem
ser eletrizados. A eletrização é o processo de geração de
carga elétrica, que faz com que um corpo apresente carga
positiva ou negativa, a depender de um desequilíbrio entre
a quantidade de prótons e elétrons: quando um corpo tem
excesso de elétrons (carga negativa), ele está carregado
negativamente quando tem falta de elétrons, dizemos que
está carregado positivamente.
Instalações elétricas de baixa tensão 21

RESUMINDO:

Além disso, vimos ainda que, de acordo com a eletrostática,


o processo de eletrização pode ocorrer por contato
(incluindo atrito) ou por indução. A eletrização por contato
é aquela que ocorre quando dois corpos mantêm contato
tão significativo que passam a trocar elétrons, ou seja, um
corpo cede elétrons para o outro. A eletrização por indução,
por sua vez, acontece sem que os corpos se toquem: um
corpo carregado (chamado de indutor) se aproxima de um
corpo neutro (chamado de induzido) e é ligado a um corpo
maior (a Terra, por exemplo). Esse movimento faz com que
esse corpo neutro sofra uma polarização de cargas e doe
ou receba elétrons do corpo maior ao qual está ligado,
resultando em falta ou excesso de elétrons no fim do
processo. A questão que irrompe é: o que isso tinha a ver
com a geração de energia elétrica? Vimos, até aqui, que o
processo de geração de energia elétrica ocorre justamente
por indução, todavia, indução eletromagnética. Nesta, um
corpo (bobina) é exposto a um campo eletromagnético em
movimento (gerado por ímãs) e, sem contato, por indução,
gera corrente elétrica. No Brasil, a maior parte da energia
elétrica (64,9%) é produzida por usinas hidrelétricas.
22 Instalações elétricas de baixa tensão

Condutores e isolantes elétricos


OBJETIVO:

Ao concluir os estudos deste capítulo, você será capaz


de distinguir materiais condutores de materiais isolantes
elétricos. Além disso, você compreenderá como estes
materiais se organizam, suas principais composições e
qual a importância do uso destas nas instalações elétricas.
Vamos lá? Que seus estudos sejam conduzidos com muita
energia e isolados do desânimo!

Imagine a seguinte situação: uma dinâmica será realizada em uma


sala com dois grupos distintos, o objetivo é conduzir balões de uma ponta
da sala até a porta de saída localizada na extremidade oposta. No primeiro
grupo, as pessoas se organizaram em uma fileira, estando uma ao lado
da outra e ainda todas dispostas a se movimentarem para conduzir os
balões. Já no segundo grupo, as pessoas ficaram afastadas umas das
outras, de maneira isolada e desorganizadas, sem se movimentarem
para transportar os balões. Diante disso, através de qual grupo você acha
que os balões chegaram mais rapidamente à porta, fazendo desses os
vencedores ilustrados na Figura 5?
Figura 5 – Grupo que melhor conduziu os balões

Fonte: Freepik

Se você respondeu que os balões chegaram de maneira mais


rápida e eficiente à porta por meio do grupo em que as pessoas
se organizaram e estavam dispostas a carregá-los, você acertou!
Organizadas e se movimentando para conduzir os balões, facilmente a
Instalações elétricas de baixa tensão 23

tarefa seria cumprida. No outro grupo, conforme vimos, ninguém estava


se movimentando, estavam todos fortemente dispostos em posições não
favoráveis. Os balões nem mesmo chegariam à metade do caminho.

A partir dessa analogia, podemos compreender a principal diferença


entre materiais condutores e materiais isolantes. Considerando que os
balões sejam cargas elétricas, os materiais condutores se comportariam
como o grupo que tinha uma organização e indivíduos dispostos a
transportá-las. Em outras palavras, há facilidade no movimento de
eletricidade. Nos conceitos de eletricidade, esses indivíduos seriam os
elétrons livres disponíveis nos condutores. Os materiais isolantes, assim
como o segundo grupo, podem até estar organizados, mas não de
maneira disposta ou favorável a conduzir as cargas elétricas, ou seja, não
há facilidade de movimento dessas cargas (FERRARO; SOARES, 1998).

No entanto, o que estaria por trás dessa facilidade ou dificuldade


de transporte de cargas elétricas que tornam condutores e isolantes
tão distintos? Conforme percebemos, a diferença seria na forma como
esses materiais se organizam e como seus elétrons estão dispostos e isso
pode ser explicado a partir de dois conceitos: as ligações atômicas e as
estruturas cristalinas.

Melhor do que saber o que são as coisas é saber por qual motivo elas
acontecem, não é mesmo? Vamos entender os conceitos mencionados
para assim diferenciarmos com precisão os condutores e os isolantes
elétricos?

Ligações atômicas
A partir da compreensão do que são e como ocorrem as ligações
atômicas (também chamadas de ligações químicas), podemos definir
de forma muito clara como um material irá apresentar facilidade ou
resistência em conduzir eletricidade (FERREIRA, 2017). De acordo com o
que explanam Feitosa, Barbosa e Forte (2016), podemos definir as ligações
da seguinte maneira:

As ligações atômicas (ou químicas) são interações que acontecem


entre os átomos do(s) elemento(s) que constituem um material, mantendo-
24 Instalações elétricas de baixa tensão

os unidos. Essas ligações envolvem, em suma, os elétrons mais externos


dos átomos envolvidos. O modo como estes participarão, ou não, dessas
interações influi diretamente nas propriedades dos materiais.

Conforme exposto, as ligações tendem a ocorrer entre os elétrons


mais externos dos átomos. Esses elétrons se encontram em regiões
atômicas denominadas camadas de valência, que são justamente as
camadas nas quais os elétrons se organizam de maneira mais distante
dos núcleos dos átomos que o compõe. Sendo, então, ligados a estes de
maneira mais fraca e tendem a interagir com outros átomos através de
perda, ganho ou compartilhamento de suas cargas, visando a estabilidade
do sistema (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016).

Porém, quando mencionamos que o átomo tende a promover


ligações visando se manter estável, no que se consolida essa estabilidade?
Isso pode ser explicado pela regra do octeto: A partir desse princípio,
considera-se que os átomos apresentam estabilidade quando possuem
oito elétrons em sua camada energética mais externa (camada de valência).
Essa regra foi evidenciada quando se percebeu que um grupo específico
de elementos químicos, denominados gases nobres, eram estáveis e, em
comum, tinham todos eles oito elétrons em suas respectivas camadas de
valência (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016).

Diante desta definição, torna-se possível, finalmente, compreender


o porquê os átomos se sujeitam às ligações atômicas. Em suma, elas
ocorrem em decorrência da tendência que os átomos apresentam de
buscarem se configurar como um elemento estável, ou seja, preencher
totalmente sua camada de valência com oito elétrons. Como a maioria
dos elementos químicos não os possuem, seus átomos doam ou
compartilham seus elétrons externos com outros átomos para que, assim,
atinjam esse equilíbrio (CALLISTER, 2008).

Compreendido o porquê as ligações interatômicas (entre átomos)


ocorrem, torna-se possível verificar os três diferentes tipos existentes,
sendo elas: ligações iônicas, ligações covalentes e ligações metálicas.
Diante desse cenário, os conceitos de materiais condutores e isolantes
ficarão muito mais simples. Vamos lá?
Instalações elétricas de baixa tensão 25

Ligações iônicas
Esse tipo de ligação costuma envolver dois tipos de átomos
distintos, geralmente, ocorre entre um elemento denominado metálico
(que costumam ter a camada de valência com poucos elétrons) e um
elemento não metálico (que costumam ter a camada de valência muito
próxima de obedecer à regra do octeto). Como os dois elementos visam
a estabilidade, o que possui elétrons em pequena quantidade, em sua
última camada, os doa para aqueles que apresentam a camada de
valência quase completa. Desta maneira, ambos atingem estabilidade e
passam a se atrair de maneira iônica, haja vista que um átomo doou elétron
(e ficará com carga positiva) e o outro recebeu (ficando assim com carga
negativa) e, conforme diz a máxima: os opostos se atraem (CALLISTER,
2008; FEITOSA, BARBOSA, FORTE, 2016; FERREIRA, 2017).

Diante disso, a questão que cabe é a seguinte: no que esse tipo de


ligação influi nas definições de condutores e isolantes? De acordo com
Callister (2008):
Os materiais iônicos são, por característica, materiais
duros e quebradiços e, além disso, isolantes elétricos e
térmicos... essas propriedades são uma consequência
direta das configurações eletrônicas e/ou da natureza da
ligação iônica. (CALLISTER, 2008, p. 14)

Desta maneira, os materiais obtidos a partir de ligações iônicas


são isolantes elétricos, como as cerâmicas e os vidros, por exemplo. Isso
ocorre porque essas ligações possuem uma energia de ativação elevada,
ou seja, os átomos estão ligados de maneira muito forte, o que não
possibilita a existência de elétrons livres capazes de transportar cargas
elétricas nessas estruturas (FERREIRA, 2017).

Um exemplo de material cerâmico aplicado às instalações elétricas


são os isoladores de porcelana que comumente vemos na rede pública,
conforme representado na figura 6 ou ainda em transformadores. Com
composição baseada em ligações iônicas, eles garantem passagem e
conexão de cargas elétricas de forma segura.
26 Instalações elétricas de baixa tensão

Figura 6 – Isolador de porcelana em rede pública de distribuição de energia

Fonte: Freepik

Ligações covalentes
Diferente das ligações iônicas, nas ligações covalentes não há
doação e recebimento de elétrons, não ocorre transferência e sim
compartilhamento. Isso mesmo! Dois átomos compartilham seus elétrons
mais externos para que, assim, possam se manter estáveis. Geralmente,
essas ligações ocorrem entre não-metais, cujas camadas de valência têm
quantidade de elétrons intermediária (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016).

Os materiais compostos por átomos ligados de maneira covalente


também não tendem a ser condutores e sim isolantes. Isso porque os
elétrons estão todos envolvidos nas ligações, de maneira compartilhada.
Sendo assim, não ficam livres para realizar o transporte efetivo de cargas
elétricas. A força das ligações covalentes depende do número de elétrons
compartilhados nas relações interatômicas. Dessa maneira, essas ligações
podem ser muito fortes, como ocorre no diamante ou muito fraca, como
é o caso do bismuto (CALLISTER, 2008).

Por falar em carbono, você sabia que seus átomos sempre estão
interligados (seja entre si, seja com outras substâncias) de maneira
covalente? Isso porque, em sua última camada, ele possui quatro elétrons
buscando estabilidade. Sendo assim, sempre irá compartilhá-los para que
também recebam o compartilhamento de mais quatro elétrons e, assim,
satisfaça a regra do octeto (FERREIRA, 2017).

Onde toda essa teoria se aplicará às instalações elétricas? Nos


conhecimentos prévios a respeito de ligações iônicas, verificou-se que
os átomos assim interligados resultavam em materiais isolantes. Todavia,
Instalações elétricas de baixa tensão 27

duros e quebradiços como as cerâmicas, certo? Observe se, ao olhar para a


figura 7, você consegue identificar entre os isolantes (dispositivos que evita o
choque, como o cabo emborrachado do alicate, as luvas de borracha, a fita
isolante e o encapamento dos cabos) algum material duro e quebradiço?
Figura 7 – Materiais com isolantes para uso em instalações elétricas

Fonte: Freepik

Isso mesmo! São todos maleáveis e isolantes! Logo, são materiais


que apresentam ligações covalentes. Os materiais que compõem plásticos
e borrachas (que são os isolantes vistos na imagem) são denominados
polímeros, os quais, segundo Callister (2008, p. 15), apresentam “estrutura
molecular básica e uma longa cadeia de átomos de carbono que se
encontram ligados entre si de maneira covalente”. Ainda conforme o
autor, esses átomos de carbono compartilham apenas dois elétrons entre
si. Os outros dois que faltam para que eles se mantenham estáveis são
compartilhados com outros tipos de átomos, também de forma covalente
e, assim, obtém-se uma grande variedade de materiais poliméricos.

Ligações metálicas
Os conhecimentos prévios obtidos possibilitam definir o que são os
isolantes e porque esses materiais se comportam desta maneira quando
diz respeito ao modo como seus átomos estão interligados, não é mesmo?
Mas, e quanto aos condutores, o que acontece entre seus átomos para
que estes sejam capazes de conduzir energia?

Os materiais condutores são aqueles cujos os átomos interagem


através das chamadas ligações metálicas que, como o próprio nome
sugere, ocorre nos metais. Os materiais que se enquadram como metais
28 Instalações elétricas de baixa tensão

apresentam poucos elétrons em sua camada de valência (geralmente


um ou dois, se limitando a um máximo de três) o que faz com que estes
elétrons estejam ligados de maneira muito fraca a seus respectivos
núcleos e, sendo assim, buscando a estabilidade, os átomos constituintes
dos metais e suas ligas simplesmente se livram de tais elétrons, de modo
que os mesmos não se ligam de maneira particular à átomos específicos
e sim ficam livres se movimentando e atendendo diversas estruturas
atômicas (CALLISTER, 2008; SCHMIDT, 2010; FERREIRA, 2017).

Como tais materiais são constituídos por estruturas atômicas iguais


ou muito semelhantes, no caso das ligas metálicas, os átomos passam
a se comportar como cargas positivas, pois perderam seus elétrons de
valência. Contudo, as cargas negativas (elétrons) que foram por eles
liberadas não se ligam a átomos vizinhos, pois todos se estabilizaram
da mesma forma: liberando elétrons de valência para atender à regra do
octeto. É justamente isso que deixa esses elétrons livres entre os átomos
de carga positiva, formando uma espécie de nuvem eletrônica, que além
de garantir que os núcleos estejam todos interligados ainda se mostram
livres para conduzir carga elétrica (CALLISTER, 2008; SCHMIDT, 2010).

Em virtude dessas características, os condutores de energia elétrica


sempre serão constituídos por materiais metálicos, como cobre, alumínio,
prata, entre outros (SHMIDT, 2017). A figura 8 retrata como se estruturam
as ligações metálicas (de suma importância para instalações elétricas) em
modelo baseado no que aborda Callister (2008).
Figura 8 – Esquematização de ligação metálica

Átomos com
cargas positivas
Nuvem de elétrons livres (condutores)

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).


Instalações elétricas de baixa tensão 29

Estrutura cristalina
Conforme visto, além das ligações entre átomos há outro fator que
também influi na passagem de carga elétrica: a estrutura cristalina.

Em um material, os átomos podem ocupar posições de maneira


ordenada (ou organizada) ou de forma desordenada (ou desorganizada).
Quando organizados, os átomos tendem a estar assim de maneira
padronizada, seguindo sempre uma mesma matriz esquemática. Deste
modo, dizemos que se trata de um material cristalino (CALLISTER, 2008).

Nos materiais cristalinos, por sua vez, os átomos se dispõem


em matrizes de repetição, sempre ocupando as mesmas posições e
condições de distanciamento. Essa matriz é chamada de célula unitária
e pode apresentar diferentes formatos e volumetrias, sendo um padrão
de repetição em toda a estrutura do material cristalino (CALLISTER, 2008).

De acordo com Schmidt (2010, p. 03), “todos os metais possuem


estrutura cristalina e, como tal, apresentam uma disposição regular e
ordenada de seus átomos”. Porém, se os metais apresentam uma estrutura
organizada, como também possuem uma nuvem de elétrons livres? De
acordo com o mesmo autor, esses elétrons preenchem espaços entre os
átomos na estrutura cristalina, de modo que os campos elétricos gerados
atuem em diversas direções, todavia sempre inseridos no contexto
organizado do material.

Essa maneira organizacional dos átomos metálicos facilita ainda


mais a condução de energia, uma vez que, além de possuir elétrons
livres, esses elétrons ainda estão inseridos em uma estrutura organizada,
o que facilita sua passagem. É como se um carro potente pudesse correr
em uma rodovia reta e perfeitamente pavimentada! Em contrapartida,
quando os átomos estão desorganizados, ou seja, não apresentam uma
estrutura cristalina definida, dizemos que se tratam de materiais amorfos.
Esse conceito se aplica aos polímeros, comumente utilizados na condição
de isolantes. Além de não apresentarem elétrons livres para a condução,
tais materiais ainda possuem uma desordem atômica, que funciona como
um labirinto para a passagem de corrente, impedindo que ela ocorra.
30 Instalações elétricas de baixa tensão

Se lembra da analogia que fizemos no início do capítulo a respeito


da dinâmica com balões? Pois agora ficará ainda mais fácil enxergar
aquilo que deduzimos. O grupo que conseguiu transportar os balões com
mais eficiência foi o que estava organizado em fila e com os integrantes
dispostos a levá-los até a porta, certo? Essa organização se trata de
uma analogia à estrutura cristalina dos condutores e a disposição que
as pessoas da equipe tiveram para o transporte representa os elétrons
livres que conduzem a eletricidade por meio da estrutura organizada! O
outro grupo, apesar de também possuir integrantes, estava organizado de
maneira não muito vantajosa e, além disso, sem disposição para realizar
a tarefa, assim como ocorre nos materiais amorfos, geralmente isolantes,
que não possuem átomos organizados e, além disso, não apresentam
elétrons livres para a condução de energia.

Materiais utilizados em instalações


elétricas
De maneira direta, Cruz e Aniceto (2012) definem os materiais
condutores da seguinte maneira:
Os materiais condutores caracterizam-se por terem
muitos elétrons livres [...] Essa enorme quantidade de
elétrons livres nos condutores faz com que eles possam
se movimentar livremente, sem nenhuma resistência,
conduzindo facilmente a eletricidade. (CRUZ; ANICETO,
2012, p. 19)

Ao darmos um destaque especial à ideia de que os elétrons se


movimentam sem nenhuma resistência e conduzem facilmente a
eletricidade, verificamos dois conceitos importantes capazes de definir
se um material é condutor ou isolante: a condutividade e a resistividade
elétrica (FERREIA, 2017).

A resistividade elétrica é a medida capaz de definir o quanto um


material é resistente à passagem de corrente. Representada pela letra
grega ρ (rô), seu valor se dá em Ω.m (lê-se: ohm vezes metro). Seus
valores costumam ser tabelados e específicos para cada tipo de material
(FERREIRA, 2017).
Instalações elétricas de baixa tensão 31

Inversamente proporcional à resistividade, está a condutibilidade,


ou seja, esta grandeza expressa a facilidade que um material apresenta
em conduzir corrente. Representada pela letra grega σ (sigma) seu valor é
dado em (Ω.m)-1 ou 1/(Ω.m), haja vista que a condutividade é calculada da
seguinte maneira: σ = 1/ρ

Em que: σ = condutibilidade elétrica (Ω.m)-1.

ρ = resistividade elétrica do material (Ω.m).

Assim, é possível afirmar que, quanto maior for a condutibilidade


de um material, menor sua resistividade e vice-versa. Sobre esse quesito,
Ferreira (2017) explicita que, com base nos valores de condutibilidade, é
possível classificar um material em condutor ou isolante. De acordo com
o mesmo, condutores de alta condutibilidade apresentam tal parâmetro
na ordem de 107 (Ω.m)-1, já materiais isolantes (de baixa condutibilidade) a
teriam na ordem de 10-10 a 10-20 (Ω.m)-1.

Sabe-se que os melhores condutores são a platina, o ouro, a


prata, o cobre e o alumínio. Todavia, para a realização de instalações
elétricas, considera-se apenas a utilização de cobre e alumínio enquanto
metais condutores, em virtude de suas características técnicas e da
viabilidade econômica de utilização, haja vista que o cobre apresenta uma
condutividade de 6,0 . 107 (Ω.m)-1 e o alumínio de 3,8 . 107 (Ω.m)-1 (CRUZ,
ANICETO, 2012; FERREIRA, 2017).

Além disso, a Norma Brasileira (NBR) 5410 (ABNT, 2008) que


regulamenta as instalações elétricas de baixa tensão em âmbito nacional
impõe prescrições para utilização de condutores apenas de cobre e
alumínio, sendo os de cobre indicados de maneira direta e os de alumínio
com ressalvas: só podem ser utilizados em estabelecimentos industriais e
comerciais, em conformidade com o que se lista.

Estabelecimentos industriais:

• Devem ter seção nominal (área transversal) maior ou igual a 16mm².

• A instalação deve ser alimentada de forma direta a partir de


transformadores provindos da rede de alta tensão ou então,
possuir fonte própria de geração.
32 Instalações elétricas de baixa tensão

• Tanto a instalação quanto à manutenção devem ser realizadas por


profissionais devidamente qualificados.

Já para os estabelecimentos comerciais, a referida norma prescreve


que:

• Devem ter seção nominal (área transversal) maior ou igual a


50mm².

• A edificação possua baixa densidade de população e altura inferior


a 28 metros.

• Tanto a instalação quanto a manutenção devem ser realizadas por


profissionais devidamente qualificados.

Além de especificar os materiais condutores, a NBR 5410 (ABNT,


2008) especifica que todos os condutores devem ter invólucros de
materiais isolantes. Sob esse aspecto, Cruz e Aniceto (2012, p. 19)
afirmam que “caracterizam-se por terem pouquíssimos elétrons livres,
de modo que eles não permitem a condução de eletricidade facilmente,
oferecendo muita resistência a ela”. Esse uso conjunto garante a qualidade
e segurança das instalações. Desta maneira, uma instalação não é possível
se não possuir elementos condutores e isolantes.

A NBR 5410 (ABNT, 2008) impõe que o isolamento de condutores


deve ser constituído por cloreto de polivinil (PVC), polietileno reticulado
(XLPE) ou borracha etileno propileno (EPR). Sendo todos esses materiais
da classe dos polímeros, ou seja, com ligações covalentes (sem elétrons
livres) e estrutura atômica amorfa, o isolamento em PVC é recomendado
apenas para instalações internas (acomodados em eletrodutos sem
contato com a água ou umidade), enquanto os isolamentos em XLPE e
EPR são permitidos para usos externos, subterrâneos e até mesmo em
contato com a umidade.
Instalações elétricas de baixa tensão 33

RESUMINDO:

Até aqui, você conseguiu conduzir o conhecimento de


modo a isolar todas as dúvidas que tinha a respeito desse
assunto? Esperamos que o processo de aprendizado,
nesse capítulo, tenha sido enriquecedor à sua jornada em
busca de conhecimento! Para que os conteúdos sejam
fixados, vamos relembrar brevemente o que vimos? Nesse
capítulo, aprendemos que, para que as instalações elétricas
se consolidem, é necessário o uso conjunto de materiais
condutores e isolantes. Os materiais condutores são aqueles
em que a eletricidade é conduzida, transmitida, de maneira
muito fácil, enquanto que nos isolantes a carga elétrica
encontra grande resistência de transição. Vimos que essa
disparidade de comportamento depende, principalmente,
das ligações atômicas e da estrutura cristalina ou amorfa
que o material apresenta. Os materiais isolantes são aqueles
constituídos por ligações iônicas (quando um átomo doa
elétrons para outro) ou covalentes (quando um átomo
compartilha elétrons com outro) e isso ocorre, porque nesse
tipo de ligação os elétrons não ficam livres para conduzir
carga. Os materiais condutores, por sua vez, apresentam
ligações metálicas, em que os átomos simplesmente se
desfazem de seus elétrons de valência para poderem se
estabilizarem e esses elétrons ficam livres para transportar
eletricidade em uma espécie de nuvem eletrônica. Por fim,
aprendemos que, de acordo com as normas vigentes, os
condutores podem ser de cobre ou alumínio (tendo estes
utilizações específicas) e devem ser protegidos com uma
camada isolante, que pode ser composta por cloreto de
polivinil (PVC), polietileno reticulado (XLPE) ou borracha
etileno propileno (EPR).
34 Instalações elétricas de baixa tensão

Tensão - corrente e potência elétrica


OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você compreenderá os


princípios de tensão, corrente e potência elétrica e além da
compreensão dos conceitos, irá assimilar qual a importância
dos mesmos para as instalações elétricas, incluindo o
entendimento de como é cobrado o uso de energia elétrica
e também como se classificam as instalações elétricas de
baixa tensão. Vamos ao conhecimento?

Compreender os conceitos e aplicações de tensão, corrente


e potência elétrica possibilita uma transição, um salto no nível de
conhecimento a respeito das instalações elétricas de baixa tensão. Esses
conceitos e suas aplicações atuam como um portal capaz de nos conduzir
pelos conhecimentos prévios a respeito de estruturas atômicas, suas
ligações e tipos de materiais que, por vezes, podem parecer abstratos,
até a materialização da eletricidade em nosso dia a dia. Isso se dá através
do projeto de instalações elétricas, dados inerentes aos aparelhos
elétricos e dispositivos de iluminação e até mesmo o porquê um certo
eletrodoméstico pifou por ter sido ligado a uma tomada de tensão 220V
quando na verdade só suportava 110V.

Tensão elétrica
Para iniciarmos a compreensão do que é tensão elétrica, mais
uma vez precisamos fazer uso da máxima que prevalece tanto na ciência
quanto no saber popular de que “os opostos se atraem”. Quando uma
carga positiva e uma carga negativa são dispostas em regiões próximas,
atuam sobre essas uma força de atração, que se resume a um campo
elétrico atuante entre os dois corpos. Se no meio desses dois corpos for
disposta uma carga negativa (outro elétron), a tendência é que a carga
positiva já existente busque atraí-lo e a carga negativa que ali também
já estava busque repeli-lo. A capacidade que cada uma das duas
cargas preexistentes tem de atuar é chamada de potencial elétrico (seja
Instalações elétricas de baixa tensão 35

uma sobre a outra ou seja sobre o elétron que entre elas foi inserido)
(GUSSOW, 2009).

Na situação inicial apresentada, haviam cargas contrárias, ou seja,


uma tinha um potencial positivo e outra negativo e, entre elas, foi inserida
uma carga negativa. Logo, de um lado, o elétron inserido tende a ser atraído
e, do outro, tende a ser repelido, o que faz com que forças diferentes
atuem sobre esse corpo, provocando o que chamamos de diferença
de potencial (ddp) ou tensão elétrica. A tensão elétrica, provocada pela
diferença de potencial, funcionará então como um impulso, como a força
que turbina esse elétron a caminhar pelo condutor, pois de um lado ele
é empurrado por uma carga negativa e, no mesmo sentido, é atraído por
uma carga positiva (GUSSOW, 2009; CRUZ; ANICETO, 2012).

A tensão elétrica é representada pela letra U e sua unidade é o


volt (V). O movimento dos elétrons submetidos à tensão elétrica ocorre
do menor para o maior potencial, ou seja, das cargas negativas para as
positivas (CARVALHO JUNIOR, 2018).

As tensões elétricas podem ainda atuar de maneira contínua ou


alternada.

A tensão contínua é aquela em que não existe uma alteração na


disposição dos potenciais diferentes, ou seja, não ocorre nenhuma
mudança entre o posicionamento dos polos positivos e negativos. Dessa
maneira, a tensão tende a impulsionar os elétrons sempre no mesmo
sentido. Esse tipo de tensão é encontrado em pilhas e baterias, por
exemplo. Uma pilha comum apresentará tensão de 1,5V e, como se pode
observar através da figura 9.a, essa possui seus polos positivo e negativo
bem definidos (CRUZ, ANICETO, 2012).

A tensão alternada, por sua vez, é aquela em que há alterações


em frequências definidas dos potenciais elétricos. Em outras palavras,
o elétron muda o sentido de sua trajetória em intervalos de tempo pré-
definidos. Isso faz com que a diferença de potencial seja mais efetiva
e as tensões provocadas ocorram em valores maiores do que a das
contínuas. O que define o número de vezes que a tensão irá se alterar em
um segundo é o padrão da usina geradora de energia. No Brasil, opera
36 Instalações elétricas de baixa tensão

a corrente alternada de 60 hertz (Hz), o que quer dizer que a tensão tem
seus potenciais (positivos e negativos) alternados 60 vezes por segundo.
Todos os equipamentos que utilizamos conectados a tomadas (figura
9.b) operam através de tensão alternada. As tensões mais utilizadas
em instalações elétricas de baixa tensão são as de 110V, 127V e 220V
(CARVALHO JUNIOR, 2018; CRUZ, ANICETO, 2012).
Figura 9 – a) Pilhas nas quais atua tensão contínua, b) Tomada na qual atua tensão alternada

Fonte: Freepik

Porém, se estamos verificando as tensões elétricas, de onde vem


a classificação que inclusive dá nome a nossa disciplina de “Instalações
Elétricas de Baixa Tensão”? De acordo com a Agência Nacional de Energia
Elétrica
O sistema de distribuição é composto pela rede elétrica
e pelo conjunto de instalações e equipamentos elétricos
que operam em níveis de alta tensão (superior a 69 kV e
inferior a 230 kV), média tensão (superior a 1 kV e inferior
a 69 kV) e baixa tensão (igual ou inferior a 1 kV). (ANEEL,
2018, on-line)

A unidade kV que verificamos junto às classificações demonstradas


diz respeito ao quilowatt, ou seja, 1kV = 1000V. Dessa maneira, as
instalações elétricas de baixa tensão são aquelas em que a tensão que
as alimentam é igual ou inferior a 1000V, o que enquadra a maioria das
instalações elétricas projetadas, que geralmente operam em 110V, 127V e
220V. Sendo assim, as instalações médias seriam as que são encontradas
na rede pública, que costumam operar em 13,8kV. Essas passam por
transformadores de energia (localizados nos postes) e são convertidas em
baixa tensão (CREDER, 2016). As altas tensões dizem respeito às estruturas
muito maiores, como unidades geradoras e subestações de energia.
Instalações elétricas de baixa tensão 37

Se a tensão elétrica é a força que empurra os elétrons livres


nos condutores para que assim obtenhamos energia, como essa é
transportada? Siga comigo que já te conto!

Corrente elétrica
Compreendendo que a tensão elétrica é o combustível que
impulsiona os elétrons a se deslocarem através dos materiais condutores,
a corrente elétrica será basicamente, o movimento dos elétrons causados
pela ação da tensão elétrica. Graças à estrutura cristalina dos metais
condutores, esse movimento ocorre de forma ordenada. É como se os
elétrons fossem veículos (conduzindo energia elétrica), devidamente
abastecidos para percorrerem seus trajetos (abastecidos pela tensão
elétrica) e seguindo um fluxo organizado em uma excelente rodovia (que
seria a estrutura cristalina dos condutores) (GUSSOW, 2009; CARVALHO
JUNIOR, 2018).

A corrente elétrica é comumente representada pela letra I e sua


unidade é expressa em ampere (A) (CARVALHO JUNIOR, 2018).Assim
como ocorre com a tensão elétrica, o sentido de fluxo da corrente se
dá do menor para o maior potencial. Até porque, é a tensão elétrica
que impulsiona os elétrons ao movimento, consolidando a corrente.
A quantidade de corrente gerada será diretamente proporcional à
quantidade de cargas elétricas disponíveis para que a mesma ocorra.
Além disso, uma corrente também pode ser contínua ou alternada e isso
depende do tipo de tensão que a gerou: em condutores em que atua a
tensão contínua será estabelecida a corrente contínua, já em condutores
em que se atua tensão alternada, se estabelecerá corrente alternada.
Dessa maneira, expressando de forma básica, correntes alimentadas por
pilhas e baterias serão contínuas e correntes alimentadas por tomadas
serão alternadas (CRUZ; ANICETO, 2012).

Potência elétrica
A partir da ação da tensão e da corrente elétrica, se consolida a
potência elétrica, definida por Carvalho Junior (2018, p. 50) como a
“capacidade dos aparelhos para solicitar uma quantidade de energia
38 Instalações elétricas de baixa tensão

elétrica, em maior ou menor tempo, e transformá-la em outro tipo de


energia”. Vamos fazer uma analogia para que esse conceito fique mais
claro?

Imagine que você está cansado, com fome e muita pressa. Você
precisa de energia para continuar estudando, certo? Sendo assim,
resolve beber uma vitamina em um copo através de um canudo. Você irá
sugar essa vitamina com muita força para que se alimente rapidamente,
transformando esse alimento em energia para seu corpo. Nesta situação
figurada, percebemos a atuação dos conceitos de potência, tensão e
corrente elétrica. O canudo atua como se fosse o fio condutor, a força
de sucção que você faz para que a vitamina chegue à sua boca atua de
maneira análoga à tensão elétrica e o movimento do líquido passando no
interior do canudo é a corrente elétrica (provocada pela força de sucção).

A partir da sua fome, ou seja, da sua capacidade de ingerir esse


alimento, você foi capaz de consumi-lo e transformá-lo em energia
para seu corpo, mas isso só foi possível graças à tensão e à corrente
elétrica. A energia que você sentiu após consumir o alimento de maneira
proporcional à sua seria análoga à potência elétrica, que é basicamente o
efeito causado é percebido a partir da capacidade que os aparelhos têm
de consumir energia e transformá-las para que sejam utilizados.

IMPORTANTE:

A potência elétrica aparente (S) é expressa em volt-ampere


(VA), já a potência elétrica ativa (P) em watt (W) e a potência
elétrica reativa (Q), em volt-ampere reativo (VAr) (CREDER,
2016).

Pensando nisso, o que diferencia os diferentes tipos de potências


mencionadas? Para responder a esse questionamento, precisamos,
primeiramente, compreender os fenômenos envolvidos na potência
demandada pelos aparelhos.

A potência é diretamente proporcional à tensão e à corrente elétrica.


Isso mesmo! Sem tensão elétrica, não há corrente. Sem corrente elétrica,
não tem como existir potência, porque ela é basicamente “a fome” dos
Instalações elétricas de baixa tensão 39

aparelhos eletrônicos. Isso é, ela resume o quanto de corrente precisa


chegar e a que força ela deve “caminhar” para alimentá-lo e, assim,
transformar a energia elétrica em outros tipos, como luminosa (a luz que
você acende), mecânica (o movimento das lâminas do seu liquidificador)
e térmica (a água quente que sai do seu chuveiro).

A potência aparente (S) de um aparelho se dá, basicamente,


pela multiplicação da tensão pela corrente elétrica que atua para o
funcionamento do mesmo, é como se fosse uma potência total e, por
isso, é expressa em volt-ampere (CARVALHO JUNIOR, 2018).

EXEMPLO: Considerando que um chuveiro atue sobre tensão de


220V a um fluxo de corrente de 25A, calcule sua potência aparente (S).

Sabendo que S = U . I, basta multiplicar: S = 220 . 25

S = 5500 VA

A potência reativa (Q) é a potência elétrica convertida em campo


magnético a partir da atuação da tensão e da corrente elétrica. Essa
potência não se converte em trabalho, ou seja, não produz movimento,
aquecimento, enfim, outros tipos de energia e, por isso, deve ser descontada
considerando-se um fator de potência. A maioria dos aparelhos já trazem
suas potências elétricas com esse fator descontado. Todavia, caso seja
necessário calcular a potência como no exemplo acima, por convenção,
costuma-se aplicar fator de potência 1,0 para iluminação (o que quer dizer
que na potência luminosa não há interferência de potência reativa) e 0,80
em tomadas, o que indica que 20% da potência total de uma tomada é
“perdido” na forma de potência reativa. A aplicação do fator de potência se
dá multiplicando a potência aparente pelo mesmo (CARVALHO JUNIOR,
2018; CRUZ; ANICETO, 2012).

Quando se aplica o fator de potência, descontando a potência reativa,


obtém-se a potência ativa (P) que, expressa em watt (W), é a potência que
de fato produz trabalho, possibilitando a utilização dos diversos aparelhos
eletrônicos (CARVALHO JUNIOR, 2018; CRUZ; ANICETO, 2012; CREDER,
2016).
40 Instalações elétricas de baixa tensão

EXEMPLO: Considerando um fator de potência de 0,80, qual a


potência ativa do chuveiro mencionado no exemplo anterior?

Considerando que, nesse caso, P = S . fator de potência:

P = 5500 . 0,80

P = 4400W

Por convenção, os aparelhos elétricos trazem consigo a corrente


em que operam, expressa em volts, e a potência ativa que demandam,
expressa em W. Logo, em suma, essas potências já vêm convertidas a
partir de seus respectivos fatores.

Mas qual a importância de entendermos os conceitos de tensão,


corrente e potência elétrica?

De posse da tensão a ser fornecida para gerar uma corrente capaz


de alimentar um ou diversos aparelhos, chegamos à potência elétrica.
Quando se vai conceber um projeto elétrico é preciso definir qual o tipo
de ligação a ser instalada (mono, bi ou trifásica) e essa definição se dá a
partir da potência elétrica total instalada (ou demandada) pela edificação.
Sendo assim, basicamente é realizada a soma das potências de todos os
aparelhos a serem utilizados e, a partir desse valor, se classifica a ligação
mais adequada. Logo, é importante ressaltar que isso também ocorre em
conjunto com a tensão demandada (CARVALHO JUNIOR, 2018).

Demanda de potência e o consumo de


energia elétrica
Além de sua importância para que as instalações elétricas de uma
unidade consumidora sejam projetadas de forma adequada, é a partir da
potência elétrica média calculada por mês (em função de horas) que se é
tarifada a energia elétrica. Isso mesmo, a conta de energia que pagamos
todos os meses é calculada com base na potência ativa (em W) consumida
pelos aparelhos em virtude do tempo em que esta foi consumida (CRUZ;
ANICETO, 2012; CARVALHO JUNIOR, 2018).

Basicamente, cada aparelho demanda uma potência ativa de


funcionamento. Multiplicando essa potência pelo tempo (em horas) em
Instalações elétricas de baixa tensão 41

que o aparelho ficou em uso durante o mês, se terá o consumo de potência


por horas (h), cuja unidade será watt-hora (W.h). Nossa conta de luz nada
mais é do que a soma de todos os consumos em W.h multiplicada por
um valor tarifário padronizado por cada agência fornecedora (CARVALHO
JUNIOR, 2018). Sendo assim, o consumo de energia elétrica de um
aparelho é dado por:

Consumo = P . tempo de uso

Em que: P = potência ativa (W)

Tempo de uso = expresso em horas (h).

Além disso, o consumo costuma vir convertido em quilowatt-hora


(kW.h), ou seja, para que os valores não sejam expressos em números
tão altos, eles são convertidos em quilos, que nada mais é que dividi-los
por mil (lembre-se que 1 quilograma tem mil gramas). A partir disso, a
concessionária fornecedora de energia impõe um valor a ser cobrado por
cada kW.h consumido (além de outras taxas adicionais que não cabem ao
mérito da disciplina).

A Tabela 2 apresenta a potência demandada (em kW) por alguns


equipamentos, além de deduzir uma média de tempo de consumo diário
e, a partir disso, consumo por hora (kW.h) em um mês.
Tabela 2 – Potência elétrica de equipamentos elétricos

Potência Tempo de Número de dias Consumo


Aparelho ativa média utilização por utilizados por mensal
(W) dia mês (kW.h)

Chuveiro Elétrico 3500 40 min = 0,67h* 30 70,0

Ar-condicionado
1450 8h 15 174,0
12000 BTU

Cafeteira elétrica 600 1h 30 18,0

Forno de micro-
1200 20min = 0,33h* 30 12,0
ondas

*Para converter de minutos para hora basta dividir


o tempo em minutos por 60 (pois 1h tem 60min).

Fonte: Eletrobrás (apud CARVALHO JUNIOR, 2018).


42 Instalações elétricas de baixa tensão

ACESSE:

Faça o download completo da tabela com o consumo


médio de equipamentos eletrônicos formulada pela
Eletrobrás. O arquivo em questão é disponibilizado pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(UNESP). Clique aqui.

A partir destas informações torna-se possível o estimativo médio


do quanto de energia você está pagando por mês em virtude do uso de
determinado aparelho eletrônico. Para isso, basta deduzir o tempo de
uso mensal desse aparelho (multiplicando as horas de uso diárias pelo
número de dias que o aparelho é utilizado em um mês) e multiplicar por
sua potência ativa média, disponibilizada na tabela. De posse do consumo
mensal, basta multiplicar pela tarifa vigente cobrada por kW.h em sua
região. Vamos fazer um exemplo?

EXEMPLO: Em uma família composta por quatro pessoas, estima-


se que o chuveiro elétrico é utilizado por 1 hora por dia nos 30 dias de um
mês. Sabendo que a potência ativa média desse chuveiro é de 3500W e
que a tarifa cobrada é de R$ ​0,57476 por kW.h, quanto essa família pagará
pelo uso mensal de seu chuveiro?

Primeiramente, estima-se o consumo mensal em kW . h = P . horas


utilizadas por dia . dias utilizados

3500 (W) . 30 (dias) . 1 (h/dia) = 105000 W . h = 105 kW . h

Para saber aproximadamente o quanto será tarifado na conta de


energia em virtude do uso do equipamento, basta multiplicar o consumo
mensal pelo valor tarifado por cada kW . h:

105k (W . h) . 0,57476 (R$/kW . h) = R$ 60,35

Assim, a família pagará aproximadamente R$ 60,35 apenas pelo


uso do chuveiro elétrico.

Compreender tais estimativas é de suma importância não só


para que possamos entender como é formulada a tarifa energética que
pagamos todos os meses, mas também para ser utilizada como uma
Instalações elétricas de baixa tensão 43

ferramenta capaz de embasar atividades profissionais, tais como estudos


de previsão de consumo e gastos com energia elétrica.

Além disso, poderá auxiliar nas tomadas de decisão importantes


para clientes ou empresas nas quais você prestará serviços, como por
exemplo, no que diz respeito à aquisição de um equipamento. Conforme já
mencionado, as tarifas se alteram entre as diversas regiões que integram
o país, antes da realização de estudos desse tipo a concessionária
fornecedora deve ser consultada.

RESUMINDO:

Chegamos ao fim de mais um capítulo e esperamos que


seus estudos tenham ocorrido com muita potência e que
a única tensão que tenha atuado durante seu aprendizado
tenha sido a elétrica aqui conceituada. Visando aumentar
a sua corrente de conhecimentos, que tal revisarmos os
conteúdos abordados? Esse capítulo foi conduzido a partir
dos conceitos de tensão, corrente e potência elétricas.
Verificamos que a tensão se trata basicamente da força
que impulsiona os elétrons livres a transitarem por um
condutor e é gerada graças a uma diferença de potencial
(ddp) entre as cargas. A tensão elétrica é representada pela
letra U e sua unidade é o volt (V). Ela pode atuar de maneira
contínua (que atua em pilhas e baterias) ou alternada
(que atua nas redes de distribuição de energia). A atuação
da tensão faz com que ocorra a corrente elétrica, que
basicamente é o movimento organizado que os elétrons
passam a ter quando submetidos a uma tensão e o fluxo
de corrente segue os mesmos parâmetros da tensão que
o gerou, podendo então ser contínua ou alternada. Essa
grandeza é representada pela letra I e a unidade que a
expressa é o ampere (A). A ação conjunta entre tensão e
corrente origina a potência elétrica. A potência de um
equipamento é, basicamente, a capacidade que o mesmo
tem de transformar energia elétrica em outros tipos de
energia. A potência aparente (S) pode ser calculada através
do produto entre a tensão e a corrente e sua unidade de
medida é o volt-ampere (VA).
44 Instalações elétricas de baixa tensão

RESUMINDO:

Todavia, parte desta potência se consolida em potência


reativa (Q), que passa a ser convertida em campo magnético
e não é capaz de gerar trabalho ao aparelho. Sua unidade
é volt-ampere reativo (VAr). Já a outra parte se consolida
em potência útil (P), de modo que essa se converte
em utilização, gerando o funcionamento dos aparelhos
elétricos. A unidade de medida é o watt (W) e esta pode
ser obtida descontando-se a potência reativa da potência
aparente através de fatores específicos. Por fim, verificamos
que a tarifa de energia elétrica é calculada pelo consumo
de potência útil dos aparelhos em virtude do tempo, sendo
medida em quilowatt-hora (kW.h).
Instalações elétricas de baixa tensão 45

Sistemas de fornecimento elétrico mono -


bi e trifásicos
OBJETIVO:

Após a conclusão de seus estudos nesse capítulo, você


terá compreendido o que são os condutores fase e neutro
e também a importância do aterramento do sistema. Além
disso, compreenderá como são formadas as ligações
elétricas mono, bi e trifásicas, além de discernir quando
cada uma deve ser utilizada. Vamos ao conhecimento!

Para que as instalações elétricas de baixa tensão sejam consolidadas


em uma edificação, é preciso que a mesma seja abastecida a partir da
rede pública, que será fornecida por uma concessionária.

Uma indústria por exemplo não terá o mesmo consumo de uma


residência, assim como uma residência de alto padrão não demandará
fornecimento elétrico da mesma maneira que uma residência de baixo
padrão. Compreender que cada unidade consumidora apresenta suas
particularidades e suas demandas é de extrema importância para que,
assim, seja solicitada a ligação de energia elétrica junto à concessionária,
visando atender a essas necessidades de maneira segura e econômica.
Dessa forma, antes de se especificar o tipo de fornecimento a ser instalado
em uma edificação é de suma importância prever a carga a ser demandada
e, a partir disso, identificar a categoria de atendimento que melhor se
enquadra àquela utilização diante dos normativos técnicos dispostos pela
concessionária local (CAVALIN; CERVELIN, 2006; CARVALHO JUNIOR, 2018).

Diante das variabilidades de utilização, as concessionárias


fornecem energia elétrica em sistemas monofásicos, bifásico e trifásicos
(CARVALHO JUNIOR, 2018). Mas, o que irá definir qual sistema deve ser
solicitado em uma ligação?

Essa pergunta é respondida em consonância com a carga a ser


instalada e uma previsão da potência que será solicitada para o uso
adequado dos aparelhos eletrônicos da unidade consumidora. Isso
pode ser presumido somando-se a potência de todos aparelhos a
46 Instalações elétricas de baixa tensão

serem atendidos pela ligação elétrica da unidade, o que resulta no que


chamamos de carga total (CARVALHO JUNIOR, 2018).
Figura 10 – Diante das diferentes demandas, o profissional deve prever a potência de
consumo para identificar qual o sistema de fornecimento adequado ao atendimento

Fonte: Freepik

Além da carga total, estudos de demanda também podem ser


interessantes. Nesse tipo de análise que possui cunho estatístico, são
descontados da potência total fatores denominados fatores de demanda,
que se tratam de valores tabelados, podendo variar de 0,70 a 1,00 e que
visam prever, estatisticamente, um desconto de potência, partindo do
pressuposto que em uma edificação não existe a tendência de utilização
conjunta de todos os aparelhos. Tal tipo de análise pode então evitar
superdimensionamentos e que, consequentemente, uma unidade seja
atendida por um padrão de fornecimento superior ao que de fato iria
demandar no dia a dia. É importante ressaltar que a carga total não sofre
alterações (CAVALIN, CERVELIN, 2006).

Os fatores de demanda, bem como os requisitos para sua aplicação,


tendem a se alterar de região para região, em virtude da variabilidade
de concessionárias fornecedoras em nosso país. Como o objetivo de
nosso capítulo é diferenciar os tipos de sistemas de fornecimento, não
entraremos em detalhes para seu cálculo. Além disso, apesar de objetivar
que o fornecimento não seja superdimensionado, os intervalos entre as
categorias são grandes, o que pode também trazer certa segurança ao
dimensionamento realizado com valores de carga total.
Instalações elétricas de baixa tensão 47

Quando mencionamos sistemas de abastecimento monofásicos,


bifásicos e trifásicos, percebemos uma alteração nos prefixos matemáticos
dispostos antes do restante da palavra, que é constituído por “fásicos”, nos
remetendo às fases. Logo, presumimos que a diferença de um sistema
para o outro se consolide no número de fases, certo? Mas, você sabe o
que é uma fase em um sistema de energia elétrica?

Não se preocupe se esse é um conceito distante ou abstrato,


estamos aqui para aprendermos mesmo! Vamos lá então?

Condutores que constituem as instalações


elétricas
De acordo com os conceitos já aprendidos, verificamos que a
condução de energia elétrica e, consequentemente o funcionamento dos
aparelhos por ela alimentados, só é possível graças à condução de carga
elétrica que é impulsionada por uma tensão, deslocando-se de maneira
organizada através de um condutor (GUSSOW, 2009).

Diante disso, quando em um sistema elétrico que esteja funcionando


normalmente há passagem de corrente elétrica através de um condutor,
classificamos esse como condutor carregado (ou seja, que possui carga).
Em situações comuns, os condutores carregados de um circuito elétrico
serão a fase e o neutro (CAVALIN, CERVELIN, 2006).
Figura 11 – Os condutores carregados são aqueles que, em
condições normais de uso, há passagem de corrente elétrica

Fonte: Freepik
48 Instalações elétricas de baixa tensão

Note que o aterramento do sistema (fio terra) não se enquadra como


condutor carregado. Isto porque a função desse é descarregar a carga
na terra em caso de fuga de corrente, garantindo, assim, a segurança
da utilização. Dessa maneira, em situações normais, o aterramento não
conduzirá quantidade significativa de eletricidade.

O condutor carregado, denominado fase, é aquele através do qual


a corrente elétrica irá passar de maneira efetiva. Ele provém da rede
pública de distribuição, diretamente do transformador. As fases podem
ser compostas por distintas tensões elétricas, a depender do padrão de
fornecimento da concessionária. O condutor fase é, então, o que sempre
estará “energizado” graças a uma tensão elétrica constante entregue pelo
sistema de abastecimento (CREDER, 2016).

Todavia, conforme conhecimentos prévios, sabemos que, para uma


tensão elétrica existir, é necessária uma diferença de potencial, lembra-
se? Essa diferença, que garantirá a efetiva atuação da tensão elétrica em
um aparelho, ocorre graças ao condutor neutro. Quando não é submetido
a uma potência (ou seja, não tem um aparelho a ele ligado), o mesmo
apresenta tensão nula (inclusive garante a segurança do sistema, pois não
faz com que a corrente seja gerada sem utilização). Todavia, quando um
aparelho é ligado, o neutro proporciona uma diferença de potencial à fase
(já carregada) e com isso a corrente elétrica circula (CREDER, 2016).

Tanto as fases (condutores em que atua a tensão elétrica) quanto


o neutro (condutor de carga “nula” responsável por causar a diferença de
potencial que gera a tensão na fase) são gerados nos transformadores.
Aqueles mesmos, que se encontram nos postes da sua rua.
Figura 12 – Transformador de energia elétrica

Fonte: Freepik
Instalações elétricas de baixa tensão 49

Esses dispositivos têm, literalmente, a função de transformar as


tensões elétricas fornecidas, diminuindo ou aumentando. No caso dos
transformadores das redes públicas de abastecimento, os mesmos têm
a função de diminuí-las, uma vez que esses são abastecidos por rede de
média tensão (geralmente a 13,8kV), o que seria uma carga extremamente
grande para alimentar os diversos equipamentos eletrônicos que fazemos
uso. Sendo assim, ao passar por tais dispositivos, a tensão é rebaixada para
os níveis que comumente utilizamos, como 127V e 220V (CREDER, 2016).

SAIBA MAIS:

Ficou curioso para saber detalhadamente como atua


um transformador de energia elétrica? A Universidade
Federal do Paraná (UFPR), através do programa Física
Brincando e Aprendendo (FIBRA), preparou um vídeo muito
interessante, explicando os princípios físicos que atuam
nesses dispositivos por meio de experimentos para lá de
eletrizantes! Clique aqui.

Sabendo que, nos casos em que é necessária sua utilização, o


neutro atuará como uma referência para a geração de corrente elétrica
através da tensão elétrica presente na fase, é importante que ambos
sigam especificações que os tornem proporcionais e seguros ao uso. A
NBR 5410 (ABNT, 2008) indica que nas instalações elétricas o condutor
neutro seja único. Além disso, seu dimensionamento deve se dar em
consonância com a fase que o mesmo irá referenciar para geração de
corrente.

As tomadas costumam apresentar dois pinos justamente porque


um é acoplado ao neutro e outro à fase, fazendo com que a corrente
flua aos aparelhos plugados. No Brasil, as especificações exigem ainda
um terceiro pino, sendo esse conectado ao fio terra, garantindo assim a
segurança efetiva do sistema, conforme a Norma Brasileira (NBR) 14136
(ABNT, 2012).

Assimilado como se dá a formação dos condutores fase e neutro,


é oportuno compreendermos as diferentes tensões de distribuição de
energia vigentes no Brasil.
50 Instalações elétricas de baixa tensão

Tensões de distribuição
Já aconteceu com você ou já ouviu alguém dizer, que um
determinado aparelho elétrico “queimou”, porque sua tensão de
funcionamento era 127V e o mesmo foi acionado em uma tensão de 220V,
assim como na Figura 13?
Figura 13 – Liquidificador sendo danificado em virtude de
conexão em tensão superior à de seu funcionamento

Fonte: Freepik

Esse tipo de acidente é muito comum, em virtude das diferentes


tensões distribuídas pelas diversas concessionárias de energia elétrica
que atuam no Brasil.

De acordo com Cruz e Aniceto (2012), as baixas tensões distribuídas


em nosso país são: 115/230V, 120/240V, 127/220V e 220/380V. Entre elas,
as mais comuns são as de 127/220V e 220/380V.

Mas, o que isso quer dizer? Essas tensões são geradas nos
transformadores quando estes rebaixam seus níveis de 13,8kV, provindo
da chamada distribuição primária. Isso é, os transformadores dos postes
convertem uma tensão média de 13,8kV para tensões baixas, conforme
descritas acima, que consolidam distribuições secundárias (CRUZ,
ANICETO, 2012; CREDER, 2016).

Analisando com mais atenção, todos os valores são dispostos em


pares, correto? O que será que isso quer dizer?
Instalações elétricas de baixa tensão 51

Os transformadores irão realizar a conversão de modo que deles


saiam três fases, ou seja, de maneira bastante direta, serão disponibilizados
para ligação até três condutores, todos com o mesmo valor de tensão.
Quando na instalação elétrica esta tensão é associada a um condutor
neutro, afirmamos que foi gerada uma tensão de fase, isto é, a diferença
de potencial ocorrerá entre a fase e o neutro (fase-neutro). Com isso, o
valor da tensão será mais baixo. Contudo, as instalações também podem
ser feitas com dois condutores de fase e sem nenhum condutor neutro.
Nesse caso, a diferença de potencial ocorrerá entre uma fase e outra
(fase-fase) e a tensão passará a chamar tensão de linha, sendo esta maior.
Isso explica o motivo das tensões de distribuição serem descritas sempre
em pares, pois o primeiro valor é o que se dá entre fase e neutro e o
segundo entre fase e fase (CREDER, 2016; CARVALHO JUNIOR, 2018).

Logo, se um transformador produz fases em tensão de 127V, por


exemplo, a tensão de fase produzida será também de 127V (pois ela se dá
tendo como referência o neutro, cuja tensão é zero). Porém, o que ocorre
para que esse valor seja convertido em 220V quando temos diferença de
potencial entre duas fases?

Conforme explana Creder (2013), a tensão gerada pela diferença de


potencial entre duas fases deve ser calculada multiplicando-se a tensão
de fase (produzida pelo gerador) pela raiz quadrada de três (√3). Isso se
dá em virtude da conformação física do transformador. Portanto, para
uma tensão de fase de 127V gerada entre fase-neutro, a tensão de linha
(gerada entre fase-fase) será de 127V . √3, que resulta em 220V.

ACESSE:

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL, 2016)


disponibiliza, em seu site, um banco de dados com as
tensões de distribuição praticadas em todos os municípios
brasileiros. Esse tipo de consulta pode ser muito importante
para que dúvidas sejam sanadas quanto a projetos e
assuntos inerentes ao abastecimento através das tensões
nominais secundárias. Além disso, também consta na
consulta a concessionária responsável pelo abastecimento
verificado. Tal ferramenta encontra-se disponível aqui.
52 Instalações elétricas de baixa tensão

Sistemas de fornecimento
Agora que já sabemos o que e como são gerados todos os
componentes que compreendem um sistema de fornecimento de energia,
podemos, finalmente, compreender o que são os sistemas monofásicos,
bifásicos e trifásicos e quais são os parâmetros para sua utilização. Vamos
nessa?

Antes de especificarmos os sistemas e os parâmetros adotados, é


importante ressaltarmos que os parâmetros de abastecimento (valores
que referenciam o tipo de ligação a ser feito em virtude da carga total a
ser consumida) sofrem alterações inerentes às diferentes concessionárias
de energia, assim como as tensões de fornecimento. Dessa forma, a
concessionária deve ser consultada.

Caso o consumidor deseje realizar uma instalação na categoria


acima daquela na qual sua unidade se enquadra, ele deve apresentar
à concessionária atuante um laudo emitido por técnico credenciado
e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) de modo a justificar a
solicitação, devendo ainda, arcar com custos adicionais. Além disso, em
caso de reformas e/ou ampliações que demandem um aumento de carga
significativo o bastante para fazer com que o sistema de fornecimento
evolua de categoria, esta deve ser realizada mediante consulta prévia e
aprovação da concessionária (CAVALIN; CERVELIN, 2006).

Em nosso material, tomaremos como referência os dados


disponibilizados por Carvalho Junior (2018), que leva em conta
abastecimento com tensões nominais de 127/220V, e a Especificação
Técnica N° 124 publicada pela Enel Ceará (ENEL, 2019), que é a
concessionária de energia que atua no estado do Ceará e atende em
tensões nominais de 220/380V.

ACESSE:

Você pode acessar a especificação técnica N° 124 publicada


pela Enel Ceará aqui.
Instalações elétricas de baixa tensão 53

Sistema de fornecimento monofásico


Como indica a nomenclatura, o sistema de abastecimento
monofásicos é consolidado apenas por uma fase. Todavia, o mesmo se
constitui por dois condutores, sendo uma fase e um neutro (CAVALIN,
CREVELIN, 2006; CREDER, 2016). Desta maneira, a tensão que atua nestas
instalações será a tensão de fase.

De acordo com Carvalho Junior (2018) esse sistema deve ser


considerado em instalações cuja carga total exigida seja menor que 12
kW e em redes 127/220V a tensão será apenas 127V, já que a única ligação
possível é entre fase e neutro. Por sua vez, a Enel Ceará (ENEL, 2019), em
normativa específica, indica o uso para unidades consumidoras nas quais
a carga total a ser consumida seja menor do 10kW e, como esta fornece
tensão em 220V/380V, a ligação monofásica será de 220V.

Apesar de poder atender a alguns limites, as ligações monofásicas


devem ser operadas com segurança, pois toda a potência solicitada pela
unidade consumidora será exigida por intermédio de apenas um condutor
de fase.

Sistema de fornecimento bifásico


Vale salientar que o sistema de fornecimento bifásico é atendido por
três condutores, sendo duas fases e um neutro. De acordo com Carvalho
Junior (2018), esse sistema é indicado para ligações que demandem
potência total entre 12kW e 25kW para redes em que a distribuição ocorre
com tensões de 127/220V. Nesse sistema, é possível a obtenção de
instalações em tensão de fase a 127V, ligando fase-neutro e/ou tensão de
linha a 220V, ligando fase-fase.

A Enel Ceará (ENEL, 2019) impõe que instalações de fornecimento


bifásicas ocorram quando a carga total solicitada se encontre em
intervalo de 10kW a 20kW. Como nesse caso as tensões oferecidas pela
distribuição secundária é de 220/380V, a ligação fase-neutro constitui-
se em 220V e a fase-fase seria em 380V (não praticável para sistemas
prediais convencionais).
54 Instalações elétricas de baixa tensão

Todavia, a concessionária indica o uso de tensão a 380V no


abastecimento de motores com potência até 5 cavalo-vapor (CV),
equipamentos com potência individual de até 8kW, soldas de até 6kVA e
aparelhos de raios X cuja potência solicitada máxima seja de 8kVA (ENEL,
2019). Além disso, mesmo que não seja necessária a utilização de tensão
em linha (380V) é vantajosa a instalação bifásica para equipamentos que
necessitem apenas de tensão de fase (220V) pois torna os circuitos menos
sobrecarregados, dividindo a carga total em duas fases.

Sistema de fornecimento trifásico


Nas ligações trifásicas, o abastecimento ocorre por intermédio de
quatro condutores, sendo três fases e um neutro. Carvalho Junior (2018)
afirma que, em sistemas cujas tensões de fase sejam de 127V, é possível
obter ligações em tensão 127V ligando fase-neutro e, em tensão 220V,
ligando fase-fase. Nesses casos, a instalação ocorre para cargas totais de
potência operando em intervalo de 25kW a 75kW. Sobre esse aspecto, a
ENEL (2019) informa que as ligações trifásicas atendidas pela empresa se
enquadram em intervalos de carga total de 20kW a 75kW e as ligações
possíveis seriam entre fase-neutro, com tensão de 220V e fase-fase com
tensão de 380V, sendo esta segunda indicada para atender motores de
até 30 cavalo-vapor (CV), aparelhos trifásicos de potência menor ou igual
a 20kVA e aparelhos de raios X que demandem até 20kVA de potência.

Após análise e enquadramento da carga total nos parâmetros


descritos, cabe ao proprietário da unidade consumidora solicitar o pedido
de ligação do padrão de entrada compatível à concessionária. Em casos
específicos nos quais a carga total seja superior a 75kW, a carga deve ser
solicitada à concessionária que, mediante análise rigorosa, poderá atendê-
la através da distribuição primária, que passa antes do transformador
(CRUZ, ANICETO, 2012).
Instalações elétricas de baixa tensão 55

RESUMINDO:

Chegamos ao fim do capítulo! Como você se sentiu


avançando em mais esta fase? Esperamos que com muita
energia, assim como as fases que constituem as ligações
estudadas! Falando nisso, que tal revisarmos o que
aprendemos? Verificamos que a definição do sistema de
abastecimento deve ser realizada considerando a utilização
pretendida pela unidade consumidora, devendo ser
verificado anteriormente qual a demanda de carga total a ser
atendida. Isso é possível somando-se a potência de todos
os aparelhos elétricos a serem ligados. Posteriormente,
aprendemos que os sistemas de fornecimento são
compostos por condutores carregados, ou seja, pelos quais
há passagem de corrente elétrica. Esses condutores são as
fases e o neutro. A fase é o condutor pelo qual atua a tensão
elétrica vinda da rede pública. O neutro serve de referência
para as fases, garantindo a diferença de potencial, além de
promover a segurança do sistema quando não solicitado,
pois só se energiza sob ação de potência elétrica. O cabo
de aterramento não é considerado condutor carregado. As
tensões entregues nas fases se alteram em virtude de cada
concessionária consumidora e essas podem ser de fase ou
de linha. As tensões de fase são as constituídas entre fase-
neutro e as de linha entre fase-fase, sendo as mais comuns
as de 127/220V e as de 220/380V. Por fim, verificamos
que os sistemas de fornecimento podem ser mono, bi ou
trifásicos. Os sistemas monofásicos são constituídos por dois
condutores: fase e neutro e, apesar de suas cargas totais
variarem de acordo com a concessionária, são capazes de
atender, em média, cargas totais máximas de 10kW, sendo
possível apenas ligação em fase. Já os sistemas bifásicos
constituem-se em três condutores: dois fases e um neutro
e seus intervalos de operação máxima ficam em torno de
20kW. Nestes é possível ligações em fase e em linha. Por fim,
os sistemas trifásicos se constituem em quatro condutores
carregados: três fases e um neutro. Suas ligações podem
ser em tensões de fase e de linha também. O limite máximo
para esse tipo de ligação é de 75kW.
56 Instalações elétricas de baixa tensão

REFERÊNCIAS
ABNT. NBR 14136 - Plugues e tomadas para uso doméstico e
análogo até 20 A/250 V em corrente alternada - Padronização. Rio de
Janeiro, 2012.

ABNT. NBR 5410 - Instalações elétricas de baixa tensão. Rio de


Janeiro, 2008.

ANEEL. Regulação dos Serviços de Distribuição. 2018. Disponível


em: https://www.aneel.gov.br/regulacao-dos-servicos-de-distribuicao.
Acesso em: 07 jul. 2021.

ANEEL. Tensões Nominais. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3k6aQnp.


Acesso em: 07 jul. 2021.

BONJORNO, J. R.; RAMOS, C. M.; PRADO, E. P.; BONJORNO,


V.; BONJORNO, M. A.; CASEMIRO, R.; BONJORNO, R. F. S. A. Física:
Eletromagnetismo, física moderna, 3° ano. 3. Ed. São Paulo: FTD, 2016.

CALLISTER, J. W. D. 1940. Ciência e engenharia de materiais: uma


introdução. Rio de Janeiro: ETC. 2008.

CARVALHO JÚNIOR, R. Instalações elétricas e o projeto de


arquitetura. São Paulo: Blucher, 2018. 288 p.

CAVALIN, G.; CERVELIN, S. Instalações elétricas prediais conforme


a NBR 5410:2004. 14. ed. São Paulo: Érica, 2006. 422 p.

CREDER, H. Instalações elétricas. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

CRUZ, E. C. A.; ANICETO, L. A. Instalações elétricas: fundamentos,


prática projetos em instalações residenciais e comerciais. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2012.

ENEL. Especificação técnica nº 124 - Fornecimento de Energia


Elétrica em Tensão Secundária de Distribuição. Versão No 02. Publicada
em: 26 fev. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3ADCSNG. Acesso em: 08
jul. 2021.
Instalações elétricas de baixa tensão 57

EPE. Matriz Energética e Elétrica. Publicada em 2020. Disponível


em: https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica.
Acesso em: 04 jul. 2021.

FEITOSA, E. M. A.; BARBOSA, F. G.; FORTE, C. M. S. Química geral I.


3. ed. – Fortaleza: EdUECE, 2016, 133 p.

FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T. Física básica: volume único. São


Paulo: Atual, 1998. 697 p.

FERREIRA, D. A. P. Medidas e materiais elétricos. Londrina: Editora


e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 184 p.

GASPAR, A. Física Série Brasil – Volume Único. São Paulo: Editora


Ática, 2006. 552 p.

GUSSOW, M. Eletricidade básica recurso eletrônico. 2. Ed. Porto


Alegre: Bookman, 2009. 571 p.

HALLIDAY, D.; R, RESNICK. Fundamentos de Física - Vol. 3 –


Eletromagnetismo. 10. ed. LTC, 06/2016. VitalBook file.

PEREIRA, G. M. Projeto de usinas hidrelétricas passo a passo. São


Paulo: Oficina de Textos, 2015. 489 p.

REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 2. ed. Barueri: Manole, 2011.


460 p.

SCHMIDT, W. Materiais elétricos – Condutores e semicondutores.


3. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2010. 152 p.

Você também pode gostar