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Energias

Renováveis
Unidade IV
Energia hidroelétrica
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAFAELA FILOMENA ALVES GUIMARÃES
AUTORIA
Rafaela Filomena Alves Guimarães
Sou graduada em Engenharia Elétrica e mestre em Engenharia
Elétrica, ambos pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, campus
de Ilha Solteira, com uma experiência técnico-profissional na área de
Engenharia de mais de 20 anos. Passei por empresas como Telefonica S. A,
Combustol Indústria e Comércio Ltda, lecionando disciplinas relacionadas
à Engenharia Elétrica há mais de 6 anos. Tenho livros publicados na área
de Engenharia Elétrica e de Produção. Sou apaixonada pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por conta disso, fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Energia hidroelétrica.................................................................................. 10
História da energia hidrelétrica.....................................................................................................................10

Aspectos gerais da energia hidrelétrica............................................................................................... 11

Como funciona a energia hidrelétrica?.................................................................................................14

Legislações e energia hidrelétrica............................................................................................................ 19

Capacidade de um reservatório............................................................ 22
Importância dos reservatórios...................................................................................................................... 22

Determinação da capacidade de reservatórios pluviais.....................................................25

Produção de energia elétrica........................................................................................................................26

Tipos e configurações das usinas......................................................... 33


Usinas Hidrelétricas.................................................................................................................................................33

Principais componentes da central hidrelétrica..........................................................................35

Tipos de usinas hidrelétricas..........................................................................................................................37

Especificação das turbinas...............................................................................................................................38

Hidrelétricas no mundo.......................................................................................................................................39

Hidrelétricas no Brasil.............................................................................................................................................41

Usina de Itaipu...............................................................................................................................................................41

Vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica.................44


Usinas Hidrelétricas e seus impactos....................................................................................................44

Vantagens das hidroelétricas........................................................................................................................47

Desvantagens relativas às energias hidrelétricas......................................................................48

Aspectos econômicos sobre a geração hidroelétrica..........................................................53


Energias Renováveis 7

04
UNIDADE
8 Energias Renováveis

INTRODUÇÃO
Nesta unidade, vamos estudar hidroelétricas e os itens que devem
ser avaliados no projeto de uma usina. A geração de energia, por meio de
hidroelétricas, é a matriz energética mais usada no Brasil. Esta geração de
energia possui baixo custo operacional, sendo que as usinas, para serem
construídas, demandam um alto investimento e demoram muito tempo (o
maior tempo de todas as matrizes). Esse tipo de energia já foi considerado
quase infinito em países como o Brasil, com abundância de rios.

Devido às mudanças nas condições climáticas, os reservatórios


têm enfrentado períodos de baixo nível. Em razão das mudanças na
conscientização ambiental da população, a aprovação de projetos de
usinas com grandes reservatórios tem se tornado cada vez mais difícil.
Ainda temos um grande potencial para instalação de hidroelétricos,
entretanto, 70% deste potencial se localiza na região Amazônica. Esta
forma de energia é considerada a mais barata do mundo e uma grande
vantagem competitiva. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai
mergulhar neste universo!
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OBJETIVOS
Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você
no alcance dos seguintes objetivos até o término desta etapa de estudos:

1. Identificar e entender as usinas hidroelétricas e aprender os itens


que devem ser considerados em um projeto de usina hidroelétrica.

2. Identificar e entender o funcionamento das usinas hidroelétricas e


os tipos de turbinas que transformam a energia potencial da água
em energia elétrica.

3. Explicar as vantagens deste sistema de geração assim como seus


desafios futuros.

4. Apontar as desvantagens da geração hidroelétrica.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
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Energia hidroelétrica
OBJETIVO:

As usinas hidroelétricas são regidas pela água, item essencial


para a sobrevivência humana. Nosso abastecimento,
assim como o dos animais e a agricultura, compete pela
preferência no uso da água. Devido às mudanças climáticas,
a água vem se tornando um bem precioso.
Mais de 60% da nossa energia é proveniente das
hidroelétricas que possuem necessidade de serem
repotencializadas, porque a maioria delas foi construída há
mais de 20 anos, utilizando tecnologias que evoluíram. Seu
retrofit (a repotencialização) gerará inúmeros empregos,
sem contar que o Brasil ainda possui um potencial de
172GW, dos quais somente 60% foram aproveitados. E
então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

História da energia hidrelétrica


Antes que possamos adentrar nos aspectos gerais acerca da
energia hidrelétrica, é necessário que primeiro compreendamos de onde
ela surgiu, bem como foi implementada e inserida tanto no mundo quanto
no Brasil.

No Brasil, a primeira central hidrelétrica começou a operar em


1883, como um afluente do Rio Jequitinhonha, com a intenção de que os
serviços de mineração relativos à Diamantina, presentes em Minas Gerais,
fossem atendidos. Apenas em 1889 foi instalada a primeira usina de
grande porte presente no Brasil, sendo esta localizada em Juiz de Fora,
em Minas Gerais.

Um outro marco de extrema relevância para o avanço da energia


hidrelétrica presente em solo nacional ficou caracterizado por meio
da inauguração da Usina de Itaipu, localizada na Foz do Iguaçu; essa
instalação ocorreu em 1984. Durante muito tempo, essa barragem ficou
denominada e caracterizada como a maior barragem do mundo, sendo
Energias Renováveis 11

considerada a líder mundial quando o assunto é a produção de energia


limpa e renovável, entre os anos de 1984 a 2020.

Aspectos gerais da energia hidrelétrica


Em resumo, a energia hidrelétrica é aquela que é produzida a
partir da transformação da força da água em energia elétrica. Para que
essa transformação aconteça, é necessário que sejam construídas
infraestruturas hidráulicas capazes de extrair o máximo do potencial
relativo a esse recurso de natureza renovável.

Essa é a principal forma de energia utilizada no Brasil e a nível


mundial é tida como a terceira fonte de energia mais importante. Diante
disso, também é incentivada em decorrência do fato de ser renovável
e ser considerada barata quando comparada com outras modalidades
relativas à construção de hidrelétricas. Contudo, isso não implica dizer
que ela está livre da promoção de impactos ambientais, tendo em vista
que pode promover efeitos importantes tanto a nível ambiental quanto
social, considerando que pode afetar a vida da população e de todos
aqueles que vivem em sua proximidade.

Cerca de 16% da energia elétrica é gerada por meio de usinas


hidrelétricas, conforme informações colhidas da Agência Internacional
de Energia. No Brasil, o abastecimento por meio dessa fonte de energia
consiste em cerca de 67% da eletricidade que é gerada no país, levando
em consideração os dados apresentados pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel).

No início do século XXI, cerca de 90% da matriz elétrica brasileira


fazia menção à hidreletricidade. Com o passar do tempo e o avanço das
tecnologias e das necessidades atreladas à população, surgiram fontes
alternativas de produção de energia, como é o caso da biomassa. Nesse
sentido, alguns aspectos importantes aconteceram ao longo da história
para que essa diversificação se tornasse possível:

• Em 1985 aconteceu a instalação de Angra I, sendo esta a primeira


usina nuclear presente no Brasil, sendo que a partir desse
momento teve início a sua operação comercial.
12 Energias Renováveis

• Já em 1994 foi inaugurada a primeira usina de energia eólica,


sendo que esta estava conectada ao Sistema Elétrico Integrado
no país. Essa usina localiza-se na cidade de Gouveia, no Vale do
Jequitinhonha, em Minas Gerais.

• Por fim, salienta-se que em 2011 houve a inauguração da primeira


usina solar presente no país, sendo esta localizada no sertão do
Ceará.

O Brasil é um país propício ao desenvolvimento da produção de


energia baseada na força da água. O motivo pelo qual a maior parte da
energia se baseia nessa fonte de energia se relaciona ao fato de que o Brasil
possui uma rede de drenagem densa banhando o seu território. Dessa
forma, estão presentes em sua composição grandes rios, cachoeiras e
grandes quedas d’água.

As regiões do país que se destacam na presença de rios e quedas


d’água e que são imprescindíveis para que a transformação da força de
água em energia ocorra por meio do uso das usinas hidrelétricas, é o Sul e
o Sudeste do país. Em decorrência disso, nessas regiões estão localizadas
a maior quantidade de usinas hidrelétricas brasileiras, estando incumbidas
pelo abastecimento do sistema nacional de energia.

Mesmo que outras regiões do país, como é o caso do Norte, conte


com a presença dos maiores rios localizados no território brasileiro, o
relevo desses rios não é o suficiente e nem adequado para que sejam
instaladas usinas hidrelétricas que se aproveitem do seu potencial e
isso se dá por esses rios serem caracterizados por planícies, ou seja,
não existem desníveis e nem declives que aumentem a força da água
e tornem possível o processo de instalação e, consequentemente, de
geração de energia.

Nessa perspectiva, é importante que sejam destacadas algumas


das principais vantagens e desvantagens associadas ao uso da energia
hidrelétrica.

Uma desvantagem relativa a essa produção de energia elétrica


decorre do fato de que a construção das usinas hidrelétrica é cara. Ainda
que o custo dessa produção de energia não seja elevado, quando se analisa
Energias Renováveis 13

o consumidor final, verifica-se que esta é uma fonte de energia barata e


que possui um baixo custo até mesmo ao chegar a seu consumidor.

Diversos são os fatores que demarcam a importância e a relevância


da energia hidrelétrica. Como já mencionado, essa é uma fonte de energia
limpa e renovável, que não afeta a atmosfera, já que não emite gases do
efeito estufa.

A nível mundial, as duas primeiras posições no campo da produção


de energia elétrica ainda pertencem à energia não renovável. Portanto,
o terceiro lugar ser ocupado por uma fonte de energia renovável indica
o quanto ela é importante para a proteção e a manutenção do meio
ambiente.

Mesmo que traga certas vantagens e promova a proteção do meio


ambiente em alguns dos seus aspectos, isso não implica dizer que a
energia hidrelétrica só vá trazer benefícios ao meio ambiente, mesmo que
de forma indireta, afinal a construção dessas usinas gera prejuízos para
flora e para a fauna da região que irão ficar alagadas.

Conta como desvantagem a necessidade de que determinadas


populações e grupos sejam realocadas com a intenção de que ocorra
a construção de usinas, pois como essa implementação pode alagar
determinados locais, a permanência da população nesses espaços
poderá gerar desastres ambientais e sérios danos para a vida de tais
pessoas. Além disso, é responsável por promover fenômenos atrelados
ao desmatamento, bem como por promover as mudanças climáticas e
por alterar tanto o curso quanto o nível natural dos rios em decorrência da
instalação das usinas hidrelétricas.

Como essa fonte de energia depende diretamente da água, quando


esse recurso natural está enfrentando um período de escassez, como
é característico dos períodos de seca, nesses momentos a produção
energética irá cair e, consequentemente, haverá o aumento do preço
pago e destinado ao último consumidor.
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Como funciona a energia hidrelétrica?


DEFINIÇÃO:

Uma usina hidrelétrica gera energia elétrica através da


transformação da energia potencial da água em energia
elétrica. Essa transformação ocorre devido às turbinas
elétricas, que possibilitam a passagem da água em
velocidade (devido à queda d’água) em um caracol,
como se fosse uma roda d’água, só que de uma maneira
controlada.

A cada turbina é conectado um gerador, geralmente uma máquina


síncrona, responsável por transformar essa energia mecânica em energia
elétrica. Basicamente, uma turbina é definida pela altura da queda d’água
e vazão.

Escolhemos o local de instalação de uma usina hidrelétrica por


alguma cachoeira, desnível ou queda d’água já existente. Essa força
potencial é que será a força motriz para movimentar a turbina que estará
acoplada ao gerador.

A parte onde a água fica represada é chamada de montante. A parte


onde a água é despejada pelas comportas é chamada de jusante. Desse
modo, o nível de água à montante é sempre mais alto do que o nível de
água à jusante.
Energias Renováveis 15

Figura 1 – Usina de Itaipu, onde a queda de água é de 118 metros.

Fonte: Pixabay.

A turbina faz movimentar o gerador, e um sistema de controle de


velocidade e vazão faz com que esta velocidade seja constante. Essas
regulações juntas são as responsáveis por manter a frequência constante
em cada turbina e no sistema elétrico como um todo.

A energia mecânica, devido ao fluxo da água, movimenta a turbina.


Com a rotação da turbina, onde existem imãs, é criado um campo
eletromagnético no estator que possui bobinas de cobre. Este campo
magnético faz surgir uma corrente elétrica. A corrente elétrica em um
circuito fechado produz uma tensão. Pronto: temos a transformação de
energia mecânica em elétrica.
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Figura 2 – Gerador da usina de Itaipu

Fonte: Natureza brasileira (2022).

No Brasil, as turbinas das principais hidroelétricas (Itaipu, Tucuruí,


Ilha Solteira) são do tipo Francis, utilizadas em quedas acima de 60
metros. As turbinas Kaplan assemelham-se a uma hélice de navio e são
usadas em quedas inferiores a 60 metros. Elas estão instaladas nas usinas
de Jupiá, em Três Lagoas e Três Marias.

As turbinas tipo bulbo não eram muito utilizadas até a construção


das usinas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), onde foram instaladas.
Estas turbinas são utilizadas para quedas bastante baixas e trabalham
imersas no rio, apresentando a vantagem de requererem uma pequena
área de alagamento.

As usinas também podem ser classificadas quanto a seus


reservatórios em:

• Usina a fio d’água – não é utilizada para armazenamento de água,


ou seja, a energia elétrica é gerada com a água existente no leito
do rio. Esta usina não atua para regularizar as vazões do rio e seu
impacto ambiental é menor do que as usinas com reservatório
de acumulação. Exemplos de usinas a fio d’água são: Itaipu, Rio
Madeira e Belo Monte.
Energias Renováveis 17

• As usinas de acumulação, como o próprio nome nos diz, acumulam


água na época da chuva para utilizarem no período seco e regulam
a vazão do rio. Seu impacto ambiental é maior devido a maior área
alagada. Exemplos de usinas de acumulação são: Ilha Solteira e
Tucuruí.

• Existem também as usinas reversíveis, que podem tanto gerar


energia quanto ceder água para um outro reservatório ou para
o enchimento de represas que abastecem companhias de
fornecimento de água. No Brasil, este tipo de usina não é comum.
Temos apenas a usina de Henry Borden (1ª usina instalada no país),
que capta água do Rio das Pedras para gerar energia, ou pode
enviar a água deste rio para abastecer a represa Billings, na região
metropolitana de São Paulo.

ACESSE:

Assista ao vídeo da construção da usina de Itaipu,


disponível aqui . (O Canal National Geographic escolheu
as 7 obras de Engenharia mais desafiadoras do mundo e
a construção desta usina foi uma das vencedoras). Será
possível ver os problemas enfrentados na construção, o
erro de Engenharia cometido no projeto (e sua solução)
e as dificuldades superadas na construção de uma mega
obra. Esta usina é a 2ª maior do mundo.

A energia hidrelétrica é resultado da transformação da energia da


água em movimento, sendo que esta passa a ser denominada como
energia cinética. Todo esse processo acontece através das estruturas que
fazem parte da usina hidrelétrica. Nessa perspectiva, as ferramentas de
maior importância para esse processo são as turbinas e o gerador (figura 3).
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Figura 3 – Gerador e turbinas

Fonte: Wikimedia Commons.

Por sua vez, os reservatórios das usinas são incumbidos por


armazenar uma quantidade expressiva de água, sendo que esta contém
aquilo que se denomina como energia potencial gravitacional. Dessa
forma, quando a água sair do reservatório, ela irá entrar em alta velocidade,
o que terá como resultado a movimentação das pás das turbinas. A partir
desse momento, a energia potencial será convertida em energia cinética.

Já a transformação de energia cinética em energia elétrica irá


acontecer quando o movimento das turbinas acionar os geradores. Em
seguida, a água que passou por todos esses processos será redirecionada
para o rio por meio do escoadouro. Por sua vez, a eletricidade gerada será
conduzida para a rede de distribuição, sendo incumbida pela transmissão
Energias Renováveis 19

até o consumidor final, sejam casas, estabelecimentos comerciais,


indústrias, entre outros.

Legislações e energia hidrelétrica


Temos que considerar a grande importância que a energia
hidrelétrica exerce para o Brasil e o potencial elétrico que desempenha no
âmbito do ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, a Lei nº 12.783,
de 2013, destaca em seu artigo 1º o seguinte:
Art. 1º A partir de 12 de setembro de 2012, as concessões
de geração de energia hidrelétrica alcançadas pelo art.
19 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, poderão ser
prorrogadas, a critério do poder concedente, uma única
vez, pelo prazo de até 30 (trinta) anos, de forma a assegurar
a continuidade, a eficiência da prestação do serviço e a
modicidade tarifária (BRASIL, 2013).

Outra determinação importante e estabelecida por essa legislação,


determina que:
Art. 2º A outorga de concessão e autorização para
aproveitamento de potencial hidráulico maior que 5.000
kW (cinco mil quilowatts) e inferior ou igual a 50.000 kW
(cinquenta mil quilowatts), desde que ainda não tenha
sido prorrogada e esteja em vigor quando da publicação
desta Lei, poderá ser prorrogada a título oneroso, em
conformidade com o previsto no § 1º-A. (BRASIL, 2016)

Por sua vez, a Lei nº 14.052, de 2020, é a responsável por dispor


acerca do risco hidrológico na produção de energia elétrica, bem como
por promover mudanças no campo hidrelétrico para que se possam
compensar os danos relativos à falta de chuva, tendo em vista que este
é um impacto que afeta o abastecimento de energia hidrelétrica, já que
precisa da força da água para que possa ocorrer o seu fornecimento.

Essa legislação também apresenta disposição acerca do risco


hidrológico. Nesses termos, as usinas estão obrigadas a produzir ao
menos uma quantidade mínima de energia. Quando esse limite não for
atingido, as hidrelétricas irão precisar pagar multa em decorrência do não
atendimento dessa determinação. Salienta-se que existem exceções a
essa regra, pois as hidrelétricas estarão isentas do pagamento de multa
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quando o não atendimento do limite em questão decorrer de origem “não


hidrológica”.

Ainda no que se refere à multa em questão, fica determinado que o


artigo 16-A da Lei nº 9.427, de 1996, irá vigorar da seguinte forma:

Art. 16-A. A interrupção no fornecimento de energia


elétrica pela empresa prestadora do serviço público de
distribuição de energia elétrica, observado o disposto
no § 1º, importa na aplicação de multa em benefício dos
usuários finais que forem diretamente prejudicados, na
forma do regulamento.

§ 1º A multa prevista no caput :

I - será aplicável quando for superado o valor limite de


indicadores de qualidade do serviço prestado;

II - não será devida, entre outras situações a serem


definidas na forma do regulamento:

a) quando a interrupção for causada por falha nas


instalações da unidade consumidora;

b) em caso de suspensão por inadimplemento do usuário;

III - estará sujeita a um valor mínimo e a um valor máximo;

IV - poderá ser paga sob a forma de crédito na fatura de


energia elétrica ou em espécie, em prazo não superior a 3
(três) meses após o período de apuração;

V - não inibe a aplicação de qualquer outra penalidade


prevista em lei.

§ 2º Deverão ser implantadas ferramentas que permitam a


auditoria (BRASIL, 2020).
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RESUMINDO:

Ao longo da presente aula, aprendemos que a energia


hidrelétrica é aquela que é obtida por meio da força das
águas. Essa conversão acontece no interior das usinas
hidrelétricas. Nessa perspectiva, também aprendemos que
existem vantagens e desvantagens associadas à utilização
da energia hidrelétrica, e ainda que esta seja vista como a
mais barata quando comparada as demais, e considerada
como renovável e limpa, também é capaz de promover
impactos tanto a nível ambiental quanto à sociedade.
Salienta-se que a energia hidrelétrica é a modalidade de
energia mais utilizada no Brasil e a terceira mais importante a
nível mundial. Além disso, destinamos atenção para alguns
dos aspectos gerais acerca do que pode ser compreendido
como usinas hidrelétricas e das características atreladas a
essas.
22 Energias Renováveis

Capacidade de um reservatório
OBJETIVO:

Neste capítulo, você será capaz de estudar as vantagens


deste sistema de geração, assim como seus desafios
futuros. Então, vamos lá. Avante!

Importância dos reservatórios


Considerando o comportamento variável de vazões no rio, pode-se
concluir que se nada for feito, apenas uma vazão muito pequena poderia
ser usada na geração de energia. Se os aproveitamentos d’água fossem
feitos com base unicamente nessa vazão, iriam se tornar, em geral,
antieconômicos, pois grande parte da água disponível não seria utilizada.

Em muitos casos, é conveniente que se armazene água de forma


a permitir o uso mais constante de uma vazão média superior apenas
àquela garantida pelo comportamento natural do rio. Isso é feito através
de barragens de acumulação que permitem o armazenamento da água
para uso em momentos mais convenientes. Tais barragens, obviamente,
implicam, por um lado, em aumento de custos, mas por outro, em
benefícios advindos do fato de se poder obter uma vazão média mais alta.
Figura 4 – Barragens

Fonte: Wikimedia Commons.


Energias Renováveis 23

Do ponto de vista socioambiental, também podem ocorrer vantagens


e desvantagens. Tais custos, benefícios, vantagens e desvantagens, entre
outros aspectos, devem fazer parte da avaliação técnico-econômica e
socioambiental de cada projeto. A vazão média obtida após a instalação
da barragem no rio recebe o nome de vazão regularizada. O processo
de armazenamento da água e obtenção da vazão regularizada recebe o
nome de regularização do rio.

Nesse sentido, cabe destacar que as barragens são de extrema


importância, pois são as incumbidas pela formação da água no âmbito
da sociedade e da população que se faz presente nesse cenário. Diante
desse contexto, as barragens também servem como forma de auxiliar
na produção de energia e ao mesmo tempo promover a disponibilidade
hídrica presente no local em questão.

Dentre outras funções das barragens, encontram-se questões


como o amortecimento de cheias. Também é possível que se evitem
certas inundações e que sejam promovidas contribuições para o âmbito
do lazer e da navegação.

As barragens são estruturas que promovem influências para a área


em que estão localizadas, bem como para aquelas que estão presentes
em suas proximidades rurais e urbanas. Assim como o ecossistema é
afetado pelas bacias hidrográficas locais, também será afetado pelas
barragens e para a localidade próxima a essa.

As barragens são barreiras artificiais em que grandes quantidades


de água ficam retidas, sendo estes denominados como reservatórios. Não
é de hoje que são utilizadas tais barragens em proveito da sociedade.
Assim, desde o início da civilização, são consideradas como fundamentais
para o desenvolvimento da humanidade. Além de serem utilizadas com
a intenção de combater a água nos períodos mais secos, também são
destinadas à utilização de:

• Acúmulo hídrico.

• Geração de energia, quando vinculadas à hidrelétricas.

• Direcionada para o depósito de rejeitos e resíduos.


24 Energias Renováveis

• Diversos aproveitamentos podem ser efetuados no mesmo rio, e


no caso de hidreletricidade, aproveitamentos de rios diferentes
podem ser interligados por meio de rede elétrica. Dessa maneira,
dois tipos de aproveitamentos podem ser desenvolvidos:

• Aproveitamentos denominados a fio d’água, sem regularização de


vazões (embora possam dispor ou não de reservatórios), usando a
vazão primária do rio (vazão disponível, sem regularização, entre
90 e 100% do tempo). A energia associada a essa vazão recebe o
nome de energia primária.

• Aproveitamentos com regularização de vazão, nos quais se associa


o nome de energia firme àquela energia que pode ser garantida
durante quase todo o tempo. Para os aproveitamentos a fio d’água,
a energia firme coincide com a energia primária.

Qualquer que seja o tamanho do reservatório ou a finalidade da


água acumulada, sua principal função é a de agir como um regulador,
visando a regularização da vazão dos cursos d’água ou visando atender
às variações da demanda dos usuários.

Como a função primordial dos reservatórios é proporcionar


acumulação, sua característica mais importante é a capacidade
de armazenamento ou volume do reservatório. A capacidade dos
reservatórios construídos em terrenos naturais é calculada, em geral,
com base na altura máxima de operação do reservatório a partir do
levantamento topográfico. Na ausência de bons mapas topográficos, há
outros processos menos precisos de cálculo.

Obtidos os dados relativos ao reservatório, pode-se traçar a


curva Área X Altitude e a curva Capacidade X Altitude, que permite a
obtenção da área inundada pelo reservatório em função do nível máximo
d’água. Isto é uma parte fundamental no projeto da usina e tem grande
importância, pois por meio dela, pode-se ter visualização preliminar
de parte dos impactos ambientais e sociais provocados pela obra
executada (população deslocada, inundação de áreas históricas e sítios
arqueológicos, inundação de belezas naturais).
Energias Renováveis 25

O nível normal dos reservatórios é a cota máxima até a qual as


águas se elevarão em condições normais de operação. O nível mínimo
dos reservatórios é a cota mínima até a qual as águas baixam em
condições normais de operação. Em caso de usinas hidrelétricas, esse
nível é determinado pelas condições operacionais de melhor rendimento
das turbinas. O volume armazenado entre os níveis normal e mínimo é
denominado volume útil do reservatório e tem como principais funções a
capacidade de acumulação de água para atenuação de cheias.

A caudalidade indica a capacidade de água que pode ser fornecida


pelo reservatório em determinado período de tempo. Esse período pode
variar de um dia (para pequenos reservatórios de distribuição) a um ano
(para grandes reservatórios de acumulação). Desse modo, a caudalidade
pode ser dada tanto em km³ por ano como em m³ por dia. A caudalidade
de um reservatório pode variar a cada ano (ou a cada período) porque
depende das vazões de entrada, as denominadas vazões afluentes.

É denominada vazão firme a vazão máxima que pode ser garantida


durante um período crítico de estiagem, ou, de outro ponto de vista, aquela
vazão que pode ser garantida praticamente durante todo um período
em que a operação desse aproveitamento não se altera. Considerando-
se que os sistemas, assim como as estratégias operativas, evoluem, o
valor dessa vazão varia ao longo do período de vida útil do reservatório.
Devem-se, portanto, utilizar recursos probabilísticos para determinar o
valor da vazão com maior precisão.

Determinação da capacidade de
reservatórios pluviais
Para a determinação da capacidade de reservatórios, deve ser
feita uma análise operacional, ou seja, deve-se simular as operações do
reservatório durante um certo período. Essa análise pode ser feita apenas
em um período de estiagem extrema ou em um período completo,
quando se dispõe de mais dados fluviométricos.

No primeiro caso, o estudo se restringe apenas à determinação da


capacidade suficiente para suportar a seca de projeto; no segundo caso,
26 Energias Renováveis

o estudo avalia o volume de água (energia) aproveitável em cada um


dos anos. Um estudo ainda mais completo pode ser feito para indicar a
probabilidade de maior ou menor escassez de água, o que constitui um
fator importante no planejamento econômico e na inserção do projeto em
um sistema integrado.

Produção de energia elétrica


O ser humano descobriu, desde épocas imemoriais, que a força da
água resultante de um desnível do terreno por onde ela passa, produz
uma energia capaz de realizar trabalho, e que este trabalho tanto pode ser
destrutivo como construtivo. Assim, desde a construção dos equipamentos
mais simples, como o monjolo e a roda d’água, até a tecnologia atual de
grandes turbinas hidráulicas, o homem aprendeu a dominar a força da
água e a transformá-la para seu benefício. A pequena potência gerada
pelo monjolo e pela roda d’água era capaz de produzir trabalho suficiente
para a trituração de grãos alimentícios.

O desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo chegou ao seu


auge com a construção de um equipamento, a turbina hidráulica, capaz de
transformar a energia cinética e potencial da água em energia mecânica,
que é, então, transformada em energia elétrica por meio de geradores
elétricos, que nada mais são do que conversores eletromecânicos de
energia. Nos dias de hoje, a grande potência que pode ser gerada por
uma turbina hidráulica é capaz de abastecer a iluminação e o consumo
de cidades inteiras.

Como consequência, a potência de um aproveitamento hidrelétrico


depende diretamente da magnitude da queda d’água (energia potencial)
e da vazão de água passando pela turbina (energia cinética). Essa vazão,
medida em metros cúbicos por segundo (m³/s), recebe o nome de vazão
turbinada.

A análise energética de um aproveitamento hidrelétrico permite


verificar que a potência elétrica possível de ser obtida é dada por:

P = ηror x g x Q x H
Energias Renováveis 27

Em que:

• ηror é o rendimento total do conjunto, considerando as perdas em


todas as estruturas que estão no circuito hidráulico e equipamentos
da usina que estão no circuito de energia.

• g é a aceleração da gravidade: 9,81 m/s².

• Q é a vazão (m³/s).

• H é a queda bruta (m).

• P é potência elétrica (kW).

O valor da vazão turbinada e suas características ao longo do


tempo estão relacionados com o regime fluvial do rio onde se localiza
a usina, o tipo de aproveitamento (que pode ser a fio d’água ou com
reservatório de regularização), a regularização da vazão (se existente) e
com um cenário que considere as outras formas de utilização da água. Se
o aproveitamento for totalmente voltado à produção de energia elétrica,
toda a vazão regularizada poderá ser turbinada. Já em um aproveitamento
que contemple outros usos d’água, como irrigação, navegabilidade e
geração de energia elétrica, por exemplo, a vazão turbinada poderá ser
apenas parte da vazão regularizada total.
Figura 5 – Vazão da água em barragem

Fonte: Wikimedia Commnos.


28 Energias Renováveis

O regime fluvial natural do rio, que determina a vazão que pode ser
utilizada para gerar energia elétrica, é bastante variável, dependendo de
diversos fatores, entre eles o regime pluvial da bacia hidrográfica a qual
pertence.

Nesse contexto, as centrais hidrelétricas podem utilizar apenas a


vazão mantida pelo rio a maior parte do tempo, nas centrais denominadas
“a fio d’água”, ou a vazão resultante de regularização por meio de
reservatórios.

Centrais hidrelétricas “a fio d’água” são aquelas que não têm


reservatório de acumulação ou cujo reservatório tem capacidade de
acumulação insuficiente para que a vazão disponível para as turbinas
seja muito diferente da vazão estabelecida pelo regime fluvial. Nessas
condições, podem estar situadas as centrais de pequeno porte, tais como
mini hidrelétricas (e também micro hidrelétricas) com potências iguais a ou
menores que 1MW; parte das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que
são centrais com potência de até 30MW; assim como centrais de grande
porte, que utilizam tecnologias específicas, como no caso das usinas de
Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, onde se utilizam turbinas do tipo
bulbo. Há também usinas hidrelétricas com reservatório de acumulação,
que operam a maior parte do tempo “a fio d’água”, ou seja, sem utilizar sua
capacidade de regulação e turbinando a vazão estabelecida pelo projeto,
como é o caso da usina de Itaipu.

Centrais hidrelétricas que efetuam regularização da vazão, por sua


vez, estão associadas à construção de reservatórios que permitem o
armazenamento da água e o controle da vazão, e até mesmo a obtenção
de uma vazão constante durante certo período. Essa vazão é garantida
pelo armazenamento de água durante o período de chuvas, para encher
o reservatório, que será esvaziado durante o período de seca (ou de
poucas chuvas).

O reservatório resulta da construção de uma barragem, cuja altura


determina a área inundada pela usina e o volume da água contida no
próprio reservatório. O máximo volume teórico efetivo de um reservatório
seria aquele que permitisse a obtenção de apenas uma vazão regularizada
durante o período de análise, utilizando toda a água que passasse no
Energias Renováveis 29

local onde está construída a barragem. Qualquer volume maior que


esse máximo teórico não aumentaria a vazão regularizada e seria menos
econômico em razão da maior altura da barragem.

Na prática, pelos aspectos técnicos e econômicos, na definição


da melhor altura da barragem, sempre foram considerados critérios
que geralmente resultaram em dimensionamento menor que o
correspondente ao maior volume teórico. O aumento da importância dos
aspectos sociais e ambientais tem enfatizado ainda mais a importância do
compromisso entre a altura da barragem, os limites relacionados com a
área inundada e o volume do reservatório, o que tem conduzido a projetos
com regularização parcial (diferentes vazões regularizadas em diferentes
períodos) e, consequentemente, a menores áreas inundadas e volumes.

Além de aspectos sociais e ambientais específicos, o uso múltiplo


das águas deve ser considerado no estabelecimento dos limites de
área inundada e volume. Além disso, o conjunto possível de vazões
regularizadas pode ser avaliado pelo desempenho da usina no sistema
elétrico interligado, que permite maior flexibilidade operativa na utilização
dos diversos aproveitamentos ao ser usado como “circuito hidráulico
virtual”.

A região Norte possui um potencial de 111.396MW, dos quais


somente 8,9% são aproveitados. Já a região Nordeste possui um potencial
de 26.268MW, dos quais só 40,4% são aproveitados. A região Sudeste/
Centro-Oeste possui 78.716MW de potencial hidroelétrico, sendo que 41%
é aproveitado face 42.030MW da região Sul, onde são aproveitados 47,8%,
conforme pode ser visto na figura 6.
30 Energias Renováveis

Figura 6 – Potencial hidroelétrico por região brasileira.

Parnaíba
0,9 MW

Toc-Araguaia 22,8 MW
Amazônica 57,3 MW
Atl. Leste 2,9 MW
São Francisco 13,7 MW

Paraguai 2 MW

Atl. Sudeste 9 MW

Paraná 42,8 MW

A explorar
Uruguai 14,6 MW
Atlântico Explorado
Sul 6,3 MW

Fonte: Tolmasquim (2016) | Freepik..

As primeiras centrais hidrelétricas do mundo foram construídas


como aproveitamentos de quedas naturais já existentes no curso dos rios
onde foram instaladas. No Brasil, o primeiro aproveitamento hidrelétrico
para atendimento público, considerado também a primeira central elétrica
da América do Sul, denominada Marmelos, foi construída no ano de 1.889
para atendimento da cidade de Juiz de Fora, com a potência de 250KW.
Nessa época, a geração de energia elétrica tinha basicamente o objetivo de
suprir iluminação residencial e iluminação pública. A energia elétrica para
acionamento de motores só ocorreu mais tarde, com o avanço tecnológico.
Energias Renováveis 31

No Brasil, o conceito de usina hidrelétrica (UHE) compreende usinas


geradoras de energia com mais de 30MW de potência instalada. Usinas
com potência entre 3MW e 30MW são consideradas PCHs; usinas com
potência inferior a 75kW até 3MW de potência instalada são chamadas
de minicentrais hidrelétricas. Essas últimas podem ser utilizadas com
geradores do tipo assíncrono, que são máquinas mais acessíveis do
ponto de vista econômico, mas que, por motivos técnicos, não podem ser
utilizadas em grandes usinas.

Conhecer essa classificação é importante, uma vez que as leis e


regulamentações existentes, estabelecidas tanto pela Aneel como pelos
órgãos e entidades ambientais, seguem essa divisão estabelecida de
acordo com a potência instalada.

Para a Aneel, um dos pontos mais importantes é o aproveitamento


integral das quedas d’água existentes ao longo do rio. Assim, o rio é
dividido em quedas d’água aproveitáveis para a construção de usinas, e
cada usina aproveita o máximo da queda d’água do seu local de instalação.

Com relação aos reservatórios, aqueles de maior porte, associados


a maiores problemas socioambientais, são usualmente encontrados nas
grandes e médias centrais. Em alguns casos, as PCHs também podem
apresentar reservatórios, mas bem menores.

Além de possível retirada de água para irrigação, as centrais


hidrelétricas contêm vertedouros que permitem extravasar a água acima
de certo limite, quando necessário, de forma similar ao “ladrão” da caixa
d’água; comportas que propiciam o desvio da água para que ela não
passe pelas turbinas; eclusas que facilitam a navegação fluvial; e escadas
de peixes que permitem a piracema. Esses melhoramentos contribuíram
muito para que o impacto ambiental da instalação de uma hidroelétrica
fosse reduzido.

A determinação das melhores características de um reservatório


depende de diversos fatores, que incluem os apontados anteriormente,
relacionados com a hidrologia, o dimensionamento mecânico e elétrico,
o desempenho no sistema elétrico interligado, os requisitos ambientais e
sociais e os usos múltiplos da água.
32 Energias Renováveis

RESUMINDO:

Ao longo do presente capítulo, fomos capazes de aprender


qual é a relação que se firma entre as barragens e as usinas
hidrelétricas. Além disso, aprendemos que a importância
das barragens, entre outros motivos, se dá, pois são os
incumbidos pela formação dos reservatórios de água para
a sociedade, além disso também promovem vantagens
para a comunidade que estão presentes e localizadas em
sua proximidade.
Entre outras contribuições trazidas pelo reservatório,
é importante que se mencione que as barragens e,
consequentemente, os reservatórios, são capazes de
auxiliar e promover o aumento na geração de energia e
disponibilidade das condições hídricas de um determinado
ambiente. Também estudamos como se dá a produção
de energia relacionada a tais reservatórios e quais são os
aproveitamentos que derivam dos rios.
Energias Renováveis 33

Tipos e configurações das usinas


OBJETIVO:

Neste capítulo, você será capaz de estudar as vantagens


deste sistema de geração, assim como seus desafios
futuros. Então, vamos lá. Avante!

Usinas Hidrelétricas
Em uma central hidrelétrica, a água aciona uma turbina hidráulica
que movimenta o rotor de um gerador elétrico para produção de energia
elétrica. A água utilizada, identificada pela sua vazão (m³/s), pode
ser totalmente liberada pelo aproveitamento – com reservatório de
acumulação ou não – ou liberada apenas em parte, nos casos em que
a geração de energia elétrica é apenas um dos componentes do uso
múltiplo da água.

A turbina hidráulica efetua a transformação da energia hidráulica


em mecânica. Seu funcionamento, conceitualmente, é bastante simples:
é o mesmo princípio da roda d’água que, movimentada pela água, faz
girar um eixo mecânico. O gerador elétrico tem seu rotor acionado por
acoplamento mecânico com a turbina e transforma energia mecânica
em elétrica em razão das interações eletromagnéticas ocorridas em seu
interior. Em geral, são usados geradores síncronos, porque os sistemas de
potência devem operar com frequência fixa (controlada como constante.
No Brasil essa frequência é igual a 60 Hz). Para controlar a potência elétrica
do conjunto, são usados reguladores:

• De tensão, que controlam a tensão nos terminais do gerador,


atuando na tensão aplicada (e, portanto, na corrente) no
enrolamento do rotor (enrolamento de excitação).

• De velocidade, que controlam a frequência por meio da variação


de potência, atuando na válvula de entrada de água da turbina.
34 Energias Renováveis

Diante do exposto, enfatiza-se que existe uma classificação relativa


as usinas hidrelétricas, assim essa classificação decorre em decorrência
dos seguintes fatores:

• Altura da queda d’água.

• Vazão.

• Capacidade ou potência instalada.

• Barragem.

• Reservatório.

• Turbina.

O relatório pertencente à Agência Nacional de Energia Elétrica e


ao Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas,
define três alturas relativas à queda d’água, sendo elas:

1. Baixa – até 15 metros.

2. Média – 15 a 150 metros.

3. Alta – superior a 150 metros.

Destaca-se que essas medidas servem como média, mas nem


todos as entendem como um padrão a ser adotado, por isso são medidas
não consensuais.

Ainda no que se refere às usinas e ao seu tamanho, destaca-se que


o porte da usina será o fator responsável por dispor o tamanho da rede de
distribuição incumbido por levar a energia elétrica até os consumidores,
então, quanto maior for a usina hidrelétrica, mais chances elas têm de
estarem localizadas em canto afastado dos grandes centros urbanos.
Assim, para que a energia dessas usinas chegue até tais centros urbanos,
é imprescindível que sejam construídas grandes linhas de transmissão
e essas irão atravessar estados e poderão causar perdas de energia
consideráveis caso tais fatores não sejam atendidos.
Energias Renováveis 35

Principais componentes da central


hidrelétrica
A finalidade de cada um dos principais componentes de uma central
hidrelétrica é descrita a seguir.
Figura 7 – Componentes de uma usina hidroelétrica.

Usina Hidrelétrica
Linha de
disribuição de
Reservatório Cassa de força energia

Canal
Gerador

Duto
Rio
Turbina

Fonte: freepik (editado).

As barragens têm como principais finalidades:

• Represar a água para captação e desvio.

• Elevar o nível d’água para aproveitamento elétrico e navegação.

• Represar a água para regularização de vazões e amortecimento


de ondas de enchentes.

A central hidrelétrica em desvio, como diz o próprio nome, baseia-


se no desvio d’água em certo local do rio – associado ao nível de
montante, para produção de energia elétrica e retorno d’água ao rio em
local com menor altitude – associado ao nível de jusante. De forma geral,
tal configuração é mais utilizada para centrais de pequeno porte, as PCHs.
36 Energias Renováveis

Esse diagrama apresenta a turbina e o gerador acoplados


mecanicamente pelo eixo, no qual se desenvolve a potência mecânica
(Pmec). Temos também dois reguladores fundamentais para a operação e o
controle da central: o regulador de tensão e o de velocidade (controlador
da frequência).

Além das usinas a fio d’água e das com reservatórios de regularização


de vazões, devem ser citadas as usinas reversíveis.

A escolha do melhor tipo de barragem para uma determinada


seção é um problema tanto de viabilidade técnica como de custo. A
solução técnica depende do relevo, da geologia e do clima. O custo dos
vários tipos de barragens depende principalmente da disponibilidade de
materiais de construção próximo ao local da obra e da acessibilidade de
transportes. Há diferentes tipos de barragens – de gravidade, em arco
e de gravidade em arco – cuja avaliação e escolha são efetuadas por
meio de considerações técnicas e econômicas, afeitas principalmente à
engenharia civil.

As grades, antes da entrada no caracol, impedem a queda de


peixes no turbilhão do gerador e também é uma inovação tecnológica
que surgiu com a maior conscientização ambiental de preservação da
vida dos animais aquáticos.

A casa de força são os locais de instalação de turbinas hidráulicas,


geradores elétricos, reguladores, painéis e outros equipamentos do
sistema elétrico de geração. As configurações das casas de força variam
largamente e dependem também do tipo de turbina escolhida.

Para que possamos compreender melhor o que são e a importância


dos componentes que estão presentes na central hidrelétrica, é comum
que termos como represa, barragem e usina sejam tratados de forma
igual, porém, cada um deles possui uma realidade específica e um
momento mais adequado a ser aplicado.

• Barragem – são compreendidas como a infraestrutura presente no


campo da obra civil, assim, dentre as suas principais características
estão questões como a altura das fundações, o comprimento de
coroação e o volume de concreto.
Energias Renováveis 37

• Represa – esse é o instrumento incumbido pelo armazenamento


de água. A sua real situação irá depender de variáveis como o nível
da água e o volume armazenado.

• Usina – as usinas são as construções em que se encontram os


grupos de geração. Existem duas magnitudes básicas voltadas
para a atribuição de uma definição relativa à usina hidrelétrica: a
primeira faz menção ao salto e a segunda ao caudal.

Tipos de usinas hidrelétricas


Existem três tipos principais de usinas hidrelétricas: o primeiro
é denominado como usinas a fio d’água; o segundo são as usinas com
reservatório e, por fim, há as usinas reversíveis ou de bombeamento.

As usinas a fio d’água serão aquelas em que o funcionamento da


usina irá se adaptar de forma integral, e a qualquer momento o regime
de caudais irá correr pelo fluxo do rio, sem que sejam promovidas
alterações nesse âmbito. As usinas hidrelétricas dessa natureza não são
dotadas de uma capacidade de caráter significativo de armazenamento,
assim, possuem funcionamento contínuo e variável durante o ano. Diante
disso, a energia produzida nem sempre será capaz de atender todas as
necessidades cabíveis para a demanda elétrica.

Já no que faz menção às usinas com reservatório, destacam-se


que essas fazem menção a possibilidade do armazenamento de água
e o seu funcionamento regular com a intenção de que sejam atendidas
as necessidades vinculadas a gestão da demanda. Diante disso, a sua
capacidade de armazenamento será obtida por meio das represas que
se encontram situadas na usina, assim, dependendo de sua capacidade,
estarão presentes aspectos como a sua regulação sazonal, anula e até
mesmo hiperanual.

Por fim, uma última classificação de usinas hidrelétricas é


denominada como usinas reversíveis ou de bombeamento. Tais instalações
geram energia ao mesmo tempo em que são capazes de promover o
acúmulo de energia elétrica bombeando água para uma represa superior.
38 Energias Renováveis

Especificação das turbinas


Os quatro tipos de turbinas mais utilizadas em usinas hidroelétricas
são a Pelton, a Francis, a Kaplan e a Bulbo. A escolha da turbina depende
de dois parâmetros: a queda e a vazão de água. Simplificadamente,
podemos dizer que a turbina Pelton é mais utilizada em grandes quedas;
por exemplo, na Usina de Henry Borden, que possui uma queda de cerca
de 700 metros.

A turbina Francis é utilizada em quedas médias, que vão de 40


a 500 metros, como a utilizada na Usina de Ilha Solteira (queda de 41,5
metros). Já a turbina Kaplan é utilizada em quedas baixas, como a Usina
de Jupiá, com uma queda de 21,3 metros. Atualmente, para quedas baixas,
utiliza-se a turbina Bulbo como as que foram usadas no rio madeira. Estas
informações podem ser obtidas diretamente na figura 8.
Figura 8 – Faixas de aplicação dos diversos tipos de turbinas.

Fonte: ANEEL (2022).

A rotação específica da turbina é dada pela seguinte fórmula:


Energias Renováveis 39

Em que a rotação é dada em rps (rotações por segundo).

• n é a rotação da turbina.

• Q é a vazão (m3/s).

• H é a queda.

• g é a gravidade.

Na turbina Pelton, utilizada em grandes quedas, a energia é produzida


pela alta velocidade dos jatos de água que incidem tangencialmente
sobre suas pás. Conceitualmente, são similares às famosas rodas d’água.
As demais turbinas desenvolvem potência pela combinação da ação da
pressão constante da água e de sua velocidade. São chamadas de turbina
de reação.

A escolha e o projeto de uma turbina são pontos muito importantes


do desenvolvimento de uma central hidroelétrica. Envolvem análise e
estudo de fenômenos relativamente complexos, como desempenho
dinâmico da água, turbilhonamento, cavitação (quando a água corrói o
material de que é feito a turbina pelo atrito).

A principal vantagem das turbinas bulbo que trabalham imersas no


rio, deve-se ao fato do alagamento quase não existir, ou seja, ela reduz os
impactos ambientais.

Hidrelétricas no mundo
As hidrelétricas são de extrema importância tanto a nível nacional
quanto internacional, tendo em vista que no mundo a energia elétrica
produzida pelas usinas hidrelétricas ocupa o terceiro lugar. Nesse
contexto, as cinco maiores usinas hidrelétricas presentes no mundo são:

1. Três Gargantas, China (22.500MW) – essa usina demorou 19 anos


para ser construída e a sua conclusão aconteceu em 2012, sendo
considerada a maior usina hidrelétrica a nível mundial, responsável
40 Energias Renováveis

por abastecer nove províncias e duas cidades, estando entre elas,


Xangai.

2. Itaipu, Brasil e Paraguai (14.000MW) – durante cerca de duas


décadas, essa foi considerada a maior usina do mundo, perdendo
essa colocação no ano de 2012 para a usina localizada na China.
Ela pertence a dois países, por isso é binacional e é a incumbida
por atender cerca de 15% da demanda energética presente no país
e 93% da relativa ao Paraguai.

3. Xiluodo, China (13.860 MW) – também localizada na China, foi


concluída em 2014, e é a responsável por fornecer eletricidade
para o leste e para o centro da China. Também atende Sichuan e
Yunnan.

4. Belo Monte, Brasil (11.233MW) – a obra de instalação dessa usina


contou com a participação da OEC. Diferentemente de Itaipu, essa
usina é 100% brasileira e está localizada no Pará. Ela refere-se ao tipo
de usina hidrelétrica denominada como fio d’água. Foi construída
com a intenção de preservar e garantir a sustentabilidade com o
objetivo de que houvesse a redução de qualquer tipo de impacto
ambiental.
Figura 9 – Usina hidrelétrica de Belo Monte

Fonte: Wikimedia Commons.


Energias Renováveis 41

5. Guri, Venezuela (10.200MW) – essa usina está localizada na


Venezuela e é dotada de 7.426 metros de comprimento e 162
metros de altura. A sua construção teve fim por volta de 1986,
sendo esta usina incumbida por todo o abastecimento de energia
presente em seu país.

Salienta-se que essas não são as únicas usinas hidrelétricas


presentes no mundo, mas apenas aquelas que são as maiores a nível
mundial e que, portanto, merecem maior destaque.

Hidrelétricas no Brasil
No Brasil existem diversas usinas hidrelétricas. Nesse sentido,
destaca-se que as principais usinas hidrelétricas presentes no território
são:

1. Usina hidrelétrica de Itaipu.

2. Usina hidrelétrica de Belo Monte.

3. Usina hidrelétrica São Luíz do Tapajós.

4. Usina hidrelétrica de Tucuruí.

5. Usina hidrelétrica de Santo Antônio.

6. Usina hidrelétrica de Ilha Solteira.

7. Usina hidrelétrica de Jirau.

8. Usina hidrelétrica de Xingó.

9. Usina hidrelétrica de Paulo Afonso IV.

10. Usina hidrelétrica Jatobá.

Usina de Itaipu
A usina de Itaipu é uma usina binacional, ou seja, pertence ao Brasil
e ao Paraguai (50% para cada país). Ela foi construída sobre as cataratas
do Iguaçu, na foz do Rio Paraná. O sistema brasileiro utiliza a energia na
42 Energias Renováveis

frequência de 60Hz, ao passo que o sistema paraguaio utiliza a frequência


de 50Hz no seu sistema de potência.

O Brasil compra mensalmente quase toda a energia gerada pelo


Paraguai (compramos mais de 90% da usina produzida pelos paraguaios).
Para podermos utilizar esta energia, precisamos transformar a frequência
de 50 para 60Hz. Isto somente pode ser feito através de um elo CC
(Corrente Contínua).
Figura 10 – Usina hidroelétrica Itaipu Binacional

Fonte: Wikimedia Commons.

A energia gerada pelo Paraguai em corrente alternada e vendida ao


Brasil, é transformada em corrente contínua e transmitida até a subestação
de Tijuco Preto (em São Paulo), onde é novamente transformada em
corrente alternada, mas agora na frequência de 60Hz, ou seja, nas
condições do mercado brasileiro.

Este foi somente um dos muitos desafios vencidos no projeto e


construção desta usina. Suas dimensões e parâmetros são impressionantes.
A usina de Itaipu sozinha alimenta mais de 20% da energia consumida no
Brasil. Nas vezes em que ocorreram problemas de geração nesta usina,
e ela foi retirada de operação, o Brasil como um todo sentiu a falta de
Energias Renováveis 43

energia, pois como o nosso sistema é interligado, nossa reserva técnica


não é capaz de suportar a saída de uma fonte tão importante.

A China está construindo uma usina maior que Itaipu chamada de


três Gargantas, que será a maior usina do mundo.

RESUMINDO:

Ao longo do presente capítulo, pudemos entender que


as usinas hidrelétricas podem ser compreendias como o
conjunto de obras e de equipamentos que são utilizados
com a intenção de que a energia elétrica seja gerada
através do potencial hidráulico pertencente a um rio. Diante
disso, destaca-se a existência de dois tipos de reservatório:
o relativo à acumulação e aos fios d’água.
No que se refere à classificação das usinas hidrelétricas,
aprendemos que estas levam em consideração fatores
como a altura da queda d’água, a vazão, a capacidade ou
a potência instalada. Também são considerados aspectos
como a turbina utilizada, a barragem e as características
vinculadas ao reservatório. Também aprendemos aspectos
importantes acerca da usina de Itaipu.
44 Energias Renováveis

Vantagens e desvantagens da geração


hidroelétrica
OBJETIVO:

Neste capítulo, você será capaz de compreender as


vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica. Então,
vamos lá. Avante!

Usinas Hidrelétricas e seus impactos


As usinas hidroelétricas devem possuir um projeto muito bem
estruturado e que englobe as oscilações sazonais de níveis d’água,
principalmente para garantir a estabilidade das encostas, evitando
escorregamentos ou deslizamentos de terra nas margens dos lagos
formados.

Também devem ser consideradas as tendências de assoreamento


dos reservatórios para que possam ser avaliadas as características do
curso d’água e dos materiais e da formação geológica do leito. Com esses
dados, devem ser tomadas providências para se evitar o assoreamento
das encostas perto da barragem.

No projeto também devem ser tomados todos os cuidados para


que a navegação não seja afetada, ou deve ser considerada a inclusão
de eclusas nas barragens, como existe em várias usinas dos rios Tietê
e Paraná (aliás, essas eclusas tornaram os rios navegáveis, obtendo um
caminho alternativo para o escoamento da safra).
Energias Renováveis 45

Figura 11 – Usina Bariri no Rio Tietê

Fonte: Wikimedia Commons.

Um exemplo de erro de projeto que não levou estes dados em


consideração é a Usina de Ilha Solteira (este nome foi dado porque o
projeto não foi bem calculado e na hora da formação do lago sobrou uma
ilha na represa).

Os locais que serão inundados devem ser analisados rigorosamente.


Muitas usinas hidroelétricas inundaram depósitos de argila utilizados como
fonte de renda por moradores locais. As águas subterrâneas devem ser
analisadas com cuidado, para que não afetem a formação do reservatório.
Quando um lago é formado, ocorre a elevação de muitas nascentes e
este fato pode afetar produtores agrícolas locais.

O impacto ambiental também deve considerar se a área a ser


alagada é proveniente de agricultura com o uso intensivo de agrotóxicos,
pois estes produtos podem afetar a qualidade da água da represa e causar
mortalidade de peixes.

Os impactos esperados sobre os solos estão ligados ao conjunto


das obras de engenharia, tais como instalação do canteiro de obras,
abertura das estradas de serviço, áreas de empréstimo e deposição
46 Energias Renováveis

de descartes, estrada de interligação das usinas e finalmente a própria


formação da represa.

O projeto com maior impacto ambiental foi a construção da usina


de Balbina, no Amazonas. Esta usina possui um imenso reservatório; este
lago inundou a vegetação da floresta Amazônica, ou seja, as árvores não
foram retiradas antes da formação do lago, fazendo com que esta usina
emitisse tanto gás metano como uma usina de carvão.
Figura 12 – Usina Balbina

Fonte: Wikimedia Commons.

Deve ser feito um trabalho detalhado de catalogação da flora a ser


inundada, para que estas espécies possam ser replantadas em outras
áreas, ocorrendo, assim, a preservação do ecossistema local.

As comunidades locais que serão inundadas devem ser removidas


e indenizadas com valores justos, assim como a usina deve ressarcir as
cidades afetadas e construir obras de infraestrutura que melhorem a vida
da população local. Geralmente as obras de construção de uma usina
hidroelétrica atrai verdadeiras multidões de trabalhadores em busca de
novas oportunidades, o que faz com que as cidades próximas a esta usina
sofram verdadeiros “booms” populacionais.
Energias Renováveis 47

Vantagens das hidroelétricas


Certas características das usinas hidroelétricas são muito
importantes, pois servem de subsídio para o planejamento de expansão
de geração e para a operação adequada dos sistemas de potência. Essa é
a razão por dizermos que esta é a forma de energia mais barata do mundo,
porque ela pode ser moldada conforme a carga do sistema aumenta.

Apesar da produção de energia elétrica poder ser limitada pelos


usos múltiplos da água, como por exemplo, irrigação, navegação, controle
de inundações e suprimento de água, estas usinas, ao contrário das
centrais termoelétricas (que geram energia de uma forma quase estável
devido às perdas por calor), podem facilmente:

• Aumentar a potência de pico, ampliando a quantidade de água


que passa pela turbina.

• Aumentar a produção total de energia, realizando um correto


gerenciamento dos reservatórios (o Brasil já faz isto – a água
escoada por um reservatório gera energia na próxima usina).

Infelizmente, devido às mudanças climáticas, esta vantagem


competitiva das hidroelétricas está se esvaindo, porque atualmente a
previsão das chuvas está contrariando as previsões históricas, ou seja, o
nível dos reservatórios está sendo fortemente afetado pelas mudanças
climáticas, dificultando o aumento na produção de energia da forma
rápida com que era feita no passado com os reservatórios cheios.

As usinas hidroelétricas também providenciam reserva girante para


situações de emergência ocorridas no sistema, ou seja, elas que suprem
os picos de demanda. Como nossas usinas geram grandes quantidades
de energia, elas apresentam economia de escala, ou seja, esse custo
marginal do aumento da capacidade de geração é mínimo graças aos
lagos que formam a maioria de nossas hidroelétricas.

Com a entrada de pequenas centrais de energia, o sistema brasileiro


também passou a ter uma maior flexibilidade para mudar rapidamente a
quantidade de energia gerada. Elas são acionadas em eventos importantes,
como a transmissão de uma final de copa do mundo, as olímpiadas, uma
48 Energias Renováveis

final de novela ou em dias muito quentes. Assim, podemos atender essa


demanda extra sem maiores complicações.

As usinas hidroelétricas garantem a energia firme ao sistema


(aquela energia que é pré-contratada com segurança baseada no hábito
de consumo anterior do consumidor e do aumento de crescimento do
país.

Como todo o ciclo hidrológico de água doce do mundo é resultado


da precipitação e da evaporação das águas dos mares, lagos e rios, o
processo dessa transferência de água é melhor supervisionado com
a instalação de represas. Antes da instalação das usinas, as cheias dos
rios ocorriam sem o controle humano, o que provocava muitas perdas
e prejuízos na agricultura e em cidades ribeirinhas. Agora, as pessoas
podem ser avisadas e retiradas a tempo caso ocorra uma cheia excessiva,
e os ciclos normais de cheias dos rios são amplamente conhecidos e
divulgados.

Outra vantagem das represas é o constante monitoramento


da qualidade da água feito pelas barragens, o que pode detectar
eventuais contaminações e problemas, inclusive com a fauna local.
Acidentes que demoravam muito tempo para serem percebidos, agora,
graças ao monitoramento feito nas barragens, isto ocorre quase que
instantaneamente.

Desvantagens relativas às energias


hidrelétricas
Sabemos que diversos são os aspectos relativos às usinas
hidrelétricas e que muitos são os benefícios referentes a essa modalidade
energética. As usinas hidrelétricas são dotadas de força de produção de
energia limpa, assim, as unidades são incumbidas por proteger o meio
ambiente em certos aspectos e de promover prejuízo a ele quanto a
determinadas temáticas.

Nesse sentido, entre algumas das principais desvantagens das


usinas hidrelétricas, menciona-se:
Energias Renováveis 49

• A população é afetada pela instalação das usinas hidrelétricas,


sendo esse um aspecto visto com maior clareza quando se
observa grupos tradicionais, principalmente ribeirinhos, indígenas
e quilombolas, que se encontram localizados próximos de rios.

• Diretamente não emitem gases do efeito estufa, mas de forma


indireta, podem promover a intensificação dos gases relativos
ao aquecimento global, como é o caso do dióxido de carbono e
do metano, e isso ocorre em decorrência da decomposição de
matéria orgânica que pode estar vinculada à instalação das usinas
hidrelétricas e daquilo que foi afogado por esse mesmo motivo.

• Há supressão da vegetação nativa por meio do alagamento de


grandes áreas de floresta que são afetadas pela construção das
barragens.

• Promove o desequilíbrio do ecossistema em razão da


transformação das dinâmicas ambientais e das alterações quanto
aos seus recursos naturais; tanto o solo quanto o ar e a água são
afetados.

• Os problemas relativos ao assoreamento dos rios podem ser


intensificados. Dessa forma, tanto o fluxo natural da água do rio e
dos processos hidrológicos podem ser afetados.

• Os animais presentes no local em que as usinas estão sendo


instaladas também podem ser afetados. Diferentemente dos
humanos que podem se locomover para outras localidades, nem
todas as espécies animais podem ser realocadas, por isso pode ser
que ocorra a extinção de espécies, sendo que as mais atingidas
são aquelas referentes à modificação do fluxo de água dos rios.
50 Energias Renováveis

SAIBA MAIS:

As hidrelétricas são incumbidas por promover


desvantagens em seu cenário de inserção. Como exemplo,
podem impulsionar e acelerar o desmatamento indireto
na Amazônia. Como prova disso e para ampliar o seu
conhecimento, faça a leitura da notícia no link disponível
aqui.

Nesse sentido, pudemos aprender que a flora e a fauna podem


ser severamente afetadas pela introdução das usinas hidrelétricas em
determinadas regiões. Focando no quanto esses dois aspectos podem
ser atingidos, é necessário que sejam listados alguns dos seus principais
problemas, sendo eles:

• Destruição da vegetação natural.

• Assoreamento dos rios.

• Desmoronamento de barreiras.

• Extinção de espécies, principalmente as aquáticas.

• Destruição e perda da flora e da fauna de natureza nativa.

• Alterações na água, quanto aos seus aspectos físicos, como


temperatura, oxigenação e pH.

• Poluição das águas.

• Implantação de barreira física relativa às migrações sazonais de


espécies animais.

• Promoção da diminuição do sequestro de carbono quanto à


vegetação que foi inundada.

Já no que faz menção aos principais problemas sociais relativos à


construção das hidrelétricas, destaca-se:

• Populações precisam se deslocar.


Energias Renováveis 51

• Áreas relativas à agricultura e pecuária, bem como ao


reflorestamento, podem ser inundadas em decorrência da
instalação e construção das usinas hidrelétricas.

• Os danos podem afetar o patrimônio histórico e cultural.

• Aumento de doenças relacionadas à distribuição geográfica.

• Incremento de navegação e transporte na bacia de acumulação.

• Podem ser gerados danos intangíveis relativos à população,


principalmente aos indígenas, quilombolas e até mesmo
comunidades tradicionais.

• Verifica-se a intensificação das atividades extrativistas localizadas


no interior da bacia hidrográfica presentes nos reservatórios.

• Danos aos assentamentos urbanos ou rurais que não foram


planejados.

• Entre outros problemas.

Também são promovidos alguns impactos de caráter socioambiental,


tanto quanto a construção das hidrelétricas quanto das barragens
relacionadas ao desenvolvimento das funções presentes nesse campo.
Diante desse contexto, e considerando os danos que a construção de
Itaipu promoveu, é importante que se destaque pontos como:

• Crescimento da necessidade de mão de obra. Assim, surgem


vilarejos que não possuem o que é necessário para uma vida
digna, sendo escassos quanto a vias de circulação e saneamento
básico.

• Promove a extinção de propriedades rurais.

• Devastação de matas nativas que são promovidas em decorrência


do crescimento das cidades que crescem perto das usinas.

Todavia, esses impactos e consequências não podem e não devem


ser tratados como impossíveis de serem solucionados, já que existem
possibilidades que se adequem a cada uma de suas situações, buscando
ao menos diminuir os seus impactos.
52 Energias Renováveis

Nesse sentido, uma solução que pode ser implementada consiste


na construção de usinas hidrelétricas que façam parte da tipologia de fio
d’água, pois essas não precisam de reservatório de água e se configuram
por meio de usinas de um tamanho menor.

Na prática, podemos citar como exemplo a Usina de Belo Monte.


Salienta-se que no futuro, essa pode ser uma tendência a ser seguida e
adotada a nível de projetos futuros, pois assim menos danos serão gerados
e uma maior área poderá ser preservada; além disso, será destinada uma
maior atenção e proteção para a fauna e para a flora.
Figura 13 – Usina de Belo Monte

Fonte: Wikimedia Commons.

Porém, nem tudo é apenas vantagem quando se faz menção a


essa modalidade de usina, pois ela faz uso do fluxo de água do rio para
gerar movimento para as turbinas; por isso irá depender diretamente das
chuvas para a geração de energia. Em decorrência disso, haverá uma
maior produção de energia no tempo de energia e uma produção de
energia escassa durante os períodos de seca.
Energias Renováveis 53

Aspectos econômicos sobre a geração


hidroelétrica
Nosso sistema elétrico é um misto entre as usinas hidroelétricas
construídas há mais de 20 anos (e já amortizadas) e as usinas que foram
construídas recentemente (como as do Rio Madeira), que estão iniciando
o seu processo de amortização.

O Operador Nacional do Sistema (ONS) é o responsável por


gerenciar estes interesses divergentes. Se forem acionadas somente as
usinas amortizadas, o custo da geração de energia seria mais barato, mas
este fato afastaria todos os investidores que têm colocado dinheiro para
construir as novas usinas que o nosso país necessita para não corrermos
o risco de um novo apagão.

Ao contrário, se todas as usinas com obras concluídas recentemente


forem acionadas primeiro, o custo da energia para o consumidor será
muito caro, desestimulando o consumo.

Este mix é feito tentando equalizar esses dois objetivos conflitantes.


O ONS faz o mesmo para todas as usinas em operação no país e todas
as matrizes energéticas. Desse modo, o ONS chega a um custo otimizado
que remunere adequadamente os investidores e que o consumidor
possa arcar. Quando as empresas conseguem gerar mais energia do
que a garantida junto ao ONS, elas podem vender o excedente no MAE
(Mercado Atacadista de Energia).

Esta equação ainda não está considerando um valor mais atrativo


para o kWh gerado por energias renováveis do que o mesmo valor para
o kWh gerado por combustíveis fósseis. O futuro deste mercado, em
tempos de aquecimento global chegando a níveis críticos, é que os países
encontrem uma maneira de considerar este valor como uma moeda de
troca internacional.

Um esboço desta ideia é o mercado de créditos de carbono. As


usinas térmicas à biomassa já estão se candidatando e recebendo os
créditos graças a seu processo de balanço energético zero. No futuro, as
usinas hidroelétricas, solares e eólicas também encontrarão uma maneira
54 Energias Renováveis

de se creditar, pois estas tecnologias não contribuem para o efeito estufa


quando as usinas são construídas dentro de parâmetros que mitiguem o
problema ambiental.

A descoberta de novas tecnologias irá auxiliar a expansão do setor


hidroelétrico no país. Dominamos a tecnologia da instalação de pequenas
centrais hidroelétricas (PCHs), e muitos proprietários de pequenas quedas
d’água já perceberam a viabilidade econômica da instalação de uma usina
em sua propriedade. O aumento no número de linhas de transmissão
também aumentou a viabilidade econômica da instalação de uma PCH
devido à diminuição no custo de interconexão desta usina com o sistema
de potência.

RESUMINDO:

Ao longo do presente capítulo, pudemos compreender que


a energia hidrelétrica vem da força da água. Esse recurso
natural renovável é o incumbido por gerar energia para as
usinas.
Também aprendemos quais são as principais vantagens e
desvantagens relacionadas às usinas hidrelétricas. Entre
as suas vantagens, pode-se mencionar que tais usinas
possuem baixo custo de produção quando comparadas a
outras fontes de energia.
Apesar de ser uma modalidade de energia limpa, possui
e implica vários estudos para os impactos de caráter
ambiental e social. Por isso, entre as suas desvantagens,
encontra-se profundas e diversas alterações que podem
afetar o meio natural, vegetação, solo e água.
Por fim, discutimos acerca dos aspectos econômicos que
se relacionam com a geração hidrelétrica.
Energias Renováveis 55

REFERÊNCIAS
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Sistemas Fotovoltaicos. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2016.

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energia elétrica: análise e operação. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2015.

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Disponível em: https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf-
e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos-
de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_
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Acesso em: 19 jul. 2022.

REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 3. ed. São Paulo: Editora


Manole, 2017.

STEVENSON JR., W. D. Elementos de análise de sistemas de


potência. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1986.

TOLMASQUIM, M. T. Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa,


Eólica, Solar, Oceânica. Rio de Janeiro/RJ:EPE, 2016.

ZANETTA JR, L. C. Fundamentos de sistemas elétricos de


potência. 1. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2005.

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