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Tratamento da

Água e Efluentes
Hannah de Oliveira Santos Bezerra

Unidade 1

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autora
HANNAH DE OLIVEIRA SANTOS BEZERRA
A AUTORA
Hannah de Oliveira Santos Bezerra
Olá. Meu nome é Hannah de Oliveira Santos Bezerra. Sou doutora
em Administração de empresas pela Universidad de Salamanca, Espanha.
E atualmente faço parte de uma fundação de apoio à pesquisa. Minha
experiência morando fora por sete anos me fez aprender não somente
sobre Administração de empresas, mas também sobre idiomas, cultura,
comidas, pessoas. Durante meu doutorado, pude realizar um curso sobre
gestão ambiental no tratamento de águas, o que me permitiu adquirir
conhecimentos suficientes para produzir este e-book. Sou apaixonada
por transmitir conhecimentos e minha experiência de vida àqueles que
estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito
feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte
comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda
vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de se apresentar um
de uma nova com- novo conceito;
petência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou
mento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Introdução a gestão da água..........................................................12

Gestão da água..............................................................................................................12

Onde e de que maneira a água está disponível na Terra?......16

Qual a quantidade de água doce disponível nos países?.........18

Como atender à crescente demanda por água?.............................19

Fontes de contaminação...................................................................22

Como as atividades humanas afetam os recursos hídricos?....22

Como a sedimentação ameaça os ecossistemas


aquáticos?.........................................................................................................................23

Como os diferentes tipos de poluição afetam os recursos


hídricos?,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,24

Quais são as consequências da extração em excesso de


água? ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,25

O que significa que a água está poluída?..............................................26

Poluição da água: causas do problema.................................27

Consequências da água ruim na saúde dos seres humanos


e do planeta.....................................................................................................................29

Controle de qualidade da água.....................................................31

Qualidade da água.....................................................................................................31

Parâmetros para medir a qualidade da água......................................32


Valor do pH.....................................................................................................32

O potencial Redox....................................................................................32

µS – Microsiemens...................................................................................32

Tratamento da água..................................................................................................34

Como as atividades humanas afetam os recursos hídricos?....36

Legislação da água e do esgoto...................................................39

Como Funciona a Gestão de Recursos Hídricos no Brasil?....39

Constituição Federal de 1988........................................................39

Código de Águas.......................................................................................41

Lei das Águas...............................................................................................41

Lei nº 9.984, de 17 de Julho de 2000.......................................42

Mas como tudo isso é aplicado?....................................................................43

Rercursos Hídricos x Saneamento Básico.............................................44


Tratamento da Água e Efluentes 9

01
UNIDADE
10 Tratamento da Água e Efluentes

INTRODUÇÃO
Desde da década de 70, quando iniciou a pressão ambiental para
reduzir a degradação das condições de vida da população e dos sistemas
naturais causados pela 2ª Guerra Mundial, as questões relacionadas com
a gestão dos recursos hídricos têm estado presente na sociedade. Porém,
somente nas últimas décadas o interesse sobre o uso e manejo das
águas levantaram debates e inovações nesse sentido. Expressões como
gerenciamento de recursos hídricos, gestão de águas e uso racional da
água passaram a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. Há algo novo
nascendo na consciência da sociedade: a aceitação de como devemos
tratar os recursos hídricos, conservando-os para o futuro das nossas
gerações. Você sabia que a água é um recurso natural não renovável e,
ao mesmo tempo, um recurso limitado? É necessário um uso eficiente, o
que torna a satisfação das demandas compatível com o respeito ao meio
ambiente e outros recursos naturais. A crescente pressão da demanda
por esse recurso vital e insubstituível e a necessidade de preservar
o ambiente natural tornam indispensável o controle público de sua
gestão e administração, uma vez que dizem respeito à sociedade como
um todo. Por isso é importante estudar como é feito o tratamento das
águas efluentes. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste
universo!
Tratamento da Água e Efluentes 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Entender a importância da gestão da água;

2. Identificar os problemas relacionados à água e a sua


disponibilidade e utilização;

3. Compreender sobre as técnicas de controle de qualidade da


água;

4. Analisar os regulamentos relacionados ao uso e descarte de


águas e esgotos.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Tratamento da Água e Efluentes

Introdução a gestão da água

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


a importância da gestão água, através dos conceitos
relacionados ao abastecimento da água e ciclo da água e
das informações. Além disso, você será capaz de entender
a importância da gestão da água, do controle de qualidade
da água e as formas de contaminação da água. Isto será
fundamental para o exercício de sua profissão. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Gestão da água
Uma curiosidade sobre nosso planeta, é que apesar de 70% da
superfície da Terra ser coberta por mares e oceanos, a água é um recurso
escasso, pois estima-se que a água doce representa menos de 3% do total.
Desse percentual, apenas 1/3 está disponível para consumo humano,
já que o restante é congelado em geleiras e calotas polares, portanto,
resta 1%. Dentro disso, os lagos, reservatórios e rios representam apenas
uma centésima parte, e juntos eles compõem a maioria das reservas das
quais os seres humanos são supridos; portanto, apenas 0,01% da água do
planeta está disponível, com garantias, para nosso consumo e estima-se
que metade seja atualmente explorada.

Dito isto, o uso sustentável da água seria aquele que permite ao


homem de hoje tirar proveito do recurso sem comprometer a capacidade
das gerações futuras de fazer o mesmo. Para isso, é essencial indexar o
tipo de uso ao nível da qualidade da água, por exemplo, não faz sentido
usar água potável para irrigar uma colheita.
Tratamento da Água e Efluentes 13

DEFINIÇÃO:

Abastecimento de água é a porção de água que


depois de ter precipitado na bacia e satisfez as cotas de
evapotranspiração e infiltração do sistema solo - cobertura
vegetal percorre os principais canais de rios e outros
córregos superficiais, alimenta lagos, lagoas e reservatórios,
encontra outras correntes e alcança direta ou indiretamente
para o mar. Geralmente essa parte da água que corre pelos
rios é chamado pelos hidrologistas como escoamento
superficial e sua quantificação forma o principal elemento
de medição em redes de monitoramento hidrológico
existente em diferentes países (IDEAM, 2004).

O suprimento de água de uma bacia também corresponde ao


volume disponível de água para satisfazer a demanda gerada pelas
atividades sociais e econômicas do homem. Ao quantificar o escoamento
superficial do balanço hídrico da bacia, está sendo estimando seu
suprimento de água superficial. O conhecimento do fluxo do rio, sua
confiabilidade e extensão da série de registros históricos são variáveis
que podem influenciar na estimativa do suprimento de água superficial.
Quando houver informação histórica de fluxos confiáveis com séries
longas, o fluxo médio anual do rio é o suprimento hídrico dessa bacia
(CORPONARIÑO, 2009).

Dada a importância da água e do seu uso, a gestão das águas é uma


atividade analítica e criativa voltada à formulação de princípios e diretrizes,
ao preparo de documentos orientadores e normativos, à estruturação de
sistemas gerenciais e à tomada de decisões que têm por objetivo final
promover o inventário, uso, controle e proteção dos recursos hídricos.
Fazem parte desta atividade os seguintes elementos cujas definições
foram parcialmente adaptadas de ABRH (1986):

• Política das Águas: trata-se do conjunto consistente de


princípios doutrinários que conformam as aspirações sociais
e/ou governamentais no que concerne à regulamentação
ou modificação nos usos, controle e proteção das águas.
14 Tratamento da Água e Efluentes

• Plano (de Uso, Controle ou Proteção das Águas): qualquer


estudo prospectivo que busca, na sua essência, adequar
o uso, o controle e o grau de proteção dos recursos
hídricos às aspirações sociais e/ou governamentais
expressas formal ou informalmente em uma Política
das Águas, através da coordenação, compatibilização,
articulação e/ou projetos de intervenções. Obviamente,
a atividade de fazer tais planos é denominada
Planejamento (do Uso, Controle ou Proteção das Águas).

• Gerenciamento das Águas: Conjunto de ações


governamentais, comunitárias e privadas destinadas a
regular o uso, o controle e a proteção das águas, e a avaliar
a conformidade da situação corrente com os princípios
doutrinários estabelecidos pela Política das Águas.

IMPORTANTE:

Recursos hídricos é a água destinada a usos; quando se


tratar das águas em geral, incluindo aquelas que não
devem ser usadas por questões ambientais o termo
correto é simplesmente águas (POMPEU, 1995)..

O Gerenciamento da Água deve responder a vários problemas,


consistentes com as características desse recurso natural renovável.

• Garantir o uso sustentável.

• Proteger e recuperar sua qualidade, tanto para uso


humano quanto no nível do ecossistema.

• Evite que a falta de água seja um freio ao desenvolvimento


social razoável.
Tratamento da Água e Efluentes 15

Figura 1 – A imagem representa nosso principal recurso natural, fonte de nosso bem-estar e
saúde: a água

Fonte: Pixabay

A organização do gerenciamento da água está focada no uso


sustentável da água, seu gerenciamento abrangente, planejamento
adequado e controle público do suprimento. Está relacionado ao
planejamento do território e, para alcançar o uso eficiente da água, é
necessária a participação dos usuários. O objetivo final é a preservação e
recuperação da qualidade da água e dos valores ambientais.

Dentro deste objetivo final, há uma série de objetivos secundários


de gerenciamento de água (Campos e Stuart, 2003):

• Garantir o suprimento da população a um preço razoável.

• Respeite a natureza renovável do recurso para garantir o


uso sustentável.

• Gerencie a demanda para obter um uso eficiente da água.

• Garantir a qualidade da água adequada e os valores


ambientais associados ao ambiente da água.
16 Tratamento da Água e Efluentes

• Garantir os usos econômicos da água: irrigado, Indústria,


Hidroeletricidade, outros (pisciculturas, turismo, pesca,
etc.)

Onde e de que maneira a água está


disponível na Terra?
A água da Terra ocorre naturalmente de várias formas e lugares: na
atmosfera, na superfície, no subsolo e nos oceanos.

A água doce representa apenas 2,5% da água da Terra e é


congelada principalmente em geleiras e calotas polares. O restante
ocorre principalmente na forma de águas subterrâneas, e apenas uma
pequena fração é encontrada na superfície ou na atmosfera.

Observando o ciclo da água na Terra, podemos entender melhor


como ele interage com o meio ambiente e avaliar quanto está disponível
para consumo humano. Você já deve ter estudo sobre o ciclo da água e
que ela acontece nas fases de evaporação, condensação, precipitação e
coleta, portanto, vale a pena revisar o que acontece em cada fase. Confira!
Figura 2 – Na figura é possível visualizar como acontece o processo do ciclo da água que é
melhor explicado a seguir

Fonte: Adaptado Freepik


Tratamento da Água e Efluentes 17

• Evaporação. Considerando que cerca de 96% da água


do planeta é armazenada nos oceanos, estes podem ser
tomados como ponto de partida para o estudo do ciclo
hidrológico. Assim, começaria com os processos de
evaporação que convertem a superfície da água líquida
dos oceanos em gás, graças à ação da luz solar e ao
aquecimento diário da Terra. Os oceanos fornecem 90% do
vapor de água na atmosfera. Lagos e rios contribuem com
uma porcentagem menor; e outra ainda menos as geleiras
e as neves que, estando em climas muito frios para se
transformar em água, sublimam em vez de evaporar (elas
vão diretamente do sólido ao gasoso) (Raffino, 2020).

• Condensação. A água na atmosfera percorre enormes


distâncias, espalhando-se pelos ventos e regiões
de resfriamento distantes do oceano. Lá em cima, a
temperatura mais baixa permite que o vapor de água se
condense, recuperando gradualmente sua forma líquida,
formando nuvens cada vez mais escuras, à medida que
contêm mais e mais gotas de água (Raffino, 2020).

• Precipitação. Quando as gotas de água contidas nas nuvens


já são grandes e pesadas o suficiente, elas quebram seu
estado de equilíbrio e chuvas ou precipitações ocorrem.
Geralmente a água cai na forma líquida, mas em certas
regiões e condições climáticas, pode fazê-lo de forma
mais ou menos sólida, como neve, geada ou granizo
(Raffino, 2020).

• Derretendo e drenando águas. No caso específico de água


que cai em terra seca, longe de rios, lagos ou oceanos,
ou que cai como neve ou granizo no cume de montanhas
e outros locais congelados e secos, o retorno do líquido
aos mares é produz através de outros métodos. Assim, a
descarga das águas filtradas nas camadas subterrâneas
da terra, o escoamento devido à gravidade e a topografia,
ou o derretimento do gelo em estações quentes, como
18 Tratamento da Água e Efluentes

ocorre nos pólos e nas regiões continentais congeladas,


retorna a água ao seu ponto inicial do ciclo (Raffino, 2020).

VOCÊ SABIA?

Quase toda a água doce que não é congelada é encontrada


abaixo do solo na forma de água subterrânea. As águas
subterrâneas, que geralmente são de muito boa qualidade,
estão sendo extraídas principalmente para água potável e
para auxiliar a agricultura em climas áridos. Esse recurso é
considerado renovável desde que as águas subterrâneas
não sejam removidas tão rapidamente que a natureza não
tenha tempo para renová-las, mas em muitas regiões secas
as águas subterrâneas não renovam, ou o fazem muito
lentamente. Poucos países medem a qualidade de suas
águas subterrâneas ou a velocidade com que as reservas
são exploradas, dificultando o gerenciamento (Agência
Nacional das Águas, 2020).

Qual a quantidade de água doce disponível


nos países?
A quantidade de água doce que um determinado país pode
consumir sem exceder a taxa em que é renovada pode ser calculada
levando em consideração o volume de chuvas, o fluxo de água que entra
e sai do país e a água compartilhada com outros países.

VOCÊ SABIA?

A quantidade média disponível por pessoa varia de menos


de 50 m3 por ano em algumas partes do Oriente Médio
a mais de 100.000 m3 por ano em áreas úmidas e pouco
povoadas.

Alguns dados referentes à água disponível no Brasil de acordo com


o Instituto Trata Brasil (2019) são expostos a seguir:
Tratamento da Água e Efluentes 19

Quanto ao atendimento:

• 83,62% dos brasileiros são atendidos com abastecimento


de água tratada (Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento, 2018).

• São quase 35 milhões de brasileiros sem o acesso a este


serviço básico (Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento, 2018).

• Em 2016, 1 em cada 7 mulheres brasileiras não tinha


acesso à água. No caso dos homens, 1 em cada 6 não
tinham água (Instituto Trata Brasil, 2018).

• 14,3% das crianças e dos adolescentes não têm acesso à


água (UNICEF, 2018).

• 6,8% das crianças e dos adolescentes não contam com


sistema de água dentro de suas casas (UNICEF, 2018).

• 22 municípios nas 100 maiores cidades brasileiras possuem


100% da população atendida com água potável (Ranking
do saneamento, Trata Brasil, 2018).

Como atender à crescente demanda por


água?
Atender a uma demanda crescente e contínua de água requer
esforços para compensar a variabilidade natural e melhorar a qualidade e
a quantidade de água disponível.

A água da chuva foi coletada por milhares de anos em muitas partes


do mundo. Hoje, essa técnica é usada na Ásia para recarregar suprimentos
subterrâneos, pois é relativamente barata e tem a vantagem de permitir
que as comunidades locais desenvolvam e mantenham a infraestrutura
necessária.

Redirecionar as águas superficiais subterrâneas pode ajudar a


reduzir as perdas por evaporação, compensar as variações no fluxo e
20 Tratamento da Água e Efluentes

melhorar a qualidade da água. Algumas regiões do Oriente Médio e do


Mediterrâneo aplicam essa estratégia.

Barragens e reservatórios são construídos para armazenar água


para irrigação e consumo. Além disso, as barragens podem fornecer
eletricidade e ajudar a controlar inundações, embora também possam ter
impactos sociais e ambientais indesejados.
Figura 3 – A figura representa uma barreira artificial para reter grandes quantidades de água,
também conhecida como barragem

Fonte: Pixabay
A transferência de água entre bacias hidrográficas também pode
ajudar a mitigar os problemas de escassez de água. A China, por exemplo,
já possui grandes conexões entre bacias e planeja fazer mais. O impacto
humano e ambiental desses projetos deve ser monitorado de perto.

Em muitos países, especialmente no Oriente Médio, as águas


residuais estão sendo reutilizadas para diferentes propósitos, e espera-se
que essa prática se torne popular. Em escala global, a água não potável
é usada para irrigação e refrigeração industrial. As cidades também estão
recorrendo à reutilização da água para completar o abastecimento de
água potável, aproveitando os avanços no tratamento da água.

A água dessalinizada (água do mar ou salobra transformada


em água doce) é usada nas cidades e na indústria, especialmente no
Oriente Médio. O custo dessa técnica diminuiu significativamente, mas
é altamente dependente da energia produzida a partir de combustíveis
Tratamento da Água e Efluentes 21

fósseis e, portanto, levanta a questão do gerenciamento de resíduos e das


mudanças climáticas.

RESUMINDO:

Nesse capítulo introduzimos como acontece a gestão


da água. Com base nisso, vimos como acontece o
abastecimento de água, incluindo como acontece o
escoamento da água. Decorremos também que a gestão
das águas é voltada à formulação de princípios e diretrizes,
ao preparo de documentos orientadores e normativos,
à estruturação de sistemas gerenciais e à tomada de
decisões que têm por objetivo final promover o inventário,
uso, controle e proteção dos recursos hídricos. Isso inclui a
formulação de políticas da água, plano de uso, controle e
proteção e gerenciamento das águas. Além disso, expomos
como acontece o ciclo da água e qual é a quantidade de
água doce disponível nos países e no Brasil. Por último,
vimos como é possível atender à demanda da água através
do redirecionamento das águas superficiais subterrâneas,
barragens e reservatórios e das águas dessalinizadas.
22 Tratamento da Água e Efluentes

Fontes de contaminação
Nesse capítulo, iremos identificar os problemas relacionados à
água e a sua disponibilidade e utilização. Veremos como as atividades
humanas e os diferentes tipos de poluição afetam os recursos hídricos,
como a sedimentação ameaça os ecossistemas aquáticos e quais são as
consequências da extração em excesso de água. Animado para adquirir
mais conhecimento? Vamos lá!

Como as atividades humanas afetam os


recursos hídricos?
Nossos recursos hídricos enfrentam uma série de ameaças sérias,
todas causadas principalmente pela atividade humana. Algumas dessas
ameaças são sedimentação, poluição, mudança climática, desmatamento,
mudanças na paisagem e crescimento urbano.

VOCÊ SABIA?

Uma das ameaças mais sérias aos recursos hídricos é a


degradação dos ecossistemas, que geralmente ocorre
devido a mudanças na paisagem, como desmatamento,
transformação de paisagens naturais em terras agrícolas,
crescimento urbano, construção de estradas e mineração
a céu aberto. Cada uma das mudanças na paisagem
tem um impacto específico, geralmente diretamente
nos ecossistemas naturais e direta ou indiretamente nos
recursos hídricos.

Segundo Campos e Stuard (2003), os causadores ou contaminantes


podem ser químicos, físicos e biológicos, vejamos:

• Contaminantes químicos referem-se a compostos da


indústria química. Eles podem ter efeitos nocivos muito
acentuados, como produtos minerais tóxicos (compostos
de ferro, cobre, zinco, mercúrio, chumbo, cádmio), ácidos
(sulfúrico, nítrico, clorídrico), álcalis (potássio, soda
Tratamento da Água e Efluentes 23

cáustica), solventes orgânicos (acetona), detergentes,


plásticos, derivados de petróleo (gasolina, óleos, corantes,
diesel), pesticidas (inseticidas, fungicidas, herbicidas),
detergentes e fertilizantes sintéticos (nitratos, fosfatos),
entre outros.

• Contaminantes físicos referem-se a distúrbios causados


por radioatividade, calor, ruído, efeitos mecânicos, etc.

• Contaminantes biológicos são resíduos orgânicos que se


decompõem, fermentam e causam poluição. Este grupo
inclui excrementos, sangue, resíduos de cervejarias,
papel, serragem da indústria florestal, drenos, etc.

Como a sedimentação ameaça os


ecossistemas aquáticos?
Os sedimentos podem aparecer nos corpos d’água naturalmente,
mas também são gerados em grandes quantidades como resultado de
atividades agrícolas ou mudanças no uso da terra.

Atividades como agricultura, limpeza, construção de estradas


e mineração podem causar acúmulo excessivo de solo e partículas
em suspensão nos rios. Esses sedimentos podem prejudicar plantas e
animais, introduzindo produtos químicos tóxicos na água, sufocando ovos
de peixes e pequenos organismos que os alimentam, aumentando a
temperatura da água e reduzindo a quantidade de luz solar. que penetra
nele.

Os sedimentos também podem reduzir a capacidade dos


reservatórios e dificultar a navegação interior. Além disso, podem danificar
os equipamentos das instalações de abastecimento de água e usinas
hidrelétricas, aumentando seus custos de manutenção.
24 Tratamento da Água e Efluentes

Como os diferentes tipos de poluição


afetam os recursos hídricos?
O lixo que descartamos pode poluir o ar, a terra e os recursos
hídricos. Esses resíduos afetam a qualidade da água da chuva e dos
recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, e têm repercussões
negativas nos sistemas naturais.

Existem várias fontes de contaminação de água doce, como resíduos


industriais, esgoto, agricultura, escoamento urbano e os causados por
efluentes da fábrica, além do acúmulo de sedimentos.

Fábricas e veículos geram emissões para o ar. As substâncias


liberadas podem percorrer longas distâncias antes de cair no chão, por
exemplo, sob a forma de chuva ácida. As emissões criam condições
ácidas que danificam os ecossistemas, especialmente florestas e lagos. A
poluição que passa diretamente das fábricas e cidades para a água pode
ser reduzida com o tratamento da fonte antes da descarga. É mais difícil
reduzir as várias formas de poluição que vêm de muitas fontes difusas
para água doce ou indiretamente para o mar através do escoamento.

Apenas uma pequena porcentagem de produtos químicos


é regulamentada e há uma preocupação crescente com os efeitos
poluentes de produtos químicos não regulamentados. Inúmeros produtos
farmacêuticos, como analgésicos e antibióticos, estão afetando os
recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Os métodos convencionais
de tratamento de água não são eficazes para muitos deles (Campos e
Stuart, 2003).

Geralmente, a contaminação se espalha pelos corpos d’água em


muito menos tempo do que é necessário para removê-los mais tarde.
Portanto, é necessário focar na proteção dos recursos hídricos. Em muitos
casos, o processo de limpeza de um corpo de água leva mais de 10 anos.
Embora as águas subterrâneas sejam menos facilmente contaminadas
do que as águas superficiais, limpá-las depois de contaminadas leva
muito mais tempo, é mais difícil e caro. Estão sendo procuradas maneiras
de descobrir onde as águas subterrâneas são mais vulneráveis à
Tratamento da Água e Efluentes 25

contaminação e por quê. Os resultados são importantes nos casos em


que os aquíferos fornecem água potável ou existem ecossistemas naturais
que dependem deles.

As águas residuais e o escoamento de fazendas e terras agrícolas,


bem como de jardins, podem conter nutrientes como nitrogênio e fósforo
que causam crescimento excessivo de plantas aquáticas, o que, por sua
vez, tem vários efeitos ecológicos prejudiciais.

Quais são as consequências da extração em


excesso de água?
Em todo o mundo, certos lagos, rios e mares do interior estão
começando a secar porque muita água está sendo retirada deles ou de
seus afluentes. As águas subterrâneas também estão sendo usadas mais
rapidamente do que estão sendo renovadas, como evidenciado pelo
crescente número de relatórios que revelam que os níveis de aquíferos
caíram. Em muitos casos, períodos de seca exacerbaram essa tendência
bem documentada.

Esses problemas persistem, apesar de suas causas serem


conhecidas há algum tempo. As principais são as formas ineficazes pelas
quais a água é fornecida às fazendas e cidades, o desmatamento, as
deficiências no manejo e controle da extração de água e a incapacidade
de encontrar formas mais baratas de usar a água. .

Não foram feitas tentativas suficientes para minimizar o uso dos


recursos hídricos e conservá-los. Em vez disso, o suprimento de água
aumentou ainda mais com a construção de novos reservatórios e desvios
inadequados. Embora algumas cidades estejam tomando medidas,
apenas uma mudança ampla e fundamental nas práticas nacionais e
regionais pode reverter os efeitos.

A ameaça das águas subterrâneas não é tão evidente quanto a dos


lagos e rios. Há menos evidências visuais e os efeitos da retirada excessiva
de água subterrânea levam mais tempo para serem notados. Durante a
segunda metade do século passado, o bombeamento de aquíferos
aumentou em todo o mundo. No entanto, muitas vezes os benefícios
26 Tratamento da Água e Efluentes

(colheitas mais altas, por exemplo) são de curta duração e acabam


resultando em uma diminuição no nível dos aquíferos, na perfuração de
poços mais profundos e, às vezes, no esgotamento da fonte de água
subterrânea.

O que significa que a água está poluída?


Certamente você já ouviu a frase “água é vida” em mais de uma
ocasião. Para entender o grave problema que estamos enfrentando,
precisamos primeiro entender o que caracteriza a água em más condições.
A ONU explica para nós:

DEFINIÇÃO:

A presença de componentes químicos ou outros em


uma densidade maior que a situação natural caracteriza
a poluição da água. Ou seja, a existência de substâncias
como micróbios, metais pesados ou sedimentos define
que a água está poluída. Esses poluentes degradam a
qualidade da água (Campos e Studart, 2003).

As atividades humanas influenciam negativamente. Você já pensou


sobre isso? Descubra abaixo algumas das razões que sujam um de nossos
recursos naturais mais preciosos.
Figura 4 – A figura abaixo representa o descarte equivocado de resíduos em bacias
aquáticas

Fonte: Pixabay
Tratamento da Água e Efluentes 27

Poluição da água: causas do problema


Atualmente, quase 5 milhões de pessoas no mundo morrem por
beber água contaminada, situação especialmente aguda nos contextos
de exclusão social, pobreza e marginalização.

Para entender essa situação, talvez devamos voltar às principais


causas que causaram a poluição da água (Campos e Studart, 2003).
Vamos ver o que são:

1. Resíduos industriais

A indústria é um dos principais fatores que causam poluição da


água. Infelizmente, milhares de empresas ainda desconhecem o uso
adequado a ser feito desse recurso e despejam quantidades de produtos
poluentes derivados de seus processos industriais. Rios e canais são os
mais afetados por essas práticas.

VOCÊ SABIA?

A indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo


devido a suas más práticas, como o despejo de resíduos
tóxicos nos cursos de água.

2. Aumento da temperatura

Embora possa não parecer, o aquecimento global também influencia


a poluição da água. Como é possível? A explicação é simples: quando um
ecossistema sofre temperaturas acima das habituais, as fontes de água
diminuem sua quantidade de oxigênio, o que faz com que a água altere
sua composição.

3. Uso de pesticidas na agricultura

A grande maioria dos processos agrícolas de nossa época usa


fertilizantes e produtos químicos para cultivo e produção de alimentos.
Bem, esses produtos são filtrados por canais subterrâneos que, na maioria
dos casos, acabam nas redes de água que usamos para nosso consumo.
Essa água dificilmente será tratada para devolvê-la aos canais adequados
para consumo.
28 Tratamento da Água e Efluentes

De acordo com o estudo Rastreio de pesticidas e medicamentos


veterinários em pequenos riachos na União Europeia por espectrometria
de massa de alta resolução por cromatografia líquida por David Santillo,
Jorge Casado, Kevin Brigden e Paul Johnston, publicado em junho de
2019 na revista Science, existem pesticidas e medicamentos animais nas
vias navegáveis europeias.

4. Desmatamento

O corte excessivo de árvores contribui para a secagem de rios, lagos


e outras fontes de água. Além disso, o corte de florestas não inclui em
todos os casos a remoção das raízes das árvores que estão nas margens
dos rios, o que causa o aparecimento de sedimentos e bactérias sob o
solo e a consequente contaminação desse precioso material. recurso.

5. Derramamentos de óleo

Finalmente, não podemos esquecer uma prática que


tradicionalmente causou poluição da água em várias partes do planeta:
derramamentos de óleo e seus derivados. Essas descargas são devidas
ao mau transporte de óleo e à filtração de produtos como a gasolina, que
geralmente é armazenada em tanques subterrâneos; em muitos casos, os
tanques estão vazando e a substância penetra nos corpos ao seu redor,
incluindo fontes de água adequadas ao consumo humano. A camada de
óleo atinge diretamente o plâncton, que é a principal fonte de produção
primária para o ambiente marinho e configura-se como a base da cadeia
trófica oceânica.

VOCÊ SABIA?

A falta de informações gerais adequadas sobre a qualidade


da água em todo o mundo complica ainda mais o problema
da poluição da água. No entanto, a situação está mudando
graças à crescente conscientização sobre a necessidade
dessas informações e a disponibilidade de um banco de
dados internacional, o GEMSTAT, publicado na Internet em
março de 2005.
Tratamento da Água e Efluentes 29

Em 2017, o Serviço de Informações e Notícias Científicas (SINC)


divulgou os resultados de uma investigação realizada por profissionais do
Instituto de Ciência e Tecnologia Ambientais, do Departamento de Saúde
Animal e Anatomia da Universidade Autônoma de Barcelona e do Instituto
Internacional de Estudos Sociais na Universidade Erasmus de Roterdã, na
Holanda. Explicou que a atividade petrolífera está afetando negativamente
as cabeceiras dos rios amazônicos: polui-os e altera a estrutura química
da água.

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre os índices de contaminação da


cadeia de suprimentos têxtil, acesse o link a seguir e saiba
mais sobre como a contaminação na cadeia de suprimentos
têxtil está envenenando a viscose - https://bit.ly/312wArK

Consequências da água ruim na saúde dos


seres humanos e do planeta
O consumo de água não tratada, também chamada de água crua,
pode dar origem a sintomas e algumas doenças, sendo mais frequentes
de acontecer em crianças entre 1 e 6 anos, gestantes e idosos, devido
a alterações no sistema imune, podendo ser considerado um grave
problema de saúde pública. Vejamos algumas das consequências devido
ao consumo da água ruim:

Doenças: O consumo de água suja ou o seu uso para higiene e


saneamento está associado a várias doenças. A Organização Mundial da
Saúde fala sobre diarréia, cólera, hepatite A, disenteria, poliomielite e febre
tifóide, entre outros. A prevenção, através da melhoria das infraestruturas
de abastecimento, saneamento e higiene, facilitaria o uso de água limpa
para a alimentação e a higiene da família, em detrimento da água parada.

Mortalidade: Infelizmente, a água suja tem um risco associado


ainda maior. Segundo a OMS, as doenças diarreicas causam 1,5 milhão de
mortes anualmente. Destes, mais de 840.000 têm sua causa na falta de
água potável, juntamente com higiene e saneamento insuficientes. Sem
30 Tratamento da Água e Efluentes

água, higiene e saneamento, a saúde é posta em risco. 40% das mortes


em menores são causadas pelo consumo de água em mau estado ou por
falta de higiene em uma situação de emergência.

Desnutrição: No relatório Melhorando os Resultados Nutricionais


com Água, Saneamento e Higiene, preparado pela OMS, UNICEF e Agência
dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), indica-
se que a desnutrição está relacionada a dieta insuficiente e doenças
infecciosas, uma vez que existe uma correlação entre alimentação, saúde
e cuidados. Dessa forma, uma dieta saudável atenderá às necessidades
nutricionais, mas também é necessário um ambiente adequado, com
serviços de saúde, saneamento e práticas higiênicas adequadas e, por
tudo isso, é essencial ter água potável.

Ecossistemas: O Programa das Nações Unidas para o Meio


Ambiente (PNUMA), em seu relatório Rumo a um planeta livre de poluição,
alerta sobre os efeitos da água doce estragada no meio ambiente, uma
vez que afeta os habitats que causam a perda de água, biodiversidade
aquática e facilita o florescimento de algas ou eutrofização prejudiciais.

RESUMINDO:

Nesse capítulo mostramos quais as principais fontes de


contaminação. Algumas dessas ameaças são: sedimentação,
poluição, mudança climática, desmatamento, mudanças
na paisagem e crescimento urbano. E vimos como cada
uma dessas ameaças afeta no ecossistema aquático. O lixo
que descartamos, por exemplo, pode poluir o ar, a terra e
os recursos hídricos. Esses resíduos afetam a qualidade
da água da chuva e dos recursos hídricos, superficiais e
subterrâneos, e têm repercussões negativas nos sistemas
naturais. Vimos que a presença de componentes químicos
ou outros em uma densidade maior que a situação natural
define se a água está poluída ou não. Também vimos as
consequências da extração de excesso de água e o que
se deve fazer para evitar a contaminação da água, bem
como as consequências da água contaminada. E por fim,
elencamos as principais causas dos problemas da poluição.
Tratamento da Água e Efluentes 31

Controle de qualidade da água


Esse capítulo tem como objetivo mostrar como o controle da
qualidade da água é feito, quais os índices adotados para considerar uma
água apta para consumo e todos os conceitos relacionados à qualidade
da água. Pronto para adquirir muito conhecimento?

Qualidade da água
Diz-se que a água tem “qualidade” quando suas propriedades
físicas, químicas e biológicas a tornam adequada para um uso específico.
Dependendo da finalidade do recurso, normas nacionais e internacionais
estabelecem padrões de qualidade específicos com os requisitos a serem
atendidos pela água que será usada para uma finalidade específica, seja
agrícola, pecuária, industrial ou urbana.

VOCÊ SABIA?

Quando a água possui organismos causadores de doença


ou substâncias que podem trazer problemas de saúde,
dizemos que ela está contaminada. Sendo assim, podemos
concluir que nem toda água poluída está contaminada,
mas toda água contaminada está poluída, ou seja, a água
contaminada é um tipo de água poluída (Santos, 2019).

Para garantir a segurança da água e proteger a saúde, a Organização


Mundial da Saúde (Ministério da Saúde, 2006) oferece recomendações
nas Diretrizes para a qualidade da água potável.

Qualidade microbiológica. Para verificação, serão realizadas


análises microbiológicas (estudo de microrganismos que indicam
poluição fecal, como a existência de Escherichia coli ou o diagnóstico de
densidade de patógenos).

Qualidade química. Para verificar, serão realizadas análises


para monitorar a presença de aditivos, os elementos que provêm,
principalmente dos componentes e produtos químicos utilizados para
obter e distribuir a água.
32 Tratamento da Água e Efluentes

Parâmetros para medir a qualidade da


água
Alguns dos principais parâmetros usados para medir a qualidade da
água estão listados abaixo, definidos segundo Campos e Studart (2003):

Valor do pH
O valor do pH especifica a acidez dos líquidos. A escala varia de 0
a 14. Logo no meio, ou seja, um pH 7 indica um líquido neutro - para água
potável, o pH ideal está entre 7,2 e 7,4. Quanto menor o valor, mais ácido
é o líquido. No entanto, a escala de pH deve ser entendida de modo que,
para cada número inteiro na escala (ou seja, para cada amostra de cor das
tiras de teste de cores), o grau de acidez seja aumentado por um fator de
10. Portanto, , um lago com pH 6 contém dez vezes mais ácido que um
com pH 7 e 100 vezes mais que um com pH 8.

O potencial Redox
O potencial Redox mede o potencial de oxidação-redução, ou seja,
degradação ou compactação. O potencial Redox (inglês = potencial de
redução da oxidação = ORP) expressa a capacidade de uma molécula de
dar ou receber elétrons. O potencial de oxidação ou redução é medido em
mV e pode atingir valores positivos e negativos. Na natureza, o potencial
Redox pode ser encontrado entre +600 mV (oxidação) e -300 mV (redução),
o que representa a soma dos processos de oxidação e regeneração que
ocorrem na natureza.

µS – Microsiemens
Microsiemens são abreviados com o símbolo µS. Esta unidade
de medida nos informa sobre a capacidade de um líquido em conduzir
corrente elétrica. Para isso, é necessário que a água contenha minerais.
Portanto, a condutividade elétrica em µS nos diz quantas substâncias são
dissolvidas na água que podem conduzir corrente elétrica. Este valor é
medido com um medidor TDS (Total de sólidos dissolvidos) (ver Figura 4).
Tratamento da Água e Efluentes 33

No entanto, muitas das substâncias dissolvidas na água não dizem nada


sobre a sua qualidade.

Uma alta condutividade devido a uma grande quantidade de cálcio,


de fato, nos fornece uma alta condutividade altamente desejável na água.
Por outro lado, uma água pode conter muito poucos sólidos, mas se for
arsênico, 20 µS serão suficientes para me envenenar. Portanto, não é
uma medida alta ou baixa de TDS, mas que tipo de sólidos - não importa
quanto ou pouco - são aqueles que são dissolvidos na água.
Figura 5 – A figura abaixo é um medidor chamado de sólidos totais dissolvidos que calcula a
condutividade elétrica (EC)

Fonte: Pixabay.
34 Tratamento da Água e Efluentes

Demanda Química de Oxigênio (DQO): Quantidade de oxigênio


dissolvido (mg/l) consumido pela oxidação de matéria orgânica e
inorgânica oxidável.

Demanda biológica de oxigênio em cinco dias (DBO5): Quantidade


de oxigênio dissolvido (mg/l) consumido durante cinco dias por bactérias
em decomposição de matéria orgânica.

Microrganismos: como ovos de nematoides, bactérias coliformes,


etc.

Metais: Como ferro, cobre, níquel, cromo, chumbo.

Tratamento da água
Para o controle dos parâmetros descritos anteriormente, diferentes
tratamentos podem ser distinguidos ao longo da rota que a água segue
desde quando é capturado até ser descartado após ser usado e gerenciado
por seres humanos. Esse grande processo é inserido no que é conhecido
como ciclo integral da água, que varia desde a entrada até a descarga,
passando pela purificação, transporte, consumo e tratamento final antes
da reintegração no ambiente natural. De acordo com Campos e Studart
(2003) e Libânio (2005), o tratamento de águas consiste basicamente nas
seguintes fases:

Coleta: Os pontos de captação da chamada água bruta podem


ser tanto em armazéns superficiais (lagos, reservatórios, rios, etc.) quanto
subterrâneos (aquíferos, nascentes, poços, etc.). No que diz respeito
aos rios, existem dois problemas fundamentais na bacia hidrográfica,
a quantidade e a qualidade do suprimento, razão pela qual as torres
de captação conectadas aos canos de entrega são frequentemente
usadas para retirar o recurso do canal. No entanto, em um reservatório,
o principal problema é a estratificação da água acumulada, que tende a
gerar sedimentos no fundo e problemas como a eutrofização, devido ao
excesso de nitrogênio e fósforo, causando aumento da turbidez e falta de
água e oxigênio na água.

Purificação da água ou potabilização: É a fase em que a água


capturada é tratada para torná-la adequada ao consumo humano. Essa
Tratamento da Água e Efluentes 35

fase também pode estar presente no ciclo da água destinada a outros


usos, como a aquicultura, ou simplesmente desaparecer do esquema,
como é o caso da água coletada para a fase de resfriamento em usinas
termelétricas, que não requer tratamento. Existem diferentes maneiras
de desinfetar a água, mesmo as muito complexas, como o tratamento
com O3, que a deixa extremamente purificada, mas requer equipamentos
muito caros e dificulta a distribuição. A mais difundida é a cloração, que
é feita adicionando cloro nos tanques-tampão antes da distribuição.
As populações mais importantes possuem estações de tratamento de
água potável (ETAP), onde ocorrem diferentes processos de tratamento,
resultando em uma purificação completa da água. As fases de purificação
mais comuns na ETAP são: floculação, decantação, filtração e desinfecção.

Distribuição: Dos tanques de regulação, onde a água potável é


armazenada, até os pontos de consumo, a rede de distribuição se estende.
É importante que seja bem gerenciado, pois garante fluxo constante,
pressão e qualidade no suprimento. Em geral, existe uma artéria principal,
da qual ramificam os tubos que culminam nos pontos de conexão e, a
partir daí, o cliente final toma a água.

Tratamento de águas residuais: Esta última fase busca minimizar


os efeitos negativos das descargas humanas nos cursos de água naturais
e consiste basicamente no tratamento de águas residuais, de modo
que suas características físicas, químicas e biológicas sejam as mais
semelhantes possíveis àquelas do ambiente que os receberá. São as
administrações públicas que determinam quais parâmetros devem ser
medidos e quais faixas dentro deles são admissíveis. Assim, em países
onde há leis mais restritivas, existem estações de tratamento de águas
residuais (ETARs) que coletam descargas urbanas, agrícolas ou industriais
(em conjunto ou separadamente, dependendo das características do local
e da atividade) e em que No interior, as seguintes fases de tratamento
podem ser diferenciadas, pelo menos: pré-tratamento (desbaste,
remoção e desengorduramento), tratamento primário (sedimentação e
flutuação), tratamento secundário ou biológico (processo aeróbio com
microorganismos) e tratamento terciário (processo físico-químico em que
o excesso de microorganismos fosforosos, nitrogenados e patogênicos
são eliminados, e pode ser feito por cloração, ozonização, adsorção,
36 Tratamento da Água e Efluentes

destilação, etc.). Após essa purificação, existem algumas lamas úmidas


que devem ser tratadas antes de serem descartadas ou usadas como
fertilizantes ou mesmo combustível.

IMPORTANTE:

É essencial que energia e recursos não sejam desperdiçados


em tratamentos de água desproporcionais ao uso a que se
destinam.

Em alguns lugares, estão sendo desenvolvidos regulamentos que


impõem ou incentivam a instalação de tanques de água da chuva em casas
agrícolas, industriais e até privadas, e proíbem o uso de água potável em
certas atividades (como lavar o veículo da família). O uso de água cinzenta
(da banheira ou da pia) também é promovido para fins menos exigentes,
mesmo na própria casa (irrigação de jardins, abastecimento de tanques,
limpeza de esgotos, etc.) com um tratamento de pré-tratamento muito
simples (filtração mais cloração).

Especialmente responsáveis devem ser os habitantes dos países


desenvolvidos, porque, enquanto uma norte-americana média consome
cerca de 600 litros de água por dia, o africano médio vive com entre 15 e
50 litros por dia.

Como as atividades humanas afetam os


recursos hídricos?
Constantemente vemos nos noticiários que os recursos hídricos
enfrentam uma série de ameaças sérias, todas decorrentes principalmente
de atividades humanas, como poluição, mudança climática, crescimento
urbano e mudanças na paisagem, como desmatamento. Cada um deles
tem um impacto específico, geralmente diretamente nos ecossistemas e,
por sua vez, nos recursos hídricos.

Se mal gerenciadas, atividades como agricultura, limpeza,


construção de estradas ou mineração podem causar acúmulo excessivo
de solo e partículas em suspensão nos rios (sedimentação), causando
Tratamento da Água e Efluentes 37

danos aos ecossistemas aquáticos, deteriorando-se qualidade da água e


dificulta a navegação interior.

A poluição pode prejudicar os recursos hídricos e os ecossistemas


aquáticos. Os principais poluentes são, por exemplo, matéria orgânica
e patógenos contidos nas águas residuais, fertilizantes e pesticidas
de terras agrícolas, chuva ácida causada pela poluição do ar e metais
pesados liberados pelas atividades de mineração e industrial. O acúmulo
de matéria orgânica provoca intensa proliferação de microrganismos
heterotróficos e compromete a fotossíntese.

A extração excessiva de água, superficial e subterrânea, teve


efeitos catastróficos. Um exemplo impressionante é a redução drástica
do mar de Aral e do lago Chade. Muito pouco está sendo feito para
combater as causas do problema, como o mau gerenciamento da água
e o desmatamento. Muito mais água foi extraída de fontes subterrâneas
nas últimas décadas do que no passado. Os benefícios da extração de
água subterrânea geralmente têm vida curta, enquanto as consequências
negativas (redução dos níveis da água e esgotamento de recursos, por
exemplo) podem durar muito tempo.

As mudanças climáticas parecem aumentar as pressões existentes,


por exemplo, em áreas que já sofrem escassez de água. Geleiras terrestres
e montanhosas estão recuando mais rapidamente nos últimos anos.
Eventos climáticos extremos causados pelo aquecimento global, como
tempestades e inundações, provavelmente se tornarão mais frequentes
e graves. No entanto, com base no conhecimento atual, os cientistas só
podem fazer previsões gerais sobre o impacto das mudanças climáticas
nos recursos hídricos.
38 Tratamento da Água e Efluentes

RESUMINDO:

Nesse capítulo vimos as diretrizes para qualidade da água,


denominadas como microbiológica e química, bem como
os parâmetros para medir a qualidade da água, como
medição do ph, potencial redox, µS – Microsiemens, etc.
Vimos que diferentes tratamentos podem ser distinguidos
ao longo da rota que a água segue desde quando é
capturado até ser descartado após ser usado e gerenciado
por seres humanos. Decorremos como acontece o processo
de tratamento da água, começando pela coleta, purificação
da água, distribuição para poder chegar ao tratamento
da água - busca minimizar os efeitos negativos das
descargas humanas nos cursos de água naturais e consiste
basicamente no tratamento de águas residuais, de modo
que suas características físicas, químicas e biológicas sejam
as mais semelhantes possíveis àquelas do ambiente que
os receberá. Além disso, vimos como é feito o tratamento
de águas residuais e como as atividades humanas afetam
os recursos hídricos através das construções industriais,
poluição, mudanças climáticas e etc.
Tratamento da Água e Efluentes 39

Legislação da água e do esgoto


Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre a legislação
relativa à água e esgoto e sua aplicabilidade. Nele, falaremos sobre como
funciona a gestão de recursos hídricos no Brasil através da constituição,
código de águas e lei das águas. Preparado? Vamos nessa!

Como Funciona a Gestão de Recursos


Hídricos no Brasil?
Constituição Federal de 1988
Existem diversos dispositivos sobre recursos hídricos na atual
Constituição brasileira. Há também disposições sobre o domínio das
águas, seu aproveitamento e competências legislativas e administrativas
das três esferas do poder.

VOCÊ SABIA?

Pela lei, não existem águas particulares ou privadas com


domínio ligado à propriedade da terra. E também não
existem recursos hídricos de domínio dos municípios. Todas
as águas pertencem à União e aos estados.

Dessa mesma forma, é estabelecido que os potenciais de energia


hidráulica são de posse da União. Visto que eles constituem propriedade
distinta da do solo para efeitos de exploração ou aproveitamento (Galvão
Junior et al., 2009).

A Lei da Água (nº 9.433 / 97) baseia-se na concepção do domínio


e na intervenção pública na gestão dos recursos hídricos, onde a ação
do Poder Público busca permitir uma gestão social do recurso através
da gestão participativa e integrado entre os diversos setores usuários da
sociedade.

O sistema introduzido pela Política Nacional de Recursos Hídricos


busca organizar esse setor em nível nacional, consolidando o conceito
40 Tratamento da Água e Efluentes

de gestão integrada e uma visão sistemática da água, definindo papéis,


funções e competências de cada um de seus componentes, além de
constituir diretrizes. buscando promover a articulação do planejamento dos
recursos hídricos com os dos setores usuários, Poder Público e sociedade
como um todo, buscando também foi integrado ao planejamento regional,
estadual e nacional, bem como sua integração com a gestão ambiental
(Galvão Junior et al., 2009).

Nesse sentido, o conjunto de diretrizes que apoia todo o


desenvolvimento dessa nova visão da administração da água é exigido
pelo art. 1º da Lei nº 9.433 / 97, que estabelece os seguintes requisitos
como fundamentos do PNRH:

a) a água é propriedade do domínio público;

b) a água é um recurso natural limitado, dotado de valores


econômicos;

c) em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos


é o consumo humano e a retirada de mudas de animais;

d) a gestão dos recursos hídricos deve sempre fornecer múltiplos


usos da água;

e) a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação


do PNRH e ação do SNGRH;

f) a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e ter a


participação do Poder Público, usuários e comunidades.

Tais disposições fornecem a base estrutural e a composição


de valores que formam a razão de ser da política da água no Brasil,
externalizando disposições que legitimam a intervenção estatal e a
aplicação de instrumentos para o gerenciamento qualitativo e quantitativo
dos recursos hídricos.

Da mesma forma, esses preceitos, que servem de fundamento ao


modelo brasileiro, são endossados no sentido de permitir a estruturação
descentralizada do SNGRH, subsidiar as ações de seus órgãos e sociedade
e orientar a expansão dos instrumentos previstos para a gestão. de água
no Brasil.
Tratamento da Água e Efluentes 41

Código de Águas
O código de águas foi promulgado em 10 de julho de 1934 na forma
do Decreto nº 10.643. Ele está estruturado em três livros:

• Águas em Geral e sua Propriedade;

• Aproveitamento das Águas;

• Forças Hidráulicas e Regulamentação da Indústria


Hidroelétrica.

Esse código foi pioneiro e serviu de base para diversas legislações,


inclusive de outros países. Ele prevê a cobrança do uso dos recursos
hídricos públicos e enuncia o princípio poluidor-pagador. Dessa maneira,
aquele que causar danos ou perdas às águas responde criminalmente de
acordo com as legislações vigentes.

O decreto possui grande relevância para as leis brasileiras. Ainda


em vigor, o código visa sobretudo, garantir a preservação e a qualidade
das águas do Brasil. (Galvão Junior et al., 2009)

Lei das Águas


A Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997 ficou conhecida como “Lei
das águas”. Ela institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos, define
infrações e penalidades e cria o Singerh – Sistema Nacional dos Recursos
Hídricos.

A Lei da Água (nº 9.433 / 97) baseia-se na concepção do domínio


e na intervenção pública na gestão dos recursos hídricos, onde a ação
do Poder Público busca permitir uma gestão social do recurso através
da gestão participativa e integrado entre os diversos setores usuários da
sociedade (Agência Nacional das águas, 2020).

Tem-se como diretrizes a gestão sistemática desses recursos,


levando em consideração a qualidade, quantidade disponível e às
diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e
culturais do país. A lei também prevê a integração da gestão com os
setores usuários e os planejamentos regionais, estaduais e nacionais.
42 Tratamento da Água e Efluentes

IMPORTANTE:

Essa legislação determina também que a gestão dos


recursos hídricos deve ser baseada em usos múltiplos e
descentralizada. Ou seja, considera os diversos usos da
água e a participação da sociedade e governo nas decisões
sobre os recursos.

Ressalta-se que o Plano Nacional dos Recursos Hídricos é um


instrumento de gestão. Ele objetiva estabelecer diretrizes e políticas
públicas para melhoria de oferta de água de acordo com as demandas
exigidas. (Galvão Junior et al., 2009)

Lei nº 9.984, de 17 de Julho de 2000


Essa lei cria e regulamenta a Agência Nacional das Águas (ANA). Ela
é a entidade responsável pela implementação da Política Nacional dos
Recursos Hídricos e pelo gerenciamento do Singerh.

A ANA é responsável por regular contratos e a operação de


serviços que envolvam recursos hídricos em todo território nacional.
Sua organização se dá por meio de um diretor-presidente responsável
pela área de administração e outros quatro diretores responsáveis pela
Gestão de Recursos Hídricos, Hidrologia, Regulação e Planejamento,
sendo todos nomeados pelo Presidente da República e sabatinados pelo
Senado Federal, com mandatos não simultâneos de quatro anos (Agência
Nacional das águas, 2020).

Para explicar melhor, funciona assim: existem agências de bacias


que são responsáveis pela elaboração dos planos de sua respectiva bacia
hidrográfica e que podem pedir apoio da ANA na elaboração. Quando
essas agências não existem, é de responsabilidade da ANA elaborar o
plano. (Galvão Junior et al., 2009)
Tratamento da Água e Efluentes 43

VOCÊ SABIA?

Atualmente, existem oito planos de bacias elaborados:


Margem Direita do Amazonas, Tocantins-Araguaia, São
Francisco, Paranaíba, Verde Grande, Doce, PCJ e Paraíba do
Sul. Essas bacias correspondem a 51% do território nacional.

Além disso, cabe à Agência Nacional das Águas enquadrar os


corpos hídricos em classes. Ela estabelece o nível de qualidade (classe)
a ser alcançado ou mantido em determinado trecho de corpo d’água ao
longo do tempo. Essa classificação objetiva assegurar a qualidade da água
com seu respectivo uso e diminuir os custos direcionados ao combate à
poluição (Agência Nacional das águas, 2020).

Mas como tudo isso é aplicado?


No geral, as legislações apresentadas acima são as mais relevantes
e as que tratam especificamente das águas e recursos hídricos brasileiros.
O quadro abaixo apresenta todos os órgãos responsáveis pela gestão dos
recursos hídricos do país (Galvão Junior et al., 2009).
Figura 6 – estrutura da gestão dos recursos hídricos no Brasil.

Fonte: Adaptado de Galvão Junior et al., (2009)


44 Tratamento da Água e Efluentes

O quadro mostra os organismos em âmbito nacional e estadual, os


colegiados, os responsáveis pela administração, o poder outorgante e a
entidade da bacia.

Assim, existe o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),


instância mais elevada do Singerh, no qual compete analisar propostas,
deliberar projetos, arbitrar conflitos e articular para a promoção dos
recursos hídricos em todos os âmbitos federais.

Paralelamente, existe a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente


Urbano (SRHU), órgão do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que gerencia
os recursos hídricos conforme a estrutura regimental estabelecida pelo
Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007.

Por fim, tem-se a ANA, agência reguladora das águas brasileiras,


seguida dos comitês e agências de bacia, já apresentados anteriormente.
(Galvão Junior et al., 2009)

Da mesma forma ocorre no eixo estadual. Há o Conselho Estadual


de Recursos Hídricos (CERH), órgão deliberativo, seguido da Secretaria
e Entidades Estaduais, responsáveis pelo gerenciamento das bacias e
recursos hídricos dos estados da União (Galvão Junior et al., 2009).

Rercursos Hídricos x Saneamento Básico


Um conceito bastante importante e que não deve ser confundido é
o de recursos hídricos e saneamento básico.

A gestão dos recursos hídricos objetiva garantir a disponibilidade e


qualidade da água para seus mais diversos usos, incluindo o abastecimento
público e a preservação do meio ambiente (Galvão Junior et al., 2009)

Para isso, exigem diversas ações como preservação e reconstituição


de matas ciliares, preservação de nascentes, técnicas de manejo dos solos
agrícolas e pastagens, implementação de redes coletoras e estações de
tratamento de esgotos sanitários, coleta e tratamento do lixo urbano e
efluentes industriais, dentre muitas outras (Galvão Junior et al., 2009).

De acordo com a Lei 11.445/07, o saneamento básico se refere


ao conjunto de quatro serviços: Abastecimento de água, esgotamento
Tratamento da Água e Efluentes 45

sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem e


manejo dos resíduos industriais. Assim, o saneamento se insere dentro do
contexto da gestão dos recursos hídricos.

IMPORTANTE:

Os serviços de saneamento geralmente são prestados por


empresas (estaduais ou privadas), enquanto a gestão dos
recursos hídricos é competência do governo dos estados e
da União, dependendo do domínio.

De acordo com a consultoria legislativa, na grande maioria das


regiões brasileiras, não há correlação entre a baixa disponibilidade
de recursos hídricos e a situação dos serviços de saneamento. O que
ocorre no geral, são deficiências no planejamento, na operação e nos
investimentos desses sistemas.

No que cerne ao saneamento básico no Brasil ainda há muito o que


se evoluir para a universalização dos serviços. Em questões de gestão, as
políticas dos recursos hídricos brasileiras e o modelo de gerenciamento
atual são bastante consolidados e chama a atenção de governos de
outros países.

Ainda existem deficiências e pontos a serem melhorados. Porém,


não se deve deixar de ressaltar que o Brasil está bem encaminhado
quando se trata de legislação para preservação de sua abundância de
águas (Galvão Junior et al., 2009).

Entre os setores da infraestrutura brasileira, o abastecimento de água


e esgoto são os que apresentam as maiores dificuldades econômicas e
institucionais, com repercussões nas taxas de atendimento e na qualidade
dos serviços (Galvão Junior et al., 2009). Entre os principais problemas do
setor estão a baixa eficiência operacional, a insuficiência de investimentos,
a ausência de regulação e de controle social e a presença de déficit de
atendimento, especialmente no tocante à coleta e tratamento de esgotos
sanitários.

As dificuldades institucionais são agravadas pela inexistência


de uma política nacional para o setor de água e esgotos que aponte
46 Tratamento da Água e Efluentes

para a retomada dos investimentos, a regulação, o controle social e a


universalização dos serviços. O agravamento da crise institucional tornou-
se mais evidente nos últimos cinco anos, quando do vencimento dos
contratos de concessão assinados à época do Planasa. Concessionárias e
municípios têm travado disputas políticas e jurídicas em torno do processo
de renovação de grande número de contratos de concessão, o que gera
instabilidade aos investimentos. (Galvão Junior et al., 2009)

RESUMINDO:

Neste capítulo, decorremos sobre a legislação da água e


esgoto do Brasil, e vimos que não há propriedade privada
de recursos naturais na lei brasileira. A água é, portanto, um
bem público limitado, com um valor econômico, que pode
ser mantido através de pagamento. Possui função social e
utilidade pública. A divisão de poderes é dada em termos
constitucionais entre as entidades federadas, estados e
municípios; onde cada um em seu tempo e mandato, está
envolvido na manutenção, regulamentação, prevenção e
sanção das regras que definem o uso dos recursos hídricos.
Também destacamos a diferença entre gestão de recursos
hídricos, que tem como objetivo garantir a disponibilidade
e qualidade da água, e saneamento básico, que se refere
ao conjunto de quatro serviços: Abastecimento de água,
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos e a drenagem e manejo dos resíduos
industriais. Espero que você tenha aprendido bastante
nesse capítulo sobre a legislação sobre águas e esgotos.
Tratamento da Água e Efluentes 47

REFERÊNCIAS
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Tratamento da Água e
Efluentes

Hannah de Oliveira Santos Bezerra

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