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Língua Portuguesa e

Gramática Histórica
Unidade I
Fundamentos e História da
Língua Portuguesa
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
DÉBORA LUIZA DA SILVA
LUCIANA UHREN MEIRA SILVA
AUTORIA
Débora Luiza da Silva
Olá! Meu nome é Débora Luiza da Silva. Sou licenciada em Letras
(Habilitação Português) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
UNISNOS e Especialista em Educação a Distância: Gestão e Docência
pela mesma instituição, com uma experiência técnico-profissional na
área da docência e elaboração de conteúdos pedagógicos para cursos
da modalidade a distância. Passei por diferentes instituições privadas,
nas quais já atuei como analista acadêmica de EAD, professora-tutora,
designer educacional e docente de EAD. Sou apaixonada pelo que faço
e adoro transmitir minha experiência de vida, bem como contribuir com
o aprendizado daqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso,
fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de
muito estudo e trabalho. Conte comigo!

Luciana Uhren Meira Silva


Olá, meu nome é Luciana Uhren Meira Silva, sou formada em Letras
pela Universidade de São Paulo (USP) e tenho mestrado em Literatura e
Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP). Sou professora desde 2000 e já atuei em vários níveis de ensino,
desde o Ensino Fundamental, passando por cursos pré-vestibulares até a
Pós-Graduação. Atualmente, leciono em cursos de graduação e elaboro
conteúdo para cursos a distância. Sou apaixonada pelo que faço e amo
transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu
elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Da Gramática Latina Portuguesa...........................................................10
Origens do Latim – famílias linguísticas .........................................................................10

Percursos do Latim......................................................................................................................... 13

Do Latim vulgar às línguas neolatinas.............................................................................. 15

A Língua Portuguesa na Europa............................................................................................ 19

Gramática Histórica: Formação Linguística Do Brasil ..................21


A chegada da Língua Portuguesa ao Brasil.................................................................. 21

A Língua Portuguesa no Brasil e o contato com outras línguas...................24

Fases de desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil ..........................26

Constituição do Léxico Português....................................................... 28


A influência indígena......................................................................................................................28

A influência africana.......................................................................................................................29

Influência latina e grega .............................................................................................................29

Processos de formação de palavras – composição e derivação ............... 31

Formação lexical – movimento constante nas línguas........................................33

Gramáticas Linguísticas............................................................................ 36
O que é gramática?........................................................................................................................ 36

Gramática normativa e descritiva.................................................................... 36

Gramática comparada e gramática histórica............................................37

Planos de estruturação da língua....................................................................................... 39

Sistema ............................................................................................................................... 40

Fala...........................................................................................................................................42
Língua Portuguesa e Gramática Histórica 7

01
UNIDADE
8 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

INTRODUÇÃO
A área dos estudos de Língua Portuguesa representa um universo
rico em aprendizado e experiência. Estudar essa língua significa
compreender a sua formação, analisar a maneira como nos comunicamos
e entender como a língua é viva, ou seja, está em constante mudança –
provocada por aspectos históricos, culturais, sociais e até econômicos.
Assim, vamos estudar não só a formação da língua, mas diferentes
maneiras de compreendê-la por meio dos mais variados tipos de estudos
gramaticais. Como dizia o poeta Olavo Bilac, ao identificar a Língua
Portuguesa, “A última flor do Lácio, inculta e bela.” Assim, vamos conhecer
toda sua beleza e profundidade. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva
você vai mergulhar neste universo!
Língua Portuguesa e Gramática Histórica 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Identificar os diferentes tipos de gramática, compreendendo sua


composição e importância para os estudos de Língua Portuguesa;

2. Reconhecer as influências da gramática latina na Língua Portuguesa,


estudando alguns de seus aspectos constitutivos;

3. Explicar o que é a gramática histórica, analisando a formação


linguística do Brasil;

4. Apontar o que é léxico, estudando sua formação na Língua Portuguesa.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

Da Gramática Latina Portuguesa


Origens do Latim – famílias linguísticas
Provavelmente você já ouviu dizer que a Língua Portuguesa é
derivada da língua latina e, assim como nossa língua, muitas outras
derivaram do Latim, como o espanhol, o italiano e o francês. Isso significa
dizer que essas línguas fazem parte de uma mesma família.

Mas, se a Língua Portuguesa é originária do Latim, então, significa


que o Latim também possui sua origem em outra língua? Isso era o que
queria descobrir os gramáticos e linguistas comparatistas que estudavam
as línguas por volta do final do século XIX e meados do século XX. Esses
estudiosos tinham por objetivos descobrir as ‘famílias linguísticas’ por
meio dos estudos comparatistas das semelhanças existentes entre as
diversas línguas.

Assim, por meio da comparação entre línguas como o Latim, o


Grego e o Sânscrito (língua praticada na Ásia), os linguistas chegaram a
descobrir o protoindo-europeu, ou seja, a língua ‘matriarca’ de diversas
línguas indo-europeias. Não existem, porém, registros escritos dessa
língua antiga, falada por volta de 2500 a.C., originária de tantas outras
(GONÇALVES; BASSO, 2010). No quadro a seguir, notamos algumas
famílias linguísticas que se formaram do protoindo-europeu.
Figura 1: Origem comum: ‘árvore genealógica’ das famílias linguísticas formadas a partir do protoindo-europeu

Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 16. Adaptado


Língua Portuguesa e Gramática Histórica 11

As transformações ocorridas no protoindo-europeu e a origem de


outras línguas indo-europeias atingem um longo período da história da
humanidade, pois, apenas para termos uma ideia, o Latim tem origem
em torno do século XI a.C. e o Sânscrito entre 1500 a 1000 a.C. Veja, no
quadro comparativo a seguir, alguns exemplos de palavras de línguas
indo-europeias. Observe as semelhanças entre elas.
Quadro 1: comparativo entre língua indo-europeias. A semelhança entre as palavras indica
uma origem comum das línguas

Língua Exemplos

Português Pai Mãe Irmão Lobo

Latim Pater Mater Frater Lupus

Grego antigo Pater Meter Phrater Lykos

Sânscrito Pitar Matar Bhratar Vrkas

Espanhol Padre Madre Hermano Lobo

Francês Pére Mére Frére Loup

Inglês Father Mother Brother Wolf

Alemão Vater Mutter Bruder Wolf

Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 15. Adaptado.

A semelhança entre as palavras indicam a mesma origem das


diferentes línguas apresentadas no quadro. Isso mostra que, assim como
queriam demonstrar os comparatistas, as línguas, quando estudadas
a partir do ponto de vista diacrônico, ou seja, das mudanças ocorridas
ao longo do tempo, apontam para uma origem comum. Além do indo-
europeu, existem outras famílias linguísticas que deram origem a várias
línguas faladas atualmente.
12 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

REFLITA:

Seria possível, então, conhecer todas as línguas e suas


famílias desde o início da história da humanidade? Por
mais que os estudiosos tentem chegar à origem de
todas as línguas, essa ‘e uma tarefa muito difícil. Muitas
línguas deixaram de existir e nem sequer deixaram um
registro escrito. Assim, muito do conhecimento que se
tem hoje a respeito dessa questão devemos a hipóteses
lançadas pelos estudiosos de acordo com as observações
conseguidas com a comparação entre as línguas.

Pois bem, até aqui compreendemos que o Latim faz parte de uma
família indo-europeia. Morfologicamente, os estudiosos descobriram que
algumas características do protoindo-europeu foram preservadas no
Latim e, posteriormente, seriam a base das línguas neolatinas, como o
Português. Por exemplo, o protoindo-europeu variava seus substantivos
em gênero (masculino e feminino) e também em número (plural e
singular). Essa variação foi preservada no Latim e, posteriormente, na
Língua Portuguesa. Mas, o protoindo-europeu também possuía variações
relacionadas às funções sintáticas (GONÇALVES; BASSO, 2010). Observe
o quadro a seguir.
Quadro 2: Casos (variação) do protoindo-europeu que permanecerem no Latim e que
serviram de base para a sintaxe das línguas do ramo indo-europeu

Caso Definição

Nominativo Indica basicamente o sujeito na oração.

Refere-se ao objeto direto, ou seja,


Acusativo
complemento verbal.

Caso usado quando o interlocutor é


Vocativo
chamado

Genitivo Indica posse.

Dativo Objeto indireto.

Ablativo Usado para indicar um local afastado.


Língua Portuguesa e Gramática Histórica 13

Indica local em que se está no


Locativo
momento.

Usado para especificar instrumento


Instrumental
utilizado para fazer algo.

Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 19-20. Adaptado.

Agora que entendemos o estudo comparatista que indicou as


origens do Latim, vamos nos aprofundar um pouco mais na história dessa
língua que originou a língua Portuguesa.

Percursos do Latim
O Latim falado na cidade de Roma e na província do Lácio, no
século I antes de Cristo. Essa língua se estendeu pela Europa, pelo norte
da África e por diversas regiões da Ásia devido à expansão do Império
Romano que a utilizava como língua oficial (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).

Entre os séculos I a.C. e I d.C. importantes autores produziram obras


literárias que influenciaram a cultura, a política e a filosofia na Europa.
Dentre esses autores podemos citar o poeta Virgílio que escrever o
poema épico Eneida no final do século I a.C. (GONÇALVES; BASSO, 2010).

VOCÊ SABIA?

Eneida, poema épico de Virgílio conta a saga de Eneias,


um troiano que, após a queda de Tróia, funda uma colônia
troiana na região do Lácio, local de origem do povo romano.
Assim, a Eneida é um poema sobre a fundação de Roma,
desde o seu início como colônia até os tempos do Império. O
poema é dividido em 12 cantos (como se fossem capítulos)
e escrito em versos. Virgílio levou 12 anos para compor essa
obra que só foi divulgada após a sua morte.

Didaticamente, o Latim é dividido em cinco diferentes períodos


com suas manifestações. São eles:

• Latim arcaico: os primeiros registros escritos do Latim datam de


VII a.C. ou VI a.C. Aproximadamente em III a.C. foi produzida a
14 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

obra literária mais antiga que se tem notícia nessa língua – uma
tradução da epopeia grega Odisseia.

• Latim clássico: entre I a.C. e I d.C. foram produzidas diversas obras


importantes que se tornaram um marco na cultura europeia e
mundial, dentre elas os escritos do filósofo Cícero, a poesia de
Virgílio e os textos do historiador Tito Lívio. A língua utilizada nessa
época apresenta beleza de estilo e um cuidadoso trabalho com
as palavras.

• Latim culto: a classe culta de Roma utilizava o Latim culto para se


comunicar. Era uma variante do clássico, com regras gramaticais
semelhantes, mas sem a mesma preocupação estilística da
produção literária.

• Latim vulgar: a língua falada pelo povo comum para se comunicar.


Essa forma de comunicação era bastante viva e aberta a mudanças,
principalmente àquelas proporcionadas pelo contato do povo
romano com outros povos, em razão da constante expansão
do Império. Embora não haja registros escritos dessa época, as
poucas inscrições que foram encontradas serviram de base para
os estudiosos entenderem que as línguas românicas ou neolatinas
são derivadas desse tipo de Latim.

• Latim tardio: o Latim foi utilizado por muito tempo como a língua
oficial, não só pelo Império Romano, mas também pela Igreja
Católica e por países com língua já estabelecida para o registro
de documentos oficiais. É o que aconteceu, por exemplo, com a
Coroa Portuguesa que utilizava o Latim nos documentos oficiais
da administração. O Latim tardio abrange o período até a Idade
Média (GONÇALVES; BASSO, 2010).

Por isso, a partir de agora, vamos compreender qual é a relação


existente entre a gramática latina e a portuguesa.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica 15

Do Latim vulgar às línguas neolatinas


Como vimos, as língua neolatinas derivaram do Latim Vulgar,
língua falada pela população romana em geral e que apresentava uma
característica mais dinâmica e aberta a mudanças do que o Latim Clássico.

VOCÊ SABIA?

Assim como atualmente existem as gramáticas e as aulas


de Língua Portuguesa que têm por objetivo ensinar a
maneira “correta” de utilizar a língua, no passado, em Roma,
existia a obra Appendix Probi, documento que ensinava
a pronúncia correta das palavras de acordo com o Latim
Clássico. A obra possui a forma vulgar da palavra que deve
ser substituída pela clássica. Por exemplo, encontram-se
as seguintes formas: auris no lugar de oricla (o que deu
origem a palavra “orelha” em português) e a forma clássica
speculum no lugar de speclum (“espelho” em português)
(GONÇALVES; BASSO, 2010)

São muitas as diferenças que distinguem as variantes entre o Latim


Clássico e o Vulgar. Por isso, vamos estudar essas diferenças existentes
em quatro aspectos: sintaxe, morfologia, fonologia e léxico.

Em relação à sintaxe, no Latim Clássico as palavras recebiam


terminações de acordo com sua função na oração. Assim, as palavras
em uma oração poderiam ser escritas quem qualquer ordem, já que a
terminação era o que demonstrava o papel de cada uma das palavras.
Veja um exemplo:

a. Petrus Paulum videt (Pedro vê Paulo).

b. Paulus Petrum videt (Paulo vê Pedro).

Notamos que o sujeito – caso nominativo (Petrus, Paulus) – recebe


uma terminação diferente da palavra que faz papel de objeto – caso
acusativo (Paulum, Petrum). Ainda que a ordem das palavras fosse livre,
existia uma ordem básica de construção de orações que era sujeito –
objeto / complemento. Já no Latim Vulgar, a ordem da construção das
16 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

orações mudou para sujeito – verbo – objeto/complemento. Essa é a


forma adotada em Língua Portuguesa também, como herança do latim
Vulgar. Outra característica importante é que os casos utilizados no Latim
Clássico para substantivos, adjetivos e pronomes (nominativo, acusativo,
vocativo, genitivo, dativo e ablativo) também foram simplificados no Latim
Vulgar. Em relação à Língua Portuguesa, embora esses casos existam
nas funções sintáticas, não existe uma terminação que os identifique
nas orações. O vocativo, por exemplo, uma espécie de chamamento do
interlocutor, é marcado por vírgulas, e não por uma terminação como no
Latim Clássico Petre, huc veni! (Ó, Pedro, venha cá!) (ILARI, 2018). Essa
mudança em relação aos casos pode ser observada no quadro a seguir.
Quadro 3: O Latim Vulgar preservou apenas dois casos dos seis presentes no Latim Clássico
para a escrita de substantivos, adjetivos e pronomes.

Latim Clássico (“senhor”)

Caso Singular Plural

Nominativo Dominus Domini

Vocativo Domine Domini

Acusativo Dominum Dominos

Genitivo Domini Dominorum

Dativo Domino Dominis

Ablativo Domino Dominis

Latim Vulgar(“senhor”)

Caso Singular Plural

Nominativo Dominus Domini

Acusativo Dominum Dominos

Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 30.

Ainda em relação à sintaxe, no Latim Clássico a ordem mais comum


utilizada era determinante – determinado, como algo que conhecemos
atualmente por adjetivo e substantivo. Então, era comum a construção:
felix homo (feliz homem). Já no Latim Vulgar, a ordem passou a ser mais
fixa e mudou para determinado – determinante (substantivo – adjetivo),
Língua Portuguesa e Gramática Histórica 17

assim: homo felix (homem feliz), forma que também foi adotada pela
Língua Portuguesa (GONÇALVES; BASSO, 2010).

Outra mudança significativa é aponta para o uso dos artigos. No


Latim Clássico não havia o uso de artigos definidos e indefinidos como
os existentes em nossa língua. Já o Latim Vulgar passou a adotar o uso
de pronomes demonstrativos com funções próximas a dos artigos. Por
exemplo, o pronome ille, illa, illud (“aquele, aquela, aquilo”), passa a
cumprir a função de artigo definido “o, a, os, as”. O pronome unus, una,
unum, anteriormente numeral, passa a ser usado como artigo indefinido
“um, uma, uns, umas” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 30).

Sobre a morfologia, o Latim Clássico apresentava cinco declinações


nominais. Essas declinações lembram o que temos hoje com –a, -o, -e
(mala, vaso, cartomante). Veja o quadro a seguir dessas declinações.

Quadro 4: Terminações nominais em Latim Clássico

Terminação Aplicação Exemplo

Normalmente indicava o
Luna (lua – feminino);
feminino, mas também
-a poeta (poeta –
poderia se relacionar ao
masculino).
masculino

Dominus (senhor –
Normalmente masculino, masculino), ficus (figo,
-o mas indicava alguns figueira – feminino),
neutros e femininos somnium (sonho –
neutro).

fur (ladrão – masculino)


aedis (templo, casa –
-i ou consoante final Três gêneros
feminino) nomen (nome
– neutro).

Exercitus (exército –
Três gêneros, com masculino), manus (mão
-u
neutros mais raros – feminino), cornu (chifre
– neutro).

-e

Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 31.


18 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

No Latim Vulgar foram preservadas três terminações, mais


próximas do que temos atualmente em Língua Portuguesa: palavras do
gênero feminino em –a; palavras do gênero masculinos e neutros em –us;
comuns (masculinos e femininos) em –e (ILARI, 2018).

Ainda em relação à morfologia, outro aspecto importante é a


simplificação dos modelos de conjugação verbal. O latim Clássico
apresentava cinco modelos: 1ª conjugação com vogal temática “a” – amo,
amas, amare (amar); 2ª conjugação com vogal temática “e” – habeo, habes,
habere (possuir, ter); 3ª conjugação sem vogal temática – dico, dicis,
dicere (dizer); 4ª conjugação com vogal temática “i” – audio, audis, audire
(ouvir); 5ª conjugação mista, sem vogal temática mas com conjugação
parecida à quarta – capio, capis, capere (tomar, capturar) (ILARI, 2018). No
Latim Vulgar, o sistema de conjugação se simplifica para três terminações:
-a, -e, e –i. alguns verbos que, por sua irregularidade, não pertenciam a
nenhuma terminação, passaram a ser incorporados por uma dessas três
terminações. É o caso, por exemplo, de fídere (confiar), de fido, da terceira
conjugação, passa a fidáre, da primeira; e de cádere (cair), da terceira
conjugação, que passa a cadére, da segunda (ILARI, 2018).

Sobre a fonologia, estudiosos e comparatistas avaliaram que, dentre


outras características, o Latim Clássico apresentava 10 representações
para seu sistema vocálico que incluía, além das vogais átonas e tônicas,
as longas e breves (o que influenciava na pronúncia das palavras). Já o
Latim Vulgar apresentava apenas 10 representações e excluía as vogais
longas e breves (GONÇALVES; BASSO, 2010).

No que diz respeito ao léxico, as línguas neolatinas derivam mais


diretamente do Latim Vulgar. Por exemplo, a palavra portuguesa para
“cavalo” derivou do Latim Vulgar caballus e não do Clássico equus,
embora exista, em nossa língua, a palavra “equino” que é derivada do
latim Clássico (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Língua Portuguesa e Gramática Histórica 19

RESUMINDO:

Esse breve estudo aponta para as diferenças entre o Latim


Clássico e o Vulgar e como essas diferenças e simplificações
afetaram a constituição das línguas neolatinas, em especial,
a Língua Portuguesa.

É possível apontar a influência latina em muitos radicais das palavras


da Língua Portuguesa, como em óculo (olho) usado na palavra ocular;
agri (campo) utilizada em agricultura e sapo (sabão) na palavra saponáceo.
Além disso, muitas expressões utilizadas nas áreas da Biologia e do Direito
também apresentam origem latina como homo sapiens (homem sábio) e
habeas corpus (corpo livre) (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).

A Língua Portuguesa na Europa


Resumidamente, a Língua Portuguesa tem origem na Península
Ibérica, região que compreende, atualmente, Portugal e Espanha.

Os romanos chegaram à Península Ibérica por volta de 218 a.C. Com


a ocupação romana, a península foi dividida em duas regiões – nordeste
(Hispania Citerior) e sudeste (Hispania Ulterior). Sob o império de Augusto,
aproximadamente em 27 d.C., a região passou por uma nova configuração.

A influência exercida pelos romanos nessas regiões aconteceu de


forma diferente, por causa da localização geográfica e da distância até
Roma. Assim, em algumas regiões, como na Baetica, falava-se o Latim
mais conservador enquanto na Terraconensis se desenvolviam inovações
típicas do Latim Vulgar (GONÇALVES; BASSO, 2010).

Não era incomum, também, que as regiões conquistadas


apresentassem situações de bilinguismo e, nessas situações, é natural
que o Latim sofresse influência das línguas locais. Os povos vencidos
praticavam a língua latina de acordo com seus próprios hábitos linguísticos
de pronúncia e de preferência vocabular, causando, com o tempo,
mudanças significativas na língua latina (ILARI, 2018).
20 Língua Portuguesa e Gramática Histórica

Durante os séculos V, VI e VII da Era Cristã, a península sofreu várias


invasões por povos bárbaros, mas o Latim continuou sendo da língua da
cultura naquele local. Assim, os dialetos desses povos pouco contribuíram
para o desenvolvimento das línguas românicas (GONÇALVES; BASSO, 2010).

Em um período anterior à formação da língua portuguesa


propriamente dita, entre os séculos XII e XIV, os moradores da região da
Lusitânia utilizavam o que ficou conhecido como galego-português, dialeto
usado para a comunicação, bem como para a produção literária, como por
exemplo, nas cantigas trovadorescas (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).

DEFINIÇÃO:

As Cantigas Trovadorescas eram poemas cantados


produzidos pelos trovadores. Essas cantigas assumiam a
forma de cantiga de amor, de amigo ou de cantigas satíricas.
Uma das mais conhecidas coletâneas dessas cantigas é o
Cancioneiro da Ajuda, datado do final do século XIII. Nesse
cancioneiro, todas as cantigas são de amor.

As características morfológicas do galego-português são


semelhantes às do Latim Vulgar: a declinação nominal latina acaba por
desaparecer e são preservadas apenas as formas de singular e plural nos
substantivos derivadas do acusativo latino. Os gêneros são reduzidos a
dois (masculino e feminino) e o gênero neutro deixa de existir. Além disso,
ocorre a perda das declinações e as preposições marcam as funções
sintáticas dos antigos casos do genitivo, ablativo e dativo. A ordem das
composições das orações passa a ser mais rígida (GONÇALVES; BASSO,
2010).

A separação entre o galego (desenvolvido na região da Galícia,


Espanha) e o português, como duas línguas distintas, foi ganhando
espaço e se firmando a partir da independência de Portugal, em 1185.
Com a expulsão dos mouros (povos árabes) da Península e com a derrota
dos castelhanos, a Língua Portuguesa foi ganhando status de língua oficial
em Portugal (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).

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